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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE BELAS-ARTES ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES EM OBRAS DE ARTE CONTEMPORÂNEA. A Pintura de Daniel Vasconcelos Melim em membrana termoplástica. Maria Coromoto Gomes Correia Leite Dissertação Mestrado em Ciências da Conservação, Restauro e Produção de Arte Contemporânea. Dissertação orientada pela Profa. Doutora Ana Maria dos Santos Bailão e pela Profa. Doutora Maria Eduarda Araújo 2019

ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

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Page 1: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE BELAS-ARTES

ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS

UTILIZADOS COMO SUPORTES EM OBRAS DE

ARTE CONTEMPORÂNEA.

A Pintura de Daniel Vasconcelos Melim em membrana

termoplástica.

Maria Coromoto Gomes Correia Leite

Dissertação

Mestrado em Ciências da Conservação, Restauro e Produção de Arte Contemporânea.

Dissertação orientada pela Profa. Doutora Ana Maria dos Santos Bailão e pela Profa.

Doutora Maria Eduarda Araújo

2019

Page 2: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

DECLARAÇÃO DE AUTORIA

Eu, Maria Coromoto Gomes Correia Leite, declaro que a presente dissertação de mestrado

intitulada “ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO

SUPORTES EM OBRAS DE ARTE CONTEMPORÂNEA. A Pintura de Daniel

Vasconcelos Melim em membrana termoplástica.”, é o resultado da minha investigação

pessoal e independente. O conteúdo é original e todas as fontes consultadas estão

devidamente mencionadas na bibliografia ou outras listagens de fontes documentais, tal

como todas as citações diretas ou indiretas têm devida indicação ao longo do trabalho

segundo as normas académicas.

O Candidato

Maria Coromoto Gomes Correia Leite

Lisboa, 30 de outubro de2019

Page 3: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

RESUMO

Os polímeros sintéticos termoplásticos estão presentes não só nas vivências quotidianas, mas

também nos objetos de coleções de museus e obras de arte, constituindo o nosso património

histórico e cultural.

Dado o ímpeto experimental dos artistas contemporâneos, estes utilizaram e ainda utilizam

nas suas obras materiais diversificados e não convencionais, muitas vezes materiais de

construção, como é o caso de tintas à base de resinas acrílicas utilizadas na pintura de

interiores, membranas plásticas para isolamento e cobertura em policloreto de vinilo (PVC),

chapas acrílicas de polimetacrilato de metilo (PMMA) aplicadas em substituição do vidro

comum, ou mesmo outros plásticos como o polietileno (PE), o polipropileno (PP) e o

politereftalato de etileno (PET), entre muitos outros. Assim, torna-se necessário identificar

estes polímeros, estudar as suas características e o seu comportamento perante alguns agentes

exteriores, tais como a radiação UV-Vis, a temperatura, a humidade ambiente ou mesmo em

alguns casos, a água no estado líquido e o oxigénio.

A investigação que aqui se apresenta tem como objetivos: identificar o plástico utilizado pelo

pintor português Daniel Vasconcelos Melim como suporte para as suas pinturas a tinta

acrílica; estudar algumas das suas propriedades físico-químicas e identificar os fenómenos de

alteração mais frequentes; e ainda perceber o percurso do artista, bem como a sua obra.

Para o estudo identificativo e comparativo do polímero sintético utilizado pelo artista,

recorreu-se a testes físicos e químicos simples entre eles: à medição da densidade e a ensaios

de solubilidade em diferentes solventes, a testes de pirólise e de chama, à imersão em água

destilada e medições de pH, ao método de extração com um Soxhlet e solvente orgânico, em

amostras de membranas termoplásticas da marca RENOLIT - SE de anos distintos,

nomeadamente de 2011 e de 2018. E para uma identificação mais rigorosa aplicou-se a

Espectroscopia de Infravermelho com Transformada de Fourier com Reflexão Total

Atenuada (ATR-FTIR) e a Espectroscopia no Ultravioleta-visível (UV-Vis).

Realizaram-se ainda testes de envelhecimento em amostras de membrana (2011 e de 2018)

durante 67 dias, à temperatura ambiente de 21 oC e à temperatura de 70 oC de forma a

identificar alguns fenómenos de alteração, tais como: alteração da cor e perda de massa.

Palavras-chave: Polímeros Sintéticos Termoplásticos; Membranas de PVC; Arte

Contemporânea; Daniel Vasconcelos Melim; Conservação.

Page 4: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

ABSTRACT

Thermoplastic synthetic polymers are present not only in everyday life, but also in the objects

of museum collections and works of art, constituting our historical and cultural heritage.

Given the experimental impetus of contemporary artists, they used and still use in their works

diverse and unconventional materials, often construction materials, such as paints based on

acrylic resins used in interior painting; plastic membranes for insulation and cover polyvinyl

chloride (PVC); acrylic sheets of methyl polymethacrylate (PMMA) applied in place of

common glass; or other plastics such as polyethylene (PE), polypropylene (PP) and

polyethylene terephthalate (PET), among many others. It is therefore necessary to identify

these polymers, to study their characteristics and their behaviour towards some external

agents, such as UV-V radiation, temperature, ambient humidity or even in some cases, liquid

water and oxygen.

The research presented here aims to identify the plastic used by the Portuguese painter

Daniel Vasconcelos Melim as a support for his paintings in acrylic paint; to study its physical

and chemical properties and identify the most frequent change phenomena; and still

understand the artist's path, as well as his work.

For the identification and comparative study of the synthetic polymer used by the artist,

simple physical and chemical tests were used: density measurement and solubility tests in

different solvents, pyrolysis and flame tests, immersion of the samples in distilled water and

pH measurements and the Soxhlet organic solvent extraction method, on samples of

thermoplastic membranes of the RENOLIT - SE brand of different years, namely 2011 and

2018. And for a more accurate identification it was applied Ultraviolet-Visible Spectroscopy

(UV-Vis), Fourier Transform Infrared Spectroscopy and Attenuated Total Reflection (ATR-

FTIR)

Aging tests were also carried out on membrane samples for 67 days, at room temperature of

21 oC and at 70 oC in order to identify some alteration phenomena, such as: colour change

and loss of mass.

Keywords: Thermoplastic Synthetic Polymers; PVC Membranes; Contemporary Art;

Daniel Vasconcelos Melim; Conservation.

Page 5: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

À memória da minha mãe,

a quem dedico este trabalho.

Page 6: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

AGRADECIMENTOS

Quero agradecer em primeiro lugar ao artista plástico Daniel Vasconcelos Melim, pois sem

as suas pinturas, disponibilidade e partilha não seria possível fazer este estudo. Aos artistas

plásticos Sara & André que disponibilizaram a pintura e informações sobre a mesma para o

estudo de caso que se apresenta nesta dissertação. E ainda, aos artistas Diogo Pimentão e

Martinho Costa por disponibilizarem fotografias, textos e informações sobre os seus

trabalhos.

À professora Doutora Ana Bailão e à professora Doutora Maria Eduarda Araújo pela

orientação, partilha de conhecimentos e esclarecimentos nesta investigação.

Quero agradecer a alguns elementos da família e amigos que sempre me apoiaram para fazer

esta dissertação.

À empresa RENOLIT - SE que disponibilizou uma quantidade de amostra para serem

possíveis todos os ensaios e testes.

À Escola Artística António Arroio (Lisboa), onde lecionei, por disponibilizaram alguns

recursos e meios, e ainda aos colegas que me encorajaram para fazer este estudo.

Ao Agrupamento de Escolas Raul Proença, nas Caldas da Rainha onde leciono, por

proporcionarem alguns recursos e meios para a realização desta dissertação e à participação

no II Colóquio em Investigações de Conservação do Património e no Plastics Heritage

Congress, Lisboa 2019. Quero também agradecer aos alunos, e aos colegas, que me apoiaram

na última fase do trabalho.

Às várias colegas de Mestrado e Doutoramento que sempre me apoiaram e esclareceram.

Page 7: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

Lista de Abreviaturas, Siglas, Acrónimos e Símbolos

ATR - reflexão total atenuada

DMF - dimetilformamida

FTIR – espetroscopia de infravermelho com transformada de Fourier

GC - cromatografia gasosa

GC-MS - cromatografia gasosa - espetrometria de massa

HDPE - polietileno de alta densidade

IUPAC - Internacional Union of Pure and Applied Chemistry

IV - infravermelho

LDPE - polietileno de baixa densidade

m - metro

nm – nanómetro

PC - policarbonato

PE - polietileno

PET – poli (tereftalato de etileno)

PMMA – poli (metacrilato de metilo)

PP – polipropileno

PS – poliestireno

PTFE – politetrafluoretileno

PVA - poli (acetato de vinilo)

PVC - poli (cloreto de vinilo)

RI - índice de refração

THF - tetrahidrofurano

UV - ultravioleta

UV-Vis - ultravioleta-visível

XRF - fluorescência de raios-X

λ - comprimento de onda

Page 8: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

Índice

INRODUÇÃO ............................................................................................................................... 16

PARTE I – A pintura de Daniel Vasconcelos Melim no contexto dos polímeros sintéticos

termoplástico………...…………………………………………………………………………....19

CAPÍTULO I – OS POLÍMEROS SINTÉTICOS – ESTADO DA ARTE .............................. 19

1.1. Tipos de polímeros sintéticos termoplásticos. ......................................................................... 19

1.1.1. Principais propriedades físico-químicas ........................................................................... 22

1.1.2. Identificação de polímeros ................................................................................................ 36

1.1.3. A degradação nos polímeros ............................................................................................. 47

1.2. Os polímeros sintéticos na Produção Artística Contemporânea .............................................. 54

CAPITULO II – A PINTURA ..................................................................................................... 60

2.1. O artista - Daniel Vasconcelos Melim ..................................................................................... 60

2.2. Descrição da obra ..................................................................................................................... 68

2.2.1. A obra em análise .............................................................................................................. 68

2.3. Estado de Conservação ............................................................................................................ 74

PARTE II – Identificação do polímero sintético termoplástico na pintura sobre membrana de

Daniel Vasconcelos Melim ............................................................................................................ 77

CAPÍTULO I - OBJETIVOS E METODOLOGIA ................................................................... 77

1.1. Objetivos e Metodologia Aplicada .......................................................................................... 77

1.2. Ensaios físicos e químicos ....................................................................................................... 79

1.2.1. Medições de densidade ..................................................................................................... 79

1.2.2. Ensaios de pirólise e de chama ......................................................................................... 79

1.2.3. Solubilidade ...................................................................................................................... 81

1.2.4. Extração de aditivos com solvente orgânico num extrator de Soxhlet .............................. 81

1.2.5. Ensaios de envelhecimento ............................................................................................... 82

1.2.6. Ensaios de imersão com a água destilada ......................................................................... 83

1.2.7. Apresentação e discussão dos resultados .......................................................................... 84

Caracterização e identificação da membrana plástica ................................................................. 84

1.3. Análise espetroscópica ............................................................................................................. 91

1.3.1. Espetroscopia de ultravioleta - visível (UV-Vis) .............................................................. 91

1.3.2. Espetroscopia de infravermelho com transformada de Fourier (ATR - FTIR) ................. 91

1.3.3. Apresentação e discussão dos resultados .......................................................................... 91

CONCLUSÕES ............................................................................................................................. 93

REFERÊNCIAS ............................................................................................................................ 95

Apêndices ....................................................................................................................................... 99

Apêndice I ....................................................................................................................................... 99

Apêndice II – ................................................................................................................................ 104

Page 9: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

Índice de Figuras

Figura 1 – Representação esquemática da estrutura dos polímeros, ilustrando principais

tipos de arranjos macromoleculares (amorfo e semicristalino). Aproximadamente

1000000 de vezes menor que o tamanho real e simplificado (Dietrich, 2013, p.2). ...... 20

Figura 2 – Estruturas das cadeias poliméricas: linear como o polietileno (a); ramificado

como os poliésteres (b) ou reticulado como as epóxis (c) (Shashoua, 2008, p.93). ....... 20

Figura 3 – Tipos de termoplásticos que existem. .......................................................... 21

Figura 4 – Estruturas de alguns polímeros comuns (adaptado de Stuart, 2007, p.19). .. 25

Figura 5 – Tipos de processos de polimerização mais importantes. ............................. 33

Figura 6 – Fase de iniciação do mecanismo de radicais livres para o polietileno mostrando

formação de radicais livres reativos. R. representa o iniciador ativo e '.' é um eletrão

desemparelhado (Shashoua, 2008, p.44). ....................................................................... 33

Figura 7 – Fase de propagação do mecanismo de radicais livres para o polietileno. Os

monómeros juntam-se para formar longas cadeias (Shashoua, 2008, p.45)................... 33

Figura 8 – Tipos de processos de degradação de polímeros........................................... 48

Figura 9 – Naum Gabo (1890-1977), “Spiral Theme”, 1941. Escultura de acetato de

celulose e Perspex, (140×244×244 mm). (Tate London) ............................................... 54

Figura 10 – Alberto Muri, “Red Plastic M2”, 1962. Plástico (PVC e PE) e combustão em

tecido preto, (120×180 cm). Coleção Privada.. .............................................................. 54

Figura 11 – Ron Mueck 11, 2001 (Presence Sculpture Show at The Holbourne), (Oliveira,

2016). .............................................................................................................................. 55

Figura 12 – Fionna Halls, “Dead in the water”. Construído em PVC Rígido (Shashoua,

2008). .............................................................................................................................. 55

Figura 13 – Miwa Koizumi´s, “PET Project” jellyfish is made from a blue Volvic® water

bottle (Shashoua, 2008). ................................................................................................. 56

Figura 14 – John Dahlsen, “Pacific Garbage .................................................................. 56

Figura 15 – Tony Cragg, “New Stones – Newtone’s Tones”, 1978, plastics. ................ 56

Figura 16 – Tony Cragg, “Britain Seen from the North”, 1981. Plastic, wood, rubber,

paper. and other materials. Tate, London. ..................................................................... 56

Figura 17 – Gil Heitor Cortesão, S/Título, 1998. Óleo sobre vidro acrílico (122 × 200

cm). ................................................................................................................................. 58

Figura 18 – Gil Heitor Cortesão, S/Título, 2004. Óleo sobre vidro acrílico (190 × 135 ×

100 cm) ........................................................................................................................... 58

Page 10: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

Figura 19 – Diogo Pimentão, “Replaced (trajetory) #1” 2015. Museum board, acrylic

médium e grafite (233×163 cm). Bruno Lopes © .......................................................... 59

Figura 20 – Diogo Pimentão, “Unpredictable “, 2016. Museum board, grafite, gesso

acrílico, PVA. (122,8×89×0,2 cm). Bruno Lopes© ....................................................... 59

Figura 21 – Torre, Martinho Costa (2018). .................................................................... 59

Figura 22 – Cortina #1, Martinho Costa (2019). Óleo s/cortina de poliéster 141×120 cm.

Martinho Costa© ............................................................................................................ 59

Figuras 23 e 24 – Série “A natureza do desenho” tinta da china a aparo sobre papel, 32 ×

24 cm, 2004-2007. Daniel Melim© ................................................................................ 61

Figuras 25 e 26 – Imagens das páginas de 1916 (preto e branco) e 1939 (cor) de Krazy

Kat, por George Herriman (Melim, 2019). ..................................................................... 62

Figura 27 – Exposição da série “A Natureza do desenho” no Prémio EDP Novos Artistas

2007, Porto. Rodrigo Peixoto © ..................................................................................... 63

Figura 28 – Sem título, marcador sobre parede, dimensões variáveis, Prémio EDP Novos

Artistas 2007, Porto. Rodrigo Peixoto© ......................................................................... 63

Figura 29 – Sem título (atlas mural nro.1), marcador e tinta acrílica sobre parede,

dimensões variáveis, Proxecto-Edición 2008, Pazo da Cultura de Pontevedra, Espanha.

André Romão© ............................................................................................................... 63

Figura 30 – Sem título, marcador sobre parede, dimensões variáveis, extensão do

Oceanário de Lisboa (auditório), projeto do arquiteto Pedro Campos Costa, 2011. Joana

Escoval© ........................................................................................................................ 63

Figura 31 e 32 – Série “Desenho Livre”, nos Espaços do Desenho (2008). Teresa

Carneiro© ....................................................................................................................... 63

Figura 33 – Prémio Fidelidade Mundial 2011, Chiado 8, Lisboa. Rodrigo Peixoto© .. 64

Figura 34 – Sem título, 110×131 cm, 2011. Tiago Alfaro Ismael©.............................. 64

Figura 35 – Sem título, 120×130 cm, 2011. .................................................................. 64

Figura 36 – Sem título, 114×127 cm, 2011. Tiago Alfaro Ismael©........................ 64

Figura 37 – Sem título, 106×122 cm, Lisboa, 2010. Tiago Brás© ................................ 65

Figura 38 – Sem título, 108×106 cm, Lisboa, 2010. Tiago Brás© ................................ 65

Figura 39 – Sem título, 114×123 cm, Lisboa, 2010.Tiago Brás© .................. 65

Figura 40 – Sem título, 108×106 cm, 2010.Tiago Brás© .................................. 65

Figura 41 - Sem título, 116 × 118 cm, 2010.Tiago Brás© ................................ 65

Figura 42 - Sem título, 117 × 124 cm, 2010.Tiago Brás© ............................... 65

Page 11: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

Figura 43 – Exposição individual na Galeria Mercedes Viegas, Rio de Janeiro, 2011.

(Melim, 2019). ................................................................................................................ 66

Figura 44 – Sem título, 120 ×130 cm, 2011. Tiago Alfaro Ismael© ............................. 66

Figura 45 – Sem título, 118 ×125 cm, 2011. Tiago Alfaro Ismael© ............................. 66

Figura 46 - Poster do filme “Montanha”, realizado por Daniel Vasconcelos Melim (2015),

(Midas Filmes, 2019). ..................................................................................................... 67

Figura 47 – Pintura de Daniel Vasconcelos Melim, tinta acrílica sobre membrana. Sem

título (2012). Vista frontal. Ana Bailão© ....................................................................... 68

Figura 48 – O modelo humano criado pelo pintor para a pintura (2012). Sara & André©

........................................................................................................................................ 69

Figura 49 - Grelha de fios de nylon que impede de oscilar a membrana onde se coloca a

tinta. Daniel Melim© ...................................................................................................... 70

Figura 50 - O modelo criado, com tecidos pintados pelo pintor. Daniel Melim© ......... 70

Figura 51 – Montagem utilizada pelo pintor com foco de luz. Daniel Melim© ............ 71

Figura 52 – Montagem utilizada pelo pintor com foco de luz. Daniel Melim© ............ 71

Figura 53 - Fio de teia e trama no Tafetá. Maria Leite© ................................................ 72

Figura 54 – Pormenor de grade da pintura, membrana e tela (presas com agrafos). (2012).

Daniel Melim© ............................................................................................................... 72

Figura 55 - Fotografia de Microscopia Digital de Fio de teia e trama no Tafetá. Maria

Leite© ............................................................................................................................. 73

Figura 56 – Fotografia de Microscopia Digital de Fio de teia e trama no Tafetá. Maria

Leite© ............................................................................................................................. 73

Figura 57 – Fotografia integral (verso) da pintura. Ana Bailão© .................................. 73

Figura 58 - Fotografia de luz rasante (direita) - pormenor. Ana Bailão© ...................... 75

Figura 59 – Fotografia de luz rasante (direita) - pormenor. Ana Bailão© ..................... 75

Figura 60 - Fotografia de luz rasante (direita) - pormenor. Maria Leite© ..................... 75

Figura 61 - Fotografia de luz rasante (esquerda) - pormenor. Ana Bailão© .................. 75

Figura 62 - Fotografia de luz transmitida - pormenor. Maria Leite© ............................ 76

Figura 63 – Fotografia de luz transmitida - pormenor. Maria Leite© ............................ 76

Figura 64 – Fotografia de Microscopia Digital de uma amostra de 2011 cedida pelo pintor

Daniel Vasconcelos Melim. Maria Leite© ..................................................................... 76

Figura 65 - Fotografia de Microscopia Digital de uma amostra de 2011 cedida pelo pintor

Daniel Vasconcelos Melim. Maria Leite© ..................................................................... 76

Page 12: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

Figura 66 - Fotografia integral (verso) da amostra cedida pelo artista (2011). Ana Bailão©

........................................................................................................................................ 78

Figura 67 - Fotografia integral (vista frontal) da amostra cedida pelo artista (2011). Ana

Bailão© ........................................................................................................................... 78

Figuras 68 a) e 68 b) – Teste de Pirólise: Pipeta de Pasteur com a amostra antiga

mostrando a alteração de cor da fita de pH. ML© ......................................................... 80

Figuras 69 a) e 69 b) – Teste Pirólise: Pipetas de Pasteur com as amostras nova (esquerda)

e antiga (direita). ML© ................................................................................................... 80

Figuras 70 a) e 70 b) – Teste de Chama: com a amostra nova. ML© ............................ 80

Figuras 71 a) e 71 b) – Teste de Chama: com a amostra antiga. ML© .......................... 81

Figuras 72 a) e 72 b) – Tubos com as amostras nova (lado esquerdo) e antiga (lado direito)

em diferentes solventes. ML© ........................................................................................ 81

Figura 73 - Montagem de Extração Soxhlet utilizada com a amostra nova. ML© ........ 82

Figura 74 – Amostras antiga (2011) e nova (2018) depois dos testes de envelhecimento à

T ambiente (cerca de 21 ºC); em ar; com variação da humidade; com carvão ativo e com

sílica gel. ML© ............................................................................................................... 83

Figura 75 - Teste de envelhecimento durante 67 dias, da amostra antiga (2011) na estufa

à T = 70 ºC. ML© ........................................................................................................... 83

Figura 76 – Amostras antiga (2011) e nova (2018) depois de testes de envelhecimento à

T = 70 ºC) em ar; com variação da humidade; com carvão ativo e com sílica gel. ML©

........................................................................................................................................ 83

Figura 77 - Testes de envelhecimento durante 67 dias, das amostras antiga (2011) e nova

(2018) na estufa à T = 70 ºC; em ar; com variação da humidade; com carvão ativo e com

sílica gel. ML© ............................................................................................................... 83

Figura 78 – Aspeto das amostras (Frascos com água destilada, água destilada + amostra

nova; água destilada + amostra antiga) após imersão de 3 meses. ML© ....................... 84

Figura 79 – Aspeto das amostras (Frascos com água destilada, água destilada + amostra

nova; água destilada + amostra antiga) após imersão de 15 meses. ML© ..................... 84

Figura 80 – Resultado do processo de extração com um extrator de Soxhlet na membrana

nova. a) aspeto rígido e baço da membrana depois do teste Soxhlet; b) aspeto flexível e

brilhante da membrana antes do teste. ML© .................................................................. 86

Figura 81 - Aspeto visual das amostras de película nova e antiga antes dos testes de

envelhecimento durante os 67 dias. ML© ...................................................................... 90

Page 13: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

Figura 82 - Aspeto visual das amostras de película nova (a) e antiga (b) após os testes de

envelhecimento após 67 dias, à T = 21ºC e T = 70 ºC em diferentes ambientes: em ar

(frasco aberto ou fechado); com variação da humidade (dois frascos com água); com

carvão ativo e com sílica gel. ML© ............................................................................... 90

Figura 83 – Fotografia de luz rasante (esquerda) - pormenor. Ana Bailão© ................. 99

Figura 84 - Fotografia integral de ultravioleta (verso) da amostra de pintura (2011). Ana

Bailão© ........................................................................................................................... 99

Figura 85 – Fotografia integral de ultravioleta (vista frontal) da amostra de pintura

(2011). Ana Bailão© ...................................................................................................... 99

Figura 86 - Fotografia de luz transmitida da pintura integral. Maria Leite©…………100

Figura 87 – Fotografia de luz transmitida - pormenor. Maria Leite© .......................... 101

Figura 88 - Fotografia de luz transmitida - pormenor. Maria Leite© .......................... 101

Figura 89 – Fotografia de MD – Pormenor de tinta acrílica amarela com bolhas de ar e

poeiras (amostra de 2011). Maria Leite© ..................................................................... 102

Figura 90 – Fotografia de MD – Pormenor de tinta acrílica amarela com bolhas de ar e

poeiras (amostra de 2011). Maria Leite© ..................................................................... 102

Figura 91 - Fotografia de MD – Pormenor de tinta acrílica azul com bolhas de ar,

poeiras/sujidade e fibras (amostra de 2011). Maria Leite© ......................................... 102

Figura 92 - Fotografia de MD – Pormenor de tinta acrílica azul com bolhas de ar, poeiras

e empaste (amostra de 2011). Maria Leite© ................................................................ 102

Figura 93 - Fotografia de MD – Pormenor de tinta acrílica azul com bolhas de ar (amostra

de 2011). Maria Leite© ................................................................................................ 102

Figura 94 - Fotografia de MD – Pormenor de tinta acrílica azul com bolhas de ar (amostra

de 2011). Maria Leite© ................................................................................................ 102

Figura 95 - Fotografia de MD – Pormenor de tinta acrílica azul com enrrugamento e

poeiras (amostra de 2011). Maria Leite© ..................................................................... 103

Figura 96 – Fotografia de MD – Pormenor de tinta acrílica azul com enrrugamento, bolhas

de ar e poeiras (amostra de 2011). Maria Leite© ......................................................... 103

Figura 97 – Fotografia de MD – Pormenor de tinta acrílica azul, preta e vermelho (amostra

de 2011). Maria Leite© ................................................................................................ 103

Figura 98 – Fotografia de MD – Pormenor de tinta acrílica amarela e azul com bolhas de

ar (amostra de 2011). Maria Leite© ................................ Erro! Marcador não definido.

