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Monografia apresentada à Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO) em dezembro de 2011 como requisito para a conclusão do curso de Comunicação Social – habilitação em Jornalismo, sob a orientação do Prof. Ms. Enzo de Lisita.
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Rodrigo Gomes da Paixão
JUVENTUDE E DEONTOLOGIA JORNALÍSTICA:
CÓDIGOS DE ÉTICA E CUIDADOS AO NOTICIAR CRIMES
ENVOLVENDO MENORES
Pontifícia Universidade Católica de Goiás
Novembro de 2011
Rodrigo Gomes da Paixão
JUVENTUDE E DEONTOLOGIA JORNALÍSTICA:
CÓDIGOS DE ÉTICA E CUIDADOS AO NOTICIAR CRIMES
ENVOLVENDO MENORES
Monografia apresentada como trabalho de
conclusão de curso à Pontifícia Universidade
Católica de Goiás (PUC-GO) como requisito
parcial para a obtenção do título de bacharel em
Comunicação Social – habilitação em Jornalismo,
sob a orientação do Prof. Ms. Enzo de Lisita.
Pontifícia Universidade Católica de Goiás
Novembro de 2011
Rodrigo Gomes da Paixão
JUVENTUDE E DEONTOLOGIA JORNALÍSTICA:
CÓDIGOS DE ÉTICA E CUIDADOS AO NOTICIAR CRIMES ENVOLVENDO
MENORES
Monografia apresentada à banca examinadora da
Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-
GO) como pré-requisito para a conclusão do
curso de Comunicação Social – habilitação em
Jornalismo, sob a orientação do Prof. Ms. Enzo
de Lisita.
Aprovado em: _______________
Nota: ______________________
____________________________________________
Prof. Ms. Enzo de Lisita
Pontifícia Universidade Católica de Goiás
____________________________________________
Prof. Ms. Antônio Carlos Borges Cunha
Pontifícia Universidade Católica de Goiás
____________________________________________
Prof. Ms. Anderson Lima da Silveira
Pontifícia Universidade Católica de Goiás
III
DEDICATÓRIA
A meu avô, Azarias Bernardo Gomes (1932–2009), pelo exemplo de luta. Descendente de
índia que mal foi alfabetizado, tinha tudo para não prosperar na vida. Felizmente, graças à sua
inteligência e perseverança, driblou o destino e conseguiu, por méritos próprios, triunfar numa
época em que os brasileiros ficavam cada vez mais pobres. Com perspicácia única, conseguiu
obter uma fonte de renda a qual não lhe exigisse educação formal e adquiriu propriedades e
bens materiais. A cada derrota, enxergava uma oportunidade para se reerguer. Após se separar
da mulher, deixou a vidinha do interior para trás. Na nova capital do Estado, nova vida: criou
os quatro filhos sozinho e obteve êxito o suficiente para que pudesse proporcionar a estes a
educação de qualidade à qual jamais tivera acesso. Cada conquista dos filhos e netos era um
pouco sua também. Cada derrota sentia como se lhe pertencesse também. Sempre estava lá
para dar seu apoio, fosse ele financeiro ou moral. Sou abençoado por ter tido uma fonte
incessante de inspiração como essa na minha vida. Sei que, de alguma forma, continua a olhar
por mim e sei também que sente imenso orgulho de seu neto ao vê-lo encerrar mais um
capítulo de sua trajetória acadêmica.
IV
AGRADECIMENTOS
A meus pais, Antônio Carlos da Paixão e dona Maria Letícia Gomes, não só pelo sustento,
mas também pelo amor incondicional, pela fé que possuem em mim, por estarem sempre me
incentivando a dar o melhor de mim em tudo aquilo que faço e por acreditarem de maneira
irrestrita na minha capacidade intelectual. Em especial à minha mãe, pelo incentivo que me dá
a ser uma pessoa melhor, mais calma, mais humilde, mais paciente e mais grata pelas dádivas
que possui. É graças a esse incentivo que me sinto como um ser humano mais realizado.
À minha colega e amiga Angélica de Pádua Mendes Gonçalves, por toda a ajuda que me deu
durante esses quatro anos de curso. Agradeço em especial pelo incentivo que me deu para
escrever esta monografia. Adoro seus conselhos e seu bom humor contagiante.
A meu orientador, o professor Enzo de Lisita, por toda ajuda que me deu neste trabalho e por
ter aceitado o desafio de me guiar nessa tarefa árdua quase que de última hora. Enzo dá à
palavra “mestre” um significado para além da simples titulação acadêmica.
À coordenadora do curso, Sabrina Oliveira, pelo apoio dado ao longo do curso e por ser a
primeira pessoa a abençoar a ideia que levou a essa monografia.
E, por fim, à vida, por ser uma caixinha de surpresas agradável e fascinante. Sou imensamente
grato às oportunidades maravilhosas que tive durante esse período da minha vida, em especial
as viagens que fiz ao exterior.
V
Pelo curto tempo que você sumiu
Nota-se aparentemente que você subiu
Mas o que eu soube a seu respeito
Me entristeceu, ouvi dizer
Que pra subir você desceu
Você desceu
Todo mundo quer subir
A concepção da vida admite
Ainda mais quando a subida
Tem o céu como limite
Por isso, não adianta estar
No mais alto degrau da fama
Com a moral toda enterrada na lama
(“Lama”, canção de Mauro Duarte)
VI
RESUMO
Esta monografia é o resultado de uma pesquisa conduzida com o objetivo de identificar a
postura ética da mídia brasileira ao apresentar casos recentes de violência envolvendo
menores de idade, levando em consideração o que quinze códigos de ética, de dezesseis
países, determinam sobre a abordagem deste tema pelos profissionais da imprensa. Para tal,
foram analisados códigos de ética de países europeus e americanos, devido à cultura de
liberdade de imprensa e direitos humanos presente no dito mundo ocidental. A análise foi
limitada aos códigos formulados por organizações da categoria profissional, excluindo-se os
códigos institucionais, geralmente formulados verticalmente, sem a participação da maior
parte dos trabalhadores da empresa de comunicação em questão.
Palavras-Chave: Jornalismo, deontologia, menores infratores, códigos de ética.
VII
ABSTRACT
This monograph is the result of a research conducted with the goal of identifying the ethical
stance of the Brazilian media in presenting recent cases of violence involving minors, taking
into consideration what fifteen ethics codes, from sixteen countries, determine about the
approach of this issue by media professionals. To this end, the ethics codes of European and
American countries were analyzed, due to the culture of press freedom and human rights
present in the so-called Western world. The analyses was limited to the codes formulated by
organizations of the professional category, excluding the institutional codes, normally formed
in a vertical way, without the participation of most of the employees of the media company in
question.
Key-words: Journalism, deontology, juvenile offenders, ethics codes.
VIII
LISTA DE SIGLAS
AFP – Agence France-Presse / Agência Imprensa Francesa
BOL – Brasil On-Line
ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente
Fape – Federación de Asociaciones de la Prensa de España / Federação de Associações de
Imprensa da Espanha
FCC – Federal Communications Commision / Comissão Federal de Comunicações
Fenaj – Federação Nacional dos Jornalistas
IURD – Igreja Universal do Reino de Deus
MPF – Ministério Público Federal
MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra
NUJ – National Union of Journalists / União Nacional de Jornalistas
ONU – Organização das Nações Unidas
PM-SP – Polícia Militar de São Paulo
SJP-DF – Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal
SPJ – Society of Professional Journalists / Sociedade de Jornalistas Profissionais
STF – Supremo Tribunal Federal
STJ – Superior Tribunal de Justiça
TJ-RJ – Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro
IX
SUMÁRIO
FOLHA DE AVALIAÇÃO III
DEDICATÓRIA IV
AGRADECIMENTOS V
EPÍGRAFE VI
RESUMO VII
ABSTRACT VIII
LISTA DE SIGLAS IX
INTRODUÇÃO 12
1) A ÉTICA JORNALÍSTICA 16
1.1) Modelos de ética 16
1.2) A ética jornalística 18
1.3) Surgimento dos códigos de ética 22
1.4) Preceitos gerais dos códigos 25
2) DEONTOLOGIA E MENORES DE IDADE 27
2.1) Divulgação da identidade do menor infrator quando adulto 29
2.2) Presunção de inocência e divulgação do rosto do menor infrator 36
2.3) Espetacularização da violência contra menores 43
3) EMPECILHOS À EFETIVAÇÃO DA ÉTICA 55
3.1) Limitações impostas pelo mercado e pelo poder econômico 56
3.2) Lacunas impostas pela cultura profissional 64
3.2.1) Autossuficiência ética e a mídia como tribunal 66
3.3) Mecanismos para a efetivação da ética normativa no jornalismo 71
CONSIDERAÇÕES FINAIS 84
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 86
REFERÊNCIAS ELETRÔNICAS 88
X
ANEXOS 101
ANEXO 1 – Códigos de ética analisados 101
ANEXO 2 – Mapa do índice da democracia de 2010 175
ANEXO 3 – Rosto de menor acusado de matar Marco Jará 175
ANEXO 4 – Jornal inicialmente poupou identidade de Eloá 176
ANEXO 5 – Ação civil pública do MPF-SP contra a RedeTV! 177
XI
12
INTRODUÇÃO
A presente monografia é fruto de uma pesquisa comparativa com o objetivo de
identificar a postura ética da mídia brasileira em relação a dois casos recentes de violência
urbana perpetuados por menores infratores, além de um caso no qual a vítima era uma
adolescente. A análise foi efetuada à luz do que quinze códigos de ética, de dezesseis países,
determinam sobre a abordagem dos aspectos percebidos como violações à ética nas coberturas
dos crimes. Para tal, é retomado o conceito geral de ética, devido à confusão deste com a
noção de etiqueta. Em seguida, é feita uma breve conceituação do que seria a ética
jornalística, além de um pequeno histórico do surgimento dos códigos de ética e de uma
menção aos preceitos gerais dos mesmos. Antes de entrar no objeto de análise, são elucidadas
as razões pelas quais os casos foram analisados sob a ótica de códigos de ética do ocidente e
de organizações da categoria profissional. Além de serem os que mais se assemelham à
cultura brasileira1, esses códigos não são vítimas de uma “proliferação deontológica”, onde se
criam regras – geralmente de maneira vertical, sem a participação da maior parcela dos
trabalhadores da empresa midiática em questão – apenas para dar um ar de que a ética é
valorizada, e não para que ela seja efetivamente respeitada.
Os casos que serviram de objeto de análise foram escolhidos devido à grande
repercussão que tiveram e também por se tratarem de um tema de difícil abordagem pelos
jornalistas, por envolver questões polêmicas no campo da ética. O primeiro caso, que motivou
a pesquisa, ocorreu em fevereiro de 2010. Ezequiel Toledo Silva, menor condenado por
participação no assassinato do menino João Hélio Fernandes, de seis anos, em fevereiro de
2007, recebeu um benefício controverso e a imprensa acabou por revelar o nome dele, já
maior de idade na ocasião. Após a agitação da imprensa, acabou sendo internado de volta na
instituição de ressocialização de menores infratores. Os códigos de ética, no geral, são
evasivos em relação à questão, cabendo aos jornalistas terem bom senso na hora de decidir se
vale ou não a pena revelar o nome de um menor infrator quando adulto.
Um mês após Ezequiel ser libertado, foi preso outro menor de idade, acusado de matar
o lutador de jiu-jítsu Marco Jara em 24 de dezembro de 2009. A Rede Record, além de violar
a presunção da inocência dele e de invadir a privacidade das mães da vítima e do acusado (ao
mostrar o encontro entre elas na delegacia), ainda exibiu o rosto do menor infrator por alguns
centésimos de segundos. Boa parte dos códigos de ética estudados faz restrições a essa
1 Todos os países escolhidos têm um discurso muito forte de defesa da democracia, da liberdade de imprensa e dos direitos humanos em suas respectivas constituições.
13
conduta jornalística, mas em muitos países é a lei que limita a exposição da imagem de
menores infratores. Os outros aspectos analisados em relação ao caso – a invasão da
privacidade de familiares de vítimas e de acusados e a presunção da inocência – também são
condenados pela ética normativa. A presunção da inocência é, inclusive, um dos preceitos
universais da prática jornalística.
O outro caso analisado, que traz uma menor de idade enquanto vítima da violência,
suscitou um grande debate no campo da ética entre estudiosos do jornalismo no país. Em
outubro de 2008, a jovem Eloá Pimentel, de 15 anos, foi assassinada pelo ex-namorado após
ser mantida em cárcere privado ao lado da amiga Nayara Rodrigues, também de 15 anos, por
quatro dias. As principais emissoras de televisão do país relataram o crime em tempo real,
agindo de maneira sensacionalista na cobertura dos fatos, através da superexposição da
imagem das menores, da dramatização do conflito como se fosse uma telenovela e até mesmo
da interferência nas negociações dos policiais, aspectos percebidos como os mais condenáveis
sob o ponto de vista da ética. Algumas emissoras mandaram seus repórteres entrevistarem o
sequestrador via telefone, uma informação obtida de maneira inadequada que levou ao fim
trágico da garota. Em relação à construção da realidade como um programa de ficção pôde-se
perceber que isso foi feito com a intenção de gerar impacto sobre o público e conseguir mais
audiência e, consequentemente, maior visibilidade para os anunciantes.
Verificou-se, a partir da análise, que as orientações deontológicas que deveriam servir
de base para a atuação profissional dos jornalistas em boa parte da civilização ocidental acaba
sendo desrespeitada no Brasil na ânsia por audiência e no imediatismo em relatar os fatos.
Este quadro de constante violação aos preceitos éticos da categoria se dá, em grande parte,
devido à não-punição dos jornalistas que cometem faltas éticas e da inexistência de um debate
generalizado sobre a deontologia jornalística no seio das sociedades contemporâneas.
Constatado isto, realizou-se uma análise sobre os principais empecilhos à efetivação de uma
ética normativa no jornalismo. Há dois tipos de impedimentos ao reconhecimento das normas
jornalísticas: um macro, ligado a fatores externos à categoria, sendo o mercado um fator
determinante, e outro micro, imposto pela atuação dos jornalistas e pela cultura profissional
dos mesmos.
As principais ingerências do mercado na atividade jornalística são a publicidade que,
numa visão simplista, é que sustenta o jornalismo; o suborno a alguns jornalistas e a
contratação de profissionais da redação como assessores de imprensa das empresas que
devem cobrir. Apesar disso, a maior ameaça do setor ao jornalismo é a crescente
oligopolização da mídia, que ameaça alguns temas de serem tratados de maneira isenta. Já em
14
relação à cultura profissional, há problemas como as várias interpretações dos códigos, que
prescrevem muito rápido à medida que a sociedade evolui e não cobrem todos os dilemas
éticos dos jornalistas; a falta de penalidades pelos conselhos disciplinares dos órgãos da
categoria e o próprio regime de trabalho em que os jornalistas estão inseridos, onde falta
tempo para se discutir os impasses éticos. O principal problema, no entanto, é a cultura de
rejeição por completo da discussão sobre a ética jornalística. Por terem na própria atuação seu
único referencial ético, muitos jornalistas acham esse debate supérfluo. De acordo com Bucci
(2002), que nomeia o fenômeno de “autossuficiência ética”, ele se justifica, no Brasil, pela
história recente do país. Teria sido uma forma pela qual os jornalistas se protegeram das
intromissões dos poderosos da ditadura militar à atividade jornalística, uma vez que eles
batiam na tecla da ética para justificar suas tentativas de censura.
