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Estrangeiro Nato

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Cordel. Um sujeito um dia acorda e nota que todos estão falando uma outra língua.

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Cárlisson Galdino nasceu em 1981 no município de Arapiraca, Alagoas, sendo Membro Efetivo da Academia Arapiraquense de Letras e Artes (ACALA) desde 2006, com a cadeira de número 37, do patrono João Ribeiro Lima.

Poeta, contista e romancista, possui um livro de poesias

publicado em papel, além de dois romances, duas novelas, diversos contos e poesias publicados na Internet, em seu sítio pessoal: http://www.carlissongaldino.com.br/.

Como cordelista, iniciou publicando o Cordel do Software Livre, que foi distribuído para divulgação dos ideais desse movimento social.

Bacharel em Ciência da Computação pela Universidade Federal de Alagoas, onde hoje trabalha, é defensor do Software Livre e mantém alguns projetos próprios. Presidente do GUSLA – Grupo de Usuários de Software Livre de Arapiraca.

Literatura de cordel é um tipo de poesia popular especialmente no Nordeste brasileiro. Tradição de Portugal, os livretos deste tipo de poesia eram vendidos em feiras, pendurados em barbante (ou cordel).

O cordel Estrangeiro Nato é escrito em quadras de versos em rima x-A-y-A, usando redondilhas maiores (versos de sete sílabas poéticas).

2012

Estrangeiro nato

Ele se acorda bem cedoToma banho e caféVeste a roupa, escova os dentesSai de casa: vai a pé

Preferia ir a cavaloMas hoje não pode serSeu rei mandou uma ordemTodos devem obedecer

Segue ao centro a passeioPois tem férias neste mêsNão tem nada pra fazerSó o tédio outra vez

Porém tem uma surpresaNão compreendeu direitoPor que droga de motivoTodos falam de outro jeito

Nada faz qualquer sentidoNessa terra ele nasceuEssa terra não é dissoTodos falam como eu

Mas que cena tão estranhaQue terá acontecido?Será que é só um sonho?Se for, vai ser divertido

E seguiu pela cidadeEm profunda alegriaAs pessoas estranhavamQuando falava Bom Dia

Mas mesmo assim foi em frenteNão tinha nada a temerAfinal era um sonhoO que teria a perder?

Finalmente viu a praçaToda cheia de barracasLá o comércio seguiaRoupas, frascos, pêras, jacas

E por toda a cidadeSe notava já agoraOutra língua se falavaNão a mesma de outrora

Foi então que decidiuVisitar seus conhecidosComeçou pelos feirantesPareciam possuídos

Começou a caminharEm direção a alguémE então como é que tá?Quanto aos negócios, vão bem?

A resposta tão malucaNem sequer se pôde ouvirMal saiam as palavrasSe lançou no chão a rir

E o feirante, em respostaAo desprezo recebidoResmungou, virou o rostoE à feira seus ouvidos

Ao notar que ri sozinhoDo chão ele, já sem graçaSe levanta e limpa a roupaEntão atravessa a praça

Tudo bem, infelizmenteEle está de mau humorOntem era outra pessoaRia até perder a cor

Ora, mas o que que eu digo?Isso aqui não é realPode ser bem diferenteNão precisa ser igual

Segue na sua jornadaNão resiste a uma risadaQuando ouve o seu povoE não pode entender nada

Uma mulher vende roupasEle segue até elaE levanta uma camisaEstá por quanto, donzela?

Porém ela não entendeO que o cavalheiro pedeEm um sorriso amareloSe desculpa e se despede

- Tudo bem, pois não faz malEla não vai entenderMas que custa ser gentilIsso é fácil perceber

Um menino viu a cenaE segue o pobre coitadoQue olha todas as placasCom ar de tão espantado

O alcança finalmentePergunta se tem dinheiroSabe por exeperiênciaO nato que é estrangeiro

Tantos já vieram assimImpossível que esqueçaLhe responde simplesmenteFaz que não com a cabeça

O pivete, inconformadoA rir começa a gritarUm menino malcriadoNão ganhou, pois vai xingar

Todos olham curiososComo tantas outras cenasE não riem nem bronqueiamSão curiosos apenas

Ignorando o meninoToma o rumo que seguiaSem notar por um instanteO que o pivete vigia

Quem um pedinte se fezSe mostra agora um ladrãoNum golpe de rapidezNa carteira passa a mão

Tentando se defenderDo golpe de supetãoSe virando bruscamenteO assaltado vai ao chão

Mas que raio de pivete!Como estamos hoje em dia!Se não damos o que pedemNos tomam toda a quantia

E essa droga de cidade!Tanto imposto nós pagamosE por onde anda a guardaQuando dela precisamos?

Mas que droga de pivete!Olha só que arranhão!Além de ter o dinheiroMe arremessou contra o chão

Mas tudo isso é importantePois cheguei à conclusãoDe que nem por um instanteIsso aqui foi sonho não

Se levanta da calçadaDo meio da tal cidadeSua cabeça está pesadaPor tão pesada verdade

Mas algo ficou pendenteSó agora ele está vendoA importância da perguntaO que está acontecendo?

Se isso nunca foi sonhoComo agora descobriPor que todos falam estranhoComo nunca ouvi e vi

Co'a pergunta sem respostaSe dirige à capelaChegou lá, ficou na escadaAo Divino ele apela

Céus, o que está havendo?Na cidade co'a minha genteQual o segredo horrendoQue a fez tão diferente?

Para espanto do apelanteA resposta é alcançadaVem de alguém não tão distanteNenhuma beleza alada

Um mendigo, vejam sóQue da lembrança recobreDe quem sempre tinha dóE deixava algum cobre

Se aproxima o pedinteDe quem pede explicaçãoE lhe traz da própria cinzaA chama à escuridão

- Meu amigo, o que houveCo'esse povo de meu Pai?Por que hoje só se ouveFrases mortas, explicai!

- Sou um pobre, bem o sabesSou pedinte, todo diaÀs incríveis belas avesDeixo o vôo, a fantasia

- Que felicidade a minhaAinda fala como euMas a dúvida que tinhaVocê não esclareceu

- Pois às aves a voarDeixo a sabedoriaMas eu posso relatarQue foi da noite pro dia

- Meu amigo, obrigadoIsso quebra o meu galhoSó não lhe deixo um trocadoPor conta de um pirralho

- Mas espera, amigo, um poucoDisse "Da noite pro dia"?Estarão, portanto, loucosOu foi obra de magia?

- Ou ainda, bem não seiFoi durante um certo banhoQue fez esta lei o reiSempre o vejo tão estranho...

- Calma homem, se acauteleO rei nada tem com issoNem tampouco a magiaConcluiu este serviço

- A invenção é do povoDesde a invenção da rodaFalar desse jeito novoSimplesmente virou moda.

-- Cárlisson Galdino-- http://www.carlissongaldino.com.br/

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