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9 Cad. Cedes, Campinas, vol. 24, n. 62, p. 9-25, abril 2004 Disponível em <http://www.cedes.unicamp.br> O JOGO E O DESENVOLVIMENTO INFANTIL NA TEORIA DA ATIVIDADE E NO PENSAMENTO EDUCACIONAL DE FRIEDRICH FROEBEL ALESSANDRA ARCE * RESUMO: Este artigo apresenta um estudo teórico comparativo da pedagogia desenvolvida por Friedrich Froebel e da teoria da atividade (Leontiev, Elkonin e Vigotski) no que diz respeito ao jogo e ao de- senvolvimento infantil. Ainda que essas duas abordagens considerem o jogo uma atividade muito importante no desenvolvimento da cri- ança, elas diferem em sua visão do que seja o significado do jogo no contexto do processo de formação do indivíduo. Essa divergência é uma conseqüência de suas opostas concepções acerca da relação en- tre a natureza humana e a história. Palavras-chave: Jogo. Froebel. Elkonin. Leontiev. Teoria da atividade. PLAY AND CHILD DEVELOPMENT IN ACTIVITY THEORY AND FRIEDRICH FROEBELS EDUCATIONAL THOUGHT ABSTRACT: This article presents a theoretical comparative study of the pedagogy developed by Friedrich Froebel versus activity theory (Leontyev, Elkonin and Vygotsky) concerning play and child devel- opment. While both approaches consider play as a very important activity in a child’s development, they differ in their view of the meaning of play within the context of the individual formation pro- cess. This divergence is a consequence of opposing conceptions of the relationship between human nature and history. Key words: Play. Froebel. Elkonin. Leontyev. Activity theory. * Professora do Departamento de Psicologia e Educação da Faculdade de Filosofia, Ciên- cias e Letras da USP, campus de Ribeirão Preto, e membro dos Grupos de Pesquisa “His- tória, Sociedade e Educação no Brasil” e “Estudos Marxistas em Educação”. E-mail : [email protected] e [email protected]

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9 Cad. Cedes, Campinas, vol. 24, n. 62, p. 9-25, abril 2004DisponvelemAlessandra ArceOJOGOEODESENVOLVIMENTOINFANTILNA TEORIADAATIVIDADEENOPENSAMENTOEDUCACIONALDEFRIEDRICHFROEBELALESSANDRA ARCE*RESUMO:Esteartigoapresentaumestudotericocomparativodapedagogia desenvolvida por Friedrich Froebel e da teoria da atividade(Leontiev,Elkonine Vigotski)noquedizrespeitoaojogoeaode-senvolvimento infantil. Ainda que essas duas abordagens consideremo jogo uma atividade muito importante no desenvolvimento da cri-ana, elas diferem em sua viso do que seja o significado do jogo nocontextodoprocessodeformaodoindivduo.Essadivergnciauma conseqncia de suas opostas concepes acerca da relao en-tre a natureza humana e a histria.Palavras-chave: Jogo. Froebel. Elkonin. Leontiev. Teoria da atividade.PLAY AND CHILD DEVELOPMENT INACTIVITY THEORY AND FRIEDRICH FROEBELS EDUCATIONAL THOUGHTABSTRACT: This article presents a theoretical comparative study ofthepedagogydevelopedbyFriedrichFroebelversusactivitytheory(Leontyev, Elkonin and Vygotsky) concerning play and child devel-opment.Whilebothapproachesconsiderplayasaveryimportantactivityinachildsdevelopment,theydifferintheirviewofthemeaning of play within the context of the individual formation pro-cess. Thisdivergenceisaconsequenceofopposingconceptionsofthe relationship between human nature and history.Key words: Play. Froebel. Elkonin. Leontyev. Activity theory.* ProfessoradoDepartamentodePsicologiaeEducaodaFaculdadedeFilosofia,Cin-ciaseLetrasdaUSP,campusdeRibeiroPreto,emembrodosGruposdePesquisaHis-tria,SociedadeeEducaonoBrasileEstudosMarxistasemEducao.E-mail:[email protected]@uol.com.br10 Cad. Cedes, Campinas, vol. 24, n. 62, p. 9-25, abril 2004DisponvelemO jogo e o desenvolvimento infantil na teoria da atividade e no pensamento...objetivodesteartigoanalisarassemelhanasediferenasen-tre,porumlado,Froebele,poroutro,ElkonineLeontiev,noquedizrespeitoscontribuiesqueessesautoresderampsi-cologiadodesenvolvimentoinfantileeducaopr-escolar.ParaissofaremosumacomparaoentreasidiasdeFroebeleasdateoriadaatividadeacercadopapeldojogonodesenvolvimentodacrianaemidadepr-escolar.Dividimosestetextoemtrspartes.Aprimeirades-tina-seaapresentardeformabreveaconcepodeFroebeldedesen-volvimentoinfantiledopapeldojogo.Asegundaapresentaascon-cepesdeElkonineLeontievtambmsobreodesenvolvimentoinfantileojogo.Naterceiraparteapresentamosasconclusesaquechegamoscomessaanlisecomparativa.O jogo em Froebel a auto-atividade e a unidade vital respeitandoo desenvolvimento