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S E M I N Á R I O I N T E R N A C I O N A L MAPEAMENTOS PARTICIPATIVOS E GESTÃO DE TERRITÓRIOS INDÍGENAS NA AMAZÔNIA RIO BRANCO – ACRE 16-20 DE NOVEMBRO DE 2010 ORGANIZAÇÃO ALEXANDRE GOULART E HENYO T. BARRETTO FILHO

Gestão de territórios indígenas na amazônia 2010

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MAPEAMENTOSPARTICIPATIVOS E GESTÃO DE T E R R I T Ó R I O S INDÍGENAS NA AMAZÔNIA RIO BR A NCO – ACRE 16-20 DE NOV EMBRO DE 2010

ORGANIZAÇÃO ALExANDRE GOuLART E HENYO T. BARRETTO FILHO

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M A P E A M E N T O S PA R T ICIPAT I V O S E GESTÃO DE T E R R I T Ó R I O S INDÍGENAS NA AMAZÔNIA RIO BR A NCO – ACRE 16-20 DE NO V EMBRO DE 2010

ORGANIZAÇÃO ALExANDRE GOuLART E HENYO T. BARRETTO FILHO

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C R É D I T O S I N S T I T u C I O N A I S

OrganizaçãoAlexandre GoulartHenyo T. Barretto Filho

ApoioCloude CorreiaAndreia Bavaresco

Coordenação editorialAlessandra Arantes

Projeto gráficoRibamar Fonseca (Supernova Design)

Revisão ortográficaDavi Miranda

FotosVal Fernandes

TraduçãoAna Julia Mazzotti

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LISTA DE SIGLAS E ACRÔNIMOS

ACAIPI: Asociación de Capitanes y Autoridades Tradicionales Indígenas del Rio Pira ParanáACT: Amazon Conservation TeamAEPI: Assessoria Especial do Estado do AcreAIKA: Associação Indígena KaripunaAMAAIAC: Associação do Movimento dos Agentes Agro-Florestais do AcreAPINA: Conselho das Aldeias WajãpiAPIO: Associação dos Povos Indígenas do AcreAPITU: Associação dos Povos Indígenas do TumucumaqueCABC: Coordenação de Associações Baniwa e CuripacoCCPY: Comissão Pró-YanomamiCIPLA: Central Indígena del Pueblo Leco de ApoloCIPTA: Consejo Indígena del Pueblo TacanaCIFCRSS: Centro Indígena de Formação e Cultura Raposa Serra do SolCIR: Conselho Indígena de RoraimaCOIAB: Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia BrasileiraCOCA: Community Owned Conservation AreaCOICA: Coordinación de las Organizaciones Indígenas de la Cuenca AmazônicaCPI-AC: Comissão Pró-Índio do AcreCRTM: Consejo Regional Tsimane MoseteneCTI: Centro de Trabalho IndigenistaECAM: Equipe de Conservação da AmazôniaETTERN: Laboratório Estado, Trabalho, Território e Natureza FECONAU: Federación de Comunidades Nativas del Ucayali y AfluentesFEINCE: Federación Indígena de la Nacionalidad Confán del EcuadorFOAG: Federación desl Organizations Autochtones de GuyaneFUNAI: Fundação Nacional do ÍndioGamebey: Associação Metareilá do Povo IndígenaGEF: Global Environmental FundGIZ: Deutsche Gesellschaft für Internationale ZusammenarbeitIAPAD: Integrated Approaches to Participatory Development

IBC: Instituto del Bien ComúnIEB: Instituto Internacional de Educação do BrasilIepé: Instituto de Pesquisa e Formação em Educação IndígenaIPAM: Instituto de Pesquisa Ambiental da AmazôniaIRD: Institut de Recherche pour le DéveloppementISA: Instituto SocioambientalIVIC: Instituto Venezuelano de Investigaciones CientíficasKanindé: Associação de Defesa Etnoambiental KanindéKLIM: Organisatie van Kali’na en Lokono in Beneden-MarowijneMJ: Ministério da JustiçaMMA: Ministério do Meio AmbienteMPEG: Museu Paraense Emilio GoeldiNAWE: Nacionalidad Woarani del EcuadorOPAN: Operação Amazônia NativaOPIAC: Organização dos Professores Indígenas do AcreOZIP: Organización Zonal Indígena de PutumayoPGAI: Programa de Gestão Ambiental IntegradaPNGATI: Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras IndígenasPPG7: Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do BrasilPPTAL: Programa de Proteção dos Povos e Terras Indígenas da Amazônia LegalPNAP: Plano Estratégico de Áreas ProtegidasPRDIS: Programa Regional de Desenvolvimento Indígena SustentávelSEMA/AC: Secretaria Estadual de Meio Ambiente do Estado do AcreSEMA/PA: Secretaria Estadual de Meio Ambiente do Estado do ParáSEPI/AC: Secretaria Extraordinária dos Povos Indígenas do Estado do AcreTI: Terras IndígenasTNC: The Nature ConservancyUnB: Universidade de BrasiliaUSAID: United States Agency for International DevelopmentVIDS: Vereniging van Inheemse Dorphoofden in SurinameWCS: Wildlife Conservation Society

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M a pa d a s E x p E r i ê n c i a s d E M a p E a M E n t o pa r t i c i pat i v o E G E s tã o d E t E r r i t ó r i o s i n d í G E n a s

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M a p a d a s E x p E r i ê n c i a s d E M a p E a M E n t o p a r t i c i p a t i v o E G E s t ã o d E t E r r i t ó r i o s i n d í G E n a s

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í n d i c E

1. apresentação 122. o contexto amazônico indígena: desmatamento e defesa territorial 14 “Ferramentas” de Gestão territorial: amplo leque de estratégias 15 Exemplos de Experiências Brasileiras 15 Exemplos de Experiências Latino-americanas 20 Experiências internacionais 22 oportunidades e Limites 233. o seminário internacional “Mapeamentos participativos e Gestão de territórios indígenas na amazônia” 26 Metodologia 29 abertura dos trabalhos 30 painéis de apresentação e Feira de Experiências: trocando Experiências de Mapeamentos participativos e Gestão de territórios indígenas na amazônia 31 Grupos de trabalho sobre temas relacionados aos Mapeamentos participativos e à Gestão de territórios indígenas na amazônia 68 apreciação avaliativa do seminário 93 os mapeamentos e a autonomia dos povos indígenas - Henri acselrad 93 cartografía y colonización del conocimiento - Martín vidal tróchez 96 a fé científica no planejamento 100 Mapeamento: um mal necessário? 101 conclusão dos trabalhos 1064. considerações Finais e perspectivas (paul Little) 1085. anExos 114 anexo 01 – Lista dos participantes 114 anexo 02 – programação do seminário internacional: 121 anexo 03 – apresentação powerpoint coica 122 anexo 04 – roteiro para apresentação oral 133 anexo 05 – avaliação final 134

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Abertura do seminário

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a p r E s E n ta Ç ã o

A atual conjuntura socioambiental dos povos e territórios indígenas nos países que partilham o bioma

Amazônia tem algumas características semelhantes: os movimentos indígenas amazônicos vivem hoje a transição da exclusiva luta pela terra para a consolidação do controle territorial. Por um lado, demandam reconhecimento, visibilidade e respeito para suas práticas e saberes associados ao manejo de recursos naturais e, por outro, buscam ampliar habilidades para lidar com os desafios da gestão territorial. Para debater o impacto desses desafios, à escala da Amazônia, é indispensável trocar experiências e conhecimentos entre os povos indígenas e as políticas públicas desenvolvidas em cada país.

Com o objetivo de promover um balanço das experiências de mapeamentos participativos e de gestão territorial conduzidas na Amazônia Brasileira e hispânica, o Seminário Internacional: Mapeamentos Participativos e Gestão de Territórios Indígenas na Amazônia reuniu o estado da arte e os aprendizados das iniciativas, bem como abordagens, conceitos e metodologias empregados, avaliando suas repercussões

para a garantia do bem-estar e da autonomia dos povos indígenas. Entre os dias 15 e 19 de novembro de 2010, representantes do movimento indígena, da sociedade civil e de governos do Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Peru, Venezuela, Suriname, Guiana e Guiana Francesa estiveram reunidos na capital do estado do Acre, Rio Branco, para discutir essa agenda.

Durante o encontro, representantes de

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associações indígenas e técnicos de organizações parceiras apresentaram conceitos e metodologias empregados nos processos de gestão territorial indígena nos diferentes países. O debate pretendia avançar na agenda da autonomia dos povos indígenas na gestão de seus territórios. A proposta era, também, contribuir para o desenvolvimento de políticas públicas, que devem ter como eixo principal a garantia da titularidade e a integridade dos territórios indígenas na Amazônia.

Os pontos altos da programação foram as apresentações de experiências nas Mesas Expositivas e na “Feira de Exposição”, e os Grupos de Trabalho em torno de temas relevantes. As atividades aconteceram na Usina de Artes “João Donato” (antiga usina de beneficiamento de castanha, transformada em polo de produção cultural pelo “Governo da

Floresta”) e no Centro de Formação dos Povos da Floresta da Comissão Pró-Índio do Acre (também conhecido como “Sítio da CPI”). Nestes espaços, os participantes tiveram a oportunidade de trocar informações, materiais e produtos relacionados aos conhecimentos acumulados por cada povo, além de firmarem novas amizades e parcerias com base nas lutas comuns aos Povos Indígenas do mundo.

O Seminário Internacional: Mapeamentos Participativos e Gestão de Territórios Indígenas na Amazônia foi uma iniciativa de um amplo conjunto de organizações indígenas e não indígenas da Amazônia. O comitê executivo do evento foi composto pela Comissão Pró-Índio do Acre (CPI Acre) pelo Governo do Estado do Acre, por meio da Assessoria Especial dos Povos Indígenas (AEPI), e da Secretaria de Meio

Ambiente (SEMA) e pelo Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB). Todo o processo contou com o apoio da Fundação Gordon e Betty Moore.

Este relatório sistematiza as atividades desenvolvidas ao longo da preparação e realização do seminário. Nele são abordados conteúdos referentes à discussão teórico-conceitual e a implementação de experiências concretas a respeito de estratégias e “ferramentas” de mapeamento e zoneamento participativos, de gestão territorial e ambiental, e de atividades de formação e capacitação afins. Da mesma forma, expomos aqui os resultados dos trabalhos em grupo e demais informações úteis que possam servir de referência para demandas concretas dos Povos Indígenas e as políticas públicas para eles (e por eles) construídas.

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a p r E s E n t a Ç ã o

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o c o n t E x t o a M a z ô n i c o i n d í G E n a : d E s M ata M E n t o E d E F E s a t E r r i t o r i a L

A conjuntura socioambiental atual dos povos e territórios indígenas nos países que partilham o bioma Amazônia

pode ser caracterizada em termos de tendências relativamente colidentes. De um lado, a conversão de habitat e a degradação ambiental nos territórios indígenas e em seu entorno, frutos tanto de pressões internas (dado o novo imperativo de viverem e se reproduzirem dentro de polígonos espaciais formalmente definidos e reconhecidos pelos estados nacionais, num quadro de expansão demográfica dos povos indígenas) quanto externas (dada a expansão da fronteira agrícola e de atividades ilegais conexas, o incremento de obras de infraestrutura e o avanço das indústrias extrativas), com os previsíveis efeitos de isolamento e perda de biodiversidade e conectividade dos territórios indígenas em seus vínculos sociais e ecológicos com outros territórios especialmente protegidos pelo poder público. De outro, o avanço do protagonismo político dos povos indígenas e do reconhecimento dos seus direitos coletivos, em especial os territoriais mais precariamente estabelecidos em alguns países amazônicos que em outros. Nesse marco, os movimentos indígenas amazônicos vivem hoje a transição da exclusiva luta pela terra para a consolidação do controle territorial. Nesse contexto, por um lado eles demandam reconhecimento, visibilidade e respeito para suas práticas e saberes associados ao manejo de recursos naturais; por outro lado, eles buscam ampliar suas competências e habilidades para lidar com os desafios hoje colocados pelas necessidades de gestão territorial na interface com as políticas fundiárias e demais políticas estatais.

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“Ferramentas” de Gestão Territorial: amplo leque de estratégias

A despeito das distintas nuances que essa conjuntura assume nos diferentes países amazônicos e dos diversos marcos regulatórios e configurações institucionais que cada qual possui para lidar com os povos e territórios indígenas, verifica-se a generalização de uma prática para lidar com alguns dos desafios e oportunidades desse contexto: os mapeamentos participativos que, envolvendo diferentes terminologias e metodologias, e implicando parcerias variadas dos povos e organizações indígenas com diferentes instâncias e instituições do governo, organizações da sociedade civil e da cooperação internacional, vêm sendo empregados como ferramentas visando a gestão de territórios indígenas por toda a Amazônia, num contexto de crescente regularização da situação fundiária destes. Ao mesmo tempo, os etnomapas vêm sendo apropriados como ferramentas de novas linguagens de comunicação, colocando como desafios a possibilidade e os limites de incorporação e/ou tradução intercultural de conceitos e realidades, como mudanças e mobilidade das populações, fronteiras e fluidez de espaços e territórios, entre outros.

Exemplos de Experiências Brasileiras

No Brasil, importa destacar que desde 1996, pelo menos, ano em que se estabeleceram os atuais procedimentos administrativos de demarcação de terras indígenas (TIs), as variáveis ambientais têm sido sistematicamente incorporadas a tais processos. O artigo nº 231 da Constituição Federal de 1988 trouxe como novidade a definição de “terras tradicionalmente ocupadas pelos índios”, em cuja composição estão incluídas as “áreas imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários ao seu bem-estar”. A partir de 1996, os relatórios de identificação passam, obrigatoriamente, a trazer um capítulo sobre meio ambiente e a ter de apresentar como anexo um relatório ambiental elaborado por técnico profissional das ciências naturais e/ou ambientais (da vida

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e/ou da terra). As preocupações com a gestão territorial e o manejo dos recursos naturais em TIs entram, assim, definitivamente no horizonte dos gestores públicos. Para isso, contou favoravelmente o input da cooperação internacional por meio do Programa de Proteção dos Povos e Terras Indígenas da Amazônia Legal (PPTAL), um subprograma do Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil (PPG7), em suas tentativas tanto de aprimorar a qualidade técnica dos relatórios de identificação e ambientais quanto de dotar as TIs identificadas antes de 1996 de ferramentas de gestão ambiental similares. Foi com esse intuito que se desenvolveu a metodologia dos “levantamentos etnoecológicos” – participativos e filtrados pelas classificações etnoecológicas nativas – a serem aplicados em mosaicos de TIs na Amazônia1.

Mais recentemente, pela Portaria Interministerial nº 276, de 12 de setembro de 2008, foi instituído o Grupo de Trabalho Interministerial (GTI) com a “finalidade de elaborar proposta de Política Nacional de Gestão Ambiental em Terras Indígenas”. A preocupação expressa na referida portaria com a formulação de tal política surge por meio de uma articulação entre os dois principais setores do governo envolvidos com o tema – Fundação Nacional do Índio (FUNAI/MJ) e Ministério do Meio Ambiente (MMA) – e o(s) movimento(s) indígena(s). Esta articulação está fundada em marcos legais anteriores, como os artigos nº 231 e nº 225 da Constituição Federal de 1988; o Decreto nº 1.141, de 19 de maio de 1994, que prescreve atribuições ao MMA e à FUNAI/MJ em relação à proteção ambiental das terras indígenas (TIs); o Decreto nº 5.758, de 13 de abril de 2006, que instituiu o Plano Estratégico Nacional de Áreas Protegidas (PNAP), que reconheceu as Terras Indígenas e os Territórios Quilombolas como áreas protegidas, ampliando a oportunidade para povos indígenas e quilombolas fortalecerem a gestão de seus territórios; e o Decreto nº 6.101, de 26 de abril de 2007, que estabelece como competência do MMA, por meio do Departamento de Extrativismo da

1 Cf. William Milliken, Levantamento Etnoecológicos em Reservas Indígenas na Amazônia Brasileira: uma metodologia (Edinburgh Development Consultants, 2ª versão, novembro de 1998) e FUNAI/PPTAL, Levantamentos Etnoecológicos em Terras Indígenas na Amazônia Brasileira: uma metodologia (versão revista e atualizada, janeiro de 2004).

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Secretaria de Extrativismo e Desenvolvimento Rural Sustentável, o “fomento à gestão ambiental e ao desenvolvimento sustentável das populações tradicionais e povos indígenas”.

Paralelamente a essa movimentação na esfera federal e para além dela, a Amazônia brasileira testemunhava experiências significativas in situ de mapeamentos participativos com povos e em terras indígenas. Em meados de novembro de 2005, na cidade de Rio Branco, AC, com recursos oriundos do Projeto de Gestão Ambiental Integrada (PGAI), outro subprograma do PPG7, a Secretaria de Meio Ambiente (SEMA) e a Secretaria Extraordinária dos Povos Indígenas do Acre (SEPI) organizaram, sob a coordenação da gerência do Programa de Zoneamento Ecológico-Econômico daquele estado, um seminário para promover a troca de experiências em levantamentos participativos em territórios indígenas, que contou com a participação de mais de 30 pessoas representando organizações governamentais, não governamentais e lideranças indígenas da Amazônia Legal. A proposta consistiu em “apresentar e debater diferentes metodologias, desenvolvidas em trabalhos de etnomapeamento em TIs de várias partes da Amazônia, que possam contribuir para construir uma ferramenta efetiva de gestão territorial nestas áreas” (http://www.socioambiental.org/nsa/detalhe?id=2148). Na ocasião, seis experiências em curso na Amazônia brasileira foram apresentadas2:

(i) o etnozoneamento da TI Mamoadate (2004 e 2005) com os povos Manchineri e Jaminawa, envolvendo a SEMA e a SEPI, sendo esta experiência parte de um conjunto de etnozoneamentos de mais cinco TIs (Rio Gregório, Igarapé do Caucho, Colônia 27, Katukina/Kaxinawá de Feijó e Jaminawa do Caeté) concluídos em 2006;

(ii) o projeto Mapeamento Participativo das TIs Uaçá, Juminã e Galibi (2001 a 2003), desenvolvido no Amapá pela Associação dos Povos Indígenas do Oiapoque (APIO) em parceria com a ONG The Nature Conservancy (TNC);

2 A organização do seminário previra também a participação da equipe do Instituto del Bién Común (IBC) do Peru, por reconhecer a importância da contribuição deste para o debate e a afinidade da sua experiência com as que estavam em curso na Amazônia brasileira. Por motivos de força maior, a equipe do IBC não pôde participar.

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(iii) os trabalhos de Gestão Territorial dos Agentes Ambientais Timbiras do Maranhão e Tocantins, desenvolvidos pelo Centro de Trabalho Indigenista (CTI) e pela Associação Wyty-Catë das comunidades Timbira do Maranhão e Tocantins;

(iv) os etnomapeamentos em oito TIs do Acre (2004 a 2006) situadas na fronteira do Brasil com o Peru (Kampa do Rio Amônia, Kaxinawá/Ashaninka do Rio Breu, Kaxinawá do Rio Humaitá, Kaxinawá do Rio Jordão, Kaxinawá do baixo Rio Jordão, Kaxinawá do Seringal Independência, Poyanawa e Nukini) que faziam parte do Projeto Conservação Transfronteiriça do Brasil/Peru, realizado pela Comissão Pró-Índio do Acre (CPI-AC) e pela Associação do Movimento dos Agentes Agroflorestais Indígenas do Acre (AMAAIAC) com recursos da Fundação Gordon e Betty Moore via TNC;

(v) os Mapeamentos Culturais Colaborativos promovidos pela Equipe de Conservação da Amazônia (ECAM) em quatro TIs: Parque do Xingu (2001); Parque Indígena do Tumucumaque e Rio Paru D’Este (2002) – estas duas em conjunto com a Associação dos Povos Indígenas do Tumucumaque (APITU); e Sete de Setembro (2007), juntamente com a Associação Metareilá do Povo Paiter Suruí; e

(vi) a experiência do Macrozoneamento Participativo das TIs do Alto Rio Negro (2002), realizado por meio de uma parceria entre a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN) e o Instituto Socioambiental (ISA), que compreendeu seis TIs do Alto Rio Negro (Rio Téa, Médio Rio Negro I, Médio Rio Negro II, Alto Rio Negro, Rio Apapóris e Balaio) e foi desenvolvido para fornecer subsídios à formulação de um Programa Regional de Desenvolvimento Indígena Sustentável (PRDIS) das TIs do Alto Rio Negro.3

Em fins de 2006, a SEMA e a SEPI, de novo com apoio do PGAI, promoveram o seminário “Gestão Territorial em Terras

3 Algumas das organizações mencionadas nessas seis experiências – Associação Wyty-Catë, CTI, CPI-AC, AMAAIAC, FOIRN e ISA – constituem, ao lado de outras, a Rede de Cooperação Alternativa (RCA), que visa discutir parâmetros que orientem políticas públicas para educação, meio ambiente e desenvolvimento sustentável e econômico dos povos indígenas, de forma a contribuir com a formação crítica de seus beneficiários em vários contextos, entre os quais o da gestão territorial.

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Indígenas”. Este tinha a pretensão de ser internacional, englobando experiências do IBC e da TNC Bolívia, mas devido a problemas de agenda findou restringindo-se a uma discussão sobre gestão territorial na Amazônia brasileira e aos etnozoneamentos das TIs Rio Gregório, Igarapé do Caucho, Colônia 27, Katukina/Kaxinawá e Jaminawa do Caeté. Por meio de uma abordagem abrangente, as diversas experiências em curso na Amazônia brasileira PDPI, PPTAL, CTI, ACT, TNC, ISA, CPI/Acre, Governo do Estado do Acre (IMAC/SEPI), Departamento Etnoambiental da COIAB foram consideradas dentro do amplo processo de gestão territorial em TIs, entendido a partir da combinação entre a dimensão política do controle territorial das TIs e a dimensão ambiental voltada para sua sustentabilidade4.

Mais recentemente, em agosto de 2009, a Secretaria de Meio Ambiente do Estado do Pará (SEMA/PA), por meio da Diretoria de Áreas Protegidas (DIAP), da Coordenadoria de Ecossistemas (CEC), da Gerência de Proteção do Meio Socioeconômico e Cultural (GEMEC) e da Assessoria de Povos Indígenas, realizou a Oficina de Trabalho para Etnozoneamento e Etnomapeamento em Terras Indígenas do Pará: Ferramentas de Gestão Ambiental, em que se discutiu a definição do conceito de etnozoneamento, os objetivos e a metodologia que serão implementados pela SEMA no etnozoneamento das terras indígenas da região do Trombetas-Mapuera, a fim de atrair parcerias com instituições e organizações para execução dos trabalhos. Na ocasião, o etnozoneamento foi definido “como uma ferramenta de diagnóstico e planejamento para gestão de terras indígenas, elaborado de forma participativa e tendo como objetivo a preservação, conservação, uso e manejo dos recursos naturais das Terras Indígenas do Pará”.

Posteriormente, a mesma SEMA/PA organizou Seminário sobre “Situação Socioambiental das Terras Indígenas do Pará: desafios para elaboração de Políticas de Gestão Territorial e Ambiental”, que resultou em publicação de mesmo nome.

4 Little, Paul. Gestão Territorial em Terras Indígenas: Definição de conceitos e propostas de diretrizes. Rio Branco – AC, 2006. SEMA e SEPI – AC/GIZ. Relatório Final.

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Exemplos de Outras Experiências Latino-Americanas

As experiências de mapeamento participativo e gestão de territórios indígenas nos demais países que compõem a Amazônia sul-americana também são múltiplas e variadas.

Na Bolívia, país que hoje é governado pelo indígena da etnia Aymará Evo Morales e cuja constituição passou a reconhecer a autoctonia territorial de sua extensa população nativa indígena, povos e organizações indígenas desenvolvem um conjunto de experiências, dentre elas: a elaboração do Plano de Vida do Povo Leco de Apolo (com apoio da Central Indígena del Pueblo Leco de Apolo/CIPLA); a gestão compartilhada de Reserva da Biosfera e Território Indígena Pilon Lajas (com apoio da organização indígena Consejo Regional Tsimane Mosetene/CRTM) e gestão territorial indígena na Terra Comunitaria de Origen Takana I (com apoio do Consejo Indígena del Pueblo Tacana/CIPTA). Todas estas experiências contam com a parceria da Wildlife Conservation Society (WCS) da Bolívia.

Na Colômbia, a organização indígena Asociación de Autoridades Tradicionales Mesa Permanente de Trabajo por el Pueblo Cofán y Cabildos Indigenas del Valle del Guamez y San Miguel realiza a gestão integrada de territórios indígenas por meio de mapeamentos participativos em territórios ancestrais Cofán. Esta iniciativa também conta com a parceria da WCS da Colômbia. Também neste país, a Asociación de Capitanes y Autoridades Tradicionales Indígenas del río Pira Paraná realiza, em parceria com a Fundación Gaia Amazonas, experiências de cartografia cultural no Território de los Jaguares de Yuruparí. Finalmente, a Organización Zonal Indígena de Putumayo/OZIP vem elaborando planos de ordenamento ambiental de territórios de cinco povos indígenas segundo seus próprios conhecimentos.

No Equador, uma iniciativa singular de mapeamento participativo por meio da metodologia de P3DM (Participatory 3 Dimensional Modeling) foi iniciada em 2003 como uma atividade colaborativa entre o SANREM, o Ministério da Agricultura do

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Equador e a UNORCAC, uma federação de comunidades indígenas locais. A ela se soma a experiência, em caráter de exercício, de mapeamento desenvolvida pela Fundación Sobrevivencia Cofan em parceria com a FEINCE (Federación Indígena de la Nacionalidade Cofán del Ecuador) para a gestão do conjunto de terras Cofán na província de Sucumbios no norte do país. Experiência significativa também é a da Nacionalidade Waorani (NAWE) deste país, que vem implementando atividades de mapeamento e zoneamento, bem como de formação voltada para “guardaparques” comunitários e técnicas de manejo de fauna.

No Peru, por sua vez, o Instituto del Bien Común (IBC) tem trabalhado com o mapeamento de territórios de diversos povos indígenas, merecendo destaque o seu Sistema de Informação sobre Comunidades Nativas da Amazônia Peruana (SICNA), do qual se destacam importantes aplicações experimentais na definição de territórios indígenas: o mapeamento da paisagem histórico-cultural com os Yanesha, iniciado em 1999 na Selva Central Norte; o mapeamento histórico-espacial e cultural dos Povos Wampis e Awajun (em parceria com as organizações indígenas FECOHRSA, OPIWAK e FECAS) o mapeamento participativo para gestão do território da comunidade Shipibo-Konibo de Nuevo Saposoa (em parceria com a organização indígena Federación de Comunidades Nativas de Ucayali y Afluentes/FECONAU); e o mapeamento de uso de recursos (resource-use mapping)5 em geral.

Na Venezuela, destacam-se as experiências das Associações Kuyujani Originário y Otro Futuro, que realizaram trabalhos de mapeamentos participativos junto aos Dekuana (Yekuana) por meio do Proyecto Archivo y Atlas Yekuana, financiado pelo Policy Sciences Center Inc. (New Haven, Connecticut, EUA) e coordenado pela antropóloga Nelly Arvelo-Jiménez. Como resultado desse projeto, veio a ser publicado o Atlas Dekuana, em 2001. A TNC e a Federación de Indígenas del Estado de Bolívar, em parceria com os Povos Indígenas Pemon no Parque Nacional de Canaima, também desenvolvem trabalho de referência na Venezuela

5 Smith, Richard Chase; Margarita Benavides; Mario Pariona; and Ermeto Tuesta: Mapping the Past and the Future: Geomatics and Indigenous Territories in the Peruvian Amazon, Human Organization, 62 (4): 357-369, 2003.

