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Lei 10.826/2003
Estatuto do “Desarmamento”
Dispõe sobre registro, posse e comercialização de armas de fogo
e munição, sobre o Sistema Nacional de Armas – SINARM, define
crimes e dá outras providências.
Lei 10.826/2003
Art. 1o O Sistema Nacional de Armas – Sinarm, instituído no
Ministério da Justiça, no âmbito da Polícia Federal, tem
circunscrição em todo o território nacional.
DEC. Nº 5.123/2004 Art. 1o O SINARM, instituído no
Ministério da Justiça, no âmbito da Polícia Federal,
com circunscrição em todo o território nacional e
competência estabelecida pelo caput e incisos
do art. 2o da Lei no 10.826, de 22 de dezembro de
2003, tem por finalidade manter cadastro geral,
integrado e permanente das armas de fogo
importadas, produzidas e vendidas no país, de
competência do SINARM, e o controle dos registros
dessas armas.
Lei 10.826/2003
Art. 2o Ao Sinarm compete:
I – identificar as características e a propriedade de armas de fogo,
mediante cadastro;
II – cadastrar as armas de fogo produzidas, importadas e vendidas
no País;
III – cadastrar as autorizações de porte de arma de fogo e as
renovações expedidas pela Polícia Federal;
IV – cadastrar as transferências de propriedade, extravio, furto,
roubo e outras ocorrências suscetíveis de alterar os dados
cadastrais, inclusive as decorrentes de fechamento de empresas
de segurança privada e de transporte de valores;
V – identificar as modificações que alterem as características ou
o funcionamento de arma de fogo;
VI – integrar no cadastro os acervos policiais já existentes;
VII – cadastrar as apreensões de armas de fogo, inclusive as
vinculadas a procedimentos policiais e judiciais;
VIII – cadastrar os armeiros em atividade no País, bem como
conceder licença para exercer a atividade;
IX – cadastrar mediante registro os produtores, atacadistas,
varejistas, exportadores e importadores autorizados de armas de
fogo, acessórios e munições;
X – cadastrar a identificação do cano da arma, as características
das impressões de raiamento e de microestriamento de projétil
disparado, conforme marcação e testes obrigatoriamente
realizados pelo fabricante;
XI – informar às Secretarias de Segurança Pública dos Estados e
do Distrito Federal os registros e autorizações de porte de armas
de fogo nos respectivos territórios, bem como manter o cadastro
atualizado para consulta.
Parágrafo único. As disposições deste artigo não alcançam as
armas de fogo das Forças Armadas e Auxiliares, bem como as
demais que constem dos seus registros próprios.
DECRETO Nº 5.123/2004 Sistema de Gerenciamento Militar de
Armas - Art. 2o O SIGMA, instituído no Ministério da Defesa, no
âmbito do Comando do Exército, com circunscrição em todo o
território nacional, tem por finalidade manter cadastro geral,
permanente e integrado das armas de fogo importadas, produzidas
e vendidas no país, de competência do SIGMA, e das armas de fogo
que constem dos registros próprios.
1) Bem Jurídico Tutelado
Em regra, a segurança/incolumidade pública.
Sujeito passivo - o Estado ou a coletividade.
2) Competência
Em regra, da justiça estadual.
A objetividade jurídica, a princípio, não diz respeito a nenhum
interesse da União exclusivamente nos moldes do art. 109 da CR.
3) NORMA PENAL EM BRANCO (primariamente remetida):
DECRETO Nº 5.123, DE 1º DE JULHO DE 2004.
Regulamenta a Lei no 10.826, de 22 de dezembro de 2003, que
dispõe sobre registro, posse e comercialização de armas de fogo e
munição, sobre o Sistema Nacional de Armas - SINARM e define
crimes.
Dec nº 5123/2004
Art. 10. Arma de fogo de uso permitido é aquela cuja utilização é
autorizada a pessoas físicas, bem como a pessoas jurídicas, de
acordo com as normas do Comando do Exército e nas condições
previstas na Lei no 10.826, de 2003.
Art. 11. Arma de fogo de uso restrito é aquela de uso exclusivo
das Forças Armadas, de instituições de segurança pública e de
pessoas físicas e jurídicas habilitadas, devidamente
autorizadas pelo Comando do Exército, de acordo com
legislação específica.
DECRETO Nº 3.665, DE 20 DE NOVEMBRO DE 2000.
Dá nova redação ao Regulamento para a Fiscalização de
Produtos Controlados (R-105).
art. 3º, Dec 3665/2000:
Arma de fogo – XIII - arma de fogo: arma que arremessa projéteis
empregando a força expansiva dos gases gerados pela
combustão de um propelente confinado em uma câmara que,
normalmente, está solidária a um cano que tem a função de
propiciar continuidade à combustão do propelente, além de
direção e estabilidade ao projétil;
Acessório – II - acessório de arma: artefato que, acoplado a
uma arma, possibilita a melhoria do desempenho do atirador, a
modificação de um efeito secundário do tiro ou a modificação
do aspecto visual da arma; Ex. Mira telescópica.
Munição – LXIV - munição: artefato completo, pronto para
carregamento e disparo de uma arma, cujo efeito desejado
pode ser: destruição, iluminação ou ocultamento do alvo;
efeito moral sobre pessoal; exercício; manejo; outros efeitos
especiais;
LEI 10826/2003
Art. 3o É obrigatório o registro de arma de fogo no órgão
competente.
Parágrafo único. As armas de fogo de uso restrito serão
registradas no Comando do Exército, na forma do regulamento
desta Lei.
Art. 4o Para adquirir arma de fogo de uso permitido o interessado
deverá, além de declarar a efetiva necessidade, atender aos
seguintes requisitos:
I - comprovação de idoneidade, com a apresentação de certidões
negativas de antecedentes criminais fornecidas pela Justiça
Federal, Estadual, Militar e Eleitoral
e de não estar respondendo a inquérito policial ou a processo
criminal, que poderão ser fornecidas por meios eletrônicos;
II – apresentação de documento comprobatório de ocupação lícita
e de residência certa;
III – comprovação de capacidade técnica e de aptidão psicológica
para o manuseio de arma de fogo, atestadas na forma disposta no
regulamento desta Lei.
