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    A IMPORTNCIA ESTRATGICA DEUMA FORA NAVAL PARA O BRASIL

    Orestes Piermatei Filho,

    Doutor em Matemtica UFRJ;Prof. Departamento de Matemtica ICE [email protected]

    O mar fundamental para o desenvolvimento e a sobrevivncia das naes. No h pasque disponha de litoral e no identifique imensos interesses no mar. Desde pocas maisremotas, mares e oceanos so usados como via de transporte e como fonte de recursos

    biolgicos. O desenvolvimento da tecnologia marinha permitiu a descoberta nas guas, no

    solo e no subsolo marinho de recursos naturais de importncia capital para a humanidade.

    O transporte martimo responsvel por mais de 95% do comrcio exterior brasileiro. Opetrleo outra grande riqueza de nosso mar. Privados desse petrleo, a decorrente criseenergtica e de insumos paralisaria, em pouco tempo, o pas. O petrleo proveniente do mar uma riqueza vital para o Brasil. O gs natural outra grande fonte de energia encontrada nomar. Os grandes depsitos descobertos na bacia de Santos, na bacia de Campos e no litoral doEsprito Santo viabilizam a consolidao do produto no mercado brasileiro, substituindo suaimportao de regies menos estveis. A atividade pesqueira outra potencialidade de nossomar. No mundo, o pescado representa valiosa fonte de alimento e de gerao de empregos.

    O potencial do mar brasileiro imenso e vital para o desenvolvimento e sobrevivnciada nao. Imensa e complexa tambm a tarefa de proteger to grande patrimnio. No mar,as fronteiras so linhas traadas sobre uma carta nutica, s sendo respeitadas pela presenaefetiva dos navios de nossa Marinha representantes do poder estatal.

    Encontra-se em fase de desenvolvimento pelo Ministrio da Defesa do Brasil o PlanoEstratgico Nacional de Defesa que tem como objetivo traar as linhas mestras de umaestratgia de defesa para o Pas, realizar estudos para o reaparelhamento das Foras Armadase reavivar a indstria de defesa de forma integrada ao processo.

    Membros do Governo Federal tem apresentado declaraes imprensa, onde se percebedesconhecimento ou viso equivocada no que se refere a capacitao do que deveria ser uma

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    marinha de guerra moderna. Isto pode ser visto em expresses do tipo: os navios de superfcieso fundamentais para o transporte de tropas e para outras misses, mas tem efeitos limitadosno papel de dissuadir uma fora inimiga mais forte que queira se estabelecer nas guasterritoriais brasileiras, onde se concentram as fontes de petrleo e os principais fluxos decomrcio exterior do pas.

    Existem vrios erros conceituais, por falhas de fundamentos, em uma nica frase. Umnavio transporte de tropas o alvo mais importante, em termos de vidas, para um supostoadversrio. Sem as escoltas no haveria sua proteo. Cabe ressaltar que todas as tropasenviadas para o Haiti, e anteriormente para Angola e Moambique, foram escoltadas porFragatas e Corvetas.

    Questiona-se a presena de uma fora inimiga mais forte e que queira se estabelecer emnossas guas territoriais brasileiras. Mas cabe lembrar que as guas territoriais brasileirasesto a 12 milhas nuticas da costa. Assim tal fora inimiga estaria dentro do alcance daaviao de caa, de campos minados defensivos, de foguetes ASTROS, e de uma srie de

    outras medidas que podem ser tomadas. Porm no devemos nos preocupar apenas comforas inimigas mais fortes, e ignorarmos as de igual ou menor capacidade que a brasileira.

    Os navios patrulhas so normalmente armados com canhes de calibre de 40 mm,armamento este ineficaz para defender as plataformas de petrleo contra navios mercantestripulados por terroristas que queiram jog-lo contra uma delas, por exemplo. Se ele apresentaeste tipo de limitao, menos eficiente ser contra navios de uma esquadra inimiga.