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diante do processo de autodemarcação. Finalmente, o Instituto Venezoelano de Investigaciones Cientificas (IVIC), tem apoiado exitosas iniciativas de autodemarcação junto aos Povos Jodï e Eñepá, na região da Amazônia venezuelana, usando abordagens de mapeamento participativo.

Na Guiana, a Organização Indígena Wai Wai de Konachen, conjuntamente com a Conservação Internacional, desenvolvem um trabalho de mapeamento e gestão de territórios indígenas tradicionais com base no conceito de Community Owned Conservation Area (COCA).

Na Guiana Francesa, povos e comunidades indígenas, organizados em torno da Federación des Organisations Autochtones de Guyane/FOAG e sob a égide da legislação francesa de reconhecimento da igualdade social e civil, se organizam para elaborar estratégias étnicas de gestão e manejo de seus territórios autóctones que também sejam reconhecidas legalmente.

No Suriname, a VIDS (Vereniging van Inheemse Dorphoofden in Suriname), associação de lideranças indígenas do país, organiza um conjunto de experiências de mapeamento e gestão de territórios indígenas, com apoio da organização indígena KLIM (Organisatie van Kali’na en Lokono in Beneden-Marowijne), espécie de “braço operacional” da VIDS na região do baixo Rio Marowijne, e com a organização dos Povos Indígenas da Vila Corneliskondre de Wayambo. Finalmente, as experiências de mapeamentos participativos realizados pela Amazon Conservation Team (ACT) junto aos índios Wayana e Tirió geraram diversos produtos cartográficos em 1999, posteriormente adotados como mapas oficiais pelo governo daquele país.

Experiências Internacionais

Tudo indica que tais experiências não constituem um movimento exclusivo de povos e organizações indígenas da Amazônia, mas antes uma expressão regional de uma tendência de alcance global, como se pode verificar em breve exploração do recurso Participatory Avenues (http://www.iapad.org/), hub

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do Integrated Approaches to Participatory Development (IAPAD) para partilhar inovações e lições aprendidas na prática eticamente consciente de mapeamento comunitário e SIG participativo. A América Central, por sua vez, tem sido um dos principais laboratórios dessa experimentação, em especial o Panamá e a Nicarágua, como demonstram os artigos do número especial de Human Organization editado em 2003 por Peter Herlihy e Gregory Knapp, intitulado “Participatory Mapping of Indigenous Lands in Latin America”6 .

Oportunidades e Limites

De modo geral, os participantes das experiências de mapeamentos participativos e/ou comunitários com povos e em territórios indígenas, na Amazônia e além, veem-nas como espaços que valorizam práticas e saberes associados ao território e ambiente de povos e comunidades locais, inserindo-os em modelos mais convencionais (portanto “não diferenciados”) de conhecimento.

Para os defensores dessas experiências, os mapeamentos participativos (e, por extensão, seus produtos, tais como os mapas) são instrumentos utilizados em processos de investigação e ação nos quais se daria o empoderamento de pessoas e comunidades. Mais que isso, essas iniciativas são vistas como instrumentos úteis no fortalecimento de estratégias nativas de gestão territorial sob novos contextos e demandas. Entendem, portanto, que os “mapas”, “diagnósticos participativos”, “planos de gestão”, etc, são eficazes na gestão de territórios indígenas e contribuem para maior autonomia e fortalecimento político, social, econômico e cultural dos povos indígenas. Além disso, os mapas seriam meios de agregar valor e autoridade aos conhecimentos espaciais desses povos e aprimorar a comunicação de baixo para cima. Ou seja, dos povos indígenas com as autoridades e a sociedade inclusiva.

Há, entretanto, os que julgam os mapas insuficientes – malgrado necessários – para garantir direitos territoriais aos povos

6 Opus cit.

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indígenas, especialmente em contextos em que vários interesses divergentes estão presentes, contrários ao empoderamento daqueles. Se muitos consideram que os mapeamentos participativos garantem a compatibilidade entre tecnologias espaciais ocidentais e formas de pensar tradicionais, sendo tais instrumentos capazes de armazenar e manipular conhecimentos tradicionais, há quem entenda os sistemas ocidentais de produção e uso de informações geográficas como incompatíveis com os sistemas desenvolvidos por povos indígenas. Neste sentido, tais instrumentos (ou “ferramentas”), como os mapas produzidos por sistemas de informação geográfica (SIG), são vistos como “ferramentas de subordinação”, associadas a uma longa cadeia de tentativas das sociedades ocidentais de disciplinar as culturas indígenas. Outra crítica que se faz é que tal sistema é dominado principalmente por técnicos não indígenas, além de ser complexo, altamente técnico, às vezes caro e baseado na eletricidade e na eletrônica (particularmente no uso de computador). Não havendo acesso fácil à Internet no meio rural, tal sistema permanece fora do alcance dessas comunidades, sendo controlado por pessoas de fora. Nesse sentido, trabalhariam contra a participação e o empoderamento, convertendo-se numa tecnologia elitista geradora de mais dependência.

As abordagens de “ferramentas de subordinação”, entretanto, vale enfatizar, desconsideram estratégias nativas e interesses das comunidades de se apropriarem de conhecimentos e tecnologias de fora. O caso mais emblemático no Brasil talvez seja o movimento dos videomakers indígenas formados no âmbito da iniciativa Vídeo nas Aldeias. Outro, mais pontual, é o da formação (por interesse próprio, com apoio da TNC, e orientação e suporte técnico do INPA) de um indígena da etnia Wapichana em sistemas de informação geográfica (mais precisamente no uso do programa ArcGIS), que em dado momento contribuiu para a estruturação de um Sistema de Informação Etnogeográfica (SIEG, na denominação local) junto ao Departamento de Projetos do Conselho Indígena de Roraima (CIR).

Do ponto de vista da implementação destas iniciativas, uma considerável variedade de “instrumentos” voltados para o mapeamento participativo e a gestão territorial indígena tem sido utilizada de modo experimental. Esses instrumentos, entretanto,

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possuem consideráveis diferenças metodológicas, conceituais e de objetivos. Prevalece, assim, uma pletora de designações etnomapeamentos, etnozoneamentos, mapeamentos culturais, macrozoneamentos, levantamentos etnoecológicos, diagnósticos etnoambientais, ente outros para se referir a essas experiências. Isso expressa as distintas avaliações quanto às suas contribuições para a autonomia dos povos indígenas e para ações governamentais em territórios indígenas, e sobre quais seriam os melhores métodos de produzir informações que resultem em políticas públicas que garantam direitos e apoiem processos e projetos nativos.

Por fim, muitos veem esses instrumentos como etapas em processos mais amplos de gestão territorial e/ou ambiental. A noção de “ciclo de gestão territorial”, que contemplaria diversos instrumentos e etapas, sintetiza essa visão. Tais etapas envolveriam, não necessariamente nesta ordem, processos de “articulação” ou “diagnóstico”, “planejamento” ou “normatização”, “execução” ou “gestão” propriamente dita, incluindo questões tais como fortalecimento institucional, uso dos recursos, formação, gênero, orientação para políticas públicas, produção e manejo de recursos naturais, engajamento de parceiros e diálogo com atores e delimitação de interesses (governo, empreendedores, ONGs, dentre outros). Em suma, só se pensaria em mapeamento participativo e gestão territorial como processos que envolvem um conjunto de atividades construído de forma participativa e dialógica.

Nesse sentido, levantamos as seguintes questões: Por que povos e comunidades indígenas decidiram se engajar em tais processos? Quem se fortalece com a adoção destes instrumentos, tecnologias e “ferramentas”? Quem perde com isso? Como se dá o controle social destes processos? Como os diversos atores se articulam em torno deles? Qual a relevância e quais os limites de tais experiências no contexto da garantia de direitos territoriais e da definição e formatação de políticas públicas? Quais as outras formas possíveis, alternativas e/ou complementares, de favorecer visibilidade, empoderamento, sustentabilidade e resiliência, para práticas e saberes indígenas de gestão territorial?

M A P E A M E N T O S P A R T I C I P A T I V O S E G E S T Ã O D E T E R R I T Ó R I O S I N D Í G E N A S N A A M A Z Ô N I A 23

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o s E M i n á r i o i n t E r n a c i o n a L “ M a p E a M E n t o s pa r t i c i pat i v o s E G E s tã o d E t E r r i t ó r i o s i n d í G E n a s n a a M a z ô n i a”

Por avaliar que é de extrema relevância para os povos indígenas e as instituições que atuam com eles

responder essas questões, e sistematizar e disseminar as referidas iniciativas com vistas à sua reflexão crítica e eventual ampliação, o Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), em 2008, estimulou duas reuniões presenciais para se discutir a viabilidade da realização de um seminário pan-amazônico sobre o tema. As instituições que participaram das referidas reuniões e concordaram com a importância de se promover tal encontro foram: Centro de Trabalho Indigenista (CTI); Comissão Pró-Índio do Acre (CPI/Acre); Coordenação Geral de Patrimônio Indígena e Meio Ambiente (CGPIMA/FUNAI – atual CGGAM); Deutsche Gesellschaft für internationale Zusammenarbeit - GIZ; Departamento de Antropologia da Universidade de Brasília - UnB; Instituto Socioambiental (ISA); Secretaria de Estado de Meio Ambiente do Estado do Acre (SEMA/AC); e The Nature Conservancy (TNC). Outras instituições com experiências em mapeamentos participativos e/ou gestão de territórios indígenas foram contatadas pelo IEB e sinalizaram interesse em participar do evento: a Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé, a Equipe de Conservação da Amazônia (ECAM), a recém-extinta Comissão Pró-Yanomami (CCPY), o Laboratório Estado, Trabalho, Território e Natureza (ETTERN) do IPPUR/UFRJ e o Projeto Novas Cartografias Sociais na Amazônia.

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Além dessas instituições, ao longo de 2009 contataram-se diversas outras organizações indígenas e indigenistas brasileiras e de países vizinhos. Os contatos foram feitos por meio de reuniões presenciais, encontros em eventos afins com a participação de futuros colaboradores, mensagens eletrônicas por e-mails e telefone. Por meio deste esforço de contato viabilizado por uma “rede” informal de organizações, chegou-se a um conjunto significativo de experiências.

Conforme diretrizes definidas em uma série de reuniões preparatórias, um seminário internacional que promovesse o diálogo entre as variadas experiências de mapeamentos participativos e gestão territorial com povos indígenas na Amazônia sul-americana. Este seminário seria um passo importante para a disponibilização de informações sobre essas experiências por meio de publicações e plataformas virtuais.

Finalmente, por diretriz definida em reuniões, chegou-se ao formato de um “Comitê Executivo” (formado pela Comissão Pró-Índio do Acre, Governo do Estado do Acre e Instituto Internacional de Educação do Brasil – IEB), responsável por colocar em prática o processo de reunião e sistematização dessas experiências a partir do seminário.

O Seminário Internacional “Mapeamentos Participativos e Gestão de Territórios Indígenas na Amazônia” teve como objetivos:

» Promover o diálogo e a troca de experiências em torno de mapeamentos participativos e gestão territorial indígena;

» Dar visibilidade às experiências de mapeamentos participativos e gestão territorial e suas contribuições para a formulação de políticas, programas, planos e projetos de gestão de territórios indígenas na bacia amazônica;

» Definir mecanismos e instrumentos para a sistematização e disseminação dessas experiências;

» Apresentar e validar os próximos passos.

“ M a p e a M e n t o s p a r t i c i p a t i v o s e G e s t ã o d e t e r r i t ó r i o s i n d í G e n a s n a a M a z ô n i a”

M a p e a M e n t o s p a r t i c i p a t i v o s e G e s t ã o d e t e r r i t ó r i o s i n d í G e n a s n a a M a z ô n i a 25

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O Seminário Internacional “Mapeamentos Participativos e Gestão de Territórios Indígenas na Amazônia” Para tanto, o Seminário contou com:

1) apresentações de iniciativas e produtos (mapas, planos, etc) e trocas de experiências entre todos os países da Bacia Amazônica (Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Venezuela e Suriname);

2) trabalhos em grupo, com espaços para balizamento e intervenções de práticas metodológicas, ética de diagnóstico e pesquisa, participação indígena e consentimento prévio e informado – além de uma série de outras questões correlatas (como veremos na parte relacionada aos Grupos de Trabalho).

Por meio do seminário, proporcionou-se uma interação direta entre as organizações e instituições indígenas e não indígenas que participaram em tais experiências, cujos resultados são disponibilizados a seguir sob a forma de resumos das iniciativas. Outras iniciativas que possam decorrer daí, certamente abrirão espaço para articulações com experiências para além da Amazônia e das Terras Indígenas.

Nesta parte, sistematizamos toda a documentação e reflexão ocorridas ao longo do seminário. Sua disseminação visa lograr o reconhecimento da importância dessas iniciativas em vários aspectos: da melhoria das condições de gestão de territórios indígenas à valorização cultural, passando pela consolidação de direitos territoriais e pelo reconhecimento da importância dos Povos Indígenas da Amazônia legal na conservação in situ da incomparável agrobiodiversidade contida nessa porção territorial graças ao uso imemorial desses recursos ao longo dos séculos e aos conhecimentos a esses associados.

Particularmente – no Brasil – buscamos uma interface, também, entre a recém-instituída Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais e a Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas (PNGATI), aprovada pela Presidência da República7.

7 Decreto no 7.747, de 5 de junho de 2012. Institui a PNGATI, e dá outras providências.

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Por fim, importa notar que, além de gerar uma série de outros resultados e produtos (além desta publicação eletrônica), também foram gerados outros resultados, como:

» Estímulo para a reflexão coletiva sobre as experiências em andamento e fomento a novas – especialmente pelas próprias organizações indígenas;

» Subsídios para a reflexão sobre a prática de “gestão” de territórios indígenas;

» Incorporação de visões nativas na implementação e avaliação desses e nesses processos;

» Coordenação do debate em torno de uma comunidade/fórum de prática e reflexão na web (em construção);

» Oferta de subsídios metodológicos e técnicos à implementação da PNGATI e do Projeto GATI (ex-GEF Indígena).

O Seminário contou com a participação de representantes do movimento indígena, da sociedade civil e de governos do Brasil, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Suriname, Guiana Inglesa e Guiana Francesa. (ANEXO I – Lista dos Participantes)

Metodologia

A metodologia utilizada durante o Seminário incorporou a presença de um facilitador, Carlos Aparecido Fernandes, que se responsabilizou pela condução de todo o processo metodológico para o alcance dos objetivos. Outros recursos foram utilizados durante o Seminário: o enfoque participativo como forma de propiciar o debate e a troca de experiência entre os diferentes participantes; a visualização como forma de permitir o registro visual das informações produzidas para e durante o Seminário; a problematização como mecanismo utilizado para estimular as discussões entre os participantes e a obtenção das ideias e conhecimentos necessários para pensar soluções; as apresentações como momentos que permitem conhecer e trocar informações e conhecimentos sobre o conteúdo abordado;

“ M a p e a M e n t o s p a r t i c i p a t i v o s e G e s t ã o d e t e r r i t ó r i o s i n d í G e n a s n a a M a z ô n i a”

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os grupos temáticos de trabalho com o objetivo de permitir um maior intercâmbio entre os participantes no processo de discussão e na construção de ideias que estimulassem os participantes, as plenárias, dedicadas aos momentos de aprofundamento das discussões, socialização das ideias e de novas construções coletivas. As plenárias foram os momentos em que o grupo tomou as decisões relativas aos encaminhamentos. A mesa-redonda como o momento para a realização de uma apreciação avaliativa do Seminário e a gravação para garantir o registro do conteúdo abordado e permitir a elaboração desse relatório e de outros documentos (ANEXO II – Programação).

Abertura dos Trabalhos

A abertura dos trabalhos foi realizada no Auditório da Biblioteca da Floresta. No início, o Sr. Josias Maná Kaxinawá fez um canto indígena Kaxinawá, de acolhida dos participantes do Seminário. Em seguida, o facilitador teceu algumas considerações sobre o contexto de realização do Seminário.

Foram destacadas as organizações parceiras na realização do evento, e de apoio e organização do Seminário.

Dando continuidade ao cerimonial de abertura, o facilitador convocou os integrantes da mesa de abertura: A Sra. Vera Olinda, da Comissão Pró-Índio do Acre; a Sra. Maria José Gontijo, Diretora Executiva do Instituto Internacional de Educação do Brasil; o representante da Associação do Movimento dos Agentes Agroflorestais Indígenas do Acre, Sr. José Yube, que desenvolve experiência de mapeamento participativo ao nível local; o Sr. Nicolás Betis, da Coordenação das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica; o Representante do Governo do Estado do Acre, Sr. Francisco Piyãko, da Assessoria Especial dos Povos Indígenas; e o Sr. Josias Maná Kaxinawá, representando os povos indígenas.

A palavra foi franqueada a todos os integrantes da mesa que indistintamente ressaltaram a importância do evento e a importância das discussões do tema. Foi destacado que o

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mapeamento participativo é um instrumento importante na luta pela garantia dos direitos dos povos indígenas. Destacaram ainda, o empenho e dedicação de todas as organizações envolvidas no processo de realização do evento.

Em seguida, o facilitador conduziu a apresentação das delegações dos países presentes na abertura. Os países foram anunciados e seus representantes acolhidos com uma salva de palmas.

Painéis de Apresentação e Feira de Experiências: Trocando Experiências de Mapeamentos Participativos e Gestão de Territórios Indígenas na Amazônia

No segundo dia, as atividades foram realizadas no Auditório da Usina de Artes “João Donato”, do Estado do Acre. Os trabalhos iniciaram-se com as boas-vindas a todos os participantes. Dando prosseguimento à agenda de trabalho, o facilitador apresentou os objetivos, a metodologia e a programação do Seminário.

Em seguida, o facilitador orientou os participantes sobre a condução dos painéis de apresentações orais de experiências. No primeiro dia, foram conduzidos três painéis e, no segundo, quatro painéis.

A seguir, temos uma breve descrição de cada experiência apresentada nos dois diferentes momentos do Seminário, as exposições orais e a feira de experiências. As exposições orais estão organizadas por ordem de apresentação8:

PAINEL 1 Coordenador Henyo Barretto (IEB)Experiência 01: Gestion des Territoires Autochtones Florencine Edouard e Renne Monerville (FOAG) – Guiana FrancesaExperiência 02: Experiências de Etnomapeamento nas Terras

8 O conteúdo das apresentações orais foi organizado a partir de um roteiro (ANEXO IV) previamente elaborado e encaminhado para as instituições pela organização do Seminário.

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Indígenas do Estado do Acre Josias Maná Kaxinawá (AMAAIAC) e José Frank de Melo Silva (CPI-Acre) – Rio Branco, AC – BrasilExperiência 03: Experiências de Etnozoneamento nas Terras Indígenas do Estado do Acre: A Experiência de Etnomapeaneto da Terra Indígena Igarapé do Caucho (SEMA/AC e AEPI): Francisco Pianco (AEPI) e Chagas Reinaldo – Rio Branco, AC – Brasil

PAINEL 2 Coordenador Marcelo Piedrafita Iglesias (AEPI) Experiência 04: Wai Wai management experience of Konachen Area (Organização Indígena Wai Wai de Konachen): Wachana Yayamochi – Guiana Inglesa Experiência 05: Etnomapeamento e Plano de Gestão Territorial e Ambiental das Terras Indígenas de Roraima (Conselho Indígena de Roraima - CIR): Sinéia do Vale, Marizete de Souza e Edinho Batista de Souza CIFCRSS) - Boa Vista, RR – BrasilExperiência 06: Etnomapeamento das Terras Indígenas Timbira/Plano de Gestão Territorial e Ambiental das Terras Indígenas Timbira (Associação Wyty-Catë das Comunidades Timbira do MA): Jonas Polino Sansão – Carolina, MA – Brasil

PAINEL 3 Coordenadora Vera Olinda (CPI-AC) Experiência 07: Experiencias de mapeo y zonificación en el territorio Waorani: Formación para el mapeo comunitario, SIG, guarda parques comunitarios, y técnicos en manejo de fauna - Camilo Huamoni Coba e Pablo Landívar Valverde (Nacionalidad Waorani del Ecuador/NAWE) – EquadorExperiência 08: Mapeo participativo para la gestión del territorio en la comunidad nativa Shipibo-Konibo Nuevo Saposoa - Dan Nixon Vasquez Cairuna (Federación de Comunidades Nativas de Ucayali y Afluentes/FECONAU) e Mario Leonardo Osorio Dominguez (Instituto del Bien Común/IBC) – PeruExperiência 09: Gestión Integrada de Territorios Indígenas: mapeo participativo en el territorio ancestral Cofán colombiano

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- Jeaned Maximiliano Chachinoy (Asociación de Autoridades Tradicionales Mesa Permanente de Trabajo por el Pueblo Cofán y Cabildos Indígenas del Valle del Guamuez y San Miguel) e Manuela Ruiz Reyes (WCS) – Colômbia

PAINEL 4 Coordenador Alexandre Goulart (IEB) Experiência 10: Atlas Baniwa Coripaco da Bacia do Içana (CABC – Coordenação de Associações Baniwa e Curipaco) - Daniel Benjamim (Rede de Escolas Indígenas Baniwa e Coripaco) e Juvêncio da Silva Cardoso (Conselho de Desenvolvimento Territorial de São Gabriel da Cachoeira). Amazonas, BrasilExperiência 11: Atlas dos Territórios Mebengokre, Panara e Tapajuna (Associação Ipren-re de Defesa do Povo Mebêngôkre) - Megaron Txucarramãe (FUNAI), Perankô Panará (Secretaria de Educação de Guarantã do Norte - MT) e Bengroi Tapajuna (Secretaria Estadual de Educação do Mato Grosso). Mato Grosso, BrasilExperiência 12: Cartografía Cultural en el Territorio de los Jaguares de Yuruparí con la organización indígena ACAIPI (Asociación de Capitanes y Autoridades Tradicionales Indígenas del río Pira Paraná) - Guillermo Kolver Rodríguez Neff (ACAIPI) e Nelson Ortiz (Fundación Gaia Amazonas) – Colômbia Experiência 13: Mebêngôkre nhõ pyka. Os mapas da nossa terra: experiências de cartografia participativa em Moikarakô (Terra Indígena Kayapo, Sul do Pará, Brasil - Bepunu Kayapó e Adriano Jerozolimski (Associação Floresta Protegida/AFP) e Pascale de Robert (Institut de Recherche pour le Développement/IRD e Museu Paraense Emilio Goeldi/MPEG) – Pará, Brasil

PAINEL 5 Coordenador Cloude de Souza Correia (IEB) Experiência 14: Autodemarcacion de los Territorios Indígenas Jodï y Eñepa, estados Amazonas y Bolívar, Venezuela - Alirio Juae Molo (Jodï Kayamá) e Eglee Lopez-Zent (Instituto Venezolano de

“ M a p e a M e n t o s p a r t i c i p a t i v o s e G e s t ã o d e t e r r i t ó r i o s i n d í G e n a s n a a M a z ô n i a”

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Investigaciones Indigenas/IVIC) – VenezuelaExperiência 15: Plano de Vida e Programa de Gestão Territorial e Ambiental dos Povos Indígenas do Oiapoque - Josinei Aniká dos Santos e Macinaldo Forte Filho (Associação Indígena Karipuna/AIKA) – Oiapoque – BrasilExperiência 16: Gestión Territorial Indígena en el Gran Paisaje de Conservación Madidi - Jesús Leal (Consejo Indígena del Pueblo Tacana/CIPTA), Juan Carlos Miranda (Consejo Regional Tsimane Mosetene/CRTM), Ángel Duran (Central Indígena del Pueblo Leco de Apolo/CIPLA) – Bolivia PAINEL 6 Coordenador Cloude de Souza Correia (IEB) Experiência 17: Mapeamento Cultural Participativo e Plano de 50 anos do Povo Paiter Suruí - Almir Narayamoga Suruí (Associação Metareilá do Povo Suruí) – Rondônia, BrasilExperiência 18: Experiências de Mapeamento da KLIM - George Awankaro e Loreen Jubitana (KLIM) – SurinameExperiência 19: O contexto Regional e as Estratégias de Gestão Territorial na Terra Indígena Wajãpi (APINA) - Kasiripina Waiãpi (Conselho das Aldeias Wajãpi/APINA) e Ângela Rangel (Iepé) – Amapá, Brasil

Com o encerramento das apresentações orais de experiências, os participantes seguiram para a sede do Centro de Formação dos Povos da Floresta da CPI- Acre, onde foi realizada a Feira de Experiências: Trocando Experiências de Mapeamentos Participativos e Gestão de Territórios Indígenas na Amazônia. Foram organizados pequenos stands por experiências onde as organizações expuseram seus banners com informações sobre suas iniciativas e os materiais por elas produzidos. Foi um momento bastante importante, em que os participantes puderam trocar informações, materiais e produtos relacionados aos conhecimentos acumulados pelos países representados no Seminário9.

9 Por não terem sido encaminhadas no tempo devido, algumas experiências estão ausentes deste relatório.

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Feira de experiências

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A cartografia Indígena como instrumento de gestão territorial e ambiental para as Terras Indígenas e seu entorno

Etnomapeamento Uma experiência de autoria no Acre, Brasil

Nos últimos 27 anos vários povos indígenas do Acre, através de projetos de ações educacionais desenvolvido pela Comissão Pró-Índio do Acre, vêm utilizando a Cartografia Indígena como um importante meio para a gestão de seus territórios, identificação da paisagem, a geografia, os recursos naturais e os conflitos socioambientais. A produção de mapas mentais e mapas tecnicamente precisos, gerados a partir desses projetos, incorporam o profundo conhecimento que os indígenas têm de seus espaços vividos e trabalhados, de suas terras indígenas e seu entorno.

Em 2004, as oficinas de Etnomapeamento em oito terras indígenas1 do estado do Acre, possibilitaram as discussões para estratégias de gestão resultando na elaboração de mapas temáticos e dos Planos de Gestão Territorial e Ambiental. Seu objetivo foi dar apoio aos processos comunitários de gestão territorial e ambiental em andamento nas Terras Indígenas do estado, localizadas na faixa de fronteira com o Peru, no Alto Juruá. Contemplados pela autoria indígena, os processos se desdobram cada vez mais nos dias de hoje, e são subsidiados com a utilização tanto de mapas mentais como de geotecnologias, utilizados por professores, agentes agroflorestais indígenas (AAFI) e suas comunidades, para reflexão sobre a gestão de seus territórios, deixando evidente a autonomia dos povos indígenas na consolidação de políticas públicas voltadas às ações de gestão territorial e

ambiental de suas terras indígenas. “Agora chegou o tempo pra discutirmos o que nós ainda fazemos para não acabar nossos recursos naturais, a madeira, caça, peixe (...) pensar não somente hoje, também para o futuro porque as populações estão aumentando. Durante a nossa formação trabalhamos com o mapa da aldeia e da terra indígena, o mapa mental, a cartografia e a geografia. Nós próprios AAFI realizamos mapas dos territórios e conhecendo o tamanho e o entorno com outros vizinhos. Isso ajuda muito nós das comunidades saber e entender a nossa área de recursos naturais” (Josias Mana, TI Kaxinawá do Rio Jordão. AAFI e Presidente da AMAAI-AC). Realização Parceria

1 Terras indígenas: TI Kaxinawá do Rio Jordão, TI Kaxinawá do Baixo Rio Jordão, TI Kaxinawá do Seringal Independência, TI Kaxinawá/Ahsaninka do Rio Breu, TI Nukini, TI Poyanawa e TI Kampa do Rio Amônia.

Plano de Gestão Territorial e Ambiental da Terra Indígena Kampa do Rio Amônea.

Arquivo: Comissão Pró-Índio do Acre. Arllindo Maia da TI Kaxinawá do Rio Jordão. XVI Curso de Formação de Agentes Agroflorestais Indígenas, 2010. Centro de Formação dos Povos da Floresta.

Arquivo: Comissão Pró-Índio do Acre. I Oficina de Etnomapeamento na TI Kampa do Rio Amônea, 2004.

