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i RELATÓRIO CONTRATO N o 114113 do Projeto de Cooperação Técnica BRA/IICA/12/003 – ANA/INTERÁGUAS Outorga de direito de uso, tendo em vista as incertezas dos cenários futuros, em face às Mudanças Climáticas EXPERIÊNCIAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS E ALOCAÇÃO DE ÁGUA Consultor: Fernando Antonio Rodriguez Brasília, 04 de novembro de 2014 REPRESENTAÇÃO NO BRASIL

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RELATÓRIO

CONTRATO No 114113 do Projeto de Cooperação Técnica BRA/IICA/12/003 – ANA/INTERÁGUAS

Outorga de direito de uso, tendo em vista as incertezas dos cenários futuros, em face às Mudanças Climáticas

EXPERIÊNCIAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS E ALOCAÇÃO DE ÁGUA

Consultor: Fernando Antonio Rodriguez

Brasília, 04 de novembro de 2014

REPRESENTAÇÃO NO BRASIL

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Um aumento sem precedentes na demanda mundial de água ameaça os principais objetivos de desenvolvimento, adverte a última edição do Relatório Mundial das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento de Recursos Hídricos (WWDR4), intitulado “A gestão da água em um contexto de incerteza e de risco.

Essentially, all models are wrong, but some are useful.

George Box, industrial statistician

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Sumário 1. Prólogo .................................................................................................................................. 5

2. Listas de SIGLAS, abreviações e acrônimos ........................................................................... 6

3. Introdução ............................................................................................................................. 7

4. Considerações Gerais ............................................................................................................ 8

5. Desenvolvimento dos trabalhos ............................................................................................ 9

6. Experiências identificadas ................................................................................................... 10

6.1. África ........................................................................................................................... 15

6.1.1. África do Sul......................................................................................................... 18

6.2. América do Sul e Central .................................................................................................. 19

6.2.1. Chile ........................................................................................................................... 20

6.2.2. Brasil .......................................................................................................................... 22

6.2.2.1. Outorga .............................................................................................................. 26

6.3. América do Norte ............................................................................................................. 27

6.3.1. Canadá - Alberta ........................................................................................................ 27

6.3.2. Estados Unidos .......................................................................................................... 30

6.3.2.1. Califórnia ............................................................................................................ 32

6.3.2.2. Idaho................................................................................................................... 37

6.3.2.2.1. Impacto sobre o usuário da água superficial .............................................. 38

6.3.2.2.2. Águas subterrâneas ..................................................................................... 41

6.3.3. Texas .......................................................................................................................... 50

6.4. México .............................................................................................................................. 52

6.5. Experiências europeias ..................................................................................................... 54

6.6. Austrália ........................................................................................................................... 56

6.6.1. Administrando alocação e resultados de melhoria ambiental ................................. 63

6.6.2. Fortalecimento do mercado de água ........................................................................ 64

6.6.3. Planejamento dos recursos hídricos na Austrália ..................................................... 64

6.6.3.1. Plano de recursos hídricos das bacias ocidentais do país – Sudoeste ............... 66

6.6.3.2.. Iniciativas na bacia do Murray Darling .............................................................. 77

6.6.4. Alocação de água e prioridades para gestão ............................................................ 79

6.7. Ásia ................................................................................................................................... 79

7. Síntese deste levantamento ................................................................................................ 81

Referências .................................................................................................................................. 83

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Anexo 1 – Ajuda memória reunião com primeiro entrevistado ................................................. 88

Lista de figuras

Figura 1. Percentual de precipitação em diversas regiões do mundo. ....................................... 17 Figura 2. Regiões do Chile onde ocorrem sobreoutorgas e sobre explorações. ......................... 21 Figura 3. Previsão de mudanças nas vazões devido às mudanças climáticas ............................. 31 Figura 4. Direitos de uso da água concedidos tanto para água superficial como subterrânea. . 37 Figura 5. Impactos nas parcelas durante a seca de 1992 no rio Cobra em Idaho ...................... 39 Figura 6. Impacto da água subterrânea na seca de 1992. .......................................................... 42 Figura 7. Mapa de prioridade para corte de água no período de alto impacto .......................... 43 Figura 8. Previsão de impactos no cenário de escassez de água sobre usuários de água superficial. ................................................................................................................................... 44 Figura 9. Previsão de impactos nas condições intermediárias para água subterrânea .............. 45 Figura 10. Impactos nos direitos de água subterrânea do município de Bingham no cenário de escassez por influência das mudanças climáticas. ...................................................................... 47 Figura 11. Impactos identificados para primeiro ano de análise do período de escassez sob influência das mudanças climáticas. ........................................................................................... 48 Figura 12. Resultado da análise dos impactos das mudanças climáticas nos municípios do rio Cobra, no ano 5 ........................................................................................................................... 49 Figura 13. Mapa conceitual da modelagem para gestão de recursos hídricos em um quadro de mudança climática ...................................................................................................................... 58 Figura 14. Plano de recursos hídricos regional de Perth-Peel .................................................... 69 Figura 15. Referencial de alerta e providências que fazem parte do acordo com os usuários de água - Tier .................................................................................................................................... 77

Lista de tabelas

Tabela 1. Países que contemplam as mudanças climáticas na alocação de água ...................... 10 Tabela 2. Mudanças na precipitação, evaporação e escoamento superficial esperados em várias bacias hidrográficas da África ..................................................................................................... 18 Tabela 3. Resumo da nova regra de uso da água na Bacia do Rio Verde Grande. ...................... 24 Tabela 4. Requisição de armazenamento e habilidade para aquisição a ser feita em anos de extrema escassez de água. .......................................................................................................... 45 Tabela 5. Síntese dos estudos de casos dos planos de recursos hídricos na Austrália ............... 61 Tabela 6. Cenários de disponibilidade de água subterrânea para 2030. GL/ano ....................... 71 Tabela 7. Cenários de vazão para os rios da região, em 2030 .................................................... 72

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1. Prólogo Este Relatório (R-1_ é o segundo produto do contrato no 114113 do Projeto de Cooperação Técnica BRA/IICA/12/003 – ANA/INTERÁGUAS o qual tem por objeto “Elaboração de uma proposta de alternativas para o aperfeiçoamento do instrumento de outorga de direito de uso de água, tendo em vista as incertezas dos cenários futuros de disponibilidade de água em bacias brasileiras.

Veiga & Magrini (2013) afirmam que no Brasil, já existe evidência científica que a mudança do clima pode afetar a disponibilidade hídrica em muitas regiões. A resposta dos recursos hídricos às mudanças climáticas é variável segundo as especificidades de cada bacia hidrográfica.

Apesar de vários estudos já terem sido desenvolvidos, ainda não se tem um quadro preciso sobre os possíveis impactos da mudança climática sobre os recursos hídricos. As incertezas ainda persistem, representando por vezes obstáculos à implementação de ações de mitigação e de adaptação.

Os últimos eventos têm tornado cada vez mais claro em quais direções estamos nos movendo. Ainda que os modelos podem diferir em projeções de taxas e magnitude do aquecimento, todos eles projetam um aquecimento do clima e todos ressaltam mudanças significativas na qualidade e quantidade de água e no caráter ecológico dos ecossistemas, mas não apontam números que permitam uma readequação dos modelos gestores de recursos hídricos, principalmente no que se refere aos instrumentos de alocação e outorga.

A base histórica para elaborar projetos e utilizar infraestrutura, certamente não se sustentará nas condições sujeitas às mudanças climáticas porque não se pode presumir que o regime hidrológico futuro vá ser igual ao do passado. O desafio está, portanto, em incorporar as incertezas no planejamento e gestão dos recursos hídricos.

Os dados e premissas a partir das quais se tem planejado e gerido a utilização da água no passado já não pode seguir considerando como válidos para o futuro. Lamentavelmente, os indícios gerais das mudanças climáticas e seus impactos e efeitos ainda não são suficientemente precisos como para constituir uma base confiável que assegure as tomadas de decisões na gestão dos recursos hídricos. Várias autoridades e cientistas ressaltam que não é provável que se vá dispor em futuro próximo de informações mais precisas sobre os reflexos dessas mudanças sobre as disponibilidades hídricas. A UICN tem afirmado que:

... a frequência e magnitude das inundações e secas ou sobre as variações das vazões ou recarga de águas subterrâneas não pode ser deduzido de modelos climáticos atuais nem estar associada com eles. Lamentavelmente nem a extrapolação de tendências recentes, nem a redução dos modelos globais podem produzir a informação precisa que são necessárias aos planejadores, gestores e usuários da água.

Em 2007, o Relatório de Clima (Ambrizzi et al. 2007) apresentou evidências sobre os efeitos das mudanças climáticas na disponibilidade hídrica de muitas regiões do Brasil. Das análises feitas concluiu-se que a água não deve ser tratada de forma isolada nos esforços de adaptação, mas de maneira holística com outros processos de gestão de riscos, ecossistemas e ordenamento territorial, entre outros temas altamente relevantes.

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Em abril do ano em curso foi levado a efeito em Madrid o encontro “Gobernanza del Agua de la Organización para la Cooperación y el Desarrollo Económico (OCDE)” o qual reuniu mais de 100 profissionais internacionais de gestão da água. Esse evento deixou claro que nos encontramos num momento decisivo para o futuro da água como um recurso que demanda uma gestão global. Das decisões tomadas agora dependerá o resultado futuro para conseguir desenvolvimento almejado. A OCDE tem colocado que água não é um recurso escasso a nível global, no entanto mal distribuído, e a crise hídrica na realidade é um problema de governança que requer cooperação e soluções conjuntas das partes envolvidas.

Este é um trabalho de abrangência universal, o qual representa uma iniciativa única, ao menos na América, no que se refere à alocação e outorga. Tendo-se encontrado um grande vazio de estudos conclusivos, ou que ao menos menciona algo feito nesse sentido.

Com um elenco de questões a serem formuladas aos entrevistados, previamente aprovadas pela ANA, não foi possível ouvir as pessoas relacionadas no plano de trabalho por duas razões, a primeira é que ao se ouvir o Prof. Luís Cláudio Costa, este se interessou tanto pelo assunto que sugeriu uma reunião, a ser convocada por ele no próprio Ministério Educação, com presenças dos cientistas Carlos Nobre que presta serviços no momento no Ministério da Ciência e Tecnologia e do Prof. Merengo do INPE, além de um ou mais especialistas. Segundo, que foi forte a afirmativa do Prof. Luís Cláudio, que em toda sua militância nessa área das mudanças climáticas tinha tido conhecimento de um trabalho acadêmico nesse campo do conhecimento abrangendo a outorga. Ele mesmo acha que esse deva ser um tema para estimular os pesquisadores a entrar nessa área, pois, como as mudanças climáticas produz impactos no acesso aos recursos hídricos, impondo ameaças, riscos e vulnerabilidades aos seus usuários, principalmente no que se refere à garantia de disponibilidade, como por ter reflexo nas condições de vida pode ser tratada como uma questão de segurança humana, segundo SANTOS (2012)1.

Ao se analisar os desafios desta temática de clima e de água se depara com necessidade de mecanismos de governança que se adaptem aos impactos negativos de eventos climáticos sobre as condições de alocação e distribuição dos recursos hídricos, para ditar quais serão as medidas necessárias nesses casos, sendo que a maioria delas são de longo prazo e mais custosas.

Em face a essa situação a ANA, em reunião do dia 3/11/2014, no Gabinete do Superintendente Rodrigo Flexa, foi acertado que a Dra. Alessandra, faria um agrupamento das questões que serão feitas aos entrevistados, para que a própria Agência enviasse aos profissionais listados convidando-os a preencher os questionários os quais, também, serviriam para orientar as futuras pesquisas.

2. Listas de SIGLAS, abreviações e acrônimos AEMA – Agência Europeia do Ambiente

1 SANTOS, L. B dos. A Securitização do impacto das mudanças climáticas na gestão dos recursos hídricos. 1º Seminário Nacional de Pós Graduação em Relações Internacionais. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. 2012.

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ANA – Agência nacional de Águas

COPPE – Instituto Alberto Luiz Coimbra

CPTEC – Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos

EU – European Union

INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais

IPCC – Intergovenamental Panel on Climate Change

MC – Mudanças Climáticas

OECD – Organization for Economic Cooperation and Development

PP – PowerPoint

PT – Plano de Trabalho

RH – Recursos Hídricos

RP – Relatório Preliminar

SFI – Superintendência de Fiscalização da Agência Nacional de Águas

SSA – África Subsaariana

WEB – World Wide Web

WFD – Water Framework Directive

WWF – World Water Forum

3. Introdução Este trabalho é de pesquisa na rede WEB e entrevistas para se avaliar o estado da arte da alocação de água e outorga nas diferentes regiões do mundo de modo a se avaliar sua aplicabilidade no Brasil.

Nessa pesquisa procurou-se encontrar alternativas para o aperfeiçoamento dos instrumentos de gestão de recursos hídricos: a outorga de direito de uso de recursos hídricos frente às incertezas dos cenários futuros de disponibilidade de água em bacias brasileiras.

Os esforços foram voltados para os temas: licença de direito de uso da água mudanças climáticas; direito sobre uso de água e mudança climática; alocação de água e mudança climática; plano de recursos hídricos mudança climática, tanto em inglês, como em espanhol e português.

Trabalhou-se por continente, verificando em primeiro lugar o que de natureza geral os países já estavam considerando dos efeitos das mudanças climáticas sobre os recursos hídricos, tenho encontrado que a maioria deles pelo menos já despertaram alguma atenção para essa questão.

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Seguiu-se aprofundando as investigações para ver quais deles já estavam contemplando os efeitos e impactos das mudanças climáticas na aplicabilidade dos instrumentos de alocação e outorga do direito de uso da água. São poucos os que tem avançado nessa questão sob esse ângulo específico, razão porque se voltou então para ver quais as ferramentas estavam, então sendo utilizadas que poderiam ser utilizadas no aperfeiçoamento dos instrumentos objeto deste trabalho.

A unanimidade encontrada foi que todos depositam grande responsabilidade e expectativa nos planos de recursos hídricos, os quais impreterivelmente terão que considerar os efeitos das mudanças climáticas, o que está exigindo abreviação do tempo de revisão dos mesmos.

Não restou dúvida de que todos os casos analisados merecerão algum acompanhamento por parte do Brasil para verificar seus avanços ou retrocessos, mas o que mais tem a contribuir no momento são as experiências da Austrália.

4. Considerações Gerais Está muito difícil encontrar algum país ou instituição que tenha aplicado com segurança algum critério para aprimoramento do processo de outorga do direito de uso de água, porque todas projeções de incertezas engendram consideráveis discórdias sobre como aplicar as projeções climáticas sobre a avaliação do impacto. Algumas pesquisas sugerem que a extensão dos impactos estimados baseados em um vasto conjunto de projeções é um limite mínimo e uma prática sem muito efeito, pelo menos no futuro previsível.

O tema alocação de água assim como a quantidade de água, crescimento e mudanças sociais de demandas por água, novas tecnologias, uso eficiente da água, viabilidade econômica e benefício custo são questões de grande vulto para as instituições de pesquisas e os tomadores de decisões em vários níveis (ESCWA e ICARDA, 2003 apud).

Adotou-se para este trabalho a definição de gestão de água dada pela Comissão Internacional de Irrigação e Drenagem – ICID em 2001 como sendo desenvolvimento planejado, distribuição e uso dos recursos hídricos de acordo com predeterminados objetivos respeitando tanto a quantidade como a qualidade desses recursos.

A maioria dos modelos climáticas preveem maiores mudanças em 50 a 100 anos. Provavelmente estarão aptos a detectar e quantificar a maioria das mudanças somente após essas mudanças terem ocorridos. (Klemes 2000a, b apud Hanak and Lund, 2008). Devido a que o clima tem uma relação natural e dependente dos recursos hídricos, deduz-se que as melhores formas de adaptar-se às mudanças climáticas é fortalecer a gestão integrada dos recursos hídricos, tendo a água como um recurso essencial e que tem implicações em todos os setores e segmentos da sociedade e essencial ao bem estar, desenvolvimento econômico e proteção ambiental e, paradoxalmente, pode constituir ameaças a todos eles tanto pela falta como pelo excesso.

Na definição atual de obras de infraestrutura não contempla a incorporação de variáveis de mudanças climáticas, pois vem se construindo com base em estatísticas do passado, apesar que, nas palavras do Secretário Geral da Organização Mundial de Meteotologia: “o passado já não é um bom indicador para o futuro.” (Reuters, 2009).

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Vários são os estudos voltados para o planejamento da disponibilidade e demanda de água em bacias hidrográficas relacionadas às mudanças climáticas, em várias partes do mundo, mas tem sido poucos sobre-alocação e outorga do direito de uso das águas dentro dessa ótica.

Binder (2006) mostra que os planos de bacias hidrográficas nos Estados Unidos já contemplam estudos e ações que levam em conta os efeitos das mudanças climáticas sobre a demanda de água nos usos doméstico, industrial e agropecuário.

São poucos os trabalhos que entram na questão dos direitos de uso.

Muito embora, foram poucas as experiências em andamento especificamente no que refere à outorga e alocação de água em face às mudanças climáticas, se considera este exercício altamente relevante e útil para fins de planejamento e como instrumento para fomentar o intercâmbio de experiências em diferentes níveis, sobretudo como subsídio ao processo capaz de encontrar respostas para esta questão.

A necessidade de tomar cada vez mais decisões com base em informação climática e hidrológica em tempo real e de atender a solicitações e emergências cada vez mais diversificadas exige novos sistemas de gestão muito mais complexos que a maioria dos atuais utilizados e obrigam a reestruturações profundas, que demoram tempo e consomem recursos.

A gestão dos processos de mudança para esta nova realidade requer decisão competente e com oportunidade, apoio político, experiência, conhecimento e liderança. É preciso envolver pessoal bem preparado com novas vivências e domínio de campo de conhecimento e atualizar os atuais, mantendo altos níveis de motivação e de organização.

5. Desenvolvimento dos trabalhos Segue-se com a essência da metodologia proposta participativa e interativa, o que deve servir para aprimorar a cada passo o trabalho em desenvolvimento, inserindo os conceitos consensados entre as partes envolvidas.

O levantamento de experiências internacionais busca criar propostas que possam aperfeiçoar os processos de outorga e alocação de água de longo prazo, divididos em três casos: 1) outorga para aproveitamentos hidrelétricos; 2) outorga para infraestrutura hídrica (e.g. perímetros de irrigação, projeto de transposição (PISF), sistema Cantareira e sistema Paraíba do Sul, açudes no semiárido); 3) regras de alocação de água em bacias críticas (e.g. bacias do Verde Grande, Quaraí e Piranhas Açu). Tais processos de outorga têm como premissa a estacionariedade hidrológica e não consideram incertezas quanto à disponibilidade hídrica futura, em face às mudanças climáticas.

Trata-se de um levantamento de experiências internacionais e propostas que considerem mudanças nas demandas hídricas em decorrência de mudanças climáticas, notadamente irrigação, e consequências sobre os processos de outorga.

Essas experiências são avaliadas de forma objetiva para que as propostas possam efetivamente ser implementadas na ANA no instrumento de alocação e outorga, e não em impactos genéricos de mudanças climáticas sobre recursos hídricos.

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Este trabalho de acordo com Plano de Trabalho aprovado deveria ter-se iniciado a partir dos países que responderam ao questionário da OECD, sendo que dos que responderam a esse questionário somente 59% dos registros do regime de alocação de água tem levado em conta as mudanças climáticas, aproximadamente a mesma proporção que consideram os fluxos de retorno e conectividade com outros corpos de água.

Iniciou-se os trabalhos sem essas informações porque a OECD ainda não tinha atendido às solicitações da ANA, o que só aconteceu quando este relatório estava praticamente concluído.

Ter em conta a mudança climática na definição dos recursos disponíveis necessita atualização periódica da base científica. For exemplo, na Australia, o impacto da mudança climática na disponibilidade dos recursos hídricos está sendo cientificamente avaliada e estudada regular e continuamente.

6. Experiências identificadas De acordo com as palavras chaves, após se buscar por país, e ao não encontrar experiências que se enquadravam dentro do escopo, ou ser incipientes, buscou-se outras alternativas como a existência de parâmetros indiretos que poderiam induzir à consideração dos efeitos e impactos das mudanças climáticas no processo de alocação ou estabelecimento do direito de uso da água como algum tipo de índice.

Não se identificou trabalhos concluídos que possam orientar o aperfeiçoamento do sistema de outorga no Brasil em face às mudanças climáticas, vários trabalhos estão em andamento mas nenhum que nesta fase do conhecimento possa ser recomendado. A maioria deles estão voltados para o ciclo hidrológico, sistema hídrico global, água e ecossistema, e mudanças climáticas.

A ANA consultou a OECD sobre essas experiências, cujos resultados listam os países que atenderam à consulta, podendo ser identificado alguns países que estão contemplando as mudanças climáticas em seus regimes de alocação de água. (OECD, FORTHCOMING,2015), o que coincide em parte com os resultados deste trabalho. A Tabela 1 representa um quadro sintético dos resultados da consulta da OECD.

Tabela 1. Países que contemplam as mudanças climáticas na alocação de água

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País / Estado / Província

É as MC levada em conta na alocação de água?

De que modo? Quais as medidas são posta em prática para acomodar os potenciais impactos adversos das Mudanças Climáticas sobre o conjunto desses recursos

Australia (Murray Darling basin

Sim Impactos potenciais das mudanças climáticas são consideradas na fixação dos limites para retirada de água e nas regras de alocação, de modo a assegurar menos água disponível para uso consuntivo em anos mais secos.

Os planos de recursos hídricos feitos com o propósito das necessidades do Plano de Bacia especificando como os recursos hídricos serão manejados durante eventos extremos, incluindo período extremo seco. Como parte dessa exigência, os planos de recursos hídricos precisam prover, que se novas informações científicas sugerem uma mudança na probabilidade de um determinado extremo ocorrer (por exemplo, devido à mudança climática) é preciso considerar, como resultado desse novo conhecimento a gestão da água deve ser conduzida diferentemente. O regime de alocação de água responde à variabilidade climática (e potencialmente à mudança climática) por meio de alocação de menos água para uso consuntivo em anos mais secos. Em aditamento a isso, a revisão do ciclo de dez anos (ou menos) para o Plano de Bacia, ditará a necessidade um novo plano de recursos hídricos em intervalos de 10 anos, criando oportunidade de incorporar novos conhecimentos sobre mudanças climáticas incluindo impactos sobre os recursos dos corpos de água, e, implementando modelos de gestão para acomodar esses impactos.

Austria Sim Os impactos das mudanças climáticas sobre as disponibilidades de água estão sendo investigadas cientificamente em bases regulares.