§ 1o O Sinarm expedirá autorização de compra de arma de fogo
após atendidos os requisitos anteriormente estabelecidos, em
nome do requerente e para a arma indicada, sendo intransferível
esta autorização.
Art. 5o O certificado de Registro de Arma de Fogo, com
validade em todo o território nacional, autoriza o seu
proprietário a manter a arma de fogo exclusivamente no
interior de sua residência ou domicílio, ou dependência
desses, ou, ainda, no seu local de trabalho, desde que seja ele
o titular ou o responsável legal pelo estabelecimento ou
empresa.
§ 1o O certificado de registro de arma de fogo será expedido pela
Polícia Federal e será precedido de autorização do Sinarm.
§ 2o Os requisitos de que tratam os incisos I, II e III do art.
4o deverão ser comprovados periodicamente, em período não
inferior a 3 (três) anos, na conformidade do estabelecido no
regulamento desta Lei, para a renovação do Certificado de Registro
de Arma de Fogo.
§ 3o O proprietário de arma de fogo com certificados de registro de
propriedade expedido por órgão estadual ou do Distrito Federal até
a data da publicação desta Lei que não optar pela entrega
espontânea prevista no art. 32 desta Lei deverá renová-lo mediante
o pertinente registro federal, até o dia 31 de dezembro de 2008,
ante a apresentação de documento de identificação pessoal e
comprovante de residência fixa, ficando dispensado do pagamento
de taxas e do cumprimento das demais exigências constantes dos
incisos I a III do caput do art. 4o desta Lei. (Redação dada pela Lei
nº 11.706, de 2008) (Prorrogação de prazo)
§ 4o Para fins do cumprimento do disposto no § 3o deste
artigo, o proprietário de arma de fogo poderá obter, no
Departamento de Polícia Federal, certificado de registro
provisório, expedido na rede mundial de computadores -
internet, na forma do regulamento e obedecidos os
procedimentos a seguir: (Redação dada pela Lei nº 11.706, de
2008)
I - emissão de certificado de registro provisório pela internet,
com validade inicial de 90 (noventa) dias; e (Incluído pela Lei
nº 11.706, de 2008)
II - revalidação pela unidade do Departamento de Polícia
Federal do certificado de registro provisório pelo prazo que
estimar como necessário para a emissão definitiva do
certificado de registro de propriedade.
Art. 6o É proibido o porte de arma de fogo em todo o território
nacional, salvo para os casos previstos em legislação própria e
para:
I – os integrantes das Forças Armadas;
II – os integrantes de órgãos referidos nos incisos do caput do art.
144 da Constituição Federal;
III – os integrantes das guardas municipais das capitais dos
Estados e dos Municípios com mais de 500.000 (quinhentos
mil) habitantes, nas condições estabelecidas no regulamento
desta Lei;
IV - os integrantes das guardas municipais dos Municípios
com mais de 50.000 (cinquenta mil) e menos de 500.000
(quinhentos mil) habitantes, quando em serviço;
V – os agentes operacionais da Agência Brasileira de
Inteligência e os agentes do Departamento de Segurança do
Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da
República;
VI – os integrantes dos órgãos policiais referidos no art. 51, IV,
e no art. 52, XIII, da Constituição Federal;
VII – os integrantes do quadro efetivo dos agentes e guardas
prisionais, os integrantes das escoltas de presos e as guardas
portuárias;
VIII – as empresas de segurança privada e de transporte de
valores constituídas, nos termos desta Lei;
IX – para os integrantes das entidades de desporto legalmente
constituídas,
cujas atividades esportivas demandem o uso de armas de
fogo, na forma do regulamento desta Lei, observando-se, no
que couber, a legislação ambiental.
X - integrantes das Carreiras de Auditoria da Receita Federal
do Brasil e de Auditoria-Fiscal do Trabalho, cargos de Auditor-
Fiscal e Analista Tributário. (Redação dada pela Lei nº 11.501,
de 2007)
XI - os tribunais do Poder Judiciário descritos no art. 92 da
Constituição Federal e os Ministérios Públicos da União e dos
Estados, para uso exclusivo de servidores de seus quadros
pessoais que efetivamente estejam no exercício de funções de
segurança, na forma de regulamento a ser emitido pelo Conselho
Nacional de Justiça - CNJ e pelo Conselho Nacional do Ministério
Público - CNMP.
§ 1o As pessoas previstas nos incisos I, II, III, V e VI
do caput deste artigo terão direito de portar arma de fogo de
propriedade particular ou fornecida pela respectiva corporação
ou instituição, mesmo fora de serviço, nos termos do
regulamento desta Lei, com validade em âmbito nacional para
aquelas constantes dos incisos I, II, V e VI. (Redação dada pela
Lei nº 11.706, de 2008)
§ 1º-B. Os integrantes do quadro efetivo de agentes e guardas
prisionais poderão portar arma de fogo de propriedade
particular ou fornecida pela respectiva corporação ou
instituição, mesmo fora de serviço, desde que
estejam: (Incluído pela Lei nº 12.993, de 2014)
I - submetidos a regime de dedicação exclusiva; (Incluído
pela Lei nº 12.993, de 2014)
II - sujeitos à formação funcional, nos termos do regulamento;
e (Incluído pela Lei nº 12.993, de 2014)
III - subordinados a mecanismos de fiscalização e de controle
interno. (Incluído pela Lei nº 12.993, de 2014)
Dec nº 5123/2004
Art. 24. O Porte de Arma de Fogo é pessoal, intransferível e
revogável a qualquer tempo, sendo válido apenas com relação
à arma nele especificada e com a apresentação do documento
de identificação do portador.
FIGURAS TÍPICAS
POSSE IRREGULAR DE ARMA DE USO PERMITIDO
Art. 12. Possuir ou manter sob sua guarda arma de fogo, acessório
ou munição, de uso permitido, em desacordo com determinação
legal ou regulamentar, no interior de sua residência ou dependência
desta, ou, ainda no seu local de trabalho, desde que seja o titular ou
o responsável legal do estabelecimento ou empresa:
Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.