Dessa “autossuficiência ética” emana a noção de que a mídia não precisa prestar
contas à sociedade e, logo, pode se colocar acima da mesma, atuando como uma espécie de
tribunal popular, julgando o que ocorre nela. Apesar de ter raízes no fenômeno descrito por
Bucci (2002), essa visão encontra forte eco no modelo econômico adotado a partir do início
da década de 1990, o neoliberalismo, segundo o qual o Estado, visto como burocrático,
ineficiente às demandas da população e inoperante, é substituído pelas empresas privadas, que
seriam quase todas ágeis e eficazes. Convém, no entanto, fazer também uma análise sobre a
ética dos meios de comunicação. A ética da informação não se resume apenas na ética dos
jornalistas – figuras mais visíveis do processo de produção das notícias. Ela se desdobra numa
ética dos meios, cuja responsabilidade como organizações ultrapassa a soma das
responsabilidades individuais dos jornalistas. É uma realidade ainda pouco debatida nos
países como o Brasil, onde o liberalismo econômico é forte, sendo que a tendência natural é a
valorização das responsabilidades individuais.
O desrespeito às normas éticas se dá, no Brasil, entre outros motivos, devido ao fato de
que o Estado não assegura um regime onde prevaleça a pluralidade de veículos informativos e
a competição entre os órgãos de imprensa. Os grupos socioeconômicos que exercem o
monopólio da informação falam sozinhos no espaço público, sem serem contestados, o que
gera um ambiente propício para distorções. E, como não há outros veículos com igual
penetração para fazer o contraponto, tais distorções ocorrem impunemente; não são
identificadas, debatidas, criticadas e condenadas dentro do espaço público. Prevalece, na
mídia contemporânea, a ditadura do pensamento único. E isso vale também para os preceitos
éticos, vistos com arrogância por boa parte dos profissionais de imprensa.
15
Diante de tal cenário, são apresentadas algumas propostas para fazer com que esses
tratados sejam efetivamente respeitados no exercício da profissão. No entanto, essa
autorregulamentação dos meios só pode ser plenamente efetivada caso a categoria dos
profissionais da informação se una com a sociedade civil, visto que as grandes empresas
jornalísticas – que, juntas, se impõem perante a sociedade como um ator político e econômico
poderosíssimo – não aceitam a ideia de terem seus principais problemas debatidos pela
sociedade. Os profissionais sabem como melhorar a mídia, mas são fracos demais frente ao
poderio de seus patrões; precisam do apoio do público. Este, por sua vez, conforme aponta
Bertrand (1999), não conhece o poder de transformação que possui, mas sabe qual tipo de
serviço gostaria que lhe fosse prestado pela mídia.
Sozinha, a deontologia pode parecer insuficiente. Entretanto, associada à livre
concorrência e à união entre cidadãos e jornalistas, ela pode garantir uma atuação de
qualidade para os meios de comunicação. Com isso, jornalistas e cidadãos não precisam nem
recorrer ao Estado para assegurar a boa atuação da imprensa, o que sempre representa um
risco, nem ficar tão à mercê do mercado. No entanto, o estabelecimento de mecanismos de
autorregulamentação dos meios só pode ser efetivado a partir do momento em que todos –
jornalistas, público, patrões – têm a consciência de que é no público que a ética jornalística
adquire consistência e encontra seu fundamento, uma vez que é este que consome as notícias
e que, no fim, é o beneficiário do jornalismo de qualidade ou a vítima do jornalismo vil.
16
1 – A ÉTICA JORNALÍSTICA
Antes de dar início ao objeto de estudo, cabe fazer algumas considerações a respeito
dos preceitos gerais da ética e da maneira como ela é aplicada ao jornalismo, tanto por
jornalistas quanto por estudiosos do tema, assim como o contexto histórico que propiciou o
surgimento de uma ética normativa para o jornalismo.
A definição do conceito de ética parece, por vezes, se reduzir a um receituário de boas
maneiras. Há quem acredite que ser ético corresponda a ser polido. A etiqueta é, na verdade,
uma parte pequena da ética pela qual se estrutura a gramática dos cerimoniais. Ela ergue-se
através de gestos que representam, ritualizam e reafirmam as relações de poder. Ela não
inquire nem se deixa inquirir sobre tais relações. Durante séculos, a maior parte das relações
sociais foi gerida através da etiqueta, que hierarquizava a sociedade.
Na França do final do século XVIII, no entanto, a monarquia absolutista foi degolada e
uma nova ordem nascia, não mais baseada na finura dos tratos, e sim nos direitos da maioria
excluída da população, que adquirira status de cidadania. Se, no passado, a etiqueta
silenciava, a partir de então a ética passou a lançar perguntas que penetravam como lâmina no
pescoço dos monarcas, indagando sobre justiça social, verdade histórica, dominação e
liberdade. Visto que tal confusão sobre o conceito de ética ainda se faz presente na
contemporaneidade, torna-se necessário fazer uma definição da acepção filosófica de ética.
1.1 – MODELOS DE ÉTICA
A palavra ética deriva do grego éthos, que, grosso modo, se refere aos costumes. Os
termos ética e moral aparecem, nos estudos de diversos autores, como equivalentes. O
discurso contemporâneo, todavia, estabelece distinções entre eles. Tais distinções
correspondem, segundo Cornu (1998), a dois modelos, onde a utilização dos termos se opera
por simples convenção.
Num primeiro modelo, que tem suas raízes na filosofia clássica, a moral seria o ponto
de referência de um conjunto de preceitos que fundamenta as relações humanas, ao qual o
indivíduo aceita se submeter para poder viver em sociedade. A ética, nesse modelo, é definida
como a aplicação pessoal de um conjunto de valores livremente eleitos pelo indivíduo. Tal
concepção foi bem resumida pelo filósofo Paul Ricoeur (apud Cornu, 1998, p. 9) entre
“aquilo que se pensa ser bom” (a ética) e “aquilo que se impõe como obrigatório” (a moral).
17
Ainda segundo este modelo, a distinção entre os dois termos pode ser compreendida
como a diferença entre preceitos gerais e específicos de um determinado grupo. A deontologia
seria, então, o conjunto de regras da aplicação de uma ética a um grupo ou uma profissão.
Dotada de função instrumental, a ética perderia em força normativa, em perenidade e em
universalidade, características da moral, e ganharia em flexibilidade e em capacidade de
adaptação e de resposta às situações concretas. A decisão de agir de maneira ética seria de
foro individual, tendo sua razão no bem comum.
O segundo modelo enxerga no termo moral um conceito mais elástico. Ela seria “o
conjunto das prescrições aceitas em determinada época e sociedade, o esforço de conformação
às mesmas prescrições, a exortação à sua adoção” (LALANDE apud CORNU, 1998, p. 10).
Quanto à ética, seria “a ciência que tem por objeto o julgamento de apreciação enquanto ele se
aplica à distinção entre o bem e o mal” (LALANDE apud CORNU, 1998, p. 10). A ética,
segundo esse modelo, se assinala por uma exigência de sistematização, por um projeto crítico,
provocando um questionamento sobre os fundamentos. Tal concepção coincide com a ideia
defendida por vários autores contemporâneos, em particular da tradição anglo-saxã, que
estabelecem distinções entre a ética normativa e a reflexiva (ou meta-ética2).
Nessa perspectiva, opera-se uma distinção entre as funções de regulação (a moral) e de
legitimação (a ética) dos valores. A ética pode assim ser considerada como uma instância
superior à moral, pois ela legitima os próprios fundamentos morais. A deontologia, concebida
como conjunto de deveres que regulam uma prática, deriva, segundo este modelo, da moral,
da qual constituiria uma espécie de campo fechado. Ela repousa em valores universalmente
aceitos, tais como o respeito à vida humana, a promoção da justiça e da democracia e a
rejeição ao ódio, à violência e ao desprezo pelo homem (fascismo) ou por alguns homens
(como o racismo ou a homofobia). Conforme aponta Bertrand (1999, p. 52), a deontologia “é
frequentemente uma tradição não-escrita que determina, por consenso, o que ‘se faz’ e ‘não se
faz’”. No entanto, algumas organizações corporativas julgaram útil redigir cartas dos deveres
para os profissionais das categorias que representam.
Ainda segundo a tradição anglo-saxã, a apreensão da ética pode ser submetida a três
níveis de análise. O primeiro, descritivo, se refere à análise sociográfica e histórica das regras
morais, no que possuem em comum e no que diferem de uma sociedade para outra, de uma
época para outra. O segundo, normativo, pertence à filosofia moral e procura determinar o que
consiste o bem e o mal, o justo e o injusto e procura estabelecer deveres e direitos. O terceiro
2 Segundo Cornu (1999, p. 14), “meta-ética” seria uma ética reflexiva de maior alcance do que as demais formas de ética e que funcionaria como “instância de legitimação das práticas e normas”.
18
nível, a meta-ética, baseia-se numa ética reflexiva que pensa, de um lado, sobre as questões
epistemológicas, lógicas ou semânticas levantadas pelos outros níveis e, de outro lado,
discorre sobre a legitimidade das normas e das práticas.
1.2 – A ÉTICA JORNALÍSTICA
Diversos campos da atividade humana – do comércio à política, passando pelo Direito,
pela medicina e pelas pesquisas científicas – encontram-se atravessados por questões éticas. O
jornalismo, cuja importância na sociedade contemporânea é evidente, demonstra bem isso.
Para ilustrar a proeminência do jornalismo na contemporaneidade, Cornu (1998) destaca que a
mídia é a terceira ocupação do homem moderno, vindo atrás somente do sono e do trabalho.
Bertrand (1999) afirma que as instituições religiosas e a família não desempenham um papel
tão importante sobre as sociedades ocidentais quanto outrora. “Restam a escola e os meios de
comunicação, e estes atingem o indivíduo durante toda sua vida” (BERTRAND, 1999, p. 38).
Ainda segundo este autor, a mídia integra o altamente complexo sistema social dos Estados
nacionais e de seus inúmeros subsistemas. Segundo ele, este conjunto opera como um vasto
organismo vivo onde cada elemento depende dos outros. “Basta um subsistema deficiente
para que a máquina já não funcione corretamente”, afirma (BERTRAND, 1999, p. 55).
A deontologia nada mais é do que um conjunto de valores e, segundo Deni Elliott
(1988), o que constitui uma profissão são os valores compartilhados pela maioria de seus
membros. Segundo Bertrand (1999), as profissões geralmente decidem colocar suas normas
no papel para “afastar escroques e charlatães”, informando o público sobre o ofício e
mostrando-lhe que a atuação profissional possui regras de conduta. Seria uma espécie de
prestação de contas à sociedade. Ao aumentar sua credibilidade perante a sociedade, a
categoria garante a fidelidade de sua clientela. Geralmente, no momento em que um código de
ética jornalística é adotado já existe uma lei. No entanto, os formuladores dos códigos
reconhecem nela sua insuficiência e seus perigos. O que eles redigem não é um texto com o
qual esperam que todos se comprometam, mas um vade mecum3, cuja eficácia pressupõe
senso moral por parte dos profissionais.
O código visa proteger o público e, além disso, criar uma solidariedade no interior da
profissão e manter o prestígio desta, garantindo assim sua influência na sociedade. Nem
sempre se tem a intenção, ou mesmo a possibilidade, de respeitar as regras estabelecidas, mas
3 Segundo o Dicionário Soares Amora da Língua Portuguesa (1998, p. 730), a expressão latina vade mecum corresponde a um “livro ou guia que convém consultar a toda hora”.
19
elas estabelecem, ao menos, um ideal a ser atingido pela categoria profissional. Tenta-se
armar a consciência individual de cada profissional, enunciando valores e princípios
reconhecidos de forma relativamente unânime dentro da categoria (deontologia). O código
pode oferecer, a cada um, sentimento de segurança e força coletiva.
O sentimento de segurança, aponta Bertrand (1999), emana do fato de que o código
visa evitar a intervenção estatal. Quando a mídia gera desconfiança no público, o legislador –
atendendo às expectativas legítimas de seu eleitorado – formula leis repressivas. O
aparecimento desse perigo desencadeia nos profissionais (e nos meios) gestos de
autorregulação: o primeiro deles é a elaboração de um código de conduta; o segundo é a
criação de um Conselho de Imprensa, cujas funções serão discorridas mais adiante. O
sentimento de força coletiva emana do fato de que o código pode acabar amarrando a direção
dos jornais. Segundo Bertrand (1999), é graças a ele que os profissionais obtêm proteção
contra o empregador que exigir deles um comportamento contrário ao espírito público,
podendo argumentar que tal conduta os baniria do sindicato e, por consequência, do mercado
de trabalho. Daí se verifica a recusa dos patrões em endossar os códigos formulados pelas
associações da categoria profissional.
Em relação aos aspectos gerais da ética jornalística, Bucci (2002) aponta que, ao
contrário do que acontece em outros campos, ela não se resume à normatização do
comportamento de repórteres e editores. Mais do que um rol de normas práticas, ela é um
sistema com uma lógica própria. Não pretende ser um receituário, e sim um modo de pensar
que dá forma aos impasses e sugere equações para resolvê-los. Não se trata apenas de uma
hesitação entre o certo e o errado. Como destaca o autor, caso fosse assim, “uma legislação
democrática resolveria os problemas, já que aquele que se encontra entre o certo e errado
quase sempre está num dilema entre o lícito e o ilícito” (BUCCI, 1999, p. 20). Conforme
afirma Bertrand (1999), Direito e deontologia são campos claramente distintos, sendo que um
jornalista não precisa fazer algo ilícito para ser contrário à deontologia. Já para Cornu (1998),
a deontologia se antecipa à aplicação do Direito pelo exercício espontâneo de regulamentação.
Bucci (2002) defende que a ética jornalística encarna valores que só possuem sentido
se forem seguidos tanto por empregados da mídia quanto por seus empregadores e se forem
fiscalizados pelo público – que, aliás, inquieta-se muito com as disfunções que lhe parecem
incompatíveis com sua concepção acerca do papel que a mídia deveria ter na sociedade.
Segundo Bertrand (1999), o público, muitas vezes, tem o sentimento de ser enganado ou
explorado pela mídia. O mesmo autor cita como exemplo disso pesquisas que mostram que
20
três quartos dos norte-americanos têm confiança limitada na imprensa e que apenas um terço
dos franceses demonstra acreditar na independência dos jornalistas.