infantilParaapresentarmososprincpiosnorteadoresdodesenvolvi-mentoinfantilquealiceramaconcepodejogodeFroebel,1utili-zaremosduasobrasdesteautor:Aeducaodohomem(Theeducationofman)eaPedagogiadosjardins-de-infncia(PedagogicsoftheKindergarten).FroebelemseulivroAeducaodohomeminiciasuaexplicaodecomosedodesenvolvimentohumano,emespecialoinfantil,afirmandoqueDeusoprincpiodetudoequeavidadohomemdevebuscarharmonizar-secomsuadivindadeecomtodasasoutrascriaesdivinas.Odivinopresenteemcadacoisaqueexistesobreaterrarevelasuaessncia.Ohomemdeveprocurarestaessnciadivinanointeriordesimesmoparaentocultiv-laeexterioriz-laemsuascriaes.JesusparaFroebelumexemplodalutaespiritualquede-vemostravarembuscadenossaperfeioedanossauniocomDeuseaNatureza.Estaleieternaedivina,qualFroebelserefere,guiaodesenvolvimentodetodososseresna Terra.Apesardasparticularida-desqueenvolvemodesenvolvimentodossereseosfenmenosdaNa-tureza,nspodemos,pormeiodoacompanhamentodesseprocesso,compreendercomosedodesenvolvimentohumano.PorissoencontraremosemtodaaobradeFroebelaconstantecomparaododesenvolvimentodacrianacomodassementes;acri-11 Cad. Cedes, Campinas, vol. 24, n. 62, p. 9-25, abril 2004DisponvelemAlessandra ArceanaparaFroebelcomoumasementeasercultivadae,conseqen-temente,oeducadoralemoprocuraraharmonizaodohomemcomaNaturezadesdeamaistenraidade.ParaFroebeloprincpioapartirdoqualtodososhomensseriamiguaisseencontravanarelaoentreinfnciaeNatureza.Somenteconhecendoasrelaesentrein-fncia,NaturezaeDeusquepoderamospresentearcadaindivduocomoautoconhecimentoeaaceitaodeseulugaremnossasocie-dade.Comoconseqnciadesseprocessoteramosumasociedademe-lhor.EstarelaoentreDeus,NaturezaeHumanidadeerarepresen-tadaporFroebel(1887)pormeiodeumtringulo.Ostrselementosdessatradeseriaminseparveisunsdosoutros.EssatradeformariaoqueFroebeldenominavaunidadevital,naqualaeducaodeve-riaestaraliceradaparapoderconduziroindivduoaodesenvolvi-mentopleno.Dentrodoprincpiodaunidadevitalosprocessosdeinteriorizaoeexteriorizaoseriamfundamentais,poislevariamclarificaodaconscinciaaoautoconhecimento,ouseja,educao.Aformaoeodesenvolvimentoocorremgraasaoqueohomemre-cebedomundoexterior,massseefetivamdemodoeficazquandosesabe,porassimdizer,tocarnoseumundointerior.Esteprocessochamadodeinteriorizaoconsistenorecebimentodeconhecimen-tosdomundoexterior,quepassamparaointerior,seguindosempreumaseqnciaquedevecaminhardomaissimplesaocomposto,doconcretoparaoabstrato,doconhecidoparaodesconhecido.Aativi-dadeeareflexosoosinstrumentosdemediaodesseprocessono-diretivo,oquegarantequeosconhecimentosbrotem,sejamdesco-bertospelacrianadaformamaisnaturalpossvel.Oprocessocontrrioaestechamadodeexteriorizao,noqualacrianaexteriorizaoseuinterior.Paraqueissoocorra,acriananecessitatra-balharemcoisasconcretascomoaarteeojogo,excelentesfontesdeexteriorizao.Umavezexteriorizadoseuinterior,acrianapassaaterautoconscinciadoseuser,passaaconhecer-semelhor:assimqueaeducaoacontece.ParaFroebelaeducaodeveriaestaraliceradanaunidadevital(Homem,DeuseNatureza)eosprocessosdeexteriorizaoeinteriorizaodeveriamnortearqualquermetodologiaqueviesseaserutilizadacomascrianas.Estesprocessosdeexteriorizaoeinteriorizaoprecisamdaaoparamedi-los,ne-cessitamdevidaeatividade,nodepalavraseconceitos.Froebelvianaexteriorizaoenainteriorizaoaconcretizaodealgonatural12 Cad. Cedes, Campinas, vol. 24, n. 62, p. 9-25, abril 2004DisponvelemO jogo e o desenvolvimento infantil na teoria da atividade e no pensamento...nacriana,devendooeducadorestarsempreatentoaessesdoispro-cessos,poistodaaatividadeexternadacrianafrutodesuaativida-deinterna.Agirpensandoepensaragindoera,paraFroebel,omelhorm-todoparaevitarqueoensinopordemaisabstratoprejudicasseode-senvolvimentodostalentosdosalunos.EssemtodopreconizadoporFroebellevariaosalunoscompreensodatradequeguiatodasassuas vidas abrindo, portanto, as portas para se atingir a perfeio comoserhumano.Oaprenderfazendo,propostoporFroebel,respeita,an-tesdetudo,ametodologianaturaldascrianas.SegundoFroebel,amximaquedeveregertodaaeducao(...)observar,apenasob-servar,poisacrianamesmateensinar(apudCole,1907,p.26).Somenteassimoprofessorsercapazdeconhecerrealmenteseualu-no,entendendosuadinmicainternaedescobrindosuaessnciahu-mana,seupotencial,seutalento.EmseulivroPedagogiadosjardins-de-infncia,Froebelreforaesteprincpioafirmandoquetodooesforodaeducaoedoseducadoresdeveestarvoltadoparaofavorecimentododesenvolvimentolivreeespontneodoindivduo.Todoserhumano,tendosidocriadoporDeus,tambmpossuiimen-sacriatividade.Aeducao,trabalhandocomoprincpiodaunidadevital,apartirdaaoquefavoreceaexteriorizaoeainteriorizao,levaacriana,segundoFroebel,aconhecerereconhecerDeusemtodasassuasobras,especialmentenaNatureza.Essaformadeeducaotam-bmlevariaacrianaasereconhecerdentrodessaunidadevital,harmonizando-secomela.Portrabalhardeformafragmentada,aes-colanoconsegueperceberessaunidade,seutrabalhomorto,oex-terioreointeriorsojustapostos,tornando-seimpossvelumaapren-dizagemviva.OeducadordeveriarespeitaraNatureza,aaodeDeuseamanifestaoespontneadoeducando.Aeducaodevese-guirolivredesenvolvimento,nopodendoserprescritiva,deter-ministaeinterventora,poisassimdestriaorigempuradaNaturezadoeducando.Porisso,Froebelutilizaotermoeducaosequitria,ouseja,aquelaquevigiaeprotegeasenergiasnaturaisdavida.Aliceradanaexperincia,essapedagogiasecentranaorientaoenodespertardaatividadeespontneadacriana,disseminandoqualida-deseaniquilandodefeitos,pormeiododesenvolvimentoplenodaharmoniaentreHomem,DeuseNatureza.13 