FERNANDES_CG_04_t_M_geo.pdf

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  • CARACTERIZAO MECANSTICA DE AGREGADOS RECICLADOS DE

    RESDUOS DE CONSTRUO E DEMOLIO DOS MUNICPIOS DO RIO DE

    JANEIRO E DE BELO HORIZONTE PARA USO EM PAVIMENTAO

    Cinconegui da Graa Fernandes

    TESE SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DA COORDENAO DOS

    PROGRAMAS DE PS-GRADUAO DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE

    FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS

    NECESSRIOS PARA A OBTENO DO GRAU DE MESTRE EM CINCIAS EM

    ENGENHARIA CIVIL.

    Aprovada por:

    _________________________________________________

    Prof. Laura Maria Goretti da Motta, D.Sc.

    _________________________________________________

    Prof. Jacques de Medina, L.D.

    _________________________________________________

    Dr. Prepredigna Delmiro Elga Almeida da Silva, D.Sc.

    _________________________________________________

    Prof. Alexandre Benetti Parreira, D.Sc.

    RIO DE JANEIRO, RJ BRASIL

    DEZEMBRO DE 2004

  • ii

    FERNANDES, CINCONEGUI DA GRAA

    Caracterizao Mecanstica de Agregados

    Reciclados de Resduos de Construo e

    Demolio Para Uso em Pavimentao dos

    Municpios do Rio de Janeiro e de Belo

    Horizonte [Rio de Janeiro] 2004.

    IX. 109 p. 29,7 cm (COPPE/UFRJ, M.Sc.,

    Engenharia Civil, 2004)

    Tese - Universidade Federal do Rio de Janeiro,

    COPPE.

    1. Agregados Reciclados,

    2. Caracterizao Mecanstica,

    3. Pavimentao.

    I. COPPE/UFRJ II. Ttulo (srie).

  • iii

    sociedade humana, dedico esta tese,

    exploradora, por natureza, e tutora, por intelecto, da vida na Terra.

  • iv

    AGRADECIMENTOS

    A Deus e a meu Mestre Jesus Cristo por tudo, inclusive pelos conhecimentos filosficos

    e acadmicos que aos poucos me libertam dos grilhes de minha natureza ignorante.

    Aos meus amados pais, Joo e Gilza Fernandes, pela orientao, apoio e ao amor que

    sempre me dispensaram, essenciais s conquistas dos meus mais dignos sonhos.

    Aos meus irmos Sidinei e Mrcio e ao meu primo Felipe, pelo carinho e pela confiana

    em minhas idias e atitudes.

    magnfica Prof Laura Maria Goretti da Motta, minha querida Orientadora, dotada de

    brilhantismo e humildade singulares, e apenas comuns queles indivduos especiais, que

    marcam positivamente a evoluo da humanidade com a dignidade de suas vidas.

    Ao Corpo Docente da COPPE, em especial aqueles que compem o Programa de

    Engenharia Civil na rea de Geotecnia, bem como Prof Helena Polivanov, pela

    pacincia e pela solicitude nos esclarecimentos das minhas mais diversas indagaes.

    Aos tcnicos e ao pessoal de apoio do Laboratrio de Geotecnia Prof. Jacques de

    Medina e do laboratrio de informtica do PEC, destacando meus amigos Marcos

    (Boror), Rodrigo, Ralph, lvaro Dell, Ana, Carlinhos e Ricardo Gil por todo o apoio

    dado ao desenvolvimento dos meus ensaios laboratoriais e tambm as secretrias

    Mrcia e Joseane pela ateno a mim empenhada.

    Aos Professores Meyer e Henrique Longo pela confiana e pelo apoio ao ingresso no

    curso de mestrado em Geotecnia.

    Ao Corpo Discente da rea de Geotecnia, destacadamente aos amigos Sidiclei

    Magalhes, Francisco Duque, Eduardo Macedo, Fernando Afonso, Tatiana, Cntia,

    Raphael Thuler, Andr Luiz da Silva, Rodrigo Mller, Marcos Fritz, Adriana Martins,

    Alexandre Pacheco, Anderson, Candida Pedroza, Carolina Costa, Daniel Cordeiro,

    Diego Turri, Filipe Franco, Helton Ribeiro, Jos Luiz Gerlach, Marcos Balaguer, Maria

    do Socorro Mateus, Maurcio Barros, Nicolle de Freitas, Osmar Garcia, Petrnio

  • vMontezum, Renata Rocha, Roberto de Carvalho, Saulo Loureiro, Vernica Cavalcante e

    Viviane Guedes que contriburam atravs das mais diferentes formas para a realizao

    deste trabalho e, alm disso, deram-me o prazer e a honra de compartilharem comigo a

    grande aventura da busca do conhecimento.

    Secretaria da COPPE, destacadamente ao Jairo Leite, Elizabeth Cornlio e Rita de

    Cssia da Motta.

    Prof Consuelo Alves da Costa por ter me presenteado com a tese de mestrado do

    Eng de Produo Marcelo Abelaira Vizzoto, uma das referncias deste trabalho.

    Usina de Reciclagem do Catumbi, destacando mais uma vez o Eng Fernando

    Afonso, que me forneceu os agregados reciclados para a sua caracterizao, inclusive se

    incumbindo pessoalmente da entrega destes no Laboratrio Jacques de Medina.

    Prefeitura de Belo Horizonte e em especial Dr Nilda Xavier Pires, ao Eng Agenor,

    Eng Miriam Jesus Coelho e a toda equipe de trabalho da Usina de Reciclagem do

    Estoril, que com extrema cordialidade e diligncia me apresentou esta usina e obras

    executadas e em execuo por esta Prefeitura com o emprego dos agregados reciclados.

    Alm disso, forneceram sem restries para os ensaios de caracterizao mecanstica

    todos os agregados que eu necessitasse e pudesse transportar.

    Eletrobrs atravs do Eng Angelo Carillo, Chefe da Diviso de Engenharia de

    Gerao, que possibilitou a continuidade desta tese aps o meu ingresso nesta empresa,

    bem como, aos meus amigos Luiz Estima, Leonardo Gardino, Marcelo Jaques, Rodrigo

    Martins, Simone Garcia, Jos A. Rosso, Mrcio Pimenta, Heitor de Oliveira, Jos Jair

    Bianchesi, Alan Nudel, Marcos Pozzato e Jailson Alves pelos comentrios, sugestes e

    incentivos a realizao deste trabalho, como tambm pelo fornecimento e indicao de

    parte do material bibliogrfico aqui empregado.

    A CAPES pelo apoio financeiro fornecido durante este curso de mestrado, garantindo-

    me condies psicolgicas favorveis a um bom desenvolvimento do mesmo.

    A todo aquele que de forma annima contribui para a concluso desta pesquisa.

  • vi

    Resumo da Tese apresentada COPPE/UFRJ como parte dos requisitos necessrios

    para a obteno do grau de Mestre em Cincias (M.Sc.)

    CARACTERIZAO MECANSTICA DE AGREGADOS RECICLADOS DE

    RESDUOS DE CONSTRUO E DEMOLIO DOS MUNICPIOS DO RIO DE

    JANEIRO E DE BELO HORIZONTE PARA USO EM PAVIMENTAO

    Cinconegui da Graa Fernandes

    Dezembro/2004

    Orientadora: Laura Maria Goretti da Motta

    Programa: Engenharia Civil

    Neste trabalho so caracterizados mecanisticamente os agregados reciclados de

    resduos de construo e demolio (RCD) dos Municpios do Rio de Janeiro e Belo

    Horizonte, visando sua aplicao em bases, sub-base e reforos de subleito de

    pavimentos rodovirios urbanos e rurais. Foram tambm realizados ensaios comuns

    caracterizao de agregados convencionais, bem como aqueles de enfoque ambiental.

    Verificou-se atravs de clculo numrico a adequao do uso destes materiais em

    estruturas de pavimento a partir de um projeto rodovirio real, substituindo os

    agregados convencionais por estes originados na britagem dos RCD. Por fim, os

    resultados apresentados nesta tese corroboram para a comprovao das viabilidades

    tcnica, econmica, social e ecolgica do emprego destes materiais em pavimentao.

  • vii

    Abstract of Thesis presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the

    requirements for the degree of Master of Science (M.Sc.)

    MECHANISTIC CHARACTERIZATION OF THE RECYCLED AGGREGATE

    FROM CONSTRUCTION AND DEMOLITIONS WASTES PROCEEDING FROM

    RIO DE JANEIRO COUNTY AND FROM BELO HORIZONTE COUNTY FOR

    APPLICATION IN PAVEMENT

    Cinconegui da Graa Fernandes

    December/2004

    Advisor: Laura Maria Goretti da Motta

    Department: Civil Engineering

    In this work the recycled aggregates from construction and demolitions waste

    (CDW) proceeding from Rio de Janeiro County and from Belo Horizonte County are

    mechanistically characterized intending their employment in bases, in sub-base and in

    reinforcement layer of the urban and rurals highway pavement. Also they were

    accomplished by same test used to the characterization of natural aggregates beside the

    environmental tests. Their application was checked by numeric calculus in pavement

    structures from actual design through the substitution the nature aggregates for theses

    one. Finally, the shown results in this thesis confirm that their employment in highway

    pavement is technically economically socially and environmentally viable.

