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FICHA PARA CATÁLOGO PRODUÇÃO DIDÁTICO PEDAGÓGICA
Título: ”VIOLÊNCIA E INDISCIPLINA” ESCOLAR: PREVENÇÃO E INTERVENÇÃO
Autor Aneusa de Almeida Vessoni
Escola de Atuação Colégio Estadual Bartolomeu Mitre
Município da escola Foz do Iguaçu
Núcleo Regional de Educação Foz do Iguaçu
Orientador Profª. Drª. Tânia Maria Rechia Schroeder.
Instituição de Ensino Superior UNIOESTE
Disciplina/Área (entrada no PDE) Pedagogia
Produção Didático-pedagógica Artigo científico – oficinas de reflexão sobre o tema
Relação Interdisciplinar
(indicar, caso haja, as diferentes disciplinas compreendidas no trabalho)
Público Alvo
(indicar o grupo com o qual o professor PDE desenvolveu o trabalho: professores, alunos, comunidade...)
Alunos da 2ª ano do Médio
Professores e alunos
Localização
(identificar nome e endereço da escola de implementação)
Colégio Estadual Bartolomeu Mitre
Av Jorge Schimmelpfeng 351, 85851110 Foz do Iguaçu
Apresentação:
(descrever a justificativa, objetivos e metodologia utilizada. A informação deverá conter no máximo 1300 caracteres, ou 200 palavras, fonte Arial ou Times New Roman, tamanho 12 e espaçamento simples)
Este artigo aborda o tema violência e indisciplina no contexto escolar, cujo objetivo é o de identificar e compreender a percepção de alunos e professores a respeito dos conflitos em sala de aula, focalizando a qualidade das relações interpessoais, as dificuldades para o desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem que estão relacionadas aos comportamentos nomeados como violentos e/ou indisciplinados de maneira analisar suas causas e propor formas de melhorar a convivência diária em sala de sala criando climas escolares propícios às aprendizagens.
Palavras-chave ( 3 a 5 palavras) disciplina; indisciplina; conflitos; relações interpessoais
PARANÁ
GOVERNO DO ESTADO
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEED SUPERINTENDENCIA DA EDUCAÇÃO – SUED
DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS - D PPE PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE
ANEUSA DE ALMEIDA VESSONI
PROJETO DA PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA
VIOLÊNCIA E INDISCIPLINA ESCOLAR: PREVENÇÃO E INTERVENÇÃO
Cascavel 2011
PROJETO DA PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA ANEUSA DE ALMEIDA VESSONI
VIOLÊNCIA E INDISCIPLINA ESCOLAR: PREVENÇÃO E
INTERVENÇÃO
Projeto da produção didático-pedagógica, apresentado ao Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), junto à Secretaria de Estado da Educação, Superintendência da Educação, Departamento de Políticas e Programas Educacionais, Coordenação Estadual do PDE, Núcleo Regional de Educação e Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), na área de Pedagogia. Profa. Orientadora: Doutora Tânia Maria Rechia Schroeder.
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ROTEIRO DO PROJETO DA PRODUÇÃO DIDÁTICO PEDAGÓGICA
A) DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
Professor PDE: Aneusa de Almeida Vessoni
Área PDE: Pedagogia
NRE: Cascavel
Professor Orientador IES: Tânia Maria Rechia Schroeder
IES vinculada: UNIOESTE
Escola de Implementação: Colégio Estadual "Bartolomeu Mitre"
Público objeto da intervenção: Professores e alunos do Ensino Médio
B) TEMA DE ESTUDO DO PROFESSOR PDE
Tema: A função social da escola e a articulação do trabalho pedagógico entre
diferentes segmentos no âmbito escolar.
C) TÍTULO
Violência e Indisciplina escolar: prevenção e inter venção.
D) JUSTIFICATIVA DO TEMA DE ESTUDO
Neste trabalho pretende-se analisar as situações enfrentadas no contexto
escolar e refletir sobre o crescimento da violência e da indisciplina, bem como sobre
suas principais causas nas diversas relações da comunidade escolar.