As disfunções da mídia podem ocorrer, segundo Cornu (1998), devido às condições
de produção da informação na atualidade, que se opõem à conduta ética dos indivíduos. A
mídia, em boa parte do mundo, encontra-se oligopolizada, nas mãos de grupos cuja finalidade
primeira não é o serviço público. Por causa disso, o autor defende a necessidade de se fazer
um debate sobre a ética que supere seus agentes mais visíveis (os jornalistas) e atinja também
os meios de comunicação enquanto organizações. Segundo Bertrand (1999), é injusto
condenar apenas os repórteres pelas faltas éticas da mídia. Os jornalistas são capazes de
cometer, sozinhos, muitas faltas profissionais, mas a política editorial de um meio de
comunicação e sua atitude frente à deontologia são decididas pelos proprietários e seus
representantes. Além disso, as sociedades capitalistas modernas esperam, dos patrões, que
tenham talentos de homens de negócios e que respeitem a legislação vigente (caso contrário,
deverão responder por isso nos tribunais), e não que tenham uma consciência moral4.
Dentro desse contexto, Cornu (1998) aponta como empecilhos à ética no jornalismo
cinco “zonas críticas”: (a) a frágil independência dos jornalistas nas relações com os diversos
poderes; (b) as negligências na verificação das informações, devido às leis do mercado, à
velocidade da informação e à eficiência dos comunicadores; (c) a confusão entre liberdade de
expressão (patrimônio de todos) e liberdade de imprensa (própria de alguns); (d) a
espetacularização da informação; (e) a exploração da violência, o desrespeito à privacidade e
a violação da presunção de inocência. De maneira semelhante, Bertrand (1999) também lista
cinco obstáculos: (a) a tecnologia, que se desvanece cada vez mais; (b) as pressões políticas,
visto que o Estado sempre tentou orientar ou censurar a informação; (c) as pressões
econômicas; (d) o conservadorismo dos jornalistas, que, segundo o autor, possuem noções e
hábitos ultrapassados; (e) as tradições das culturas locais.
Esse cenário atual, de uma mídia cada vez menos pautada pelo princípio do interesse
público e cada vez menos plural (devido à oligopolização dos meios), não é dos mais
animadores para a democracia, constatam os autores. Segundo Bucci (2002), sem que o
direito à informação seja garantido, a democracia não funciona, pois o debate público pelo
qual se formam as opiniões se torna um debate viciado. Para Bertrand (1999, p. 18),
“efetivamente, só a democracia pode assegurar a sobrevivência da civilização; e não pode 4 Para Milton Friedman, célebre economista norte-americano e um dos maiores teóricos do estágio atual do capitalismo, “a única responsabilidade social de uma empresa é aumentar seus lucros”. Mais especificamente em relação ao jornalismo, um proprietário do Wall Street Journal declarou: “um jornal é uma empresa privada que não deve nada aos usuários, os quais não lhe concedem nenhuma autorização. Portanto, não constitui de modo algum um serviço público” (apud Bertrand, 1999, p. 58).
21
haver democracia sem cidadãos bem informados; e não pode haver tais cidadãos sem mídia de
qualidade”. Ainda segundo o autor, a ausência de verdadeira concorrência quase sempre
acarreta a mediocridade da mídia. Bertrand (1999) aponta que a origem do problema está na
visão contraditória acerca do papel da informação para empresários da mídia e público. Para
os primeiros, a informação é uma matéria-prima através da qual exploram os consumidores,
enquanto que para os últimos é uma arma na luta pela felicidade, que não pode ser atingida
sem mudanças na ordem estabelecida – o que os primeiros obviamente não desejam.
Não há solução simples para tal antagonismo. Durante décadas, duas tentativas foram
praticadas em mais da metade das nações. Consistem em eliminar um dos dois antagonismos:
as ditaduras de direita suprimem a liberdade de expressão sem tocar na propriedade dos
meios, enquanto as ditaduras de esquerda suprimem a liberdade de empresa, pretendendo
manter a liberdade de expressão. Conforme explica Bertrand (1999, p. 20), o resultado é o
mesmo em ambos os casos: “a imprensa mutilada torna-se um instrumento de estupidez e
doutrinação”. Uma opção, aponta o autor, seria conceder à mídia liberdade política total.
Entretanto, isso acaba por levar à concentração de propriedade, que prejudica o pluralismo.
Segundo Bucci (2002, p. 14), a imprensa, quando isenta de diversidade, “tenderá a representar
apenas a voz das grandes corporações”. Para Bertrand (1999), em todo o ocidente
industrializado, a mídia privada desfruta de liberdade política há muito tempo e muito
frequentemente forneceu serviços deploráveis.
Bertand (1999, p. 22) aponta que em todas as democracias do mundo há um consenso:
“a mídia deve ser livre e não pode sê-lo totalmente”. Cornu (1998) também sustenta essa
visão ao afirmar que, em nenhum dos textos consagrando os direitos humanos5, a liberdade de
imprensa é afirmada sem um contraponto (tais como o direito à honra e o respeito à vida
privada). Na prática, no entanto, pouco é feito para garantir que tais contrapontos sejam
garantidos. Isto ocorre, segundo Bertrand (1999, p. 61), porque “o ser humano tende a exigir
direitos sem evocar deveres”. No caso da mídia, os deveres são justamente a fonte de
preocupação dos códigos de ética, que delineiam limites à liberdade de imprensa,
estabelecendo obrigações para cada uma das partes envolvidas na comunicação social.
Bertrand (1999) aponta que, enquanto nos países anglo-saxões confia-se demais no
mercado para garantir um bom serviço da mídia, nos países latinos confia-se demais no
Direito. Para ele, é necessário encontrar um meio complementar, que poderia ser a
deontologia. Ele demonstra que esta só pode ser praticada na democracia – onde existem
5 Tais como a Declaração Universal dos Direitos do Homem (artigos 12 e 29) e a Convenção Europeia de Direitos Humanos (artigo 10, inciso 2).
22
liberdade de expressão, uma certa prosperidade da mídia e jornalistas competentes. Sem
prosperidade não há consumidores, logo não há publicidade e, assim sendo, os meios são
corrompidos ou mantidos e controlados pelo Estado. Isso significa que em muitos países,
mesmo oficialmente democráticos, falar em deontologia no jornalismo não tem grande
pertinência.
Para Bucci (2002), o ideal do jornalismo enquanto instituição que promove a
cidadania é uma vitória da ética, que busca o bem comum para todos, que almeja à
emancipação cidadã dos indivíduos e que acredita na verdade e na justiça. Além disso,
segundo ele, o princípio do jornalismo em si é uma ética, já que consiste em publicar aquilo
que os poderosos querem esconder mas que o cidadão comum possui o direito de saber. A
visão dele é embasada pela afirmação de Bernardo Kucinski (apud BUCCI, 2002, p. 51), que
define o jornalismo como uma ética, por se basear na busca da verdade dos fatos6. Entretanto,
o autor aponta que a situação atual está se tornando extremamente alarmante devido à falta de
conflitos no jornalismo, pois “jornalismo é conflito” – razão de existência de premissas éticas
na comunicação social. Pode-se afirmar que o cenário atual é altamente contrastante àquele
que possibilitou a expansão da mídia, durante as revoluções que forjaram as sociedades
modernas7.
1.3 – SURGIMENTO DOS CÓDIGOS DE ÉTICA
É possível constatar a adoção de práticas jornalísticas e identificar seus valores
referenciais desde as remotas origens da imprensa na Europa. Tais práticas foram, desde o
início, objeto de ataques ferozes, entre os quais do romancista Honoré de Balzac, que desferiu
uma ofensiva cruel no panfleto Les Journalistes, de 1843, onde defendeu que “para o
jornalista, tudo que é provável é verdadeiro” (BALZAC, 2004, p. 11). É possível também
identificar elementos de uma ética normativa, visando formular os princípios de um bom
trabalho jornalístico, desde pelo menos o século XVII. Em 1631, ao fundar o Gazette –
primeiro jornal da França – Théophraste Renaudot, médico pessoal do rei Luís XIII, redigiu
6 Kucinski chegou a tal conclusão após avaliar que o jornalismo não se define como uma arte (embora lide com a estética) nem como uma técnica (embora requeira habilidades técnicas).
7 Para Bucci (2002), o jornalismo contemporâneo é uma invenção das democracias modernas. Havia jornalismo antes dos regimes democráticos, mas era um serviço voltado à difusão de decretos governamentais. A imprensa era apenas uma extensão do poder. Foi a partir do século XVIII, na França iluminista, que tal concepção começou a se modificar. Nos Estados Unidos, república fundada em 1776 por influência dos ideais iluministas, a independência da mídia foi garantida na Primeira Emenda da Constituição, em 1791: “o Congresso não legislará no sentido de (...) cercear a liberdade de palavra ou de imprensa”.
23
prefácios com linhas muito claras a serem seguidas pelos jornalistas em sua prática
profissional. As exigências de rapidez já se faziam sentir naquela época, mas não impediram-
no de reconhecer o grande valor que é a verdade: “Em uma única coisa jamais farei exceção a
ninguém: na busca pela verdade” (RENAUDOT apud CORNU, p. 21). Como as notícias
divulgadas pelo Gazette não adquiriram status de verdades históricas, é difícil precisar a
veracidade de todas elas.
A ética normativa do jornalismo começa a tomar corpo a partir da segunda metade do
século XIX, após a ascensão do jornalismo à condição de profissão. Esta evolução é
especialmente perceptível na França, através da formação das primeiras associações
profissionais e dos debates na Câmara que culminariam na formulação de uma lei, em 1881,
reconhecendo a liberdade de imprensa como um direito fundamental da sociedade e
estabelecendo distinções entre as atividades e responsabilidades de editores e jornalistas. O
mesmo processo acontece nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha, devido à necessidade de
defender a profissão jornalística numa imprensa cada vez mais industrializada e de preservar
os jornais e seus funcionários de intervenções estatais e decisões judiciais. As discussões dos
primeiros congressos internacionais de jornalistas, no final do século XIX, indicam tais
preocupações. Ainda naquela época, em 1896, os jornalistas poloneses da Galícia8 adotaram
uma lista de deveres e um tribunal de honra.
Os primeiros códigos de ética jornalística surgiram em empresas dos Estados Unidos,
durante a primeira década do século XX9, se propagando por toda a Europa logo em seguida,
onde os países escandinavos mostraram-se os mais avançados na questão. Na Suécia, um
tribunal de honra dos jornalistas foi instituído em 1916 e um código de ética foi adotado em
1923. A Finlândia adotou um órgão semelhante logo após a promulgação da lei de 1919 sobe
a liberdade de imprensa, sendo o código de ética adotado em 1924. Na Noruega, organizou-se
um conselho em 1928, e os jornalistas formularam seu primeiro código em 1936. Na França,
o Sindicato Nacional dos Jornalistas formulou, em 1918, a Carta de Deveres dos Jornalistas
Franceses. Revisada em 1938, se trata do texto deontológico mais antigo ainda em vigor.
Nos então recém-separados Reino Unido e República da Irlanda, foi adotado um
código de conduta pelo Sindicato Nacional dos Jornalistas (National Union of Journalists –
NUJ), que reúne profissionais da comunicação de ambos os países, em 1938, sendo revisado
8 Apesar de remeter, no Brasil, à região espanhola de Galiza, Galícia foi um dos reinos constituintes do Império Austro-Húngaro.
9 Em 1910, uma associação de imprensa do Kansas adotou um código para editores e diretores. No entanto, cita-se frequentemente o “Credo dos jornalistas”, redigido em 1908 pelo decano da primeira faculdade de jornalismo, na Universidade do Missouri, como primeiro código de ética jornalística dos Estados Unidos.
24
várias vezes por tratar excessivamente da defesa da profissão e muito pouco da práxis
jornalística em relação à sociedade. Uma reforma empreendida no texto durante os anos 1970
colocou os princípios deontológicos acima da defesa do estatuto profissional. O primeiro texto
normativo dos Estados Unidos, de abrangência nacional e que não estivesse vinculado a um
órgão privado surgiu em 1923, durante reunião da Sociedade Americana de Editores de
Jornais, associação profissional dos redatores-chefes. Foi adotado em 1926 pela Sociedade
dos Jornalistas Profissionais (Society of Professional Journalists – SPJ), a principal
associação de jornalistas, expandindo sua influência para toda a categoria de profissionais da
imprensa. Em 1973, a SPJ promulgou seu próprio código, revisado pela última vez em 1996.
No Brasil, a preocupação com a ética jornalística culminou com a proposta
apresentada pelo jornalista Barbosa Lima Sobrinho em 1926, durante debate em congresso da
Associação Brasileira de Imprensa (ABI), de criação de um Tribunal da Imprensa. Apesar da
boa recepção entre os jornalistas, a implementação de tal órgão jamais foi efetivada. Coube à
Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) – entidade formada em 20 de setembro de 1946 e
que reúne, hoje, mais de 30 sindicatos de jornalistas profissionais em todo o país – formular o
primeiro código de ética da categoria no país durante congresso realizado em 1949 em
Salvador. Segundo a pesquisadora Adísia Sá, ouvida pela Fenaj em matéria publicada no site
da instituição sobre as tentativas de disciplinar o jornalismo10, o texto era “bastante prolixo e
em pouco tempo ficou desatualizado”. O código foi reformulado três vezes, em 1968, 1985 e
2007. Foi apenas em 1986 que a organização implementou uma Comissão de Ética com a
finalidade de punir os desvios dos jornalistas.
Os códigos de ética se proliferaram por todo o mundo a partir do fim da Segunda
Guerra Mundial, quando se intensificou a preocupação com temas como direitos humanos e
manipulação das massas. A Organização das Nações Unidas (ONU) debruçou-se sobre a
questão várias vezes desde que foi criada. No entanto, seu projeto de código de ética,
intitulado Código de Honra Internacional dos Profissionais da Imprensa e Informação e
enviado para a consideração de cerca de 500 associações de imprensa de todo o mundo em
1950, nunca foi adotado, sobretudo porque as organizações profissionais recusaram (e ainda
recusam) a interferência de entidades governamentais na atividade jornalística. Assim sendo,
a regulamentação das práticas jornalísticas foi deixada a cargo dos próprios profissionais.
1.4 – PRECEITOS GERAIS DOS CÓDIGOS
10 “Tentativas de disciplinar o exercício do jornalismo são seculares”. Federação Nacional dos Jornalistas. 17 de setembro de 2007. Disponível em: <http://wwww.fenaj.org.br/materia.php?id=1809>. Acesso em: 10 set. 2011.
