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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO “A VEZ DO MESTRE”
ESCOLA INCLUSIVA: REALIDADE E SONHO...
para pais, professores e alunos
GERALDO LOPES DURO
Orientador: Antonio Fernando Vieira Ney
Rio de Janeiro
Agosto/2003
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO “A VEZ DO MESTRE”
ESCOLA INCLUSIVA: REALIDADE E SONHO...
para pais , professores e alunos
GERALDO LOPES DURO
Trabalho monográfico apresentado como
requisito parcial para a obtenção do Grau
de Especialista em Terapia de Família.
Rio de Janeiro
Agosto/2003
Agradecimentos
Aos alunos da escola especial, pais e
professores, pela convivência que tanto
enriqueceu minha visão de mundo e me
permitiu reconhecer minhas deficiências.
À amiga Dra. Regene Brito Westphal,
pela leitura do manuscrito e pelas
discussões da parte teórica.
À minha mulher Maria Luiza, que me
apoiou e estimulou durante a realização
deste trabalho..
Dedicatória
A memória de meus pais, que me
legaram a visão da necessidade do saber
para o entendimento da realidade
Resumo
O objetivo deste trabalho é apresentar dados que permitam refletir
sobre os problemas enfrentados pelos profissionais da educação especial,
principalmente diante da perspectiva de efetivação da escola inclusiva como
propõe a nova orientação da Lei de Diretrizes e Bases (LDB).
Pretendemos mostrar aqui, através do relato dos professores de uma
escola de ensino especial, não apenas o que eles pensam de seu trabalho, mas
também as dificuldades por eles enfrentadas.
1
Sumário
Introdução
1. Exclusão/Inclusão social
2. A escola e situação do ensino
2.1. A instituição escola
2.2. Condições atuais do ensino no Brasil
3. Educação especial/escola especial
4. Educação especial para portadores de deficiência mental
5. Os professores, o que nos falam
6. Escola inclusiva, papel e sonho
Conclusão
Referências bibliográficas
Bibliografia
2
Introdução
Embora a questão da inclusão social dos portadores de necessidades
especiais no Brasil seja tratada como lei - e a legislação é clara quanto às
medidas a serem tomadas -, pouco se avançou em matéria de efetivação das
disposições necessárias para implantar a escola inclusiva.
Tais medidas esbarram em muitas dificuldades, como falta de
priorização por parte do poder público, preconceitos, aspectos econômicos,
descontinuidade dos processos burocráticos e, talvez o pior de todos, o
clientelismo da sociedade que espera que o Estado resolva todos os problemas.
Estaremos fazendo uma caminhada pelos aspectos mais importantes
da exclusão social, de vez que precisamos conhecer a realidade para poder ter
uma idéia de quais excluídos estamos falando.
Uma vez determinada a posição da família e da escola em relação à
exclusão social, vamos procurar definir sua situação atual e sua importância como
instrumento de apoio no processo de inclusão social dos portadores de
necessidades, em especial dos deficientes mentais
Um dos fatores importantes para dar suporte aos processos de
inclusão social é a escola. Porém, a escola só atua por intermédio dos
professores; ela é uma estrutura de transmissão do conhecimento e de formação
para o exercício da cidadania. Isto só é possível se contarmos com um corpo de
profissionais afinado, não só com o saber, mas também com práticas de ensino, e
da disponibilidade de um espaço para discussão e avaliação dos processos de
ensino específicos para a cada aluno.
Com que apoio estes professores contam? Onde podem discutir suas
questões técnicas? Têm eles a possibilidade de aprimorar seus conhecimentos de
forma continuada? Como eles são vistos em seu meio profissional?
3
Por meio de dados levantados anteriormente por outros pesquisadores
e do estudo de caso em uma escola especial do ensino público no estado do Rio
de Janeiro, realizado no ano de 2002, pretendemos demonstrar que ao longo dos
últimos anos esta situação pouco tem mudado, e faz-se necessário reavaliar as
políticas de inclusão dos alunos deficientes nas escolas inclusivas.
1. Exclusão/Inclusão social
Não é possível falar de inclusão sem considerar o quê ou quem está
excluído dos processos sociais. Ou ainda quem participa e quem não participa, e
quem está excluído e como de fato se dá esta exclusão. E mais, por que os
excluídos não conseguem sua inclusão para participar da vida do país, tendo
direito a sua cidadania.
Existem razões históricas, coloniais, econômicas e ideológicas para se
entenderem as desigualdades, que são de toda ordem. Não pretendemos nos
estender no que, certamente, não é o fórum para este tipo de análise.
O dados que aqui vamos apresentar, referentes à situação econômico-
social do Brasil, já haviam sido debatidos na Comissão Mista do Congresso
Nacional em 1999, que se propôs a estudar medidas de combate à fome e à
miséria. E, devido à sua gravidade, são usados por CELSO FURTADO (2000:
p.11-12) em seu ensaio Em busca de novos modelos. Os dados são do Instituto
de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA):
“Há no Brasil 53 milhões de pobres – cerca de
34% da população -, que vivem com uma renda
insuficiente para atender às suas necessidades
básicas de alimentação, vestuário, habitação e
transporte. Nessa massa de pobres, há um
subconjunto de 22 milhões de indigentes — cerca
de 14% da população - que não têm sequer como
4
comprar os alimentos que lhes garantam o
consumo mínimo calórico vital. A pobreza
absoluta manteve-se em torno de 34% desde o
lançamento do Plano Real, em 1994. Nos países
de renda per capita semelhante à do Brasil (4.500
dólares), a percentagem de pobres é de cerca de
10% da população total, portanto menos de um
terço da percentagem brasileira. Quanto à
desigualdade da renda, entre 92 países
estudados pelo PNUD (Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento), apenas a África
do Sul e o Malawi têm maior concentração do que
o Brasil”.
Para dar uma idéia do problema da concentração de renda, Celso
Furtado faz uma comparação entre o Brasil e a Índia: “Em nosso país, os 20% de
mais alta renda absorvem cerca de 70% desta. Na Índia, 40% da renda total são
apropriados pelos 20% mais ricos.” (FURTADO, 2000: p.13).
O que pretendemos mostrar é que as desigualdades colocam quase
um terço da população do Brasil na situação de excluída, sem as mínimas
condições de ascender, sem ajuda, a uma melhora do padrão de subsistência.
Isso seria considerar uma melhora nos padrões de alimentação, reciclagem
profissional, incluindo escolarização, criação de fontes alternativas de trabalho
com aproveitamento para a fabricação de produtos artesanais, criação de canais
para venda dos produtos, e ainda cuidado com as questões de saúde e
investimentos em educação continuada.
O problema da pobreza pode ser abordado de diferentes ângulos,
segundo FURTADO, (2000, p.12) . “Três são as dimensões que têm preocupado
os estudiosos da matéria: 1) a questão da fome endêmica, que está presente em
graus diversos em todo mundo; 2) a questão da habitação popular, que em alguns
5
países já encontrou solução; e 3) a questão da insuficiência de escolaridade, que
contribui para perpetuar a pobreza.”
Não pretendemos aprofundar o que foi considerado anteriormente
sobre a questão da fome e da habitação, pois nossa intenção não é focar o
tamanho dos problemas de ordem social, muito embora nos pareça que a
disposição demonstrada pelos governantes de diminuir os contrastes entre os
excluídos e os incluídos esbarra quase sempre nas alegações quanto às
dificuldades de se obterem os recursos financeiros necessários. Só para se ter
uma idéia do volume de recursos para sanear o déficit de habitação dos 53
milhões de pobres e miseráveis que não têm como pagar aluguel, aponta
FURTADO (2000, 18,19), seria necessária uma massa de recursos, a longo
prazo, da ordem de 4% do produto nacional. Mas se o governo obtivesse esse
dinheiro, com o constante endividamento do país, essa parcela seria absorvida
pelo pagamento de juros. A solução seria aumentar a poupança interna para não
recorrer ao endividamento externo.
Este são aspectos da exclusão econômica, fenômeno que não é
exclusivo do Brasil, que atinge uma grade parcela da população mundial e é cada
vez mais agravado pelo fenômeno da globalização. Mas somos atingidos pela
liberdade de mercado. De acordo com GUARESCHI (In: SAWAIA (1999: 146-
148):
“A palavra-chave, palavra de ordem, santa e
sagrada, agora é competitividade”. A
competitividade é o ‘amai-vos uns aos outros’ do
novo Evangelho. Mas esquece-se que a
competitividade só é possível se houver
diferenças e exclusões.
[...] As conseqüências palpáveis de
estabelecimento e funcionamento dessa relação
de competitividade é a exclusão não apenas de
6
alguns, mas de milhões, ou bilhões, de seres
humanos. [...] Segmentos nobres de
multinacionais, empregam no mundo 73 milhões
de pessoas das quais 12 milhões no Terceiro
Mundo. A população ativa do Terceiro Mundo é da
ordem de 2,2 bilhões de pessoas. Se admitirmos,
conforme relatório da OIT (Organização
Internacional do Trabalho) sobre o emprego no
mundo, que os 12 milhões de empregos diretos
geram outros 12 milhões indiretos, ainda assim
estamos falando de algo como 1% do emprego.
Há um crescimento assustador da brecha entre
ricos e pobres. A polarização entre ricos pobres é
prodigiosamente agravada. Hoje nenhuma pessoa
em sã consciência pode falar de ‘bolsões’ de
pobreza, quando os bolsões se referem a cerca
de 3,2 bilhões de pessoas, 60% da humanidade,
que sobrevivem com 350 dólares por ano. Isso
quando o mundo produz 4,200 dólares por pessoa
e por ano, portanto, amplamente suficiente para
todos viverem com conforto e dignidade.”
Somos atingidos por esta lógica da competitividade que se alastrou
pelo mundo, e que nos empurra para o livre comércio dos blocos econômicos, em
que temos que nos ajustar criando indústrias com capacidade de produzir mais e
mais rapidamente. Para isso somos obrigados atualizar nosso parque industrial, o
que só é viável através da importação de máquinas mais modernas. Mesmo
quando há a nacionalização das máquinas, os componentes mais importantes
são de procedência externa o que contribui para gerar mais endividamento e
demandam menor quantidade de mão-de-obra cada vez mais especializada. A
pergunta que se coloca GUARESCHI (In: SAWAIA, 1999, p.149) é:
7
“O que sobra de tudo isso? Uma multidão de
seres humanos empobrecidos e descartáveis.
Como diz ASSMANN (1994: 129), ‘na atual
conjuntura, o fator maior é, sem dúvida, o cruel
predomínio de uma férrea lógica da exclusão, o
clima de indiferença anti-solidária que sustenta e,
em decorrência, o fato de que uma imensa massa
sobrante de seres humanos descartáveis tenha
passado a viver como lixo da história” (grifo do
autor).
Essa lógica da competitividade atinge a todo os setores da sociedade.
