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GLOBULINA BETA DO LÍQUIDO CEFALORRAQUEANO NO PROGNÓSTICO DE PROCESSOS INFLAMATÓRIOS DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL A. SPINA-FRANÇA * O prognóstico das afecções neurológicas depende, em grande parte, da existência, ou não, de lesões do parênquima nervoso e de sua reversibili- dade. A avaliação do caráter dessas lesões constitui um dos problemas mais difíceis para o neurologista convocado para opinar sôbre a evolução de processos que acometem o sistema nervoso central (SNC). Em vista disso, em quase todos os campos das ciências neurológicas vêm sendo pro- curados dados que permitam esclarecer quanto aos caracteres assumidos pelas lesões do parênquima nervoso. No tocante à bioquímica do líquido cefalorraqueano (LCR) já existem elementos capazes de contribuir para a avaliação da intensidade e do caráter das lesões do SNC 16 , destacando-se os conhecimentos sôbre o comportamento das proteínas resultantes da in- trodução da eletroforese como método de indagação paraclínica 50, 51 . Particularidades do comportamento da globulina beta têm levado a ad- mitir que sua concentração no LCR dependa, pelo menos em parte, do me- tabolismo do parênquima nervoso 37 , pois tem sido verificado aumento dessa globulina no decurso de afecções degenerativas de tipo primário com sinto- matologia predominantemente encefálica. Aumentos no teor de globulina beta também têm sido assinalados em processos de outra natureza, levando a admitir que sejam devidos à superveniência de processos degenerativos secundários 22, 23, 57 . Êste estudo visa a analisar o comportamento da globulina beta no LCR na vigência de certos processos inflamatórios do SNC e/ou de seus envol- Tese apresentada para concurso à Docência-Livre de Clínica Neurológica na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo: * Médico assistente de Clí- nica Neurológica (Prof. Adherbal Tolosa). Nota do autor — Aos dirigentes e assistentes da Clínica Neurológica da Facul- dade de Medicina da Universidade de São Paulo os nossos agradecimentos pela orientação e pelo apoio que têm dado ao nosso trabalho. Agradecemos também a cooperação do Dr. Günter Hoxter, introdutor da eletroforese em papel em nosso meio.

GLOBULINA BETA DO LÍQUIDO CEFALORRAQUEANO … · 2013-08-23 · grupo heterogêneo; tomando como base propriedades imunoquímicas, cêrca de 20 ... mento do teor de globulina gama,

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GLOBULINA BETA DO LÍQUIDO CEFALORRAQUEANO NO PROGNÓSTICO DE PROCESSOS INFLAMATÓRIOS DO

SISTEMA NERVOSO CENTRAL

A . SPINA-FRANÇA *

O prognóstico das afecções neurológicas depende, em grande parte, da existência, ou não, de lesões do parênquima nervoso e de sua reversibili-dade. A avaliação do caráter dessas lesões constitui um dos problemas mais difíceis para o neurologista convocado para opinar sôbre a evolução de processos que acometem o sistema nervoso central (SNC) . Em vista disso, em quase todos os campos das ciências neurológicas vêm sendo pro­curados dados que permitam esclarecer quanto aos caracteres assumidos pelas lesões do parênquima nervoso. No tocante à bioquímica do líquido cefalorraqueano (LCR) já existem elementos capazes de contribuir para a avaliação da intensidade e do caráter das lesões do S N C 1 6 , destacando-se os conhecimentos sôbre o comportamento das proteínas resultantes da in­trodução da eletroforese como método de indagação paraclínica 50, 5 1 .

Particularidades do comportamento da globulina beta têm levado a ad­mitir que sua concentração no LCR dependa, pelo menos em parte, do me­tabolismo do parênquima nervoso 3 7, pois tem sido verificado aumento dessa globulina no decurso de afecções degenerativas de tipo primário com sinto­matologia predominantemente encefálica. Aumentos no teor de globulina beta também têm sido assinalados em processos de outra natureza, levando a admitir que sejam devidos à superveniência de processos degenerativos secundários 22, 23, 5 7 .

Êste estudo visa a analisar o comportamento da globulina beta no LCR na vigência de certos processos inflamatórios do SNC e/ou de seus envol-

Tese apresentada para concurso à D o c ê n c i a - L i v r e de Clínica Neuro lóg i ca na Facu ldade de Medic ina da Univers idade de São P a u l o : * Médico assistente de Cl í ­nica N e u r o l ó g i c a (P ro f . Adhe rba l T o l o s a ) .

Nota do autor — A o s dir igentes e assistentes da Clínica Neuro lóg i ca da Facu l ­dade de Medicina da Univers idade de São Pau lo os nossos agradec imentos pela or ien tação e pelo apoio que têm dado ao nosso t rabalho. A g r a d e c e m o s t a m b é m a cooperação do Dr. Günter Hox te r , in t rodutor da e le t roforese em papel em nosso meio .

tórios, no sentido de verificar se nessas condições ocorrem modificações que possam estar relacionadas com processos degenerativos encefálicos desen­cadeados pela reação inflamatória ou a ela associados. Em essência, o ob­jetivo é verificar se o aumento da globulina beta no LCR tem significação para o prognóstico de processos inflamatórios do SNC e/ou de seus envol­tórios.

Dados gerais sôbre as proteínas do LCR — T e m sido demonstrado que a a lbu­mina é f ração de composição h o m o g ê n e a 4 . A s globulinas, ao contrár io, const i tuem grupo he te rogêneo ; tomando como base propriedades imunoquímicas , cêrca de 20 frações fo r am ver i f icadas por Goodman e V u l p e 1 5 ; empregando o método imunele t ro-foré t ico , mais de 10 frações fo r am identif icadas a té o presente 4 28. Com base nos caracteres de m i g r a ç ã o em campo e lé t r ico , dist ingue-se 4 tipos de globul inas — alfa 1

alfa 2 , beta e g a m a — que consti tuem, na real idade, agrupamentos globul inicos . Essa classif icação é adotada neste estudo por estar re lac ionada ao mé todo e le t ro -foré t ico empregado . E m conseqüência, cada f ração será refer ida como unidade e os fenômenos observados e m re lação a cada uma delas serão considerados do ponto de vis ta da sua homogene idade na e le t roforese em papel.

N o perfi l protê ico normal do L C R 5 3 a par t ic ipação da a lbumina e das g lobul i ­nas a l fa se faz e m percentagens semelhantes às encontradas no sôro sangüíneo; a de g lobul ina beta é ma io r (1,5 a 2 v ê z e s ) e a de g lobul ina g a m a é menor (cêrca da m e t a d e ) . A pré-a lbumina part icipa e m pequena proporção do perfil prote ico do L C R . P o r vêzes , separa-se da globul ina beta uma subfração (be t a 2 ou t a u ) .

Os métodos empregados para a anál ise das proteínas l e v a m a admi t i r que a ma io r parte das frações encontradas no L C R provenha do sangue por u l t ra f i l t ração a t ravés da barre i ra h ê m a t o - l i q u ó r i c a 7 . Dados fornecidos por vá r ios métodos auto­r i zam a adotar essa exp l i cação quanto à o r i g e m das frações a lbumina e g lobul ina al fa do L C R tanto em condições normais como em circunstâncias pa to lógicas 11, 18, 21, 43. Entre tanto , o mesmo não pode ser di to e m re lação às globul inas beta e gama, cujos teores, ao menos e m par te e especia lmente e m casos patológicos , l e v a m a admi t i r a par t ic ipação de causas locais.