25
A reflexão ética possui uma tendência universalizante, mas, ao mesmo tempo, se
desenvolve numa cultura particular. Segundo Bertrand (1999), a definição do que é
eticamente aceito varia muito de acordo com a cultura local e o estágio de desenvolvimento
de uma nação, além de seu regime político. No entanto, na maior parte dos códigos,
encontram-se explicitadas as mesmas regras fundamentais. Sinteticamente, de acordo com
pesquisa realizada pelo autor, os códigos pregam que o jornalista deve: (a) respeitar a vida;
(b) promover a solidariedade; (c) estimular a comunicação; (d) defender e promover os
direitos humanos e a democracia; (d) trabalhar para melhorar a sociedade; (e) ser honesto,
competente e independente; (f) servir a todos os grupos igualmente; (g) ter uma definição
ampla e profunda da informação; (e) fornecer um relatório exato, completo e compreensível
da atualidade. Por outro lado, não deve: (a) mentir; (b) se apropriar do bem alheio; (c) causar
sofrimento desnecessário; (d) fazer algo que diminua a confiança do público na mídia.
Para Cornu (1998), os códigos atuais perseguem três objetivos principais: (a) assegurar
à população a informação exata, honesta e completa à qual ela tem direito e oferecer proteção
contra desvios e abusos; (b) proteger a categoria jornalística contra todas as formas de pressão
que os impeçam de transmitir a informação; (c) assegurar da melhor maneira possível a
circulação da informação dentro da sociedade11. Ele aponta que, segundo a pesquisadora Tiina
Laitila, estudiosa dos princípios deontológicos da imprensa, as normas previstas nos códigos
podem ser reduzidas em seis temas principais: (a) a defesa da liberdade de expressão; (b) a
proteção da independência dos jornalistas, através da não-aceitação de benefícios ou qualquer
influência exterior sobre o trabalho jornalístico, assim como pelo reconhecimento de uma
cláusula de consciência; (c) o respeito à verdade na busca e na elaboração da informação; (d)
a utilização de métodos legítimos na busca da informação; (e) o devido respeito às fontes e
pessoas retratadas, bem como ao direito autoral; (f) o tratamento igualitário às pessoas,
evitando discriminações.
Apesar destes pontos em comum, elencados por ambos os autores, a leitura comparada
dos códigos remete a uma ética descritiva, no sentido de que é possível interpretar as práticas
diferenciadas dos jornalistas, determinando-se as zonas de sensibilidade próprias de cada
sociedade e as principais preocupações na época de sua formulação. Segundo Cornu (1998, p.
104), “a deontologia jornalística impressiona pela multiplicidade de suas formulações, que 11 Este objetivo é mais difícil de ser atingido. Ele significa, ao mesmo tempo, o livre acesso dos jornalistas às fontes, em nome do direito do público de ser informado, como também o acesso do público aos meios. Este pode dar-se através da delegação (os jornalistas, ao exercer seu trabalho, estariam exprimindo a voz do público) e de modo mais direito; quase sempre de maneira reativa e secundária (como o direito de resposta). Um dos direitos de terceira geração é a exigência de que os cidadãos tenham acesso à produção de conteúdo nos meios.
26
refletem, ao mesmo tempo, a variedade de lugares, épocas, procedimentos profissionais e
culturas jornalísticas”.
27
2 – DEONTOLOGIA E MENORES DE IDADE
A presente análise foi estruturada ao redor da cobertura feita pela imprensa brasileira
de três casos recentes de violência urbana envolvendo menores de idade. Para tal, foi feita
uma comparação entre o que quinze códigos de ética profissional, das principais entidades da
categoria de dezesseis países (Alemanha, Áustria, Brasil, Chile, Colômbia, Espanha, Estados
Unidos, França, Grã-Bretanha/Irlanda, Islândia, Montenegro, Noruega, Peru, República
Tcheca e Suécia)12, determinam sobre o tema. A escolha dos países deu-se devido ao discurso
de defesa da democracia, da liberdade de imprensa e dos direitos humanos presente nesses
Estados desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Nos países orientais, segundo Bertrand
(1999), esses valores estão intimamente ligados à religião e são geralmente vistos como
influência do “modernismo” ocidental.
Com efeito, a maior parte das democracias atuais, segundo o Índice da Democracia,
publicado pelo núcleo de inteligência da revista britânica The Economist13, está localizada nos
continentes americano e europeu14. A revista considera cinco fatores para a formulação de sua
lista: eleições livres e pluralismo político, funcionamento do governo, participação política da
população, cultura política e liberdades civis (dentre as quais a liberdade de expressão e de
imprensa). Os países escolhidos para a análise apresentaram, em 2010, uma média de 8,06,
numa escala onde dez indica democracia total e zero indica o pior nível de autoritarismo. A
média mundial, no mesmo período, foi de apenas 5,4615. Cabe ressaltar, no entanto, conforme
aponta Bertrand (1999), que a concepção asiática de democracia não é idêntica à ocidental,
donde surge outra razão para a limitação da pesquisa: a relativa proximidade cultural entre os
países cujos códigos serviram de objeto de estudo.
Obviamente, a democracia é fator fundamental para a imprensa e para a ética
jornalística. Conforme aponta Bertrand (1999), a instauração de uma ditadura é sempre
acompanhada pela supressão da liberdade de expressão e de imprensa, tendo estas se tornado
signos do regime democrático. Nas ditaduras militares do século passado, por exemplo, a
mídia, pouco desenvolvida, foi utilizada para manter déspotas no poder e para servir a uma
12 Ver anexo 1.
13 Economist Intelligence Unit. “Democracy Index 2010”. 2010. Disponível em: <http://graphics.eiu.com/PDF/Democracy_Index_2010_web.pdf>. Acesso em: 11 set. 2011.
14 Ver anexo 2.
15 Os líderes do ranking foram Noruega e Islândia, que receberam notas 9,8 e 9,65, respectivamente. O Brasil recebeu nota 7,12, sendo o terceiro melhor colocado da América Latina, atrás apenas do Uruguai (8,1) e do Chile (7,67).
28
elite urbana. Esses regimes são hostis à pluralidade na imprensa, portanto, contrários à
deontologia; se houverem códigos, são oficiais. Como exemplo disso, pode-se citar o código
de ética chinês, que obriga os jornalistas a serem “leais a seu país e ao comunismo” e a
“fielmente propagar e executar os princípios e as políticas do Partido”.
Os códigos escolhidos para a análise foram todos formulados por órgãos
representativos da categoria profissional. A limitação deve-se ao fato de que os códigos
promulgados pelos patrões para seus empregados nem sempre são redigidos por iniciativa dos
quadros da redação, estando, muitas vezes, em desacordo com boa parte dos membros da
mesma. Tais textos, conforme aponta Cornu (1998, p. 31), são “mais ou menos detalhados,
variando entre a simples definição da linha editorial ou redacional e um conjunto de
disposições práticas”. Conforme aponta Bertrand (1999), em todos os lugares há uma
tendência de se dizerem palavras bonitas, se debaterem as grandes questões da atualidade e
nada fazer para incentivar o respeito às regras estabelecidas. A situação é particularmente
crítica nos Estados Unidos, onde há uma quantidade enorme de códigos de ética.
Esta “proliferação deontológica”, conforme afirma Cornu (1998), revela uma
utilização estratégica da ética. Pela fixação de normas, transmite-se uma boa imagem da
profissão ou do meio de comunicação, estimulando uma sensação de confiança no público e
dissuadindo o poder público de intervir na regulamentação do jornalismo. Para tal, os
partidários dessa ética estratégica invocam, a partir de uma perspectiva liberal, a liberdade
dada à informação na sociedade. Para eles, “as inevitáveis falhas dos meios de comunicação
são o preço a ser pago para garantir essa liberdade fundamental” (CORNU, 1998, p. 13). Para
Alexis de Tocqueville, político, historiador e um dos maiores expoentes do liberalismo após a
Revolução Francesa, por exemplo, “para colherem-se os bens inestimáveis propiciados pela
liberdade de imprensa, é necessário submeter-se aos males inevitáveis por ela causados”
(TOCQUEVILLE apud CORNU, 1998, p. 13).
Conforme aponta Bucci (2002), a legitimidade do texto deontológico se consegue pelo
envolvimento do maior número de pessoas que deverão seguir um código na elaboração do
mesmo. O autor faz a ressalva de que “códigos não fabricam bom jornalismo; ao contrário,
com incômoda frequência, são brandidos para encobrir mau jornalismo” (BUCCI, 2002, p.
97). Pode-se citar como exemplo recente disso a adoção de uma carta de princípios editoriais
pelas Organizações Globo. O documento, lançado em 6 de agosto de 201116, afirma que “a
reportagem terá de trazer a versão da pessoa acusada, de forma ampla, se ela se dispuser a
16 “Princípios editoriais das Organizações Globo”. G1. 6 de agosto de 2011. Disponível em: <http://g1.globo.com/principios-editoriais-das-organizacoes-globo.html>. Acesso em: 13 set. 2011.
29
falar”. Na mesma semana, no dia 11, a emissora de televisão do grupo informou que Clarice
Coppetti, ex-diretora da Caixa Econômica Federal, havia sido presa por participação em
esquema de desvios de verbas públicas no Ministério do Turismo. A acusada não só não havia
sido presa como ainda teria ficado sabendo das denúncias veiculadas contra ela em rede
nacional de televisão através de familiares. Segundo Bucci (2002), a discussão ética só produz
resultados quando ocorre sobre uma base de compromissos. Caso contrário, vira proselitismo
vazio e inútil das empresas, o que geralmente ocorre.
2.1 – DIVULGAÇÃO DA IDENTIDADE DO MENOR INFRATOR QUANDO ADULTO
O primeiro caso – escolhido para ilustrar o dilema ético presente na escolha em
divulgar a identidade do menor infrator quando este atinge a maioridade, e que motivou a
pesquisa – foi a revelação, pela imprensa, do nome de Ezequiel Toledo Silva, condenado por
envolvimento no assassinato do menino João Hélio Fernandes em 2007. Antes de dar início à
análise deve-se ressaltar que não se trata aqui, sob qualquer aspecto, de defender o crime
hediondo cometido por ele e tampouco oferecer-lhe condescendência. O que se pretende,
aqui, é analisar se a imprensa pode ter colocado sua segurança em risco através da divulgação
de seu nome ou interferido no seu direito constitucional de se reintegrar à sociedade.
Em 7 de fevereiro de 2007, o menino João Hélio Fernandes, de seis anos, foi morto ao
ser arrastado por sete quilômetros após o assalto do carro de sua mãe no Rio de Janeiro. A
ação rápida dos assaltantes impossibilitou que a mãe do menino conseguisse desatar o cinto
de segurança dele para retirá-lo do carro. O caso foi um marco na cobertura de violência
urbana pela imprensa brasileira, tendo atingido ampla repercussão. Uma comoção em massa
tomou conta de setores da sociedade, pautando, por exemplo, internautas a declararem luto
em páginas do site de relacionamento Orkut. Imagens reiteradas e comentários insistentes
alimentaram um surto de revolta na sociedade. Os legisladores logo começaram a discutir a
necessidade de se reduzir a maioridade penal (sendo que, dentre os cinco acusados do crime,
apenas Ezequiel era menor de idade). A aprovação à pena de morte, punição aplicada pela
última vez no país em 1876, atingiu pico histórico de 55%, segundo pesquisa do instituto
Datafolha17.
Em fevereiro de 2010, quando a morte de João Hélio completava três anos, a mídia
revelou que Ezequiel tinha sido libertado e estava inserido no Programa de Proteção a
17 G1. “Brasileiros apóiam mais pena de morte, diz pesquisa”. 8 de abril de 2007. Disponível em: <http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL19305-5598-133,00.html>. Acesso em: 11 set. 2011.
30
Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte do governo federal. Através de uma breve
análise em três veículos (os portais da internet Terra, G1 e BOL), sem pretensão empírica,
pode-se afirmar que, possivelmente temendo represálias judiciais, a mídia decidiu preservar o
nome do rapaz, já maior de idade. No entanto, assim que ele foi retirado do programa de
proteção pelo juiz Francisco José de Azevedo, da 4ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça do
Rio de Janeiro (TJ-RJ), todos os portais revelaram que se tratava de Ezequiel Toledo Silva.
O G118, que sequer noticiou o fato imediatamente – tratando apenas de sua repercussão
nos dias seguintes – foi, ao lado do Terra19, o portal que mais expôs a identidade do jovem.
Porém, foi também o que protegeu o nome dele por mais tempo (até o dia 24 de fevereiro,
contra 18 de fevereiro no Terra). O BOL20, cujo conteúdo publicado é fornecido por agências,
divulgou o nome de Ezequiel apenas uma vez, em matéria oriunda da Agência Estado. As
notícias naquele mesmo portal oriundas da Folha Online não revelaram o nome do rapaz.
Cabe notar que os textos presentes nos portais oriundos da Agência Brasil – de propriedade da
Empresa Brasil de Comunicação, estatal federal – não revelaram a identidade do rapaz até o
dia 23 de fevereiro.
Levando em consideração que, segundo a determinação do juiz Marcius da Costa
Ferreira, da Vara da Infância e da Juventude do TJ-RJ, o rapaz deveria voltar a cumprir
medida socioeducativa em regime semiaberto, poder-se-ia considerar a hipótese de que a
imprensa estava colocando a segurança dele em risco através da divulgação de seu nome21.
Tal hipótese pode ser referendada através de declaração do próprio juiz, segundo o qual “o
jovem se torna alvo de animosidade por parte dos demais internos toda vez que o caso é
reavivado pela mídia”. Ainda em 2007, após Ezequiel ser internado pelo crime, a juíza
Adriana Angeli de Araújo, também da Vara da Infância e da Juventude, determinou que ele
ficasse afastado dos demais jovens por quatro meses, alegando questões de segurança. O
rapaz teria sido vítima de ameaças dos demais internos da unidade onde fora internado e
chegou a precisar ser transferido algumas vezes para evitar que fosse agredido fisicamente.
Em relação a esta problemática, o código de ética da Fenaj afirma, em seu artigo 7°,
inciso IV, que “o jornalista não pode expor pessoas ameaçadas, exploradas ou sob risco (sic)
18 <http://www.g1.globo.com>. Acesso em: 13 set. 2011.
19 <http://noticias.terra.com.br>. Acesso em: 13 set. 2011.
20 <http://noticias.bol.uol.com.br>. Acesso em: 13 set. 2011.
21 Ezequiel encontra-se em liberdade condicional desde abril de 2011, após cumprir três anos de medida socioeducativa. Segundo o artigo 121, inciso III, do Estatuto da Criança e do Adolescente, este é o período máximo de internação para menores infratores.
31
de vida, sendo vedada a sua identificação, mesmo que parcial”. Entretanto, como o código
não especifica o que faria uma pessoa ser considerada “ameaçada”, abre espaço para
interpretações pessoais de jornalistas e editores, mesmo que estes utilizem critérios confusos.
