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    JESUSUM PROFETADO ISLAM

    POR

    MUHAMMAD ATA AR-RAHEEM

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    JESUSUM PROFETADO ISLAM

    POR

    MUHAMMAD ATA AR-RAHEEM

    apoio cultural:

    CENTRO DE DIVULGAO DO ISLAM PARA AMRICA LATINA

    Caixa Postal 242 - CEP: 09725-730

    So Bernardo do Campo - SP - Brasil

    Fone: (055) 11 - 4122 - 24 00 / Fax: (055) 11 - 4332-2090

    e-mail: [email protected]: www.islambr.com.br

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    Jesus um Profeta do Islam

    Est uma publicao do departamento religioso do Centro de Divulgao do Islam Para Am-rica Latina, que tem como objetivo educar, esclarecer e divulgar a crena, a prtica e os ensina-mentos da religio Islmica.

    EDITORA MAKKAH

    2011IMPRESSO NO BRASIL

    Editor Responsvel

    Ziad Ahmad Sai

    Produo Editorial

    Editora Makkah

    Projeto Grco e Capa

    Editora Makkah

    Distribuio Gratuita

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    Jesus um Profeta do Islam

    Em Nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso.

    Introduo (Verso Portuguesa)1

    Louvado seja Deus, O Senhor dos Mundos! Graas a Deus, a Editora Al-Furqn d agora a lume o segundo deuma coleo de livros de Religio comparada2, que visam esclarecer o pblicode lngua portuguesa sobre aspectos essenciais do Islam. O objetivo principaldo livro de Muhammad Ata Ar-Raheem, Jesus: um Profeta do Islo, e o deapresentar a posio Islmica a respeito de Jesus, a paz esteja com ele, um dosmais favorecidos Profetas que Deus enviou como guia para as ovelhas perdidas

    da Casa de Israel.

    O conhecimento da perspectiva Islmica sobre Jesus reveste-se deatualidade e importncia indiscutveis no mundo Ocidental, tendo em conta asdeturpaes da Doutrina Islmica com que deparamos a cada passo nos meiosde Comunicao Social. Um exemplo disso, que, para alm de outros aspectos,chega ao ponto de colocar em oposio frontal, Muhammad e Jesus (que a pazde Deus esteja com eles), o de uma recente entrevista concedida ao jornal ACapital (edio de 11/05/1994), por um alto dignitrio da hierarquia Catlicaem Portugal - o Senhor Bispo de Setbal, D. Manuel Martins - que a dado passoa rma:

    ... com a Europa envelhecida, camos sem mo-de-obra e sem ela vem todo esseTerceiro Mundo invadir a Europa com toda a sua cultura e civilizao, que jpor si constitui o grande perigo da Europa (os Muulmanos j so a segundaReligio da Frana). E j se interrogam por a quem vai salvar a Europa, se Cristo ou Maom3. una agresso nossa cultura. Estamos desgraados se

    Maom se vem implantar na Europa, com todos esses fundamentalismos.

    Vir a propsito transcrever aqui alguns trechos mais signi cativos daresposta que a Al Furqn teve oportunidade de enviar ao referido dirio:

    Se o Islam j a segunda Religio da Frana (e j tambm consideradaassim nos EUA e no Reino Unido, onde todos os dias h converses ao Islam),no por meio de invaso, de agresso, de represso.

    1 - Verso feita pela Editora Al Furqn.2 - O primeiro foi o estudo de M. Bucaille intulado: A Bblia, o Alcoro e a Cincia. [N.Ed.]3 - Galicismo a evitar, pois Muhammad a transcrio quase perfeita do termo rabe. [N. Ed.]

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    Jesus um Profeta do Islam

    de livre e espontnea vontade de cidados naturais da Europa que,cada vez mais, chegam concluso de que as atuais Escrituras Crists foramextensamente adulteradas no passado e, por consequncia, no oferecemnenhuma orientao segura queles que nelas buscam desesperadamente umcaminho para a Salvao. Contrariamente Bblia, o Alcoro manteve-se igual asi prprio, desde o primeiro instante em que foi revelado, h catorze sculos, epermite restaurar os Princpios Universais contidos nos Evangelhos originais eem todas as Escrituras Sagradas, restituindo a essas Escrituras a sua verdadeiradimenso Espiritual, libertando-as de toda a contraditria interveno humanaacumulada ao longo dos sculos, e constitui, portanto, um e caz instrumentode combate contra a crescente desordem do Mundo Moderno. Por outras

    palavras, esses cidados Europeus que se convertem ao Islo, concluem que atravs do Islamismo que se pode ser, hoje, integralmente Cristo. Porqueapenas h uma Verdade; porque apenas h um Absoluto; porque apenas h umDeus. E, diga-se de passagem que, quem se esfora no verdadeiro caminho paraDeus nunca vai s, sempre leva muita gente atravs de si.

    Refere o Sr. Bispo que j se interrogam por a se Cristo ou Maomquem vai salvar a Europa. Para ns, Muulmanos, essa interrogao no temqualquer sentido. A Doutrina de Cristo foi a de Moiss e a Doutrina de

    Muhammad (que a paz esteja com eles), todos enviados de um Deus nico,que por ser nico, no pode revelar aos Seus Profetas, Doutrinas diferentesou antagnicas. Que a Doutrina de Jesus tenha sido des gurada ao longo dostempos, atribuindo-lhe intenes que no manifestou - onde est referida naBblia, por exemplo, a Trindade, em que passagem a rma Jesus na Bblia serDeus, em que trecho defende ele a Doutrina do Pecado Original? - algo quelamentamos profundamente, mas cuja responsabilidade no nos cabe. Assimsendo, no tem sentido colocar em oposio s duas Doutrinas nas pessoas dosProfetas que as transmitiram.

    Esperamos que o estudo e a investigao documental empreendidapor Muhammad Ata Al-Raheem, no presente livro, auxilie os leitores a teremmelhor conhecimento da Verdade sobre Jesus, que a paz esteja com ele.

    Terminando, queremos deixar aqui expressos os nossos sincerosagradecimentos Senhora Dona Isabel Novais Rodrigues, pela signi cativacontribuio que nos deu na obra deste livro.

    M. Yiossuf Mohamed Adamgy e Muhammad Lus MadureiraLisboa, Fevereiro de 1995/ Ramadan de 1415 (Hgira)

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    Jesus um Profeta do Islam

    Prefcio da Verso Portuguesa

    Do ponto de vista histrico-geogr co, o livro Jesus, Um Profeta doIslam, muito interessante. Em primeiro lugar, a vida de Jesus (A.S.4) analisadano seu contexto temporal e social, o que fornece inmeros elementos, nos sobre a poca em que ter nascido, j que a data exata controversa, mastambm sobre a sociedade que o acolheu e o espao em que se movimentou.Ao analisar a maneira como os ensinamentos de Jesus (A.S.) foram difundidose desvirtuados, o autor d-nos variadas informaes sobre os primeiros povosque aderiram ao Cristianismo e a maneira como a Doutrina se difundiu

    atravs da Grcia e da Roma e, mais tarde, pela Europa e pelo Norte da frica.Aps a implantao da Igreja Romana, quando o autor descreve a luta dosUnitaristas contra o Dogma da Santssima Trindade, uma vez mais so relatadosacontecimentos histricos que se veri caram ao longo de sculos de domniodo Cristianismo, quer na Europa Ocidental, quer no Oriente Mdio. Quemimaginaria que homens como o lsofo Joo Locke, Isaac Newton ou Priestley,o cientista que descobriu o oxignio, tivessem sido duramente perseguidos pordefenderem o Unitarismo (Doutrina de Deus nico)?

    De um ponto de vista religioso, difcil car indiferente s teses dolivro. Para uma pessoa que cresceu numa sociedade profundamente catlicae foi educada segundo os preceitos da Igreja , no mnimo, surpreendente,veri car a fragilidade de certas verdades adquiridas. E, mais uma vez, o livro vemchamar a ateno para fatos que contradizem certas ideias e concepes quequalquer catlico aceita sem questionar.

    De um ponto de vista puramente humano, o livro muitoenriquecedor. Alm de aumentar a cultura de quem o l, contribui para um

    aprofundamento da espiritualidade do Homem. Num mundo sobrecarregadode imagens, ler e re etir so, com certeza, amadurecer em sabedoria.

    Dra. Ana Maria de Azevedo Lobo Novais5

    4 - A.S. acrnimo da frase Alayhi Salaam que em portugus significa Que a Paz esteja sobre

    ele.5 - Licenciada em Geografia. Parcipou em vrias organizaes e Movimentos de jovens Catlicos.Nos lmos anos, tem-se dedicado traduo de livros, sobretudo da rea lingusca francesa.

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    Jesus um Profeta do Islam

    Prefcio da Verso Inglesa

    Um eminente estudioso da histria Crist admite que o Cristianismoatual uma mscara imposta a face do Profeta Jesus (A.S.), mas continua asustentar que uma mscara usada durante muito tempo adquire vida prpria edeve, portanto, ser aceite como tal. Os muulmanos acreditam no Profeta Jesus(A.S.) histrico, mas, recusam aceitar a mscara, e este , de uma forma sucinta,o ponto fundamental da divergncia entre o Islam e a Igreja nos ltimos 14sculos.

    Mesmo antes do advento do Islam, os Arianos, os Paulicianos e osGodos, para mencionar apenas alguns, aceitavam o Profeta Jesus (A.S.), masrejeitavam tambm a mscara. Os Imperadores Romanos tentaram foraras convices dos Cristos e para alcanar este impossvel objetivo, matarammilhes de Cristos. Mas a f no pode ser violentada por um punhal - Castillo,um admirador de Servetus, disse que Matar um homem no prova umaDoutrina.

    Foi sugerido por alguns quadrantes que, a m de alcanarem plenaintegrao na Inglaterra, os Muulmanos deveriam fazer coincidir as suas Festascom o Natal e a Pscoa. Os que tal sugerem, esquecem que o Natal e Pscoaso festivais pagos pr-cristos, constituindo o primeiro, a celebrao doaniversrio do deus-sol, e o segundo, um festival sagrado em honra da antigadeusa anglo-saxnica da fertilidade. Nestas condies, talvez seja de perguntarquem ser realmente o Anticristo.

    Tenta-se neste livro, provavelmente pela primeira vez, estudar a

    sagrada vida do Profeta Jesus (A.S.), utilizando todas as fontes possveis,incluindo os Pergaminhos do Mar Morto (descobertos no sculo vinte), aEscritura Crist, a moderna pesquisa, o Alcoro Sagrado e os Ahadith6(ditos doProfeta Muhammad (S.A.A.S.7)). Os estudiosos cristos que intentaram escrevera histria do Profeta Jesus (A.S.), nunca se libertaram da ideia da sua divindade,concluram que ele no tinha existido ou que estava presente em toda gente.Com esta postura intelectual, impossvel realizar qualquer estudo objetivo.

    6 Ahadith o plural de Hadith.7 - S.A.A.S. o acrnimo de Sall Allahu Alayhi wa Salaam que significa em portugus Que apaz e a bno de Deus estejam sobre ele.

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    Jesus um Profeta do Islam

    Pelo contrrio, o nosso livro Jesus: um Profeta do Islam parte da convico deque o Profeta Jesus (A.S.) existiu, foi um homem e um Profeta de Deus.

    Esta obra fruto de 30 anos de estudo. Os meus primeirosagradecimentos vo para Amatur Raquib, que se deu ao trabalho de procurarlivros fora da circulao, impossveis de obter nas livrarias de Karachi, pelo quea ajuda que ela meu deu foi de importncia vital. O senhor Ahmad Jamjoom,de Jeddah, honrou-me com a sua visita a Karachi, e sempre que deparei comalguma di culdade, proporcionou-me apoio e encorajamento. So tambmdevidos agradecimentos a Sheikh Mahmoud Subhi da Jamiat Dawa Islamiyah deTripoli, por ter tornado possvel a minha ida para Londres a m de estudar oassunto em profundidade.

