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    A ANLISE DA BOA-F DO TERCEIRO ADQUIRENTE NAS FRAUDES EXECUO E CONTRA CREDORES1

    JORDANA SCHAEDLER2

    RESUMO: O presente trabalho busca apresentar uma anlise acerca da boa-f do terceiro

    adquirente na fraude execuo e na fraude contra credores. A problemtica advm

    justamente dos mecanismos criados pela legislao e pelo entendimento jurisprudencial para

    proteger o terceiro adquirente que apresenta comportamento em conformidade com a tica e a

    moral. Necessrio analisar, portanto, diversos institutos que trazem uma compreensoadequada do tema, como a definio de responsabilidade patrimonial e seus limites de

    incidncia, a diferenciao entre fraude execuo e fraude contra credores, a conceituao

    do instituto da boa-f e a posio do adquirente em face das duas espcies de fraudes

    existentes. Questiona-se, ainda, o modo de se compatibilizar tal proteo com os interesses do

    exequente, traduzidos pelo princpio do resultado. No obstante, com o intuito de mostrar a

    importncia do tema, esta monografia traz a relevncia da resguarda do terceiro de boa-f para

    fins de preservar a segurana jurdica das relaes negociais. Por fim, faz-se essencial aanlise de alguns precedentes jurisprudenciais, tendo em vista a importncia do

    posicionamento dos tribunais ao aplicar os dispositivos da lei em cada caso concreto.

    Palavras-chave: Boa-f. Terceiro adquirente. Fraude execuo. Fraude contra credores.

    Exequente. Segurana jurdica.

    1 INTRODUO

    O processo executivo ocorre, em grande parte das vezes, com a arrecadao de bens

    do devedor e sua posterior alienao para quitar o crdito exigido3. Assim, em havendo

    1Artigo extrado de Trabalho de Concluso de Curso, apresentado como requisito parcial para a obteno dograu de Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito da Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande doSul, aprovado com grau mximo pela banca examinadora composta pela orientadora, Prof. Me. Leticia LoureiroCorrea, Prof. Me. Fernanda Souza Rabello e Prof. Me. Maria Cristina da R. Martinez, em 18 de novembro de2014.2Acadmica do Curso de Graduao de Cincias Jurdicas e Sociais na Pontifcia Universidade Catlica do RioGrande do Sul, PUCRS. E-mail: [email protected], Luiz Guilherme; ARENHART, Srgio Cruz. Processo de execuo. 3. ed. rev. atual. So Paulo:Revista dos Tribunais, 2011, v. 3.

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    qualquer deslocamento dos bens que se encontram na esfera patrimonial do executado para o

    poder de terceiros, podero ser frustrados os interesses do exequente, j que o referido poderia

    perder a sua nica garantia de alcance do resultado esperado.

    Para evitar que tal situao acontea, o ordenamento jurdico criou uma srie de

    dispositivos aptos a facilitar a satisfao da pretenso executiva. Entretanto, simultaneamente,

    houve uma preocupao para com os terceiros adquirentes de boa-f, que no estavam de

    conluio com o devedor e apenas visavam relao negocial em si.

    Surge, ento, uma grande questo: como compatibilizar, de forma justa, o direito

    insatisfeito do credor com o direito do terceiro enquanto suposto proprietrio? neste

    momento que deparamos com a fixao, por parte do legislador, de condies para a validade

    e eficcia do negcio jurdico realizado pelo executado e, em contraponto, um sistema decontrole da disponibilidade dos bens do devedor, com instrumentos hbeis a desconstituir o

    contrato no caso de prejuzo ao exequente.

    Dois dos principais instrumentos criados so justamente a fraude execuo e a fraude

    contra credores, que so tratados, respectivamente, pelo Cdigo de Processo Civil e pelo

    Cdigo Civil, relacionando-se de forma direta com a noo de responsabilidade patrimonial

    do devedor. Dessa forma, a lei apresenta, atravs desses dois institutos, requisitos para que se

    configurem as fraudes, repelindo, assim, aquele que atua com malcia, mas tambm impondoum complicado nus da prova ao credor para que haja a declarao de ineficcia ou anulao

    do negcio jurdico, j que se deve preservar o terceiro de boa-f.

    O presente trabalho tratar de uma anlise acerca da boa-f do terceiro adquirente nas

    fraudes execuo e contra credores, a fim de demonstrar a proteo dada atualmente ao

    indivduo que demonstra atuar com zelo e honestidade em seus negcios, bem como abordar

    os interesses conflitantes nas relaes pactuadas.

    No primeiro captulo, ser discutida a responsabilidade patrimonial do devedor e doterceiro (em caso de responsabilizao), buscando-se no s conceituar tal tema, mas tambm

    expor as suas hipteses de ocorrncia e a zona limtrofe de sua incidncia, tendo em vista a

    impossibilidade de violao do princpio da dignidade da pessoa humana, assegurando-se

    mnimas condies ao devedor.

    O segundo captulo ser relacionado s fraudes execuo e contra credores,

    considerando-se a necessidade de diferenciao entre os dois institutos atravs de suas

    definies, pressupostos e tipicidade. Tal parte de suma importncia, j que o ordenamento

    jurdico brasileiro repele as duas de maneira distinta.

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    Por fim, no ltimo captulo ser tratado o cerne deste trabalho: a boa-f. Faz-se

    imprescindvel, neste momento, sua definio, a distino das duas classificaes de boa-f,

    bem como a apresentao de suas caractersticas e funes, as quais so de essencial

    compreenso para que seja aplicvel tal princpio no mbito dos atos fraudulentos. Ademais,

    ser exposto o tratamento do terceiro adquirente na fraude execuo, bem como na fraude

    contra credores, a relevncia da proteo do referido terceiro para fins de segurana jurdica e

    o conflito existente entre o princpio do resultado, que visa efetividade do processo

    executivo, e o resguardo daquele que atua em conformidade com a tica e a moral. A

    propsito, ao final, haver, ainda, anlise jurisprudencial, a fim de que seja demonstrada no

    s a teoria quanto ao tema, mas tambm a aplicao dos ditames legais por parte do

    Judicirio.De fato, ambos os institutos so de extrema importncia, tendo em vista que as

    relaes contratuais so inerentes ao cotidiano de nossa sociedade. Indubitavelmente, a

    anlise da boa-f do terceiro adquirente mostra-se essencial diante das referidas fraudes, para

    fins de proteger tanto o credor, em alguma medida, quanto o terceiro que atua de boa-f,

    afastando-se, assim, a insegurana jurdica das relaes pactuadas nestes termos. vista disso

    e dada sua relevncia social, resta demonstrada a necessidade da presente pesquisa.

    2 RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL

    A ao de execuo visa satisfao da prestao materializada no ttulo executivo,

    seja este judicial ou extrajudicial, o qual submete o patrimnio do devedor ao pagamento da

    dvida consubstanciada. Assim, ante o inadimplemento de uma obrigao pactuada atravs de

    uma relao negocial, devido ao credor postular, no judicirio, o cumprimento do que fora

    acordado, explicitando-se, assim, a responsabilidade patrimonial do executado.

    2.1 CONCEITO

    O art. 591 do Cdigo de Processo Civil aduz que o devedor responde com todo o seu

    patrimnio (que diz respeito tanto aos seus bens presentes, quanto aos futuros) pela

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    obrigao, exceto nas hipteses legais 4 . Tal dispositivo se refere aos bens futuros,

    considerando aqueles que no existiam no momento em que fora composta a dvida, mas que

    se sujeitaro, futuramente, execuo; e aos bens presentes, aludindo aos que j se faziam

    existentes poca de constituio da obrigao5. Contudo, insta observar que h diversos

    entendimentos acerca de qual seria o momento a que se refere a norma: o da constituio da

    obrigao ou o momento da execuo. Isto posto, enfatiza-se a indispensabilidade do referido

    artigo no processo executivo6, tendo em vista que a diretriz geral7da responsabilidade

    patrimonial.

    Assim, a ltima nada mais do que a sujeio dos bens do devedor (ou de terceiros em

    casos de responsabilizao) s medidas executivas tomadas para fins de ver satisfeita a

    obrigao8. Alis, efeito do ttulo executivo, servindo de proteo ao credor9, na medida emque o executado no pode obstar que a providncia seja realizada mediante agresso direta ao

    seu patrimnio10.

    2.2 RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL PRIMRIA E SECUNDRIA

    Por serem dbito e responsabilidade institutos distintos, podem estes recair tanto sobre

    o mesmo sujeito, quanto sobre sujeitos diferentes11

    .Quando a responsabilidade incide sobre aquele que contraiu a dvida, h a chamada

    responsabilidade primria; caso contrrio, quando se atribui a responsabilidade a quem no

    possui o dbito, h a responsabilidade secundria12. Assim, a responsabilidade primria seria

    aquela que incide sobre o patrimnio do devedor obrigado, com fulcro nas circunstncias

    4Art. 591. O devedor responde, para o cumprimento de suas obrigaes, com todos os seus bens presentes efuturos, salvo as restries estabelecidas em lei. (BRASIL. Lei n 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o

    Cdigo de Processo Civil. Dirio Oficial da Unio: seo 1, Braslia, DF, 17 jan. 1973)5 DINAMARCO, Cndido Rangel apud ASSIS, Araken de. Manual da execuo. 16. ed. rev. e atual. SoPaulo: Revista dos Tribunais, 2013.6ASSIS, Araken de. Manual da execuo. 16. ed. rev. e atual. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2013.7WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso avanado de Processo Civil: Execuo. 13. ed.rev. e atual. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2013, v. 2.8 DIDIER JUNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, RafaelAlexandria de. Curso de Direito Processual Civil. 6. ed. atual. Bahia: JusPODIVM, 2014, v. 5.9ASSIS, Araken de. Manual da execuo. 16. ed. rev. e atual. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2013.10WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso avanado de Processo Civil: Execuo. 13. ed.rev. e atual. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2013, v. 2.11RODRIGUES, Marcelo Abelha. Manual de Direito Processual Civil. 4. ed. ref. atual. ampl. So Paulo:Revista dos Tribunais, 2008.12MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Cdigo de Processo Civil: Comentado artigo por artigo.2. ed. rev. atual. e ampl. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2010.

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    apontadas pelos artigos 591 e 592, I, III e V, ambos do CPC13e a responsabilidade

    secundria seria a que recai sobre os bens de terceiro no obrigado (como o caso do

    cnjuge do devedor), prevista no art. 592, II e IV, do CPC14-15.

    2.3 LIMITES DA RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL DO OBRIGADO

    Todo o patrimnio do executado, via de regra, est sujeito execuo, com

    exceo dos bens impenhorveis e inalienveis, os quais restringem a

    responsabilidade patrimonial, acarretando em sua insubordinao expropriao16.

    O art. 648 do CPC 17 aperfeioa a ideia posta no art. 591, declarando

    justamente a impossibilidade de incidncia da execuo sobre os bens impenhorveis

    ou inalienveis, apresentando-se, assim, como limitador do alcance preliminar

    daqueles s medidas expropriativas18.

