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UNIVERSIDADE DO VALE DE ITAJAÍ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO, EXTENSÃO E CULTURA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM SAÚDE E GESTÃO DO TRABALHO MESTRADO PROFISSIONAL Ioná Outo de Souza Wilberstaedt SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA: discursos do corpo docente de uma escola pública estadual de ensino fundamental da capital catarinense. Itajaí Santa Catarina 2014

Ioná Outo de Souza Wilberstaedt SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA ...siaibib01.univali.br/pdf/Iona Outo de Souza Wilberstaedt.pdf · construção de oficinas de acordo com os anseios da

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UNIVERSIDADE DO VALE DE ITAJAÍ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO, EXTENSÃO E CULTURA

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM SAÚDE E GESTÃO DO

TRABALHO – MESTRADO PROFISSIONAL

Ioná Outo de Souza Wilberstaedt

SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA: discursos do corpo docente de

uma escola pública estadual de ensino fundamental da capital

catarinense.

Itajaí – Santa Catarina

2014

1

Ioná Outo de Souza Wilberstaedt

SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA: discursos do corpo docente de

uma escola pública estadual de ensino fundamental da capital

catarinense.

Dissertação apresentada como requisito para obtenção do Título de Mestre em Saúde e Gestão do Trabalho da Universidade do Vale do Itajaí. Área de Concentração: Saúde da Família. Orientadora: Profª Drª Yolanda Flores e Silva Co-orientadora: Profª Drª Márcia Gilmara Marian Vieira

Itajaí – Santa Catarina

2014

2

FICHA CATALOGRÁFICA

W642s

Wilberstaedt, Ioná Outo de Souza, 1977-

Saúde e qualidade de vida: discursos do corpo docente de uma escola

pública estadual de ensino fundamental da capital catarinense / Ioná Outo

de Souza Wilberstaedt , 2014.

133f.; il. fig.; quad.

Apêndices

Anexos

Cópia de computador (Printout(s)).

Dissertação (Mestrado) Universidade do Vale do Itajaí. Centro de

Ciências da Saúde. Mestrado Profissional em Saúde e Gestão do Trabalho.

“Orientadora: Profª . Drª. Yolanda Flores e Silva”

Inclui bibliografias

1. Saúde Escolar. 2. Qualidade de Vida. 3. Promoção da Saúde.

4. Saúde do Trabalhador. 5. Alfabetização em Saúde. I. Título.

CDU: 614

CDU: 612.78

Josete de Almeida Burg – CRB 293

3

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, por ter me permitido participar desse curso de mestrado, dando sabedoria e perseverança para essa conquista.

Às orações de meus pais, que sempre intercederam por mim e pela certeza da

torcida pelo meu sucesso.

Ao meu filho Gustavo, que compreendeu meus momentos de ausência e sempre procurou, do seu jeito, estar próximo a mim.

Ao meu esposo Giorgio, que foi o grande incentivador e que me apoiou no decorrer

de toda a trajetória.

À minha amiga Elisângela, que nunca mediu esforços para compartilhar livros e periódicos quando eu solicitava.

Aos meus colegas do mestrado pois contribuíram com minha formação de forma

positiva.

À orientadora, Prof(a) Dra Yolanda Flores e Silva, pela preciosa contribuição com seus conhecimentos e ajuda permanente.

À co-orientadora, Prof(a) Dra Márcia Gilmara Marian Vieira, que sempre esteve

pronta para me atender e ajudar em todos os momentos.

Aos docentes do mestrado, que possibilitaram nosso crescimento pessoal e profissional.

À Banca, que promoveu a ampliação do meu olhar para uma configuração de

pesquisa qualificada e de grande relevância social.

Às pessoas participantes da pesquisa, que atuaram com comprometimento e responsabilidade.

À Gerência de Educação da Grande Florianópolis, que permitiu o desenvolvimento

do processo de pesquisa.

À Escola Estadual de Ensino Fundamental, que contribuiu para que essa pesquisa fosse realizada e pelo incentivo profissional dado a cada participante.

4

Dedico esse trabalho aos meus filhos Caio e Gustavo que são a razão do meu viver

e o incentivo para que eu continue a buscar o crescimento pessoal e profissional.

5

RESUMO

WILBERSTAEDT, Ioná Outo de Souza. SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA: discursos do corpo docente de uma escola pública estadual de ensino fundamental da capital catarinense. Programa de Mestrado em Saúde e Gestão do Trabalho. Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI 2014. Orientadora: SILVA, Yolanda Flores e Co-orientadora: VIEIRA, Márcia Gilmara Marian

A relevância dos assuntos educacionais em saúde tem diminuído no contexto escolar em função de distintos fatores, entre eles a falta de formação permanente voltada para esta questão, o que possibilitaria uma visão ampliada do conceito de saúde, dando subsídios para o trabalho multidisciplinar e interdisciplinar, tornando a população mais empoderada para exercer controle sobre sua própria saúde. Na prática, pela ausência de ações efetivas voltadas para a promoção da saúde escolar com Educação em Saúde, os docentes e demais membros da comunidade acadêmica não refletem sobre as condições de trabalho, de vida familiar e comunitária. Diante do exposto, realizamos um trabalho de pesquisa voltado a analisar os discursos sobre saúde e qualidade de vida de docentes de uma escola pública de ensino fundamental, visando auxiliar na discussão de um modelo de Promoção da Saúde Escolar que possa ser efetivado por meio de ações interdisciplinares de Educação em Saúde. Adotamos a abordagem qualitativa, com caráter exploratório e descritivo, para obtenção dos dados que responderam ao objetivo desta proposta. Foi desenvolvido um trabalho de campo para a realização da técnica de grupo focal, baseado na concepção teórico-metodológica de Paulo Freire sobre o „Circulo de Cultura‟ e entrevistas individuais. A população do estudo totalizou dezesseis (16) docentes, porém nossa amostra para a coleta de dados constituiu-se de seis (06) docentes no trabalho coletivo. Posteriormente, foram selecionados quatro (04) participantes do Grupo Focal que aceitaram o convite de participação na pesquisa como informantes individuais, entrevistados seguindo um roteiro semiestruturado. Os resultados são apresentados em forma de três artigos científicos: Primeiro artigo – permite uma reflexão acerca da relação direta da saúde com a qualidade de vida e bem-estar, demonstrando que é possível ser saudável diante de uma enfermidade. Os discursos apontam a necessidade de um preparo sistemático e contínuo por parte dos profissionais da educação e a aproximação dos pais no processo de Educação em Saúde. Há também uma valorização das dimensões socioculturais e econômicas, sobressaindo o biológico, acreditando que o conhecimento e valorização desses aspectos podem implicar as ações em saúde. Segundo artigo – a promoção da saúde permeia as necessidades biológicas humanas resultantes da influência do modelo biomédico. A educação em saúde tem influência direta dos programas pré-estabelecidos pelo governo e caminham, apenas, nessa esfera. A partir deste contexto, os docentes decidiram elaborar uma proposta que incorpora ações que incluem o cuidado de si e dos outros, tendo como base uma alimentação saudável, atividades físicas que trabalhem com a mente e o corpo, além da construção de oficinas de acordo com os anseios da comunidade, visando à aproximação da família na escola e entre os membros da comunidade acadêmica. Terceiro artigo – as ações em saúde podem ser construídas de maneira contextualizada a partir das experiências das pessoas. Com base nesta premissa, os docentes iniciaram um estudo visando à elaboração de uma proposta de estruturação do diálogo no desenvolvimento das ações em saúde, uma tecnologia social denominada de Círculo de Promoção da Saúde na Escola, possibilitando um espaço comunitário de reflexão e discussão das práticas de Educação em Saúde associado às experiências humanas. Eles acreditam que esse instrumento metodológico pode aproximar e valorizar a comunidade acadêmica em seu contexto de vida: trabalho, família, amigos e vizinhos, em uma perspectiva reflexiva, interdisciplinar de reorientação das expectativas. Palavras-chave: Círculo de Cultura. Educação em Saúde. Família. Promoção da Saúde. Qualidade de Vida.

6

ABSTRACT

WILBERSTAEDT, Ioná Outo de Souza. Health and quality of life: discourses of the teachers of a state public elementary school in the state of Santa Catarina. Master‟s degree program in Health and Management of Work. Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI 2014. Supervisor: SILVA, Yolanda Flores and Co-supervisor: VIEIRA, Márcia Gilmara Marian The relevance of educational affairs on health has decreased in the school context due to a number of different factors, among them the lack of permanent training focused on this issue, which would allow a wider view of the concept of health, giving support for multidisciplinary and interdisciplinary work, and empowering the population to exercise control over its own health. In practice, the absence of effective actions geared towards health promotion in schools, with health education, teachers and other members of the academic community, does do not reflect the conditions of work, family and community life. In this context, we conducted a study to analyze discourses on health and quality of life of teachers working in a public elementary school, in order to promote discussion of a school health promotion model that can be accomplished through interdisciplinary actions of health education. We adopted a qualitative approach, of an exploratory and descriptive nature, to obtain the data that would meet the objective of this proposal. A field study was developed for the focal group technique, based on the theoretical-methodological concepts of Paulo Freire on the 'Culture Circle', and personal interviews. The study population consisted of sixteen (16) teachers, but the data collection sample consisted of six (06) teachers in the collective work. Subsequently, we selected four (04) focus group participants who had agreed to participate in research as individual informants. The participants were then interviewed following semistructured questions. The results are presented in the form of three scientific articles: first article – reflects on the direct relationship between quality of life and well-being, demonstrating that it is possible to be healthy in the face of an illness. The discourses pointed out the need for a systematic and continuous preparation of education professionals, and closer cooperation with parents, in the process of health education. There was also an appreciation of the socio-cultural and economic dimensions, particularly the biological, with the belief that a knowledge and appreciation of these aspects may involve actions on health. Second article – health promotion permeates human biological needs, as a result of the influence of the biomedical model. Health education is directly influenced by programs pre-established by the government and only operates in that sphere. Based on this context, the teachers decided to elaborate a proposal that incorporates actions that include care for themselves and others, based on a healthy diet, physical activities that work with the mind and body, and the construction of workshops according to the aspirations of the community, seeking to strengthen cooperation between the family and school, and among members of the academic community. Third article – health actions can be built in a contextualized way, based on people‟s experiences. Based on this premise, the teachers initiated a study aimed at elaborating a proposal for structuring the dialogue in the development of health actions; a social technology called Circle of Health Promotion in Schools, creating a community space for reflection and discussion of health education practices associated with human experience. They believe that this methodological tool can address and enhance the academic community in its context of life: work, family, friends and neighbors, in a reflective, interdisciplinary perspective of reorientation of expectations. Keywords: Culture Circle. Health education. Family. Health Promotion. Quality of life.

7

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Quadro 1 Demanda Escolar.....................................................................................17

Quadro 2 Perfil de Todos os Docentes Atuantes no Locus da Pesquisa...........18

Quadro 3 Dinâmica do Círculo de Cultura.............................................................19

Figura 1 Localização da Escola..............................................................................16

ARTIGO 1

Quadro 1 O DSC de Saúde......................................................................................40

Quadro 2 Demonstrativo: Docentes da Pesquisa.................................................44

Quadro 3 Discursos sobre Saúde e Doença..........................................................46

Quadro 4 Discursos sobre Doença.........................................................................49

Quadro 5 Discursos sobre Bem-Estar e Qualidade de Vida................................52

Quadro 6 Esforço Individual na Busca da Saúde, Bem-Estar e Qualidade de

Vida............................................................................................................................53

Quadro 7 Relação entre Qualidade de Vida e Prática Profissional.....................54

Quadro 8 Prática Profissional e Relações Humanas............................................56

Figura 1 Discursos sobre Saúde............................................................................47

Figura 2 Discursos sobre Doença..........................................................................48

Figura 3 Dinâmica das Relações............................................................................50

Figura 4 Discursos sobre Qualidade de Vida........................................................54

ARTIGO 2

Quadro 1 Discursos de Promoção da Saúde........................................................79

Quadro 2 Discursos sobre Prevenção de Doença...............................................81

Quadro 3 Discursos de Educação em Saúde.......................................................82

Figura 1 Promoção da Saúde.................................................................................78

Figura 2 Prevenção de Doença..............................................................................81

Figura 3 Discursos de Educação em Saúde.........................................................83

ARTIGO 3

Quadro 1 Círculo de Cultura de Paulo Freire.........................................................96

Figura 1 CIRPROSAE- Círculo de Promoção da Saúde na Escola....................100

8

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 09

1.1 PROBLEMA DE PESQUISA ............................................................................... 13

1.2 OBJETIVOS ........................................................................................................ 14

1.3 PERCURSO METODOLÓGICO ......................................................................... 15

1.3.1 TIPO DE PESQUISA ......................................................................................................... 15

1.3.2 UNIVERSO DO ESTUDO ................................................................................................... 16

1.3.3 POPULAÇÃO DO ESTUDO ................................................................................................ 17

1.3.4 COLETA DE DADOS ......................................................................................................... 19

1.3.5 ANÁLISE DOS DADOS ...................................................................................................... 26

1.3.6 ASPECTOS ÉTICOS DA PESQUISA ..................................................................................... 27

2 SAÚDE, DOENÇA, BEM-ESTAR E QUALIDADE DE VIDA: DISCURSOS DE DOCENTES NO COTIDIANO EM UMA ESCOLA PÚBLICA DE SANTA CATARINA .................................................................................................................................. 29

3 PROMOÇÃO DA SAÚDE NO CONTEXTO ESCOLAR: DISCURSOS DE DOCENTES DO ENSINO FUNDAMENTAL ............................................................. 62

4 CIRPROSAE: UMA TECNOLOGIA SOCIAL NA PROMOÇÃO DA SAÚDE NA ESCOLA ................................................................................................................... 91

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 105

APÊNDICES .......................................................................................................... 117

ANEXOS ................................................................................................................ 130

9

1 INTRODUÇÃO

Os termos qualidade de vida e bem-estar são utilizados em vários segmentos

da saúde e educação. Um exemplo disso são os Parâmetros Curriculares Nacionais

(PCNs) do Ensino Fundamental, com temas transversais, relativos à saúde,

priorizando assuntos do cotidiano e da experiência escolar, seguindo temas

específicos para cada fase do Ensino Fundamental. A saúde, por sua vez, é

entendida sob um olhar biomédico, de caráter preventivista, de ações desarticuladas

ou desintegradas. Por isso, a prática da Educação em Saúde encontra-se fragilizada

por apresentar conceitos pré-estabelecidos e não problematizados no cotidiano das

pessoas envolvidas.

Tenho uma concepção de saúde voltada para a pessoa, sabendo que seu

entendimento sobre os fenômenos do viver (saúde, qualidade de vida, bem-estar e

doença) é resultante de sua cultura e de sua inserção social. A pessoa é percebida

como alguém que pensa, senti, age, ama, odeia, deseja, ou seja, um ser complexo e

dinâmico que é influenciado por aspectos histórico-sociais e que pode influenciar o

seu meio. Apesar de partir deste entendimento, me permito avaliar os diferentes

sentidos dados a saúde e a pessoa, numa explicitação de conceitos que sofrem

oposição ao materialismo histórico-dialético, permeando o terreno de outras

correntes epistemológicas como o positivismo, a fenomenologia, entre outras. O

propósito é fazer com que haja uma reflexão pura sobre os pensamentos compostos

e complexos que regem nossas práticas em saúde e até nosso modo de ver e

conceituar saúde.

Desde a minha formação no curso de Ciências Biológicas e a minha atuação

como docente no ensino de Ciências Biológicas tenho observado práticas de ensino

que não condizem com a realidade do contexto escolar, dificultando assim a

aplicação dos conteúdos ministrados. Quando me graduei em Enfermagem,

trabalhando como enfermeira num hospital ou ainda como docente em um Curso

Técnico em Enfermagem, percebi o quanto a Promoção da Saúde em lugares que

deveria ser incentivada passa despercebida ou ignorada.

A proposta do Mestrado Profissional em Saúde e Gestão do Trabalho

(MPSGT), em uma perspectiva interdisciplinar, vem instigando o pensar de diversos

profissionais que atuam em diferentes segmentos da área da saúde e educação.

Propõe um olhar integral, valorizando a pessoa nos mais variados aspectos de sua

10

vida, em um processo participativo que desconfigura os recortes das profissões, a

fim de estimular a ampliação de nossa visão por meio da participação

multiprofissional. O curso viabiliza o pensar coletivo e individual das práticas em

saúde na tentativa de suprir, quer seja na Educação, quer seja na Saúde, as lacunas

existentes de um saber desconexo e incoerente com os princípios sustentados pelo

Sistema Único de Saúde (SUS).

Para se trabalhar Educação em Saúde, há necessidade de instrumentalizar

as pessoas envolvidas para empoderá-las nesse processo. Essa instrumentalização

é possível quando a pessoa em questão, seja no contexto das instituições de

ensino, das instituições religiosas, das organizações sociais em geral, ou da família,

é parte deste processo.

De acordo com a Constituição Federal de 1998, nos artigos 196 e 205 a

educação e a saúde é um direito de todos e dever do Estado, sendo a família

responsável pela educação com a colaboração da sociedade, preparando o sujeito

para o exercício de sua cidadania (BRASIL, 1998). As políticas sociais e econômicas

também devem reduzir o risco de doenças e agravos à saúde; porém, o

conhecimento delas, bem como as reivindicações dos sujeitos quanto à sua

aplicabilidade pode empoderar uma comunidade que se torna forte em seu meio e

atores sociais da sua própria existência.

Conforme Alarcão (2005), um professor com noção reflexiva não é um

simples reprodutor de ideias e práticas exteriores, ele apresenta uma atuação

inteligente e flexível, situada e reativa. Isso pressupõe que as suas ações em sua

atividade profissional passam a ser instrumentos da escola para se alcançar os

objetivos propostos na Constituição Federal de 1998 relacionado à educação e

saúde.

A experiência das pessoas envolvidas traz subsídios para serem aplicados na

metodologia do ensino e, consequentemente, pode trazer meios para elaboração de

práticas em saúde que garantam o bem-estar e qualidade de vida da comunidade

acadêmica. A comunidade acadêmica é composta não somente por alunos, mas

pelo corpo docente e demais prestadores de serviços da área administrativa e

serviços gerais. Por conseguinte, as famílias, sob os mais variados arranjos

familiares, influenciam ativamente o comportamento dessa comunidade acadêmica e

o processo formativo desses sujeitos.

11

A falta de operacionalidade dos diversos saberes no contexto escolar diminui

as possibilidades de um saber democrático no processo educativo. Todos os

constituintes da comunidade acadêmica são atores sociais, capazes de construir um

saber, promotor de vida saudável, partindo de suas experiências de vida e de seu

cotidiano.

Por isso, mediante a pesquisa qualitativa em uma abordagem de Freire

(1983), através do „Círculo de Cultura‟ trabalhamos o conceito de saúde, qualidade

de vida, bem-estar e doença a partir dos discursos dos docentes, delineando assim,

por eles, e com eles, um conceito pré-existente, capaz de abranger as reais

necessidades das pessoas envolvidas. A pesquisa de cunho qualitativo é uma

tentativa para compreender, detalhadamente, as características situacionais e

também os significados apresentados pelos entrevistados, ao invés de quantificar

por medidas as características e comportamentos (RICHARDSON, et al., 2011).

Segundo a Carta de Ottawa, a Promoção da Saúde é “o processo de

capacitação da comunidade para atuar na melhoria da sua qualidade de vida e

saúde, incluindo uma maior participação no controle desse processo” (Brasil, 2002,

p.19). A Promoção em Saúde, como processo participativo, levando-se em

consideração a vida do sujeito no contexto de sua vida cotidiana, pode contribuir

para o não-surgimento de doenças, ou até mesmo minimizar os agravos à saúde. A

realização de uma gestão democrática por parte das instituições de ensino promove

articulação com as famílias, o que favorece a construção do conhecimento e práticas

pedagógicas significativas e promotoras do saber.

Com a intencionalidade de contribuir para uma educação voltada à promoção

da vida, utilizei o diálogo como um compromisso ético, moral, amoroso para com os

homens e o caminho para democratização, em uma espécie de relação horizontal

sendo consequência óbvia a confiança mútua (FREIRE, 1983). Por isso, apliquei

esse recurso, oportunizando cada pessoa envolvida a participar de um processo

democrático e construtivo na busca de melhores condições de vida.

Posso ressaltar aqui, que o caminho não foi fácil diante dos inúmeros motivos

para a não-participação de alguns docentes, como a falta de tempo extra à sala de

aula, compromissos pessoais, imprevistos, entre outros. Tivemos ainda que lidar

com o temor, por parte dos docentes, de serem flagrados fora da sala de aula, por

qualquer outra autoridade acima da administração local, mesmo com autorização da

direção escolar e gerência de ensino. Os docentes colocaram a condição da

12

participação desde que realizássemos oficinas dentro das dependências da escola,

descartando, já de início, a proposta de formação de grupo em meio à natureza ou

em qualquer ambiente diferente do trabalho. Dessa forma, foi evidente a

preocupação com a repercussão que iria causar entre os pais de alunos em relação

à ausência dos docentes em sala de aula.

Para solucionar o problema, foram contratados professores substitutos para o

momento de pesquisa, financiados pelo próprio projeto de pesquisa, sem custo

algum para os docentes, a fim de preservar a continuidade do ensino e garantir a

permanência do aluno na unidade escolar, contudo, ainda assim, era notória a

preocupação, como se essa atitude de “sentar para falar” fosse secundária no

processo de trabalho.

Para conseguir efetivar o estudo proposto, foi adotada a abordagem

qualitativa com caráter exploratório e descritivo para obtenção dos dados, além de

uma análise interpretativa que responderam ao objetivo desta proposta. Iniciei com

um trabalho de campo, cujas estratégias de coleta de dados escolhidas foram a

técnica de grupo focal, com uso do „Círculo de Cultura‟ e entrevistas individuais.

Essas técnicas foram somadas aos resultados da pesquisa participante, pois como

esse cenário é campo de meu trabalho profissional, eu já havia trabalhado com

esses docentes um ano anterior à pesquisa e já tinha conhecimento das práticas

docentes e atividades relativas à Educação em Saúde.

De uma população total de „16‟ docentes que respondiam aos critérios da

pesquisa, a amostra se constituiu no universo do estudo de seis (06) docentes para

o trabalho coletivo e de quatro (04) docentes para as entrevistas. O principal critério

de escolha foi a anuência desses profissionais e o desejo de participar, bem como a

experiência anterior em práticas relacionadas à Educação em saúde e o tempo de

permanência na escola.

Com a análise dos discursos dos docentes, passei a considerar a perspectiva

do docente, não apenas em começar a refletir sobre o cuidado que estes possam vir

a ter consigo, como também possibilitar pensar em propostas de práticas educativas

voltadas para a promoção em saúde no contexto escolar.

Para a apresentação destes discursos sobre saúde e qualidade de vida,

reflexão e discussão sobre promoção da saúde e a proposta de um instrumento

metodológico social, bem como a apresentação do perfil sociodemográfico estruturei

13

os resultados dessa dissertação em três artigos científicos, atendendo as exigências

do Programa de Mestrado Profissional em Saúde e Gestão da UNIVALI.

No primeiro artigo, apresento os discursos de docentes no cotidiano escolar

sobre saúde, doença, bem-estar e qualidade de vida, caracterizando suas

concepções e interpretando-as à luz da experiência e do conhecimento científico. No

segundo artigo, apresento os discursos resultantes das discussões sobre promoção

da saúde no contexto escolar e sua relação com a educação em saúde. No terceiro

artigo, apresento um modelo de tecnologia social em promoção da saúde, elaborado

pelos docentes como um instrumento metodológico de Educação em Saúde.

Na sequência, apresento as considerações finais, referências pesquisadas, os

apêndices e, por último, os anexos.

1.1 PROBLEMA DE PESQUISA

A promoção da saúde deve ser de interesse coletivo, incluindo ações de

educação para a saúde tornando a população mais empoderada para exercer

controle sobre sua própria saúde e o meio onde vive, tornando-se mais apta a

realizar escolhas que lhes proporcione qualidade de vida e bem-estar.

[...] Esta tarefa deve ser realizada nas escolas, nos lares, nos locais de trabalho e em outros espaços comunitários. As ações devem se realizar através de organizações educacionais, profissionais, comerciais e voluntárias, bem como pelas instituições governamentais (OPAS, 1986, p.4).

A relevância dos assuntos educacionais em saúde tem diminuído no contexto

escolar em função de distintos fatores. Entre estes, podemos citar a falta de

formação permanente voltada para esta questão, o que, a nosso ver, possibilitaria

uma visão ampliada do conceito de saúde dando subsídios para o trabalho

multidisciplinar e interdisciplinar. A incumbência do ensino relativo à saúde tem

ficado com professores que lecionam Ciências, como se o assunto fosse desconexo

das outras disciplinas.

Além disso, os conteúdos dos livros didáticos trazem o modelo biomédico em

saúde, com orientações de causa e efeito, de combate aos agentes etiológicos

anulando outros determinantes em saúde. Como se a pessoa não tivesse inserida

14

em um contexto social e pudesse ser programada para respeitar “normas de saúde”

que impedem o surgimento de doenças.

A outra causa relacionada à falta de valorização dos assuntos pertinentes à

saúde está na alta rotatividade dos professores ACTs1, que se não bastassem as

instabilidades relacionados ao desgaste emocional, vocal, jornada estressante de

trabalho, permanecem sob um regime de contrato que não lhes asseguram

continuidade de trabalho entre os anos letivos, nem mesmo continuidade de trabalho

na mesma instituição.

Considerando todo este histórico, acreditamos que a falta de formação,

associada à instabilidade e também à cultura profissional que considera que os

assuntos de Educação em Saúde são obrigação de quem atua nas Ciências

Biológicas, não tornam possível um trabalho efetivo de professores na promoção da

saúde, por meio de ações de Educação em Saúde que possam ser desenvolvidas

com a comunidade acadêmica no contexto escolar e, inclusive, comunitário. Sendo

assim, o que nos motivou a realizar esta pesquisa nasceu da questão a seguir:

Quais os discursos sobre saúde e qualidade de vida dos docentes de uma

escola pública de ensino fundamental que podem auxiliar na construção de

uma tecnologia social em promoção da saúde mediante ações

interdisciplinares?

1.2 OBJETIVOS

GERAL:

Analisar os discursos sobre saúde e qualidade de vida de docentes de uma

escola pública de ensino fundamental, visando auxiliar na discussão de uma

tecnologia social que permita criar um modelo de Promoção da Saúde

Escolar que possa ser efetivado por intermédio de ações interdisciplinares de

Educação em Saúde.

1 Professores ACTs são aqueles Admitidos em Caráter Temporário, portanto não possuem vínculo

permanente com a escola e estão sempre sendo deslocados para lugares em que faltam professores

concursados para atender as demandas da escola no território em que esta se encontra.

15

ESPECÍFICOS:

Apresentar o perfil profissional e sociodemográfico dos docentes;

Identificar os discursos dos docentes acerca dos conceitos básicos de saúde

e qualidade de vida;

Refletir coletivamente sobre Promoção da Saúde no contexto escolar e

discutir ações que possam ser efetivadas a médio e longo prazo por meio de

atividades interdisciplinares de Educação em Saúde para o desenvolvimento

de práticas significativas na vida das pessoas da comunidade acadêmica;

Propor a elaboração de um instrumento metodológico de Educação em

Saúde a partir da construção de uma tecnologia social em promoção da

saúde.

1.3 PERCURSO METODOLÓGICO

1.3.1 TIPO DE PESQUISA

Em função do cenário atual de depreciação do trabalho docente, do qual

fazem parte os participantes da pesquisa , com foco em suas percepções e em suas

experiências, para o conhecimento de seus discursos sobre bem-estar e qualidade

de vida, a abordagem adotada foi a qualitativa, de natureza exploratória e descritiva.