Neste país somente 3% dos recursos hídricos são usados. Entretanto, as mudanças na disponibilidade devido aos impactos e consequências das mudanças climáticas na gestão dos recursos hídricos estão sujeitas à uma regular investigação científica, os resultados são considerados nos planos de gestão da bacia. Não são esperadas grandes ou significativas mudanças no médio prazo

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País / Estado / Província

É as MC levada em conta na alocação de água?

De que modo? Quais as medidas são posta em prática para acomodar os potenciais impactos adversos das Mudanças Climáticas sobre o conjunto desses recursos

Canadá / Alberta

Sim O governo estabeleceu um plano de trabalho para adaptação às mudanças climáticas. O primeiro passo é desenvolver futuros cenários hidro-climáticos para as maiores bacias hidrográficas. Alguns desses trabalhos são apoiados pelo Natural Resources Canada por intermédio da Cooperação da Adaptação Regional das Savanas

Planos de gestão de bacias hidrográfica, pesquisas sobre águas subterrâneas, e continuidade de medidas de conservação de água tomadas pelas indústrias e pelos habitantes de Alberta.

Canada / Newfoundia

Sim Questões de inundações

Monitoria hidrométrica

Canada / Nova Scotia

Sim Monitoria de águas tanto superficiais como subterrâneas por toda a província.

Canadá / Prince Edward Island

Sim Alocação não é um direito e pode ser revogado ou alterado. Os impactos das mudanças climáticas são avaliados quando das futuras revisões das quantidades de alocação de água de modo a se ter segurança e o seu uso permanecer sustentável.

Canadá / Quebec

Sim Em desenvolvimento

Plano de Ação das Mudanças Climáticas 2013-2020 e estratégias para adaptação às mudanças climáticas

China Sim Formulação de plano anual de regulação da água baseado nas

Plano de Emergência para Aliviar a Seca na Bacia do Rio Amarelo (teste) foi liberado pelo YRCC

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País / Estado / Província

É as MC levada em conta na alocação de água?

De que modo? Quais as medidas são posta em prática para acomodar os potenciais impactos adversos das Mudanças Climáticas sobre o conjunto desses recursos

projeções para o ano seguinte.

Colombia Sim As mudanças climáticas estão refletidas em termos de eventos climáticos extremos (inudanções e secas)

Formulação do CONPES 3451 de 2006 que estabelece dos delineamentos da política para recuperar e conservar o ecossistema lagunar de Fúquen, Cucunubá e Palacio. Atualização do Plano de Ordenamento e Manejo da Bacia do UBATE- SUAREZ incorporando o componente de gestão de risco, considerando condições de variabilidade climática.

Dinamarca Sim Com base nos dados sobre o balanço hídrico nos futuros instrumentos de planejamento

Toda municipalidade na Dinamarca tem que fazer um plano de riscos, o qual explica como se comportar nas mudanças climáticas sobre a água

Inglaterra e país de Gales

Sim As mudanças climáticas são levadas em conta no processo de planejamento dos recursos hídricos e por intermédio de uso limitado pelo tempo. Muitas das licenças existentes não são flexíveis o suficiente para ter em conta as mudanças climáticas.

O processo CAMS contempla uma avaliação das disponibiliddades hídrica e a aplicação das ferramentas regulatórias relativas a essas questões. Isto, contudo, tem suas limitações na Inglaterra e Gales que estão procurando uma reforma nas retiradas para introduzir um sistema mais adaptativo.

França Sim Os usuários de água estão sendo encorajados por intermédio das agências a reduzir o uso de água de modo a antecipar a redução da disponibilidade hídrica. Os volumes

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País / Estado / Província

É as MC levada em conta na alocação de água?

De que modo? Quais as medidas são posta em prática para acomodar os potenciais impactos adversos das Mudanças Climáticas sobre o conjunto desses recursos

de retirada têm que ser redefinidos após poucos anos

Hungria Sim Os recursos hídricos são recalculados a cada 10 a 15 anos

Não há arranjos no lugar

Israel Sim O tratamento de águas residuárias é um dos caminhos para adaptar à mudança climática. Mais instalações de tratamento estão sendo planejadas para atender às futuras demandas e aumentar a capacidade para atender em caso de anos secos

A melhoria do nível de tratamento em todas as instalações de tratamento de modo a permitir uma ampla faixa de uso para água residuária tratada, inclusive para uso potável. Promoção de uso de água residuária tratada para agricultura por meio de subsídio e segurança de suprimento.

A água residuária tratada é, também, usada para reabilitação de sustentação de ecossistemas úmidos.

Korea Não Para adaptação à mudança climática o Governo Coreano está construindo uma Rede de Água Inteligente e dessalinização para situação de extrema seca. Essa Grade Inteligente de Água um avanço no sistema de gestão dos recursos hídricos vinculado ICT. Ele combina múltiplas fontes de água (por exemplo chuva, água fluvial, dessalinização, reservatórios e reuso de água residuária).

Nova Zelândia

Sim Por ocasião da definição dos limites de águas superficial e subterrânea as mudanças climáticas são consideradas. O plano também tem provisão para rever esses limitas quando as

O conselho revê as vazões mínimas e as vazões alocáveis quando os levantamentos indicam que as mudanças climáticas estão afetando as vazões das águas superficiais e os rendimentos sustentáveis da água subterrânea.

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País / Estado / Província

É as MC levada em conta na alocação de água?

De que modo? Quais as medidas são posta em prática para acomodar os potenciais impactos adversos das Mudanças Climáticas sobre o conjunto desses recursos

avaliações revelam que as mudanças climáticas estão afetando as vazões dos rios e o rendimentos dos aquíferos.

Portugal Sim No processo de planejamento

Existe uma monitoria regular e a concexão com a Espanha, Convenção de Albufeira). Os planos de Bacias, também, contemplam os impactos das mudanças climáticas.

South Africa Não Considerado na acomodação das análises estocásticas das vazões.

Constante melhoria da hidrologia utilizadas nas ferramentas estocásticas.

Siglas:

YRCC: Yellow River Conservancy Commission

CAMS: catchment abstraction management strategy

ICT: Information and Communication Technology

Fonte: OECD (forthcoming 21015)

A seguir se sintetiza as experiências analisadas.

6.1. África Muito embora as experiências deste continente não terem sido consistentes com o almejado para o escopo deste trabalho, se desceu a algumas considerações porque é a região indicada pela FAO capaz de competir com as Américas do Sul e Central, especialmente o Brasil, para tender às necessidades de alimento, agroenergia e fibras até o ano de 2050.

A África é um dos mais vulneráveis continentes às mudanças climáticas por causa de múltiplo estresse a que está sujeita e da baixa capacidade de adaptação. As maiores do continente são as dos rios Niger, Lago Chad e Senegal, onde a água total disponível tem diminuído entre uns 40 e 60%. Nos próximos 15 a 20 anos, a área considerada com certa segurança de água cairá de 53% para 35% (Ashton, 2002).

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Só esse alarme já demonstra a necessidade urgente de fortalecer o processo de gestão e tomada de decisão. Enfrenta sérias limitações como inadequadas informações, e quando se vai para os efeitos das mudanças climáticas torna-se mais crítico ainda. Existem muitos poucos estudos ou documentos que registrem percepções e experiências. Prevalece inadequadas capacidade e experiência técnica na maioria dos países principalmente nos temas que se referem à gestão dos recursos hídricos e às mudanças climáticas, com exceção da África do Sul.

Na África existem 36 rios internacionais que ocupam cerca de 64% do continente e são responsáveis por 90% de todos os recursos hídricos superficiais (Turton et al, 2005).

O IPCC (2001) registrou que cinco dos maiores rios (Congo, Nilo, Niger, Chad e Zambezi) ocupam cerca de 42% de toda área geográfica onde se situa cerca de 44% de toda população africana. Outras bacias compartilhadas no continente são as do Senegal, Gambia, Limpopo, Orange/Sengu e Cunene.

As bacias do Congo, Nilo, Niger e Zambezi compartilham suas águas com mais de oito países. O IPCC (2001) alertou que a razão de dependência é de cerca de 90% para Niger e Mauritania no Oeste da África, enquanto que similar dependência de transferência está também localizada no Sul da África e na bacia do rio Nilo.

A disponibilidade de água no Sub Saara Africano (SSA) é altamente variável e é um dos maiores óbices ao desenvolvimento socioeconômico. Somente na zona tropical úmida na África Central e na África Ocidental tem abundante água (IPCC 2000). Da mesma forma a disponibilidade de agua varia consideravelmente dentro de cada país.

A realização de uma revolução verde africana e sua contribuição para segurança alimentar e o desenvolvimento econômicos na região do Sub Saara está ameaçada pelas mudanças climáticas.

Nessa região do Sub Saara o número de países onde a demanda de água está saindo dos limites sustentáveis está aumentando. Muitos desses países estão em nível de stress de água (menor do que 1.700 m3/hab/ano) ou na condição de escassez (menos de 1.000 m3/hab/ano). Além disso a insegurança alimentar permanece endêmica na maioria da África devido a fatores climáticos como a precipitação que tem na variabilidade sua maior causa.

Os pequenos agricultores serão os mais vulneráveis às mudanças climáticas e eles não têm alternativas a não ser promover acentuadas adaptações para conviver com as condições ditadas por essas mudanças. Felizmente, várias opções técnicas para essa adaptação estão disponíveis. Todos os esforços precisam ser dispendidos para refina-las, ampliá-las e aplica-las adequada e urgentemente.

A estratégia de gestão dos recursos hídricos é chave para assegurar que a produção agrícola possa conviver com os efeitos das mudanças climáticas. É neste contexto que o MDG Centre (Leste e Sul da África) decidiram concentrar seus estudos para avaliar as estratégias mais apropriadas para os pequenos produtores rurais na África Subsaariana - SSA.

O estudo identificou melhora no manejo da água na agricultura como uma das melhores apostas para adaptação da produção à mudança e variabilidade climática. Esse trabalho conclui, concordando com Borlaug (Prêmio Novel da Revolução Verde nos anos 70) que é preciso uma

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revolução azul para viabilizar a revolução verde na África. Entretanto essa revolução azul para se tornar realidade se torna um grande desafio. Até o momento somente 6% das terras agrícolas desse continente estão sendo irrigadas, e de acordo com o IPCC, por volta de 2020 as lavouras de sequeiro em vários países decrescerão em 50% com cerca de 250 milhões de africanos enfrentando stress hídrico bem crítico. O impacto das mudanças climáticas sobre os agricultores e seu sustento poderão ser catastróficos.

Isto inclui a melhoria das capacidades em vários níveis, desenvolvimento de tecnologia e pesquisa, políticas apropriadas e reformas institucionais e o provisionamento de serviços de suporte aos agricultores.

Na África os recursos hídricos têm altas variações temporais e espaciais. Além disso, a abundância de chuvas e o relativamente baixo nível de retirada da água dos mananciais, abre um espaço para exploração para convivência com os efeitos das mudanças climáticas.

A Figura 1 dá uma visão da ocorrência de precipitação em várias regiões do mundo onde o continente africano se mostra uma das mais críticas

Figura 1. Percentual de precipitação em diversas regiões do mundo.

As variações esperadas na precipitação, evaporação e escoamento nas bacias dos rios Africanos, com base em dados de 1951 a 1990 estão mostradas na Tabela 2.

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Tabela 2. Mudanças na precipitação, evaporação e escoamento superficial esperados em várias bacias hidrográficas da África

Fonte: IPCC 2001

A análise das grandes bacias na África tem dado impressão falsa de que são áreas ricas em água, levando a interpretação de que problemas locais poderiam ser resolvidos facilmente com tecnologia que transferisse água dessa fonte para áreas sob estresse. Em teoria essa ideia pode parecer viável, mas os altos custos de tais projetos podem se tornar impraticáveis, e metas de autossuficiência em produção de alimentos e o desenvolvimento socieconomico não poderá ser atingido sob condições de séria limitação de água. (Falkenmark, 1990 apud Gnino 2009).

Zonas propensas à seca da África já sofrem limitação de água, portanto, terão aumentada ainda mais vulnerabilidade. Somente promovendo uma agricultura que aproveite melhor as águas pluviais e por meio de irrigação, é que se pode construir estratégias de adaptação às alterações climáticas o que demanda tempo e recursos financeiros.

Não se encontrou nenhuma abordagem sobre-alocação e outorga de direito de uso de água para enfrentar os desafios das mudanças climáticas nesse país.

6.1.1. África do Sul Este país tem predominantemente clima árido a semiárido. As chuvas e as vazões dos rios são desigualmente distribuídas tanto no tempo como no espaço. Tem a agricultura como a maior usuária de água, seguido do abastecimento doméstico, industrial, mineração e geração de energia. A alocação da água superficial já foi sobre-alocada desde o ano 2000 em cinco das 19 áreas onde essa água tem sido utilizada. Espera-se crescimento da demanda pelo crescimento econômico, urbanização, melhoria do padrão de vida e logicamente crescimento demográfico. Esta situação exigiu do país o desenvolvimento de uma sofisticada capacidade de planejamento dos recursos hídricos, fundamentado no entendimento da variabilidade pluviométrica que ali ocorre. Essa capacidade de planejamento tem sido fundamental para alocação de água no avanço e futuro das mudanças climáticas.

Foi criado Climate and Impacts Factsheet Series para comunicar resultados e mensagens oriundas dos programas de pesquisas e modelagens de cenários. Essa ferramenta é dirigida aos formuladores de políticas e tomadores decisões, pesquisadores, interessados e sociedade civil em geral, atualizando-os com informações sobre os impactos das mudanças climáticas,

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respostas às adaptações necessárias e necessidades de novas pesquisas para o setor de recursos hídricos desse país.

As informações são obtidas sobre pesquisas do passado e do presente, incluindo Estratégia para os Recursos Hídricos Nacionais, a Estratégia para Adaptação dos Recursos Hídricos e modelagem de novos impactos para as descargas líquidas fluviais e irrigação tanto anual como sazonal, lançando mão de cenários atualizados e as últimas downsizing dos modelos desenvolvidos para o país, cujos detalhes técnicos encontram-se no relatório intitulado “Climate Change Implications for the Water Sector in South Africa”.

Muito embora ainda não tenha desenvolvido uma ferramenta de gestão da alocação de água com perspectiva das mudanças climáticas, eles têm dado particular atenção as implicações transversais para alocação dos recursos hídricos, incluindo a água subterrânea. Além disso, estão explorando as consequências ou implicações de longo prazo das mudanças climáticas sobre as reservas ecológicas (incluindo a definição apropriada dessas reservas) e a associação das áreas de coleta de água com abordagens sobre diferentes sistemas de manejo para sua manutenção.

6.2. América do Sul e Central Foi feito um esforço para se conhecer as iniciativas dos países das Américas Central e do Sul, mesmo que não referisse somente à outorga, mas pelo menos ao enfoque da gestão dos recursos hídricos e as mudanças climáticas.

Têm sido elaborados documentos como Proceso Regional de las Americas – Agua y adaptacion al cambio climático en las Americas, que foi submetido ao Fórum Mundial da Água levada a efeito em Marseille na França em 2012, documento esse que complementa um documento anterior, todos envolvendo mais de vinte instituições da região, o qual apresentou nove recomendações sobre água e adaptação à mudança climática.

Foram analisados vários trabalhos do Peru, mas em sua maioria estavam voltados mais aos aspectos genéricos dos efeitos das mudanças climáticas sobre os recursos hídricos, com vários deles voltados para regiões específicas e num deles de Lynch (2011) que avaliou as variações das vazões do rio Santa, que atravessa a região semiárida Callejon de Huayalas que será afetada pelas alterações glaciais em suas nascentes. A vulnerabilidade das comunidades das partes altas, pequenas municipalidades e áreas urbanas pobres das margens apresentam grandes desafios quanto as faltas de equidade na governança de água que terão consequências em disputas pelo direito de uso de água, alocação e contaminação. O Peru aprovou em 2009 sua lei que criou a Autoridade Nacional de Águas.

Da mesma forma foram analisados documentos de Bolívia, Equador, América Central e Colômbia, nenhum deles contemplando a questão de outorga ou alocação do ponto de vista almejado por este trabalho, por isso se resolveu descrever somente a experiência do Chile e do próprio Brasil pelas suas peculiaridades. O Brasil para que quem leia este documento possa ter parâmetro de comparações e o Chile, por ter um complexo processo de gestão dos recursos hídricos e enfrentam esses problemas, ainda que de forma incipiente.

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6.2.1. Chile O modelo institucional vigente no Chile para gestão dos recursos hídricos é amplo e complexo, envolvendo muitos órgãos públicos. Em 2011 a OECD publicou um estudo que reconhece o Chile como o país com a maior diversidade de autoridades administrativas envolvidas na gestão dos recursos hídricos, o que resulta em sérias e grandes dificuldades para planejar coordenadamente seu desenvolvimento.

Em face a essa situação, os efeitos das mudanças climáticas têm exigido um grande esforço para tomar providencias tanto a curto como no médio e longo prazo, para poder absorver o aumento da demanda de água que se espera ocorra progressivamente durante os próximos anos.

Outro fator complexo para a gestão integrada dos recursos hídricos é a sobre-exploração da água que vem ocorrendo quando são extraídas das fontes hídricas uma quantidade de água superior àquela que tem sido estabelecida como disponível. Isto tem acontecido por duas razões: a primeira é o excesso de outorgas de direito de uso concedidas e a segunda é a extração ilegal da água.

O excesso de outorgas concedidas tem se apresentado quando os direitos de usos por vazões ou volumes superiores aos níveis sustentáveis que permitam a utilização das fontes no longo prazo. Essas outorgas não necessariamente têm se traduzido em sobre-exploração, pois um direito outorgado pode ser utilizado total ou parcialmente.

No que diz respeito à água subterrânea existe uma situação generalizada de excesso de outorgas desde a região de Arica e Parinacota até a região do Libertador General Bernardo O’Higgins. Para evitar que se agrave essa situação a Direção Geral de Águas (DGA) eliminou a aplicação do fator de uso previsto em seus balanços, critério que considerava como disponível as águas já comprometidas com direitos de aproveitamento que não estavam sendo totalmente utilizadas por seus titulares.

Desta maneira a DGA tem considerado a concessão do direito de outorga como provisória nas bacias onde o uso é muito inferior ao dos direitos outorgados, e poderá limitar ou deixar sem efeito esses direitos provisórios no caso de se constatar prejuízos para a bacia hidrográfica.

Os direitos provisórios podem se transformar em definitivos uma vez que tenham sido utilizados por um período de cinco anos sem que se constate que seu uso provoca danos aos titulares de direitos de aproveitamento de água já constituídos.

No entanto, esse prazo não tem sido suficiente para medir os efeitos exercidos pelos direitos provisórios devido a que os ciclos hidrológicos dos aquíferos são mais extensos.

No que diz respeito a águas superficiais existem prevalência de excesso de outorgas em algumas fontes. No entanto, esse sobre-outorgamento é resultado das próprias organizações de usuários, as quais ajustam as retiradas a distribuição prorrata dos direitos que administram, e, portanto, esse excesso de outorgas não se traduz em um sobre-uso do recurso. Neste contexto resulta essencial a existência o adequado funcionamento dessas instituições.

O último desafio é enfrentar a extração ilegal de água, que constitui sempre um grave impedimento para a adequada gestão dos recursos e que tem exigido especial empenho

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naqueles setores onde ocorre escassez. Além do mais, tais extrações podem provocar graves danos ambientais.

O maior obstáculo para enfrentar este problema está nas frágeis e suaves sanções as quais não tem nenhuma proporcionalidade com o dano causado. Atualmente a multa não supera as 20 unidades tributárias mensais (equivalente a aproximadamente oitocentos mil pesos chilenos) e as penas são baixas, o que desincentiva a investigação dos casos.

Em face a essa diversidade de atores a DGA sente diminuída sua autonomia e perde efetividade na tomada de decisões pela falta de supremacia ante outros órgãos. Se deve agregar a isto que a administração do recurso se vê prejudicada pela superposição de atribuições que existe a respeito de certos temas, como a proteção da qualidade das águas.

A Figura 2 mostra as regiões do país em que ocorrem excesso de outorga e sobre uso de água, bem como as regiões onde estão sendo feitas análises para esses excessos.

Fonte:DGA

Figura 2. Regiões do Chile onde ocorrem sobreoutorgas e sobre explorações.

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6.2.2. Brasil Inicia-se a abordagem do Brasil mostrando que já existem alguns trabalhos que começam a dirigir os estudos dos impactos ambientais para o nível de bacia hidrográfica, mas ainda incipientes e longo do downscaling necessário.

Gondin et al (2011) avaliaram impacto das mudanças climáticas na evapotranspiração em nível de bacia hidrográfica utilizando um sistema de informações geográficas, partindo do princípio de que temperaturas mais elevadas causam maior demanda por evapotranspiração das plantas e a tendência seria um incremento da demanda de água para irrigação. Desta forma a mudança climática pode substancialmente afetar a retirada de água para irrigação, a qual depende de como evaporação e precipitação irão se comportar (IPCC, 2001)Döll (2002) apud Fischer et al. (2007) encontrou que mudanças na precipitação, combinadas com elevação na evapotranspiração aumentam as necessidades hídricas da irrigação.

Binder (2006) apud Gondin et al (2011) recomendou detalhar os cenários disponíveis de mudanças climáticas para escala de bacia hidrográfica, utilizando-se ainda modelos hidrológicos, a fim de se estudar impactos das mudanças climáticas nos recursos Hídricos

Gondin et al. (2011) utilizou o sistema integrado de modelagem regional PRECIS (Providing Regional Climates for Impacts Studies)2, versão 1.2. utilizando as condições de contorno do Modelo Climático Global (HadRM3) através da técnica dinâmica de redução de escala (downscaling), implementado no Brasil pelo Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Foi utilizado o período 1961 – 1990 para climatologia do modelo usado para gerar o clima presente (1991 – 1990) temperaturas da superfície do mar (TSM) E GELO (a cada 1 grau) usado pela componente atmosférica do modelo HadCM3 e que logo passa a ser as condições laterais para as simulações do HadRM3.

Esse modelo regional HadRM3 possui resolução horizontal de 50 km com 19 níveis na vertical (da superfície até 30 km da estratosfera) e quatro níveis no solo3.

Esse sistema já vem sendo utilizado em vários países como Inglaterra, Índia, África do Sul e China.

Alves (2007) afirmou que o modelo simula razoavelmente bem a variabilidade espacial e temporal da temperatura, assim como o ciclo anual de precipitação sobre o Nordeste do Brasil com boa concordância.