A concent ração de globulina beta no L C R resulta de cont ingente que p r o v é m do sangue 9, 58, p r o v à v e l m e n t e por u l t raf i l t ração, e de cont ingente na dependência do metabol i smo do parênquima nervoso 1 3 , 3 2 , 4 0 , 4 2 . Fo i E s s e r 1 0 que, em 1952, baseado no aumento dessa g lobul ina no L C R e m processos degenera t ivos do SNC, considerou a g lobul ina beta como f ração dependente do metabo l i smo cerebral . Vár ios autores conf i rmaram êsse achado que passou a ser considerado como indica t ivo de proces­sos que aca r re tam destruição progress iva do parênquima nervoso 3, 17, 46, 5 1 . O aumento da concent ração de g lobul ina beta nessas condições costuma ser discreto, mas é su­f ic iente para carac te r izar as a l te rações do p ro te inograma do L C R em afecções de t ipo d e g e n e r a t i v o 3 7 . E m uma série de casos dessas a f e c ç õ e s 5 3 a distr ibuição dos teores de g lobul ina beta era di ferente da normal dev ido aos va lô res mais e levados encontrados nos casos de sofr imento encefá l ico predominante .

De modo gera l , a g lobul ina beta pode ser considerada como fração his t iógena, estando re lacionada à a t i v idade metabó l ica dos e lementos celulares consti tuintes de tecidos. Estudos do perf i l e le t ro foré t i co das proteínas solúveis de diversos tecidos mos t r am o predominio de f ração correspondente à g lobul ina beta 1 9 , 4 7 , 4 9 . Apesa r das dif iculdades t écn icas 2 9 , a e le t roforese das proteínas solúveis do cérebro mostra pre­domínio dessa f ração sôbre as demais g l o b u l i n a s 3 1 .

E m condições normais e em certos processos pa to lógicos 6 , 3 6 , quase tôda a globu­lina gama do L C R p r o v é m do sangue. Ent re tan to , a produção ubiqüi tár ia dessa globul ina na economia humana, devida à a t i v idade de e lementos do sistema re t ículo-endotel ial , l eva a admi t i r sua produção no sistema nervoso. E m processos inf lama­tórios crônicos do S N C e de seus envol tór ios , os dados obtidos pelo estudo e le t ro fo ­r é t i c o 3 3 , i m u n e l e t r o f o r é t i c o 5 e imunoquímico 3 4 , 3 3 , bem como aquêles obtidos com o

e m p r ê g o de proteínas marcadas com isótopos r a d i o a t i v o s 1 2 , são f a v o r á v e i s a essa

hipótese. Ass im, o aumento da concent ração da g lobul ina g a m a no L C R e m pro­

cessos in f lamatór ios pode decorrer tan to do aumento da permeabi l idade da barreira

hêmato- l iquór ica como de sua produção loca l ou, ainda, da con jugação dêsses dois

fatôres 3 8 .

Gera lmen te os aumentos devidos à ma io r permeabi l idade da barre i ra hêma to -

l iquór ica ocor rem nos processos inf lamator ios agudos, condições em que há passagem

de proteínas do sangue para o L C R ; aumentando a concent ração de proteínas totais

no L C R , o aumento da concentração de g lobul ina gama é para le lo ao aumento da

concent ração das demais frações; e m conjunto, o perf i l protê ico do L C R não perde

seu aspecto normal ou modif ica-se no sentido de aprox imar - se do perfil protê ico

do sôro. N o s processos in f lamatór ios subagudos a intensidade das a l terações da

barreira hêmato- l iquór ica é menor e, ao mesmo tempo, pode ocorrer produção loca l

de imunoprote ínas; como resultado, o aumento da concent ração protêica to ta l do

L C R costuma ser menor que nos processos agudos e o perf i l p ro tê ico mostra au­

men to do teor de g lobul ina gama, com diminuição r e l a t i va de outras frações. N o s

processos inf lamatór ios crônicos a produção de imunoprote ínas é mais acentuada,

sendo discretas as a l terações da barre i ra hêmato- l iquór ica ; a concent ração de pro­

teínas totais do L C R apresenta-se d iscre tamente aumentada ou normal e, no perf i l

protêico, torna-se ní t ido o predomínio da g lobul ina g a m a sôbre as demais frações.

O compor tamento da globul ina g a m a no L C R permite , portanto, a v a l i a r uma

par te dos fenômenos imunopa to lóg icos que se de senvo lvem nos processos inf lama­

tórios do S N C e seus envol tór ios , carac ter izando tipos diversos de tais processos,

p ra t i camente de acôrdo com os agrupamentos fe i tos com base em aspectos cl ínicos

e e m outros dados l abo ra to r i a i s 2 5 . P o r ou t ro lado, a concent ração de g lobul ina

g a m a no L C R serve como indicadora de a l terações do metabo l i smo protê ico decor­

rentes de processos cuja e t io log ia nem sempre é de o rdem infecciosa, como sejam

certas formas de encefal i tes e miel i tes 2 , nas quais ocorre aumento de g lobul ina gama,

poss ive lmente como resultado de reações imuno-a lé rg icas . Os caracteres do protei-

n o g r a m a do L C R nessas doenças pe rmi t em classif icá-las ent re os observados nos

processos in f lamatór ios crônicos do sistema n e r v o s o 8 , 6 0 .

Quando ocorre aumento acentuado de g lobul ina g a m a no L C R , par t icular idades

do compor tamento de outras frações podem ser mascaradas. Essa interferência

é observada especia lmente em re lação a frações sujeitas a modif icações de menor

intensidade, como a g lobul ina beta, e é mais nít ida quando seja considerada a sua

pe rcen tagem no perf i l protê ico. P a r a estudar o compor tamen to da g lobul ina beta

no L C R em processos inf lamatór ios , afas tando a causa de ê r ro dev ida à in terferên­

cia referida, torna-se necessário considerar o compor tamen to de sua concentração

e não do seu teor r e l a t i vo .

Para fins diagnósticos e prognósticos, a interpretação do proteinograma do LCR deve obedecer a diretriz mista, clínico-laboratorial, que contribui para melhor conhecimento das condições do equilíbrio protêico do LCR de cada caso em particular. O estudo puramente biológico mediante a eletro-forese em papel não tem a precisão necessária2 6 , 4 8 , podendo levar o pes­quisador a perder-se em detalhes de ordem especulativa4 4, sem maior inte­rêsse para o domínio clínico. Conclusões precárias também podem ser de­duzidas do tratamento global dos resultados por métodos estatísticos ina­dequados para a análise de dados eletroforéticos 27. Assim sendo, sempre que possível os resultados consignados neste trabalho foram interpretados mediante confronto com a sintomatologia, evitando-se ultrapassar os limites de precisão do método eletroforético empregado 2 4 .