Figura 99 – Espetro de ATR - FTIR da amostra nova.................................................. 104

Figura 100 – Espetro de ATR - FTIR da amostra antiga.............................................. 104

Page 14: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

Figura 101 – Espetro de ATR - FTIR das amostras de película nova e antiga. ............ 105

Figura 102 – Espetro de ATR - FTIR das amostras de película nova e após extração com

solvente orgânico num extrator de Soxhlet. ................................................................. 105

Figura 103 – Espetro de ATR - FTIR das amostras antiga e após extração com solvente

orgânico num extrator de Soxhlet. ................................................................................ 106

Figura 104 - Espetro de ATR - FTIR dos resíduos do Soxhlet da amostra nova e antiga.

...................................................................................................................................... 106

Page 15: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

Índice de Tabelas

Tabela 1 - Os primeiros polímeros comerciais disponíveis (adaptado de Shashoua, 2006,

p.186). ............................................................................................................................. 24

Tabela 2 - Aplicações típicas para formulações de PVC plastificado, com di (2-etilhexil)

ftalato (DEHP) (adaptado de Shashoua, 2006, p.193). ................................................... 30

Tabela 3 - Tipos e funções de aditivos usados com frequência (Shashoua, 2008, p.58).

........................................................................................................................................ 31

Tabela 4 - Símbolos universais de reciclagem dos polímeros, abreviatura, designação,

aplicações, características e fórmula química (Shashoua, 2008, p. 118; Stuart, 2007, p.

21, 22). ............................................................................................................................ 46

Tabela 5 – Resumo dos efeitos da radiação UV e Visível, do calor, do oxigénio e da água

em objetos de polímeros em coleções de Museus (Shashoua, 2008, p.162). ................. 52

Tabela 6 - Registo das massas das amostras nova e antiga utilizadas na extração Soxhlet.

........................................................................................................................................ 82

Tabela 7 – Registo da Solubilidade das amostras de membrana nova e antiga em vários

solventes. ........................................................................................................................ 85

Tabela 8 - Registo das medições de pH das amostras após 15 meses imersas em água

destilada .......................................................................................................................... 87

Tabela 9 – Registo da variação de massa das amostras nova (2018) e antiga (2011)

utilizadas nos ensaios de envelhecimento (Leite, Bailão, Araújo, 2019, p.167). ........... 89

Tabela 10 - Registo das observações visuais das amostras nova (2018) e antiga (2011)

utilizadas nos ensaios de envelhecimento após 67 dias (Leite, Bailão, Araújo, 2019,

p.168). ............................................................................................................................. 89

Page 16: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

16

INRODUÇÃO

O presente estudo é sobre os principais polímeros sintéticos termoplásticos, que estão

presentes em objetos do nosso quotidiano, em coleções de museus e em obras de arte

contemporânea. Em particular, estudar as pinturas do artista contemporâneo português

Daniel Vasconcelos Melim realizadas sobre um suporte polimérico termoplástico.

A escolha deste tema surgiu pelo interesse em compreender o comportamento dos

materiais poliméricos ao longo do tempo, perante alguns agentes exteriores, por exemplo

ambientais (radiação UV-Vis; temperatura e humidade do meio envolvente), e interpretar

esse comportamento e as propriedades físico-químicas quando aplicados em obras de arte

realizadas por artistas portugueses do século XXI.

Os polímeros sintéticos foram e são frequentemente usados pelos artistas contemporâneos

do século XX e XXI. Estão presentes em coleções de arte de museus e de galerias. Desde

os primeiros estudos sobre polímeros e aplicação comercial no século XIX, a indústria

dos plásticos teve um enorme crescimento e, por isso, uma grande importância histórica,

económica e cultural (Shashoua, 2008, p.3).

É possível obter-se uma variedade de materiais poliméricos sintéticos com propriedades

plásticas, moldáveis através da adição, ao polímero, de adjuvantes tais como:

plastificantes, estabilizantes, lubrificantes, opacificantes, enchimentos, corantes, entre

outros. Estes aditivos melhoram a estabilidade, durabilidade e as características físicas e

químicas do material. Dada esta possibilidade, os plásticos, constituídos por polímeros

sintéticos, são muito flexíveis e versáteis. No entanto, com o tempo, a estabilidade dessa

mistura diminui e estes materiais começam a degradar-se (Shashoua, 2006, p.188).

Se o século XX foi caracterizado por grandes transformações no panorama artístico com

as correntes artísticas, as mudanças concetuais, as novas formas de experimentação dos

artistas, as inevitáveis inovações tecnológicas e as revoluções sociais que permitiram

novas formas de expressão; o século XXI dá continuidade a esse novo paradigma com a

utilização de materiais diversificados e não convencionais na produção artística (Ubieta,

2011, p.15). São exemplos: as tintas à base de resinas acrílicas utilizadas na pintura de

interiores; as membranas plásticas para isolamento e cobertura de policloreto de vinilo

(PVC); as folhas acrílicas de polimetacrilato de metilo (PMMA) aplicadas para substituir

o vidro comum; ou mesmo outros plásticos como o polietileno (PE), o polipropileno (PP)

e o politereftalato de etileno (PET), entre outros.

Page 17: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

17

Dada a variedade de materiais e técnicas aplicadas pelos artistas contemporâneos nas suas

obras, muitas vezes, não é possível implementar os tratamentos tradicionais usados na

conservação e restauro, desafiando assim os conservadores-restauradores. Por exemplo,

ao intervir-se numa obra com material plástico sem se conhecer a sua composição química

e mecanismos de reação há o perigo de a degradar irreversivelmente (Scicolone, 2009,

p.157). Assim, é necessário estudar os diferentes tipos de plásticos que estão presentes

nas obras de arte, quais as suas características físico-químicas e os seus processos de

degradação perante alguns agentes exteriores, tais como: a radiação ultravioleta e visível,

a temperatura, a humidade ambiente ou até a água no seu estado líquido e a suscetibilidade

aos fenómenos de oxidação promovidos pelo oxigénio do ar (Shashoua, 2008, p.153).

Esta investigação tem como objetivos identificar o plástico utilizado pelo pintor

português Daniel Vasconcelos Melim, como suporte para as suas pinturas a tinta acrílica,

estudar as suas propriedades físico-químicas e identificar alguns dos fenómenos de

alteração mais frequentes tais como: a alteração de cor e a perda de massa.

A dissertação aqui apresentada está organizada em duas partes: a PARTE I - A pintura de

Daniel Vasconcelos Melim no contexto dos polímeros sintéticos termoplásticos e a

PARTE II - Identificação do polímero sintético termoplástico na pintura sobre membrana

de Daniel Vasconcelos Melim.

A PARTE I foi dividida em dois capítulos. No Capítulo I consta a primeira fase do

trabalho, que envolveu uma vasta pesquisa bibliográfica sobre os polímeros sintéticos e

sistematização de toda a informação possível sobre polímeros termoplásticos em geral, e

os que são mais aplicados em obras de arte contemporânea. A sua definição e

classificação; terminologia/nomenclatura; as suas propriedades físico-químicas; as

reações de polimerização; o processamento e os métodos de identificação de polímeros e

algumas aplicações. Ainda neste capítulo, estudaram-se as tipologias e fenómenos de

degradação de polímeros termoplásticos, tais como o polietileno (PE), policarbonato

(PC), policloreto de vinilo (PVC), poliestireno (PS), polipropileno (PP), polimetacrilato

de metilo (PMMA) e o politereftalato de etileno (PET), (Shashoua, 2008, p.162-164).

No Capítulo II efetuou-se uma pesquisa sobre o pintor Daniel Vasconcelos Melim, o seu

percurso artístico e a sua obra, materiais e técnicas para uma contextualização histórico-

artística recorrendo a entrevistas com o pintor. Posteriormente, executou-se o diagnóstico

de uma pintura de 2012, que consistiu num estudo técnico e caracterização do seu estado

de conservação através de testes de análise visual e vários tipos de fotografias (fotografas

Page 18: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

18

frente/verso; fotografias de luz rasante e de luz transmitida), e por Microscopia Digital.

O que permitiu, tirar conclusões sobre o estado da obra e prever o que poderá acontecer

com a ação dos agentes exteriores: como a radiação UV e visível, temperatura, humidade

relativa e até água no estado líquido.

A PARTE II contém também um Capítulo I onde foram descritos, apresentados e

analisados todos os ensaios físico-químicos e analíticos (análise espectroscópica). Para a

identificação do suporte polimérico recorreu-se à Espectroscopia de Infravermelho com

Transformada de Fourier e Reflexão Total Atenuada (ATR-FTIR). Para compreender se

a membrana absorvia, refletia ou transmitia a radiação ultravioleta e visível utilizou-se a

Espetroscopia de Ultravioleta-visível (UV-Vis).

Foram realizadas ainda medições de densidade, ensaios de solubilidade em diferentes

solventes e testes de pirólise e de chama. Foi aplicado o processo de extração com

solvente orgânico usando-se um extrator de Soxhlet em amostras de membranas

termoplásticas da marca RENOLIT - SE de anos distintos, nomeadamente de 2011

(membrana usada pelo pintor) e de 2018 (membrana fornecida pela empresa) com o

propósito de comparar a suas propriedades físico-químicas. Realizaram-se ainda, ensaios

laboratoriais para identificar alguns fenómenos de alteração possíveis como: alteração da

cor do suporte e perda de massa, muito provavelmente devidos à migração de

plastificantes ou outros aditivos. Para tal, realizaram-se testes de envelhecimento em

amostras de membrana de 2011 e de 2018, durante 67 dias, à temperatura ambiente média

de 21 oC e à temperatura de 70 oC.

Em resumo, o propósito deste projeto é investigar alguns dos materiais poliméricos mais

aplicados pelos artistas do século XX e XXI, na produção artística, dada a sua

versatilidade e extraordinárias propriedades. É deste modo, importante fazer-se um estudo

na área das Ciências da Conservação da Arte Contemporânea com polímeros de modo a

garantir o bom estado e integridade das obras, neste caso particular as pinturas sobre

membrana termoplástica do pintor Daniel Vasconcelos Melim.

Page 19: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

19

PARTE I - A PINTURA DE DANIEL VASCONCELOS MELIM NO CONTEXTO

DOS POLÍMEROS SINTÉTICOS TERMOPLÁSTICO

CAPÍTULO I | OS POLÍMEROS SINTÉTICOS: ESTADO DA ARTE

1.1. Tipos de polímeros sintéticos termoplásticos.

Os polímeros sintéticos foram sem dúvida uma grande invenção do fim do século XIX e

que marcou o século XX. Se por um lado, vieram substituir materiais caros e escassos

como o marfim e a carapaça da tartaruga, ou foram largamente usados para fins militares,

por outro lado, a sua produção em massa está a tornar-se num grande problema para o

planeta e para o homem. No nosso dia a dia estão presentes, desde os microplásticos nas

pastas dos dentes a detergentes/géis exfoliantes, adesivos, tintas e vernizes, utensílios de

cozinha e recipientes de alimentos, componentes de eletrodomésticos, equipamentos e

dispositivos espaciais, cartões de crédito, objetos de coleções de arte e obras artísticas.

A ideia de serem baratos, versáteis e descartáveis fazem deles materiais de interesse para

os artistas e também para os conservadores-restauradores. Os polímeros têm tido uma

grande importância na produção de materiais expostos em museus, tais como: pinturas,

esculturas, joias, brinquedos, roupas, móveis, utensílios domésticos e carros (Stuart,

2007, p. 17).

Os polímeros

Os polímeros são materiais constituídos por múltiplas unidades estruturais, designadas de

monómeros, que se repetem sucessivamente e num determinado número de vezes,

formando uma estrutura macromolecular (Scicolone, 2009, p.147), tal como indica a

origem grega da palavra: poly que significa múltipla e mero que significa unidade (Ubieta,

2011, p.106). De acordo com o tipo de monómeros que formam a estrutura ou cadeia

polimérica podem ser homopolímeros e copolímeros (Shashoua, 2008, p. 43).

Os homopolímeros são macromoléculas que resultam da polimerização de um só tipo de

monómero (Scicolone, 2009, p.148). Os polímeros preparados a partir de mais de uma

espécie de monómeros são designados de copolímeros, por exemplo, polímeros de

butadieno-estireno (Shashoua, 2006, p.188; Stuart, 2007, p.17). Podem ainda, classificar-

Page 20: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

20

se os polímeros segundo o tipo de estrutura que apresentam, de cadeia linear, ou não linear

(ramificados e reticulados), (Ubieta, 2011, p.106).

Os polímeros sintéticos são constituídos por monómeros com carbono e são obtidos

através de reações de polimerização (Scicolone, 2009, p.147). São muitas vezes

designados por “plásticos”, no entanto, estes pertencem a um grupo específico de

polímeros, os termoplásticos, que são materiais que amolecem e fundem por ação do calor

e solidificam quando arrefecidos. Os termoplásticos são constituídos por moléculas

lineares ou ligeiramente ramificadas (Figuras 1, 2 e 3), (Stuart, 2007, p.17). Os polímeros

termofixos ou termoendurecíveis são polímeros que não fundem quando aquecidos, mas

decompõem-se irreversivelmente a altas temperaturas. Estes são polímeros com uma

estrutura reticulada. Alguns polímeros reticulados podem por vezes apresentar

características como os elastómeros. Os elastómeros podem ser esticados extensivamente,

mas recuperam rapidamente as suas dimensões originais. Estas propriedades têm sido

usadas para uma enorme quantidade de aplicações (Stuart, 2007, p.17).

Figura 2 - Estruturas das cadeias poliméricas: linear como o polietileno (a); ramificado como os

poliésteres (b) ou reticulado como as epóxis (c) (Shashoua, 2008, p.93).

Figura 1 - Representação esquemática da estrutura dos polímeros, ilustrando principais tipos de arranjos

macromoleculares (amorfo e semicristalino). Aproximadamente 1000000 de vezes menor que o tamanho

real e simplificado (Dietrich, 2013, p.2).

Page 21: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

21

Por definição, os plásticos são polímeros orgânicos sintéticos, que podem ser

moldados/conformados em diversas formas enquanto fundidos, para depois terem um

comportamento rígido ou ligeiramente elástico. Na prática, embora o componente

polimérico de um plástico seja sempre o de maior peso, geralmente é modificado pela

adição de outros materiais, que tendem a melhorar a sua estabilidade, durabilidade e as

características físicas e químicas do plástico (Shashoua, 2006, p. 188).

Os polímeros possuem longas cadeias, em que podem existir entre 1000 e 10000

monómeros. O número de unidades de repetição pode ser usado para descrever o seu grau

de polimerização, mas o peso molecular é o mais utilizado. Os monómeros podem ter na

sua composição os seguintes elementos químicos: carbono, cloro, hidrogénio, oxigénio,

nitrogénio/azoto, enxofre, flúor, fósforo e silício (Scicolone, 2009, p.148; Shashoua, 2006

p. 188). Também podem ser modificados ou sintetizados artificialmente. Estes podem ser

semissintéticos quando são obtidos a partir de um polímero natural modificado

artificialmente ou sintéticos quando são produzidos a partir de matérias primas

artificiais/sintéticas (Ubieta, 2011, p.106).

Figura 3 - Tipos de termoplásticos que existem.

Os polímeros sintéticos são produzidos a partir dos seus monómeros constituintes através

de um processo de polimerização e a maioria é constituída por compostos de carbono

(Scicolone, 2009, p.148; Stuart, 2007). Este processo químico pode ser por adição (ou em

cadeia) ou por condensação. Na polimerização produzem-se cadeias de comprimentos

variados e o peso molecular é calculado como um peso médio por cadeia designado de

peso molecular médio ponderado (Shashoua, 2006, p. 188).

Os compósitos são materiais constituídos por duas ou mais fases e os polímeros podem

constituir a fibra ou o componente da matriz de um compósito. A identificação e a

Termoplásticos

Moléculas Lineares

Semicristalino

Moléculas Ligeiramente ramificadas

Amorfo

Page 22: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

22

caracterização dos polímeros tornam-se, assim, mais complexa devido ao facto de estes

conterem frequentemente aditivos que alteram as suas propriedades (Scicolone, 2009,

p.159). Por exemplo, as cargas são adicionadas aos polímeros para melhorar as suas

propriedades mecânicas, como a resistência mecânica e a tenacidade, e geralmente

consistem em materiais como o carbonato de cálcio, as fibras de vidro, a argila, a pasta

de madeira ou celulose (Scicolone, 2009, p.159). Os corantes ou os pigmentos são usados

para conferir uma dada cor (Stuart, 2007, p.17). Os polímeros podem melhorar a sua

flexibilidade através da adição de plastificantes, que podem ser líquidos de baixo peso

molecular, como ésteres de ftalato e fosfóricos (Scicolone, 2009, p.159). Os

estabilizadores impedem a degradação dos polímeros pela exposição à luz e ao oxigénio

e podem ser o óxido de chumbo, as aminas e o negro de fumo. A inflamabilidade também

pode ser minimizada pela adição de retardadores de chama como o trióxido de antimónio

(Stuart, 2007, p.18). A nomenclatura de polímeros mais usada na indústria, sustenta que

o prefixo “poli” deve ser seguido do nome do monómero que se repete. Por exemplo, o

polietileno é derivado do monómero etileno (CH2) (Fórmula 1), (Shashoua, 2006, p.188).

No entanto, também existe a nomenclatura de acordo com a União Internacional de

Química Pura e Aplicada (IUPAC).

~ CH 2 - CH 2 - CH 2 - CH 2 - CH 2 - CH 2 - CH 2 - CH 2 - CH 2 ~

Fórmula 1 – O Polietileno consiste numa longa cadeia de repetição de grupos etileno (Shashoua, 2006,

p.188).

O sistema de nomenclatura IUPAC não é muitas vezes usado, em particular na indústria,

no entanto, neste estudo será aqui usada a nomenclatura com base nos monómeros

(Shashoua, 2008, p.40).

1.1.1. Principais propriedades físico-químicas

As reações de polimerização, os aditivos e os processos de conformação influenciam e

afetam as propriedades físico-químicas, a vida útil e os processos de degradação dos

polímeros (Shashoua, 2008, p.56), daí que na produção destes materiais se tenha que ter

em atenção estes fatores de acordo com o tipo de aplicação que se pretende.

Page 23: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

23

A produção de polímeros semissintéticos (modificados) começou no início do século XIX

e aumentou a sua produção durante os últimos vinte e cinco anos do mesmo século. Por

outro lado, os polímeros sintéticos começaram a produzir-se nos princípios do século XX,

intensificando-se a sua produção no segundo quarto quando os processos de

polimerização se encontravam a ser desenvolvidos a partir dos semissintéticos e

permitindo deste modo, a síntese de inúmeros polímeros a partir dos seus monómeros

(Ubieta, 2011, p.106).

Os primeiros foram desenvolvidos mais propriamente em 1862, conhecidos como

semissintéticos que foram obtidos a partir de um material natural e por um processo

químico foram alteradas as suas propriedades químicas, com o objetivo de produzir um

produto final maleável e flexível (Shashoua, 2006, p.185; Ubieta, 2011, p.106).

O primeiro polímero totalmente sintético foi produzido em 1909, através da reação de

dois produtos químicos, o fenol e o formaldeído. Obteve-se, assim, a primeira resina

termofixa, a Baquelite, que veio substituir os materiais tradicionais como: o marfim, a

madeira e a ebonite (Shashoua, 2006, p.186; Ubieta, 2011, p.109).

O desenvolvimento dos plásticos reflete também questões históricas e económicas. Um

episódio marcante da História mundial foram as restrições na importação do látex, lã,

seda e outros materiais naturais para a Europa durante a II Guerra Mundial, o que originou

o rápido desenvolvimento de polímeros. A Tabela 1, mostra, por ordem cronológica de

produção, que entre 1935 e 1945 foram concebidos novos polímeros incluindo

polietileno, poliamidas, poli (metacrilato de metilo), poli (cloreto de vinilo), resinas

epóxicas e poliestireno, entre outros. É de salientar, que o polietileno foi aplicado em

sistemas de radar, enquanto que o PVC substituiu a borracha natural no isolamento de

cabos (Shashoua, 2006, p.185; Ubieta, 2011, p.111).

Após a II Guerra Mundial, a ideia dos polímeros como bens de luxo, altamente

valorizados desapareceu quando foram comercializados inúmeros utensílios domésticos

com designs variados e coloridos. Foi então, desenvolvida uma imagem dos polímeros

como materiais de baixo custo, de baixa qualidade e efémeros. Houve, assim, uma

mudança na atitude das pessoas em relação aos polímeros (Shashoua, 2006, p.186;

Ubieta, 2011, p.109).

Page 24: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

24

Tabela 1 - Os primeiros polímeros comerciais disponíveis (adaptado de Shashoua, 2006, p.186).

Data Tipo de polímeros Aplicações Nome comercial/

Propriedades

relevantes

1862 Nitrato de Celulose Marfim sintético;

carapaça de tartaruga

e filmes/películas.

Rayon, Celanese,

Tricel

1894 Acetato de Celulose Películas /filmes mais

seguros, tecidos

sintéticos.

Rayon, Celanese,

Tricel

1902 Caseína Formaldeído Botões, produtos

estampados a quente.

Erenoid, Galalith,

Ameroid

1909 Fenol formaldeído

(Baquelite)

Cabos isoladores,

rolos de cabelo,

caixas finas,

fotografias.

Bakelite, Catalin

“The material of

1000 uses”; fabricado

em cores escuras.

1924 Melanina

formaldeído

Superfícies de

fórmica laminada.

Disponível em cores

pálidas.

1926 Ureia e tiureia

formaldeído

Utensílios de

cozinha.

Resistente a riscos

1935 Poli(cloreto de vinilo)

(PVC)

Isoladores de cabos

elétricos, bonecas

Barbie e outros

brinquedos, solas de

sapatos.

Substituiu a borracha

na II Guerra Mundial;

Necessita de muitos

aditivos.

1937 Poli(metacrilato de

metilo)

(PMMA)

Janelas, vidros e

iluminação de

aeronaves.

Plexiglass, Perspex.

1938 Poliestireno (PS) Isolamento térmico,

chávenas de plástico,

embalagens e caixas

de aparelhos.

Espuma Flamingo.

1939 Nylon Para-quedas,

seda sintética e

vestuário.

Muito resistente;

suporta água quente.

1942 Polietileno Tupperware Funde a 130ºC.

1947 Epóxi Adesivos, esculturas. Amarelece

rapidamente.

1950 Poliéster Têxteis polares,

garrafas de coca-cola.

Poli (tereftalato de

etileno). Também

designado por Dacron

e Terylene.

1956 Polipropileno Para-choques para

automóveis, caixas de

garrafas.

Mais rígido que o

polietileno.

1976 Policarbonato CD`s, DVD`s,

telhados de estufas.

Resistente.

Page 25: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

25

Poli(tereftalato de etileno) Policarbonato

Poliestireno Poli(metacrilato de metilo) Poli(acetato de vinilo)

Figura 4 – Estruturas de alguns polímeros comuns (adaptado de Stuart, 2007, p.19).

Os polímeros vinílicos comercialmente mais importantes foram desenvolvidos a partir de

1930. Alguns cientistas da Grã-Bretanha aquando da experimentação do etileno a

diferentes temperaturas e pressões, produziram o polietileno (PE) (Fenichell, 1997;

Mossman, 1997; Quye e Williamson, 1999 apud Stuart, 2007, p. 20). O PE é conhecido

por ser o principal termoplástico utilizado em sacos e embalagens, garrafas, contentores,

tubos e utensílios domésticos (Tabela 1), (Callapez, 2000, p.46).