    Tais regras acerca da impenhorabilidade demonstram a preocupao do nosso

    Cdigo de Processo Civil com a demanda ilimitada por parte do exequente, que busca

    obter a tutela executiva. Assim, ao criar os artigos 648, 649 e 650, todos do CPC 19,

    procurou o legislador garantir a mnima dignidade humana do executado 20 ,

    13Art. 592. Ficam sujeitos execuo os bens: I - do sucessor a ttulo singular, tratando-se deexecuo fundada em direito real ou obrigao reipersecutria; (...) III - do devedor, quando em poderde terceiros; (...) V - alienados ou gravados com nus real em fraude de execuo. (BRASIL. Lei n5.869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o Cdigo de Processo Civil. Dirio Oficial da Unio: seo 1,Braslia, DF, 17 jan. 1973)14Art. 592. Ficam sujeitos execuo os bens: II - do scio, nos termos da lei; (...) IV - do cnjuge,nos casos em que os seus bens prprios, reservados ou de sua meao respondem pela dvida; (...).

    (BRASIL. Lei n 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o Cdigo de Processo Civil. Dirio Oficial

    da Unio: seo 1, Braslia, DF, 17 jan. 1973)15 DIDIER JUNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA,Rafael Alexandria de. Curso de Direito Processual Civil. 6. ed. atual. Bahia: JusPODIVM, 2014, v. 5.16MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Cdigo de Processo Civil: Comentado artigo

    por artigo. 2. ed. rev. atual. ampl. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2010.17Art. 648. No esto sujeitos execuo os bens que a lei considera impenhorveis ou inalienveis.(BRASIL. Lei n 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o Cdigo de Processo Civil. Dirio Oficialda Unio: seo 1, Braslia, DF, 17 jan. 1973)18ASSIS, Araken de. Manual da execuo. 16. ed. rev. e atual. So Paulo: Revista dos Tribunais,2013.19 Art. 650. Podem ser penhorados, falta de outros bens, os frutos e rendimentos dos bensinalienveis, salvo se destinados satisfao de prestao alimentcia. (BRASIL. Lei n 5.869, de 11de janeiro de 1973. Institui o Cdigo de Processo Civil. Dirio Oficial da Unio: seo 1, Braslia,

    DF, 17 jan. 1973)20NEVES, Daniel Amorim Assumpo. Manual de Direito Processual Civil: volume nico. 4. ed.rev., atual. e ampl. So Paulo: Mtodo, 2012.

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    sobrepondo esta ao direito do exequente, com o objetivo de atender a princpios de

    ordem moral ou social21.

    O artigo 649 do CPC 22 apresenta um rol de bens absolutamente

    impenhorveis, ou seja, que no podem ser submetidos responsabilidadepatrimonial, exceto se o devedor dispensar a prerrogativa legal de forma expressa23.

    Desse modo, realizado um juzo liminar de apreciao entre os interesses das

    partes por parte do legislador, mas as hipteses do dispositivo legal podem no

    sobrevir em determinadas situaes em que seja evidente o desequilbrio entre um

    direito fundamental e o amparo a outro24. Nestes casos, faz-se imprescindvel um

    controle da aplicao dos preceitos de impenhorabilidade por meio do Judicirio, o

    qual deve apreciar o caso concreto, buscando o desfecho adequado25. Alis, afere-se

    um exemplo da referida circunstncia quando se trata da impenhorabilidade do bem

    de famlia, tendo em vista, que, conquanto a Lei n 8.009/90 determine a

    impossibilidade de penhora, h diversas restries previstas tanto na prpria lei,

    quanto nos precedentes dos Tribunais.

    Em contrapartida, o artigo 650 do CPC se reporta aos bens relativamente

    impenhorveis, referindo a possibilidade de penhora de seus frutos e rendimentos,

    21

    RODRIGUES, Marcelo Abelha. Manual de Direito Processual Civil. 4. ed. ref. atual. ampl. SoPaulo: Revista dos Tribunais, 2008.22Art. 649. So absolutamente impenhorveis: I - os bens inalienveis e os declarados, por atovoluntrio, no sujeitos execuo; II - os mveis, pertences e utilidades domsticas que guarnecem aresidncia do executado, salvo os de elevado valor ou que ultrapassem as necessidades comunscorrespondentes a um mdio padro de vida; III - os vesturios, bem como os pertences de uso pessoaldo executado, salvo se de elevado valor; IV - os vencimentos, subsdios, soldos, salrios,remuneraes, proventos de aposentadoria, penses, peclios e montepios; as quantias recebidas porliberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e sua famlia, os ganhos de trabalhadorautnomo e os honorrios de profissional liberal, observado o disposto no 3 deste artigo; V - oslivros, as mquinas, as ferramentas, os utenslios, os instrumentos ou outros bens mveis necessriosou teis ao exerccio de qualquer profisso; VI - o seguro de vida; VII - os materiais necessrios paraobras em andamento, salvo se essas forem penhoradas; VIII - a pequena propriedade rural, assim

    definida em lei, desde que trabalhada pela famlia; IX - os recursos pblicos recebidos por instituiesprivadas para aplicao compulsria em educao, sade ou assistncia social; X - at o limite de 40(quarenta) salrios mnimos, a quantia depositada em caderneta de poupana. XI - os recursos pblicosdo fundo partidrio recebidos, nos termos da lei, por partido poltico. 1 A impenhorabilidade no oponvel cobrana do crdito concedido para a aquisio do prprio bem. 2 O disposto no incisoIV do caput deste artigo no se aplica no caso de penhora para pagamento de prestao alimentcia.(BRASIL. Lei n 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o Cdigo de Processo Civil. Dirio Oficialda Unio: seo 1, Braslia, DF, 17 jan. 1973)23RODRIGUES, Marcelo Abelha. Manual de Direito Processual Civil. 4. ed. ref. atual. ampl. SoPaulo: Revista dos Tribunais, 2008.24 DIDIER JUNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA,Rafael Alexandria de. Curso de Direito Processual Civil. 6. ed. atual. Bahia: jusPODIVM, 2014, v. 5,

    p. 547.25

    DIDIER JUNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA,Rafael Alexandria de. Curso de Direito Processual Civil. 6. ed. atual. Bahia: JusPODIVM, 2014, v. 5,p. 547.

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    desde que ausentes outros bens, salvo se designados ao cumprimento de prestao

    alimentcia. Deste modo, tais bens no podero ser alcanados pela execuo

    enquanto houver outros bens passveis de constrio judicial26. A propsito, cabe

    frisar que se entende como frutos as utilidades que se recolhe do bem principalhabitualmente, podendo ser frutos civis, naturais ou industriais27.

    Portanto, afere-se que h previses na lei que tratam de limitar a

    responsabilidade patrimonial do executado, para fins de lhe assegurar condies

    dignas para sua sobrevivncia, sem permitir a total sobreposio dos interesses do

    credor sobre os seus. Entretanto, salienta-se que necessrio haver certa cautela ao se

    resguardar os direitos do devedor para que no seja prejudicada a pretenso executiva

    da parte adversa.

    3 FRAUDE EXECUO E FRAUDE CONTRA CREDORES

    Em que pese os bens do devedor respondam pela obrigao pactuada outrora,

    estes se mantm em sua esfera patrimonial, estando ao alcance do executado, tendo

    em vista que ele o seu proprietrio. Assim, em grande parte das vezes, tais bens

    esto em uma situao passvel da ocorrncia de fraude, na qual o indivduo aliena ou

    onera o objeto para terceiros, visando justamente ao prejuzo da satisfao da

    pretenso executiva. Sendo fraude gnero, devemos analisar duas de suas espcies:

    a fraude execuo e a fraude contra credores.

    3.1 DEFINIO

    A fraude execuo instituto tratado pelo Cdigo de Processo Civil em seu

    artigo 593, apresentando-se como um ato fraudulento, o qual provoca danos ao

    credor, bem como ao prprio Poder Judicirio, tendo em vista que torna intil o

    processo j ajuizado28.

    26MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Srgio Cruz. Processo de execuo. 3. ed. rev. atual.So Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, v. 3, p. 264.27MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Cdigo de Processo Civil: Comentado artigo

    por artigo. 2. ed. rev. atual. e ampl. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2010, p. 647.28NEVES, Daniel Amorim Assumpo. Manual de Direito Processual Civil: volume nico. 4. ed.rev., atual. e ampl. So Paulo: Mtodo, 2012.

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    Tal fraude consiste na alienao de bens de forma fraudulenta pelo devedor,

    durante o trmite de um processo capaz de reduzi-lo insolvncia, sem que reste

    patrimnio suficiente para satisfazer o dbito29. Corresponde, ento, a ato atentatrio

    dignidade da justia

    30

    , sendo muito mais grave do que a fraude contra credores, jque, por ser cometido no curso do processo de execuo, torna irrefutvel a inteno

    do devedor em prejudicar o credor e em frustrar a atuao do Poder Judicirio31.

    Alis, tanto assim que o inciso I, do art. 600, do CPC 32 considera a fraude

    execuo como ato que degrada o decoro e o respeito que merece a atividade

    jurisdicional33.

    Por conseguinte, afere-se que tal fraude rechaada da forma mais enrgica,

    havendo dispensa quanto interposio de demanda para desconstituir ou tornar nulo

    o ato fraudulento, pois tal ato considerado, por si s, ineficaz diante do exequente34.

    Assim, ocorrendo a fraude, os bens vendidos ou gravados com nus real permanecem

    passveis de execuo para o cumprimento da obrigao, tratando-se a questo de

    ineficcia primria, cujo corolrio de que o bem sofre os efeitos dos atos executivos

    como se nunca tivesse sido alienado ou gravado outrora 35. Cumpre atentar que a

    alienao ou onerao no nula, pois vlida quanto aos demais, embora ineficaz

    relativamente ao juzo da execuo 36 . Destarte, diz respeito a uma hiptese de

    inoponibilidade, j que, ainda que o ato possa surtir os efeitos pretendidos, esses no

    so oponveis ao credor37.

    29ALVIM, Arruda; ALVIM, Eduardo Arruda; BRUSCHI, Gilberto Gomes; CHECHI, Mara Larsen;COUTO, Mnica Bonetti. Execuo Civil e temas afins do CPC/1973 ao novo CPC : estudos emhomenagem ao professor Araken de Assis. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2014.30NEVES, Daniel Amorim Assumpo. Manual de Direito Processual Civil: volume nico. 4. ed.rev., atual. e ampl. So Paulo: Mtodo, 2012.31

    THEODORO JUNIOR, Humberto. Processo de Execuo e Cumprimento da Sentena. 27. ed.rev. e atual. So Paulo: Universitria de Direito, 2012.32Art. 600. Considera-se atentatrio dignidade da Justia o ato do executado que: I - frauda aexecuo (...). (BRASIL. Lei n 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o Cdigo de Processo Civil.Dirio Oficial da Unio: seo 1, Braslia, DF, 17 jan. 1973)33ALVIM, Arruda; ALVIM, Eduardo Arruda; BRUSCHI, Gilberto Gomes; CHECHI, Mara Larsen;COUTO, Mnica Bonetti. Execuo Civil e temas afins do CPC/1973 ao novo CPC : estudos emhomenagem ao professor Araken de Assis. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2014.34THEODORO JUNIOR, Humberto. Processo de Execuo e Cumprimento da Sentena. 27. ed.rev. e atual. So Paulo: Universitria de Direito, 2012.35ZAVASCKI, Teori Albino. Processo de Execuo: parte geral. 3 ed. rev., atual. e ampl. So Paulo:Revista dos Tribunais, 2004.36NEGRO, Theotonio; GOUVEA, Jos Roberto Ferreira. Cdigo de Processo Civil e legislao

    processual em vigor. 35. ed. atual. So Paulo: Saraiva, 2003.37CMARA, Alexandre Freitas. Lies de Direito Processual Civil. 12. ed. rev. e atual. Rio deJaneiro: Lumen Juris, 2006, v. 2.