M A T E R I A L E M É T O D O S

F o r a m analisados os dados referentes a 45 pacientes com afecções in f lamato­rias do SNC e /ou de seus envol tór ios , distribuídos em 6 grupos: os 2 pr imeiros reu­nem 15 pacientes com processos inf lamator ios que p r o v a v e l m e n t e não acomet i am o parênquima nervoso; nos 15 casos seguintes (grupos 3 e 4 ) o parênquima nervoso poderia, ou não, es tar compromet ido ; nos 15 úl t imos (grupos 5 e 6 ) o parênquima nervoso era a sede predominante do processo pa to lóg ico . Os dados referentes a ident i f icação dos doentes e ao diagnóst ico dos casos são referidos na tabela 1.

O L C R foi colhido por punção suboccipital em 28 pacientes (casos 11, 12, 14, 15, 18 a 24, 26 a 29, 31, 32 e 35 a 45) e, por punção lombar , nos restantes; a di­nâmica no canal raqueano era normal nestes úl t imos casos. N a tabela 2 são re­feridos os caracteres c i to lóg icos das amostras estudadas. A reação de Wassermann era pos i t iva nas amostras dos pacientes do grupo 5 (neuro lues ) e nega t i va nos demais ; nas amostras de 4 pacientes dêsse g rupo a reação de Steinfeld t ambém foi pos i t iva (casos 31, 32, 33 e 3 5 ) . A reação de f ixação do complemento para cist icercose foi posi t iva nas amostras de L C R dos pacientes do grupo 4 (neurocis-t i c e r c o s e ) .

P a r a es tabelecer o p ro te inograma do L C R foi fei ta a de te rminação da concen­t r ação de proteínas to ta is e a anál ise das frações protêicas. A concentração pro­têica to ta l foi de terminada pelo método turb id imétr ico do ácido t r ic loracé t ico , se­gundo padronização da técnica de Bossak e co l . 5 6 . A anál ise das frações protê icas foi fe i ta median te o emprêgo da e le t roforese e m papel, segundo padronização da técnica de Grassmann e H a n n i g 5 2 . A concent ração das amostras de L C R foi fei ta pela diál ise contra solução macromolecu la r de g o m a arábica.

O cá lculo das percentagens referentes a cada f ração protê ica foi fe i to segundo o método de Morr ison e S l o c u m 4 1 , após anál ise do perf i l p ro tê ico pe lo mé todo de H o x t e r e col . 5 0 . Os resultados obtidos mediante e le t roforese fo ram considerados e m função da concent ração protê ica to ta l da amostra .

Os dados obtidos fo ram interpretados e m re lação aos padrões normais es tabele­cidos pelo emprego das mesmas t é cn i ca s 5 3 , 0 6 e mediante confronto com os aspectos cl ínicos dos casos, l evando em consideração o local de proveniência da a m o s t r a 4 5 . Os l imites de precisão adotados para a anál ise das cifras fo ram aquêles que ca­rac te r i zam os métodos empregados 14.

O compor tamento da g lobul ina beta foi a v a l i a d o pe lo estudo da sua par t ic ipa­ção no perfi l p ro tê ico e pela re lação en t re sua pe rcen tagem e a da a lbumina em cada caso (re lação beta/A). A s var iações da concent ração da g lobul ina beta no L C R fo ram ava l i adas em re lação à concent ração normal respect iva. O compor ta­mento dessas var iações foi comparado ao compor t amen to das var iações da concen­t ração de albumina, t a m b é m ava l i ado em re lação à concentração normal respect iva . Os va lô res obtidos por me io dessa comparação para cada caso fo ram referidos c o m o índice beta/A. P a r a fins compara t ivos , foi ava l i ado do mesmo modo o compor ta ­mento das g lobul inas a l fa e gama .

A S P E C T O S C L Í N I C O S DOS CASOS E S T U D A D O S

São apresentados, aqui, os dados cl ínicos de ma io r interesse para a in te rpre­t ação do p ro te inograma do L C R . Como consta da tabela 1, os pacientes f o r am dis­tr ibuídos em 6 grupos.

Grupo 1 — Nes te grupo fo ram reunidos 10 pacientes (casos 1 a 10) com qua­dros radiculares e /ou medulares associados, ou não, a compromet imen to meníngeo , de ins ta lação aguda ou subaguda. E m 9 casos a doença t e v e evo lução f a v o r á v e l na sua fase principal , restando seqüelas de ma io r ou menor intensidade; em u m caso (caso 7 ) a evo lução foi progressiva, assumindo a s in tomato log ia cará ter as­cendente que l evou à mor te . O p ro te inograma do L C R foi estudado, no caso 7,

um mês após o início da doença e, no caso 8, durante a fase aguda das manifes­tações cl ínicas. N o s demais, o estudo e le t roforé t ico foi fe i to após a fase aguda.

Grupo 2 — Êste grupo compreende 5 pacientes (casos 11 a 15) com meningi tes agudas, de t ipo bacter iano. E m dois (casos 11 e 12) o p ro te inograma do L C R foi estudado durante a fase de instalação da mening i te ; o agen te e t io lóg ico foi identi­f icado e m um dêles (caso 12, Proteus mirabilis). Dois pacientes (casos 13 e 14) ap resen tavam repetidos surtos de men ing i t e aguda, p r o v a v e l m e n t e dependentes de focos intracranianos de infecção bacter iana e o p ro te inograma do L C R foi estudado por ocasião de um dêsses surtos; a e t io log ía não foi esclarecida nesses casos; ambos os pacientes f a l ece ram e o e x a m e necroscópico comprovou a exis tência de lepto-mening i te ; no caso 13, um granu loma inespecífico loca l izado na face anter ior do t ronco do encéfa lo e, no caso 14, um cran iofa r ingeoma, const i tu íam os p rováve i s focos a part i r dos quais o processo infeccioso se estendeu às lep tomeninges . N o caso 15, após ant ibiot icoterapia , o L C R apresentava quadro suges t ivo de mening i te bacter iana em invo lução ; o estudo e le t ro foré t i co foi fe i to em amostra colhida nesse período.

Grupo 3 — Nes te grupo fo ram reunidos 5 pacientes com neurotuberculose (casos 16 a 2 0 ) . E m dois a evo lução foi f a v o r á v e l (casos 18 e 2 0 ) , sendo o pro te inograma do L C R estudado durante a fase de remissão da s in tomato log ia e das a l terações do L C R ; os outros três pacientes fa leceram (casos 16, 17 e 1 9 ) .

N o caso 16 a paciente vinha-se submetendo ao t r a t amen to de modo i r regula r ; cêrca de um mês antes da mor t e ocorreu piora das a l te rações do L C R , embora cl i ­n icamente não houvesse a l t e ração ap rec iáve l ; a lguns dias depois começa ram a ma­nifestar-se sinais de piora cl ínica t ambém; o estado da paciente se a g r a v o u pro­gress ivamente , sobrevindo coma e, a seguir, a mor te ; não foi fei ta necropsia; o p ro te inograma do L C R foi estudado por ocasião da piora das a l te rações do L C R . N o caso 17 as manifestações cl ínicas surg i ram cêrca de um ano antes da morte , caracter izando-se por a l te rações sens i t ivo-motoras nos membros infer iores e, depois, nos membros superiores; o e x a m e do L C R mostrara discreta pleoci tose l in fomono-nuclear, h iperprote inorraquia e taxas de cloretos e gl icose normais ; o quadro c l í ­nico piorou lentamente , surgindo a l terações da consciência, seguidas de coma e mor te ; o d iagnóst ico foi fe i to median te e x a m e necroscópico (men ingencefa l i t e tu­be rcu losa ) ; o p ro te inograma do L C R foi estudado 10 meses antes do êx i t o letal . N o caso 19 a doença evo lu iu de modo i r regu la r durante cêrca de um ano, carac te­rizando-se por episódios de h iper termia e cefa lé ia ; um mês antes da internação as crises de cefalé ia se intensif icaram, sendo acompanhadas de vómi tos e ambl iopia ; o e x a m e mostrou r ig idez de nuca e papi ledema; a ca ró t ido -ang iogra f i a mostrou sinais indiretos de d i la tação vent r icu la r ; o L C R apresentava a l te rações que suge­r iam neurotuberculose; a urograf ia excre to ra r eve lou a exis tência de papil i te tu­berculosa; submetido a terapêut ica específica, o paciente apresentou a l g u m a melho­ra; entre tanto , cêrca de um mês depois, houve piora do quadro de hipertensão intracraniana, sendo fe i ta de r ivação ven t r í cu lo- jugu la r ; óbi to no pós-operatór io; não foi fe i ta necropsia; o p ro te inograma do L C R foi estudado cêrca de um mês antes da mor te .

