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I.INTRODUÇÃO

O presente trabalho enquadra-se no âmbito da cadeira do Direito Internacional Privado, na parte

especial, concretamente a matéria relativa a escolha da Lei aplicável as Pessoas Colectivas

Internacionais.

Na mesma ideia debruçaremos sobre o seu enquadramento no ordenamento jurídico

moçambicano, no intuito de fazer conhecer os modos ou seus critérios para a determinação da

posição maioritariamente adoptada pelos vários sistemas jurídicos, incluindo o nosso sistema.

O objectivo principal na verdade é de tentar relacionar a matéria em apreço com os vários

sistemas e não só, para poder nos auto-avaliar, até que ponto somos capazes e a que nível tem

conhecimentos até ca apreendido na matéria de qualificar e interpretar os conceitos, conjugando

com as disposições legais, no tocante a essa matéria e a disciplina em particular.

Em segundo lugar, é de ensaios a novos desafios que no fim do curso teremos para poder analisar

e ajudar aqueles que necessitar de uma acessória. Sem falar de mais uma pratica que é mais-valia

em termos de saber fazer jurídico e não só etc.

O trabalho esta divido em três capítulos, que por sua vez estão subdivididos em subcapítulos que

os comportam: Em primeiro lugar, faremos uma referência a noção geral das pessoas

colectivas, sua classificação das pessoas colectivas e sua constituição das pessoas colectivas.

Em segundo, faremos uma abordagem geral das pessoas colectivas internacionais, onde

analisaremos do Estatuto, a sua Nacionalidade, Reconhecimento internacional da pessoa

colectiva e seu Estatuto pessoal, depois transferência internacional da sede das pessoas

colectivas e fusão internacional das pessoas colectivas. Por último, faremos o enquadramento da

lei pessoal, e depois trataremos dos critérios da determinação da lei pessoal, de seguida direito

aplicável a constituição, estatuto pessoal e seus limites a competência da referida lei pessoal.

Também faremos uma breve conclusão que resumiremos o sentido e a lei aplicável as pessoas

colectivas internacionais, sem esquecer dos critério ou teoria que defende uma em detrimento da

outra.

Palavras-Chaves: Pessoa colectiva, lei aplicável, estatuto pessoal da pessoa colectiva.

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2. NOÇÃO GERAL DAS PESSOAS COLECTIVAS

2.1. Conceito

É um organismo social destinado a um fim lícito que o Direito atribui a susceptibilidade de

direitos e vinculações. Estas são organizações constituídas por uma colectividade de pessoas ou

por uma massa de bens, dirigidos à realização de interesses comuns ou colectivos, às quais a

ordem jurídica atribui a Personalidade Jurídica.

Trata-se de organizações integradas essencialmente por pessoas ou essencialmente por bens, que

constituem centros autónomos de relações jurídicas.

Há, duas espécies fundamentais de Pessoas Colectivas: as Corporações ou sociedades e as

Fundações.

As Corporações, são considerados como um agrupamento de pessoas singulares que

visam um interesse comum. Duma forma tão abrangente, as associações comercias são

também pessoas colectivas de direito privado, só adquirem a sua personalidade jurídica

à partir da data do respectivo acto constitutivo.

As Fundações, intregam um conjunto de bens afectado pelo fundador a um interesse de

natureza social. No acto de instituição deve o fundador indicar o fim da fundação e

especificar os bens que lhe são destinados1.

2.2. Pressupostos da pessoa colectiva

É o conjunto de elementos da realidade extra-jurídica, elevado à qualidade de sujeito jurídico

pelo reconhecimento, então para a existência da Pessoa Colectiva e necessariamente haver:

O Elemento Pessoal, verifica-se nas Corporações. É a colectividade de indivíduos que se

agrupam para a realização através de actividades pessoais e meios materiais de um

escopo ou finalidade comum. É o conjunto dos associados.

O Elemento Patrimonial, intervém nas Fundações. É o complexo de bens que o fundador

afectou à consecução do fim fundacional. Tal massa de bens designa-se habitualmente

por dotação.

