Expressões de racismo: mudanças e continuidades

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O racismo é um fenómeno bastante complexo e multifacetado, a sua compreensão exige a convocação de diversos níveis de análise, desde os processos cognitivos internos até aos factores históricos, sociais e culturais que foram moldando as formas de expressão do racismo ao longo do tempo. Neste capítulo procede-se à discussão das rupturas e continuidades nas expressões dos ‘velhos’ e ‘novos’ racismos.

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    Autor:

    Rosa Cabecinhas, Universidade do Minho

    Ttulo:Expresses de racismo: mudanas e continuidades

    Referncia completa:

    Cabecinhas, R. (2010) Expresses de racismo: mudanas e continuidades. In: Mandarino,A.C.S. & Gomberg, E. (Eds.)Racismos: Olhares plurais(pp.11-43). Salvador: Editorada Universidade Federal da Bahia.

    Resumo:

    O racismo um fenmeno bastante complexo e multifacetado, a sua compreenso exige a

    convocao de diversos nveis de anlise, desde os processos cognitivos internos at aos

    factores histricos, sociais e culturais que foram moldando as formas de expresso do racismo

    ao longo do tempo. Neste captulo procede-se discusso das rupturas e continuidades nas

    expresses dos velhos e novos racismos.

    1. Preconceito, etnocentrismo e racismo

    NoDicionrio da Lngua Portuguesa Contempornea da responsabilidade da Academia

    de Cincias de Lisboa, o racismo definido como teoria, sem base cientfica, fundada na

    crena da superioridade de certas raas humanas, que defende o direito de estas dominarem ou

    mesmo exterminarem as consideradas inferiores e probe o cruzamento da suposta raa

    superior com as inferiores; teoria da hierarquia racial. So ainda referidos outros dois

    significados do conceito de racismo: atitude poltica ou opinio concordantes com essateoria e intensificao do sentimento racial de um grupo tnico em relao a outro ou

    outros (2001: 3062). Como veremos ao longo deste captulo, estas definies de racismo so

    insuficientes para dar conta dos novos racismos, uma vez que incidem em formas de

    expresso flagrantes de discriminao racial e no tanto nas suas manifestaes mais subtis,

    como as que observamos hoje em dia em sociedades formalmente democrticas.

    Na literatura cientfica comum encontrarmos definies ambguas de racismo, sendo

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    raros os trabalhos em que so especificadas as dimenses comuns e diferenciadoras entre o

    conceito de racismo e outros que lhe so frequentemente associados, como por exemplo,

    etnocentrismo, xenofobia e preconceito. Seguidamente, faremos uma breve reviso sobre

    como o racismo tem sido definido no seio da Psicologia Social, fazendo tambm brevesaluses aos contributos de outras cincias sociais e humanas no entendimento deste complexo

    e multifacetado fenmeno. Procedemos igualmente discusso de algumas das ambiguidades

    conceptuais que tm caracterizado o estudo desta temtica.

    Na obra pioneira sobre a natureza do preconceito, Gordon Allport (1954/1979) traou as

    linhas fundamentais para a anlise do fenmeno, constituindo uma referncia basilar para a

    investigao desenvolvida at os dias de hoje. Allport definiu o preconceito como uma

    atitude aversiva ou hostil face a uma pessoa pertencendo a determinado grupo, simplesmente

    por causa da sua pertena a esse grupo, e em que se pressupe que esta possui as

    caractersticas atribudas a esse grupo (1954/1979: 7). De acordo com Allport, as pessoas

    justificam a sua hostilidade em relao a certos grupos com base em diferenas grupais

    percebidas, reais ou imaginrias.

    Na opinio do autor, h pelo menos doze tipos de grupos em relao aos quais

    frequente a expresso de preconceito: grupos baseados em raa, sexo, nveis etrios, grupos

    tnicos, grupos lingusticos, regionais, religiosos, nacionais, ideolgicos, castas, classes

    sociais, profissionais, nveis educacionais, grupos de interesses (por exemplo, clubes

    desportivos). No entanto, os grupos que so mais frequentemente vtimas de preconceito so

    os que se encontram numa situao socialmente desfavorecida em mais do que uma instncia

    de comparao, como o caso dos grupos tnicos: por exemplo, os judeuspodem ser vistos

    como uma minoria tnica, lingustica ou religiosa (1954/1979: 88-89).

    De entre as vrias formas de preconceito, Allport debruou-se sobretudo sobre o

    preconceito tnico, sendo este definido como uma antipatia baseada numa generalizao

    defeituosa e inflexvel. Pode ser sentida ou expressa. Pode ser dirigida a um grupo como um

    todo ou a um indivduo porque ele membro desse grupo (1954/1979: 9). Nesta definio o

    preconceito surge como uma atitude negativa (antipatia) que pode ser sentida (dimenso

    afectiva) ou expressa (dimenso comportamental), atitude essa que fruto de generalizao

    defeituosa e inflexvel (dimenso cognitiva). A concepo do preconceito como resultante de

    uma actividade cognitiva defeituosa reflecte a busca de elementos universais no preconceito,

    aspecto salientado previamente por Walter Lippmann (1922/1961), na obra pioneira sobre a

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    construo da opinio pblica, na qual advogava a inevitabilidade dos esteretipos sociais

    dada a incapacidade humana em lidar com todas as nuances da informao social.

    Na opinio de Allport, categorizar em demasia uma das lacunas mais comuns da

    mente humana (1954/1979: 8). O autor chamou a ateno para o facto de que nem todas asideias preconcebidas sobre determinado grupo se tornarem preconceitos. A diferena entre o

    preconceito e um simples pr-conceito o seu grau de resistncia mudana: quando uma

    pessoa tem uma ideia preconcebida capaz de rectificar os seus julgamentos errneos quando

    confrontada com nova informao; enquanto que os preconceitos so activamente resistentes

    a qualquer evidncia desconfirmatria, sendo que o nvel de resistncia emocional tende a

    aumentar quando o preconceito ameaado.