    Em Londres, encontrei Sheikh Abd Al-Qadir As-Su que me ajudoua cada passo, tendo viabilizado a colaborao do Sr. Ahmad Thomson comigo.Auxiliou-me a concluir o material e sem a sua interveno, o trabalho teria sidodolorosamente vagaroso. Hajj Abd al-Haqq Bewley esteve sempre presente comsugestes e conselhos teis.

    A simpatia e calorosa amizade que recebi do Dr. Ali Aneizi no podemser descritas, mas apenas profundamente reconhecidos. Por ltimo, na palavrasdo Alcoro Sagrado: Nada me possvel seno com a ajuda de Allah.

    Muhammad Ata Ar-RaheemLondres, 7 Jumada-Al-Awal, 1397 (Hegira) /1977

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    Jesus um Profeta do Islam

    Introduo

    O autor deste livro, Muhammad Ata Ar-Raheem, sentiu de formamuito viva que, se os povos dos pases cristos tivessem algum conhecimentoda F Islmica em conjunto com uma viso realista de Jesus Profeta, a pazesteja com ele muitos desentendimentos e situaes desagradveis poderiamser evitadas. Intelectual brilhante e cosmopolita, o autor no est limitado porfronteiras nacionais no que respeita felicidade e bem-estar das pessoas. Aignorncia cultural recproca, segundo pensava, constitui a principal causa de

    sofrimentos e desentendimento.

    Assim, embora este livro seja destinado em primeiro lugar ao mundoOcidental, ele tambm serve todos que buscam esclarecimento no que respeitaa um conjunto de idias controversas sobre o nascimento do Profeta Jesus(A.S), a sua misso e a sua morte. Muhammad Ata Ar-Raheem enfrentou ocerne da questo como um verdadeiro historiador, concluindo que grandeparte da confuso se deve a dois dogmas que carecem de explicao racional

    a suposta Divindade do Profeta Jesus (A.S.) e a Trindade.

    Este trabalho destri grande parte do mito em que assenta a IgrejaCrist e apresenta o Profeta Jesus (A.S) como um rigoroso Judeu Ortodoxo,que na realidade foi, e como um mestre da F Unitria (F em Deus nico),enviado como mensageiro por Deus para destruir as enormes deturpaes quese tinham desenvolvido no sacerdcio Judaico.

    Mas no desejo que esta introduo se transforme no resumo deum livro que vale por si prprio. O autor escreveu-o com a inteno de ajudaros no-Muulmanos a compreender a verdade bem como a dissipar o receiosupersticioso do Islam que muitos Cristos sentem.

    Ns, Muulmanos, sabemos bem que quo infundado esse receio.Con amos na nossa crena de que Deus Misericordioso e Bene cente para oshomens e inatingvel atravs de conceitos humanos:

    Nada se assemelha a Ele, e o Oniouvinte, o Onividente.(Alcoro Sagrado 42:11)

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    Temos con ana no nosso conhecimento dos Seus Profetas, que apaz esteja com todos eles; temos con ana no conhecimento de Deus que

    eles (os Profetas) nos transmitiram e na Via (senda reta) que nos indicarampara seguir. Os Muulmanos, seguidores da perfeio absoluta do AlcoroSagrado, aceitam tudo isso, mas nem sempre conseguem torn-lo evidente paraos outros. O autor, nutrindo uma profunda simpatia por todos os homens, massobretudo pelos menos favorecidos, tinha conscincia desta falta em termos decomunicao. Estava igualmente consciente de todo um conjunto de tradiesregionais que se desenvolveram no Islam, tradies que podem no apenasconfundir os que olham para ns com receio, mas tambm os Muulmanos dediferentes naes.

    Apenas a compreenso e a simpatia podem promover a verdadeiraamizade e colaborao entre os diferentes povos, e o receio do desconhecidoconstitui o maior obstculo concretizao desses objetivos. Perante a perda devalores morais no Ocidente, alguns Muulmanos crem que bastaria introduziro Islam nesse vcuo espiritual, mas essa opinio no corresponde verdadeiranatureza da questo. A educao generalizada dos povos Ocidentais necessriaao crescimento da sua tecnologia e indstria mostrou-lhes com toda a clarezaque a Religio, tal com eles conhecem, se baseia em dogmas inaceitveis.Por conseqncia, ilusrio supor que a elite intelectual do Ocidente sejaa primeira a desfazer-se da liberdade ganha na sua recente independncia emrelao ao poder monopolista da Igreja Crist, cujos clrigos se opuseramdurante sculos ao desenvolvimento do saber. Para essas pessoas, a Religio,qualquer que seja a sua denominao, vista como superstio antiquada, comofora restritiva que impede o desenvolvimento cient co futuro.

    Antes que o Islam possa preencher o vazio espiritual do Ocidente,torna-se urgente convencer as pessoas que nele vivem sem horizontes, darealidade de Deus e mostrar que o conhecimento de Deus no depende daaceitao da hierarquia clerical que eles depuseram. igualmente necessrio quelhes seja proporcionada a verdadeira imagem dos Muulmanos.

    Se os pases Islmicos no tivessem, quase de um dia para outro,descoberto grandes riquezas, o Mundo Ocidental teria continuado por muitotempo a ignor-los. A Europa e a Amrica foram subitamente confrontadas, noapenas com uma F de que desconheciam tudo, mas com uma F apoiada pelo

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    nico valor que reconhecem (falando dos Ocidentais) o do dinheiro em grandequantidade. E isso signi ca poder, poder para vencer.

    No de estranhar que exista um receio muito acentuado dessepoder. H 14 sculos, (como sabemos) o Mundo Islmico deteve o exclusivodo conhecimento cient co que veio a gerar a tecnologia Ocidental. As naesrabes recuperaram recentemente a sua identidade: o Paquisto, por exemplo,foi subjugado pelo poder industrial Ocidental at h alguns anos. E, no entanto,esse povo Islmico est demonstrando a possibilidade de alcanar a sociedadeque envia homens Lua, produz bebs de proveta e duplica, talvez, a esperanade vida.

    Os que, tendo nascido em terras Crists, lutaram duramente parase libertarem e libertaram os seus pases do domnio e jurisdio do poderclerical romano, substituindo-o por governos e leis civis, receiam naturalmentea possibilidade dessa liberdade se perder.

    Desta atmosfera de medo apenas podem resultar con itos, a menosque os sbios Islmicos consigam com obras, como a de Muhammad Ata Al-

    Raheem, criar um clima de estreita comunicao com o Ocidente. Sobre ospases Muulmanos, sobretudo os que tm maior poder econmico, recaemresponsabilidades nos exemplos a dar. Felizmente, a proliferao de Universidadese Centros Culturais no Ocidente e no Mundo Islmico, ajudar a proporcionaroportunidades para pesquisa Islmica construtiva, e, se Deus o permitir, adesfazer gradualmente os receios.

    Como Muulmanos, sabemos que tudo seguir a orientao de Deus,

    mas isso no nos autoriza a car sentados espera. Dispomos da grande ddivado exemplo do Profeta Muhammad (a paz e as bnos de Deus estejam comele) e das inalterveis instrues do Sagrado Alcoro, para nos guiarem. Aordem clara: devemos trabalhar pela Causa de Deus se quisermos alcanar aPaz de Deus neste Mundo e as Suas maiores recompensas no prximo.

    Andrew Douglas-Hamilton

    Jumada al-Thani, 1399 (Hgira) / Abril, 1979

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    Captulo I

    A Doutrina Unitria (Deus nico) e o Cristianismo

    A pesquisa histrica mostrou que o animismo e a adorao de dolospelos povos primitivos de todo o mundo, constitui uma subverso da CrenaUnitria Original, e que o Deus nico do Judasmo, do Cristianismo e doIslamismo, cresceu em oposio multiplicidade de deuses, em vez de evoluir

    a partir deles. Pode assim dizer-se que na fase inicial de qualquer tradioque devemos procurar o ensinamento mais puro, resultando necessariamentede um declnio toda a Doutrina que se lhe segue posteriormente; pois sobesta perspectiva que deve tambm ser examinada a histria do Cristianismo a crena inicial num s Deus veio a corromper-se, tendo-se aceite ento aDoutrina da Trindade, a qual deu origem a uma confuso que afastou cada vezmais o homem da serenidade intelectual.

    No sculo seguinte ao desaparecimento de Jesus (A.S.), os seusseguidores continuaram a a rmar a Unicidade Divina, o que ilustrado pelofato de o Pastor de Hermas, escrito cerca de 90 d.C., ter sido considerado pelaIgreja um Livro Revelado. Este o primeiro dos doze mandamentos que elecontm:

    Primeiro que tudo, acreditem que Deus um s, e Ele que criou todas as coisase organizou-as e do que no existia fez tudo existir, ....8

    De acordo com Theodore Zahn, o 1 artigo da F at cerca de 250d.C. era Eu acredito em Deus Todo-Poderoso9. Entre 180 e 210 d.C. foi inseridoa palavra Pai antes de Todo-Poderoso, o que provocou vivas contestaespor parte de muitos chefes da Igreja. Entre os principais responsveis dessemovimento, contam-se os Bispos Victor e Zephysius, que entendiam ser umsacrilgio inquali cvel acrescentar ou retirar qualquer palavra s escrituras.Opunham-se tendncia de considerar Jesus como Deus e sublinhavam a

    8- The Apostolic Fathers, E.J. Goodspeed.9 -Arcles of the Apostolic Creed, Theodore Zahn, pp. 33-37.

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    unicidade de Deus tal como foi expressa nos ensinamentos originrios doProfeta Jesus (A.S), defendendo que, embora Profeta e muito favorecido peloSenhor, Jesus (A.S.) era, na sua essncia, um homem como os outros. Esta F eracompartilhada pelas Igrejas que tinham surgido no Norte de frica e na siaOcidental.

    medida que se expandiam, os ensinamentos de Jesus (A.S.) tomaramcontato com outras culturas e entraram em con itos com elas, tendo sidoassimilados e adaptados por essas culturas e, simultaneamente, sofrido alteraesde forma a serem reduzidas as perseguies por parte dos governantes. NaGrcia, sobretudo, sofreram uma metamorfose devido a serem expressos pela

    primeira vez numa nova lngua de uma cultura com idias e loso a prprias.E foi o ponto de vista de multiplicidade de deuses dos Gregos que contribuilargamente para a formulao desta Doutrina da Trindade, ao mesmo tempoem que alguns, nomeadamente Paulo de Tarso, transformavam gradualmenteJesus (A.S.), de Profeta que era, em deus. Apenas em 325 d.C. a Doutrina daTrindade foi declarada Ortodoxa pelo Cristianismo; ainda assim, alguns dosque a subscreveram no acreditavam nela, por no encontrarem nas Escriturasnenhuma autoridade a garanti-lo. Athanasius, que considerado o pai dessecredo, no estava muito seguro da sua justeza. Admite que: Sempre que forava

    a inteligncia na meditao da divindade de Jesus (A.S.) confrontava-se com aine ccia dos seus por ados esforos, acontecendo que, quanto mais escrevia,menos capaz era de expressar os seus pensamentos. Athanasius chegou mesmoa escrever: No existem trs, mas um nico Deus. A sua crena na Doutrinada Trindade no se baseava na certeza mas em convenincias polticas e emnecessidades circunstancias.