Existem dois tipos principais de PE produzidos em massa: o polietileno de baixa

densidade (LDPE) que tem uma estrutura de cadeia ramificada e é muito utilizado em

sacos e embalagens e o polietileno de alta densidade (HDPE) tem uma estrutura

predominantemente linear e encontra-se geralmente em garrafas e recipientes (Stuart,

2007, p.20). Assim, dependendo das condições experimentais em que a síntese de

polietileno é realizada, poderão resultar macromoléculas praticamente lineares ou

totalmente ramificadas. A diferença entre as duas estruturas origina diferenças nas suas

propriedades físicas. O polietileno de macromoléculas pouco ramificadas apresenta uma

grande cristalinidade. Esta alta cristalinidade, devido à curta distância entre as

macromoléculas torna este polietileno de alta densidade (0.96 g/cm3) e resistência, por

isso, é chamado de polietileno de alta densidade ou polietileno rígido (Shashoua, 2008,

p.47). Por outro lado, o polietileno altamente ramificado, devido à sua menor estrutura

interna, possui uma cristalinidade menor que a cadeia linear. Como há maior distância

entre as macromoléculas, possui menor densidade (0,912 - 0,935 g/cm3) e resistência. É

Page 26: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

26

designado de polietileno de baixa densidade ou polietileno flexível (Shashoua, 2008,

p.47).

O polipropileno (PP) apresenta uma estrutura semelhante ao PE, contudo, tem um grupo

metilo a mais. Este polímero é muito aplicado em cadeiras, garrafas, tapetes, caixas e

embalagens (Tabela 1). Tem boas propriedades mecânicas à temperatura ambiente, baixo

custo, é quimicamente inerte, tem baixa absorção de água e baixa densidade. É um bom

isolador elétrico mesmo em meio aquoso, soldabilidade viável e é muito versátil nos

métodos de processamento (Stuart, 2007, p.20-21). É produzido pelo processo de

suspensão a 60ºC e são conseguidas conversões de 80-85% do monómero (Shashoua,

2008, p.47).

O poli (cloreto de vinilo) (PVC) foi comercializado pela primeira vez na década de 1940

em brinquedos e na década de 1960 em sapatos e roupas (Tabela 1). Dadas as suas

propriedades isoladoras foi aplicado na indústria elétrica e no fabrico de pneus e mais

tarde na indústria de construção, da embalagem, do automóvel e do mobiliário (Callapez,

2000, p.45). Possui uma estrutura que contêm átomos de cloro ligados a átomos de

carbono da cadeia principal. Dada a falta de flexibilidade nas moléculas de PVC, este

polímero é normalmente produzido com a incorporação de plastificantes (Stuart, 2007,

p.21). A polimerização do PVC ocorre por reação de radicais livres e é uma reação é

exotérmica. O peso molecular do PVC resultante é determinado pela temperatura de

polimerização, que varia de 50 a 75 °C. Cerca de 80 % dos polímeros de PVC comerciais

são produzidos por polimerização em suspensão. As partículas de PVC resultantes são

aproximadamente esféricas e variam de 50 a 250 µm de diâmetro (Shashoua, 2008, p.48).

O grau de polimerização ou número de unidades de repetição na cadeia molecular (n)

varia entre 500 e 1500, o que corresponde a um peso molecular teórico médio de 100000

a 200000. Na prática, todos os lotes contêm moléculas com vários comprimentos de

cadeia. Após a síntese, os polímeros encontram-se em solução ou são secos e apresentam-

se na forma de pó, pastilhas ou flocos (Shashoua, 2008, p.48).

Antes da II Guerra Mundial a Alemanha foi confrontada com a falta de borracha natural,

pelo que teve que iniciar a produção de estireno em grande escala. Veio substituir o vidro,

a madeira e o alumínio (Callapez, 2000, p. 43, 44). O poliestireno (PS) é um material

claro, rígido e quebradiço, podendo ser modificado com borracha tornando-o mais

flexível (Stuart, 2007, p.21). O PS é geralmente utilizado em embalagens, produtos

domésticos e de tecnologia, e ainda brinquedos (Tabela 1). O poliestireno consiste em

Page 27: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

27

cadeias macromoleculares não ramificadas. Os anéis benzénicos ocupam posições

espaciais laterais de maneira desordenada ao longo da cadeia principal (Figura 4) e tem

uma elevada estabilidade dimensional (Shashoua, 2008, p.47).

Os poliacrilatos (ou acrílicos) são derivados do ácido acrílico [CH2 = CHCOOH] ou

ácido metacrílico [CH2 = C(CH3) COOH] e são importantes em vernizes e plásticos

transparentes (Fenichell, 1997; Mossman, 1997; Mills e White, 1994; Quye e Williamson,

1999 apud Stuart, 2007, p. 21).

O poli (metacrilato de metilo) (PMMA) (Figura 4) é um tipo de acrílico muito conhecido

e foi desenvolvido na Alemanha e no Reino Unido na década de 1930 para substituir o

vidro, (Shashoua, 2008, p.48). Só depois da II Guerra Mundial começou a ser

comercializado. É um polímero transparente, duro e rígido, sendo por isso, um material

muito utilizado na indústria da construção (vidros de janelas), no fabrico de estufas e é

também conhecido pelo nome comercial Plexiglass ou Perspex (Tabela 1), (Callapez,

2000, p.41). Um número de copolímeros acrílicos, copolímeros de metacrilato, como o

acrilato de metilo – etilo, têm sido aplicados na conservação de vernizes devido à sua

estabilidade e transparência (Stuart, 2007, p.21). O monómero de metacrilato de metilo

polimeriza facilmente às condições ambiente e, portanto, é necessário um inibidor (até

0,1% de hidroquinona), (Shashoua, 2008, p.48).

O politetrafluoroetileno (PTFE), foi inicialmente descoberto na década de 1930 pelos

laboratórios “DuPont”, no entanto, só foi comercializado e produzido em larga escala na

década de 1950 (Callapez, 2000, p.47). O PTFE é designado pelo nome comercial de

Teflon e surgiu como um revestimento de superfície. É um termoplástico e como

apresenta uma resistência química elevada, boas propriedades de isolamento elétrico e

um baixo coeficiente de atrito é muito aplicado em revestimentos antiaderentes,

componentes elétricos e fitas adesivas (Stuart, 2007, p.21). A polimerização do PTFE

ocorre por reação de radicais livres a temperaturas entre 80 a 90 °C e com um rendimento

de cerca de 85% e o produto final apresenta-se na forma de grânulos ou partículas

dispersas de baixo peso molecular (Shashoua, 2008, p.48).

O poli (acetato de vinilo) (PVA) é frequentemente usado na forma de uma emulsão

(Figura 4). O PVA à temperatura ambiente é resistente e estável, mas a temperaturas

elevadas pode tornar-se pegajoso e flui ligeiramente. O PVA é um polímero que pode ser

aplicado na produção de tintas à base de água e também como adesivos, pois seca

rapidamente (Mills and White, 1994 apud Stuart, 2007, p.21,22).

Page 28: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

28

Os policarbonatos (PC), (Figura 4) são materiais poliméricos termoplásticos com a

seguinte fórmula química [- O - (C 6 H 4) - C (CH 3) 2 - (C 6 H 4) - CO) n -]. Têm uma

estrutura ramificada flexível com elevada estabilidade dimensional. Os policarbonatos

foram preparados pela primeira vez pela empresa Einhorn em 1898, mas até 1958 não

foram produzidos comercialmente na Alemanha e nos EUA. São aplicados em estufas

como alternativas ao vidro, em coberturas como fibras e como material de suporte para

CDs e DVDs (Tabela 1). Os policarbonatos podem ser sintetizados por uma reação do

tipo condensação (Shashoua, 2008, p.52).

O poli (tereftalato de etileno) (PET) (Figura 4) é um poliéster usado para formar fibras

conhecidas com os nomes comerciais Dacron e Terylene. Os principais tipos de poliéster

encontrados nos museus podem ser os saturados e não saturados (Shashoua, 2008, p. 55).

Os poliésteres saturados são duros, cristalinos, fortes e resistentes. São geralmente usados

em garrafas de líquidos, na forma de filme como suportes de filmes de cinema, bem como

em fitas magnéticas para vídeo, áudio e computadores (Tabela 1). São ainda, usados em

filmes de raios X, etiquetas e embalagens. Estes polímeros são termoplásticos, portanto

amolecem repetidamente quando aquecidos e endurecem quando arrefecidos. Os

poliésteres saturados, como o poli (tereftalato de etileno) (PET), são polímeros de

condensação (Shashoua, 2008, p. 55).

Os poliésteres não saturados são usados para fazer plásticos reforçados com vidro e foram

amplamente utilizados nos EUA durante a II Guerra Mundial. São usados para fabricar

barcos, estruturas externas de edifícios, malas, raquetes de ténis e canas de pesca. Os

poliésteres não saturados são termoendurecíveis e são produzidos através de uma reação

de condensação entre ácidos dicarboxílicos e dialcoóis (glicóis), (Shashoua, 2008, p. 55).

Outro tipo de poliéster, são as resinas alquídicas, que têm uma vasta aplicação em tintas

e vernizes. As resinas alquídicas são compostos formados a partir de um álcool

polifuncional (por exemplo, o glicerol), um ácido polifuncional (por exemplo, o anidrido

ftálico) e um monoácido insaturado (por exemplo, um óleo de secagem). A presença do

óleo secante (por exemplo, os ácidos gordos polinsaturados) significa que podem ocorrer

mais ligações cruzadas para produzir uma rede reticulada. Os poliésteres insaturados

podem ser reticulados e formam polímeros termofixos, sendo usados com fibras de vidro

para criar compósitos de elevada resistência. Os poliésteres lineares são reticulados com

monómeros de vinil, tais como o estireno, na presença de radicais livres. Como as resinas

Page 29: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

29

de poliéster têm uma baixa viscosidade, podem ser facilmente misturadas com fibras de

vidro (Stuart, 2007, p.22).

Na década de 1980, houve uma mudança na perceção dos materiais poliméricos e, a partir

destes materiais, surgem peças elegantes, de coleção, com um elevado significado

histórico e tecnológico. O desenvolvimento das técnicas de processamento e de fabrico

dos polímeros permitiu, assim, criar materiais modernos, os compósitos, para serem

manipulados como filmes finos, formas a granel e espumas, e ainda combinados com

fibras, metais e madeira, (Shashoua, 2006, p.186).

Segundo a investigadora Yvonne Shashoua, em 2006 existiam aproximadamente 50 tipos

de plásticos básicos, incluídos em 60000 composições de plásticos. Os que eram à base

de poliolefinas e PVC tinham maior procura e consumo a nível mundial (Shashoua, 2006,

p.186).

Os aditivos ou modificadores

Quando se observa um material polimérico, é importante compreender que ele pode ser

constituído por mais de um componente. As propriedades químicas e físicas dos

polímeros podem sofrer alterações significativas pela incorporação de aditivos durante e

após o seu processo de fabrico. Ao variar a quantidade e o tipo de aditivos podem obter-

se materiais diversificados mesmo sendo produzidos a partir do mesmo polímero base

(Scicolone, 2009, p.159; Shashoua, 2008, p.56).

Um exemplo, é o PVC bruto, que é em geral um material quebradiço, pouco flexível e

com algumas limitações comerciais. Podem usar-se agentes físicos como o calor e a

pressão no processamento do PVC, no entanto, estes podem provocar uma degradação

maior do polímero. A incorporação de aditivos aos compostos poliméricos de PVC, deve

garantir uma mistura homogénea, adequada ao processamento e às suas propriedades

finais do produto a um preço acessível. Como se pode observar pela Tabela 2, variando a

quantidade de plastificante na composição química (entre 16% e 50% em peso), o PVC

pode ter diversas aplicações desde: calhas rígidas, relva de plástico, brinquedos (por

exemplo, bonecos), isoladores de cabos elétricos, bolsas fotográficas e solas de sapatos

(Shashoua, 2008, p.57).

Page 30: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

30

Tabela 2 - Aplicações típicas para formulações de PVC plastificado, com di (2-etilhexil) ftalato (DEHP)

(adaptado de Shashoua, 2006, p.193).

DEHP

(% em peso)

Aplicação

16,7 Piso de Vinil

23,1 Cobertura de estofos

28,6 Pasta de documentos

33,3 Mangueira de água do jardim

37,5 Cabo de bainha elétrica

44,4 Sola de sapatos

50,0 Botas de borracha

No processamento do PVC, este é moído juntamente com o plastificante que se encontra

no estado líquido, o que permite que o plastificante se ligue à superfície das partículas do

polímero, mantendo-as separadas, e que fluam umas sobre as outras, aumentando deste

modo, a sua flexibilidade a uma escala macroscópica (Shashoua, 2006, p.193).

Na Europa, desde 1950, sabe-se que um dos plastificantes mais utilizados anualmente,

cerca de 90% correspondem a ésteres de ftalato, sendo o mais utilizado como

plastificante, o di (2-etilhexil) ftalato (DEHP). São conhecidos os efeitos perigosos do

DEHP na saúde, em particular nas crianças. Assim, desde 1980 que os brinquedos e

acessórios que continham DEHP, para crianças com menos de três anos foram proibidos

na Europa (Shashoua, 2006, p.193).

Podem agrupar-se três tipos de aditivos ou modificadores de polímeros aqueles que

alteram as propriedades físicas, os que alteram as propriedades químicas e aqueles que

apenas melhoram a aparência do produto final (Shashoua, 2008, p.57).

Os aditivos que alteram as propriedades físicas durante o processamento ou no objeto

final incluem-se os enchimentos, plastificantes, lubrificantes e promotores de fluxo,

modificadores de impacto e agentes espumantes. Os aditivos, que alteram as propriedades

químicas durante o processamento são os aditivos antienvelhecimento. Os aditivos como

os corantes na forma de pigmentos e outros corantes, incluem-se naqueles que melhoram

a aparência do polímero (Shashoua, 2006, p.193).

A Tabela 3 resume os tipos e funções de aditivos que geralmente são incorporados nos

polímeros. Por vezes, pode acontecer que os plastificantes também possam atuar como

modificadores de impacto, lubrificantes e estabilizadores (Shashoua, 2006, p.193;

Page 31: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

31

Dietrich, 2013). Por outro lado, um lubrificante comercial pode atuar como um

plastificante, depois de incorporado na composição química de um polímero (Shashoua,

2008, p.58).

As principais propriedades dos aditivos de polímeros são: elevada estabilidade sob

condições de processamento e de utilização; manutenção/prolongamento da composição

química durante a sua vida útil; não migrarem ou evaporarem para a superfície; baixa

toxicidade; odor ou sabor inertes e um baixo custo (Shashoua, 2008, p.57).

A vida útil desenhada para a maioria dos plásticos varia entre um ano (para os sacos de

polietileno) e trinta anos (por exemplo, caixilhos de janelas de PVC não plastificado). No

caso dos objetos de museus pretende-se que durem por mais tempo (Shashoua, 2006,

p.193).

Tabela 3 - Tipos e funções de aditivos usados com frequência (Shashoua, 2008, p.58).

Aditivos Funções principais Como atuam Exemplo Concentração

aproximada na

formulação de

polímeros

% (peso)

Plastificantes Amolece os polímeros,

e reduz a Tg.

Separa as cadeias de um

polímero.

Ésteres de ftalato,

diésteres alifáticos,

óleos epoxídicos,

ésteres de fosfato,

poliésteres.

20 - 50

Enchimentos Opacificam o composto,

aumentam a dureza,

reforçam o polímero e

reduzem o custo.

Altera do índice de

refração e as

propriedades de reflexão

da luz, adiciona massa

ao polímero,

liberta as tensões do

polímero.

Carbonato de cálcio e

de magnésio, sulfato

de bário, carbono ou

fibras de vidro ou

nylon.

0 - 20

Lubrificantes Impedem a adesão do

polímero ao

equipamento de

processamento.

Liberta humidade devido

à baixa compatibilidade

com o polímero.

Estearato de cálcio;

estearato de chumbo

normal e dibásico.

Inferior a 1

Modificador de

impacto

Reduz a fragilidade. Endurece o composto e

impede a formação de

fissuras.

Acrilonitrilo-Estireno

e copolímeros de

acetato de vinilo e

etileno.

2 - 5

Antioxidantes

Retardar a degradação

por oxidação.

Interrompe as

sequências das ligações

dos radicais livres de

oxigénio ou os produtos

da degradação (p.e.

HCl).

Arilaminas; fenólicos

(butilhidroxitolueno,

BHT);

organofosfatos;

desativadores

metálicos e carbono

negro.

0 - 0,2

Estabilizadores

de calor

Minimizam ou

eliminam efeitos da

degradação do calor no

polímero.

Inibem as reações de

degradação e estabilizam

os produtos de

degradação térmica.

Octoatos de bário-

zinco, bário-cádmio e

chumbo; naftenatos e

benzoatos; soja

epoxidada óleos de

linhaça.

Superior a 1

Page 32: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

32

Aditivos Funções principais Como atuam Exemplo Concentração

aproximada na

formulação de

polímeros

% (peso)

Retardadores de

chama

Inibem a ignição, a

formação de fumos e a

taxa de queima.

Minimizam o acesso ao

calor ou oxigénio.

Tri-hidrato de

alumínio; hidróxido

de magnésio;

fosfatos; parafinas

cloradas.

2 - 60

Agentes de

sopro

Introduzem gás no

polímero líquido para

produzir espuma.

Gás, solvente evaporado

ou reação química no

sólido para formar CO,

CO2 ou N2

CO2 ou N2 ou ar;

hidrocarbonetos

alifáticos e

halogenados;

azocarbonamida.

Varia

Agentes

colorantes

Decoram e protegem da

radiação solar.

Adicionam cor e

opacidade à superfície e

ao interior.

Pigmentos

inorgânicos; corantes

orgânicos; por

exemplo.

Antraquinonas.

Partículas de negro

de fumo.

Varia

As reações de polimerização

O processo de polimerização (reação química entre monómeros) pode ocorrer através de

três mecanismos principais, nomeadamente: a polimerização por adição, a polimerização

por condensação (Scicolone, 2009, p.153) e ainda a polimerização de rearranjo

(Shashoua, 2006, p.190), (Figura 5). Na polimerização por adição, os monómeros são

convertidos em polímeros sem a formação de produtos secundários; a reação dá-se em

cadeia, por adição de moléculas sucessivamente, ou seja, por um mecanismo de radicais

livres (Scicolone, 2009, p.153). Os polímeros formados por polimerização de adição

incluem: o polietileno, o polipropileno, o poli (metacrilato de metilo), o poliestireno e o

policloreto de vinilo (PVC), (Shashoua, 2008, p.43).

O esquema reacional 1, mostra que para que ocorra a polimerização por adição, o

monómero deve conter pelo menos uma ligação dupla. No primeiro estágio do processo

ou iniciação (Figura 6), as ligações duplas são destruídas, e os eletrões de valência ligam-

se a outras moléculas monoméricas. Pode ser necessário um catalisador para iniciar ou

acelerar o processo, que permita decompor em radicais, por exposição à luz ou ao calor.

Os radicais do catalisador reagem com as moléculas monoméricas por adição, produzindo

mais radicais, que por sua vez interagem com as moléculas monoméricas. Na segunda

etapa ou propagação (Figura 7), os monómeros continuam a reagir, formando cadeias

cada vez mais longas. Durante o estágio final, todas as moléculas do monómero reagiram

e a reação termina. A reação também pode ser rapidamente finalizada esgotando-se a

Page 33: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

33

água. O grau de polimerização ou o número de unidades de repetição na cadeia, n, varia

entre 500 e 1500; isso corresponde ao peso molecular médio teórico de 100000 a 200000.

Na prática, todos os polímeros contêm moléculas com um intervalo de comprimento de

cadeia (Shashoua, 2006, p.190).

Figura 5 - Tipos de processos de polimerização mais importantes.

nCH2 = CHCl → (-CH2 - CHC1-)n

cloreto de vinilo poli (cloreto de vinilo)

Esquema Reacional 1 – O Poli (cloreto de vinilo) é formado por polimerização de adição do

cloreto de vinilo (Shashoua, 2006, p.190).

O processo de polimerização em suspensão é utilizado para produzir mais de 80% dos

polímeros comerciais de PVC (Shashoua, 2006, p.191). Uma suspensão aquosa do

monómero de cloreto de vinilo é agitada rapidamente num recipiente sob pressão

juntamente com coloides para manter os monómeros em suspensão e com soluções

tampão para controlar o pH. O diâmetro das partículas de PVC obtidas por este método

são aproximadamente esféricas e variam de 50 a 250 µm. O PVC comercial caracteriza-

Figura 6 - Fase de iniciação do

mecanismo de radicais livres para o

polietileno mostrando formação de radicais

livres reativos. R. representa o iniciador

ativo e '.' é um eletrão desemparelhado

(Shashoua, 2008, p.44).

Figura 7 - Fase de propagação do mecanismo de

radicais livres para o polietileno. Os monómeros juntam-

se para formar longas cadeias (Shashoua, 2008, p.45).

Processos de

polimerização

Adição Condensação Rearranjo

Page 34: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

34

se por ser um material essencialmente amorfo, embora tenha uma certa cristalinidade

(cerca de 5% medida por métodos de difração de raios X) e é atribuída ao facto dos átomos

de cloro de maior dimensão, não se alinharem perfeitamente. Essa baixa cristalinidade

afeta muito as propriedades do PVC nas suas fases de solução e sólida. O PVC é um

termoplástico, e por isso amolece ao aquecer. A presença dos átomos de cloro na estrutura

aumenta a atração entre as cadeias devido às interações do Cl-Cl dipolar, conferindo

grande dureza e rigidez ao polímero (Shashoua, 2006, p.191). A temperatura de transição

vítrea (Tg) do PVC comercial é de aproximadamente 80-84 °C e o ponto de fusão é de

aproximadamente 212 °C. A temperatura máxima de serviço para compostos comerciais

varia entre 65 °C e 80 °C (abaixo da temperatura de transição vítrea). A polaridade

introduzida pela presença de cloro significa que o PVC é solúvel em solventes polares,

tais como: o tetrahidrofurano (THF), a ciclo-hexanona e a dimetilformamida (DMF).

Uma concentração mais elevada de cloro no polímero (56,8% em peso) confere-lhe

propriedades retardadoras de chama, uma propriedade que tem sido muito proveitosa em

cabos e caixas de isolamento elétrico (Shashoua, 2008, p.45).

Na polimerização por condensação (Scicolone, 2009, p.153; Shashoua, 2008, p.49), um

grupo químico reativo num monómero reage aleatoriamente com outro grupo numa

segunda molécula monomérica, com a formação de uma molécula mais pequena à medida

que os monómeros se unem para formar uma cadeia. A pequena molécula é geralmente

água ou álcool que se separa durante a polimerização. Como a reação é dependente apenas

das moléculas de monómero que entram em contato com outras, ocorrerá um aumento

significativo no peso molecular médio com o tempo de reação. Dos polímeros produzidos

por polimerização por condensação incluem-se os poliésteres, os nylons e os polímeros

de formaldeído (Shashoua, 2008, p.45).

A polimerização de rearranjo pode ser considerada como um tipo de reação intermédia

entre a polimerização de adição e a de condensação. Tal como a polimerização de adição,

não há separação de pequenas moléculas, mas a sua cinética é idêntica aos processos de

condensação. Por exemplo, a preparação de polímeros de poliuretano ocorre por

polimerização de rearranjo, mas não é aqui aprofundado (Shashoua, 2006, p.191).

A maioria das reações de polimerização não são completas, dando origem a resíduos dos

reagentes iniciais da reação no polímero. Aproximadamente 1 a 3% do monómero

residual é encontrado em polímeros acrílicos, no PVC, no poliestireno, nos

policarbonatos, nos poliésteres, nos poliuretanos e nos polímeros de formaldeído

Page 35: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

35

imediatamente após a sua produção. É provável que os monómeros com pontos de

ebulição inferiores à temperatura ambiente tenham evaporado antes de o produto final ser

utilizado; enquanto que aqueles que têm pontos de ebulição mais elevados, incluindo o

monómero de estireno e os tereftalatos utilizados em poliésteres saturados, desaparecem

lentamente a partir da formação do polímero e podem ser libertados odores (Shashoua,

2006, p.192).