Grupo 4 — F o r a m reunidos nerte grupo 10 pacientes com cisticercose do SNC (casos 21 a 3 0 ) . E m todos hav ia a l te rações do L C R suficientes para o diagnóst ico (pos i t iv idade da reação de f ixação do complemento para cist icercose associada, ou não, a eos ino f i lo r r aqu ia ) . E m dois casos (26 e 27) o d iagnóst ico foi comprovado e m a to c i rúrg ico e, em dois (casos 29 e 3 0 ) , mediante necropsia; em um (caso 24) havia , no c ran iograma, imagens sugest ivas de cisticercos calcif icados. O prote ino­g r a m a do L C R foi estudado por ocasião da observação inicial em todos os casos.

O quadro cl ínico se carac te r izava , e m dois casos (21 e 2 2 ) , por convulsões e a l te rações psíquicas. E m dois (casos 23 e 24) as manifes tações cl ínicas e ram re­presentadas por crises de cefaléia , acompanhadas de vômi tos . N o caso 25 as mani ­festações clínicas ca rac te r i zavam-se por confusão menta l e dif iculdades à deambu-lação, de aparec imento recente (cê rca de 3 s e m a n a s ) ; o e x a m e mostrou s índrome

piramidal bi la teral , mais nít ida nos membros infer iores ; a evo lução foi f a v o r á v e l , pois, cêrca de dois meses após a internação, foi ver i f icada remissão parcial do quadro neuro lógico . Nos 4 casos seguintes havia queixa de cefaléia , vômi tos e am-bliopia, por per íodo de t empo não superior a 6 meses; em todos o e x a m e dos fun­dos oculares mostrou papi ledema. N o caso 26 não hav ia outras manifestações c l í ­nicas, mas a ca ró t ido-ang iogra f i a mostrou quadro suges t ivo de processo expans ivo têmporo-par ie ta l d i re i to ; mediante in te rvenção cirúrgica, r emovendo um conjunto de cisticercos dessa reg ião , houve remissão do quadro cl ínico. N o caso 27 hav ia manifestações sugest ivas de sofr imento cerebelar com cará ter predominantemente ax ia l e a iodoven t r i cu logra f i a mostrou bloqueio vent r ículo-subaracnóideo; mediante in tervenção, foi re t i rado cist icerco do quar to vent r ícu lo , depois do que houve re­gressão do quadro de hipertensão intracraniana. N o caso 28, a l ém de hipertensão intracraniana, ocor r iam convulsões; pelo e x a m e neuro lóg ico nada mais foi encon­t rado; durante a internação ocor re ram melhoras progressivas, tendo sido dada a l ta com o paciente melhorado . N o caso 29 hav ia obnubi lacão mental , tendo o e x a m e neuro lógico mostrado apenas sinal de Babinski à direi ta ; houve piora progress iva do quadro de hipertensão intracraniana durante os três meses de in ternação; óbi to durante episódio agudo febri l , após c ran io tomia ; o e x a m e necroscópico mostrou ex -sudato nas leptomeninges e grande número de cisticercos no espaço subaracnóideo encefá l ico e no parênquima cerebral . O caso 30 apresentava s in tomato log ia inicia­da cêrca de 10 anos antes (crises de cefa lé ia e progressiva a m b l i o p i a ) , que piorou 5 meses antes da in ternação pela ocorrência de a l terações psíquicas e convulsões; o e x a m e mostrou astasia, abasia e a t rof ia simples das papilas ópticas; piora pro­gressiva durante os três meses de internação, sobrevindo a mor te na v igênc ia de episódio de h iper te rmia ; a necropsia mostrou exsudato purulento nas lep tomeninges (S taphy lococcus ) , aumento do v o l u m e do encéfa lo por edema, d i la tação simétr ica das cavidades vent r iculares , obstrução quase comple ta dos orif ícios de comunicação ventr ículo-subaracnóidea, presença de cist icercos no I V ven t r í cu lo e na cisterna magna ; no I I I ven t r í cu lo hav ia ependimite granulosa crônica e, no I V vent r ícu lo , reação granulomatosa de t ipo corpo estranho ( c i s t i c e r c o ) ; o e x a m e h is to lógico nada mostrou no cór tex cerebral e no diencéfalo .

Grupo 5 — F o r a m reunidos neste grupo 5 pacientes com neurossífilis (casos 31 a 3 5 ) , com al terações caracter ís t icas do L C R e quadros clínicos sugest ivos de compromet imen to encéfa lo-medular . O estudo do p ro te inograma do L C R foi fe i to antes ou pouco depois de ser iniciado o t r a tamento e m 4 pacientes; no caso 34 foi fe i to cêrca de 4 meses após o t ra tamento .

N o caso 31 a s in tomato log ia iniciara-se cêrca de dois meses antes do estudo e le t roforé t ico , caracter izando-se por a l terações psíquicas, d i f iculdade à deambulação e t remores ; o e x a m e mostrou sinal de R o m b e r g , apalestesia nos membros inferiores e pupilas puntiformes, não reag indo à es t imulação luminosa. N o caso 32, a doença iniciara-se cêrca de um ano antes do estudo e le t ro foré t i co com t remores de repouso nos membros e a l te rações psíquicas; o e x a m e mostrou síndrome ex t rap i ramida l hi-per tônica-hipocinét ica . N o caso 33 a s in tomato log ia evo lu ía há cêrca de dois anos, caracter izando-se por a l terações psíquicas e da pa lavra , assim como dif iculdade à deambulação; o e x a m e mostrou déf ic i t mo to r e sinal de Babinski b i la te ra lmente , r e f l exo oro-orbicular exa l t ado , fenômeno de preensão forçada e de persecução na m ã o direi ta; o paciente faleceu devido a choque de natureza não determinada, não sendo feita necropsia. N o caso 34, a doença se iniciara cêrca de um ano antes do estudo e le t roforé t ico , com sonolência exage rada e a l terações psíquicas; o e x a m e mostrou sinais de lesão p i ramida l bi la teral . N o caso 35 os sintomas surgi ram cêrca de 5 meses antes da internação, caracter izando-se por a l terações psíquicas, di f icul­dade da deambulação, distúrbios da pa l av ra e t remores ; o e x a m e mostrou a tax ia de t ipo misto, disartria, e x a l t a ç ã o dos re f lexos profundos e exa l t ação do re f l exo oro-orbicular .

