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Filosofia-iniciação

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Iniciacão Filosofia

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Page 1: Filosofia-iniciação

Unidade de Aprendizagem Teoria do Conhecimento

Texto referente à leitura do Capítulo 1, Texto 2

Para aprofundar os assuntos tratados no capítulo 1, leia o texto a seguir, extraído do livro de José

A. Cunha, intitulado Filosofia: iniciação à investigação filosófica (São Paulo: Atual, 1992).

Trata-se, portanto, de um livro ao qual você poderá recorrer para complementar seu estudo.

A ideia de ciência como conhecimento cr ítico

Interessa-nos, finalmente, considerar em que consiste esse conhecimento novo, criado a partir de

atitudes críticas e problematizadoras, conforme é anunciado por Sócrates em sua alegoria da

caverna. Esse conhecimento novo é operado pelo logos, e a apropriação da realidade por ele

realizada se chama, de um lado, filosofia, quando examina as bases de todo o conhecimento, e, de

outro lado, ciência, quando se aplica à investigação das causas eficientes dos acontecimentos.

Ainda não é o momento de analisar com maior precisão a relação entre a filosofia e a ciência.

Cabe, no entanto, acompanhar Sócrates, em outro diálogo de Platão, intitulado Teeteto, para ver

como ele aplica a atitude crítica e problematizadora visando definir que conhecimento novo é este

que procura. Sócrates, no trecho selecionado para leitura, parece concluir que esse conhecimento

novo sobre o mundo, que constitui a ciência, consiste em interpretações conceituais, as quais os

intérpretes têm boas razões para considerar como verdadeiras. O que não fica claro neste diálogo

é em que condições uma interpretação pode ser considerada “verdadeira”. Mas a resposta desta

questão somente será obtida com o nascimento dos métodos experimentais do século XVII.

Sócrates – Mas, voltando ao início da discussão, como é que poderíamos definir ciência? Não

vamos desistir da investigação, presumo eu.

Teeteto – De modo nenhum, a não ser que tu mesmo desistas.

Sócrates – Diz-me então qual a melhor definição que poderíamos dar da ciência, para não

entrarmos em contradição conosco mesmos.

Teeteto – É exatamente a que procuramos dar, Sócrates. Da minha parte, não vejo outra.

Page 2: Filosofia-iniciação

Sócrates – Qual é ela?

Teeteto – Que opinião verdadeira é a ciência? A opinião verdadeira, parece, é infalível e tudo o

que dela resulta é belo e bom.

Sócrates – Não há como experimentar para ver, Teeteto, diz o chefe de fila na passagem do rio.

Aqui dá-se o mesmo: o que temos a fazer é avançar na investigação. Talvez venhamos a esbarrar

nalguma coisa que nos revele o que procuramos. Se pararmos por aqui, é que não descobriremos

nada.

Teeteto – Tens razão. Vamos em frente e examinemos! Sócrates – O problema não exige um

estudo prolongado, pois existe toda uma profissão que mostra bem que a opinião verdadeira não é

a ciência.

Teeteto – Como é possível? Que profissão é essa?

Sócrates – A desses modelos de sabedoria a que se dá o nome de oradores e advogados. Tais

indivíduos, com a sua arte, produzem a convicção, não entusiasmo, mas sugerindo as opiniões

que lhes aprazem. Ou julgas tu que há mestres tão habilidosos que, no pouco tempo concebido

pela clepsidra, sejam capazes de ensinar devidamente a verdade acerca dum roubo ou de

qualquer outro crime, a ouvintes que não foram testemunhas do fato?

Teeteto – Não creio, de forma nenhuma. Eles não fazem senão persuadi-los.

Sócrates – Mas, para ti, persuadir alguém não será levá-lo a ter uma opinião?

Page 3: Filosofia-iniciação

Teeteto – Sem dúvida.

Sócrates – Então, quando há juízes que se acham justamente persuadidos de fatos que só uma testemunha

ocular, e mais ninguém, pode saber, não é verdade que, ao julgarem esses fatos por ouvir dizer, depois de

terem deles uma opinião verdadeira, pronunciam um juízo desprovido de ciência, embora tendo uma

convicção justa, deram uma sentença correta?

Teeteto – Com certeza.

Sócrates – Mas, meu amigo, se a opinião verdadeira dos juízes e a ciência fossem a mesma coisa, nunca o

melhor dos juízes teria uma opinião correta sem ciência. A verdade, porém, é que se trata de duas coisas

diferentes.

Teeteto – Eu mesmo já ouvi alguém fazer essa distinção, Sócrates; tinha-me esquecido dela, mas voltei a

lembrar-me.

Dizia essa pessoa que a opinião verdadeira acompanhada de razão (logos) é ciência, e que, desprovida de

razão, a opinião está fora da ciência e que as coisas que não é possível explicar são incogniscíveis (é a

extensão que empregava) e as que é possível explicar são cogniscíveis.