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Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional
Universidade Federal do Rio de Janeiro
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
PROGRAMA DE PÓS – GRADUAÇÃO EM PLANEJAMENTO URBANO
E REGIONAL – DINTER IPPUR / UFRJ - UEPB
DÓRIS NÓBREGA DE ANDRADE LAURENTINO
Esporte e Lazer nas políticas urbanas: proposições para sua
valorização em Campina Grande - PB
RIO DE JANEIRO - RJ
2017
1
DÓRIS NÓBREGA DE ANDRADE LAURENTINO
Esporte e Lazer nas políticas urbanas: proposições para sua
valorização em Campina Grande - PB
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro como requisito para obtenção do título de Doutora em Planejamento Urbano e Regional junto ao Programa de Doutorado em Planejamento Urbano e Regional, DINTER IPPUR/UFRJ – UEPB.
Orientadora: Profa. Dra. Cláudia Ribeiro Pfeiffer – IPPUR / UFRJ
RIO DE JANEIRO – RJ
2017
2
3
16/05/2017
4
Ao meu pai, Leonardo Honório de Andrade Melo (in memoriam), pela sua desenvoltura e reverência face às questões políticas e sociais, que viveu na esperança de um mundo mais justo e igualitário; à minha mãe, Maria das Dores Nóbrega de Andrade Mélo, pela sua capacidade de entender o “humano” em suas diferentes dimensões. Aos meus pais, DEDICO.
5
AGRADECIMENTOS
A Deus, por fazer-me sentir eternamente grata pela força que conduz em
todo o nosso caminhar.
Ao meu esposo, Edilson, aos meus filhos, Otávio e Ricardo, pelo amor
compartilhado que traduz a célula máter - FAMÍLIA e pela paciência, incentivo,
compreensão e por acreditarem em mim.
À minha mãe, aos meus irmãos, Leonardo e Diana, por me fazerem
entender a importância do ontem, do hoje e do amanhã.
Aos demais familiares e amigos que engradecem o viver com alegria,
entusiasmo, partilha e torcidas.
À minha ORIENTADORA, Profa. Dra. Cláudia Ribeiro Pheiffer, pelas
orientações, pelo tempo dispendido nas leituras e pelo SER HUMANO que é. Meu
obrigada.
A todos os professores do Programa de Pós-Graduação em Planejamento
Urbano e Regional – IPPUR/UFRJ que colaboraram diretamente e indiretamente
para a implementação do DINTER em Planejamento Urbano e Regional -
IPPUR/UFRJ/UEPB; e, em especial, ao entusiasta e grande mestre, professor e
amigo Dr. Mauro Kleiman.
Agradeço à UEPB, a todos que contribuíram e contribuem para o
fortalecimento da política de pesquisa institucional, e, de forma específica, para a
qualificação de seu corpo docente.
A todos os meus amigos de sala e, em especial, Cristianne, Alexandre,
Austerliano, Arthur, Larissa e Fabiano, pelas trocas de conhecimentos e
experiências compartilhadas, companheirismo e pela presteza com jeito singular de
ser de cada um. Serei sempre grata.
Ao Prof. Dr. Cidoval Morais de Sousa, pelo incentivo, apoio e pela dedicação
ao se debruçar sobre a proposta de estudo, ainda em seus primeiros passos.
Ao amigo e colaborador Prof. Dr. Marconi do Ó Catão, no diálogo com a
tese, sempre no processo de estímulo.
6
À Coordenação Técnico-Operacional do programa junto à UEPB. Agradeço
ao Prof. Dr. Luciano Albino, por não medir esforços para o desenrolar da nossa
jornada acadêmica.
A todos os meus companheiros de trabalho, pela compreensão quando das
limitações, em virtude das minhas condições exíguas temporais.
A todos os participantes da pesquisa, pela compreensão, colaboração com a
tese e atenção.
A todos que contribuíram para o desencadear da tese, nas suas diferentes
fases, e, de forma específica, a Roseane Barros, aluna do Departamento de
Educação Física/UEPB, por não medir esforços para ajudar.
De forma muita carinhosa, agradeço a Edilson (meu esposo), Otávio e
Ricardo (meus filhos), e também a Vigny, por compartilharem minhas angústias,
estarem sempre presentes, tecendo fios e socializando conhecimentos no caminhar
do processo de construção desta tese.
Aos professores da Banca Examinadora, pela contribuição e qualificação do
trabalho. Minhas congratulações.
Agradeço a todos que se preocupam com o lugar do esporte e lazer, com
vistas à melhoria da qualidade de vida das pessoas e da vida em sociedade, que
compreendem sua relevância e sua relação com a política urbana.
Meus agradecimentos aos profissionais que contribuíram com a revisão
linguística da tese. A Roberto Santos, pela diagramação do texto, pela paciência,
compromisso e dedicação, meu muitíssimo obrigada.
A todos, e a cada um em particular, meus mais sinceros agradecimentos.
7
Não deixa o samba morrer Não deixa o samba acabar O morro foi feito de samba De samba para gente sambar Quando eu não puder pisar mais na avenida Quando as minhas pernas não puderem aguentar Levar meu corpo, junto com meu samba O meu anel de bamba, entrego a quem mereça usar E quando eu não puder pisar mais na avenida Quando as minhas pernas não puderem aguentar Levar meu corpo, junto com meu samba O meu anel de bamba, entrego a quem mereça usar Eu Vou ficar No meio do povo Espiando Minha escola perdendo ou ganhando Mais um carnaval Antes de me despedir Deixo ao sambista mais novo O meu pedido final Antes de me despedir Deixo ao sambista mais novo O meu pedido final...
Compositores: Edson Gomes da Conceição e Aloísio Silva
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RESUMO
O trabalho partiu da premissa de que o esporte e o lazer devem ser valorizados nas políticas urbanas porque contribuem para a qualidade de vida dos cidadãos e para a vida em sociedade. Seus objetivos consistiam em: identificar como o esporte e o lazer vêm sendo definidos nas políticas públicas brasileiras e qual o lugar e como o esporte e o lazer vêm sendo promovidos nas políticas urbanas brasileiras; analisar as políticas urbanas adotadas nos municípios, sobretudo quanto às políticas voltadas para o esporte e lazer; avaliar as políticas de esporte e lazer adotadas em Campina Grande – PB e suas relações com as políticas urbanas brasileiras. Pretende-se apresentar proposições para a adoção de políticas urbanas que potencializem o acesso ao esporte e lazer. Trata-se de um estudo de abordagem qualitativa, sendo adotados como procedimentos metodológicos: a pesquisa bibliográfica, documental e de campo. A pesquisa bibliográfica tratou do esporte e lazer, bem como seu entendimento como políticas públicas e urbanas. Com a pesquisa documental, buscaram-se elementos para a construção do marco teórico e elucidar como o esporte e o lazer estão explicitados no aparato legal Brasileiro e Campinense. Na pesquisa de campo, foram utilizados: observação e registro fotográfico dos espaços de esporte e lazer da cidade e entrevistas com diferentes atores. Evidenciou-se que as políticas públicas de esporte e lazer começaram a ser intensificadas na década de 1990, sendo ampliadas a partir da criação do Ministério do Esporte; na política urbana brasileira, as ações do esporte e lazer estão relacionadas principalmente à urbanização e infraestrutura; há necessidade de uma maior articulação com a questão habitacional, a mobilidade urbana, a segurança, as condições sanitárias, ambientais e econômicas, com os equipamentos sociais, dentre eles, os voltados para o esporte e lazer. No Plano Diretor da cidade, o esporte e lazer, ainda que de forma tímida, estão valorizados. O Programa “Mexe Campina”, as corridas de rua e as praças com academias foram destacados nas entrevistas. Segundo os gestores, há necessidade de melhorias nas políticas públicas de esporte e lazer e revisão no seu planejamento. Para os usuários e os não-usuários, o lugar do esporte e lazer se justifica, principalmente, no campo da saúde. Os jornalistas destacaram a importância do planejamento urbano e a avaliação das políticas públicas. Os presidentes de SABs enfatizaram a necessidade de uma política de investimento nesta área. Os profissionais de esporte e lazer destacaram a sua preocupação com a gestão da área. As conclusões apontam: o esporte e lazer, considerando sua importância e abrangência, vêm sendo fortalecidos ao longo do tempo. Porém, no Brasil, precisam de maior valorização; merecem ocupar um lugar de grande envergadura na política urbana, porquanto contribuem para a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos e para a vida em sociedade; necessitam ser repensados a partir de um planejamento urbano efetivo, com definição de políticas públicas, em que o poder público exerça o seu papel, com maior participação e controle social visando à democratização do acesso ao esporte e lazer.
Palavras chave: Esporte e lazer. Políticas públicas. Políticas urbanas.
9
ABSTRACT
This work started from the premise that the sports and leisure must be valued in the urban policies as they contribute to the citizens‟ quality of life and life in society. Its objectives were: identify how sports and leisure have been defined in Brazilian public policies and the its place and how sports and leisure have been promoted in Brazilian urban policies; analyze the urban policies adopted in the municipalities, mainly regarding the policies dedicated to sports and leisure adopted in Campina Grande – PB and its relations with Brazilian urban policies. It was intended to present propositions for the adoption of urban policies that potentiate the access to sports and leisure. It is a study based on a qualitative approach and we adopted the following methodological procedures: the bibliographical, documental and field research. The bibliographical research was about the sports and leisure; its understanding as urban and public policies. With the documental research we sought for elements to build the theoretical principle and clarify how sports and leisure are highlighted in the Brazilian and Campinense legal apparatus. In the field research we used: sports observation and photographical register on the spaces of sports and leisure in the city and interviews with different subjects. It was highlighted that: the sports and leisure public policies started to be intensified in the 1990s, being enlarged from the creation of the Sports Ministry; in the Brazilian urban policy, the actions about sports and leisure are related mainly to urbanization and infrastructure; there is the necessity of a bigger articulation regarding the housing issue, the urban mobility, the security, the sanitary, environmental and economic conditions about the social equipment, among them the ones dedicated to sports and leisure. In the city Director Plan, the sports and leisure, even if in a timid way, are valued. The Program “Move Campina”, the street races and the squares with gym equipment were highlighted in the interviews. According to the managers there is the necessity to make the sports and leisure public policies better and the revision on its planning. In the users and non-users opinion the place of sports and leisure are justified, mainly, on the health field. The journalists highlighted the importance of urban planning and the public policies evaluation. The presidents of Neighborhood Associations highlighted the necessity of a policy to invest on such area. The sports and leisure professionals highlighted their concern about this area management. The conclusions showed that: the sports and leisure, considering their importance and comprehensiveness, have been strengthened along the decades, but in Brazil they need a greater appreciation; they need to occupy a place of great importance in urban policies as they contribute to make the citizens‟ life better and to the life in society; they need to be rethought from an effective urban planning, with the definition of public policies where the public power plays its role with a more significant participation and social control aiming the democratization of access to sports and leisure.
Key words: Sports and leisure. Public policies. Urban policies.
10
LISTA DE QUADROS
Quadro 01 - Escolas públicas municipais existentes com instalações esportivas,
por tipo e localização............................................................................................ 32
Quadro 02 - Eixos temáticos da pesquisa “Gestão da Informação sobre o Esporte Recreativo e de Lazer: balanço da Rede CEDES”(2010).................... 163
Quadro 03 - Levantamento da amostra pesquisada......................................... 240
Quadro 04 - Localização dos espaços, serviços e equipamentos públicos de atividades físicas, esportivas e de lazer de Campina Grande – PB, de iniciativa municipal, pesquisados....................................................................... 242
Quadro 05 – Síntese das categorias no campo do esporte e lazer, a partir das falas dos participantes da pesquisa ........................................................... 357
Quadro 06 - Perfil das atividades físicas, esportivas e de lazer organizadas / promovidas pela iniciativa privada, segundo amostra pesquisada.................... 361
11
LISTA DE TABELAS
Tabela 01 – Primeiro balanço do PAC na área de esporte e lazer ................... 221
Tabela 02 – Equipamentos esportivos conforme o 4º balanço do PAC ............ 221
Tabela 03 – Mapeamento do uso dos espaços pesquisados ........................... 249
Tabela 04 – Distribuição de frequência das academias segundo as condições dos aparelhos .................................................................................................... 250
Tabela 05 – Distribuição de frequência de acordo com a existência de cercas em volta da academia. ...................................................................................... 251
Tabela 06 – Distribuição de frequência de acordo com a condição de mobilidade de cadeirantes ................................................................................. 272
Tabela 07 - Distribuição de frequência segundo as condições de calçadas e pisos observados ............................................................................................... 273
Tabela 08 – Distribuição de frequência segundo a disponibilização de coletores de lixo ................................................................................................. 281
Tabela 09 - Opinião dos gestores pesquisados sobre a existência de Políticas Públicas de Esporte e Lazer ............................................................... 302
Tabela 10 – Presença do Esporte e Lazer nas Políticas Urbanas, a partir das justificativas, segundo gestores entrevistados .................................................. 309
Tabela 11 – Distribuição de frequência dos tipos de atividades de esporte e lazer praticados de acordo com os usuários pesquisados ................................ 311
Tabela 12 – Distribuição de frequência dos locais de práticas de esporte e lazer de acordo com os usuários pesquisados ................................................. 312
Tabela 13 – Distribuição de frequência da adesão ao esporte e lazer de acordo com os usuários pesquisados .............................................................
312 Tabela 14 – Distribuição de frequência sobre a avaliação dos equipamentos e serviços de esporte e lazer de acordo com os usuários pesquisados. .......... 313 Tabela 15 – Distribuição de frequência da oferta de Atividades Físicas, Esportivas e de Lazer pelo poder público de acordo com os usuários pesquisados........................................................................................................
315 Tabela 16 – Distribuição de frequência dos tipos de atividades de esporte e lazer praticados de acordo com os não-usuários pesquisados......................... 322 Tabela 17 – Distribuição de frequência dos locais de práticas de esporte e lazer de acordo com os não-usuários pesquisados......................................... 323
12
Tabela 18 – Distribuição de frequência da adesão ao esporte e lazer de acordo com os não-usuários pesquisados......................................................... 323
Tabela 19 – Distribuição de frequência sobre a avaliação dos equipamentos e serviços de esporte e lazer de acordo com os não-usuários pesquisados..... 324
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LISTA DE FIGURAS
Figura 01: Praça e Academia ao ar livre .......................................................... 243
Figura 02: Praça, Academia ao ar livre, área para caminhada e playground .. 244
Figura 03: Praça, Academia ao ar livre cercada e Playground ........................ 244
Figura 04: Academia ao ar livre ........................................................................ 245
Figura 05: Praça, Academia ao ar livre, Playground, área coberta e quiosque 245
Figura 06: Praça, Academia ao ar livre, Playground e Quiosque .................... 246
Figura 07: Praça, Academia ao ar livre, Playground e Quiosque (parte 1) ...... 246
Figura 08: Praça, Academia ao ar livre, Playground e Quiosque (parte 2) ...... 246
Figura 09: Praça, Academia Ao ar Livre, Área coberta e Playground ............. 247
Figura 10: Praça, Academia ao ar livre com Aparelhos de Ginástica .............. 247
Figura 11: Praça ............................................................................................... 248
Figura 12: Equipamento da academia necessitando de pintura/manutenção.. 250
Figura 13: Equipamento da academia em ótimas condições .......................... 250
Figura 14: Complexo Esportivo “O Meninão” – Cobertura do Ginásio ............. 253
Figura 15: Complexo Esportivo “O Meninão” – Entrada .................................. 253
Figura 16: Complexo Esportivo “O Meninão” – Banheiro masculino ............... 254
Figura 17: Complexo Esportivo “O Meninão” – Ginásio ................................... 254
Figura 18: Vila Olímpica das Malvinas – parte de sua extensão ..................... 255
Figura 19: Vila Olímpica das Malvinas – Academia ao ar livre ........................ 255
Figura 20: Vila Olímpica das Malvinas – visão em dois lados ......................... 256
Figura 21: Parque da Criança – Pista de caminhada e corrida ....................... 256
Figura 22: Parque da Criança – Placa de proibições........................................ 257
Figura 23: Parque da Criança – Pista de Skate ............................................... 257
Figura 24: Parque da Criança – Campo de areia ............................................ 258
Figura 25: Parque da Criança – Mini quadra 01 .............................................. 258
Figura 26: Parque da Criança – Mini quadra 02 .............................................. 259
Figura 27: Parque da Criança – Pista de BMX ................................................ 259
Figura 28: Parque da Criança – playground .................................................... 260
14
Figura 29: Complexo Esportivo do Catolé – Visão interna .............................. 260
Figura 30: Complexo Esportivo do Catolé – Playground ................................. 261
Figura 31: Complexo Esportivo do Catolé – Academia ao ar livre .................. 261
Figura 32: Complexo Esportivo do Catolé – área coberta ............................... 262
Figura 33: Parque da Liberdade – ciclovia / caminhada / corrida .................... 263
Figura 34: Parque da Liberdade – placas de proibições ................................. 263
Figura 35: Parque da Liberdade – quadra de areia ......................................... 264
Figura 36: Parque da Liberdade – parte da academia ao ar livre .................... 264
Figura 37: Complexo Esportivo Plínio Lemos – arquibancada ........................ 265
Figura 38: Complexo Esportivo Plínio Lemos – piscina ................................... 266
Figura 39: Complexo Esportivo Plínio Lemos – uma das entradas ................. 266
Figura 40: Complexo Esportivo Plínio Lemos – ginásio ................................... 267
Figura 41: Complexo Esportivo Plínio Lemos – campo de futebol com pista de atletismo ....................................................................................................... 267
Figura 42: Bancos da praça ............................................................................. 268
Figura 43: Rampas de acessibilidade bem sinalizadas, mas fora da norma padrão ............................................................................................................... 270
Figura 44: Rampas de acessibilidade com sinalização apagada .................... 270
Figura 45: Rampas de acessibilidade sem sinalização ................................... 271
Figura 46: Rampas de acessibilidade totalmente fora da norma padrão ......... 271
Figura 47: Sinalização faixa de pedestre ......................................................... 274
Figura 48: Espaço com condição de mobilidade ............................................. 274
Figura 49: Espaço inadequado para mobilidade de cadeirante ....................... 275
Figura 50: Espaço inadequado para mobilidade de cadeirante ....................... 275
Figura 51: Espaço com acessibilidade que favorece a mobilidade de cadeirante .......................................................................................................... 276
Figura 52: Drenagem com uso de grelha ......................................................... 277
Figura 53: Parque do Povo - Drenagem com uso de grelha ........................... 278
Figura 54: Escassez da iluminação da Academia da Saúde no Açude Velho.. 279
Figura 55: Praça com academia com proximidade de parada de ônibus ........ 280
Figura 56: Academia de Saúde sem nenhum coletor de lixo ........................... 282
15
Figura 57: Academia de Saúde com coletor de lixo e saco plástico ................ 282
Figura 58: Coletor do tipo “Tira entulhos” ........................................................ 283
Figura 59: Praça com coletor de lixo ................................................................ 283
Figura 60: Praça com coletores de lixo alternativos ........................................ 284
Figura 61: Estacionamento bem sinalizado, localizado no Parque da Criança 286
Figura 62: Predominância de Algarobas ........................................................ 287
Figura 63: Espaço bem arborizado .................................................................. 287
Figura 64: Área não arborizada ........................................................................ 288
Figura 65: Arborização localizada .................................................................... 288
Figura 66: Plantas estilo jardineira ................................................................... 289
Figura 67: Plantas novas em fase de crescimento .......................................... 289
Figura 68: Academia com placa de explicação de uso dos equipamentos ..... 292
Figura 69: Praça com proximidade com Unidade Básica de Saúde................. 292
Figura 70: Praça com aproximação da Associação de Amigos de Bairro – SAB ............................................................................................................ ....... 293
Figura 71: Praça com aproximação de uma Escola Pública ............................ 293
Figura 72: Praça com aproximação de Escola Pública e Igreja ....................... 294
16
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .................................................................................................. 19
CAPÍTULO 1 – CORPO E SOCIEDADE .......................................................... 37
1.1 Dimensões sobre o corpo ....................................................................... 37
1.2 Sociedade e dimensões sobre o corpo na contemporaneidade ......... 49
1.3 Atividade física e seus benefícios .......................................................... 58
CAPÍTULO 2 - ESPORTE E LAZER NA HISTÓRIA DA HUMANIDADE ........ 67
2.1 Historicizando o esporte no mundo ....................................................... 67
2.2 Dimensão lúdica do esporte e lazer.............................................................. 75
2.3 Esporte e suas categorias conceituais ................................................... 79
2.4 Contextualizando o lazer .......................................................................... 83
2.5 Trabalho, lazer e tempo livre: para além de uma visão funcionalista
do lazer ..................................................................................................... . 95
CAPÍTULO 3 – ESPORTE E LAZER NO BRASIL ........................................... 110
3.1 O esporte na sociedade brasileira ........................................................... 110
3.2 O lazer no Brasil ........................................................................................ 114
3.3 Aparato legal do esporte e lazer .............................................................. 121
CAPÍTULO 4 - POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O ESPORTE E LAZER NO
BRASIL .................................................................................. 135 4.1 O papel do Estado e a participação social: a formalização de
políticas públicas ......................................................................................
....................................................................................................... 135
4.2 O esporte e o desencadear de suas políticas públicas .......................
............................. 149
17
4.3 Conferências nacionais de esporte em busca da implementação de
políticas públicas de esporte e lazer ......................................................
.................. 165
4.4 Políticas públicas de esporte e lazer: a perspectiva institucional
brasileira .................................................................................................... 166
CAPÍTULO 5 - O ESPORTE E LAZER NAS POLÍTICAS URBANAS
BRASILEIRAS ................................................................... 183
5.1 Dinâmica espacial e a questão urbana ................................................... 183
5.2 Planejamento urbano em debate ............................................................. 188
5.3 O urbano e instrumentos de intervenção: o caso brasileiro ................ 194
5.3.1 Primeiras iniciativas para a formalização de políticas urbanas ............. 199
5.3.2 Instrumentos de planejamento e gestão urbanos .................................. 216
5.4 O Programa de aceleração de crescimento e as políticas urbanas
para o esporte e lazer ............................................................................... 218
CAPÍTULO 6 - ESPORTE E LAZER EM CAMPINA GRANDE – PB .............. 225
6.1 O esporte e lazer na política urbana, a partir da Lei Orgânica e Plano
Diretor ........................................................................................................ 225
6.2 Espaços, serviços e equipamentos de atividade física, esporte e
lazer de Campina Grande-PB, de iniciativa municipal, e seus
elementos constitutivos: localização, acessibilidade e rede de
infraestrutura ............................................................................................ 239
6.3 O esporte e lazer na política urbana sob múltiplos olhares ................. 296
CONCLUSÕES ................................................................................................ 364
REFERÊNCIAS ................................................................................................. 383
APÊNDICE ....................................................................................................... 410
APÊNDICE A – Ficha de Observação ............................................................ 411
ANEXOS ............................................................................................... ............ 412
18
ANEXO A – Escolas públicas estaduais existentes em 31.12 e com
instalações esportivas, segundo a Região Nordeste e suas Unidades da
Federação – 2003 ......................................................................................... .... 413
ANEXO B – Número de equipamentos esportivos existentes em 31.12, por
tipo de equipamento e localização, segundo a Região Nordeste e suas
Unidades da Federação – 2003 ........................................................................ 414
ANEXO C – Número de equipamentos esportivos existentes em 31.12, por
tipo de equipamento e condições de funcionamento, segundo a Região
Nordeste e suas Unidades da Federação – 2003 ............................................. 415
ANEXO D – Número de instalações esportivas existentes e em construção
em 31.12, por tipo de instalação esportiva, segundo a Região Nordeste e
suas Unidades da Federação – 2003 ............................................................... 416
ANEXO E – Número de instalações esportivas existentes em 31.12, por tipo
e características das instalações, segundo a Região Nordeste e suas
Unidades da Federação – 2003 ........................................................................ 417
ANEXO F – Número de campos de futebol localizados isoladamente
existentes em 31.12, por tipo de infraestrutura e funcionamento, segundo a
Região Nordeste e suas Unidades da Federação – 2003 ................................ 418
19
INTRODUÇÃO
O presente trabalho considera que o esporte e o lazer devem ser valorizados
e precisam ocupar um lugar relevante no contexto das políticas urbanas, pois se
entende que o lazer e o esporte contribuem para o desenvolvimento pessoal e
social, bem como oportunizam a vivência e a valorização de diferentes práticas e
manifestações socioculturais lúdicas e esportivas. Além disso, estão ligados às
questões de direito, cidadania, educação e inclusão, além de melhorar a qualidade
de vida das pessoas e a vida em sociedade.
Essa premissa foi formulada com base em estudos e experiências da autora,
profissional da área de Educação Física, e tem sua origem em observações
realizadas em projetos com idosos, em escola pública municipal, em experiência na
Universidade Aberta à Maturidade - UAMA/UEPB e na Associação de Pais e Amigos
de Excepcionais - APAE. Esses projetos e observações serão apresentados a
seguir.
Projeto com idosos
O projeto de extensão coordenado pela autora para idosos do município de
Campina Grande – PB (UEPB, 2010), intitulado Atividade Física, Saúde e Qualidade
de Vida do Idoso, foi realizado em torno do Centro de Cultura e Artes da UEPB. O
projeto desencadeou-se a partir de uma atividade extensionista já anteriormente
consolidada, coordenada pelo Dr. Cheng Hsin Nery Chao. Verificou-se que se
conseguiu alcançar bons resultados no sentido da melhoria da qualidade da saúde
dos idosos, havendo relatos de cura de patologias - como exemplo: a bursite
(inflamação na articulação dos ombros); amenização de várias dores de coluna;
melhoria da constipação e dores estomacais, de capacidades físicas e motoras,
pressão arterial e frequência cardíaca, conforme relatório elaborado (UEPB, 2011).
O projeto também contribuiu em outros aspectos, ou seja, otimizou um maior
convívio social, pois normalmente os idosos sentiam-se abandonados e
discriminados por parentes e vizinhos; contribuiu para mudanças de hábitos, atitudes
e valores dos idosos (volta ao mercado de trabalho, retorno de forma efetiva às
ações da família, aceitação de que a velhice é uma fase para ser vivida com
expectativas e novos desafios, minimização da ociosidade, descoberta de novas
20
potencialidades, maior valorização pessoal, interesse em aumentar o convívio social,
entre outros). A compreensão sobre saúde foi ampliada, com práticas educativas de
orientação à saúde, atividades e ações realizadas, através de práticas corporais,
manifestações socioculturais, lúdico-esportivas e dinâmicas foram reconhecidas
como significativas para a melhoria da qualidade de vida; os idosos ficavam
entusiasmados por sentirem-se capazes e felizes ao realizar o que era proposto,
buscando praticar o aprendizado em seu cotidiano.
Foram adquiridos conhecimentos a partir de palestras e oficinas realizadas
sobre temáticas emergentes e escolhidas pelos envolvidos no projeto, favorecendo,
assim, a sua participação ativa no decorrer do projeto.
O conjunto de atividades proposto possibilitou o resgate e o reconhecimento
das potencialidades físicas e motoras, bem como o prazer de dominar e usar o
corpo em situações de desafio.
Nas comemorações festivas, contava-se com a ajuda de todos os
participantes para a confecção de adereços e tematização do ambiente, tendo sido
possível favorecer a sociabilidade, o espírito cooperativo, a criatividade, a inclusão,
sendo visto como ativo, participativo no âmbito do grupo, elevando-se a autoestima,
como observou-se nas suas expressões em diferentes linguagens.
Projeto na escola pública municipal
Em relação a uma experiência desenvolvida pela autora no espaço da
escola, como colaboradora de um projeto extensionista, denominado “Jogos e
Brincadeiras Populares na Escola: uma Possibilidade Socioeducativa”, sob a
coordenação da professora Dra. Lívia Tenorio Brasileiro, desenvolvido na Escola
Municipal Almira de Oliveira, Campina Grande - PB. O citado projeto teve como base
que a Educação Física, como uma área de conhecimento, trata no interior das
escolas, de conhecimentos que foram produzidos culturalmente e que tem nas suas
práticas corporais, sua materialidade. Dentre eles, estão: o esporte, o jogo, a dança,
a ginástica, a luta, entre outras, os quais integram a vida cotidiana, vem sendo
pouco inseridas como conteúdos de ensino nas aulas da Educação Física.
Os jogos e brincadeiras populares na escola, reconhecidos como
construções socioculturais, vêm sendo marcadamente substituídas na vida cotidiana
de uma parcela significativa de crianças e adolescentes, devido à sua limitação de
21
espaço, casas e apartamentos. Por sua restrição de acesso às ruas por riscos
urbanos, e, ainda, com a concepção de que os referidos conteúdos possibilitam o
resgate da cultura e da memória lúdica das crianças, adolescentes, jovens, de suas
famílias, de suas comunidades e das escolas, foram pilares para o desenvolvimento
do projeto, com o foco nessas experiências.
Essa vivência, com os diversos jogos e brincadeiras populares, ajudou cada
vez mais ao trabalho em grupo, pois os que já conheciam mostravam ao colega
como eram as formas de usufruir dos mesmos e a questão de gênero foi percebida
muito fortemente. Ademais, observou-se que há necessidade de ampliar as
discussões sobre o papel socioeducativo da escola e da Educação Física escolar,
com a inserção dos citados conteúdos, como também dos esportes, na busca da
transformação, não apenas do cotidiano escolar, mas na convivência com os
colegas, nas ruas, em sua casa, com a família, entre outros espaços socioculturais.
Experiência na Universidade Aberta à Maturidade
Como professora da disciplina Lazer e Turismo para a Terceira Idade, junto
à Universidade Aberta à Maturidade – UEPB, constatou-se que no início da
disciplina, de acordo com os relatos, as produções, as histórias de vida dos idosos e
dinâmicas realizadas, que a compreensão do lazer era vista apenas numa visão
funcionalista, de forma restrita, e que os conteúdos culturais do lazer eram pouco
explorados/vivenciados pelos idosos, pela não oportunidade de conhecê-los, pela
falta de incentivo, por ordem sociocultural ou por outras questões.
A disciplina oportunizou maior integração entre a turma uma melhor
comunicação para aqueles mais tímidos, descobertas de talentos; oportunizou e
incentivou as diversas práticas e manifestações socioculturais lúdicas e esportivas;
despertou o espírito de coletividade; propiciou visitas culturais, excursões, passeios,
gincana, como forma de lazer crítico e criativo; estimulou a participação em eventos
científicos voltados ao envelhecimento saudável; e possibilitou a socialização de
saberes. Além disso, foi possível conhecer e despertar o interesse e a valorização
por diferentes formas de lazer, favorecendo a sua cidadania, a favor de um
envelhecimento ativo, com vistas a maiores e melhores expectativas de vida, de
uma forma bem-sucedida; visto como pessoa valorizada por si mesma e pela
sociedade.
22
Experiência na Associação de Pais e Amigos de Excepcionais
Com a experiência com os alunos da APAE - Associação de Pais e Amigos
de Excepcionais de Campina Grande - PB nos eventos esportivos e de lazer,
constatou-se que os alunos, independente de idade, gênero, e condições
socioeconômicas, bem como sua família, sentiam-se felizes em ter acesso ao
esporte e lazer nas suas diferentes práticas e manifestações, pois eram vistos como
cidadãos participativos e incluídos na sociedade; capazes de realizar o que era
proposto, ultrapassar seus limites e preconceitos.
Outras atuações no campo do esporte e lazer
A trajetória acadêmico-profissional relacionada ao objeto de investigação
está atrelada à atuação como professora universitária no Curso de Educação Física,
na linha de pesquisa e extensão Políticas Públicas de Esporte e Lazer. Aumentou
esse interesse, após a participação na III Conferência de Esporte e Lazer nas
esferas municipal e regional realizadas em 2010. Por ter pesquisado no Mestrado
Concepções e Significados do Lazer, por estar preocupada com a política
universitária de esporte e lazer e por atuar no setor de Educação da rede pública
municipal. Isto causou inquietação em saber como o esporte e lazer são tratados na
escola, nas políticas públicas, como estão presentes no cotidiano das pessoas e por
considerar o efetivo acesso do esporte e lazer por meio de políticas públicas
urbanas como imprescindíveis funções sociais da cidade.
Diante destes exemplos e situações ora apresentados, e com intuito de
trazer para o debate o lugar do esporte e lazer na política urbana é que se
desenvolveu esta tese. A premissa na qual se fundamentou é a seguinte: o esporte
e o lazer devem ser valorizados nas políticas urbanas porque contribuem para a
qualidade de vida dos cidadãos e para a vida em sociedade.
Seus objetivos consistiam em, através de procedimentos metodológicos:
identificar como o esporte e o lazer vêm sendo definidos em suas especificidades
nas políticas públicas brasileiras;
identificar qual o lugar e como o esporte e o lazer vêm sendo promovidos nas
políticas urbanas brasileiras;
23
analisar as políticas urbanas que vêm sendo adotadas nos municípios brasileiros,
sobretudo no que tange às políticas voltadas para o esporte e lazer. E, à luz do
anterior:
avaliar as políticas de esporte e lazer adotadas em Campina Grande – PB e suas
relações com as políticas urbanas brasileiras, bem como:
estabelecer proposições para a adoção de políticas urbanas que possibilitem o
acesso ao esporte e lazer.
Metodologia
Para a realização do trabalho, tomou-se como base uma metodologia
qualitativa. Numa metodologia qualitativa, segundo Minayo et al. (2002, p. 24), “a
preocupação está voltada em compreender e explicar a dinâmica das relações
sociais, que por sua vez são depositárias de crenças, valores e atitudes”. Nesse
sentido, foram adotados os seguintes procedimentos metodológicos: Pesquisa
Bibliográfica, Pesquisa Documental e de Campo.
A Pesquisa Bibliográfica A Pesquisa Bibliográfica foi realizada com base em material já publicado,
como caracteriza Gil (2010). As fontes utilizadas neste estudo foram: material
impresso como livros, trabalhos acadêmicos científicos, anais de eventos científicos,
além de material em formato digital eletrônico.
A pesquisa bibliográfica foi focada nos seguintes assuntos: considerações
acerca do corpo na sociedade contemporânea; benefícios da atividade física;
aspectos históricos e teórico-conceituais sobre o esporte e lazer, suas diferentes
dimensões e vistos como direitos; o papel do Estado e participação social nas
políticas públicas; políticas públicas de esporte e lazer; questões ligadas ao urbano,
planejamento e instrumentos de intervenção do espaço urbano e sobre o esporte e
lazer na política urbana. Com a pesquisa bibliográfica, pretendia-se fundamentar
teoricamente o esporte e lazer; seu entendimento como políticas públicas e no
campo das políticas urbanas.
24
A Pesquisa Documental Para Marconi e Lakatos (2010), na pesquisa documental, a fonte de coleta
de dados está restrita a documentos, escritos ou não, denominada de fontes
primárias. Quanto à Pesquisa Documental, foi adotada com o propósito de contribuir
na construção do marco teórico e elucidar de que forma o esporte e o lazer estão
explicitados no aparato legal brasileiro e campinense. Para tanto, tomou-se como
referência a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), a LDB – Lei de
Diretrizes e Bases da Educação (1996), a Constituição da República Federativa do
Brasil (1988), o Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), a Lei N. 7853 (1989),
que trata sobre o apoio às pessoas portadoras de deficiência, a Lei N. 9.615/1998,
que institui normas gerais sobre o desporto, o Decreto N. 3.298 (1999), que
regulamenta a Lei N. 7853, que trata da Política Nacional para Integração da Pessoa
Portadora de Deficiência, o Estatuto do Idoso (2003), a Lei N. 11. 438/ 2006 e Lei N.
11. 472/2007, que tratam sobre incentivos e benefícios para fomentar as atividades
de caráter desportivo, a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas
com Deficiência (2007), o Estatuto da Juventude (2013), a Lei Orgânica do Município
de Campina Grande – PB (1990), a Constituição do Estado da Paraíba (2009) e o
Plano Diretor (2006) da referida cidade.
A Pesquisa de Campo A Pesquisa de Campo, entendida como a técnica de pesquisa “utilizada com
o objetivo de conseguir informações e/ou conhecimentos acerca de um problema,
para o qual se procura uma resposta, ou de uma hipótese, que se queira comprovar,
ou, ainda, de descobrir novos fenômenos ou as relações entre eles”, conforme
assevera Marconi e Lakatos (2010, p. 169). A pesquisa de campo foi realizada a
partir dos seguintes instrumentos: Observação sistemática, Registro Fotográfico,
Entrevista e Entrevista semiestruturada.
Tratando-se da Observação, recorreu-se a Marconi e Lakatos (2010, p. 171),
pois, para os autores, “a observação é uma técnica de coleta de dados para
conseguir informações e utiliza os sentidos na obtenção de determinados aspectos
da realidade”. A observação sistemática contribuiu para avaliar as políticas de
esporte e lazer adotadas em Campina Grande – PB e suas relações com as políticas
urbanas brasileiras.
25
Assim sendo, a partir de uma observação sistemática, com uso de diário de
campo e registro fotográfico, buscou-se mapear os espaços, as áreas, os serviços e
os equipamentos de esporte e lazer de interesses físico – esportivos ofertados em
Campina Grande – PB, de iniciativas públicas os quais fizeram parte de um estudo
exploratório, com base em uma amostra intencional, organizada por zonas, a saber:
norte, sul, leste e oeste, com objetivo de caracterizar a oferta e o público nas
diversas áreas e também observar os seus elementos constitutivos, como:
localização, acessibilidade e rede de infraestrutura. As observações serviram ainda
para estabelecer o possível elo de ligação entre as diferentes fontes de dados e
estabelecer categorias de análise.
Participantes de entrevistas das seguintes categorias: Profissionais de
Educação Física que atuam em Projetos/Programas públicos de iniciativa municipal
na área de Atividade Física, Esporte e Lazer; Jornalistas e colunistas esportistas e
Presidente de Associação de Amigos de Bairro.
Profissionais de Educação Física que atuam em Projetos/Programas públicos de
iniciativa municipal na área de Atividade Física, Esporte e Lazer; sendo o lazer
voltado preponderantemente para os interesses físico-esportivos. Esta escolha se
deu por reconhecer a diversidade das possiblidades no campo dos interesses
culturais do lazer. Considerou-se a sua natureza subjetiva e abrangência, e ainda
com intuito de minimizar os possíveis “equívocos” de pesquisa, pois o campo do
esporte e lazer pode favorecer interfaces com o prisma social, artístico, cultural,
turístico, entre outros, dificultando assim o desenho da pesquisa. Desta forma,
esses foram pontos de partidas que levaram a pesquisadora delimitar nestes
interesses, mesmo levando em conta que não é a intenção de uma classificação
dicotômica entre os interesses culturais do lazer. Justifica-se este grupo por ser
tratado no presente estudo como categoria de intervenção, inseridos nos espaços
e serviços de esporte e lazer.
Jornalistas e colunistas esportistas. A formação deste grupo se deu por fazer
parte do campo midiático, entendendo-se como uma categoria que seja
considerada antenada ao campo do esporte e lazer, numa visão contemporânea e
crítico-reflexiva.
Presidentes de Associação de Amigos de Bairro. A escolha se deu por serem
considerados representantes da comunidade, vistos como recurso social
26
diretamente relacionado com as demandas do bairro, com vistas à realidade e
suas necessidades.
A entrevista semiestruturada com a finalidade de avaliar as políticas de
esporte e lazer adotadas em Campina Grande – PB e suas relações com as políticas
urbanas brasileiras foi realizada com os gestores do poder público municipal de
Campina Grande – PB, da área de esporte e lazer e de planejamento urbano, que
estiveram durante as gestões do período de 2005 – 2012 e 2013 – 2016. A escolha
desses períodos se deu pelo fato da mudança de gestão de governo municipal, um
primeiro passou oito anos e o segundo encontrava-se durante o período de coleta de
dados na gestão. A escolha do referido instrumento se deu porque, caso se fizesse
necessário, seriam acrescentadas no roteiro da entrevista outras questões. Foi
entrevistada também a população usuária e não usuária dos equipamentos públicos
de esporte e lazer da cidade de iniciativa municipal, uma vez que os dados foram
coletados sob o prisma de quem é a ponta receptora, podendo assim o esporte e
lazer serem tratados como bens coletivos. Do ponto de vista dos não usuários, essa
categoria foi definida pela população que não fizesse uso dos equipamentos
anteriormente citados, sendo recrutados a partir da sua devida autorização.
O interesse pela entrevista se deu por contribuir numa análise qualitativa do
estudo e ainda com vistas a identificar como o esporte e o lazer vêm sendo definidos
em suas especificidades nas políticas públicas brasileiras; identificar qual o lugar e
como e esporte e o lazer vêm sendo promovidos nas políticas urbanas brasileiras;
analisar as políticas urbanas que vêm sendo adotadas nos municípios brasileiros,
com ênfases especiais às políticas voltadas para o esporte e lazer, e avaliar as
políticas de esporte e lazer adotadas em Campina Grande – PB e suas relações
com as políticas urbanas brasileiras.
Para Gaskell (2002), a entrevista tem como objetivo compreender
detalhadamente crenças, atitudes, valores e motivações em relação aos
comportamentos das pessoas em contexto sociais específicos. Para tanto, foi
utilizada a entrevista de natureza semiestruturada, que foi transcrita (incluindo
hesitações, risos, silêncios, bem como estímulo do entrevistador), conforme
preceitua Bardin (2009).
Quanto às fotografias foram utilizadas como o produto do registro, a partir
dos espaços, serviços, equipamentos de esporte e lazer de iniciativa pública
27
municipal, como fonte documental da pesquisa. De acordo com Loizos (2002), a foto
é um registro importante das ações temporais e dos acontecimentos reais.
Foi realizada também uma entrevista com os organizadores/promotores na
área de esporte e lazer de interesses físico – esportivos, no cenário campinense,
com o intuito de favorecer elementos que possibilitassem a elaboração de
proposituras de políticas urbanas que potencializem o esporte e lazer na cidade.
Para análise dos dados, pautou-se na análise temática de conteúdo,
conforme proposta por Bardin (2011), uma vez que com os dados qualitativos,
considerou-se que no processo de análises das entrevistas procurou-se apreender
categorias, interpelações de silêncios, lacunas, contradições e conflitos
potencialmente manifestos no discurso falado livre, objetivando a apropriação e a
compreensão.
A Análise de Conteúdo A Análise de Conteúdo é uma das técnicas de tratamento de dados em
pesquisa qualitativa. Segundo Bardin (2009), a análise de conteúdo como método
torna-se um conjunto de técnicas de análises das comunicações, que utilizam
procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição dos conteúdos das mensagens.
Análise de Conteúdo é definida por Bardin (2011) como:
Um conjunto de análise das comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitem a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção / recepção (variáveis inferidas) destas mensagens (BARDIN, 2011, p. 47).
A definição de análise de conteúdo surge, no entanto, no final dos anos 1940
– 1950. Porém, só em 1977, há a sua publicação, conforme Bardin (2011) ressalta.
De acordo com Godoy (1995), a análise de conteúdo consiste em uma
técnica metodológica que se pode aplicar em diferentes discursos e a todos as
formas de comunicação, seja qual for a natureza do suporte. Para tanto, o
pesquisador busca compreender as características, estruturas ou modelos que estão
por trás dos fragmentos de mensagens. Deste modo, deve-se entender o sentido da
comunicação como se fosse receptor normal, e, principalmente, desviar o olhar,
28
buscando outra significação, outra mensagem, possível de enxergar por meio ou do
outro lado da primeira.
Para Ander – Egg (1978), a análise de conteúdo pode ser quantitativa e
qualitativa; a análise qualitativa não rejeita qualquer forma de quantificação. Apenas
os índices é que são retidos de maneira não frequencial, podendo o pesquisador
recorrer a testes quantitativos. O que caracteriza a análise quantitativa é o fato da
inferência sempre que é realizada, ser baseada, na presença do índice (tema,
palavra, personagem, etc.), e não sobre a frequência de sua parição, em cada
comunicação individual.
A análise de conteúdo deve ter como ponto de partida uma organização.
Sendo assim, Bardin (2009, p. 121) apresenta as seguintes fases: a pré–análise, a
exploração do material e por fim, o tratamento dos resultados, ou seja, a inferência e
a interpretação. A pré-análise objetiva a sistematização para que o pesquisador
possa conduzir as operações sucessivas de análise. Portanto, num plano inicial, há
a escolha dos documentos a serem submetidos à análise, formulação de hipóteses
para elaboração de indicadores para a interpretação final.
As fases de análise de conteúdo, segundo Bardin (2011) estão
caracterizadas da seguinte maneira:
Pré–análise (fase de organização) – envolve a leitura “flutuante”, ou seja, o primeiro
contato com os documentos que serão submetidos à análise, a escolha deles, a
formulação das hipóteses e objetivos, a elaboração de indicadores que orientarão as
interpretações e a preparação formal do material. No presente estudo, as entrevistas
constituíram o corpus da pesquisa, com algumas questões que tiveram o tratamento,
a partir da referida técnica.
Após a leitura flutuante, passou-se à escolha de índices ou categorias, que
surgiram das questões norteadoras ou das hipóteses, e a organização destes em
indicadores ou temas. “Os temas que se repetem com muita frequência são
recortados do texto em unidades comparáveis de categorização para análise
temática e de modalidade de codificação para o registro dos dados” (BARDIN, 2011,
p. 100).
Fase de exploração do material – São escolhidas as unidades de codificação, ou
seja, compreende-se a escolha de unidades de registro – recorte; a seleção de
29
regras de contagem – enumeração e a escolha de categorias – classificação e
agregação – rubricas ou classes, que reúnem em grupo de elementos (unidades de
registro) em razão de características comuns; classificação – semântico (estudo do
significado), sintático (função que a palavra exerce), léxico (acervo das palavras em
determinado idioma) – agrupar pelo sentido das palavras; expressivo – agrupar as
perturbações da linguagem tais como: perplexidade, hesitação, embaraço, outras da
escrita etc.; e categorização - permite reunir maior número de informações por
intermédio de uma esquematização e assim correlacionar classes de
acontecimentos para ordená-los. Com a unidade de codificação escolhida,
classificam-se em blocos que expressem determinadas categorias.
As categorias devem possuir certas qualidades, como: exclusão mútua –
cada elemento só pode existir em uma categoria; homogeneização – para definir
uma categoria, é preciso haver só uma dimensão na análise. Se existem diferentes
níveis de análise, eles devem ser separados em diferentes categorias; pertinência –
as categorias devem dizer respeito às intenções do pesquisador, aos objetivos da
pesquisa, às questões norteadoras, às características da mensagem etc.;
objetividade e fidelidade – se as categorias forem bem definidas, se os temas e
indicadores que determinam a entrada de elemento numa categoria forem bem
claras, não haverá distorções devido à subjetividade dos investigadores;
produtividade – as categorias serão produtivas se os resultados forem férteis em
inferências, em hipóteses novas, em dados exatos.
Fase de Inferência e Interpretação – A interpretação deverá ir além do conteúdo
manifesto do documento, pois interessa ao pesquisador o conteúdo latente, o
sentido que se encontra por trás do imediatamente apreendido.
Segundo Bardin (2011, p. 137), a inferência é “um instrumento de indução
(roteiro de entrevistas) para investigar as causas (variáveis inferidas), a partir dos
efeitos (variáveis de inferências ou indicadores, referências)”.
Durante a interpretação dos dados, é preciso retornar atentamente ao marco
teórico, pois ele dá embasamento e as perspectivas significativas para o estudo. A
relação entre os dados obtidos e a fundamentação teórica é que darão sentido à
interpretação.
30
Para Godoy (1995) e Bardin (2011), as unidades de análise podem variar:
alguns pesquisadores escolherão a palavra, outras optarão pelas sentenças,
parágrafos e até mesmo o texto. A forma de tratar tais unidades também se
diferencia. Enquanto alguns contam as palavras e expressões, outros procuram
desenvolver a análise da estrutura lógica do texto ou de suas partes, e outros, ainda,
centram sua atenção em temáticas determinadas.
Em atendimento às exigências éticas de pesquisas na área de Ciências
Sociais, o estudo foi apreciado pelo Comitê de Ética da Universidade Estadual da
Paraíba, sendo o projeto de pesquisa aprovado sob o número de registro CAEE
59892116.1.0000.5187. As entrevistas foram realizadas, após o processo eleitoral
da esfera municipal, para que pudessem ser evitados ao máximo vieses, em virtude
da espontânea condição do cotidiano da cidade na época.
Para reconhecimento do campo de estudo, apresentam-se, a seguir,
algumas considerações sobre o Município de Campina Grande - PB.
O Objeto Geográfico do estudo O munícipio de Campina Grande – PB está localizado no Agreste paraibano,
na parte oriental do Planalto da Borborema, situado entre o litoral e o sertão. Fica a
120 km da capital do estado, João Pessoa. Foi fundada em 1º de dezembro de
1697, tendo sido elevada à categoria de município em 11 de outubro de 1864. Assim
sendo, no ano de 2014, celebrou o seu Sesquicentenário. A referida cidade exerce
grande influência política e econômica sobre o “Compartimento da Borborema”. Este
engloba cinco microrregiões, conhecidas como: Agreste da Borborema, Brejo
Paraibano, Cariri, Seridó Paraibano e Curimataú. Seu clima é equatorial semiárido.
De acordo com o IBGE (2010), a população estimada em 2015 é de 405.072
habitantes. Sua área de abrangência é de 594 km² e sua densidade demográfica de
648,31 hab/km2. O município destaca-se nas áreas de tecnologia, na informática, na
educação, no comércio e na indústria, principalmente, no setor calçadista e têxtil. É
vista como polo educacional, atendendo a uma demanda estudantil das cidades
circunvizinhas, e de maneira geral, de todas as regiões brasileiras, e com maior
evidência do Nordeste. A cidade vem cada vez mais sendo reconhecida pelo seu
desenvolvimento tecnológico e turístico no cenário mundial.
31
A Região Metropolitana de Campina Grande (RMCG) foi a segunda criada
na Paraíba, através da Lei Complementar Estadual n. 92 de 2009. A matéria foi
aprovada pela Assembleia Legislativa da Paraíba no dia 17 de novembro de 2009 e
sancionada no dia 11 de dezembro 2009 pelo governo do estado. No início, a RMCG
foi formada por 27 municípios, em seguida, esse número se reduziu para 17, pois
seis municípios foram desagregados e agregados para formar uma nova região
metropolitana, a de Esperança. E após, outras mudanças, a partir do ano 2013 a
RMCG passou a ser formada por 19 municípios.
A Prefeitura Municipal de Campina Grande conta com a Secretaria de
Esporte, Juventude e Lazer – SEJEL, que tem como objetivo formular, planejar e
implementar a Política Municipal de Esporte e Lazer, coordenando as ações dela
decorrentes, além de gerir e articular as políticas direcionadas aos jovens dentro do
governo e junto à sociedade. A SEJEL tem também a responsabilidade de gerir os
espaços de Esporte e Lazer da Prefeitura Municipal de Campina Grande, como:
- Parque da Criança;
- Complexo Esportivo “O MENINÃO”;
- Vila Olímpica Plínio Lemos;
- Parque da Liberdade (em construção);
- Praça do Esporte e da Cultura (Malvinas, em construção) e
- Complexo Esportivo do Catolé, entre outros.
No tocante aos equipamentos de esporte e lazer existentes nas escolas
públicas municipais, de acordo com os dados da Secretaria de Educação do
município de Campina Grande – PB, e de forma específica pela Coordenação de
Educação Física Escolar, das 120 (cento e vinte) escolas públicas municipais, há 17
(dezessete) escolas com quadras cobertas, 04 (quatro) com quadras descobertas e
06 (seis) encontram-se em processo de construção; com previsão de aumento
desse número. A sua localização está distribuída da seguinte maneira:
32
Quadro 01 – Escolas públicas municipais existentes com instalações esportivas, por tipo e
localização.
Escola Municipal Tipo Bairro/Distrito Zona
Alice Gaudêncio Quadra descoberta Castelo Branco Leste
Dr. Chateaubriand Quadra coberta José Pinheiro Leste
Dr. José Tavares Quadra coberta Santo Antônio Leste
Maria Cândida Quadra coberta Monte Castelo Leste
Ana Azevedo Quadra de areia Bairro das Nações Norte
Fernando Cunha Lima Quadra coberta Jeremias Norte
Luzia Dantas Quadra coberta Alto Branco Norte
Santo Afonso Quadra coberta Monte Santo Norte
Adalgisa Amorim Quadra coberta Jardim Verdejante Oeste
Advogado Otávio Amorim Quadra coberta Malvinas Oeste
Ageu Genuíno e Marechal Candido Rondon
Quadra de areia Ramadinha I Oeste
CEAI Elpídio de Almeida Quadra descoberta Ramadinha Oeste
Cristina Procópio Quadra de areia Santa Rosa Oeste
Lafayete Cavalcante Quadra coberta Malvinas Oeste
Leonardo Vitorino Guimarães Quadra descoberta Pedregal Oeste
Maria Salomé Quadra coberta Distrito de São José da
Mata Oeste
Padre Antonino Quadra descoberta Bodocongó Oeste
Paulo Freire Quadra coberta Serrotão Oeste
Anis Timani Quadra coberta Acácio de Figueiredo Sul
CEAI Antônio Mariz Quadra coberta Conjunto Ressurreição II Sul
CEAI Dr. João Pereira de Assis
Quadra coberta Catolé Sul
Félix Araújo Quadra descoberta Catolé Sul
Lions Prata Quadra descoberta Catolé Sul
Maria das Vitórias Quadra coberta Bairro das Cidades Sul
Melo Leitão Quadra coberta Quarenta Sul
Roberto Simosen Quadra coberta São José Sul
Selma Agra Vilarim Quadra coberta Cruzeiro Sul
Fonte: Elaboração própria – Dados da Coordenação de Educação Física Escolar (PMCG, 2016).
33
O município de Campina Grande – PB conta também com escolas estaduais
e outros espaços ligados ao esporte e lazer. A cidade conta também com um estádio
com gestão estadual denominado Estádio Ginásio Ernani Sátiro, construído em
1975, conhecido como “O Amigão”, que se encontra em processo de revitalização,
sob acompanhamento de Secretaria Estadual Juventude, Esporte e Lazer.
Estrutura da tese
Os procedimentos metodológicos descritos resultaram, como estrutura da
tese, em seis capítulos.
O primeiro capítulo está intitulado – Corpo e Sociedade. Neste capítulo,
aborda-se o corpo, reconhecendo que a necessidade da sua compreensão esteja
arraigada às diferentes dimensões, sejam elas, biológica, fisiológica, física, social,
psíquica, econômica, religiosa, espiritual, simbólica e cultural, porém inter-
relacionadas, que marcam a condição do indivíduo, acompanhando-a ao contexto
das características societais, ligadas ao processo civilizatório, e, ainda, de
urbanização; onde o SER, o cuidado com o corpo, sejam concebidos para além de
uma ideologia de um “corpo perfeito” e uma perspectiva dual de indivíduo, mas
como um ser que pensa, que age, tem desejos, tem necessidades, tem limites,
expressa-se de diferentes formas, que mantém relações sociais com o mundo, com
ideais de indivíduo/de pessoa, que tem valores que ultrapassem o entendimento do
SER em função do TER e do APARECER; o entendimento do ser na coletividade
que ultrapasse paradigmas de uma sociedade de consumo, de espetáculo, de uma
lógica mercadológica e de um mundo globalizado, com consequências decorrentes
ainda do processo de industrialização e urbanização, e, assim possa ver na
atividade física, no esporte e lazer, oportunidades para a melhoria da saúde, numa
visão mais ampla, considerando a possibilidade de benefícios de diversas naturezas,
independente de idade, gênero, etnia, classe social, entre outras condições, como
também a melhoria da qualidade de vida e a vida em sociedade, assim concebendo
o esporte e o lazer como bens de consumo coletivo sob a égide democrática.
O Capítulo 2 apresenta-se com a denominação – Esporte e Lazer na História
da Humanidade. Evidencia o esporte sob seus aspectos históricos de maneira geral.
Logo após, enfoca-se a dimensão lúdica do esporte e lazer, bem como suas
categorias conceituais. Neste capítulo, tem-se a finalidade de trazer o esporte no
34
panorama em que seja entendido como fenômeno que se expressa, através de
diferentes dimensões, seja como esporte educacional, de participação ou de
rendimento, refletidos em que condições e mecanismos devam ser levados em
consideração para que ampliem a sua importância na vida das pessoas e no
cotidiano das cidades, como também de que forma se consolidam e o que precisam
para ser enaltecidos, num panorama de diferentes práticas esportivas, sejam para
fins de lazer, saúde, entre outras perspectivas. Quanto ao lazer, estão apresentadas
suas várias abordagens, compreendendo-se como fenômeno que tem múltiplos
significados, diante da sua subjetividade e de uma visão histórica conflituosa, e, por
conseguinte, complexa.
Outro aspecto evidenciado é a relação entre esporte e lazer, uma vez que
ambos são campos de estudo, com possibilidades de imbricações. Entretanto, na
presente pesquisa, o esporte é entendido de natureza ampla e o lazer terá o
mergulho principalmente nos interesses físico-esportivos, embora tendo-se o
cuidado de não dicotomizar e não ter uma ideia rígida dos conteúdos culturais do
lazer. Ademais, o lazer não é concebido apenas como um conjunto de práticas, com
vistas meramente à satisfação pessoal, com ocupação de tempo liberado
individualmente, mas que seja entendido para além de um olhar meramente
funcionalista; entende-se o esporte e o lazer não como simples objetos de consumo
alienado, mas como valores diversos, acompanhando os valores pós-modernos
agregados à contemporaneidade, e, ainda, atrelados a uma dimensão lúdica, com
reflexos no processo de industrialização e urbanização e na divisão social do
trabalho. Valores esses que sejam fortalecidos e que ultrapassem a lógica
capitalista, mercadológica e do mundo globalizado.
O Capítulo 3 trata, especificamente, do Esporte e do Lazer no Brasil. E, em
seguida, identifica-se como o lazer e o esporte são entendidos nos aparatos legais
que os vêm normatizando. Desse modo, partiu-se da Declaração Universal dos
Direitos Humanos, logo após, para os diferentes documentos regidos nacionalmente.
O Capítulo 4 está intitulado: Políticas Públicas para o Esporte e Lazer no
Brasil. Aborda-se o papel do Estado e a importância da participação social para
implementação das políticas públicas. Posteriormente, enfatiza-se o esporte e seu
desencadeamento no contexto das políticas públicas; como também as conferências
35
nacionais de esporte e lazer. O capítulo finaliza enfocando as políticas públicas
brasileiras de esporte e lazer.
O Capítulo 5 denomina-se O Esporte e Lazer nas Políticas Urbanas
Brasileiras. O texto discorre inicialmente sobre a dinâmica espacial e a questão
urbana, posteriormente acerca do planejamento urbano, questões ligadas aos
instrumentos de intervenção, planejamento e gestão urbanos, de forma específica no
cenário brasileiro; ressalta-se as suas primeiras iniciativas para formalização das
políticas urbanas, bem como o Programa de Aceleração de Crescimento e as
políticas urbanas para o esporte e lazer.
Este capítulo busca enfatizar de que maneira o esporte e lazer podem ser
pensados, a partir da questão urbana, baseada no contexto histórico, político,
ideológico, econômico e social do país. Por conseguinte, sob o ponto de vista de
política urbana, planejamento urbano, seus instrumentos de intervenção e gestão
urbanos, consideram-se diferentes desafios e possibilidades que venham a atender
às necessidades da população e, em especial, dos menos favorecidos, que estão à
margem social, econômica e cultural.
Assim sendo, faz-se necessário refletir sobre a importância do papel do
poder público em suas diferentes esferas, mas também da participação da
sociedade de forma efetiva, com vistas à consolidação de políticas públicas
consistentes, inclusivas, democráticas, em que a cidade possa ser entendida como
lugar que reúne a vida em suas diferentes dimensões, ou seja, econômica, política,
cultural; e ainda que o esporte e o lazer sejam vistos e tratados como direitos sociais
e que venham qualificar a vida das pessoas e da população, não negados e não
afastados das demais questões que atrelam à política urbana de forma articulada,
como: a questão habitacional, a mobilidade urbana, a segurança, as condições
sanitárias, saneamento, ambientais e econômicas, com os equipamentos sociais,
que ultrapassem os limites financeiros, bem como interesses das classes altas,
tomando como base o Estado Democrático de Direitos, mesmo reconhecendo as
desigualdades sociais e regionais que historicamente assolam o país.
Quanto ao Capítulo 6, intitulado: Esporte e Lazer em Campina Grande – PB,
inicialmente, trata-se como o esporte e o lazer se apresentam na Lei Orgânica do
Município (1990) e sobre questões ligadas ao Plano Diretor da cidade (2006). Neste
sentido, à luz do referido plano, de forma específica, tem-se o lazer no contexto da
36
discussão na função social da cidade; do esporte e lazer na temática de
sustentabilidade; no conteúdo ordenamento da ocupação do solo; no Sistema de
Mobilidade Urbana; na Política Municipal de Meio Ambiente; na questão voltada para
as atividades econômicas e de serviços públicos; na Política Municipal de
Desenvolvimento, Econômico, Científico e Tecnológico; e na Política Municipal de
Turismo. Essas temáticas mencionadas anteriormente foram exploradas no Plano
Diretor de Campina Grande (2006), identificadas através das unidades de registro,
as palavras: esporte (desporto) e lazer.
Posteriormente, estão elucidados os resultados e a discussão da pesquisa
de campo, sendo apresentado inicialmente o mapeamento dos espaços, serviços e
equipamentos de interesses físico-esportivos de Campina Grande – PB. Em
seguida, discorre-se sobre o esporte e lazer e sua relação com a política urbana na
visão dos usuários e não-usuários dos espaços, serviços e equipamentos de esporte
e lazer públicos de iniciativa municipal, e, ainda, na concepção dos gestores,
profissionais de Educação Física, Presidentes de SABs, Jornalistas na área de
esporte, bem como é apresentado um perfil de atividades física, esportivas e de
lazer da cidade, que estão sendo executadas pela iniciativa privada que vem se
destacando em Campina Grande - PB, segundo indicação das pessoas da área,
ações desenvolvidas e, a partir da sua propagação na cidade. Ao término do estudo,
encontram-se as conclusões da tese e por último as referências utilizadas.
37
CAPÍTULO 1 – CORPO E SOCIEDADE
1.1 Dimensões sobre o corpo
Para tratar do esporte e lazer na vida em sociedade, tem-se como ponto de
partida algumas considerações sobre o corpo, as quais buscam apontar panoramas
que permeiam a sua discussão sob diferentes aspectos, seja numa condição que
defenda o corpo não isolado à pessoa, não concebido de forma fragmentada. O
corpo é visto como condição humana e que está presente nas sociedades humanas,
mantendo-o em relação com o mundo; reconhecendo que as sociedades dão ao
corpo diferentes sentidos e os estudiosos elucidam diferentes representações do
corpo. Partindo do pensamento de um filósofo grego, o corpo humano tem suas
simbologias que marcam a existência humana. “Platão considerava o corpo humano
como o túmulo da alma, imperfeição radical de uma humanidade cujas raízes não
estão mais no Céu, mas na Terra” (LE BETRON, 2003, p. 13).
O corpo, nas sociedades tradicionais, de característica comunitária e
holística, segundo Le Breton (2011), numa visão antropológica, não é um objeto de
separação, e o ser humano está imbricado ao cosmos, à natureza e à comunidade;
sendo as representações do corpo, as representações do ser humano e da pessoa.
As representações das tradições populares, a exemplo do curandeirismo, ilustram
esse sentimento. O africano tradicional está mergulhado no cerne do cosmos, de
sua comunidade, permeando a linhagem de seus ancestrais, mantendo uma espécie
de intensidade, conectada a diferentes níveis de relações, representando o princípio
de sua existência.
O corpo, entendido como elemento separável do ser humano, é encontrado
nas estruturas sociais de tipo individualista, nas quais os seres humanos estão
separados uns dos outros, onde o corpo funciona como um marco de fronteira para
demarcar perante os outros a presença do sujeito. Para Le Breton (2011, p. 32), o
corpo é “fator de individuação”. Numa estrutura do tipo individualista, o corpo
funciona como limite de fronteira, “fator de individuação”, como defende Durkheim
(2003), lugar e tempo de distinção, ou seja, uma espécie de marco de fronteira que
encerra a realidade do sujeito e o distingue dos outros. Trata-se de pensar a relação
indivíduo e sociedade e, nessa relação, sobre a construção social dos sentimentos e
sua relação com o corpo.
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Em contrapartida, nas sociedades do tipo comunitário, não existe elemento
de individuação, pois o sentido da existência do ser humano caracteriza uma
submissão ao grupo, ao cosmos, à natureza, pois o próprio indivíduo não se
diferencia do grupo. Para o autor, nas sociedades ocidentais, o ser humano é
separado do cosmos, dos outros e de si mesmo. O corpo é dissociado do sujeito e
percebido como um de seus atributos, uma vez que fizeram do corpo um ter, mais
do que uma origem identificadora. Nas sociedades ocidentais do tipo individualista,
de acordo com Le Breton (2011, p. 37), o corpo funciona como “interruptor da
energia social” e nas sociedades tradicionais, o corpo é a “conexão da energia
comunitária”, pois é através do corpo que o ser humano comunica-se com os
diferentes campos simbólicos, dando sentido à existência coletiva.
O corpo na Modernidade é resultado do recuo das tradições populares e do
advento do individualismo ocidental, demarcando a fronteira entre um indivíduo e
outro. Nas relações entre corpo e modernidade, instala-se uma concepção de corpo
paradoxal, de um lado, visto como suporte do indivíduo, fronteira de sua relação com
o mundo; e de outro modo, o corpo dissociado do ser humano ao qual confere a sua
presença, desta feita, através do modelo privilegiado da máquina.
Le Breton (2011) afirma que o recuo progressivo do riso e das tradições da
praça pública demarcam o advento do corpo moderno como instância separada,
como sinal de diferenciação de um ser humano em relação ao outro, ao contrário do
corpo na sociedade medieval, a exemplo das tradições carnavalescas, em que o
corpo não é distinguido do ser humano.
No século XVI, nas camadas eruditas da sociedade, surge o corpo racional,
marcando a fronteira de um indivíduo em relação ao outro, a clausura do sujeito.
Para Le Breton (2011, p. 48), “um corpo liso, moral, sem aspereza, limitado, reticente
a toda transformação eventual”. A partir das representações do corpo humano, nas
tradições populares, ele é considerado como vetor de inclusão e não é
independente, haja vista que está imbricado com o campo de força e poder de ação
sobre o mundo e sendo influenciado por ele. Assim sendo, o corpo é um vinculador
do ser humano a todas as relações e energias que percorrem o mundo, pois ele não
é universo independente, fechado em si mesmo, à imagem do modelo anatômico,
dos códigos de saber – viver ou do modelo mecanicista.
39
Com o entendimento de ser indivíduo, de ser si mesmo, antes de fazer parte
de um membro de uma comunidade, o corpo se torna os limítrofes que precisam
marcar a diferença de um ser humano em relação ao outro. O tecido comunitário,
que reunia há séculos, apesar das diferenças sociais, as distintas ordens da
sociedade, sob o olhar da teologia cristã e das tradições populares, começa a se
expandir. A estruturação individualista atravessa pouco a pouco no seio do universo
das práticas e compreensões no Renascimento, e de forma limitada em princípio.
Por vários séculos, a certas camadas sociais privilegiadas, a certas zonas
geográficas, o indivíduo se diferencia de seus semelhantes. Ao mesmo tempo, o
recuo, em seguida, o abandono da visão teológica da natureza, leva-o a considerar
o mundo que o cerca, que apenas o ser humano tem o poder de fabricar. Essa
mudança do lugar do ser humano no seio do cosmos particulariza as camadas
burguesas. No Renascimento, há um retorno aos ideais gregos, com a
predominância de uma formação moral da humanidade, com liberdade e
solidariedade.
No universo de valores medievais e renascentistas, o ser humano está
tomado pelo universo, ele condensa o cosmos. O corpo não é separável do ser
humano e do mundo, pois o ser humano é o cosmos. Os anatomistas, antes de
Descartes e da Filosofia mecanicista, fundam um dualismo que é central na
modernidade e não somente na Medicina, um dualismo que distingue por um lado o
ser humano e de outro, seu corpo. Deste modo, com os anatomistas surge o
dualismo contemporâneo que considera o corpo isoladamente; eles distinguem o ser
humano de seu corpo. De acordo com Le Breton (2011, p. 72), “o corpo está
associado ao ter e não ao ser”. E, por consequência de uma participação social, o
indivíduo encontra-se dividido ontologicamente em corpo e espírito. Para os filósofos
mecanicistas, o corpo não é um instrumento da razão, distinguido da presença
humana, torna-se insignificante.
No pensamento de Descartes (1996), numa filosofia mecanicista do século
XVII, o corpo, senão, o ser humano todo inteiro é comparado a uma máquina, ou
seja, o modelo do corpo é uma máquina, o corpo humano é uma mecânica
discernível das outras apenas pela singularidade de suas engrenagens. O ser
humano para ele é uma condensação de um espírito que só encontra sentido em
pensar, e um corpo, ou antes, uma máquina corporal, que se reduz à sua extensão.
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Friedmann (1973) afirma que o fato dos movimentos técnicos supérfluos serem
movimentos biológicos necessários foi o primeiro obstáculo encontrado por essa
assimilação meramente tecnicista do ser humano à máquina. “Não se compara a
máquina ao corpo, compara-se o corpo à máquina” (LE BRETON, 2003, p. 19; LE
BETRON, 2011, p. 395). Le Breton (2011) diz que a metáfora de comparação do
corpo à máquina leva a uma reparação para dar ao corpo uma dignidade que não
seria capaz de ter permanecido somente um organismo, porém para o mesmo se o
corpo fosse realmente uma máquina, não envelheceria, escaparia da precariedade e
da morte.
O saber biomédico é, de certa forma, a representação marcadamente do
corpo humano na contemporaneidade, seja no âmbito universitário, pesquisas,
laboratórios, fundando a medicina moderna. Porém, os saberes sobre o corpo
apresentados nas tradições populares são vários, os quais repousam antes no saber
– fazer ou no saber – ser; não isolam o corpo do cosmos. Desta forma, “o corpo é
sempre uma presa do mundo, uma parcela não destacada do universo” (LE
BRETON, 2011, p. 131). Mesmo esse saber hoje sendo fragmentado, não
desapareceu nos campos. Para Terra (2007), será a natureza biológica o maior
palco de explicação do corpo na sociedade ocidental, por meio principalmente da
Medicina, na qual desmembrar o corpo, conhecer suas funções, suas inervações,
seus líquidos constituintes vem sendo seu constante desafio.
Nas sociedades ocidentais encontram-se várias imagens do corpo, de certo
modo, organizadas em rivalidade uma em relação às outras. Tem-se excessiva
tendência a acreditar que o modelo biomédico suscita unanimidade. Reconhece-se
que os diferentes saberes sobre o corpo são admitidos. A saúde tem sua
importância, pois nas condições habituais da vida, o corpo não para de produzir e de
registrar sentido, encontra-se de uma tarefa a outra, relacionando-se com o
ambiente em um tecido contínuo de sensações. Porém, o ser humano ocidental é
estimulado pelo sentimento de que seu corpo, de certa maneira, é outro que não ele,
uma vez que sua identidade de substância entre o ser humano e estabelecimento
corporal encontra-se abstratamente rompida pela ideia de ter um corpo. Neste
panorama, como o ser humano não poderia ser diferenciado do corpo que lhe dá
forma e rosto, sendo este último presente na fonte de todas as ações humanas.
41
Segundo Rago (2007, p. 53), “como forma de sujeição e de renúncia a si
mesmo, o culto contemporâneo do corpo está nos antípodas do „cuidado de si‟ do
mundo greco-romano”. A autora ainda completa afirmando sobre a importância do
retorno a si mesmo, a partir de todo trabalho ético – estético de elaboração pessoal.
Tomando como base o ideal da beleza desde as suas origens, no século XVIII, que
preconizava harmonia, proporção nas formas corporais, virilidade e moderação
adquiridas com atividade física, esporte e ginástica. No século XIX, a beleza torna-
se moda como forma de escultura do corpo, tendo por função criar homens
saudáveis e fortes para a nação. O cuidado de si para a mesma pode ser uma forma
de facilitar a relação com o outro. Ademais, o interesse em conhecer-se, dar maior
atenção à saúde e os melhores cuidados com o próprio corpo, hoje é visto de forma
mais esclarecida. Para Sennet (1997), o cuidado de si, da aparência e a higiene
pessoal fazem parte da civilidade.
Os estudos do corpo ganham cada vez mais relevância, frente à
impossibilidade de estudar o ser humano em sociedade sem fazê-lo, tomando a
história de sua vida; assim sendo, realizar a história do ser humano é realizar a
história do que o constitui, entendendo o corpo como materialidade humana, uma
vez que nesse lugar de materialidade humana, o corpo, passou e passa por várias
tentativas de sair do desconhecimento. Todavia, na concepção de Durkheim (2003),
a sociedade e os fenômenos sociais não podem ser explicados em termos
biológicos ou psicológicos meramente, uma vez que os fatos sociais não podem ser
reduzidos à forma material, como no materialismo histórico.
Na visão de Mauss (1974, p. 14), “para definir o social como realidade,
considera-se que o social só é real quando integrado a um sistema”. Desta forma,
ressalta como primeiro aspecto o entendimento de fato social total, só pela simples
integração das questões descontínuas: familiar, técnico, econômico, jurídico,
religioso. Além disso, é necessário, em uma experiência individual, de forma integral
e que ao mesmo tempo considerem-se os aspectos físico, fisiológico, psíquico e
sociológico de todas as condutas. Desta forma, o fato social total apresenta-se nas
dimensões propriamente sociológica, na dimensão histórica e a físico-psicológica. O
estudioso ainda completa que só nos indivíduos esta tríplice abordagem pode ser
feita. Mauss (2003) para interpretar as relações entre o indivíduo e o grupo,
mantinha a relação entre o fisiológico e o social, desde os anos 1926. Ademais, para
42
ele, através da educação das necessidades e das atividades corporais é que a
estrutura social imprime sua marca nos indivíduos.
A tríade dar – receber – retribuir são três momentos distintos cuja diferença
é fundamental para a constituição e manutenção das relações sociais. Mauss (2003)
ainda demonstrou que o valor das coisas não pode ser superior ao valor da relação
e que o simbolismo é fundamental para a vida social. Ele chegou a esta
compreensão a partir da constatação de que as modalidades de trocas nas
sociedades arcaicas não são apenas coisas do passado, tendo importância
fundamental para se compreender a sociedade moderna. Semelhantes modalidades
de trocas aparecem para ele, como um fato social total que se revela, com base em
duas compreensões do total: totalidade no sentido de que a sociedade inclui todos
os fenômenos humanos de natureza econômica, cultural, política, religiosa, entre
outros, sem haver nenhuma hierarquia prévia que justifique uma economia natural
que precederia os demais fenômenos sociais. Totalidade, também no sentido de que
a natureza desses bens produzidos pelos membros das comunidades não é apenas
material, mas também simbólica.
A Teoria da Dádiva vem sendo resgatada como um modelo interpretativo
para se pensar os fundamentos da solidariedade e da aliança nas sociedades
contemporâneas. A dádiva está presente em todas as partes e não diz respeito
apenas em momentos isolados e descontínuos da realidade. O que circula tem
várias denominações: chama-se dinheiro, carro, móveis, roupas, mas também
sorrisos, gentilezas, palavras, hospitalidades, presentes, serviços gratuitos, dentre
muitos outros. Para Mauss (2003), aquilo que circula influi diretamente sobre como
se formam os atores e como se definem seus lugares em sociedades. Além disso,
diferentemente dos outros animais, para o autor, o ser humano se caracteriza pela
presença da vontade, da posição da consciência de uns sobre os outros, das
comunicações e ideias, da linguagem, das artes plásticas e estéticas, dos
agrupamentos e religiões, e ainda, “das instituições que são os traços da nossa vida
em comum” (MAUSS, 2003, p. 319 - 320). Deste modo, rompe com uma concepção
positivista de sociedade, que privilegia um recorte empirista e materialista da
realidade social; para inserir as dimensões gestuais, afetivas e ritualísticas.
Desde a antiguidade, entender esse corpo que sofre com as doenças, que é
depositório do pecado, teve na Religião suas pioneiras explicações e na Medicina
43
seus primeiros estudos. Contudo, dentre as variadas possibilidades de estudo do
corpo, pode-se conhecer como se modificaram os cuidados de si, os hábitos de
higiene, as preocupações com a beleza, o tratamento de doenças, os seus hábitos
de civilidade. Como ressalta Sennet (1997), a história da cidade tem na experiência
corporal suas marcas, sendo mencionados os poderes da voz e dos olhos, o papel
da nudez, o calor dos corpos, os banhos e os batismos, o corpo religioso, a pulsação
do sangue no corpo, a higienização dos corpos, as suas posturas, vestimentas etc.
Para Garcia (2005), cidade é o espaço político de uma existência que inicia, decorre
e termina localmente, porém é ainda, a dimensão subjetiva, individual e pessoal.
Deste modo, não se concebe cidade sem seus habitantes.
Segundo Le Breton (2011), Simmel foi o pioneiro a conferir uma descrição
importante do corpo na vida cotidiana e observou o quanto o contexto social exercia
influência sobre as orientações sensoriais; sua compreensão da sociedade como
fenômeno ao mesmo tempo é material e simbólico. Para Le Breton (2011), as
estruturas urbanas facilitam um constante emprego do olhar, porém a socialidade
ocidental mostra-se um tanto quanto distante por intermédio dos imperativos
arquiteturais das cidades. O autor diz que, nas cidades funcionais, racionalmente
concebidas, parecem rejeitar o ser humano e sua experiência sensorial. Acrescenta
que, além do barulho, dos odores desagradáveis, a experiência do ser humano na
cidade resume-se só na visão, como veículo da apropriação pelo ser humano de seu
meio ambiente. Desta feita, o ser humano da cidade mantendo uma relação física
com os lugares, estaria vivendo numa maior intimidade com seu corpo, propiciando
o desenvolvimento sensorial diferenciado, seja nos terrenos do esporte, nos
ginásios, entre outros.
Para o ser humano em deslocamento, conforme o referido autor importa
apenas o olhar, é seu próprio corpo que faz obstáculo ao seu avanço. As sociedades
ocidentais trocaram a raridade dos bens de consumo pela escassez do tempo,
configurando-se o mundo do ser humano que tem pressa. Nesse contexto, a
vontade de exercitar fisicamente é reduzida pelos diferentes obstáculos que
delimitam o espaço, sejam dentro da própria habitação ou fora dela, sendo o corpo
reduzido a uma gama de necessidades arbitrariamente definidas; os tecidos urbanos
inteiramente dominados pela circulação de automóveis parecem um simulacro:
corpo funcionalizado, racionalizado, despedaçado; com base numa ideologia das
44
necessidades que o fragmenta e o priva da natureza simbólica que o envolve. De
outro modo, na casa tradicional, a totalidade da experiência corporal na visão de Le
Breton (2011) é evidenciada.
Na dimensão sensorial, o barulho é considerado na vida contemporânea,
como um elemento que mais perturba o ser humano ao longo do cotidiano, sendo
apontado como o som elevado à posição de estresse. No tocante aos odores, do
contrário das outras sociedades, as sociedades ocidentais não os colocam em uma
posição estética. O seu lugar é mais aquele de um sentimento do belo.
Diante desse contexto, o corpo, em quaisquer que sejam as sociedades
humanas, está significativamente presente. No entanto, as sociedades podem optar
em colocá-lo de forma obscura ou à luz da sociabilidade e, ainda, a todo momento o
sujeito simboliza por meio do seu corpo a tonalidade de sua relação com o mundo e
toda sociedade implica a ritualização das atividades corporais. Conforme Le Betron
(2003, p. 20), “a relação com o mundo era uma relação pelo corpo”.
De acordo com Le Breton (2011), a exploração sensorial, as práticas
corporais, a busca de uma melhora, por meio do melhor uso físico de si,
marcadamente no engajamento energético com o mundo, incorporada por um
conjunto de signos, ou seja, saúde, a forma, a juventude, entre outros, responde
ainda à necessidade de restaurar um enraizamento antropológico tornado precário
pelas condições sociais de existência da Modernidade. Mas o autor ainda diz que, a
aliança ontológica do ser humano com o seu corpo não é reconsiderada senão de
forma voluntária e provisória por exercícios ou por engajamento que se impõem,
mas não solucionam o problema das funções corporais no desencadear da vida
cotidiana. A antropologia diz que o corpo é a condição do ser humano, o lugar de
sua identidade. A versão moderna do dualismo opõe o ser humano ao seu corpo, e
não mais, como tempos atrás, a alma ou espírito a um corpo. Para Le Betron (2003),
no discurso científico contemporâneo, o corpo é concebido como uma matéria
indiferente, simples suporte da pessoa.
A progressão social do esporte impõe um modelo de juventude, de
vitalidade, de sedução, ou de saúde, ideia fortalecida pela publicidade, na qual o
corpo é visto como limpo, claro, jovem, sedutor, sadio, flexível, esportivo, ou seja,
não é o corpo do cotidiano. A esportivização da vida cotidiana atenuou a diferença
45
entre os aparatos da cidade e do esporte, e assim, na modernidade, surgem novas
maneiras de falar do corpo.
A mudança atual de status do corpo, no campo do discurso social, gera o
prazer de ser quem se é sem que interfiram na ideia de si os padrões estéticos em
vigor. Le Breton (2011) assevera que os indicadores sociais mais significativos de
uma “liberação” medida a partir do corpo seriam a integração como parceira integral
no campo da comunicação.
O corpo impõe-se hoje como tema de preferência do discurso social, lugar
geométrico da reconquista de si; lugar de combate desejado com o ambiente graças
ao esforço, ou à habilidade; lugar privilegiado de bem-estar ou do bem aparecer. De
um lado, o corpo desprezado, destituído, da tecnociência, e de outro, o corpo
referenciado, da sociedade de consumo.
O corpo do ser humano nos anos de 1950, ou mesmo de 1960, estava
infinitamente mais presente à sua consciência, seus recursos musculares estavam
mais no coração da vida cotidiana. A caminhada, a bicicleta, o banho, as atividades
físicas ligadas ao trabalho ou à vida doméstica ou pessoal, favoreciam a base
corporal da existência. As práticas corporais situam-se em um cruzamento entre a
necessidade antropológica da luta contra a fragmentação sentida em si e o jogo dos
signos que acrescenta à escolha de uma atividade física um complemento social
decisivo. A preocupação crescente com a saúde e prevenção levam também ao
desenvolvimento de práticas físicas, à uma atenção mais consciente ao seu corpo, à
sua alimentação, ao seu ritmo de vida; induzindo à busca de uma atividade física
regular.
Boltanski (2004), em seus estudos, ressalta que as classes populares que
não prestam atenção ao seu corpo, que o usam principalmente como um
instrumento e que lhe pedem, antes de mais nada, que funcione, a doença se
manifestará fortemente, porque não se aperceberam dos sinais ou se recusaram a
percebê-los, ao contrário das classes superiores. O pesquisador ainda afirma que o
corpo é igual a todos os outros objetos técnicos, cuja posse marca o lugar do
indivíduo na hierarquia das classes, demarcado pela cor, textura, volume, amplidão,
forma ou velocidade de seus deslocamentos no espaço, é um sinal de status.
Uma nova dimensão da realidade se oferece, através da universalidade do
espetáculo, e o ser humano se faz essencialmente pela visão, em detrimento de
46
outros sentidos, cujas imagens tornam-se o mundo, ou seja, a mídia, tecnologia de
ponta, fotografia, vídeo etc. Além disso, floresceu um novo mercado que privilegia o
corpo, desenvolveu-se nesses últimos anos em torno dos cosméticos, dos cuidados
estéticos, das salas de ginásticas, dos tratamentos de emagrecimento, da
manutenção da forma, da busca do bem estar ou do desenvolvimento das terapias
corporais. A partir dos anos de 1970, com o grande crescimento e diversificação das
indústrias da moda, do vestuário e dos cosméticos, entre outros, há também uma
expansão das academias de ginástica.
Para Le Betron (2003), o corpo é um desafio político importante, é um ponto
crucial nas sociedades contemporâneas. É um desafio nos estudos do corpo lidar
com a visão do modelo de corpo perfeito que vem instaurado: corpos magros, fortes,
esguios, lépidos, musculosos, desenhados, assexuados, que dão as mulheres e
homens novas perspectivas frente ao desejo de ser - ter esses novos padrões. O
corpo vem sendo estudado intensamente, não só pelas áreas médicas, na busca de
sua melhor depuração, distante das doenças, má formação, mas também pela
mídia, turismo, tecnologia, entre outras. Esse modelo de corpo passa a viver a
ordem das “anatomias” emergentes e o “bug muscular” que segundo Fraga (2001)
configura-se como inerente ao mundo condenado a aparência e ao consumo, sem
ter noção de que corpo se pode ter-ser hoje.
Na cultura americana, os anos 1980 conheceram um importante
desenvolvimento do mercado do músculo e do consumo de bens e serviços voltados
para a manutenção do corpo. As práticas e as representações do corpo na
sociedade de consumo de massa são enveredadas por mecanismos da regulação
dos fluxos, das matérias, das energias a incorporar, cada indivíduo passa a gerir o
seu próprio corpo. As primeiras preocupações voltadas para as práticas de saúde
continuam próximas de uma visão puritana de controle negativo do corpo. Os
regimes e as estâncias de água eram concebidos para evitar qualquer estimulação
do organismo, vistos mais como práticas de cura. No entanto, a partir de estratégias
preventivas, cotidianas, regulando as atividades corporais, começou a se buscar
mais a produção de energias do que restringi-la.
Sant‟Anna (1995) assevera que as modificações das maneiras de controle
do corpo inscrevem-se na secularização progressiva das práticas religiosas, no
contexto de urbanização e de uma industrialização que modificaram marcadamente
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os modos de vida. No decorrer da primeira metade do século XIX, o interesse
suscitado pelo desenvolvimento corporal vai alterar sensivelmente as imagens do
corpo masculino. A partir de 1840, o modelo de homem musculoso influenciará a
imagem ideal do corpo do homem americano. A popularidade dos esportes e das
“curas” dos movimentos suecos cresce paralelamente ao gosto pelo boxe e pelo
espetáculo dos exercícios de força, que enaltecem a anatomia dos primeiros
homens fortes. Por conseguinte, depois de 1850, as atividades físicas organizadas
adentram à escola e na vida adulta nos Estados Unidos. No final do século XIX, o
tipo atlético, o corpo forte do esportista constitui-se a norma – padrão, e, ainda se
tomou consciência da necessidade de lutar contra os males de uma vida sedentária,
ligada aos empregos em escritório, estresse urbano. A partir de 1860, foram
construídas várias academias nas cidades.
O discurso médico e as condições próprias da era industrial contribuíram
para uma consciência mecânica do corpo, importante para o pensamento esportivo.
Entre 1870 - 1880, a cultura física tornou-se parte constituinte da cultura americana,
com ênfase ao esporte. Por conseguinte, a imagem de homens fortes, aliados a
publicidade, expande no mercado a aparelhagem muscular e aos poucos, ultrapassa
os limites das academias, penetram no cotidiano das pessoas, ocupando o tempo do
lazer, em busca do cuidado muscular da forma corporal. Sant‟Anna (1995) diz que, a
partir dos anos de 1920, modifica-se o sentido pelo gosto do americano pela
atividade física. A ética puritana do trabalho havia se incorporado nas práticas
esportivas, como se a utilidade social destas práticas devesse ser julgada só de
acordo com seu critério. Porém, no final do século XIX, esta ideia de organização
racional e de ordem moral já estava em decadência. Durante as primeiras décadas
deste século, esta lógica foi sendo substituída por uma concepção um pouco
diferente das finalidades da cultura física. O espírito de competição, a vontade de
vencer, tinham, mais ainda que no passado, sido investidos pelo esporte, e invadiam
os domínios da vida social.
Desde 1930, a atividade corporal é destacada no cerne da felicidade, e em
particular, a partir de 1960, a busca hedonista que o espetáculo esportivo sucede foi
enaltecida pelos estudos na área de Psicologia. Sant‟ Anna (1995) assinala que nos
Estados Unidos, a cultura do corpo é uma das maneiras essenciais de compromisso
estabelecido pela ética puritana com as necessidades de uma sociedade de
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consumo de massa. E, ao longo dos anos, novas tendências esportivas surgem, o
prazer pela prática esportiva cresce, por consequência surge a produção de novos
tipos de gestos esportivos, novos espaços de exercícios. Por conseguinte, o
investimento vigoroso e quase artesanal do corpo, que os esportistas tradicionais
exercem, dando à prova suas qualidades de força e de resistência, segundo a
autora, parece dar lugar a outros tipos de investimentos lúdicos do corpo.
De acordo com Gleyse (2007), a partir dos anos 1980, o esporte é entendido
como um sistema complexo, mas não homogêneo, pois é um conjunto de práticas
esportivas ligadas notadamente àquelas do habitus corporais. O esporte para Elias e
Dunning (1992) é uma continuação do processo de civilização dos costumes. Os
campeonatos internacionais substituíram a guerra real, gerando para um grande
número de pessoas no mundo globalizado guerras eufemizadas e sem mortes.
Portanto, o esporte imbricado com a qualidade de vida e na vida em
sociedade, imbuído pela importância nos diferentes olhares sobre o corpo, de
acordo com a realidade cultural e social, remete na contemporaneidade uma relação
com as características com a sociedade globalizada, de consumo e de espetáculo.
O contexto social e cultural interfere no corpo em suas diversas maneiras de falar, andar, pular, soltar, dançar, sentar, ir, ficar de pé, dormir, tocar, ver, viver e morrer, ou seja, o indivíduo “inventa” seu corpo no diálogo com a sociedade. As convenções sociais revelam a relação do indivíduo com o seu meio social através de ritos, etiquetas, características gestuais, formas de percepção, expressão de sentimentos, distinção de classe, códigos culturais e sociais, jogos de aparência e sedução, erotização, adornos, moda, técnicas corporais, marcas de distinção, entretenimento físico, lazer, prazer, sexo, relação com o sofrimento, com a dor, etc (FERREIRA et al, 2013, p. 88).
A vida do homem primitivo, do homem do campo, com contato com a
natureza, diferentemente do homem urbano, viveria de acordo com as necessidades
naturais, sob o ponto de vista de Carvalho e Sabino (2013, p. 17-18), ao dizerem
que:
A vida do homem primitivo, ou no mínimo a vida do homem do campo próximo à natureza e ao contrário da existência do homem urbano, seria verdadeiramente feliz e harmônica, justa e sem desigualdade posto que o homem do campo, da selva ou mesmo da roça viveria de acordo com suas necessidades “naturais”, não corrompidas pela vida das chamadas sociedades civilizadas.
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De outro modo, Giddens (2002) compreende que na possibilidade da
reflexão sobre o fluxo de informações sociais e psicológicas, o indivíduo busca
práticas com o intuito de suprir suas necessidades e ocupar suas carências de
acordo com sua autoidentidade. Essa expansão de códigos, signos e influências
sociais e culturais nas cidades grandes espelha no corpo o que o cotidiano urbano
impõe nos grupos. Conforme o referido autor, para os indivíduos não submergirem
na desordem e no estresse do dia a dia, buscam viver com saúde, envolvidos em
relações sociais e ampliando a percepção, seus afetos e sentidos. Assim sendo,
volta-se o olhar para os cuidados com o corpo, desde a alimentação saudável até as
diversas práticas e atividades físicas. De acordo com Carvalho e Sabino (2013),
surge, nos anos 2000, uma utopia da saúde perfeita. Porém, não mergulhado nessa
guisa, muito embora, reconhecendo os possíveis caminhos enveredados para o
entendimento da saúde e, ainda, não negando a importância das diversas áreas de
conhecimento, para uma melhor compreensão sobre o corpo, também sob a ótica
dos benefícios do esporte e lazer num contexto complexo da sociedade
contemporânea, antenados às políticas urbanas.
1.2 Sociedade e dimensões sobre o corpo na Contemporaneidade
As necessidades podem ser consideradas naturais e evidentes por si
mesmas, ou então vistas como subjetivas, como carências, predileções, desejos,
que dependem dos interesses individuais e coletivos. Em termos de senso comum,
ser um consumidor é ter conhecimento de quais necessidades e as formas de
satisfazê-las, desta maneira, não vistas como um conceito social. A cultura de
consumo é uma maneira de organização de sociedade, cotidianamente. Para Slater
(2002), o consumo de bens e serviços exige mobilização de recursos sociais,
realizado segundo acordos específicos relativos à organização produtiva,
capacidades tecnológicas, relações de trabalho, propriedade e distribuição. Esses
acordos alcançados, a forma pela qual as relações de produção e de consumo
interpõem-se, colocam o consumo no centro das questões acerca do tipo de
sociedade que somos. Segundo este sociólogo, a cultura de consumo surgiu no
Ocidente, a partir do século XVIII, entendida como uma cultura moderna,
progressiva, livre, racional; que se seguiu à industrialização. Ao tratar de sociedade
moderna como uma cultura de consumo, não se refere apenas a um determinado
50
tipo de necessidades e objetos, considerando os valores dominantes de uma
sociedade como valores que não só são organizados pelas práticas de consumo,
mas também, de uma certa maneira, derivados destas práticas; desta feita,
considerando a sociedade contemporânea como materialista, como uma cultura
baseada no dinheiro, preocupada em “ter” em detrimento de “ser”. De outro modo, a
redefinição das horas de folga como horas de consumo, o lazer visto como
mercadoria, tem sido preponderante na manutenção do sistema capitalista.
O consumo, para Lipovetsky (1989), não é uma atividade regrada pela busca
do reconhecimento social; manifestando-se em vista do bem-estar, da
funcionalidade, do prazer para si mesmo. O consumo deixou de ser uma lógica
estatutária, passando a perspectiva do utilitarismo e do privatismo individualista.
Durkheim (2010), como um dos estudiosos contra o individualismo
utilitarista, de forma mais veemente, afirma que o utilitarismo, como modo de vida,
não tinha condições de criar a solidariedade. A divisão de trabalho moderno, para
ele, produziu relações muito densas de interpendência funcional entre os indivíduos.
Contudo, embora o utilitarismo tenha pressuposto que dessa forma produziria uma
coordenação social, com base na busca da satisfação de interesse individual, levado
a diante por todas as pessoas (como a “mão invisível” do mercado de que fala
Smith), ele diz que é necessário haver compromissos morais aglutinadores até para
que os contratos firmados com base no interesse individual sejam devidamente
cumpridos.