Contatos: [email protected] Josias Mana – AMAAI-AC – Associação do Movimento dos Agentes Agroflorestais Indígenas do Acre [email protected] José Frankneile de Melo Silva – Comissão Pró-Índio do Acre. Fone: 68 3225 1952 Sites: www.cpiacre.org.br / www.amaaiac.org.br

Experiências

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Cartografia Timbira e gestão territorial e ambiental das Terras Indígenas Timbira

do Maranhão e Tocantins

Associação Wyty-Catë das Comunidades Timbira do Maranhão e Tocantins e Centro de Trabalho Indigenista.

Mapeamentos Participativos e Gestão dos Territórios Indígenas na Amazônia

Cartografia Timbira e Gestão Territorial e Ambiental das Terras Indígenas Timbira do Maranhão e Tocantins.

A partir de 2004, a metodologia de mapeamentos participativos foi adotada como prática pedagógica e fio condutor do Projeto Mentwajê Ambiental, um programa continuado do Centro de Trabalho Indigenista, em parceria com a Associação Wyty Cate, de formação de jovens Timbira em gestão territorial e ambiental. O objetivo do programa é formar jovens críticos da situação socioambiental de suas terras indígenas e áreas do entorno de modo a contribuírem na tomada de decisões relativas ao futuro e sustentabilidade de seus territórios.

Os mapeamentos participativos – enquanto um potencial instrumento de diagnóstico para a gestão territorial e ambiental – foram tratados nas oficinas de formação com base em um conteúdo programático que contemplou aspectos teóricos e práticos da ciência cartográfica, em diálogo com a cosmologia Timbira e os conhecimentos tradicionais associados aos territórios e meio ambiente.

Um conjunto de mapas temáticos foi elaborado pelos jovens pesquisadores Timbira, com o auxílio de um grupo de velhos conselheiros (mekãré), contendo informações sobre o uso dos recursos naturais, os impactos socioambientais do entorno, as relações culturais e de parentesco entre os povos Timbira, e as mudanças territoriais entre o antigo e atual “Paiz Timbira”. Em acréscimo, foram realizadas expedições de mapeamentos nas TIs Timbira, dando início ao processo de georreferenciamento dos dados cartográficos a serem agregados às informações mentais levantadas

nas oficinas de formação.

A produção dos mapas temáticos foi perpassada por discussões sobre a situação socioambiental das TIs Timbira, considerando o histórico do confinamento territorial, as frentes de expansão econômica, os projetos de desenvolvimento e infra estrutura, e as estratégias de uso e ocupação dos territórios. Tamanha reflexão foi sinalizando projetos de futuro e dando corpo à elaboração de um Plano de Gestão Territorial e Ambiental das Terras Indígenas Timbira, contendo um levantamento e sistematização dos principais problemas enfrentados por esses povos na atualidade e a discussão de possíveis soluções e caminhos para a resolução dos mesmos.

Cartografia Timbira e gestão territorial e ambiental das Terras Indígenas Timbira

do Maranhão e Tocantins

Associação Wyty-Catë das Comunidades Timbira do Maranhão e Tocantins e Centro de Trabalho Indigenista.

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NA. W.E.NACIONALIDAD WAORANI DEL ECUADOR

CODENPO: Quito DM a. 25 de junho de 2009 Ofício N 297-2009

PROJETO GESTÃO INTEGRADA DE TERRITÓRIOS INDÍGENAS: experiências de mapeamento e zoneamento do território waorani: Formação para o mapeamento comunitário, SIG, guardas florestais comunitários e técnicos na gestão da fauna.

O Projeto Gestão Integrada de Territórios Indígenas GITI é executado, desde 2007, por meio de um convênio entre o WTC e a Nacionalidade Waorani do Equador. O território waorani encontra-se localizado em três províncias amazônicas: Orellana, Napo e Pastaza e cobre aproximadamente 800.000 hectares, mas tem certas particularidades importantes como o Parque Nacional Yasuní e a Zona Intangível.

Objetivos do Projeto:

• Consolidar o território waorani.• Apoiar a construção de capacidades institucionais, técnicas e administrativas para que a Nacionalidade Waorani do Equador – NAWE possa gerir o seu território de forma eficaz.• Promover a sustentabilidade de iniciativas de conservação e do desenvolvimento do território waorani.• Acrescentar um sistema de controle e vigilância do território waorani por meio de atividades planejadas com a equipe técnica waorani.

As atividades do projeto permitem consolidar um grupo de jovens waorani para apoiar o desenvolvimento delas. Atualmente o projeto trabalha com: 1 coordenador waorani, 10 guardas florestais, 2 biólogos, 1 ajudante, 1 geógrafo. O zoneamento das comunidades responde a uma demanda de seus dirigentes à organização (NAWE) para que a equipe do projeto realize o trabalho de campo.

O mapeamento permite:

• Gerar informação especial de chacras, caminhos de caça, lugares de interesse comunitário, rios, lugares de ameaça e quebradas. • Gerar e determinar os limites ancestrais da comunidade.• Recompilar, revisar e gerar os nomes (toponímia) na linguagem waorani, o Wao Tededo, dos córregos e rios próximos à comunidade.• Obter mapas analógicos e digitais do mapeamento comunitário.• Realizar uma socialização e apresentação dos resultados do mapeamento.

Esses insumos gerados permitem acionar dentro do território uma iniciativa liderada pelo Ministério do Ambiente do Equador – o Programa Parceiro Bosque – o qual entrega recursos econômicos em troca da conservação e gestão dos bosques primários. Além disso, as comunidades da nacionalidade devem estabelecer programas/atividades que fortaleçam a comunidade de maneira organizada e demonstrem com soluções as necessidades de sistemas de água, melhorias de postos de saúde comunitários e construção de guaritas nas zonas de conservação.

CALLE SEVERO VARGAS Y TUNGURAHUATelefone. 593-(03) 2886-148 – 2886-933E-mail: [email protected] O – PASTAZA – EQUADOR

Mapa: Mapeamentos das Comunidades WAORANISLegenda: Área Total Território - Área Total Parque Nacional Yasuni - Comunidades Mapeadas

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Mapeamento participativo para a gestão do território da comunidade nativa Shipibo-Konibo Nuevo Saposoa

A experiência do mapeamento participativo foi realizada na comunidade nativa shipibo-konibo “Nuevo Saposoa”, localizada no distrito de Callería, província Coronel Portillo, região Ucayali, Peru (74°38’W; 8°0’S). O Instituto do bem Comum (IBC) em parceria com a Federação de Comunidades Nativas de Ucayali e Afluentes (FECONAU) realizaram esta iniciativa com o objetivo de proporcionar à comunidade uma ferramenta de gestão do território que lhe permita fazer um diagnóstico participativo do território e da sua dinâmica, identificando o uso do espaço e dos recursos naturais, assim como as ameaças e conflitos presentes. Da mesma maneira, o mapa proporciona um apoio para a análise e debate das iniciativas e ações que a comunidade decida empregar por meio de acordos estabelecidos em planos de ação para a gestão do território.

Em um primeiro momento, dirigentes e promotores indígenas das comunidades foram capacitados em cartografia básica e manipulação de

GPS, para fortalecer o programa de Territórios e Recursos Naturais da FECONAU. Posteriormente, foi realizado o trabalho de mapeamento na comunidade facilitado por técnicos indígenas Shipibo-Konibo do IBC, dirigentes da FECONAU e o promotor indígena da comunidade. A informação recolhida foi sistematizada e processada utilizando um software SIG com o apoio técnico do IBC. O mapa produzido foi utilizado nas assembleias onde se debate sobre a gestão do território.

O mapeamento participativo contribuiu para a conscientização dos membros da comunidade sobre a situação do seu território e a necessidade de realizar ações da maneira organizada, para ter maior controle sobre o território e aproveitar suas potencialidades para o desenvolvimento da comunidade. Desta forma, foram identificadas áreas de interesse para a conservação e manejo dos recursos, foi dado apoio à vigilância do território para evitar invasões e poder contar, também, com maior suporte para as demandas de títulos de posse perante o governo em áreas solicitadas para a ampliação do território comunal. Espera-se que o uso desta ferramenta se consolide com o tempo.

Contato: Mario Osorio Dominguez

Instituto do Bem Comum.e-mail: [email protected]

Contato: Dan Vásquez Cairuna Comunidade nativa Nuevo Saposoa.

e-mail: [email protected]

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ASSOCIAÇÃO DE AUTORIDADES TRADICIONAIS MESA PERMANENTE DE TRABALHO DO POVO COFÁN E CONSELHOS

INDÍGENAS DO VALLE DEL GUAMUEZ E SAN MIGUEL

NIT 846000514-3

GESTÃO INTEGRADA DE TERRITÓRIOS INDÍGENAS:MAPEAMENTO PARTICIPATIVO NO TERRITÓRIO ANCESTRAL COFÁN COLOMBIANO

O processo de Gestão Integrada do Território e Mapeamento do Território Cofán Colombiano surge como uma necessidade exposta no PLANO DE VIDA DO POVO COFÁN E CONSELHOS INDÍGENAS DO VALLE DEL GUAMUEZ E SAN MIGUEL, e está imersa em um dos sete componentes do Plano Estratégico de nossa organização. A MESA PERMANENTE está constituída por cinco nacionalidades indígenas (Cofán, Awá, Kichwa, Embera-Chami e Nasa) e dezesseis comunidades localizadas ao sul da Colômbia, nas margens dos Rios San Miguel, Guamuez e Putumayo. A sede das organizações encontra-se no município Valle del Guamuez (La Hormiga), departamento do Putumayo.

Uma das prioridades do planejamento é a recuperação territorial do ponto de vista de abrigos, para ao qual foi constituída uma equipe técnica com representantes de cada povo indígena que compõe a organização. A equipe está se preparando tecnicamente para o manuseio de ferramentas tais como GPS, bússola, software de interpretação para a elaboração de mapas e sistemas de informação geográfica. A equipe recebeu cursos teóricos e práticos no campo e, dessa forma, foi se criando o componente de SIG da organização. Na questão cultural, vem trabalhando no autorreconhecimento do território e na sua delimitação. Foram elaborados mapas das reservas indígenas Cofanes de Yarinal, Santa Rosa del Guamuez, Santa Rosa de Sucumbíos e Afilador e da maioria dos abrigos.

A realização dos mapas das reservas indígenas é necessária devido a fato de que estas áreas estão sendo invadidas pela colonização e ainda não obtiveram os títulos de propriedade como forma de proteção às comunidades. Além disso, para as comunidades que não tem seus respetivos abrigos, busca-se obter documentação e informação veraz para adiantar um processo de saneamento territorial frente ao Instituto Colombiano de Desenvolvimento Rural (INCODER). Paralelamente, recebe-se capacitação em Direitos Territoriais, Jurisdição e Legislação Indígena. Esses exercícios permitem avançar no sentido do empoderamento e da Autonomia.

Várias dificuldades surgiram, como por exemplo, a sobreposição de limites territoriais entre comunidades (indígenas e não indígenas), a falta de equipamentos, a transformação da paisagem, a dificuldade de acesso por condições topográficas e a ocupação de terras por estrangeiros. O processo tem contado com o apoio da WCS desde 2009 e se caraterizado, especialmente, pelo acompanhamento por parte das Autoridades Tradicionais (idosos) como orientadores do conhecimento e da sabedoria ancestral em todo nosso processo.

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Page 41: Gestão de territórios indígenas na amazônia 2010

Atlas das Terras Indígenas Mẽbêngôkre, Panará e TapajúnaO Atlas das Terras Indígenas Mẽbêngôkre, Panará e Tapajúna é o resultado de uma grande jornada que começou em 2002, durante os módulos de Geografia e de Meio Ambiente e Território, disciplinas ministradas pela professora Márcia Spyer, na 7a Etapa do Curso de Formação de Professores Indígenas Mẽbêngôkre, Panará e Tapajúna, organizado pela Associação Ipren-re, em parceria com a FUNAI e o MEC.

Antes de partir para a produção, os cursistas se aprofundaram no estudo da cartografia: a linguagem dos mapas, seus títulos, legendas, escalas, orientação, e tudo que se pode representar em vários tipos e possibilidades de mapas temáticos.

A segunda etapa do trabalho foi o momento de pesquisar nas aldeias, com os mais velhos e de trabalhar com a participação da comunidade. Os especialistas localizaram nos mapas os locais das aldeias antigas, caminhos, recursos e outros locais importantes, gravaram relatos que demarcam o território físico e cultural, contaram a história da ocupação do território, o contato com os não índios e a demarcação das suas terras. Essas gravações foram transcritas e traduzidas pelos professores indígenas e revisadas com a assessoria das linguistas do Programa de Formação.

O Atlas passou a ser um projeto coletivo dos professores, da equipe do Programa de Formação e das comunidades, que decidiram mostrar com detalhes e precisão seus territórios, matas, rios, recursos e sua história para suas crianças e jovens. Além disso, este livro também mostra aos não-índios o conhecimento que as comunidades têm de seus territórios, e a importância dessas Terras para sobrevivência socioeconômica e cultural destes povos, contradizendo o senso comum. Mostra ainda como essas terras são fundamentais para a preservação do meio natural e tenta contribuir com uma versão mais ampla e rica da história das regiões do Mato Grosso e do Pará.

Complementando o material produzido pelos professores e especialistas, a equipe do Programa decidiu utilizar imagens do satélite Landsat, fornecidas pelo SIPAM, no Atlas. A associação dos mapas temáticos às imagens de satélite aponta para a possibilidade de congregação de conhecimentos tradicionais indígenas com os não-indígenas e para a possibilidade de levar às escolas indígenas uma nova tecnologia e uma nova forma de representação espacial, que inicialmente aprenderão a ler e, posteriormente, a manipular. Durante o trabalho de produção, alguns professores indígenas vivenciaram isso, ao participar da inserção das informações históricas de ocupação do território indicadas pelos especialistas nas cartas imagens e ao constatar a exatidão dessas informações.

Muito além dos seus objetivos iniciais de cobrir a lacuna de materiais didáticos específicos para o ensino sobre a história e territorialidade indígena nas próprias escolas indígenas; de sistematizar o Atlas das Terras Indígenas Mẽbêngôkre, Panará e Tapajúna tem sido utilizado como um instrumento de defesa, fiscalização e manejo de seus territórios não apenas pelos pesquisadores e estudantes indígenas, mas também por suas lideranças políticas e tradicionais.

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Seguindo os Registros Históricos do Nosso TerritórioA recuperação e gestão do conhecimento que nos foi deixado pelos nossos ancestrais para cuidar do Território e da Vida. ACAIPI – FGA

A Associação de Autoridades Tradicionais Indígenas do Rio Pirá Paraná (ACAIPI) congrega um total de 17 comunidades e malocas vizinhas. Tem uma população aproximada de 2000 habitantes pertencentes às etnias Barasana (~ hadera, yeba ~ basa ~ itada, ria ~ tuda); Eduria; Makuna (ide ~ basa), Bará (wai ~ basa), Tatuyo (~ sida), entre outras. Na região do Pirá são faladas sete línguas diferentes que pertencem à família linguística Tukano Oriental, ou seja, compartilham a mesma estrutura linguística, têm sistemas fonológicos semelhantes e lexicais cognatos.

Em 2002, as comunidades indígenas do Rio Pirá Pará, no departamento de Vaupés, na Amazônia Colombiana, iniciaram com o apoio da Fundação Gaia Amazonas, a construção de um plano de gestão socioambiental – PMA – para a área de sua jurisdição, que corresponde à bacia hidrográfica desse rio. A princípio foi feito o diagnóstico das problemáticas existentes no território e foram definidos os objetivos e as estratégias pertinentes para abordá-las. De acordo com a perspectiva indígena, o PMA foi interpretado como “a recuperação e gestão do Conhecimento que nos foi deixado pelos nossos ancestrais para cuidar do território e da vida”.

A estratégia do trabalho de campo consistiu na formação de grupos de pesquisa de jovens e líderes, que por meio da orientação dos saberes tradicionais registraram com detalhes a informação cultural sobre o manejo do “meio ambiente”: traçaram os mapas de seus territórios, recursos e lugares sagrados, examinaram a forma e o significado da sua arquitetura tradicional, reconstruíram, a partir da tradição oral, os mitos da criação, o percurso de seus ancestrais desde o Delta do Amazonas até os territórios que hoje habitam e estudaram o calendário de suas estações. Estes resultados permitiram o reestabelecimento de mecanismos tradicionais de gestão ambiental, além da consolidação sociocultural e política da Associação.

Da mesma forma, permitiu que crianças e jovens de fora dos grupos de estudo formados entendessem e valorizassem todo o acervo cultural do manejo tradicional do território, como uma forma de encontro entre o ponto de vista dos jovens e a maneira tradicional de ver o território por parte da sabedoria tradicional.

O exercício de formular um PMA baseado nos próprios sistemas de regulação propiciou a definição e implementação participativa de novos e pertinentes modelos de educação, saúde e governabilidade. Os resultados dos estudos estruturam e alimentam o novo currículo escolar, guiam o programa de saúde e sustentam o Plano de Manejo Ambiental, três campos integrados que formam uma só entidade: “Para nós, falar de gestão ambiental é um assunto integral, nele está tudo. Nós não diferenciamos muito: falar de saúde é falar de educação, falar de conhecimento ambiental é falar de educação, saúde é a boa administração da região, o manejo sustentável dos recursos”.

A experiência apresentada no Seminário Mapeamentos Participativos e Gestão Territorial Indígena, realizado em Rio Branco, faz referência, principalmente, à experiência adquirida entre a FGA e os habitantes do Rio Pirá Paraná no processo de revitalização cultural, gestão territorial, manejo ambiental e a construção da governabilidade na região.

Mapa: Territórios Ancestrais das Etnias do Rio Pirá ParanáUnidades de Síntese para o Manejo AmbientalCasa Sagrada de Origem das Etnias: Centro do Território Ancestral das Etnias:Fontes: Hidrografia IGACPesquisa ACAIPI 2006Mapa criado dentro do Plano de Manejo Ambiental de ACAIPI

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Autodemarcando a terra e a vida: territorialidade e mapeamento dos povos indígenas Jodi e Eñepá, Amazônia Venezuelana

Indígenas Jodi e Eñepá das comunidades de Kayamá, Caño Iguana, Alto Mosquito e Alto Cuchivero com a colaboração de Stanford e Egleé Zent do Laboratório Ecologia Humana, Instituto Venezuelano de Pesquisas Científicas.

Jodi e Eñepa são grupos indígenas da Amazônia venezuelana de diferentes afiliações linguísticas, que ocupam territórios contíguos nos estados Amazonas e Bolívar, no sul da Venezuela. Estimulados pela nova Constituição (1999) e pela Lei de Demarcação de Terras Indígenas (2001), membros de ambos os grupos decidiram elaborar por conta própria os mapas dos limites dos seus territórios, com a finalidade de solicitar ao Estado venezuelano os títulos de propriedade coletiva das terras que foram ocupadas por seus ancestrais. Para o projeto, solicitaram a assessoria de pessoas conhecidas, iniciando, assim, o mapeamento de suas terras em setembro de 2001, quando foi traçado um plano de trabalho. Cerca de 700 indígenas participaram do mapeamento territorial (crianças, adolescentes e adultos de ambos os sexos). As comunidades decidiram que as informações a ser incorporadas ao mapeamento seriam as seguintes: limites territoriais, assentamentos, conucos (pequenas parcelas de terras destinadas ao cultivo), recursos naturais, lugares sagrados, áreas ancestrais, topografia, toponímia local, histórias familiares e de mobilidade, padrões de resistência e exploração, tradições orais sobre as relações entre as pessoas e a terra, percepções etnográficas e lei consuetudinária, que respeita a propriedade e o uso da terra.

O treinamento e a transferência de tecnologia foram realizados durante 15 viagens feitas pelos assessores às comunidades florestais e consistiu em: aprendizado do uso do GPS, da computação (Windows, Word, Excel e ArcView) para o registro de dados de campo georreferenciais, processamento de dados, transcrição das tradições orais e elaboração dos mapas. A tudo isso foi somada a elaboração consensual dos alfabetos vernáculos.

O mapeamento iniciou-se com a elaboração de mapas culturais que serviram como suporte da mnemotécnica para o georreferenciamento dos mapas digitais, e foi sucedido pelo uso da tecnologia (registro das coordenadas geográficas GPS, ArcView, entrevistas digitalizadas e etc).

Foi um processo minucioso onde se materializou a territorialidade Jodi e Eñepá. Os indígenas anotaram mais de 8.000 pontos do GPS, contabilizaram cerca de 90 histórias de vida e mobilidade e registraram diversos mitos e ethos associados à terra. Muitos jovens se apropriaram da tecnologia e consolidaram a sua própria nação étnica.

Os mapas e registros escritos foram finalmente entregues ao Estado venezuelano em julho de 2006, estando até a presente data (setembro de 2011) sem receber uma resposta ou um título de propriedade territorial. Foram feitas cinco reuniões com agentes do Estado (2001, 2002, 2006, 2007, 2010) e duas reuniões estratégicas com as comunidades (2008, 2010), mas continuam sem desistir e solicitando que seja concedido o direito constitucional do título de posse das terras indígenas.

Os mapas construídos comunitariamente mostraram ser muito mais do que um instrumento útil para se ter acesso à propriedade e a títulos de posse da terra na luta pela preservação cultural e biológica de suas vidas. O processo de elaboração dos mapas Jodi e Eñepá foi muito valioso em vários níveis, além do sucesso esperado em obter um produto final para possuir e ter autonomia sobre a terra:

1. Elaborar um mapa, longe de ser um produto abstrato, se traduz na apropriação e resgate de valores e ethos culturais, na espacialização do tempo por meio da recriação e documentação de narrativas, histórias e sentido de pertencimento.

2. Os mapas Jodi e Eñepá instaram a materialização da construção de fronteiras e noções étnicas e a incorporação de alteridades no espaço de maneira substancial. Evidenciaram a força da mistificação da divisão entre o natural e o cultural, instando a entender o espaço como o lugar onde se desenvolve a vida e se integram as esferas separadas apenas conceitual, e não pragmaticamente.

3. Foi promovida a condição de preservação e continuidade das tradições orais de práticas e crenças culturais sobre os aspectos relacionados à posse de terras (registros escritos e gravações das histórias orais contadas por membros adultos dos dois grupos, revisando elementos de sua definição cultural, refletida por meio de um único ethos).

4. A propriedade consuetudinária da terra foi legitimada pelos povos Jodi e Eñepá mediante um esforço sustentado, comunitário e intenso, no qual participaram membros de ambos os sexos e de todas as idades, que culminará em títulos de propriedade irrefutáveis e indefectíveis.

Mapas: 1. Autodemarcação do habitat do povo Jodi, setor Norte, Estado Bolívar, Venezuela. 2. Autodemarcação da comunidade Eñepá de San José de Kayaná, Estado Bolívar, Venezuela.

Quadros:

Jodi 1. População: < 1.000 habitantes, aproximadamente 25 assentamentos. 2. Habitat principal: bosques altos, submontana ou interfluviais. 3. Padrão de assentamento: pequeno, disperso, semi-nômade, acampamentos freqüentes. 4. Economia de subsistência: ênfase primária na caça e coleta, secundária na agricultura e pesca.

Eñepa 1. População: < 4.000 habitantes, aproximadamente 40 comunidades. 2. Habitat principal: ecótono, savana e bosque. 3. Padrão de assentamento: pequeno, disperso, semissedentário, acampamento sazonal. 4. Economia de subsistência: ênfase primária na agricultura e secundária na caça, coleta e pesca.

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Contactos:Alirio Juae Molo - juae_200@hotmail - 58-0424-9170898Lucas Juae Molo - [email protected] - 58-426-6956612Simón Tyamara Mepe Chonoko - 58-416-5904484Stanford Zent - [email protected] - 58-212-5041048Egleé L. Zent - [email protected] - 58-416-9334763Eñepa a Agustín ChonokóSawin - 58 - 0412-8784192

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Gestão Territorial Indígena na Terra Comunitária de Origem Takana I.Jesús Leal, Presidente do Conselho Indígena do Povo Takana.

A Terra Comunitária de Origem Takana está localizada no norte amazônico boliviano, no Departamento de La Paz, fronteiriço e parcialmente sobreposto ao Parque Nacional e Área Natural de Manejo Integrado Madidi.

Em 1997, demandamos ao Estado uma superfície de 769.000 hectares. Espaço que, de acordo com a legislação nacional, foi submetido a um processo de saneamento, que resultou na identificação de mais de 600 propriedades particulares, em uma área de 206.000 hectares, além de cinco concessões florestais em 204.000 ha. A superfície restante, de 389.303 hectares nos foi concedida às margens de uma pequena parte do território de nossos ancestrais, ficando ainda pendentes de títulos de propriedade 16.361 hectares. As restrições ao uso tradicional do espaço e dos recursos naturais trouxeram grandes desafios para a definição das estratégias de segurança jurídica e desenvolvimento que trarão melhorias às condições de vida. A Estratégia de Desenvolvimento Sustentável da TCO Takana, com base na gestão dos recursos naturais de 2001 a 2005, orientou o caminho que decidimos seguir para conservar e gerir o nosso território, recursos naturais e cultura. A proposta é um modelo de planejamento estratégico e espacial que abarca conceitualmente a gestão de territórios por meio de uma perspectiva cultural e de uma visão de complementariedade com as jurisdições municipais e departamentais. Como tal, inclui um zoneamento que foi realizado com duas finalidades: por um lado, facilitar a Identificação de Necessidades Territoriais, procedimentos previstos na lei INRA, para sustentar superfícies de terra a serem reconhecidas; por outro lado, organizar o nosso próprio uso do espaço durante o difícil processo de saneamento. O zoneamento também contribui para a resolução de conflitos com os outros setores sociais. Com base nos resultados do zoneamento, foi feito também um micro zoneamento em cada uma das 20 comunidades. Os resultados, na qualidade de Planos de Ordenamento Predial, foram apresentados e se encontram em processo de aprovação pela Autoridade de Bosques e Terras.

A partir da nossa definição de desenvolvimento sustentável construímos os nossos princípios e critérios de sustentabilidade social, econômica e ambiental para a execução de projetos de desenvolvimento baseados na gestão dos recursos naturais. Apoiados nesses princípios, desenvolvemos um Regulamento de Uso e Acesso aos Recursos Naturais Renováveis, que integra as regulações definidas em nível de comunidade, e um fundo competitivo para que anualmente nossas comunidades possam apresentar ideias de projetos. O objetivo final é fazer com que os empreendimentos econômicos se convertam em empresas comunitárias dentro do marco de uma legislação especial que leve em consideração as características dos sistemas organizacionais comunitários. Entre os principais feitos da nossa gestão territorial se encontram: a obtenção do título de propriedade de uma parte do nosso território, a demarcação física de 252 quilômetros do nosso território nas zonas mais conflitivas, a realização de ações, ainda que não muito sistemáticas, de controle e vigilância, que resultaram em uma notável diferença nos índices de desmatamento dentro da TCO, em comparação com as zonas circundantes, de quase 400% (dados não publicados WCS 2011). O desenvolvimento de mecanismos de controle social e transparência nas transações financeiras, através do estabelecimento de um sistema de controle cruzado entre os níveis hierárquicos da organização, que inclui, entre outros, a prestação de contas em assembleias e audiências públicas.

O ordenamento das relações de trabalho com as instituições e organizações que apoiam a gestão territorial. O desenvolvimento de um setor técnico e administrativo que inclui a capacidade de gestão da informação geográfica como ferramenta fundamental na continuidade da gestão territorial, da conservação da biodiversidade e do uso de recursos naturais. Até a presente data, o CIPTA vem apoiando em torno de 20 empreendimentos econômicos das comunidades-membro de nossa organização. Entre os grandes desafios futuros da nossa organização e do nosso

povo estão a sustentabilidade financeira, o desenvolvimento de um novo instrumento de planejamento que incorpore as comunidades que se encontram tanto na TCO I, como na TCO II, localizada sobre os Rios Madre de Dios e Madidi, além do desenvolvimento das nossas capacidades de monitoramento integral da gestão territorial e dos grandes projetos de desenvolvimento e de seus potenciais impactos sobre o nosso território, nossa vida e nossa cultura.