Assim sendo, num caso complexo como o descrito acima, onde se deve ponderar o direito à
informação com a proteção à vida, fica a cargo de cada profissional ou veículo decidir se deve
ou não revelar o nome de um condenado, como se verificou na breve análise dos portais
noticiosos da internet.
Os códigos de outros países, em especial os europeus, são mais explícitos em relação a
quem deve ou não ter sua identidade exposta. O Código Deontológico da Profissão
Jornalística, adotado pela Federação de Associações de Imprensa da Espanha (Fape) desde 28
de novembro de 1993, determina que “o jornalista deve respeitar o direito dos indivíduos à
privacidade, tendo em mente que restrições em relação à privacidade devem ser levadas em
especial consideração em se tratando de pessoas em hospitais e instituições semelhantes”
(artigo 1°, inciso IV, alínea c). O código sueco afirma que o jornalista deve ser rigoroso ao
avaliar as consequências prejudiciais que pode causar às pessoas cujos nomes são revelados,
recomendando que este deve se abster de “publicar nomes, a menos que sejam de óbvio
interesse público” (artigo 15°). Isto leva ao questionamento sobre se o caso analisado
realmente era de interesse coletivo. O público estava interessado em saber que Ezequiel foi
solto, sem dúvida, mas pode-se argumentar que esse interesse teria sido criado ainda em 2007
pela própria cobertura da imprensa do assassinato de João Hélio, que atingiu proporções
enormes.
Deve-se ressaltar que a mídia deu grande ênfase às contravenções as quais o jovem
teria se envolvido dentro da instituição de ressocialização onde cumpriu medida
socioeducativa22. Sobre isso, o Código de Honra da Imprensa Austríaca, o menor dentre os
analisados, com apenas cinco artigos, determina aos profissionais que “reportagens sobre os
‘passos em falso’ de menores infratores não devem minar ou tornar sua ressocialização mais
difícil. Em tais casos, os nomes devem ser abreviados” (artigo 3°). Novamente, não fica claro
se a identidade deve ser preservada até o menor atingir a maioridade ou não. Como a
maioridade civil (atingida aos 18 anos) é diferente da maioridade penal (atingida aos 14 anos)
no país em questão, verifica-se ainda outra problemática em relação ao texto.
O código de Montenegro, adotado em 21 de maio de 2002, é claramente baseado no
código do Conselho Alemão de Imprensa, em vigor desde 1973. Ambos dizem, sem muitas
alterações na tradução de um para o outro, que “quando noticiar as investigações e
22 Segundo os portais analisados, o jovem estaria entre os que se rebelaram após uma tentativa de fuga frustrada.
32
procedimentos jurídicos contra jovens e suas aparições no tribunal, a mídia deve exercer
limitação especial em consideração ao futuro deles”. O código alemão, entretanto, vai além e
diz que, em respeito à ressocialização dos criminosos, “a publicação de nomes e fotografias
de acusados deve, via de regra, ser omitida na cobertura de um julgamento criminal” (artigo
8°, diretriz 3). Com exceção de matéria do televisivo Jornal Hoje publicada no portal G123, tal
prática não se verificou na pesquisa em relação ao caso analisado, embora fotos de Ezequiel à
época de sua apreensão pelo crime possam ser encontradas em sites de pesquisa.
De maneira semelhante ao código austríaco, o Código de Prática da Imprensa da
República Tcheca afirma que “relatar crimes de jovens não deve tornar mais difícil ou
impedir seu possível retorno à sociedade” (artigo 7°). Diante disso, levanta-se o
questionamento sobre qual tipo de cobertura não torna “mais difícil” o retorno dos menores
infratores à sociedade, se é que isso é possível. Novamente, a interpretação do que seria
eticamente aceito recai sobre os jornalistas. O código norueguês é um pouco mais explícito do
que o tcheco sob este aspecto. Também afirma que os profissionais devem ter consideração ao
relatar casos envolvendo jovens infratores, mas indica que a identificação destes só deve ser
feita para cumprir à “demanda justa e honesta por informação” (artigo 4°, inciso VII).
O código de ética do Conselho de Imprensa da Islândia, adotado desde 1988, não rege
sobre a maneira como casos envolvendo menores infratores devem ser noticiados. Afirma
apenas que “os jornalistas devem sempre ter consciência de quando os nomes devem ser
publicados para o bem da segurança pública ou do interesse público” (artigo 4°). Os códigos
norte-americano, britânico/irlandês e francês também não fazem menção ao tema. É
interessante notar que o código da NUJ do Reino Unido e da República da Irlanda afirma, na
tradicional cláusula antidiscriminação (presente em quase todos os códigos analisados, com
exceção do colombiano, do francês, do islandês e do peruano), que todos têm o direito de
serem retratados da mesma maneira pela imprensa, independente de seu “status legal”. O
código francês faz uma ressalva moral interessante – o jornalista “não deve confundir seu
papel com o de um policial” (artigo 14) –, enquanto o peruano afirma para os membros da
categoria que “não somos juízes” (capítulo VI, artigo 9°, alínea g).
O código da Ordem Chilena dos Jornalistas afirma que “o jornalista não identificará
menores de idade envolvidos em atos judiciais nem entregará antecedes que permitam, de
outra maneira, sua identificação”, não fazendo observações sobre a ressocialização deles. O
23 JANNUZZI, Flávia (Jornal Hoje). “Justiça decide destino de um dos assassinos do menino João Hélio”. G1. 24 de fevereiro de 2010. Disponível em: <http://g1.globo.com/jornalhoje/0,,MUL1503708-16022,00-JUSTICA+DECIDE+DESTINO+DE+UM+DOS+ASSASSINOS+DO+MENINO+JOAO+HELIO.html>. Acesso em: 14 set. 2011.
33
código colombiano não faz qualquer menção a menores infratores, mas defende que é papel
do jornalista “dar notícias sobre violência, corrupção e catástrofes e crises com o propósito
prioritário de promover soluções”. O código peruano, o único dos analisados a mencionar um
ente divino24, recomenda cuidado extremo na divulgação de atos de violência. De inspiração
claramente humanista, diz que o jornalista deve ter em mente que “mesmo o delinquente
continua sendo uma pessoa” (capítulo VI, artigo 9°, alínea g).
Com base nos códigos de ética analisados, em relação à revelação da identidade de
Ezequiel, pode-se afirmar que não há um consenso sobre a questão. Em alguns países,
segundo as normas estabelecidas pela categoria, é estritamente desaconselhável aos
profissionais da mídia noticiar sobre a recuperação de menores infratores, enquanto que em
outros sequer há menções ao tema. Mesmo nos códigos onde há menção, a ética normativa
não determina se a identidade do infrator deve ser preservada após este atingir a maioridade,
um fator que deve ser considerado, uma vez que a animosidade em relação ao jovem não
cessa automaticamente a partir do momento em que ele completa dezoito anos de idade. Cabe
aos jornalistas (mais especificamente aos editores) ponderarem entre o direito legítimo do
público à informação e o direito do infrator a ter sua integridade física garantida. Eis uma das
fraquezas da ética normativa apontada por Bucci (2002, p. 23): “principista, ela não ajuda
muito a decidir entre dois valores que se julguem equivalentes”.
Assim sendo, pode-se concluir que o campo de abrangência dos códigos não é largo o
suficiente para cobrir todos os dilemas éticos dos jornalistas. Nem poderia ser, pois, como
aponta Bertrand (1999), tais textos não passam de um conjunto de regras debatidas,
depuradas, atualizadas, organizadas e postas preto no branco. Segundo o autor, os jornalistas
aprendem na prática que tipo de conduta é aceitável ou não, sendo a partir deles que a ética
deveria emanar. Bucci (2002) aprofunda este pensamento, ao dizer que a ética está na práxis,
uma vez que ela não está fora dos costumes. Para o autor, o desafio é “encontrar, no campo
dos costumes, as pistas para o bem” (BUCCI, 2002, p. 17). O que, segundo ele, não significa
se acomodar aos costumes, mas sim dialogar com eles a fim de elevar aquilo que eles
apresentam de melhor. Ainda segundo Bertrand (1999), a deontologia é uma zona nebulosa,
pois os formuladores dos textos são filósofos de linguagem sem experiência prática ou,
inversamente, são práticos que conhecem mal o que foi pensado no campo da ética.
Dito isto, verifica-se que cabe aos profissionais da imprensa, em grande parte das
vezes, decidirem o que é agir de maneira ética, o que obviamente varia de um indivíduo para
24 “O jornalista está moralmente obrigado em seu exercício profissional a ser honesto com Deus” (capítulo III, artigo 5°).
34
outro. Bucci (2002) faz uma relação dessa decisão com o conceito cristão de livre arbítrio,
dizendo que o jornalista é senhor de seus atos. Ele alerta, no entanto, que esta decisão de foro
individual tem seu lugar na sociedade, devendo ser, entre os jornalistas, amplamente aceito
que a razão de ser da prática que exercem na sociedade é consequência do direito à
informação, que pertence ao cidadão (destinatário final do jornalismo) e não às empresas de
comunicação e muito menos aos próprios jornalistas. O poder que têm de informar trata-se de
uma espécie de contrato informal feito com a sociedade, que delega aos profissionais da mídia
o direito de lhe informar. Os profissionais da mídia deveriam colocar, ou ao menos tentar
colocar, essa delegação acima da busca pelo furo ou pela rapidez da informação.
Ainda em relação à identificação de Ezequiel, cabe fazer um paralelo com outro caso
semelhante, pouco noticiado, ocorrido em 2010 em Campinas, no interior de São Paulo. Uma
jovem de 18 anos (cuja identidade não foi revelada) atropelou Beatriz Helena Mendes, de seis
anos, arrastando-a por 20 metros. De acordo com notícia divulgada pela retransmissora da
Rede Globo, a motorista, que não possuía carteira de habilitação, não parou para socorrer a
vítima e fugiu da cena do crime. Após prestar depoimento, ela foi liberada para responder ao
crime em liberdade, enquanto a menina foi internada com lesões graves. Diante disso, abre-se
um questionamento sobre porque a atropeladora de Beatriz, mesmo sendo maior de idade,
teve a prerrogativa de não ter sua identidade revelada, enquanto Ezequiel não teve. Pode-se
argumentar que foi devido à gravidade de cada crime, mas é possível fazer outra leitura,
tomado por base as condições socioeconômicas de cada acusado.
Para a jornalista Samira Moratti, em análise no site do Observatório da Imprensa25, isto
ocorre porque “a imprensa continua a criar estereótipos; o pobre é mais criminoso do que o
rico”. Ainda segundo ela, “o suspeito pelo crime, se pertencente à classe social baixa, não tem
ao menos o direito de exigir que seu nome não seja divulgado”. De maneira semelhante,
Bucci (2002, p. 156) afirma que “é tristemente curioso que só se fale em invasão de
privacidade quando a pessoa prejudicada é alguém de posse ou de poder; é como se gente
pobre não tivesse intimidade a ser preservada”. Com isso, pode-se afirmar que a simples
existência de uma cláusula antidiscriminação, presente em quase todos os códigos analisados,
não garante a todos o direito de serem retratados da mesma maneira pela mídia, independente
de fatores como classe social, ideologia, religião, sexo, raça, orientação sexual, etc. Isto fere,
inclusive, os próprios princípios que serviram de base à Constituição Federal do Brasil 26. Isto
25 MORATTI, Samira. “Sensacionalismo, o espetáculo insólito”. Observatório da Imprensa. Edição 579. 2 de março de 2010. Disponível em: <http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/sensacionalismo-o-espetaculo-e-o-insolito>. Acesso em: 10 set. 2011.
35
ocorre porque, como afirmado anteriormente, a ética emana dos profissionais (e,
principalmente, dos donos da mídia), e não dos códigos em si.
Em relação a essa problemática, Bertrand (1999, p. 136) aponta que parte dos
jornalistas “crê fazer parte do establishment e adota suas preocupações”. Já Cornu (1998)
afirma que o jornalista exerce sua profissão em meio a um esquema de limitações que
determinam suas escolhas na aplicação das regras profissionais. A inserção do jornalista numa
empresa o obriga a um compromisso permanente entre a aplicação das normas deontológicas
e as exigências da empresa. Reféns do público, transformado em consumidor pelo sistema
capitalista, os meios acabam sendo produtos do senso comum. Isto não significa, para Bucci
(2002), que o jornalismo deva reproduzir os preconceitos típicos do senso comum; ele deve
remar contra a maré, quando necessário, e guardar uma distância crítica em relação às
generalizações. Para o autor, “o jornalista (...) é o criado dos desejos de consumo” (BUCCI,
2002, p. 182), num cenário onde a ideologia vigente é aquela que idolatra o consumidor, o
que contribui para a manutenção do senso comum através do empobrecimento da visão crítica
do cidadão, visto como objeto da indústria cultural e não sujeito de direitos.
Além dessas questões que a revelação da identidade de Ezequiel suscitou, é possível
ainda fazer outro questionamento relevante a partir do caso analisado: se a mídia teria
interferido no campo de atuação Justiça. Pode-se argumentar que, devido à grande exposição
que o assassinato de João Hélio teve na imprensa, o que gerou ampla repercussão na
sociedade, o juiz Marcius da Costa Ferreira, da Vara da Infância e da Juventude do TJ-RJ,
pode ter decidido manter Ezequiel internado por pressão da mídia. É inegável o direito da
mídia em divulgar que o infrator estava inserido no Programa de Proteção a Crianças e
Adolescentes Ameaçados de Morte se tal medida realmente estava irregular. No entanto,
conforme aponta Cornu (1998), a simples cobertura da imprensa, mesmo que seja o mais
plural e objetiva possível (o que não se verificou em relação aos portais de notícias
brevemente analisados), pode acabar interferindo na decisão judicial, o que não pode ocorrer
numa democracia. Esta questão será discorrida com maior profundidade no próximo capítulo,
onde serão analisados os empecilhos para a adoção da ética no jornalismo.
2.2 – PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA E DIVULGAÇÃO DO ROSTO DO MENOR
INFRATOR
26 O artigo 5° da Constituição Federal de 1988 garante aos brasileiros e estrangeiros residentes no país o direito à livre manifestação do pensamento (inciso IV) e, em seguida, afirma que “a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos” (inciso XLI).