    A obra de Allport constitui um dos marcos fundamentais do estudo do preconceito e a

    sua herana bem visvel em muitas das definies posteriores. Algumas definies de

    preconceito realam sobretudo dimenses cognitivas, outras salientam dimenses afectivas,

    enquanto outras remetem tambm para as tendncias comportamentais. Por exemplo, Rupert

    Brown (1995: 8) apresenta uma definio de preconceito que engloba as trs dimenses das

    atitudes: a adeso a atitudes ou crenas cognitivas depreciativas, a expresso de afecto

    negativo, ou a manifestao de comportamento hostil ou discriminatrio em relao a

    membros de um grupo tendo em conta a sua pertena a esse grupo. Estas trs dimenses

    esto tambm presentes na definio apresentada por Jackson, Brown e Kirby: o preconceito

    geralmente considerado como uma atitude ou conjunto de atitudes face a um grupo,

    abrangendo um conjunto de sentimentos negativos (afectos), crenas (esteretipos) e

    intenes (disposies comportamentais) para agir desfavoravelmente em relao a grupos ou

    membros de grupos (1998: 110).

    Ambas as definies apresentadas remetem para a concepo do preconceito como uma

    atitude, seguindo a proposta de Allport (1954/1979). No entanto, diversos autores consideram

    que o preconceito no simplesmente uma atitude. Na opinio de Blumer, o preconceito

    racial traduz-se basicamente numa conscincia da posio social do grupo racial mais do que

    num conjunto de sentimentos que os membros de um grupo racial tm face aos membros de

    outro grupo racial (1958: 3). Posteriormente, Jones (1972) prope uma definio que visa a

    articulao entre estas duas concepes, definindo o preconceito como uma atitude negativa

    em relao a uma pessoa ou um grupo baseada num processo de comparao social no qual o

    grupo de pertena tomado como ponto de referncia. A manifestao comportamental do

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    preconceito a discriminao (1972: 3-4), cujo objectivo manter a posio favorvel do

    prprio grupo. Ora, esta definio de preconceito extremamente semelhante que foi

    proposta pelo socilogo William Graham Sumner no seu trabalho pioneiro sobre

    etnocentrismo (1906/1940).Na acepo de Sumner, o etnocentrismo uma forma de ver em que o grupo de

    pertena o centro do universo e todos os outros so avaliados tendo como referncia o grupo

    prprio (1906/1940: 13). Segundo o autor, cada grupo cultiva o seu orgulho e vaidade

    prprias, exibe ritualmente a sua superioridade, exalta os seus prprios deuses e considera

    com desconfiana os estrangeiros. Cada grupo pensa que os seus prprios costumes e

    normas so os melhores, e v-se como o nico detentor da verdade. Na opinio de Sumner,

    o etnocentrismo fenmeno universal (observvel em todos os povos humanos) e global

    (englobando componentes cognitivas, afectivas, avaliativas e comportamentais). Segundo o

    autor, cada grupo se definiria a si mesmo como o nico representante da humanidade,

    excluindo os outros e elegendo o ns como o verdadeiro Homem, por oposio ao outro

    que seria em certo grau desumanizado (1906/1940: 12-29).

    Mas, quando falamos de desumanizao do outro, ainda estamos no domnio do

    etnocentrismo? Ou j entrmos no domnio do racismo? Como veremos neste captulo,

    determinados grupos desenvolveram ao longo da histria da humanidade ideologias que lhes

    permitiram legitimar o tratamento desumano infligido a outros grupos. De facto, o Homem

    Branco durante os ltimos sculos tem efectuado uma aco sistemtica para levar outros

    grupos a partilhar a sua definio de realidade, na qual ele representa a humanidade,

    enquanto os outros so remetidos para papis subordinados, servindo os interesses dos que se

    situam no topo da hierarquia simblica (Amncio, 1998; Cabecinhas, 2007; Chombart de

    Lauwe, 1983-1984).

    Entramos ento no domnio da dominao simblica: determinados grupos

    (dominantes) desenvolveram ideologias que lhes permitiram legitimar o tratamento

    desumano dos outros grupos (dominados). Como veremos, o Homem Branco nos ltimos

    sculos tem efectuado uma aco sistemtica para levar outros grupos a partilhar a sua

    definio de realidade, na qual ele representa a universalidade, enquanto os outros so

    remetidos para a especificidade de determinado papel (Amncio, 1998; Chombart de Lauwe,

    1983-1984).

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    Como tem sido demonstrado por inmeros estudos na rea da psicologia social, esse

    sistema de dominao simblica pode conduzir os membros dos grupos dominados a uma

    viso negativa do seu prprio grupo, o que implica efeitos nefastos para a auto-estima dos

    indivduos (Lewin, 1948/1997; Phinney, 1990). As consequncias sobre a auto-estimadependem da percepo da legitimidade da discriminao. Os membros dos grupos

    dominados podem interiorizar a sua suposta inferioridade, tomando como legtima a posio

    dos grupos dominantes (Jost e Banaji, 1994). Numerosos estudos demonstram os impactos

    negativos da baixa auto-estima na capacidade de realizao acadmica e profissional dos

    membros de grupos de baixo estatuto social, o que conduz perversamente auto-confirmao

    da profecia que recai sobre eles (Merton, 1949/1968).

    Frequentemente, os prprios alvos do racismo interiorizam a hierarquia que lhes

    transmitida, o que funciona como estigma (Goffman, 1959/1989). No entanto, quando os

    membros dos grupos dominados tomam conscincia da arbitrariedade e ilegitimidade da

    discriminao, reivindicam uma identidade positiva e no sentem a sua auto-estima ameaada

    (e.g., Khan e Vala, 1999). No entanto, no deixa de ser paradoxal que mesmo quando

    envolvidos em lutas colectivas contra a discriminao (Ngritude, Black Power, etc.),

    recorram frequentemente a auto-designaes racializadas que coincidem, frequentemente,

    com as usadas nos discursos racistas dando assim uma continuidade perversa ao que querem

    eliminar.

    O racismo partilha alguns aspectos com o etnocentrismo: a diferenciaoface ao outro,

    diferenciao essa que acompanhada por uma inferiorizaodo outro. No entanto, possui

    aspectos distintos tanto no grau com que a desumanizao do outro operada

    cognitivamente como na forma como mantida e reforada socialmente (Cabecinhas, 2007).

