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hi per exto t Porto Alegre, junho/julho 2010, Ano 12 – Nº 80 Jornal dos alunos da Famecos/PUCRS Presidenciáveis têm marcas da ditadura A jovem universitária Dilma Rousseff participou da luta armada, foi presa durante três anos e torturada. José Serra, que discursou ao lado de João Goulart aos 21 anos como presidente da UNE, ficou 13 anos exilado após o golpe. Marina Silva iniciou sua militância com o ambientalista Chico Mendes, assassinado em 1988. Página 10 UMA FÚRIA MUNDIAL Página 7 Dilma Rousseff (PT) José Serra (PSDB) ELEIÇÕES 2010 Marina Silva (PV) Cultura O rock bate em Rita Lee A eterna ovelha negra O ídolo no centro da crueldade Página 8 Página 6 Lionel Bonaventure/ AFP Thiago Santos/ AFP Evaristo Sá/ AFP Iniesta fez o gol da vitória da Espanha, na prorrogação, na final contra a Holanda, e a Fúria conquista a Copa do Mundo pela primeira vez Felipe Dalla Valle/ Hiper

Hipertexto Junho/Julho 2010

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Edição de junho e julho de 2010 do jornal Hipertexto, produzido pelos alunos de Jornalismo da Famecos (Faculdade de Comunicação Social - PUCRS).

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Porto Alegre, junho/julho 2010, Ano 12 – Nº 80

Jornal dos alunos da Famecos/PUCRS

Presidenciáveis têm marcas da ditadura

A jovem universitária Dilma Rousseff participou da luta armada, foi presa durante três anos e torturada. José Serra, que discursou ao lado de João Goulart aos 21 anos como presidente da UNE, ficou 13 anos exilado após o golpe. Marina Silva iniciou sua militância com o ambientalista Chico Mendes, assassinado em 1988.

Página 10

UMA FÚRIAMUNDIALPágina 7

Dilma Rousseff (PT) José Serra (PSDB)

ELEIÇÕES 2010

Marina Silva (PV)

Cultura

O rock bate em Rita Lee

A eternaovelha negra

O ídolo nocentro dacrueldade

Página 8

Página 6

Lionel Bonaventure/ AFP Thiago Santos/ AFP Evaristo Sá/ AFP

Iniesta fez o gol da vitória da Espanha, na prorrogação, na final contra a Holanda, e a Fúria conquista a Copa do Mundo pela primeira vez

Felipe Dalla Valle/ Hiper

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Porto Alegre,junho/julho 20102 hiperextot

Por Cláudio Rabin O olhar brasileiro A repórter Fernanda Santos cobre

Por Claudio Rabin

FERNANDA SANTOS é uma inspiração para boa parte dos estu-dantes de jornalismo, simplesmente porque ela é repórter na editoria de cidades do jornal mais importante do mundo, o The New York Times. Com 36 anos, Fernanda saiu do Brasil sem experiência de redação. Há quase cinco anos no Times, já percorreu as ruas de Bogotá e atra-vessou o mundo para cobrir os aten-tados em Mumbai. Ela impressiona pela força das posições assumidas sem deixar de ser simpática, como foi nas três vezes em que participou do programa Manhattan Connec-tion. Para que essa entrevista fosse realizada, por e-mail, ela precisou autorização do jornal.

Após se formar em jornalismo pela PUCRJ, você foi direto fazer mestrado nos EUA ou teve alguma experiência em veículo brasileiro?

Minha experiência em jorna-lismo no Brasil é limitada. Passei dois anos escrevendo para uma publicação empresarial, a revista Odebrecht Informa. Aos poucos me dei conta de que a minha verdadeira paixão era jornalismo diário, pela adrenalina constante, pela possibi-lidade de ver o mundo, de conhecer novas pessoas e aprender a cada dia.

Resolvi que era um momento bom para fazer a mudança. Como o meu pai queria que um de seus filhos fizesse mestrado nos Estados Unidos, pensei: essa seria uma boa

para mim. Escolhi print journalism, ou jornalismo impresso, porque queria mesmo me especializar. Me inscrevi em três universidades. Fui aceita na Boston University e na UC-Berkeley, e como já conhecia a Califórnia, optei por Boston.

Você já apareceu na revista Piauí, participou três vezes do Manhattan Connection, sendo que na última foi mencionado um pro-jeto com o Fantástico. A imprensa brasileira te descobriu?

Essa é uma pergunta para os jornalistas brasileiros. Eu nunca estive escondida, mas também não saía por aí anunciando que era a única brasileira trabalhando como repórter no NYT. A correspondente da TV Cultura aqui em NYC me mandou um e-mail um dia, dizendo que queria uma entrevista comigo para o programa Vitrine. Acho que alguém da Piauí viu a entrevista e encomendou o perfil. Vou participar do segmento sobre Nova York no especial Mega Cidades, que o Zeca Camargo produziu para o Fantás-tico. Foi o pessoal da equipe de comunicação do NYT que agendou a entrevista, a pedido dele (Zeca). Não sei os detalhes, mas achei super legal. Vou falar um pouco sobre o trabalho de repórter em NYC.

Nesses quase cinco anos tra-balhando no Times, você sempre cobriu a editoria de “cidade”?

Passei os meus primeiros dois anos e meio cobrindo o estado, o que me levou a escrever sobre os

mais diversos tipos de assuntos. Fo-ram três anos de tremendo apren-dizado, pois pude visitar partes do estado de Nova York que nunca visitaria e conhecer pessoas que nunca conheceria. Passei a entender muito mais sobre o que é ser ame-ricano depois dessa experiência. Depois, cobri política na cidade e agora cubro o Queens, que é como se fosse cobrir um estado ou mesmo pedaços do mundo. O Queens tem mais de 2 milhões de habitantes, tem de tudo, pobre, rico, cidadão, imigrante (legal e ilegal). Tenho um território super fértil em termos das matérias que me oferece.

Em uma participação no Ma-nhattan Connection, ao ser ques-tionada sobre o que achava de um terceiro mandato do atual prefeito de Nova York, a resposta foi a clás-sica “não sou paga para opinar”. Ao insistirem, você respondeu: “O Times tem muitos inimigos”. Quem são esses inimigos?

Falei isso mesmo? Não me lem-bro, e não me lembro do contexto, mas creio que todo jornal grande como o NYT tem os seus inimigos. No nosso caso, muitos deles vêm da direita, já que as nossas pági-nas editoriais tendem a abraçar opiniões mais identificadas com a esquerda. Mas não falei porque, como jornalista, o meu papel não é dar opiniões, é apresentar a notícia. Deixo as conclusões para o leitor. Quem dá opinião é colunista.

Em março, o Times demitiu

Locutor multimídia substitui a antiga voz empostada

Por Gabriela Dal Bosco Sitta

Em 1938, Orson Welles mostrou o poder de uma única pessoa trans-mitindo informações em ondas ele-tromagnéticas. No clássico episódio em que anunciou, pelo rádio, que os Estados Unidos estavam sendo invadidos por marcianos, ele abalou o país e mostrou a credibilidade que os ouvintes conferiam à voz empos-tada de um locutor. Hoje, mais de 70 anos depois, o profissional de locução nos moldes de Orson Wel-les e que era unanimidade em todas as emissoras perde seu espaço e dá

lugar a um profissional multimídia capaz de se adequar a diferentes segmentos radiofônicos.

Professor e apresentador do programa Tribuna Independente, da Rede Vida, Sérgio Reis tem mais de 60 anos de experiência no jornalismo e lembra bem dos antigos locutores. Ele ressalta que, além da boa voz, a dicção também era importante para quem desejava trabalhar no rádio. Ao entrar no ar, recorda, a voz mudava de tom. “Era uma pose só”, brinca.

No radiojornalismo de hoje as coisas mudaram de figura. Para O rádio foi modificado e os

RÁDIO

Medo

Acreditem: eles têm medo. Circula, no PMDB, a ideia de que Yeda Crusius deve crescer nas próximas pesquisas para o governo do Estado. O projeto é resistir firme para emplacar o segundo turno.

Delírio

No Sul, o PMDB tem tradição na oposição ao PT, agora, defende o patético conceito de imparcialidade ativa no que toca o apoio ao Planalto. O vice de Fogaça é o pedetista Pompeo de Mattos que apoia Dilma fanaticamente. Uma coisa é certa. No momento em que o ex-prefeito subir no palanque com a candidata de Lula, antipetistas de todos os rincões o abandonarão.

Isolados?

O DEM não vai apoiar ninguém ao governo do Estado e tudo indica que não tem muito aonde ir. Sem estardalhaço, o partido apoiará a candidatura de Germano Rigotto ao Senado, ao lado de seu ex-parceiro, o PTB.

Hasta la vistaO semestre acabou e com

ele a disciplina de estágio. Agradeço a oportunidade de assinar esta coluna e a qual-quer pessoa que tenha passa-do os olhos por estas linhas. Deixo este espaço aberto para a próxima turma que chegar ao Hipertexto.

Em Brasília, 19h

Para nossa desgraça, voltou a ser exibida no horá-rio nobre do rádio a Voz do Brasil. Na maior parte das rádios gaúchas, esta herança getulista já tinha sido expur-gada para a madrugada. E com todo seu arcaísmo, o lixo autoritário retornou ao horário nobre. Pena.

Goteira napassarela

É apenas eu ou nin-guém mais se incomo-da com as abundantes goteiras da passarela da PUCRS. Em dias de forte chuva, mais vale ficar com o guarda-chuva aberto quando se caminha por ela.

A professora Cristiane Finger se posicionou a favor do diplo-ma de jornalismo, refletindo posição oficial da faculdade, em manifestação organizada por alunos no saguão da

Famecos, um ano depois da obrigatoriedade ser cassada pelo Supremo. Quatro anos depois de coordenar o Curso de Jornalis-mo da Famecos, um dos mais antigos do Brasil, criado em 1952, Cristiane passou o cargo, dia 1º de julho, para o professor Vitor Necchi, em troca natural na divisão de atribuições de gestão entre o corpo docente.

Famequianas

Um ano da queda da obrigatoriedade do diploma de jornalis-mo. Os incompetentes dizem: “gastei meu di-nheiro para nada”; os competentes, “estudarei mais”.

Lívia Stumpf/Hiper

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imprensa

do jornal The New York Timestemas da cidade no mais importante jornal norte-americanocerca de 100 pessoas e reduziu os salários dos demais funcionários. Você acha que é um problema pas-sageiro ou as tiragens e o número de anúncios nos jornais não vão se recuperar?