    Navio Patrulha Bracu (www.mar.mil.br/menu_h/fotos/navios/navios_p.htm)

    Os navios patrulha possuem apenas armamento de auto-defesa, logo no conseguemcriar o sentimento de dissuaso pretendido. O sentimento de dissuaso criado por porta-avies, fragatas de grande tonelagem, submarinos e aviao embarcada. Somente umamarinha balanceada ser capaz de cumprir todas as tarefas bsicas que dela se espera e queso praticadas pelas melhores marinhas do mundo.

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    Navio Patrulha Bocaina (www.mar.mil.br/menu_h/fotos/navios/navios_p.htm)

    Ressalta-se tambm que os fluxos de comrcio com o exterior se materializam atravsdos navios mercantes. Se no existir capacidade de proteg-los em alto-mar, distantes denossos portos, as nossas linhas de comunicaes martimas sero cortadas, eliminando o fluxoque abastece a economia nacional.

    Outro erro imaginar que se faz uma marinha de guerra apenas com a caracterstica dedissuaso. necessrio que se tenha um Poder Naval adequado, aprestado e balanceado, que

    inspire credibilidade quanto ao seu emprego, que tambm se evidencie por atos de presenaou demonstraes de fora, quando e onde for oportuno, para coibir qualquer ameaa que seapresente.

    Dado o desconhecimento dos fundamentos e a adoo equivocada de certos conceitos,faz-se necessrio alguns esclarecimentos que sero apresentados adiante.

    O Poder Naval efetivo precisa ser capaz de atuar em reas extensas, por um perodo detempo pondervel, e nelas adotar atitudes tanto defensivas quanto ofensivas, explorando suascaractersticas de mobilidade, de permanncia, de versatilidade e de flexibilidade.

    A mobilidade representa a capacidade de deslocar-se prontamente e a grandesdistncias, mantendo elevado nvel de prontido, ou seja, em condies de emprego imediato.A permanncia indica a possibilidade de operar, continuamente, com independncia e porlongos perodos, em reas distantes e de grandes dimenses. A versatilidade permite regular o

    poder de destruio e alterar a postura militar, mantendo a aptido para executar uma amplagama de tarefas. A flexibilidade significa a capacidade de organizar grupamentos operativosde diferentes valores, em funo da misso.

    Estes conceitos influenciam fortemente na escolha dos equipamentos para a Marinha doBrasil. A aquisio de UAV (Unmanned Aerial Vehicle) parece ser uma alternativa vivel

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    para complementar os recursos da Marinha do Brasil, porm o mesmo apresenta acaracterstica de baixa permanncia nas operaes, alm de no ser muito verstil. Aversatilidade dos submarinos tambm deve ser questionada. Este meio apresenta algumaslimitaes, no conseguem cumprir todas as tarefas desejadas para um Poder Naval efetivo,

    pois essencialmente disparam torpedos ou msseis.

    Um navio de superfcie pode adotar diversas posturas, como por exemplo, se posicionarem rea de disputa, se antepor a uma fora inimiga, fazer disparos de advertncia, sobrevoarum objetivo com seus meios areos, etc. Os submarinos no permitem a graduao de fora,eles usam armas de destruio, partindo diretamente para o conflito. So os navios desuperfcie que efetivamente graduam o uso da fora.

    A explorao dessas caractersticas proporciona a capacidade de atuar no mar e projetar-se sobre terra, incluindo a capacidade de operar no espao areo sobrejacente, indicar

    intenes e comprometimento em reas crticas para induzir atitudes favorveis ou dissuadiras desfavorveis, aplicar o poder de destruio ou de ameaa, graduando-o adequadamente aomomento e ao local, atuar de forma balanceada contra diversos tipos de ameaa (area, desubmarinos e de superfcie), que se apresentem isolada ou simultaneamente, entre outras.

    A crise um estado de tenso no qual a animosidade fica prxima do emprego daviolncia, e surge quando so geradas oportunidades de alcanar objetivos ou para protegerinteresses ameaados. Em geral uma crise surge atravs de atitudes e de comportamentos queindiquem ser a situao extrema compatvel com razes maiores, quase sempre ocultas ou no

    declaradas.