O processamento dos polímeros

Os primeiros polímeros, com materiais naturais que foram desenvolvidos para imitar o

marfim, as carapaças de tartaruga, a madeira, o ferro, entre outros. Eram moldados de

forma imperfeita e mal acabada, trabalhados e polidos à mão. Dado o crescimento na

produção de polímeros, estes métodos foram substituídos por processos mecanizados. Os

processos mais importantes e frequentes são a calandragem, a extrusão e a moldagem por

injeção (Shashoua, 2008, p.77).

Durante a calandragem, o plástico líquido flui por uma série de rolos de metal, aquecidos

com temperatura controlada e com intervalos progressivamente menores produzindo

filmes finos. Esta técnica é usada para produzir cortinas de chuveiro, filmes para

embrulhar alimentos, sacolas e filmes protetores. Os filmes mais utilizados são de

polietileno, nylon, polipropileno, acetato de celulose, PVC e poliésteres (Shashoua, 2008,

77; Crawford, 1998, p.313).

A moldagem por extrusão foi desenvolvida pela primeira vez em 1830, e consiste

basicamente em colocar os materiais termoplásticos num cilindro aquecido, que por meio

de um parafuso são se misturam e fundem, permitindo a libertação de gases e a formação

de um fluido viscoso, num fluxo contínuo, que em seguida é forçado para um molde

(Shashoua, 2008, 79; Crawford, 1998, p.246). A moldagem por extrusão é adequada para

o fabrico de polímeros termoplásticos, com formas simétricas de espessura uniforme,

incluindo tubos, fibras e películas, em que é necessária uma forma simétrica e homogénea

(Shashoua, 2008, p.79).

A moldagem por injeção é uma técnica muito comum para o processamento de plásticos.

Os grânulos ou pastilhas do polímero são aquecidos num cilindro aquecido até que

tenham uma viscosidade suficientemente baixa para serem injetados sob pressão para um

molde frio e dividido. Este aquecimento deve ser controlado para evitar o

Page 36: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

36

sobreaquecimento, em assim a degradação do polímero (Shashoua, 2008, p.78, Crawford,

1998, p.279).

1.1.2. Identificação de polímeros

Os conservadores-restauradores são muitas vezes solicitados para caracterizar um

material polimérico, de modo a compreender e a prever o seu comportamento ao longo

do tempo, selecionar um tratamento adequado, e autenticar ou datar objetos dos museus.

Como estes objetos são únicos, valiosos e insubstituíveis os testes de identificação, em

amostras deverão ser essencialmente não invasivos. Além disso, deverão: requerer

equipamento simples e económico; serem simples de realizar e acessíveis de obter; e

ainda, serem fiáveis e com resultados reprodutíveis (Rémillard, 2007, p. 3).

Quando se pretende estudar os objetos ou obras de arte de materiais poliméricos, devem

recolher-se dados históricos, desde a data em que foram fabricados ou executados; e se

esta não for acessível, poderá recorrer-se à data de recolha ou à data da coleção. Além

disso, deverá investigar-se sobre o processo de fabrico e as características físico-

químicas, pois poderão fornecer informações importantes e detalhadas sobre o tipo de

polímero, facilitando a sua identificação (Shashoua, 2008, p.113).

Os métodos de identificação podem ser distinguidos em: testes simples - através da

observação visual da sua aparência, da determinação das suas propriedades mecânicas e

químicas; e as técnicas instrumentais de análise. Contudo, a identificação de polímeros

não é sempre um processo fácil. Os aditivos alteram as propriedades físicas dos polímeros

(flexibilidade, dureza e densidade), levando a conclusões erróneas. Por exemplo, existem

milhares de aditivos diferentes e o mesmo aditivo pode ser incluído em muitas

composições químicas de polímeros diferentes. Como exemplo, o di-n-butil ftalato é

usado como plastificante para muitos polímeros, incluindo PVC e epóxis, de modo que a

sua identificação fornece pouca informação sobre o polímero. A degradação de polímeros

altera também suas propriedades físicas e químicas quando comparados com os materiais

novos (Shashoua, 2008, p.115).

Testes simples

Para um conservador-restaurador, colecionador ou curador, é importante saber se uma

joia, obra de arte ou um objeto de coleção são feitos de um polímero natural,

Page 37: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

37

semissintético ou sintético. Muitas vezes não possuem equipamentos sofisticados de

técnicas analíticas, pelo que têm que recorrer a testes simples de identificação do

polímero. Os métodos de testes simples podem variar substancialmente entre os

laboratórios. As organizações como a Sociedade Americana de Testes e Materiais

(ASTM) e o British Standards Institute (BSI) desenvolveram testes padrão que são usados

em toda a indústria de polímeros (Shashoua, 2008, p.113).

Observação do aspeto visual/aparência

A aparência é o primeiro indicador para a identificação do tipo de polímero de que é feito

o objeto em estudo, pois existem variados corantes e enchimentos que se modificam com

o tempo, e com isso a aparência de um polímero (Stuart, 2007, p.44). No entanto, existem

alguns polímeros como a baquelite (fenol-formaldeído) que são sempre de cor castanha,

preta ou vermelha. Porém, a ureia e a melamina-formaldeídos podem ter tonalidades mais

suaves (pastel) (Shashoua, 2006, p.196). No caso do polietileno e do polipropileno

apresentam-se sempre ligeiramente translúcidos/baços como é o caso de filmes finos,

enquanto que, a maioria dos outros plásticos incolores, como os poliésteres e os

policarbonatos, são cristalinos. As marcas/inscrições podem fornecer informações sobre

o país de fabrico, a empresa de produção (marca comercial), o design e ainda se o tipo de

polímero pode ser reciclado ou adequado ao contato com alimentos (Shashoua, 2008,

p.116).

Dureza

A dureza é outra propriedade física que pode ser testada com a aplicação de uma unha

(espetar/cravar) na parte inferior do objeto. Os polímeros que ficam com as marcas da

unha são: o polietileno, o polipropileno, o PVC plastificado e o poliuretano; os restantes

polímeros não se deixam riscar/marcar. Um outro teste também usado, mas mais invulgar

é bater com a unha com firmeza no plástico. Se produzir um som metálico, é provável

que o polímero seja de poliestireno. (Shashoua, 2006, p.196).

Page 38: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

38

Odor

Os materiais poliméricos quando aquecidos libertam um cheiro característico, que pode

ser também um bom indicador para a sua identificação. O odor é provocado pela

volatilização de um monómero de um plastificante ou de um produto resultante da

degradação durante o aquecimento. Com o aquecimento dos polímeros, a concentração

das substâncias voláteis aumenta, assim, antes de cheirar próximo da sua superfície deve

esfregar-se com um pano de algodão limpo (para gerar calor por atrito) imediatamente

antes de os cheirar ou testar em combinação com um teste de aquecimento. Os

colecionadores preferem não recolher amostras ou causar danos mecânicos no objeto, e

geralmente usam água quente como fonte de calor. A borda de um objeto é colocada

debaixo de uma torneira com água quente (30 segundos) antes do cheiro se libertar

(Shashoua, 2008, p.119).

Um odor a vinagre é característico do acetato de celulose; o cheiro a naftalina (cânfora)

indica o nitrato de celulose; o odor idêntico ao de um carro novo dá a indicação que seja

PVC plastificado; um cheiro semelhante ao do peixe é libertado no aquecimento de

melamina ou ureia formaldeído; um odor fenólico semelhante ao sabão antisséptico

indica a presença de baquelite (Shashoua, 2008, p.119).

Densidade ou massa volúmica

A densidade ou massa volúmica (ρ), é a razão entre a massa (m) e o volume (V) do

material.

ρ = m / V [g /cm3]

Nos polímeros, a densidade é muito útil como meio de caracterização. Muitos polímeros

processados contêm na sua estrutura espaços vazios, poros ou imperfeições. A densidade

real pode ser determinada a partir da massa e do volume real. Nos sólidos compactos, é

suficiente medir o volume numa amostra simples com um peso molecular ou uma massa

conhecida. Nos materiais poliméricos em pó ou em grânulos, o volume é determinado

pela medição do líquido deslocado num picnómetro ou através de medições da

flutuabilidade. Em todos os casos são necessários pesos relativamente precisos

especialmente quando se têm quantidades pequenas de amostras (Dietrich, 2013, p.23).

Page 39: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

39

A densidade ou massa volúmica dos polímeros à temperatura de cerca de 20 °C é também

uma propriedade relacionada com a capacidade de estes flutuarem à superfície de um

líquido, e pode ser testada num gobelé contendo água da torneira à mesma temperatura.

Como é sabido a densidade da água a 20 °C é de aproximadamente 1 g/cm3. Deste modo,

se uma pequena amostra flutuar à superfície da água, ela terá uma densidade menor ou

igual à da água à mesma temperatura; se afundar, tem uma densidade maior que 1 g/cm3

(Shashoua, Y.; 2006, p.196).

O polietileno, polipropileno e poliestireno flutuam na água, enquanto que, a baquelite e a

caseína por terem maiores densidades, afundam. O teste de flutuação não é um método

fácil na identificação dos polímeros, pois os resultados dependem muito da sua forma.

Por exemplo, as espumas que têm na sua estrutura ar, a sua densidade será menor do que

um bloco sólido maciço do mesmo tipo de polímero (Shashoua, 2008, p.120). Os

polímeros em espuma não poderão ser testados para a determinação da densidade

(Rémillard, 2007, p.3).

A presença de cargas na resina irá alterar a massa volúmica específica da amostra, mas

este facto é levado em consideração nas tabelas de referência. Os resultados destes dois

testes poderão ser combinados com os do teste de solubilidade, outro método testado e

comprovado (Rémillard, 2007, p.3).

Testes de pirólise

Os testes de pirólise permitem estudar a degradação de materiais orgânicos (Braun, 1996;

Katz, 1994; Odegaard et al., 2001; Quye e Williamson, 1999; Stuart, 2002 apud Stuart,

2007, p.66). A degradação térmica produz fragmentos de baixo peso molecular que são

frequentemente inflamáveis ou que tem um odor característico.

Pode medir-se o valor de pH dos vapores de combustão. Para o efeito é necessário

recolher uma pequena amostra de polímero (massa de cerca de 100 mg) e colocá-la numa

extremidade da pipeta de Pasteur (Dietrich, 2013, p.27). Na outra extremidade da pipeta

de Pasteur inserir ainda, um pedaço de papel indicador universal/papel de tornesol

humedecido com um pouco de água destilada e vedar com um pedaço de plasticina;

aquecê-la lentamente numa lamparina de álcool/bico de Busen com a chama no mínimo;

ter o cuidado de a virar para o lado oposto da cara (Shashoua, 2006, p.197). Os vapores

libertados dentro da pipeta, ao reagirem com as fitas de papel indicador, vão provocar a

Page 40: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

40

alteração de cor da fita e depois procede-se à medição do respetivo valor de pH. Os

resultados podem ser obtidos passados alguns segundos ou minutos (na maioria das

vezes), e foram obtidos bons resultados com as fitas de pH da marca Merck ColorPhast

(Rémillard, 2007, p. 4).

Este tipo de teste de pirólise é um método simples e eficaz. Se os valores obtidos forem

entre: pH = 1 - 4 (ácido): pode estar-se na presença do nitrato ou acetato de celulose,

poliéster, poliuretano ou policloreto de vinilo (PVC). Se os valores de pH = 5 - 7 (neutro):

trata-se de polietileno, poliestireno, acrílicos, policarbonato, silicones e epóxis. Ou ainda

se os valores de pH = 8 - 14 (alcalino/básico): podem ser nylon e plásticos de formaldeído

(Shashoua, 2006, p.197).

No caso da fita de papel de tornesol, se os gases de combustão libertados forem de carater

ácido este altera para a cor vermelha; se forem neutros não ocorre mudança de cor; se

forem básicos a fita de papel de tornesol muda para azul. O papel de pH é um pouco mais

sensível (Dietrich, 2013, p.27). Podem consultar-se tabelas de referência que mostram os

valores de pH para os produtos da decomposição dos polímeros mais importantes

(Dietrich, 2013, p.28). Se a amostra amolece poderá ser um material termoplástico, no

entanto, as resinas termoendurecíveis, tendem a manter a sua forma antes de atingir a

temperatura de combustão. Depois da medição do valor de pH, a plasticina pode ser

removida libertando o vapor da combustão. Mesmo com pequenas amostras é facilmente

detetável o odor que costuma designar-se pelo “Teste do nariz” e pode ser repetido várias

vezes quanto se achar necessário, o que não acontece com as amostras vaporizadas com

chama aberta (Rémillard, 2007, p.4).

Teste de Chama

Além dos testes de pirólise, os testes de chama fornecem informações úteis, uma vez que,

o comportamento do material quando está exposto diretamente à chama, mostra diferentes

propriedades dependendo da natureza do polímero. São também, os testes de

identificação mais importantes, pois permitem tirar conclusões rápidas e claras para que

se possa avançar com testes mais específicos (Dietrich, 2013, p.27). No entanto, este teste

pode ser limitado por interferências entre elementos químicos e serem ambíguos (Stuart,

2007, p.66).

Page 41: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

41

A inflamabilidade dos polímeros é muito influenciada pela presença dos aditivos. Um

teste de pirólise simples é o teste de Beilstein para detetar a presença de cloro,

principalmente encontrado no policloreto de vinilo (PVC) e no policloreto de vinilideno

(PVDC), borrachas hidro-cloradas e borracha à base de cloropreno, adesivos como

cimento de contacto (Rémillard, 2007, p.8).

O teste de Beilstein não pode ser usado para cloretos minerais. Além disso, certos

retardadores de chama podem produzir um teste positivo-falso. Em caso de dúvida, deve

medir-se o pH do vapor de combustão na pipeta (vapor de PVC) que é muito ácido (pH

≈ 1) para os valores de pH dos vapores de combustão (Rémillard, 2007, p.8).

Os materiais termoplásticos, lineares ou ramificados, isto é, não reticulados, geralmente

começam a amolecer com o aquecimento e depois a fundir com o aquecimento num

intervalo de temperatura (polímeros amorfos), (Dietrich, 2013, p. 26).

Em geral, os polímeros parcialmente cristalinos têm um intervalo de temperatura de fusão

estreito, mas as temperaturas são menos definidas do que os pontos de fusão dos materiais

cristalinos com baixo peso molecular. Acima da temperatura de fusão, a amostra começa

a decompor-se quimicamente (pirólise) e ocorre um processo de degradação térmica que

produz fragmentos com baixo peso molecular, e que podem ser inflamáveis ou ter um

cheiro característico. Os materiais termofixos e elastómeros mostram pouca ou nenhuma

fluidez até à temperatura de decomposição. Nesta altura, estes materiais tendem a formar

muitos produtos típicos da degradação, que fornecem informações importantes para a

identificação desse polímero (Dietrich, 2013, p. 26).

Nos testes de chama utiliza-se geralmente um fio de cobre de 30 a 40 cm de comprimento,

novo ou limpo, de pequena espessura, com uma cortiça ou madeira, ou outro material que

seja isolador do calor, numa extremidade para servir de cabo, que é depois aquecido num

bico de Bunsen. O fio de cobre limpo e quente (até que fique vermelho incandescente) é

então, posto em contacto com o polímero, de modo a que um pequeno pedaço fique

derretido sobre ele para ser observado. O fio de metal é colocado à chama e se uma chama

de cor verde ou azul-esverdeada aparecer indica a presença de cloro, e assim, o polímero

é de PVC ou PVDC, enquanto que, se outras cores surgirem, poderão evidenciar outro

tipo de polímero (Shashoua, 2006, p.197; Rémillard, 2007, p.8).

Este teste também pode ser usado para identificar termoplásticos, que amolecem quando

estão em contacto com o fio de cobre incandescente, enquanto que as resinas

Page 42: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

42

termoendurecíveis já não têm o mesmo comportamento. Certos PVCs, tipo borracha

podem ser confundidos com hidrocloretos de borracha. Caso este teste não seja

conclusivo, pode ser realizado um teste de solubilidade do tetracloreto de carbono. Os

hidrocloretos de borracha são solúveis em tetracloreto de carbono enquanto os PVCs já

não são (Rémillard, 2007, p.8).

Existem vários testes químicos simples e específicos para a identificação dos diferentes

polímeros. Por exemplo, para a identificação do PVAl usa-se o iodo/iodeto de potássio;

dos poliésteres, utiliza-se o cloridrato de hidroxilamina; das poliamidas e policarbonatos

usa-se o p-dimetilaminobenzaldeído (Stuart, 2007, p.51).

Solubilidade

Os solventes de polímeros mais usados e disponíveis são: o tolueno, tetrahidrofurano

(THF), dimetilformamida (DMF), dietiléter, acetona e ácido fórmico. Em certos casos, o

cloro etileno, o acetato de etilo, o etanol, e a água também é útil (Dietrich, 2013, p.19).

A inflamabilidade e a toxicidade de muitos solventes exigem cuidados especiais ao serem

manipulados. Por exemplo, o benzeno deve ser evitado sempre que possível, por ser muito

tóxico. Numa primeira análise podem distinguir-se dois grupos de polímeros: os solúveis

e os insolúveis. Existem tabelas em referências bibliográficas com os solventes mais

adequados e que apresentam o comportamento da maioria dos polímeros quando em

contacto com estes (Dietrich, 2013, p. 21; Stuart, 2007, p.66).

São então, aplicados os métodos químicos para determinar a solubilidade. Para tal,

coloca-se cerca de 0.1 g de amostra do polímero em estudo num tubo de ensaio com 5 -

10 ml de solvente. Depois de algumas horas, agitar os tubos de ensaio, observa-se um

possível inchaço da amostra. Se necessário, pode aquecer-se o tubo de ensaio suavemente

(num banho em água quente, é o mais recomendado) com agitação constante. Pode ser

aquecido com um bico de Busen, mas deve ter-se um cuidado extremo para evitar uma

fervura repentina do solvente e a formação de vapores fora do tubo de ensaio, pois a

maioria dos solventes orgânicos e dos seus vapores são inflamáveis. Se os testes de

solubilidade não forem conclusivos e/ou se as partículas forem insolúveis (fibras de vidro

ou enchimentos orgânicos) deve voltar-se atrás, pois estes resíduos devem ser removidos.

Podem ser facilmente filtrados ou decantados, e a solução deve permanecer durante toda

a noite em repouso (Dietrich, 2013, p. 19). Para continuar a realizar deste teste, deve

Page 43: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

43

evaporar-se uma parte do líquido sobrenadante num vidro de lavagem deixando o material

dissolvido na forma de resíduo. A solução filtrada pode ser também deixada cair gota a

gota num líquido não solvente para que este polímero possa precipitar. O éter petróleo ou

metanol, e a água são usados como agentes precipitantes. A solubilidade de um material

polimérico depende muito da sua estrutura química e também do tamanho das suas

moléculas (peso molecular) (Dietrich, 2013, p.21).

Extração de aditivos com solvente orgânico

No processo de extração com Soxhlet, um dado volume de solvente orgânico é aquecido

até à ebulição, num balão de fundo redondo e o vapor resultante condensa num

condensador de refluxo colocado no topo do extrator. A partir do condensador as gotas

de líquido caem na amostra sólida para o recipiente de vidro. Quando o líquido do extrator

enche o tubo, repete-se o processo. O solvente deve ter uma densidade ou massa

específica mais baixa que o material a extrair (Ibidem, 2013, p 16).

Os agentes de reforço (vidro ou fibras de carbono) ou os enchimentos adicionados aos

polímeros lineares podem ser extraídos através da dissolução em solventes adequados.

Todo o material insolúvel atrás referido pode ser isolado por filtração. O polímero

dissolvido pode ser novamente precipitado pela adição de uma solução gota a gota, com

um volume 5 a 10 vezes maior que o agente precipitante. Pode usar-se como agente

precipitante, o metanol e em alguns casos a água (Ibidem, 2013, p. 17).

Nos polímeros cristalinos/reticulados que por terem enchimentos inorgânicos (fibras de

vidro ou carbonato de cálcio) e serem insolúveis, podem ser às vezes isolados queimando

a amostra num cadinho de porcelana, ou podem ser necessários métodos adequados a

cada caso (Ibidem, 2013, p.17).

Os conservadores-restauradores conseguem geralmente identificar, ou pelo menos

caracterizar um material com base nos resultados dos testes acima referidos (Rémillard,

2007, p.3).

Page 44: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

44

Ensaios de envelhecimento

Para avaliar o desempenho de folhas de PVC plastificado, cabos e revestimentos de

tecidos sujeitam-se os materiais a temperaturas elevadas. De um modo geral, é um bom

indicador do comportamento em serviço do material à temperatura ambiente e a longo

prazo. Para tal, são usadas várias temperaturas dependendo do caso a ser estudado. Os

testes padrões utilizados para avaliar a produção de ácido clorídrico pelo PVC são

realizados entre 170 °C e 180 °C. Os testes de perda de plastificantes voláteis de

compostos de PVC; da resistência ao isolamento e do revestimento de cabos nos

condutores elétricos; e ainda os testes de resistência à migração de plastificantes são

geralmente realizados a 70 °C (Shashoua, 2001, p.51).

Segundo a investigadora Yvonne Shashoua (2001), as amostras de “folhas” modelo de

polímero e “objetos” naturalmente envelhecidos foram expostos a vários ambientes, que

são muito usados para armazenar e expor plásticos e outros materiais em museus. Foi

utilizado o envelhecimento térmico acelerado na ausência de luz (Ibidem, 2001, p.51).

Nesta investigação de Shashoua foi estudado o comportamento do plastificante à

temperatura de 70 °C, sendo maior do que a temperatura, Tg (transição vítrea), para

acelerar o processo de envelhecimento térmico, em todas as composições modelo

utilizadas. Todos os ambientes de armazenamento foram mantidos a 70 ± 1 °C através de

um forno de convecção, com a exceção do congelador (-20 ± 1°C) (Ibidem, 2001, p. 52).

Foram utilizados os seguintes materiais adsorventes para alterar as propriedades do ar

dentro dos frascos, antes do envelhecimento ou para remover os produtos de degradação

formados durante o processo de envelhecimento (Ibidem, 2001, p.52): Carvão ativado -

absorve uma variedade de gases/vapores orgânicos, bem como odores e vapor de água.

Serve ainda, para remover óxidos de nitrogénio; Ageless® oxygen absorb – serve para

formar óxidos na presença de oxigénio e água, captando o oxigénio do meio envolvente;

Gel de sílica - nos museus a sílica gel é muito utilizada em vitrines/expositores e em

recipientes de armazenamento para adsorver o vapor de água e atingir uma humidade

relativa (HR) específica do espaço envolvente. A HR empiricamente é de 20 kg/m3 de

volume do expositor. Assim, com base nesta regra geral, os frascos de 100 ml precisariam

de 2g de sílica gel a 20 °C. O desempenho da sílica gel a 70 °C não é bem conhecido, por

isso, utilizou-se um excesso de 5 g. O gel de sílica, foi condicionado seguindo o mesmo

método carvão ativado antes de ser adicionar aos frascos Pyrex (Shashoua, 2001, p.53).

Este procedimento foi aplicado na presente investigação.

Page 45: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

45

Técnicas Analíticas

A maioria dos testes simples pode indicar apenas o grupo/tipo de polímeros de que o

objeto ou obra de arte são feitos, mas para identificar os materiais com uma maior

precisão, é necessário utilizar métodos instrumentais de análise. Existem diferentes

técnicas que fornecem informações precisas e exatas sobre quais os polímeros e quais os

aditivos que estão presentes e o seu estado de degradação, por isso, é necessário usar os

vários métodos e analisar os resultados obtidos.

A técnica mais utilizada e viável para identificar principalmente os polímeros, e também

os seus aditivos, é a Espetroscopia de Infravermelho com Transformada de Fourier

(FTIR). As amostras são expostas à luz infravermelha (4000 - 400 comprimento de onda

por centímetro ou cm-1), o que faz com que as ligações químicas entre os átomos das

moléculas vibrem em determinadas frequências, correspondendo a energias específicas

(Shashoua, 2006, p.197).

Um espetro de infravermelho é geralmente obtido quando a radiação infravermelha

atravessa uma amostra e uma determinada quantidade da radiação incidente é absorvida

numa dada energia. A energia de qualquer pico num espetro de absorção corresponde à

frequência de uma vibração de uma parte de uma molécula da amostra. Para que uma

molécula mostre absorções no infravermelho, ela deve ter uma característica específica:

um dipolo elétrico no momento da molécula que muda durante a vibração (Stuart, 2007,

p.110).