    O papel desempenhado por Constantino, o Imperador pago deRoma que presidiu ao Conclio de Nicia, mostra bem como aquela histricadeciso se cou a dever a expedientes polticos e a falsos argumentos los cos.As orescentes comunidades Crists constituam j uma fora que Constantinono desejava enfrentar e cujo apoio ao fortalecimento do Imprio erainsubstituvel. Ao remodelar o Cristianismo, Constantino esperava ganhar asimpatia da Igreja e ao mesmo tempo acabar com a confuso nela existente, oque constitua uma fonte de ainda maior confuso no seu Imprio.

    O processo que o levou atingindo parcialmente o seu objetivo podeser ilustrado atravs de um incidente ocorrido na Segunda Guerra Mundial.Certa altura, estava prxima a festa de Ide, comeou a chegar a Singapura, ento,sob ocupao Japonesa, propaganda da Orao de Ide proveniente de Tquio,

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    anunciando que se tratava de uma ocasio histrica que teria repercussesem todo o mundo Islmico. Aps alguns dias, a propaganda foi subitamentesuspensa, vindo a saber-se atravs de um prisioneiro Japons capturado numemboscada, que Tojo, o chefe do governo Japons, planeava surgir como o maiorreformador Islmico dos tempos modernos, ajustando os ensinamentos do Islams necessidades dos tempos atuais. Tornava-se para isso necessrio, segundo ele,que os Muulmanos deixassem de se orientar para Meca durante a orao, epassassem a orientar-se para Tquio, onde estaria sediado o futuro centro doIslam sob a direo de Tojo. Os Muulmanos recusaram esta orientao doIslam e por isso todo o projeto abortou pelo que no foi permitida orao deIde nesse ano em Singapura. Tojo tinha compreendido a importncia do Islam,

    e desejava us-lo como instrumento dos seus desgnios imperialistas, mas noteve xito. Constantino teve xito onde Tojo falhou e Roma substituiu-se aJerusalm como da Cristandade Paulina.

    Esta degenerescncia dos ensinamentos puros de Jesus (A.S.), queteve como resultado inevitvel a aceitao da multiplicidade de deuses pelaCristandade, encontrou sempre antagonistas. Quando em 325 d.C., a Doutrinada Trindade foi o cialmente proposta com Doutrina Ortodoxa Crist. Arius,um dos chefes Cristos do Norte da frica, ergueu-se contra a aliana deConstantino com a Igreja Catlica e recordou que o Profeta Jesus (A.S.) semprea rmava a Unicidade de Deus. Constantino tentou esmagar, agressivamentee brutalmente, o incmodo povo de Deus nico, mas falhou. Ironicamente,embora Constantino tenha morrido como Unitrio, a Doutrina da Trindadetransformou-se o cialmente na base do Cristianismo na Europa. Esta Doutrinacausou muita confuso, sobretudo entre aqueles a quem se pediu para acreditaremsem que tentassem compreender. Todavia, no era possvel impedir as pessoasde tentarem demonstrar a Doutrina e explic-la intelectualmente, e em termosgerais, desenvolveram-se trs escolas de pensamento. A primeira est associadaa Santo Agostinho, que viveu no sculo IV d.C. e defendia a opinio de que aDoutrina no podia ser provada mas podia ser ilustrada. S. Vitor, que viveu nosculo XII d.C., est associado segunda escola, que defendia ser a Doutrinademonstrvel e ilustrvel. O sculo XIV d.C. viu nascer a terceira escola, queacreditava ser impossvel demonstrar ou ilustrar a Doutrina da Trindade, pelo quenela se devia acreditar cegamente. Embora os livros contendo os ensinamentosde Jesus (A.S.) tivessem sido destrudos, suprimidos ou alterados para evitarqualquer contradio manifesta com a Doutrina da Trindade, uma boa dosede verdade substitui nos que sobreviveram, pelo que a defesa da Doutrina da

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    Trindade evidenciava uma diferena de nfase entre o que as Escrituras rezavame o que os Chefes da Igreja diziam. Sustentava-se que a Doutrina da Trindadese fundamentava numa revelao especial feita Igreja, a Noiva de Jesus, peloque no surpreende assistir-se reprimenda de Fra Fulgentio pelo Papa numacarta em que se l: Pregar as Escrituras uma coisa suspeita; aquele que seguirde perto as Escrituras arruinar a F Catlica. Na carta subseqente, o Papa ainda mais explcito, advertindo contra uma insistncia exagerada nas Escrituras: ...as quais so livros que destruiro a Igreja Catlica, se algum os tomar porguia.10

    O abandono efetivo dos ensinamento de Jesus (A.S.) deveu-se emgrande parte completa obscuridade que rodeia a sua realidade histrica. AIgreja tornou a Religio, no s independente das Escrituras, mas tambm deJesus (A.S.), tendo-se transformado Jesus-homem em Cristo-mtico. Mas a Fem Jesus (A.S.) no se identi ca necessariamente com a F na ressurreio deCristo. Enquanto que os seus seguidores basearam as suas vidas no exemplodo Profeta Jesus (A.S.), o Cristianismo Paulino baseou-se na crena de umCristo supostamente cruci cado, que desvalorizou a vida e o ensino de Cristoenquanto vivo.

    medida que a Igreja estabelecida se distanciava cada vez mais dosensinamento de Jesus (A.S.), os seus chefes envolviam-se cada vez mais nosassuntos dos que tinham poder terreno. medida que os ensinamentos deJesus e os desejos dos poderosos se fundiam uns nos outros, a Igreja, emboradefendendo a sua separao do Estado, identi cou-se cada vez mais com oEstado e ganhou poder. Nos primeiros tempos, a Igreja estava submetida aopoder Imperial, mas com o seu crescente compromisso, a situao inverteu-se.

    Sempre existiu oposio a estes desvios relativos aos ensinamentos

    de Jesus (A.S.), mas medida que a Igreja ganhava poder, a negao da Trindadetornava-se muito perigosa e conduzia quase inevitavelmente morte. EmboraLutero tivesse abandonado a Igreja Romana, a sua revolta dirigia-se mais contraa autoridade do Papa do que contra as Doutrinas fundamentais da IgrejaCatlica Romana. O resultado foi a fundao de uma nova Igreja encabeadapor Lutero. Os princpios Cristos bsicos foram adotados e mantidos, apesar

    do aparecimento de algumas Igrejas Reformistas e seitas. Assim, a Doutrina de10- Tetradymus, John Toland.

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    Trindade anterior Reforma no sofreu perturbaes e os dois ramos principaisda Igreja de Paulo continuam existindo at hoje.

    No Norte da frica e no Oriente Mdio, a maioria das pessoasaceitou os ensinamentos de Arius e, mais tarde, quando o Islamismo apareceu,abraaram-no prontamente. Alis, foi por j terem adotado a Doutrina de Deusnico e o ensinamento puro do Profeta Jesus (A.S.) que reconheceram o Islamcomo a Verdade.

    Na Europa, a corrente do Unitarismo (Unicidade Divina) no seioda Cristandade nunca foi quebrada e o movimento cresceu, de fato, em fora,

    sobrevivendo perseguio continua e brutal das Igrejas no passado, bem como sua indiferena no presente. Hoje, cada vez mais pessoas esto conscientes deque a Doutrina da Trindade, tal como conhecida, pouco tem a ver com osensinamento originais de Jesus (A.S.).

    Durante os dois ltimos sculos, as pesquisas dos historiadoresdeixaram pouco espao para mistrios Cristos, mas o fato j comprovado deque o Cristo da Igreja estabelecida no tem quase nada a ver com o Jesus daHistria, no ajuda em nada os Cristos no que diz respeito Verdade.

    O dilema atual dos Cristos esclarecido pelo que escrevem oshistoriadores da Igreja no nosso sculo e a sua di culdade fundamental, talcomo foi apontado por Adolf Harnack, a seguinte: O evangelho existentej tinha sido mascarado pela loso a grega no sculo IV, pelo que coube aoshistoriadores a misso de lhe arrancarem a mscara, revelando assim como oscontornos iniciais da Doutrina subjacente tinham sido diferente. Harnack, noentanto, aponta mais uma di culdade na realizao desta tarefa, quando diz quea mscara Doutrinal, usada durante um perodo su ciente, pode remodelar aface da Religio:

    A mscara adquire vida prpria -- a Trindade, as duas naturezas de Cristo,a infalibilidade e todas as proposies que secundam estes dogmas, foramproduto de decises e de situaes histricas e podem acabar por se revelarbastante diferente... no entanto... mais tarde ou mais cedo, produto ou foraremodelada, o dogma persiste o que tinha sido deste o princpio, um mauhbito de intelectualizao que os Cristos adquiriram com os Gregos quando

    fugiram dos Judeus.11

    11- Outline of the History of Dogma, Adolf Harnack.

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    Harnack retoma este noutro livro12, onde admite o seguinte: ... O quartoEvangelho no provm, nem declara provir, do Apstolo Joo, no podendoser considerado como uma verdade histrica... O autor deste Evangelho atuoucom uma liberdade suprema, inverteu a ordem dos acontecimentos e exp-losa uma luz diferente. Alm disso, ele prprio criou a controvrsia ao explicar osgrandes pensamentos com situaes imaginrias.

    O mesmo autor refere-se ainda ao trabalho do famoso historiadorCristo, David Strauss, que descreve como tendo Quase destrudo a credibilidadehistrica no s do quarto, ms tambm dos trs primeiros Evangelhos. 13

    De acordo com Johannes Lehmann14, outro historiador, os autoresdos quatro Evangelhos aceites descrevem um Jesus (A.S) diferente daquele quepode ser identi cado na realidade histrica. Lehmann cita Heinz Zahrnt quandochama a ateno para as conseqncias deste fato:

    Se as investigaes histricas fosse capaz de provar que existe uma antteseirreconcilivel entre o Jesus (A.S.) histrico e o Cristo tal como pregadoe, portanto, que a crena em Jesus no se fundamenta no prprio Jesus, isso

    seria no s absolutamente fatal em termos teolgicos, como diz N. A. Dahl,mas signi caria, tambm, o m de toda a Doutrina de Cristo. No entanto, euestou convencido de que, mesmo assim, ns, os telogos, seramos capazesde encontrar uma sada -- houve alguma ocasio em que no o tenhamosconseguido? Mas, ou estamos a mentir agora, ou estivemos a mentir outrora. 15

    Enquanto estas curtas citaes mostram o dilema em que aCristandade atual se debate, as palavras de Zahrnt demonstram ainda algo muito

    mais srio subjacente a tudo isto: possvel car to envolvido com pormenoresdaquilo que aconteceu Doutrina de Jesus (A.S.), e s Igrejas e seitas que se lheseguiram, que o objetivo original do ensinamento passa a ser sobrevalorizadoou esquecido. Assim, Theodore Zahn, por exemplo, esclarece os desagradveiscon itos existentes no interior das Igrejas estabelecidas. Este autor consideraainda que os Catlicos Romanos, com boas ou ms intenes, acusam a Igreja

    12- Outline of the History of Dogma13- What Is Crisanity?, Adolf Harnack, pg. 20

    14 - Um sacerdote Cristo alemo que se converteu ao Islam em 1971, depois de 20 anos de vidamissionria, tendo adotado o nome Islmico Yahya Abdul Rahman Lehmann.15 - The Jesus Report, J. Lehmann (Citao de K. Verlag, Stugart, 2 ed. 1960. pg. 112)

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    Ortodoxa Grega de remodelar o texto da Sagrada Escritura com adies eomisses; os Gregos, por seu turno, entendem que so os prprios Catlicosque se afastam do texto original em diversos locais e, no obstante as suasdiferenas, combinam acusar os Cristos no-conformistas de desviarem doverdadeiro caminho, condenando-os como herticos. Os herticos, por suavez, acusam os Catlicos de terem dado outra cunha verdade, como osfalsi cadores. E conclui: No so os fatos o suporte destas acusaes?16

    O verdadeiro Jesus (A.S.) est completamente esquecido e os queesto conscientes desta degenerao e desejam, sinceramente, regressar e viversegundo os preceitos iniciais, so impedidos de o fazer porque a DoutrinaOriginal, na sua totalidade, j desapareceu e irrecupervel. Erasmo a rmou oseguinte:

    Os antigos losofaram muito pouco acerca das coisas Divinas...Primeiramente a F estava na vida, mais do que na pro sso dos crentes...Quando a F passou escrita, mais do que aos coraes, ento apareceram quasetantas fs como homens. Os artigos aumentaram e a sinceridade diminuiu. Ascontendas tornaram-se quentes e o amor tornou-se frio. A Doutrina de Cristo,que no princpio no conhecia distines demasiado subtis, veio a depender da

    ajuda da loso a (grega). Foi este o primeiro degrau no declnio da Igreja.