    No seio da Psicologia Social o racismo geralmente considerado como um tipo

    particular de preconceito em que os alvos da atitude negativa so pessoas de determinada

    raa (negros, ndios, etc.). Por exemplo, Richards define o racismo da seguinte forma: o

    termo racismo ser usado para referir atitudes e prticas que sejam explicitamente hstis e

    denegritrias em relao a pessoas definidas como pertencendo a outra raa (1997: xi).

    Outras definies, especificam que a raa em questo a raa negra. Por exemplo, Essed

    define o racismo como cognies, aces e procedimentos que contribuem para o

    desenvolvimento e perpetuao de um sistema em que os Brancos dominam os Negros

    (1991: 39). Esta definio tem a vantagem de salientar os aspectos estruturais do racismo: o

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    desenvolvimento e manuteno de um sistema social, sistema esse que favorece uma raa

    os brancos em detrimento de um outra os negros. No entanto, tem a desvantagem de

    especificar quem so os agentes e quem so os alvos do racismo. De facto, frequentemente a

    definio de racismo restringida ao racismo contra os negros, levando ao esquecimento deoutras das suas vtimas (por exemplo, os ndios).

    Algumas definies salientam os aspectos ideolgicos do racismo e o facto deste

    implicar uma hierarquizao dos grupos sociais. Por exemplo, Bobo e Fox (2003: 319)

    definem o racismo como um conjunto de condies institucionais de desigualdade e uma

    ideologia de dominao racial, sendo esta ltima caracterizada por um conjunto de crenas

    que sustentam que o grupo racial subordinado biolgica ou culturalmente inferior ao grupo

    racial dominante.

    A nfase nos aspectos ideolgicos e institucionais do racismo particularmente evidente

    nos trabalhos desenvolvidos fora da Psicologia Social. De facto, no seio desta disciplina so

    frequentes os trabalhos que estudam o fenmeno numa perspectiva a-histrica e sem ter em

    conta as assimetrias de estatuto e de poder envolvidas. No entanto, a compreenso deste

    complexo fenmeno exige a convocao de diversos nveis de anlise (Doise, 1982), alguns

    dos quais tm sido negligenciados pela Psicologia Social.

    Em contrapartida, a literatura sociolgica tem enfatizado sobretudo as dimenses

    ideolgicos e institucionais do racismo. Por exemplo, Taguieff (1997) refere que o conceito

    de racismo apresenta uma diversidade de conotaes. Num sentido restrito, o racismo

    definido como doutrina, dogma, ideologia ou conjunto de crenas. Num sentido mais lato, o

    conceito envolve tambm o preconceito e os comportamentos discriminatrios. Enquanto

    ideologia, o racismo consiste num sistema de crenas fabricado na cincia com objectivos

    polticos claros: legitimar um sistema social com fortes desigualdades sociais que estabelecia

    claramente a posio que os diferentes grupos humanos deveriam ocupar na hierarquia social,

    grupos esses definidos e reconhecidos a partir de caractersticas fsicas que eram supostas

    traduzir as suas capacidades intelectuais e as suas aptides (e.g., Taguieff, 1997; Wieviorka,

    1998).

    Ao longo da histria, o racismo tem variado muito nos seus alvos (negros, ndios, etc.),

    nos mitos que o legitimam (inferioridade intelectual ou moral, perigosidade,

    incompatibilidade de culturas, etc.), nos interesses que serve (explorao de mo-de-obra,

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    manuteno da pureza racial, preservao da identidade nacional, ...) e nos modos de actuao

    (extermnio, perseguio, expulso, segregao ou excluso simblica).

    Nesse sentido, muito difcil delimitar o conceito, sem cair em demasiadas restries e

    sem o alargar demasiado (e.g. Machado, 2000; Miles, 1989/1995; Taguieff, 1997). Por umlado, alargar demasiado o conceito pode contribuir para a sua banalizao, por outro,

    restringir em demasia insuficiente para compreender a abrangncia do fenmeno, sobretudo

    as suas manifestaes actuais, mais subtis (e.g. Cabecinhas, 2007; Pettigrew e Meertens,

    1995; Vala, Brito e Lopes, 1999).

    No seio da antropologia, van den Berghe props uma das definies mais influentes de

    racismo: um conjunto de crenas que sustentam que as diferenas orgnicas geneticamente

    transmitidas (reais ou imaginrias) entre grupos humanos esto intrinsecamente associadas

    com a presena ou ausncia de certas capacidades ou caractersticas socialmente relevantes,

    portanto tais diferenas so a base legtima para injustas distines entre grupos socialmente

    definidos como raas (1967: 11).

    Como salienta Pereira (2007), nesta definio est implcita a ideia de inferiorizao e

    hierarquizao entre os grupos, grupos esses que so percebidos como raas1 isto , no se

    trata de raas de facto, mas sim de um processo de racializao. importante acrescentar

    que a percepo das diferenas fsicas reais ou imaginrias 2 ela prpria resultante das

    assimetrias de poder e de estatuto entre os grupos, j que a existncia de um padro de

    referncia previamente estabelecido que permite a percepo da diferena (e.g. Deschamps,

    1982; Amncio, 1998). Nesse sentido, s as minorias3so percebidas como diferentes (e.g.,

    Lima e Vala, 2002; Wieviorka, 1995/1998).

    Numa reviso sobre os de conceitos racismo e preconceito no seio da Psicologia Social,

    Lima (2002) sintetiza o que considera serem os seus elementos distintivos: o racismo consiste

    1Neste captulo quando nos referimos a raas e a grupos tnicos estamos a referir-nos a grupos racializadosou etnicizados.

    2 precisamente porque as diferenas fsicas nem sempre so pertinentes para as classificaes raciais que, aolongo da histria, grupos discriminados foram obrigados a usar sinais distintivos, como sucedeu, por exemplo,com os judeus durante o nazismo.

    3 O uso contemporneo do termo minoria reveste-se de uma grande ambivalncia. Este termo tanto podedesignar simplesmente uma minoria quantitativa (isto , em estatuto numrico) como uma minoria qualitativa(isto , em estatuto social, prestgio ou poder). Por exemplo, na grande maioria dos casos os imigrantes sogrupos duplamente minoritrios (em termos quantitativos e qualitativos). Outros grupos, constituem minoriasqualitativas apesar de serem maiorias quantitativas: o caso dos negros durante o regime de apartheidna fricado Sul, por exemplo. De igual modo podemos observar minorias quantitativas que so maiorias qualitativas: porexemplo, as elites polticas (Lorenzi-Cioldi, 2002).