O Elemento Teleológico, a Pessoa Colectiva deve prosseguir uma certa finalidade,

justamente a fim ou causa determinante da formação da colectividade social ou da

1 art. 186 nº1 do CC.

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dotação fundacional, cuja esta finalidade deve ser justa, legal, isto é, não pode ofender a

ordem pública.

Nas corporações só o elemento pessoal é relevante, ele constitui um componente necessário do

substrato da Pessoa Colectiva. Pode existir a corporação, sem existir o património. Por sua vez

nas Fundações só o elemento patrimonial assume relevo no interior da Pessoa Colectiva, porque

sem este não pode se falar da Fundação. Nesta ordem da ideia, estes dois elementos são

importantes para a constituição duma pessoa colectiva.

2.3. Classificação das Pessoas colectivas

As Pessoas colectivas classificam-se de direito público e pessoas colectivas de direito privado:

As pessoas colectivas de Direito Público- são aquelas que se encontram vinculadas e

cooperam com o Estado num conjunto de funções públicas específicas.

Mas na doutrina há muitas posições defendidas, quanto a pessoa colectiva do direito público

bastaria que houvesse por parte do Estado uma mera fiscalização dos actos dessas Pessoas

Colectivas públicas, “a exercer o seus poderes de ius imperi”, por via normativa ou através de

determinações concretas, emitir comandos vinculativos, executáveis pela força, sendo caso disso,

contra aqueles a quem são dirigidos.

A criação das pessoas colectivas públicas nunca resulta da iniciativa privada, estas dependem

sempre da autoridade pública, isto é, os fins fixados não são de ordem privada, são todos para

satisfação de certos interesses gerais que lhes esta confiada.2

As pessoas colectivas do Direito privado- são aquelas cujas a sua actividade principal

tem como fim o lucro, essas não emanam normas vinculativas como acontece nas

pessoas colectivas do direito público, a título do exemplo o Estado.

Estas, a sua criação resultam, em princípio, da iniciativa privada. A lei limita-se a determinar as

condições dessa criação, os particulares usam as possibilidades que assim lhe são oferecidas,

nisso a liberdade que preside a criação manifesta-se na pertença ao grupo, ninguém é obrigado a

aderir e permanecer nele3.

Contudo, no que concerne as pessoas colectivas do direito privado, estas, no exercícios das suas

actividades tem os princípios do direito, como mais frequente o princípio da autonomia da

2 Jean, Riveiro, Direito Administrativo, Coimbra,1981;pg-53.

3 Jean, Riveiro, Direito Administrativo, Coimbra, 1981;pg- 49.

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vontade, só há uma limitação que o Estado impõe, isto é, de não exercer qualquer actividade cujo

o seu objecto é contra a lei, estas dirigem-se a um fim lucrativo. Pretendem o lucro que virá a ser

distribuído entre os sócios que as constituem.

Apesar da classificação feita acerca das pessoas colectivas com diferentes fins, estas, no

exercício das suas actividades não poderão deixar de lado as formalidades legais, visto que, as

legislações existente no País são de cumprimento obrigatórias.

2.4. Constituição das Pessoas Colectivas.

As pessoas colectivas no início da sua personalidade resultam de um acto que geralmente é

analisado em três momentos muito diferentes:

Organização do substrato da Pessoa Colectiva;

Reconhecimento da Pessoa Colectiva;

Registo da Pessoa Colectiva.

No caso das corporações, esta no acto da constituição, especifica os seus bens ou serviços com

que os associados concorrem para o património social, a denominação, fim e sede da pessoa

colectiva, a forma do seu funcionamento, assim como a sua duração, quando a associação se não

constitua por tempo indeterminado4.

2.4.1.Organização do substracto da pessoa colectiva

Tem de se ter em atenção os requisitos e formalidades comuns à constituição da Pessoa

Colectiva5. A evolução, levou a centrar o debate na escolha entre teoria da constituição e teoria

da sede da administração. Portanto segundo a teoria da constituição, a pessoa colectiva é regida

pela ordem jurídica segundo qual se constituiu6, esta é a teoria mais dominante até então a maior

parte dos ordenamentos jurídicos.