Mapa: Legenda - TCO Takana I, Áreas protegidasDepartamentos da Bolívia Informação cartográfica: Projeção: Universal Transversal MercatorZona: 19 SulContatos: Jesús Leal, Presidente - Conselho Indígena do Povo Takana

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Page 48: Gestão de territórios indígenas na amazônia 2010

Gestão Compartilhada da Reserva da Biosfera e Território Indígena Pilón Lajas.Juan Carlos Miranda, técnico do Convênio CRTM-WCS.

A RBTCO Pilón Lajas, que tem um superfície total de 386.000 hectares, está localizada entre as províncias Sud Yungas e Franz Tamayo, no departamento de La Paz, e a província General José Ballivián, no departamento de Beni, na Bolívia. Pilón Lajas foi declarado como Reserva da Biosfera em 1977 pela UNESCO, e em 9 de abril de 1992, como resultado da marcha dos povos indígenas das terras baixas, denominada pela Dignidade e Território, realizada em 1990, foi criado o Território Indígena e Reserva da Biosfera Pilón Lajas, mediante o Decreto Supremo nº. 23110, com o propósito de reconhecer os direitos das comunidades nativas Mosetene e Tsimane, que estão assentadas nesse território, e preservar a biodiversidade e a integridade genética da flora e da fauna. Cinco anos depois da sua criação, em 25 de abril de 1997, dentro da Lei do Instituto Nacional de Reforma Agrária (INRA), Pilón Lajas foi intitulada como Terra Comunitária de Origem (TCO), sujeita a saneamento para as comunidades Tsimane e Mosetene, representados no Conselho Regional Tsimane Mosetene (CRTM); e, finalmente, em 14 de janeiro de 2008, como resultado do saneamento territorial realizado pelo INRA, o CRTM recebeu o Título de Propriedade TCO-NAL-000185 de um total de 336.126,561 hectares.

A declaração de áreas protegidas é compatível com a ocupação e o uso da terra e de seus recursos por parte dos povos indígenas assentados ancestralmente. Esses direitos estão reconhecidos na Constituição Política do Estado; as leis 3760 e 1257 que referendam a declaração das Nações Indígenas sobre o Direito dos Povos Indígenas e o convênio 169 da OIT, respectivamente; a Lei 1715 do Instituto de Reforma Agrária, a Lei 1551 de Participação Popular, a Lei 1333 de Meio Ambiente, o Regulamento Geral de Áreas Protegidas e a Lei 2771 de Agrupamento de Cidadãos e Povos Indígenas. Nesse contexto, a CRTM tem uma parceria de gestão compartilhada com o Serviço Nacional de Áreas Protegidas da Bolívia para a administração desta zona desde 2010. Este acordo foi possível graças a recondução do processo de atualização do Plano de Gestão e Plano de Vida da RBTCO Pilón Lajas, com a liderança do CRTM e do SERNAP, e com o apoio da Conservação Internacional e da Wildlife Conservation Society. Essa recondução gerou um espaço de aprovação do planejamento, avanços e propostas da Assembleia de Corregedores, a designação de 3 técnicos indígenas dentro da equipe do núcleo de planejamento, o respeito à visão territorial indígena e a formação de uma equipe indígena de revisão da Proposta de Plano de Vida e Plano de Gestão.

Resultados positivos: a aplicação deste instrumento resultou positivamente na construção de escolas em 14 comunidades, na formatação do currículo escolar indígena, em vários projetos de gestão dos recursos naturais, no estabelecimento de um programa de controle e vigilância fortalecido pela participação

comunitária, no projeto de um programa de monitoramento com participação social e na elaboração de regulamentos de gestão dos recursos naturais. Esses resultados foram reconhecidos em 2010, com a concessão do Prêmio Ecuatorial ao CRTM.

Como desafio para o futuro estão a sustentabilidade financeira, a incorporação e resposta a cenários de riscos ambientais e climáticos e a resposta a novos cenários de construção de estradas e desenvolvimento energético.

Contato: Juan Carlos MirandaTécnico local CRTM-WCSResponsável pela Continuidade e Apoio in loco aos Planos de Trabalho da WCS com Parceiros Locais.

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Page 49: Gestão de territórios indígenas na amazônia 2010

Plano de Vida do Povo Leco de ApoloAngel Duran, Técnico Indígena, Central Indígena do Povo Leco de Apolo (CIPLA).

O povo Leco de Apolo está localizado no município de Apolo, na província Franz Tamayo, no departamento de La Paz, Bolívia. É uma zona de grande importância para a conservação da biodiversidade; fronteiriça e sobreposta ao Parque Nacional e Área Natural de Gestão Integrada Madidi. Com a finalidade de assegurar seu território tradicional, o povo indígena Leco de Apolo, por meio da sua organização matriz, a Central Indígena do Povo Leco de Apolo (CIPLA), apresentou uma demanda territorial. Até a presente data, obtiveram a posse do polígono 1, em uma superfície de 238.162,059 hectares, ficando pendente o saneamento dos polígonos 2 e 3, que totalizam uma superfície de 190.088,907 hectares. A maior parte do polígono 1, concedido em favor da TCO Leco de Apolo se sobrepõe ao PNANMI Madidi (97%), além de uma sobreposição parcial à Área Natural de Gestão Integrada Apolobomba, setor que ainda se encontra em processo de saneamento.

No início do ano de 2007, a Central Indígena do Povo Leco de Apolo (CIPLA) assinou um convênio de cooperação técnica com a Wildlife Conservation Society (WCS) e outros convênios com a CI e Biocultura para a elaboração do Plano de Vida, processo que se desenvolveu entre fevereiro de 2007 e novembro de 2009. O Plano de Vida, ou Wesra Leco Chajlasin, é um documento que percorre todas as preocupações e postulações do povo Leco de Apolo e que contém a sua visão de desenvolvimento, gestão do território e fortalecimento institucional, baseado em princípios éticos e valores culturais que sustentam as ações da organização. O Plano de Vida tem como proposta desenvolver estratégias direcionadas para compatibilizar os objetivos de conservação com os de desenvolvimento, consolidando o território, revalorizando a cultura do povo Leco e promovendo a sua participação ativa e responsável no desenvolvimento das capacidades, no aproveitamento sustentável dos recursos e na geração de novas opções econômicas que contribuam para a melhoria da qualidade de vida da população. O processo de planejamento e execução do Plano de Vida se enquadra na normativa vigente no país. Normativa essa que é resultado da luta histórica do movimento indígena, que conseguiu incorporar na nova Constituição Política do Estado e na legislação e institucionalidade boliviana, o reconhecimento dos seus direitos indígenas territoriais, econômicos, sociais e culturais.

A partir da formulação e aprovação do Plano de Vida, a CIPLA alcançou importantes avanços, como a conciliação com o Serviço Nacional de Áreas Protegidas, com o PN e a ANMI Madidi e seus respectivos zoneamentos, gerando um instrumento único e combinado de gestão territorial, da mesma forma que foram definidas as diretrizes para impulsionar uma estratégia de proteção territorial conjunta e, finalmente, um modelo para promover a gestão compartilhada da área de sobreposição. A partir do Plano de Vida, a CIPLA ajustou também o seu Estatuto Orgânico e o Regulamento Interno, com base nos quais está sendo construído também um Regulamento Geral que deve orientar o acesso,

o aproveitamento e a distribuição e benefícios dos recursos naturais do território. Foram definidos os manuais e regulamentos administrativos que orientam a gestão administrativa e financeira da organização em termos de eficiência, eficácia e economia. O principal desafio da CIPLA é promover alternativas produtivas para o viver bem, dentro das prioridades e potencialidades identificadas no Plano de Vida. Para o Plano foi desenvolvida, apresentada e iniciada a execução de diversas propostas de gestão dos recursos naturais, como o incenso, o gado, o café a água e etc.

Contato: Angel Duran. Técnico Indígena em Gestão Territorial, Central Indígena do Povo Leco de Apolo.

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Page 50: Gestão de territórios indígenas na amazônia 2010

MAPEAMENTO E PLANO DE GESTÃO DE 50 ANOS DO POVO PAITER SURUI DE RONDÔNIA

Almir Narayamoga Surui1– Associação Metareilá do Povo Indígena Surui

INTRODUÇÃO. O povo Paiter, autodenominação que significa “Gente de Verdade”, falam o tupi monde e são conhecidos como Surui de Rondônia, com uma população de 1.350 pessoas vivem na Terra Indígena Sete de Setembro que possui 247.880 hectares demarcados e homologados conforme o Decreto 88.867 de 18 de outubro de 1983, distribuídos nos seguintes municípios Cacoal, Espigão d´Oeste(RO) e Rondolândia (MT). Organizados em quatro clãs Gameb (marimbondos pretos), Gamir (marimbondos amarelos), Makor (taboca) e Kaban (mirindiba, uma fruta regional azeda). São patrilinear e praticam a poligamia. Os primeiros contatos com a FUNAI – Fundação Nacional do Indio ocorreram no dia 07 de Setembro de 1969, e a demarcação do território em 1976, ficando parte do território indígena fora da área demarcada. Sofreram perda da população que nos dois primeiros anos do contato, passou de aproximadamente 5.000 para 250 pessoas vitimas de doenças como gripe, tuberculose, sarampo e pneumonia. Outro fator que contribuiu para a diminuição da população foram os contratos com madeireiras realizados pelos funcionários da FUNAI que iniciaram a venda ilegal de madeira no território indígena, envolvendo alguns lideres nesta atividade. Como os Paiter não entendiam a língua portuguesa e desconheciam os códigos legais da sociedade brasileira, consideravam ser esta atividade algo normal para os “brancos”. PLANEJANDO O TERRITÓRIO. Os danos ambientais e culturais sofridos pelos Paiter fizeram com que este povo resolvesse mudar esta situação para salvar suas vidas. Em 1998 decidem desenvolver pesquisas que garantissem a continuidade da diversidade biológica, cultural e o desenvolvimento econômico sustentável. Em 2000 realizam em todo o território com o apoio do Ministério do Meio Ambiente-MMA, Amigos da Terra Suécia e Kanindé o Diagnóstico Agroambiental Participativo e o Plano de Gestão da Terra Indígena, que traz o planejamento de ações para os próximos 50 anos. Para garantir a preservação do conhecimento indígena, em 2010 desenvolvem com o apoio da Kanindé o etnozoneamento e com a ACT Brasil em 2005 o mapeamento cultural de seu território, que contaram com recursos financeiros da USAID. Os resultados mais importantes são que conseguiram retirar os madeireiros da terra indígenas, desenvolvem projetos de REDD+, proteção ambiental, reflorestamento, manejo de café e banana, artesanato, inclusão digital, feiras culturais,diversos cursos de formação e capacitação e retomada de rituais importantes para valorizar a cultura. O Plano de Gestão traz Programas que envolvem educação, saúde, economia, cultura, meio ambiente, transporte, via de acesso, entre outros que melhoram a aplicação das políticas publicas na terra indígena. Vale salientar que não é fácil planejar um território indígena, as principais dificuldades foram fazer os gestores públicos e não indígenas entenderem que queríamos juntar a ciência indígena com a pesquisa cientifica e convencer o Governo Brasileiro a dar dinheiro para o desenvolvimento das pesquisas. Outra dificuldade é conseguir as autorizações da FUNAI para a entrada de pesquisadores, isto trouxe atraso e quase que perdemos os recursos dados pelo MMA. Ffora o fato que o pessoal da FUNAI não tinha nenhum preparo para entender a importância do mapeamento, etnozoneamento e do Plano de Gestão. Atualmente a dificuldade é fazer a FUNAI inserir em seus planejamentos o Plano de Gestão da Terra Indígena.O mapeamento e o etnozoneamento foram publicados e distribuídos para o povo Paiter e nas escolas de Rondônia.

RESUMO: O artigo tratar do desenvolvimento do diagnóstico agroambiental participativo, mapeamento cultural, etnozoneamento e Plano de Gestão de 50 anos da Terra Indígena Sete de Setembro, do povo Paiter Surui de Rondônia, realizado pela Associação Metareilá do Povo Indígena Surui, em parceria com a Kanindé – Associação de Defesa Etnoambiental e a ACT Brasil, com o apoio financeiro do Ministério do Meio Ambiente,Amigos da Terra da Suecia e USAID, e contou com a participação do povo Paiter Surui de Rondônia em todo o território indígena.

Contato: Almir Narayamoga Surui– Associação Metareilá do Povo Indígena http://www.metareila.org.br E-mail: [email protected]

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Page 51: Gestão de territórios indígenas na amazônia 2010

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Parque Nacional Parque Nacional Montanhas do TumucumaqueMontanhas do Tumucumaque

Floresta EstadualFloresta Estadualdo Amapádo Amapá

AssentamentoAssentamentoPerimetral NortePerimetral Norte

Reserva Reserva Extrativista Beija-Flor Extrativista Beija-Flor

Brilho de FogoBrilho de Fogo

Reserva de Desenvolvimento Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio IratapuruSustentável do Rio Iratapuru

Floresta EstadualFloresta Estadualdo Parudo Paru

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TERRA INDÍGENA WAJÃPI

®0 5 10 15 202,5

km

Sistema de Coordenadas GeográficasDatum WGS 84

Áreas Protegidas

Assentamento Perimetral Norte

Floresta Estadual do Amapá

Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque

Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Iratapuru

Hidrografia

Rodovia BR-210 (Perimetral Norte)

18/Fevereiro/2010

Reserva de Desenvolvimento Sustentável Beija-Flor Brilho de Fogo

# Posto

# Aldeia

X Missão

A Marcos Demarcatórios

Terra Indígena Wajãpi

Floresta Estadual do Parú

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Belém

Macapá

AMAPÁ

PARÁ

GuianaFrancesa

Suriname

Fontes: IBGE, GEA

Apoio:Parceria:Realização:

Contexto regional e estratégias de gestão territorial na Terra

Indígena Wajãpi - Amapá

Os Wajãpi, falantes de uma língua Tupi-Guarani, vivem em ambos lados da

fronteira entre Brasil e Guiana Francesa. Ali, 1100 pessoas vivem em 7

aldeias inseridas no Parc Amazonien de Guyane/PAG. No lado amapaense, a

população de cerca de 1.000 pessoas se distribui entre 49 pequenas aldeias.

A regularização da TI, que sofreu várias tentativas de redução ao longo dos

anos 80, levou mais de 16 anos. A TI foi demarcada com intensa participação

dos Wajãpi, no âmbito de um projeto pioneiro de parceria entre a

GTZ/FUNAI/CTI. O Conselho das Aldeias nasceu nesse contexto de

organização dos trabalhos da demarcação, em 1994. Em 1996, a TI foi

homologada com 607.000 ha. Desde a década de 80, os Wajãpi enfrentam

invasões de pequenos grupos de garimpeiros, que até o momento sempre

conseguiram expulsar. Na década de 90, começaram a sofrer o impacto da

colonização ao longo da Perimetral Norte, que continua se adensando até

hoje. Tanto a invasão de garimpeiros como a pressão dos assentamentos na

faixa leste da TI exigem uma vigilância permanente e a adoção de estratégias

adequadas e envolvendo toda a comunidade Wajãpi.

A experiência acumulada ao longo dos últimos 15 anos pelos Wajãpi se

apóia nas seguintes três estratégias principais:

1. Dispersão das aldeias, favorecendo a qualidade de vida das famílias que

circulam entre várias roças e aldeias, bem como facilitando a fiscalização

permanente dos limites. Essa estratégia foi apoiada pelo PPTAL / Funai

entre 2001 e 2002 e depois por um projeto do PDPI/MMA concluído em

2005. Os projetos viabilizaram expedições de fiscalização, instalação de novas aldeias nos limites, oficinas de mecânica e

formação em gestão política e territorial. Ao longo dos últimos anos, apesar da tendência de algumas famílias se concentrar na

beira da estrada que atravessa a TI, a estratégia de dispersão e circulação intensa entre roças e aldeias continua mobilizando a

maior parte das famílias Wajãpi. Após a conclusão dos projetos do PPTAL e PDPI, os Wajãpi criaram vários fundos com

contribuições próprias para viabilizar as expedições de vigilância; também foi criado

um fundo para fazer manutenção dos equipamentos usados na vigilância.

2. Construção de um programa de atividades em parceria com a equipe do Parque

Nacional das Montanhas do Tumucumaque /ICMbio, para a vigilância conjunta da TI

e do Parque. Essas ações se ampliaram recentemente através da aproximação com

comunidades vizinhas, especialmente os castanheiros da RDS Iratapuru. A intensa

participação dos Wajãpi no planejamento de uma gestão compartilhada do conjunto de

áreas protegidas na região oeste do Amapá e norte do Pará foi fundamental para o

sucesso do Projeto desenvolvido pelo Iepé com apoio do FNMA/MMA. No momento,

a colaboração entre os índios, comunidades vizinhas e a equipe do Parque – todos

interessados em manter a floresta em pé – é decisiva para consolidar a proposta de

criação de uma faixa compartilhada no limite leste da TI, onde o INCRA está

ampliando um assentamento e prevê a instalação de colonos até o limite da TI. Com

seus parceiros, o Apina propõe a criação de uma zona de proteção, que possa ser

explorada de forma sustentável tanto pelos colonos como pelos Wajãpi.

3. Consolidação das práticas de gestão ambiental desenvolvidas tradicionalmente pelos Wajãpi, através de um processo de

reflexão coletiva acerca do valor dessas práticas e sua importância para o bem estar da atual e futuras gerações. Nesse contexto,

foi realizado um levantamento detalhado de todas as matérias primas utilizadas para a confecção de artefatos e de artesanato

comercial, para avaliar sua disponibilidade em todas as regiões da TI; também foi feito um minucioso levantamento de caça. Esses

levantamentos, complementados por outras atividades de sistematização da atual situação da TI, embasam agora o processo de

discussão de um plano de gestão territorial. Com apoio de um projeto do PDPI/MMA iniciado em 2011, a turma de pesquisadores

indígenas, bem como chefes de aldeia e lideranças mais jovens, estão discutindo modos de implantar “uma lei ambiental wajãpi”

que possa garantir a sustentabilidade dos recursos naturais e contribuir com a segurança alimentar em todas as aldeias. Alcançar

acordos viáveis entre todas as aldeias e famílias da TI – considerando as inevitáveis dissensões de caráter político - é um desafio

importante para a atual diretoria do Apina, que trabalha em colaboração com as lideranças da recém criada Associação Wajãpi

Terra, Ambiente e Cultura – AWATAC.

www.apina.org.br - [email protected] – 55 96 3224 2113 ou 8136 0201

Jawaruwa Wajãpi: presidente - Ângela Rangel: assessora

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Page 53: Gestão de territórios indígenas na amazônia 2010

Seminário Gestão Territorial Indígena: Experiência da

Terra Indígena Apurinã do Km 45

Mapeamento das trilhas, subsidiando o

plano de manejo

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Page 54: Gestão de territórios indígenas na amazônia 2010

O processo atual de fortalecimento da gestão territorial indígena, o debate socioambiental que o acompanha e o marco de política

pública ensaiado pela PNGATI significam mais do que sintomas de uma fase ‘pós-demarcatória’ para as TI´s. As sociedades

indígenas amazônicas, na sua permanente abertura aos diversos desdobramentos do mundo, querem debater sua própria posição na

rede de transformações socioeconômicas, ambientais e políticas que redefinem as paisagens da Amazônia. Não é suficiente garantir a

integridade do território: no quadro atual, ocorre reconfigurar os seus entornos e, fundamentalmente, garantir a própria viabilidade das

populações indígenas nas suas terras.

Os povos Katukina do Biá, Deni do Xeruã e Paumari do rio Tapauá, no estado do Amazonas, participaram, com diversas

velocidades, e com apoio de entidades parcerias, numa corrente de metodologias, práticas e modelagens socioambientais situadas em

torno da denominada ‘gestão territorial indígena’, apoiando uma articulação onde se cruzam o protagonismo político dos povos

indígenas e das suas organizações, a sua interação com as políticas públicas, o debate global sobre conservação da biodiversidade e

mudança do clima, as demandas de geração de renda e as transformações nas economias indígenas. O desafio maior está no diálogo

inovador entre os saberes e manejos ‘tradicionais’ e a reinvenção de práticas de gestão do território, de maneira que seja fortalecida a

autonomia indígena e seja efetivamente projetado o papel destes povos no futuro das florestas. Trata-se de modelar o cruzamento de

olhares: o olhar indígena, que desde sua sociocosmologia constrói suas relações com os outros seres, através de mecanismos

xamânicos, rituais, simbólicos, e através de comportamentos de produção de corpos e pessoas; e o olhar socioambiental, que trata de

responder aos problemas da conservação da Amazônia, da sustentabilidade das suas populações e aos desafios levantados pelo esforço

global de mitigação e adaptação.

É uma iniciativa da OPAN em parceria com Visão Mundial, desenvolvida entre 2008 e 2011 Contou com o apoio da Agência dos

Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID). Os dois objetivos principais do programa foram: a) o apoio à

conservação da biodiversidade e ao manejo de recursos naturais nas terras indígenas Katukina do Biá, Deni, Paumari do Rio

Cuniuá, Paumari do Lago Paricá e Paumari do Lago Manissuã; b) o fortalecimento das organizações indígenas de base,

organizações locais e organizações regionais. Há uma componente desenvolvida em parceria com a Coordenação de Índios Isolados

e de Recente Contato (FUNAI/ CGIIRC), de proteção etnoambiental dos povos indígenas Hi Merimã e Suruaha, no marco da Frente

Purus de Proteção Etno-ambiental.

Junto a estas iniciativas locais – construídos no espaço e tempo das aldeias indígenas – foi promovido um processo amplo, em escala

regional, junto às organizações indígenas das regiões de Jutaí e do Médio Purus. Em Jutaí, o COPIJU (Conselho dos Povos

Indígenas de Jutaí) elaborou a partir de encontros entre representantes de todas as etnias regionais, o Plano de Vida do Movimento

Indígena em Jutaí. Este Plano de Vida visa construir e incorporar ferramentas para o melhor diálogo do movimento indígena com a

sociedade, governo, instituições públicas e com as comunidades na busca pela qualidade de vida e reafirmação dos direitos indígenas.

A COPIJU é a organização indígena regional articulada pelas etnias Kokama, Kambeba, Mayoruna, Tikuna, Katukina, Kulina e

Kanamari do município de Jutaí. A Federação das Organizações Indígenas do Médio Purus (FOCIMP) também produziu seu

Plano de Vida do Movimento Indígena do Médio Purus, traçando pautas para agir coletivamente nas suas interações com os órgãos

governamentais e identificar soluções perante os desafios das suas economias, das questões de proteção territorial, saúde, educação e

da consolidação da organização indígena em escala regional, na bacia do rio Purus, num amplo mosaico de etnias: apurinã, paumari,

jarawara, jamamadi, mamori, deni, suruaha, kanamanti, kamadeni, banawa, hi merimã, katawixi e kaxarari.

As experiências paumari, deni e katukina apontam avanços concretos, nos contextos específicos das regiões dos interflúvios Purus –

Juruá – Jutaí para a efetiva construção da política brasileira de gestão territorial indígena. Os povos indígenas estão construindo suas

próprias soluções perante os dilemas de gestão que eles enfrentam atualmente nas suas terras, apontando pistas para uma nova

economia florestal desde as suas próprias visões do mundo. Os planos de gestão traçam um itinerário para que o governo e os

parceiros dos povos indígenas colaborem mais decididamente com as próprias agendas indígenas.

Os Planos de Gestão Territorial Paumari, Deni e

Katukina são resultado de um itinerário de três anos, que

desenvolveu diagnósticos e avaliações ecológicas

participativas, etnomapeamentos e etnozoneamentos, como

ferramentas para apoiar a discussão e identificação de

alternativas para a melhoria na gestão participativa dos

recursos naturais, das aldeias e da vida coletiva de um

modo geral. Para isso, os Paumari, os Deni e os Katukina

contaram com a parceria do Projeto Aldeias – Conservação

na Amazônia Indígena. O Projeto Aldeias se desenvolveu

em 7 terras indígenas do estado do Amazonas, nas bacias

dos rios Purus, Juruá e Jutaí.

O S e m i n á r i O i n t e r n a c i O n a l

S e m i n á r i O i n t e r n a c i O n a l54

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PROJETO CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE DAS TERRAS INDÍGENAS DO PARÁ

Conservação da Biodiversidade das Terras Indígenas do Pará

METODOLOGIA

AÇÕES DO PROJETO

“ M a p e a M e n t o s p a r t i c i p a t i v o s e G e s t ã o d e t e r r i t ó r i o s i n d í G e n a s n a a M a z ô n i a”

M a p e a M e n t o s p a r t i c i p a t i v o s e G e s t ã o d e t e r r i t ó r i o s i n d í G e n a s n a a M a z ô n i a 55

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Parcerias

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Mapeamento do Espaço Histórico Cultural dos Povos Wampis e Awajun

Região: AmazonasBacia: Rio SantiagoPovos Indígenas: Wampis e AwajunLat: 4° 00’Lon: 77° 45’Organizações Indígenas:• FECOHRSA• OPIWAK• FECAS

ANTECEDENTESO projeto surgiu como uma iniciativa local por parte da área de Educação, em coordenação conjunta com o conselho de visionários Wampis e Awajun.Foi executado por meio de um convênio interinstitucional com a área de Educação, as Organizações de base, com a assistência técnica de IBC e financiamento da UNICEF.

OBJETIVOS PRINCIPAIS1. A longo prazo: documentar sua história e cultura com a finalidade de reafirmar sua identidade como povos indígenas.2. A médio prazo: produção de materiais para a educação sobre a história, geografia, cosmologia e visão do próprio espaço.3. A curto prazo: pesquisar a história, a história oral, a cosmologia e a visão geográfica por meio do mapeamento do seu espaço histórico-cultural.

METODOLOGIA1. Foi baseado na fortalecimento de capacidades, com uma abordagem de aprender fazendo.2. A equipe técnica local foi capacitada para realizar o trabalho de mapeamento participativo com os Povos Wampis e Awajun.

FORMAÇÃO DA EQUIPE TÉCNICA LOCAL (ver anexo 01)1. 5 jovens, 3 Wampis e 2 Awajun de ambos os sexos.2. 2 especialistas em língua e cultura de ambos os povos3. Equipe de visionários Tarimat – Tajimat Pújut.4. Organizações de base5. Equipe técnica do IBC6. Equipe UNICEF

CAPACITAÇÃO DA EQUIPE LOCAL (ver anexo 02)1. Em aspectos conceituais e metodológicos para o registro da informação.2. Na manipulação de equipamentos de informática.3. No ingresso à base de dados e sistematização da informação.4. Nos aspectos de georreferenciamento e no uso de ferramentas SIG.

LIÇÕES APRENDIDAS1. Amplo conhecimento que têm os Povos Wampis e Awajun sobre o seu território e o seu entorno natural.2. O conhecimento vai se perdendo de geração em geração.3. Ajuda para resguardar e transmitir este conhecimento a futuras gerações.4. Ferramenta para elaborar a partir dessas lições o material educativo para as atuais e futuras gerações.PRODUTOS (ver anexo 03)1. Base de dados em Wampis, Awajun e Castelhano dos elementos mapeados.2. Camadas de informação (Shapefile) para cada tipo de elemento mapeado.3. Mapas para as instituições educativas e as organizações.

RELAÇÕES DA EXPERIÊNCIA COM POLÍTICAS PÚBLICASA realização do mapeamento evidencia a necessidade de articular tal experiência com as políticas e processos de ordenamento territorial sob a responsabilidade dos governos regionais e locais, fortalecendo a capacidade das organizações indígenas para participar desses processos.