Cad. Cedes, Campinas, vol. 24, n. 62, p. 9-25, abril 2004DisponvelemAlessandra ArceEmAeducaodohomemoeducadoralemodosprimeirospassosrumoutilizaodeumapsicologiadodesenvolvimentocomofundamentodaeducao,porintermdiodadivisododesenvolvi-mentohumanoemestgios:aprimeirainfncia,ainfnciaeaidadeescolar.EssesestgiossoapresentadosporFroebeldeformamuitomaisdetalhadadoqueofizeraPestalozzi.Froebelatrelaacadafaseumtipodeeducaoquedeverespeitarascaractersticasprpriasdafase.Issoficamuitoclaronumdostextosdessaobra,intituladoOhomemnoprimeiroperododainfncia.EmcertomomentodessetextoFroebelexplicaque,seoadultoobservar,porexemplo,ojogoeafaladeumacriana,podercompreenderonveldedesenvolvimen-tonoqualelaseencontra.Issosignificaqueaobservaodasativida-desespontneasdacriana,comoabrincadeiraeafala,degrandeimportnciaparaoxitodaatividadeeducativa.Paraarealizaodoautoconhecimentocomliberdade,Froebelelegeojogocomoseugrandeinstrumento,juntamentecomosbrin-quedos.Ojogoseriaummediadornesseprocessodeautoconhe-cimento,pormeiodoexercciodeexteriorizaoeinteriorizaodaessnciadivinapresenteemcadacriana,levando-aassimareconhe-cereaceitaraunidadevital.Froebelfoipioneiroaoreconhecernojogoaatividadepelaqualacrianaexpressasuavisodomundo.Se-gundoFroebelojogoseriatambmaprincipalfontedodesenvolvi-mentonaprimeirainfncia,queparaeleoperodomaisimportan-tedavidahumana,umperodoqueconstituiafontedetudooquecaracterizaoindivduo,todaasuapersonalidade.PorissoFroebelconsideraabrincadeiraumaatividadesriaeimportanteparaquemdesejarealmenteconheceracriana.Brincadeira. A brincadeira a fase mais alta do desenvolvimento da crian-a do desenvolvimento humano neste perodo; pois ela a representaoauto-ativa do interno representao do interno, da necessidade e do im-pulso internos. A brincadeira a mais pura, a mais espiritual atividade dohomem neste estgio e, ao mesmo tempo, tpica da vida humana como umtodo da vida natural interna escondida no homem e em todas as coisas. Porisso ela d alegria, liberdade, contentamento, descanso interno e externo, pazcom o mundo. Ela tem a fonte de tudo o que bom. A criana que brincamuito com determinao auto-ativa, perseverantemente at que a fadiga f-sica proba, certamente ser um homem determinado, capaz do auto-sacrif-cio para a promoo do bem-estar prprio e dos outros. No a expressomais bela da vida neste momento, uma criana brincando? uma criana to-14 Cad. Cedes, Campinas, vol. 24, n. 62, p. 9-25, abril 2004DisponvelemO jogo e o desenvolvimento infantil na teoria da atividade e no pensamento...talmente absorvida em sua brincadeira? uma criana que caiu no sono toexausta pela brincadeira? Como j indicado, a brincadeira neste perodo no trivial, ela altamente sria e de profunda significncia. Cultive-a e crie-a,oh, me; proteja-a e guarde-a, oh, pai! Para a viso calma e agradvel daque-le que realmente conhece a Natureza Humana, a brincadeira espontnea dacriana revela o futuro da vida interna do homem. As brincadeiras da crian-a so as folhas germinais de toda a vida futura; pois o homem todo de-senvolvido e mostrado nela, em suas disposies mais carinhosas, em suastendncias mais interiores. (Froebel, 1887, p. 55-56)EmseulivroPedagogiadosjardins-de-infncia(1917,p.93),Froebelreforaaidiaacimaexpostaressaltandoqueabrincadeiraachaveparanoscomunicarmoseconhecermosacrianapequena.Oautoraindadestacaqueabrincadeiradesenvolveascaractersticashu-manasdascrianas,auxiliandomeninosemeninasaencontraremeexerceremdesdecedoopapelquelhescabenasociedade.Muitas caractersticas humanas desenvolvem-se na criana pela sua brinca-deira com a boneca, porque em razo disso sua prpria Natureza se tornar,em um certo tempo, objetiva e da reconhecvel para a criana e para os pen-sativos e observadores pais e babs. Da se tornar visvel mais tarde, atravsda e pela diferena espiritual, a diferena de vocao e vida entre o meninoe a menina. O menino deslumbra-se com o brincar com a esfera e o cubocomo coisas separadas e opostas, enquanto a menina ao contrrio desde cedose deslumbra com a boneca, o que intimamente une em si os opostos da es-fera e do cubo. O significado interno deste fato que o menino pressentecedo e sente seu destino comandar a e penetrar na Natureza externa e amenina