O acto de constituição da associação, os estatutos e as suas alterações estão sujeitos a exigências

de forma e publicidade7. A lei estabelece ainda para as sociedades comerciais e para as civis sob

forma comercial a escritura pública, que tem de abranger o pacto social.

4 Art.167 nº1 do CC.

5 Existência de um conjunto de PC, ou existência de um conjunto de bens organizados, por forma a assegurarem a

prossecução de certos interesses tutelados 6 PINHEIRO, Luis da lima; Direito Internacional Privado, Almedina-Coimbra, 3ª edição, 2009, Lisboa, pg-Pi144.

7 Art.167 do CC.

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A natureza do acto constitutivo varia em função do seu tipo. Há no entanto dois pontos de

contacto:

Denominação- O chamado certificado de admissibilidade da firma ou denominação.

A denominação social acaba por desempenhar uma função correspondente à do nome nas

pessoas individuais;

Sede- Nas pessoas colectivas a sede é considerado o local onde funciona a

administração principal. Nisso os respectivos estatutos fixarem ou na falta de designação

estatutária, o lugar em que funciona normalmente a administração principal8.

Contudo, depois de analisar aspectos relevantes acerca de pessoas colectiva, nada poderá deixar

o que diz a teoria de sede da pessoa colectiva, esta teoria surge frequentemente a associada com a

ideia da coincidência entre a sede estatutária e a sede da administração.

Quando ela se verifica a teoria da sede conduz ao mesmo resultado que a teoria da constituição,

uma vez que, em regra, a pessoa colectiva tem a sede estatutária no País em que se constitui,

neste caso é decisiva a localização da sede.

3. AS PESSSOAS COLECTIVAS INTERNACIONAIS

3.1. Estatuto das Pessoas Colectivas

Trata-se de organizações integradas essencialmente por pessoas ou essencialmente por bens, que

constituem centros autónomos de relações jurídicas.

Nos termos do (art.33, n°.1 do CC) determina que a pessoa Colectiva têm como a lei estatuto

pessoal, a lei do Estado onde se encontrem localizada a sede principal e efectiva da

administração. Pois, neste sentido, este preceito consagra efectivamente a teoria da sede, apesar

de ser reduzida pela possível manutenção da personalidade jurídica nos casos de transferência

internacional da sede.

O mesmo (art.33 do CC), não faz referência das diferentes categorias de pessoas colectivas

estaduais. Mas o entendimento deve ser de que pessoa colectiva publica9 não fazem parte deste

8 Art.159 do CC.

9 As Autarquias Locais, e os Institutos Públicos e o Estado, porque, para estas pessoas valem mais para a sua

determinação a teoria da Constituição.

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preceito10

. Para eles o seu estatuto é regulado pela lei que as criou11

.

Portanto, atendendo e considerando as duas teorias que mencionamos, (as de lugar de criação da

pessoa colectiva e da sede estatutária da Administração), quando se trate da sede da

administração não coincidindo com a sede estatutária, o Direito da sede da administração é

aplicável às relações internas.

E nas relações externas, o Direito Moçambicano da sede estatutária só é afastado caso se mostre

que a sede da administração fica situada fora do Estado da sede estatutária, os interessados nesse

caso, devem contar com a competência do Direito da sede da administração.

3.2. Nacionalidade das Pessoas colectivas

Em termos gerais, e tradicionalmente o (Prof. LIMA PINHEIRO-2009- pag. 161), diz que as

pessoas colectivas tem sido enquadradas à lei da sua nacionalidade através da lei ou estatuto

pessoal da pessoa colectiva. Mas no caso do nosso legislador, parece estar em concordância com

a tradicional ligação entre estes dois preceitos nos termos do (art.25 e 31, n°1 todos do CC).

Mas em termos gerais, é unanime na parte da doutrina em afirmar que, a nacionalidade é menos

importante na determinação de estatuto pessoal da pessoa colectiva. Mas isso, não significa que

não seja um elemento fulcral na parte respeitante às normas de Direito dos Estrangeiros e à

protecção da vida diplomática.

Por isso, os sistemas nacionais na sua determinação do estatuto pessoal, faz referência de forma

inequívoca em relação a pessoas colectivas, porque de modo geral, as normas de conflitos em

matéria de nacionalidade, só regulam a nacionalidade dos indivíduos12

, por falta de base que os

fundamente em contrário.