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    J a fraude contra credores, prevista no Cdigo Civil Brasileiro,

    especificamente nos artigos 158 a 165, trata de instituto de Direito Material 38e se

    refere alienao fraudulenta que antecede o processo judicial, a qual acarreta a

    insolvncia do devedor ou agrava sua situao financeira, prejudicando, assim, osseus credores39. Desse modo, o devedor, a fim de se livrar de suas obrigaes, diminui

    seu ativo, atravs de artifcios desonestos, tornando-se insolvente ou aumentando sua

    insolvncia (caso j seja insolvente)40. Essa fraude pode ocorrer, por exemplo, com a

    doao de bens para seu descendente, com estipndio de encargo no vencido para

    credor quirografrio, com renncia herana, impossibilitando o acrscimo de seu

    ativo, entre outras situaes41.

    Importa salientar que a fraude contra credores motivo de anulabilidade do

    ato (art. 171, II, do CCB)42, segundo Luiz Guilherme Marinoni, j que depende de

    ao autnoma que desconstitui o negcio jurdico, deslocando o bem esfera

    patrimonial do devedor fraudador 43 . Assim sendo, a sentena desconstitui

    completamente o ato jurdico efetuado entre o alienante e o terceiro e, vez que o bem

    retorna ao patrimnio do referido sujeito, vai servir como garantia no s para o

    dbito do demandante da ao pauliana, mas tambm para de qualquer outro credor,

    mesmo que esse no tenha sofrido fraude44.

    Contudo, h vises divergentes que buscam o no favorecimento do devedor,

    como a de Cndido Rangel Dinamarco, o qual assevera que tal fraude causa a

    ineficcia do negcio perante o credor, considerando-se que a sentena no reduz o

    que fora pactuado a um nada jurdico45. Isto , conserva-se a validade do contrato

    38 DIDIER JUNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA,Rafael Alexandria de. Curso de Direito Processual Civil. 6. ed. atual. Bahia: JusPODIVM, 2014, v. 5.39 ASSIS, Carlos Augusto de. Fraude execuo e boa-f do adquirente. Publicado em: 1999.

    Disponvel em: .Acesso em: 09 out. 2014.40 DIDIER JUNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA,Rafael Alexandria de. Curso de Direito Processual Civil. 6. ed. atual. Bahia: JusPODIVM, 2014, v. 5.41 DIDIER JUNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA,Rafael Alexandria de. Curso de Direito Processual Civil. 6. ed. atual. Bahia: JusPODIVM, 2014, v. 5.42Art. 171. Alm dos casos expressamente declarados na lei, anulvel o negcio jurdico: (...); II -

    por vcio resultante de erro, dolo, coao, estado de perigo, leso ou fraude contra credores. (BRASIL.Lei n 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Cdigo Civil. Dirio Oficial da Unio: seo 1,Braslia, DF, ano 139, n. 8, p. 1-74, 11 jan. 2002)43MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Srgio Cruz. Processo de Execuo. 3. ed. rev. atual.So Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, v. 3.44NEVES, Daniel Amorim Assumpo. Manual de Direito Processual Civil: volume nico. 4. ed.

    rev., atual. e ampl. So Paulo: Mtodo, 2012.45DINAMARCO, Candido Rangel. Execuo Civil. 8. ed. rev. e atual. So Paulo: Malheiros EditoresLtda, 2002.

    http://www.rkladvocacia.com/arquivos/artigos/art_srt_arquivo20121028165124.pdfhttp://www.rkladvocacia.com/arquivos/artigos/art_srt_arquivo20121028165124.pdf
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    entre o alienante e o comprador, porm, sem eficcia diante do credor, o qual ter a

    possiblidade de, depois de proferida a deciso pelo juzo, adentrar no patrimnio do

    terceiro para atender seu direito, j que o bem no retorna ao mbito patrimonial do

    devedor

    46

    .Ademais, sua averiguao se d em demanda autnoma, com fulcro no art.

    161 do CCB47. Essa ao denominada de ao pauliana e nela cabe ao credor

    lesado atestar a insolvncia do devedor e o acordo fraudatrio com o terceiro,

    restituindo o bem na esfera patrimonial do executado48. Frisa-se que a fraude contra

    credores s pode ser alegada na referida ao e nunca em embargos de terceiro

    (smula 195 do STJ)49ou pelo credor na execuo ou na impugnao dos embargos

    do devedor50.

    3.2 PRESSUPOSTOS E TIPICIDADE

    Para a configurao da fraude execuo, dois requisitos se fazem

    necessrios: a litispendncia e a frustrao dos meios executrios51.

    A litispendncia se refere pendncia de processo e, tendo em vista que o

    ajuizamento do feito s acarreta efeitos ao requerido a partir da citao, presume-se,

    em princpio, que as alienaes realizadas antes da citao no podem ser reputadas

    como ofensivas dignidade da Justia 52 . Entretanto, h autores que apresentam

    concepo distinta, como Cndido Rangel Dinamarco, o qual aduz que, em estando o

    46

    NEVES, Daniel Amorim Assumpo. Manual de Direito Processual Civil: volume nico. 4. ed.rev., atual. e ampl. So Paulo: Mtodo, 2012.47Art. 161. A ao, nos casos dos arts. 158 e 159, poder ser intentada contra o devedor insolvente, a

    pessoa que com ele celebrou a estipulao considerada fraudulenta, ou terceiros adquirentes que hajamprocedido de m-f. (BRASIL. Lei n 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Cdigo Civil. DirioOficial da Unio: seo 1, Braslia, DF, ano 139, n. 8, p. 1-74, 11 jan. 2002)48ASSIS, Araken de. Manual da execuo. 16. ed. rev. e atual. So Paulo: Revista dos Tribunais,2013.49BRASIL. Superior Tribunal de Justia. Smula n 195. Em embargos de terceiro no se anula ato

    jurdico, por fraude contra credores. Dirio da Justia: seo 1, Braslia, DF, 1 out. 1997.50 NERY JUNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Cdigo Civil Anotado e LegislaoExtravagante. 2. ed. rev. e ampl. So Paulo: Revista dos Tribunais.51ASSIS, Araken de. Manual da execuo. 16. ed. rev. e atual. So Paulo: Revista dos Tribunais,

    2013.52DINAMARCO, Candido Rangel. Execuo Civil. 8 ed. rev. e atual. So Paulo: Malheiros EditoresLtda, 2002.

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    executado manifestamente a par da ao interposta, fica o ato como sendo

    considerado fraudulento, embora inexistente a citao53.

    Acontece que, conquanto haja diversos entendimentos, o STJ compreende ser

    imprescindvel a citao. Alis, decidiu sua Quarta Turma: Para que se configure afraude de execuo, no basta o ajuizamento da demanda, mas a citao vlida 54.

    Assim, verifica-se que houve a uniformizao da interpretao do dispositivo pelo

    rgo judicirio. Convm destacar, ainda, que a fraude deve se relacionar a um

    processo pendente, sendo irrelevante a sua natureza (cognio, execuo ou

    cautelar)55.

    J a ideia de frustrao dos meios executrios se refere meramente

    inexistncia de bens penhorveis, sendo imprescindvel o prejuzo (eventus damni) ao

    patrimnio do credor para que se caracterize a fraude. Dessa forma, corresponde

    reduo do patrimnio do devedor at o ponto de diminui-lo insolvncia, sendo essa

    a consequncia necessria para que se caracterize a fraude, isto , a no apresentao,

    no patrimnio do devedor, de bens capazes de assegurar a efetivao da obrigao56.

    Nesta espcie, a princpio, no se requer a existncia do elemento subjetivo, ou

    seja, da noo de que existe a possibilidade de prejudicar os credores (consilium

    fraudis), sendo presumida tal condio, de forma que pouco importa se havia

    conhecimento ou no de que o negcio levaria o devedor insolvncia 57 . Tal

    entendimento foi utilizado pelos Tribunais durante muito tempo, entretanto, tendo em

    vista a atual viso do Superior Tribunal de Justia acerca do tema, faz-se

    imprescindvel uma anlise mais aprofundada, a qual se dar no captulo 4 deste

    trabalho.

    No que tange tipicidade da fraude execuo, o art. 593 do CPC58alude trs

    hipteses para a sua configurao. O primeiro caso da presente espcie de fraude (art.

    53DINAMARCO, Candido Rangel. Execuo Civil. 8 ed. rev. e atual. So Paulo: Malheiros EditoresLtda, 2002.54BRASIL. Superior Tribunal de Justia. Recurso Especial n 2.429/SP, Quarta Turma, Braslia, DF,19 de junho de 1990. Dirio da Justia, Braslia, DF, 6 ago. 1990.55ASSIS, Araken de. Manual da execuo. 16. ed. rev. e atual. So Paulo: Revista dos Tribunais,2013.56CMARA, Alexandre Freitas. Lies de Direito Processual Civil. 12 ed. rev. e atual. Rio deJaneiro: Lumen Juris, 2006, v. 2.57NEVES, Daniel Amorim Assumpo. Manual de Direito Processual Civil: volume nico. 4. ed.rev., atual. e ampl. So Paulo: Mtodo, 2012.58

    Art. 593. Considera-se em fraude de execuo a alienao ou onerao de bens: I - quando sobreeles pender ao fundada em direito real; II - quando, ao tempo da alienao ou onerao, corria contrao devedor demanda capaz de reduzi-lo insolvncia; III - nos demais casos expressos em lei.

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    593, I) reporta a hiptese em que pende ao fundada em direito real sobre bem

    alienado ou onerado pelo devedor, ou seja, se o referido imvel, por exemplo, est

    sendo postulado e o executado o vende, h fraude execuo59. Isso se d justamente

    pelo fato de a execuo afetar o prprio bem e, assim sendo, sua alienao arruinaria agarantia do processo, impossibilitando o cumprimento da obrigao de modo

    especfico 60 . Nessa conjectura, o reconhecimento da operao fraudulenta no

    depende da indicao de insolvncia do executado, j que se fala em um bem

    determinado61.

    O segundo inciso do art. 593 do CPC difere do anterior em face de ter em vista

    a alienao ou onerao no trmite de qualquer demanda, ou seja, de uma ao que

    no aborda um bem especfico, mas que compreende o patrimnio do devedor como a

    garantia da execuo62. Nessa condio, o nus da prova no imputvel ao credor, j

    que cabe ao devedor comprovar que a venda no foi capaz de reduzi-lo insolvncia,

    considerando-se a existncia de outros bens penhorveis. Assim, atualmente est

    firmado o entendimento de que se presume a insolvabilidade do requerido na

    execuo at prova em contrrio63.