A sociedade pré-moderna consolidou-se através da coerência cultural
permitida por uma consciência coletiva, conforme o autor citado anteriormente. A
modernidade também vai acabar com o “culto ao indivíduo” que compreende não
apenas a busca de satisfação do interesse individual, mas também uma
preocupação moral substantiva com o valor, a dignidade e os direitos dos seres
humanos individuais. Desta maneira, tanto a solidariedade quanto a coordenação
social dependem de vínculos substantivos, e não meramente de vínculos formais,
que possam ser entendidos como de caráter cultural, ou que traduzam a coesão
cultural do mundo pré-moderno para as condições socioeconômicas do mundo
moderno. Embora a ideia de Durkheim (2010) aponte a solidariedade moderna no
plano do indivíduo, pressupõe também o reconhecimento, por parte do indivíduo, da
ideia da sociedade como ideal moral regulamentador. De acordo com o autor, a
51
patologia da modernidade contemporânea é atribuída a seu estado de transição, à
existência de uma “divisão de trabalho imposta” que por intermédio das
desigualdades de poder e riqueza nega o valor humano. Para o referido autor, a
consciência coletiva tem diminuído pouco a pouco, devido as consequências da
divisão do trabalho social, pois à medida que este aumenta, os elementos da
sociedade tornam-se, cada vez mais, dependentes uns dos outros, porque cada
elemento fornece bens e serviços.
Por outro lado, a teoria da dádiva, segundo Mauss (2003), possibilita que os
fenômenos comuns à realidade Ocidental, em especial o Estado e o mercado, assim
como a concepção de ser humano como Homo Economicus, podem ser
relativizados, pois perdem seu status universal e dão lugar à presença de um
sistema de reciprocidades de caráter interpessoal, observável em todas as
sociedades, independentemente de serem tradicionais ou modernas. Na lógica da
dádiva, a contemporaneidade poderia ser interpretada como a possiblidade do
desdobramento em alternativas que visam o surgimento de uma sociedade civil em
novas bases, de caráter mundial, porém regionalmente diferenciadas, que se
expande para fora dos domínios do mercado, e que valorize a multiplicação de
perspectivas para a compreensão do conjunto social. Além disso, a existência e a
indissociabilidade entre particular e coletivo abre um espaço para crítica econômica
ao individualismo calculista que funda a moral econômica dominante, e possibilita
reavivar as ideias de caráter associacionista, as organizações sociais autônomas em
relação às instituições políticas e a consolidação da participação direta na sociedade
com o desenvolvimento do exercício da cidadania e o consequente aprimoramento
do espírito democrático.
Para Lipovetsky (2004a), inicialmente, pensava-se a modernidade segundo
os valores de liberdade e igualdade e numa figura inédita, o indivíduo com
autonomia, em ruptura com o mundo da tradição. Porém, na era clássica, o
aparecimento do individualismo se deu no mesmo período com a expansão do poder
do Estado, o que fez essa autonomização dos indivíduos permanecer mais na teoria.
A pós-modernidade representa o período histórico em que os freios institucionais
que se opunham à emancipação individual desaparecem, passando o lugar para à
manifestação dos desejos subjetivos, da realização do indivíduo. A autora entende
que o futuro de nossas democracias está aberto e a responsabilidade individual e
52
coletiva é plena e total; que o papel do mercado tem limites, que a “mão invisível”
providencialista precisa estar atenta para precaver-se de seus próprios excessos. Na
sua visão, já faz tempo que a sociedade de consumo se apresenta sob o signo do
excesso, da abundância de mercadorias; e até os comportamentos individuais
apresentam-se de forma contrária, como observa-se na seguinte afirmativa:
Até os comportamentos individuais são pegos na engrenagem do extremo, do que são prova o frenesi consumista, o doping, os esportes radicais, os assassinatos em série, as bulimias e anorexias, a obesidade, as compulsões e vícios. Delineiam-se duas tendências contraditórias. De um lado, os indivíduos mais do que nunca, cuidam do corpo, são fanáticos por higiene e saúde, obedecem às determinações médicas e sanitárias. De outro lado, proliferam as patologias individuais, o consumo anômico, a anarquia comportamental (LIPOVETSKY, 2004a, p. 55).
Segundo Lipovetsky (2004b, p. 12), “a busca do prazer individual, do
sucesso pessoal e a recusa de engajamentos coletivos limitadores caracterizam a
pós-modernidade”. Acrescenta que a sociedade pós-moderna, no cenário dos
valores morais, não exige sacrifícios, mas a adesão pela própria vontade; e a
culpabilização dos indivíduos deu lugar à mobilização deles, papel que a mídia
assume amplamente. Contudo, assim como a globalização parece ser hoje
responsável pelos danos do planeta, para a autora, a mídia aparece como a causa
da decadência em nossas sociedades liberais, mesmo reconhecendo-a que
favoreceu a uniformização e o conformismo, o refúgio da esfera privada e o
abandono do espaço público, tem o papel de servir ao individualismo pós-moderno
sem o submeter, como também apresenta-se como um fator de liberação, permitindo
que o indivíduo questione os discursos ideológicos e emancipe-se dos esquemas
preconcebidos. Além disso, “a mídia é uma das forças subentendidas na formidável
dinâmica de individualização dos modos de vida e dos comportamentos da nossa
época” (LIPOVETSKY, 2004b, p. 70). A mídia, de certo modo, vem contribuindo para
a superlotação das academias de ginástica, pois são várias as revistas, jornais e
televisão que divulgam “corpos perfeitos” e modelados, os típicos “malhados”.
Segundo Saba (2001), a estética corporal é um dos principais objetivos dos
indivíduos ao procurarem uma academia de ginástica, ressaltando assim, o
interesse e a preocupação pela aceitação social no grupo ou, também, por fazer
parte de um grupo já consagrado de culto ao corpo.
53
A saúde passa a ser vista no campo social, torna-se preocupação
onipresente para um número crescente de indivíduos independente de idade. Os
ideais hedonistas foram suplantados pela ideologia da saúde e da longevidade, bem
como a saúde passa a ter preocupação com o monitoramento e prevenção, entre
outras preocupações, com o enaltecimento da atividade física. Lipovestsky (2004b)
assevera que o culto da saúde e da forma, a busca da beleza de qualquer maneira,
entre outros, são novas modalidades de consumo relacionadas às tecnologias da
comunicação e da informação. Reforça ainda que surge o Homo Consumans, que
triunfa anexando um novo território.
Visto sob outros aspectos, Lipovestsky (2004a) atenta para que a volta ao
passado constitui uma das facetas do cosmo do hiperconsumo experiencial, em que
se evocam lembranças voltadas ao passado, nas condições de venda e comprar
recordações, emoções, que evoquem o passado, reminiscências de tempos
considerados mais esplendorosos. Para a referida autora, dá-se um fenômeno pós –
hipermoderno; pós porque se volta ao antigo e hiper, pois, de agora em diante, há
consumo comercial da relação com o tempo, uma vez que a lógica mercantil
ultrapassa o território da memória. Porém, já a vida cotidiana, apesar de expressar o
gosto pelo passado, mais do que nunca está sob a égide do presente; na higiene, na
saúde, no lazer, no consumo, na educação.
Slater (2002) trata da sua preocupação com a identidade, na modernidade,
pois para ele, na ausência de uma identidade coerente e de valores culturais que
gozem de autoridade, na falta de caráter e profundidade, o indivíduo é determinado
pela sociedade, uma vez que os indivíduos se conformam às expectativas de seus
ambientes sociais imediatos, aceitam a autoridade passageira da opinião pública, da
mídia, da propaganda, dos grupos, de seus pares, os vizinhos. Além disso, diz que,
em geral, as transformações pós-modernas da cidade são ligadas à passagem da
cidade industrial para a cidade como local de consumo, diversão e serviços. As
transformações espaciais implicam novas maneiras de sociabilidade e experiências
urbanas. Ademais, esses espaços são projetados de uma forma clara para setores
sociais (mercado) específicos. As cidades são transformadas para, através de boas
oportunidades de consumo, diversões e lazer que oferecem atrair turistas e outros
movimentos internacionais de pessoas, consumidores de classe média que se
54
deslocaram para a periferia no fim da modernidade e os que estão se tornando
profissionais liberais e do setor de serviços financeiros.
O lugar de consumo, conforme assevera Baudrillard (2008), é a vida
cotidiana. Enquanto para ele, a máquina foi o símbolo da sociedade industrial, o
gadget é o da sociedade pós-industrial. Ao se aceitar a definição do objeto de
consumo pelo desaparecimento relativo da sua função objetiva (utensílio) em
proveito da função de signos, e caso contrário o objeto de consumo se caracterizar
por uma espécie de inutilidade funcional, passa a ser verdadeiramente um objeto de
consumo. Além disso, ele diz que o gadget define-se pela prática que dele se tem,
nem do tipo utilitária e nem simbólica, e sim lúdica. As relações com os objetos, com
as pessoas, com a cultura, com o lazer, trabalho, política são cada vez mais
reguladas pelo lúdico. De outro modo, o corpo é visto como objeto de consumo,
precioso. Sua redescoberta após uma era milenária de puritanismo, sob o signo da
libertação física e sexual, a sua omnipresença, seja na publicidade, na moda e na
cultura das massas, como o culto higiênico, dietético e terapêutico ao redor; a
obsessão pela juventude, elegância, virilidade – feminidade, cuidados, regimes,
entre outras, traduzem como se o corpo fosse o objeto de salvação.
De acordo com Lipovetsky (1989), a Teoria de Veblen coloca,
inegavelmente, o foco numa dimensão essencial da moda: o dispêndio
demonstrativo como meio para significar uma posição, para estimular a admiração e
expor um estatuto social. Nessa teoria, a ideia de consumo ostentatório como
instituição social encarregada de significar a posição social, torna-se uma referência
importante, adquire um valor de exemplo interpretativo insuperável para apreender
no consumo uma estrutura social de segregação e de estratificação.
O corpo, da forma como o estabelece a mitologia moderna, constitui um
objeto parcial hipostasiado, tornou-se como a alma no seu tempo, o suporte
privilegiado da objetivação, e, ainda, segundo Baudrillard (2008), um mito da ética
do consumo; vinculado às finalidades da produção como suporte (econômico), como
princípio de integração (psicológica) dirigida ao indivíduo de forma estratégica
(política) de controle social. Para o referido autor, o consumo constitui um mito, pois
revela-se como termo da sociedade contemporânea sobre si mesma; é a forma que
a nossa sociedade se expressa, ou seja, pensa-se e fala-se como sociedade de
consumo. Pois, na medida em que a sociedade consome, consome-se enquanto
55
sociedade de consumo em ideia. De acordo com Baudrillard (2008, p. 264), “a
publicidade é o hino triunfal desta ideia”. Segundo Castro (2006), no século XX, nas
décadas de 20 e 30 foi que despontou a sociedade de consumo de massa,
começando nos Estados Unidos, e, posteriormente, nos países desenvolvidos na
Europa e Ásia.
As características empíricas da sociedade de consumo, conforme Lipovetsky
(1989), são vistas sob diferentes aspectos: elevação do nível de vida, abundância
das mercadorias e dos serviços, culto dos objetos e dos lazeres, moral hedonista e
materialista, entre outros. No entanto, do ponto de vista estrutural, é a generalização
do processo de moda que a define propriamente. Na sociedade de consumo atual,
com forte influência dos meios de comunicação de massa, há uma verdadeira
veneração pelo corpo esculpido, belo e sedutor. Esse padrão corporal valoriza a
aparência, a sedução, o fascínio. “A imagem corporal resulta tanto da experiência
motora, quanto, e talvez, sobretudo, da sensibilidade sexual motivada pelos desejos,
prazeres e sonhos” (PALMA, 2001, p. 26).
Na cultura de consumo contemporânea, o estilo de vida agrega alguns
elementos presentes na individualidade do proprietário ou consumidor, como diz
Featherstone (1995, p.223). Além disso, menciona a influência da publicidade em
convencionar um estilo de vida e uma consciência de si estilizada,
independentemente de idade e classe social.
Na cultura de consumo contemporânea, a expressão estilo de vida nos remete a individualidade, a auto – expressão e a uma consciência de si estilizada. Para ele, o corpo, as roupas, o discurso, os entretenimentos de lazer, as preferências de comida e bebida, a casa, o carro, a opção de férias, entre outras coisas de uma pessoa, indicam a individualidade do gosto e o senso de estilo do proprietário ou consumidor (FEATHERSTONE, 1995).
Com intuito de compreender as características da sociedade capitalista, uma
das marcas da contemporaneidade, apresenta-se como o conceito de sociedade de
espetáculo, que foi elaborado pelo pensador francês Debord e seus companheiros
da Internacional Situacionista, nos anos 60, do século XX. Na sociedade de
espetáculo, estabelece-se um predomínio da imagem sobre a coisa, da cópia sobre
o original, da representação sobre a realidade, da aparência sobre o ser. Numa
dimensão histórico-crítica do conceito de sociedade de espetáculo, Debord (1991,
56
p.9) afirma que: “Toda a vida das sociedades nas quais reinam as condições
modernas de produção se anuncia como uma imensa acumulação de espetáculos.
Tudo o que era diretamente vivido se afastou numa representação”.
Deste modo, para Debord (1991), o espetáculo é uma relação entre
pessoas, mediatizada por imagens, e, ainda, sob todas as suas formas particulares,
informação ou propaganda, publicidade ou consumo direto de divertimentos,
constitui o modelo presente da vida socialmente dominante. Ademais, a sociedade
de espetáculo pode ser vista na forma difusa, que corresponde aos países
capitalistas desenvolvidos e na forma concentrada, aos países socialistas. O ponto
inicial para a sociedade de espetáculo é o mercado (produção), acompanhado do
espetáculo. As relações humanas passam pelo intercâmbio mercantil e a mercadoria
ocupa totalmente a vida social. Com sua vida e experiências moldadas pelos
espetáculos da cultura e da mídia, o ser humano deixa de ser sujeito ativo da sua
própria história, submisso aos espetáculos consumistas. A produção de espetáculo
pode se apresentar em várias dimensões, ou seja, quando se publica ideia, notícias,
produtos, imagens. Desta feita, a sociedade capitalista, chamada neoliberal, chega a
um estágio em que o consumo, instigado pela publicidade, exerce fortemente
influência sobre a vida das pessoas.
Patias (2006) afirma que a primeira etapa do domínio da economia sobre a
vida caracteriza-se pelo desgaste do “ser” em “ter”, no espetáculo chegou-se ao
reinado poderoso do “aparecer”. As relações entre os homens já não são mediadas
só pelas coisas, como no fetichismo da mercadoria como entende Marx, mas de
maneira direta pelas imagens. O autor ainda ressalta que a sociedade de espetáculo
se expandiu em todas as áreas da vida, e, o surgimento da economia do espetáculo
se deu numa fusão entre negócios e diversão, e assim o entretenimento, de uma
forma rápida, se torna um dos mais importantes aspectos geradores de negócios.
Para Castro (2006), tudo que está relacionado ao lazer torna-se ideologia do
espetáculo.
Conforme Ezequiel (2006), a predominância do sistema capitalista sob a
perspectiva neoliberal do mundo contemporâneo, além de confirmar a inversão do
“ser” pelo “ter”, reafirma a teoria de Debord e transforma em “aparecer”, numa
imagem falsa, construída com base no próprio “ter”, como viu-se anteriormente.
57
Os indivíduos são obrigados a contemplar, desejar e consumir as imagens de tudo o que lhes falta em sua empobrecida existência real. O neoliberalismo multiplica os modelos a serem seguidos, estimula a superficialidade e a fragmentação da realidade e fomenta a mistura da auto- imagem formada com base nos diversos modelos com os próprios modelos (EZEQUIEL, 2006, p. 143).
O corpo é o nosso primeiro e mais natural instrumento, e, a partir dos
gestos, movimentos, técnica corporal, incluindo o esporte, carregam significados que
transmitem valores e expressões de cada sociedade, seja de forma individual ou
coletiva. Sendo assim, o esporte é considerado como espaço de representação,
comunicação e expressão e, por conseguinte, considerado como manifestação da
cultura corporal; tendo vários sentidos e funções. É um patrimônio cultural da
humanidade, e utiliza-se do corpo como forma de linguagem.
De acordo com a BNCC (2017, p. 171), “as práticas corporais são textos
culturais passíveis de leituras e produção”, não devendo ser limitada à mera
reprodução. Desse modo, a Educação Física, no trato com o conhecimento,
permitirá ampliar as possibilidades de uso das práticas de linguagem; conhecer a
organização interna dessas manifestações; compreender o enraizamento
sociocultural das práticas de linguagens e o modo como elas estruturam as relações
humanas. As práticas corporais apresentam-se como elemento essencial o
movimento corporal, são produtos culturais vinculados com o lazer e/ou o cuidado
com o corpo e a saúde (BNCC, 2017).
Diante das questões ora levantadas e considerando que o culto ao corpo na
contemporaneidade agrega algumas reflexões sobre a cultura de consumo
exacerbada, a influência da mídia, a dinâmica da indústria cultural, a lógica
capitalista, as relações advindas do mundo globalizado, entre outros aspectos, bem
como as diferentes denominações para a sociedade atual, levando em consideração
as realidades, tendências e questões da atualidade, tratadas como sociedade
industrial, sociedade pós-industrial, sociedade de consumo, sociedade de
espetáculo etc., nosso estudo busca elucidar que o esporte e o lazer devem ser
valorizados nas políticas urbanas, porque contribuem para a qualidade de vida e
para a vida em sociedade. Considerando, ainda, que o efetivo acesso ao esporte e
ao lazer se dá por meio de políticas públicas urbanas, como imprescindíveis funções
sociais das cidades, a partir da dialogicidade do corpo na sua amplitude, do ser, do
ser na sociedade, das transformações e consequentes aspectos inerentes à vida em
58
e na sociedade, bem como no cotidiano, se reconhece as contribuições do esporte e
lazer para as pessoas e a coletividade, vistos como direitos sociais e tratados nas
políticas públicas de forma efetiva.
1.3 Atividade física e seus benefícios
Embora tradicionalmente a exercitação física moderada esteja presente em
nossas vidas, foi apenas a partir da segunda metade do século XX, mais
especificamente durante o período de Wellfare State, que se consolidaram as
condições históricas preliminares para a democratização das atividades físicas.
Muito embora essas condições ainda não consolidadas, sendo enfraquecidas pelo
processo globalizador desigualmente articulado, associado a diferentes
consequências, a exemplo das oriundas do mundo do trabalho, que venham a
ameaçar a exercitação física regular, numa perspectiva inclusiva e como resultado
do amplo entendimento da diversidade de práticas corporais, da saúde e do lazer.
A temática voltada para o esporte, com ênfase na adesão às atividades
físicas, relacionando-as à saúde; o discurso da saúde sob a visão medicalizada e de
viés econômico, bem como a ótica do fitness remete a interesses em despender
recursos para incentivo dessas práticas. Contudo, na discussão sobre a construção
das condições históricas, é importante levar em conta a sua democratização, e,
ainda, fortalecendo-a como hábito ou atitude comportamental que possa contribuir
para a promoção da saúde e bem-estar dos indivíduos e da sociedade.
Desde a Antiguidade, a prática de atividades físicas tem sido relacionada à
possível melhoria da saúde ou agrupando abordagens de desenvolvimento humano.
Os gregos acreditavam na exercitação moderada como um dos fatores constituintes
da vida saudável. McArdle et al. (1998) ressaltam nos seus estudos que Platão dizia
que o cidadão educado era aquela pessoa que sabia ler e nadar e que Galeno
chamava a atenção para os efeitos positivos do exercício, ante as consequências
deletérias da vida sedentária.
No século XIX, na Europa e nos Estados Unidos, com base em pesquisas na
área de fisiologia do exercício, despontou a separação entre individual e coletivo,
público e privado, biológico e social, curativo e preventivo. Ademais, no final do
referido século, o advento dos Jogos Olímpicos da Era Moderna recolou em
destaque o esporte, considerado uma forma especial de exercitação, caracterizada
59
pela natureza agonística, mas também possível de promover lazer. Portanto,
reconhece-se, tradicionalmente, a atividade física como fator de promoção de saúde
e lazer.
A Organização Mundial da Saúde (2009) adota o seguinte conceito de
saúde:
A condição em que o indivíduo, ou grupo de indivíduos, é capaz de realizar suas aspirações, satisfazer suas necessidades e mudar ou enfrentar o ambiente. A saúde é um recurso para a vida diária, e não um objetivo de vida (WHO, 2009, p. 29).
O conceito de saúde atribuído pela Organização Mundial da Saúde de 1946
avança em 1984, como resultados das críticas feitas aos termos “estado” e
“completo”, quando se definia como “um estado de completo bem-estar físico,
mental e social, e não meramente a ausência de doença ou enfermidade”. Desta
feita, a saúde passa ser entendida não como estado, mas como uma condição.
Segundo Caspersen et al. (1985), a atividade física é qualquer movimento
corporal, produzido pela contração dos músculos esqueléticos que resulta em gasto
energético maior do que os níveis de repouso. A atividade física compreende uma
gama de dimensões que incluem todas as atividades voluntárias, como as
ocupacionais, de lazer, domésticas e de deslocamento. Para Pitanga (2002), a
atividade física tem componentes e determinantes de ordem biopsicossocial, cultural
e comportamental, podendo ser exemplificada por jogos, danças, esportes,
exercícios físicos, atividades laborais e deslocamentos. Enquanto que exercício
físico se refere a toda atividade física planejada, estruturada e repetitiva, que visa à
melhoria e à manutenção de um ou mais componentes da aptidão física
(CASPERSEN et al., 1985). Diante desta perspectiva, o exercício físico é
considerado uma subcategoria de atividade física. Já a aptidão física é considerada
como uma característica que o indivíduo possui ou atinge, como a potência
aeróbica, endurance muscular, força muscular, composição corporal e flexibilidade
(MATSUDO et al., 2001).
Para Bricëno – Léon (2000, p.15), a saúde é entendida como:
Síntese de multiplicidade de processos, do que acontece com a biologia do corpo, com o ambiente que nos rodeia, com as relações sociais, com a política e a economia internacional. A saúde é um índice de bem-estar, talvez o mais importante a ser alcançado por uma população. É uma
60
amostra palpável do desenvolvimento social alcançado por uma sociedade e uma condição essencial para a continuidade desse mesmo desenvolvimento.
De acordo com Paim e Almeida Filho (2000), no relatório acerca do
movimento de promoção de saúde, no Canadá em 1974, estabeleceu-se um modelo
que reúne a biologia humana; o sistema de organização dos serviços; o ambiente, o
qual agrupa o social, o psicológico e o físico; o estilo de vida, que comporta os riscos
ocupacionais, padrões de consumo, atividades de lazer, entre outros. A Carta de
Otawa, um importante documento de referência à promoção de saúde, entre outros
documentos foram significativos nesse campo.
A associação entre a prática de atividade física e melhores padrões de
saúde são amplamente difundidos, no entanto, somente nos últimos 30 a 40 anos,
confirmou-se que o baixo nível de atividade física é fator de risco para o
desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis (MATSUDO; MATSUDO,
2000).
Principalmente após a Segunda Guerra Mundial, aconteceram mudanças no
perfil epidemiológico com o aumento da prevalência de doenças crônicas não-
transmissíveis, tais como: as doenças cardiovasculares, diversos tipos de câncer,
diabetes e obesidade. De acordo com Mondini e Monteiro (2000), nos países do
hemisfério norte propiciou o aumento das correlações causais com a alimentação,
redução de atividade física e outros aspectos vinculados à vida urbana e nos dias
atuais entendidas como problema de saúde pública nos países do hemisfério sul.
Nos últimos 50 anos, o Brasil vem sofrendo forte processo de urbanização, e
consequentemente, percebe-se o aumento de problemas sociais, culturais,
econômicos e ambientais. Para Castells (1994, p. 15), estes problemas ampliam por
causa dessa transformação acelerada e do “impacto de uma revolução tecnológica
baseada em tecnologias de informações/comunicação, formação de uma economia
global e um processo de trocas culturais”.
A associação entre o estilo de vida saudável ao hábito da prática de
atividade física e, consequentemente, a melhoria dos padrões de saúde e qualidade
de vida, traduzem um paradigma na medida em que constitui o modelo
contemporâneo que fundamenta a maioria dos estudos, envolvendo a relação
positiva entre atividade física, saúde, estilo de vida e qualidade de vida.
61
Muitas pesquisas têm evidenciado que o estilo de vida ativo como um fator
de proteção contra várias doenças e agravos não-transmissíveis - DANTs, sendo
excelente mecanismo de promoção de saúde. A partir da segunda metade do século
XX, as sociedades sofreram inúmeras transformações de morbi mortalidade,
desencadeando um processo de transição epidemiológica, no qual diminuíram as
doenças infectocontagiosas à medida que aumentaram as DANTs (PRATA, 1992).
Diferentes instituições e organizações, tais como: International Federation of
Sports Medicine (1990), a American Heart Association (FLETCHER et al., 1992), a
Organização Mundial de Saúde (BIJNEN et al, 1994) e o Colégio Americano de
Medicina Desportiva (PATE et al., 1995) têm ressaltado a importância da adoção de
atividade física regular para a melhoria dos níveis de saúde individual e coletiva,
especialmente para a prevenção e reabilitação da doença cardiovascular.
A prática de exercícios físicos regularmente, de acordo com Knowler et al.
(2002) é fundamental para prevenir doenças crônicas, entre elas o Diabetes Mellitus
– DM. Além disso, a prática de atividade física regular melhora o metabolismo da
glicose e o perfil lipídico e diminui a pressão arterial, reduzindo o risco de pacientes
com DM tipo 2 desenvolverem doenças cardiovasculares (ORGANIZAÇÃO
PANAMERICANA DE SAÚDE, 2003). Conforme Guedes e Guedes (1995), e Powers
e Holey (2000), a melhora da sensibilidade insulínica e a redução da hiperglicemia,
resultantes da prática do exercício físico, poderiam retardar a progressão das
complicações, a longo prazo, do DM, como a arteriosclerose e a microangiopatias.
São inúmeros benefícios do exercício físico na qualidade de vida dos diabéticos,
como: melhora da aptidão cardiovascular, flexibilidade e tonicidade muscular, melhor
controle do peso e da composição corporal, melhoria da autoestima, controle do
estresse e oportunidade de socialização (CANABAL, 1992; MARTINS, 1998).
Santarém (2016) afirma que estudos estabelecem relações entre causa e
efeito entre atividade física e doenças, destacando-se a doença coronariana, a
hipertensão arterial, diabetes tipo II, obesidade, osteoporose, neoplasias do cólon,
ansiedade, depressão. Dentre alguns efeitos salutares da atividade física,
encontram-se: aumento do HDL – colesterol, a redução dos triglicerídeos, redução
da pressão arterial e da tendência às arritmias pela diminuição da sensibilidade à
adrenalina, redução da agregação plaquetária e estímulo à fibrinolise, aumento da
sensibilidade das células à insulina, estímulo ao metabolismo dos carboidratos,
62
estímulo hormonal e imunológico, redução da gordura corporal devido ao maior
gasto calórico e tendência à elevação da taxa metabólica pelo aumento de massa
muscular.
O impacto do esporte e da atividade física de uma maneira geral, sobre o
autoconceito também tem sido abordado em diferentes pesquisas. Entretanto,
estudos afirmam que a influência desta variável pode depender não meramente da
ação benéfica da atividade física sobre o funcionamento fisiológico do organismo,
mas também da dimensão social presente nesta variável.
O sedentarismo é um fator de risco para várias doenças. No entanto, o
esporte traz benefícios, sendo reconhecido como promotor da saúde, educação e do
desenvolvimento humano. O esporte ainda tem a capacidade de desenvolver as
habilidades motoras; promover competências pessoais, como a autoestima,
autocuidado e autoconhecimento; as competências sociais, como a cooperação e a
solidariedade, e as competências cognitivas, a exemplo da resolução de problemas,
atenção; além das competências produtivas, como a criatividade.
Segundo Niedenthal e Beike (1997), o autoconceito é definido como as
representações mentais das características pessoais utilizadas pelo indivíduo para a
definição de si mesmo e regulação do seu comportamento. Ademais, consideram-se
três componentes do autoconceito, a saber: o avaliativo, o cognitivo e o
comportamental, os quais estão relacionados entre si (SCHLENDER et al., 1994). O
primeiro componente é autoestima e consiste na avaliação global que a pessoa faz
do seu próprio valor. O componente cognitivo está constituído pelas percepções que
o indivíduo tem dos traços, das características e das habilidades que possui ou que
deseja ter. O comportamental consiste nas estratégias de auto apresentação
utilizadas pelo indivíduo, como o objetivo de transmitir aos outros uma imagem
positiva de si mesmo. De acordo com Santarém (2016), do ponto de vista
psicológico a atividade física pode contribuir no combate à depressão, atuando como
um catalisador de relacionamento interpessoal, produzindo agradável sensação de
bem-estar e estimulando a autoestima pela superação de pequenos desafios.
De acordo com vários autores, dentre eles, McArdle et al. (1998), o exercício
físico pode retardar ou atenuar o processo de declínio das funções orgânicas que
são observadas com o envelhecimento, uma vez que promove melhorias na
capacidade respiratória, na reserva cardíaca, no tempo de reação, na força
63
muscular, na memória recente, na cognição e nas habilidades sociais. Além disso,
leva a uma participação social, resultando em um bom nível de bem-estar
biopsicofísico, fatores esses que contribuem para a melhoria da qualidade de vida.
Para entendimento sobre qualidade de vida, recorre-se a Nahas (2006),
quando trata que no estudo de qualidade de vida devem ser levados em conta: a
vida social e familiar e a realidade do trabalho. O estudioso também diz que o
sucesso no trabalho, no setor social, na saúde e na vida afetiva faz com as que as
pessoas se sintam felizes, e que o esporte e lazer são determinantes positivos para
a vida do ser humano. Para Nahas (2010, p. 16): “Qualidade de vida é a percepção
de bem-estar resultante de um conjunto de parâmetros individuais e
socioambientais, modificáveis ou não, que caracterizam as condições em que vive o
ser humano”.
Para o autor, os fatores ou parâmetros individuais e socioambientais que
podem influenciar a qualidade de vida de indivíduos ou grupos populacionais são:
Parâmetros socioambientais: moradia, transporte, segurança, assistência médica, condições de trabalho e remuneração; educação; opções de lazer, meio ambiente e cultura. Parâmetros individuais: hereditariedade e estilo de vida (NAHAS, 2010, p. 16).
De acordo com Ogata e Simurro (2009), o Centro de Promoção da Saúde de
Toronto conceitua qualidade de vida envolvendo três domínios: Ser (físico,
psicológico e espiritual), Pertencer (físico, social e comunitário) e Transformar
(prático, lazer e crescimento). Para avaliar a qualidade de vida, toma-se por base o
grau em que uma pessoa aprecia (a sensação de satisfação ou percepção de
alcance de algumas expectativas), as possibilidades (resultantes das oportunidades
e limitações de cada um) em sua vida (OGATA; SIMURRO, 2009, p. 6).
O instrumento de Qualidade de Vida da Organização Mundial da Saúde
(WHOQOL) apresenta o conceito de qualidade de vida em 06 (seis) “domínios” e 24
(vinte e quatro) facetas, a saber:
- Domínio físico: dor e desconforto; energia e fadiga; sono e repouso;
- Domínio psicológico: sentimentos positivos; pensar, aprender, memória e concentração; autoestima; imagem corporal e aparência; sentimentos negativos;
- Nível de independência: mobilidade, atividades da vida cotidiana; dependência de medicação ou de tratamentos; capacidade de trabalho;
64
- Relações sociais: relações pessoais; apoio social; atividade sexual; - Ambiente: segurança física e proteção; ambiente no lar; recursos
financeiros; cuidados de saúde e sociais: disponibilidade e qualidade; oportunidades de adquirir informações e habilidades; participação em, e oportunidades de recreação/lazer; ambiente físico (poluição / ruído / trânsito / clima); e
- Aspectos espirituais: espiritualidade / religião / crenças pessoais (MENDES, 2016, p. 33)
Para ilustrar a relação entre lazer e qualidade de vida, recorre-se a alguns
resultados do Projeto intitulado: “Lazer Ativo e Qualidade de Vida para a Terceira
Idade, coordenado por Fernandes et al. (2002). Dentre os dados obtidos junto ao
projeto foram observados que os idosos reconheceram que as atividades
desenvolvidas faziam parte de um momento de bem-estar, lazer, desinibição e
interação social, e as atividades propostas trouxeram melhorias de qualidade de vida
e melhor aproveitamento do tempo livre.
Castells (1983, p. 62), ao tratar de qualidade de vida diz “a melhoria da
qualidade de vida corresponde à crescente satisfação das necessidades – tanto
básicas quanto não básicas, tanto materiais quanto imateriais, de uma parcela cada
vez maior da população”. Deste modo, a qualidade de vida nesta visão, está tanto
para o alcance das questões físicas e essenciais, como também às outras questões
ligadas ao material, como também ao subjetivo, valorativo, que podem atender às
necessidades das pessoas, mesmo que não sejam consideradas básicas.
No entendimento de Matsudo e Matsudo (2000), os principais benefícios à
saúde advindos da prática de atividade física referem-se aos aspectos
antropométricos, neuromusculares, metabólicos e psicológicos. Ademais, para
Matsudo et al. (2001), a atividade física e o estilo de vida ativo têm um papel muito
importante na prevenção e controle de doenças crônicas não transmissíveis; como
também está associada a uma melhor mobilidade, capacidade funcional e qualidade
de vida durante o envelhecimento.
Reconhece-se que os hábitos de atividade física adquiridos durante a
infância e adolescência, tendem a se manter durante toda a vida. Todavia, estudos
demonstram que a atividade física sofre redução no final da adolescência
(GORDON-LARSEN et al., 2004). Portanto, nesse período é importante o
fortalecimento da orientação e estímulo para a prática da atividade física. Por
conseguinte, é importante que políticas que incentivem as atividades esportivas e de
65
lazer sejam desenvolvidas, pois elas podem contribuir para a proteção, manutenção,
prevenção, promoção e reabilitação da saúde, como também para melhorias do
ponto de vista psicossocial.
Para Saba (2001), a atividade física é benéfica tanto no aspecto biológico,
bem como no nível psicológico. O referido autor ressalta melhorias da capacidade
cardiorrespiratória, aumento na expectativa de vida, entre outros, como benefícios
que o exercício físico proporciona às pessoas. E, no tocante ao aspecto psicológico,
estão relacionados ao aprimoramento dos níveis de autoestima, da autoimagem,
diminuição dos níveis de estresse e tantos outros. Segundo Matsudo e Matsudo
(2000), na dimensão psicológica, a atividade física atua na melhoria da autoimagem,
do autoconceito, da imagem corporal, das funções cognitivas e de socialização, na
diminuição do estresse e da ansiedade e na diminuição do consumo de
medicamentos.
O modo de viver dos seres humanos na Política Nacional de Promoção de
Saúde - PNPS é entendido como produto e produtor de transformações econômicas,
políticas, sociais e culturais que alteram a vida em sociedade a uma velocidade cada
vez maior. A PNPS constitui um instrumento de fortalecimento e implantação de
ações transversais, integradas e intersetoriais visando ao diálogo entre as várias
áreas do setor sanitário, outros setores do Governo, setor privado e não
governamental e sociedade em geral, compondo redes de compromisso e
corresponsabilidade sobre a qualidade de vida, em que todos sejam partícipes na
proteção e cuidado com a vida (BRASIL, MS, 2006). Neste sentido, o incentivo às
práticas corporais, deve privilegiar estratégias que garantam a existência de espaços
prazerosos e adequados, segurança, arborização, transporte público e outras. Desta
feita, deve-se investir no debate sobre o planejamento urbano, a mobilidade urbana
e as desigualdades e iniquidades no acesso a espaços públicos saudáveis (pistas
de caminhadas, ciclovias, praças públicas, espaços para a prática de esporte e
lazer, entre outros).
As academias tornaram-se uma opção para a população urbana, que adere
ao exercício físico, com o intuito de obter melhorias em seu bem-estar, como afirma
Saba (2001). O autor ainda menciona que nossa sociedade continua a realizar
atividade física em qualquer local apropriado à prática, todavia, o entendimento do
ser humano moderno modificou muito, no sentido da importância de centros
66
especializados como locais adequados ao exercício físico. O surgimento das
academias, segundo Novaes (1991), decorreu do fato delas terem a finalidade de
atender às pessoas que buscavam aulas de ginástica fora dos clubes.
Para Minayo et al. (2000), qualidade de vida é uma noção humana e relativa
de vida, pelo menos, ao contexto histórico, cultural e de classes sociais, interligada
ao grau de satisfação encontrado na vida familiar, amorosa, social e ambiental.
Desta maneira, pressupõe um apanhado cultural de todos os elementos que
determinada sociedade considera com seu padrão de conforto e bem-estar.
O ano de 2007 marca a elaboração do Plano Nacional de Práticas Corporais
e Atividade Física, visando à indução de políticas públicas no nível municipal e a
operacionalização das ações contidas no Programa de Aceleração do Crescimento
da Saúde 2007 - 2010 e no Plano Plurianual do Ministério da Saúde. Desta forma,
com a articulação de diversos setores e Ministérios e do Governo com ONGs,
entidades científicas e setor privado, o “Sistema S”, entre outros, com o objetivo de
difundir o tema atividade física e promover a construção e implementação de
projetos nas escolas, ambientes de trabalho e áreas públicas de lazer, facilita o
investimento em espaços urbanos mais saudáveis e a ampliação do acesso à
informação para a produção de modos de vida mais saudáveis no cotidiano das
pessoas. Entende-se que o ambiente tem grande influência no estilo de vida das
pessoas e no poder de escolha por hábitos saudáveis.
A promoção de saúde remete às articulações intersetoriais, visando à
reorganização dos espaços urbanos, contribuindo para a mobilidade urbana e a
prática do lazer ativo, entre outras questões, e diante desta perspectiva é importante
apoiar políticas públicas que promovam ações as quais possibilitem à melhoria da
qualidade da vida da população. Assim sendo, este estudo tem a preocupação de
debruçar-se sobre o esporte e lazer nas políticas urbanas de Campina Grande – PB.
67
CAPÍTULO 2 – ESPORTE E LAZER NA HISTÓRIA DA HUMANIDADE
2.1 Historicizando o esporte no mundo
Nas antigas civilizações1 já existiam atividades físicas pré-esportivas em
suas culturas, sendo a maioria com perspectiva utilitarista. Muitas dessas práticas
pré-esportivas do Esporte Antigo desapareceram com o passar do tempo. Contudo,
outras se modificaram em Esportes Autótonos, chamados de “esportes puros”, ou
seja, que continuavam a ser praticados ao longo do tempo sem ser recebida
influência de outras culturas. Os esportes autótonos que permaneceram com
práticas, porém com modificações de outras culturas, principalmente de reações
colonizadoras, passam a ser denominadas de Esporte ou Jogos Tradicionais.
Tubino (2010) ressalta que na Antiguidade, as práticas esportivas eram
classificadas de Práticas Pré-esportivas, com diferença acentuada com as práticas
atuais, mantendo uma perspectiva utilitária, com fins de sobrevivência das pessoas
(natação, corrida, caça, entre outros) e também para preparação para a guerra
(marchas, esgrimas, lutas etc.).
Na Antiguidade, as mulheres eram proibidas de participar de jogos, sejam
como atletas, sejam como espectadoras. No entanto, a partir do século XIX que a
mulher ganha espaços, ou seja, deixa sua participação do campo doméstico e
amplia sua participação social, até mesmo no esporte. Essas mudanças se deram
em decorrência da prosperidade econômica e tecnológica, como também dos
avanços na medicina e na qualidade de vida.
Conforme Gaya e Torres (2008), os gregos foram os inventores do esporte,
à luz de princípios, valores e finalidades de divinização do ser humano e da
humanização da vida, com vistas a uma filosofia da harmonia do corpo e da alma.
Foi na Grécia Antiga que o esporte se desenvolveu. Os gregos2
desenvolveram o esporte como uma forma de valorizar o corpo e harmonizar o
1 Dentre as civilizações antigas, conforme Tubino (2010) são citadas: Chinesa – lutas chinesas, tiro ao
arco chinês, esgrima de sabre, T‟su Chu e artes marciais chinesas; registros indicam que os chineses praticavam atividades esportivas por volta de 2000 anos aC; Egípcia – arco e flecha, corrida, saltos, arremessos, equitação, esgrima, luta, boxe, natação, remo, corridas de carros e jogos de pelota; Etrusca – duelos armados; Hitíta – equitação, natação, remo, esgrima, tiro e luta; e Japonesa – artes marciais. 2 Os jogos gregos eram festas populares, religiosas, verdadeiras cerimônias pan-helênicas, cujos
participantes eram as cidades gregas. De acordo com Marrou (1950), esses jogos, no início, eram apenas nas cidades da Grécia Continental, e, posteriormente, expandiu-se para os demais povos. Os
68
corpo e a alma. Para eles, os deuses eram como nós, portanto, valorizar o corpo era
uma forma de nos aproximarmos do ideal divino, e, ainda, era uma maneira de
celebrar a vida e a liberdade.
Para o historiador francês, Vanoyeke (1992), os gregos antigos3 analisaram
o exercício físico como um elemento na conservação da saúde e/ou de sua
cooperação.
Apaixonados pelos jogos e pelos concursos, eles inventaram os enfrentamentos competitivos do estádio para satisfazer seus gostos de luta e de rivalidade. Na época clássica, o esporte se tornou um meio para adquirir a beleza e a força (VANOYEKE, 1992, p. 15).
Na Idade Média e na Renascença, as práticas esportivas foram escassas e,
às vezes, muito violentas, tais como: o Torneio Medieval, o Soule, o “Jeu de Palme”,
o Gioco Del Calcio, os Justas, entre outras4.
Jogos Fúnebres, os Jogos Píticos, os Jogos Ístmicos, as Panateneias, outros Jogos e os Jogos Olímpicos da Antiguidade são exemplos dos Jogos Gregos. Os Jogos Gregos representaram os primeiros fatos esportivos, pois anteriormente se davam as práticas pré-esportivas. Os Jogos Fúnebres, de acordo com os escritos de Homero, eram uma homenagem às figuras de destaque (Pátroclo, Tleopolino e as vítimas das batalhas da Maratona - 490 a.C. e Salamina - 480 a. C. etc.) que haviam morrido nas cidades gregas. Os Jogos Píticos celebravam Apolo e foram criados em 528 a.C., em Delfos. Já os Jogos Ístmicos apresentavam as mesmas competições dos Jogos Olímpicos e eram patrocinados em Corinto, a cada dois anos. Os Jogos Nemeus eram disputados em homenagem a Zeus de Kleonae, sendo os últimos jogos a desaparecerem. 3 Os Jogos Olímpicos da Antiguidade, para Tubino (2010), são a principal manifestação esportiva de
toda a Antiguidade. Eram celebrados em Olímpia, Élida, num bosque sagrado denominado do “Altis”, em homenagem a Zeus Horquios, de quatro em quatro anos. Esses jogos eram anunciados pelos Arantos e desenvolvidos pelos helenoices. Suas principais provam eram: corrida de estádio, corrida de duplo estádio, corrida de fundo, luta, pentatlo, corrida das quadrigas, pancrários, corrida de cavalos montados, corrida com armas, corridas de brigas, pugilato e outras. De acordo com o autor citado anteriormente, a civilização romana diminuiu o movimento esportivo grego e somente foram criados espaços especializados para a higiene corporal, como as termas, e otimizaram jogos públicos denominados de jogos circenses, que, inclusive modificaram o sentido anterior ao adaptar os preceitos helênicos para os combates aos gladiadores. 4 Torneio Medieval – consistia numa batalha corporal, com duas equipes contrárias usando cavalos,
espadas e até lanças. Os vencedores eram premiados e os perdedores, muitas vezes, morriam na disputa; O Soule – um esporte medieval popular, de grau de violência, praticado na Europa Ocidental, sendo modificado em cada local, com número ilimitado de jogadores, que tentavam conduzir uma pelota (bexiga animal com ar) até um limite pré-estabelecido em cada lado. Essa modalidade teve início no século XI e chegou até o século XIX; O ”Jeu de Palme” – era um jogo de bola de origem francesa, que consistia em bater numa pelota com a palma das mãos. Era disputado em salas fechadas e teve o seu auge no século XVI e ainda é praticado; O “Giogo Del Cálcio”, também chamado de Calcio Florentino – jogo medieval codificado no Renascimento, com 27 (vinte e sete) jogadores por equipe. Seu objetivo era: conduzir a pelota com os pés ou mãos até o final da área adversária. Essa modalidade teve início no século XVI em Florença (Itália), permanece sendo exibida no “Carnaval Florentino. Muitos afirmam que esse esporte é um dos precursores do Futebol; e as Justas – eram disputadas entre dois cavaleiros com armaduras e lanças de ferro. Em 1959, as Justas desapareceram.
69
Nos séculos XVIII e XIX, as práticas esportivas passaram a compreender
apostas, consideradas como forte motivação para as disputas, com as corridas
curtas, lutas e provas de remo.
Com a modificação dos jogos existentes com regras e competições, é criado
o Esporte Moderno. Rapidamente a ideia de Thomas Arnold se expande por toda a
Europa. Daí então, surgem os clubes esportivos, originados no Associacionismo
inglês. Esse Associacionismo tornou-se a primeira base ética esportiva.
Tubino (1987) afirma que Thomas Arnold identificou dois aspectos distintos,
mas inseparáveis no entendimento e utilização do esporte, tais como: o
fornecimento do prazer para os jogadores e espectadores e a oportunidade de
formação moral, e que o esporte moderno apresentava as características de um
jogo, de uma competição e de uma formação.
O esporte moderno surgiu após o desenvolvimento da sociedade industrial,
e, por conseguinte, trazendo os princípios, valores e conceitos que a caracterizam.
Desse modo, presentes a hierarquia, a razão, a produção, a organização, a
individualidade e a concorrência.
O esporte moderno tem origem por volta do século XVIII e, segundo Bracht
(2005), refere-se a uma atividade corporal de movimento com caráter competitivo,
surgido no âmbito da cultura europeia, expandindo-se para o resto do mundo. De
acordo com Goellner (2004), o esporte que vivenciamos hoje é o esporte que se
consolida no final do século XIX e início do século XX.
Tubino (2010) diz que o esporte moderno foi estimulado, a partir da
restauração dos Jogos Olímpicos em 1896, em Atenas. O reinício do movimento
olímpico consolidou o esporte e ainda trouxe um segundo balizador da ética
esportiva – o “Fair Play” (jogo limpo).
A chegada do Olimpismo fixou o amadorismo como uma das referências. No
contexto do século XIX, o esporte, principalmente na Inglaterra, era praticado pela
aristocracia e alta burguesia, que tinham suas práticas esportivas voluntárias e seu
profissionalismo. O amadorismo era uma defesa contra o ingresso popular na prática
do esporte.
O esporte moderno pode ser tratado com foco na tradição do espetáculo
representante das diferentes formas com foco nas emoções, desejos e vontades,
70
mobilizando cada vez mais a sociedade atual. Para Goellner (2004), os eventos
esportivos são percebidos pelas expressões públicas de emoções.
Neles podemos visualizar uma espécie de expressão pública de emoção socialmente consentida: o frenesi, o congraçamento, a rivalidade, o êxtase, a violência, a justiça, a expressão de aplausos e lágrimas de sentimento que fazem vibrar a alma dos sujeitos e das cidades no exato momento que viviam a tensão entre a liderança e o controle de emoções individuais (GOELLNER, 2004, p. 2).
Para Bracht (2005), o esporte moderno é um resultado de um processo de
mudança, ou seja, de esportivização de elementos da cultura corporal de movimento
das classes populares inglesas, como os jogos populares, a exemplo dos jogos com
bola, bem como de elementos da cultura corporal de movimento dos nobres
ingleses.
Os jogos populares, aproximadamente em 1800, entram em decadência,
haja vista que o processo de industrialização e urbanização modifica as condições
de vida, como afirma Dunning (1979). Sendo assim, os jogos tradicionais foram
perdendo as funções iniciais que estavam ligadas às festas (religiosas, em
comemoração às colheitas etc.), ou seja, os jogos vão apresentando ressignificação.
Os jogos populares passam por repressão pelo poder público, inclusive no Brasil.
Por volta de 1910 a 1930, aconteceu a repressão contra a prática corporal, a
Capoeira, pelas autoridades. Já na Inglaterra, especialmente nas escolas públicas,
os jogos populares permaneceram, por não serem considerados uma ameaça à
propriedade e à ordem pública. Sendo assim, nas escolas públicas esses jogos vão
ser regulamentados e paulatinamente vão ganhando formas do esporte moderno.
Os ideais do Olimpismo são: a participação em massa; a educação por
intermédio do esporte; a promoção do espírito coletivo, do intercâmbio cultural e da
compreensão internacional; e a busca pela excelência. O Olimpismo trouxe ao
esporte um impulso muito grande, além de inserir a necessidade do amadorismo nos
esportes olímpicos. O amadorismo era a base do ideário olímpico e com a elite e o
associacionismo formava-se a própria ética esportiva. O Ideário Olímpico estende-se
até a metade da década de 1930, tendo o início de seu rompimento nos Jogos
Olímpicos de Berlim, em 1936, quando Hitler tentou usar os Jogos para demonstrar
uma ”suposta” supremacia ariana. Ademais, os principais símbolos, emblemas e
71
marcas olímpicas e os Jogos Olímpicos de Inverno (I) (Chamonise / 1824) surgiram
durante o período do Ideário Olímpico.
Para Tubino (2010), o esporte tornou-se mais um „palco‟ da chamada Guerra
Fria entre capitalismo e socialismo, como se observa a seguir:
Os países capitalistas fraudavam o amadorismo como o chamado amadorismo marrom, que consistia em facilidades, bolsas e ajudas de custo aos atletas. Enquanto isso os países socialistas também fraudavam o conceito de amadorismo, ao colocar seus atletas numa carreira esportiva estatal, que começava na detecção de talentos e seguia em escolas esportivas até as altas performances (TUBINO, 2010, p. 25).
No período de uso político-ideológico do Esporte Moderno aconteceram
várias manifestações políticas e graves em jogos Olímpicos, a exemplo de
manifestações dos negros norte-americanos, sequestros, assassinatos e boicotes.
Foi um período de enfraquecimento do Comitê Olímpico Internacional, haja vista o
contexto internacional, inseridos em conflitos, principalmente a “Guerra Fria”. A
decadência do Olimpismo foi tão grande que foram criados os “Goodwill Games”, os
quais, de alguma maneira, equilibravam os interesses de competições de alto nível
para os grandes atletas. Ademais, a ética esportiva, vítima constante dos ilícitos,
inclusive, como o “Doping”, foi se desmoronando, sem força para enfrentar o
“Chauvinismo da Vitória”, ou seja, a vitória a qualquer custo.
O cenário esportivo negativo do período histórico do uso político-ideológico
do esporte gerou reações importantes, as quais foram paulatinamente criando as
bases do Esporte Contemporâneo. Dentre as reações, pode-se identificar: o
Movimento “Esporte para Todos” – EPT, os Manifestos das Organizações
Internacionais e a adesão da intelectualidade internacional ligada às questões do
esporte.
O Movimento “Esporte para Todos” – EPT é considerado como um
movimento esportivo que defende e promove o acesso às atividades físicas para
todas as pessoas. Deste modo, o esporte não é um privilégio para aqueles que se
apresentam com talento esportivo ou biótipos adequados para as práticas
esportivas. O EPT tentava democratizar a atividade esportiva. Este movimento
nasceu na Noruega, chamado de “TRIMM”. Foi bastante aceito na então Alemanha
Ocidental, Noruega, Bélgica, Suécia e Holanda.
72
A TAFISA - Trim and Fitness Internacioal Sport for All Association, e a
Fédération Internacional deu Sport pour Tous são as instituições internacionais que
mais promoveram o EPT.
Em junho de 1987, em Oslo, a Conferência conjunta do “Trimm and Fitness” e do Comitê de Esporte e Lazer do “Internacional Council of Sport Science and Physical Education”, foi mais um passo dado para classificar as novas tendências do esporte – “Esporte para todos” (COSTA, 1992, p. 117).
A origem desse movimento remonta às criticas ao esporte de rendimento,
iniciadas na década de 1960, que deram origem ao Manifesto Mundial do Esporte,
de 1968, consolidando-se a Carta Internacional da Educação Física e Esporte, da
UNESCO, de 1978. Desta forma, apesar das reações, o quadro negativo do esporte
perdura até o final da década de 1970.
Em 1976, na cidade de Paris, durante a I Reunião de Ministros de Esporte,
ficou definido que até o final da década, a UNESCO publicaria e divulgaria um
documento com diretrizes estabelecidas para governos e populações em geral,
tomando-se como base as questões relacionadas ao esporte, com vistas a um
mundo melhor. Esse documento resultou na referida Carta. O esporte passa a ser
visto de envergadura social, com a ideia de ser compreendido para todas as
pessoas, independente de idade e situação física. A partir deste documento, todos
os documentos ligados ao esporte passaram a reconhecer o direito de todas as
práticas esportivas, respaldando-se na inclusão social. Assim sendo, a Organização
das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura – (UNESCO) preconizou
desde 1978 que a prática de esporte é fundamental para todas as idades como
contribuinte para uma vida saudável, melhorias da saúde e também é um elemento
que pode influenciar na economia (UNESCO, 2003).
Foi a partir dessa carta que o esporte como um direito de todos passou a
receber expressão política internacional. Um novo conceito surge desse movimento,
partindo do pressuposto de que o esporte é “um direito universal”, implicando o
reconhecimento do esporte-educação e do esporte-lazer como discussões sociais
legítimas ao lado do esporte de desempenho. Com a Carta Internacional de
Educação Física e Esporte, rompe-se com a ideia de que o esporte é prerrogativa
única de talentos e com biótipos indicados como condições necessárias para o
rendimento que preconizou no Esporte Moderno, passando para o direito de todos.
73
Identifica-se, portanto, que no contexto internacional, na década de 1960, já havia
movimentos que contestavam o esporte na perspectiva única do rendimento, a
exemplo do Manifesto do Esporte (1968), o Movimento EPT e os depoimentos dos
intelectuais, pois criaram clima de expansão de abrangência social do esporte. A
moderna concepção do EPT, de acordo com DaCosta e Miragaya (2002), está
associada à organização de programas de participação popular, com finalidade de
recreação, desenvolvimento esportivo, oportunidade de lazer e promoção de saúde
para seus praticantes.
Os Manifestos dos organismos internacionais, de maneira geral, reagiram à
supremacia do esporte de alto rendimento e foram relevantes nas reflexões sobre o
sentido que as competições esportivas estavam tomando. Os principais documentos
de reação foram:
Manifesto do Esporte – (1968), do Conscil Internacionale de Education Physique da
Paz Noel Baker, no qual, pela primeira vez, foi difundido que o esporte não era
apenas rendimento, mas que existia um esporte na escola e um esporte do ser
humano comum.
Manifesto Mundial da Educação Física – da Fédération Internationale d’Education
Physique – FIEP (1970), no qual esse organismo internacional tentou reforçar as
articulações da Educação Física com o esporte.
Carta Europeia de Esporte para Todos – basicamente fundamentou-se teoricamente
do Movimento EPT.
Movimento do Fair Play – editado em 1975, apresentou a importância do “Fair Play”,
nas competições, com vistas à ética e à convivência humana. De acordo com Tubino
(1987), “Fair Play” compreende o cavalheirismo, o respeito ao adversário, a
aceitação da derrota, a colaboração em equipe e muitas outras virtudes.
O respeito, a amizade, o espírito de equipe, a concorrência leal, o respeito
pelas regras escritas e não escritas, a igualdade, a integridade, a solidariedade, a
tolerância, o cuidado são valores que formam a base do fair play, que podem estar
presentes na vida cotidiana, manifestando-se no comportamento social diário;
contribuindo para a construção de um mundo pacífico e melhor. De outro modo, se
faz necessário concebê-lo não mero comportamento, mas também, representa um
modo de pensar.
74
Carta de Paris – A partir desta Carta, o esporte foi considerado uma efetiva
manifestação de educação permanente. A Carta de Paris resultou do I Encontro de
Ministros de Esporte e Responsáveis pela Educação Física (1976).
Surgiram também os intelectuais, como sociólogos, filósofos e cientistas
políticos, principalmente aqueles preocupados com as problemáticas voltadas aos
vícios, deformações e ilícitos ligados às práticas esportivas, e, por conseguinte,
apareceram as publicações em torno do esporte.
À medida que as cidades norte americanas foram crescendo o esporte do
final da década de 1980 foi se expandindo, sendo considerado como uma
possibilidade de desvincular-se das preocupações da vida urbana.
Numa perspectiva histórica, ao tratar do esporte, é importante fazer uma
relação com os Jogos Olímpicos da Grécia clássica, porém hoje se convive com a
espetacularização do esporte agregando diferentes valores. Pois, mesmo que se
ressalte o “espírito olímpico”, com a ideia de confraternização, respeito às regras,
referenciando a identidade nacional, a busca da paz, existe uma ressignificação do
esporte que vem apresentando-se ao longo dos tempos. Goellner (2004, p.3) afirma
que “o esporte é plural e manifesta-se de diferentes maneiras em diferentes culturas
e tempos, e essas manifestações agregam-se múltiplos valores”.
O esporte-espetáculo se fortaleceu na segunda metade do século XX,
principalmente, pela popularização da televisão e o crescimento da indústria do
entretenimento. Após a Segunda Guerra Mundial, e, por conseguinte, com o
crescimento econômico, o esporte foi enaltecido pela necessidade de
entretenimento da população, sendo considerado como um dos grandes produtos da
indústria do entretenimento. Ademais, como resultado dos interesses econômicos, a
necessidade da espetacularização do esporte vem sendo fortalecido.
Em síntese, recorre-se a Tubino, G.; Garrido e Tubino, F. (2006), ao dizer
que o esporte é classificado como: Esporte Antigo, Esporte Moderno e Esporte
Contemporâneo. Segundo Tubino (2010), o Esporte Antigo se deu no período da
Antiguidade até a primeira metade do Século XX. O Esporte Moderno foi concebido
pelo inglês Thomas Arnold a partir de 1820, sendo instituídas as regras e entidades,
tendo em vista a institucionalização das práticas esportivas e tem como base a Carta
Internacional de Educação Física e Esporte (UNESCO, 1978). No final da década de
75
1980, a partir do entendimento do direito de todos ao esporte, inicia-se o Esporte
Contemporâneo.
O esporte é considerado um dos fenômenos socioculturais e políticos
importantes nas passagens dos séculos, com articulação cultural e contextos
históricos. Para Tubino (2010), o esporte carrega diferentes sentidos das civilizações
antigas das primeiras manifestações esportivas pelos gregos, na civilização romana,
Idade Média e Renascença, chegando ao Esporte Moderno e depois ao Esporte
Contemporâneo. Segundo o referido autor, o esporte é uma das maiores
manifestações culturais desde a Antiguidade, e que a história cultural do mundo
passa pela história do esporte (TUBINO, 2010, p. 32).
De acordo com a abordagem teórica de Melo (2010), há duas grandes
vertentes para a compreensão histórica do esporte, são elas:
a) Propugna-se que a manifestação esportiva já existia na Antiguidade, sendo perceptível em jogos que eram praticados por chineses, egípcios, gregos, romanos, entre outros;
b) Procura-se entendê-lo como um fenômeno moderno, que mesmo apresentando similaridades técnicas com antigas manifestações culturais, possui sentidos e significados bastante diferenciados daqueles jogos “pré-desportivos” (MELO, 2010, p. 51).
2.2 Dimensão lúdica do esporte e lazer
É comum fazer-se referência aos jogos gregos antigos, entre eles os
Olímpios, como práticas esportivas. Assim sendo, haveria a continuidade entre
aquelas práticas corporais antigas e as que hoje se chamam de esporte. E, por
conseguinte, estariam presentes características que definem a identidade do
esporte. Outra perspectiva teórica está na propensão do homem ao jogo (Homo
Ludens) como a característica essencial e definidora das práticas corporais
esportivas. Deste modo, o esporte é uma manifestação do jogo e esse como um
comportamento básico do ser humano.
Por outro lado, há o entendimento da descontinuidade, a ruptura que
representa essa forma cultural do movimento humano (o esporte). De acordo com
Bracht (2005), é necessário enfatizar com maiores aproximações as características
das práticas corporais presentes na sociedade tradicional (inclusive as chamadas
76
primitivas) e a própria gênese das modalidades esportivas modernas, com base nos
respectivos contextos econômicos, políticos e culturais.
De acordo com Santos (2000), o homem contemporâneo é caracterizado
como Homo Ludens, como evolução e contraposição ao Homo Sapiens e ao Homo
Faber. Desta forma, entende-se o esporte e o lazer como fenômenos historicamente
constituídos e inerentes à condição humana. O vocábulo lúdico se origina do latim
ludus, que significa brincar, sendo neste contexto que Sant„Anna (2011) afirma que o
brincar esteve presente em todas as épocas da humanidade, mantendo-se até os
dias atuais. Em cada período histórico vivido pelos povos, o brincar está presente,
sendo considerado como algo espontâneo, natural. Para a história antiga, o brincar
era desenvolvido por toda a família, até mesmo quando os pais ensinavam os ofícios
para seus filhos.
O ser humano da Idade Média brinca, a partir de sua associação da
sabedoria divina à obra da Criação, conforme a sentença bíblica: “Quando Deus
criou o mundo e fez brotar as águas das fontes, assentou os montes, fez a terra e os
campos, traçou o horizonte, firmou as nuvens no alto, impôs regras no mar e
assentou os fundamentos da terra “ali estava eu, (a Sabedoria) com Ele como
artífice, brincando (ludens) diante dele todo o tempo; brincando sobre o globo
terrestre, e minhas delícias são estar com os filhos dos homens” (Prov. 8, 30 – 31).
Lauand (1999) enfatiza que a Idade Média valoriza e fomenta a cultura
popular e, por conseguinte, o lúdico. De maneira que os mestres da época se
dirigiam aos seus alunos de modo informal e lúdico, por conseguinte, o lúdico tem
um papel importante na Idade Média, inclusive para crítica dos documentos dessa
época, havendo toda uma relação no processo de transmissão de ensinamentos.
Nos escritos de Tomás de Aquino (II – II ano, p 168, 2), o lúdico é visto como
atitude, entendendo este autor que no ludus observa-se que:
No brincar do adulto, se aplica às crianças, mas com adaptação; bem como na graça, o bom humor, a jovialidade e leveza no falar e no agir que tornam a convivência humana descontraída, acolhedora, divertida e agradável; e, ainda, que o lúdico é uma virtude de convivência, do relacionamento humano. Desse modo, para esse autor o ludens refere-se ao brincar não verbal, mas por ação, ou seja, quando as palavras ou ações buscam diversão, chamam-se de lúdicas.
77
Portanto, nessa concepção, o brincar é necessário para a vida humana, pois
o ser humano precisa de repouso corporal para restabelecer-se, haja vista que suas
forças físicas são limitadas, não podendo trabalhar continuamente. Logo, precisa de
repouso para a alma, sendo isto possibilitado por meio da brincadeira. Desta forma,
o sentido do lúdico, por intermédio do brincar, oferece benefícios do ponto de vista
físico e emocional. De modo que o lúdico deixou de ser visto como uma
característica inerente à criança, passando a ser considerado em todas as fases do
desenvolvimento humano. Assim, a terminologia Homo Ludens faz parte do nosso
cotidiano, em que o homem passa a dar um novo sentido a sua existência pela via
da ludicidade, recuperando a sensibilidade estética e enriquecendo o seu interior
como bem assevera Santos (2001).
De fato, o comportamento lúdico é fruto do desenvolvimento de uma cultura
lúdica que, ao longo da história, foi defendida por uns e combatidas por outros. Para
Negrine (2001), o comportamento lúdico está vinculado a uma atividade, individual
ou coletiva, sendo necessário, para uma adequada compreensão desse
comportamento fazer uma relação com a variável tempo.
Por sua vez, Santos (2001), tomando como base a pesquisa do
mapeamento cultural, ressalta que o brincar está situado no quadrante superior do
hemisfério direito do cérebro. Nesse sentido, pesquisas ainda revelam que a mente
humana tem um potencial ilimitado, sendo que o ser humano usa pouquíssimo
desse potencial, tendo esta utilização uma variação de 1% a 10%; destes 10%,
verifica-se que a racionalidade ocupa grande parte deste percentual, entendendo-se
o quanto o ser humano não se utiliza da ludicidade como um mecanismo de
desenvolvimento. Ademais, Santos (2001, p. 12-13) apresenta características que
determinam o predomínio da emoção e contribuem para a ludicidade, ao afirmar
que:
Quando o homem potencializa o hemisfério direito no trabalho, ele inova, integra, tem facilidade para estabelecer conceitos, interessa-se por novas tecnologias, compartilha e expressa-se. No processo criativo ele brinca, experimenta, intui, vê o todo, interage com as pessoas, aciona o cinestésico, o espiritual, o sensorial e o tátil. Quando está aprendendo ele separa, vivencia, descobre, qualifica, elabora conceitos, aciona o emocional, sente, internaliza e compartilha.
Com a intenção de trazer para a discussão a dimensão lúdica atribuída ao
lazer por alguns autores, enfatiza-se Pinto (2007), ao afirmar que o lazer é
78
compreendido como tempo / espaço / oportunidade para vivências culturais lúdicas,
preconizando-se o prazer pela vivência da liberdade / autonomia. E ainda, para
Gomes (2008), o lazer é uma dimensão da cultura, com características da ludicidade
das diferentes manifestações culturais, inclusive no ócio. A autora ainda diz que o
lazer é vivenciado no tempo / espaço resultados das conquistas das pessoas e
grupos sociais. Contudo, a primeira autora anuncia a ideia de liberdade e autonomia
e Gomes (2008) referenda – o como ponto de vista de conquista. Mas, ampliando-se
esse entendimento, com intuito de focalizar o lazer e sua compreensão numa
natureza de diversão, sua relação com tempo, espaço, atitude, dimensão cultural,
qualidade de vida e desenvolvimento, apresenta-se a definição de lazer conforme
Rodrigues et al. (2011, p. 19):
Cultura vivida com alegria e liberdade no tempo disponível, fora das obrigações sociais. Tempo, espaço e oportunidades privilegiados para vivências lúdicas, para divertir-se de diferentes modos, participar de diferentes formas (assistindo, praticando, conhecendo) em diferentes momentos e espaços. Como fator de qualidade de vida, o lazer é compreendido como meio e fim educativo para a formação de valores voltados à humanização das relações, podendo contribuir para o desenvolvimento social, cultural e humano.
Porém, com realce ao lazer como prática social, com a inserção da
perspectiva lúdica, volta-se para Gomes e Elizalde (2012), quando diz que o lazer é:
Uma prática social complexa que pode ser concebida como uma necessidade humana e como uma dimensão da cultura caracterizada pela vivencia lúdica de manifestações culturais no tempo / espaço social. Essa compreensão embasa nossas reflexões, análises e interpretações (GOMES; ELIZALDE, 2012, p. 30).
Observa-se que o tempo, espaço / lugar, ações / atitude e manifestações
culturais são características do lazer no entendimento de Gomes (2004). A autora
ressalta ainda que estes elementos são interligados, sendo considerado o lúdico
como balizador, no qual os sujeitos se envolvem a partir dos seus desejos.
Schlee (2001), tomando por base o pensamento de Le Corbusier, na tríade
espaço / função / emoção, substitui o espaço lúdico por espaço qualificado; pois no
espaço qualificado, o lúdico será visto de forma criativa e inventiva e ainda que
neste espaço sempre há lugar para o lúdico, pois ele é entendido como um agente
de ludicidade. Para Schlee (2001), o espaço lúdico é qualquer extensão limitada em
79
três dimensões para as atividades lúdicas, ou seja, os jogos, os brinquedos e as
brincadeiras. Assim sendo, os estádios, os ginásios, os parques, as praças, os
jardins, entre outros, são destinados para o desenvolvimento das atividades
esportistas e/ou recreativas. O autor complementa que todo espaço pode ser
classificado como lúdico.
2.3 Esporte e suas categorias conceituais
Recorrendo à história conceitual do esporte, é possível descobrir a
exacerbação do agon (jogos de competição) ou em detrimento e atrofia do ludens,
ou lúdico, enquanto perdurou a perspectiva única do rendimento, tornou-o muito
mais competição do que jogo (TUBINO, 2002a, p. 31). Por outro lado, a aceitação
pública de novas dimensões à prática esportiva teria reconduzido o esporte a um
cenário não elitista, próximo às fontes lúdicas. Essa mudança de concepção foi
liderada por um movimento intelectual que reuniu pensadores, pesquisadores e
profissionais do esporte em escala internacional.
Conforme Grifi (1989), a palavra “esporte” é fruto de uma evolução que se
realizou entre os séculos XII e XIV. Na França já no século XIII, era usada a antiga
palavra desport, a qual se relacionava com os meios para transcorrer
agradavelmente o tempo. Na Inglaterra do século XIV, este termo manteve o mesmo
significado, sendo traduzido como sport. Segundo Melo (2001a, p. 56), antes mesmo
da organização do campo esportivo (primeira metade do século XIX), o termo sport
já era correntemente utilizado no Rio de Janeiro, destacadamente veiculado nos
jornais e revistas. Em uma cidade, de um país recém independente que pretendia se
modernizar buscava-se estabelecer vínculos de diversas ordens como Paris e
Londres, modelos do mundo “civilizado” europeu. No âmbito dessas conexões, o
esporte, uma prática já existente naquelas cidades, chega ao Brasil.
Lucena (2001) fala sobre os cronistas e as crônicas que tratavam das
crescentes práticas desportistas na cidade do Rio de Janeiro e seu reflexo no
tratamento dispensado pelos jornais do final do século XIX e início do século XX.
Surgira, na oportunidade, que, pelas crônicas, poderiam perceber o quanto de força
e representação o esporte já se instalava na sociedade do Rio de Janeiro, na época.
80
Não há dúvidas de que as práticas corporais e esportivas configuram hoje, um fenômeno cultural como grande abrangência e visibilidade no cenário mundial. As diferentes modalidades esportivas, a dança, as lutas e as práticas corporais envolvem sujeitos em diferentes contextos culturais, sejam como praticantes, sejam como espectadores. São práticas regulares que se desenvolvem no cotidiano das cidades modernas despertando interesse, mobilizando paixões, evocando sentimentos, criando representações de corpo, saúde e lazer, enfim, convocando nossa imediata participação (LUCENA, 2001, p. 200).
O esporte é um fenômeno cultural, tem caráter universal, multirracial,
praticado em todos os lugares, carregando particularidades como normas, regras e
valores, sendo entendido para além das necessidades imediatas da vida.
Habitualmente define-se esporte como uma prática que envolve prazer,
bem-estar, aventura, desejo, natureza, diversão. No entanto, a Sociologia do
Esporte vem buscando desconstruir e ampliar o significado da palavra “esporte”.
O italiano Antonelli (1963) conceitua o esporte, a partir dos seguintes
elementos: o jogo, o movimento e o agonismo (competição). O esporte para ele tem
as seguintes características: o ético-social; psicopedagógico, o psicoprofilático e o
psicoterapêutico. Neste sentido, o que caracterizava o esporte era o competir,
estabelecer uma relação com os princípios éticos, com o desenvolvimento
socioemocional, podendo ter uma função profilática ou terapêutica.
Para o sociólogo francês, Magnane (1969), o esporte é uma atividade de
prazer em que o dominante é o esforço físico, que participa o lugar do jogo e do
trabalho, praticado de maneira esportiva, englobando regulamentos e instituições
próprias, sendo possível de transformar-se em atividade profissional. Verifica-se que
a condição nesta concepção de esporte é inerente à perspectiva funcional e de
rendimento.
Eppensteiner (1973) trata da motivação da ação esportiva; uma deriva da
natureza e outra da cultura. E, ainda se refere à origem do esporte como um
fenômeno biológico e não histórico. Para ele, em todas as épocas, as causas
culturais e biológicas do esporte coexistem, criando um instinto esportivo, resultante
da combinação dos instintos, do lúdico, do movimento e da luta.
Feio (1978) diz que o esporte é o lugar onde se desenvolve o
comportamento do ser humano, seja sozinho, em pequenos grupos ou multidão,
numa situação agonística – recreativa. O autor ainda diz que para entender melhor o
81
fenômeno esportivo, há uma necessidade de separar-se do jogo. Desta forma, com
o esporte reflete-se o competir, mas com carácter recreativo.
Cazorla Prieto (1979) estabelece duas vertentes para o esporte. Do ponto de
vista individual, o esporte é entendido com uma atividade humana essencialmente
física, que se pratica sozinho ou coletivamente, podendo-se obter autorrealização ou
como meio de atingir os seus anseios, na outra visão o esporte é concebido numa
perspectiva social, considerado como fenômeno relevante na sociedade, que tem
relação econômica e política.
De acordo com Cagigal (1979) o esporte segue duas vertentes, sendo uma
entendida como esporte – espetáculo, ou seja, pela sua oportunidade de
espetacularidade e organização progressiva, e a outra como esporte – práxis, pois
está relacionado às características mais higiênicas, educativas, ociosas, lúdicas, e
automaticamente de relação social.
Cabe-se referenciar que os autores, a exemplo de Antonelli (1963),
Eppenstener (1973), Feio (1978), Cazorla Prieto (1979) e Cagigal (1979) estão
presentes na teoria clássica de base geral de esporte de Tubino (1987).
O esporte para Rial (1998, p. 242), segue um raciocínio de descargas de
energia, dá ideia de homens fortes e combatentes, que ele traz satisfação, tem um
poder disciplinador e com relações com as identidades, ao afirmar que:
O esporte constitui-se numa prática que proporciona a descarga de energia libidinal constrangida pelo processo civilizatório; é uma atividade substitutiva para a guerra, diverte, dá prazer, ensina obediência às regras, fortalece-se e disciplina o corpo, serve para construir identidades pessoais, locais ou nacionais, etc.
Esporte é “um fenômeno estruturado historicamente dentro da cultura
motora da sociedade, como forma de expressão e comparação das possibilidades
do ser humano” (GOBBI, 1992, p. 92). A expressão e comparação citadas implicam
performance motora, e sua melhoria se dá a partir do treinamento esportivo. Neste
sentido, percebe-se o foco dado aos resultados, como se apresenta na perspectiva
de esporte de rendimento.
O esporte é compreendido para Guedes e Guedes (1995) como um sistema
ordenado de práticas corporais de relativa complexidade que inclui atividades de
82
competições institucionalmente regulamentadas, que se baseia na superação de
competidores ou de resultados lúdicos pré-estabelecidos pelo próprio esportista.
Os pesquisadores Melo et al. (2009) discutem as diferentes modificações
sobre o esporte quando dizem que:
Os povos da Antiguidade tinham um conjunto de práticas corporais, com algum grau de institucionalização (ainda que bem discutido, distintas das práticas modernas), por eles não denominadas de esporte [...] em determinado momento se sistematiza uma palavra Sport, que passou a expressar um determinado conceito. A palavra se manteve, os conceitos foram se alterando, até que se conformou o que chamamos de esporte moderno. Os conceitos seguiram se modificando, surgiram mesmo neologismos (ou adendos, como esportes de quadra, esportes náuticos, esporte de natureza, esportes radicais) (MELO, 2009, p. 62).
O esporte na visão de González (2005) é entendido como uma prática
motora / corporal, pois é:
a) orientado a comparar um determinado desempenho entre indivíduos ou grupos;
c) regido por um conjunto de regras que procuram dar aos adversários
iguais condições de oportunidades para vencer a contento e, dessa forma manter a incerteza do resultado, e
c) com essas regras institucionalizadas por organizações que assumem (exigem) a responsabilidade de definir e homogeneizar as normas de disputas e promover o desenvolvimento da modalidade com o intuito de comparar o desempenho entre diferentes atores esportivos (GONZÁLEZ, 2005, p. 170).
Para enfatizar as discussões acerca da dimensão do esporte para além do
ponto de vista de rendimento, como viu-se anteriormente, reitera-se a importância
atribuída a documentos, a exemplo dos “Documentos Esportivos Filosóficos
Internacionais” e o Manifesto Mundial de Esporte, de 1964 e o Movimento “Esporte
para Todos”, verifica-se que o conceito do esporte voltado para o rendimento é
revisto, em especial, a partir do referido Manifesto para o Esporte, sendo
reconhecida a existência do esporte na escola e no tempo livre; além da Carta
Internacional de Educação Física e Desporto, de 1978 que ressaltou a importância
do fenômeno esportivo e sua referência à introdução do direito à prática esportiva
(TUBINO, 2002b).
83
Henquet (1995) afirma que apesar da Carta Internacional da Educação
Física e Esporte (1979), o acesso à Educação Física e ao Esporte, como um direito
de todos, está longe de ser um fato, ao dizer que:
O mapa do subdesenvolvimento esportivo coincide, excetuados pequenos detalhes, com o mapa do simples subdesenvolvimento. Em vários países da América do Sul, em cada grupo de cinco jovens, quatro não têm condições de praticar atividades físicas e esportivas (HENQUET, 1995, p. 06).
2.4 Contextualizando o lazer
Nas línguas portuguesa e inglesa é utilizada a palavra recreação como
termo lazer, por conseguinte, seus significados influenciaram consideravelmente o
seu entendimento no Brasil, principalmente na primeira metade do século XX. Já no
idioma francês, esse campo é compreendido apenas por um vocábulo loisir, com a
ideia de descanso, divertimento e desenvolvimento social. Seja no francês loisir, no
inglês leisure e lazer no português, o vocábulo lazer tem origem etimológica do
termo latino licere, que significa ser lícito, ser permitido, poder, ter o direito. Em
espanhol, o termo lazer é utilizado como sinônimo de ócio. Recreação, lazer, ócio e
tempo livre na América Latina são termos muitos utilizados indistintamente, gerando
conflitos e problemas de compreensão. A princípio, o lazer foi associado ao termo
grego skholé, tempo ocupado por atividades ideais e nobres para o ser, por
atividades livres como a contemplação teórica, a especulação filosófica e o ócio; e,
ao vocábulo romano otium. Segundo De Grazia (1966), implicava as condições de
paz, reflexão, prosperidade e liberdade, tendo em vista as atividades servis e as
necessidades da vida produtiva.
Werneck (2000) focaliza a ótica epistemológica do lazer quando associa o
seu sentido à antiguidade clássica analisando os seus significados, associando o
lazer à sociedade grega para traçar o início de uma linha histórica deste fenômeno.
Várias atividades culturais greco-romanas foram entendidas como referenciais de
entretenimento e lazer. Em Roma tinham as Olimpíadas: combate à gladiadores,
banquetes, festas etc. e na Grécia, o lazer era caracterizado pelas competições
olímpicas, peças teatrais, recitais poéticos, apresentações de dança e canto, entre
outras.
84
Conforme Saura (2014), o lazer como fenômeno presente em todas as
sociedades humanas, atua ou pode atuar não se reduzindo a atividades recreativas
ou pedagogizadas, manifestando-se no lúdico. Logo, para essa autora o lazer não
deve ser entendido apenas como sinônimo de recreação5. Considerando o
entrelaçamento dos termos recreação e lazer e, ainda, havendo possíveis equívocos
quanto ao entendimento de cada um, optou-se neste estudo apresentar, de forma
sucinta, os conceitos e significados da recreação para que seja entendido o lazer e
seu possível relacionamento com a recreação. Contudo, contrariamente ao
pensamento de Saura (2014), o lazer como fenômeno não se apresenta nos
diferentes tipos de sociedades, uma vez que, há autores que o compreende, a partir
da sociedade urbano-industrial, enquanto outros o consideram, numa dimensão
mais ampla, como base nos valores pós-modernos.
A recreação se amplia e vem se consolidando como saber que foi
apropriado pela escola, pela família, pela igreja, pelo hospital, pelo centro de
convivência, pelo presídio, pelo esporte, pelo lazer, e pelas diferentes instituições
sociais que fazem dela uma manifestação com conteúdos, com formas e valores
adaptáveis aos diferentes contextos e situações, na medida em que sejam
construídas experiências educativas e culturais ricas, a partir de um fazer consciente
e coerente. Todavia, segundo Gomes e Elizalde (2012) há problemas no
desenvolvimento de conceitos de recreação e lazer embora haja esforço dos
estudiosos latino-americanos no trato com esta questão. Esse fato se dá por
algumas razões, tais como:
concepção de que a recreação, historicamente, com a passagem do século XIX
para o século XX esteja atrelada ao uso social e moral positivo do tempo. Sendo
assim, a recreação funcionou como controle social em toda América e não
5 Etimologicamente, a palavra recreação aparece em duas vertentes, uma posição é de Marinho et al.
(1952) ao apresentarem que recreação vem do latim recreatio, significando recreio, divertimento, sendo derivado do vocábulo recreare, com a ideia de reproduzir, estabelecer, recuperar. Segundo o dicionário de Ferreira (1988) e alguns pesquisadores da temática, etimologicamente a palavra recreação vem do termo (verbo latino) recreare, significando recreio, divertimento. Para Guerra (1988), recreação compreende todas atividades espontâneas, prazerosas e criadoras, de acordo com os seus interesses. Para Brêtas (1997) e Marcellino (1990) recreação significa recreio e divertimento, numa perspectiva de recriação, criação do novo, revigorar. Os conceitos de recreação vêm sendo ampliados ao longo dos anos dentro de uma visão crítica, sendo reconfigurada para além de atividades, produto de reprodução de jogos e brincadeiras. Nas décadas de 1970 e 1980, um entendimento da recreação teve uma ampliação influenciada pelo sociólogo Dumazedier (1975), ao entender a recreação como uma das funções do lazer.
85
correspondendo ao direito articulado com a redução da jornada de trabalho, fruto
das reivindicações dos trabalhadores europeus do século XIX;
pelo entendimento do lazer ser útil quando não ameaça a lógica do capitalismo;
a possibilidade de estimular as pessoas a refletirem sobre as realidades e
vivências, contribuindo para valorização das diferentes manifestações
socioculturais lúdicas de forma crítica;
lazer entendido como necessidade humana fundamental e que é mais amplo que
a recreação, embora seja um dos meios de satisfazer a necessidade de lazer.
Para situar o lazer historicamente recorre-se às considerações acerca da
sua produção teórica e sistematização. Deste modo, iniciam-se as ponderações do
sociólogo francês Dumazedier (1979) ao afirmar que a sociologia do lazer foi
fundada nos Estados Unidos, porém segundo o referido autor, nas décadas de 1920
e 1930 e que os estudos pioneiros da sociologia empírica do lazer surgem nos
Estados Unidos e na França, com o intuito de relacionar o fenômeno do lazer aos
outros campos da realidade social. Porém, a partir da segunda guerra mundial é que
a sociologia do lazer e outras pesquisas sobre a temática se expandem em outros
países e com uma relação mais frequente com outras áreas, tais como: política,
urbanismo, planejamento econômico, saúde e assistência social. Segundo
Dumazedier (1978), dentre os precursores no campo do lazer como fenômeno social
se tem: Inezil Marinho, que em 1957 publicou – “Educação Física, Recreação e
Jogos”; Ethel Bauzer Medeiros elaborou o projeto de Recreação no Aterro do
Flamengo – Rio de Janeiro/ RJ. Arnaldo Sussekind aplicou um questionário sobre o
lazer para a classe de operários e dirigiu o Serviço de Recreação Operária do
Ministério do Trabalho.
No Brasil, a obra de José Acácio Ferreira (1959), intitulada “Lazer operário:
um estudo da organização social das cidades” é um marco inicial da preocupação
inerente às questões do lazer, ao realizar um estudo com trabalhadores assalariados
da cidade de Salvador (BA), com foco na importância e a contribuição das atividades
de lazer para a vida das pessoas, tendo assim uma visão compensatória do lazer,
ou seja, uso do tempo livre com o lazer, com atividades condizentes com os
preceitos sociais. Este pensamento é comungado por diferentes autores, como
Requixa (1977), Marcellino (1997) e Bramante (1998).
O SESC – Serviço Social do Comércio teve um papel preponderante nas
primeiras iniciativas de sistematização do conhecimento sobre o lazer, com fins de
86
contribuir para o bem-estar e a paz social (MARCELLINO et al., 2007). Porém, na
perspectiva de Marcellino et al. (2007), a discussão era enveredada para um caráter
assistencialista e funcionalista. Sendo assim, o lazer visto como forma restrita,
compreendido como atividade e possibilidades práticas. É importante ressaltar que o
SESC foi o pioneiro no Brasil, tanto nos estudos quanto na oferta de programas de
lazer para os trabalhadores e familiares do setor de serviços. O lazer é incentivado
como parte contribuinte de um conjunto de medidas para a melhoria da qualidade de
vida, dos trabalhadores e de sua família. No final da década de 1970, o SESC
realiza em São Paulo, um Seminário voltado para o lazer, como focaliza Dumazedier
(1999).
Em relação aos trabalhadores da indústria, o SESI – Serviço Social da
Indústria oferece programas de lazer e, ainda, é o pioneiro em atividades de lazer no
ambiente de trabalho, otimizando atividades esportivas e socioculturais. O SESI
compreende o lazer como fenômeno que contribui para o desenvolvimento pessoal e
social, bem como se preocupa com as mudanças de estilo de vida dos seus
trabalhadores.
Apesar da discussão sobre o tema lazer ter sido iniciada aproximadamente
na década de 1970, advindas da produção do conhecimento relacionados ao campo
da “sociologia do lazer”, segundo Souza e Isayama (2006) foi apenas no decorrer
das décadas posteriores que este assunto foi disseminado.
A obra de Lênea Gaelzer da década de 1980 tem como foco o tempo livre
como forma de recuperação de forças físicas, psíquicas e espirituais. De acordo com
Gaelzer (1985, p. 30), “era necessário um processo de educação para esse tempo
livre”. A preocupação da autora versava da forma como ocupar o tempo livre com o
lazer. Sendo o lazer visto para a autora, como um elemento essencial para o bom
funcionamento da sociedade. Todavia, essa abordagem foi revista na produção
acadêmica brasileira, a exemplo do sociólogo Nelson Carvalho Marcellino. Este
autor, como outros estudiosos trazem para o cenário da discussão o entendimento
do lazer na sociedade urbano-industrial. Na sua concepção, a educação e, por
conseguinte, o campo da cultura, devem estar articulados para um maior
entendimento sobre o lazer.
As produções de Hasse (2003), Marcellino (2003) e Magnani (1984)
abordam o lazer como fenômeno social, com enfoque nos seus significados e
87
valores que podem assumir para os diferentes sujeitos. Sendo assim, o lazer é
concebido não somente no descanso e divertimento, mas como forma de
desenvolvimento pessoal e social. Desta feita, seu enfoque valorativo e subjetivo do
lazer, ultrapassa o olhar puramente de repouso e diversão e passa a ser visto
também como desenvolvimento.
A partir da década de 1980, o lazer passa a ser abordado sob outros
aspectos, visto o surgimento no cenário nacional de autores, sendo que alguns deles
participaram do grupo constituído pelo SESC (Serviço Social do Comércio) e, ainda,
com influências do pensamento de Dumazedier (1979, 1999). No Brasil, o
reconhecimento da importância do lazer ocorre em grande parte, em virtude das
políticas e atividades recreativas difundidas nas esferas estatal e corporativa,
destacando-se as iniciativas ligadas aos setores públicos federais, estaduais e
municipais; como também, aos sindicatos e instituições sociais como o SESC e
SESI.
Dentre os estudiosos da área, destacou-se a contribuição de Marcellino
(1983, 1987, 1990) no tocante aos avanços nas discussões do lazer, a partir de uma
abordagem crítica, fundamentando um grande número de trabalhos que vêm sendo
publicados, inclusive com nova edição. Com base em sua corrente teórica, enfatiza-
se a crítica à visão do funcionalista do lazer. Para Marcellino (1987), essa visão
aponta o lazer como algo altamente conservador, que busca a “paz social” e a
manutenção da “ordem”, considerando-o, também, como instrumento para enfatizar
a disciplina e as imposições de nossa vida em sociedade.
Isayama (2010) afirma que o lazer está sendo vivenciado sob a ótica
funcionalista/assistencialista e ainda, há um privilégio das atividades físicas e
esportivas em detrimento de outras práticas culturais que podem ser vivenciadas no
âmbito do lazer. O lazer não está restrito à dimensão físico-esportiva, pois abrange
distintos interesses, sejam sociais, turísticos, virtuais, artísticos, intelectuais e
manuais.
A Rede CEDES6 – Centro de Desenvolvimento do Esporte Recreativo e do
Lazer – é um importante meio de produção e difusão de conhecimento na área de
esportes recreativos e de lazer.
6 Foi implantado um Projeto, sob a coordenação de pesquisadores da Universidade Estadual da
Paraíba, do Departamento de Educação Física, em parceria com a Universidade Federal da Paraíba, Campus João Pessoa e a Universidade Federal de Campina Grande, Campus de Sumé – PB, em
88
Em relação, ainda, ao campo de pesquisa sobre o lazer, faz-se referência ao
CELAR. Para Melo e Werneck (2003), esse foi o primeiro grupo de pesquisa com
ênfase nos estudos de lazer no Brasil / Minas Gerais, sendo vinculado ao CNPq
(Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). O CELAR editou
a revista cientifica Licere específica da área do lazer, no Brasil.
Com o propósito para trazer para discussão compreensões teóricas sobre o
lazer, inicia-se com o entendimento atrelado aos valores de descanso e diversão.
Conforme Silva et al. (2011, p. 28 a), “descansar, recuperar as energias, distrair-se,
entreter-se, recrear-se, enfim o descanso e o divertimento são valores comumente
associados ao lazer”. Nessa perspectiva, a noção de recuperação e diversão tem
um significado à dimensão inerente ao lazer.
Segundo Dumazedier (1979, 2001) o lazer tem o seguinte entendimento:
O lazer é o conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entregar-se de livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se e entreter-se ou ainda desenvolver sua informação ou formação desinteressada, sua participação social voluntária ou sua livre capacidade criadora após livrar-se ou desembaraçar-se das obrigações profissionais, familiares e sociais (DUMAZEDIER, 2001, p. 34).
O autor ainda afirma que o caráter libertário, o caráter desinteressado, o
caráter hedonístico e o caráter pessoal são características do lazer (DUMAZEDEIR,
1979). No tocante ao caráter libertário, percebe-se que o lazer é compreendido
como a liberação das obrigações profissionais, familiares, socioespirituais e
sociopolíticas, resultado da escolha por opção pessoal. O caráter desinteressado, na
sua concepção, diz que o lazer não precisa estar interligado a uma determinada
finalidade, ou seja, do ponto de vista profissional, utilitário, lucrativo, material, social
ou político. Em relação ao caráter hedonístico, Dumazedier (1979) concebe que a
vivência do lazer está ligada à busca do prazer, satisfação; e o caráter pessoal do
lazer está voltado para as funções de descanso, divertimento e desenvolvimento
pessoal e social, com vistas às necessidades do indivíduo perante as rígidas
obrigações impostas pela sociedade. A abordagem do referido autor é bastante
defendida nos estudos existentes. Por outro lado, é importante ressaltar que
2016. Esse projeto foi submetido a edital, com a aprovação do Ministério do Esporte, atrelado à REDE CEDES, o qual contribuirá com a qualificação de políticas de esporte e lazer para a região.
89
Marcellino (1987) quando trata do lazer, apresenta a discussão de cultura para o
entendimento do lazer numa visão mais ampla.
O autor afirma que o lazer é:
a cultura compreendida no sentido mais amplo, vivenciada no tempo disponível. Não se busca, pelo menos fundamentalmente, outra recompensa além da satisfação provocada pela situação. A disponibilidade de tempo significa a possibilidade de opção pela atividade prática ou contemplativa (MARCELLINO, 1987, p. 31).
De acordo com Marcellino (1997), os aspectos que caracterizam o lazer são:
- cultura vivenciada no tempo disponível das obrigações profissionais, escolares, familiares e sociais, combinando os aspectos tempo e atitude;
- fenômeno gerado historicamente e do qual emergem valores questionadores da sociedade como um todo e sobre o qual são exercidas influências da estrutura social vigente;
- tempo privilegiado para a vivência de valores que contribuem para mudanças de ordem moral e cultural.
- portador de um duplo aspecto educativo, veículo e objeto de educação (MARCELLINO, 1997, p. 157-158).
Marcellino (1995b, 1998) faz referência da tendência voltada para a
educação para o lazer, concebe como fenômeno social e competente da cultura
historicamente situada, vivenciada em tempo e espaços disponíveis para vivência
lúdica.
Ainda do ponto de vista de educação para o lazer, Pinto (2001) afirma que:
A tendência de educação para o lazer volta-se ao entendimento de lazer como mercadoria, aliando-se ao sentido de recreação como recreatonem (entretenimento) e recreatio (recreio). O lazer é carregado do sentido de atividade, cumprindo com as funções de descanso, divertimento e desenvolvimento social com fins moralista (canalização das tensões e redução dos problemas sociais, atuando como válvula de escape e segurança da sociedade), compensatório (manutenção do status quo) de descanso (voltado à recuperação da força de trabalho) e utilitarista (instrumento de paz social e de mercadoria) – entretenimento que demanda o consumo de atividades, bens e serviços (PINTO, 2001, p. 55).
A cultura como elemento central do lazer também é vista na concepção de
Gomes (2004), ao tratar de lazer como:
90
Uma dimensão da cultura constituída por meio da vivência lúdica de manifestações culturais em um tempo / espaço conquistado pelo sujeito ou grupo social, estabelecendo relações dialéticas com as necessidades, os deveres e as obrigações, especialmente com o trabalho produtivo (GOMES, 2004, p. 125).
Neste sentido, na visão de Marcellino (1995), Pinto (2001), Gomes (2004),
entre outros autores, o campo da cultura tem um significado importante para uma
abordagem interligada à discussão do lazer. Nessa perspectiva, percebe-se que o
conceito de lazer, de certa maneira, é abrangente e associado às produções
científicas na área, vem sendo entendido de uma forma crítico-reflexiva, diante de
uma diversidade de compreensões. Todavia, verifica-se a preocupação de
estudiosos do lazer discutindo-o frente aos aspectos tempo e atitude. Além disso,
muitas pessoas associam o lazer às atividades recreativas, ou a eventos de massa,
ao ar livre e de conteúdo recreativo, sendo esta tendência reforçada pelos meios de
comunicação de massa.