DIFICULDADESEmbora o processo de mapeamento tenha sido realizado com sucesso, este abrange apenas 35% do território ancestral dos Povos Wampis e Awajun. Existe o consenso e o interesse dos próprios atores sobre a necessidade desse mapeamento ser ampliado a todo o território ancestral, ficando o desafio em fazê-lo juntamente com a dificuldade da falta de orçamento.CONCLUSÕESO projeto foi executado com sucesso, alcançando os resultados esperados e proporcionando a obtenção de dados sobre os produtos pesquisados, contribuindo na recuperação e valorização do conhecimento dos Povos Wampis e Awajun sobre o seu espaço histórico- cultural e fortalecendo a capacidade dos seus recursos humanos locais para pesquisar e registrar estas informações.

RECOMENDAÇÕESElaborar um material educativo pertinente com base na informação gerada pelo projeto.Dar continuidade ao processo de mapeamento iniciado dentro das comunidades Wampis – Awajun do Rio Santiago e ampliar o mapeamento para todo o território ancestral desses povos, com base nos acordos alcançados.Articular a experiência do mapeamento com os processos em andamento de zoneamento ecológico e econômico. Ordenar a questão territorial sob a responsabilidade dos governos locais, promovendo a participação das organizações de base e outros atores envolvidos no processo.

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Madre Tierra (mãe terra) – Conhecimento para a Vida.Elaboração dos planos de gestão ambiental dos territórios de 5 povos indígenas de acordo com os conhecimentos tradicionais de cada um deles.

Diretor-geral: Indígena KamentsáAdministrador de EmpresasPablo Hernán Jamioy JuajibioyMSs Gestão Ambientale-mail: [email protected]: 310 3200735Localização: Departamento de Putumayo – Colômbia

Razão de ser: os territórios dos povos indígenas são a base fundamental da reprodução das sociedades nativas da América e estão situados em zonas ecologicamente importantes para a biosfera. Estão ameaçados pelos efeitos das mudanças climáticas, que alteram as dinâmicas dos ecossistemas, gerando problemas tais como o desaparecimento de espécies devido a secas ou inundações, riscos de desastres naturais, diminuição do número de animais para a caça e frutas para a coleta e o esgotamento de materiais para a construção de moradias. Esses e outros são os problemas que devem ser resolvidos nas comunidades.

Objetivo: estruturar cinco planos de gestão ambiental baseados no conhecimento tradicional dos povos indígenas. Atingem uma área de 207.000 hectares (na maioria bosques nativos); delimitar as zonas de conservação dos bosques e as espécies de flora e fauna, áreas de moradia, lugares de acesso a caça e pesca, coleta e cultivos tradicionais e lugares sagrados para os rituais de cada povo.

Elaboração participativa

Cartografia social

Inovação: está centrada no uso de ferramentas técnicas de Sistemas de Informação Geográfica (SIG), Ecologia e Biologia, juntamente com o conhecimento tradicional dos povos indígenas sobre seus territórios. A ideia é assegurar e fortalecer tais práticas, e ao mesmo tempo, gerar ferramentas de gestão das comunidades para projetá-las ao futuro em constante diálogo e alianças com atores externos, protegendo seus ecossistemas e garantindo uma oferta adequada de bens e serviços ambientais para os indígenas e para o planeta.

Digitalização

Desenvolvimento: durante o desenvolvimento das atividades do projeto foram realizadas sessões espirituais orientadas por médicos tradicionais para fundamentar o ordenamento ancestral dos territórios, desde as origens dos povos Kamentsá, Siona, Kofán, Ingá e Murui; apoio fundamental na estruturação da cartografia social e definição de categorias de gestão baseadas no conhecimento ancestral que se tem sobre os territórios. Além de realizar oficinas nas comunidades em que foram coletadas as informações, foram feitos percursos de georreferenciamento dos territórios e dos lugares sagrados importantes para a sobrevivência cultural. Em resumo, o trabalho de campo se apóia na análise de coberturas vegetais e uso do solo baseados na análise das imagens de satélites, para que finalmente possamos ter um zoneamento que combina as categorias próprias de gestão; estas se fundamentam nas normas próprias originárias de cada povo indígena e são representadas espacialmente para servir como ferramenta de gestão territorial, uma vez que a gestão serve de base para a formulação de estratégias, de conservação e de aproveitamento dos bens e serviços ambientais dos territórios indígenas.

Georreferenciamento em campo e alimentação do SIG.

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Elaboraciòn Participativa

Cartografía social

Digitalización

Georreferenciaciòn en campo

y alimentaciòn de SIG

Se centra en la conjugación de herramientas técnicas de Sistemas de Información Geográfica (SIG), Ecología y Biología con el conocimiento tradicional que tienen los pueblos indígenas sobre sus territorios. La idea es afianzar y fortalecer dichas prácticas y, a la par, generar herramientas de gestión de las comunidades para proyectarse hacia el futuro en constante diálogo y concertación con actores externos, protegiendo sus ecosistemas y garantizando una oferta adecuada de bienes y servicios ambientales para ellos y para el planeta.

Innovación

Desarrollo

Construcción de mapas parlantes en Territorio Inga

En el desarrollo de las actividades del proyecto se han realizado sesiones espirituales orientadas por médicos tradicionales para fundamentar desde los principios de origen de los pueblos Kamentsa, Siona, Kofan, Inga y Murui, el ordenamiento ancestral de sus territorios; apoyo fundamental en la estructuración de la cartografía social y definición de categorías de ordenamiento basadas en el conocimiento ancestral que se tiene sobre sus territorios. Además de realizar talleres en las comunidades en los que se recoge la información, se realizan recorridos de geo referenciación de sus territorios y de lugares sagrados importantes para la pervivencia cultural. En conjunto, el trabajo de campo se respalda con el análisis de coberturas vegetales y uso del suelo basados en análisis de imágenes satelitales para que finalmente podamos tener una zonificación que conjuga categorías propias de ordenamiento, estas se fundamentan en las normas propias de origen de cada pueblo indígena y se representan espacialmente, para servir como herramienta en la gestión territorial, puesto que ésto sirve de base en la formulación de estrategias, de conservación y aprovechamiento de los bienes y servicios ambientales de los territorios indígenas.

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Feira de experiências

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No terceiro dia da agenda, foram formados oito grupos de trabalho (GTs) que trataram de temáticas abordadas durante o seminário, em particular, a partir das apresentações orais das experiências. Para cada tema, foram definidos conteúdos básicos e perguntas orientadoras. Os grupos foram conduzidos por facilitadores, que se responsabilizaram pela moderação dos debates. Um apresentador foi escolhido entre os participantes para relatar em plenária os resultados produzidos pelos grupos.

Destacamos, na tabela a seguir, os temas trabalhados pelos grupos, o conteúdo abordado e as respectivas perguntas orientadoras:

Grupos de Trabalho sobre temas relacionados aos Mapeamentos Participativos e à Gestão de Territórios Indígenas na Amazônia

Feira de experiências

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GRUPO TEMA CONTEÚDO PERGUNTA ORIENTADORA PARTICIPANTES

Grupo 01 MAPEAR E GERIR TERRITÓRIOS: POR QUE, POR QUEM E PARA QUÊ/M, HOJE?

Trata-se de discutir as razões e motivações que têm levado os povos indígenas e organizações parceiras a se engajarem em iniciativas de mapeamentos e de gestão de territórios indígenas na Amazônia, nos últimos 20 anos.

- Qual(is) a(s) origem(ns) dessas iniciativas?- Por que é importante mapear territórios?- Aonde esperamos que isso vá nos levar?

Grupo 02 POLÍTICAS PÚBLICAS

Trata-se de debater a relação entre essas iniciativas e os ambientes institucionais (leis e órgãos/políticas públicas) nas quais as iniciativas de mapeamento participativo e gestão territorial ocorrem, ou seja, à medida que elas influenciam e/ou são incorporadas em/por políticas públicas.

- Nas áreas em que processos de mapeamento participativo e de gestão territorial indígena ocorrem, conquistaram-se políticas públicas que incorporam e são influenciadas por tais iniciativas?- É importante caminhar para a institucionalização de políticas públicas que reconheçam e incorporem essas práticas?- Qual seria a relação desejável entre ambas?

Isa Tapuia, Juan Negret ScalaFrancisco das ChagasJurandir TenharimPedroMario OsórioAngel DuranPablo LandivarIara VascoKatrin MargraffNey MacielMassimiliano LombardoGabriel PedrazzaniDomingos ParitintinNilcélio JahuiHenyo Barretto 

Grupo 03 FORMAÇÃO A relação entre a produção e a circulação de etnomapas, e os processos pedagógicos e práticas e processos de formação formais e informais específicos (etnogeografia, percepções sobre o espaço, conhecimentos ecológicos tradicionais).

- Em que medida a elaboração de etnomapas se relaciona (e como) à (re)produção de conhecimentos entre os povos indígenas em diferentes ambientes (formais e informais)? - A gestão é uma experiência em educação?

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GRUPO TEMA CONTEÚDO PERGUNTA ORIENTADORA PARTICIPANTES

Grupo 04 QUESTÕES TRANSFRONTEI-RIÇAS

Os desafios da gestão integrada, participativa e compartilhada de territórios e espaços especialmente protegidos transfronteiriços na Amazônia.

- Há características específicas que se impõem para a gestão de territórios indígenas em fronteiras nacionais? - Quais as oportunidades e os desafios para a gestão integrada, participativa e compartilhada de territórios indígenas transfronteiriços? - Queremos avançar na constituição de espaços regionais transfronteiriços?

José Pimenta – UnB (facilitador)Maximiliano (Cofan) Michael – Amazonlink José Paulo (Kaxinawá) Amauri (Manxineru)Malu – CPI-AcreCarolina Comandulli – FUNAIKomayari (Ashaninka)Mario – IBC.

Grupo 05 MANEJO E CONSERVAÇÃO DE PAISAGENS

Casos de mapeamento de paisagens e seus recursos como instrumentos do processo de elaboração de planos/formas de manejo. O emprego de mapeamentos participativos como instrumentos de planejamento do manejo e da conservação de recursos naturais relevantes aos povos indígenas em seus territórios.

- Em que medida os mapeamentos são necessários para a gestão territorial? - Os etnomapas e planos de gestão têm se mostrado efetivos para o manejo da paisagem nos territórios indígenas? - É possível reconhecer e demonstrar correlações positivas entre uns e outros?

Facilitadores: Renata Alves e Nelson OrtizFrancisco de Oliveira Souza, Apurinã Boca do Acre – ASAMIA José Mateus Kaxinawá – Itsairu, Kaxinawá do Rio Jordão – OPIAC Maria Beatriz – INPA, AFP Bep Ngy Kayapó, Aldeia Aúkre, AFP Marina Pessoa, CGMT/FUNAI Juan Carlos Miranda – Bolivia, CRTMCamilo Huamoni – Equador ,Organização Nawe Pascale de Robert– IRD, Museu Goeldi Macinaldo Forte Filho – Oiapoque, Karipuna Adriano Jerozolimski - AFP.

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GRUPO TEMA CONTEÚDO PERGUNTA ORIENTADORA PARTICIPANTES

Grupo 06 PRESSÕES E AMEAÇAS ÀS TERRAS INDÍGENAS

O uso de etnomapas e outras formas de representação do espaço na identificação, no diagnóstico e na resistência às pressões e ameaças aos territórios indígenas na Amazônia.

- A circulação e a publicização de etnomapas têm contribuído de algum modo para frear pressões e ameaças aos territórios indígenas?- Etnomapas e planos de gestão/vida são suficientes para resistir a tais pressões? - Em que medida tais pressões inviabilizam iniciativas autônomas de gestão territorial pelos povos indígenas?

Roberto (Ecuador), Guillermo (Colombia), Simón (Venezuela) , Igor, Luana, Zezinho, Cloude, Raquel, Jonas, Edinho, Almir, Txai Terri, Alfredo, Henri, Víctor, Joaquín (Brasil), Egleé (Venezuela).

Grupo 07 PRINCÍPIOS NA RELAÇÃO COM OS CONHECIMENTOS TRADICIONAIS

Além dos recursos naturais também a geografia mítica e histórica - ocupações ancestrais. O modo como os indígenas e suas organizações parceiras lidam com dilemas da publicação e da circulação dos etnomapas e outros resultados de suas iniciativas nesse campo, na medida em que estes incorporam conhecimentos tradicionais que também são protegidos.

- Como tem se dado a relação entre pesquisadores, organizações parceiras e povos indígenas na condução das iniciativas de mapeamentos participativos e gestão de territórios indígenas? - Quais os princípios que devem orientar os processos de mapeamentos participativos e de gestão de territórios indígenas?

Pablo, Geronimo, Daniel, Josinei, Strabeli, Miguel, Valdir, Silas, Juliet, Pollyana.

Grupo 08 DIREITOS INDÍGENAS AO TERRITÓRIO

A relação entre as ferramentas de mapeamentos participativos e de gestão de territórios indígenas e o reconhecimento dos direitos territoriais indígenas.

- Qual a relevância dos mapeamentos participativos para a afirmação dos direitos indígenas ao território?

José, Zé Bajaga Apurinã, Cecilia Apalai, Megaron Kayapó, Ermeto Tuesta, Chico Apurinã, Irajá Pataxó, Juvêncio Cardoso, Sahieda Joemratie, Wuta Wajimnu, Wachanna, Andrew Demetro, Osmildo Silva, Francisco Godinho, Claudia Kahwage, Manuela Ruiz.

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Na manhã do quarto dia, os participantes continuaram a visita na feira, para aprofundar a troca de experiência. Dando prosseguimento na agenda de trabalho, o facilitador orientou os participantes sobre a condução dos trabalhos em grupo. Para estimular as discussões, Alfredo Wagner Berno de Almeida, antropólogo brasileiro, da Universidade Federal do Amazonas, e coordenador do Projeto Novas Cartografias Sociais, fez um balanço das apresentações orais de experiências. Destacou as principais temáticas e conteúdos abordados e a riqueza de informações trazidas pelos apresentadores na discussão sobre o mapeamento participativo e a gestão de territórios indígenas.

Após a exposição do antropólogo brasileiro, o facilitador passou a palavra ao Sr. Nicolás Betis, vice-coordenador da Coordenação das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica – COICA, que abordou os temas relacionados ao planejamento estratégico da organização para os anos de 2010-2013, em que tratam de questões relacionadas à gestão ambiental e territorial de terras indígenas nos países que integram a entidade.10

O quinto e último dia do Seminário iniciou-se com a retomada dos grupos para a conclusão dos trabalhos. Com o término, o facilitador conduziu a plenária de apresentação dos resultados e debates.

Registramos a seguir os resultados dos trabalhos apresentados:

GRUPO 1 - TEMA: Mapear e gerir territórios: por que, por quem, para quem? Perguntas OrientadorasQual a origem dessas iniciativas?

DEbATE » A visão cosmológica indígena antes do contato já incluía

o mapeamento de seu território (mapas mentais), incluindo diversos planos (áreas sagradas, bacias hidrográficas, vizinhos tradicionais e uso de recursos). No pós-contato,

10 Para um aprofundamento do conteúdo abordado, consulte-se o ANEXO III.

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surgiu a necessidade de se localizar espacialmente por meio de mapas, não só no território tradicional e seu entorno, mas também em escalas maiores (regional, nacional, global).

» Diferentes cosmovisões: mapa como produto cartesiano versus expressão de visão cíclica e aparentemente desordenada.

Mapas: para quem? Por que é importante mapear territórios? Aonde esperamos que isso vá nos levar?

DEbATE » O mapa pode ajudar a garantir o conhecimento, a posse e

o uso de nosso território. Assim, o mapa é uma ferramenta que faz parte de um processo histórico, social e político, ajudando a fortalecer a identidade indígena e a pensar coletivamente sobre a gestão do território (temática e transversal);

» Mapa também é símbolo, para não índios e índios, que precisam saber respeitá-lo;

» Mapa não é estratégia. Estratégico é o que se faz com ele, pois mapas são componentes de um processo maior. Mapa não tem vida própria, o que é vivo está dentro de nós, que usamos mapas. O ponto central é a visão de gestão (plano de vida);

» Mapa ajuda a recuperar a dignidade dos povos indígenas e sua memória social e cultural (ex. Yanesha);

» Resgate de valores: unidade, identidade, pensamento coletivo, autonomia;

» Mapa é um meio de prever o futuro (plano de vida), indicando caminhos para cuidar de sítios sagrados, manejar os recursos naturais conforme a natureza permita (ex. Ashanika) e de relacionar-se com os vizinhos indígenas (inclusive para suas formas de organização política) e não indígenas. Serve para subsidiar políticas públicas e tratar de

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conflitos, em diferentes escalas (local, regional, nacional e internacional);

» Mapeamento pode ser feito por etapas, sendo detalhado gradativamente (densidade de informações e área de abrangência), iniciando-se pelas áreas ancestrais e passando por um mapeamento moral (valores que estão se perdendo);

» “O mundo mudou muito, precisamos registrar o conhecimento para poder transmiti-lo para as novas gerações”;

» Nem todas as informações precisam estar documentadas, cabendo o seu aprofundamento aos visionários de cada povo (viagens físicas, mentais, espirituais). O mapa é da comunidade, que pode decidir o que será de uso interno e o que será mostrado para fora;

» O mapa serve também para que os não índios (governos, agências externas e entorno) reconheçam o valor dos indígenas (respeito, visibilidade). Nesse sentido, o mapa também é um instrumento de diálogo (participação) e negociação;

» Por enquanto, o mapa precisa ser feito em colaboração entre indígenas e não indígenas, pois poucos indígenas detêm o domínio tecnológico para construir mapas. Soma de saber, interculturalidade;

» “Mapa: registro do nascimento de uma criança”.

RISCOS:

» Colocar todos nossos costumes, todas as riquezas no mapa para todo mundo ver - “é como mostrar a casa para um ladrão”;

» Conflitos internos (ex.: Sapara, Equador);

» Acreditar muito no mapa escrito e se acomodar (mapa deve mais estimular perguntas que dar respostas);

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» Homogeneização da linguagem dos mapas com o uso das mesmas tecnologias;

» Usurpações ilegais (ex.: madeireiros, garimpeiros) e legais (ex.: projetos governamentais desenvolvimentistas como IIRSA e PAC).

GRUPO 02 - TEMA: Políticas Públicas Facilitação: Henyo Barretto (IEB) Relator: Max Lombardo (USAID) Perguntas OrientadorasAs políticas públicas incorporam e são influenciadas por tais iniciativas nas áreas nas quais há processos de mapeamento participativo?

DEbATE » Existe grande diferença no que se refere à existência e

ao tipo de arranjo institucional para lidar com a questão indígena, havendo desde situações em que organismos de estado não são funcionais para lidar com isso (ficando a responsabilidade com as organizações indígenas e as da sociedade civil – caso do Peru) até situações em que o planejamento territorial aparece como indicador de capacidade de gestão que faculta a autonomia administrativa das Tierras Comunitarias Originárias - TCO (caso da Bolívia), passando por situações em que políticas públicas de diferentes níveis (estadual/federal) têm sido formuladas com base em mecanismos de consulta pública (caso do Brasil). Alguns países vêm passando por mudanças significativas em seus marcos regulatórios relativos a ordenamento territorial e ao reconhecimento das autonomias indígenas;

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» A maior parte das experiências é resultado de parcerias entre organizações indígenas e organizações da sociedade civil, sendo que, em alguns casos, o estado se apropria dos processos, aprendizados e produtos gerados pelas mesmas. Contudo, esse processo pode ter efeitos colaterais, pois o governo pode vir a se desresponsabilizar pela prestação de serviços públicos num contexto em que tais iniciativas sejam realizadas com base em parcerias;

» Em alguns casos (Equador), as experiências são recentes, com menos de cinco anos de implementação. Em outros casos (Equador e Bolívia), planos de vida e de gestão já formulados permitiram maior apoio do Estado, dando a este a noção de que os povos indígenas já estavam preparados para gerir seus territórios quando a institucionalidade veio a se desenvolver (exemplo: Programa Sociobosque). No caso do Peru, devido à baixa incidência política e participação indígena na elaboração de leis e políticas, percebe-se uma oportunidade de resistir ao centralismo, incentivar mudanças e inserir ideias em nível local, vendo-se com bons olhos a perspectiva de descentralização, na qual haveria mais oportunidades da gestão incorporar práticas tradicionais (exemplo: governança e manejo da pesca). No Brasil, ao contrário, a escala federal está mais sensível à participação indígena, apesar das suas limitações;

» Mesmo nos casos em que há algum tipo de institucionalidade, ainda depende-se muito da sensibilidade e da abertura ao diálogo da parte dos governantes, nas diferentes esferas do poder público. Razão pela qual se considera importante que a institucionalidade seja fortalecida dentro do estado. Isso também ajuda a limitar a influência negativa de governos que sejam contrários aos direitos dos povos indígenas, contribuindo para atravessar contextos políticos adversos;

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» Há, contudo, indicações de que os estados podem ter interesse em ser diretamente influenciados por essas iniciativas, se considera que uma porcentagem expressiva do seu território pode ser reconhecida como terra indígena (caso do Amazonas, no Brasil). Além disso, há situações explicitas em que os planos de vida e de gestão têm servido de base para investimento de recursos públicos naquilo que está expressamente definido pelos planos – e assim deve ser.

Consideramos importante caminhar para a institucionalização de políticas públicas que reconheçam e incorporem essas práticas?Qual é a relação desejável entre essas iniciativas e as políticas públicas?

DEbATE » A possibilidade de institucionalização é vista, de forma geral,

com bons olhos, desde que não leve a uma camisa de força, à homogeneização e normatização de procedimentos e ao estabelecimento de condicionalidades ou condicionantes para o investimento público. Avalia-se que a institucionalização pode garantir a segurança política, evitando descontinuidade entre diferentes governos. Os mapeamentos estão a dizer que é necessária uma política indigenista nacional integrada por uma normativa e um arranjo institucional mais amplo, que integre todas as dimensões de políticas e serviços públicos voltados para povos indígenas;

» Estado e governo ainda estão se preparando para lidar com a gestão ambiental e territorial de terras indígenas. No caso do Brasil, por exemplo, o processo de elaboração da PNGATI está se dando paralelamente à reforma administrativa da FUNAI;

» Requisitos fundamentais para institucionalização: 1) segurança jurídica do território indígena; 2) povos e comunidades devem estar preparados para lidar com o novo quadro institucional, para incidir politicamente de

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modo permanente e para monitorar, fiscalizar e cobrar a execução das políticas; 3) as leis e políticas públicas devem ser construídas desde a base, agora que se ampliam as condições políticas de fazê-lo nos vários países; 4) garantia das condições técnicas, financeiras e gerenciais para que políticas e planos cheguem até as comunidades indígenas e que as ações se concretizem em nível local; 5) compromisso do governo em investir naquilo que a comunidade determina no seu plano;

» É preciso institucionalizar no momento certo, estabelecendo antes os conceitos norteadores, porque, caso contrário, o governo acaba não fazendo o que é efetivamente demandado pelos povos indígenas;

» A massificação das políticas públicas pode levar a formas de exclusão. Portanto, é necessário preservar a pluralidade de abordagens e métodos, que responde a diferentes contextos políticos, regulatórios, históricos e sociais. Não se deve institucionalizar as metodologias, ou regular os procedimentos;

» Os mapeamentos e planos devem servir de base para as políticas de estado e de governo, mas o governo não deve inserir as informações detalhadas geradas no processo em seu sistema de dados;

» Devem ser levadas em consideração e definidas de modo muito claro as competências concorrentes e as distintas atribuições das diferentes instâncias do poder público (municipal/estadual/federal).

GRUPO 03 - TEMA: Formação Perguntas OrientadorasEm que medida a elaboração de etnomapas se relaciona (e como) com a (re)produção de conhecimentos entre os povos indígenas em

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diferentes ambientes (formais e informais)?A gestão é uma experiência em educação?

DEbATE » É necessário que os governos reconheçam a diversidade e

diferença dos povos indígenas para que a educação escolar, os currículos e as atividades extraescolares atendam às reais necessidades das comunidades – educação para o território;

» A formação é importante para o diálogo entre os conhecimentos tradicionais e os conhecimentos da ciência ocidental. A soma entre esses conhecimentos é necessária para o enfrentamento de desafios atuais dos povos indígenas;

» Os etnomapas servem para identificar as potencialidades do território e direcionar e incentivar tipos de formações necessárias que as comunidades devem investir;

» Espera-se que espaços formais e informais de educação se misturem e que os povos indígenas se apropriem desses espaços para imprimir neles sua educação tradicional;

» Os instrumentos de mapeamento e gestão estão sendo construídos em espaços de formação formal e informal;

» Processos de gestão territorial incentivam a formação dos povos indígenas e processos educativos incentivam a gestão territorial indígena;

» Os mapas sistematizam os conhecimentos tradicionais em uma linguagem específica e contribuem para o repasse desses conhecimentos para as futuras gerações;

» Os etnomapas não substituem os processos tradicionais de repasse de conhecimentos tradicionais;

» O uso de etnomapas nas escolas e espaços informais de educação facilita o diálogo entre as gerações e é uma

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ferramenta de valorização da origem, do universo e do território para os jovens indígenas;

» Os processos de formação fazem parte da gestão dos valores de um povo e da gestão de seus conhecimentos.

GRUPO 04 - TEMA: Questões transfronteiriças

Perguntas OrientadorasHá características específicas que se impõem para gestão de territórios indígenas em fronteiras nacionais?Quais as oportunidades e os desafios para a gestão integrada, participativa e compartilhada de territórios indígenas transfronteiriços?Queremos avançar na construção de espaços regionais transfronteiriços?

DEbATECasos Discutidos:

» Fronteira Peru-Equador;

» Fronteira Brasil-Peru (Acre-Ucayali).

Principais características das fronteiras: » Fronteiras são limites artificiais que dividiram os povos

indígenas;

» A lógica do Estado-nação não é a lógica dos povos indígenas.

Situações Identificadas: » Povos transfronteiriços com continuidade territorial e uma

agenda política comum (Ex: Cofan – Colômbia/Equador);

» Povos transfronteiriços com continuidade territorial, mas sem uma agenda política comum (Ex: Ashaninka);

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» Povos que vivem em região de fronteira sem continuidade territorial (Ex: Manxineru).

PRINCIPAIS PRObLEMAS:- Políticas de Estado, nacionais e regionais, diferentes, que se refletem:

» nos direitos territoriais;

» no direito de ir e vir;

» no acesso à educação e à saúde;

» nas iniciativas de preservação ambiental;

» nas estratégias de desenvolvimento e exploração de recursos naturais (IIRSA e PAC);

» acesso aos recursos genéticos e conhecimentos tradicionais (biopirataria);

» Povos transfronteiriços com agendas políticas diferentes/contraditórias;

» Cofan – Colômbia/Equador: agenda política unificada;

» Ashaninka – Brasil/Peru: dificuldade de construir uma agenda política comum;

» Concepções de ameaça à soberania nacional e à integridade territorial que permeiam as geopolíticas dos Estados nacionais em relação às fronteiras amazônicas;

» Falta de articulação e diálogo da sociedade civil organizada;

OuTROS PRObLEMAS:

» Narcotráfico;

» Ações de grupos armados;

» Colonização e invasões;

» Situação dos índios isolados.

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DESAfIOS: » Harmonizar políticas de Estado;

» Como os povos indígenas podem influenciar as políticas de Estado;

» Construir agenda comum dos povos indígenas;

» Construir uma articulação transfronteriça da sociedade civil;

» Gestão integrada de bacias plurinacionais;

Caminhos para uma Gestão Compartilhada:

» Fortalecer a articulação da sociedade civil binacional nas agendas indigenistas e ambientalistas;

» Fomentar a cooperação internacional para a região de fronteira;

» Fortalecer a agenda política dos povos indígenas;

» Garantir a participação dos povos indígenas nas discussões e nos processos decisórios sobre integração e desenvolvimento transfronteiriço;

» Usar os mecanismos internacionais (C 169 OIT, CDB, TCA).