Esta opção metodológica ocorre se considerarmos que as relações e as

estruturas sociais são construções significativas, e as metodologias qualitativas são

capazes de incorporá-las, juntamente com os atos sociais, à questão do significado

e da intencionalidade (MINAYO, 2007). A valorização da experiência pessoal, a

busca pelo entendimento dos fenômenos em termos de significados dá a pesquisa

um caráter empírico, analisando os significados que as pessoas conferem ao tema

abordado. Neste sentido, segundo Gray (2012), a pesquisa qualitativa permite um

diálogo reflexivo e autocrítico, problematizando e revelando realidades ocultas,

mostrando que ciência e realidade são socialmente construídas.

Como esta foi uma pesquisa participativa, durante o trabalho de campo (como

explicaremos melhor em tópico adiante), fizemos contatos coletivos e contatos

16

individuais. Para a realização dos contatos coletivos, utilizamos a abordagem do

„Círculo de Cultura‟, de acordo com as concepções teórico-metodológicas de Paulo

Freire (1983), pois entendemos que saúde, doença, bem-estar e qualidade de vida

são assuntos pertinentes a um sujeito histórico, em permanente construção, e que

podem ser compreendidos com base em diferentes olhares. Esse tipo de abordagem

favoreceu e estimulou o uso e a expressão nas variadas formas de linguagens

permitindo captar mais significados relacionados ao tema adotado. Também foi

possível, com o uso desta abordagem, produzir algumas discussões e reflexões de

forma participativa, consciente e intencional, causando alguns rompimentos que

consideramos importantes quando desejamos cessar certas estruturas, na

intencionalidade de aprimorar nossas práticas pedagógicas para a promoção e

educação em saúde no ensino fundamental, mediante ações interdisciplinares.

1.3.2 UNIVERSO DO ESTUDO

O bairro Capoeiras abriga a Unidade Escolar, cenário de nossa pesquisa e

coleta de dados, e está inserido no município de Florianópolis – SC. Conta com uma

infraestrutura considerada satisfatória, considerando o acesso a meios de transporte

e a uma infraestrutura básica, com supermercados de grande e médio porte,

farmácias, polícia militar rodoviária, agências bancárias, praça pública de frente para

a escola, com parque infantil e quadra de esportes, estacionamento público, acesso

à Via Expressa (BR-282) que liga o continente à ilha e ruas asfaltadas ou lajotadas.

Vejamos a seguir, as principais ruas e avenidas próximas à Unidade Escolar:

Figura 01 – Localização da Escola

Fonte: Google maps

17

A Unidade Escolar possui dez (10) salas de aulas de ensino fundamental,

onde vinte e um (21) professores fazem parte do quadro de docência e três (03)

outros professores atendem alunos com diagnóstico de necessidades especiais de

aprendizagem. A área administrativa consta com sete (07) funcionários, incluindo a

direção. O serviço de merenda escolar é terceirizado, com dois (02) funcionários. Os

funcionários que prestam serviços relacionados à limpeza e copa são

disponibilizados pela Associação de Pais e Professores (APP) da escola. A

segurança da unidade é feita por uma (01) funcionária, também terceirizada, que

trabalha em período integral. A escola conta ainda com apoio técnico e de

informática de uma (01) funcionária que atende aos dois períodos.

Toda estruturação física e de recursos humanos é para atender a uma

demanda de alunos pertencentes aos bairros mencionados, segundo quadro abaixo,

de acordo com o último levantamento em 2012:

Quadro 1 – Demanda Escolar

Fonte: Secretaria Interna da Unidade Escolar (2012).

1.3.3 POPULAÇÃO DO ESTUDO

Os sujeitos que participaram do estudo são docentes do ensino fundamental

do quadro efetivo e temporário de uma escola estadual da capital catarinense com

formação em Pedagogia, Letras e Geografia. Inicialmente, foram convidados

dezesseis (16) docentes, mas somente seis (06) confirmaram e passaram a compor

66%

21%

6% 7%

Demanda escolar

CAPOEIRAS

MONTE CRISTO

ABRAÃO

OUTROS

18

o grupo focal mediante a abordagem de Freire (1983), denominada „Círculo de

Cultura‟.

Os critérios de seleção utilizados foram: docentes com maior tempo de

serviços prestados no Magistério em escola pública (superior a 5 anos),

preferencialmente, os que possuíam vínculo efetivo no Estado; os que possuíam

mais de um vínculo empregatício no Magistério (serviço público ou privado) e

aqueles docentes que já trabalharam com Educação em Saúde nos anos anteriores.

Posteriormente, destes participantes do Grupo Focal, foram selecionados quatro

(04) docentes que aceitaram o convite de participação na pesquisa como

informantes individuais que foram entrevistados seguindo um roteiro semiestruturado

(APÊNDICE B). Todos os critérios de escolha foram com a anuência dos mesmos e

o desejo de participar.

No quadro a seguir, apresentamos um perfil dos docentes da escola onde se

se realizou a pesquisa.

Quadro 2 – Perfil de Todos os Docentes Atuantes no Locus da Pesquisa

FAIXA ETÁRIA HOMENS MULHERES VÍNCULO TOTAL

19– 23 - X ACT 01

24 - 28 - - - -

29– 33 - X ACT 02

34 – 38 X X ACT/EFETIVO 08

39 - 43 - X ACT 01

44 - 49 X X ACT/EFETIVO 06

50 - 54 X X ACT/EFETIVO 02

55 - 59 - - ACT 01

Total 04 17 ACT/EFETIVO 21

Fonte: Secretaria Interna da Unidade Escolar (2013).

19

1.3.4 COLETA DE DADOS

A coleta de dados se efetivou através de encontros coletivos (grupos focais)

via „Círculo de Cultura‟, de acordo com a concepção teórico-metodológica de Paulo

Freire (1983), contribuindo para o respeito e o reconhecimento das pessoas

envolvidas em uma produção participativa do saber e da cultura:

O Círculo de Cultura apoia-se no pressuposto de que ninguém consegue ser só, isolado no mundo. Parte do entendimento de que o homem é um ser eminentemente social e, como afirmou Paulo Freire, que o homem só consegue ser na medida em que outros homens também o são. Nesse sentido, o Círculo facilita a construção de pessoas mais coletivas porque estimula a horizontalização das relações entre os participantes do grupo de estudo, favorecendo, dessa forma, a instalação de um ambiente cooperativo, colaborativo, interativo, onde germinam relações de solidariedade e a noção da

coisa pública (WITTMANN et.al, 2006, p.40).

Segundo esse autor, a dinâmica do „Círculo de Cultura‟ consiste nos

seguintes momentos:

Quadro 3 – Dinâmica do Círculo da Cultura

Fonte: Wittmann et. al, (2006, p.40)

Para a realização destes três (03) momentos, utilizamos o espaço da escola e

a praça localizada em frente a ela, segundo opção dos próprios docentes. Como

1)Momento investigativo: momento em que os participantes buscam compreender as origens do problema, momento de problematização, onde se diagnostica ou define o problema;

2)Momento de tematização: momento em que o conhecimento dos participantes e outros conhecimentos se integram para um estudo reflexivo;

3)Momento de proposição: momento em que se programa, elabora e executa uma proposta para solucionar o problema.

20

alguns docentes trabalhavam os três períodos (matutino, vespertino e noturno) ou

desenvolviam outro tipo de atividade no período oposto ao trabalho, tivemos que

contratar professores substitutos para ministrar aulas, em lugar dos professores

regentes, durante as oficinas, para que não comprometesse o desenvolvimento das

aulas. Decidimos todo processo com a anuência dos docentes e direção, que

fizeram uma única exigência: admitir, por nossa responsabilidade, professores que

já haviam trabalhado na escola em alguma outra oportunidade para substituir os

professores participantes da pesquisa. A partir de então, realizamos todas as

oficinas em horário de trabalho. A organização destes três momentos ocorreu em

quatro encontros, com duração de três horas cada, no período vespertino, da

seguinte forma:

1ª Oficina: Realizada na sala de multimídia da escola, oportunizando momento de

conhecimento de uns aos outros, de interação entre os participantes e

questionamentos sobre a forma com que se trabalha educação e promoção da

saúde na escola. Momento em que houve a busca das raízes e dos fatores

determinantes dos problemas, busca do diagnóstico para que fossem tomadas

decisões relevantes na vida de todos. Entre os períodos de trabalho em grupo,

houve uma confraternização, com aspecto de festa, para criar um clima de

satisfação e relacionamento, abrindo oportunidades para os momentos seguintes.

DATA: 14/11/2013

Sessão da Oficina 1:

1) Técnica de aquecimento: Conte-me a sua história...

Procedimento: Como moderadora, solicitei ao grupo que se dividissem em dupla, em

algum espaço confortável da sala, para contar um ao outro a sua história de vida. O

professor participante retornou ao grupo e contou para os demais sua versão sobre

o que ouviu do colega.

2) Tema de investigação: Quatro fenômenos do viver: saúde, qualidade de

vida, bem-estar e doença.

Procedimento: A discussão do grupo ocorreu de modo livre, de acordo com os

temas apresentados, relacionando as respostas com as questões de vida levantadas

21

no início da oficina sobre a história de vida pessoal e profissional dos participantes.

Foram apresentadas quatro folhas, tamanho A4, digitadas as palavras: Saúde,

Qualidade de Vida, Bem-Estar e Doença, em letras grandes, na qual os participantes

descreveram, de forma sucinta, o que pensavam de cada fenômeno. Após

descrição, iniciaram a discussão. A expectativa foi a de que pudessem relatar suas

concepções para cada fenômeno do viver e como eles interagem com as diferenças.

3) Recreação em grupo: Ginástica Laboral e Café Colonial.

Realizou-se uma dinâmica com o grupo, com o auxílio de uma personal trainer, de

ginástica aeróbica e laboral para descontração e interatividade do grupo. Ao final,

foram convidados a participar de um café colonial, em uma sala à parte, que foi

cuidadosamente preparada para recebê-los como convidados de honra. O foco

desse momento foi a interatividade entre os participantes e o preparo para o

segundo momento.

4) Tema de investigação: Interdisciplinaridade.

Procedimento: Iniciou-se uma discussão sobre o tema proposto e o grupo apontou o

que conhecia sobre interdisciplinaridade e sua relação no contexto escolar.

Pretendeu-se que o grupo avaliasse seu modo de atuação em sua prática

pedagógica.

5) Encerramento da sessão: Fechamento dos assuntos trabalhados no dia.

Procedimento: O moderador e o grupo esclareceram as dúvidas existentes com o

estudo de artigos que traz o tema, e aproveitamos a oportunidade para marcar o

próximo encontro a fim de buscar respostas coletivamente sobre as temáticas

propostas pelo moderador e pelo grupo. Os sentimentos surgidos no grupo foram

avaliados pelo próprio grupo e pelo moderador.

2ª Oficina: Realizada embaixo de uma “Figueira” que fica em frente à escola, pois

esta simboliza a figura do professor que é testemunha da vida acadêmica, e que há

tanto tempo está presente na vida de seus alunos, e é à sombra do conhecimento

que realiza suas atividades pedagógicas. Foram levantadas questões

problematizadoras de acordo com o tema da pesquisa, delineando as conversas,

22

momento em que assumi o papel de moderadora do grupo sem influenciar ou induzir

as respostas dos participantes.

DATA: 15/11/2013

Sessão da Oficina 2:

1) Técnica de aquecimento: Sentados ao ar livre.

Procedimento: Sentamos ao ar livre, dispostos em círculo, debaixo de uma “Figueira”

em uma praça em frente à escola. O professor participante refletiu sobre suas

práticas pedagógicas e, em como elas haviam influenciado os alunos durante seu

tempo de trabalho. Foi questionada a maneira de se trabalhar Educação em Saúde

no contexto escolar.

2) Tema de investigação: Educação e Promoção da Saúde no contexto

escolar.

Procedimento: A discussão do grupo ocorreu de modo livre, de acordo com os

temas apresentados, relacionando as respostas com a sua própria concepção de

saúde, qualidade de vida e bem-estar. Foi desenvolvida uma dinâmica de grupo em

que cada participante tinha um pirulito na mão direita, deveria descascá-lo e

saboreá-lo, sem utilizar a outra mão e nem dobrar o braço direito. O único

movimento que podia ser feito era virar o braço para a direita ou para a esquerda.

Esperou-se que eles percebessem que não podiam abrir a embalagem do pirulito

sozinhos e tampouco saborear o seu próprio pirulito. Dessa forma, cada participante

percebeu que dependia da ajuda mútua para cumprir a missão. Após a dinâmica,

iniciou-se a discussão. A expectativa foi a de que cada pessoa relatasse suas

experiências em relação ao processo de educação em saúde e suas fragilidades.

3) Recreação em grupo: Dinâmica corporal e Café Colonial.

Foi dedicado um momento de relaxamento, com práticas corporais ao ar livre, além

de dialogar sobre qualquer assunto que desejasse. Ao final, participamos de um café

colonial juntos para descontração e interatividade.

23

4) Momento de proposição: Promoção da Saúde no contexto escolar.

Procedimento: Iniciou-se a elaboração de um modelo de práticas em educação em

saúde que deveriam ser adotadas em suas práticas pedagógicas sob uma

perspectiva interdisciplinar, levando-se em consideração que esse processo seria

contínuo e sempre passível de mudanças, uma vez que o conhecimento ainda é

limitado e em processo de formação.

5) Encerramento da sessão: Fechamento dos assuntos trabalhados no dia.

Procedimento: Revisado o documento que continha o formato da Tecnologia Social

em Saúde – CIRPROSAE, os integrantes do grupo revisaram o roteiro das

atividades do Círculo de Promoção da Saúde na Escola, bem como sua inserção no

Projeto Político Pedagógico.

3ª Oficina: Realizada nas dependências da escola, na sala de multimídia, em horário

de aula, e os conhecimentos levantados foram questionados e refletidos segundo a

pedagogia de Paulo Freire. Foi aplicada a técnica de relaxamento entre os

participantes e apresentado um vídeo motivacional para o desenvolvimento de

trabalho em grupo.

DATA: 18/11/2013

Sessão da Oficina 3:

1) Técnica de aquecimento: Imagem Ampliada.

Procedimento: Projetei uma imagem na sala de vídeo que focava apenas um ponto

da figura. Pedi que tentassem definir a imagem a cada momento em que eu a

ampliava. Eles foram percebendo que a medida que a imagem era ampliada,

mudava a visão do que eles tinham caracterizado antes. Demonstrou-se, assim, que

quando estamos focados no problema, ele pode adquirir uma aparência do que não

é na realidade, tomando uma proporção fora da proporção que deva estar.

2) Problematização: Diferenciação entre prevenção de saúde e promoção da

saúde.

Procedimento: A discussão foi aberta e retomados todos os discursos advindos da

experiência deles e do conhecimento científico que tinham buscado. Fizeram uma

24

análise do que os fenômenos do viver significavam para eles e delinearam o aspecto

das políticas de educação em saúde que deviam trabalhar de acordo com a

necessidade dessa comunidade acadêmica.

3) Recreação em grupo: „Papo Legal‟.

Pausa para conversas informais e um lanche oferecido a toda área administrativa e

corpo docente. Ao final, puderam relatar suas experiências com o corpo

administrativo da escola, de como eles se sentiam a partir do momento em que

começaram a discutir a problemática sobre saúde no contexto escolar e contar suas

expectativas em relação a um projeto coletivo que desenvolveriam posteriormente.

4) Momento de proposições: Projeto sobre Famílias mais Saudáveis.

Procedimento: Iniciou-se uma discussão sobre como seria desenvolvido um projeto

de atuação interdisciplinar no próximo ano letivo, levando em consideração que o

objetivo principal seria aproximar as pessoas da comunidade acadêmica.

Elaboraram os primeiros objetivos e planos de ação de um projeto coletivo,

interdisciplinar, que atendiam as necessidades biológicas, psíquicas e sociais da

escola.

5) Encerramento da sessão: Fechamento dos assuntos trabalhados no dia.

Procedimento: O moderador e o grupo esclareceram as dúvidas existentes sobre a

elaboração do projeto e formularam hipóteses verbais do que deveriam alcançar

com aquele trabalho coletivo. Marcada a última sessão do projeto de pesquisa.

4ª Oficina: Ocorreu na sala de multimídia da escola, pois, segundo os docentes,

proporcionava maior segurança em relação ao desenvolvimento das aulas, por

estarem próximos das salas caso algum professor substituto precisasse consultá-los.

Houve um espaço para a construção de um diálogo livre que serviu para

proposições de mudanças no Projeto Político Pedagógico da escola com relação à

Promoção e Educação em Saúde. Foram realizadas abordagens de relaxamento no

momento inicial da oficina acrescidas de recursos audiovisuais, a fim de preparar os

participantes para a etapa de trabalho interdisciplinar. Houve um encerramento com

um momento de reflexão e confraternização, com oferta de um café colonial, como

contribuição para socialização e aproximação dos participantes.

25

DATA: 21/11/2013

Sessão da Oficina 4:

1) Técnica de aquecimento: Ginástica laboral.

Procedimento: Foram estimulados a mexer o corpo com ginástica aeróbica e laboral,

fazendo com que o corpo ficasse preparado para as próximas atividades.

2) Momento de problematização: Filme motivacional sobre trabalho em

equipe.

Procedimento: Coloquei um filme de motivação em equipe, em forma de desenho

animado, no qual alguns sapinhos, depois de caírem no buraco, foram estimulados a

sair pela motivação dada pelo grupo. Os docentes foram levados a refletir sobre sua

condição de trabalho e em que momento estão buscando soluções individuais para

resolver problemas coletivos. Voltaram também a abordar o tema sobre

interdisciplinaridade, com consultas a periódicos que esclareciam sobre o tema para

posterior discussão.

3) Momento de proposições: Projeto sobre Famílias mais Saudáveis

Procedimento: Terminou-se a discussão sobre como seria desenvolvido o projeto

intitulado “Famílias mais saudáveis”, traçando os objetivos específicos e metas a

serem alcançadas segundo o formato do qual haviam delineado.

4) Encerramento da sessão: Fechamento dos assuntos trabalhados durante a

pesquisa.

Procedimento: Foi feito um resgate dos discursos apresentados sobre os temas da

pesquisa, bem como sua associação com Educação e Promoção da Saúde.

Relataram suas expectativas e temores.

5) Confraternização do grupo: Momento Comemorativo.

Oferecido um café colonial, de despedida e, ao mesmo tempo comemoração

pelos momentos de construção coletiva e pela iniciativa do trabalho

interdisciplinar.

26

O desenvolvimento do Grupo Focal foi escolhido por proporcionar aos

participantes debates sobre questões dos contextos culturais dos docentes, segundo

o modelo de Barbour (2009). Outro meio de coleta de dados foi por meio de

entrevistas individuais, com os quatro docentes que aceitaram fazer parte de

conversas individuais com o uso de um roteiro semiestruturado (APÊNDICE B).

As entrevistas aconteceram em uma sala reservada para o atendimento aos

pais, tinha uma mobília acolhedora e proporcionava privacidade. As entrevistas

aconteciam de acordo com a necessidade e disponibilidade do docente. Foram eles

quem agendaram o momento de participação, demostrando assim, o desejo de

colaborar. Todas as entrevistas e oficinas foram gravadas e transcritas

posteriormente.

As entrevistas, na pesquisa qualitativa, são entendidas como formas de

interação social, possibilitando-nos uma dinâmica das relações similares às das

sociedades (MINAYO, 2012). A ideia é estimular os participantes a um exercício

pedagógico em que os mesmos se percebam como sujeitos históricos, capazes de

transformar e construir a realidade e a si mesmos.

É necessário salientar alguns aspectos da entrevista na pesquisa qualitativa:

[...] o mundo social não é um dado natural, sem problemas: ele é ativamente construído por pessoas em suas vidas cotidianas, mas não sob condições que elas mesmas estabeleceram. Assume-se que essas construções constituem a realidade essencial das pessoas, seu mundo vivencial.[...] A entrevista qualitativa, pois, fornece dados básicos para o desenvolvimento e a compreensão das relações entre os atores sociais e sua situação. O objetivo é uma compreensão detalhada das crenças, atitudes, valores e motivações, em relação aos comportamentos das pessoas em contextos sociais específicos (BAUER e GASKELL, 2002, p.65).

Todas as entrevistas do Grupo Focal foram gravadas em áudio e imagem por

uma assessora de comunicação da própria escola, que ao final das oficinas relatava

somente aos pesquisadores sua percepção sobre os docentes. Já, as entrevistas

individuais, foram gravadas pela pesquisadora somente em áudio. Para ampliação

da coleta de dados e resultados, foram acrescentados minha percepção sobre os

docentes e os trabalhos relativos à Educação em Saúde durante a observação do

participante.

27

1.3.5 ANÁLISE DOS DADOS

Depois de coletados os dados, a análise foi temática de acordo com os

conteúdos (assuntos) levantados nas entrevistas e no grupo, que resultou em

categorias, a partir das concepções apresentadas. Foram elaborados códigos a

priori, uma espécie de codificação provisória de categorias, e códigos in-vivo, uma

espécie de codificação baseada na linguagem e estrutura de sentença dos

participantes, pois houve especulações e tentativa de teorizações tornando mais

produtivo o desenvolvimento da pesquisa, permitindo que os participantes fossem

co-moderadores do processo (BARBOUR, 2009). As discussões realizadas,

considerando-se os objetivos específicos, são apresentadas em formato de artigos

científicos, pelos quais fizemos uma apresentação descritiva, seguida de

comparações à luz das interpretações do pesquisador e dos referenciais teóricos

selecionados para confirmar, comparar e apreender o que os informantes

apresentaram coletivamente e individualmente.

Nessa perspectiva, o pesquisador investigador reconhece que exerce

influência sobre a investigação, pois se apropria de seu próprio significado da

realidade, posicionando-se e dando sentido aos significados, estruturando o que os

sujeitos apresentaram. Sabendo que o conhecimento é um processo social

compreendido no seu meio, em que foi gerado (GEERTZ, 1997).

1.3.6 ASPECTOS ÉTICOS DA PESQUISA

Foram cumpridas as determinações da Resolução nº 466/12 do Conselho

Nacional de Saúde com relação aos aspectos éticos de pesquisa com seres

humanos. Para tanto, solicitamos a permissão da Gerência de Educação e à Direção

da Escola para a realização da proposta. Após o aceite escrito, fizemos contato com

os docentes para apresentação da proposta e solicitação para que participassem do

estudo. Os docentes que aceitaram participar, assinaram o Termo de Consentimento

Livre Esclarecido (APÊNDICE A). Ainda, como parte deste processo, fizemos o

preenchimento da Plataforma Brasil em nome da co-orientadora Prof. Dra. Márcia

Gilmara Marian Vieira2 para inclusão da proposta, com todos os documentos

2 A Prof. Dra. Márcia Marian assumiu, a pedido do Colegiado do Mestrado Profissional em Saúde e

Gestão do Trabalho, a responsabilidade de realizar os encaminhamentos de avaliação do Comitê de

28

solicitados, a fim de que fosse realizada uma avaliação da pertinência ética da

pesquisa. Somente após estas etapas e aprovação da pesquisa é que iniciamos a

coleta de informações junto aos docentes. A aprovação do Comitê de Ética da

Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, está sob o número de protocolo

22127013.6.0000.0120 e com o número de Parecer 446.060 em 25/10/ 2013

(APÊNDICE C).

Importante enfatizar que respeitamos os aspectos da autonomia (escolher

participar, continuar, interromper ou desistir quando necessário); da beneficência

(potencialização dos benefícios advindos no desenrolar do trabalho); da não

maleficência (comprometimento com o mínimo de danos possível, especialmente

protegendo e apoiando em suas conquistas e vulnerabilidades) e da justiça e

equidade (divulgação dos resultados alcançados, quaisquer que sejam sua

natureza, representando a possibilidade de compartilhar conhecimento e submissão

à crítica da comunidade científica).

Em todos os momentos da pesquisa foram observadas as questões éticas

nos relacionamentos entre pesquisadores-sujeito, sujeitos-sujeitos, mantendo

sempre o anonimato dos participantes.

Ética da UNIVALI e atender a mestranda como co-orientadora no segundo semestre de 2013 até o

retorno da orientadora que se ausentou do País para estudos pós – doutorais.

29

2 SAÚDE, DOENÇA, BEM-ESTAR E QUALIDADE DE VIDA: DISCURSOS DE

DOCENTES NO COTIDIANO EM UMA ESCOLA PÚBLICA DE SANTA CATARINA

Ioná Outo de Souza Wilberstaedt

Márcia Gilmara Marian Vieira Yolanda Flores e Silva

Resumo: O modo pelo qual se discute o que seja saúde, doença, bem-estar e qualidade de vida, além das experiências das pessoas pode facilitar ou dificultar o processo de se introduzir a Educação em Saúde em uma escola pública. Em função desse contexto é que nasceu a pesquisa sobre as concepções de docentes acerca destas temáticas, tendo como objetivo geral conhecer os discursos sobre Saúde, Qualidade de Vida e temas afins de docentes de uma escola pública de Santa Catarina, tendo como meta final o desenvolvimento de atividades de Educação em Saúde com docentes, alunos, familiares e comunidade. O percurso metodológico adotado foi qualitativo, com coleta exploratória, compreendendo revisão teórica, trabalho de campo, observação participante, formação de grupo focal e entrevistas semiestruturadas com os docentes. Dentro dos critérios gerais da pesquisa, foram convidados 16 docentes de uma Escola Estadual da capital Catarinense, do ensino fundamental, com tempo superior a cinco anos de Magistério (em serviço público ou privado), que possuíam maior vínculo com o Estado e que já haviam trabalhado com Educação em Saúde. A princípio, confirmaram oito participantes para o grupo focal. Destes, apenas seis compareceram do primeiro ao último encontro. Todas as entrevistas e conversas do grupo focal foram gravadas e, posteriormente, transcritas. A análise, segundo o método interpretativo, começa na coleta de dados propriamente. Quando o pesquisador já vai organizando as falas, de modo a chegar aos objetivos propostos no projeto de pesquisa. Vai criando tramas entre as falas e descrevendo aquilo que faz sentido. Existem estruturas significantes nos gestos, nos olhares, no tom de voz, nos comportamentos que vão além das falas. Estas falas, depois de devidamente analisadas à luz da experiência dos pesquisadores e dos referenciais pertinentes à temática nos mostram que: os docentes afirmam que há uma estreita relação entre saúde, qualidade de vida e bem-estar e que uma vida saudável é possível mesmo na presença de uma enfermidade. As falas enfatizam a necessidade de haver maior participação dos pais e profissionais da saúde no processo de Educação em Saúde e também a necessidade de um preparo sistemático e permanente sobre as questões que envolvam saúde no contexto escolar. As concepções dos docentes reafirmam que a dimensão social sobressai sobre o biológico, e que o conhecimento e valorização desses aspectos, na prática docente, podem ampliar as ações em saúde. Palavras-chave: Docentes. Qualidade de Vida. Saúde.

INTRODUÇÃO

O debate sobre saúde, qualidade de vida, bem-estar e doença não é recente

em nosso país como também não o é em todo o mundo. As Conferências Nacionais,

os debates políticos, a própria criação do Sistema Único de Saúde (SUS) e a

Constituição de 1988 fortaleceram a Reforma Sanitária. Porém, ainda há uma

30

instabilidade conceitual a respeito do processo saúde-doença dificultando as ações

em saúde.

Segundo Canguilhem (2009), existe uma noção do que é ser saudável

relacionada com o que se considera como „normal‟ sempre em oposição ao que se

afirma como „não saudável‟; por outro lado, o que se afirma como „doença‟ ou

„patológico‟ é sempre anormal. Tanto nas práticas de saúde, quanto nos conceitos,

existe uma resistência em conceituar saúde como ausência de doença, até mesmo

em nossos dias. Inclusive, os argumentos corporativos sobre saúde privilegiaram a

classe médica no século XVIII, de acordo com Foucault (2008), na Europa Ocidental,

pois faziam intervenções julgando saber o que seria saudável ou não para as

pessoas.