Alves et al. (2007) empregou a metodologia de análise geoestatística para descrever a variabilidade temporal da precipitação pluvial ao longo dos anos, no município de Juiz de Fora – MG, no período de 2000 a 2099, referentes a cenários futuros de mudanças climáticas. Metodologia essa já aplicada no Sri Lanka por Silva et al (2007) e na bacia do Guadalquivir, Espanha por Diaz et al. (2007), apud Gondin et al. 2011.

2 Sistema de modelagem regional desenvolvido no Hadley Centre, Inglaterra, para gerar cenários climáticos regionais com alta resolução espacial de forma relativamente barata e simples. Maiores detalhes podem ser obtidos em http://www.precis.org.uk 3 Maiores detalhes das principais características HadRM3P (HadRM3 simulado no sistem a PRECIS implementado no CPTEC (são descritos por Ambrizzi et al (2007); Alves (2007).

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Neste trabalho Gondin et al. (2011) considerou os cenários A2 e B2 de mudanças climáticas definidos pelo Special Report on Emission Secenarios – SREs (Nakicenovic et al. 2000 apud Gondin et al 2011) que dizem respectivamente:

Alto crescimento populacional, crescimento do PIB médio, elevado consumo de energia, média a alta mudança no uso da terra, disponibilidade de recursos baixo, lento desenvolvimento tecnológico e desmaterialização energética;

Médio crescimento populacional, crescimento do PIB médio, médio consumo de energia, média mudança no uso da terra, disponibilidade de recurso média, médio desenvolvimento tecnológico, dinâmica energética como a usual.

Esse modelo previu para o ano de 2040 redução na precipitação sendo de 23,8% e 34% para cenário A2 e 17,7% e 36,2% para o cenário B2, precipitação nos meses de março e abril, respectivamente (meses de maior precipitação ao longo do ano) em relação a 1961-1990. Com relação ao total médio anual a precipitação prevista cai de 820 mm anual para 567 mm e 514 mm em 2040, cenários A2 e B2, respectivamente.

Por sua vez, a elevação da evapotranspiração média anual foi de 124 mm e 106 mm (6,2 e 5,3%) para esses mesmos cenários, passando de 2005 mm para 2129 e 2111 mm anuais em 2040.

Gondin et al (2011) concluiu que o modelo climático regional, com as condições de contorno de um modelo global possui resolução que permite avaliar-se impactos em nível de bacia hidrográfica, pois torna-se possível maior detalhamento dos parâmetros climáticos e sua representação de variabilidade espacial. No entanto, uma resolução mais detalhada permitiria uma melhor avaliação, uma vez que para possibilitar a krigagem4, dados de borda da bacia tiveram que ser considerados, o que representou uma restrição do modelo.

O Brasil, muito embora, não tenha ainda inserido a mudança climática no seu processo de concessão de outorga do direito de uso de água, já vem adotando em regiões de escassez critérios que permitem essa adaptação, servindo de modelo que pode ser aperfeiçoado e, provavelmente orientar o futuro com o desenvolvimento de trabalhos contemplando os efeitos das mudanças climáticas, tão logo se disponha de melhor conhecimento em nível de bacia hidrográfica, ou seja o downscaling dos modelos hoje utilizados para avaliações dessas mudanças.

Um bom exemplo desse exercício que ANA está desenvolvendo é o da renovação da outorga coletiva para a rio Verde Grande, afluente do São Francisco, onde para cada nível de garantia, permitiu “um comprometimento de somente 95% da vazão, e não 100% como na outorga original. Isto foi feito para permitir acomodações futuras no conjunto de outorgados, como outorga para pequenos usuários que venham a ser identificados pela SFI, pequenos ajustes na demanda de usuários já outorgados, etc. Assim, reservou-se 5% da disponibilidade hídrica para acomodar incertezas e usuários futuros. Naturalmente, isto implicou em uma maior restrição aos demais usuários já outorgados, embora esta restrição seja relativamente pequena”.

As regras resultantes dessa orientação da ANA estão mostradas na Tabela 3.

4 É um método geoestatístico utilizado para determinação do melhor estimador linear não tendencioso. Linear porque suas estimativas são ponderadas com combinação linear dos dados disponíveis. Não tendencioso, uma vez que tenta ter o resíduo ou erro igual a zero e melhor porque objetiva a minimização da variância dos erros.

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Tabela 3. Resumo da nova regra de uso da água na Bacia do Rio Verde Grande.

Permanência Vazão isenta

Redução Consumo a montante

da estação Vazão observada

na estação Cota (cm)

83% - 0% 0,6 m³/s 0,89 m³/s 64 94% 60 m³/h 50% 0,38 m³/s 0,644 m³/s 60 98% 30 m³/h 75% 0,21 m³/s 0,579 m³/s 58

Fonte: ANA Nota Técnica no. 33/2014/GEREG/SER.

A interpretação dos resultados pela ANA é a seguinte: o atendimento total se dá para uma garantia de 83%, correspondente a um nível d’água na estação Fazenda Alegre (44640000) de 64 cm. Para níveis abaixo deste, todos os usuários com vazão acima de 60 m³/h devem reduzir a demanda (tempo de captação diário) em 50%, até a cota 60cm na estação, o que pode ser atendido com 94% de permanência no tempo. Abaixo deste nível, todos os usuários acima de 30 m³/h devem reduzir sua demanda em 75%.

No marco regulatório original, havia a previsão de interrupção total das captações, abaixo de uma determinada cota. Entende-se que o novo marco regulatório não deva contemplar esta possibilidade a priori, pois esta sofre forte resistência dos usuários, dificultando sua implementação. Além disso, entende-se que a ANA pode a qualquer tempo tomar a decisão de interromper usos para irrigação, no caso de prejuízo a usos prioritários. Por fim, uma eventual necessidade de interrupção só seria necessária para permanências acima de 98%, que é uma garantia até mais restritiva do que a adotada pela ANA usualmente. Logo, reafirma-se pela sugestão de não incluir a necessidade eventual de interrupções na captação.

Além do menor comprometimento total em relação à vazão de referência, observa-se que o novo marco regulatório é menos restritivo do ponto de vista das vazões isentas. Na regra ora proposta, usuários com vazão inferior a 30 m³/h nunca terão necessidade de restrição, enquanto no marco regulatório original este limite era de 20 m³/h.

Por outro lado, o fato de não haver um limiar para interrupção total levou a uma maior restrição nos demais níveis. Enquanto no marco regulatório original as reduções eram de 20% e 50%, na regra proposta as reduções são de 50% e 75%.

Como se pode observar dessa abordagem da ANA o Brasil está caminhando para mais próximo de uma realidade de como se adaptar as outorgas aos impactos das mudanças climáticas.

Wilby e Dessai (2010) apud Porto (2014) propõem duas diferentes abordagens de avaliação de risco climático para o planejamento adaptativo em recursos hídricos. A primeira abordagem envolve a previsão climática regional por meio do “downscaling”, a partir de modelos climáticos globais, resultando na formação de cenários locais que servem de entrada para modelos de previsão de vazão para em seguida indicar as medidas de adaptação para maximizar benefícios ou minimizar os riscos previsíveis.

Esta metodologia atualmente é utilizada para identificar os impactos das mudanças climáticas sobre a hidrologia da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, assim como as implicações sobre o processo de alocação de água para o sistema hídrico do Rio São Francisco em conjunto com a Bacia do Piranhas-Açu e Região Hidrográfica Jaguaribe Metropolitana, no Estado do Ceará.

Segundo Ribeiro Filho et al. 2013 as projeções de precipitação de cinco modelos globais do Coupled Model Intercomparison Project Phase 5 (CMIP5), são analisadas para o Nordeste

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Setentrional do Brasil para o período de 2010 a 2099 para o cenário RCP 8.5, com intuito de avaliar qualitativamente o impacto na gestão de recursos hídricos. O impacto na precipitação anual é feito considerando três períodos: 2010 a 2039, 2040 a 2069 e 2070 a 2099. As projeções dos modelos CanESM2_r1i1p1 e giss-e2-r_r1i1p1 sugerem reduções nas precipitações para o NEB associado há um aumento de eventos extremos de seca, enquanto isso, o modelo ipsl-cm5a-lr_r1i1p1 sugere um aumento considerável na precipitação associado a aumento de eventos de cheias. O uso dessas informações climáticas podem reduzir os riscos e permitir uma margem maior de flexibilidade ao sistema de gestão implantado, sobretudo no tocante às outorgas emitidas para que ações adaptativas no uso da água, seja na agricultura, no abastecimento de água populacional ou aos ecossistemas possam ser implantadas com maior eficiência. Esta é uma questão que ainda carece de muito trabalho, devido às incertezas que, ainda, prevalece para que esses modelos convirjam para o downscaling.

O gerenciamento adequado dos recursos hídricos face às mudanças climáticas irá depender do conhecimento de sua disponibilidade e de como essa disponibilidade será afetada por diferentes cenários. Os cenários futuros para a região semiárida mostram bastante incerteza na disponibilidade hídrica, porém sinalizam uma maior ocorrência de eventos extremos. Isto demostra a necessidade de ações adaptativas no uso da água, seja na agricultura, no abastecimento de água populacional ou aos ecossistemas. A grande interrogação está em como fazer isso.

Gerenciar recursos hídricos é uma necessidade urgente e tem o objetivo de acomodar as demandas econômicas, sociais e ambientais por água em níveis sustentáveis, de modo a permitir a convivência dos usos atuais e futuros da água sem conflitos. Nesse momento o instrumento da outorga se faz necessário, através da ordenação e regularização do uso da água, sendo possível garantir ao usuário o efetivo exercício do direito de acesso à água, além de realizar seu controle quantitativo e qualitativo.

No trabalho que Martins5 está desenvolvendo para a ANA sobre cenários de mudanças para estudos de adaptação no setor de recursos hídricos enfatiza:

Parece evidente a necessidade de outras alternativas de como a informação de risco climático deve ser incorporada no planejamento da adaptação e desenvolvimento (Dessai et al., 2005). Wilby et al. (2009) e Wilby & Dessai (2010) apontam, conforme já mencionado, a existência de abordagens complementares que subsidiam o processo de preparação à adaptação. Assim, não se deve ser tão rígido em estabelecer uma única via para se entender os passos necessários à adaptação.

WILBY (2009) apud Martins 2014 ilustra o fato de que também as incertezas precisam ser consideradas quando falamos de cenários climáticos: 82% dos cenários indicam diminuição nas vazões, resultando na possível diminuição da oferta de água na ocasião do pico das demandas. Dessa forma, as opções por parte dos gestores de recursos hídricos seriam obter novas fontes de água, economizar/armazenar essa água, ou ambos. Entretanto, o que fazer a respeito dos 18% de chance de aumento nessas vazões? Investimentos em infraestrutura feitos com base somente no cenário de deficiência hídrica resultariam em custos elevados resultado de uma

5 Eduardo Sávio Passos Rodrigues Martins, 2014.

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adaptação ineficiente. A grande questão, nesse exemplo, é a complexidade do processo de cenarização das mudanças climáticas e os benefícios de testar a sensibilidade dos processos decisórios em adaptação a essas mudanças.

Tanto o trabalho de Ribeiro Filho et al. como o de Martins, constata-se mais uma vez o quanto ainda falta de desenvolvimento de modelos downscaling, para integração com os modelos globais de mudanças climáticas.

A ANA considera que o fortalecimento do sistema de análise e concessão de outorga de uso da água, pelo fato de contribuir para o uso adequado dos recursos em bacias com estresse hídrico, atenua os possíveis impactos das mudanças climáticas que possam a vir ocorrer nessas bacias (ANA, 2013).

6.2.2.1. Outorga O processo de outorga utilizado hoje no país é baseado no balanço hídrico, onde a vazão outorgável é igual à vazão de referência ou uma fração deste valor subtraído dos valores já concedidos à montante avaliando se a quantidade outorgada não prejudicará as outorgas já concedidas a jusante.

A deficiência está em que podem ocorrer cheias com maior frequência, os períodos de escassez por ser mais críticos e duradouros, alterando a garantia hídrica futura, em face aos efeitos das mudanças climáticas.

Porto et al (2014) destaca que diante de cenários que apresentam maior criticidade surge a necessidade de flexibilizar alguns parâmetros adotados no processo de outorga. Esta flexibilização pode de certa forma reduzir a confiabilidade depositada sobre o processo de gestão, pois pode acarretar redução das garantias de atendimento aos usos na bacia, que afeta de forma direta a segurança hídrica desses usuários de água. Com a adoção de cenários que apresentam um risco hidrológico maior, outras ferramentas complementares ao processo de outorga podem ser criadas visando o aumento de confiabilidade. Entre as ferramentas possíveis de serem implementadas estão os planos de contingência que buscam definir regras específicas para os períodos de crise. Neste contexto, o instrumento de outorga de uso da água ganha destaque ao propiciar o disciplinamento do uso com base nas exigências ambientais e no desenvolvimento sustentável.

O atual sistema de outorga não considera aspectos econômicos, ambientais e sociais envolvidos no contexto do uso da água na bacia.

No caso da outorga, projeta-se que os efeitos das mudanças climáticas aumentarão o estado de criticidade das bacias no aspecto quantitativo, qualitativo ou de ambos.

Esta situação exigirá que os critérios de outorga sejam mais genéricos e flexíveis, não se restringindo a um critério hidrológico na maioria das vezes conservador. A análise da concessão de outorga deverá ser realizada no contexto de risco considerando a possibilidade da ocorrência de escassez em um cenário de mudança climática. A concessão deverá ser feita observando uma margem de segurança que permita o fornecimento de água mesmo em caso de redução drástica da vazão em um período prolongado de seca.

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Porto et al (2014) sugere que o processo de outorga seja realizado em duas etapas. Numa primeira etapa seria adotado um sistema simples e objetivo de análise de concessão de outorga em bacias de uso pouco intensivo de água, podendo-se usar o atual critério baseado no conceito de vazão outorgável. Numa segunda etapa, à medida que a bacia se desenvolve e os usos da água crescem, a bacia deverá ser declarada como crítica com base em um critério específico, podendo ser os propostos pela ANA (2012b). Neste caso deverão ser adotadas as medidas de gestão mais elaboradas e rigorosas. No processo de regularização e adequação dos usos da água deverá ser implantado o marco referencial para o comprimento das regras estabelecidas de uso e a alocação negociada de água na qual é decidido a quantidade de água que cada grupo de usuário disporá durante em um determinado tempo e quais os riscos de não atendimento que os usuários menos prioritários poderão assumir.

6.3. América do Norte Foram pesquisadas as experiências e os modelos que vem sendo utilizados nos países da América do Norte, tendo sido encontrados resultados que mereceram entrar em maiores detalhes no Canadá e nos Estados Unidos. Esses países já despertaram para essa questão de que precisam rever os modelos de direito de uso da água e alocação para enfrentar as consequências das mudanças climáticas.

6.3.1. Canadá - Alberta O atual sistema de direito de uso de água e leis são insuficientes para conter o crescente conflito entre usuários de água e para preservar e proteger a saúde dos rios de Alberta. Esse Estado tem o mais rápido crescimento populacional e econômico do Canadá. Seu grande desafio no momento no que se refere à água é porque 80% de sua população vive na parte sul

À semelhança dos Estados da costa oeste dos Estados Unidos o sistema de adjudicação do direito de uso da água é de primeira alocação, também conhecido como Primeiro no Tempo, Primeiro no Direito “First In Time, First in Right – (FIT-FIR). Foi introduzido no Ato de Irrigação Noroeste em 1.894, o qual foi editado para encorajar a colonização de Alberta por intermédio da promoção da agricultura irrigada no sudeste de Alberta. Uma consequência desastrosa foi que esse sistema semeou conflitos entre usuários de água e degradação dos ecossistemas ao redor dos cursos de água e lagos.

As licenças concedidas normalmente indicam a fonte de água, a localização onde a água é retirada, o volume de água licenciado para retirada, (alocação de água), restrições de tempo e a máxima taxa de retirada, o uso para o qual a licença é emitida e a quantidade de água que é necessário retornar.

Em Alberta 9,5 bilhões de metros cúbicos tem sido alocados sob licença para retirada anual, em sua maioria de rios e lagos (águas superficiais) e somente 3% de água subterrânea. Conquanto a licença determina o máximo uso e taxas de retirada, nem toda água sujeita ao licenciamento é utilizada pelo detentor da licença. Aproximadamente 45% da água alocada sob licença em Alberta é utilizada. Muito pouca água tem sido alocada para fins ambientais.

Com o incremento do aumento de ocorrência de seca e declínio da disponibilidade hídrica deixou os mais novos detentores licença sem água. A Bacia Sul do Rio Saskatchewan – SSRB, onde a maioria são de colonizadores iniciais, 75% da alocação de água sob licença é destinado a

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13 distritos de irrigação. Devido a que o atual regime de gestão da água não prioriza a proteção do ecossistema ribeirinho ou explicitamente provê água suficiente para proteção e manutenção da saúde do corpo de água, tem sido permitido ao mais jovem ter acesso à licença para uso.

Se as previsões das mudanças climáticas para Alberta forem precisas, é certeza de que a disponibilidade de água será significativamente reduzida, porque está previsto aumento das vazões de inverno e primavera e redução no verão e outono, além de reduzir a disponibilidade e qualidade da água subterrânea.

Um grande problema para essa província é que a maioria dos antigos detentores do direito de uso da água (FIT-FIR) preferem a continuidade desse sistema de alocação, porque eles trabalharam por eles, é previsível e provê certeza e segurança que permite a eles planejarem a longo prazo.

A maioria dos detentores desse direito utilizam entre 64 e 50% só da água a que tem direito, e seus planos são para permanecer não usando porque é a forma de ter segurança a longo prazo, minimizando futuros riscos, incluindo os associados com as mudanças climáticas, pressões do crescimento ou outras causas.

As políticas prevalecentes em Alberta, leis e regulações governamentais e administrativas são insuficientes para gerir o incremento de demanda para uso da água em um futuro que está decrescendo a disponibilidade de água. Também tem deficiências para prevenir existentes ou futuros usuários acesso à água ou para evitar ameaças aos serviços ecológicos que garantam saúde do rio para beneficiar todos os habitantes de Alberta.

Este sistema requer mudanças profundas para se buscar a sustentabilidade de seus recursos hídricos.

Ko e Donahue (2012) com base em entrevistas com os detentores de licença antigos, portanto, os com direitos assegurados de uso de água fez dez recomendações para o Governo de Alberta que modificaria toda esse sistema, mas seria capaz de buscar uma convivência com os impactos esperados das mudanças climáticas:

1) Adotar opções políticas e mecanismos para os detentores de direito de uso da água realocar água para o meio ambiente.

2) Adotar vazões para essa finalidade como um uso contemplado no Ato de Direito sobre as Águas e permitir sua transferência para esse propósito, com a retenção da prioridade da licença para a qual foi transferida;

3) Alterar os programas de conservação de água provincial para que a água conservada seja automaticamente devolvida para Alberta, e uma porção substancial dessa água seja realocada para uma relação de confiança com terceiros, protegida sob licença com a prioridade da original, para atender às necessidades de vazão ecológica. O restante da água conservada seria disponibilizada para o detentor da licença original, desde que o uso seja destinado para o qual está condicionada na condição de melhor eficiência disponível.

4) Adicionar ao Ato das Águas permissão para cancelamento parcial da água não utilizada na alocação inicial. Introduzir, também, mecanismos para sejam revistas as licenças

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antes de 1999, para que as transferências de direitos sejam avaliadas de modo a assegurar os direitos sendo comercializados e já estejam em uso, e as transferências não sejam simples meio pelas quais serão capitalizados os direitos de água não utilizadas para seu próprio benefício pecuniário.

5) Desenvolver ao mesmo tempo uma revisão de todas as licenças que antecedem a 1999 num esforço para padronizar todas licenças na linguagem de seu provisionamento ou condições relacionadas a cancelamento, alterações ou transferências de direito.

6) Mudar e enunciar claramente no Ato das Águas o propósito dos objetivos da conservação da água de modo a assegurar que eles estejam baseados ou relacionados a uma base científica da vazão ecológica (IFNs – Instream Flow Needs). Este procedimento apoia a direção de modo a assegurar que a IFN seja satisfatório antes que a nova aprovação seja efetivada. Não obstante a recomendação primeira permitir a transferências dos direitos de água utilizada ou não sob licença atribuída aos IFNs, é garantida que nova licença original explicita para uma IFN explicita mantenha a prioridade dos direitos originais.

7) Alterar o Ato das Águas para permitir que entidades não governamentais adquiram os direitos de águas alocadas sob licença para manter a água no leito ou melhorar a saúde do rio. Onde parte da água alocado pelo direito não está sendo utilizada, alterar o Ato das Águas para permitir licenças para manter os direitos não utilizados e evitar o cancelamento de programas de licença, concluindo acordos de curto prazo que destinam água não utilizada para uso ecológico ou melhorar a saúde dos rios, por um período não superior a cinco anos. Com referência à recomendação 7, rever os critérios para cancelamento de licença, expandir os critérios para bom desempenho manutenção completa ou parcial de alocações não utilizadas sob licença, e exigir licença de uso dentro de um período de cinco anos.

8) Permitir compartilhamento de acordos de água regionais entre municipalidades e usuários vizinhos durante o período de baixa vazão, (esta providencia deve ser feita de maneira consistente com a recomendação 1). Esta pode incluir também, compartilhamento de obras e custos de infraestrutura para encontrar consistentes ações para qualidade da água que sejam necessárias para o rio atingir.

9) Desenvolver e implementar guias e manuais que governará o compartilhamento da água entre seniors e juniors licenciados durante o período de baixa vazão. O compartilhamento precisa ser restrito ao remanescente dentro da bacia e a maior prioridade ser dado equitativamente para a vazão mínima ecológica estabelecida cientificamente para os rios e necessidades humanas básicas. O remanescente da disponibilidade de água deve ser distribuído equitativamente entres os licenciados, considerando ambas prioridades e que for hidrológicamente aplicável. Todas as municipalidades precisam desenvolver e adotar planos de risco de seca e conservação que sejam consistentes.

Como se pode observar esse Estado tem graves problemas para adaptar seu sistema de alocação de água e licença de uso, mostrando-se, também incipiente no que se refere às incertezas dos cenários futuros, em face às mudanças climáticas.

Os cidadãos de Alberta precisam de um novo sistema. Eles necessitam um sistema que responda ao crescimento das pressões e conflitos relacionados à distribuição dos direitos de uso da água,

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necessitando eventuais mudanças na legislação e políticas principalmente no que tange à alocação de água.

KO e DONAHUE6 em publicação intitulada “Allocating Our Water: Changing to Meet the Public Interest” mostram que as atuais leis e o sistema de direito de águas não são mais adequados e suficientes para administrar os crescentes conflitos entre usuários de água ou para preservar e proteger a saúde dos rios de Alberta. Predomina no conflito preocupação com a vazão ecológica.