Esta situação contribui para um entendimento restrito do lazer, pois os seus
conteúdos podem ser diversos. Para Dumazedier (1980), os conteúdos culturais do
lazer são classificados em: artísticos, intelectuais, físico-esportivos, manuais e
sociais. E ainda Camargo (1989) acrescenta os interesses turísticos. Ademais,
Schwartz e Silva (2000) fazem referências aos interesses virtuais. No entanto, os
conteúdos dessa classificação se interligam, havendo esta separação apenas para
facilitar o planejamento das atividades e a execução de pesquisas; mas como diz
Marcellino (1999), a classificação está baseada na predominância, sem considerar
de forma rígida, pois os interesses humanos não são fixos. Neste sentido, os
conteúdos culturais do lazer estão aqui entendidos como:
Interesses físicos: estão relacionados às práticas esportivas, com ênfase nas
atividades físicas, sendo o esporte uma das manifestações culturais com maior
adesão e maior difusão nos veículos de comunicação. Segundo Silva et al. (2011, p.
37 d) “os interesses físicos do lazer são as atividades que prevalecem o movimento,
o exercício físico”.
Interesses artísticos - podem estar relacionados com os museus, bibliotecas,
cinemas, teatro, centros culturais, na cultura popular, na cultura de massa, nas
escolas de samba, nas tradições folclóricas. Para Silva et al. (2011d, p. 37), “o
campo de domínio dos interesses artísticos é o imaginário, as imagens, as emoções
e os sentimentos; seu conteúdo é estético e configura a beleza do encantamento”.
91
Interesses manuais: estão presentes na manipulação de objetos e produtos, na
jardinagem, carpintaria, a marcenaria, costura, culinária, artesanato, bricolage.
Interesses Intelectuais: envolvem todos os jogos intelectuais, tais como: xadrez,
dama, gamão, bridge, dominó, baralho, entre outros, como também, leitura, palestra,
cursos, excetuando-se a relação como trabalho / obrigações. De acordo com Silva et
al. (2011 d, p. 37) “o que se busca é o contato com o real, as informações objetivas
e explicações racionais”.
Interesses sociais: estão associadas à ideia de grupos, sociabilidade, ou seja, que
promovam encontros, a exemplo de: festas, bailes, bares, cafés, restaurantes, entre
outros.
Interesses turísticos: Segundo Silva et al. (2011 d) os interesses turísticos estão
relacionados à saída da rotina temporal e espacial, como também o contato com a
natureza, paisagens, culturas.
Interesses virtuais: os conteúdos culturais do lazer voltados para os interesses
virtuais podem ser a navegação em internet, ou seja, em ambientes virtuais;
participação de grupos virtuais, bate-papo virtual, chats, blogs, e-mails; participação
em jogos eletrônicos, entre outras participações em redes sociais (em redes de
comunicação interativa), despertando os interesses também para a linguagem da
cibercultura.
A sociedade contemporânea é fortemente influenciada pelos meios de
comunicação e pelas novas tecnologias, como também, a dimensão das novas
tecnologias de informação e comunicação vêm sendo cada mais atreladas e
ampliadas ao cotidiano das pessoas. Neste panorama, seja talvez uma das razões
pelas quais a televisão e a Internet tenham sido elencadas como atividades que
configuram o lazer no Brasil. Para Gomes (2005), a televisão é a opção mais
frequente no cotidiano dos brasileiros, independente de faixa etária e classe social.
De acordo com a pesquisa descritiva de abordagem quantiqualitativa de
Laurentino (2001) realizada com estudantes universitários, com objetivo central de
compreender as concepções e significados do lazer, os interesses sociais de lazer
foram os mais evidenciados, e, em segundo lugar, os interesses turísticos, e em
último lugar os interesses físico-esportivos. Ao perguntar sobre a primeira palavra
que se associa ao lazer, as categorias mais citadas foram: lazer associado às
funções (diversão, descanso, relaxamento, divertimento, descontração, entre
outros); em seguida, lazer ligado aos interesses artísticos, e a terceira categoria
mais evidenciada foi o lazer ligado aos interesses físicos-esportivos. Tratando-se
92
das dificuldades dos universitários pesquisados na realização do lazer, verificou-se
na seguinte prioridade: baixa remuneração, falta de tempo, falta de segurança, falta
de opções, falta de motivação, entre outros fatores (LAURENTINO, 2001).
Desta forma, os vários interesses que podem suscitar a prática do lazer
pelas pessoas, representam a possibilidade de livre escolha, ou seja, opção
individual. Embora os interesses estejam interligados para essa classificação, leva-
se em consideração a sua predominância das características dos interesses
culturais, como se ressaltou anteriormente. Porém, pelo fato de desconhecimento, a
falta de incentivo para escolha de outros conteúdos culturais do lazer, falta de
acesso, entre outras questões é possível que as pessoas geralmente restrinjam
apenas a um conteúdo cultural do lazer.
De acordo com Gomes et al. (2009, p. 98), há uma tendência de o lazer ser
compreendido como uma dimensão da cultura, tendo um caráter desinteressado, no
qual da vivência do lazer o que se espera é a satisfação. Além disso, o fato de haver
disponibilidade de tempo significa que há possibilidade de escolher a atividade,
prática ou contemplativa em um tempo disponível, ou seja, livre das obrigações de
diversas naturezas. Na abordagem de Gomes e Elizalde (2012), o lazer é entendido
de forma que seja visto não como mera relação com trabalho industrial, urbanização
e capitalismo, embora se saiba que há uma relação historicamente constituída.
Na compreensão de Gomes e Elizalde (2012), faz-se necessário conceituar
e ressignificar o lazer sob diferentes prismas e numa visão da cultura possibilitando
caminhos para mudanças. De acordo com Elizalde e Gomes (2010), ao ser
enfocado o campo teórico conceitual do lazer na América Latina, é importante
considerar que os conceitos são representações da realidade material/imaterial;
sempre será uma representação de uma realidade, precisam ser contextualizados,
pois não são universais, são dinâmicos, ou seja, adequados a explicar a realidade
em determinado tempo / espaço histórico / social; podem ser modificados ou
ampliados; não são neutros nem totalmente objetivos e podem gerar diferentes
interpretações.
De outro modo, a necessidade do lazer pode ser satisfeita de diferentes
maneiras, conforme os valores, crenças e interesses das pessoas, grupos e
instituições em cada contexto histórico, social e cultural. Desta forma,
compreendendo-se o lazer como fenômeno sócio-histórico que se apresenta numa
93
rede de significados, símbolos e significações, como enfatiza Gomes (2004). Tratar
o lazer como uma necessidade humana e dimensão da cultura caracterizada pela
vivência lúdica de manifestações culturais no tempo / espaço social, os quais se
configuram de forma material e simbólica, subjetiva e objetiva, pode ou não fazer
parte de mudanças na sociedade, do ponto de vista de humanização e inclusão,
como afirma Gomes (2010).
Diante deste contexto, verifica-se que o lazer é visto de diferentes sentidos e
significados reconhecendo-se que há necessidade de ampliar os olhares numa
perspectiva crítica e criativa. Porém, segundo Gomes e Elizalde (2009), o lazer não
pode ser visto como um remédio para os problemas sociais, com intuito de aliviar as
tensões ou de forma compensatória dos conflitos diante da nossa realidade, mas
como um dos aspectos que promovam a construção de sociedades solidárias e
sustentáveis.
Com o intuito de trazer para a discussão o lazer no contexto das
necessidades humanas, tem-se a visão de Max – Neef (1998), com a preocupação
política de desenvolvimento da escala humana, num sentido que transcenda a
perspectiva econômica convencional, apenas restrita à subsistência, com base em
indicadores agregados e homogêneos; mas sim, numa teoria das necessidades
humanas para o desenvolvimento, tendo em vista o mundo, as pessoas e seus
processos.
Max-Neef, Elizalde e Hopenhayn (1986) afirmam que a necessidade não
deve ser entendida apenas com a ideia de “falta de algo”, pois para eles à medida
que as necessidades comprometem, motivam e mobilizam as pessoas, são também
potencialidades. Desta forma, a necessidade do lazer não é meramente uma
carência, mas também uma potência para vivenciá-lo.
Max-Neef (1998) complementa afirmando que o fundamento básico do
desenvolvimento da escala humana refere-se às pessoas e não aos objetos. O autor
aponta que tradicionalmente as necessidades humanas tendem a ser infinitas,
variam de cultura para cultura e acompanham e são historicamente situadas, porém
para ele é um conceito equivocado, pois se faz necessário diferenciar necessidade
das “satisfações” das necessidades. Sendo que a pessoa é um ser de necessidades
múltiplas e independentes, as quais devem ser consideradas como um sistema que
se inter-relaciona e interage. As necessidades não são somente carências, mas
94
também e ao mesmo tempo potencialidades humanas individuais e coletivas. O
autor ainda diz que as necessidades humanas podem desagregar mediante diversos
critérios, os quais são classificados em categorias, ou seja, categorias axiológicas,
que incluem as necessidades de ser, ter, fazer e estar; e as categorias que incluem
as necessidades de subsistência, proteção, afeto, conhecimento, participação, lazer,
identidade, criação e liberdade (grifo meu).
Na sua concepção um “satisfator” pode contribuir ao mesmo tempo para a
satisfação de diversas necessidades ou uma necessidade pode demandar diversos
satisfatores para ser efetivada. Para Max – Neef (1998), os satisfatores são formas
de ser, ter, fazer e estar, de natureza individual e coletiva, conduzentes com a
atualização das necessidades. Max - Neef (1998) ao tratar dos conceitos de
necessidade e de “satisfator”, apresenta as seguintes premissas:
As necessidades humanas fundamentais são finitas, poucas e classificadas;
As necessidades humanas fundamentais são as mesmas em todas as culturas e em todos os períodos históricos (MAX-NEEF, 1998, p. 42).
Para o autor o que está culturalmente determinado não são as necessidades
humanas fundamentais e os satisfatores dessas necessidades que podem satisfazer
em níveis e intensidades diferentes. A satisfação pode se apresentar na relação
consigo mesmo, em relação com o grupo social e em relação com o meio ambiente.
A qualidade e intensidade tanto dos níveis como dos contextos dependerão do
tempo, lugar e circunstância. Ao elucidar sobre as necessidades, “satisfatores” e
bens econômicos, Max – Neef (1998) afirma que os bens econômicos são objetos e
artefatos que influenciam a eficiência de um “satisfator”, modificando o limiar da
atualização de uma necessidade de forma positiva ou negativa.
Mas, trazendo-se para uma visão crítica do lazer sob a ótica da objetividade
e da subjetividade humana, como ponto de vista de satisfação e como oposição ao
trabalho e como consumo, entre outros elementos, é que se enfatiza a necessidade
para ampliar o seu conceito.
De acordo como Melo e Alves Júnior (2003), o lazer pode ser visto numa
natureza objetiva, de caráter social, ou seja, o tempo e de natureza subjetiva, haja
vista o seu caráter individual, ou seja, o prazer. Numa visão crítica do lazer como
95
caráter individual e de prazer; e como consumo de práticas sociais opostas ao
trabalho, Brasileiro (2013, p. 107) enfatiza que:
O lazer visto como um conceito que se concretiza de um conjunto de práticas que estão inseridas na lógica do prazer, da realização pessoal em um tempo liberado para si mesmo, que são vivências opostas ao trabalho ou como práticas sociais associadas ao consumo alienado é simplificar um conceito complexo e amplo.
Neste estudo, não se tem a intenção de trazer para o cenário da discussão
todos os olhares do lazer, pois se reconhece sua abrangência, complexidade e que
está em constante discussão, porém como possibilidade de entendê-lo nas suas
interfaces e associados ao esporte voltados para a discussão ligada à política
urbana e, por conseguinte, numa perspectiva de melhorias das cidades, melhoria da
qualidade de vida e para a vida em sociedade, com anseios da minimização das
desigualdades sociais, atendendo à demanda pública, de forma igualitária e
democrática.
Ao tratar do esporte e lazer do ponto de vista teórico-conceitual,
compreendidos como fenômenos socioculturais e historicamente constituídos,
recorreu-se, no texto ora apresentado, às diferentes abordagens. Para tanto, foi
necessário ser concebido numa perspectiva crítica, pois o lazer é entendido de uma
forma mais ampla, numa dimensão da cultura, com relação com o tempo, espaço e
atitude, visto como uma necessidade humana, considerado como prática social que
se amplia com a pós–modernidade. Entendido, também, para além de uma visão
funcionalista, o esporte é visto como uma construção humana, historicamente criado
e socialmente desenvolvido, fazendo parte do acervo cultural da humanidade e
compreendido não somente com vistas à obtenção de resultados, mas também
como manifestação e prática corporal, numa dimensão inclusiva, numa perspectiva
de saúde e de lazer.
2.5 Trabalho, lazer e tempo livre: para além de uma visão funcionalista do lazer
Com a intenção de apontar historicamente as relações com o trabalho, lazer
e tempo livre, optou-se por iniciar com a definição de trabalho, para corroborar com
a reflexão do lazer para além de uma visão funcionalista. De acordo com Ferreira
(1986, p. 1695), trabalho é “aplicação das forças e faculdades humanas para
96
alcançar um determinado fim: o trabalho permite ao ser humano certo domínio sobre
a natureza; divide bem o tempo entre trabalho e o lazer”. Nessa conceituação, são
elucidadas as questões do trabalho, do ponto de vista de certa dominação frente à
dimensão da natureza, com a separação de tempo destinado para o trabalho e lazer,
e algo que esteja ligado com o agir com vistas a uma determinada finalidade.
Segundo Oliveira (2004, p. 26), “trabalhar tem o significado de garantir as
condições objetivas e subjetivas para a manutenção e o desenvolvimento da
existência do homem, o que só poderia trazer satisfação e prazer”. Para Oliveira
(2004), o trabalho é pensado com um significado de dar condições, de forma
objetiva e subjetiva, com fins da existência humana, contudo, complementa que
deve ser visto como algo que lhe traga um sentimento de satisfação e prazer.
Trazendo o significado da palavra trabalho, de acordo com a sua etimologia,
constatou-se que é de origem latina, “tripalium”, que significa “torturar por meio de
tripalium, instrumento constituído por três paus, para atar os condenados ou para
manter presos os animais difíceis de ferrar” (ARANHA, 1997, p. 21). A origem da
palavra traz à tona o entendimento de que trabalhar esteja fadado a ser concebido
como algo de forma negativa, que causa o sentimento de tortura, como algo
extremamente danoso.
Em tempos remotos, não havia separação entre trabalho e lazer. Na Idade
Média, o trabalho resgata sua dura imagem, devido à valorização feita pela
Revolução Religiosa, que considera o tempo livre, por não serem as horas livres
rentáveis, sendo consideradas inúteis e perniciosas por não produzirem riquezas.
Nesse período, existia estreita relação entre tempo e religião, sendo o lazer
resultante do não trabalho. Observa-se que nesse período, devia-se ponderar a
preocupação com o tempo livre, pois não geraria lucratividade, dando um sentido de
inutilidade e como algo negativo, ruim, como se o tempo livre fosse sinônimo de
vagabundagem, com possibilidade de práticas que ferissem a moral e a ética.
Quando se faz referência à sociedade tradicional, marcadamente rural, e
mesmo nos setores pré-industriais, percebe-se que não havia uma separação nítida
entre as diferentes esferas da vida do ser humano. O trabalho das pessoas era
próximo das moradias, e ainda, em algumas situações, o trabalho era na sua própria
moradia e o que era produzido partia do próprio núcleo familiar, na maioria das
vezes, sob o contexto natural do tempo. O trabalho era marcado pelo controle do
97
ritmo do ser humano, e assim, as conversas, o canto, relação produção/festa se
dava de forma espontânea nessas sociedades tradicionais, não havendo separação
entre o binômio trabalho e lazer, embora houvesse uma dominação entre classes.
No século XVIII, os grupos que viviam do trabalho manual exerciam suas obrigações
em suas casas e terras, não havendo uma separação entre tempo, local de trabalho
e de lazer. Neste contexto, para o sociólogo Marcellino (1995a), o conceito de lazer
não existia.
Com a passagem de uma sociedade agrícola para a sociedade industrial,
existiram algumas mudanças frente à organização do trabalho, ou seja, a
substituição, aos poucos, dos homens pelas máquinas, preocupação com mais
produção em menor tempo possível, a especialização da mão de obra, entre outros
e, consequentemente, uma distribuição de jornada de trabalho semanal. Surge,
então, a separação do tempo voltado para as atividades produtivas consideradas
como referência para a sobrevivência e, por outro lado, o tempo livre das
obrigações.
Na sociedade moderna marcadamente urbana, a industrialização alavanca a
divisão do trabalho, com vistas para uma mão de obra, cada vez mais especializada,
fragmentada. O ritmo do trabalho passou a ser definido pelo ritmo das máquinas,
mecanizado, reprodutivo, em que as pessoas, cada vez mais, se afastam da
convivência no ambiente de trabalho, fragmentando as relações sociais. E, por
conseguinte, as pessoas passam a fazer parte de grupos diversos, sem ligação uns
com os outros. Nesta sociedade caracteriza-se o binômio trabalho/lazer.
Segundo Silva et al. (2011a), a industrialização vem se fortalecendo ao
longo dos anos. Por conseguinte, vem provocando uma série de mudanças no
comportamento das pessoas, sendo considerado como o marco na divisão da
passagem da sociedade tradicional para a sociedade moderna. E, ainda, acelerando
o processo de urbanização de novas áreas e contribuindo para o crescimento
populacional em torno dessas áreas urbanizadas.
Com as transformações ocorridas na sociedade, principalmente com o
advento da Revolução Industrial, com a passagem do modo de produção feudal para
o modo de produção capitalista, estabelecem-se novas relações de trabalho com o
aparecimento de uma série de inovações técnicas que modificaram as condições de
98
diversos setores industriais e as relações entre empregados e empregadores em
que a mão de obra humana foi substituída pela máquina.
Do ponto de vista teórico, acreditava-se que com as novas tecnologias
facilitariam as atividades, seja por intermédio da globalização ou robotização,
visando ao aumento da produtividade. Porém, na prática, a realidade é diferente,
pois, as pessoas vivem em função do trabalho, não apenas para sanar suas
necessidades básicas, mas também para não serem excluídas socialmente.
O trabalho, para as pessoas, é tido como obrigação, em função das suas
necessidades fisiológicas ou segurança, como condição humana. Além disso,
parafraseando Chauí (1999, p. 33), o significado do trabalho está no modo de
produção capitalista, ou seja, na divisão social do trabalho e na luta de classes.
Porém, Lafargue (1999) não considera a culpa da divisão de classes, apenas da
burguesia, mas de todos, pois os trabalhadores se sujeitam a trabalhar, cada vez
mais, para ampliar a riqueza social, e, em contrapartida, ficam mais pobres.
Por outro lado, o mercado de trabalho exige ainda mais dos trabalhadores,
até mesmo no seu tempo livre, pois precisam muitas vezes de estar se qualificando
para que tenham condições de obter resultados condizentes com os seus anseios.
Segundo Chauí (1999, p. 49), “[...] os trabalhadores ainda precisam lutar pelo direito
à preguiça, sobretudo se considerarmos, ao lado do Estado de Bem-Estar Social”.
Para Lafargue (1999), o proletariado deveria lutar não para exigir os Direitos do
Homem ou o Direito ao trabalho, mas por um trabalho digno não mais de três horas
por dia. Para o autor a preguiça é um direito do trabalhador.
No tocante ao lazer do operário, é importante destacar que a primeira voz
crítica em defesa do lazer operário surge em 1883, no continente europeu, com o
Manifesto O Direito à Preguiça, do socialista Paul Lafargue. De acordo com Chauí
(1999), esse manifesto versa sobre o elogio à preguiça, como condição para o
desenvolvimento físico, psíquico e político do proletariado. Sendo assim, é feita a
crítica ao trabalho, num sentido de exploração, pois deve ser entendido o trabalho
como condição humana com vistas à dignidade.
Cavalcanti (1981) diz que o fenômeno lazer tomou outra dimensão, a partir
da Revolução Industrial. Muito embora a preocupação fosse uma maior produção,
consequência dos avanços tecnológicos; dessa forma estabelece-se o período
moderno e com ele a reivindicação pela melhoria das condições de trabalho, busca
99
pela humanização nas indústrias do trabalho das crianças, mulheres e homens e
ainda, luta por maior tempo livre.
Com o advento da Revolução Industrial, também houve uma migração das
pessoas da área rural para a urbana, aparecendo uma nova classe social dos ricos,
ou seja, banqueiros, financistas, comerciantes. De acordo com a publicação do SESI
- Serviço Social da Indústria (2008, p. 183), no contexto brasileiro, “estas pessoas
foram as primeiras a pensarem numa atividade recreativa para fazer nos seus
momentos de não trabalho e começaram a viajar intensamente”.
Aos poucos, com base nas reivindicações surgidas lentamente, o
trabalhador conquista alguns direitos, como: redução da jornada de trabalho,
repouso em finais de semana e feriados, férias remuneradas, entre outros. Surgindo
assim, o tempo disponível das horas de trabalho, com este tempo livre o trabalhador
tem “liberdade” para escolher atividades à sua escolha, podendo ser estas ligadas
ao lazer.
Por outro lado, com a Revolução Industrial apareceu a produção de bens de
consumo em série. A preocupação então passa em relação de como criar a
economia, sendo assim, a questão volta-se para a necessidade de ter um mercado
de consumo para estes bens, e, por conseguinte de tempo para o consumo. Desta
maneira, de acordo com Marcellino (1995b), foi estabelecido um tempo maior para o
descanso entre uma jornada de trabalho; sendo, também, instituídos os domingos e
depois as férias. Segundo Gomes (2003), essa delimitação da jornada de trabalho
acabou distinguindo nitidamente o tempo de trabalho do tempo de não trabalho, ou
seja, distinguindo o tempo de trabalho do tempo livre (inserindo-se então o lazer).
Lefebvre (1999b) ressalta a concepção marxista do tempo revolucionário.
Esse tempo compreende em um calendário das finalidades, a saber: da religião, da
filosofia, da ideologia, do Estado, da política, entre outros. Além disso, o fim do
trabalho, o fim da cidade. O autor diz que, “o trabalho não acaba no lazer, mas no
não trabalho” (LEFEBVRE, 1999, p. 72-73). “A cidade não acaba no campo, mas na
superação simultânea do campo e cidade” (LEFEBVRE, 1999, p. 72-73).
Lefebvre (1999b) mencionou o trabalho produtivo, fazendo um paralelo entre
Adam Smith e Marx, questiona sobre o que é produzir e o que é sociedade. A
divisão do trabalho como fator de desenvolvimento econômico foi conhecida por
Adam Smith. “Produzir é produzir conhecimento, obras, alegria, prazer, e não
100
somente coisas, objetos, bem materiais trocáveis” (LEFEBVRE, 1999b, p. 151). O
autor cita Marx, quando diz que a grande indústria faz uma classe operária, mas não
faz uma sociedade, pois para a formação da sociedade se faz necessário definir
tipos de pessoas e de atividades, inclusive artistas, profissionais do divertimento.
De acordo com Lefebvre (1999b), o lazer é visto como um dos setores de
produção, de exploração e denominação, como se observa na reprodução das
relações de produção, ao dizer que:
A reprodução das relações de produção implica tanto a extensão quanto a ampliação do modo de produção e de sua base material. Por um lado, portanto, o capitalismo se estendeu no mundo inteiro, subordinando a si, como Marx o havia concebido, as forças produtivas antecedentes e transformando-as para seu uso. Por outro lado, o capitalismo constitui novos setores de produção e consequentemente de exploração e de dominação; entre esses setores, citamos: o lazer, a vida cotidiana, o conhecimento e a arte e a urbanização enfim (LEFEBVRE, 1999b, p. 176).
Após a Revolução Industrial o entendimento era de que, por consequências
das categorias de tempo e trabalho, o lazer chegasse às classes populares. Tal fato
relacionava-se à conquista trabalhista frente à carga horária diária de trabalho e à
importância do descanso. Assim sendo, o entendimento do tempo livre entre os dias
de trabalho e os dias de descanso possibilitaria ao lazer uma relação entre a
qualidade de vida das pessoas.
A sociedade contemporânea apresenta-se com um resultado de espaço de
tempo que comportaria em atividades de lazer, em consonância a um “aumento” do
tempo livre. Embora, para Lafargue (1999), o modo de produção capitalista tenha
controvérsias com o despender do tempo livre, tendo em vista, a concepção de que
“tempo é dinheiro”, haja vista os interesses na maior produtividade e maior
lucratividade de forma eficiente e eficaz.
Sabe-se que a relação de trabalho e lazer não está totalmente fundada em
elementos econômicos produtivos, mas também, em elementos sociais pautados em
identidades diferentes. Dessa maneira, o social permeia todo o conjunto do universo
produtivo, que além de se caracterizar como local de produção é também espaço de
lutas e reivindicações nos discursos, nas atitudes, nos símbolos individuais e
coletivos, nos diferentes códigos de linguagens e manifestações, bem como nas
ações dos operários trabalhadores, nas lutas de classes, no cotidiano das pessoas,
inclusive no trabalho.
101
Segundo Friedmann (1973; p. 35), deve-se levar em consideração a
necessidade do trabalhador, ao dizer que “é preciso que o trabalhador faça parte de
um meio que, longe de sufocá-lo, suscite nele a necessidade de escolha, de cultura,
de pensamentos livres”. O autor ainda ressalta que “a redução do trabalho não cria
liberdade, apenas a supõe” (FRIEDMANN, 1973; p. 35). Ademais, verifica-se que a
diminuição do tempo de trabalho não garante a experiência do lazer. E, ainda, que o
tempo livre não deve ser concebido, apenas, do ponto de vista da
complementariedade ao tempo do trabalho.
Contudo, sobre a ótica do lazer numa visão de recuperação das energias,
apresenta-se Marcuse (1978) ao afirmar que:
Há um controle básico do tempo livre que é realizado pela própria direção do trabalhador, pela rotina fatigante e mecânica, exigindo que o tempo livre proporcione um relaxamento passivo e recuperação de energias para o trabalho (MARCUSE, 1978, p. 60).
Considerando algumas concepções de que o tempo livre por si só não
garante o lazer; enunciando-se não como o complemento ao tempo do trabalho e,
ainda, trazendo a discussão do lazer não apenas como possibilidade de
recuperação das energias para o trabalho, focaliza-se possibilidades de
entendimento sobre tempo livre. Porém, com o interesse de trazer à tona a
discussão da relação do trabalho e lazer, com vistas uma sociedade pós-industrial,
reporta-se à concepção de De Masi (2000), ao afirmar a importância atribuída ao
ócio criativo, numa sociedade capitalista.
A natureza do trabalho, em sua primeira etapa é a do trabalho artesanal;
como destacou-se anteriormente, por conseguinte, o trabalho e a vida coincidiam
totalmente, não havendo separação entre casa e oficina. As oficinas segundo De
Masi (2000) eram separadas, não havendo interação. O ciclo produtivo, ou seja, do
projeto de execução e venda do objeto completava-se na própria oficina. O mercado
era pequeno e praticava-se a troca. No mesmo bairro se vivia, trabalhava-se,
aconteciam as suas atividades cotidianas, inclusive as diversões. Portanto, havia
uma grande mistura entre criatividade, execução e manualidade. A comunidade
fundava-se em necessidades elementares, a economia era do tipo local.
Consideravam-se valores patriarcais e matriarcais e a grande massa era constituída
por analfabetos.
102
Passados vários anos do século XIX, esse mundo se transformou em
sociedade industrial. A produção das novas indústrias ocorreu numa unidade de
espaço de tempo, ou seja, na fábrica. Por consequência, o ambiente da vida não
mais coincide com o local de trabalho. De acordo com De Masi (2000), o trabalhador
torna-se com frequência, um estranho tanto no trabalho, como em casa.
Na maioria dos casos, a figura do empresário não coincide mais com a figura
do trabalhador, nem a do chefe da família com a do chefe da empresa. Surge, então,
a luta de classes. Aumenta-se a produção, as atividades ligadas ao trabalho se
separam das atividades domésticas, as quais são delegadas às mulheres. O
mercado se nacionaliza e internacionaliza. A cidade se torna “funcional”, ou seja,
cada bairro passa a ter uma função. Diante dessa realidade, a produção é vista
como uma cadeia de montagem. As necessidades das pessoas são fortes, pois
cada um concentra-se em poucas necessidades essenciais, dedicando-se a vida
inteira com árduos anos de trabalho. Em contrapartida, para De Masi (2000, p. 241)
“a sociedade pós-industrial privilegia a produção de ideias, o que por sua vez exige
um corpo quieto e uma mente irrequieta”. Para ele, isso é o “ócio criativo”. Portanto,
para o corpo referenda a natureza de descanso e que a mente venha carregada de
pensamentos, porém os caracteriza com o potencial criador. Diante disso, De Masi
(2000, p. 285) afirma que “o ócio é necessário à produção de ideais e as ideias são
necessárias ao desenvolvimento da sociedade. Do mesmo modo que dedicamos
tanto tempo e tanta atenção para educar os jovens para trabalhar, precisamos
dedicar as mesmas coisas e em igual medida para educá-los ao ócio”.
Na sua teoria, no que diz respeito ao ócio, complementa:
existe um ócio dissipador, alienante, que faz com que nos sintamos vazios, inúteis, nos faz afundar no tédio e nos subestimar; existe um ócio criativo, no qual a mente é muito ativa, que faz com que nos sintamos livres, fecundos, felizes e em crescimento; existe um ócio que nos depaupera e outro que nos enriquece. O ócio que enriquece é o que é alimentado por estímulos ideativos e pela interdisciplinaridade (DE MASI, 2000, p. 285-286).
Assim sendo, concorda-se com o entendimento atribuído pelo autor em
relação ao significado do trabalho no cotidiano das pessoas, bem como o tempo de
não-trabalho, muito embora, afirma que com a tecnologia e com a difusão da cultura
é possível dicotomizar a antiga vida rural com o do período industrial. Segundo De
103
Masi (2000, p. 286), “graças ao progresso tecnológico e a difusão cultural, é
finalmente possível eliminar tanto o cansaço pesado da época rural como o estresse
aflitivo da época industrial”.
Ao tratar o “saber viver” no mundo pós-industrial, De Masi (2000) afirma que
no mundo industrial, adora-se o trabalho como dever de uma ética utilitarista, com
base para o comportamento. No entanto, segundo o autor, hoje a necessidade de
oferecer aos jovens uma formação ética permanece inalterada. Porém, o princípio
utilitarista de uma competitividade destrutiva deve substituir a um princípio baseado
na solidariedade de estímulos criativos. Desta forma, o trabalhador também deve ser
ensinado, não como uma obrigação opressora, mas sobretudo com um prazer
estimulante. Ademais, deve-se somar a necessidade de ensinar o não-trabalho, ou
seja, as atividades ligadas ao tempo livre, aos cuidados e às atenções. Conforme De
Masi (2000, p. 346), deve-se dar “maior atenção ao saber, ao convívio social, ao
jogo, ao amor, à amizade e à introspecção”. Desta maneira, valoriza mais o diálogo,
o estudo, a solidariedade e a criatividade.
Em analogia ao século XXI com os anteriores, ele evidencia que o tempo
livre deve ser utilizado com o lazer, pois para ele é possível uma relação de trabalho
e lazer, inclusive um fortalecendo o outro. Como observa-se na seguinte afirmativa:
“a pedagogia da idade industrial ensinava a separar as duas coisas: trabalho era
trabalho, diversão era diversão”. No século XXI, o trabalho e o lazer se misturam e
se potencializam, considerando o tempo livre propício ao lazer. Segundo o referido
autor, o trabalho perdeu o papel central que ocupou durante séculos e que a família,
a escola e a mídia devem colocar ao lado da atual educação profissional dos jovens
uma educação para as atividades lúdicas e culturais. Neste sentido, observa-se para
o autor a importância da educação para as atividades lúdicas e culturais.
De Masi (2000) acrescenta ainda que juntamente com os indivíduos, é
necessário que as cidades, as nações, as igrejas e as empresas se adéquem em
função de uma vida coletiva na qual predominam o lazer e um número crescente de
atribuições que devem ser realizadas não pelos que trabalham, mas em função de
quem repousa ou se diverte. Deste modo, verifica-se a envergadura do lazer nas
vidas das pessoas, porém ver no potencial da criatividade uma maneira de ter
sabedoria para viver a vida sem grandes estresses. Contudo, com os laços vivos
para o seu eu e o social. Para De Masi (2000), o trabalho já não representa mais a
104
categoria que explica o papel dos indivíduos e da coletividade, e ainda que o tempo
livre e a capacidade de valorizá-lo que determinam o nosso destino cultural e
econômico. Assim sendo, o autor tem defendido a diminuição drástica na jornada de
trabalho, a fim de que a experiência laboral seja criativa e objetiva, permitindo ao
trabalhador o aproveitamento de horas livres para revitalizarem seus
relacionamentos com família, o bairro e a cultura, contribuindo assim para a própria
criatividade.
Tratando-se de tempo livre Lefebvre (1991), classifica-o em três categorias,
ou seja, o tempo obrigatório (do trabalho profissional), o tempo livre (dos afazeres) e
o tempo imposto (das exigências do trabalho, transporte, trajetos, formalidades,
entre outros.). Para Elias e Dunning (1992, p.107), “tempo livre é todo tempo liberto
das ocupações de trabalho”. Para os autores, o tempo livre é dividido em cinco
categorias, a saber: ”trabalho privado e administração familiar; repouso; provimento
das necessidades fisiológicas; sociabilidade e as atividades miméticas ou jogo”
(ELIAS; DUNNING, 1992, p. 145).
Essas atividades para eles foram classificadas conforme o “grau de rotina”.
Deste modo, foram divididas nos seguintes grupos:
Atividades Rotineiras – cuidados com higiene e alimentação; tarefas domésticas e
atenção aos familiares.
Atividades de Formação e Autodesenvolvimento – trabalho social voluntário; estudo
não escolar; hobbies; atividades religiosas; participação em associações; e
atualização de conhecimentos.
Atividades de Lazer – encontros sociais formais ou informais; jogos e atividades
miméticas, como participante ou expectador; miscelânea de atividades esporádicas
prazerosas e multifuncionais, como: viagens, jantares ou restaurantes, caminhadas.
Para Elias (1992, p. 108-110), o tempo pode ser dividido entre tempo de
trabalho e tempo livre. Estando o tempo livre classificado em:
Trabalho privado e administração familiar: a esta categoria, pertence a maioria das atividades da família, incluindo a própria provisão da casa. Repouso: a esta categoria de atividades, pertencem o estar sentado e o estar a fumar ou a tricotar, os devaneios, as futilidades sobre a casa, o não fazer nada em particular e, acima de tudo, o dormir. Provimento das necessidades biológicas: todas as necessidades biológicas às quais há que entender, no nosso tempo livre e noutras circunstâncias, estão socialmente padronizadas – comer e beber, bem como defecar, fazer amor, tal como dormir. Sociabilidade: a esta categoria, pertencem atividades que se relacionam com o trabalho, tais como visitar colegas ou superiores hierárquicos, sair
105
numa excursão da firma, assim com outras que não estão relacionadas com o trabalho, tais como ir a um bar, um clube, a um restaurante, ou a uma festa, falar de futilidades com os vizinhos, estar com outras pessoas sem fazer nada de mais, com um fim em si mesmo. Atividades miméticas ou jogo: a esta categoria, pertencem atividades de lazer, tais como a ida ao teatro ou a um concerto, às corridas ou ao cinema, à caça, à pesca, jogar bridge, fazer montanhismo, apostar, dançar ou ver televisão.
O lazer como fenômeno que surgiu a partir do aumento do tempo livre, do
lazer como condição recuperadora dos desgastes biopsicossociais, ou seja, numa
visão meramente funcionalista é possível acreditar que seja uma perspectiva restrita
do seu entendimento. Entende-se que tratar do lazer do ponto de vista histórico é
algo conflituoso, pois para alguns autores, se os homens sempre trabalharam.
Também existiu tempo do não trabalho, o qual seria por vivências de lazer, mesmo
nas sociedades tradicionais. Para outros autores, o lazer é fruto da sociedade
moderna - urbana – industrial, conforme afirma o clássico pesquisador da área,
Marcellino (1998). Contudo, ressalta-se que a visão funcionalista do lazer não amplia
a possibilidade de compreender de forma crítica as suas mudanças e ampliações e
venham acompanhadas com o mundo pós-moderno.
As primeiras abordagens não são contrárias, no entanto a primeira refere-se
à necessidade do lazer, sempre presente, e no segundo enfoque se detém nas
características que essa necessidade se apresenta na sociedade moderna. Para
Silva et al. (2011b), na passagem do estágio tradicional para o moderno no Brasil é
que se identifica uma ruptura entre a vida como um todo e o lazer, passando a ter
seu próprio significado.
Conforme Marcellino (1998), existem quatro visões7 que são responsáveis
pela ideologia do lazer numa perspectiva funcionalista: romântica, moralista,
compensatória e utilitarista. Na visão moralista, o autor afirma que a preocupação
perpassa pela questão de como utilizar as horas de folga com o lazer. Na visão
utilitarista, o lazer é concebido como um benefício social; como uma forma de
recuperação do trabalho, contribuindo para o bem-estar individual,
consequentemente, uma maior produção. Numa visão romântica, faz-se necessário
orientar moralmente e espiritualmente os jovens antes de utilizarem o tempo livre
como lazer. Na perspectiva compensatória, a ênfase é de como utilizar o tempo livre
7 Sugere-se a leitura de Medeiros (1975), Requixa (1977), Gaelzer (1979) e Marinho (1981).
106
com o lazer, de acordo com as atividades de lazer, aceitas pela sociedade.
Marcellino (1998) ainda trata que a prática do lazer na sociedade moderna é
marcada pela função de produzir algo.
Na visão de Requixa (1980), o trabalho e o lazer deviam estar interligados,
fazendo parte da vida do ser humano de forma racional, atribuindo o significado de
ambos para a arte de viver. Requixa (1980, p. 56) enfatiza a “importância de ser
homem educado para racionalmente preparar para si mesmo uma arte de viver, em
que não se perca o equilíbrio necessário entre o trabalho e o lazer, e em que se
antecipe a vida de lazer”. Para o autor, o lazer e trabalho estão interligados.
Ademais, outra discussão sobre o surgimento do lazer pode ser ponderada,
a partir de duas vertentes, uma que remonta à sociedade greco-romana e uma que
afirma que o lazer é uma consequência das manifestações sociais dos séculos XIX e
XX. Para Melo (2001b), apesar da contínua busca de formas de diversão, não
significa ter sempre existido o que se denomina hoje de lazer. Portanto, para o autor,
apesar da diversão acompanhar a existência humana, esta condição não caracteriza
que o lazer sempre existiu.
Elias e Dunning (1992, p. 120) afirmam que, “de acordo com a estrutura
diferente da sociedade grega, o conceito de lazer não possuía exatamente o mesmo
sentido nosso”. Deste modo, fazendo a relação do lazer com a antiga sociedade
grega, havia um entendimento diferente para o lazer. Contudo, o lazer, a partir do
século XX, ganha maior destaque, sendo considerado como um fenômeno
característico, em especial, das sociedades pós-modernas. Diante dessa
enunciação, apresenta-se uma abordagem do que como pode ser entendido o pós-
moderno.
Entende-se por pós-moderno o estado da cultura posterior às transformações que, nas sociedades desenvolvidas do século XX estavam os critérios de verdade ou as regras do jogo que regularam o fazer científico, filosófico e artístico da modernidade (GARSCHAGEN, 1998, p. 270).
Comungando com a concepção de Brasileiro (2013) que o lazer é um
fenômeno que vem ganhando modificações com a pós-modernidade e, ainda,
ressaltando as transformações ocorridas na contemporaneidade nas diferentes
107
sociedades, tendo como base seu entendimento mencionado em Brasileiro (2013, p.
94) no tocante aos valores pós-modernos, afirma-se que:
As transformações vividas na contemporaneidade abarcam todas as sociedades, em diferentes contextos do mundo. Portanto, o incremento dos valores pós-modernos é um dos elementos mais destacados no cotidiano das pessoas, constituindo também um fator determinante para se compreender as transformações no mundo do lazer (BRASILEIRO, 2013, on-line).
Trazendo o esporte para o campo do lazer, atrelado à discussão do tempo-
trabalho, recorre-se inicialmente à Teoria do Materialismo Histórico. Essa teoria
aborda o esporte como reprodutor da força de trabalho, ou seja, o esporte visto
como um dos componentes do tempo livre ou do lazer, abrangendo a relação
trabalho – lazer. Dentre os autores dessa concepção, identifica-se: Güldenpfenning
et al. (1974), Volpert (1974) e Maier (1975). Nessa concepção de esporte parece ser
considerado um produto do processo histórico, e assim, uma conquista dos homens.
No entanto, coloca a serviço da maioria, ou seja, dos trabalhadores. Esta
abordagem exerceu influência sobremaneira na Alemanha. A tese de
Güldenpfenning et al. (1974) é de que o esporte teria se desenvolvido em estreita
ligação com as necessidades da reprodução da força de trabalho para o sistema de
produção capitalista. Para eles, há dois tipos de reprodução: a reprodução simples
(física) e a reprodução ampliada da força de trabalho (qualificação para o
trabalhador). Desta maneira, se o esporte de lazer colaborar para a reprodução
ampliada da força de trabalho, contribuindo para a qualificação do trabalhador, este
estaria em condição de melhor resistir à exploração.
Porém, Maier (1975, p. 62) tem uma posição contrária frente a esta
condição, pois assevera que:
É indiscutível que a qualificação é necessária e que, assim, a exigência de uma qualificação ampliada é também correta, porque ela representa uma condição para uma melhor venda da mercadoria força de trabalho. É também indiscutível que, sob determinadas condições (planejamento científico, incentivo político, etc.), a aprendizagem sensomotora e o esporte podem assumir um significado importante na reprodução da força de trabalho. É, no entanto, necessário analisar quais são, concretamente, as funções da aprendizagem sensomotora e do esporte na qualificação da mercadoria força de trabalho. Politicamente e cientificamente problemático é, em qualquer caso a conclusão pura e simples de que qualificação para o trabalho leve a uma qualificação política. Pois, a relação causal entre
108
“melhor educação” e “maior consciência política”, defendidas no interior da educação política, mostram-se, nas pesquisas um equívoco.
Com a possiblidade de repensar o esporte para uma dimensão mais ampla e
ser visto em diferentes nuances, evidencia-se a sua relação com a pós-
modernidade. Porém, pode-se discutir até que ponto a sua expansão, como
evidenciado por Bento (2007), além de documentos e legislação, realmente o
esporte atende aos interesses e necessidades da população. O autor evidencia que,
numa sociedade que se projeta como pós-industrial ou pós-moderna, na qual os
seres humanos convivem com a diversidade de motivos, sentidos, finalidades,
ideologias e concepções, cabe ao esporte também assumir uma nova configuração.
Além disso, Bento (2007, p. 21) assevera que:
Se antes (o esporte) era uma atividade quase que exclusivamente orientada e estruturada para o alto rendimento e a competição organizada, para a afirmação dos estereótipos da juventude forte e saudável, da virilidade e masculinidade, o esporte passou progressivamente a ser uma prática aberta a todas as pessoas e idades e a todos os estados de condição física e sócio – cultural. Expandiu-se e conquistou novas terras, ou seja, à vocação original da excelência e de alto – rendimento adicionou a instrumentalização ao serviço das mais distintas finalidades: saúde, recreação e lazer, aptidão, estética, reabilitação e inclusão.
Todas as pessoas podem praticar esporte, reforçando assim a compreensão
do esporte numa perspectiva inclusiva. Independentemente de ser magro, gordo;
alto e baixo; forte e fraco; “com ou sem habilidades”; os ditos “normais” ou
“deficientes”, entre outras condições. Ademais, o esporte deve ser bem empregado
e bem explorado; e, ainda, concebido para além do alto rendimento.
O esporte atual, focado no alto rendimento, profissionalizado, bastante
competitivo, com ênfase em resultados, se coaduna com os valores de uma
sociedade cujos princípios morais são baseados especialmente, na competição e no
acúmulo de bens materiais. Sendo assim, não só os jogos, mas os atletas
transformam-se em mercadorias, negociados em escala mundial, com fins de
geração de lucros. Por outro lado, o esporte na atualidade assume um caráter social
abrangente, no campo da promoção de saúde, lazer, qualidade de vida, estética,
reabilitação e inclusão.
A prática esportiva contemporânea está mergulhada nos valores capitalistas,
como o rendimento e o lucro; com a visão de se vencer a qualquer custo. Dentre os
109
fatores, destacam-se: a grande utilização de substâncias proibidas, com o intuito de
alcançar alta performance, a mídia, a política, a agressividade, a competitividade, a
estética, a esportivização da cultura. No entanto, debruçar-se com a sociedade
esportivizada, em que prevalecem a lógica do mercado, a tecnologização e o
profissionalismo, requer um olhar crítico sobre os valores que o esporte tem
difundido.
Diante do exposto, percebe-se que o esporte e o lazer são vistos como
fenômenos que apresentam diferentes condições e nuances, num entendimento de
que são de grande relevância na vida do ser humano, seja uma criança,
adolescente, jovem, idoso, trabalhador ou não trabalhador, como também para a
vida em sociedade. Ademais, o esporte e lazer mantêm uma relação com as
diferentes áreas de conhecimento e devem ser entendidos numa visão crítica,
superando a mera perspectiva funcionalista, além de romper com a ideia apenas de
mercadoria, como se fosse apenas o seu consumo, atendendo somente aos anseios
da mídia, a lógica mercadológica, e a indústria cultural; uma vez que a lógica do
mercado determina o estilo de vida considerado “saudável”, como também padrões
de comportamento e modelos de corpo que devem ser vendidos e consumidos pelas
diferentes classes sociais.
110
CAPÍTULO 3 - ESPORTE E LAZER NO BRASIL
3.1 O esporte na sociedade brasileira
Conforme Marques et al. (2006), a primeira manifestação esportiva no
âmbito interno do Brasil foi em 1901, numa fábrica de tecidos em Bangu, Rio de
Janeiro. A prática foi o futebol, sendo executada no terreno da fábrica. A partir de
1930, empresas começaram a oferecer opções de lazer e esporte aos empregados,
através de clubes subvencionados.
Nos primeiros anos do século XX, já estavam lançadas as bases e
estabelecidos os sentidos básicos do que Nicolau Sevcenko chama de “febre
esportiva”, observável principalmente nas décadas de 1920 e 1930, uma febre que
veio crescendo desde meados do século XIX, mas somente na virada do século
encontra condições completas para se desenvolver ainda mais, podendo-se assim
considerar que surgem os sentidos fundamentais de uma “civilização esportiva”.
Para Sevcenko (1998), na transição dos séculos XIX para o século XX, na cidade do
Rio de Janeiro deu-se uma “febre esportiva”, pois a Reforma Pereira Passos
(Reforma Urbanística), a partir de 1903, manteve forte relação simbólica com a
prática esportiva, em especial o remo. O pesquisador Melo (2001a) ressalta que o
Rio de Janeiro foi pioneiro em práticas esportivas no Brasil.
Mais do que identificar a ocorrência dessa “febre”, é importante perceber que
ela começa, quando são estabelecidos novos sentidos para a prática esportiva,
sendo vista não mais como um simples jogo. Para Melo (2001a), o esporte cada vez
mais seria encarado como uma escola de virtudes e relacionado com a saúde,
determinando profundamente a atuação e os discursos de muitos que o fenômeno
esportivo se envolve nos mais diferentes âmbitos e funções.
No presente estudo, não há um intuito de identificar as diferentes práticas
esportivas numa linha de tempo. No entanto, reconhece-se uma pluralidade de
formas e trajetos para a sua disseminação no Brasil, haja vista as suas
especificidades e singularidade nos diferentes contextos e, por conseguinte, com a
possibilidade da história de cada prática esportiva ter influências de manifestações
esportivas, que acompanham o esporte no mundo. Neste patamar, nosso interesse
não é buscar as origens específicas de cada modalidade esportiva e/ou diferentes
práticas esportivas, mas sim reconhecer que os conceitos do esporte carregam
111
marcas de continuidade e de rupturas considerando as condições históricas situadas
e também considerando-o como fenômeno social, historicamente e culturalmente
construído em suas diferentes dimensões; fazendo ainda, referências de que as
primeiras manifestações esportivas no Brasil, de certo modo, estiveram atreladas ao
seu processo de urbanização, bem como à sua expansão. Recorrendo-se também à
discussão do lazer, existe a corrente que toma como base os aspectos ligados à
urbanização e à industrialização para seu entendimento.
Para Dias (2013), no Brasil com as cidades pouco ou nada urbanizadas,
ocorreu o florescimento do esporte; por outro lado, em algumas cidades a
urbanização teria fortalecido o esporte e ainda assevera que no Brasil as cidades
foram marcadas por mudanças rápidas e dinâmicas.
Entre as décadas finais do século XIX, mais especificamente a partir dos anos iniciais do século XX, populações de algumas cidades brasileiras vivenciaram uma nova experiência urbana, marcadas por ideais de velocidade, dinamismo e inovação (DIAS, 2013, p. 35).
O lazer, de acordo Silva e Silva (2012), acompanha o processo de
construção das grandes cidades. “O lazer era o discurso de segurança do homem
na vida urbana” (SILVA; SILVA, 2012, p. 20). Discurso este com a preocupação na
saúde da população. A preocupação com os movimentos de lazer e a sua
contribuição se expandiu após a Revolução Industrial. Segundo Marcellino (2002),
no Brasil o interesse para a problemática do lazer se deu, a partir da urbanização da
cidade.
Para Miranda (s.d.), a urbanização e a industrialização alteram o panorama
da cidade e a vida das crianças. Miranda (s.d. p. 10-14) afirma que:
Em dado momento da vida das cidades, os urbanistas têm os olhos voltados para este fato: as crianças não tendo jardins, quintais, parques onde brincar e jogar, vão brincar no único espaço que lhes restam a rua! [...] A rua é o meio nocivo por excelência. [...] contato de companheiros viciosos, adquirindo maus hábitos, perturbando vizinhos, intranquilizando os adultos, a rua é a criadora de tendências anti-sociais, a geradora de criminalidade infantil.
Deste modo, a rua é considerada como espaço perigoso, degenerador da
criança, não vista como um local ideal para a criança permanecer. Na concepção
das autoridades, brincadeiras de rua eram consideradas universo das crianças de
112
rua, filhos de classes operárias, vistos como miseráveis, maltrapilhas, promíscuas,
desordeiras e imorais, desta feita, os filhos de famílias mais abastadas eram
proibidos de sair às ruas e suas brincadeiras voltam-se para o ambiente doméstico,
nos quintais e clubes. Essa perspectiva contraria a visão de Jacobs (2011), ao tratar
de algumas vertentes na discussão do urbano.
Segundo Lefebvre (2001), o processo de industrialização é indutor da
problemática urbana. Dentre os induzidos, estão: os problemas relacionados ao
crescimento e à planificação, as questões ligadas à cidade e ao desenvolvimento da
realidade urbana, sem omitir a crescente importância dos lazeres e dos aspectos
relacionados à cultura. Na sua concepção, a cidade é uma obra, e esta
característica diferencia com a orientação irreversível na direção do dinheiro, do
comércio, das trocas, dos produtos. O uso principal da cidade, ou seja, das ruas,
praças, edifícios e dos monumentos, para Lefebvre (2001), é a festa. Contrariando
ao que Miranda (s.d.) diz em relação ao entendimento das crianças na rua.
Observou-se que o processo de industrialização para Lefevre (2001) relaciona-se
diretamente com a questão urbana, e, por conseguinte com o planejamento e o
desenvolvimento da cidade. Desta maneira, com base no referido autor, na dinâmica
da cidade estão presentes o esporte, o lazer e a cultura, carregados de significados
objetivos e subjetivos.
Em se tratando do conceito do esporte, no Brasil, em 1985, foi instituída pelo
presidente José Sarney uma comissão presidida por Manoel Tubino. Este sugeriu a
ampliação do conceito de esporte, passando a ter um entendimento não somente de
rendimento, e assim, compreendido também como perspectiva da educação e da
participação (lazer). A Carta Internacional de Educação Física e Esporte da
UNESCO (1978) é considerada o marco nessa questão.
Embora a Constituição Federal do Brasil de 1988 já fizesse referência a um
novo conceito de esporte, o Brasil permanecera, até 1993, sem lei específica do
esporte que acompanhasse o texto constitucional. Contudo, a partir da Lei N. 8672 /
1993 (Lei Zico), se determinou conceitos e princípios para o esporte brasileiro,
reconhecendo as manifestações esportivas: o Esporte - Educação, Esporte -
Participação (lazer) e Esporte - Performance (desempenho). Estas manifestações
estão inseridas na Política Nacional do Esporte nos dias atuais.
113
O esporte, para Tubino (1999), pode ser entendido como fenômeno
sociocultural ou manifestação da cultura física, as quais têm atuação interdisciplinar.
O autor ainda enfatiza que as dimensões sociais na prática do esporte são: Esporte
– Educação, Esporte – Participação e Esporte – Performance (TUBINO, 2002a).
Porém, segundo Tani (1998), a depender da ênfase em determinados aspectos, o
esporte pode assumir características bem diferentes, como por exemplo: esporte-
rendimento e esporte como conteúdo da Educação Física8. Tomando como
norteadora a terceira versão da Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2017),
os esportes reúnem as manifestações mais “formais” e práticas corporais deles
derivados, e ainda podendo ser classificados em: esportes de campo – e – taco,
rede / parede, de invasão ou territorial, esporte técnico-combinatório, de marca, de
precisão e esportes de combate. Ademais, um dos objetivos de aprendizagem para
os esportes é a problematização das principais manifestações esportivas do esporte
contemporâneo, seja de participação ou rendimento; seu significado no tempo livre,
as relações entre esporte e saúde, e entre esporte e aprendizagem de valores
sociais.
Para Tani (1988), o Esporte – rendimento está assim definido:
Objetiva o máximo em termos de rendimento, pois visa a competição; ocupa-se com o talento e portanto preocupa-se essencialmente com o potencial das pessoas; submete pessoas, a treinamento com orientação para a especificidade, ou seja, uma modalidade específica; enfatiza o produto e resulta em constante inovação. O interesse principal do esporte-rendimento [...] é a perpetuação do sistema ou a sua auto-preservação e o sistema só se perpetua com recordes. Os motivos desse interesse podem ser culturais, econômicos, políticos e ideológicos (TANI, 1998, p. 116).
Com a ideia de simbolismo, com ênfase no princípio educativo, com o trato
nos valores humanos, com foco no desenvolvimento pessoal, com vistas ao
desenvolvimento social, apresenta-se Paes (1998), entendendo o esporte como:
8 Esporte como conteúdo da Educação Física objetiva o ótimo em termos de rendimento, respeitando
as características individuais, as expectativas e as aspirações das pessoas; ocupa-se com a pessoa comum, preocupando-se não apenas com o seu potencial, mas também com a sua limitação; visa à aprendizagem e, portanto, submete pessoas à prática vista como um processo de solução de problemas motores; orienta-se para a generalidade, dando oportunidades de acesso a diferentes modalidades; enfatiza o processo e não o produto em forma de rendimentos ou recordes, e essa orientação resulta na difusão do esporte como um patrimônio cultural (TANI, 1998, p. 117).
114
uma representação simbólica da vida, de natureza educacional, podendo promover no praticante, modificações tanto na compreensão de valores como de costumes e modo de comportamento, interferindo no desenvolvimento individual, aproximando pessoas que têm, neste fenômeno, um meio para estabelecer e manter um melhor relacionamento social (PAES, 1998, p. 112).
3.2 O lazer no Brasil
Para situar o esporte e lazer como fenômenos e de forma mais específica,
no tocante ao lazer, ressaltam-se algumas considerações acerca de
desenvolvimento econômico de uma maneira sucinta para melhor compreensão
frente ao contexto político – econômico vivido, a partir da década de 1930.
Os estudos dos precursores da escola clássica no campo do
desenvolvimento econômico estiveram historicamente relacionados com o
surgimento de uma nova ordem social, ou seja, o capitalismo. David Ricardo
formulou uma teoria do desenvolvimento econômico. De acordo com a sua teoria, a
utilização de uma parte do produto social para a acumulação e as transações
produtivas é a fonte de desenvolvimento econômico. Na economia política
neoclássica, continua considerando-se a acumulação, que procede da renda de
capital como motor do desenvolvimento econômico.
Tomando como referência de que a referida década é considerada um
marco divisor das águas na história brasileira, pois de um lado tem-se a queda da
classe social formada até o momento por uma elite agrária rural, denominada, os
Senhores do Café e de outro lado, a ascensão da burguesia industrial e o
crescimento da classe proletária urbana; e, ainda, mergulhado num contexto, onde o
Estado tinha a intenção de se afirmar e definir seu papel na sociedade, é que se
começa a buscar situar o lazer no Brasil.
A década de 1930 é o período em que o proletariado urbano começa sua
luta de reivindicações, em conjunto com os trabalhadores rurais. Além disso, a partir
desse período, com a ascensão do governo populista, o operariado brasileiro
recebeu um conjunto de benefícios sociais. Era necessário também dar espaços ao
capital estrangeiro e avançar o período rural para a industrialização.
Para introduzir características econômicas e sociais numa perspectiva macro
conjuntural, é importante enfatizar que nos Estados Unidos, o presidente Franklin
Roosevelt dá início ao New Deal (Novo acordo), com o plano de recuperação
115
econômica depois da quebra da bolsa de New York, em 1929 e, por conseguinte,
surge uma crise no capitalismo. Período que deu início a grande depressão e
terminou com a guerra. Foram adotados pelo referido presidente, a partir de 1932,
políticas de ampliação do gasto público, reforçando o citado New Deal.
Dentro do escopo do presente estudo, alguns aspectos são levantados em
consequência ao período vivido, a saber: foram nos anos 1930 que se descobriu o
esporte, a vida ao ar livre e os banhos de sol. Em consequência, novos modelos de
roupa surgiram, uma vez que a prática de esportes se popularizou.
No tocante ao cenário brasileiro, ocorre a Revolução de 1930, movimento
liderado por Getúlio Vargas. A Revolução de 1930 significa um fim de um ciclo, o
agrário-exportador e o início de outro que, pouco a pouco, elaborou as bases para a
acumulação industrial no Brasil. A Revolução de 1930 pôs fim à Primeira República
e se tornou um dos movimentos mais importantes no Brasil.
A Revolução de 1930, para Lamounier (1992), foi um momento de forte
inclinação no aparelho estatal, corrigindo o regionalismo excessivo da República
Velha e na política econômica, que se orientava cada vez mais no sentido do
nacionalismo e da industrialização.
Furtado (1987) refere-se à Revolução de 1930 como um produto da ação
organizada das camadas médias urbanas e dos grupos industriais contra os
cafeeiros, ao dizer que:
O movimento revolucionário de 1930, culminante de uma série de levantes militares abortivos iniciados em 1922, tem sua base nas populações urbanas, particularmente a burocracia militar e civil e os grupos industriais e constitui uma reação coletiva contra o excessivo predomínio dos grupos cafeeiros, [...]. Contudo, em face da reação armada desde 1932, o governo provisório tomou, a partir de 1933, uma série de medidas destinadas a ajudar financeiramente os produtores de café, inclusive uma redução de cinquenta por cento nas dívidas bancárias desses últimos (FURTADO, 1987, p. 201).
Em 1932 começa a Revolução Constitucionalista, organizada em São Paulo,
que exige, entre outros aspectos, a constitucionalização do novo regime. O
movimento é derrotado, contudo, exige a convocação da Assembleia Constituinte
em 1933. Em 1934, seria promulgada a nova Constituição. Em 1937, acaba-se a
“Política do Café com Leite” e inicia-se o Estado Novo. As eleições no país só
voltariam, com término do Estado Novo, em 1945. Ademais, o período de 1930 a
116
1937 foi de incertezas para o povo brasileiro e de instabilidade social e política, no
que tange à legitimação do novo regime implantado.
O capitalismo industrial brasileiro surgiu do desdobramento do capital
cafeeiro, utilizando tanto do núcleo produtivo do complexo exportador (produção e
beneficiamento do café) quanto do seu segmento urbano, ou seja, atividades
comerciais, inclusive as de exportações, serviços financeiros e de transportes.
As mudanças que surgem com a República, principalmente, a partir dos
anos de 1920, com a modernização e a industrialização, fazem com que o
capitalismo industrial se torne o modo de produção preponderante no Brasil. A
estrutura social se torna mais moderna e mais complexa. Muito embora haja
repressão às manifestações das novas classes sociais, que criticam o poder
oligárquico da Primeira República, as classes trabalhadoras se organizam,
inicialmente, com vistas às suas necessidades imediatas, enquanto que as camadas
urbanas emergentes exigiam mais participação política.
O período compreendido entre 1920 e 1943, de forma mais específica, na
segunda metade dos anos 1930, constitui a fase que se estruturou a
constitucionalização dos direitos sociais do nosso país. Período este que
corresponde ao surgimento dos pilares que sustentam, ao longo dos anos, o sentido
da cidadania social no Brasil, através do protagonismo do Estado, que se faz
acompanhar de uma legislação social reguladora das relações de trabalho, como
possibilidade de concentração dos problemas sociais e na perspectiva de sujeitos
sociais como conquistas para condições básicas de vida e dignidade humana, como
destaca Mendonça (2005).
Portanto, o movimento político militar de 1930 provoca mudanças
importantes no sistema produtivo voltado para o mercado interno, desenvolvimento
industrial e para a regulação das relações de trabalho. O Estado, por sua vez, a
partir de 1930, articula o processo de transição de uma economia agroexportadora a
uma economia urbano-industrial. Sendo assim, no Brasil nos anos 1930, as
mudanças no rumo econômico e político dão-se na disputa entre as frações da
classe dominante pela disputa da proteção ao Estado.
O Estado pós 1930, sobretudo a partir de 1935, exerce um papel
desarticulador dos movimentos sociais urbanos que, historicamente, vinham sendo
construídos desde 1920, contribuindo com as conquistas das primeiras leis sociais
117
da República brasileira, sob forte imposição do liberalismo oligárquico, como
também a Constituição de 1934 consagrou a competência ao governo para regular
as relações de trabalho entre eles, a jornada de trabalho para oito horas, definição
do descanso semanal e férias.
a) O lazer no Período Nacional Desenvolvimentista (1946 - 1964)
O Projeto Nacional-Desenvolvimentista foi baseado na substituição de
importações e marcado pelo populismo político. Nesse período, surge a indústria de
automóvel, a construção de estradas pelo Brasil, a inauguração da capital federal
Brasília. Foram adotadas políticas trabalhistas e criada uma indústria de base:
mineração; extração de petróleo e siderúrgica. Do ponto de vista do lazer, Corbin
(1995) enfoca que o mesmo se consolida na luta entre operários e detentores do
capital, como conquista de espaços de lazer nas empresas, o envolvimento dos
operários nos campeonatos nacionais e o desenvolvimento esportivo de algumas
empresas-clube; como também o desenvolvimento do esporte de elite e a criação de
teatros e musicais.
Segundo Almeida e Gutierrez (2005), as transformações advindas do
desenvolvimento econômico e industrial do país oportunizaram um maior acesso ao
lazer por meio das artes e espetáculos, através dos clubes-empresa. Os referidos
autores destacam que a classe no setor urbano cresce, e também a massa
estudantil adentra as universidades públicas das grandes cidades, fato que se
desenvolve rapidamente a prática de esporte nos clubes; é enaltecida a casa de
campo ou de praia, como também se expandem os passeios de carro. Com o Golpe
Militar, principalmente devido o “Milagre Econômico”, há uma expansão do lazer de
final de semana. Além disso, são investidos em parques e espaços para práticas
esportivas
Ramos (1983) afirma que, na passagem da década de 1960, a busca dos
valores nacionais e a “cara” do Brasil e a incorporação das influências estrangeiras
são consequências do cenário político do Brasil e do processo de elite por uma
procura de bens culturais nacionais. De acordo com Almeida e Gutierrez (2005),
nesse período, os espetáculos de lazer atingiam principalmente os setores urbanos
das classes média e alta, que traduziam, através das apresentações as
características do povo brasileiro e o subdesenvolvimento. A classe operária podia
118
ter contato com peças relativas a exploração e mais valia (base do lucro do sistema
capitalista). Além disso, o lazer popular mantinha a tradição de rua, o circo e as
festas típicas católicas. As práticas esportivas eram desenvolvidas na rua, empresas
e campos improvisados. A classe de baixa renda, na cidade, utiliza-se dos espaços
livres para as suas atividades lúdicas e as classes mais abastadas tinham os clubes
esportivos e os parques públicos localizados, na maioria, em regiões mais
valorizadas.
b) O lazer no Período Militar (1964 - 1985)
Entre as décadas de 1960 e 1970, há no Brasil um período de grande
transformação no perfil da política social no âmbito institucional-financeiro. Para
Draibe (1989), nesse período, o “núcleo duro” da intervenção social do Estado
define-se, completando o Estado de Bem-Estar Social, fundamentado nos princípios
do mérito, ou seja, posição ocupacional e de renda adquirida no nível da estrutura
produtiva e da seletividade. Deste modo, abrem-se espaços para a organização dos
sistemas públicos, ou estatalmente regulados, no setor de bens e serviços sociais
básicos. Foi instituída, em 1958, a Campanha de Ruas de Recreio, que possibilitou
atividades esportivas-recreativas em ruas e praças. Ademais, alia-se às políticas de
esporte e lazer, alicerçada pelo Decreto Lei N. 69. 450, de 1971, em vigor até 1996.
Conforme asseveram Almeida e Gutierrez (2005), depois do Golpe Militar de
1964, as manifestações do lazer transformam-se pelo fato do crescimento urbano,
da censura e da repressão policial às práticas de ruas. O desenvolvimento dos
meios de comunicação e da indústria cultural, destacando-se a popularização da
televisão, contribui com a desintegração das manifestações artísticas voltadas para
a classe popular. Pós 1968, com o acirramento das repressões a qualquer oposição
ao regime militar, aconteceram o esgotamento do interesse pelas questões políticas,
o refluxo dos movimentos de massa, a censura e a falta de canais para a discussão
e divulgação de qualquer proposta contestadora, o aparecimento de uma resistência
de esquerda armada e a diminuição das expressões artísticas.
Desta maneira, estes fatos marcaram o fim de um florescimento cultural e do
movimento popular, favorecendo a indústria cultural, especialmente, a televisão.
Contudo, apesar do “Milagre Econômico” da década de 1970, caracterizado pelo
desenvolvimento acelerado, aumentou-se a desigualdade social. Muito embora, para
119
Almeida e Gutierrez (2005), houvesse uma expansão do número de famílias de
classe média que adquiriram televisões, automóveis, pudessem ir ao cinema,
tivessem acesso nos finais de semana ao lazer do campo ou de praia, substituíssem
aos poucos, o comércio de rua pelo do Shopping Center.
Para Corbin (1995), o lazer da classe média, após o desenvolvimento
industrial e das cidades, acompanha aos poucos com as peculiaridades, como: a
censura, o desenvolvimento do lazer dos países industrializados, a exemplo de
viagens a outros países, a criação de espaços turísticos e hotéis. Porém, para os
menos favorecidos, o espaço de lazer, como a rua e as manifestações populares,
diminuiu, restando, assim, as telenovelas, em suas casas, que também serviam
como propagandas políticas do regime militar.
De acordo com Ramos (1983), o Estado simultaneamente continua com o
projeto desenvolvimentista, busca retirar o caráter político contestatório das artes e
do lazer, com investimento na televisão e cinema para formação ideológica, com
base nas artes audiovisuais. Com a censura, as práticas do lazer ficam restritas aos
eventos do regime militar e com o “Movimento Esporte para Todos” – EPT, como
afirma Sant‟anna (1994), às apresentações de circos populares e parques de
diversões (Magnani, 1998) e às atividades do SESC e SESI.
c) O lazer nos anos 1985 – 1990
As características políticas e econômicas desse período, segundo Almeida e
Gutierrez (2005), foram: garantias democráticas, período de estagnação econômica,
principalmente no setor secundário, desenvolvimento da indústria cultural e a
internacionalização da cultura e uma sociedade dual, e, por conseguinte, a exclusão
social. Em relação ao lazer, os referidos autores mencionaram mudanças nas
práticas do lazer, como desenvolvimento de um mercado de lazer de alto padrão,
pouco investimento em lazer popular, desenvolvimento das artes, teatro, cinema,
com incentivos governamentais, estruturação de centros e museus para as práticas
de lazer urbano, com recursos públicos e privados, como também surgem as
políticas públicas relativas ao lazer “pedagógico” e iniciativas isoladas.
Nesse período de redemocratização, e com a globalização, surge uma
reflexão sobre o lazer no Brasil. As reflexões teóricas sobre o lazer voltam-se para o
contato e intercâmbio com as diversas correntes estrangeiras sobre a superação da
120
dicotomia trabalho / tempo livre e estudos dos clássicos, pós-modernos, sociólogos
contemporâneos e relativos às políticas públicas.
d) O lazer no Brasil pós década de 1990
Sabe-se que, em 1995, iniciam-se reformas políticas e nos aparelhos do
Estado brasileiro com a busca de solucionar crises econômicas e garantir as
condições de inserção do país na economia globalizada, como afirma Cardoso
(1998). Dentre as medidas, destacam-se: desregulação da economia e a
flexibilização da legislação do trabalho, a diminuição de gastos púbicos, a
privatização das empresas estatais, a abertura do mercado dos investimentos
transnacionais, dentre outras.
Desde o início do século XXI, adotou-se um conjunto de políticas
energéticas e industrial de crédito para a produção e para o consumo, e políticas
sociais em ampliação e consolidação do sistema de produção social definido na
Constituição de 1988. No período de 2003 a 2006, as exportações abrem o
crescimento econômico do país e no período de 2007 – 2010 foi fortemente
impactado pela expansão do mercado interno. Ao longo dos últimos anos,
apresentam-se tentativas estratégicas por parte dos diferentes governos em apontar
reformas de ordem econômica, tributária, previdenciária, político-administrativa,
dentre outras, que possibilitem ao Brasil manter-se no cenário capitalista, e nossa
busca constante de acreditar nas melhorias das condições de vida do povo
brasileiro, estando presente no debate o lazer, como direito social, no campo das
políticas públicas intersetoriais, mesmo frente aos desafios e escândalos
econômicos e políticos que assolam o país nos últimos anos e, ainda, a crise
instalada em diversas ordens, com reflexos no mundo e, mais especificamente, de
forma assustadora, impactando a vida do brasileiro e os rumos macropolíticos,
econômicos e sociais do Brasil.
A criação do Ministério das Cidades representou uma maior integração de
políticas públicas municipais na medida em que agrega na sua pasta os projetos e
ações relacionados à habitação, transporte e revitalização de áreas centrais
urbanas, por outro lado, é um desafio garantir condições à população o lazer, entre
outros direitos.
121
Em relação à questão do lazer no século XXI no Brasil, segundo Marcellino
(2010), há um caminho, com a esperança de novos recursos e possibilidades, num
conjunto de ações, sejam elas profissionais, de organização comunitária e de ações
governamentais articuladas, pois mesmo reconhecendo as manipulações
ideológicas é possível que o lazer venha contribuir para a vivência de diversos
valores que podem mudar a ordem moral e cultural da sociedade. Além disso, num
contexto do tempo da virtualidade, da simultaneidade do espaço / tempo, do rápido
fluxo das informações, da informalidade e da precariedade das relações de trabalho,
da fragmentação social, de novas identidades, do individualismo, do mundo da
competividade, da lógica do consumo, do acirramento da pobreza e das altas taxas
de desigualdades sociais, bem como, uma gama de descompassos oriundos da
natureza do crescimento das nossas cidades, num mundo plural, e ainda,
considerando o Brasil com grandes desigualdades regionais, com uma grande
parcela de excluídos, tem-se o lazer, buscando-se sua ressignificação. Pois se
acredita que o lazer está revestido de um potencial significativo, a partir de suas
diferentes linguagens, estando em diferentes campos como: na família, no trabalho,
na escola, nos meios de comunicação, nas ruas, nas praças, entre outros.
3.3 Aparato legal do esporte e lazer
Com o intuito de discorrer sobre como é tratado o esporte e o lazer quanto
aos aspectos legais no contexto brasileiro, vistos como direito, reconhecendo que há
uma gama de possibilidades de elucidar o assunto, optou-se por apresentar a
temática ora destacada a partir da Declaração Universal de Direitos Humanos
(1948), LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação (1996), Constituição da
República Federativa do Brasil (1988), Estatuto da Criança e do Adolescente (1990),
Lei N. 7853 (1989), que dispõe sobre o apoio às pessoas portadoras de deficiência,
Lei N. 9.615/1998, que institui normas gerais sobre desporto, o Decreto N. 3.298
(1999), que regulamenta a Lei N. 7853, que trata da Política Nacional para
Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, Estatuto do Idoso (2003), Lei N.
11.438/2006 e Lei N. 11.472/2007, que tratam sobre incentivos e benefícios para
fomentar as atividades de caráter desportivo, Convenção Internacional sobre os
Direitos das Pessoas com Deficiência (2007) e o Estatuto da Juventude (2013). O
olhar, a partir destes documentos, surgiu da necessidade de apresentar um
122
panorama do ponto de vista do direito e da legislação que pudesse situar o leitor,
partindo da Carta Magna do cidadão brasileiro, como também dos demais
documentos que abordam o esporte e o lazer para a criança e o adolescente, a
juventude, o idoso e pessoas com deficiências, de forma específica.
O lazer é um fenômeno sócio-histórico que se frutificou na Era Moderna, a
partir da Revolução Industrial, emergindo como conquista de reivindicações sociais
oriundas da necessidade de qualidade de vida para os trabalhadores. Lutas que
geraram a redução da jornada de trabalho e a remuneração de fins de semana,
férias e feriados. Dessa forma, o direito ao lazer é considerado como uma conquista
de lutas coletivas por espaços de tempo que pudessem se contrapor às obrigações
cotidianas, especialmente às do mundo do trabalho.
Segundo a Declaração Universal dos Direitos Humanos, proclamada em
1948, pela Assembleia Geral das Nações Unidas – ONU (1977), no seu artigo 24,
“todo homem tem direito a repouso e lazer, inclusive à limitação razoável das horas
de trabalho e a férias periódicas remuneradas” (ONU, 1977, art. 24). Desta forma, o
lazer passara a ser visto como direito de todos. Nesse documento, o lazer tem uma
relação com a variável tempo, levando-se a acreditar que o mesmo está visto numa
perspectiva compensatória, considerando sua relação com o surgimento do repouso
mencionado a partir da diminuição das horas de trabalho e surgimento de férias.
Tratar a questão sob o ponto de vista do esporte e lazer como direito não é
tarefa simples, pois é reconhecer que a legislação passe do nível de documentação
e que tenha o verdadeiro sentido da concretude e de significado para o cidadão
brasileiro, independente de idade, gênero, etnia, religião, nível socioeconômico,
cultural, entre outros aspectos.
Na Constituição Federativa Brasileira (1988), o lazer está previsto como
direito, expresso no Título II – Dos Direitos e Garantias Fundamentais, no seu
Capítulo II – Dos Direitos Sociais, em seu Artigo 6º, ao afirmar que:
São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma da Constituição. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 64 de 2010) (BRASIL, 1988, art. 6).
Nesse documento, o Lazer é visto como direito, ao lado de outros direitos
assegurados ao brasileiro. Percebe-se, assim, a importância conferida ao lazer,
123
considerando os demais direitos humanos. Está expresso ainda, no Título III – Da
Organização do Estado, no Capítulo II – Da União, no seu artigo 24 que: “compete à
União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre a
educação, cultura, ensino e desporto”. No seu Título VIII – Da Ordem Social, no seu
Capítulo III – Da Educação, Da Cultura e do Desporto – Seção III – Do Desporto,
observa-se que é dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não-
formais, como direito. Para isto são observados os seguintes aspectos:
I- A autonomia das entidades desportivas dirigentes e associações, quanto a sua organização e funcionamento;
II- A destinação de recursos públicos para a promoção prioritária do desporto educacional, e, em casos específicos, para ao do desporto de alto rendimento;
III- O tratamento diferenciado para o desporto profissional e o não-profissional;
IV- A proteção e o incentivo às manifestações desportivas de criação nacional (BRASIL, 1988).
Ademais, na Seção III do inciso IV referido anteriormente, no parágrafo 3º,
trata-se que: “o poder público incentivará o lazer, como forma de promoção social”.
Pautando-se no Título VIII – Da Ordem Social, Capítulo VII – Da Família, da
Criança, do Adolescente, do Jovem e do Idoso, o artigo 227 assevera que:
É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e a convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão” (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 65 de 2010) (BRASIL, 1988).
O lazer é tratado como direito constitucional, o qual será incentivado pelo
poder público, como forma de promoção social; está previsto que o desporto seja
legislado pela União, Estados e Distrito Federal. Quanto aos recursos públicos,
serão destinados prioritariamente para o desporto educacional. No entanto, está
expresso que é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao
adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, direitos sociais, tais como: à vida,
à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, dentre outros.
124
Camargo (2010) afirma que, no direito ao lazer, está presente uma nova
maneira de se reivindicar a dignidade humana. Todavia, o autor percebe que a
sociedade brasileira vê o lazer com um pouco de indiferença e desconfiança,
embora reconheça o lazer como uma necessidade e um direito, mas uma
necessidade e um direito, que estão em segundo plano, pois alguns setores da
sociedade civil ainda não adquiriram consciência de que o lazer é um direito tão
necessário e legítimo como a saúde, a habitação, a segurança, o transporte e a
educação.
É importante destacar que na Constituição Federal de 1934 foi contemplado
pela primeira vez o “tempo de não trabalho”, pois se previa que o tempo diário de
trabalho não poderia exceder de 08 (oito) horas, e, ainda anunciou as férias
remuneradas. Já na Constituição de 1937, foi contemplado ao trabalhador o direito
de descansar semanalmente, aos domingos, e após um ano de trabalho em uma
determinada empresa, o trabalhador teria direito a uma licença remunerada. Desta
maneira, havia a possibilidade de desfrutar desse tempo com o lazer.
De acordo com a Lei N. 8.069, de 13 de julho de 1990, que dispõe sobre o
Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, o esporte e o lazer são vistos como
direitos assegurados no seu Artigo 4º ao dizer que:
É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito à liberdade, e à convivência familiar e comunitária (BRASIL, 1990, art. 4).
O Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA trata do apoio e destino de
recursos para o esporte e lazer, em seu Artigo 59, ao dizer que: “os municípios, com
apoio dos estados e da União estimularão e facilitarão a destinação de recursos e
espaços para programações culturais, esportivas e de lazer voltadas para a infância
e juventude” (BRASIL, 1990, art. 59).
No Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), em seu Artigo 71, está
expresso o direito ao lazer e esportes, da seguinte forma: “A criança e o adolescente
têm direito à informação, cultura, lazer, esportes, diversões, espetáculos e produtos
e serviços que respeitem sua condição peculiar em desenvolvimento” (BRASIL,
1990, art. 71).
125
Neste trecho, inicialmente, verifica-se que o esporte vem com entendimento
de diferentes esportes. O caráter lúdico pode estar intrínseco e/ou reforçado, talvez,
nas expressões de diversão e espetáculos.
Neste documento, o Título III – Da Prevenção, em seu Capítulo II,
denominado – “Da Prevenção Especial”, trata da regulação das diversões.
Espetáculos públicos são tratados no Artigo 74:
O poder público, através do órgão competente, regulará as diversões e espetáculos públicos, informando sobre a natureza deles, as faixas etárias a que não se recomendem, locais e horários em que sua apresentação se mostre inadequada (BRASIL, 1990, art. 74).
Ainda no Artigo 75, a preocupação está voltada para adequação da faixa
etária às diversões e espetáculos públicos, ao afirmar que: “toda criança ou
adolescente terá acesso às diversões e espetáculos públicos classificados com
adequação à sua faixa etária” (BRASIL, 1990, art. 75). Ao falar da Política de
Atendimento, o ECA (1990), em seu Artigo 94, trata que as entidades que
desenvolvem programas de internação dentre outras obrigações, propiciarão
atividades culturais, esportivas e de lazer.
Em 24 de outubro de 1989, foi criada a Lei N. 7.853, que dispõe sobre o
apoio às pessoas portadoras de deficiência e sua integração social, em seu Artigo
2º, expressa que caberá ao poder público e seus órgãos assegurar os direitos
básicos às pessoas portadoras de deficiência. O lazer nesta lei é tratado como
direito básico atrelado aos demais direitos sociais.
Ao poder público e seus órgãos cabe assegurar às pessoas portadoras de deficiência o pleno exercício de seus direitos básicos, inclusive à educação, à saúde, ao trabalho, ao lazer, à previdência social, ao amparo à infância e à maternidade e de outros que decorrentes da Constituição e das leis propiciem seu bem-estar pessoal, social e econômico (BRASIL, 1989, art. 2).
A partir do Decreto N. 3.298, de 20 de dezembro de 1999, é regulamentada
a Lei N. 7.853, que dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa
Portadora de Deficiência, no Capítulo I – “Das Disposições Gerais”, traz a seguinte
redação:
126
Caberá aos órgãos e às entidades do Poder Público assegurar à pessoa portadora de deficiência, o pleno exercício de seus direitos básicos, inclusive dos direitos à educação, à saúde, ao trabalho, ao desporto, ao turismo, ao lazer, à previdência social, à assistência social, ao transporte, à edificação pública, à habitação, à cultura, ao amparo à infância e à maternidade e de outros que decorrentes da Constituição e das leis, propiciem seu bem-estar pessoal, social e econômico (BRASIL, 1999).
Assim sendo, percebe-se que o desporto de forma específica e outros
direitos não estavam explícitos, antes da regulamentação da Política Nacional para
Integração da Pessoa Portadora de Deficiência. Em uma das diretrizes
apresentadas na referida legislação, o esporte vem enunciado conforme está
expresso no Capítulo III, Artigo 6º, inciso III:
Incluir a pessoa portadora de deficiência, respeitadas as suas peculiaridades, em todas as iniciativas governamentais relacionadas à educação, à saúde, ao trabalho, à edificação pública, à previdência social, à assistência social, ao transporte, à habitação, à cultura, ao esporte e ao lazer (BRASIL, 1999, art. 6).
Outro aspecto importante a ser considerado é que no Capítulo VI – “Dos
Aspectos Institucionais”, caberá ao Ministério da Justiça, através do CONADE
(Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência), como órgão superior
de deliberação colegiada acompanhar as políticas setoriais, inclusive ao do
desporto, lazer e política urbana, entre outras. De acordo com o Artigo 11, inciso II,
ao CONADE compete:
Acompanhar o planejamento e avaliar a execução das políticas setoriais de educação, saúde, trabalho, assistência social, transporte, cultura, turismo, desporto, lazer, política urbana e outros relativos à pessoa portadora de deficiência (BRASIL, 1999, art. 11).
Este artigo faz menção ao desporto e lazer num contexto de políticas
setoriais, como também à política urbana. Assim sendo, o trato sob a forma de
políticas setoriais aparece na Lei promulgada frente à Política Nacional para a
Pessoa Portadora de Deficiência.
A Lei N. 7853 (1999), que aborda a Política Nacional para Integração da
Pessoa Portadora de Deficiência, no Capítulo VII, denominado – “Da Equiparação
de Oportunidades”, Seção V – “Da Cultura, do Desporto, do Turismo e do Lazer,
dispõe que as questões de acessibilidade e de incentivo à cultura, desporto, turismo
127
e lazer são de responsabilidade dos órgãos e das entidades da Administração
Pública Federal direta e indireta e criar incentivos para o exercício de atividades
criativas, tendo como base algumas medidas, tais como:
Incentivar a prática desportiva formal e não formal como direito de cada um e o lazer como forma de promoção social; estimular meios que facilitem o exercício de atividades desportivas entre a pessoa portadora de deficiência e suas entidades representativas; assegurar a acessibilidade às instalações desportivas dos estabelecimentos de ensino [...] (BRASIL, 1999, art. 46).
De acordo com o Artigo 48, para que os órgãos e as entidades da
Administração Pública Federal direta e indireta sejam promotores ou financiadores
de atividades desportivas e de lazer deverão concorrer técnica e financeiramente a
editais para alcançar os objetivos previstos no Decreto N. 3298 que regulamenta a
Lei N. 7.853 (1999). Porém, a prioridade do apoio será a manifestação desportiva de
rendimento e educacional. O apoio será concernente à especialização de recursos
humanos, competições em diferentes esferas, pesquisa, e com construção,
ampliação, recuperação e adaptação de instalações desportivas e de lazer.
A LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação (1996), no Título V – “Dos
Níveis e das Modalidades de Educação e Ensino”, no seu Capítulo II – “Educação
Básica”, Seção I – “Das Disposições Gerais”, no Artigo 27, Inciso IV, estabelece que
“a promoção do desporto educacional e o apoio às práticas desportivas não
formais”, como uma das Diretrizes dos Conteúdos Curriculares da Educação Básica.
Segundo a LDB (1996) no Título VII – “Dos Recursos Financeiros”, em seu
Artigo 71, “não constituirão despesas de manutenção e desenvolvimento de ensino
aquelas realizadas com:
I - pesquisa, quando não vinculada às instituições de ensino, ou, quando efetivada fora dos sistemas de ensino, que não vise, precipuamente, ao aprimoramento de sua qualidade ou à sua expansão; II - subvenção a instituições públicas ou privadas de caráter assistencial, desportivo ou cultural; III - formação de quadros especiais para a administração pública, sejam militares ou civis, inclusive diplomáticos; IV - programas suplementares de alimentação, assistência médico-odontológica, farmacêutica e psicológica, e outras formas de assistência social; V - obras de infra-estrutura, ainda que realizadas para beneficiar direta ou indiretamente a rede escolar;
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VI - pessoal docente e demais trabalhadores da educação, quando em desvio de função ou em atividade alheia à manutenção e desenvolvimento do ensino (BRASIL, 1996, art. 71).
A despeito desta legislação, observa-se que as questões ligadas às obras de
infraestrutura e de subsídios a instituições públicas ou privadas de natureza
assistencial, desportiva ou cultural não serão consideradas despesas de
manutenção e desenvolvimento do ensino.
Tomando como base a Lei N. 9.615 – Lei Pelé, de 24 de março de 1998, que
institui normas gerais sobre desporto, em seu Capítulo I, no Artigo 1º: “O desporto
brasileiro abrange práticas formais e não-formais e obedece às normas gerais desta
Lei, inspirado nos fundamentos constitucionais do Estado Democrático de Direito”
(BRASIL, 1998, art. 1). Nesta Lei, no Capítulo II – “Dos Princípios Fundamentais”, no
Artigo 2º, o desporto é tratado como direito individual, baseado nos seguintes
princípios:
I - da soberania, caracterizado pela supremacia nacional na organização da prática desportiva; II - da autonomia, definido pela faculdade e liberdade de pessoas físicas e jurídicas organizarem-se para a prática desportiva; III - da democratização, garantido em condições de acesso às atividades desportivas sem quaisquer distinções ou formas de discriminação; IV - da liberdade, expresso pela livre prática do desporto, de acordo com a capacidade e interesse de cada um, associando-se ou não a entidade do setor; V - do direito social, caracterizado pelo dever do Estado em fomentar as práticas desportivas formais e não-formais; VI - da diferenciação, consubstanciado no tratamento específico dado ao desporto profissional e não-profissional; VII - da identidade nacional, refletido na proteção e incentivo às manifestações desportivas de criação nacional; VIII - da educação, voltado para o desenvolvimento integral do homem como ser autônomo e participante, e fomentado por meio da prioridade dos recursos públicos ao desporto educacional; IX - da qualidade, assegurado pela valorização dos resultados desportivos, educativos e dos relacionados à cidadania e ao desenvolvimento físico e moral; X - da descentralização, consubstanciado na organização e funcionamento harmônicos de sistemas desportivos diferenciados e autônomos para os níveis federal, estadual, distrital e municipal; XI - da segurança, propiciado ao praticante de qualquer modalidade desportiva, quanto a sua integridade física, mental ou sensorial; XII - da eficiência, obtido por meio do estímulo à competência desportiva e administrativa (BRASIL 1998, art. 2).
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Segundo a Lei N. 9.615/Brasil (1998), o desporto é reconhecido com
manifestação, e classificado em desporto educacional, de participação e de
rendimento, conforme se apresenta, no Capítulo III, no seu Artigo 3º:
I - desporto educacional, praticado nos sistemas de ensino e em formas assistemáticas de educação, evitando-se a seletividade, a hipercompetitividade de seus praticantes, com a finalidade de alcançar o desenvolvimento integral do indivíduo e a sua formação para o exercício da cidadania e a prática do lazer; II - desporto de participação, de modo voluntário, compreendendo as modalidades desportivas praticadas com a finalidade de contribuir para a integração dos praticantes na plenitude da vida social, na promoção da saúde e educação e na preservação do meio ambiente; III - desporto de rendimento, praticado segundo normas gerais desta Lei e regras de prática desportiva, nacionais e internacionais, com a finalidade de obter resultados e integrar pessoas e comunidades do País e estas com as de outras nações (BRASIL, 1998, art. 3).
Quando a Lei N. 9.615 trata da regulamentação da prática desportiva, em
relação à prática formal, dispõe que é submetida às normas nacionais e
internacionais e regras específicas a cada modalidade desportiva enquanto que a
prática desportiva não-formal é caracterizada pela “liberdade lúdica” dos
desportistas. Verifica-se que referenciar a natureza da informalidade há uma
indicação de livre escolha para a criação de regras pelos praticantes. Observa-se
que os princípios da soberania, autonomia, democratização, liberdade, do direito
social, da identidade, da educação, da qualidade, da descentralização, da segurança
e da eficiência são elencados na referida Lei, tratando o desporto como direito
individual. Sendo o dever do Estado fomentar as práticas desportivas formais e não-
formais, no entanto, a prioridade dos recursos públicos é para o desporto
educacional. Ao se considerar o princípio da qualidade do desporto, percebe-se a
referência no sentido do exercício da cidadania e o desenvolvimento físico e moral.
Em relação ao princípio da descentralização, ressalta-se a organização e
funcionamento harmônico entre as diferentes esferas, ou seja, federal, estadual,
distrital e municipal.
O desporto educacional é preconizado para fins de desenvolvimento integral
do indivíduo e a sua formação para a sua cidadania e a prática do lazer. Assim
sendo, o lazer vem enveredado pela ótica da “prática” nos sistemas de ensino e em
formas assistemáticas de educação. O desporto participação vem apresentado com
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a finalidade de contribuir com as questões de socialização, promoção de saúde e
educação e preservação ambiental.
Considerando a Lei N. 10.741, de 01 de outubro de 2003, que dispõe sobre
o Estatuto do Idoso, está assegurado o direito ao esporte e lazer ao idoso ao
expressar, no Título I, no Artigo 3º, que:
É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária (BRASIL, 2003, art. 3).
Tomando como base o Estatuto do Idoso (2003), caberá ao Estado e à
sociedade assegurar o direito à liberdade, ao respeito e à dignidade, assim definido:
É obrigação do Estado e da sociedade, assegurar à pessoa idosa a liberdade, o respeito e a dignidade, como pessoa humana e sujeito de direitos civis, políticos, individuais e sociais, garantidos na Constituição e nas leis (BRASIL, 2003, art. 10).
Contudo, a prática de esporte e de diversões de acordo com o Estatuto do
Idoso (2003) é um dos aspectos que compreende o direito à liberdade. Verifica-se
que a ideia de liberdade como forma de livre escolha merece destaque neste trecho,
possibilitando desencadear uma perspectiva de discussão de uma natureza do lazer.
O sentido atribuído ao esporte é dado como prática e não é elucidado o vocábulo
lazer, mas levando-se a pensar na ideia da expressão apresentada, ou seja,
diversão, talvez numa perspectiva restrita do lazer.
Porém, no Título II – “Dos Direitos Fundamentais”, no Capítulo V – Da
Educação, Cultura, Esporte e Lazer, apresenta-se o direito ao esporte e lazer e
diversões em conjunto com outros direitos, quando em seu Artigo 20º dispõe que: “O
idoso tem direito a educação, cultura, esporte, lazer, diversões, espetáculos,
produtos e serviços que respeitam sua peculiar condição de idade” (BRASIL, 2003,
art. 20).
Como se pode perceber, a condição apresentada no referido artigo, ao tratar
dos citados direitos, reporta-se à idade em detrimento de outras condições, levando
a acreditar que merece uma visão mais ampliada do processo de envelhecimento e
131
sua relação holística da condição e qualidade de vida pessoal e social, bem como
outros fatores intrínsecos e extrínsecos que merecem uma visão mais ampliada.
É importante evidenciar que está previsto neste Estatuto que o idoso tem
desconto para participação de atividades culturais e de lazer, como assegura o
Artigo 23º, quando estabelece que:
A participação dos idosos em atividades culturais e de lazer será proporcionada mediante descontos de pelo menos 50% (cinquenta por cento) nos ingressos para eventos artísticos, culturais, esportivos e de lazer, bem como o acesso preferencial aos respectivos locais (BRASIL, 2003, art. 23).
Tratando-se do referido desconto, inicialmente, o enfoque é dado em
atividades culturais e de lazer e quando a identificação passa para os ingressos
estão relacionados com eventos artísticos, culturais, esportivos e de lazer,
passando, assim, de atividades para eventos de uma forma mais ampla. A
promoção de atividades educacionais, esportivas, culturais e de lazer está prevista
no Estatuto do Idoso (2003), em seu Título IV – “Da Política de Atendimento do
Idoso”, Capítulo II, quando ressalta “Das Entidades de Atendimento ao Idoso”.
Um dos aspectos que se apresentou como justificativa pelo governo Lula
para a criação do Ministério do Esporte foi o financiamento restrito para o setor
esportivo. De acordo com a análise governamental, essa limitação orçamentária era
advinda da ausência de uma política de financiamento que garantisse a
diversificação de recursos, até mesmo aqueles oriundos de isenção fiscal.
Em 29 de dezembro de 2006, foi aprovada a Lei N. 11.438 – Lei de Incentivo
ao Esporte, que dispõe sobre incentivos e benefícios para fomentar as atividades de
caráter desportivo. Porém, os Artigos 1º e 2º, a partir da Lei N. 11472, de 2007,
tiveram a redação alterada. Portanto, para as questões ligadas ao imposto de renda,
como incentivos e benefícios para atividades com vigência até o ano-calendário de
2015, está previsto que:
Poderão ser deduzidos do imposto de renda devido, apurado na Declaração de Ajuste Anual pelas pessoas físicas ou em cada período de apuração, trimestral ou anual, pela pessoa jurídica tributada com base no lucro real os valores despendidos a títulos de patrocínio ou doação, o apoio direto a projetos desportivos e paradesportivos previamente aprovados pelo Ministério do Esporte (BRASIL, 2007, art. 1).