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    numa crena na distino natural entre os grupos distino assente em essnciaspercebidas

    como fixas e imutveis , enquanto que o preconceito no implica necessariamente um

    processo de essencializao; o racismo no existe apenas ao nvel individual, mas sobretudo

    ao nvel institucional e cultural enquanto que o preconceito uma atitude negativa,geralmente operacionalizada em termos de avaliaes individuais sobre um determinado

    grupo-alvo.

    O autor refere tambm os elementos que aproximam os dois conceitos: Tanto o

    preconceito quanto racismo implicam a inferiorizao do outro. Ambos tm as suas

    expresses ou formas de manifestao definidas em funo dos contextos e normas sociais

    que estejam salientes no ambiente histrico onde no produzidos, pois cumprem determinadas

    funes sociais associadas justificao e acomodao de relaes intergrupais assimtricas

    (Lima, 2002: 29).

    Lima define racismo como um processo de hierarquizao, excluso e discriminao

    contra um indivduo ou toda uma categoria social que definida como diferente com base

    numa marca fsica externa (real ou imaginria), a qual resignificada em termos de uma

    marca cultural interna que define padres de comportamento. Neste sentido, o racismo

    consiste numa reduo do cultural ao biolgico, uma tentativa de fazer o primeiro depender

    do segundo. Como o autor salienta, o racismo mais do que um processo de percepo das

    diferenas fsicas ou de caractersticas culturais, um processo de construo e

    naturalizao das diferenas (2002: 27).

    Por seu turno, Cabecinhas salienta o carcter assimtrico do processo naturalizao das

    diferenas: consideramos como racista uma discriminao negativa (ao nvel dos

    comportamentos, cognies ou emoes) quando esta se baseia numa diferena essencial

    entre o grupo de pertena e o(s) outro(s) grupo(s). Uma diferena essencial significa que

    percepcionada como absoluta, fixa e imutvel, isto , define fronteiras ntidas e

    intransponveis entre os grupos. Esta diferenciao pode basear-se em critrios biolgicos ou

    culturais, mas sempre remetida para uma essncia. No entanto, o carcter vinculativo dessa

    essncia difere em funo da posio relativa dos grupos: marca um dos grupos (grupo

    dominado), mas liberta o outro (grupo dominante), isto , as fronteiras que delimitam os

    grupos so impermeveis para uns e fluidas para outros (2007: 72). O objectivo deste

    processo de naturalizao limitar a liberdade dos membros dos grupos de menor estatuto

    social, remetendo-os para um conjunto de papis especficos, de forma a manter e legitimar a

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    posio privilegiada dos membros dos grupos dominantes (Cabecinhas e Amncio, 2003).

    Seguidamente, procedemos contextualizao do racismo do ponto de vista histrico,

    referindo brevemente alguns acontecimentos-chave que marcaram as relaes entre grupos

    humanos racializados. Um dos acontecimentos-chave mais marcantes na histria recente doracismo foi a Segunda Guerra Mundial. Neste sentido, dividimos entre o antes e o depois

    deste acontecimento, pois este marca o fim do racismo cientfico. Mas, como veremos, o fim

    do racismo cientfico no significou o fim do racismo na sociedade. Este transformou-se e

    diversificou-se, o que levou alguns autores a falar de racismos e no de racismo para

    salientar a multiplicidade de manifestaes (e.g., Pettigrew e Meertens, 1995; Vala, 1999). As

    duas seces seguintes sero dedicadas discusso sumria do que se convencionou chamar

    os velhos racismos e os novos racismos. No entanto, tal diviso no significa que se trata

    de racismos de natureza diferente, mas que as suas formas de expresso so diferenciadas.

    2. Velhos racismos

    Numa anlise histrica do racismo nas sociedades ocidentais, Fredrickson (2002)

    argumenta que na Antiguidade clssica e na poca medieval no havia conscincia racial.

    Na histria da humanidade sempre existiram fenmenos de discriminao violenta associados

    crena na superioridade de um grupo face a outros, porm a noo de raa como critrio

    para a diferenciao entre grupos humanos relativamente recente em termos histricos (para

    revises ver: Banton, 2000; Jahoda, 1999).

    Na Europa da poca medieval a discriminao entre grupos era baseada sobretudo em

    categorias teolgicas, sendo a grande clivagem entre cristos e no-cristos. Embora

    tratando-se de categorizaes incidindo em aspectos culturais, as distines baseadas em

    aspectos fsicos estavam tambm presentes. Nas representaes artsticas da poca os outros

    surgem como seres estranhos, exticos, resultantes da mistura de elementos humanos e

    animais (Jahoda, 1999). Nas representaes icnicas comum o diabo ser negro ou estar

    vestido de negro, em oposio aos anjos brancos. As descries dicotmicas entre o brancoe

    o negro, sendo o primeiro associado a pureza e bondade e o segundo associado a impureza e

    maldade ainda hoje perduram no discurso ocidental (Matos, 2006).

    No final da Idade Mdia verificou-se um aumento dos contactos com populaes de

    origens geogrficas diversas. Os monstros descritos na Antiguidade faziam parte das

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    expectativas dos navegadores europeus, mas no foram encontrados nos novos mundos.

    Pouco a pouco, a figura do monstro popular foi substitudo pela do selvagem ser humano

    semelhante ao macaco, despido, transportando um pau simbolizando violncia, ausncia de

    civilizao, irracionalidade, imoralidade e pecado (Jahoda, 1999). O conceito de raacomeou ento a fazer parte do pensamento europeu.

    No sculo XVI a Europa tornou-se o centro do mundo. Ao longo de sculos de

    conquistas e exploraes coloniais, estabeleceu-se uma relao fortemente assimtrica com os

    Outros. O capitalismo e o desenvolvimento tecnolgico consolidaram o domnio do Ocidente

    sobre as outras sociedades.

