130
UNICAMP Universidade Estadual de Campinas Faculdade de Engenharia Química Área de Concentração: Engenharia de Processos Extração e Fracionamento da Gordura de Cupuaçu (Theobroma Grandiflorum) com Fluidos Supercríticos Alvaro Bandeira Antunes de Azevedo Engenheiro Quimico Orientador: Prof. Dr. Rahoma Sadeg Mohamed. Dissertação Faculdade apresentada à de Engenharia Química da Universidade Estadual de Campinas para a obtenção de título de Mestre em Engenharia Química. Campinas, 2001

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UNICAMP

Universidade Estadual de Campinas Faculdade de Engenharia Química

Área de Concentração: Engenharia de Processos

Extração e Fracionamento da Gordura de Cupuaçu (Theobroma Grandiflorum)

com Fluidos Supercríticos

Alvaro Bandeira Antunes de Azevedo

Engenheiro Quimico

Orientador: Prof. Dr. Rahoma Sadeg Mohamed.

Dissertação

Faculdade

apresentada à

de Engenharia

Química da Universidade

Estadual de Campinas para a

obtenção de título de Mestre em

Engenharia Química.

Campinas, 2001

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FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA DA ÁREA DE ENGENHARIA - BAE - UNICAMP

Azevedo, Alvaro Bandeira Antunes. Extração e fracionamento da gordura de cupuaçu das

sementes com fluidos supercríticos I Álvaro Bandeira Antunes de Azevedo.--Campinas, SP: [s.n.], 2001.

Orientador: Rahoma Sadeg Mohamed. Dissertação (mestrado) -Universidade Estadual de

Campinas, Faculdade de Engenharia Química.

I. Cupuaçu. 2. Extração com fluido supercrítico. 3. Gordura. I. Mohamed, Rahoma Sadeg. II. Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de Engenharia Química. III. Título.

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Dissertação de Mestrado defendida por Alvaro Bandeira Antunes de Azevedo em 8 de

agosto de 2001 e aprovada pela banca examinadora constituída pelos seguintes

Professores Doutores:

(DTF/FEQ/ UNICAMP)

, Prof, Dr. Munir Salomão Skaf

(IQ/UNICAMP)

Prof Dr. Femando Antônio Cabral

(DEA/FEA/UNICAMP)

Campinas, 8 de Agosto de 2001

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Esta versão corresponde à redação final da Dissertação de

Mestrado defendida pelo Eng. Alvaro Bandeira Antunes de Azevedo

e aprovada pela Banca em 8 de Agosto de 2001

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Prof. Dr. Rahoma Sadeg Mohamed

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Aos meus pais Hélio e Vilma,

e meus irmãos André e

Alessandra

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ii

AGRADECIMENTOS

Ao Prof. Dr. Rahoma Sadeg Mohamed pela sua orientação, críticas e sugestões

que foram fundamentais para a qualidade deste trabalho.

Aos amigos Luccas e Vitória pelas valiosas discussões.

Ao Prof. Dr. Munir Skaf pelas valiosas discussões.

A Capes pelo apoio financeiro através de bolsa de estudos que viabilizou a

realização deste trabalho de pesquisa.

Ao CNPq pelo apoio financeiro ao projeto de pesquisa.

Aos amigos constantes durante todo esse tempo.

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iii

RESUMO

A polpa do cupuaçu (Theobroma Grandiflorum), fruta da região amazônica

do Brasil, é largamente explorada, podendo encontrar-se no mercado, em todas

as regiões do país e até no exterior produtos como sucos, doces, sorvetes, etc.

Entretanto as sementes, na maioria dos casos, são tratadas como resíduos. As

sementes apresentam um alto índice de gordura, média de 62% e digestibilidade,

cerca de 91%, podendo, portanto ser utilizada pelas indústrias de cosméticos,

farmacêuticas e alimentícias.

A extração supercrítica de óleos e gorduras tem sido estudada como uma

alternativa aos processos convencionais, devido à sua alta eficiência, capacidade

de fracionamento e por ser uma tecnologia limpa que não apresenta riscos ao

meio ambiente e ao ser humano. Neste trabalho apresentam-se dados

experimentais da extração e fracionamento da gordura de cupuaç~:~ com C02,

Etano, e C02 modificado com etanol, a partir das sementes fermentadas, secas e

moídas. O equipamento de extração supercrítica utilizado neste trabalho permite

controle independente da pressão, temperatura e vazão do solvente. Os

experimentos de extração foram realizados nas temperaturas de 50 e 70°C,

pressões compreendidas na faixa de 15,2 a 35,2MPa e vazão de 0,7Umin. Os

dados de solubilidade foram correlacionados utilizando a equação de Chrastil. As

curvas de extração obtidas mostraram a presença de regiões distintas refletindo

os mecanismos envolvidos na transferencia de massa: uma região dominada pela

solubilidade termodinâmica, e uma outra região controlada pela difusão

intraparticula.

Os solventes Etano e C02 supercrítico mostraram-se eficientes na

extração da gordura de Cupuaçu, apresentando rendimentos comparáveis aos

processos convencionais de extração, nos dois casos foi verificado o

comportamento retrógrado. O etano mostrou-se melhor solvente em relação ao

C02 puro devido as mais fortes forças de interação dispersivas. A adição de etanol

ao C02 como co-solvente aumentou a solubilidade da gordura na mistura, devido

ao aumento da densidade do solvente e das forças de interação por indução e

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i v

dispersão no sistema. Indicando que o etanol é um bom co-solvente para o

processo. Pois as extrações podem ser realizadas a pressões mais baixas, com

menores tempos de extração e menor consumo de solvente.

As características físicas das frações retiradas foram analisadas por

calorimetria diferencial de varredura. As composições das frações foram

determinadas por HPLC. A expectativa de fracionamento da gordura em relação

aos triglicerídeos não foi verificada. Entretanto uma pequena variação na

composição das frações resultou em gorduras com diferentes entalpias de fusão e

com curvas de sólidos diferentes.

Palavras Chaves: Cupuaçu, Extração, Fracionamento, Supercrítico, Gordura.

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v

ABSTRACT

The pulp of cupuaçu (Theobroma Grandiflorum), a Brazilian Amazonian

fruit is widely used as an ingredient ín many food products such as juices, sweets

and ice creams, among others. The seeds have a high quantíty of fat (average

content of 62wt%), and are therefore a potentíal source of refined fats for

applications for the cosmetíc, pharmaceutical and food índustríes. Cupuaçu is

partícularly attractíve for íts similar fat components that are comparable to fats

obtaíned from cocoa nuts and for thís reason it is a potentíal candidate as a lower

cost substítute for cocoa butter ín chocolates.

Supercritical fluíd extractíon of oils and fats is consídered to be a promisíng

altemative to conventional processes, for íts hígh efficíency, fractíonatíon capacíty

and for being a clean technology that does not leave residues in the final products

and does not pollute the environment Thís work presents experimental data of the

extractíon and fractionation of the cupuaçu fat with C02, ethane, and COz modified

with ethanol, from dríed and ground fermented seeds. Experíments were carríed

out usíng a hígh pressure extraction apparatus that allows the independent control

of pressure, temperature and solvent flow rate. Contínuos extractíon and

fractionatíon of Cupuaçu fat from seeds were conducted at 50 and 70°C, and

pressures rangíng from 15,2 to 35,2MPa and flow rate of O,?Umín. The solubílity

data were correlated using the Chrastil equation. The extraction curves obtained

showed the presence of three distinct regions, reflectíng the mechanisms ínvolved

in mass transfer: a thermodynamic solubility and an intrapartícule díffusion regíon.

The three solvents used presented yíelds that were comparable with those

obtained with conventional liquid extraction operations. Higher extractíon

efficiencíes were obtaíned with Ethane due mainly to the stronger díspersíon

molecular forces interactíons. Retrograde behavior for cupuaçu fat solubility was

observer for extractions with COz as well those with ethane. Ethanol also revealed

be a effícient co-solvent for fat extractíon due to the increase ín the índuction and

díspersíon intermolecular forces. The Chrastil equation was succesful ín correlatíng

the solubility data of cupuaçu fat in and in supercritical ethane.

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vi

The compositions of extracted fractions obtained by HPLC, revealed that

little success in the fractionation of fat components. The fractions however showed

different thermal behaviors, as determined through differential scannig calorimetry,

when compared with each other and with the fat obtained with extraction using

petroleum ether.

Key words: Cupuaçu, Supercritical, Extraction, Fractionation, Fat

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SUMÁRIO

CAPÍTULO 1-INTRODUÇÃO

CAPÍTULO 2 - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1. Cupuaçu

2.2. Componentes Menores do Cupuaçu

2.3. Aplicações do Fruto

2.4. Extração, Refino e Modificação de Óleos e Gorduras. (Metodologias

01

09

09

10

11

Convencionais) 14

2.4.1. Pré tratamento 15

2.4.2. Processo de Extração Mecânica 15

2.4.3. Extração com Solvente 16

2.4.4. Processos de Refino 17

2.4.4.1. Degomagem 17

2.4.4.2. Neutralização 17

2.4.4.3. Branqueamento 17

2.4.4.4. Desodorização 18

2.5. Processos Convencionais de Extração de Óleos e Gorduras 18

2.6. Fluido Supercrítico 20

2.7. Extração Supercrítica de Óleos e Gorduras 25

2.8. Extração Supercrítica de Óleos com C02 e Outros Solventes 31

2.9. Técnicas Instrumentais de Análise Relevantes para a Extração de

Óleos e Gorduras 34

2.9.1. Gordura por Calorimetria Diferencial de Varredura ( DSC) 35

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viii

2.9.2. Análise da Composição das Frações da Gordura de Cupuaçu 37

2.1 O. Correlação de Dados e Modelagem Matemática 38

CAPÍTULO 3- MATERIAIS E MÉTODOS 44

3. 1 . Solventes 44

3.2. Matéria Prima 44

3.3. Equipamento de Extração Supercrítica 45

3.4. Calorímetro Diferencial de Varredura 47

3.5. Equipamento de Cromatografia 48

3.6. Caracterização da Matéria Prima 49

3.6.1. Pré- tratamento 49

3.6.2. Determinação de Umidade 49

3.6.3. Determinação do Percentual de Gordura 50

3.6.4. Determinação da Distribuição Granulométrica 50

3.7. Extrações Supercríticas 51

3.7.1. Extrações com Solventes Supercríticos 51

3.7.2. Extrações com C02 Modificado com Etano! 53

3.8. Determinação do Comportamento Térmico das Frações de Gordura

de Cupuaçu 56

3.9 Análise da Composição das Frações de Gordura por HPLC 56

3.10. Correlação dos Dados Experimentais de Solubilidade 57

CAPÍTULO 4- RESULTADOS E DISCUSSÕES 58

4.1. Determinação do Tamanho Médio de Partícula 58

4.2. Determinação de Umidade 59

4.3. Determinação do Percentual de Gordura Presente 59

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4.4. Extração Supercrítica da Gordura de Cupuaçu com Solventes

Supercríticos Puros

4.5. Extração da Gordura de Cupuaçu Utilizando Co-Solventes

4.6. Correlação de Solubilidade

4.7. Fracionamento da Gordura de Cupuaçu

4.7.1. Determinação da Composição de Triglicerídeos das Frações

de Gordura de Cupuaçu

4.7.2. Determinação do Comportamento Térmico da Gordura de

Cupuaçu Durante a Fusão

CAPÍTULO 5 - CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

5.1. Conclusões

5.2. Recomendações para Trabalhos Futuros

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ix

59

73

78

80

80

89

96

96

98

99

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LISTA DE FIGURAS

Figura 2.3.1 - Diagrama do índice de gordura sólida (SFI) em diversas

temperaturas

Figura 2.6.1 -Diagrama PxT para o C02

Figura 3.3.1 -Fluxograma do sitema de extração supercrítica

X

13

22

47

Figura 3. 7 .1.1 - Ilustração dos experimentos com solventes supercríticos puros 54

Figura 3. 7 .2.1 - Ilustração dos experimentos com C02 modificado com etano I 55

Figura 4.1.1 - Distribuição granulométrica das partículas dos nibs de cupuaçu 58

Figura 4.4.1 a - Curva de extração da gordura de cupuaçu, em base

adimensional, a 50°C e vazão de 0,7Umin utilizando C02

supercrítico como solvente 62

Figura 4.4.1 b - Curva de extração da gordura de cupuaçu, em base

adimensional, a 700C e vazão de 0,7 Umin utilizando C02

supercrítico como solvente 62

Figura 4.4.2a - Curva de extração da gordura de cupuaçu, em base

adimensional, a 50°C e vazão de 0,7Umin utilizando Etano

supercrítico como solvente 63

Figura 4.4.2b - Curva de extração da gordura de cupuaçu, em base

adimensional, a 70°C e vazão de 0,7Umin utilizando Etano

supercrítico como solvente 63

Figura 4.4.3- Solubilidade da gordura de cupuaçu em função da pressão 65

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Figura 4.4.4 - Solubilidade da gordura de cupuaçu em função da densidade

do solvente

Figura 4.4.5- Potenciais de Lennard-Jones

Figura 4.5.1 - Curvas de extração da gordura de cupuaçu, em bases

adimensionais, utilizando C02 adicionado de Etano! como

co-solvente na temperatura de 50°C

Figura 4.5.2 - Curvas de extração da gordura de cupuaçu, em bases

adimensionais, utilizando C02 adicionado de Etano! como

co-solvente na temperatura de 70°C

Figura 4.5.3- Potenciais de Lennard-Jones

Figura 4.6.1 - Ajuste da solubilidade da gordura de cupuaçu em C02

supercrítico à equação de Chrastil

Figura 4.6.2 - Ajuste da solubilidade da gordura de cupuaçu em etano

supercrítico à equação de Chrastil

Figura 4. 7 .1.1 Cromatograma da gordura de cupuaçu extraída com éter de

xi

65

72

75

75

77

79

79

petróleo 82

Figura 4.7.1.2 - Percentual dos triglicerídeos nas frações extraídas a

24,8MPa e 50°C utilizando etano supercrítico como

solvente 83

Figura 4.7.1.3 - Percentual dos triglicerídeos nas frações extraídas a

35,2MPa e 50°C utilizando C02 supercrítico como solvente 84

Figura 4. 7.1.4 - Composição das frações 1 extraídas com etano supercrítico

para diferentes pressões a 50°C 85

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Figura 4.7.1.5- Comparação entre as Composições das Frações 1 extraídas

com etano supercrítico na mesma pressão a diferentes

xii

temperaturas 86

Figura 4.7.1.6- Comparação da composição da fração 1 extraídas com C02

e etano supercríticos na pressão de 24,8MPa e temperatura

de 50"C 87

Figura 4. 7.2.1 Termograma da Gordura de Cupuaçu Extraída com Éter de

Petróleo 89

Figura 4.7.2.2- Termograma da gordura de cacau importada 90

Figura 4.7.2.3- Termograma da gordura da cacau nacional 90

Figura 4.7.2.4 - Curvas de sólidos das gorduras referência e frações 1 e 7

extraídas com C02 supercrítico a 28,3MPa e 50°C 94

Figura 4.7.2.5- Curvas de sólidos das gorduras referência e frações 1, 2 e 6

extraídas com etano supercrítico a 24,8MPa e 70°C 94

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xiii

LISTA DE TABELAS

Tabela 2.3.1 -Composição centesimal das sementes de cupuaçu e cacau 12

Tabela 2.3.2 - Composição dos ácidos graxos das sementes de cupuaçu e

cacau

Tabela 2.6.1 - Comparação entre as propriedades dos gases, líquidos e

fluidos supercríticos

Tabela 2.6.2 - Propriedades críticas algumas substâncias

Tabela 4.4.1 - Propriedades elétricas

Tabela 4.4.2- Energias potenciais de interação intermoleculares

Tabela 4.4.3- Parâmetros do potencial de Lennard-Jones

Tabela 4.7.1.1 - Composição de triglicerídeos da gordura de cupuaçu

extraída com solvente orgânico

Tabela 4.7.2.1 -Calor de fusão das frações de gordura de cupuaçu extraídas

com co2 supercrítico

Tabela 4.7.2.2 - Entalpia de fusão das frações de gordura de cupuaçu

extraídas com etano supercrítico

14

21

23

70

70

72

81

92

93

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[A]

[B]

k

R

T

c

MA

MB

I;

xiv

NOMENCLATURA

Concentração molar do soluto na fase vapor

Concentração molar do solvente

Concentração molar do complexo de solvatação

Constante de equilíbrio

Parâmetro de associação

Entalpia de solvatação

Entalpia de vaporização

Constante

Constante

Constante universal dos gases

Temperatura

Concentração do soluto no solvente

Massa molecular do soluto

Massa molecular do solvente

Valor das intercessões

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XV

D Densidade do Solvente

a Parâmetro da Equação de Chrasti

b Parâmetro da Equação de Chrasti

Dp Diâmetro médio de Sauter

Dpi Diâmetro médio das partículas entre duas peneiras

<l>m Fator de forma

~Dp; Fração da massa retida na peneira

r Energia potencial de interação molecular

Polarizai i I idade

Momento diipolo

Q Momento quadripolo

Primeiro potencial de Ionização

Parâmetro de Energia do Potencial de Lennard-Jone

Distância entre as moléculas onde o potencial de interação é nulo

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CAPÍTULO 1

INTRODUÇÃO

A Resolução N°. 22rT7 da Comissão Nacional de Normas e Padrões para

Alimentos do Ministério da Saúde do Brasil define: "Entende-se por óleos e

gorduras comestíveis os produtos constituídos de glicerideos de ácidos

gordurosos de origem vegetal ou animal, podendo conter pequenas quantidades

de outros lipídios como fosfatídeos, elementos insaponificáveis e ácidos

gordurosos livres naturalmente presentes no óleo ou gordura". A diferença entre

óleos e gorduras está relacionada às suas características físicas a temperatura

ambiente. Os óleos são líquidos a temperatura ambiente enquanto as gorduras

são sólidas .

Os óleos e gorduras desempenham importantes papéis nos _organismos,

atuando como fontes fornecedoras de energia, fontes de ácidos graxos essenciais,

transportadores de vitaminas e hormônios lipossolúveis, além de disponibilizar

átomos de carbono para a biosíntese (Rohr, 1973). Quase todos os alimentos

possuem óleos e gorduras, seja em pequenas ou grandes quantidades, muitas

vezes na forma de pequenas partículas, a chamada "gordura invisível" (Rohr,

1973). A industria de alimentos utiliza grandes quantidades de óleos e gorduras

como parte constituinte dos mais diversos produtos: sorvetes, pães, bolos,

biscoitos, macarrão, chocolates, salsichas, queijos, margarinas, etc., ou como

insumos: conservas, frituras, etc., devido às propriedades funcionais dos óleos e

gorduras, pois estes conferem textura, consistência, ponto de fusão, aparência,

cor e são veículos para a liberação de sabor dos alimentos. A indústria de

cosméticos também é grande consumidora de óleos e gorduras, pois estes

desempenham importantes papeis funcionais na formulação e desempenho dos

cosméticos atuando como transportadores, emulsificantes, emolientes,

solubílízadores, ligantes, modificadores de viscosidade e agentes de dilatação.

Também é grande a utilização de óleos e gorduras na indústria de fármacos, seja

na forma de tabletes, cápsulas, cremes, loções ou supositórios; os óleos e

gorduras estão presentes atuando como transportadores, lubrificantes, solventes,

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Capítulo 1 - Introdução 2

emulsificantes (enterallparenteral), emolientes, ajudando o princípio ativo a

cumprir o seu papel.

Os óleos e gorduras podem ser classificados como de origem animal ou

vegetal. As principais fontes de óleos e gorduras animais são: animais marinhos e

tecidos adiposos de bovinos e suínos. De origem vegetal, as mais diversas fontes

são relatadas; sendo as principais: soja, girassol, palma, palmiste, canola, colza,

algodão, amendoim, oliva e coco. Além das fontes de lipídios citadas muitas

outras, também são exploradas comercialmente, destaca-se o cacau. Base de um

importante setor da indústria de alimentos, tem das suas amêndoas, depois de

fermentadas, secas e torradas, extraída gordura com especiais características,

utilizada na fabricação de chocolates, cosméticos e fármacos. Por apresentar

características únicas (dureza a temperatura ambiente, fusão próxima a

temperatura do corpo humano, aroma, etc.), essa gordura além de ser muito

procurada como matéria prima, apresenta preços bastante elevados. A ICCO (The

lntemational Cocoa Organízation) estimou para o período 1999/2000 a produção

mundial de amêndoas de cacau de 2.939.000,00 toneladas, ao preço de 744,3

Elton. Gorduras alternativas à manteiga de cacau vêm sendo desenvolvidas desde

a década de 70, e já existem no mercado alguns produtos como os conhecidos

sucedâneos à manteiga de cacau (CBR- cocoa butter replacef), equivalentes à

manteiga de cacau (CBE- cocoa butter equivalent), melhoradores da manteiga de

cacau (CBI- cocoa butter improvef) e substitutos à manteiga de cacau (CBS­

cocoa butter substitute). Confeccionados a partir de gorduras vegetais láuricas

(shea, palma, illlipe), e de gorduras não láuricas (palmiste, coco, babaçu), cada

produto tem características diferentes, como por exemplo: CBEs são os que mais

se assemelham a gordura de cacau, podendo ser utilizados como substitutos em

qualquer proporção. Os CBis são utilizados para corrigir algumas propriedades da

manteiga de cacau devido a variações causadas pelas mudanças climáticas.

(Salgado ,1999).

A região amazônica do Brasil é produtora do Cupuaçu (Theobroma

grandiflorum), uma árvore da mesma família do cacau (Theobroma cacau). As

sementes do cupuaçu, na maioria dos casos tratadas como resíduo do processo

de extração da polpa, possuem alto percentual de gordura (62%). Com níveis

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Capítulo 1 - Introdução 3

crescentes de produção o cupuaçu apresenta-se como uma fonte barata de

gordura de alto índice de digestibilidade, 91%, similar a gordura do cacau e com

possibilidade de aquecimento da economia da região. Atualmente já existem

empresas explorando em escala industrial a gordura do cupuaçu, exemplos são a

companhia Brasmazon que comercializa óleos e gorduras de fontes vegetais da

região norte do Brasil incluindo a gordura do cupuaçu e a Natura, grande

fabricante de cosméticos, que apresenta na sua linha de produtos, itens

formulados a partir da gordura do cupuaçu. Muitos esforços foram e estão sendo

realizados com o objetivo de desenvolver produtos à base da gordura do cupuaçu

(Aguiar e Venturieri, 1988; Silva, 1998; Nazaré et ai., 1990; Luccas, 2000).

Venturieri(1998) cita o trabalho de Calzavara(1970), este menciona que a Nestlé

demonstrou interesse em fabricar chocolate branco usando a gordura de cupuaçu.

Luccas(2000) estuda o desenvolvimento de "chocolates" baseados na gordura de

cupuaçu modificada pelo processo de cristalização fracionária.

Na obtenção de óleos e gorduras vegetais são atualmente empregados

processos mecânicos, que não apresentam altos rendimentos, processos

químicos, ou processos mecânicos associados a processos químicos. Para alguns

óleos e gorduras, além da etapa

posteriores de beneficiamento,

Branqueamento, Clarificação e

de extração são necessárias várias etapas

são estas: Degomagem, Neutralização,

Desodorização. Nestas etapas utilizam-se

substâncias que são potenciais contaminantes, além de agressivas ao meio

ambiente e de manuseio perigoso como, por exemplo, hexano, e hidróxido de

sódio. A necessidade de acoplar processos químicos a processos mecânicos

deve-se ao fato de que grande quantidade de óleo permanece na torta após

extração, resultando (como apresentado anteriormente) em baixos rendimentos de

processo. Outras vezes não é possível aplicar os processos químicos a

determinados óleos devido às severas condições de processo que ocasionam

degradação dos óleos e gorduras ou perda das características especiais. Nos

últimos anos tem-se notado uma grande tendência, principalmente nos países

desenvolvidos, de rejeição a produtos obtidos através de processos que sejam

agressivos ao meio ambiente ou ao ser humano diretamente (através de

contaminantes e geração de resíduos, como é o caso do hexano principal solvente

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Capítulo 1 - Introdução 4

utilizado na industria de óleos e gorduras). Além disso muitos países adotaram

regulamentações para os níveis de contaminantes nos produtos finais, isso gera

grandes incrementos nos custos operacionais das empresas (Reverchom, 1994).