    A manobra de crise, normalmente, realiza-se por perodo restrito para a tomada dedecises e para a preparao da eventual aplicao da fora. A guerra, no sentido clssico,caracteriza um conflito envolvendo o emprego de suas Foras Armadas. Desencadeia-se deforma declarada e de acordo com o Direito Internacional.

    Normalmente a crise antecede a guerra e nela que os meios navais ganhampreponderncia. Se um exrcito deslocado para a fronteira ou a fora area mobilizada edesdobrada, trata-se de uma clara indicao do que se pretende fazer.

    As caractersticas de uma marinha de guerra permitem que se posicione uma fora emguas internacionais e que l permanea por perodos prolongados, nas proximidades de reascrticas, sem comprometer juridicamente a soberania do pas-alvo e pronta para intervir, senecessrio.

    Assim, se uma fora naval se movimentar ser em guas internacionais, lembrando queo mar territorial brasileiro de apenas 12 milhas nuticas. O deslocamento de uma fora naval indicao de que o estadista de determinado pas no ficar imobilizado, mas tambm no

    fere nenhuma regra de convivncia.

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    Submarino da MB (https://www.mar.mil.br/menu_h/fotos/submarinos/submarinos-p.htm)

    O submarino necessita permanecer oculto, para aproveitar suas caractersticas. Entono o instrumento adequado para manobra de crise, onde a inteno deve ser claramenteexplicitada, o adversrio dissuadido, por meios que podem graduar o emprego da fora, quetenham permanncia, visibilidade, etc.

    Um exemplo foi a Guerra da Lagosta, quando em 1963 o prprio Brasil viveu um

    episdio com a Frana, que realizava pesca predatria da lagosta no litoral do nordestebrasileiro e, em resposta aos protestos do Brasil, enviou um navio de guerra para garantir aatividade de seus pesqueiros. A chegada da Esquadra brasileira cena de ao, apesar daimpossibilidade de se vencer qualquer guerra contra a Frana, mudou o curso dosacontecimentos, dando clara indicao Frana de que o Brasil no aceitaria a situao, o que

    permitiu que a disputa fosse para o foro diplomtico adequado.

    Existem quatro Tarefas Bsicas que o Poder Naval deve ser capaz de realizar: controlede reas martimas, negao do uso do mar ao inimigo, projeo poder sobre terra e

    contribuio para a dissuaso.

    Os procedimentos que servem de critrios para subsidiar essas tarefas decorrem doplanejamento estratgico efetivo. Num pas que dependa do mar e que seja vulnervel aagresses dele provenientes, como no caso brasileiro, o controle de reas de interesse para ascomunicaes martimas essenciais e para a defesa do territrio, bem como para a preservaodo patrimnio e das atividades relacionadas Zona Econmica Exclusiva (ZEE) e

    plataforma continental, merecem ateno constante e prioritria.

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    A negao do uso do mar ao inimigo e a projeo de poder sobre terra so tarefas cujasprioridades dependem da importncia do mar para o inimigo, da vulnerabilidade ao ataquepelo mar e da situao estratgica geral.

    A contribuio para a dissuaso propiciada pelo Poder Naval conseqncia natural dacapacitao e credibilidade para realizar com efetividade as demais tarefas bsicas. desenvolvida desde o tempo de paz.

    O controle de rea martima visa garantir a utilizao de reas martimas e exercido naintensidade adequada execuo de atividades especficas. O mesmo constitui a atualizaoda idia clssica de domnio do mar.

    Como o mar no admite frentes de combate precisas, o controle dificilmente serabsoluto, embora possa se aproximar dessa condio em rea limitada e por tempo restrito. O

    controle de rea martima pode ter os seguintes efeitos desejados: provimento de reas deoperaes seguras para projeo de poder sobre terra, provimento de segurana scomunicaes martimas, consentimento de explorao e explotao dos recursos do mar eimpedimento ao inimigo do uso de rea martima para projetar seu poder sobre territrio ourea que se deseja proteger.