O próprio Sistema Único de Saúde (SUS) se apropria do modelo biomédico

com práticas assistencialistas, biologicistas e deterministas, o que não favorece

ações integradas e integrativas voltadas para a promoção e educação da saúde.

Nessa perspectiva, discute-se a necessidade de ampliar o conceito de saúde,

mediante a valorização do ser humano como um „ser uno‟ e multidimensional, capaz

de manter-se saudável ou viver com saúde mesmo estando em uma condição de

doença (DALMOLIN, et. al, 2011).

O campo da Educação é bastante vasto e propício para o desenvolvimento de

ações de promoção e educação em saúde, por reunir em seu meio pessoas com

experiências advindas de contextos socioculturais variados e interessadas em

crescimento pessoal e coletivo. As escolas são espaços socialmente reconhecidos

para o desenvolvimento de atos pedagógicos, contribuindo para a construção de

valores pessoais e dos significados atribuídos a objetos e situações, entre eles a

saúde. A escola saudável é um ambiente solidário e propício ao aprendizado,

engajada no desenvolvimento de políticas públicas saudáveis e implicação da

população em projetos de promoção da saúde (AERTZ, et al., 2004).

A escola, portanto, pode ser um espaço para o desenvolvimento de projetos

que visem à qualidade de vida das pessoas nos espaços em que elas convivem,

trabalhando em um esforço contínuo de corresponsabilidade (o sistema de saúde, o

governo, a escola, os docentes, as famílias e os alunos) para a promoção e a

educação em saúde. Esta corresponsabilidade se contrapõe a ideia da

responsabilidade pessoal e individual, as quais são sugeridas em pesquisas, como

a de Gomes (2009), que sugere, por exemplo, que as ameaças â saúde de jovens

31

na década compreendida entre os anos de 1991 a 2000, são oriundas,

principalmente, de suas condutas e de comportamentos prejudiciais à sua saúde,

com comportamentos de riscos mais precoces que em outras gerações. A grande

questão sobre o conceito ampliado de saúde é: as questões inerentes ao processo

de saúde envolvem apenas atitudes pessoais?

Quando partimos do pressuposto de que o estado de saúde está relacionado

com os comportamentos das pessoas, a dinâmica na promoção da saúde deve ser

direcionada a evitar condutas e comportamentos que levam ao risco. Todavia, se o

estado de saúde está relacionado com outras dimensões, além das

comportamentais, como a determinação social, faz-se necessário repensar as

práticas e refletir sobre os processos do viver humano. Para Campos e Neto (2008),

os comportamentos humanos que determinam nossas concepções acerca da saúde,

doença ou qualidade de vida podem ser influenciados por dimensões mais genéricas

ou por dimensões mais específicas. O importante, ao fazermos uma análise sobre

estas concepções, é que se perceba a maneira como as mesmas são interligadas e

interdependentes.

Na pesquisa realizada, da coleta à análise dos dados, a intenção norteadora

foi a de conhecer os discursos sobre saúde, qualidade de vida e temas afins de

docentes de uma escola pública de Santa Catarina, tendo como meta final o

desenvolvimento de uma tecnologia social que permita refletir sobre as atuais

práticas educativas em saúde e elaborar outros meios para a efetivação de uma

Educação em Saúde com, e para os docentes, alunos, familiares e comunidade

capazes de superar os obstáculos gerados pelos problemas sociais.

PERCURSO METODOLÓGICO

O percurso metodológico adotado foi o qualitativo, de cunho exploratório-

descritivo. Segundo Minayo e Sanches (1993), as tarefas e os desafios dos

cientistas sociais que utilizam a abordagem qualitativa têm sido definir o nível

simbólico, dos significados e da intencionalidade, constituindo-o como um campo de

investigação que auxilia no desenvolvimento de métodos e técnicas que

sistematizam o processo de pesquisa da coleta à análise. Minayo (2007) afirma que

as metodologias qualitativas são capazes de incorporar os significados e

intencionalidades aos atos, relações, estruturas sociais, traduzidas como

32

construções sociais humanas significativas. Quando a metodologia qualitativa é

aplicada na saúde, ela busca entender os significados dos fenômenos em seu

âmbito individual ou coletivo, e não os fenômenos em si. Pois a compreensão dos

significados tem uma função estruturante para as pessoas, sabendo que elas

organizam suas vidas a partir desses significados (TURATO, 2005).

A Coleta de Dados para a pesquisa em questão compreendeu as seguintes

estratégias: revisão bibliográfica referente ao tema, realização de grupos focais e

entrevistas semiestruturadas. Iniciamos com a formação do grupo focal,

entendendo-o como uma forma de coleta de falas de um grupo que relata suas

experiências e percepções em torno de um tema em questão (PEROSA e PEDRO,

2009).

A dinâmica do grupo focal consiste na interação entre pesquisador e

participantes para coleta de dados, a partir da discussão focada em objetivos

específicos e diretivos (ASCHIDAMINI e SAUPE, 2004). A estratégia de grupo focal

adotada foi orientada segundo a abordagem do „Círculo de Cultura‟, de Paulo Freire

(1983a), pela qual os participantes foram incentivados a expressar seus discursos

acerca da saúde, bem-estar, qualidade de vida e doença, além de refletir sobre

como poderiam contribuir para estratégias de promoção a saúde, dentro do contexto

escolar, por meio da Educação em Saúde.

O grupo partiu de uma reflexão sobre a pessoa e o seu meio de vida,

refletindo sobre sua situação, sobre seu meio concreto (a escola, a comunidade), de

modo a pensar sobre sua realidade, e desta forma, como sugere Freire (2008),

emergir de forma consciente e comprometida, prontos para pensar como intervir e

mudar a realidade do cotidiano em que vivem. O roteiro de entrevista utilizado para a

coleta de dados individual foi semiestruturado, com questões abertas, nas quais

docentes puderam responder as questões, de acordo com o que pensavam e da

maneira que gostariam de expressar.

Todas as atividades em grupo ou entrevistas individuais foram realizadas no

ambiente escolar, por conta da dificuldade de deslocamento dos participantes em

função da carga de trabalho. As entrevistas foram realizadas seguindo o

pressuposto de Minayo (2008), de que a entrevista é uma conversa a dois, ou entre

vários interlocutores, que inicialmente é direcionada pelo entrevistador, com a

intenção de construir informações pertinentes, a fim de discorrer sobre o tema no

tempo que considerar necessário.

33

Segundo os critérios definidos na proposta, o Universo da Pesquisa foi

formado por dezesseis (16) docentes de uma Escola Estadual da Capital

Catarinense, de ensino fundamental, com tempo superior a cinco anos de Magistério

(em serviço público ou privado), que possuíam maior vínculo com o Estado e que já

haviam trabalhado com Educação em Saúde. A princípio, oito (8) docentes

confirmaram a participação no grupo focal, destes, apenas seis (6) compareceram

do primeiro ao último encontro. Partindo do pressuposto de Nogueira Martins e

Bogus (2004), de que o grupo focal é operacional quando composto por, no mínimo

seis, e no máximo quinze pessoas, com tempo médio de noventa minutos, não

ultrapassando três horas para que seja funcional e mantenha o foco no problema /

objeto de reflexão, iniciamos a pesquisa.

Em virtude de outros vínculos empregatícios, dificuldade de acesso ao local

planejado, temor de serem flagrados em outro local, diferente do local de trabalho,

os docentes não concordaram com a proposta inicial de realizar o grupo em um

lugar distante do ambiente da escola. A proposta feita por eles de realizar os

encontros nas dependências da escola, em uma sala destinada a atividades

pedagógicas foi aceita. Foram realizados quatro encontros, com duração de três

horas cada, sendo os dois primeiros em dias consecutivos e dois encontros

posteriores, em dias intercalados, totalizando doze horas de formação de grupo

focal. Cada sessão iniciava com dinâmica de grupo, precedida de conversas,

momento de confraternização, momento de construção coletiva, ginástica laboral ou

técnica de relaxamento.

Durante as atividades do grupo focal, os docentes foram convidados a

participar da pesquisa individual com o mesmo tema. Todos os componentes do

grupo se prontificaram a participar, porém, a critério da pesquisa, somente quatro

foram abordados individualmente. Esta proposta, de entrevista individual, foi

realizada para que pudéssemos confrontar os dados, a fim de confirmar a

consistência dos dados coletados no coletivo.

As entrevistas foram realizadas a pedido dos participantes, quando

disponibilizavam de tempo para uma conversa aberta, dentro de uma sala de

recepção da escola, de maneira descontraída, formalizada, seguindo um roteiro

semiestrururado. Cada entrevista durou cerca de trinta minutos, foram realizadas em

dias diferentes, conforme cronograma do docente. Todas as entrevistas foram

gravadas em áudio e foram transcritas posteriormente. As conversas do grupo focal

34

foram gravadas em imagem e áudio pela assessora de comunicação da escola e,

posteriormente, transcritas.

A análise das respostas fornecidas no grupo focal e individualmente foram

realizadas segundo o método interpretativo de Geertz (1997). Para o autor, a análise

se inicia na coleta de dados propriamente, quando o pesquisador já vai organizando

as falas, de modo a obter as respostas aos seus objetivos. Cabe ao pesquisador

criar as tramas entre as falas e descrever o que faz sentido, sabendo que existem

estruturas significantes nos gestos, nos olhares, no tom de voz e nos

comportamentos que vão além das falas. A forma de organizar os resultados,

apresentá-los e refletir sobre os mesmos pode ser considerada mais didática ao

leitor modelo ou a pessoas a quem se dirige a pesquisa.

A fim de preservar a identidade dos participantes, a descrição dos discursos

apresentados nos resultados e discussão foi identificada como Professor

Participante (PP1, PP2, PP3, PP4, PP5 e PP6), seguidas da identificação „GF‟

quando coletadas no grupo focal e „EI‟ quando coletadas na entrevista individual.

Finalmente, importante lembrar que esta pesquisa foi registrada na

Plataforma Brasil e submetida à aprovação do Comitê de Ética da Universidade do

Vale do Itajaí (UNIVALI), com o número de protocolo 22127013.6.0000.0120 e

aprovada segundo Parecer 446.060 em 25/10/ 2013.

ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE OS TEMAS DE INTERESSE DESSE ESTUDO

Sobre Qualidade de Vida

O conceito de qualidade de vida, para a Organização Mundial da Saúde

(OMS) é “a percepção do indivíduo de sua inserção na vida no contexto da cultura e

sistemas de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos,

expectativas, padrões e preocupações” (WHOQOL, 1995, p. 1405). Este conceito,

quando refletido de forma não isolada, demonstra que o contexto social/cultural

associado aos aspectos individuais influenciam o modo de vida das pessoas.

De acordo com a 8ª Conferência Nacional de Saúde (1986), a qualidade de

vida é expressa como resultante de um processo de produção social, em uma

compreensão de saúde, sendo condicionada ou determinada por fatores políticos,

35

econômicos, sociais, culturais, ambientais, comportamentais e biológicos (BRASIL,

1986).

Em nosso país, a criação da Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS)

teve por objetivo promover a qualidade de vida e reduzir a vulnerabilidade e riscos à

saúde relacionados aos seus determinantes e condicionantes (BRASIL, 2006). Para

muitas pessoas, o que deveria ser uma política para todas as instâncias de nossa

sociedade, termina por ser algo que fica limitada às esferas dos serviços de saúde,

deixando de lado, muitas vezes, o contexto escolar.

Para Malacrida (2012), o mundo passa por grandes transformações, existindo

a divulgação cada vez maior da grande diversidade cultural e social da qual fazem

parte as famílias com quem estamos a conviver, estando elas cada vez mais longe

dos conceitos tradicionais reconhecidos por muitos professores. Nesse contexto,

mudam também as formas de se conceber o processo saúde e doença, o bem-estar

e a qualidade de vida. Para muitas pessoas o que se denominaria qualidade de vida

pode se relacionar ora com a saúde, ora com a moradia, o lazer, hábitos

alimentares, exercícios, emprego, entre outras possibilidades, incluindo a percepção

de bem-estar como sinônimo de qualidade de vida (ALMEIDA, 2012).

No âmbito da Psicologia Positiva, Passareli - Carrazoni e Silva (2007) trazem

a definição de um „bem-estar‟ subjetivo chamado de felicidade, incluindo respostas

emocionais das pessoas, satisfações dominantes e julgamento global de satisfação

de vida. Segundo estes autores, os estados emocionais determinam a maneira

como as pessoas com saúde comprometida encaram suas dificuldades. A emoção

positiva funciona como previsão de saúde e longevidade, e as relações sociais

positivas mostram-se necessárias para o bem-estar. O bem-estar positivo é a

presença de um número de emoções e estados cognitivos positivos e não somente

ausência de doenças como a depressão, por exemplo.

Fazendo menção aos enfoques relativos ao conceito de bem-estar, Nogueira

declara que:

[...] o estado de bem-estar é concernente às condições da pessoa de satisfazer suas necessidades materiais e suas aspirações espirituais. Denota um estado subjetivo e, portanto, apreciado pela pessoa. Entretanto, é também um conceito social, uma vez que necessidades são construções sociais que pertencem ao domínio da sociologia, da antropologia, da ecologia e da economia (NOGUEIRA, 2001, p. 113).

36

Para o autor, os conceitos de bem-estar estão relacionados e condicionados a

fatores objetivos, histórico-culturais, socioeconômicos e a elementos não

calculáveis, sendo produto das formas de produção social, sem abrangência

universal, diferenciando-se de um grupo para outro. Bem estar está sempre

articulado à existência de necessidades humanas ou sociais situadas

historicamente.

A expressão “qualidade de vida” se tornou conhecida quando o Presidente

dos Estados Unidos, Lyndon Johnson, em 1964, fez um pronunciamento afirmando

que os objetivos dos governantes são medidos por meio da qualidade de vida que

proporcionam às pessoas. Inicialmente, o termo era associado aos bens materiais,

posteriormente, passou a incorporar questões relacionadas às realizações pessoais,

bem-estar, saúde, estilo de vida, além dos aspectos econômicos, psicossociais e

físicos (MONTEIRO, 2010).

Quando tratamos de um assunto com uma abordagem tão ampla como

„qualidade de vida‟, corre-se o risco de centrar o foco em um único aspecto e

desfavorecer outros. No caso desta revisão, a intenção não é esta. Parafraseando

Morin (1986), a ideia é mostrar que:

Precisamos não perder a ideia e o real, mas perder a ilusão da lucidez e da saúde. E saber, desde já, que precisamos esclarecer aquilo sobre que estamos cegos e que nos cega; compreender que nossos problemas vitais agem na infra consciência, no invisível e no inconcebível (MORIN, 1986, p. 88).

A mudança no nosso modo de pensar, agir ou sentir é o pressuposto para

partirmos para um processo que clarificará nossas mentes e nos permitirá vivenciar

os variados modos do viver humano, percebendo que estes se alteram a cada

contexto da vivência cotidiana. O catalogar o objeto, ou tentar enquadrá-lo em uma

fórmula nos impede de desvendar o novo, de descobrir as variadas formas de viver

e sentir.

Para Gonçalves (2004), a qualidade de vida caracteriza-se pelo estilo de vida

do sujeito relacionado com a realidade familiar, ambiental e social refletindo os

valores, atitudes e oportunidades na vida dele, sendo considerados elementos como

bem-estar pessoal, controle do estresse, nutrição equilibrada, atividade física

regular, ações preventivas de saúde e o cultivo de relacionamentos sociais. Esta

ideia é confirmada, a seguir, por Almeida quando este afirma que:

37

Uma boa percepção de qualidade de vida dependerá das possibilidades que tenham as pessoas de satisfazer adequadamente suas necessidades fundamentais. Isso se liga à capacidade de realização individual, que é dependente das oportunidades reais de ação do ator social. Ou seja, uma boa ou má percepção sobre a vida é relativa à qualidade do ambiente em que se encontra o sujeito, ao oferecimento de condições de realização e de satisfação das necessidades básicas que a própria sociedade estipula como essenciais, e que o interessado toma e deseja, ou não, como verdade para sua própria vida (ALMEIDA, 2012, p. 38).

A afirmação acima, confirma a ideia de que os condicionantes e

determinantes da saúde promotores da qualidade de vida, estão relacionados ao

modo de viver, das condições de trabalho, da habitação, do ambiente, da educação,

do lazer, da cultura, do acesso a bens e serviços essenciais (BRASIL, 2006).

Pressupõe-se que, quando o indivíduo desfruta ou tem acesso aos itens

mencionados, passa a ter qualidade de vida, pois sua condição de saúde se torna

menos vulnerável.

Conforme Pereira, Teixeira e Santos (2012) a qualidade de vida é um

construto cultural, que diante do avanço da sociedade e do conhecimento precisa

ser revisado, discutido e transformado. É necessário existir uma reflexão acerca do

que as pessoas consideram como fatores relevantes para a qualidade de vida.

Importante que se reflita se estas levam em consideração os aspectos históricos,

socioculturais, psíquicos, ambientais e de inserção no mundo do trabalho.

Outra definição de qualidade de vida não muito distante de todas que

estamos apresentando é a de Limongi-França (2004) que mostra que essa condição

existe associada à sensação de bem-estar advinda das necessidades individuais

atendidas, oriundas do ambiente socioeconômico e das expectativas de vida. A

abrangência do tema é similar à dimensão humana, do ser holístico com dimensões

sociais, físicas, emocionais, mentais e espirituais. Fazendo ainda uma referência ao

âmbito organizacional, a autora cita a competitividade, espaço no mercado de

trabalho e produtividade como fatores de relevância que são influenciados pela

qualidade de vida.

38

Sobre os Conceitos de Promoção da Saúde e Saúde

A promoção da saúde é um objetivo a ser alcançado em todas as esferas

sociais na tentativa de minimizar a vulnerabilidade social, em relatórios do Ministério

da Saúde:

Entende-se que a promoção da saúde é uma estratégia de articulação transversal na qual se confere visibilidade aos fatores que colocam a saúde da população em risco e às diferenças entre necessidades, territórios e culturas presentes no nosso País, visando à criação de mecanismos que reduzam as situações de vulnerabilidade, defendam radicalmente a equidade e incorporem a participação e o controle sociais na gestão das políticas públicas (BRASIL, 2006, p. 12).

A responsabilização múltipla também está relacionada à promoção de saúde,

pois o Estado, os indivíduos, o sistema de saúde e as parcerias intersetoriais, cada

um em sua esfera, podem contribuir para a qualidade de vida (ANS, 2007).

A promoção da saúde existe no sentido de articular práticas intersetoriais e

conhecimentos interdisciplinares para aumentar as chances de saúde e qualidade

de vida. Nesse contexto, a qualidade de vida é uma importante medida de impacto

em saúde, e a promoção em saúde está na defesa da vida e no desenvolvimento

humano (CAMPOS e RODRIGUES NETO, 2008).

A intersetorialidade e o conhecimento interdisciplinar surgem dentro das

práticas que aumentam as chances das pessoas de um viver saudável com

qualidade de vida. Então, por intersetorialidade, segundo o Ministério da Saúde,

compreende-se:

[...] como uma articulação das possibilidades dos distintos setores de pensar a questão complexa da saúde, de co-responsabilizar-se pela garantia da saúde como direito humano e de cidadania, e de mobilizar-se na formulação de intervenções que a propiciem (BRASIL, 2006, p. 13).

Nesse sentido, a área da Saúde pode e deve articular conhecimentos com a

área da Educação na perspectiva de ampliar os conceitos de promoção em saúde,

pensando na complexidade desta e corresponsabilizando-se por ela. Esse processo

transforma seu modo de operar e ampliar a capacidade de análise. Por essa razão,

contemplaremos o tema de forma coletiva, em uma perspectiva dialógica, na

formação de pressupostos advindos da experiência do cotidiano das pessoas a fim

39

de aumentar as chances de o indivíduo melhorar suas condições de vida e

compartilhar suas experiências no âmbito do trabalho.

Ao avaliarmos a saúde como um dos fatores primordiais e de grande

relevância para obtenção da qualidade de vida é possível fazê-lo considerando os

três pontos de vista, sobre o que seja saúde segundo as pessoas, o setor produtivo

e os técnicos de saúde (LEFÈVRE e LEFÈVRE, 2004):

Pessoas: a saúde é vista como uma “sensação” de ser saudável, baseados

em indicadores sociais disponíveis, sendo percebida como bem-estar ou

ausência de mal-estar, ausência de doenças ou sintomas. O indivíduo

acredita que pode obter saúde pelo consumo de algum tipo de produto ou

serviço, de forma direta ou indireta, considerado produtor ou indutor de saúde

protegendo contra doenças;

Setor Produtivo: a saúde é transformada em mercadoria ou serviços para uso

e consumo. Para tanto, é necessário pagar um valor que é impreciso e

aberto. Importante lembrar que hoje as mercadorias e serviços na saúde são

muitos e sempre se ampliando para venda a quem puder comprar;

Técnicos: a saúde é revestida de autoridade ou poder que proporciona a um

conjunto de profissionais ou especialistas a autorização para conceituar

saúde, prescrever tratamentos e cuidados, produzir tecnologias e ações para

pessoas, famílias e comunidades.

Nessa relação entre indivíduos, setor produtivo e técnico há todo um processo

de interdependência que se traduz no exemplo a seguir: uma pessoa ao sentir dor, o

alívio vem em forma de comprimidos vendidos pelo sistema produtivo e o

profissional de saúde define a natureza da dor propondo que comprimido, que

laboratório, posologia e às vezes uma intervenção técnica para os sintomas do

problema.

A compreensão sobre o que seja saúde também pode ocorrer mediante os

domínios funcionais (função física, função cognitiva, envolvimento com as atividades

da vida e avaliação subjetiva) e domínios do conforto (bem-estar corporal, bem-estar

emocional, autoconceito e percepção global de bem-estar) que compõem a relação

entre saúde e qualidade de vida (VILARTA e GONÇALVES, 2004).

40

Esses domínios não são exclusivamente dos sujeitos, são resultantes dos

processos individuais e coletivos, não necessariamente nesta ordem de

apresentação, mas com articulações entre um e outro:

A saúde não é primordialmente 'individual-subjetiva-contingente', nem tampouco é primordialmente "coletiva-objetiva-determinada'; ela é, sempre e simultaneamente, o movimento de gênese e reprodução possibilitado pelo concurso de processos individuais e coletivos, que se articulam e se determinam mutuamente. Ela tampouco é primeiro individual e depois coletiva, como produto da combinação de realidades individuais (BREIHL, 2006, p. 45).

Outra definição de saúde traz algo que pode:

[...] legitimamente, ser vista - não substantiva ou diretamente, como um é... mas, indiretamente, como um sobre... - como um tema de um discurso coletivo, associado a uma prática correspondente, díade situada diferentemente no tempo e no espaço, que tem como objeto um estar/ser/positivo de um corpo/mente/espírito, em escala individual e coletiva (LEFÈVRE e LEFÈVRE, 2004, p.16).

Os autores apontam ainda (Quadro 01) sobre a existência de um discurso do

sujeito coletivo (DSC) que implica em uma tensão dialética sobre o ser saudável e

ao mesmo tempo saber que se faz necessário uma constante vigilância dos riscos e

ameaças existentes no viver cotidiano do ser humano:

Quadro 1 – O Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) de Saúde

Saúde – significa restabelecimento,

proteção ou vigilância na produção

deste estado positivo da vida

humana.

Manutenção da Saúde – ocorre

mediante o entendimento e

implantação de um estado constante

de investigação das causas básicas

do adoecer humano, objetivando

erradicar as ameaças estruturais

desse ser saudável/estado.

Fonte: Lefèvre e Lefèvre (2004)

De um lado, o discurso hegemônico da saúde, que é a produção de um

retorno permanente a uma situação de equilíbrio negada pela instalação de uma

41

doença ou agravo (negação primária); do outro, a saúde vista como a busca da cura

ou prevenção da doença, utilizando-se tecnologias de intervenção, tanto nos

agentes causadores como nos corpos e mentes. Ou seja, o processo saúde e

doença é parte desta sociedade de tecnologia em que não se busca a razão ou

causa dos problemas, mas onde se tem a necessidade permanente de compra de

bens e serviços com pessoas doentes que buscam a proteção da medicina como

seguro obrigatório. Do outro lado, o poder alternativo ao modelo biomédico que

busca fugir do processo de mercantilização/tecnologização da saúde-doença, mas,

que não deixa também de ser um poder altamente consumista, porque no mundo

ocidental não atende as necessidades das pessoas de baixa renda.

Para entender saúde a partir dos determinantes e condicionantes expostos na

Lei 8.080/90, em seu artigo 3º, que incluem a alimentação, a moradia, o saneamento

básico, o transporte, a educação, acesso aos bens e serviços essenciais, entre

outros e as ações que se destinam a garantir condições de bem estar físico, mental

e social às pessoas e à coletividade é necessário fazer uma reflexão crítica das

políticas sociais de acesso que marginalizam uns e favorecem outros.

De acordo com Buss e Pellegrini Filho (2007) existe hoje um conceito

bastante generalizado de que a situação de saúde está relacionada às condições de

vida e de trabalho dos indivíduos e de grupos da população. Os determinantes

sociais, de acordo com a Comissão Nacional sobre os Determinantes Sociais da

Saúde (CNDSS), são fatores que influenciam a ocorrência de problemas de saúde e

seus fatores de risco na população, como os fatores sociais, econômicos, culturais,

étnicos / raciais, psicológicos e comportamentais.

Segundo o Relatório da Comissão Nacional sobre os Determinantes Sociais

da Saúde (2008, p.141), as intervenções que incidem sobre os determinantes

sociais incluem:

• Políticas que favoreçam mudanças de comportamento para a redução de riscos e aumento da qualidade de vida mediante programas educativos, comunicação social, acesso facilitado a alimentos saudáveis, criação de espaços públicos para a prática de esportes e exercícios físicos, bem como proibição à propaganda do tabaco e do álcool em todas as suas formas; • Políticas que favoreçam ações de promoção da saúde, da paz e da justiça social, buscando estreitar relações de solidariedade e confiança, construir redes de apoio e fortalecer a organização e participação das pessoas e das comunidades em ações coletivas

42

para melhoria de suas condições de saúde e bem-estar, especialmente dos grupos sociais vulneráveis; • Políticas que assegurem à melhoria das condições de vida da população, garantindo a todos o acesso à água limpa, esgoto, habitação adequada, ambientes de trabalho saudáveis, serviços de saúde e de educação de qualidade, superando abordagens setoriais fragmentadas e promovendo uma ação planejada e integrada dos diversos níveis da administração pública; • Políticas macroeconômicas e de mercado de trabalho, de proteção ambiental e de promoção de uma cultura de paz e solidariedade que visem promover um desenvolvimento sustentável, reduzindo as desigualdades sociais e econômicas, as violências, à degradação ambiental e seus efeitos sobre a sociedade.

Vale ressaltar aqui que os programas do governo de assistência social, os

chamados “reforços” da renda familiar, como bolsa família, bolsa alimentação, entre

outros tipos de benefícios vistos como complementares à renda, as cotas nas

universidades garantidas a algumas etnias e estudantes advindos de escolas

públicas e o acesso a casas populares entre outros benefícios, são soluções

temporárias que assinalam as desigualdades sociais e percorre um plano contrário à

equidade.

O principal desafio dos estudos sobre as relações entre determinantes sociais e saúde consiste em estabelecer uma hierarquia de determinações entre os fatores mais gerais de natureza social, econômica, política e as mediações através das quais esses fatores incidem sobre a situação de saúde de grupos e pessoas, já que a relação de determinação não é uma simples relação direta de causa-efeito (BUSS e PELLEGRINI FILHO, 2007, p.81).

Em meio a todas estas questões, sabemos que as políticas públicas sociais

são entendidas como parte do processo para obtenção da qualidade de vida em

saúde, mas não garantem a obtenção dela. É necessário pensar no

desenvolvimento de uma sociedade que problematiza, questiona, manifesta-se, sem

buscar adequações de vida, e sim, buscar condições de crescimento pessoal e

coletivo que favoreçam a qualidade de vida baseados em um viver promotor de

saúde.