antecipa e sente seu destino cuidar da Natureza e da vida. Issoaparece um pouco mais tarde. Assim como a unio do esfrico e do angular, especialmente para a garota, uma boneca, uma criana de brincadeira, damesma forma a rgua da me, ou a bengala do pai so, para o garoto, um ca-valo, um cavalinho de pau. O ltimo expressa o destino masculino do garo-to, aquele de dominar a vida; o primeiro expressa o destino feminino da me-nina, de cuidar da vida. (Froebel, 1917, p. 93)Froebelreconheciaqueojogovariaconformeaidadedacrian-a.Oprofessornodevemenosprezaresseaspecto,massim,aocon-trrio,observ-locomatenoetrabalh-loadequadamente,auxili-andoassimodesenvolvimentoinfantil.NocaptuloemqueFroebeldescreveainfncia,emAeducaodohomem(1887,p.112-113),elechamaaatenoparaasdiferenasexistentesentreasbrincadeirasnaprimeirainfnciaenainfncia.Naprimeirainfnciaasbrincadeiras15 Cad. Cedes, Campinas, vol. 24, n. 62, p. 9-25, abril 2004DisponvelemAlessandra Arceseriammaiscentradasnaatividade,nomovimento,noinciodopro-cessodeexteriorizaodacriana.NoperodochamadoporFroebeldeinfncia,abrincadeiraseriamaisgrupalquenoperododapri-meirainfncia.Essecartergrupaldabrincadeiranainfnciaprodu-ziriaodesenvolvimentomoraldascrianaseaspreparariaparaacon-vivnciaemharmonia.NaobraPedagogiadosjardins-de-infncia(1917),Froebelapre-senta-nososseusbrinquedoscriadosparaauxiliarabrincadeirain-fantilsemferirseudesenvolvimentonatural.Osbrinquedoscriadosparaestefimforamchamadosdedons.Froebelassimchamouessesbrinquedos,oumateriaiseducativos,porqueelesseriamumaespciedepresentesdadosscrianas,ferramentasparaajud-lasadesco-brirosseusprpriosdons,isto,descobrirospresentesqueDeusteriadadoacadaumadelas.ComessesbrinquedosFroebelcristali-zouimportantesconcepesarespeitodojogo,comoporexemplo:eleobservouqueojogosfuncionaseasregrassobementendidas;acontinuaodojogorequersempreaintroduodenovosmateriaiseidias;poressarazoexistemmuitasocasiesnasquaisoadultodevebrincarjuntocomacrianaparaauxili-laemantervivoseuin-teresse. TodososjogosdeFroebelqueenvolvemosdonssempreco-meavamcomaspessoasformandocrculos,danando,movendo-seecantando.Dessaformaelasatingiriamaperfeitaunidade.Froebelper-cebeutambm,pormeiodessesjogosebrincadeiras,agrandeforaqueossmbolospossuemparaacriana.AssimFroebelelegiaabrin-cadeiraeosbrinquedoscomomediadorestantonoprocessodeapreen-sodomundopelacriana,pormeiodainteriorizao,comotambmnoprocessodeconhecimentodesimesmapelacriana(auto-conhecimento),pormeiodaexteriorizao.PoressarazoocriadordosKindergartenentendiaqueosbrinquedoseasbrincadeirasnopo-deriammaisserescolhidosaoacaso.Elesdeveriamserestudadosparaquesepudesseoferecerscrianasasatividadesmaisadequadasaoseunveldedesenvolvimento.Foiemseusjardins-de-infnciaqueoautorprocuroudesenvol-verplenamenteotrabalhocomosdons.Nessasinstituieselecon-seguiureunirtodososseusprincpioseducacionais.Porisso,segun-doLiebschner(1992),noteriasidofcilparaFroebelacharumnomeadequadoparaessainstituio,procurandodurantevriosme-sesumnomequemelhorseadequasseaessenovoestabelecimento.16 Cad. Cedes, Campinas, vol. 24, n. 62, p. 9-25, abril 2004DisponvelemO jogo e o desenvolvimento infantil na teoria da atividade e no pensamento...Elenoqueriaempregarapalavraescolaporconsiderarqueelatra-riaosentidodeseestarcolocandocoisasnacabeadacriana,ensi-nandoalgo,enoeraesseopropsitodessainstituio.Seupropsi-toresidiaemguiar,orientarecultivarnascrianassuastendnciasdivinas,suaessnciahumanapormeiodojogo,dasocupaesedasatividadeslivres,talcomoDeusfazcomasplantasdaNatureza.ApalavraalemKindergarten(jardimdecrianas)conseguiuunirtodasestasidiaseprincpios.Assim,estavacriadaainstituionaqualto-dosospreceitosataquiexpostosiriamseraplicadosemtodaasuaplenitude,principalmenteoqueserefereaorespeitoaodesenvolvi-mentodacrianaesubordinaodaeducaoaoestgionoqualseencontrassetaldesenvolvimento.A teoria da atividade e o jogo Elkonin e Leontiev e a psicologiahistrico-culturalAofazermosacomparaoentreFroebeleapsicologiascio-histricanopodemosdeixarderessaltarquenonosesquecemosdofatodequeFroebelviveunumcontextosocialeculturaltotalmentedistintoetambmnodeixamosdereconhecerseupioneirismo,es-pecialmenteconsiderandoqueeleformulousuasconcepesnumapocanaqualapsicologiaaindanosurgiracomoumcampodaci-ncia.AofazermosessacomparaoentreFroebeldeumladoe,deoutro,Elkonin,LeontieveVigotski,nossofocoseconcentraprinci-palmentenasdistintasconcepesdeserhumanoedesociedadee,conseqentemente,nasdistintasconcepesarespeitodojogoedodesenvolvimentoinfantil.Comovimosacima,Froebelrealizouimportantesdescobertasarespeitodojogoedodesenvolvimentoinfantilemseusestudos.En-tretanto,abasedesuasdiscussesresidiaemumainfncianaturali-zada,divinaeuniversal.Frutododivino,ainfnciaeravistaporFroebelcomooquedemaispuroebomexistenoserhumano.Con-seqentemente,esteperododavidahumananecessitariadetempo,talqualumaflor.Essafasedodesenvolvimentohumanodeveriaserpreservada,resguardadadequalquercoisaquepudesseviraperturb-la.ParaFroebelexistiriaumaleidivinaeeternacapazderegularodesenvolvimentoinfantil,talcomoocorreriacomodesenvolvimento17 