•Objetividade jurídica: a incolumidade pública.
•Objeto material: arma de fogo, acessório ou munição, de uso
permitido.
•Sujeito ativo: Crime comum, o agente pode ser qualquer pessoa
possuidora de arma de fogo de uso permitido que nunca foi
registrada ou cujo registro não foi renovado.
•Sujeito passivo: o Estado/a coletividade.
Possuir:
Estar na posse, fruir a posse, desfrutar, ter em seu poder com
ânimo de propriedade de arma de fogo, acessório ou munição.
Posse consiste em manter a arma no interior de residência ou
local de trabalho (intramuros).
Porte é levar consigo, trazer junto de si, extramuros.
Manter sob guarda: Conservar a arma em seu poder e vigilância, em
nome próprio ou para terceiro. Não se confunde com ocultar
(esconder) para dificultar sua localização.
Elemento Espacial:
No interior de sua residência ou dependência desta.
No seu local de trabalho, desde que seja o titular ou o responsável
legal do estabelecimento.
De acordo com o STJ:
1. Não se pode confundir o delito de posse irregular de arma de
fogo com o de porte irregular de arma de fogo.
2. Caracteriza-se o delito de posse irregular de arma de fogo
quando ela estiver guardada no interior da residência (ou
dependência desta) ou no trabalho do acusado, evidenciado o
porte ilegal se a apreensão ocorrer em local diverso.
3. O caminhão, ainda que seja instrumento de trabalho do
motorista, não pode ser considerado extensão de sua residência,
nem local de seu trabalho, mas apenas instrumento de trabalho.
(HC 172.525/MG, Rel. Ministro ADILSON VIEIRA MACABU, QUINTA
TURMA, DJe 28/06/2012)
Elemento Normativo: "em desacordo com determinação legal ou
norma regulamentar" - v. art. 3º e 5º, da lei 10826/03 e art. 16, do Dec
nº5123/2004.
45
JURISPRUDÊNCIA DO STJ:
Na espécie, o paciente foi denunciado pela suposta prática da
conduta descrita no art. 12 da Lei n. 10.826/2003, por possuir
irregularmente um revólver marca Taurus, calibre 38, número QK
591720, além de dezoito cartuchos de munição do mesmo calibre.
Todavia, no caso, a questão não pode extrapolar a esfera
administrativa, uma vez que ausente a imprescindível tipicidade
material,
pois, constatado que o paciente detinha o devido registro da arma
de fogo de uso permitido encontrada em sua residência - de forma
que o Poder Público tinha completo conhecimento da posse do
artefato em questão, podendo rastreá-lo se necessário -, inexiste
ofensividade na conduta.
A mera inobservância da exigência de recadastramento periódico
não pode conduzir à estigmatizadora e automática incriminação
penal.
47
Cabe ao Estado apreender a arma e aplicar a punição
administrativa pertinente, não estando em consonância com o
Direito Penal moderno deflagrar uma ação penal para a
imposição de pena tão somente porque o indivíduo -
devidamente autorizado a possuir a arma pelo Poder Público,
diga-se de passagem - deixou de ir de tempos em tempos
efetuar o recadastramento do artefato.
48
Portanto, até mesmo por questões de política criminal, não há
como submeter o paciente às agruras de uma condenação penal
por uma conduta que não apresentou nenhuma lesividade
relevante aos bens jurídicos tutelados pela Lei n.10.826/2003, não
incrementou o risco e pode ser resolvida na via administrativa.
HC 294.078/SP, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, QUINTA
TURMA, DJe 04/09/2014)
Tipo Subjetivo:
Dolo, vontade livre e consciente de possuir ou manter sob guarda
arma de fogo de uso permitido, de forma irregular (sem registro).
Não há modalidade culposa.
Classificação:
Trata-se de crime de mera conduta (mas há quem diga que é
formal - Delmanto, Moraes), comum, de ação múltipla, e de perigo
abstrato.
De acordo com o STJ:
1.O simples fato de possuir munição de uso permitido configura a
conduta típica prevista no artigo 12 da Lei 10.826/2003, por se
tratar de delito de mera conduta e de perigo abstrato, cujo objeto
imediato é a segurança coletiva.
2.Havendo provas nos autos relativas à materialidade do crime de
posse ilegal de munição de uso permitido,
eventual apreensão de munições ou armas isoladas, ou
incompatíveis com projéteis, não descaracteriza o crime em
questão, pois para a sua configuração basta a simples posse ou
guarda da munição sem autorização da autoridade competente.
3. Habeas corpus não conhecido.
(HC 298.490/MS, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA,
DJe 10/09/2014)
Consumação e tentativa
Crime permanente - a ação - possuir ou manter sob guarda - se
protrai no tempo - vincula-se à inércia de não providenciar o
registro ou em não renová-lo. A tentativa é inadmissível.
Pena e Ação Penal
Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.
A ação penal é pública incondicionada.
Art. 30. Os possuidores e proprietários de arma de fogo DE USO
PERMITIDO AINDA NÃO REGISTRADA deverão solicitar seu
registro até o dia 31 de dezembro de 2008, mediante apresentação
de documento de identificação pessoal e comprovante de
residência fixa, acompanhados de nota fiscal de compra ou
comprovação da origem lícita da posse, pelos meios de prova
admitidos em direito, ...
... ou declaração firmada na qual constem as características da
arma e a sua condição de proprietário, ficando este dispensado
do pagamento de taxas e do cumprimento das demais
exigências constantes dos incisos I a III do caput do art. 4o
desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 11.706, de 2008)
Súmula 513/STJ:
A abolitio criminis temporária prevista na Lei n. 10.826/2003
aplica-se ao crime de posse de arma de fogo de uso permitido
com numeração, marca ou qualquer outro sinal de
identificação raspado, suprimido ou adulterado, praticado
somente até 23/10/2005.