Diante do exposto, necessitamos conhecer os muitos sentidos da saúde, que,

segundo Goldenberg, Marsiglia e Gomes (2003) são advindos da diversidade

cultural e das subjetividades no interior de cada cultura e como estes interagem.

43

Cultura é processual e produz sentido em um contexto sócio-histórico. Também

pode ser palco de expressão de subjetividades, vendo assim, saúde, no plural.

Pensar saúde, objetivamente, é pensar apenas sobre um dos seus aspectos, não

permitindo perceber a dimensão da doença como construção sociocultural.

Pensando em saúde enquanto processo de constructo social, Langdon e Wiik

(2010) trazem uma importante contribuição, quando afirmam que as questões sobre

saúde e doença devem ser pensadas a partir dos contextos socioculturais

específicos. Para eles, cultura não é determinada pela biologia, ela é compartilhada

por diferentes membros de um grupo social, sendo definida como um conjunto de

elementos que fazem mediação e qualificação das atividades física e mental.

Refletindo sobre isso, podemos concluir que para entender saúde é preciso haver

diálogo, trocas de informações e experiências, em uma visão cultural transdisciplinar

para enxergar este fenômeno complexo, articulado, e que está em constante

movimento.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A realização de um trabalho coletivo interdisciplinar requer a interação das

pessoas que constituem o corpo de profissionais que estão juntos para refletir sua

prática, isto demanda que se tenha uma lógica de trabalho equânime e uma

discussão coletiva sobre o que se pretende trabalhar. No caso da escola em que se

realizou a investigação aqui descrita, o pensar a “Educação em Saúde” em uma

perspectiva de promoção da saúde e prevenção da doença solicita que seu corpo

docente não apenas reflita sobre como elaborar uma proposta de trabalho na escola

em que atua, mas também, pense sobre sua vida neste processo que denominamos

de saúde e doença, e ao mesmo tempo trabalhe suas concepções acerca das

temáticas que fazem parte de toda a discussão sobre o que seja saúde, doença,

qualidade de vida, entre outros elementos importantes.

A discussão sobre “Saúde e Qualidade de Vida” entre docentes de uma

escola pública, a nosso ver, representa um avanço para a saúde pública rumo à

intersetorialidade. É importante ressaltar que a “Educação em Saúde” Não deve ficar

restrita às esferas das instituições públicas de saúde, tais como: a Unidade Básica

representada pelos Postos e Centros de Saúde ou os ambulatórios de Hospitais

Públicos. Todos os setores do cotidiano humano deveriam ter pessoas e espaços

44

para discutir o processo saúde e doença nas suas várias interfaces e convergir os

interesses para esta área, visto que trabalhar nesta perspectiva, principalmente em

uma escola, pode fortalecer e ampliar as ações em saúde, tanto coletivas quanto

individuais, seja com os docentes, alunos, servidores e a comunidade que está no

entorno da escola.

Com este olhar é que a pesquisa ocorreu, e a análise aqui apresentada está

voltada a conhecer, em uma primeira instância, os discursos de alguns docentes de

uma escola pública de Santa Catarina, acerca de alguns termos e/ou temáticas que

são importantes nos estudos realizados sobre “Saúde e Qualidade de Vida” para o

desenvolvimento de atividades de Educação em Saúde e maior aproveitamento dos

recursos humanos, na melhoria das condições de vida individual e coletiva. Antes de

mostrarmos estes resultados e a reflexão concomitante, apresentamos o perfil da

escola e dos docentes que participaram da pesquisa.

A escola: perfil sócio espacial e apresentação dos docentes

A escola de ensino fundamental em que ocorreu a pesquisa está inserida no

bairro Capoeiras, em Florianópolis há cinquenta anos. Está bem localizada e para se

chegar a ela é possível contar com uma oferta grande de transportes coletivos nas

proximidades, além de fácil acesso pela Via Expressa (BR-282) e demais avenidas

quando utilizar transporte próprio. Além disso, possui opções de restaurantes bem

próximos, farmácias, bancos, lanchonetes, supermercados, lojas de artigos

domésticos, clínicas, salão de beleza, entre outras pequenas empresas e comércios.

Sua infraestrutura é considerada satisfatória pelos docentes e demais funcionários,

contendo dez salas de aula, uma sala de computação e vídeo, uma sala de

multimídia, depósito, uma quadra sem cobertura e cozinha.

O quadro de funcionários é composto basicamente por docentes, área

administrativa (direção, assessoria de direção, secretárias), e serviço terceirizado de

segurança, higiene e alimentação. No quadro a seguir, um perfil resumido dos

participantes da pesquisa:

45

Quadro 2. Demonstrativo: docentes da pesquisa

Formação

profissional

Atuação Pós-

Graduação/ Outra

Graduação

Tempo de

Magistério

Carga

horária

Vínculo

Empregatício

Letras-

Inglês

Língua

Inglesa

Especialização

Interdisciplinaridade

(Não-concluída)

18 anos 59 h Efetivo

Pedagogia Artes Artes ( em andamento) 5 anos 40h ACT

Pedagogia Professor

regente

Não possui 25 anos 20h ACT

Pedagogia Professor

regente

Especialização:Mídias

na Educação (em

andamento)

8 anos 40h ACT

Pedagogia Professor

regente

Não possui 23 anos 40h ACT

Geografia Geografia Especialização em

Psicopedagogia

9 anos 40h Efetivo

Fonte: Dados de Pesquisa 2013.

No quadro, apresentamos uma visão geral dos docentes participantes da

pesquisa, sabendo que a carga horária apresentada demonstra o total de horas

aulas trabalhadas semanalmente, dedicadas à escola, com exceção dos dois

professores efetivos que distribuem a carga horária com atividades em outras

escolas privadas. Os participantes têm idade entre trinta e cinquenta anos, dois não

possuem filhos e dois são solteiros. Destes, quatro dependem exclusivamente de

transporte público de casa para o trabalho e vice-versa:

Discursos sobre Saúde e Doença

Para obtermos as respostas quanto aos discursos desejados, segundo

nossos objetivos, realizamos encontros em formato de grupo focal e entrevistas

individuais, e nos posicionamos apenas como agentes mediadores da discussão e

entrevista, não interferindo no pensamento das pessoas, mas possibilitando uma

discussão centrada nos objetivos propostos.

Como questão inicial foi perguntado aos docentes sobre os discursos dos

mesmos sobre os quatro fenômenos do viver humano: Saúde, Doença, Bem-Estar e

Qualidade de Vida e como esses discursos poderiam contribuir para as práticas de

46

Educação em Saúde na Escola. Importante esclarecer que pensamos na „Educação

em Saúde‟ como um elemento importante da „Promoção da Saúde‟ que tem como

objetivo norteador capacitar a comunidade para o cuidado da sua qualidade de vida

em todas as instâncias da sociedade. Isto significa dizer que Estado, comunidade,

famílias e pessoas deverão ser parceiros, e juntos deverão articular-se de modo a

lutar por políticas públicas que levem as pessoas a ter uma melhor qualidade de vida

(MACHADO, et al. 2007; BUSS, 2000).

Ao analisar os discursos, percebeu-se que os entrevistados sentem-se

fortalecidos quando tratam os assuntos de sua experiência pessoal e profissional na

coletividade, ao mesmo tempo em que demonstram fragilidade, insegurança e

aborrecimento nas falas individuais. Esta atitude se explica, segundo Araújo e Rocha

(2007), porque há um mecanismo de construção no trabalho em equipe, na qual um

profissional transforma sua prática reconstruindo-se na prática do outro, até serem

transformados para a atuação no contexto em que estão inseridos. Os discursos que

se tornam coletivos ou em grupo são dirigidos de forma a estimular o pensamento

do outro, com argumentos complementares para a solução de problemas comuns a

todos e todas. Quando este tipo de fala ocorre, há uma disposição em ouvir e

sustentar a opinião do grupo, um momento em que todos se mostravam dispostos à

colaboração e encorajados ao exercício da profissão.

Dos seis integrantes do grupo, cinco concordam que Saúde não é ausência

de doença e todos os docentes afirmam que Qualidade de Vida está associada ao

Bem-Estar físico, mental, social e espiritual. Nas falas a seguir, alguns exemplos:

Quadro 3. Discursos sobre Saúde e Doença

Eu tenho hepatite B, faço tratamento e quem diz que eu tenho uma doença? Quem diz? Porque eu

não me deixo abater! Porque eu tenho metas, objetivos, família, amigos... (PP1-GF).

Se você tem uma boa qualidade de vida, você passa a ter bem-estar. Se você tá bem com as

pessoas, com você mesmo, com os amigos, se tem conforto, aí você tem bem-estar (PP2-GF).

Porque se tu tens uma doença e consegue sorrir ainda, se tu tá bem consigo mesmo, você consegue

ser feliz, mesmo doente. E mesmo você não estando doente, mas se tu não é feliz no que tu faz, na

maneira que tu vive, com as pessoas que tu vive, tu acaba se tornando uma pessoa doente sem

doença! (PP3-EI).

47

Acho que saúde é não sentir dor. A dor mostra que alguma coisa tá errada. Você dorme pouco, você

trabalha até tarde, tem um monte de coisa pra fazer em pouco tempo. Teu corpo vai chegar uma hora

que vai cansar, você insiste no funcionamento dele assim e vai perder a saúde porque não tem mais

aquela coisa funcionando direito (PP6-EI).

O estresse faz a garganta doer. Você não fala o que deveria falar pras pessoas. Cuidar da garganta

não é só tomar remédio. Você não tem que apenas cuidar do corpo, mas tem que cuidar do espírito!

(PP2-EI).

Fonte: Dados de Pesquisa, 2013.

Nos depoimentos, percebe-se claramente que a categoria „saúde‟ está em

oposição à de „doença‟, ao mesmo tempo em que entrelaçam as concepções sobre

estes dois elementos associando em alguns momentos as categorias „bem-estar‟ e

„qualidade de vida‟ como parte de um discurso de gostar do trabalho, do que se faz,

etc.

Figura 1: Discursos sobre Saúde

Fonte: Dados de Pesquisa, 2013.

Refletindo sobre como a categoria „Saúde‟ é concebida pelos docentes,

percebemos que falar de saúde não equivale a falar de „não doença‟, na verdade, o

falar em saúde até implica-se afirmar ter uma doença (a hepatite, por exemplo), mas,

ao mesmo tempo, foge da conceituação biomédica da doença, afirmando-se que, se

uma pessoa não se „abate‟ e tem „amigos, família, metas e objetivos‟, esta pessoa

não se sente doente. Ou seja, esta pessoa se vê como alguém que supera o

diagnóstico por meio principalmente, da sua rede de relações sociais. Para Ayres

(2007), esta é uma forma de a pessoa perceber-se além da racionalidade biomédica,

SAÚDE

AUSÊNCIA DE DOENÇA E DOR

BOAS REDES E LAÇOS SOCIAIS

BEM ESTAR E QUALIDADE DE

VIDA

48

colocando sua subjetividade como parte do processo de viver com bem-estar e

qualidade de vida, mesmo estando com um diagnóstico de doença.

Ao mesmo tempo, por intermédio das expressões-chaves, os docentes

demonstram ainda que a „saúde‟ tem a ver com uma negação da doença, que

Lefèvre e Lefèvre (2004) denominam de negação da negação. Ou seja, eu nego a

doença porque não tenho como cuidar melhor do problema, além daquilo que vivo

neste meu momento da vida e, portanto, tento obter compensações tendo um olhar

positivo que nega, de certa forma, a „racionalidade‟ médica dos problemas de saúde

que o diagnóstico oferece como resposta aos sintomas que carrego em meu

cotidiano. Sobre a categoria „doença‟ percebem-se:

Figura 2. Discursos sobre Doença

Fonte: Dados de Pesquisa, 2013.

Da mesma forma que a categoria „saúde‟, a „doença‟ não significa exatamente

falar de um diagnóstico. Os fenômenos percebidos como doença estão relacionados

a alguns símbolos e significados da experiência cotidiana dos docentes, a dor

representa a experiência corporal da doença e o excesso de trabalho, o dormir

pouco, a tristeza de ter que trabalhar mesmo sem gostar, representa a experiência

„emocional e espiritual‟ da doença. Estas concepções de saúde e doença estão

associadas a um modelo cultural de perceber o processo saúde e doença com

símbolos que refletem o arcabouço cultural das pessoas. Sabemos que as

preocupações com a saúde e a doença são universais, contudo, cada grupo cria

elementos para entender e explicar seus problemas e, inclusive, os caminhos a

seguir para chegar a uma solução. A grande questão a se fazer neste momento é:

os docentes pensam desta forma porque a cultura dos mesmos os ensinou sobre

esta „linguagem‟ de doença? Óbvio que não responderemos agora esta questão,

DOENÇA

ESTRESSE

ABATIMENTO

DOR

(CORPO)

PROBLEMAS NAS REDES E LAÇOS SOCIAIS

(RELACIONAMENTOS)

DORMIR POUCO

TRABALHAR NO QUE NÃO GOSTA

TRISTEZA

(ESPÍRITO)

49

porque outras falas e discursos ainda serão refletidos neste tópico, e com eles,

vamos tentar ver os muitos caminhos que existem para se pensar a saúde e a

doença ( LANGDON e WIIK, 2010).

Fazendo um paralelo com o conceito da Organização Mundial da Saúde

(1946), “saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não

consiste apenas na ausência de doença ou de enfermidade”, percebemos, mediante

a pesquisa, que a pessoa não necessita ter um “estado completo” das

características mencionadas pela OMS para ter saúde, surgindo outro componente

de muita importância para os pesquisados: o espiritual. Isso reforça ainda mais a

característica dinâmica e complexa que envolve os fenômenos do viver.

Quando interrogados sobre o adoecer e a doença, os docentes não

demonstraram nenhuma resistência ao argumentar sobre o assunto, relatando fatos

de sua vida cotidiana sem nenhum pudor, fazendo desse momento uma forma de

desabafo e testemunho pessoal. Apenas uma pessoa do grupo relatou doença como

uma experiência que compromete o físico unicamente. O estigma da doença é

superado pelas condições da vida pessoal e coletiva, e todos manifestam que, ainda

que sua condição física esteja debilitada ou limitante, os seus ideais precisam ser

alcançados até mesmo como forma de superação da própria doença.

Quadro 4. Discursos sobre Doença

Doença é consequência de uma vida onde você não se previne e não se cuida. Doença não

está ligada ao hospital ou a casa. Ela é mais uma prisão física, uma condição física, que vem

de alguma coisa que você não tem o que fazer (PP1-GF).

A doença está muito relacionada ao emocional. Eu sinto assim: eu adoeço quando eu estou

com muitos problemas emocionais. Estressado, cada ataque que eu tenho... cada pico de

estresse minha garganta derruba. Sou obrigado a ficar afastado, tomar remédio! (PP2-GF).

Quando eu comecei a trabalhar com uma turma que eu não queria, eu fiquei doente,

depressiva, eu sofri porque não consegui trabalhar a questão psicológica (PP6-GF).

Me senti doente quando me senti impotente. De não conseguir fazer alguma coisa que eu

precisava fazer no trabalho. Super carregada, me causava revolta de não ter apoio da escola

(PP3-EI).

Fonte: Dados de Pesquisa, 2013.

50

Para Nahas, Barros e Francalacci (2000), a forma com que reagimos ao

estresse, associado ao bem-estar espiritual, é construída a partir dos valores

humanos, dos propósitos de vida e dos relacionamentos de cada um. Para ele, é

preciso um ponto de equilíbrio para reagirmos com segurança e tranquilidade. O que

afeta nossa vida é a maneira com que se reage aos agentes estressantes, e não o

estresse propriamente dito.

Os mecanismos estressores advindos da experiência profissional trazem

respostas diferenciadas pelos docentes. Isso porque, segundo Margis et. al. (2003),

as respostas cognitivas dos indivíduos a esses eventos são pessoais, e partem da

simbolização que é realizada sobre esse evento. Essa compreensão reforça ainda

mais a necessidade de se investigar os conceitos advindos das experiências das

pessoas, a fim de elaborar estratégias de trabalho adequadas à real condição delas,

estimulando o desenvolvimento pessoal, capaz de viabilizar ações em saúde

significativas, a partir do êxito pessoal-coletivo ou coletivo-pessoal.

Discursos sobre bem-estar e qualidade de vida

Nesta análise, salienta-se a relação existente entre Bem-Estar e Qualidade de

Vida, tem ligação direta com o que se concebe como „saúde‟ e como „doença‟

apontada nas falas individuais e do grupo, revelando que todos os discursos são

apontados considerando as perspectivas social, econômica, cultural e espiritual,

demonstrando que o modo de organização da sociedade influencia os valores das

pessoas, direciona suas buscas e oportuniza doenças, como vemos a seguir:

Figura 3. Dinâmica das relações

Fonte: Dados de Pesquisa, 2013.

•Espiritual •Cultural

•Econômico •Social

Saúde Qualidade

de vida

Doença Bem estar

51

As condições socioeconômicas das pessoas têm sido tema de muitos estudos

quantitativos e foco de interesse de muitas políticas sociais. Acontece que os

instrumentos de aferição não exprimem, na realidade, o contexto histórico-social em

que estes se inter-relacionam, sendo resumidos a uma avaliação puramente

associada às condições e aquisições individuais. Procuram avaliar o acesso dessas

pessoas às condições de melhorias de vida, sem avaliar, profundamente, a causa do

não acesso e até as impossibilidades de percepção quanto às suas próprias

necessidades individuais e coletivas.

A respeito desse assunto, Antunes (2008) cita dois paradigmas utilizados em

estudos epidemiológicos para mensurar as condições socioeconômicas, sendo o

primeiro a Liberdade e Oportunidade, e o segundo a Igualdade e Equidade. Desse

modo, o conceito de liberdade se restringe a realização das potencialidades

individuais; e o da oportunidade, segue como consequência do acesso a melhores

condições de saúde. Já, a igualdade e equidade estão relacionadas à exploração e

injustiça social. Aqueles que são privados materialmente têm dificuldades para ter

acesso às condições de melhorias da saúde e, consequentemente, não podem

gozar de boa saúde. Para ele, é preciso refletirmos sobre essa forma de “justiça

social” que está posta sob um contexto neoliberal e, dessa forma, os instrumentos

podem dificultar nossa compreensão quanto às condições socioeconômicas e seu

impacto sobre a saúde.

Devemos levar em consideração que os parâmetros dos quais emergem os

conceitos, vêm de acordo com o sistema neoliberal de pensamento, que influencia

as pessoas de todas as classes sociais, e estes estão presentes até mesmo em

programas de entretenimento vinculados na mídia. Qualidade de vida e bem-estar

atrelados a compras de bens, a um bom plano de saúde, à carreira de sucesso,

fama e status social. É muito clara a associação de que para resolver alguns

problemas sociais, você “tem que ter”. Você deve buscar morar em lugares seguros,

deve ter mais tempo para si mesma, comer bem, pensar em coisas boas, investir em

lazer, investir em educação, etc.

A pessoa passa a ser culpada por não dedicar mais tempo a si mesma, por

não ter condições de investir na saúde, passa a preocupar-se, excessivamente,

cobra-se além do que realmente precisa e deixa de questionar o modo pelo qual as

coisas são impostas. Apresenta temores quanto ao estado de saúde, não suporta

uma condição física de enfermidade, busca soluções e tratamento nos

52

procedimentos que apontam somente para o biológico, como fonte única e eficaz de

se alcançar saúde. Nas falas a seguir, observamos uma „mistura‟ do que muitos

autores consideram como a tônica do pensar sobre o bem-estar e a qualidade de

vida.

Quadro 5. Discursos sobre Bem-Estar e Qualidade de Vida

Pra mim, qualidade de vida seria saber dirigir, tirar a carteira e poder ir a muitos

lugares. Ter tempo para meus filhos e pra mim. Não ficar somente focada no trabalho. Isso

interfere na saúde emocional e reflete no corpo (PP6-EI).

A doença está na cabeça da gente. Ela vem do nosso pensamento. E a qualidade de

vida também, a falta de uma alimentação saudável... (PP4-GF).

Saúde é o bem-estar social. É ter bem-estar no financeiro, sair e fazer alguma coisa

que te dê prazer, sair com as pessoas que você gosta (PP2-GF).

Olha meu exemplo: eu sou cardíaca, tenho problemas mas eu trabalho o dia inteiro. Até me

sinto mal, às vezes. Mas eu tenho que aprender a conviver com isso (PP4-GF).

Saúde é bem-estar, estar de bem com a vida, é viver melhor. Quando tu tá bem num ambiente

de trabalho e com a tua própria família. E qualidade de vida tá ligado a isso, se tu tá bem no

trabalho, com pessoas que tu gosta, num ambiente tranquilo e morando num lugar que não

tem que se preocupar com a violência, isso te dá bem-estar (PP3-EI)

Pra mim, saúde é bem-estar, é você estar se sentindo bem fisicamente e psicologicamente pra

desenvolver sua atividade profissional e até mesmo sua diversão (PP1-EI).

Fonte: Dados de Pesquisa, 2013.

Segundo Bub (2001), a saúde deve estar vinculada ao bem-estar e ao valor

social para poder compreender a dimensão biológica, sem excluir essa ou aquela.

Todavia, a dimensão biológica, nos dias atuais, tem sido foco nas atividades

escolares, sobrepondo outras dimensões maiores que o biológico, como a

determinação social. Não somos um aglomerado de seres biológicos ou um conjunto

de indivíduos. Pertencemos a uma dimensão social dinâmica, que se articula com

outras dimensões e que se sobrepõe a elas. Por isso mesmo é importante que se

reconheça o caráter social do processo saúde e doença no cotidiano humano.

53

Segundo Kluthcovsky e Takayanagui (2007), os aspectos conceituais sobre

qualidade de vida vêm sofrendo mudanças nos enfoques, adquirindo mais sentido

com o passar dos anos, considerando além de aspectos objetivos, os aspectos

subjetivos. Certo de que essa subjetividade também não é pura, e sim influenciada

por várias percepções. Porém, a relatividade dos conceitos é influenciada pelos

aspectos históricos, culturais e pelos padrões de bem-estar relacionados às

camadas superiores. Além dessa subjetividade, também são consideradas a

multidimensionalidade (física, psicológica e social), a bipolaridade (dimensões

positivas e negativas) e a mutalidade (mudança em função do tempo, local, contexto

cultural e pessoa).

Sendo assim, o melhor entendimento sobre o tema advém de uma busca

intermitente pelas diversas áreas do conhecimento, avaliando pessoas em seus

mais variados contextos de vida, contemplando os aspectos da vida em uma

dimensão sócio-histórica e cultural, integrando conhecimentos ampliados que

possam traduzir o viver.

Dentre outros discursos, destacam-se ainda as relações entre alimentação,

atividade física, bem como a superação de problemas na concepção de saúde e

qualidade de vida. O cuidado com o corpo externo e internamente surge como uma

forma de obtenção da saúde e manutenção dela. O esforço individual e a disciplina

são apontados como sendo o meio para alcançá-la:

Quadro 6. Esforço individual na busca da Saúde, Bem-estar e Qualidade de Vida

Eu cuido bastante da alimentação, eu procuro me alimentar bem. Como muito legume, muita

fruta, não como coisa gordurosa e tento diminuir a quantidade de açúcar no meu café (PP1-

EI).

Eu consigo frequentar a academia, eu consigo pedalar, ter uma alimentação saudável... (PP2-

EI).

Se você tem uma cabeça boa, não se deixa abater por qualquer coisa, acaba superando a

doença (PP3-GF).

Fonte: Dados de Pesquisa, 2013.

Nos discursos, percebe-se que „qualidade de vida‟ está totalmente associada

com as condições de saúde, alimentação, mobilidade corporal e bem-estar, ao

mesmo tempo em que a falta dessa integração pode levar ao adoecimento. O

54

esforço individual para obtenção desse tipo de qualidade de vida também se torna

notório, reforçando a teoria de responsabilização individual para se alcançar

qualidade de vida e saúde.

Figura 4. Discursos sobre Qualidade de Vida

Fonte: Dados de Pesquisa, 2013.

Por outro lado, quando as pessoas estão inseridas em equipes de trabalho

mais saudáveis, elas passam a desenvolver funções de forma mais competente e

com maior comprometimento, usufruindo assim, de melhor qualidade de vida. Mas

alcançar esse nível, tido como ideal, de desempenho, requer empenho das duas

partes: das organizações e da equipe de trabalho (MOSCOVICI, 2005).

O trabalho relacionado à Educação em Saúde sofre interferências diárias de

ações da vida humana e tem relação direta com sua qualidade de vida. Quando as

pessoas em questão sentem-se desmotivadas com seu nível de bem-estar e

qualidade de vida, sentem-se fragilizados em sua saúde, comprometendo assim, o

desenvolvimento de ações em saúde no contexto escolar. O trabalhador realiza as

práticas, mas não compreende significativamente as ações, elas passam meramente

como cumprimento do currículo escolar sem grandes motivações pessoais capazes

de gerar mudanças.

QUALIDADE DE VIDA

ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL

ATIVIDADE FÍSICA SAÚDE E BEM ESTAR

55

Quadro 7. Relação entre Qualidade de Vida e Prática Profissional

O ano passado eu fiquei doente, sem paciência, querendo que o ano passasse logo. Eu

peguei uma turma que eu não gostava de trabalhar e aí me senti mal, desmotivada, meio

depressiva de tanta insatisfação. Nada tava bom! Toda vez que eu faço algo que eu não gosto

eu fico ruim (PP6-EI).

Eu adoro o que faço. Adoro! Mas quando a gente é mal vista na escola, quando as pessoas

não entendem o que a gente faz e fica de cara feia, não apoia, a gente trabalha desmotivada,

sem vontade de vir pra escola. E o trabalho não é o mesmo (PP3-GF).

A gente até tira as medidas dos alunos, pega o IMC, faz os relatórios que o pessoal da saúde

pede mas a gente não tem nenhum retorno, eles não falam nada, não resolvem nada na

questão dos óculos das crianças... A gente faz por fazer, né? (PP5-GF).

Fonte: Dados de Pesquisa, 2013.

A maior motivação para o trabalho em saúde deve ser uma atividade prática

sustentada na reflexão e na teoria. A atividade prática deve se conformar à teoria e

esta à prática. Uma questão de práxis individual, na qual a atividade prática é

inseparável dos fins que a consciência traça, em um processo de construção que

sofre mudanças pelo próprio processo prático, que só termina quando o resultado

ideal já é um produto real (VASQUEZ, 1977).

Nessa concepção, teoria e prática são complementares e indissociáveis.

Deve-se, sobretudo, compreender a realidade, sob uma reflexão teórica para uma

prática social transformadora que leva em consideração os aspectos objetivos e

subjetivos. Falar de saúde, qualidade de vida, bem-estar e outros fenômenos do

viver sem uma concepção prévia, elaborada a partir de uma reflexão crítica,

fundamentada em uma teoria que fundamente a ação, apenas contribuirá para

formação de atividades pedagógicas desarticuladas da realidade social.

Condições para o desenvolvimento de ações em saúde na escola

A participação dos pais na escola teve um importante destaque nos discursos

dos docentes e relatam ainda que o desenvolvimento de qualquer ação em saúde

somente terá efetividade se os pais se envolverem nesse processo. A qualidade das

ações depende diretamente da forma com que as famílias compreendem saúde,

qualidade de vida e bem-estar. Segundo os docentes, a partir do momento que são

56

trabalhadas atitudes favoráveis ao desenvolvimento da saúde, a família tem que

incentivar as ações de forma direta ou indireta, cooperando na elaboração e

efetivação das práticas. Os conceitos modernos de educação e de promoção da

saúde adotam uma abordagem participativa, em uma comunidade escolar, e entre

os seis elementos apresentados destacamos três:

a. O „ambiente social da escola‟ que é a qualidade das relações dos docentes e

funcionários com alunos e estes entre si, influenciada pelas relações de qualidade

com os pais e com a comunidade;

b. A „ligação à comunidade‟ que consiste em conexões entre a escola e famílias e

com grupos ou pessoas-chave da comunidade que possam auxiliar a escola como

promotora de saúde, oferecendo aos alunos, docentes e funcionários o contexto e o

apoio necessários para as suas ações;

c. E, os „serviços de saúde‟ que são os serviços de saúde locais e regionais,

próximos à escola ou dentro delas com a responsabilidade dos cuidados de saúde e

da promoção da saúde (LEGER, et al., 2008).