Grupo 6 — F o r a m reunidos neste grupo 10 pacientes com formas var iadas de processos encefal í t icos . N o s 5 pr imeiros (casos 36 a 4 0 ) , após per íodo de ins ta lação de duração v a r i á v e l , as manifestações neurológicas mant ive ram-se inal teradas, não

surgindo novos sintomas u l ter iomente . N o s 5 úl t imos (casos 41 a 45) a evo lução do processo foi progress iva : um dêles t eve a l ta piorado (caso 41) e os outros fa­leceram.

Os três pr imeiros casos (36, 37 e 38) se re ferem a pacientes com diagnóst ico de encefa l i te pós-coqueluche. N o caso 36 o p ro te inograma do L C R foi estudado cêrca de 40 dias após a ins ta lação da encefal i te , estando o paciente torporoso, com hemip leg ia direi ta e amaurose. N o caso 37, o p ro te inograma do L C R foi estudado 4 meses depois do início do quadro encefa l í t ico , ca rac te r izado por invo lução psíquica com perda do contacto com o meio ambiente e convulsões. N o caso 38 o estudo das proteínas do L C R foi fe i to cêrca de 4 meses depois da instalação do quadro neuro lóg ico caracter izado, nesse momento , por défici t ps icomotor difuso e hipertonia muscular genera l izada .

N o s casos 39 e 40 as lesões encefál icas foram atr ibuídas a vírus de natureza não esclarecida; em ambos o p ro te inograma do L C R foi estudado cêrca de 6 meses depois do início da doença. N o caso 39 a doença se iniciara com hipertermia, ce-faléia, prostração e inconsciência, tendo o e x a m e do L C R levado ao diagnóst ico de meningencefa l i t e p r o v à v e l m e n t e a v í rus ; cêrca de uma semana depois do início da doença começaram a surgir sinais de progress iva melhora , com retôrno ao es­tado consciente; três semanas depois, fo ram assinaladas apenas a l terações psíquicas (desor ien tação auto e a lops íquica) que persis t i ram durante período de observação de mais de 6 meses. N o caso 40, a doença se iniciou de modo agudo com hiper­termia, cefaléia , crises convuls ivas e a l terações do psiquismo que rapidamente e v o ­lu í ram para estado de coma que perdurou uma semana; nessa ocasião o e x a m e do L C R mostrou pleocitose de t ipo l infomononuclear ; u l te r iormente houve regressão do quadro agudo, mas permaneceram seqüelas g r aves (a l t e rações psíquicas, hipotonia muscular genera l izada , t remores, exa l t ação do re f l exo oro-orbicular , n i s t a g m o ) , v e ­r if icadas 6 meses depois do início da doença.

N o caso 41 a doença se iniciara uma semana antes da internação, com embo-tamento psíquico e hemiparesia esquerda que progrediu a té a hemiplegia , surgindo depois quadro def ic i tá r io no hemicorpo di re i to ; ao mesmo t empo houve piora do quadro psíquico, f icando o paciente torporoso, sendo dada al ta , a pedido da famíl ia , nessas condições; o p ro te inograma do L C R foi estudado uma semana após a in­ternação.

N o caso 42 a doença se iniciou com dif iculdade à deambulação ; l o g o depois ocorreu erupção cutânea diagnost icada c o m o va r i ce la e o quadro neuro lóg ico piorou progress ivamente , entrando o paciente em torpor; a in ternação se deu três meses depois do início da doença, quando o paciente quase não reagia aos est ímulos ex ­ternos, apresentando a l terações posturais dos membros de t ipo descerebrado, abalos mioclônicos nos membros superiores e crises oculógi ras ; o quadro piorou progres­s ivamente , v indo o paciente a fa lecer um mês depois ( b r o n c o p n e u m o n i a ) ; pela ne­cropsia foi ve r i f i cado que o encéfa lo apresentava v o l u m e l ige i ramente diminuído, com ex t r ema palidez, não sendo fe i to e x a m e h is to lóg ico ; o p ro te inograma do L C R foi estudado cêrca de três meses depois do início da doença.

N o caso 43 a doença se iniciara com hiper termia, crises de perda da consciên­cia, a l terações mentais e distasia, sendo o p ro te inograma do L C R estudado uma semana depois do início da doença; o paciente foi in ternado um mês depois, quando apresentava tendência ã retropulsão, a t ax ia de t ipo cerebelar no hemicorpo esquer­do, e x a l t a ç ã o dos ref lexos profundos, sinal de Babinski à esquerda; h o u v e piora progressiva, entrando o paciente em torpor e coma; óbi to dois meses depois da internação, durante intercorrência aguda febr i l ; foi feita necropsia, mas não foi fe i to e x a m e his to lógico, tendo sido apenas assinalada a presença de exsudato pu­rulento nas leptomeninges ( S t r e p t o c o c c u s ) .

N o caso 44 a molés t ia se iniciara cêrca de um mês antes da internação, com al terações psíquicas e m o v i m e n t a ç ã o involuntár ia ; o e x a m e mostrou quadro ex t ra-pi ramidal com hipercinesias de t ipo corêico e bal ismos; o paciente que, in ic ia lmente , se mant inha indiferente ao meio , passou sucessivamente ao estado de torpor e de coma; ób i to cêrca de mês e me io dapois da in ternação; o e x a m e h is topa to lôg ico

mostrou, nos hemisfér ios cerebrais, áreas de desmie l in ização pr imária , a lgumas com necrose isquêmica. O p ro te inograma do L C R foi estudado cêrca de 45 dias depois do início da doença.

N o caso 45 a doença se iniciara cêrca de dois meses antes da in ternação com movimen tos involuntá r ios de f l e x ã o da cabeça e do t ronco; o e x a m e mostrou quadro ex t rap i ramida l de cará te r hiper tônico, a t ax ia de t ipo cerebelar , retropulsões e aba­los mioclônicos ; piora progressiva, entrando o paciente e m coma, sobrevindo a mor te três meses depois da in ternação; o e x a m e h is topa to lógico mostrou, nos he­misfér ios cerebrais, áreas de desmiel in ização subcortical , com hiperplasia g l i a l . O estudo do p ro te inograma do L C R foi fe i to cêrca de três meses depois do início da doença.

R E S U L T A D O S

N a tabela 3 são apresentados os resultados do p ro te inograma do L C R dos 45 pacientes, assim como os va lô re s da re lação entre as percentagens de g lobul ina beta e a lbumina. A re lação entre a concent ração de cada f ração protêica e o respect ivo v a l o r normal são apresentados na tabela 4, na qual f igu ram t ambém os va lô res do índice b e t a / A .

A concentração protêica total es tava aumentada em 41 casos e era normal em 5 (casos 21, 22, 26, 27 e 3 8 ) . N o perfi l e le t ro foré t i co foram encontradas diversas a l terações do teor r e l a t i v o das frações protêicas.