Este modelo merece ser acompanhado bem como o de outras províncias desse País que nesta pesquisa demonstraram estar caminhando no mesmo sentido de inserir as mudanças climáticas nos instrumentos d gestão dos recursos hídricos.

6.3.2. Estados Unidos Trata-se de um vasto país em que os impactos das mudanças climáticas serão diferentes de acordo com a região do País, conforme mostrado na Figura 3. Escolheu-se a Califórnia, Idaho e Texas para analisar suas experiências e estratégias para convivência com as mudanças climáticas por ser umas das regiões que certamente terá sua agricultura afetada por estar próximo aos limites das consequências esperadas.

Nos Estados Unidos existem dois sistemas de direito de uso e água os quais estão muito bem explicados e ilustrados no relatório do Institute of Water Resources do USACE (2014), elaborado dentro de um acordo de cooperação com a ANA.

A Figura 1 mostra um panorama do País com as projeções regionais do percentual de redução das vazões dos cursos de água no período de 2040 3e 2060.

6 KO, Julia and DONAHUE, Willian F. July, 2012.

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Figura 3. Previsão de mudanças nas vazões devido às mudanças climáticas

Existem vários estudos mostrando os efeitos das mudanças climáticas sobre a água, mas há um vazio no quantificar os impactos sobre os usuários da água e seus direitos sobre a água em bacias hidrográficas.

Os Estados Unidos têm boa cultura e instrumentos para utilizar a estratégica de transferir a água entre e dentro dos setores usuários. Atualmente a agricultura é a maior usuária de água na maioria das áreas dos Estados Unidos, mesmo em áreas fortemente urbanizadas como o Estado do Arizona, onde a maioria dos alimentos são importados e agricultura ocupa uma proporção modesta na economia local mas utiliza mais de 80% da água retirada dos corpos de água. Neste caso a realocação dos recursos hídricos da agricultura para outros setores usuários incluindo o doméstico, tem muito significado (mesmo considerando a força política do segmento rural dominante no Estado apresenta um cenário altamente improvável). Por isso dentro de qualquer setor usuário, políticas fortes podem mudar e reduzir o uso da água. Na água para uso doméstico no Arizona leis têm restringidos usos como irrigar gramados, fontes luminosas, e tem elevado os preços de água com objetivo de reduzir o número de piscinas e hidromassagem, dirigindo o uso de fora para dentro dos lares. Esses aumentos de preços já se mostraram eficazes na aplicação de tecnologias economizadoras de água nos lares.

Outra estratégia emprega nesse país tem sido coletar a água da chuva e reutilização de águas residuais. Existem tecnologias modernas que permitem reutilização de águas residuais para uso doméstico, embora os estigmas culturais venham inibindo a maioria das pessoas de utilizá-las. Ainda assim, tem sido recomendável utilizar águas residuais para fins não domésticos: como na indústria, na produção agrícola, recarga do aquífero, entre outros.

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A estrutura do Modelo do Sistema Global Integrado MIT – IGSM7 (sigla em inglês), foi ampliado para incluir mais um componente o sistema de recursos hídricos, aplicado para integrar a avaliação os efeitos de alternativas de cenários de políticas climáticas sobre os sistemas hídricos dos Estados Unidos. O clima resultou num downscaled para estimativa de colheita de água de superfície em 99 bacias hidrográficas da área continental dos Estados Unidos, com uma exploração dos padrões climáticos que são relativamente, húmido e seco para toda a região. As estimativas foram combinadas com as disponibilidades de água subterrânea. Em um conjunto de 11 (modelo de região econômica – USREP8) (sigla em inglês) foram estimadas necessidades de água para cinco setores usuários de água, com submodelos detalhados para análise da irrigação e da energia elétrica. O sistema hídrico de bacias interconectadas é operado para minimizar o stress hídrico. Os resultados sugerem que com ou sem as mudanças climáticas um stress hídrico anual médio aumentado nos Estados Unidos é esperado na década de 2041 a 2050, primeiramente por causa do aumento das demandas de água, com o maior stress projetado para o Sudoeste. As políticas para menor concentração de gás de efeito estufa mostraram efeitos benéficos para reduzir a intensidade do stress hídricos e suas variabilidades no que concerne às bacias hidrográficas.

6.3.2.1. Califórnia Direitos sobre o uso da água de superfície na Califórnia fazem parte de um sistema complexo de lei que toma emprestado de dois corpos distintos e separados de direito. Este chamado sistema "híbrido" direitos da água inclui direitos de ribeirinhos e direitos apropriativos.

Direito ripariano ou ciliar está limitado à utilização em terras ribeirinhas, e as terras devem estar dentro da bacia da fonte de água. Um direito ripariano não pode ser exercido em terras, mesmo se elas forem contíguas com o trato ciliar ou se essas terras não estão dentro da bacia hidrográfica de origem. Um direito ripariano não pode ser tratado independentemente da terra.

A lei de apropriação prévia foi desenvolvido pela primeira vez na Califórnia para apoiar as necessidades dos pioneiros que vieram para a Califórnia para exploração de mineração antes da criação das minas de ouro.

A lei de apropriação previa "primeiro no tempo, primeiro no direito" - funcionou bem na Califórnia para alocar um recurso escasso, através da concessão de prioridades.

Na alocação de água, também há uma determinação de que a água esteja, na verdade, disponível para apropriação e que o exercício do direito não irá prejudicar outros usuários legítimos. Além disso, há uma determinação de que a apropriação seja do interesse público.

O Conselho Estadual de Controle dos recursos hídricos ("State Water Resources Control Board - SWRCB") é a agência na Califórnia, que atualmente administra este sistema permissão, desde 1914 mas reconhece a validade dos direitos apropriativos pré-1914 sob a lei da Califórnia.

7 Integrated Global System Model 8 Region Economic Model

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Na Califórnia, um direito de apropriação pode ser perdido por abandono. Abandono é estabelecido através de uma prova de não utilização juntamente com a intenção de abandonar a água.

São dezenas de estudos que abordam a magnitude e o potencial dos impactos das mudanças climáticas na Califórnia. A mais realista abordagem é o modelo como o sistema de gestão de água pode se adaptar simultaneamente às mudanças climáticas, uso do solo, população e demandas hídricos para os próximos 50 a 150 anos.

Com o aumento da temperatura prevalecerá a precipitação pluviométrica em vez da neve e esta onde ocorrer vai derreter mais cedo do que ocorre tradicionalmente. Essa redução da participação da neve fará com os reservatórios se encham mais rapidamente em vez da forma gradual como ocorre naturalmente durante a primavera para nos meses de verão atender as demandas maiores. Como os reservatórios estarão cheios mais cedo, estarão com menos capacidade para controlar cheias, ou se for armazenar menos água estará incapaz de atender as demandas do verão que são as maiores.

A redução da capacidade de escoamento de água ou de reservação se traduz em menor oferta de água para Projeto Hídrico do Estado (SWP – State Water Project) e Projeto do Vale Central (CVP – Central Valley Project) dos quais mais de 20 milhões de habitantes dependem.

A taxa de evapotranspiração será alterada, sendo a responsável pela maior demanda nesses Projetos, da ordem de 80% em anos normais. As mudanças climáticas, também, afetarão a duração da estação de safra e os padrões de uso do solo.

O modelo do cenário mais seco concluiu:

[O]verall, the climate scenario reduces average annual water availability by 27%, which results in an average annual reduction in water deliveries of 17%. Statewide, average agricultural areas see water deliveries 24% lower than demand targets and average urban areas see 1% less than their demand targets. There are great regional disparities as well. Urban Southern California sees almost all scarcity in urban water deliveries; urban water scarcity is almost absent north of Southern California.

O mais importante efeito esperado é sobre as demandas de água para agricultura, isto porque a agricultura é de longe maior usuária de água da Califórnia (cerca de 80%). Aumento de temperaturas certamente aumentará a evapotranspiração, por outro lado altas temperaturas e concentrações de CO2, também, aumentam a taxa de crescimento das plantas e podem reduzir o seu tempo de maturação. Hopmanns and Maurer (2008) encontraram que esse incremento de produtividade reduziria todo o uso de água pelas plantas no Vale do São Joaquim, compensando, parcialmente, o potencial de redução do suprimento de água para agricultura. Entretanto, o maior período da estação de produção com o mais rápido período de maturação da lavoura, pode aumentar a demanda pelos agricultores promovendo intensificação do uso da terra com mais uma cultura.

As preocupações e as medidas que o Estado se prepara para enfrentar é diferente de qualquer outra região do mundo pois ela já parte de que, no que tange ao suprimento de água está bem posicionada para incorporar os impactos das mudanças climáticas nos seus sistemas de

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planejamento, políticas e operação. Essa forte vantagem se deve às claras previsões científicas como o clima afetará as disponibilidades hídricas do Estado, permitindo administrar todo o processo sem precisar recorrer a outras ferramentas ou instrumentos, em princípio. Já tem um sistema de administração hídrica que envolve, inclusive, a comercialização de água e confiam muito nesse mecanismo.

As vantagens do cerne dessa questão, de acordo com a Administração desse sistema, quanto às mudanças climáticas são que esse sistema de oferta de água tem: 1) uma rede de adutoras integrada, a qual permite a água ser transportada para a maioria das partes do estado; 2) um sistema descentralizado de gestão, os quais promovem inovações; 3) experiência consolidada em operação e planejamento tanto para períodos úmidos como secos e tem contemplado as incertezas como parte normal do sistema de gestão; e 4) mais de duas décadas de experiência em construir um portfolio baseado em estratégicas de suprimento de água. De fato, muitas das ferramentas de gestão que serão necessárias para adaptação às mudanças climáticas – o uso integrado de águas subterrâneas e superficiais, transferência de água, melhoria da eficiência do uso da água, reciclagem e dessalinização – já tem se tornado importantes e comum no planejamento para atendimento do crescimento da demanda e urbano considerado os períodos de seca. Não se tem dúvida de que a importância essas ferramentas de gestão aumentarão com as mudanças climáticas.

Como se pode observar o sistema de gestão de água da Califórnia é complexo, extensivo e todo interconectado. Essa complexidade muitas vezes cria uma cacofonia política quanto aos problemas de água, mas, permite uma ampla gama de adaptações físicas e econômicas às mudanças no clima, uso da terra, da economia e as expectativas da sociedade.

A experiência californiana para demanda e alocação de água inclui a gestão comum da demanda com técnicas de conservação de água bem como mostra que alocar água em situação de escassez é melhor dentro da perspectiva dos valores econômicos e sociais.

Lund et al 2003; Tanaka et al 2006; Medellin et al 2008 indicam que o setor de suprimento de água da Califórnia é confiável para adaptar ao aquecimento global. Mesmo com significativo crescimento da população e urbanização, aparenta ser fisicamente possível acomodar as mudanças sazonais das vazões. Essa acomodação torna-se possível movendo parte da água reservada na superfície para aquíferos, os quais já fornecem maioria desse tipo de armazenamento plurianual. Essa adaptação requer mudanças nas estratégias de operação, investimentos adicionais na recarga de aquífero e instalações de unidades de bombeamento, continuadas mudanças na operação do sistema hídrico e de alocação por meio do mercado de água e continuada habilidade em movimentar a água através do Delta.

Essas adaptações não custarão menos à economia do Estado, e pode reduzir a produção das hidrelétricas e recreação nos reservatórios (pelo nível da água torna-se frequentemente menores) e incrementar os custos de bombeamento para acessar a água armazenada nos aquíferos. Se o aquecimento climático for também mais seco9, os problemas serão maiores. Para o ano de 2.100, com a população estimada em 92 milhões de habitantes e com aumento da densidade do uso do solo, esperando-se uma redução de 26% da disponibilidade hídrica média,

9 Observar que ainda são muitas as incertezas.

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o incremento do custo da oferta de água será da ordem de US$ 3 bilhões por ano em valores de 2008. Se o aquecimento vier com aumento da precipitação, a gestão hídrica e os custos poderão cair, enquanto que os problemas causados pelas inundações crescerão. Na perspectiva de melhoria da oferta de água será mais custoso construir novos reservatórios para se adaptar às mudanças de escoamento do que aumentar o uso de outras ferramentas, incluindo mais armazenamento de água no subsolo.

Outras ferramentas chaves envolvem realocação e uso mais eficiente, por intermédio de transferências, conservação e em alguns casos reciclagem.

O modelo de Calvin encontrou que adaptações poderia incluir maior comercialização de água com realocação da agricultura para os usuários urbanos (com 30 a 50% da redução na derivação de água para agricultura em várias áreas), maior uso de águas residuárias e conservação de água, alguma dessalinização de água do mar, maior perda de hidroenergia, e aumento da escassez de água nas áreas urbanas. Para secas severas prolongadas encontrou que o uso conjugado de água superficial e subterrânea e a transferência de água superficial para armazenagem subterrânea se mostra ineficaz e os reservatórios nunca encherão nessas condições de mudanças climáticas, podendo levar ao esgotamento pois haverá escassez de água e não atender a capacidade de armazenamento. Algumas comunidades serão fortemente afetadas pela redução da disponibilidade de água para agricultura ao ponto de ameaçar suas prosperidades ou mesmo a existência.

O Sistema de direito de água apropriativo da Califórnia é adequado, mas não perfeito, ele provê segurança para preservar o direito de uso da água, e ao mesmo tempo permite a flexibilidade para levar a água onde é mais necessária. Uma das características desse sistema é permitir mudar ou seja transferir ou modificar para atender usuários de água, solo e usos que não foram contemplados na apropriação inicial. Uma apropriação pode ser modificada tanto no tempo como no ponto onde a água é captada. Além disso um direito de apropriação permite utilizar água fora da bacia de origem. O direito de apropriação pode ser deslocado para o uso mais benéfico sem que o titular do direito perca o título que lhe dá o direito de uso da água. Esta capacidade de mudar e água para outros usuários é fundamental para Lidar com o abastecimento de água quando diminui devido às mudanças climáticas.

O Estado da Califórnia tem dispositivo constitucional e jurisprudência que permite interromper o uso de água que não é considerado razoável. Se as mudanças climáticas alterarem as condições de oferta de água, qualquer uso que seja considerado não razoável, pode ser alterado ou mudado para usos mais razoáveis e benefícios baseados nas prioridades existentes. A possibilidade de transferir água de uma área para outra de maior necessidade sem a perda do direito a água do cedente é fundamental para proporcionar segurança dos direitos de uso da água necessários com devida flexibilidade para se promover ajustes para enfrentar as mudanças climáticas.

As autoridades e as doutrinas do uso dos recursos hídricos na Califórnia contam com potentes ferramentas para enfrentar a redução da oferta de água que poderá ocorrer devido às mudanças climáticas.

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Purkey at al (2006) questiona “Como o conhecimento do potencial impacto da mudança climática pode ser utilizado no processo de decisão?” Três critérios foram considerados para determinar como seriam os maiores fatores para preencher lacunas de modo a contemplar as mudanças climáticas nesses processos:

Sensibilidade – O sucesso ou fracasso do projeto poderia ser fortemente influenciado pela mudança climática;

Significância – Os potenciais impactos associados à mudança climática são significativos para avaliação do seu efeito; e

Apoio dos stakeholders – Alguns segmentos da comunidade de stakeholder tem se manifestado sobre o potencial impacto da mudança climática sobre o projeto, de modo a aumentar a chance de ser introduzida no processo de tomada de decisão.

A iniciativa California Bay-Delta Authority (CALFED) de diversas agências federais e estaduais busca desenvolver e implementar um plano de melhoria do balanço de vazões de saída e uso de água nesse Estado. Como parte dessa iniciativa o Record of Decision, publicado em 1999, foi assumido um compromisso para lançamento da Investigação de Armazenamento Integrado – ISI10 (sigla em inglês). Esse programa foi concebido para identificar possíveis oportunidades de armazenagem e quantificar quais os padrões para determinação dos custos benefícios de novos projetos de armazenamento (Significância). O programa de armazenamento é parte da estratégia de gestão de água do CALFED que combina armazenamento com programa de ações tais como conservação, transferência de água e restauração de habitat. Ambas as ações complementares contribuirão para encontrar a confiabilidade do CALFED nos objetivos de suprimento de água, qualidade da água e restauração do ecossistemas. O teste analítico de desempenho introduz a mudança climática no processo de tomada de decisão, representando tanto oportunidade como desafios. O desafio é convencer os tomadores de decisão que é interessante considerar em suas decisões a mudança climática, pois muito deles ainda não estão inteiramente convencidos dessa necessidade.

A oportunidade está em começar a mover as pesquisas sobre mudança climática da área acadêmica para a arena política. É animador, que os mais altos níveis do governo estão se voltando interessados no melhor entendimento do potencial dos impactos das mudanças climáticas.

Concluindo, a atualidade tem exigido pensamento inovador sobre como as instituições que alocam água são capazes de melhorar sua capacidade para se adaptar às incertezas potenciais gerados pelos impactos da mudança climática global no suprimento de água em nível regional. Dadas as incertezas climáticas e a grande diversificação institucional que foi desenvolvida nesse Estado, não é simples a adaptação necessária. Purkey et al (2006) identificaram vários fatores que os tomadores de decisões precisam ter em mente o trabalho para que as instituições hídricas sejam mais adaptativas. Perseguindo esses objetivos as leis de agua e os procedimentos administrativos precisam ser atualizados, e poderia ser possível reduzir as interrupções, o potencial de disputas e degradação dos recursos naturais que como resultado das mudanças climáticas alterarão os regimes hidrológicos regionais.

10 Integrated Storage Investigation

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6.3.2.2. Idaho Somente nesta década começaram a sair os primeiros trabalhos de tese abordando as influências climáticas sobre a alocação e direito de uso de água, como System Dynamics Approach for Climate Change Impact Analysis in the Snake River Basin, (Hoekema, 2011, apud Frey , 2012) que desenvolveu uma modelagem sobre a distribuição da derivação de água em diferentes cenários de mudanças climáticas; e Assessing Climate Change on Water Rights on the Eastern Sanake River Plain (Frey, 2012) que explora as questões de conflitos e os impactos das mudanças climáticas do ponto de vista das disponibilidades hídricas e as previsões de baixa e alta disponibilidade em cenário de múltipla escala sob várias condições antecedentes.

Existe o Idaho State Basin Outlook Report elaborado pelo Serviço de Conservação dos recursos Naturais desse Estado que fornece mensalmente previsões que servem como indicador das disponibilidades hídricas. Esse relatório é útil para entender os índices que são utilizados nas previsões dos recursos hídricos. Ele é muito útil para atualizar as previsões de disponibilidades hídricas para os agricultores. Além de prover informações necessárias para fazer projeções para usos individuais e alocação de direito de uso para as próximas estações de plantio, permite se programar de acordo com os contingenciamentos esperados.

Na parte oriental do Rio Cobra prevalece dois sistemas para acesso a água, ou seja derivação de água superficial ou bombeamento de água subterrânea. Esses dois sistemas são regulados diferentemente em Idaho, e são tratados separadamente. Entretanto, existem movimentos e manifestações para que os dois sejam geridos juntamente, pois eles são parte de um sistema inter-relacionado que é primordial quando a demanda de água excede as disponibilidades (Fetter, 2008 apud Frey, 2012). A Figura 4 mostra os direitos de uso da água desses dois grupos, sendo a cor lilás ou rosa água de superfície e a mais para marrom água subterrânea.

Fonte: Frey, 2012

Figura 4. Direitos de uso da água concedidos tanto para água superficial como subterrânea.

Os direitos sobre o uso das águas superficiais foram estabelecidos em 1874. Idaho como todos os estados do oeste americano adota a Doutrina da Primeira Apropriação. O mais

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velho ou sênior, pode operar com exclusão dos mais novos usuários, os juniors. Estes últimos pode ter sua água cortada ou contingenciada de acordo com o seu grau de antiguidade no sistema de direito prevalecente.

Na década de 1950 a tecnologia de bombeamento de água subterrânea tornou-se economicamente viável para irrigação em níveis mais elevados do que o nível dos rios e seus reservatórios.

Em 1951 o Estado de Idaho sancionou legislação definindo que o direito sobre o uso das águas subterrâneas, também, seguiria a doutrina da primeira apropriação.

Os bombeamentos cresceram muito nos anos da década de 1980, e os usuários próximos às cachoeiras Twin sentiram que o bombeamento estava deplecionando o aquífero e assim, prejudicando as vazões à jusante. Em 1994 a Suprema Corte do Estado reconheceu que o bombeamento de água durante os anos de seca, prejudicavam os usuários à jusante pela depleção do aquífero. Devido a que a maioria dos direitos dos usuários de águas superficiais antecederam aos dos das águas subterrâneas, dentro do critério de seniors, eles têm prioridades. Os portadores de direitos de águas superficiais podem reclamar para que os juniors das águas subterrâneas tenham a água cortada ou contingenciada, de modo a protege-los de danos econômicos. Essa mesma Corte estabeleceu que os usuários de águas subterrâneas poderiam adquirir água superficial do Banco de Águas de Idaho de modo a mitigar qualquer dano aos detentores do direito de uso seniors. Essa água deve estar disponível para os usuários de superfície a jusante. Essa ação é conhecida como ordem de mitigação e é calculada e aprovada para cada estação de irrigação. Essa água é adquirida para que o usuário de água subterrânea não tenha impedimento de bombear sua água.

6.3.2.2.1. Impacto sobre o usuário da água superficial Foi feita a contabilidade e análise dos dados de alocação, sendo atribuído pesos quanto à data de cortes de água para quantificar os impactos, de acordo com o estágio da lavoura, que vai de abril a outubro. Como a colheita ocorre em setembro, para o período a partir de 9 de setembro o impacto inexiste, por isso seu peso é zero. Agora no início do período de plantio que vai de 1º de abril a 19 de maio, é o máximo, igual a 4. A cada impacto foram atribuídos valores, tendo como referência um valor médio para a região de US$ 500 por acre (US$ 1.235,50/ha), portanto, os impactos em cada parcela dependerão da área cultivada. Da mesma forma a cada parcela foi calculado o valor do impacto correspondente à data de prioridade de cada direito de uso da água. Os resultados dessa parcela representa o impacto em condições de seca para aquele ano específico. O impacto foi escalonado de acordo com o método de classificação de Jenks Natural Breaks (Frey, 2012) assim dividido: baixo, moderado, considerável, e alto. O resultado dessa classificação está mostrado na Figura 5.

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Fonte: Frey, 2012

Figura 5. Impactos nas parcelas durante a seca de 1992 no rio Cobra em Idaho

Frey (2012) utilizou o índice de suprimento de água superficial11 para o rio Cobra. Esses números foram ordenados por ano de 1 a 40, sendo que os 10 maiores representaram anos de grande quantidade de água, enquanto que os 10 menores mostraram os anos com baixa disponibilidade de água.