Nos Estados Unidos, por exemplo, trabalhos estão sendo realizados com o intuito

de se conseguir solventes alternativos ao uso do hexano, por este ser inflamável,

tóxico e não ser biodegradável. Porém nenhum dos solventes testados mostrou

viabilidade econômica em relação ao hexano (Wan et ai., 1995). Estudos também

estão sendo realizados para o desenvolvimentos de processos que não sejam

agressivos ao meio ambiente e nem prejudicial a saúde dos seres humanos, as

chamadas tecnologias limpas.

Dentre estas destaca-se a extração com fluido supercrítico que, apesar do

alto custo de implantação, resulta em produtos de qualidade superior, alta -

seletividade e fácil separação dos solutos e solvente apenas por redução da

pressão e/ou temperatura (McHugh e Krukonis, 1994; Temelli et ai., 1996). A

extração de óleos vegetais com fluidos supercríticos tem sido muito estudada

desde a década de 80 para os mais diferentes tipos de oleaginosas: Palma- (Rizvi

et ai., 1996) ; Girassol- (Cocero e Calvo- 1996), Algodão- (Kuck e Hron, 1994),

Cacau- (Li e Haltland, 1992, Saldaiia et ai., 2001; Rossi 1996), Amendoa­

(Marrone et ai., 1998), Canola- (Temelli, 1992), etc. O produto obtido apresenta

coloração mais clara e menores teores de ácidos graxos livres e fosfolipídeos

(Friedrich et ai., 1982), podendo eliminar do processo de beneficiamento as etapas

de desodorização e clarificação. Nos sistemas de extração supercrítica utiliza-se

como solvente, uma substância a uma temperatura acima da sua temperatura

crítica e uma pressão acima da sua pressão crítica, caracterizando assim o que

conhecemos como fluido supercrítico. Na região próxima ao ponto crítico, grandes

variações na densidade são obtidas com pequenos incrementos na temperatura

ou pressão. Representando deste modo uma grande vantagem sobre os solventes

líquidos, que apresentam variações na densidade apenas pela adição de um outro

solvente ou grandes aumentos na temperatura.

No processo de extração supercrítica o solvente é levado às condições de

operação (temperatura e pressão) por meio de um sistema de bombas e

trocadores de calor, no caso do solvente estar inicialmente no estado líquido, ou

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Capítulo 1 - Introdução 5

compressores e trocadores de calor, no caso do solvente estar inicialmente no

estado gasoso. O solvente já no estado supercrítico é então alimentado ao

extrator, onde se encontra o material do qual se deseja extrair o soluto. No extrator

se dá a transferência de massa. O soluto a ser extraído é solubilizado pelo

solvente supercrítico e deixa o material passando para a fase supercrítica. Em

seguida a mistura (solvente supercrítico/soluto) é alimentada a um separador,

onde a queda de pressão através de uma válvula e/ou o abaixamento da

temperatura faz precipitar o soluto e o solvente regenerado pode então retornar ao

processo. As substâncias geralmente usadas como solventes nos processos de

extração supercrítica (C02 na maioria dos casos), possuem baixa temperatura

crítica e pressão crítica, o que é muito importante quando se quer concentrar

substâncias termolábeis, como é o caso de produtos naturais de altos valores

agregados. Na literatura quase todos os trabalhos sobre a extração, e

fracionamento de óleos e gorduras de origem animal ou vegetal, com fluidos

supercríticos utilizaram o COz supercrítico como solvente por este ser um dos

poucos solventes que apresentam as características necessárias a aplicação nas

industrias alimentícias, de fármacos e cosméticos. Existem entretanto substâncias,

como o Etano, que apresentam características semelhantes ao C02, sendo mais

eficiente que o COz na extração de lipídios, sem ter o seu amplo potencial

explorado. O uso de co-solventes como etanol, aumenta a eficiência do processo

de extração como apontam os trabalhos de Joshi e Prausnitz (1984), Cocero e

Calvo (1996) e Socantaype (1996) onde a adição de um co-solvente aumentou a

taxa de extração.

O projeto das operações unitárias, envolvendo transferência de massa,

requer informações sobre o equilíbrio de fases e coeficientes de transferência de

massa, para que se possa avaliar a viabilidade econômica e tecnológica. São

empregados então, modelos termodinâmicos (equações de estado, por exemplo)

e cinéticos ajustados com dados experimentais do sistema em estudo. Os dados

disponíveis na literatura quase em sua totalidade tratam de sistemas binários. A

limitação de utilização dos dados binários na predição do equilíbrio de fases deve­

se ao fato de alguns trilgicerídios terem a solubilidade modificada em uma ordem

de grandeza quando presentes em sistemas muilticomponentes, apontando a

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Capítulo 1 - Introdução 6

possibilidade de um triglicerídeo mais leve atuar como co-solvente para um

triglicerídeo mais pesado. As informações disponíveis para sistemas

multicomponentes, são na sua grande maioria referentes a sistemas constituídos

por triglicerídeos simples (formados por um único tipo ácido graxo, ex: trioleina),

não correspondendo a realidade dos óleos vegetais que são constituídos em

maior parte por triglicerídeos mistos (quando mais de um tipo de ácido graxo está

presente na molécula).

Outros fatores como os efeitos da pressão e da temperatura na

solubilidade de triglicerídeos em C02 supercrítico em sistemas binários e

multicomponentes, foram estudados por alguns autores (Nilson, 1991; Nilson e

Hund, 1993; Banberger, 1988) tendo sido encontrado um comportamento

retrógrado nestes sistemas. O comportamento retrógrado é caracterizado por uma

diminuição da solubilidade do soluto quando o sistema é submetido a um aumento

na temperatura a pressão constante dentro de uma determinada faixa. Essa

característica pode ser utilizada para a separação de componentes através da

exploração da faixa de pressão e temperatura onde acontece o fenômeno de

cruzamento para os componentes da mistura. Em determinado valor de pressão,

característico para cada substância e dependente do solvente que está sendo

utilizado, as isotermas de solubilidade em função da pressão se cruzam, definindo

duas áreas de influência distintas acima e abaixo. A pressões inferiores á pressão

de cruzamento o efeito da diminuição da densidade com o aumento à temperatura

é maior que o aumento na volatilidade em função deste aumento de temperatura.

Por outro lado, a pressões acima da pressão de cruzamento o efeito do aumento

da pressão de vapor do soluto é dominante. Podendo-se então isolar compostos

ou fracionar misturas operando dentro de uma faixa conveniente da temperatura e

pressão (Chimowitz e Pennisi, 1986).

De acordo com o descrito anteriormente pode-se verificar que os óleos e

gorduras desempenham importantes papeis em grandes setores industriais. O

desenvolvimento de novos produtos, as novas exigências de mercado, a

preocupação com a saúde e com os impactos ambientais causados pelos

processos atualmente empregados na produção de óleos e gorduras têm

despertado grande interesse na descoberta de novas fontes produtoras e no

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Capítulo 1 - Introdução 7

desenvolvimento de novos processos. A aplicação da tecnologia de extração

supercrítica tem-se mostrado viável na produção e beneficiamento de óleos e

gorduras, apresentando grandes vantagens sobre as técnicas convencionais. A

possibilidade apresentada pelo processo de extração supercrítica de fracionar

óleos e gorduras, permitindo o desenvolvimento de produtos com características

especiais direcionados a aplicações específicas, é um outro fator que incentiva a

pesquisa dessa nova tecnologia na produção de óleos e gorduras. Portanto a

associação desse novo processo a uma fonte de gordura que apresenta grande

potencial econômico, como é o cupuaçu, se mostra de grande importância,

motivando a realização deste trabalho de pesquisa.

Neste trabalho, objetivou-se o estudo da extração e fracionamento da

gordura de cupuaçu, a partir das sementes, através do processo de extração

supercrítica. Além da determinação dos efeitos da temperatura e pressão, o

projeto objetivou também a determinação do efeito da natureza do solvente.

Foram explorados além do uso de C02 como solvente, o uso de etano e C02

modificado por etano! como solventes na extração e fracionamento da gordura de

cupuaçu a partir das sementes. Os resultados foram avaliados através da

caracterização das frações de gordura obtidas nos experimentos. A eficiência

desse processo, e as características da gordura obtida são comparadas aos

resultados obtidos pelo método convencional de extração com solvente.

No capítulo 2 deste trabalho é apresentado uma revisão da literatura onde

são discutidos os principais trabalhos sobre as sementes e gordura de cupuaçu,

avaliando-se as potencialidades de utilização e composição química relatadas na

literatura. Em seguida são apresentados e analisados os principais trabalhos

publicados referentes aos processos de extração de óleos e gorduras com fluidos

supercríticos. São também apresentadas, com base em trabalhos anteriores para

óleos e gorduras, as metodologias de análise de óleos e gorduras por calorimetria

diferencial de varredura e por cromatografia líquida de alta eficiência e da

modelagem termodinâmica.

No capitulo 3 são apresentados o planejamento experimental, bem como

a descrição dos equipamentos e as metodologias que foram adotadas na

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Capitulo 1 - Introdução 8

extração, fracionamento e caracterização da matéria prima e análise das frações

de gordura obtidas.

No capítulo 4 são apresentados inicialmente os resultados de

caracterização das sementes moídas de cupuaçu utilizadas como matéria prima

neste trabalho. Em seguida apresentados e discutidos os resultados das extrações

realizadas com solventes puros. Posteriormente são analisados os resultados da

adição de etano! como modificador do C02. As análises de caracterização das

frações da gordura de cupuaçu extraídas são apresentadas em seguida.

Finalmente os dados de solubilidade são correlacionados segundo a equação de

Chrastil (1982).

No capítulo 5 são apresentadas as principais conclusões deste trabalho e

recomendações para trabalhos futuros. Espera-se que o conhecimento gerado a

cerca da extração e fracionamento da gordura de cupuaçu possa contribuir para o

desenvolvimento da tecnologia de extração e fracionamento através de fluidos

supercríticos.

Além do conhecimento técnico científico gerado, espera-se que os

resultados possam ser utilizados na avaliação econômica dos processos de

extração de óleos e gorduras.

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CAPÍTULO 2

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Neste capítulo são apresentadas informações sobre o cupuaçu, sua

composição, ocorrência, principais aplicações e potencialidades. São introduzidos

os métodos de extração e modificação de óleos e gorduras largamente

empregados pela indústria, assim como os princípios e aplicações da tecnologia

com fluidos supercríticos. Em seguida são a apresentados e discutidos os

principais trabalhos realizados na área de extração de óleos e gorduras com

fluidos supercríticos. Finalizando o capítulo, apresentam-se trabalhos referentes

as análises instrumentais que se propõe realizar neste estudo.

2.1. CUPUAÇU

O cupuaçu tem a sua potencialidade e características bem definidas no

banco de dados montado por Venturieri (1998) que, disponibiliza informações

acerca do trabalho de muitos pesquisadores ao longo das últimas quatro décadas.

O cupuaçu apresenta ocorrência natural em parte da região amazônica do

Brasil. Teve seu cultivo desencorajado, por se acreditar que inoculava a Vassoura­

de-Bruxa (Crinipellis perniciosa) para as plantações de cacau. Até meados dos

anos 70 do século 20 era desconhecido da maior parte de Brasil (Venturieri,

1998). Hoje podem ser encontrados plantios por quase toda a região amazônica

do Brasil, sul da Bahia, tendo sido testado também na Flórida-USA (Whitman, 1994

apud Venturieri, 1998) e Austrália (Yan, 1997 apud Venturieri, 1998) com sucesso

relativo neste último continente. Venturieri (1998) citando Rodigues et ai. (1996)

relata que apenas 22% das árvores plantadas no Estado do Pará estavam em

idade de produção, e que é esperado um aumento de 350% na produção de polpa

quando todas as árvores entrarem em fase de produção. O que significa também

um aumento na produção de sementes. Já é bastante significativa a área cultivada

nos estados produtores de cupuaçu: cerca de 16.000 hectares distribuídos da

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Capítulo 2 - Revisão Bibliográfica lO ~~~~~------~~~--------------------------------------

seguinte maneira: Pará (37%), Rondônia (37%), Amazonas (18%) e Acre (6,2%)

(Homa, 1996, Rodrigues et ai., 1996, Apud Venturierí, 1998)

O fruto apresenta casca marrom, dura, medindo entre 10 e 20 em com

peso variando de 500 a 2500 g e cerca de 40 a 50 sementes por fruto (Barbosa et

ai. 1978). Aguiar e Venturieri (1988) determinaram a composição centesimal do

fruto do cupuaçuzeiro e determinaram os valores de 46,47%, 36,79%, 16,74%

para casca, polpa e amêndoas respectivamente. A produtividade das árvores

quando se utiliza fertilizantes, em plantios com 5 anos, fica em torno de 20 a 30

frutos/planta obtendo-se uma produtividade de 4,7 a 7 (toneladas/hectare) por ano

de frutos e em plantios de 7 anos aumenta para 60 a 70 frutos/planta, obtendo-se

a produtividade na faixa de 14 a 15,4 (toneladas/hectare) por ano de frutos

(Venturieri 1993).

2.2. COMPONENTES MENORES DO CUPUAÇU

Venturieri (1998) cita que Baumann & Wanner (1980), Vasconcelos et ai.

(1975) encontraram o ácido 1,3,7,9 tetrametilúrico nas sementes de cupuaçu.

Esses pesquisadores não detectaram a presença de cafeína ou teobromina que é

um precursor da cafeína. Esses dados foram também verificados por

Hammerstone et ai. (1994). Marx e Maia, (1991) determinaram os teores de

alcalóides presentes em quatro espécies Theobroma (grandiflorum, subincanum,

speciosun, mariae) da Amazônia por HPLC em fase reversa, utilizando para

identificação dos alcalóides padrões cromatográficos para: cafeína, teobromina e

teofilina. Na espécie Theobroma grandilflorum (Cupuaçu), alvo de estudo deste

trabalho, foi encontrado um teor de 0,38% do ácido 1 ,3,7,9 tetrametilúrico, também

considerado precursor da cafeína. Não foi detectada nenhuma cafeína ou

teobromina. Isso representa uma vantagem sobre o cacau, que apresenta

percentual de teobromina na faixa de 1,2 a 2% e 0,2% de cafeína, pois a

teobromina em concentrações elevadas é prejudicial a saúde (Gilman, 1991).

Carpenter et ai. (1994) determinou a quantidade de esteróis, tocoferóis e

tocotrienois presentes no óleo do cupuaçu extraído com éter de petróleo em um

aparelho Soxtec. Os esteróis, determinados por cromatografia gasosa utilizando

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Capítulo 2- Revisão Bibliográfica li

um detector por ionização de chama, apresentam uma concentração global de

aproximadamente 231mg/100 g de óleo. Os esteróis englobam o Campesterol,

Stigmasterol, P- Sitosterol Cycloartenol e 24-Metileno Cycloartenol. Para os

tocoferóis, determinados por HPLC utilizando um detector por fluorescência, foram

encontrados 122 ± 5 mg /100 g de óleo de y-tocoferol e 6 ± 1 mg/100 g de óleo de

õ-tocoferol, do a.-tocoferol foram detectados apenas traços. Já os tocotrienois

analisados pela mesma metodologia para tocoferóis não houve determinação. Os

valores obtidos para a espécie Theobroma grandiflorum encontra-se próximos aos

valores obtidos para as demais espécies Theobroma com exceção da

mammosum, que difere de todas as outras.

2.3. APLICAÇÕES DO FRUTO

Muitos trabalhos estão sendo realizados no intuito de encontrar aplicações

para o fruto do cupuaçu. A indústria da polpa do cupuaçu, que atualmente é o

principal produto da fruta, apresenta algum desenvolvimento, já existindo

indústrias como a Mossoró Agroindustrial S/A (Maisa), com sede em Mossoró, Rio

Grande do Norte, que comercializa a polpa. Venturieri (1998) informa que

Calzavara et ai (1984) apresentou 61 receitas para a utilização da polpa e

semente em bebidas, pastéis, doces e sobremesas.

A semente do cupuaçu, por outro lado, que na maioria das vezes é

descartada como um subproduto indesejável, transformada em ração animal ou

então fertilizante, não tendo todo o seu potencial explorado (Aguiar e Venturíeri,

1988). Entretanto nos últimos anos começa a ganhar importância, existindo no

mercado companhias que comercializam produtos a base da amêndoa do

cupuaçu. (Venturueri, 1998) Uma análise da composição centesimal das sementes

apresentada na Tabela 2.3.1, nos mostra um percentual de gordura para o

cupuaçu variando na faixa de 50 a 63%, valores muito próximos ao percentual de

gordura presente na semente de cacau (48-60%).

A gordura do cupuaçu que por sua vez apresenta uma digestibilidade de

91% pelo ser humano (Correa, 1926;1969 apud Venturieri 1998) pode ter

aplicações tanto alimentícias como cosméticas conforme mostra Venturieri (1993),

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Capitulo 2 - Revisão Bibliográfica 12

e já está sendo explorada comercialmente por exemplo pela indústria Brasmazon,

localizada no estado do Pará no Brasil, que extrai o óleo do cupuaçu por

prensagem direta e comercializa o produto para países como Japão e Inglaterra.

Tabela 2.3.1 - Composição Centesimal das Sementes de Cupuaçu e Cacau

Fruto Cupuaçu Cacau

Pesquisador (2) (4) (5) (6) (4) (6)

Umidade (% do peso fresco) 5,66 8,38 ---- 5,06 55,0 ----

Proteínas 20,0 11,86 19,86 --- 12,92 ---

Gorduras 50,8 57,73 63,13 ---- 48,15 60,5

Carboidratos(% do peso seco) 15,9 i 24,25 ---- ---- 9,23 ----

Fibras 9,6 1,94 ---- --- 4,9 ----

Cinzas 3,7 4,0 ---- ---- 4,0 ----

Autores: (1) Silva, 1988; (2) Chaar, 1980; (3) Vasconcelos et ai., 1975; (4) Philocreon, 1962; (5)

Pesce, 1941; (6) Berbert, 1981. Venturieri (1998)

Segundo Calzavara (1970), conforme apresentado por Venturieri (1998),

as indústrias Nestlé expressaram interesse em desenvolver um chocolate branco

utilizando o cupuaçu. Muitos trabalhos foram realizados para se conseguir o

desenvolvimento de chocolate a base do cupuaçu, mais conhecido como

"Cupulate" (Aguiar e Venturieri, 1988; Silva 1988; Nazaré et ai, 1990; Lima et ai.

1995). Os maiores impedimentos a substituição da manteiga de cacau pela

manteiga de cupuaçu são a faixa de fusão (19 a 34°C para o cupuaçu e de 25 a

35°C para o cacau) e o índice de gordura sólida. Em seu trabalho, Silva (1988)

estudou as características físicas e químicas da gordura de cupuaçu e concluiu

que a gordura do cupuaçu não pode ser utilizada como sucedâneo direto a

manteiga de cacau, visto que se fazem necessárias modificações na suas

propriedades físico-químicas. Por exemplo a gordura de cupuaçu possui uma

curva de sólidos (curva que acusa o percentual de gordura no estado sólido a

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Capítulo 2 - Revisão Bibliográfica 13

determinadas temperaturas) mais tênue durante a fusão como pode ser visto na

Figura 2.3.1 (Silva, 1988). Ainda citando o trabalho de Silva (1998), neste sugeriu­

se a modificação da gordura de cupuaçu de acordo com os seguintes processos:

fracionamento com solvente orgânico segundo Martinenghi, G. B.,

interesterificação segundo o método proposto por Fedeli, E. & Favini,G.

conseguindo através de misturas em proporções de até 10% da gordura de

cupuaçu e frações da mesma, sucedâneos a gordura de cacau. Comparando os

teores de ácidos graxos das manteigas de cupuaçu e cacau (Tabela 2.3.2)

notamos alguma similaridade na composição percentual. As maiores diferenças

estão nos teores dos ácidos palmítico (15 a 20%), oléico (10 a 15%) e araquídico

(3 a 10%). Os ácidos graxos insaturados diminuem os pontos de fusão dos

triglícerídeos enquanto os ácidos graxos saturados elevam o ponto de fusão. Um

melhoramento da relação saturadoslínsaturados na gordura de cupuaçu pode

levar a uma gordura com características de fusão muito semelhantes ao cacau.

1011

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TEI'IPERATURA °C

Figura 2.3.1 - Diagrama do índice de gordura sólida (SFI) em diversas

temperaturas: 1 - Manteiga de cacau (MC), 2 - Gordura de cupuaçu, 3 - MC/Fração

sólida do cupuaçu/ fração sólida do dendê a 5%, 4 -fração sólida do cupuaçu/fração

sólida de dendê na proporção de 1:1, 5 -fração sólida do cupuaçu, 6- gordura de cupuaçu

interesterificada. (Silva, 1988)

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Capítulo 2 - Revisão Bibliográfica 14

Tabela 2.3.2- Composição dos ácidos graxos das sementes de cupuaçu e cacau

Fruto Cupuaçu Cacau

Pesquisador (1) (2) (3) (6) (1)

Mirístico C14:0 Traços ··- Traços O, 1-0,3

Palmítico C16:0 7,2 6,7 5,8 11,5 25,0-28,0

Palmitoleico C16 0,1 ---- ---- ---- 0,4-0,7

Heptadecanoico C17:0 0,2 ---- ---- ---- ----

Esteáríco C18:0 30,8 35,5 38,3 31,8 33,0-37,0

Oléico C18:1 43,9 45,0 42,8 40,3 31,0-35,0

Linoleico C18:2 4,6 3,3 8,3 5,6 2,0-3,5

Linolênico C18:3 Traços I ---- ---- 1,0 0,2

Araquídico C20:0 11,0 9,1 4,8 9,8 0,6-1,0

Galadoleico C20:1 0,4 ---- --- --- ----

Beênico C22:0 1,8 ---- ---- ---- 0-0,1

(1) Silva, 1988; (2) Chaar, 1980; (3) Vasconcelos et ai., 1975; (4) Philocreon, 1962; (5) Pesce,

1941; (6) Berbert, 1981. Venturieri (1998)

2.4. EXTRAÇÃO, REFINO E MODIFICAÇÃO DE ÓLEOS E GORDURAS.

(METODOLOGIAS CONVENCIONAIS)

De maneira geral os processos de extração de óleos e gorduras podem

ser divididos em três blocos: pré tratamento, extração propriamente dita e refino.

Dentre estes, os procedimentos envolvidos no pré-tratamento das sementes

oleaginosas são comuns a todos os processos. Nos tópicos a seguir será

realizada uma sucinta descrição das etapas envolvidas nos processos

convencionais, dando-se ênfase as condições de processo e aos solventes

utilizados.

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Capítulo 2 - Revisão Bibliográfica 15

2.4.1. Pré tratamento

O pré tratamento das sementes oleaginosas consiste de uma série de

etapas que serão descritas a seguir:

Limpeza: Visa separar os grãos de materiais estranhos, como peças de

metal, pedras, ramos das plantas, folhas, etc. São utilizados equipamentos como:

Peneiras vibratórias, aspiradores e equipamentos eletromagnéticos (Hoffmann,

1989; Hartmann e Esteves 1982).

Moagem, Laminação e Cozimento: Visam reduzir o tamanho das

partículas, e facilitar a remoção do óleo através da maior área superficial

disponível para a transferência de massa e ruptura dos tecidos que formam as

células onde está armazenado o óleo. Hoffmann (1989) descreve os muitos tipos

de moinhos, flakers, equipamentos de cozimento utilizados pelas indústrias.

Os processos convencionais de extração de óleos usualmente

empregados são: prensagem direta, extração com solvente, e extração com

solvente associada a prensagem. Fazem parte desses processos sucessivas

etapas de refino para remover fosfolipídios, ácidos graxos livres e produtos de

oxidação gerando o risco da presença de resíduos nos óleos já beneficiados.

(Eggers 1996). Óleos que possuem sabores desejáveis, como por exemplo o óleo

de oliva, não podem ser extraídos com solventes orgânicos, pois na remoção do

solvente essas substância são perdidas (Weiss 1970)

2.4.2. Processo de Extração Mecânica

Este processo se realiza através de prensas, muitas vezes para remoção

parcial do óleo. Apresentam baixa eficiência de extração, sendo recomendado

apenas para óleos e gorduras sensíveis as altas temperaturas ou com especiais

características sensoriais que seriam perdidas se utilizados processos químicos.