Dai que os autores como (LIMA PINHEIRO,2009-pag.162, FERRER CORREIA, 1973-pag. 104

e 2000-pag.82) e OLIVEIRA ASCENSAO 2000-Pag. 56), Perfilam da mesma ideia que, não se

trate de uma verdadeira nacionalidade, por não ser um vínculo unitário entre uma pessoa

colectiva e um Estado. Neste ponto de vista, entendemos que, as pessoas colectivas não têm uma

10

Cfr. LIMA PIHEIRO, Direito Internacional Privado, 2009, pag. 133. 11

idem. Pag. 133. Porque para estas pessoas colectivas deve valer a teoria de constituição. 12

Op. Cit. LIMA PINHEIRO, pag. 162

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nacionalidade idêntica aos dos indivíduos13

.

Portanto, aparentemente no mesmo sentido, diz (Prof. LIMA PINHEIRO, 2009, pag. 162, e

FERRER CORREIA 200014

, pag.82) e outros, formam a doutrina dominante no sentido de que,

as Pessoas colectivas têm uma nacionalidade, mas que, se trata de “um conceito diferente da

nacionalidade das pessoas particulares e não apenas noção análoga”.

3.3. Reconhecimento da Pessoa Colectiva de Estatuto Pessoal estrangeira

Quando se fala de reconhecimento da pessoa colectiva, quer aferir-se de aceitação na ordem

jurídica local ou interna da personalidade jurídica desta, atribuída pela lei pessoal estrangeira,

isto é, reconhecimento da Capacidade funcional especifica a medida em que a pessoa colectiva

pode exercer a sua actividade social, que é, liberdade de estabelecimento e de prestação de

serviços.

As pessoas colectivas podem ser nacionais e estrangeiras. Ora, no Código Civil, não há nenhum

preceito, que dê resposta a questão, no entanto, podemos deduzir através dos (art.33 e 159 do

CC).

3.3.1. Espécie de reconhecimentos das pessoas colectivas

Segundo (LIMA PINHEIRO -2009:pag.158)15

, há duas espécie de reconhecimento da pessoas

colectivas:

Quanto a natureza; Reconhecimento automático ou individual conforme se

dispensa ou não qualquer acto das autoridades locais; acto normativo (art.158,

n°1 do CC).

Quanto à extensão, reconhecimento pode ser pleno ou parcial, consoante a

pessoa colectiva for admitida a exercer toda a sua capacidade, ou apenas em

parte dessa capacidade.

Neste sentido, o reconhecimento das pessoas colectivas de Direito Publico será, em princípio, um

13

Porque, para os indivíduos atribuição da nacionalidade pressupõe aquisição de estatuto a cidadania, de membros do Estado, com efectivos Direitos e obrigações na vida politica. E as pessoas colectivas não são cidadãos de um Estado, não gozam deste estatuto jurídico-político. 14

Crf. Lições de Direito Internacional Privado, Livraria Almedina-Coimbra, edição Globo Lda. 2000, pag. 82. 15

Op.cit.

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reconhecimento parcial, porque não abrange o exercício de poderes de autoridade16

.

Portanto, em termos de reconhecimento, hoje em dia, uma pessoa colectiva adquire a sua

personalidade ou constituição através de escritura pública e com a observância de todos os

requisitos do (art.167 do CC). “Que consubstancia o reconhecimento explícito e automático da

personalidade jurídica. Embora a lei possa fazer depender Associações de outras formalidades”.

Quanto, ao reconhecimento das sociedades civis, este é normativo implícito. No plano geral,

pode-se dizer que o registo não é um elemento da aquisição de personalidade jurídica das

Associações, isto é, não um acto que confere a personalidade a essas entidades. Porque, para

estas sociedades civis simples, pode-se dizer que o seu registo não é um requisito da sua

personificação jurídica.

Podemos concluir que, o reconhecimento da pessoa colectiva estrangeira só se coloca para a

ordem jurídica que estabelece um sistema de reconhecimento individual, aquela que faz

depender de reconhecimento automático de certas condições fixadas no Direito material do foro.