    No que tange ao terceiro inciso, esse contm norma geral e elimina a

    probabilidade da ocorrncia de fraude sem que a conduta esteja prevista em lei. Dessa

    forma, h casos previstos no prprio Cdigo de Processo Civil e em outros diplomas,

    como o caso da penhora sobre o crdito (art. 672, 3, do CPC)64, por exemplo.

    Por fim, observa-se que no h fraude execuo na iminncia do processo,

    pois, antes de ser instaurada a lide, a fraude apenas contra credores.

    (BRASIL. Lei n 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o Cdigo de Processo Civil. Dirio Oficialda Unio: seo 1, Braslia, DF, 17 jan. 1973)59

    MARQUES, Jos Frederico. Manual de Direito Processual Civil. 2. ed. atual. So Paulo:Millennium, 1998, v. 4.60 DIDIER JR., Fredie; CERQUEIRA, Lus Otvio Sequeira de; CALMON FILHO, Petrnio;TEIXEIRA, Slvio de Figueiredo; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. O terceiro no processo civilbrasileiro e assuntos correlatos: estudos em homenagem ao Professor Athos Gusmo de Carneiro.So Paulo: Revista dos Tribunais Ltda, 2010.61MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Srgio Cruz. Processo de execuo. 3. ed. rev. e atual.So Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, v. 3.62CAHALI, Yussef Said. Fraudes contra credores: fraude contra credores, fraude execuo, aorevocatria falencial, fraude execuo fiscal e fraude execuo penal. 5. ed. rev. e atual. So Paulo:Revista dos Tribunais Ltda, 2013.63CAHALI, Yussef Said. Fraudes contra credores: fraude contra credores, fraude execuo, aorevocatria falencial, fraude execuo fiscal e fraude execuo penal. 5. ed. rev. e atual. So Paulo:

    Revista dos Tribunais Ltda, 2013.64NEVES, Daniel Amorim Assumpo. Manual de Direito Processual Civil: volume nico. 4. ed.rev., atual. e ampl. So Paulo: Mtodo, 2012.

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    13

    A propsito, com relao fraude contra credores, de acordo com o

    entendimento de Alexandre Freitas Cmara, so essenciais dois requisitos para a sua

    configurao: a insolvabilidade do devedor (eventus damni) e o elemento subjetivo

    (consilium fraudis)

    65

    .Como foi visto, o eventus damni consiste na reduo ou no exaurimento do

    patrimnio do devedor j insolvente ou que foi reduzido insolvncia atravs do

    negcio jurdico realizado66. O nus da prova, na presente situao, se impe ao

    credor, segundo Fredie Didier Junior, vez que ele deve provar o dano resultante da

    insolvncia do devedor67 . Entretanto, em havendo presuno da insolvncia do

    devedor (no caso de o executado no ter bens para oferecer penhora), afere-se a

    inverso do nus da prova, j que o credor no pode fazer prova negativa da

    inexistncia de bens, cabendo ao devedor, agora, provar a sua solvncia68.

    No obstante, esclarece-se que deve haver nexo de causalidade entre o dano e

    o ato fraudulento, no sendo punvel, alis, somente a insolvabilidade absoluta, pois a

    frustrao da penhora e a diminuio do patrimnio tambm so capazes de

    impossibilitar ou dificultar a execuo, apresentando-se, portanto, atacveis via ao

    pauliana69.

    J o consilium fraudistrata da presuno da inteno fraudulenta (m-f), ou

    seja, quando o devedor tem o intuito malicioso de prejudicar70. Assim, representa a

    cincia do devedor da possibilidade de causar dano, sendo que a m-f pode advir

    tanto do devedor, de modo isolado, como na renncia de herana, ou daquele aliado a

    terceiro, no caso de alienao fraudulenta71. Nesta espcie de fraude, de acordo com a

    doutrina mais recente, no se exige o animus nocendi, o qual representa o objetivo

    direto de prejudicar os credores, pois se assim o fosse, haveria a frustrao dos

    65

    CMARA, Alexandre Freitas. Lies de Direito Processual Civil. 12. ed. rev. e atual. Rio deJaneiro: Lumen Juris, 2006, v. 2.66 PEREIRA, Marcelo Aguiar. Fraude contra credores e fraude execuo. Disponvel em:.Acesso em: 09 out. 201467 DIDIER JUNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA,Rafael Alexandria de. Curso de Direito Processual Civil. 6. ed. atual. Bahia: JusPODIVM, 2014, v. 5.68CAHALI, Yussef Said. Fraudes contra credores: fraude contra credores, fraude execuo, aorevocatria falencial, fraude execuo fiscal e fraude execuo penal. 5. ed. rev. e atual. So Paulo:Revista dos Tribunais Ltda, 2013.69PAES, P. R. Tavares. Fraude contra credores. 2. ed. aum. e atual. So Paulo: Saraiva, 1986.70SILVA, Alade Geralda Taveira; CRUZ, Joseane Lopes da. Fraude contra credores x terceiro deboa-f: uma abordagem jurdica. Publicado em: 2014. Disponvel em:

    . Acesso em: 09 out. 2014.71MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil. 34. ed. So Paulo: Saraiva, 1996, v. 1.

    http://www.juspodivm.com.br/i/a/%7B39050F8B-D6BC-4870-8ABF-FEB4DCA94866%7D_1.pdfhttp://joseanelcsantos.jusbrasil.com.br/artigos/112332325/fraude-contra-credores-x-terceiro-de-boa-fe-uma-abordagem-juridicahttp://joseanelcsantos.jusbrasil.com.br/artigos/112332325/fraude-contra-credores-x-terceiro-de-boa-fe-uma-abordagem-juridicahttp://joseanelcsantos.jusbrasil.com.br/artigos/112332325/fraude-contra-credores-x-terceiro-de-boa-fe-uma-abordagem-juridicahttp://joseanelcsantos.jusbrasil.com.br/artigos/112332325/fraude-contra-credores-x-terceiro-de-boa-fe-uma-abordagem-juridicahttp://www.juspodivm.com.br/i/a/%7B39050F8B-D6BC-4870-8ABF-FEB4DCA94866%7D_1.pdf
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    ltimos pela impossibilidade de fazer prova acerca de um elemento subjetivo to

    inerente ao indivduo72. suficiente, ento, para a configurao do consilium fraudis,

    que o devedor esteja ciente de que a conduta realizada acarretar a sua

    insolvabilidade, ou a acentuar, caso j exista. Todavia, h casos em que no se faznecessria a presena de tal elemento, situao que ser trabalhada no prximo

    captulo deste trabalho.

    4 A BOA-F DO TERCEIRO ADQUIRENTE NAS FRAUDES EXECUO

    E CONTRA CREDORES

    Tanto o momento pr-processual quanto a execuo so solos frteis para a

    realizao de comportamentos opostos ao princpio da boa-f. justamente por esse

    fator que o ordenamento jurdico se preocupa em proteger no s o credor da

    obrigao, mas tambm o terceiro adquirente que desconhece a possibilidade de

    causar dano.

    Assim, faz-se necessrio analisar a aplicao do princpio da boa-f nas

    relaes pactuadas com os terceiros alheios ao trato principal, j que a ineficcia ou

    anulabilidade do negcio jurdico depende de sua conduta.

    4.1 A BOA-F

    Conforme o disposto no art. 422 do Cdigo Civil Brasileiro73, as partes devem

    preservar, tanto na execuo do contrato quanto na sua concluso, o princpio de

    probidade e boa-f.

    Tal princpio relaciona-se ideia de quem ningum poder se beneficiar da

    prpria torpeza e sempre presumido pelo magistrado no julgamento de uma

    demanda, devendo a m-f ser provada por quem a arguiu74. Assim, pode-se entender

    a boa-f como o comportamento leal segundo o direito, ou seja, o cumprir de forma

    ntegra a obrigao pactuada. O princpio se divide em boa-f subjetiva (tambm

    72CAHALI, Yussef Said. Fraudes contra credores: fraude contra credores, fraude execuo, aorevocatria falencial, fraude execuo fiscal e fraude execuo penal. 5. ed. rev. e atual. So Paulo:Revista dos Tribunais Ltda, 2013.73Art. 422. Os contratantes so obrigados a guardar, assim na concluso do contrato, como em suaexecuo, os princpios de probidade e boa-f. (BRASIL. Lei n 10.406, de 10 de janeiro de 2002.Institui o Cdigo Civil. Dirio Oficial da Unio: seo 1, Braslia, DF, ano 139, n. 8, p. 1-74, 11 jan.

    2002)74GONALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: Contratos e Atos Unilaterais. 8. ed. SoPaulo: Saraiva, 2011, v. 3.

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    denominada de percepo psicolgica da boa-f) e boa-f objetiva (tambm chamada

    de concepo tica da boa-f), sendo que aquela constitui um modo de conduta e a

    ltima uma norma de comportamento75.

    A boa-f subjetiva relaciona-se cincia ou ao desconhecimento do indivduono que tange a determinados fatos, servindo de resguardo a aquele que acredita estar

    atuando em conformidade com o direito, embora seja outra a realidade76Desse modo,

    indica o estado de conscincia ou convico pessoal de agir de acordo com o direito

    aplicvel no caso concreto77. J a boa-f objetiva fonte de direito e de obrigaes,

    compondo um princpio geral do direito, conforme o qual todos devem proceder de

    boa-f nas suas relaes. A referida est baseada na lealdade, honestidade e na

    considerao dos interesses da parte adversa, coibindo, por exemplo, a ocultao de

    dados acerca do contedo do negcio jurdico78.

    4.2 O TERCEIRO ADQUIRENTE DE BOA-F

    4.2.1 Em face da execuo

    No momento em que h alienao de bens pelo devedor insolvente, temos dois

    tipos de interesses em choque: o primeiro com relao ao credor frustrado com aalienao e o segundo que diz respeito ao terceiro adquirente.

    Ao longo dos anos, foram criados diversos mecanismos que objetivam o

    favorecimento da satisfao da prestao executiva, prevalecendo, alis, somente

    critrios objetivos para a configurao da fraude. Contudo, indiscutvel que, ao se

    ignorar a conduta daquele que forma vnculo obrigacional com o devedor, est se

    desmerecendo um dos princpios mais relevantes, que o da boa-f.

    justamente por isso que houve modificao do entendimento sobre o assuntopor parte da jurisprudncia, pois o Superior Tribunal de Justia, ao zelar pela proteo

    do terceiro adquirente, reconhece ser vlido o ato praticado em fraude execuo se

    demonstrada a boa-f do adquirente no negcio jurdico. Exerce, ento, uma

    75GONALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: Contratos e Atos Unilaterais. 8. ed. SoPaulo: Saraiva, 2011, v. 3.76GONALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: Contratos e Atos Unilaterais. 8. ed. SoPaulo: Saraiva, 2011, v. 3.77

    MARTINS-COSTA, Judith. A Boa-F no Direito Privado. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2000.78GONALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: Contratos e Atos Unilaterais . 8. ed. SoPaulo: Saraiva, 2011, v. 3.