132
Segundo o Artigo 2º desta Lei, os recursos oriundos desta natureza serão
para uma das seguintes manifestações: “desporto educacional; desporto de
participação e desporto de rendimento”, e ainda, que os recursos advindos destes
incentivos sejam preferencialmente para comunidades de vulnerabilidade social
(BRASIL, 2007).
No período de 2007 a 2015, de acordo com essa legislação serão deduzidos
do Imposto de Renda valores despendidos por pessoas físicas (até 6%) e pessoas
jurídicas (até 1%), a título de patrocínios, ou doações a projetos esportivos e
paradesportivos.
A partir do Decreto N. 6949, de 25 de agosto de 2009, foi promulgada a
Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu
Protocolo Facultativo assinados em Nova York, em 30 de março de 2007. Com base
na referida Carta, observa-se que a expressão Portadora de Deficiência passa a ser
identificada como Pessoa com Deficiência. Em seu Artigo 30º, intitulado –
“Participação na vida cultural e em recreação, lazer e esporte”, os Estados Partes
reconhecem o direito das pessoas com deficiência de participar na vida cultural, em
igualdade de oportunidades com as demais pessoas, apresentando medidas como:
a) Ter acesso a bens culturais em formatos acessíveis; b) Ter acesso a programas de televisão, cinema, teatro e outras atividades
culturais em formato acessíveis; e c) Ter acesso a locais que ofereçam serviços ou eventos culturais, tais
como: teatros, museus, cinemas, bibliotecas e serviços turísticos, bem como, tanto quanto possível, ter acesso a monumentos e locais de importância cultural nacional (NEW YORK, 2007, art. 30).
Sob o ponto de vista de acessibilidade, encontra-se uma gama de opções de
atividades, eventos e serviços expressos na Convenção Internacional sobre os
Direitos das Pessoas com Deficiência (2007) que coadunarão com o enriquecimento
cultural dos participantes, como pode ser visto no tocante à cultura, esporte e lazer.
De acordo com este documento, para que essas pessoas com deficiência tenham
igualdade de oportunidades com as demais pessoas em relação às atividades
recreativas, esportivas e de lazer, os Estados Partes tomarão as seguintes medidas:
a) Incentivar, promover a maior participação possível das pessoas com deficiência nas atividades esportivas comuns em todos os níveis;
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b) Assegurar que as pessoas com deficiência tenham a oportunidade de
organizar, desenvolver e participar de atividades esportivas e recreativas específicas às deficiências;
c) Assegurar que as pessoas com deficiência tenham acesso a locais de eventos esportivos, recreativos e turísticos;
d) Assegurar que as crianças com deficiência possam, em igualdade de condições com as demais crianças, participar de jogos e atividades recreativas, esportivas e de lazer, inclusive no sistema escolar;
e) Assegurar que as pessoas com deficiência tenham acesso aos serviços prestados por pessoas ou entidades envolvidas na organização de atividades recreativas, turísticas, esportivas e de lazer (NEW YORK, 2007, art. 9).
Com estas medidas, alguns aspectos podem ser levantados, como: maior
participação das pessoas com deficiências em termos quantitativos de acesso às
referidas atividades; a informação, treinamento e recursos para otimizar a
organização, desenvolvimento e participação das mesmas; questão de
acessibilidade a locais de eventos, e, por consequência, leva-se a acreditar que
surge a necessidade de calendários previstos para a sistematização desta condição.
Além disso, há um destaque para a criança com deficiência, fazendo referências nos
jogos e atividades recreativas, esportivas e de lazer, com a preocupação voltada
para a escola. É notório que os jogos se apresentam com forma específica e as
atividades estão assim discriminadas: recreativas, esportivas e de lazer. Do ponto de
vista de organização de atividades recreativas, turísticas, esportivas e de lazer, ou
seja, o turismo é enunciado.
A Lei N. 12852, de 05 de agosto de 2013, que institui o Estatuto da
Juventude e trata dos direitos dos jovens, dos princípios e diretrizes das políticas
públicas de juventude e o Sistema Nacional da Juventude – SINAJUVE, no seu
Capítulo II, denominado – “Dos Direitos dos Jovens”, na Seção VIII – “Do Direito ao
Desporto e ao Lazer”, no seu Artigo 28 dispõe que é assegurado prioritariamente ao
jovem o desporto de participação.
A política pública do desporto e lazer neste Estatuto deverá considerar:
I- A realização de diagnóstico e estudos estatísticos oficiais acerca da Educação Física e dos desportos e dos equipamentos de lazer no Brasil;
II- a adoção de lei de incentivo fiscal para o esporte, com critérios que priorizem a juventude e promovam a equidade;
III- a valorização do desporto e do paradesporto educacional; IV- a oferta de equipamentos comunitários que permitam a prática
desportiva, cultural e de lazer (BRASIL, 2013, art. 28).
134
Identifica-se o registro na condição, a partir de coleta de dados quantitativos,
de traçar políticas públicas de desporto e lazer para a juventude. É importante
ressaltar também que tomando por base os diagnósticos, tenha-se o panorama dos
equipamentos de lazer. A lei de incentivo fiscal para o esporte, com a preocupação
da igualdade de direitos, embora a prioridade esteja para o desporto de participação,
reconhece-se o princípio de valorização do desporto e paradesporto educacional,
tratando-se ainda dos equipamentos para a prática desportiva, cultural e de lazer de
natureza comunitária.
É importante ressaltar que, de acordo com o Artigo 30: “todas as escolas
deverão buscar pelo menos um local apropriado para a prática de atividades
polidesportivas” (BRASIL, 2013, art. 30). Desta maneira, percebe-se que o Estatuto
encarrega à escola a responsabilidade de buscar um local adequado para a prática
de atividades poliesportivas. Observa-se que a relação quantitativa para a
identificação do local está estabelecida numa ótica de “local”, que será oferecido
para diferentes atividades esportivas.
Pelo exposto, observa-se que o esporte e o lazer constituem direitos de todo
cidadão brasileiro, seja ele criança, adolescente, jovem, adulto, idoso, independente
de etnia, religião, classe social, escolaridade, entre outros. Apesar da existência de
uma expressiva legislação que assegura a esse cidadão direitos à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à cultura, à dignidade, entre outros, a
sociedade brasileira não apresenta, ainda, uma consciência efetiva sobre esporte e
lazer, como necessidades e direitos de cada um e de todos os brasileiros, embora
seja dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público
assegurar tais direitos. Ressalta-se também que o lazer e o esporte, educacional, de
participação e/ou de rendimento, necessitam de grandes incentivos mediante
políticas efetivas que assegurem como direitos sociais integrados à política urbana,
garantindo ao indivíduo e à coletividade o direito à cidade.
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CAPÍTULO 4 – POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O ESPORTE E LAZER NO BRASIL
4.1 O papel do Estado e a participação social: a formalização de políticas
públicas
Poulantzas (2000, p. 130) compreende o Estado “[...] como uma relação,
mais exatamente com a condensação material de uma relação de forças entre
classes e frações de classe”. Para o autor, o Estado não é monopolítico e se
apresenta como um campo de disputas, com ações determinadas pelas correlações
de forças.
Durante o século XX, a atuação do Estado refletiu a correlação de forças
existentes nas distintas nações. No pós Segunda Guerra Mundial até meados da
década de 1970, como consequência da luta dos trabalhadores e diante da queda
da cumulação do capital, observou-se Welfare State em diferentes nações.
Com o Welfare State, os membros da burguesia passaram a pagar
impostos, especialmente com o mecanismo de progressividade sobre a renda e as
posses; os trabalhadores e os pobres em situação de miséria se beneficiariam com
os serviços públicos e com o programa de transferência de renda (SALVADOR,
2010). Contudo, com um olhar crítico-reflexivo, questiona-se até que ponto essa
condição realmente chegou de forma igualitária, contrariando o pensamento anterior.
Castells (1983) instrui-se na teoria do Estado de Poulantzas, que vê no
Estado uma condensação dos interesses de classe. O Estado atua como um
regulador do conflito de classes e suas decisões e políticas se inserem nos
interesses a longo prazo do capital monopolista, mas seu status é relativamente
independente das necessidades capitalistas imediatas. Para o referido autor, o
conflito político é basicamente uma forma de conflito de classes que se desloca para
a comunidade e envolve preocupações com as necessidades ligadas à reprodução
do poder de trabalho. Além disso, quando os capitalistas demonstram incapacidade
de trabalhar independentemente ou em conjunto para regular esse conflito, o Estado
precisa intervir.
Offe et al. (1984) entendem o Estado com dupla função contraditória –
acumulação (ocorrendo desigualdade de classes em função do mercado) e
legitimação (garantindo a igualdade das classes, como por exemplo, na vida social),
e utiliza como estratégia a contemplação passiva, a intervenção do estado na
136
economia (mercado) e a intervenção na seguridade social. Assim, o Estado é visto
como um condensador e modelador de lutas de classes.
Do ponto de vista de Lefebvre (1999a), o Estado é uma estrutura para o
exercício de poder, que no sentido urberiano não pode ser reduzido apenas a
interesses econômicos. Ele ainda afirma que, o Estado está aliado não só contra a
classe trabalhadora ou mesmo contra frações do capital, ele é o inimigo da própria
vida cotidiana e a reprodução de suas relações sociais. Ademais, Lefebvre (1991)
entende a problemática concernente aos usuários do espaço como alguma
articulação complexa entre forças econômicas, políticas e culturais, mais do que
como algo que emerge unicamente do domínio político. Os usuários do espaço para
ele são os usuários da vida cotidiana. Muito embora, considerando a visão de
Lefebvre (1999, b) sobre o papel do Estado na produção do espaço abstrato, com a
ideia simbólica, é que ele questiona todo o planejamento urbano e, em especial, o
reformista.
Contudo, com o interesse de relacionar cidade e Estado, apresenta-se o
termo política derivado da palavra polis, que significa cidade. A política não é uma
forma de comportamento do cidadão apenas no espaço público, mas também de
natureza privada. Sendo assim, realizada não só pelos agentes políticos, pois se
traduz em um conjunto de práticas da própria sociedade, do cidadão, constituindo-se
a vida coletiva. De acordo com Castells (1983, p. 52), “a cidade é um fenômeno
gerado pela interação complexa, jamais plenamente previsível e manipulável, de um
grande número de agentes modeladores do espaço, interesses, significações e
fatores estruturais, sendo o Estado apenas um dos condicionantes em jogo”. No
cenário brasileiro, para Sposito (2008), o que é considerado uma cidade é a sede do
município, tendo em vista o critério político – administrativo, a partir do decreto no
Governo Vargas, no Estado Novo.
Com a visão de que todo ser humano é um político, que de forma natural,
interage socialmente, remete-se a Dallari (2004) ao apresentar o pensamento grego
e de forma específica de Aristóteles sobre política, ao elucidar que:
Os gregos davam o nome de polis à cidade, isto é, ao lugar onde as pessoas viviam juntas. E Aristóteles diz que o homem é um animal político, porque nenhum ser humano vive sozinho e todos precisam da companhia dos outros. A própria natureza dos seres humanos é que exige que ninguém viva sozinho. Assim sendo, “política” se refere à vida na polis, ou seja, à
137
vida em comum, às regras de organização dessa vida, aos objetivos da comunidade e às decisões sobre todos esses pontos (DALLARI, 2004, p. 8).
Neste sentido, na Grécia Antiga, a cidade denominada polis, como se viu,
anteriormente, a sociedade política, entendida por Aristóteles (2009, p. 1252), com a
seguinte finalidade:
Sabemos que toda cidade é uma espécie de associação, e que toda associação se forma tendo por alvo algum bem; porque o homem só trabalha pelo que tem em conta de um bem. Todas as sociedades, pois, se propõem a qualquer bem – sobretudo a mais importante delas, pois que visa a um bem maior, envolvendo todas as demais: a cidade ou sociedade política.
Para Catão (2015), a polis para os gregos era o lugar onde o ser humano se
realizava, enquanto no contexto atual, a vida na cidade é traduzida por elevada
densidade demográfica, formando os grandes centros urbanos, com a população
transitando as amplas avenidas à busca pela sobrevivência.
Trazendo a discussão para o contexto da política, reporta-se Maar (1982)
quando faz referência à política nos países de civilização antiga, como a Grécia, a
Pérsia e o Egito. Verifica-se sua preocupação com a política institucional, ao
enfatizar o espaço onde esta política se realiza, as pessoas e atividades ligadas a
ela. O autor ainda entende política como a possibilidade de ações organizadas por
pessoas da sociedade em contrapartida às ações de governo, ao afirmar que:
Através dela se forma um espaço de presença política no cotidiano e se abre a um terreno à participação política fora do âmbito restrito de exercício do governo. Esta forma de entender a atividade política como uma experiência que se reflete na vida pessoal, harmonizando-a com o coletivo (MAAR, 1982, p. 32).
De acordo com Souza (2006), políticas públicas constituem um conjunto de
ações governamentais específicas voltadas para uma determinada população. Além
disso, o autor assevera que políticas públicas são diretrizes instituídas que buscam
resolver problemas relacionados à sociedade como um todo, podendo ser ações
voltadas para garantia dos direitos sociais, traduzidos num compromisso público que
vise determinada situação em diferentes áreas. Para Mead (1995), política pública é
um campo de estudo dentro da política que analisa os governos, tendo em vista os
138
gestores públicos relevantes. Souza (2003, p. 3-4) afirma que a política pública é um
“campo de conhecimento que busca, ao mesmo tempo, colocar o governo em ação
e/ou analisar essa ação e quando necessário, propor mudanças no rumo ou curso
dessas ações”.
A política pública, segundo Azevedo (2011, p.18), é definida como: “tudo que
o governo faz e deixa de fazer, com todos os impactos de suas ações e de suas
omissões”. Neste sentido, faz-se necessário evidenciar a política pública em
diferentes escalas. Pereira (2000) acredita que a política pública pressupõe uma
linha de ação coletiva que concretiza direitos sociais declarados e garantidos em lei.
Diante desse contexto, trazendo para o debate o esporte e sua relação com
o Estado, identificou-se que este se organizou, num primeiro momento, na
Inglaterra, no âmbito da sociedade civil, sem maiores intervenções do Estado. No
Brasil, segundo os estudos de Bracht (2005), o Estado intervém fortemente no
esporte, pelos seguintes motivos: “integração nacional”, “educação cívica”,
“preservação da saúde da população”, “melhoria da qualidade de vida“,
“oferecimento de oportunidades de lazer”, entre outros. O autor afirma que a função
principal do Estado nas sociedades capitalistas é garantir a reprodução do capital.
Assim sendo, o esporte será objeto de atenção do Estado, seja pela via da
reprodução da força de trabalho; seja como atenuante das tensões sociais.
Bracht (2005) ainda ressalta que os motivos que dirigirão as ações
governamentais para o setor esportivo são: a ideia de que o fomento da prática
esportiva pela grande massa da população é fator relevante para o bem-estar (via
promoção de saúde) e é fator compensador importante dos problemas de vida
urbana crescentemente tecnologizada, e ainda o interesse econômico ou a
dimensão econômica do fenômeno esportivo. O autor trata que o esporte como
atividade de lazer deve ser prioridade nas intervenções do poder público, pois deve
ser entendido como um elemento de cultura / lazer e ser inserido no plano das
políticas culturais de lazer e integrado às outras políticas sociais. Nosso
entendimento é o de que é importante a ampliação dos valores do esporte e lazer e
que sejam refletidas as efetivas ações do poder público, com a participação da
sociedade civil e parcerias que se fizerem necessárias para o enaltecimento destas
áreas.
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Os sistemas nacionais do esporte, não apenas no Brasil, mas em
praticamente todos os países que participam do sistema esportivo internacional
(Comitê Olímpico Internacional ou federações mundiais), foram construídas a partir
de relações corporativas ou neocorporatistas como Estado e, principalmente, em
função dos interesses do Estado nos serviços do sistema esportivo.
Offe (1971), estudando os tipos de organizações com os quais o Estado
interage ou é levado a interagir, classificou-as como organizações que têm alto grau
conflitivo. Para ele, a organização esportiva apresenta-se com pouco poder
conflitivo, pois quase não possui poder de intervenção do Estado em favor de seus
interesses, a partir de uma ameaça de suspensão de serviços.
A Organização das Nações Unidas (ONU), no ano de 2002, ressalta a
sistematização do esporte e sua articulação com o desenvolvimento e a paz. De
acordo com o relatório da UNESCO (2003), o esporte é considerado uma ferramenta
para apoiar as metas do milênio, ao identificar no seu relatório que:
O esporte oferece um fórum para o aprendizado de habilidades tais como a disciplina, a confiança e a liderança e ensina princípios fundamentais, tais como a tolerância, a cooperação e o respeito. O esporte ensina o valor do esforço e como lidar com a vitória e com a derrota. Quando estes aspectos positivos do esporte são enfatizados, o esporte se torna um poderoso veículo através do qual as Nações Unidas podem trabalhar para a realização de suas metas (UNESCO, 2003, p. 3).
Entende-se o quanto é importante a participação da população, a partir do
reconhecimento das suas necessidades e problemas na construção dessas
políticas. Para inserir a participação popular nesta construção, verifica-se a
contribuição da criação de conselhos que consolidem a democracia e qualifiquem a
representatividade da sociedade. Neste panorama, várias Instâncias, como fóruns,
conselhos, colegiados, conferências foram criados pela Constituição Federal
Brasileira para favorecer a participação popular, contribuindo, assim, para a
participação direta da sociedade nas tomadas de decisões.
O Estatuto da Cidade, de acordo com a Lei N. 10.257/2001, regulamenta a
política urbana prevista na Constituição (1988), no seu capítulo IX - Da Gestão
Democrática da Cidade, estabelece que:
Se deve construir e desenvolver a participação popular na criação de conselhos, colegiados, fóruns, conferências municipais e na materialização
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dos instrumentos de democracia direta para as questões urbanísticas de interesse social, o que contempla a descentralização político-administrativa como forma de viabilizar a interferência popular nos rumos da gestão pública (BRASIL, 2001, art.182).
Ao longo dos últimos anos, o trato com as políticas públicas de esporte e
lazer vêm ganhando espaço por serem entendidos como fenômenos sociais e
políticos que fortalecem a nossa identidade cultural e vistos como direitos sociais,
garantidos constitucionalmente sob a responsabilidade da gestão pública, embora
com a participação popular.
Com a finalidade de concentrar esforços na importância da participação da
sociedade na discussão de políticas públicas, volta-se para a compreensão de
democracia, com vistas a fortalecer o Estado democrático. E, ainda ao se entender
que a política é um conjunto que transcende a ação governamental, apontam-se
algumas vertentes para sua melhor compreensão.
De acordo com Bobbio (1986, p. 44), há dois modelos de democracia:
democracia representativa e democracia direta. A democracia representativa dá
significado de modo genérico às deliberações coletivas, isto é, às deliberações que
dizem respeito à coletividade inteira, são tomadas não diretamente por aqueles que
dela fazem parte, mas por pessoas eleitas para esta finalidade.
No tocante à democracia direta, Bobbio (1986, p. 51) define que:
Para que exista democracia direta no sentindo próprio da palavra, isto é, no sentido em que direta quer dizer que o indivíduo participa ele mesmo nas deliberações que lhes dizem respeito, é preciso que entre os indivíduos deliberantes e a deliberação que lhes diz respeito não exista nenhum intermediário (BOBBIO, 1986, p. 51).
Porém, na visão de Schumpeter (1943), a democracia participativa
apresenta-se de maneira diferente, pois considera a democracia como método que
tolhe a participação dos sujeitos à escolha de líderes e à discussão, sem poder de
deliberação. A autora ainda preconiza a participação dos sujeitos na tomada de
decisões no campo político-social.
Macpherson (1979) apresenta dois modelos de democracia participativa que
são, ao mesmo tempo, direta e representativa. Um caracterizado pela existência de
um modelo piramidal com democracia direta na base e democracia por delegação
141
em cada nível depois dessa base e o outro modelo combinando a estrutura piramidal
com um sistema multipartidário.
Para Oliveira (2011), a democracia participativa possui funções bem mais
abrangentes e decisivas, ou seja, não se resume à escolha de representantes e à
regulação da forma de eleição, mas sim, no sentido de promover uma educação
política, com intuito de fortalecer os processos e mecanismos participativos para a
efetivação de um Estado democrático.
Portanto, à medida que se amplia a participação do cidadão, possibilita-se a
sua atuação como protagonista nos espaços decisórios e na conscientização de
ações participativas na esfera do governo e do Estado. Ressalta-se ainda a
relevância da abertura de canais de participação pelo Estado, com vistas à
consolidação de uma democracia participativa.
Teixeira (2002, p. 32) defende a concepção de “participação cidadã que não
faz uso somente de mecanismos institucionais disponíveis ou a serem construídos,
mas propicia a articulação destes com outros mecanismos e canais que se
legitimam”. Muito embora, faz-se necessária a responsabilização política e jurídica
dos mandatários, o controle social e a transparência das decisões, para que os
instrumentos de participação se tornem mais frequentes e eficazes. Deste modo, a
participação cidadã permite a participação ativa de diversos segmentos sociais com
interesses múltiplos e diferentes, que atuam em um espaço amplo e abrangente,
cabendo ao cidadão exercer, reivindicar e desfrutar de seus direitos, como também
ser protagonista de suas responsabilidades e deveres.
Quanto à participação no controle social, a participação monitora a ação do
Estado em relação às problemáticas sociais e políticas, com a finalidade de garantir
o cumprimento da agenda governamental no que diz respeito às demandas por
direitos, possibilitando ao cidadão definir critérios e parâmetros de orientação
política, haja vista que esta participação se configura como um instrumento de
controle do Estado pela sociedade nas dimensões social e política.
Ao tratar de políticas públicas de esporte e lazer neste estudo, as quais são
direitos sociais, compreende-se que o cidadão brasileiro precisa despertar o
interesse pela coparticipação nas discussões e ações que qualifiquem a área,
representar e ser representado e contribuir nas tomadas de decisões, passando a
ser sujeito das ações e de tomadas de decisões inerentes ao coletivo. Segundo
142
Demo (1995), a cidadania tem seu âmago na ação humana, na capacidade de o
sujeito constituir-se como sujeito social e histórico. Assim, num contexto de um
Estado democrático de direitos, compreendendo o seu exercício da cidadania,
reconhecendo-se a pessoa humana numa perspectiva civil, política e social e com
representação efetiva nas diferentes questões e instâncias é que se entende a
importância da sua participação na construção e definição de políticas públicas.
Ainda neste cenário, reconhecendo-se os princípios de uma gestão democrática e
popular que sinaliza para auto-organização social e a articulação entre Estado e
sociedade. E, também, o reconhecimento constitucional de autonomia dos
municípios, como lócus de democratização das políticas públicas, possibilita a
participação da sociedade nas tomadas de decisões políticas e enaltecimento do
controle social.
Segundo Stoppa (2011), o debate sobre participação popular surge com o
desenvolvimento das políticas públicas, pois uma das obrigações do poder público
seria a de otimizar à população condições adequadas de infraestrutura e
oportunidades com vistas à melhoria da qualidade de vida da população. O autor
ressalta a importância da organização política, como canal de participação na forma
de grupos de interesses e nível das comunidades. Chauí (1989) faz referência de
que sem a participação não há democracia, e ainda afirma que “a participação seria
o direito de tomar as decisões políticas, de definir diretrizes políticas e torná-las
práticas sociais efetivas [...]” (CHAUÍ, 1989, p. 56).
A partir do final da década de 1970, estabelecendo-se a democratização do
Estado, a sociedade civil passa a ter um lugar na construção das políticas,
concernente à sua dimensão coletiva. Desta feita, as políticas participativas se
constituem em orientações políticas, contextualizadas, que influenciam a tomada de
decisões dos agentes políticos, com vistas à superação das desigualdades sociais.
De acordo com Silva et al. (2011c, p. 17), as políticas participativas devem garantir
os seguintes princípios: “A universalidade de acesso às oportunidades e aos direitos
sociais; a inclusão com equidade; ou seja, garantindo a participação cidadã ativa”.
O princípio da participação cidadã ativa tem ganhado um espaço,
principalmente nas conferências de diferentes esferas, haja vista que vem se
constituindo como espaço democrático de discussão e deliberação, capaz de
orientar as macropolíticas do país.
143
Para Silva et al. (2011c), o desafio da gestão do esporte e do lazer no Brasil
ultrapassa a garantia desse direito, superando o caráter assistencialista, utilitarista e
descomprometido. Neste sentido, devem ser observadas as seguintes questões:
Elementos que orientam a política e gestão das políticas públicas: ampliação dos agentes que participam da elaboração das políticas; aproximação com a realidade local, a partir de um diagnóstico; democratização das informações através da tecnologia da informação; sistematizar uma avaliação; descentralizar os recursos; ações intersetoriais; estabelecimento de parcerias público – privadas.
Elementos para o desenvolvimento de programas e projetos: acessibilidade à diversidade de experiências; entendimento do potencial educativo das ações na área do esporte e lazer; referência à dimensão lúdica e da diversidade (SILVA et al., 2011c, p. 21).
O Estado democrático necessita manter uma relação com a sociedade civil
nos fóruns de discussão e nas tomadas de decisões, cabendo ao poder público
buscar a integração entre planejamento exercido pelo Estado e controle
democrático, exercido pela sociedade com a participação vista como gestão coletiva
das políticas, desde o planejamento, monitoramento e avaliação.
Segundo Silva et al. (2011c), instituições como associações, ligas e clubes
devem ser parceiras na luta pelo controle social das políticas públicas de esporte e
lazer, com o intuito de elaborar mecanismos que contribuam com o objetivo de
representar os processos de participação nas deliberações dessas políticas.
Por possibilitar um Estado participativo, algumas estratégias são
apresentadas para o campo das políticas de esporte e lazer, tais como: a
democratização das informações sobre as políticas públicas; realização de
encontros, reuniões, orçamento participativo, pré-conferências, conferências,
plenárias, audiências públicas, congressos, criação de conselhos paritários e/ou
fóruns de políticas públicas para a participação nos conselhos; elaboração de planos
com a participação dos sujeitos sociais; garantia de articulação entre conselhos e
população; capacitação dos conselheiros, gestão descentralizada (SILVA et al.,
2011c, p. 32).
Conforme Souza (2004), o orçamento participativo consiste em uma abertura
do aparelho de Estado à possibilidade da população participar diretamente das
tomadas de decisão em relação aos objetivos dos investimentos públicos.
144
O orçamento participativo é um dos instrumentos mais importantes na
gestão da vida econômica das coletividades politicamente organizadas. De acordo
com Giacomoni (1997), o surgimento do orçamento participativo se deu na
Inglaterra, no começo do século XIX, com o advento da fase monopolista do
capitalismo e, logo após, na virada do século XX, com início do Welfare State em
diversos países centrais, tanto a economia, quanto o significado social das despesas
públicas se expande. O Estado passou a intervir mais diretamente na economia,
responsabilizando-se em realizar investimentos e com as áreas de imediato
interesse público. O orçamento participativo consiste em uma abertura do aparelho
do Estado à possibilidade da população participar, diretamente, das decisões,
acerca dos objetivos dos investimentos públicos. Todavia, é dever do Estado
assegurar o direito constitucional de acesso às atividades esportivas e de lazer a
toda população, independente de situação socioeconômica, de necessidade
especial de qualquer natureza e do estágio de ciclo de vida de seus segmentos
distintos.
A Resolução do Conselho Nacional do Esporte instituiu a Política Nacional
do Esporte (2005), sendo considerada como um dos documentos que orientou a (re)
construção de um Sistema Nacional do Esporte e Lazer. Este Sistema foi criado
através de resolução e aprovado na I Conferência Nacional de Esporte, realizado em
junho de 2004.
Os objetivos da Política Nacional do Esporte (2005) são:
Democratizar e universalizar o acesso ao esporte e lazer;
Melhorar a qualidade de vida da população brasileira;
Promover a construção e o fortalecimento da cidadania;
Assegurar o acesso às práticas esportivas e ao conhecimento científico-tecnológico;
Descentralizar a gestão das políticas públicas de esporte e lazer;
Fomentar a prática esportiva de caráter educativo e participativo para toda a população;
Fortalecer a identidade cultural esportiva com ações integradas a outros segmentos;
Incentivar o desenvolvimento de talentos esportivos e aprimorar o desempenho de atletas e paraatletas de alto rendimento promovendo a democratização dessa manifestação esportiva (BRASIL, 2009, p. 20).
A partir dos diálogos obtidos, resultantes das conferências nacionais de
esporte, de planejamentos estratégicos setoriais para a elaboração do Plano
145
Plurianual – PPA e dos direcionamentos políticos, estabeleceu-se o Plano Nacional
de Desenvolvimento do Esporte para o período de 2007 – 2010 (BRASIL, 2009, p.
20). Este Plano Nacional de Desenvolvimento do Esporte apresentava os seguintes
eixos:
- Inclusão social pelo esporte e lazer: Programa Segundo Tempo, Pintando
à Liberdade, Pintando à Cidadania e Programa Esporte e Lazer na Cidade.
- Desenvolvimento do Esporte de Alto Rendimento: Programa Brasil no Esporte de Alto Rendimento; Futebol: Patrimônio do Brasil e Programação de Grandes Eventos Esportivos.
- Infraestrutura: Definição de Equipamentos esportivos e de lazer nas escolas e universidades e Praça da Juventude.
- Desenvolvimento Institucional – Desenvolvimento do Sistema Nacional do Esporte e Lazer, Financiamento e Indústria do Esporte no Brasil (BRASIL, 2009, p. 20).
O Sistema Nacional de Esporte e lazer é um arranjo político institucional que
organiza a oferta de bens e serviços, gestão e financiamento de política pública de
esporte e lazer, com vistas à garantia do direito (SOUSA et al., 2010). Para tanto,
caberá à União, aos Estados e aos municípios assumirem o papel na garantia desse
direito, como também, à medida que há mobilização de setores organizados e não
organizados da sociedade em torno da agenda do esporte e lazer, possibilitam a
ampliação das perspectivas da implantação e da cobertura dessas políticas públicas.
Segundo o Ministério do Esporte (2004), o Sistema de Esporte e Lazer
busca a universalização do acesso ao esporte e ao lazer em múltiplas dimensões e
desenvolvimento dos diferentes potenciais do fazer esportivo, sendo constituído por
várias instituições, entidades e organizações esportivas, públicas e privadas, com
vistas a um sistema aberto e descentralizado.
As diretrizes da Resolução do Sistema Nacional do Esporte foram advindas
da I Conferência Nacional do Esporte, como também discutidas no I Fórum do
Sistema Nacional do Esporte e Lazer realizado em 2005. A gestão compreendida, a
partir de mecanismos democráticos e de participação popular, possibilitando a
transparência e o controle social.
De acordo com o I Fórum, o novo sistema deve ter meios de participação
social na elaboração de políticas públicas que aumentem o número de interlocutores
do Estado com segmentos da sociedade civil organizada, com abertura para as
políticas intersetoriais.
146
Com relação ao controle social, o fórum reconheceu a importância da sua
realização de forma permanente nas esferas municipal e estadual. Além disso, para
os mecanismos de controle do Sistema seriam mediante os Conselhos de Esporte e
Lazer, como órgão consultivo e as conferências nos diferentes níveis (BRASIL,
2009).
Tendo como referência o aspecto da urbanização e sua relação com
espaços e equipamentos de esporte e lazer, reporta-se às ponderações de
Saldanha Filho (2003) ao afirmar que:
[...] a urbanização toma conta dos espaços das cidades, as poucas opções para o esporte e lazer estão sob a responsabilidade da iniciativa privada, tais como: clubes, associações, sindicados, conjuntos residenciais fechados e academias que para sua utilização devem ser pagas, enquanto os espaços e serviços públicos têm sido desqualificados, sucateados, tratados como algo não necessário [...] (SALDANHA FILHO, 2003, p. 4).
O controle social é uma forma de estabelecer uma ação de cooperação. A
partir desta ação, estabelece-se um compromisso entre o poder público e a
população, capaz de garantir possibilidades para o desenvolvimento econômico e
social da cidade, como também o monitoramento / fiscalização das políticas públicas
de esporte e lazer faz-se necessário com o intuito de discutir os interesses,
demandas sociais, elaborar propostas e estabelecer prioridades, tomando como
base os princípios democráticos. Ademais, deve-se entender que não somente o
fato de votar de que forma serão aplicados os recursos financeiros não caracterizará
uma interlocução igualitária entre sociedade civil e o poder executivo.
De acordo com o Artigo 2º do Estatuto da Cidade, ao tratar do pleno
desenvolvimento das funções sociais da cidade explicita-se como uma das diretrizes
gerais: “a gestão democrática por meio da participação da população e de
associações representativas dos vários segmentos da comunidade na formulação,
execução e acompanhamento de planos, programas e projetos de desenvolvimento
urbano” (BRASIL, 2001, art. 2).
Conforme Souza (2004, p. 359), “os conselhos de desenvolvimento urbano e
os conselhos de orçamento participativo são as instituições-símbolo de um esforço
da democratização da cidade”. Os conselhos de orçamento participativo vinculam-se
à gestão urbana e os conselhos de desenvolvimento urbano são as instâncias
participativas referentes ao planejamento da cidade.
147
Dentre as principais instâncias participativas, destacam-se: o orçamento
participativo, plenárias temáticas, congressos da cidade, conferências e conselhos
gestores. Não obstante, ao identificar as conferências de esporte e lazer realizadas
no Brasil, entende-se que o debate oportunizou a participação popular. Porém,
podem-se destacar algumas inquietações enfatizadas por estudiosos na área, a
exemplo de Melo (2008). O autor afirma que embora essas conferências
oportunizassem o debate nas diferentes instâncias, sejam, regionais, municipais,
estaduais, a possibilidade de que todos os segmentos fossem ouvidos e
representados não aconteceram de fato.
Segundo Castellani Filho (2008), as ações do Governo Federal acerca do
esporte e lazer numa perspectiva “emancipatória” apresentam-se na realização das
Conferências Nacionais, tendo em vista a discussão sobre a criação do Sistema
Nacional do Esporte e Lazer.
Os conselhos de esporte e lazer podem se constituir um canal de articulação
e interação entre governo e sociedade na busca da participação efetiva da
população no processo de democratização do Estado. Neste sentido, possibilitando
uma maior intervenção na elaboração, implementação e fiscalização do processo
democrático das políticas públicas de esporte e lazer. Ademais, a participação
popular por intermédio do controle social tem nos conselhos um de seus dispositivos
de atuação. Os conselhos possuem como especificidade o poder de controle social
sobre as ações públicas, pois orientam, fiscalizam e formulam as políticas públicas.
Para uma efetiva atuação dos cidadãos na construção de uma política de
esporte e lazer, há necessidade de que os mecanismos de participação e controle
social sejam implementados e fortalecidos para que este setor seja tratado como
política de Estado e não como política de governo.
Uma das correntes para discutir as políticas de esporte e lazer reporta-se à
condição de ser vista não somente para uma relação de atividades, em ações
baseadas numa lista de eventos, com a intenção de diversão e às vezes com vistas
ao desvio da atenção das pessoas para outras questões, mas também concatená-
las com o processo de formação e desenvolvimento de quadros de recursos
humanos, a problemática voltada para construção, manutenção e gestão de espaços
e equipamentos de esporte e lazer, entre outros aspectos que devem permear o
entendimento das políticas públicas de esporte e lazer.
148
Para Rodrigues (2010), as políticas públicas são o processo em que
diferentes grupos sociais tornam as decisões coletivas, cujos interesses, valores e
objetivos são divergentes. Entretanto, condicionam o conjunto da sociedade.
Segundo Muller e Surel (1998), para que uma política pública exista, é necessário
que as decisões sejam reunidas em um quadro geral de ação, funcionando como
uma estrutura de sentido, mobilizando elementos de valor, de conhecimento e de
ação especifica, com vistas a alcançar os objetivos traçados pela relação entre o
poder público e a comunidade. No entanto, deve ser discutida a posição do Estado
em seu papel e a sua especificidade na ação, como mediador das relações entre o
espaço público e o privado.
Para Muller e Surel (1998), a política pública é dividida em fases, tais como:
a inscrição na agenda mediante a identificação ou definição do problema, a
produção de soluções ou alternativas, a decisão, a implementação das decisões, a
avaliação, a finalização ou a continuidade de uma política. Os autores ainda afirmam
que as políticas públicas não podem ser desenvolvidas para resolver problemas,
pois:
[...] os problemas são resolvidos pelos próprios atores sociais através da implementação de suas estratégias, a gestão de seus conflitos e, sobretudo, através dos processos de aprendizagem que marcam todo processo de ação pública. Dentro desse quadro, as políticas públicas têm principalmente como característica o construir e transformar os espaços de sentido dos quais os atores vão colocar e (re) definir os “seus” problemas, e “testar” em definitivo as soluções que eles apoiam. Fazer uma política pública não é, pois “resolver” um problema, mas sim construir uma representação dos problemas que implementa as condições sociopolíticas de seu tratamento pela sociedade e estrutura dessa maneira a ação do Estado (MULLER; SUREL, 1998, p. 15).
Segundo Marcellino (2001), as políticas públicas de esporte e lazer devem
ser avaliadas tendo em vista a concepção de lazer dos gestores, a formação dos
agentes e a intersetorialidade das ações. Desta forma, o lazer deve ser entendido
não apenas como descanso e divertimento, ou seja, numa concepção de superação
da sua visão funcionalista. Para Marcellino (2002), um dos maiores entraves para a
implementação das políticas públicas é a formação do quadro de profissionais. No
tocante à intersetorialidade, o autor afirma que as políticas devem se constituir como
ações planejadas e executadas de forma coletiva, com diferentes setores da
administração pública, com a participação das instituições da sociedade. Para que
149
sejam desenvolvidas ações e programas que tenham continuidade, é necessário a
implementação de políticas de Estado, a partir de um planejamento sistemático,
como também a adoção de um planejamento numa perspectiva da
intersetorialidade, ou seja, que contemple vários setores, distinguindo-se das
políticas focais. Além disso, observa-se a importância da participação social para a
discussão e efetivo acompanhamento, como foi destacado anteriormente.
4.2 O esporte e o desencadear de suas políticas públicas
Com base nos estudos de Bueno (2008), no período da República Velha
(1889 a 1930), a política brasileira de esporte visava à aprovação de regulamentos e
direitos que instituíam e tratavam a gestão da implantação de modalidades
esportivas em escolas e cursos.
No período do Estado Novo, o Estado tinha o papel de disciplinar e fiscalizar
a organização e a prática esportiva no Brasil (MANHÃES, 2002). Ademais, foi a
partir do Estado Novo (1937 – 1945) que o esporte teve seu conhecimento dado à
importância atribuída pela população, e especialmente ao futebol, fazendo com que
o governo assumisse de forma mais efetiva o controle e a normatização do campo
esportivo. Para Bueno (2008), o Estado passa a ter o seguinte papel:
O Estado chamou a si a responsabilidade de normatizar, controlar e utilizar as entidades esportivas de acordo com sua orientação ideológica nacionalista. Na nova ordem política, o esporte é alçado à categoria de importante instrumento do Estado para seu processo de legitimação do projeto de desenvolvimento econômico e social do país (BUENO, 2008, p. 106).
Tratando-se do termo específico desporto ou esporte, de acordo com
Lucena (2003, p. 163), ele aparece apenas “no edifício legislativo criado para dar
sustentação ao Estado Novo, e com maior visibilidade com a criação da Escola
Nacional de Educação Física e Desportos, no Rio de Janeiro”, através de Decreto –
Lei N. 1.212, de abril de 1939.
O Plano de Educação Física e Desportos, de 1971, entende a atividade
física como direito de todos, mediante justificativas voltadas para a falta de aptidão
física da população, a má qualidade da Educação Física escolar e com vistas a um
ideal de um país ativo, saudável e em crescimento. A partir daí, tem-se uma
150
referência para o Estado reconhecer a necessidade de políticas públicas que tragam
o esporte como direitos dos cidadãos.
Dentre seus projetos, a Campanha Nacional de Desenvolvimento Esportivo
– CNDE, considerado um mecanismo para agregar valor e boa imagem ao governo
do período, entre outras ações. Porém, foi extinta em 1974, por disputas internas
pelo poder, sendo o esporte regulamentado como direito apenas na Constituição de
1988, garantindo a autonomia de organização e funcionamento às atividades de
administração e prática esportiva e com foco especialmente no esporte educacional.
Com a abertura política em 1980, iniciou-se o debate voltado para a
mudança no sistema a partir das demandas das entidades esportivas, dos agentes
esportivos e do lazer e da sociedade em geral, como também com mudanças
relacionadas ao conceito do esporte e inserção do lazer na pauta das prioridades.
Por outro lado, acompanhando as tendências mundiais, o Brasil abre os seus
mercados à concorrência estrangeira. Do nacional-desenvolvimentismo, volta-se
para uma concepção liberal da economia e sem a intervenção direta do Estado nas
políticas sociais e impulso à autogestão da sociedade civil, os governos que
sucederam iniciaram uma espécie de desmonte das estruturas do Estado. Além
disso, o governo Vargas, aliando a política de industrialização à ideologia trabalhista,
reforçou os ideais de patriotismo na tentativa de resolução do problema social no
Brasil, pautando-se num governo interventor, assim o foco na industrialização e no
trabalhismo como fonte de moralização da população.
Nesse contexto, a escola concentrava a difusão do esporte no Brasil pela
Educação Física, com ênfase no pensamento higienista e moralista. Desta feita, o
esporte entendido como disciplina corporal e o lazer como recuperação das energias
para a reprodução da força de trabalho. A partir da Constituição Federal (1988), o
esporte passa a se configurar como um direito social, porém, sua relação com o
Estado vem desde o período do Estado Novo, com o Decreto – Lei N. 3.199/1941.
Durante a vigência dessa Lei, foi criado o Conselho Nacional de Desporto – CND,
que também fiscalizava e orientava as atividades esportivas através da escolha da
pessoa de confiança do governo. Com a CND, foi implantado o Sistema Desportivo
Nacional que tem o papel de coordenar as atividades das entidades esportivas.
De acordo com o Artigo 3o da lei que definia o Conselho Nacional de
Desporto, considerando-o responsável por disciplinar, financiar e organizar
151
associações esportivas, promover a Educação Física, afirmar a cultura nacional,
garantir a moralidade no esporte profissional, apoiar o esporte amador e promover a
participação do Brasil nos eventos internacionais. As ações do Estado para o
esporte foram separadas: uma divisão para Educação Física e o Conselho Nacional
do Desporto coordenava o sistema desportivo. As concepções políticas do governo
desse período mantinham a sociedade brasileira sob o controle do Estado, tendo em
vista os ideais de nacionalismo e patriotismo presentes na formação das políticas de
esporte.
O Sistema Desportivo Nacional estimulou as confederações, federações,
ligas e associações esportivas. O esporte foi dividido em esporte militar, esporte
universitário e esporte escolar (esporte da juventude), cabendo ao poder público, ou
seja, União, estados e municípios responsáveis pela construção das instalações
esportivas.
O futebol, visto como esporte mais difundido e de interesse popular, começa
a receber atributos constitutivos da identidade nacional, potencializado nos
momentos das disputas dos jogos da Copa do Mundo. Sendo assim, vistos pelos
dirigentes públicos como meio de negação e substituição dos conflitos sociais,
saindo da condição de um esporte de elite e difundido no seio da modernização
brasileira pelos ingleses no início do século XX, passando a receber um maior
montante de recursos e visibilidade. Os segmentos do esporte que não faziam parte
da normatização eram excluídos do sistema esportivo oficial, não tendo
financiamento do Estado. Contudo, apesar do processo de divulgação do esporte,
não havia uma política de acesso ao esporte.
Nas décadas de 1950 e 1960, ainda havia uma forte intervenção do Estado
no desenvolvimento do esporte e lazer. Porém, começam a surgir aos poucos os
Departamentos de Esporte e Recreação nos estados e municípios. A gestão pública
centralizadora preconizava no esporte, especialmente no futebol, um grande
mecanismo de estabelecer intervenção na área, com vistas às vantagens políticas
com essas ações.
No período da ditadura militar, o esporte foi submetido a um controle
burocrático e tecnocrático do Estado e sua visibilidade estava voltada para os
interesses de uma unidade construída da identidade nacional. Entre a década de
1960 e meados dos anos 1980, a base da gestão pública continuava com a
152
centralização do poder e no autoritarismo. Aos governantes, cabia definir as
prioridades para a demanda social e continuava a intervenção dos governos nas
esferas municipais, estaduais e federal na construção dos estádios de futebol, no
financiamento e no fortalecimento das equipes esportivas e da organização do
Sistema Desportivo Nacional.
A tecnocracia que ocupava o setor esportivo estava relacionada à
centralização que caracterizou o Estado Ditatorial e diferenciou o período dos
anteriores pelo desenvolvimento de projetos, planos e diretrizes promovidos pelo
poder executivo com ações de regulamentação e legislação. Como exemplo, pode-
se identificar a criação do Departamento de Educação Física e Desportos do
Ministério da Educação e Cultura, que com os recursos oriundos da Loteria
Esportiva, criada em 27/05/1969, através de Decreto-Lei com o intuito de prover
Programas de Educação Física e Esportes, creditava em conta do Fundo Nacional
de Desenvolvimento da Educação e sediava apoio financeiro a órgãos públicos e
entidades que fizessem parte do sistema.
A prática esportiva voltava-se para a seletividade e para o rendimento e o
desporto passa a ser organizado como: comunitário, estudantil, militar e classista.
Mesmo dividido, no Sistema Esportivo em sua estrutura primordial, na qual o vértice
era o esporte de rendimento, E ainda, mesmo que a prática esportiva não fosse para
atletas, tinha como finalidade a manutenção e o controle da força produtiva dos
trabalhadores (BRASIL, 2009).
A ditadura militar com entendimento que promoveu o crescimento
econômico do país numa perspectiva desenvolvimentista, com as características do
período do Milagre Econômico, com o estabelecimento de uma versão do Estado do
Bem-Estar Social, e a representação jurídico-militar levaram a população a manter-
se submetida ao poder do Estado. Porém, à medida que a economia do país se
degradava, as lutas sociais iam ganhando força, e, em especial, a partir dos
movimentos sindicais e estudantil, com apoio da Igreja Católica, promoveram um
avanço à abertura política do Brasil.
O Estado, pela primeira vez, por intermédio de Decreto-Lei datado de
14/01/1991, passou a intervir nas entidades chamadas “desportivas”, limitando a
autonomia e impondo um sistema de organização das entidades de esporte no país
153
de maneira verticalizada. As indicações dos responsáveis pelo esporte eram feitas
pelo governo.
Os agentes do poder público iniciam o debate sobre o papel do Estado
frente aos novos desafios do esporte e lazer e as entidades esportivas reivindicam
autonomia frente às intervenções do Estado e às mudanças e legislações
esportivas. Em 1993, foi criada a Lei Federal N. 8672 - “Lei Zico”, que apresentava a
necessidade de redefinição dos papéis dos diferentes segmentos da sociedade e do
Estado em relação ao esporte e ao futebol no tocante às mudanças jurídico-
desportivo-institucionais. A referida Lei dava ênfase ao esporte de alto rendimento, à
autonomia das entidades esportivas e futebol.
No governo Fernando Henrique Cardoso, a partir de 1994, foi criado o
Ministério de Estado Extraordinário do Esporte. A Secretaria de Desportos foi
transformada no Instituto Nacional de Desenvolvimento do Desporto – INDESP
desvinculado do MEC – Ministério de Educação e Cultura - e subordinado ao
Ministério Extraordinário do Esporte. Contudo, no segundo mandato do presidente
Fernando Henrique Cardoso, a pasta do esporte foi vinculada à de turismo, através
da Medida Provisória de no 1794-8, passando a ser criado o Ministério do Esporte e
Turismo. O INDESP vinculado a este Ministério tem como responsabilidade deliberar
sobre a política e programas de desenvolvimento do Esporte, estabelecer
intercâmbio com órgãos públicos e privados e captar recursos financeiros para
financiar projetos na área esportiva.
Logo após a implementação da “Lei Zico”, ocorreu uma modificação da
legislação brasileira, surge a Lei N. 9515 – “Lei Pelé” aprovada em 25 de março de
1998 com vistas a aperfeiçoar a lei anterior. Em ambas as leis, é dada a atenção
para o futebol. Uma das consequências da “Lei Pelé” foi o fim do passe livre, embora
sem regulamentar ou assegurar os direitos dos jogadores.
O Conselho de Desenvolvimento do Desporto Brasileiro passou a ser o
Conselho Nacional do Esporte e os Sistemas Federal, Estaduais, Distrital e
Municipais Desportivos com autonomia para estabelecer seus próprios sistemas. O
Comitê Olímpico Brasileiro constitui-se como subsistema do Sistema Nacional do
Desporto. Este Sistema recebe uma posição central, uma vez que a “Lei Pelé” deu
ênfase ao esporte de alto rendimento e vinculou o repasse dos recursos financeiros
destinados ao esporte. As maiores modificações foram no âmbito do esporte
154
profissional, com a previsão do fim da lei do passe na profissionalização dos clubes,
a autonomia das empresas e a fiscalização do Ministério Público.
A Lei Zico e a Lei Pelé não modificaram o padrão de financiamento do
esporte no país, mas permitiram a exploração do jogo do bingo pelos clubes de
futebol. Porém, o governo Lula, através de Medida Provisória N. 168/2004, depois
do escândalo dos bingos, proibiu o jogo de bingo no país. As modificações oriundas
dos ordenamentos legais não contribuíram para a garantia do esporte como direito,
mas, sim, legitimaram a hegemonia dos interesses econômicos e corporativos no
âmbito esportivo.
No governo de Fernando Henrique Cardoso, foi sancionada a Lei N. 10.264,
chamada Lei Agnelo - Piva, que alterou parte do Art. 56 da Lei Pelé, que trata dos
recursos para o esporte. No inciso VI, que tratava de “outras fontes”, para “dois por
cento e arrecadação bruta dos concursos de prognósticos e loterias federais e
similares cuja realização estiver sujeita a autorização federal, deduzindo-se este
valor do montante destinado ao COB – Comitê Olímpico Brasileiro”. No entanto, do
total repassado para as duas entidades, 10% deverão ser investidos no desporto
escolar e 5% no desporto universitário.
Observa-se que, historicamente, o esporte de rendimento era a prioridade do
Estado, que tinha como objetivo moldar o comportamento dos jovens para o
trabalho, aprimorar a eugenia do povo, descobrir talentos esportivos que
representassem o Brasil internacionalmente, que elevasse a autoestima da
população e reforçasse sentimentos nacionalistas, como assevera Veronez (2005).
O autor ainda afirma que o formato da intervenção e do controle do Estado nesse
período era autoritário.
O padrão de intervenção e de controle estatal no setor esportivo brasileiro, inaugurado em 1941 durante o regime autoritário do Estado Novo e que permaneceu praticamente inalterado nos 50 anos que se seguiram, configurava-se como centralizado, burocrático, autoritário, corporativo e clientelista (VERONEZ, 2005, p. 49-50).
A partir da década de 1990, as políticas públicas no âmbito do Governo
Federal são apresentadas sob a forma de programas. De uma forma sucinta,
aponta-se que durante o governo Fernando Henrique Cardoso os programas
implementados no setor esportivo tinham o objetivo de promover a inclusão social e
155
o combate aos problemas sociais, como exemplo: drogas, desvios de
comportamentos etc. (VERONEZ, 2005).
O Ministério do Esporte surge com a missão de “formular e implementar
políticas públicas inclusivas e de afirmação do esporte e do lazer como direitos
sociais dos cidadãos, contribuindo para o desenvolvimento nacional e humano”
(BRASIL, 2003, p. 7).
Matias (2013) assevera que, apesar de sinalizações nos primeiros anos do
governo Lula em relação à implementação de políticas esportivas, sob o princípio do
direito universal ao esporte, tal condição não se materializou do ponto de vista legal
e no financiamento. Contudo, verificou-se o estreitamento e consolidação dos laços
entre o Governo Federal, as entidades esportivas e o setor privado, a partir da
sanção do Estatuto e Defesa do Torcedor (Lei N. 10.671/2003), da criação do
Programa Bolsa Atleta (Lei N. 10.891/2004), da criação da Timemania (Lei N.
11.345/2006) e com a Lei de Incentivo ao Esporte – Lei N. 11.438/2006), e se
acentuou com a entrada do Brasil no cenário de megaeventos esportivos.
De acordo com os dados do Ministério do Esporte, no governo Luís Inácio
Lula da Silva, a partir do ano de 2003, foram implementados programas na área de
esporte e lazer, tais como: “Inserção Social pela Produção de Material Esportivo”;
“Brasil Escolarizado”; “Brasil no Esporte de Alto Rendimento”; “Esporte e Lazer da
Cidade”; “Segundo Tempo”; “Gestão das Políticas de Esporte e Lazer”; “Rumo ao
Pan 2007”; “Educação para Diversidade e Cidadania” (BRASIL, 2009).
No Brasil, a nossa Constituição reconhece o esporte e lazer como direitos
sociais. No entanto, uma grande parcela da população não tem condições
financeiras para subsidiar a sua participação no esporte e no lazer, devendo essa
demanda social ser atendida pelo Estado, por intermédio de suas políticas públicas,
oportunizando assim a sua democratização. Todavia, essas políticas públicas
podem ser implementadas nas diferentes esferas de governo, ou seja, União,
estados e municípios, porém considerando a realidade financeira da maioria dos
estados e municípios esta situação passa a ser atrelada ao financiamento da esfera
federal, e assim assumindo a coordenação das políticas.
O esporte de rendimento continuou recebendo um olhar diferenciado, ou
seja, maior parte dos recursos financeiros, comparado com outras manifestações
esportivas, apresentando-se como a prioridade do governo federal ao longo da
156
história do nosso país, e que embora a Constituição de 1988 tenha a intenção de
garantir o esporte como direito social, ao esporte de participação, é destinada
apenas uma pequena parcela dos recursos ao financiamento do esporte.
De outro modo, o Ministério do Esporte foi criado com a preocupação na
elaboração de políticas públicas e sociais voltadas para novos rumos para o esporte
e lazer, com a visão de que a participação popular, o controle social, a
descentralização dos mecanismos de gestão, o envolvimento dos movimentos
organizados da sociedade, o foco no diagnóstico, na orientação, responsabilidade e
compromisso sejam balizadores para a efetivação dessas políticas.
Para o Ministério do Esporte (2009), no esporte educacional há uma efetiva
participação voluntária e responsável pela população em que a realização das
práticas esportivas não comprometam a natureza nacional e popular (BRASIL,
2009).
De acordo com a Lei N. 9615/98, que normatiza o desporto no Brasil, o
esporte educacional é
[...] praticado nos sistemas de ensino e em forma assistemática de educação, evitando-se a seletividade, a hipercompetitividade de seus praticantes, com a finalidade de alcançar o desenvolvimento integral do indivíduo e sua formação para o exercício da cidadania e a prática do lazer (BRASIL, 1998, art. 2).
O “Esporte de lazer ou recreativo” também chamado de “Esporte
Participação” na perspectiva da legislação vigente, ou seja, Lei N. 9615/98,
enunciada anteriormente, é compreendido como predominância do caráter lúdico,
caracterizado pela livre escolha, busca da satisfação, construção e formação de
valores. Na compreensão de Rodrigues et al. (2011), a prática do esporte recreativo
se dá da seguinte forma:
A prática do esporte recreativo é de maneira redimensionada, recriada e reinventada, não restrita às delimitações das regras oficiais, o que permite aos praticantes usufruírem de atividades lúdicas, prazerosas, solidárias e de enriquecimento cultural, favorecendo o desenvolvimento do senso crítico, da autonomia e da sensibilidade frente às questões sociais. Não tem caráter competitivo nem seletivo (RODRIGUES et al., 2011, p. 19).
157
No Brasil, o “Esporte de alto rendimento” ou “Esporte performance”, de
acordo com o Ministério do Esporte, compreende como sendo a prática esportiva
que busca a máxima performance do atleta, visando à obtenção de resultados.
Sendo uma produção histórico-cultural, para Rodrigues et al. (2011), o
esporte subordina-se aos códigos e significados que lhe imprime a sociedade
capitalista e, por isso, não pode ser afastado das condições a ela inerentes,
especialmente no momento em que se lhe atribuem valores educativos para
justificá-lo no currículo escolar. No entanto, as características com que se reveste:
exigência de um máximo rendimento atlético, norma de comparação do rendimento
que idealiza o princípio de sobrepujar (ultrapassar); a regulamentação rígida (aceita
no nível da competência máxima, as olimpíadas); e a racionalização dos meios
técnicos - revelam que o processo educativo por ele provocado reproduz
inevitavelmente as desigualdades sociais. Por essa razão, pode ser considerado
uma forma de controle social, pela adaptação do praticante aos valores e normas
dominantes defendidos para a “funcionalidade” e desenvolvimento da sociedade.
Desta forma, pode-se ter uma visão crítica de que o esporte ainda não atende à
demanda dos menos favorecidos, principalmente o esporte de alto rendimento.
O esporte de alto rendimento ou espetáculo, aquele imediatamente
transformado em mercadoria, tende a assumir as características dos
empreendimentos do setor produtivo ou de prestação de serviços capitalistas, ou
seja, empreendimentos com fins lucrativos, com proprietários e vendedores de força
de trabalho, submetidos às leis do mercado. Isso se reflete nos apelos cada vez
mais frequentes à profissionalização dos dirigentes esportivos e na administração
empresarial dos clubes (empresas) esportivos. Desta forma, Castellani Filho (1994,
p.109) reporta-se ao esporte como “local da ordem da produtividade, eficiência e
eficácia”. O autor chama a atenção de que, para compreender o esporte se faz
necessária uma leitura do modelo político-econômico operado socialmente em
determinado período histórico.
O esporte entra no cenário de espetáculo. Porém, observa-se também que,
nos últimos anos, o espetáculo desportivo nos estádios brasileiros está gerando
conflitos, em meio à violência entre torcidas / torcidas e / ou atletas / atletas,
causando polêmicas e, às vezes, sendo alvo de discussões e penalidades. Nesse
contexto, afloram também outros cenários de questionamentos.
158
Segundo Kunz (1994), é uma forma restrita e tradicional de conceituar o
esporte ao relacioná-lo às modalidades institucionalizadas, ao movimento olímpico,
às federações e confederações, enfatizando o caráter competitivo com a ideia de
luta contra o tempo, o espaço, o adversário, entre outros aspectos. De uma forma
ampla, Kunz (1994) conceitua esporte ligado à noção de direito, educação, lazer,
cidadania, inclusão e qualidade de vida do participante.
Para Rozsentraub (2010), a partir dos anos 1990, a dimensão política e
econômica do esporte e lazer no Brasil amplia-se pelo fato das influências dos
megaeventos. Essa nuance vem se reforçando com os Jogos Pan-Americanos, da
Copa do Mundo de Futebol de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016, entre outros.
Além disso, é comum o discurso entre autoridades políticas, esportivas e a mídia em
geral, que os megaeventos podem ser potencializadores de transformações
significativas tanto em termos de infraestrutura, a exemplo da melhoria da rede de
transportes públicos e desenvolvimento na rede de turismo, como também no
tocante ao reconhecimento mundial sobre a capacidade de o Brasil organizar os
megaeventos. Porém, muitas discussões afloram acerca dos megaeventos no Brasil,
quanto à forma de utilização dos recursos, ou seja, direcionamento dos gastos, entre
outras questões.
O megaevento esportivo é considerado uma competição que necessita de
grande aporte financeiro, logístico e recursos humanos, e, ainda, conta com uma
grande atração da mídia. Para Matias (2013), como resultado da chegada dos
megaeventos, há o aumento dos repasses diretos do governo para as entidades
esportivas e o crescimento das verbas de patrocínio das empresas estatais. Por
outro lado, segundo Da Costa et al. (2008), a problemática no sentido do que é
considerado legado em megaeventos se destaca, especialmente sobre a
participação do poder público, com a totalidade dos recursos financeiros e da
justificativa do seu uso para a melhoria da qualidade de vida da população.
Gnecco (2008, p. 268) classifica os legados nos seguintes tipos: legado
esportivo, legado de transporte, de tráfego, de telecomunicações, social, de
segurança, de habitação, de conhecimentos, de imagem, de emoções e legado da
cultura.
Contudo, convém ressaltar a nossa preocupação com a análise crítica diante
dos megaeventos, no tocante aos seus pontos positivos e negativos. Dentre os
159
pontos nefrálgicos, como exemplo: as violações dos direitos na cidade, ou seja, o
direito à moradia, à informação, à mobilidade urbana, acesso aos serviços públicos,
ao trabalho e à participação popular9. Desse modo, os megaeventos podem trazer
impactos em todos os aspectos da vida urbana, causando desigualdade
socioespacial, desigualdade de investimento e aumento da pobreza urbana.
Outro aspecto a ser considerado que para chegar ao esporte de rendimento
e adentrar-se num megaevento, como cidadão, faz-se um trabalho de base anterior,
vê-se a escola, como uma das possiblidades de inserção das pessoas ao gosto e ao
conhecimento pelo esporte. O esporte de rendimento que era reproduzido nas
escolas e fora do âmbito institucionalizado, em que as pessoas reconheciam as
práticas físicas ligadas a qualquer tipo de jogo, esporte como recreação, cada vez
mais ser repensado e reestruturado. Contudo, de acordo com Bracht (2005), o
esporte praticado no âmbito das instituições educacionais pode inserir-se em uma
das duas perspectivas, de esporte, ou seja, esporte de alto rendimento ou
espetáculo e esporte como atividade de lazer. Embora para o autor apareça nas
escolas a predominância das características do esporte de rendimento. Em relação
às duas vertentes do esporte, o autor pondera que elas se assemelham e que a
expressão atribuída ao “esporte-espetáculo”, complementando a expressão de “alto
rendimento”, dá-se em virtude da transformação do esporte em mercadoria
vinculada pelos meios de comunicação de massa. Desta maneira, Bracht (2005, p.
19) acrescenta:
O sentido interno das ações do interior das instituições do esporte – espetáculo é pautado pelos códigos (e semântica) da vitória – derrota, da maximização do rendimento e da racionalização dos meios e por outro lado, no esporte enquanto atividade de lazer, outros códigos apresentam-se como relevantes e capazes de orientar a ação.
Dentre as instituições de referência no Brasil na área de esporte, destacam-
se o SESC e o SESI. O objetivo da atuação do SESC na prática física é: 9 Nesta perspectiva, foi elaborado documento – dossiê, em sua terceira edição pela equipe de
pesquisadores do Laboratório “Observatório das Metrópoles” - Instituto de Planejamento Urbano e Regional - IPPUR, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em parceria com a “Articulação Nacional dos Comitês dos Direitos Humanos no Brasil”, com o objetivo central de denunciar as violações dos direitos humanos e avaliar, até que ponto o Brasil avançou ou não na qualificação das cidades, na discriminação das desigualdades sociais e no respeito às diferenças num contexto de megaeventos esportivos. O documento relata as problemáticas frente às violações dos direitos nas cidades-sede da Copa do Mundo.
160
[...] despertar a consciência dos indivíduos para uma vida ativa e salutar, a partir de sua prática regular e permanente, visando a potencialização e à preservação das capacidades físicas, funcional e psicossocial do indivíduo na perspectiva de qualidade de vida (SESC, 2007, p. 2).
O SESI preconiza a ideia dos valores do esporte dentro do ambiente do
trabalho. O programa SESI Esporte (2007) tem o seguinte objetivo:
Melhorar as relações de ambiente de trabalho nas empresas por meio de valores do esporte, fortalecendo igualmente relações do trabalhador-atleta em seus vários ambientes, ou seja: familiar, comunitário, da empresa e do exercício da cidadania (SESI, 2007, p. 110).
Verifica-se que o SESC faz referência à relação entre o esporte e a vida
ativa e saúde do ponto de vista físico, fisiológico e psicossocial, com vistas à
qualidade de vida. Considera-se, ainda, que o Programa SESI Esporte tem uma
preocupação com os valores do esporte, contribuindo para as relações do trabalho
em diferentes contextos, e, também, faz referência com o exercício da cidadania.
A sistematização dos estudos sobre a história do esporte numa visão da
História Cultural inicia-se nos anos de 1970, a partir dos diálogos com as Ciências
Sociais e Humanas. Burke (2005) e Melo (2008) afirmam que surgem sociedades
nacionais e internacionais, periódicos e eventos científicos e departamentos que
demonstram uma tendência ao fortalecimento da história do esporte.
Para Melo (1999), o Brasil, apesar de não ficar fora do contexto, sua
produção ainda se dava de forma incipiente. A partir da década de 1990, é possível
constatar um grande aumento dos estudos históricos voltados para as práticas
corporais institucionalizadas. Os estudos no formato de artigos, livros e trabalhos
apresentados foram resultados das discussões em eventos científicos, pelo
reconhecimento da importância do assunto pelos pesquisadores das mais variadas
áreas e aumento do número de grupos de pesquisa (MELO, 2008, p. 4-5).
Melo (2008) destaca o crescimento da produção de livros de informações
para o público não acadêmico na sua maioria, escritos por jornalistas, os quais eram
lançados por ocasião de efemérides ou para homenagem a algum ídolo esportivo.
Tratando-se do meio acadêmico, a preocupação com as questões teóricas e
metodológicas se expande com a contribuição das Ciências Humanas e Sociais.
161
Para Tubino (1998), a diversidade de práticas esportivas vem aumentando o
número de praticantes, eventos esportivos, como também os estudos na área e as
manifestações, através da mídia no tocante a esta área. Essa expansão, de acordo
com Tubino (1998), deve-se ao:
I – Crescimento demográfico do país; II – Desenvolvimento socioeconômico; III – Proliferação da mídia específica; IV – Busca por entretenimento e qualidade de vida; V – Maior consciência e conhecimento do valor do esporte (TUBINO, 1998, p. 6).
O esporte e o lazer no Brasil, durante os últimos anos, por intermédio de
algumas ações políticas, vêm ampliando as suas perspectivas, embora venham
sofrendo conflitos nas diferentes ideologias presentes na construção das políticas
vigentes, as quais vêm redimensionando os valores culturais sobre o esporte e o
lazer (AZEVEDO, 2008; LINHARES, ASSBU, 2001; FERREIRA, 1999).
Um aspecto a ser enfocado é a importância da política de parcerias entre o
poder público e as universidades que vêm corroborando com redimensionamento e
aplicações de estratégias para o fortalecimento no campo do esporte e lazer.
Percebe-se também a entrada da discussão a partir de diversas áreas de
conhecimento.
No ano de 2003, as pastas de Turismo e Esportes foram separadas, sendo
criado o Ministério de Esporte, com intuito de alcançar os objetivos propostos,
manter iniciativas tais como: Centro de Conhecimento do Esporte Recreativo e do
Lazer (CEDES) e o Centro de Documentação e Informação do Ministério do Esporte
(CEDIME) (BRASIL, 2005).
De acordo com Nazário (2010), houve mudanças significativas que
envolveram o esporte e lazer na esfera brasileira, a exemplo da criação do Ministério
do Esporte. Porém, não se pode negar que as questões esportivas e “físicas”, com
participação do Estado, vêm com as contribuições de Rui Barbosa, no período Brasil
- Colônia e no início da República Velha, com vistas à implantação e efetivação de
programas de atividades físicas, como afirma Tubino (1996). Com a criação do
Ministério, o esporte passa a fazer parte da estrutura do Estado e constituir-se como
política governamental.
162
De acordo com um trecho do documento para elaboração da III Conferência
Nacional de Esporte e Lazer (2009), o esporte e o lazer têm o seguinte
entendimento:
O esporte, construção humana historicamente criada e socialmente desenvolvida, é abordado como integrante do acervo da cultura da humanidade, e o lazer como uma prática social contemporânea resultante das tensões entre capital e trabalho, que se materializa como um tempo e espaço de vivências lúdicas, lugar de organização da cultura e que perpassa pelas relações de hegemonia (BRASIL, 2009, p. 35).
De acordo com Filgueira (2008), as ações do Ministério constituem-se num
Plano de Desenvolvimento do Esporte, tomando por base algumas diretrizes, tais
como:
- Democratizar o acesso ao esporte e ao lazer; - Promover o desenvolvimento humano e a inclusão social por meio do
esporte e lazer; - Fomentar a produção e difusão do conhecimento científico e tecnológico
do esporte e do lazer; - Fortalecer o esporte de alto rendimento; - Articular e implementar políticas intersetoriais que possibilitem a formação
da cidadania, a promoção da saúde e a qualidade de vida; - Implementar e desenvolver o Sistema Nacional de Esporte e Lazer; - Fomentar a indústria nacional e a cadeia produtiva do esporte e lazer; - Potencializar o desenvolvimento do esporte escolar para crianças,
adolescentes e jovens, contribuindo com a melhoria da qualidade de ensino;
- Ampliar e qualificar a infraestrutura de esporte e lazer no país (FILGUEIRA, 2008; p. 67).
A Rede do Centro de Desenvolvimento do Esporte Brasileiro e de Lazer –
Rede CEDES, foi criada em 2004, a partir do interesse da Secretaria Nacional de
Desenvolvimento do Esporte e Lazer (SNDEL) do Ministério do Esporte / Brasil, vem
somando esforços em todo território nacional com bases no apoio a projetos de ação
e pesquisas, com vistas à ampliação de possibilidades de qualificação das políticas
públicas, como também na sistematização das informações sobre esporte
participativo e lazer; e por conseguinte, proporcionar a melhoria no aparato técnico-
científico na área.
Ao longo dos anos, a produção na área de esporte e lazer vem se
expandindo, a exemplo do projeto de pesquisa denominado “Gestão da Informação
sobre o Esporte Recreativo e de Lazer: balanço da Rede CEDES” através do LEL
(Laboratório de Estudos de Lazer), do Departamento de Educação Física do Instituto
163
Biociências da UNESP (Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” –
Campus Rio Claro/SP), tendo como objetivo central sistematizar as informações
acerca das produções da Rede CEDES, durante o período de 2003 a 2010.
Para Kawaguti (2010), a referida pesquisa apresenta os seguintes eixos
temáticos, com respectivos dados:
Quadro 02 - Eixos temáticos da pesquisa “Gestão da Informação sobre o Esporte Recreativo e de Lazer: balanço da Rede CEDES” (2010).
Distribuição das pesquisas nos nove eixos temáticos, representados em porcentagem
EIXO TEMÁTICO %
Memória do esporte e lazer 19,58
Perfil do esporte e lazer 8,47
Programas integrados do esporte e lazer 15,34
Desenvolvimento de programas sociais de esporte e lazer 8,99
Observatório do esporte 10,58
Gestão do esporte e de lazer 13,23
Avaliação de políticas e programas de esporte e lazer 6,35
Infraestrutura de esporte e de lazer 16,10
Sistema Nacional de Esporte e Lazer 1,06
TOTAL 100
Fonte: Dados da Pesquisa – “Gestão da informação sobre o esporte recreativo e de lazer: balanço da Rede CEDES” (2010).
Observa-se que os eixos temáticos memória, infraestrutura e programas
integrados de esporte e lazer obtiveram maior número de pesquisas desenvolvidas
pela Rede CEDES, entre 2003 e 2010. E ainda, fazendo uma relação com o nosso
estudo, ao se considerar algumas características dos eixos temáticos apresentados,
verifica-se que haverá uma aproximação com as mais diversas categorias temáticas,
tendo em vista os nossos objetivos, distanciando-se dos eixos memória do esporte e
lazer, perfil do esporte e lazer e o observatório do esporte, do ponto de vista dos
aspectos levantados nas discussões apresentadas no citado estudo.
Com base em pesquisa realizada pelo IBGE (2003) no campo do esporte,
nas grandes Regiões e Unidades da Federação do país, ao fazer um recorte na
164
Região Nordeste, e, de forma específica, no estado da Paraíba (vide anexos),
ressalta-se que:
Das 1266 escolas públicas estaduais em 31/12/2003, 310 apresentam
instalações esportivas, sendo que 01 somente com piscina, 125 apenas com
quadra coberta, 168 só com quadra não-coberta, somente 01 com piscina e
quadra coberta, 03 apenas com piscina e quadra não-coberta e 12 possuem
quadra coberta e não-coberta, porém há 956 unidades escolares estaduais sem
instalações esportivas.
Em relação ao número de equipamentos esportivos, de acordo com o tipo de
equipamento e localização, dos 05 ginásios, 04 estão em regiões metropolitanas
e 01 em município; há 02 estádios de futebol sendo 01 localizado na região
metropolitana e o outro num município; há apenas 01 complexo aquático situado
na região metropolitana; e dos 03 complexos esportivos, 02 estão na região
metropolitana.
No tocante ao número de instalações esportivas existentes e em construção com
base em 31/12/2003, de acordo com o tipo de instalação, identificou-se que há
05 quadras, 01 campo de futebol, 03 piscinas e 01 pista de atletismo.
Das quadras cobertas, 05 são iluminadas; dos campos de futebol sem cobertura,
03 são iluminados, há uma pista de atletismo não coberta que não é iluminada,
como também 03 piscinas não cobertas iluminadas.
De acordo com o número de quadras e campos de futebol em relação ao tipo de
infraestrutura de funcionamento, com relação à existência de arquibancada e
vestiário/banheiro, constatou-se que 05 quadras não têm arquibancadas e 05
não apresentam vestiário/banheiro; e 01 campo de futebol não possui
arquibancada e 01 não possui vestiário.
165
4.3 Conferências nacionais de esporte em busca da implementação de
políticas públicas de esporte e lazer
Uma ação significativa no âmbito do governo federal sob a configuração do
Ministério do Esporte, com articulação dos diferentes segmentos sociais e políticos
do campo do esporte no Brasil, foram as realizações das conferências nacionais.
Em 2004, foi realizada a I Conferência Nacional do Esporte, com o tema
“Esporte, Lazer e Desenvolvimento Humano”, no ano de 2006, a II Conferência
Nacional de Esporte, tendo a temática “Construindo um Sistema Nacional de
Esporte e Lazer” e em 2010, tendo como tema “Plano Decenal de Esporte e Lazer –
10 pontos em 10 anos para projetar o Brasil entre os 10 mais”.
De acordo com a I Conferência Nacional de Esporte (2004), o Ministério do
Esporte tem a finalidade de “formular e implementar políticas públicas inclusivas e
de afirmação do esporte e lazer como direitos sociais dos cidadãos, colaborando
para o desenvolvimento nacional e humano” (Documento Final da I CONFERÊNCIA
DO ESPORTE, 2004, p. 7).
A I Conferência Nacional do Esporte e Lazer foi um marco nas Políticas
Públicas de Esporte e Lazer e aponta para a construção do Sistema Nacional de
Esporte e Lazer. As diretrizes do Sistema Nacional de Esporte e Lazer são: política
esportiva e de lazer descentralizada; gestão participativa; acesso universal; controle
social de gestão pública; desenvolvimento da nação; intervenção étnica, racial,
socioeconômica, religiosa, de gênero e de pessoas com deficiência e com
necessidade especial de qualquer natureza; desenvolvimento humano e promoção
de inclusão social (BRASIL, 2009, p. 15). Esta conferência como instância
deliberativa e consultiva para formulação de Políticas Públicas de Esporte e Lazer
teve como objetivo promover ampla mobilização, articulação e participação popular
acerca das questões de Esporte e Lazer, contribuir para o Diagnóstico Situacional
da área e apresentar propostas para elaboração de programas e projetos.
Segundo o texto final da I Conferência Nacional do Esporte, a democracia é
um valor fundamental na Política Nacional do Esporte. Além disso, numa gestão
democrática contribui para o acesso às práticas esportivas e aos espaços
apropriados, que estimula à participação popular nas tomadas de decisões, que
promove a organização de instâncias administrativas, a formação de conselhos, a
descentralização da estrutura, da organização e da gestão, com vistas ao acesso às
166
informações, o planejamento participativo, a avaliação, o respeito às instâncias
coletivas e defesa da transparência na gestão. Contudo, de acordo com o relatório
desta conferência, é necessário “[...] unificar a ação conjunta dos atores
compreendidos no segmento do esporte e lazer em todo território nacional”
(BRASIL, 2009, p. 42).
A II Conferência Nacional do Esporte, realizada em maio de 2006, teve por
objetivos:
consolidar o espaço de diálogo entre o Estado e a sociedade, mobilizar estados e municípios para aperfeiçoar a estruturação institucional e a política de esporte e lazer; promover ampla mobilização, articulação e participação popular, avançar na construção do Sistema Nacional de Esporte e Lazer e consolidar a Política Nacional de Esporte (2005) (BRASIL, 2009, p. 43).
A III Conferência Nacional do Esporte contou com 10 linhas de discussão, a
saber: “Sistema Nacional de Esporte e Lazer”, “Formação e Valorização
Profissional”, “Esporte, Lazer e Educação”, “Esporte, Saúde e Qualidade de Vida”,
“Ciência e Tecnologia”, “Esporte de Alto Rendimento”, “Futebol”, “Financiamento do
Esporte”, “Infraestrutura Esportiva” e “Esporte e Economia”.
Desta forma, compreende-se o quão é importante o espaço das
conferências, nas suas diferentes etapas, ou seja, livre, preparatória, municipal /
regional, estadual e federal, de forma que a sociedade civil e os representantes do
governo nas suas distintas esferas tenham uma efetiva participação na discussão da
política de esporte e lazer. Ademais, outras instâncias e espaços também são
relevantes e podem otimizar uma participação dos diferentes atores nessa
discussão, a exemplo dos Conselhos, Orçamento Participativo - OP, Fóruns, entre
outros. De acordo com Mezzadri et al. (2006), o Conselho tem o objetivo de
fiscalizar, propor projetos e a política da democracia direta, podendo ser de natureza
consultiva e deliberativa.
4.4 Políticas públicas de esporte e lazer: a perspectiva institucional brasileira
Através da Medida Provisória N. 103, de 01 de janeiro de 2003, foi criado o
Ministério do Esporte como foi elucidado anteriormente, com a missão de “formular e
implementar políticas públicas inclusivas e de afirmação do esporte e do lazer como
167
direitos sociais dos cidadãos, colaborando para o desenvolvimento nacional e
humano” (BRASIL, 2003, p. 7).
A criação da pasta ministerial específica para o esporte foi considerada
como avanço na participação política nas políticas sociais notadamente na área
Esporte e Lazer. Assim sendo, o Ministério do Esporte é responsável pela
construção de uma Política Nacional de Esporte, em desenvolver o esporte de alto
rendimento, e, ainda, trabalhar nas ações de inclusão social por meio do esporte,
garantindo o acesso gratuito da prática esportiva à população brasileira, qualidade
de vida e desenvolvimento humano10.
No Ministério do Esporte, foram criadas a Secretaria Nacional do Esporte
Educacional, a Secretaria de Desenvolvimento do Esporte e Lazer e a Secretaria de
Alto Rendimento, propondo otimizar a ampliação de mecanismos de materialização
da democracia participativa, com vistas à Política Nacional do Esporte. A Secretaria
Nacional de Desenvolvimento do Esporte e do Lazer do Ministério do Esporte foi
criada no ano de 2003, considerada como um espaço político institucional
importante no trato das políticas públicas sociais de esporte recreativo e de lazer.
Dentre as suas ações está o desenvolvimento de programas e projetos, com o
intuito de democratizar o acesso às políticas públicas de esporte e lazer às
diferentes regiões e numa perspectiva de inclusão social.
Do ponto de vista de organização de macroestrutura, o Ministério do Esporte
está organizado da seguinte forma: Ministro do Esporte (gabinete), Secretaria
Executiva, Secretaria Nacional de Esporte, Educação, Lazer e Inclusão Social,
Secretaria Nacional de Futebol e Defesa dos Direitos do Torcedor, Departamento de
Infraestrutura de Esporte e Secretaria Nacional de Esporte de Alto Rendimento
(BRASIL, 2014).
À Secretaria Executiva compete:
- Auxiliar o Ministro do Esporte na supervisão e coordenação das atividades das secretarias nacionais integradas à estrutura do ministério e na definição das diretrizes e políticas no âmbito da Política Nacional do Esporte. - Supervisionar e coordenar as atividades relacionadas aos sistemas federais de planejamento e orçamento, organização e modernização administrativa, recursos humanos e de serviços gerais. - Responsabilizar-se pelo gerenciamento de recursos para construção, modernização de quadras, ginásios, espaços esportivos e aquisição de
10
Cf. <www.esporte.gov.br>.
168
equipamentos para instituições de ensino e comunidades (BRASIL, 2014, on-line).
À Secretaria Nacional de Esporte, Educação, Lazer e Inclusão Social,
compete:
- Fazer proposições sobre assuntos da sua área para compor a política e o
Plano Nacional de Esporte; - Coordenar, formular e implementar políticas relativas ao esporte
educacional, desenvolvendo gestão de planejamento, avaliação e controle de programas, projetos e ações;
- Implantar as diretrizes relativas ao Plano Nacional de Esporte e aos Programas Educacionais, de Lazer e de Inclusão Social;
- Planejar, supervisionar, coordenar e realizar estudos compreendendo o desenvolvimento das políticas, programas e projetos esportivo-educacionais, de lazer e de inclusão social; a execução das ações de produção de materiais esportivos em âmbito nacional; e a execução das ações de promoção de eventos;
- Zelar pelo cumprimento da legislação esportiva, relativa à sua área de atuação;
- Prestar cooperação técnica e assistência financeira supletiva a outros órgãos da administração pública federal, aos Estados, ao Distrito Federal, aos Municípios e às entidades não governamentais sem fins lucrativos, nas ações ligadas aos programas e projetos sociais esportivos e de lazer;
- Manter intercâmbio com organismos públicos e privados, nacionais, internacionais e com governos estrangeiros, em prol do desenvolvimento dos programas sociais esportivos e de lazer;
- Articular-se com os demais segmentos da administração pública federal, tendo em vista a execução de ações integradas na área dos programas sociais, esportivos e de lazer;
- Planejar, coordenar e acompanhar estudos e pesquisas com as universidades e outras instituições correlatas com vistas à obtenção de novas tecnologias voltadas ao desenvolvimento do esporte educacional, recreativo e de lazer para a inclusão social; e
- Articular-se com os demais entes da federação para implementar política de esporte nas escolas (BRASIL, 2014, on-line).
É de competência da Secretaria Nacional de Esporte de Alto Rendimento:
- Fazer proposições sobre assuntos da sua área para compor o Plano Nacional de Esporte;
- Implantar as decisões relativas ao Plano Nacional do Esporte e aos programas de desenvolvimento do esporte de alto rendimento;
- Realizar estudos, planejar, coordenar e supervisionar o desenvolvimento do esporte e a execução das ações de promoção de eventos;
- Zelar pelo cumprimento da legislação esportiva, relativa a sua área de atuação;
- Prestar cooperação técnica e assistência financeira supletiva a outros órgãos da Administração Pública Federal, aos Estados, ao Distrito Federal, aos Municípios e às entidades não-governamentais sem fins lucrativos, em empreendimentos ligados ao esporte de alto rendimento;
169
- Manter intercâmbio com organismos públicos e privados, nacionais,
internacionais e governos estrangeiros, em prol do desenvolvimento do esporte de alto rendimento;
- Articular-se com os demais segmentos da Administração Pública Federal, tendo em vista a execução de ações integradas nas áreas do esporte de alto rendimento;
- Prestar apoio técnico e administrativo ao Conselho Nacional do Esporte; - Coordenar, formular e implementar a política relativa aos esportes voltados
para competição, desenvolvendo gestões de planejamento, avaliação e controle de programas, projetos e ações (BRASIL, 2014, on-line).
O Conselho Nacional do Esporte - CNE é órgão colegiado de deliberação,
normatização e assessoramento diretamente vinculado ao Ministério do Esporte e é
parte integrante do Sistema Brasileiro de Desporto. O CNE tem como objetivo
buscar o desenvolvimento de programas que promovam a massificação planejada
da atividade física para a população e a melhoria do padrão de organização, gestão,
qualidade e transparência do desporto nacional.
A partir de informações obtidas no site oficial do Ministério do Esporte
(2016), apresentam-se a seguir programas e projetos de esporte e lazer atrelados ao
referido Ministério.
Programas e Projetos - Secretaria Executiva:
Conferência Nacional do Esporte - instituída pelo Decreto Presidencial
de 21 de janeiro de 2004 configura-se como um espaço de debate,
formulação e deliberação das Políticas Públicas de Esporte e Lazer para
o Brasil.
A Lei 11.438/2006 – Lei de Incentivo ao Esporte permite que empresas e
pessoas físicas invistam parte do que pagariam ao Imposto de Renda
em projetos esportivos aprovados pelo Ministério do Esporte. Podendo o
investimento da empresa ser de até 1% do valor e as pessoas físicas,
até 6%.
Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem – tem como missão:
consolidar a consciência antidopagem e defender no âmbito nacional, o
direito fundamental dos atletas de participarem de competições
esportivas livres de quaisquer formas de dopagem.
Praça da Juventude - este projeto foi criado em 2007 com o intuito de
levar um equipamento esportivo público e qualificado para a população
que pudesse, ao mesmo tempo, tornar-se um ponto de encontro para a
juventude. Contudo, entendida não como mero espaço físico para a
prática de esportes, mas uma área de convivência comunitária
agregando atividades culturais, de inclusão digital e de lazer para a
população de todas as faixas etárias (BRASIL, 2016, on-line).
170
A gestão da Praça da Juventude será de forma compartilhada e sua
responsabilidade é do ente comunidade, cabendo à prefeitura ou ao governo do
estado administrar os espaços a partir de suas competências. Nesta forma de
gestão, além da intervenção do Estado, o desenvolvimento humano, social ou
sustentável exige protagonismo local, ou seja, atuação das pessoas que vivem em
comunidades e que conhecem suas particularidades e necessidades. Com o
compromisso e a adesão da comunidade local, as políticas de indução e/ou
promoção do desenvolvimento têm maior chance de obter resultados positivos.
Praças do PAC – Programa de Aceleração de Crescimento
CEUS – Centro de Artes e Esportes Unificados – consiste na integração num
mesmo espaço, de programas e ações culturais, práticas esportivas e de lazer,
formação e qualificação para o mercado de trabalho, serviços socioassistenciais,
políticas de prevenção à violência e de inclusão digital, para promover a cidadania
em territórios de alta vulnerabilidade social das cidades brasileiras. É um programa
em parceria entre a União e municípios. Sua gestão também se dá de forma
compartilhada entre as prefeituras e a comunidade, com a forma de um grupo
gestor, com a responsabilidade de elaborar um plano de gestão e conceber o uso e
programação dos equipamentos.
Os seus projetos arquitetônicos padrão foram desenvolvidos por uma equipe
multidisciplinar e interministerial. Os centros contam com biblioteca, cineteatro,
laboratório de multimídia, salas de oficinas, espaços multiuso, Centro de Referência
em Assistência Social (CRAS) e pista de skate. Os CEUs maiores também contam
com quadra de eventos coberta, playground e pista de caminhada.
PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – Acordos de
Cooperação Técnica Internacional.
Projeto – BRA/11/006 - Por uma Agenda Nacional de Esporte – Período de
maio/2011 a dezembro de 2016. Este projeto tem como objetivo contribuir para a
democratização e a universalização do acesso ao esporte e lazer de toda a
população brasileira, promovendo a inclusão social e o exercício da cidadania
por meio do desenvolvimento sustentável setorial e da implementação do Plano
Decenal de Esporte e Lazer.
171
O projeto está organizado em eixos estratégicos, a saber:
Fortalecer a capacidade institucional do Ministério do Esporte para elaborar,
coordenar, monitorar e implementar políticas públicas, consolidando o diálogo
social para a promoção do esporte nacional e maior visibilidade internacional –
com foco na estruturação do Setor Esporte – baseado na necessidade de
implantar um novo modelo de planejamento de políticas públicas e de gestão
setorial descentralizada, coordenadora e participativa, capaz de integrar as
visões de parceiros relevantes e de atuação federativa; função das dimensões
do país, das diferenças regionais e da necessidade de participação direta e
indireta dos diversos atores governamentais, não governamentais e privados nas
atividades ligadas ao esporte e lazer.
Promover a estruturação do Sistema Nacional de Esporte e Lazer - SNEL, com a
descentralização da gestão das políticas públicas de esporte e lazer e modelo de
gestão setorial sustentável – relacionado ao desenvolvimento de Programas,
Projetos e estudos com a finalidade de fornecer subsídios à formulação de
propostas detalhadas indicadas nos planos e política setorial, como também
prover insumos para o desenvolvimento setorial, do Ministério do Esporte e dos
parceiros envolvidos no Sistema Nacional de Esporte e Lazer. Toma-se como
base a implementação e articulação de programas e projetos efetivos e para a
pesquisa o desenvolvimento, para fins de ampliação do conhecimento
tecnológico, soluções e possibilidades esportivas e instâncias político-
administrativas.
Consolidar o esporte e o lazer, como política de Estado, promovendo o Plano
Decenal de Esporte e Lazer e a agenda setorial na Agenda Nacional Social –
com ênfase na implementação, proposição e/ou modernização das Ferramentas
de Gestão e Gerenciamento, que permitam reforçar a qualidade e efetividade
das ações e melhorar os níveis de coordenação intra e extra-setorial no esporte
e lazer. Deverá incluir iniciativas de qualificação profissional nos diferentes
espaços político-administrativos, com a participação de relevantes parceiros
governamentais, não governamentais e do setor privado.
172
Promover iniciativas nacionais e internacionais para a operacionalização da
Copa 2014 e Olimpíadas 2016 - visa à promoção de iniciativas de
operacionalização de compromissos internacionais assumidos pelo governo
brasileiro nas vertentes de cooperação esportiva internacional com os demais
países, reforçando a cooperação sul-sul; e ainda, apoiar a implementação de
ações relacionadas à Copa 2014 e Olimpíadas 2016.
Programas e projetos da Secretaria Nacional de Esporte, Educação, Lazer e Inclusão Social:
Programa Segundo Tempo – O Programa Segundo Tempo também criado em
2003, ligado à Secretaria Nacional de Esporte Educacional, ancorado na Política
Nacional de Esporte e Lazer, dirigido às crianças (a partir dos 06 anos de idade),
aos adolescentes e aos jovens expostos a riscos sociais. O Programa tem como
foco central a democratização do acesso à prática e à cultura do esporte de
modo a promover o desenvolvimento integral, com vistas à formação da
cidadania e melhoria da qualidade de vida, especialmente em áreas de
vulnerabilidade social (BRASIL, 2010, 2016).
Esse Programa tem como princípios: da reversão do quadro de injustiça,
exclusão e vulnerabilidade social; do esporte e lazer como direito de cada um e
dever do Estado; da universalização e inclusão social; da democratização da gestão
e da participação (BRASIL, 2016). De forma específica, apresenta os seguintes
objetivos: oferecer práticas esportivas educacionais, estimulando crianças e
adolescentes a manter uma interação efetiva que contribua para o desenvolvimento
integral; oferecer condições adequadas para a prática esportiva educacional de
qualidade; desenvolver valores sociais; contribuir para a melhoria das capacidades
físicas e habilidades motoras; contribuir para a melhoria da qualidade de vida (auto -
estima, convívio, integração social e saúde); contribuir para a diminuição da
exposição aos riscos sociais, drogas, prostituição, gravidez precoce, criminalidade,
trabalho infantil e a conscientização da prática esportiva, assegurando o exercício da
cidadania.
Esporte na Escola - Com o fortalecimento da ação intersetorial do Governo
Federal, integrando Esporte e Educação, foi possível duplicar o atendimento do
173
Programa Segundo Tempo, que oferece várias vivências esportivas no
contraturno escolar, através do Programa Mais Educação do Ministério da
Educação, com a inserção de uma proposta de esporte na escola, integrada ao
seu projeto pedagógico. Assim sendo, denomina-se Esporte na Escola, a
integração do Programa Segundo Tempo e do Programa Mais Educação. O
Esporte na Escola tem como objetivo geral oportunizar o acesso à prática
esportiva a todos os alunos das escolas públicas da Educação Básica, iniciando
o atendimento às escolas que participam do Programa Mais Educação.
Projeto Recreio nas Férias – sua edição piloto foi em janeiro de 2009 – é
integrante do Programa Segundo Tempo. Na sua última versão o projeto teve
como propósito oferecer aos participantes uma gama de atividades esportivas,
recreativas, de lazer e culturais, buscando a valorização do respeito, do
companheirismo e estimular a participação das famílias e do voluntariado na
comunidade. A partir do tema gerador “PST 10 anos – Celebrar com
Sustentabilidade”
Programa Esporte e Lazer da Cidade – PELC
O Programa Esporte e Lazer da Cidade – PELC foi criado em 2003,
executado pela União sob responsabilidade do Ministério do Esporte - ME, com
vistas parcerias. Essas parcerias se configuram entre o Ministério do Esporte,
Municípios, Governos do Estado, Distrito Federal, Universidades Estaduais e termos
de execução descentralizados entre ME e Universidades Públicas Federais ou
Institutos Federais de Educação (BRASIL, 2016). O PELC visa proporcionar a
prática de atividades físicas, culturais e de lazer para todas as faixas etárias,
pessoas com deficiência; estimula a convivência social, a formação de gestores e
lideranças comunitárias, fomento à pesquisa e a socialização de conhecimentos,
contribuindo para que o esporte e lazer sejam tratados como políticas públicas e
direito de todos. Tendo como finalidade suprir as necessidades de políticas públicas
e sociais para atender à demanda da população em relação ao esporte recreativo e
de lazer, principalmente para aqueles em situações de vulnerabilidade social e
econômica.
174
De acordo com o Ministério do Esporte (2014), o PELC tem objetivos
focalizados no funcionamento de núcleos de esportes recreativo e de lazer,
funcionamento da Rede CEDES – Centro de Desenvolvimento de Esporte
Recreativo e de Lazer nas Instituições de Ensino Superior e a implantação e a
modernização de infraestrutura para esporte recreativo e de lazer (BRASIL, 2014).
Segundo Castellani Filho (2007, p. 6), o Programa Esporte e Lazer da
Cidade surgiu com o objetivo de responder a questões amplamente detectadas no
quadro social brasileiro, indicativos de que uma parcela significativa da população
brasileira não tem acesso ao lazer.
Conforme o site oficial do Ministério do Esporte o Programa Esporte e Lazer
na Cidade tem como objetivos:
Democratizar o acesso a políticas públicas de esporte e lazer;
Reconhecer e tratar o esporte e lazer como direitos sociais;
Articular ações voltadas para públicos diferenciados nos núcleos de esporte e lazer, de forma a privilegiar a unidade conceitual do programa;
Difundir a cultura do lazer por meio do fomento e eventos de lazer construído e realizado de forma participativa com a comunidade;
Formar permanentemente os agentes sociais de esporte e lazer (professores, estudantes, educadores/comunitários, gestores e demais profissionais de áreas afins);
Fomentar e implementar instrumentos e mecanismos de controle social;
Aplicar metodologias de avaliação institucional processual às políticas públicas de esporte e lazer;
Fomentar a ressignificação de espaços esportivos e de lazer que atendam às características das políticas sociais de Esporte e Lazer implementadas e que respeitem a identidade esportiva e cultural local / regional.