A palavra de ordem é ser produtivo, e o que é julgado não-produtivo é descartado,
sendo, assim, varridos os chamados pesos-mortos: velhos, doentes, portadores
de qualquer tipo de dificuldade. Essa lógica vem sendo denunciada, embora seja
defendida pela maioria dos países ricos uma vez que são eles os grandes
beneficiários, e, ainda, segundo GUARESCHI, (SAWAIA, 1999: p. 148):
“Num enfoque global houve, nas últimas décadas,
uma crescente desigualdade e polarização na
distribuição da riqueza. De acordo com Relatório
sobre Desenvolvimento Humano de 1996 da
UNDP (United Nations Development Program) em
1993, apenas 5 trilhões dos 23 trilhões de dólares
do GDP (Gross Development Product) provieram
dos países em desenvolvimento, apesar de eles
somarem aproximadamente 80 por cento da
população total. Os 20 por cento da população
mundial mais pobres viram sua participação na
renda total declinar de 2.3 por cento para 1.4 por
cento nos últimos 30 anos. Contudo, a
participação dos 20 por cento mais ricos cresceu
de 70 para 85 por cento. Isso duplicou a
8
proporção da participação dos mais ricos sobre os
mais pobres – de 30:1, para 60:1 (Cf. CASTELLS,
1998: p.80)”.
O que podemos perceber é que a realidade do mundo é bem diferente
do que a mídia difunde, com a massificação de padrões homogêneos de estética
e consumo. Mas os padrões de consumo só são verdadeiros para uma minoria,
que para isso drenam os recursos que pertencem a toda a humanidade,
consignados em práticas como o uso indiscriminado do solo, com a aplicação de
produtos químicos, fertilizantes, e defensivos; a poluição dos rios, com despejos
industriais de toda ordem; a produção de sementes “resistentes a pragas” pela
modificação genética e sementes que não geram novas sementes; o desestímulo
à pesquisa científica; a transferência de indústrias poluidoras para países em
desenvolvimento; apropriação indébita de espécies que constituem a
biodiversidade por meio de patentes depositadas nos países desenvolvidos;
prática de imposição de políticas econômicas por organizações como FMI (Fundo
Monetário Internacional) que se mostraram ineficientes quebrando vários países,
mas também interferindo nas políticas públicas determinando cortes de
investimentos, principalmente nas áreas sociais, justamente as de maior
necessidade, aumentando a quantidade de excluídos.
Os dados apresentados mostram o quanto somos vulneráveis diante
do quadro mundial. Fazemos parte de um mundo “que se globalizou” porém para
beneficiar os mais ricos.
Muito se fala em inclusão social no Brasil. Como vimos, os recursos
necessários para reverter a situação atual exigem o envolvimento de toda a
sociedade, priorizando recursos públicos e privados em ações continuadas. Uma
das prioridades é investir em educação, porque, como salienta o economista
CELSO FURTADO (2000: p. 19):
“A educação interfere no tempo, e, melhorando-se a qualidade do
fator humano, modifica-se por completo o quadro do país, abrem-
9
se possibilidades de desenvolvimento muito maiores. Não há país
que tenha conseguido se desenvolver sem investir
consideravelmente na formação de gente.”
A ideologia capitalista da acumulação de riquezas preconiza a lógica
da competição entre os homens, entre nações, para que vençam os mais aptos.
Essa lógica é defendida por aqueles que conseguiram se apropriar dos bens
econômicos e culturais mediante mecanismos sociais que reproduzem a
estratificação social. São eles os donos do capital, os técnicos formados para
instrumentar as descobertas científicas e justificar seu uso econômico e os
intelectuais que estão a serviço da criação de estratégias para justificar e manter
o status quo, visão esta já apontada por GRAMSCI (1989; p. 10), em Os
intelectuais e a formação da cultura:
“Deve-se notar que a elaboração de camadas intelectuais na
realidade concreta não ocorre num terreno democrático abstrato,
mas de acordo com processos históricos tradicionais muito
concretos. Formam-se camadas que, tradicionalmente,
’produzem‘ intelectuais“ [...],
que produzem novos intelectuais, onde a escola exerce um papel importante.
“Mais precisamente, através de uma série de operações de
seleção, separam-se os detentores de capital cultural herdado
daqueles que não o possuem. Sendo assim as diferenças de
aptidão inseparáveis das diferenças sociais conforme o capital
herdado, ele tende a manter as diferenças sociais preexistentes.”
(BOURDIEU; 2003, p. 37).
Essa separação acontece entre escolas públicas e privadas, quanto à
qualidade do ensino, e estabelece uma diferença entre os que se formam e não
se formam, reproduzindo a desigualdade social. Além disso, a escola reproduz
todo o ambiente de competição que existe na sociedade, no qual aqueles que não
conseguem dominar os conteúdos vão sendo alijados do processo de
10
aprendizagem. Os alunos com dificuldade para disputar seu espaço, como no
caso de portadores de necessidades especiais, dentro desta concepção são
prejudicados, sempre que há competição há exclusão do perdedor. Assim JUPP
(1994, p. 20-1) pontua sobre a questão da competição: “O fato é que nós, seres
humanos, parecemos valorizar a competição acima da colaboração, e a toda
oportunidade parecemos no empenhar para obter poder sobre o outro, em vez de
obtê-lo em conjunto com o outro.”
A falta de recursos destinados à educação a fim de melhorar a
qualidade do ensino público, em especial a atualização do corpo docente, é fator
que certamente vem implicando a diminuição da qualidade do ensino, e se torna
mais crítico quando se fala de educação especial, em que é preciso o emprego de
recursos e técnicas especiais para se obterem resultados a longo prazo.
2. A escola e a situação do ensino
2.1. A instituição escola
Inicialmente, a escola não se configurava tal como a conhecemos nos
dias de hoje, e seu surgimento se deu provavelmente conforme ARIÈS descreve
(1975: p. 169-170):
“No século XIII, os colégios eram asilos para
estudantes pobres, fundados por doadores. Os
bolsistas aí viviam em comunidades, segundo
estatutos que se inspiravam em regras
monásticas. Não se ensinava nos colégios. A
partir do século XV, essas pequenas comunidades
democráticas tornaram-se institutos de ensino, em
que uma população numerosa (e não mais
apenas os bolsistas da fundação, entre os quais
figuravam alguns administradores e professores)
11
foi submetida a uma hierarquia autoritária e
passou a ser ensinada no local. Finalmente, todo
o ensino das artes passou a ser ministrado nos
colégios, que forneceriam o modelo das grandes
instituições escolares do século XV ao XVII, os
colégios dos jesuítas, os colégios dos doutrinários
e os colégios dos oratorianos [...]. O
estabelecimento definitivo de uma regra de
disciplina completou a evolução que conduziu a
escola medieval, simples sala de aula, ao colégio
moderno, instituição complexa, não apenas de
ensino, mas de vigilância e enquadramento da
juventude.”
Essa evolução da instituição escolar está ligada a
uma evolução paralela do sentimento das idades
e da infância. No início, o senso comum aceitava
sem dificuldade a mistura das idades. Chegou um
momento em que surgiu uma repugnância nesse
sentido, de início em favor das crianças
menores.[...] Mas essa repugnância não parou
neles. Estendeu-se também aos maiores, [...]
embora a idade de alguns deles lhes permitisse
exercer fora da escola funções reservadas aos
adultos. É que, embora tivessem começado pelos
mais jovens, essa separação não os atingia
enquanto crianças, e sim enquanto estudantes, e
no princípio enquanto estudantes clérigos, pois
quase todos eram tonsurados. Por essa razão,
não se aplicou aos estudantes, com o fito de
distingui-los dos adultos, um regime realmente
infantil ou juvenil – aliás, não se conhecia nem a
natureza nem o modelo de tal regime. Desejava-
12
se apenas proteger os estudantes das tentações
da vida leiga, uma vida que muitos clérigos
também levavam, desejava-se proteger sua
moralidade. [...]
Mais tarde, o objetivo fixado para esse tipo de
existência, a meio caminho entre a vida leiga e
vida monástica, se alterou. No início, ele fora
considerado um meio de garantir a um jovem
clérigo uma vida honesta. A seguir, adquiriu um
valor intrínseco, tornando-se a condição
imprescindível de uma boa educação, mesmo
leiga. A idéia de educação era estranha às
concepções do início do século XIV. Em 1452,
porém, o Cardeal d’ Estouteville falava do regimen
puerorum e da responsabilidade moral dos
mestres encarregados das almas dos alunos.
Tratava-se tanto da formação como da instrução
do estudante, e por esse motivo convinha impor
às crianças uma disciplina estrita: a disciplina
tradicional dos colégios, modificada porém num
sentido mais autoritário e mais hierárquico. O
colégio tornou-se então um instrumento para
educação da infância e da juventude em geral.”
Esta escola que se consolida a partir dos modelos religiosos evolui
para um sistema complexo e moralista, moldando e impondo uma moral religiosa.
Com o passar do tempo, a formação dos jovens se modifica. Mas até bem
próximo de nossos dias, havia uma disciplina de imposição em que o aluno era
apenas o depositário do conhecimento do professor sem a possibilidade de
questionar, sem possibilidade dialógica, o que PAULO FREIRE (1987: p. 57)
chamou com muita propriedade de “educação bancária”. Para ele a educação
deve ser libertadora, deve fornecer os meios para não apenas reconhecer o
13
mundo, mas se reconhecer no mundo, e também poder questioná-lo. Esse
diálogo questionador do si próprio com o outro, essa troca dialógica
questionadora que liberta o homem da possibilidade de ser escravizado e que
permite fazer escolhas. Que permite decidir o que quer para si e em conjunto,
democraticamente, para o todo da sociedade.
Possivelmente, é para esta escola formadora de cidadãos conscientes,
menos manipuláveis, que devemos caminhar. Mas para isso, precisamos resolver
problemas com os quais nos defrontamos e que demonstram que estamos longe
de conseguir uma escola que forneça as condições para que esses alunos se
construam e possam desfrutar um lugar no mercado de trabalho que possibilite
uma vida digna e plena cidadania.
Esta também deve ser a escola aberta a todos os portadores de
necessidades especiais. Uma escola inclusiva onde os preconceitos possam ser
substituídos por reconhecimento e aceitação da diferença, porque a diferença não
incapacita. Uma escola onde não se aceite que uma criança não consiga
aprender porque lhe faltaram os meios de mediação do conhecimento para que
revertesse os condicionantes sociais ou biológicas. Um ensino onde os
“cromossomos não tenham a última palavra” (FEUERSTEIN, em entrevista a Istoé
Junho de 1998, em ROS; 2002, p.15). Diferente do que acontece “em ambientes
em que tudo é conhecido, em que o sujeito não se confronta com novos
conhecimentos nem com novas relações que lhe permitam compartilhar
processos cognitivos mais elaborados do que os utilizados pela média dos alunos
de seu grupo, a possibilidade de modificar-se é remota (ROS, 2002 p. 36).”
Possivelmente chegará o dia que as descobertas no campo da genética
permitirão a interferência para diminuir ou eliminar os condicionantes biológicos,
mas os condicionantes sociais demandam uma educação que permita a
interiorização de novos signos ampliando assim a cadeia de possibilidades de
compreensão da realidade e que permita que haja transferência de conhecimento
para resolver novas questões com que o sujeito se defronta.