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    preferncia poltica da ordem processual, optando por ignorar os interesses do credor

    e no do adquirente quando a conduta deste houver sido adequada79.

    Desse modo, apesar da dispensa do requisito subjetivo por parte da lei, impe-

    se, para a configurao da fraude, que o comprador tenha conhecimento da demandaou que sejam expostos motivos que demonstrem ser impossvel o desconhecimento

    daquele acerca do feito, como o caso de quando h registro da ao no cartrio de

    imveis80. Frisa-se, quanto a isso, que no preciso o conluio entre o executado e o

    comprador, bastando a mera cincia, por parte do terceiro, do processo que tramita

    contra o vendedor, tratando-se de presuno absoluta81.

    A propsito, tal entendimento situa-se na Smula n 375 do STJ, a qual aduz

    que o reconhecimento da fraude execuo depende do registro da penhora do bem

    alienado ou da prova de m-f do terceiro adquirente82. Nesse ponto, atribui-se ao

    credor o nus da prova de que o terceiro estava ciente da constrio ou da demanda

    contra o vendedor, apta a conduzi-lo insolvncia83. No entanto, convm destacar

    que, no caso de doao de bem penhorado pelo executado, faz-se desnecessria a

    demonstrao de m-f do terceiro, pois no h como averiguar a cincia da penhora

    por parte dos adquirentes, impondo-se, dessa forma, o reconhecimento objetivo da

    fraude em razo da m-f do doador84.

    na forma da Smula n 375 que se aplica o art. 615-A do CPC 85, o qual

    refere que possvel ao exequente averbar a pendncia da execuo no registro dos

    bens penhorveis do executado (como registro imobilirio e registro de veculos),

    79DINAMARCO, Cndido Rangel. Instituies de Direito Processual Civil. 2. ed. rev. atual. SoPaulo: Malheiros Editores, 2004, v. 4.80NEVES, Daniel Amorim Assumpo. Manual de Direito Processual Civil: volume nico. 4. ed.rev., atual. e ampl. So Paulo: Mtodo, 2012.81GOMIDE, Alexandre Junqueira. A proteo do terceiro adquirente na fraude de execuo e a

    edio da Smula 375 do Superior Tribunal de Justia . Disponvel em: . Acesso em: 09 out. 2014.82BRASIL. Superior Tribunal de Justia. Smula n 375. Dirio da Justia: seo 1, Braslia, DF, 18mar. 2009.83NEVES, Daniel Amorim Assumpo. Manual de Direito Processual Civil: volume nico. 4. ed.rev., atual. e ampl. So Paulo: Mtodo, 2012.84MEDINA, Jos Miguel Garcia. Cdigo de Processo Civil Comentado: Com remisses e notascomparativas ao projeto do novo CPC. 2. ed. rev., atual. e ampl. So Paulo: Revista dos Tribunais Ltda,2012.85 Art. 615-A. O exequente poder, no ato da distribuio, obter certido comprobatria doajuizamento da execuo, com identificao das partes e valor da causa, para fins de averbao no

    registro de imveis, registro de veculos ou registro de outros bens sujeitos penhora ou arresto.(BRASIL. Lei n 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o Cdigo de Processo Civil. Dirio Oficialda Unio: seo 1, Braslia, DF, 17 jan. 1973)

    http://civileimobiliario.web971.uni5.net/wp-content/uploads/2013/05/A-prote%C3%A7%C3%A3o-do-terceiro-adquirente-na-fraude-de-execu%C3%A7%C3%A3o-e-a-edi%C3%A7%C3%A3o-da-s%C3%BAmula-375-do-Superior-Tribunal-de-Justi.pdfhttp://civileimobiliario.web971.uni5.net/wp-content/uploads/2013/05/A-prote%C3%A7%C3%A3o-do-terceiro-adquirente-na-fraude-de-execu%C3%A7%C3%A3o-e-a-edi%C3%A7%C3%A3o-da-s%C3%BAmula-375-do-Superior-Tribunal-de-Justi.pdfhttp://civileimobiliario.web971.uni5.net/wp-content/uploads/2013/05/A-prote%C3%A7%C3%A3o-do-terceiro-adquirente-na-fraude-de-execu%C3%A7%C3%A3o-e-a-edi%C3%A7%C3%A3o-da-s%C3%BAmula-375-do-Superior-Tribunal-de-Justi.pdfhttp://civileimobiliario.web971.uni5.net/wp-content/uploads/2013/05/A-prote%C3%A7%C3%A3o-do-terceiro-adquirente-na-fraude-de-execu%C3%A7%C3%A3o-e-a-edi%C3%A7%C3%A3o-da-s%C3%BAmula-375-do-Superior-Tribunal-de-Justi.pdfhttp://civileimobiliario.web971.uni5.net/wp-content/uploads/2013/05/A-prote%C3%A7%C3%A3o-do-terceiro-adquirente-na-fraude-de-execu%C3%A7%C3%A3o-e-a-edi%C3%A7%C3%A3o-da-s%C3%BAmula-375-do-Superior-Tribunal-de-Justi.pdfhttp://civileimobiliario.web971.uni5.net/wp-content/uploads/2013/05/A-prote%C3%A7%C3%A3o-do-terceiro-adquirente-na-fraude-de-execu%C3%A7%C3%A3o-e-a-edi%C3%A7%C3%A3o-da-s%C3%BAmula-375-do-Superior-Tribunal-de-Justi.pdf
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    sendo que, aps a penhora de tantos bens quantos necessrios para satisfazer a dvida,

    impe-se o cancelamento das averbaes que dizem respeito ao restante (art. 615-A,

    2)86. Tendo sido realizada tal averbao, no h que se falar na ignorncia do terceiro

    com relao existncia de execuo contra o alienante, configurando-se fraude execuo, com fulcro no art. 615-A, 387-88.

    Deve-se compreender, porm, que a falta de inscrio no obsta a alegao de

    fraude execuo, mas somente fica o exequente na obrigao de comprovar que o

    terceiro adquirente tinha cincia de que sobre os bens estava sendo movida ao

    fundada em direito real ou de que pendia contra o devedor demanda capaz de lhe

    alterar o patrimnio, reduzindo-o insolvncia. Logo, so duas as circunstncias a

    considerar, de acordo com Humberto Theodoro Jnior89:

    a) se, no Registro Imobilirio, estiver inscrita a citao, a fraude no

    depender de prova, j que presumido o fato do registro, por meio do

    qual se considera o fato registrado como de conhecimento de todos,

    inclusive do adquirente90;

    b) inexistindo inscrio, competir ao credor o nus da prova quanto s

    exigncias legais da fraude execuo, ou melhor, dever evidenciar que o

    adquirente sabia da ao pendente contra o alienante91.

    Por conseguinte, no caso de afirmao do adquirente de que, embora tenha

    havido averbao no registro do imvel, no foram obtidas as certides sobre a

    situao do objeto em litgio, afasta-se a sua boa-f, pois no h como presumir a

    referida se o terceiro deixou de tomar os devidos cuidados, favorecendo-se pela

    86Art. 615-A, 2. (...) Formalizada penhora sobre bens suficientes para cobrir o valor da dvida, serdeterminado o cancelamento das averbaes de que trata este artigo relativas queles que no tenhamsido penhorados. (BRASIL. Lei n 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o Cdigo de ProcessoCivil. Dirio Oficial da Unio: seo 1, Braslia, DF, 17 jan. 1973)87Art. 615-A, 3. (...) Presume-se em fraude execuo a alienao ou onerao de bens efetuadaaps a averbao (art. 593). (BRASIL. Lei n 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o Cdigo deProcesso Civil. Dirio Oficial da Unio: seo 1, Braslia, DF, 17 jan. 1973)88WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso avanado de Processo Civil: Execuo.13. ed. rev. e atual. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2013, v. 2.89THEODORO JUNIOR, Humberto. Processo de Execuo e Cumprimento da Sentena. 27. ed.rev. e atual. So Paulo: Universitria de Direito, 2012.90 SANTOS, Moacyr Amaral apud THEODORO JUNIOR, Humberto. Processo de Execuo e

    Cumprimento da Sentena. 27. ed. rev. e atual. So Paulo: Universitria de Direito, 2012.91 CASTRO, Amlcar apud THEODORO JUNIOR, Humberto. Processo de Execuo eCumprimento da Sentena. 27. ed. rev. e atual. So Paulo: Universitria de Direito, 2012.

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    prpria inrcia92. Neste caso, cabe a ele provar a ignorncia da existncia de ao

    contra o vendedor, no s pela exigncia do art. 1 da Lei 7.433/1985 93, mas tambm

    porque s possvel reputar de boa-f aquele que adota mnimas precaues para a

    garantia jurdica da sua compra

    94

    .No que concerne aos bens mveis, vez ser impossvel haver o registro desses,

    natural que os acordos se deem sem o requerimento de certido particular do

    alienante95. Ento, torna-se essencial assentir a boa-f do terceiro quando as condies

    da transao no demonstrarem a obrigao de uma ateno maior com relao

    verificao da situao do devedor.

    Deveras, competir ao juiz aferir, na particularidade de cada caso, a presena

    de fundamentos que evidenciem a possibilidade ou no de ter sido examinada a

    situao jurdico-financeira do vendedor96.

    4.2.2 Na fraude contra credores

    Enuncia o art. 161 do Cdigo Civil Brasileiro que possvel intentar a ao,

    nas hipteses dos arts. 158 e 159, contra o devedor em estado de insolvncia, contra o

    sujeito que pactuou o negcio fraudulento ou contra os adquirentes de m-f97.

    Logo, pode aferir-se que a ao pauliana tem como parte legtima, em seu poloativo, o credor prejudicado, que j apresentava essa condio poca do ato

    92CAHALI, Yussef Said. Fraudes contra credores: fraude contra credores, fraude execuo, aorevocatria falencial, fraude execuo fiscal e fraude execuo penal. 5. ed. rev. e atual. So Paulo:Revista dos Tribunais Ltda, 2013.93Art 1. Na lavratura de atos notariais, inclusive os relativos a imveis, alm dos documentos deidentificao das partes, somente sero apresentados os documentos expressamente determinados nestaLei. (...) 2 - O Tabelio consignar no ato notarial, a apresentao do documento comprobatrio do

    pagamento do Imposto de Transmisso inter vivos, as certides fiscais, feitos ajuizados, e nus reais,ficando dispensada sua transcrio; 3 - Obriga-se o Tabelio a manter, em Cartrio, os documentos e

    certides de que trata o pargrafo anterior, no original ou em cpias autenticadas. (BRASIL. Lei n7.433, de 18 de dezembro de 1985 Dispe sobre os requisitos para a lavratura de escrituras pblicas ed outras providncias. Dirio Oficial da Unio: seo 1, Braslia, DF, 19 dez. 1985)94ALVIM, Arruda; ALVIM, Eduardo Arruda; BRUSCHI, Gilberto Gomes; CHECHI, Mara Larsen;COUTO, Mnica Bonetti. Execuo Civil e temas afins do CPC/1973 ao novo CPC : estudos emhomenagem ao professor Araken de Assis. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2014.95ALVIM, Arruda; ALVIM, Eduardo Arruda; BRUSCHI, Gilberto Gomes; CHECHI, Mara Larsen;COUTO, Mnica Bonetti. Execuo Civil e temas afins do CPC/1973 ao novo CPC : estudos emhomenagem ao professor Araken de Assis. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2014.96ALVIM, Arruda; ALVIM, Eduardo Arruda; BRUSCHI, Gilberto Gomes; CHECHI, Mara Larsen;COUTO, Mnica Bonetti. Execuo Civil e temas afins do CPC/1973 ao novo CPC : estudos emhomenagem ao professor Araken de Assis. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2014.97Art. 161. A ao, nos casos dosarts. 158 e 159,poder ser intentada contra o devedor insolvente, a

    pessoa que com ele celebrou a estipulao considerada fraudulenta, ou terceiros adquirentes que hajamprocedido de m-f. (BRASIL. Lei n 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Cdigo Civil.Dirio Oficial da Unio: seo 1, Braslia, DF, ano 139, n. 8, p. 1-74, 11 jan. 2002)

    http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm#art158http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm#art158
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    fraudulento, ou seus sucessores. J em seu polo passivo, pode ter como legitimados o

    devedor (ou seus sucessores) e terceiros que foram beneficiados com o negcio

    jurdico em litisconsrcio passivo necessrio unitrio98. No entanto, a legitimidade

    passiva do adquirente sujeita-se ao caso concreto, existindo a referida quando, a ttulooneroso, o terceiro tiver comprado o bem de m-f ou, estando ou no de m-f,

    quando adquiriu a ttulo gratuito99.