    Mesmo quando a relao com os outros povos era marcada por um certo grau de atraco pelo

    extico, prevaleceu a inferiorizao. Por exemplo, na carta de Pro Vaz de Caminha sobre o

    achamento do Brasil, dirigida a D. Manuel, a 1 de Maio de 1500, evidente o encantamento

    suscitado pelos indgenas: A feio deles serem pardos, maneira de avermelhados, de bons

    rostos e bons narizes, bem feitos. Andavam nus, sem cobertura alguma. No fazem o menor

    caso de encobrir ou de mostrar suas vergonhas; e nisso tm tanta inocncia como em mostrar

    o rosto (1500/1987: 65). No entanto, se o encantamento fsico inicial evidente, a admirvel

    inocncia dos indgenas rapidamente se transformou em prova da sua irracionalidade e

    eventual ausncia de alma.

    Jenness (1992/2001) argumenta que no incio do perodo colonial, nos sculos XVI e

    XVIII, a justificao para a discriminao dos povos colonizados tinha por base factores de

    ordem cultural: o grau de civilizao e a religio. Mas medida que o colonialismo europeu

    se foi desenvolvendo, era necessrio encontrar uma justificao para o trfico de escravos e

    para o recurso massivo explorao de mo de obra. A ideia de raa, construda na

    modernidade, serviu legitimar a escravatura e tornou-se um dos pilares do sistema ideolgico

    que susteve o colonialismo europeu.

    O Iluminismo e o desenvolvimento da cincia moderna conduziram formulao das

    primeiras teorias sobre a hierarquizao dos seres humanos (e.g. Amncio, 1998). A cincia

    moderna, desenvolvida nos sculos XVIII e XIX, definiu hierarquias claras que se traduziram

    na excluso sistemtica de vrios grupos humanos aos quais no eram reconhecidas as

    qualidades humanas superiores as crianas, as mulheres e os selvagens. Estas categorias

    surgem descritas como mais prximas da natureza do que da cultura, tendo em comum as

    seguintes caractersticas: curiosidade infantil, impulsividade, irritabilidade, irresponsabilidade

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    e fraca capacidade intelectual (e.g. Chombart de Luawe,1983-1984; Guillaumin, 1992).

    O pensamento cientfico do Iluminismo tem sido apontado como a base cientfica para o

    que mais tarde viria a caracterizar o racismo cientfico. A noo de raa estabelece uma

    ligao directa entre caractersticas fsicas visveis (fentipo) e caractersticas profundas(gentipo), explicativas das diferentes aptides e capacidades dos indivduos. Esta noo

    apoiou-se na antropologia fsica clssica, que utilizava critrios morfolgicos como a cor da

    pele, a forma craniana, a textura do cabelo, entre outros. As classificaes que resultavam da

    aplicao desses critrios eram contraditrias e muito variveis, mas essa variabilidade de

    resultados e ausncia de rigor foi muitas vezes escamoteada (Gould, 1981/1990).

    O nmero de raas humanas e a sua designao variava bastante em funo das

    diversas teorias raciais propostas. No entanto, todas as teorias da raciologia clssica tinham

    em comum uma perspectiva hierarquizadora e desigualitria, isto , a raciologia clssica

    sempre ordenou as raas em superiores e inferiores ocupando invariavelmente os brancos

    o topo dessa hierarquia (Cunha, 2000: 193-194).

    A cincia da classificao foi iniciada por Carl Linnaeus. Na sua taxonomia, com

    base numa multiplicidade de critrios, principalmente de natureza fenotpica, os seres

    humanos foram classificados em quatro raas africanos, americanos, asiticose europeus.

    Cada uma destas raas foi caracterizada com alguns atributos especficos: por exemplo, os

    africanosforam descritos como negros, lentos de raciocnio, descontrados e negligentes; os

    americanoscomo vermelhos, vidos e combativos; os asiticoscomo amarelos, inflexveis,

    severos e avarentos; e os europeuscomo belos, amveis, inteligentes e inventivos (Linnaeus,

    1767: 29).

    Charles Darwin (1871) salientou a origem comum de todas as raas humanas e a

    superficialidade das diferenas raciais observadas. No entanto, apesar do seu esforo para

    combater as teorias que advogavam a origem separada das raas humanas, a sua teoria da

    evoluo foi interpretada de formas contraditrias, servindo de inspirao para as teorias

    eugenistas que viriam a desenvolver-se mais tarde.

    Uma das referncias marcantes do racismo cientfico foi Francis Galton, fundador de

    um laboratrio de eugenia com vista ao aperfeioamento da espcie humana. Galton

    argumentou em defesa da eliminao progressiva dos indesejveis da sociedade atravs da

    proibindo-lhes o casamento ou impondo a sua esterilizao e, simultaneamente, tentou

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    proteger, aperfeioar e multiplicar os indivduos mais aptos, de melhor sade fsica e moral

    (1883 inGould, 1981/1990).

    Em meados do sculo XIX os cientistas desenvolveram mtodos de medio

    supostamente rigorosos (volume da caixa craniana, tempos de reaco, testes de inteligncia,etc.). Quaisquer que fossem os critrios utilizados pelos cientistas, os brancoseram sempre

    posicionados no topo da escala e os negros em baixo, ocupando os amarelos a posio

    intermdia, mas muito mais prximos dos ltimos do que dos primeiros (para revises ver:

    Cabecinhas, 2007; Montagu, 1997; Richards, 1997).

    No final do sculo XIX as doutrinas raciais estavam extremamente divulgadas na

    Europa e nos Estados Unidos da Amrica. O determinismo biolgico marcou profundamente

    a cincia moderna e propagou-se ao pensamento leigo, tornando-se um verdadeiro fenmeno

    social. Isto , o discurso cientfico da poca estimulou e legitimou o discurso racialista do

    senso comum, sendo essa herana ainda visvel nos dias de hoje, apesar da desacreditao

    cientfica das teorias racialistas aps a Segunda Guerra Mundial, como veremos na seco

    seguinte.

    Segundo o historiador Valentim Alexandre, a ideologia dominante em Portugal durante

    o perodo colonial era extremamente etnocntrica e desigualitria. Os trabalhos forados, o

    trfico de escravos e a escravatura eram considerados fundamentais para que as colnias

    africanas fossem rentveis economicamente e a igualdade de direitos era considerada como

    uma simples utopia, j que os africanos no seriam capazes de evoluir sozinhos. A poltica

    colonial opressora era justificada atravs dos argumentos do racismo cientfico.