    Os trs primeiros efeitos desejados normalmente so atingidos por meio do exerccio deum elevado grau de controle da rea martima onde se encontram as foras de projeo de

    poder, os meios de transporte e os de explorao e explotao dos recursos do mar.

    No quarto efeito desejado, destaca-se a importncia do controle da rea martimalindeira ao territrio que se deseja proteger, como, por exemplo, a defesa contra invaso eataques provenientes do mar. Efetivamente, esse controle a mais eficiente defesa que poderser articulada contra a projeo do poder inimigo pelo mar. Ele reduz a necessidade deempenhar, em toda a extenso do litoral protegido, foras terrestres e areas, liberando-as paraemprego em outras reas ou misses.

    A negao do uso do mar consiste em dificultar o estabelecimento do controle de reamartima pelo inimigo ou a explorao de tal controle. Trata-se de uma tarefa geralmentedesempenhada por um Poder Naval que no tem condies de estabelecer o controle de reamartima ou quando no h interesse em mant-lo. Sob o ponto de vista da defesa contra a

    projeo de poder sobre terra, negar o uso do mar ao inimigo constitui uma segurana inferiorao controle efetivo da rea martima fronteira ao territrio que se deseja proteger. Para aconsecuo dessa tarefa, deve-se visar a destruio ou neutralizao das foras navaisinimigas e o ataque s linhas de comunicaes martimas e aos pontos de apoio.

    A projeo de poder sobre terra abrange um amplo espectro de atividades, que podemincluir: o bombardeio naval, o bombardeio aeronaval, e as operaes anfbias. Nesta tarefa,

    tambm, esto enquadrados os ataques a terra com msseis, a partir de unidades navais e

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    aeronavais. A projeo de poder sobre terra pode ter um ou mais dos seguintes propsitos:reduzir o poder inimigo, pela destruio ou neutralizao de objetivos importantes; conquistarrea estratgica para a conduta da guerra naval ou area, ou para propiciar o incio de umacampanha terrestre; negar ao inimigo o uso de uma rea capturada; apoiar operaes em terra;e salvaguardar a vida humana ou resgatar pessoas e materiais de interesse.

    A dissuaso, realizada com o emprego de meios convencionais, concretizada pelaexistncia de um Poder Naval adequado, balanceado e preparado, que inspire credibilidadequanto ao seu emprego e a evidencie, por atos de presena ou demonstraes de fora, quandoe onde for oportuno. Esta tarefa bsica uma conseqncia da efetiva capacidade deconcretizar a negao do uso do mar ao inimigo, a projeo de poder sobre terra e o controlede rea martima. A dissuaso uma ao que deve ser executada na mente do inimigo,fazendo-o acreditar que o balano final de suas aes implicar em perdas elevadas, levando-o a desistir atravs do argumento da lgica da dor e da perda. A dissuaso tambm realizada

    atravs da existncia de meios crveis, adestrados, armados, mostrados em operaes comoutros pases, em visitas a portos amigos e em reportagens em meios especializados, porexemplo.

    Submarino S-31 Tamoio (https://www.mar.mil.br/menu_h/fotos/submarinos/submarinos-p.htm)

    A disponibilidade de submarinos dotados de propulso nuclear amplia, sensivelmente, opotencial de dissuaso. Esta tarefa, a dissuaso, executada desde o tempo de paz e continuaa ser desenvolvida nas variadas situaes de conflito. Assim, a existncia de um Poder Navalconvenientemente preparado, com prontido, favorece a dissuaso e contribui para a rapidezna resposta s situaes de conflito.

    importante observar que o Controle de rea Martima realizado primordialmente

    por navios de superfcie, com os meios areos embarcados nos mesmos. J os submarinos no

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    controlam rea martima, eles so usados para a negao do uso do mar contra uma forasuperior. Assim sendo, uma marinha tem que ser capaz de cumprir estas duas tarefas, que noso excludentes.