    Ento a Igreja foi forada a explicar o que no podia ser expressoem palavras e, para ganhar o apoio do Imperador, recorreu a ambos os lados.Erasmo comentando este fato, continua:

    A injeo da autoridade do Imperador neste assunto no ajudou grandementea sinceridade da F .... quando a F est na boca em vez de estar no corao,quando o slido conhecimento das Sagradas Escrituras nos falha, mesmo que

    pelo terror levemos os homens a acreditar no que no sabem. O que foradono pode ser sincero.17

    Erasmo compreendeu que os primeiros Cristos, os seguidoresprximos de Jesus (A.S.), tinham um conhecimento da Unicidade de Deusque nunca foi necessrio exprimir, mas quando o seu ensino se espalhou enasceram con itos entre as Igrejas, os homens conhecedores foram foradosa tentar explicar os seus conhecimentos da Realidade. Entretanto, tinham jperdido a Doutrina de Jesus (A.S.) na sua totalidade, bem como a linguagem da

    16 - Arcles of The Apostolic Creed, Theodore Zahn.17 - Erasmi Epitolai, 1334 ed. P.S. Allen, V, pg. 173-192.

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    Unicidade de Deus que lhe estava associada e recorriam apenas ao vocabulrioe terminologia da loso a grega que j no considerava a Unicidade de Deus,mas uma viso tripartida da existncia.

    E a to simples e pura con ana na Realidade foi, inevitavelmente,expressa numa linguagem estranha a Jesus (A.S.) e levou formao da Doutrinada Trindade com a dei cao de Jesus (A.S.) e do Esprito Santo (A.S.). Confusoou cisma foram os resultados inevitveis e sucederam sempre que os homensperderam de vista a Unicidade de Existncia de Deus. Compreender isto essencial para qualquer pessoa que queria saber quem foi o Profeta Jesus (A.S.)e o que realmente ensinou, tanto como o conhecimento de que, uma vez que aspessoas deixem de recorrer completamente s aes do dia a dia de um Profeta(que no so mais do que a personi cao do seu ensinamento), cam perdidas,quer acreditem na Doutrina da Trindade, quer a rmem verbalmente a UnicidadeDivina.

    Captulo II

    Jesus (A.S) numa Perspectiva Histrica

    Quanto maior nmero de pessoas tm tentado saber quem foirealmente Jesus (A.S.), mais tem sido descoberto quo pouco se sabe sobre ele.H registros restritos dos seus ensinamentos e de algumas das suas aes, mas,para alm disso, muito pouco se conhece acerca da maneira como realmenteviveu a vida momento a momento e como se relacionou diariamente com asoutra pessoas.

    Certamente, as imagens que muitas pessoas deram de Jesus (A.S.) - dequem era daquilo que fez - so distorcidas. Embora haja alguma verdade nosquartos Evangelhos aceites, sabe-se que no s tm sido alterados e censuradosatravs dos tempos, como tambm no constituem registros de testemunhasoculares. O primeiro Evangelho do Marcos, escrito por volta dos anos 60-70d.C.. Marcos era o lho da irm de So Barnab. Mateus por sua vez, era umcoletor de impostos, um o cial menor que no viajava com Jesus. O Evangelhode Lucas tambm foi escrito muito mais tarde e teve, de fato, a mesma origemdos anteriores. Lucas era mdico de Paulo e, tal como Paulo, nunca conheceu

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    Jesus. Por sua vez, o Evangelho de Joo tem uma origem diferente e foi escritoainda mais tarde, por volta do ano 100 d.C.. Alm disso, este Joo no deve

    ser confundido com Joo o discpulo, que foi outro homem. Alis, durantedois sculos for ardentemente debatido se este Evangelho (de Joo) deveria seraceite como um registro seguro da vida de Jesus (A.S.) e poderia ser includonas Escrituras.

    A descoberta dos famosos Pergaminhos do Mar Morto veio lanaruma nova luz acerca da natureza da sociedade em que Jesus (A.S.) nasceu. OEvangelho de Barnab cobre mais extensamente do que os outros a vida deJesus (A.S.), enquanto o Alcoro Sagrado e os Ahadith18clari cam ainda mais a

    imagem real do Profeta Jesus (A.S.).

    Ns descobrimos que Jesus (A.S.) no era o lho de Deus no sentidoliteral da palavra, mas tal como Abrao e Moiss antes dele, e Muhammad (quea Paz e as Bnos de Deus estejam com eles todos) depois dele, era Mensageiroque, como todos os seres humanos, necessitava de alimentos e ia ao mercado.

    Ns descobrimos que Jesus (A.S.) travou inevitavelmente batalhascom outras pessoas cujos interesses estavam em con ito com o que ele

    ensinava. Pessoas que no aceitavam a orientao que dele recebiam ou quemesmo sabendo-a verdadeira, optavam por ignor-la em favor da busca dopoder, da riqueza e da reputao aos olhos dos homens.

    Alm disso, descobrimos que a vida de Jesus na terra faz parteintegrante da histria judaica, e, por conseguinte, para perceber a sua histria necessrio conhecer a dos Judeus. Ao longo da vida, Jesus (A.S.) foi umJudeu Ortodoxo praticante e chegou a rea rmar e reviver os ensinamentosoriginais de Moiss, que tinham sido alterados atravs dos anos. Finalmente,descobrimos que no foi Jesus (A.S.) quem foi cruci cado, mas algum que separecia com ele. Lentulus, um o cial romano, descreve Jesus (A.S.) da seguinteforma:

    Tinha o cabelo castanho, cor de avel, liso at s orelhas e formandocaracis que caiam lentamente at aos ombros em anis abundantes; usava riscoao meio, segundo a moda dos Nazarenos. A testa era lisa e clara e a cara rosada,sem borbulhas nem sardas, nem defeitos no nariz e na boca. Usa uma barba

    farta e luxuriante, da mesma cor do cabelo e dividida ao meio.18 - Ditos do Profeta Muhammad (S.A.A.S.).

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    Os olhos so dum azul acinzentado com uma capacidade de expressovariada e fora do vulgar. Tem uma altura mdia, com quinze punhos e meio. alegre na seriedade e por vezes chora, mas jamais algum o viu a rir.

    Uma Tradio Muulmana, no entanto, traa uma imagem diferente,dando-lhe um aspecto delgado. De acordo esta fonte:

    Era um homem rosado, tendendo para o branco e no tinha o cabelocomprido. Nunca ungiu a cabea e costumava andar descalo; no tinha casa,nem bens, nem roupas, no usava adornos e no levava consigo provises, excetoos alimentos necessrios para o prprio dia. O seu cabelo era desgrenhado e

    o rosto pequeno. Era um asceta neste mundo, esperando ansiosamente peloprximo a m de adorar Deus (em rabe, Allah).

    A data exata do nascimento de Jesus (A.S.) no conhecida. Deacordo co Lucas, esta data est associada a um senso efetuado no ano 6 d.C.,mas, por outro lado, tambm a rmado que Jesus (A.S.) nasceu no reinado deHerodes e que este morreu no ano 4 a.C.. Vicent Taylor, contudo, conclui quea data do nascimento de Jesus (A.S.) pode ter sido anterior, isto , no ano 8

    a.C.19; dado que o decreto de Herodes, desencadeado pelas notcias do recenteou eminente nascimento de Jesus (A.S.) e que pretendia que todas as crianasrecm-nascidas em Belm fossem mortas, tem que, obviamente, ter precedidoa morte de Herodes. Mesmo se seguirmos Lucas, a discrepncia entre duascitaes no mesmo Evangelho de dez anos. A maioria dos comentadoresacredita na segunda citao, que infere que Jesus nasceu no ano 4 a.C., isto ,quatro anos Antes de Cristo.

    A miraculosa concepo e o nascimento de Jesus (A.S.) tm sido,igualmente, assunto de muita discusso. Algumas pessoas crem que ele no eramais do que o lho de carne e osso de Jos; enquanto outras, acreditando naimaculada concepo, concluem que ele era o lho de Deus, mas permanecemdvidas quanto ao fato do tratamento dos termos pode ser feito literal ou gurativamente. Lucas diz o seguinte:

    O Anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma virgem... e o nome da

    virgem era Maria. Ao entrar em casa dela, o Anjo disse-lhe: Salve, cheia19- The Jesus Report, J. Lehman, pg. 14-15.

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    de Graa, o Senhor est contigo. Ao ouvir estas palavras, ela perturbou-see inquiria de si prpria o que signi cava tal saudao. Disse-lhe o Anjo: No

    tenhas receio, Maria, pois achaste graa diante de Deus. Hs-de consceber noteu seio e dar luz um lho, ao qual pors o nome de Jesus.. Maria disse aoAnjo: ...Como ser isso, se eu no conheo homem? E o Anjo respondeu-lhe:...porque nada impossvel a Deus. Maria disse ento: Eis aqui a escrava doSenhor, faa-se em mim segundo a tua palavra. E o Anjo retirou-se de juntodela. (Lucas I: 26-39)

    O mesmo episdio descrito no Alcoro Sagrado da seguinte forma:

    Recorda-te de quando os anjos disseram: Maria, certo que Deus te elegeu e te puri cou,e te preferiu a todas as mulheres da humanidade! Maria, consagra-te ao Senhor!Prostra-te e genu ecte, com os genu exos! Estes so alguns relatos do incognoscvel, que terevelamos ( Mensageiro). Tu no estavas presente com eles (os judeus) quando, com setas,tiravam a sorte para decidir quem se encarregaria de Maria; tampouco estavam presentesquando rivalizavam entre si. E quando os anjos disseram: Maria, por certo que Deus teanuncia o Seu Verbo, cujo nome ser o Messias, Jesus, lho de Maria, nobre neste mundoe no outro, e que se contar entre os diletos de Deus. Falar aos homens, ainda no bero,bem como na maturidade, e se contar entre os virtuosos. Perguntou: Senhor meu, comopoderei ter um lho, se mortal algum jamais me tocou? Disse-lhe o anjo: Assim ser.Deus cria o que deseja, posto que quando decreta algo, diz: Seja! e .(Alcoro Sagrado3:42-47)

    Dos quatros Evangelhos, Marcos e Joo mantm silncio em relaoao nascimento de Jesus e Mateus s casualmente o menciona. Tal como entre