Da mesma forma que os pais são responsabilizados, a área da Saúde surge

como coadjuvante no processo de saúde na escola. Eles precisam da presença dos

profissionais na escola, para dar suporte teórico e prático na rotina da escola. Os

docentes alegam falta de conhecimento para uma abordagem adequada e a

inexistência de suporte pedagógico como: material audiovisual, próteses, brinquedos

pedagógicos, espaço físico adequado para atividades físicas e laborais.

Quadro 8. Prática Profissional e Relações Humanas

Não é somente a escola. Você tem que ter uma relação com os pais. Quando os pais estão na

escola, a coisa fica diferente. Você vê a coisa acontecer (PP6-GF).

A área da saúde poderia trazer uma fono, um dentista, um médico aqui. Tem que unir a aula

teórica com a prática. Não adianta, nós, professores, darmos aula teórica. A gente deveria

fazer parcerias(PP5-GF).

Nós deveríamos ter menos vínculo com outras escolas e dedicar um pouco mais em nossa

saúde e na saúde dos alunos. Fazer mais projetos, traçar mais objetivos, viver com qualidade

de vida pessoal e no trabalho (PP2-GF).

57

A gente deveria ser melhor capacitado pra falar desses assuntos. A gente mal recebe

formação em nossa área. Aí chega aqui, depara com um tanto de problema, a gente se sente

incapaz de fazer alguma coisa. Mas tem que fazer algo! (PP4-GF).

Fonte: Dados de Pesquisa, 2013.

De acordo com os docentes, os resultados das ações em saúde na escola

são apenas temporários, sem muita abrangência, pois os alunos apresentam

dificuldades maiores, como: nível socioeconômico baixo, ausência dos pais em

casa, alimentação inadequada e alta rotatividade de professores durante os anos

letivos. Isso dificulta a interação dos docentes e desestimula a elaboração de

projetos em longo prazo, como estes que envolvem a saúde, pois abrangem

questões complexas de ordem social.

Sobretudo, o fato é, que ainda persiste a existência de uma escola

fragmentada, compartimentada, que trabalha de forma mecanicista. Uma escola que

resiste a mudanças, carregando o fardo do conservadorismo. Por isso acaba sendo

conflituosa por não conseguir dar respostas aos problemas (MOURA, et. al. 2007).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A implementação das ações em saúde são pouco satisfatórias no contexto

escolar, e até mesmo vista como sobrecarga de trabalho por parte de alguns

docentes pela própria disparidade de conceitos sobre o que seja responsabilidade

da escola, responsabilidade da área da saúde, das famílias ou de outros órgãos. A

falta de preparo da comunidade acadêmica expõe seus integrantes ao risco e

impossibilita o desenvolvimento de ações concretas que auxiliem na qualidade de

vida e bem-estar.

A falta de educação permanente em saúde fragiliza o trabalho docente e

desfavorece a integração do ensino e prática. A busca pela transformação da prática

somente será possível se houver educação permanente em saúde com reflexão

crítica do modo de viver e das condições de trabalho. Isso contribuirá para a

qualidade dos serviços corroborando práticas autênticas.

Pelos discursos coletados, a visão do conceito de saúde, por parte dos

docentes, já está sendo aprimorada para uma compreensão mais ampliada dos

aspectos do viver, de modo a contribuir para uma vida mais significativa, capaz de

58

considerar sua importância e a do outro, produzindo ações que contribuam para o

desenvolvimento da escola de acordo com a realidade local.

De acordo com os discursos sobre saúde, bem-estar, qualidade de vida e

doença dos docentes, a escola caminha para um pensamento reflexivo sobre suas

práticas, voltado para a qualidade de vida de toda comunidade acadêmica, a fim de

produzir mudanças reais no estilo de vida, práticas de ensino e políticas sociais.

Cônscios de sua fragilidade pessoal e profissional, mas receptivos a mudanças, eles

consideram sua importância no processo de saúde e demonstram total interesse em

desenvolver ações que estimulem aspectos da saúde individual e coletiva.

Um dos dados mais significativos do trabalho foi o de constatar que apesar

dos obstáculos referidos e dificuldades pessoais, o grupo sente-se muito confortável

quanto ao trabalho coletivo, e suas opiniões não são conflitantes, mas harmoniosas,

até mesmo na heterogeneidade de saberes. A corresponsabilização da sociedade

para alcançar saúde, bem-estar e qualidade de vida foi muito evidente, e não

descaracteriza o trabalho docente, apenas amplia a maneira de ver e viver saúde.

Por intermédio do modo com que foram qualificados os quatro fenômenos do

viver supracitados, entendemos que a saúde é um processo modelado pelas

condições físicas, emocionais e socioeconômicas, e que a doença é uma limitação

física ou psicológica que pode ser superada pelo psicossocial aliado ao espiritual.

No que se refere à qualidade de vida, o que mais importa é a expectativa de saúde

alcançada, juntamente com o êxito nas metas individuais e profissionais.

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62

3 PROMOÇÃO DA SAÚDE NO CONTEXTO ESCOLAR: DISCURSOS DE

DOCENTES DO ENSINO FUNDAMENTAL

Ioná Outo de Souza Wilberstaedt Márcia Gilmara Marian Vieira

Yolanda Flores e Silva RESUMO: O Processo de Promoção da Saúde no contexto escolar se efetiva com ações de Educação em Saúde, não só ancoradas no conhecimento científico, mas também baseadas no complexo contexto das relações sociais. Diante disso, surgiu a necessidade de compreender as ações de Educação em Saúde no contexto escolar para a Promoção da Saúde, tendo como objetivo refletir coletivamente sobre Promoção da Saúde no contexto escolar e discutir ações que possam ser efetivadas a médio e longo prazo mediante atividades interdisciplinares de Educação em Saúde para o desenvolvimento de práticas significativas na vida das pessoas da comunidade acadêmica. O percurso metodológico adotado foi qualitativo, com coleta exploratória, compreendendo revisão teórica, trabalho de campo, observação participante, formação de grupo focal e entrevistas individuais semiestruturadas com docentes de uma escola pública estadual do ensino fundamental de Santa Catarina. Dos dezesseis docentes convidados, que atendiam aos critérios da pesquisa, como tempo superior a cinco anos de Magistério (em serviço público ou privado), que possuíam maior vínculo com o Estado e que já haviam trabalhado com Educação em Saúde, somente obtivemos participação de seis pessoas no grupo focal. Para a entrevista individual, foram selecionados quatro destes, de acordo com a procura dos próprios docentes. Todas as entrevistas e conversas do grupo focal foram gravadas e, posteriormente transcritas. A análise, segundo o método interpretativo, constituiu-se de momentos de observação, organização das falas, criação de códigos e símbolos, além de expressões-chave e ideias centrais que melhor identificavam o pensamento das pessoas. Todas as conversas, na forma de falas, gestos, símbolos ou expressões foram analisadas à luz da experiência dos pesquisadores e dos referenciais pertinentes à temática. Para os docentes, a Promoção da Saúde é resultante, sobretudo, das necessidades biológicas, de acordo com o modelo biomédico. Já, a Educação em Saúde, emerge ainda de uma realidade influenciada por programas vinculados à saúde, e não como instrumento emancipatório, onde a comunidade escolar faz parte do processo em uma relação dialógica e conscientizadora. Para superar a falta de diálogo e emancipação, os docentes decidiram realizar, a médio e a longo prazo, atividades que estimulem as relações sociais, facilitando assim, a aproximação dos pais na escola e a incorporação de meios que estimulem o cuidado de si, como alimentação apropriada, atividades físicas coletivas, por meio de práticas pedagógicas propiciadoras de uma interação entre os membros da comunidade acadêmica, em um processo inter/transdisciplinar, na interação uns com os outros, mesmo diante das questões adversas que o próprio trabalho lhes impõe. Palavras-chave: Docentes. Educação em Saúde. Promoção da Saúde. Saúde.

63

INTRODUÇÃO

A maioria das pessoas, de uma forma ou outra, anseia por uma vida

satisfatória e significativa durante o seu tempo de existência, em todas as esferas e

fases de sua vida. Dessa forma, é preciso entender os processos pelos quais as

pessoas conseguem alcançar saúde e bem-estar, levando-se em consideração os

aspectos biológicos, psicossociais e espirituais. Um dos mais importantes desafios

diz respeito às condições de saúde das pessoas, como elas entendem esse

fenômeno e até que ponto se sentem responsabilizadas pela sua própria saúde e

pela dos outros.

O espaço onde as pessoas se relacionam traduz e demonstra suas

concepções de mundo, e é um importante meio de construção de modos de

enfrentamento aos problemas do cotidiano. Corresponde a um espaço de educação

mútua, de construções sociais do caráter e ideais. Partindo da compreensão de

Libâneo:

Educação corresponde, pois, a toda modalidade de influências e inter-relações que convergem para a formação de traços de personalidade social e do caráter, implicando uma concepção de mundo, ideais, valores, modos de agir, que se traduzem em convicções ideológicas, morais, políticas, princípios de ação frente a situações reais de desafios da vida prática (LIBÂNEO,1992, p.22).

Para Brandão (2007) ninguém está fora da educação, pois a mesma está

envolvida em todos os espaços da vida, como na casa, na rua, igreja, escola, de

várias maneiras, em uma interação de aprendizagem, ensino ou em um processo de

aprender - e - ensinar.

Sendo assim, o cotidiano escolar é apenas um dos espaços para o estudo

das condições de vida das pessoas, pois em seu meio agrega condições de vida em

suas mais variadas etapas e situações sociais, com profissionais de diferentes

áreas, que por meio de um trabalho transdisciplinar podem convergir o

conhecimento em ações práticas que atendam as pessoas em suas expectativas de

vida, amenizando a situação de vulnerabilidade social, promovendo saúde no

contexto escolar.

A escola pode ser um agente transformador da realidade, uma vez que em

seu meio estejam inseridos personagens importantes do cenário social, além de

64

possibilitar representações futuras de profissionais em vários segmentos da

sociedade. Desse meio, podem emergir movimentos de mudança e mobilização

social no avanço da promoção da qualidade de vida. Práticas educativas que

possibilitem as transformações individuais e sociais (MOURA, et al., 2007).

Para se promover saúde no contexto escolar é preciso avaliar as condições

em que está inserida a comunidade acadêmica, entendida aqui como docentes,

alunos, pais, área administrativa, equipe de higienização e limpeza, etc., pois todos

estão envolvidos no processo educativo e, de forma direta ou indireta, contribuem

para a educação. Reconhecendo a importância desse processo de conhecimento

dos membros da comunidade acadêmica e percebendo sua amplitude, partimos a

conhecer, primeiramente, a concepção dos docentes, para posteriormente, mediante

o próprio desenvolvimento do trabalho de Educação em Saúde tornar conhecidas as

concepções dos demais membros dessa comunidade.

Para Rocha e Fernandes (2008), existe urgência em desenvolver ações de

promoção de saúde para esse grupo, em específico, sobre a qualidade de vida de

docentes do ensino fundamental, que se conformam com o quadro desanimador em

que se encontram, levando-se em consideração as condições de trabalho e de vida

na escola.

Por intermédio do compromisso social que a escola exerce com a

comunidade acadêmica, pode possibilitar um espaço de promoção à saúde voltado

à necessidade da própria comunidade e centrado no desenvolvimento dinâmico de

ações significativas que levam a tão desejada qualidade de vida.

O comprometimento da área da Saúde, aliado a ações integrativas com a

Educação, pode promover um ambiente interdisciplinar capaz de propiciar meios de

se elaborar propostas de trabalho qualificadas para o desempenho da função e

condições necessárias para viver em um estado de saúde física, emocional e social.

Atualmente, existe o Programa Saúde na Escola (PSE), estabelecido por

Decreto Presidencial nº 6.286, de 5 de dezembro de 2007, com intuito de ampliar as

ações específicas de saúde aos alunos da rede pública, tanto de ensino fundamental

e médio, como da educação profissional, tecnológica e educação de jovens e

adultos, um trabalho integrado entre o Ministério da Saúde e da Educação (BRASIL,

2008).

O fato a ser pensado agora é em relação à integração desses setores. De que

forma é dialogada a experiência da escola e de que forma são traçados os planos de

65

ações, pois a escola tem uma dinâmica cultural extremamente vigorosa, espaço de

referência para crianças e adolescentes que desenvolvem experiências significativas

em seu âmbito, um espaço de transição entre o mundo da casa e o mundo mais

amplo. A cultura escolar é instituinte de práticas socioculturais mais amplas,

ultrapassando as fronteiras da escola (BRASIL, 2009).

Diante do exposto, o diálogo dos setores da educação e saúde deve ser

interativo, constante, permanente e integrativo. Entendemos que existam

dificuldades nesse processo de aproximação, por questões pessoais e burocráticas,

mas são necessárias atitudes que promovam essa iniciativa, pois a educação em

saúde não é apenas uma alternativa, e sim, uma prioridade para fins de promoção

da saúde no desenvolvimento de hábitos e atitudes saudáveis e ações no plano

coletivo que priorizem as questões sociais.

Nesse sentido, o objetivo deste estudo foi o de refletir coletivamente sobre

Promoção da Saúde no contexto escolar e discutir ações que possam ser efetivadas

a médio e longo prazo, mediane de atividades interdisciplinares de Educação em

Saúde para o desenvolvimento de práticas significativas na vida das pessoas da

comunidade acadêmica.

PERCURSO METODOLÓGICO

Para efetivarmos o estudo proposto, adotamos a abordagem qualitativa com

caráter exploratório e descritivo, para obtenção dos dados. O método qualitativo foi

escolhido porque permite um diálogo reflexivo e autocrítico, problematizando e

revelando realidades ocultas, mostrando que ciência e realidade são socialmente

construídas (GRAY, 2012).

A pesquisa qualitativa fornece uma narrativa da visão da realidade dos

indivíduos, sendo altamente descritiva. Ela ainda dá ênfase aos detalhes

situacionais, permitindo uma boa descrição dos processos. Ainda é flexível, criativa

e informal, gerando esclarecimentos sobre uma determinada situação, aprimorando

as ideias, podendo ser utilizada quando há pouco conhecimento sobre o tema

(GEPHART, 2012; AAKER, et. al, 2004).

66

Como ferramentas de coleta de dados, no sentido de melhor compreender a

dimensão da promoção da saúde no contexto escolar, a partir dos discursos dos

docentes, utilizamos as técnicas do grupo focal e entrevistas semiestruturadas.

Entendemos que o grupo focal consiste na interação entre os participantes e

o pesquisador, uma forma de se obter entendimento de diferentes atitudes e

percepções acerca de práticas, serviços e fatos, para coletar dados, a partir da

discussão direcionada em tópicos diretivos e específicos (IERVOLINO e

PELICIONE, 2001).

O tamanho adequado para a composição de um grupo focal é aquele que

possibilita a discussão participativa, de forma efetiva e adequada aos temas

(PIZZOL, 2004). O grupo de docentes que participou do Grupo Focal desta

investigação compreendeu seis participantes. A escolha do uso da técnica do grupo

focal foi determinada em função do grupo social a ser trabalhado e do caráter

homogêneo dos participantes (IERVOLINO e PELICIONE, 2001; GATTI, 2005). As

pessoas convidadas a participar da pesquisa já trabalhavam há um ano com uma

das pesquisadoras, e por isso, pela pesquisa participante, foram acrescidas neste

trabalho todas as observações do trajeto de trabalho com Educação em Saúde do

grupo e outras atividades afins que ocorreram no trajeto do projeto.

Dividimos as oficinas em quatro sessões, com duração de três horas cada,

em dois dias consecutivos e em outros dois dias intercalados, a pedido dos

participantes, totalizando doze horas de duração. Cada sessão iniciou com dinâmica

de grupo, precedida de conversas, momento de confraternização, momento de

construção coletiva, intercalados com ginástica laboral ou técnica de relaxamento.

A abordagem do tema seguiu a metodologia do Círculo de Freire (1983a),

constituída de três momentos, segundo Wittman, et. al (2006): momento

investigativo, que consiste na busca da origem do problema, definindo-o e

problematizando; momento de tematização, em que há uma profunda relação entre

o conhecimento dos participantes e conhecimento científico para reflexão e o

momento de proposição em que se elabora, programa, executa uma proposta para

solucionar o problema.

Todas as oficinas aconteceram nas dependências da escola, em uma sala à

parte, com espaço para realizar dinâmicas e atividades pedagógicas e em uma

praça em frente a ela.

67

Para complementar os dados coletados no Grupo Focal, convidamos quatro

(04) dos seis (06) docentes a participarem desta segunda etapa da pesquisa. Essa

técnica nos permitiu confirmar os dados coletados, de forma coletiva, e no

esclarecimento das questões pertinentes ao modo de vida das pessoas. O critério

adotado para o número de participantes na entrevista individual consistiu na

possibilidade de abrangência do máximo de participantes do grupo focal para

comparação dos dados.

As entrevistas individuais foram realizadas com roteiro semiestruturado, o que

segundo Gaskell (2004) é uma ação de interação, entre duas pessoas, o

entrevistador e o entrevistado. Uma combinação de perguntas abertas e fechadas

na qual o pesquisado discorre sobre o tema proposto, em um espaço de conversa

formal, seguindo questões previamente definidas, sempre atento para dirigir a

discussão para o assunto que interessa, fazendo perguntas adicionais, direcionando

para o tema, a fim de alcançar os objetivos (BONI e QUARESMA, 2005).

Para a entrevista individual, foram selecionados os quatro primeiros

participantes que aceitaram o convite de entrevista individual. Os participantes

solicitaram o dia e a hora em que seriam entrevistados, de acordo com sua rotina de

trabalho, nos intervalos das aulas ou durante as horas atividades. Dois dos docentes

selecionados eram efetivos, e dois admitidos em caráter temporário. As entrevistas

aconteceram em uma sala reservada pela escola para a recepção de pais, pois o

lugar proporcionava melhor acolhimento e maior privacidade.

O local da coleta de dados para realização do grupo focal e entrevistas foi

uma escola pública de ensino fundamental, em Florianópolis-SC. Os informantes

selecionados são docentes, com tempo de serviço superior a cinco anos,

considerando setor público ou privado, e que já trabalharam com alguma atividade

de educação em saúde. Seis docentes participaram da pesquisa por meio da técnica

de grupo focal e quatro destes participaram da pesquisa individual.

A análise dos dados foi realizada após transcrição das entrevistas coletivas e

individuais que foram gravadas em áudio e vídeo por uma assessora de

comunicação da própria escola, e subdivididas em novas categorias e temas

centrais. A organização das falas e sua interpretação aconteceram paralelamente

com a coleta, pois se observavam os gestos, os olhares, as expressões, entre outras

formas não verbais, com abordagem interpretativa, segundo Geertz (1986) um

68

clássico da antropologia que trata das análises discursivas não apenas do que falam

os informantes, mas também, como as pessoas se colocam quando discursam.

Para não identificar os participantes, a apresentação destes e suas falas foi

feita mediante símbolos: PP para Professor Participante, seguidas da numeração

algorítima (PP1, PP2, PP3, PP4, PP5 e PP6); GF para as falas oriundas do Grupo

Focal e EI, das que foram conseguidas por meio de Entrevista Individual.

EDUCAÇÃO E EDUCAÇÃO EM SAÚDE

A - Educação e o trabalho docente

Falar de Educação, é falar de autores clássicos, de debates que não são

novos; porém, atuais, embora com datas que transcendem os séculos. Delors

(1996), ao falar do relatório encaminhado à UNESCO, na década de 1990, sobre a

missão da educação no século XXI, mostra a necessidade de pensarmos nas quatro

aprendizagens fundamentais para docentes e alunos: aprender a conhecer,

aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser. A ideia a repassar era que

autonomia e discernimento somente são possíveis se pensamos nestas quatro

formas de aprendizado, que no entender do autor, abrange todos os processos

formativos necessários para que a „educação‟ possa sair das escolas e ser parte de

toda a vida humana – família e grupos sociais, de acordo com a Lei 9.394/96, em

seu artigo primeiro (BRASIL, 1996).

Os variados conceitos apresentados aqui sobre a educação e o conhecimento

não fazem parte de um conflito epistemológico, mas de uma demonstração de como

as mais diversas linhas epistemológicas podem convergir pensamentos, na

complementação ou ampliação dos conceitos.

No sentido amplo e universal, a educação deveria assegurar às pessoas o

desenvolvimento de suas habilidades e potenciais físicos e espirituais em um

processo de crescimento pessoal, com aptidões e metas sociais desejáveis

(NUNES, 2004).

A escola pode ser o canal que se interpõe entre a família e a sociedade, um

meio de possibilitar condições cognitivas abertas na construção de vias de

melhoramento das condições de vida. O conhecimento, segundo Morin (2007),

quando situa toda informação em seu contexto, no conjunto global no qual se insere

69

torna-se pertinente, devendo mobilizar a atitude geral do espírito humano para

propor e resolver problemas.

As práticas educativas geradas nas instituições de ensino, influenciadas pelos

diversos poderes atuais, geram um conhecimento desconexo, sem vinculação ao

cotidiano e com inclinações às sujeições e domínio de classes, contrariando a

liberdade de pensamento e ações emancipatórias que se deseja alcançar. A

verdadeira educação deveria instrumentalizar as pessoas e fazê-las conhecedoras

de si, empoderando-as para os desafios da sociedade.

De acordo com Bulgraen (2010, p. 33-35), a educação está na formação de

sujeitos autônomos e produtivos, onde o professor atua como mediador do

conhecimento, em uma ação pedagógica da prática social que se estabelece pelos

seguintes passos:

1- Identificação: os principais problemas são identificados pela prática social;

2- Problematização: são levantadas questões a serem resolvidas no âmbito

da prática social para saber que conhecimento deve ser dominado;

3- Instrumentalização: as camadas populares se apropriam de ferramentas

culturais que foram produzidas socialmente e preservadas historicamente,

e os alunos se apropriam dela, pela intervenção direta ou indireta do

professor;

4- Catarse: incorporação dos instrumentos culturais que passam a ser

elementos ativos de transformação social. O professor provoca outros

significados e sentidos para o saber do aluno, articulando conhecimentos.

5- Prática social: os alunos passam a ter a competência de expressão do

entendimento da prática tanto quanto o professor.

Esse é o tipo de educação que se espera alcançar. Uma educação que

estimule os participantes a refletirem, a buscar resolver seus anseios pela

participação direta e comprometida com a prática significativa de transformação

social. Parte do princípio que as pessoas são agentes transformadores da realidade

vivida e que podem ter autonomia sobre si. No contexto escolar, as práticas

pedagógicas seguem uma sistematização que empodera as pessoas, de forma a se

tornarem livres para expressar, participar e colaborar com o processo de ensino-

aprendizagem.

70

Essa forma didática e sistemática apresentada por Bulgraen (2010) necessita

ser amparada por toda instituição escolar, de forma a contribuir com a prática

docente e valorização das pessoas envolvidas, pois a prática pedagógica

emancipatória se estabelece em um contexto no qual as pessoas se percebem e

interagem para buscar soluções.

Os professores são agentes de gestão do seu trabalho docente porque

utilizam-se de seus próprios recursos e potencialidades para executar seu trabalho,

sendo centro singular dele, preenchendo as deficiências das normas, das ordens e

conselhos (MOURA, 2009). O educador se torna centro singular quando se

reconhece que não é o fim em si mesmo, e sim, um moderador das práticas

pedagógicas que articulam o conhecimento adquirido ao conhecimento

experienciado.

A cada proposta de estudo, a cada momento da convivência escolar, os

docentes devem lembrar que estão participando ativamente na formação de

pessoas, confirmando valores e experienciando atitudes emancipatórias promotoras

de um conhecimento libertador. Desde a divulgação dos PCNs (Parâmetros

Curriculares Nacionais), no final da década de 90, a política educacional tem

buscado o resgate da dívida histórica com a sociedade, em função da exclusão

escolar e má-qualidade do ensino, com políticas que incluem a participação da

sociedade na elaboração e desenvolvimento de projetos pedagógicos nas escolas,

para melhoria da qualidade da educação (SANTIAGO, 2012).

O Projeto Político Pedagógico (PPP) é um instrumento da comunidade

acadêmica que pode possibilitar ações de práticas educativas em saúde. A análise

escolar e a mera idealização de uma escola e de um aluno a ser formado, segundo

Asbahr (2006) terão pouca finalidade. O projeto só tem razão de ser se possibilitar a

ação de mudança, levando-se em consideração o estudo, a realidade e os sonhos.

Esse plano de ação deve ser coordenado, envolvendo os diversos segmentos da

escola, convergindo os interesses pessoais para os interesses coletivos.

O esforço dos docentes em elaborar coletivamente propostas de Educação e

Promoção em Saúde deve envolver comprometimento, com medidas que se

legitimem e se sustentem. A inserção dessas medidas no PPP só confere autonomia

à escola, enfatizando a responsabilidade de todos e empoderando as pessoas

envolvidas.

71

A emancipação dos alunos, enquanto sujeitos sociais, pode ser conquistada

se os professores, sujeitos construtores, atores/sujeitos sociais do processo

educativo, mediadores da cultura e dos saberes, tradutores da ideia oficial para o

contexto da prática, recriarem o currículo escolar mediante o confronto com as

questões comuns à sala de aula. Isso exige do professor uma capacidade de

reflexão e dedicação profissional além do conhecimento e sensibilidade. O professor

é o intelectual crítico que desvela o oculto (CRUZ, 2007).

Seguindo o pensamento acima, de que o professor necessita de capacidade

reflexiva e dedicação profissional para elaboração de um currículo condizente com o

contexto escolar em que está inserido, passaremos a refletir sobre as condições de

trabalho que os docentes dispõem para se tornar intelectuais críticos e agentes

sociais.

A escola burocrática mudou; contudo, não estamos diante de uma escola

democrática, pautada no trabalho coletivo, por uma educação de qualidade com a

participação dos sujeitos. A falta de adequações necessárias para o trabalho

pedagógico reestruturado implica a precarização do trabalho docente. O aumento

dos contratos temporários que podem corresponder aos números de trabalhadores

efetivos em alguns estados, salários baixos, inadequação ou ausência de planos de

cargos e salários, perda de garantias trabalhistas e condições de trabalho tornam

mais precários o emprego no magistério público (OLIVEIRA, 2004).

Partindo desse modelo de trabalho, a própria inserção do professor no

magistério público já significa um agravante que determina sua atuação no processo

de trabalho o que torna limitada sua dedicação profissional. Por conseguinte, a

elaboração de um currículo que contemple as necessidades da escola, com

características próprias da comunidade escolar, construído pelo ator principal e

agente social que conhece o âmbito escolar, torna-se mais uma exigência a ser

cumprida, e não um facilitador das práticas pedagógicas e instrumento de mudanças

sociais.

Para Assunção e Oliveira (2009), a organização e gestão escolar sofreram

grande impacto pelas mudanças das políticas educacionais das últimas décadas.

Com o aumento da demanda escolar, sem condições de atendimento, intensificou o

trabalho docente em termos de qualidade da atividade e do bem ou serviço

produzido. Pela falta de tempo, os professores têm que eleger o que consideram

72

central e o que pode ficar em segundo plano diante da sobrecarga e a

hipersolicitação.