    Durante o Estado Novo realizaram-se diversos congressos coloniais onde cientistas,

    polticos, militares e religiosos expuseram as suas teses sobre a misso civilizadora do povo

    portugus e debateram as prticas a implementar para conseguir uma melhor adeso dos

    diversos povos indgenas hegemonia dos valores portugueses (Cabecinhas e Cunha, 2003).

    Os negroseram vistos como crianas grandes, incapazes de dominar os seus impulsos e de

    tomar conta de si prprios. A imagem dos negros oscilava entre a atraco do extico (o

    batuque, as danas, os ritmos e corpos sensuais) e a repulsa (a agressividade, a perigosidade, a

    feitiaria e a sexualidade descontrolada eram algumas das caractersticas mais mencionadas).

    Durante este perodo, os negroseram vistos essencialmente como uma fora de trabalho, mas

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    tambm eram considerados como uma fonte de divertimento e entretimento para o Homem

    Branco (especialmente as mulatas...4).

    Aps a Segunda Guerra Mundial, num contexto poltico e social europeu onde o

    princpio da assimilao fora substitudo por uma cada vez maior autonomia e mesmoindependncia, o luso-tropicalismo de Gilberto Freyre (1933/1992) segundo o qual os

    portugueses teriam uma especial aptido para lidar com os povos dos trpicos e para a

    miscibilidade5 transformou-se num instrumento de justificao para a afirmao da

    especificidade do colonialismo portugus. No entanto, este mito no se dissipou com o fim do

    imprio colonial em 1975, continuando a circular de forma difusa na sociedade portuguesa

    ainda nos dias de hoje (Alexandre, 1999; Valentim, 2003).

    3. Novos racismos

    Como referimos anteriormente, a Segunda Guerra Mundial constitui um acontecimento

    marcante na histria recente do racismo, conduzindo a um ponto de viragem no

    posicionamento poltico e cientfico face raa. O genocdio de milhes de judeus e

    ciganos, em nome da pureza racial, alertou o mundo para os efeitos perversos do

    pensamento racialista. Aps o Holocausto poucos cientistas continuaram a defender

    hierarquias raciais e no mundo poltico diversas medidas foram tomadas no sentido de

    promover a igualdade entre os seres humanos.

    Um dos marcos fundamentais na implementao das polticas de igualdade foi a

    proclamao da Declarao Universal dos Direitos do Homem6pela Organizao das Naes

    Unidas (ONU), no dia 10 de Dezembro de 1948:

    4 Na clebre obra Casa Grande e Sensala, Gilberto Freyre refere: a mulher mulata tem sido a preferida dosportugueses para o amor, pelo menos para o amor fsico. [...] Com relao ao Brasil, que o diga o ditado:Branca para casar, mulata para f..., negra para trabalhar (1933/1992: 85).

    5Quanto miscibilidade, nenhum povo colonizador, dos modernos, excedeu ou sequer igualou nesse ponto osportugueses. Foi misturando-se gostosamente com mulheres de cor logo ao primeiro contato e multiplicando-se em filhos mestios que uns milhares apenas de machos atrevidos conseguiram firmar-se na posse de terrasvastssimas e competir com povos grandes e numerosos na extenso de domnio colonial e na eficcia da aocolonizadora. A miscibilidade, mais do que a mobilidade, foi o processo pelo qual os portuguesescompensaram-se da deficincia em massa ou volume humano para a colonizao em larga escala e sobre reasextensssimas (Freyre, 1933/1992: 84).

    6Embora esta Declarao tenha sido ratificada por 159 pases, a realidade tem ficado sempre aqum daspalavras. Dez anos depois desta declarao, instalou-se oficialmente o regime de apartheid na frica do Sul

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    Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos (...) (1); Todos os sereshumanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na presente Declarao, semdistino alguma, nomeadamente de raa7, de cor, de sexo, de lngua, de religio, de opinio polticaou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situao (...)(2).

    Nas dcadas de cinquenta e sessenta, a UNESCO promoveu amplas investigaes

    interdisciplinares sobre a questo racial, cujos resultados foram debatidos por quatro equipas

    diferentes e que deram origem a quatro Declaraes sobre a raa agrupadas no livro Le

    Racisme Devant la Science (UNESCO, 1973). Neste livro procede-se a uma desmontagem

    detalhada do carcter falacioso das provas da superioridade branca e recomenda-se o

    abandono da palavra raa no meio cientfico e o uso de designaes consideradas menos

    discriminatrias, como por exemplo grupo tnico.

    Desde ento, o termo grupo tnico tem sido empregue para referir grupos sociaisminoritrios, que so percebidos e classificados em funo da sua diferenciao cultural face

    aos padres estabelecidos pela cultura dominante. Todavia, o pensamento leigo acompanhou

    esta deslocao da raa para os grupos tnicos, sendo as prticas culturais percebidas

    como rgidas e imutveis, e at mesmo geneticamente herdadas (Rex, 1986). Assim,

    frequentemente a cultura no entendida como algo fluido e dinmico, mas como algo fixo

    anlogo raa.

    Como salientmos anteriormente, apenas os grupos destitudos de poder ou de estatutosocial so objecto deste processo de naturalizao. Assim, o deslocamento da percepo das

    diferenas entre os grupos humanos do plo das caractersticas fsicas ou raciais para o plo

    das caractersticas culturais permanece um processo de naturalizao da diferena, isto , a

    um processo de racializao seguiu-se um processo de etnicizao (Vala, Lopes, Brito,

    1999).

    Assim, apesar de estar cientificamente desacreditado o mito da raa (Montagu, 1997)

    continua a existir no pensamento leigo. O facto da hierarquizao racial ter sido banida dodiscurso pblico no significa o fim do racismo. Como o argumento da desigualdade e da

    hierarquizao racial actualmente contra-normativo, enfatizam-se as diferenas culturais.

    Na maioria dos pases ocidentais, a aplicao dos princpios de igualdade contidos nas

    (1958-1991) e nos Estados Unidos da Amrica s em 1964 foi aprovado oAct of Civic Rights, depois de intensaslutas e manifestaes pela igualdade de direitos.

    7De notar que raa aparece sem aspas. De facto, o uso de aspas para referir a raa s se comeou avulgarizar nas cincias sociais nos anos oitenta.