Geralmente são empregados como uma forma de reduzir o percentual de óleo na

torta, que em seguida é alimentada a um processo químico, constituindo assim o

que conhece-se como processos mistos. Entretanto existem prensas de alta

pressão que reduzem o percentual de óleo na torta a cerca de 5%, não sendo

então necessário um processo químico associado. Para a utilização desses tipos

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Capitulo 2 - Revisão Bibliográfica 16

de prensa faz necessária uma fina laminação do material do qual será extraído o

óleo. (Hoffmann, 1989; Hartmann e Esteves 1982). Atualmente ainda podem ser

encontrados sistemas contínuos de expellers sendo utilizados na extração parcial

de óleos de diversos tipos de oleaginosas (Erikson et ai., 1987).

Das informações apresentadas pode-se verificar que exceto em casos

especiais (como por exemplo no caso do óleo de oliva) a extração dos óleos e

gorduras por prensagem mecãnica não é um processo rentável, sendo na maioria

das vezes necessário a associação com um processo de extração com solventes

químicos.

2.4.3. Extração com Solvente

Os processos de extração por solvente podem ser em batelada, semi­

contínuos e contínuos. Nos processos a batelada de único estágio, grandes

quantidades de solventes são necessárias para conseguir um rendimento

aceitável. A variante do processo a batelada que apresenta maior eficiência é o

que apresenta um sistema de extratores interconectados. O solvente mais

utilizado, hexano apresenta a grande desvantagem de ser extremamente

inflamável, cancerígeno e não ser biodegradável. Estudos foram realizados com

triclorofluoretano, tricloroetileno e etano!, os riscos a saúde proporcionados por

estes materiais também são extremamente altos. O tricloroetileno por exemplo,

causa hemorragia, anemias, tendo o seu uso proibido para óleo de soja. (Aitschul,

1958 apud Ericson et ai., 1987) Sistemas de extração como o DE SMET, Miag,

Rotocel, entre outros, podem ser encontrados atualmente em operação. (Hartman

e Esteves, 1982).

Apesar das diferenças as etapas envolvidas são as mesmas. Primeiro as

sementes pré-tratadas, entram em contato com a solução de hexano e óleo de

concentração maior concentração, e posteriormente com as soluções menos

concentradas, até entrar em contato com o solvente puro. A solução mais

concentrada é alimentada ao sistema de destilação, que ocorre em duas etapas,

na primeira o percentual de solvente é reduzido para cerca de 5% a uma

temperatura ente 70 e 90°C, e posteriormente para os níveis aceitáveis pelas

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Capítulo 2- Revisão Bibliográfica 17

regulamentações através de um evaporador de filme. A torta que deixa o extrator,

alimenta o sistema de torrefação de farelo e recuperação de solvente, este é

regenerado e o óleo segue para as etapas de refino.

2.4.4. Processos de Refino

2.4.4.1. Deqomagem

Nesta etapa do processo são removidos dos óleos brutos fosfatídeos,

proteínas e substâncias coloidais, afim de reduzir a quantidade de alcali

necessária na posterior neutralização. Nem todos os óleos necessitam passar por

essa etapa de refino devido as pequenas quantidades de "goma" existente. O

método mais usual é constituído pela adição de água ao óleo, a uma temperatura

na faixa de 60 - 70°C, com agitação durante 20 - 30 minutos. Forma-se então um

precipitado que é removido por centrifugação, a eficiência do processo é de 70 -

80%. Há um outro método que utiliza o ácido fosfórico, que apesar de ser mais

eficiente (90%) resulta em uma lecitina impura. (Hoffman, 1989, Erickson et ai,

1987, Hartman e Esteves, 1982).

2.4.4.2. Neutralização

Nesta fase do processo de refino são retirados os ácidos graxos livres,

proteínas, produtos de oxidação de triglicerídeos. Esta etapa consiste em

adicionar e dispersar uma solução aquosa alcalina ao óleo. A neutralização

acontece na interface do óleo com a solução. O processo mais moderno ocorre de

maneira contínua, no qual a solução alcalina é adicionada aos óleos, a mistura é

aquecida a 65-90°C e posteriormente centrifugada afim de separar borra e óleo.

2.4.4.3. Branqueamento

O processo de branqueamento visa reduzir a quase zero o percentual de

pigmentos nos óleos e gorduras. O óleo já neutralizado e seco é alimentado ao

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Capítulo 2 - Revisão Bibliográfica 18

branqueador junto com a terra clarificante a uma temperatura contida na faixa de

80 - 90°C sob vácuo de 30mmHg, e em seguida filtrado em filtros tipo placa.

2.4.4.4. Desodorizacão

Nesta etapa, visa-se a remoção de sabores e odores que não são

desejados no produto final. As substâncias geralmente removidas nesse processo

são: aldeídos, cetonas ácidos graxos de cadeia média e curta, hidrocarbonetos

etc. O óleo é alimentado ao desodorizador, com insuflação de vapor direto. As

condições de operação são: pressão absoluta de 2 - 8mmHg, afim de reduzir o

consumo de vapor, e temperatura na faixa de 220 - 250°C

2.5. PROCESSOS CONVENCIONAIS DE MODIFICAÇÃO DE ÓLEOS E

GORDURAS

As operações de modificação de gorduras mais conhecidas são:

interesterificação, hidrogenação, winterização e fracionamento (Hoffmann, 1989)

Este último pode compreender os seguintes processos: fracionamento sem adição

de solventes (Dry Fractionation), fracionamento em presença de detergentes em

solução aquosa (Lanza Fractionation) e o fracionamento com solventes orgânicos

(Wet Fractionation).

O processo de interesterificação modifica a distribuição dos ácidos graxos

na molécula do triglicerídeo de uma forma casual ou probabilística permitindo

assim a combinação das propriedades de vários óleos e gorduras e melhorando

assim o seu desempenho devido as suas novas propriedades físicas. (Hartman e

Esteves 1982). A reação é conduzida a temperatura moderada, 80°C, na presença

de um catalizador sólido, o mais usualmente empregado é o metóxido de sódio. A

quantidade de catalisador empregada depende de uma série de parâmetros como

por exemplo: umidade, teor de ácidos graxos livres na gordura e teor de

peróxidos.

A hidrogenação de óleos e gorduras, de grande importância industrial e é

utilizada para a transformação de óleos em gorduras plásticas (aumento do ponto

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Capítulo 2 - Revisão Bibliográfica 19

de fusão) e para redução do teor de ácidos graxos poli-insaturados (reduzir a

tendência a rancidez), via saturação das ligações duplas. Nesse processo o

hidrogênio gasoso e o óleo são colocados na presença de um catalisador sólido

geralmente níquel. Platina e paládio também foram estudados como catalizadores,

mas na prática são pouco utilizados (Hoffmann, 1989). O hidrogênio se adiciona

as duplas ligações presentes no ácido graxo. Na maioria das vezes se deseja

obter uma gordura parcialmente hidrogenada, sendo o avanço da reação

controlado pelo índice de refração ou pelo índice de iodo. O processo de

hidrogenação, além de aumentar o ponto de fusão da gordura e melhorar a

estabilidade oxidativa, pode fazer ainda ocorrer a mudança de conformação "eis"

para a conformação "trans" (Hoffmann, 1989).

O processo de winterização consiste em resfriar o óleo por um tempo

determinado para que os triglicerídeos mais alto ponto de fusão se cristalizem.

Após isso ocorrer a fase sólida é separada da fase líquida por filtração. O

processo de fracionamento a seco consiste no resfriamento controlado

(temperatura e tempo) do óleo, seguido por separação das fases por filtração. O

fracionamento em presença de detergentes, conhecido como (Lanza

Fractionation) utiliza uma solução aquosa de detergentes.

Analisando as informações acima sobre os processos de extração e refino

pode-se verificar que além da etapa de extração propriamente dita, que utiliza o

hexano como principal solvente, nas etapas de refino também é necessária a

utilização de substâncias químicas de manipulação perigosa e tóxicas, como é o

caso do hidróxido de sódio e do ácido fosfórico, além das severas condições de

temperatura empregadas em algumas delas e as diversas etapas que se fazem

necessárias até a obtenção do óleo refinado. Envolvendo desta forma um grande

risco da permanência de resíduos nos produtos finais que serão consumidos por

humanos e de contaminação dos meio ambiente e potenciais danos a saúde dos

profissionais envolvidos na produção. Os processos de modificação de óleos e

gorduras também apresentam grandes riscos de contaminação por resíduos e

acidentes. Além de resultarem em produtos com características indesejáveis como

é o caso de gorduras contendo ácidos graxos saturados na conformação trans,

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Capítulo 2 - Revisão Bibliográfica 20 ~~~~~~==~~--------------------------------

que devido ao seu alto ponto de fusão, depositam-se nas artérias e veias

causando problemas de saúde.

É justamente essa preocupação com o meio ambiente e com a saúde das

pessoas que tem levado os países a imporem severas leis de controle de poluição

e especificação de produtos sobre as atividades industriais. Estas novas leis

obrigam as empresas a realizarem modificações de processo, o que resulta em

aumento de custos para as empresas (Reverchon, 1994). Pesquisas se

desenvolvem pelo mundo na busca de alternativas aos processos convencionais.

A tecnologia de extração utilizando fluidos supercríticos tem mostrado um bom

desempenho na extração de óleos e gordura, além de seletiva, segura e de

acordo com as bases do desenvolvimento sustentável é um processo mais rápido,

onde diversas etapas de refino não são mais necessárias. Essas características

ainda aliadas a possibilidade de fracionamento dos óleos e gorduras, resultando

em produtos diferenciados com especiais aplicações nas indústrias. Nas seções a

seguir serão apresentados o conceito e as características dos fluidos

supercríticos, bem como os principais trabalhos publicados na área.

2.6. FLUIDO SUPERCRÍTICO

Uma substância encontra-se no estado supercrítico quando está a uma

temperatura acima da sua temperatura crítica (T!Tc>1) e a uma pressão acima da

sua pressão crítica (P/Pc>1). Nesse estado a substância adquire um

comportamento intermediário entre gases e líquidos. A densidade, que é

relacionada com a capacidade de solubilizar do fluido, é próxima a dos líquidos, a

viscosidade é similar a dos gases, e difusividade intermediária aos gases e

líquidos permitindo assim uma penetração e difusão mais fácil na matriz da qual

se quer extrair o soluto, (McHough e Krukonis; 1994). A Tabela 2.6.1 apresenta

alguns valores para essas propriedades.

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~C~a~p~ítu~lo~2_-~R~ev~í~~-~o~B=íb=lí~~~r~ffil=l~=-------------------------------------- 21

Tabela 2.6.1 -Comparação entre as propriedades dos gases, líquidos e fluidos

supercríticos

Propriedade i Gás FSC Líquido

Densidade (0,6- 2,0) X 10-3

(g/cm3)

0,2- 0,9 0,6- 1,6

Coeficiente de Difusão (0,2 - 0,7) X 10-3 (0,2- 2,0) x 1 o-s

(cm2/s) 0,1-0,4

Viscosidade (1-3)x1o-2 (1 - 9) x 1 o-2

(cP) 0,2-3,0

Fonte (McHough e Krukonís; 1994)

No ponto crítico a compressibilidade isotérmica da substância tende ao

infinito, e pequenas mudanças na pressão causam grandes variações no volume

molar e na densidade. A Figura 2.6.1 ilustra esse fenômeno, no caso para o

dióxido de carbono. As linhas retas representam densidades constantes na faixa

de 100 a 1200g/L Nota-se que a medida que essas retas aproximam-se do ponto

crítico, (CP) no gráfico, vão ficando mais próximas umas das outras. Observando

ainda a Figura 2.6.1 podemos notar que a 35°C e pressão de 85 bar, o C02

encontra-se na fase supercrítica com uma densidade de 300gll, representado no

diagrama pelo ponto (A). Se elevarmos a pressão para 100 bar mantendo a

temperatura constante, ponto (B), a densidade do C02 passa a 700gll. Tem-se

uma variação na densidade de aproximadamente 400gll, uma mudança relativa de

130%. Na temperatura de - 10°C e a pressão de 85 bar, ponto (C), pode-se

verificar no diagrama que o dióxido de carbono encontra-se na fase líquida

apresentando uma densidade de 1 OOOg/1. Mantendo a temperatura constante é

necessário um aumento de mais de 300 bar para elevar a densidade do C02 para

1100gll, ponto (D), uma mudança relativa de apenas 10%.

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Capítulo 2 - Revisão Bibliográfica 22 ~~~~~~==~~--------------------------------

Mel!ingline 1000 I 1200 1100

I I

o I I

350 I I I

300 I

900

I 900 700

I I

250 ' Solid I 200

900

Supercrmri I fluid

500

150

100

-50'-50-40 -20-10 o 10 20 30 40 50 60 70 80 90

I -30 1 lemperature ('C) Subrlfl13tion line jt ;3!.06'C

Figura 2.6.1 - Diagrama PxT para o C02 ( Brogle, 1982)

Portanto pode-se concluir que um fluido supercrítico apresenta densidades

elevadas (próximas a densidade da fase líquida) com a vantagem de se poder

alterar a densidade com pequenas mudanças na temperatura e/ou pressão.

Espera-se portanto poder alterar a seletividade e o poder de solvência, que são

funções da densidade, de uma substância na região supercrítica de acordo com a

necessidade imprimida pelo processo.

O fato de ser possível alterar tão facilmente a densidade do fluido

supercrítico e consequentemente o seu poder de dissolução de solutos é uma

característica muito atraente, pois as densidades de solventes líquidos só podem

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~C~a~pí=tu=lo=2~-~R~ev=i~=-~o~B~ib=li~og~r=MI='~=--------------------------------------- 23

ser alteradas, pela mistura de solventes ou através de um aumento substancial na

temperatura ou pressão. (McHough e Krukonis; 1994).

Algumas substâncias como o C02, etileno e etano possuem temperaturas

críticas próximas a temperatura ambiente, o que faz destes fluidos no estado

supercrítico excelentes solventes para a extração de compostos termolábeis,

farmacêuticos, lipídios e monômeros reativos (McHough e Krukonis; 1994). A

Tabela 2.6.2 mostra as propriedades críticas de alguns compostos.

Tabela 2.6.2- Propriedades Críticas Algumas Substâncias

Solventes Temperatura Crítica (0 C) Pressão Crítica (bar)

co2 31,1 73,8

Etano 32,2 48,8

Etileno 9,3 50,4

Pro pano 96,7 42,5

Propileno 91,1 46,2

Amônia 132,5 112,8

Água 374,2 220,5

Fonte :(McHough e Krukonis; 1994)

(Dohrn and Brunner; 1995) realizaram um levantamento bibliográfico

acerca dos trabalhos publicados no período de 1978 a 1993 para sistemas a altas

pressões. De 1978 a 1987 foram publicados 199 artigos referentes a extração com

fluido supercrítico e para o período de 1988 a 1993 esse número praticamente

dobrou, revelando um novo interesse pela extração com fluido supercrítico. Destes

trabalhos a grande maioria foi realizada utilizando o C02 como solvente, devido as

suas propriedades físicas, químicas e o baixo custo. Um número significativo de

artigos foram publicados para sistemas binários usando o etano como solvente, 74

ao todo. Smith (1999) apresenta um gráfico com as publicações realizadas no

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Capítulo 2 - Revisão Bibliográfica 24 --~------------~------------------------------------------

período de 1981 a 1998, na área de extração e cromatografia com fluido

supercrítico nos principais periódicos internacionais, a partir de 1993 tem-se uma

média de 193 artigos publicados por ano, o que revela o grande interesse pelos

processos que utilizam fluidos supercríticos.

Atualmente existem plantas em operação espalhadas pelo mundo

utilizando o processo da extração com fluido supercrítico. Dados atualizados

disponíveis na home page do IV Congresso Brasileiro sobre Fluidos Supercríticos

acrescenta a esta lista tabaco, ossos, fibras ópticas

(http://www.unit.br/itp/ebfs2001). Só nos Estados Unidos 19 patentes para a

remoção de cafeína do café foram registradas no período de 1974 a 1984

(McHough e Krukonis; 1994). Patentes de processos utilizando fluidos supercrítico

continuam sendo requeridas pelo mundo, mostrando que ainda há muito a ser

pesquisado, mas que também um bom nível de conhecimento já foi gerado.

Como mostrado anteriormente foram realizados estudos da utilização do processo

de extração supercrítica para os mais diversos tipos de oleaginosas. A viabilidade

econômica do processo contínuo de fracionamento do óleo de manteiga com C02

supercrítico foi estudada por Singh e Rizvi (1994) e os resultados obtidos mostram

que o processo é economicamente viável para plantas com grande capacidade de

processamento.

No quarto simpósio sobre fluidos supercríticos realizado em maio de 1997

em Sendai no Japão, 184 trabalhos foram publicados nos anais do congresso, se

dividindo nas áreas de cromatograpfia, cristalização, extração, modelagem,

simulação, equilíbrio de fases, fracionamento, termodinâmica e transferencia de

massa. Esse número aumentou significativamente para 300 trabalhos no quinto

simpósio realizado em Atlanta, Geórgia nos Estados Unidos em abril de 2000,

também distribuídos nas mais diversas áreas. O crescente número de trabalhos

sendo publicados em simpósio é um indicativo do grande interesse pelas

potencialidades do fluido supercrítico.

No Brasil foram realizados 3 encontros nacionais sobre fluidos

supercríticos na área de extração supercrítica de produtos naturais, verificando o

crescente número de trabalhos publicados. Para o quarto encontro brasileiro sobre

fluidos supercriticos, que realizar-se-á nos dias 9, 1 O e 11 de outubro de 2001

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~C~a~pi~tu~lo~2_-~R~ev~i~~o_B_ib_li~og~r~~-'~~-------------------------------------- 25

divulgou-se a chamada de trabalho nas áreas de meio ambiente, produtos

naturais, novos materiais e petróleo. Foram apresentados cerca de 120 trabalhos

para serem apreciados pelo comitê científico conforme divulgado pelo comitê

organizador (disponível no endereço:www.unit.br/itp/ebfs2001 em 19 de junho de

2001).

2.7. EXTRAÇÃO SUPERCRÍTICA DE ÓLEOS E GORDURAS

Muitos trabalhos foram realizados na área de extração e modificação de

óleos e gorduras com fluidos supercríticos. O levantamento bibliográfico realizado

por Eggers (1996) apresenta 52 trabalhos realizados na área de extração e

beneficiamento de óleos vegetais, no período compreendido entre 1979 a 1991,

demostrando dessa forma o interesse de se aplicar a tecnologia de processos

supercríticos a óleos e gorduras, em face das maiores restrições impostas a

extração com solventes orgânicos, que ainda é o processo mais utilizado pelas

indústrias. Estes trabalhos são de fundamental importância para se determinar os

parâmetros de processo e as características do material que influenciam na

solubilidade, na taxa de extração, no rendimento e nas características dos

produtos obtidos dos a partir dos processos de extração supercritica de óleos e

gorduras de oleaginosas.

Friedrich et ai. (1982) extraíram óleo de soja utilizando COz supercrítico.

Foram determinados os efeitos da pressão na faixa de 20,6 a 68,9MPa,

temperaturas de 50 e 60°C, onde foi observada a diminuição da solubilidade com

o aumento da temperatura a pressões inferiores a 41 ,3MPa, e a partir desse valor

acontecendo o comportamento inverso. Esses resultados estão de acordo com o

esperado, pois a variação da densidade do solvente é pequena a altas pressões e

aliado a esse fato a pressão de vapor do soluto aumenta, aumentando portanto a

solubilidade. O óleo extraído com C02 apresentou melhor qualidade em relação

ao óleo extraído com hexano no que se refere a teor de fosfolipídios, coloração

sabor e odor. Em trabalho posterior, (Friedrich et ai., 1984), estudaram os efeitos

do tamanho de partícula e umidade na extração do óleo de soja, amendoim e

algodão. Os resultados mostram que a taxa de extração é influenciada

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Capítulo 2 - Revisão Bibliográfica 26 ~~~~~~~~~--------------------------------

significativamente pelo tamanho da partícula, porque quanto maior a partícula,

menor é a área superficial disponível para a transferência de massa e menor é a

quantidade de estruturas celulares rompidas que armazenam o óleo. Para o teor

de umidade foi constatado que este apenas influência negativamente a taxa de

extração a partir dos 12%. A composição dos triglicerídeos no óleo de soja

extraído varia entre 1 O - 15%, quando comparadas as primeiras e últimas frações.

Portanto indicando a possibilidade de fracionamento de misturas de triglicerídios.

_ Filippi (1982) estudou a efeito da vazão na taxa de extração de vários

tipos de óleos vegetais, verificando que apenas começa a existir limitação na taxa

de transferência de massa para velocidades espaciais (vazão volumétrica do

solvente I volume do leito) acima de 2,0min-1.

Sovová (1994) desenvolveu um modelo cinético para a taxa de extração

dos óleos vegetais a partir de sementes oleaginosas, com base em modelos

publicados anteriormente. A curva de extração é dividida em duas partes. A região

inicial da curva, onde o óleo exposto ao fluxo de solvente é extraído, apresenta

alto coeficiente de transferência de massa. Nessa região da curva o óleo

atravessa facilmente a interface com o solvente, e o solvente deixa o extrator

saturado. Na segunda região da curva a resistência à difusão do óleo contido no

interior das partículas para a superfície prejudica a transferência de massa,

resultando em uma taxa de extração mais lenta. A validade do modelo foi

constatada posteriormente para a extração de óleo de semente de uva, (Sovová et

ai, 1994a). Neste trabalho os autores destacam a importância do pré-tratamento

das sementes (moagem, laminação, etc), pois a ruptura das células que

armazenam o óleo e o aumento da área superficial elevam a quantidade de óleo

exposto ao fluxo de solvente e consequentemente a região controlada pela

elevada taxa de transferência de massa. Em trabalho posterior Sovová et ai

(1994b) desenvolvem um modelo cinético considerando a eficiência de laminação

das sementes.

Gomez et ai. (1995) realizou a extração do óleo de semente de uva com

C02 supercrítico a 250 bar e 40°C obtendo um produto com qualidade muito

superior ao extraído com hexano, principalmente no que se refere a presença de

ácidos graxos livres e insaponificáveis, concordando com o trabalho de Friedrich

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Capítulo 2- Revisão Bibliográfica 27 --~------------~-----------------------------------------

et ai (1984). Este trabalho tem como ponto principal a comprovação da melhor

qualidade do óleo extraído com fluidos supercríticos em relação ao óleo extraído

pelo processo convencional. Os autores não avaliaram se as condições

operacionais (pressão, temperatura, e vazão) exercem influência sobre a

seletividade do solvente em relação aos triglicerídios.

Maness et ai. (1995) estudaram a extração quantitativa de óleo de Pecan

com C02 supercrítico. Foram realizadas extrações na pressão de 69MPa,

temperatura de 75°C, taxa de extração de 250 mUmin e partículas de 0,3mm.

Esse tamanho de partícula possivelmente influenciou negativamente na

transferência de massa. Os autores apenas sugerem esse efeito mas não

investigaram a influência do tamanho da partícula.

Eggers (1996) compilou uma série de trabalhoª sobre a extração

supercrítica de oleaginosas. O autor constata os resultados obtidos por Friedrich

et ai. (1984) em relação aos efeitos da umidade, pressão e temperatura, e sugere

otimizar a vazão mássica do solvente a fim de reduzir o tempo de permanência do

solvente no extrator e, por conseguinte reduzir o tempo de operação. A pressões

inferiores a 350 bar a extração é favorecida a menores temperaturas, porém a

pressões maiores um aumento na temperatura aumenta a solubilidade, visto que a

pressão de vapor dos triglicerídios passa a ter maior influência que a redução na

densidade do solvente, juntamente com as características viscosas. O

comportamento retrógrado observado para uma determinada faixa de pressão, é

similar ao encontrado para outros sistemas (McHugh e Krukonis , 1994). Para o

óleo de soja nota-se a ocorrência deste comportamento a pressões em torno de

275bar para temperaturas na faixa de 50 a 80°C (Friedrich, 1984, McHugh e

Krukonis, 1994).