  • viii

    NDICE

    CAPTULO I............................................................................................................... 1

    INTRODUO.......................................................................................................... 1

    CAPTULO II ............................................................................................................. 7

    REVISO BIBLIOGRFICA...................................................................................... 7

    2.1 Normalizao internacional e nacional para agregados reciclados de RCD ........ 8

    2.2 Caracterizao de agregados reciclados............................................................ 12

    2.2.1 Gravimetria do RCD (matria-prima) ............................................................. 12

    2.2.2. Granulometria ............................................................................................... 13

    2.2.3 Ensaio de Abraso Los Angeles .................................................................. 18

    2.2.4 Ensaio de ndice de Forma.............................................................................. 21

    2.2.5 Ensaios de Lixiviao e de Solubilizao ........................................................ 23

    2.2.6 Ensaio Triaxial Dinmico - Mdulo de Resilincia ......................................... 24

    2.2.7 Ensaio Triaxial Dinmico Deformao Permanente..................................... 31

    2.3 Programa para anlise de estrutura de pavimento FEPAVE ........................... 33

    CAPTULO III.......................................................................................................... 37

    Materiais e Mtodos ................................................................................................ 37

    3.1 Agregados reciclados de RCD ........................................................................... 38

    3.2 Anlise granulomtrica...................................................................................... 43

    3.2.1 Aparelhagem................................................................................................... 43

    3.2.2 Ensaio............................................................................................................. 44

    3.3 Ensaio de compactao...................................................................................... 45

    3.3.1 Aparelhagem................................................................................................... 45

    3.3.2 Ensaio............................................................................................................. 47

    3.4 Ensaio triaxial dinmico Mdulo de Resilincia.............................................. 48

    3.4.1 Aparelhagem................................................................................................... 49

    3.4.2 Ensaio............................................................................................................. 50

    3.5 Ensaio triaxial dinmico Deformao permanente.......................................... 53

    3.5.1 Aparelhagem................................................................................................... 54

    3.5.2 Ensaio............................................................................................................. 54

    3.6 Ensaio de abraso Los Angeles.......................................................................... 55

    3.6.1 Aparelhagem................................................................................................... 55

    3.6.2 Ensaio............................................................................................................. 56

  • ix

    3.7 Ensaio de ndice de forma.................................................................................. 57

    3.7.1 Aparelhagem................................................................................................... 57

    3.7.2 Ensaio............................................................................................................. 58

    3.8 Ensaio sobre a massa bruta, ensaio de lixiviao e ensaio de solubilizao....... 59

    3.8.1 Ensaio............................................................................................................. 61

    3.8.1.1 Ensaio sobre a Massa Bruta......................................................................... 61

    3.8.1.2 Ensaio de Lixiviao .................................................................................... 61

    3.8.1.3 Ensaio de Solubilizao ............................................................................... 62

    CAPTULO 4 ............................................................................................................ 65

    ANLISE DOS RESULTADOS OBTIDOS ............................................................... 65

    4.1 Anlise granulomtrica...................................................................................... 65

    4.2 Ensaio de compactao...................................................................................... 69

    4.3 Ensaio triaxial dinmico Mdulo de Resilincia.............................................. 74

    4.4 Ensaio triaxial dinmico Deformao permanente.......................................... 82

    4.5 Ensaio de abraso Los Angeles.......................................................................... 87

    4.6 Ensaio de ndice de Forma ................................................................................ 88

    4.7 Ensaio sobre a massa bruta, ensaio de lixiviao e ensaio de solubilizao ...... 89

    4.7.1 Agregados reciclados tipo Misto da usina do Catumbi .................................... 89

    4.7.2 Agregados reciclados tipo Misto da usina do Estoril....................................... 90

    4.8 Aplicao dos resultados de Mdulo de Resilincia ........................................... 93

    4.8.1 Via Light - Estrutura do pavimento ................................................................. 94

    4.8.2 Via Light Redimensionamento...................................................................... 95

    CAPTULO 5 ............................................................................................................ 97

    CONCLUSES E SUGESTES DE PESQUISAS FUTURAS .................................. 97

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ................................................................... 101

    BIBLIOGRAFIA CONSULTADA......................................................................... 108

    ANEXO 1 - Resultados de ensaios de caracterizao PBH/SUDECAP/Diretoria de Manuteno

    ANEXO 2 - Ensaios de granulometria Folhas de ensaio

    ANEXO 3 - Ensaios de compactao Folhas de ensaio

    ANEXO 4 - Mdulo de Resilincia composto Planilhas

    ANEXO 5 - Abraso Los Angeles Folhas de ensaio

    ANEXO 6 - ndice de Forma Folhas de Ensaio

  • 1CAPTULO I

    INTRODUO

    Ao longo das ltimas dcadas, pesquisadores brasileiros e estrangeiros esto

    caracterizando e estudando formas de aproveitamento tcnico-econmico-ambiental dos

    denominados resduos de construo e demolio (RCD) ou simplesmente entulhos, que

    so gerados pelo progresso humano, pela necessidade de se dominar e transformar a

    natureza a seu benefcio. Atravs de novas construes, reformas ou demolies

    daquelas j existentes, gera-se RCD que compe a maior parte do lixo dos grandes

    centros urbanos. Em Salvador, por exemplo, so coletados cerca de 2750 t/dia de RCD,

    ou seja, 50% de todo o lixo dessa capital (Cassa et al, 2001).

    Portanto, ao considerarmos os custos, os impactos ambientais e suas restries legais

    envolvidos na destinao de grandes quantidades desse resduo, justificam-se pesquisas

    que venham propiciar um destino nobre a estes RCD.

    A busca pelo chamado desenvolvimento sustentvel levou pases como os EUA e a

    Espanha a desenvolverem programas governamentais que visam diagnosticar os setores

    geradores de resduos, suas fontes, tipos e quantidades, de forma a subsidiar o

    aproveitamento dos mesmos atravs da reciclagem. Contudo, pases com pouco material

    primrio tais como Holanda, Blgica e Dinamarca so os que mais reciclam entulhos,

    atingindo percentual superior a 90 %, ainda assim precisando importar areia da Sibria e

    entulhos da Inglaterra (Coelho & Chaves, 1998 apud Ciocchi, 2003).1

    Segundo o Report N EPA530-R-98-010 publicado em junho de 1998 pela U.S.

    Environmental Protection Agency Municipal and Industrial Solid Waste Division Office

    of Solid Waste, estima-se que nos EUA foram gerados, no ano de 1996, 136 milhes de

    toneladas de RCD (TABELA 1.1), sendo:

    1 Coelho, P, E.; Chaves, A., P., 1998. Reciclagem de Entulho uma opo de negcio potencialmente lucrativa e ambientalmente simptica. In Areia e Brita, n 5, pp. 31-35, So Paulo.

  • 21. 43% dos resduos de origem residencial (58 milhes t/ano) e 57% de origem no-

    residencial (78 milhes t/ano);

    2. 48% referente a demolies de edifcios, 44% referente a reformas prediais e 8% em

    canteiros de obra. Nesta TABELA 1.1 no esto includos os resduos relativos a

    rodovias, pontes e limpeza de terreno.

    Neste pas, apenas 20% a 30% deste resduo gerado foi destinado reciclagem,

    destacando-se materiais como concreto, asfalto, metais e madeira.

    TABELA 1.1 - Resumo da gerao estimada de RCD nos EUA em 1996. (Report N EPA530-R-98-010, 1998)

    Residencial No-residencial Total Origem

    (x103 t) (%) (x103 t) (%) (x103 t) (%)

    Construo 6560 11 4270 6 10830 8

    Reforma 31900 55 28000 36 59900 44

    Demolio 19700 34 45100 58 61800 48

    Total 58160 100 77370 100 135530 100

    Percentual 43 57 100

    Fonte: Franklin Associates

    Na Espanha, com o intuito de melhor gerir os RCD, o Conselho de Ministros aprovou a

    Resoluo de 14 de junho de 2001 da Secretaria Geral de Meio Ambiente que define o

    Plano Nacional de Resduos de Construo e Demolio 2001-2006, onde so

    encontrados, por exemplo, custos e financiamentos de plantas de reciclagem,

    diagnstico da situao atual com estimativas das quantidades de entulho produzido nas

    diversas comunidades espanholas, bem como porcentagem reciclada ou reutilizada e

    aquela vertida ou incinerada nos demais pases da Unio Europia (TABELA 1.2). Isso

    permite verificar que, quando vista como uma nica organizao geopoltica, a Europa

    se apresenta em condies semelhantes aos EUA quanto ao percentual de resduos

    reciclados.

    Por outro lado, segundo Ciocchi (2003) o Brasil, onde as tcnicas de reciclagem de

    concreto comearam h cerca de 20 anos, recicla menos de 5% do entulho gerado a cada

    ano.

  • 3TABELA 1.2 - Plano Nacional de RCD (2001-2006) da Espanha - Gerao e

    Reciclagem de RCD (Palls,2001)

    Estado Membro Entulho (x106) t

    Porcentagem reutilizada ou reciclada

    Porcentagem vertida ou incinerada

    Alemanha 59 17 83

    Reino Unido 30 45 55

    Frana 24 15 85

    Itlia 20 9 91

    Espanha 13 95

    Holanda 11 90 10

    Blgica 7 87 13

    ustria 5 41 59

    Portugal 3 95

    Dinamarca 3 81 19

    Grcia 2 95

    Sucia 2 21 79

    Finlndia 1 45 55

    Irlanda 1 95

    Luxemburgo 0 N/A N/A

    Total 180 28 72 Fonte: Construction and demolition waste management practices, and their economic impacts. CE.

    Symonds & Ass, Fevereiro, 1999.

    Segundo John & Agopyan (2001), se o processo de produo de agregados reciclados

    de RCD em sua verso tecnolgica mais simples est consolidado no Brasil, o mesmo

    no pode ser dito do emprego do agregado. Embora existam experincias no emprego

    de agregados mistos (solo, concreto, pedras, argamassas, cermica vermelha e branca)

    na produo de pavimentao e este procedimento esteja em uso no Brasil desde o final

    da dcada de 80, no est disponvel ao pblico, no entanto, documentao tcnica

    abrangente e consistente. O mesmo acontece com a produo de argamassa a partir dos

    agregados em canteiros de obras, que recentemente tem sido objeto de investigao

    acadmica.

    Ainda segundo John & Agopyan (2001), o grau de conhecimento da tecnologia de

    emprego dos agregados na produo de componentes, como blocos de pavimentao,

    meio-fios e blocos de alvenaria, era ainda mais rudimentar, embora existisse alguma

    experincia prtica incipiente e algumas pesquisas sistemticas em planejamento

  • 4poca do documento. A reciclagem de agregados de RCD na produo de concreto s

    agora est sendo objeto de pesquisas, no pas.

    Um aspecto que dificulta a utilizao de agregados reciclados a sua aparente

    heterogeneidade. No Brasil, o controle tecnolgico necessrio ao emprego efetivo destes

    materiais depende de estudos que forneam parmetros para a sua avaliao, visto ser

    este controle essencial ao emprego do agregado reciclado em pavimentao. Os estudos

    neste sentido esto em fase inicial.

    Contudo, a Resoluo do CONAMA N 307, de 5 de julho de 2002, que estabelece

    diretrizes, critrios e procedimentos para a gesto de resduos da construo civil,

    apresenta-se como um agente essencial ao aumento sensvel do percentual da

    reciclagem desse material. Por exemplo, o pargrafo 1, art. 4 diz: Os resduos da

    construo civil no podero ser dispostos em aterros de resduos domiciliares, em reas

    de bota fora, em encostas, corpos dgua, lotes vagos e em reas protegidas por

    Lei,.... O artigo 10, inciso I dessa resoluo estabelece que os resduos Classe A,

    material de estudo desta tese, devero ser reutilizados ou reciclados na forma de

    agregados, ou encaminhados a reas de aterro de resduos da construo civil, sendo

    dispostos de modo a permitir a sua utilizao ou reciclagem futura.

    Alm do aspecto legal, sabe-se que a reciclagem do entulho contribui para a preservao

    dos recursos naturais ao reduzir a degradao ambiental causada pela extrao das

    matrias-primas convencionais.