14
2.2. Condições atuais do ensino no Brasil
Há uma diferença entre a escola que tem sido divulgada pela mídia nas
propagandas governamentais, e a escola que a sociedade necessita ter para
alcançar melhor nível de preparação para formar cidadãos de primeira categoria,
independentes, que exerçam seus direitos e que possam ser absorvidos pelo
mercado de trabalho. A escola que existe hoje, que é real, não atinge seus
objetivos estabelecidos na Constituição da República Federativa do Brasil/1988 e
regulados pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB),
promulgada pela Lei 9.394, de 20/12/96.
Em dados divulgados pelo Ministério da Educação e Cultura – MEC -,
através do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP)
(Brasília: 2001), a população em idade escolar por faixa etária, em números
absolutos para o Brasil, em 1999, era de 20,2% para uma população na faixa de 5
a 14 anos. Este mesmo número projetado para o ano de 2005 será de 14,4% da
população total devido ao fato de a taxa de fertilidade da população brasileira
estar descendente. Isso representava, em 1999, um total estimado de 36 milhões
de pessoas.
Ainda não conseguimos colocar todas as crianças de 7 a 14 anos na
escola. Do total desta população, atingimos um índice de 96,4%, e na faixa etária
de 15 a 17 anos o índice vai a 83% no ano de 2000, o que é considerado um
avanço se comparado à taxa de 49,7 em 1980. Em relação a este avanço são
feitos alguns esclarecimentos: no ano de 2000, 33,3% dos adolescentes
freqüentavam o ensino médio, o que expressa a defasagem idade-série que ainda
existe no ensino médio.
Atualmente, para cada 100 crianças que ingressam no sistema de
ensino, 41 não terminam a oitava série. A taxa de repetência gira em torno de
21,7%, com uma taxa de evasão de 4,9%.
15
A taxa de analfabetismo da população de 15 anos ou mais idade vem
se reduzindo: de 25,4%, em 1980, caiu para 13,6% em 2000. Esse percentual
ainda representa, em termos absolutos, 16 milhões de analfabetos.
Para que tenhamos idéia do que esse número representa, se
pretendêssemos erradicar de uma vez o analfabetismo, tomando como base o
número médio do ensino fundamental, que é de 32,2 de alunos por sala de aula,
necessitaríamos disponibilizar 496.894 salas de aulas. Isso representa o mesmo
número de professores a um custo médio, considerando-se o menor salário médio
pago de R$ 378,67, durante um período estimado de um ano. Apenas com
professores o custo vai a R$ 2.257.908.074,53.
Este custo não está completo, sabemos disso, mas percebe-se que é
viável erradicar o analfabetismo, desde que haja vontade política de se implantar
um programa que tenha continuidade e que seja um compromisso, uma meta a
ser alcançada por todo e qualquer partido que venha a ocupar o poder.
Entre os indivíduos na faixa etária de 25 a 64 anos, apenas 6,1% da
população tinham curso superior completo, sendo que a taxa de escolaridade -
Participação Percentual da População Residente de 25 a 34 anos, Segundo o
Nível de Instrução – 1999 - é de: Nenhuma 5,5%; Fundamental Incompleto (< 4ª
série) 15,5%; Fundamental Incompleto (≥ 4ª série) 31,7%; Fundamental 17,4%;
Médio 24,1%; Superior 5,8%.
No item qualificação dos docentes, apurado em 2001, 51,2% dos
professores do ensino fundamental possuíam graduação, diferente dos 43,85
identificados em 1996, sendo que o índice de professores com apenas o
fundamental diminuiu de 9% para 3,1%. Resta ainda um contingente de 46,7% de
professores com formação de nível médio.
A corrida dos docentes para habilitação de nível superior foi motivada
por duas leis recentes: Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), de
1996, que definiu que a partir de 2007 somente serão admitidos profissionais com
16
habilitação de nível superior, e outra, de dezembro de 1996, que regulamentou o
Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização
do Magistério (Fundep), estabeleceu prazo de cinco anos para que os professores
leigos - denominação dada aos que não têm graduação superior - consigam
qualificação adequada para exercício do magistério.
Cumprir uma exigência de buscar uma habilitação de nível superior,
apesar de ser um avanço, não é suficiente para preparar adequadamente os
docentes responsáveis pela educação especial, pois nos parece que depende de
uma formação continuada, onde haja a possibilidade de troca de experiências
com outros educadores e outros profissionais que tenham, não só o
conhecimento teórico, como vivencial.
Pudemos observar em nosso contato com um dos membro do corpo
docente da escola especial que, segundo seu relato, muitas vezes os cursos
oferecidos pelos programas de capacitação têm seus conteúdos ultrapassados, já
conhecidos. Outras vezes, os cursos ministrados por profissionais que detêm
apenas um conhecimento teórico o que se torna pouco enriquecedor. Segundo
esse relato, parece que os membros do corpo docente não são consultados,
parecendo, assim, que por este motivo não respondem às demandas da sua
prática.
Dados de 2000 indicam que, em média e por turma, esses professores
trabalham com 20,6 alunos na educação infantil, 28,3 no ensino fundamental, e
37,8 no ensino médio. A permanência média mínima exigida por lei vem sendo
cumprida em todo território nacional, variando de 4,1 a 4,7 horas de aula por dia.
A LDB de 1996 prevê a progressiva conversão das redes de ensino fundamental
para regime de tempo integral.
Como poderemos observar mais adiante, nas escolas especiais o
número de alunos é menor e as classes têm até 10 alunos, como no caso da
escola visitada.
17
Outro dado que deve ser considerado no documento INEP, de 1997,
são as condições de salário dos professores de educação básica brasileira: o
salário médio de um professor de educação básica é de R$ 529,92, sendo que a
remuneração dos docentes que ministram aulas na educação infantil é 60% do
salário pago no ensino médio. A remuneração da educação básica das prefeituras
é de R$ 378,67 contra R$ 674,66 pagos pelas escolas particulares. Essa
remuneração se já considerada insuficiente por todos os docentes do ensino dos
vários níveis de escolarização, possivelmente se tornar mais um impedimento no
que diz respeito a inclusão dos portadores de necessidades especiais em escolas
regulares, além do que os professores na escola inclusiva necessitarão lidar com
um universo heterogêneo de alunos especiais e não especiais e portanto mais
complexo.
3. Educação especial/escola especial
A existência de pessoas portadoras de necessidades especiais
demandou da sociedade leis e procedimentos que humanize e garantam seus
diretos como cidadãos. Assim, educação especial encontra apoio legal na
Constituição da República Federativa Brasileira/1988, especialmente no inciso IV
208, no Estatuto da criança e do Adolescente, de 1990 e principalmente, na Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), promulgada pela lei 9394, de
/12/96.
Quando se fala em portadores de necessidades especiais está-se
referindo a um leque de condições diferentes de dificuldades como determina o
documento do MEC (1988; p.11) em “Os Parâmetros Curriculares Nacionais”.
O documento chama atenção, ainda, para as várias “dificuldades de
aprendizagem como decorrência de condições individuais ou socioculturais dos
alunos “(MEC, 1988, p. 11).
Assim definidas podem ser:
18
- crianças com condições físicas, intelectuais, sociais,
emocionais e sensoriais diferenciadas;
- crianças com deficiências e bem dotadas;
- crianças trabalhadoras ou que vivem nas ruas;
- crianças de populações distantes ou nômades;
- crianças de minorias lingüísticas, étnicas ou culturais;
- crianças de grupos desfavorecidos ou marginalizados;
Durante muito tempo, as dificuldades de aprender estavam vinculadas
às dificuldades do aluno. Desta forma, a criação do termo necessidades especiais
veio para tentar referir-se às dificuldades de aprendizagem. E também para evitar
a negatividade dos termos que se cristalizam como “deficientes, excepcionais,
subnormais, superdotados, infradotados etc” - denominações estas que podem
interferir nas possibilidades de desenvolvimento do potencial existente -
buscando-se, assim, deslocar o foco dos atributos pessoais do aluno, para
oferecer recursos educacionais individuais exigidos por sua necessidade.
A orientação da atual Política Nacional de Educação Especial está
voltada para direcionar os alunos portadores de necessidades especiais ao
ambiente da escola comum, mas ressalva-se a necessidade do acompanhamento
pedagógico especializado. Enfatiza que há necessidade de preparar os
professores do ensino regular para receber e trabalhar com o aluno com
necessidades especiais. “[…] por apresentar necessidades próprias e diferentes
dos demais alunos no domínio das aprendizagens curriculares correspondentes à
sua idade, requer recursos pedagógicos e metodologias educacionais
específicas.” (MEC, 1988, p. 12)
Desta forma classifica os alunos com a finalidade de priorizar o
atendimento, a Política considera a prioridade ao atendimento para:
- portadores de deficiência mental, visual, física e múltipla;
- portadores de condutas típicas (problemas de conduta);
- portadores de superdotação.
19
A secretária de Educação Especial do Ministério da Educação e dos
Desportos, com a finalidade de padronizar a terminologia conceitual, sugeriu as
seguintes características para descrever as necessidades especiais dos alunos:
SUPERDOTAÇÃO
Notável desempenho, elevada potencialidade em qualquer dos
seguintes aspectos isolados e combinados:
- capacidade intelectual geral;
- aptidão acadêmica especifica;
- pensamento criativo ou produtivo;
- capacidade de liderança;
- talento especial para artes;
- capacidade psicomotora.
CONDUTAS TÍPICAS
Manifestação de comportamento típica de portadores de
síndromes e quadros psicológicos, neurológicos ou psiquiátricos
que ocasionam atrasos no desenvolvimento e prejuízos no
relacionamento social, em grau que requeira atendimento
educacional especializado.
DEFICIÊNCIA AUDITIVA
Perda total ou parcial, congênita ou adquirida, da capacidade de
compreender a fala por intermédio do ouvido. Manifesta-se como:
- surdez leve/moderada: perda auditiva de até 70 decibéis,
que dificulta mas não impede o indivíduo de se expressar
oralmente, com ou sem aparelho auditivo;
- surdez severa/profunda: perda auditiva acima de 70
decibéis, que impede o indivíduo de entender, com ou sem
aparelho auditivo, a voz humana, como de adquirir,
naturalmente, o código da língua oral.
20
DEFICIÊNCIA FÍSICA/MOTORA
Variedade de condições não-sensoriais que afetam o indivíduo
em termos de mobilidade, de coordenação motora geral ou de
fala, como decorrência de lesões neurológicas, neuromusculares
e ortopédicas, ou ainda de malformações congênitas ou
adquiridas.
DEFICIÊNCIA MENTAL
Caracteriza-se por registrar um funcionamento intelectual geral
significativamente abaixo da média, oriundo do período de
desenvolvimento, concomitante com limitações associadas a duas
ou mais áreas da conduta adaptativa ou da capacidade do
indivíduo em responder adequadamente às demandas da
sociedade, nos seguintes aspectos:
- comunicação;
- cuidados pessoais;
- habilidades sociais;
- desempenho na família e na comunidade;
- independência na locomoção;
- saúde e segurança;
- desempenho escolar;
- lazer e trabalho.