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    declaraes e leis que se foram produzindo ao longo da segunda metade do sculo XX

    conferiu um padro legal a esses princpios, com a especificao de punies severas para a

    discriminao com base em critrios raciais. Discriminar com base em supostas hierarquias

    raciais passou a ser, no apenas anti-normativo, mas um crime grave que deve ser punidoexemplarmente.

    Face a estas novas normas sociais, a discriminao racial passou a ser expressa sem

    evocar a ideia de raa. Segundo Augoustinos e Reynolds o racismo contemporneo

    justifica e legitima as desigualdades entre grupos, no com base na biologia ou na cor da

    pele, mas com o argumento que determinados grupos violam valores sociais fundamentais,

    tais como a tica do trabalho, autonomia, auto-disciplina e realizao individual (2001: 3).

    Na dcada de setenta, medida que os afro-americanos conquistavam um maior

    protagonismo social e ocupavam lugares at a reservados maioria branca, na sequncia do

    fim da segregao racial, foi crescendo nos euro-americanos um sentimento de ameaa.

    Estas alteraes polticas e sociais levaram os cientistas sociais a desenvolver novos conceitos

    com o objectivo de estabelecer uma distino entre as expresses tradicionais e as novas

    formas de racismo (e.g., Gaertner e Dovidio, 1986; Katz e Hass, 1988; Jones, 1972;

    McConahay, 1986; Sears, 1988).

    A renovao conceptual ocorreu inicialmente no sentido de apreender as novas

    expresses de racismo no seio da sociedade americana e em seguida alargou-se aos pases

    europeus, para caracterizar as formas de racismo contemporneas em relao aos imigrantes e

    minorias tnicas (e.g., Pettigrew e Meertens, 1995).

    Por exemplo, Jones (1972) refere um racismo cultural nos EUA. Segundo o autor, na

    opinio dos indivduos preconceituosos, as minorias seriam discriminadas por razes que lhes

    so intrnsecas: por partilharem uma cultura que no lhes permite uma boa adaptao s

    exigncias do sistema econmico capitalista (o individualismo meritocrtico, a orientao

    para o poder e o xito). Isto , uma vez que j no politicamente correcto afirmar

    publicamente que os negros possuem capacidades intelectuais e aptides inferiores aos

    brancos, atribuir-se-lhes a responsabilidade da discriminao de que so vtimas por no

    aderirem aos valores necessrios para serem bem sucedidos nas sociedades ocidentais e por

    supostamente no efectuarem um esforo de adaptao.

    Por seu turno, Pettigrew e Meertens (1995) distinguiram duas expresses de preconceito

    racial nas sociedades ocidentais contemporneas: o preconceito flagrante(quente e directo) e

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    o preconceitosubtil(frio e indirecto). A partir da II Guerra Mundial as sociedades ocidentais

    desenvolveram progressivamente uma norma social contra as formas tradicionais de

    expresso do racismo. A relao dos indivduos com esta norma social pode assumir trs

    formas: rejeio, aceitao ou internalizao.Segundo os autores, os indivduos que rejeitam a norma anti-racista no se inibem de

    exprimir publicamente o racismo tradicional, sendo as suas respostas claramente anti-

    normativas (racismo flagrante). Os indivduos que aceitam a norma no exprimem o racismo

    na sua forma tradicional, mas manifestam expresses mais subtis de racismo que no violam a

    norma anti-racista, uma vez que esta incide apenas sobre as expresses tradicionais do

    racismo (racismo subtil). Por sua vez, os que internalizaram a norma, rejeitam ambas as

    formas de racismo, uma vez que a norma anti-racista se enquadra no quadro de valores

    igualitrios mais gerais (igualitarismo). Resumindo: o racismo flagrante claramente anti-

    normativo; o racismo subtil corresponde aceitao da norma, acompanhada de expresses de

    racismo no censuradas por esta; e igualitarismo corresponde internalizao da norma, com

    base em valores igualitrios.

    O racismo flagrante encontra-se associado diferenciao no plano biolgico

    (racializao) enquanto que o racismo subtil se associa diferenciao no plano cultural

    (etnicizao). Como salientam Vala, Brito e Lopes, o facto de ambos se encontrarem

    fortemente correlacionados mostra que se est perante duas dimenses diferentes de um

    mesmo fenmeno (1999b: 37).

    Os estudos realizados por Pettigrew e Meertens (1995) envolveram amostras

    representativas de quatro pases europeus, questionadas sobre diferentes grupos-alvo: na

    Inglaterra os grupos-alvo foram os antilhanos e os asiticos; em Frana os norte-

    africanos e os asiticos; na Holanda os surinameses e os turcos; e na Alemanha os

    turcos (Pettigrew e Meertens, 1995). Posteriormente estes estudos foram replicados noutros

    pases europeus que entretanto se tornaram tambm eles pases de imigrao. Por exemplo,

    em Portugal o grupo-alvo foram os imigrantes negros (Vala, Brito e Lopes, 1999a).

    Em todos os pases se verificou uma maior adeso ao racismo subtil do que ao racismo

    flagrante, o que apoia a hiptese de que o racismo flagrante percebido como anti-normativo,

    mas no o racismo subtil. Contudo, no devemos esquecer que os dados foram recolhidos

    atravs de questionrio, quer dizer, em condies que no facilitam a expresso do racismo

    tradicional anti-normativo, e em que os respondentes tm controlo sobre as suas respostas

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    (Vala, Brito e Lopes, 1999b: 38). Na opinio de Vala (1999), relativamente a outras

    conceptualizaes sobre os novos racismos, a proposta de Pettigrew e Meertens (1995) tem

    a vantagem de colocar claramente a anlise do racismo no mbito dos processos intergrupais e

    de realar a importncia das questes de ordem normativa nas novas expresses do racismo.Nos anos noventa, os crescentes fluxos de imigrao na Europa e o aumento da

    visibilidade da discriminao racial e tnica levaram criao do Observatrio Europeu do

    Racismo e da Xenofobia(EUMC), do qual Portugal se tornou membro. As polticas adoptadas

    em Portugal relativamente imigrao e ao combate discriminao esto em consonncia

    com as preconizadas pela Unio Europeia, embora haja considerveis variaes entre os

    pases da unio.