36
O segundo caso analisado foi a reportagem “Mães de assassino e vítima se encontram
no Rio de Janeiro”, exibida pelo Jornal da Record na noite de 11 de março de 2010. Ela trata
do encontro, na delegacia, entre a mãe do lutador de jiu-jítsu Marcos Adriano Albuquerque
(mais conhecido como Marco Jara) e a mãe do menor acusado de envolvimento na morte
dele. Em 24 de dezembro de 2009, Marco Jara e o amigo, o norte-americano Brent Garret
Massnam, seguiam de carro do Rio de Janeiro até Parati, onde comemorariam o Natal, quando
foram abordados por dois adolescentes armados na Estrada da Pedra de Guaratiba. Massnam
teria tentado reagir ao assalto e foi baleado no estômago, sendo jogado para fora do veículo
em seguida. Os suspeitos fugiram no automóvel, levando Jara com eles. O corpo do lutador
foi encontrado pela polícia no mesmo dia, à noite, num dos acessos à Favela do Sapo, na Zona
Oeste da capital fluminense. Um dos adolescentes foi detido em 11 de março de 2010 e, na
delegacia, houve um encontro entre Avelina Messias da Silva, mãe do menor infrator, e Jane
Albuquerque, mãe de Jara. O objeto da matéria veiculada na Rede Record foi este emotivo
encontro, constituído de muitas lágrimas e um abraço entre as duas mães.
Na matéria, a emissora desconsidera, logo no título, o artigo 9° do código da Fenaj,
que defende que “a presunção da inocência é um dos fundamentos da atividade jornalística”.
Entretanto, o código não define se a presunção de inocência deve prevalecer até a
apresentação de provas comprobatórias da culpabilidade do indivíduo ou até o momento da
condenação do mesmo por um tribunal, uma diferença muitas vezes de vários anos. Ao
contrário disso, o código islandês diz que “os jornalistas devem respeitar a regra geral de que
todo mundo é inocente até que se prove o contrário” (cláusula 3), o que pressupõe que o
princípio deve ser observado até que provas comprobatórias de culpa sejam apresentadas.
O Código Deontológico da Profissão Jornalística da Espanha trata a questão de
maneira semelhante, afirmando que o jornalista “deve respeitar o princípio de que uma pessoa
é presumidamente inocente até que se prove o contrário” (artigo 5°). O código de ética da SPJ
norte-americana determina que “o jornalista deve ser criterioso em nomear suspeitos antes da
apresentação formal das acusações” contra eles (artigo 24), ou seja, até que um promotor
indicie o suspeito, abrindo, assim, brechas para coberturas tendenciosas de julgamentos, o que
leva o artigo seguinte a dizer: “equilibre o direito de um suspeito a um julgamento justo com o
direito do público de ser informado” (artigo 25). Já o código peruano vai além na questão,
afirmando que não é possível “qualificar, a priori, o acusado; somente a sentença do juiz
determina a culpabilidade”, acrescentando que “toda pessoa tem direito a ser considerada
inocente até que se prove o contrário” (artigo 9°, alínea g).
37
Alguns outros códigos analisados são mais específicos quanto à presunção de
inocência. Para o código sueco, o jornalista deve se lembrar de que “aos olhos da lei, uma
pessoa suspeita de crime é considerada inocente até ser provada sua culpa”, alertando que “o
resultado final de um processo é o que deve ser divulgado” (artigo 14). O código da Ordem
Chilena dos Jornalistas afirma que “o jornalista deve salvaguardar a presunção de inocência,
respeitando as distintas etapas do processo judicial” (artigo 27), o que indica que um
indivíduo só pode ser tratado pela imprensa como culpado após seu julgamento em definitivo.
Já o artigo quinto do Código de Prática da Imprensa na República Tcheca afirma que:
A imprensa deve estar ciente do fato de que apenas o tribunal pode decidir
sobre a culpa e a punição de atos criminais. Toda pessoa contra a qual pesam
procedimentos criminais deve ser encarada, até mesmo pela imprensa, como
inocente, até que o tribunal a julgue de acordo com a lei (artigo 5°).
O código do Conselho Alemão de Imprensa é mais enfático em relação ao tema,
afirmando que “os suspeitos devem ser presumidos como inocentes até que se provem
culpados por um tribunal, mesmo que eles tenham confessado” (artigo 13, diretriz 1). Esta
conduta deve ser acatada pelos jornalistas para evitar “representações preconceituosas” que,
de acordo com o código, são uma violação à “proteção constitucional da dignidade humana,
que também se aplica, sem limitações, para os criminosos”. O código de ética de Montenegro
diz praticamente a mesma coisa, acrescentando que “mesmo nos casos em que a culpa é
evidente para o público, uma pessoa acusada não pode ser retratada como culpada na acepção
de uma sentença judicial” (artigo 10, inciso I, alínea a). O código da Noruega diz que o
jornalista deve evitar a “presunção de culpa” ao noticiar crimes e julgamentos. O profissional,
segundo este texto deontológico, deve “tornar evidente que a questão da culpa, relativa a
alguém suspeito, relatado, acusado ou indiciado, não foi decidida até que a sentença tenha
eficácia legal” (artigo 4°, inciso V)27.
Os códigos de ética austríaco e britânico/irlandês não tratam do princípio de presunção
da inocência. O britânico diz apenas que o jornalista não deve “agir no sentido de se
intrometer na vida privada de alguém” (artigo 6°), enquanto o austríaco diz que “a liberdade
de escrever e comentar é uma parte importante da liberdade de imprensa; a difamação de
pessoas privadas (...) é, no entanto, mau uso dessa liberdade e uma violação do ethos
27 Segundo Bertrand (1999, p. 94), isso se dá pois, “nos países escandinavos, há muito apego aos direitos do homem”.
38
jornalístico” (artigo 4°). Pode-se argumentar que o princípio da presunção de inocência
entraria na violação à vida privada, condenada por ambos os códigos. No entanto, ficaria a
critério do jornalista usar termos condenatórios ou não.
Vale ressaltar que foi na Áustria onde ocorreu o caso de Josef Fritzl, apelidado de
“monstro” pela imprensa local antes mesmo de seu julgamento e subsequente condenação à
prisão perpétua por manter a própria filha Elisabeth encarcerada por 24 anos, período no qual
teve sete filhos com ela. Apesar da ressalva feita no código de ética do país vizinho, o termo
também foi utilizado por algumas publicações alemãs, mais notavelmente pelo tabloide Bild,
que, com uma tiragem de cerca de 3,5 milhões de exemplares por dia, é o maior jornal diário
de toda a Europa. O semanário Der Spiegel foi um dos poucos – não só da Alemanha como
também da grande mídia internacional – a ter o cuidado de colocar o termo entre aspas. A
agência de notícias francesa AFP disseminou o termo “monstro da Áustria” ao redor do globo,
inclusive em matérias em português.
A Carta de Deveres dos Jornalistas Franceses, um dos menores códigos analisados,
com apenas quatorze artigos, também não faz menção à presunção de inocência. Determina
apenas que “o jornalista digno desse título respeita a Justiça e lhe dá prioridade máxima”
(artigo 13), deixando a cargo do jornalista a interpretação de que cabe à Justiça determinar a
culpabilidade de um acusado. O código colombiano também não trata da questão, mas é um
pouco mais explícito ao tratar do sistema judiciário, ao dizer que o jornalista deve “observar
especial cuidado às informações sobre processos judiciais”, por reconhecer o poder da mídia
em “influenciar na condenação ou absolvição dos incriminados” (artigo 7°, inciso III).
Antes de analisar o segundo ponto observado na matéria, o qual também incorre numa
falta ética, vale ressaltar que “Mães de assassino e vítima se encontram no Rio de Janeiro” foi
o título dado à reportagem no portal de notícias da Rede Record na internet, o R7 28. Por outro
lado, em momento algum, durante a transmissão da mesma no Jornal da Record, em 11 de
março de 2010, a repórter Cristina Gomes ou os apresentadores Celso Freitas e Ana Paula
Padrão se referiram ao acusado como sendo um “assassino”. A falta ética seria, então, do
editor do portal, e não da repórter. No entanto, se o benefício da dúvida isenta a repórter e seu
editor de culpa nesta falta ética, o mesmo não se pode dizer em relação a outros aspectos
observados na reportagem.
Aos dois minutos e seis segundos da matéria, quando esta mostra o momento em que
Jane se aproxima do carro da polícia para tentar conversar com o acusado de matar o filho
28 GOMES, Cristina. “Mães de assassino e vítima se encontram no RJ”. Portal R7. 11 de março de 2010. Disponível em: <http://noticias.r7.com/videos/maes-de-assassino-e-vitima-se-encontram-no-rj/idmedia/6341b79618b76851081182bdf8703821.html>. Acesso em: 10 set. 2011.
39
dela, é possível ver claramente o rosto do menor, mesmo que por centésimos de segundo29.
Assim como no primeiro caso analisado, a imprensa pode ter colocado em risco a vida de um
infrator a caminho de uma unidade de ressocialização. Além disso, incorreu numa infração
prevista pela lei 8.069 de 13 de julho de 1990, mais conhecida como Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA). Segundo o artigo 247 da referida lei, a divulgação total ou parcial da
identidade de um menor infrator pode ser punida com uma multa de até vinte salários de
referência30. O artigo ainda previa que uma emissora de televisão que incorresse no ato
poderia ter sua programação suspensa por até dois dias, o que foi considerado inconstitucional
pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Boa parte dos códigos de ética analisados trata da questão, mesmo que de maneira
pouco enfática. Apenas o chileno e o norueguês tratam da questão de maneira frontal. Para a
Ordem Chilena dos Jornalistas, “o jornalista não deve identificar os menores de idade
implicados em atos judiciais nem revelará antecedentes que permitam, por outra via, sua
identificação" (artigo 27). Já para o código norueguês, “como regra geral, a identidade de
crianças não deve ser divulgada em relatos sobre disputas familiares ou casos sob a
consideração de autoridades tutelares ou dos tribunais” (artigo 4°, inciso VIII). O mesmo
código diz ainda que “consideração particular deve ser demonstrada (...) ao noticiar crimes
envolvendo jovens; evite a identificação, a menos que isto seja necessário para atender às
demandas justas e corretas por informação” (artigo 4°, inciso VII).
O código da Fenaj afirma apenas que é dever do jornalista “defender os direitos do
cidadão (...) em especial das crianças” (artigo 6°, inciso XI). O código brasileiro certamente
não condena a exibição da imagem de menores infratores por que a lei já o faz. O código
montenegrino também não proíbe explicitamente a exibição da imagem de menores
infratores. Diz o que já foi referido na análise do caso anterior (“quando noticiar as
investigações e procedimentos jurídicos contra jovens e suas aparições no tribunal, a mídia
deve exercer limitação especial em consideração ao futuro deles”), acrescentando apenas que
“a mídia é obrigada a exercer especial simpatia ao entrevistar, fotografar ou filmar crianças
menores de 16 anos de idade” (artigo 9°, alínea b). De maneira semelhante, o código da SPJ
norte-americana diz que o jornalista deve “ser cauteloso quanto à identificação de suspeitos
29 Ver anexo 3.
30 Conforme decisão do STF, o “salário de referência” previsto no ECA é o próprio salário mínimo, que corresponde atualmente ao valor de R$ 545,00. Assim sendo, a multa máxima equivale a R$ 10.900,00.
40
juvenis ou vítimas de crimes sexuais” (artigo 23). No entanto, sem restrições legais a esse tipo
de conduta, não é o que se verifica na prática31.
O código alemão proíbe a identificação de menores infratores, mas com uma ressalva:
“se não envolver crimes graves” (artigo 8°, diretriz 1, inciso V). Também afirma, no artigo 8°,
inciso I, no entanto, que não é justificável a publicação de nome e fotos de acusados. O
código da República Tcheca, o mesmo que diz que os jornalistas não devem tornar mais
difícil o retorno à sociedade dos menores infratores, não faz nenhuma menção explícita ao
problema de se identificar o rosto de jovens acusados de crimes, afirmando apenas que “a
proteção da privacidade das crianças tem prioridade sobre o valor da informação; ao noticiar,
a imprensa deve sempre ter consideração pelos interesses das crianças e dos adolescentes”
(artigo 7°). De maneira semelhante, o código espanhol afirma que “atenção especial deve ser
dada ao tratamento de questões envolvendo crianças e jovens; o direito à privacidade dos
menores deve ser respeitado” (artigo 4°, alínea c). Os códigos dos outros países analisados –
Áustria, Colômbia, França, Grã Bretanha/Irlanda, Islândia, Peru e Suécia – não tratam da
questão. O peruano diz apenas que o jornalista deve ser “muito cauteloso” ao noticiar fatos
negativos que tenham menores como protagonistas ou vítimas (artigo 9°, alínea e).
Além de ter exibido o rosto do menor acusado de matar Jara, a reportagem da Rede
Record também exibiu o rosto da menor que foi até a delegacia com a mãe dele
(possivelmente irmã do infrator). A assessoria de imprensa da Polícia Civil do Rio de Janeiro
teve o cuidado de “borrar” a face da jovem nas fotos publicadas em notícia no site da
instituição32. Não se trata, devidamente, de uma falta ética, mas pode-se argumentar que se
trata de algo desnecessário para o entendimento da notícia, o que leva à terceira e última falta
ética da matéria (à qual a assessoria da Polícia Civil também incorre): a exibição gratuita da
imagem de parentes de vítimas e de acusados de crimes. Apesar de não ser uma prática
condenável segundo o código da Fenaj, esta falta ética está prevista em alguns dos códigos
analisados.
O código de Montenegro, por exemplo, diz que “a mídia deve geralmente evitar
identificar parentes ou amigos de condenados ou acusados de um crime, a não ser que a
referência a eles é necessária para o relato completo, justo e apurado do crime” (artigo 8°,
inciso I, alínea e). Também recomenda, no artigo 6°, inciso II, cuidado ao entrevistar pessoas
31 A mídia norte-americana divulgou extensamente a imagem de Nathaniel Brazill, estudante que, em 2000, aos quatorze anos de idade, foi condenado pelo assassinato de um de seus professores.
32 MENDONÇA. Ramon. “Envolvido no assassinato do lutador Marco Jara é detido”. Polícia Civil do Rio de Janeiro. 11 de março de 2011. Disponível em: <http://www.policiacivil.rj.gov.br/exibir.asp?id=8760>. Acesso em: 14 set. 2011.
41
em luto. De maneira semelhante, o código do Conselho Alemão de Imprensa diz que a prática
é “fundamentalmente inadmissível” (artigo 8°, diretriz I, inciso III) e que as “vítimas de
infortúnio não devem sofrer uma segunda vez através de seu relato na mídia” (artigo 11,
diretriz III). O código da SPJ norte-americana recomenda “ser sensível ao tentar ou usar
entrevistas ou fotografias de pessoas afetadas pela tragédia ou luto” (artigo 19). O código
norueguês recomenda aos jornalistas “nunca abusar das emoções ou sentimentos das outras
pessoas”, lembrando que “pessoas em choque ou luto são mais vulneráveis que as demais”
(artigo 3°, inciso IV). O peruano afirma que o jornalista deve “respeitar, em todo momento, a
desgraça alheia e ter compostura perante a morte, promovendo a solidariedade e não a
compaixão” (artigo 9°, alínea f).