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Salvo alguns exageros da mídia, vemos as escolas brasileiras estampadas
nas manchetes de jornais e de revistas não como mantedoras do saber, mas, sim,
com vandalismos, pichações, agressões, furtos e ameaças.
Segundo Libâneo (1991, p. 252), uma das dificuldades mais comuns
enfrentadas pelos professores é o que se costuma chamar de “controle da
disciplina”. Dizendo assim, dá a impressão de que existe uma chave milagrosa que o
professor manipula para manter a disciplina. Não é assim. A disciplina da classe
está diretamente ligada ao estilo da prática docente, ou seja, ligada à autoridade
profissional, moral e técnica do professor. Quanto maior a autoridade do professor
(no sentido que mencionamos), mais os alunos darão valor às suas exigências.
A autoridade profissional se manifesta no domínio da matéria que ensina e
dos métodos e procedimentos de ensino. Também se manifesta no tato em lidar
com a classe e com as diferenças individuais, na capacidade de controlar e de
avaliar o trabalho dos alunos e do trabalho docente.
A autoridade é exercida por meio de um conjunto de qualidades do
professor, das quais destacamos a sua dedicação profissional, sua sensibilidade,
seu senso de justiça e seus traços de caráter. Entretanto, mesmo entre professores
que sabem fazer uso de sua autoridade em sala de aula, o problema dos conflitos
cotidianos nas relações interpessoais em ambiente escolar vem sendo apontado
como um dos principais entraves do trabalho docente.
Outros fatores complicadores do desenvolvimento do trabalho docente são:
as péssimas condições de trabalho com excessivo número de horas em sala de aula
e baixos salários, mais os mais diversos problemas familiares que deságuam na sala
de aula e uma formação docente em descompasso com as atuais características
das crianças e dos jovens que hoje frequentam as escolas.
Conforme o entendimento de Sposito (2002, p. 16), a violência seria apenas
a conduta mais visível de recusa ao conjunto de valores transmitidos pelo mundo
adulto representado, simbólica e materialmente, na instituição escolar, que não mais
responde ao seu universo de necessidades. Outras modalidades de resposta, talvez
as mais frequentes, se exprimam no retraimento e na indiferença − os alunos estão
na escola, mas se apresentam pouco permeáveis à sua ação.
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As indagações e a pesquisa demonstram que o tema da indisciplina e da
violência está impregnado de preconceitos, é complexo e contraditório e os
entendimentos existentes, além de não serem consensuais, ainda priorizam o senso
comum.
A escolha do tema veio em decorrência das nossas vivências pessoais
docentes na escola, sentindo as angústias dos colegas professores, dos alunos e
dos agentes educacionais sobre os constantes conflitos e as muitas dificuldades de
atingir os objetivos propostos.
E) PROBLEMA / PROBLEMATIZAÇÃO
O quadro da educação no Brasil é crítico. A educação das crianças desde a
mais tenra idade, tarefa que tradicionalmente cabia aos pais, hoje está dividida com
a escola.
As notícias divulgadas a cada dia pela mídia representam uma realidade em
que são comuns problemas como: violência, exclusão social, indisciplina e evasão.
Isto nos leva à conclusão de que a escola não está conseguindo
desempenhar seu papel de maneira satisfatória e os professores se veem
impotentes diante de tantos problemas.
Os problemas relacionados à indisciplina e à violência escolar são
desencadeados por várias razões, tais como: familiares, sociais, culturais, dentre
outras. Então, diante de um quadro tão diversificado de causas, a escola e seus
profissionais possuem limitações no âmbito de sua atuação, uma vez que não é
possível, por exemplo, agir nos problemas de indisciplina e de violência que vêm de
fora dos muros da escola, aqueles relacionados ao conjunto das leis econômicas,
políticas e educacionais. Por conta disso, para não correr o risco de cairmos no
imobilismo, devemos agir no âmbito que está em nosso alcance, ou seja, na sala de
aula especificamente, nos conflitos na relação professor-aluno.