11 Surface Water Supply Index - SWSI

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Esses dados foram analisados com base no que a neve forneceu de água, sendo que a neve equivalente à água foi feita por ano tendo sido considerado quando maior do que 750 mm abundância e quando menor do que 50 mm escassez de água.

Foi criado um índice simples para identificar as disponibilidades históricas usando médias diárias de vazão. Esse índice pode ser usado para comparações dos existentes SWSI e determinar o histórico dos anos de abundancia e escassez e seus níveis de vazão para derivação. Foi calculado com a probabilidade de 90% indicando intervalos de 20 anos de cheias e 20 anos de seca. Esse índice descreve o histórico hídrico anual e o recurso disponível durante esses anos.

Obteve para 20 anos a vazão durante a escassez de 128 m3/s (4535 cfs)12 e durante a escassez 279 m3/s (9848 cfs).

Utilizando esses números foram ordenados espelhados no SWSI nos limites de +4,2 a -4,2, onde o +4,2 indica vazão igual ou maior do que 9.849 cfs média diária (anos de cheia), enquanto que -4,2 cfs (0,119 m3/s) indica essa vazão igual ou inferior a 4.536 cfs.

Os índices de água superficial PDSI13 e SWSI (esses dois índices são utilizados para determinar a água disponível em bases mensais) se correlacionaram bem, sendo encontradas algumas discrepâncias em dois pontos do Rio Cobra. A matriz construída com esses índices se mostra útil para comparar disponibilidades de água bem como se comportou bem para avaliação de dados históricos de comportamento da água.

Quase todo modelo de balanço de água apresenta alguma limitação devido a evapotranspiração que está relacionada com a umidade contida no solo (Alley, 1984 apud Frey, 2012)

Ambos os índices são frequentemente utilizados para tomadas de decisão no Estado de Idaho. Entretanto, como um índice para determinar disponibilidade hídrica para alocação eles apresentam certas deficiências por isso são utilizados como um sistema de hierarquização e não refletem a quantidade de água atual disponível para derivação.

Após análise dos impactos sobre os usuários de água de superfície nos anos de secas históricas, tornou-se possível interpretar os futuros cenários de mudanças climáticas. A literatura indica uma redução de neve entre 20 a 25% em 2025, essa á fonte de água dos cursos de água dessa região. A análise de registros de neve acumulada no período de 1980 a 2010, mostra uma redução de 22% nas medidas máximas em relação à média histórica. Esses dados mostram-se perto do modelo para as mudanças climáticas. A fim de se prever futuros impactos a ocorrência de baixa oferta de água foi deslocado um mês antes do período de safra.

1212 cfs em inglês pés cúbicos por segundo. 1 cfs é igual a 0,02832 m3/s. 13 Palmer Drought Severity Index - PDSI é um índice de medida de umidade do solo

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6.3.2.2.2. Águas subterrâneas Essas águas não estão reguladas pelo direito de prioridade como as águas superficiais, os impactos são aferidos pela despesa efetuada para pagamento da reposição de água. De acordo com o Distrito 120 os usuários de água subterrânea de American Falls e Aberdeen foram obrigados a pagar US$ 500.000 para reposição de água. Esse valor é coletado de todos os usuários com base na máxima derivação em pés cúbicos por segundo que seus direitos lhes permitem, e a área total sendo irrigada sob a égide desse direito. Isto resulta na quantidade total de água usada pelo detentor do direito durante a estação de irrigação. O impacto para os usuários de águas subterrâneas é calculado com base na máxima taxa de derivação multiplicado pela área o que indicará o impacto durante um ano médio. Como se pode observar o cálculo é feito sobre os impactos causados aos usuários de água superficial.

O cálculo efetuado por Frey (2012) foi com base no impacto da água subterrânea pela percentagem de alteração na água superficial pela média do ano.

Esses impactos para a seca de 1992, da mesma forma que foi feito para as águas subterrâneas estão mostrados na Figura 6 (município de Bimgham), e foram elaborados por municípios e representam os impactos sobre cada direito individual de uso de água para irrigação.

Esse mapa mostra os impactos extremos na cor vermelha e os baixos impactos na cor verde.

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Fonte: Frey, 2012

Figura 6. Impacto da água subterrânea na seca de 1992.

Uma vez aferida essa metodologia ela foi aplicada a cada um dos municípios da área estudada, nessa parte do rio Cobra, onze ao todo. Os resultados mostraram claro incremento de stress em todo o sistema hidrológico da Planície Oriental do Rio Cobra sob os potenciais cenários de mudanças climáticas.

O estresse sobre o sistema pode causar considerável impactos sobre os detentores de direitos individuais tanto de água superficial como subterrânea devido à redução de vazão no final da primavera e inicio do verão. Este estudo permitiu uma representação espacial

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dos impactos individuais de águas superficiais e subterrâneas durante média de anos e estendido aos períodos de baixa disponibilidade hídrica nos regimes de mudanças climáticas. Esses mapas permitem aos usuários localizar suas parcelas e verificar riscos de corte de água durante o período de escassez.

O mapa da Figura 7 que prevê impactos para períodos de água abundante mostra poucas ocorrências de impactos com riscos de corte de água. A maioria corresponde ao índice zero o qual não impacta a lavoura significativamente.

Fonte: Frey, 2012

Figura 7. Mapa de prioridade para corte de água no período de alto impacto

Por outro lado a avaliação dos impactos sobre os direitos de uso de água superficial num cenário de impacto de escassez mostra uma uniforme distribuição dos impactos em toda a área estudada (Figura 8). A maioria das áreas vivenciarão consideráveis impactos durante o período previsto de escassez de água sob as condições de mudanças climáticas (Figura 8).

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Os menores impactos serão observados nas parcelas com menores áreas cultivadas e muitos seniors ou portadores de múltiplos direitos associados a ele. Dos oito municípios que dispõe de direitos sobre água superficial, o de Minidoka tem a maior área cultivada, portanto, com maior impacto, com cerca de 108.000 ha. O município com menor impacto é Power com cerca de 7.600 ha. Esta situação se deve a que Minidoka tem uma grande quantidade de terra sendo irrigada com água superficial e relativos direitos de água juniors.

Fonte: Frey, 2012

Figura 8. Previsão de impactos no cenário de escassez de água sobre usuários de água superficial.

Como os usuários de água subterrânea não serão impactados durante o período de abundância de água só foram trabalhados os períodos médio e o de escassez.

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Os mapas de água subterrânea mostram maiores impactos nas parcelas mais distantes do rio Cobra (Figura 9). Essa situação é esperada devido a que grandes parcelas estão sendo compradas em datas posteriores às pequenas parcelas próximas ao rio. Os impactos das águas subterrâneas seguramente aumentarão sobre as previsões das mudanças climáticas devido ao aumento dos impactos sobre os detentores de direitos sobre água superficial.

Fonte: Frey, 2012

Figura 9. Previsão de impactos nas condições intermediárias para água subterrânea

Na avaliação da série histórica dos efeitos acumulativos de seca que cria um vazio de água armazenada para venda, conforme mostrado na Tabela 4, essa situação pode resultar na obrigação de corte de bombeamento de água subterrânea nos anos de escassez no futuro.

Tabela 4. Requisição de armazenamento e habilidade para aquisição a ser feita em anos de extrema escassez de água.

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Fonte: Construída com base nos dados do IDWR Water District 1 water master reports, por Frey (2013)

Nas análises das projeções para água subterrânea sob o impacto das mudanças climáticas resultaram fortes consequências sobre os direitos da água subterrânea, mostrado para o mesmo município em que foi mostrado o impacto em 1992, Bingham. Figura 10.

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Fonte: Frey, 2012

Figura 10. Impactos nos direitos de água subterrânea do município de Bingham no cenário de escassez por influência das mudanças climáticas.

A análise do impacto espacial mostrou que os maiores ocorrerão onde há combinação de uso de água superficial e subterrânea. Em todos os municípios drenados pelo Rio Cobra são esperados impactos consideráveis pelo ano cinco conforme mostrado nas Figuras 11 e 12, onde na primeira são mostrados os impactos esperados no primeiro ano e na 12 os esperados no ano cinco. Os municípios que sofrerão moderados impactos no quinto ano possuem pequena quantidade de área irrigada comparados com os altamente impactados.

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Os efeitos cumulativos foram determinados com a baixa neve a qual contribui para falta na última estação de escoamento e insuficiente contribuição para o curso de água no ano seguinte. O mapa da Figura 11 mostra que todos os municípios têm algum tipo de impacto. Os de maiores impactos são devidos à área plantada significativa e relativa prioridade júnior.

Fonte: Frey, 2012

Figura 11. Impactos identificados para primeiro ano de análise do período de escassez sob influência das mudanças climáticas.

Na Figura 12 observa-se os impactos cumulativos de baixa neve e falta de escoamento, onde todos os municípios ao longo do rio Snake são considerados de impactos extremos.

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Fonte: Frey, 2012

Figura 12. Resultado da análise dos impactos das mudanças climáticas nos municípios do rio Cobra, no ano 5

Concluindo, essa análise mostrou que a época de corte do direito de água mudará para mais cedo na estação de plantio, forçando os agricultores a adquirir água armazenada do banco de água se estiver disponível. Nos anos de significativos impactos sobre os usuários de água superficial, os usuários de água subterrânea estarão forçados a pagar valores substanciais para mitigação ou enfrentar o contingenciamento. Tem-se, portanto, um exemplo de controle sobre

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a alocação e o direito de uso de água feito por intermédio de instrumentos operacionais de fácil aplicação.

Serão necessárias iniciativas alternativas para mitigar os efeitos dos impactos das mudanças climáticas, iniciativas essas como investir em infraestrutura de armazenagem, técnicas mais apropriadas ao manejo das culturas irrigadas ou seleção de culturas mais adaptadas à essa nova realidade.

6.3.3. Texas O Texas em 1996 sofreu uma seca muito especial. Ela foi generalizada e muitos texanos foram afetados de diversas maneiras. No meio dessa situação de seca os tomadores de decisões do governo perceberam que as ferramentas necessárias para tomar decisões não estavam disponíveis. Como é típico nas situações secas, a causa, duração e frequência (possibilidade de recorrência) eram desconhecidas e nem como estaria relacionado com o conceito de disponibilidade de água.

No ano subsequente a essa seca, o Senado aprovou o que chamou de “Water Bill”. Esse ato mudou o modo como muitos aspectos do planejamento hídrico eram trabalhados. Essas mudanças foram facilitadas pela introdução de novas ferramentas como o sistema de informação geográfica. Uma área de significativa mudança foi a monitoria digital e o registro do direito de uso da água como parte do modelo de avaliação da disponibilidade de água em todo o Estado. Os dados do direito de uso, os de vazão e evaporação das águas do Estado foram utilizados nesse modelo para confiabilidade dos recursos hídricos como previsão das disponibilidades hídricas. Como um resultado do Water Bill, o Pacote de Análise dos Direitos sobre o Uso da água (WRAP14) tornou-se o modelo oficial de disponibilidade da água no Estado. (Yang e Siler, 2008)

De posse dessa ferramenta a Agência do meio ambiente do Estado do Texas, a Comissão do Texas sobre Qualidade Ambiental (TCEQ15) usando dados históricos de vazão e direito de uso de água construíram cenários para gerenciar não só a concessão de novos direitos, mas toda a água disponível para o Estado do Texas. Desta forma os tomadores de decisão do Estado podem se sentir mais confortáveis conhecendo a água disponível para o Estado, sendo monitorada e modelada. Entretanto, o uso padrão do WRAP modelando a disponibilidade de água os resultados são baseados somente nas condições do passado e do presente sem considerar o futuro com os efeitos das mudanças climáticas. Esta situação exigiu que era necessário considerar os efeitos das mudanças climáticas para se avaliar com segurança a disponibilidade de água no Estado.

Para contemplar os efeitos das mudanças climáticas no modelo de disponibilidade de água é necessário entender o seu funcionamento. O WRAP é a base para se conhecer a disponibilidade hídrica, desta forma foi preciso compatibilizar modelo sobre direito de uso da água que pudesse ser utilizado com os modelos de mudanças climáticas capazes de desenhar os cenários futuros.

O Dr. Ralph Wurbs do Instituto de Recursos Hídricos do Texas (da Universidade do Texas A&M) desenvolveu o modelo conhecido como WRAP, o qual é um programa de computador que 14Water Rights Analysis Package 15 Texas Commission on Environmental Quality

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maneja digitalmente os direitos sobre a água. Ele substitui o velho método de traçar linhas sobre mapas para determinar as várias relações e propriedades de direito de uso. O WRAP é um programa de domínio público com os dados de entrada disponíveis do TCEQ para todos os 23 rios e bacias costeiras do Texas que simula as retiradas de água de cerca de 10.000 permissões com suas localizações utilizando dados mensais de um período de aproximadamente cinquenta anos de planejamento (1940-1990).

Esse modelo WRAP determina com base nos dados históricos e com confiança para determinar as disponibilidades de água e os direitos de uso. Essa confiabilidade pode ser utilizada na análise da disponibilidade de água do quanto está disponível sob algumas condições. Dentre os vários componentes do modelo WRAP, os dois mais utilizados para análise das mudanças climáticas são as vazões naturais e a evaporação dos reservatórios.

Vazões naturais são aquelas medidas que são ajustadas para remover os efeitos antropogênicos tanto de manejo como de uso, por exemplo represamento, derivações, entre outros).

Wurbs, criador do WRAP, utilizou previsões de mudanças climáticas no WRAP. Utilizou dois modelos o do Centro Canadense de Modelagem Climática e Análise Global de Modelo de Circulação (GCM CCCMA) Solo e a Ferramenta de Avaliação de Água (SWAT).

Esses dois modelos utilizados para as alterações climáticas mostraram ser exequíveis, mesmo com outros modelos disponíveis de circulação global.

SWAT é uma ferramenta de modelagem de bacias hidrográficas usado por profissionais e organizações educacionais e governamentais. Este modelo é útil para prever os efeitos que as práticas de manejo da terra têm sobre a água, sedimentos e uso agrícola em sistemas hidrológicos não medidos. Isto é feito através de entradas de modelagem, incluindo clima, hidrologia, temperatura do solo, propriedades do solo, desenvolvimento das plantas, a presença de nutrientes, o uso de pesticidas, presença de bactérias e patógenos, e manejo da terra. Exemplos de tais dados incluem precipitação diária, temperatura máxima e mínima, radiação solar, umidade específica, velocidade do vento e evapotranspiração. Além disso, os dados de entrada específicos podem ser adicionados como precipitação orográfica e neve derretida, trata inclusive da avaliação do nível de condensação, os efeitos das mudanças climáticas sobre entradas padrão e prevista nos padrões climáticos.

Foi lançado mão do Centro Canadense de Modelagem Climática e Análise (CCCMA) que é uma divisão do Serviço Meteorológico do Canadá a Unidade de Pesquisa Climática. O CCCMA realiza pesquisa em modelagem atmosférica e alterações climáticas, entre outras coisas. Flatos et al. desenvolveram o modelo de circulação global (GCM) do CCCMA que é um modelo dinâmico para o mar-atmosfera. Esta combinação de modelos - atmosfera e oceanos – foram criados para a realização de simulações do passado e do presente, e projetar o futuro climático, com base na umidade específica, precipitação, umidade do solo, nebulosidade (cobertura de nuvens), convecção úmida, aquecimento por radiação, a temperatura média da superfície global, a concentração de dióxido de carbono, pressão ao nível do mar, a circulação oceânica, o gelo do mar, neve e congelamento sazonal da umidade do solo e muito mais. Trata-se de um modelo muito complexo e exige computadores potentes para sua utilização.

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A despeito do tempo e trabalho exigido, os dados desse modelo estão disponíveis para download no website do CCCma. Uma vez obtido os dados de saída podem ser utilizados para análises detalhadas ou para usos em outros modelos.

O modelo WRAP não tem como ser inseridos os parâmetros das mudanças climáticas no seu interior, mas os resultados do modelo CCCma GCM podem ser utilizados em conjunto com o SWAT para obter valores que podem ser manipulados e utilizados. Isto exige um processo de várias etapas, para se chegar a resultados de disponibilidade hídrica no cenário da mudança climática desenhado.

Os passos recomendados por Wurbs (2005) para incorporar os dois elementos de disponibilidade hídrica e de mudanças climáticas foram:

• Precipitação e temperatura modeladas, resultados para 2040 – 2060 obtidos do CCCma GCM, um resultado refletindo os efeitos das mudanças climáticas e outro sem esses efeitos;

• Os dados do GCM modelado é utilizado na alimentação do SWAT o qual é utilizado na representação do clima de 2050;

• O SWAT é alimentado com esses dados bem como com os dados históricos pra produzir conjuntos de valores de vazões diárias. Esses valores são ajustados para alimentar WRAP de vazões naturais mensais. Posteriormente os resultados do SWAT são utilizados para ajustar os valores da taxa de evaporação dos reservatórios; e

• O modelo WRAP é rodado com os dados históricos e dos de mudanças climáticas que resultam na avaliação da disponibilidade de água futura possível.

Qualquer combinação de modelos confiáveis pode ser usado de forma semelhante. Assim, a compatibilização da modelagem de disponibilidade de água pode ser feita por intermédio da incorporação de diferentes sistemas de modelagem.

É necessário explorar essa questão do ponto de vista de ambos os enfoques tanto dos índices de disponibilidade hídrica e do modelo de planejamento operacional dos recursos hídricos que simulam a operação do sistema utilizando as vazões históricas e as projetadas.

6.4. México O México já incorporou em suas preocupações os impactos das mudanças climáticas sobre a água como uma ameaça à sua segurança hídrica. A Comissão Nacional da Água – CONAGUA tem adotadas várias iniciativas pelo uso principalmente do instrumento de planejamento como os Planos de Ação Climáticas Municipal – PACMUN, com identificação da vulnerabilidade na questão da água.

Desde 2010 a CONAGUA em parceria com o Fundo Mundial para a Natureza – WWF e a Fundação Gonzalo Río Arronte – FGRA vêm trabalhando em conjunto para estabelecer reservas de água que assegurem a conservação dos principais ecossistemas do México, assim como a disponibilidade de água para as gerações presentes futuras. Foram estabelecidos os critérios para determinar e priorizar reservas de água para o meio ambiente, bem como foram feitas identificação de reservas de potenciais de água. Foram identificadas 189 unidades de gestão (bacias) com características favoráveis, com reservas de água em três níveis: 19 bacias com

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muito alta, 54 com alta e 116 com viabilidade média. Cinquenta e quatro por cento delas se encontram no interior e as restantes nas zonas costeiras.

Em um inventario de intervenções de água e mudanças climáticas no período 2007-2012 foram encontradas 118 ações. Todas elas foram desenvolvidas de forma relativamente autônoma, mostrando necessidade de uma estratégia nacional que permeie o planejamento subnacional, atrelado a um marco de ação forte, que deveria ter sido articulado com o Plano Nacional Hidráulico do período 2013-2018, mas com uma visão de muito maior prazo. Esta visão de adaptação às mudanças climáticas em matéria de água não deve modificar-se dramaticamente a cada seis anos com as mudanças de administração, mas, sim, avaliar os avanços conseguidos a cada seis anos e, se considera pertinente revisar o plano de ação a cada intervalo desse de seis anos. A estratégia poderia contar com suas próprias metas e indicadores que por sua vez poderiam vincular-se com os do PNH, o Plano Nacional de Desenvolvimento, entre outros. Essa estratégia teria como consequência a identificação de áreas prioritárias de ação no substantivo e no geográfico, uma racionalização dos recursos financeiros e humanos existentes, a alavancagem de recursos adicionais, bem como a proposta de um marco institucional mais apropriado.

Busca, ainda, aumentar a base do conhecimento, atualmente se conta com dados precisos sobre as afetações por secas e inundações passadas e presentes, por intermédio de sistemas sofisticados de monitoria, mas não se conta atualmente com sistemas de prognósticos de secas que permita orientar a tomada de decisões preventivas sobre este fenômeno. Claramente, um investimento financeiro neste sentido geraria economias muito importantes, sobretudo para o setor agropecuário, além do que este custo seria significativamente menor do que os custos de enfrentar posteriormente as perdas e os danos como consequência de não estar preparados ante ambos os eventos extremos. Por outra parte, em paralelo ao aumento da base do conhecimento sobre os impactos futuros causados pelas mudanças climáticas com os componentes do ciclo hidrológico, já se devem realizar ações capazes de assegurar tomada de decisões apropriadas e oportunas para as áreas prioritárias para se agir.

Uma iniciativa nessa questão de alocação e direito de uso da água neste País são os Bancos de água, braço da CONAGUA. Existem 13 Bancos nas sedes dos Organismos de Bacias e 20 escritórios de apoio em cada uma das direções locais. Suas funções são proporcionar orientação com respeito às características técnicas e hidrológicas da região, prestar assessoria no que diz respeito às normas aplicáveis aos trâmites de transmissão ou aquisição dos direitos de usos de água. Os usuários têm acesso à informação para uma adequada tomada de decisão, além de contar com um serviço integral de assessoria gratuita em matéria de transmissão de direitos, assim como simplificação do trâmite dentro da legalidade e transparência.

São genéricas as abordagens do papel desse banco no que diz respeito às mudanças climáticas: “Uma das funções dos Bancos de Água é promover realocação eficientes da água aos usos mais produtivos e que contribuam para o desenvolvimento sustentável da água. Por outro lado, proporcionam assessoria integral aos usuários nos aspectos técnicos e hidrológicos da região, contribuindo para a formação de uma cultura do bom uso do recurso.”

Em 2010 o México publicou o “Atlas de Vulnerabilidad Hídrica en México” diante das mudanças climáticas, terceiro de uma serie referida com relação a este fenômeno.

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O Atlas permitiu analisar e valorar, com maior precisão do que a alcançada até agora, os efeitos das mudanças climáticas no território mexicano, considerando as variações de temperatura e precipitação. Da mesma forma, por intermédio da Norma Oficial Mexicana 011, determinou-se o escoamento a partir das anomalias de precipitação, com o objetivo de conhecer o lugar onde se reduziria a disponibilidade hídrica e em que proporção. Outrossim, avaliou-se a vulnerabilidade da qualidade de água em face às mudanças climáticas em três bacias representativas do México.

Observa-se que no México no que refere à alocação de água e outorga do direito de uso de água em face às mudanças climáticas estão ganhando corpo, o que merece seu acompanhamento pois poderá trazer bons conhecimentos para aperfeiçoamento do uso desses instrumentos em outros países.