GRUPO 05 - TEMA: Manejo e Conservação de Paisagens Perguntas OrientadorasEm que medida os mapeamentos são necessários para a gestão territorial das paisagens?Os etnomapas e planos de gestão têm mostrado efetivos para o manejo da paisagem nos territórios indígenas?Onde há mapeamentos, há planos de gestão?

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DEbATEFoi necessário redefinir preliminarmente alguns conceitos para o grupo:

Manejo: seria a interação com as paisagens;

Paisagem: é um conjunto de elementos materiais e imateriais, que estão localizados em um determinado espaço, abrangendo suas inter-relações e a cosmovisão do povo que ali habita;

Pensar sempre nas classificações indígenas das paisagens (é importante usar as categorias de clasificação de quem mas conhece);

» Antes, não havia necessidade de mapeamento, nem plano de manejo e nem demarcação;

» Atualmente, os mapeamentos são tidos como importantes formas de:

(i) registrar a realidade da TI;

(ii) conhecer o potencial das paisagens;

(iii) definir como serão os usos da floresta;

(iv) definir áreas de refúgio e de preservação de recursos;

(v) visualizar espacialmente a sociobiodiversidade;

(vi) proteger contra os riscos internos e externos;

(vii) troca de conhecimento;

(viii) diálogo interno e externo;

Os etnomapas e planos de gestão têm se mostrado efetivos para o manejo da paisagem nos territórios indígenas? DEbATE

» Os mapeamentos ajudam a planejar o ordenamento do território;

» Permitem ter uma visão de conjunto de todo o território, o que facilita a integração de diversas variáveis para a

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construção de diagnósticos, ajudando a conhecer a realidade e o que está acontecendo no momento;

» Permitem mostrar claramente os limites dos territórios e assim obter o reconhecimento legal e a proteção dos territórios indígenas e sua proteção;

» Ajudam a comunicar aos outros a visão indígena própria dos territórios;

» O mapeamento cultural e social é uma forma de registro da vida, uma representação do que é nosso território e uma imagem que permite aprofundar o conhecimento sobre as paisagens;

» Ajudam a conscientizar sobre a importância de se conservar as paisagens para as futuras gerações;

» Ajudam a fortalecer a apropriação do território por seus donos;

» São uma ferramenta de monitoramento das mudanças no tempo e espaço, auxiliando na avaliação e na efetividade da gestão;

» Ajudam a construção conjunta de políticas para o manejo dos recursos naturais.

Onde há mapeamentos,há planos de gestão?

» A maioria das organizações indígenas representadas neste grupo manifestaram que o mapeamento participativo foi um passo necessário para a elaboração de planos de gestão. Em alguns casos, no entanto, foi realizado o mapeamento, mas não há plano de gestão;

» Há casos em que, apesar de não haver mapeamento, existem acordos comunitários para o manejo e gestão das paisagens;

» Os mapeamentos foram realizados de diferentes formas e com diferentes objetivos:

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- Mapas de recursos específicos com fins de manejo;- Mapas da TI para subsidiar os planos de uso e de vida.

GRUPO 06 - TEMA: Ameaças e Pressões Perguntas de OrientaçãoA construção, circulação e publicação dos etnomapas contribuíram de alguma forma pra frear as pressões e ameaças dos territórios indígenas?Os etnomapas e planos de gestão são suficientes para resistir a tais pressões?Em que medida essas pressões inviabilizam as iniciativas autônomas de gestão territorial dos povos indígenas? DEbATE1. Caso tenham contribuído pra frear as ameaças e pressões

» Visão de longo prazo para os territórios indígenas (TI)

» Instrumento Político

» Definição e Limites dos TI

» Estratégia de gestão e continuidade dos planos de vida inseridos nas cosmovisões, nas formas de vida ancestrais.

» Ferramentas de múltiplos usos

Interno: para uso da comunidade, docência, preservação do conhecimento tradicional, etc.Externo: para ser usado com a sociedade não indígena, financiamentos, negociações, etc.

» Fortalece e contribui para a defesa dos TI, culturas e conhecimentos ancestrais

» Realidade sociocultural dos povos e da sua diversidade biológica

» “Os mapas falam da gestão do mundo para que haja uma boa vida” (Guillermo, sobre os Makuna).

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2. Os mapas não impedem as ameaças » Mapas precisam de reconhecimento oficial

» Divulgação e circulação ampliada dos mapas (todas as informações?).

» Maior apropriação indígena do processo de produção dos mapas (tecnologia)

» Dominação x Etnomapas

» Mapas não devem ser impostos (que mapas os índios querem?).

GRUPO 07 - TEMA: Princípios na relação com os conhecimentos tradicionais

Pergunta de OrientaçãoComo está ocorrendo a relação entre pesquisadores, organizações parceiras e povos indígenas na condução das iniciativas de mapeamentos participativos e gestão de territórios indígenas? Relações dos povos indígenas com atores externos

» Anos 40/50: expedições e pesquisas botânicas

» Anos 60/70: etnografias e pesquisas antropológicas

» Anos 80: intervenções governamentais

» Atualidade: ambientalismo

Situações em que os temas e usos das pesquisas são demandas externas acabam por gerar problemas e conflitos internos nas comunidades.

» Cada vez mais são relatados os usos de conhecimentos tradicionais sem consulta e sem reconhecimento dos povos que os detêm.

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» O fluxo de comunicação globalizado e acelerado dificulta cada vez mais o controle dos usos de conhecimentos tradicionais.

» Há pesquisadores que nunca devolvem seus produtos ou estes não são úteis para a comunidade.

» Assim, temas e usos de pesquisas pactuadas com as comunidades lhes oferecem melhores resultados.

» Situações em que os povos não estão bem organizados internamente, sejam por conflitos de representatividade e/ou de gerações, fazem com que as ações em parcerias com atores externos sejam conflituosas.

» Situações em que os povos indígenas organizados internamente buscam apoio e parcerias externas de acordo com suas próprias demandas, os resultados geralmente são positivos.

Quais os princípios que devem orientar os processos de mapeamentos participativos e de gestão de territórios indígenas?

» Os povos indígenas são quem devem decidir soberanamente sobre o que fazer, para quê, para quem, como fazer, quais os produtos, como e qual a visibilidade que se dará (se os usos serão internos e/ou externos).

» Deve-se respeitar a lei de origem e de princípios de cada povo indígena, reconhecendo suas formas próprias de vida e autorregulação.

» As demandas de pesquisas e atuações devem partir das próprias comunidades.

» Identificar os interesses dos atores externos antes de aceitar qualquer proposta.

» A definição dos produtos e sua destinação devem ser dadas sempre pela comunidade.

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» Negociações importantes devem ser feitas entre as principais autoridades indígenas e não indígenas, para que as decisões sejam legítimas.

» Deve ser restringido o acesso de pessoas externas aos lugares e rituais sagrados.

» Somente deve ser publicado para fora o que for de interesse do povo, para a divulgação e valorização de sua cultura.

Considerações finais:

» Os mapas podem ser uma ferramenta útil, desde que existam organizações indígenas fortes e legítimas que o saibam utilizar, porque do contrário podem voltar-se contra os povos.

» Assim, qualquer trabalho nesse sentido deve acontecer em conjunto com o fortalecimento das organizações indígenas e com o consentimento de todos os membros.

» Sem mapeamento, não há possibilidade de afirmação legal dos direitos territoriais. Quando mais participativo for o processo de elaboração dos mapas, melhor é o processo de acesso aos direitos territoriais.

GRUPO 08 - TEMA: Direitos Indígenas ao Território Perguntas OrientadorasQual a relevância dos mapeamentos participativos para a afirmação dos direitos indígenas ao território. Facilitador: Manuela RuizRelatoria: Claudia KahwageTradução: Claudia Kahwage e Manuela Ruiz

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PaisReconhecimento

de Direitos Territoriais

Procedimento Administrativo Legislação Atores e Instituições

BRASIL A propriedade das TI é da União. Usufruto exclusivo dos recursos naturais (rios, floresta, ar, etc.) para os povos indígenas. Os recursos do subsolo são da União

Mobilização da Comunidade e solicitação junto à FUNAI – início do processo de demarcação Constituição do GT para realização dos Estudos Antropológicos na Terra Indígena – Processos de Mapeamento participativos, mas não detalhado Publicação da Portaria declaratória Contraditório Edital para contratação de Empresa para demarcação Demarcação da TI (participação da Comunidade) Assinatura de Decreto de Homologação Desintrusão da TIEntrega do documento de documento de homologação para comunidade Registro nos Cartórios Municipais e da União (GRPU)

Constituição Federal Art. nº 231 (88) (participação ativa do movimento indígena) Dec. nº 17/75 (96)

Comunidades Indígenas FUNAI – INCRA - Polícia Federal, Empresa Privada -Executivo, Antropólogos, Engenheiros, Cartógrafos.

SURINAME 2010 - Não existem direitos territoriais para os povos indígenasPerspectivas para o futuro: direitos territoriais coletivos para povos indígenas e quilombolas no Suriname

Comunidades solicitam pelo mapeamento participativo na forma oral e escritaFinanciamento para possibilitar mapeamento Se a ACT consegue financiamento volta consultar a comunidade Se a comunidade concorda, o mapeamento do território pode começar, baseado em levantamentos etnoecológicos Preparação das Expedições de mapeamento Execução das expedições para o mapeamento Predigitalização dos dados Verificação dos dados junto às comunidades Plotagem dos mapas em GIS software Validação final dos mapas junto às comunidades Impressão final dos mapas Apresentação dos mapas para comunidades, governo etc.

Até a presente data, não há legislação vigente

Comunidades Indigenas (Conselhos indígenas) CBL: Departamento de Cartografia do Suriname ACT e entidades financiadores

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PaisReconhecimento

de Direitos Territoriais

Procedimento Administrativo Legislação Atores e Instituições

COLÔMBIA Os territórios ancestrais que não estão legalizados são de propriedade do Estado Propriedade Pública Comunitária (territórios legalmente constituídos) Titulados Estado proprietário do subsolo

Comunidades providenciam estudos socioeconômicos da área proposta Revisão dos Estudos pelo INCODER Visita, mapeamento pelo INCODER Mapa/delimitação INCODER Titulação INCODER Aprovação do mapa pelo IGAC

Constituição de 1991- Art. 7, 229, 296 CONV 169 da OIT Ley 89 de 1890 Decreto nº 1315 de 1996 (procedimento

INCODER (entidade governamental responsável pela regularização fundiária) IGAC (entidade estatal cartográfica e cadastral)

PERU Propriedade Comunal Coletiva Território Integral (água, florestas, terra, subsolo, porção agriculturável e ar)

Inscrição (reconhecimento): Solicitação da Comunidade junto ao Ministério da Agricultura Realização de Estudo socioeconômico por um técnico do Ministério Emissão da resolução de inscrição Inscrição da resolução no RRPP De posse desse documento de inscrição, a comunidade solicita a demarcação e titulação da TI Funcionários do estado avaliam a solicitação e programam visitar a comunidade Reunião com a comunidade para indicar o mapa base da área solicitada Realização de expedição do técnico do governo para demarcação Realização por um técnico do governo das expedições para classificação dos solos da áreaElaboração do plano de demarcação (mapa para uso do solo) Publicação da resolução do Plano aprovado pelo técnico Resolução do título de propriedade Inscrição do título no RRPP Entrega do título à comunidade

Constituição Federal Lei das Comunidades Nativas Convenção 169- OIT Declaração das Nações Unidas sobre os direitos de PPII

Comunidades Indígenas Organizações Indígenas (financiam os estudos técnicos para demarcação) Defensoria do Povo Ministério da Agricultura Ministério do Meio Ambiente Ministério da Cultura Ministério da Habitação

GUIANA INGLESA

2010 - Propriedade Coletiva da Terra Subsolo propriedade do Estado

Consultation (Gov. Community) Demarcation – Titling Resource use mapping Request for Extension Demarcation Titling

The Ameriandian Act (revised) em 1976

Comunidades Indígenas Conselho das Aldeias MinistérioConselho Democrático Regional Comunidades vizinhas às aldeias

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Abertura do seminário

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Após a apresentação dos resultados dos Grupos de Trabalho Temáticos, seguiu-se uma rodada de debates e comentários em plenária, em torno destes, que sintetizamos a seguir.

Cada país tem suas próprias institucionalidades (leis e demais regulamentos) e processos relativos à demarcação-titulação de terras indígenas. Isto é, a aquisição dos direitos indígenas básicos e primordiais de acesso ao território é, em certa medida, garantida pelo mapeamento. Em todos os países a realização do mapeamento é importante e imprescindível para garantir a demarcação dos territórios indígenas. No entanto, em nem todos os países o mapeamento é realizado de forma participativa. Quando o processo de demarcação-titulação não é realizado de forma participativa, os indígenas perdem em muito as condições de acesso aos seus direitos territoriais.

A metodologia do mapeamento participativo é uma maneira de se empoderar as comunidades indígenas perante o governo e outras organizações não governamentais, para mostrar a maneira certa de demarcar e fazer a gestão destes territórios onde os Povos Indígenas vivem. O mapa é a prova do uso e da ocupação ancestral dos indígenas neste território, expressa no seguinte comentário: “Se não tivermos um mapa para provar ao governo que este é o lugar que nós vivemos, não há direito ao território”.

A elaboração participativa do mapa territorial é um primeiro passo para afirmação dos direitos indígenas ao seu território. Ter os mapas elaborados de forma participativa é ter sistematizado os conhecimentos dos espaços que ocupa cada povo. Uma forma de transmitir conhecimento de geração a geração. Elaborar os mapas é reafirmar os espaços que tradicionalmente vêm ocupando os indígenas. Também é importante para guiar ações de saúde, educação, etc.

A metodologia do mapeamento participativo é, ainda, uma ferramenta de comparação dos usos benéficos que os indígenas fazem dos seus territórios (proteção das florestas por exemplo) com os usos prejudiciais dos territórios dos não indígenas. Daí a importância do mapeamento para defesa do território.

Finalmente, os mapas e os planos de gestão são também uma ferramenta de comunicação. Às vezes, os lideres não falam muito,

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não falam a língua (oficial) e com o mapa os indígenas têm uma ferramenta de comunicação. Independentemente do processo de mapeamento, seja participativo ou não, sem o mapa não há inicio de negociação e nem possibilidade de acesso e afirmação dos direitos.

Apreciação Avaliativa do Seminário

Com a conclusão das apresentações dos resultados dos trabalhos em grupo e os comentários dos participantes durante a plenária, o facilitador passou a palavra ao Sr. Cloude do IEB, que conduziu os trabalhos da Mesa Avaliativa do Seminário. Integraram a mesa: Henri Acserald do Instituto de Planejamento Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro – Brasil, Henyo T Barretto Filho – Diretor Acadêmico do IEB, Francisco Piyãko – Assessor dos Povos Indígenas do Governo do Acre e Martin Vidal da Organização Indígena Del Cauca – CRIC.

Os integrantes da mesa fizeram uma avaliação dos resultados alcançados com o desenvolvimento das atividades realizadas durante o Seminário, destacando os conteúdos abordados durante as apresentações orais de experiências, na feira de troca de experiências e os resultados dos trabalhos em grupo. A seguir, disponibilizamos dois textos que deram embasamento a duas apresentações realizadas.

Os mapeamentos e a autonomia dos povos indígenas Henri Acselrad*

Os mapas são descrições dos territórios feitas por meio de símbolos que representam objetos, lugares, caminhos e posições... Como toda descrição, são feitos a partir de algum ponto de vista, da perspectiva de algum sujeito ou ator social. Ao contrário do que supõe o senso comum, de que o mapa “refletiria” a realidade física – o mapa é um comentário, uma fala a respeito da experiência territorial. Durante muito tempo, esse instrumento de descrição cartográfica dos territórios foi monopólio dos Estados. Serviu para

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fundamentar a conquista, a penetração e a afirmação do poder do Estado sobre os territórios. Para muitos, o mapa seria sempre e inevitavelmente – por sua constituição mesma – um instrumento do Estado: uma cartografia popular ou indígena foi suposta impossível.

No entanto, esse monopólio estatal foi sendo quebrado a partir dos anos 1980-1990. Naquela conjuntura, grande parte dos Estados nacionais foi levada a mudar seu papel e seu modo de atuação, dando maior liberdade de movimento aos interesses econômicos internacionalizados e provocando tensões nas áreas de expansão da exploração capitalista dos territórios. É neste contexto que novos atores – incluindo povos indígenas e tradicionais – envolveram-se na produção de seus próprios mapas. Assim, a cartografia – que fora sempre instrumento de dominação, passou a ser objeto de disputa: diante da pressão das economias liberalizadas, diferentes atores procuraram afirmar suas territorialidades, principalmente aqueles atores cuja identidade cultural e política encontra-se fortemente associada ao pertencimento a um território.

As disputas cartográficas entre diferentes representações dos territórios, por sua vez, articulam-se com – e têm efeitos sobre – as disputas propriamente territoriais. Podemos falar, a partir de então, de diferentes “políticas cartográficas” – em que os mapeamentos eles mesmos passam a ser objeto da ação política, visando a problematizar o modo pelo qual o poder sobre os territórios é distribuído.

Os povos tradicionais e indígenas recorrem a esse instrumento para negar que suas terras estejam “vazias”, para mostrar que eles não são “obstáculo ao desenvolvimento” dos países etc... Afirmam a territorialidade de sua cultura – pretendem se fazer visíveis, se colocar no mapa, reivindicar direitos e mostrar aos que o desconhecem, que seus territórios contêm conhecimentos, lugares e caminhos ancestrais, interações materiais e simbólicas entre seres, espíritos e processos socioecológicos.

Tanto as disputas de legitimidade entre os diferentes mapas como as disputas territoriais são de natureza política. Elas se dão em diferentes contextos e situações fundiárias, jurídicas, étnicas e ambientais. E é analisando esses contextos que os atores constroem suas estratégias e definem seus instrumentos de ação.

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Nestes contextos de conflito real ou potencial, o mapa é apenas um instrumento ente outros. Enquanto meio de ação política acionado para a sua autonomia, os povos indígenas cuidam de garantir também esta autonomia nas práticas de mapeamento. Perguntam-se, em cada contexto e situação, se interessa de fato mapear ou não, o que mapear e para que mapear, que técnicas empregar, como controlar o resultado dos mapeamentos e como proteger os dados e conhecimentos tradicionais que eles contêm. Procuram, assim, conhecer a cadeia de atores, detentores de tecnologias, mediadores e agências financiadoras envolvidos nos mapeamentos, de modo, efetivamente, “a se fazerem donos do mapa”. Para assegurar sua autonomia, os povos tradicionais atentam para o fato que os mapeamentos podem integrar diferentes campos de sua ação política: as políticas externas das comunidades – para fora – dizem respeito às relações com o Estado e a sociedade não indígena, enquanto as políticas internas são relativas à reprodução cultural e material das comunidades.

No plano externo, os mapas servirão para afirmar direitos, exigir a proteção de suas terras contra as invasões e conta os impactos – sejam os ditos diretos ou os ditos indiretos – dos grandes projetos que contaminam rios por agrotóxico, degradam ecossistemas pela construção de barragens e estradas, por atividades de petróleo e mineração, por ação de madeireiros ou grileiros. No plano interno, os mapas servem para assegurar a coesão dos grupos, auxiliar a resistência ante as pressões externas que procuram sua divisão, assim como ajudar a transmitir conhecimentos tradicionais aos mais jovens. O mapa serve, pois, de modo distinto, a estes dois tipos de política, que, por sua vez, requererão, igualmente, mapas de diferentes tipos – uns de uso interno, outros para uso externo.

No âmbito das disputas territoriais, o mapa é um instrumento de comunicação – ele é portador, pois, de uma linguagem. A linguagem cartográfica corrente tem sido, por vezes, e com frequência crescente, utilizada pelos povos tradicionais. Em grande parte dos casos, porém, eles as utilizam em suas políticas externas – para dialogar com o Estado e a sociedade não indígena, sabedores de que se trata de uma linguagem ocidental, que

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pressupõe um modo ocidental de pensar e racionalizar o espaço numa superfície plana. Por via de regra, avaliam, portanto, tratar-se de uma linguagem inadequada para expressar as interações e os movimentos próprios às cosmologias indígenas.

Os povos indígenas aprenderam a falar línguas não indígenas para poder entender o mundo não indígena e para dialogar com ele na perspectiva de fortalecer a sua própria cultura. Usam, analogamente, a linguagem cartográfica convencional do Ocidente conscientes de suas especificidades e limites, associando-a a um conjunto de outras formas de mobilização, organização e expressão que são, estas sim, próprias à afirmação de suas identidades e de seus projetos de futuro. Assim, a partir de sistemas classificatórios indígenas aplicados às dinâmicas socioecológicas de espaço e tempo, podem problematizar as noções que são exteriores a seu vocabulário, tais como as de manejo, desenvolvimento, sustentabilidade, conservação, paisagem, participação etc. Eis que, para construir projetos de futuro, afirmam a tradição – não apenas enquanto referência ao passado, mas como parte integral e legítima do presente.

Cartografia e colonização do conhecimento µ Martín Vidal Tróchez*

Racionalismo, conhecimento e colonização.Até o final do século passado, a civilização cientificista

ocidental rejeitou o conhecimento tradicional, depois o aceitou discriminatoriamente, e agora pretende, além de se apropriar dele como mercadoria e de isso não ser possível, anulá-lo como competência.

µ Este trabalho faz parte do texto: “De la planificación y otras mentiras útiles” que terminei para o Mestrado em Desenvolvimento com Identidade para o Bem Viver Comunitário da Universidade Indígena Intercultural (UII), formada neste momento pelas universidades indígenas UAIIN de Colômbia, Amawtay Wasi de Equador e URACCAN de Nicarágua.* Liderança Indígena de Cauca, Colômbia

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A cartografia, assim como a escrita alfanumérica, é uma representação da relação espaço-tempo, que resulta na ruptura arbitrária entre os dois elementos. No momento em que termino de escrever um texto, ou fazer um mapa, eles perdem seu sentido vivencial. É possível que recuperem uma parte do sentido quando alguém mais o leia, mas, enquanto isso não acontece, o movimento e a vida terão outro contexto.

A explicação da relação espaço-tempo é um dos problemas desnecessários que a civilização cientificista criou quando separou mecanicamente essa noção. Para as culturas indígenas e tradicionais, a noção é mais que um conceito; é uma sensibilidade que é recriada nas tarefas cotidianas e representada de maneira indissociável por meio da simbologia.

Para o cientificismo ocidental, é uma noção que parte da visão antropocêntrica, quando se assume que o homem é a criatura eleita do universo e a possuidora de sabedoria. Desse prepotente antrópico, é derivada a inclinação indutiva que nos obriga a explicar o passado em função do presente. A concepção indígena do tempo determina o futuro em outro contexto, por isso essa visão localiza no tempo os que estão andando lá atrás e os que ainda não chegaram. A concepção da história no pensamento indígena não é linear, nem circular; não se trata de voltar sempre ao mesmo ponto. Para os Nasas, os Misak, os Totoroes e os Kokonukos do Cauca, da mesma forma que, para muitos outros povos indígenas, a história é como um espiral que se distancia e ao mesmo tempo retorna. Simbolicamente, o espiral representa o movimento, e o movimento é a essência da relação indissociável entre tempo e espaço.

Perante esta ruptura mecânica entre o tempo e o espaço e em termos de representação do conhecimento, o cientificismo se manifesta na abstração total, em partes dela, nela está a sua busca e se volta a ela para beber da satisfação do saber sustentado, precisa desesperadamente conseguir a concretização na mesma abstração para poder se realizar. Considera, então, que por meio de seus produtos físicos – textos e mapas, nas versões impressas ou eletrônicas – se concretizem o objetivo do conhecimento.

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O mapa torna-se, então, um fim em si mesmo, como abstração que substitui o concreto. A lógica da cartografia nas últimas décadas é: GPS – MAPA – TÍTULO DE POSSE, em que o GPS substitui as comunidades e seus conhecimentos, o MAPA substitui o território e o TÍTULO DE POSSE substitui a territorialidade.

Diferentemente da representação simbólica das culturas tradicionais, a cartografia precisa de representação bidimensional cartesiana, precisa de um corte arbitrário no tempo, de uma simbologia padronizada, da representação artificial escrita ou eletrônica e da estimativa métrica, mensurável, delimitadora e excludente. Além disso, com o surgimento do texto impresso, a cultura ocidental se privou de duas grandes possibilidades de conhecimento: a policromia e a multidimensional na representação da natureza.

Para o cientificismo ocidental, a visão de mundo em duas dimensões é aquela que permite a compatibilidade entre os conceitos e a sua representação racionalista alfanumérica: a representação do território pode se dar apenas de três formas: a) os polígonos que o delimitam e são representados por meio da cartografia, b) as áreas e perímetros que são mensuráveis e representadas por meio de números e c) os limites que são descritos por meio de textos. A forma de ordenar o mundo em quadrados ou matrizes se dá precisamente com a necessidade de representar e medir as áreas dos polígonos com o surgimento da propriedade privada da terra. Aí começou a cosmogonia do racionalismo que move o planeta hoje em dia e que o deixa à beira da destruição.

Para os povos indígenas, a concepção de território engloba uma integralidade de cosmogonia, em que o tempo e o espaço não se dividem arbitrariamente; por isso, o material é ao mesmo tempo espiritual e vice-versa, não existindo essa confusão epistemológica e esse afã por segregar e classificar.

Apesar de sua pretensão cientificista, a cartografia é mais que uma ciência, é uma religião: por exemplo, a obsessão pelo polígono se dá em razão de que nele se revela o paradigma cartesiano da relação X/Y, equivalente a uma representação simbólica terrena de duas dimensões. As outras dimensões pertencem ao âmbito da divindade.

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A cartografia é o instrumento essencial do Ordenamento Territorial, uma das mais agressivas estratégias de colonização do pensamento que envolve o planejamento.

As cidades foram construídas em espaços planos compatíveis com a cartografia cartesiana, mas hoje vemos como arranham as montanhas com as garras da miséria, desafiando as cartografias a seguirem os passos no meio de geometrias indecifráveis.

A “ciência ocidental” reclama da dificuldade de interação com muitas comunidades devido ao “baixo nível educacional” delas ou da “diferença cultural”. Aqui podemos dizer que isso se deve, simplesmente, ao fato de que não se pode explicar aquilo que não se entende, o problema é da confusão acadêmica, não da capacidade de apreensão do conhecimento daqueles que têm em seu acervo a capacidade natural do senso comum.

Os mapas, principalmente os produzidos mediante a “cartografia social” e os elaborados em formato SIG, se justificam pela pretensão didática e pedagógica, mas, devido à profunda carga racionalista cartesiana da cartografia, podem resultar em uma forma de imposição de um modelo de conhecimento e em uma ferramenta de exclusão amparada na integração dos saberes. Muitos dos produtos cartográficos são direcionados à aplicação escolar, em que, sem dúvida, se convertem em uma atraente ferramenta didática. No entanto, corre-se o risco de contribuir para o desligamento do estudante do território quando se substitui a apropriação do conhecimento que se obtém ao caminhar pelo território pela percepção virtual e modelada deste.

Quando se trata de articular o conhecimento cientificista e o conhecimento tradicional, temos que entender que a sabedoria e o senso comum são um modo de vida, mais do que uma somatória de dados e de técnicas.

Quando era criança e antes de entrar na escola, não me ensinaram onde estava o norte ou o sul, o leste ou o oeste; aprendi sim onde era o nascer e o pôr do sol, de onde poderia soprar o vento, por onde poderiam chegar os aguaceiros, de quais lugares se tinha uma melhor visão da paisagem. Ao aprender geografia na

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escola, aprendemos a nos orientar pelo mapa, mas desaprendemos a orientação do nosso território.