Diante disso, a prática de transmissão de conteúdos, contemplando apenas a

grade curricular, fica ainda mais reforçada, e os outros aspectos sociais, emergentes

do convívio social, passam por alto, sem a devida valorização dos sujeitos

envolvidos, inclusive dos próprios docentes.

E ainda, para atingir os objetivos da produção escolar, os docentes podem

gerar um sobre-esforço de suas funções psicofisiológicas, provocando seu

afastamento do trabalho por alterações de sua saúde, como transtornos mentais,

doenças do aparelho respiratório, doenças do sistema osteomuscular, tecido

conjuntivo, doenças endócrinas, etc. (GASPARINI, BARRETO e ASSUNÇÃO, 2005).

Vale ressaltar que o estresse, as doenças cardiovasculares, neurose, insônia

e tensão nervosa, além de faringites e labirintites são elencados quando surgem

problemas de saúde e redução da frequência no trabalho pelos docentes. O

estresse docente está associado aos fatores psicológicos, como ansiedade,

depressão, irritabilidade, hostilidade e exaustão emocional, e isso causa

repercussão na saúde física e mental e no desempenho profissional, porque ensinar

é uma atividade estressante (REIS et al, 2006).

Conforme Oliveira e Alves (2005), a percepção dos profissionais de educação

no âmbito escolar é de agentes de alto risco, com situações de mal-estar docente,

por fatores relacionados a características pessoais (contextualização de suas ações

sob as variáveis relativas à tarefa); condições psicológicas e sociais em que exerce

a sua docência, inadequada resposta ao estresse emocional crônico e a

incapacidade de utilização de recursos adaptativos (autoestima, confiança e

competência social).

Nessa fragilidade do trabalho docente é que os professores se encontram

tentando tornar agentes sociais e mediadores do saber, sem as condições

necessárias ao desenvolvimento pedagógico, ao estímulo pessoal, sem aporte

emocional para lidar com sujeitos oriundos de realidades sociais tão discrepantes e

miseráveis, sem autonomia para um trabalho transdisciplinar e intersetorial.

Para Oliveira (2005), o movimento de reforma educacional vivido nas últimas

décadas, traz a flexibilidade, a descentralização, o respeito à diferença e o

reconhecimento da alteridade, e tem feito da escola o lugar de articulação entre o

global e o local, exigindo do trabalhador docente responsabilidade pela mudança

73

nos contextos de reforma, pelo desempenho dos alunos, da escola e do sistema;

responsabilidade pelo êxito ou insucesso dos programas de reforma respondendo às

exigências que estão além de sua formação. Os professores passam a assumir

papéis de agente público, assistente social, enfermeiro, psicólogos, etc., causando

sentimento de desprofissionalização, de perda de identidade profissional.

O trabalho docente passa a ser o mais propício para o desenvolvimento da

Síndrome de Bournout, uma síndrome que se inicia a partir de expectativas elevadas

e não realizadas. As profissões sociais são dotadas de idealismo, na tentativa de

ajudar aos outros e por ansiarem alto grau de liberdade pedagógica e

reconhecimento pelo seu empenho (REIS et al, 2006).

Ainda, Oliveira (2005) menciona que os professores estão envolvidos em uma

ideologia que cultiva e valoriza a diferença, a transdisciplinaridade, o trabalho

coletivo, o desenvolvimento de competências e habilidades, mas que vivem em um

cenário contraditório e ambivalente, pois trabalham com contratos individuais de

trabalho em disciplinas específicas e remuneradas por hora-aula.

Cruz e Lemos (2005) mostram em seus estudos que há uma perda da

qualidade de saúde dos professores, e isso se deve, entre outros fatores, a não

valorização e o não reconhecimento do trabalho docente, caracterizados no

cotidiano escolar por: desrespeito profissional, ampliação da jornada de trabalho,

aumento dos alunos em sala de aula e luta para manutenção no emprego.

Além disso, o quadro docente, em geral, é representado pela classe

trabalhadora feminina, o que sugere que esta profissional, além de seu exercício

profissional, atende as necessidades da família, cumprindo seu papel de mãe e

mulher. Isso amplia o contexto de trabalho e compromete a qualidade de vida

dessas mulheres profissionais que atuam sob condições de trabalho desgastantes

que dificultam o seu desempenho pessoal e profissional.

Vistas as condições do trabalho docente na atualidade, espera-se superar

parte dos problemas, partindo de um trabalho colaborativo em busca da qualidade

de vida no contexto do trabalho e da promoção da saúde. Esse trabalho

colaborativo, parte do pressuposto de Damiani (2008), de que é o que melhor se

adapta a esta classe trabalhadora, visto que neste formato de trabalho, os membros

de um grupo se apoiam, visando atingir objetivos comuns eleitos pelo coletivo, em

uma liderança compartilhada, de corresponsabilização e de confiança mútua.

74

Para a autora, a mera cooperação com a ajuda mútua na execução de tarefas

eleitas individualmente, com relações desiguais e hierárquicas, não resolve o

problema. O ideal é que haja uma cultura de ações realizadas com pessoas que se

reconheçam, reconheçam uns aos outros e busquem superação de seus limites

coletivos. Esse compartilhamento de experiências no corpo docente favorece a

tomada de decisões e resolução de problemas pelo desenvolvimento da análise

crítica.

Todo esse esforço de trabalho colaborativo deve ser pela valorização das

pessoas envolvidas. A formação das pessoas deve abarcar uma atmosfera de

superação, de reconhecimento, de valorização e, acima de tudo, uma busca de um

ideal de vida alcançável, elaborada pelos próprios sujeitos, voltada para o seu bem-

estar e aprimoramento de suas faculdades cognitivas e intelectuais, confirmando a

qualidade de vida.

B - Educação em Saúde: instrumento emancipatório da Promoção da Saúde

De acordo com Buss (2000), a promoção de saúde é uma estratégia

promissora para enfrentar os problemas de saúde, partindo da concepção de que a

saúde é um processo que tem seus determinantes, em uma proposta de articulação

de saberes técnicos e populares, além de mobilização de recursos comunitários e

institucionais (públicos ou privados), para enfrentamento e resolução dos processos

que envolvem saúde-doença.

Segundo ele, as estratégias de promoção da saúde, de acordo com a Carta

de Ottawa, são: a defesa da saúde, a capacitação e a mediação. A defesa da saúde

consiste na luta para que algumas condições sejam mais favoráveis à saúde, como:

os fatores políticos, econômicos, sociais, culturais, ambientais, comportamentais e

biológicos. A capacitação está em oportunizar o conhecimento e controle dos fatores

determinantes de sua saúde, acesso à informação, habilidades para viver melhor

com oportunidades para fazer escolhas saudáveis. A mediação envolve a

contribuição dos profissionais, dos grupos sociais e pessoal da saúde nos assuntos

relativos à saúde, principalmente nos relativos às políticas públicas saudáveis,

ambientes favoráveis à saúde, ação comunitária, habilidades pessoais e

reorientação do sistema de saúde.

75

Todo esse esforço e lutas não podem ser individualizados apenas. Existe uma

íntima relação com a coletividade, com os aspectos sociais, com ações

comunitárias. A valorização da pessoa e o entorno dela desvia o olhar das

possibilidades individuais e o direciona para o todo, para o conjunto, para as

macropotencialidades humanas geradoras de saúde, bem-estar e qualidade de vida.

Sem dúvidas, a contribuição de Geraldo Horácio de Paula Souza com a

Educação Sanitária nos Centros de Saúde, em 1925, contribuiu para privilegiar o

caráter social de promoção e proteção à saúde (PELICIONE e PELICIONE, 2007).

Porém, o enfoque sanitarista para o conceito de Educação em Saúde ainda persiste

nos dias de hoje. Apenas as questões relacionadas ao biológico são valorizadas nos

programas de educação em saúde. Há uma supervalorização das condutas

biologicistas, uma espécie de negação das questões sociais relacionadas ao

processo saúde-doença ou mesmo uma depreciação dos aspectos socioculturais,

tornando-os de pouca importância.

O que existe é uma aplicação técnica da ciência com exclusão dos aspectos

humanos nas soluções científicas, tornando os problemas sociais e políticos em

problemas técnicos, e não uma ciência com aplicação edificante, em que a pessoa

que manipula está comprometida existencialmente, eticamente e socialmente com o

impacto da aplicação (SANTOS, 2009).

Para se trabalhar Educação em Saúde, no sentido da promoção de saúde, é

preciso ter a perspectiva de relacionar saúde e condições de vida e como estão

vinculados os elementos físicos, psicológicos e sociais para uma vida saudável,

destacando-se a importância da participação coletiva e habilidades individuais

(CZRESNIA e FREITAS, 2012). Uma educação que possibilita a tomada de

decisões e escolhas por desenvolver a tomada de consciência e atitude crítica, uma

educação que promove a pessoa à sociedade em lugar de ajustá-la (FREIRE, 2008).

O processo educativo em saúde valoriza os aspectos das relações e das

pessoas, sabendo que “ninguém educa ninguém, como tampouco ninguém se educa

a si mesmo: os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo”

(FREIRE, 1983b, p. 79). Quando tentamos ajustar o homem no mundo, também

inibimos o poder de criar e de atuar. Passamos a controlar o pensar e a ação,

obstaculizamos a atuação dos homens como sujeitos de sua ação trazendo

frustração.

76

Para Freire (1983b), a educação para ser autêntica, faz-se com a

investigação do pensar. No pensar do outro e com o outro, a fim de educarmos

juntos, isso instiga-nos a continuar investigando. Essa é a proposta da Educação em

Saúde, pois precisamos entendê-la como um processo contínuo, considerando que

o viver humano é bastante complexo e dinâmico. Promoção da Saúde nesse

contexto requer „dialogicidade‟, entender a necessidade do outro, valorizar sua

participação no processo como agente de transformação e não meramente

expectador.

Gazzinelli, et. al (2005), aponta em seu trabalho que a Educação em Saúde

vem passando por um processo de caráter instrumental, com princípios do saber

científico para uma construção compartilhada do conhecimento. Educação em

Saúde não se restringe a iniciativas de informação, mas considera o homem em sua

totalidade, incluindo seus processos intelectuais, afetivos e culturais.

Segundo ao Ministério da Saúde (1980), a Educação em Saúde é uma

atividade que objetiva condição que produza mudanças de comportamento em

relação à saúde mediante um planejamento. Porém, a proposta de mudança emerge

dos ideais governamentais, do modelo hegemônico de saúde, das necessidades

criadas, dos anseios adquiridos e não da real necessidade das pessoas. Educação e

Saúde estão em uma relação dialética que contribui para uma perspectiva integral

do ser humano, dando importância aos envolvidos no processo saúde-doença, em

uma realização de um novo paradigma de atenção à saúde, envolvendo fatores que

vão além das diretrizes e leis, como as crenças e atitudes de cada pessoa envolvida

(RODRIGUES e SANTOS, 2010).

Uma forma de incluir a Educação em Saúde nas escolas passa pelos temas

transversais que vêm ao encontro da ideia colocada no início do tópico sobre

educação do Relatório da UNESCO de 1986: aprender elementos além das

exigências curriculares, pensar em questões inerentes ao viver humano de forma

contextualizada e integrada ao currículo, como descrito a seguir:

Os temas transversais se propõem a responder e a discutir questões atuais que têm impacto na sociedade, portanto podem ser modificadas conforme as alterações ocorridas na realidade social. Não devem se constituir em disciplinas isoladas, mas devem ser incorporadas no cotidiano escolar, perpassando todas as disciplinas e concretizando-se em práticas que reflitam a visão de mundo e o projeto pedagógico de cada unidade escolar. Não há programa a ser

77

cumprido, mas questões a serem discutidas (SILVEIRA e BICUDO PEREIRA, 2004, p. 120).

Trabalhar com os temas transversais na perspectiva das quatro formas de

aprender da UNESCO é uma forma de educação precedida de reflexão sobre o

homem e o seu meio (FREIRE, 2008). Uma educação diferente da realidade

praticada no cotidiano escolar, que cumpre suas metas, apenas de maneira

individualizada, mas com práticas pedagógicas dinâmicas e interativas, que

respondam às necessidades das pessoas envolvidas e por elas construídas.

Para Pelicione e Pelicione (2007), Educação em Saúde é o preparo para o

exercício da cidadania plena, criando condições para a conquista e implementação

dos direitos individuais e coletivos, o cumprimento de deveres voltados ao bem

comum e a melhoria da qualidade de vida de todos, com capacidade de transformar

a sociedade, como sujeitos da história. O educador deve proporcionar experiências

que visem às potencialidades de cada pessoa, a fim de despertá-la para uma

consciência crítica da realidade.

Nesta perspectiva, a Educação em Saúde facilita o processo de Promoção da

Saúde, buscando modificar as condições de vida, de modo digno e adequado; uma

forma de transformação dos processos de tomadas de decisão, tanto no plano

individual como no coletivo, favoráveis à qualidade de vida e à saúde. Proporcionar

meios que levam as pessoas a pensar sobre si e sobre sua relação com seu

entorno, em uma espécie de consciência de si e do mundo. Vale ressaltar que

“conscientizar não significa, de nenhum modo, ideologizar ou propor palavras de

ordem”, mas possibilitar “uma educação para a decisão, para a responsabilidade

social e política” (FREIRE, 1987, p.12).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O conceito de Saúde tem passado por um delineamento constante com a

participação da sociedade de forma efetiva, por intermédio do Movimento da

Reforma Sanitária e do próprio atual Sistema de Saúde. A compreensão de vários

determinantes ampliou a visão do processo de saúde, pautada nas diretrizes de

integralidade, equidade e universalidade, diretrizes estas contrárias ao sistema

curativista em poder exclusivo dos profissionais da área da saúde. A detenção do

78

poder passa a ser questionada, porém ainda executada, mas já percebida como

uma forma contraditória ao processo do trabalho equânime e interdisciplinar, além

de desfavorável ao plano dialógico e reflexivo dos processos decisórios que

envolvem saúde e qualidade de vida.

Para contrapor a ideologia curativista, temos a Educação em Saúde. A

Educação em Saúde é, por um lado, pretensiosa, quando emerge da necessidade

das formalidades dos programas em saúde; e, por outro, uma ferramenta para se

promover saúde no ambiente escolar e no entorno dele. Concebida como

ferramenta, a Educação em Saúde é um instrumento emancipatório que leva as

pessoas a refletir as práticas, os conceitos e as experiências que abordem o tema

Saúde, levando-se em consideração as pessoas, o seu modo de ver e ser:

Abarcar o significado ampliado do fenômeno saúde implica, em suma, ampliar as possibilidades interativas além da articulação teoria e prática, por meio de debates e discussões que fortaleçam e divulguem o conceito de saúde segundo uma perspectiva ampliada. Para tanto, torna-se fundamental, ainda, compreender o ser humano como um ser singular e multidimensional, que está inserido em um

contexto real e concreto (DALMOLIN, et al., 2010, p. 393).

De acordo com a pesquisa, os docentes entendem Saúde como um processo

interativo entre qualidade de vida e bem-estar, somada a forma de enfrentamento da

doença, apoiada na espiritualidade, como mostra o primeiro artigo resultante dessa

pesquisa. Em se tratando da promoção da saúde, os docentes relatam que ela está

voltada mais a questões biológicas e psicossociais, além de capacitação individual:

Figura 1. Promoção da Saúde

Fonte: Dados de Pesquisa, 2013.

No quadro a seguir, será possível ver outros discursos sobre „promoção da

saúde‟ considerando o respeito mútuo, a realização de atividades físicas na escola,

PROMOÇÃO DA SAÚDE

ATIVIDADES FÍSICAS, MOVIMENTAR O

CORPO; BOA QUALIDADE DE VIDA

TROCAR IDEIAS; EDUCAÇÃO EM SAÚDE NA ESCOLA; CURSOS

DE FORMAÇÃO

AMBIENTE SAUDÁVEL; BOAS RELAÇÕES

79

com atividades lúdicas e a promoção de uma alimentação saudável, podem

proporcionar, na prática, satisfação pessoal, mudanças comportamentais e ainda

possibilitar saúde física.

Quadro 1. Discursos de Promoção da Saúde

Eu acho que deveria cortar lanche tipo salgadinho e refrigerante na escola. Tem que proibir

mesmo, deixar que as crianças comam o lanche oferecido na escola, porque tem nutricionista

e tudo”(PP6-GF).

Fazer atividades mais voltadas ao conhecimento do corpo, a movimentação do corpo, quinze,

vinte minutos diários... Respirar, fazer exercícios, atividades pra gente rir “(PP1-EI).

Seria promover bem-estar e prevenção. Não vou comer comida gordurosa, pelo menos minha

alimentação vou cuidar mais um pouco, prevenindo possíveis doenças (PP2-GF).

Acho que seria um modo mais amplo de divulgação de uma alimentação boa, realmente

mostrar os benefícios, não só fazer propaganda, senão parece aquelas coisas de mercado

(PP6-EI).

Ter um ambiente gostoso, feliz pra se trabalhar. A questão de aluno respeitar o professor, de

professor respeitar o aluno, a gente se sentiria feliz, não estressaria tanto. Deveríamos

conversar mais com os alunos, trocar ideias, trazer mais informações pra eles mesmos, ver o

que tá errado, tentar mudar...(PP3-EI)

A gente deveria ter mais contato com os profissionais da saúde, ensinar pra gente como

trabalhar na prática, dar demonstração do que realmente funciona, o que não funciona, deixar

as coisas mais interessantes, pra gente se sentir mais segura (PP5-GF).

Fonte: Dados de Pesquisa, 2013.

Podemos notar que, apesar das práticas sugeridas no coletivo, a

responsabilização ainda é individualizada, com práticas comportamentais e

fragmentadas. Ainda conservando a ideia de que a área da Saúde domina o

conhecimento e que são frágeis demais para se trabalhar promoção de saúde na

escola e alcançar bons resultados. O conhecimento científico é mais valorizado que

as práticas sociais, embora ainda o aspecto das relações seja bastante relevante.

Nas falas, nota-se que o conhecimento científico é o grande libertador das práticas

“ignorantes” em saúde e que prevalece sobre as condições de vida. A valorização do

80

biológico sobre os outros aspectos foi muito marcante, pois todas as conversas

sobre promoção da saúde envolviam alimentação saudável, prevenção de doenças

e atividades físicas.

Na área da Educação e da Saúde, ainda há a prevalência do pensamento

curativista em detrimento do preventivo; a educação em saúde é prejudicada pela

ausência de integração entre os educadores e os membros da comunidade, a falta

de trabalho participativo e qualificação profissional (KRUSCHEWSKY,

KRUSCHEWSKY e CARDOSO, 2008).

Isso é uma herança do modelo assistencial vigente: hegemônico, biologicista,

totalmente individualista, centrado na doença e na cura, marcadamente reducionista

(ALVES, 2005). Para a autora, é preciso integrar profissionais em equipes

interdisciplinar e multiprofissional, com o intuito de uma compreensão mais

abrangente dos problemas relacionados à saúde, reconhecendo no outro um ser

semelhante a mim mesmo, partindo do princípio da integralidade.

A multidimensionalidade humana precisa ser reconhecida para que os

aspectos da vida humana sejam abordados, a fim de se concretizar um trabalho em

educação em saúde, em sua integralidade, enxergando o ser humano como

resultante de um constructo sociocultural real, processual e dinâmico:

Por isso, é necessário conhecer de forma mais objetiva o indivíduo ou a comunidade a quem se quer educar, e esse conhecer implica troca, proximidade e especialmente a consciência e conhecimento das crenças, comportamentos, medos, do modo de vida e tudo que permeia e forma o cotidiano do objeto de educação

(KRUSCHEWSKY, KRUSCHEWSKY e CARDOSO, 2008, p. 174).

Outro aspecto dominante foi o da prevenção de doenças para promoção da

saúde, onde quatro participantes do grupo concordam que quando estamos

prevenindo doenças, automaticamente, estamos promovendo saúde. Outros dois

relatam que prevenção de doença não é a mesma coisa que promoção de saúde e

que podemos estar doentes e ainda promover saúde.

Essa confusão entre promoção da saúde e prevenção vem da ênfase dada

nas modificações de comportamento individual e na valorização demasiada da

redução de fatores de riscos para determinadas doenças em programas que dizem

promover saúde. Tudo fica centrado no indivíduo, em seu comportamento e em suas

81

escolhas, de acordo com que o paradigma biomédico e a intervenção clínica (BUSS,

2012).

Figura 2. Prevenção de Doença

Fonte: Dados de Pesquisa, 2013.

Percebe-se claramente nas falas a prevalência da influência biologicista e do

poder hegemônico de se ver saúde. Responsabilização pessoal para se ter saúde e

a resolubilidade médica como regra de vida. Isso se torna mais evidente nas falas a

seguir:

Quadro 2. Discursos sobre Prevenção de Doença

Você tem que se cuidar, ir ao médico, fazer tudo direitinho e aprender a viver com a doença

(PP4-GF).

Acho que a gente tem que fazer o que gostar, porque quanto a gente não faz o que não gosta,

gente se estressa e adoece. Então, fazer o que se gosta, previne várias doenças“ (PP3-EI).

Acho que cuidar do meu corpo, da minha alimentação, ir ao médico, fazer daquilo uma lei

(PP1-EI).

Nós deveríamos ter mais dentista, médico, fonoaudiólogo na escola porque muitos problemas

poderiam ser evitados se eles tivessem aqui na escola, vendo a realidade das nossas crianças

(PP5-GF).

Eles deveriam construir ciclovias pra gente. Fala tanto em promover saúde mas a gente não

tem onde praticar esportes. Comer bem, somente coisas saudáveis evitaria um monte de

PREVENÇÃO DE DOENÇA

PRATICAR ESPORTES, CUIDAR DA

ALIMENTAÇÃO; PRATICAR O QUE CONHECE

PROFISSIONAIS DA SAÚDE NA ESCOLA;

SEGUIR O QUE O MÉDICO FALA

FAZER O QUE SE GOSTA; VIVER EM AMBIENTE

TRANQUILO

82

doenças (PP6-GF)

Eu fico deprimida, me sentindo doente quando entro numa sala de professores que reclamam

de tudo. Parece que o ar carregado deixa a gente pra baixo. Acho que o ambiente tem que ser

de alegria, só de coisas boas. Tem gente que só vive reclamando, deixa a gente doente (PP5-

GF).

Por causa daquele problema (hepatite B) eu fui ao médico e disse que bebia socialmente. Não

era todo dia. Ele me disse: se você tá se sentindo bem, tudo bem! Então eu bebo (PP1-EI).

Fonte: Dados de Pesquisa, 2013.

Para os docentes, as experiências das pessoas sugerem o que pode ou não

fazer, a fim de se obter saúde e prevenir doenças. Mas tudo o que se decide fazer

fica à espera de ser aprovado por alguém que, supostamente, entenda mais que a

pessoa, alguém que seja detentor do saber, e por isso suas palavras têm que ser

levadas como regras. O que se sabe é que consultar um profissional da saúde, com

certeza, é uma atitude sensata, pois podemos complementar nosso saber e ter

experiências que podem nos proporcionar bem-estar e qualidade de vida. O que se

espera é que não haja a negação do próprio eu, e da experiência social como

coadjuvantes do processo, e que estão na mesma proporção que as áreas médicas

em um processo de transversalidade.

As práticas de educação em saúde, nessa perspectiva, estão voltadas ao

modelo biologicista, com ações formalizadas, programadas para acontecer,

independente do tipo de pessoas que estão envolvidas. Existe um programa a ser

seguido, dentro da estrutura curricular, que imobiliza as relações profissionais,

estando cada um na sua “competência” de trabalho, sem ações interdisciplinares. O

modelo de educação em saúde praticado se observa a seguir:

Quadro 3. Discursos de Educação em Saúde

Eu vejo educação em saúde como cursos voltados pra área de educação escolar (PP1-GF).

Educação em saúde é transmitir pras crianças o certo e o errado (PP3-EI).

Acho que é conhecimento, né. Aprender a prevenir. (PP4-GF).

Podem ser aulas com coisas simples, como a que me chamou atenção na aula de biologia.

83

Como lavar bem as mãos, o fato de pegar na maçaneta da porta, lavar as mãos e depois não

pegar na torneira (PP2-GF).

Quando você faz algo em educação em saúde você já está promovendo saúde. Você educa,

eles vão estudar sobre aquilo e vão aprender (PP6-EI)

Educação em saúde, de certo modo seria o modo de se aprender as coisas, está ligada à

educação, você aprende o que é, como você deve fazer para se ter boa saúde, com

alimentação, cuidados físicos, não sei se estou certo (PP2-EI).

Fonte: Dados de Pesquisa, 2013.

O conceito da transmissibilidade do professor ou orientador, detentor do

saber, que passa seu conhecimento para os outros que, teoricamente, sabem pouco

ou quase nada, ficou explícito nas falas, enquanto que a participação social, no

processo de educação em saúde, surgiu discretamente, apenas relacionada à

participação dos pais na escola, todavia em forma de palestras de profissionais para

os pais e alunos.

Figura 3. Discursos de Educação em Saúde

Fonte: Dados de Pesquisa, 2013.

É preciso ter uma mudança de pensamento em relação ao conhecimento.

Uma consciência de libertação do atual modo de educação para uma educação

problematizadora, que integra o homem em todas as suas dimensões, não

privilegiando esta ou aquela, mas oportunizando seu pensar sobre o processo do

viver em uma relação de horizontalidade e complementaridade.

EDUCAÇÃO EM SAÚDE

TRANSMITIR O CONHECIMENTO

PROFISSIONAIS DA SAÚDE NA ESCOLA;

PALESTRAS

ESTUDAR E APRENDER DE MANEIRA PRÁTICA

(PAIS, ALUNOS E PROFESSORES)

84

A educação que se impõe aos que verdadeiramente se comprometem com a libertação não pode fundar-se numa compreensão dos homens como seres vazios a quem o mundo “encha” de conteúdos; não pode basear-se numa consciência especializada, mecanisticamente compartimentada, mas nos homens como “corpos conscientes” e na consciência como consciência intencionada ao mundo. Não pode ser a do depósito de conteúdos, mas a da problematização dos homens em suas relações com o mundo (FREIRE, 2005, p. 77).

Os professores têm uma incumbência social bastante considerável, pois estão

formando cidadãos capazes de enfrentar os problemas de seu tempo. A

reorganização do saber, baseada nas noções do ser humano em seu contexto de

vida, promoverá um saber vivo e pulsante que produz mudanças cotidianas das

práticas pedagógicas e autenticidade do que se ensina.

[...] só um modo de pensar empenhado em ligar e solidarizar conhecimentos separados ou desmembrados é capaz de prolongar-se numa ética de dependência e solidariedade entre os seres humanos. Um pensamento capaz de integrar o local e o específico em sua totalidade, de não permanecer fechado no local e no específico, que seja apto a favorecer o sentido da responsabilidade e da cidadania. A reforma do pensamento traz consigo consequências existenciais, éticas e cívicas (MORIN, 2007, p.27).

Portanto, o professor não detém o saber, e por isso precisa despertar-se para

outras formas de se conhecer e conceber ideias e ideais. Precisa se abrir para o

novo, para o desconhecido e perceber o outro como parte do processo que não é

único, estático e nem tampouco unicausal. Necessita ampliar sua visão para

perceber o outro como humano, e não como um objeto em que se deposita

conhecimento e informações. A distinção do homem está no pensar e interpretar

as ações dentro e, a partir da realidade vivida e partilhada, e não somente pelo agir

(MINAYO, 2012).

Essa interpretação advém de um trabalho articulado, dinâmico,

interdependente, capaz de superar a visão fragmentada da produção de

conhecimento, buscando estabelecer o sentido de unidade, do todo, mesmo na

diversidade, em uma visão de conjunto, articulando informações. Uma proposta de

caminhada interdisciplinar, considerando que a realidade é como uma teia de

85

eventos e fatores, construída de trocas mútuas, e que o conhecimento é um

processo de construção com a sociedade e constitui a consciência pessoal e

totalizada. (GARRUTI e SANTOS, 2004).