A Espectroscopia de Infravermelho com Transformada de Fourier e Reflexão Total

Atenuada (ATR-FTIR) utiliza o fenómeno de reflexão total interna (Stuart, 2007, p.113)

e também exige que as amostras sejam colocadas num cristal de diamante com um

diâmetro de 2 mm, sendo o feixe de infravermelho refletido (Shashoua, 2006, p.197).

De salientar, que os espectros de FTIR indicam também a mistura de todos os

componentes presentes no polímero, incluindo aditivos e corantes, sendo por vezes difícil

de os interpretar (Shashoua, 2006, p.199).

A espetroscopia de ultravioleta e visível (UV-Vis) pode ser também utilizada para

compreender o comportamento dos polímeros à radiação no UV e Visível. É uma técnica

que permite analisar moléculas orgânicas baseada na forma como elas absorvem a

radiação eletromagnética da região do ultravioleta (UV) (100-400 nm) e visível (Vis)

(400-800 nm). A absorção de energia por parte de moléculas, átomos ou iões está

Page 46: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

46

normalmente associada a transições eletrónicas e tende a restringir -se ao estudo de

compostos como corantes (Stuart, 2007, p.110).

Estas duas técnicas analíticas permitem aos conservadores-restauradores tomar medidas

de ação preventiva dos objetos de museus e obras de arte perante a radiação e foram

escolhidas para a dissertação que aqui se apresenta.

Tipos de polímeros e os símbolos universais de reciclagem

Através da recolha bibliográfica foi possível sistematizar (ver tabela 4) alguns dos vários

tipos de polímeros que podemos identificar e que estão presentes no nosso quotidiano,

algumas das suas principais características, os símbolos universais de reciclagem

utilizados, a sua designação e abreviatura, as principais aplicações e fórmulas químicas.

Tabela 4 - Símbolos universais de reciclagem dos polímeros, abreviatura, designação, aplicações, características

e fórmula química (Shashoua, 2008, p. 118; Stuart, 2007, p. 21, 22).

Símbolos

Universais de

Reciclagem

Abreviatura

para os plásticos

usados na

Europa e USA

Designação dos

Plásticos

Exemplos Características Fórmula Química

PET/PETE Poli (tereftalato) de

etileno

Garrafas de água e de

bebidas com gás;

embalagens de

refeições prontas.

O poli (tereftalato

de etileno) consiste

em cadeias

macromoleculares não ramificadas.

[CO (C 6 H 5) – COO -

(CH 2) n -O) n -]

PE-HD

HDPE

Polietileno de Alta densidade

Garrafas para detergentes; shampoo;

garrafas de iogurtes de

beber.

Tem uma estrutura de cadeia e

predominantement

e linear.

[- (- CH2 - CH2 -) -]

PVC/ V Poli (cloreto de vinilo)

Álbuns de fotografias; brinquedos flexíveis e

sapatos.

Possui uma estrutura que

contem um átomo

de cloro ligado aos carbonos da cadeia

principal.

[- (- CH2 – CHCl -) -]

PR-LD

LDPE

Polietileno de baixa densidade

Sacos de transporte; sacos de lixo preto.

Tem uma estrutura de cadeia e

predominantement

e linear.

[- (- CH2 - CH2 -) -]

PP/PP Polipropileno Recipientes para

aquecer comida no

microondas. Aplicado ainda, em cadeiras,

garrafas, tapetes,

caixas e embalagens.

Apresenta uma

estrutura

semelhante ao PE, mas tem um grupo

metilo ligado a um

átomo de carbono da cadeia principal.

[- (- CH2 – CH (CH3) -)

-]

Page 47: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

47

PS/PS Poliestireno Talheres de plástico;

chávenas de café;

copos de iogurte; embalagens de

hambúrguer; pratos de

comida.

É um material

claro, rígido e

quebradiço.

[- CH (C 6 H 5) - (CH 2

)n -]

O/OTHERS Qualquer outro

plástico que não

pertença a algum dos anteriores

Pratos e copos de

plástico ou mistura de

termoplásticos reciclados.

Variável conforme

o tipo de

polímeros.

Variável conforme o

tipo de polímeros.

1.1.3. A degradação nos polímeros

Entende-se por degradação de um polímero qualquer alteração que provoque efeitos

nocivos nas suas propriedades ou na sua função. O termo “envelhecimento” é também

utilizado para descrever a degradação, e está associado a alterações a longo prazo devido

a agentes exteriores. A degradação pode ocorrer durante duas fases no ciclo de vida dos

polímeros. Por um lado, durante o seu fabrico, são sujeitos a altas temperaturas e pressões,

o que promove a degradação térmica e oxidativa. Por outro lado, durante a sua utilização,

o polímero está em contacto com o ar, a humidade, a luz e o calor, provocando mudanças

na química das cadeias e dos aditivos (Shashoua, 2008, p. 151).

Os materiais poliméricos apresentam-se como materiais que duram indefinidamente, no

entanto, deterioraram-se com o tempo. A sua degradação afeta o seu aspeto e as suas

propriedades físicas, assim, alguns dos efeitos mais comuns são a sua descoloração e

fragilidade (Allen e Edge, 1992; Lister e Renshaw, 2004; McNeill, 1992; Quye e

Williamson, 1999 apud Stuart, 2007, p.23).

Os fatores que podem causar a degradação nos polímeros incluem: a exposição à luz, ao

oxigénio e à humidade na atmosfera e até a presença de aditivos, tais como plastificantes

e enchimentos (Stuart, 2007, p. 23).

A maioria dos objetos foi usada antes de fazerem parte das coleções de museus. Também

a sua história contribui para a sua degradação. Poucas vezes existem informações

detalhadas sobre os ambientes aos quais os objetos de museus foram sujeitos ou

armazenados antes de recolhidos. A exposição prolongada à luz, ao calor, à humidade,

aos produtos químicos e aos poluentes gasosos durante esse período reduzirá o seu “tempo

de vida” (Shashoua, 2008, p. 152). É ainda referido, que os objetos dos museus raramente

são selecionados pelo tipo de material de que são feitos, mas tendo em conta a sua origem,

função, design, raridade, significado cultural ou histórico (Shashoua, 2006, p. 199).

Page 48: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

48

Foi estabelecido que a vida de um polímero (filme de PVC) é o tempo necessário para

perder 10% da sua massa inicial (Quackenbos, 1954 apud Shashoua, 2008, p.153). Após

esta perda, as propriedades químicas do material foram alteradas e falharam quando em

serviço. Considerou-se que a vida útil dos objetos poliméricos em coleções de museu é

alcançada quando eles deixam de ter uma forma ou significado reconhecível (Bradley,

1994 apud Shashoua, 2008, p.153). Também é necessário estabelecer até onde é aceitável

a degradação de um polímero, antes que o objeto perca qualidade. Isto geralmente é mais

complexo para a arte moderna do que para materiais etnográficos. Além disso, enquanto

o amarelecimento e outras alterações na aparência são manifestações normais de

degradação dos materiais naturais e são geralmente deixadas sem tratamento, nos

polímeros as mesmas alterações são consideradas inaceitáveis (Van Oosten, 1999 apud

Shashoua, 2008, p.153).

As principais causas de degradação dos polímeros podem ser atribuídas a fatores físicos,

químicos e biológicos (Figura 8). Os fatores físicos devem-se à utilização dos objetos

antes de fazerem parte das coleções dos museus, manipulação incorreta, interação com o

microclima de armazenamento ou exposição e ainda da migração dos aditivos

incorporados durante o seu fabrico. As causas químicas da degradação resultam da reação

dos polímeros com oxigénio, ozono, água, metais, luz e calor. As causas biológicas

incluem a atuação de microrganismos e fungos nos polímeros. Por vezes a combinação

de fatores físicos e químicos provoca danos nos objetos e obras de arte nos museus,

enquanto que a degradação biológica é menos comum (Shashoua, 2008, p.153).

Figura 8 – Tipos de processos de degradação de polímeros.

Deg

rad

ação

do

s Po

límer

os

Fatores Físicos:

Manuseio incorreto; transporte; microclima no armazenamento ou

exposição; utilização.

Fatores Químicos:

reação dos polímeros com oxigénio, ozono, água, metais, luz e calor.

Fatores Biológicos:

atuação de microrganismos e fungos nos polímeros.

Page 49: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

49

Degradação devido ao uso mecânico

A fadiga e os danos mecânicos resultam da utilização dos polímeros antes de serem

expostos nos museus, embora o manuseio incorreto dos objetos no próprio museu também

possa ser um fator, reduzindo o significado e a função dos objetos. Por exemplo, os

arranhões reduzem a quantidade de luz refletida, retendo a humidade e gases poluentes

que podem provocar a degradação química (Shashoua, 2008, p.154). Podem também

resultar danos mecânicos devido ao processo de fabrico (Posada, 2012, p.78).

Degradação devido à interação física com o ambiente

Apesar de se pensar que os polímeros são impermeáveis a gases, vapores e líquidos, isso

não se aplica a todos os tipos. O PE e o PP absorvem facilmente líquidos oleosos,

resultando na sua descoloração, alterações ao tato e na aparência das superfícies. Os

recipientes para alimentos de polietileno como a Tupperware® geralmente tendem a ter

superfícies internas pegajosas após a utilização com o tempo devido à absorção de

materiais oleosos dos alimentos. Esse aspeto pegajoso dos recipientes é também visível

no PVC, quando o plastificante migrou para a superfície. Pode tornar-se difícil a

identificação do polímero. Uma causa da descoloração no polietileno é a absorção de

materiais coloridos em contacto direto (Shashoua, 2008, p.154).

A mudança de temperatura também causa a degradação física dos polímeros. O

aquecimento dos polímeros aumenta a energia cinética das suas moléculas, mas as suas

propriedades mecânicas permanecem inalteradas até que a temperatura de transição vítrea

(Tg) seja atingida (Shashoua, 2008, p.154). Na Tg (específica para cada tipo de polímero)

ocorre uma mudança do comportamento, de vítreo para borracha (amorfo), demonstrado

pelo aumento considerável da sua flexibilidade. Abaixo da sua Tg, os polímeros são duros

e quebradiços, devido à falta de mobilidade molecular. O polietileno, o polipropileno e o

PVC (plastificado) apresentam valores de Tg abaixo da temperatura ambiente. O

poli(metacrilato de metilo) (Tg = 45-115 °C), o poliestireno (Tg = 80-104 °C) e os

policarbonatos à base de bisfenol A (Tg ca.= 150 °C) estão no estado vítreo à temperatura

ambiente (Brydson, 1999 apud Shashoua, 2008, p.155). Quando aquecidos, tornam-se

mais flexíveis e fluem. As propriedades dos materiais plásticos abaixo da temperatura de

fusão determinam a sua aplicação prática, daí ser necessário observar a mudança de

propriedades com a temperatura (Posada, 2012, p.73).

Page 50: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

50

A degradação térmica (termólise) é um processo em que a ação do calor provoca a

diminuição das propriedades físicas, químicas ou elétricas. Deve-se distinguir a

degradação térmica da decomposição térmica, que se trata de um processo que envolve a

formação de vapores inflamáveis e a alteração das espécies químicas causadas por um

incêndio ou altas temperaturas. Se a temperatura é demasiado elevada pode ocorrer a

decomposição das moléculas em pequenos fragmentos (radicais livres, iões, H2, CO, etc.)

(Posada, 2012, p.72). A decomposição térmica está associada a uma ocorrência rara ou

acidental, sendo o calor a causa mais provável da degradação de polímeros num museu

(Ubieta, 2011, p.119). Todos os polímeros sofrem degradação se forem sujeitos a altas

temperaturas. Um exemplo, é o PVC não estabilizado e não plastificado que descolora a

cerca de 70 °C, enquanto que, o politetrafluoretileno pode resistir até temperaturas de

500°C (Shashoua, 2008, p.168).

No caso do arrefecimento, a retração dos plásticos é um processo inevitável, mas é

reversível. O endurecimento é outra mudança física induzida nos plásticos durante o

arrefecimento (Shashoua, 2008, p.156).

O PVC plastificado incha e parece opaco se for armazenado com uma humidade relativa

(HR) elevada. O vapor de água é um plastificante eficaz para o PVC, mas é incompatível

com os plastificantes de ésteres comerciais, que são hidrofóbicos. Como resultado, quanto

mais plastificado for o PVC, menos água absorve. Como a água está fracamente ligada

ao polímero de PVC, ela evapora rapidamente. Além da degradação polimérica, os

aditivos podem ser alterados pela humidade. As cargas (partículas de madeira e fibras de

papel) incham em contato com a humidade e com o polímero, podendo fissurar e partir.

Um exemplo, são os plásticos de formaldeído, principalmente a baquelite (Shashoua,

2008, p.157).

Degradação devido à migração de aditivos

A quantidade de aditivos nos polímeros depende da sua função, vida útil e preço. A perda

de plastificante provoca a retração e fragilidade do polímero. Por outro lado, os

plastificantes líquidos, que têm pontos de ebulição relativamente altos, podem formar

filmes pegajosos nas superfícies dos plásticos antes da evaporação. As superfícies

pegajosas retêm poeiras, que podem conter humidade e poluentes, resultando na

degradação química do polímero. O di(2-etilhexi)ftalato (DEHP) tem sido o plastificante

Page 51: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

51

mais utilizado para o PVC desde a década de 1950 (Ubieta, 2011, p.117). O DEHP separa-

se das cadeias poliméricas de PVC associadas e é visto como uma camada oleosa e

pegajosa nas superfícies antes da sua evaporação. O DEHP tem um ponto de ebulição de

386 ºC. As partículas de poeiras aderem ao filme plastificante pegajoso, e escurecem as

superfícies originais, alterando a sua aparência (Shashoua, 2008, p.159).

A maioria das composições de PVC plastificado contém entre 1-3% em peso de

lubrificante para impedir a adesão excessiva ao molde durante a sua produção. O

lubrificante mais comum é o ácido esteárico (Sears and Darby, 1982 apud Shashoua,

2008, p.161). Dado que, o ácido esteárico é extremamente não polar, é incompatível com

o PVC, que é polar devido ao dipolo de carbono-cloro.

Degradação devida a fatores químicos

As causas químicas da degradação, incluem reações com oxigénio, ozono, água, metais e

radiação. Esses fatores fornecem energia suficiente e ambientes adequados para romper

as ligações químicas presentes nos polímeros e aditivos. Em geral, a degradação resulta

na redução do peso molecular e na formação de novas estruturas químicas. As condições

que aceleram a degradação podem estar presentes durante o fabrico, utilização, exposição

ou armazenamento dos materiais poliméricos. O tipo de reação (e a sua extensão) dos

polímeros aos fatores ambientais dependem da sua estrutura química (Shashoua, 2008,

p.162).

Existem vários tipos de alterações químicas que podem ocorrer no interior de um

polímero, o que leva à sua deterioração (Ubieta, 2011, p.118). As mudanças estruturais

podem ser divididas em cisão de cadeias, reticulação, desenvolvimento de cromóforos e

desenvolvimento de grupos polares (Shashoua, 2008, p.164).

As cadeias poliméricas podem ser encurtadas devido à quebra das ligações, o que provoca

a diminuição das suas propriedades em relação às do polímero original. As ligações

cruzadas “cross-linking”, das cadeias poliméricas também podem ocorrer. As reações

que produzem ligações entre as cadeias poliméricas podem produzir um polímero frágil

e menos flexível (Stuart, 2007, p.23).

Um cromóforo é uma molécula que dá cor, absorvendo a luz em comprimentos de onda

específicos (Ubieta, 2011, p.119). A formação de grupos cromóforos, como carbonilos

(C = O) e ligações de carbono insaturadas (C = C) na cadeia principal de um polímero,

Page 52: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

52

resulta na formação de cores em plásticos transparentes e brancos ou na descoloração em

materiais coloridos. Os grupos cromóforos podem ser formados quando os polímeros

sofrem oxidação ou hidrólise (Shashoua, 2008, p.165).

Um grupo polar é uma estrutura química que resulta da distribuição heterogénea de

eletrões, originando interações eletrostáticas. Os grupos polares podem ser: hidroxilos

(O-H), carbono-hidrogénio (C-H) e de cloreto e carbono (C-Cl). A formação de grupos

polares na cadeia principal do polímero ou nas cadeias laterais ocorrem devido à

oxidação, à hidrólise e outras reações associadas à degradação que alteram a reatividade

química dos polímeros e podem afetar algumas propriedades, incluindo a sua solubilidade

(Shashoua, 2008, p. 165).

As reações associadas aos grupos laterais nos polímeros também podem levar à sua

deterioração. Tais reações, podem envolver a libertação de pequenas moléculas como a

água ou ácidos. Estas reações alteram a estrutura química e as moléculas libertadas podem

mesmo produzir mais mudanças ou catalisar outras reações (Stuart, 2007, p.23).

A radiação ultravioleta (UV) com comprimentos de onda 200-800nm, é considerada a

mais prejudicial dos polímeros (Posada, 2012, p.76-78). A luz UV com comprimentos de

onda menores que 400 nm tem energia suficiente para quebrar as ligações C - C, C - O e

C - Cl, mas não C - H ou C - F (McNeill, 1992 apud Shashoua, 2008, p.166). Além de

introduzir alterações químicas nos polímeros, a radiação também provoca a descoloração

dos corantes (Shashoua, 2008, p.166). Na tabela 5 encontram-se resumidos os efeitos da

radiação UV e Visível, do calor, do oxigénio e da água em objetos de polímeros

termoplásticos em coleções de Museus.

Tabela 5 – Resumo dos efeitos da radiação UV e Visível, do calor, do oxigénio e da água em objetos de

polímeros em coleções de Museus (Shashoua, 2008, p.162).

Efeitos da radiação UV e visível; do calor; do oxigénio e da água de polímeros termoplásticos de coleções de

Museus.

Polímero Fatores Climáticos

Tipo Exemplo Radiação UV e

Visível.

Calor Oxigénio Água

Sintéticos

Fenólicos

Fenolformaldeído Redução do brilho à

superfície

Termoendurecível;

degrada-se acima

de 260 °C

A oxidação térmica

e a foto-oxidação;

torna as superfícies

em pó

Polímero resistente

à hidrolise; o

enchimento de

celulose

incha/expande

Vinil Poli (cloreto de

vinilo)

(rígido)

Descoloração de

amarelo a laranja,

vermelho, castanho e

preto com perda de

cloreto de hidrogénio

Amolece com o

aquecimento;

Tg = 80 °C

A oxidação térmica

e a foto-oxidação

causam perda de

cloreto de

hidrogénio e a

descoloração

A água amolece e

opacifica o

polímero de PVC

reversivelmente

Page 53: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

53

Efeitos da radiação UV e visível; do calor; do oxigénio e da água de polímeros termoplásticos de coleções de

Museus.

Polímero Fatores Climáticos

Tipo Exemplo Radiação UV e

Visível.

Calor Oxigénio Água

Vinil Poli (cloreto de

vinilo)

(plastificado)

Descoloração Amolece com o

aquecimento;

Tg = - 25 a +

25°C, dependendo

da percentagem de

plastificante; o

plastificante migra

para a superfície e

evapora;

descoloração

A oxidação térmica

e a foto-oxidação

de plastificantes de

ftalato em cristais

ácidos a ácidos

ftálicos

Plastificantes de

ftalatos hidrolisam

pelo ácido ftálico

em cristais ácidos

Poliolefinas Polietileno

(polietileno de

baixa densidade)

Amarelece

rapidamente; torna-se

quebradiço

Amolece com o

aquecimento; Tg =

20 °C;

temperatura de

fusão = 109 - 120

°C

A fotoxidação

causa descoloração;

a oxidação térmica

origina a

reticulação e

endurecimento

acima de 50 °C

Deforma e às vezes

fissura devido à

água a ferver

Poliolefinas Polipropileno Descoloração e

tornar-se quebradiço

Amolece com o

aquecimento; Tg =

5 °C; Temperatura

de fusão = 150-

170 °C

A fotoxidação

causa a

descoloração;

oxidação térmica

resulta na divisão e

desintegração da

cadeia

Resistente à

humidade

Acrílicos Poli (metacrilato

de metilo)

Amarelecimento e

opacidade de

materiais

transparentes

Amolece com o

aquecimento; Tg =

50 °C; derrete a

100 °C

A fotoxidação

causa descoloração

Resistente à

humidade

Poliestireno Poliestireno Amarelece e torna-se

quebradiço

Amolece com o

aquecimento; Tg

100 °C;

temperatura de

fusão = 230 °C

A fotoxidação

aumenta o

endurecimento por

reticulação

Resistente à

humidade

Poliésteres Poli (tereftalato de

etileno)

Amolece Amolece com o

aquecimento; Tg =

50-70 °C;

temperatura de

fusão = 265 °C

A fotoxidação

causa descoloração

Hidrolisa em

condições alcalinas.

Policarbonato Policarbonato de

bisfenol-A

Amarelece facilmente

devido a impurezas no

bisfenol-A

Amolece com o

aquecimento; Tg

150 °C; funde a T

= 225 °C

Resistente à

oxidação sob

condições

ambientais.

Resistente à

humidade

Page 54: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

54

1.2. Os polímeros sintéticos na Produção Artística Contemporânea

Os polímeros são cada vez mais usados pelos artistas para criar obras de arte. Os irmãos

Antoine Pevsner e Naum Gabo foram dos primeiros artistas construtivistas a utilizar nas

suas obras os polímeros (plásticos), porque consideravam que o plástico era um material

moderno e tecnológico. Em 1910, criaram formas tridimensionais num estilo de

inspiração cubista, usando placas de nitrato de celulose. Em meados de 1930, dada a

instabilidade do nitrato de celulose os artistas substituíram-no por acetato de celulose e

pelo Plexiglas ou Perspex, que são mais estáveis e com propriedades visuais semelhantes

às do nitrato de celulose (Figura 9). Além disso, podiam ser trabalhados e moldados com

o calor. No final da década de 1960, as utilizações dos plásticos pelos artistas tinham

aumentado exponencialmente, apesar das crescentes evidências de que os plásticos eram

instáveis e exigiam conservação ou substituição (Shashoua, 2008, p. 4).

A série de trabalhos “Combustioni plastiche” (combustões de plástico), (Figura 10), e em

especial, os exemplos em cores vermelhas e alaranjadas, sugerem uma pele que foi

cortada ou removida. Segundo o curador da exposição “essas abstrações transformam o

corpo de dentro para fora, como se estivessem a observar a pele e a entrar nos tecidos e

membranas”. Ainda assim, as associações que as obras plásticas evocam não se limitam

apenas ao corpo, também relembram as peças das pinturas italianas do século XV, com

dobras ou ondulações e os elementos da cultura pop dos anos 60, como os discos de vinil.

Figura 9 – Naum Gabo (1890-1977), “Spiral

Theme”, 1941. Escultura de acetato de celulose e

Perspex, (140×244×244 mm). (Tate London)

Figura 10 – Alberto Muri, “Red Plastic M2”,

1962. Plástico (PVC e PE) e combustão em

tecido preto, (120×180 cm). Coleção Privada..

O artista australiano, Ron Mueck, cria figuras hiper-realistas, mas em grandes formatos,

e usa o poliéster reforçado com vidro para formar o corpo, mas substitui este material por

silicone para criar uma pele facial macia (Figura 11). Outra artista australiana, Fiona Hall,

recorre a tubos de água em PVC rígidos (Figura 12), (Shashoua, 2008, p.5).

Page 55: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

55

Miwa Koizumi que vive em Nova York, corta e dá forma através da temperatura às

garrafas de água de poli (tereftalato de etileno) (PET) para fazer águas-vivas e anémonas

nos seus trabalhos do “Projeto PET” (Figura 13), (Shashoua, 2008, p.7).

Ao longo da história os artistas foram reutilizando materiais e objetos descartáveis para

criar obras de arte. Designada como arte ambiental ou reciclada, e foi também aplicada

aos plásticos no final dos anos 90. Por exemplo, sacos de plástico, filmes para embalagens

e garrafas plásticas de água foram recolhidos de lixeiras, praias e ruas e usados como

matéria-prima para colagens e esculturas. Os artistas ambientais pretendiam chamar à

atenção e sensibilizar para o facto de que os recursos naturais estão a esgotar-se no

planeta, devido ao consumo excessivo e impróprio das matérias-primas. Atualmente

exploravam também conceitos relacionados com a mudança de atitude em relação à

aplicação dos materiais elegendo os materiais reutilizados nas suas obras. Por exemplo,

John Dahlsen, um artista australiano e ambientalista, utiliza sacos reciclados como

material principal para as suas obras e realiza pinturas através de imagens que seleciona

de objetos recolhidos nas praias australianas (Dahlsen, 2007 apud Shashoua, 2008, p.5).