Como regra, o nosso legislador não pressupõem as pessoas colectivas de estatutos estrangeiros a

sujeição de reconhecimento individual. E também não condiciona o reconhecimento da

personalidade da verificação de requisitos fixados no direito interno. Nestes casos, há aplicação

indirecta da norma.

Enquanto (LIMA PINHEIRO17

), defende que para as PC18

de estatuto estrangeiro não deveria ser

exigido condições para a sua prestação de serviços dentro de um Estado, isto é, deviam ter

reconhecimento automático, e para as PC de estatuto nacional só deveriam ser exigida condições

legais, aquelas que têm por fim a exercer actividade de carácter permanente.

Enquanto, que, (FERRER CORREIA19

), defende ao contrário dizendo que, tanto as organizações

estrangeiras, sejam elas ou não pessoas colectivas em face do Direito interno do Estado da

respectiva sede, não poderão exercer no país as suas actividades estatutárias enquanto não

satisfizerem no mínimo os requisitos fixados para entidades nacionais da mesma categoria, nos

16

As pessoas colectivas de Direito público podem exercer actividades que não envolvem o exercício de poderes de autoridade, por ex: Actividades económicas, e que, por isso, não estão precisamente limitadas ao território do Estado a que pertencem. 17

Op. cit. Direito Internacional Privado, 2009. pag. 160. 18

Pessoas Colectivas 19

Cfr Op.cit. pag. 96.

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termos do (art.158 do CC).

3.4. Transferência internacional de sede das Pessoas Colectivas

A transferência é nesse sentido um caso de mudança da sede da administração do Estado em que

a pessoa colectiva se constituiu para outro Estado, consubstanciando assim, mudança da lei

pessoal. Estamos perante ao caso de sucessão de estatutos.

Nos termos do (art.33, n°3 do CC), a transferência de um Estado para outro, da sede da pessoa

colectiva não extingue a personalidade jurídica desta, se nisso convierem as leis de uma e outra

sede20

. Portanto, no caso de transferência da sede do estrangeiro para Moçambique ou de

Moçambique para o estrangeiro, o Direito Moçambicano admite a manutenção da personalidade

jurídica da sociedade comercial. Isto é determinado pela obrigação de deveres:

Deve de conformar-se com a lei moçambicana o respectivo contrato;

O representante da sociedade deve promover o registo do contrato pela qual afirma

passará a reger-se;

A transferência para o estrangeiro deve ser deliberada pela maioria de 75٪ dos votos do

correspondente a capital social etc.

Neste ponto de ideia, podemos dizer que a aplicação da lei a pessoas colectivas nos casos de

transferência de sede de administração para outro Estado ou para dentro do país, a doutrina é

unanime por afirmar que não há necessidade de perda da sua personalidade jurídica ou melhor

não é necessário ser acompanhada de sede estatutária, bastando apenas, que a anterior e à

posterior lei concordem com as regras de aplicação da antiga lei.

3.5. Fusão internacional das Pessoas Colectivas

Mas o legislador quando fala de fusão refere-se de fusão de Sociedades. Que defende que a

fusão de entidades com lei pessoal diferente é aplicada em face da mesma lei, nos termos do

(art.33, n°4, do CC). Este preceito refere-se a uma categoria mais ampla de fusão de pessoas

colectivas que é pouco comum.

20

Trata-se de uma Conexão cumulativa simples: isto é, a personalidade jurídica só, persiste se ambas leis estiverem de acordo nessa persistência. Porque, não seria logico que a posterior aceitasse enquanto a lei anterior declarasse extinto apos a sua transferência.

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Portanto, esta fusão pode realizar-se mediante a incorporação de uma sociedade noutra sociedade

ou mediante a constituição de uma nova sociedade.

Segundo (LIMA PINHEIRO, Op. Cit. 2009:174) apesar de disposição do (art.33, n°4 do CC) não

resultar que as leis pessoais de todas as pessoas colectivas, não tenham de ser aplicadas

cumulativamente a todos os aspectos da fusão, para a maioria da tese dominante em matéria de

fusão internacional de sociedades, segundo a qual deve ser aplicada as leis de todas as sociedades

envolvidas.