DEFICIÊNCIA VISUAL
É da redução ou da perda total da capacidade de ver com o
melhor olho e após a melhor correção ótica. Manifesta-se como:
- Cegueira: perda da visão, em ambos os olhos, de menos
de 0,1 no melhor olho após a correção, ou campo visual
não excedendo a 20 graus, no maior meridiano do melhor
olho, mesmo com lentes de correção. Sob o enfoque
educacional, a cegueira representa perda total ou resíduo
mínimo da visão que leva o indivíduo a necessitar do
método Braille como meio de leitura escrita, além de outros
21
recurso didáticos e equipamentos especiais para sua
educação:
- Visão reduzida: acuidade visual dentre 6/20 e 6/60. no
melhor olho, após correção máxima. Sob enfoque
educacional, trata-se de resíduo que permite ao educando
ler impressos a tinta, desde que se empreguem recursos
didáticos e equipamentos especiais.
DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA
É a associação no mesmo indivíduo de duas ou mais deficiências
primárias (mental/visual/auditiva/física), com comprometimento
que acarreta atraso no desenvolvimento global e na capacidade
adaptativa.”
Assim são reconhecidos os portadores de necessidades especiais para
efeito de atendimento na rede pública de ensino. O Objetivo, como se refere o
documento Os Parâmetros Curriculares Nacionais de 1998, é priorizar o
atendimento nas escolas públicas ou especiais.
Como se observa, cada grupo de portadores de necessidades
especiais se apresenta com características diversas, o que exige tratamento
diferenciado e pedagogia apropriada, sugerindo, assim, conhecimentos
especializados por parte dos professores, acompanhamento do trabalho, com
avaliação de uma equipe multidisciplinar de técnicos para auxiliar na obtenção
dos resultados dos programas educacionais com estes alunos. É integrante da
referida Política (MEC, 1998, p. 20) e dá ênfase a:
- A preparação e a dedicação da equipe educacional e dos
professores;
- o apoio adequado e recursos especializados, quando forem
necessários;
- as adaptações curriculares e de acesso ao currículo.
22
Ressalte-se que esta é uma disposição do MEC que deve ser seguida
no âmbito das escolas federais, estaduais e municipais.
A legislação existe; ela é orientadora e normativa das políticas de
educação pública, porém, veremos mais adiante, no capítulo 4, pelo relato dos
professores de uma escola especial pública estadual, como o ensino especial de
portadores de deficiências é tratado no âmbito do estado.
Conhecer o universo dos portadores de necessidades especiais é
essencial, pois, para se ter uma visão mais consistente da realidade, precisamos
estar referidos em dados estatísticos que nos permitam ter idéia de como se
distribuem os tipos de necessidades especiais, qual a população residente, o
número de matrículas por escola especial, classe especial, classe comum com e
sem recursos; na rede de ensino estadual, federal, municipal e particular.
Os dados aqui mencionados estão reportados pelo MEC até 1999, com
previsão de atualização com base nos dados do censo encerrado em 2000 pelo
IBGE.
Na tabela 1, observa-se a distribuição das escolas federais que
absorvem 0,2% das matrículas, contra 52,3% da rede estadual e municipal. As
escolas particulares aparecem com um número significativo de 47,5% na
educação especial, o que significa que, mesmo que os portadores de
necessidades especiais do ensino público sejam incluídos em escolas regulares,
quase 47,5% continuarão freqüentando escolas especiais particulares.
Ainda se observa na tabela 1 um crescimento na oferta de matrículas
municipais, que passa de 14,7%, em 1996, para 20,2%, em 1999, ficando, assim,
os estados com 32,1% do total da rede de matrículas para o ensino especial.
23
Tabela 1 - Distribuição da matrícula por Rede de Ensino
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO ESPECIAL COORDENAÇÃO-GERAL DE PLANEJAMENTO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL
-
DISTRIBUIÇÃO DA MATRÍCULA POR REDE DE ENSINO DOS ALUNOS COM NECESSIDADES ESPECIAIS CENSO ESCOLAR
- 1996 1997 1998 1999(*)
Rede de Ensino
Quant. Alunos
Distr. %
Quant. Alunos
Distr. %
Quant. Alunos
Distr. %
Quant. alunos
Distr. %
96-99 % DE Evol.
Total Brasil 201.142 100,0% 334.507 100,0% 337.326 100,0% 374.129 100,0% 86,0%
Rede Muni- cipal 29.591 14,7% 48.164 14,4% 62.962 18,7% 75.505 20,2% 115,2%
Rede Esta- dual 90.688 45,1% 123.461 36,9% 115.424 34,2% 119.946 32,1% 32,3%
Rede Federal 938 0,5% 1.157 0,3% 898 0,3% 840 0,2% -10,4%
Rede Parti- cular 79.925 39,7% 161.725 48,3% 158.042 46,9% 117.838 47,5% 122,5%
(*) DADOS PRELIMINARES FONTE: MEC/INEP/SEEC
- 1996
Quant. de alunos 1997
Quant. de alunos 1998
Quant. de alunos 1998
Quant. de alunos
BRASIL 201.142 334.507 337.326 374.129
MUNICIPAL 29.591 48.164 62.962 75.505
ESTADUAL 90.688 123.461 115.424 119.946
FEDERAL 938 1.157 898 840
PARTICULAR 79.925 161.725 158.042 177.838
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO -SECRETARIA DE EDUCAÇÃO ESPECIAL - Coordenação-Geral de Planejamento da Educação Especial
CENSO ESCOLAR
EVOLUÇÃO DA MATRÍCULA DA EDUCAÇÃO ESPECIAL 1996 A 1999 POR REDE DE ENSINO
24
Tabela 2 - Evolução da matrícula de alunos com necessidades especiais
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO ESPECIAL
COORDENAÇÃO-GERAL DE PLANEJAMENTO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL
-
EVOLUÇÃO DA MATRÍCULA DE ALUNOS COM NECESSIDADES ESPECIAIS POR TIPO DE DEFICIÊNCIA
CENSO ESCOLAR
-
- 1996 1997 1998 1999(*)
Tipo de necessidade
Quant.Alun.
Distr.%
Quant.Alun.
Distr.%
Quant. Alun.
Distr.%
Quant. Alun.
Distr. %
96-98% de
evplução
Total Brasil 201.142 100,0% 334.507 100,0% 337.326 100,0% 374.129 100,0% 89,0%
Deficiência Visual 8.081 4,0% 13.875 4,1% 15.473 4,6% 18.629 5,0% 130,5%
Deficiência Auditiva 30.578 15,2% 43.241 12,9% 42.584 12,6% 47.810 12,8% 56,4%
Deficiência Física 7.921 3,9% 13.135 3,9% 16.463 4,9% 17.333 4,6% 118,8%
Deficiência Mental 121.021 60,2% 189.370 56,6% 181.377 53,8% 197.996 52,9% 63,6%
Deficiência Múltipla 23.522 11,7% 47.481 14,2% 42.582 12,6% 46.745 12,5% 98,%
Prob. de Conduta 9.529 4,7% 25.681 7,7% 8.994 2,7% 9.223 2,5% -3,2%
Super- dotação 490 0,2% 1.724 0,5% 1.187 0,4% 1.228 0,3% 150,6%
Outras - - - - 28.666 8,5% 35.165 9,4% 22,7%
(*) DADOS PRELIMINARES
FONTE: MEC/INEP/SEEC
Em 1999 (dados preliminares), observa-se o maior número de
matrículas (52,9%) para portadores de deficiência mental. Os dados de 1991 do
IBGE (tabela 9) apontam para uma população de 658.915 portadores de
deficiência mental numa população de 146.815.795, o que representaria 0,45%
da população. Os dados do IBGE, Censo Demográfico de 2000 (tabela 3),
relativa à população residente por tipo de deficiência, os portadores de deficiência
mental em dez anos subiram para 2.848.684, passando a representar 1,68% da
população residente total da época, que era de 169.799.170. O número aumentou
em 9 anos mais de 4 vezes, fica a interrogação: por que motivo? Se este aumento
tivesse acompanhado a progressão de aumento da população, e continuassem
nos mesmos 0,45% teríamos atualmente 764.096 portadores de deficiência, e não
os números apontados aqui. Para efeito de comparação e esclarecimento, a
tabela 3 permite que se verifiquem estas observações.
25
Tabela 3 – População residente, por tipo de deficiência, segundo a situação do domicílio e os grupos de idade - Brasil
26
Na tabela 4, observa-se que, entre todas as necessidades especiais, a
deficiência mental tem o maior número de matrículas, e que em todos os tipos de
necessidades especiais no ensino médio há uma queda acentuada de matrículas,
o que nos parece estar sendo influenciado por outro tipo de variável não
diretamente ligada às necessidades especiais. Parece que, por todos os dados
até aqui levantados, pode estar ligados à qualidade do ensino.
Tabela 4 - Matrícula por tipo de necessidade especial e nível de ensino MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO ESPECIAL COORDENAÇÃO-GERAL DE PLANEJAMENTO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL
-
MATRÍCULAS DA EDUCAÇÃO ESPECIAL POR TIPO DE NECESSIDADE ESPECIAL E NÍVEL DE ENSINO - CENSO 1999 (*)
DEFICIÊNCIAS NÍVEL DE ENSINO
Visual Auditiva Física Mental Múltipla
Altas Habilidades.
Superdotados
CONDUTASTÍPICAS
Outras Necessidades
TOTAL
Creche 770 1.806 2.346 12.180 8.334 13 493 3.044 28.986 Pré-Escola 1.404 6.618 2.917 39.312 11.385 102 1.734 3.410 66.882 Funda- mental 11.924 31.825 8.151 101.968 14.607 863 4.786 21.391 195.515
Médio 876 899 495 475 236 40 26 143 3.190 Jovens/ Adultos 751 2.228 1.082 6.074 835 17 84 264 11.335
Outros 2.904 4.434 2.342 37.987 11.348 193 2.100 6.913 68.221 Total 18.629 47.810 17.333 197.996 46.745 1.228 9.223 9.223 374.129
27
Na planilha 5, podemos observar que os totais de matrículas
distribuídos entre as redes do ensino público e privado são quase equivalentes.
As diferenças aparecem quanto ao oferecimento de matrículas em classes
especiais e em classes do ensino comum, aí o número de ofertas na rede pública
é maior do que na rede particular.