A pré-albumina não foi assinalada em 24 casos. A ausência desta f ração é comum quando ocorre n ipe rp ro te inor raqu ia 1 . Os teores de albumina e s t avam au­mentados em três pacientes (casos 2, 5 e 9 ) e diminuídos em 19 (casos 16, 17, 21, 25, 28 a 33, 35 a 37 e 40 a 4 5 ) . H a v i a aumento do teor de globulina alfa1 em um caso (13) e d iminuição em 9 (casos 19, 23, 28, 29, 33, 37, 41, 44 e 4 5 ) . A percen-t a g e m de globulina alfa2 encontrava-se aumentada em um caso (16) e diminuída e m 10 (casos 18 a 20, 23, 28 a 30, 35, 41 e 4 4 ) . A percen tagem de globulina beta es tava aumentada em um caso (31) e diminuída em 14 (casos 1, 2, 9, 13, 14, 17 a 20, 25, 28 a 30 e 4 1 ) . H a v i a discreta d iminuição da percen tagem de globulina gama e m dois casos (5 e 15) e aumento em 37 (casos 1, 3, 4, 6 a 8, 10 e 16 a 4 5 ) .

C O M E N T Á R I O S

Estudaremos o comportamento da globulina beta no LCR dos 45 pa­cientes estudados, sendo sua participação no perfil protêico analisada se­gundo os 6 grupos de casos e segundo a intensidade do aumento da percen­tagem de globulina gama. As relações entre o comportamento da globulina beta e o da albumina são comentadas em seguida. Os aspectos evidencia­dos por êsse meio quanto ao comportamento da globulina beta são discuti­dos em relação às probabilidades da ocorrência, ou não, de comprometimento do parênquima encefálico nos casos estudados. O significado da informação assim obtida é considerado em relação a cada caso, no sentido de avaliar seu valor prognóstico.

Participação da globulina beta no perfil protêico — As considerações sôbre os resultados neste item são feitas segundo a distribuição dos casos por grupos e os dados da literatura revistos anteriormente 5 1.

Grupo 1 — Neste grupo havia aumento da percentagem de albumina em 3 pacientes e de globulina gama em 7; os aumentos do teor desta última

fração eram discretos. Como resultado, o perfil eletroforético apresentava aspectos variados, desde o normal até o de tipo sérico, sendo mais comuns os de tipo misto. Êste tipo de perfil protêico ocorre freqüentemente em pacientes com afecções do tipo das reunidas neste grupo.

Grupo 2 — Os perfis caracterizavam-se por leve predomínio da parti­cipação da albumina e das globulinas alfa, sem que se alterassem os teores das demais frações em quase todos os casos; só em dois havia diminuição da percentagem de globulina beta. Êsses dados vêm comprovar que em meningites de tipo agudo o perfil protêico do LCR pouco se altera.

Grupo 3 — Em todos os casos havia nítido aumento de globulina gama e os teores de albumina e globulina beta eram menores do que a média normal. Nos casos de neurotuberculose com evolução desfavorável têm sido assinalados teores de globulinas alfa acima da média normal. Entre os casos estudados, as percentagens de globulinas alfa se achavam acima da média normal sòmente naqueles com evolução fatal devido a piora progressiva da meningencefalite (casos 16 e 17).

Grupo 4 — A alteração fundamental do perfil protêico consistiu no au­mento de globulina gama; o aumento dessa fração era discreto em dois pacientes e nítido nos demais. Os teores da albumina estavam diminuídos em 5 pacientes, o de globulina alfa, em 3, de alfa2 em 4 e de beta em 4. No conjunto, os perfis se caracterizavam por aumento de globulina gama e menor participação das outras frações 5 4.

Grupo 5 — Em todos os casos havia nítido aumento da globulina gama, acompanhado de diminuição da percentagem de albumina em 4 casos e de globulina alfa, em um. Êsses casos mostram que na neurolues parenqui-matosa o aumento de globulina gama repercute em especial sôbre o teor de albumina. Aumento da percentagem de globulina beta tem sido assina­lado nessa forma de doença, como foi verificado em um dos casos.

Grupo 6 — Havia aumento do teor de globulina gama em todos os casos, nítido na maioria das vêzes, com diminuição da participação relativa das demais frações: assim, acompanhava-se de diminuição do teor de glo­bulina alfa1 em 4, do de alfa2 em 2 e do de beta em um. O aumento de globulina gama constitui a alteração principal do perfil protêico do L C R 3 0 .

A análise que acabamos de fazer não evidencia comportamento parti­cular da globulina beta quando se leva em conta apenas o perfil eletrofo­rético das proteínas do LCR. Em todos os grupos de pacientes e em quase todos os casos as percentagens dessa globulina se encontravam abaixo da média normal (quadro 1). Só em 3 casos foram encontradas percentagens superiores.

Entretanto, a análise mais detalhada do comportamento dessa fração no proteinograma do LCR permite evidenciar que, na realidade, ocorrem aumentos na sua concentração de significado particular, especialmente na¬

queles pacientes em que a evolução foi desfavorável. A apreciação dessa particularidade é dificultada pelo comportamento da globulina gama do LCR em processos inflamatórios do SNC, conforme veremos a seguir.

Participação da globulina beta no perfil protêico e aumento do teor de globulina gama — A alteração mais comum nos perfis protêicos do LCR

consistiu no aumento da globulina gama, pois os teores dessa fração só foram normais nos pacientes do grupo 2 e em 3 do grupo 1; nos outros casos do grupo 1 estavam discretamente aumentados. No LCR da maioria dos pa­cientes dos demais grupos havia aumento nítido do teor de globulina gama. Segundo Matiar e Schmidt 3 9, o aumento nítido de globulina gama do LCR ocorre em processos inflamatórios sediados no SNC e em seus envoltórios.

Separando-se os casos estudados em dois grupos, conforme o teor de globulina gama fôsse menor ou maior que 25% (quadro 2), verifica-se que o aumento de globulina gama acarretou diminuição da participação relativa de uma ou mais das outras frações no perfil protêico. Nos casos em que os teores de globulina gama eram maiores que 25% a percentagem de al­bumina era menor do que a média normal, sendo encontrados valôres pro­gressivamente mais baixos à medida em que aumentava a concentração relativa de globulina gama. Comportamento semelhante pôde ser verificado em relação às globulinas alfa. O comportamento da globulina beta era pràticamente do mesmo tipo nos dois grupos, caracterizando-se, na maioria dos casos, por percentagens menores do que a média normal.

Desta forma, verifica-se que o aumento da participação da globulina gama no perfil protêico dificulta a apreciação do comportamento das demais frações porque, repercutindo sôbre suas percentagens, faz com que partici­pem do perfil em teores menores do que a média normal respectiva.

Para apreciar melhor o comportamento real destas outras frações pro­têicas torna-se necessária a análise comparativa de suas proporcionalidades e relações. Assim, para verificar o comportamento da globulina beta será levado em consideração o comportamento da albumina. Êsse estudo com­parativo será feito mediante a utilização dos valôres da relação beta/A (tabela 3) e do índice beta/A (tabela 4) .

Relação globulina beta/albumina — Os valôres da relação beta/A eram mais baixos entre os 15 pacientes com processos inflamatórios meníngeos, radiculares e/ou medulares (grupos 1 e 2), nos quais foram representados, em média, por 0,283. Valôres mais altos ocorreram entre os 15 pacientes com processos inflamatórios de localização predominante ao nível do encé­falo e de seus envoltórios (grupos 3 e 4), para os quais a média foi de 0,328. Entre os 15 pacientes em que o processo inflamatório acometia de modo predominante o parênquima encefálico (grupos 5 e 6) os valôres ainda eram maiores, sendo representados por 0,563, em média. Essas médias mos­tram que a participação da globulina beta em relação à da albumina au­mentava à medida em que o comprometimento do parênquima nervoso se tornava mais nítido do ponto de vista clínico.