    Mateus e Lucas, o primeiro indica vinte e seis pessoas entre Ado e Jesus,ao passo que Lucas quarenta e dois nomes na sua lista. Portanto, h umadiscrepncia entre dois, de dezesseis pessoas. Se considerarmos os quarentaanos como a idade mdia de uma pessoa, ento h uma lacuna de seiscentos equarenta anos entre os dois registros da suposta linha da ascendncia de Jesus(A.S.)! Contradies deste gnero no existem no Alcoro Sagrado, nemquanto imaculada concepo, nem relativamente ao milagroso nascimentode Jesus (A.S.). No entanto, o Alcoro Sagrado rejeita rmemente a Divindadede Jesus (A.S.), tal como mostrado nesta descrio do que aconteceu poucodepois do nascimento de Jesus (A.S.):

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    Regressou ao seu povo levando-o (o lho) nos braos. E lhes disseram: Maria, eis que zeste algo extraordinrio! irmo de Aaro, teu pai jamais foi um homem do mal, nem

    tua me uma (mulher) sem castidade! Ento ela lhes indicou que interrogassem o menino.Disseram: Como falaremos a uma criana que ainda est no bero? Ele lhes disse: Sou oservo de Deus, o Qual me concedeu o Livro e me designou como profeta. Fez-me abenoado,onde quer que eu esteja, e me encomendou a orao e (a paga do) zakat enquanto eu viver.E me fez piedoso para com a minha me, no permitindo que eu seja arrogante ou rebelde.A paz est comigo, desde o dia em que nasci; estar comigo no dia em que eu morrer, bemcomo no dia em que eu for ressuscitado. Este Jesus, lho de Maria; a pura verdade, daqual duvidam. inadmissvel que Deus tenha tido um lho. Glori cado seja! Quando decideuma coisa, basta-lhe dizer: Seja!, e . (Alcoro Sagrado 19:27-35)

    O nascimento de Ado foi o maior milagre, uma vez que nasceusem pai nem me; mas o nascimento de Eva foi um milagre maior do que onascimento de Jesus, pois tambm ela nasceu sem uma me. O Alcoro Sagradodiz:

    O exemplo de Jesus, ante Deus, idntico ao de Ado, que Ele criou do p, ento lhe disse:Seja! e foi.(Alcoro Sagrado 3:59)

    muito importante examinar a vida de Jesus (A.S.) no contexto doque estava acontecendo a nvel poltico e social na sociedade em que ele nasceu,pois era um tempo de grande desassossego no mundo judaico.

    Ao longo da sua histria, os Judeus tm sido oprimidos pelosinvasores, um a seguir ao outro, numa srie de invases que sero examinadascom pormenor, mais frente. Alm disso, devido s derrotas e ao abandono

    delas resultante, a chama do dio manteve-se sempre ardendo nos seus coraes.No entanto, mesmo nos dias do mais negro desespero, grande parte dos Judeusmanteve o equilbrio mental e continuou espera de um novo Moiss queviesse com o seu exrcito afastar o invasor e dar incio ao Governo de Jeov.Esse seria o Messias, ou o Anunciado.

    Sempre existiu uma parte da nao judaica que idolatrava todas asauroras e desfraldava as velas qualquer que fosse o vento na ocasio, de maneiraa tirar o maior proveito, mesmo de um mau negcio. Assim adquiriam fortunase posio, tanto temporais, como religiosas, mas eram odiados pelos restantesJudeus e considerados como traidores.

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    Para alm destes dois grupos, havia um terceiro grupo de Judeus quediferia profundamente dos primeiros. Refugiavam-se no deserto onde podiampraticar a religio de acordo com a Tor20 e preparavam-se para combateros invasores sempre que a oportunidade surgisse. Durante este perodo, osRomanos zeram muitas tentativas falhadas para descobrir os seus esconderijos,mas o nmero destes patriotas continuou sempre a crescer.

    A primeira vez que temos conhecimento deles atravs de Josephus,que apelida estes trs grupos de Judeus de Fariseus, Saduceus e Essnios,respectivamente.

    A existncia dos Essnios era conhecida, mas sem grande pormenor,no sendo mencionados, nem uma vez, nos Evangelhos. Ento, subitamente, osdocumentos conhecidos como Pergaminhos do Mar Morto vm a lume nasmontanhas do Jordo, perto do Mar Morto, descoberta que desabou sobretodo o mundo intelectual e eclesistico como uma tempestade. A histria decomo estes documentos foram encontrados precisa ser contada.

    Em 1947, um rapaz rabe, enquanto apascentava o seu rebanho perto

    de Qumran, notou que lhe faltava uma das ovelhas e, como tal, decidiu subira montanha mais prxima procura do animal que faltava. Durante a busca,chegou boca de uma caverna onde pensou que a ovelha tinha entrado. Atirouum pedregulho para o interior e esperou ouvi-lo bater em pedra. Em vez disso, opedregulho provocou um estalido como se tivesse atingido um pote de barro eo rapaz pensou que talvez tivesse tropeado num tesouro escondido. Na manhseguinte, voltou caverna e entrou, levando um amigo para o ajudar. Porm, emvez do tesouro, encontraram alguns potes de barro entre olaria partida. Levaramum deles para o acampamento onde estavam vivendo, mas caram amargamentedesapontados ao verem que tudo o que tinham encontrado fora uma coisa sujae cheirando a pergaminho de couro, que desenrolaram at chegar de uma ponta outra da tenda. Era um dos pergaminhos que mais tarde foram vendidos porum quarto de milho de dlares.

    20 - Tor (do Hebraico, significando instruo, apontamento, lei Em rabe At-Tawrat) o nomedado aos cinco primeiros livros do Tanakh (tambm chamados de Hamisha Humshei Torah, - as cincopartes da Tor) e que constuem o texto central do Judasmo e so, tambm, os cinco primeiroslivros da Bblia Sagrada, conhecido como Pentateuco. A Tor como conhecemos teria sido entregue

    por Deus a Moiss (A.S.), quando o povo de Israel, aps sair do caveiro no Egito, peregrinou emdireo terra de Cana. Os Cinco livros so: Bereshit (Gnesis, segundo a Bblia); Shemot (xodo);Vayikra (Levco); Bamidbar (Nmeros); Devarim (Deuteronmio).

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    Os rapazes venderam-no a um Cristo Srio chamado Kando poralguns xelins. Kando era uma sapateiro e estava apenas interessado na pele, quelhe poderia servir para reparar sapatos velhos. No entanto, o sapateiro reparouque a folha de couro estava escrita com letras que ele no conhecia. Aps umaobservao mais cuidada, decidiu mostr-la ao Bispo Primaz Srio do Mosteirode So Marcos, em Jerusalm, e estas duas guras sombrias carregaram ento opergaminho de pas em pas, na esperana de ganhar dinheiro.

    No Instituto Oriental Americano do Jordo, veri caram que opergaminho era a mais antiga cpia do Livro de Isaas do Antigo Testamento.Sete anos depois, o pergaminho foi colocado pelo governo de Israel no Santurio

    do Livro em Jerusalm.

    Numa estimativa incerta, existem cerca de seiscentas cavernas naencosta sobranceira ao leito do rio. Ora nestas cavernas viviam os Essnios, umacomunidade de pessoas que tinha renunciado ao mundo, dado que o verdadeiroJudeu apenas podia viver sob a soberania de Jeov e no lhe era permitidoobedecer a nenhuma autoridade, exceto dEle. Portanto, segundo as suascrenas, um Judeu vivendo sob outro domnio e reconhecendo o ImperadorRomano como senhor absoluto, cometia um pecado.

    Cansados da pompa e do espetculo do mundo, e oprimidos porforas incontrolveis que conduziam, inevitavelmente, ao con ito e auto-destruio, procuraram refgio no silncio dos rochedos que se elevavam nasmargens do Mar Morto. Recolhiam solido das cavernas na montanha a mde se poderem concentrar, levando uma vida de pureza e conseguirem assimganhar a salvao. Ao contrrio de muitos dos Judeus do Templo, no usavamo Antigo Testamento para ganhar dinheiro, mas tentavam viver segundo osseus ensinamentos e, com esta vida, esperavam alcanar perfeio e santidade.A sua nalidade era criar um exemplo que mostrasse ao restantes Judeus comoescapar estrada que os leva destruio e que sabiam estar a aproximar-serapidamente, amenos que os Judeus seguissem a Palavra de Deus.

    Escreviam canes gnsticas, o que devia ter agitado os coraes daspessoas mais profundamente do que as palavras, por si s, pudessem exprimir.Uma vida gnstica como uma embarcao numa tempestade, diz uma cano.Noutra, um gnstico descrito como uma espada. No princpio do caminho, um

    gnstico atormentado pela dor, tal como uma mulher em trabalho de partoao dar luz o seu primeiro lho, mas, se conseguir suportar esta dor, torna-se

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    iluminado pela Luz Perfeita de Deus. Ento, apercebe-se de que o homem umacriatura frvola e vazia, moldado em barro e amassado com gua. Depois de ter

    passado o severo teste de sofrimento e de ter suportado os limites da dor e dodesespero, alcanar a paz na agitao. a alegria no sofrimento, e uma nova vidade felicidade na dor. Ento, car envolto no manto de amor de Deus. Nesteponto, com um humilde reconhecimento, alcanar o signi cado do que tersido arrebatado de um fosse e colocado num plano elevado. E, assim iluminadopela Luz de Deus, poder manter-se ereto e in exvel perante a fora bruta domundo.

    Antes da descoberta dos Pergaminhos do Mar Morto (em 1947),pouco se sabia acerca dos Essnios. Plnio e Josephus mencionam-nos, masforma virtualmente esquecidos pelos historiadores posteriores. Plnio descreve-os como uma raa em si prpria mais notvel do que qualquer outra no mundo:

    No tm mulher, renunciam ao amor sexual, no tm dinheiro... Acomunidade est aumentando rmemente com um elevado nmero de pessoasatradas pelo seu estilo de vida... desta forma a sua raa durou milhares de anos,embora ningum tenha nascido no seu seio.

    Josephus, que comeou a vida como Essnio, escreve que estesacreditam que a alma (ruach) imortal e uma ddiva de Deus. Deus puri caalgumas criaturas para Ele prprio, removendo todas as manchas da carne. Apessoa assim aperfeioada atinge uma santidade livre de todas as impurezas.

    Estes habitantes das cavernas continuaram levando uma vida queno foi afetada pela vagas de conquistadores que tantas vezes destruram oTemplo e conquistaram os Judeus. A sua vida no deserto no era uma fuga responsabilidade que todo o Judeu tem de lutar pela pureza da sua religioe de libertar a Judia da agresso estrangeira. Lado a Lado com aqueles querezavam diariamente e que estudavam as Escrituras, alguns constituram umafora e ciente e, no s pregavam a Doutrina de Moiss, mas tambm estavampreparados para lutar pela liberdade de viver de acordo com aquela Doutrina.Assim, a sua luta apenas podia servir para o servio de Deus e no paraganhar poder ou considerao pessoal. Os membros desta fora de luta eramchamados Zelotes pelo inimigo. Estavam organizados sob uma bandeira e cadatribo tinha a sua insgnia. Os Zelotes estavam agrupados em quatro divises,

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    cada uma encabeada por um chefe. Cada diviso era composta por pessoasde trs das tribos de Israel. Desta forma, todas as doze tribos judaicas estavam

    organizadas sob uma bandeira. O chefe tinha que ser um Levita, que era nos um comandante militar, mas tambm um professor da Lei. Cada divisotinha o seu prprio Midrash (escola), e este Levita, para alm de executar astarefas de comandante militar, tinha que dar darsh (lies) regulares na escola.Assim, vivendo nas cavernas do deserto, os Essnios mantinham-se afastados daprocura do prazer, desprezavam o matrimnio e desdenhavam a riqueza. Almdisso, formavam uma sociedade secreta cujos segredos nunca eram divulgados aalgum que no fosse seu membro. Os Romanos sabiam da sua existncia, masno conseguiram penetrar a muralha de segredo que os rodeava. O sonho dequalquer Judeu aventureiro era torna-se membro desta sociedade, pois esse erao nico mtodo prtico disponvel para lutar contra os invasores estrangeiros.