Li e Hartland (1992, 1996) estudaram a extração de manteiga de cacau a

partir das amêndoas moídas na faixa de pressão compreendida ente 80-300bar e

temperaturas compreendidas na faixa de 40 - 95°C encontrando baixos valores

para a solubilidade quando a extração foi conduzida utilizando C02 puro como

solvente. Os resultados apresentados por esses autores na faixa de pressão

estudada estão de acordo com os dados obtidos na literatura, como se pode

observar no trabalho de Friedrich (1984).

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~C~a~pí~tu~lo~2~-~R~ev~i~=-=o~B=ib~li~~~r=MI~'~~-------------------------------------- 28

King et al.(1997) estudaram o efeito da vazão na extração supercrítica do

óleo de Evening Primrose (Oenothera lamarckiana) utilizando C02 como solvente.

O óleo apresenta elevado valor no mercado, devido ao alto percentual de ácido

gama-linolênico, e também devido às suas aplicações médicas. Neste trabalho os

resultados mostraram que a vazão de solvente variando na faixa de 9 e 27g/min

não influenciou na solubilidade do óleo. Na faixa de pressão e temperatura

investigadas o aumento da pressão e da temperatura aumentaram a solubilidade

do óleo. Os resultados estão em concordância com o trabalho de Eggers (1996).

Marrone et ai. (1998) realizaram a extração de óleo de Amêndoas com

diferentes tamanhos de partículas a uma mesma temperatura e pressão.

Avaliando o efeito da vazão na solubilidade do óleo, para 500mUmin, utilizada nos

testes preliminares, a solubilidade do óleo foi inferior a solubilidade apresentada

para a vazão de 250mUmim (40-50 mg/min), pois um maior tempo de residência

do soluto no extrator favorece o equilíbrio termodinâmico. A umidade, das

amêndoas foi mantida na faixa de 3-4%, não influenciando os resultados obtidos.

Com base nos trabalhos citados pode-se verificar que a temperatura,

pressão e tamanho das partículas exercem grandes influências nas taxas de

extração de óleos e gorduras. A vazão do solvente por sua vez pode limitar a

transferência de massa quando se utiliza valores muito altos, pois o equilíbrio

termodinâmico não é atingido e o solvente deixa o extrator sem estar saturado

com o soluto, além da possibilidade de formação de canais preferenciais, que

resulta em perda de eficiência na transferência de massa. Dentro da faixa de

vazão onde não há limitação de transferência de massa, só há sentido elevar a

vazão na região de solubilidade. Na região controlada pela difusão intra-partícula

não é observada nenhuma vantagem em relação a quantidade total de massa

extraída nas mesmas condições de pressão e temperatura.

Dos autores citados acima, apenas Friedrich (1982, 1984) atenta para o

fato de ser possível fracionar as misturas de tríglicerídios que compõem os óleos

vegetais explorando a diferença de solubilidade de cada um desses compostos,

sem maiores investigações acerca da possibilidade de fracionamento. No entanto,

a maioria apenas avaliou as condições operacionais tratando a mistura de

triglicerídios que compõem os óleos como um único componente. O trabalho de

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Capítulo 2 - Revisão Bibliográfica 29 ~~~~~~==~~--------------------------------

Friedrich (1982) possivelmente despertou o interesse de alguns autores em

verificar a viabilidade de fracionar triglicerídios através do processo de extração

com fluidos supercríticos, como será mostrado a seguir.

Nilsson e Hudson (1993) estudaram a solubilidade de triglicerídeos puros

(Tripalmitina, PPP e Trioleina, 000) em sistemas binários e misturas de

triglicerídeos (PPP, 000, PPO e POO) em C02 supercrítico nas temperaturas de

40 e 60°C e na faixa de pressão de 172 - 31 O bar. Os resultados mostram que a

trioleina, no sistema binário, apresentou diminuição da solubilidade com o

aumento da temperatura. Em mistura, o coeficiente de partição (razão entre as

frações molares nas fases vapor e líquida) foi praticamente igual a solubilidade do

000 em sistemas binários. Isso indica que o coeficiente de partição do 000 é

independente do percentual deste composto na mistura, o mesmo resultado foi

encontrado por Benberguer (1988) para a trilaurina (LLL) no sistema quaternário

LLUMMM(trimiristina)/PPP/C02. Para o PPP não acontece o comportamento

retrogrado no sistema binário na faixa de pressão estudada pelos autores. Pelo

contrário, analisando os valores obtidos para as solubilidades vemos que a

solubilidade do PPP a 60°C é substancialmente mais alta que a 40°C. Foi

verificado que há um abaixamento da temperatura de fusão do PPP para 57°C na

pressão de 172bar (temperatura normal de fusão = 65,5°C), acredita-se portanto

que a 60°C o PPP estava no estado líquido enquanto que a 40°C havia a presença

de uma fase sólida. Na mistura de triglicerídeos o PPP passa do comportamento

retrógrado para não retrógrado na faixa de pressão compreendida entre 240 e 270

bar, mas é 20 a 30 vezes mais solúvel a altas pressões na mistura que em

sistema binário a 40°C. Isso se deve as interações intermoleculares entre os

triglicerídeos em ambas as fases e efeitos de co-solvência (Bamberger, 1988;

Nilsson, 1993, 1991; Neves 1996).

A aplicação dos dados obtidos por Nilson e Hundson (1993) é apenas

qualitativa, pois há uma variação muito grande entre os resultados obtidos por

esses autores e os resultados utilizados pelos mesmos para comparação. Ao que

parece a metodologia experimental empregada foi a maior causa da diferença

entre os dados.

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Capítulo 2 - Revisão Bibliográfica 30 ~~~=-~~~~~~~--------------------------------------

Neves (1996) estudou a extração do colesterol do óleo de manteiga com

C02 supercrítico. Neste trabalho o autor verificou que acoplando ao processo de

extração uma coluna de adsorção empacotada com alumina resolveu o problema

de falta de seletividade do C02 pela molécula do colesterol. O colesterol é uma

molécula polar, e devido as suas mais fortes interações com a alumina fica

adsorvido na mesma, enquanto o óleo de manteiga livre de colesterol é recolhido

no separador. O óleo de manteiga apresenta 11 ácidos graxos, resultando em

potencialmente 1331 triglicerídeos presentes. Estes foram agrupados em 13

famílias, definidas pela soma do número de átomos de carbono presentes nas

cadeias dos ácidos graxos presentes na molécula. Foram analisadas 7 frações

recolhidas a volumes predeterminados de C02. Os resultados mostram que os

mais leves (C:28 e C:30) saem logo nas primeiras frações, os mais pesados (C:50

e C:52) começam a sair em concentrações percentuais baixas nas frações

intermediárias aumentando esse percentual nas últimas. Os intermediários se

distribuem por todas as frações. No caso de óleo de manteiga onde a quantidade

de triglicerídios é muito grande, o procedimento de agrupar os triglicerídios em

famílias é a única maneira de avaliar um possível fracionamento. Entretanto, nos

óleos vegetais a quantidade de triglicerídios presentes é significativamente menor,

sendo assim é possível identificar cada um dos triglicerídios presentes por

cromatografia.

Rossi et ai. (1996) comparam a viabilidade e a cinética de extração da

manteiga de cacau a partir do nibs, do líquor e da casca com COz supercrítico na

faixa de pressão compreendida entre 30 e 40 MPa e nas temperaturas 50 e 80°C.

Para diferentes tamanhos de partículas utilizados, obteve-se diferentes

graus de rendimento, como era esperado. Sendo que os maiores valores foram

obtidos para líquor (obtido por trituração das sementes) na temperatura de 80°C e

pressão de 40MPa. O rendimento da extração é função do grau de ruptura das

células que armazenam os lipídios, assim como da temperatura e pressão, pois os

dados apresentados mostram maiores rendimentos para mais altas temperaturas

e a solubilidade da manteiga aumenta com o aumento da densidade do C02.

Neste trabalho foi avaliada também a seletividade do C02 para os principais

constituintes da manteiga de cacau. Com os resultados obtidos, os autores

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Capítulo 2 - Revisão Bibliográfica 31 ~~~~~~==~~--------------------------------

especulam sobre a possibilidade de se extrair mais facilmente os triglicerídeos

menores a pressões mais baixas, quando a seletividade do solvente é aumentada.

Conforme os resultados obtidos pelos autores citados acima podemos ver

que a extração com fluido supercrítico aparece como uma alternativa para as

técnicas convencionais de produção e modificação de gorduras, tendo como

algumas de suas vantagens: não utilizar solventes tóxicos, inflamáveis ou

explosivos, as faixas de pressão e temperatura de operação podem ser variadas

em uma larga faixa e a separação seletiva do material extraído, bem como a

separação do solvente do soluto pode ser realizada por alteração na pressão ou

na temperatura.

2.8. EXTRAÇÃO SUPERCRÍTICA DE ÓLEOS COM C02 E OUTROS

SOLVENTES

A solubilidade dos óleos e gorduras em fluidos supercríticos ~ favorecida

quando se trabalha a pressões e temperaturas mais altas. Maiores níveis de

temperatura diminuem a densidade do solvente e aumentam a pressão de vapor

do soluto. Caracteriza-se então uma situação na qual apresentam-se dois efeitos

concorrentes (Joshi e Prausnitz, 1984). É notado que em alguns sistemas os

efeitos sobre a densidade predominam causando ocorrência do comportamento

conhecido como "retrógrado" em determinadas faixas de pressões quando

submetidos a aumentos de temperatura (McHugh e Krukonis, 1994). Pressões de

operação muito altas não são interessantes devido ao auto custo energético

associado (Calvo e Cocero 1996). No estudo da extração supercrítica de óleos e

gorduras a partir de sementes oleaginosas, a adição de co-solventes ao solvente

puro resultou em um aumento na solubilidade dos triglicerídeos na fase

supercrítica, sem perdas significativas na seletividade (Li e Hartland, 1996).

Quando se adiciona um co-solvente e se deseja trabalhar com a mistura

no estado supercrítico, deve-se ficar atento a composição da mistura, pressão e

temperatura. Para que definindo a composição da mistura, as condições

operacionais do processo (pressão e temperatura) estejam acima do ponto crítico

da mistura. As condições críticas para cada mistura deverão ser avaliadas

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Capítulo 2 - Revisão Bibliográfica 32 ~~~~~~==~~--------------------------------

experimentalmente ou através de uma análise termodinâmica usando um modelo

adequado para representar as propriedades da mistura. Na literatura pode-se

encontrar muitos dados de equilíbrio para sistemas como C02 - Etanol, como os

dados de equilíbrio publicados por Panagiotopoulos (1986) para esse mesmo

sistema. A mistura acima do seu ponto crítico apresenta uma única fase com

características próprias, podendo ser encarada como um novo solvente.

Ternelli (1992) estudou a extração de fosfolipídeos e triglicerídeos da

Canola utilizando dióxido de carbono modificado com etanol na faixa de pressão

de 345 a 620 bar e temperaturas na faixa de 40 a 70°C. O etanol foi adicionado a

amostra de canola nos percentuais em peso de 5, 10 e 15%. Este trabalho mostra

que é possível recuperar os fosfolipídeos, utilizados como emulsificantes, em uma

extração posterior a remoção dos triglicerídoes da canola. Trabalhos posteriores

como veremos abaixo mostram que é possível a retirada simultânea dos

triglicerídeos e fosfolipídeos, com fácil separação dos mesmos. Este trabalho tem

como maior mérito a avaliação do rendimento do processo em relação ao pré­

tratamento dado á amostra (escamas x torta prensada) e avaliação da composição

dos ácidos graxos dos óleos extraídos.

Lanças et ai. (1994) estudaram a extração supercrítica de óleos de soja,

girassol, trigo e arroz utilizando COz modificado com pentano. Com pressões

variando na faixa de 50 a 150 bar, temperaturas de 60 e 100°C e tempos de

extração de 5 e 15min. Estes autores verificaram que a pressão e o tempo de

extração são os parâmetros que mais influenciam no rendimento do processo. Os

menores rendimentos do processo de extração supercrítica em comparação ao

processo convencional (Soxhlet) podem ser atribuídos as baixas pressões

utilizadas nesse estudo. Os resultados também mostraram que não há perda de

qualidade em relação a coloração e quantidade de tocoferois.

Cocero e Calvo (1996) estudaram a extração supercrítica de óleo de

girassol utilizando COz adicionado de etanol na faixa de pressão variando entre

150 e 350bar, temperaturas de 42, 60 e 80°C, e percentuais de etano! variando

até 20% (w/w). O percentual de etanol em conjunto com os níveis de pressão

aumentam significativamente a solubilidade do óleo. A presença de etano! no

sistema diminui a seletividade da extração, e fosfolipídeos são extraídos junto com

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Capítulo 2- Revisão Bibliográfica 33 ~~~~~--~~~~~--------------------------------------

os triglicerídeos, porem estes se concentram na fase etanólica, podendo ser

separados facilmente do óleo. Neste trabalho, assim como no trabalho realizado

por Lanças et ai. (1994), não foi estudada a seletividade do solvente modificado

por tipos de triglicerídeos (simples, mistos) ou a possibilidade de fracionamento do

óleo extraído.

Li e Hartland (1996) realizaram a extração de manteiga de cacau e

xantinas com C02 supercrítico, utilizando etano! como co-solvente como o intuito

de desenvolver um novo processo de extração para a manteiga de cacau e

concentração das xantinas que são de importância para a indústria farmacêutica.

Nesse trabalho foram adotadas a faixa de pressão de 80 a 300bar para a pressão

e 40 a 90°C para a temperatura. Segundo os autores os resultados mostram que a

capacidade de extração do COz supercrítico modificado com o etano! é superior a

capacidade de extração do COz ou etano! puros. A observação deveria ter sido

realizada nas mesmas condições de temperatura e pressão, pois a gordura de

cacau é sólida a temperatura ambiente de maneira que a solubilidade diminui.

Aquecendo uma dada mistura de gordura e etano! verifica-se que a solubilidade

aumenta, em alguns casos levando o sistema a miscibilidade total. No sistema

modificado (COz-Etanol como solvente) o que possivelmente ocorre é a indução

pela molécula de etano! de um dipolo mais forte na molécula do triglicerídeo e

consequentemente aumentando a força da interação COz-triglicerídeo. Além da

possibilidade de formação de pontes de hidrogênio entre o núcleo da molécula dos

triglicerídeos e a molécula do etanol, onde se encontram localizados os

grupamentos carboxilas esterificados. Possibilitando trabalhar com pressões

moderadas sem detrimento do rendimento do processo. Apesar da solubilidade

das xantinas aumentar com a utilização do co-solvente, 95% da gordura já havia

sido extraída enquanto apenas 10% das xantinas haviam sido retiradas, ou seja a

seletividade não é significativamente afetada. A possibilidade de fracionamento,

de grande interesse prático, e a caracterização da gordura extraída não foram

abordadas. O inconveniente do processo proposto pelos autores é a variação na

composição de etano! na fase supercrítica.

Kuk e Horn (1994) estudaram a extração supercrítica do óleo de caroço de

algodão utilizando COz adicionado de etano! ou 2-propanol como solvente. O

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~C=a~pí=ru~lo~2~-~R~ev~i~=-~o~B~ib~li~og~r=áfi~l~=--------------------------------------- 34

etano! ou 2-propanol eram alimentados ao extrator juntamente com a amostra.

Foram adotados os níveis de pressão de 482,6 bar e temperatura de 80°C, pois

nessas condições a densidade do C02 era similar a do hexano. Outro fato

importante é que a essa temperatura todos os triglicerídeos presentes na semente

de algodão estão no estado líquido, possibilitando-se assim uma extração mais

fácil. O perfil de triglicerídeos do óleos de algodão produzido através da extração

com COz puro e com etano! puro são comparados. Há uma indicação da maior

capacidade do COz em dissolver triglicerídeos menores, o que alerta para o fato

do possível fracionamento de óleos e gorduras com fluidos supercríticos. Este

trabalho não avaliou essa possibilidade de fracionamento, apesar de ter um

indicativo dessa, assim como a influência da pressão e da temperatura no

processo de extração do óleo.

Socantaype (1996) estudou a extração do óleo de manteiga e redução do

índice do colesterol através do processo de extração supercrítica acoplado a um

processo de adsorção em alumina utilizando como solvente etano supercrítico,

COz supercrítico e mistura 1/1 de COze etano. Nesse trabalho a comparação dos

resultados para a mistura em relação ao dióxido de carbono puro, mostra que a

extração na presença de um hidrocarboneto aumenta significativamente a

solubilidade do óleo de manteiga.

Em relação ao etano puro, o óleo de manteiga é dez vezes mais solúvel

neste solvente que em dióxido de carbono puro. Essa é sem dúvida a maior

contribuição do trabalho, pois um aumento tão significativo na solubilidade faz com

que a possibilidade de utilizar etano supercrítico para extrair óleos e gorduras das

mais diversas oleaginosas seja considerada promissora. Entretanto, a

possibilidade de fracionamento do óleo, ou seletividade do solvente para os mais

diversos triglicerídios presentes no óleo não é avaliada.

2.9. TÉCNICAS INSTRUMENTAIS DE ANÁLISE RELEVANTES PARA A

EXTRAÇÃO DE ÓLEOS E GORDURAS

Nesta seção serão apresentadas as técnicas de análises empregadas

para determinar o comportamento térmico de óleos e gorduras em geral. São

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Capitulo 2- Revisão Bibliográfica 35 ~~~~~~~~~--------------------------------

apresentados os principais trabalhos na literatura que utilizaram estas técnicas de

análise das propriedades dos óleos e gorduras dando-se ênfase a metodologias

de análise empregadas

2.9.1. Gordura por Calorimetria Diferencial de Varredura ( DSC)

A calorímetria diferencial de varredura (Differential Scanning Calorimetry­

DSC) é uma técnica que consiste em determinar a diferença de energia fornecida

a substância em estudo e uma substância de referência (Skoog e Leary, 1992) e

com isso se consegue identificar a ocorrência ou não de processos envolvendo

absorção ou liberação de energia como a identificação de uma transição de fases,

por exemplo. Os calorímetros disponíveis no mercado para a realização das

análises de calorimetria diferencial de varredura podem ser classificados em dois

tipos distintos. O DSC por compensação de energia fornecia (Power­

Compensation), onde a energia é suprida às amostras por fontes diferentes de

aquecimento, e o DCS por compensação de fluxo de calor suprido (Heat-Fiux),

onde a amostra e referência recebem suprimento de energia em forma de calor de

uma única fonte (Skoog e Leary, 1992). Geralmente se utiliza o ar como

substância de referência, e a diferença de energia absorvida ou liberada é

determinada em função da diferença de temperatura entre a amostra e a

referencia (Skoog e Leary, 1992).

Sabariah et ai. (1998) estudaram as características físicas e químicas de

sistemas confeccionados a partir de misturas de gordura de leite, manteiga de

cacau e uma gordura do tipo CBS (cocoa butter substitute, utilizada corno

substitutivo da manteiga de cacau) através de análises térmicas com o DSC. As

amostras foram temperadas afim de se obter a conformação mais estáveis dos

cristais. Estes autores relacionaram a entalpia de fusão (L'l.Ht) a quantidade de

ácidos graxos saturados na gordura. Quanto maior o percentual de ácidos graxos

saturados maior a entalpia de fusão.

Miller et ai. (1969) relatam que os primeiros estudos realizados para

determinação do percentual de sólidos em gorduras por calorímetria diferencial de

varredura foram realizados por Bentz (1967). Miller et ai. (1969) sucintamente

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Capítulo 2 - Revisão Bibliográfica 36 ~~~~~~~==~--------------------------------

descrevem a técnica da integração da área da curva do calor de fusão da gordura

completamente congelada em função da temperatura . A área total sobre a curva

é assumida como 100% e as áreas parciais em intervalos de temperatura pré­

determinados são avaliadas. Esse método apresenta uma precisão 1 0% menor

que os métodos dilatométricos, mas apresentam a vantagem de serem bem mais

rápidos. O pré-tratamento das amostras utilizadas constituiu em aquecer a 60°C

durante dois minutos e depois levada a - 30°C durante um minuto. As análises

constituiriam em levar a célula a temperatura desejada e mantê-la por 4min. Os

resultados da determinação do percentual de sólidos por DSC foram comparados

aos resultados obtidos através da técnica de ressonância magnética nuclear

(RMN) por Nassu(1994) para alguns tipos de gordura, ambos os dados

apresentaram boa concordância ente si, com os valores obtidos por (RNM) sendo

pouco superiores.

Berger et ai. (1982) estudaram comparativamente os diversos métodos de

têmpera das gorduras descritos na literatura, através da técnica de DSC. O

processo de têmpera, que consiste em aquecer a gordura a uma determinada

temperatura afim de torná-la totalmente líquida e em seguida executar etapas de

resfriamento e aquecimento afim de favorecer a formação de uma determinada

estrutura cristalina, dependendo do tipo de gordura leva a diferenças significativas

no ponto de fusão.

Silva (1988) determinou o percentual de sólidos por calorimetria diferencial

de varredura e por ressonância magnética nuclear. Os resultados desses dois

métodos mostram uma concordância razoável. No seu trabalho o pré-tratamento

das amostras para realização das análises por DSC constituiu apenas em fundir

as amostras a uma temperatura de 60°C em estufa na presença de sulfato de

sódio anidro para filtração.

Chaiseri et ai. (1989) determinou o percentual de sólidos de 7 espécies

Theobroma através da técnica da calorimetria diferencial de varredura utilizando a

metodologia de integração das áreas. Nesse trabalho as gorduras foram mantidas

a 4°C por 4 horas e posteriormente a 27°C por 3 semanas, para que os cristais se

estabilizassem na forma polimórfica V. Os resultados obtidos por Chairei et ai.

(1989) diferem significativamente dos resultados obtidos por Silva (1988). As

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~C=a~p~rru~lo~2_-~R~ev~i~=-=o~B~ib=li=o~gr~MI~'~=--------------------------------------- 37

diferenças no método de pré-tratamento (têmpera) podem ter sido a causa da

diferença dos resultados obtidos pelos autores.

A Metodologia recomendada pela AOCS (Cj 1-94) para determinação das

curvas de fusão e cristalização das gorduras passa por uma rápida taxa de

resfriamento. Nesta metodologia a gordura não é estabilizada. Esta metodologia

difere bastante a metodologia apresentada pela AOCS para análises de gorduras

por ressonância magnética nuclear (Metodologia Cd 16b-93), na qual a gordura é

estabilizada na forma cristalina mais estáveL

O efeito da estabilização da gordura foi investigado por Md. Ali e Dimick

(1994) para a gordura de leite seca, estearina da gordura de palma e manteiga de

cacau e mistura dessas gorduras. Para as duas primeiras gorduras o pré­

tratamento não influenciou, porém para a manteiga de cacau os resultados

diferem significativamente. Os resultados para a gordura não estabilizada estão

muito próximos dos resultados obtidos por (Silva 1988).

Shukla et ai. (1994) utilizou a técnica da determinação da integração da

área total do termograma para determinação do percentual de sólidos da manteiga

de leite fracionada por co2 supercrítico, segundo o procedimento descrito por

Norris et aL(1971). A metodologia do cálculo do percentual de sólidos é aceita

pelos pesquisadores em geral, o efeito do pré-tratamento das gorduras é ainda um

assunto de debate e controvérsia.

2.9.2. Análise da Composição das Frações da Gordura de Cupuaçu

Defense (1983) determinou a composição de triglicerídeos de frações do

óleo de palma por HPLC em fase reversa, foram utilizadas duas colunas em série

fl-Bondapack C-18, 5flm e uma coluna empacotada com Lichrosorb RP-18, 5flm,

fase móvel foi acetona/acetonitrila (62,5:37,5, v/v) e detector de índice de refração.

A temperatura foi mantida constante em 50°C pois nessa temperatura a

solubilidade dos triglicerídeos na fase móvel aumenta.

Chaiseri et ai. (1989) determinou a composição da gordura de 7 espécies

Theobroma, dentre elas a grandiflorum objeto deste trabalho, por HPLC em fase

reversa utilizando uma coluna empacotada com adsorbosphere C-18 suportado

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Capítulo 2 - Revisão Bibliográfica 38 ~~~~------~~~~--------------------------------------

em sílica de 5 J..lm , detector de índice de refração, e fase móvel acetonitrila/

clorofórmio (60:40,v/v) na taxa de 0,7 mil mim. Os triglicerídeos foram identificados

e quantificados por comparação com cromatogramas de padrões primários.