A Figura 14, é um exemplo de uma série de pinturas a tinta acrílica, de 2018, realizada

com materiais plásticos encontrados, e colados com resina à base de plantas, sobre tela,

de dimensões 30 cm × 30 cm.

Figura 11 – Ron Mueck 11, 2001 (Presence

Sculpture Show at The Holbourne), (Oliveira, 2016).

Figura 12 – Fionna Halls, “Dead in the water”.

Construído em PVC Rígido (Shashoua, 2008).

Page 56: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

56

Figura 13 – Miwa Koizumi´s, “PET Project”

jellyfish is made from a blue Volvic® water bottle

(Shashoua, 2008).

Figura 14 – John Dahlsen, “Pacific Garbage

Patch Study #14”, 2018. Plásticos sobre tela.

Figura 15 – Tony Cragg, “New Stones – Newtone’s

Tones”, 1978, plastics.

O britânico, Tony Cragg recorre também aos plásticos para realizar as suas obras,

explorando as suas cores e formas. Atualmente vive na Alemanha, embora a Grã-

Bretanha seja seu país de origem. Normalmente, para Cragg, o trabalho consiste em

muitos objetos individuais, organizados para formar uma imagem maior (Cragg, 2019)

(Figuras 15 e 16). O seu trabalho é descrito como uma “relação da parte com o todo”,

uma ideia da física de partículas. Executou um trabalho durante uma visita à Grã-Bretanha

em 1981, quando sentiu que o país estava a passar por dificuldades sociais e económicas.

A Figura 16, é o retrato do artista, que observa através dos olhos de alguém que está fora

do seu país (Tate, 2019).

Em Portugal, também a partir dos anos sessenta, os artistas contemporâneos portugueses

Lurdes Castro, Ângelo de Sousa, Joaquim Rodrigo, José Escada, João Vieira, entre

outros, imbuídos no experimentalismo da época, realizaram trabalhos com diferentes

materiais e técnicas, bem como, formas de expressão artística diversas e a inevitável

Figura 16 – Tony Cragg, “Britain Seen from the

North”, 1981. Plastic, wood, rubber, paper. and

other materials. Tate, London.

Page 57: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

57

utilização de polímeros acrílicos e vinílicos com propriedades muito adaptáveis às

intenções dos artistas. No entanto, dado o regime fascista da época, que limitava muito

os artistas, pois havia um controlo muito apertado de tudo o que eram formas de expressão

artística (literatura, pintura, entre outras), alguns artistas emigravam para França, mais

propriamente para a cidade de Paris. Aí tinham experiências com os ateliers e academias

mais importantes e conhecidos da época e com outros artistas (Oliveira, 2016, p. 25, 34).

Nos estudos de arte realizados sobre materiais e técnicas dos artistas portugueses dos anos

sessenta sabe-se que as emulsões à base em poliacetato de vinilo (PVA) foram usadas por

Joaquim Rodrigo (1912-1997) e Ângelo de Sousa (1938), (Ferreira, 2011, p.22, 25). O

artista Joaquim Rodrigo foi dos artistas mais importantes nas décadas de 1960 e 1970,

com a utilização de um meio de ligação em vinil até à sua última obra (1990). Ângelo de

Sousa, outro grande nome da arte contemporânea portuguesa, utilizou a pintura como

instrumento de experimentação plástica, e foi também um dos primeiros artistas

portugueses a utilizar tintas à base de vinil. Por outro lado, a artista Lourdes Castro (1930)

aplicou a chapa de acrílico (PMMA), Plexiglas em composições de cores e explorou as

propriedades óticas características deste material. Desenvolveu ainda, um trabalho

notável no estudo do conceito de sombra (Ferreira, 2011, p.32).

Mais recente (anos noventa), na arte portuguesa, Gil Heitor Cortesão (1967) que utiliza

como suporte as placas de material acrílico (vulgarmente designado de vidro acrílico) nas

suas pinturas a óleo.

O Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão tem um conjunto de obras suas

(Figuras 17 e 18). Está também representado em diversas coleções públicas e privadas

(Cortesão, 2018)

A nova geração de artistas portugueses, formados em Artes Plásticas, no fim dos anos

noventa e inícios do ano dois mil, continuaram o experimentalismo dos anos sessenta,

utilizando diferentes polímeros nas suas obras.

Por exemplo, Diogo Pimentão que finalizou os seus estudos em 1998, pela Ar.Co (Centro

de Arte & Comunicação Visual) em Lisboa, e que de momento vive e trabalha em

Londres, cujos trabalhos se fundem entre o desenho e a escultura, e que utiliza o

poliacetato de vinilo (PVA) como meio de ligação dos elementos de plásticos das suas

composições. Segundo o artista este conjunto de obras surgiu da apropriação de resíduos

no seu atelier:

“Resíduos de movimentos, de espaços investidos à volta de outros desenhos. Estas

marcas representam a ação de desenhar e o que está por baixo do desenho e à volta do

Page 58: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

58

gesto. Sem qualquer intenção estética são distribuídos plásticos de proteção no chão e

colados com cola vinílica (pH neutro) sobre folha de museu. A matéria: pó de grafite,

pegadas, gesso acrílico, marcas de grafite, … fica colada à folha de museu, revelando-

se assim através desta inversão o primeiro ponto de contacto da matéria com o chão

(plástico de proteção).”

Estes trabalhos foram apresentados na exposição “Trasitory Capture” de 20 novembro a

9 de janeiro de 2016, na Galeria Cristina Guerra (Figuras 19 e 20).

Outro exemplo, Martinho Costa (1977) formado em Artes Plásticas - Pintura pela

Faculdade de Belas Artes de Lisboa em 2002, (Costa, 2019), faz algumas experiências na

pintura, utilizando diferentes suportes com tinta a óleo sobre poli (tereftalato de etileno)

(PET) (Figura 21) e sobre poliéster - uma cortina de proteção solar (Figura 22). O pintor

refere que em primeiro lugar estes suportes recebem uma camada de preparação em gesso

acrílico para que a tinta a óleo tenha uma boa adesão ao suporte polimérico.

Daniel Vasconcelos Melim (1982), o pintor em estudo nesta dissertação tem a sua

formação em Artes Plásticas - Pintura pela mesma instituição (2006) e realizou entre

2010-2015 uma série de pinturas a tinta acrílica sobre membrana transparente de poli

(cloreto de vinilo) (PVC), que serão estudadas no Capítulo II.

Figura 17 – Gil Heitor Cortesão, S/Título, 1998.

Óleo sobre vidro acrílico (122 × 200 cm).

Figura 18 – Gil Heitor Cortesão, S/Título, 2004.

Óleo sobre vidro acrílico (190 × 135 × 100 cm).

Page 59: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

59

Figura 19 – Diogo Pimentão, “Replaced (trajetory)

#1” 2015. Museum board, acrylic médium e grafite

(233×163 cm). Bruno Lopes©

Figura 20 – Diogo Pimentão, “Unpredictable

“, 2016. Museum board, grafite, gesso

acrílico, PVA. (122,8×89×0,2 cm). Bruno

Lopes©

Figura 21 – Torre, Martinho Costa (2018).

Óleo s/ gesso acrílico e PET (31,5×9×9

cm). Martinho Costa©

Figura 22 – Cortina #1, Martinho Costa (2019). Óleo

s/cortina de poliéster 141×120 cm. Martinho Costa©

Page 60: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

60

CAPíTULO II | A PINTURA

2.1. O artista - Daniel Vasconcelos Melim

O pintor Daniel Vasconcelos Melim nasceu em Coimbra em 1982, mas cresceu até aos

dezoito anos no Funchal, ilha da Madeira, uma vez que a sua família é de origem

madeirense. Começou a desenhar, quando tinha cerca de quatro anos. Foi em casa do avô

que teve contacto com o primeiro livro de pintura e que mais tarde, em 2009, seria o título

para uma série de obras, de tinta acrílica, “Do Primeiro Livro de Pintura que o Autor

Viu”. Segundo o pintor, interessou-se desde muito cedo pela história do desenho, pela

sua natureza e tipologias, desde os mais geométricos aos mais fluidos, dos mais rigorosos

aos mais gestuais, (Faro, 2011).

Tem como formação académica Artes Plásticas-Pintura, pela Faculdade de Belas-Artes

da Universidade de Lisboa (2006) e o Mestrado em Antropologia Aplicada, Comunidade

e Educação Não-formal com Jovens, pelo Goldsmiths College - University of London

(2016), tendo sido bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian. Tem realizado outras

formações não académicas tais como: contacto-improvisação, composição em tempo real

(performance), teatro de improviso, trabalho com a voz, design de eco aldeias e ainda de

meditação, yoga, butoh (Melim, 2019).

Foi finalista do Prémio EDP Novos Artistas 2007, e vencedor do Prémio Fidelidade

Mundial Jovens Pintores em 2011 e ainda Shortlister do Projeto Mundial “100 Painters

of Tomorrow” (Thames & Hudson, 2014). Desenvolve projetos artísticos em Portugal,

Espanha, Brasil, Alemanha e Reino Unido (Melim, 2019).

Colaborou durante vários anos com o serviço educativo do Centro de Arte Moderna José

de Azeredo Perdigão da Fundação Calouste Gulbenkian e com escolas de arte privadas

em Lisboa. Neste momento vive e trabalha em Lisboa. Está representado em várias

coleções, públicas e privadas (Melim, 2019).

Os artistas que o inspiraram para o seu trabalho foram e são muitos, como salienta na

entrevista que lhe foi feita, e foram naturalmente variando conforme a fase da sua vida.

Estudou arte desde os quinze anos de idade e têm sido presentes artistas como: Giorgio

Morandi, Francis Alys, a banda desenhada Krazy Kat de George Herriman, Hirosige e

Hokusai, Manuel Zimbro.

Na entrevista efetuada a Melim, refere que “(…) Em Portugal, a Lourdes Castro e o

Ângelo de Sousa são presenças muito bonitas. E estou só a falar de pessoas que

pintam/desenham, mas o que faço é muitas vezes mais influenciado por música, poemas

Page 61: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

61

ou certos professores de meditação do que por artistas plásticos. E tive professores e

professoras muito bons. (…)”

Fez várias exposições individuais e coletivas com várias experiências pelo meio, onde

explora e desenvolve o desenho, que muitas vezes dão origem as pinturas. Sobre estas

exposições e sobre o trabalho que desenvolve, escreveram já alguns críticos, escritores e

curadores de arte, entre eles, Celso Martins, Delfim Sardo, Eucanaã Ferraz, Maria do Mar

Fazenda, Pedro Faro, Luísa Soares de Oliveira e Fátima Lambert (Museus da Madeira,

2019).

Pedro Faro no artigo “Impasse” escreve que na série de desenhos “A Natureza do

Desenho”, de 2004 a 2007 (Figuras 23 e 24), Daniel Melim refere que a maioria dos

desenhos têm a sua origem na natureza, no próprio local, mas depois desenvolvem-se

numa possibilidade de coisas que podem ser principalmente símbolos, cópias, rascunhos,

e abstrações da “natureza do desenho”. Pretende que, sejam “uma relação com o mundo

visível, com mudanças de atitude e de referências” (Faro, 2011).

Mais tarde em 2007, na série “Tempestade”, desenvolve estes princípios, exagerando a

cor e a mancha de modo expressivo e buscando algumas das referências estruturais da

banda desenhada (Figuras 25 e 26), (Faro, 2011).

Na “Série Aberta a mais Mais de um Criador”, do mesmo ano (2007), o pintor explica

que os desenhos são realizados por outras pessoas, por cima de desenhos seus (32cm×24

cm), mas que eram considerados por si de “insatisfatórios” (Faro, 2011). As três séries de

desenhos acima referidas foram apresentadas na exposição do Prémio EDP Novos

Artistas, em 2007, onde foi finalista (Figuras 27 e 28).

Figuras 23 e 24 – Série “A natureza do desenho” tinta da china a aparo sobre papel, 32 × 24 cm, 2004-

2007. Daniel Melim©

Page 62: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

62

Figuras 25 e 26 - Imagens das páginas de 1916 (preto e branco) e 1939 (cor) de

Krazy Kat, por George Herriman (Melim, 2019).

Na área do desenho, tem ainda realizado desenhos em murais e com outros colaboradores

(Figuras 29 e 30), e em que se sujeita a um público variado, como foi “Desenho Livre”,

em 2008, nos Espaços do Desenho (Figuras 31 e 32), para que pudesse “materializar toda

e qualquer imagem que o público pedisse”, como refere Melim (Faro, 2011). Interessa

ao pintor esta interação com as pessoas, por isso, muitas das suas experiências artísticas

envolvem pessoas. Em 2011, desenvolveu em simultâneo com estas ideias, o projeto “Zé

Ninguém”, que consiste na recolha de exemplos de arte “sem querer” (Faro, 2011). Em

2010 começa a realizar pinturas a tinta acrílica sobre membrana termoplástica (capítulo

2.2.), e foi com uma série de pinturas desta natureza que ganhou o “Prémio Fidelidade

Mundial 2011” (Figuras 33-36).

Sobre a exposição “Pintura” em 2011, na galeria Módulo (Figuras 37-42), Maria do Mar

Fazenda, escreve que as tipologias de desenhos são de caráter experimental e variadas.

Podemos encontrar desde o desenho como resultado das intenções de um observador, ao

desenho coletivo, ao desenho de outras pessoas sobre desenhos inacabados pelo artista,

ou desenhos do acaso, ao desenho da realidade, sob a forma de murais ou fachadas, que

o artista tem vindo a realizar sob a temática: “Ninguém faz a arte que os teus olhos

acordam na cidade” (Fazenda, 2011 apud Daniel, 2019).

Page 63: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

63

Figura 27 – Exposição da série “A Natureza do

desenho” no Prémio EDP Novos Artistas 2007,

Porto. Rodrigo Peixoto ©

Figura 28 – Sem título, marcador sobre parede,

dimensões variáveis, Prémio EDP Novos Artistas

2007, Porto. Rodrigo Peixoto©

Figura 29 – Sem título (atlas mural nro.1),

marcador e tinta acrílica sobre parede, dimensões

variáveis, Proxecto-Edición 2008, Pazo da Cultura

de Pontevedra, Espanha. André Romão©

Figura 30 – Sem título, marcador sobre parede,

dimensões variáveis, extensão do Oceanário de

Lisboa (auditório), projeto do arquiteto Pedro

Campos Costa, 2011. Joana Escoval©

Figuras 31 e 32 – Série “Desenho Livre”, nos Espaços do Desenho (2008). Teresa Carneiro©

Page 64: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

64

Refere ainda, que no trabalho de Daniel Melim há um recorrente diálogo com a História

da Arte, com as práticas de representação artísticas a partir da tradição das artes visuais e

da relação com um objeto/modelo fisicamente presente: “fazendo referência a certos

parâmetros clássicos ampliando determinados cânones. Subvertendo modelos de

produção e de representação clássicos. O trabalho de Daniel Melim reinventa o gesto

exaustivo de Pollock, o jogo entre figura e artista proposto por Picasso e autonomiza a

imagem desse espaço-tempo no qual a construção modernista se ancorou.” (Fazenda,

2011 apud Daniel, 2019). Nestas pinturas foram criados e construídos “modelos” ou

“esculturas efémeras” no seu atelier, com uma série de materiais tais como: tecidos,

cordas, tubos, madeiras, que tentam representar animais, pessoas, personagens do

imaginário do pintor como se pode ver nas Figuras 37 - 42, e num vídeo da Exposição

individual no Módulo-Centro Difusor de Arte, Lisboa, 2011, na página do artista.

Figura 33 - Prémio Fidelidade Mundial 2011, Chiado 8,

Lisboa. Rodrigo Peixoto©

Figura 34 - Sem título, tinta acrílica sobre

membrana, 110×131 cm, 2011. Tiago

Alfaro Ismael©

Figura 35 - Sem título, tinta acrílica sobre

membrana, 120×130 cm, 2011. Tiago

Alfaro Ismael©

Figura 36 - Sem título, tinta acrílica sobre

membrana, 114×127 cm, 2011. Tiago

Alfaro Ismael©

Page 65: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

65

Figura 37 – Sem título, tinta acrílica sobre

membrana, 106 ×122 cm, Lisboa, 2010.

Tiago Brás©

Figura 38 – Sem título, tinta acrílica sobre

membrana, 108 ×106 cm, Lisboa, 2010.

Tiago Brás©

Figura 39 – Sem tí tulo, tinta acrílica sobre

membrana, 114×123 cm, Lisboa,

2010.Tiago Brás©

Figura 40 – Sem tí tulo, tinta acrílica sobre

membrana, 108×106 cm, Lisboa, 2010.

Tiago Brás©

Figura 41 - Sem título , tinta acrílica sobre

membrana, 116 × 118 cm, Lisboa,

2010.Tiago Brás©

Figura 42 - Sem tí tulo, tinta acrílica

sobre membrana, 117 × 124 cm, Lisboa,

2010.Tiago Brás©

Page 66: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

66

Outra autora Eucanaã Ferraz por ocasião da exposição individual na Galeria Mercedes

Viegas, Rio de Janeiro, em 2011, escreve que Daniel Melim lhe faz lembrar um certo

Matisse e que este põe os seus tecidos em contato com a natureza. Há uma liberdade e

ritmo nos seus quadros, a luz do Alentejo, a presença do vento, das folhas e das abelhas

(Figuras 43 - 45), e ainda a presença de:

“Colunas e volumes irregulares de fazendas estampadas parecem dançar ao vento sob

um fundo azul que se assemelha ao céu limpo das manhãs de verão. Mas tal aproximação

não confunde arte e natureza, antes, faz saltar aos olhos aquilo que já quase não

percebemos em Matisse: o tecido como coisa pronta, pintura antes da pintura. (…)

Melim, portanto, parece pintar esculturas livres de figuração, ou sutilmente figurativas,

e, assim, sua pintura, sem ser exatamente abstrata, aproxima-se da abstração.” (Melim,

2019).

Figura 43 – Exposição individual na Galeria Mercedes Viegas, Rio de Janeiro, 2011. (Melim, 2019).

Figura 44 – Sem título, tinta acrílica sobre

membrana, 120 ×130 cm, 2011. Tiago Alfaro

Ismael©

Figura 45 – Sem título, tinta acrílica sobre

membrana, 118 ×125 cm, 2011. Tiago Alfaro

Ismael©

Page 67: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

67

No entanto, Daniel Melim na entrevista dada para este estudo acrescenta que:

“Já havia tecidos muito antes do Matisse, embora goste muito de muitas coisas

que ele fez. Eu às vezes pintei eu próprio os padrões no tecido que usei como modelo,

porque não encontrava nas lojas o que queria. É, no entanto, com certeza muito mais

uma referência a esse olhar bêbado de cores (como era o do Matisse) do que a qualquer

teoria do “mise-en-abyme” (...)”

No artigo “Impasse”, Pedro Faro faz alusão ao “impasse que se estabelece entre criação

e execução,” e que as obras de Daniel Melim trabalham“(…) o universo matérico da

pintura e a dimensão autoral do desenho”, através de vários procedimentos e

dispositivos, e “estabelecendo-se uma original dialética que permite a emancipação de

imagens familiares, mas enigmáticas”.

O pintor tenta explicar na entrevista que foi realizada nesta investigação, de que

“Impasse” se trata, considerando que talvez, Pedro Faro se refira, ao longo processo de

preparação e execução que as pinturas sobre vidro ou sobre membrana exigem. Em que

o pintor permanece imóvel, durante dias com apenas um olho aberto, e com pincéis

enormes para pintar sem sair do lugar, porque todo o processo funciona como um

perspetógrafo renascentista. Segundo Melim:

“… a criação intuitiva do modelo é muito espontânea e fresca, e o resultado final

também parece ter essas características, mas o processo de execução em si era tenso e

estrito. Penso que é desse impasse, dessa mudança de tensões e velocidades em que o

trabalho vive, penso que é disso que ele fala.”

Uma outra experiência do pintor foi o poster

do filme “Montanha” de João Salaviza

(Figura 46). Foi elaborado a partir de uma

pintura de Melim e que estreou a 19 de

novembro de 2015 (Midas Filmes, 2019).

Figura 46 - Poster do filme “Montanha”, realizado

por Daniel Vasconcelos Melim (2015), (Midas

Filmes, 2019).

Page 68: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

68

O pintor tem realizado várias exposições (individuais e coletivas), murais (em projetos

individuais ou convidado por outros artistas, como o artista plástico Rigo 23), projetos e

residências artísticas, e outras experiências que envolvem pessoas e que podem ser

consultadas na sua página, onde está documentado muito do seu trabalho.

2.2. Descrição da obra

2.2.1. A obra em análise

O estudo que aqui se apresenta é sobre uma pintura sem título, de 2012, da autoria do

artista contemporâneo português Daniel Vasconcelos Melim. Tem de dimensões

aproximadamente 100 ×120 cm e está assinada pelo pintor (Figuras 47 e 54).

Para compreender melhor como o pintor concebe as suas obras e obter uma informação

mais detalhada sobre a sua técnica e as opções que faz sobre os materiais que utiliza,

realizaram-se algumas entrevistas (presencial e por e-mail), tendo como referências o guia

para as entrevistas intitulado “Guide to Good Practice - Artists’ Interviews” (INCCA,

2002), o artigo “Artist Interviews as Tools for Diligent Conservation Practice” (Sheesley,

2007) e a recente publicação de Lydia Beerkens et al. (2012).

A representação foi criada pelo pintor com os dois proprietários da obra, que lhe fizeram

a encomenda para o projeto “Fundação Sara & André”. Foi também possível falar com

os atuais proprietários da pintura, e também eles dois artistas portugueses

contemporâneos, a Sara & André (nome artístico). Ambos forneceram informações

importantes sobre a obra e sobre o local de armazenamento.

Figura 47 – Pintura de Daniel Vasconcelos Melim, tinta

acrílica sobre membrana. Sem título (2012). Vista frontal.

Ana Bailão©

Page 69: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

69

O modelo foi pensado pelo pintor e foi uma situação criada em estúdio, onde os modelos

Sara & André, estão deitados e assim conseguiram permanecer muitas horas quietos e

sem sentirem uma sensação dolorosa e desconfortável (Figura 48). O tempo de execução

da obra pelo pintor foi de pelo menos três sessões de trabalho, de cerca de 3 horas cada

uma. Numa primeira fase com os modelos e depois mais umas horas sozinho a acabar

pormenores que não dependiam dos modelos. Segundo Daniel, interessava-lhe ter um

modelo vivo ao contrário das outras pinturas.

“O interesse era ter modelos humanos, em vez de modelos inanimados como usei nos

anos anteriores. Desde essa pintura que aos poucos as pessoas têm entrado mais no meu

trabalho. Nesta composição há duas figuras que estão a dormir de costas uma para a

outra, mas estão ligadas pelo sono, pelo sonho que as liga algures por dentro.”

Figura 48 – O modelo humano criado pelo pintor para a pintura (2012). Sara & André©

Em relação à técnica utilizada, o pintor Daniel Vasconcelos Melim refere na entrevista

que:

“(…) na verdade não ligo muito a técnicas, com pouca técnica dá para fazer muita

coisa. O importante é o coração com que se faz as coisas, a intenção que está por trás

do teu gesto. Mas ajuda, a técnica pode ajudar muito. Na verdade, eu sei algumas

técnicas de pintura porque me ensinaram, porque lia livros sobre isso na adolescência e

depois estudei Arte na escola. Foi aquilo pelo qual me apaixonei, de entre o que me

estava disponível. Acho que se tivesse músicos a rodear-me eu faria música, é muito uma

questão de contextos em que se anda, adquirirmos esta técnica e não aquela. (…) a

técnica que se tem é muito importante porque nos dá ideias, caminhos possíveis (…)

Page 70: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

70

Maria do Mar Fazenda, escreve ainda sobre a exposição “Pintura” em 2011, que o artista

utilizou o princípio de um perspetógrafo onde “(…) o olhar do desenho é mediado por

uma membrana transparente ou por uma rede, que se coloca entre o artista e o objeto -

para a sua construção visual (…)” (Melim, 2019) (Figura 49 e 50).