    A partir da segunda metade da dcada de noventa a problemtica da imigrao tem

    vindo a ocupar um lugar cada vez mais central na opinio pblica portuguesa. O discurso

    anti-racista passou a assumir uma posio central no debate pblico e poltico, tendo

    frequentemente lugar de destaque na agendameditica (e.g. Ferin, 2003; Ferin et al., 2006).

    Em 1996 foi institudo o Alto Comissariado para a Imigrao e Minorias tnicas

    (actualAlto Comissariado para a Imigrao e Dilogo Intercultural - ACIDI) cujas funes

    fundamentais so contribuir para a melhoria das condies de vida dos imigrantes em

    Portugal e combater o racismo e a xenofobia (www.acidi.gov.pt). Posteriormente foram

    criados outros organismos oficiais de luta anti-discriminao, entre as quais se destaca a

    Comisso para a Igualdade e contra a Discriminao Racialem 2000.

    O discurso poltico oficial um discurso anti-discriminao e de incentivo integrao

    das minorias na sociedade portuguesa, no entanto, tal como se verifica noutros pases

    europeu, a discriminao racial persiste, quer ao nvel dos comportamentos individuais como

    ao nvel das instituies (e.g., Machado, 2006; Marques, 2007).

    Jorge Vala e colaboradores realizaram um estudo pioneiro que permitiu aferir e

    evidenciar as novas formas de racismo em Portugal. Os autores analisaram as atitudes dos

    portugueses brancos, residentes na rea da Grande Lisboa, face aos imigrantes negros em

    Portugal. Os resultados obtidos em Portugal em relao aos negros foram semelhantes aos

    encontrados noutros pases europeus em relao a diferentes grupos-alvo, demonstrando que

    as crenas racistas se organizam em Portugal de forma semelhante de outros pases

    europeus; que os factores que esto na sua gnese no so, significativamente, diferentes

    daqueles que subjazem ao racismo subtil ou flagrante noutros pases (Vala, Brito e Lopes,

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    1999a: 55). Assim, os portugueses parecem ter interiorizado a norma anti-racista vigente na

    sociedade, o que os impede de exprimir publicamente formas de discriminao flagrantes, que

    contrariem claramente essa norma. No entanto, as suas respostas revelam formas de

    discriminao mais subtis que, no contrariando claramente a norma anti-racista, no deixamde ser formas de discriminao. Assim, como afirma Vala, possvel descortinar fortes

    continuidades do fenmeno do racismo entre contextos sociais muito diversificados (1999:

    7). Estes resultados colocam em causa o mito luso-tropicalista segundo o qual os portugueses

    seriam menos racistas do que os outros povos europeus.

    Este padro de resultados foi posteriormente replicado e aprofundado num estudo que

    realizmos em diversas zonas do pas (Cabecinhas, 2007). Nesse estudo averigumos as

    percepes e as atitudes dos portugueses face a seis grupos-alvo, cinco definidos a partir da

    nacionalidade (angolanos, cabo-verdianos,guineenses, moambicanoseso-tomenses) e um

    a partir da cor da pele (imigrantes negros). Os nveis de racismo no variaram

    significativamente em funo das cinco nacionalidades africanas, mas variaram em funo do

    tipo de categorizao. Nas sub-escalas de racismo subtil verificaram-se menores nveis de

    discriminao para o grupo-alvo negros do que para cada um dos grupos africanos, mas no

    houve qualquer efeito do tipo de categorizao nas sub-escalas de racismo flagrante. O facto

    de se terem observado diferenas em funo do tipo de categorizao nas medidas mais

    veladas de discriminao mas no nas medidas mais evidentes refora uma interpretao

    normativa destes resultados. Na nossa opinio, as diferenas observadas em funo do tipo de

    categorizao devem-se ao facto da designao negros ser reconhecida como activando

    respostas conotadas com racismo. Estando os inquiridos cientes das normas sociais em vigor

    contra a discriminao baseada na cor da pele provvel que a inibio provocada pela

    designao negros seja mais forte do que a desencadeada pelas designaes nacionais. Ora

    essa inibio ser tanto mais forte quanto maior for a validade facial das medidas de

    discriminao. Assim, as medidas de racismo flagrante so automaticamente reconhecidas

    como discriminatrias, activando de imediato a norma anti-discriminao. Nas medidas

    mais subtis de discriminao a activao dessa norma facilitada pela designao negros.

    Realizmos ainda um conjunto de estudos sobre os esteretipos dos portugueses sobre

    os imigrantes africanos residentes em Portugal, em funo de trs dimenses de anlise: o

    contedo, a valncia e o grau de variabilidade. Ao nvel dos contedos dos esteretipos

    verifica-se igualmente a herana das velhas dicotomias coloniais. Os estudos demonstraram

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    que os novos esteretipos so aparentemente mais positivos, mas escondem uma constncia

    da ideologia que subtilmente perdura: as dimenses mais valorizadas nas sociedades

    ocidentais (autonomia, individualidade, competncia, responsabilidade) so atribudas ao

    grupo dominante, mas continuam a ser negadas aos imigrantes africanos, cuja representaopermanece com forte ligao natureza (e.g. Amncio, 1998, Cabecinhas, 2007; Deschamps

    et al., 2005).

    As dimenses de contedo estruturantes dos esteretipos so a instrumentalidade e a

    competncia para o grupo dominante e a expressividade e o exotismo para os grupos

    minoritrios. As representaes raciais durante o perodo colonial continuam a estruturar o

    pensamento sobre nse os outros, embora recorrendo a uma linguagem mais subtil.

    Como vimos ao longo deste captulo, as expresses de racismo esto extremamente

    dependentes do contexto histrico e social. Actualmente, nas sociedades ocidentais assiste-se

    permanncia de fenmenos racistas, mas estes so cada vez menos justificados pela

    percepo de diferenas raciais e cada vez mais pela percepo de diferenas culturais ou

    religiosas. Verifica-se uma grande ambiguidade nas expresses de racismo, que surgem quase

    sempre dissimuladas. Os resultados de diversos estudos recentes mostram que o racismo

    sofreu uma metamorfose nas suas formas de expresso, mas no desapareceu. As expresses

    pblicas de racismo mudaram muito nas ltimas dcadas, mas as grandes clivagens entre

    grupos humanos permanecem. A cor da pele continua a marcar os indivduos e a determinar

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