6.5. Experiências europeias Veiga & Magrini (2013) ressaltam, como parte das ações definidas no White Paper (EU 2009c), que a Comissão Europeia adotou em dezembro de 2009 o documento intitulado Documento Diretriz 24, Estratégia Comum de Implementação da WFD, Gestão dos Recursos Hídricos em um Clima em Mudança (Guidance Document No 24, Common Implementation Strategy for the Water Framenwork Directive - WFD, River basin management in a changing climate, technical report 2009-040d). Este Guia orienta os estados membros sobre como considerar as Mudanças Climáticas – MC nos impactos e na adaptação no planejamento dos recursos hídricos - RH. De forma mais específica o guia apresenta como estes devem ser inseridos no segundo e terceiro ciclo dos planos de bacias hidrográficas, que deverão ser submetidos à União Europeia - UE pelos estados membros respectivamente em 2015 e em 2021. Os planos deverão conter os cenários climáticos para a respectiva bacia, as ações de adaptação e como elas serão implementadas. O Guia (EU, 2009d) sugere algumas ferramentas para definir os impactos das MC nos RH. Outros aspectos tais como a conscientização da comunidade, capacitação de pessoal, articulação e cooperação entre atores e setores, devem ser considerados na construção da capacidade de adaptação.

O relatório do AEMA “Water resources across Europe – confronting water scarcity and droughten” observa que na Europa como um todo, 44% da captação de água é usado para a produção de energia, 24% para a agricultura, 21% para o abastecimento público de água e 11% para atividades industriais. No entanto, estes valores escondem diferenças significativas as quais não traduzem as preocupações dos setores usuários de água quanto aos impactos das mudanças climáticas, bem como como elas serão incorporadas na gestão de recursos hídricos no instrumento de direito de uso de água. No sul da Europa, por exemplo, a agricultura é responsável por 60% da água retirada total, chegando a 80% em algumas áreas. Na Europa, as águas superficiais como rios e lagos, são responsáveis por 81% do total de água doce captada e é a principal fonte de água para a indústria, energia e agricultura. Em contraste, as redes de abastecimento público d’água dependerão em grande parte das águas subterrâneas, devido à sua qualidade, geralmente, mais elevada. Substancialmente toda a água utilizada para a produção de energia retorna para as massas de água, ao contrário do que acontece com a água utilizada para a agricultura, a qual em sua maior parte retorna ao ciclo hidrológico pela evapotranspiração.

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A tomada ilegal de água, muitas vezes para fins agrícolas é uma prática comum em certas partes da Europa.

Nos termos do Art. 9 º da Diretiva-Quadro da Água, os Estados-Membros devem fixar um preço justo para a água, devido, primeiro, a uma política de preços que se baseia na análise econômica dos usos e do valor da água e, por outro lado, para implementação de programas que forçam a medição do consumo.

Para limitar os efeitos negativos que o desenvolvimento econômico promove em algumas bacias hidrográficas e promover o uso racional da água, é necessário tornar mais eficiente a alocação dos recursos hídricos e fundos relacionados.

Estes incluem, principalmente, as seguintes medidas: integrar problemas de disponibilidade de água na exploração das terras agrícolas, aplicar estritamente a diretiva sobre a avaliação estratégica dos efeitos ambientais16, fazendo com que as bacias hidrográficas que frequentemente sofrem por problemas de escassez de água, adotem normas de gestão que são apropriadas para estas bacias.

O Relatório da Comissão ao Conselho e ao Parlamento Europeu sobre a escassez de água e das secas na União Europeia ressalta:

Apesar dos progressos, ainda há muito a ser feito para melhorar a gestão da demanda de água em toda a Europa e evitar má gestão dos recursos hídricos, especialmente em áreas com escassez de água. A UE e os Estados-Membros devem prosseguir os seus esforços nas sete áreas-chaves definidas na presente comunicação, incluindo preços da água, distribuição de água e de financiamento, de gestão de risco de seca, infraestrutura adicional para o abastecimento de água, tecnologias e práticas de uso eficiente da água, a disseminação de uma cultura de poupança de água e melhorar a coleta de conhecimento e de dados. Dê atenção especial à aplicação da Diretiva-Quadro da Água, para a melhoria do solo espacial para medidas de conservação de água e eficiência de seu uso, e integrando as questões da água em todas as políticas sectoriais 17.

Na França, já há uma década vem estabelecendo zonas de riscos em nível comunitários o que resultou em 30% das comunidades dispor de um plano aprovado para essa finalidade. Há expectativas de que as mudanças que se produzirão variarão muito, inclusive dentro de distancias relativamente curtas.

Buscou-se conhecer algumas situações vividas por alguns países em algumas de suas regiões como a Espanha na Bacia do rio Guadalquivir onde a irrigação tem crescido muito nos últimos anos, crescendo portanto o desequilíbrio entre a disponibilidade e demanda de água. Por se tratar de um zona árida a pressão pela irrigação persistirá o que levou a aplicação de modelos de projeções das necessidades de água para irrigação os quais mostraram um incremento entre 15 a 20% nas necessidades sazonais de irrigação nos anos de 2050.

16 Directiva 2001/42/CE del Parlamento Europeo y del Consejo, de 27 de junio de 2001, relativa a la evaluación de los efectos de determinados planes y programas en el medio ambiente. DOUE L 197. 21.07.2001 17 Informe de seguimiento de la Comunicación sobre la escasez de agua y la sequía en la Unión Europea COM (2008) 875. Bruselas.

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As experiências europeias mostram preocupações e iniciativas de natureza gerais, muito normativas, exigindo que os Estados membros as apliquem. Certamente se constitui num modelo que deve ser acompanhado de perto, por gerar conhecimentos que poderão ter aplicabilidade em outras regiões.

6.6. Austrália A Austrália, assim como vários outros países que vem se preparando para enfrentar os efeitos e impactos das mudanças climáticas têm concentrados seus esforços e atenção nos planos de recursos hídricos. Na Austrália, a Iniciativa Nacional da Água determina que esses planos contemplem tanto as águas de superfície como as subterrâneas, e devem estar em consonância com os planos regionais de gestão dos recursos naturais, desenvolvidos em consulta com todas as partes interessadas com base na melhor avaliação socioeconômica, para fornecer resultados ecológicos seguros e segurança para os usuários desses recursos naturais.

O plano de recursos hídricos é um instrumento que fortalece o sistema legal (podendo ser um instrumento único ou uma série de instrumentos jurídicos e políticos que atuam em conjunto) o qual define a quantidade de água que pode ser retirada de um corpo de água, de modo que seja ambientalmente sustentável e estabelece as regras de compartilhamento da água disponível para uso entre os usuários concorrentes. Esses planos não abordam a partilha de água no varejo, como por exemplo entre os consumidores urbanos.

Aplica uma abordagem baseada no risco - Planejamento dos recursos hídricos deve criar mecanismos para gerenciar a incerteza e adaptar-se a uma melhoria da informação e do conhecimento, incluindo a monitorização e elaboração de relatórios.

Os planos devem incluir regras ou processos claros para descrever como tais situações inéditas ou não planejadas serão gerenciados. Isso permitirá aos usuários de água compreender e gerir os seus próprios perfis de risco. Em recursos hídricos altamente incertos, os planos devem ser de curta duração ou revisado periodicamente na ótica do curto prazo. Alguns países tem adotado horizonte de três anos, para essa revisão.

Para que os interessados adquiram confiança nas decisões que afetam os recursos hídricos e o meio ambiente em geral, eles precisam saber que essas decisões são baseadas em informações sólidas, levam em consideração todas as questões relevantes, e são submetidas a um processo de tomada de decisão metódico, transparente e responsável.

Todos os planos devem especificar o regime de retirada sustentável da água para o sistema. Estabelecer o regime de retirada de água sustentável exigirá a identificação dos elementos fundamentais do ambiente, e serviços essenciais e funções dos ecossistemas a serem protegidos, e as suas necessidades de água. Isso implicará em algum nível o possível impacto da variabilidade do clima futuro e a necessidade de considerar possíveis trade-offs entre os resultados ambientais e uso de consumo.

Na Austrália já existe severa competição pela água entre os stakeholders e os estados. A Austrália já vem experimentando impactos significantes das mudanças climáticas: a

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temperatura aumentou em 0,9º C desde 1950 e a precipitação tem declinado da costa leste para a oeste do país.

George et al. (2011) tem registrados mudanças hidrológicas com altos impactos em algumas bacias como Krishna na Índia e Murray Darling na Austrália. Seu trabalho partiu do modelo geral de circulação em escala reduzida para gerar informações adaptadas para um modelo hidrológico regional sobre os futuros cenários climáticos. Dessa forma, avaliou os impactos das mudanças climáticas sobre o ciclo hidrológico para propor uma modelagem para distribuição de água tanto superficial como subterrânea. O impacto do desenvolvimento da bacia na hidrologia também foi analisado utilizando essa estrutura de modelagem. Ressalta-se que uma modelagem de alocação de água foi trabalhada para avaliar a segurança da água e seu valor econômico. Finalmente a modelagem será utilizada para avaliar a gama de políticas sociais e econômicas defensáveis dirigidas pelos stakeholders em vez de buscar uma simples preferível (ótima) alternativa. Este trabalho ainda era uma metodologia sendo desenvolvida e testada. Figura 13.

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Figura 13. Mapa conceitual da modelagem para gestão de recursos hídricos em um quadro de mudança climática

A integração da mudança climática sobre a disponibilidade de água e a demanda terá que ser considerada no modelo de substituição da sua alocação com base nas preferências demandadas dos stakeholders e na avaliação da segurança associada a cada cenário.

A segurança hídrica neste contexto é representada pela combinação do nível de disponibilidade (quantidade) e sua segurança associada de suprimento (risco) para cada atividade econômica (agricultura, urbana, industrial) sobre uma base espacialmente distribuída.

O modelo REALM (Resource Allocation Model) é uma ferramenta já aprovada que tem auxiliado o planejamento dos recursos hídricos e a sua gestão tanto para os sistemas de abastecimento urbano e rural (James et al. 1996; Perera, et al. 2005 apud George et al. 2011). Além de ser

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aplicado tanto ao meio urbano como rural ele pode ser utilizado para uma gama diversa de cenários, tais como alocação de água setorial, direitos de uso da água, vazão ecológica, mudança climática, restrições e gestão da oferta e demanda.

Esse modelo utiliza uma rede de nós vinculados para representar o rio onde os nós representam as unidades físicas tais como reservatórios, aquíferos, comunidades, agricultura e indústria e os links representam a conexão dos nós (rios, adutoras, canais, etc.). Os nós são de dois tipos os de fonte e os de demanda. Os nós de fonte representam diferentes fontes de água tais como água de superfície, reservatório, água subterrânea e reuso. Os nós de demanda representam nós urbanos e irrigação.

O modelo requer três entradas para fonte de água, demanda e descrição do sistema (James et al. 1996, apud George 2011). Os arquivos de fontes de água contemplam informações sobre o fluxo de água do rio, escoamento entrando no nó de fonte, água subterrânea e dados climáticos. Os arquivos de demanda contêm dados de demanda de cada nó do sistema. Os arquivos de outras informações contemplam os dados das fontes de água (nós de fontes), vários centros de demandas irrestritos, a conexão espacial dos links e as correspondentes regras de operação de longo prazo. A representação dos elementos físicos do sistema é feita por uma interface de um instrumental gráfico. As saídas do modelo incluem informação sobre a armazenagem final do reservatório, volume fornecido, demanda com restrições e as sem restrições, água vertida, e vazões de operação.

A avaliação econômica dos impactos das mudanças climáticas e das estratégias para administrar esses impactos não é fácil por duas razões. Primeiro, os impactos ocorrem ao longo de um vasto período de tempo, dificultando a análise do tipo fluxo de caixa descontado (como análise de benefício/custo) de uso limitado. Segundo, ainda e pouco conhecida as incertezas associadas com as mudanças climáticas. Essas incertezas precisam ser quantificadas (com uma associação às probabilidades) antes que tenham alguma aplicação nas análises econômicas. (George et al. 2011)

Hamstead et al (2008) mostra que desde 2004 por intermédio de um Acordo Intergovernamental como Iniciativa Nacional da água – NWI18 (sigla em inglês) que o planejamento dos recursos hídricos é uma questão chave, e é, também, uma das mais importantes ferramentas para se obter o uso sustentável desses recursos. Enquanto esse planejamento seja abrangente e interdisciplinar tais como risco de enchentes, qualidade da água e seu abastecimento, o enfoque do NWI está voltado para o planejamento da alocação e compartilhamento da água. Abrange tanto a água superficial como subterrânea, visando gerir e distribuir de forma a se atingir objetivos ambientais, econômicos e sociais.

As instituições estaduais e territoriais de planejamento dos recursos hídricos têm investidos milhões de dólares nos últimos dez anos. As abordagens têm variado significativamente de uma jurisdição à outra, e mesmo entre regiões de uma mesma jurisdição. O processo tem exigido muita experiência.

18 National Water Initiative

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Da mesma forma do que tem acontecido no Brasil, a abordagem ambiental da necessidade tem sido mais de natureza experimental. Os resultados desses planos têm sido diversos, e não têm sido avaliados objetivamente.

Não existe um modelo perfeito para orientar o planejamento dos recursos hídricos por toda a Austrália. Está claro, contudo que as lições estão sendo aprendidas individualmente pelos Estados e Territórios que estão beneficiando o planejamento dos recursos hídricos em outras jurisdições com o compartilhamento das experiências. A oportunidade existe para maior avanço desse compartilhamento das experiências por intermédio da construção de um banco nacional de conhecimento capaz de reunir todo o acervo acumulados das últimas décadas de modo a torna-lo disponível a todos.

Hamstead et al (2008) analisou as práticas ocorridas e lições aprendidas no planejamento dos recursos hídricos de onze caso de estudos em toda a Austrália, examinou os processos utilizados para desenvolver os planos e seus conteúdos. Os casos de estudos foram selecionados como representativos de diferentes abordagens nas diferentes regiões daquele país e cobrindo uma gama de distintas questões. O trabalho desses autores não chegou a ser uma análise compreensiva de todos aspectos envolvidos no planejamento de cada estado, mas como exemplo de processos significativos, abordagens, escopo e conteúdo. O intuito foi de compartilhar as experiências entre os planejadores das diferentes jurisdições. Também procurou ser um catalizador para posteriores pesquisas e para desenvolvimento de melhoria de abordagens e para melhoria da prática do planejamento dos recursos hídricos nacionalmente.

Os casos de estudos selecionados foram:

• Water Sharing Plan for Gwydir Regulated River Source, New South Wales (NSW) • Water Sharing Plan for the Lower Gwydir Groundwater Source, NSW • Lower North Coast Water Sharing Plan, NSW • Central Region Sustain Sustainable Water Strategy, Victoria • Water Resources (Burnett Basin) Plan and groundwater amendment, the Regional

Operations Plan and amendments, Queensland • Water Resources (Condamine-Balonne) Plan and regional operations plans,

Queensland • Padthaway Water Allocation Plan, South Australia • Katherine/Tindall Limestone Aquifer Water Allocation Plan, Northern Territory • Lakes Sorell and Crescent Water Management Plan, Tasmania • River Clyde Water Management Plan, Tasmania • Ord River Water Management Plan, Western Australia.

O planejamento dos recursos hídricos não tem sido uma atividade predominante como o planejamento das cidades. Mas existem várias abordagens relacionadas ao conhecimento científico e técnico que são importantes para o planejamento do recurso hídrico. Os planejadores dos recursos hídricos têm sido treinados tecnicamente por quem tem sido jogado no tema e tem aprendido fazendo.

Conquanto o planejamento de recursos hídricos abranja aspectos comuns com outros tipos de planejamento de uso do solo ou de recursos naturais, na Austrália as variáveis clima e vazões constituem um desafio único. Nenhum outro tipo de planejamento de recurso natural lida com

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variações dia a dia e ano a ano, sendo, frequentemente difícil definir os termos sua extensão, incorporando direitos de uso compartilhados num único corpo de água, vital para a saúde ecológica, economia regional e comunidades, além de ser uma necessidade fundamental para a vida humana.

O planejamento de recursos hídricos dificilmente será um processo concluído. O impacto das mudanças climáticas significa que existirá menos meios para predizer e planejar o uso dos recursos hídricos com certeza, desta forma será necessário adaptar abordagens para a gestão dos recursos hídricos e seu planejamento. As secas verificadas na época do trabalho de Hamstead et al evidenciou que nunca antes a necessidade de um planejamento eficaz da água foi mais claramente evidente. Nós ainda temos que vir a enfrentar o que significa sustentabilidade ecológica e como alcançá-lo de uma forma justa e equitativa. Existem poucas dúvidas que a futura revisão dos planos hídricos existentes, terão diferentes enfoque dos planos iniciais. Foi identificado uma gama de práticas notáveis nos estudos de caso, todas dignas de ser utilizadas em outras áreas. Da mesma forma foram identificadas áreas para desenvolvimento de pesquisas e de necessidades de mudanças na legislação e políticas, bem como o estudo mostrou ser catalizador para trabalhos posteriores e para o desenvolvimento de uma disciplina de planejamento de recursos hídricos que leve melhoria continua nessa área vital para o futuro da nação.

Na Tabela 5 estão descritos o que sintetiza cada plano analisado.

Tabela 5. Síntese dos estudos de casos dos planos de recursos hídricos na Austrália

No Plano – Caso de Estudo Descrição 1 Plano de

compartilhamento de água para o Rio Regulado Gwydir (NSW)

Plano de compartilhamento de água para a parte do sistema do rio Gwydir que está regulado, controlado por represas e açudes com o propósito de abastecimento de água

2 Plano de compartilhamento de água subterrânea do baixo Gwydir (NSW)

Plano de compartilhamento de água e de alocação para os extensos aquíferos aluviais no vale do baixo Gwydir

3 Macro Plano da Baixa Costa Norte (NSW)

Plano de compartilhamento de água e de alocação (conhecido como “macro” plano) para todos os rios num grupo de coleta costeira

4 Estratégia de água sustentável para a Região Central (Vic)

Plano de compartilhamento de água e de alocação

5 Plano de Recursos Hídricos (Burnett Basin) e correção de água subterrânea, Plano de Operação de Recursos e recuperação (Qld)

Plano de compartilhamento de água e alocação para toda a área de captação do rio Burnett

6 Plano de Recursos Hídricos (Condamine-Balonne) e Plano de Manejo de recursos (Qld)

Plano de compartilhamento de água e de alocação para toda a bacia do rio Condamine-Balone

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No Plano – Caso de Estudo Descrição 7 Plano de Alocação de

água de Padthaway (South Australia)

Plano de compartilhamento de água, alocação e uso do aquífero cárstico confinado nas vizinhanças de Padthaway

8 Plano de alocação de água do aquífero cárstico Katherine/Tindall (NT)

Plano de compartilhamento de água, alocação e uso do sistema aquífero calcáreo Katherine/Tindall

9 Plano de gestão hídrica dos lagos Sorell e Crescent (Tas)

Plano de compartilhamento e alocação de água para os dois lagos situados na cabeceira do rio Clyde. São lagos naturais que por intermédio de obras contribuem para aumentar a capacidade de armazenamento e permitem a regulação do abastecimento de água do rio Clyde

10 Plano de Gestão Hídrica do Rio Clyde (Tas)

Plano de alocação e compartilhamento para o rio Clyde e seus tributários

11 Plano de Gestão hídrica do rio Ord (WA)

Plano de alocação e compartilhamento para parte do sistema do rio Ord que é controlado por represas e açudes para o propósito de abastecimento de água.

Fonte: Hamstead et al. (2008)

Só a título de exemplo da abordagem da análise do trabalho de Hamstead et al 2008, tomando a abordagem da segurança do recurso contido no plano de recursos hídricos, o Plano do Ord teve como objetivo:

• Promover o compromisso existente para irrigação e geração de hidroenergia; • Dirigir o planejamento para parte ocidental da Austrália da Área de Suprimento M2 e

desenvolvimento da irrigação no mais baixo Ord a jusante do morro House Roof; • Identificar o potencial para futuras gerações de energia na represa do rio Ord e na

barragem de derivação Kunurra; • Indicar o potencial para alocação adicional de água para irrigação no futuro;

O plano estabeleceu limites para retiradas total de 750 giga litros por ano do rio Ord., no trecho entre o lago Kununurra e Terrara Bar (33 quilômetros a jusante), e 115 giga litros por ano a jusante de Rouse Hill Roof. Estas recomendações asseguram nível de segurança para os detentores de licenças e os que a estão solicitando, evitando que esses limites sejam ultrapassados comprometendo a segurança da disponibilidade. O plano, ainda, previu situações esperadas para confiabilidades anuais:

• Para áreas do estágio 1, 250 giga litros por ano a 95% e mais 100 giga litros por ano com 90% de confiabilidade; e

• 400 giga litros por ano a 95% para futuras demandas (novo estágio 2 (M2) área)

Isto tudo depende da extensão dos cultivos propostos e confiabilidade das demandas quando as solicitações são feitas. Dado um nível de compromisso de licença no sistema, segurança de acesso é improvável que seja afetado em curto prazo. Entretanto, áreas do plano (e gestão de licença) que comprometem a segurança dos recursos foram:

• Posse de licença – Estas são comumente para cinco anos (com previsão de renovação), mesmo que o plano indique necessidade de licenças de mais longo prazo.

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• A falta de medições das extrações – o plano contempla recomenda a necessidade de manter registros confiáveis sobre casa uso;

• A falta de especificações da segurança para própria licença de retirada, não definindo as necessidades ou comprometimento dos usuários ripários;

• A falta de especificações de como a redução no acesso por intermédio da alocação será distribuída entre os detentores de licença;

• A aplicação da política “use-a ou a perda” das licenças; • Ausência de qualquer referência de comercialização do direito de uso da agua que

poderia compensar a redução da alocação de água; e • O potencial para desenvolvimento da parte norte do território.

O relatório do Departamento ressalta que o desenvolvimento tem sido lento, para agilizar é preciso uniformizar a legislação para o estágio 2 do desenvolvimento almejado para melhor compartilhamento dos recursos hídricos o que implica em envolver as duas casas do parlamento.

O Departamento registra que o plano fornece grande credibilidade para concessão da licença de uso e de aplicação dos limites de sua extração protegendo-os. A hidrologia da área empresta para si próprio uma alta credibilidade para o sistema de gestão com previsões de vazões de menor variabilidade do que em outras áreas do Estado ou do que de outros estados, tais como os do norte. Isto foi reconhecido bem cedo, e o plano o consolida. Isto é particularmente importante para assegurar investimentos a serem feitos em áreas remotas.