A aplicação distributiva ou a aplicação cumulativa é necessário uma distinção dos pressupostos,

o processo e os efeitos da fusão internacional:

Quanto aos pressupostos da fusão internacional, devem ser submetidos a uma conexão

cumulativa com as leis de todas as sociedades envolvidas;

Quanto ao processo da fusão internacional, há que ter em conta dois procedimentos a

saber:

a) No Primeiro caso aplica-se distributivamente a lei pessoal de cada uma das

sociedades;

b) No segundo caso há uma aplicação cumulativa de todas as leis pessoais.

Quanto ao Direito aplicável aos efeitos da fusão internacional; há uma divergência

doutrinal, na medida que para a defesa dos credores das sociedades incorporadas e aos

direitos dos sócios que não aceitam a fusão, deve aplicar-se a lei da sociedade em causa.

4. NOÇÃO E ÂMBITO DA LEI PESSOAL

Nos termos do (art.33, n°2 e art.38 ambos do CC), contem a enumeração das matérias que

integra no estatuto pessoal. Frisar que o Direito Internacional Moçambicano equipara o estatuto

pessoal das pessoas colectivas ao dos indivíduos.

Segundo este preceito, a simetria entre o estatuto pessoal dos indivíduos e o estatuto pessoal das

pessoas colectivas não é comum a todos os sistemas.21

Mesmo face a um sistema como o nosso

21 PINHEIRO, Luís de Lima. Direito internacional Privado, Vol. II., Almedina, Coimbra, 1999, pág. 109

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sistema, deve reconhecer-se que analogia entre estatuto pessoal dos indivíduos e o das pessoas

colectivas é bastante limitada.

4.1. Critérios de determinação da lei pessoal das pessoas colectivas

No que concerne a determinação da lei pessoal, a nível doutrinal discute sobre a questão de ter

ou não a nacionalidade as pessoas colectivas, pois, existe varias teorias que abordam estes

aspectos com vista a apurar o critério da determinação da lei pessoal, de entre os quais fazer

menção a nacionalidade, teoria da constituição (incorporation teory), o lugar da sede

estatutária, o lugar do centro da exploração e o lugar da sede da administração.

E fazendo uma análise aprofundada verifica-se maior tendência às teorias da constituição e da

sede da administração.

a) Teoria da Constituição

Essa teoria é consagrada nos sistemas da família de Cammon law, mas também é acolhida em

diversos sistemas da Europa continental nomeadamente o suíço, Holandês.

Segundo esta teoria, a pessoa colectiva possui a nacionalidade do Estado da lei através da qual

ela se constituiu como tal, pois, regendo-se pela lei do país a luz do qual ela se constituiu e

ganhou a personalidade.

Esta teoria apresenta vantagens e desvantagens, que são:

Vantagens:

Promove certeza jurídica, uma que a lei pessoal é sempre a mesma, é aquela que foi

seguida pelas partes;

Favorece a estabilidade e permanência do estatuto da pessoa colectiva

Desvantagens:

Com essa teoria impede a actuação do princípio da autonomia da vontade, porque estão

em primeira linha em causa interesses da terceiros e do comércio jurídico em geral;

Pode violar as expectativas das partes, isto porque, as pessoas que contratam com a

sociedade não sabem qual foi a lei escolhida pelas partes.

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c) Teoria da sede

Segundo esta teoria, a lei pessoal da pessoa colectiva é a do Estado onde se encontra a sede da

administração principal e efectiva. Pois, o nosso legislador adoptou esse critério nos termos do

(art.33, nº1 do CC).

Esta teoria surge frequentemente associada a uma ideia de coincidência entre a sede estatutária e

a sede da administração e quando ela se verifica, a teoria da sede conduz ao mesmo resultado que

a teoria da constituição, uma vez que, em regra a pessoa colectiva tem a sede estatutária e a sede

da administração e neste caso a localização da sede é decisiva.