Segundo a mesma autora, Daniel Melim utiliza esta técnica renascentista não para

desenhar, mas para pintar. As manchas de cor surgem, depois das linhas de contorno a

partir das quais o desenho foi construído. Dá-se, assim, uma inversão sequencial da

representação: o padrão, o pormenor, o brilho do objeto retratado são os primeiros

elementos a integrar e em último lugar é aplicado o fundo, o céu azul. Ao contrário do

convencional a pintura é realizada no verso da membrana, por isso, chama-lhes pintura

sob membrana (Fazenda, 2011 apud Melim, 2019).

Figura 49 - Grelha de fios de nylon que impede de

oscilar a membrana onde se coloca a tinta. Daniel

Melim©

Figura 50 - O modelo criado, com tecidos

pintados pelo pintor. Daniel Melim©

O seu trabalho é planeado previamente e em relação às pinturas em membrana

termoplástica, foram criados e construídos “modelos” que já foram descritos

anteriormente. O pintor tem preferência por coisas e personagens antigas, na entrevista

refere:

“(…) Tipicamente, as cenas que me interessam incluem referências a coisas e

personagens de sabor velho, telúrico, cerimonial ou celebrativo, com uma mistura de

claridade tranquila na apresentação das figuras e de dinamismo compositivo. As cenas

que escolho para serem “pintadas” saem dessa massa de possibilidades latentes que está

Page 71: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

71

sempre no meu imaginário, que não é só destas pessoas, é o meu acesso parcial ao

imaginário do tempo em que vivo, deste local, desta humanidade, desta animalidade.”

Além disso, explica também que escolhe um ponto de vista para o modelo, e define a luz

incidente, de preferência forte e de projetor (Figuras 51 e 52):

“(…) Quero que as figuras se apresentem num espaço exterior, daí a escolha

dessa luz, e ainda pintar um cenário “azul-photoshop, não realista, e estereotipado por

detrás delas”. Na altura em que pintou as imagens em membrana, o pintor vivia em

Lisboa e não tinha espaço no exterior para as realizar. Os materiais e as técnicas estão

também documentados num vídeo disponível na página do artista (Melim, 2019).

Figura 51 – Montagem utilizada pelo pintor com

foco de luz. Tinta acrílica sobre membrana. Daniel

Melim©

Figura 52 – Montagem utilizada pelo pintor

com foco de luz. Daniel Melim©

Os materiais

O artista utilizou a tinta acrílica - Tinta Basics da Liquitex (2009 a 2015) porque é uma

tinta que seca rapidamente e forma uma película forte. A membrana transparente usada

como suporte é da marca RENOLIT – SE, e foi escolhida pelo pintor para substituir o

vidro. Como refere na entrevista:

“(…) pintar em vidro ou em película transparente impõe uma disciplina muito

forte, porque se tem de manter sempre o mesmo ponto de vista e ter uma organização da

paleta muito bem feita, caso contrário, fica incompreensível.”

O objetivo segundo Melim era que a pintura fosse semelhante ao modelo, e ao pintar em

vidro está a pintar ao contrário. A pintura é o que se vê do outro lado do vidro, não se vê

Page 72: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

72

do lado que ele pinta. Deste modo, permitia-lhe fazer pinturas realistas. Aprendeu esta

técnica com o artista plástico Gil Heitor Cortesão, que a utiliza nas suas pinturas a óleo

sobre placas de acrílico. Depois de vários anos com esta técnica, Melim passou a pintar

com a mesma técnica, mas em membrana transparente, em que não se pode tirar a tinta

depois de pintar, pelo que optou por a engradar. Quando as pinturas são engradadas, há

ainda um tecido plano (tela de algodão) que é engradado antes da película, para diminuir

o atrito entre madeira e a película e impedir que a luz a atravesse. Deste modo, é evitado

o efeito de contraluz que compromete a estética destas pinturas, salienta o autor. Depois

de engradada a obra fica com o aspeto de uma tela convencional, mas como se fosse uma

tela pintada com tinta de esmalte, pois o lado da película não-pintado fica virado para o

visitante da exposição e a tinta fica do lado de dentro, em contacto com a tela.

Foram analisados através de observação visual simples (olho nu) e fotográfica, os

materiais que constituem a estrutura da pintura em estudo: o suporte e a grade.

O suporte nesta pintura tem características diferentes, pois trata-se de uma membrana de

um polímero sintético termoplástico (cuja identificação é feita na Parte II deste estudo).

O pintor utiliza também uma tela, que serve de reforço e cuja finalidade já foi referida. A

tela, depois de observada à vista desarmada e pela informação fornecida pelo artista, trata-

se de uma tela de fibra natural, o algodão. Na observação da tecelagem com um conta-

fios confirmou-se ser uma tecelagem em tafetá (15 × 24 por 1 cm2). A tela é de trama

aberta e os fios têm torsão em Z. O produto final é uma superfície plana e regular (Figuras

53-56).

Figura 53 - Fio de teia e trama no

Tafetá. Maria Leite©

Figura 54 – Pormenor de grade da pintura,

membrana e tela (presas com agrafos). (2012).

Daniel Melim©

Page 73: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

73

Camada Pictórica (camada de preparação, cromática e de proteção)

A camada pictórica não foi analisada na pintura, uma vez que não foi desengradada, para

não a sujeitar a tensões e recorreu-se antes à amostra de 2011 cedida pelo pintor, para

fazer esta análise em detalhe. Quanto à camada de preparação confirmou-se através da

entrevista realizada, que o pintor não aplica camada de preparação. No entanto, as tintas

acrílicas têm uma boa aderência ao suporte. A camada cromática é de espessura média e

a aplicação é feita com pincel. Não tem camada de proteção.

Grade e moldura

No que diz respeito à grade, é a original. Trata-se de madeira de uma resinosa, o pinho,

com tom amarelo claro. A tela e a membrana plástica estão presas à grade por elementos

metálicos (agrafos), (Figura 54). A grade quadrangular, tem duas travessas, uma na

vertical e outra na horizontal. Verifica-se a presença de fita adesiva (Figura 57). A obra

não possui moldura.

Figura 56 – Fotografia de Microscopia Digital

de Fio de teia e trama no Tafetá. Maria Leite© Figura 55 - Fotografia de Microscopia Digital

de Fio de teia e trama no Tafetá. Maria Leite©

Figura 57 – Fotografia integral (verso)

da pintura. Ana Bailão©

Page 74: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

74

2.3. Estado de Conservação

Com base nos dados recolhidos (fotografia digital normal, fotografia com luz rasante e

com luz transmitida e microscopia digital), e pela análise visual (à vista desarmada) da

pintura pode dizer-se que a pintura apresenta um bom estado de conservação. No entanto,

são visíveis algumas incisões, como se pode comprovar pelas fotografias de luz rasante

(Figuras 58 - 60). É possível observar a presença de poeiras à superfície devido à atração

eletrostática da membrana plástica que atraí as poeiras do meio envolvente e uma pequena

saliência da pintura no lado esquerdo (Figura 61). A tela de algodão e a membrana plástica

não apresentam rasgões, nem deformações, nem a existência de micro-organismos. Não

sofreu qualquer intervenção anterior.

Procedeu-se à limpeza superficial da obra utilizando máscara e um pano, e colocando-a

sobre papel Melinex®, com o objetivo de a proteger. Repetiu-se o processo pelo verso da

pintura e da grade com um pincel de poeiras (pelos de cerda).

A camada pictórica poderá ter sofrido alguma alteração da cor original por ação de

agentes físicos como a luz, no entanto, não foi realizado um estudo de cor comparativo

entre a pintura realizada pelo pintor em 2012 e a pintura analisada em 2018. Não se

observam transparências, desgaste e pulverulência, a existência de bactérias e fungos,

logo não se registam ações de natureza biológica. Verificou-se ainda, na amostra de 2011,

um grau elevado de adesão da tinta acrílica à membrana plástica (Figuras 64 e 65) e que

a membrana se mantém transparente, sem amarelecimento e encolhimento.

Foram efetuadas fotografias de luz ultravioleta à amostra de 2011 cedida pelo pintor

(Apêndice I – Figuras 84 e 85), para observar se as tintas acrílicas apresentavam

fluorescência, a presença de fungos, diferenciação de pigmentos, visualização de

descontinuidades e ainda a presença de vernizes de proteção. Concluiu-se que as tintas

fluoresciam, uma vez que se tratam de tintas acrílicas com compostos orgânicos que

tendem a fluorescer. Não se identificaram quais as que mais fluoresciam, a existência de

fungos ou a presença de irregularidades (por exemplo, repintes).

Ainda na análise visual da pintura realizaram-se fotografias de luz transmitida para

observação das pinceladas do pintor; confirmação da inexistência de roturas no suporte e

na camada cromática (Figuras 62 e 63) e em Apêndice I (Figuras 86 – 88).

Page 75: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

75

No que diz respeito à grade de pinho, não apresenta insetos xilófagos, nem fratura,

encontrando-se em bom estado de conservação. Por este motivo, não foi desengradada,

nem sofreu nenhum tratamento específico de desinfestação. A presença de fita adesiva

em algumas zonas da grade poderá ter de ser removida em intervenção futura, devido à

existência de resíduos de cola (Figura 57).

Figura 60 - Fotografia de luz rasante (direita)

- pormenor. Maria Leite©

Figura 61 - Fotografia de luz rasante (esquerda) -

pormenor. Ana Bailão©

Figura 58 – Fotografia de luz rasante

(direita) - pormenor. Ana Bailão© Figura 59 - Fotografia de luz rasante (direita) -

pormenor. Ana Bailão©

Page 76: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

76

Microscopia Digital

As microfotografias digitais foram realizadas com Microscópio Digital (Dino-Lite Pro

HR – AM7000/AD7000 series, 5 megapixel). Fez-se a calibração do equipamento e

utilizou-se a radiação visível. Registaram-se várias fotografias com ampliação 200×, em

diversas zonas da amostra (2011) fornecida pelo artista.

Através da análise das microfotografias (Figuras 64 e 65) e em Apêndice I (Figuras 89 -

98) podem observar-se pequenas bolhas de ar; pontos negros que podem eventualmente

ser poeiras; e algumas fibras que podem ser provenientes dos pincéis e estão presentes na

tinta acrílica da amostra estudada (2011).

Figura 64 – Fotografia de Microscopia Digital de

uma amostra de 2011 cedida pelo pintor Daniel

Vasconcelos Melim. Maria Leite©

Figura 65 - Fotografia de Microscopia Digital de

uma amostra de 2011 cedida pelo pintor Daniel

Vasconcelos Melim. Maria Leite©

Figura 63 – Fotografia de luz transmitida -

pormenor. Maria Leite©

Figura 62 - Fotografia de luz transmitida -

pormenor. Maria Leite©

Page 77: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

77

PARTE II – IDENTIFICAÇÃO DO POLÍMERO SINTÉTICO

TERMOPLÁSTICO NA PINTURA SOBRE MEMBRANA DE DANIEL

VASCONCELOS MELIM

CAPÍTULO I | OBJETIVOS E METODOLOGIA

1.1. Objetivos e Metodologia Aplicada

Após recolhidos os dados históricos (a data em que foi executados, o autor, a sua vida e

obra) e estudadas as técnicas pictóricas, prossegue-se a investigação com a caracterização

físico-química do material em estudo. Estes resultados vão permitir identificar o polímero

e determinar a sua composição química, dados essenciais para o diagnóstico e para a

proposta de tratamento da obra.

Como as obras de arte tem um valor (material e imaterial) significativo para os autores

ou proprietários, os testes de identificação, deverão ser essencialmente não invasivos.

Além disso, como estes testes são simples, acessíveis, e ainda, são fiáveis e com

resultados reprodutíveis (Rémillard, 2007, p. 3), foram selecionados como métodos de

identificação neste estudo. De salientar, que se dispõe de uma quantidade razoável de

amostras para o efeito.

Deste modo, e tendo presentes estes pressupostos, o objetivo desta investigação foi

identificar o tipo de polímero da membrana utilizada no suporte da pintura. Para tal,

recorreu-se amostras de anos distintos (amostra de 2011), que foi cedida pelo pintor e

outra (amostra de 2018) que foi fornecida pela empresa Renolit-SE, (marca da membrana

termoplástica usada pelo pintor), comparar as suas propriedades físico-químicas e assim

concluir de que tipo de polímero se trata.

A referida empresa forneceu uma amostra (em rolo) de membrana termoplástica de

referência supostamente igual à utilizada pelo artista nas suas pinturas. A sua massa era

de 9 Kg, transparente e incolor, de espessura 200 µm e de largura 1,400 mm. Com este

material fornecido pela empresa alemã foi possível realizar todos os ensaios/testes

simples que serão descritos neste capítulo, sem danificar a pintura em estudo. De referir,

que a membrana em análise, é geralmente utilizada para fins domésticos, como decoração

ou para fins práticos como coberturas de proteção de carros ou de casas.

Foram então, realizadas medições de densidade, ensaios de solubilidade em diferentes

solventes e testes de pirólise e de chama. Foi aplicado o processo de extração com

solvente orgânico usando-se um extrator de Soxhlet em amostras de membranas

Page 78: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

78

termoplásticas da marca RENOLIT - SE de anos distintos (Leite, Bailão, Araújo, 2019,

p.164).

Os testes de envelhecimento foram realizados em amostras da referida membrana durante

67 dias, à temperatura ambiente de 21 ºC e à temperatura de 70 ºC de forma a identificar

alguns fenómenos de alteração, tais como: alteração da cor e perda de massa (Leite,

Bailão, Araújo, 2019, p.164).

Para complementar estes testes foram realizados ensaios métodos instrumentais de

análise, mais exatos e precisos, tais como: a Espetroscopia de Infravermelho com

Transformada de Fourier e Reflexão Total Atenuada (ATR-FTIR) e a Espetroscopia de

Ultravioleta – Visível (UV-Vis) (Leite, Bailão, Araújo, 2019, p.165).

As amostras de membrana plástica

Como referido, para esta investigação foram usados dois tipos de amostras:

a) Amostra de 2011, com 63 cm × 72 cm, cedida pelo artista, Daniel Vasconcelos

Melim, quando realizava a séries de pinturas sob membrana entre 2010-15 (Figuras 66 e

67);

b) Amostra de 2018, da empresa RENOLIT - SE (WF-TRP S GLATT H68; GRAIN

- 801500; ARTICLE - 1000000023000) que produz a membrana plástica que o artista utiliza

como suporte nas suas pinturas.

Figura 66 - Fotografia integral (verso) da amostra

cedida pelo artista (2011). Ana Bailão©

Figura 67 - Fotografia integral (vista frontal) da

amostra cedida pelo artista (2011). Ana Bailão©

Page 79: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

79

1.2. Ensaios físicos e químicos

Aqui são apresentados os ensaios físicos e químicos realizados para a identificação e

caracterização do plástico utilizado como suporte nas pinturas do artista Daniel

Vasconcelos Melim, bem como os testes de envelhecimento para avaliação de alguns

fenómenos de degradação. Apesar dos testes físicos e químicos aqui abordados serem

intrusivos, são uma opção nas situações em que existe possibilidade de recolha de

amostra, sem prejuízo para a obra, como este estudo de caso, e quando o acesso a

equipamento analítico dispendioso não é possível.

1.2.1. Medições de densidade

Na determinação da densidade em sólidos compactos, pode medir-se uma única amostra

com massa e volume conhecidos (Dietrich, 2013, p.22). Foram medidas as densidades

das amostras de membrana nova (2018) e antiga (2011) pelo método do deslocamento do

volume do líquido, sendo a temperatura da água de T= 22,5 oC. Mediram-se as massas

das amostras numa balança Mettler Toledo - PR1203 (máx. 1210g; d= 0,0001g) e o

volume num balão volumétrico de 5 mL (Leite, Bailão, Araújo, 2019, p.164).

1.2.2. Ensaios de pirólise e de chama

Teste de Pirólise

Realizaram-se testes de pirólise com o objetivo de medir o pH dos vapores de combustão.

Introduziram-se as amostras de película nova no interior das pipetas de Pasteur e de

seguida o papel indicador de pH humedecido com água destilada. Depois vedaram-se com

plasticina. A extremidade mais estreita da pipeta de Pasteur foi previamente fundida, para

impedir a libertação dos gases de combustão. Na hote, aqueceu-se a pipeta de Pasteur

com uma lamparina a álcool etílico absoluto, verificando-se a mudança de cor da amostra

e do papel indicador de pH (Figuras 68 e 69), (Leite, Bailão, Araújo, 2019, p.164).

Page 80: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

80

Figuras 68 a) e 68 b) – Teste de Pirólise: Pipeta de Pasteur com a amostra antiga mostrando a

alteração de cor da fita de pH. ML©

Figuras 69 a) e 69 b) – Teste Pirólise: Pipetas de Pasteur com as amostras nova (esquerda) e antiga

(direita). ML©

Testes de Chama

Aproximaram-se as amostras à chama de uma lamparina com álcool etílico absoluto.

Observou-se inicialmente que a superfície das amostras arde com uma chama de cor

verde, no entanto, muito rapidamente se torna numa chama amarela intensa. No fim da

combustão apresentam-se negras (Figuras 70 e 71). A chama de cor esverdeada é devida

à presença de ião cloreto referida na bibliografia (Rémillard; 2007, p. 8). Para a

comprovar fizeram-se ainda, dois ensaios com clorohexano e diclorometano nos quais foi

possível observar, mas de um modo muito fugaz, uma chama de cor esverdeada.

Figuras 70 a) e 70 b) – Teste de Chama: com a amostra nova. ML©

a) b)

a) b)

a) b)

Page 81: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

81

Figuras 71 a) e 71 b) – Teste de Chama: com a amostra antiga. ML©

1.2.3. Solubilidade

Foram colocadas as amostras de película/membrana nova e antiga com cerca de 25 mg

em pequenos tubos de vidro tapados e isolados com Parafilm M, um filme de parafina

plástica com papel (Figuras 72), (Leite, Bailão, Araújo, 2019, p.164). Registou-se o

comportamento das amostras nos diferentes solventes (Tabela 7).

Figuras 72 a) e 72 b) – Tubos com as amostras nova (lado esquerdo) e antiga (lado direito) em diferentes

solventes. ML©

1.2.4. Extração de aditivos com solvente orgânico num extrator de Soxhlet

Inicialmente mediu-se a massa de uma amostra de película/membrana nova na balança

(m = 0,534 g). Depois foi colocada num filtro de papel de modo a ficar no interior do

Soxhlet. Utilizou-se uma manta de aquecimento para aquecer o líquido extrator (éter

dietílico), cerca de 60 mL. Este processo de extração (Figura 73) durou cerca de 3h com

um tempo de ciclo de cerca de 4 minutos. De seguida, retirou-se o balão de fundo redondo

e removeu-se o éter dietílico. Foram medidas as massas na balança.

a) b)

a) b)

Page 82: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

82

Repetiu-se o processo para a amostra antiga (2011), de massa = 0,509 g com a mesma

duração de 3h, no entanto, utilizou-se apenas 50 mL de éter dietílico (Tabela 6), (Leite,

Bailão, Araújo, 2019, p.165).

Tabela 6 - Registo das massas das amostras nova e antiga utilizadas

na extração Soxhlet.

1.2.5. Ensaios de envelhecimento

Com estes testes são simulados ambientes que permitem avaliar como as membranas

reagem quando sujeitas a variações de temperatura (de cerca de 21 oC para 70 oC), em

ambientes mais húmidos (frascos com água) ou secos (frascos com sílica gel ou carvão

ativo). Foram cortadas amostras de película nova (2018) e antiga (2011) com dimensões

de cerca de 50 mm × 30 mm, e suspensas num fio de nylon, em frascos de vidro de 320

mL, aproximadamente. As massas das amostras foram medidas numa balança analítica e

registadas. Calcularam-se as variações de massa para os vários ensaios (Tabela 8). Os

frascos que se mantiveram à temperatura ambiente, foram isolados com Parafilm M e os

frascos que se mantiveram à temperatura de 70 oC numa estufa de secagem WCT Binder,

foram isolados com gesso de estuque. Os frascos permaneceram durante 67 dias nos

ambientes referidos (Figuras 74 - 77), (Leite, Bailão, Araújo, 2019, p.165).

Estudou-se o efeito da humidade do ar colocando-se dois frascos com 16 mL de água em

cada um, dentro do frasco de 320 mL com a amostra. Para estudar o efeito da ausência de

humidade e criar um ambiente seco colocou-se cerca de 15 g de Sílica Gel (MERCK,

Amostra Nova (g) Amostra Antiga (g)

m amostra nova = 0,534 m amostra antiga = 0,509

m balão+cerâmicas = 62,342

m balão+cerâmicas = 58,954

m balão+cerâmicas+resíduo p.nova

= 62,490

m balão+cerâmicas+resíduo

p.antiga = 59,094

mresíduo = 0,148 mresíduo = 0,140

Figura 73 - Montagem de Extração

Soxhlet utilizada com a amostra nova.

ML©

Page 83: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

83

Lda) num pequeno saco de papel poroso para chá, o qual foi fechado e depois inserido no

frasco com a amostra (Figuras 74 - 77).

Para adsorver uma variedade de vapores orgânicos, bem como odores e vapor de água e

remover óxidos de azoto, foi usado o carvão ativo em pó (MERCK, Lda). Colocou-se

cerca de 10 g num pequeno saco de papel poroso para chá, que depois foi inserido no

frasco com a amostra, de acordo com a literatura (Shashoua, 2001, p.51) (Figuras 74 -

77).

Figura 74 – Amostras antiga (2011) e nova (2018)

depois dos testes de envelhecimento à T ambiente

(cerca de 21 ºC); em ar; com variação da humidade;

com carvão ativo e com sílica gel. ML©

Figura 76 - Teste de envelhecimento durante 67 dias,

da amostra antiga (2011) na estufa à T = 70 ºC. ML©

Figura 75 – Amostras antiga (2011) e nova (2018)

depois de testes de envelhecimento à T = 70 ºC) em

ar; com variação da humidade; com carvão ativo e

com sílica gel. ML©

Figura 77 - Testes de envelhecimento durante 67

dias, das amostras antiga (2011) e nova (2018) na

estufa à T = 70 ºC; em ar; com variação da

humidade; com carvão ativo e com sílica gel. ML©

1.2.6. Ensaios de imersão com a água destilada

Foram ainda realizados testes de imersão em água destilada para observar o

comportamento da película em contacto com a água. Colocaram-se as amostras

totalmente imersas em água destilada, em frascos tapados, à temperatura ambiente,

Page 84: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

84

durante cerca de 3 meses (Leite, Bailão, Araújo, 2019, p.164) e após 15 meses. Nestas

amostras de água destilada efetuaram-se medições de pH à temperatura ambiente (Figuras

78 e 79).

Figura 78 – Aspeto das amostras (Frascos com

água destilada, água destilada + amostra nova;

água destilada + amostra antiga) após imersão

de 3 meses. ML©

Figura 79 – Aspeto das amostras (Frascos com água

destilada, água destilada + amostra nova; água

destilada + amostra antiga) após imersão de 15 meses.

ML©

1.2.7. Apresentação e discussão dos resultados

Caracterização e identificação da membrana plástica

1 - Medições de Densidade

Na determinação das densidades obtiveram-se os valores para a película nova de d = 1,207

± 0,060 g/cm3 e para a película antiga de d = 1,216 ± 0,095 g/cm3 (Leite, Bailão, Araújo,

2019, p.166). Estes resultados estão compreendidos entre os valores de 1,19-1,35 g/cm3,

que são os descritos para a densidade do PVC (40% plastificado) (Dietrich, 2013, p.24).

2 - Solubilidade das amostras em vários solventes

Foi ensaiada a dissolução das amostras de película nova e antiga em vários solventes

(tabela 7), e verificou-se que estas se dissolviam em dimetilformamida, apresentando um

aspeto gelatinoso, e em tetrahidrofurano o qual dissolve de imediato e completamente a

amostra (Leite, Bailão, Araújo, 2019, p.166). Estes resultados estão de acordo com o que

se esperaria de uma membrana de PVC (Dietrich, 2013, p.21-22).

Page 85: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

85

Tabela 7 – Registo da Solubilidade das amostras de membrana nova e antiga em vários solventes.

Solvente Membrana

nova

Membrana

antiga

Membrana nova

(após 44 dias)

Membrana antiga

(após 44 dias)

T1

Diclorometano

Não dissolve. Não dissolve. Depositam-se no

fundo alguns

constituintes da

amostra.

Depositam-se no

fundo alguns

constituintes da

amostra.

T2

Acetonitrilo

Não dissolve. Não dissolve. Evapora-se o solvente

e resta a amostra.

Evapora-se o solvente

e resta a amostra.

T3

n-hexano

Não dissolve. Não se

realizou.

Dissolve parte da

amostra, ficando

depositada ½ no

fundo.