Primeiro, vamos corrigir os fatos. Não demitimos 100 funcioná-rios. A maioria das pessoas saíram de maneira voluntária, através do programa de buyouts, onde os funcionários recebem uma quantia equivalente ao tempo de serviço que têm em uma empresa e, no caso do Times, uma extensão da sua cober-tura do plano de saúde. É claro que isso não aconteceria se o jornal não estivesse passando por dificuldades financeiras, mas uma das coisas mais legais do NYT é que estamos na vanguarda da multimídia, com uma equipe super competente, idealizando a nossa estratégia na Web e com todos nós – repórteres, editores, fotógrafos, produtores de áudio e vídeo etc – trabalhando para a integração do jornal impresso com o jornal virtual.

Você se considera capaz de trabalhar no meio digital tão bem quanto no impresso?

Há três anos venho experimen-tando com esse novo meio. Gravei parte do áudio que foi parte do pa-cote multimídia que acompanhou a minha reportagem sobre o homem inocente que passou metade da sua vida na prisão. Hoje em dia, não há como separar o meio impresso do digital e qualquer repórter que se preze tem que estar ciente disso e

trabalhando para se familiarizar com os dois.

Nos EUA não é necessário o curso superior em jornalismo. A graduação é um diferencial?

Acho que o jornalista se benefi-cia mais se estudar algo que não seja o jornalismo. Na minha opinião, a mecânica da profissão se aprende na prática, fazendo matérias para o jornal da universidade, fazendo estágios ou mesmo cursando certas matérias práticas. Vejo o jornalista como alguém capaz de entender e interpretar os acontecimentos de maneira rápida e clara.

Quais os jornais e revistas que você lê?

Tenho uma bebê de 10 meses, a Flora, e desde que ela nasceu, tive que sacrificar a minha leitura matu-tina do Times. Mas leio todo o pri-meiro caderno antes de sair de casa, o que não significa que leia todas as matérias no primeiro caderno, mas sim leio as manchetes e primeiros parágrafos de todas. No metro, leio o Daily News e o New York Post, e na volta para casa, alterno entre o Wall Street Journal e a revista New Yorker. Durante o dia, no trabalho, tiro um tempinho para checar al-guns blogs que gosto: Politico, Daily Politics, Brownstoner, HuffPo, Blog do Noblat. Temos assinatura em casa da revista The Economist, que é a minha revista de notícias favorita. Antes de dormir, se não capoto, tiro uma meio-horinha para ler ficção.

Quais são os jornalistas que

você mais admira?São muitos. Dan Barry, pela po-

esia em que ele transforma o dia-a-dia do homem comum. Alma Guil-lermo Prieto pela sutileza com que ela revela as nuances das sociedades latino-americanas, e o Jon Lee An-derson, pela coragem com que ele reporta os acontecimentos nessa mesma região. Adoro a Miriam Leitão, que me fez gostar de econo-mia; o Paulo Henrique Amorim, que me fez gostar de política; e o Lucas Mendes, que, além de ser um super repórter e escritor, me mostrou que é possível trabalhar diante das câmeras e preservar o instinto e a curiosidade do jornalista .

Em 2008, foi publicada nova-mente na revista Época a coluna do jornalista Christopher Hitchens onde critica duramente sua cober-tura nos atentados à Mumbai.

Infelizmente o Christopher Hi-tchens não foi capaz de entender a minha reportagem, nem de perce-ber qual era o seu objetivo principal. Recebi uma ligação do meu editor pela manhã para que fosse à sede da comunidade judia-ortodoxa Lubavitcher em Brooklyn para fazer uma reportagem sobre o rabino e a esposa que se presumiam mortos no atentado em Mumbai. Descobri uma história linda e escrevi meio que um perfil do casal. Inclui na matéria um parágrafo dizendo que o ataque ao local de congregação dos judeus em Mumbai dissonava dos outros locais atacados e que não estava claro se o alvo havia sido

intencional ou acidental. Veja que nesse momento, os reféns ainda não haviam todos sido liberados e havia muitas dúvidas, inclusive sobre a identidade dos terroristas. É fácil

criticar de longe e dias depois. O difícil é tomar todas essas decisões quando há apenas umas poucas horas para apurar e redigir uma reportagem.

apresentar um programa não basta mais ter boa voz, a dicção continua sendo fundamental, mas outras ca-racterísticas adquiriram importân-cia. Entre elas está a habilidade de se comunicar com públicos diversos e a competência para apresentar desde textos publicitários até saber conduzir uma entrevista.

Locutor há cerca de 30 anos, Julio Rafael trabalha hoje na rá-dio Guaíba e concorda com Reis, acrescentando que possuir co-nhecimentos gerais, o tão falado repertório, é ponto crucial. Julio, por exemplo, trabalha tanto para a rádio Guaíba AM quanto para a FM. As linguagens das duas frequências são distintas e a versatilidade é fun-damental. Além disso, a habilidade para realizar mais de uma função já é característica dos locutores de emissoras FM. Além de fazer as locuções, muitos precisam operar a mesa de som.

Quem também perde lugar

devido às modificação e ao apare-cimento dos locutores multimídia é o operador FM, responsável pela mesa de som das rádios de freqüên-cia modulada. É o caso de Leonel de Souza, operador FM da Guaíba, cujo trabalho fica restrito às centrais técnicas e às gravações. O colega de Leonel, Luciano Vargas, operador há 22 anos, controla a mesa AM e afirma que a única modificação nas suas atividades, desde que começou a trabalhar, foi a facilidade trazida pelos avanços tecnológicos. Vargas afirma que percebe o mercado, tan-to de locução quanto de operação, “se fechando”, já que a programação de muitas emissoras é controlada por programas de computador.Formação continua: Ainda as-sim, existem cursos com o objetivo de formar novos locutores e ope-radores. Em Porto Alegre, a Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público), antiga Feplam,

oferece ambas as formações há cer-ca de 30 anos. As aulas de locução, ministradas por Sérgio Reis e Marta Zechin, são procuradas por pessoas das mais diversas idades e perfis, desde jovens de 18 anos até idosos de 60. Segundo Reis, os alunos não são apenas os interessados no mercado radiofônico. Entre os que procuram a formação como locu-tores, estão deficientes visuais, que buscam um meio de se comunicar melhor.

O rádio evoluiu. Ao se tornar portátil e mais barato, conquistou mais ouvintes, jovens, velhos, de classe média, alta e baixa. A partir da segmentação de público, frag-mentou também o conteúdo trans-mitido, investindo em profissionais com a capacidade de se dirigir a diversos tipos de ouvintes. Ficou para trás a voz grave e tradicional, mas surgiram novas linguagens e novas formas de expressão.

profissionais precisam se adaptar à transformação

Formanda pela PUCRJ, Fernanda trabalha no jornal NYT

Jonathan Heckler/hiper

Arquivo Pessoal

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Jornal mensal dos alunos do Curso de Jornalismo da Faculdade de Comunicação Social (Famecos), da Pontifícia Universida-de Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).Avenida Ipiranga 6681, Jardim Botânico, Porto Alegre, RS, Brasil. E-mail: [email protected]: http:// www.pucrs.br/ famecos/ hipertexto/ 045/ index.phpReitor: Ir. Joaquim ClotetVice-reitor: Ir. Evilázio TeixeiraDiretora da Famecos: Mágda CunhaCoordenadora de Jornalismo: Cristiane Finger

Produção dos Laboratórios de Jornalismo Gráfico e de Fotografia.Professores Responsáveis: Celso Schröder, Elson Sempé Pedroso, Ivone Cassol, Juan Do-mingues, Luiz Adolfo Lino de Souza e Tibério Vargas Ramos.Estagiários matriculados e voluntáriosEditoras e diagramação: Ana Maria Bicca e Thais Longaray.Editora de texto: Denise FrizzoDiagramadores: Pedro de Souza Palaoro, Ga-briela Boni e Gabriela Carpes.

Editores de Fotografia: Bruno Todeschini e Lívia Stumpf.Redação: Ana Maria Bicca, Camila Kaufmann, Camila Torrada Pereira, Cláudio Rabin, Débora Fogliatto, Deborah Cattani, Denise Frizzo, Gabriela Boni, Gabriela Carpes, Gabriela Dal Bosco Sitta, Jéssica B. Wolff, João Veppo Neto, João Henrique Willrich, José Luiz Dalchiavon, Luiz Antônio A. Bruno, Mariana Amaro, Marco Antônio Mello de Souza, Natália Otto, Nicole Pandolfo, Paola Rebelo, Pedro Henrique Arruda Faustini e Thais Monteiro Longaray.

Repórteres Fotográficos: Bruno Todeschini, Bruna Martins, Bolívar Abascal Oberto, Camila Guimarães Cunha, Caroline Corso de Carvalho, Daniela Grimberg, Felipe Dalla Valle, Guilherme Santos, Gabrielle Toson, Jonathan Heckler, Lívia Auler, Lívia Stumpf, Luíza Lorenz, Manoela Ribas, Maria Helena Sponchiado, Mariana Amaro, Ma-riana Gomes da Fontoura, Maurício Krahn, Nicole Pandolfo, Nicole Morello, Paola Rebelo, Pedro B. Garcia, Pedro Henrique Tavares, Pedro Sampaio, Raquel Damo, Renata Ferreira, Sabrina Ribas, Tracy Anne e Vanessa Freitas.

EDITORIAL ARTIGO

4 Porto Alegre, junho/ julho 2010hiperextot

Opinião

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Por Tomás Adam

A GUERRA DO IRAQUE foi correta, bem-sucedida e propor-cionou avanços políticos e econô-micos para a sociedade iraquiana.

Posso imaginar leitores de queixo caído. Incrédulos, tapam os olhos. Negam com a cabeça. Es-bravejam: “Herege!”, “Reacioná-rio!”, “Direitista!”, “Insensível!”. Senhoras e madames pousam a mão sobre a testa e desmaiam diante de tamanha blasfêmia. Quem ousa defender a invasão americana ao país árabe? Peço cal-ma. Peço misericórdia. E peço um pouco de atenção. Não para mim. Mas para Thabet Al-Beldawi.

Esse senhor de nome impro-nunciável é dono de uma fábrica de alumínio na capital Bagdá. Em depoimento à revista “Business Week”, Al-Beldawi relatou que seu empreendimento, outrora responsável por empregar cerca de 80 pessoas, agora é a fonte de renda de 250 trabalhadores. E qual foi o turning point? A queda do ditador Saddam Hussein.