Tabela 5 - Matrículas da Educação Especial por Modalidade e Rede de Ensino
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO ESPECIAL
COORDENAÇÃO-GERAL DE PLANEJAMENTO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL
-
MATRÍCULAS DA EDUCAÇÃO ESPECIAL POR MODALIDADE E REDE DE ENSINO - CENSO 1999 (*)
Classe Comum com Classe Comum semRede de Ensino
Escola Especializada % Classe
Especial % Sala de Recur- sos
% Sala de Recur- sos
% Total %
Esta- dual 35.406 15,7% 52.496 62,1% 13.436 54,3% 18.608 48,1% 119.946 32,1%
Fe- deral 823 0,4% 9 0,0% - 0,0% 8 0,0% 840 0,2%
Muni- cipal 20.962 9,3% 27.195 32,2% 10.360 41,9% 16.988 44,0% 75.505 20,2%
Parti- cular 169.017 74,7% 4.832 5,7% 947 3,8% 3.042 7,9% 177.838 47,5%
Total 226,206 100,0% 84.532 100,0% 24.743 100,0% 38.646 100,0% 374.129 100,0%
- 60,5% - 22,6% - 6,6% - 10,3% - 100,0% -
FONTE: MEC/INEP/SEEC (*) DADOS PRELIMINARES
28
Na tabela 6, observa-se que o maior número de matrículas ainda é
oferecido em escolas especiais e em classes especiais. Embora o número de
escolas com salas de classe comum com portadores de necessidades especiais
tenha aumentado, o número de matrículas por escola é menor.
Tabela 6 - Matrículas da educação especial por modalidade e nível de ensino
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO ESPECIAL
COORDENAÇÃO-GERAL DE PLANEJAMENTO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL
- MATRÍCULAS DA EDUCAÇÃO ESPECIAL POR MODALIDADE E NÍVEL DE ENSINO - CENSO 1999 (*)
Nível de Ensino
Escola Especializada
Classe Especial
Classe Comum com Sala de Recurso
Sala Comum sem Sala de Recurso TOTAL
Creche 26.584 11,8% 1.724 2,0% 248 1,0% 430 1,1% 28.986 7,7%
Pré Escola 54.090 23,9% 8.455 10,0% 1.081 4,4% 3.256 8,4% 66.882 17,9%
Funda- mental 74.169 32,8% 68.202 80,7% 21.226 85,8% 31.918 82,6% 195.515 52,3%
Médio 872 0,4% 270 0,3% 511 2,1% 1.537 4,0% 3.190 0,9%
Jovens/ Adultos 7.713 3,4% 1.465 1,7% 652 2,6% 1.505 3,9% 11.335 3,0%
Outros 62.780 27,8% 4.416 5,2% 1.025 4,1% - - 68.221 18,2%
Total 226.208 100,0% 84.532 100,0% 24.743 100,0% 38.646 100,0% 374,129 100,0%
Escola por Modalid. de Ensino
2.109 - 4.596 - 2.190 - 8.008 - 16.903 -
Número Médio de Alunos por Escola 107 - 18 - 11 - 5 - 22 -
FONTE: MEC/INEP/SEEC
(*) DADOS PRELIMINARES
Os dados da tabela 7 referem-se ao crescimento de matrículas em
classes comuns de 1998 para 1999, com crescimento menor nas modalidades de
classe especial e escola especial.
Parece-nos, pois, que há um esforço em direção à orientação da LDB.
29
Tabela 7 - Matrículas da educação especial por modalidade de atendimento MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO ESPECIAL
- MATRÍCULAS DA EDUCAÇÃO ESPECIAL POR MODALIDADE DE ATENDIMENTO
1998 1999 -
- % - % %
CRESCIMENTO CLASSE COMUM SEM SALA DE RECURSOS 25.435 7,5% 38.646 10,3% 51,9%
CLASSE COMUM COM SALA DE RECURSOS 18.488 5,5% 24.743 6,6% 33,8%
CLASSE ESPECIAL 83.201 24,7% 84.532 22,6% 1,6%
ESCOLA ESPECIALIZADA 210.202 62,3% 226.208 60,5% 7,6%
TOTAL 337.326 100,0% 374.129 100,0% 10,9%
(*) DADOS PRELIMINARES
FONTE: MEC/INEP/SEEC
Na planilha 8, constatamos que o número de município que oferecem
matrÍculas da educação especial é de 59,1%, o que sugere que em 40,9% dos
municípios não há recursos para o atendimento escolar dos portadores de
necessidades especiais.
30
Tabela 8 - Número de municípios com matrícula da educação especial
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO ESPECIAL COORDENAÇÃO-GERAL DE PLANEJAMENTO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL
-
NÚMERO DE MUNICÍPIOS COM MATRÍCULA DA EDUCAÇÃO ESPECIAL 1997 1998 1999(*) UNIDADE DA
FEDERAÇÃO TOTAL QUANTID. % QUANTID. % QUANTID. %
TOTAL BRASIL 5.507 2.375 43,1% 2.739 49,7% 3.255 59,1% NORTE 449 200 44,5% 215 47,9% 250 55,7% RONDÔNIA 52 22 42,3% 21 40,4% 27 51,9% ACRE 22 8 36,4% 9 40,9% 11 50,0% AMAZONAS 62 33 53,2% 34 54,8% 32 51,6% RORAIMA 15 6 40,0% 7 46,7% 6 40,0% PARÁ 143 91 63,6% 93 65,0% 99 69,2% AMAPÁ 16 8 50,0% 8 50,0% 10 62,5% TOCANTINS 139 32 23,0% 43 30,9% 65 46,8% NORDESTE 1.787 436 24,4% 544 30,4% 654 36,6% MARANHÃO 217 76 35,0% 76 35,0% 75 34,6% PIAUÍ 221 32 14,5% 37 16,7% 43 19,5% CEARÁ 184 39 21,2% 61 33,2% 81 44,0% RIO GDE. NORTE 166 44 26,5% 75 45,2% 87 52,4% PARAIBA 223 26 11,7% 40 17,9% 41 18,4% PERNAMBUCO 185 84 45,4% 91 49,2% 97 52,4% ALAGOAS 101 19 18,8% 19 18,8% 27 26,7% SERGIPE 75 9 12,0% 12 16,0% 21 28,0% BAHIA 415 107 25,8% 133 32,0% 182 43,9% SUDESTE 1.666 801 48,1% 983 59,0% 1.111 66,7% MINAS GERAIS 853 255 29,9% 418 49,0% 525 61,5% ESPÍRITO SANTO 77 71 92,2% 69 89,6% 55 71,4% RIO DE JANEIRO 91 71 78,0% 81 89,0% 83 91,2% SÃO PAULO 645 404 62,6% 415 64,3% 448 69,5% SUL 1.159 706 60,9% 734 63,3% 938 80,9% PARANÁ 399 339 85,0% 352 88,2% 364 91,2% SANTA CATARINA 293 187 63,8% 202 68,9% 204 69,6% RIO GDE. SUL 467 180 38,5% 180 38,5% 370 79,2% CENTRO OESTE 446 232 52,0% 263 59,0% 302 67,7% MATO GROSSO SUL 77 65 84,4% 65 84,4% 68 88,3% MATO GROSSO 126 68 54,0% 74 58,7% 81 64,3% GOIAS 242 98 40,5% 123 50,8% 152 62,8% DISTRITO FEDERAL 1 1 100,0% 1 100,0% 1 100,0%
(*) DADOS PRELIMINARES
FONTE:MEC/INEP/SEEC
Na tabela 9, é apresentado um dado importante: o aumento da
expectativa de vida dos portadores de deficiência mental, graças aos avanços da
medicina, segundo BAROFF (apud. GLAT, 1998, p.18) “a Síndrome de Down é
um exemplo. [...] Até há algumas décadas atrás, era raro encontrar-se uma
31
pessoa com Down já idosa, pois geralmente elas morriam cedo, devido a essas
complicações paralelas. Atualmente, no entanto, a expectativa de vida dos
portadores de Síndrome de Down é 6% abaixo da média.
Esse dado nos leva a pensar que é necessária uma escola que ofereça
uma educação mediadora de meios para a aquisição de uma autonomia de vida
mais completa.
32
Tabela 9 - População residente, por tipo de deficiência segundo a situação do domicílio e os grupos de idade MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO ESPECIAL COORDENAÇÃO-GERAL DE PLANEJAMENTO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL
- CENSO DEMOGRAFICO - 1991 POPULAÇÃO RESIDENTE, POR TIPO DE DEFICIÊNCIA SEGUNDO A SITUAÇÃO DO DOMICÍLIO E OS GRUPOS DE IDADE
Gru
pos
de
idad
e
Pop
ulaç
ão
tota
l
Tot
al fí
sico
s
Ceg
ueira
Sur
dez
Tot
al fí
sico
s
Hem
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Par
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gia
Tet
rapl
egia
Fal
ta d
e m
embr
o
Men
tal
Mai
s de
um
a
Sem
de
clar
ação
TOTAL 146.815.7952.199.034 145.852 173.582 602.352 208.565 201.617 46.989 145.181 658.915 87.084 531.249
0 - 4 anos 16.532.398 124.008 4.932 5.391 12.424 2.390 5.076 2.286 2.672 14.895 3.664 82.702
5 - 14 anos 34.472.777 371.635 10.098 28.820 50.333 12.684 20.653 9.672 7.324 119.650 15.706 147.028
15 - 19 anos 15.012.515 201.117 5.285 14.838 38.918 11.479 16.938 4.396 6.105 76.265 8.955 56.856
20 - 24 anos 13.558.380 187.512 6.082 12.460 38.289 10.817 16.204 3.348 7.920 75.764 7.496 47.421
25 - 29 anos 12.629.050 172.836 6.200 8.548 41.386 11.833 16.449 2.804 10.300 70.236 5.977 40.489
30 - 59 anos 43.934.563 714.303 42.752 47.773 233.577 84.486 67.723 11.033 70.335 241.457 24.675 124.069
60 - 69 anos 6.411.777 187.211 22.053 19.482 85.122 38.253 21.053 4.235 21.581 34.300 7.708 18.546
70 - 79 anos 3.156.268 146.336 26.157 19.974 65.161 26.132 20.077 5.156 13.796 18.415 6.832 9.797
80 ou mais 1.108.067 94.076 22.293 16.296 37.142 10.491 17.444 4.059 5.148 7.933 6.071 4.341
FONTE: CENSO 1991 - IBGE -
PERCENTUAL DA POPULAÇÃO RESIDENTE, POR TIPO DE DEFICIÊNCIA SEGUNDO A SITUAÇÃO DO DOMICÍLIO E OS GRUPOS DE IDADE TOTAL 100% 1,498% 0,099% 0,118% 0,410% 0,142% 0,137% 0,032% 0,099% 0,449% 0,059% 0,362%
0 - 4 anos 100% 0,750% 0,030% 0,033% 0,075% 0,014% 0,031% 0,014% 0,016% 0,090% 0,022% 0,500%
5 - 14 anos 100% 1,078% 0,029% 0,084% 0,146% 0,037% 0,060% 0,028% 0,021% 0,347% 0,046% 0,427%
15 - 19 anos 100% 1,340% 0,035% 0,099% 0,259% 0,076% 0,113% 0,029% 0,041% 0,508% 0,060% 0,379%
20 - 24 anos 100% 1,383% 0,045% 0,092% 0,282% 0,080% 0,120% 0,025% 0,058% 0,559% 0,055% 0,350%
25 - 29 anos 100% 1,369% 0,049% 0,068% 0,328% 0,094% 0,130% 0,022% 0,082% 0,556% 0,047% 0,321%
30 - 59 anos 100% 1,626% 0,097% 0,109% 0,532% 0,192% 0,154% 0,025% 0,160% 0,550% 0,056% 0,282%
60 - 69 anos 100% 2,920% 0,344% 0,304% 1,328% 0,597% 0,328% 0,066% 0,337% 0,535% 0,120% 0,289%
70 - 79 anos 100% 4,636% 0,829% 0,633% 2,064% 0,828% 0,636% 0,163% 0,437% 0,583% 0,216% 0,310%
80 ou mais 100% 8,490% 2,012% 1,471% 3,352% 0,947% 1,574% 0,366% 0,465% 0,716% 0,548% 0,392%
FONTE - IBGE
33
4. Educação especial para portadores de deficiência mental
CECCIN (apud. SKLIAR, 2000) e GLAT (1998) nos falam da
segregação vivida pelos deficientes mentais da Grécia antiga até a Idade Média,
quando ganharam direito a vida através do reconhecimento de que possuíam uma
alma. Até a Renascença, os deficientes eram abandonados para morrerem de
inanição.