Orientar a estruturação e condução de suas políticas públicas de esporte e lazer nos poderes públicos municipais e estaduais (BRASIL, 2014, on-line).
O programa tem como objetivo central ampliar, democratizar e universalizar
o acesso à prática e ao conhecimento do esporte recreativo e lazer, integrando suas
ações às demais políticas públicas, de modo a contribuir com o desenvolvimento
humano e a inclusão social. Apresenta as seguintes diretrizes: garantir o acesso às
práticas e aos conhecimentos sobre esporte e lazer; desenvolver ações educativas
na perspectiva da emancipação humana, do desenvolvimento comunitário e da
transformação de políticas de governo em políticas de Estado; valorizar a
diversidade cultural; desenvolver ações estratégicas que articulem pesquisas com
ações educativas, informação e práticas de gestão de políticas públicas;
175
implementar ações intersetoriais; articular redes de cooperação nacional e
internacional. As diretrizes de 2016 do PELC apresentam os objetivos, processos
pedagógicos, núcleos, metas de atendimento por núcleo, público-alvo, atividades
sistemáticas – oficinas, grade horária, atividades assistemáticas – eventos, dos
recursos humanos, sobre a entidade de controle social, conselho gestor, divulgação,
identidade visual, formação, Ead, sistema de acompanhamento, monitoramento e
avaliação, municipalização/institucionalização das políticas de esporte e lazer, como
também, documentos orientadores e Projeto Pedagógico do PELC.
De maneira específica, de acordo com os dados do Ministério do Esporte
(2016), o PELC apresenta os seguintes objetivos:
- Promover a inclusão, minimizando as desigualdades e qualquer tipo de
discriminação por condições físicas, sociais, de raça, de cor ou qualquer natureza que limitem o acesso à prática esportiva;
- Oferecer aos alunos conhecimentos e vivências de práticas esportivas nas dimensões lúdica e inclusiva;
- Ampliar o tempo de permanência dos alunos na escola; - Fortalecer hábitos e valores que incrementam a formação da cidadania
dos alunos; - Ampliar o conhecimento dos alunos sobre a prática esportiva e suas
relações com a cultura, educação, saúde e vida ativa; - Contribuir para a melhoria da qualidade da Educação Básica (BRASIL,
2016, on-line).
Para assegurar sua estrutura nacional, têm sido multiplicadas experiências
de parceiros com outros programas estruturantes da Política Social do Governo
Federal, buscando melhorar o controle social e a intersetorialidade.
O programa possui dois núcleos - Núcleos Urbanos (voltados aos centros
Urbanos) e os Núcleos para Povos e Comunidades Tradicionais (voltados para
grupos culturalmente diferenciados como povos indígenas, quilombolas, populações
ribeirinhas, dentre outras). Os núcleos do PELC são espaços de convivência social,
onde as manifestações esportivas e de lazer são planejadas e desenvolvidas, sendo
tratadas como locais de referência, porém suas ações / atividades podem ser
descentralizadas para outros espaços configurados de acordo a realidade social.
Em 2012, o Ministério do Esporte reconheceu o núcleo Vida Saudável do
PELC como um importante Programa Social. Este núcleo é voltado
preferencialmente para os idosos e as pessoas com deficiência (BRASIL, 2016).
176
Programa Vida Saudável – De acordo com o Ministério do Esporte (2016) o
Programa Vida Saudável se desenvolve visando oportunizar a prática de
atividades físicas, atividades culturais e de lazer para o cidadão e cidadã idoso,
estimulando a convivência social, a formação de gestores e lideranças
comunitárias, a pesquisa e a socialização do conhecimento, contribuindo para
que o esporte e o lazer sejam tratados como políticas públicas e direitos de
todos.
Este Programa tem como objetivo central: democratizar o acesso ao lazer e
ao esporte recreativo para pessoa idosa na perspectiva de promoção de saúde, e de
forma específica:
- Nortear ações voltadas para pessoas predominantemente a partir de 60
anos nos núcleos de esporte e lazer; - Estimular a gestão participativa entre os atores locais, direta e
indiretamente envolvidos; - Orientar entidades conveniadas para estruturar e conduzir políticas
públicas de lazer e de esporte para idosos; - Promover a formação continuada de agentes sociais de lazer e esporte
recreativo, preparados para atender o público idoso; - Incentivar a organização coletiva de eventos de lazer e esporte recreativo
para envolver a população local para além dos núcleos; e - Reconhecer as qualidades da cultura local na apropriação do direito ao
lazer e ao esporte recreativo (BRASIL, 2016, on-line).
Tomando como base uma pesquisa realizada sobre o perfil dos praticantes
de atividades físicas no Brasil, dados estes atrelados ao IBGE (2013), que se
encontram divulgados no site do Ministério do Esporte (2015), 28,5 % da população
entre 14 a 75 anos praticam atividades físicas, 45,9 % são sedentários e apenas
25,6 % praticam esportes.
O Programa Segundo Tempo e o Programa Esporte e Lazer na Cidade
podem ser considerados como de esporte numa dimensão lúdica, também
denominados de participação e lazer.
Competições e eventos de esporte e lazer
A realização e apoio a competições e eventos de esporte e lazer tem a
finalidade de desenvolver atividades que contribuam para ampliar o acesso ao
esporte e lazer a todas as faixas etárias, estruturar toda a política de esporte
177
estudantil articulando as ações voltadas à iniciação e formação esportiva e
competições esportivas, ações essas ligadas ao estudo e prática de esporte e lazer.
Jogos dos Povos Indígenas – sua primeira edição foi no ano de 1996, em
Goiana e sua XII edição foi em Cuiabá / 2013, patrocinado pelo Ministério do
Esporte, contando com o envolvimento dos Ministérios do Desenvolvimento Agrário,
da Cultura, da Justiça e da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade
Racial, Infraero e Universidade Federal do Mato Grosso, governo do Mato Grosso e
prefeitura de Cuiabá.
Rede CEDES – Centro de Desenvolvimento de Esporte Recreativo e de Lazer,
implantado em 2003, tem como objetivos: produzir pesquisas induzidas e semi-
induzidas, visando maximizar o acesso ao conhecimento científico e tecnológico
nas áreas da gestão do esporte recreativo e do lazer; e difundir os resultados
dos estudos e pesquisas desenvolvidas pela referida Rede.
Prêmio Brasil de Esporte e Lazer de Inclusão Social - destinado ao
reconhecimento de iniciativas científicas, tecnológicas, pedagógicas e
jornalísticas que contribuem e subsidiem a qualificação das políticas públicas de
esporte e lazer de inclusão social. Objetivando incentivar, apoiar e valorizar
estas iniciativas, contribuindo para inserir o Ministério do Esporte na agenda da
Ciência e Tecnologia Brasileira, em parceria com outros setores sociais.
Programa Pintando a Liberdade – tem como objetivo promover a ressocialização
de internos do Sistema Penitenciário através da fabricação de materiais
esportivos. Participando do referido Programa o detento se profissionalizará e
reduzirá um dia de pena para cada três dias trabalhados e serão remunerados
de acordo com a sua produção. Os convênios são firmados entre Governo
Federal por intermédio do Ministério do Esporte e os órgãos que administram os
presídios.
Pintando a Cidadania - A ação envolve pessoas em situação de risco social
em fábricas de material esportivo. O programa tem como objetivo a inclusão social
de pessoas residentes em comunidades carentes e o ingresso dos mesmos no
mercado de trabalho. Os rendimentos são divididos conforme a produção. Parte do
pagamento é repassado imediatamente aos detentos e outra parte é depositada
178
para ser retirada após o pagamento da pena. Foi desenvolvido inicialmente como
uma linha do Programa Pintando a Liberdade. Nele, são produzidos bolas, bolsas,
redes, camisetas, bonés e bandeiras. O material fabricado nas fábricas dos dois
programas é utilizado pelo Ministério do Esporte para a distribuição em núcleos dos
programas Segundo Tempo e Esporte e Lazer na Cidade e em escolas e entidades
sociais do Brasil e do exterior.
Bolas com Guizo possibilitam a prática do futebol a jogadores com deficiência
visual - na unidade de Feira de Santana (BA), com apoio do Ministério do
Esporte, foram produzidas bolas de futebol para cegos. Este material é
distribuído para entidades do Brasil e do exterior.
Pintando no Exterior – A partir da ação cooperativa internacional, parceiros do
governo brasileiro, são distribuídos equipamentos esportivos produzidos pelos
detentos do Programa Pintando a Liberdade.
Fábrica de xadrez do Pintando a Cidadania – fabricação de tabuleiro e peças de
xadrez do Governo Federal. A unidade funciona no município de Conceição de
Jacuípe (BA) em parceria com a prefeitura municipal. O material é fabricado com
uso de material reciclado por pessoas em situação de risco social. Os kits são
repassados para escolas públicas de todo o Brasil e para programas sociais do
Ministério do Esporte.
Programas e projetos da Secretaria Nacional de Alto Rendimento
Centro de Iniciação ao Esporte – CIE – tem como objetivo ampliar a oferta de
infraestrutura de equipamento público esportivo qualificado, incentivando a
iniciação esportiva em territórios de vulnerabilidade social das grandes cidades
brasileiras. Este centro faz parte da segunda etapa do Programa de Aceleração
do Crescimento - PAC 2.
Programa Bolsa Atleta - Desde o ano de 2005, o governo brasileiro beneficia
atletas de alto rendimento que obtêm bons resultados em competições nacionais
e internacionais. O programa Bolsa Atleta patrocina de forma individual
independente de sua situação econômica e sem necessidade de intermediários.
179
A partir de 2012 com a Lei N. 12.395/11, é permitido que o candidato ao bolsa
atleta tenha outros patrocínios.
O Programa conta com as seguintes categorias de bolsa: Atleta de Base,
Estudantil, Nacional, Internacional e Olímpico/Paralímpico. No entanto, para os
atletas com reais possibilidades de medalhas nos Jogos Rio 2016, o Ministério do
Esporte estabeleceu a categoria Atleta Pódio, conforme a legislação mencionada
anteriormente.
Plano Brasil de Medalhas – foi lançado em setembro de 2012, com o objetivo de
colocar o Brasil entre os 10 primeiros países nos Jogos Olímpicos e entre os
cinco primeiros nos Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro, em 2016. O plano
também tem como objetivo formar novas gerações de atletas das modalidades e
estruturar centros de treinamentos que atendam às equipes principais do alto
rendimento como também os atletas de categorias de base. O financiamento
abrange desde o apoio a seleções, contratação de técnicos e equipes
multidisciplinares, aquisição de equipamentos e materiais para viagens de
treinamentos e competições; construção, reforma e equipagem de centros de
treinamento de diferentes modalidades e complexos multiesportivos.
Programa Brasil Voluntário - foi criado para atender à Copa das Confederações
da FIFA Brasil 2013 e a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014.
A atuação dos voluntários é integrada com o programa de voluntariado da
FIFA e funciona como uma ampla rede de mobilização, que atua em pontos de
mobilidade, aeroportos, eventos de exibição pública, áreas de fluxo, entorno dos
estádios e centros abertos de mídia, nas cidades-sede.
O calendário e ações esportivas de esfera nacional estavam assim definidos:
Rio 2016, Nanquim 2014, Jogos dos Povos Indígenas, Jogos Escolares e Futebol
Feminino. O calendário tem a finalidade de não ocorrer superposição de eventos
importantes em datas e locais coincidentes. Esse calendário apresenta um conjunto
de informações sobre eventos nacionais e internacionais de diferentes modalidades.
Os jogos militares estiveram no calendário de eventos no ano de 2011.
180
Quanto ao evento Rio 2016, há um Plano de Políticas Públicas, elaborado
em conjunto com o governo federal, estadual e municipal sob a coordenação do
Comitê Organizador dos Jogos, que define as obrigações dos seus signatários para
organização e realização do evento, de acordo com as obrigações assumidas frente
ao Comitê Olímpico Internacional.
Os Jogos Escolares foram criados em 1969, passando ao longo do tempo
por mudanças, inclusive de nomenclatura. O evento integra atletas escolares da
rede pública e privada do país. Para participar do evento é necessário passar por
seletivas municipais, estaduais e posteriormente nacionais.
A Secretaria Nacional de Futebol e Defesa dos Direitos do Torcedor é
responsável por várias ações que irão contribuir para o melhoramento do futebol
como um todo no Brasil. Nesta secretaria, estão vinculados os programas e projetos
voltados para a Copa 2014, Futebol Feminino, Timemania (Loteria criada pelo
Governo Federal com objetivo de injetar na receita dos clubes de futebol, na qual
serão utilizados os brasões dos clubes no lugar dos números. Em troca de cedência
de suas marcas, os clubes receberão 22% da arrecadação da loteria e destinarão os
valores para quitarem dívidas com a União em FGTS – Fundo de Garantia por
Tempo de Serviço, INSS – Instituto Nacional do Seguro Social e Receita Federal.
O Programa Torcida Legal (para a prevenção da violência nos estádios
esportivos), com vistas à melhoria das condições de segurança e o conforto do
público nos estádios de futebol brasileiros. Este programa surgiu com o diálogo entre
o Ministério do Esporte, Ministério da Justiça, Confederação Brasileira de Futebol
(CBF), Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e o Conselho Nacional dos Procuradores
Gerais do Ministério Público dos Estados e da União (CNPG).
Tomando como referência a relação de uma política pública intersetorial um
dos programas que se constata nas cidades, atualmente, é a academia pública. De
acordo com o site oficial do Ministério da Saúde, o Programa “Academia da Saúde”
foi lançado em 2011. Busca estimular a criação de espaços públicos adequados
para a prática de atividades físicas e de lazer. O objetivo deste Programa é contribuir
para a promoção da saúde da população11.
À medida que se discute sobre o aumento da expectativa de vida e sua
relação com a melhoria da qualidade de vida da população. Além disso, com o
11
Cf. Portal da Saúde. Disponível em: <www.saude.gov.br>.
181
entendimento de uma dimensão ampla da saúde e também com a preocupação para
um melhor aproveitamento do tempo livre, atrelada às compreensões do esporte, as
quais são importantes por serem consideradas numa dimensão mais ampla,
inclusive com a preocupação voltada para o esporte como forma de lazer para a
população e com condições que concatenam com a promoção da saúde e, portanto,
com o interesse nas políticas públicas voltadas para o esporte e lazer é que neste
estudo, se tem a preocupação de compreender o lugar do esporte e lazer na política
urbana.
O esporte e o lazer como práticas sociais estão também vinculadas à saúde,
traduzidas em políticas / ações conjuntas entre o Ministério do Esporte e da Saúde,
desenvolvidas desde o ano de 2003, focadas para a saúde da população. Nesta
perspectiva, o debate com o esporte e o lazer está incorporado e articulado a outros
Ministérios e outras Instituições.
A Política Nacional de Esporte incorporando as questões ligadas ao lazer é
um resultado das Conferências Nacionais de Esporte e Lazer com significativos
reflexos no contexto brasileiro, com vistas a sua universalização. Contudo, as
políticas públicas de lazer estão baseadas no princípio da intersetorialidade,
abrangendo diferentes áreas sociais, com ênfase no bem-estar do cidadão. Nessa
perspectiva, na formulação de políticas públicas na área do lazer, são aqui
entendidas para além de uma visão funcionalista, não sendo mantenedora da
situação social vigente, nem servindo como válvula de escape das tensões
vivenciadas no cotidiano, como também, não transformando os bens culturais da
sociedade em mercadorias.
Numa dimensão crítica, e reconhecendo a abrangência para o
desenvolvimento de políticas de lazer, Marcellino (2008, p. 24) propõe:
[...] entendimento amplo do lazer, em termos de conteúdo, pela consideração do seu duplo aspecto educativo, suas possibilidades enquanto instrumento de mobilização e participação cultural, as barreiras socioculturais verificadas, e, por outro lado, pelos limites da administração municipal e a necessidade de fixação de prioridades, a partir da análise da situação.
Na concepção de Bramante (2006), o lazer é tratado de forma insipiente nas
políticas públicas em esfera federal, no âmbito das questões de moradia, habitação
e revitalização de áreas centrais urbanas. Para o autor, o lugar do lazer na vida
182
humana e nas políticas públicas municipais é entendido na sua transversalidade,
com diferentes áreas, ou seja, não só com a educação e a cultura, de forma
sustentável e no campo da política de Estado, porém ainda a ser implementada.
Sendo assim, através de políticas intersetoriais, é possível que se atenda um maior
número de demandas sociais, como também, a adoção da intersetorialidade
possibilitará a articulação de políticas de saúde, educação, esporte, meio ambiente e
lazer de maneira mais veemente.
Várias questões podem ser destacadas sob o ponto de vista sobre a
importância da democratização do acesso ao esporte e lazer, mesmo reconhecendo
as condições de desigualdades sociais do Brasil, contudo entendê-los e qualificá-los
de forma que devam ser valorizados nas políticas urbanas porque contribuem para a
qualidade de vida e para a vida em sociedade. Segundo Motta e Terra (2011), o
esporte, no contexto do lazer deve ser compreendido como fenômeno social de
características universais, como forma de cultura, uma vez que reflete para um
entendimento de valores sociais.
Entretanto, constatou-se uma gama de ações, programas e projetos criados
pelo Ministério do Esporte, com o foco no esporte e lazer. Porém, a nossa
preocupação não se dá apenas nas suas existências, mas com a sua transposição
do nível documental para a sua implementação, com o seu fortalecimento e
continuidade, com a consolidação de metas e objetivos, sua execução nas
diferentes esferas, seu acompanhamento técnico-operacional e financeiro, sua
compreensão em relação a seus aportes teórico-práticos, além de ser entendido
como Política de Estado e não de Governo, entre outros aspectos que comprovam
que o efetivo acesso às políticas públicas urbanas é uma imprescindível função
social das cidades.
183
CAPÍTULO 5 – O ESPORTE E LAZER NAS POLÍTICAS URBANAS BRASILEIRAS
5.1 Dinâmica espacial e a questão urbana
No início da década de 1970, Lefebvre afirmava que definir-se espaço
vinculando como uma condição ou instrumento para a produção, a troca e o
consumo e/ou como um objeto ou conjunto de objetos era entendê-los de forma
restrita, e ainda que o modo de produção capitalista muda a relação entre o espaço
e a cidade tradicional.
A cidade tradicional tinha, entre outras, essa função de consumo, complementar à produção. Mas a situação mudou: o modo de produção capitalista deve se defender num front muito mais amplo, mais diversificado e mais complexo, a saber: a reprodução das relações de produção que não coincide mais com a reprodução dos meios de produção; ela se efetua através da cotidianidade, através dos lazeres e da cultura, através da escola e da universidade, através das extensões e proliferações da cidade antiga, ou seja, através do espaço inteiro (LEFEBVRE, 2008, p. 7).
Ao falar de espaço, Lefebvre (2008) também o relaciona ao tempo, pois,
para o autor, no mundo das mercadorias, o consumidor não compra somente um
espaço mais ou menos povoado com signos de prestígios e hierarquia social, pois o
consumidor adquire uma distância, a que inclui sua habitação aos lugares, que
denomina centros, sejam de comércio, de lazer, de cultura, de trabalho, de decisão.
Além disso, Lefebvre (2008) assevera que o tempo é fragmentado, considerando o
tempo de trabalho, de consumo, de lazer, de percurso, entre outros. Ele defende que
“o direito à cidade é um movimento em direção à constituição de uma democracia
concreta, que implica a constituição ou reconstituição de uma unidade espaço-
temporal” (LEFEBVRE, 1999, p. 126, b). O autor complementa que esse direito, não
se dá de forma natural, nem contratual. O direito à cidade se apresenta como forma
superior dos direitos: direito à liberdade, à individualização na socialização, ao
habitat e ao habitar (LEFEBVRE, 2001).
Lefebvre (2008) afirma que, numa visão positivista, é o direito dos cidadãos
e dos grupos aos quais pertencem figurar sobre todas as redes e circuitos de
comunicação, de informação, de trocas, dependendo de uma qualidade ou
propriedade essencial do espaço urbano, chamada de centralidade. Entretanto, a
crise dos centros se estabeleceu com a segregação. “O direito à cidade legítima,
184
recusa de se deixar afastar da realidade urbana por uma organização
discriminatória, segregadora” (LEFEBVRE, 2008, p. 32). De acordo com o autor, o
direito à cidade remete ao direito de encontro e de reunião. Lugares e objetos devem
estar relacionados às necessidades, que, de forma geral, são pouco conhecidas e
há certas funções que são menosprezadas. Para ele, as necessidades
transfuncionais são: a necessidade de vida social e de um centro, a necessidade e a
função lúdicas, a função simbólica do espaço.
Ao tratar das necessidades sociais do ponto de vista antropológico, opostos,
mas complementares, Lefebvre (2001, p.103) elucida que:
Compreendem a necessidade de segurança, a de abertura, a necessidade de certeza e a necessidade de aventura, a necessidade da organização do trabalho e a do jogo, as necessidades de previsibilidade e do imprevisto, de unidade e de diferença, de isolamento e de encontro, de trocas e de investimentos, de independência (e mesmo de solidão) e de comunicação, de imediaticidade e de perspectiva a longo prazo. O ser humano tem, também, necessidade de acumular energias e a necessidade de gastá-las, e mesmo de desperdiçá-la no jogo. Tem necessidade de ver, de ouvir, de tocar, de degustar, e a necessidade de reunir essas percepções num “mundo”.
Ademais, para o autor, há necessidades especificas que não satisfazem os
equipamentos comerciais e culturais. Trata-se da necessidade de uma atividade
criadora, de obra (e não somente de produtos e de bens materiais de consumo),
necessidades e informação, de simbolismo, de imaginário, de atividades lúdicas.
Neste sentido, para Lefebvre (2001), através dessas necessidades há um desejo
fundamental, do qual o jogo, a sexualidade, os atos corporais, como esporte, a
atividade criadora, a arte e o conhecimento podem superar a divisão, em parte, dos
trabalhadores.
“O direito à cidade é a constituição ou reconstituição de uma unidade
espaço-temporal, de uma reunião, no lugar de uma fragmentação” (LEFEBVRE,
2008, p. 32). Para ele, o mental e o social se reencontram na prática: no espaço
concebido e vivido. Quanto aos espaços de lazeres, para o autor são dissociados da
produção, parecendo independentes do trabalho e do tempo livre, como nas cidades
novas. Porém, esses espaços estão ligados aos setores de trabalho no consumo
organizado. Por outro lado, a problemática urbana, para Lefebvre (2008), dá-se a
partir do crescimento quantitativo da produção econômica. A cidade ocupa um
185
espaço bem diferente do espaço rural e a ligação entre esses espaços depende do
modo de produção e, através dele, da divisão do trabalho na sociedade. O espaço
da cidade não é apenas organizado e instituído; é modelado, adequado por
determinado grupo.
Para Catão (2015, p. 103), “a cidade é lugar de concentração da vida social,
econômica, política e cultural”. Ademais, “a falta de planejamento acarreta sérias
repercussões nos campos sanitário, ambiental, econômico e, especialmente, social“
(CATÃO, 2015, p. 1). O autor ressalta que há diversificadas formas de apropriação
dos espaços para diferentes atividades e usos, inserindo a divisão social e territorial
do trabalho, que possibilita entender a cidade e o campo. Segundo Marx (1987, p.
3), faz-se necessário enfocar os elementos que expressam a realidade material da
sociedade, a exemplo, da divisão de trabalho, a partir de uma perspectiva de
“processos de produção, circulação, troca e consumo”.
Lefebvre (2008), ao tratar de desenvolvimento social qualitativo, esclarece
que o desenvolvimento e o crescimento não coincidem, pois o crescimento não leva
automaticamente ao desenvolvimento. Em relação ao desenvolvimento, afirma que
“não há criação de formas sociais e de relações sociais sem criação de um espaço
apropriado” (LEFEBVRE, 2008, p. 161). Todavia, para Lefebvre (2001), a
experiência prática mostra que pode haver crescimento sem desenvolvimento social,
e que o desenvolvimento da sociedade só pode ser entendido na vida urbana pela
realização da sociedade urbana. Contudo, a realização da sociedade urbana exige
uma planificação com vistas às necessidades sociais, mas é preciso uma força
social e política.
De outro modo, em relação ao ponto de vista sobre espaço e o processo
social, Bernardes (1986, p. 83) afirma que “a ação do poder público, por se realizar,
necessariamente sobre uma porção do território, contribui, de modo decisivo, para
alterar a estruturação do espaço”. Esta intervenção no processo de urbanização
ocorre em todas as escalas e tem implicações espaciais que podem ser intensivas
ou pontuais, gerando mudanças na estruturação espacial, tanto em escala regional
como nacional. O espaço é a expressão dos processos econômico e sociais que
atuam sobre determinado território e as políticas públicas integram esses processos;
exercendo importante papel na organização social resultante desse processo, como
também integra a dinâmica do processo social, da qual resultam a organização do
186
território e configurações espaciais específicas. Configurações espaciais que
correspondem às diferentes formas de organização social no decorrer desse
processo e são, ao longo do tempo, modificadas, tanto pelos vários agentes que
nelas interferem quanto por seu próprio dinamismo interno, como afirma Bernardes
(1986).
Segundo Castells (1983), o espaço urbano é estruturado, pois ele não está
organizado aleatoriamente, e os processos sociais que se ligam ao espaço
exprimem, ao especificá-los, os determinismos de cada tipo e de cada período de
organização social. Todavia, reconhece-se que a dimensão espacial é inerente a
qualquer política pública e que não pode ser ignorada, sejam quais forem os
objetivos de um governo, por se considerar que a sociedade e espaço são
indissociáveis e que a política pública se consolida, além de outras condições,
independentemente de um governo no poder. Contudo, destaca-se o papel
desempenhado pelo governo central como indutor da urbanização, a partir da
Revolução de 1930 e sua acentuação nas décadas seguintes, em especial, como o
apoio à expansão do setor industrial e à modernização da agricultura, sendo
assinaladas nas análises sobre o impacto crescente da urbanização, no processo de
configuração do espaço brasileiro. Na economia brasileira, embora o processo de
industrialização tenha sido iniciado desde a década de 30 do século XX, e tenha tido
um marcante desenvolvimento a partir dos anos 1950, iniciando inclusive a produção
de alguns bens de consumo duráveis, em meados de 1970 é que se constatou
crescimento expressivo da indústria de bens duráveis, em conjunto com o
progressivo processo de industrialização da produção do setor primário e expansão,
em diversidade e volume, na produção de bens de consumo não duráveis, como
explica Oliveira (1979).
Orientadas pelas prioridades políticas, pelos objetivos econômicos e
interesses do novo aparelho estatal, as políticas setoriais multiplicaram-se na
segunda metade de 1960. Entretanto, não eram pensadas levando em conta o seu
impacto na configuração do espaço, em termos nacionais e locais, e permaneceram
desvinculadas entre si. Além disso, a centralização das decisões do Governo
Federal não significaria que todas as políticas emanariam de um único centro de
decisões.
187
Para desencadear as discussões sobre o panorama da questão urbana no
cenário brasileiro, e, de forma específica, o lugar do esporte e lazer na política
urbana de Campina Grande – PB, com base na Lei Orgânica, Plano Diretor, bem
como na pesquisa de campo, reconhecendo que os indivíduos, as pessoas, são os
habitantes das cidades, iniciou-se o estudo com a discussão sobre o corpo, e ainda
por considerar que as complexidades da problemática urbana convergem ao
elemento social, o ser humano. Diante desta perspectiva, apresenta-se uma breve
discussão da questão urbana brasileira, a partir da Primeira República e no período
Vargas. Além disso, trata-se de diferentes padrões e tipologias de planejamento
urbano.
Castells (1983) afirma que o campo da política urbana remete ao político, à
política, ao urbano. O político determina a instância pela qual uma sociedade trata
as contradições e defasagens das diferentes instâncias que a compõem, e reproduz
as leis estruturais estendendo-se e garantindo a realização dos interesses da classe
social dominante. A política designa o sistema de relação de poder. O campo teórico
do conceito de poder é o das relações de classes. Segundo Castells (1983), o
estudo da política urbana se decompõe na planificação urbana e os movimentos
sociais urbanos. Para o autor a planificação é:
intervenção do político sobre a articulação específica das diferentes instâncias de uma formação social no âmago de uma unidade coletiva de reprodução da força de trabalho, com a finalidade de assegurar sua reprodução ampliada, de regular as contradições não antagônicas, assegurando assim os interesses da classe social no conjunto da formação social e a reorganização do sistema urbano, de forma a garantir a reprodução estrutural do modo de produção dominante (CASTELLS, 1983, p. 376-377).
Assim sendo, Castells (1983), ao levantar a problemática da política urbana,
refere-se ao eixo da política, do político e do urbano, para que, através do
planejamento e da mobilização social, expressa sob a forma de movimentos sociais,
possam intervir no sistema urbano, através da reprodução da força do trabalho, de
modo a garantir os interesses da classe social e o modo de produção dominante.
188
5.2 Planejamento urbano em debate
Souza (2004) enfoca algumas tipologias de planejamento urbano, tais como:
planejamento físico-territorial, planejamento sistêmico, mercadófilo, novo urbanismo,
ecológico, colaborativo, Rawbsiano, reformista e autonomista.
Planejamento físico-territorial – seu objetivo central é a modernização da cidade,
como também está ligado à ordem e à racionalidade. É um planejamento voltado
para a organização do espaço.
O planejamento físico-territorial é visto como a atividade de elaboração de
planos de ordenamento espacial para a “cidade ideal”. “Trata-se de planos nos quais
se projeta a imagem desejada em um futuro menos ou mais remoto” (SOUZA, 2004,
p. 123). O plano funciona como um conjunto de diretrizes a serem seguidas e metas
a serem alcançadas.
O planejamento territorial desenvolveu-se nos chamados “trinta anos
gloriosos”, tendo repercussões na América Latina, com as atividades da CEPAL –
Comissão Econômica para América Latina. No Brasil, Celso Furtado buscou colocar
em prática sua proposta técnica de planejamento para o desenvolvimento do
Nordeste durante os governos de Juscelino, Jânio e Jango, posteriormente, ainda
sobre a égide do Estado interventor, durante o regime militar, iniciou-se a elaboração
da Política Nacional de Desenvolvimento Urbano (PNDU), integrante do II PND -
Plano de Desenvolvimento de 1973, período em que o planejamento urbano
conheceu sua fase de maior desenvolvimento.
A partir dos meados dos anos 1940, tendo em vista a garantia do direito à
moradia, fruto de reivindicação através das lutas sociais e efetivamente perseguida
pelas políticas públicas, exigia a mudança da base fundiária, entre outras medidas.
De acordo com Massiah (1996), para assegurá-la, os países capitalistas centrais
realizaram uma “reforma urbana” embasada na reforma fundiária, extensão das
infraestruturas urbanas para atender às necessidades de produção em massa, de
moradias e financiamento subsidiado.
Para Marcuse (1997), com as mudanças urbanas e urbanísticas, há menos
mobilidade social, maior concentração de poder privado e maior segregação. O
autor ainda busca desmistificar a questão do avanço tecnológico que, ao invés de
prejudicar os trabalhadores com o desemprego ou a precarização do trabalho,
189
poderia lhes trazer benefícios, ampliando o tempo de lazer e qualidade de vida,
através do barateamento dos produtos.
O referencial político-filosófico na maioria dos casos baseado no
planejamento regulatório identifica-se com o Welfare State Keynesiano ou com o
Estado forte e intervencionista. O planejamento regulatório clássico, entre os anos
1950 e 1960, denominados de anos gloriosos, situa-se entre o fim da Segunda
Guerra Mundial e os anos 1970, tendo bases intelectuais desde os anos 1940.
O planejamento regulatório clássico compreende:
o planejamento físico territorial;
planejamento sistêmico (surge nos anos 1960) com foco central na modernização
da cidade. É considerado um pressuposto implícito e essencial, tendo também
uma identificação com o Estado forte e intervencionista.
O ideário do urbanismo desponta já antes mesmo dos anos 1920, cujo
expoente foi Le Corbusier. O modernismo foi o resultado de uma tentativa de melhor
adaptar as cidades à era industrial, e, por conseguinte, às necessidades do
capitalismo. A difusão do ordenamento de uso de terra foi pautada na separação
funcional, com toda a influência do ideário do movimento moderno, especialment, a
partir da Carta de Atenas. A Carta de Atenas (1933) surgiu como proposta de
recuperar os espaços urbanos, indicando um sentido mais humano dentro da
relação espaços-pessoas, relação esta que se apoiou em atividades relativas aos
conteúdos de lazer, considerando o espaço público e o espaço privado, renovando
valores e significados de muita importância (STUCCHI, 2001, p. 106).
O documento final elaborado por Le Corbusier, fruto das discussões,
estabelece o conceito de urbanismo moderno, traçando diretrizes e princípios
internacionais. A Carta considerava a cidade como um organismo a ser concebido
de modo funcional, com vistas às necessidades do ser humano. Dessa maneira,
preconiza a separação das áreas residenciais, de lazer e de trabalho, propondo, em
lugar do caráter e da densidade das cidades tradicionais, uma cidade, na qual os
edifícios se desenvolvem em altura e investido em áreas verdes, por esse motivo,
pouco densas. A Carta de Atenas (1933) exige construções altas, distantes uma das
190
outras, isoladas no verde e na luz, sendo as torres e as marquises símbolos da
perspectiva higienista.
De acordo com Le Corbusier, o homem é a soma das constantes de
natureza psíquica, social e fisiológica sendo reconhecidas por pessoas de áreas
diferentes, sejam da Biologia, Medicina, Física, Química, Sociologia e também por
poetas. Para ele, os homens têm o mesmo organismo, mesmas funções e, por
conseguinte, mesmas necessidades. Sendo assim, define o “homem-tipo”. Esta
imagem é que inspira a Carta de Atenas, atribuindo as funções de trabalhar,
locomover-se, cultivar o corpo e o espírito, bem como atender às necessidades
humanas, como assevera Choay (1979).
Conforme Choay (1979), a cidade, para Le Corbusier, deve ser colocada a
serviço da eficácia e da estética, manifestando-se importância com a saúde e a
higiene. As zonas de trabalho são separadas das zonas de habitações e estas dos
centros administrativos ou dos locais de lazer, e ainda ressalta que ele defendia uma
cidade vertical, com as áreas divididas de acordo com sua funcionalidade, com o
solo livre, mas que a cidade inteira fosse vista como um parque.
Contrariando o pensamento de Le Corbusier (1989), Lefebvre (1999b)
ressalta que a rua não é só um lugar de passagem e circulação, mas um lugar de
encontro, de movimento, de mistura. O autor ainda afirma que, quando se suprimiu a
rua, consequentemente, houve a extinção da vida, redução da cidade à cidade
dormitório. “A rua contém as funções negligenciadas por Le Corbusier: a função
informativa, a função simbólica, a função lúdica” (LEFEBVRE, 1999b, p. 30). O autor
ainda afirma que a rua perdeu o sentido de encontro, sendo “[...] uma transição
obrigatória entre o trabalho forçado, os lazeres programados e a habitação como
lugar de consumo” (LEFEBVRE, 1999b, p. 31). Desta forma, a rua transformou-se
em rede organizada pelo / para o consumo. Para Lefebvre (1999b, p. 93), “não
existem lugares de lazer, de festa, de saber, de transmissão oral ou escrita, de
invenção, de criação, sem centralidade”.
Le Corbusier planejou, nos anos 1920, uma cidade imaginária composta
principalmente de arranha-céus dentro de um parque. Desta maneira, 95% do solo
ficariam livres e 5% ocupados pelos arranha-céus. As pessoas de alta renda ficariam
na moradia mais baixas e de luxo, ao redor de pátios, com 85% de área livre e, de
forma esparsa, ficariam restaurantes e teatros. Neste contexto, os espaços podem
191
ser os prolongamentos diretos ou indiretos da moradia. Diretos se cercam a própria
habitação, indiretos se estão concentrados em algumas grandes superfícies menos
imediatamente próximas. Em ambos os casos, sua destinação será a mesma:
acolher as atividades coletivas da população, propiciar um espaço favorável às
distrações, aos passeios e aos jogos nas horas de lazer (LE CORBUSIER, 1989b, p.
30). Porém, a intenção deste estudo, não pretende reforçar a ideia de que o esporte
e o lazer concretizem-se apenas numa cidade que se configure segundo a
concepção de Le Corbusier.
Para Jacobs (2011), Le Corbusier planejava não apenas um ambiente físico,
mas também uma utopia social. Ademais, segundo a autora, a cidade dos sonhos de
Le Corbusier exerceu grande influência em nossas cidades. É importante destacar
que, conforme Jacobs (2011), ele manteve os pedestres fora das ruas e dentro dos
parques. Em contrapartida, a referida socióloga ressalta os prejuízos do urbanismo e
da renovação urbana nos Estados Unidos, uma vez que explica que o abandono da
rua causa o desaparecimento das principais vantagens da vida urbana: segurança,
contato, formação das crianças, diversidade das relações etc.
O Planejamento Sistêmico - o debate gira em torno da natureza da realidade, das
prioridades do planejamento ou dos problemas concretos a serem superados, mas
com a preocupação voltada em torno dos procedimentos.
O Planejamento Mercadófilo - caracteriza-se por lidar com os interesses
empresariais, trazendo crescimento econômico, com vistas que a cidade se
sobressaia em relação às outras cidades. Para Souza (2004), caracteriza-se a
“competição interurbana”, e, por conseguinte, trazendo melhorias coletivas como a
geração de empregos e maior circulação de riquezas. Esse tipo de planejamento,
segundo o referido autor, não é voltado para a realização de intervenção propagada
em uma análise profunda da realidade social e espacial, mas à captação e
decodificação de sinais emitidos pelo mercado, a partir de uma demanda existente,
relativas aos interesses do capital imobiliário e outros segmentos dominantes.
Privilegia-se o setor empresarial e suas necessidades, tornando a cidade
economicamente mais competitiva, e seu objetivo central é a modernização da
cidade.
192
O New Urbanismo - O new urbanismo surgiu nos Estados Unidos no final da década
de 1980 – tem o intuito de reintegrar os componentes da vida moderna, como:
habitação, local de trabalho, fazer compras e recreação em bairros de uso misto,
compostos, adaptados aos pedestres, unidos por sistema de tráfego. O autor ainda
ressalta que não se desconsidera totalmente a modernização da cidade como valor
básico da cidade de forma implícita, muito embora se abandone a estética
modernista e se rompa com a grande parte do ideário do movimento moderno. O
New Urbanismo tem como objetivo principal a compatibilização do crescimento e da
modernização da cidade com a preservação de valores comunitários e da escala
humana.
Desenvolvimento urbano sustentável e planejamento ecológico – pauta-se na
modernização com sustentabilidade ecológica das cidades. Ademais, a filiação
estética não desempenha qualquer papel e seu escopo não é restrito ao
planejamento físico-territorial.
Planejamento comunicativo / colaborativo - está baseado na corrente filosófica de
Jürgen Habermas. Procura da razão e do agir comunicativos. Sua ideia principal
está pautada no consenso entre grupos sociais distintos. Seu referencial político-
filosófico está baseado na defesa do Estado de Bem-Estar nas marcas de um
ideário social democrático ou “liberal de esquerda”.
Planejamento Rawbsiano – defendido por Mc Connel (1995), tendo como
pressuposto filosófico Rawels (1972), a partir da teoria da justiça. Segundo Mc
Connel (1995), levam-se em conta as necessidades dos grupos sociais
desprivilegiados e deveria ser a prioridade para os planejamentos urbanos, do ponto
de vista ético. Seu modelo está baseado na prática, como uma espécie de Estado
de Bem-Estar aprimorado nos marcos econômicos do capitalismo e nos marcos
políticos de uma variante sociodemocrática.
Planejamento e Gestão Urbana Social Reformista - Entre os meados do fim da
década de 1980 é que amadureceu a concepção progressista da reforma urbana,
sendo caracterizada como um conjunto articulado de políticas públicas, de caráter
redistributivista e universalista, voltado para reduzir os níveis de injustiça social no
meio urbano e promover uma maior democratização do planejamento e gestão das
cidades. Seu objetivo central é a justiça social.
193
Planejamento e Gestão Urbana Autonomista - o seu foco é a autonomia individual e
coletiva. A legitimidade do planejamento e da gestão é atrelada à participação dos
envolvidos nos marcos de uma igualdade efetiva de oportunidades de participação
nos processos decisórios, exemplo: parceria, delegação de poder e autogestão. O
seu referencial político-filosófico está baseado numa sociedade autônoma.
De acordo com Villaça (1999), no Brasil, entre 1875 e 1906, os planos de
obras urbanas estavam voltados especialmente para o melhoramento e
embelezamento das cidades. O autor afirma ainda que, nas décadas de 1930 e
1940, foi possível ver a implantação de planos de embelezamento, com a
preocupação com a infraestrutura urbana, principalmente circulação e saneamento.
Com inspiração europeia e mais fortemente francesa, com foco no embelezamento,
nasceu o planejamento urbano no Brasil (VILLAÇA, 1999). Segundo Maricato
(2000), a partir de 1930, os conceitos de melhoramento e embelezamento começam
a se modificar e que a cidade de produção precisa ser eficaz. Porém, os planos
passam a não ser mais cumpridos e os problemas urbanos ganham novas
dimensões. A autora assevera que, para desvencilhar dos desprestígios dos planos
não implantados, as denominações variavam: Plano Diretor, Planejamento
Integrado, Plano Urbanístico Básico, Plano Municipal de Desenvolvimento, entre
outros. Nos anos 1960, foram produzidos alguns superplanos, contendo diretrizes e
recomendações para diversos níveis de governo.
O planejamento modernista tem suas raízes no Iluminismo, ganhou
especificidades nos anos do Welfare State – 1945 a 1975. O Estado voltado para a
legislação do trabalho, com políticas que asseguram a elevação do padrão de vida.
O período foi marcado por um grande crescimento econômico e por uma significativa
distribuição de renda e nas políticas sociais. Da influência Keysiana e fordista, o
planejamento incorporou o Estado como a figura central para garantir o equilíbrio
econômico e social e um mercado de massa.
A importância do planejamento urbano, nos anos 1970, provocou a
ampliação de órgãos públicos municipais de planejamento e ainda foi foco de muitos
intelectuais. Durante os anos 1970 e 1980, de acordo com Maricato (2000), até a
mesma produção acadêmica que fazia oposição ao regime militar, voltava-se mais
para a realidade dos Estados Unidos e da Europa do que no Brasil urbano que
crescia, comprometendo-se com o meio ambiente e condições de vida da maior
194
parte da população. Ademais, o Fórum Nacional de Reforma Urbana foi um dos
responsáveis pela inclusão na Constituição de 1988 de algumas conquistas voltadas
à ampliação do direito à cidade. No entanto, segundo a referida autora, foi um
equívoco focar nas propostas formais legislativas, como se a principal causa da
exclusão social urbana decorresse da falta de novas leis ou novos instrumentos
urbanísticos para controlar o mercado, pois a maior parte da população ainda ficaria
fora do mercado ou sem segurança e sem um padrão mínimo de qualidade.
5.3 O urbano e instrumentos de intervenção: o caso brasileiro
O Urbano na Primeira República (1880 - 1930)
A herança escravista parece deixar marcas profundas no pensamento social,
ao longo da República Velha. Conforme Carvalho (1988), a herança escravista
determinava a tendência “racista” presente nas concepções que apontavam para a
inferioridade natural de nossa gente e para o “branqueamento” como tarefa
civilizatória, atendendo às necessidades geradas pela expansão do setor cafeeiro
que empreendem as práticas migratórias, principalmente voltadas para o
melhoramento da raça. Entretanto, outras correntes políticas buscavam novas
alternativas de pensar a formação do povo brasileiro.
Todos os discursos tendem, mais ou menos, a apresentar um país sem
“povo” ou melhor, uma sociedade organizada, organicamente constituída, capaz de,
por si, estabelecer dinâmicas constituidoras da nacionalidade. De acordo com
Pécaut (1990), na busca de alternativas para esta construção, os intelectuais
chamam para si a tarefa de organizadores da sociedade e de construtores da
nacionalidade. Todavia, para Lamounier (1985), essa condição só poderia se
materializar através da ação do Estado, constituindo-se, assim, uma ideologia de
Estado cuja principal marca é o “objetivismo tecnocrático”. Em contrapartida, o
ruralismo busca constituir a nação, por meio da essência rural, ou seja, projetando
no campo as bases fundamentais para a constituição da nação: a natureza e o ser
humano.
Tanto do ponto de vista das concepções de caráter racista quanto pela
perspectiva ruralista, no Brasil na Primeira República, as elites olham a população
das cidades como “classes perigosas” e a cidade como o lócus da desordem social
195
e política e da improdutividade econômica. Neste sentido, o padrão de intervenções
urbanas nesse período se dá por intermédio dos denominados “planos de
melhoramento, embelezamento e expansão”, que não configuram exatamente o
modelo do plano urbanístico. Apenas, na década de 1920 tem início as discussões
sobre a necessidade de introdução do urbanismo no Brasil, a exemplo da reforma
urbana do Rio de Janeiro – Reforma Pereira Passos, que tinha o objetivo de produzir
uma nova imagem da cidade que, ao mesmo tempo, significasse uma nova imagem
de nação das novas elites, como Sevcenko (1983) afirma.
O Urbanismo no Período Vargas (1930 – 1950)
De acordo com Gomes (1982), durante o período populista, há uma nova
caracterização da sociedade. A pobreza deixa de ser concebida como inevitável e
útil, para ser formulada como obstáculo à modernização e à constituição da
nacionalidade. Por outro lado, o Estado Liberal é concebido como retrógrado, pois a
nação a ser produzida necessita da intervenção racional do poder, o que reforça a
ideia no objetivismo tecnocrático e, ainda, que o enfrentamento da pobreza deve ser
efetuado pelo Estado, através de uma política de valorização do trabalho como
forma de ascensão social e obrigação da cidadania.
No subperíodo do Estado Novo, ocorre a formulação de uma nova
concepção de Estado, como consequência da tematização da questão social. A
política social decorrente desta concepção tinha como orientação “[...] promover
modificações substanciais na capacidade produtiva dos trabalhadores” (GOMES,
1982, p. 156). Deste modo, a política social se traduzia nos anos seguintes em
campos de intervenção: no da previdência e assistência social, voltado para a
recuperação / manutenção da capacidade de trabalho, e no campo das condições
de vida dos trabalhadores. Nas representações das elites do Estado Novo, o
desenvolvimento de políticas sociais no campo do consumo habitacional tinha
sentido estratégico, pois aumentaria a capacidade de trabalho e produzia a paz
social pela preservação da família.
Para Kowarick (1988), parece estranho que nesse momento a cidade não
seja tematizada como objeto de uma intervenção modeladora de comportamentos,
pois, para ele, esta característica é uma decorrência do próprio pacto populista, na
196
medida em que a não aplicação de normas urbanistas teria permitido a solução da
questão da moradia pelos próprios trabalhadores.
Para Ribeiro e Cardoso (1994), apesar da mudança de concepção da
questão social, referida anteriormente, o antiurbanismo continua presente nos meios
intelectuais e técnicos que elaboram as novas ideias das políticas sociais. Estes
autores afirmam que “o peso do antiurbanismo pode também ser explicado pelo fato
de, durante um largo período ainda, o regime se compor de um pacto entre setores
das classes dominantes onde as oligarquias regionais tinham um peso acentuado”
(RIBEIRO; CARDOSO, 1994, p. 83).
O pensamento em torno de Plano Diretor no Brasil versa a partir de 1930.
Nesse ano, foi publicado o Plano Agache, elaborado por um urbanista francês para o
Rio de Janeiro.
Planejamento Urbano no Período Vargas: o Padrão Higiênico-Funcional
Para Ribeiro e Cardoso (1994), o padrão higiênico-funcional reproduz o
discurso higienista e urbanístico dos países centrais desde o final do século XIX.
Contudo, desde o início do século, no Brasil, a nacionalidade e a modernização
impõem-se à reflexão sobre o social, pois o discurso de higiene e de funcionalidade
guarda muito mais um caráter modernizador e afinador da nacionalidade emergente
que propriamente de controle social. Deste modo, a possibilidade da modernização
se expressa nos planos de forma inclusiva. Ao considerar a cidade como um objeto
de sua intervenção, os planos expressam mecanismos de regulação que deveriam
influir decisivamente sobre as condições de vida das camadas populares, mesmo
considerando a ênfase nos aspectos relativos às reformas nos centros urbanos.
Entretanto, durante esse período, o padrão higiênico-funcional é desenvolvido,
principalmente, com o Plano Diretor do Rio de Janeiro, que exerce influência para
iniciativas por um espaço mais amplo.
O Urbano como Questão de Desenvolvimento
O objetivismo tecnocrático agora predomina na formulação da questão
urbana, a serviço do nacional-desenvolvimentismo. Assim sendo, o projeto de
constituição da nação desloca-se para o eixo econômico.
197
Segundo as teorias sociológicas do desenvolvimento e as teorias da
marginalidade, cristaliza-se como concepção dualista da sociedade, ou seja,
oposição campo-cidade, e a posição no interior das cidades entre os integrados e os
marginais. Em contrapartida, assume-se que a constituição da nacionalidade deixa
de ser baseada numa essência rural para ser valorizada uma perspectiva
industrializante e modernizadora.
A partir do final dos anos 1970, há uma certa decadência do nacional-
desenvolvimentismo, oriunda da queda da modernização conservadora
empreendida, a partir de 1964, em implantar um modelo de desenvolvimento
inclusivo, nos moldes do fordismo europeu ou americano, onde ganhos de
produtividade crescentes permitem a extensão, a parcelas significativas da
população, das benesses do crescimento econômico, seja através do aumento dos
salários, seja através das garantias e suportes oferecidos pelo Estado do Bem-Estar.
Por outro lado, a modernização efetuada gerou um quadro significativo de tensões
sociais no campo da organização sindical e da mobilização em torno das condições
de vida, criando uma persistente disputa acerca dos benefícios gerados pela ação
do Estado.
Sob a ótica do pensamento social, a crítica ao ideário do nacional
desenvolvimentismo se afirma, tendo como eixo a emergência da questão social, no
campo da produção, como questão operária e no campo do consumo coletivo, como
questão urbana. Nesse período, a cidade foi tematizada, inicialmente, como um
problema econômico. Os reformadores colocam a problemática urbana como
questão de desenvolvimento. Contudo, a partir dos movimentos sociais na cidade, a
dimensão social passa a predominar na tematização da questão urbana. Além disso,
na medida em que o processo de urbanização passa a ser um dos elementos
fundamentais da modernização, o urbanismo é acionado como instrumento
importante na formulação de diagnóstico sobre os problemas urbanos.
O Padrão Tecnoburocrático Desenvolvimentista
Este padrão se constitui a partir das propostas de racionalização
administrativa desenvolvidas principalmente pelo plano americano e das ideias da
geografia humana, especialmente em sua vertente francesa. O padrão
198
tecnoburocrático desenvolvimentista é caracterizado por assumir um problema
econômico, a ser objeto de um tratamento racionalizador e administrativo.
O conceito de cidade é ultrapassado pela ideia de “urbano” e de
urbanização, quando se pensa sobre os “problemas urbanos” em uma escala
regional ou nacional. Sendo assim, são formulados os conceitos de rede urbana,
hierarquias urbanas, sistemas de cidades. Outra característica desse padrão é que o
objeto da intervenção passa a ser o próprio poder, na medida em que as causas dos
problemas urbanos, segundo Ribeiro e Cardoso (1994), são: os entraves políticos da
gestão política da cidade e as insuficiências do desenvolvimento econômico. Nesse
padrão, a modernização e a centralização administrativas são os objetivos principais
da ação das políticas urbanas e o plano e o processo de planejamento cumprem um
papel de ordenadores e racionalizadores da ação pública sobre as cidades. Deste
modo, a política urbana é centralizada e constrói-se a ideia de um sistema nacional
de planejamento.
O Humanismo Lebretiano
Este padrão foi desenvolvido a partir da influência significativa exercida no
Brasil pelo padre Lebret, principalmente nos círculos católicos progressistas que
tentavam articular um movimento pela “democracia cristã”, nos anos 1950.
O padrão Humanismo Lebretiano caracteriza-se pela concepção humana na
formulação do diagnóstico e pela melhoria das condições de vida e tem como objeto
de intervenção a conscientização e a humanização da sociedade. A ênfase é
atribuída à questão social.
A Reforma Urbana Modernizadora
Este padrão trata de um abrangente diagnóstico sobre os problemas
urbanos e habitacionais. Caracteriza-se pela politização do diagnóstico
desenvolvimentista e seu objeto de intervenção é o espaço nacional, mediante as
políticas públicas centralizadas, racionalizadoras e redistributivistas, com ênfase na
problemática habitacional.
O tema do planejamento aparece como forma privilegiada de enfrentamento
dos problemas sociais, caracterizados como fruto da dependência do país em
relação ao imperialismo. Além disso, a adoção de um padrão planejado de
199
intervenção pública sobre a questão social aparece associada a uma ampla visão
redistributivista.
A Reforma Urbana Redistributivista
Este padrão surge a partir do desenvolvimento de mobilização em torno da
apropriação dos benefícios da urbanização e da ação do Estado. O seu diagnóstico
está centrado nas desigualdades e nos direitos sociais e o seu objeto de
investigação é a propriedade privada da terra, o uso do solo urbano e a participação
direta das camadas populares na gestão da cidade. Este padrão traz para o centro
da discussão a questão social e suas repercussões não devem ser limitadas no
âmbito jurídico.
Aparentemente, o paradigma do planejamento que havia fundado os
padrões que buscavam constituir a sociedade como objeto da ação racional e que
tinha na razão as bases da sua legitimidade entra em declínio com a crise dos anos
1970. Segundo Topalov (1992), por outro lado, estaria em emergência o paradigma
ecológico. No entanto, para Ribeiro e Cardoso (1994), a questão ambiental significa
não um novo paradigma, mas novo padrão que se possa articular ao paradigma do
planejamento.
5.3.1 Primeiras iniciativas para a formalização de políticas urbanas
Na década de 1960, as questões urbanas e metropolitanas passaram a ser
objeto de atenção de vários setores do governo e, apesar de um governo centralista,
não havia um centro de decisões únicas, e muitas ações ocorriam de maneira
desencontrada. Além disso, não havia qualquer ênfase na coordenação das
intervenções federais no campo urbano e os órgãos voltados especialmente para
esses problemas atuavam de forma desordenada: o BNH – Banco Nacional de
Habitação, crescendo como agente financeiro coordenador de uma política de
poupança e empréstimo, e o SERFHAU – Serviço Federal de Habitação e
Urbanismo, assumindo iniciativas principalmente para a difusão do planejamento em
nível municipal. Na segunda metade da década de 1960, não se organizou uma
proposta explícita de política urbana nacional, mas, pela primeira vez, em nível do
200
discurso oficial, foi reconhecida a necessidade de o governo central atuar
diretamente nas cidades, não apenas voltada para a questão de habitação.
O enfoque atribuído ao desenvolvimento urbano nesse período, no entanto,
em nível documental acerca de planejamento, em especial, no Plano Decenal
(BRASIL, 1967a), mostrou-se a necessidade de uma política específica que
transcendesse ao plano puramente local, e se constituiria da mesma forma, por
intermédio da inclusão, na Constituição de 1967, de um Artigo prevendo a instituição
de regiões metropolitanas. Entretanto, não havia da parte dos setores que
concentravam o poder de decisão o reconhecimento da necessidade de serem
coordenadas e ampliadas as ações em prol das cidades e regiões metropolitanas.
O BNH – Banco Nacional da Habitação e o SERFHAU – Serviço Federal de
Habitação e Urbanismo foram os primeiros instrumentos criados pós-64 visando ao
desenvolvimento urbano. Mas, apesar disso, algumas considerações devem ser
alinhadas, em especial, quanto à atuação do SERFHAU, uma vez que o BNH em
pouco tempo se tornou um órgão essencialmente setorial, indutor da produção de
habitações. O BNH, originado da necessidade de se promover o atendimento à
demanda habitacional, ao estruturar os mecanismos que iriam instrumentalizar sua
ação, consolidou-se, antes de tudo, como um banco, e sua atuação não se afastaria
de uma programação setorial.
Mas, com o desdobramento e ampliação do SFH - Sistema Financeiro da
Habitação, a partir da expansão da poupança popular, o BNH passou a
responsabilizar-se, já na década de 1970, das mais diversas formas de construção
imobiliária, além de incorporar novos programas, de saneamento básico, transportes
urbanos e outros. Tais programas formariam um banco de desenvolvimento urbano,
mas sua condição de órgão financeiro gestor de programas setoriais sempre
prevaleceria no comando de suas ações. A possibilidade de o BNH vir a se constituir
em um forte instrumento financeiro, liderando todo um sistema de poupança e
empréstimo, afastou o órgão de sua diretriz inicial. Desta forma, caberiam ao
SERFHAU as atribuições de órgãos preexistentes voltados para o problema
habitacional e o apoio aos municípios, e deveria orientar a programação habitacional
do governo e apoiar estados e municípios na gestão urbana.
O SERFHAU sofreu mudanças em dezembro de 1966, em relação aos seus
objetivos, através do Decreto N. 59.917, e passou a ter competência mais específica
201
na elaboração e coordenação de políticas de planejamento local integrado.
Reduziram-se (ou extinguiram-se) as competências relativas à programação
habitacional que configuravam na lei de sua criação, mas fortaleceu-se o órgão com
a criação do Fundo de Desenvolvimento Local Integrado - FIPLAN. Esse novo
instrumento iria apoiar a expansão das ações do SERFHAU junto aos municípios,
através de financiamento da elaboração de planos e outros instrumentos formais do
planejamento municipal. Muito embora terem havido esforços para implantar o
sistema, o SERFHAU não teve como assumir a proposição e a implantação da
política de desenvolvimento local, sendo uma agência de financiamento voltada
principalmente para a elaboração de planos municipais. Porém, ressalta-se ainda
que o governo era eminentemente centralista.
Ao ser focalizado o problema urbano quando da elaboração do Plano
Decenal e, a seguir, do Programa Estratégico de Desenvolvimento (BRASIL, 1967b),
foi reconhecido que a formação de uma política de desenvolvimento urbano não
podia prescindir de uma ótica regional e de uma compreensão mais abrangente.
Todavia, já se preconizava a substituição do SERFHAU e do Serviço Nacional de
Assistência aos Municípios - SENAM por um órgão com maior poder de decisão, o
denominado “Instituto Nacional de Desenvolvimento Urbano e Local”, ao qual
caberia estudar e propor as bases para a formulação da política nacional de
desenvolvimento urbano e desenvolvimento local e coordenar a aplicação dessa
mesma política, com apoio em um fundo que financiaria, além da elaboração de
planos e projetos, a implementação de tais projetos. Estava explícita a necessidade
de um órgão que cuidasse do desenvolvimento urbano em geral, tendo como
instrumento básico um fundo de financiamento para a implementação de projetos
específicos.
Ao longo desse período, em que o SERFHAU se estruturou como órgão de
financiamento do desenvolvimento local, a necessidade de se definir uma “política
de desenvolvimento local integrado”, ou mesmo uma política de desenvolvimento
urbano, foi amplamente reconhecida, pela própria direção do órgão e por técnicos,
relacionados à questão, que atuavam em outras áreas do próprio governo na esfera
federal, como também na estadual.
Com atribuições específicas no tocante à problemática regional e às
migrações internas, fixadas pelo Decreto-Lei N. 200, o Ministério do Interior, ao qual
202
se vinculavam o BNH e o SERFHAU, além das superintendências regionais,
procurou reformular sua ação no plano macrorregional e expandi-la na escala local e
microrregional para dar resolutividade aos problemas diagnosticados.
O Programa de Ação Concentrada - PAC, lançado pelo MINTER em 1969,
visava, essencialmente, a ordenar e sistematizar a atividade do SERFHAU como
agente financiador de planos, dando-lhe objetivos mais amplos, mas não propôs
qualquer esquema global que servisse de ponto de referência para os esforços
isolados de planejamento local. Contudo, como forma de mais facilmente
institucionalizar o planejamento local em todo o país, ou grande parte dele, destaca-
se a tentativa de difusão do planejamento integrado em nível microrregional, quando
a década de 1960 era uma das linhas de ação rejeitadas pelo SERFHAU.
No sentido de romper as limitações do órgão como agente financeiro e de
tornar mais efetiva a difusão do planejamento urbano, o SERFHAU se apoiou na
mobilização dos quadros técnicos do Brasil com a finalidade de promover o
planejamento urbano e de assegurar qualificação de recursos humanos para essa
tarefa. Desta feita, a linha de ação desenvolvida com vistas à institucionalização de
um Sistema Nacional de Desenvolvimento Urbano foi considerada destaque.
Expandiram-se as ações e tanto as superintendências regionais, subordinadas ao
mesmo Ministério, quanto os governos estaduais e as universidades foram
mobilizados, objetivando a elaboração de estudos e propostas de políticas estaduais
de desenvolvimento urbano. Cabia ao governo estadual institucionalizar o seu
Sistema Estadual de Desenvolvimento Urbano e Local, que deveria ser considerado
um subsistema da política de desenvolvimento do próprio estado e ao qual se
vinculariam o planejamento microrregional e o municipal.
Manipulava-se, a partir dessas mudanças, uma visão da necessidade de se
implantar uma política urbana nacional à qual se inseriam as políticas
macrorregionais e estaduais. Contudo, não foi firmada em nível do aparelho
governamental. Se era relativamente fácil indicar proposições para políticas
estaduais e prever a vinculação destas à política estadual de desenvolvimento, o
mesmo não ocorreria quanto à nacional. Neste sentido, a Política Nacional de
Desenvolvimento Urbano (PNDU) deveria focalizar o problema urbano em um outro
plano ou escala, que deveria ser inter-regional, ou não viria a ser uma política
nacional. A segunda questão deixada em aberto era em decorrência ao fato de que,
203
se as políticas estaduais de planejamento urbano e local se integravam às políticas
estaduais de desenvolvimento, a formulação da PNDU e a criação do Sistema
Nacional de Desenvolvimento Local não poderiam estar desvinculadas do Sistema
Nacional de Planejamento e do modelo de desenvolvimento.
Paralelamente às ações do SERFHAU e das superintendências regionais
referentes ao desenvolvimento local ou microrregional, expandiu-se, no início dos
anos 1970, o interesse do Ministério do Planejamento (MINIPLAN) pela questão
urbana. Neste patamar, o foco de interesse do MINIPLAN pela problemática urbana
criaria uma acentuada disputa com o MINTER por esse campo de atuação que,
similarmente ao desenvolvimento regional, implicaria coordenação intersetorial e não
poderia prescindir de recursos especiais, de forma específica, para a solução de
problemas metropolitanos. Porém, a falta de uma proposta de política de
desenvolvimento urbano pelo MINTER deixou espaço para ação do MINIPLAN,
tendo em vista a evidência da necessidade de se vincularem os investimentos em
desenvolvimento urbano a uma diretriz de política pré-estabelecida. A diretriz que
viria a enquadrar a política urbana no modelo de desenvolvimento brasileiro foi
esquematizada em 1971 pelo I Plano Nacional de Desenvolvimento (PDN), que iria
propor a instituição das primeiras regiões metropolitanas no país, ou seja, a Grande
Rio e a Grande São Paulo, ao tratar da Política de Integração Nacional à qual se
vinculava ao desenvolvimento regional.
A criação de instrumento para a Política Nacional de Desenvolvimento
Urbano viria a se concretizar, posteriormente, por meio do próprio MINIPLAN, que,
com o apoio de sua Secretaria de Articulação, com os estados e municípios, iria
assumir de forma efetiva o campo de desenvolvimento urbano. Além disso, o
MINIPLAN, com o intuito de fortalecer o Sistema Nacional de Planejamento,
buscaria alternativa para assumir a gestão das ações de desenvolvimento urbano,
integrando-as como órgão de coordenação geral, com as ações setoriais.
O SERFHAU ainda insistia no planejamento municipal e microrregional e o
MINTER tinha adotado o princípio de organização do país em microrregiões
homogêneas, considerando que uma das ações mais importantes do planejamento
seria “a geração de componentes em um todo nacional, e admitindo que o
formalismo provém da insistência em partir-se da unidade nacional como um todo
para as partes” (CAVALCANTI, 1972, p. 240).
204
Em relação à questão da intervenção do Estado na estruturação do espaço,
através de instrumentos específicos destinados a planejar o urbano, verificou-se que
muito pouco resultou do esforço despendido para, partindo do plano local-municipal,
microrregional ou metropolitano, obter mudanças efetivas na configuração espacial,
tanto em nível local quanto na escala regional e nacional.
O desenvolvimento urbano apenas em 1973-1974 seria efetivamente
pautado no modelo de desenvolvimento brasileiro. A incorporação do
desenvolvimento urbano ao desenvolvimento regional e a diretriz de integração
nacional, como se constataram no I PND, daria espaço ao aparelho estatal para a
consideração do problema, mas não suficiente para que a questão fosse vista em
toda a sua complexidade e amplitude.
A concorrência do MINTER e do MINIPLAN quanto à gestão dos assuntos
urbanos, disputando essa nova área de poder, não identificada quando da edição do
Decreto-Lei N. 200, demonstra, por sua vez, o reconhecimento da importância que
poderiam adquirir os instrumentos a serem criados. Isto porque a implementação de
uma política urbana implicaria algum tempo a estruturação de mecanismos de
coordenação em nível da União e a sua difusão e coordenação de suas
intervenções em nível dos estados e municípios, em particular nos grandes polos
metropolitanos. A instituição das regiões metropolitanas não só poderia ser
considerada como mais um instrumento da infiltração do poder da União, mas
também representaria a criação de instrumentos financeiros que viriam substanciá-
lo.
Desde o final dos anos 1960, multiplicaram-se, em nível técnico, as
recomendações a favor da definição de uma política de desenvolvimento urbano que
viesse substituir o sistema de planejamento local integrado do SERPHAU. Só em
meados de 1973, a partir da Lei Complementar N. 14, que instituiu as regiões
metropolitanas, a necessidade de uma política urbana mais abrangente ficou
evidente para os níveis de decisões superiores. A idealização, que já florescia nos
níveis superiores do MINTER, foi adotada pouco a pouco pelo MINIPLAN, que, em
1973, passou a disputar claramente com o MINTER essa nova área de decisão e de
poder institucional, que se configurava promissor, pois a ele iriam vincular-se
grandes programas de investimento.
205
Em um momento político que exprimia o fortalecimento do MINIPLAN no
quadro institucional, foram definidas as novas orientações para o problema urbano.
O momento coincidiu com a incorporação, pelo aparelho estatal, que do ponto de
vista espacial já estava envolvido com a diretriz da integração nacional, pois uma
nova postura, ou seja, o reconhecimento da seriedade dos problemas sociais em
situações extremas, porquanto os bolsões de pobreza absoluta focalizavam-se no
interior da região Nordeste e na periferia dos grandes centros urbanos.
O documento de Francisconi e Souza (1976) foi a primeira formulação de
política urbana nacional, pois, anteriormente, o SERFHAU e o MINTER apenas
haviam proposto o Sistema – SNDUL, que deveria fazer a gestão de tal política.
Esse estudo surgiu da necessidade de se definir uma política urbana, e, por
conseguinte, orientá-lo por um modelo de ocupação do território compatível com o
modelo de desenvolvimento e a grande diretriz de integração nacional que baseou
uma grande parcela da ação do governo no início da década. O desenvolvimento
urbano proposto preconizava uma “política de organização das cidades” e uma
“política de organização territorial” (FRANCISCONI; SOUZA, 1976).
O II PND iria formalizar, em 1974, uma “Política de Desenvolvimento
Urbano”, com diretrizes e proposições emanadas do estudo citado, e incorporaria as
bases da “Política de Organização do Território”. No entanto, verifica-se que o
reconhecimento da intensidade dos problemas urbanos, em particular, quanto aos
bolsões de pobreza, percorre o que está expresso no II PND, mas as propostas
voltadas para a política urbana, especificamente, encontram-se à parte, como que
marginalmente. A Comissão Nacional de Regiões Metropolitanas e Política Urbana
(CNPU) é o instrumento referencial que o citado plano indica, destacando suas
finalidades e atribuições, algumas das quais funcionavam ao contrário dos demais
níveis de poder.
Abandonando a postura adotada pelo SERFHAU, que partiu do
planejamento local, em uma segunda etapa, buscou integrar os estados em um
Sistema de Desenvolvimento Urbano e Local no qual cada governo estadual
formularia sua própria política. O II PND, ao tratar da CNPU, opta explicitamente
pelo centralismo e autoritarismo, para criar condições de implantação para um
modelo nacional de organização do território. Não faz referência à criação de
mecanismos de indução à modernização e ao fortalecimento dos municípios para
206
melhorar a gestão urbana nem aos instrumentos legais e institucionais destinados à
regulamentação do uso do solo urbano. Outros instrumentos da política urbana são
indicados no II PND: os fundos de desenvolvimento urbano já existentes para o
Centro-Sul, Nordeste e Norte e os demais mecanismos financeiros (Fundo de
Desenvolvimento de Programas Integrados – FDPI, Recursos do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico – BNDE, entre outros), assim como a realização de um
Programa de Investimentos em Desenvolvimento Social Urbano. Basicamente,
exceto a implementação da CNPU, a estratégia indicada pelo II PND é mais voltada
para uma concentração de investimentos, em especial, em infraestrutura urbana.
A política urbana tratada pelo II PND representou uma ruptura com o modelo
implantado originalmente pelo SERFHAU no trato dos assuntos urbanos, ao formular
um modelo de organização do território, como também não instituiu mecanismos que
fizessem desse modelo um marco de referência para os esforços separados do
planejamento local. Ao contrário, abandonou a opção que vinha sendo proposta pelo
SERFHAU, no sentido de cada estado expandir sua ação na coordenação do
desenvolvimento local e favorecer maior centralismo. Como não foi compatibilizado
o modelo formulado em nível dos estados, o que também não ocorreu com as
políticas setoriais federais, boa parte da proposta de desenvolvimento urbano do II
PND veio a fracassar. Por outro lado, nenhuma solução inovadora foi indicada para
o maior problema frente à organização interna das cidades, o controle do uso do
solo e para o fortalecimento dos organismos metropolitanos já instituídos.
Na política urbana formulada pelo II PND (BRASIL, s.d.) figuravam-se como
principais instrumentos a Comissão Nacional de Regiões Metropolitanas e a Política
Urbana (CNPU), instituídas pelo Decreto N. 74.156, de 06.06.74. A essa Comissão
caberia basicamente fixar as diretrizes, estratégias e instrumentos da Política
Nacional de Desenvolvimento Urbano: acompanhar e avaliar a implantação do
sistema de regiões metropolitanas e da política urbana como um todo, e articular-se
com os órgãos federais, ou seja, ministérios, superintendências regionais e outros,
envolvidos com a execução dessa política, para assegurar sua coordenação.
A criação da CNPU como uma comissão interministerial, mas sem poderes
claros para coordenar a ação dos órgãos executivos envolvidos com o
desenvolvimento urbano, demarcou, desde o início, sua capacidade como órgão
gestor da política urbana. Apesar de haver sido estabelecida para atuar junto à
207
Secretaria de Planejamento (SEPLAN) da Presidência da República, que, a partir de
1974, iria constituir-se no grande foco de concentração do poder, em nível da União
e, dado ao centralismo e autoritarismo do regime, com intervenção nos demais
níveis de poder.
A CNPU tinha as seguintes competências: articulação e acompanhamento
de diretrizes e estratégias, bem como de normas e instrumentos de ação. Seus
primeiros percursos, ainda em 1974, seriam orientar sua ação pelo desdobramento
das diretrizes do II PND.
Um sistema financeiro de cunho metropolitano seria criado, e recursos
federais seriam alocados para a implantação de sistemas de planejamento
integrado, tendo em vista a implantação das nove regiões metropolitanas já criadas
e das que estavam em formação, apoiando a elaboração de planos, criando
mecanismos novos e apoiando projetos específicos. Ademais, uma linha de ação
orientada às cidades de porte médio alcançaria os núcleos com mais de 50 mil
habitantes. A Região Sudeste teria a finalidade de possibilitar o crescimento desses
centros e minimizar os das grandes metrópoles. No Nordeste, Amazônia e Centro-
Oeste, integrar-se-ia à programação de desenvolvimento regional. A ação da União
seria mais efetiva e os projetos específicos se destinariam aos núcleos de apoio a
programas especiais da política econômica. Além disso, seria dada ao lazer e ao
turismo uma atenção especial.
Ao expor as suas linhas de ação, a CNPU tomou como base as orientações
do II PND, referindo, em cada caso, a natureza da ação do governo (se de controle,
contenção, dinamização, promoção, disciplinamento). Sendo assim, foram
discriminadas as fontes de recursos a serem alocadas, dos quais mais de 40%
proviriam do BNH. Entre as fontes citadas, indicava a CNPU 15% das transferências
envolvendo Fundo de Participação dos Estados (FPE), Fundo de Participação dos
Municípios (FPM), Fundo Especial e fundos vinculados, o que exigiria, para sua
viabilização, veemente mecanismo de coordenação em nível do Governo Federal e
em relação a estados e municípios.
No entanto, havendo inexistência de imposição da parte da CNPU, os
recursos referidos foram quase todos geridos independentemente das diretrizes
fixadas pelo órgão, devido à impossibilidade de coordenar sua aplicação, pois não
possuía poder de decisão para tal. Entretanto, a instituição do Fundo Nacional de
208
Apoio ao Desenvolvimento Urbano - FNDU, pela Lei N. 6.256, de 22 de outubro de
1975, não bastaria para viabilizar a ação programada, embora previsse o
fornecimento de recursos orçamentários da União e abrisse a possibilidade para
operações de crédito e para a captação de outros recursos de fontes internas e
externas.
A CNPU permaneceu naquela condição que tivera o SERFHAU, de
promover o planejamento local, acrescido do metropolitano, somente com a
competência fortalecida com a criação do FNDU, que lhe permitia alocar recursos
para a elaboração de planos e a execução de alguns projetos. Mas, os recursos
eram poucos na presença da dimensão que assumiam os problemas a serem
enfrentados e nenhuma ampliação urbana resultou dos esforços despendidos.
A centralização promovida, a partir de 1974, no trato ao desenvolvimento
urbano não veio a se efetivar como pretendido, já que, a rigor, não se
implementaram as diretrizes de organização do território do II PND. Não obstante,
como havia recursos a alocar, ficou nas mãos da tecnoburocracia do órgão central
definir as prioridades, que nem sempre se atrelavam àquelas dos governos
estaduais e que, por vezes, orientaram-se pelos interesses dos grupos mais
poderosos.
Apesar das formulações contidas no II PND e da instituição do FNDU, a
política urbana definida pelo CNPU continuou em segundo plano, em nível do poder
decisório federal. De fato, o governo, ao definir ações efetivas na área do
desenvolvimento urbano, escolheu apenas aquelas áreas de interesse específico
como a dos transportes e outras obras públicas e a da construção civil, enquanto
foram sendo postergadas outras decisões que contrariavam ou poderiam vir a
contrariar interesses poderosos, em particular, do capital imobiliário e das empresas
que atuavam nesse mercado.
A atitude de não decisão quanto ao controle do uso do solo, cujas
proposições poderiam representar ameaça do direito de propriedade, reflete o
posicionamento da cúpula do governo, mas não da área técnica da CNPU. Desde
1975, era amplamente aceito pelas áreas técnicas que o controle do uso do solo era
o mais grave problema do desenvolvimento urbano brasileiro, embora reconhecido
como extremamente complexo e de difícil solução, pois envolvia questões como as
do direito de propriedade e da autonomia municipal.
209
Novo posicionamento foi assumido pelo Governo Federal em 1979 na
condução da política econômico-financeira e na sua concepção do processo de
planejamento. Quanto à destinação e ao controle do uso dos recursos financeiros,
acentuou-se a centralização, mas o governo abandonou o planejamento de médio e
longo prazos. Ademais, a política governamental por um modelo global seria
revisada a cada quatro anos.
Em 1979, foi instituído o Conselho Nacional do Desenvolvimento Urbano
(CNDU), em substituição a CNPU (Decreto N. 83.355 de 20.04.79), e criada a
Subsecretaria de Desenvolvimento Urbano no Ministério do Interior. O CNDU é
apoiado pela Subsecretaria de Desenvolvimento Urbano, órgão técnico que
compreendia, além da Secretaria Executiva do Conselho, de quatro coordenadorias
– de Política e Legislação Urbana, de Planejamento Setorial, de Regiões
Metropolitanas e de cidades de médio e pequeno porte. Esse Conselho era formado
por representantes de oito Ministérios e duas empresas governamentais (o BNH e a
EBTU – Empresa Brasileira de Transportes Urbanos), além de cinco membros
nomeados pelo presidente da República, sendo presidido pelo Ministro do Interior. O
CNDU pretendia obter uma integração maior do comando da política urbana, em
nível do próprio Ministério, ao qual se vinculam os grandes investimentos urbanos do
BNH, uma vez que o FNDU era insuficiente para viabilizar os investimentos
necessários ao desenvolvimento urbano.
Ao fortalecer o Ministério do Interior, como responsável pela proposição e
gestão da política urbana nacional, o governo parecia reconhecer a necessidade de
maior integração do urbano e do regional, com vistas àqueles aspectos da política
urbana referentes ao ordenamento do território. Embora tenha sido desenvolvida,
em paralelo, uma ação executiva, por intermédio dos programas a cargo da
Subsecretaria de Desenvolvimento Urbano e da aplicação dos recursos, tanto do
FNDU como externos, para eles captados, o Conselho, nos assuntos mais amplos
da política urbana, não recebeu competência senão para elaborar e encaminhar
proposições. Essas propostas não se apoiavam em uma associação de forças
expressivas, no caso da coordenação dos investimentos setoriais – da União,
estados ou municípios, referentes à habitação, saneamento, transporte urbano,
áreas industriais e administração metropolitana e municipal. Também não
210
alcançaram os resultados almejados em termos de legislação básica e instrumentos
normativos.
Esses dois campos de atividade interessaram diretamente aos dois grandes
rumos da política urbana, de um lado, os investimentos em desenvolvimento urbano
e de outro lado, a ação reguladora sobre o uso do solo e as próprias atividades
governamentais nas áreas urbanas. Em contrapartida, surgiam obstáculos
imediatos, dificultando a consecução dos objetivos traçados pelo CNDU e pela
Subsecretaria de Desenvolvimento Urbano: o distanciamento do órgão em relação
ao foco de decisão político-econômico-financeira, cada vez mais centralizado, que
passou a controlar mais diretamente todas as liberações de recursos e sua
fragilidade como órgão coordenador e normativo, vinculado a um ministério
eminentemente executivo, sem poder de coerção sobre os órgãos setoriais
envolvidos com o desenvolvimento urbano. A incapacidade ou dificuldade de exercer
as pressões cabíveis, em nível dos poderes constituídos - tanto o Executivo quanto
o próprio Legislativo, e o isolamento do órgão em relação à sociedade civil, que, por
efeito da pressão dos interesses contrários, não se mobilizou em favor das
propostas do CNDU.
Evidenciaram as dificuldades para efetiva compatibilização, em nível do
urbano, das intervenções econômicas e sociais, e limitaram-se mais ainda as
possibilidades de intervenção direta, em termos de ordenamento do território e da
efetivação do planejamento em nível metropolitano e municipal.
A primeira Resolução do CNDU (Conselho Nacional de Desenvolvimento
Urbano, 1982), definiu as diretrizes da Política Urbana para 1980 – 1985, partindo
das seguintes colocações:
- da distribuição da população e das atividades no território nacional;
- da exigência de diretrizes que orientem o desenvolvimento urbano buscando a
melhoria da qualidade de vida da população urbana;
- da necessidade de articular as ações setoriais nas cidades.
Na introdução do referido documento, está prevista a participação efetiva de
estados e municípios por terem estas instâncias administrativas melhores condições
para adequar as diretrizes emanadas do nível federal às peculiaridades regionais e
locais (CNDU, 1982). A descentralização das ações federais preconizadas
pressupunha que estados e municípios seriam dotados de condições técnicas e
211
financeiras, o que implicaria transferência de recursos pela União, e também é
reconhecida como de fundamental importância sobre a formulação de políticas
estaduais de desenvolvimento urbano, do aperfeiçoamento da legislação urbana e
preocupação com as disparidades intra-urbanas, assim como a ênfase na
coordenação intersetorial e na descentralização da ação do Governo Federal, com
participação efetiva dos estados e municípios.
Desse modo, para o desenvolvimento intra-urbano, com base em
instrumentos econômicos e normativos, o acesso das populações de baixa renda
aos serviços essenciais estaria previsto nessa resolução, bem como o alinhamento
das diretrizes referentes à utilização do espaço urbano, à habitação, ao transporte
urbano, ao abastecimento de água e saneamento ambiental, ao meio ambiente e ao
patrimônio histórico e ambiental. Tais diretrizes explicitam as orientações adotadas
pela Política Urbana com relação ao uso do solo e à atuação setorial no espaço
urbano e no campo da infraestrutura, cuja compatibilização é preconizada.
Como instrumento da política urbana, podem-se incluir “os programas
estratégicos”. Os demais instrumentos presentes no documento seriam: o próprio
CNDU, o FNDU e outros instrumentos financeiros, o sistema tributário, instrumentos
jurídicos a serem criados e programas de assistência técnica. Os programas
estratégicos referem-se a quatro categorias de cidades básicas: Região
Metropolitanas, Cidades de Porte Médio, Cidades Pequeno Porte e Núcleos de
Apoio.
De acordo com o referido documento, apesar da transferência dos assuntos
urbanos para o MINTER e da criação do CNDU com sua Secretaria Executiva
vinculada a uma das subsecretarias do Ministério, e ainda dos objetivos da política
urbana enunciados e dos esforços despendidos para sua consecução, não há como
negar que foram muito restritos os resultados alcançados. O tratamento da questão
urbana passou à competência do MINTER, mas o órgão permaneceu em posição
secundária, sem obter, em nível do próprio Ministério, a compatibilização das ações
visando a reverter a tendência e ao agravamento das questões das desigualdades
inter e intra-regionais, além do crescimento das regiões metropolitanas.
Os recursos alcançados para o desenvolvimento urbano e geridos pelo novo
órgão foram extremamente reduzidos e, por outro lado, pouca ou nenhuma
interferência teriam na alocação dos grandes investimentos urbanos do governo,
212
tanto em habitação e saneamento básico quanto em transportes urbanos. O
conteúdo da política urbana enunciada refletiu a manutenção das posturas
anteriormente assumidas e praticamente não incorporou inovações ou mudanças de
posicionamento do governo central quanto à gestão dos assuntos urbanos, a não
ser na maior ênfase conferida aos instrumentos jurídicos e a necessidade de
coordenação entre os órgãos setoriais do governo.
Os aspectos relativos à escala local, intra-urbana, mereceram maior
atenção, mas os mais gerais da política urbana não foram totalmente esquecidos e
as diretrizes de organização do território permaneceram como se estivessem
acopladas às atividades desenvolvidas. A política formulada foi bem mais explícita
que a da CNPU e abordou com maior ênfase a necessidade de uma legislação
sobre o uso do solo urbano, a exigência de maior coordenação e compatibilização
das ações do poder público nas cidades, a necessidade de diferenciação das ações
em função das categorias de cidades, das categorias espaciais e a importância da
assistência técnica aos municípios. Entretanto, a referência à descentralização da
política e à efetiva participação dos estados e municípios apenas encontra-se na
introdução do documento e no detalhamento das diretrizes do programa de cidades
de porte médio, quando se afirma que este deverá ser apoiado sobretudo pela ação
dos estados.
A política preconizada anteriormente pelo CNPU difundiu a ação dos novos
órgãos de coordenação e implementação da política urbana, e a tendência à
centralização das decisões persistiu no período de 1979 – 1984.
Consequentemente, prevaleceram, mais uma vez, a visão macro da questão urbana
e a tendência a seu tratamento proporcional. Paralelamente, a ênfase no aparato
jurídico decorreu em grande parte do reconhecimento da necessidade de se definir
claramente o papel da União no desenvolvimento urbano.
Nas tentativas de implementação da política urbana que assim explicitava o
papel a ser desempenhado pelos estados e municípios, a autonomia do poder local
seria preservada, mas aos governos estaduais foram destinadas competências
complementares, contidas, de um lado, pelas atribuições executivas da União e, de
outro, pela preservação da autonomia municipal.
Segundo Francisconi e Souza (1976), a política urbana brasileira não
alcançou a interação à política global de desenvolvimento, que seria necessária à
213
sua efetiva implementação, haja vista que no início a política urbana dava ênfase ao
planejamento urbano sob a ótica eminentemente local, e que, em seguida, embora
esteja explícita nos planos e documentos oficiais, as diretrizes da política urbana não
foram perseguidas com a ênfase devida, tendo em vista que a prioridade atribuída
às ações setoriais estavam voltadas para o crescimento econômico ou para o
atendimento de outros objetivos do governo.
Para o Ministério das Cidades, ao longo dos anos, as cidades brasileiras e
sua população cresceram, mas, por vários anos, esse crescimento ocorreu sem a
existência de uma política urbana em nível nacional e sem um órgão específico que
de forma efetiva voltasse para as questões da cidade12.
Desse modo, viu-se que não faltaram tentativas de implantar uma política
urbana nacional. A tentativa de maior resultado se deu durante o regime militar e
consistiu na criação do SERFHAU, do BNH, do SFH e do CNDU. No II PND, o
desenvolvimento urbano foi ressaltado, resultando na expansão dos Planos
Diretores.
A inexistência de uma política nacional eficiente para tratar da questão
urbana, ou seja, da habitação, do transporte, do saneamento etc., sobretudo entre
os anos 1980 e 1990, bem como a falta de articulação e estímulo à participação dos
diferentes setores sociais nas tomadas de decisão e ações no âmbito das cidades
estimularam o surgimento de um movimento de luta por melhores condições de vida
nas cidades, o movimento social pela Reforma urbana, que foi constituído por
organizações não governamentais, sindicatos, movimentos populares, universitários,
intelectuais, entre outros.
O Projeto Moradia, instituído pelo governo Lula, adotou o conceito de
habitação, ou seja, não se restringe à casa e exige, especialmente em meio urbano,
serviços e obras complementares indispensáveis à vida coletiva, a saber: água,
esgoto, drenagem, coleta de lixo, transporte, trânsito, saúde, educação,
abastecimento, lazer etc. (BRASIL, 2016, on-line. Grifo meu).
No período de 2004 a 2005, as três grandes áreas de atuação do Ministério
das Cidades foram: habitação, transporte e mobilidade e planejamento urbano.
Conforme o relatório do Plano Plurianual 2004-2007, os principais resultados
estavam voltados para a melhoria da estrutura da moradia e da infraestrutura de
12
Disponível em: <http://www.cidades.gov.br>. Acesso em: 01 fev. 2016.
214
água, esgoto e saneamento urbano em geral, contemplando a questão de transporte
numa visão, principalmente de estruturação e manutenção de rodovias e ferrovias,
como também de educação e prevenção de acidentes de trânsito. De forma
explícita, não se encontrou menção feita ao lazer.
Como as formas de apropriação das cidades expressam o modo das
relações de produção, desenvolvimento desigual, concentração, exclusão etc., tudo
isso está presente no modo de vida urbano. Por conseguinte, o poder aquisitivo e de
especulação que traçam o desenho das cidades. Com seus shoppings, parques,
restaurantes, paisagens mercantilizadas, clubes, condomínios, entre outros,
expande fronteiras, cria fluxos, estabelece migrações, privatiza espaços públicos,
delimita zonas de exclusão e flexibiliza territórios. Diante desse contexto, há
necessidade de políticas de planejamento urbano voltadas à questão da distribuição
dos espaços e equipamentos de esporte e lazer, possibilitando o acesso a toda a
população, bem como a necessidade de aumento do número desses equipamentos,
com a possibilidade de parcerias como clubes, entidades recreativas, agremiações
etc.
De outro modo, para Vainer (2000), se a questão urbana durante muito
tempo estava ligada a outros temas com o crescimento desordenado, reprodução da
força de trabalho, equipamentos de consumo coletivo, movimentos sociais urbanos,
racionalização do uso do solo, a questão urbana passa a remeter-se à
competitividade urbana.
Tomando como base o planejamento urbano estratégico, apresentam-se
analogias à cidade, ou seja, vista como uma mercadoria, como uma empresa ou
como pátria. A cidade como mercadoria, de acordo com Vainer (2000), é uma das
ideias mais populares entre os neoplanejadores urbanos, haja vista o mercado
altamente competitivo. Desta feita, o marketing urbano é considerado como um
determinante do processo de planejamento e gestão das cidades. O pesquisador
acrescenta que a cidade não é meramente uma mercadoria, mas uma mercadoria
de luxo, destinada a um grupo de elite de potenciais compradores.
A cidade-empresa, para Vainer (2000, p. 86), significa “concebê-la e
instaurá-la como agente econômico que atua no contexto de um mercado e que
encontra neste mercado a regra e o modelo do planejamento e execução de suas
215
ações”. E a cidade-pátria, no plano estratégico, busca delinear-se através da
promoção do patriotismo.
Segundo Drucker (1984), considerado o pai da administração moderna,
Planejamento Estratégico é um processo contínuo de, sistematicamente, e com
maior conhecimento possível do futuro, tomar decisões que envolvam riscos,
organizar sistematicamente as atividades necessárias à execução destas decisões
e, através de uma retroalimentação organizada e sistemática, medir os resultados
dessas decisões em confronto com as expectativas.
Para Fischmann et al. (1990), o Planejamento Estratégico otimiza o
processo de tornar a organização capaz de integrar decisões administrativas e
operacionais com as estratégias13, procurando conferir, ao mesmo tempo, maior
eficiência e eficácia à organização. O Planejamento Estratégico toma como ponto de
partida a situação inicial e a meta é a situação – objetivo a que se pode chegar,
através de diversos caminhos, que implicam diversas situações intermediárias. Ele é
considerado um planejamento instrumental. Surge nos militares e está ancorado na
Teoria do Estado Liberal, com influências do neoliberalismo.
Para os referidos autores, as principais características do Planejamento
Estratégico são:
Meio de estabelecer o propósito da organização em termos de missão,
objetivos, programas de ações e prioridades de alocação de recursos;
Instrumento para definição dos âmbitos de atuação de organização;
Respostas para otimizar oportunidades e forças; minimizar e eliminar
ameaças e fraquezas, com a finalidade de alcançar um desenvolvimento
competitivo; e
Critério para diferenciar as tarefas gerenciais dos vários níveis hierárquicos da
organização.
Ao passo que se tratou de algumas tentativas de como foi instituída a
política urbana aliada ao contexto brasileiro, verificou-se que esse processo vem
marcado com a realidade social, econômica e política de cada período, com
diferentes características, modelos e paradigmas de planejamento e seus
instrumentos.
13 O vocábulo estratégia se origina do termo strategos (grego), que combina stratos (exército) e ag
(liderar), ou seja, strategos significa literalmente liderar o exército (SILVA, 2002).
216
5.3.2 Instrumentos de planejamento e gestão urbanos
Conforme Souza (2004, p. 219), “os instrumentos de planejamento e gestão
urbanos podem ser classificados em: informativos, estimuladores, inibidores,
coercitivos e outros”. Os instrumentos informativos compreendem os sistemas e
meios de divulgação de informações para um ou vários grupos de agentes
modeladores. Os instrumentos estimuladores vão desde os tradicionais incentivos
fiscais e outras vantagens oferecidas a empreendedores privados, com o objetivo de
atrair investimentos para um determinado espaço. Os inibidores são aqueles que
limitam a margem de manobra dos agentes modeladores do espaço urbano, a
exemplo do parcelamento e a edificação compulsórios, o IPTU (Imposto Predial e
Territorial Urbano) progressivo e a desapropriação, a restrição de oferta de
moradias, entre outros. Os instrumentos coercitivos são aqueles que expressam
uma proibição e estabelecem limites legais para as atividades dos modeladores.
Para Souza (2004), o zoneamento é instrumento de planejamento urbano e
divisão do espaço sob jurisdição de um governo local em zonas que serão objeto de
diferentes regulações no tocante ao uso da terra, à altura e ao tamanho permitidos
para as construções. Conforme o referido autor, existem vários tipos de
zoneamento, como: zoneamento de uso de solo, de prioridade, tipo alternativo e de
densidade.
Zoneamento de uso de solo - a concepção de separação dos diferentes usos de
terra, principalmente as diferentes funções básicas do viver urbano, como produzir,
circular, morar e recrear-se, foi abraçado pelo urbanismo modernista, com a
liderança especialmente por Le Corbusier. Porém, a ideia de separação funcional,
que se consolida no urbanismo modernista, já estava presente bem antes, com a
preocupação voltada para a questão da insalubridade dos espaços urbanos e do
perigo de difusão de doenças. O urbanismo modernista entendia separação
funcional como a principal forma de ordenamento da cidade. Esta corrente higienista
também estava presente no Brasil, sendo a Reforma Pereira Passos, no Rio de
Janeiro, entre 1902 e 1906, o marco.
A técnica convencional de zoneamento, ou seja, zoneamento de uso de solo
(funcionalista), apresenta-se em torno da separação de usos e diversidades. Porém,
217
conforme Souza (2004, p. 261), nem todo zoneamento do uso do solo precisa ser
funcionalista e conservador.
Zoneamento de prioridade – identificação dos espaços residenciais dos pobres
urbanos e a sua classificação de acordo com a natureza do assentamento e com o
grau de carência de infraestrutura. Esses espaços são chamados de Áreas de
Especial Interesse Social (AEIS) ou Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS), tais
como: favelas, loteamentos irregulares e os vazios urbanos.
Zoneamento tipo alternativo – completa-se por intermédio das zonas de Preservação
Ambiental (ZPAS), que devem ser contempladas ao lado das zonas de Especial
Interesse Social.
Zoneamento de densidade – espaços adensáveis, que são classificados de acordo
com o seu estoque de área edificável, variam de acordo com a densidade e o grau
de utilização da infraestrutura. Para tanto, disporá sobre a variação, no interior da
cidade, dos valores dos diferentes parâmetros urbanísticos inerentes ao regime
volumétrico, ou seja, ao conjunto das especificações que regem a altura e os
afastamentos da edificação e os limites da ocupação do terreno.