O empresário é apenas um exemplo diante de tantos que evidenciam a melhora da situação do país após a guerra. As previsões otimistas do Fundo Monetário Internacional não deixam mentir: crescimento de 7,3% do PIB em 2010, incomparavelmente supe-rior aos frangalhos de 2003. A inflação despencou – de 80% para 6,8%. O desemprego, também – de 25% para 15%. Receita má-gica para a criação de um círculo virtuoso de produção, consumo e desenvolvimento.

Mesmo que os avanços eco-nômicos tenham sido evidentes nos últimos anos, valeu a pena pagar o preço do desgaste huma-no causado pela guerra? Críticos da invasão, pacifistas e afins dizem que não. E sugerem que

eu faça um exercício de imagina-ção, transportando minha rotina “burguesa” e “confortável” para uma nação em meio a um conflito bélico.

Enxugo as lágrimas com um lenço, emocionado com a huma-nidade e empatia de meus pares. Reúno forças, contudo, para propor uma nova cena hipotética: imaginem-se vivendo por quase três décadas sob o domínio de um ditador sanguinário. Um genocida sádico e agressivo que utilizava os lucros obtidos com petróleo para armar terroristas. Um lunático que executava adversários e inva-dia nações vizinhas.

É confortável pensar que si-tuações como essa podem ser resolvidas com diálogo, com con-cessões, com entendimentos. Foi o que pensou Neville Chamberlain. O ex-primeiro-ministro britânico selou, em 1938, o “Acordo de Munique” – propondo a “paz em nossos tempos” com a Alemanha Nazi. Um ano depois, Adolf Hitler invadiria a Polônia e mandaria às favas as boas intenções do pacto. Foi a guerra posterior que recu-perou a tranquilidade no país, no continente e no mundo.

O conflito do Iraque foi palco de erros crassos cometidos pelo exército aliado. O principal mote da campanha militar – a busca de armas de destruição em massa – mostrou-se falso. Isso, por outro lado, não impede que reconhe-çamos os avanços obtidos após a deposição de Hussein. O país já não é um antagonista em questões diplomáticas ou um hospedeiro de organizações terroristas. Mi-norias étnicas e religiosas já não são mais tratadas como lixo e a democracia vem, aos poucos, se consolidando. Motivos suficien-tes para comemoração – tanto de Thabet Al-Beldawi quanto do mundo civilizado.

Guerra em nossos temposAgricultura familiar ganha espaço

Por Denise Frizzo

A cada três anos, a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) realiza eleições diretas para renovar sua diretoria. Neste ano, a votação acontece em todo o país, nos dias 27, 28 e 29 de julho, nas sedes dos sindicatos filiados. A nova diretoria eleita ficará à frente da Federação até 2013.

A Comissão Nacional que coor-dena o processo eleitoral na FENAJ aprovou, no mês de junho, a cédula que será utilizada nas eleições e analisou o processo de composi-ção das Comissões Eleitorais que conduzirão a eleição nos estados e

regiões, bem como a listagem dos jornalistas aptos a votar.

O colégio eleitoral, na base de cada Sindicato filiado à FENAJ, é formado por jornalistas sindicaliza-dos, que estejam em dia com suas obrigações associativas até junho de 2010.

Duas chapas disputam a lide-rança da Federação. A chapa 1 (Vi-rar o jogo: em defesa do jornalismo e dos jornalistas), liderada pelo professor do curso de jornalismo da PUCRS, Celso Shröder e a chapa 2 (Luta Fenaj), sob o comando do jor-nalista Pedro Pomar de São Paulo.

Nas propostas das duas chapas consta um item em comum: a luta

em defesa do jornalismo e da pro-fissão de jornalista. Em 17 de junho de 2009 foi decidido pelo Supremo Tribunal Federal que não seria mais necessário ter diploma para exercer o jornalismo. A decisão repercutiu em todo o país e causou protestos por parte da classe atingida.

A Fenaj é a grande responsável por esclarecer a população sobre a importância do diploma para a qua-lidade da informação distribuída. Além disso, está sempre presente nas discussões e reuniões que tratam sobre o assunto, com o ob-jetivo de defender os interesses dos profissionais de jornalismo. Mais informações: www.fenaj.org.br.

Fenaj realiza eleições

Chapa 1 – Virar o jogo

Presidência: Celso Shröder (RS)1ª Vice-Presidência: Maria José Braga (GO)2ª Vice-Presidência: Suzana Blass (RJ)Secretaria Geral: Guto Camargo (SP)Propostas: campanha nacional em defesa do jor-

nalismo e da profissão, intensificar a luta pela criação do piso nacional, em defesa da regulamentação da profissão, qualificação dos cursos de jornalismo em todo o país e intensificar a campanha pela liberdade de imprensa e pelo combate à violência contra os jornalistas. Saiba mais: www.virarojogo.com.br

Chapa 2 – Luta Fenaj

Presidência: Pedro Pomar (SP)1ª Vice-Presidência: George Washington (SE)2ª Vice-Presidência: Cláudia Abreu (RJ) Secretaria Geral: Elaine Tavares (SC)Propostas: luta pelo diploma e pela regula-

mentação da profissão, a revisão da questão do estágio, plebiscito sobre o Conselho Federal de Jornalistas, fazer valer os direitos dos jornalistas do serviço público e a valorização do salário e das condições de trabalho. Saiba mais: www.lutafenaj.com.br

AGENDA

Por Debora Fogliatto

NO BRASIL, a agricultura fa-miliar passou a ser um segmento expressivo da produção rural, em particular, e da economia, em geral. Há cerca de 4,5 milhões de propriedades familiares, 47% delas localizadas no Nordeste do país, se-gundo estudo divulgado em maio de 2010 pela Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária.

Pequenos e médios agricultores são em geral pessoas com baixo

nível de escolaridade que adminis-tram e trabalham em suas proprie-dades, consumindo ou vendendo o que produzem. A agricultura familiar garante grande parte dos alimentos da cesta básica, e chega a ser responsável por 87% do culti-vo nacional de mandioca, 70% de feijão, 59% do plantel de suínos, 50% das aves e 30% dos bovinos, entre outros produtos, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A agricultura familiar também

está presente no mais destacado evento de agronegócio do País, a Expointer – Exposição Internacio-nal de Animais, Máquinas, Imple-mentos e Produtos Agropecuários. No ano passado, a comercialização de seu produtos chegou a R$ 1,03 milhão, 30% de crescimento em relação a 2008. Este ano, na 33ª edição do evento em Esteio, de 28 de agosto a 5 de setembro, estarão presentes de novo. Eles merecem o apoio das esferas do poder, mas também da atenção da sociedade.

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5Porto Alegre,junho/julho 2010

Geral

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Venda casada coage consumidor Crime é praticado em diferentes tipos de comércios e nos bancos

Luciane defende que o consumidor deve reclamar no Procon

As vacas chegam em outubro

Morgana Laux/Hiper

Divulgação

As famosas vaquinhas passaram por Londres e Tóquio

Por José Luiz Dalchiavon

Vacas invadirão Porto Alegre. Elas irão se espalhar por pontos importantes da cidade, como o Parque da Redenção e a Usina do Gasômetro. Mas não se preocupe. As ruas e calçadas da cidade não ficarão sujas de esterco. O rebanho é rígido, aguenta bem as geadas do inverno, mas não dá leite nem oferece carne de boa qualidade. São apenas esculturas.

Em outubro, as vacas da Co-wparade, exposição que já reuniu mais de cinco mil artistas e 150 milhões de visitantes, chegam à Capital gaúcha. Londres, Tóquio e São Paulo são algumas das mais de 50 cidades que já receberam as famosas vaquinhas.

A primeira exposição aconteceu há 11 anos em Zurique, na Suíça. Em Porto Alegre, na divulgação do evento, foram espalhadas réplicas do animal em pontos movimenta-dos da cidade, e todas acabaram se tornando objeto de curiosidade.

Réplicas enormes de vacas em fibra de vidro, feitas em três posições (deitada, pastando e em pé) possibilitam uma pintura em

três dimensões, cheias de curvas e simpatia. A diversidade é tanta, que mesmo após 2.500 esculturas, é impossível encontrar duas que sejam parecidas.

Mas por que vacas? Os orga-nizadores respondem: além da simpatia, elas estão presentes na cultura de diversos povos, sempre evocando sentimentos de carinho. Nada mais natural, portanto, que uma exposição internacional de arte tenha suas formas. O suces-so demonstra que a escolha foi correta.

Vaca Gaudéria, Incrível Hulkow e A Psicodélica, três das 70 obras selecionadas entre mais de 750 projetos, dão uma dimensão do que os gaúchos encontrarão a partir do segundo semestre, em praças e pontos turísticos da capital, duran-te aproximadamente quatro meses. Ao final da exposição, as escultu-ras terão uma destinação social. As obras serão leiloadas e todo o dinheiro arrecadado destinado a projetos sociais, definidos pelo Instituto Vonpar, vinculado à Coca-Cola, patrocinadora do evento.

VENDA CASADA é crime, e está expressa no artigo 39 do Có-digo de Defesa ao Consumidor. Ela ocorre quando um consumidor, ao comprar um produto, é forçado a adquirir outro para levar o que queria inicialmente. Porém, a falta de conhecimento da lei faz com que muitas pessoas não saibam como proceder quando se deparam com essa prática ao efetuar uma compra.

Uma situação comum é quando o cliente, ao pedir um empréstimo, é obrigado pelo banco a fazer tam-bém um seguro. Há também o caso do espectador impedido de entrar no cinema com produtos compra-dos em outros estabelecimentos. Os comerciantes, aliás, são transgres-sores e vítimas. Obrigam o cliente a pedir um acompanhamento para servir uma bebida, com o argumen-to de selecionar os frequentadores, mas também são coagidos pela indústria a comprar refrigerantes para receberem cerveja.

Luciane Souza Disconzi, co-ordenadora da área de serviços privados do Procon-RS, diz que o consumidor deve fazer denúncias de venda casada no Procon de

sua cidade. Caso a localidade não possua posto, deve se dirigir ao or-ganismo estadual, em Porto Alegre (7 de Setembro 713, Centro). “O atendimento no Procon é grátis”, enfatiza Luciane. A coordenadora explica que o órgão procura um acordo entre as partes em até 40 dias antes de tomar alguma medida caso a venda casada seja compro-vada (como aplicação de multa à empresa infratora, ou abertura de um processo administrativo san-cionatório). “Caso o consumidor quiser receber uma indenização da empresa, deve procurar a De-fensoria Pública”, orienta Luciane. Consumidores que ganham até 40 salários mínimos não precisam arcar com custos.