Com o reconhecimento de que eram filhos de Deus e possuíam uma
alma, passaram a ser entregues a igrejas ou a conventos onde eram explorados
ou cuidados como expiação redentora.
Uma das primeiras instituições para abrigar e cuidar dos portadores de
deficiência mental surgiu na Bélgica, no século XII, e era uma colônia agrícola.
Assim, ao longo do tempo, embora segregados em asilados, eles vão vivendo, e,
no século XV, com o advento da Inquisição, são mandados para a fogueira como
hereges, os motivos eram na maioria das vezes apenas pretextos para que os
inquisidores se apropriassem de bens herdados, pois quando alguém era
condenado pelo tribunal da inquisição os bens passavam a pertencer à Igreja.
O caminho foi longo até metade do século passado, quando com o
desenvolvimento da Psicologia da Aprendizagem, da Lingüística e da análise
experimental do comportamento “começaram a surgir propostas educacionais
alternativas de atendimento a essa população, e que se fundamentava na
descoberta de que “deficiente mental podia aprender” (GLAT, 1998, p. 11).
Desta forma, começam a surgir as escolas de educação especial, e as
salas de classes especiais passam a ser implantadas nas escolas regulares.
Conforme (GLAT, 1998, p11), “a Educação Especial também se tornou um campo
de saber [...]”.
A educação especial só passou a fazer parte das políticas públicas no
Brasil em 1973, quando é criado o CENESP. Ao mesmo tempo, tem início a
34
implantação de subsistemas de Educação Especial em diversas redes públicas de
ensino, conforme nos informa FERREIRA (apud. GLAT, 1998, p. 11)
A educação especial parece seguir um modelo clínico pedagógico,
principalmente em se tratando de portadores de deficiência mental, o que
segundo SKLIAR (2000, p. 12) “gera um pressuposto de que os sujeitos são
limitados, toda orientação educativa está obrigada a orientar-se naturalmente a
essa idéia e os resultados, finalmente, concordam com essa percepção”.
Esse modelo de atribuir as dificuldades de aprendizagem às limitações
biológicas, resulta, segundo SKLIAR (2000, p.13), ”em um fracasso de
resultados”, e assim não podem “comunicar-se pois têm que superar a deficiência
e ser iguais aos demais, onde estão os iguais, onde estão e quem são os
demais? Em vez de jogar, repetem, em vez de mover-se, exercitam-se. Há uma
certa hipocrisia quando se atribui o fracasso da educação especial, justamente
aos alunos especiais.”
Para SKLIAR, ainda, a educação especial poderia ser realizada em
escolas especiais, em classes especiais ou em classes regulares, mas trata-se de
incluir a discussão da educação especial no debate geral da educação e que, pelo
fato de ser uma parte da educação,
“não tenha que refugiar-se, envergonhar-se como se se tratasse
de um tema sem importância. O fato de que a educação especial
está virtualmente excluída do debate educativo é a primeira e
mais importante discriminação sobre a qual, depois, se projetam
sutilmente todas as outras discriminações – por exemplo, as civis,
legais, laborais, culturais, etc. (SKLIAR, 2000 p. 14)”.
O fracasso escolar não pode ser atribuído unicamente aos alunos
especiais. Por tudo o que vimos até aqui parece que ele é gerado por múltiplas
razões, quando notamos que um grande contingente de alunos do ensino
35
fundamental regular está atrasado em relação a sua faixa etária por estar
defasado no seu aprendizado, como apontam os dados do MEC.
Tudo isso sugere que estamos diante de um modelo pedagógico falido,
que não possui os atrativos necessários para motivar os alunos e professores a
um convívio de trocas para construção do conhecimento. Quando falamos em
conhecimento falamos não só na transmissão dos conteúdos curriculares, mas
num espaço que forneça condições para o desenvolvimento humano, o que talvez
possa ser facilitado por outro método de ensino, o que nos aponta ROS (2002, p.
15-39) citando a Teoria da Aprendizagem Mediada do psicólogo dr. Reuven
Feuerstein. A autora aponta que os aportes teóricos que embasam a pedagogia
por ele proposta têm como uma das premissas fundamentais o acesso aos
significados culturais.
Para enfrentar a questão de ser possível tal objetivo à educação
de pessoas com história de deficiência, o autor fala da
modificabilidade, do aprender a aprender. [...] Os processos de
pensamento não são trazidos de forma inata pelos sujeitos. São
produzidos em situações de interações específicas.”
Isso nos remete para o lugar onde essas interações acontecem. Em
primeiro lugar, no núcleo familiar, onde, para FEUERSTEIN (apud. ROS, 2002.
p.34):
“[...] em interações típicas, como a de mãe e filho, abundam as
situações de aprendizagem mediada.[...] Ela atribui significados
específicos a eventos, relações temporais, espaciais, causais e
outras não inerentes tanto ao objeto como às ações da criança.
Estas são mediadas pela mãe ou por outras figuras envolvidas
com os cuidados da criança. Além de transmitir todos os tipos de
informações específicas, que simplesmente não estão disponíveis
via exposição [...], o aprendizado mediado provê o tipo de
36
experiência necessária para a formação da estrutura cognitiva
que possibilitará a apropriação da cultura.”
É no núcleo familiar que o sujeito encontra o reconhecimento de sua
existência adquirindo uma identidade, e ocupa um lugar que a ele foi reservado: o
de dar continuidade à linhagem familiar. Ele faz parte de um projeto que não é
seu, mas de seus antecessores, isto é, o grupo familiar. Encarna as fantasias
inconscientes de realizador do desejo dos pais. É a negação da finitude, é a
transcendência e a continuação da própria vida. Esse núcleo familiar está inserido
num contexto social, faz parte e pertence ao contexto e está impregnado dos
signos deste grupo. Segundo PETROVSKI (1980, p. 14), para a visão de
Vigostski, “...cada función em el desarollo cultural del niño aparece en escena dos
veces, en dos planos, primero en el social, después en el psicológico, primero
entre los hombres, como categoría interpsíquica y luego dentro del niño, como
categoría intrapsíquica.” Neste sentido, ainda para Vigotski, o gesto da criança
que aponta para algo que lhe interessa é socorrido pelo adulto que antes de
interpretar aponta para o objeto. Assim “el gesto (signo) para otros se convierte en
gesto (signo) para sí. De este modo, el niño es el último que llega a comprender
su gesto. (PETROVSKI, 1980, p. 15).”
Parece-nos que, sendo inseparável a condição de troca nas relações
sociais, onde cada grupo humano possui uma herança histórica permeada pelas
relações dentro do contexto social de sua existência, a mediação dos signos
estará impregnada não só dos valores, mas também dos significantes que
permitem a cada membro perceber, interpretar, interagir com a realidade e com
os outros através da fala. Essa função é do grupo parental, como nos propõe
CORREIA (2000, p. 15):
“Dentro das funções do casal parental, destaca-se aquela que
outorga um sentido ao universo de signos com os quais a criança
deve lidar, ajudando-a a transformar as sensações em
sentimentos em idéias, afim de que sejam simbolizadas por meio
de palavras.”
37
Assim, o surgimento de um ser humano que não responde aos padrões
da maioria, aquele que não apresenta condições de reproduzir biológica e
psicologicamente a espécie humana, torna-se uma ameaça por desestabilizar o
que foi estruturado, e romper com a ordem institucional e instalar o caos. Para
BERGER e LUCKMANN (2002, p. 141), “a legitimação da ordem institucional
enfrenta também a contínua necessidade de manter encurralado o caos.” O que
representa o caos deve ser contido, escondido e colocado à margem do
processo social, excluído.
O nascimento de uma criança com qualquer anomalia biológica que
signifique uma incapacidade para corresponder às esperanças dos pais de
gerarem um ser perfeito, ainda mais se o nascimento deste ser aponta para uma
possibilidade de incapacidade, de dependência, essa situação atinge os pais e,
segundo JUPP (1994 p. 40), os pais passam por uma reação de “choque; de
negação; tristeza e raiva; de equilíbrio e entram numa fase de reorganização.” É
importante salientar que quanto mais rápido estes pais chegarem à fase de
reorganização, com ou sem ajuda especializada, iniciarão o processo de busca
por orientação para fazer o que for possível por esta criança.
Parece que há uma dinâmica onde a mãe é quem vai lutar, mesmo
enfrentando muitas vezes a apatia ou a ausência do pai, para buscar uma palavra
que lhe dê alguma esperança de que seu filho possa não ser totalmente
irrecuperável. Assim nos relata MANONNI (1999, p. 1) de sua experiência como
psicanalista no atendimento de familiares que tiveram seus filhos diagnosticados
desde o início como irrecuperáveis: “é a mãe quem vai travar, contra a inércia ou
a indiferença social, uma batalha longa cujo alvo é a saúde de seu filho deficiente,
saúde que ela reivindica mantendo uma moral de ferro em meio à hostilidade e ao
desencorajamento.” Fato que também pudemos presenciar em nossos contatos
com muitas mães de crianças com Síndrome de Down. Mas, ao mesmo tempo
em que luta para buscar ajuda, ela também passa a nutrir um sentimento de
posse, de superproteção. Ela não entrega esse filho a ninguém, exacerbando
também a dependência desse ser que não pode ser por si porque tem alguém
que é por ele. Não lhe é permitido que faça a pergunta que o poderia
38
individualizar quem sou eu: “Esta interrogação nos introduz na diferença entre o
“eu” e o “você”; a autonomia da consciência obtém-se a partir do momento em
que o sujeito pode situar-se no tempo, pondo os outros em seu lugar, ao mesmo
tempo em que se situa em face dos outros” (MANONNI, 1999, p. 194).
Cabe acolhimento a esses pais desde o nascimento desta criança, por
todos que possam ter contato com eles e por força do exercício de sua profissão,
procurando mostrar que com tratamento da criança e acompanhamento dos pais
por profissionais, e o mais rápido possível, esta terá mais chance do que sem
tratamento nenhum.