Cad. Cedes, Campinas, vol. 24, n. 62, p. 9-25, abril 2004DisponvelemAlessandra Arcedetudooqueexistenanatureza.PerturbarimpedindoqueessaleisecumpraseriaomesmoquedestruirasementemaisperfeitacriadaporDeus:acrianaesuainfncia.NosculoXXsurgiunaUnioSoviticaumaescoladepsiclo-gos estudando o desenvolvimento infantil e o papel da educao de ma-neiraopostadocitadopedagogoalemo.Entreestesestudiososen-contramos Vigotski, Leontiev e Elkonin. Mas por que seria a abordagemdessaescolasoviticaopostadeFroebelsobreodesenvolvimentoin-fantileopapel dojogo na educao de crianas menores de seis anos?Elkonin,emseutextoTowardtheproblemofstagesinthemen-taldevelopmentofchildren(2000),discuteacomplexaquestodadi-visododesenvolvimentoinfantilemestgiosdeacordocomafaixaetriaoucomaaquisiodedeterminadospatamaresdedesenvolvi-mentocognitivo,osquaisdeveriamserfrutosdauniversalizaodoacessoeducaoescolar,oquelevariacadaindivduoadesenvolveraomximoassuaspotencialidades,comoserpertencenteaognerohumano.Sendoumpsiclogocompromissadocomaconstruodeumasociedadesocialista,Elkoninentendiaqueaescoladeveriatam-bmestarcompromissadacomaconstruodessasociedade.Somen-tedessaformaaescolacontribuiriaparaoplenodesenvolvimentodoserhumano.Apoiadosnaconcepomaterialista-dialticadehomemesociedade,Elkonin,LeontieveVigotskidesenvolveramumacorren-tedapsicologiaqueestudouodesenvolvimentohumanoe,comopar-tedesseestudo,analisouopapeldojogonaeducaoenodesenvol-vimentodecrianasmenoresdeseisanos.Conseqentemente,aocontrriodeFroebel,estesautoresviamainfnciaeseudesenvolvimentofortementeconectadoscomaedu-caoecomasociedadenaqualacrianaestinserida.Elkonin(2000),apoiadotambmnosestudosdeoutrosovitico,Blonski,afirmaquenoexisteumdesenvolvimentodainfnciauniversal,ni-coenatural.Odesenvolvimentoinfantilpassveldemudanashis-tricas.AscrianasdehojenosedesenvolvemdamesmaformaqueascrianasdosculoXVIIIsedesenvolveram.Ainfncianoeternaeimutvel,nemdependentemajoritariamentedosubjetivoqueexis-teemcadaindivduo,emseuinterior.Ascondiesculturais,econ-micas,sociais,histricassofatoresdecisivosnestedesenvolvimento.Crianasvivendonumamesmapocahistricapodemapresentardife-18 Cad. Cedes, Campinas, vol. 24, n. 62, p. 9-25, abril 2004DisponvelemO jogo e o desenvolvimento infantil na teoria da atividade e no pensamento...rentesprocessosdedesenvolvimentoemconseqnciadasdiferenasexistentesemsuasatividades.Essasatividadessosempresituadasnumdeterminadocontextosocialecultural.Elkonin,LeontieveVigotskinoacreditavamemumaessnciahumanadeorigemdohomemdivi-naeespiritual.Fundamentarosestudossobreodesenvolvimentohu-mananessetipodecrenaseriacolocar-selongedacinciaedopressu-postomarxistadequeoserhumanoconstriasuaprpriahistriaassimcomoporelaconstrudo.Poressarazo,LeontievemseulivroOdesenvolvimentodopsiquismo(1978)fazaseguinteafirmao:Se um ser inteligente vindo de outro planeta visitasse a Terra e descrevesse asaptides fsicas, mentais e estticas, as qualidades morais e os traos do com-portamento de homens pertencentes s classes e camadas sociais diferentesou habitando regies e pases diferentes, dificilmente se admitiria tratar-se derepresentantes de uma mesma espcie. Mas esta desigualdade entre os ho-mens no provm das suas diferenas biolgicas naturais. Ela o produto dadesigualdade econmica, da desigualdade de classes e da diversidade conse-cutiva das suas relaes com as aquisies que encarnam todas as aptides efaculdades da natureza humana, formadas no decurso de um processo scio-histrico. (Leontiev, 1978, p. 274)Essateoriascio-histricadaformaodossereshumanosopostaconcepodeFroebeljapresentadaaqui.Este,comovimos,noconcebiaainfnciacomosendoinfluenciadaeproduzidapeloprocessohistricodahumanidadecomoumtodo.AvisoromnticaeidlicaqueFroebeltinhadainfnciahumanalhepossibilitavapen-saremumdesenvolvimentoeterno,divino,naturaleuniversal.Vigotskiafirmavaqueodesenvolvimentoinfantilumproces-sodialtico,apassagemdeumafaseaoutramarcadanopelasim-plesevoluo(comoafirmavaFroebel),masporumarevoluoqueimplicariamudanasqualitativasnavidadacriana.Esseprocessonopodeserseparadoassepticamentedainserodacriananasociedadeedoreflexodestanasnecessidadesdacriana,emseusmotivoseemseudesenvolvimentointelectual.Elkoninafirmaqueatentativadese-paraododesenvolvimentoinfantilemdiferentesmbitosumaca-ractersticadabuscadenaturalizaodessedesenvolvimento,separa-oessaqueproduzmuitosdosdualismostopresentesnasvriasabordagensexistentesnapsicologiadodesenvolvimento.Somentecomasuperaodessaformadeseestudarodesenvolvimentoqueseremoscapazesdeentend-loverdadeiramente.19 