Neusa Bacoff, 56 anos, é pro-fessora das séries iniciais e teve de fazer um cartão de crédito para receber um financiamento, mas não sabe dizer ao certo de que se trata de venda casada. Marli Guimarães, 52 anos, funcionária pública do estado, é bem informada e garante que jamais comprará um produto mediante aquisição de outro. “Se tentarem comigo”, garante Gílson Decésaro, 49 anos, radialista da Guaíba, “denuncio no Procon”.

O programa do governo Professor Digital previa com-putadores mais baratos para professores da educação básica no Rio Grande do Sul. Mais de 30 mil professores aderiram à iniciativa. Mas na virada do ano, uma liminar do Supremo Tribunal de Justiça, a pedido da Associação Software Livre, che-gou a suspender o programa. O motivo foi que os computadores vinham apenas com Windows, sem a opção de outro sistema operacional. Atualmente, qua-tro dos cincos modelos ofere-cidos pelo Professor Digital permitem a escolha do sistema operacional entre Windows e Linux. Luciane Disconzi diz o caso de sistemas operacionais é uma discussão de mercado.

Outro caso foi quanto à va-cinação da Gripe A em laborató-rios privados, que só acontecia junto com a vacinação contra a gripe comum. Luciane Disconzi diz que houve um trato com o governo e a Anvisa liberou as vacinas, importadas já prontas de laboratórios estrangeiros. “É questão de saúde pública, mas nada impede uma consulta no Procon em caso de dúvida”, diz ela.

Tribunal suspendeProfessor Digital

Por Pedro Henrique Faustini

Por Deborah Cattani

Nos últimos dez anos, o trân-sito cresceu em larga escala em Porto Alegre. Dados do Detran/RS revelam que 157 mil novos veículos entraram em circulação em 2009, devido a redução do IPI. Ainda no ano passado, quase 180 mil pessoas fizeram a primeira habilitação na capital gaúcha.

Os pedestres também fazem parte desse cenário. Atravessam ruas sem olhar, em local inadequa-do, e contribuem para acidentes e atropelamentos. O problema levou a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) realizar uma campanha para educar a sociedade e motoristas.

“Porto Alegre nunca tinha tido uma campanha como essa. Quando a gente pensou em fazer uma ação, nós nos concentramos no lado mais fraco das relações do trânsito, que é o do pedestre”, comenta Lucas Satler Barroso, assessor de comuni-cação da EPTC, sobre o novo sinal em que o pedestre estende o braço para que os veículos parem e ele atravesse.

As propagandas e adesivos to-maram a cidade numa onda febril, mostrando que a faixa de segurança é um local de travessia e os passan-tes devem ser respeitados. Durou pouco. É comum ver um carro, com adesivos, quase atropelar alguém nas faixas. “Quem anda a pé recla-ma”, observa a RP Aline Flores.

O estresse diário do trânsito

O 34° Congresso Nacional dos Jornalistas acontece em Porto Alegre, no Hotel Plaza São Rafael, de 18 a 22 de agosto, e terá como tema “O Jornalismo a Serviço da Sociedade’’. O assunto remete a uma das principais responsabilida-des do profissional: o compromisso com a sociedade. Painéis, oficinas

e miniconferências irão abordar o tratamento da notícia e o papel do jornalista no cenário social. Inscrições e mais informações nos sites do Sindicato dos Jornalistas do Rio Grande do Sul (sindicato.jornalistas-rs.org.br) e da Federa-ção Nacional do Jornalistas – Fenaj (fenaj.org.br).

Congresso dos Jornalistas em Porto Alegre

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6 Porto Alegre, junho/julho 2010hiperextot

Por João Veppo

ELA É UMA GAROTA de 14 anos, cabelos castanhos escuros e é obrigada a conviver com as espinhas da adolescência. Sai da piscina, sorridente, formando uma covinha no queixo, e a água escorre pelo rosto. Para na borda para explicar sua rotina. Bárbara Christmann está no colégio, so-nha em ser médica, e treina duro como uma profissional. Ela é uma das nadadoras juvenis do Grêmio Náutico União.

Bárbara acordar às 4 horas da madrugada para treinar. Sai do treino e vai direto para o colégio. Após uma manhã de aula, volta aos treinos. Chega em casa – após um dia cansativo – e tem que estudar mais. Essa é a vida de muitos jovens atletas. Porém, muitas vezes, esta carga espartana de treinamentos pode prejudicar seriamente o ado-lescente, tanto do ponto de vista físico quanto psicológico.

A prática constante do esporte vem associada com boa saúde e felicidade. Contudo, aqueles jovens que querem se tornar profissionais levam uma rotina de treinamen-tos muito diferente daqueles que praticam esporte por hobby. Os problemas causados por uma carga de treinos mal ajustada são muitas vezes esquecidos e não levados a sério. A exigência para que o atleta atinja um alto rendimento cada vez mais cedo, acaba por fazer que o jovem exagere, sobrecarregando tanto o corpo, quanto a mente. Mestre em Ciência dos Movimen-tos Humanos, Roberto Maluf de Mesquita, entende como maléfica a exigência cada vez mais precoce da prática esportiva de crianças e jovens. “O modelo competitivo adotado copia, com pequenas

adaptações, o modelo dos adultos. As exigências físicas e psicológicas são inadequadas para a prática esportiva de crianças e jovens”, observa o especialista.

Um dos fatores importantes para ajustar uma carga de trei-namentos, que ao mesmo tempo apresente resultados satisfatórios e não prejudique a saúde do atleta, é a idade biológica do jovem. Na puberdade, a idade biológica de um jovem não é necessariamente a mesma cronológica, podendo variar em alguns anos para mais e para menos. Uma equipe composta de atletas com 13 anos pode ter jovens com idades biológicas de 10 até 16 anos. Por óbvio, a carga de treinamentos e os tipos de compe-tições não deveriam ser iguais para todos. Isso pode resultar em lesões graves ao ponto de prejudicar a car-reira do atleta, inclusive encerrá-la precocemente.

André Luiz Estrela, também mestre em Ciência dos Movimentos Humanos, ressalta o lado psico-lógico. “A sobrecarga psicológica da sociedade que vivemos induz a

respostas quase imediatas e com resultados no mínimo satisfatórios, impondo, assim, um treinamento perto dos limites dos indivíduos e um imediatismo do aluno que so-licita os resultados para a próxima sessão”, observa Estrela.

Muitos outros fatores influen-ciam no alto rendimento de um atleta. “O biotipo físico, a disponibi-lidade de recursos humanos, como professores, técnicos, médicos, nu-tricionistas e fisioterapeutas, além de recursos materiais. Há casos de atletas que atingiram o alto nível por apresentarem as qualidades físicas e humanas necessárias ao treinamento e não necessariamente por possuírem altos investimen-tos”, acrescenta o mestre em Mo-vimentos Humanos.

É preciso saber dosar. A jovem nadadora do União, que acorda as quatro da madrugada, garante que não comete excessos. “Eu divido as 24 horas do meu dia. Algumas para o colégio, outras para o treino, e um pouco para conversar com meus amigos, comer, dormir e estudar”, relata Bárbara. Parece uma tarefa impossível. Na escola, ela não pega recuperações e mantém contato constante com os amigos. “Tenho amigos na natação e meu horário de treino tem um pouco também de social”, diz.

Bárbara não abre mão do sonho de ser médica e demonstra con-fiança diante do temido vestibular. “Acho que vou passar, não vou lar-gar os treinos e vou tentar conciliar estudos e natação. Espero que dê certo.” A menina quer ser tonar uma prova de que, bem ajustada a carga de treinos, o jovem atleta pode ser competitivo e ter uma vida normal, sem precisar viver apenas para o esporte, tendo tempo para amigos e estudos.

esporte

Aos 14 anos, Bárbara acorda às 4 da manhã

Vida de atleta desde cedo

Fotos Lívia Auler/Hiper

Ela não comete excessos

Que horror! Namorada do goleiro Bruno é

esquartejada e jogada aos cães

MÃE DE UMA CRIANÇA que seria filha do goleiro do Flamengo Bruno Fernandes, Eliza Samudio queria reconhecimento da paterni-dade e pensão para filho. Por isso moveu processo judicial contra o atleta. Essas teriam sido as razões para que fosse sequestrada, morta, esquartejada e seu corpo devorado por cães no início de junho, segun-do depoimento à polícia feito por um adolescente de 17 anos, primo de Bruno que confessou participa-ção nos crimes. Bruno Fernandes, principal suspeito do assassinato, se entregou à polícia dia 7 de julho, sendo detido junto com outros supostos participantes do crime.

A peça chave para o esclareci-mento do caso foi o depoimento de um menor de 17 anos, primo de

Bruno, que confessou a participa-ção no desaparecimento. O menor disse à polícia que Bruno teria pedido aos amigos Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, e Sérgio Rosa que "resolvessem o problema". Segundo ele, a jovem teria sido levada para a casa do ex-policial civil Marcos Aparecido dos Santos, no município de Ves-pasiano, próximo a Belo Horizonte, onde foi espancada, asfixiada e esquartejada.

Com base no depoimento do menor, a justiça decretou a prisão dos suspeitos de envolvimento no crime. Bruno e Macarrão se entre-garam à polícia na tarde de 7 de julho e foram presos sob protestos e gritos de acusação da população. O clube, assim como o patrocinador, suspendeu o contrato do jogador até o fim das investigações.

Por Gabriela Carpes

Outubro de 2009 – Eliza de-nuncia Bruno por obrigá-la a tomar remédios abortivos.Junho de 20104 – Última vez que amigas tive-ram contato com a jovem. 7 – O bebê teria sido levado à fa-zenda do jogador aos cuidados da esposa do goleiro Dayanne Souza.8 – Range Rover de Bruno é apreendida. No veículo são encon-tradas manchas de sangue.9 – Eliza é vista no sítio.24 – Surgem as primeiras denún-cias de que ela teria sido espanca-da até a morte por Bruno e outros dois amigos.26 – Bebê é encontrado com uma família na região metropolitana de Belo Horizonte.27 – Pai de Eliza fica com a guarda da criança.JulhoDia 1° – Confirmado: vestígios

encontrados no carro são de san-gue humano.2 – Peças de roupas no sítio que seriam de Eliza.5 – Buscas ao corpo em lago conhecido como Lagoa Suja, na região metropolitana de BH.7 – Dayanne Souza é presa como suspeita de envolvimento no de-saparecimento da jovem. Bruno e Macarrão se apresentam à Divisão de Capturas do Rio de Janeiro e passam a noite na Delegacia de Homicídios.8 – Polícia do Rio de Janeiro con-clui o inquérito e indicia Bruno e Macarrão por levarem Eliza à força para Minas Gerais. A polícia mineira afirma que além de man-dante, Bruno participou da morte. Os dois são transferidos de Bangu 2, no Rio de Janeiro, para Minas Gerais, onde ocorre o inquérito pela morte de Eliza.