Quais são os fatores que levam à indisciplina e à violência no contexto
escolar? Como prevenir e intervir?
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OBJETIVOS: GERAL E ESPECÍFICOS
Objetivo geral : Trata-se de compreender as causas da indisciplina e da
violência no contexto escolar, para gerir, de forma conjunta, alternativas
pedagógicas para o enfrentamento do problema.
Objetivos específicos : Visando alcançar o objetivo geral acima fixado, o
plano é executar as seguintes ações e procedimentos mais específicos:
• identificar, por meio de entrevistas e dinâmicas de grupo com os
professores dos três 2°s anos do ensino médio matut ino, quais são os
episódios de indisciplina e de violência que ocorrem no Colégio Estadual
“Bartolomeu Mitre”;
• identificar, por meio de entrevistas e dinâmicas de grupo com os
professores dos três 2°s anos do ensino médio matut ino, quais são as
medidas que eles tomam diante dos episódios relatados;
• identificar, por meio de entrevistas e dinâmicas de grupo com os alunos
dos 2°s anos do ensino médio, quais são os episódio s mais frequentes de
indisciplina e de violência em sua sala de aula;
• identificar, por meio de entrevistas com os alunos dos 2°s anos do ensino
médio, quais são as medidas que seus professores tomam diante dos
episódios relatados e se eles as consideram justas;
• problematizar as respostas dos professores e dos alunos por intermédio
de dinâmicas de grupo que ampliem as suas compreensões sobre o
fenômeno.
G) FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA / REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Na história da educação brasileira não se verificam estudos e pesquisas que
deem à devida importância para a violência escolar. O tema foi poucas vezes motivo
de pesquisas, e só a partir da década 1980 começou a preocupação a respeito.
Depois disso, no entanto, mesmo tendo passado mais de vinte anos, ainda são
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poucas as pesquisas e estudos do fenômeno da indisciplina e da violência nas
escolas brasileiras (LEME, 2009; SPOSITO, 2001).
Leme (2009 apud SPOSITO, 2001), em uma revisão da produção da
pesquisa brasileira sobre a violência escolar, identificou muitas fragilidades nas
pesquisas tais como a aferição da magnitude do fenômeno em termos locais, isso
em função das iniciativas ainda pouco organizadas do poder público na coleta de
informações. No Brasil, como em vários outros países, ainda falta credibilidade nos
dados coletados no monitoramento e no registro das ocorrências de violência
escolar.
Apesar dessas falhas na coleta de informações, constata-se, ao longo da
década de 1980, um crescimento relativamente constante na violência escolar,
destacando-se várias modalidades, como depredação de patrimônio, furtos, roubos,
agressões físicas e verbais entre alunos, assim como agressões de alunos contra
professores. A ocorrência do fenômeno também foi relacionada ao tamanho do
estabelecimento escolar e ao porte da cidade, como capitais dos Estados:
A partir dos anos 1990, observam-se algumas mudanças, como o aumento da violência interpessoal entre estudantes expressa, principalmente, em agressões verbais e ameaças, persistindo a depredação de patrimônio como transgressão freqüente. O fenômeno dissemina-se para cidades de médio porte, não sendo controlado por medidas de segurança, como câmaras e outros dispositivos. (SPOSITO, 2001).
Em 1980, o crescimento de violência no âmbito escolar era relacionado à
crescente exclusão social e ao aumento da criminalidade, em virtude da frustração
das aspirações de ascensão social e da falta de consumo das classes menos
privilegiadas.
Contrapondo-se ao raciocínio de atrelar a violência escolar única e
exclusivamente às condições sociais, Leme (2009) cita um estudo comparativo
desenvolvida por Camacho (2001) entre os dois tipos de instituição de ensino, uma
pública e outra privada, evidenciando assim que a frustração de expectativas de
ascensão social por si só não basta como explicação para a violência escolar,
porque na escola privada a violência também está presente, tendendo apenas a
manifestar-se de modo diferente, mais disfarçada em brincadeiras e em apelidos,
enquanto na escola pública ela é mais explícita.