    Existem ainda os aspectos tcnicos e econmicos, que ao lado do aspecto ambiental

    supracitado, devem ser contemplados no estudo de aproveitamento dos RCD. O

    aproveitamento destes na forma de agregados para pavimentao como materiais

    destinados a camadas de base e sub-base apresenta as seguintes vantagens (Carneiro,

    Burgos e Alberte, 2001; Trichs e Kruckyj, 1999):

    1. Utilizao de quantidade significativa de material reciclado tanto na frao mida

    quanto na grada;

    2. Simplicidade dos processos de execuo do pavimento e de produo do agregado

    reciclado;

  • 53. Possibilidade de utilizao dos diversos materiais componentes do entulho

    (concretos, argamassas, materiais cermicos, areia, pedras, etc...);

    4. Utilizao de parte do material em granulometrias gradas;

    5. Utilizao em locais com presena de gua, por ser considerado material no

    plstico e com baixa ou nula expansibilidade.

    6. Reduo dos custos da administrao pblica Municipal com a remoo do material

    depositado clandestinamente ao longo das vias pblicas, terrenos baldios, cursos

    dgua e encostas;

    7. Aumento da vida til dos aterros sanitrios, reduzindo a necessidade de reas para

    implantao de novos aterros;

    8. Diminuio nos custos de pavimentao.

    Assim, justifica-se o desenvolvimento de pesquisas na rea de pavimentao que venha

    a contribuir quanto ao aproveitamento de agregados provenientes de RCD.

    Por fim, destaca-se o desenvolvimento computacional que permite considerar os

    esforos mecnicos como aqueles transmitidos ao pavimento pelas rodas dos veculos, a

    ao da temperatura, as caractersticas dos materiais que compem as camadas dos

    pavimentos (mdulo de resilincia) e inclusive esta prpria estratificao dos mesmos,

    ou seja, consideraes concernentes a uma viso mais mecanstica e menos emprica do

    projeto rodovirio, como acontece em outras estruturas da engenharia civil (edifcios,

    silos, barragens, etc...).

    Assim sendo, nesta tese so apresentadas algumas contribuies, sejam elas de carter

    estritamente mecanstica oriundas, por exemplo, de ensaios triaxiais dinmicos, ou de

    carter ambiental, como os ensaios qumicos de Lixiviao e de Solubilizao de RCD.

    Os objetivos do presente trabalho so: caracterizar mecanicanisticamente, de forma a

    aplic-los em bases e sub-bases de pavimentos, e atendendo s restries ambientais,

    agregados reciclados de RCD das cidades do Rio de Janeiro e Belo Horizonte, visando

    uso em pavimentao.

    Em Belo Horizonte j existem vias urbanas executadas (dimensionadas empiricamente)

    com esse material aplicado em base e sub-bases de pavimentos, com sucesso, como

  • 6pde comprovar o autor deste trabalho em visita a obras concludas e em andamento,

    em agosto de 2003.

    Para a realizao deste trabalho foram feitos estudos que esto apresentados em 5

    captulos, o primeiro sendo esta introduo.

    No segundo captulo, apresenta-se a reviso bibliogrfica, abordando o estgio de

    normalizao nacional e internacional sobre o tema, bem como a contribuio de alguns

    centros de pesquisa em ensaios e resultados que contribuem na composio das

    condies de contorno dessa Tese.

    No terceiro captulo, trata-se dos procedimentos e equipamentos de ensaios adotados,

    mostrando em que condies os resultados deste estudo foram obtidos.

    No quarto captulo, so apresentados os resultados obtidos nos diversos ensaios e a

    partir destes apresenta-se ainda um pavimento dimensionado com agregados reciclados

    de RCD, permitindo compar-lo com um pavimento projetado anteriormente para uma

    obra real do municpio do RJ com agregados naturais (convencionais).

    No quinto e ltimo captulo, so apresentadas as concluses e sugestes de

    continuidades da pesquisa.

    Tem-se ainda seis anexos:

    Anexo 1 - Resultados de ensaios de caracterizao PBH/SUDECAP/Diretoria

    de Manuteno;

    Anexo 2 Ensaios de granulometria Folhas de ensaio;

    Anexo 3 Ensaios de compactao Folhas de ensaio;

    Anexo 4 Mdulo de Resilincia composto Planilhas;

    Anexo 5 Abraso Los Angeles Folhas de ensaio;

    Anexo 6 ndice de Forma Folhas de Ensaio.

  • 7

    CAPTULO II

    REVISO BIBLIOGRFICA

    A norma brasileira de pavimentao NBR-7207/82 da ABNT proveio da antiga norma

    Terminologia e classificao de pavimentao TB-7 de 1953, onde se encontra a

    seguinte definio:

    O pavimento uma estrutura construda aps a terraplenagem e destinada, econmica

    e simultaneamente, em seu conjunto, a:

    1. resistir e distribuir ao subleito os esforos verticais produzidos pelo trfego;

    2. melhorar as condies de rolamento quanto comodidade e segurana;

    3. resistir aos esforos horizontais que nela atuam, tornando mais durvel a

    superfcie de rolamento.

    Ao se apresentar a definio acima, exceo do aspecto ambiental, enfatizam-se os

    aspectos normativo, econmico, tcnico e, principalmente, o carter social, que devem

    envolver qualquer projeto de Engenharia e com os quais procura-se balizar essa

    pesquisa.

    Por outro lado, Medina (1997) define Mecnica dos Pavimentos como disciplina da

    engenharia civil que estuda os pavimentos como sistemas em camadas e sujeitos s

    cargas dos veculos.

    Dentro do aspecto tcnico, a citao do livro Mecnica dos Pavimentos no obra do

    acaso. O autor do presente trabalho acredita nas relaes de causa e efeito em que a

    Fsica, a Matemtica e demais cincias podem interpretar, fugindo do puro empirismo,

    que era vital nos primrdios da pavimentao, e abordando o pavimento de forma

    anloga a uma estrutura de edifcio ou de uma barragem. Portanto, procurou-se conduzir

    a reviso bibliografia e demais partes desta pesquisa a respeito dos agregados reciclados

    de RCD e de sua matria-prima baseados nos aspectos conceituais da Mecnica dos

    Pavimentos.

  • 8

    2.1 Normalizao internacional e nacional para agregados reciclados de RCD

    Segundo Levy (2001), em termos de normalizao Internacional, para agregados

    reciclados existem:

    1. A proposta japonesa de normalizao BCSJ de (1977),

    2. A Norma Britnica 6543,

    3. A Norma Holandesa CUR (1986),

    4. O adendo Norma dinamarquesa DIF (1989),

    5. As diretrizes da RILEM TC 121 DRG apresentadas no 3 Simpsio

    Internacional sobre Demolio e Reutilizao de Concreto e Alvenaria (1993),

    6. O relatrio do comit CEN 154 AHG - Recycled Aggregates, este grupo j tem

    pronta a lista dos ensaios necessrios para cada aplicao que permitiu detectar a

    necessidade de se pesquisar determinadas propriedades alm de criar certos

    ensaios especficos.

    No Brasil, editou-se, com validade a partir de 30/09/2004, a norma ABNT NBR 15116 -

    Agregados reciclados de resduos slidos da construo civil Utilizao em

    pavimentao e preparo de concreto sem funo estrutural Requisitos. Esta Norma

    estabelece os requisitos de emprego de agregados reciclados, a partir de resduos slidos

    da construo civil, destinando-se a:

    1. Obras de pavimentao viria: em camadas de reforo de subleito, sub-base e

    base de pavimentaes ou revestimento primrio de vias no pavimentadas;

    2. Preparo de concreto sem funo estrutural.

    Nesta norma define-se:

    resduos da construo civil Resduos provenientes de construes, reformas, reparos

    e demolies de obras de construo civil e os resultantes da preparao e da escavao

    de terrenos, tais como: tijolos, blocos cermicos, concreto, solo, rocha, madeira, forros,

    argamassa, gesso, telhas, pavimento asfltico, vidros, plsticos, tubulaes, fiao

    eltrica etc., comumente chamados de entulhos de obras, calia ou metralha.

  • 9

    Como exemplo ilustrativo deste material apresentam-se na Figura 2.1 algumas fotos

    obtidas pelo autor deste trabalho.

    Figura 2.1 Vista geral onde ser construdo o novo Hospital Paulino Werneck; pilhas de RCD; equipamento (escavadeira) utilizado na demolio das edificaes ento existentes e remoo de RCD; RCD proveniente de reforma domiciliar. (Fotos do autor).

    Nesta norma tambm destaca-se, dentre outros aspectos, a preocupao com

    propriedades como a distribuio granulomtrica do material, ndice de Forma, os

    teores mximos de contaminantes, alm dos parmetros de capacidade de suporte e

    expansibilidade.

    Tem-se publicadas pela ABNT em 30/06/2004 e com validade a partir de 30/07/2004 as

    normas:

    1. NBR 15113 Resduos slidos da construo civil e resduos inertes Aterros

    Diretrizes para projeto, implantao e operao;

    2. NBR 15114 Resduos slidos da construo civil e resduos inertes rea de

    reciclagem Diretrizes para projeto, implantao e operao;

  • 10

    3. NBR 15115 Resduos slidos da construo civil e resduos inertes

    Execuo de camadas de pavimentao Procedimentos.

    Atendendo resoluo do CONAMA 307/2002, os resduos se classificam em quatro

    classes, segundo a NBR 15116: A, B, C e D. Nesta tese so estudados aqueles definidos

    como Classe A, ou seja, resduos reutilizveis ou reciclveis como agregados, tais

    como:

    1. Resduos de construo, demolio, reformas e reparos de pavimentao e de

    outras obras de infraestrutura, inclusive solos provenientes de terraplenagem;

    2. Resduos de construo, demolio, reformas e reparos de edificaes:

    componentes cermicos (tijolos, blocos, telhas, placas de revestimento e outros),

    argamassa e concreto;

    3. Resduos de processo de preparo e/ou demolio de peas pr-moldadas em

    concreto (blocos, tubos, meios-fios e outros) produzidos nos canteiros de obras.

    Por outro lado, alguns municpios do pas dispem de especificaes para o uso de

    agregados reciclados, como no caso de So Paulo que na Portaria 32/SIURB G/2003

    estabelece a PMSP/SP ETS - 001/2002 que define os critrios que orientam a execuo

    de camadas de reforo do subleito, sub-base ou base mista de pavimentos com

    Agregado Reciclado de Resduo Slido da Construo Civil, denominado "Agregado

    Reciclado", em obras de pavimentao sob a fiscalizao da Prefeitura do Municpio de

    So Paulo (PMSP).