Hernandes et ai (1991) realizaram a análise dos triglicerídeos do cacau

através da cromatografia líquida utilizando um injetor de 10 fll, detector de índice

de refração e coluna empacotada com Spherisorr ODS-2, a temperatura do

detector foi mantida em 25°C e a fase móvel foi propionítríla. As amostras foram

preparadas por diluição em eter etílico e propionitrila na razão de (2:3), A

quantificação dos resultados foi realizada por normalização supondo uma resposta

igual do detector para cada triglicerídio.

Facioli e Gonçalves (1998) descrevem o método de análise do óleo de

piqui modificado por via enzimática. As análises foram realizadas através de

cromatografia líquida de alta eficiência em fase reversa (CLAE). Os triglicerídeos

foram identificados através de padrões individuais e misturas padrões. A ordem de

eluição foi determinada através da comparação do cromatograma obtido com o

cromatograma do óleo de cupuaçu publicado por Defense (1983). As materiais

utilizados foram: coluna de aço inoxidável com 4,0 mm de diâmetro, 25 em de

comprimento e empacotada com LíChrosorb RP-18 (5J..tm), Merck., Pré- coluna de

aço empacotada com LíChrosorb RP-18 (5J..tm), Merck., detector: Índice de

refração, fase móvel: Acetona/Acetonitrila (62:38 v/v) e fluxo de 1mUmim.

2.10. CORRELAÇÃO DE DADOS E MODELAGEM MATEMÁTICA

Duas grandes dificuldades estão associadas a modelagem de sistemas de

extração de produtos com fluídos supercríticos (FSC): a primeira está associada a

dificuldade de representação dos modelos na proximidade do ponto crítico e a

segunda é a assimetria das misturas devido as grandes diferenças de tamanho e

forças atrativas entre as moléculas do soluto e do fluído supercrítico (Vieira de

Melo et ai. 1997).

Johnston e Peck. (1989) publicaram uma revisão dos vários modelos

utilizados na modelagem do equilíbrio de fase dos sistemas contendo fluidos

supercríticos (FSCs). As dificuldades apontadas são quase sempre: a não

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~C=a~pí=tu~lo~2_-~R=ev~i~~=o~B=i=bl=io~gr~Mi=l~~-------------------------------------- 39

disponibilidade de dados da pressão de vapor dos componentes sólidos não

voláteis, a não representação adequada das equações de estado da região

próxima ao ponto crítico, a assimetria e as altas compressibilidades das soluções

com FSC causando a formação de clusters em torno da molécula do soluto. No

equilíbrio sólido- FSC duas possíveis abordagens para a fugacidade do soluto na

fase supercrítica são possíveis. Na primeira a fase fluida é considerada um gás

comprimido, sendo necessária a utilização de uma equação de estado para a

determinação do coeficiente de fugacidade, e na segunda a fase fluida é tratada

como um líquido expandido, nesta abordagem faz-se necessária a utilização de

um modelo para o cálculo do coeficiente de atividade no estado de referência. O

modelo geralmente utilizado, segundo publicações da literatura, assume a fase

supercrítica como um gás comprimido. Aparecem então o modelo da esfera rígida,

modelos de retícula (lattice). Model e Reid (1983) relatam que para o sucesso na

modelagem de um sistema são necessários um método adequado, uma boa

equação de estado e regras de mistura apropriadas.

Neves (1996) realizou a modelagem do fracionamento do óleo de

manteiga com COz supercrítico utilizando a equação de Peng-Robinson, utilizando

as regras clássicas de mistura. Foi desenvolvida uma nova expressão para o

cálculo do parâmetro de interação binário em função da pressão. Socantaype

(1996) modelou o fracionamento de óleo de manteiga de leite com Etano

supercrítico através da consideração do fluido supercrítico como um líquido

expandido.

Vasconcellos (2000) desenvolveu uma metodologia para predição da

solubilidade de ácidos graxos, esteres de ácidos graxos e lipídios em C02

supercrítico, por contribuição de grupos, através da predição dos parâmetros da

equação de Chrastil (1982) e dos parâmetros de interação binária da equação de

Peng-Robinson, obtendo melhores resultados para as correlações no caso da

equação de Chrastil.

Josef Chrastil (1982) desenvolveu uma equação para correlacionar

solubilidades de compostos em função da densidade do solvente. Essa equação

baseou-se nas leis de associação e da entropia estatística dos compostos. Este

modelo mostrou-se muito eficiente na predição da solubilidade de triglicerídios em

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~C~a~pi~tu~lo~2~-~R~e~v=i~=-o~B~ib~l=io~gr~Mi~l~~------------------------------------ 40

dióxido de carbono supercrítico. Neste modelo parte-se do pnnc1p1o que k

moléculas do solvente (B) se associam com uma molécula do soluto (A), formando

um complexo de solvatação (ABK). No equilíbrio tem-se:

A+nB++AB"

Onde:

K = [AB"] [A][Bf

ou na forma logarítmica

ln( K) + ln[ A]+ n ln[ B] ln[ AB"]

(2.10.1)

(2.10.2)

(2.1 0.3)

Onde [A] é a concentração molar de vapor do soluto, [B] é a concentração molar

do solvente, [ABn] é a concentração molar do soluto no solvente, e K é a constante

de equilíbrio, que pode ser expressa como:

(2.10.4)

Onde 8Hsov é a entalpia de solvatação e q. é uma constante. A concentração do

soluto na fase vapor pode ser expressa pela equação de Clausius-Ciayperon.

LlHvap In[ A]= +qv

RT (2.10.5)

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Capítulo 2 - Revisão Bibliográfica 41 ~~~~~~~~~--------------------------------

Onde t.Hvap é o calor de vaporização e qv é uma constante. Assumindo que o

equilíbrio é atingido e que a [A] « [ABn]. e combinando as Equações 2.1 0.3,

2.1 0.4 e 2.1 0.5 tem-se:

illi -+ q + n ln[B] = ln[ABn] RT

(2.1 0.6)

Onde t.H é a entalpia total da reação e q é uma constante global. Definindo a

concentração do soluto no vapor como:

[AB ]- C n - MA+MB

e

[8] = _!!__ MB

(2.1 0.7)

(2.10.8)

Onde C é a concentração do soluto no solvente (g/L) e d é a densidade do

solvente em (g/L), MA e MB são as massas moleculares do soluto e do solvente

respectivamente. Substituindo as Equações 2.10.7 e 2.10.8 na Equação 2.10.6

tem-se:

illi -+ q + n ln(d)- n ln(MB) = ln(C) -ln(MA + n* MB) RT

e finalmente:

(2.10.9)

(2.10.10)

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Capítulo 2 - Revisão Bibliográfica 42 ~~~~~~~~~~~--------------------------------------

Onde a =ll.H/R e b=ln(MA+n*MB)+q-nln(MB). Para a determinação dos parâmetros

a, b e n, faz-se necessário dois conjuntos de dados experimentais de solubilidade

a diferentes temperatura. Graficando-se o log(C) x log(d) os parâmetros são

obtidos como se segue:

1 (2.10.11) n=-----

Inclinação

(2.1 0.12)

a a b=-nln(I )--=nln(J )---

I T 2 T I 2

(2.10.13)

Onde h e b são as intercessões das retas como o eixo das abcissas para C=1.

Este modelo foi validado para pressões compreendidas na faixa de 8,1 a

25,3MPa. O n é característico de cada sistema (soluto-solvente), é esperado que

este parâmetro seja independente da temperatura.

Dei Valle e Aguilera (1988) propuseram uma modificação na equação de

Chrastil para a predição da solubilidade de óleos vegetais. Estes autores

introduziram uma correção empírica para a variação do ll.Hvap com a temperatura.

O modelo foi validado com dados disponíveis na literatura para óleos de girassol,

soja e algodão. Em uma faixa global de temperatura de 313 a 353K e pressões na

faixa de 15,1 a 103, 3MPa. As solubilidades dos óleos vegetais comportam-se

linearmente até concentrações de 100g/l. O modelo gerado por estes autores

através de uma análise regressão linear multivariavel é da forma:

ln(C) = 40,361-18078

+ 2186

2840

+ 1 0,724/n( d) T T

(2.1 0.14)

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Capítulo 2 - Revisão Bibliográfica 43 ~~~=-~--~~~~~--------------------------------------

Onde d é a densidade do solvente em (g/ml), T é a temperatura em (K) e C é a

solubilidade em (g/1).

Maheshwari et ai. (1992) determinou a solubilidade de ácidos graxos em

C02 supercrítico. Estes autores rescreveram a equação de Chrastil em uma forma

mais conveniente, pela facilidade de determinação dos parâmetros.

In( C)= (n-l)ln(d)+(; +b) (2.10.15)

Onde C é a solubilidade do soluto (kg/ Kg C02), d é a densidade do C02 em

(kglm\ T é a temperatura em (K) e n é o parâmetro de associação.

Silva (1999) correlaciona a solubilidade da bixina e do óleo de urucum

através da equação de Chrastil e da equação de Peng-Robinson. Este autor

verificou que o parâmetro n para o sistema em estudo mostrou-se deeendente da

temperatura segundo uma função quadrática.

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CAPÍTULO 3

MATERIAIS E MÉTODOS

Neste capítulo serão apresentados os materiais e equipamentos

utilizados. Uma breve descrição dos equipamentos, bem como a descrição

detalhada das metodologias de extração e análise dos produtos são

apresentadas.

3.1. SOL VENTES

Dióxido de carbono super seco com 99,9% de pureza foi fornecido pela

White Martins (Campinas), na fase líquida em cilindros contendo tubo pescador. O

etano super seco com 99,9% de pureza foi adquirido da White Martins

(Campinas), na fase líquida em cilindros contendo tubo pescador. Como co­

solvente foi utilizado etano! absoluto P.A. (Merck), adquirido em garrafas de

1000ml.

Os solventes químicos utilizados na extração convencional e análise

cromatográfica: foram éter de petróleo P.A. (Merck), com faixa de ebulição 40-

600C, adquirido em garrafas de 1 OOOml, acetona grau HPLC (Mallinckrodt),

adquirido em garrafas de 4000ml e acetonitrila grau HPLC Omni Solv (En Science­

Merck), adquirido em garrafas de 4000ml.

3.2. MATÉRIA PRIMA

A matéria prima deste trabalho constitui-se de sementes de cupuaçu

fermentadas durante 5 a 6 dias em meio neutro, para decomposição da polpa

remanescente do processo de despolpamento e posteriormente secas,

pertencentes a safra de 2000 da região de Tomé Açu, Pará. As sementes foram

doadas pela Brasmazon Indústria de Oleaginosas e Produtos da Amazônia Ltda.

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Capítulo 3 - Materiais e Métodos 45 ~~~~~~~~~~~--------------------------------------

3.3. EQUIPAMENTO DE EXTRAÇÃO SUPERCRÍTJCA

Nos experimentos de extração da gordura de cupuaçu foi utilizado o

equipamento projetado pelo grupo de pesquisa de extração supercrítica do

Laboratório de Engenharia de Processos em Biorecursos da FEQ/UNICAMP. O

equipamento foi confeccionado pela Autoclave Enginneers, lnc no Erie, PA, USA.

Este aparelho é o mesmo que foi utilizado nos trabalhos de Neves(1996),

Socantaype (1996), Saldaíia (1997) e Saldaíia (2001b) este constitui uma tese de

doutorado em andamento. O equipamento apresenta grande versatilidade,

possibilitando o controle independente das variáveis termodinâmicas pressão e

temperatura e da vazão de solvente, além da possibilidade de mudança de

configuração através de um sistema de válvulas. A descrição do equipamento é

facilitada quando este é subdividido em módulos. A seguir é apresentada

separadamente a descrição dos módulos de entrada, extração e saída do

equipamento. A descrição pode ser acompanhada através da Figura 3.3.1.

Módulo de entrada

Esta parte do equipamento é composta principalmente por duas bombas

em paralelo, P1 e P2, marca Milton Roy, modelo 396- 89, fornecidas pela Thermo

Separation Products, Fremont, CA, USA, que permitem um fluxo individual de 46 a

460mllhora., e uma pressão máxima de descarga de 414bar. Estas duas bombas

são utilizadas para alimentação do solvente ao sistema. Outras duas bombas, P3

e P4, são utilizadas para a alimentação do co-solvente, quando é o caso. As

bombas são compostas por um sistema de deslocamento positivo tipo pistão. Na

sucção das bombas apresentam-se como elementos de proteção uma válvula de

retenção (Autoclave Engeneers), que permite o fluxo em um único sentido e um

filtro de linha (Autoclave Engeneers), para impedir a danificação da bomba por

algum eventual contaminante do solvente. Para garantir que o solvente e o co­

solvente chegam à sucção da bomba no estado líquido, cada linha possui um

trocador de calor tipo casco tubo. A solução refrigerante (Solução aquosa de

etileno glicol 30% v/v) é suprida aos trocadores de calor por um refrigerador

Neslab, modelo CFT-25 munido de indicação digital de temperatura que abaixa a

temperatura do fluido a -2°C. UNICAMP

BIBliOTECA CENTRAL """"' lt f'\ f'! !:li"! li

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Capítulo 3 - Materiais e Métodos 46 ~~~~----------~----------------------------------------

Módulo de extração

O equipamento possui dois extratores de 300m! de capacidade fabricados

em aço inoxidável, tipo 316SS (Stainless Steal) projetados para resistir a pressões

de até 372bar, na temperatura de 343°C. Cada extrator possui no seu interior um

termopar que registra a temperatura interna. Ao redor de cada extrator encontram­

se fitas de aquecimento ligadas a um controlador de temperatura Eurotherm,

Reston, Virgínia, USA Um os extratores é simples e o outro é equipado com um

agitador tipo MagneDrive 11 com sistema de refrigeração e urna janela que permite

observar as fases em equilíbrio presentes no extrator. Nos extratores a entrada se

apresenta na parte interior e a saída na parte superior. Nas tubulações que ligam

as bombas aos extratores, existem válvulas do tipo gaveta que permitem operar

separadamente cada extrator, e uma válvula de segurança (safety head), com

discos de ruptura para proteger os extratores de pressões acima do limite do

equipamento. A pressão nos extratores é monitorada através de manômetros de O

a 689,5bar instalados na saída de tubulação e fornecidos pela Autoclave

Engineers. Encontra-se também um monitor digital de pressão HEISE modelo

901A que permite registrar a pressão com precisão de± 0,5bar.

Módulo de saída

A fase gasosa após deixar o extrator passa por uma válvula micrométrica

(Autoclave Engineers) que permite regular a vazão e controlar a pressão da saída

a condições ligeiramente superiores a pressão atmosférica. Neste processo de

passagem através da válvula ocorre a condensação/precipitação do soluto que é

recolhido no separador. Para evitar a possibilidade de congelamento da válvula e

do C02 em função da expansão do gás, uma fita de aquecimento envolve a

válvula e a parte da tubulação subsequente. A tubulação de saída do separador é

provida de um manômetro com escala compreendida na faixa de O - 1 ,03bar. A

tubulação de saída ainda é provida por dois filtros, um coalescente e um de carvão

ativo que permitem a retirada de eventuais impurezas da corrente de gás que

segue para o totalizador de fluxo.

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(-­

""

[15

1l •<ll 2 (1)

"' 'ffi ·;::

-* 2

C')

o :ã ·c_ !ll ()

CV-5

Módulo de Entrada

BPR-2 ~

P-1

~ G-1

CV-4

P-3

BH-3

BH-2

CV-3

G-2

CV-8

F-4

BH-4

Módulo de Extl·ação

V-2

- -, - ITC-11

~-, .. ~ I

' lJ ',

(;.3

ElCIRATOR A ClT ATO

V-5

V-3

r-TC-3 -l

I I

~~ I

i I L- -=._-=._~- _j

V-9

V-J I

_J

Módulo de Saída

CV-i VAl,VULAS DE

REIANÇAO

V-i VÁLVULAS GAVEtA

P-iBOMBAS

<;.i MAI'IÔMIITRO S

V-13

TOTALIZADOR DE FLUXO

r TC-6

I ; ---+J----1---

1 I TC-7

SEPARADOR

I L -~

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Capítulo 3 - Materiais e Métodos 48 ~~~~~~~~~--------------------------------

3.4. CALORÍMETRO DIFERENCIAL DE VARREDURA

Para a determinação do percentual de sólidos e do comportamento

térmico das frações de gordura de cupuaçu, é utilizado um calorímetro diferencial

de varredura DSC-50 Shimadzu Corporation, Kyoto, Japão. Este equipamento

utiliza o princípio de fluxo de calor (Heat flux), no qual a energia em forma de calor

é fornecida por uma mesma fonte de energia.

A temperatura da fonte é ajustada de acordo com a programação de

temperatura definida para a análise em vigor. A diferença de temperatura entre a

amostra e a referência, devido as diferentes capacidades caloríficas é medida e

assumida como linha de base. Essa diferença é registrada e a temperatura da

amostra é registrada em função do tempo sendo gerado simultaneamente o

gráfico (termograma). Quando a amostra funde a diferen~ de temperatura da

amostra e da referência aumenta, pois a temperatura da amostra permanece

constante enquanto a temperatura da referência continua subindo. Essa diferença

de temperatura que é proporcional ao fluxo de energia suprido a amostra e a

referência, esse fluxo de energia na forma de calor é o que constitui a curva de

DSC.

Como a análise é realizada a pressão constante, a energia fornecida a

amostra pode ser assumida como a variação de entalpia da amostra. O DSC-50 é

um aparelho que apresenta alta sensibilidade, podendo-se detectar diferenças de

entalpia na ordem de 10fl.W. O equipamento está conectado a um micro

computador, e através do softwear Thermal Analysis System TA-50WSI é

realizada a programação, operação, calibração do equipamento, e análise dos

dados obtidos.

3.5. EQUIPAMENTO DE CROMATOGRAFIA

Para a determinação da composição de triglicerídeos presentes nas

frações de gordura de cupuaçu obtidas pelo processo de extração supercrítica é

utilizado um sistema de bombeamento LC-10AD Shimadzu Corporation, Kyoto,

Japão, equipado com um detector índice de Refração RID-10A, Shimadzu. Para a

separação dos compostos utiliza-se uma coluna Shimadzu, empacotada com

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~C=apcí=tu~lo~3~-~M~ffi=e~ria~is~e~M=é=to=d=os~ ______________________________________ 49

octadecil (C-18) de 51l com 25cm de comprimento e 4,6mm de diâmetro,

acondicionada em um forno de coluna, modelo CT0-10Ayp, Shimadzu, que

permite o controle de temperatura da coluna. Os picos são identificados através de

padrões, e áreas foram obtidas através de um integrador- registrador.

3.6. CARACTERIZAÇÃO DA MATÉRIA PRIMA

3.6.1. Pré- tratamento

As amêndoas foram descascadas manualmente e trituradas em um

liquidificador comum para diminuir o tamanho de partícula. O equipamento foi

afixado em bancada com inclinação em torno de 45° a fim de possibilitar um

melhor contato de todas as amêndoas alimentadas com as laminas do aparelho. O

tempo de trituramento foi limitado em 30 segundos para que não houvesse perda

significativa de gordura para o recipiente. Após a moagem as partículas foram

peneiradas para retirada das partículas que excedessem o tamanho de 1mm.

Estas foram novamente moídas e misturadas com as demais.

3.6.2. Determinação de Umidade

Na determinação da umidade das sementes de cupuaçu foram realizadas

análises em triplicata. Cerca de 1 Og amostra foram pesadas, em balança analítica

OHAUS Analitycal-plus modelo AP210S com precisão de 0,0001g, sobre placas

de petri cuidadosamente limpas e secas, sendo em seguida transferidas para

estufa FAMEN modelo 502 com controlador de temperatura modelo 502A A

temperatura da estufa foi ajustada para 65°C. Depois de retiradas da estufa as

amostras foram transferidas para um dessecador contendo sílica gel e deixadas

até atingir a temperatura ambiente e em seguida pesadas. O procedimento

descrito foi repetido até obter-se peso constante da amostra. Sendo fixados

intervalos de aproximadamente doze horas. O percentual de umidade é

determinado através da diferença entre a massa da amostra antes e após a

secagem.

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~C~a~p~ítu~lo~3_-~M~ru=e~ri=ai~s~e~M~é~too~o=s _______________________________________ 50

A metodologia oficial AOCS Aa-3-38 é indicada para determinação de

umidade e matéria volátil. Testes preliminares através dessa metodologia foram

realizados.

3.6.3. Determinação do Percentual de Gordura

O percentual de gordura existente nas sementes de cupuaçu determinado

em análises por extração com solvente, realizadas em triplicata simultâneas,

utilizando equipamentos de extração Soxhlet. Como solvente foi utilizado éter de

petróleo Merck (Temperatura de ebulição 40 - 60°C). As determinações foram

realizadas em base seca. As amostras foram secas em estufa a 1 00°C por 2h

sendo transferidas para um dessecador contendo sílica gel e deixadas lá até

atingir a temperatura ambiente. Foram pesadas em balança analítica 1 Og de

amostra em cartuchos de papel de filtro Whatman n°2. Balões de vidro

numerados, criteriosamente limpos e secos tiveram suas massas registradas

antes da extração. As extrações foram conduzidas a exaustão por um tempo

superior a 20 horas. Tempos de extração inferiores resultam na incompleta

extração do óleo como constatado previamente. A determinação da massa de óleo

extraída foi realizada por pesagem do balão de vidro após a completa evaporação

do solvente.

3.6.4. Determinação da Distribuição Granulométrica

O diâmetro médio das partículas foi obtido através da média estatística

dos tamanhos. Para essa determinação usamos uma série de peneiras padrão

Tyler, sendo que cada peneira possui uma abertura de malha maior que a peneira

posterior. Foram realizados ensaios em duplicata.

A fração das partículas que são coletadas em cada peneira tem o seu

tamanho determinado como a média dos tamanhos da peneira na qual está retida

e a peneira imediatamente superior. Para realizar a análise as peneiras são

empilhadas em ordem decrescente de abertura de malha e presas em um

equipamento vibratório, no final da série é colocada uma bandeja cega.

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~C=a~pí=tu~lo~3~-M~ffi~e~na=i~s~e~M~é=too~os~-------------------------------------- 51

O diâmetro médio da partícula é calculado através da formula do Diâmetro

Médio de Sauter.

Dp 1

(3.6.4.1) ± ~m(Dp,)/illp, ioj Dpi

Onde i= 1 ,2,3 ....... Y, Dpi = Diâmetro médio das .partículas retidas em entre as

peneiras i e i-1. 4>m(Dpi)~Dpi =Fração ponderai de massa retida na peneira L

A série de peneiras foi montada sobre o equipamento vibratório, com

movimento rotatório horizontal, Produ-test. Em cada ensaio 100g de amostras

foram alimentadas à peneira superior, sendo posteriormente tampada e presa ao

equipamento. O tempo de agitação foi fixado em 1 Omin, pois foi considerado

suficiente para que as partículas se movimentassem verticalmente nas peneiras.

Após remover as peneiras a massa das partículas retidas foi determinada,

possibilitando a determinação da fração ponderai e posteriormente o diâmetro

médio.

3. 7. EXTRAÇÕES SUPERCRÍTICAS

O sistema de extração supercrítica descrito anteriormente, é um

equipamento muito versátil que permite a operação isolada de cada um dos

extratores ou a operação conjunta dos extratores em paralelo e ainda em série

nos dois arranjos possíveis. Essa flexibilidade do equipamento foi explorada nos

experimentos descritos a seguir.

3. 7 .1. Extrações com Solventes Supercríticos

As extrações da gordura do cupuaçu a partir das sementes moídas foram

realizadas utilizando o método dinâmico com fluxo contínuo com vazão de 0,7

Umin (medidos a 24°C e 1,001 atm). Esse valor de vazão foi adotado com base no

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Capitulo 3 - Materiais e Métodos 52 ~~~~~~~~~~~--------------------------------------

trabalho de (Neves 1996), que testou uma série de valores de vazão para o

sistema binário C02fTricaprilina, obtendo como valor ótimo para a extração de

triglicerídios 0,7 Umin. Os experimentos utilizando C02 supercrítico como solvente

foram realizados nas temperaturas de 50 e 70°C, pressões 15,2, 24,8, 28,2, 31,7 e

35,2 MPa, utilizando o extrator simples apenas.