Os pais, na sua maioria, procuram os recursos disponíveis. Um deles é
a educação especial, que, como vimos, ainda está ausente num grande número
de municípios brasileiros.
A escola é vista pelos pais como um lugar em que há possibilidade de
socialização desta criança, na qual ele possa se preparar para a vida.
No projeto político-pedagógico da escola especial que visitamos, e que
nos foi entregue, constam os seguintes objetivos e metas:
“Nossos principais objetivos, além da escolaridade, estão
relacionados com a criação de um programa de preparação para
o trabalho através de oficinas. Oficinas estas que foram
planejadas a partir de reuniões da comunidade escolar: pais,
alunos e professores. Outro objetivo a ser alcançado é o de
implementar estratégias que permitam que a escola seja vista,
realmente, como uma Unidade de Educação Especial. Estas
estratégias estão relacionadas com a divulgação do trabalho
realizado através de reuniões, debates e registros das mais
variadas formas.”
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A escola foi criada por decreto. O curso oferecido é de Educação
Especial, e é uma escola que deve ser mantida pelo Governo Estadual do Rio de
Janeiro. Mas parece que, pelo segundo objetivo, a escola não é vista como tal.
Como foi criada, a escola está dentro do padrão de escolas de
Educação Especial, onde a média de matrículas é de 107, embora tenha
capacidade para 128 alunos, que devem ser distribuídos em um primeiro turno de
8:00h às 12:00h e um segundo turno de 13:00h às 17:00h. O número de turmas é
de 16, com 8 alunos por turno. Embora no documento conste que as turmas têm
no mínimo 04 e no máximo 06 alunos.
A estrutura dos cursos é de Ciclos, e a classificação da escola é de
nível D.
A seguir, descrevem-se a estrutura e a organização da escola, a partir
das quais podemos ter uma idéia de uma Escola de Ensino Especial:
Recursos Humanos Existentes
Diretor
16 professores – um para cada turma
1 professor de informática
2 professores de música – um para cada turno
2 professores de educação física
1 professor de psicomotricidade
1 servente
1 merendeira
Recursos físicos disponíveis
8 salas de aula
1 sala de leitura
1 sala de informática
1 sala de artes/música
40
1 uma sala de psicomotricidade/vídeo
1 pátio coberto
1 cozinha
1 dispensa
1 sala de materiais
Organização das turmas
As turmas são organizadas de acordo com alguns critérios: procura-se
respeitar a faixa etária do aluno e seu desenvolvimento cognitivo. Não são
organizadas turmas de acordo com a deficiência, a não ser nos casos específicos
de portadores de múltipla deficiência, como deficiência visual e auditiva, nos quais
a comunicação torna-se praticamente impossível.
5. Os professores, o que nos falam
Em 1999, MÜLLER e GLAT publicaram o resultado de sua pesquisa
que envolvia entrevista com 24 professores, do Rio de Janeiro (RJ), Juiz de Fora
(MG) e São Luiz do Maranhão, que, conforme os autores assinalam, “são três
regiões geográficas e sócio-econômicas distintas”, cujo objetivo foi “analisar como
vem sendo desenvolvido e como pode ser melhorado o trabalho pedagógico nas
classes especiais, sob a visão das próprias professoras. [...]” (p. 18)
O que chama a atenção no trabalho e nos resultados da pesquisa é a
quase repetição de alguns relatos que haviam sido feitos pelo diretor da escola e
por algumas professoras, com quem conversamos quando estivemos na escola.
Pudemos perceber que os comentários faziam referência às mesmas questões.
MULLER e GAT (1999), em sua pesquisa, levantaram dados
importantes, que, em nossa percepção, merecem consideração. Podemos
perceber que os professores especiais, em sua maioria, estão trabalhando com
alunos especiais por opção e porque se sentem úteis. São relatos que nos
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parecem de pessoas humanizadas e generosas. Assim foi nossa impressão no
contato que tivemos com o corpo docente da escola especial.
Enquanto MULLER e GLAT procuram conhecer a professora como
profissional, ser humano e, junto, as dificuldades profissionais, nós buscamos
mais conhecer o tratamento dispensado pelo poder público a esta escola de
ensino especial através de sua direção e de seus professores.
A seguir, são reportadas algumas constatações pertinentes ao objeto
deste trabalho. Estas constatações foram feitas por meio de perguntas diretas
durante as entrevistas com o diretor que duraram cerca de uma hora, com a
finalidade de conhecer a escola, e em outros momentos, quando houve
possibilidade de falar com outros professores. Os objetivos dessas entrevistas
foram por nós declarados, por telefone e na primeira entrevista, como sendo para
coletar dados para fundamentar o trabalho monográfico de final de curso.
Chegamos à escola num momento em que houvera a perda de
professores, além de cortes, efetuados pelo estado, do professor de artes e do de
música.
O diretor nos relatou que, para atender aos dois turnos, a escola
necessita de 16 professores de turma, contando no momento com 15, e dos 5
professores para atividades especiais faltavam dois professores de artes e 2 de
educação física, cortados pelo estado. Segundo a Secretaria de Educação/RJ,
essa atividade deve ser desenvolvida pelo professor da turma. A conseqüência
dessa situação, segundo o diretor, era a sobrecarga de trabalho.
Ainda segundo o diretor, as perdas de professores ocorrem por:
pedidos de transferência por interesse do estado ou dos professores, ou por falta
de adaptação ao tipo de escola. Conforme salientado, não é todo tipo de
professor que se adapta, pois os resultados existem, mas são resultados a médio
e longo prazos.
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A reposição dos professores muitas vezes é demorada e dependem de
uma bolsa de profissionais mantida pelo Secretaria de Educação do Estado.
No processo de reposição do professor, estão envolvidas mais
variáveis por tratar-se de uma escola especial. Há dificuldades de várias ordens:
falta de especialização, falta de experiência. Mesmo que o professor aceite a
nomeação e que seja aceito, ainda assim pode não se adaptar.
Se o professor já tiver experiência, não é problema, caso contrário, é
necessário que a escola o treine, no chamado treinamento em serviço, o que
demanda tempo e retarda o processo de ensino. A maioria dos professores não
tem em sua formação para o magistério os conteúdos de didática voltada para o
ensino de portadores de necessidades especiais.
A troca de professores, com muita freqüência, segundo o diretor não só
desorganiza as rotinas da escola como pode trazer, e traz, dificuldades na
educação dos alunos, acarretando um processo de regressão da aprendizagem.
Em relação a programas de atualização e troca de experiências com
outros profissionais, segundo o diretor, são oferecidos cursos que, na maioria das
vezes, não atendem às necessidades dos professores, o que se torna cansativo e
desestimulante por serem cursos com conteúdos ultrapassados. Por vezes, os
cursos são ministrados por profissionais que conhecem bem a teoria mas que não
têm vivência da prática. Os cursos oferecidos não obedecem a um planejamento,
e são esporádicos, e sem consulta quanto às necessidades e demandas dos
professores. Assim, são poucos os cursos que apresentam novidades.
Quando perguntado sobre método de ensino, o diretor salientou que há
uma mistura de práticas que vão-se mostrando eficientes, como o trabalho
através da arte, em que a organização de uma festividade permite trabalhar vários
conteúdos, cumprindo, assim, os objetivos curriculares.
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Com relação à inclusão social, inclusão dessas crianças em outras
escolas da rede regular de ensino, o diretor reporta q ue, dentro do possível, este
tema vem sendo discutido, mesmo porque alguns pais questionam o destino dos
filhos caso as escolas especiais venham a acabar. A esses pais, explica-se que a
situação é um pouco diferente, e que as escolas especiais ainda continuam para
atender quem delas necessita.
Os professores se ressentem, conforme relatado, da quase ausência
de orientação de uma equipe multidisciplinar, à qual pudessem recorrer em caso
de necessidade, não dispondo mesmo de suporte psicológico.
Em relação aos recursos da escola, é comentário que a escola é muito
pobre, carente de recursos.
Os professores sentem falta da maior participação dos pais na vida da
escola. Segundo o diretor, o comparecimento a reuniões tem sido de 90% para os
pais de alunos menos comprometidos e de 20% para os alunos menos
comprometidos.
O diretor acha necessário trazer os pais mais para dentro da escola,
mas, apesar dos esforços, não tem obtido resultado neste sentido.
Outro relato que nos parece relevante é com relação ao tratamento
preconceituoso por parte de alguns alunos e professores de escolas das
proximidades. O que nos parece é que ainda existe clima de rejeição, não só dos
portadores de Síndrome de Down, mas também dos professores de educação
especial.
Quando levantada a questão de leitura, foi relatado pelo diretor que os
professores comentam entre si leituras consideradas interessantes e importantes
para o trabalho na escola. Porém, não existe uma biblioteca básica de livros
especializados pudessem servir de referência para seu trabalho, havendo, sim,
uma biblioteca para as crianças.
44
Por esse relato, percebe-se o sem-número de dificuldades que devem
ser enfrentadas, não bastassem as responsabilidades de educar, a escola ainda é
alvo de políticas formuladas sem o conhecimento do contexto em que serão
aplicada, o que nos faz pensar que, se a escola de ensino especial é tão precária,
como será a educação especial em escolas da rede regular de ensino?
6. Escola inclusiva, papel e sonho
“A Mãe me escreve da maternidade dizendo: ‘Desde o nascimento de minha
filha choro o tempo todo, há três dias que não sei o que fazer, ela nasceu com
trissomia 21.’ Respondi imediatamente : ‘ Diga a sua filha porque você está
chorando, que ela tem trissomia 21, que ela não é como outras crianças que se
sabe como educar, e que você teme que ela seja infeliz.’
Os pais ficaram completamente transtornados com minha carta. Eles ainda
estavam na maternidade. Eles falaram uma para o outro: ‘O que temos a
perder ? Vamos dizer a ela.’ E viram o sorriso extraordinário desse bebê de
cinco dias, e a partir daí houve uma comunicação incrível com essa criança,
que é de uma inteligência!” (DOLTO, 1999, p.89)
É preciso que tudo seja falado. Só é possível interferir na realidade
quando a conhecemos e a aceitamos. Ser portador de Síndrome de Down ou ser
portador de qualquer outra condição que torne uma pessoa “com necessidades
adicionais” (JUPP, 1994, p. 28), não invalida as possibilidades de dar sua
contribuição à Humanidade.
E é preciso falar para o conjunto da sociedade. É preciso levar estas
pessoas a conviverem com o todo da sociedade, pois, quanto mais os portadores
de necessidades adicionais são escondidos, mais se reforçam o preconceito e o
estigma. Achamos que a mudança de atitude é possível, mudança de atitude que
possivelmente deverá ser de mão dupla, pois estas pessoas se afastaram e foram
afastadas e é preciso que voltem a conviver para que se aceitem e para que
possam descobrir que o que pensam uns dos outros – o preconceito - foi
construído e deve ser reconsiderado, o que só é possível através da convivência.