    Em tempos de incerteza, sem ameaas claras, um Poder Naval ser avaliado por suascapacitaes para atuar em diferentes cenrios. Em termos dissuasrios, um conjunto

    balanceado de meios que incluam submarinos e uma fora de superfcie nucleada em umporta-avies com suas escoltas produziro, certamente, um efeito dissuasrio substancial, quejamais poder ser alcanado, por exemplo, com uma fora costeira baseada em navios-patrulha.

    A capacidade de controlar reas martimas no pode ser alcanada somente com oemprego de navios escoltas e a aviao baseada em terra, que possui limitaes de raio deao, alm de demandar tempo excessivo para reagir s ameaas areas provenientes do mar,

    principalmente para a defesa de objetivos situados a muitas milhas da costa, a exemplo dasplataformas de petrleo.

    Cumpre ressaltar que apenas oito pases, alm do Brasil, possuem e operam porta-avies(esses pases so: EUA, Reino Unido, Frana, Itlia, Espanha, Rssia, ndia e Tailndia),sendo que o nosso Pas est includo nesse seleto grupo, o que refora a capacidadedissuasria do meio, alm de angariar uma posio estratgica vantajosa em termoscomparativos com as marinhas regionais.

    Navio Aerdromo So Paulo (www.mar.mil.br/menu_h/fotos/navios/navios_p.htm)

    As operaes navais multinacionais so excelentes instrumentos de aproximao e aomesmo tempo de dissuaso. Devido a isto todos os estrategistas importantes defendem oemprego do Poder Naval em apoio poltica externa do Pas. Contrariamente, a fragilidade do

    Poder Naval tende a enfraquecer as posies brasileiras nos foros de discusso internacional.

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    Os militares devem se colocar como colaboradores da poltica externa, mas sempre se

    posicionando em segundo lugar, reconhecendo a precedncia do Itamaraty e das negociaesdiplomticas. Porm percebe-se que o Itamaraty parece no querer contar com os militares,

    passa uma sensao de que reconhecer a importncia dos mesmos seria reconhecer suaincompetncia negociadora, que sua colaborao no poderia ser cogitada. Porm o maiorincmodo parece ser a ausncia de dilogo entre os militares das trs foras e o Ministrio daDefesa. Isto se comprova atravs de vrias entrevistas nas quais os civis sugerem uma visode defesa para a Marinha do Brasil inconsistente com o que moderno e j adotado pelosmilitares no Pas. Dado o retrocesso, tudo sugere no haver interesse na colaborao dosmilitares no que se planeja no Ministrio da Defesa.

    Fragata F-40 Niteri (https://www.mar.mil.br/menu_h/fotos/navios/navios_p.htm)

    A dissuaso um valor a ser buscado em tempo de paz, por meio do efeito silenciosoproporcionado pela simples existncia das foras navais que imponham respeito. O porta-avies, escoltas e submarinos, principalmente os de propulso nuclear, trabalhamcontinuamente em tempos de paz. A dissuaso produzida por estes meios precisa ser bem

    compreendida e valorizada, pois pode representar a grande economia do custo que umconflito produziria. Por outro lado, eles sero tambm fundamentais para o caso da mesmafalhar.

    Faz-se necessrio a existncia de uma fora naval capaz de operar tanto em reasocenicas quanto prxima ao litoral de regies conturbadas. Ela tambm dever ser capaz defazer sua prpria defesa de forma eficiente, inclusive contra ameaas areas. Deste modo

    passa a ser indispensvel presena de uma aviao embarcada em um porta-avies.

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    Caa AF-1 no Nae So Paulo (https://www.mar.mil.br/menu_h/fotos/aeronaves/aeronaves_p.htm)

    Uma fora naval que possua um porta-avies possuir as caractersticas de mobilidade,flexibilidade, versatilidade e capacidade de permanncia, que permitir cumprir um amploespectro de misses, desde as humanitrias e de paz, at as tpicas de manobra de crise ou deconflito armado.