CRONOLOGIA DO CASO

Ídolo troca a camiseta do Flamengo pelo uniforme da prisão

Domingos Peixoto_AFP

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esporte

7hiperextotPorto Alegre, junho/julho 2010

A seleção brasileira repetiu na África do Sul o resultado da Copa do Mundo de 2006, inclusive com o mesmo final melancólico da participação na Alemanha. Com jogadores lesionados e suspensos, a equipe não teve forças para superar a Holanda, perdendo por 2 a 1, nas quartas de final, em 2 de julho.

A participação brasileira ficou abaixo das expectativas. O time chegou a Joanesburgo como um dos favoritos à conquista da taça. O primeiro jogo em território africano não apresentou dificuldade. Vitória da seleção por 2 a 1 contra a Coréia do Norte. A tensão pela estreia ficou evidente em desempenho modesto.

O confronto com a Costa do Marfim era aguardado como decisi-vo para a classificação antecipada às oitavas de final. O Brasil dominou a partida e venceu por 3 a 1, mas o adversário fez muitas faltas violen-tas e tirou Elano do resto da Copa. A expulsão de Kaká, algo poucas vezes visto, também indicava que as dificuldades estavam por vir.

A classificação para as oitavas veio em empate sem gols com o time português da estrela Cristiano

Ronaldo. A entrada de Júlio Batista para substituir o camisa 10 brasilei-ro foi insuficiente para um time que sofreu com a falta de um jogador mais criativo. A partida contra nossos colonizadores foi uma das piores da Copa.

A segunda fase da competição reservou o melhor futebol da sele-ção. A vitória de 3 a 0 sobre o Chile foi incontestável. O domínio técnico das ações ofensivas e a solidez de-fensiva da equipe do técnico Dunga ressaltaram todo o favoritismo bra-sileiro na competição. As quartas de final colocou duas equipes que pos-suíam um histórico de confrontos em Copa do Mundo cheio de gols e emoções, e a partida de 2 julho não seria diferente. O jogo começou animador para a torcida brasileira. O volante Felipe Melo fez um passe de rara inspiração para a conclusão certeira de Robinho. A seleção abria o placar e parecia encaminhar a passagem para a semifinal.

A solidez defensiva, marca dos quatro anos de trabalho de Dunga, indicavam que o caminho para a conquista do hexa estava mais pró-xima. Logo no começo do segundo

tempo, o atacante Robben cobra falta com passe para Sneijder, que faz um levantamento despretensio-so na área brasileira, e conta com a falha do goleiro Julio César, um dos melhores jogadores da posição no mundo. O empate trouxe a instabi-lidade para o time brasileiro.

Outra bola parada definiu o destino. Após escanteio para a la-ranja mecânica, Sneijder cabeceou, com seus 1,70m, no meio dos altos zagueiros brasileiros e garantiu a virada. Felipe Melo ainda cometeu uma falta em Robben e pisou no atacante holandês caído. A expulsão só completou o cenário de tragédia.

O Brasil foi eliminada da Copa, assim com em 2006, nas quartas de final. O time de Dunga, que sempre foi criticado por defender o futebol de resultados, foi derrotado por um time com a tradição de representar o “jogo bonito”, o que não foi visto no confronto direto. O Brasil não perdeu por ser um time nervoso, limitado ou por não ter peças de reposição. O adversário foi mais competente, e isso é difícil de ad-mitir em um país acostumado a vitórias.

Holanda manda Brasil para casa

Espanha entra no clube dos campeões

Pela primeira vez, a seleção sede da competição não se classificou para as oitavas-de-final em 19 edições do torneio. A campeã, Espanha, teve o pior ataque dos times que já vence-ram a competição. Ainda assim, a Espanha se juntou ao grupo de oito times vencedores do torneio: Uru-guai, Itália, Alemanha, Brasil, Ingla-terra, Argentina, França e Espanha.

A fase de grupos do torneio não teve a qualidade esperada. Com poucos gols na primeira rodada e um futebol sem muita inspiração nas outras duas partidas classificatórias das favoritas ao título, o nível dos jogos não atingia a expectativa. Os destaques positivos foram escalações da Alemanha, Argentina e Espanha. Equipes tradicionais, mas que joga-ram com poucos atletas incumbidos de tarefas defensivas.

As oitavas de final foi um mo-mento especial para os fãs de futebol. Alemanha e Inglaterra foi de um nível altíssimo. Apesar do placar de 4 a 1 para o time germânico, a partida foi extremamente disputa e com uma inspiração especial dos jogadores do meio para frente. O jogo será lembrado pelo erro grosseiro da ar-bitragem, que invalidou gol legitimo da seleção inglesa.

As quartas de final também encantaram ao público pelos bons jogos, dessa vez com um componente extra de emoção pelo jogo entre Uru-guai e Gana. A partida acabou empa-tada no tempo regulamentar. Mas a seleção africana teve um pênalti a seu favor no final do segundo tempo da prorrogação, após o atacante Suares colocar a mão na bola. A defesa de Muslera deu a oportunidade de a seleção uruguaia vencer na disputa

de pênaltis e passar para a fase se-guinte da competição, algo que não acontecia desde 1970.

As duas partidas da semifinal foram de jogos muito disputados e com poucas chances de gols. A Ale-manha foi derrotada pelos espanhóis e a celeste perdeu para os holandeses, mas Forlán (Uruguai) foi escolhido o melhor jogador do Mundial.

A seleção da Espanha nunca havia chegado a uma decisão do torneio. Com uma campanha regular nas fases eliminatórias, a Fúria ven-ceu todos seus jogos de mata-mata por 1 a 0. Esses resultados contra-riaram a expectativa criada de que a Espanha trazia um dos times mais ofensivos, com jogadores como Fer-nando Torres e David Villa.

Contra essa regularidade do ad-versário vinha outro time que nunca havia vencido um mundial. A Holan-da é referência de futebol ofensivo, às vezes até irresponsável, mas não foi esse estilo que foi observado ao longo da competição. Com um time com muitos jogadores de alto nível como Robben, Sneijder, Van Persie, Kuyt, Van Bommel, Van der Vaart; a seleção holandesa chegou às finais vencendo todos os jogos disputados na competição.

Em uma partida equilibrada, a Espanha venceu a Holanda por 1 a 0, gol feito no final da prorrogação de 30 minutos, e se tornou campeã com atuação destacada de um jogador que sempre foi coadjuvante. Iniesta manteve-se à sombra dos craques na equipe do Barcelona como, Ro-naldinho Gaúcho e Messi. O meia fez o gol do título no segundo tempo da prorrogação e quando tudo indicava que o novo campeão mundial seria decidido nos pênaltis. A Fúria estava no seleto grupo dos campeões.

A Copa da África teve uma finaleuropeia entre espanhóis e holandeses

Por Marco Antonio Souza

esporte

Fúria festeja o primeiro título mundial na Copa de 2010, na África do Sul, após vitória de 1 a 0 na prorrogação contra a laranja mecânica

Perdemos de virada. Holandeses vibram, seleção de Duga se desespera. Tarde demais

Gabriel Bouys/ AFP

Carl de Souza/ AFP

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país

8 Porto Alegre, junho/julho 2010hiperextot

Escoteiros estão há 100 anos no BrasilPor Pedro Henrique Faustini

A PRIMEIRA TAREFA é haste-ar a bandeira. Lobinhos, escoteiros, seniores e pioneiros criam filas em suas matilhas e patrulhas, erguem a mão direita em direção à cabeça em sinal de continência enquanto assistem a dois colegas levantarem as bandeiras nacional, estadual e do grupo em cada um de três mas-tros. A cena já faz parte da rotina da pequena Vitória Maria Maier, de nove anos, há dois anos no escotis-mo, movimento que completa 100 anos no Brasil em 2010, alcançado 65 mil integrantes.

Vitória Maria Maier começou no grupo Lidia Moschette, do bair-ro Vila Nova, em Porto Alegre. No ano passado, entrou para o grupo Harmonia, no bairro Menino Deus. O interesse pela atividade surgiu através da irmã quando ela tinha apenas seis anos. Sobre seu futuro

nos escoteiros, Vitória revela: “Quero ficar por muito tempo e ser chefe um dia”.

Com tempo e dedicação, a menina poderá chegar ao sonhado posto de chefe conquistado por Mariana Bairros Hungert, de 20 anos. A jovem entrou no grupo Harmonia em 2000, com dez anos, como lobinha. “Via os filmes e entrei no grupo, que era perto de casa”, conta ela, que saiu em 2005. Retornou em 2008 e hoje é chefe da tropa escoteira. Segundo ela, a vivência no movimento desenvol-veu habilidade de liderança.

Mariana afirma que as crianças de hoje têm outros atrativos como videogames e computador que as afastam do movimento. “Alguns têm até vergonha de dizer que são escoteiros. Mas nós fazemos o nos-so futuro. Com um bom trabalho, mostraremos que há mais o que fazer, além do computador”.

O Movimento Escoteiro com-pleta 100 anos em solo brasileiro. Em 14 de junho de 1910 foi fundado o primeiro grupo, o Centro de Boys Scouts do Brasil, no Rio de Janeiro. A ideia foi trazida por suboficiais da Marinha que estiveram na In-glaterra.

Os escoteiros podem ser do mar, do ar ou da terra, essa última modalidade mais praticada. Os que

atuam em rios, lagoas e no mar aprendem a construir embarca-ções, velejar, navegar, mergulhar e estudam Oceanografia. Esco-teiros do ar têm atividades mais voltadas para tarefas como pilotar aeroplanos, saltar de paraquedas e estudam Meteorologia.

Os jovens do solo aprendem a montar barracas, dar nós, construir instalações como pontes e aloja-mentos. Vivem em contato com a natureza, fazem trilhas e escalam montanhas. Todos obedecem os 10 preceitos da mesma lei escoteira: lealdade, honra, ajuda ao próximo, amizade com pessoas e animais, cortesia, disciplina, sorrir nas di-ficuldades, limpo de corpo e alma.