    Na circunstncia de a aquisio ter se dado a ttulo oneroso, devem os

    credores quirografrios comprovar a m-f do terceiro para findar a transao, com

    fulcro no art. 159100, demonstrando que a insolvncia do devedor era evidente ou, ao

    menos, passvel de ser conhecida pelo comprador. Dessa forma, no tendo o terceiro

    conhecimento da insolvncia do alienante, o negcio jurdico permanecer vlido.

    Quanto aos negcios jurdicos gratuitos, se, ao tempo em que o devedor

    realizou a doao ele se encontrava em estado de insolvncia, ou foi reduzido a tal

    estado aps a realizao do negcio, a doao torna-se insubsistente, tendo havido ou

    no m-f101. Ou seja, no importa, neste caso, a existncia do consilium fraudis. Isso

    se aplica tambm hiptese de remisso de dvida.

    Portanto, mesmo que o devedor, o adquirente ou o beneficirio do ato gratuito

    ignore que o negcio diminuir a garantia ou levar o devedor insolvncia, o acordo

    fraudulento estar suscetvel anulao.

    4.3 A PROTEO DO ADQUIRENTE DE BOA-F: SUA RELEVNCIA PARA

    FINS DE SEGURANA JURDICA

    A segurana jurdica consiste no composto de circunstncias que possibilitam

    aos indivduos a prvia e refletida cincia dos resultados de suas condutas e de seusfatos tica da liberdade reconhecida102. Dentre suas importantes condies est a

    98 DIDIER JUNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA,Rafael Alexandria de. Curso de Direito Processual Civil. 6. ed. atual. Bahia: JusPODIVM, 2014, v. 5.99SANTOS, Carvalho J. M. de apud GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. NovoCurso de Direito Civil: Parte Geral. 11. ed.So Paulo: Saraiva, 2009, v. 1.100Art. 159. Sero igualmente anulveis os contratos onerosos do devedor insolvente, quando ainsolvncia for notria, ou houver motivo para ser conhecida do outro contratante. (BRASIL. Lei n10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Cdigo Civil. Dirio Oficial da Unio: seo 1, Braslia,DF, ano 139, n. 8, p. 1-74, 11 jan. 2002)101

    BEVILAQUA, Clvis. Direito das Obrigaes. So Paulo: RED Livros, 2000.102 VANOSSI, Jorge Reinaldo A. apud SILVA, Jos Afonso da. Curso de Direito ConstitucionalPositivo. 34. ed. rev. e atual. So Paulo: Malheiros Editores Ltda, 2011.

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    relativa convico que os sujeitos tm de que as relaes formadas sob a gide de uma

    norma devem prevalecer mesmo quando haja a substituio da referida103.

    De fato, os dispositivos so criados para vigorar e gerar efeitos no futuro,

    podendo, no entanto, seu limite temporal ser imposto ou no. H normas que sofeitas j observando a delimitao do tempo pelo qual ela dirigir a situao prevista e

    outras que so concebidas com a finalidade de estatuir hipteses transitrias. Todavia,

    normalmente, uma lei s para de valer mediante a criao de uma nova norma que a

    revogue, seja de forma expressa ou tcita104.

    Afirma-se que a lei revogada cria situao jurdica subjetiva quando ela gera

    efeitos em benefcio de um indivduo, sendo que tal situao pode ser um mero

    interesse, um direito condicionado, um interesse plausvel, a expectativa de direito ou

    um direito subjetivo105. Esse ltimo pode ser pleiteado em juzo, tendo em vista que

    exigvel para fins de se alcanar uma prestao, recebendo, dessa forma, proteo o

    seu titular.

    nessa seara, ento, que se apresenta uma grande dvida: dever o direito

    subjetivo do indivduo ser preservado mesmo com a entrada em vigor de uma lei

    nova? Fala-se, aqui, na proteo dos direitos subjetivos, consagrada pela Constituio

    Federal em seu art. 5, XXXVI, sob o ditame de que a lei no prejudicar o direito

    adquirido, o ato jurdico perfeito e a coisa julgada e justamente nesse dispositivo

    que temos o chamado princpio da segurana jurdica106.

    Tal princpio relaciona-se diretamente ao Estado Democrtico de Direito e

    concede segurana aos sujeitos em suas relaes jurdicas, vez que impede a

    desconstituio no justificada de atos e situaes, pois a instabilidade decorrente

    desses prprios atos j hbil para desestabilizar a ordem jurdica.

    Desse modo, o ordenamento jurdico brasileiro busca proteger os contratos,

    afirmando a segurana jurdica e, atravs de entendimentos jurisprudenciais, procura

    valorizar condutas de boa-f, tendo em vista a impossibilidade de se punir aquele que

    103SILVA, Jos Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 34. ed. rev. e atual. So Paulo:Malheiros Editores Ltda, 2011.104SILVA, Jos Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 34. ed. rev. e atual. So Paulo:Malheiros Editores Ltda, 2011.105SILVA, Jos Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 34. ed. rev. e atual. So Paulo:

    Malheiros Editores Ltda, 2011.106BRASIL. Constituio (1988). Constituio da Repblica Federativa do Brasil. Braslia, DF:Senado Federal, 1988.

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    atua conforme os padres ticos da sociedade107. Percebe-se tal fator justamente na

    Smula 375 do Superior Tribunal de Justia, a qual prestigia o terceiro adquirente que

    age de boa-f ao impor ao credor a exigncia de comprovar a m-f do comprador

    para que seja configurada a fraude execuo (na hiptese de no ter havido registroda penhora do bem alienado).

    Isso se d devido importncia do princpio da boa-f para dirigir os atos dos

    indivduos em suas relaes interpessoais, pois tem como decorrncia o princpio da

    confiana, o qual conduz a conduta dos seres humanos, integrando, inclusive as

    expectativas dos indivduos com relao ao sistema jurdico 108 . Se no houvesse

    tamanha proteo e cautela por parte do Judicirio ao preservar tais comportamentos,

    ter-se-ia, provavelmente, uma sociedade amparada na insegurana das relaes

    contratuais, o que acabaria resultando na realizao de cada vez menos transaes.

    A propsito, embora a fraude execuo seja ato que afete a dignidade da

    justia, violando interesse pblico, o magistrado no pode decret-la deliberadamente,

    visando somente proteo dos interesses do credor, pois h tremenda necessidade de

    amparar aquele terceiro que possa ter agido em conformidade com as normas109.

    Desta maneira, torna-se imprescindvel um exame cuidadoso e prudente acerca

    da existncia de todos os requisitos essenciais para a ocorrncia de fraude, em

    especial do consilium fraudis, para que se aprecie a segurana jurdica, sem

    desestimular aqueles que atuam luz da lealdade ao contratar em face da incerteza

    quanto ao que pode lhe suceder.

    4.4 O ATRITO ENTRE O PRINCPIO DO RESULTADO E A PROTEO AO

    TERCEIRO ADQUIRENTE DE BOA-F

    107GOMIDE, Alexandre Junqueira. A proteo do terceiro adquirente na fraude de execuo e aedio da Smula 375 do Superior Tribunal de Justia . Disponvel em: . Acesso em: 14 out. 2014.108SOUSA, Wagner Mota Alves de. A teoria dos atos prprios: da proibio do venire contra factum

    prprio. Salvador: JusPODIVM, 2008.109GOMIDE, Alexandre Junqueira. A proteo do terceiro adquirente na fraude de execuo e aedio da Smula 375 do Superior Tribunal de Justia . Disponvel em: . Acesso em: 14 out. 2014.

    http://civileimobiliario.web971.uni5.net/wp-content/uploads/2013/05/A-prote%C3%A7%C3%A3o-do-terceiro-adquirente-na-fraude-de-execu%C3%A7%C3%A3o-e-a-edi%C3%A7%C3%A3o-da-s%C3%BAmula-375-do-Superior-Tribunal-de-Justi.pdfhttp://civileimobiliario.web971.uni5.net/wp-content/uploads/2013/05/A-prote%C3%A7%C3%A3o-do-terceiro-adquirente-na-fraude-de-execu%C3%A7%C3%A3o-e-a-edi%C3%A7%C3%A3o-da-s%C3%BAmula-375-do-Superior-Tribunal-de-Justi.pdfhttp://civileimobiliario.web971.uni5.net/wp-content/uploads/2013/05/A-prote%C3%A7%C3%A3o-do-terceiro-adquirente-na-fraude-de-execu%C3%A7%C3%A3o-e-a-edi%C3%A7%C3%A3o-da-s%C3%BAmula-375-do-Superior-Tribunal-de-Justi.pdfhttp://civileimobiliario.web971.uni5.net/wp-content/uploads/2013/05/A-prote%C3%A7%C3%A3o-do-terceiro-adquirente-na-fraude-de-execu%C3%A7%C3%A3o-e-a-edi%C3%A7%C3%A3o-da-s%C3%BAmula-375-do-Superior-Tribunal-de-Justi.pdfhttp://civileimobiliario.web971.uni5.net/wp-content/uploads/2013/05/A-prote%C3%A7%C3%A3o-do-terceiro-adquirente-na-fraude-de-execu%C3%A7%C3%A3o-e-a-edi%C3%A7%C3%A3o-da-s%C3%BAmula-375-do-Superior-Tribunal-de-Justi.pdfhttp://civileimobiliario.web971.uni5.net/wp-content/uploads/2013/05/A-prote%C3%A7%C3%A3o-do-terceiro-adquirente-na-fraude-de-execu%C3%A7%C3%A3o-e-a-edi%C3%A7%C3%A3o-da-s%C3%BAmula-375-do-Superior-Tribunal-de-Justi.pdfhttp://civileimobiliario.web971.uni5.net/wp-content/uploads/2013/05/A-prote%C3%A7%C3%A3o-do-terceiro-adquirente-na-fraude-de-execu%C3%A7%C3%A3o-e-a-edi%C3%A7%C3%A3o-da-s%C3%BAmula-375-do-Superior-Tribunal-de-Justi.pdfhttp://civileimobiliario.web971.uni5.net/wp-content/uploads/2013/05/A-prote%C3%A7%C3%A3o-do-terceiro-adquirente-na-fraude-de-execu%C3%A7%C3%A3o-e-a-edi%C3%A7%C3%A3o-da-s%C3%BAmula-375-do-Superior-Tribunal-de-Justi.pdfhttp://civileimobiliario.web971.uni5.net/wp-content/uploads/2013/05/A-prote%C3%A7%C3%A3o-do-terceiro-adquirente-na-fraude-de-execu%C3%A7%C3%A3o-e-a-edi%C3%A7%C3%A3o-da-s%C3%BAmula-375-do-Superior-Tribunal-de-Justi.pdfhttp://civileimobiliario.web971.uni5.net/wp-content/uploads/2013/05/A-prote%C3%A7%C3%A3o-do-terceiro-adquirente-na-fraude-de-execu%C3%A7%C3%A3o-e-a-edi%C3%A7%C3%A3o-da-s%C3%BAmula-375-do-Superior-Tribunal-de-Justi.pdfhttp://civileimobiliario.web971.uni5.net/wp-content/uploads/2013/05/A-prote%C3%A7%C3%A3o-do-terceiro-adquirente-na-fraude-de-execu%C3%A7%C3%A3o-e-a-edi%C3%A7%C3%A3o-da-s%C3%BAmula-375-do-Superior-Tribunal-de-Justi.pdfhttp://civileimobiliario.web971.uni5.net/wp-content/uploads/2013/05/A-prote%C3%A7%C3%A3o-do-terceiro-adquirente-na-fraude-de-execu%C3%A7%C3%A3o-e-a-edi%C3%A7%C3%A3o-da-s%C3%BAmula-375-do-Superior-Tribunal-de-Justi.pdf
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    A execuo alcana o seu fim comum quando efetiva, ou melhor, quando o