O código tcheco diz que “o respeito às vítimas e seus parentes tem prioridade perante a
revelação de informações ou fotografias que possam identificá-las” (artigo 4°, inciso III). Para
a Fape espanhola, o jornalista “deve evitar mencionar os nomes de parentes e amigos de
acusados ou condenados por um crime, a não ser que seja absolutamente necessário para
tornar a informação completa e uniforme” (artigo 5°, alínea a). O código da NUJ do Reino
Unido e da Irlanda afirma que o jornalista não pode interferir no luto de alguém, exceto se for
justificável “pela consideração primordial do interesse público” (artigo 6°). O código islandês
afirma que o jornalista deve “evitar tudo o que possa causar dor ou humilhação desnecessária
aos inocentes ou àqueles que sofreram” (artigo 3°). Por fim, de maneira semelhante, o código
da Ordem Chilena dos Jornalistas afirma que o jornalista “respeitará a intimidade das pessoas
em situação de aflição ou dor, evitando especulações e intromissão gratuita em seus
sentimentos” (artigo 26). Apenas os códigos da Áustria, do Brasil, da Colômbia, da França e
da Suécia não fazem referência à dor de parentes de vítimas e acusados de crimes em seus
textos.
A partir da análise, pode-se concluir que o ideal de prática jornalística previsto pelos
códigos está a considerável distância daquilo que é praticado. Fica evidente o choque entre as
normas definidas pela categoria para reger a prática jornalística e a prática em si. Se, no
primeiro caso analisado (a revelação da identidade do infrator Ezequiel Toledo Silva após este
ter atingido a maioridade), a provável falta ética aconteceu, em parte, devido às limitações dos
textos normativos, o mesmo não pode ser afirmado em relação ao segundo caso analisado.
Todas as faltas mencionadas estão previstas na maioria dos códigos deontológicos criados
para servir de base à prática jornalística em boa parte do ocidente – e, no caso da exibição do
rosto do menor infrator, a própria legislação brasileira coíbe tal prática.
42
Em relação à restrição legal que proíbe a exibição do rosto de menores infratores 33,
trata-se de um enquadramento jurídico à prática jornalística. É, no entanto, uma “restrição
virtuosa”, segundo Pierre Bourdieu, pois leva o jornalista a fazer a coisa certa. No entanto,
conforme aponta Bertrand (1999), é comum a mídia causar graves danos sem infringir a lei.
Rotular alguém de assassino antes de seu julgamento e mostrar o encontro entre parentes de
uma vítima e do acusado são perfeitamente permitidos pela legislação, mas contrários à
deontologia. Assim sendo, por mais que as leis sejam necessárias para que a mídia assegure
um serviço conveniente para todos, elas são insuficientes no que diz respeito à garantia de um
jornalismo de qualidade. Conforme aponta Bucci (2002, p. 21), “se tudo se resumisse a
separar o lícito do ilícito, a ética jornalística seria uma trivialidade”.
Em relação à aplicação do conceito de presunção de inocência, Cornu (1998) afirma
que seria inconcebível tornar a discrição uma regra geral, uma vez que o público tem direito a
ser informado sobre crimes. No entanto, estabelecer uma ligação entre um acusado e o crime
pode causar-lhe um transtorno considerável. A maioria dos textos deontológicos que abordam
o tema orientam pela publicação do nome do investigado, desde que o interesse público o
justifique, donde se verifica uma limitação nos códigos, que deixam a cargo do jornalista
definir qual é o limite do interesse público. Para Cornu (1998), a divulgação do nome do
acusado se transforma numa “flagelação”, transformando a punição legal em algo ainda mais
pesado e desconsiderando por completo a inserção social do condenado, bem como seus
familiares e amigos.
Cabe questionar, em relação à invasão da privacidade das mães, se o termo “interesse
público” não está sendo utilizado estrategicamente para servir a interesses escusos, assim
como se observa em relação aos códigos de ética. É duvidoso o interesse público por trás do
encontro entre duas mães desesperadas numa delegacia do Rio de Janeiro. Sobre isso, Cornu
(1998) diz que uma das maiores orientações axiológicas da deontologia jornalística é o
respeito à pessoa humana. Segundo o autor, cabe ao jornalista ter conhecimento da doutrina
jurídica e da jurisprudência aceita no que diz respeito à distinção entre a esfera pública do
indivíduo e a vida particular do mesmo, sendo que somente tal conhecimento permite a
aplicação correta das regras normativas do jornalismo. Já Bucci (2002) fala em não oferecer
ao público aquilo que os jornalistas não gostariam que fosse oferecido a seus familiares.
Ainda segundo Cornu (1998), a necessidade de conferir aos acontecimentos um toque
humano em nada justifica a exploração do sentimento alheio, sendo que a noção de respeito à
pessoa humana ultrapassa o círculo das personagens da informação para compreender,
33 Artigo 247 da lei 8.069/90, mais conhecida como Estatuto da Criança e do Adolescente.
43
igualmente, o público. Para Bucci (2002), a tragédia deve relembrar aos jornalistas o desafio
de impor um limite. Segundo ele, “há de existir um limite – onde não existe limite não existe
ética” (BUCCI, 2002, p. 149). A matéria-prima do jornalista é a informação que interessa à
construção da cidadania. Assim sendo, este deve saber separar o interesse público daquilo que
Bucci (2002) chama de “curiosidade perversa público”, que faz o jornalismo tender para o
sensacionalismo. Dito isto, chega-se ao terceiro e último caso analisado, o mais grave de
todos sob o ponto de vista da deontologia jornalística.
2.3 – ESPETACULARIZAÇÃO DA VIOLÊNCIA CONTRA MENORES
O terceiro caso analisado foi o chamado “drama de Santo André”, que teve início no
dia 13 de outubro de 2008, quando Lindemberg Alves, de 22 anos, tomado por uma crise de
ciúmes e inconformado com o término de um relacionamento de mais de dois anos, invadiu o
apartamento de sua ex-namorada Eloá Pimentel, de 15 anos, num conjunto habitacional da
periferia de Santo André, em São Paulo. A vítima estava fazendo um trabalho de escola no
local com a amiga Nayara Fernandes, também de 15 anos, e outros dois colegas. No mesmo
dia, à noite, Lindemberg libertou os colegas da garota e, no dia seguinte, libertou Nayara. No
dia 16 de outubro, no entanto, Nayara acabou voltando ao apartamento como parte das
estratégias de negociação da Polícia Militar de São Paulo (PM-SP).
No dia 17, após mais de cem horas do sequestro para o qual “os olhos de todo o Brasil
estiveram voltados”34 (o que o transformou, segundo a própria imprensa, no mais longo caso
de cárcere privado da história do país), Eloá foi assassinada pelo ex-namorado. Os policiais
do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) e da Tropa de Choque da PM-SP invadiram o
cativeiro e entraram em luta corporal com Lindemberg, que atirou em direção às reféns.
Nayara levou um tiro no rosto e Eloá foi baleada na cabeça e na virilha. Segundo a versão da
PM-SP, os policiais que estavam de guarita no apartamento vizinho ao de Eloá decidiram
invadir o cativeiro pois ouviram um disparo. Eloá foi levada inconsciente para um hospital e
veio a óbito no dia seguinte.
Assim como ocorreu após a morte de João Hélio, o desenrolar do caso – que, sem a
cobertura da mídia, seria apenas mais um dentre os inúmeros crimes passionais que afligem a
população feminina do país todos os dias – atingiu proporções enormes. Com o diferencial, no
34 Conforme foi descrito por matéria publicada no G1 após a morte de Eloá. “Sequestro de Eloá e Nayara: cobertura completa”. G1. 19 de outubro de 2008. Disponível em: <http://g1.globo.com/Noticias/SaoPaulo/0,,MUL804479-5605,00-SEQUESTRO+EM+SANTO+ANDRE+COBERTURA+COMPLETA.html>. Acesso em: 23 set. 2011.G1.
44
entanto, de que a cobertura se deu em tempo real, conforme os fatos aconteciam, o que fez
com que o relato se assimilasse a um reality show ou a uma telenovela. Os meios de
comunicação – em especial os televisivos –, percebendo que poderiam tirar algum proveito
econômico da situação, deram mais importância ao caso do que ele realmente merecia,
apelando para a emoção do público com o intuito de obter bons índices de audiência. Assim
sendo, interferiram na atividade policial, acabaram estimulando a ação do sequestrador e
fizeram com que a situação se tornasse ainda mais tensa, resultando no fim trágico da jovem.
Até mesmo os veículos impressos que, segundo Carlos Aberto Di Franco fizeram uma
cobertura mais amena35, tiraram proveito da situação. Exemplo disso é a Folha de S. Paulo
que, num primeiro momento, poupou a identidade de Eloá36, mas acabou por fazer uma
página especial para o caso em seu portal na internet, expondo a imagem da garota37.
A primeira falta ética observada em relação ao caso foi a exposição da imagem das
vítimas de Lindemberg, o que pode parecer algo banal. Entretanto, o simples fato de terem se
tornado vítimas num caso que, graças à atuação da mídia, ganhava proporções enormes não
justifica a devassa promovida em suas vidas particulares. Tanto Eloá quanto Nayara tiveram
suas informações pessoais, em especial suas imagens, amplamente divulgadas pela imprensa
enquanto ainda estavam sob o poder do sequestrador. Antes de analisar a abordagem que a
ética normativa faz do assunto, cabe ressaltar que, ao contrário do segundo caso analisado, a
exibição da imagem de menores de idade enquanto vítimas de violência não constitui prática
ilícita segundo a legislação vigente, que rege apenas sobre a exibição da imagem de menores
enquanto perpetuadores de violência.
Em relação à exposição da identidade de vítimas de violência, no código da Fenaj,
vale o mesmo princípio deontol ógico que poderia ter sido aplicado em relação ao primeiro
caso analisado (a revelação do nome de Ezequiel Toledo Silva): “o jornalista não pode expor
pessoas ameaçadas, exploradas ou sob risco (sic) de vida” (artigo 7°, inciso IV). Se, em
relação ao primeiro caso analisado, pode-se argumentar que o risco que a decisão de revelar a
identidade do infrator pudesse causar era difícil de precisar, o mesmo não pode ser afirmado
em relação a este caso. As vidas de Eloá e Nayara corriam risco real conforme a imprensa
35 MARTIN, Carla Soares. “Carlos Alberto Di Franco: TV transformou Lindemberg em estrela midiática”. Comunique-se. 17 de outubro de 2008. Disponível em: <http://www.comunique-se.com.br/conteudo/newsshow.asp?editoria=8&idnot=49012>. Acesso em: 27 set. 2011.
36 Ver anexo 4.
37 “Especial – Cárcere Privado no ABC”. Folha Online. 14 de outubro de 2008 – 17 de junho de 2011. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2008/carcereprivadonoabc/>. Acesso em: 26 set. 2011.
45
noticiava o sequestro delas. Apesar de não especificar o que torna uma pessoa ameaçada
(tampouco poderia, dado que o número de exemplos seria demasiadamente longo), o código
brasileiro é um dos mais rígidos em relação ao tema.
Os códigos austríaco, britânico/irlandês, colombiano, francês e peruano sequer tratam
da questão, enquanto o norte-americano é bem mais vago. Este último afirma, no artigo 18,
que o jornalista deve ser sensível ao usar fotografias de pessoas afetadas pela tragédia,
conceito demasiadamente vago. De maneira semelhante, o código chileno diz, em seu artigo
26, que o jornalista deve respeitar a intimidade das pessoas em situação de aflição ou dor,
evitando especulações e intromissões gratuitas em seus sentimentos. Já o código islandês diz
que o profissional da imprensa deve “evitar tudo o que pode causar dor ou humilhação
desnecessária aos inocentes ou àqueles que tenham sofrido” (artigo 3°), o que também já
havia sido observado em relação à análise anterior. Diz também que “os jornalistas devem ter
sempre a consciência de quando os nomes devem ser publicados para o bem da segurança
pública ou do interesse público” (artigo 4°), o que traz novamente à tona o questionamento se
o interesse público não teria sido criado pela imprensa. O código sueco, também vago,
provoca o mesmo questionamento. Afirma que o jornalista deve demonstrar “a maior
consideração possível com vítimas de crime e acidentes” (artigo 9°) e que ele só é autorizado
a violar a privacidade de alguém se os fatos forem de “evidente interesse público” (artigo 7°).
Outros códigos europeus, por outro lado, são bem mais enfáticos no que se refere à
abordagem de crimes. O código espanhol afirma que “mencionar os nomes de vítimas de
crime, assim como publicar material que pode contribuir para a identificação da vítima, deve
ser evitado” (artigo 5°, alínea b). Em seguida, no artigo 6°, afirma que tal critério deve ser
aplicado com extrema severidade quando a informação diz respeito a menores de idade. O
código da República Tcheca diz que “proteção especial deve ser dada às vítimas de atos
criminais e acidentes”, acrescentando que o respeito às vítimas tem prioridade sobre a
revelação de informação reveladora (artigo 4°, inciso III). O mesmo código é ainda mais
enfático em relação ao direito dos menores, afirmando que “a proteção da privacidade dos
menores tem prioridade sobre o direito à informação” (artigo 7°, inciso I). O código alemão
diz, no artigo 8°, diretriz 1, inciso I, que a publicação de nomes e imagens de vítimas é, via de
regra, injustificável. O código afirma também, no entanto, que exceções podem ser feitas se a
pessoa em questão for famosa ou se houverem circunstâncias especiais envolvendo o caso
(artigo 8°, diretriz 2, inciso II).
Para o código montenegrino, “vítimas de acidentes ou crimes tem direito a proteção
especial de seus nomes”, mas, assim como o alemão, afirma que exceções podem ser
46
permitidas se a vítima for uma figura pública ou se houverem circunstâncias especiais
acompanhando o acontecimento (artigo 8°, inciso I, alínea d). O código norueguês aconselha
os jornalistas a sempre considerarem “como as notícias sobre acidentes e crimes podem afetar
as vítimas e os mais próximos” (artigo 4°, inciso VII). Orienta também, no mesmo inciso,
para que os profissionais “não identifiquem vítimas ou pessoas desaparecidas a não ser que os
mais próximos tenham sido informados”, além de dizer que “consideração especial deve ser
demonstrada ao se reportar sobre casos ainda sendo investigados”. Não foi o que ocorreu em
relação ao sequestro de Eloá e Nayara por parte da mídia televisiva. RedeTV!, Rede Globo e
Rede Record realizaram entrevistas com Lindemberg sem a autorização da PM-SP.
A RedeTV! foi a primeira emissora a entrar em contato com o sequestrador. Na tarde
de 15 de outubro de 2008, segundo dia do cativeiro de Eloá e Nayara, Sônia Abrão,
apresentadora de A Tarde É Sua, programa veiculado pela emissora, entrevistou Lindemberg
ao vivo, via telefone. Durante a mesma edição do programa, foi exibida também uma
entrevista que o repórter Luís Guerra havia gravado com Lindemberg e Eloá. Os produtores
do programa haviam conseguido o número do celular do sequestrador através de familiares
dele. Apesar de outras emissoras também terem entrevistado o criminoso38, a atuação da
RedeTV! foi a única que gerou uma tentativa de punição39. Este acontecimento leva à outra
falta ética analisada em relação ao caso – a atuação da mídia como mediadora das
negociações pela libertação de Eloá e Nayara, o que pode ser percebido claramente através
dos diálogos entre os envolvidos no crime e as personalidades da mídia40.