O movimento escoteiro no esta-do é dividido em 38 zonas, quatro delas em Porto Alegre, com 1.780 membros. Conforme dados da União dos Escoteiros do Brasil no RS (UEB-RS), são aproximadamen-te sete mil integrantes no território gaúcho.

O Grupo Escoteiro Harmonia, localizado no bairro Menino Deus, na Capital, completa 25 anos em 2010. O presidente do grupo, Cláu-dio Bressiani, explica que os interes-sados entram no movimento entre sete e 12 anos. “Ficam em média

cinco anos aqui”, diz ele. Desde o ano passado, apenas um lobinho saiu do grupo, porque mudou de residência. Dos 42 membros, há 25 lobinhos, 12 escoteiros e cinco seniores. “Os trabalhos auxiliam o caráter do jovem, além de sua liderança”, acrescenta.

A equipe do Harmonia faz, em média, três acampamentos por ano. Eles também já participaram de acampamentos internacionais, como o Jamboree Pan Americano em San Rafael, na Argentina, em 2005.

No estado, são 1.780 seguidores

Fotos: Bolívar Abascal/Hiper

Divididos em escoteiros do mar, do ar ou da terra, eles aprendem diferentes tarefas

Da Redação

OS TRÊS CANDIDATOS à fren-te nas pesquisas eleitorais para a eleição a presidente da República, em outubro, têm algo em comum: origens à esquerda. Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PMDB), próxi-mos aos 40% na intenção de votos, e Marina Silva (PV), com 10% da preferência, disputarão na urna, na hora da verdade, em 3 de outubro e em eventual segundo turno no dia 31 daquele mês.

Dilma (62 anos), nascida em Belo Horizonte em família de classe média alta, filha do empreendedor imobiliário búlgaro Pedro Rousseff, tornou-se de esquerda quando fazia Economia na Universidade Federal de Minas Gerais. Em 1966, em ple-na Ditadura Militar, foi expulsa da faculdade ao cair na clandestinida-de. Participou da luta armada e foi detida pelos órgãos de repressão em 16 de janeiro de 1970. Sofreu

torturas em três anos de prisão. Libertada, veio para Porto Alegre, onde terminou o curso de Economia na UFRGS. Com a redemocrati-zação, entrou no PDT e em 2001 passou para o PT. Foi secretária nos governos de Alceu Collares na prefeitura de Porto Alegre e no Estado, e ministra do governo Lula, que a credenciou a ser a candidata da situação. “Eu acho interessante o fato de que a mulher, quando exerce um cargo com alguma autoridade, é sempre tachada de dura, rígida,

dama de ferro ou qualquer coisa similar. Isso, de fato, é um estereó-tipo em que tentam enquadrar nós mulheres”, defende-se a candidata de críticas à sua linha de adminis-tração.

Serra (68 anos), aluno de enge-nharia civil na Universidade de São Paulo e militante da esquerda cató-lica, chegou em 1963 a presidente da União Estadual de Estudantes (UNE). No famoso comício de 31 de março de 1964, na Central do Brasil, no Rio, estopim do golpe militar, foi

o mais jovem orador, aos 21 anos, ao lado do presi-dente João Goulart. Com a deposição de Jango e o incêndio da UNE, Serra refugiou-se na embai-xada da França e seguiu para o exílio. Passou 13 anos banido no Chile e nos Estados Unidos, só voltou ao Brasil em 1977,

formado e pós-graduado em Economia no exterior. Deputado federal, senador, prefeito e gover-nador de São Paulo, disputa pela segunda vez a presidência. Defende um governo que tenha “uma taxa de sinceridade e coerência”.

Nascida em seringal no Acre, Maria Silva só aprendeu a ler aos 16 anos, quando foi levada à casa das irmãs Servas de Maria, em Rio Branco, ao contrair hepatite con-fundida com malária. Seu primeiro emprego foi como doméstica, mas se formou em História pela Univer-

sidade Federal do Acre. Vereadora, deputada, senadora e ministra pelo PT, deixou o partido ao entrar em rota de colisão com a ministra Dil-ma, acusada de retardar liberações ambientais em projetos do governo. “Não se trata mais de fazer embate dentro de um partido em que eu es-tava há cerca de 30 anos, mas o em-bate em favor do desenvolvimento sustentável”, disse ao ingressar no Partido Verde, a antiga companhei-ra de lutas do ambientalista Chico Mendes, assassinado em 1988.

No Estado: No Rio Grande do Sul, três candidatos também mobilizam a preferência dos elei-tores. A governadora Yeda Crusius (PSDB) busca a reeleição. A União Popular, liderada pelo PT, é repre-sentada pelo ex-deputado, prefeito e ministro Tarso Genro. PMDB e PDT vão de José Fogaça, ex-deputado e senador, e duas vezes eleito prefeito de Porto Alegre.

Crianças a partir de sete anos podem ser escoteiros. Há quatro categorias:

Lobinhos (de sete a 10 anos), Escoteiros (de 11 a 14), Seniores (de 15 a 17) e Pioneiros (de 18 a 21)

DE LOBINHOSAOS PIONEIROS

Presidenciáveis têm origem na esquerda Trajetória dos candidatos passa por clandestinidade, prisão, exílio e luta com Chico Mendes

Dilma, Serra e Marina monopolizam a preferência dos eleitores

Fotos Divulgação

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comportamento

9Porto Alegre, junho/julho 2010 hiperextot

Como recuperar adolescentes emconflito com a lei

Por Natália Otto

UMA CASA ANTIGA, quase na esquina da rua Barão do Amazonas com a avenida Bento Gonçalves, na Capital, tem todos os dias movimen-tação de adolescentes. Jovens de 12 a 18 anos frequentam o número 1959, uma das sedes do Pemse, o Programa de Execução de Medidas Socioeducativas em Meio Aberto, para receber acompanhamento e orientação a respeito das medidas socioeducativas que cumprem.

Situação semelhante ocorre em uma sala cheia de livros no sexto andar da faculdade de Educação da UFRGS. Lá funciona o Pro-grama de Prestação de Serviços à Comunidade (PPSC) da univer-sidade, ambiente onde também são recebidos “adolescentes em situação de conflito com a lei”, segundo a qualificação acadêmica politicamente correta. São jovens que cometeram atos infracionais e foram designados a cumprir medi-das em liberdade, em vez de serem internados em instituições como a FASE (Fundação de Atendimento Sócio-Educativo). Uma punição, sim, mas não apenas isso. Educar, humanizar e apresentar oportu-nidades são também os objetivos das medidas socioeducativas e de programas como o Pemse e o PSC.

Os programas: O Pemse, que atua em microrregiões de Porto Alegre, recebe jovens após audiências ou adolescentes que tiveram regressão de medida (estavam internados na FASE e passaram para liberdade as-sistida) e os encaminha para o setor onde o jovem prestará os serviços comunitários. O programa também é responsável pelo controle da do-cumentação e a cada 15 dias contata com o adolescente para realizar a supervisão e a discussão do caso.

“O jovem é ouvido, o máximo possível, antes da escolha do tipo de serviço que irá realizar”, conta a socióloga e coordenadora da sede do Pemse dos bairros Partenon e Lomba do Pinheiro, Vera Ponzio. “Damos preferência a uma ativida-de que ele goste e se identifique”. Quando o jovem chega ao progra-ma, é realizado um acolhimento coletivo no qual se explica o que é o Pemse e as questões sociais nas

quais ele está envolvido. “É trans-mitida a ideia de que aquilo é um trabalho, um dever que eles devem cumprir para pagar por um erro”, explica Vera.

O Programa de Prestação de Serviços da UFRGS é um dos pro-gramas vinculados ao Pemse. Os jovens da sede da Lomba do Pinhei-ro e do Partenon são encaminhados para o PSC, que os orienta ao setor onde será realizado o serviço co-munitário. “Somos a referência do jovem. Ultrapassa a execução da tarefa, formamos um vínculo com ele”, explica Magda de Oliveira, coordenadora. Além da mediação, o programa oferece oficinas de in-formática aos adolescentes.

“Nossa idéia é baseada na edu-cação e nas relações”, conta Mag-da. “Queremos conhecer a pessoa por trás do ato infracional. São jovens que querem estudar, fazer um curso, é um ser humano”. A principal característica da medida socioeducativa em meio aberto é a da humanização do jovem que co-meteu a infração. Embora tomadas pela opinião pública muitas vezes

como ineficientes ou práticas que refletem impunidade, elas adqui-rem força ao projetar o jovem para um mundo que não é o da interna-ção – no qual ele se vê apenas como um criminoso.

“A restrição de liberdade é muitas vezes a restrição de possi-bilidades”, pondera Magda. Para ela, não ajuda o jovem a se ver em outro papel. “Em novo círculo social, se relacionando com outras pessoas, eles podem encontrar novas formas de resolver conflitos, diferentes das que eles conhecem”. Vera Ponzio, do Pemse, ressalta a importância do acompanhamento da família enquanto os menores cumprem suas medidas, exigindo deles comprometimento. “Lutamos e trabalhamos valores como ética, responsabilidade, compromisso – ideias as quais, muitas vezes, eles não tiveram acesso em casa.”

A questão do estigma é ampla-mente discutida por quem trabalha com adolescentes em conflito com a lei. O jovens sofrem com o rótulo de criminosos, seja por causa de laços familiares, de antecedes criminais, que permanecem no banco de dados da polícia, e às vezes até graças à cor e classe social. “O adolescente nessa situação é visto de forma estigmatizada, fortemente marcada por uma representação social que o coloca como alguém perigoso, noci-vo, distinto da maioria e que deve ser imediatamente neutralizado”, observa Moysés da Fontoura Pinto Neto, professor da Universidade Luterana do Brasil e especialista em ciências criminais. “Eles acabam abraçando o estereótipo e tornam-se aquilo que se espera que sejam. O indivíduo estigmatizado forja seu Eu a partir da vivência com os demais”, explica Moysés. “Se sou

invisível ou, quando visto, é para despertar medo, é evidente que isso irá provocar em mim um res-sentimento gigantesco, que muitas vezes irá se expressar por meio da violência”.