Operação urbana ou urbanização consociada - de acordo com a Lei N. 10.257, de
10/07/2001, do Estatuto da Cidade, em seu Artigo 32, trata que a Lei municipal
específica baseada no Plano Diretor poderá delimitar área para aplicação de
operação consorciada.
No Estatuto da Cidade, no seu parágrafo 1o, a operação urbana consorciada
é considerada como:
o conjunto de intervenções e medidas coordenadas pelo poder público municipal, com a participação dos proprietários, moradores, usuários permanentes e investidores privados, com o objetivo de alcançar em uma área transformações urbanísticas estruturais, melhorias sociais e a valorização ambiental (BRASIL, 2001, art. 32).
Consórcio imobiliário - de acordo com o Estatuto da Cidade (2001), o consórcio
imobiliário é a forma de viabilização de planos de urbanização ou edificação por
meio da qual o proprietário transfere ao Poder Público municipal seu imóvel e, após
218
a realização das obras, recebe, como pagamento, unidades imobiliárias
devidamente urbanizadas ou edificadas.
Operação interligada – é um instrumento que poderia possibilitar maior flexibilidade
às regulações do uso do solo urbano, permitindo ao Estado fazer concessões à
iniciativa privada, sempre que as concessões não levem o interesse público e
sempre por intermédio do oferecimento de contrapartidas que revertam em
benefícios da população da cidade (SOUZA, 2004).
Transferência do direito de construir ou transferência do potencial construtivo - é
considerado um instrumento que permite que o proprietário que, por razões
específicas de força maior, impostas pelo zoneamento ou medidas de preservação
do patrimônio histórico-arquitetônico, não possa vir a utilizar plenamente o
coeficiente de aproveitamento, aliene ou transfira potencial construtivo a terceiros ou
realize, ele mesmo, esse potencial construtivo em outro imóvel de sua propriedade.
Compra do direito de construir - de acordo com Souza (2004, p. 291), “é um
instrumento que consiste na compra, por parte do Estado, do direito do proprietário
da terra nela construir; com isso, objetiva-se congelar, por um tempo mais ou menos
longo, o emprego do espaço em questão com fins agrícolas ou como área verde”.
Essas possiblidades de formas de planejamento e gestão do urbano são
elementos que podem favorecer a uma reflexão sobre a forma que o esporte e lazer
encontram-se pautados na Lei Orgânica e no Plano Diretor na cidade de Campina
Grande-PB.
5.4 O Programa de Aceleração de Crescimento e as políticas urbanas para o esporte e lazer
Segundo os dados obtidos através do site oficial do Ministério de
Planejamento, o PAC – Programa de Aceleração de Crescimento foi criado em
2007, com a intenção de promover a retomada do planejamento e execução de
grandes obras de infraestrutura social, urbana, logística e energética do Brasil,
contribuindo para o seu desenvolvimento acelerado e sustentável. Diante dessa
perspectiva, com base num Plano Estratégico, o PAC apresenta sua justificativa,
tendo em vista o resgate do planejamento e retomada dos investimentos em setores
219
estruturantes do país. De acordo com o discurso oriundo no referido Ministério, o
PAC contribuiu de maneira decisiva para o aumento da oferta de empregos e na
geração de rendas e elevou o investimento público e privado em obras
fundamentais, e, ainda, no período de crise mundial entre 2008 e 2009, teve
importância fundamental, garantindo emprego e renda aos brasileiros, e, por
conseguinte, oportunizando a continuidade do consumo de bens e serviços,
mantendo ativa a economia e aliviando os efeitos da crise sobre as empresas
nacionais.
Em 2011, o PAC entrou na sua segunda fase, ainda fundamentado na teoria
do Planejamento Estratégico, e que, segundo os dados do governo, seria
aperfeiçoado em virtude da experiência já adquirida anteriormente, como também
com mais recursos e mais parcerias com estados e municípios para a execução de
obras estruturantes que pudessem melhorar a qualidade de vida nas cidades
brasileiras. O governo complementa, numa ótica de satisfação nesse plano,
apresentando o seguinte cenário:
Nesse novo período, se destaca como um programa consolidado, com uma carteira de cerca de 37 mil empreendimentos e volume de investimentos expressivo. Essa é a essência de um programa sequenciado de obras que gera o desenvolvimento e oferece qualidade de vida aos brasileiros. Continuar apostando na conclusão de projetos e obras de infraestrutura em todos os setores nos próximos anos é o grande desafio do PAC, só assim será possível entregar a cada cidadão um país melhor para se viver
14.
Conforme o 4° Balanço do PAC (2015-2018), apesar da grande crise
econômica que assola o país, a execução do programa segue dentro do previsto.
O PAC está dividido nos seguintes eixos:
Infraestrutura Logística (rodovias, ferrovias, portos, aeroportos e hidrovias);
Infraestrutura Energética (geração de energia, transmissão de energia e petróleo
e gás);
Infraestrutura Social e Urbana (habitação, mobilidade urbana, saneamento,
prevenção de riscos, recursos hídricos, equipamentos sociais, cidades históricas
e luz para todos).
No eixo Infraestrutura Social e Urbana, estão os Equipamentos Sociais.
Esse eixo abrange os investimentos do PAC om ênfase na melhoria das condições
14
Disponível em: <www.pac.gov.br>. Acesso em: 01 fev. 2016.
220
de vida da população nas cidades brasileiras, abrangendo, além dos benefícios
alcançados com a disponibilização da estrutura física, as dimensões urbanas e
culturais.
De acordo com o 1° Balanço do PAC (2015), as ações do referido eixo
impactam a vida cotidiana das pessoas, famílias, comunidades, cidades e regiões,
com reflexos no desenvolvimento econômico, na promoção do bem-estar social e na
garantia dos direitos, e estão estruturados nas seguintes áreas: habitação,
mobilidade urbana, saneamento, prevenção e áreas de risco, recursos hídricos,
equipamentos urbanos, cidades históricas e luz para todos; as quais abrangem esse
eixo, como foi destacado anteriormente. São investimentos realizados pela própria
União e também em parceria com governos estaduais e municipais e setor privado,
que atendem ao conjunto dos municípios brasileiros.
Para a oferta de equipamentos sociais, o Governo Federal também dispõe
de recursos para a construção de equipamentos sociais nas áreas da saúde,
educação, cultura, lazer e esporte, que garantam mais qualidade de vida à
população dos centros urbanos. Conforme os executores, em todas as áreas, além
de recursos, são disponibilizados aos municípios, estados e Distrito Federal projeto-
padrão ou projetos de referência, o que facilita o acesso a equipamentos com boa a
qualidade técnica e a otimização das etapas anteriores às obras.
Dentre os Equipamentos Sociais, estão: Creches, Quadras, UBS - Unidade
Básica da Saúde, UPA – Unidade de Pronto Atendimento, CEU – Centro de Artes e
Esportes Unificados e Cidades Digitais.
Os CEUs integram no mesmo espaço físico programas e ações culturais,
práticas esportivas e culturais de lazer, formação e qualificação para o mercado de
trabalho, serviço socioassistenciais, políticas de prevenção à violência e a inclusão
digital.
Além das Quadras Esportivas Escolares e dos Centros de Artes e Esportes
Unificados, o PAC também incentiva a prática esportiva por meio do apoio a
municípios na construção dos Centros de Iniciação ao Esporte – CIE. Todavia,
diferentemente dos demais, esse equipamento é qualificado para a iniciação de
crianças e jovens ao esporte de alto rendimento, e sua estrutura tem o objetivo de
estimular a formação de atletas em áreas de vulnerabilidade social das grandes
cidades brasileiras. Os municípios beneficiados poderão optar, na especialização
221
dos espaços, entre 13 modalidades olímpicas, 06 paralímpicas e uma não-
olímpica15.
Conforme o 1° Balanço do PAC (2015), na área de esporte e lazer
apresentam-se:
Tabela 01 – Primeiro balanço do PAC na área de esporte e lazer.
Equipamentos Contratados Concluídos
Quadras (escolas com
mais de 500 alunos)
10124 – R$ 3,9 bilhões 1655 – R$ 650,7 milhões
CEUs 342 – R$ 755,1 milhões 80 – R$ 169 milhões
Fonte: 1º Balanço do PAC.
De acordo com o 4º Balanço do Programa de Aceleração de Crescimento –
PAC (2015-2018), o programa abrangeu políticas de lazer e esporte, com recursos
designados a Quadras Esportivas, em escolas, Centro de Artes e Esportes
Unificados (CEUs) e Centros de Iniciação ao Esporte (CIEs). Segundo o programa,
esses equipamentos beneficiam lazer e atendimento de demandas sociais diversas,
garantem espaços qualificados para a prática esportiva. Desse modo, foram
concluídos os seguintes equipamentos:
Tabela 02 – Equipamentos esportivos conforme o 4º balanço do PAC.
Equipamentos Concluídos Contemplados
Quadras 3.562 – 1,4 bilhão 10.040 – 3,9 bilhões
CEUs 138 – 296,6 milhões 338 – 746,9 milhões
CIE 01 – 3,4 milhões 229 – 820 milhões
Fonte: 4º Balanço do PAC.
No tocante às obras com fins de mobilidade urbana, foram contempladas,
principalmente, nos empreendimentos do Rio de Janeiro, em virtude da realização
dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos, como VLT Rio, a Linha 4 do Metrô e BRT
Transolímpica.
15
Disponível em: <www.pac.gov.br>. Acesso em: 01 fev. 2016.
222
- CEUs
Foram entregues 138 unidades de CEUs em todo o país como resultado da
parceria entre União e Municípios, e encontram-se 200 em fase de construção.
Esses centros contam com biblioteca, cineteatro, laboratório multimídia,
salas para oficinas, espaço multiuso, Centro de Referência em Assistência Social
(CRAS) e pista de skate. Só as unidades maiores possuem também quadra de
eventos coberta, playground e pista de caminhada.
- Quadras esportivas nas escolas
Esses equipamentos visam à melhoria de infraestrutura física para a
realização de atividades esportivas, pedagógicas, recreativas e culturais em escolas
públicas de ensino fundamental e médio que atendem a mais de 500 alunos. O
Governo Federal repassa recursos para a construção de novas quadras e também
para a cobertura de outras já existentes vinculadas à rede pública da Educação
Básica. Até dezembro de 2016, foram concluídas 3.562 obras, perfazendo um total
de R$ 1,4 milhão, sendo 2.339, a partir de janeiro de 2015.
- CIE
O Centro de Iniciação ao Esporte – CIE é um equipamento multiuso, que
tem como objetivo incentivar a iniciação da prática esportiva em áreas consideradas
socialmente vulneráveis em cidades brasileiras de maior porte. A primeira unidade
foi concluída no município de Franco da Rocha (SP), em junho de 2016.
- Praças dos esportes e de cultura
Segundo os dados do Ministério da Cultura, em março de 2010, o Governo
Federal lançou a segunda etapa do Programa Aceleração do Crescimento – PAC2.
A ação das Praças dos Esportes e Cultura (PEC) integra o programa de aceleração
do crescimento – PAC2, no eixo Comunidade Cidadã, bem como outros
equipamentos sociais de saúde, educação e segurança pública.
Na primeira seleção para o programa, no ano de 2010, foram contempladas
401 propostas de instalação desses equipamentos. Em Campina Grande – PB, foi
contemplada uma no modelo de CEU 3.000m2, estando em processo de construção.
223
O objetivo é integrar num mesmo espaço físico programas e ações culturais,
práticas esportivas e de lazer, formação e qualificação para o mercado de trabalho,
serviços socioassistenciais, políticas de prevenção à violência e de inclusão digital,
de modo a promover a cidadania em territórios de alta vulnerabilidade social das
cidades brasileiras.
Segundo os dados do Ministério da Cultura (2017), a concepção, objetivos e
projetos arquitetônicos de referências das Praças foram desenvolvidos por equipe
multidisciplinar e interministerial. Foram desenvolvidos três modelos de praças,
previstos para terrenos com dimensões mínimas de 700m2, 3000m2 e 7000m 2.
Tratando-se dos projetos de arquitetura e engenharia das praças
disponibilizados pelo programa, de acordo com o referido Ministério, são de
referência e podem ser adotados ou não pelos municípios e o Distrito Federal, cuja
responsabilidade deverá se conservar o programa básico proposto para cada um
dos modelos. Sendo assim, seguindo os parâmetros de um planejamento
estratégico.
- Modelo de CEU – 700m2
Edificação multiuso com cinco pavimentos: praça coberta, pista de skate,
equipamentos de ginástica, CRAS, salas de aula, salas de oficina, telecentro, sala
de reunião, biblioteca, cineteatro/auditório com 48 lugares e terraço. O valor de
investimento é de R$ 2,71 milhões.
- Modelo de CEU – 3000m2
Formado por dois edifícios multiuso, dispostos numa praça de esportes e
lazer: CRAS, salas multiuso, biblioteca, telecentro, cineteatro/auditório com 60
lugares, quadra poliesportiva coberta, pista de skate, equipamentos de ginástica,
playground e pista de caminhada. O valor de investimento desse modelo é de R$
2,02 milhões.
- Modelo de CEU – 7000m2
Edificação multiuso de um pavimento, disposto numa praça de esporte e
lazer: CRAS, salas multiuso, biblioteca com telecentro, cineteatro com 125 lugares,
pista de skate, equipamentos de ginástica, playground, quadra poliesportiva coberta,
224
quadra de areia, jogos de mesas e pista de caminhada. O valor de investimento para
esse modelo é de R$ 3,50 milhões.
Segundo informações no site do Ministério da Cultura (2017), há um
instrumento utilizado já em algumas cidades brasileiras, ou seja, “Mapeamento
Território de Vivência”, considerado uma ferramenta inicial para avaliar até que
ponto se apresenta a promoção da consolidação e da sustentabilidade do CEU, por
meio de articulação dos agentes socioculturais. Esse instrumento foi desenvolvido
para acompanhar essa política urbana. Ademais, o mapa é compreendido como
representações concretas do espaço vivido e pensado, contribuindo também para
entender a identidade de um território.
Com relação às políticas públicas consistentes voltadas à construção e
manutenção de equipamentos específicos para esporte e lazer e sua relação com o
espaço urbano, verificam-se inúmeros descompassos, oriundos da natureza do
crescimento das nossas cidades. Destacam-se o esvaziamento dos centros urbanos
e, por conseguinte, a instalação da periferização da cidade. Dessa forma, gera-se
um hiato entre aqueles que podem morar em regiões mais centrais e usufruir de
bens culturais já estabelecidos nelas, e aqueles que não podem. O aumento da
população urbana, para Marcellino (2006), não foi acompanhado pelo
desenvolvimento de infraestrutura adequado, gerando desníveis na ocupação do
solo, pois, de um lado, as áreas centrais ou os denominados polos nobres,
concentradores de benefícios, e, de outro, a periferia, com seus bolsões de pobreza,
ou seja, depósitos de habitações.
O Ministério das Cidades apresenta três principais focos de atuação
relacionados com o lazer, a saber: transporte, moradia e revitalização de áreas
centrais urbanas.
225
CAPÍTULO 6 - ESPORTE E LAZER EM CAMPINA GRANDE – PB
6.1 O esporte e lazer na política urbana, a partir da Lei Orgânica e Plano Diretor
A criação do Ministério das Cidades, no ano de 2003, é resultado de um
longo processo de movimentos sociais, como ressaltado anteriormente. O Ministério
das Cidades foi originado com objetivo de assegurar o “direito à cidade”. Dessa
forma, garantindo que cada moradia receba água tratada, coleta de esgoto e de lixo,
que cada habitante tenha em seu entorno escolas, comércio, praças e acesso ao
transporte público (BRASIL, 2006).
Neste panorama, com a criação do referido ministério, surge uma definição
de uma Política Nacional de Desenvolvimento Urbano em sistema com os demais
entes federativos (município e estado), demais poderes do Estado (legislativo e
judiciário), como também a participação da sociedade visando à coordenação e à
integração dos investimentos e ações nas cidades brasileiras com vistas à
diminuição da desigualdade social e à sustentabilidade ambiental. No entanto,
caberá ao Governo Federal definir as diretrizes gerais da Política Nacional de
Desenvolvimento Urbano e ao município ou aos gestores metropolitanos o
planejamento e a gestão urbana e metropolitana.
Tomando como base a Constituição Brasileira (1988), a Política de
Desenvolvimento Urbano, executada pelo poder público municipal, tem como
objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o
bem-estar de seus habitantes. Ademais, de acordo com o Estatuto da Cidade,
através da Lei Federal N. 102.57/2001, as cidades acima de 20 mil habitantes ou
integrantes de regiões metropolitanas e aglomerações urbanas precisam elaborar o
Plano Diretor. Dentre as funções do Plano Diretor, uma é definir qual a melhor
função social de cada espaço da cidade de acordo com suas necessidades e
especificidades econômicas, culturais, ambientais e sociais.
O objetivo principal do Plano Diretor é de definir a função social da cidade e da propriedade urbana, de forma a garantir o acesso à terra urbanizada e regularizada a todos os segmentos sociais, de garantir o direito à moradia e aos serviços urbanos a todos os cidadãos, bem como de implementar uma gestão democrática e participativa [...] (SANTOS JUNIOR et al., 2011, p. 14).
226
Tomando como base a Constituição Federal, o Estatuto da Cidade, no
tocante à Política Urbana, busca-se apoiar os municípios na execução da Política
Nacional de Desenvolvimento Urbano, pautada em princípios que incentivam
processos participativos de gestão territorial e ampliam o acesso à terra urbanizada
e regularizada, em especial, os grupos sociais tradicionalmente excluídos.
Na concepção de Santos Junior et al. (2011), no campo da política urbana,
reconhece-se a importância da dimensão dos direitos sociais previstos na
Constituição Brasileira de 1988 e no Estatuto da Cidade, com a participação de
diferentes atores sociais no planejamento e na gestão da cidade. Contudo,
reconhece-se também a necessidade de que os Planos Diretores ultrapassem a
ideia meramente de documento burocrático e técnico, contribuindo para o melhor
aproveitamento dos recursos públicos, para a maximização dos seus efeitos na
cidade e para a redução dos problemas sociais e de infraestrutura urbana.
O Plano Diretor é reforçado pelo Estatuto da Cidade, considerado como a
figura principal e decisiva na política urbana, como assevera Maricato (2001). A
autora ainda afirma que há um travamento em torno dele na implementação dos
principais instrumentos urbanísticos, especificamente aqueles relacionados à função
social da propriedade.
Imbuindo-se com a questão de planejamento e gestão das cidades atreladas
a um processo de participação, remete-se a Lefebvre (2001) ao afirmar que essas
experiências envolvem processos participativos de práticas urbanas empreendidos
por distintos agentes sociais. O autor reforça sua visão, afirmando que o
aprendizado que conforma a práxis poderá criar uma nova utopia do direito à cidade,
desenvolvendo novos processos de reapropriação do espaço e de sua
temporalidade.
No ano de 2004, foi criado o Conselho da Cidade. O Conselho da Cidade é
um órgão colegiado de natureza deliberativa e consultiva, fazendo parte da estrutura
do Ministério das Cidades, que tem por finalidade estudar e propor diretrizes para a
formulação e implementação da Política Nacional de Desenvolvimento Urbano e
acompanhá-la. Este Conselho otimiza o debate acerca da política urbana, levando
em consideração a autonomia e as especificidades dos segmentos que o
constituem, tais como o setor produtivo; organizações sociais; ONG‟s; entidades
profissionais, acadêmicas e de pesquisa; entidades sindicais e órgãos
227
governamentais, sendo, portanto, um espaço de diálogo e tomada de decisões das
políticas executadas pelo Ministério das Cidades, no setor de habitação,
saneamento ambiental, transporte e mobilidade urbana e planejamento territorial.
O Conselho Estadual das Cidades do Estado da Paraíba foi criado através
do Decreto N. 33.768, de 14 de março de 2013, que visa a promover a cooperação
entre os governos Federal, Estadual, Municipal e sociedade civil com a formulação e
execução da Política Estadual de Desenvolvimento Urbano, no tocante à habitação,
saneamento básico, mobilidade urbana e planejamento territorial, e compõe a
estrutura do Sistema Nacional de Desenvolvimento Urbano – SNDU.
Pautando-se na Lei Orgânica do Município de Campina Grande – PB e no
seu Plano Diretor, que fazem parte da pesquisa documental, é que se aborda de que
forma o esporte e o lazer encontram-se inseridos na política urbana deste município.
Lei Orgânica de um município é entendida como uma lei genérica, elaborada
no âmbito do município pautada pelas constituições federal e do respectivo estado e,
ainda, a Lei Orgânica não pode contrariar as leis federais e municipais. O prefeito é
quem se encarregará de fazer cumprir a Lei Orgânica, sempre observada e
fiscalizada pela Câmara de Vereadores.
De acordo com a Lei Orgânica do Município de Campina Grande – PB, em
seu Capítulo I, Artigo 4: “O município concorrerá, no limite de sua competência para
a consecução dos objetivos prioritários do estado da Paraíba” (CAMPINA GRANDE,
1990, art. 4). E ainda, o município terá as seguintes prioridades:
I - Estruturação, organização e preservação dos espaços e serviços municipais, orientando-os para o livre e efetivo exercício da cidadania, para o desenvolvimento dos valores democráticos e afirmação das vocações históricas, tendo em vista propiciar à população condições de vida em padrões compatíveis com a dignidade humana, a justiça social e a promoção do bem comum; II - Preservação de sua identidade, adequando às exigências do desenvolvimento econômico e social, à memória histórica, à sua tradição cultural e peculiaridades locais; III - Atendimento das demandas sociais de educação, saúde, transporte, moradia, abastecimento, lazer e assistência social (grifo meu); IV - Atendimento integral das necessidades nutricionais, de educação, de capacitação profissional, de saúde, de habitação e de lazer das crianças de famílias carentes e, em especial, das abandonadas (grifo meu) (CAMPINA GRANDE, 1990, art. 4).
As prioridades do estado da Paraíba, conforme a Constituição Estadual
(2009), de acordo com o seu Artigo 2º, são:
228
I - Garantia da efetividade dos direitos subjetivos públicos do indivíduo e dos interesses da coletividade; II - Garantia da efetividade dos mecanismos de controle, pelo cidadão e segmentos da comunidade estadual, da legalidade e da legitimidade dos atos do Poder Público e da eficácia dos serviços públicos; III - Preservação dos valores éticos; IV - Regionalização das ações administrativas, em busca do equilíbrio no desenvolvimento das coletividades; V - Segurança pública; VI - Fixação do homem no campo; VII - Garantia da educação, do ensino, da saúde e da assistência à maternidade e à infância, à velhice, à habitação, ao transporte, ao lazer e à alimentação (grifo meu); VIII - Assistência aos municípios; IX - Preservação dos interesses gerais, coletivos ou difusos; X - Respeito à vontade popular, de onde emana todo o poder; XI - Respeito aos direitos humanos e sua defesa; XII - Atendimento aos interesses da maioria da população; XIII - Respeito aos direitos das minorias; XIV - Primazia do interesse público, objetivo e subjetivo; XV - Desenvolvimento econômico e social, harmônico e integrado; XVI - Autonomia político - administrativa; XVII - Descentralização político - administrativa; XVIII - Racionalidade na organização administrativa e no uso dos recursos públicos, humanos e materiais; XIX - Proteção ao meio ambiente e ao patrimônio histórico, cultural e urbanístico; XX - Planejamento e controle da qualidade do desenvolvimento urbano e rural (PARAÍBA, 2009, art. 2).
Dentre as prioridades definidas segundo a Lei Orgânica do Município de
Campina Grande – PB, verifica-se que o lazer se encontra como um dos
atendimentos da demanda social, como também considerado um dos atendimentos
das necessidades integrais do indivíduo. Porém, o foco está para as crianças de
famílias carentes e, de forma especial, as abandonadas.
Constatou-se que é de competência municipal, de acordo com a Lei
Orgânica, normatizar e fiscalizar os jogos esportivos, os espetáculos e divertimentos
públicos no âmbito da sua competência. Desta forma, subtende-se que os jogos
esportivos, entre outras formas que possibilitam à diversão e formas contemplativas
públicas, serão acompanhadas e monitoradas pela esfera municipal.
Segundo o Titulo I – “Da Organização do Município, em seu Capítulo III –
“Do Município” – Seção II - “Das Competências Municipais”, em seu Artigo 10, Inciso
IV, determina que: “compete ao município difundir a seguridade social, a educação,
a cultura, o desporto, a ciência e a tecnologia”; e ainda no Inciso XX – “regulamentar
e fiscalizar, na área de sua competência, os jogos esportivos, os espetáculos e os
divertimentos públicos” (grifo meu).
229
Na seção IV – “„Do Domínio Público‟ – Artigo 18 – “São inalienáveis os bens
públicos municipais não edificados, salvo nos casos de implantação de programa de
habitação popular e de projetos sociais economicamente relevantes, mediante
autorização legislativa.
A ideia se completa com a seguinte questão: “São, também, inalienáveis os
bens imóveis públicos, utilizados pela população, em atividades de lazer, esporte e
cultura, os quais somente poderão ser destinados a outros fins se o interesse
público o justificar e mediante autorização legislativa” (grifo meu).
No Título III – “Da Soberania e Participação Popular”, Capítulo I – “Das
Disposições Gerais” – Seção IV – “Do Conselho Popular”, no seu Artigo 92,
determina que: “O Conselho Popular é instância de discussão e consulta para
elaboração de políticas municipais, principalmente daquelas voltadas para os
interesses dos habitantes representados”.
No Título IV – “Da Administração Municipal, das Finanças e do Orçamento”,
Capítulo I – “Da Organização da Administração Municipal”, Seção I – “Planejamento
Municipal”, trata-se no seu Artigo 95 que o Município deverá organizar a
administração, exercer suas atividades e promover políticas de desenvolvimento
urbano e rural, atendendo aos objetivos e diretrizes estabelecidos no Plano Diretor,
mediante sistema de planejamento.
O Plano Diretor na Lei Orgânica do Município de Campina Grande-PB está
definido de acordo com o Artigo 95 como: “um instrumento orientador e básico dos
processos de transformação do espaço municipal e de sua estrutura territorial,
servindo de referência para todos agentes públicos e privados que atuam na cidade”
(CAMPINA GRANDE, 1990, art. 95). E o Sistema de Planejamento é definido como
“um conjunto de órgãos, normas, recursos humanos e técnicos voltados à
coordenação de ação planejada da administração municipal” (CAMPINA GRANDE,
1990, art. 95).
Na Lei Orgânica do Município de Campina Grande – PB, está prevista uma
abertura para o fomento de diferentes modalidades desportivas, sejam por parte do
município diretamente ou mediante órgãos específicos. De acordo com o Artigo 218,
“o município fomentará a prática desportiva em todas as suas modalidades, quer
diretamente, quer através de órgãos especialmente criados com essa finalidade”
(CAMPINA GRANDE, 1990, art. 218).
230
Observa-se que esta lei preconiza uma articulação entre os serviços
municipais de esporte com as atividades culturais, ao dizer que: “os serviços
municipais de esportes articular-se-ão entre si com as atividades culturais”
(CAMPINA GRANDE, 1990, art. 218).
Tratando-se dos recursos financeiros, a referida Lei prevê orçamento
municipal para o incentivo ao esporte, além do mais, o lazer é concebido como
forma de promoção social, o qual terá apoio e incentivo pelo poder municipal,
inclusive ampliará espaço para o lazer. Como pode ser constatado nos seguintes
artigos:
- Artigo 219 – “O orçamento municipal destinará recursos para o incentivo ao
esporte”.
- Artigo 222 – “O Município apoiará e incentivará o lazer e o reconhecerá como
forma de promoção social”.
Parágrafo único – “O Poder Público poderá ampliar as áreas reservadas aos
pedestres e privilegiará parques, jardins, praças e quarteirões fechados com
espaços para lazer”.
Está expresso na Lei Orgânica do Município de Campina Grande – PB, que
o lazer visto como forma de promoção social terá uma atenção especial, mediante
programas de educação, cultura e saúde, para a população, como se verifica no
Artigo 223: “o lazer, como forma de promoção social, merecerá do Município
atenção especial através da implementação de programas voltados à educação, à
cultura e à saúde, acessíveis à população” (CAMPINA GRANDE, 1990, art. 223).
Quanto aos espaços destinados para o lazer no âmbito municipal,
apresentam-se com especificidades de dotações relacionadas a diferentes
condições, locais apropriados, com sanitários, vestiários, arborizados e iluminados
para esse coletivo, conforme o Artigo 224.
Os bairros, distritos e localidades do Município serão dotados de praças esportivas, compostas de campo de futebol, circundado com pista de atletismo, quadra polivalente e caixas de salto, sanitários e vestiários, área de lazer, em forma de praça-jardim e o parque infantil, devidamente arborizados e iluminados, para utilização coletiva (CAMPINA GRANDE, 1990, art. 224).
231
Dentre outras ações que serão asseguradas às crianças e adolescentes pelo
município em conjunto com a sociedade civil e a família, está o direito ao lazer. E,
em relação ao idoso, sob ponto de vista de integração, está prevista a criação de
centros de lazer, entre outras ações e programas.
O Município conjuntamente com a sociedade e a família, promoverá ações que visem a assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, saúde, alimentação, educação, lazer, profissionalização, cultura, dignidade, respeito, liberdade, convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão (CAMPINA GRANDE, 1990, art. 226. Grifo meu).
O Artigo 229 da Lei Orgânica da cidade de Campina Grande - PB afirma que
“para assegurar a integração do idoso na comunidade e na família, serão criados
centros diversos de lazer e amparo à velhice e programas de preparação para a
aposentadoria, com participação de instituições dedicadas a esta finalidade”
(CAMPINA GRANDE, 1990, art. 229).
Segundo a Lei Orgânica do Município de Campina Grande, em seu Artigo
239:
O Plano Diretor estabelecerá normas referentes ao desenvolvimento urbano inclusive ao lazer ao dizer que considera as políticas setoriais de transportes públicos, habitação, meio ambiente, lazer, equipamentos comunitários e infraestrutura sanitária voltados ao interesse público, entre outras questões (CAMPINA GRANDE, 1990, art. 229. Grifo meu).
Ao tratar da questão habitacional a Lei Orgânica do Município de Campina
Grande - PB estabelece que será destinada área especifica para implantação de
praças esportivas nos conjuntos habitacionais, com número igual ou superior a 500
unidades residenciais, como se pode identificar no seu Artigo 249, ao dizer que: “A
Prefeitura Municipal condicionará a aprovação de construção de conjuntos
habitacionais, com número igual ou superior a quinhentas unidades residenciais, à
destinação de área específica para implantação de praça esportiva” (CAMPINA
GRANDE, 1990, art. 229).
Quanto ao desenvolvimento urbano, a Lei Orgânica do Município de
Campina Grande – PB remete ao Plano Diretor, sendo o lazer considerado como
uma política setorial.
232
O Plano Diretor do Município de Campina Grande (2006) é entendido como
um instrumento básico que orienta a atuação da administração pública e da iniciativa
privada, de forma a assegurar o pleno desenvolvimento das funções sociais da
cidade e da propriedade, a melhoria da qualidade de vida e o bem-estar da
população, segundo os princípios da democracia participativa e da justiça social.
Assim sendo, no Plano Diretor de Campina Grande – PB, o lazer, fazendo
parte do contexto da função social da cidade, é visto como direito de todos. Ao tratar
de sustentabilidade urbana e rural, um dos aspectos previstos para a melhoria da
qualidade de vida das pessoas, inclusive das gerações futuras, é o desenvolvimento
do lazer e dos esportes.
Em seu Artigo 6o, trata-se que a função social da cidade corresponde ao
direito de todos ao acesso:
à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, ao transporte, à saúde, à educação, à assistência social, ao lazer, ao trabalho e à renda, bem como espaços públicos, equipamentos, infraestrutura e serviços urbanos e ao patrimônio ambiental e cultural da cidade (CAMPINA GRANDE, 2006, art. 6. Grifo meu).
A sustentabilidade urbana e rural, no Artigo 8º, é entendida como:
O desenvolvimento local equilibrado, nas dimensões social, econômica e ambiental, embasado nos valores culturais e no fortalecimento político-institucional, orientado para a melhoria contínua da qualidade de vida das gerações presentes e futuras, apoiando-se em questões, a exemplo da potencialização da criatividade e do empreendedorismo para o desenvolvimento da economia, da cultura, do turismo, do lazer e dos esportes (CAMPINA GRANDE, 2006, art. 8. Grifo meu).
O Plano Diretor da cidade de Campina Grande – PB (2006) prevê uma
gestão democrática, sendo entendida como “Processo decisório no qual será
assegurada a participação direta dos cidadãos, individualmente ou através das suas
organizações representativas, na formulação, execução e controle da política
urbana” (CAMPINA GRANDE, 2006, art. 8).
Desta forma, está prevista a garantia de:
I – A transparência, a solidariedade, a justiça social e o apoio à participação popular;
233
II – A ampliação e a consolidação do poder dos munícipes e de suas organizações representativas na formulação das políticas e no controle das ações, através de conselhos e fóruns; III – A consolidação e o aperfeiçoamento dos instrumentos de planejamento e gestão das políticas públicas e descentralização das ações do governo municipal; IV – A capacitação em conjunto da sociedade civil; V – O estímulo aos conselhos e outras entidades do movimento popular; VI – A instituição de espaços para discussão, avaliação e monitoramento sobre a execução do Plano Diretor (CAMPINA GRANDE, 2006, art. 9).
E ainda, os conselhos e fóruns serão integrados por representantes da
sociedade civil e do poder público, com caráter deliberativo e controlador das
políticas públicas municipais, inclusive no tocante à elaboração do Plano Plurianual,
da Lei de Diretrizes Orçamentárias – LDO e do Orçamento Anual, em observância
às competências constitucionais dos Poderes Executivo e Legislativo.
Em relação ao ordenamento da ocupação do solo, o território municipal de
Campina Grande – PB, em conformidade ao seu Plano Diretor, está dividido na
Macrozona Urbana e Rural. A Macrozona Urbana, de acordo com o Plano Diretor, é
aquela fundamentalmente para as atividades urbanas, a saber: residenciais,
industriais, comerciais, de serviços, turismo e lazer. Ela compreende: a Zona de
Qualificação Urbana, a Zona de Ocupação Dirigida, a Zona de Recuperação Urbana
e a Zona de Expansão Urbana.
Dentre os objetivos da Zona de Qualificação Urbana, identifica-se: ampliar a
disponibilidade de equipamentos públicos, os espaços verdes e de lazer. Em relação
à Zona de Recuperação Urbana, um dos objetivos será implantar equipamentos
públicos, espaços verdes e de lazer.
Nesta perspectiva, o lazer apresenta-se no conteúdo Ordenamento da
Ocupação do Solo, no território municipal e encontra-se definido na Macrozona
Urbana, como atividade urbana. E de forma específica na Zona de Qualificação
Urbana, observa-se que um dos objetivos é aumentar os equipamentos públicos, os
espaços verdes e de lazer e ainda na Zona de Recuperação Urbana volta-se para o
foco de implantação, como um dos objetivos da referida zona.
Kleiman (s.d.), ao discutir o planejamento urbano, enfatiza a necessidade de
repensar o planejamento que se utiliza de zoneamento, por considerar que o espaço
urbano do ponto de vista técnico, é um dado da natureza, pois o zoneamento tem
como base a possibilidade de dividir a cidade em setores homogêneos. Sendo
234
assim, possibilitaria um melhor controle da cidade, em que o Estado estabelece em
qual local e com qual intensidade podem se instalar, e, por conseguinte, um maior
aproveitamento e uso racional das infraestruturas, haja vista a criação de zonas e
áreas de uso especializado, com a setorização da cidade. O pesquisador Kleiman
(s.d., p. 03), diante de um olhar investigativo e reflexivo, aponta a planificação pelas
redes em lugar do zoneamento, pois, para ele, o “zoneamento é basicamente
técnica de controle do uso da terra urbana para impedir a inviabilidade e os
bloqueios no desenvolvimento do capitalismo no lócus urbano”. Desta forma,
considerando-o como produto da lógica econômica.
De acordo com Maricato (2001), várias críticas são feitas às leis de
zoneamento e sua aplicação leva a conclusões como: a lei de zoneamento está
muito descaracterizada com grande parte das edificações e seu uso fora da lei; ela
dificulta a expansão do mercado privado para as camadas de baixa renda;
desconsidera a problemática ambiental, é de difícil compreensão e aplicabilidade;
ignora as potencialidades dadas pelos arranjos locais ou informais; e favorece a
segregação e a ilegalidade. A autora ainda afirma que se faz necessário ponderar o
zoneamento no uso da ocupação do solo, não como um instrumento de segregação
e aumento do preço da terra, mas, sim, como de ampliação do direito à cidade.
Segundo Maricato (2001, p. 115), o zoneamento deve “respeitar o que existe na
esfera da natureza, da sociedade e do ambiente construído para organizar, a partir
da realidade existente, seus problemas e potencialidades, com a participação da
população”.
O Plano Diretor, ao tratar das atividades econômicas e de serviços públicos
com vistas ao acompanhamento do progresso da cidade que caberão aos diferentes
poderes, sejam eles municipal, estadual e federal, de acordo com as suas
competências, otimiza condições de infraestrutura, inclusive para o lazer. No Artigo
22º, do Plano Diretor, trata-se das competências das diferentes esferas em relação
às atividades econômicas e dos serviços públicos da seguinte forma:
Acompanhando o progresso da cidade, os Poderes Públicos municipal, estadual e federal, cada um em sua esfera de competência, proverão as citadas áreas de infraestrutura necessária ao desenvolvimento das atividades econômicas e dos serviços públicos, através da implantação de saneamento ambiental, energia elétrica, equipamentos públicos de educação, saúde, lazer, cultura, transporte público, assistência social e segurança (CAMPINA GRANDE, 2006, art. 22. Grifo meu).
235
As Zonas Especiais são áreas do município que possuem destinação
específica e/ou exigem tratamento diferenciado na definição dos padrões de
urbanização, parcelamento da terra e uso e ocupação do solo. Desta forma, as
Zonas Especiais de Interesse Social - ZEIS. As ZEIS 1 são consideradas as áreas
públicas, ou particulares ocupadas por assentamentos precários da população de
baixa renda na Macrozona Urbana, podendo o poder público promover a
regularização fundiária e urbanística, com implantação de equipamentos públicos,
inclusive de recreação e lazer, comércio e serviços de caráter social.
As Zonas Especiais de Interesse Ambiental – ZEIA são consideradas as
áreas públicas ou privadas destinadas à proteção e recuperação da paisagem e do
meio ambiente, divididas em ZEIA 1 e ZEIA 2. As ZEIA 1 são as áreas verdes
públicas, cujas funções são de proteger as características ambientais existentes e
oferecer espaços públicos adequados e qualificados ao lazer da população, bem
como às áreas públicas ou privadas em situação de degradação ambiental que
devam ser recuperadas e destinadas, preferencialmente, ao lazer da população, de
forma a contribuir com o equilíbrio ambiental.
Constatou-se que as Zonas Especiais, como forma de parcelamento e uso e
ocupação do solo e padrões de urbanização, tais como: as Zonas Especiais de
Interesse Social, preveem a implantação de equipamentos públicos; o texto utiliza-se
da expressão “inclusive” destinada à recreação e ao lazer. Quando apresenta as
Zonas Especiais de Interesse Ambiental, o lazer da população vem atrelado à busca
de proteção, recuperação das áreas verdes públicas, como também de degradação
ambiental desta maneira, com vistas à adequação e qualificação dos espaços para o
lazer. Ademais, de acordo com o Plano Diretor, ao tratar da Política Municipal do
Meio Ambiente, determina que um dos objetivos é de recuperar e ampliar as áreas
verdes, a exemplo das praças, parques de diversão, entre outras.
Promover a ocupação adequada e ordenada do território e possibilitar aos
indivíduos o acesso, com segurança, ao processo produtivo de serviços, bens e
lazer estão previstos como um dos objetivos do Sistema de Mobilidade Urbana.
Dentre os objetivos apresentados na Política Municipal do Meio Ambiente,
está o de promover a recuperação e ampliação das áreas verdes do Município,
incluindo os logradouros públicos, praças, avenidas, parques de diversão, pátios
escolares, entre outros.
236
Um dos objetivos da Política Municipal de Desenvolvimento Econômico,
Científico e Tecnológico é incentivar ações voltadas para o desenvolvimento local,
articulados com programas de geração de emprego e renda, a saber: o estímulo e o
fomento ao cooperativismo e associativismo, o incentivo à criação de centros
poliesportivos para a formação de atletas e o estímulo e o fomento ao artesanato,
valorizando os diversos aspectos da arte e cultura popular regional.
Percebe-se que, na matéria atinente à Política Municipal de
Desenvolvimento Econômico, Científico e Tecnológico, as ações estão voltadas para
o desenvolvimento local. Dentre as ações, apresenta-se a criação de centros
poliesportivos para a formação de atletas. Desta maneira, volta-se para o esporte
rendimento / performance. Observa-se a ênfase dada ao esporte com a finalidade de
resultados, bem como ligado à política de desenvolvimento do ponto de vista
econômico, científico e tecnológico.
Dentre os objetivos apresentados pela Política Municipal de Turismo, inclui-
se o de promover programas, projetos e ações turísticas integradas com a dinâmica
das atividades sociais, econômicas, culturais e de lazer realizadas pelo Município.
Ademais, uma das diretrizes desta política é o incentivo ao setor turístico, mediante
a promoção de eventos que valorizem os diversos aspectos da cultura popular
regional e ainda a promoção de eventos de natureza científica, tecnológica,
comercial, esportiva e cultural.
Desta forma, na Política Municipal de Turismo, como um dos objetivos,
identifica-se a relação atribuída ao turismo e ao lazer quando se aborda a promoção
de programas, projetos e ações turísticas integradas com outras atividades
realizadas em Campina Grande-PB, como o lazer. Ao apresentar as suas diretrizes,
dentre elas está o incentivo ao setor turístico, através da promoção de eventos, com
vistas à valorização da cultura popular e regional, bem como a promoção de eventos
de distintas naturezas, sendo mencionados dentre eles os eventos de caráter
esportivo.
O Título VII – “Da Gestão da Política Urbana”, no Capítulo I – “Do Sistema
Municipal de Planejamento e Gestão”, em seu Artigo 127, determina que:
O Sistema Municipal de Planejamento e Gestão – SMPG compõe-se da Secretaria de Planejamento - SEPLAN, dos agentes setoriais de planejamento da administração direta e indireta e estruturas e processos democráticos e participativos, dentre eles o Orçamento Participativo – OP,
237
que visem o desenvolvimento contínuo, dinâmico e flexível de planejamento e gestão da política urbana (CAMPINA GRANDE, 2006, art. 127).
Diante desta perspectiva, entende-se que o Plano Diretor seja parte
constituinte do processo de planejamento municipal, que inclui também o plano
plurianual, diretrizes orçamentárias e orçamento anual participativo.
De acordo com o Artigo 132, a responsabilidade institucional pela
implementação da política municipal de planejamento e gestão do território fica a
cargo: “I – Em nível de execução: da Secretaria do Planejamento- SEPLAN; II – Em
nível de proposição, acompanhamento e fiscalização: do Conselho Municipal da
Cidade” (CAMPINA GRANDE, 2006, art. 132).
De acordo com o site oficial da Prefeitura Municipal de Campina Grande-PB,
a Secretaria de Planejamento – SEPLAN é responsável pela articulação das demais
secretarias e órgãos municipais para a implementação integrada de políticas,
programas, planos e projetos da Prefeitura buscando promover o desenvolvimento
sustentável do município e a melhoria da qualidade de vida da população, tendo
como referências as vocações econômicas da cidade e as suas características
históricas, geográficas, ambientais, demográficas e sociais. Deste modo, a SEPLAN
tem como competências:
- Promover a Política de Desenvolvimento Urbano, integrada às demais políticas setoriais, sob o controle do Conselho da Cidade; - Promover a Política de Habitação de Interesse Social, integrada à Política de Desenvolvimento Urbano e demais políticas setoriais, mediante a elaboração, gerenciamento e acompanhamento de programas, planos e projetos de Habitação de Interesse Social e de Regularização Fundiária; - Coordenar a elaboração de Projetos de Leis Orçamentárias (PPA, LDO e LOA) e de Leis Urbanísticas (Plano Diretor, zoneamento, parcelamento, uso e ocupação do solo, códigos de posturas e obras, entre outras), e, ainda, orientar, assessorar e fiscalizar essa legislação
16.
A referida Secretaria tem sob sua jurisdição a definição de diretrizes, a
análise, o licenciamento e a fiscalização de projetos de parcelamento (loteamentos e
desmembramentos); a fusão, a manutenção e o controle das informações cadastrais
relativas às obras urbanas; a coordenação da base cartográfica do município; a
atualização dos dados estatísticos municipais; a preparação de indicadores voltados
às necessidades básicas das zonas rural e urbana da cidade, bem como a
16
Disponível em: <www.pmcg.gov.br>. Acesso em: 01 fev. 2016.
238
elaboração de projetos de ordenamento da paisagem urbana e projetos
arquitetônicos e de engenharia de infraestrutura urbana e equipamentos públicos.
Ademais, a SEPLAN é responsável pela promoção da Política de Desenvolvimento
Urbano e Regional, através da elaboração e coordenação de planos urbanísticos e
por ações de governo com vistas ao futuro de Campina Grande – PB. Nesse
sentido, segundo os dados do citado site, essa Secretaria vem desenvolvendo
estudos, diagnósticos e projetos com o intuito de acompanhar os diferentes usos da
cidade, relacionando-os a um planejamento e gestão do urbano com foco na
inclusão territorial, na redução das desigualdades e a melhoria do ambiente urbano,
de maneira a ampliar o processo de planejamento por uma visão sistêmica que
considere a diversidade de territórios no espaço da cidade.
Segundo a Constituição do Estado da Paraíba (2009), em seu Capítulo II,
denominado “Da Política Urbana”, em seu Artigo 184, assevera que:
A política de desenvolvimento urbano será fixada em lei municipal e obedecerá às diretrizes gerais, com o objetivo de ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes (PARAÍBA, 2009, art. 184).
O turismo na Constituição Estadual é visto como atividade econômica,
reconhecendo-o como forma de promoção e de desenvolvimento social e cultural. O
documento afirma que o estado, juntamente com os segmentos envolvidos no setor
turístico, definirá a política estadual de turismo tomando como base as diretrizes e
ações. Dentre elas, está o apoio à iniciativa privada, no desenvolvimento de
programas de lazer e entretenimento para a população. Diante disso, verificou-se
que o lazer neste documento vem atrelado ao turismo.
O Desporto é instituído como dever do estado, através do fomento da prática
desportiva em todas as suas modalidades, de forma direta ou através da criação de
órgão específico. No Artigo 222, tem-se que o “orçamento estadual destinará
recursos para o incentivo ao esporte” (PARAÍBA, 2009, art. 222). No entanto, a Lei
estabelecerá a criação de incentivos fiscais à iniciativa privada para o desporto
amador. Quanto ao lazer, afirma-se que é considerado uma forma de promoção
social que merecerá atenção especial, conforme o Artigo 223.
239
De acordo com o Capítulo VII – “Da Família, da Criança, do Adolescente, do
Idoso, dos Índios e da Pessoa Portadora de Deficiência”, o Artigo 247 estabelece
que:
É dever da família, da sociedade e do Estado promover ações que visem assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade, à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão (PARAÍBA, 2009, art. 247).
O esporte e lazer vêm ganhando destaque nas discussões, estudos e
pesquisas pautados nas políticas públicas, considerando diferentes contribuições.
Dentre elas, a melhoria da qualidade de vida da população, sem negar a sua
historicidade e diferentes manifestações, bem como reconhecendo as questões de
acesso, seu efetivo direito e seu lugar na política urbana no mundo contemporâneo.
6.2 Espaços, serviços e equipamentos de atividade física, esporte e lazer de Campina Grande – PB, de iniciativa municipal, e seus elementos constitutivos: localização, acessibilidade e rede de infraestrutura
Na visão de Catão (2015), a dinâmica interna da cidade pode ser
consequência da implantação de equipamentos coletivos, como também de
aspectos que apenas podem ser explicados socialmente, a exemplo da exclusão e
segregação espacial oriundas da localização de determinados grupos populacionais
identificados pelas diferenças de poder.
Há indicadores que podem ser levados em consideração para uma melhor
compreensão sobre o esporte e lazer nas cidades, tais como a natureza e a
densidade das infraestruturas, ou seja, abastecimento de água, vias com e sem
pavimentação, redes de iluminação, telefonia e coleta de esgoto, os equipamentos
de consumo coletivo, ou seja, campos, ginásios, quadras, parques, praças, pistas de
atletismo, ciclovias, academias, entre outros e os serviços urbanos, como coleta de
lixo, segurança, limpeza de vias, como também outros serviços.
Quanto à pesquisa de campo, a nossa amostra totalizou os dados numéricos
conforme o Quadro 03. Porém, tendo em vista que o presente estudo tem uma
metodologia qualitativa, ressalta-se que as entrevistas foram finalizadas quando se
chegou em um nível de saturação nas respostas, em consonância com os princípios
240
científicos, métodos e técnicas de pesquisa ora preconizados. Enfim, a coleta de
dados se deu durante os meses de setembro a dezembro de 2016, perfazendo um
total de 36 campos observados, um acervo fotográfico composto por 576 fotos, 07
entrevistas semiestruturadas e 73 entrevistas conforme o quadro a seguir:
Quadro 03 – Levantamento da amostra pesquisada.
Observações Fotografias Entrevistas
semiestruturadas Entrevistas
36 576 - 72 07 gestores Profissionais de Educação Física 12 Jornalistas/colunistas esportivos 06 Presidentes de SABs 10 Usuários 20 Não – usuários 20 Promotores/organizadores 05
Fonte: Elaboração própria, 2016.
Foram apresentadas no texto 72 imagens, contribuindo para a análise e
discussão dos dados da pesquisa, associadas às observações realizadas. Com a
preocupação voltada para os aspectos éticos, optou-se por imagens que não
identificassem as pessoas.
A amostra de gestores totalizou em 07, sendo assim constituída: gestão
2005 – 2012 – 01 (um) coordenador de esporte, pois não havia secretaria municipal
de esporte. Quanto aos gestores do período 2013 – 2016, foram entrevistados o
Secretário Executivo de Esporte, o Secretário de Planejamento, as Coordenações
de Juventude, de Esporte, da Educação Física Escolar e a Coordenação do
Programa “Mexe Campina”.
Apesar de as observações terem contemplado 36 espaços / áreas de
esporte e lazer, dentre eles, 29 estão localizados em diferentes bairros, conforme
pode-se verificar adiante. No entanto, apenas foram entrevistados 10 presidentes de
SAB, em virtude de que há bairros que não têm SAB em funcionamento e ainda
outros que estão sub judice ou que não estavam presentes na coleta de dados.
No tocante ao tratamento e análise dos dados, os resultados descritivos
estão visualizados em quadros e tabelas, com uso de frequência simples. Em
relação à análise qualitativa, baseou-se na Análise de Conteúdo, com base em
Bardin (1977, 2011) e na categorização de respostas.
Nesse estudo, o levantamento, embora não apresente um interesse técnico
profundo na área específica de conhecimento, mas como um suporte. Fez-se uso de
241
observações e, quando possível, associadas ao registro fotográfico e/ou oral, sendo
este posteriormente transcrito. Pautou-se nos seguintes aspectos: localização, tipo e
usos dos espaços voltados para o esporte e lazer de iniciativa municipal; tipos e
condições dos equipamentos; questões ligadas à acessibilidade e mobilidade; rede
de infraestrutura, como também outros possíveis aparatos observados.
Os espaços, serviços e equipamentos públicos voltados para o campo da
atividade física, esportiva e de lazer na cidade de Campina Grande - PB, de
iniciativa municipal, perfizeram um total de 36 cadastrados, número identificado, com
base na relação oficializada pela Prefeitura Municipal de Campina Grande – PB,
através do setor de Gestão de Esporte e Lazer, e observados in loco, os quais estão
assim distribuídos: 02 na Zona Norte, 05 na Zona Leste, 12 na Zona Sul e 10 na
Zona Oeste, bem como 03 em áreas mais centrais. O município conta ainda com 04
localizados em Distritos, a saber: Catolé de Boa Vista, Galante, Santa Terezinha e
São José da Mata. Constatou-se que a maior parte dos equipamentos de esporte e
lazer pesquisados encontra-se em bairros periféricos.
De acordo com os dados abaixo, ressalta-se que, em Campina Grande - PB,
segundo as informações da Secretaria Municipal de Planejamento, estão
catalogados 51 bairros. Porém, já há estudo para uma futura ampliação, inclusive
com audiências públicas. Segue a localização dos espaços, serviços e
equipamentos públicos de atividade física, esporte e lazer do município, tendo como
referência as praças, academias ao ar livre e complexos esportivos.
242
Quadro 04 – Localização dos espaços, serviços e equipamentos públicos de
atividades físicas, esportivas e de lazer de Campina Grande – PB, de iniciativa municipal, pesquisados.
Zonas
Norte f Leste f Sul f Oeste f
Bairro
Palmeira 02 Castelo
Branco 01
Presidente
Médici 01 Santa Rosa 03
José
Pinheiro 03
Jardim
Paulistano 02 Chico Mendes 01
Belo
Monte 01 Liberdade 02 Malvinas 02
Rocha
Cavalcante 01 Bodocongó I 01
Tambor III 01 Mutirão 01
Sandra
Cavalcante 01 Pedregal 01
Catolé 03 Bela Vista 01
Novo Horizonte 01
Centro 03
Distritos 04
Fonte: Elaboração própria, 2016.
Em relação às características principais dos tipos de espaços, serviços e
equipamentos voltados para atividades físicas, esportivas e de lazer pesquisados,
percebeu-se uma variação em torno de 21, destacando-se espaços que contêm
praça com academia ao ar livre - 08; praça com academia ao ar livre, área de
caminhada em playground - 02; apenas academia ao ar livre – 02; praça com
academia ao ar livre, com área coberta, playground e quiosques – 02; praça com
academia ao ar livre, playground e aparelhos de ginástica – 02; e apenas praça –
02.
Segundo as informações prestadas na presente pesquisa pela gestão do
esporte e lazer em Campina Grande – PB, os critérios para a implementação de
espaços/serviços e equipamentos públicos nos determinados locais, o foco é para o
aproveitamento de espaço já existente ao firmar que: “Primeiro utilizar o espaço já
existente, ninguém inventa, deixa de ser lixão, passa a ser um luxão. Aproveitar o
existente que estava totalmente ocioso” (informação verbal)17.
17
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador G5 à pesquisadora.
243
Recorre-se a uma das funções do Plano Diretor, fazendo referência a Santos
Júnior et al. (2011), ao afirmarem que é um instrumento que traduz a função social
da cidade e da propriedade urbana, garantindo o direito à moradia e aos serviços
urbanos, e ainda favorecendo a otimização de recursos públicos, ao ampliar seus
efeitos na cidade, bem como a diminuição dos problemas sociais e de infraestrutura.
A Secretaria de Planejamento do referido município informou que o Plano
Diretor (2006) está passado por processo de estudo, discussão e com previsão de
mudanças. Porém, tomando como base o Plano Diretor/2006, encontra-se a
inserção do esporte e lazer na política urbana. Ao tratar do ordenamento e ocupação
do solo, na Zona de Qualificação Urbana prevê a ampliação e o oferecimento dos
equipamentos públicos, e os espaços verdes e de lazer; como também na Zona de
Recuperação Urbana, com um dos enfoques a implantação dos mesmos.
Figura 01 – Praça e academia ao ar livre.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
244
Figura 02 – Praça, academia ao ar livre, área para caminhada e playground.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
Figura 03 - Praça, academia ao ar livre cercada e playground.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
245
Figura 04 - Academia ao ar livre.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
Figura 05 - Praça, academia ao ar livre, playground, área coberta e
quiosque.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
246
Figura 06 - Praça, academia ao ar livre, playground e quiosque.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
Figura 07 - Praça, academia ao ar livre,
playground e quiosque (parte 1).
Figura 08 - Praça, Academia ao ar livre,
Playground e Quiosque (parte 2).
Fonte: Elaboração própria, 2016. Fonte: Elaboração própria, 2016.
247
Figura 09 - Praça, academia ao ar livre, área coberta e playground.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
Figura 10 - Praça, academia ao ar livre com aparelhos de ginástica.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
248
Figura 11 - Praça.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
Num panorama com maiores detalhes dos espaços mapeados, reconheceu-
se que a evidência foi para utilização da academia, espaços que podem
proporcionar uma convivência (bate-papos, conversas e encontros), parque infantil e
ainda os que possibilitam apresentações diversas e práticas corporais.
A Política Nacional de Promoção de Saúde (2006) é um instrumento que
dimensiona e busca implantar ações transversais, integradas e intersetoriais com
foco na qualidade de vida, ressaltando que todos sejam agentes com vistas à
proteção e cuidado com a vida. Deste modo, é de suma importância o incentivo às
práticas corporais em diferentes espaços públicos. Dentre eles, estão as academias,
as quais vêm contribuindo para a adesão da população à prática dos exercícios
físicos. Nesse contexto, a implementação de políticas públicas remete ao
fortalecimento do campo da atividade física, esporte e lazer. Sendo assim, as ações
do poder público contribuem para a estruturação espacial, conforme afirma
Bernades (1986), com as políticas públicas exercendo um importante papel. De
acordo com Castells (1983), o espaço urbano é estruturado, ainda acrescenta que a
política urbana está contida na planificação urbana e nos movimentos sociais.
Um dos objetivos da Política Nacional do Esporte (2005) é democratizar e
universalizar o acesso ao esporte e lazer. E ainda, no Plano Nacional de
Desenvolvimento do Esporte (2005), para o período 2007 – 2010, estava previsto o
249
eixo ligado à infraestrutura, que expressa a definição de equipamentos esportivos e
de lazer nas escolas, nas universidades e Praça da Juventude.
Verificou-se que o esporte e lazer como práticas sociais podem estar
atrelados à saúde, expressas em políticas/ações em conjunto com os Ministérios do
Esporte e o da Saúde, conforme as Academias da Saúde encontradas no nosso
mapeamento. O Programa “Academia da Saúde” (BRASIL, 2011) é uma política
intersetorial que tem o intuito de incentivar a criação de espaços públicos adequados
para as atividades físicas e de lazer. Assim sendo, os espaços pesquisados
possibilitam condições para a transversalidade do esporte com o lazer, com a saúde,
com a educação, com a cultura, com o meio ambiente, dentre outros.
Tabela 03 – Mapeamento do uso dos espaços pesquisados.
Uso dos Espaços f
Academia 30
Praça de convivência 17
Parque Infantil 11
Apresentações diversas e práticas
corporais
10
Esportes 07
Caminhada 05
Quiosques 04
Aparelhos de ginástica (Ferro e/ou
alvenaria)
02
Ciclovia 02
Corrida 01
* Múltiplas respostas
Fonte: Elaboração própria, 2016.
No tocante aos aparelhos das academias ao ar livre, constataram-se 09
realidades diferentes quanto ao número, ou seja, de 30 pesquisadas, 22 contém
menos de 10 aparelhos; 04 dispunham de 10 e 04 tinham mais de 10 aparelhos. Em
relação às suas condições, obtiveram-se os dados a seguir:
250
Tabela 04 – Distribuição de frequência das academias segundo as condições dos
aparelhos.
Condições dos aparelhos da academia f
Ótima 13 Boa 06 Regular (pintura e manutenção) 11
Total 30
Fonte: Elaboração própria, 2016.
Figura 12 - Equipamento da academia necessitando de pintura/manutenção.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
Figura 13 - Equipamento da academia em ótimas condições.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
251
Identificou-se que 13 academias estão em ótimas condições em relação ao
estado do equipamento, ou seja, aparelhos novos; 11 estão em um estado que
precisa de manutenção (umas em pintura e outras em reparos e pinturas), e 06
estão em condições favoráveis ao uso. Quanto à questão de estar ou não cercada,
embora com uma pequena diferença, a maior parte não apresenta cerca em seu
entorno. Ademais, apenas duas cercas ao redor da academia ao ar livre encontram-
se sem portão. Outra também necessita de pintura e capinação em seu interior e
uma outra encontrava-se fechada com cadeado.
Considerando a Lei Orgânica de Campina Grande – PB (1990), é uma das
prioridades de competência municipal a estruturação, organização e preservação
dos espaços e serviços municipais. Sendo assim, caberá ao poder público não
apenas implantar e implementar os serviços e equipamentos, mas elaborar um
Plano de Manutenção/Recuperação dos mesmos, com setor/equipe voltados para o
acompanhamento. Entretanto, sabe-se da importância da consciência e participação
da população em prol do uso adequado do espaço.
Segundo a gestão executiva do esporte e lazer do município, há uma equipe
de 05 pessoas ligadas à Secretaria do Esporte, Juventude e Lazer que faz o serviço
de manutenção/lubrificação do maquinário. Acrescenta ainda que: “Toda semana é
retirado equipamento para manutenção. Leva, solda, pinta e devolve. São 400
equipamentos” (informação verbal)18.
Tabela 05 – Distribuição de frequência de acordo com a existência de cercas em
volta da academia.
Cercada f
Sim 13
Não 17
Total 30
Fonte: Elaboração própria, 2016.
18
Entrevista semiestruturada concedida pelo gestor do esporte e lazer do município de Campina Grande – PB à pesquisadora.
252
Em relação aos playgrounds, 02 estavam em ótimas condições, 04
precisavam de serviços de pintura, 03 necessitavam de consertos e 02 de consertos
e pintura.
Quanto às condições de higiene e capinação, nos espaços observados,
constatou-se que 03 encontravam-se em condições precárias de limpeza e 02
necessitavam de serviços de capinação.
Em relação aos espaços de maior extensão territorial e também com maior
diversidade de possibilidades de serviços e equipamentos de atividade física,
esportiva e de lazer pesquisado no estudo, observou-se 06, a saber: Complexo
Esportivo “O Meninão”, “Vila Olímpica das Malvinas”, “Parque da Liberdade”,
“Complexo Esportivo do Catolé”, “Parque da Criança” e o “Complexo Plínio Lemos”,
os quais se encontram nas seguintes condições:
Complexo Esportivo “O Meninão” – localizado na Zona Oeste de Campina
Grande – PB, inaugurado em 25/09/1992, encontra-se desativado, segundo
informações da gerência, em processo de reforma. Porém, não existiam serviços
em obras, haja vista que, também por informações, a Caixa Econômica Federal
havia interrompido a obra por questões de período eleitoral. O espaço necessita
de grande reforma e serviços diversos de manutenção, além de manutenção nos
aparelhos e equipamentos, bem como na sua rede de infraestrutura. Conta com
um ginásio poliesportivo com capacidade para 8.000 pessoas sentadas,
alojamentos, salas para aula, e atualmente é sede da Secretaria de Esporte,
Juventude e Lazer.
253
Figura 14 - Complexo Esportivo “O Meninão” – Cobertura do Ginásio.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
Figura 15 - Complexo Esportivo “O Meninão” - Entrada.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
254
Figura 16 - Complexo Esportivo “O Meninão” – Banheiro masculino.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
Figura 17 - Complexo Esportivo “O Meninão” – Ginásio.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
“Vila Olímpica das Malvinas” – Localiza-se na Zona Oeste da cidade. Encontra-
se em fase de construção, apresentando espaço amplo e com possibilidades de
otimização de diferentes práticas esportivas, culturais e de lazer, com academia
ao ar livre já em funcionamento.
255
Figura 18 - Vila Olímpica das Malvinas – parte de sua extensão.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
Figura 19 - Vila Olímpica das Malvinas – Academia ao ar livre.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
256
Figura 20 - Vila Olímpica das Malvinas – visão em dois lados.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
“Parque da Criança” – Localizado na Zona Sul, contendo pista de corrida e de
caminhada, área coberta para diferentes práticas corporais e outras atividades,
academia ao ar livre, área de skate, espaços com diferentes aparelhos de
ginástica, playground, parque infantil rústico, três mini quadras poliesportiva,
pista de BMX, área de convivência coberta, duas quadras de futebol de areia,
uma quadra para vôlei de praia e futevôlei, entre outros espaços livres, como
também área de lanchonete, banheiros e local para estacionamento.
Figura 21 - Parque da Criança – Pista de caminhada e corrida.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
257
Figura 22 - Parque da Criança – Placa de proibições.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
Figura 23 - Parque da Criança – Pista de Skate.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
258
Figura 24 - Parque da Criança – Campo de areia.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
Figura 25 - Parque da Criança – Mini quadra 01.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
259
Figura 26 - Parque da Criança – Mini quadra 02.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
Figura 27: Parque da Criança – Pista de BMX.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
260
Figura 28 - Parque da Criança – playground.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
“Complexo Esportivo do Catolé” – situado na Zona Sul do município pesquisado.
Espaço recém-urbanizado em excelente condição de uso, contendo academia,
playground, quadra esportiva com alambrado, quiosques, área coberta, área
para skate, entre outras áreas livres para convivência.
Figura 29 - Complexo Esportivo do Catolé – Visão interna.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
261
Figura 30 - Complexo Esportivo do Catolé – Playground.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
Figura 31 - Complexo Esportivo do Catolé – Academia ao ar livre.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
262
Figura 32 - Complexo Esportivo do Catolé – área coberta.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
“Parque da Liberdade” – encontra-se na Zona Sul campinense. Embora o
espaço tenha sido inaugurado antes das eleições de 2016, encontra-se ainda
em fase de continuidade da obra. Nessa área, foi possível verificar os seguintes
benefícios: local para caminhada e corrida, 06 playgrounds, um labirinto de
madeira, academia ao ar livre, 02 áreas cobertas, parque infantil de alvenaria,
quadra de areia com alambrado e área de convivência, com mesas e bancos de
alvenaria. A academia conta com 22 aparelhos com capacidade para atender
em média a 50 pessoas ao mesmo tempo. Porém, como está ainda em processo
de construção, tem em vista outros aparatos.
263
Figura 33 - Parque da Liberdade – ciclovia / caminhada / corrida.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
Figura 34: Parque da Liberdade – placas de proibições.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
264
Figura 35 - Parque da Liberdade – quadra de areia.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
Figura 36 - Parque da Liberdade – parte da academia ao ar livre.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
“Complexo Esportivo Plínio Lemos” – localizado no Bairro José Pinheiro, Zona
Leste de Campina Grande – PB, foi inaugurado em 2008, contendo ginásio
poliesportivo, piscina (desativada), dois playgrounds, academia ao ar livre
265
(nova), 03 pistas de skates, pista de atletismo com arquibancada, museu
histórico esportivo, 02 quadras para voleibol de areia e futevôlei, campo de
futebol e minicampo, entre outros espaços. O equipamento poderia oportunizar
diversas práticas esportivas, diferentes práticas corporais e outras atividades da
área, inclusive esportes de rendimento. No entanto, o local encontra-se em
estado de abandono, em péssimas condições de uso, ou seja, todo o complexo
precisa de obras e serviços de construção, reformas e manutenção, inclusive
alguns equipamentos estão necessitando de substituição por questões de falta
de manutenção e monitoramento. As janelas, grades e portas estão depredadas,
com cobertura com sérios problemas, pisos esburacados, rede de esgoto
precisando de reparos; enfim, o espaço precisa de reformas de diferentes
naturezas. Contudo, ainda o ginásio coberto está realizando alguns jogos,
conforme foi observado.
Figura 37 - Complexo Esportivo Plínio Lemos – arquibancada.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
266
Figura 38 - Complexo Esportivo Plínio Lemos – piscina.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
Figura 39 - Complexo Esportivo Plínio Lemos – uma das entradas.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
267
Figura 40 - Complexo Esportivo Plínio Lemos – ginásio.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
Figura 41 - Complexo Esportivo Plínio Lemos – campo de futebol com pista de atletismo.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
O esporte e o lazer são garantidos como direitos sociais, como se viu em
vários documentos previstos, inclusive em leis. Porém, uma das problemáticas
destacadas pelos participantes da pesquisa foi a precariedade da política de
esporte, no tocante à prática formal e ao incentivo do esporte nas escolas, ferindo
268
assim a Lei N. 9615/Brasil (1998), muito embora não seja o recorte deste estudo,
mas em virtude de algumas inquietações por parte dos mesmos, como também
fazendo-se necessário cultivar o gosto e uma formação humana, a partir dos valores
e relevância da atividade física, do esporte e lazer na vida das pessoas e em
sociedade é que pode ser umas das justificativas desse contexto.
Tomando como referência o Estatuto da Juventude (2013), a política pública
do desporto e lazer, entre outros aspectos, destaca a lei de incentivo fiscal para o
esporte, com prioridade para a juventude, e que possibilite a prática desportiva,
cultural e de lazer, através da oferta de equipamentos comunitários. Além disso,
ressalta-se que hábitos de atividade física adquiridos na infância e adolescência
podem se manter durante a vida (GORDON-LARSEN et al., 2004).
Diante dessa perspectiva, remete-se a Bento (2007), quando afirma que o
esporte passou progressivamente a ser uma prática aberta a todas as pessoas,
independentemente de idade, condição física e sociocultural. Além disso, cada vez
mais as pessoas vêm procurando aderir a uma vida ativa. A atividade física faz parte
de seu estilo de vida (PRATA, 1992; NAHAS, 2010).
- Condições dos bancos das praças
Quanto aos bancos que estão expostos nas praças de convivência, 06 locais
precisam de reparos e pinturas.
Figura 42: Bancos da praça.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
269
As praças, nas quais estavam localizadas as academias ao ar livre, em sua
maioria tinham apenas bancos de madeira e ferro, e outros reuniam um maior
número de bancos, inclusive de alvenaria, apesar de alguns deles precisarem de
manutenção. A organização dos bancos se dava de diversas formas: ao redor da
praça, ao redor e dentro da academia ao ar livre, ao longo de todo o espaço ou
distribuídos de acordo com as condições do espaço. Entretanto, levou-se a acreditar
na necessidade de definição de certos padrões.
- Público-alvo
Nos serviços e equipamentos de atividades física, esportiva e de lazer, o uso
em sua maioria é feito por adultos e idosos, embora muitos deles agreguem a
possibilidade de crianças e jovens participarem. Entretanto, constatou-se que o
acesso ao adolescente diante das condições, características, funcionalidades e
tipologias de uso é insuficiente para atender à demanda, e ainda por terem espaço
que se encontram desativados.
Lefebvre (1991), ao tratar dos usuários dos espaços, os quais denominam
usuários da vida cotidiana, entende com uma complexa articulação de força, no
contexto econômico, político e cultural. Desta maneira, mesmo reconhecendo os
padrões, instrumentos de planejamento e gestão do urbano, acredita-se, pelo fato de
alguns espaços/serviços/equipamentos seguirem um “certo padrão” em sua forma
de disposição, que talvez por questão de segurança, controle da população ou
algumas formas de relações de poder estabelecidas na / pela comunidade podem
ter ligação com o referido cenário ou com a condição ora apresentada.
- Presença de sinalização (visual, sonora, vertical e tátil) nos locais pesquisados
Dentre os locais pesquisados, apenas em 05 existe sinalização visual para
cadeirantes, no solo e nas entradas de acesso.
- Presença de rampa (inclinação, corrimão e patamar)
Havia colocação de rampa em 20 locais, em diferentes modalidades. Porém,
muitas delas sem sinalização.
270
Figura 43 - Rampas de acessibilidade bem sinalizadas, mas fora da
norma padrão.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
Figura 44 - Rampas de acessibilidade com sinalização apagada.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
271
Figura 45 - Rampas de acessibilidade sem sinalização.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
Figura 46: Rampas de acessibilidade totalmente fora da norma
padrão.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
Em relação à mobilidade dos cadeirantes na área observada, apesar de que
em 20 locais as condições eram boas, ainda em 14 não atendiam às necessidades
dos cadeirantes do ponto vista de mobilidade. Tratando-se das condições de
272
mobilidade para os deficientes visuais, não se enquadram às normas técnicas
exigidas, segundo os dados coletados.
Tabela 06 – Distribuição de frequência de acordo com a condição de mobilidade de cadeirantes.
Condições f
Satisfatória 20
Apenas ao redor do espaço 02
Inapropriada por causa da calçada 01
Só após suspender/levantar dá diferença da rua/calçada 05
Sem acesso 08
Total 36
Fonte: Elaboração própria, 2016.
Entre as medidas da Convenção Internacional sobre os Direitos das
Pessoas com Deficiência (2007), constam ter acesso a bens culturais acessíveis;
aos locais de eventos esportivos, recreativos e turísticos; e aos serviços ligados à
organização de atividades recreativas, turísticas, esportivas e de lazer.
A ABNT NBR – Associação Brasileira de Normas Técnicas 9050, de
31/05/2004, trata da acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e
equipamentos urbanos. Com base na referida norma, acessibilidade é a
possibilidade e condição de alcance, percepção e entendimento para a utilização
com segurança e autonomia de edificações, espaço, mobiliário, equipamento urbano
e elementos. Quanto ao termo acessível, este é compreendido como espaço,
edificação, mobiliário, equipamento urbano ou elemento que possa ser alcançado,
acionado, utilizado e vivenciado por qualquer pessoa, inclusive aquelas com
mobilidade reduzida. O termo acessível implica tanto acessibilidade física como de
comunicação (ABNT NBR 9050, 2004).
- Condições de calçadas e pisos
A maior parte dos serviços e equipamentos de atividades físicas, esportivas
e de lazer pesquisada encontra-se com suas calçadas e pisos de forma adequada
do ponto de vista de manutenção, embora necessite que sejam observadas as
273
melhorias e a existência de adequação aos parâmetros de acessibilidade para as
pessoas com deficiências. Além disso, identificou-se espaço inadequado para
mobilidade não só de cadeirantes, como também para os idosos, considerando os
desníveis apresentados de um tipo de piso para outro. Constatou-se também uma
divergência de tipos de calçamento e piso, pois uns seguem em formatos de pisos
alternados retangulares; outros pisos são intercalados hexagonais; outros também
alternam areia com cimento; outros são de granito; outros alternam brita com areia;
outros alternam paralelepípedos com areia; outros de cerâmica; outros de cimento e
outros com brita e paralelepípedos. Ademais, observou-se que alguns espaços
contavam com a rampa com sinalização para cadeirante, mas a rua era calçada com
paralelepípedos, dificultando, assim, a sua mobilidade.
Tabela 07 - Distribuição de frequência segundo as condições de calçadas e pisos observados.
Condições de calçadas e pisos f
Ótimas 15
Boas 09
Necessitando de reparos 05
Necessitando de limpeza 03
Necessitando de capinação e limpeza 01
Péssimas 03
Total 36
Fonte: Elaboração própria, 2016.
274
Figura 47 - Sinalização faixa de pedestre.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
Figura 48 - Espaço com condição de mobilidade.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
275
Figura 49 - Espaço inadequado para mobilidade de cadeirante.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
Figura 50: Espaço inadequado para mobilidade de cadeirante.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
276
Figura 51 - Espaço com acessibilidade que favorece a mobilidade de
cadeirante.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
O Plano Diretor de Campina Grande - PB (2006) aborda, dentre outros
objetivos, o de possibilitar às pessoas o acesso, com segurança, ao processo
produtivo de serviços, bens e lazer quando faz referência ao Sistema de Mobilidade
Urbana. Está prevista também na Constituição Estadual da Paraíba (2009) como
uma das prioridades a segurança pública.
- Banheiros
Tratando-se de banheiros e banheiros adaptados, verificou-se na maioria
dos locais a inexistência deles. O Parque da Criança tem banheiros e também
banheiros adaptados, necessitando de manutenção, bem como na Vila Olímpica das
Malvinas, ainda em fase de construção. No Parque da Liberdade, ainda não foi
possível reconhecer as referidas dependências por se encontrarem em obras, e sem
o contato anterior com a planta da obra. No Complexo Plínio Lemos, os banheiros
estão sem condições de uso. No Complexo Esportivo “O Meninão”, necessitam de
manutenção de forma geral. Ademais, como uma academia ao ar livre está
localizada dentro de Unidade Básica de Saúde – UBS, seus usuários poderão
utilizar o banheiro da instituição, e por uma outra academia ficar em frente a uma
UBS, facilita o acesso dos usuários ao banheiro do referido equipamento social.
277
- Rede de esgoto
Considerando o serviço de esgoto, do ponto de vista de visualização
externa, apresentaram-se as seguintes situações: canal aberto nas proximidades
(em três locais), galerias com mau cheiro, caixa de esgoto faltando a tampa, um
serviço de esgoto com vários problemas estruturais, galerias precisando de
reposição de ralos/grelhas e “boca de lobo”. Constatou-se ainda em alguns locais a
presença de drenagem, com uso de grelhas. Dos 36 existentes, em 24 não se
observou rede de esgoto externamente. Quanto ao “Açude Velho”, este recebe
esgoto proveniente de um canal.
Figura 52 - Drenagem com uso de grelha.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
278
Figura 53 - Parque do Povo - Drenagem com uso de grelha.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
- Abastecimento de água
Quanto ao abastecimento de água nos locais pesquisados, ele existe em
apenas 04, nas condições que se seguem: caixa d‟água desativada (em 02 locais);
uso apenas internamente através da UBS (01 local), bebedouros no Parque da
Criança. No período de festas juninas, a partir de 2016, no Parque do Povo, o uso
da água foi otimizado por poço artesiano. Em relação aos espaços em que há
quiosques, não foi possível identificar de forma mais precisa por estarem fechados.
Outros estavam em fase de acabamento e outros ainda estavam com um grande
fluxo de atendimento comercial.
279
- Iluminação
A iluminação se dá em alguns locais com postes e lâmpadas; outros com
postes e refletores; outros com postes com lâmpadas e refletores; outros apenas
com refletores, os quais modificavam sua disposição, ou seja, ora ao redor, ora ao
redor e meio, ora na lateral ou laterais. A quantidade de lâmpadas variava bastante.
Constatou-se também que havia uma relação na sua maioria com o tamanho da
ocupação do solo.
Contudo, há ressalvas em alguns setores, pelos motivos citados: a falta de
poda nas plantas, acarretando a precariedade na iluminação no playground e na
praça de convivência; uso e instalação de brinquedos privados no ambiente público,
sem os devidos cuidados de segurança; iluminação necessitando de manutenção;
falta de uma iluminação adequada, focada para academia ao ar livre; uma área
extensa com iluminação muito deficitária e uma academia ao ar livre, que em virtude
das árvores precisaria ampliar a sua iluminação. Muito embora tenham sido
observados que os horários de maior adesão às academias ao ar livre davam-se no
início da manhã e ao final da tarde. Foi constatada a presença de usuários nos
espaços à noite, inclusive em locais de iluminação precária, os quais relataram que
era uma das dificuldades encontradas pelas questões atreladas principalmente à
insegurança.
Figura 54 - Escassez da iluminação da Academia da Saúde no Açude
Velho.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
280
- Transporte público
O acesso ao local com transporte público em 25 locais é favorável, e ainda
em 02 locais há interligação com a parada de ônibus. Apenas em 09 há dificuldades
de acesso ao transporte público, embora não se encontrem muito distantes.
Figura 55 - Praça com academia com proximidade de parada de
ônibus.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
Segundo Jacobs (2011), a importância atribuída ao trânsito, circulação das
pessoas, ao comércio e à questão das ruas e calçadas são aspectos necessários
para a segurança no planejamento urbano.
Para a autora, o correto disciplinamento do trânsito é mais importante do que
o policiamento, com vias à garantia da segurança em determinada rua, bairro ou
distrito. Se há trânsito ininterrupto de usuários, a rua e o bairro terão um movimento,
um fluxo, há circulação de pessoas, há vida. Outra condição é sobre a circulação de
pessoas, pois, caso haja fluxo de pessoas, considerando o tipo de aparatos
identificados no local, ou seja, padarias, mercearias, lojas, pequenos serviços, entre
outros, para pesquisadores são mais eficazes que a iluminação pública. Aliada a
essa situação, pode estar o comércio, que é considerado pela autora um fator de
grande relevância no que diz respeito à segurança de uma rua. Jacobs (2011) afirma
que o que torna uma região violenta é a falta de circulação de pessoas, e acrescenta
que algumas ruas oferecem oportunidade à violência.
281
Ao tratar de ruas e calçadas, o autor esclarece que elas são os espaços
fundamentais para a diversidade e intensidades dos usos. Mediante os contatos nas
ruas é que há o florescimento da vida pública exuberante na cidade. Ademais, as
calçadas, que devem ser largas, podem ser mais importantes do que os playgrounds
para as atividades das crianças, porque esses espaços e equipamentos “não
cuidam” de crianças. Justifica que nem sempre os referidos espaços dispõem da
vigilância necessária. Na contramão desta concepção, Miranda (s.d., p. 10-14), ao
tratar do contexto da urbanização atrelada ao processo de industrialização, diz que
os urbanistas, com a preocupação voltada para os espaços de as crianças
brincarem, na ausência destes, elas vão para a rua. Para o autor, a rua é um local
nocivo, pois lá se facilitará o contato com os maus hábitos.
Entretanto, há uma preocupação que aflige o nosso país, ou seja, a falta de
segurança. Sendo assim, como olhar sob o ângulo da subjetividade, do campo
simbólico, dos sentidos e significados da rua no âmbito valorativo, considerando a
realidade do cotidiano contemporâneo?
Gradativamente, as cidades vêm se modificando, os centros urbanos estão
perdendo suas funções anteriores, esvaziamento das áreas centrais, novos bairros
estão surgindo, as zonas periféricas cada vez mais vêm se ampliando. Dessa forma,
há necessidade de implementação de políticas públicas e políticas urbanas que
atendam à otimização de espaços públicos, com infraestrutura e equipamentos
adequados destinados ao esporte e lazer à comunidade em geral, de modo a
superar a segregação e a exclusão social.
- Disponibilidade de coletor de lixo
A maior parte dos espaços observados disponibilizam coletores de lixo. No
entanto, um conjunto precisa de manutenção; um local contém um número
insuficiente de coletores e em 02 locais o coletor é grande, do tipo “tira entulho”. Em
outro local, encontravam-se também coletores alternativos.
Tabela 08 – Distribuição de frequência segundo a disponibilização de coletores de lixo.
Coletor de Lixo f
Sim 28
Não 08
Total 36
Fonte: Elaboração própria, 2016.
282
Figura 56 - Academia de saúde sem nenhum coletor de lixo.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
Figura 57 - Academia de saúde com coletor de lixo e saco plástico.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
283
Figura 58 - Coletor do tipo “Tira entulhos”.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
Figura 59 - Praça com coletor de lixo.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
284
Figura 60 - Praça com coletores de lixo alternativos.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
A partir do mapeamento, entrevistas, registro fotográfico e o debruçar sobre
documentos neste estudo, tem-se um cenário de situações adversas, avanços,
fragilidades, mas também uma gama de possibilidades de discutir as relações de
políticas urbanas, planejamento e gestão da cidade e a dimensão da atividade física,
esportiva e de lazer não apenas do ponto de vista quantitativo, mas, sobretudo,
qualitativo e novos desafios, expectativas e perspectivas a serem percorridos.
Uma vertente a ser repensada sobre os padrões de discutir o urbano e
também os paradigmas e instrumentos de planejamento, e como exemplo rever o
planejamento que se baseia no zoneamento, haja vista a possibilidade de melhor
controle da cidade e, por conseguinte, uma maior intervenção do Estado, como
também aproveitamento e uso racional das infraestruturas, como destaca Kleiman
(s.d.), além de ser principalmente uma técnica de controle do uso do solo da terra
urbana e, consequentemente, o enaltecimento de uma lógica capitalista. Sendo
assim, propõe a planificação pelas redes.
As redes de infraestrutura de Campina Grande – PB dos espaços, as áreas,
serviços e equipamentos de esporte e lazer de interesses físico-esportivos, de
iniciativa pública municipal, foi um dos elementos constitutivos da pesquisa.
Observou-se que, a partir dos dados ora apresentados, compreende-se que o olhar
da população em relação ao esgoto, água, energia, transporte, lixo e drenagem são
285
possibilidades de discussões com ela, e de forma mais específica com os seus
usuários, para que se repense e analise a rede de infraestrutura, como também para
que se discuta futuras modificações no modo de vida e cotidiano dos moradores,
suas articulações com os diferentes bens e serviços da comunidade na busca de um
bem coletivo com os aparatos necessários para a melhoria da qualidade de vida da
população e da vida em sociedade. Todavia, conforme Lefebvre (2001) numa
concepção de Direito à Cidade, as necessidades sociais estão para além de
produtos e bens materiais de consumo, mas uma atividade criadora, necessidades e
informação, de simbolismo, de imaginário, ou atividades lúdicas, ou seja, traz para o
debate a função simbólica do espaço. Além do mais, para ele, a sociedade urbana
exige uma planificação voltada para as necessidades sociais, sendo resultante de
uma força social e política (LEFEBVRE, 2008).
Diante do contexto de redes de infraestrutura, baseando-se nos estudos de
Kleiman (s.d.), faz-se necessário tomar como base as propriedades de conexidade,
ubiquidade, homogeneidade, conectividade, modalidade e adaptabilidade para que
seja possível entender e repensar a planificação.
- Estacionamento (vagas e recursos garantidos)
Apenas um local mapeado (“Parque da Criança”) apresenta estacionamento
interno, com demarcação de vagas para idosos, mas ressalva-se que o local de
estacionamento não atende às demandas. No geral, apresentam-se 13 locais em
que há espaço que facilita o estacionamento de veículo, mas nos logradouros
públicos e sem garantia de espaço demarcado para deficientes e idosos. Existem
alguns locais onde o estacionamento de veículos pode ser feito em algumas ruas
laterais, sendo que há uma parte que só deve ser utilizado por um lado, devido ao
grande fluxo de veículo. Percebeu-se também uma enorme variação de condições
quanto às larguras das ruas que estão no entorno, sendo uma maior parcela
estreita. Quanto ao “Complexo Plínio Lemos”, considerando a sua extensão, viu-se
que o estacionamento interno é muito pequeno. No tocante ao “Parque do Povo”,
quando ocorrem ações/eventos de médio e grande porte, o estacionamento no
logradouro público não atende à realidade, fazendo com que a população procure
estacionamento privado.
286
Figura 61 - Estacionamento bem sinalizado, localizado no Parque da
Criança.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
- Área verde
No tocante à área verde, destaca-se a presença da Algaroba e, em
segundo lugar, a Palmeira Imperial. Há 07 locais com uma área verde bem
diversificada, com plantas da região, e apenas em 02 não há plantas. Observou-se
também em alguns equipamentos a presença de plantas mais antigas, que não se
encontraram em outros locais, a exemplo de Castanhola, Eucalipto, entre outras. Em
alguns locais, verificou-se o plantio de novas espécies, embora algumas delas
necessitassem de manutenção. A Prefeitura Municipal de Campina Grande – PB
vem desenvolvendo e fortalecendo o Programa “Minha Árvore”, com um dos
objetivos de plantar uma árvore nos espaços públicos, a exemplo da ação realizada
em maio de 2017 no Parque da Liberdade, através da Secretaria de Meio Ambiente
e Serviços Urbanos, em parceria com uma emissora de TV local.
287
Figura 62 - Predominância de Algarobas.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
Figura 63 - Espaço bem arborizado.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
288
Figura 64 - Área não arborizada.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
Figura 65 - Arborização localizada.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
289
Figura 66 - Plantas estilo jardineira.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
Figura 67 - Plantas novas em fase de crescimento.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
Ao tratar, de forma específica, da questão ligada às condições de
infraestrutura voltada para a presença ou não de área verde nos espaços
pesquisados, evidenciou-se que o município de Campina Grande – PB está incluído
na área geográfica de abrangência do clima semiárido brasileiro, por situar-se no
290
agreste paraibano, entre a Zona da Mata e o sertão. Situada em uma altitude de 500
metros acima do nível do mar, possui um clima com temperaturas mais moderadas,
considerado tropical com estação seca, com chuvas concentradas nas estações de
outono e inverno. Entretanto, no ano de 2016 e já no início de 2017, conta com um
problema avassalador: a crise hídrica. Com longos períodos de seca na região, não
houve a chegada de água no Açude Epitácio Pessoa (Boqueirão/PB), que abastece
a cidade, entre vários outros municípios. Sendo assim, diversos municípios
paraibanos encontram-se no sistema de racionamento de água, trazendo muitas
mudanças nos modos de vida e no cotidiano das pessoas e da cidade.
As mudanças nas condições atmosféricas na cidade vêm tornando os dias
mais quentes e na espera de noites mais frias. Porém, essa condição em
determinados períodos leva os nativos a um estranhamento, ou seja, em algumas
noites não ocorre a queda da temperatura.
As áreas verdes influenciam de forma positiva, ou seja, há melhoria nas
condições climáticas, embelezamento, fortalecimento aos princípios de
sustentabilidade e, aliados a estes, a educação ambiental. Ademais, o pensamento
relacionado ao retorno à vida do campo, mais próximo à natureza, conforme
Carvalho e Sabino (2013), é também um caminho para discussão. É importante
ressaltar que a visão de embelezamento no contexto da política urbana vem sendo
modificada a partir de paradigmas e padrão de planejamento do urbano.
A história da disseminação da Algaroba na região se deu pelo processo de
importação da prática do seu plantio, que aconteceu a partir de um programa, e foi
acentuado ao longo dos anos, de maneira que apresenta de forma quantitativa na
região. Porém, de acordo com a mídia nacional e programas temáticos veiculados
pela televisão, a planta, de origem peruana, vem sendo pesquisada, e os resultados
mostram que ela tem um poder de sucção de água por suas raízes. É uma planta de
fácil sobrevivência, com seus benefícios, mas traz grandes preocupações,
principalmente pela nossa condição geográfica.
Foi identificado que, em algumas praças onde existem árvores mais antigas,
passou-se a acreditar que anteriormente elas tinham mais as características de
sítios, e quando da sua implantação, talvez tenham sido aproveitadas.
291
- Aparatos outros
Ao mergulhar no campo de forma mais apurada, foram registradas
condições e características outras do local, as quais foram denominadas de
aparatos. Desta maneira, viu-se que algumas agregavam ao serviço e equipamento
público municipal da área da atividade física, esporte e lazer de Campina Grande –
PB, em maior evidência os seguintes aspectos: proximidade com a Unidade Básica
de Saúde – UBS do Bairro, às escolas / creches, igreja e base da Polícia Militar;
existência de telefones públicos e placas de explicação do uso dos equipamentos de
exercícios da academia ao ar livre. Esses equipamentos, em sua maioria, estavam
localizados em uma praça.
Para os críticos na área de planejamento urbano, como Jacobs (2011) e
Souza (2004), o tempo é um fator importante na formação de redes e, por
conseguinte, favorece as relações com as proximidades de áreas residenciais,
comércio, lazer, postos de saúde, escolas, entre outros espaços e serviços; como
também o adensamento, ou seja, a utilização mista do solo, para usos sociais
diferentes, promoveria uma maior interação. Tais condições são importantes para a
discussão e realização do planejamento urbano.
Nessa perspectiva, a presença dos espaços, serviços e equipamentos de
esporte e lazer no próprio bairro pode corroborar o fortalecimento da identidade do
lugar, com a ideia de pertencimento, de centralidade, a possibilidade de articulação,
conexões, pois há uma possibilidade de muitos “nós” e, desta forma, mobilidade e
deslocamento, ou seja, uma circulação integrada.
292
Figura 68 - Academia com placa de explicação de uso dos
equipamentos.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
Figura 69 - Praça com proximidade com Unidade Básica de Saúde.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
293
Figura 70 - Praça com aproximação da Associação de Amigos de
Bairro - SAB.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
Figura 71 - Praça com aproximação de uma Escola Pública.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
294
Figura 72 - Praça com aproximação de Escola Pública e Igreja.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
Nas placas de identificação das obras construção/reurbanização ou
recuperação das praças observadas estão atreladas à Prefeitura Municipal de
Campina Grande, e de forma específica à Secretaria de Serviços Urbanos e Meio
Ambiente, um dado que chama a atenção é que a maioria dos locais de fixação das
placas está pixada. De acordo com a fala do Secretário do Esporte, em cada praça,
há um ou dois funcionários para manutenção e vigilância.
Através da informação durante a entrevista ao gestor executivo do esporte,
este afirmou que a administração dos espaços, equipamentos de esporte e lazer
pesquisados está atrelada à Secretaria Municipal de Esporte, Juventude e Lazer e
acrescentou que à noite é invadida por vendedores. Nas observações realizadas,
também foi identificada a presença de comércio durante o dia, à noite e aos finais de
semana, não só naquelas em que há quiosques, mas também são colocadas
barracas, carrinhos, entre outros, para a venda de alimentação e até bebidas. É uma
verdadeira “festa”. Além disso, o privado invade o público, talvez com a presença do
trabalho informal.
Quanto aos quiosques, de forma específica, obteve-se a informação da
contrapartida dos comerciantes, que seria com os “cuidados” com a própria praça, a
higiene e quanto à água e à luz, pagas por eles.
295
Observou-se que, à noite e aos finais de semana, alguns espaços e
equipamentos públicos urbanos pesquisados misturavam os seus usos, com os
encontros, a música, a conversa, a “festa” e o lazer no fluxo de um comércio que
movimentava o ambiente diferentemente. O ambiente se expressa numa lógica de
consumo, com relação de compra e venda, que muitas vezes se dá sem
planejamento e até de forma precária e irregular.
De acordo com Arendt (2007), o espaço público, a esfera da política tem os
seguintes aspectos: é o mundo da visibilidade e da aparência; o mundo comum na
medida em que se trata de um produto ou artefato dos seres humanos; e ainda o
espaço da ação e da palavra, lugar da pluralidade e, portanto, da manifestação da
liberdade. Dessa maneira, para a autora, a esfera pública é o espaço da política. Na
esfera pública, os seres humanos se reconhecem como sujeitos coletivos e não
como indivíduos isolados, atomizados, privados. Sendo assim, a ação e a palavra
são as experiências que constituem a dimensão política da esfera pública.
Logo, a esfera pública para a autora é o espaço da confluência das falas e
do agir humano, condição de possiblidade para a formação de opiniões contrárias,
da interrelação, do entendimento e do consentimento. Contudo, a diversidade não
significa necessariamente a geração de conflitos, embora seja uma possibilidade de
dialogicidade. É nesse entendimento sobre a política que Arendt (2007) analisa a
inversão de valores advindos da modernidade que faz com que a lógica privada das
necessidades da vida, em que a política seja relegada à esfera administrativa e
burocrática, transformando a vida associativa em um tipo de sociedade
despolitizada, com ênfase na lógica da manutenção da vida, voltada exclusivamente
para a esfera da economia, ao âmbito doméstico. Neste sentido, é estabelecida a
perda da fronteira entre o público e o privado.
A população cada vez mais é atendida a partir do que está sendo oferecido.