Para os experimentos utilizando etano supercrítico foram dotados os

mesmos níveis de temperatura, as pressões variaram na faixa de 21,4 a 35,2 MPa

em intervalos de aproximadamente 3,5 MPa. As sementes de cupuaçu moídas

foram previamente secas em estufa FAMEN, modelo 502. Ao extrator foram

alimentados 30g de sementes moídas e previamente secas dispostas em um

recipiente cilíndrico com diâmetro igual ao do extrator, confeccionado em tela de

aço inoxidável de mesh.

O dióxido de carbono e o etano, armazenados em cilindros munidos com

tubo pescador são transferidos ao sistema através de uma tubulação que liga o

cilindro a sucção das bombas, antes de ser alimentado a cabeça das bombas. Nos

dois casos os fluidos passam por um trocador casco tubo onde são resfriados a

temperatura de -2°C, para evitar a vaporização, e consequentemente a

danificação das bombas. Após garantir que os fluidos chegam a sucção das

bombas no estado líquido são então bombeados ao sistema de extração

supercrítica sendo levados as condições de pressão e temperatura de operação

antes de serem alimentados ao extrator.

O fluido utilizado no experimento é então aquecido até atingir uma

temperatura desejada, sendo em seguida alimentado ao extrator através da

válvula V-5, que é aberta lentamente a fim de evitar que o material disposto no

cesto (sementes moídas colocadas no cesto de tela de 100 mesh) vaze e seja

arrastado para a tubulação de saída do extrator.

Quando as condições operacionais de pressão e temperatura são

atingidas abre-se lentamente as válvulas V-2 e V-3. O fluido deixa o sistema

através de uma válvula micrométrica V-13. O material extraído pelo solvente

supercrítico é recolhido por precipitação/condensação, em três kitassatos, de

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~C~a~p~ítu~lo~3_-2M=m=e~ri=ai=s=e~M=é~to=d~o=s _______________________________________ 53

massa conhecida, dispostos em série, colocados em banho de gelo, que

funcionam como separador.

O procedimento do experimento é ilustrado pela linha mais escura na

Figura 3.7.1.1. O primeiro kitassato apresenta um pequeno volume de etano!

absoluto no qual o solvente já no estado gasoso é borbulhado, reduzindo dessa

maneira a possível perda de material por arraste através da corrente de solvente.

O fluido continua fluindo até passar pelo medidor/totalizador de fluxo e a

partir desse ponto é liberado para a atmosfera. Em intervalos regulares o primeiro

kitassato é substituído. O trecho de tubulação entre a válvula V-3 e V-13 é limpo

com etano! absoluto aquecido, para recolher o material que eventualmente fica

precipitado na tubulação. A quantificação do material extraído é realizada por

pesagem do kitassato após evaporação do etano!.

3.7.2. Extrações com C02 Modificado com Etanol

Estes experimentos utilizam os dois extratores em série. O extrator

simples é alimentado com 30 g de sementes de cupuaçu moídas e secas,

seguindo o mesmo procedimento descrito anteriormente. Ao extrator com agitação

são alimentados 195m! de etano! absoluto P.A. (Merck). Cada um dos extratores é

levado as condições de operação separadamente. Ao extrator simples, o fluido é

alimentado como descrito anteriormente. Quando atinge a temperatura e a

pressão desejadas a válvula V-5 é fechada isolando o extrator.

O fluido é alimentado ao extrator com agitação por meio da válvula V-8.

Quando esse extrator atinge as condições de pressão desejadas as válvulas V-7 e

V-6 são abertas lentamente colocando dessa forma os dois extratores em série.

Em seguida são abertas as válvulas V2 e V-3. A fase supercrítica tem a pressão

reduzida na válvula V-13. A linha mais escura na Figura 3.7.2.1 ilustra o processo.

A quantificação do material é realizada pela mesma metodologia descrita acima.

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~C=a~pi~tu~lo~3~-~M=ru~e~ria=is~e~M~é~too~os~-------------------------------------- 56

3.8. DETERMINAÇÃO DO COMPORTAMENTO TÉRMICO DAS FRAÇÕES DE

GORDURA DE CUPUAÇU

O fato das gorduras apresentarem polimorfismo torna o processo de

tempera um fator com forte influência sobre a determinação do comportamento

térmico da gordura. A metodologia AOCS, Cj 1-94, não tem o reconhecimento

como método oficial, sendo recomendada apenas para temperatura de início e

fusão total. Neste trabalho foi adotada a metodologia de tempera AOCS 16-b-93,

pois neste processo a gordura é estabilizada na sua forma mais estável. O

processo consiste em:

1- Fundir a gordura a 100°C e permanecer nesta temperatura durante 15min.

2 - Estocar a 60°C por 5min.

3 - Estocar a 0°C por 90min.

4 - Estocar a 26°C por 40horas.

5 - Resfriar a 0° por 90min.

As análises de DSC foram conduzidas segundo o procedimento descrito a

seguir:

1 -Colocar de 5- 10mg de gordura estabilizada em cápsulas de alumínio de 40!-!1

e lacrar.

2- Resfriar a amostra e o forno do equipamento a -30°C.

3 -Aquecer de -30°C até 70°C a uma taxa de 1 0°C/min.

O percentual de sólidos é obtido por determinação das áreas parciais do

termograma em intervalos definidos de temperatura. O percentual ácidos graxos

insaturados em cada fração pode ser avaliado através do valor da entalpia de

fusão, (J/g).

3.9. ANÁLISE DA COMPOSIÇÃO DAS FRAÇÕES DE GORDURA POR HPLC

Neste trabalho foi inicialmente adotada a metodologia já consagrada para

análise de determinação da composição de triglicerídeos apresentada por Facioli e

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Capitulo 3 - Materiais e Métodos 57 ~~--------------------------------------------------------

Gonçalves (1998), utilizando na identificação dos picos padrões primários (Sigma)

e comparação direta como o cromatograma da gordura do cupuaçu publicado por

Chaiseri (1989).

As análises foram qualitativas, visando a determinação do percentual dos

triglicerídeos presentes nas frações, para comparação com a composição da

gordura extraída com solvente orgânico (base de referência).

As condições ótimas de análise determinadas no decorrer das análises,

sendo descritas a seguir:

1 -Fase móvel: Acetona/Acetonitrila (62/38%, v/v)

2 - Vazão de solvente. As análises iniciais foram realizadas utilizando-se

um fluxo de 1 ,O ml/min. O valor ótimo encontrado sem perda de resolução dos

picos, e adotado durante o restante do trabalho foi de 1 ,4ml/min.

3 - O tempo de análise inicialmente foi fixado em 125 min nas análises

utilizando fluxo de 1 ,Oml/min, e de 85 min nas análises utilizando vazão de

1,4ml/min.

4 -A temperatura do detector foi ajustada para 35°C.

5 - A temperatura da coluna foi mantida em 35°C.

6- As amostras foram preparadas diluindo-se 3 gotas de gordura em 1,0ml

de acetona.

3.10. CORRELAÇÃO DOS DADOS EXPERIMENTAIS DE SOLUBILIDADE

Os dados experimentais obtidos foram correlacionados através da

equação de Chrastil (1982). Este modelo foi adotado devido a sua eficiência na

correlação da solubilidade de triglicerídeos e seus derivados em C02 supercrítico.

Foram obtidos dois conjuntos de dados de solubilidade a diferentes

temperaturas, necessário para a obtenção dos parâmetros da equação. A

metodologia empregada na regressão dos dados experimentais adotada, foi a

mesma sugerida por Chrastil (1982).

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CAPÍTUL04

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Neste trabalho de pesquisa, procurou-se estudar a aplicação dos

processos baseados nos fluidos supercríticos para a extração e fracionamento da

gordura de cupuaçu. Estudou-se os efeitos da pressão, temperatura e natureza do

solvente, com os objetivos principais de extrair e fracionar a gordura de cupuaçu

das sementes através de um processo utilizando fluidos supercríticos. Inicialmente

procurou-se caracterizar a matéria prima do trabalho. Os resultados das extrações

e caracterização das frações são apresentados e discutidos. Por fim os dados de

solubilidade obtidos em função da temperatura e densidade do solvente são

correi acionados.

4.1. DETERMINAÇÃO DO TAMANHO MÉDIO DE PARTÍCULA

A fim de caracterizar a matéria prima utilizada nas extrações da gordura

do cupuaçu foi realizada uma análise da distribuição granulométrica das

partículas. A determinação da distribuição do tamanho das partículas foi realizada

em duplicata segundo o procedimento descrito na seção 3.6.4. A representação

gráfica da distribuição é apresentada na Figura 4.1.1. O diâmetro médio de Sauter

das partículas calculado conforme procedimento descrito na seção 3.6.4

apresenta o valor 0,68mm e desvio médio de± 6%.

30, oo 1 .: ;::::::.::.=:.::.=:.::.=:.::.=:.::.=:.::.=:.::.=:::::; 25,00 111 Massa Retida nas Peneir;!!J

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Diâmetro Médio da Partícula (mm)

Figura 4.1.1 -Distribuição granulométrica das partículas das sementes

moídas de Cupuaçu

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Capítulo 4 - Resultados e Discussões 59 ~~~~==~~~~~------------------------------

4.2. DETERMINAÇÃO DE UMIDADE

Na determinação da umidade das sementes de cupuaçu foram realizadas

análises em triplicata. As amostras foram secas até peso constante por um total

de 117 horas. Em intervalos de aproximadamente 12 horas as amostras eram

transferidas para um dessecador, até que atingissem a temperatura ambiente.

Após atingir a temperatura ambiente as amostras foram pesadas e retomadas a

estufa. A umidade média é de 5,0% o desvio médio foi de± O, 1%.

4.3. DETERMINAÇÃO DO PERCENTUAL DE GORDURA PRESENTE

A percentual de gordura presente nas sementes moídas de cupuaçu foi

determinado em análises realizadas em triplicatas simultâneas, utilizando

equipamentos de extração Soxhlet. As extrações foram conduzidas por

aproximadamente 22 horas. Tempos inferiores resultam na incompleta extração

do óleo como constatado previamente. As determinações apresentaram uma

composição média em base seca de 62,30 % de óleo e desvio médio de ± 2,00%.

Os resultados obtidos estão próximos ao limite superior da faixa apontada na

literatura (45-65%).

O percentual de gordura obtido através das extrações com éter de

petróleo será adotado como base para o calculo do rendimento do processo de

extração supercrítica.

4.4. EXTRAÇÃO SUPERCRÍTICA DA GORDURA DE CUPUAÇU COM

SOLVENTES SUPERCRÍTICOS PUROS

A extração com fluidos supercríticos sofre influência da temperatura,

pressão, tamanho da partícula, velocidade superficial do fluido, densidade e

natureza do solvente (Recasens et ai., 1999). A taxa de extração é maior quanto

maior é a solubilidade do soluto no solvente. Sendo a solubilidade uma

propriedade de equilíbrio, é dependente da pressão, da temperatura, natureza e

composição do solvente. As outras variáveis que influenciam são a hidrodinâmica

e a taxa de difusão (Recasens et ai., 1999). A velocidade espacial do solvente no

extrator apenas passa a influenciar negativamente a transferência de massa na

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Capítulo 4 - Resultados e Discussões 60 ~==~~==~~~==~------------------------------

extração de óleos vegetais para valores superiores a 2,0 min-1 (Filippi, 1982). A

vazão de solvente 0,7 Umin, adotada neste trabalho, resulta em uma velocidade

espacial muito inferior ao valor no qual observa-se limitações de transferência de

massa.

Podemos então assumir que o equilíbrio é atingido no interior do extrator.

Dessa forma é possível calcular a solubilidade da gordura de cupuaçu assumindo

que esta apresenta composição praticamente constante ao longo de toda a curva

de extração (será melhor abordado na seção 4.6). Neste trabalho foram estudadas

a influência da pressão, temperatura, e tipo do solvente na taxa de extração da

gordura de cupuaçu.

As Figuras 4.4.1 a e b representam as curvas de extração, representadas

em coordenadas adimensionais dos ensaios realizados utilizaJ:Jdo COz supercrítico

como solvente, nas temperaturas de 50 e 70°C respectivamente e pressões

variando de 15,2 a 35,2Mpa. A representação adimensional foi escolhida para que

as informações tomassem-se independentes da quantidade de amostra utilizada

na extração, e dessa forma facilitando comparações e scale-up do processo.

Dessa maneira elimina-se a dependência dos resultados com a quantidade de

amostra alimentada aos extratores. O desvio médio foi ± 6%, que foi considerado

dentro de uma faixa aceitável (reproduções de 20% são normalmente relatadas

nos processos de extração supercrítica).

As Figuras 4.4.2 a e b representam as curvas de extração dos ensaios

utilizando Etano supercrítico para as temperaturas de 50 e 70°C respectivamente

e pressões variando na faixa de 21,4 a 35,2 MPa. O desvio médio avaliado foi de

±5%.

Nas extrações utilizando Etano supercrítico as frações foram coletadas em

intervalos de 50 litros do gás medidos nas condições de O, 102 MPa e 24°C (média

de 75 min por fração), para os experimentos utilizando C02 supercríticos as

frações foram coletadas em intervalos de 2001itros do gás medidos nas mesmas

condições (média de 290 min por fração). No caso do Etano a duração média das

corridas foi de 14 horas (considerando o tempo de pressurizar o extrator e limpeza

da tubulação de saída), para as extrações realizadas com C02 supercrítico as

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Capítulo 4 - Resultados e Discussões 61 ~~----~~--~~~~~------------------------------------

corridas levaram em média 50 horas. O máximo rendimento possível das

extrações, com base na determinação do percentual de gordura presente nas

sementes (avaliada através das extrações com éter de petróleo) é de 623g de

gordura/kg de sementes descascadas (base seca).

Pode-se verificar que quase todas as curvas de extração mostram

claramente 2 fases das 3 fases distintas da extração, segundo a definição

apresentada por Heidrick et ai. (1992): A região inicial da curva onde a taxa de

extração é dominada pela solubilidade termodinâmica; a região intermediária e a

região controlada pela difusão do soluto armazenado no interior da matriz sólida.

O início desta última região pode ser verificado nas extrações realizadas a 35,2

MPa e 31,7 MPa.

A distribuição do tamanho de cada uma das regiões está relacionado com

grau de ruptura dos tecidos que armazenam os óleos e gorduras, visto que estes

ficam armazenados em "celas" formadas por tecidos. O rompimento dessas

estruturas, através do pré-tratamento, libera os óleos e as gorduras, o chamado

"óleo livre", que fica exposto ao fluxo de solvente. Quanto maior o grau de ruptura

dos tecidos (significa: menor tamanho de partícula) maior será a região de

solubilidade e menor a região controlada pela difusão.

A extração deste óleo que é predominante no início da extração é

controlada diretamente pela solubilidade termodinâmica da gordura no fluido

supercrítico nas condições de extração, desde que a vazão não seja muito alta

para que não ocorra limitações na transferência de massa ou arraste do soluto. A

região intermediária é consequência do esgotamento do óleo livre em algumas

seções do leito (Sovová, 1994). Esgotado o óleo livre, a difusão do óleo

armazenado dentro das estruturas celulares passa a controlar o processo,

representando a terceira etapa da curva de extração.

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Capítulo 4 - Resultados e Discussões 62

700 700

600 600

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(kg co,lkg Senmtes) (kg co,lkg Senmtes)

Figura 4.4.1 a - Curva de extração da Figura 4.4. 1 b - Curva de extração da

gordura de cupuaçu, em base gordura de cupuaçu, em base

adimensional, a 50°C e vazão de 0,7 adimensional, a 70°C e vazão de 0,7

1/min utilizando co2 supercrítico como 1/min utilizando co2 supercrítico como

solvente. solvente.

Analisando as curvas de extração verifica-se que a solubilidade e

consequentemente a taxa de extração aumentam com o aumento da pressão.

Este fato é bem ilustrado nos trabalhos de Friedrich et ai. (1984) e Sovová et ai.

(1996), entre outros. As curvas de extração obtidas para as temperaturas de 50 e

70°C mostram que a solubilidade (caracterizada pela inclinação da curva)

aumenta com o aumento da pressão. Estes resultados estão em concordância

qualitativa com dados apresentados na literatura para a extração de outros óleos e

gorduras vegetais a partir de sementes oleaginosas (Li e Hartland, 1996; Temelli,

1992; Fiedrich, 1982).

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Capítulo 4 - Resultados e Discussões

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(kg Etanolkg Sementes)

Figura 4.4.2a - Curva de

gordura de cupuaçu,

adimensional, a 50"C e

extração da Figura 4.4.2b

em base gordura de

vazão de adimensional,

63

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+21.4MPa

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i"31.7MPa •35.2MPa

6 8 10 12 14 16 18 20 (kg Dooolkg Sementes)

- Curva de extração da

cupuaçu, em base

a 70"C e vazão de

0,71/min utilizando Etano supercrítico 0,71/min utilizando Etano supercrítico

como solvente como solvente

O efeito do aumento da pressão, à temperatura constante, no aumento da

solubilidade deve-se ao fato da capacidade de solubilização dos fluidos

supercríticos estar diretamente relacionada com a densidade. Incrementos na

pressão a temperatura constante elevam a densidade do fluido supercrítico,

ocasionando um aumento no poder de solubilização (McHoug e Krukonis, 1994).

Pode-se verificar que ambos os solventes mostraram-se eficientes na

extração da gordura de cupuaçu, apresentando rendimentos comparáveis aos

obtidos utilizando solventes orgânicos. Para a extração de certa quantidade de

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Capítulo 4 - Resultados e Discussões 64 ~~~--~~~~~~~~------------------------------------

gordura quando o solvente utilizado é o dióxido de carbono, pressões elevadas,

bem como maiores quantidades de solvente e tempos de extração se fazem

necessários. O Etano mostrou-se um solvente mais eficiente para a extração da

gordura de cupuaçu, podendo-se portanto trabalhar a pressões mais baixas o que

resulta em um menor gasto energético sem perda de rendimento no processo.

A Figura 4.4.3 mostra a solubilidade da gordura de cupuaçu em função da

pressão para cada uma das temperaturas estudadas. Na faixa de pressão

estudada foi verificado a existência do comportamento retrogrado nas extrações

realizadas com ambos os solventes. A pressão onde o sistema passa do

comportamento retrógrado para o comportamento não retrógrado é conhecida

como pressão de cruzamento, e é função da natureza do solvente e do soluto

(Chimowitz e Pennisi, 1986). Para as temperaturas estudadas (50 e 70°C) no

sistema C02-triglicerídeo a pressão de cruzamento ocorre a aproximadamente

31,7MPa enquanto que para Etano-triglicerídeo a mudança de comportamento do

sistema ocorre a aproximadamente 26,0MPa.

O comportamento retrógrado muito comum em sistemas contendo fluidos

supercríticos ocorre devido a existência de dois efeitos concorrentes quando se

eleva a temperatura (McHoug e Krukonis, 1994): A densidade do solvente à

pressão constante diminui quando este é submetido a um aumento de

temperatura. Como o poder de solvência é função direta da densidade do

solvente, a capacidade do fluido supercrítico de solubilizar o soluto diminui,

resultando em uma diminuição da solubilidade. Por outro lado a pressão de vapor

do soluto é aumentada, resultando em uma maior solubilidade no fluido

supercrítico. Entretanto, à medida que a pressão aumenta a amplitude do

decréscimo da densidade do solvente é reduzida (Model e Reid, 1983). A pressão

de vapor do soluto passa a exercer o efeito predominante (Fattori et ai., 1988).

Neste ponto as isotermas se cruzam, delimitando as áreas de maior influência de

cada um dos efeitos. O comportamento retrogrado foi verificado por Friedrich

(1982) para óleo de soja confirmando as observações realizadas neste trabalho.

Analisando ainda a Figura 4.4.3 observa-se que a gordura de cupuaçu é

cerca de 10 vezes mais solúvel em Etano supercrítico que em C02 supercrítico

para as mesmas condições de pressão e temperatura. Este fato também foi

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~C~a~p~nu~l~o~4_-~R~e~s~u~~a~d~os~e~D~isc~u~$~Õ~e~s______________________________________ 65

verificado por Mohamed et ai. (2000) para óleo de manteiga de leite e colesterol e

por Mendes (1999) para 13-Caroteno.

A Figura 4.4.4 mostra a solubilidade da gordura de cupuaçu em função da

densidade do solvente. Nas mesmas condições de pressão e temperatura a

densidade do Etano supercrítico é praticamente a metade da densidade do C02

supercrítico.

1,40E.01

1,20E.01

1,00E-01

:g; "' ";;' B,OOE-02 'O .. :!! :;; S,OOE-02 ::J

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4,00&02

2,00E.02l

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Pressão (MPa)

40,0

-+-50"C-C02

-..7Q'C-C02

....... so•c-Etano

.-.7QOC-Etano

500 700 900 Densidade (Kglm3

)

1100

Figura 4.4.3 - Solubilidade da gordura Figura 4.4.4 - Solubilidade da gordura

de cupuaçu em função da pressão de cupuaçu em função da densidade do

solvente

Procurou-se ainda verificar se houve limitações em relação ao número de

moléculas disponíveis no extrator para a formação do complexo de solvatação.

Cada fração nas extrações realizadas com etano supercrítico foram retiradas após

a passagem de 62 grama de etano e no caso das extrações realizadas utilizando

C02 supercrítico como solvente as frações foram coletadas após a passagem de

366g, disto pôde-se concluir que a quantidade de moléculas de co2 disponíveis

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Capítulo 4 - Resultados e Discussões 66 ~~~--~~~~~~~~------------------------------------

para a formação do complexo de solvatação foi 4 vezes maior uma vez que as

massas moleculares dos solventes são próximas (30 e 44 g/mol respectivamente).

A seguir apresenta-se uma discussão descritiva das forças físicas de interação

molecular na tentativa de verificar a razão da maior solubilidade da gordura de

cupuaçu observada em etano supercrítico em comparação àquela observada em

C02. Referente às interações moleculares tem-se: as interações moleculares

conhecidas como "forças de van der Waals", ou forças de orientação, que ocorrem

em moléculas com dipolos ou multipolos permanentes (interações tipo dipolo­

dipolo), as interações entre moléculas que possuem um dipolo permanente e

outras que não possuem dipolo ou multipolo (interações dipolo-dipolo induzido),

chamadas de forças de indução, e por fim as forças de "London" que são forças

que acontecem entre todas as moléculas, mas que são principais entre pares de

moléculas que não possuem dipolos ou multipolos, conhecidas como forças de

dispersão. Estas forças são oriundas dos efeitos de indução sobre as nuvens

eletrônicas, ou seja, das flutuações instantâneas da distribuição de carga das

moléculas.

As forças de orientação, podem ser facilmente compreendidas em termos

eletrostáticos simples (por exemplo: partes predominantemente negativas de uma

molécula atraem partes positivas de outra molécula e vice-versa).

As forças de indução podem ser analisadas de acordo com a eletrostática,

um corpo neutro ao ser aproximado de um corpo carregado passa a apresentar

um desequilíbrio das cargas elétricas na partícula, dessa forma sendo atraído pelo

mesmo. Moléculas grandes podem facilmente deformar a nuvem eletrônica da

molécula em tomo dos núcleos, e como consequência apresentar grandes

polarizabilidades, como é o caso das moléculas dos triglicerídeos. Quando uma

molécula apoiar é colocada na presença de uma molécula na qual existe um

momento dipolo, esta molécula passa a apresentar um dipolo induzido. A força da

interação dependerá da intensidade do momento dipolo.

As forças de dispersão também têm origem eletrostática, mas os

mecanismos são mais sutis. Esse tipo de força, comum a moléculas simétricas,

apoiares e até a moléculas monoatômicas, deve-se ao fato de que em dado

momento qualquer a nuvem eletrônica da molécula deixa de ser simétrica em

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~c~a~pí~tu~lo~4~-~R~es~u~lt~ad~o~s~e~D~i&ru~~~õ~es~----------------------------------- 67

relação ao núcleo. Essa momentânea polaridade da molécula induz em outra

molécula, uma deformação da nuvem eletrônica e consequentemente o

aparecimento um momento dipolo, resultando em uma atração molecular entre

ambas. São forças comuns a todos os tipos de moléculas. A diferença destas

forças para as forças de indução é que no outro caso uma das moléculas

apresenta momento dipolo ou multipolo permanente, enquanto que neste caso o

desequilíbrio da nuvem eletrônica é instantâneo e deve-se por exemplo a efeitos

como a vibração das ligações dos átomos na molécula.