Cad. Cedes, Campinas, vol. 24, n. 62, p. 9-25, abril 2004DisponvelemAlessandra ArceTal perspectiva naturalizante do desenvolvimento infantil, primeiramente,v a criana como um indivduo isolado, para o qual a sociedade no passade um mero hbitat sui generis. Em segundo lugar, o desenvolvimentomental visto como um simples processo de adaptao s condies de vidaexistentes na sociedade. Em terceiro lugar, a sociedade vista como a uniode dois elementos distintos: o mundo dos objetos e o mundo das pesso-as, ambos dados pelo ambiente no qual a criana se encontra. Como conse-qncia, em quarto lugar aparece o desenvolvimento de dois mecanismosdiferentes de adaptao: um para o mundo dos objetos e outro para omundo das pessoas; a isso se reduziria o desenvolvimento mental. Sendoassim, o desenvolvimento mental seria, nessa concepo, o desenvolvimentodesses mecanismos de adaptao a esses diferentes mundos traduzidos navida infantil como: o mundo da criana e os objetos e o mundo da crian-a e os outros. (Elkonin, 2000, p. 4)Dentrodestequadroterico,rapidamenteesboado,queapa-receabrincadeiraeojogonaeducaopr-escolarparaestesautores.Leontiev,Elkonine Vigotskiconcordamqueojogoaatividadeprin-cipal3nesseperododainfncia.ComoessesautorespartemdeumavisoopostadeFroebeldodesenvolvimentoinfantil,encontramosnoestudoporelesrealizadodojogoprincpiostambmopostosaosprincpiosfroebelianos.ParaLeontieveElkonin(ambosapoiadosnosestudosrealiza-dostambmporVigotski)abrincadeiranoumaatividadeinstin-tivanacriana.Paraessesautoresabrincadeiraobjetivapoiselaumaatividadenaqualacrianaseapropriadomundorealdossereshumanosdamaneiraquelhepossvelnesseestgiodedesenvolvi-mento.Essesautoresafirmamqueafantasia,aimaginaoqueumcomponenteindispensvelbrincadeirainfantil,notemafunodecriarparaacrianaummundodiferentedomundodosadultos,massimdepossibilitarcrianaseapropriardomundodosadultosades-peitodaimpossibilidadedeacrianadesempenharasmesmastarefasquesodesempenhadaspeloadulto.Porexemplo,aobrincardemo-toristadenibuselaprecisausardafantasiaparasubstituirasopera-esreaisrealizadasporummotoristadenibuspelasoperaesqueestejamaoseualcance.Masissonoumaformadeseafastardomundorealnoqualexistemmotoristasdenibusesim,aocontr-rio,deseaproximarcadavezmaisdessemundo.ParaFroebelobrinquedoumatoquefazpartedanaturezainfantil,sendoassimaatividadeprincipaldestafaixaetriaanica20 Cad. Cedes, Campinas, vol. 24, n. 62, p. 9-25, abril 2004DisponvelemO jogo e o desenvolvimento infantil na teoria da atividade e no pensamento...formaqueacrianatemdeexpressarseumundointerior,deconhe-cer-seedeharmonizar-secomatradedaUnidadeVital.Acriananecessitasimbolizarseuinterioremobjetos.Abrincadeiraproporci-onaessasimbolizao.Assimabrincadeiralevaacrianaadescobrirsuaessnciadivinaetambmlevaoadulto,queobservaacrianabrincando,adescobrircomoessacrianaestinseridanosplanosdoCriadorparaossereshumanos.ParaLeontieveElkonin,abrincadeiraaatividadeprincipal2doperodopr-escolar,masasrazesparaestaafirmaosodistintasdasdeFroebel.AcomearporcomoLeontievdescreveostatusdeati-vidadeprincipalnodesenvolvimentoinfantildeumaatividade:O que , em geral, a atividade principal? Designamos por esta expresso noapenas a atividade freqentemente encontrada em dado nvel do desenvol-vimento da criana. O brinquedo, por exemplo, no ocupa, de modo algum,a maior parte do tempo de uma criana. A criana pr-escolar no brincamais do que trs ou quatro horas por dia. Assim, a questo no a quantida-de de tempo que o processo ocupa. Chamamos de atividade principal aque-la em conexo com a qual ocorrem as mais importantes mudanas no desen-volvimento psquico da criana e dentro da qual se desenvolvem processospsquicos que preparam o caminho da transio da criana para um novo emais elevado nvel de desenvolvimento. (Leontiev, 1988, p. 122)Vemos,ento,queabrincadeiraseconstituiematividadeprin-cipalporquenaidadepr-escolarelaprovocaestasrevoluesnode-senvolvimentoinfantil.Vigotski(1984)expeserincorretoafirmarqueabrincadeiraseriaumprottipodaatividadecotidianadacrian-a.EssaafirmaonoestemconflitocomateoriadaatividadeprincipaldesenvolvidaporLeontieveElkonin,poiselesnoafirmamqueabrincadeira,comoatividadeprincipaldaidadepr-escolar,le-variaacriana,emseucotidiano,aagirdemaneirafantasiosa,aagirmovidapelaimaginaoenopelarealidadeobjetiva.Leontievafir-maclaramentequearupturaentresignificadoesentidoestabelecidaduranteabrincadeiraabandonadaimediatamenteassimqueacri-anadeixadebrincar.Issoquerdizerqueacrianaemseucotidianoagemovidapelarealidadeobjetivaenosedeixadominarpelafanta-siaexistentenomomentodabrincadeira.Abrincadeira,segundoVigotski(1984,p.117),aatividadeprincipalporquecriaumazonadedesenvolvimentoproximaldacri-21 