“Há um perigoso senso comum no Brasil que sustenta que o adoles-cente que comete atos infracionais não é responsabilizado”, comenta Salo de Carvalho, criminalista e professor da UFRGS. Baseando-se no argumento da impunidade, a grande imprensa e a opinião pública demonstram-se a favor de uma repressão cada vez maior. “Infelizmente, nossa sociedade ocidental é baseada em princípios de ressentimento e culpabilizações que não permitem que os erros possam ser superados”, lamenta ele. “Os discursos repressivos como esse deixam questões mais importantes na sombra”, completa Magda.

Programas socioeducativos são feitos em parceria com universidade

Drogas, maus-tratos, negli-gência, violência familiar, pouca escolaridade, baixa renda. É longa e previsível a lista dos problemas que os menores que chegam ao Pemse e ao PPSC enfrentam. “São jovens em vulnerabilidade social”, explica a socióloga Vera Ponzio. “Em geral, os adolescentes mais violentos fo-ram vítimas de violência familiar, ou conviviam com violência intra-parental”.

Magda de Oliveira ressalta também a dificuldade dos adoles-centes de estabelecer vínculos com as escolas. Principalmente graças à distorção idade-série, eles acabam desistindo e largando os estudos. Além de oferecer acompanhamento às medidas, o PSC e o Pemse tentam reinserir os jovens na escola. “Eles querem voltar a estudar, mas não há vagas nas escolas municipais e es-taduais”, explica Magda. Ela conta que existem listas de espera de mais de 50 nomes na rede pública de en-

sino, e muitos jovens ficam de fora. Sobre a aceitação e os efeitos das

medidas abertas nos adolescentes, Vera avalia: “Há aqueles que até verbalizam ‘que bom que isso acon-teceu comigo, precisava disso para parar com essa vida’, mas também tem aquele que não se liga, não sabe

o que está acontecendo com ele. De-pende da vulnerabilidade, do apoio da família, de diversos fatores”.

“Eu não sei como entrei para essa vida”, conta um menino de 16 anos, que cumpre medida de liberdade assistida com acompa-nhamento do Pemse. Ele fala de-vagar, como se estivesse distante, resignado. “Aconteceu. Ninguém me obrigou a nada, entrei porque quis”. O que difere ele de muitos outros garotos que frequentam o programa é que pertence à classe média. Fez supletivo em escola particular, tem pais com ensino superior, não se encaixa em muitas das características que moldam o perfil do jovem em conflito com a lei. “A vulnerabilidade social não é uma questão apenas de condição econômica, e sim de uma crise de autoridade e de valores, da negli-gência. Tenho certeza que um dia esse menino precisou de ajuda, de limites, e ninguém o atendeu”,

lamenta Vera. Outros jovens ressaltam as

qualidades dos programas, que “dão apoio, conversam com a gente, nos escutam”, de acordo com outro rapaz de 16 anos. “Aqui, se você se esforça, eles percebem e dão valor”. Cumprindo medida de liberdade as-sistida por tráfico de drogas, revela sua vontade de voltar a estudar e de trabalhar. “A gente aprende que existe outro jeito de viver”, assegu-ra. “Eles nos mostram o caminho, vai de ti escolher o lado certo”.

Vera Ponzio conta a história de um menino cujo pai, traficante, foi morto. Logo em seguida, ele foi cha-mado pelos comparsas a continuar o legado do pais. A polícia o parava na rua e o ameaçava, dizendo saber quem era seu pai, e, por consequ-ência, saber quem ele era. “Tentei ser diferente”, ele disse à socióloga. “Tentei ser outra pessoa, mas isso é o que todos esperam de mim. O que mais eu vou ser na vida?”

Dramas humanos jogam jovens na contravenção

Fotos Daniela Grimberg/ Hiper

Magda de Oliveira, coordenadora de projeto acadêmico de apoio aos adolescentes

É preciso educação e limites

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10 Porto Alegre, junho/julho 2010

Cultura

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Sem idade para entrar em cena

Em casa e no set, ela não para e é conhecida como “duracell”

Charme, meiguice e sapatos es-curos, sem detalhes. Mas este não é o tipo de calçado preferido por Nydia Gutierrez. “Gosto desses, com salto e lacinho”, indica. Os sapatos, por ela considerados “sem graça”, são apenas para momentos de gravação. São itens requeridos ou pelo figurino ou porque são bons para que os pés doam menos ao longo das muitas ho-ras de trabalho. Aos 70 anos, Nydia é atriz e iniciou a carreira há apenas 12.

O pique para levantar cedo, viajar, trocar várias vezes de roupa, decorar roteiros e posar para a câmera é pro-porcional à vontade que a levou a en-trar em cena. Nunca fez curso algum de teatro, só um para modelo, anos antes, ideia que não levou adiante na época. Retomou o sonho antigo de criança após o falecimento do marido e, mais tarde, de uma das filhas. Para suportar a dor, a solução: arte.

Baixinha, sorriso largo e cabelos brancos e curtos, pousou para a pri-meira propaganda – a de uma marca de fermento para bolo – com a ima-gem da avó ideal. Apesar de ser muito zelosa com os quatro netos e bisneta, admite: “Se eu for costurar uma bai-nha, sou um fracasso absoluto e não me vejo em casa fazendo tricô. Deus me livre! Quando eu passar dois dias seguidos deitada, vendo televisão, é porque o negócio está sério!”

Mora com a filha mais nova, de 23 anos. Quando anda com ela, as pessoas costumam pensar que Nydia é a avó em vez da mãe: “Difícil acreditarem que tive minha caçula aos 47 anos”. A convivência com a filha jovem incentiva a atenção ao novo. Como nunca para, veio o ape-

lido “duracell”, pois é mesmo uma pilha, mas não de nervos e, sim, de disposição e espontaneidade. Adora conversar mesmo com quem acabou de conhecer e os assuntos vão des-de cor de esmalte – gosta dos tons escuros – a flashes da própria vida. A característica positiva que se auto-atribui é a versatilidade. De coelhinha a dançarina de tango, são poucas as restrições. “Acho interessante viver papéis diferentes. Tenho facilidade para rir, para chorar. Só não faço nudismo e sexo explícito!”.

Realiza propagandas desde 1998, em geral no papel de “velhinha” en-graçada. As mais recentes foram a da rede de farmácias Panvel e do Minis-tério do Turismo. Participou do clipe “Ausente” da banda Gulivers e fez oito curtas – um deles “O Gritador”, no qual contracena com o ator Werner Schünemann. É modelo em desfiles, inclusive nos beneficentes, como o do asilo Spaan, em Porto Alegre, que faz questão de participar. Também faz parte atualmente do elenco de um curta-metragem produzido por alunos da Faculdade de Comunicação Social da PUCRS.

Como atriz, o retorno financeiro não é “o bicho”, conforme denomina. “Mesmo assim, estou feliz porque faço o que gosto. Ir só pelo dinheiro é uma coisa que cansa. Quero ir longe!”, idealiza. Dentre os planos está a ida à Nápoles, região italiana na qual nas-ceu e deixou ainda pequena. Outro é ter uma banheira de hidromassagem em casa. Fazer ioga, trabalhar na Globo e aparecer no programa do Jô Soares também são itens de sua lista. Não seria demais? Nydia Gutierrez responde: “Nunca é tarde para a gente conseguir o que quer”.

Nydia: versatilidade

e ar jovial em cena

RITA LEE, como bem diz uma de suas mais conhecidas canções, foi a ovelha negra da família. E a isso o Brasil deve uma de suas maiores cantoras. Considerada por muitos a “vovozona” do rock brasileiro, mal dá pra acreditar que ela já tenha chegado aos 65 anos. Irreverente e expressiva, mostrou toda sua disposição no show ETC., exibido em Porto Alegre nos dias 11 e 12 de junho.

O Teatro do Bourbon Country lotou para assisti-la e a cantora brindou o público com um show que pareceu ser a reunião de seus maiores sucessos. Iniciada com ‘Agora só falta você’, a apresentação seguiu com ‘Vírus do amor’, ‘Pagu’ e ‘Bwana’. Entre essas interpretações,

porém, Rita conversou informal-mente com a plateia e recebeu um presente de um de seus fãs, um acontecimento chamado por ela de “momento Hebe Camargo”.

A cantora relembrou seus dias de Mutante com ‘Baby’ e interpretou de forma teatral as músicas ‘Insônia’ e ‘Atlântida’, andando e dançando pelo palco. Um dublê de Michael Ja-ckson, cantando ‘Bad’, entusiasmou os presentes, pouco animados com as últimas canções. Esse entusiasmo se manteve com ‘Ôrra meu!’, ‘Doce Vampiro’ e ‘Ovelha Negra’, que foi acompanhada por imagens da infân-cia e da juventude de Rita no telão.

Bastante à vontade para intera-gir com o público, Rita Lee falou de Copa do Mundo, eleições e de sua vida. O show finalizou com ‘Banho de espuma’, acompanhada por bo-

linhas de sabão que passearam pelo teatro, e ‘Lança-perfume’.

Assim que a cantora se retirou, o público levantou-se, foi à frente do palco e começou a pedir por mais. “Rita, Rita, Rita”, gritavam. Depois de alguma insistência, ela voltou para cantar ‘Flagra’, ‘It’s only rock’n’roll’, interpretada por seu marido Roberto de Carvalho, e ‘Erva Venenosa’.

Durante o show, a cantora foi sustentada por uma banda com-petente, formada por Beto Lee e Roberto de Carvalho nas guitarras, Brenno di Napoli no baixo, Edu Sal-vitti na bateria, Danilo Sampaio nos teclados e Débora Reis e Rita Kfouri fazendo os backing vocals. Assim, Rita Lee ofereceu o que o público queria: sucessos, boas interpreta-ções e interação.

Por Gabriela Boni

Teatro do Bourbon Country lota para assistir a cantora símbolo do rock brasileiro em Porto Alegre

Por Júlia Rombaldi

Rita Lee começou com “Agora só falta você” e terminou com “Erva venenosa”

Gabriela Boni/Hiper

Fotos: Felipe Dalla Valle/Hiper

A irreverente e clássica Rita Lee

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11Porto Alegre, junho/julho 2010 hiperextot

CHEGOU a Porto Alegre, após três anos de espera, a peça Aqueles Dois, da Companhia de Teatro Luna Lunera, de Belo Horizonte. Os gaú-chos puderam conferir nos dias 25 e 26 de maio, no Espaço Teatrofídico da Usina do Gasômetro, a apresen-tação baseada no conto homônimo do gaúcho Caio Fernando Abreu. Sucesso de público e crítica desde sua estréia, em 2007, a peça diri-gida por Cláudio Dias, José Walter Albinati, Marcelo Souza e Silva, Odilon Esteves e Rômulo Braga já ganhou diversos prêmios nacionais.