Vantagens:

A lei aplicável tem sempre contacto com a actividade da sociedade;

Salvaguarda o princípio da autonomia privada, porque as partes podem escolher onde é

que funciona a sede;

Protege as expectativas das pessoas que contratam com a sociedade, as partes sabem

onde é que localiza a sede.

Desvantagens:

Verifica-se incerteza jurídica, isto porque, os grupos de sociedades é difícil saber onde

é que funcionam os órgãos da pessoa colectiva que toma as decisões;

Porem, apesar da divergência entre Ferrer Correia e Baptista Machado, uma vez que o ultimo

defendem que as pessoas colectivas não têm nacionalidade, nem domicílio, ambos concordam

que a lei reguladora das pessoas colectivas é a lei do lugar onde se encontra situada a sede, ou

seja, para as pessoas colectivas é aplicável disposto no (art.33, n°.1 do CC).

4.2. Direito aplicável a constituição da pessoa colectiva

No Direito Moçambicano o legislador determinou como lei aplicável a constituição das pessoas

colectivas o Direito do lugar onde localiza a sede principal e efectiva da sua administração22

, no

sentido do Estado onde quer se constituir.

22

Vide art. 33, nº2 do C.C.

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Mas a questão tem sido discutida em relação ao contrato de sociedade. A tese dominante sustenta

que o contrato de sociedade esta submetido a lei pessoal da sociedade. E a tese contrária defende

que, o contrato de sociedade está submetido ao direito designado pelas normas de conflitos

reguladoras das obrigações voluntarias. Sendo defensores, LIMA PINHEIRO e BAPTISTA

MACHADO 23

. Contudo, a segunda tese deve valer também, com as devidas adaptações, para os

negócios constitutivos de outras pessoas colectivas que sejam geradores de obrigações.

4.3. Direito aplicável ao estatuto pessoal

Resulta da própria lei ao estabelecer que a colectiva tem como lei pessoal a lei do Estado onde se

encontra situada a sede principal e efectiva da sua administração24

.

Este preceito consagra plenamente a teoria da sede, embora atenuada pala possibilidade de

manutenção da personalidade jurídica em caso da transferência internacional da sede. Acrescer

ainda que, (art.33 do CC), não distingue entre as diversas categorias de pessoas colectivas

estaduais. Todavia, deve entender-se que as pessoas colectivas de Direito público não são

abrangidas por este preceito.

Relativamente as pessoas colectivas que se constitui com a intervenção do órgãos públicos, a

teoria da sede é como uma mera qualificação da teoria da constituição, por força da qual a pessoa

colectiva deve ter a sede da administração no país em que se constituiu. Pois, a sede estatutária

se situa no país da constituição, isto significa que, quanto a estas pessoas colectivas, a teoria da

sede postula que, há coincidência entre o lugar da sede estatutária e lugar da sede da

administração. Portanto, isto sustenta uma presunção de que a sociedade tem a sede da

administração no Estado da sede estatutária.

Portanto, o direito da sede é competente para decidir sobre a existência da pessoa colectiva, tanto

com definir os limites da sua capacidade, a constituição, funcionamento e competência dos seus

órgãos os modos de aquisição e perda de qualidade de membros de corporação e os

correspondentes direitos e deveres, a responsabilidade perante os terceiros da pessoa colectiva,

bem como dos respectivos membros e representantes e, por último, a sua transformação,

dissolução e extinção da pessoa colectiva.

23

PINHEIRO, Luís de Lima. Direito internacional Privado, Vol. II., Almedina, Coimbra, 1999, pág. 131. 24

Vid art. 33, nº1 do C.C.

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4.4. Limites a competência da lei pessoal

Há limites inerente a competência da lei pessoal das pessoas colectivas, seja a do Estado da sede

da administração ou a do Estado da constituição. Um destes limites, que abrange todas as

pessoas colectivas, diz respeito a capacidade jurídica. Este limite resulta uma aplicação analógica

das disposições que atribuem relevância a lei do lugar da celebração em matéria de capacidade

de indivíduos.