A fé científica no planejamentoNo neoliberalismo, há um planejamento que não é evidente,

que é perverso e em longo prazo; feito por empresários, industriais, banqueiros e multinacionais, esse planejamento é o que está destruindo o mundo hoje. Também há outro planejamento feito publicamente, legalizado e que se legitima por meio das assembleias participativas, da coordenação dos planos de desenvolvimento, dos mapas de rearranjo, dos planos setoriais, locais, regionais e nacionais; é o planejamento de viés democrático que nos entusiasma com a possibilidade de acesso ao poder. Os dois tipos são formas sofisticadas para o exercício da mentira como ferramenta política deste sistema. Uma é privada, a outra é pública. Uma é real e rentável em termos econômicos para poucos, a outra é rentável em termos políticos para essa mesma minoria e com consequências fatais para a grande maioria da população, para a diversidade cultural e para a natureza.

A realidade dos nossos processos de luta nos mostra que os mapas são reivindicações abstratas, de forma concreta não se fazem respeitar e nem se defendem sozinhos. O que há de mais concreto no mapa é o seu processo de elaboração, o resultado organizacional e a mobilização que pode gerar.

É correto que a cartografia deva ser usada como ferramenta de resistência e confrontação política. No entanto, usar a linguagem racionalista cartesiana como estratégia política implica também o risco de se pensar cartesianamente, pois a obsessão pela estatística substitui o sensível pelo mensurável, o determinismo e a visão linear de tempo, substitui a organização pelo planejamento, nos levando a uma institucionalização exagerada e à perda da capacidade flexível de adaptação diante da natureza e à distorção da relação indissociável espaço-tempo.

Esta ruptura arbitrária entre espaço e tempo é sentida inclusive ao escrever, pois, quando temos a sensação de que não podemos nos expressar da mesma forma, o fazemos por meio da oralidade.

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A identificação de tendências e a necessidade de espacializar as estatísticas são as manifestações contemporâneas do mecanicismo e da sua concepção fragmentada do tempo e do espaço.

Os SIG se dão no âmbito da lógica mecanicista previsível. Para fazer um SIG, não é necessário pensar muito. Em termos práticos, acaba sendo uma projeção da máquina. A mania de espacializar leva a exageros muitas vezes absurdos.

Todas estas ferramentas têm a ver também com uma concepção de desenvolvimento segundo a qual é a natureza quem deve se adaptar ao ritmo imposto pelo homem. A visão indígena foi e ainda está implícita, em grande medida, na capacidade de ler as mudanças da natureza e se adaptar a elas. Mas, para a noção capitalista de desenvolvimento, tudo deve mudar no mesmo ritmo e não se pode voltar atrás: essa é a noção de “PROGRESSO” que nos vendem todos os dias.

Faz-se necessário advertir, a esta altura do texto, que as inquietações aqui expressas não pretendem ignorar a contribuição e utilidade da cartografia para as reivindicações territoriais. De fato, é o mecanismo que permite a tradução dos direitos reivindicados para a linguagem dos Estados. Outra opção seria isolar-se na total anarquia, o que também não nos garante nada. O que queremos evidenciar é o risco que se corre ao levar a linguagem cartográfica a um nível de representação e colonização do conhecimento ancestral e das visões de mundo diferentes do racionalismo cartesiano. Ou seja, uma coisa é usar a cartografia como ferramenta de comunicação, e outra muito diferente é usá-la como modelo de pensamento.

Mapeamento: um mal necessário?A concepção do território sob a ótica racionalista é excludente;

um território é único e pode pertencer apenas a uma só entidade, porque somente se pode cartografar e titular um território uma única vez, não se pode haver duas possessões territoriais ao mesmo tempo. Esta é a concepção racionalista do espaço/tempo. Dessa concepção derivam muitos dos conflitos atuais.

No modelo cartesiano, no qual se valoriza a visão excludente do território, que equivale à propriedade sobre a terra, ocorre que,

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caso se renuncie à opção de manter territórios sobrepostos, pode-se cair na armadilha da segregação e do espaço único; caso não seja feita a renúncia, coloca-se em risco a terra. O que está acontecendo é precisamente isso. Múltiplas dotações compartilhando o mesmo espaço, numa relação quase ecológica, como na selva ou nas árvores, onde múltiplas espécies dividem o mesmo entorno. Por exemplo, na Colômbia, antes da chegada dos espanhóis e da implantação das encomiendas e das reservas, os territórios eram compartilhados de maneira sobreposta, mas o conceito de delimitação equivalente à propriedade, inclusive a coletiva, modificou essa visão de territorialidade.

A apropriação do território se dava a partir de múltiplos centros e, quanto mais perto estava do foco, mais homogêneo era no sentido da posse, mas esse território se fazia mais misto e compartilhado na medida em que se afastava do centro. Os limites cartográficos atuais levam o território a ser excludente e conflituoso do centro até a periferia, ainda que na prática cotidiana as relações familiares, de cosmogonias e sociais comunitárias mantenham a tradição da sobreposição da territorialidade.

Por exemplo, na Colômbia são comuns os conflitos entre Reservas Indígenas por causa da delimitação. A base destes conflitos é o modelo racionalista cartesiano da institucionalidade, que somente aceita variáveis excludentes nas matrizes estatísticas ou cartográficas, em que se planeja a distribuição de recursos, competências institucionais ou jurisdições de poder político.

O georreferenciamento não pode ser feito com as pessoas, pois elas estão em movimento, o território se move e caminha com as pessoas, com as plantas e os animais e isso foge do controle das possibilidades racionalistas de representação. Portanto, a representação cartográfica do território não representa a sua principal característica: a movimentação constante.

A cartografia social fez importantes contribuições para a mobilização social; no entanto, seus produtos são proporcionais aos processos organizacionais envolvidos. Ou seja, um produto cartográfico social gera mobilização nas comunidades que estão em condição de se mobilizar, mesmo sem o exercício da cartografia social.

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O argumento de que com a cartografia alternativa se muda a representatividade dos territórios não é verdadeiro. O que muda é a forma de observação, pois o modelo de representação continua sendo o mesmo. Nesta discussão com relação à representatividade, pode-se dizer que o espaço territorial representa a si mesmo. Da mesma forma que os rituais, o corpo e os mitos. Não se pode esquecer que a posição do cartógrafo modifica o mapa, porque passa a ser parte do mapa.

No atual contexto da globalização, o mapa é uma exigência da multiculturalidade, não da interculturalidade. O mapa corresponde à definição dos interesses políticos equivalente à racionalidade do título e da propriedade com limites excludentes.

Vale a pena se perguntar se a demarcação não é por acaso uma reivindicação imposta; se, nas reivindicações que são acompanhadas pela cartografia, o que se ganhou foi um mapa ou a autonomia; se o mapa é algo realmente concreto.

Ao converter o mapa em símbolo, os povos indígenas imaginaram que na outra ponta o mesmo ocorresse, como uma relação indissociável do espaço temporal, ou seja, espera-se que a ideia de território seja traduzida por meio do mapa, mas isso tampouco ocorreu. Quando muitos povos indígenas incorporaram os mapas como símbolo da autonomia territorial pensaram que, dessa forma, os brancos respeitariam como uma questão simbólica importante para eles, mas não foi o que aconteceu. Desse modo, o mapa não apenas penetra no conhecimento técnico espacial como também na religiosidade.

É considerado um feito, também, o reconhecimento dos grupos étnicos no mapa. Isto às vezes soa ingênuo e prepotente. É como se a cultura dominante dissesse: “lhes damos o direito de representar seu território na nossa linguagem”. Resulta, então, que o mapa garante a articulação ou integração ao estado nacional pela via geográfico-normativa. Por isso que falar de “mapas libertadores” é quase o mesmo que falar de “leis libertadoras”.

No entanto, é inegável que, ao contrário do texto e da tradução da língua falada ou escrita, em que a interpretação intercultural é muito difícil e limitada, o mapa oferece possibilidades gráficas

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qualitativas e de tradução da percepção cultural do território. Por isso, talvez seu uso terá uma vigência sedutora por mais muitos anos.

Dessa forma, se não podemos renunciar de uma vez à cartografia, quais poderiam ser as estratégias para neutralizar seu feitiço racionalista?

A primeira delas seria colocá-la em seus devido lugar, segundo dois critérios fundamentais: 1) usá-la como uma ferramenta de comunicação intercultural e não como um modelo de pensamento e 2) desmistificar seu caráter de imprescindível. Existem outras formas de chegar ao mesmo lugar sem usar a cartografia. Existem outras formas de representar o território. Existem outros tipos de mapas.

A partir dos critérios anteriores, poderíamos encontrar diferenças interessantes para desenvolver o trabalho com mapas.

Por exemplo, a diferença entre as escalas simbólicas e as escalas métricas racionalistas. Quando se trabalha com mapas orais ou feitos à mão, a escala não é proporcional ao mensurável métrico, mas sim à sensibilidade perceptiva. O que importa nessa escala é o que se pretende realçar na representação. Essa relação não é vista apenas nos mapas, geralmente a estatuária indígena não tem formas proporcionais.

Além disso, na cartografia convencional, e nos exercícios chamados participativos, é comum que as comunidades elaborem ou exponham mapas orais ou simbólicos não métricos. No entanto, nos resultados finais dos processos de conhecimento, apesar dos propósitos participativos e democráticos da cartografia social, esses exercícios da comunidade são tratados de maneira discriminatória. A diferença do mundo indígena no que diz respeito à interpretação espacial, ao processo acadêmico e aos espaços institucionais-governamentais está no mapa e não no território. O mapa georreferenciado é válido porque é “legal”, e é “legal” porque está dentro de um sistema de referência politicamente homologado como válido. Para esta visão, os mapas orais e simbólicos não métricos são apenas uma referência de caráter inferior. Isso evidencia uma clara posição de dominação de uma territorialidade sobre a outra. O

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mapa coloca num mesmo plano de poder o indígena e o não indígena para decidir e intervir no território; mas, no final, os que têm mais conexão com os centros de poder são os não indígenas. Assim, o mapa gera mais ”desempoderamento” que empoderamento.

É necessário, então, recuperar e posicionar também a representação viva e intangível do mapa. Outro desafio é superar a dependência do polígono e das precisões topológicas, o que implica no desprendimento da obsessão pelo mensurável que o racionalismo extremo tem.

É importante também propiciar a não dependência do georreferenciamento por questões epistemológicas como a política. As comunidades, os povos e as organizações sociais não deveriam fazer o georreferenciamento nem colocar as informações em mapas, além do que os centros de pesquisa externos ou os Estados possam fazer por conta própria.

Não devemos confundir a representação dos títulos ou demarcações jurisdicionais com a representação do território. Para ele, podemos trabalhar sem fechar os polígonos e usando outros códigos de representação simbólica.

Os polígonos fechados devem ser usados somente em casos de necessidade jurídica de representação dos limites, em termos de titulações claramente estabelecidas e no âmbito dos processos legais. Não devem ser usados para representar nenhum outro tipo de variáveis ou conceitos que envolvam o território.

Devemos superar a dependência da visão técnico-geométrica e da técnico-jurídica. Não devemos nos deixar levar pela sedução visual dos SIG e da tendência mecânica da medição. Inclusive, até o próprio Einstein reconhecia que “nem tudo o que se mede é importante, nem tudo o que é importante pode ser medido”.

Devemos resistir desde o âmbito do saber, defender o direito à autonomia do pensamento e defender o conhecimento tradicional. Temos que problematizar os códigos de dominação e das hegemonias, o que pode refletir também no trabalho com os mapas e, dessa forma, podemos contribuir todos.

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Conclusão dos Trabalhos

Após o encerramento da mesa avaliativa, o facilitador passou a palavra ao Sr. Henyo Barreto (IEB), que apresentou para os participantes da plenária as perspectivas de desdobramentos e encaminhamentos após o Seminário.

Enfatizou-se que o Seminário havia sido originalmente concebido como um processo capaz de “ampliar a eficácia e a eficiência de processos de mapeamento e zoneamento participativos para a gestão ambiental e territorial por povos indígenas à escala amazônica”.

Para se chegar a este resultado, alguns produtos foram originalmente concebidos e acordados:

» Anais do Seminário, contendo o conjunto das experiências apresentadas;

» Plataforma web estruturada e lançada, bem como blog e comunidade no Facebook;

» Mapa das Experiências (Incluido nos Anais);

» Vídeo do Seminário.

No último dia, para conduzir o encerramento do Seminário, o facilitador passou a palavra à Sra. Maria José Gontijo, Diretora Executiva do IEB, que agradeceu a participação de todos os representantes do movimento indígena, da sociedade civil e de governos do Brasil, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Suriname, Guiana Inglesa e Guiana Francesa, destacando o alcance dos resultados com a realização do Seminário.

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Feira de experiências

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c o n s i d E r a Ç õ E s F i n a i s E p E r s p E c t i va s

Paul Little

O novo protagonismo dos povos indígenas da Amazônia

Das múltiplas transformações que a Amazônia tem experimentado nas últimas três décadas, quero ressaltar um elemento singular: o protagonismo que as centenas de sociedades indígenas amazônicas exerceram durante este tempo nas variadas lutas para defender seus territórios. Nesse processo, elas se transformaram em movimentos etnopolíticos dentro de uma conjuntura marcada pela globalização. Durante a maior parte do século XX, as sociedades indígenas amazônicas foram consideradas por suas respectivas sociedades nacionais como povos “atrasados” em vias de extinção. Essa ideologia não somente serviu para encobrir práticas de tutela, subordinação e marginalização, mas “justificou” também políticas indigenistas destinadas à assimilação ou integração dos povos indígenas aos padrões das sociedades nacionais.

Hoje em dia, a situação é outra. Existe um amplo reconhecimento (embora com importantes exceções) dos povos indígenas como sociedades com raízes milenares que mantêm robustos modos de adaptação ambiental, oferecendo dicas cruciais às sociedades industriais para a formulação de novas formas sustentáveis de exploração do bioma amazônico. No plano internacional, existem instrumentos de reconhecimento internacional dos direitos das sociedades indígenas enquanto “povos” como a Convenção 169 da Organização Internacional de Trabalho de 1989 e a Declaração dos Direitos dos Povos Indígenas, aprovada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 2007.

Com respeito aos territórios indígenas, os estados nacionais amazônicos historicamente se mostraram reticentes em reconhecer a dimensão territorial dos povos indígenas por considerar isto um atentado contra a exclusividade de sua soberania. Mas, no marco dessa nova conjuntura, até mesmo isto vai mudando. Em vários países amazônicos, houve um reconhecimento formal dos territórios dos povos indígenas por parte dos estados nacionais, sendo que o Brasil e a Colômbia tomaram posições de liderança nesse processo.

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No plano legal, os povos indígenas têm ganhado estatuto próprio como nacionalidades dentro de países cujas novas Constituições Nacionais se autoproclamaram como multiculturais e pluriétnicas, desta vez com o Equador e a Bolívia tomando a liderança.

Mesmo levando em conta esses importantes avanços, a situação social, política, demográfica e econômica dos povos indígenas amazônicos continua sendo crítica devido ao aumento sem precedentes das pressões externas que sofrem. A procura de recursos naturais – tais como as atividades de mineração de ordem industrial e artesanal e as atividades madeireiras, majoritariamente de ordem ilegal – tem gerado enormes impactos negativos sociais e ambientais sobre esses povos. O ressurgimento recente de uma fronteira energética, centrada na construção de grandes hidrelétricas, tem impactado os maiores rios da região, como o Tocantins, o Madeira e, agora, o Xingu, e existem propostas de construir dezenas de outras barragens nas cabeceiras dos rios amazônicos localizados nos países andinos. As políticas nacionais continuam tratando a Amazônia como se fosse um lugar desabitado e promovem a expansão da fronteira agrícola e pecuária, que tem facilitado a chegada de milhares de fazendeiros, colonos e agricultores de soja, de palma azeiteira e de cana-de-açúcar. Essas atividades estão vinculadas a uma visão particular de desenvolvimento que procura “integrar” a Amazônia às exigências e necessidades das economias externas de região, sejam elas nacionais ou internacionais, em vez de pensar a região com base nas suas próprias necessidades a partir dos povos e populações que moram lá.

Além dessas forças desenvolvimentistas, nesse mesmo lapso de tempo a Amazônia capturou a imaginação do movimento ambientalista mundial, tornando-a um ícone para as lutas de conservação das florestas tropicais e da rica biodiversidade que elas contêm. Apesar dos vários pontos de coincidência nas reivindicações do movimento ambientalista e dos povos indígenas, houve também muitos impactos negativos com a chegada dessa fronteira ambientalista. Por exemplo, a criação de áreas protegidas sobrepostas aos territórios indígenas gerou muitos conflitos, muitos dos quais ainda procuram uma adequada solução. As

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empresas de cunho ecológico frequentemente entraram em atrito com os povos indígenas sobre o lucro derivado do uso indevido das imagens deles.

Assim, um dos principais desafios que os povos indígenas confrontam hoje é lidar com a dupla exigência de elaborar políticas e práticas que promovem seu bem-estar econômico e social ao mesmo tempo em que cuidam ambientalmente os seus territórios. Quanto à primeira exigência, fica evidente que o modelo depredador vigente de desenvolvimento que orienta o crescimento econômico dos estados nacionais não é viável para eles e somente levaria a uma rápida devastação das suas terras. Mas essa realidade não implica que os povos indígenas sejam avessos ao desenvolvimento. Pelo contrário, muitos grupos têm interesse em ter acesso às novas tecnologias e aos mercados, mas com a importante condicionante de que querem fazê-lo com bases nos seus interesses próprios e para seu próprio benefício, não os dos outros. Eis aqui o núcleo central do chamado etnodesenvolvimento: práticas econômicas e políticas, concebidas e executadas pelos próprios povos indígenas, que avançam os interesses e projetos do grupo enquanto povo e que garantam seu sustento alimentar, material e de saúde.

Quanto à segunda exigência, a questão não se reduz ao falso debate sobre a conservacionismo inato ou não dos povos indígenas, debate que parte de uma visão ocidental imposta aos povos indígenas. Nos últimos anos, os povos indígenas têm demonstrado que possuíam seus próprios modos de lidar com seus ambientes, que vinculam conhecimentos e técnicas milenares com práticas simbólicas e rituais numa forma holística. Todavia, eles também começaram a utilizar politicamente o discurso ambientalista romântico que inicialmente foi imposto a eles para ganhar espaço nas negociações mundiais sobre a Amazônia.

O enfoque territorial deste livro

É nesse contexto político e social que podemos entender o enfoque territorial deste livro. O conceito de “território” refere-se

O S e m i n á r i O i n t e r n a c i O n a l

S e m i n á r i O i n t e r n a c i O n a l108

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ao espaço geográfico de uma sociedade indígena, institucional ou politicamente constituído, sobre o qual ela exerce controle e do qual usufrui os recursos naturais. Nessa acepção, território, além de ter uma dimensão biofísica (espaço geográfico, recursos naturais, etc.), também tem uma dimensão política por estar sempre associado a uma entidade política específica. Dessa forma, território é distinto do conceito de “terra”, entendido como uma área ou região não especificada ou, simplesmente, uma grande extensão de terreno. Assim, pode existir uma “terra de ninguém”, mas não pode existir um “território de ninguém”.

Quando se fala de “gestão de territórios”, que conforma parte do título deste livro, o termo abarca tanto ações de controle político quanto de manejo ambiental do espaço geográfico que é o território de cada povo indígena. Ou seja, o conceito de gestão territorial engloba atividades tanto de ordenamento territorial quanto de gestão ambiental como parte essencial de sua implementação. Quanto entendido nessa forma, a gestão territorial serve como um dos mecanismos principais na luta para a autonomia territorial dos povos indígenas. Autonomia, nesse caso, não implica em movimentos separatistas nem questiona a noção de soberania do Estado brasileiro. Autonomia territorial significa que suas entidades de governança exercem o controle principal sobre a tomada de decisões referentes ao uso de seus territórios e os recursos naturais contidos neles.

A outra parte do título do livro – “mapeamentos participativos” – também requer certa elucidação. As primeiras experiências de participação dos povos indígenas nos mapeamentos georreferenciados foram feitas dentro dos requerimentos técnicos e programáticos preestabelecidos do instrumento. Mas, quando as lideranças e técnicos indígenas começaram a dominar essas novas técnicas e adaptá-las às necessidades ambientais e políticas, se tornaram cada vez mais os verdadeiros sujeitos do processo de gestão territorial.

Uma das qualidades mais importantes deste livro são seus aportes metodológicos e técnicos ao campo de gestão de território. Ao entrar nos detalhes das ricas experiências apresentadas aqui,

“ M a p e a M e n t o s p a r t i c i p a t i v o s e G e s t ã o d e t e r r i t ó r i o s i n d í G e n a s n a a M a z ô n i a”

M a p e a M e n t o s p a r t i c i p a t i v o s e G e s t ã o d e t e r r i t ó r i o s i n d í G e n a s n a a M a z ô n i a 109

Page 110: Gestão de territórios indígenas na amazônia 2010

todas elas fundamentadas em casos de participação e agência indígena, seja por meio de mapeamentos, diagnósticos ou planos de vida, oferece uma guia básica para distintos grupos indígenas que estão entrando nesse campo e serve, ao mesmo tempo, como uma minienciclopédia do tema que mostra a abrangência de abordagens possíveis. Ao mesmo tempo, o livro é fruto de um diálogo profundo que vem acontecendo em toda a Amazônia entre saberes e técnicas indígenas e ocidentais, gerando a produção do que podemos chamar conhecimento híbrido – isto é, conhecimento novo surgido do encontro de saberes – que pode ser extremamente útil para atender a novos desafios ambientais que a Amazônia confronta.

Outra qualidade sobressalente deste livro é seu marco pan-amazônico, sendo que inclui aportes de povos indígenas dos nove países amazônicos. Embora existam muitos casos de colaboração pan-amazônica no plano político, rara vez isto acontece nos planos técnicas e de conhecimento. Este livro vem para preencher essa lacuna e, no processo, abrir um novo espaço intercultural para o intercâmbio de experiências. E, uma vez estabelecido esse espaço, também serviu para os representantes indígenas se conhecerem pessoalmente e criar laços de amizade. Finalmente, a confecção deste livro foi acompanhada pela construção de um espaço virtual de intercâmbio na Internet, criando assim melhores condições para que os povos indígenas avancem na realização das suas metas de autonomia na gestão de seus territórios.

O S e m i n á r i O i n t e r n a c i O n a l

S e m i n á r i O i n t e r n a c i O n a l110

Page 111: Gestão de territórios indígenas na amazônia 2010

Dinâmica do seminário

“ M a p e a M e n t o s p a r t i c i p a t i v o s e G e s t ã o d e t e r r i t ó r i o s i n d í G e n a s n a a M a z ô n i a”

M a p e a M e n t o s p a r t i c i p a t i v o s e G e s t ã o d e t e r r i t ó r i o s i n d í G e n a s n a a M a z ô n i a 111

Page 112: Gestão de territórios indígenas na amazônia 2010

a n E x o s Anexo I – Lista dos Participantes

SEMINÁRIO INTERNACIONAL: MAPEAMENTOS PARTICIPATIVOS E GESTÃO DE TERRAS INDÍGENAS NA AMAZÔNIA

Rio Branco, Acre - 15 a 20 de novembro de 2010

NOME INSTITUIÇÃO EMAIL 1 EMAIL 2

Adeilson Lopes da Silva Instituto Socioambiental - ISA [email protected] [email protected]

Adriano Jerozolimski Associação Floresta Protegida - AFP

[email protected]  

Alexandre Goulart de Andrade

Instituto Internacional de Educação do Brasil - IEB [email protected] [email protected]

Alfredo Wagner Almeida [email protected]  

Alirio Juae Molo Jodï Kayamá Venezuela [email protected] c/ Eglee Lopez-Zent

Almir Narayamoga Suruí Associação Metareilá [email protected] [email protected]; [email protected]

Amauri H. Sebastião Maxineru    

André Costa Nahur Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia - IPAM [email protected] [email protected]

Andréa Leme da Silva Conservação Internacional - CI-Brasil [email protected]  

Andreia Bavaresco Instituto Internacional de Educação do Brasil - IEB [email protected]  

Andrew Demetro Conservação Internacional - CI [email protected]  

Angel Duran Central Indigena del Pueblo Leco de Apolo - CIPLA [email protected] [email protected]

Ângela Rangel IEPÉ [email protected] [email protected]

Anton Rubert Kana   [email protected] c/ Loreen JubitanaAntônio Batista de Macedo

Fundação Nacional do Índio - FUNAI/AC    

Bengroi Tapajuna Secretaria Estadual de Educação do Mato Grosso [email protected]  

Bep Ngy Kayapó Associação Floresta Protegida - AFP

c/ Maria Beatriz Nogueira Ribeiro  

Bepunu Kayapó Associação Floresta Protegida - AFP [email protected] c/ Pascale de Robert

Biraci BrasilCoordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira - COIAB

   

Bushe Matis AIMA/CTI c/ Pollyana Mendonça  

Camilo Huamoni Coba Nacionalidad Waorani del Ecuador - NAWE [email protected] [email protected]

S E M I N Á R I O I N T E R N A C I O N A L 112

Page 113: Gestão de territórios indígenas na amazônia 2010

NOME INSTITUIÇÃO EMAIL 1 EMAIL 2Carlos Aparecido Fernandes Consultor [email protected]  

Carolina Schneider Comandulli

Fundação Nacional do Índio - FUNAI [email protected] carolina.comandulli@funai.

gov.br

Cecília Awaeko Apalai Associação dos Povos Indígenas do Tumucumaque - APITU [email protected]  

Charlotte Schumann [email protected] [email protected]

Claudia Maria Carneiro Kahwage

Secretaria de Meio Ambiente do Estado do Pará

[email protected]

Cloude Correia Instituto Internacional de Educação do Brasil - IEB [email protected]  

Damião Braz (Irajá Pataxó)

Articulação dos Povos Indígenas do Brasil - APIB [email protected] [email protected]

Dan Nixon Vasquez Cairuna

Federación de Comunidades Nativas de Ucayali y Afluentes - FECONAU

[email protected]  

Daniel Benjamim da Silva

Rede de Escolas Indígenas Baniwa e Coripaco [email protected] c/ Adeilson Lopes da Silva

Daniel Lopes Pimentel Cooperativa Paiol - UFAC [email protected]  

Dário Dias de Oliveira Paumari

Federação das Organizações e Comunidades Indígena do Médio Purus - FOCIMP

   

Domingos Parintintin OPIPAM    Edileuda Gomes de Araujo Shanenawa Acre c/ Vera Olinda  

Edileuma do Nascimento Gesellschaft fuer technische Zusammenarbeit - GIZ

[email protected]  

Edinho Bastista de Souza Conselho Indígena de Roraima - CIR edinhomacuxiyahoo.com.br

Eduardo Di Deus Comissão Pró-Índio do Acre - CPI Acre    

Eglee Lopez-ZentInstituto Venezolano de Investigaciones Indígenas - IVIC

[email protected] [email protected]

Elcio Severino da Silva Manchineri (Toya)

Comissão Nacional de Politica Indigenista - CNPI

[email protected] [email protected]

Ermeto Tuesta Cerrón Instituto del Bien Común - IBC [email protected]  

Espiritu Bautista Pascual Instituto del Bien Común - IBC [email protected]

[email protected]

Euclides Macuxi Ministério do Meio Ambiente - Gerência Indígena

[email protected]  

L i s t a d o s P a r t i c i P a n t e s

M a P e a M e n t o s P a r t i c i P a t i V o s e G e s t à o d e t e r r i t Ó r i o s i n d Í G e n a s n a a M a Z Ô n i a 113

Page 114: Gestão de territórios indígenas na amazônia 2010

NOME INSTITUIÇÃO EMAIL 1 EMAIL 2

Eugenio Pantoja Secretaria de Meio Ambiente do Estado do Acre - SEMA [email protected]  

Fidel Abraham Ruiz Armas

Nación Sapara del Ecuador - NASE

[email protected]

[email protected]; [email protected];