    Um Poder Naval bem aparelhado permite graduar a aplicao da fora, representa deforma eficaz um elemento de dissuaso, pois poucos pases so capazes de efetivamenteoperar em reas distantes do seu litoral.

    Atualmente as aeronaves que compem a ala area do porta-avies So Paulodestinam-se, primeiramente, defesa area de nossas foras navais e, secundariamente,

    projeo de poder. A Marinha do Brasil tem se esforado para atender aos requisitos deadestramento, visando s operaes areas embarcadas.

    Caa AF-1 sobrevoando ao lado do Nae So Paulo(https://www.mar.mil.br/menu_h/fotos/aeronaves/aeronaves_p.htm)

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    Por outro lado, a disponibilidade, o adestramento especfico e a caractersticas dasmisses da aviao embarcada fazem com que as aeronaves no devam compor o sistema dedefesa aeroespacial brasileiro. fundamental que haja cooperao entre a Marinha do Brasil ea Fora Area Brasileira, pois esta ltima detm maior experincia na formao eadestramento de pilotos, com slida base doutrinria e que pode ser adaptada aviao naval.

    O porta-avies um componente da fora naval qual estar atribudo um papelpoltico-estratgico.

    A Marinha do Brasil dever investir em submarinos, escoltas e em porta-avies. preciso considerar que cada qual tem seu papel e, para o Brasil, todos so indispensveis. Osubmarino tem a caracterstica de ser o grande dissuasor, uma vez que sua capacidade deocultao resulta em elevado grau de incerteza para o adversrio, que para compens-la temque dispor de elevado nmero de meios para contrapor-se e com discutveis chances contra

    um nico submarino, tornando a razo custo/benefcio extremamente favorvel ao ltimo. Osubmarino insupervel na tarefa de negar o uso do mar ao inimigo, isto , impedir que elecontrole determinada rea martima, explorando-a contra nossos interesses, porm o mesmose torna mero coadjuvante na tarefa de controlar rea martima de nosso interesse. Para isso fundamental dispor-se de foras navais de superfcie, particularmente, dotadas de porta-avies.

    Corveta V-31 Jaceguai(https://www.mar.mil.br/menu_h/fotos/navios/navios_p.htm)

    O significado vital dos interesses econmicos brasileiros no mar transforma-os emvulnerabilidades a serem defendidas. Somente um Poder Naval apropriado com a magnitude

    destes interesses pode garanti-los.

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    claro que se impem aqui consideraes de outra ordem: qual a ameaa? Em situao

    de ameaa reduzida e at indefinida, como no presente, basta dispor de um poder capaz, node derrotar qualquer inimigo, mas de garantir a dissuaso contra presses militares, tornandomais atraente a via diplomtica. Para alcanar tal efeito desejado, entretanto, fundamentalque os meios disponveis e o preparo do pessoal que os opera infundam credibilidade. Devehaver qualidade e incorporar tecnologia atualizada. Esta a estratgia que norteou aelaborao do atual Plano de Reaparelhamento da Marinha e que contempla a existncia de

    porta-avies, escoltas e aviao embarcada, que garanta a defesa area da fora navaloperando em alto-mar e o controle de rea martima de interesse. Sendo esta a estratgiaestudada e adotada pela Marinha do Brasil, se faz necessrio que a mesma seja agregada aoPlano Estratgico Nacional de Defesa, e no o contrrio.

    importante que fique claro qual o papel desempenhado por caas baseados em terra e

    caas embarcados. Se houver uma ameaa area de um pas vizinho a mesma ter que serenfrentada por aeronaves baseadas em terra. Entretanto, se a ameaa for proveniente deaeronaves voando sobre o mar, a aviao embarcada poder intercept-las muito antes deentrarem no raio de ao da aviao baseada em terra. Assim a aviao naval garantir o

    primeiro embate, reduzindo o mpeto do ataque e aumentado as chances de xito do esforoconjugado de ambas as aviaes.