Jurisprudência do STJ
A Lei n.º 10.826/03, nos art. 30 e art. 32, determinou que os
possuidores e proprietários de ARMAS DE FOGO não registradas
deveriam, sob pena de responsabilidade penal, no prazo de 180
(cento e oitenta) dias após a publicação da Lei, solicitar o seu
registro apresentando nota fiscal de compra ou a comprovação da
origem lícita da posse ou entregá-las à Polícia Federal.
Entre 23/12/2003 e 23/10/2005, prazo identificado como vacatio
legis indireta pela doutrina, a simples conduta de possuir arma de
fogo e munições, de uso permitido (art. 12) ou de uso restrito
(art.16), não seria crime.
A posse de arma de fogo com a numeração raspada e munições,
mesmo que de uso permitido, é equiparada à posse de arma de
fogo de uso restrito, para fins de reconhecimento da abolitio
criminis temporária.
(HC 219.900/MG, Rel. Ministro GILSON DIPP, QUINTA TURMA,
julgado em 07/08/2012, DJe 14/08/2012)
O Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do REsp n.
1.311.408/RN, representativo da controvérsia, firmou entendimento
no sentido de que o termo final da incidência da abolitio criminis
temporária constante dos arts. 30 e 32 da Lei n. 10.826/2003, no
que se refere à conduta de possuir armas de fogo de uso restrito
ou de uso permitido com a numeração suprimida ou raspada, recai
sobre o dia 23 de outubro de 2005,
uma vez que tais hipóteses não foram alcançadas pela
prorrogação do prazo de descriminalização previsto na Lei n.
11.706/2008.
(HC 298.819/RS, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, QUINTA TURMA,
DJe 27/11/2014)
RETROATIVIDADE DA ABOLITIO TEMPORÁRIA
Com base no art. 5.º, inciso XL, da Constituição Federal e no art.
2.º, do Código Penal, a abolitio criminis temporária DEVE
RETROAGIR para beneficiar o réu apenado pelo crime de posse de
arma de fogo seja de uso permitido ou restrito, com ou sem
numeração suprimida, perpetrado na vigência da Lei n.º 9.437/97.
Precedentes.
No caso dos autos, é atípica a conduta atribuída ao Paciente, uma
vez que a busca efetuada em sua residência ocorreu em
08/04/1997, ou seja, antes do período de abrangência para o
referido armamento, qual seja, de 23 de dezembro de 2003 a 23 de
outubro de 2005, motivo pelo qual se encontra abarcada pela
excepcional vacatio legis indireta prevista nos arts. 30 e 32 da Lei
n.º 10.826/03. (HC 164.321/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA
TURMA, DJe 28/06/2012)
Em respeito ao princípio da retroatividade da lei penal mais
benéfica, constitui constrangimento ilegal a manutenção de
condenação por crime de posse de arma de fogo de uso proibido
ou restrito praticado antes da vigência da Lei n.º 10.826/2003.
Precedentes. Ordem concedida para declarar extinta a punibilidade
do paciente quanto ao delito disposto no art. 10, caput, da Lei n.º
9.437/97.
(HC 237.722/SP, QUINTA TURMA, DJe 28/06/2012)
De acordo com o STF:
a referida vacatio legis não tem o condão de retroagir, justamente
por conta de sua eficácia temporária.
(RHC 111637, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda
Turma, julgado em 05/06/2012).
O Pretório Excelso fixou entendimento pela irretroatividade do
Estatuto do Desarmamento em relação aos delitos de posse de
arma de fogo cometidos antes da sua vigência.
(HC 98180, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Primeira
Turma, julgado em 29/06/2010; HC 90995, Relator(a): Min.
MENEZES DIREITO, Primeira Turma, julgado em 12/02/2008).
STF: A construção jurisprudencial e doutrinária, conquanto
inexistente previsão explícita de abolitio criminis, ou mesmo de que
a eficácia do delito previsto no art. 12 do Estatuto do
Desarmamento estaria suspensa temporariamente, formou-se no
sentido de que, durante o prazo assinalado em lei, haveria
presunção de que o possuidor de arma de fogo irregular
providenciaria a normalização do seu registro (art. 30).
No caso sub judice, a vexata quaestio gira em torno da
aplicabilidade retroativa da Medida Provisória nº 417 aos fatos
anteriores a 31 de janeiro de 2008, à luz do art. 5º, XL, da
Constituição, que consagra a retroatividade da lex mitior, cabendo
idêntico questionamento sobre a retroeficácia da Lei nº 11.922/2009
em relação aos fatos ocorridos entre 1º de janeiro de 2009 e 13 de
abril do mesmo ano. (...) É preciso definir se
a novel legislação deve ser considerada abolitio criminis
temporária do delito previsto no art. 12 da Lei nº 10.826/03, caso
em que impor-se-ia a sua eficácia retro-operante. O possuidor de
arma de fogo, no período em que vedada a regularização do
registro desta, pratica conduta típica, ilícita e culpável, porquanto
cogitável a atipicidade apenas quando possível presumir que o
agente providenciaria em tempo hábil a referida
regularização, à míngua de referência expressa, no Estatuto do
Desarmamento e nas normas que o alteraram, da configuração de
abolitio criminis. (...) Assim, não há falar em abolitio criminis, pois
a nova lei apenas estabeleceu um período de vacatio legis para
que os possuidores de armas de fogo de uso permitido pudessem
proceder à sua regularização ou à sua entrega mediante
indenização.
EM CONCLUSÃO, O STF RECONHECEU a irretroatividade da
norma inserida no art. 30 da Lei nº 10.826/03 pela Medida
Provisória nº 417/2008, considerando penalmente típicas as
condutas de posse de arma de fogo de uso permitido
ocorridas após 23 de junho de 2005 e anteriores a 31 de janeiro
de 2008.
(RE 768494, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Tribunal Pleno, PUBLIC
08-04-2014)
OMISSÃO DE CAUTELA
Art. 13. Deixar de observar as cautelas necessárias para impedir
que menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa portadora de
deficiência mental se apodere de arma de fogo que esteja sob
sua posse ou que seja de sua propriedade:
Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa.
Tipo Subjetivo: culpa - modalidade negligência - inobservância do
dever de cuidado.