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Foram encontradas ainda outras diferenças, como: a) locais onde se dão as ocorrências, o pátio como local mais freqüente na pública e a sala de aula, na privada; b) os perpetradores de atos violentos na escola pública são em geral indivíduos cuja aparência se diferencia freqüentemente pela corpulência, enquanto na escola privada ocorre o oposto, onde os agressores são os estudantes admirados justamente por encarnarem o modelo do ideal estético (relação peso e altura) e econômico veiculado pela mídia; c) a intolerância contra a diferença é, em geral, a motivação principal para as agressões e é também manifestada, de modo específico, na escola pública contra negros, contra orientais e contra homossexuais, enquanto na privada isso ocorre contra aqueles que fogem ao padrão estético de relação altura, peso e consumo (LEME, 2009).
Ainda de acordo com a autora acima mencionada, pode-se verificar, na
produção das pesquisas sobre a violência escolar no Brasil, o fenômeno bullying,
caracterizado por um certo tipo de intimidação, perpetrado de modo velado, por
vezes sob a forma de ridicularização por meio de piadas ou de apelidos maldosos.
Essa modalidade de violência não possui uma motivação visível e é de difícil
identificação tanto pelos profissionais da educação como pelas próprias vítimas
(ABRAMOVAY, 2004 apud LEME, 2009).
O fenômeno bullying vem sendo comumente definido como um "[...] conjunto
de atitudes agressivas, intencionais e repetitivas, que ocorrem sem motivação
evidente, adotadas por um ou mais alunos, causando dor, angústia e sofrimento a
indivíduos mais fracos e incapazes de se defender" (FANTE, 2003, p. 58 apud
LEME, 2009, p. 545).
O bullying manifesta-se por meio de comportamentos violentos físicos ou
verbais, tanto explícitos como implícitos, tais como os ataques físicos e/ou
psicológicos em suas vítimas. Importante é ressaltar que a repetição do evento é
fundamental para que possamos caracterizar a violência na modalidade bullying
(SOUZA e RIBEIRO, 2005 apud LEME, 2009).
Outro aspecto mencionado na literatura é que o bullying em ambiente
escolar pode produzir sofrimento tanto nas vítimas como nos outros alunos, que
comumente, se veem impotentes diante do fato (FANTE, 2003 apud LEME, 2009).
As violências no âmbito escolar sob a forma de tumulto, de gritos ou de
insultos dificultam sobremaneira o desenvolvimento do trabalho docente. Para a
construção de um ambiente favorável ao convívio na escola e, também, de
prevenção de violências, algumas medidas devem ser tomadas, tais como: presença
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de câmeras, aparato policial nos arredores da escola, como também promoção de
atividades que favoreçam o convívio na escola (DOMINGOS, 2005; CAMACHO,
2001; ABRAMOVAY, 2004 apud LEME, 2009).
Para minimizar os atos de violência, ações como a abertura da escola nos
fins de semana só surtirão efeito em ambientes com uma gestão democrática. Num
contexto em que o respeito às diferenças do outro é constantemente trabalhado e
em que a expressão das insatisfações é possibilitada sob as mais diversas formas
pacíficas e negociadas, um contexto desses é provável que seja bem mais propício
ao desenvolvimento do trabalho docente.
Para o desenvolvimento de um ambiente escolar propício ao processo de
ensino-aprendizagem, vários autores vêm ressaltando a importância do diretor, uma
vez que esse profissional é que responderá pelo bom andamento da instituição e
pelo zelo do cumprimento da função epistemológica da escola (SAVIANI, 2000 apud
LEME, 2009).