    Esta norma da PMSP classifica os resduos slidos da construo civil que se aplicam

    reciclagem, com posterior aplicao em obras de pavimentao, em:

    1. Resduos Slidos Cermicos de Construo Civil Constitudos

    predominantemente (acima de 70% em massa) de materiais cermicos, tais

    como peas ou fragmentos de tijolos, telhas, manilhas, blocos, revestimentos e

    assemelhados, confeccionados com argila e submetidos queima;

    2. Resduos Slidos Cimentcios de Construo Civil Constitudos

    predominantemente (acima de 70% em massa) de materiais compostos por

    areias com aglomerantes, argamassas, concretos endurecidos, artefatos ou

  • 11

    fragmentos de concreto ou argamassa de cimento, tais como blocos, lajes e

    lajotas, vigas, colunas e assemelhados, tendo como materiais constitutivos

    bsicos as areias, agregados ptreos, cimentos e cales;

    3. Resduos Slidos Mistos de Construo Civil - Constitudos predominantemente

    (acima de 70% em massa) dos materiais descritos nos itens 1 e 2.

    Nunes (2004) apresenta a terminologia Resduos Slidos de Construo e Demolio

    (RCD) e Resduos Slidos de Construo Civil (RCC), adotando em seu trabalho esta

    ltima, para a denominao de resduos slidos freqentemente chamados de entulho de

    obras, calia ou metralha. No captulo III (Arcabouo Legal e Normativo), segue

    apresentando a definio destes resduos segundo a Resoluo n 307 do CONAMA

    (idntica quela apresentada pela NBR 15116), bem como a adotada pela COMLURB

    (Companhia Municipal de Limpeza Urbana) do municpio do Rio de Janeiro, que se

    refere a Resduos Slidos Inertes oriundos de obras de construo civil, renovao e

    demolio de imveis (includos os bens mveis inservveis e os resduos oriundos de

    poda de rvores e limpeza de jardins).

    A norma NBR 10004/1987 classifica os resduos slidos como seco ou molhado

    (natureza fsica), como matria orgnica ou inorgnica (composio qumica) e como

    perigoso, no inerte e inerte (risco potencial ao meio ambiente). Tem-se

    complementarmente as normas:

    1. ABNT/NBR 10005/87 Lixiviao de resduos Procedimentos;

    2. ABNT/NBR 10006/87 Solubilizao de resduos Procedimentos;

    3. ABNT/NBR 10007/87 Amostragem de resduos Procedimentos;

    Academicamente, pode-se citar a contribuio advinda de LIMA (1999), onde

    apresentada uma proposio de diretrizes para produo e normalizao de resduo de

    construo reciclado e suas aplicaes em argamassas e concretos, para regulamentao

    dos agregados provenientes da reciclagem.

    Tambm em 2001, foram constitudos dois Grupos de Trabalho com apoio do

    SINDUSCON e do IBRACON, atravs do Comit Tcnico CT 206 Meio Ambiente,

    para preparao de textos bsicos visando a elaborao de documentos intitulados:

  • 12

    Prticas recomendadas para a utilizao de agregados reciclados, um em

    pavimentao e o outro em concreto.

    2.2 Caracterizao de agregados reciclados

    Salienta-se que, embora esta pesquisa trate da caracterizao mecnica de agregados

    reciclados para base e sub-base de pavimentos, a pouca bibliografia disponvel est

    voltada basicamente para o aproveitamento desses materiais em concretos, mas como

    estes materiais so avaliados por critrios mecnicos e fsicos que tambm so

    pertinentes pavimentao, estes estudos tambm so descritos nesta reviso.

    2.2.1 Gravimetria do RCD (matria-prima)

    O comportamento mecnico do agregado reciclado de RCD, como de qualquer outro

    material depende de vrios fatores, desde da matria-prima que o compe (entulho,

    nesse caso) at a forma em que ele empregado, passando pelo seu processo de

    fabricao. Assim parece pertinente apresentar os resultados de ensaios gravimtricos

    de RCD listados por Carneiro et al (2001) e Fernando Afonso (pesquisa em andamento -

    COPPE) (TABELA 2.1) de algumas regies do pas e do exterior, onde pode-se

    verificar a variabilidade dessa matria-prima e entender a sua importncia no

    comportamento de seus agregados ao fim dessa Tese.

    Por outro lado, ainda segundo Carneiro et al (2001), as caractersticas do RCD esto

    condicionadas a parmetros especficos da regio geradora dos mesmos e variao ao

    longo do tempo. Na construo de edifcios, enquanto nos pases desenvolvidos so

    gerados altos percentuais de papel e plstico (provenientes de embalagens), nos pases

    em desenvolvimentos so geradas grandes quantidades de concreto, argamassa, blocos,

    entre outros, devido s altas perdas do processo.

  • 13

    TABELA 2.1 Composio, em porcentagem, do entulho de diversas regies/pases Carneiro et al (2001) com modificaes.

    Origem Material Reino

    Unido1 Hong Kong2

    So Carlos3

    So Paulo4

    So Paulo5

    Ribeiro Preto6

    Salvador7 Rio de

    Janeiro8

    Concreto e

    argamassa 9 17 69 12 33 59 53 66

    Solo e areia

    75* 19 - 82* 32 - 22 -

    Cermica 5 12 29 3 30 23 14 12

    Rochas - 23 1 - - 18 5 14

    Outros 11 28 1 3 5 - 6 8**

    (!) Solo, areia e rocha. ( !!) Material misto (cermica, concreto e argamassa).

    1 Construction...,1996 5 Brito Filho (1999), citado por John (2000)

    2 Hong Kong Polytechnic, 1993, citado por Levy

    (1997) 6 Zordan (1997)

    3 Pinto (1989) 7 Carneiro (2000)

    4 Castro (1998) 8 Afonso (2004)

    Carneiro et al (2001) ressaltam ainda que alm dos fatores regionais, as diferenas

    observadas na composio do RCD podem ser atribudas ao perodo de amostragem,

    tcnica de amostragem utilizada, ao local de coleta da amostra (canteiro/aterro) e ao tipo

    de obras predominantes, tais como trabalhos rodovirios e sobras de demolio.

    2.2.2. Granulometria

    Para Pinto (1998) a granulometria do agregado, representada pela curva de distribuio

    granulomtrica, uma das caractersticas que asseguram estabilidade aos pavimentos,

    em conseqncia do maior atrito interno obtido por entrosamento das partculas, desde a

    mais grada partcula mais fina.

    Por outro lado, o sistema de classificao de solos e agregados proposto pela AASHTO

    (American Association of State Highway and Transportation Officials) (1978) utiliza a

    curva granulomtrica para avaliar e classificar o material de acordo com sua aplicao

    (vias secundrias, aterros, subleitos, bases e sub-bases de pavimentos flexveis, entre

    outros).

  • 14

    No que se refere a esses agregados reciclados, Sagoe-Crentsil & Brown (1998) 2 apud

    Buttler (2003) cita que a granulometria do agregado depende do processo de britagem

    utilizado. No entanto, isso no vem sendo considerado na sua confeco.

    No Brasil, as especificaes para materiais de base e sub-base de pavimentos

    estabilizados granulometricamente so apresentados por normas DNER e ABNT (NBR-

    11804), que, por sua vez, indicam a necessidade de que a curva granulomtrica seja

    contnua e que se enquadre nas faixas granulomtricas especificadas. Granulometria

    contnua, por sua vez, aquela em que esto presentes todos os tamanhos de partculas

    de um determinado intervalo granulomtrico, permitindo, como citado anteriormente,

    que os gros menores do material se encaixem nos vazios intergranulares dos maiores,

    possibilitando constituir um material mais compacto, conseqentemente mais resistente

    e menos deformvel.

    No trabalho realizado por Carneiro et al (2001), para verificar a viabilidade tcnica do

    emprego de agregados reciclados de RCD de Salvador-BA em camadas de base e sub-

    base de pavimentos, foram considerados estes agregados em duas fraes: grada

    (passante na peneira 19mm e retido na peneira 4,8mm) e mida (passante na peneira

    4,8mm). Essas duas fraes foram misturadas a dois solos seguindo determinados

    percentuais (ex.: 70% solo latertico e 30% agregado reciclado mido): um de

    comportamento latertico proveniente da Formao Barreiras e o outro de

    comportamento no latertico, do horizonte C saproltico. As duas misturas com o

    agregado reciclado mido no se enquadraram nas faixas granulomtricas especificadas

    pela NBR-11804, ao contrrio daquelas confeccionadas com a frao grada dos

    mesmos. A partir da anlise de resultados de ISC (ndice de Suporte Califrnia),

    observou-se que, respeitando determinadas dosagens, as misturas se mostraram

    adequadas sua aplicao em bases e sub-base de pavimentos.

    De forma semelhante, porm utilizando agregado reciclado e solos do municpio de So

    Paulo-SP, Bodi et al (1995) realizaram um dos primeiros trabalhos em pavimentao no

    Brasil utilizando esse tipo de agregado, servindo inclusive de referncia para a pesquisa

    citada anteriormente de Carneiro et al (2001). Dentre outras coisas, eles verificaram o

    2 SagoeCrentsil, K.K. & Brown, T. 1998, 'Performance requirements of building products derived from construction and demolition waste', Proc. CIB World Building Congress, 'Construction and the Environment', Gavle, Sucia, 712 June 1998

  • 15

    comportamento das misturas nas vrias dosagens, observando que os gros de RCD

    britado apresentam boa resistncia compresso e ao embricamento, quando

    comparados ao entulho bruto, uma vez que na britagem, a fragmentao se d no plano

    de menor resistncia do material. Portanto, as fraes menos resistentes so

    praticamente reduzidas s granulometrias de areias ou solos, resultando em material de

    enchimento e ancoragem dos gros mais resistentes. Segundo eles, este fato que

    resulta em uma curva de capacidade de suporte crescente, em funo do aumento da

    porcentagem de RCD na mistura.

    A Prefeitura Municipal de Belo Horizonte vem produzindo agregados reciclados de

    RCD nas Estaes de reciclagem de Entulho da Construo Civil dos bairros Estoril e

    Pampulha, distinguindo-os em tipo A (compostos basicamente de concreto e

    argamassas) e tipo B (material misto: cermica, concreto, argamassa e outros).

    Granulometricamente, ambos os produtos so apresentados como bica corrida. Existe o

    projeto de uma terceira usina que em acrscimo s demais, possuir um conjunto de

    peneiras, possibilitando a produo de brita graduada. Desde 1996, vem sendo

    executadas com esses materiais bases e sub-bases de pavimentos com projeto calcado

    no ISC e na experincia dos Engenheiros desse Municpio. Vias como a Av. Mrio

    Werneck, com trecho executado com esse material (existem trechos em agregado

    convencional e minrio de ferro) em meados da dcada de 90 (Figura 2.2) apresentam-

    se em condies de trfego semelhantes queles trechos confeccionados com agregado

    convencional. Contudo, no se pode afirmar se houve, ou no, um

    superdimensionamento das camadas do pavimento, uma vez que, como citado antes,

    contou-se com a experincia laboratorial e executiva dos Engenheiros da Prefeitura de

    Belo Horizonte, feitas empiricamente.