    credor tem o seu direito satisfeito. Assim, depreende-se que esse o objetivo do

    processo executivo, vez que se apresenta como o nico meio de prestao que pode

    ser obtido na demanda

    110

    . justamente a relevncia dada necessidade de satisfaoda pretenso do credor que transcreve a ideia do princpio do resultado.

    O legislador vem proporcionando, atravs das leis, formas de garantir ao

    exequente a conservao do patrimnio do devedor nas execues. Do mesmo modo,

    fornece possibilidades ao credor de informar o terceiro adquirente sobre a constrio

    do imvel, impedindo futura declarao de seu desconhecimento111.

    Ento, visto que toda execuo realizada, em tese, conforme os interesses do

    exequente, imaginar-se-ia que dela sempre teramos, como efeito, o suprimento do

    seu anseio. No entanto, em que pese seja mesmo essa a consequncia almejada,

    existem limites impostos tutela executiva, inscritos no princpio da efetividade, a

    qual ser atingida se houver mecanismos para satisfazer o crdito do credor atravs do

    patrimnio do devedor112.

    Tais limites correspondem, por exemplo, regra da menor onerosidade, ditada

    no art. 620 do CPC113, no qual escolhido o modo menos gravoso para se executar os

    bens do requerido (caso haja mais de um modo). Aqui, pode-se perceber que, embora

    a execuo seja de iniciativa e de interesse do credor, h proteo ao executado, por

    parte do ordenamento brasileiro, para que se evite o abuso e a possibilidade de

    violao ao princpio da dignidade da pessoa humana.

    notrio que o cnone da menor onerosidade deve ser visto sob a gide do

    princpio da efetividade, vez que o exequente que possui direito de ver adimplido o

    que fora pactuado, certamente, criar dificuldades ao executado e ao terceiro. O que

    se quer evitar exatamente o exagero na imposio de gravames para as partes,

    criando-se dispositivos que possam assegurar a proteo dos contraentes. Contudo,

    110NEVES, Daniel Amorim Assumpo. Manual de Direito Processual Civil: volume nico. 4. ed.rev., atual. e ampl. So Paulo: Mtodo, 2012.111GOMIDE, Alexandre Junqueira. A proteo do terceiro adquirente na fraude de execuo e aedio da Smula 375 do Superior Tribunal de Justia . Disponvel em: . Acesso em: 15 out. 2014.112CAMARGO, Marly Vieira de. Fraude de execuo e a proteo ao terceiro de boa-f. Disponvelem: . Acessoem: 15 de out. 2014113

    Art. 620. Quando por vrios meios o credor puder promover a execuo, o juiz mandar que sefaa pelo modo menos gravoso para o devedor. (BRASIL. Lei n 5.869, de 11 de janeiro de 1973.Institui o Cdigo de Processo Civil. Dirio Oficial da Unio: seo 1, Braslia, DF, 17 jan. 1973)

    http://civileimobiliario.web971.uni5.net/wp-content/uploads/2013/05/A-prote%C3%A7%C3%A3o-do-terceiro-adquirente-na-fraude-de-execu%C3%A7%C3%A3o-e-a-edi%C3%A7%C3%A3o-da-s%C3%BAmula-375-do-Superior-Tribunal-de-Justi.pdfhttp://civileimobiliario.web971.uni5.net/wp-content/uploads/2013/05/A-prote%C3%A7%C3%A3o-do-terceiro-adquirente-na-fraude-de-execu%C3%A7%C3%A3o-e-a-edi%C3%A7%C3%A3o-da-s%C3%BAmula-375-do-Superior-Tribunal-de-Justi.pdfhttp://civileimobiliario.web971.uni5.net/wp-content/uploads/2013/05/A-prote%C3%A7%C3%A3o-do-terceiro-adquirente-na-fraude-de-execu%C3%A7%C3%A3o-e-a-edi%C3%A7%C3%A3o-da-s%C3%BAmula-375-do-Superior-Tribunal-de-Justi.pdfhttp://civileimobiliario.web971.uni5.net/wp-content/uploads/2013/05/A-prote%C3%A7%C3%A3o-do-terceiro-adquirente-na-fraude-de-execu%C3%A7%C3%A3o-e-a-edi%C3%A7%C3%A3o-da-s%C3%BAmula-375-do-Superior-Tribunal-de-Justi.pdfhttp://civileimobiliario.web971.uni5.net/wp-content/uploads/2013/05/A-prote%C3%A7%C3%A3o-do-terceiro-adquirente-na-fraude-de-execu%C3%A7%C3%A3o-e-a-edi%C3%A7%C3%A3o-da-s%C3%BAmula-375-do-Superior-Tribunal-de-Justi.pdfhttp://civileimobiliario.web971.uni5.net/wp-content/uploads/2013/05/A-prote%C3%A7%C3%A3o-do-terceiro-adquirente-na-fraude-de-execu%C3%A7%C3%A3o-e-a-edi%C3%A7%C3%A3o-da-s%C3%BAmula-375-do-Superior-Tribunal-de-Justi.pdf
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    vale salientar que o princpio da menor onerosidade no pode afastar a efetividade da

    execuo, cabendo ao magistrado, no caso concreto, atravs das regras da

    proporcionalidade e da razoabilidade, localizar um meio-termo que impea gravames

    exagerados a ambas as partes

    114

    .No obstante, a prpria Smula 375 do STJ apresenta-se como um freio ao

    processo executrio, estabelecendo, como j foi visto, parmetros para que seja

    determinada a fraude e para que o credor possa alcanar o pretendido, j que o

    entendimento jurisprudencial optou pelo triunfo da proteo ao terceiro de boa-f.

    Dessa forma, o processo deve atestar equilbrio, perseguindo o resultado visado

    (satisfao do crdito), sem infringir os direitos do devedor e do terceiro.

    devido, ento, limitar os atos executivos, j que preciso moderar os meios

    processuais a serem utilizados, valorizando os princpios da justia, equidade e da

    boa-f115. Porm, deve-se ter cautela para no converter a moderao em indiferena

    com relao s expectativas do credor, pois imprescindvel afastar o devedor e o

    terceiro que esto de conluio, visando a frustrar a execuo.

    Em suma, a harmonizao se mostra, de fato, como o termo preciso nesse

    caso. Perante situaes em que se faz essencial o amparo jurdico e que se apresentem

    em posio de antinomia, atribui-se ao magistrado o encargo de compatibiliz-los,

    buscando o equilbrio desejado para que nenhuma das partes saia prejudicada da

    relao negocial de forma injusta116.

    4.5 ANLISE JURISPRUDENCIAL

    Devido grande importncia do entendimento jurisprudencial acerca da

    matria e s inmeras aes ajuizadas visando s solues das lides, torna-se cabvel

    uma anlise mais de alguns precedentes proferidos pelo Tribunal de Justia do Rio

    Grande do Sul, a fim de se aferir a aplicao dos requisitos em cada espcie de fraude,

    114NEVES, Daniel Amorim Assumpo. Manual de Direito Processual Civil: volume nico. 4. ed.rev., atual. e ampl. So Paulo: Mtodo, 2012.115CAMARGO, Marly Vieira de. Fraude de execuo e a proteo ao terceiro de boa-f. Disponvelem: . Acessoem: 15 de out. 2014.116

    ASSIS, Carlos Augusto de. Fraude execuo e boa-f do adquirente. Publicado em: 1999.Disponvel em: .Acesso em: 09 out. 2014.

    http://www.rkladvocacia.com/arquivos/artigos/art_srt_arquivo20121028165124.pdfhttp://www.rkladvocacia.com/arquivos/artigos/art_srt_arquivo20121028165124.pdf
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    bem como de que forma se d a apreciao da boa-f do terceiro adquirente nos casos

    concretos.

    O primeiro caso se trata da apelao cvel de n 70051720738, julgada pela

    Dcima Primeira Cmara Cvel do TJ/RS, e relatada pelo excelentssimoDesembargador Bayard Ney de Freitas Barcellos. Dispe a ementa:

    APELAO CVEL. EMBARGOS DE TERCEIRO. IMVEL.ALIENAO. BOA-F DOS ADQUIRENTES. SMULAS 84 e 375 doSTJ. Mesmo que a venda do imvel seja posterior citao da executada,ausente registro de restrio no lbum imobilirio no momento daalienao e no comprovando o credor que os terceiros tenham agido dem-f, no h a configurao de fraude execuo. Penhoradesconstituda. AJG deferida na ao de conhecimento e execuo desentena. Manuteno. Apelao provida, em parte. (Apelao Cvel N70051720738, Dcima Primeira Cmara Cvel, Tribunal de Justia do RS,Relator: Bayard Ney de Freitas Barcellos, Julgado em 01/10/2014)117.