O desempenho do papel de diretor envolve tomada de decisões sobre a
organização e a coordenação de várias atividades de maneira a articular e a integrar
os diferentes setores da escola. Pesquisas têm constatado que o estilo de gestão,
expresso nessas funções deliberativas e de coordenação, está associado à melhoria
do desempenho discente e do profissionalismo docente (MELLO e ATHIÉ, 2003
apud LEME, 2009).
Para prevenir comportamentos tidos como indisciplinados faz-se necessária
a elaboração de normas de conduta envolvendo a comunidade escolar. Esse
envolvimento aumenta significativamente a adesão às normas de conduta com um
sentimento de responsabilidade pelo andamento da escola. Caso as normas e as
regras sejam criadas arbitrariamente, autoritariamente, é provável que a observância
das regras seja muito mais fruto do medo de punição do que propriamente um
compromisso e adesão a elas (MELLO e ATHIÉ, 2003 apud LEME, 2009).
Segundo Sposito, no artigo “A Instituição escolar e a violência”:
[...] uma de suas definições mais amplamente aceitas, embora seja extremamente difícil exprimi-la a partir de uma única categoria explicativa, a violência é todo ato que implica a ruptura de um nexo social pelo uso da força (grifo da autora ). Nega-se, assim, a possibilidade da relação social que se instala pela comunicação e pelo diálogo e pelo conflito. Mas a própria noção encerra níveis
10
diversos de significação, pois os limites entre o reconhecimento ou não do ato violento são definidos pelos atores em condições históricas e culturais diversas. (SPOSITO, p. 3, s/d).
Cabe ainda ressaltar que a autora acima citada diferencia as violências que
ocorrem no interior da escola. Há aquelas que fazem uso de força e aquelas mais
sutis e que podem ser observadas sob as formas de preconceito, de intolerância ou
de racismo. Trata-se de atos violentos que podem ocasionar problemas na formação
de identidade dos alunos, já que a diversidade nem sempre é respeitada como se
deve.
As pesquisas têm demonstrado que a escola vem se constituindo como um
espaço de violência e de indisciplina, já que é regida por órgãos centrais que
determina mas leis a serem seguidas, e também por grupos escolares internos que
não trocam ideias entre si. A tese de Guimarães (1996) é a de que, apesar dos
mecanismos de reprodução social e cultural, as escolas também produzem sua
própria violência e sua indisciplina:
Percebi que era preciso compreender a depredação para além dos sistemas de controle e dominação. Havia uma força expressa naquelas manifestações violentas entre as crianças que, a meu ver, não poderia ser explicada somente pela “revolta” ou pela existência de “lares desestruturados”. (GUIMARÃES, 1996, p. 74).
Quando a escola não consegue reconhecer a ambiguidade da violência,
então ela deixa de aproveitar suas expressões construtivas e focaliza somente seu
aspecto destrutivo, em que o aluno é percebido como aquele que deixa de ser
parceiro da escola para entrar em confronto com ela.
Maffesoli, citado por Schroeder (2009, p. 137), compreende o fenômeno da
violência como luta, combate, confronto:
Luta como fundamento de qualquer relação social que “pode modular-se de maneiras pacíficas como a diplomacia, a negociação a regulação, etc.,ou ainda, sob a forma de concorrência nos aspectos comerciais e culturais e científicos” (MAFFESOLI, 1987, p. 14). Neste raciocínio, não é possível existir uma escola “sem mal”. Há um “eterno recomeço de violência [...] e que então [...] resta apreciar-lhe o sentido”. Portanto, a escola precisa aprender a conviver com os conflitos (MAFFESOLI, 2001, p. 115 apud SCHROEDER, 2009, p. 137).
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Psicologia histórico-cultural
Na ótica da psicologia histórico-cultural, Rego (1996, p. 84) afirma que
conceituar indisciplina é complicado já que a mesma muda constantemente e em
cada momento se apresenta de uma forma. Cabe ressaltar, pois, que a indisciplina
pode se manifestar de diversas formas, seja dentro de uma mesma camada social, e
de formas diversificadas.