Cad. Cedes, Campinas, vol. 24, n. 62, p. 9-25, abril 2004DisponvelemAlessandra Arceana,ouseja,nobrinquedoacrianarealizaaesqueestoalmdoquesuaidadelhepermiterealizar,agindonomundoquearodeiaten-tandoapreend-lo.Nestepontoopapeldaimaginaoaparececomoemancipatrio:acrianautiliza-sedaimaginaonabrincadeiracomoumaformaderealizaroperaesquelhesoimpossveisemrazodesuaidade.Acrianareproduzaobrincarumasituaorealdomundoemquevive,extrapolandosuascondiesmateriaisreaiscomaajudadoaspectoimaginativo.Paraqueacrianapossatornarrealumaope-raoimpossveldeserrealizadanasuaidade,elautiliza-sedeaesquepossuemumcarterimaginrio,ofaz-de-contaentraemcena,ge-randoumadiscrepncia,segundoLeontiev(1988),entreaoperaoquedeveserrealizada(porexemploandaracavalo)easaesquefor-mamessaoperao(porexemploselarocavalo,montarnocavaloetc.).Como a criana no pode usar um cavalo real, ela utiliza-se de um cabode vassoura, por exemplo, como se este fosse seu cavalo. Isso ocorre por-queacrianatemcomoalvooprocessoenoaao.Outroexemploabrincadeiracomumaboneca.Acrianaaobrincarcomabonecare-petesituaesouacontecimentospresentesnavidaadulta,comoporexemplocuidardeumbeb.Aofaz-loelaimitaaformacomoamecuidadoirmomaisnovo.Porisso Vigotski(1984,p.117)afirmaqueobrinquedomuitomaisalembranadealgumacoisaquerealmen-teocorreudoqueimaginao.Leontiev(1988,p.126)afirmaquenabrincadeiratodasasoperaeseaesqueacrianarealizasoreaisesociais;pormeiodelasacrianabuscaapreenderarealidade.Leontievapresentaumexemplodecrianasbrincandodevacinaocontraava-rola.Nessabrincadeiraascrianasimitavamaseqnciarealdaaorealizadaparaavacinao.Primeiropassava-selcoolnapeleedepoiseraaplicadaavacina.Oadultopesquisadorqueobservavaessabrinca-deirapropsscrianasautilizaodelcooldeverdade,oquefoire-cebidocomentusiasmopelascrianas.Masentoeledissequeprecisa-riapegarolcoolemoutrasalaesugeriuqueelasfossemaplicandoavacinaenquantoeleiriabuscarolcooledeixassemparapassarolco-olaofinaldoprocesso.Ascrianasnoaceitaramasugestoepreferi-ramnousarlcooldeverdade,masmanteraseqnciarealdaao.DesseexemploLeontievextraiaseguinteconcluso:Em um jogo, as condies da ao podem ser modificadas: pode-se usar pa-pel, em vez de algodo; um pedacinho de madeira ou um simples pauzinho,22 Cad. Cedes, Campinas, vol. 24, n. 62, p. 9-25, abril 2004DisponvelemO jogo e o desenvolvimento infantil na teoria da atividade e no pensamento...em vez de agulhas; um lquido imaginrio em vez de lcool, mas o contedoe a seqncia da ao devem, obrigatoriamente, corresponder situao real.(...) preciso acentuar que a ao, no brinquedo, no provm da situaoimaginria mas, pelo contrrio, essa que nasce da discrepncia entre a ope-rao e a ao; assim, no a imaginao que determina a ao, mas so ascondies da ao que tornam necessria a imaginao e do origem a ela.(Leontiev, 1988, p. 126-127)Nabrincadeiraacrianacriaumarupturaentresentidoesig-nificadodeumobjeto,isto,umpequenopedaocilndricodema-deiranoperdeseusignificadoparaacrianamasduranteabrinca-deiraesseobjetopodeassumirparaacrianaosentidodeumaseringadeaplicaodevacina.Importantedestacarqueacriananorealizaessarupturaantesdeiniciarabrincadeiranemmesmodepoisdeen-cerradaabrincadeira.Somenteduranteaatividadequesefazne-cessriaaimaginao.Masqualseriaotipodebrincadeiramaismarcanteparaascri-anasemidadepr-escolar,isto,nafaixadostrsaosseisanosdeidade?Ojogoprotagonizadooujogodepapis.SegundoElkonin(1998,p.31),nessetipodebrincadeirainflui,sobretudo,aesferadaatividadehumana,dotrabalhoedasrelaesentreaspessoase,porconseguinte,ocontedofundamentaldopapelassumidopelacrianaprecisamenteareconstituiodesseaspectodarealidade.Essarealidadequecircundaacriana,segundooautor,podeserdivi-didaemduasesferas:adosobjetoseadasatividadeshumanas.Emumprimeiromomentodesuavida,acrianaconcentrasuaatividadenosobjetosenasaesqueosadultosrealizamcomessesobjetos.En-tretanto,medidaqueojogoprotagonizadovaievoluindo,ofocodesloca-sedestesparaasrelaesqueaspessoasestabelecementresi,mediantesuasaescomosobjetos,ouseja,acrianapassaainte-ressar-sepelasrelaestravadasentreossereshumanosepassaare-produzi-lasemsuasbrincadeiras.Elkonin(idem,p.35)afirmaqueaatividadeeasrelaeshu-manaspossuemumimpactotograndenojogoprotagonizadoqueseutemapodevariar,contudoocontedosemprepermaneceomesmo,qualseja,aatividadedohomemeasrelaessociaisentreaspessoas.napr-escolaqueojogoprotagonizadosedesenvolveinten-samenteealcanaonvelmximoquandoacrianadeixaafaseda23 Cad. Cedes, Campinas, vol. 24, n. 62, p. 9-25, abril 2004DisponvelemAlessandra Arceatividadedemanipulaodosobjetos.Importanteressaltar,segundoElkonin,anecessidadedeseexporessacrianasmaisricassituaeseprodueshumanas,pois,quantomaioremaisricaforsuainseronomundoqueacircunda,maisacrianadesenvolversuascapacida-des.Elkoninafirmaque:(...) A