Núcleo - deixar de observar – Crime omissivo próprio.
Objeto Material: Arma de fogo .
Consumação: Crime instantâneo, consuma-se com o efetivo
apoderamento da arma pelo inimputável. Sem o apoderamento da
arma, não há crime. Tentativa: inadmissível.
Sujeito Ativo - somente o possuidor ou proprietário Sujeito
passivo: A sociedade ou o Estado, bem como a pessoa menor de
18 anos ou portadora de deficiência mental.
Pena e Ação Penal
Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa.
Competência do Juizado Especial Criminal.
Cabe transação penal e suspensão condicional.
Concurso de crimes – cabível, em tese, com a posse dos art. 12 e
art. 16, CP, a depender da arma.
Conflito aparente de normas:
O art. 19, § 2, letra c,da Lei das Contravenções Penais ainda
continua em vigor somente em relação às armas brancas e as de
arremesso ou munição e em relação ao inexperiente que se
apodera da arma.
CRIME EQUIPARADO (PARÁGRAFO ÚNICO)
Nas mesmas penas incorrem o proprietário ou diretor responsável
de empresa de segurança e transporte de valores que deixarem de
registrar ocorrência policial e de comunicar à Polícia Federal
perda, furto, roubo ou outras formas de extravio de arma de fogo,
acessório ou munição que estejam sob sua guarda, nas primeiras
24 (vinte quatro) horas depois de ocorrido o fato.
Sujeito Ativo - Somente os proprietários ou diretores responsáveis
de empresas de segurança e de transporte de valores.
Tipo Subjetivo - dolo - é necessário que o agente tome
conhecimento do fato, ou seja do furto, roubo ou extravio e se
omita intencionalmente no dever de registrar a ocorrência e
comunicá-lo à Polícia Federal no prazo de 24 horas.
Elemento temporal do delito – que a omissão ocorra depois de 24
(vinte e quatro) horas após a ocorrência do fato (furto, roubo ou
extravio).
PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO
Art. 14. Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito,
transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter,
empregar, manter sob guarda ou ocultar arma de fogo, acessório
ou munição, DE USO PERMITIDO, sem autorização e em
desacordo com determinação legal ou regulamentar:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é inafiançável,
salvo quando a arma de fogo estiver registrada em nome do
agente. (Vide Adin 3112-1)
Objetividade jurídica: a incolumidade pública.
Sujeito ativo: crime comum, o agente pode ser qualquer pessoa.
Sujeito passivo: o Estado/a coletividade.
Tipo Objetivo (tipo misto alternativo ou de conteúdo variado):
Portar: trazer a arma consigo sem a licença da autoridade.
80
De acordo com o STJ:
2. É típica a conduta de portar arma de fogo sem autorização
ou em desconformidade com determinação legal ou
regulamentar por se tratar de delito de perigo abstrato, cujo
bem jurídico protegido é a incolumidade pública,
independentemente da existência de qualquer resultado
naturalístico.
3. A classificação do crime de porte ilegal de arma de fogo
como de perigo abstrato traz, em seu arcabouço teórico, a
presunção, pelo próprio tipo penal, da probabilidade de vir a
ocorrer algum dano pelo mau uso da arma.
Flagrado o recorrido portando um objeto eleito como arma de
fogo, temos um fato provado - o porte do instrumento - e o
nascimento de duas presunções,
82
quais sejam, de que o objeto é de fato arma de fogo, bem como
tem potencial lesivo.
5. Sendo a tese nuclear da defesa o fato de o objeto não se
adequar ao conceito de arma, por estar quebrado e,
consequentemente, inapto para realização de disparo,
circunstância devidamente comprovada pela perícia técnica
realizada, temos, indubitavelmente, o rompimento da ligação
lógica entre o fato provado e as mencionadas presunções.
83
Nesse contexto, impossível a manutenção do decreto
condenatório por porte ilegal de arma de fogo.
6. Agravo regimental a que se nega provimento.
(AgRg no AREsp 397.473/DF, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO
BELLIZZE, QUINTA TURMA, DJe 25/08/2014)
PLURALIDADE DE ARMAS
O STJ firmou entendimento de que é possível a unicidade de
crimes, quando, no porte ilegal, há pluralidade de armas,
equacionando-se a reprimenda na fixação da pena-base.
Na espécie, contudo, a pretensão não se justifica, dado se buscar
o reconhecimento de crime único diante de imputações distintas:
arts. 14 e 16, pár. único, da Lei 10.826/03.
Todavia, tem-se como cabível, tão-somente, o reconhecimento
entre as duas imputações do delito do art. 16, pár. único, da Lei
10.8.26/03.
(HC 130.797/SP, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA,
SEXTA TURMA, julgado em 18/12/2012, DJe 01/02/2013)
Não se desconhece a existência de julgados deste Sodalício
no sentido de que a apreensão de mais de uma arma, munição,
acessório ou explosivo com o mesmo agente não caracteriza
concurso de crimes, mas delito único, pois há apenas uma
lesão ao bem jurídico tutelado.
Todavia, tal entendimento não pode ser aplicado no caso dos
autos,
pois as condutas praticadas pelos réus se amoldam a tipos
penais distintos, sendo que um deles, o do artigo 16, além da
paz e segurança públicas também protege a seriedade dos
cadastros do Sistema Nacional de Armas, razão pela qual é
inviável o reconhecimento de crime único e o afastamento do
concurso material.
(HC 211.834/SP, 5ª TURMA, DJe 18/09/2013)
Deter: reter, conservar a arma em seu poder ou trazê-la consigo.
Adquirir: obter a arma em desacordo com as normas legais, por
meio de uma compra ou gratuitamente, com o ânimo de tornar-
se dono; conseguir, alcançar, conquistar.
Fornecer: entregar gratuita ou onerosamente, abastecer, prover,
dar, ser fornecedor clandestino de armas.
Receber: tomar ou entrar na posse, aceitar ou acolher arma de
fogo.
Ter em depósito: armazenar, ter um estoque de e conservar a arma
em estoque.