  • 16

    Figura 2.2 Av. Mrio Werneck, com trecho executado com agregado reciclado. (Foto do autor, ago/2003).

    Apresenta-se na Tabela 2.2 parte da tabela apresentada na norma ABNT NBR 15116 no

    tocante granulometria sugerida para emprego de RCD em pavimentao:

    Tabela 2.2 Requisitos gerais para agregado reciclado destinado a pavimento

    (granulometria) NBR 15116

    Agregado reciclado

    classe A Normas de ensaios

    Propriedades

    Mido Grado Agregado

    Mido

    Agregado

    Grado

    Distribuio

    granulomtrica

    no uniforme e bem

    graduada com

    coeficiente de

    uniformidade Cu > 10

    NBR 7181

    Dimenso mxima

    caracterstica " 63 mm NBR NM 248

    Em comparao aplicao em camadas inferiores de pavimento e no que se refere a

    granulometria, cita-se a utilizao dos agregados reciclados em concreto. Levy (1997)

  • 17

    informa que produzir agregados reciclados bem graduados e limpos, no ser suficiente

    para garantir a qualidade do processo de reciclagem. O material dever ser adequado

    finalidade especfica para a qual se destina, ou seja, fisicamente sua granulometria

    dever enquadrar-se dentro de determinados limites e, quimicamente, s poder conter

    nveis mnimos tolerveis de contaminao, para que, desta forma, o concreto produzido

    possa ser durvel e haja garantia da estabilidade das estruturas construdas.

    Levy (2001) diz que quando se fazem concretos com menor exigncia de qualidade,

    usam-se, s vezes, agregados provenientes de jazidas de rocha que contm uma

    variedade completa de tamanhos, desde o menor at o maior, denominados bica corrida

    ou brita graduada. Porm a alternativa usada no preparo de concretos de boa qualidade

    consiste em obter o agregado em pelo menos dois grupos de tamanhos, sendo as

    principais divises entre agregado mido e agregado grado (Neville, 1997). A

    determinao da curva granulomtrica de um agregado uma tarefa simples, porm

    decidir se a granulometria do agregado pode ser considerada aceitvel ou no para

    produo de concreto, uma tarefa mais complexa e parece que ainda nos dias atuais o

    meio tcnico no apresenta consenso sobre o assunto. Como inmeros outros conceitos,

    o de granulometria ideal foi se modificando com o tempo. Na dcada de 70, o meio

    tcnico indicava que o ideal para produo de concreto seria utilizar areia grossa, no

    Estado de So Paulo. Esta areia normalmente era encontrada na regio de Jacare.

    Atualmente com a dificuldade crescente de se localizar este tipo de areia, entre as

    concreteiras a utilizao de areia fina assim como areias compostas artificialmente com

    finos de pedreiras tm sido normalmente utilizadas na produo de concretos, sem

    qualquer restrio pelos consumidores.

    Portanto, a utilizao da curva granulomtrica como parmetro para seleo de um

    agregado a ser utilizado na produo de concreto, no pode ser adotado como critrio

    absoluto ao invs disso deve ser entendido como critrio orientativo para prever a

    trabalhabilidade do concreto a ser produzido com determinado agregado. Ainda, (Levy,

    2001) a procedncia dos resduos de construo destinados produo de agregados

    reciclados deve ser considerada relevante, uma vez que dependendo da sua origem, ao

    passarem por um determinado britador estes resduos daro origem a agregados com

    forma totalmente diferentes entre si. Em determinadas condies, podem levar a um

    consumo de cimento extremamente elevado, tornando invivel tcnica e

  • 18

    economicamente a produo de concretos de classes com resistncias superiores a 30

    MPa. Para esse pesquisador, o recomendvel, portanto, que, alm da forma, textura e

    granulometria, a seleo de agregados reciclados na produo de concretos seja

    realizada dependendo de sua origem, alvenaria ou concreto, evitando-se a mistura, uma

    vez que apresentam caractersticas diferenciadas.

    2.2.3 Ensaio de Abraso Los Angeles

    Define-se no mtodo de ensaio DNER-ME 035/98 a abraso Los Angeles do

    agregado como o desgaste sofrido pelo mesmo, quando colocado na mquina Los

    Angeles juntamente com uma carga abrasiva (esferas padres de ao), submetido a um

    determinado nmero de revolues desta mquina velocidade de 30 rpm a 33 rpm.

    O resultado do ensaio (An) avaliado pela perda de material em relao massa inicial

    (mn) da amostra passante na peneira N 12:

    An = (mn mn) x 100 / mn (2.1)

    Onde:

    An = abraso Los Angeles na graduao n;

    n = graduao (A,B,C,D,E,F ou G) escolhida para ensaio;

    mn = massa total da amostra lavada e seca, colocada no tambor;

    mn = massa total da amostra lavada e seca, aps o ensaio, retida na peneira de 1,7 mm.

    Pinto (1998) ressalta que, sem destacar a aplicao em base ou sub-base de pavimento,

    o valor Los Angeles deve ser baixo para os servios do tipo tratamento superficial e

    macadame betuminoso, sendo que nas misturas betuminosas geralmente pode-se

    projetar uma matriz argamassada de modo a atenuar a m qualidade do agregado. Por

    exemplo, uma argamassa com excesso de agregado mido, filer e cimento asfltico,

    minimiza o atrito dos gros, sem alterar as demais caractersticas da mistura

    betuminosa.

    No trabalho realizado por Carneiro et al (2001), para verificar a viabilidade tcnica do

    emprego de agregados reciclados de RCD de Salvador-BA em camadas de base e sub-

    base de pavimentos, citado no item anterior, o agregado reciclado grado apresentou

  • 19

    45% de desgaste neste ensaio, ou seja, An= 45%. Portanto o material do citado estudo

    atendeu s especificaes da NBR 11804 para sub-base e base de pavimentos (

  • 20

    1. Sua classificao por faixas de avaliao: excelente para desgastes de at 20%,

    bom para valores de 20% a 30%, regular, para desgastes de 30% a 40%, e

    insatisfatria para desgastes superiores a 40%;

    2. A norma C-33/72, da ASTM, que fixa a perda mxima no ensaio de abraso em

    50%, e que aconselha ainda que, nos agregados para concreto hidrulico exposto

    ao desgaste, o ndice mximo seja de 30%;

    3. A especificao do DNER (de maior interesse para a esta Tese) que, para uso em

    revestimento, especifica para o agregado um desgaste de no mximo 50%;

    4. As especificaes do LNEC, que prevem, para concretos betuminosos, um

    desgaste menor ou igual a 35% (E-265/73), e, para revestimentos superficiais,

    menor ou igual a 40% (E-266/73);

    5. As recomendaes francesas, bastante rigorosas na especificao de tratamentos

    superficiais, caso em que prescrevem um desgaste inferior a 25%;

    6. A especificao brasileira EB 655, para lastro ferrovirio, que fixa o desgaste

    mximo em 40%;

    7. A norma brasileira NBR 7211, estabelece que a abraso deve ser inferior a 50%

    em peso do material (intervalo igual quele do DNER).

    Verificaram, ento, que para norma brasileira NBR 7211:

    1. Em 4 das 24 pedreiras analisadas (16,7% dos casos), as duas graduaes de brita

    produzidas apresentaram resultados insatisfatrios;

    2. Em 12 das 24 pedreiras (50% dos casos), pelo menos uma das duas graduaes

    apresentou resultado insatisfatrio.

    Ramos (2003) apresenta um estudo com materiais granulares empregados no municpio

    do Rio de Janeiro e Grande Rio, realizando ensaios dinmicos de amostras de britas de

    vrias pedreiras do municpio e prximas para a confeco de um catlogo de

    pavimentos flexveis. Neste trabalho, apenas as amostras de brita 0 de duas pedreiras

    apresentaram desgastes Abraso Los Angeles iguais a 50% e 51% respectivamente.

    As demais amostras de brita 0 e 1 das demais pedreiras apresentaram valores inferiores

    ao limite de 50%.

  • 21

    2.2.4 Ensaio de ndice de Forma

    Segundo a norma NBR 7809, que prescreve o mtodo atravs do qual se determina o

    ndice de forma do agregado grado com dimenso mxima caracterstica superior a 9,5

    mm, este ndice mdia da relao entre o comprimento e a espessura dos gros do

    agregado, ponderada pela quantidade de gros de cada frao granulomtrica que o

    compe.

    Apresenta-se na TABELA 2.3 parte da tabela apresentada na norma NBR 15116, porm

    no que diz respeito ao ndice de forma:

    TABELA 2.3 Requisitos gerais para agregado reciclado destinado a pavimento (ndice de forma) NBR 15116

    Agregado reciclado classe

    A Normas de ensaios

    Propriedades

    Mido Grado Agregado

    Mido

    Agregado

    Grado

    ndice de forma - " 3 - NBR 7809

    Pinto (1998) afirma que nos tratamentos superficiais importante trabalhar com

    agregados mais cbicos ou menos lamelares, pois estes ltimos so facilmente

    quebrados pela ao do trfego, dando origem formao acelerada de buracos na pista

    da rodovia.

    Carneiro et al (2001) obtiveram para os agregados reciclados de Salvador, o ndice de

    forma para o agregado grado reciclado com dimenso mxima caracterstica superior a

    9,5 mm o valor de 2,6, apresentando-se assim no lamelar e dentro do que est

    preconizado na norma NBR 15116.

    Assim como no item anterior, cita-se o trabalho Ribeiro et al (2003) com os agregados

    naturais ou convencionais (britas 1 e 2) do municpio do Rio de Janeiro e Grande Rio,

    em termos de ndice de forma. Adotaram inicialmente o modo de determinao

  • 22

    especificado pela NBR 5564, que avalia a forma segundo duas relaes, calculadas a

    partir da medida de 3 dimenses das britas, verificando que os ndices de forma de todos

    os agregados ensaiados corresponderam forma cbica, fato que evidencia que todos

    possuem forma adequada ao emprego na produo de concreto.

    Ribeiro et al (2003) continuam citando que a norma brasileira NBR 7809, aplicvel ao

    caso neste estudo adota a medida de apenas duas dimenses das partculas, e a norma

    brasileira NBR 7211 estabelece que a relao entre a maior e a menor no deve ser

    superior a 3. Observou-se que este critrio foi atendido por todas as pedreiras

    analisadas. Tambm Ramos (2003) apresenta resultados semelhantes.