    Somente a aviao embarcada pode garantir a defesa de uma fora naval contra ataquesareos em alto-mar. Considerar que a aviao baseada em terra possa faz-lo significa limitar

    a operao dos navios s cercanias das bases areas capazes de operar interceptadores e,levando-se em conta o tempo de reao entre deteco, acionamento, decolagem einterceptao, o conceito de "cercanias" pode ser de tal forma limitado que, na quasetotalidade dos casos, ter eliminado a razo de ser da fora naval, suprimindo-lhe a maisfundamental de suas caractersticas, a mobilidade.

    Aparentemente o brasileiro comum no consegue identificar nenhuma ameaa iminente.Porm se por um lado no h ameaas, por outro, h interesses nacionais. Sendo o Brasil uma

    potncia emergente do porte que , dificilmente poder o pas continuar disputando espaos emercados sem despertar antagonismos, onde a origem dos conflitos est no choque deinteresses. Porm esperada uma soluo pacfica das controvrsias. Por outro lado, o recursoa tal expediente ser to mais atraente quanto menos convidativa seja a via militar.

    Os conflitos surgem inesperadamente, como que do nada. J as Foras Armadas,existem ou no. No h como improvis-las. Tomada a deciso de adquirir um navio deguerra, leva cerca de cinco anos, entre projeto, construo e aprestamento, para t-lo pronto.A formao de pessoal, em todos os nveis, leva um tempo maior, enquanto que odesenvolvimento de uma adequada cultura de emprego assunto para muito mais tempo.

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    papel do governo, atravs do Ministrio da Defesa, convencer a sociedade que necessrio possuirmos Foras Armadas fortes, eficientes, preparadas e bem equipadas. Deve-se igualmente fazer um estudo amplo sobre a forma de atuao das Foras Armadas e dosequipamentos necessrios para cumprir suas misses. A Defesa no problema apenas dosmilitares, problema da nao, dos polticos, dos segmentos esclarecidos e de todas ascamadas sociais. A discusso desses assuntos deve necessariamente envolver a todos, em

    particular, a Imprensa.

    Por outro lado necessrio ouvir os militares, que so os especialistas em defesa nestePas, principalmente no que diz respeito aos equipamentos a serem adquiridos e as estratgiasmais adequadas ao cenrio que estamos inseridos. Cabe ao governo promover um amplodebate sobre a forma de atuao de cada uma das trs Foras Armadas e no tentar impor umaidia terica ou simplista sobre os assuntos delicados que permeiam o sistema efetivo dedefesa do Pas, o pragmatismo e as experincias adquiridas pelos militares devem ser levados

    em considerao nos momentos de deciso.

    Seria um grande retrocesso, por exemplo, vermos a Marinha do Brasil relegada a funode guarda costeira, se o governo insistir que a mesma no precisa de porta-avies e/ounavios de combate como as fragatas e corvetas. Igualmente seria desastroso ignorar anecessidade da aviao embarcada, principalmente caas, supondo que as ameaas areasviriam apenas dos pases vizinhos. O Brasil tem uma ampla fronteira, e as ameaas podemno surgir apenas na fronteira terrestre, seria uma grande ingenuidade e irresponsabilidadeagirmos desta forma.

    Para encerrarmos, vale lembrar o grande brasileiro Rui Barbosa, em sua imortal ALio das Esquadras, publicada em 16 de setembro de 1898:

    Povo descuidado, abrimos as plpebras entre dois intervalos de sesta, brisa

    da costa domada pelo sol, banhando-nos na tepidez do ar, na volpia do

    colorido, na embriaguez ambiente da luz, e banindo dalma os pensamentos

    do imprevisto, cerrando-a ao sussurro da conscincia, que fala pelo rugir das

    guas eternas.

    E ainda:O mar o grande avisador. P-lo Deus a bramir junto ao nosso sono, para

    nos pregar que no durmamos. Por ora sua proteo nos sorri, antes de se

    trocar em severidade. As raas nascidas beira-mar no tm a licena de ser

    mopes.

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