Ceder, ainda que gratuitamente: transferir a posse da arma para
outra pessoa, sem qualquer ônus para esta, colocar à disposição.
Transportar: conduzir a arma de um lugar para outro (sem a guia de
tráfego).
Informativo nº 540 do STJ - 28 de maio de 2014.
Sexta Turma
É típica (art. 14 da Lei 10.826/2003) a conduta do praticante de
tiro desportivo que transportava, municiada, arma de fogo de
uso permitido em desacordo com os termos de sua guia de
tráfego, a qual autorizava apenas o transporte de arma
desmuniciada.
Em relação aos atiradores, foi autorizado o porte apenas no
momento em que a competição é realizada.
Nos indispensáveis trajetos para os estandes de tiro não se
deferiu porte, mas específica guia de tráfego.
Daí, a necessidade de cautelas no transporte.
Nesse contexto, em consideração ao fato de que a prática
esportiva de tiro é atividade que conta com disciplina legal, é
plenamente possível o traslado de arma de fogo para a realização
de treinos e competições, exigindo-se, porém, além do registro, a
expedição de guia de tráfego (que não se confunde com o porte
de arma) e respeito aos termos desta autorização.
Não concordando com os termos da guia, a lealdade
recomendaria que o praticante de tiro desportivo promovesse as
medidas jurídicas cabíveis para eventualmente modificá-la, e não
simplesmente que saísse com a arma municiada, ao arrepio do
que vem determinando a autoridade competente sobre a matéria,
o Exército. (RHC 34.579-RS, 24/4/2014).
Emprestar: confiar a alguém gratuitamente o uso da arma, a
qual será depois restituída ao seu possuidor; denota auxílio
recíproco; se houver objetivo de lucro é aluguel (art. 17).
Remeter: expedir, enviar, encaminhar a arma de fogo.
Empregar: fazer efetivo uso da arma
a)se emprega unicamente para praticar crime mais grave, este
absorve o emprego (consunção);
b)se emprega a arma para fazer disparo em via pública a esmo,
responde só pelo art. 15 (crime mais grave).
c) se emprega para prática outro crime menos grave (ex.: ameaça -
art. 147, CP), há concurso formal (mas, há que sustente que o
emprego absorve o crime menos grave).
A conduta de portar arma ilegalmente é absorvida pelo crime de
roubo, quando, ao longo da instrução criminal, restar evidenciado
o nexo de dependência ou de subordinação entre as duas
condutas e que os delitos foram praticados em um mesmo
contexto fático, incidindo, assim, o princípio da consunção.
(HC 178.561/DF, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, QUINTA
TURMA, DJe 13/06/2012).
(HC-120678) (Informativo 775, 1ª Turma)
A 1ª Turma, por maioria, julgou extinto “habeas corpus” em que
se discutia a aplicabilidade do princípio da consunção em
hipótese de prática de homicídio com o uso de arma de fogo de
numeração raspada. No caso, o paciente fora absolvido
sumariamente em relação ao delito de homicídio, uma vez sua
conduta haver caracterizado legítima defesa.
Não obstante, remanescia a persecução penal no tocante ao crime
de posse e porte de arma de fogo.
A Turma reputou que os tipos penais seriam diversos, e que a
excludente de ilicitude reconhecida quanto ao homicídio não
alcançaria a posse ilegal de arma de fogo 12 com numeração
raspada.
Vencido o Ministro Luiz Fux (relator), que concedia a ordem de
ofício, por entender incidir o princípio da consunção.
HC 120678/PR, rel. orig. Min. Luiz Fux, red. p/ o acórdão Min. Marco
Aurélio, 24.2.2015.
Manter sob guarda: defender, preservar, proteger ou conservar a
arma em local seguro, preservá-la, fora das situações previstas no
art. 12. Não se confunde com ocultar.
Ocultar - encobrir, disfarçar, dissimular, esconder a arma de fogo.
O verbo é o mesmo da receptação (art. 180, CP), havendo uma
relação de especialidade entre os delitos.
De acordo com o STJ, quem furta ou rouba a arma e, depois a
oculta, responde pelo crime patrimonial em concurso com o porte
ou a posse irregular.
Elemento espacial do tipo
Diversamente do que ocorre no crime do artigo 12, o porte é
extramuros.
A conduta do empregado que deixa arma de fogo em local de
trabalho ou estabelecimento de empresa caracteriza a conduta
prevista no artigo 14 desta Lei, na modalidade de ter em depósito
ou manter sob guarda.
Consumação: Crime de mera conduta, o agente consuma o delito
no momento em que realiza um dos verbos do tipo penal em
questão.
Tentativa: por se tratar de crime permanente, na maioria das
condutas descritas, é inadmissível a forma tentada.
Em tese, admite-se a tentativa nas condutas de fornecer, receber,
emprestar, ceder, pois exigem a tradição da arma (instantâneos e
materiais).
Tipo Subjetivo: é o dolo.
Objeto material:
Arma de fogo, acessório ou munição - somente de uso permitido.
Elemento normativo do tipo:
Contido na expressão "sem a autorização e em desacordo com
determinação legal ou regulamentar".
O entendimento da Terceira Seção é o de que o crime de porte
ilegal de arma, previsto no art. 14 da Lei n. 10.826/2003, é de perigo
abstrato, sendo irrelevante para a configuração do tipo penal que
esteja ou não municiado o artefato. (...) é indiferente para a
consumação do delito a demonstração de que a arma estaria apta
para efetuar disparos, motivo pelo qual se torna inócua qualquer
discussão acerca da validade do laudo pericial, desnecessário para
a adequação. (AgRg no REsp 1316918/RS, DJe 01/02/2013)
(Informativo 782, Plenário) Rcl 11323 AgR/SP, 22.4.2015.
O Plenário, por maioria, deu provimento a agravo regimental e
julgou procedente pedido formulado em reclamação, para
reconhecer como prerrogativa da magistratura a desnecessidade de
submissão a certos requisitos gerais, aplicáveis a todas as outras
pessoas, para obter o porte ou a renovação do porte de arma.