Esse relacionamento interdisciplinar deve ir além das fronteiras da escola.

Abrange, sobretudo, a comunidade na qual está inserida e, portanto, quanto maior

for esse relacionamento, maior será a abordagem das questões que dizem respeito

ao cotidiano escolar, mais especificamente às questões que dizem respeito a sua

saúde.

As práticas de promoção da saúde / educação em saúde nas escolas públicas

necessitam ser tão relevantes naquele ambiente quanto em uma instituição de

saúde (unidades de saúde, hospitais). Contudo, a discussão do processo saúde e

doença e as necessidades de docentes, funcionários, alunos e demais membros da

comunidade em que a escola está inserida, parece muito distante das discussões

realizadas nos espaços da área da Saúde. Por isso, consideramos importante criar

um espaço permanente na escola, no qual a comunidade acadêmica possa

identificar e discutir as concepções (entendimento / compreensão) que estes têm

sobre saúde e qualidade de vida, os quais contribuirão para a construção de

práticas promotoras em saúde, bem como para o fortalecimento do trabalho

inter/transdisciplinar, preparando o campo para a participação social na construção

de práticas educativas em saúde.

Para dar maior relevância ao trabalho inter/transdisciplinar foi proposta a

construção de uma tecnologia social em promoção da saúde, um instrumento

metodológico de educação em saúde, para fazer parte do Projeto Político

Pedagógico da escola. Um espaço reservado para uma conversa sobre os

propósitos e necessidades em saúde que a comunidade acadêmica desejasse

alcançar.

Os docentes, de imediato, elaboraram o documento oficial que foi incluído no

Projeto Político Pedagógico de 2014. Atualmente, denominado CIRPROSAE

(Círculo de Promoção da Saúde na Escola), é um instrumento das atividades

pedagógicas em saúde e tem pretensão de ser realizado semestralmente, iniciando

sua primeira formação no segundo semestre deste mesmo ano. Contará com a

participação mínima de seis pessoas e, no máximo, quinze, sendo composto por

alunos, docentes, diretoria, pessoas da comunidade que realizam algum tipo de

trabalho social, profissionais da área da saúde e outros quando se fizer necessário.

86

Segundo Alarcão (2001), as relações das pessoas entre si e de si próprias

com o seu trabalho e com sua escola são fundamentais para um clima de escola

que tenta ser melhor a cada dia, dando sentido à existência humana. Repensar é

trabalhar com o fruto da consciência, com uma visão de vida que abrange toda

dimensão educativa definida para sua comunidade acadêmica, sua área de trabalho

e para formação de indivíduos que têm sua forma de ser e viver.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na lógica do sistema neoliberal, a saúde passa por uma desfragmentação do

homem, bem como de sua anuência no processo saúde-doença, surgindo apenas

como culpado das suas enfermidades e responsabilizado pela sua condição precária

de saúde. Apesar do pensamento biologicista dos docentes, o método dialógico de

coleta de dados em uma Concepção Teórico-metodológica de Freire, permitiu um

debate problematizador, promotor de uma prática educativa de educação em saúde

que valoriza e instrumenta o educando e demais personagens da comunidade

acadêmica para transformar sua realidade e, sobretudo, a si mesmo.

Essa valorização do saber do outro é uma importante ferramenta para a

emancipação social e participação ativa nas ações em saúde no contexto escolar,

possibilitando o desenvolvimento criativo das habilidades humanas na promoção da

saúde. A prevenção do mal em saúde não parte da necessidade biomédica, e sim,

do conceito que as pessoas têm do processo saúde-doença, definindo as ações em

educação em saúde.

As atividades voltadas à Educação em Saúde podem ser trabalhadas de

maneira transdisciplinar, pois somente assim percebemos a necessidade do outro,

deixando de lado o domínio e detenção dos saberes. A proposta de trabalho

inter/transdisciplinar não só facilita o trabalho, mas corresponsabiliza o outro no

processo de promoção da saúde, mobilizando a participação social na valorização

da vida e não da doença.

A adesão imediata ao instrumento metodológico de Educação em Saúde,

denominado pelos docentes de “Círculo de Promoção da Saúde na Escola”

(CIRPROSAE) demonstrou a necessidade que os docentes têm de partilhar o saber,

reconhecer o outro como parte do processo e, sobretudo, o desejo de mudança da

atual situação. Demonstraram que esse instrumento social pode ajudá-los a superar

87

a fragmentação do saber, instituída em seus currículos de formação, e ainda que

pode aproximar as pessoas em um trabalho de coparticipação e reciprocidade. A

motivação maior não residiu nas práticas bem elaboradas de educação em saúde e

sim, na forma de permanecerem juntos, em um trabalho coletivo e humanizado.

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91

4 CIRPROSAE: UMA TECNOLOGIA SOCIAL NA PROMOÇÃO DA SAÚDE NA

ESCOLA

Ioná Outo de Souza Wilberstaedt Márcia Gilmara Marian Vieira

Yolanda Flores e Silva

RESUMO: Estudo exploratório-descritivo de abordagem qualitativa que teve como

objetivo propor a elaboração de um instrumento metodológico de Educação em

Saúde a partir de uma tecnologia social em promoção da saúde. O campo de

pesquisa foi uma escola de ensino fundamental da capital catarinense. Participaram

da pesquisa seis (06) docentes que atendiam aos critérios da pesquisa. A coleta de

dados foi realizada por meio da técnica de grupo focal e entrevista semiestruturada e

os dados foram submetidos à análise interpretativa. Os resultados sugerem que as

ações em saúde, no contexto escolar, podem partir de pressupostos ampliados que

sobreponham os tradicionais, construídos a partir da experiência pessoal e de forma

contextualizada. A tecnologia social adotada pelos docentes sugere a participação

de toda comunidade acadêmica para elaboração do trabalho de Educação em

Saúde, bem como na sua aplicação, partindo de um círculo de diálogo sobre saúde

denominado Círculo de Promoção da Saúde na Escola - CIRPROSAE.

Palavras-chave: Educação em Saúde. Participação Social. Promoção da Saúde. Relações Interpessoais.

INTRODUÇÃO

Este artigo traz um conjunto de sugestões para se trabalhar coletivamente, a

partir das experiências das pessoas, a formalização de um instrumento

metodológico participativo de „Promoção da Saúde‟ no ambiente de uma escola

pública. Este trabalho foi desenvolvido tendo em vista uma pesquisa realizada em

parceria com docentes do ensino fundamental. É um instrumento voltado para a

emancipação dos atores envolvidos, valorizando e centralizando os produtores e

usuários dessa tecnologia. Esse tipo de produção recebe a denominação de

Tecnologia Social porque tem como meta final a busca de soluções coletivas

92

realizada pelos beneficiados, e não apenas pelos especialistas (RODRIGUES e

BARBIERI, 2008).

Partimos do princípio de que as ações desenvolvidas no contexto escolar

emergem de um conceito ampliado de Educação em Saúde, no qual todos

participam da construção dos temas e meios a serem trabalhados para „Promoção

da Saúde‟ no contexto escolar. O espaço da escola é muito propício para se

trabalhar Promoção da Saúde, pois apresenta um contexto vasto em relação às

experiências da comunidade da qual fazem parte um conjunto de pessoas com

formações e estilo de vida diferenciada, mas com propósitos semelhantes que

precisam ser mais bem alinhavados e definidos no coletivo.

Mais do que um espaço de construção e veiculação de conhecimentos e

práticas que se relacionam com os modos como cada cultura entende o viver

saudável, a „Educação em Saúde‟ constitui-se como uma vertente de produção de

identidades sociais (MEYER, 2006).

Isso pode contribuir para a agregação de valores saudáveis e o fortalecimento

de práticas do cotidiano escolar mais contextualizada, capaz de confrontar o

cotidiano das pessoas às informações teóricas em uma forma de apropriação do

conhecimento pela experiência do „saber‟ – „fazer‟ partilhado. Esse modelo de

„Educação em Saúde‟ somente é possível quando se trabalha na perspectiva da

„Promoção‟ e não da „Prevenção‟ em Saúde e visa buscar respostas para os

problemas vivenciados pela comunidade acadêmica, que interferem direta ou

indiretamente na vida das pessoas e que podem desequilibrar a saúde, o bem-estar

e a qualidade de vida destas.

Mas o que seria este instrumento e / ou tecnologia social (TS) que tornaria

isto possível? Antes de tudo é importante dizer que este conceito é jovem na saúde

assim como na educação, e outros termos, às vezes, podem ser utilizados para

descrever a mesma coisa. Segundo o Instituto de Tecnologia Social (ITS, 2004,

p. 130) a TS é “um conjunto de técnicas, metodologias transformadoras,

desenvolvidas e / ou aplicadas na interação com a população e apropriadas por ela,

podendo representar soluções para inclusão social e melhoria das condições de

vida”.

Para Dagnino (2009), TS é o resultado da ação de um ator social sobre o

trabalho em que outros atores sociais também atuam, permitindo mudança

93

qualitativa ou quantitativa no produto gerado, e que esta pode ser apropriada

segundo seu interesse.

De acordo com Horta (2006), tecnologia social é um princípio que pode

contribuir para a definição de práticas de intervenção social, notáveis por seu êxito,

na melhoria das condições de vida da população, com estreita relação às realidades

locais em que forem aplicadas, na construção de soluções participativas.

A melhoria das condições de vida permeia ações que estão voltadas para a

pessoa como um todo, um olhar voltado para suas reais necessidades, com práticas

que valorizem seu entendimento sobre saúde e bem-estar, tendo como ponto de

partida a própria pessoa interessada e todas as suas potencialidades, tanto

individuais quanto coletivas, dentro de seu contexto de vida.

Nesse sentido, a construção de uma tecnologia social é importante, mas não

pode ser utilizada apenas como um mero instrumento. Antes de tudo, ela deve ser

capaz de, em um processo gradativo de discussões, ampliar as possibilidades

teórico-reflexivas a fim de concretizar práticas inovadoras e transformadoras,

mediante uma abordagem problematizadora que possibilite abrir caminhos para a

produção social dos processos de trabalho, seja na educação ou na saúde

(COLOMÉ e OLIVEIRA, 2012).

PERCURSO METODOLÓGICO

Este artigo tem origem em pesquisa realizada no Mestrado Profissional em

Saúde e Gestão do Trabalho que tem por título “Saúde e Qualidade de Vida:

concepções do corpo docente de uma escola pública estadual de ensino

fundamental da capital catarinense” desenvolvida na Universidade do Vale de Itajaí

– UNIVALI, no período compreendido entre 2012 a 2014. O percurso metodológico

adotado para a realização da pesquisa foi qualitativo, de natureza humano social,

com abordagem exploratória descritiva. O campo de estudo foi uma escola estadual

de ensino fundamental de Santa Catarina, local em que a pesquisadora atua como

docente na área de Ciências.

Como informantes, participaram seis (06) docentes do ensino fundamental,

que tinham tempo superior a cinco (05) anos de atuação profissional, que já haviam

94

trabalhado com Educação em Saúde anteriormente e que já apresentavam um

vínculo temporal maior com a escola, como professores efetivos ou contratados3.

A coleta de dados foi realizada utilizando-se da técnica de grupo focal, em

uma abordagem do “Círculo de Cultura de Freire” (1983) e entrevista

semiestruturada, na qual os docentes participantes responderam questões relativas

aos fenômenos do viver como saúde, doença, bem-estar e qualidade de vida, além

dos conceitos sobre educação e promoção da saúde cujos resultados foram

apresentados em dois outros artigos que compõem essa dissertação.

Posteriormente a essas discussões foi proposta a elaboração de um instrumento

tecnológico em promoção da saúde do qual retrata esse artigo.

Os dados foram submetidos a uma avaliação interpretativa, segundo Geertz

(1997) que valoriza as falas como uma trama que se inter-relaciona, por meio de

discursos (falas), gestos, símbolos e das relações entre elas. Primeiramente, foram

transcritas as falas coletivas e individuais, depois colocadas em categorias

temáticas, reunindo suas ideias centrais, e posteriormente, interpretadas à luz de

referenciais propostos pelos docentes, segundo a proposta de trabalho apresentada

por eles. Os resultados obtidos foram moldados pelo material empírico e a

metodologia reflexiva de Freire (1983).

A proposta que fundamenta esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética

da UNIVALI, com o número de protocolo 22127013.6.0000.0120 e aprovada

segundo o Parecer 446.060 em 25/10/2013. Todos os participantes assinaram o

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, após serem informados sobre as

etapas da pesquisa, dos objetivos aos resultados esperados. Os informantes tiveram

respeitado seu anonimato sendo identificados como PP (Professor Participante)

seguido dos algoritmos 1, 2, 3, 4, 5 e 6 e pela sigla „GF‟ quando participantes do

Grupo Focal e „EI‟ quando participante da Entrevista Individual.

PROCESSO DIALÓGICO DE PAULO FREIRE E A SUA RELAÇÃO COM O CONCEITO DE TECNOLOGIA SOCIAL

Do ponto de vista formal, as Instituições de Saúde e Educação têm a

responsabilidade de trabalhar „Educação em Saúde‟ como perspectiva de „Promoção

3 Considerou-se como o vínculo que melhor se adequava as necessidades da pesquisa o período mínimo de um ano letivo para aqueles professores admitidos em caráter temporário (ACT).

95

da Saúde‟. Contudo, as iniciativas por parte dos órgãos representativos dessas

áreas, como Unidades Básicas de Saúde, Centros de Saúde e Escolas, possuem

grupos representativos de profissionais de saúde e educação encarregados de

desenvolver ações em saúde voltadas muito mais para a prevenção de doenças do

que para a promoção da saúde.

Isto fica bastante evidente quando percebemos que nas escolas o que se

trabalha termina por ser uma reprodução de conteúdos que são ministrados em um

contexto multiprofissional, sem que se construam ações efetivas de natureza

interdisciplinar com participação efetiva da comunidade escolar (docentes, corpo

administrativo, corpo de apoio à limpeza e alimentação, alunos, famílias e população

do entorno da escola), terminando por gerar conhecimentos que tratam, muitas

vezes, do aspecto preventivo apoiado no modelo biologicista e hospitalocêntrico.

Em uma perspectiva mais dialógica, estas ações de „Educação em Saúde‟

nas escolas, deveriam envolver a comunidade escolar, permeando o princípio da

equidade, segundo a „Declaração de Sundsvall‟, em que os envolvidos são

responsabilizados pela criação de ambientes de suporte favoráveis para a

„Promoção da Saúde‟ (SÍCOLE; NASCIMENTO, 2003).

Se refletirmos sobre o que Freire (2003) deixou como legado acerca do

trabalho coletivo ativo das comunidades, observamos que a fala deste educador

mostrava a necessidade das massas populares tornarem visível a realidade objetiva

e desafiadora sobre a qual devem manifestar sua ação transformadora. Para ele,

somente desta forma, as pessoas, grupos e comunidades seriam realmente atores

ativos, prontos para recriar, de forma intencional e consciente uma nova realidade,

com soluções concretas e conhecidas para os problemas locais.

Para Freire (2003), de uma educação problematizadora é que nascem os

questionamentos diretivos, que por meio do pensar e da provocação leva as

pessoas a construção de algo novo. Em um contexto assim, é valorizada a cultura

do educando como pressuposto fundamental em uma proposta de dialogicidade

para o conhecimento em um processo de entendimento do mundo em sua

percepção de sujeito histórico. O educador e o educando são, dessa forma, sujeitos

do processo de construção do conhecimento. E é com esta noção de educação

libertadora que o autor vislumbra a transformação das pessoas e da sociedade no

mundo, com o mundo e para o mundo.

96

O que ele denominou de „Círculo de Cultura‟ possibilita, por meio de uma

relação baseada no diálogo, uma leitura do mundo dos participantes, com olhar

crítico acerca da realidade, despertando o interesse das pessoas envolvidas em

comprometer-se com as mudanças para transformação dessa realidade. A dinâmica

desse „Círculo de Cultura‟ é formada pelos momentos investigativos, tematizadores

e de proposição, segundo Wittmann et.al (2006, p.40):

Quadro 1 – Círculo de Cultura de Freire

Fonte: Wittmann et.al, (2006, p.40)

A viabilização do diálogo, por meio do „Círculo de Cultura‟, com

questionamentos provocadores do coordenador/pesquisador sobre o objeto de

estudo e a representação da realidade, permite trazer respostas significativas dos

participantes considerando o contexto histórico social. Nesse contexto, se

pensarmos na construção / elaboração de um instrumento metodológico de

„Educação em Saúde‟ temos que ter a premissa de observar que somente pela

discussão sobre as distintas concepções do processo saúde e doença e outras

temáticas afins, é que será possível obter uma „tecnologia social‟ capaz de

transformar ou levar estas pessoas a diferenciar a prática realizada hoje (preventiva)

com a prática desejada (promoção).

E por que chamar este novo „constructo‟ de tecnologia social? Para Bava

(2004, p. 216), as tecnologias sociais, elaboradas por um coletivo de pessoas com

MOMENTO INVESTIGATIVO

Momento de problematização:

em que se compreende as

origens dos problemas, onde se diagnostica e define

o problema.

MOMENTO DE TEMATIZAÇÃO

Momento integrativo:

conhecimento dos participantes e

outros conhecimentos se integram para um estudo reflexivo.

MOMENTO DE PROPOSIÇÃO

Momento em que se programa, elabora e

executa uma proposta para solucionar o

problema.

97

interesses comuns, podem levar a implementação de soluções para determinados

problemas e, sobretudo, auxiliam na elaboração de novos métodos e técnicas que

possibilitam o empoderamento da população, em sua coletividade, como forma de

habilitar-se para disputar nos espaços públicos, alternativas de desenvolvimento

provenientes das experiências coletivas.

Segundo Gohn (2001), existe um novo campo de Educação denominado de

„Educação Não Formal‟ que está na sociedade civil com ações coletivas, por meio

de organizações não-governamentais que não visam lucros, e na atualidade se

inserem em muitos dos movimentos sociais ligados à Educação. É neste contexto

que o instrumento de tecnologia social pode auxiliar na construção de práticas

conjuntas de Educação em Saúde, os quais são configuradas de acordo com a

realidade social vivenciada pelas pessoas envolvidas. Ainda que a educação não

formal permeie os processos educativos, é necessário sistematizar as ações para

que o instrumento tenha maior legitimidade; aliando o conhecimento das práticas

populares ao conhecimento científico, de forma operacional, pelas pessoas

comprometidas no processo.

Para o Instituto de Tecnologia Social (ITS, 2007), uma tecnologia social pode

ser elaborada em qualquer área, tendo como objetivo maior o desenvolvimento

urbano regional e local de forma sustentável. Para tanto, faz-se necessária a

construção pela discussão participativa de um coletivo de pessoas, de um conjunto

de técnicas e procedimentos metodológicos que articulem o conhecimento produzido

nas comunidades com o conhecimento científico e tecnológico para a geração de

trabalho. No caso da tecnologia social, construída a partir da pesquisa realizada

(Círculo de Promoção da Saúde na Escola - CIRPROSAE), esta é uma proposta de

ações voltadas para a „Promoção da Saúde‟ na escola, cujas pessoas estão no

centro destas ações em saúde, segundo suas necessidades e da comunidade em

que se insere no contexto da escola e da família.

Consideramos essa pessoa como um ser humano que é multidimensional e

complexo, espiritual e parte de um corpo-criante. Segundo Dittrich (2010), um corpo-

criante constitui-se de dimensões inter-relacionais que determinam a maneira do ser

humano sentir-pensar e agir, a saber, as dimensões biopsicoespiritual, sociocultural

e ecológica. Essa forma de pensar, sentir e agir é dinâmica por si, fora de si e para

si. Na prática, a autora esclarece que os vínculos e valores culturais são importantes

e decisivos neste processo, não podendo ser desprezados quando se oferta algo

98

que visa ao empoderamento pessoal e coletivo para a busca de soluções aos

problemas de saúde, por exemplo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A „Educação em Saúde‟ em uma perspectiva de „Promoção da Saúde‟ requer

uma cointeração entre os membros da comunidade acadêmica, de forma que não

haja, simplesmente, discussões sobre assuntos pertinentes à saúde, mas diálogos

abertos que resultem em práticas que sejam capazes de transformar a realidade

socialmente vivida. Porém, nas discussões, há prevalência do ponto de vista de

cada pessoa, do seu modo de ver a vida, das suas crenças, tentando convencer o

outro de qualquer forma, como demonstra a citação a seguir:

A discussão implica a quebra de significado. Esta quebra acontece, por exemplo, no processo de imposição de ponto de vista (ou interpretações), através da manipulação velada ou desvelada, através da consciente ou inconsciente autoafirmação do eu psicológico. Na maioria das vezes, uma discussão é desenvolvida entre duas ou mais pessoas, que adotam pontos de vistas definitivos e desejam convencer-se mutuamente ou comparar seus pontos de vista com a intenção de impor e fazer prevalecer uma opinião particular (SOARES, 2007, p.401).

Para essa autora, na presença do diálogo não há prevalecimento do ponto de

vista individual. A pessoa que apresenta uma opinião, não realiza uma defesa ou

imposição de uma opinião, mas percebe que a sua forma de pensar é mais uma

interpretação, diante de tantas outras possíveis. No diálogo, prevalece o ato de

escutar que é diferente de ouvir, pois o escutar promove a sensação de descoberta,

efetivando-se em um ato sensitivo. Ato de falar com as pessoas e não falar para

elas, envolve uma „percepção ampliada do outro‟, envolve também saber posicionar-

se e refletir.

A ideia apresentada pelos docentes do diálogo entre membros da

comunidade acadêmica e profissionais de áreas distintas, apesar de não terem

pronunciado a palavra „transdisciplinaridade‟, demonstram falas que sugerem o

homem como um ser integral e que deve ser percebido em sua totalidade, como

demonstram as seguintes afirmações:

99

“Nessa proposta de trabalho, nessa discussão, ninguém deve achar que sabe mais

que os outros, pois se não fica na mesma, melhor deixar do jeito que está. Nosso trabalho

não deve ser somente em conjunto, cada um deve se responsabilizar pela vida, pelo outro.

Interessar-se de verdade.”(PP2-GF).

“A gente tem que pensar que nós somos mais que profissionais, por trás tem uma

pessoa que ama, que sente, que percebe as coisas de várias maneiras e isso interfere nas

nossas atitudes.” (PP6-EI).

Segundo Sampaio (2010), o desaparecimento da pessoa, do ser humano, do

amor, do sonho e dos ideais, deve-se à importância dada atualmente às questões

materiais, pois o fascínio pela tecnologia e ciência, o desejo do ideal da objetividade

fez com que a pessoa tivesse menor importância.

Essa valorização da pessoa em sua totalidade, por parte do docente,

percebendo-o como um ser integral e dinâmico tornou a proposta do instrumento

metodológico mais propício ainda, pois o processo interativo da tecnologia social vai

ganhando mais sentido e indo além da interdisciplinaridade. O projeto já começa sob

um pensamento reflexivo sobre o atual sistema e aponta para um crescimento

promissor direcionado às necessidades humanas.

Uma educação humanista tem que acontecer pela conscientização, de forma

libertadora (FREIRE, 2001). A proposta transdisciplinar permite um olhar de si

mesmo no outro, indo além do que se espera dos indivíduos, uma educação que

começa a partir do nascimento e se estende durante a toda a vida, como forma de

testemunho de nossa presença no mundo e de nossa experiência advinda dos

saberes de nossa época. Uma forma de potencialidade do ser (NICOLESCU, 2005).

E essa potencialidade, de acordo com os docentes, surge quando nos

expressamos em busca da compreensão dos fenômenos vividos. Quando

partilhamos nossas angústias, nossas fraquezas, nossas alegrias e nossas vitórias.

Quando experimentamos compartilhar nossas tensões com o outro, e saber dele o

que o aflige para buscar uma alternativa coletiva a fim de enfrentar ou solucionar

aquele problema.

Para criar um meio de diálogo entre a comunidade acadêmica, profissionais

da área da saúde e educação, organizações não-governamentais, instituições

religiosas, entre outras, foi criado pelos docentes um instrumento metodológico de

Educação em Saúde que se tornará parte integrante do Projeto Político Pedagógico

100

da Escola, um tipo de tecnologia social de Promoção em Saúde que compreenderá

a seguinte dinâmica:

Figura 1 – CIRPROSAE :Círculo de Promoção da Saúde na Escola.

Fonte: Dados de Pesquisa, 2013.

O CIRPROSAE nasce e se estabelece como instrumento / tecnologia social

considerando os seguintes momentos de trabalho do grupo de docentes:

Momento 1 - Oportunizar e Mobilizar: inicia-se com um convite à comunidade

escolar da região, composta por docentes, alunos, área administrativa escolar,

profissionais da higienização, da segurança e pais e/ou responsáveis pelos alunos,

profissionais da saúde e educação, representantes de instituições religiosas,

organizações não-governamentais, entre outras entidades que julgar necessário,

para que este grupo de pessoas aceite participar da organização de uma proposta

de Educação em Saúde na escola, tendo por meta a Promoção da Saúde por meio

de ações transformadoras e coletivas. A representação mínima dos participantes

será de seis pessoas, e a máxima de quinze, para que seja representativo e

possibilite a participação de todos.

CIRPROSAE

OPORTUNIZAR E MOBILIZAR

PROBLEMATIZAR E DIAGNOSTICAR

TEMATIZAR E PLANEJAR

APLICAR E AVALIAR

101

Momento 2 - Problematizar e Diagnosticar: compreende um momento em

que as pessoas envolvidas já se encontram integradas ao grupo formado, mediadas

por um representante da comunidade acadêmica eleito pelo grupo, que assume o

papel de moderador da discussão / reflexão coletiva em que serão tratados os

assuntos relacionados à qualidade de vida humana no contexto escolar, levantando

problemas de ordem biopsicossocial e espiritual que afligem as pessoas dessa

comunidade e suas expectativas para solucionar os problemas;

Momento 3 - Tematizar e Planejar: momento em que se consegue refletir

sobre os problemas, e após o diagnóstico situacional, o grupo interage no pensar,

refletir, pesquisar, sentir e agir, no sentido de planejar ações de Educação em Saúde

com maior governabilidade que atendam às necessidades dessa comunidade

escolar. Serão registradas em Ata as ações acordadas no coletivo, bem como o

tempo determinado para sua execução e a viabilização do processo;

Momento 4 - Aplicar e Avaliar: consiste propriamente na prática das ações

pré-estabelecidas pelo grupo, mediante implementação das propostas coletivas no

âmbito escolar e demais espaços de convívio acadêmico para melhoria da qualidade

de vida das pessoas e promoção da saúde. A avaliação acontecerá de duas formas:

contínua, quando executadas as ações de Educação em Saúde e sistemática

quando avaliadas no coletivo por meio da formação dos grupos, antecedendo e

constituindo o momento de problematização.

Ficou acordado entre os docentes que o CIRPROSAE atenderá as

necessidades que se relacionem à Educação em Saúde da unidade escolar, sendo

parte integrante do Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola desde o ano letivo

de 2014 e que se realizará duas vezes ao ano, a cada início de semestre. O mesmo

servirá de suporte para todas as ações dos Programas de Saúde relacionados ao

ambiente escolar e poderá ser composto por todos os representantes da

comunidade acadêmica e não acadêmica (sociedade civil) ou demais entidades que

se relacionem direta ou indiretamente com os escolares. Poderão participar

organizações não-governamentais, representantes de instituições religiosas, de

associações locais e demais representações da sociedade civil.

102

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A importância de se entender saúde, por meio da compreensão do processo

histórico e cultural no qual o homem está inserido, permite a ele conduzir seus

anseios de mudanças na direção do bem-estar e qualidade de vida. No que tange à

perspectiva de promoção da saúde, no contexto escolar, a Educação em Saúde

emerge como um instrumento de empoderamento e como via de acesso ao diálogo

na busca da transdisciplinaridade por meio de uma tecnologia social denominada,

pelos próprios docentes, como CIRPROSAE.