    Os Essnios, tal como j vimos nos registros de Plnio, desprezavamo casamento, mas adotavam os lhos de outros homens desde que fossemdceis e brandos, aceitando-os como parentes e moldando-os ao seu estilo devida. Assim, por incrvel que parea, a sociedade Essnia perpetuou-se atravsde sculos, muito embora ningum nela tenha nascido. Desta forma, o ProfetaZacarias (A.S.), Sumo Sacerdote do Templo de Salomo, teve um lho, quandode idade avanada, e enviou-o para os Essnios no deserto, local onde a crianafoi criada, vindo a ser conhecido na Histria por Joo Baptista (A.S.).

    Agora que sabemos que a comunidade Essnia existiu, de fato,no deserto, a ao de Zacarias (A.S.) torna-se compreensvel, pois noestava mandando o lho querido, sozinho para o deserto, mas a con -lo comunidade de maior con ana, uma comunidade que procurava viver demaneira para agradar Jeov. Maria (A.S.), a prima de Elisabete, mulher do ProfetaZacarias (A.S.), foi criada por Zacarias, porque tinha sido entregue no Temploem concordncia com um voto feito pela sua me. Foi neste ambiente que onascimento de Jesus (A.S.) teve lugar.

    Alm disso, havia entre os Judeus a esperana num Messias, numnovo Chefe que seria batizada e anunciado como rei. O rumor que circulavaentre os Judeus, sobre o seu iminente nascimento, levou Herodes deciso dematar todos os bebs nascidos em Belm onde, de acordo com a tradio, oMessias deveria aparecer. A poderosa sociedade secreta dos Essnios foi posta

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    ao corrente por Zacarias, e Maria conseguiu, por isso, escapar s garras dossoldados romanos, indo com Jesus (A.S) para Egito onde os Essnios tinham

    outra colnia.

    O desaparecimento sbito de Jesus e Maria (que a Paz e Bno deDeus estejam com eles), e a sua fuga bem sucedida s autoridades romanas, foramum mistrio e uma fonte de especulao, at a descoberta dos Pergaminhos doMar Morto. Nenhum dos Evangelhos cobre este episdio, nem a existncia dacomunidade Essnia, nem como lhes foi possvel evadirem-se dos perseguidorescom tanto sucesso, apesar da publicidade que deve ter rodeado o nascimento.Em circunstncias diferentes, uma criana que falava coerentemente e comautoridade desde o bero, e que foi visitada por Pastores e Magos, no poderiadesaparecer to facilmente.

    No ano 4 a.C., quando Jesus (A.S.) tinha trs ou quatro anos deidade, Herodes morreu. Desta forma, o perigo eminente que rodeava a sua vidafoi afastado e passou a poder mover-se livremente. Ao que parece, Jesus (A.S.)foi educado sob a dura disciplina de Professores Essnios e, sendo um alunointeligente, aprendeu a Tor muito depressa. Assim, quando tinha doze anos,foi mandado para o Templo, veri cando-se que o aluno, em vez de repetir aslies que recebera, falava com uma certa con ana e autoridade. H algumastradies Muulmanas que falam das singulares ddivas que to cedo foramdadas a Jesus (A.S.) na sua vida. A citao que se segue pertence a Histriasdos Profetas de Thalabi: Wahb disse:

    O primeiro sinal de Jesus (A.S.), que as pessoas viram, ocorreuenquanto sua me estava a vivendo na casa do chefe da vila para onde Jos,o Carpinteiro, a tinha levado quando foi com ela para o Egito; e os pobrescostumavam ir, freqentemente, a casa desse chefe. Entretanto, foi roubadodinheiro do tesouro que lhe pertencia, mas embora ele no tenha suspeitadodos pobres, Maria (A.S) a igiu-se com o seu tormento. Quando Jesus (A.S.) viua preocupao da me pela a io do an trio perguntou-lhe: Me, queres queeu o guie at ao dinheiro?. Ao que ela respondeu: Sim, meu lho. Jesus (A.S.)disse: Diz-lhe que rena os pobres perante mim, na sua casa. Ento Maria (A.S.)disse isso ao chefe que reuniu os pobres. Quando todos estavam reunidos, Jesus(A.S.) dirigiu-se a dois deles, um cego e outro coxo, ps o coxo aos ombrosdo cego, e disse-lhe. Levanta-te com ele. O cego respondeu: Sou demasiado

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    fraco para isso. Jesus (A.S) disse-lhe: Como foste su cientemente forte parafazer isso ontem?. Quando o ouviram dizer isto, bateram no cego at que

    se levantasse e, quando isso aconteceu, viram que o coxo chegava janela dotesouro. Ento Jesus disse ao chefe da aldeia: Assim conspiraram ontem contratua propriedade, pois o cego valeu-se da sua prpria fora e o coxo dos olhos.Ento o cego e o coxo disseram: Ele falou verdade, por Deus!. E devolveram odinheiro todo. O dono pegou nele, colocou-o no tesouro e disse: Ouve Maria,podes car com metade. Ela respondeu: No fui criada para isso. O chefedisse: Ento d-o ao teu lho. Ela respondeu: Ele -me superior. ...E nessaaltura ele doze anos.

    Outro sinal: Tal como disse Sadi:

    Quando Jesus, a paz esteja com ele, andava na escola, costumava dizeraos rapazes, o que os pais estavam fazendo, e ter dito a um rapaz: Vai paracasa, pois a tua famlia tem estado a comer tal e prepararam tal para ti estocomendo tal. Ento o rapaz ter ido para casa e chamado at lhe darem essacoisa. E ter-lhe-o dito: Quem te falou disto?. Ao que ele ter respondido:Jesus. Reuniram-nos ento numa casa e quando Jesus chegou procura deles,disseram-lhe: No esto aqui. Jesus (A.S.) disse-lhes: Ento que sejam sunos.E assim, quando abriram a porta, vede! Eram sunos. Os lhos de Israel estavampreocupados com Jesus, e assim, quando a sua me temeu por ele, p-lo numburro e foram rapidamente para o Egito....

    Ata disse:

    Depois de Maria ter tirado Jesus (A.S.) da escola con ou-o a diversoscomerciantes, sendo os ltimos os tintureiros; assim, entregou-o ao chefepara que Jesus (A.S.) pudesse aprender com ele. O homem, como tinha vriospanos para tingir e precisava partir em viagem, disse a Jesus: Aprendeste esteofcio e eu vou partir numa viagem da qual no voltarei seno daqui a dez dias.Estes panos tm cores diferentes e eu marquei cada um de acordo com a corcom que deve ser tingido e, portanto, quero que tenhas o trabalho terminadoquando eu voltar. Jesus, a paz de Deus esteja com ele, preparou um recipientecom uma cor, ps nele todos os panos e disse-lhes: Sede, com a permissode Deus, o que esperado de vs. Quando o tintureiro voltou, vendo quetodos os panos estavam no mesmo recipiente, disse: Oh Jesus, o que foi que

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    zeste?. Jesus (A.S) respondeu: Acabei o trabalho. O homem disse: Ondeest a roupa? . Jesus respondeu: No recipiente. O homem disse: Toda ela?

    Jesus respondeu: Sim. O homem disse: Como pode estar toda no mesmorecipiente? Estragaste-me esse panos. Jesus (A.S.) respondeu: Levanta-te eolha. O tintureiro levantou-se e Jesus tirou um trajo amarelo e um verde e umvermelho at os ter tirado todos de acordo com as cores que desejava. Entoo tintureiro comeou a pensar, porque sabia que aquilo era coisa de Deus, poisEle Grande e Glorioso. E disse s pessoas: Venham e vejam o que Jesus fez.Deste modo ele e os companheiros, que eram os discpulos, acreditaram; e Deus,Grande e Glorioso como Ele , sabe bem.

    Durante os primeiro anos da vida adulta de Jesus, comeou a espalhar-se o rumor de Joo Baptista (A.S) se afastar da sociedade Essnia e estavavivendo sozinho no deserto. Vestia-se de trajes simples de plo de camelo comuma faixa de couro volta da cintura. Comia apenas gafanhotos e mel selvagem.(Mateus, 3:4). Assim comeou a pregar diretamente s pessoas e no insistiano longo perodo de aprendizagem necessrio a qualquer pessoa que desejasseser membro pleno da irmandade Essnia. Era, portanto, um movimento pblico,pois o Profeta Joo Baptista (A.S.) convidava todos a voltarem-se para Jeov eassegurava-lhes que o Reino de Deus em breve seria estabelecido.

    Relacionado com estes acontecimentos, de interesse ler na histriaescrita por Josephus a parte relativa a um outro ermit de quem este historiadorfoi discpulo. Josephus tinha passado trs anos no deserto como um asceta.Durante este tempo estava sob a direo de um ermito chamado Bannus quese vestia com o que crescia nas rvores, comia apenas alimentos selvagens edisciplinava-se para a castidade com constantes banhos frios. Portanto, bvioque Joo (A.S.) estava seguindo a tradio comum aos ermitos.

    O deserto tinha sido um lugar de refgio para o Profeta David(A.S.) e para outros Profetas anteriores. Era um local onde os Judeus podiamestar livres do domnio, dos governantes estrangeiros e da in uncia de falsosdeuses. No deserto, no havia a procura dos favores dos governantes pagos.Esta atmosfera, onde apenas poderia haver a dependncia do Criador e a da Suaadorao como Deus nico, foi o bero do monotesmo. A solido do desertoremovia qualquer falso sentido de segurana e o homem aprendia a con arapenas na Realidade: Na aridez do deserto faltam todos os outros apoios e

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    o homem ca entregue ao Deus nico, Poder e Fonte Permanente de toda aVida e Raiz de toda a Segurana.21Assim, a luta no deserto tinha dois aspetos.Primeiro, ocorria no interior dos coraes dos prprios homens que tinhamque travar batalhas com eles prprios uma vez que se propunham viver demaneira agradecendo ao seu Senhor. Em segundo lugar, tal como j tnhamosvisto, a escolha deste rumo de ao tinha como resultado inevitvel o con itocom aqueles que desejavam viver de outra maneira. A primeira luta era umaquesto de F em Jeov e na vitria espiritual, independentemente da segundabatalha poder ser ganha ou perdida.

    O toque de clarim do Profeta Joo Baptista (A.S.) comeou a atrairuma grande multido, na medida em que deixava de observar uma importanteregra de cdigo de conduta dos Essnios: No revelar a outrem nenhumdos segredos da Comunidade, mesmo sendo torturado at morte 22. Aquebra no cumprimento desta regra tornou possvel aos Romanos in ltrarem-se no movimento como espies. No entanto, o Profeta Joo Baptista (A.S.)com a sua viso proftica reconheceu-os para l da aparncia e chamou-lhesvboras (Mateus 3:7). Tambm Jesus (A.S.), o seu primo mais novo, se juntouao movimento sendo provavelmente um dos primeiros a receber o batismo;

    provvel ainda que Barnab, que foi seu companheiro constante, tivesse sidobatizado juntamente com Jesus (A.S.) e, tambm, com um outro companheirochamado Matias.

    Joo Baptista (A.S.) sabia que as vboras iam ser bem sucedidasantes de poder comear a luta e, como tal, o batismo de Jesus (A.S.) deu-lheto grande satisfao que teve a certeza de que o movimento no acabariacom a sua vida. Como fora previsto por Joo Baptista (A.S.), o Rei Herodes

    degolou-o e a sua manta foi cair sobre os ombros de Jesus (A.S.).