Intensidade do aumento das concentrações de globulina beta — A com­paração da concentração de cada proteína com a respectiva concentração média normal também permite avaliar o seu comportamento. Por, êsse meio pode-se verificar qual a intensidade do aumento ocorrido na concen­tração de cada proteína isoladamente. A intensidade do aumento da con­centração de globulina beta permite interpretar melhor os achados referen­tes à relação beta/A acima referidos.

A albumina do LCR provém do sangue e sua concentração depende da permeabilidade da barreira hêmato-liquórica. Quando, na análise de um grupo de casos, outros fatôres concorrem para determinar variações da con­centração de uma globulina, suas taxas sofrem modificações de intensidade diferente da encontrada para as taxas de albumina.

No material estudado, as intensidades dos aumentos da concentração de cada fração protêica foram comparadas às da albumina em cada caso e distribuídas (quadro 3) segundo pertencessem aos grupos 1 e 2 (15 casos), 3 e 4 (15 casos) e 5 e 6 (15 casos). Os resultados da distribuição foram analisados pelo teste do X2 (quadro 4) .

Por êsse meio foi verificado que o comportamento das globulinas alfa era semelhante ao da albumina; as variações de distribuição que ocorreram não foram significativas, podendo depender do acaso. Não se pode excluir, portanto, que as variações da concentração das globulinas alfa sejam devi­das aos mesmos fatôres que explicam as variações das taxas de albumina nos casos estudados, permitindo atribuí-las, também, a modificações da per­meabilidade da barreira hêmato-liquórica. Essa explicação está de acôrdo com os dados da literatura sôbre o assunto.

O comportamento da globulina gama nos grupos 1 e 2 foi semelhante ao da albumina, ao passo que, nos demais grupos o aumento da concentra­ção da globulina gama foi mais intenso que o da albumina; as variações de distribuição da globulina gama não foram significativas entre os pacientes dos grupos 1 e 2, sendo significativas para os demais. Êsses dados mostram que o comportamento da globulina gama nos 4 últimos grupos era diferente do da albumina, permitindo admitir que outros fatôres além daqueles liga­dos à barreira hêmato-liquórica, atuaram na determinação do aumento dos

teores dessa proteína nesses casos. Conforme foi referido anteriormente êsses aumentos são devidos, em especial, à formação local de globulina gama.

A intensidade do aumento da concentração de globulina beta era maior que a da albumina na maioria dos casos dos grupos 5 e 6; era menor em todos os pacientes dos grupos 1 e 2 e em quase todos dos grupos 3 e 4. As variações de distribuição encontradas foram significativas, mostrando que o comportamento das concentrações de globulina beta e de albumina era di­ferente. Para os casos dos 4 primeiros grupos a diferença pode ser devida ao menor aumento da permeabilidade da barreira hêmato-liquórica para esta globulina. Em outras palavras, o aumento da permeabilidade provocado pelo processo inflamatório é menos intenso em relação à globulina beta que o observado em relação à albumina e às globulinas alfa. Êste dado acentua o significado do fato de ser maior a intensidade do aumento de globulina beta que a do aumento de albumina nos grupos 5 e 6, pois mostra que, nesses casos, ocorreram modificações da taxa de globulina beta na depen­dência de fator diferente daquele que determinou o aumento da albumina.

Não se pode admitir que um aumento da permeabilidade da barreira hêmato-liquórica à globulina beta seja êsse fator. Os dados referentes aos demais casos são contrários a essa hipótese porque nêles foi verificada que essa permeabilidade era menor. Um aumento da permeabilidade devido a modificações locais da barreira hêmato-liquórica ligadas à localização pre­dominantemente encefálica do processo inflamatório poderia ser lembrado para explicar o comportamento da globulina beta nos grupos 5 e 6. Entre­tanto, contrapõe-se a essa hipótese o fato de nos 10 pacientes com neuro¬ cisticercose, a intensidade do aumento de globulina beta também ter sido inferior à do aumento de albumina. Não se pode excluir, portanto, que para os pacientes dos dois últimos grupos, a maior intensidade do aumento de globulina beta esteja relacionada às lesões do parênquima encefálico, clìnicamente patentes nesses casos.

Índice globulina beta/albumina e avaliação do comprometimento paren¬ quimatoso encefálico — O papel do aumento da globulina beta nos proces­sos inflamatórios do SNC pode ser avaliado, portanto, pela comparação entre a intensidade do aumento de globulina beta e a do aumento da albumina, tomando como medida dessa intensidade a concentração média normal dessas frações (índice beta /A) . Êsse índice corresponde à unidade quando a inten­sidade das variações das taxas de globulina beta e de albumina são propor­cionais; quando a variação de globulina beta é proporcionalmente maior, o índice é maior que a unidade; quando a variação da albumina é maior, o índice é menor que a unidade.

Assim, o índice beta/A, utilizando cifras de fácil interpretação, permite avaliar, em cada caso, a alteração do proteinograma do LCR indicadora de comprometimento parenquimatoso em processos inflamatórios do SNC.

Em todos os pacientes dos grupos 1 e 2 os índices beta/A eram infe­riores à unidade; nesses grupos não havia dados que sugerissem a existên­cia de lesões parenquimatosas secundárias aos processos inflamatórios, mes­mo nos três pacientes que faleceram.

São diversos e, até certo ponto opostos, os índices referentes aos pa­cientes com processos inflamatórios que acometiam o parênquima encefálico (grupos 5 e 6) . As lesões parenquimatosas na neurolues determinaram elevação dos índices acima da unidade em todos os casos, servindo o grupo 5 para caracterizar, de modo geral, o comportamento do índice beta/A nos processos inflamatórios em que há lesões do parênquima nervoso. O maior índice foi encontrado no paciente com menor tempo de evolução da doença por ocasião do exame (caso 31).

Em quase todos os pacientes com processos encefalíticos (grupo 6) os índices beta/A comportavam-se como na neurolues parenquimatosa. Neste grupo os índices maiores foram encontrados em pacientes que, na ocasião do exame, apresentavam sintomatologia aguda ou subaguda; nos 5 casos de evolução desfavorável culminando, em 4 dêles, com a morte, os índices foram os mais altos. Também neste grupo o maior índice foi registrado no caso com menor tempo de evolução da doença por ocasião do exame (caso 43). Em apenas um caso (39) o índice beta/A foi inferior à unidade: tratava-se de paciente que, 6 meses antes do exame, teve meningencefalite atribuída a vírus e no qual houve regressão quase total dos sintomas.

Portanto, os resultados obtidos nos grupos 5 e 6 de um lado e, de ou­tro, nos grupos 1 e 2, caracterizam as tendências extremas do comporta­mento do índice beta/A conforme o processo inflamatório seja acompanhado, ou não, de sofrimento do parênquima encefálico.

Relacionando êsse princípio interpretativo com os dados clínicos ati­nentes aos casos dos grupos 3 e 4, verifica-se que o índice beta/A pode contribuir para a avaliação do caráter evolutivo da moléstia.