Analisando os compostos presentes nos sistemas estudados neste

trabalho, de acordo com as suas características eletrônicas, e as forças

moleculares presentes nos sistemas estudados neste trabalho verifica-se que: As

moléculas de C02 não apresentam momento dipolo, entretanto apresentam

momento quadripolo de -4,3 x10-26erg112cm~10-26 (Prausnitz et ai., 1986) e

polarizabilidade igual a 2.9x 10-24 cm3 (Mendes et ai., 1999). As moléculas de Etano

são moléculas que apresentam apenas um pequeno momento quadripolo de -0,65

x10-26erg112cmS'2 (Prausnitz et ai., 1986) e polarizabilidade igual a 4,4x 10-24 cm3

(Mendes et ai., 1999). Na literatura não foram encontrados valores publicados das

propriedades para as moléculas dos triglicerídeos.

Entretanto, algumas características da molécula podem ser avaliadas de

acordo com a sua estrutura molecular. As moléculas dos TAG presentes na

gordura de cupuaçu são moléculas grandes, possuindo nas suas extremidades

cadeias carbônicas que apresentam 16 a 20 átomos de carbono. As configurações

espaciais possíveis para esse tipo de molécula são: em forma de garfo ou forma

de cadeira. Moléculas assimétricas possuem dipolos permanentes devido a

distribuição desigual das cargas eletrônicas em torno de um núcleo carregado

Prausnitz et ai. (1986). A intensidade do dipolo é função do tamanho da molécula

e da eletronegatividade dos átomos presentes. Para a molécula dos triglicerídeos

é esperado que o valor deste dipolo seja muito pequeno, entretanto devido ao seu

grande tamanho pode facilmente deformar a nuvem eletrônica em relação núcleo

da molécula, resultando então uma grande polarizabilidade.

Com base nas definições apresentadas e nas características das

moléculas que compõem os sistemas estudados neste trabalho (C02, Etano e

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~c~a~pí~tu~lo~4~-~R~$=u=lt=ad=o~s=e~D=is=c~u=sso=-~es~ ___________________________________ 68

triglicerídeos) pode-se fazer algumas estimativas das magnitudes relativas das

forças de interação entre as moléculas nos sistemas em questão.

Apresenta-se a seguir um cálculo simplificado das forças atrativas nos

sistemas de extração considerados neste trabalho (Tassios, 1993). As forças de

interação são calculadas de acordo com as expressões abaixo:

Dipolo-Dipolo:

Dipolo-Dipolo Induzido: 2 - ap.

r~i =--'-1

r'

Dispersivas: f - -~ a,aJ [ IJ; l "- 2 r' I, +l I

J~

(4.4.1)

(4.4.2)

(4.4.3)

Onde (a) é a polarizabilidade da molécula, (r) a distância entre os núcleos das

moléculas, (!l) o momento dipolo das moléculas, (I) o primeiro potencial de

ionização da molécula, (k) a constante Boltsman e T a temperatura.

Estas equações podem ser escritas na seguinte forma:

Dipolo-Dipolo: Tij =- fld-d (6

Dipolo-Dipolo Induzido: rií = _l3d-id r6

Dispersivas: Fij =

(4.4.4)

(4.4.5)

(4.4.6)

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~C~aLpí~tu=lo~4~-~R=es=u=lt=ad=o=s~e~D=i=~=u=~=õ=es~----------------------------------- 69

Onde (~ct-d), (~ct-ict) e (~ict-ict) são constantes positivas para cada tipo de força. As

contribuições para cada tipo de força pode então ser avaliada em função de r

apenas determinando o valor das constantes. Para avaliar as forças de indução foi

considerada a abordagem apresentada por Prausnitz (1986) para a energia

potencial de indução entre uma molécula que apresenta quadripolo e uma

molécula apoiar. A equação leva em consideração as polarizabilidades das

moléculas, os momentos quadripolos e a distancia entre as moléculas, a equação

apresenta-se na seguinte forma:

Quadripolo- Dipolo induzido: - 3(aQ2 +a 0 2

) r--- 1 1 J-1

" . 2r (4.4.7)

Onde Q é o momento quatripolo das moléculas. Ou em termos da constante ~a-ict

-r .. __ Pº-'" "- r' (4.4.8)

A fim de verificar se as suposições feitas estão de acordo com a teoria e

como não existem valores das propriedades acima listadas para a molécula dos

triglicerídeos, foi considerando que estas apresentam grandes cadeias carbônicas

e que suas propriedades (polarizabilidade e primeiro potencial de ionização) são

similares as moléculas de hidrocarbonetos, foi considerado que a molécula de

Heptano, apesar de ser uma molécula pequena, serve como representação (para

fins ilustrativos) de uma molécula de triglicerídeos. A suposição é que as

interações nos sistemas C07 Heptano e Etano-Heptano refletem o que

aconteceria nos sistemas C07 triglicerídeo e Etano-triglicerídeo, respectivamente.

Os valores das propriedades das moléculas são apresentados na Tabela

4.4.1 e resultados do cálculo aproximado são apresentados na Tabela 4.4.2

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~C~a~pi~tu~lo~4~-~R~es~u~lt~ad~o~s~e~D~i~~u~~~õ~e~s ____________________________________ m

Tabela 4.4.1 -Propriedades elétricas (Weast and Lide, 1990, Xu et ai. 1988,

Prausnitz et ai., 1986)

Propriedade da molécula co2 Etano Heptano

Polarizabilildade (cm3) x 10-24 2,911 4,470 13,700

12 Potencial de ionização (J) x 10-18 2,206 1,843 1,586

Momento dipolo (Debye) o o o

Momento quadripolo (erg112 cm512) x 10-26 -4,300 -0,650 o

Tabela 4.4.2- Energias potenciais de interação intermoleculares

Forças de Forças de Forças de

interação de interação Sistema interação de

indução dispersivas orientação (J.cm6

) (J.cm8) x 10-411 (J.cm6) x 10-65

C02- Heptano o -3,79 -5,52

Etano - Heptano o -0,07 -7,83

Pode-se verificar que as forças dispersivas ou de London são maiores no

caso do par Etano/Heptano, e que as forças de indução em comparação com as

forças dispersivas são desprezíveis.

Outra forma de avaliar as interações dispersivas é se fazer uma

extrapolação da faixa de aplicação do potencial de Lennard-Jones. Este tipo de

potencial leva em consideração as contribuições dispersivas das forças de

interação atrativas e as forças repulsivas entre duas moléculas em dois termos

distintos resultando em um valor de energia potencial de dispersão entre duas

moléculas. O Lenard-Jones é a forma sais conhecida do potencial de Mie's que é

baseado na teoria de London, e é aplicado a pequenas moléculas simétricas, não

levando em conta as interações por indução ou orientação. Entretanto pode-se

encontrar as constantes s e cr que representam a magnitude da energia de

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~c~a~p~nu~l~o24_-~R~es~u~~~ad~o~s~e~D~i~~~u~$~Õ~e~s ____________________________________ 71

interação e a distância entre as moléculas respectivamente, para várias moléculas

na literatura. O potencial de Lennard-Jones é calculado pela seguinte equação:

(4.4.9)

O primeiro termo do lado direito da equação representa as forças de

interação repulsivas (que impedem por exemplo, que duas moléculas se

interpenetrem) e o segundo termo do lado direito o termo de interação atrativas

(as forças dispersivas de Londom propriamente ditas). Os valores para as

constantes de interação de duas moléculas diferentes podem ser calculados de

acordo com a aproximação de Lorentz- Bertthelot onde:

(4.4.9 a)

(4.4.9 b)

Os valores das propriedades s e cr para as interações são apresentados

na Tabela 4.4.3. Os resultados dos cálculos do potencial de Lennard-Jones

(Figura 4.4.5) mostram que para o par Etano/Heptano a magnitude do potencial

atrativo é maior que no sistema C02/Heptano. Isso significa que no primeiro as

forças de interação dispersivas são mais fortes. Esta análise poderia ser realizada

apenas considerando o par COrC02 e o par etano-etano, pois este último

apresenta maior característica dispersiva.

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~C~a~p~rru~lo~4~-~R~es~u~lt~ad~o~s~e~D~i~~u~sso~-~es~---------------------------------- 72

Tabela 4.4.3- Parâmetros do potencial de Lennard-Jones

(Cussler, 1984, Xu et ai. 1998)

Par de Moléculas &I k (K) a (A)

COz-COz 91,7 3,690

Etano-Etano 215,7 4,442

Heptano-Heptano 186,46 3,288'

COz -Heptano 130,76 3,489

Etano - Heptano 200,54 3,865

* diâmetro de LJ do segmento da molécula

~:::r-.!!! 250 l :I ~ 200 õ ê 15o

J!! 100 .E iii 50 u c o J!! o o. -50 Cll

e'-100 CP c w -150

-200

-250

00 2.0

-Etano- Heptano

-C02- Heptano

8.0 10.0 12.0 14.0 16.0 18.0

Distância lntermolecular (r)

Figura 4.4.5- Potenciais de Lennard-Jones

Os resultados aproximados sobre as forças intermoleculares justificam e

explicam a maior solubilidade dos triglicerídeos em Etano supercrítico em

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Capítulo 4 - Resultados e Discussões 73 --~------------~~~~------------------------------------

comparação com a solubilidade em C02 supercrítico. Isto se deve às mais fortes

interações do tipo dispersivas.

Mohamed et al.(2000) relaciona a maior solubilidade do colesterol em

Etano supercrítico que em C02 supercrítico como função das interações mais

fortes da molécula de Etano com a parte apoiar da molécula de colesterol

constituída por uma cadeia carbônica (forças de características indutivas). A

avaliação do efeito indutivo realizada por estes autores mostra que as forças de

"van der Walls" presentes nos sistemas são fracas e a maior polarizabilidade do

Etano resulta em mais fortes interações e consequentemente maior solubilidade.

Mendes et ai. (1999) relaciona a maior solubilidade do f3-Caroteno (molécula

apoiar e simétrica) em Etano supercrítico com a maior polarizabilidade do Etano

(4,4x 10-24 cm3) em relação ao C02. (2.9x 10-24 em\ ou seja devido as forças de

caráter dispersivo. As suposições realizadas por estes autores a fim de explicar a

maior solubilidade dos compostos estudados em Etano e COz estão de acordo

com as conclusões deste trabalho.

4.5. EXTRAÇÃO DA GORDURA DE CUPUAÇU UTILIZANDO C0-50LVENTES

A utilização de co-solventes nos processos de extração tem como função

aumentar a seletividade da extração para um determinado composto ou aumentar

a taxa de extração, sem perda significativa de seletividade. Ao adicionar um co­

solvente ao solvente, pode-se aumentar a densidade da fase, e/ou alterar a

polaridade. Alguns mecanismos podem ser responsáveis pelo efeito do co­

solvente: associação química do soluto com o co-solvente (pontes de hidrogênio,

formação de complexo) (Walsh et ai., 1987), modificação das interações

moleculares (dipolo-dipolo, dipolo-dipolo induzido e dipolo induzido-dipolo

induzido) entre o co-solvente e o soluto (Ekart et ai, 1993), sendo também possível

que o co-solvente interaja como o solvente modificando as interações solvente

soluto, e finalmente a adição do co-solvente pode aumentar a densidade do

solvente, resultando em um maior poder de solvência. Sabe-se que uma mistura

de solvente (1) e co-solvente (2) pode funcionar como um bom solvente para um

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Capítulo 4- Resultados e Discussões 74

determinado soluto, mesmo que nenhum dos dois componentes 1 ou 2 sejam

capazes de dissolver determinado soluto.

A solução solvente-co-solvente apresenta propriedades termodinâmicas

(pressão crítica, temperatura crítica) diferentes do solvente e do co-solvente puros,

podendo ser classificada como um novo solvente. A cada nova composição, as

constantes críticas das misturas serão diferentes.

O Etano mostrou-se ser um solvente bastante eficiente na extração da

gordura de cupuaçu. As extrações realizadas utilizando C02 como solvente apesar

de apresentarem rendimentos próximos aos obtidos utilizando Etano,

necessitavam de longos tempos de extração. O que torna o processo mais

oneroso. A fim de melhorar a capacidade de extração do C02, foi adicionado

Etanol ao sistema como co-solvente. O Etanol conforme descrito na literatura

citada (Li e Hartland, 1992, 1996) é um co-solvente eficiente para a extração de

triglicerídeos.

As extrações foram realizadas conforme procedimento descrito na seção

3.7.2, para pressões de 24,8 a 35,2MPa e temperaturas de 50 e 70°C. Durante o

processo de extração verificou-se que a composição do solvente variou a medida

que o Etanol foi sendo esgotado no extrator onde era realizada a mistura. A fração

molar do C02 variou entre 0,75 e 0,97. Com base no trabalho de Panagiotopoulos

(1986) observou-se que nas condições de extração utilizadas neste trabalho a

mistura solvente/co-solvente inicialmente não estava nas condições supercríticas.

O processo foi inicialmente realizado na região de líquido supercomprimido.

As Figuras 4.5.1 e 4.5.2 mostram as curvas de extração da gordura de

cupuaçu em bases adimensionais, considerando apenas a massa do solvente. O

erro experimental avaliado foi de 5%. A gordura extraída e o Etanol foram

coletados nos separadores, e devidamente quantificados. O intervalo utilizado

para a coleta das frações foi de 75 litros medidos nas condições normais (média

de 11 O min por fração), totalizando 15 horas para a realização completa da

extração. Nestas figuras pode-se verificar que a adição de Etanol ao C02

aumentou sensivelmente a solubilidade da gordura de Cupuaçu. Em todos os

níveis de pressão estudados obteve-se rendimentos superiores a 95%, com

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Capítulo 4- Resultados e Discussões 75 ~~~--~~~~~~~~------------------------------------

consumo 4 vezes menor de solvente, e redução de 75% no tempo de extração.

Estes fatos refletem a eficiência do Etano! como co-solvente.

~ 600-"' 2 c:

"' E 500 "' (/)

"' ~ 400-

"' 32 g 300 X w ~ ::> "E 200 -

8 "' . - 100 i

• I

::::: ~:: I I

• 35,2 MPaj

0~,·----- --------------0 5 10 15 20 25 30 35 40

(kg COz f kg Sementes)

600 .

~ -" " E 500 -

" (/)

ª' 400 --"' 32 ~ 300 _é '\( UJ

~ ::> "E 200 '" o

<:> ~ 100 -

• +

I I * 24,8 MPa i

I I

~ 28,3 MPa

., 35,2 MPa

5 10 15 20 25 30 35 40

(kg C02 1 kg Sementes)

Figura 4.5.1 - Curvas de extração da Figura 4.5.2 - Curvas de extração da 1

I gordura de cupuaçu, em bases gordura de cupuaçu, em bases I

adimensionais, utilizando co21 adimensionais, utilizando co21 adicionado de Etano! como co-solvente adicionado de Etano! como co-solvente

na temperatura de 50°C na temperatura de 70°C

Essa eficiência pode ser analisada em relação a variação na densidade do

solvente pela adição do Etano! e em relação a modificação na magnitude das

forças de interação. As propriedades da molécula de Etanol são: momento dipolo:

1,70 debye (Prausnitz et ai., 1986}, polarizabilidade: 5,41x10-24 cm3 e primeiro

potencial de ionização: 1 ,68x1 o·18 J (Weast and Lide, 1990). Pode-se verificar de

acordo com a teoria que no sistema ocorrerão forças de interação de orientação

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Capítulo 4 - Resultados e Discussões 76 ~~~--~~~~~~~~------------------------------------

(dipolo do Etanol-quadripolo do C02), que são calculadas de acordo com a

Equação 4.5.1 (Prausnitz et ai., 1986):

Dipolo-Quadripolo: r ij = 'O' Jli -i + ...

kTr' (4.5.1)

Ou

Onde e as reticências indicam que outros termos da série referentes as interações

multipolo (octupolos, hexadecapolos, etc) podem ser adicionados. Também

presentes as forças de indução e forças de dispersão.

Para moléculas com momentos dipolos de 1 Debye ou menos essas

contribuições são muito pequenas (Prausnitz et ai, 1986). No caso das interações

entre o par de moléculas COz-Etanol, a contribuição das forças polares na energia

total de interação é de: !3d-o= -1 ,24x1 0'73 J*cm8 (valor em função da distância),

enquanto que a contribuição dispersiva para este mesmo par de moléculas é de

J3id-id = -2,21x10.ffi J*cm6, indicando que mesmo para este par de moléculas o

efeito dispersivo é forte.

Em relação ao par de moléculas Etanoi-Heptano, não há forças polares,

ocorrendo apenas forças de indução e forças de dispersão, os receptivos valores

são: l3d-id -3,96x10-<i9 J*cm8 e J3id-id = -8,58x10.ffiJ*cm6. Nota-se que as forças de

indução neste caso superam as forças de dispersão. Portanto pode-se considerar

que as moléculas do Etanol induzem o aparecimento de um momento dipolo

considerável na molécula do triglicerídeo, resultando em interações de indução

mais fortes co-solvente-soluto e consequentemente maior interação solvente (C02

com momento quadripolo) e soluto (triglicerídeo apresentando momento dipolo

induzido). Sendo estas forças as responsáveis pelo aumento da solubilidade do

triglicerídeo na mistura C02-Etanol.

Para verificar a magnitude das forças dispersivas no sistema COz-Etanoi­

Triglicerídeo, pode-se avaliar o potencial de Lennard-Jones par a par. Inicialmente

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Capítulo 4 - Resultados e Discussões 77 ~~~~==~~~==~-----------------------------

calcula-se os parâmetros de Lennard-Jones e e cr cruzados para o par C02-Etanol,

e em seguida calcula-se os parâmetros cruzados entre o Etano! e o Heptano

(molécula adotada como referência). Os parâmetros para o Etano! são Elk = 362,3

K e cr = 4,53 A. A Figura 5.5.1 mostra que as interações dispersivas globais são

maiores neste para este sistema em comparação com o sistema onde o C02 puro

foi utilizado como solvente.

4,00E+02

~ 3,50E+02 1-. ~ 3 OOE+02 ... ,

~ 2,50E+02

g 2,00E+02

ê 1,50E+02 ~ ,! 1,00E+02 c: = 5,00E+01 a:l

- C02 - Heptano

~-~~ Etanol- Heptano

- C02-Etanol

"(j O,OOE+OO t-----11!---~;;;;;;;;=----....,----..,----......,-----; c: ,! -5,00E+01 O o ll. -1 ,OOE+02 a:l "õr1 ,50E+02 ... ~-2,00E+02

w-2,50E+02

-3,00E+02 J

10,0 15,0 20,0 25,0 30,0

Distância lntermolecular (r)

Figura 4.5.3- Potenciais de Lennard-Jones

Portanto o aumento de solubilidade da gordura de cupuaçu no C02

modificado com Etano! deve-se as mais fortes interações de indução entre o

Etano! e a molécula de triglicerídeo, que consequentemente resulta em interações

de indução entre as moléculas de co2 e triglícerídeo devido ao mais forte dipolo

induzido que a molécula de esta passa a ter, e também a modificação na

densidade do solvente por adição de Etano!. Outra possibilidade é a formação de

pontes de hidrogênio entre a molécula de etano! e o núcleo da molécula do

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Capítulo 4 - Resultados e Discussões 78 ~~~~~~~~~~~~------------------------------------

triglicerídeo, onde se encontram os radicais carboxila esterificados. Entretanto a

avaliação desta suposição não é trivial, requerendo a realização de análises

calorimétricas ou simulações moleculares.

Pode-se verificar também que as forças dispersivas aumentam no sistema

com a adição de Etanol. Analisando a Figura 5.5.1 verifica-se que as magnitudes

dos potenciais de interação dispersivos, determinados através do cálculo do

potencial de Lennard-Jones, apresentam maiores magnitudes para os sistemas

Etanoi-CO:r-Heptano (molécula utilizada como referência).

4.6. CORRELAÇÃO DE SOLUBILIDADE

A equação de Chrastil (1982) foi utilizada para correlacionar os dados de

solubilidade da gordura de cupuaçu em C02 e Etano supercríticos. Para

determinação dos parâmetros da equação (n, a e b) são necessários dois

conjuntos de dados de solubilidade a temperaturas diferentes. Os parâmetros

podem ser obtidos através da regressão linear dos logaritmos da densidade e da

solubilidade.

A Figura 4.6.1 mostra o gráfico da concentração vs. a densidade do

solvente em escala logarítmica para o sistema COz/gordura de cupuaçu nas

temperaturas de 50 e 70°C, as linhas cheias representam a regressão linear de

cada conjunto de dados separadamente. Os parâmetros da equação de Chrastil

obtidos a partir dos dados experimentais são: n= 7,88, a= -2871,1850 e b= -

42,6291. O erro percentual no ajuste dos valores preditos foi de 4,5% para a

temperatura de 50°C e de 5, 7% para a temperatura de 70°C.

A equação de Chrastil, tem-se mostrado muito satisfatória na correlação

dos dados experimentais de solubilidade de óleos em COz supercrítico. Como foi

verificado por outros autores (Nilson e Hundson, 1993; Maheshwari et ai., 1992;

Silva, 1999) e também neste trabalho, observando-se que o erro do ajuste em

ambos os casos foi muito próximo ao erro experimental (6%).

Para a correlação dos dados de solubilidade no Etano supercrítico o erro

percentual no ajuste foi de 8,3% para os dados obtidos na temperatura de 50°C e

de 8,4% para os dados obtidos na temperatura de 70°C. Os valores dos

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Capítulo 4 - Resultados e Discussões 79 ~==~~==~~~==~------------------------------

parâmetros do modelo são: n=10,36, a=-3364,0747 e b=-48,5783. O resultado

gráfico do ajuste pode ser visto na Figura 4.6.2.

1,0E+03

:s õí o ....1

I v 11 I

I I

I! li I ! I

i'

' f 11 I I I I , I

! 'i

~C02-50"C

.. C02-70"C

111 I I li lj I I ' 1111 I I 'I fi II I I I

' i

! li! I IJ' 'llii,J I I 1

1

1

11 I 1 11 I I I! i ' 1 ,OE+02 +--'--'-'-'.LLL't--'-'-'-'-llllf---l-L.L.L.Lillj

1,0E-61 1,0Et00 1,0Et01 1,0E+02 Log(C)

1,0E+03

I I I' I ! I I ,._""

I I

I '

' i • I , '

\ I

I li l i 111 1,1E+02 ____ l[_____j____L...J_..L...L~ 1,1E+01 Log(q 1,0E+02

Figura 4.6.1 - Ajuste da solubilidade da Figura 4.6.2 - Ajuste da solubilidade da

gordura de cupuaçu em co2 gordura de cupuaçu em etano

supercrítico à equação de Chrastil supercrítico à equação de Chrastil

O parâmetro n da equação, que representa o número médio de moléculas

do solvente presentes na formação do complexo de solvatação, não permaneceu

constante para os dados experimentais obtidos neste trabalho no caso onde o

Etano foi utilizado como solvente. O valor de n apresentado representa a média

aritmética dos valores individuais obtidos por regressão linear de cada conjunto de

dados. Este procedimento foi adotado por dispormos de dados experimentais

suficientes para a determinação de uma correlação para o parâmetro nem função

da temperatura.

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Capítulo 4 - Resultados e Discussões 80 ~~~~==~~====~------------------------------

Silva (1999) verificou na extração do óleo de urucum utilizando C02

supercrítico como solvente, na faixa de temperatura de 304 a 325 K, que o

parâmetro n comporta-se como uma função quadrática da temperatura, mostrando

que a medida que a temperatura é elevada mais moléculas incorporam-se ao

complexo. Chrastil (1982) relaciona o valor fracionário do parâmetro n com a

estabilidade dos diferentes complexos de solvatação formados, uns mais estáveis

outros menos, com diferentes número de moléculas do solvente incorporadas ao

complexo.