    Antonio Loreno de Castro recorreu da deciso que julgou procedente os

    embargos de terceiro ajuizados por Ablio Bernardi. O demandante, ora apelante,

    alegou que a propriedade do imvel se transmite apenas atravs do registro pblico no

    cartrio de registro de imveis, o que no teria ocorrido no caso concreto. Asseverou,

    ainda, a ocorrncia de fraude execuo, devendo ser declarado nulo o negcio

    jurdico efetuado aps a penhora, tendo em vista que o executado fora intimado

    acerca da constrio. Salientou que os embargantes no realizaram a transcrio deseus ttulos e nem pediram a outorga da escritura definitiva para averbao. Por fim,

    requereu a atribuio do benefcio da Assistncia Judiciria Gratuita (AJG) aos

    embargos.

    Em seu voto, o Desembargador Bayard Ney de Freitas Barcellos referiu que,

    em que pese fosse evidente o fato de a venda do imvel ter sido formalizada depois de

    a devedora ter sido citada, isso no basta para que se configure fraude execuo.

    Alis, o reconhecimento da referida fraude depende do registro da penhora do bemalienado ou da prova de m-f do terceiro adquirente, com fulcro na Smula 375 do

    STJ. Vez que no houve o registro da restrio no lbum imobilirio e que o credor

    no comprovou a existncia do consilium fraudis, o Desembargador afastou suas

    alegaes, ressaltando que tampouco ficou evidente a insolvncia do devedor.

    117

    BRASIL. Tribunal de Justia do Estado do Rio Grande do Sul. Apelao Cvel n 70051720738,Dcima Primeira Cmara Cvel, Porto Alegre, RS, 01 de outubro de 2014. Dirio da Justia, PortoAlegre, RS, 6 out. 2014.

    http://www1.tjrs.jus.br/site_php/consulta/consulta_processo.php?nome_comarca=Tribunal+de+Justi%E7a&versao=&versao_fonetica=1&tipo=1&id_comarca=700&num_processo_mask=70051720738&num_processo=70051720738&codEmenta=5975144&temIntTeor=truehttp://www1.tjrs.jus.br/site_php/consulta/consulta_processo.php?nome_comarca=Tribunal+de+Justi%E7a&versao=&versao_fonetica=1&tipo=1&id_comarca=700&num_processo_mask=70051720738&num_processo=70051720738&codEmenta=5975144&temIntTeor=true
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    Assim, o julgador decidiu pela proteo da boa-f dos terceiros, por falta de

    elementos de prova em contrrio, dando parcial provimento apelao somente para

    fins de conceder AJG aos embargos de terceiro.

    O segundo processo cuida de recurso cvel de n 71002383636,sentenciadopela Primeira Turma Recursal Cvel do TJ/RS, de relatoria do Desembargador Lus

    Francisco Franco. Declara a ementa:

    VENDA DE AUTOMVEL POR REVENDA. AFASTADAA FRAUDE CONTRA CREDORES. TERCEIRA ADQUIRENTEDE BOA-F QUE PAGOU PELO PREO ACORDADO. Sentenamantida. Recurso improvido. (Recurso Cvel N 71002383636, PrimeiraTurma Recursal Cvel, Turmas Recursais, Relator: Lus Francisco Franco,Julgado em 23/02/2010)118.

    A autora ajuizou ao de obrigao de fazer, objetivando a tomada de

    providncias da parte adversa, junto ao antigo proprietrio do veculo, para a

    transferncia do bem no Detran.

    O Desembargador Lus Francisco Franco verificou que a autora, de fato,

    adquiriu o veculo por R$ 5.000,00 do Sr. Cesar, o qual era revendedor do bem

    autorizado pelo proprietrio, Sr. Sady. Todavia, o requerido no teria repassado os

    valores ao real proprietrio, como confirma a sentena do processo de n

    021/308.0004194-0, que condena o Sr. Cesar a entregar o bem para o Sr. Sady.

    Assim, conforme entendimento do excelentssimo Magistrado, a autora demonstrou

    ser adquirente de boa-f, vez que pagou o montante requerido ao revendedor e

    comprovou a propriedade efetiva do bem, inexistindo fraude a credores e impondo-se

    que o Sr. Sady busque seu crdito devido pelo Sr. Cesar em ao autnoma.

    Determinou, ento, o dever de o requerido transferir o bem junto ao Detran, negando

    provimento ao recurso.

    vista disso, constata-se a proteo do adquirente de boa-f pela

    jurisprudncia, valorizando as condutas honestas por parte dos indivduos ticos. A

    adoo de tais posicionamentos privilegia aqueles que no demonstram a inteno em

    prejudicar os credores e coloca seus interesses at mesmo acima das pretenses dos

    exequentes, assegurando, assim, a segurana jurdica das relaes negociais para

    aqueles que desconheciam as mculas poca da contratao.

    118

    BRASIL. Tribunal de Justia do Estado do Rio Grande do Sul. Recurso Cvel n 71002383636,Primeira Turma Recursal Cvel, Porto Alegre, RS, 23 de fevereiro de 2014. Dirio da Justia, PortoAlegre, RS, 26 fev. 2014.

    http://www1.tjrs.jus.br/site_php/consulta/consulta_processo.php?nome_comarca=Tribunal+de+Justi%E7a&versao=&versao_fonetica=1&tipo=1&id_comarca=700&num_processo_mask=71002383636&num_processo=71002383636&codEmenta=3363500&temIntTeor=truehttp://www1.tjrs.jus.br/site_php/consulta/consulta_processo.php?nome_comarca=Tribunal+de+Justi%E7a&versao=&versao_fonetica=1&tipo=1&id_comarca=700&num_processo_mask=71002383636&num_processo=71002383636&codEmenta=3363500&temIntTeor=true
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    5 CONCLUSO

    Conclui-se, da apreciao da responsabilidade patrimonial do obrigado, que a

    referida representa a sujeio dos bens do devedor e/ou de terceiros (se for o caso) fora executiva. Desse modo, ela demonstra o mbito de incidncia da execuo na

    esfera patrimonial do devedor, sendo, no entanto, limitada por condies insculpidas

    pela prpria legislao, que buscam assegurar uma situao digna ao executado,

    impedindo o uso dos atos executrios de forma deliberada.

    Alis, tal responsabilidade pode recair tanto sobre a pessoa que constituiu o

    dbito quanto sobre um indivduo alheio relao principal. Isso ocorre justamente

    pelo fato de obrigao e responsabilidade serem institutos autnomos que podem

    ou no recair sobre a mesma pessoa, fazendo com que terceiros tenham que responder

    pela dvida do devedor, embora no devam muitas vezes.

    Na distino entre fraude execuo e fraude contra credores, percebe-se que,

    alm de a primeira ser tratada pelo Cdigo de Processo Civil e a ltima pelo Cdigo

    Civil Brasileiro, ambas apresentam requisitos diferentes para que se verifique a sua

    ocorrncia, assim como distintas situaes quanto a sua tipicidade.

    A fraude contra credores exige o eventus damni e o consilium fraudis, mas

    caso o negcio celebrado seja gratuito, no se faz necessria a comprovao do

    segundo requisito. Alis, ela alude ao ato fraudulento que precede o processo judicial,

    que ocasiona a insolvncia do devedor. J a fraude no processo executivo demanda a

    existncia de um processo pendente e a frustrao dos meios executrios, dispensando

    o consilium fraudis entre executado e terceiro, em tese. Todavia, invivel dizer que

    a boa-f deve ser desconsiderada nessa espcie de fraude, j que, como foi visto, a

    Smula n 375 do STJ foi criada justamente para proteger o terceiro adquirente que

    apresentasse um comportamento adequado e honesto.

    Assim, com o surgimento da referida smula, a fraude execuo teve a sua

    fora reduzida em face da criao de novos pressupostos. Uma vez no realizado o

    registro da penhora do bem pelo credor, caberia a ele comprovar a m-f do terceiro,

    prova que se mostra extremamente complexa, mas que visa a resguardar aquele que

    desconhecia a situao do devedor quando da constituio da relao obrigacional.

    A propsito, uma das possveis justificativas para o posicionamento do

    Superior Tribunal de Justia a conservao da segurana jurdica nos contratos, j

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    que a referida representa justamente as condies que permitem aos sujeitos prever as

    consequncias de seus atos. Portanto, inadmissvel que um indivduo que atua de

    acordo com os padres ticos nas relaes contratuais seja prejudicado por atos que

    desconhecia realizados pelo alienante. Se assim o fosse, teramos reduo dosnmeros de contratos celebrados, j que uma grande dvida iria pairar sobre as

    contrataes no que se refere ao seu resultado. Desse modo, ferir-se-ia a expectativa e

    o princpio da confiana, com a afetao de inmeros indivduos portadores de

    direitos insatisfeitos.

    Em contrapartida, h uma preocupao oposta com relao aos interesses dos

    credores, pois esses tm tido grande dificuldade em provar o conhecimento do

    terceiro em relao ao ato com potencial danoso. O princpio do resultado (ou da

    efetividade) extremamente prejudicado pela atual posio dos Tribunais, pois, uma

    vez que prega que a execuo deve alcanar a sua finalidade, com a satisfao dos

    interesses do exequente, afetado pelos inmeros casos em que se tem um processo

    frustrado devido proteo do terceiro. A Smula n 375, assim, sobreps, de certa

    maneira, os interesses do adquirente de boa-f ao direito do credor, demonstrando

    uma preocupao primordial em valorizar condutas ticas.

    Entretanto, o credor dispe de mecanismos que facilitam sua preveno a

    possveis alegaes do devedor ou de terceiros, como a hiptese do art. 615-A do

    CPC, o qual refere a possibilidade de obter certido comprobatria da propositura da

    execuo para fins de averbao. Em tomando tal precauo, haver presuno de

    fraude execuo no que tange venda realizada aps a averbao, j que, pelo fato

    de ser registro pblico, o terceiro teria conhecimento da constrio ou, caso no o

    tivesse, seria por desdia, sendo impossvel supor a boa-f daquele que no toma as

    mnimas providncias na realizao de sua aquisio.

    Da anlise dos acrdos proferidos pelo Tribunal de Justia do Rio Grande do

    Sul, por sua vez, observa-se que os Desembargadores averiguaram a existncia ou no

    dos pressupostos para decidir o caso concreto e, inclusive, consideraram

    imprescindvel para o reconhecimento da fraude execuo a presena da m-f do

    adquirente, caso o credor no tenha registrado a penhora. Desse modo, observa-se que

    cada vez mais os Tribunais julgam demandas primando pela boa-f para que se

    valorize a segurana e garanta a equidade.

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    Destarte, afere-se ser necessrio um equilbrio para que se harmonize os

    interesses em confronto, devendo a autoridade julgadora prolatar uma deciso

    adequada e justa, aferindo com cautela a presena dos requisitos configuradores das

    fraudes, para que no se tenha um julgamento parcial, que incentive a insegurana dossujeitos no momento da contratao.

    Sendo o princpio da boa-f um dos mais importantes do ordenamento jurdico

    brasileiro, faz-se, portanto, essencial a sua apurao at mesmo quanto ao terceiro

    alheio relao principal.

    REFERNCIAS

    ALVIM, Arruda; ALVIM, Eduardo Arruda; BRUSCHI, Gilberto Gomes; CHECHI,Mara Larsen; COUTO, Mnica Bonetti. Execuo Civil e temas afins do CPC/1973ao novo CPC: estudos em homenagem ao professor Araken de Assis. So Paulo:Revista dos Tribunais, 2014.

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