    Jesus tinha trinta anos quando percebeu que o tempo de preparaoterminara e comeara a parte signi cativa da sua vida, uma misso que no duroumais do que trs anos. Deste modo, para podermos apreciar o pleno signi cadodeste perodo, teremos que integrar a vida de Jesus no seu enquadramentohistrico e, em particular, na histria dos Judeus. Isto clari car ainda mais aimagem que j comeou a emergir, de que a existncia da comunidade essnia.

    21 - The Wilderness Revolt, Bishop Pike, pp. 101.22 - The Dead Sea Scrolls, Edmund Wilson.

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    As atividades de Joo Baptista (A.S) e, nalmente, o con ito entre Jesus (A.S)e os Romanos, fazem parte de um padro que se repete a si prprio, vezes sem

    conta, atravs da histria dos Judeus. Em todos os casos, o que nalmentemoveu os Judeus a revoltarem-se contra os invasores estrangeiros foi a tentativadestes ltimos, no sentido de os associarem aos seus soberanos, pois a Fdos Judeus na Unidade Divina e na crena de que no existe outro objeto deadorao para alm de Deus, era categrica.

    Como governantes, os Judeus mostraram uma absoluta falta deconhecimento acerca dos assuntos de Estado, embora tenham orescido soba escravido poltica. Nos primrdios da histria, encontramos os Judeuspraticando intriga contra o prprio Rei, porque fazia tudo o que era mauaos olhos do Senhor (II Reis 13:11). Entretanto, Nabucodonosor da Babilniaconquistou Jerusalm. O templo foi deixado intacto, mas os tesouros, querdo templo, quer do palcio real, caram sob o poder do novo governador.Ora os Judeus no perderam tempo e rebelaram-se contra o senhor absolutode Babilnia, o que provocou um novo ataque que originou a destruio dotemplo e da cidade.

    A roda da fortuna deu outra volta: os Persas, sob o comando deCiro, conquistaram Babilnia e os Judeus, mais uma vez, intrigaram contra osinvasores. Assim, Ciro percebendo-se imediatamente de que uma populao togrande de aliados de Babilnia constitua um perigo, pediu-lhes para partireme regressarem a Jerusalm, onde, alm disso, eram autorizados a reconstruiro templo. A cavalgada que se dirigia a Jerusalm era composta por 42.360Judeus, levando com eles 7.337 criados autorizados e mulheres, incluindo 200cantores, homens e moas. Esta caravana foi conduzida por 736 cavalos, 245mulas, 435 camelos e 6.720 burros (Ezra 2:64-69), para alm dos animais quecarregavam o tesouro que, entretanto, tinha sido acumulado. Ao chegar aJerusalm, comearam a planejar a reconstruo do templo e com este mrecolheram 61.000 dracmas de ouro e 5.000 libras de prata, que juntaram aoque tinham trazido de Babilnia e que consistia em trinta cavalos carregados deouro e numa centena transportando prata. Mais ainda, havia 5.400 recipientesde ouro e de prata para serem colocados no templo (Ezra 1:9-11). Portanto, oscativos que regressaram a Jerusalm tinham crescido em nmero e em fortuna.

    Como governadores de Jerusalm, os Judeus no gostavam de

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    longos perodos de paz. Em 323 a.C., a conquista de Alexandre o Grande tinhaalcanado a ndia, mas logo aps a sua morte, nesse mesmo ano, os generais

    do exrcito dividiram o imprio entre si. Ptolomeu comeou a governar oEgito, tendo Alexandria por Capital; o reino dos Seleceus foi dividido em duaspartes - Antioquia tornou-se Capital do reino do norte e Babilnia passou aser o centro do que restava do Imprio de Alexandre. Mas os governantes doreino de Ptolomeu e dos Seleceus viviam em disputas constantes e, num dosprimeiros confrontos, Jerusalm caiu nas mos dos Gregos Egpcios. Os novosgovernantes no caram satisfeitos com a abundante concentrao de Judeusem Israel; por isso, grande parte foi deportada para o Egito, dando origem aoque viria a tornar-se na maior colnia de Judeus fora de Israel. Aqui entraramem contato com a civilizao da Grcia e traduziram as Escrituras hebraicaspara o grego. Para os chefes ptolomaicos, Israel era uma colnia distante e osJudeus, aps o pagamento dum tributo anual, cavam praticamente entregues asi prprios.

    Em 198 A.C. os Seleceus, para quem Jerusalm estava muito maisprxima e mo, tomaram a cidade aos governantes de Ptolomeu, passandoa interessar-se muito mais pelos assuntos dos habitantes de Jerusalm do queos governantes anteriores. O processo de helenizao, que tinha decorridogradualmente e num andamento natural sob a lei ptolomaica, foi aceleradopelos novos chefes numa tentativa deliberada de assimilar os Judeus ao seumodo de vida. Esta concordncia cultural forada alcanou a expresso extremadurante o reinado de Antiochus Epeplianus, que cometeu o erro de instalaruma esttua de Zeus no Templo de Salomo, ultrajando os Judeus e levando-osa se revoltarem contra Judas Macabeus. O martelo foi o emblema da revoltaque originou a expulso dos Gregos da cidade de Jerusalm. Os Judeusvitoriosos, ao encontrarem o templo em runas, com o santurio assolado,o altar profanado e a porta queimada, reconstruram-no de acordo com aTor. Os novos governadores foram to populares que chegaram a ser sumo-sacerdotes do templo e reis de Israel. Entretanto, com a concentrao do podernas mesmas mos, os governantes tornaram-se muito rgidos na observaoda lei, o que levou o povo a comear a ansiar pela administrao benevolentedos governantes estrangeiros. Veri cando que o povo estava insatisfeito como Seu governo, os Macabeus tornaram-se mais altivos e arrogantes. Os Judeuscomearam ento, uma vez mais, a intrigar contra os governantes, o que noteve um papel menor na penetrao do governo Romano sobre Jerusalm.

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    Na poca em que Jesus nasceu, os Romanos repetiram o erro dosgovernantes anteriores. Ergueram uma grande guia dourada sobre o portoprincipal do templo, enfurecendo os Judeus e originando uma srie de revoltascontra os ocupantes. Os primeiros a desfraldar a bandeira da revolta, com oobjetivo de destruir a guia, foram dois descendentes dos Macabeus. Para osRomanos, no era apenas um ato de rebelio, era tambm um insulto suareligio. Assim, depois de muito sangue derramado, a revolta foi esmagada e osdois dirigentes foram capturados e queimados vivos. Pouco depois os Romanostiveram que enfrentar uma outra rebelio e dois mil rebeldes Judeus foramcruci cados.

    Embora derrotados, os nimos ainda estavam exaltados quando, em 6d.C., o Imperador Augusto ordenou um censo dos Judeus a m de facilitar acobrana dos impostos. Ora pagar impostos ao imperador Divinizado era contrao ensino da Tor, pois os Judeus reconheciam apenas um rei: Jeov. Seguiu-se,por isso, um distrbio. Os elementos mais moderados, que compreenderamque o con ito iria resultar num completo massacre dos Judeus, aconselharam omeio termo e concordaram em pagar os impostos a m de salvarem o povo decometer um suicdio sem sentido. Porm os chefes que procuravam a paz por

    este preo no eram populares e foram considerados traidores da nao judia.

    A situao concreta e social existente na poca do nascimento deJesus, juntamente com os acontecimentos que levaram morte de Joo, jforam mencionados, e chegamos, agora, a um ponto em que todo o movimentode resistncia estava concentrado volta da divinamente inspirada gura deJesus.

    Antes de fazer qualquer outra coisa, Jesus passou quarenta dias aviver e a fazer no deserto. Tinha ento trinta anos de idade, altura em que,de acordo com a lei judaica, um homem cava liberto da dominao do seupai. Ao contrrio de Joo, Jesus, no ensinou abertamente s multides nassuas pregaes, que deviam tomar posio contra os governadores romanos.Havia necessidade de manter uma atuao discreta, pois os atentados anteriorestinham terminado em desastre e a morte recente de Joo estava ainda fresca namente de Jesus. Por isso, com previdncia e prudncia, comeou a preparar e aorganizar os Judeus. No batizou ningum, pois teria atrado desnecessariamentedemasiadas atenes por parte dos Romanos, e teria constitudo uma prticaperigosa, dado no poder evitar a in ltrao de vboras no movimento de

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    resistncia. Nestas circunstncias, elegeu doze discpulos, o nmero tradicionalque representava as doze tribos de Israel, que alistaram setenta patriotas paraservirem sob o seu comando. Os Fariseus sempre tinham evitado familiaridadescom o Am Al Arez, Judeus robustos que viviam nas aldeias, porm Jesusrecolheu-os sob a sua proteo. Estes camponeses, muitos dos quais provindosda comunidade essnia, tornaram-se seguidores zelosos e estavam dispostos aentregar as suas vidas pela causa de Jesus. Eram conhecidos por Zelotes. Deacordo com a Bblia, pelo menos seis dos doze discpulos so consideradosZelotes. Jesus, que tinha vindo para rea rmar e no para rejeitar o ensino deMoiss, emitiu o apelo do Antigo Testamento:

    Aquele que sentir zelo pela Lei e permanecer el aliana, venha e siga-me. (2Macabeus 2:27)

    Uma grande parte comeou ento a alistar-se, mas eram mantidosescondidos e os seus treinos efetuados no deserto. Eram igualmente chamadosBar Yonim, o que signi ca lhos do deserto. Dentre estes, os que tinhamaprendido a usar o punhal eram conhecidos como Siccari (homens do punhal).Um grupo suplementar de homens cuidadosamente selecionados formaramuma espcie de guarda-costas, sendo conhecidos por Bar Jesus, ou lhos deJesus. Uma quantidade de pessoas conhecidas como Bar Jesus so mencionadasnos registos histricos, mas uma cortina de mistrio rodeia estes homens emuito pouco se conhece acerca deles, o que e compreensvel, visto que as suasidentidades tinham que ser escondidas dos olhos dos espies romanos, porpertencerem ao crculo mais prximo dos seguidores de Jesus. Jesus ordenouaos seus seguidores:

    Mas agora quem tem uma bolsa que a tome, assim como o alforge, e quem no

    tem espada, venda a capa e compre uma. (Lucas 22.36)

    E assim o nmero dos que o acompanhava, inspirados tambmpelos seus ensinamentos e milagres, cresceu. O resultado lquido de toda estapreparao foi Sossianus Hierocles, sucessor de Pilatos (citado por Lactanius, Paida Igreja), dizer sem constrangimento que Jesus era o chefe de um bando desalteadores estimados em novecentos homens. Uma copia medieval, em hebreu,de uma verso perdida de um trabalho de Josephus, relata tambm que Jesus

    tinha consigo entre 2.000 a 4.000 seguidores armados.23

    23- The Death of Jesus, Joel Carmichael, p. 141.

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    Jesus tinha um grande cuidado para no se desviar do ensinamentodos Essnios, conhecidos pelo facto de os ritos e os preceitos dos Evangelhos edas Epstolas se encontrarem em todas as paginas das suas produes literrias.24Durante a sua misso, contudo, no divulgou totalidade dos ensinamentos maior parte dos seus seguidores, e assim, muito poucos conheciam toda averdade:

    Ainda tenho muitas coisas para vos dizer, mas no as podeis suportar agora.Quando vier o Esprito da Verdade, Ele guiar-vos- para a verdade total, porqueno falar de Si mesmo, mas dir tudo o que tiver ouvido, e anunciar-vos- oque h de vir. (Joo 16:12-14)

    Jesus no pretendia poder material, nem como governante da regio,nem dentro da fechada hierarquia dos Escribas e dos Fariseus. No entanto, apopularidade de que gozava junto das pessoas comuns e o grande nmero deseguidores, levaram os Romanos e os sacerdotes que os apoiavam a recear quefosse essa a sua inteno. Foi-esta aparente ameaa posio de poder quedesfrutavam, que os impeliu tentando livrar-se dele.