Segundo Rego (1996, p. 87), os educadores, no cotidiano escolar, perdidos
no meio da indisciplina, buscam possíveis soluções para entender de onde se
desencadeia tanta falta de ordem, chegando inclusive a pôr a “culpa” de tanta
indisciplina nos “tempos modernos”, e muitos chegam a mencionar a saudade da
disciplina que existia em outros tempos considerados melhores: “No meu tempo o
professor era respeitado não só na escola, mas em toda a sociedade. [...] Eu sou da
época em que criança era criança e adulto era adulto, não era essa bagunça de
hoje”.
Cabe, porém, ressaltar que a obediência de outrora, muitas vezes, era
conseguida através de práticas despóticas e coercivas. Arroyo (1995) define esse
olhar como
[...] um saudosismo romântico misturado ao medo e à prevenção quanto ao futuro [...] Como educar para o futuro, para a realidade sociopolítica, com esse olhar voltado para o passado mitificado? Não o passado real, mas o passado idealizado: voltar à infância da história social e política como o ideal convívio humano [...] relacionar a indisciplina observada na escola a fatores inerentes à natureza de cada aluno ou de sua faixa etária representa, nesta paradigma, um grave equivoco. Ninguém nasce rebelde ou disciplinado. (ARROYO apud REGO, 1996).
Para Aquino (1996, p. 40), a indisciplina seria, talvez, a maior inimiga do
educador atualmente, já que o educador não consegue transmitir o conhecimento e
ver o resultado em seus alunos, uma vez que a troca de informações é praticamente
impossível entre educador e educando.
O autor acima referenciado questiona as práticas escolares, questionando:
“O que aconteceu com os alunos?; Quem mudou: Educador ou educando?”
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Indisciplina, quem a criou? Segundo Aquino (1996 p. 40), a ela não pertence
só ao âmbito escolar. Ela não existe como algo em si, um evento pedagógico
particular, e, no caso, antinatural ou desviante do trabalho escolar. Não é possível
imaginar a escola como uma instituição independente ou autônoma em relação ao
contexto sócio-histórico. Não é possível pensar que o que ocorre em seu interior não
tem articulação aos movimentos exteriores a ela:
[...] a crise da autoridade na educação guarda a mais estreita conexão com a crise da tradição, ou seja, com a crise de nossa atitude perante o âmbito do passado. É sobremodo difícil para o educador arcar com esse aspecto da crise moderna, pois é de seu ofício servir como mediador entre o velho e o novo, de tal modo que sua própria profissão lhe exige um respeito extraordinário pelo passado. (AQUINO, 1992, p. 243-244).
Arendt (1992 apud AQUINO, 1992), no texto intitulado A crise na educação,
advoga que a única forma fecunda de enfrentamento dessa crise ético-
paradigmática da educação escolar contemporânea é o respeito pelo passado, pela
tradição corporificada no legado cultural.
A escola é, também, lugar do passado, porque não há futuro plausível sem
considerar o processo histórico das diversas áreas do conhecimento que se
denomina "tradição", bem diferente de anacronismo.
De acordo com Aquino (1996), o trabalho escolar revela outro de seus
paradoxos de base: é preciso conservar (o patrimônio cultural) para transformar (as
novas gerações, os "forasteiros"). Sendo assim, no mesmo golpe recria-se a cultura
e inventa-se o sujeito da cultura.
E esse princípio fundamental, caríssimo a todo aquele envolvido ciosamente
com o trabalho escolar, implica, por sua vez, uma compreensão bem clara de que a
função da escola é ensinar às crianças como o mundo é, e não instruí-las na arte de
viver. Dado que o mundo é velho, sempre mais que elas mesmas, a aprendizagem
volta-se inevitavelmente para o passado, não importa o quanto a vida seja
transcorrida no presente (AQUINO, 1996):
[...] com a crescente democratização política do país e, em tese, a desmilitarização das relações sociais, uma nova geração se criou. Temos diante de nós um novo aluno, um novo sujeito histórico, mas em certa medida, guardamos como padrão pedagógico a imagem daquele aluno submisso e temeroso. De mais a mais, ambos,
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professor e aluno, portavam papéis e perfis muito delineados: o primeiro, um general de papel; o segundo, um soldadinho de chumbo. É isto que devemos saudar? (AQUINO, 1996, p. 213-214).