Questionamentos diversos podem ser feitos, tais como: Até que ponto a comunidade
tem outras opções de lazer? O que fazer para essa forma de ocupação e de
comércio existir? Como se dá a contrapartida desses comerciantes e moradores?
Quais os pontos positivos e negativos nessa situação? Quem perde e quem ganha?
Qual o papel do público? De que forma esses moradores estão pensando sobre as
necessidades e melhoria para o bairro e para a cidade?
296
Muito se tem debatido sobre a importância do esporte. Há programas e
projetos vinculados à Secretaria Nacional do Esporte, Educação, Lazer e Inclusão
Social (BRASIL, 2016), que têm como objetivos específicos contribuir para a
diminuição da exposição aos riscos sociais, drogas, prostituição, gravidez precoce,
criminalidade, trabalho infantil, dentre outros. Ademais, há programas que têm como
finalidade atender à demanda populacional voltada para o esporte recreativo e de
lazer, sobretudo para os que se encontram em situações de vulnerabilidade social e
econômica.
Há algumas correntes de debate que refletem e analisam criticamente o
esporte e o lazer na vida das pessoas e na cidade para além de uma perspectiva
unilateral, como se fosse apenas a resposta dos males sociais, como as
consequências da ociosidade, não como controle social, não como algo que ameaça
o capitalismo etc. Desta feita, entende-se que o esporte e o lazer têm sua
importância e ainda não devem ser entendidos numa dimensão meramente
funcionalista.
Os aparatos sob o prisma dos valores que agregam e qualifiquem os
espaços/serviços/equipamentos públicos urbanos de atividade física, esporte e lazer
são importantes na discussão. Além disso, deve-se ainda pensar o campo não
apenas sob os aspectos de padronização, sem vida ou sem usuários, mas que
sejam acolhedores, valorizem a cultura e o cotidiano nas cidades, reconheçam o
conhecimento e os anseios da população e que sejam definidas as competências do
poder público nas suas diferentes instâncias, tendo em vista o seu fortalecimento na
política pública urbana.
6.3 O esporte e lazer na política urbana sob múltiplos olhares
VISÃO DOS GESTORES
Políticas públicas brasileiras voltadas/relacionadas ao esporte/lazer
Os gestores, quando inquiridos sobre quais políticas públicas brasileiras
estão voltadas/relacionadas ao esporte e lazer, suas respostas focaram na
explicitação de programas, tais como: Programa Esporte e Lazer na Cidade – PELC,
Programa Bolsa Atleta e Programa “Mexe Campina”. Foram mencionadas a Lei de
297
Incentivo ao Esporte, a Lei Pelé, além do incentivo ao esporte amador. Foram
também citadas a Praça da Juventude, a Praça da Cultura e criação de Centros de
Referência. Além disso, foram anunciados a temática do esporte na escola, as
políticas de inclusão, o esporte paralímpico e o esporte de alto rendimento, a serem
incentivados e apoiados.
Em duas falas, estão relacionados o esporte e lazer com a saúde. Inclusive,
em uma está explícita a ligação com o Ministério da Saúde. Outra fala, por sua vez,
anuncia tanto o Ministério do Esporte quanto o da Educação.
Estão presentes nos discursos algumas preocupações na temática em tela,
como se pode observar nos seguintes trechos:
[...] esporte e lazer décimo plano na conjuntura (informação verbal)19
. [...] vejo muito pouco, a prática esportiva em Campina Grande deixa a desejar, até os eventos não têm mais, muitos projetos deixaram de dar continuidade, a exemplo do Segundo Tempo. É tão pouco que a gente nem visualiza, vem se perdendo ao longo dos anos, não sei se é problema de gestão, ou se de outros governos, se é de outras instâncias, federal [...] (informação verbal)
20.
[...] são muitas políticas públicas, federal, estadual, municipal, sendo esta menor. [...]. Tudo tem, a partir de lá, Ministério do Esporte [...]. O calendário é muito abrangente, até para o índio. Campina Grande tem um calendário esportivo, não é muito abrangente, mas tem (informação verbal)
21.
Para que o esporte e lazer sejam fortalecidos, espera-se a elaboração de um plano
de desenvolvimento, que venha contemplar, por exemplo: ações, programas e projetos,
sendo oriundos em uma das esferas, seja federal, estadual e/ou municipal, como
encontram-se na pasta ministerial do esporte, como afirma Filgueira (2008).
De acordo com Silva (2002, p. 21), projeto “é aquele instrumento do planejamento
que mais se aproxima da ação”, enquanto o programa é um aprofundamento do plano, que
será composto pelos seguintes elementos:
a síntese de informações sobre a situação; a formulação explícita das funções efetivamente consignadas aos órgãos e/ou serviços; a formulação de objetivos gerais e específicos; estratégica e dinâmica de trabalho; as atividades e projetos que comporão o programa; os recursos humanos, físicos e materiais necessários; e a execução das medidas administrativas (SILVA, 2002, p. 20-21).
19
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador G1 à pesquisadora. 20
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador G2 à pesquisadora. 21
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador G5 à pesquisadora.
298
A autora complementa que o projeto “sistematiza e estabelece o traçado
prévio da operação de uma unidade de ação e que um programa está constituído
por um conjunto de projetos” (SILVA, 2002, p. 46).
Sendo assim, os programas citados remetem a uma abrangência federal.
Quanto ao programa mencionado “Mexe Campina”, este vem sendo implementado
pela iniciativa municipal, sendo fortalecido ao longo dos anos. A parte citada
referente às leis que tratam do esporte. Do ponto de vista de financiamento,
reforçam a preocupação dessa natureza e, por conseguinte, o campo de incentivo
ao esporte. Contudo, muitas mudanças ao longo do tempo surgiram, haja vista a
necessidade de fortalecimento, fruto também de uma conjuntura política,
governamental e, por que não dizer, também econômica e social de esferas mundial,
nacional e, ainda, local, com o panorama voltado para o trato da questão do papel
do Estado, as concepções políticas do governo, como também a participação da
sociedade civil, que venha coadunar com as políticas públicas.
Ultrapassando o plano de identificação da legislação em vigor, a exemplo da
Lei Pelé (1998), Lei Agnelo-Piva (2001), Lei de Incentivo ao Esporte (2006),
conforme explicitadas anteriormente, entre outras, que fazem parte da legislação
brasileira nas suas diferentes instâncias, seja na forma de lei, resoluções, decretos,
etc. É importante discutir a sua abrangência, materialização, avanços e entraves.
Formas que o esporte e lazer de interesses físico-esportivos se apresentam em
Campina Grande – PB
Para as formas que o esporte e o lazer de interesses físico-esportivos
apresentam em Campina Grande – PB, segundo a opinião dos gestores
pesquisados, elaboraram-se três categorias, a saber: locais de práticas, calendário e
políticas de gestão.
Categoria: Espaços de práticas
Tema Verbalizações
Espaços
“Academias populares instaladas em algumas praças [...]” G1
“Campina Grande era Parque da Criança, foram crescendo as
demandas em vários locais e foram se constituindo. No Parque da
Liberdade – Centro de iniciação ao Esporte; na Juscelino Kubistchek
e no Canal de Bodocongó, bem utilizados os espaços; no Parque do
Açude Novo Tai Chi Chuan e Parkour; Final da Floriano Peixoto todo;
299
no Complexo Plínio Lemos há quadra; campos de pelada...” G2
f 02
Categoria: Calendário
Tema Verbalizações
Atividades, Ações e
Programas
“[...] através da corrida de rua, pois há adesão da população –
acessível, barato [...]” G3
“[...] pelos eventos, pelas corridas, pelo esporte, Taça Itararé [...]” G4
“Através de um calendário esportivo com várias modalidades e
através do Programa Mexe Campina [...], quadrilhas, Capoeira na
escola, com a parceria do Instituto Alpargatas; programa de
escolinhas de futebol (mais de 40 escolinhas no município);
caminhadas, trilhas ecológicas e corridas de ruas (leve, moderada,
vigorosa) realizadas mensalmente” G5
f 03
Categoria: Políticas de gestão
Tema Verbalização
Política
“A gente mudou o conceito, quis trabalhar, descentralizar
equipamentos e praças nos locais sem se deslocar, tendo o esporte
e lazer no seu próprio ambiente. Associar à política de ocupação ao
esporte e lazer; diminuir os custos com a saúde. A cidade que pratica
esporte relaciona com a saúde. A política voltada para a saúde,
esporte e educação, porque melhora-se o custo com a saúde.
Exemplo: o Programa Mexe Campina é uma poupança para
economizar o custo. Temos a política de descentralizar. Estimular a
prática de skate. Exonerar custos de saúde. Melhoria da qualidade
de vida nos bairros, exemplo: ambientes vulneráveis passam a ser
importantes, exemplo: Parque da Liberdade é uma questão de
gênero – mulheres com ampla jornada, o esporte e lazer é uma
válvula de escape”. G6
f 01
Tomando como referência o pensamento de Lucena (2001), as diferentes
modalidades esportivas, as danças, as lutas e as práticas corporais vêm
desenvolvendo no cotidiano das cidades e, por conseguinte, atraindo a adesão da
população. Identificaram-se vários locais de prática voltados para o esporte e lazer
de interesses físico-esportivos em Campina Grande – PB de ação municipal, como
pode-se observar em falas como: academias populares, Parque da Criança, Parque
Açude Novo, Complexo Plínio Lemos, os quais foram mapeados no presente estudo.
300
Quanto às possibilidades de discussão de algumas formas de como se
constituem locais para o campo das atividades físicas, esportivas e de lazer, para a
temática de instrumentos de planejamento e gestão urbanos, à luz de Souza (2004),
classificam-se de diferentes maneiras: informativos, estimuladores, inibidores,
coercitivos e outros. Além disso, faz referência aos diferentes tipos de zoneamento,
seja de uso de solo, de prioridade, tipo alternativo ou de densidade. Muito embora,
percebe-se, a partir de entrevistas obtidas no nosso estudo, que alguns locais
surgiram de forma espontânea, com a presença/uso dos moradores, e que
posteriormente constituíram áreas que receberam intervenção do poder público, a
exemplo da Avenida Juscelino Kubistchek e do Canal de Bodocongó.
A definição de um calendário para a pasta de Secretaria do Esporte,
Juventude e Lazer é de suma importância, com o intuito de apresentar um
cronograma não apenas de evento, mas ações que venham fortalecer as políticas
de esporte e lazer na cidade, e que, dentre outras questões, que se evite
superposição e passem pelo processo de reflexão, decisão, ação e feedback,
conforme o entendimento de Silva (2002). Ademais, que o calendário seja
considerado também o equacionamento temporal e disposição de recursos. Logo,
para sua sistematização, devem ser considerados os requisitos técnicos, humanos,
materiais, administrativos, orçamentários, fontes de recursos, entre outros.
A categoria política de gestão traz uma discussão que expressa mudança de
concepção, sob a ótica de descentralização. Trata de ações efetivas sobre
equipamentos, espaços, a relação entre a política de esporte e lazer e a saúde,
sendo esta voltada para indicadores que articulem a visão de custo-benefício, dentre
outros aspectos, como o estímulo de práticas, melhoria da qualidade de vida etc.
Segundo os dados do Ministério de Esporte (BRASIL, 2016) em sua política para o
esporte e lazer, há um dos projetos – BRA/11/006 em que um dos seus eixos busca
consolidá-los tendo em vista a necessidade de implantar um modelo de gestão
descentralizada, coordenadora e participativa, bem como apresenta programas que
se baseiam nesses princípios.
Em paralelo com a verbalização no que tange à prática de esporte
relacionada à saúde, viu-se que a UNESCO desde 1978 preconizava essa relação
como um elemento que pode exercer influências na economia (UNESCO, 2003).
Sendo assim, a resposta pelo gestor anteriormente citada pode exemplificar essa
301
situação, pois afirma que as ações voltadas para o esporte e lazer no município
favorecerão a melhoria dos indicadores de saúde e qualidade de vida, e, por
conseguinte, possibilitarão a minimização das despesas relacionadas à saúde.
Algumas falas a seguir exemplificadas expressam algumas restrições ou
ponderações que podem justificar certos problemas, na maioria, que o esporte e
lazer de interesse físico-esportivo se apresentam na cidade pesquisada. Do ponto
de vista de iniciativa municipal, destacam-se os trechos:
[...] os campos de pelada – infelizmente, com o avanço imobiliário, estão sumindo [...] (informação verbal)
22.
[...] o esporte em si, a gente está pecando, deixamos morrer as escolinhas, não tem mais, pecamos com as práticas com os adolescentes. Apoiamos, mas não demos continuidade [...], não há política de acompanhamento (informação verbal)
23.
“Onde vejo jogos no município é nas e escolas, de modo que todos participam dos jogos. Temos 19 ginásios concluídos, sendo 02 oficiais” (informação verbal)
24.
Uma questão levantada sobre a forma que o esporte e o lazer se
apresentam está voltada para a problemática da política imobiliária e sua relação
com os espaços para implantação e oferta nessas práticas. O planejamento
mercadófilo, segundo Souza (2004), está focado nos interesses empresarias, à
captação e decodificação de sinais emitidos pelo mercado, oriundos de uma
demanda existente, relacionados aos interesses do capital imobiliário e outros
setores dominantes.
A questão habitacional vem arraigada ao processo histórico da política
urbana, como foi ressaltado por Francisconi e Souza (1976), e a discussão do
desenvolvimento intraurbano, como também sua interação com a política global de
desenvolvimento, permitem relacionar com as diretrizes que orientam a política
urbana quanto ao uso do solo, à atuação no espaço urbano, dentre outros aspectos
e instrumentos. Por outro lado, Vainer (2000) acrescenta que a gestão urbana se
volta para a competitividade urbana. Desta feita, Campina Grande – PB, não longe
da realizada em outras cidades com potencial e em desenvolvimento, e não apenas
22
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador G2 à pesquisadora. 23
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador G3 à pesquisadora. 24
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador G7 à pesquisadora.
302
sob a influência de mecanismos do “Programa Minha Casa Minha Vida” (2009),
apresenta-se com um despontar de grandes investimentos da classe empresarial
imobiliária, e ainda considerando a expansão da cidade. Nesse contexto, percebe-se
que o esporte e lazer são também preocupações no tocante à política urbana, em
diferentes nuances, como segregação urbana, uso dos espaços, urbanização, falta
de espaços, infraestrutura, entre outros.
Existência de políticas públicas de esporte e lazer em Campina Grande –
PB
Tabela 09 - Opinião dos gestores pesquisados sobre a existência de Políticas Públicas de Esporte e Lazer.
Políticas Públicas de Esporte e Lazer f
Sim 05
Não 02
Total 07
Fonte: Elaboração própria, 2016.
As políticas de esporte e lazer da cidade, segundo os aspectos dos
participantes pesquisados de forma afirmativa, foram múltiplas respostas. Contudo,
a presença do Programa “Mexe Campina” teve o seu destaque. Por outro lado, os
gestores que afirmaram de forma negativa justificaram que não há incentivo ao
esporte, exceto à caminhada, mas de forma pontual. O esporte e lazer são
abrangentes e não se restringem à corrida de rua; não há mais a “Rainha da
Borborema”, os prêmios esportivos foram extintos e a gestão não está voltada para
o esporte. Além disso, um participante apesar de achar que a cidade tem políticas
nessa área, sugere que houvesse um órgão gestor que fiscalizasse o esporte em
Campina Grande – PB.
Ao serem mencionadas as academias, o participante entrevistado
acrescentou: “Sempre existe essa união entre Secretaria de Esporte e Saúde25”.
No que diz respeito à fiscalização no campo do esporte, de acordo com
Manhães (2002), no Estado Novo, ela exercia o papel de disciplinar e fiscalizar a
organização e a prática esportiva no Brasil; porém, numa perspectiva nacional-
desenvolvimentista, uma concepção liberal da economia vem impulsionando a
25
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador G4 à pesquisadora.
303
autogestão da sociedade civil, que processualmente vem à busca de seu
fortalecimento. Atrelada a essa conjuntura, ressalta-se a importância do
reconhecimento do processo histórico que faz referência às diferentes passagens do
papel do Estado, suas formas de intervenção e mecanismos que foram criados para
romper com o Estado ditatorial, interventor e centralizador nas diversas situações,
inclusive na área do esporte, e tendo em vista um Estado Democrático de Direitos,
como também avanços nesse campo, e ainda, recorrendo Castellani Filho (2008),
no tocante aos conselhos de esporte e lazer, estes podem formar o veículo de
articulação entre governo e sociedade, com vistas à participação efetiva da
população, corroborando a democratização do Estado. Além disso, o autor afirma
que aos conselhos cabem orientar, fiscalizar e formular as políticas públicas.
Definição e avaliação das políticas de esporte e lazer na cidade
Foram focalizadas a definição e avaliação dessas políticas sob várias
nuances, tais como: apoiar com material esportivo as escolas para incentivar os
alunos; resgatar os jogos internos nas escolas públicas; resgatar os jogos e
brincadeiras populares; resgatar e apoiar os eventos esportivos, como as olímpiadas
estudantis, a “Rainha da Borborema”, as Olimpíadas do Exército; revitalizar os
campos de pelada; construir quadras poliesportivas oficiais; incentivar o esporte
amador; apoiar os atletas; priorizar o esporte de base; dispor de profissionais para
orientações das atividades físicas, nos equipamentos; dispor de uma equipe técnica
qualificada na gestão que cobrasse do poder público nas instâncias federal e
municipal; existir um órgão gestor fiscalizador; ampliar o calendário esportivo e as
parcerias; criar mais espaços esportivos; ampliar para outros bairros e oferecer
campos de estágio para universitários. Deste modo, constatou-se que foram
enfatizados muitos anseios voltados para seu fortalecimento. Entretanto, surgem
inquietudes ou um certo sentido de insatisfação nas suas afirmativas, como pode-se
perceber nos seguintes trechos:
[...] Não existe nada, apesar da criação da Secretaria de Esporte na segunda gestão de Veneziano, que na minha opinião é cabide de emprego [...]
26.
26
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador G1 à pesquisadora.
304
Está mais na visão do gestor – secretário – futebol e no secretário executivo – corrida de ruas [...]. Mudança em como vê o esporte e o lazer como ferramenta [...]
27.
[...] acredito estar sem gerência, estar voltada para um esporte [...]
28.
[...] acho que a política pública só é vista para lazer, e as outras coordenações não existem nada [...]
29.
[...] Muita gente faz isoladamente [...]
30.
No discurso abaixo, talvez se busque fortalecer a ideia de que as políticas
públicas de esporte e lazer campinenses precisam melhorar, trazendo à tona o
planejamento, ao dizer que:
A gente começou planejamento e execução anteriormente ao mesmo tempo, agora vamos fazer antes o planejamento. Estamos com revisão do plano diretor, o que faltou foi o diagnóstico da tipologia dos usos de solo para identificar e planejar os equipamentos e espaços, como estamos fazendo no Complexo Aluísio Campos (informação verbal)
31.
Quanto à resposta que enfoca o planejamento, destaca-se a sua importância
em linhas gerais que se deu paralelamente com a entrada da nova gestão e com as
implementações de ações. Desta feita, talvez sua visão remeta a uma experiência
adquirida anteriormente e, por conseguinte, com a busca de minorias nos futuros
processos. Catão (2015) afirma que a falta de planejamento da cidade traz
marcantes repercussões no setor sanitário, ambiental e social. Neste panorama,
adentra-se, por conseguinte, no campo do esporte e lazer.
Forma de planejamento de esporte e lazer na cidade pesquisada
A questão forma de planejamento gerou uma certa expressão de sentimento
de insatisfação, pois dos 04 gestores que responderam “SIM”, um deles respondeu
de forma lacônica e os demais fizeram algumas observações, como: fazer-se
calendário anualmente, mas que só se baseia em corrida; Copa da Itararé – Taça de
Pelada; não há articulação com as ligas, ações são esporádicas e a Prefeitura só
27
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador G2 à pesquisadora. 28
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador G3 à pesquisadora. 29
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador G4 à pesquisadora. 30
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador G5 à pesquisadora. 31
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador G6 à pesquisadora.
305
disponibiliza o local, não oferece mais outro apoio; falta de corpo qualificado na
Secretaria de Esporte; falta de continuidade de programas; ingerência das políticas
públicas e ainda que não há nos planejamentos a participação das comunidades,
das entidades, das universidades, dos cursos de diferentes áreas, pois não são
chamados para planejar.
Uma fala traduz a necessidade de melhorar o referido planejamento sob
outros prismas, a saber:
Precisa intensificar, atrair os jovens para o esporte e o problema do ensino médio. Na questão digital, criar uma forma de atrair os esportes. Esporte como mecanismo social e como retirar do consumo de drogas. É promoção social (informação verbal)
32.
Um dos entrevistados que respondeu “NÃO” afirmou que, se há
planejamento, não é divulgado.
O esporte nas políticas urbanas de Campina Grande - PB
As maneiras citadas que o esporte aparece nas políticas urbanas em
Campina Grande – PB foram assim definidas: o esporte não se resume em corrida
de rua e times de futebol; o esporte existe de forma solitária, ou seja, o grupo que
gosta e quer fazer um esporte faz, mas são práticas isoladas, que se resumem a
grupos isolados; não há articulação com as universidades; há a Taça de Futebol de
Peladas, com a parceria da TV Itararé e Duraplast Indústria, e a Prefeitura entra
apenas com a premiação em determinada fase; há homenagens aos ex-apoiadores
do esporte, e ainda que o esporte aparece nas escolas, mas de forma amadora.
Também foi evidenciado que o esporte em Campina Grande só aparece nas
praças, com cunho eleitoreiro, apesar de ser considerado uma forma de inclusão
social. Outro entrevistado enfatiza que é contra o campeonato de peladas, ao dizer
que: “[...]. Em Campina Grande está evoluindo o campeonato de peladas, transforma
a bola no álcool. Sou contra” (informação verbal)33. Um deles afirmou que vê o
esporte nas políticas urbanas e explicitou que a TV Itararé, uma entidade privada,
fazendo o esporte amador, pois deveria partir dos órgãos públicos.
32
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador G6 à pesquisadora. 33
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador G5 à pesquisadora.
306
A ênfase atribuída às corridas e futebol deve ser também entendida, talvez,
pela influência da mídia, considerando que cada vez na cidade vêm sendo
promovidas, incentivadas e divulgadas diversas corridas, ora promovidas pelos
órgãos públicos, ora pela rede empresarial ou não, sendo estas com a parceria do
poder público. Quanto ao futebol, isso ocorre talvez pelo fato de ser culturalmente
valorizado pela população brasileira.
Desta feita, na cidade de Campina Grande – PB, vêm sendo promovidas
diferentes corridas de rua, a exemplo da Corrida da UNIMED (Sociedade
Coorporativa de Trabalho Médico), Corrida da “Farmácia Dias”, Corrida da
Redepharma (sendo essas propostas pela área de convênios de saúde e de
comércio de medicamentos), Corrida da “Pretinha” (ícone do atletismo na cidade),
Corrida do Corpo de Bombeiros, Corrida dos Namorados, Corrida da Fogueira,
Corrida do Bem (sendo esta proposta por um hospital de cunho filantrópico), corridas
organizadas pelas universidades, entre outras, como também há Cãominhada.
Porém, constatou-se que, para participar, cada corredor efetua o pagamento da sua
inscrição. Sendo assim, analisando por esse prisma, entende-se que o acesso não
se dá a todos de forma igualitária, como destacou-se anteriormente, necessitando,
desta forma, do investimento de cada cidadão.
É dever do Estado fomentar práticas desportivas, asseguradas na
Constituição Brasileira (1988). Contudo, conforme a Lei N. 9.615 (1988), a prioridade
dos recursos é para o desporto educacional. Como também, com base na legislação
brasileira de incentivo fiscal para pessoas físicas e jurídicas, são aspectos que
podem trazer para a reflexão o que está sendo planejado, implantado e
implementado na área, a partir da iniciativa do poder público municipal, da parceria
e/ou de convênios firmados, bem como quando o interesse parte da iniciativa
privada. Assim, em que medida o Campeonato de Peladas, por exemplo, fortalece
e/ou fragiliza a política de esporte e lazer campinense?
Associada a essa realidade, percebeu-se a insatisfação dos participantes da
pesquisa com o enaltecimento dado à corrida. Sendo assim, sob múltiplos olhares,
se reconhece a importância da parceria público x privado, embora com
competências bem definidas. A privatização dos espaços, serviços e equipamentos
de lazer nem suas políticas devem ser mergulhadas no pensamento neoliberalista,
e, por conseguinte, a sua privatização, uma vez que são bens de acesso coletivo da
307
cidade e que venham sendo devidamente planejados, incluídos no plano, diretrizes
orçamentárias e orçamento anual participativo, como está definido no Plano Diretor
do Município (2006).
O uso político do esporte deve ser analisado criticamente para que o seu
lugar não represente apenas ideologias e práticas de interesses políticos que
neguem o Estado Democrático de Direitos e contrarie os princípios públicos
governamentais. Identificou-se também no campo de discussão do esporte, nas
políticas públicas e nas políticas urbanas, que a dimensão da relação do público e
do privado merece maior amadurecimento e profundidade nas ações.
Avaliação sobre as políticas urbanas que incluem o esporte e lazer
A avaliação das políticas urbanas que inclui o esporte e lazer pelos gestores
anunciou, na sua maioria, uma ideia negativa, por exemplo:
Só o Mexe Campina atualmente [...] (informação verbal)
34.
É preocupante [...] (informação verbal)35
.
A gente está muito aquém de outros centros, de outras cidades sobre o esporte e lazer [...] (informação verbal)
36.
Os campos estão se acabando e não tem uma política para fazer espaço [...] (informação verbal)
37.
Os órgãos públicos deveriam partir com a iniciativa [...] (informação verbal)
38.
Foram levantados alguns aspectos para avaliar a questão, ou seja,
conseguiram-se espaços, mas difícil é o equipamento. As políticas públicas estão
paradas, mesmo com eventos acontecendo, mas as ações são isoladas. Os
gestores não veem o esporte como ferramenta da ressocialização. Apesar de
Campina Grande ter um potencial, é pouco explorado. Falta incentivo, em relação ao
financeiro, material e espaços. Além disso, há falta de continuidade das políticas
34
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador G1 à pesquisadora. 35
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador G2 à pesquisadora. 36
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador G3 à pesquisadora. 37
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador G4 à pesquisadora. 38
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador G7 à pesquisadora.
308
públicas, desconhecimento da Lei de Incentivo ao Esporte, falta de manutenção dos
campos de futebol e falta de incentivo ao esporte amador.
Apenas uma resposta explicitou como “BOA” avaliação, e com justificativa,
mas afirmou que poderia ser melhor, de acordo com as suas palavras:
É boa porque a gente interage com muitas políticas, exemplo: quando estamos fazendo uma ação, temos várias ações. Mas está voltada para o futebol de salão, luta, corrida de rua e passeios ciclistas. As políticas poderiam ser melhor, as pessoas fazem muito individualizado, [...] (informação verbal)
39.
Trazendo para a discussão o que foi citado, “o esporte como ferramenta da
ressocialização”, ao adentrar na perspectiva como lazer, pode-se aludir a um lado
preocupante, ao buscar entendê-lo numa visão funcionalista, do ponto de vista
compensatório, como define Marcellino (1998). Assim, no entendimento restrito do
esporte na vida das pessoas, na vida em sociedade, seja na vida no campo ou na
cidade.
Em relação à enunciação da individualização das ações, como identificado
numa fala anteriormente citada, chama-se a atenção para o fato da importância de
efetivas práticas democráticas, sejam de forma representativa e direta, como afirma
Bobbio (1986), ou tendo em vista a visão de democracia participativa nos seus
diferentes modelos, ou seja, Shumpeter (1943), ou Macpheson (1979), entre outros.
Por outro lado, segundo Oliveira (2011), é necessário otimizar uma educação
política que possibilite o fortalecimento dos processos e mecanismos participativos,
com vistas a um Estado democrático. Ademais, do ponto de vista da gestão
municipal dos processos e mecanismos que traduzem essa realidade, cabe
entender como se dá em Campina Grande – PB, para que o esporte, sua
problemática e suas políticas não sejam pensados isoladamente entre os membros
da própria equipe de gestão principalmente.
Esporte e lazer nas políticas urbanas
Por unanimidade, os entrevistados responderam que o esporte e lazer
devem fazer parte das políticas urbanas. E para justificar suas respostas, pautaram-
nas em múltiplas formas, conforme os dados a seguir:
39
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador G5 à pesquisadora.
309
Tabela 10 – Presença do Esporte e Lazer nas Políticas Urbanas, a partir das
justificativas, segundo gestores entrevistados.
Justificativas f
Melhoria da qualidade de vida 03
Saúde, desenvolvimento e expectativa de vida 02
Importância no campo social, educacional e saúde 02
Ferramentas para mudar o mundo, tirar os jovens das drogas 02
Trabalham com criança até idoso 02
Motiva os bairros e acesso a todos 01
Melhoria da concentração, cooperação e respeito 01
Melhoria no campo físico, psicológico e fisiológico 01
Inclusão social 01
Possibilidade de sair da ociosidade 01
Localização geográfica do ambiente e do esporte 01
* Múltiplas respostas.
Fonte: Elaboração própria, 2016.
De forma mais evidenciada, aparecem a aproximação do esporte e lazer aos
campos da saúde, educação, questões sociais e do direito. Além disso, o esporte e
lazer fazem parte das políticas urbanas, uma vez que possibilitam a melhoria da
qualidade de vida como uma das mais referenciadas.
A primeira resolução do Conselho Nacional de Desenvolvimento Urbano de
1982 já definia como uma das diretrizes da política urbana para o período de 1980-
1985 a busca da melhoria da qualidade de vida da população urbana. Entretanto, ao
longo dos anos, foram sendo implementados instrumentos da política urbana, e, por
conseguinte, definido o papel da União, Estados e Municípios no campo da política
urbana. Assim sendo, o esporte e lazer na política urbana nesse estudo possibilitam
uma discussão sob diferentes ângulos.
Portanto, a questão urbana e instrumentos de intervenção, e sua relação
com as respostas obtidas expostas anteriormente, podem levar a acreditar ainda em
uma certa inferência no padrão higiênico-funcional, que, segundo Ribeiro e Cardoso
(1994), deveria influenciar as condições de vida das camadas populares. Além
disso, sabe-se que o esporte sofreu influência da visão médico-higienista muito
fortemente. Com a definição de qualidade de vida, a exemplo de um expoente na
área, Nahas (2006, 2010), há fatores ou parâmetros que a influenciam, como opções
de lazer e estilo de vida, entre outros, como moradia, transporte, segurança,
assistência médica etc. Quanto à saúde referenciada, associada às demais
310
explicações verificou-se que há possibilidade de estar sendo entendida numa
dimensão social.
Ações para a adoção de políticas urbanas que possibilitem o acesso ao esporte e lazer
As sugestões apresentadas pelos entrevistados quanto ao que poderia ser
feito para a adoção de políticas urbanas que possibilitassem o acesso ao esporte e
lazer foram: compromisso do gestor com a atividade física, como meio de inclusão e
para a educação, em todos os níveis; criação de leis que garantam o acesso ao
esporte e lazer; escutar a população; construir mais ginásios/quadras nos bairros,
campos de futebol; manter os espaços e equipamentos; melhorar a iluminação
deles; expandir as academias para outros bairros; pessoal qualificado para
orientação das práticas nesses espaços; construir ginásios nas escolas; interagir
com Associações de Amigos de Bairros – SABs; resolver a problemática do esporte
amador / futebol de pelada; abrir um elo de discussão com o mercado imobiliário;
implementar políticas públicas em parceria público versus privado e divulgar as
ações.
Ações para melhorar/fortalecer o esporte e lazer nas políticas urbanas
As repostas obtidas referem-se à gestão, equipe técnica, calendário,
espaços físicos, recursos financeiros, parcerias e convênios. Desta feita, foram
sugeridos que o responsável pela pasta do esporte e lazer e demais membros da
equipe fossem da área e que fossem qualificados. Foi mencionado que tivesse
rubrica específica para o campo e também entrasse na pauta do Orçamento
Participativo, que fosse estimulada a Lei de Incentivo Fiscal às empresas, dentre
outras ações, tais como elaborar um calendário esportivo e construção de ginásios
em cada bairro, estimular parcerias público-privadas e firmar convênios com
entidades, universidades e clubes.
311
VISÃO DOS USUÁRIOS Tipo de atividade física
A caminhada e o uso da academia foram as atividades físicas mais
realizadas pelos usuários pesquisados. Eram feitas principalmente nas próprias
praças que tinham academias ao ar livre, conforme dados apresentados nas
Tabelas 09 e 10. Neste panorama, percebe-se que a implementação das referidas
academias pode ter facilitado e/ou incentivado essa prática. Em relação à
caminhada, é uma modalidade de maior adesão, por ser uma forma de atividade
física com menor custo e amplamente acessível, conforme pesquisas realizadas e
comprovação científica de seus benefícios (TURI et al., 2015).
O Programa Academia da Saúde (BRASIL, 2011) vem contribuindo com as
instalações nas praças de Campina Grande – PB para que a população pratique
atividade física com maior acesso. Nessa perspectiva, o planejamento urbano é de
grande relevância para discutir a política urbana articulada ao esporte e lazer, não
só na definição dos espaços e seu ordenamento, mas em toda a estrutura,
infraestrutura, os princípios, diretrizes e medidas que nortearão, desencadearão e
fortalecerão a atividade física, o esporte e lazer na cidade, sendo pensada na
democratização do seu acesso à toda a população.
Tabela 11 – Distribuição de frequência dos tipos de atividades de esporte e lazer praticados de acordo com os usuários pesquisados.
Tipos de Atividade f
Caminhada e atividades em academia pública 07
Caminhada 04
Atividades em academia pública 03
Caminhada e corrida 02
Ciclismo 01
Ciclismo e atividades em academia pública 01
Atividades na academia pública e dança 01
Futebol 01
Total 20
Fonte: Elaboração própria, 2016.
312
Local da prática
Tabela 12 – Distribuição de frequência dos locais de práticas de esporte e lazer de acordo com os usuários pesquisados.
Locais f
Academia pública 04
Praça e academia pública 03
Parque da Criança e Açude Velho 02
Praça 02
Vários espaços da cidade 02
Ruas, logradouros públicos 02
Própria rua e praça do bairro 01
Academia pública e campo de futebol 01
Academia pública e vários lugares da cidade 01
Campo de futebol de pelada 01
Academia pública e centro da cidade 01
Total 20
Fonte: Elaboração própria, 2016.
Motivos da adesão ao esporte e lazer
Tabela 13 – Distribuição de frequência da adesão ao esporte e lazer de acordo com os usuários pesquisados.
Motivos da Adesão f
Problemas cardiovasculares e indicação médica 02
Saúde, prevenção e envelhecimento 02
Problemas cardiovasculares 02
Saúde 02
Saúde e indicação médica 01
Questões osteomusculares e indicação médica 01
Saúde e descontração 01
Saúde, questões endócrinas e indicação médica 01
Gosto pessoal e bom para tudo 01
Gratuidade e não gostar de ambientes fechados 01
Necessidade e questões osteomusculares 01
Melhoria de vida e orientação médica 01
Saúde e fortalecimento 01
Gosto e questões endócrinas 01
Problemas cardiovasculares e saúde 01
Não respondeu 01
Total 20
Fonte: Elaboração própria, 2016.
313
A palavra “Saúde” encontra-se literalmente em 08 respostas. A temática
“indicação médica” está apresentada em 06 respostas. O tema ligado às patologias
encontra-se em 09 respostas. As questões de ordem cardiovascular foram as mais
ressaltadas, apresentadas em 05 respostas. A preocupação elucidada com a
questão de saúde, de natureza preventiva, atrelada ao processo de envelhecimento
foi encontrada em 02 respostas.
De um modo geral, os principais leques de motivos de adesão à prática de
atividades são: estética corporal, como analisam Saba (2001), Fraga (2001), Le
Betron (2003), entre outros, como prevenção de doenças, conforme se pode analisar
à luz de Boltanski (2004); por necessidades (GIDDENS, 2002), noutra perspectiva,
Max-Neef (1998); por moda. Como exemplo, cita-se Lipovetsky (1989); melhoria da
saúde sob vários aspectos (SANTARÉM, 2016; OGATA; SIMURRO, 2009; MC
ARDLE et al., 1998), entre outros; melhoria da qualidade de vida (NAHAS, 2006)
etc.; como forma de lazer e, de uma forma mais ampla, recorre-se à concepção de
Brasileiro (2013).
Portanto, nessa questão, a saúde, como se afirmou anteriormente, foi o
motivo que teve maior ênfase. Porém, marcadamente encontra-se presente um
discurso da saúde numa perspectiva fisiológica/funcional. Isto deixa uma nuance de
discussão, o entendimento da saúde tratada nos 1920-1930, segundo a
Organização da Saúde, que preconiza a saúde como estado de bem-estar e não
mera ausência de doença, conceito que vem sendo ampliado, ao se considerar que
a saúde ultrapassa a condição apenas física, biológica, mas, de uma maneira global,
o corpo, nas suas diferentes dimensões, ou seja, biológica, psicológica e social,
entre outras. Ademais, essa questão deve ser compreendida para além de um
estado individual, mas numa dimensão social e coletiva.
Avaliação dos equipamentos e serviços
Tabela 14 – Distribuição de frequência sobre a avaliação dos equipamentos e serviços de esporte e lazer de acordo com os usuários pesquisados.
Avaliação dos equipamentos e serviços f
Positiva 18
Negativa 02
Total 20
Fonte: Elaboração própria, 2016.
314
Oito usuários que disseram estar satisfeitos com os equipamentos e serviços
que utilizam para a prática de atividade física e esportiva apresentaram algumas
considerações que merecem destaque, pois afirmaram que os serviços e
equipamentos não são completos. Embora tenham ocorrido melhoras no “Açude
Velho”, quanto à iluminação e calçamento, ainda há partes escuras; as crianças não
têm com o que brincar e utilizam os aparelhos da academia como diversão;
aparelhos sem grandes sofisticações; a necessidade de consciência para que a
população não acabe e, de forma específica, que as crianças não brinquem com os
equipamentos; não há todos os aparelhos; os aparelhos diferentes do uso nas
academias regulares e ainda um participante justificou sua resposta de satisfação no
tocante apenas ao espaço.
Dentre àquelas que se expressaram insatisfeitas, completaram justificando
que os equipamentos precisam ser modernizados, mais diversificados e que
houvesse equipamentos e serviços para as crianças.
Ao deparar-se com a situação levantada de que as crianças estão utilizando
os aparelhos da academia inadequadamente, podem-se elaborar algumas
hipóteses. Dentre elas, na ausência de opção para as crianças, elas fazem o uso do
referido equipamento. Faz-se necessário um trabalho de educação para o lazer. De
uma forma crítico-reflexiva, recorre-se a Pinto (2001); ou precisam ser traçadas
políticas e implantar ou ampliar programas de esporte e lazer para as crianças pelo
poder público, entre outras propostas. Essa questão reforça o que foi observado
durante a pesquisa: viram-se crianças em vários espaços/serviços e equipamentos
de atividade física, esporte e lazer brincando, nos equipamentos da academia, com
uso inadequado; jogando bola na área coberta, onde estavam sendo promovidas
aulas de ginástica, de zumba, entre outras; andando de bicicleta, às vezes em
praças de menores extensões, trazendo riscos aos adultos e idosos que estavam
fazendo exercício físico, entre outras condições. Sob o ponto de vista do aparato
legal, estão previstos em diferentes documentos, mas, no que tange apenas à Lei
Orgânica do Município (1990), verifica-se a fragilidade, tendo em vista este cenário.
315
Oferta de atividades físicas, esportivas e de lazer pelo poder público
Tabela 15 – Distribuição de frequência da oferta de Atividades Físicas, Esportivas e de Lazer pelo poder público de acordo com os usuários pesquisados.
Ofertas de Atividades Físicas, Esportivas e de Lazer f
Sim 15
Não 05
Total 20
Fonte: Elaboração própria, 2016.
A maioria dos usuários pesquisados afirmou que no seu bairro o poder
público oferece atividades físicas, esportivas e de lazer. Todavia, algumas falas
foram citadas, da seguinte forma:
No meu bairro não, na cidade sim, mas de forma pontual, ainda são concentrados (informação verbal)
40.
Acho que não, deveria ter nos bairros. Para chegar no Parque da Criança eu ando muito, pego um engarrafamento [...] (informação verbal)
41.
Tem os equipamentos [...] precisamos de orientação. Antes da eleição, o prefeito disse que seria feito um parque de diversão para as crianças (informação verbal)
42.
Independente dos gestores, o esporte é minimamente observado, o ministério é contrapartida, é muito pequeno, poucos equipamentos, pouco espaço para atividades esportivas. Aqui não tem quadra para praticar esportes (informação verbal)
43.
Oferecia. Agora que estão organizando, não sei se vão terminar. O mesmo que começou ganhou, acho que vai continuar (informação verbal)
44.
Nem todo lugar, tem bairro que não tem, vem copiando de outras cidades (informação verbal)
45.
No meu bairro não, nos outros bairros têm espaço de lazer, academia. Quem sabe Deus toque no coração, quem sabe eles não fazem (informação verbal)
46.
40
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador U1 à pesquisadora. 41
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador U2 à pesquisadora. 42
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador U3 à pesquisadora. 43
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador U5 à pesquisadora. 44
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador U9 à pesquisadora. 45
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador U14 à pesquisadora. 46
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador U15 à pesquisadora.
316
Opiniões sobre ofertas pelo poder público dos equipamentos para a prática
de atividades físicas, esportivas e de lazer
Categoria: Qualificação dos equipamentos e serviços
Tema Verbalizações
Valorizado e diversificado
“Deveria ser mais valorizado e mais diversificado. Campina
Grande tem o potencial de ter outros”. U1
“Acho que deveria ter mais opções, pois contamos
praticamente com o Parque da Criança e Açude Velho, poderia
ter mais e com uma pista de Cooper”. U2
f 02
Categoria: Plano de governo
Tema Verbalização
Eleição “Eu acho que deixa a desejar, é um bairro só lembrado na
época de eleição, só é lembrado na época de política”. U3
f 01
Categoria: Acesso aos equipamentos e serviços
Tema Verbalizações
Não pode pagar
“Achei uma providência muito boa, porque muita gente que
não tinha oportunidade de fazer academia, dança, Pilates.
Oportunidade para quem não pode pagar, muito bom, não sei
lá se governo, município, estado, mas muito bom”. U4
“Muito bom para quem não pode pagar e vem na hora que está
disponível, por conta das condições das pessoas, além da
comodidade”. U13
f 02
Categoria: Política pública
Tema Verbalizações
Falha do poder público
“Acho que é uma falha do poder público. É uma falha do poder
público, esporte é lazer, esporte é vida, equipamento dessa
natureza poderia tirar os jovens das drogas, alcoolismo.
Deveria colocar em prioridade e ter atenção maior”. U5
“É esquecimento do governo, sei lá o bairro da gente é
esquecido”. U15
f 02
317
Categoria: Benefícios da atividade física, esporte e lazer
Tema Exemplos de Verbalizações
Saúde e Lazer
“É bom, é para saúde, o lazer é para saúde. As pessoas têm
que se cuidar”. U7
“Muito bom, porque é um exercício que a gente faz”. U8
“Acho ótimo, faz bem para a gente, para quem tem hipertensão
e ganha peso, mesmo tendo alimentação correta”. U12
“Pessoa descansar e para a mente, se quiserem trazer as
crianças, elas ficam também no parque”. U19
f 05
Categoria: Participação e controle social
Tema Verbalizações
Consciência Política
“Nossa clientela, uns fazem e os outros deterioram. Quanto
mais manter melhor. As crianças têm onde brincar, a gente
conversa. O povo poderia melhorar”. U9
“Deveriam as pessoas se mobilizar mais, os representantes
trazerem algo para um bairro público, porque nem todos
pagam uma academia. Ainda nem se sabe qual o
representante do bairro para trazer melhorias para a
população”. U11
f 02
Categoria: Implantação e implementação
Tema Exemplos de Verbalizações
Benefícios para o bairro
“O que o prefeito tem feito é bom”. U16
“Acho bom que dá oportunidade aqui, para correr,
pedalar, jogar mais, mas só no Açude!!! Mas venho com
a mão no cru. Peço mais segurança”. U18
f 05
Ressalta-se que apenas uma pessoa não respondeu à questão. Contudo, ao
serem questionados sobre a oferta pelo poder público dos equipamentos e serviços
para as práticas das atividades físicas, esportivas e de lazer, classificaram-se suas
respostas nas seguintes categorias: qualificação dos equipamentos e serviços; plano
de governo; acesso aos equipamentos e serviços; política pública; benefícios das
atividades físicas, esportiva e de lazer; participação e controle social e implantação e
implementação. As categorias benefícios das atividades físicas, esportivas e de
lazer, como também a categoria denominada implantação e implementação, foram
as mais evidenciadas.
318
A categoria benefícios das atividades físicas, esportivas e de lazer vem
reforçar a preocupação voltada para a saúde já elucidada. De forma específica, as
suas respostas mencionavam a saúde e lazer e cuidado das pessoas. Outra
preocupação é ligada à natureza física; outra relacionada aos benefícios funcionais,
com foco na pressão arterial e metabolismo, e outra menciona que apresenta os
benefícios de ordem de recuperação, como também mental. Conforme a
Organização Pan-Americana de Saúde (2003), Santarém (2016), entre outros
autores, há uma relação positiva e de natureza preventiva entre a prática regular de
exercícios físicos e doenças crônicas, como também diversos estudos comprovam
os benefícios psicológicos da atividade física, como afirmam Matsudo e Matsudo
(2000).
A categoria intitulada implantação e implementação caracteriza-se pela
possibilidade de os espaços, serviços e equipamentos de lazer serem ampliados
para todos os bairros de forma efetiva e eficaz, sendo proporcionadas a prática de
atividades físicas, esportivas e de lazer, e que sejam tratados como Políticas
Públicas e direito de todos, em todos os bairros, principalmente para aqueles em
situações de vulnerabilidade social e econômica; que respeitem a identidade
esportiva e cultura local/regional, a exemplo da consolidação de programas, como a
efetivação de núcleos urbanos (BRASIL, 2016). Porém, sua concretização deve ser
fruto de ações/atividades descentralizadas para outros espaços configurados, tendo
em vista a realidade social.
A Lei Orgânica de Campina Grande – PB (1990) estabelece que, nos
conjuntos habitacionais, com número igual ou superior a 500 unidades residenciais,
haja implantação de praças esportivas. Além disso, no seu Plano Diretor (2006), o
lazer e os esportes estão apontados com questões que favorecem o
desenvolvimento local, do ponto de vista da sustentabilidade. O incentivo à criação
de centros poliesportivos para a formação de atletas é um dos objetivos da Política
Municipal de Desenvolvimento Econômico, Científico e Tecnológico previsto nesse
plano, dentre outros aspectos que possibilitam justificar a implementação de
políticas urbanas que venham fortalecer esses espaços/serviços e equipamentos, e,
por conseguinte, consolidar a política municipal de esporte.
319
Expectativas em relação à prática de atividade física, esporte e lazer
Categoria: Planejamento urbano
Tema Verbalização
Planejamento de espaços
“Que pelo menos os novos bairros [...] pelos menos nestes
bairros sejam estruturados, planejados os espaços e os outros
que tenham espaço que possam ser melhorados”. U1
f 05
Categoria: Atividade física, esporte e lazer e relação com a segurança
Tema Exemplos de Verbalizações
Ofertas de outros serviços e
equipamentos com segurança
“Acho que não só de espaço para caminhada, mas ter mais
academias, um acesso melhor para a população carente”. U2
“Melhorar mais, o povo acreditar, melhorar na saúde, tentar
ajudar, saúde e segurança, muito assalto”. U12
“Já tá bom, poderia melhorar, alguém para proteger, para não
estragar, tipo: vigia, não sei se fechar...”. U13
“Meu ciclismo, ciclovias e segurança, andar à vontade, meu
país Israel, quem rouba é cortada a mão”. U18
“Melhorar mais, oferecer outras opções”. U19
f 07
Categoria: Benefícios de atividades físicas e do esporte
Tema Exemplos de Verbalizações
Saúde e Lazer
“Que as pessoas se conscientizem e procurem fazer atividade
física porque é bom para a saúde, porque não é para corpo,
estética, para ficar com o corpo perfeito, mas para a saúde”. U4
“Espero mais porque é prevenção. Precisa mais nas
comunidades carentes. Este bairro tem muitas crianças
carentes”. U7
“Esperança que dê mais qualidade, todo mundo deixar de ser
preguiçoso. Conheço pessoas que estavam estressadas, a
maioria deveria fazer”. U14
“Melhora, muitas pessoas estão depressivas, o esporte vai
melhorando a questão mental e física, aqui encontramos
amigos, conhecemos pessoas, dialogamos”. U16
f 05
320
Categoria: Políticas públicas
Tema Exemplos de Verbalizações
Ações governamentais
“Sinceramente, não acredito muito não, a gente vê uma
prioridade na marcação de consultas, a UBS sem atender. Se
não dá à saúde não acredito. Espero que façam o que
prometeram e já faz mais de ano que não tem profissional”. U3
“São boas, porque na própria Olimpíada vemos os jovens.
Favorecem pensar em políticas de esporte, políticas de
investimento, alguns atletas poderiam ser favorecidos. No
futuro poderia ser uma das prioridades do governo”. U5
“Seja bem melhor para futuro, cada governante olhar mais, nós
pagamos impostos, merecemos conforto”. U9
“Na realidade de investir, mas não sabemos se investem”. U20
f 05
Categoria: Consciência cidadã
Tema Verbalizações
Participação popular
“Na área de esporte, as pessoas sejam conscientes e
organizarem o bairro que é mal visto”. U11
“Coisa boa, não ter violência, eles ajeitam e o povo
desmantela”. U17
f 02
Quanto às expectativas face às práticas de atividades físicas, esporte e lazer
na cidade, as respostas foram categorizadas voltadas para: planejamento urbano;
atividade física, esporte e lazer em relação com a saúde e segurança; benefícios da
atividade física e do esporte; políticas públicas e consciência cidadã.
Com a análise de conteúdo realizada, observou-se que as categorias
atividade física, esporte e lazer em relação à saúde e segurança; benefícios da
atividade física e do esporte e políticas públicas foram as que apresentaram maior
número de ocorrência.
Identificou-se que, ao tratarem de esporte e lazer, algumas respostas tinham
um desencadear com as questões ligadas à segurança. A segurança vem justificada
nas seguintes formas: áreas apropriadas para os ciclistas, com a presença de
ciclovias, no ponto de vista de combate a assaltos, e, por conseguinte, proteção.
Os benefícios da atividade física e do esporte foram apresentados num
contexto da saúde e lazer de forma abrangente, com vistas a rupturas do corpo
perfeito, saúde preventiva, suas contribuições de ordem emocional, fisiológica e
também social. Tais dados podem ser considerados como consequência da
321
influência da mídia, bem como pelo seu reconhecimento à importância na sociedade
contemporânea.
A categoria políticas públicas traduz as expectativas frente às políticas de
investimento para a área, analisam as metas prioritárias do poder público, a
criticidade da aplicação dos impostos arrecadados, como também para cumprimento
do plano de governo e promessas de campanha.
Por outro lado, é importante enfatizar que, embora as categorias:
planejamento urbano e consciência cidadã tenham tido apenas uma ocorrência, é de
suma importância destacá-las. Um usuário pesquisado anuncia a importância de um
planejamento, pelo menos para novos bairros, e que os demais possam ter
melhorias.
De acordo com a Lei Orgânica do Município (1990), através de um sistema
de planejamento tomando como base os objetivos e diretrizes previstos no Plano
Diretor, deverá organizar a administração, exercer suas atividades e promover
políticas de desenvolvimento urbano e rural. Nesse panorama, o planejamento
urbano e seus instrumentos de intervenção são entendidos para além de
documentos fadados à gaveta, como destaca Villaça (1999) e como acrescenta
Santos Júnior et al. (2011), ou seja, que sejam compreendidos para além de objetos
técnico-burocráticos.
Em relação à categoria – consciência cidadã, o foco da afirmativa se dá na
preocupação de que a população compreenda e reconheça a sua importância e
papel. Para Teixeira (2002), com a participação ativa de diversos segmentos sociais
com diferentes interesses, nos quais o cidadão exerce, reivindica e desfruta de seus
direitos, e, por conseguinte, torna-se protagonista de suas responsabilidades e
deveres. Deste modo, a consciência de cada habitante, cada cidadão e sua efetiva
participação em diferentes canais de articulação e interação entre governo e
sociedade são importantes na construção, implementação e avaliação das políticas
públicas, bem como para o cotidiano do bairro, da cidade, e, de forma específica,
suas expectativas para a área do esporte e lazer.
Sugestões para o poder público
Ao perguntar aos usuários sugestões para o poder público na área de
atividades física, esporte e lazer, a sua maioria respondeu com mais de uma
322
alternativa. As respostas mais citadas estavam relacionadas à construção de mais
espaços para as referidas práticas, melhorias no setor de segurança nesses locais,
a necessidade da presença de um profissional qualificado para a orientação dessas
atividades e ainda a manutenção dos espaços, serviços e equipamentos dessa
natureza. Dentre todos os pesquisados, apenas 02 não apresentaram sugestão,
como verifica-se nas seguintes falas:
“Não, no momento. Um dia já tive” (informação verbal)
47.
“O que não tinha chegou, não sei dizer” (informação verbal)
48.
VISÃO DOS NÃO-USUÁRIOS
Tipo de atividade física
Constatou-se que os não-usuários dos locais/serviços e equipamentos
pesquisados, dentre aqueles que participavam de alguma prática, ou seja, 09,
realizam a musculação e caminhada. Além disso, as academias privadas e os
projetos desenvolvidos na UEPB eram os locais mais utilizados para as referidas
práticas. Neste sentido, percebeu-se a importância da função social das
universidades, com ações, programas e projetos extra-muros, a partir da tríade
ensino, pesquisa e extensão, trazendo, por conseguinte, impactos positivos à
população.
Tabela 16 – Distribuição de frequência dos tipos de atividades de esporte e lazer praticados de acordo com os não-usuários pesquisados.
Tipos de Atividade f
Musculação 02
Academia e Hidroginástica 01
Dança 01
Corrida 01
Caminhada e alongamento 01
Caminhada 01
Futebol de Campo 01
Ginástica laboral 01
Nenhuma prática 11
Total 20
Fonte: Elaboração própria, 2016.
47
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador U13 à pesquisadora. 48
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador U17 à pesquisadora.
323
Local da prática
Tabela 17 – Distribuição de frequência dos locais de práticas de esporte e lazer de acordo com os não-usuários pesquisados.
Locais f
Academia privada 03
Projetos de extensão UEPB 02
Ruas da cidade 01
Residência 01
Proximidades da residência 01
Campo de futebol 01
Nenhum local 11
Total 20
Fonte: Elaboração própria, 2016.
Motivos da adesão ao esporte e lazer
No que tange aos motivos da adesão às referidas práticas, na sua maioria
estão relacionados à melhoria da saúde. Verificou-se que houve coincidência nas
modalidades práticas de maior procura tanto pelos usuários como não-usuários,
como também quanto aos motivos da prática, ou seja, benefícios para a saúde.
Tabela 18 – Distribuição de frequência da adesão ao esporte e lazer de acordo com os não-usuários pesquisados.
Motivos da Adesão f
Saúde e controle de peso 02
Manter o corpo e gostar 01
Saúde e sedentarismo 01
Saúde e melhoria da circulação e da flexibilidade 01
Saúde, melhoria do sono, melhoria da qualidade de vida,
desenvolvimento e bem-estar 01
Condicionamento físico 01
Gosto e tirar o stress 01
Gosto 01
N/R 11
Total 20
Fonte: Elaboração própria, 2016.
324
Avaliação dos equipamentos e serviços
Identificou-se que, dos 20 não-usuários entrevistados, 17 estão satisfeitos
com os equipamentos e serviços dos quais se utilizam. Diante dessa perspectiva,
constatou-se a ênfase na falta de uma orientação de um profissional para as
atividades físicas, esportivas e de lazer nos locais públicos municipais, segundo os
não-usuários, como uma das justificativas. A formação dos profissionais, para
Marcellino (2002), é uma das maiores dificuldades para a implementação de
políticas públicas de esporte e lazer. A cidade de Campina Grande – PB conta com
uma universidade pública, ou seja, a Universidade Estadual da Paraíba; três
entidades particulares, que oferecem a formação de profissionais para a citada área,
bem como diversas instituições na Paraíba, a exemplo do Instituto de Educação,
Ciência e Tecnologia – Campus de Sousa, Faculdade Integrada de Patos - FIP,
Universidade Federal da Paraíba – UFPB, Centro Universitário de João Pessoa –
UNIPÊ, entre outras. Todavia, alguns questionamentos podem ser feitos quanto aos
profissionais que atuam, tais como: nível de escolaridade, forma de ingresso, tempo
de serviço, carga horária, entre outros.
Tabela 19 – Distribuição de frequência sobre a avaliação dos equipamentos e serviços de esporte e lazer de acordo com os não-usuários pesquisados.
Avaliação dos equipamentos e serviços f
Positiva 17
Negativa 03
Total 20
Fonte: Elaboração própria, 2016.
Aqueles que avaliaram de forma negativa os equipamentos e serviços
públicos na área da atividade física, esporte e lazer justificaram que faltava
profissional para orientação, segurança e uma quadra oficial.
Quanto às considerações apresentadas que justificavam uma avaliação
positiva, estas foram: a participação da população nas atividades; oferecimento no
“Parque da Criança” e algumas opções diferentes; maior envolvimento dos idosos;
para as pessoas que não podem pagar; para o entretenimento da população; é um
ambiente natural; oportunidade para as pessoas que precisam fazer essas
atividades e utilização de área desocupada.
325
Contudo, mesmo perante o sentimento de satisfação, algumas ressalvas
foram apresentadas em 05 falas, a saber: falta de acompanhamento de profissional
para a orientação dessas práticas; precisa-se ampliar o número dos aparelhos,
equipamentos e serviços; deveria ter em todos os bairros; necessitam de
manutenção e resolver o problema do vandalismo.
Oferta de atividade física, esportiva e de lazer pelo poder público
Das pessoas que não são usuários dos serviços e equipamentos voltados
para a atividade física, esportiva e de lazer públicos e que não oferecem tais
atividades no seu bairro, acrescentaram às suas falas que fizeram um abaixo-
assinado e tem espaço, mas não oferecem; estão voltados para o Parque da
Criança e as pessoas que têm academias ao ar livre; deveriam ser ampliados para
todos os bairros; o crescimento dos bairros e edifícios dificulta; é importante para as
pessoas que não podem pagar; ainda deixa muito a desejar e se faz necessário
diversificar as práticas. No tocante à resposta que explicita a oferta para aqueles que
não podem pagar, leva-se ao entendimento que talvez não haja consciência crítica
sobre essa condição, ou seja, ausência de entendimento frente a impostos pagos
por cada cidadão brasileiro.
Nas respostas afirmativas, alguns acrescentaram à sua fala algumas
colocações, como se pode constatar a seguir:
Aqui tudo tem, aeróbica, karatê, algum movimento; evento de Hip Hop e pintura
49.
Oferece academia, quadra esportiva e outras coisas, também os aparelhos que constam nela
50.
No bairro onde moro, o único espaço público é o Canal de Bodocongó, para caminhada e corrida de bicicleta, e tem campos de pelada. Na cidade, hoje se vê mais academias populares, Parque da Criança, Praça da Liberdade, Açude Velho. A cidade oferece diversos locais para atividade física
51.
Oferece “Mexe Campina” e investimentos em academias populares. Bom ou ruim, já se investe em alguma coisa
52.
49
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador NU13 à pesquisadora. 50
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador NU14 à pesquisadora. 51
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador NU16 à pesquisadora. 52
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador NU17 à pesquisadora.
326
Na minha opinião, oferece muito pouco, é fraco; não comporta a população. Hoje o mundo é fitness
53.
Agora sim, com as praças públicas, sim
54.
Foi identificado que 50% afirmaram que o poder público oferece atividade
física de esporte e de lazer, e, em contrapartida, 50% responderam que não há
oferecimento dessas atividades. Através da a assertiva “[...] oferece muito pouco, é
fraco; não comporta a população. Hoje o mundo é fitness” NU19, pode-se elencar
olhares multifacetados acerca desta colocação. Assim sendo, como exemplo,
segundo Saba (2001), a procura por uma academia de ginástica tem como principal
objetivo a estética corporal, tendo em vista os anseios e a preocupação pela
aceitação social no grupo e/ou por integrar-se a um grupo de culto ao corpo.
Lipovestsky (2004b) complementa que o culto da saúde e da forma busca pela
beleza, entre outros. São novas tendências de consumo, ou seja, o contexto pode
estar caracterizado na sociedade de consumo, de espetáculo, da
contemporaneidade. Entretanto, conforme foi constatado anteriormente, o foco
central está voltado para fins de saúde.
Opinião sobre a oferta do poder público dos equipamentos para a prática de atividades físicas, esportivas e de lazer
Categoria: Acesso aos equipamentos e serviços
Tema Verbalizações
Não pode pagar
“A aeróbica que tem no Parque da Criança, acho interessante
para as pessoas que não podem pagar e acho de qualidade”.
NU5
“A cidade está muito evoluída, passo num bairro e vejo as
pessoas fazendo; para as pessoas que não podem pagar
academia”. NU7
“Se é ruim para mim é ruim para toda comunidade, porque não
temos espaços públicos ou pagar uma academia”. NU9
“Ótimo principalmente para as pessoas que não tem como
pagar academia”. NU20
f 04
53
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador NU19 à pesquisadora. 54
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador NU20 à pesquisadora.
327
Categoria: Benefício da atividade física
Tema Verbalizações
Saúde
“Ótimo porque a gente está num período que as pessoas se
preocupam mais com a saúde, com a alimentação e quanto
mais incentivo melhor”. NU4
“Muito bom porque quem tem tempo vai manter a forma, a
saúde, para não ficar sedentário”. NU8
“Bom, outros bairros que incentivam a sair do sedentarismo,
tem também a academia comunitária”. NU10
“É importante porque hoje em dia a atividade física é bom para
a saúde, a atividade leva à saúde”. NU16
f 04
Categoria: Ações do poder público Tema Verbalizações
Poder público
“É uma forma de urbanizar um espaço social que vai gerar um
bem coletivo e individual, todo mundo preservar e todo local
uma praça”. NU11
“Creio que além da falta de consideração com a periferia
deveria ter mais um olhar do poder público”. NU13
“Falta de planejamento do poder público. Como os interesses
econômicos, quem prevalece para o poder público? O
problema do esporte e lazer é um problema cultural, precisa
ser incentivado para convencer as pessoas para ter uma
melhor qualidade de vida”. NU15
f 03
Categoria: Ampliação e diversificação dos serviços e equipamentos de atividade
física, esporte e lazer
Tema Verbalizações
Opções
“Regular, porque eram mais programações, mais locais,
porque diz “Parque da Criança”, deveria ter um pelo menos em
cada região: Norte / Sul / Leste e Oeste. Oferecer mais
opções, pois no Parque da Criança só oferece mais caminhada
e dança”. NU1
“Que o poder público deva oferecer mais opções de esporte e
lazer”. NU2
f 02
328
Categoria: Acompanhamento de um profissional
Tema Verbalização
Orientação “Acho que o que falta é a orientação”. NU17
f 01
Categoria: Bem coletivo
Tema Verbalizações
População
“Interessante para a população, é interessante principalmente
para os idosos e para aqueles que estão no bairro. Acho
ótimo”. NU3
“Bom para as pessoas que moram no bairro, é bom para a
comunidade, tem os esportes, tem a diversão para as
crianças...”. NU6
“É uma boa para o coletivo, a comunidade”. NU14
f 03
Categoria: Atenção às crianças, adolescentes e jovens
Tema Verbalizações
Suscetibilidade das crianças,
adolescentes e jovens às drogas
nas ruas.
“Para quem está participando numa ação social é mais para
melhorar, é para terceira idade. Muito suscetível as drogas aos
adolescentes, a polícia passa e não pode fazer nada, mas eles
não mexem com ninguém”. NU12
“Ruim, porque se tivesse interessava mais as crianças; tiravam
mais da rua, não tem o que oferecer às crianças, ficam
jogadas”. NU18
“Acho em relação principalmente para os jovens tirar das ruas;
tirar das drogas”. NU19
f 03
No tocante à opinião acerca da oferta pelo poder público municipal dos
equipamentos para a prática de atividades físicas, esportivas e lazer, classificou-se
nas seguintes categorias: acesso aos equipamentos e serviços; benefícios para a
atividade física; ações do poder público; ampliação e diversificação dos serviços e
equipamentos de atividade física, esporte e lazer; acompanhamento de um
profissional; bem coletivo e atenção às crianças, adolescentes e jovens. As
categorias que se destacaram quantitativamente foram: acesso aos equipamentos e
serviços e benefícios da atividade física.
No Brasil, apesar do esporte e lazer serem reconhecidos como direitos,
expressos na Constituição Brasileira (BRASIL, 1988), uma grande parte da
população não tem condições financeiras para pagar o seu acesso, ficando, assim,
329
essa demanda social a ser atendida através de políticas públicas.
Consequentemente, contribuem para a melhoria da saúde dessas pessoas e para a
vida em sociedade, sendo considerados como bem coletivo. Porém, foi enfatizada a
necessidade de ampliar, diversificar esses espaços, serviços e equipamentos. Além
do mais, deve ser repensado e fortalecido esse campo para as crianças,
adolescentes e jovens que estão em situação de vulnerabilidade social.
Expectativas em relação à prática de atividade física, esporte e lazer
Categoria: Ampliação da oferta dos serviços e equipamentos para as práticas nos
bairros
Tema Verbalizações
Expansão para os bairros
“Fique melhor, ficar em todos os bairros e não só em uns e
outros não”. NU7
“Espero que o prefeito tenha um olhar também para o nosso
bairro, quanto ao geral da cidade, não sei; as demais sei o
Parque da Criança, já para a terceira idade deve ser ruim para
se deslocar. O bairro Monte Santo é desprivilegiado pelo poder
público, não tem nada”. NU9
“Espero que essa ideia das academias e espaços para
atividades deviam estar não só nos espaços centrais, mas em
todos os bairros, que estejam cada vez mais presentes na
nossa comunidade”. NU16
f 03
Categoria: Benefícios das práticas de atividades físicas, esportivas e de lazer
Tema Exemplos de Verbalizações
Saúde
“Espero que cresça, que traga mais coisas inovadas para a
população que está envolvida. O pessoal está muito voltado
para isso, o pessoal não está pensando mais em estética, e
sim na saúde”. NU3
“Que as pessoas pratiquem mais o esporte, se movimentem
para não ficarem sedentários, pois é bom para a saúde, evita
certas doenças, controla, o coração agradece”. NU8
“Espero que seja bom para a saúde da população”. NU20
f 04
330
Categoria: Acompanhamento de um profissional
Tema Verbalizações
Profissional para orientação
“Haja mais adeptos, mais envolvimento, que o povo se
conscientize e que o poder público disponha de mais
profissionais orientando”. NU10
“Melhorar a orientação, pois as pessoas criam um
alongamento”. NU17
f 02
Categoria: Ampliação e melhorias no setor da atividade física, esporte e lazer pelo
poder público
Tema Exemplos de Verbalizações
Poder público e a população
“Mais interesse público para a atividade física, para o povo
começar a se mexer, para termos mais consciência que
precisamos de atividade. A sociedade, a população do meu
bairro está muito parada”. NU1
“Que surjam mais atividades físicas, mais locais e que a
população não deprede esses locais”. NU5
“Mais opções, o foco hoje é na aeróbica, uma administração
mais forte. Foi tirado um carrossel quebrado e não voltou mais.
Não tem ninguém para tomar conta, só vigia segunda e quarta-
feira à noite”. NU12
“Tivessem mais projetos; a respeito de futebol, voleibol,
corridas, entre outros, para a população não se acomodar
muito e não ficar presa à tecnologia em casa”. NU13
“Como o esporte é uma atividade atual, do mundo globalizado,
tem que melhorar, tudo tem que ser planejado”. NU15
f 09
Categoria: Negação
Tema Verbalização
Não melhorias “Vontade é uma coisa, mas expectativas, acho que não vão
melhorar nos próximos anos”. NU2
f 01
331
Categoria: Atividade física
Tema Verbalização
Incentivo e adesão à atividade
física
“O município tem grande adesão e aceitação das academias
implantadas, se vê incentivo de atividade física tanto nas
escolas como em projetos das universidades; nos centros de
saúde implantados se vê os incentivos para os jovens,
diminuição da violência e da valorização do patrimônio público
da comunidade”. NU11
f 01
No que diz respeito às expectativas dos não-usuários entrevistados sobre a
prática de atividades físicas, esportivas e de lazer, a partir da análise de conteúdo,
chegou-se às seguintes categorias: ampliação da oferta dos serviços e
equipamentos para as práticas nos bairros; benefícios das práticas de atividades
físicas, esportivas e de lazer; acompanhamento de um profissional; ampliação e
melhorias no setor da atividade física, esporte e lazer pelo poder público; negação e
atividade física.
A categoria que teve maior evidência foi ampliação e melhoria no setor da
atividade física, esporte e lazer pelo poder público. Nesta categoria, as explicativas
foram dadas considerando os seguintes aspectos: maior incentivo e orientação do
poder público à população, para que haja uma maior adesão à atividade física e de
esporte, com vistas à diminuição do sedentarismo; que a atividade física seja uma
prática regular, oferecida noutros locais, com uma maior diversidade de
modalidades; que a população colaborasse com a preservação do patrimônio
público; espera-se ainda vigilância nesses locais; uma gestão dinâmica; que haja
planejamento das ações e a efetivação de projetos de diferentes esportes.
Sugestões para o poder público
Apenas uma pessoa não apresentou sugestão, respondendo da seguinte
maneira: “Não sugiro, não participo, para mim tanto faz” (informação verbal)55.
As sugestões para o poder público mais evidenciadas foram: disponibilidade
de um profissional para orientação; ampliação do número de academias populares;
construção de ginásios, campos de futebol, quadras, pistas para caminhada,
55
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador NU6 à pesquisadora.
332
ciclovias e parque de natação; oferta de outras práticas corporais e diferentes
esportes e realização de campanhas educativas para a população.
VISÃO DOS JORNALISTAS
Esporte e lazer na sociedade atual
Quanto às categorias: importância do esporte e lazer na vida das pessoas;
avanços no esporte e lazer e esporte e lazer na política urbana definiram a temática
– esporte e lazer na sociedade atual, dos 06 jornalistas pesquisados, 50% deram
suas respostas voltadas para a preocupação com os espaços, suas relações e
condições para a prática/vivência do esporte e lazer na sociedade nos dias de hoje.
Para eles, falta apoio do poder público. Foram mencionadas as condições precárias
do Complexo Plínio Lemos, situação identificada durante as observações de campo;
a problemática face à falta de espaço para práticas esportivas, e ainda que há uma
centralização das atividades no “Parque da Criança” e no “Açude Velho”, embora
seja justificada por questões de falta de segurança. Outros aspectos ora levantados
foram que o esporte e lazer estão fortalecidos, relacionados à melhoria da qualidade
de vida, saúde e bem-estar. Mas, em contrapartida, nas aulas de Educação Física
na escola, não são tratados com a devida importância.
Constatou-se também que a preocupação com os campos de futebol,
denominados campos de pelada, é um outro problema, pois justifica por ser a
“paixão nacional do brasileiro”. Por outro lado, o Sistema Desportivo Nacional, a
gestão pública, entre outros fatores, vem difundindo o lugar do futebol nesse
contexto. De outro modo, de acordo com a Secretaria Nacional de Futebol e Defesa
dos Direitos do Torcedor (BRASIL, 2016), estão previstos várias ações e programas
para a melhoria do futebol brasileiro.
Categoria: Importância do esporte e lazer na vida das pessoas.
Tema Verbalização
Vida
“Positiva porque hoje o Brasil vive de esporte e lazer. O
esporte e lazer são importantes na vida do ser humano. Ele
não vive sem esporte e lazer”. J4
f 01
333
Categoria: Avanços no esporte e lazer
Tema Verbalizações
Mudança
“Melhorou um pouco, deveria ser mais observado. Existia
muito tabu, mas aos poucos vem mudando essa concepção”.
J2
“Acho muito mal explorado, não é visto pelos poderes públicos;
pela força, pelos fatores que trazem consigo na saúde, por
exemplo: o esporte é explorado na educação e saúde. A
internet tem prejudicado. E no Brasil a questão de segurança
também tem prejudicado. O esporte era uma atividade
espontânea, hoje é forçado, tem se mostrado uma mudança”.
J5
f 02
Categoria: Realidade e necessidades
Tema Verbalizações
Espaço, Relações e Condições
“Falta muito apoio do poder público em geral. Em Campina
Grande, ainda há no bairro José Pinheiro, o Complexo Plínio
Lemos – local abandonado, que poderia ser mais aproveitado.
Falta de local em Campina Grande, como campos de pelada,
já que o futebol é a paixão nacional do brasileiro. O único local,
o Parque da Criança ou caminhada às margens do Açude
Velho. Por questão de segurança, as pessoas não fazem”. J1
“Vejo muita necessidade da população, mas acho pouco
espaço. Parque da Criança, Liberdade, academias... Mas, é
uma necessidade muito grande”. J3
“Acho que hoje está muito fortalecido, muito ligado à qualidade
de vida, saúde e bem-estar. Pena que temos ainda
dificuldades: entendimento das pessoas, do poder público e a
falta de espaços. E nas escolas, as aulas de Educação Física
são relegadas ao segundo plano”. J6
f 03
Esporte e lazer na política urbana
Quanto à questão Esporte e lazer na política urbana, foram sistematizadas,
a partir das respostas dos jornalistas, as categorias que se seguem, na ordem de
maior frequência: avaliações das ações e atuações do poder público e indicadores
para o planejamento.
Com relação a como são avaliados e de que forma o poder público intervém
no esporte e lazer na política urbana, foram apresentados os seguintes aspectos: o
poder público o faz pouquíssimo, embora outro jornalista tenha dito que houve uma
mudança importante. Outro olhar destaca para que fossem colocadas em prática as
334
ações. Dentre as explicativas dadas, estão: a aproximação do esporte e educação;
para que os jovens não caiam na marginalidade; que o esporte é saúde; que a
estrutura de uma maneira geral precisa ser revista. Outro elemento que se
configurou foi o enaltecimento atribuído às corridas, do ponto de vista positivo, ao
associar, talvez, os pontos fortes da cidade, do ponto de vista cultural e turístico.
Categoria: Avaliação das ações e atuação do poder público
Tema Verbalizações
Críticas e recomendações ao
poder público
“Os políticos pouco fazem, o poder público faz muito pouco.
Esporte e educação juntos para que os jovens não caiam na
marginalidade. Os políticos falam que esporte é saúde, mas
não fazem quase nada”. J1
“Na minha opinião, já tem uma mudança muito significativa,
mas deveria ser ampliada, se refere a uma condição no
tocante a toda estrutura”. J2
“Seria interessante que saísse da teoria e que se fosse feito,
fossem dadas condições”. J3
“Aqui em Campina Grande, o lazer no mês de junho com a
Corrida de Jegue, corrida da fogueira... É extraordinário. O
secretário de esporte é muito envolvido com essa atividade”. J4
f 04
Categoria: Indicadores para o planejamento
Tema Verbalizações
Problemática
“A gente tem visto a preocupação em criar novos esportes [...],
o espaço por questões de segurança inviabiliza; falta de
educação da própria população atrapalha. Em Campina
Grande surgem pessoas de grandes referências [...]”. J5
“Hoje por exemplo: quadra se constrói, as praças se
aproveitou; com as praças temos o lazer unindo atividade
física e prática de esporte. Com a urbanização e construção de
edifícios não se pratica futebol de pelada, exemplo: ciclismo –
ciclovias, hoje outras opções de esportes, como: vôlei de areia,
apesar de tudo isso precisa melhoria, não é ideal, isso precisa
melhorar”. J6
f 02
Gestão do esporte e lazer
Dois jornalistas da área de esporte que fizeram parte da pesquisa
enalteceram a gestão do esporte e lazer na cidade, muito embora com condições de
perspectivas de melhorias, como se pode verificar nas seguintes colocações:
335
Hoje melhorou muito com Romero Rodrigues, mas ainda há muito a alcançar na área esportiva [...] (informação verbal)
56 J3
O secretário de esporte se envolveu muito com o esporte. A diferença de Campina Grande e João Pessoa é tremenda porque a PMCG se envolveu muito com eventos, campeonatos patrocinados [...] (informação verbal)
57.
Duas falas mencionaram a questão do planejamento entre outras
problemáticas que refletem preocupações com a gestão da referida pasta, quando
afirmam que:
A criação da Secretaria de Esporte não foi planejada, porque acompanhamos pouco, não tem orçamento, mas tem pessoas que se esforçam, mas tem questões políticas. Tem locais, talvez, pela falta de verba, preocupações novas e antigas, deixam a desejar; faltam pessoas qualificadas, pasta não para qualquer um, mas para os preparados (informação verbal)
58.
Deixa muito a desejar, não é tratado como prioridade, apesar de ter algumas praças/academias públicas. Mas o poder público no planejamento, a Secretaria de Esporte e Lazer deixa muito a desejar, não tem dependência, parece ter finanças, vemos uma lacuna sobre isso (informação verbal)
59.
Outras preocupações em relação à gestão do esporte e lazer em Campina
Grande – PB surgiram com:
A gestão de esporte em Campina Grande vem com a preocupação voltada com a corrida [...]. Tem também o Programa Mexe Campina no Parque da Criança [...]. O complexo olímpico ou em algumas zonas norte, sul, leste e oeste, estas para atender os bairros. Sabe-se que, o Complexo Plínio Lemos está sucateado (informação verbal)
60.
Deveria ter maior, é uma coisa de muito fachada. Na verdade, não tem o apoio, aquele apoio necessário [...] (informação verbal)
61.
Esporte e lazer na cidade
Quanto à pergunta realizada acerca do esporte e lazer na cidade, aos
jornalistas foram formadas duas categorias, a saber: planejamento urbano e políticas
públicas; e necessidades. A primeira categoria trata sobre a questão do crescimento
56
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador J3 à pesquisadora. 57
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador J4 à pesquisadora. 58
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador J5 à pesquisadora. 59
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador J6 à pesquisadora. 60
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador J1 à pesquisadora. 61
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador J2 à pesquisadora.
336
da cidade, o papel do poder público, a forma da participação da sociedade na
discussão do esporte e lazer na cidade e na definição de políticas públicas.
Dentre vários aspectos apresentados nas verbalizações aqui transcritas,
destaca-se uma preocupação sobre a discussão entre desenvolvimento e
crescimento.
Para Piquet e Ribeiro (2008), as sociedades capitalistas, após a Segunda
Guerra Mundial, ao longo do período de crescimento econômico e de modernização
das estruturas sociais, desencadearam teorias sobre o desenvolvimento, em que as
políticas públicas compensatórias de bases Keynesianas são concebidas como
capazes de fazer frente às fases recessivas dos ciclos econômicos e de minimizar
desequilíbrios sociais e setoriais derivados da lógica do mercado.
Brandão (2011, p. 34) entende desenvolvimento como:
Um processo de exercitar opções alternativas frente a uma temporalidade construída e não-imediata, apta a sustentar escolhas, apresentando trajetórias abertas, sujeitas a decisões estratégicas e embates em contexto de incontornável diferenciação de poder.
Lefebvre (1999a) afirma que pode haver crescimento sem desenvolvimento
e às vezes, desenvolvimento sem crescimento. Mello e Vogel (1989) ressaltam a
necessidade de repensar que a ideia do desenvolvimento seja desvinculada de
critérios exclusivamente econômicos, subordinando-a a valores não centrados no
mercado. Isto exige a formulação e a implementação de novas propostas políticas
para o processo de desenvolvimento. Por outro lado, de acordo com Porto et al.
(2012, p. 03), “a relação entre investimento e desenvolvimento constitui uma questão
essencial para o entendimento do papel de políticas públicas”. Para eles, há uma
associação entre investimento em infraestrutura e crescimento econômico, mas nem
sempre ocorre da mesma forma no que se refere à relação entre investimento com
infraestrutura e desenvolvimento socioeconômico.
Outro aspecto a ser enfatizado é Orçamento Participativo. Com base em
Souza (2004), os conselhos de orçamento participativo vinculam-se à gestão urbana
e aos conselhos de desenvolvimento urbano, os quais são instâncias participativas
com vistas ao planejamento da cidade.
Com uma visão crítica, Bracht (2005) afirma que os motivos que levam as
ações governamentais para o ramo esportivo são: que o seu acesso à massa da
337
população trará o bem-estar, a partir da promoção de saúde; de forma
compensatória para as questões emblemáticas de vida urbana, marcadamente
tecnologizada e pelos interesses econômicos do fenômeno esportivo. O autor ainda
acrescenta que o esporte como atividade de lazer deve ser priorizado.
Mas, diante desse contexto, algumas reflexões surgem: Quais são os
interesses e as necessidades dos moradores? Qual a realidade conjuntural onde
estão inseridos? Quais instâncias representativas, deliberativas marcam o
protagonismo do esporte e lazer no cenário do planejamento urbano e de políticas
públicas, levando em consideração que devem ser vistos de uma forma ampla e
devidamente valorizados?
Categoria: Planejamento urbano e políticas públicas
Tema Verbalizações
O crescimento da cidade, o poder
público, a participação social e
políticas públicas
“Eu acho que precisa ser visto com bons olhos pela
autoridade, a cidade vem crescendo, mas estão esquecendo
desse contexto urbano. A opção é muito pouca para o
tamanho da cidade”. J2
“Como a gente aqui, pessoas que se dedicam ao voluntariado;
falta de conhecimento e valorização dos que existem. Não
valorizado pelo público e nem privado [...]. Saúde – Educação
– Segurança, são projetos isolados, questões políticas,
questões de eventos, não de propagandas de conceitos e
ideias, mas questões por falta de políticas públicas”. J5
“De um modo geral, acho que faltou uma valorização do poder
público; a população cobrar. Os espaços cada vez menores e
a cidade cresce. Quando fala-se, lembra-se Parque da
Criança, Açude velho. Não existem, não há planejamento. A
sociedade tem condições de discutir as políticas públicas. No
orçamento participativo não é colocado como prioridade; as
escolas não desenvolvem o esporte [...]”. J6
f 03
Categoria: Necessidades
Tema Exemplos de Verbalizações
Espaço restrito
“Faltam mais eventos em Campina Grande, eventos para além
das corridas de rua, maior apoio do poder público no esporte
amador”. J1
“Em junho uma participação muito grande pela população,
embora que o espaço é muito restrito [...]”. J3
f 03
338
Acesso ao esporte e lazer de interesses físico-esportivos
No tocante ao acesso de esporte e lazer, dois participantes fizeram
referências a instituições que atendam às pessoas com deficiência, muito embora de
forma tímida, como O “Instituto dos Cegos”, a Equipe de Futebol de Cinco, APAE e
EDAC (Escola de Deficientes de Áudio Comunicação). Além disso, apresentaram
observações quanto à falta de incentivo. São poucas as ações voltadas para o
paradesporto e, ainda, quando há acessibilidade, é de forma improvisada. Deveria
haver mais cobrança.
Aspectos direcionados para a ótica de melhorias foram reportados, como se
constatou nas seguintes respostas:
Na gestão de Romero Rodrigues, vemos o Mexe Campina, a atividade física nas academias urbanas, melhorou muito, mas continua melhorando [...] (informação verbal)
62.
Chega através dos rádios, principalmente depois que as rádios comunitárias chegaram. A população participa muito [...] (informação verbal)
63.
Por outro lado, encontraram-se também inquietações do ponto de vista da
citada temática, pois responderam da seguinte maneira:
Falta muita coisa mesmo [...]. Falta mais incentivo para que a população se aproxime mais; incentivo por parte de todos, além de oferecer mais espaços físicos para a população, aproveitar um programa de divulgação maior, incentivando o povo ao esporte; infelizmente aqui não se tem (informação verbal)
64. J4
[...] falta acompanhamento do profissional para as pessoas fazerem atividades. Não temos ciclovias [...]. Como política pública, não tem. É uma dificuldade bem clara (informação verbal)
65.
VISÃO DOS PRESIDENTES DE SABs
Esporte e lazer na sociedade atual
Tratando-se da temática central, Esporte e lazer na sociedade atual,
organizaram-se as falas dos Presidentes de SABs entrevistados nas seguintes
categorias: serviços, equipamentos e condições; esporte e lazer como prioridade e
62
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador J1 à pesquisadora. 63
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador J2 à pesquisadora. 64
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador J4 à pesquisadora. 65
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador J6 à pesquisadora.
339
benefícios para a saúde e demandas para o poder público na área do esporte. Esta
última categoria mencionada foi a que apresentou um maior número de respostas.
Tais respostas remetem às necessidades e outras justificativas que se voltam para
demandas do poder público na área de esporte e lazer. As colocações estão
focalizadas da seguinte forma: seu aparato legal; na visão de que se parta das
necessidades da população; a relação da retirada das crianças da rua e do mundo
das drogas através do esporte; o reconhecimento de que fazem parte da educação e
as fragilidades e dificuldades por falta de espaços para o esporte.
Categoria: Serviços, equipamentos e condições
Tema Verbalizações
Espaço, Segurança e Manutenção
“O esporte e o lazer existem em academias e praças, mas
acho que deveria haver mais segurança; são um pouco
deterioradas, precisa reforma, mas queríamos a guarda
municipal, pois os “desocupados” quebram os equipamentos
[...]”. PS1
“No Jardim Paulistano tem uma praça que a atual gestão
colocou uma academia popular, campos de “pelada” [...]”. PS8
f 02
Categoria: Esporte e lazer como prioridades e benefícios para a saúde
Tema Verbalizações
Saúde
“Esporte e lazer são prioritários desde a criança e no adulto,
enfim trabalhando para as crianças da rua. Esporte e lazer
também é saúde”. PS4
“Na minha visão esporte e lazer significam uma coisa mais
importante na comunidade, o esporte e lazer para quem
participa são muito importantes na vida. Esporte para sua
saúde e lazer para sua saúde”. PS5
f 02
Categoria: Demandas para o poder público na área do esporte e lazer
Tema Exemplos de Verbalizações
Necessidades e Justificativas
“Quando temos é difícil, o esporte e lazer não temos em lei, o
governo tem que saber o que a população quer. Tem pouco
esporte e lazer, falta muita coisa, deveria ter a escolinha nos
bairros para as crianças e os adolescentes saírem da rua [...].
Falta incentivo e ajuda do poder público, fica muito difícil
[...]”.PS2
340
“É importante porque no mundo em que vivemos, é muito
importante, porque vivemos no mundo da violência, tirávamos
da rua e também o esporte e o lazer já faz parte da educação”.
PS3
“Já temos o Centro da Liberdade, o Parque da Criança, mas
nos bairros faltam por serem na periferia. Faltam os campos de
peladas, onde saem pessoas cidadãos, porque no esporte tira
do mundo das drogas. Faltam quadras, espaços para
esportes”. PS9
f 06
Esporte a lazer na política urbana
A atuação do poder público; a política de investimento; atuação da SAB;
participação política dos vereadores; apoio e incentivos foram as categorias
sistematizadas para a questão Esporte e Lazer na Política urbana. A categoria
Atuação do poder público foi formada por um maior número de verbalizações. Assim
sendo, pode levar a entender que os Presidentes de SABs estão cobrando,
querendo uma atuação/intervenção do poder público de uma maneira mais
consistente, eficaz. Alguns pontos foram identificados, como: implementação de
ciclovias; as questões habitacionais e a relação com os empresários da área devem
ser discutidas de forma mais efetiva; e ainda, elaborar um diagnóstico nos bairros e
reconhecer suas demandas.
Além disso, embora tivessem sido despertadas apenas em duas
verbalizações, é importante trazer para a discussão a preocupação dos presidentes
no que diz respeito à definição do papel do poder público e de forma mais
específica, discutir o papel e qual a avaliação do poder legislativo municipal, tendo
em vista a problemática-esporte e lazer na política urbana.
Categoria: Atuação do poder público
Tema Exemplos de Verbalizações
Poder público
“Acho uma vergonha desde 1992 o conjunto não tem área de
esporte e lazer, lá não tem essa política”. PS1
“[...]. A Prefeitura poderia fazer mais para aproveitar o
esporte, não só futebol, basquete, voleibol .... Com o decorrer
dos tempos os construtores vão ocupando espaço. [...], o
poder público não entrou, foi sendo ocupado e o poder
público não viu aqui, poderia ser aqui...”. PS5
f 04
341
Categoria: Política de investimento
Tema Verbalização
Investimento
“Vejo de forma carente de uma parte, porque se tem uma
pessoa para trabalhar com o esporte, deveriam as autoridades
competentes investirem mais, porque ainda tem muita criança
e adolescentes soltos, porque podem ser no futuro um drogado
[...]”. PS10
f 01
Categoria: Atuação da SAB
Tema Verbalização
Ação da representação do bairro
“Tem espaço. Tem incentivo da Prefeitura. Apesar de estarem
extinguindo. Lazer, eles incentivam, Domingo no Parque que
era bom. Estou pensando em realizar isso no bairro, tirar o
entulho para a área ficar plana e realizar essas atividades”.
PS4
f 01
Categoria: Participação política dos vereadores
Tema Verbalização
Vereadores
“Acho que o poder público, as autoridades deveriam ter mais
espaços. Os vereadores têm pequena participação. Muitos
meninos soltos, carentes, sem ter campinho, sem ter nada”.
PS7
f 01
Categoria: Apoio e incentivos Tema Verbalizações
Disponibilizar e incentivar
“Incentivos aos jovens e adultos à prática dos exercícios
saindo do sedentarismo”. PS3
“Lá na questão esporte, temos duas quadras, disponibilizando
à comunidade, [...]”. PS6
“Sim, porque é mais uma atividade que a gente dá mais uma
força para a região que a gente convive”. PS8
f 03
342
Gestão do esporte e lazer
Ao serem questionados sobre a gestão do esporte e lazer de uma maneira
geral responderam com interesse de melhora, como também se ressalta nos trechos
das falas citadas:
Falta organização, precisa chamar o povo. Quando marcamos uma reunião, ninguém vem. Quanto à corrida, trabalha-se. Fraquíssimos, porque os dirigentes, quando chamamos o poder público, só fazem prometer. O que vemos é criançada na rua [...] (informação verbal)
66.
Não conheço quase nada, uma gestão muito fechada, única coisa que a gente percebe o “Mexe Campina”, temos a Vila Olímpica, praticamente sem atividade para a comunidade (informação verbal
67).
Houve avanços, exemplo: Programa “Mexe Campina”, mas acho muito restrito, deveria ser ampliado para todos os bairros [...] (informação verbal)
68.
Falho, por falta de investimento. Devia ter uma programação definitiva de esporte e lazer no bairro e evento que passa. Queria que tivesse quadra nas escolas municipais (informação verbal)
69.
Acho muito a desejar. Eles veem com poucos olhos, as autoridades dizem que vão fazer e as drogas vêm aumentando [...] (informação verbal)
70.
Com mais investimentos, com mais segurança, uma coisa puxa a outra, porque se tiver esporte e lazer e não tiver segurança, desmancha. Em termo de Paraíba, o prefeito daqui tem feito muitas academias e praças, se preocupa muito, mas não sei por quê [...] (informação verbal)
71.
Entretanto, algumas respostas representam um pouco de envolvimento com
a temática, por parte dos pesquisados. Ora encontram-se satisfeitos, ao afirmarem
que:
Não tenho palavras, porque eu tenho a dizer que colocou uma pessoa que entende do esporte (informação verbal)
72.
Em si não tem como falar do bairro, como, por exemplo, o professor de karatê, que faz trabalho voluntário. A prefeitura ajuda, tem a Secretaria de Esporte e Lazer com o Mexe Campina, no Parque da Criança com idosos. Existem a parte pública e a privada [...] (informação verbal)
73.
66
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador PS1 à pesquisadora. 67
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador PS3 à pesquisadora. 68
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador PS4 à pesquisadora. 69
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador PS7 à pesquisadora. 70
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador PS9 à pesquisadora. 71
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador PS10 à pesquisadora. 72
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador PS2 à pesquisadora. 73
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador PS5 à pesquisadora.
343
Tem-se preocupado em realizar em área carente o desenvolvimento da prática desportiva, com a construção de praças e academias populares [...] (informação verbal)
74.
Questão que não me envolvo muito, porque cuido mais da comunidade, apesar de não ter sede própria [...] (informação verbal)
75.
Esporte e lazer na cidade
Ao ser tratado o assunto Esporte e lazer na cidade, junto aos representantes
das SABs, organizou-se, nas categorias que se seguem: condições de acesso;
ampliação e diversificação das atividades, ações e projetos; serviços e
equipamentos; e política de apoio e incentivo. Sendo que a primeira citada foi a que
obteve maior evidência.
O que ficou na categoria Condições de acesso foi a compreensão de que as
pessoas carentes, que não têm condições financeiras, não têm acesso ao esporte e
lazer em Campina Grande – PB.
Observou-se também que o SESC e o SESI foram citados. Acompanhou-se
historicamente que esses sistemas tiveram e têm sua importância no cenário
nacional do esporte e lazer, conforme Dumazedier (1999), Marcellino et al. (2007),
entre outros, como também que as formas e critérios de utilização vêm sendo
modificados e/ou ampliados.
Categoria: Política de apoio e incentivo
Tema Verbalização
Incentivo e valorização
“Tem demonstrado uma atenção especial em todos os
aspectos, procurando várias formas de incentivar e valorizar a
prática esportiva. No ciclismo com a ciclovia, Mexe Campina,
ações no Parque da Criança e no Complexo da Liberdade”.
PS4
f 01
74
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador PS6 à pesquisadora. 75
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador PS8 à pesquisadora.
344
Categoria: Condições de acesso
Tema Exemplos de Verbalizações
Acesso
“No esporte, temos dois times grandes (Treze e Campinense)
e o esporte de pelada que a prefeitura ajuda. O lazer tem o
Parque da Criança e os clubes privados como o SESC e SESI.