Florencine Edouard FOAG [email protected]  

Francisca Oliveira de Lima Costa    

Francisco Batista Apurinã

Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira - COIAB

[email protected]  

Francisco Godinho Campos

Conselho Indígena do Tapajós Arapiuns - CITA [email protected] leandro@socioambiental.

org

Francisco das Chagas Pereira      

Francisco de Oliveira Souza    

Francisco Piyãko Assessoria Especial dos Povos Indígenas - AEPI

[email protected] [email protected]

Gabriel Silva Pedrazzani Fundação Nacional do Índio - FUNAI [email protected] gabriel.pedrazzani@funai.

gov.br

George AwankaroeVereniging van Inheemse Dorpshoofden in Suriname - VIDS/KLIM

[email protected] [email protected]

Geronimo Petsain Yacum Instituto del Bien Común - IBC [email protected] c/Ermeto Tuesta CerrónGuillermo Kolver Rodriguez Neff ACAIPI guillermokolver@hotmail.

com [email protected]

Helcio Marcelo de Souza The nature Conservancy - TNC [email protected]  Heliomar Gomes de Souza

Conselho Indígena de Roraima - CIR c/ Sineia Bezerra do Vale

Henri Acselrad Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ [email protected]  

Henyo Barretto Filho Instituto Internacional de Educação do Brasil - IEB [email protected]  

Iara Vasco      Igor Nicolau Richwin Ferreira

Fundação Nacional do Índio - FUNAI [email protected] [email protected]

Israel Vale Junior Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé [email protected]  

Iza Maria Santos Tapuia Sec. De Estado de Justiça e Direitos Indígenas [email protected] [email protected]

Izanete Batista Magalhães

Secretaria de Justiça e Direitos Humanos

[email protected]  

A N E X O i

S E M i N Á R i O i N T E R N A C i O N A L114

Page 115: Gestão de territórios indígenas na amazônia 2010

NOME INSTITUIÇÃO EMAIL 1 EMAIL 2

Jan Schnora Serviço Alemão de Cooperação Técnica e Social [email protected]  

Januaria Pereira Mello Fundação Nacional do Índio - Funai [email protected] [email protected]

Jeaned Maximiliano Chachinoy

Asociación de Autoridades Tradicionales Mesa Permanente de Trabajo por el Pueblo Cofán y Cabildos Indígenas del Valle del Guamuez y San Miguel - Mesa Permanente

[email protected] [email protected]

Jesus Leal Consejo Indigena del Pueblo Tacana

[email protected]

[email protected]; [email protected]

Jonas Polino Sansão Associação Wyty-Catë das Comunidades Timbira do MA [email protected]  

José Antonio Vieira Pimenta Universidade de Brasília - UnB [email protected]  

José Frankneile de Melo Silva

Comissão Pró-Índio do Acre - CPI Acre [email protected] [email protected]

José Mateus Itsairu Kaxinawa Acre c/ Vera Olinda  

José Paulo Alfredo Kaxinawa Kaxinawa, Acre c/ Vera Olinda  

José Raimundo Pereira Lima

Federação das Organizações e Comunidades Indígenas do Médio Purus - FOCIMP

[email protected] [email protected]

José Strabeli Instituto Internacional de Educação do Brasil - IEB [email protected]  

Josias Pereira Kaxinawá (Maná) AMAAIAC, Acre c/ Vera Olinda  

Josinei Aniká dos Santos Associação Indígena Karipuna - AIKA [email protected]

[email protected]; [email protected]

Juan Carlos Miranda Consejo Regional Tsimane Mosetene [email protected]  

Julio Raimundo Jommmma Ascoyac    

Juraci Brasil Yawanawa      

Jurandir Tenharin Secretaria de Estado para os Povos Indígenas - SEIND [email protected] jurandir_tenharin@yahoo.

com.br

Juvencio da Silva Cardoso

Conselho de Desenvolvimento Territorial de São Gabriel da Cachoeira

[email protected] [email protected]

Kasiripinã Waiãpi Conselho das Aldeias Wajãpi - Apina [email protected] [email protected]

Katrin MarggraffDeutsche Gesellschaft für internationale Zusammenarbeit - GIZ

[email protected]  

L i s t a d o s P a r t i c i P a n t e s

M a P e a M e n t o s P a r t i c i P a t i V o s e G e s t à o d e t e r r i t Ó r i o s i n d Í G e n a s n a a M a Z Ô n i a 115

Page 116: Gestão de territórios indígenas na amazônia 2010

NOME INSTITUIÇÃO EMAIL 1 EMAIL 2

Kumãyari Ashaninka   c/ Vera Olinda  Liberacy de Souza Oliveira   [email protected]  

Loreen JubitanaVereniging Inheemse Dorpshoofden in Suriname - VIDS

[email protected] [email protected]

Macinaldo Forte Filho Associação Indígena Karipuna - AIKA [email protected] anapaula@institutoiepe.

org.br

Magna Cunha Gesellschaft fuer technische Zusammenarbeit - GTZ [email protected] [email protected]

Manoel Uilton dos Santos GEF Indígena [email protected]  

Manuela Ruiz Reyes Wildlife Conservation Society - WCS [email protected] [email protected]

Marcelino Rosa da Silva Katukina Acre c/ Vera Olinda  

Marcelo Piedrafita Iglesias

Assessoria Especial dos Povos Indígenas - AEPI [email protected]  

Maria Beatriz Nogueira Ribeiro

Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA [email protected]  

Maria José Cabral Gontijo

Instituto Internacional de Educação do Brasil - IEB [email protected]  

Maria Júlia Yawanawa ASCY [email protected]  Mariana Ciavatta Pantoja

Universidade Federal do Acre - UFAC [email protected]  

Marina Margarido Pessoa

Fundação Nacional do Índio - FUNAI [email protected]  

Marineide da Silva Maia [email protected]  Mario Leonardo Osorio Dominguez Instituto del Bien Común - IBC [email protected] [email protected]

Marizete de Souza Conselho Indígena de Roraima - CIR

[email protected]

[email protected]

Marta Nogueira de Azevedo

Secretaria de Meio Ambiente do Estado do Acre - SEMA [email protected]  

Martin Vidal Trochez Ukawesx Nasa cxab [email protected] [email protected]

Massimiliano LombardoUnited States Agency for International Development - USAID

[email protected] [email protected]

Megaron Txucarramãe Fundação Nacional do Índio - Funai [email protected]  

Michael Franz Schmidlehner Amazonlink.org [email protected]  

Miguel Aparicio Suarez Operação Amazônia Nativa - OPAN

[email protected] [email protected]

A N E X O i

S E M i N Á R i O i N T E R N A C i O N A L116

Page 117: Gestão de territórios indígenas na amazônia 2010

NOME INSTITUIÇÃO EMAIL 1 EMAIL 2

Miguelito Kraho Associação Wyty-Catë das Comunidades Timbira do MA c/ Pollyana Mendonça  

Moacir Haverroth Embrapa Acre [email protected] [email protected]

Nelson Ortiz Fundación Gaia Amazonas - FGA [email protected]  

Ney Jose Brito Maciel Universidade de Brasilia - UnB [email protected]  

Nicolas Betis COICA [email protected]  

Nilcelio Jiahui APIJ [email protected]  

Osmildo Silva da Conceição Kuntanawa

Organização dos Povos Indígenas do Juruá c/ Vera Olinda  

Pablo Hernan Jamioy Juajibioy

Organización Zonal Indigena del Putumayo - OZIP [email protected] [email protected]

Pablo Landívar Valverde Nacionalidad Waorani del Ecuador - NAWE [email protected] [email protected]

Panel Jezek Condrac [email protected] [email protected]

Pascale de RobertInstitut de Recherche pour le Développement - IRD/ Museu Paraense Emilio Goeldi - MPEG

[email protected] [email protected]

Paul Elliot Little Fundação Gordon e Betty Moore [email protected]  

Paulino Montejo Silvestre

Articulação dos Povos Indígenas do Brasil - APIB [email protected]  

Pedro Constantino [email protected]  

Perankô PanaráSecretaria de Educação Municipal de Guarantã do Norte / MT

[email protected]  

Pollyana Mendonça Centro de Trabalho Indigenista - CTI

[email protected]  [email protected]

Rachel Ribeiro Lange IEPÉ [email protected] [email protected] Gomes da Silva Francisco das Chagas Pereira

     

Renata Aparecida Alves Instituto Socioambiental - ISA [email protected] [email protected]

René Monerville Prefeitura de Camopi [email protected]  Roberto Lucitante Aguinda FEINCE [email protected]  

Sahieda Joemratie ACT - Suriname [email protected] [email protected]

L i s t a d o s P a r t i c i P a n t e s

M a P e a M e n t o s P a r t i c i P a t i V o s e G e s t à o d e t e r r i t Ó r i o s i n d Í G e n a s n a a M a Z Ô n i a 117

Page 118: Gestão de territórios indígenas na amazônia 2010

NOME INSTITUIÇÃO EMAIL 1 EMAIL 2

Silas Marques FerreiraCoordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira - COIAB

[email protected] [email protected]

Simón Tose Tyamara mepe Chonoko

Comunidad Eñepa de Kayamá - CEK c/ Eglee Lopez-Zent c/ Alirio Juae Molo

Sineia Bezerra do Vale Conselho Indígena de Roraima - CIR [email protected]

Sonia Bone de Souza Silva Santos   soniaguajajara@hotmail.

com  

Terri Aquino do Valle FUNAI [email protected]  Valdete da Silva Pinhanta Aldeia Apiwtxa, Acre wewitopianko@hotmail.

com c/ Vera Olinda

Varney da Silva Tavares Kanamary

Centro de Trabalho Indigenista - CTI c/ Pollyana Mendonça  

Vera Olinda Comissão Pró-Índio do Acre - CPI Acre [email protected]  

Wachana Yayamochi   c/ Andrew Demetro  Waldir da Silva Cruz Júnior waldircruzjunior@gmail.

com  

Wallece Justino Apurinã    

Wesley Luis Pacheco Equipe de Conservação da Amzônia - ACT Brasil [email protected] [email protected]

Wuta Wajimnu   c/ Sahieda Joemratie  

A N E X O i

S E M i N Á R i O i N T E R N A C i O N A L118

Page 119: Gestão de territórios indígenas na amazônia 2010

HORÁRIOS 15.11 16.11 17.11 18.11 19.11

Manhã08 h30 às 12 h

Reunião Preparatória

Credenciamento

Recepção e Credenciamento

Programação e Metodologia do Seminário

Painel 1: Apresentação de Experiências

Retomada dos Trabalhos

Painel 4: Apresentação de Experiências

Retomada dos Trabalhos

GTs

Retomada dos Trabalhos

Plenária: Resul-tados e Encami-nhamentos dos GTs

12 h às 13 h30 Almoço Almoço Almoço Almoço

Tarde13 h 30 às 15 h 30

Painel 2:Apresentação de Experiências

Painel 5: Apresentação de Experiências

GTs

Mesa-redonda – Apreciação Avaliativa do Seminário

15 h 30 às 16 h Intervalo Intervalo Intervalo Intervalo

16 h às 18 hPainel 3: Apresentação de Experiências

Painel 6: Apresentação de Experiências FEIRA: Trocando Experiências de Mapeamentos Participativos e Gestão de Territórios Indígenas

GTs

Plenária: Avaliação Final

Encerramento

18 h Mesa de Abertura Preparação da

Feira Feira20 h Jantar de

Confraternização

Anexo II – Programação do Seminário Internacional: 15 a 19 de Novembro de 2010

A N E X O i i - P r O g r A m A ç ã O d O S E m i N á r i O i N t E r N A c i O N A l

m A P E A m E N t O S P A r t i c i P A t i V O S E g E S t ã O d E t E r r i t Ó r i O S i N d Í g E N A S N A A m A Z Ô N i A 119

Page 120: Gestão de territórios indígenas na amazônia 2010

Anexo III – Apresentação Powerpoint Coica

A N E X O i i i

S E M i N Á R i O i N T E R N A C i O N A L120

Page 121: Gestão de territórios indígenas na amazônia 2010

A p r e s e n t A ç ã o p o w e r p o i n t C o i C A

M A p e A M e n t o s p A r t i C i p A t i V o s e G e s t ã o D e t e r r i t Ó r i o s i n D Í G e n A s n A A M A Z Ô n i A121

Page 122: Gestão de territórios indígenas na amazônia 2010

A N E X O i i i

S E M i N Á R i O i N T E R N A C i O N A L122

Page 123: Gestão de territórios indígenas na amazônia 2010

A p r e s e n t A ç ã o p o w e r p o i n t C o i C A

M A p e A M e n t o s p A r t i C i p A t i V o s e G e s t ã o D e t e r r i t Ó r i o s i n D Í G e n A s n A A M A Z Ô n i A123

Page 124: Gestão de territórios indígenas na amazônia 2010

A N E X O i i i

S E M i N Á R i O i N T E R N A C i O N A L124

Page 125: Gestão de territórios indígenas na amazônia 2010

A p r e s e n t A ç ã o p o w e r p o i n t C o i C A

M A p e A M e n t o s p A r t i C i p A t i V o s e G e s t ã o D e t e r r i t Ó r i o s i n D Í G e n A s n A A M A Z Ô n i A125

Page 126: Gestão de territórios indígenas na amazônia 2010

A N E X O i i i

S E M i N Á R i O i N T E R N A C i O N A L126

Page 127: Gestão de territórios indígenas na amazônia 2010

A p r e s e n t A ç ã o p o w e r p o i n t C o i C A

M A p e A M e n t o s p A r t i C i p A t i V o s e G e s t ã o D e t e r r i t Ó r i o s i n D Í G e n A s n A A M A Z Ô n i A127

Page 128: Gestão de territórios indígenas na amazônia 2010

A N E X O i i i

S E M i N Á R i O i N T E R N A C i O N A L128

Page 129: Gestão de territórios indígenas na amazônia 2010

A p r e s e n t A ç ã o p o w e r p o i n t C o i C A

M A p e A M e n t o s p A r t i C i p A t i V o s e G e s t ã o D e t e r r i t Ó r i o s i n D Í G e n A s n A A M A Z Ô n i A129

Page 130: Gestão de territórios indígenas na amazônia 2010

A N E X O i i i

S E M i N Á R i O i N T E R N A C i O N A L130

Page 131: Gestão de territórios indígenas na amazônia 2010

Anexo IV – Roteiro para Apresentação Oral

A N E X O i V - R O t E i R O p A R A A p R E s E N t A ç ã O O R A l

M A p E A M E N t O s p A R t i C i p A t i V O s E G E s t ã O D E t E R R i t Ó R i O s i N D Í G E N A s N A A M A Z Ô N i A131

Page 132: Gestão de territórios indígenas na amazônia 2010

Anexo V – Avaliação Final

Ficha de Avaliação Final

01 – Como você avalia os objetivos do seminário?

Fraco

Regular

Bom

Excelente74%

22%

4% 0%

A N E X O V

S E M I N Á R I O I N T E R N A C I O N A L132

Page 133: Gestão de territórios indígenas na amazônia 2010

02 – Como você avalia a metodologia utilizada no seminário?

Fraco

Regular

Bom

Excelente

50%36%

14%

0%

AvA l i A ç ã o F i n A l

M A P E A M E n T o S P A R T i C i P A T i v o S E G E S T ã o D E T E R R i T Ó R i o S i n D Í G E n A S n A A M A Z Ô n i A133

Page 134: Gestão de territórios indígenas na amazônia 2010

03 – Como você avalia a organização e a realização do seminário?

A - RecepçãoB – HospedagemC – TransporteD – Alimentação

05

10152025303540

C - Transporte

A - Recepção

D - Alimentação

B - Hospedagem

FracoRegularBomExcelente

A N E X O V

S E M I N Á R I O I N T E R N A C I O N A L134

Page 135: Gestão de territórios indígenas na amazônia 2010

04 – Como você avalia os locais de realização do seminário?

A – Usina de ArteB – CFPF (Sítio CPI Acre)

0

20

40

A - Usina de Arte

B - CFPF (Sítio CPI Acre)

FracoRegularBomExcelente

AvA l i A ç ã o F i n A l

M A P E A M E n T o S P A R T i C i P A T i v o S E G E S T ã o D E T E R R i T Ó R i o S i n D Í G E n A S n A A M A Z Ô n i A135

Page 136: Gestão de territórios indígenas na amazônia 2010

05 - Como você avalia o material disponibilizado pela organização do seminário?

Fraco

Regular

Bom

Excelente

50%36%

14% 0%

A N E X O V

S E M I N Á R I O I N T E R N A C I O N A L136

Page 137: Gestão de territórios indígenas na amazônia 2010

06 – Como você avalia o tempo de duração do seminário?

A – Painéis de ExperiênciaB – Feira Trocando ExperiênciasC – Grupos de TrabalhoD – Plenária FinalE – Mesa-redonda

0

5

10

15

20

25

30

FracoRegularBomExcelente

E - Mesa Redonda

D - Plenário Final

C - Grupos de Trabalho

B - Feira Trocando Experiências

A - Painéis de Experiência

AvA l i A ç ã o F i n A l

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Page 138: Gestão de territórios indígenas na amazônia 2010

07 – Como você avalia a ampliação dos seus conhecimentos sobre mapeamentos participativos e gestão de territórios indígenas por meio do seminário?

08 – Como você avalia a possibilidade de aplicação e/ou reaplicação dos novos conhecimentos adquiridos no seminário?

09 – Como você avalia a atuação do facilitador?

10 – Como você avalia a participação dos presentes ao seminário?

0

20

40

FracoRegularBomExcelente

C - Transporte

A - Recepção

D - Alimentação

B - Hospedagem

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Page 139: Gestão de territórios indígenas na amazônia 2010

11 – Como você avalia o alcance dos resultados do seminário?

Parcialmente Alcançados

Integralmente alcançados52% 48%

AvA l i A ç ã o F i n A l

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Page 140: Gestão de territórios indígenas na amazônia 2010

12 - Como você avalia o resultado do seminário em termos de encaminhamentos e próximos passos?

Fraco

Regular

Bom

Excelente

41%48%

9% 2%

Relacione as atividades que mais gostou durante o seminário. » O trabalho em grupo (tema e constituição);

» Grupos de trabalho, plenária, apresentações;

» Feira de experiências, trabalhos em grupo, painel de experiências;

» Eu gostei mais da apresentação das experiências e seus produtos elaborados e publicados por meio das mobilizações e articulações próprias de pessoas que vieram de diferentes regiões, estados e países;

» Apresentações, grupos de trabalho, feira;

» A participação no grupo de trabalho;

A N E X O V

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Page 141: Gestão de territórios indígenas na amazônia 2010

» O trabalho em grupo, as trocas entre os povos;

» Palestras e apresentações das experiências, atividades da feira, todas as atividades;

» Feira, GTs, diversidade de povos indígenas e países;

» Grupo de trabalhos, apresentação dos trabalhos;

» Grupos de trabalhos;

» Trabalho de grupo;

» A troca de experiência entre os povos indígenas de diferentes países;

» Tema – gestão territorial, mapeamentos; falar com representantes de outros povos e de outros países;

» Plenário onde foi feito a reunião;

» Os trabalhos em grupo;

» Todas as apresentações de experiência de mapeamento e Gestão territorial, feira de experiência e as articulações com outras organizações;

» Muito boa;

» Trabalhos em grupos;

» Grupo de trabalho, apresentação da PGATI.

Relacione as atividades que menos gostou durante o seminário.

» Trabalho em grupo (sistematização);

» Gostei de tudo;

» Não há nenhum trabalho de que eu não tenha gostado; gostei de todos que foram tratados, discutidos e produzidos;

» Nenhuma;

» A última sessão de apresentações orais foi muito longa;

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Page 142: Gestão de territórios indígenas na amazônia 2010

» Muitas exposições seguidas num só dia;

» Todas as atividades foram boas;

» Tempo em relação às exposições de painéis e respostas quanto às tematicas não suficiente; necessidade de tempo para maiores discussões;

» O tempo de exposição das experiências (painéis) foi muito curto. Nós bolivianos tivemos que apresentar 3 experiências em 15 minutos;

» As apresentações das técnicas de apoio aos indígenas;

» Eu não gostei do local;

» Gostei de todas porque os temas foram interessantes;

» Excelente.

Relacione o que faria melhor ou diferente no seminário.

» Eu propiciaria meios para que os visitantes de fora pudessem conhecer um pouco mais o lugar onde estão se reunindo. Ex.: um tour pela cidade ou apresentações de artistas locais;

» Acho que poderia haver mais dias de trabalhos do seminário, para poder se discutir mais, conhecer mais do trabalho, experiências e suas realidades de lutas;

» Cuidados com a linguagem muito rebuscada ou técnica;

» Teria sido interessante organizar um exercício de mapeamento e diagnóstico de grupo, para conjugar melhor a teoria e o conhecimento com a prática;

» Deixaria os espaços de discussão (perguntas, comentários, etc), em outro lugar mais aberto para que as pessoas não se fatiguem do espaço preto da Usina;

» Mais participação de lideranças locais pela importância do trabalho que existe no estado;

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Page 143: Gestão de territórios indígenas na amazônia 2010

» Integrar a participação maior dos governos e entidades não governamentais;

» Organizar e distribuir melhor o tempo de duração dos painéis, disponibilizar uma maior quantidade de materiais para troca;

» Envolveria a participação direta dos técnicos indígenas nas apresentações (capacitação e conhecimento dos territórios);

» Os próprios índios moderando o seminário e apresentando as experiencias do mapeamento;

» Tudo e mesmo a aldeia do povo indígena é muito excelente.

Faça algum comentário, proposta, sugestão ou observações adicionais sobre o seminário.

» Parabenizo a equipe do IEB e dos coordenadores pela realização e pela qualidade desse importante evento. Queria opinar a favor da continuidade desse tipo de evento, de tempo em tempo, para favorecer o monitoramento e o aprofundamento dos entendimentos e prática da cartografia participativa. Poderíamos pensar em constituir uma rede, talvez uma sub-rede da Rede RAISG;

» Poderia haver mais participantes e presença de todos os órgãos do Brasil, como IBAMA, IMAC, Policía Federal, ou da própria FUNAI;

» Sugestão de apresentações realizadas apenas por indígenas, exceções aos casos que necessitam tradução;

» Senti falta de uma participação mais expressiva e transparente dos representantes dos governos e dos doadores internacionais – não foram registrados ou apresentados posicionamentos dessas entidades;

» Banco de dados de demandantes (indígenas e oferentes –

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Page 144: Gestão de territórios indígenas na amazônia 2010

técnicos indígenas, agentes agroflorestais) de capacitação em SIG, realização de mapas, etc;

» Minha observação é melhorar a tradução;

» Buscar meios de garantir as representatividades das organizações e instituições presentes para os próximos encontros e seminários;

» Que seja coordenado pelas organizações indígenas com apoio dos parceiros;

» Seria importante para futuros eventos que se disponha de mais tempo, espaços e equipes necessarios para a apresentação de material audiovisual;

» Que haja mais tempo nos próximos encontros;

» Pouco tempo para intercâmbio e para participar em diferentes atividades;

» Divulgação de alguns vídeos e exposição de artesanato;

» Devem ser realizados mais eventos sobre este tema e os direitos dos povos indígenas; deveriam fazer outros eventos sobre as normas, conhecimentos ancestrais e direito à consulta dos povos indígenas;

» Gostaria que no próximo evento os indígenas fossem os moderadores para as organizações e instituições do governo;

» Que participem mais indígenas na discussão do evento;

» Gostaria que fosse feito consulta sobre este seminário;

» Nos seminários que podem e vão acontecer a participação de não indígenas, que estes não interfiram de forma impositiva nos trabalhos, que sejam mais flexíveis quando tratarmos de opiniões indígenas;

» Excelente;

» Que haja mais seminários dessa natureza em outros lugares.

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Page 145: Gestão de territórios indígenas na amazônia 2010

A – Dados pessoais

Gênero:

Feminino

Masculino

78%

22%

Idade/ Edad:

0 5 10 15 20 25

acima de 6046 - 5936 - 4526 - 35

até 25 anos

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Page 146: Gestão de territórios indígenas na amazônia 2010

Instituição: Iepé; FUNAI; Instituto Venezolano de Investigaciones Científicas (IVIC); ISA; OPIAC/AC; ISA; USAID; FEINCE; WCS - Ecuador; WCS – Colômbia; CIR, Insikiran; Secretaria de Estado para os Povos Indígenas/AM; CRTM – Bolívia; CIPTA Consejo Indígena del Pueblo Takana; Pueblo Leco-Apolo; OPIPAM; COIAB. APIJ; Conselho Indígena de Roraima; San José de Kayamá; CTI; AFP/PA; IRD/MPEG; SEMA/PA; Associaçao Wyty-Catë; FUNAI; CI – Guyana;

Povo: Asheninka; Ítalo-brasileiro; Cofan; Waorani; Pueblo indigena Shipibo Conibo; Macuxi; Tenharin; Tsimane/Mosetene, Takana; Leco; Parintintin; Guajajara; Jiahui;Wapichana; Jodi; Mebengôkre Kayapó; Tapuia; Gavião; Macushi. País/Estado/Cidade:

» Brasil/Amapá/Macapá;

» Brasil/Distrito Federal/Brasília;

» Venezuela/Miranda/San Antonio de Los Altos;

» Brasil/Amazonas/Manaus;

» Brasil/Acre/Marechal Thaumaturgo;

» Brasil/São Paulo/São Paulo;

» Ecuador/Sucumbrios/Lago Agrio;

» Ecuador/Pastaza/Puyo;

» Colombia/Bogotá D.C;

» Peru/Coronel Portillo/Pucallpa;

» Brasil/Roraima/Boa Vista;

» Bolívia/Beni/Rurrenabaque;

» Bolívia/ Iturralde/La Paz;

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Page 147: Gestão de territórios indígenas na amazônia 2010

» Bolívia/ Franz Tamayo/La Paz;

» Brasil/ Amazonas/ Humaitá;

» Brasil/ Maranhão;

» Venezuela/ Bolívar/ Bolívar;

» Brasil/ PA/ TI Kayapó;

» Brasil/Pará/Belém;

» Guyana/Region#9/Georgetonw.

Profissão » Analista/Funai;

» Assessora ambiental TI Wajâpi;

» Etnobióloga/Etnoecóloga;

» Analista de Pesq. e Des. Sociambiental/Ecólogo;

» Professor e Coordenador de escola;

» Ecóloga – analista de geoprocessamneto;

» Coodenador de Projetos de Cooperação internacional;

» Biólogo;

» Engenheiro agropecuário;

» Ecóloga – oficial de Programa Amazônia, WCS Colômbia;

» Promotor indígena;

» Técnico em agropecuária e manejo ambiental;

» Técnico de fortalecimento das organizações indígenas;

» Guardaparque;

» Estudiante;

» Dirigente;

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Page 148: Gestão de territórios indígenas na amazônia 2010

» Coordenador-geral OPIPAM;

» Professora;

» Coordenador geral administrativo;

» Gestora ambiental;

» Estudiante universitário;

» Coordenadora de projetos;

» Cineasta Mebengôkre Kayapó;

» Antropóloga;

» Professsor/Coordenador de políticas públicas.

Formação » Ciências Sociais;

» Engenheira Florestal;

» Doutorado – PhD;

» Ensino médio/Graduando na UFAC, campus da floresta – Cruzeiro do Sul, AC;

» Pós-graduação em Gestão ambiental e ordenamento territorial;

» Agrônomo;

» Ecologia;

» Cursando o superior em Gestão Territorial Indígena – UFRR;

» Técnico agrícola;

» Planejamento e gestão territorial de áreas protegidas e territórios indígenas;

» Estudiante;

» Letras;

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Page 149: Gestão de territórios indígenas na amazônia 2010

» Técnico em manejo;

» Gestão ambiental;

» Enfermaria;

» Ensino fundamental;

» Ecologia vegetal;

» Antropologia;

» Biologia;

» Magistério indígena.

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