    Se por um lado, encontra-se na rea de pavimentao poucos trabalhos com agregados

    reciclados de entulho em que se contemple os estudos da forma dos mesmos, por

    outro, em se tratando de tecnologia do concreto isso bem difundido e essencial

    anlise do comportamento e da confeco desse material. Assim, ainda em trabalhos

    voltados a aplicao de agregados reciclados de RCD em concreto de cimento Portland

    (CCP), destaca-se mais uma vez Levy (2001), observando que a forma dos gros tem

    influncia no volume total de pasta necessrio para garantir a plasticidade especificada

    de determinado concreto e que , de acordo com estudo realizado por Ravindrarajah &

    Tam (1985), a forma das partculas dos agregados reciclados mais angular que a dos

    agregados naturais. Com base em pesquisas executadas por Hansen e Narud (1983)

    apud Levy (2001) conclui-se que os agregados midos reciclados provenientes de

    processo de britagem, apresentam formas maiores e mais angulosas do que seria

    desejvel para produo de boas misturas.

    Levy (2001) continua afirmando: Uma vez que os agregados midos reciclados contm

    um grande nmero de partculas angulares, no constitui surpresa o fato de que

    concretos elaborados exclusivamente com estes agregados, sejam mais consistentes e

    conseqentemente apresentem menor trabalhabilidade do que concretos preparados com

    agregados naturais utilizando-se o mesmo trao. Formatos cbicos e texturas

    impermeveis apresentam menor demanda de gua para atingir determinada

    plasticidade. Tal fato deve ser considerado sempre que se realizar um estudo de

    dosagem de CCP. Com a utilizao de agregados reciclados no haveria de ser

    diferente, portanto a utilizao de resduos provenientes de alvenaria para produo de

  • 23

    agregados a serem utilizados no preparo de novos concretos deve ser analisada com

    cautela, uma vez que tal soluo sempre apresentar como produto final, agregados

    mais angulosos e mais absorventes que os agregados provenientes de resduos de

    concreto.

    2.2.5 Ensaios de Lixiviao e de Solubilizao

    O ensaio de lixiviao tem como objetivo identificar a concentrao de substncias que

    se separam do material por meio de lavagem e percolao. Em contrapartida, o ensaio

    de solubilizao identifica a concentrao de substncias solveis em gua presentes no

    material. Estes ensaios so preconizados pelas normas NBR 10004 e 10005. A partir

    desses dois ensaios pode-se tambm classificar se o agregado reciclado inerte, no-

    inerte ou perigoso.

    Por outro lado, NBR 15116 - Agregados reciclados de resduos slidos da construo

    civil Utilizao em pavimentao e preparo de concreto sem funo estrutural

    Requisitos ABNT no trata deste assunto. Existem consideraes sobre teores de

    contaminantes, porm contemplando aqueles que tm ao nociva unicamente sobre a

    qualidade dos concretos confeccionados com esse tipo de agregado.

    Quanto ao emprego no Brasil desses ensaios voltado aplicao em projetos

    rodovirios, por exemplo, Vizzoto (2003) ressalta que existem poucos dados a respeito,

    uma vez que corriqueiramente adotam-se os agregados reciclados de RCD como inertes.

    Contudo, Carneiro et al (2001) verificaram para os agregados reciclados de Salvador a

    possibilidade de risco de contaminao ambiental por metais pesados atravs dos

    ensaios de lixiviao e solubilizao. Segundo eles, a determinao da concentrao de

    metais foi realizado por espectrometria de emisso atmica, espectrometria de absoro

    atmica em chama, gerao de hidretos e vapor a frio. Os resultados obtidos se

    apresentaram de acordo com os limites mximos permitidos para resduos slidos pela

    NBR 10004, ou seja, os agregados reciclados grado e mido de pesquisa de Salvador

    no apresentaram riscos sade pblica nem ao meio ambiente.

  • 24

    2.2.6 Ensaio Triaxial Dinmico - Mdulo de Resilincia

    Adotando-se uma abordagem mecanstica ou mecanstica-emprica em projetos

    rodovirios, essencial o uso de termos como resilincia, Mdulo de Resilincia e

    ensaios triaxiais dinmicos realizados com um dos objetivos de definir equaes que

    exprimam o valor deste mdulo de acordo com determinadas tenses atuantes. O

    Mdulo de Resilincia de solos e materiais de pavimentao para base e sub-base

    definido como a relao entre a tenso pulsante aplicada no ensaio triaxial (tenso

    desvio, d) e a sua correspondente deformao axial recupervel.

    At o momento, no foram identificados trabalhos acadmicos que abordassem ensaios

    dinmicos, caracterizando os agregados reciclados atravs do seu mdulo de resilincia

    e deformaes permanentes decorrentes de aplicao de cargas repetidas em ensaios

    triaxiais dinmicos. O trabalho encomendado pela NOVACAP COPPE e realizado

    pela Prof Laura Motta em 1999, nos laboratrios desta instituio com materiais

    provenientes de Braslia-DF (Tabela 2.4, Figuras 2.3 e 2.4) que foram britados e

    peneirados separadamente em granulometria que se encaixasse nas curvas superior,

    mdia e inferior da faixa A da especificao DNER-ES 303/97, apresenta resultados

    para o MR (mdulo de resilincia) (Tabelas 2.5 e 2.6, Figura 2.5) inclusive para corpos

    de prova 15 x 30 cm.

    Estes resultados de ensaio so apresentados por Motta & Fernandes (2003), que tambm

    apresenta o andamento da pesquisa desta tese poca, para caracterizao de resduos

    slidos da construo civil do Rio de Janeiro e de Belo Horizonte para uso em camadas

    de pavimentos urbanos, fazendo um breve relato de experincias da capital mineira com

    uso deste material e de outros locais.

    Tabela 2.4 Resumo dos ensaios de compactao e ISC para o agregado reciclado de

    entulho realizado na NOVACAP (Motta & Fernandes, 2003)

  • 25

    Figura 2.3 Agregado reciclado de Braslia: vista geral, fraes, corpo de prova inteiro e desfeito. (Motta e Fernandes, 2003).

    Figura 2.4 Resultado do ensaio de compactao para o agregado reciclado na energia intermediria, realizados na NOVACAP. (Motta e Fernandes, 2003)

    Tabela 2.5 Resultados dos ensaios de compactao e triaxial dinmico para o agregado reciclado de Braslia, na energia intermediria, realizados na COPPE (Motta e

    Fernandes, 2003).

  • 26

    VARIAO DO MDULO RESILIENTE COM A TENSO CONFINANTE

    y = 1586,4x0,6222

    R2 = 0,9325

    10

    100

    1000

    0,01 0,1 1

    Tenso Conf inante, 3 (MPa)

    Md

    ulo

    resi

    lie,

    M R (

    MP

    a)

    Figura 2.5 Mdulo de Resilincia da amostra de agregado de Braslia, preparada com granulometria mais fina da faixa A do DNER, CP1 2 ponto da curva de compactao. (Motta e Fernandes, 2003).

    Tabela 2.6 Resumo dos modelos de comportamento tenso-deformao para o agregado reciclado de entulho de Braslia (Motta e Fernandes, 2003).

    Lamentavelmente a norma 15116 de 2004 voltada para agregado reciclado de RCD para

    uso em pavimentao no contempla esse tipo de ensaio, preterindo uma abordagem

    mecanstica do projeto de pavimentos em detrimento da viso e do ensaio tradicional

    em nosso pas, aquele do ISC (ndice de Suporte Califrnia).

    Por outro lado, existem diversos trabalhos acadmicos no pas voltados para a

    caracterizao mecnica de agregados naturais. Como referncia inicial dos mesmos,

    Medina (1997) atribui a Francis Hveem o primeiro estudo sistemtico cujo objetivo era

    determinar a deformabilidade de pavimentos. Esse levantamento foi iniciado pelo rgo

    rodovirio da Califrnia em 1938 com as medies de deflexes de pavimentos sujeitos

  • 27

    ao trfego, culminando na campanha de medidas em 1951, perodo em que se

    estabeleceram os valores mximos admissveis de deflexes de forma que os

    pavimentos tivessem uma vida de fadiga satisfatria. Hveem relacionava o trincamento

    progressivo que ocorria nos revestimentos asflticos com as deformaes resilientes das

    camadas subjacentes, principalmente o subleito, adotando o termo resiliente, ao invs de

    elstica para as deformaes reversveis, argumentando que, estas so nos pavimentos

    muito maiores que nos slidos elsticos como o concreto, ao, etc.

    Por outro lado, o ensaio de ISC determina o ndice de resistncia penetrao por

    compresso de um solo, podendo no corresponder ao efeito das cargas que so

    aplicadas rapidamente, com intensidade varivel e freqncias diferentes, ocasionando

    na maioria das vezes deslocamentos muito reduzidos, com valores bem menores do que

    0,1considerado no referido ensaio. Portanto, comentava Seed (1955) apud Santos

    (1998), que so baixas as correlaes entre o ndice de resistncia ISC com o

    desempenho do pavimento. Solos que apresentam o mesmo valor de ISC (resistncia)

    podem possuir comportamentos diferentes quando submetidos a ao de cargas

    repetidas.

    Ainda segundo Medina (1997), uma referncia fundamental para os estudos de

    laboratrio sobre resilincia iniciados em 1977 na COPPE/UFRJ foi o Special Report

    162 do TRB de 1975. Tais estudos intensificaram-se a partir do Convnio

    COPPE/UFRJ e o IPR/DNER em 1978. Vrias teses de mestrado e doutorado no estudo

    da mecnica dos pavimentos foram desenvolvidas ao longo destes anos, resultando

    numa grande quantidade de informaes sobre o comportamento de ensaios dinmicos

    de cargas repetidas em solos, agregados naturais, misturas asflticas e bases cimentadas.

    Prez Espinosa (1987) foi o primeiro a ensaiar no Brasil materiais de granulometria

    mais grossa e utilizou um modelo (equao 2.2) para representar o comportamento

    resiliente dos materiais granulares grados, calcado em ensaios triaxiais de carga

    repetida de uma brita.

    MR = k3k4

    ac (2.2)

    Onde:

    MR = Mdulo de Resilincia;

  • 28

    k3, k

    4, c = parmetros de resilincia;

    = soma das tenses principais;

    a = deformao axial

    A partir dos dados levantados nestes diversos trabalhos, foi possvel obter parmetros de

    resilincia e modelos de fadiga, que, por sua vez, foram considerados para

    dimensionamento de reforo dos pavimentos flexveis por Preussler (1983) e nos

    dimensionamentos de pavimentos novos por Motta (1991).

    A classificao atravs da resilincia dos solos, presente no Manual de Pavimentao do

    DNER (1996), fundamenta-se no conhecimento do mdulo de resilincia dos materiais

    expresso por modelos de comportamento elstico no linear. Pelo banco de dados que

    serviu de base para esta proposio de classificao, sabe-se que algumas caractersticas

    esto implcitas tais como os solos granulares, referncia para os agregados reciclados

    de RCD, so aqueles que apresentam menos que 35% em peso de material passando na

    peneira n 200 (0,075 mm).