O pessoal carente não tem acesso. No geral, a secretaria
ajuda”. PS5
“Acho que tem alguns bairros que estão carentes nessa parte,
mas ele está entrando no segundo mandato...”. PS10
f 04
Categoria: Serviços e equipamentos
Tema Verbalizações
Espaço
“Acho que falta muita coisa, porque os administradores não
dão oportunidades. Exemplo: era pra ter espaço para terceira
idade [...]”. PS3
“Fraco, porque não tem incentivo. Se o Secretário de Esporte e
Lazer chegasse no bairro, fizesse quadra, espaço para a
população praticar algum esporte [...]”. PS9
f 02
Categoria: Ampliação e diversificação das atividades, ações e projetos
Tema Verbalizações
Diversificar
“Calendário de eventos é muito pouco. As autoridades
poderiam fazer o seguinte: procurar os presidentes de SABs,
para ouvir com as SABs, Clube de Mães [...]”. PS1
“Ampliar os projetos para todos os bairros, porque atingiria
mais bairros e também, diversificar nas atividades ou juntar
os bairros e fazer mais atividades diversificadas”. PS6
“Não vejo quase nada. O lazer, vejo no Parque da Criança,
só com os eventos. A gente não vê quase nada que envolve
a comunidade. Vejo esporte e lazer em quase nada”. PS7
f 03
Acesso ao esporte e lazer de interesse físico-esportivo
Quanto à questão do acesso ao esporte e lazer, apenas dois Presidentes de
SAB pesquisados demonstraram satisfação, conforme se identificou nas seguintes
transcrições:
Existem o esporte e o lazer para o povão, como Domingo no Parque, tem as academias populares [...] (informação verbal)
76.
76
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador PS5 à pesquisadora.
345
As atuais construções estão demonstrando uma atenção especial aos cadeirantes, fazendo com que todos tenham acesso ao esporte e lazer. Acesso segundo o Código de Mobilidade Urbana (informação verbal)
77.
Todavia, a maioria destacou alguns aspectos que estão voltados para
melhorias do referido acesso, tais como: melhoria dos campos de pelada, com o
trabalho socioeducativo; ouvir a população para reconhecer as suas necessidades e
interesses; investir mais na área; otimizar espaços nas escolas para esporte;
promoção, por parte do poder público, de ações esportivas e de lazer nos bairros;
melhorar a segurança e realizar serviços de reparos e manutenção dos espaços e
equipamentos de esporte e lazer.
VISÃO DOS PROFISSIONAIS DE EDUCAÇÃO FÍSICA
Esporte e lazer de interesse físico-esportivo na sociedade atual
Aos serem questionados sobre a opinião do esporte e lazer de interesses
físico-esportivos na sociedade atual, os profissionais da área responderam
centrados nas seguintes categorias construídas: atividade física na vida das
pessoas, carências no esporte, nuances que justificam a prática e preservação do
patrimônio público.
Ultimamente, várias são as pesquisas e programas que estão sendo
veiculados na mídia em nível nacional, comparando como o esporte é visto nos
outros países, a exemplo da Inglaterra, de que forma é tratado, como está presente
no cotidiano de todos e de forma veemente ele é concebido nas práticas escolares e
no cotidiano das crianças, adolescentes e jovens. E, por conseguinte, quão ricos são
os benefícios do esporte e lazer sob múltiplos olhares na vida das pessoas, na vida
de cada cidadão e na vida em sociedade.
Mediante outro prisma, e levando-se em consideração as questões sociais e
suas repercussões, enfatiza-se o padrão da reforma urbana redistributivista de
acordo com Ribeiro e Cardoso (1994), cujo diagnóstico foca nas desigualdades e
direitos sociais, tendo como objeto de estudo a propriedade privada da terra, o uso
do solo urbano e a participação das camadas menos favorecidas na gestão da
cidade. Porém, esse padrão entrou em crise nos anos 1970. Por outro lado, emerge
77
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador PS6 à pesquisadora.
346
a problemática ambiental, surge o padrão ecológico, com a intenção de relacionar-se
com o paradigma do planejamento.
De outro modo, o mapa da desigualdade está presente no país: enquanto
uns vivem em residências com grandes e diferentes aparatos, há um grande número
de habitantes morando em condições precárias, vivendo em favelas, intituladas
pelos seus moradores de “comunidades”, quartinhos, cortiços. A proliferação de
enclaves vem criando um novo modelo de segregação espacial, ora considerados
como espaços privatizados, fechados e monitorados para residência, consumo,
trabalho ou lazer. O quadro de violência urbana avassaladora vem dificultando
manter-se na livre circulação e abertura dos espaços públicos.
Nos últimos tempos, vêm se expandindo os condomínios fechados, os quais
tentam ser independentes e completos tanto quanto possível, oferecendo diversos
equipamentos para uso coletivo. Estes concentram a maioria da classe alta e média.
Aliada a essa situação, também há o problema do déficit habitacional. Assim sendo,
cabe discutir o papel do Estado no planejamento urbano em relação aos padrões
competitivos empresariais, bem como trazer o planejamento urbano para a política
nacional e para outras esferas. Além disso, discutir o esporte e lazer nessa realidade
aqui enfocada, e também com olhar crítico acerca da segregação.
Quanto aos espaços e equipamentos de esporte e lazer relacionados à
urbanização, recorre-se a Saldanha Filho (2003, p. 4), quando afirma que:
[...] a urbanização toma conta dos espaços das cidades, as poucas opções para o esporte e lazer estão sob a responsabilidade da iniciativa privada [...] enquanto os espaços e serviços públicos têm sido desqualificados, sucateados, tratados como algo não necessário [...].
Categoria: Atividade física na vida das pessoas Tema Verbalizações
Participação da população
“A sociedade hoje está mais participativa, atividade física está
abrangendo muito; a população está tendo mais acesso
através das atividades oferecidas nas praças, na própria
comunidade”. P3
“Aqui em Campina Grande que é proporcionado à
comunidade. Em Campina Grande vemos programa Mexe
Campina – práticas esportivas, danças, ginástica e NASF,
práticas corporais e também com orientações com grupos de
riscos. Hoje é mais fácil para disseminar a prática para os mais
carentes estamos quebrando e entrando no ritmo”. P5
347
“Cresceu, melhorou, valorizou-se muito porque a questão das
pessoas estarem mais cientes da importância da atividade
física e a melhoria da qualidade de vida”. P6
“É frequente na vida das pessoas, não é difícil de se vê tanto
na escola quanto nas praças, diariamente procuram, é
presente na vida das pessoas”. P7
f 04
Categoria: Carências no esporte
Tema Verbalizações
Esporte
“O esporte na minha visão está adormecido, os adolescentes
estão adormecidos, sedentários, por causa dos jogos
eletrônicos. Em Campina Grande, praticamente não vemos o
esporte [...]”. P4
“Espaço tem tanto para o esporte e lazer também, o que falta é
incentivo. Nos bairros tem quadras e praças, mas não tem
nada voltado para o esporte, não se ouve falar [...]”. P8
“Carências nas estruturas físicas de forma a impossibilitar a
população e aos alunos, ou seja, o esporte fica segregado,
marginalizado, aquele jogo no meio da rua [...]”. P10
f 03
Categoria: Nuances que justificam a prática
Tema Verbalizações
Objetivos, finalidades e condições
“Eu acredito que ultimamente este tema está mais falado,
porque há cinco anos ainda não era muito falado. O esporte
vem ganhando espaço e o lazer também, sendo tratado,
mesmo ainda no sentido restrito, sendo visto como
necessidade”. P1
“Vejo como fins de saúde, para buscar saúde, melhoria da
qualidade de vida, não como lazer”. P2
“Vejo uma carência enorme de espaços públicos, como:
praças, parques e demais espaços que promovam um bem-
estar físico e mental para a coletividade”. P11
“Acho que hoje em dia as pessoas estão procurando
ambientes abertos e atividades em grupo, fugindo um pouco
dos ambientes de academia particulares. Tendo assim como
ponto positivo a liberdade de escolha, de dias, locais e grupos,
os quais querem participar. Os benefícios que o esporte traz à
vida das pessoas vem sendo determinados através dos meios
de comunicação, contribuindo para que a população procure
hábitos de vida saudáveis”. P12
f 04
348
Categoria: Preservação do patrimônio público
Tema Verbalização
Público X Privado
“Acho que ainda é pouco valorizado pela sociedade, os
espaços públicos diferentes dos espaços privados, onde a
sociedade preserva, sendo esta uma questão cultural [...]”. P9
f 01
Esporte e lazer na política urbana
Quanto às respostas atribuídas à opinião sobre o esporte e lazer na política
urbana, os Profissionais de Educação Física se colocaram, de uma maneira geral,
da seguinte forma: são tratados como produto político e com fins de visibilidade
política. Foi enaltecido o Programa “Mexe Campina”. Para esses profissionais, há
um problema de gestão. É necessário um acompanhamento dos
programas/projetos, além de políticas públicas. Ademais, eles advogaram pela
importância do esporte e lazer.
Categoria: Sentido e significado da política
Tema Verbalizações
Inversão da política
“Eu acho que estão buscando, deixa brecha de qualidade de
vida, vejo como um produto político, não como qualidade e não
como formação humana”. P2
“Ainda vejo como insuficiente, desqualificado. Não se vê com a
devida seriedade, porque o que temos neste é que o esporte e
lazer estão na plataforma de visibilidade política e não de
interesse de qualidade de vida”. P10
f 02
Categoria: Efetivação de programas
Tema Verbalizações
Programa “Mexe Campina”
“Vejo que não estamos atrelados à política urbana. Acho que o
Mexe Campina, institucionaliza; é pequeno, deveria ser maior.
A construção das academias fica só o espaço. Acredito não
ser uma política. Existe uma política na teoria, mas não há
uma prática efetiva dessa política”. P1
“Eu acredito que estão tendo um novo olhar, exemplo:
escolinhas, corridas de rua; incentivo e novo olhar. Atualmente
está oferecendo mais. E também a política, a partir do
Programa Mexe Campina – programas de atividade física,
relação com a política urbana e exercício; incentivo das
ciclovias na política urbana”. P4
349
“Mexe Campina atuando em vários polos da cidade. A prática
de esporte como basquete... estão inseridos aos poucos e a
prática das atividades físicas estão mais disseminadas [...]”. P5
f 03
Categoria: Política de gestão Tema Verbalização
Gestão
“Vejo muita política e pouco investimento porque existem
vários programas e políticas com incentivos para criação do
esporte na política urbana, mas esses investimentos não
chegam de fato a serem aplicados, pois parecem que não falta
consciência para tal aplicação dessa política, e, sim, uma
questão de gestão”. P11
f 01
Categoria: Implementação e monitoramento
Tema Verbalização
Manutenção
“Deixa a desejar na manutenção, pois cria-se os programas ou
local, mas não há manutenção preventiva dos programas ou
projetos”. P9
f 01
Categoria: Esporte e lazer como políticas públicas
Tema Verbalizações
Política Pública
“Acho que ainda o lazer é mais trabalhado do que o esporte.
Tem bairros que tem bons trabalhos, mas tem bairros que não
tem em relação às políticas públicas. Deveria todo bairro ter
projetos de incentivos ao esporte. Nos bairros a gente vê mais
incentivo para corridas de rua”. P8
“Hoje em dia as políticas vêm invertidas, cada vez mais em
políticas públicas, principalmente nos finais de semana, sendo
concorridas, trilhas e semanalmente oferecendo atividades em
academias populares e investindo na organização de forma
que se beneficiam ciclistas e corredores de rua”. P12
f 02
Categoria: Cenário de justificativas
Tema Verbalizações
Importância
“Acho que é de fundamental importância para a população,
porque as pessoas estão tendo acesso, para uma qualidade
de vida, onde muitos não tinham e que na maior parte da
população é sedentária, e, hoje conseguimos um número
maior por pessoas; com pessoas exercendo essa prática
através das academias populares, com orientação de
profissionais e eles estão também com acesso às aulas de
aeróbicas e outras atividades”. P3
350
“Eu entendo que por ser valorizado é que vale a pena se
investir no esporte e às vezes, alguns atletas não saem por
falta de patrocínio”. P6
“Faz parte da política urbana porque é a necessidade da
população está à procura para a melhora de saúde, ficar ativa”.
P7
f 03
Conhecendo o Programa “Mexe Campina”
Tendo em vista que o Programa “Mexe Campina” é um programa no campo
do esporte e lazer oficializado pela Prefeitura Municipal de Campina Grande – PB,
que vem sendo implementado e difundido ao longo dos anos, apresentam-se a
seguir informações sobre ele para sua melhor compreensão, e ainda por ter sido
explicitado nas entrevistas. Segundo os dados obtidos junto à Secretaria de Esporte,
Juventude e Lazer de Campina Grande – PB, o Programa “Mexe Campina” foi criado
em 1997 e reformulado em 2013, tendo como objetivos:
Objetivo Geral:
- Promover a prática de atividades físicas diárias para a população campinense nos
espaços públicos de lazer, sejam em avenidas, praças, Unidades Básicas de
Saúde, academias ao ar livre, entre outros.
Objetivos Específicos:
- Desenvolver na população campinense a importância de um estilo de vida
saudável, através da prática de atividades físicas;
- Mostrar que pelo menos 30 minutos de atividade física diária, que seja leve ou
moderada, pode melhorar a qualidade de vida do indivíduo e reduzir os riscos de
desenvolverem Doenças Crônicas não Transmissíveis – DCNT;
- Reformar, adequar, ampliar e construir mais espaços para a prática de atividade
física;
- Auxiliar as equipes do Programa de Saúde na Família na promoção de saúde dos
usuários do SUS – Sistema Único de Saúde.
O Programa apresenta a justificativa baseada na perspectiva voltada para a
promoção de saúde da população, com o intuito de minimizar os efeitos causados
pelo sedentarismo e pelas DCNTs decorrentes da inatividade física. Por reduzir o
351
risco populacional de surgimento dessas doenças, melhora a qualidade de vida
desses portadores. Por conseguinte, reduz a necessidade de internação e menor
uso de medicamentos, resultando em ganhos significativos à saúde, bem como gera
economia financeira com tratamentos médicos. Dessa forma, o Ministério da Saúde,
em conjunto com a Prefeitura Municipal de Campina Grande, por intermédio da
Secretaria de Saúde, da Secretaria de Juventude, Esporte e Lazer e da Secretaria
de Educação, efetiva o Programa “Mexe Campina”. Sendo assim, de acordo com a
documentação obtida, o referido programa surgiu por meio de políticas públicas para
a saúde. Seu aporte teórico enfatiza a recomendação da atividade física como
promoção de saúde, de forma leve ou moderada, por pelo menos 30 minutos
diariamente, de forma contínua ou acumulada, trazendo benefícios de natureza
física (controle do peso corporal, melhora da mobilidade, do perfil dos lipídios, da
resistência física, força muscular, resistência à insulina, aumento da densidade e o
controle da pressão arterial); e benefícios psicológicos (diminuição da depressão,
manutenção da autonomia, redução do isolamento social, aumento da autoestima,
melhora da autoimagem, alívio do stress).
O Programa, através das referidas secretarias e com parcerias privadas,
engloba as seguintes ações:
- Cadastramento dos participantes do programa;
- Aferição diária da pressão arterial;
- Verificação de peso e altura (ação disponível aos frequentadores do programa);
- Avaliação física semestral;
- Orientação aos praticantes;
- Aulas de ginástica aeróbica;
- Alongamentos, relaxamentos e atividades complementares;
- Aulas de Tai Chi Chuan;
- Organização de eventos esportivos e não esportivos;
- Ginástica laboral nas secretarias e dependências da prefeitura;
- Palestras educativas;
- Treinamento e reciclagem multidisciplinar;
- Jornada Pedagógica para capacitar os profissionais da Equipe de Saúde da
Família – ESF, sobre a importância do encaminhamento dos usuários do SUS
para a prática de atividades físicas;
352
- Referenciar usuários para tratamento nas Unidades Básicas de Saúde – UBSs.
Gestão de esporte e lazer
Ao serem questionados sobre a gestão de esporte e lazer, apenas três
respostas estão direcionadas a pontos negativos, como se pode observar nas falas
que se seguem:
[...] a gestão não apresenta peculiaridades dessa área para gerenciar tal gestão, pois isso advém de questões políticas internas de nossa região, atrapalhando assim todo o processo (informação verbal)
78.
É bem complicado porque a gestão não vê o esporte e o lazer como algo de fundamental importância social na formação do indivíduo [...] (informação verbal)
79.
Não existe em Campina Grande. É inexistente ou totalmente falho, porque os gestores não estão voltados a isso (informação verbal)
80.
Outras respostas estão relacionadas a sugestões, ao afirmarem que:
A gestão poderia melhorar e incluir mais pessoas; incentivando mais as pessoas, incentivando mais a inclusão do jovem no esporte (informação verbal)
81.
É necessário buscar e inovar cada vez mais em ideias que façam com que os clientes e alunos se fidelizem [...] (informação verbal)
82.
No entanto, há uma maior parcela que está satisfeita com a gestão de
esporte e lazer, como verificou-se nas suas assertivas, embora com algumas
ressalvas:
Acho bom, apesar de não ver incentivo ao esporte, mas quando tem, eles sempre apoiam. Incentivo bom, principalmente ao lazer, porque muitas praças, com o Programa “Mexe Campina”, que incentiva a promoção de saúde, levando mais qualidade de vida para a população (informação verbal)
83.
78
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador P1 à pesquisadora. 79
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador P2 à pesquisadora. 80
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador P3 à pesquisadora. 81
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador P5 à pesquisadora. 82
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador P12 à pesquisadora. 83
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador P4 à pesquisadora.
353
Pessoas do ramo, agora eles liberam mais recursos. Mas é muito envolvido com Corridas, [...]. O Parque da Liberdade – local ótimo; o NASF tem espaços [...] (informação verbal)
84.
Hoje, no meu ponto de vista, está bem administrada, está mais abrangente e participativa com a comunidade (informação verbal)
85.
Valorizados em toda a cidade, hoje pelas praças, as pessoas estão fazendo mais atividades. O espaço está sendo benéfico para a população, de forma coerente [...] (informação verbal)
86.
Dentre todas as respostas, apenas duas possibilitam o entendimento de não
envolvimento com a temática em tela, quando responderam da seguinte maneira:
Eu era do “Mexe Campina”. Como vim para o PSF, trabalho na prevenção de idosos, cuidados deles, hipertensos e diabéticos (informação verbal)
87.
Voltada totalmente para o esporte e lazer, não estou muito envolvida. Eu estou ligada à orientação da atividade física e incentivo nas corridas. Nos demais campos, não estou muito envolvida, minha vivência é promoção, prevenção e ajuda no tratamento (informação verbal)
88.
Percebeu-se também que uma resposta foi associada a questionamentos
que se pautavam na concentração do esporte e lazer na cidade, no Parque da
Criança. Praças foram ampliadas, mas com atividade física sem orientação todos os
dias. Os espaços não têm segurança. Há uma maior cobertura aos idosos. Contudo,
não há feedback para a sociedade, que não vê a gestão do esporte e lazer.
Esporte e lazer na cidade
As categorias identificadas no tocante ao esporte e lazer na cidade foram:
politicas não efetivadas; organização e atuação; atividade física, esporte e lazer na
vida das pessoas; iniciativas do poder público no campo da atividade física, esporte
e lazer; e fragilidades do esporte e lazer na cidade. A categoria que apresentou o
maior número de verbalizações foi organização e atuação.
As respostas dessa categoria demarcam a atividade física, o esporte e o
lazer com pontos de vista dicotomizados em termos de modalidade, campo de
atuação, locais, eventos e atividade física com foco nos adultos e idosos. Desta
84
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador P7 à pesquisadora. 85
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador P9 à pesquisadora. 86
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador P10 à pesquisadora. 87
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador P6 à pesquisadora. 88
Entrevista semiestruturada concedida pela colaboradora P8 à pesquisadora.
354
forma, estão entendidos separadamente, como pastas diferentes e com seus
próprios campos de intervenção.
Considerando seu contexto histórico e teórico-conceitual de cada termo, ou
seja, atividade física, esporte e lazer, e no presente estudo, este último teve um
recorte nos interesses predominantemente físico-esportivos, compreende-se que
carregam concepções e significados complexos, porém não desassociados; com
valores próprios, embora imbricados, que ganham espaços com a definição de
políticas.
Categoria: Políticas não efetivas
Tema Verbalizações
Fragilidade nas políticas de
esporte e lazer
“Carente demais! Apesar de um grande incentivo nas políticas
de esporte e lazer na mídia nacional. Nossa cidade apresenta
um déficit de esporte e lazer, porque não há investimento que
efetive a criação, e mais ainda, a manutenção desses espaços,
já que nossos gestores estão preocupados mais com os
cargos que irão preencher nos órgãos do que com a política
propriamente dita ao esporte e lazer”. P1
“A nossa política de esporte e lazer é muito defasada, é fraca,
pelo menos sobre as informações. O investimento em
Campina Grande é para o futebol, mas não temos
contrapartida, mas é o mais valorizado; bem como, são
comuns estes eventos no Parque da Criança e nas praças não
entram, não é uma política efetiva. Existe a política, mas não é
efetiva, é como tivesse solta [...]”. P11
f 02
Categoria: Organização e atuação
Tema Exemplos de Verbalizações
A Atividade física, o esporte e o
lazer
“O esporte em si está voltado para o futebol e o futsal, não
abrangendo outras modalidades. E a gestão do lazer na
cidade está voltada para o tratamento e não como prevenção
[...]”. P2
“Na área de esporte ainda existem locais adequados ou
adaptados às práticas esportivas, deixando a desejar o lazer,
por falta de segurança e qualidade”. P3
“O esporte não está incentivado não, é incentivada a prática de
atividades físicas, a parte de esporte, como na educação, com
os adolescentes está carente, só está tendo-se cuidado com
adultos e idosos”. P10
f 04
355
Categoria: Atividade física, esporte e lazer na vida das pessoas
Tema Verbalizações
Adesão e benefícios
“A própria população está interagindo bem e estão tendo mais
consciência que através dessas atividades terão mais
qualidade de vida. Quanto ao esporte está abrangendo através
da promoção de saúde, estão acontecendo eventos, como as
corridas em finais de semana [...]. As pessoas estão
aprendendo que esporte é vida, é saúde. Eu vejo que as
pessoas chegam ao final de semana, saindo da rotina. O
esporte, como lazer, as pessoas estão trocando a bebida por
ele”. P9
“É o que predomina na cidade é o esporte e o lazer. As
pessoas deixam de ir para bares e festas noturnas por terem
mais opções saudáveis, com as trilhas, as corridas, atividades
funcionais em grupos oferecidos pelo município; contribuindo
não só para os benefícios físicos, mas também contribuindo
para a saúde mental [...]”. P12
f 02
Categoria: Iniciativa do poder público no campo da atividade física, esporte e lazer
Tema Verbalizações
Ações da Prefeitura
“A parte da prefeitura investiu bastante, existem várias praças,
caminhadas, as trilhas, as corridas de ruas. A cidade é muito
convidativa”. P5
“Eu acho interessante o Programa “Mexe Campina” em vários
polos. No Parque da Criança, exemplo: a Capoeira, Yoga,
trabalho funcional. Está sendo muito divulgado pela
importância”. P6
f 02
Categoria: Fragilidade do esporte e lazer na cidade
Tema Verbalizações
Falta
“Está crescendo o Programa; falta muita orientação; falta
atingir a camada mais pobre; faltam recursos; e muitas vezes
salários atrasados [...]”. P7
“Poderia ter incentivo do esporte nas escolas [...]”. P8
f 02
356
Acesso ao esporte e lazer de interesses físico-esportivos
Com relação ao tema acesso ao esporte e ao lazer de interesses físico-
esportivos, quatro profissionais da área mencionaram a insatisfação, justificando que
as pessoas, por falta de conhecimento de serem assegurados como direitos
constitucionais, não os cobram, mesmo que a mídia esteja incentivando as práticas
do esporte e lazer e relação com a saúde do indivíduo nos campos fisiológico, social
e psicológico; pela centralização e poucas áreas de qualidade na cidade para as
referidas práticas; pelo acesso ao esporte ser falho em Campina Grande – PB,
devido à escassa oferta para os adolescentes, e ainda por não haver um foco na
questão da acessibilidade para as pessoas com deficiências.
A visão de se apresentar de forma positiva foi elucidada pela maior parte,
com destaque para as seguintes ponderações: há, nos NASFs e nos PSFs,
orientação de atividade física e a população não precisa pagar. Há praças e locais
em vários bairros que oportunizam essas práticas; colocação de ciclovias; equipe
multiprofissional para orientação; orientação e promoção de atividades físicas nas
UBSs.
Apesar de um profissional pesquisado achar bom o acesso, ressaltou que
falta acessibilidade para as pessoas com deficiência. Já no contexto da discussão
público e privado, observaram-se as opiniões aqui apresentadas:
Tanto tem a parte fácil, tem a parte pública porque tem a academia, a questão da caminhada, o Programa “Mexe Campina”... Quanto ao esporte não é de fácil acesso porque tem custos (informação verbal)
89.
[...] existem alguns clubes que são mais acessíveis. Se você quiser, o acesso é privado. Temos “O Meninão” e “Complexo Plínio Lemos”, num ano de megaeventos, não funciona. Em Campina Grande, não existe. O acesso é privado, se quiser qualidade (informação verbal)
90.
Considerando a abrangência desse acesso, duas outras colocações podem
ser destacadas:
Em algumas partes da cidade, o acesso está mais diversificado, onde há praças, campos e até mesmo os equipamentos sociais (SABs, Clube de Mães) vêm favorecendo. Nestes locais, o trabalho é diferenciado, onde podemos colocar o material [...] (informação verbal)
91.
89
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador P5 à pesquisadora. 90
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador P11 à pesquisadora. 91
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador P9 à pesquisadora.
357
[...] as atividades físicas são oferecidas em diversos bairros e em locais que comportam grande número de pessoas, oferecendo modalidades diversificadas. Hoje a maioria das pessoas busca muito mais que um corpo perfeito, elas almejam qualidade de vida e saúde [...] (informação verbal)
92.
Quadro 05 – Síntese das categorias no campo do esporte e lazer, a partir das falas dos participantes da pesquisa.
Categoria f Exemplos de Verbalizações
Diagnóstico 28 “Vejo uma carência enorme de espaços públicos, como: praças,
parques e demais espaços que promovam um bem-estar físico e
mental para a coletividade”. P11
Benefícios 23 “Espero que cresça, que traga mais coisas inovadas para a
população que está envolvida. O pessoal está muito voltado
para isso, o pessoal não está pensando mais em estética e sim
na saúde”. NU3
Plano 18 “Falta de planejamento do poder público. Como os interesses
econômicos, quem prevalece para o poder público? O problema
do esporte e lazer é um problema cultural, precisa ser
incentivado para convencer as pessoas para ter uma melhor
qualidade de vida”. NU15
Ampliação e melhoria no campo do
esporte e lazer
15 “Acho muito mal explorado, não é visto pelos poderes públicos;
pela força, pelos fatores que trazem consigo na saúde, por
exemplo: o esporte é explorado na educação e saúde. A internet
tem prejudicado. E no Brasil a questão de segurança também
tem prejudicado. O esporte era uma atividade espontânea, hoje
é forçado, tem se mostrado uma mudança”. J5
Política pública 11 “Acho que ainda o lazer é mais trabalhado do que o esporte.
Tem bairros que tem bons trabalhos, mas tem bairros que não
tem em relação às políticas públicas. Deveria todo bairro ter
projetos de incentivos ao esporte. Nos bairros a gente vê mais
incentivo para corridas de rua”. P8
Acesso aos serviços e equipamentos 10 “Achei uma providência muito boa, porque muita gente que não
tinha oportunidade de fazer academia, dança, Pilates.
Oportunidade para quem não pode pagar, muito bom, não sei lá
se governo, município, estado, mas muito bom”. U4
Melhorias nos serviços e
equipamentos
08 “Deveria ser mais valorizado e mais diversificado. Campina
Grande tem o potencial de ter outros”. U1
Planejamento urbano 08 “Eu acho que precisa ser visto com bons olhos pela autoridade,
a cidade vem crescendo, mas estão esquecendo desse contexto
urbano. A opção é muito pouca para o tamanho da cidade”. J2
Segurança 07 “Melhorar mais, o povo acreditar, melhorar na saúde, tentar
ajudar, saúde e segurança, muito assalto”. U12
Apoio e incentivo 06 “Tem demonstrado uma atenção especial em todos os aspectos,
procurando várias formas de incentivar e valorizar a prática
esportiva. No ciclismo com a ciclovia, Mexe Campina, ações no
Parque da Criança e no Complexo da Liberdade”. PS4
Participação de diferentes segmentos 06 “Acho que o poder público, as autoridades deveriam ter mais
espaços. Os vereadores têm pequena participação. Muitos
meninos soltos, carentes, sem ter campinho, sem ter nada”. PS7
92
Entrevista semiestruturada concedida pelo colaborador P12 à pesquisadora.
358
- CONTINUAÇÃO -
Categoria f Exemplos de Verbalizações
Atividade física, esporte e lazer na vida
das pessoas
06 “É o que predomina na cidade é o esporte e o lazer. As pessoas
deixam de ir para bares e festas noturnas por terem mais
opções saudáveis, com as trilhas, as corridas, atividades
funcionais em grupos oferecidos pelo município; contribuindo
não só para os benefícios físicos, mas também contribuindo
para a saúde mental [...]”. P12
Avaliação 05 “Seria interessante que saísse da teoria e que se fosse feito,
fossem dadas condições”. J3
Implementação 05 “Vejo que não estamos atrelados à política urbana. Acho que o
Mexe Campina, institucionaliza; é pequeno, deveria ser maior. A
construção das academias fica só o espaço. Acredito não ser
uma política. Existe uma política na teoria, mas não há uma
prática efetiva dessa política”. P1
Política de gestão 04 “A gente mudou o conceito, quis trabalhar, descentralizar
equipamentos e praças nos locais sem se deslocar, tendo o
esporte e lazer no seu próprio ambiente. Associar à política de
ocupação ao esporte e lazer; diminuir os custos com a saúde. A
cidade que pratica esporte relaciona com a saúde. A política
voltada para a saúde, esporte e educação, porque melhora-se o
custo com a saúde. Exemplo: o Programa Mexe Campina é uma
poupança para economizar o custo. Temos a política de
descentralizar. Estimular a prática de skate. Exonerar custos de
saúde. Melhoria da qualidade de vida nos bairros, exemplo:
ambientes vulneráveis passam a ser importantes, exemplo:
Parque da Liberdade é uma questão de gênero – mulheres com
ampla jornada, o esporte e lazer é uma válvula de escape”. G6
Atenção às crianças, adolescentes e
jovens
03 “Ruim, porque se tivesse interessava mais as crianças; tiravam
mais da rua, não tem o que oferecer às crianças, ficam jogadas”.
NU18
Espaços 02 “Campina Grande era Parque da Criança, foram crescendo as
demandas em vários locais e foram se constituindo. No Parque
da Liberdade – Centro de iniciação ao esporte; na Juscelino
Kubistchek e no Canal de Bodocongó, bem utilizados os
espaços; no Parque do Açude Novo Tai Chi Chuan e Parkour;
Final da Floriano Peixoto todo; no Complexo Plínio Lemos há
quadra; campos de pelada...” G2
Patrimônio público 01 “Acho que ainda é pouco valorizado pela sociedade, os espaços
públicos diferentes dos espaços privados, onde a sociedade
preserva, sendo esta uma questão cultural [...]”. P9
Política de investimento 01 “Vejo de forma carente de uma parte, porque se tem uma
pessoa para trabalhar com o esporte, deveriam as autoridades
competentes investirem mais, porque ainda tem muita criança e
adolescentes soltos, porque podem ser no futuro um drogado
[...]”. PS10
Fonte: Elaboração própria, 2016.
Em síntese, à luz das categorias, tendo como base a opinião dos
participantes da pesquisa, apresentam-se as seguintes considerações:
A situação do esporte e lazer na cidade de Campina Grande – PB requer a
promoção de mais espaços de bem-estar para a coletividade.
359
A categoria denominada Diagnóstico tratou das questões elencadas que
orientam a importância de se fazer um levantamento da realidade desse campo,
traçando interesses, motivos, necessidades, os quais estarão presentes para
justificá-los. Essa categoria foi uma das mais enaltecidas.
Há benefícios, principalmente na área de saúde, oriundos do envolvimento da
população com o esporte e lazer, embora com carência de inovação, indicando,
dessa forma, os benefícios do ponto de vista individual, embora com a intenção
de ampliar o leque de opções na cidade.
Falta de planejamento urbano por parte do poder público quanto à ampliação e
melhoria no campo do esporte e lazer, bem como incentivo para as pessoas
terem melhor qualidade de vida. Percebeu-se que se estabeleceu uma relação
entre planejamento urbano e qualidade de vida das pessoas.
As corridas de rua são a maior representação do esporte na cidade.
O acesso aos serviços e equipamentos de esporte e lazer constitui uma
oportunidade de atendimento às pessoas menos favorecidas, que não têm
condições de frequentar o setor privado, na opinião dos entrevistados.
No planejamento urbano, deve constar uma política que dimensione a
necessidade de melhoramento, diversificação e ampliação dos serviços e
equipamentos em outros bairros, baseado no crescimento da cidade. Ressalta-
se que o fator expansão de Campina Grande foi elucidado. Nessa perspectiva,
reforça-se a importância de ser discutido o desenvolvimento da cidade de uma
forma ampla.
A falta de segurança nesses locais foi outro aspecto apontado, face aos
frequentes assaltos.
A prática esportiva vem sendo incentivada e valorizada, a exemplo da difusão do
ciclismo na cidade, do Programa “Mexe Campina” e através das ações
promovidas.
Outras categorias foram norteadas pela necessidade de demais segmentos
participantes da discussão do esporte e lazer na cidade em conjunto com o
poder público. Apontou-se a necessidade de acompanhamento desse setor,
para que fosse concebido como política pública, e, consequentemente, fosse
implementada uma política de gestão do esporte e lazer. Nesse contexto, foi
enunciada a diminuição de gastos com a saúde e melhoria na qualidade de vida
nos bairros quanto aos problemas de vulnerabilidade social. Ademais,
constatou-se nas falas uma evidência a uma perspectiva funcionalista do
esporte e lazer.
360
A constituição dos espaços para o esporte e lazer se deu principalmente pela
ocupação espontânea da população em determinados locais, e, posteriormente,
foram se constituindo, como também com o reaproveitamento de espaços
existentes.
A preocupação volta-se para o patrimônio público, como também quanto à
política de investimento do esporte e lazer, sendo este último, de forma
específica, voltado para os interesses físico-esportivos, os quais foram
timidamente enfocados.
Assim, de uma forma geral, o esporte e lazer em Campina Grande - PB,
como política e relacionados às políticas urbanas, apresentaram inquietações
quanto à necessidade de maior envolvimento dos gestores públicos. Foram
elencadas necessidades como a elaboração de um planejamento urbano que atenda
de modo efetivo à conservação, inovação e implementação dos serviços e
equipamentos do esporte e lazer como política pública. Nesse contexto, ressalta-se,
ainda, a importância de que o esporte e lazer na cidade sejam tratados numa
dimensão crítica com vistas à diminuição da exclusão social e desigualdade
socioespacial.
361
Dos organizadores/promotores de atividades físicas, esportivas e de lazer de iniciativa privada
Quadro 06 - Perfil das atividades físicas, esportivas e de lazer organizadas / promovidas pela iniciativa privada, segundo amostra pesquisada.
Tipo de
Atividade Local Objetivo
Público-
Alvo Cronograma
Recursos
Humanos Financiamentos Parcerias
Ciclismo Cidade Alavancar o uso da bicicleta, como
mobilidade urbana, esporte e aquecimento
do movimento da loja.
Independente
de idade
Quintas-feiras à noite Pessoal da loja Recursos próprios STTP
(Superintendência de
Trânsito e
Transportes Urbanos)
Campeonatos de
futsal
Ginásios públicos Promover, fomentar e expandir o futsal. Crianças e
adolescentes
Dois campeonatos
por semestre
Organizador,
mais de 30
professores,
assistentes de
goleiros e
equipe de
arbitragem
Equipe custeia o
evento, as
despesas são
rateadas por equipe
Universidade
Projeto voltado para
o judô
Academia privada
(proprietário é o
coordenador do
projeto)
Aumentar a média escolar em busca do
desenvolvimento do esporte; da
oportunidade à prática esportiva às
crianças e jovens de baixo poder
aquisitivo; viabilizar o desenvolvimento
desportivo de atletas que apresentem
perspectiva em termos de performance
em nível regional e nacional; conseguir o
desenvolvimento acadêmico dos atletas
nas suas escolas; auxiliar o aluno através
de ferramentas de coach, o alcance de
seus objetivos no esporte e na educação.
6 a 12 anos 08 horas semanais Professores de
judô
Será via patrocínio
por faixa
Ainda em fase de
implementação
Projeto Yoga,
massagem Reiki e
meditação e outro
com palestras e
Yoga
Parque da Criança Promover o bem-estar ao máximo de
pessoas possível.
Independente
de idade
1º domingo de cada
mês (Yoga,
massagem e
meditação) e yoga
com palestras
educativas ao 3º
sábado de cada mês
Instrutores Caixa do próprio
Studio e gratuidade
para as pessoas
Associação
Paraibana de Yoga,
PMCG, SESI e
Instituto Jáhá buta
Hare Krishina
Corrida de
Orientação
Espaços não
urbanos
Promover a atividade/esporte entre os
atletas; preservar a natureza e promover
saúde.
Independente
de idade
Segue o calendário
do campeonato,
geralmente a cada 02
meses antes do
campeonato.
Diretoria com
gestão bienal
Os próprios atletas,
com as inscrições e
valor mensal para
manutenção
Patrocinadores
(pessoa física e
jurídica)
362
Sugestões para melhoria/fortalecimento do esporte e lazer nas políticas
urbanas
Investir em ciclovias; investimento e apoio do poder público em eventos
voltados para atividades físicas, jogos escolares, no tocante ao material e espaços
físicos; uma gestão do esporte, com a pessoa voltada para o esporte; maior
envolvimento das universidades; tornar a prática da Yoga integrante das políticas
públicas, tornando-a regular nas escolas, e ainda do currículo; estimular as
competições; retomar com os eventos esportivos na cidade; estabelecer parcerias
entre o público e privado e levar o esporte para as escolas, como a Corrida de
Orientação.
Em Campina Grande – PB, vem despontando e sendo fortalecidos
práticas/projetos de atividades físicas e esportivas, como: os passeios ciclísticos,
corridas de orientação, projetos voltados para as práticas corporais ligadas às lutas,
sejam elas o judô, a capoeira, o karatê, dentre outras; atividades como a Yoga e
outras práticas orientais. Essas atividades, ações, projetos, indicados para se
constituírem parte da amostra do estudo, deram-se principalmente porque vêm
aumentando seus adeptos, vêm ganhando espaço midiático pelos seus objetivos,
porque vêm corroborando uma mudança no estilo de vida das pessoas. São
alternativas de práticas corporais que buscam disseminar o prazer pelas
práticas/vivências; oportunizam um conhecimento da diversidade e riqueza na área
da atividade física, esportiva e de lazer; podem favorecer o contato com a natureza e
desenvolver diferentes habilidades, dentre tantos outros horizontes.
Todavia, o que chamou a atenção é o que pode influenciar, intervir e
envolver uma lógica atrelada aos serviços, espaços e infraestrutura de um sistema
público; que possam ser ponderados os benefícios para a cidade, para a população,
para o setor público, para o setor privado. De que forma o privado está chegando ao
público? Quais são as contrapartidas? Quais os envolvimentos de ambas as partes?
Até que ponto há uma inclusão social? Em que medida, o mercado, o capitalismo
está sendo fortalecido? O que está sendo pensado para além de ações pontuais,
que sejam concebidas numa política urbana que não seja em benefício de uma
minoria?
O que pode ser feito para que as escolas sejam loci para formação em que o
esporte e lazer, com o seu leque de opções e com trabalhos já consolidados nas
363
cidades, possam fazer a diferença nas vidas das pessoas e no cotidiano das
cidades? E ainda, qual a percepção que os moradores têm sobre o que é público e
privado? Quais são seus direitos e deveres? O que é frágil no entendimento das
pessoas no que diz respeito ao público? São reflexões, dentre tantas outras. Por
outro lado, é importante também considerar que, de pequenas sementes, iniciativas
preliminares, em conjunto com interesses coletivos, em busca de melhorias,
parcerias, de forma planejada, pensada, refletida é que poderão vir a se tornar uma
política que seja descentralizada, que contribua para o acesso da população e com
melhorias também para a cidade. Como, por exemplo, viu-se que a dinamização e
expansão do ciclismo na cidade estão levando o poder público a tomar iniciativas e
rever quais medidas e ações são necessárias para a otimização dessa prática na
cidade.
364
CONCLUSÕES
A discussão sobre o corpo e seus diferentes caminhos para a sua
compreensão e a importância a ele atribuída, pois sem as pessoas não se constitui
uma cidade, como também com a intenção de ter uma visão interdisciplinar, embora
reconhecendo a importância e seu lugar nas ciências médicas, recorrendo-se à
importância das ciências sociais para o debate, com a compreensão de que a vida
do ser humano e sua vida em sociedade são entendidas não somente na condição
do estado natural e evolutivo da história da humanidade e dos tempos sociais,
políticos e ideológicos; mas numa visão mais ampla de pensar o indivíduo, com sua
história, suas características, suas necessidades, seus interesses, seus desafios e
perspectivas como aspectos importantes para entender os benefícios da atividade
física. Porém, no presente estudo, com o olhar voltado para o campo do esporte e
lazer. Muito embora, numa dimensão mais ampla, refletir sobre o desencadear e o
entrelaçamento com vistas também à coletividade, pois a vida de cada cidadão e a
vida em sociedade é marcante para pensar o que pode ser feito para melhorar a sua
qualidade de vida, bem como qualificar a cidade.
Desta feita, numa relação entre esse contexto e o campo do esporte e lazer,
viu-se que a atividade física, vista tanto pela ótica de saúde como de lazer, é
contemplada por uma vasta literatura, que apresenta seus benefícios, e não são
voltados apenas ao ponto de vista fisiológico, mas a diferentes aspectos. Logo, a
saúde é compreendida de forma mais ampla, ou seja, numa dimensão social.
Quanto ao lazer, embora seja um dos determinantes positivos também para a
melhoria da qualidade de vida, ainda é entendido por muitos de forma restrita, sendo
necessário ser compreendido que pode articular-se com a saúde e visto para além
de uma visão funcionalista.
Embora haja campanhas e ações educativas que incentivam a prática de
atividades físicas, esportivas e de lazer, de outro modo são inúmeros indicadores
que apresentam os problemas de diferentes ordens, que trazem consequências
avassaladoras à vida das pessoas e de forma veemente, como as patologias de
ordem psíquico-emocionais, que vêm se expandindo a cada dia, advindas seja por
questões de diversas ordens, pessoal e/ou social. Porém, o lugar que o esporte e
lazer na discussão apresentada percorreu, desde a compreensão sobre o corpo, das
365
questões ligadas à contemporaneidade acerca da sociedade de consumo,
sociedade do espetáculo, preocupações com a supervalorização do ter e do
aparecer, é que o esporte e lazer precisam ser cada vez mais valorizados numa
perspectiva crítica e holística, para que, a partir das contribuições, sejam cada vez
fortalecidos.
Deve haver o acesso de todos. O esporte e o lazer precisam ser
considerados como um bem individual e coletivo, e não como produtos de um
sistema capitalista, mercadológico, competitivo e não apenas como objeto de
consumo. Ambos não devem ser divulgados com a visão de desconforto,
inquietudes, no sentido de descrédito, arraigados apenas na mídia pela problemática
vivida pelo país atualmente, fruto de fraudes, de mecanismos ilícitos, oriundos de
desvios de verbas, superfaturação de obras e obras mal planejadas e mal
executadas pelo poder hegemônico dos diferentes órgãos, nacionais e
internacionais, com forte influência no campo do esporte. Ademais, que tenham o
seu lugar marcado não apenas nos anos e calendários e fruto de megaeventos, mas
que sejam a pauta do dia para as pessoas e para as agendas sistemáticas e
contínuas do poder governamental, independentemente de planos de governo
isolados.
Identificou-se também que o lugar do esporte e lazer ao longo dos tempos
foi marcado e acompanhado pela história societária e pela realidade de cada país
sob diferentes influências. Na contemporaneidade, embora ganhassem espaço no
meio acadêmico, científico e tecnológico, ainda são considerados num campo de
disputas, onde há relação de poder. Do ponto de vista cultural, social e político,
ainda tem-se muito a avançar, e não apenas concebidos por cada ser humano, mas
como uma questão intra-urbana, que possibilite cada vez mais qualificá-los, e que a
consciência crítica, participativa e democrática de todos, enfrentando questões
emblemáticas no campo de lutas, sejam abstraídos e compreendidos num nível de
importância na nossa vida, como participantes, proativos, críticos, idealizadores, com
vistas a um mundo melhor e que tenham a educação como um dos principais
balizadores para o caminhar da população e o futuro de cada cidade, da região, do
país.
Para entender o lugar do esporte e lazer na vida das pessoas, é necessário
um reconhecimento no campo lúdico, em que os espaços, tempos e oportunidades
366
vão contribuir para aproximar a nossa condição de ser humano e qualificação do
lúdico, de modo que o esporte seja visto não como mera competição.
Com relação ao conceito de esporte, ele foi se alterando ao longo dos
tempos, até que se consolida ao chegar no esporte moderno. Contudo, no Brasil, em
1985, teve-se a intenção de ampliar o seu conceito, classificando-o de esporte-
educação, esporte-participação e esporte-performance, fruto das manifestações de
documentos, a exemplo da Carta Internacional de Educação Física e Esporte
(1978). Quanto ao arcabouço teórico do esporte e lazer, verificou-se que o lazer se
apresenta de forma mais detalhada e de mais fácil acesso do que o esporte.
O lazer esteve fortemente voltado para a categoria ligada à busca do prazer,
ao caráter pessoal, com funções de descanso, divertimento e desenvolvimento
pessoal e social. No tocante ao desenvolvimento social com fins moralistas, ou seja,
canalização das tensões e minimização dos problemas sociais; do ponto de vista
compensatório, tendo em vista a manutenção do status quo; como função de
descanso, pois lazer é voltado para a recuperação da força de trabalho e utilitarista,
ou seja, como instrumento de paz social e de mercadoria; e ainda com função de
entretenimento, com vistas ao consumo de atividades, bens e serviços. Por
conseguinte, algumas correntes teóricas pautaram-se na educação para o lazer; nas
discussões frente às questões ligadas ao tempo e atitude. Por outro lado, o lazer
numa abordagem teórica, voltada para o desenvolvimento da escala humana, tem
um lugar incluso na categoria de necessidade e subsistência.
O lazer ganha espaço nas discussões e numa visão crítica, buscando ser
visto para além de um caráter individual e de prazer, como também de consumo de
práticas sociais opostas ao trabalho. Ademais, o lazer vem acompanhando as
características políticas e econômicas do país. Nos anos 1985 - 1990, as práticas do
lazer sofreram mudanças, a exemplo do desenvolvimento de um mercado de lazer
de alto padrão, pouco investimento no lazer popular, estruturação de centros e
museus para o lazer urbano com recursos públicos e privados, bem como surgiram
as políticas públicas de lazer de caráter “pedagógico” e iniciativas isoladas. Um dos
fatores que contribuem para a discussão de lazer e sua relação com a qualidade de
vida foram as consequências advindas da Revolução Industrial, possibilitando que o
lazer chegasse até às camadas menos favorecidas. Por outro lado, reconhecendo-
se que o tempo por si só não garante o lazer, e ainda no contexto de uma sociedade
367
capitalista, ganham espaço os valores pós-modernos, com importância atribuída ao
ócio criativo.
O esporte e o lazer como direitos sociais, apesar de explicitados em
diferentes documentos, sejam eles em nível mundial, nacional ou em outras esferas,
não fica garantido o acesso a todos, independentemente de idade, nível
socioeconômico e cultural e demais variáveis sociodemográficas. Contudo, esses
documentos buscam conduzir o entendimento do esporte e lazer numa perspectiva
de inclusão social.
O começo da intervenção do Estado no campo do esporte e lazer no Brasil
se deu no período do Estado Novo, baseada numa lógica de Estado interventor, de
característica conservadora, que se estendeu até os anos de 1970, em que se
priorizava o esporte de rendimento. No final de 1970, a sociedade civil passa a ter
um lugar na construção das políticas públicas, do ponto de vista coletivo. Entretanto,
somente durante o processo de redemocratização do país é que o esporte e lazer
tornam-se parte de reivindicações populares que resultaram do reconhecimento pela
Constituição Federal de 1988, entendendo o lazer como direito social. Sendo assim,
para a garantia do princípio da universalidade desse direito, foi necessária a
interferência estatal efetiva, através de políticas públicas setoriais. As políticas
setoriais expandiram-se nos anos 1970, eram desvinculadas entre si e não focadas
nas questões ligadas ao espaço, seja do ponto vista nacional ou local.
Em meados dos anos de 1980, como consequência de lutas pela área,
rompeu-se com a relação paradigmática da Educação Física como foco na aptidão
física. Volta-se para uma outra configuração paradigmática, ou seja, uma natureza
histórico-social e, por conseguinte, com destaque para as questões de políticas de
esporte e lazer.
A produção acadêmica acerca de políticas públicas de esporte e lazer
ganhou importância, a partir de meados da década de 1990. Só na década de 1990
o Governo Federal apresenta as políticas públicas sob forma de programas,
inclusive as do setor esportivo, as quais estão voltadas para a promoção de inclusão
social e o combate aos problemas sociais. Vários estudos comprovam que o esporte
e lazer no Brasil vêm sendo fortalecidos através de algumas ações, embora as
divergências ideológicas presentes na construção das suas políticas venham
redimensionado os seus valores culturais.
368
Com base nesse estudo, viu-se que o Estado passou a intervir no esporte,
principalmente pela ideia de integração nacional, educação cívica, preservação da
saúde da população, melhoria da qualidade de vida, como opções de lazer, para o
bem-estar da população, através da promoção de saúde, por ser o esporte fator
compensador dos problemas da vida urbana, como também pela dimensão
econômica do fator esportivo. Nessa concepção, ainda o Estado deve dar prioridade
ao Esporte como lazer, uma vez que é elemento da cultura/lazer e está atrelado ao
plano das políticas culturais de lazer e integrado às outras políticas sociais.
A criação do Ministério específico para o esporte é considerada um avanço
para o esporte e lazer como políticas sociais. De acordo com as publicações do
Ministério do Esporte (2009) resultantes da I Conferência Nacional do Esporte e
Lazer (2006), as políticas públicas de esporte e lazer foram fortalecidas a partir da
sua realização, sendo considerado um marco para esse campo.
O Plano Nacional de Desenvolvimento do Esporte (2007-2010) estava
organizado nos seguintes eixos: inclusão social pelo esporte e lazer;
desenvolvimento do esporte de alto rendimento; infraestrutura (voltada para a
definição de equipamentos esportivos e de lazer nas escolas e universidades, como
também a Praça da Juventude) e o desenvolvimento institucional. Todavia, a política
de financiamento do esporte está voltada para o alto rendimento em detrimento da
compreensão do direito de acesso ao esporte e lazer por parte da sociedade
brasileira. No entanto, são de suma importância a criação e atuação dos Conselhos
do Esporte e Lazer, pois possibilitam a qualificação das políticas públicas do esporte
e lazer, com fins de avaliação e fiscalização na perspectiva de uma gestão
democrática e participativa. Do ponto de vista legal, foi a partir do Estatuto da
Cidade, promulgado em 2001, que a população brasileira passa a interferir
explicitamente nos destinos da gestão pública. Porém, no setor de esporte e lazer no
Brasil, a participação popular e o controle social nas políticas públicas ainda não
constituem essa tradição democrática.
Na década de 1970, foi explícita pela primeira vez oficialmente a
necessidade de o governo central intervir diretamente nas cidades, não só para a
questão habitacional. Desse modo, o BNH e SERFHAU foram os primeiros
instrumentos criados pós 1964, com vistas ao desenvolvimento urbano.
Somente em meados de 1973, a partir da instituição de regiões
metropolitanas, em decorrência de Lei Complementar é que se evidenciou a
369
necessidade de uma política urbana mais abrangente. Contudo, o documento de
Francisconi e Souza (1976) é considerado a primeira formulação de política urbana
nacional. Esse documento baseava-se numa política de organização das cidades e
do território.
Em 1974, o segundo Plano Nacional de Desenvolvimento – PND iria instituir
a Política de Desenvolvimento Urbano, reconhecendo a intensidade dos problemas
urbanos. No entanto, as propostas apresentadas para a política urbana
encontravam-se à parte, instituindo a Comissão Nacional de Regiões Metropolitanas
e Política Urbana – CNPU como instrumento de referência.
As diretrizes da política urbana para o período de 1980 a 1985 foram
baseadas na distribuição da população nas atividades no território nacional, na
orientação do desenvolvimento urbano com vistas à melhoria da qualidade de vida e
na necessidade de articular as ações setoriais nas cidades. Dessa maneira, foi
preconizada a descentralização das ações federais. Por conseguinte, o repasse de
recursos seria considerado de grande relevância para a formulação de políticas
estaduais de desenvolvimento urbano, para o melhoramento da legislação urbana e
atenção voltada para as desigualdades intra-urbanas, para coordenação intersetorial
e participação efetiva dos estados e municípios.
Sendo assim, seriam revistas as diretrizes referentes ao espaço urbano, à
habitação, ao transporte urbano, ao abastecimento de água e saneamento
ambiental, ao meio ambiente, bem como ao patrimônio histórico e ambiental. Nesse
documento, estão presentes as orientações adotadas pela política urbana com
relação ao uso do solo e à atuação setorial do espaço urbano e no âmbito da
infraestrutura. O foco da atuação do Ministério das Cidades entre 2004-2007 estava
voltado para a habitação, transporte e mobilidade urbana, e planejamento urbano.
Contudo, não houve ênfase ao lazer no relatório desse período.
No ano de 2010, foi criado o Plano de Aceleração de Crescimento do Brasil,
com a finalidade de possibilitar a retomada do planejamento e execução de grandes
obras de infraestrutura social, urbana, logística e energética, contribuindo para o
desenvolvimento acelerado e sustentável. O esporte e o lazer têm o lugar no eixo da
infraestrutura social e urbana, com as ações no setor dos equipamentos sociais. Em
relação aos investimentos realizados, o plano prevê a realização através da União,
em parceria com os governos estaduais e municipais, como também com o setor
privado.
370
A melhoria da qualidade de vida é preconizada pelo Governo Federal,
destinando recursos para equipamentos sociais nas áreas de saúde, educação,
cultura, lazer e esporte. Contudo, além de recursos, são disponibilizados aos
municípios, estados e Distrito Federal o projeto-padrão com a intenção de facilitar o
acesso de forma tecnicamente otimizada. Esse plano na área de esporte e lazer
concentra as ações voltadas para as quadras esportivas escolares, CEUs – Centro
de Artes e Esportes Unificados e nos Centros de Iniciação ao Esporte – CIEs,
conforme os dados apresentados nos seus relatórios. Ao se recorrer a esses
documentos, verificou-se uma crescente mudança em relação ao número de
equipamentos nas cidades brasileiras.
De acordo com o PAC 2, instituído em 2010, o Governo Federal institui a
ação das Praças dos Esportes e Cultura, com o objetivo de integrar num mesmo
espaço programas e ações culturais, práticas esportivas e de lazer, entre outras
atividades, tendo em vista a promoção da cidadania em territórios de alta
vulnerabilidade social das cidades brasileiras. Essas praças foram desenvolvidas de
forma multidisciplinar e interministerial; sendo classificadas em três modelos, com
características próprias.
O esporte e o lazer ao longo dos tempos, de forma crescente, vêm sendo
valorizados pela justificativa atribuída, a partir de uma relação com o urbano e o
processo de urbanização e questões inerentes ao urbanismo, pelo discurso
nacionalista, pelas consequências da revolução industrial, da globalização, pela
ótica do crescimento econômico e desenvolvimento das cidades. Como
consequência do capitalismo, ocorre o desenvolvimento da política urbana e seus
instrumentos de planejamento de gestão urbanos.
O esporte e lazer ocupam um lugar importante na vida de cada cidadão e na
vida em sociedade, e vem sendo valorizado ao longo dos tempos. Todavia,
constatou-se que, no Brasil, o esporte de rendimento foi o mais evidenciado. O
Estado vem intervindo principalmente no âmbito da infraestrutura ao longo dos
tempos, e as políticas públicas de esporte e lazer começaram a ser intensificadas a
partir da década de 1990, apesar de serem marcadas por programas. Além disso,
observou-se que as políticas intersetoriais e interministeriais, principalmente
atreladas ao Ministério da Saúde, Ministério da Cultura e ao Ministério das Cidades,
em conjunto com o Ministério do Esporte, estão se expandindo nas cidades
brasileiras, a exemplo das praças com academia ao ar livre. Em relação ao esporte
371
e lazer na política urbana brasileira, verificou-se que as ações voltadas para a
urbanização, à infraestrutura de uma maneira geral, são as que principalmente
dimensionam e buscam qualificá-los. Além disso, verificou-se que se faz necessária
a qualificação de recursos humanos no campo das políticas de esporte e lazer
atreladas ao desenvolvimento.
Com a pesquisa documental realizada nesse estudo, concluiu-se que o
esporte e lazer se apresentam de forma explícita em diferentes documentos,
concebidos como direitos sociais assegurados em legislação. Sendo assim, precisa
ser identificada e analisada a sua concretude, e que todos tenham consciência de
seu papel, seja como cidadão, sociedade, poder governamental e não
governamental. Além disso, constatou-se que a forma como se constituem no
aparato legal, vistos no campo dos direitos sociais, políticas sociais ou políticas
intersetoriais, foi importante, pois representam a sua valorização, contribuindo com a
discussão e avaliação de políticas para o setor, nas formas de gestão, na
consolidação de um sistema de esporte e lazer e na busca por definição de
diferentes ações efetivas, fruto de um planejamento que considere os princípios da
universalidade, integralidade, equidade, entre outros.
Em relação ao esporte e lazer tratados no Plano Diretor e Lei Orgânica ora
analisados, em suma, o esporte e lazer apresentam-se da seguinte maneira: na Lei
Orgânica, identificou-se a unidade de registro apenas do lazer como uma das
necessidades do indivíduo, e, em especial, em situações de risco pessoal e social. O
esporte, nesse documento, enquanto unidade de registro, aparece quando se trata
do assunto ligado às normas e fiscalizações dos jogos, espetáculos e divertimentos
públicos, sob a competência do poder público.
As atividades de lazer e esporte, nesse documento, também aparecem
quando se trata da questão dos bens públicos inalienáveis. A referida lei dispõe que
o município fomentará a prática desportiva em todas as suas modalidades, seja de
forma direta ou através de órgãos especificamente criados para este fim. Os
serviços municipais de esporte estarão articulados entre si e com as atividades
culturais. No orçamento municipal, serão destinados recursos para o incentivo ao
esporte, que apoiarão e incentivarão o lazer, o qual é visto como forma de promoção
social.
Na referida Lei Orgânica, o lazer está previsto com atenção através da
implementação de programas voltados à educação, à cultura e à saúde, e que seja
372
garantido o acesso à população. Quanto aos espaços para o lazer, está prevista
uma ampla qualificação não só nos bairros, mas em seus Distritos e no município
como um todo. Destacam-se as ações voltadas para crianças, adolescentes e
idosos em seus artigos, mas pelo município, em conjunto com a família e a
sociedade civil. Faz ainda referência à implantação de praças esportivas para os
conjuntos habitacionais, com número igual ou superior a 500 unidades habitacionais.
Dentre os instrumentos de planejamento e gestão urbanos, tem-se o
zoneamento do uso do solo. Na política urbana do município de Campina Grande –
PB, tomando-se como base o seu Plano Diretor vigente, identificou-se o lugar do
esporte e, de forma mais explícita, o lazer nos seguintes tipos de zoneamentos:
zoneamento de prioridade e de zoneamento alternativo. Sendo assim, a unidade de
registro - lazer numa perspectiva de zoneamento encontrou-se apontada na Zona de
Qualificação Urbana e na Zona de Recuperação Urbana. Ao serem consideradas as
Zonas Especiais de Interesse Social e as Zonas Especiais de Interesse Ambiental,
constataram-se as unidades de registro, recreação e lazer. Atribuíram ao lugar do
lazer no conteúdo relacionado às formas de parcelamento, uso e ocupação do solo,
padrões de urbanização, bem como forma de proteção, recuperação e ampliação
das áreas, oferecendo, dessa forma, espaços públicos adequados e qualificados ao
lazer da população, contribuindo para o equilíbrio ambiental.
No Plano Diretor pesquisado, o lazer no cenário da função social da cidade é
entendido como direito de todos, e ao se tratar de sustentabilidade urbana e rural, o
desenvolvimento do lazer e dos esportes está previsto, tendo em vista a melhoria da
qualidade de vida das pessoas, inclusive das gerações futuras. Ademais, o lazer foi
identificado quando se tratou da atividade econômica e de serviços públicos, com a
finalidade de acompanhamento de progresso da cidade, com foco na infraestrutura,
sob a competência das diferentes esferas.
Tomando-se como base esse Plano Diretor, o lazer está explícito ao tratar
dos objetivos do Sistema de Mobilidade Urbana, na Política Municipal do Meio
Ambiente e da Política Municipal de Desenvolvimento Econômico, Científico e
Tecnológico, foi mencionada a criação de centros poliesportivos para a formação de
atletas, verificando-se, dessa forma, a ênfase ao esporte de rendimento.
O esporte, enquanto unidade de registro, apareceu de forma incipiente e
restrita, enquanto o lazer teve um lugar de maior valorização em relação à sua
explicitação do ponto de vista textual. No entanto, o esporte e lazer, ainda que de
373
forma tímida, são valorizados. Estão ligados à melhoria da qualidade de vida das
pessoas. A função social da cidade corresponde ao direito de todos para o acesso
ao lazer, em conjunto com a terra urbana, a moradia, o saneamento ambiental, o
transporte, a saúde, a educação, a assistência social, o trabalho, a renda, como
também o espaço público, entre outros direitos.
Em relação à pesquisa de Campo, conclui-se que as Zonas da cidade de
Campina Grande – PB que têm maior número de espaços, serviços e equipamentos
de atividades físicas-esporte e lazer são: Zona Sul e Zona Leste. Os espaços
públicos pesquisados que tiveram maior destaque quantitativo foram os das
academias ao ar livre e encontram-se de uma maneira geral em condições
satisfatórias para o uso e de acordo com o padrão de outras cidades brasileiras. Os
espaços com características de complexos esportivos, “Complexo Plínio Lemos” e o
“Meninão” encontram-se impossibilitados de uso esportivo. A população campinense
conta, atualmente, apenas com o “Complexo Esportivo do Catolé” em
funcionamento, mas não com características de grandes centros, e o “Parque da
Liberdade” (em construção), que contribuem para a prática do esporte e lazer. O
“Parque da Criança” ainda é considerado umas das principais referências de
atividade física, esporte e lazer da cidade.
A arte de grafite vem embelezando muros e paredes de algumas praças e
parques da cidade pesquisada. As praças revitalizadas ou novos espaços são
considerados o palco para o incentivo à população para a adesão à atividade física e
ao incentivo à interação social da população.
Um elemento que está fazendo a diferença é o espaço planejado da área
para os ciclistas e corredores no “Parque da Liberdade”.
Em todos os espaços observados, não se viu a existência de local
apropriado para a prática de atividade física na companhia de animais domésticos, a
exemplo mais comum do cão, como há e já apresenta de forma planejada, e já em
uso e com experiências exitosas. As áreas, espaços de lazer apropriados com a
infraestrutura para que, de maneira prazerosa e saudável, ocorra a inclusão do
animal adequadamente, contribuindo para uma maior adesão das pessoas, melhoria
da qualidade de vida, com vistas à sustentabilidade ambiental, de forma segura e
com a garantia de direitos, e ainda possibilitando aos criadores, amantes dos
animais, terem a sua companhia nas caminhadas, passeios, trilhas, e ainda
otimizando momentos ao ar livre, na presença de uma educação ambiental
374
compartilhada. Isto também seria benéfico para o animal, que teria diversão e/ou
treino, como já existe em algumas cidades, a exemplo de Fortaleza – CE.
Quanto ao “Complexo Plínio Lemos”, um fato importante merece destaque,
no sentido da necessidade de repensar a gestão compartilhada de forma mais
sistematizada entre o poder público e a comunidade, com o intuito de que o local
não seja visto como obra apenas de governo, e sejam tratados os seus pontos
positivos e negativos, seus desafios e as medidas a serem tomadas em curto e
médio prazos, por ser um espaço que poderá atender ao esporte-educação, esporte-
participação e ao esporte-rendimento. Ademais, quando da sua instalação foi
pensado como Centro de Referência para o esporte de rendimento.
Campina Grande – PB mostrou-se com um leque de possibilidades para a
prática do exercício físico gratuito. Porém, em muitos bairros, ainda não chegou a
academia ao ar livre ou Programa Academia da Saúde. No entanto, o atual esporte
apresenta-se ainda com fragilidades, como falta de locais apropriados, necessitando
de apoio, incentivo e uma gestão articulada com a política urbana, para que esta,
sendo promovida, possibilite repensar e debater como são tratados o esporte e o
lazer na escola, e em que condições se encontram os espaços públicos e privados.
Quanto aos eventos esportivos da cidade, no que é planejado e realizado, suas
potencialidades e suas principais dificuldades relativas ao esporte educacional,
esporte de lazer e esporte de rendimento na cidade; e o paradesporto, como
também devem ser discutidos os caminhos a serem tomados, que atendam aos
interesses da população e à realidade da cidade.
A consciência cidadã de cada morador, de cada usuário precisa constante e
continuadamente constar na agenda do dia. É um trabalho de educação política
numa perspectiva crítica, para que reconheçam esses espaços/serviços/
equipamentos como um bem coletivo, e que necessitam de cuidado, preservação e
de participação de todos.
Ao acompanhar o cenário nacional, os espaços públicos ainda deixam muito
a desejar quanto ao atendimento aos princípios e normas de acessibilidade, bem
como às demais normas técnicas de segurança previstas em lei, muito embora
viram-se realidades totalmente diferentes, não sendo possível, na presente
pesquisa, trazer uma explicativa coerente. Essa realidade também se amplia às
condições de ruas, calçadas e pisos, os quais também levam às considerações
sobre algumas características na compreensão de mobilidade urbana.
375
O debate do esporte e lazer na cidade mostrou-se de forma clara, inter-
relacionados, associados, atrelados a uma rede de infraestrutura, aos diversos
serviços públicos, dentre outros serviços, para que sejam previstos e planejados,
amparados em legislação e concretizados; e que tenham políticas efetivas que
contribuam para o desenvolvimento da cidade e melhoria da qualidade de vida das
pessoas. Em relação ao aparato legal, constatou-se que há vasta documentação
que legitima o esporte e lazer como direitos sociais. No entanto, ela precisa ser vista
pelo poder público nas suas diferentes esferas quanto ao seu cumprimento. Pode-
se, ainda, buscar medidas/ações, aparatos legais outros que fortaleçam a questão
de financiamentos e incentivos ao esporte.
Os equipamentos públicos de atividade física, esporte e lazer não podem ser
concebidos como objeto de consumo, aplicação de recursos, execução de “pacotes”
para o esporte e lazer de forma centralizada, e para fins de interesse de uma
minoria, mas que sejam compreendidos e tenham significados para a consolidação
de políticas, que, quando necessário, haja a prática da intersetorialidade, parcerias,
convênios; tenham uma gestão compartilhada, com a participação social; que haja
controle social, em suas várias formas; que façam parte do planejamento
orçamentário, como também podendo partir de projetos submetidos a editais.
Abrindo as cortinas de um cenário, em que as atividades físicas, esportivas e
de lazer sejam conteúdos somados ao ambiente, à natureza, como possibilidades do
verde estar presente, configurando-se não como espaço/equipamento estático, mas
que contribuam para a melhoria da cidade e cotidiano das pessoas, comungando
com valores sustentáveis.
Quanto mais equipamentos sociais e quanto maiores articulações entre eles,
fortalece-se, enriquece-se e potencializa-se o bairro. Contudo, para isso, faz-se
necessária, também, a participação ativa de seus representantes, através de SABs,
Clubes de Mães, Associações, entre outros, bem como da comunidade, além da
articulação com universidades, realizações de pesquisas, entre outros.
A escola é um dos palcos muito importante nos bairros, nos distritos, na
cidade como um todo. Porém, é necessário que tenha uma gestão democrática e
participativa, que esteja aberta para a comunidade; que realmente a conheça e
possibilite parcerias diversas, e que o setor esportivo possa favorecer, estabelecer-
se e ser fortalecido com elas, e ainda ser repensado como melhor utilizar os seus
espaços esportivos e dinamizá-los. Porém, são poucas escolas públicas municipais
376
que oferecem o espaço adequado, como ginásios ou quadras poliesportivas, para
acesso até mesmo aos finais de semana.
O Programa “Mexe Campina” foi a ênfase na política de esporte pela
Secretaria Municipal de Esporte, Juventude e Lazer, como também por vários
participantes da pesquisa. É, também, reconhecida a importância da parceria com a
Secretaria Municipal de Saúde para a execução do referido programa, que é ainda
implementado em sistema de polo.
Os gestores entrevistados compreendem a necessidade de melhorias para o
campo das políticas públicas de esporte e lazer em Campina Grande – PB e os
resultados encontrados traduzem que a temática planejamento, precisa ser revista.
A prática esportiva e os eventos no município estão muito focados na
modalidade corrida, em especial, a corrida de rua. Todavia, apesar de fatores
positivos, muitos entrevistados transpuseram esta ideia para uma repercussão
negativa, pois, de uma certa forma, pode de um lado desfavorecer a expansão e
melhorias para o esporte, e, por conseguinte, dificultar o acesso público do cenário
esportivo nacional, na forma de esporte de base, noutras modalidades e de forma
mais grave ao acesso aos esportes com vistas ao rendimento. Um outro problema
que pode ser demarcado foi a falta de campos de futebol na cidade, consequência,
por exemplo, da expansão habitacional ou áreas ainda não urbanizadas, política
imobiliária empresarial e a privatização dos espaços, falta de instrumentos de
planejamento urbano efetivos e eficazes, entre outros.
Foram várias justificativas dadas pelos gestores do esporte e lazer como
parte da política urbana, mas, principalmente, pela melhoria da qualidade de vida,
benefícios de diversas ordens para o ser humano.
Na visão tanto dos usuários como dos não-usuários dos espaços, serviços e
equipamentos de esporte e lazer públicos municipais, a adesão às atividades físicas,
esportivas e de lazer se dá principalmente por questões de benefícios para a saúde.
A academia ao ar livre, para eles, de uma maneira geral, favorece o acesso às
pessoas que não podem pagar. Desse modo, reconhece-se que esse pensamento é
frágil e carece de análise crítica. Ademais, há o interesse de que seja expandida
para os bairros que não possuem esse benefício e que haja orientação de um
profissional, de forma sistemática, pois a placa autoexplicativa de orientação de uso
dos equipamentos não substitui o profissional.
377
Com as entrevistas aos organizadores/promotores participantes da pesquisa,
verificou-se a sua importância, o nível de consolidação e consistência nas
experiências apresentadas, embora uma ainda em fase inicial. Entretanto, uma das
maiores preocupações talvez seja no que tange às possíveis ilegalidades, o mau
uso do público, o enaltecimento do privado às custas do serviço público ou até
mesmo o aumento da exclusão social das práticas esportivas, bem como talvez levar
à precarização do esporte pelo poder público.
Para os jornalistas pesquisados, ao tratar do esporte e lazer na política
urbana, é necessário avaliar o que e como está sendo desenvolvida a área pelo
poder público, e ainda que o planejamento faça parte desse contexto. No debate
sobre esporte e lazer na cidade, os jornalistas consideram a importância do
planejamento urbano e de políticas públicas. Nessa questão, os presidentes de
SABs, com foco também na atuação do poder público e dos representantes das
SABs, além da preocupação voltada para a política de investimento. No ponto de
vista do esporte e lazer na cidade, esses representantes fizeram considerações
acerca das condições de acesso, ampliação e diversificação das atividades, ações e
projetos, serviços e equipamentos e quanto à política de apoio e incentivo ao
esporte e lazer.
Embora a segurança pública seja de competência estadual, em muitas falas
dos entrevistados foram destacados problemas com o serviço citado. Contudo,
nesse tema, foi mencionada a necessidade de fortalecimento e a criação de
condições para expansão da guarda municipal nos setores.
Quanto à avaliação do esporte e lazer na política urbana, os profissionais de
Educação Física, em linhas gerais, tratam que devem ser repensados o político e a
política, que se apresentam na política urbana, a partir do Programa “Mexe
Campina”. Há necessidade de avaliar a política de gestão do esporte e lazer. Além
disso, devem ser definidas e tratadas como políticas públicas e serem consideradas
num contexto de importância. Ademais, esses profissionais também percebem o
esporte e lazer em Campina Grande principalmente na dimensão de organização e
atuação do poder público nas diferentes ações no campo da atividade física, esporte
e lazer.
Verificou-se, através da realização dos diferentes procedimentos de coleta
de dados, como também por meio de variados grupos de participantes durante a
378
pesquisa de campo, mesmo em maneiras divergentes de se expressar, foi possível
reforçar o que foi constatado nas observações realizadas.
Mediante o exposto, identificaram-se os seguintes avanços no campo do
esporte lazer: o interesse em conhecer-se e dar maior atenção à saúde e melhores
cuidados com o corpo são vistos de forma mais esclarecida; existência expressiva
da legislação, que assegura os direitos da sociedade ao esporte e lazer; Plano
Nacional de Práticas Corporais e Atividade Física visando às políticas públicas
municipais e Planos Interministeriais e do governo com ONGs, entidades científicas,
setor privado, o Sistema “S”, entre outros com vistas à difusão do tema;
reorganização dos espaços urbanos, implementação de projetos; ampliação do
acesso à informação; maior consciência e conhecimento dos valores do esporte e
lazer; ampliação de interesses em pesquisa na área e presença do esporte e lazer
no cenário das políticas urbanas para o fortalecimento das funções sociais da
cidade.
Por outro lado, revelaram-se alguns desafios a serem enfrentados, tais
como: discussão sobre Política de Estado versus Política de governo; desconstrução
da ideia de que a política de esporte e lazer seja baseada apenas numa lista de
eventos; ênfase atribuída ao esporte de rendimento; análise criteriosa quanto aos
megaeventos; ampliação e qualificação da infraestrutura do esporte e lazer no país,
bem como analisar os seus grandes gargalos contemporâneos; maior participação
social e fragilidades no controle social; políticas consistentes que aliem o esporte ao
direito, educação, lazer, cidadania, inclusão e qualidade de vida; intensificação da
acessibilidade; com a realidade financeira da maioria dos estados e municípios, as
políticas públicas passam a ser atreladas ao financiamento da esfera federal; os
instrumentos de planejamento e gestão do urbano não sejam meros documentos
tecnoburocráticos.
Diante desse contexto, e com base na proposta apresentada em relação ao
esporte e lazer nas políticas urbanas brasileiras, a realidade de Campina Grande –
PB, ora objeto de recorte da pesquisa, com os resultados obtidos, conclui-se que o
esporte e lazer vêm sendo fortalecidos ao longo do tempo. Porém, no Brasil,
precisam de maior valorização. Merecem ocupar um lugar de grande envergadura
na política urbana, porquanto contribuem para a melhoria da qualidade de vida dos
cidadãos e para a vida em sociedade. Necessitam de ser repensados, a partir de um
planejamento urbano efetivo, com definição de políticas públicas em que o poder
379
público exerça o seu papel, com maior participação social e controle social, e
visando à democratização do acesso ao esporte e lazer. Sendo assim, apresentam-
se algumas proposições para a adoção de políticas urbanas que possibilitem o
acesso ao esporte e lazer. Não se tem a intenção de trazer em ordem de prioridade
e também não se sabe em que medida passos já foram dados nesse caminho.
Desse modo, tais sugestões estão agrupadas em três dimensões, ou seja, política,
de gestão e técnica, muito embora se reconheça que estão inter-relacionadas,
traduzidas nos princípios de uma gestão democrática e participativa, bem como sob
a égide da equidade, da justiça socioespacial, isto é, minimização da desigualdade
social e da segregação urbana. Nesse cenário, propõem-se:
Dimensão política
Discutir e traçar uma política articulada entre as Secretarias de Esporte, de
Educação, de Saúde, de Cultura, entre outras, para que se fortaleça o uso dos
espaços esportivos (quadras, ginásios) das escolas aos finais de semana;
Haver no Plano Diretor de cada município um item para discorrer sobre a política
municipal de esporte e lazer, de modo que esta não seja disposta apenas como
unidades de registro em alguns locais no texto;
Pensar a cidade e seus problemas para além dos planejamentos estratégicos,
de caráter emergencial, que diagnosticam para selecionar / priorizar as ações;
Promover discussões para rever as dimensões do esporte ora vigentes, visando
a ampliar o espaço escolar não somente com uma valorização no esporte
educacional;
Discutir as políticas de esporte e lazer existentes em diferentes instâncias;
Ampliar espaços de debate democrático para a organização da gestão e
desenvolvimento do esporte e lazer nas diferentes instâncias, com definição de
competências;
Possibilitar uma reflexão-ação-reflexão no entendimento de que a política não
esteja atrelada e parta da ação governamental apenas, mas que, com a
participação política, fruto de ações coletivas, avance-se no campo das políticas
de esporte e lazer;
Incentivar a atuação do cidadão nos espaços decisórios e na reflexão/discussão
de ações participativas na esfera do governo e do Estado, bem como o incentivo
380
e apoio à reabertura de canais de participação da população, e exemplo de
SABs, Clubes de Mães, Associações, entre outros;
Analisar criticamente a gestão do esporte e lazer no Brasil, de modo a romper
com o caráter assistencialista, utilitarista e descomprometido social e
politicamente;
Implementar políticas urbanas municipais, como também aquelas com convênios
e parcerias com a esfera nacional, estadual, com autarquias ou com o setor
privado que contribuam para o acesso do esporte e lazer à população.
Dimensão de gestão
Elaborar e divulgar o calendário esportivo ações e eventos nesse campo, com a
participação social, representantes de diversas entidades ligados à área e à
gestão pública;
Incentivar a atuação do Conselho do Esporte;
Criar mecanismos de fiscalização e avaliação dos conselhos, para que cada
conselheiro acompanhe e seja acompanhado por seus pares;
Possibilitar a formação / capacitação dos conselheiros com o intuito de combater
os entraves causados pela tecnoburocratização, ou seja, de forma que deixem
de ser meros instrumentos técnicos para a gestão, como também contribuir para
a qualificação do debate, e ainda pela busca de mudança cultural;
Estabelecer regras claras para uso do espaço público com os brinquedos e
parques privados;
Criar instrumentos de planejamento e gestão do urbano que traduzam as
definições que favoreçam o acesso da população ao esporte e ao paradesporto;
Implementar instrumentos para avaliar a existência de políticas de esporte e
lazer efetivas nas diferentes esferas, como também as razões da sua
descontinuidade;
Ampliar as chamadas públicas voltadas para as políticas de esporte e lazer, nas
diferentes esferas governamentais;
Criar condições para a realização de atividades físicas, esportivas e de lazer em
companhia com o cão, de forma e ambientes adequados e com medidas
sustentáveis;
Elaborar projetos/programas e implementá-los no campo da atividade física,
esporte e lazer que articulem a zona urbana e a vida rural;
381
Incentivar pesquisas na área e estabelecer parcerias com as universidades e
demais instituições de ensino superior;
Fortalecer grupos de pesquisa na área de políticas de esporte e lazer, como
também sua relação com o desenvolvimento urbano e regional;
Ampliar as pesquisas para avaliar quem perde e quem ganha com a realização
dos megaeventos esportivos e identificar alternativas para minimizar os
problemas e traçar novas ações sustentáveis;
Criar espaços em nível estadual e regional para a socialização das políticas
públicas de esporte e lazer implementadas pelos estados, municípios e Distrito
Federal;
Reconhecer e ampliar os atores/agentes para elaboração, implantação e
implementação de políticas de esporte e lazer;
Descentralizar os recursos para o esporte e lazer;
Avaliar as diferentes etapas de discussão do Orçamento Participativo;
Avaliar ações, programas intersetoriais no tocante ao lugar do esporte e lazer e
os valores a eles atribuídos;
Estabelecer parcerias público-privadas, com objetivos e competências
claramente definidos;
Desenvolver planos, programas e projetos que qualifiquem o potencial educativo
do esporte e lazer, bem como a dimensão lúdica e sua ampla abrangência;
Criar mecanismos de efetivação da gestão compartilhada do esporte, com vistas
à autogestão do esporte e lazer em médio prazo dos bairros a serem
planejados.
Dimensão Técnica
Criar um mapeamento geográfico com uso de recursos tecnológicos dos
espaços e equipamentos de esporte e lazer na cidade;
Elaborar um diagnóstico situacional sobre esses espaços e equipamentos;
Construir em meio impresso e de formato digital a apresentação das políticas
públicas de esporte e lazer definidas para a cidade com intuito de divulgar à
população;
Colocar placas identificadoras e layout para os espaços, serviços e
equipamentos de atividade física, esporte e lazer de iniciativa municipal;
382
Divulgar os Conselhos de Esporte e Lazer amplamente, inclusive por meio
eletrônico, com a normatização de sua criação, caráter (consultivo, deliberativo,
normativo, propositivo, fiscalizador, controlador, orientador, gestor e formulador
de políticas públicas de esporte e lazer) e seu regimento;
Promover ações diversas e sistemáticas nos bairros para avaliar e levantar os
interesses e prioridades para a área;
Mapear os campos de futebol já utilizados na cidade e aqueles cujo uso poderá
ser otimizado, além de sistematizar o apoio público para manutenção;
Fazer levantamento de atletas e paratletas da cidade para efetivação da política
de apoio e incentivo aos atletas em articulação com a política de
desenvolvimento urbano;
Diagnosticar quais esportes e paradesportos podem ser potencializados na
cidade;
Elaborar balanços contábeis financeiros da área separadamente, ou seja, fontes
de recursos e despesas para atividade física, esporte e lazer com fins de obras,
reformas, manutenção, recursos humanos, material de custeio e despesas
outras divididas por pastas, a saber: Secretaria de Saúde, Secretaria de
Educação, Secretaria de Esporte, Secretaria de Obras, Secretaria de
Planejamento, entre outras;
Por fim, entende-se que a política urbana e sua relação com o esporte e
lazer contribuam para a consolidação das funções sociais da cidade, favorecendo o
direito à cidade na busca de uma sociedade mais justa, fraterna e igualitária.
383
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410
APÊNDICE
411
APÊNDICE A - FICHA DE OBSERVAÇÃO
Dados Gerais:
1- Bairro de localização:
2- Tipo de espaço / tipologia das edificações:
3- Serviços e espaços destinados e usos:
4- Tipos de Equipamentos e suas condições:
5- Quem os utiliza?
Questões de acessibilidade:
6- Sinalização (visual, sonora, vertical e tátil):
7- Rampa (inclinação, corrimão e patamar):
8- Banheiros, banheiros adaptados:
9- Mobilidade de cadeirantes:
10- Condições de calçadas e piso:
11- Condições de estacionamento (vagas e recursos garantidos)
Questões ligadas à rede de infraestrutura:
12- Esgoto
13- Água
14- Iluminação
15- Transporte
16- Lixo
17- Área verde
18- Aparatos outros
412
ANEXOS
413
ANEXO A - Escolas públicas estaduais existentes em 31.12 e com instalações esportivas,
por tipo de instalações esportivas, segundo a Região Nordeste e suas Unidades da Federação - 2003
Região Nordeste e suas Unidades da Federação
Escolas públicas estaduais existentes em 31.12
Total
Instalações esportivas
Total com instalações esportivas
Com instalações esportivas, por tipo de instalações esportivas
Sem instalações esportivas
Total
Somente piscina
Somente quadra coberta
Somente quadra
não-coberta
Somente piscina e quadra coberta
Somente piscina e quadra
não-coberta
Somente quadra coberta e
quadra não-coberta
Piscina, quadra coberta e
quadra não-coberta
Nordeste 8 968 2 832 19 491 2 212 7 14 81 8 6 136
Maranhão 1 078 318 1 36 266 - 2 13 - 760
Piauí 946 246 4 17 219 - - 5 1 700
Ceará 782 433 3 150 253 1 5 19 2 349
Rio Grande do Norte 919 173 8 52 105 1 1 6 - 746
Paraíba 1 266 310 1 125 168 1 3 12 - 956
Pernambuco 1 093 449 1 29 410 1 1 5 2 644
Alagoas 365 62 - 13 43 - 1 5 - 303
Sergipe 403 124 1 37 81 2 - 3 - 279
Bahia 2 116 717 - 32 667 1 1 13 3 1 399
Fontes: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de População e Indicadores Sociais, Pesquisa de Esporte 2003 - Governo do Estado; Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Anísio Teixeira - INEP.
Nota: Exclusive instalações esportivas em construção.
Tabela adaptada.
414
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de População e Indicadores Sociais, Pesquisa de Esporte 2003 - Governo do Estado. Nota: Inclusive os equipamentos esportivos localizados em complexos esportivos e exclusive os ginásios localizados em universidades/faculdades públicas estaduais e os equipamentos esportivos em construção. Tabela adaptada. (1) Nas Unidades da Federação que não possuíam regiões metropolitanas foram considerados os equipamentos esportivos existentes nas respectivas capitais. Por sua vez, quando uma unidade da federação possuía mais de uma região metropolitana, os equipamentos esportivos foram considerados somente na região metropolitana onde se localizava a capital.
ANEXO B - Número de equipamentos esportivos existentes em 31.12, por tipo de equipamento e localização,
segundo a Região Nordeste e suas Unidades da Federação – 2003
Região Nordeste e suas Unidades da
Federação
Número de equipamentos esportivos existentes em 31.12
Tipo de equipamento e localização
Ginásio Estádio de futebol Complexo aquático Complexo esportivo Autódromo Kartódromo
Total Região
metropolitana (1)
Demais municípios
Total Região
metropolitana (1)
Demais municípios
Total Região
metropolitana (1)
Demais municípios
Total Região
metropolitana (1)
Demais municípios
Total Região
metropolitana (1)
Demais municípios
Total Região
metropolitana (1)
Demais municípios
Nordeste 34 18 16 15 8 7 3 3 - 16 13 3 1 1 - 1 1 -
Maranhão 4 4 - 1 1 - 1 1 - 2 2 - - - - 1 1 -
Piauí 2 2 - 2 1 1 - - - - - - - - - - - -
Ceará - - - 1 1 - - - - 4 4 - 1 1 - - - -
Rio Grande do Norte 4 4 - - - - - - - 1 1 - - - - - - -
Paraíba 5 4 1 2 1 1 1 1 - 3 2 1 - - - - - -
Pernambuco 2 1 1 - - - - - - 4 2 2 - - - - - -
Alagoas - - - 1 1 - - - - - - - - - - - - -
Sergipe 2 2 - 6 1 5 1 1 - 1 1 - - - - - - -
Bahia 15 1 14 2 2 - - - - 1 1 - - - - - - -
415
ANEXO C - Número de equipamentos esportivos existentes em 31.12, por tipo de equipamento e
condição de funcionamento, segundo a Região Nordeste e suas Unidades da Federação - 2003
Região Nordeste e suas Unidades da Federação
Número de equipamentos esportivos existentes em 31.12
Tipo de equipamento e condição de funcionamento
Ginásio Estádio de futebol Complexo aquático Complexo esportivo Autódromo Kartódromo
Em
funcio
na
mento
(1)
Obra
s
conclu
ídas
e n
ão-
inaugura
das
Para
lisados
(2)
Em
funcio
na
mento
(1)
Obra
s
conclu
ídas
e n
ão-
inaugura
das
Para
lisados
(2)
Em
funcio
na
mento
(1)
Obra
s
conclu
ídas
e n
ão-
inaugura
das
Para
lisados
(2)
Em
funcio
na
mento
(1)
Obra
s
conclu
ídas
e n
ão-
inaugura
das
Para
lisados
(2)
Em
funcio
na
mento
(1)
Obra
s
conclu
ídas
e n
ão-
inaugura
das
Para
lisados
(2)
Em
funcio
na
mento
(1)
Obra
s
conclu
ídas
e n
ão-
inaugura
das
Para
lisados
(2)
Nordeste 32 - 2 12 - 3 3 - - 16 - - 1 1 - 1 - -
Maranhão 4 - - 1 - - 1 - - 2 - - - - - 1 - -
Piauí 2 - - 2 - - - - - - - - - - - - - -
Ceará - - - 1 - - - - - 4 - - 1 - - - - -
Rio Grande do Norte 3 - 1 - - - - - - 1 - - - - - - - -
Paraíba 5 - - 2 - - 1 - - 3 - - - - - - - -
Pernambuco 2 - - - - - - - - 4 - - - - - - - -
Alagoas - - - 1 - - - - - - - - - - - - - -
Sergipe 2 - - 3 - 3 1 - - 1 - - - - - - - -
Bahia 14 - 1 2 - - - - - 1 - - - - - - - -
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de População e Indicadores Sociais, Pesquisa de Esporte 2003 - Governo do Estado. Nota: Inclusive os equipamentos esportivos localizados em complexos esportivos e exclusive os ginásios localizados em universidades/faculdades públicas estaduais e os equipamentos esportivos em construção. Tabela adaptada. (1) Em funcionamento pleno ou parcial. (2) Paralisados por ampliação ou reforma ou por outros motivos.
416
ANEXO D - Número de instalações esportivas existentes e em construção em 31.12, por tipo de instalação
esportiva, segundo Região Nordeste e suas Unidades da Federação - 2003
Região Nordeste e suas Unidades da Federação
Número de instalações esportivas existentes e em construção em 31.12
Tipo de instalação esportiva
Quadra (1) Campo de futebol Piscina Recreativa Piscinas semi-
olímpica e olímpica Pista de atletismo (2) Quadra de tênis
Existente Em construção Existente Em construção Existente Em
construção Existente
Em construção
Existente Em
construção Existente
Em construção
Nordeste 61 11 36 2 5 2 10 7 15 2 4 -
Maranhão - - 2 - - - 1 - 1 - 2 -
Piauí 3 - 2 - - 2 1 4 1 - - -
Ceará 12 5 9 2 - - - 3 4 2 - -
Rio Grande do Norte 2 - 1 - - - 1 - 1 - - -
Paraíba 5 - 1 - - - 3 - 1 - - -
Pernambuco 18 - 8 - - - 2 - 2 - 2 -
Alagoas - - - - - - - - 1 - - -
Sergipe 21 6 2 - 1 - 1 - - - - -
Bahia - - 11 - 4 - 1 - 4 - - -
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de População e Indicadores Sociais, Pesquisa de Esporte 2003 - Governo do Estado. Notas: 1. Instalações esportivas que apresentaram maior frequência. 2. Exclusive as quadras e piscinas localizadas nas escolas públicas estaduais, as instalações esportivas localizadas nas universidades/faculdades públicas estaduais, as quadras localizadas nos ginásios e os campos localizados nos estádios de futebol. 3 Tabela adaptada. (1) Quadras cobertas e não-cobertas. (2) Inclusive as localizadas nos estádios de futebol.
417
ANEXO E - Número de instalações esportivas existentes em 31.12, por tipo e características das instalações,
segundo Região Nordeste e suas Unidades da Federação - 2003
Região Nordeste e suas Unidades da
Federação
Número de instalações esportivas existentes em 31.12
Tipo e características das instalações
Coberta Não-coberta
Quadra Pista de atletismo Piscina (1) Quadra Campo de futebol Pista de atletismo Piscina (1)
Iluminada Não-
iluminada Iluminada
Não-iluminada
Iluminada Não-
iluminada Aquecida Iluminada
Não-iluminada
Iluminada Não-
iluminada Iluminada
Não-iluminada
Iluminada Não-
iluminada Aquecida
Nordeste 21 - - - - - - 23 17 30 21 10 5 10 5 -
Maranhão - - - - - - - - - 2 1 1 - 1 - -
Piauí - - - - - - - 3 - 4 - 1 - 1 - -
Ceará 4 - - - - - - 4 4 6 4 4 - - - -
Rio Grande do Norte - - - - - - - - 2 - 1 1 - 1 - -
Paraíba 5 - - - - - - - - 3 - - 1 3 - -
Pernambuco 1 - - - - - - 11 6 4 4 1 1 2 - -
Alagoas - - - - - - - - - 1 - 1 - - - -
Sergipe 11 - - - - - - 5 5 8 - - - 1 1 -
Bahia - - - - - - - - - 2 11 1 3 1 4 -
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de População e Indicadores Sociais, Pesquisa de Esporte 2003 - Governo do Estado. Nota: Inclusive as instalações esportivas localizadas em complexos esportivos, os campos de futebol e pistas de atletismo localizados em estádios de futebol e as piscinas localizadas em complexos aquáticos; e exclusive as quadras e piscinas localizadas em escolas públicas estaduais, as instalações esportivas localizadas nas universidades/faculdades públicas estaduais, as quadras localizadas em ginásios, e as instalações esportivas em construção. Tabela adaptada. (1) Piscinas recreativas, semiolímpicas e olímpicas.
418
ANEXO F - Número de quadras e campos de futebol localizados isoladamente existentes
em 31.12, por tipo de infraestrutura de funcionamento, segundo a
Região Nordeste e suas Unidades da Federação - 2003
Região Nordeste e suas Unidades da
Federação
Número de quadras e campos de futebol localizados isoladamente existentes em 31.12
Tipo de infraestrutura de funcionamento
Quadra (1) Campo de futebol
Arquibancada Vestiário/banheiro Arquibancada Vestiário/banheiro
Possuem Não-possuem Possuem Não-possuem Possuem Não-possuem Possuem Não-possuem
Nordeste 18 43 16 45 10 26 6 30
Maranhão - - - - 1 1 1 1
Piauí - 3 - 3 2 - 2 -
Ceará 4 8 4 8 1 8 3 6
Rio Grande do Norte - 2 - 2 - 1 - 1
Paraíba - 5 - 5 - 1 - 1
Pernambuco 3 15 1 17 2 6 - 8
Alagoas - - - - - - - -
Sergipe 11 10 11 10 - 2 - 2
Bahia - - - - 4 7 - 11
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de População e Indicadores Sociais, Pesquisa de Esporte 2003 - Governo do Estado. Nota: Exclusive as quadras localizadas em escolas públicas estaduais e ginásios, as quadras e campos de futebol localizados nas universidades/faculdades públicas estaduais, os campos de futebol localizados em estádios, e as quadras e campos de futebol em construção. Tabela adaptada. (1) Quadras cobertas e não-cobertas.