Muitos usuários têm-se deparados com problemas com acordos legais existente como eles relatam com a Pacific Hydro Ltd que trouxe problemas para o processo de desenvolvimento do plano. Esses problemas têm que ser identificados no início do processo e precisa ser feito um inventário minucioso da parte legal e institucional dessas questões.

Observa-se desta abordagem que os planos de recursos hídricos é que devem balizar a condução do processo de alocação e restrições para emissão das outorgas do direito de uso da água de um manancial, pois ele é que dará o embasamento e a credibilidade para sua aplicação e aceitação por parte de todos os stakeholders.

6.6.1. Administrando alocação e resultados de melhoria ambiental A sobre-alocação de água e o sobre uso permanece um desafio nacional para se atingir os resultados ambientais, e há uma grande necessidade de gerir a sobre-alocação o mais rápido possível. Um efetivo planejamento dos recursos hídricos soa como o melhor caminho para gerir a sobre-alocação e melhoria dos resultados ambientais, mas sua implementação até o presente tem encontrado dificuldades pela necessidade de mais recursos, pelo acesso à melhor informação e conhecimento científico, pela falta de uma clara identificação efetiva do papel dos gestores ambientais. Além da falta de clareza na especificação dos resultados ambientais desejados e de sistemática monitoria e registro dos resultados os quais ajudarão o processo de planejamento para atingir resultados tangíveis na sanidade da água subterrânea e do rio, existe, também, a necessidade assegurar um bem coordenado programa de recuperação dos recursos hídricos e definir o papel claro e com credibilidade para os gestores da água ambiental.

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6.6.2. Fortalecimento do mercado de água O Comércio de água é uma peça central da reforma nacional de água e o potencial benefícios dessa ferramenta (de modo a assegurar que os recursos hídricos sejam alocados para seu maior valor de uso) sejam logo reconhecidos. Esses benefícios não podem ser completamente concretizados até que o bom funcionamento do mercado de água seja alcançado. Um desafio imediato nessa área está em melhorar a função do mercado pela redução dos custos e do tempo de processamento de suas transações.

A sobre-alocação permanece um grande problema na Austrália, particularmente na bacia do Murray-Darling.

A reforma hídrica requer separação dos direitos da água do direito sobre a terra, o primeiro passo necessário é expandir o comércio da água. Essa reforma, também, busca abrir o arranjo comercial, incluindo o comércio entre estados.

A NWI busca uma “expansão do permanente comércio de água sobre o seu mais rentável uso, maior custo efetivo e flexível recuperação da água para atingir os resultados ambientais.

Os resultados esperados pela implementação do mercado de água e comercialização são:

• Facilitar a operação do eficiente mercado de água e oportunidades para comercialização dentro e entre os estados, onde os sistemas hídricos foram fisicamente compartilhados ou conectados hidrologicamente e as considerações do suprimento de água permita a sua comercialização;

• Minimizar os custos de transação do comércio de água, incluindo a precisa informação sobre a vazão no mercado e a titulação compatível, registro, regulação e outros arranjos estre os estados;

• Permitir o desenvolvimento de um apropriado mix de produtos hídricos, baseado no acesso a titulação e alocação que possam ser comercializados no todo ou em parte, ou por intermédio de leasing ou outros arranjos; e

• Reconhecer e proteger as necessidades do meio ambiente e prover a apropriada proteção dos interesses das partes de terceiros.

6.6.3. Planejamento dos recursos hídricos na Austrália O Planejamento dos recursos hídricos assiste aos governos e às comunidades para a gestão adaptativa tanto dos sistemas de água superficial como subterrânea de modo a encontrar resultados tanto no setor produtivo, como ambiental e outros segmentos de benefícios públicos.

De modo a obter o comprometimento consensual do NWI, os planos de recursos hídricos foram desenvolvidos com forte sobre-alocação de água em todo o sistema no ano de 2005. Houve, também, um progresso substancial em reverter essa situação de modo a trazer um nível sustentável de retirada de água até o ano de 2010. A sobre-alocação permanece como o maior problema, particularmente na bacia do rio Murray-Darling.

Na Austrália as preocupações com as mudanças climáticas nos planos de recursos hídricos têm sido consideradas para cada jurisdição. Da mesma forma tem sido reconhecido nas estratégias de adaptação aos impactos que os recursos hídricos sofrerão. As adaptações dos gestores de recursos hídricos e dos formuladores de políticas não são novas. Os efeitos das mudanças

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climáticas podem impor novos ou, talvez, desafios ainda não enfrentados nos regimes de gestão da água. Isto é particularmente verdadeiro na Austrália Norte tropical, uma região difícil de gerir e prestar serviços devido a seu tamanho, ser área remota e relativamente pobre em infraestrutura de base.

Os australianos consideram o mercado de água como uma estratégia para enfrentar a adaptação à mudança climática. O mercado de água tem permitido aos agricultores irrigantes do sul a flexibilidade para lidar com a seca e manter a produtividade durante o período de escassez de água. O mercado de água tem permitido adaptação dos efeitos das mudanças climáticas permitindo a alocação entre usuários e flexibiliza aos usuários sua comercialização. O mercado, também, pode encorajar o uso eficiente da água o que é importante na mudança climática na disponibilidade de água. Apesar de não comercialização no Norte, normalmente ela ocorre em áreas sujeita a planos de recursos hídricos, onde a competição pela água tende a ser maior demandando necessidade de planejamento.

Os planos de recursos hídricos procuram identificar o equilíbrio entre a extração consuntiva pelo uso do conhecimento técnico-científico e consulta à comunidade para apoio econômico, ambiental e social. Essa parte norte do país só conta com um plano de água subterrânea (Plano do Aquifero de Tindall) que tem que ser revisto a cada cinco anos enquanto que os planos como do rio Ord esse prazo é de três anos.

Uma importante ferramenta para adaptação à mudança climática nos planos de recursos hídricos é a possibilidade de reduzir a alocação de agua entre os detentores de titulação de direito de uso para melhorar a disponibilidade. Isto só pode ser feito de acordo com o nível de segurança do título, em três níveis: alto, médio e baixa. O valor econômico do título está vinculado a esse nível de segurança. Nos territórios da região norte, a alocação da água do aquífero Tindall estabelecida pelo plano determina que a licença pode ter sua alocação reduzida a zero em épocas de severas secas. Em época de crítica escassez de água o controlador de água na Norhern Territory (NT) tem o poder de impor restrição sobre o estoque e uso doméstico. No rio Ord há maior segurança proporcionada pela capacidade de armazenamento no Lago Argyle (101 GL). A alocação de água no Ord é determinada com base no nível de armazenamento de água no reservatório, e restrições podem ser impostas sobre as alocações quando atinge níveis críticos. É esperado que somente em cinco anos de cada 100 ocorra níveis críticos que demandem redução da alocação. Desta forma os detentores de autorização de uso de água tem completa alocação em 95% do tempo. Os planos são revistos periodicamente e novas informações pode ser incorporadas e os títulos de outorga são revistos de forma a refletir as mudanças nas disponibilidades de água.

A maioria das pesquisas sobre mudanças climáticas e hidrologia estão voltadas para as regiões metropolitanas em Western Australia e Queensland. Existe muito pouco trabalho no norte para entender os efeitos das mudanças climáticas sobre os recursos hídricos. Incertezas e falta de conhecimento inibem os esforços para um competente planejamento. A adaptação à mudança climática na gestão dos recursos hídricos requer uma abordagem integrada, coordenação e transversalidade dentro do Governo e colaboração com stakeholders para ser efetiva – é preciso buscar suporte para resultados socioeconômicos a longo prazo. Os impactos das mudanças climáticas não são distribuídos equitativamente e terá implicações para grupos sociais menos

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favorecidos com consequências na saúde, bem estar e sustentação. Indústrias serão afetadas pelas mudanças climáticas no Norte da Austrália. Por exemplo a exploração pecuária que cobre mais de 90% do uso da terra pode ser afetada negativamente pela redução da alimentação e pela disponibilidade de água. Esses impactos podem ser mitigados pelo planejamento proativo bem como pelas atividades colaborativas e enfocadas nos stakeholders nas atividades de planejamento. O planejamento requererá particular esforços para incluir e engajar os grupos menos favorecidos, onde os esforços de consultas no passado falharam nas expectativas de gestão das águas.

Cerca de 65% dos escoamentos superficiais ocorrem na Austrália continental Norte e na costa da Queensland. Onde somente 7% correm na bacia Murray-Darling onde mais de 50% da água da Austrália é utilizada.

Aproximadamente 65% da retirada na Austrália é utilizada para agricultura irrigada, dos quais quase 90% é na bacia do rio Murray-Darling, 14 % para indústria, 11% para abastecimento doméstico e 3% para outros usos rurais.

A pastagem representa cerca de 35% da água de irrigação na Austrália, seguido pela horticultura (16%), algodão (15%), cereais (13%), açúcar (12%) e arroz (6%).

O valor da produção agrícola oriunda das áreas irrigadas é de AU$ 3 bilhões por ano e AU$ 7 bilhões das áreas de sequeiro. O Conselho e Comissão têm historicamente operado em bases consensuais, por intermédio de uma série de arranjos cooperativos, regras de engajamento que permitiram com responsabilidade gerir os recursos da bacia de modo a implementar decisões com eficiência, eficácia e efetividade. Por exemplo a gestão das águas dos próprios estados e a legislação da terra e alocação de água e uso do solo dentro de uma estrutura intergovernamental tem sido possível compartilhar a água por meio de arranjos institucionais.

O Governo Australiano desenvolveu em 2007 intensivo trabalho sobre Mudanças Climáticas abrangendo temperatura, precipitação e evaporação, projetando seus comportamentos para o ano 2070 utilizando como base de dados os climáticos do período de 1980 a 1999. Esses dados têm sido utilizados para projeções regionais e estabelecer os cenários para 2030.

6.6.3.1. Plano de recursos hídricos das bacias ocidentais do país – Sudoeste Analisa-se primeiramente a região ocidental da Austrália (Perth e Peel) onde mais de 75 por cento da população dessa região vive, que é também uma das partes que mais cresce na Austrália. A demanda por água tanto por fornecedores como auto-fornecedores continua a aumentar com o crescimento da população.

Significativa redução no uso de água desde 2001 tem sido alcançada, e as metas de curto prazo ter sido definidas para maior economia no abastecimento público e auto-abastecimento das indústrias.

Tanto o suprimento de água para as indústrias como para a população têm encontrado cada vez mais dificuldades para atender a demanda desde a mudança acentuada para um clima mais seco a partir de meados dos anos 1970. Projeções climáticas para 2030 apontam para uma tendência de menos chuvas e maior evaporação – o que irá diminuir ainda mais a disponibilidade de recursos hídricos.

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Essas projeções indicam 50% de chance de uma redução de oito por cento em relação à precipitação média de 1980 a 1999, num cenário considerado intermediário. Por outro lado há uma chance de 10% em que a média pode reduzir em 15% ou seja um cenário de seca. O outro, o úmido, com uma probabilidade de 10% de que a precipitação média permaneça a mesma ou seja até maior do que a média. À variação natural pode-se adicionar 5 a 10 % para projeções na precipitação média timespans de um período de vários anos para uma década. Observa-se como é complexa essa adequação da gestão dos recursos hídricos para os cenários de projeções dos impactos das mudanças climáticas.

A água subterrânea é a principal fonte de água na região, com mais de 830 GL / ano Atualmente disponível para uso consuntivo. Com as mudanças climáticas, a água subterrânea disponível para 2030 reduzirá para de 700 e 580 GL / ano para os cenários médio e seco, respectivamente. Esses limites poderão ser reduzidos à medida que novas informações estejam disponíveis sobre a resposta dos aquíferos às mudanças adversas de clima e de captações.

A disponibilidade de águas superficiais diminuiu em cerca de 50 por cento desde meados da década de 1970. A vazão média para alguns cursos de água, desde 2001 é menor do que um terço dos fluxos precedentes. As vazões (incluindo fontes de bacias Harvey) para o Sistema de Abastecimento de Água Integrado (IWSS19) tem uma média de cerca de 105 GL / ano desde maio de 2001 e reduzida a 95 GL / ano no cenário climático seco em 2030.

O IWSS é o sistema que deriva 289 bilhões de litros de água a cada ano para mais de dois milhões de pessoas em Perth, as regiões agrícolas de Goldfields são parte do South West. É maior sistema cujas fontes hídricas, para 2013/2014, provêm:

• 18% da água superficial (das represas – esta água pode conter uma proporção de água originada de poços ou dessalinização, como um banco de água dessas fontes nas represas);

• 43% de água subterrânea; e • 39% de água do mar dessalinizada

As projeções das demandas para esse horizonte de 2030 aumentará entre 20 e 95 GL/ano com relação à demanda de 2008.

Essas projeções dependem do crescimento da população e de programas de eficiência do uso da água. Estabeleceu como meta 80 kL/pessoa/ano para o setor residêncial e 120 kL/pessoa/ano para o total. O uso eficiente exigirá significativo esforços e recursos financeiros para implementar programas com esse objetivo. Nas condições australianas várias da medidas de uso eficiente da água custam menos de US$ 1,00/kL quando comparado com a futura dessalização da água do mar que é estimada em US$ 2 a 3 /kL.

O desafio para o planejamento dos recursos hídricos está em identificar um mais refinado leque de opções de avaliação de oferta e demanda hídrica.

O plano de suprimento de água balanceando oferta e demanda para 2030 (com a água existente tanto superficial como subterrânea e 95 GL/ano de água dessalinizada, é provável que varie

19 Integrated Water Supply Scheme

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entre um adicional de 45 GL/ano para o cenário intermediários, com 20% de economia pela melhoria da eficiência em todos os setores a um déficit de 85 GL/ano para o cenário seco, com uma meta do Plano Estadual de Recursos Hídricos de 100 kL/pessoa/ano.

A dessalinização é uma opção para cobrir o déficit esperado em 2030. Por outro lado, a reutilização da água residuária, por tratamento e reposição de águas subterrâneas é uma opção sendo considerada. Reduzir a demanda sobre o sistema de abastecimento público por intermédio da reutilização de águas residuais para atender indústrias como Kwinana e Neerabup, também, está sendo considerado.

A demanda de água privada ou seja o auto-abastecimento está estimado em aumentar entre 13 a 145 GL/ano até o ano 2030, também em relação à demanda de 2008. Isso vai depender de fatores de crescimento, de uso da água e sua eficiência e disponibilidade de água. A meta almejada nesse plano prevê melhoria da eficiência de 20% tanto na agricultura como na indústria, sem perda na produção. No entanto, para se atingir essa meta serão necessários recursos significativos e compromissos para desenvolver e implementar programas de eficiência de uso da água com grupos desses empreendedores setoriais.

A Figura 14 mostra a divisão regional da área do Plano de Recursos Hídricos de Perth-Peel, elaborado pelo Departamento de Águas

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Fonte: Department of Water Government of Western Australia. 2009

Figura 14. Plano de recursos hídricos regional de Perth-Peel

Os recursos hídricos subterrâneos das sub-regiões Gingin e Peel tem potencial para o uso privado e abastecimento público. Os usos mais significativos são para agricultura e indústria dada a crescente demanda por alimentos com terra suficiente para produzir, principalmente na área de Gingin. A alocação de água para atender os aspectos ecológicos são questões, ainda, a serem consideradas.

Na sub-região de Perth, são esperadas reduções significativas na utilização de água como resultado das mudanças climáticas, mesmo sem crescimento da horticultura, atividade importante nessa localidade. Não é improvável que haja água subterrânea suficiente para atender o grande número de regas em 60% da área em 2030. No cenário de “seca”o consumo de água privada teria que ser reduzido em cerca de 35% para a disponibilidade projetada, o que pode ser compensado em certa medida pelo aumento da recarga compatibilizada com a

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expansão urbana. Outras fontes precisarão ser exploradas como águas residuárias para atender algumas demandas.

A expansão da horticultura nessa região vai exigir reuso de água com o tratamento de águas residuárias. O uso estimado de 180 GL/ano de água de tratamento de águas residuárias pode aumentar até o ano de 2030.

Concluiu-se que um planejamento mais detalhado com melhor integração do uso de água e solo para alocação de água é necessário.

A demanda de água em 2008 estimada foi de cerca de 700 GL, dos quais 70% se referem à sub-região de Perth

O auto-suprimento ou privado representou cerca de 516 GL, ou seja 2/3 do uso total da água na região, enquanto que o sistema de abastecimento foi responsável pelos outros 1/3 (254 GL). Para atendimento doméstico foram 22% que quando combinado com o uso privado sem licença foram estimados em 37% de todo o uso. Vinte e oito por cento foi utilizado para agricultura, sendo a quase totalidade auto-suprimento por meio de águas subterrâneas. As indústrias foram responsáveis pelo consumo de 10% da água nesse ano de 2008.

Desde a metade da década de 1970 essa região vem sentindo um declínio da precipitação, intercalando períodos mais úmidos e períodos mais secos.

Registrou-se um declínio demais de 10% nas médias das chuvas (estação chuvosa) o que resultou em uma redução de 50% na vazão. (IOCI, 2005 Apud Department of Water 2009), que resultou em dramática diminuição das entradas de água nos reservatórios que fornecem água para área metropolitana da grande Perth.

Essas grandes variações de vazões vêm comprometendo a segurança do abastecimento para os clientes do sistema de suprimento de água. Essa redução de precipitação tem, também, comprometido as fontes de água subterrâneas.

A temperatura média pode aumentar em 0,8 oC até 2030 (Sadler, 2007, apud Department of Water, 2009), sendo que a melhor estimativa traduz num aumento de 5% na evapotranspiração para o inverno, com um aumento anual de 2%. O aumento da evapotranspiração combinada com o declínio da precipitação diminuirá ainda mais os recursos hídricos disponíveis na região.

Desde 2001 a precipitação média registrada pelo IWSS tem sido 10% menor que a média dos anos de 1980 a 1999. Esse grande decréscimo, talvez indique que as mudanças climáticas estão ocorrendo mais rápido do que o estudo Climate change in Australia esperava.

São claras as evidências de que essa redução na precipitação desde meados da década de 1970 tem afetado os níveis dos aquíferos da região.

As projeções do clima para 2030 e a precipitação são cheias de incertezas, por isso recomenda-se acompanhar de perto todas as pesquisas e estudos hidroclimáticos conduzidos pelas instituições encarregadas dos estudos de meteorologia e clima.

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As projeções do balanço de águas subterrâneas contemplando os limites de alocação por sub-região, as licenças já aprovadas, disponibilidades atual e projetada para 2030 para os três cenários analisados são mostrados na Tabela 6.

Tabela 6. Cenários de disponibilidade de água subterrânea para 2030. GL/ano

Fonte: Department of Water Government of Western Australia. 2009. PWS – Public Water Supply

Observa-se nessas projeções que nas condições intermediárias e de seca ocorrerá déficit de disponibilidade de água em 2030 na sub-região de Perth. O Departamento de Água pode reduzir a alocação de acordo com as projeções de menores chuvas.

A Estratégia de Sustentabilidade Gnagara – GSS que estava sendo conduzida pelo Departamento de Águas e com conclusão para 2009, considerando os impactos das mudanças no clima e uso do solo, promove ações como retirada do pinus que estava sendo produzido no sistema alimentado pelas águas subterrâneas Gnangara. As modelagens preliminares indicaram que em 2030 no cenário seco e os níveis atuais de uso de água, o aquífero poderá ter um declínio de 60 a 70 GL/ano mesmo com a remoção dos 20.000 ha de pinus. Este modelo indica que ter-se-á que trabalhar em estimativas mais precisas de probabilidade das águas disponíveis para a região em 2030.

As fontes de água superficiais têm sido importantes para o abastecimento público e menos para agricultura e indústria.

As vazões nessa região é tipicamente uma pequena proporção da precipitação pluviométrica (5 a 10%), portanto, qualquer pequena queda nessa precipitação pode resultar em grande decréscimo das vazões. O maior desafio para o futuro da disponibilidade de água subterrânea está nas mudanças climáticas e seus impactos na formação de corpos de água na região.

A Tabela 7 mostra as vazões nos sistemas hídricos de água superficial na região, observando-se que o decréscimo de vazão varia de 28 a 46 % nos cenários intermediário e seco respectivamente.

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Tabela 7. Cenários de vazão para os rios da região, em 2030

Fonte: Department of Water Government of Western Australia. 2009

Essas reduções têm consequências significativas para o suprimento de água pública, para os usuários locais e para os ecossistemas que dependem de vazão como as várzeas e as áreas estuarinas costeiras.

Em 2030, a contribuição das águas superficiais para o IWSS poderia diminuir de 220 GL/ano para 130 GL/ano no cenário intermediário e 95 GL/ano no cenário denominado seco.

Desde 2001 a vazão registrada pelo IWSS diminuiu cerca de 50% em relação à média de 1980 a 1999, para cerca de 105 GL/ano. Para o declínio observado na precipitação, essa queda foi além do esperado, indicando que alimentação agora estão menos eficientes, em cerca de 35 GL/ano na produção de vazão para uma dada quantidade de chuva. As causas prováveis são diminuição dos níveis de água subterrânea em áreas de captação e aumento do uso de água pela vegetação devido ao incremento de sua densidade.

O plano de recursos hídricos dessa região levou as seguintes conclusões:

• Clima

As projeções dos cenários clima médio e seco mostraram um declínio de 8 a 15% na média da precipitação anual em 2030 em relação à média de 1980 a 1999. Observa-se que em Perth-Peel um decréscimo de 15% é equivalente à Gnangara Sustainability Strategy no cenário de clima seco, de cerca de 11% de decréscimo na precipitação de 1976 a 2006, onde a média de 30 anos de precipitação está 4% mais seca do que a média de 20 anos.

A variabilidade natural pode adicionar 5 – 10 % na tendência da média da precipitação para duração de 5 a 10 anos (ocorrendo em anos mais úmidos e mais secos). Por exemplo:

No cenário médio com cinco anos de seca pode resultar em 18% de redução da precipitação;

No cenário seco com cincos anos de seca pode resultar em 25% de redução na precipitação.

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• Disponibilidade de água subterrânea

Resultará em cerca de 20% de redução na recarga do aquífero. Desta forma, nos cenários de clima médio e seco resultaria entre 16 e 30% menos água subterrânea disponível em 2030, respectivamente.

Com base nos limites a atual alocação, a quantidade de água subterrânea potencialmente disponível para licenças adicionais para as sub-regiões de Gingin e Peel está disponível para esse horizonte de tempo. Nos cenários de clima médio e seco aproximadamente 75 a 121 GL por ano estariam disponíveis para adicionais usos na sub-região de Gingin e 56 a 74 GL/ano na sub-região de Peel.