No caso do C02 verificou-se que nas condições de temperatura estudada,

o número médio de moléculas não sofre influência da temperatura. Entretanto nas

extrações realizadas utilizando Etano supercrítico o número médio de moléculas

variou. O erro no ajuste avaliado foi superior ao erro no ajuste verificado para a

solubilidade em C02 supercrítico, sendo possivelmente função de um maior erro

experimental na extração realizada a 31,7 MPa e 70°C.

4.7. FRACIONAMENTO DA GORDURA DE CUPUAÇU

Nesta seção são apresentados os resultados da caracterização das

frações de gordura de cupuaçu extraídas com C02 e Etano supercríticos.

Inicialmente serão discutidos os resultados referentes a determinação da

composição de triglicerídeos das frações, em seguida serão analisados os

resultados referentes ao comportamento térmico, durante a fusão, das frações. A

gordura de cupuaçu extraída com éter de petróleo foi utilizada como referência e

base de comparação.

4.7.1. Determinação da Composição de Triglicerídeos das Frações de

Gordura de Cupuaçu

A Figura 4. 7 .1.1 mostra um cromatograma típico da gordura de cupuaçu.

Na Tabela 4.7.1.1 são apresentados os triglicerídeos identificados na gordura de

cupuaçu extraída com Éter de Petróleo e utilizada como referência para

identificação de um possível fracionamento. Os picos foram identificados através

de padrões puros (Sigma) e por comparação direta com cromatogramas

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~C~a~pí~tu=lo~4~-~R~~==ul~ta=do~s~e~D=i=~~u~~~õ=es~--------------------------------- 81

disponíveis na literatura para gordura de cupuaçu. O erro experimental global

avaliado para as análises, determinado através da realização de duplicatas, foi de

±4%.

Tabela 4.7.1.1 -Composição de triglicerídeos da gordura de cupuaçu extraída com

solvente orgânico

Triglicerídeos Composição (%)

PliP 0,41

000 2,77

POO 4,66

PliS 1,23

POP 1,42

soo 13,87

POS 13,15

OOA 6,55

sos 33,37

PSS 0,77

SOA 18,06

Outros 3,72

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Capítulo 4 - Resultados e Discussões 82 ~~~~~~~~~~------------------------------

HlVr-r-----------------------------,

6

c

20 40

\i i!

i\ ) \ i i

:i I'

I 8 i ! , I

t li j ~ ~

li, i

i\ i \ ; !l l ! H i ' ~ l

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10 i

' ' n Oi

li

\!

I" J \

6G

I·I'UP 2-000 3-POO 4-A.iS S.POP s.soo 7-POS 8-00A !1-SOS t<I-PSS 11~SOA

f.OUfROS

8C:

• ,f\

Figura 4.7. 1.1 - Cromatograma da gordura de cupuaçu extraída com éter de

petróleo

Analisando o cromatograma, verifica-se que os triglicerídeos SOO, POS,

OOA, SOS e SOA são os mais representativos da gordura (cerca de 85% da

composição) e que apresentaram melhores resoluções. Portanto foram tomados

como base para a identificação de um possível fracionamento e análise de

possíveis dependências com as variáveis de processo.

Na Figura 4.7.1.2 é apresentada a composição em termos de percentuais

das frações de gordura de cupuaçu extraídas com etano supercrítico a 24,8MPa e

50°C e da gordura extraída com solvente orgânico. Observa-se que as

composições dessas frações, apresentam ligeira variação quando comparadas

entre si e em relação a gordura de cupuaçu original, entretanto é importante levar

em consideração o erro experimental de 4%.

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~C~a~pí~tu~lo~4~-~R~e~s~u~lta~d~o~s~e~D~is~c~u~~õe~s~---------------------------------- 83

50~--- -····--------------------·······--·---------·- ---------------·-······------·--·-·····-·-·· -··---------------------

- 35 +--------------­

*' -o 30+---------------------------•CO t> ~ 25+-------------------0 Q. E 20 +-----------­o (.) 15 +----------

10

5

o soo POS OOA SOS

Triglicerídeo SOA

Figura 4.7.1.2- Percentual dos triglicerídeos nas frações extraídas a 24,8MPa e

50°C utilizando etano supercrítico como solvente, F1 ... i =Frações coletadas durante

a extração, GO= gordura extraída com éter de petróleo.

A Figura 4.7.1.3 apresenta a composição das frações 1 e 7 extraídas com

C02 supercríticos para a pressão de 35,2MPa e temperatura de 50°C. A

composição das frações apresentam uma pequena variação em relação a gordura

de cupuaçu original e ente si indicando um possível fracionamento.

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Capítulo 4 - Resultados e Discussões 84 ~~~~~==~==~~------------------------------

40

i O

o

500 POS OOA SOS SOA Triglicerídeo

Figura 4. 7.1.3 -Percentual dos triglicerídeos nas frações extraídas a 35,2MPa e

50°C utilizando C02 supercrítico como solvente, F1...i =Frações coletadas durante a

extração, GO= gordura extraída com éter de petróleo.

Em relação a dependência com as variáveis de processo foram analisadas

separadamente os efeitos da pressão e da temperatura. A Figura 4.7.1.4 mostra a

composição das frações 1 extraídas com etano supercrítico a diferentes pressões

na temperatura de 50°C. Verifica-se que a composição das frações apresentam

ligeira variação, não sendo identificada uma correlação entre a composição das

frações com a pressão.

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Capítulo 4 - Resultados e Discussões 85 ~~~~==~~~====------------------------------

50 ,---------------------------~--------~-----,

45 ~'----· __ 24_,_8_M_P_a ____ IIII __ 28_,_3_M_P_a ____ I!II_3_1_,7 __ M_P_a ____ D_3_5_,2_M_P_a---'

40+-----------------------------------------~

- 35 +--------------­~ -o 30 +--------------------------11'0 (,)> ·;; 25 +--------------------------0 ~ 20 +--------------------------0 o 15 +--------

10

5

o soo POS OOA

Triglicerídeo

sos SOA

Figura 4. 7.1.4- Composição das frações 1 extraídas com etano supercrítico

para diferentes pressões a 50°C

A Figura 4.7.1.5 mostra a composição das frações 1 extraídas com Etano

supercrítico a pressão de 24,8MPa e temperaturas de 50 e 70°C. Nesta figura

nota-se que as composições das frações apresentaram pequena variação.

Entretanto a variação observada encontra-se dentro da faixa de erro experimental,

servindo apenas como indício, não sendo portanto possível identificar uma

correlação da composição com a temperatura.

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Capítulo 4- Resultados e Discussões

50

45 B 24,8 MPa 50°C liil24,8 M Pa 70°C

40

;;? 35 " -o 30 !(11 (.)o "(jj 25 o a. 20 E o 15 u

10

5

o soo POS OOA sos SOA

Triglicerídeo

Figura 4.7.1.5- Comparação entre as Composições das Frações 1

extraídas com etano supercrítico na mesma pressão a diferentes

temperaturas

86

Analisando a natureza do solvente em relação a seletividade por um

determinado tipo de triglicerídeo procurou-se comparar frações 1 extraídas nas

mesmas condições de pressão e temperatura para os diferentes solventes. A

Figura 4.7.1.6 apresenta a composição das frações 1 para as extrações realizadas

com C02 e etano supercríticos na pressão de 24,8MPa e temperatura de 50°C.

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Capítulo 4 - Resultados e Discussões 87 ~c=~~====~======-----------------------------

40············································-·-·······················································-······································································c

35 +--------1

liiiiGO 30 +----i -~ o

liiiiEtano

- 25 +-----------~~---0 lftS <> ·;; 20 +----------------------------0 Q.

E 15 o o

10

5

o 500 POS OOA SOS

Triglicerídeo SOA

Figura 4.7.1.6- Comparação da composição da fração 1 extraídas com C02

e etano supercríticos na pressão de 24,8 MPa e temperatura de 50°C

Observa-se que os percentuais dos triglicerídeos menores e com maior

percentual de ácidos graxos insaturados na sua composição são extraídos em

maior proporção na fração 1 quando utiliza-se C02 supercrítico. Estes resultados

indicam uma possível pequena seletividade do C02 em relação aos triglicerídeos

de menor ponto de fusão e mais leves. Estas observações estão em concordância

com aquelas relatadas por Rossi (1996), que verificou uma pequena seletividade

do C02 em relação aos principais triglicerídeos presentes na gordura de cacau.

Estes triglicerídeos apresentam pesos moleculares na mesma faixa que os

triglicerídeos presentes na gordura de cupuaçu.

Num trabalho anterior relacionado com extração de gorduras de leite com

fluidos supercríticos, Neves (1996) verificou o fracionamento do óleo de manteiga

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Capítulo 4 - Resultados e Discussões 88 ~~----~--~----~~~------------------------------------

agrupando os triglicerídeos em famílias. Cada família sendo determinada pela

soma do total de átomos de carbonos presentes nas cadeias carbônicas que

constituem os ácidos graxos formadores das moléculas. No caso da gordura de

cupuaçu utilizada neste estudo, os triglicerídeos distribuem-se em famílias que

englobam a faixa C:48 (PUP) a C:56 (SOA). Sendo que os compostos

pertencentes as famílias C:52 a C: 56 representam aproximadamente 90% do total.

Verifica-se portanto que a faixa de tamanho e peso molecular é bastante estreita,

resultando em compostos com características semelhantes como pode-se verificar

através do trabalho de Perry et ai. (1949), que mostraram que triglicerídeos de

mesmo número de carbono possuem pressão de vapor bem próximas umas das

outras. A esta semelhança entre os componentes da gordura de cupuaçu, atribui­

se a dificuldade encontrada em separar os compostos com os solventes utilizados.

Os efeitos de co-solvência entre os triglicerídeos podem diminuir a

seletividade do solvente para determinado triglicerídeo, como foi apontado por

Neves (1996), Nilson (1993) e Bamberger (1989)

Observa-se ainda que a solubilidade de um determinado soluto em um

solvente supercrítico apresenta forte dependência com as semelhanças químicas

apresentadas entre o soluto e o solvente. A seletividade do solvente supercrítico

entre dois componentes de similares características químicas vai depender da

diferença de volatilidade entre os compostos. Quanto maior a diferença entre as

volatilidades maior será o fator de separação. A seletividade também é

influenciada pela pressão e pela temperatura. Diminuindo-se a temperatura a

pressão constante, ou aumentando-se a pressão a temperatura constante

aumenta-se a densidade do solvente, e consequentemente o seu poder de

solvência. Maiores solubilidades podem ser associadas a uma menor seletividade

e vice-versa (Brunner, 1983). Verifica-se portanto que capacidade de extração

(maior solubilidade) e seletividade são exclusivas. Quando se deseja uma maior

seletividade deve-se trabalhar a pressões mais baixas e menores temperaturas

pois nessas condições tem-se uma menor solubilidade.

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Capítulo 4 - Resultados e Discussões 89 ~==~~==~~~==~------------------------------

4.7.2. Determinação do Comportamento Térmico da Gordura de Cupuaçu

Durante a Fusão

As determinações do comportamento térmico das frações foram

realizadas de acordo com a metodologia descrita na seção 3,8. As análises foram

realizadas em duplicatas por amostragem. As Figuras 4.7.2.1 a 4.7.2.3 mostram

os termogramas da gordura de cupuaçu, extraída com éter de petróleo neste

trabalho, da gordura de cacau nacional e importada respectivamente (os

termogramas da gordura de cacau foram cedidos por Luccas 2000), onde as áreas

parciais do termograma e os calores de fusão foram calculados através do

software Ta-50ws Shimadzu Corporation.

DS<:

MWr-----------------------------------------------------0 !0.00

PlrAiaiA>-c:o. . ..., \ y I ··- J..6)9S ..... J.;H16C

.. ooc ..... "·- ··= ,._, ·-··= ll.469r. v ....... &'2:.21C

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••ooc O&.tolk-.. ..., 0Q$1'k.

'""'." .........

Figura 4.7.2.1 Termograma da Gordura de Cupuaçu Extraída com Éter de

Petróleo

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4 - Resultados e Discussões

DSC

mW•r-------------------------------------------------------------------------0

0.00

-10.

-':!COO

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IJw~lsl Al':S . ..., IO®C ·-'"""'" jor..'l'fl')i,

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..O:S~'2J~

0.00 ToCUHptCJ

Figura 4.7.2.2- Termograma da gordura de cacau importada (Luccas,

2000)

MW'r-----------------------------------------------------------------------~ lOJJQ

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-100.110 0.00 100.00

""'""''

90

Figura 4.7.2.3- Termograma da gordura da cacau nacional (Luccas, 2000)

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~c~a~p~nu~lo~4_-~R~e~su~lt~a~do~s~e~D~i~~~sso~-~e~s ____________________________________ 91

Foi adotada a padronização da técnica para todas as análises, pois fatores

como processo de temperagem, velocidade de aquecimento e quantidade de

amostra influenciam nos resultados (Nassu, 1994). Procurou-se minimizar estes

efeitos. Os erros experimentais envolvidos na determinação da entalpia de fusão

(.ó.Hfus) das frações e do percentual de sólidos de cada fração a diferentes

temperaturas foi de 4% e 15% respectivamente. A entalpia de fusão mostrou-se

menos sensível as fontes de erro, em relação ao percentual de sólidos. Processos

de fusão e recristalização dos cristais instáveis em uma forma mais estável

resultam em apreciáveis diferenças nas curvas de sólidos. As entalpias de fusão

das frações de gordura foram determinadas considerando o pico de fusão. As

maiores entalpias de fusão das gorduras de cacau importada e nacional (95,92 e

78,28 J/g respectivamente) em relação a gordura de cupuaçu (7 4,47 J/g) são

relacionadas com os maiores percentuais de ácidos graxos saturados de cadeia

média longa, C16:0 e C18:0 e também dos menores percentuais de ácidos graxos

insaturados de cadeia longa, C18:1 e C18:2.

Pode-se verificar nas Tabelas 4.7.2.1 e 4.7.2.2 que o L\Hfus aumenta da

primeira para a última fração. Sabariah et ai (1998) mostra que as gorduras com

maiores percentuais de ácidos graxos insaturados presentes na composição dos

triglicerídeos apresentam menores L\Hfus· Estes resultados portanto indicam que

possivelmente ocorreu uma modificação na relação de ácidos graxos

saturadoslinsaturados nas frações, esta mesma constatação foi relatada por

Nassu (1994) para óleo de soja e derivados, palma e derivados entre outros. Para

uma estimativa do percentual de sólidos das frações de gordura determinou-se as

curvas, apresentadas nas Figuras 4.7.2.4 e 4.7.2.5, para as gorduras de cacau a

partir dos termogramas fornecidos por Luccas (2000), cupuaçu (extraída com

solvente orgânico) e frações extraídas com solventes os solventes supercríticos.

As curvas de sólidos obtidas para as demais determinações seguem a mesma

tendência, dentro do erro experimental. Na determinação do percentual de sólidos

a metodologia oficial utiliza a técnica de ressonância magnética nuclear (RNM), as

discrepâncias entre os métodos (RNM e DSC) são maiores a temperaturas mais

baixas, diminuindo a temperaturas mais altas (Nassu, 1994). É importante notar

que devido as muitas fontes de erro e a sensibilidade da resposta, os resultados

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c;apltulo 4 - Kesultaaos e Discussões 92 ~~~~~~~~~~~~---------------------------------

das curvas de sólidos são qualitativos, onde se buscou identificar tendências do

comportamento térmico das frações em relação as gorduras referências. Estas

figuras mostram que em todos os casos as frações de gordura de cupuaçu,

apresentam fusão mais tênue que a gordura de cacau, ou seja apresentam

maiores percentuais de sólidos nas mesmas temperaturas em relação a gordura

de cacau, revelando que as diferentes gorduras obtidas não podem ser utilizadas

diretamente na confecção de chocolates.

Tabela 4.7.2.1 -Calor de fusão das frações de gordura de cupuaçu extraídas com

co2 supercrítico

P (Mpa) T ("C) Fração (N2 ) AHtus(J I g)

24,8 50 1 64,79

24,8 50 7 76,18

24,8 70 1 56,06

24,8 70 7 70,63

24,8 70 7 70,63

28,3 50 7 88,44

28,3 70 1 59,83

' 28,3 70 7 77,01

31,7 50 1 58,79

31,7 50 7 88,14

31,7 70 1 50,65

31,7 70 7 82,63

35,2 50 1 70,24

35,2 50 7 89,22

35,2 70 1 62,48

35,2 70 7 87,62

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~C~ap~rr=ul~o~4_-~Re~s=ul~ta~do~s~e~D~i~~u=~~õ~es~------------------------------ 93

Tabela 4.7.2.2- Entalpia de fusão das frações de gordura de cupuaçu extraídas

com etano supercrítico

P (MPa) T (°C) Fração (N°) AHtus (J/g)

21,4 50 1 64,11

21,4 50 6 77,02

21,4 70 1 65,48

21,4 70 6 72,7

24,8 50 1 66,3

24,8 50 6 74,86

24,8 70 1 65,63

24,8 70 6 74,19

28,3 50 1 54,69

28,3 50 6 73,37

28,3 70 1 70,07

28,3 70 6 74,27

31,7 50 1 71,23

31,7 50 6 68,44

31,7 70 1 48,04

31,7 70 6 71,24

35,2 50 1 71,43

35,2 50 6 70,81

35,2 70 1 69,9

35,2 70 6 63,43

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Capítulo 4 - Resultados e Discussões 94 ~~~~~~~~~~~~------------------------------------

100,················ -a······················································································· -··········· ·······················

95 90 85 80 75 70

~ 65 ~ 60 111 55 o 50 3:!45 ::(5 40 (/) 35

30 25 20 15 10

5

-cacau

-cupuaçu

-cacau-lmp.l

0+---,---.--,---.---.---,------~~

o 5 10 15 20 30 35 40 45 50

Figura 4. 7 .2.4 - Curvas de sólidos das gorduras referência e frações 1 e 7

extraídas com C02 supercrítico a 28,3MPa e 50°C

'il-··· ~-· ------75 ~ 70 l

~~1 111 55 l o 50 3:!45 ::c540 (/) 35

30 25 20 15 10

r-F-1 I F-6

~-Cacau Nacional

1 -cupuaçu

I -Cacau Importado '

g+-_,---,--,---,--,---,----~~~--~ o 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50

T (°C)

Figura 4.7.2.5- Curvas de sólidos das gorduras referência e frações 1, e 6

extraídas com etano supercrítico a 24,8MPa e 70°C

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~C=a~pí~tu~lo~4~-~R~es~u~~=ad~o~s~e~D~i=~~u=~~õ=e=s ____________________________________ 95

Para a confecção de chocolates é desejável que a gordura apresente altos

percentuais de sólidos a temperatura ambiente e que esteja quase totalmente

fundida na temperatura do corpo humano. Essas características conferem a

sensação de refrescância na boca, o que é desejáveL Silva (1988) em seu

trabalho determinou que é possível adicionar até 1 0% wlw de gordura de cupuaçu

a gordura de cacau sem alterar as suas características térmicas. As frações de

gordura obtidas neste trabalho apresentam diferentes comportamentos térmicos

umas em relação as outras. Espera-se portanto poder adicionar as diferentes

frações de gordura em diferentes quantidades a gordura de cacau a depender do

produto que será desenvolvido. Estudos direcionados ao desenvolvimento de

produtos podem vir a revelar as aplicações específicas das frações de gordura

extraídas com solventes supercríticos e ainda identificar que quantidades de que

frações empregadas como aditivos a gordura de cacau.

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CAPÍTULO 5

CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

5.1. CONCLUSÕES

Neste capítulo são apresentadas as principais conclusões deste trabalho

com base na análise dos resultados obtidos.

Os solventes Etano e COz supercrítico mostraram-se eficientes na

extração da gordura de cupuaçu, apresentando rendimentos comparáveis aos

processos convencionais de extração, porém sem o risco de contaminação com

resíduos químicos indesejáveis em alimentos.

A solubilidade da gordura de cupuaçu mostrou ter forte dependência com

a pressão. Aumentos de pressão resultam em aumentos de solubilidade que pode

ser atribuída ao aumento da densidade do solvente com a pressão. A-temperatura

também mostrou influenciar a solubilidade da gordura de cupuaçu, tendo sido

verificado o comportamento retrógrado no caso do COz para pressões de

aproximadamente 317bar e no caso do etano para pressões até aproximadamente

260bar. Em relação à natureza do solvente verificou-se que a solubilidade da

gordura de cupuaçu em etano supercrítico é cerca de uma ordem de grandeza

superior em comparação a solubilidade da mesma em COz. A maior capacidade

do etano em solubilizar a molécula do triglicerídeo se deve às mais fortes

interações moleculares do tipo dispersivas formadas entre ambas se comparadas

às interações moleculares entre as moléculas do triglicerídeo e do dióxido de

carbono.

As curvas de extração apresentadas na forma adimensional representam

uma nova maneira de se apresentar os resultados das extrações, podendo-se

eliminar a dependência dos resultados com a escala do processo. Dessa forma os

resultados obtidos em escala de bancada podem ser utilizados na avaliação do

sca/e-up do processo. As curvas de extração apresentaram três regiões distintas.

Uma região inicial onde ocorre uma rápida taxa de transferência de massa que é

controlada pela solubilidade termodinâmica da gordura livre (gordura exposta ao

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Capítulo 5 - Conclusões e Recomendações 97 ~~~~~----~~~----~----------------------------------

fluxo de solvente por ruptura das estruturas celulares), nesta região o solvente

deixa o extrator saturado com a gordura. Uma região intermediária onde em

algumas seções do leito a gordura livre já foi esgotada, nesta região o solvente

deixa o extrator sem estar saturado com a gordura e uma região de lenta taxa de

extração, está ultima controlada pela difusão da gordura do interior da partícula

até a superfície.

Entretanto, a adição de etanol ao C02 como co-solvente aumentou a

solubilidade da gordura na mistura, indicando que o C02 é um bom co-solvente

para o processo. Com C02-Etanol as extrações podem ser realizadas a pressões

mais baixas, com menores tempos de extração e menor consumo de solvente. A

eficiência do etanol como co-solvente provavelmente, com base na teoria, está

relacionada com a capacidade desta molécula induzir na molécula do triglicerídeo

um momento dipolo mais forte. Disso resultaria interações moleculares mais fortes

entre a molécula do dióxido de carbono e do triglicerídeo, além das interações por

indução entre o co-solvente e o soluto.

Os dados de solubilidade obtidos neste trabalho utilizando COz e etano

supercríticos como solvente foram correlacionados através do modelo proposto

por Chrastil (1982), tendo sido verificado um bom ajuste dos dados experimentais

aos valores preditos pelo modelo.

Os resultados obtidos da determinação da composição e do

comportamento térmico das frações de gordura extraídas apontam para um

possível fracionamento. Estes indícios ficam mais claros através das entalpias de

fusão das gorduras. A pequena faixa de peso molecular onde as moléculas dos

triglicerídeos da gordura de cupuaçu estão presentes,faz com que as mesmas

tenham propriedades físicas semelhantes. Portanto, a pequena seletividade dos

solventes estudados neste trabalho por determinados tipos de triglicerídeo foi

atribuída à semelhança de peso molecular e propriedades físicas das moléculas.

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Capítulo 5 - Conclusões e Recomendações 98 ~~~--------------~~~~--------------------------------

5.2. RECOMENDAÇÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

A pequena seletividade dos solventes pode em teoria ser aumentada

trabalhando-se a pressões e temperaturas mais baixas por diminuição da

solubilidade. Deve-se portanto explorar essa possibilidade aliada com métodos de

análise quantitativos.

O etano mostrou-se ser um solvente muito eficiente na extração da

gordura de cupuaçu. Entretanto apresenta elevado valor de mercado. O etanol,

que é um produto barato e produzido em grandes capacidades no Brasil, mostrou­

se muito eficiente como co-solvente do C02 na extração da gordura de cupuaçu.

O estudo da extração da gordura de cupuaçu utilizando misturas de C02 e etano!

de composição conhecida e controlada pode ser uma possibilidade de otimização

do processo.

Em relação à pequena variação na compos1çao verificada, nota-se a

possibilidade de utilizar equações de estado tipo Peng-Robinson ou PHCT para a

determinação da solubilidade da gordura de cupuaçu assumindo-a como um único

pseudo componente. As propriedades críticas necessárias para o uso da equação

podem ser obtidos de correlações do tipo contribuição de grupo.

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