H) ESTRATÉGIAS DE AÇÃO
• Apresentação do projeto de intervenção pedagógica aos professores e
alunos do segundo ano do Ensino Médio do Colégio Estadual
"Bartolomeu Mitre".
• Identificação da perspectiva dos alunos sobre os episódios de indisciplina
e violência escolar, por meio de entrevistas, dinâmicas e filmes. Serão
realizados três encontros em cada turma, totalizando nove oficinas, nos
dois anos do Ensino Médio.
• Identificação das indisciplinas e das violências que mais acontecem em
sala de aula, identificação a ser obtida por meio de entrevistas
semiestruturadas com uma amostra de alunos e de professores
voluntários.
• Identificação das indisciplinas e das violências que mais acontecem em
sala de aula, identificação a ser obtida por meio de roda de conversas
com professores na hora atividade.
• Identificação das vítimas de qualquer tipo de violência na escola, bem
como os procedimentos da instituição para resolver os problemas,
identificação a ser obtida por meio de entrevistas semiestruturadas com
alunos e professores.
• Problematização das concepções de professores e de alunos sobre
indisciplina e violência em sala de aula a partir de dinâmicas e atividades.
• Fundamentação teórica por meio de grupos de trabalho com professores
voluntários para um maior envolvimento e comprometimento no
desenvolvimento das atividades propostas.
• Construção coletiva de meios para melhorar as relações interpessoais em
sala de aula, propiciando um ambiente mais favorável ao aprendizado.
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I) CRONOGRAMA DAS AÇÕES
Ano 2010 2011 2012
período atividade
maio a jun
jul a set
out a dez
fev a abril
maio a jun
jul a dez
fev a maio
1-Levantamento bibliográfico X X 2-Leitura e fichamento de textos relacionados à temática
X X X
3-Definição dos componentes da pesquisa e a forma dos encontros: estudo, leitura e oficinas
X X X
4-Elaboração do projeto e intervenção pedagógica
X X
5-Elaboração do projeto do Grupo de Apoio à Implementação do Projeto PDE na Escola
X
6-Apresentação do projeto à escola
X
7-Elaboração do material pedagógico
X
8-Implementação do plano de intervenção: oficinas e entrevistas com alunos
X
9 –Entrevistas e reflexões com os professores
X
9- Elaboração do artigo X 10 Entrega do artigo científico X J) REFERÊNCIAS
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15
ARENDT, H., Entre o passado e o futuro . São Paulo: Perspectiva, 1992.
CAMACHO, L. M. Y. As sutilezas das faces da violência nas práticas escolares de adolescentes. Educ. Pesqui. , São Paulo, v. 27, n. 1, 2001.
DEBARBIEUX, E. La vilence en milieu scolaire: perspectives comparatives portant sur 86 etablissements. Bordeaux: Université de Bordeaux II, 1996.
DOMINGOS, B. Escola e violência: configurações da violência escolar segundo alunos, professores, pais e moradores da comunidade. 2005. 356 f. Tese (Doutorado em Psicologia) – Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005.
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GUIMARÃES, Á. M., A dinâmica da violência escolar: conflito e ambiguidade. Campinas, SP: Autores Associados, 1996, p. 74.
GUIMARÃES, A. M. Dinâmica da violência escolar: conflito e ambigüidade. Campinas, SP: Autores Associados e Editores Campinas, 2005.
LEME, M. I. S. A gestão da violência escolar . São Paulo: USP, 2009.
LIBÂNEO, J. C., Didática e as tendências pedagógicas . Série Idéias. São Paulo: FDE, 1991.
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