    O modelo normalmente utilizado, proposto por Hicks (1970) para retratar o

    comportamento do solo granular aquele apresentado na equao 2.3:

    MR = K1#3K2 (2.3)

    Onde:

    #3 = tenso de confinamento;

    k1 e k2 = constantes ou parmetros de resilincia determinadas em ensaio triaxial de

    carga repetida.

    Contudo, Macdo (1996) props um modelo que apresentou boa correlao tanto para

    solo argiloso, quanto para granulares, que leva em considerao os par de tenses

    confinante e desvio, representado pela equao 2.4, cujos valores de coeficiente de

    correlao, R2, so superiores a 0,90 e apresenta melhor performance que o modelo

    proposto por Hicks. Ferreira (2002), estudou os vrios modelos para o comportamento

    resiliente dos materiais e concluiu tambm, conforme Macdo (1996), que o Modelo

    Resiliente Composto representa a melhor forma de expressar a resilincia dos materiais.

  • 29

    MR= k1 #3 k2 #d k3 (2.4)

    Onde:

    #3 = tenso de confinamento;

    #d = tenso desvio;

    k1, k2 e k3 = constantes ou parmetros de resilincia.

    No Manual do DNER (1996), encontra-se de acordo com o comportamento resiliente, a

    discriminao de trs classes de solos (A, B e C), que retratam o modelo MR = k1#3k2:

    1. O solo do grupo A apresenta grau de resilincia elevado, no sendo aconselhado

    seu uso em estrutura de pavimentos,

    2. O solo do grupo B apresenta resilincia moderada, podendo ser empregado em

    qualquer camada do pavimento, dependendo de k2; se k2 " 0,50 ter bom

    comportamento, caso contrrio, ou seja k2 > 0,50, depende da espessura e da

    qualidade do subleito, e

    3. O Solo do grupo C de baixo grau de resilincia pode ser utilizado em qualquer

    camada do pavimento, resultando em estruturas com baixas deflexes.

    Segundo Ramos (2003), o Mdulo de Resilincia no propcio como ndice de

    qualificao de um agrupamento de solos, especialmente quando expressa

    comportamento elstico no linear. Este, continua ele, no um valor intrnseco do

    material, no uma propriedade ndice, pois varia com a forma de obteno, com as

    caractersticas de moldagem do corpo de prova, com a energia e muitos outros

    parmetros. Prez Espinosa (1987) tambm fez esta ressalva quando do estudo de

    deformao permanente de materiais granulares.

    Por outro lado, sabe-se que em Mecnica dos Pavimentos considera-se o pavimento

    como um sistema em camadas, tendo o material que ser compatibilizado com seus

    vizinhos na estrutura. Como lembrado por Ramos (2003), muitos autores j

    comentaram que os ensaios dinmicos no so indicados para especificaes

    genricas, devendo compor as exigncias de especificao de cada projeto especfico.

    Observao esta muito interessante quando se lida com novos materiais como os

    agregados reciclados de entulho. Portanto, uma das grandes vantagens do uso dos

  • 30

    mtodos mecansticos de dimensionamento no partir de restries absolutas quanto

    aos materiais.

    Segundo Preussler (1978) apud Ramos (2003), quando um determinado solo no

    coesivo (areia ou pedregulho) submetido a um carregamento repetido, grandes

    deformaes permanentes ocorrem durante os primeiros ciclos da carga, como

    conseqncia de movimentos relativos entre partculas, ou fratura das mesmas nos

    pontos de contato. Com a repetio de carregamento, o material adquire rigidez e as

    deformaes permanentes ao final de cada ciclo da carga aplicada diminuem at

    tornarem-se muito pequenas ou nulas. A partir deste instante, o solo apresenta um

    arranjo estvel de partculas e um comportamento quase elstico no sentidos de que toda

    a deformao nele causada pelo carregamento recupervel quando este retirado.

    Nestas condies, o mdulo do material torna-se aproximadamente constante.

    Ramos (2003) apresenta resultados de Mdulo de Resilincia (MR) para os materiais

    granulares, p de pedra e brita corrida da cidade do Rio de Janeiro, onde o modelo em

    funo da tenso desvio apresenta fraca correlao, R2

  • 31

    ou seja, para tenso desvio mxima e confinante mxima obteve-se 220 MPa para brita

    corrida na energia modificada e na intermediria e 160 MPa para o p de pedra na

    energia intermediria.

    2.2.7 Ensaio Triaxial Dinmico Deformao Permanente

    Segundo Medina (1997), embora o defeito mais freqente nos pavimentos flexveis

    brasileiros seja o trincamento do revestimento asfltico deflexo do mesmo apoiado em

    camadas granulares geralmente deformveis elasticamente, as deformaes

    permanentes, irreversveis, esto presentes seja nas trilhas de rodas dos caminhes nas

    estradas seja em estacionamentos de revestimento asfltico, constituindo um fator

    importante no projeto de pavimentos flexveis.

    Prez Espinosa (1987), observou que a anlise das deformaes permanentes um

    problema relativamente complexo, tanto ao nvel de sua evoluo em funo do nmero

    de repeties da carga quanto ao nvel das relaes entre as tenses e deformaes,

    existindo dois mtodos para a avaliao do afundamento da trilha de roda para um

    determinado trfego acumulado: o primeiro atravs das relaes entre tenses e as

    deformaes permanentes volumtrica e cisalhante e o segundo via relaes entre as

    tenses e a deformao principal permanente, que permite somente a avaliao do

    afundamento sob o eixo do carregamento. Por sua vez, esta ltima pode ser avaliada

    durante o ensaio de carga repetida, cujo par de tenses pr-fixado, e a deformao

    axial (principal) permanente evolui com o aumento do nmero de aplicaes de carga.

    Uma equao bastante simples utilizada para representar esta deformao (p)

    conhecida como modelo de Monismith, dada por:

    p = k

    1N

    k2 (2.5)

    Onde:

    k1 e k

    2 so coeficientes determinados experimentalmente;

    N o nmero de ciclos aplicaes de carga.

  • 32

    Na tentativa de contemplar a deformao permanente devida ao trfego e no a soma

    desta com aquela verificada durante a construo do pavimento, foi proposta por Paute e

    Martinez (1982)3 apud Prez Espinosa (1987) a seguinte relao:

    p(N)

    = p(100)

    + K1(N-100)K2 (2.6)

    Onde:

    p(N)

    a deformao axial permanente aps N aplicaes de carga (N >> 100);

    p(100)

    a deformao axial permanente aps 100 aplicaes de carga;

    K1 e K

    2 so coeficientes determinados experimentalmente;

    N o nmero de aplicaes de carga.

    Outro modelo foi sugerido por Barksdale (1972) apud Prez Espinosa (1987)

    contemplando, por exemplo, as tenses aplicadas para um nmero especfico de

    aplicaes de carga, a coeso e o ngulo de atrito interno. Barksdale props ainda um

    mtodo de clculo para se determinar o afundamento da trilha de roda, subdividindo a

    estrutura do pavimento em subcamadas, calculando as tenses no centro das mesmas

    atravs de teorias elsticas ou viscoelsticas no-lineares e, por fim, somando todos os

    produtos das deformaes plsticas mdias no centro destas subcamadas pela espessura

    das mesmas.

    A deformao permanente, dentro da engenharia rodoviria brasileira, foi considerada

    no Mtodo do DNER, baseando-se este no CBR, onde a estrutura do pavimento

    concebida para proteger o subleito quanto ruptura por cisalhamento ou por acmulo de

    deformao permanente. Contudo, Motta (1991) ressalta que ela no funo somente

    do subleito, mas do somatrio das contribuies de todas as camadas.

    Sabe-se que conforme o valor da tenso desvio pode haver o acomodamento das

    deformaes permanentes, como enunciou Preussler (1978). Porm para tenses desvio

    3 Paute, J. L; Martinez, J., 1982, Structural finite element design of unbound material pavement from cycle loading traiaxial tests, In: Proc., Fifth Int. Conference on the Structural Design of Asphalt Parements, Delft.

  • 33

    de certo porte ou valor limiar da mesma, a deformao permanente pode crescer

    continuamente.

    Por fim, para agregados reciclados, objeto de estudo nesta tese, no se tem

    conhecimento a respeito de ensaios realizados que verifiquem, por exemplo, a evoluo

    da deformao permanente atravs do nmero de aplicao de cargas em ensaios

    dinmicos e a existncia ou no de seus limites, caso esta evoluo seja assinttica.

    2.3 Programa para anlise de estrutura de pavimento FEPAVE

    O FEPAVE, Finite Element Analysis of Pavement Structures, foi desenvolvido na

    Universidade da Califrnia, em Berkeley, Califrnia, USA. E. L. Wilson desenvolveu

    este programa em 1965, em linguagem cientfica FORTRAN para computadores de

    grande porte (mainframe).

    Em 1968, J. M. Duncan, C. L. Monismith e E. L. Wilson promoveram modificaes na

    verso original de forma a permitir a gerao automtica de configuraes de elementos

    finitos adequadas anlise de estruturas axissimtricas de pavimentos flexveis, alm de

    adaptar, atravs de anlise no linear, Mdulos de Resilincia dependentes da

    temperatura e do estado de tenses atuante.

    O programa foi doado a COPPE em 1973, e desde ento tem sido testado e estudado em

    teses de mestrado e doutorado pertinentes anlise de estruturas flexveis de pavimento,

    tendo Motta (1991) implementado o programa FEPAVE para uso em microcomputador

    e o adaptando considerao da confiabilidade pelo tratamento probabilstico de

    Rosenblueth (FEPAVE 2), permitindo estimar a mdia e o desvio padro dos

    parmetros de projeto. O conceito de confiabilidade est associado ao risco estatstico

    que se quer admitir em um projeto. No manual da AASHTO em 1986, foi introduzido

    este conceito de maneira explcita, sugerindo diferentes nveis de confiana a serem

    empregados nos projetos, conforme a importncia da estrada e sua localizao em

    regio urbana ou rural, mas neste caso representado somente por um certo valor de

    ajuste do trfego.

  • 34

    O programa FEPAVE 2 utiliza o mtodo dos elementos finitos, onde o meio continuo

    dividido em elementos fictcios de dimenses finitas, ligadas entre si por pontos nodais

    que se assimilam a articulaes sem atrito. Aplica-se a teoria da elasticidade para obter

    a relao entre as foras e os deslocamentos nodais de cada elemento e, a partir destes,

    os deslocamentos no seu interior. Calcula-se a matriz de rigidez de cada elemento. Os

    elementos ligam-se pelas faces ou lados. As rigidezas elementares acoplam-se numa

    matriz de rigidez global da estrutura.