45
Assim, RODRIGUES (1976, p. 432) relata que pessoas preconceituosas com
relação aos negros acreditavam que eles “eram sujos, preguiçosos, violadores da
lei etc”. No momento que tiveram oportunidade de conviver com eles, “tais
cognições foram modificadas suscitando por seu turno uma reestruturação
cognitiva no sentido de modificar os componentes afetivo e comportamental
relacionados a estas crenças, resultando em extinção do preconceito.”
É preciso cuidar para não acentuar as diferenças. Desta forma, o
vestuário deverá ser adequado à idade e não diferente do que as demais crianças
vestem. Os óculos deverão ser adequados ao rosto de modo a não criar formas
grotescas. Deixar de fornecer óculos ou qualquer acessório mais delicado e
adequado é supor que eles não possam cuidar de seus pertences. É reforçar a
idéia de que essas pessoas são incompetentes, dependentes e que por isso
nunca vão se cuidar sozinhas. Possivelmente, não encontrando apoio e incentivo,
dificilmente poderão ser mais independentes. Como qualquer criança, podem
perder ou quebrar seus objetos de uso pessoal, assim como sujar, rasgar a roupa
em brincadeiras, atitudes infantis que não podem ser creditadas à sua
necessidade especial.
Antes de falar em escola inclusiva, devemos falar em sociedade
inclusiva, porque, possivelmente, a escola que exclui é aquela que reproduz a
exclusão social. Se a sociedade considera as pessoas descartáveis,
possivelmente a escola será uma escola de descartáveis; uma escola para os que
conseguem aprender; uma escola que descarta todos quantos tiverem
dificuldade.
Quando ainda se assistem a reportagens sobre regiões onde são todos
analfabetos por que o dono da terra não permite que se instale uma escola, por
que será?
Uma escola que forma analfabetos letrados, que soletram e não sabem
o significado do que estão lendo. Um imenso mundo do faz de conta, ilusório, em
que 95% por cento das crianças estão na escola, porém fazendo o quê?
46
Uma escola inclusiva é fruto de uma sociedade inclusiva, ou pelo
menos uma sociedade que deseja incluir a todos. Uma sociedade que considera a
vida preciosa, como nos aponta JAPP (1994, p. 32):
“Se a vida é preciosa, então, ela deve ser vista como preciosa
para todos nós. Se é importante a oportunidade, então, ela deve
ser colocada à disposição de todos igualmente,
independentemente de sua capacidade física ou intelectual, de
sua aparência, de sua idade, de seu sexo, de sua origem racial,
de sua cultura ou de sua opção sexual.”
Educação parece depender de uma vontade política, de uma escolha.
É preciso que seja uma exigência da sociedade, e como dito anteriormente, é
preciso que as pessoas se mobilizem para que todos não apenas tenham um
direito nominal, do papel, mas o direito real que lhes dá acesso à escola e aos
meios para exercer sua cidadania. Encarando dessa forma, uma sociedade
inclusiva será solidária na distribuição das riquezas, criando mecanismos sociais
que garantam a não-apropriação da maioria dos bens por uma minoria. Com
relação aos processos de inclusão, é preciso que pais, professores e profissionais
facilitadores desse processo possam fiscalizar para que não se torne um
processo onde se cortam verbas e se trata de economizar em detrimento do
atendimento das necessidades educacionais, como nos esclarecem
KARAGIANNIS, STAIMBACK e STAINBACK (STAINBACK e STAINBACK, 1996,
p. 30) “a inclusão genuína não significa a inserção de alunos com deficiência em
classes de ensino regular sem apoio para professores ou alunos. Em outras
palavras, o principal objetivo do ensino inclusivo não é economizar dinheiro: é
servir adequadamente a todos os alunos.”
Isso significa que as escolas devem estar preparadas para receber os
portadores de necessidades especiais. Isso inclui não apenas a adaptação das
instalações como também de seu corpo docente, incluindo todos os profissionais
da escola. Acreditamos que, sem isso, a estigmatização e o preconceito estarão
presentes e logo minarão qualquer ação, reproduzindo a situação anterior, ao
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invés destas pessoas conviverem, beneficiando-se da riqueza da diversidade,
voltando a ser isoladas e rejeitadas. Quanto a isso, alertam LINHARES, LEMOS e
AGAREZ (1999, p. 37): “No momento, o que sabemos sobre a inclusão é pouco
para reforçar a idéia de uma ação bem intencionada em seus propósitos, pois nos
parece imatura na sua execução.”
Permanece ainda uma interrogação: se esse é um processo que partiu
de técnicos envolvidos com educação especial, por mais humanitárias que sejam
suas intenções, nos parece que se está interferindo no destino e na vida de outras
pessoas. Caberia, assim, antes de qualquer mudança, uma grande discussão, no
mínimo com todos os envolvidos. O que o conjunto dessas pessoas deseja? Será
que isto já foi perguntado? Será que todas as dúvidas foram respondidas? Quais
as garantias de que este tipo de programa terá continuidade?
Conclusão
Quer nos parecer que inclusão social dos portadores de necessidades
especiais, em particular dos portadores de deficiência mental, ainda é um sonho
por estar tão distante em vista das dificuldades sócio-econômicas existentes. Não
somos céticos, pois acreditamos que a escola inclusiva é possível, pois todos
poderão se beneficiar no convívio com a diferença, não só a reconhecendo como
também a aceitando, pois a aceitação e o reconhecimento do outro como um ser
humano, com suas limitações, sua incompletude, é reconhecer, e é a
possibilidade que temos de nos reconhecer como incompletos e também com
deficiências em relação a padrões estabelecidos para atender a exigências de
estética do ter e não ser.
Essa mútua aceitação não é obtida por meio de leis ou decretos. É
preciso a convivência, e é preciso que ambos os lados se aceitem, percam o
medo. Se rejeitamos também somos rejeitados, e é preciso romper com esse
processo. Porém, não é possível haver uma imposição, um direcionamento. É
preciso que haja a mobilização dos pais e de todos aqueles já sensibilizados para
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o problema, como muitos já vêm fazendo, esclarecendo, mostrando seus filhos
como seres do vir a ser. Permitindo que, dentro de suas possibilidades, busquem
seu caminho, assumindo um lugar no mundo, de modo a se sentirem produtivos e
dando sua contribuição ao conjunto da sociedade, sem viverem da caridade ou no
isolamento, segregados em um espaço no qual só podem estar sós ou com seus
pares.
Essa não é uma decisão só de aspecto legal. Depende de uma decisão
do conjunto da sociedade. E, apesar de toda a conjuntura econômica nacional e
internacional desfavorável, até mesmo para que se possa mudá-la ao longo do
tempo, é preciso garantir educação para todos, de acordo com suas
necessidades. Isso implica que a escola esteja preparada para receber a todos, e
possibilitar a todos o acesso não apenas a conteúdos curriculares, mas a uma
educação questionadora que permita a formação de um cidadão que se
reconheça como agente de transformação da sociedade. Alguém que possa
questionar e se fazer respeitar em seus direitos, e que defenda o direito do outro.
Uma escola que não forme pessoas para atender às demandas do mercado de
trabalho, mas que possa perceber as mudanças e ir em busca de oportunidades.
O ensino deve ser formativo para todos, e não um mero treinamento
para o concurso vestibular ou treinamento para os mercados emergentes, que
não deixam de ser transitórios. É preciso que o ensino forneça uma formação que
prepare o indivíduo para as mudanças e não para a adaptação. Uma educação
que estimule a colaboração e a solidariedade entre as pessoas.
Como podemos constatar, os dados da realidade do ensino público no
Brasil não são favoráveis. Temos uma escola que não dá conta de ensinar os
alunos regulares. Observa-se, pelas estatísticas, como são significativos os
números da repetência, dos que entram na escola e não conseguem concluir
pelos mais diversos motivos. Alunos que passam vários anos nas classes
escolares e não conseguem aprender a ler. Muitos soletram sem entender o que
estão lendo. Parece que a escola que deveria preparar os indivíduos para
melhores oportunidades de apropriação do capital social não consegue seu
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objetivo de formar um cidadão pleno de sua cidadania. Apenas alguém que, uma
vez excluído, reproduz essa exclusão.
A partir das entrevistas com os docentes da escola especial do ensino
público, observam-se as inúmeras dificuldades que devem ser superadas.
Dificuldades impostas por novas orientações políticas, novas orientações técnico-
pedagógicas questionáveis e que deixam de reconhecer o objeto do próprio
ensino ou se tornam limitadores ao invés de libertadores, uma vez que, ao
contrário de fornecer recursos à escola especial, retira os já existem, gerando
estados de tensão entre os docentes, o que, possivelmente, se refletirá no
relacionamento interpessoal entre docentes e alunos.
Toda esta situação pode gerar um ambiente instável, de desconfiança,
no qual professores, pais e alunos não encontram clima para manter um
relacionamento em que possam construir as necessárias redes de apoio que vão
servir de ponte para que o aluno especial possa ser integrado aos grupos sociais,
buscando novas possibilidades de suporte à vida, amizades, trabalho, lazer etc.
Para isso é necessário um clima de colaboração, de participação, e que pais,
alunos e o corpo docente possam trabalhar juntos para buscar o apoio nas
comunidades, procurando diminuir a resistência ao contato com os portadores de
necessidades especiais.
Certamente, muito contribuiria para que o ensino especial atingisse
seus objetivos se a equipe multidisciplinar se fizesse presente na escola, para
acompanhar e orientar o desenvolvimento do ensino/aprendizado, apoiando o
trabalho dos docentes e auxiliando os pais no entendimento das necessidades de
seus filhos. Levantando dados de modo a preparar programas de capacitação
visando ao crescimento da equipe de docentes e que não apenas atendessem às
demandas, mas oferecendo oportunidades para um crescimento individual.
Parece-nos necessário uma pesquisa para detectar, na comunidade
onde a escola está inserida, as dificuldades, os fatores que impossibilitam o inter-
relacionamento destes grupos com os portadores de necessidades especiais.
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Este seria um trabalho de pesquisa de campo para ser desenvolvido por uma
equipe de cientistas sociais, visando orientar campanhas e ações no sentido de
atitudes mais favoráveis da comunidade para com os portadores de necessidades
adicionais.
Precisamos, certamente, de mudanças de atitude, não só da sociedade
como um todo, mas principalmente dos pais e familiares dos portadores de
necessidades especiais, porque, se os portadores de deficiência mental precisam
de alguém que fale por eles, precisam também que os deixem falar, manifestar
seus desejos. São capazes de entenderem o que se passa, quando têm
oportunidade, de expressar seus sentimentos e opiniões sobre o que estão
vivendo.
Pelos dados levantados, entrevistas e observações em campo, foi
possível verificar a infinidade de dificuldades enfrentadas pelos docentes do
ensino público. Lembremos que a escola em questão é de ensino especial, com
docentes especializados, classes com um número reduzido de alunos, consciente
de sua condição de escola especial, dedicada apenas a alunos com necessidades
especiais. Se nestas condições, esta escola enfrenta tantas dificuldades o que se
espera quando estes alunos com necessidades especiais forem encaminhados
para a chamada escola inclusiva?
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