Segundo os Prof. FERRER CORREIA, BAPTISTA MACHADO e MARQUES DOS SANTOS,

defendem que este principio do (art.28 do CC), deve valer para as pessoas colectivas e bens não

dotadas de personalidade jurídica. Enquanto ISABEL de MAGALHAES COLAÇO, citado por

LIMA PINHEIRO, colocou algumas reservas a este entendimento, dizendo que o (art.28 do

CC). se reporta apenas aos actos anuláveis com fundamento em incapacidade de exercício e que

o acto do órgão da pessoa colectiva que esteja inquinado de vícios por falta de capacidade de

gozo não é equivalente a uma mera incapacidade de exercício25

. “Todavia, o (art.28 do CC), não

é directamente aplicável aos actos das pessoas colectivas” que sejam inválidos por desrespeito

pelos limites fixados na lei ou pelos estatutos.

Segundo LIMA PINHEIRO, entende que, a aplicação analógica justifica-se perante limites

colocados pela lei, pelos estatutos ou por deliberações sociais e quer tenha por objecto ou fins

que a pessoa colectiva pode prosseguir, os actos que os órgãos da pessoa colectiva podem

praticar para suas realização ou vinculação da pessoa colectiva pelos seus administradores26

.

Em síntese, pode-se dizer que o domínio da aplicação da lei pessoal é limitado nestas matérias,

pela competência atribuída a lei do lugar da celebração contrato.

Portanto, há que entender que trata-se do problema de “reconhecimento da capacidade

funcional” das sociedades de estatuto pessoal estrangeiro, ou como condicionamento de direito

dos estrangeiros. Deve-se entender que se trata de limite a competência da lei pessoal

determinada no (art.8 do C.comrcial).

25

PINHEIRO, Luís de Lima. Direito internacional Privado, Vol. II., Almedina, Coimbra, 1999, pág. 152 26

Op. Cit Pág. 152

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5. CONCLUSÃO

Tendo em conta acima exposto, podemos concluir que é preocupação do legislador em regular a

constituição e a vida da pessoa colectiva. Todos os elementos necessários para a existência da

pessoa colectiva são objecto de regulação pelo legislador.

Os estatutos, Código Civil, o Código Comercial e algumas convenções internacionais integram o

conjunto de legislação reguladora das pessoas colectivas.

Da pesquisa que fizemos em relação ao assunto em apreço, podemos constatar que, são várias as

posições assumidas quanto à lei que deve regular as pessoas colectivas no Direito Internacional

Privado. Portanto, entendemos de forma unanime em estar de acordo a posição do legislador

moçambicano e a maioria da doutrina, no sentido de que a lei pessoal das pessoas colectivas

deve ser a do Estado em que se encontra situada a sede principal e efectiva da sua administração,

pois é nesta sede que são tomadas todas as decisões importantes da pessoa colectiva,

relativamente à actividade desenvolvida por essa e outros aspectos importantes.

Em relação a teoria ou critério da constituição, não estamos a querer excluir a sua importância

nesse, mas entendemos nós que, tem o seu valor na percepção na vida cientifica, ate porque tem

mais relevância quando se trate das pessoas colectivas publica que tem um regime diferente a das

pessoas colectivas estrangeira ou privadas.

Entendemos que, se não adoptássemos a lei aplicável as pessoas colectivas estrangeiras através

do critério da sede, que é entendimento do legislador, dificultaria a defesa da própria pessoa

colectiva em caso de litígio, porque aplicaríamos norma que nada tem a ver com a relação, isto é,

prejudicando a própria pessoa colectiva.

Contudo, podemos afirmar que, a lei da sede da administração principal é a mais indicada e

aconselhável para regular as situações de pessoa colectiva internacional (art.33, n°1 do CC),

porque ela regula todos os aspectos da vida da sociedade, tais como a sua constituição,

funcionamento, exercício da sua actividade, capacidade, modos de aquisição e perda de

qualidade de associado, que correspondem em direitos e deveres, sem falar das responsabilidades

e transferência e dissolução da pessoa colectiva, nos termos do (art.33 n°2, conjugado com

art.34, in fine do CC).

Lei Aplicável as Pessoas Colectivas Internacionais FDUEM-2015

Direito Internacional Privado Página 17

6. BIBLIOGRAFIA

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República de Moçambique, Código Comercial, 3ª Edição, Plural editores, actualizado

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