A prerrogativa dos magistrados de portar arma de defesa pessoal
estaria prevista no art. 33, V, da LC 35/1979 - Loman .
Renovação simplificada de registros de propriedade de armas de
defesa pessoal (inscrição no SINARM), com dispensa dos testes
psicológicos e de capacidade técnica e da revisão periódica de
registro.
Informativo nº 0554 – STJ - HC 267.058-SP
Quinta Turma. DIREITO PENAL. PORTE DE ARMA DE FOGO POR
POLICIAL CIVIL APOSENTADO.
O porte de arma de fogo a que têm direito os policiais civis (arts.
6º da Lei 10.826/2003 e 33 do Decreto 5.123/2014) não se estende
aos policiais aposentados.
Isso porque, de acordo com o art. 33 do Decreto 5.123/2004, que
regulamentou o art. 6º da Lei 10.826/2003, o porte
de arma defogo está condicionado ao efetivo exercício das funções
institucionais por parte dos policiais, motivo pelo qual não se
estende aos aposentados.
DISPARO DE ARMA DE FOGO
Art. 15. Disparar arma de fogo ou acionar munição em lugar
habitado ou em suas adjacências, em via pública ou em direção a
ela, desde que essa conduta não tenha como finalidade a prática
de outro crime:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é inafiançável.
(Vide Adin 3112-1)
Objetividade jurídica: a incolumidade pública.
Objeto material: arma de fogo ou munição.
Sujeito ativo: Crime comum, o agente pode ser qualquer pessoa.
Sujeito passivo: o Estado ou a coletividade.
Tipo Objetivo:
Disparar arma de fogo: atirar projéteis
Acionar munição: deflagrar cartucho ou projétil de alguma
outra forma
Lugar habitado - onde reside um núcleo de pessoas ou
famílias ou adjacências (lugar próximo) - não há crime se o
disparo é feito em lugar ermo (ex. Floresta, deserto,
descampado).
Via pública - local acessível a qualquer pessoa ou em direção a
ela - o disparo não é feito na via, mas em direção a ela.
Elemento subjetivo do tipo: é o dolo.
Não se pune o disparo acidental de arma de fogo sem vítimas
(morte ou lesão grave), por não estar prevista a modalidade
culposa.
Consumação: Crime de mera conduta, o agente consuma o delito
no momento em que realiza um dos verbos do tipo penal em
questão (no primeiro disparo ou acionamento).
Tentativa: A tentativa é cabível, como, por exemplo, se o tiro
falhar, ou se o agente é impedido no exato momento em que iria
acionar o gatilho.
Subsidiariedade Expressa - "desde que essa conduta não tenha
como finalidade a prática de outro crime".
Parte da doutrina sugere interpretação extensiva ao dispositivo
("desde que essa conduta não tenha como finalidade a prática de
outro crime mais grave”), pois o legislador teria dito menos do que
desejava.
Concurso aparente de normas:
Porte e disparo:
• Se a arma é de uso permitido, ocorrendo disparo e porte ilegal
(art. 14), o disparo (art. 15) absorve o porte, por ser mais grave.
• Se a arma for de uso proibido ou restrito, o crime do artigo 16
absorve o disparo de arma, por ser crime mais grave.
Disparo de arma de fogo e periclitação da vida (art. 132,
Código Penal)
Como o crime de disparo de arma é mais grave, deve absorver
o art. 132, CP.
Sendo o disparo em local aberto, colocando em risco um
número indeterminado de pessoas, não há dúvida que o fato
caracteriza disparo de arma de fogo (ar. 15).
POSSE OU PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO
RESTRITO
Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em
depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar,
remeter, empregar, manter sob sua guarda ou ocultar arma de
fogo, acessório ou munição de uso proibido ou restrito, sem
autorização e em desacordo com determinação legal ou
regulamentar:
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.
Tipo Objetivo
As condutas previstas no "caput" são idênticas às previstas nos
artigos 12 e 14 deste estatuto, com a diferença no tocante ao
objeto material, que, neste caso, é a arma de fogo, acessório ou
munição de uso proibido ou restrito.
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem:
Segundo Fernando Capez, "O legislador dispôs no
parágrafo único do art. 16 diversas condutas típicas,
as quais recebem o idêntico tratamento penal
dispensado à posse ou ao porte ilegal de ARMA de
fogo. Convém notar que, embora as figuras do
parágrafo único em estudo constem do art. 16, isso
não quer dizer que o objeto material se restrinja às
armas de fogo, aos acessórios ou às munições de
USO restrito.
Na realidade, tais figuras foram equiparadas à posse ou porte ilegal
de ARMA de fogo de USO restrito apenas para efeitos de incidência
da mesma sanção penal. Assim, admite-se, por exemplo, que na
conduta prevista no inciso I (supressão ou alteração de
identificação de ARMA de fogo ou artefato), o objeto material seja a
ARMA de fogo de USO PERMITIDO.’ (Estatuto do Desarmamento,
São Paulo, Saraiva, 2005, p. 128)
Formas equiparadas previstas no parágrafo único:
I – suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer sinal de
identificação de arma de fogo ou artefato;
suprimir (fazer desaparecer, raspar) ou alterar (modificação ou
remarcação) de numeração ou qualquer sinal identificador da arma
de fogo ou do artefato, com a intenção de impedir a identificação
da arma.
II – modificar as características de arma de fogo, de forma a
torná-la equivalente a arma de fogo de uso proibido ou restrito
ou para fins de dificultar ou de qualquer modo induzir a erro
autoridade policial, perito ou juiz;
Modificação (há duas finalidades distintas):
1. O agente modifica as características da arma de fogo de uso
permitido, de modo a torná-la equivalente a de uso proibido ou
restrito. Responde por este crime aquele que modifica as
características da arma, tornando-a apta para o emprego militar,
dando-lhe características similares a material bélico ou
aumentando-lhe o calibre nominal. Ex.: cerrar cano de
espingardas.
2. Modificação das características da arma para induzir a erro a
autoridade policial, perito ou juiz. Espécie de fraude processual ou
inovação artificiosa do instrumento de um crime (tipo especial em
relação ao artigo 347 do Código Penal.
III – possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo ou
incendiário, sem autorização ou em desacordo com determinação
legal ou regulamentar;
IV. Portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma de fogo,
com numeração, marca ou qualquer outro sinal de identificação
raspado, suprimido ou adulterado.
No julgamento do RHC 89.889, o Plenário do STF entendeu que o
delito de que trata o inciso IV do parágrafo único do art. 16 do
Estatuto do Desarmamento é Política Criminal de valorização do
poder-dever do Estado de controlar as armas de fogo que
circulam em nosso País. Isso porque a supressão do número,
marca, ou qualquer outro sinal identificador do artefato lesivo
impede o seu cadastramento e controle.
A função social do combate ao delito em foco alcança qualquer
tipo de arma de fogo; e não apenas armamento de uso restrito ou
proibido. Tanto é assim que o porte de arma de fogo com
numeração raspada constitui crime autônomo. Figura penal que,
no caso, tem como circunstância elementar o fato de a arma (seja
ela de uso restrito ou não) estar com a numeração ou qualquer
outro sinal identificador adulterado, raspado ou suprimido. (HC
99582, Primeira Turma, PUBLIC 06-11-2009)
V – vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente,
arma de fogo, acessório, munição ou explosivo a criança ou
adolescente; e
Atenção! O artigo 242, do ECA (lei 8069/90) continua aplicável
somente quanto a armas de natureza diversa, que não sejam
armas de fogo (arma branca).
VI – produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização legal, ou
adulterar, de qualquer forma, munição ou explosivo.
Produz – fabrica;
Recarrega - possibilita a reutilização através do recarregamento,
aproveitando-se na íntegra o cartucho anterior.
Recicla - reutiliza a munição ou explosivo, aproveitando-se da
matéria prima;
Adultera - modifica as características originais – p. ex. de modo a
aumentar o potencial ofensivo da munição ou explosivo.
Atenção!
Art. 23 § 4o As instituições de ensino policial e as guardas
municipais referidas nos incisos III e IV do caput do art. 6o desta
Lei e no seu § 7o poderão adquirir insumos e máquinas de recarga
de munição para o fim exclusivo de suprimento de suas
atividades, mediante autorização concedida nos termos definidos
em regulamento.
COMÉRCIO ILEGAL DE ARMA DE FOGO
Art. 17. Adquirir, alugar, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em
depósito, desmontar, montar, remontar, adulterar, vender, expor à
venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio,
no exercício de atividade comercial ou industrial, arma de fogo,
acessório ou munição, sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar:
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
Parágrafo único. Equipara-se à atividade comercial ou
industrial, para efeito deste artigo, qualquer forma de
prestação de serviços, fabricação ou comércio irregular ou
clandestino, inclusive o exercido em residência.
O tipo possui 14 verbos, bastando que o agente no exercício
da atividade comercial, industrial, ainda que irregular ou
clandestino, inclusive o exercido em residência ou prestação
de serviços (na forma do p.u.), realize uma das condutas
previstas em lei.
Tipo Subjetivo: é o dolo.
Objeto material: Armas de fogo, acessórios ou munições
Elemento normativo do tipo:
Contido na expressão "sem a autorização e em desacordo com
determinação legal ou regulamentar".
Há quem entenda que é necessário para a configuração do
delito em questão a prova da habitualidade da atividade
comercial ou industrial ou prestação de serviços, não podendo
estas ser esporádicas, já que a lei exige que seja no exercício.
Assim, violam este dispositivo, por exemplo, os responsáveis
por empresas de segurança, transportadoras, comerciantes e
industriais que adquirem armas, sem autorização ou em
desacordo com a determinação legal ou regulamentar.
TRÁFICO INTERNACIONAL DE ARMA DE FOGO
Art. 18. Importar, exportar, favorecer a entrada ou saída do
território nacional, a qualquer título, de arma de fogo, acessório
ou munição, sem autorização da autoridade competente:
Pena – reclusão de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
Sujeito ativo - crime comum, o sujeito ativo pode ser qualquer
pessoa pode praticar este crime.
No que concerne à facilitação da importação ou exportação, se
o sujeito ativo for funcionário público, não se aplica o disposto
no artigo 318 do Código Penal, em função do princípio da
especialidade.
CAUSAS DE AUMENTO DE PENA
Art. 19. Nos crimes previstos nos arts. 17 e 18, a pena é
aumentada da metade se a arma de fogo, acessório ou
munição forem de uso proibido ou restrito.
Art. 20. Nos crimes previstos nos arts. 14, 15, 16, 17 e 18, a
pena é aumentada da metade se forem praticados por
integrante dos órgãos e empresas referidas nos arts. 6o, 7o e
8o desta Lei.
• Causa de aumento de pena para o caso de agentes serem as
pessoas legalmente autorizadas para o porte de armas.
Art. 21. Os crimes previstos nos arts. 16, 17 e 18 são
insuscetíveis de liberdade provisória. (Vide Adin 3112-1)
O dispositivo foi declarado inconstitucional.
ADIN 3112/DF
IV - A proibição de estabelecimento de fiança para os delitos
de "porte ilegal de arma de fogo de uso permitido" e de
"disparo de arma de fogo", mostra-se desarrazoada, porquanto
são crimes de mera conduta, que não se equiparam aos crimes
que acarretam lesão ou ameaça de lesão à vida ou à
propriedade.
V - Insusceptibilidade de liberdade provisória quanto aos
delitos elencados nos arts. 16, 17 e 18.
Inconstitucionalidade reconhecida, visto que o texto magno
não autoriza a prisão ex lege, em face dos princípios da
presunção de inocência e da obrigatoriedade de
fundamentação dos mandados de prisão pela autoridade
judiciária competente.
(...) IX - Ação julgada procedente, em parte, para declarar a
inconstitucionalidade dos parágrafos únicos dos artigos 14 e
15 e do artigo 21 da Lei 10.826, de 22 de dezembro de 2003.
(ADI 3112, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Tribunal
Pleno, PUBLIC 26-10-2007 DJ 26-10-2007)