Entre os pacientes com neurotuberculose (grupo 3) foram encontrados índices menores que a unidade nos dois casos cuja evolução foi favorável (18 e 20) e naquele em que a intensidade da sintomatologia decorria espe­cialmente de hipertensão intracraniana (caso 19). Nos dois casos (16 e 17) de evolução desfavorável da meningencefalite com êxito letal os índices fo­ram superiores à unidade; nestes dois casos, no proteinograma feito antes do agravamento final da sintomatologia, o índice beta/A já sugeria com­prometimento do parênquima encefálico.

Em nenhum dos casos de neurocisticercose (grupo 4) o índice beta/A foi maior que a unidade. Para a interpretação do que ocorre nesta mo­léstia é necessário recordar que a reação inflamatória desencadeada pelo cisticerco é, geralmente, focal e de pouca intensidade, agravando-se após a morte do parasito, situação em que podem ocorrer quadros histopatoló¬ gicos superponíveis, em gravidade e em extensão, aos encontrados na neuro­lues parenquimatosa 5 9 .

No caso com cisticercos na região têmporo-parietal (caso 26), o aspecto dos parasitos não sugeria que estivessem em degeneração, fato que está de acôrdo com a evolução recente da doença e com a sintomatologia dependen­do apenas de hipertensão intracraniana.

No paciente em que a morte foi ocasionada por leptomeningite aguda superajuntada e no qual havia cisticercos nos hemisférios cerebrais (caso 29), o exame necroscópico se restringiu ao aspecto macroscópico, não haven­do informações quanto ao estado do parênquima nervoso; entretanto, a idade do paciente (9 anos) e o curto tempo de doença sugerem que a infestação fôsse recente e que os cisticercos ainda estivessem vivos, determinando pe­quena reação parenquimatosa.

No caso 30, em que a morte também foi ocasionada por leptomeningite aguda superajuntada, o exame histopatológico não confirmou a existência de lesões do parênquima nervoso, sugeridas pela gravidade do quadro clínico e pela longa duração da doença. Dos dados obtidos pelo exame clínico e pelo exame do LCR, sòmente o índice beta/A era contrário à hipótese de haver lesão parenquimatosa, de acôrdo, portanto, com o exame histopato­lógico.

Nesses pacientes, portanto, os dados obtidos mediante cirurgia ou pela necropsia confirmaram a informação dada pelos índices beta/A, sugestivas da não existência de lesões inflamatórias do parênquima encefálico.

C O N C L U S Õ E S

A ocorrência de lesões parenquimatosas encefálicas durante processos inflamatórios do SNC representa elemento que ensombrece o prognóstico; o estudo do proteinograma do LCR nesses casos, permitindo evidenciar al­terações do comportamento da globulina beta, oferece dados que contribuem para a avaliação prognóstica.

As alterações do comportamento da globulina beta que se mostram úteis são evidenciadas pela comparação entre a intensidade do aumento da sua concentração com a intensidade do aumento da concentração de albu­mina, tomando como medida as concentrações normais respectivas (índice beta/A). Os valôres dêsse índice tendem a ser maiores ou menores do que a unidade, conforme o processo inflamatório seja acompanhado, ou não, de lesões do parênquima encefálico.

Êste comportamento da globulina beta na vigência de lesões parenqui­matosas encefálicas pode ser observado precocemente, mesmo antes que tais lesões sejam exteriorizadas por outros dados, clínicos ou laboratoriais.

R E S U M O

Foi feita avaliação do comportamento da globulina beta do LCR em processos inflamatórios do SNC e/ou de seus envoltórios no sentido de ve­rificar até que ponto podem ser úteis para o prognóstico as informações obtidas. Essa avaliação foi baseada no fato de a concentração dessa glo­bulina no LCR estar relacionada ao metabolismo do parênquima nervoso, aumentando em condições que acarretem seu sofrimento.

Os proteinogramas do LCR de 45 pacientes com processos inflamatórios do SNC e/ou de seus envoltórios, distribuídos em 6 grupos de casos, foram analisados segundo a possibilidade de o processo inflamatório estar acarre­tando, ou não, sofrimento do parênquima encefálico.

A análise dos resultados mostrou que o estudo da concentração da globulina beta no LCR fornece elementos que permitem avaliar o compro­metimento do parênquima encefálico nessas condições, aduzindo dados úteis para a avaliação prognóstica. A intensidade do aumento da concentração dessa globulina no LCR era maior do que a do aumento da concentração de albumina nos casos em que o processo inflamatório determinava compro­metimento do parênquima encefálico.

S U M M A R Y

The beta-globulin content of the cerebrospinal fluid and the evaluation of the prognosis in inflammatory diseases of the central nervous system.

The CSF proteins of 45 patients with inflammatory diseases of the CNS were studied in order to evaluate the information that the beta-glo­bulin content may bring about the occurrence of involvement of brain tissue. The material was distributed in 6 groups according to the diagnosis of the cases: 10 patients had spinal cord and/or radicular inflammatory disease, associated or not with leptomeningeal involvement (group 1 ) ; 5 had acute leptomeningitis (group 2 ) ; in 5 the diagnosis of tuberculous meningo-ence­phalitis was made (group 3 ) ; in 10, of cysticercosis of the CNS (group 4 ) ; in 5, of neurosyphilis (group 5 ) ; in 10, of encephalitides (group 6) .

Total protein content was determined by the turbidimetric method of the trichloroacetic acid. The protein fractions were analyzed through paper strip electrophoresis. The results were evaluated in respect to normal values previously reported.

The high gamma-globulin content of the CSF in inflammatory processes of the CNS hinders the evaluation of the changes occurring in the content of the other globulins; the interference of such factor is more marked when the inflammatory process is chronic. In such conditions the evaluation of the content of the other globulin fractions is better achieved by comparison with the albumin content, the values reported for each globulin being sta­tistically compared to those obtained for the albumin fraction. By this procedure it was shown that in all 45 cases changes in the alpha-globulin content were not different from that found for the albumin fraction and it was concluded that these data bring no evidences indicating interference of other factors than those related to the blood-CSF barrier for the ex­planation of the changes in the alpha-globulins content of the samples studied. Significant differences were found in respect to beta and gamma globulins. The changes found in the gamma-globulin support the possibility that the increase of this globulin is conditioned by the local production.

Data concerning to beta-globulin in the cases of groups 5 and 6 showed that the increases in the amount of this globulin were more marked than those observed for the albumin. This difference was statistically significant. It brings evidence of participation of a different factor in the explanation of the finding other than those accepted for the albumin fraction. The discussion on the nature of this factor supports the possibility of its relation to the changes in the protein metabolism of the brain, since the damage of the latter was present in the cases of these groups of patients. These data are in agreement to the findings on the changes registered in the content of this globulin in the CSF in degenerative diseases as it is reported in the literature.

The changes in the beta-globulin content of the CSF which are more marked than those found in the albumin content bring useful information when the data are analyzed in respect to their respective normal values; they point out to the possibility of brain damage by the inflammatory pro­cess. In the basis of such evidence cases of the groups 3 and 4 are con­sidered and it was found that the data obtained did not differ from those resulting from the surgical or necroscopic examination and from the follow-up of the patients.

R E F E R Ê N C I A S

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Clínica Neurológica — Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo — Caixa Postal 3461 — São Paulo, Brasil.