base do jogo social devido precisamente a que tambm o so sua na-tureza e sua origem, ou seja, a que o jogo nasce das condies de vida da cri-ana em sociedade. As teorias do jogo que o deduzem dos instintos e dos im-pulsos internos marginalizam, de fato, a questo de sua origem histrica. Aomesmo tempo, a histria do surgimento do jogo protagonizado justamen-te aquela que pode nos revelar a sua natureza. (Elkonin, 1998, p. 36)Assim,ojogoprotagonizado,paraElkonin,constitui-seemumafontepreciosaparaodesenvolvimentoinfantilduranteaidadepr-es-colar.Ojogoumdosmecanismosdentroeforadaescolacapazesdeauxiliaracrianaaapreenderoconjuntodasriquezasproduzidaspelahumanidade,gerandorevoluesnodesenvolvimentoinfantil.Consideraes finaisEsteestudoaquiapresentadopossuiuumcarterpreliminar,entretantoaexposiorealizadadeformasucintadeambasasteoriaspossibilita-nosvisualizargrandesdistines.SeporumladotemosFroebelatrelandoainfnciaeseudesenvolvimentoNaturezaeaoDivino,poroutroencontramosLeontiev,ElkonineVigotskiprocu-randoapreenderainfnciadentrodetodooconjuntodeaspectosquecompemnossaorganizaosocialcomofrutodahistriaquefoies-critapelahumanidade.Portanto,Froebelapontaparaumavisoro-mnticaenaturalizantetantododesenvolvimentoinfantilquantodojogo,aopassoqueaescolasoviticadapsicologiasecalcanomateria-lismohistrico-dialticoparaestud-los.Doisperodosdistintosdahistriadahumanidadecruzaram-senestetextocomointuitodemostrarmosquoradicaissoasdiferenascomrelaoaojogoquan-dotomamoscomopontodepartidaumavisodehomemesocieda-decentradaemumaconcepomstica,subjetivista,naturalizanteealienada;eoutraquebuscacompreenderohomemcomoprotagonis-taefrutodahistriavisandoapropiciaraessehomemaapreensodestemovimentoedasriquezasproduzidas.Nopodemosdeixarde24 Cad. Cedes, Campinas, vol. 24, n. 62, p. 9-25, abril 2004DisponvelemO jogo e o desenvolvimento infantil na teoria da atividade e no pensamento...destacarqueaconcepodeFroebelinfluencioumuitoseducadoreseprincipalmenteaparececomopioneiradentrodomovimentoquemaistardeseconstituiriasobanomenclaturadeMovimentoEscolanovista.Assim,aocriticarmososfundamentosdesuateoriaestaseestendeatodososeducadoresqueprocurampensarodesenvolvimentoinfantilapartirdeprincpiossimilares.Estatambmacrticaqueestsubjacentesexposiesdaescolasovitica,tornando-asincompatveiscomasmesmas.Impossibilitandoaprticadeecletismos,ouseja,autilizaoconjuntadeelementosconsideradosvlidosemambasaste-orias sem o respeito aos diferentes alicerces tericos, esperamos com esteartigocontribuirparaodebatearespeitodopapelqueojogoeacon-cepodedesenvolvimentoinfantildesempenhamnaconstituiodeumaconcepodeeducaoedeinfncia.Recebidoemnovembrode2003eaprovadoemmarode2004.Notas1. ParaumestudomaisdetalhadodavidaeobradeFriedrichFroebel,verArce(2002),ApedagogianaEradasRevoluesumaanlisedopensamentodePestalozzieFroebel(Campinas:AutoresAssociados).FriedrichAugustFroebelnasceuem21deabrilde1782,naregiosudestedaAlemanha,falecendoem1852.FroebelpodeserconsideradoopedagogodosJardinsdeInfncia,instituiodestinadaaeducarcrianasmenoresde06anosfundadaem1840nacidadedeBlankenburg.2. Aexpressooriginalemrussoveduschayadeyatelnost.Asediesemportugusdetex-tos de Leontiev tm adotado ora a expresso atividade principal, ora a expresso atividadedominante.Referncias bibliogrficasARCE,A.Apedagogianaeradasrevolues:umaanlisedopensa-mentodePestalozzieFroebel.Campinas:AutoresAssociados,2002.COLE,P.HerbartandFroebel:anattemptatsynthesis.NewYork:TeachersCollege;ColumbiaUniversity,1907.ELKONIN,D.B.Psicologiadojogo.SoPaulo:MartinsFontes,1998.ELKONIN, D.B. Toward the problem of stages in the mental developmentofchildren.Disponvelem:.Acessoem:2000.25 Cad. Cedes, Campinas, vol. 24, n. 62, p. 9-25, abril 2004DisponvelemAlessandra ArceFROEBEL,F.Theeducationofman.NewYork:Appleton,1887.FROEBEL,F.ThemottoesandcommentariesofFriedrichFroebelsmotherplay. TranslatedbyHenriettaR.EliotandSusanBlow.NewYork:Appleton,1895.FROEBEL,F.Pedagogicsofthekindergarten. TranslatedbyJosephineJarvis.NewYork:Appleton,1917.KOCH,D.FriedrichFroebel,ocriadordojardim-de-infncia,noseubicentenrio.Convivium,SoPaulo,v.25,p.45-63,1982.KOCH,D.Desafiosdaeducaoinfantil.SoPaulo:Loyola,1985.LEONTIEV,A.N. Odesenvolvimentodopsiquismo.Lisboa:LivrosHo-rizonte,1978.LEONTIEV,A.N.Osprincpiospsicolgicosdabrincadeirapr-es-colarIn:VIGOTSKI,L.S.;LURIA,A.R.;LEONTIEV,A.N.Linguagem,de-senvolvimentoeaprendizagem.SoPaulo:cone,1988.p.119-142.LIEBSCHNER,J.Achildswork:freedomandguidanceinFroebelseducationaltheoryandpractice.Cambridge:Lutterworth,1992.OSBORN,D.K.Earlychildhoodeducationinhistoricalperspective.3.ed.Athens,GA:EducationAssociates,1991.VIGOTSKY,L.S. 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