    Resolvido o sistema, tm-se os deslocamentos nodais. A partir destes calculam-se as

    tenses no interior de cada elemento e os deslocamentos nos ns para todo o meio

    estratificado. De acordo com o operador, o programa gera automaticamente uma malha

    e acolhe os mdulos dependentes ou no das tenses. As deformaes (especificas) so

    as derivadas primeiras dos deslocamentos e as tenses relacionam-se s deformaes:

    [#] = [D] x [$] (2.7)

    Onde:

    [D] = matriz constitutiva, que funo das caractersticas do material;

    [#] = tenso;

    [$] =deformao.

    A caracterstica dos materiais em geral tomada como o valor do mdulo de resilincia

    ou de elasticidade que, se for no linear, depender do estado de tenses.

    Algumas regras se recomendam para a discretizao do meio contnuo:

    A fronteira lateral de cerca de 20 R, sendo R o raio da rea carregada;

    A fronteira do fundo a 40 R, ou mais;

    A razo das dimenses dos lados do quadriltero no deve ser maior que 5:1, de

    forma que as determinaes das tenses sejam acuradas (mais importante quanto

    mais prximo carga).

    O FEPAVE2 admite at 12 camadas de materiais diferentes, com comportamento

    elstico, isotrpico podendo ser linear ou no linear. Alm disso, permite variar o

    mdulo dos materiais asflticos em funo do perfil de temperaturas ao longo da

  • 35

    espessura da camada. O programa foi definido para carregamento nico (eixo simples

    de roda simples), sendo que para o caso de pavimentos com comportamento elstico

    linear pode-se simular a roda dupla atravs da superposio dos efeitos. Correntemente,

    admite-se para clculo da deflexo mxima correspondente ao eixo padro, o

    deslocamento calculado para uma distncia radial de 3R/2, onde R o raio da rea de

    contato do pneu, multiplicado por 2, o que representa o efeito conjunto das duas rodas

    mesmo quando se usa a elasticidade no linear.

    Silva (1995) estudou a considerao de modelos lineares e no lineares, tendo

    constatado que para algumas estruturas:

    1. A deflexo na superfcie maior no modelo no linear e mais prxima da

    medida no campo;

    2. A tenso vertical mxima medida no topo do subleito 22% maior para caso

    linear;

    3. A deformao de trao na camada inferior do revestimento na anlise no linear

    38 % superior;

    4. A anlise no linear permite a obteno de uma estrutura mais flexvel e

    prxima a real.

    Para facilitar a utilizao do programa, Silva (1995) criou um arquivo de dados

    utilitrio denominado UTILFEP.EXE, em linguagem Pascal que composto de um

    menu principal com oito sub-rotinas:

    1. Ler arquivo;

    2. Entrada de dados;

    3. Alterar e/ou exibir dados;

    4. Execuo

    5. Impresso de resultados;

    6. Grficos e resumos de resultados;

    7. Valores do coeficiente de Poisson e mdulo de resilincia;

    8. Sair do programa

  • 36

    Com base nos resultados obtidos, verifica-se se a estrutura proposta atende aos Critrios

    de Ruptura para o perodo de projeto estudado: fadiga da camada betuminosa e de

    acmulos de deformaes plsticas (permanente). comum na COPPE empregar a

    curva de fadiga em funo da diferena de tenso e para o subleito (deformao

    plstica) utilizar a equao desenvolvida por Heukelom e Klomp (1962), que no

    aplicvel a todos os casos:

    #vertical

    = 0,006Mr/(1+0,7log(N)) (2.8)

    Onde:

    #vertical

    = tenso vertical no subleito (kgf/cm);

    Mr = Mdulo de Resilincia do subleito (kgf/cm);

    N = valor do nmero de solicitaes admissveis definido para o projeto.

  • 37

    CAPTULO III

    Materiais e Mtodos

    Como j citado no Captulo I, o propsito desta tese caracterizar

    mecanicanisticamente alguns agregados reciclados de RCD das cidades do Rio de

    Janeiro e Belo Horizonte, de forma a aplic-los em bases e sub-bases de pavimentos, e

    atendendo s restries ambientais.

    Em Belo Horizonte, j existem vias urbanas executadas com esse material, mas que

    foram dimensionadas empiricamente. Em visita a estas vias realizada em agosto de

    2003, foram observados algumas trincas no revestimento, contudo, em menor proporo

    e gravidade das aquelas apresentadas em trechos adjacentes executados com agregados

    convencionais ou provenientes de minrio de ferro. Alm de ruas e avenidas em plena

    operao, visitaram-se outras em diferentes fases de execuo, observando uma

    relevante deposio das maiores partculas da brita corrida (superiores a 19 mm) s

    margens das pistas (Figura 3.1). Fato, este, tambm importante na escolha das

    dimenses dos corpos-de-prova a serem usados nesta pesquisa.

    Nesta tese, quando se diz agregado reciclado de RCD do Rio de Janeiro e de Belo

    Horizonte, tratam-se de amostras de materiais oriundos de usinas ou estaes de

    reciclagem de entulho da construo civil dos bairros do Catumbi (Rua Itapir, 527) no

    Rio de Janeiro e do Estoril (Rua Nilo Antnio Gazire, 147) em Belo Horizonte, a

    primeira destas de propriedade privada e a segunda de propriedade pblica municipal.

    Por fim, os ensaios realizados e apresentados neste captulo so aqueles imprescindveis

    ao dimensionamento mecanstico de pavimentos e/ou contemplados na norma NBR,

    foram realizados tambm ensaios de Lixiviao e Solubilizao, que esto associados

    classificao de resduos quanto ao aspecto ambiental.

  • 38

    Figura 3.1 Rua em Belo Horizonte antes da imprimao; rua imprimada com partculas segregadas margem; ponto do pavimento a ser reparado e visulaizao da brita corrida copmpactada; rua imprimada. (Fotos do autor, ago/2003).

    3.1 Agregados reciclados de RCD

    Segundo Nunes (2004), dentre 5507 municpios brasileiros apenas onze possuem usinas

    de reciclagem operando ou em pr-operao, totalizando 14 usinas. A Prefeitura de Belo

    Horizonte (PBH) possui as estaes de reciclagem do Estoril e da Pampulha, sendo este

    municpio o nico a possuir as trs diretrizes da gesto de RCD (facilitao da

    disposio, segregao na captao e alterao da destinao) implantadas e operando.

    A usina do Catumbi no Rio de Janeiro, por sua vez, pertence iniciativa privada

    desprovida de qualquer apoio do poder pblico municipal sua insero no processo de

    limpeza pblica urbana.

    Cita-se, como exemplo, o procedimento de gerao de agregados reciclados de RCD na

    usina do Estoril (Figura 3.2):

    1. Molhagem do RCD ao chegar na usina ainda na caamba do caminho;

    2. Descarregamento do RCD em rea apropriada;

  • 39

    3. Espalhamento do RCD em leiras com utilizao de p-carregadeira;

    4. Pr-triagem do RCD, separando basicamente papis, plsticos, gesso, madeira e

    metais (grandes fragmentos);

    5. Triagem do material com a separao dos RCD provenientes de peas de

    concretos;

    6. Carga e lanamento de RCD (fragmentos de concreto ou mistos) no britador

    com auxlio da p-carregadeira;

    7. Britagem do RCD e deposio dos agregados sobre esteiras rolantes;

    8. Retirada, atravs de eletroms, de pequenos artefatos metlicos existentes

    dentre os agregados ainda sobre as esteiras;

    9. Transporte do material britado para a rea de armazenagem especfica.

    Figura 3.2 - Molhagem do RCD ao chegar na usina; vista geral da rea de descarregamento de RCD; pr-triagem do RCD; lanamento de RCD no britador; transporte em esteira com eletrom dos agregados; carregamento de caminho com agregados reciclados destinados s obras da PBH. (Fotos do autor, ago/2003).

  • 40

    Observa-se ainda que:

    1. A molhagem do RCD ou dos agregados reciclados realizada periodicamente

    sobre os seus depsitos a fim de se evitar a formao de poeira em suspenso;

    2. Existe nesta usina uma barreira vegetal com intuito de se evitar a disperso desta

    poeira, atingindo a vizinhana habitacional;

    3. O agregado reciclado tipo Concreto, denominado Tipo A pela PBH, destinado

    confeco de blocos e peas de pavimentos intertravados de concreto (Figura

    3.3);

    4. O agregado reciclado tipo misto, denominado Tipo B, destinado s obras de

    pavimentao.

    Figura 3.3 - Blocos e intertravados de concreto produzidos com agregados reciclados tipo A produzidos na usina do Estoril (PBH). (Fotos do autor, ago/2003).

    Nesta pesquisa contou-se com dois tipos de agregados reciclados, denominados

    simplificadamente concreto e misto. O primeiro o agregado reciclado obtido do

    beneficiamento de RCD, composto na sua frao grada de no mnimo 90% em massa

    de fragmento a base de cimento Portland e rochas. O segundo o agregado reciclado

  • 41

    composto na sua frao grada de menos de 90% em massa de fragmentos base de

    cimento Portland e rochas.

    A usina do Catumbi disponibilizou para a pesquisa agregados do tipo misto separados

    por fraes granulomtricas, do p-de-pedra brita 1 (Figura 3.4). Esta particularidade

    se mostrou importante a partir do momento que se pode graduar as britas para ensaio,

    variando-as em trs granulometrias distintas (superior, intermediria e inferior) dentro

    da faixa D para base (DNER-ES 303/97). Salienta-se ainda que, embora no tenham

    sido utilizadas, esta usina forneceu britas de fraes superiores, porm no separadas

    por peneiramento.

    Figura 3.4 Peneirador; pilhas de agregados reciclados Usina do Catumbi. (Fotos Fernando Afonso, 2003).

    Em contrapartida, os agregados provenientes da estao de reciclagem do Estoril foram

    fornecidos nos dois tipos, concreto e misto, cuja denominao local agregados tipo A

    e tipo B respectivamente. Devido ausncia de peneiramento na usina como aquele

    citado no pargrafo anterior, o produto da britagem disponibilizado foi a brita corrida ou

    bica corrida.

    Na coleta das amostras de agregados nas usinas e na reduo das mesmas para ensaios

    de laboratrio, foram adotadas as normas DNER-PRO 120/97 e DNER-PRO 199/96

    respectivamente, visando assim obter maior representatividade desses materiais nos

    ensaios.

  • 42

    Aps a anlise granulomtrica das amostras de campo (item 3.2), pde-se desenvolver

    os ensaios da pesquisa sobre as amostras de laboratrio nas combinaes apresentadas

    no Quadro 3.1, contemplando: o tipo de material, a granulometria do material em

    funo da posio dentro da faixa D ou no especificada chamada bica corrida (Figura

    3.5), a energia de compactao e a sua fonte geradora (usina).

    Quadro 3.1 Amostras ensaiadas em laboratrio

    Amostra Agregado Granulometria Energia de

    compactao Cidade

    MSIRJ Misto Superior Intermediria Rio de Janeiro

    MSMRJ Misto Superior Modificada Rio de Janeiro

    MMIRJ Misto In