Entretanto, o nível de água na sub-região de Perth tem sido reduzido desde meados dos anos 1970 sobre a influência de um clima seco e aumento do uso da água. Em especial, o armazenamento de água subterrânea Ganangara Mound tem sido reduzido em cerda de 45 GL/ano desde meados de 1990.

Em resposta a essa questão o Departamento de Água tem determinado uma redução na alocação desses limites para Ganangara bem como em outras áreas manejáveis de água subterrânea. O Departamento espera reduzir os limites dessas alocações tão logo as novas informações se tornem disponíveis sobre as respostas dos aquíferos para extração de acordo com as adversidades das mudanças climáticas na região.

Para a sub-região de Perth o atual balanço de água disponível para uso público e privado de 35 GL/ano se reduzirá para cerca de 28 GL/ano, para o cenário médio e 91 GL/ano para o cenário seco. Verifica-se uma efetiva redução na disponibilidade de água atual disponível entre 65 GL/ano no cenário médio e 120 GL/ano no cenário seco para o ano de 2030.

A água subterrânea de Ganagara Mound é crítica para a segurança de IWSS e para auto suprimento dos usuários.

• Disponibilidade água superficial

A água superficial disponível tem decrescido em cerca de 50% desde meados de 1970. A vazão média disponível de alguns cursos de água desde 2001 tem sido menos do que 1/3 das vazões registradas anteriormente. Essa situação indica que na região de Perth-Peel, uma redução de 10% na precipitação resulta em 30% na redução dessas vazões.

As fontes de água superficiais potáveis já estão amplamente utilizadas. Os recursos remanescentes (exemplo os tributários Rios Avon e Murray) têm perspectivas limitadas para suprimento tanto para público como privado por causa das restrições associadas às vazões ecológicas, qualidade da água e das imposições do clima mais seco.

A vazão disponível para IWSS (incluindo as fontes da bacia do Harvey) teve uma média em 2001 de 105 GL/ano e poderá ser reduzido para 95 GL/ano em 2030.

A necessidade de liberar cerca de 5 a 10 GL/ano das represas de IWSS para vazões ecológicas deverá reduzir mais ainda a água disponível nessa região.

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• Demanda de água

A demanda de água para abastecimento público para IWSS está projetada para incrementar entre 20 a 95 GL/ano para o ano 2030, relacionado ao ano 2008. Esta variação depende do crescimento da população e dos programas de eficiência do uso da água.

A demanda para o auto abastecimento de água está projetado para o crescimento entre 13 a 145 GL/ano para 2030 com relação ao mesmo ano de referência (2008). Essa amplitude depende do crescimento dos demandadores dessa água, das eficiências de usos que se poderá obter e da disponibilidade de água para o auto-abastecimento.

O pressuposto chave dessa demanda é de que o setor agrícola, e algumas extensões do setor rural e pecuário, poderá ser reduzido por causa da pressão da urbanização, com o consequente deslocamento desses usos dos solos, especialmente na sub-região de Perth.

• Eficiência do uso da água

O Plano Estadual de água estabeleceu uma meta de 20% de melhoria na eficiência do uso da água na agricultura e indústria. Acredita-se que está meta é atingível sem perda de resultados produtivos. Uma melhoria de 20% na eficiência reduzirá significativamente o auto suprimento de água na região.

A melhoria da eficiência deve reduzir significativamente as metas a serem atingidas (IWSS) de 80 kL/pessoa/ano para o setor residencial e 120 kL/pessoa/ano para um esquema total de uso que requerirá substancial esforço e recursos financeiros no desenvolviento e implementação do programa de eficiência da área metropolitana de Perth.

O crescimento das taxas projetadas domésticas pode ser possível em novas áreas urbana e exigirão significativos ganhos em eficiência. O aumento das perfurações sobre Network City (WAPC & DPI 2004), pode compensar em parte a necessidade de novos furos. Essa questão precisa ser melhor avaliada.

Atingir a meta do Plano Estadual de Recursos Hídricos de 20% de melhoria na eficiência do uso de água na agricultura exigirá das agências estaduais para desenvolver e implementar programas de eficiência com envolvimento de grupos industriais.

• Balanço entre a demanda pública e suprimento

O balanço suprimento-demanda (IWSS) em 2030 (com as existentes águas superficial e subterrânea e 95 GL/ano de dessalinização) abrange uma faixa de superávit de 45 GL/ano para o clima médio – com eficiência economizando em todos os setores – a um déficit de 85 GL/ano para cenário de clima seco – com o atingimento da meta do plano estadual de recursos hídricos de 100 kL/pessoa/ano.

• Balanço entre demanda por auto-abastecimento e suprimento

A fonte de água subterrânea da sub-região de Gingin tem grande potencial de oferta de suprimento de água tanto uso privado como público. O maior usuário é a agricultura, dado ao crescimento da demanda por alimento e à existência de terra suficiente para produzir. O

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impacto da extração de água subterrânea – dependente do ecossistema pode ser um importante óbice.

Na sub-região de Perth significativa redução no uso da água será exigida para disponibilizar água como resultado das mudanças climáticas – mesmo com o não crescimento da horticultura. Não há água subterrânea suficiente para atingir a meta de incremento de 60% no espaço público de recarga pelo ano de 2030. O aumento seria necessário ser a metade dessa taxa e acompanhada de um forte ganho de eficiência no uso da água. Nas condições do cenário de clima médio, o uso de água privada será necessário reduzir em cerca de 20% para compatibilizar com redução da água disponível. Sob as condições de cenário seco, o uso de água privada deverá ser reduzido em cerca de 35% para satisfazer a reduzida disponibilidade, mas isto pode limitar pela necessidade de aumentar a recarga como resultado da expansão urbana. Alternativamente, água adicional poderá ser provida pela recarga da água subterrânea pela drenagem ou águas residuárias.

• Competição entre suprimento public e privado

Existe uma competição entre as necessidades de água nas sub-regiões Gingin e Peel. A competição está ocorrendo na área Chittering e a água está sendo comercializada para prover água potável para o desenvolvimento urbano. A reserva nominal de 72 GL/ano para o abastecimento público na sub-região de Gingin será necessário ser revista.

Existe uma competição direta pela água subterrânea na sub-região de Perth sobre a Gnangara Mound. O Departamento de água tem provisoriamente alocado cerca de 17 GL/ano para futuro abastecimento público de água no corredor de nova urbanização norte-oeste. Poderá haver competição para esse recurso partindo dos empreendedores privados (ex. no estilo do “The Green Development at Bringhton”).

• Uso das águas residuárias tratadas

Pelo ano de 2030 a Water Corporation prevê que cerca de 180 GL/ano de água independente do clima poderá estar disponível das usinas de tratamento de água residuárias. A reciclagem do recurso está ocorrendo na área industrial Kwinana, inclusive com planos de expansão. A água residuária reciclada tem sido considerada para a área industrial Neerabup além de estar sendo considerada para uso agrícola na área de Carabooda como parta da Estratégia de Sustentabilidade de Gnangara/ A Corporation propôs cerca de 25 GL/ano suprimento indireto de água potável para IWSS utilizando recursos da estação de Beenyup/ Pequenas unidades têm sido propostas para recarga de águas subterrâneas para sustentar a extração de comunidades locais e habitações e para manter a interface com a água salgada ao longo da costa marítima.

• O futuro da IWSS

A Water Corporation tem investido mais de $ 1 bilhão desde a metade dos anos 1990 assegurando o IWSS, que atende cerca de 98% da população de Perth-Peel.

Outro $ 1 bilhão foi planejado para dessalinização de água do mar de 50 GL/ano até o ano de 2012, com previsão para expandir até 100 GL/ano.

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As futuras opções de medidas de melhoria da eficiência de uso da água são estimadas em cerca de $ 1/kL comparado com a dessalinização da água do mar que tem custo entre $ 2 a $3 /kL.

Um desafio prioritário para planejamento dos recursos hídricos está em identificar uma mais refinada modalidade de opções para avaliação das demandas e disponibilidades.

O reúso das águas residuárias por intermédio da recarga de aquíferos recuperará cerca de 35 GL/ano, constituindo na maior opção de suprimento e, se bem sucedida, pode ser aumentada para atender o projetado crescimento da demanda.

A redução da demanda dos sistemas de abastecimento público pelo reúso da água residuária para necessidades industriais poderão ser muito importante para Kwinana e Neerabup.

A regra de explotação anual de água subterrânea vinculada à disponibilidade de água superficial deverá ser substituída quando a estação de dessalinização de Binningup entrar em funcionamento em condições de clima seco. O possível novo arranjo poderia incluir emergência de curto prazo com incorporação de aquíferos confinados, os quais seriam acionados como nova fonte de suprimento para repor e contribuir pela temporária sobre explotação.

Algumas vazões adicionais de águas superficiais necessitarão ser providas para encontrar as necessidades hídricas ambientais nos sistemas fluviais Canning – Wungonf, Serpentine e Dandalup. É esperado que de 5 a 10 GL/ano de água adicional ripariana sejam liberadas.

• O Futuro do auto-abastecimento

A maioria dos novos abastecimento para uso do setor privado será de água subterrânea – com amplo aumento no uso possível nas subregiõde Gingin e Peel. Entretanto, as questões serão alocação da demanda em relação à disponibilidade e o impacto das retiradas sobre os valores ecológicos.

Na subregião de Perth a maioria das prospecções apontam substancial decréscimo do auto suprimento de água subterrânea em 2030. O Departamento de Água está progressivamente decrescendo a alocação dos limites em face ao aumento da secura do clima. Isto requer aumento na necessidade de melhoria na eficiência do uso da água com a possibilidade de aumentar a comercialização da água.

Por ocasião do ano 2030 uma substancial melhoria da eficiência do uso da água no setor privado será imperativo, bem como, é preciso aumentar a monitoria e a gestão da água nas áreas urbanas.

Qualquer plantio hortícola na região de Perth precisa requerer uma fonte alternativa de abastecimento tal como reúso de águas residuárias. Sem isto, a demanda adicional teria ser movida para outras alocações como Gingin.

Existem oportunidades para recarga de aquíferos pelo reuso de águas residuárias e de drenagem nas áreas costeiras e urbanas para aliviar o declínio dos níveis de água e a intrusão potencial de água salgada sob a condição do cenário de clima seco.

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O Departamento de água está progressivamente reduzindo os limites de alocação em resposta ao cenário de clima mais seco. Isto é reduzir as necessidades por intermédio da melhoria do uso da eficiência do uso da água com a possibilidade de aumentar a comercialização da água.

6.6.3.2.. Iniciativas na bacia do Murray Darling O Acordo da Bacia Murray-Darling inclui mecanismos para lidar com o impacto da baixa disponibilidade de água sem precedentes que afeta a distribuição de água na bacia do sul Murray-Darling. Estes mecanismos são os chamados “tiers” para compartilhamento de água que devem ser acionados em um novo cronograma do Acordo e estar contemplados no Plano de Bacia. Figura 15.

Fonte: Murray Darling Agency

Figura 15. Referencial de alerta e providências que fazem parte do acordo com os usuários de água - Tier

Os impactos das mudanças climáticas não só afetarão a disponibilidade de recursos, mas também o aumento da demanda. A informação disponível sobre os impactos das mudanças climáticas deve ser incorporada no processo de planejamento de como isso vai impactar diretamente nos resultados ambientais, sociais e econômicos.

Embora não seja possível predizer exatamente o futuro dos demandadores de água, o planejamento dos cenários é um meio pelo qual é possível avaliar o futuro e as implicações sobre o uso da água possam ser considerados. O planejamento de cenários para uso da água abrange projeção da população, clima e outras variáveis chaves, fazendo claras pressuposições sobre outros demandadores, inferindo impactos tanto sobre a suprimento como a demanda, e

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gerando cenários. Esta abordagem permite considerar futuras questões sobre a gestão da água e prever medidas para o processo de planejamento desde o momento do seu início.

Na Austrália o regime de retirada sustentável da água deve atender três condições inter-relacionadas:

a) Estabelecimento de uma faixa ideal de quantidade de água que pode ser retirada; b) A probabilidade de atingir a retirada de água dentro da faixa ideal; e c) Um limite - ou ponto de disparo de gatilho - que indica o nível de uso de consumo

acima da qual existe um risco inaceitável de comprometer os resultados do plano de recursos hídricos.

Por intermédio da utilização desses três parâmetros é possível otimizar o nível de utilização da água dentro de um mesmo sistema variável. Ou seja, o nível de utilização pode ser mantido tão elevado quanto possível, com uma baixa probabilidade de estar na zona de risco inaceitável para os resultados ambientais.

Os planejadores devem ser conservadores na alocação de água em sistemas em que o grau de conectividade é relativamente desconhecido. Em áreas altamente conectados, deve-se considerar o estabelecimento de uma licença única, em vez de emitir licenças de água de superfície e subterrânea separadas.

O sucesso deste regime de gestão é altamente dependente de ser capaz de monitorar o uso de água comum e impor quaisquer restrições ao acesso a essa água. Estes custos de acompanhamento e controle deve ser considerado e ser levado em conta em qualquer análise de custo-benefício ao alterar o regime existente.

A maioria das decisões do segmento de planejamento dos recursos hídricos não pode trabalhar uma gama de resultados hidrológicos para projeção sem um sentimento de falhas, desta forma o planejamento dos recursos hídricos tem repetidamente identificado a incerteza da redução futura das vazões como uma necessidade crítica. Até que a projeção da incerteza possa ser reduzida e melhor entendida, as decisões de planejamento de longo prazo continuarão a se valer pesadamente de percepções subjetivas e entendimento de risco dos gestores de água, seus stakeholders, investidores e financiadores.

A qualidade e as incertezas das atividades do downscaling está se tornando extremamente importante conforme aprimora as capacidades em todos os níveis dos atores envolvidos.

Todos os países sofrerão algum tipo de impacto das variações climáticas e muitas das práticas e procedimentos são válidos para enfrentar essa situação, mas precisam ser ajustados e modificados para cada condição. Não haverá uma solução universal elas serão localizadas e muito específicas para determinadas condições.

Os impactos das mudanças climáticas sobre a segurança hídrica, as informações para projetar a infraestrutura (projetos hídricos), protocolos de armazenamento de água são áreas que devem merecer muita atenção. A maioria dos processos de planejamento no país não têm levado em consideração as mudanças climáticas.

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Outro instrumento adotado na gestão e contemplado no plano de recursos hídricos da bacia do rio Murray – Darling é o conceito de Cap.

O “CAP” ou seja o limite de uso de água na bacia Murray-Darling objetiva manter e onde possível melhorar o regime fluviométrico e atingir o uso consuntivo sustentável por intermédio da gestão dos recursos hídricos de modo a atender às necessidades ecológicas, comerciais e sociais, é um pacto de alocação de água entre as unidades federadas envolvidas (Schedule E to the Murray—Darling BasinAgreement of the Water Act 2007).

Trata-se de um pacto entre os estados que estão na bacia. Sendo para que para os Estados de New South Wales e Victoria o Cap é definido como “o volume de água que pode ser derivado nos níveis dos usos de 1993/94”, enquanto que o Cap para o vale é o volume de água que teria sido utilizado com a infraestrutura e regras de gerenciamento existente em 1994 e as condições climáticas ocorridas durante o ano em questão. South Australia, Queensland and the Australian Capital Territory acordaram em diferentes níveis de desenvolvimento de seu Cap.

Os australianos estão convencidos de que esse mecanismo de Cap é o primeiro passo essencial para conseguir um rio saudável e um sustentável uso da água. Enquanto o Cap limita os futuros incremento de retirada de água, ele não limita novos desenvolvimentos propiciando água para eles, pois ela pode ser obtida pelo uso mais eficiente da água ou pela aquisição de água que já está alocada.

Prevê-se substituir o Cap pelo limite de retirada sustentável – SDL (Sustainable Diversion Limits) no plano de bacia de 2019.

Os Estados são responsáveis pela implementação do Cap em suas áreas de jurisdição. A Autoridade da Bacia do Murray-Darling é responsável pela auditagem e registro do cumprimento de suas metas.

As metas anuais são calculadas com auxílio de modelo hidrológico do rio que coloca o nível de uso de 1994-94, levando em conta as condições climáticas vividas durante o ano. Um grupo de auditoria independente (Independent Audit Group – IAG) audita o Cap em cada trecho da Bacia do Murray-Darling, comparando as retiradas observadas com as do Cap acordadas pela Autoridade do Estado. No caso de algum Estado quebrar o acordado o Estado e obrigado a reportar ao Conselho Ministerial em cada reunião até que seja restabelecido o acordado.

6.6.4. Alocação de água e prioridades para gestão Uma das conclusões a que chegaram os australianos é que o planejamento precisa ser mais detalhado, contemplando uma melhor integração do planejamento de água e solo para orientar o planejamento da alocação de água.

A ótica dos stakeholders (comunidade em geral, reguladores e consumidores) são estratégicos na formulação das opções para determinar as necessidades futuras das regiões em estudo.

6.7. Ásia A análise nesse continente foi mais expedita, devido a que suas características, seus valores culturais e os usos e gestão da água estão mais distantes de sua aplicabilidade nas Américas.

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As mudanças climáticas já vêm manifestando seus efeitos nesse continente, como na bacia do rio Amarelo uma das maiores e mais importantes da China, Liu et at (2008) apud Santos et al. (2010) identificaram tendência de precipitação pluviométrica negativa no centro sul dessa bacia já refletindo na vazão. Por outro lado na região semiárida Ma et al. (2008) apud Santos et al. (2010) identificaram que as mudanças climáticas vêm sendo responsáveis por mais de 60% de redução do escoamento superficial no rio Shiyang.

Não se encontrou até o momento da pesquisa registros de políticas públicas voltadas para intervenções que visem mitigar esses problemas, certamente que devem estarem, pelo menos no campo da academia sendo avaliadas e consideradas, e que em breve se deve ter iniciativas que poderão ser úteis à toda a humanidade.

Como caso emblemático, pela sua localização, vulnerabilidade e como sempre tem enfrentado situações críticas de disponibilidade e disputa pela água, registra-se neste trabalho o caso de Israel no Oriente Médio, que historicamente já tem dado contribuições, as quais têm sido úteis a toda a sociedade universal, principalmente no campo da irrigação, com o uso mais econômico da água.

Trata-se de um povo que já vive com limitações de recursos hídricos, as quais poderão se agravar mais ainda com os efeitos das mudanças climáticas. Como já predomina uma distribuição de água desigual nessa região, que aliada às diferenças demográficas e econômicas, as mudanças climáticas certamente terão influência na necessidade de rever a alocação de água.

A crise hídrica de Israel é causada pela disponibilidade e localização dos recursos hídricos que são afetadas pelas mudanças climáticas e geopolítica do Sudoeste da Ásia.

A sustentabilidade de água tem-se tornado uma prioridade para os países dessa região, principalmente para Israel, por isso esse país vem investindo muito no processo de otimização do uso desse recurso limitado.

Israel depende de água do Lago Kinneret (Mar da Galielia), do rio Jordão que alimenta esse lago, o Aquífero Costeiro e o Aquífero da Montanha. São essas fontes, e a maioria delas compartilhadas é que precisarão de intervenções e gestão. Praticamente todas essas fontes estão interligadas por que o rio Jordão, também recarrega o Aquífero da Montanha, na Banca Ocidental.

O não balanceamento da alocação de água é a causa maior de tensão entre os israelenses e os palestinos. Um cidadão israelense consome quatro vezes mais água que um palestino, sob as regras internacionais. É, considerado ilegal Israel utilizar a maior quantidade de água do Aquífero da Montanha, o que perpetua as desavenças entre esses dois povos (Palestine Monitor, 2003 apud Deutsch, 2012).

Israel está promovendo conservação da água de modo a dar sustentabilidade à água existente. A conservação está contempla dessalinização, formação de nuvens, recarga artificial de aquífero, tratamento de água residuária. Emprega tecnologia de ponto para minimizar os efeitos da contaminação dos corpos de águas. Tem adotado medidas que controlam os usos de água para controlar a contaminação dos recursos hídricos subterrâneos. Monitoram a água diuturnamente com registros de dados do nível da água, salinidade e poluição, de modo a aplicar

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uma mais adequada gestão dos recursos hídricos de forma mais competente (Ameciran- Isreali Cooperative Enterprise, 2012, apud Deutsch, 2012).

Israel tem uma lei de recursos hídricos desde 1959, onde define a água como uma propriedade pública que deve ser regulada com controle por monitora de sua exploração, poluição e conservação. A Water Commissioner é o órgão governamental que implementa toda essa gestão.

O Governo está desenvolvendo um Plano Diretor para enfrentar a crise hídrica que as mudanças climáticas certamente imporão a essa região.

7. Síntese deste levantamento A Tabela 16 mostra de forma bem sintética o resultado deste levantamento. Todos os países elencados ou já sentiram os efeitos das mudanças climáticas em seus recursos hídricos ou já estão alertados de que devem se preocupar e adotar medidas adaptativas.

Da análise dessa experiência regional da Australia evidencia-se que estão preocupados com a questão das mudanças climáticas e sua inserção nas ferramentas de gestão dos recursos hídricos, tendo como base os planos de recursos hídricos para orientar todas as estratégias a serem adotadas, principalmente no que se refere à alocação de água.

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Anexo 1 – Ajuda memória reunião com primeiro entrevistado

Aperfeiçoamento da outorga frente a mudanças climáticas

Data: 17/09/2014 – 17:00 às 17:30

Participantes:

Prof. Luiz Cláudio Costa, Alan Lopes e Fernando Rodriguez

A reunião iniciou com o Consultor Fernando Rodriguez, agradecendo ao Prof. Luiz Cláudio por conceder a audiência e explicando os objetivos deste trabalho, acompanhado de complementações feitas pelo Dr. Alan Lopes.

O Prof. após mostrar alguns dos trabalhos que vem desenvolvendo sobre os impactos das mudanças climáticas em algumas culturas, injetando gás carbônico em ambiente controlado, disse que realmente são poucas as iniciativas dos trabalhos levados e efeitos na questão dos aspectos das mudanças climáticas e a outorga do Direito de Uso da água, por isso se dispor a convocar uma reunião com os maiores especialistas que estão atuando no Brasil, na hora ligando para o Prof. Carlos Nobre no Ministério da Ciência e Tecnologia que se prontificou a participar da reunião.

Será uma reunião técnica, com a presença de até quatro especialistas (Prof. Luiz Cláudio, Prof. Carlos Nobre, Prof. Merengo e mais um a ser convidado pelo Prof. Luiz Cláudio), acompanhado por três pessoas indicadas pela ANA e este Consultor.

O Prof. Luiz Cláudio vai envidar todos os esforços para essa reunião seja feita ainda este mês, mas na impossibilidade será na primeira quinzena de outubro.