Dissolve parte da

amostra, ficando

depositada ½ no

fundo.

T4

Tolueno

Não dissolve. Não se

realizou.

Dissolve parte da

amostra, ficando

depositada ½ no

fundo.

Não se realizou.

T5

Acetona

Não dissolve

toda, mas

dissolve

alguns dos

seus

componentes.

Não dissolve

toda, mas

dissolve alguns

dos seus

componentes.

Não dissolve toda,

mas dissolve alguns

dos componentes,

deposita-se no fundo

um resíduo branco e

baço.

Não dissolve toda,

mas dissolve alguns

dos componentes,

deposita-se no fundo

um resíduo branco e

baço.

T6

Álcool etílico

Absoluto

Não dissolve. Não se

realizou.

Dissolve parte da

amostra e deposita-se

um resíduo incolor.

Não se realizou.

T7

Álcool Metílico

Não dissolve. Não dissolve. Não dissolve;

aparentemente

apresenta-se com o

mesmo aspeto.

Não dissolve;

aparentemente

apresenta-se com o

mesmo aspeto.

T8

Dimetilformam

i-da (DMF)

Dissolve a

amostra; esta

encontra-se

amolecida.

Dissolve com o

tempo; a

amostra

encontra-se

amolecida.

Dissolve a amostra;

apresentando-se

gelatinosa e o solvente

fica mais concentrado.

Dissolve a amostra;

apresentando-se

gelatinosa e o

solvente fica mais

concentrado.

T9

Tetrahidrofura

-no (THF)

Dissolve de

imediato a

amostra.

Dissolve de

imediato a

amostra.

Dissolve de imediato e

completamente a

amostra.

Dissolve de imediato

e completamente a

amostra.

Page 86: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

86

3 - Testes de Pirólise

Nos testes de pirólise observou-se que a amostra ardeu lentamente apresentando-se

castanha escura. A cor da fita de indicador de pH altera-se para cor-de-rosa, indicando o

carácter muito ácido dos vapores de combustão, pH=1 (Figuras 68 e 69), que é

característico do Policloreto de Vinilo (PVC) (Rémillard, 2007, p. 8).

4 - Testes de Chama

Em relação ao teste de chama observou-se que inicialmente as amostras ardem à

superfície com uma chama de cor verde, no entanto, rapidamente se torna numa chama

amarela intensa (Leite, Bailão, Araújo, 2019, p.167). A chama de cor esverdeada é devida

à presença de ião cloreto, referida na bibliografia (Rémillard, 2007, p. 8; Dietrich, 2013,

p. 27).

5 - Extração com solvente orgânico num extrator de Soxhlet

Pelo processo de extração com um solvente orgânico (éter dietílico) utilizando um

extrator de Soxhlet (Figura 73), foi possível extrair alguns componentes, nomeadamente

plastificantes. Depois do teste, a membrana apresentou-se rígida (Figura 80-a)).

Obtiveram-se valores de massa do resíduo extraído na película nova, mresíduo = 0,148 g e

na película antiga, mresíduo = 0,140 g (Tabela 6). Uma vez que a quantidade de resíduo

extraído de ambas as amostras foi praticamente a mesma, concluiu-se que as amostras

têm sensivelmente o mesmo teor de aditivos (Leite, Bailão, Araújo, 2019, p.167).

Figura 80 – Resultado do processo de extração com um extrator de Soxhlet na membrana nova. a) aspeto rígido

e baço da membrana depois do teste Soxhlet; b) aspeto flexível e brilhante da membrana antes do teste. ML©

a) b)

Page 87: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

87

6 – Ensaios de imersão em água destilada

Nos ensaios de imersão realizados em água destilada, observou-se que as amostras de

películas em contacto com a água ficaram baças, o que mostra que a água reage com a

superfície da membrana. Analisando os valores de pH das águas dos frascos (testes

envelhecimento a 70 ºC), (tabela 8) verifica-se que estes aumentaram muito em relação

ao valor da água destilada padrão, o que poderá sugerir a migração para a água de aditivos

que a tornam um ambiente muito básico. Também se verifica que as amostras de água

destilada (frasco + película antiga) apresentam um valor de pH mais baixo, o que poderá

estar associado a uma maior degradação química da película antiga. As reações de grupos

laterais, podem envolver a libertação de pequenas moléculas como a água ou ácidos,

tornando o meio envolvente (neste caso a água) mais ácido.

Tabela 8 - Registo das medições de pH da água destilada das amostras imersas após 15 meses.

Amostra T (ºC)

pH

Água destilada

padrão

24,7 6,05

Água destilada

frasco

24,4 5,87

Água destilada

frasco +

película nova

23,7 5,65

Água destilada

frasco +

película antiga

24,5 4,93

Água dos

frascos (testes

envelhecimento

a 21 ºC)

24,2

Frasco1=6,77

24,3

Frasco2=6,61

Água dos

frascos (testes

envelhecimento

a 70 ºC)

24,3

Frasco1=8,72

24,6 Frasco2=8,51

7 - Testes de envelhecimento à temperatura ambiente (cerca de 21 oC) e a 70 oC

Na tabela 9 que se segue estão indicadas as variações de massa das amostras nova (2018)

e antiga (2011) nos vários ambientes criados durante 67 dias. Os registos dos fenómenos

Page 88: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

88

de alteração das amostras depois dos ensaios de envelhecimento encontram-se na tabela

10. O aspeto das amostras antes dos testes de envelhecimento está registado na figura 81.

Nos testes de envelhecimento pode dizer-se que o aumento da temperatura para 70 oC

provoca alteração da cor das amostras, tornando-as acastanhadas (figura 81) e em geral

ocorre perda de massa (tabela 9), (Leite, Bailão, Araújo, 2019, p.167).

A alteração da cor e a perda de massa das amostras poderão dever-se à migração dos

aditivos (nomeadamente, plastificantes) para a superfície ou a à volatilização de alguns

constituintes. A migração de aditivos, leva à retração das amostras e à sua fragilidade, o

que justifica a perda de massa na maioria das amostras testadas. Por outro lado, o aspeto

acastanhado e pegajoso das amostras, poderá muito provavelmente, ser devido aos

plastificantes líquidos, que por terem pontos de ebulição relativamente altos, podem

formar filmes pegajosos nas superfícies dos plásticos antes da sua evaporação.

Já à temperatura ambiente não ocorre alteração de cor significativa, mas ocorre alguma

perda de massa. Em ambientes em que foi alterada a humidade, com maior humidade

(frascos fechados com água) observa-se que as amostras ficaram baças (figura 82) e

aumentaram a sua massa acima de 1% (tabela 9). O que pode ser explicado pelo facto do

PVC plastificado inchar e parecer quase opaco se for armazenado com uma humidade

relativa (HR) elevada (Leite, Bailão, Araújo, 2019, p.167).

Em ambientes com carvão ativo e sílica gel as amostras apresentaram-se ligeiramente

acastanhadas à temperatura ambiente de 21ºC, mas mostraram-se mais deterioradas e

mais acastanhadas à T = 70 oC. Além disso, ocorreu perda de massa (tabela 9) e

mostraram-se mais acastanhadas nestes ambientes quentes e secos do que em ambiente

húmido (figura 82). As amostras de película termoplástica nova ficaram também mais

castanhas do que as de película antiga quando sujeitas a uma temperatura mais alta,

podendo indicar que é menos resistente às variações de temperatura que a película antiga

como se pode ver na figura 82. Outro aspeto a salientar, é que como se trata de uma

membrana de PVC, os radicais de cloro podem reagir com o oxigénio do ar (no meio)

envolvente, produzindo ácido clorídrico (HCl) que é bastante corrosivo e tóxico, o que

pode atuar na membrana degradando-a (Leite, Bailão, Araújo, 2019, p.167).

Page 89: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

89

Tabela 9 – Registo da variação de massa das amostras nova (2018) e antiga (2011) utilizadas nos ensaios

de envelhecimento (Leite, Bailão, Araújo, 2019, p.167).

Membrana nova

(2018)

Membrana antiga

(2011)

Temperatura (ºC)

T

ambiente

(21 ºC)

T=70 ºC T

ambiente

(21 ºC)

T =70 ºC

Va

ria

ção

de

ma

ssa

da

am

ost

ra (

%) Frasco aberto -0,47 -1,25 -0,21

-3,98

Frasco

Fechado

-2,10 -4,36 -2,59

-0,12

Frasco

fechado com

água

2,33 4,78 2,89

1,08

Frasco

fechado com

carvão ativo

-0,15 -1,13 -0,15

-1,36

Frasco

fechado com

sílica gel

-0,16 0,15 -0,03 -1,45

Tabela 10 - Registo das observações visuais das amostras nova (2018) e antiga (2011) utilizadas nos

ensaios de envelhecimento após 67 dias (Leite, Bailão, Araújo, 2019, p.168).

Tipo de ambiente Membrana nova (2018) Membrana antiga (2011)

T ambiente

(T média = 21 ºC)

T envelhecimento

(T = 70 ºC)

T ambiente

(T média = 21 ºC)

T envelhecimento

(T = 70 ºC)

Frasco

aberto

Não apresenta

alterações.

Apresenta um tom

acastanhado.

Não apresenta

alterações.

Apresenta um tom

acastanhado.

Frasco Fechado

Não apresenta

alterações.

Apresenta um tom

acastanhado. Mais

escuro que o de

cima.

Não apresenta

alterações.

Apresenta um tom

acastanhado.

Frasco fechado

com água

A amostra

apresenta-se baça.

H2O dos frascos

evaporou pouco.

Apresenta um tom

ligeiramente

acastanhado.

H2O dos frascos

evaporou.

Não apresenta

alterações.

H2O dos frascos

evaporou pouco.

A amostra

apresenta-se baça.

H2O dos frascos

evaporou pouco.

Frasco fechado

com carvão ativo

Não apresenta

alterações.

Apresenta um tom

ligeiramente

acastanhado.

Não apresenta

alterações.

Apresenta um tom

acastanhado.

Frasco fechado

com sílica gel

Não apresenta

alterações. A

sílica gel ficou

rosa.

Apresenta-se com

tom ligeiramente

acastanhado. A

sílica gel ficou

azul.

Não apresenta

alterações. A

sílica gel ficou

rosa.

Apresenta-se com

tom acastanhado.

A sílica gel ficou

azul.

Page 90: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

90

Figura 81 - Aspeto visual das amostras de película nova e antiga antes dos testes de

envelhecimento durante os 67 dias. ML©

Figura 82 - Aspeto visual das amostras de película nova (a) e antiga (b) após os testes de

envelhecimento após 67 dias, à T = 21ºC e T = 70 ºC em diferentes ambientes: em ar (frasco aberto ou

fechado); com variação da humidade (dois frascos com água); com carvão ativo e com sílica gel. ML©

a) b)

Page 91: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

91

1.3. Análise espetroscópica

1.3.1. Espetroscopia de ultravioleta - visível (UV-Vis)

Foi utilizado um Espetrofotómetro de Ultravioleta-Visível de duplo feixe (UV-1603-

Shimadzu). Fizeram-se as leituras de absorvência/absorvências, das amostras de película

nova (2018) e antiga (2011), num intervalo de comprimento de onda de 200-400 nm e à

temperatura de T = 20 oC, (Leite, Bailão, Araújo, 2019, p.165).

1.3.2. Espetroscopia de infravermelho com transformada de Fourier (ATR - FTIR)

A técnica mais utilizada para identificar os polímeros, e também os seus aditivos, é a

Espetroscopia de Infravermelho com Transformada de Fourier (FTIR), por isso, foi um

dos métodos aplicados neste estudo, mas com Reflexão Total Atenuada (ATR-FTIR),

(Leite, Bailão, Araújo, 2019, p.165).

Foram realizadas análises de Espectroscopia de Infravermelho com Transformada de

Fourier (FTIR) tendo-se utilizado um espetrómetro de infravermelho com transformada

de Fourier Nicolet 6700 equipado com um detetor de DTGS e um acessório de ATR,

SmartMulti - Bounce Horizontal Attenuated Total Reflectance, com cristal de ZnSe. A

aquisição de espetros foi efetuada no infravermelho médio, entre 4000 e 700 cm-1, com a

acumulação de 32 varrimentos e uma resolução de 4 cm-1, em amostras de película nova

(2018) e antiga (2011), colocando-as sobre a base do acessório. Foram também realizadas

análises do resíduo obtido a partir do processo de extração com solvente orgânico no

extrator Soxhlet (Leite, Bailão, Araújo, 2019, p.165).

1.3.3. Apresentação e discussão dos resultados

Espetroscopia de Ultravioleta-Visível (UV-Vis)

Através da análise dos espetros de Ultravioleta-Visível realizados, foi possível verificar

que as amostras de películas nova e antiga apresentam absorvências muito elevadas,

superiores a 2, para comprimentos de onda inferiores a 300 nm, ou seja, apresentam

uma elevada absorção da radiação ultravioleta (Leite, Bailão, Araújo, 2019, p.169).

Page 92: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

92

Espectroscopia de Infravermelho com Transformada de Fourier com Reflexão Total

Atenuada (ATR-FTIR)

Nos espetros de ATR - FTIR das amostras nova (2018) e antiga (2011) (Apêndice II -

Figuras 99 - 101) observaram-se picos aos 1717,0 cm-1 e 1720,7 cm-1, característicos do

grupo carbonilo (C=O) (Shashoua, 2008, p.270) e tal pode ser explicado pela presença de

aditivos. Registaram-se picos a 615 cm-1, característico da ligação C-Cl (Shashoua, 2008,

p.270), concluindo-se que se trata de uma membrana de policloreto de vinilo. Existem

também picos característicos das ligações C – H (1464 cm-1), na amostra nova 1460,2 cm

-1 e na amostra antiga 1461,7 cm-1 e de ligações C – H2 por volta dos1426 cm-1 (Shashoua,

2008, p.270), como se pode observar pela análise dos espetros (Apêndice II - Figuras 99

- 101).

Comparando os espetros das amostras nova e antiga (Apêndice II – Figuras 99 - 101),

constata-se que apresentam picos intensos e coincidentes, concluindo-se que as amostras

podem ter uma composição química semelhante. Contudo, observa-se que a película

antiga apresenta dois picos de 1580,0 cm-1 e de 1599,7 cm-1, diferentes da película nova,

que poderão ser devidos a aditivos (tais como os plastificantes: dihexil-ftalato ou dimetil-

ftalato) e assim, a uma alteração ligeira na composição química das membranas.

Confrontando ainda os espetros de ATR-FTIR dos componentes extraídos com o éter

dietílico verifica-se que os plastificantes têm uma composição química semelhante. Os

picos nos espetros dos resíduos obtidos pela extração com éter dietílico são

predominantemente do plastificante presente nas duas películas nova e antiga (Apêndice

II – Figuras 102 - 104). Neste estudo não foram identificados os aditivos, nomeadamente

os plastificantes, o que poderá ser objeto de investigação em próximos estudos.

Page 93: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

93

CONCLUSÕES

A dissertação que aqui se apresenta resultou de uma investigação sobre uma pintura

realizada pelo artista plástico português Daniel Vasconcelos Melim em 2012, e da

identificação e caracterização material do suporte polimérico onde foi executada.

Para o efeito iniciou-se a pesquisa com uma entrevista ao autor, passando posteriormente

para a pesquisa de diferentes tipos de polímeros aplicados no dia a dia e em obras de arte

contemporânea. Estudaram-se algumas propriedades físico-químicas e os possíveis

fenómenos de degradação a que podem estar sujeitos devido à ação de agentes ambientais

como a radiação UV-V, a temperatura, a humidade no estado gasoso ou líquido.

A caracterização material foi executada segundo a seguinte metodologia: realizou-se a

análise visual e fotográfica da pintura, para verificar o seu estado de conservação e

compreender os materiais e as técnicas usados pelo artista.

Pretendia-se conhecer melhor o tipo de polímero usado como suporte e para tal foram

utilizadas duas amostras de membranas termoplásticas da marca RENOLIT - SE de 2011

(amostra cedida pelo pintor) e de 2018 (amostra cedida pela empresa) para os ensaios

físico-químicos simples e técnicas de espetroscopia com o objetivo de comparar as suas

propriedades e concluir que a membranas usadas tinham a mesma composição química.

Através dos ensaios laboratoriais foi possível determinar que a membrana utilizada pelo

artista Daniel Vasconcelos Melim como suporte, é um policloreto de vinilo (PVC).

Concluiu-se também que os testes químicos tais como as medições de densidade; os

ensaios de solubilidade em diferentes solventes; os testes pirólise e de chama e o método

de extração com solvente orgânico (éter dietílico) utilizando um extrator de Soxhlet, são

testes que em conjunto permitem com relativa facilidade identificar um plástico, no

entanto, isoladamente não são conclusivos. Por exemplo, o teste chama teve que ser

repetido para confirmação da presença de cloro. Foi necessário recorrer ao teste de

pirólise para concluir que os gases de combustão que apresentavam elevada acidez, pH=1,

muito provavelmente se estaria em presença de um material plástico como o PVC.

Os espectros de Infravermelho com Transformada de Fourier e Reflexão Total Atenuada

(ATR-FTIR) permitiram detetar a presença de aditivos. Este dado é relevante, uma vez

Page 94: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

94

que existe o perigo de com o tempo estes compostos migrarem para a superfície alterando

a maleabilidade e o aspeto da obra.

Os espetros de Ultravioleta-visível (UV-Vis) das amostras de membranas termoplásticas

permitiram compreender que estas amostras apresentam uma elevada absorção da

radiação ultravioleta, deste modo, as obras devem ser protegidas da radiação UV e Visível

para evitar danos nas mesmas.

Conclui-se também que as alterações observadas nas películas que foram sujeitas ao éter

dietílico, por extração com Soxhlet quer visuais, quer por análise dos espetros de ATR-

FTIR, devem-se ao facto dos aditivos terem sido extraídos, entre eles, plastificantes.

Quer a amostra de 2011 cedida pelo pintor Daniel Melim, quer a pintura de 2012

aparentam um bom estado de conservação. É recomendado que sejam protegidas de

ambientes com temperaturas e humidade elevadas para evitar o escurecimento da

membrana de PVC e possível alteração da cor das tintas acrílicas, bem como adsorção da

humidade à superfície das pinturas. Contudo, pode dizer-se que as membranas de PVC

apresentam uma elevada durabilidade, uma vez que apenas alteraram a sua cor a uma

temperatura elevada de 70 ºC e resistiram a variados solventes orgânicos.

Recomenda-se ainda que a(s) pintura(a)s com membrana de PVC seja(m) protegida(s)

com um lençol branco, para evitar marcas/incisões dado que a membrana é muito sensível

a qualquer pressão ficando a superfície marcada com as texturas. Por exemplo, o plástico

bolha, não é recomendado.

Mais uma vez se confirma que estes testes permitem uma identificação relativamente

rápida e eficiente podendo ajudar os conservadores-restauradores a encontrar estratégias

e propostas de tratamento do plástico numa obra de arte contemporânea.

Em próximos estudos pretende-se determinar quais são os plastificantes presentes na

membrana de PVC antiga (2011) e nova (2018), para compreender melhor a perda de

massa registada, bem como a alteração de cor das membranas nos testes de

envelhecimento e aprofundar a degradação da membrana em água, para prever e prevenir

possíveis alterações na pintura.

Page 95: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

95

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Page 99: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

99

Apêndices

Apêndice I – Outras Fotografias realizadas: Luz Rasante, Luz Ultravioleta, Luz

Transmitida, Microscopia Digital e fotografias dos Ensaios de Envelhecimento.

Figura 83 – Fotografia de luz rasante (esquerda) - pormenor. Ana Bailão©

Figura 84 - Fotografia integral de

ultravioleta (verso) da amostra de pintura

(2011). Ana Bailão©

Figura 2 – Fotografia integral de

ultravioleta (verso) da amostra de pintura

(2011). Ana Bailão©

Figura 2 – Fotografia integral de

ultravioleta (verso) da amostra de pintura

(2011). Ana Bailão©

Figura 2 – Fotografia integral de

ultravioleta (verso) da amostra de pintura

(2011). Ana Bailão©

Figura 85 – Fotografia integral de

ultravioleta (vista frontal) da amostra de

pintura (2011). Ana Bailão©

Figura 3 – Fotografia integral de

ultravioleta (vista frontal) da amostra de

pintura (2011). Ana Bailão©

Figura 3 – Fotografia integral de

ultravioleta (vista frontal) da amostra de

pintura (2011). Ana Bailão©

Figura 3 – Fotografia integral de

ultravioleta (vista frontal) da amostra de

pintura (2011). Ana Bailão©

Page 100: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

100

Fotografias de luz transmitida

Figura 86 - Fotografia de luz transmitida da pintura integral. Maria Leite©

Figura 4 – Fotografia de luz transmitida da pintura integral. Maria Leite©

Figura 4 – Fotografia de luz transmitida da pintura integral. Maria Leite©

Figura 4 – Fotografia de luz transmitida da pintura integral. Maria Leite©

Page 101: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

101

Figura 88 - Fotografia de luz transmitida - pormenor. Maria Leite©

Figura 87 – Fotografia de luz transmitida - pormenor. Maria Leite©

Figura 5 – Fotografia de luz transmitida - pormenor. Maria Leite©

Figura 5 – Fotografia de luz transmitida - pormenor. Maria Leite©

Figura 5 – Fotografia de luz transmitida - pormenor. Maria Leite©

Page 102: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

102

Fotografias de Microscopia Digital

Figura 89 – Fotografia de MD – Pormenor de tinta

acrílica amarela com bolhas de ar e poeiras (amostra

de 2011). Maria Leite©

Figura 90 – Fotografia de MD – Pormenor de tinta

acrílica amarela com bolhas de ar e poeiras

(amostra de 2011). Maria Leite©

Figura 91 - Fotografia de MD – Pormenor de tinta

acrílica azul com bolhas de ar, poeiras/sujidade e

fibras (amostra de 2011). Maria Leite©

Figura 92 - Fotografia de MD – Pormenor de tinta

acrílica azul com bolhas de ar, poeiras e empaste

(amostra de 2011). Maria Leite©

Figura 93 - Fotografia de MD – Pormenor de tinta

acrílica azul com bolhas de ar (amostra de 2011).

Maria Leite©

Figura 94 - Fotografia de MD – Pormenor de

tinta acrílica azul com bolhas de ar (amostra de

2011). Maria Leite©

Page 103: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

103

Figura 95 - Fotografia de MD – Pormenor de tinta

acrílica azul com enrrugamento e poeiras (amostra de

2011). Maria Leite©

Figura 96 – Fotografia de MD – Pormenor de

tinta acrílica azul com enrrugamento, bolhas de ar

e poeiras (amostra de 2011). Maria Leite©

Figura 97 – Fotografia de MD – Pormenor de tinta

acrílica azul, preta e vermelho (amostra de 2011).

Maria Leite©

Figura 98 – Fotografia de MD – Pormenor

de tinta acrílica amarela e azul com bolhas de

ar (amostra de 2011). Maria Leite©

Figura 20 – Fotografia de MD – Pormenor

de tinta acrílica amarela e azul com bolhas de

ar (amostra de 2011). Maria Leite©

Figura 20 – Fotografia de MD – Pormenor

de tinta acrílica amarela e azul com bolhas de

ar (amostra de 2011). Maria Leite©

Figura 20 – Fotografia de MD – Pormenor

de tinta acrílica amarela e azul com bolhas de

ar (amostra de 2011). Maria Leite©

Page 104: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

104

Apêndice II – Espetros de Espetroscopia de Infravermelho com Transformada de Fourier

e Reflexão Total Atenuada (ATR-FTIR)

Figura 99 – Espetro de ATR - FTIR da amostra nova.

Figura 100 – Espetro de ATR - FTIR da amostra antiga.

Page 105: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

105

Figura 101 – Espetro de ATR - FTIR das amostras de película nova e antiga.

Figura 102 – Espetro de ATR - FTIR das amostras de película nova e após extração

com solvente orgânico num extrator de Soxhlet.

Page 106: ESTUDO SOBRE POLÍMEROS SINTÉTICOS UTILIZADOS COMO SUPORTES

106

Figura 103 – Espetro de ATR - FTIR das amostras antiga e após extração com solvente

orgânico num extrator de Soxhlet.

Figura 104 - Espetro de ATR - FTIR dos resíduos do Soxhlet da amostra nova e

antiga.

As análises de Espetroscopia ATR-FTIR foram realizadas no Laboratório de Química da

FCUL, pela Professora Doutora Maria Eduarda Araújo.