O Círculo de Promoção em Saúde (CIRPROSAE) apresenta-se como uma

proposta que oportuniza as pessoas a participarem da busca da superação dos

problemas atuais relacionados à saúde e como um meio de organizar práticas de

Educação em Saúde que condigam com a realidade local, de forma a valorizar as

pessoas envolvidas.

Os temas de relevância em saúde são escolhidos pela própria comunidade

acadêmica a fim de serem trabalhados nas práticas de Educação em Saúde no

contexto escolar com alternativas propostas pelos próprios membros dessa

comunidade. A busca por soluções dos problemas do cotidiano se faz por meio do

ato dialógico, pelo qual o conhecimento e a sabedoria da comunidade acadêmica

são trabalhados em uma perspectiva metodológica de Paulo Freire, confrontando as

vivências das pessoas com as abordagens científicas.

A ressignificação das práticas apresentadas pelos docentes, ora apoiada pela

educação humanista, ora transdisciplinar ou liberal, apontam para a valorização da

pessoa, retratando sua importância no processo de construção do conhecimento e

transformação do cenário atual. Esse processo reforça o movimento histórico-

dialético em que a pessoa está inserida, trazendo consigo influências de vários

contextos de vida baseados em sua própria experiência ou nas dos outros.

Sendo assim, essa experiência reflexiva e dialógica permite a abertura da

consciência para o conhecimento de si mesmo e dos outros, na ressignificação da

própria existência, de seu modo de vida e das suas relações. Contudo, as

experiências do cotidiano somadas ao conhecimento científico podem contribuir para

o crescimento do saber e possibilitar mudanças nos paradigmas atuais com

transformações imprescindíveis ao processo do viver, compreendendo uma parte

103

importante do processo ensino-aprendizagem e uma forma de garantir a valorização

das relações sociais, do cuidado de si e do compromisso com o outro.

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105

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Educação em Saúde resultante de uma prática libertadora, tem propiciado

condições de promoção à saúde que valorizam mais a pessoa, buscando atender

suas necessidades, sendo condizentes com o viver humano e suas potencialidades.

As estratégias de trabalho precisam ser reestruturadas no plano de ação social,

mobilizadas pelo interesse local e coletivo, saindo assim de uma visão individualista

e culpabilizadora, puramente preventivista de saúde, para uma visão totalmente

ampliada, capaz de responder às necessidades pessoais e coletivas.

A questão da saúde ainda precisa ser mais debatida, a fim de obter respostas

para as questões sociais que implicam diretamente no modo de vida das pessoas e

em sua condição de saúde. A proposta de criar um círculo de debate permanente

sobre saúde na escola é uma tentativa de mudar a situação atual de se trabalhar

Educação em Saúde, que acontece de forma “bancária”, onde são depositadas

informações pertinentes ao cuidado de si, sem dar relevância aos aspectos da

pessoa e suas condições sociais.

Por acreditarmos nestas „verdades‟ e por entendermos que a escola também

é um espaço de promoção e educação em saúde é que decidimos pela realização

desta pesquisa, que a nosso ver, demonstrou que os docentes não estavam

desinformados ou desatualizados quanto o que há de indicadores de saúde. Eles

apenas pensavam de forma biologicista, a favor do modelo hegemônico,

influenciados pelo sistema biomédico como a maioria dos profissionais da área da

saúde. Ter trabalhado de forma dialógica, permitiu questionar os conceitos atuais de

saúde para que os docentes pudessem se libertar de um compromisso formalizado

fora de seu contexto de vida e de trabalho e se comprometer uns com os outros,

percebendo-se como parte do processo que é dinâmico e interativo.

Muitos dos resultados obtidos aqui refletem o modo de pensar das pessoas

envolvidas, e vale ressaltar que na medida que novas pessoas passam a integrar o

grupo, novas formas de pensar e ver, surgirão, compondo uma maneira diferenciada

de se trabalhar promoção da saúde por meio de práticas que poderão, tanto incluir

os membros da comunidade acadêmica, quanto excluí-los da elaboração e

efetivação das práticas, inviabilizando todo o processo emancipatório.

Portanto, trabalhar Educação em Saúde, como proposta de Promoção da

Saúde, requer um equilíbrio constante das partes envolvidas, do reconhecimento

106

dos aspectos da determinação social e do conhecimento constante de si mesmo e

da comunidade em que a escola está inserida. Acreditamos que, ao

problematizarmos a questão do trabalho coletivo e interdisciplinar, proporcionamos

aos docentes a oportunidade de buscar formas de interagir enquanto grupo, saindo

de uma realidade vivenciada por eles, de trabalho individualizado e tecnicista, para

uma possibilidade de interatividade progressiva e contínua que ajusta e direciona o

trabalho coletivo.

Outro fato relevante foi o de que os discursos coletivos e individuais quase

sempre convergiam para o mesmo sentido, tendo esse grupo uma característica já

integradora, na qual os docentes se reconhecem como importantes no processo, e

que seus diálogos coletivos não diferem muito do pessoal. Pressupõe-se, dessa

forma, que o trabalho em grupo na promoção da saúde terá maior chance de dar

certo e de alcançar um grande benefício na vida das pessoas envolvidas.

Também é inegável que as práticas de Educação em Saúde precisam ser

melhor elaboradas e centradas na realidade local. Sabemos que a dificuldade em

relação ao corpo docente sempre será um desafio enquanto existir uma grande

quantidade de pessoas admitidas em caráter temporário, pois quando essas passam

a reconhecer a área onde trabalham e a ter maior conhecimento uma das outras,

são contratadas para trabalhar em outra escola (quando surgem vagas e quando

passam no seletivo anual) dificultando assim, o processo de integração e

continuidade das ações. Pensar na condição de vida do educador e propiciar meios

para maior efetivação no trabalho contribui não só para o crescimento pessoal, mas

também reflete, positivamente, na qualidade do trabalho de Educação em Saúde

favorecendo o bem-estar e qualidade de vida dos envolvidos.

Por meio da abordagem do „Círculo de Cultura‟, de acordo com as

concepções teórico-metodológicas de Paulo Freire, foi possível vivenciar momentos

de temor em relação ao futuro profissional, em relação ao desenvolvimento das

práticas em sala, fruto do despreparo acadêmico para se trabalhar Educação em

Saúde e da instabilidade profissional. Promover saúde em uma perspectiva

transdisciplinar requer tempo e dedicação, quase que exclusiva, e sob o regime

atual em que os docentes vivem, é bastante difícil. É preciso criar oportunidades de

trabalho que condizem com a necessidade humana e, sobretudo, que atendam as

necessidades da comunidade acadêmica.

107

No que diz respeito ao Programa de Saúde na Escola, esta é uma iniciativa

brilhante do Governo Federal, pois ainda que formalizado demais para a realidade

das escolas, tendo um padrão único de trabalho, pode ser uma iniciativa de

intersetorialidade com ações integradas, promovendo assim, uma interatividade

multiprofissional em uma dinâmica inter/transdisciplinar para alcançar todas as

pessoas que fazem parte da comunidade acadêmica.

O grande problema, porém, está no “engessamento” das pessoas em um

programa que poderia ser flexibilizado se as próprias pessoas envolvidas e que

tivessem à frente permitissem. Quando a equipe de saúde local fez contato com a

escola mediante reunião, os docentes participantes da pesquisa informaram sobre a

iniciativa da escola em ter um espaço para debater os assuntos pertinentes à saúde,

e a reação das pessoas da área da saúde foi bastante apática para o que já estava

acontecendo na escola. Queriam apenas dados antropométricos e IMC (Índice de

Massa Corpórea) da população acadêmica, coletar dados dos cadastros

acadêmicos, sem ao menos fazer menção às necessidades do corpo docente ou de

outra área que trabalha na escola.

Isso só demonstra que os servidores da área educacional ou da saúde ainda

necessitam da lógica libertadora que permita desenvolver um trabalho voltado às

peculiaridades da vida humana, que somadas, interferem diretamente na saúde das

pessoas. Necessitam ter uma visão transdisciplinar de trabalho, para que haja uma

conquista grande no aspecto da participação das pessoas no processo, sabendo

que as ações são voltadas para as pessoas e não para as formalidades dos

programas e metas profissionais.

Acreditamos ter possibilitado para os docentes da pesquisa uma possibilidade

de organizar momentos reflexivos sobre suas práticas de Educação em Saúde e

estimular o trabalho coletivo de forma transdisciplinar, no sentido de valorizar as

práticas de quem elabora as ações e tornar significativo o processo de trabalho, não

só na vida dos alunos, mas no contexto escolar em que a escola está inserida.

Por intermédio da organização de uma tecnologia social que favorece a

aproximação das pessoas em uma perspectiva inter/transdisciplinar, juntamente com

os docentes, elaboramos um instrumento metodológico de Educação em Saúde que

possibilita o trabalho conjunto e participativo na elaboração de práticas aplicáveis

para a realidade da comunidade acadêmica. Dessa forma, a continuidade do

trabalho de Educação em Saúde se tornará contínuo, sendo moldado de acordo com

108

a dinâmica acadêmica e com as necessidades das pessoas envolvidas. Cada

componente que se integrará ao processo de Promoção da Saúde terá condições de

avaliar as práticas e meios desenvolvidos, de forma a contribuir para o avanço das

práticas e complementação delas.

Acreditamos que, se a comunidade acadêmica investir em momentos de

diálogo sobre seu trabalho e sobre a melhoria de suas condições de vida, na busca

da capacitação pessoal e coletiva, poderá ter um processo dinâmico e construtivo de

promoção da saúde capaz de instigar as pessoas ao desenvolvimento de práticas

que contemplem o bem-estar na busca da superação das contradições

sociopolíticas vivenciadas por todos.

109

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117

APÊNDICE A

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – CCS PROGRAMA DE PÓS – GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM SAÚDE E GESTÃO DO TRABALHO /

MESTRADO PROFISSIONAL ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: SAÚDE DA

FAMÍLIA

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Prezado (a) colega, você está sendo convidado (a) a participar, como voluntário (a),

em uma pesquisa intitulada SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA: discursos do corpo

docente de uma escola pública de ensino fundamental da capital catarinense,

que tem como objetivo geral: Analisar os discursos sobre saúde e qualidade de

vida de docentes de uma escola pública de ensino fundamental, visando auxiliar na

discussão de uma tecnologia social que permita criar um modelo de Promoção da

Saúde Escolar que possa ser efetivado por meio de ações interdisciplinares de

Educação em Saúde. Para que aceite fazer parte deste estudo é necessário que

assine ao final desse documento e rubrique todas as páginas relativas a esse termo

de consentimento. Serão fornecidas duas vias desse documento, sendo uma

destinada ao pesquisador responsável e a outra a você. Não se preocupe, você não

será penalizado (a) caso não participe da pesquisa.

Eu, Ioná Outo de Souza Wilberstaedt, aluna regular do Curso de pós-graduação

Strictu sensu, Mestrado Profissional em Saúde e Gestão do Trabalho, Turma 10 da

Universidade do Vale do Itajaí –UNIVALI, sob orientação da Prof.ª Enf.ª Drª Yolanda

Flores e Silva e co-orientação da Prof.ª Drª Márcia Gilmara Marian Vieira coletarei os

dados mediante a realização de entrevistas individuais, com um espaço para a

narração da sua opinião e realização de grupo focal.

Sua participação na pesquisa ocorrerá durante a realização de grupos de discussão,

totalizando 10 horas de trabalho, distribuídas em quatro (4) momentos, nos períodos

matutino e vespertino, extraclasse, em dias diferentes, conforme a disponibilidade do

grupo, podendo ser estendida a uma entrevista individual sobre o mesmo tema.

118

Essa pesquisa obedecerá à disponibilidade de cada participante, de acordo com os

seguintes momentos:

Momento 1: Acolhimento e Grupo Focal – Será realizado na praça em frente à

Unidade Escolar, debaixo da “Figueira” assentados em mantas e almofadas no

chão, deixando um tempo livre de 20 minutos para que todos se ambientalizem. Em

seguida, será a entrega do TCLE ( Termo de Consentimento Livre e Esclarecido)

para leitura e explicações relativas à pesquisa, com duração de 30 minutos. Após

esclarecimentos, serão levantadas questões problematizadoras envolvendo critérios

de bem-estar e qualidade de vida. Estarei coordenando a pesquisa, com abordagem

cultural, onde os participantes terão total liberdade de expressão num tempo

estimado de 1hora e 10 minutos. Ao final desse momento, serão convidados 4

participantes para uma entrevista individual sobre o mesmo tema, a ser realizada

conforme disponibilidade de cada participante.

Momento 2: Exposição temática utilizando recursos audiovisuais, numa sala de

vídeo da escola. Buscaremos os conceitos apresentados no momento 1 e

apresentaremos uma material de reflexão quanto às políticas públicas de saúde e à

pedagogia de Paulo Freire. Será um momento de estudo reflexivo e elaboração de

conceitos baseados no contexto social dos participantes e da escola. Será realizado

em formato de grupo focal e terá duração de 2 horas.

Momento 3: Organização de discussão pelo grupo para a elaboração de uma

proposta de práticas de educação e promoção em saúde, com perspectiva

interdisciplinar que fará parte do Projeto Político Pedagógico da escola. Esse

momento se iniciará com técnicas de relaxamento, seguidas de dinâmicas em grupo

e elaboração de uma proposta de trabalho interdisciplinar. Após, será oferecido um

café colonial aos participantes em comemoração aos resultados apresentados.

Momento 4: Entrevistas individuais. Serão realizadas, após assinado Termo de

Consentimento, entrevistas com roteiro semiestruturado, que abordam questões

sobre a pessoa e seus conceitos quanto ao bem-estar, qualidade de vida e saúde.

Elas ocorrerão simultaneamente à realização do grupo focal, não necessariamente

119

após a realização deste. As pessoas entrevistadas escolherão o melhor momento

para discorrer sobre as questões, em horário agendado por elas próprias.

A participação nesta pesquisa não lhe trará complicações legais. Os procedimentos

adotados obedecem aos Critérios da Ética em Pesquisa com Seres Humanos,

conforme Resolução no 466/12, do Conselho Nacional de Saúde. Nenhum dos

procedimentos usados oferece danos à sua dignidade ou integridade física. Você

não terá algum tipo de despesa por participar desta pesquisa, bem como nada será

pago por sua participação. Se você tiver alguma dúvida em relação ao estudo, ou

não quiser mais fazer parte do mesmo, pode nos comunicar a qualquer momento,

sem prejuízo ao seu atendimento, por meio dos e-mails: [email protected],

ou do telefone: (48) 8431-1182 ou (48) 8444-1213.

Durante a realização dos grupos focais e entrevistas individuais, suas ideias serão

gravadas. Também fotografaremos os momentos de pesquisa em grupo, e caso

queira que sua identificação seja preservada, comunique-nos para que possamos

fotografar sem identificação frontal. A princípio, os riscos relacionados à pesquisa

serão de caráter intelectual, por constrangimento, caso os participantes se sintam

incomodados com a perspectiva de responderem às questões de forma coletiva e na

elaboração de concepções voltadas à sua própria expectativa de qualidade de vida e

bem-estar em detrimento do coletivo. Gostaria de informá-lo (a) de que a equipe da

pesquisa terá uma postura que evite, conforme Barbour (2009), pressão e

julgamento de respostas, o menosprezo das informações repassadas, o uso de

termos pejorativos ou expressões não politicamente corretas. É importante que você

se sinta livre para o uso da palavra com sugestões e correções de conteúdos

apresentados pela pesquisadora.

Os benefícios da pesquisa estão relacionados à:

1- A discussão coletiva quanto ao bem-estar, qualidade de vida e saúde para

elaboração de propostas de educação e promoção em saúde; 2- A elaboração de

propostas de trabalho interdisciplinar na promoção da saúde; 3- O fortalecimento

profissional e o reconhecimento da atuação do professor enquanto aliado das ações

de promoção em saúde; 4- O uso da abordagem do „Círculo de Cultura‟ de Paulo

120

Freire como movimento emancipatório; 5- Elaboração de propostas de educação em

saúde que constituirão o Projeto Político Pedagógico da escola.

O percurso metodológico que torna possível o aproveitamento de suas reflexões

no grupo focal/ entrevistas é de natureza qualitativa, com abordagem sistêmica, que

não produz dados estatísticos em suas análises, embora possa usar dados

quantitativos de outras pesquisas como complemento a seus resultados. O objetivo

deste tipo de investigação é a organização de conceitos e teorias a partir das

experiências, comportamentos, emoções e sentimentos que você irá nos repassar

por meio dos grupos focais/ entrevistas. Nesse sentido, a sua contribuição somada à

coleta documental e bibliográfica é extremamente valiosa e será o ápice da

pesquisa. A análise dos dados será interpretativa com a pesquisadora confrontando

as informações coletadas com os objetivos da proposta, classificando, se

necessário, as mesmas e interpretando à luz de referencial teórico pertinente ao

tema e subtemas que emergirem da investigação.

Os resultados dos estudos serão divulgados durante a defesa de minha dissertação

e em reuniões do grupo de pesquisa GEVAS no Mestrado Profissional em Saúde e

Gestão do Trabalho que funciona no Campus da UNIVALI, em Itajaí, bloco F6, 3º

andar. Para esses eventos, você receberá comunicado e convite para se fazer

presente aos mesmos. Garantimos que durante estas divulgações dos resultados

seu nome será resguardado e não se fará menção ao seu nome, caso você assim

solicitar, curso do qual faz parte ou outros dados que identifique.

Ressaltamos que sua participação é livre e que a retirada de seu nome como

informante não implicará nenhum prejuízo nas relações profissionais e / ou pessoais

que mantemos em nossa instituição.

Assinaturas: _____________________________________

Yolanda Flores e Silva – Orientadora

[email protected]/(47)3341-7932

121

____________________________________

Márcia Gilmara Marian Vieira – co-orientadora

[email protected]/ (47)3341-7712

_____________________________________

Ioná Outo de Souza Wilberstaedt- Pesquisadora

Eu, ________________________________________________________, abaixo

assinado, fui esclarecido (a) sobre a pesquisa SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA:

discursos do corpo docente de uma escola pública de ensino fundamental da

capital catarinense, bem como os possíveis riscos e benefícios decorrentes de

minha participação. Foi-me informado e garantido que posso retirar meu consentimento

a qualquer momento, sem que isto leve a qualquer tipo de penalidade em minha vida

profissional . Concordo que meus dados sejam utilizados na realização da mesma e

______________( desejo/ não desejo) participar da entrevista individual, caso seja

convidado (a).

Nome:________________________________________________________________

Assinatura:__________________________________________________________

RG: ___________________________ CPF: ________________________________

Florianópolis, ______, de _____________________ de 2013.

122

APÊNDICE B

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – CCS PROGRAMA DE PÓS – GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM SAÚDE E GESTÃO

DO TRABALHO / MESTRADO PROFISSIONAL

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: SAÚDE DA FAMÍLIA

ROTEIRO DE ENTREVISTA

Pesquisa: SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA: discursos do corpo docente de uma

escola pública de ensino fundamental da capital catarinense.

Docente do Ensino Fundamental

Identificação: _________________________________________________

Disciplina que atua:_____________________________________________

Idade: _______________ Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino

Estado civil:_______________________ Filhos: ( ) não tenho ( ) número:_____

Formação Profissional:_____________________Tempo de trabalho:________

Pós-graduação:___________________________________________________

1. Nossa conversa será sobre o que você entende / compreende sobre quatro

„fenômenos‟ do viver humano. Pense, e se quiser, conte uma experiência de sua

vida (aqui na escola ou em sua casa) que possa melhor demonstrar e descrever

o que você concebe sobre:

Saúde

Doença

Bem-estar

Qualidade de Vida

123

2. Agora, pensando individualmente cada „fenômeno‟ coloque-me quais as suas

experiências de saúde – aqueles momentos ou histórias da sua vida em que

você sente que está com saúde e que pode realizar suas funções de docente e

de pessoa (com sua família e amigos).

3. Sobre doença: como você sabe que está doente? Que doenças ou problemas o

afetaram nos últimos dois (02) anos? Você está vivenciando neste momento

algum problema de natureza crônica? É uma doença ou é um sintoma? Quais

providências você vem tomando para curar-se e/ou diminuir os agravos deste

problema? Você precisa de algo especial e diferente para atenuar este problema

(uma dieta, relaxamento, exercícios, dormir mais, etc)?

4. O que você considera importante para que alguém se sinta bem e possa dizer

„vivo um momento de bem-estar‟? Você consegue se sentir assim no ambiente

da escola? Você percebe este sentimento de bem-estar em seus colegas? Eles

expressam isto? E os demais membros da comunidade escolar?

5. Sobre qualidade de vida: o que você considera como importante para que se

obtenha uma vida com qualidade? Você se considera alguém com uma vida em

que você consegue: fazer exercícios, ter uma alimentação adequada à sua idade

e atividade, ter um bom sono e repouso nos intervalos do trabalho, lazer,

descanso em casa e um bom relacionamento com as pessoas com quem

convive?

6. Para você o que é Promoção da Saúde? Como seria possível, segundo o seu

ponto de vista, fazer promoção da saúde no âmbito escolar. Qual seria a sua

contribuição para a realização de um programa de promoção escolar na escola?

7. E sobre Educação em Saúde, o que você entende que seja? Educação em

Saúde é o mesmo que Promoção em Saúde? Quais ações você considera como

importantes para implementação de um programa de Educação em Saúde

Escolar?

8. Finalmente: você saberia a diferença entre ações multidisciplinares,

interdisciplinar, transdisciplinar e pluridisciplinar?

Agradecemos a sua participação!

124

APÊNDICE C

125

126

127

128

129

130

ANEXO A

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – CCS PROGRAMA DE PÓS – GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM SAÚDE E GESTÃO

DO TRABALHO / MESTRADO PROFISSIONAL

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: SAÚDE DA FAMÍLIA

Florianópolis – SC / Brasil, 02 de setembro de 2013

Ilmo Sr. Diretor,

José Antônio Dainez Júnior

Como docente desta Unidade Escolar e aluna regular do Curso de pós-graduação

Strictu sensu, Mestrado Profissional em Saúde e Gestão do Trabalho, Turma 10, da

Universidade do Vale de Itajaí – UNIVALI, sob orientação da Profª Enf.ª Drª Yolanda

Flores e Silva e co-orientação da Profª Drª Márcia Gilmara Marian Vieira, venho por

meio deste documento solicitar permissão para efetuar a coleta de dados do meu

trabalho de pesquisa junto ao corpo docente desta escola com a proposta de

pesquisa intitulada: SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA: discursos do corpo docente

de uma escola pública de ensino fundamental da capital catarinense, que tem

como objetivo geral: Analisar os discursos sobre saúde e qualidade de vida de

docentes de uma escola pública de ensino fundamental, visando auxiliar discussão

de uma tecnologia social que permita criar um modelo de Promoção da Saúde

Escolar que possa ser efetivado por meio de ações interdisciplinares de educação

em saúde. Em anexo a cópia de nossa proposta para que possa ler e avaliar nosso

pedido, que após o seu deferimento será enviado ao Comitê de Ética da UNIVALI

para que tenhamos o aval final para a realização da coleta de dados junto aos

docentes da escola sob a sua direção. No caso de dúvidas, colocamo-nos à

disposição para outros esclarecimentos.

Cordialmente,

Ioná Outo de Souza Wilberstaedt

Mestranda em Saúde e Gestão do Trabalho

131

ANEXO B

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – CCS

PROGRAMA DE PÓS – GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM SAÚDE E GESTÃO DO TRABALHO / MESTRADO PROFISSIONAL

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: SAÚDE DA FAMÍLIA

Florianópolis – SC / Brasil, 05 de setembro de 2013.

Ilmo Sr. Gerente da Educação,

Mário Benedet Filho

Gerência Regional de Educação – Grande Florianópolis

(GERED/SC)

Como Professora de Ciências ACT-2013, do ensino fundamental, Matrícula 667169.01.1 e

aluna regular do Curso de pós-graduação Strictu sensu, Mestrado Profissional em Saúde e

Gestão do Trabalho, Turma 10 da Universidade do Vale de Itajaí – UNIVALI, sob orientação

da Profª Drª Yolanda Flores e Silva e co-orientação Profª Drª, Márcia Gilmara Marian Vieira

eu, Ioná Outo de Souza Wilberstaedt venho por meio deste documento solicitar permissão

para efetuar a coleta de dados do meu trabalho de pesquisa junto ao corpo docente de minha

escola de lotação com a proposta de pesquisa intitulada: : SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA:

discursos do corpo docente de uma escola pública de ensino fundamental da capital

catarinense, que tem como objetivo geral: Analisar os discursos sobre saúde e qualidade

de vida de docentes de uma escola pública de ensino fundamental, visando auxiliar discussão

de uma tecnologia social que permita criar um modelo de Promoção da Saúde Escolar que

possa ser efetivado por meio de ações interdisciplinares de educação em saúde. Em anexo, a

cópia de nossa proposta para que possa ler e avaliar nosso pedido, que após o seu

deferimento, será enviado ao Comitê de Ética da UNIVALI para que tenhamos o aval final

para a realização da coleta de dados junto aos docentes da escola. No caso de dúvidas,

colocamo-nos à disposição para outros esclarecimentos.

____________________________ ____________________________

Ioná Outo de Souza Wilberstaedt Profª Drª Márcia Gilmara Marian Vieira

132

ANEXO C

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – CCS PROGRAMA DE PÓS – GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM SAÚDE E GESTÃO

DO TRABALHO / MESTRADO PROFISSIONAL

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: SAÚDE DA FAMÍLIA

TERMO DE ACEITE DE ORIENTAÇÃO

Declaro que conheço e aceito os requisitos da Resolução CNS 466/12, suas

diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres humanos no

desenvolvimento do projeto de pesquisa intitulada: SAÚDE E QUALIDADE DE

VIDA: discursos do corpo docente de uma escola pública de ensino

fundamental da capital catarinense, da mestranda, Ioná Outo de Souza

Wilberstaedt, assim como afirmo que os dados coletados serão utilizados apenas

para os fins especificados no trabalho de pesquisa com o objetivo geral de analisar

os discursos sobre saúde e qualidade de vida de docentes de uma escola pública de

ensino fundamental, visando auxiliar discussão de uma tecnologia social que permita

criar um modelo de Promoção da Saúde Escolar que possa ser efetivado por meio

de ações interdisciplinares de educação em saúde

Orientadora :______________________________________________

Yolanda Flores e Silva

Itajaí, 02 de setembro de 2013.

133

ANEXO D

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – CCS PROGRAMA DE PÓS – GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM SAÚDE E GESTÃO

DO TRABALHO / MESTRADO PROFISSIONAL

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: SAÚDE DA FAMÍLIA

TERMO DE UTILIZAÇÃO DE DADOS PARA COLETA DE DADOS DE

PESQUISAS ENVOLVENDO SERES HUMANOS

Declaro que conheço e cumprirei os requisitos da Resolução CNS 466/12 no

desenvolvimento da pesquisa intitulada SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA:

discursos do corpo docente de uma escola pública de ensino fundamental da

capital catarinense, que tem como objetivo geral: Analisar os discursos sobre

saúde e qualidade de vida de docentes de uma escola pública de ensino

fundamental, visando auxiliar discussão de uma tecnologia social que permita criar

um modelo de Promoção da Saúde Escolar que possa ser efetivado por meio de

ações interdisciplinares de educação em saúde. Afirmo que os dados coletados

serão utilizados apenas para os fins especificados no trabalho de pesquisa.

Orientadora: __________________________________________

Yolanda Flores e Silva

Co-orientadora:_________________________________________

Márcia Gilmara Marian Vieira

Mestranda: ____________________________________________

Ioná Outo de Souza Wilberstaedt

Participante Pesquisado(a):_____________________________________

Nome Participante por extenso:__________________________________

Itajaí, _______/___________/__________