    A misso de Jesus era unicamente a de estabelecer o culto do Criador,da maneira como o prprio Criador tinha ordenado. Logo, tanto Jesus como osseus seguidores estavam preparados para lutar contra quem quer que tentasseimpedi-los de viverem como o seu Senhor desejava.

    A primeira luta teve lugar contra os Judeus leais aos Romanos e foidirigida por Bar Jesus Barabbas que conseguiu desmoraliz-los completamente,matando-lhes o chefe num recontro; Bar Jesus Barabbas, no entanto, foi preso.O objetivo seguinte era o prprio templo. Os Romanos tinham uma poderosa

    fora localizada por perto, uma vez que era a ocasio do festival anual e que seaproximava a festa da Pscoa. Por esta altura do ano, os Romanos, que estavamsempre atentos aos pequenos distrbios, cavam ainda mais alerta do que eracostume. Alm, disso, a polcia do templo guardava o local sagrado. No entanto,a entrada de Jesus foi to bem planeada que os soldados romanos foramtotalmente apanhados de surpresa e Jesus conseguiu o controle do templo.Este acontecimento conhecido como a limpeza do templo e o Evangelho deJoo descreve-o com as seguintes palavras:

    24 - The Dead Sea Scrolls, Edmund Wilson, p. 94.

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    Encontrou no templo os vendedores de bois, de ovelhas e de pombas e oscambistas abancados. Com umas cordas, fez um chicote e expulsou-os a todosdo templo, com as ovelhas e bois. Deitou por terra o dinheiro dos banqueiros,derrubou-lhes as mesas. (Joo 2:14-15)

    Comentando as palavras as cordas do chicote, Carmichael diz:

    Eles empregam abertamente a violncia e apresentam-no como umacontecimento atenuado ao mnimo, em relao ao que na realidade deve tersido um forte combate. Se imaginarmos simplesmente o tamanho do temploe as dezenas de milhares de peregrinos amontoados duma ponta outra, os

    numerosos servidores, a fora policial, os soldados romanos, assim como areao dos boieiros, para no falar dos prprios cambistas, apercebemo-nosde que deve ter sido necessrio algo mais do que mera surpresa para tudoaquilo se ter realizado. O cenrio por detrs desta fragmentada lembrana doquarto Evangelho tem que ter sido muito diferente. O cronista suavizou osacontecimentos espiritualizando-os para alm de toda a realidade.25

    Uma das lies de todo o defensor da liberdade tem sido a de quea polcia tem simpatias pelos patriotas e no pelo exrcito de ocupao. Estepode ter sido um fator que contribuiu para o colapso completo da defesa doTemplo. Os Romanos sofreram um recuo local, mas o seu poder no tinhasido esmagado; chamaram reforos e novas tropas comearam a dirigir-se paraJerusalm. A defesa da porta de Jerusalm durou alguns dias, mas, por m, aarmada romana provou ser forte demais para os patriotas. Os seguidores de Jesustiveram que se dispersar e desapareceram; at os discpulos fugiram, deixandoJesus com muito poucos homens sua volta, refugiando-se nos subterrneos

    e escondendo-se dos Romanos que comearam uma busca intensiva para oencontrar.

    A priso, o Julgamento e a cruci cao esto rodeados detantas contradies e mal-entendidos, que extremamente difcil destrin-los e conseguir penetrar no sucedido, de modo a apreender o que realmenteaconteceu. Pensamos que o governo romano foi bem sucedido na utilizaodos servios da pequena minoria de Judeus que esperavam bene ciar com acontinuao do governo romano em Jerusalm.

    25 - The Death of Jesus, Joel Carmichael, p. 139.

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    Judas Iscariotes, um discpulo de Jesus, deixou-se persuadir pelapromessa de receber trinta peas de prata se, atravs da sua ajuda Jesus, fossepreso. De modo evitando qualquer outro problema, foi decidido esperar pelanoite. Ao chegar ao local onde Jesus tinha ido com alguns seguidores, Judastinha ordens para beijar Jesus, para que os soldados romanos, estrangeiros, opudessem identi car. Porem, o plano foi mal sucedido, pois quando os soldadossurgiram na noite, seguiu-se um tumulto, os dois Judeus confundiam-se noescuro e os soldados, erradamente, prenderam Judas em vez de Jesus. Destemodo foi possvel a sua fuga. O Alcoro diz:

    ...Embora no sendo, na realidade, certo que o mataram, nem o cruci caram,

    seno que isso lhes foi simulado... (Alcoro Sagrado 4:157)

    Quando o prisioneiro foi levado presena de Pilatos - o MagistradoRomano - a dramtica reviravolta dos acontecimentos satisfez toda a gente. Amaior parte dos Judeus estava feliz por, devido a um milagre, o traidor estsentado no banco dos acusados, em vez de Jesus. Os Judeus Pro-Romanosestavam contentes, porque, com a morte de Judas, a prova da sua culpa iria serdestruda. Mais ainda, uma vez que Jesus estaria legalmente morto, no poderiasair a cu aberto para lhes causar problemas. O papel desempenhado por

    Pncio Pilatos, o Magistrado Romano, difcil de determinar. A sua indeciso,tal como e descrita na Bblia, a sua parcialidade em relao aos chefes judeus,juntamente com a sua boa vontade para com Jesus, tornam difcil acreditarna historia. Esta pode ter sido o resultado da tentativa, por parte dos autoresdos Evangelhos, de distorcer os factos de forma a atirar a responsabilidade dacruci cao para toda a nao judaica e desta forma justi car completamenteos Romanos do seu papel na suposta morte de Jesus.26A nica maneira de umregisto o cial da vida de Jesus poder sobreviver, seria descrev-la de forma a queno fosse ofensiva para com os governantes estrangeiros, omitindo, disfarando

    ou mesmo mudando os pormenores que pudessem ser desagradveis paraquem estava no Poder.

    Outra explicao provm duma forte tradio de que Pilatos foiconquistado por um considervel suborno, o equivalente a 130 000 libras. See verdade o que se descreve nos Evangelhos, ento obvio que Pilatos teve uminteresse real no drama ocorrido nesse dia em Jerusalm. Finalmente, h outrofacto signi cativo. Nos calendrios dos Santos da Igreja Copta, tanto no Egito

    como na Etipia, Pilatos e a sua mulher aparecem como santos.26 - The Jesus Scroll, D. Joyce, p.126

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    Ora isto s pode ser possvel se aceitarmos que Pilatos, sabendo perfeitamenteque os seus soldados tinham efetuado uma priso errada, condenouintencionalmente Judas em vez de Jesus e permitiu a fuga do ltimo. Na descriofeita por Barnab, diz-se que, na ocasio da captura, Judas foi transformado pelocriador de maneira que at a sua me e os seus seguidores mais prximosacreditassem que ele era Jesus. S foram informados do que tinha sucedidorealmente, quando Jesus lhes apareceu, depois da sua suposta morte. Isto irexplicar por que razo existe tanta confuso volta dos acontecimentos quetiveram lugar naquela altura, e por que alguns registos, escritos por pessoas queno estiveram presentes nesses acontecimentos, apoiam a falsa crena de quefoi Jesus o cruci cado.

    Nem todos esto inteiramente de acordo em relao ao fato deque foi o traidor de Jesus que foi cruci cado. Os Cirenaicos e, mais tarde,os Basilidianos, que estavam entre os primeiros Cristos, negaram que Jesustivesse sido cruci cado e acreditavam que, em vez dele, tinha sido Simo deCirene. Cerinthus, um contemporneo de Pedro, Paulo e Joo, tambm negoua ressureio de Jesus. Os Carpocratianos, outra das primeiras minorias Crists,acreditavam que no tinha sido Jesus o cruci cado, mas sim um dos seusseguidores que se parecia muito com ele.

    Plotino, que viveu no sculo IV, diz-nos que tinha lido um livrointitulado The Journies of the Apostles (As Jornadas dos Apstolos), querelatava os atos de Pedro, Joo, Andr, Tomas e Paulo. Entre outras coisas,a rmava-se que no tinha sido Jesus o cruci cado, mas outro em seu lugar e,portanto, ria-se daqueles que acreditavam que o tinham cruci cado.27Assim,embora seja sabido que Jesus no foi cruci cado, as fontes, ou diferem, ou noso espec cas em relao a quem o substituiu. Algumas pessoas acham difcilacreditar no que quer que seja:

    Quando nos apercebemos de que o rol de atrocidades imputado tropa romana,repete quase literalmente certas passagens do Antigo Testamento... comeamosa descon ar de que todo o episodio seja pura inveno.28

    No existe nenhum outro registo histrico do que aconteceu a Jesusdepois da cruci cao, alm do Evangelho de Barnab e do Alcoro, quedescrevem o acontecimento relativo forma como Jesus foi levado deste mundo,geralmente conhecido como a ascenso nos quatro Evangelhos aceites.

    27- The Nazarens, John Toland, p. 1828 The Life of Jesus, Carveri.

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    Jesus um Profeta do Islam

    Captulo III

    O Evangelho de Barnab

    O Evangelho de Barnab o nico sobrevivente conhecido, escritopor um discpulo de Jesus, isto , por um homem que realmente passou amaior parte do seu tempo na companhia de Jesus, durante os trs anos em queeste transmitiu a sua mensagem. Barnab possua, portanto, uma experinciadireta e um conhecimento da Doutrina de Jesus, o que no aconteceu com

    os autores dos outros quatro Evangelhos aceites. Na verdade, no se sabeexatamente quando e que ele anotou as lembranas que tinha de Jesus e dasua Doutrina, nem se os acontecimentos e relatos foram registados medidaque se davam ou se os escreveu pouco depois de Jesus deixar o mundo, portemer que, de outra forma, alguns dos ensinamentos pudessem ser alteradosou perdidos. possvel que no tenha feito quaisquer anotaes at regressar aChipre com Joo Marcos. Ambos zeram uma viagem pouco tempo depois deJesus ter deixado o mundo, pois tinham-se separado da companhia de Paulo deTarso, por este se ter recusado fazendo outras viagens com Barnab, se Marcostambm estivesse presente. No obstante o momento em que foi escrito, e tersofrido inevitavelmente modi caes ao ser traduzido e ltrado para outraslnguas, tal como os quatro Evangelhos aceites, este Evangelho de Barnab e,pelo menos, um registo da vida de Jesus feito por uma testemunha ocular. Almdisso foi aceite como um Evangelho Cannico nas Igrejas de Alexandria, at aoano 325 D.C., e sabe-se que andava circulando nos dois primeiros sculos apso nascimento de Jesus, conforme os escritos de Iraneus (130 200 anos D.C.),um defensor da Unidade Divina.

    Por outro lado, Iraneus ops-se a Paulo, a quem acusava de ser oresponsvel pela assimilao da religio romana pag e da loso a platnicarelativamente aos ensinamentos originais de Jesus e, com o intuito de dar foraaos seus pontos de vista, citava abundantemente o Evangelho de Barnab.

    Em 325 D.C., foi convocado o famoso Conclio de Niceia, quedeclarou a Doutrina da Trindade como a Doutrina o cial da Igreja de Paulo.

    Ora uma das consequncias desta deciso foi a escolha de quatro Evangelhoso ciais, de entre os cerca de trezentos existentes nessa altura na Igreja; foi

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