“Num deserto de almas também desertas, uma alma especial reco-nhece a outra de imediato”. A frase, premissa que carrega o aclamado conto de Caio (publicado no livro Morangos Mofados, em 1984), resume o encontro das personagens Raul e Saul. Ambos são homens solitários que se mudam para a assustadora São Paulo e passam a trabalhar em uma repartição públi-ca. Em meio ao som das máquinas de escrever e aos cafezinhos nos intervalos, nasce entre eles uma

relação de afeto e dependência. Só quem não compreende a bele-za desse encontro são os demais membros da repartição. Fazendo jus ao subtítulo da obra – “história de aparente repressão e mediocri-dade” – os colegas atacam os dois com a faca afiada da intolerância.

Não apenas o roteiro da peça é baseado na obra de Caio Fernando Abreu (1948 – 1996). O cenário, a música, a solidão desesperada, o sutil homoerotismo: tudo remete à figura do escritor. Em um palco quadrado, no chão, discos de vinil, máquinas de escrever, uma televi-são antiga, um violão e um cavalete ambientam ora a moradia de Raul e Saul, ora a repartição. O dinamismo da escrita de Caio também aparece na forma atípica de encenação, não há um personagem para cada ator. Os quatro atores – Cláudio Dias, Marcelo Souza e Silva, Odilson Esteves e Rômulo Braga – interpre-tam, de forma livre e muitas vezes ao mesmo tempo, aqueles dois.

Ao som de Cazuza, Ângela Rô-Rô e outros artistas presentes na obra do autor, os atores encenam impressionantes jogos coreografa-dos. Em dado momento, os quatro

Apresentação esteve em cartaz no Espaço Teatrofídico, na Usina do Gasômetro

Por Débora Fogliatto e Natália Otto

Aqueles Dois de Caio Fernando Abreu

tornam-se narradores e, em tom de conversa de bar, contam parte da história de Raul e Saul. Cartas e tre-chos escritos por Caio são lidos em voz alta, e o bolero Tu me acostum-braste é cantado pelos artistas. Esse minucioso mosaico de referências produz uma completa imersão do espectador na atmosfera do conto.

A sutileza no tratamento de uma temática tão delicada é um dos trunfos da peça. Durante a encenação, não se sabe mais quem é Saul e quem é Raul e qual a na-tureza de sua relação, amizade ou namoro, se são héteros, homo ou bissexuais. Esse mistério, fiel ao que se passa no conto, subverte a maneira de pensar que se está acostumado: primeiro os rótulos, depois as emoções. Ao fugir desses conceitos, Aqueles Dois trata ape-nas do essencial: o ser humano e a beleza de suas relações.

Arte do Improviso: “A gente sabe como o espetáculo começa, mas nunca como ele termina”, conta o ator Cláudio Dias, em um rotineiro bate-papo organizado pelos artistas ao final da peça. Aqueles Dois é fruto de um grupo de estudos sobre contato, impro-

visação e técnicas vocais chamado de Observatório de Criação, promo-vido pela companhia Luna Lunera para desenvolver o talento de seus artistas.

A ideia era conceber um exer-cício de direção coletivo, em que todos eram diretores e atores simultaneamente. Vários textos passaram pela oficina, até que o grupo se encontrasse no conto de Caio Fernando Abreu. A partir daí, organizou-se um cronograma de quatro semanas, no qual a cada se-mana um dos atores seria o diretor do projeto. Cláudio Dias, Marcelo Souza e Silva, Odilon Esteves e José Walter Albinati – tendo este prefe-rido apenas dirigir o espetáculo, o que acarretou o convite a Rômulo Braga para compor o quarteto que personifica Raul e Saul – escre-veram, então, o espetáculo “a dez mãos”.

O sucesso da fórmula foi tão grande que, de objeto de estudos de uma oficina, o espetáculo tornou-se uma das peças mais bem-sucedidas do teatro brasileiro. Neste deserto de obras artísticas sem muita cora-gem, Aqueles Dois é merecidamen-te reconhecido.

“Num deserto de almas também desertas, uma alma especial

reconhece a outra de imediato”

Caio Fernando Abreu

“A gente sabe como o espetáculo começa, mas nunca como ele

termina”Cláudio Dias

Guto Muniz

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Porto Alegre, junho/julho 201012 ponto final hipertexto

Por Débora Fogliatto

O DESENHISTA Anélio Latini Filho e sua equipe produziram 500 mil desenhos entre 1947 a 1953, numa rotina diária que come-çava às 8h da manhã e só terminava às 4h da madrugada. Todo este trabalho foi necessário para realizar ‘Sinfonia Amazônica’, o primei-ro longa-metragem brasileiro de animação. O filme, inspirado em ‘Fantasia’, da Disney, reunia sete lendas amazônicas e marcou o início da história das animações no Brasil. De lá pra cá, mais 19 longas foram produzidos no país. Em 2003, foi criada a Associação Bra-sileira de Cinema de Animação (ABCA), com o objetivo de incentivar, apoiar e reunir os animadores brasileiros, para aproveitarem o sucesso internacional dos filmes e programas de televisão baseados em animação. Para Marta Machado, presidente da entidade, há um grande interesse em produzir longas e, considerando as condições culturais do país, o número existente já é bastante alto”.

As tecnologias digitais facilitaram o trabalho dos profissionais do ramo e os equi-pamentos se tornaram mais acessíveis. No entanto, a indústria norte-americana ainda mantém o monopólio das produções do gê-nero. “Os americanos acharam uma fórmula há muitos anos e isso é mérito deles. Nós não termos feito o mesmo, foi falha nossa, mas isso vai mudar em breve”, assegura o gaúcho do bairro Bom Fim de Porto Alegre, Otto Guerra, um dos principais animadores brasileiros.

A maior atenção da indústria ainda é voltada para a publicidade, devido a fácil comercialização e produção. Contudo, con-quistas como a primeira série animada de televisão feita no Brasil, o ‘Peixonauta’, que obteve sucesso no mercado internacional,

abriram muitas portas para o crescimento do ramo. De acordo com Guerra, o problema é que a televisão e o cinema têm um confronto histórico. “É a TV quem comanda o que exi-be. Logo, é muito mais barato importar do que comprar daqui”. Isso também prejudica a indústria no sentido do reconhecimento pelo público, que é levado a subestimá-la devido à ausência de animações brasileiras na televisão.

Para os que sonham em seguir a carreira da animação, há boas e más notícias. A pro-dução é bastante demorada – leva no mínimo de dois a três anos para concluir um longa – e dificilmente o mercado brasileiro atingirá grandes proporções no âmbito mundial. “Eu não sou sonhadora a ponto de pensar que do-minaremos o mundo, mas se conseguirmos dominar a nossa própria TV, já vai estar de bom tamanho”, projeta Marta.

Otto Guerra, que está produzindo seu terceiro longa-metragem, garante que o tra-balho vale a pena. Seu segundo filme, ‘Wood & Stock: sexo, orégano e rock’n’rol’l, ganhou diversos prêmios nacionais e internacionais. Para ele, ter perseguido o seu sonho de infân-cia foi recompensador. “Minha mãe sempre me perguntava se eu tinha certeza de que era isso que eu queria. Quando comecei a ganhar dinheiro, ela virou uma grande fã”, brinca, lembrando a falta de valorização ainda presente.

A ABCA já tomou algumas iniciativas para mudar este cenário. É o caso das come-morações do Dia Internacional da Animação (28 de outubro), realizadas em cerca de 400 cidades do país, nas quais são exibidos principalmente curtas-metragens brasileiros. “Ano passado, já vimos bons resultados. Esperamos que este ano a repercussão seja ainda maior”, torce Marta.

Traço brasileiro nafebre das animações

Patrícia Dyonísio/Arquivo

Otto Guerra representa a luta por incentivo para a animação nacional

Por que ser zebra?Por Marco Antonio Souza

AS TENDÊNCIAS são as zebras nessa savana que chamamos de campus. A cada nova moda, a manada se lança a perseguir o lance da hora. Ainda que muitas das novas descobertas forcem a padronização que, no mínimo, diminui o propósito de alguém estudar para ser um comunicador.

Diariamente, os expoentes da nova geração acordam, tomam café da manhã, vestem calças jeans justas. Colocam seu casaco listrado, amarram o All-Star e vão para a parada pegar o ônibus T-1. Atitudes que se repetem no cotidiano. Nada que force um pensamento sobre o porquê de uma marca ter que ser obrigatória para

alguém da área da comunicação. Não no sentido de imposição, mas se o individuo não usar o tênis indicado pela moda, não está usando nada.

Chegam à PUC e vão ao bar comprar capuccino. Ocupam as mesinhas, que parecem ter saído diretamente do seriado Malhação da TV Globo, acendem cigarros levantando fumaça que irritará seus olhos, mas estes não podem ser vistos, pois estão atrás de óculos escuros e coloridos.

O estereótipo de jornalista que habita o imaginário coletivo não precisa ser seguido a risca pelo estudante. A diferença é que faz com que não exista um único pensa-mento. O consenso é chato e preguiçoso.

Enquanto isso acontece, alguém pensa

na nova forma de fazer com que outra moda surja. No dia seguinte esse será o motivo maior da existência de pessoas que esquecem o porquê de se preparar para trabalhar na função que exige um olhar que separa o ordinário do fato ex-traordinário.

É loucura uma pessoa aceitar se reduzir a um seguidor ferrenho de alguém que não seja sua própria consciência. É mais fácil aceitar que alguém diga o que é bom ou não. Mas será essa a postura da pessoa que vai trabalhar com o extraordinário?

O estilo pode ser individual, mas seguir qualquer tendência só por ser novidade, não pode estar certo. O pensamento e a reflexão são esquecidos em coisas triviais

como, por exemplo, a maneira de se vestir. Talvez, isso se deva à falta de experiência, à pouca maturidade para rejeitar o que é oferecido como a mais impressionante novidade na atualidade.

Talvez, um dia não existam mais verdades absolutas como Lady Gaga no cenário musical, roupa listrada como o mais moderno vestuário da humanidade, capuccino o melhor café, fumar, estudan-tes de comunicação militante da esquerda ou alienado, ter twitter ou blogs e coisas do gênero para expressar a opinião de maneiras diversas. Ainda que as listras das zebras escureçam com a idade, e es-tes animais, embora se pareçam, não são todos iguais.

Crônica