Novamente, não se trata, juridicamente falando, de ato ilícito, apenas de abuso da
prerrogativa de liberdade de imprensa. Em relação à maneira como a informação foi obtida, a
jurisprudência garante, no entanto, que se faz necessária a exigência de alvará judicial para a
participação de menores de idade em programas de televisão, conforme interpretação do
Superior Tribunal de Justiça (STJ) para o artigo 149, inciso II, do ECA, que afirma que a
38 A Globo exibiu uma entrevista com Lindemberg durante o Jornal Hoje. A Record veiculou uma entrevista com ele no SP Record e, segundo a emissora, teria obtido autorização da PM-SP para entrevistá-lo, o que foi contestado pela assessoria da polícia. As outras duas grandes emissoras comerciais do país, Bandeirantes e SBT, não exibiram entrevistas com Lindemberg. Segundo a assessoria do SBT, o advogado dele teria entrado em contato com a emissora para oferecer uma entrevista. O departamento de jornalismo do SBT, no entanto, teria recusado a oferta para “não fazer sensacionalismo com a situação”.
39 Em 1° de dezembro de 2008, o MPF-SP abriu uma ação civil pública na Vara Cível da 1ª Subseção Judiciária de São Paulo contra a RedeTV!, pedindo indenização de R$ 1,5 milhão por danos morais coletivos. Segundo o portal Comunique-se, a procuradora Adriana da Silva Fernandes, do MPF-SP, também encaminhou ao MPF-RJ um pedido de instauração de ação civil pública contra a Globo (cuja sede se localiza no Rio de Janeiro), mas não se tem conhecimento sobre o ajuizamento de tal ação. Não foram ajuizadas ações contra a Record porque, segundo o MPF-SP, não houve representação pública contra a emissora.
40 Ver anexo 5.
47
participação de crianças e adolescentes em espetáculos públicos será autorizada pela
autoridade judiciária através de alvará. Já no que concerne à atuação da mídia como
mediadora das negociações, é possível observar uma violação de preceito constitucional, uma
vez que a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 227, impõe como dever de toda a
sociedade assegurar à criança e ao adolescente, dentre outros, o direito à vida, o que foi
colocado em risco pela atuação dos repórteres de televisão que entrevistaram o sequestrador.
A ética normativa, assim como a legislação, não é abrangente em relação a esse tipo de
situação.
O código da Fenaj não trata da questão de maneira frontal. Em relação à maneira como
foi obtida a informação, afirma que “o jornalista não pode divulgar informações obtidas de
maneira inadequada”, salvo em casos de incontestável interesse público (artigo 11). O artigo
5° do código britânico/irlandês diz praticamente a mesma coisa, assim como quase todos os
códigos analisados,41 em maior ou menor nível, sendo esta, portanto, uma das premissas
universalmente aceitas da boa prática jornalística. A entrevista veiculada pela RedeTV! foi
obtida de maneira inadequada, pois além da PM-SP não ter autorizado a ação da emissora
(como afirma não ter autorizado das demais emissoras também), esta ainda descumpriu
recomendação do Ministério Público Federal em São Paulo (MPF-SP)42. De maneira geral, os
limites que devem ser observados pelo jornalista na obtenção de informações durante a
cobertura de crimes que se desenrola em tempo real não é uma questão encarada
explicitamente pela maioria dos códigos analisados, com exceção de três deles – o alemão, o
francês e o montenegrino. Cabe, no entanto, fazer a ressalva de que, apesar disso, boa parte
dos artigos analisados em relação ao aspecto anterior – o respeito às vítimas de crimes –
poderiam ser aplicados também em relação a esse aspecto.
Apesar de ser o mais antigo dos códigos analisados, a Carta de Deveres dos Jornalistas
Franceses trata indiretamente da questão em seu artigo 14, onde afirma que o jornalista não
pode “confundir seu papel com o de um policial”, ou seja, sua função social não é mediar
diretamente os conflitos. Já os códigos alemão e montenegrino afirmam, sem grandes
alterações na tradução de um para o outro, que o jornalista “não deve tomar medidas
independentes para mediar entre criminosos e policiais”, orientando os profissionais da
41 Os códigos chileno, peruano e sueco não fazem referência à maneira como deve ser obtida a informação. O código norueguês se refere apenas à utilização de câmeras escondidas e de identidade falsa.
42 Seguindo a jurisprudência citada anteriormente, o MPF-SP expediu, em 10 de setembro de 2008, a recomendação número 72/2008 à RedeTV!, com a intenção de que a emissora obtivesse autorização judicial antes de exibir menores de idade em sua programação. Isto se deu após a utilização do menor G.L.N. em encenação exibida no programa Superpop em 6 de novembro de 2007. A emissora alegou, à época, não ter conhecimento de que se tratava de um menor de idade.
48
categoria a não fazerem entrevistas com perpetuadores de atos de violência. O montenegrino,
no entanto, diz que tal situação pode ocorrer se for “necessário para o interesse público para
cobrir o evento corretamente e imparcialmente” (artigo 10, inciso II).
Por outro lado, se certos códigos forem interpretados a partir da perspectiva da ética
estratégica, no sentido de que os fins (informar a população e oferecer aos patrocinadores uma
grande audiência) justificam os meios (obter a informação de maneira inadequada e interferir
no desenrolar dos fatos), a ação das emissoras que entrevistaram o sequestrador pode ser
considerada correta. Segundo o código colombiano, o jornalista “dará as notícias sobre
violência, corrupção, catástrofes e crises com o propósito prioritário de promover soluções”
(artigo 11, inciso III). Já o código da Ordem Chilena dos Jornalistas afirma, em seu artigo 28,
que é dever do jornalista ajudar a sociedade a melhorar a relação entre seus membros. Foi
valendo-se dessa perspectiva que Nelson Hoineff, presidente do Instituto de Estudos de
Televisão, afirmou que o “furo jornalístico” da RedeTV! foi um ato louvável e que “não tem
nada de pernicioso em correr atrás de um furo desses”43.
Apesar de ser algo difícil de precisar, a atuação da mídia televisiva pode ter tido
influência no desfecho trágico do sequestro, segundo algumas análises. Para Rodrigo
Pimentel, sociólogo e ex-comandante do Batalhão de Operações Policiais Especiais da PM-
RJ44, os repórteres que entrevistaram Lindemberg deixaram-no ainda mais nervoso e
atrapalharam as negociações. Segundo ele, “o telefone do Lindemberg estava sempre ocupado
e o capitão Adriano Giovaninni45 não conseguia falar com ele porque a Sonia Abrão queria
entrevistá-lo”. Pimentel também apontou a falta de conhecimento, por parte dos repórteres,
das técnicas utilizadas pela polícia para conduzir negociações46. Conforme apontaram
Vanderson Freizer, J.R. Reicinaer e Setve von Sherrie em análise no Observatório da
Imprensa47, após o assédio da imprensa Lindemberg passou de um rapaz simples a “príncipe
do gueto”, maneira pela qual o sequestrador passou a se identificar. Para Ligia Martins de
43 HADDAD, Camilla e Jimenez, Keila. “Gate queria impedir TV de falar com invasor”. Estadão. 16 de outubro de 2008. Disponível em: <http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,gate-queria-impedir-tv-de-falar-com-invasor,260758,0.htm>. Acesso em: 26 set. 2011.
44 Disponível em: <http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI3270057-EI6578,00-Pimentel+midia+foi+criminosa+e+irresponsavel.html>. Acesso em: 28 set. 2011.
45 Negociador da PM-SP que foi o principal responsável pela interlocução com o sequestrador.
46 Segundo Pimentel, o argumento técnico utilizado pelos negociadores é de que a pena por sequestro é menor do que a de assassinato, o que nenhum repórter disse a Lindemberg.
47 FREIZER, Vanderson, Reicinaer, J.R., Sherrie, Steve von. “Uma sequência de erros”. Observatório da Imprensa. Edição 509. 28 de outubro de 2008. Disponível em: <http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/uma-sequencia-de-erros>. Acesso em: 22 set. 2011.
49
Almeida, em análise para o mesmo site48, o rapaz se descontrolou ainda mais após ter virado o
centro das atenções da imprensa, o que resultou na morte de Eloá. A mídia, na cobertura desse
caso, estaria apenas agindo conforme seu modus operandi, se tomarmos como base a
afirmação de Ciro Marcondes Filho (apud BUCCI, 2002, p. 134) de que um dos maiores
pecados da imprensa brasileira é justamente incitar os conflitos.
Ainda em relação à maneira como a notícia foi obtida, cabe observar que Luís Guerra,
repórter de A Tarde É Sua, não se identificou como tal ao telefonar para Lindemberg. Alguns
códigos analisados condenam esta prática. Para a Fenaj, apenas o “incontestável interesse
público” justifica o uso de identidades falsas (artigo 11, inciso III). Igualmente, o código
norueguês, que não condena o uso de métodos ilícitos na obtenção de informação, diz que
“câmeras escondidas e identidade falsa só podem ser usadas (...) se tal método for a única
maneira possível de revelar casos de essencial importância para a sociedade” (artigo 3, inciso
X). A SPJ norte-americana defende que o jornalista deve “evitar disfarces ou outros métodos
furtivos de obter a informação, exceto quando os métodos abertos tradicionais não irão
proporcionar informação vital ao público” (artigo 8°). Para o código alemão, os jornalistas
“devem, como princípio fundamental, se identificar como tal” (artigo 4°, diretriz 1). Para o
código montenegrino, “os jornalistas devem normalmente usar métodos abertos de obter a
informação, no qual eles claramente se identificam como tal” (artigo 6°, inciso I, alínea b). Os
outros códigos não condenam a prática, mas pode-se argumentar que não se apresentar como
jornalista perante uma fonte também é um método desleal de se obter a informação, o que é
universalmente desaconselhado pela deontologia, conforme indicado anteriormente.
Outra distorção observada em relação ao caso do sequestro de Santo André ultrapassa
os limites da ética normativa. Trata-se do excesso de dramatização do conflito, que foi
praticamente transformado numa telenovela da vida real. Segundo Ligia Martins de Almeida
(2008), “o que se viu na cobertura televisiva do fato foi um reality show ao vivo”, utilizado
com a finalidade única de aumentar a audiência das emissoras e, consequentemente, oferecer
maior audiência aos patrocinadores. Para a procuradora federal Adriana da Silva Fernandes
(2008), que abriu a ação civil pública contra a RedeTV!, “não só o drama de Eloá foi tratado
como entretenimento, em flagrante desrespeito à sua condição de pessoa em desenvolvimento,
como também a emissora a inseriu como atração principal em seu programa”. De fato, o caso
analisado foi um bom exemplo da confecção da realidade apontada por Bucci (2002).
48 ALMEIDA, Ligia Martins de. “Em vez de notícia, novela barata”. Observatório da Imprensa. Edição 508. 21 de outubro de 2008. Disponível em: <http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/em-vez-de-noticia-novela-barata>. Acesso em: 22 set. 2011.
50
Tal situação se dá quando a mídia se vale da realidade para seduzir e emocionar o
público. Os personagens eram reais e, ao mesmo tempo, fabricados. Reais porque tinham, de
fato, lugar no mundo terreno, como pessoas de carne e osso. Fabricados porque eram exibidos
de maneira mais dramática do que factual. Emergiram como mocinhos e vilões no noticiário.
Segundo Freizer, Reicinaer e von Sherrie (2008), a primeira visão que o Brasil teve de
Lindemberg foi a de um rapaz apaixonado que queria reatar o namoro. Era trabalhador,
honesto, atencioso e divertido. Em questão de horas, se transformou numa pessoa fria,
agressiva e ciumenta. Já Eloá e Nayara, segundo os autores, foram exibidas como “mocinhas
que jamais cometeram erros na vida”. Conforme aponta Bucci (2002), essa confecção da
realidade sempre se fez presente na mídia, mas se intensificou violentamente nas últimas
décadas, potencializado pela televisão. Ele cita, como exemplo disso, a forma com que
Muhammar Kadhafi – ditador líbio, recentemente deposto e morto por rebeldes49 – e Fidel
Castro sempre foram retratados: “eternos demônios no circo da notícia”.
Dessa forma, a mídia constrói uma realidade isolada do mundo real. Para Bertrand
(1999), a maior parte dos meios não leva em conta a complexidade do real e, como
consequência, abusam de estereótipos, dividem os personagens de conflitos em bons e maus,
reduzem os fenômenos a indivíduos e discursos a frases. Segundo Freizer, Reicinaer e von
Sherrie (2008), a maneira como os programas de televisão exploraram o sequestro de Santo
André deu aos telespectadores a impressão de que o assassinato de Eloá era uma ocorrência
isolada da realidade. “Esqueceram de mostrar que o bairro onde Eloá residia é um dos mais
violentos da cidade de Santo André”, afirmam os autores. Eles apontam ainda que o local
abriga inúmeras pessoas viciadas em drogas e envolvidas no tráfico e até mesmo fugitivos da
polícia, como é o caso de Everaldo Pereira dos Santos, pai de Eloá, acusado de dois
assassinatos no estado de Alagoas. A impressão que ficou, para os mais desatentos, foi aquela
de que o Brasil é um país pacífico onde raramente acontecem crimes desse tipo. Ao contrário
disso, acontecem 131 homicídios por dia no país50, muitos dos quais em circunstâncias até
piores do que o de Eloá.
49 AFP. “"Ele gritou como um porco", diz mercenário sobre morte de Kadafi”. Terra. 23 de outubro de 2011.
Disponível em: <http://noticias.terra.com.br/mundo/africa/intervencaonalibia/noticias/0,,OI5430198-EI17839,00-Ele+gritou+como+um+porco+diz+mercenario+sobre+morte+de+Kadafi.html>. Acesso em: 6 nov. 2011.
50 Zero Hora. “Brasil ocupa sexto lugar na taxa de homicídios no mundo”. Clic RBS – Portal Social. 31 de março de 2010. Disponível em: <http://www.clicrbs.com.br/especial/rs/portal-social/19,0,2857572,Brasil-ocupa-sexto-lugar-na-taxa-de-homicidios-no-mundo.html>. Acesso em: 6 nov. 2011.
51
A maneira através da qual a mídia torna alguns casos mais sensíveis ao público se dá
num cenário onde a fronteira entre jornalismo e entretenimento é cada vez menos nítida e a
grande imprensa impregna todos seus produtos com algum tipo de entretenimento. Segundo
Bertrand (1999), os limites entre jornalismo e entretenimento nunca foram claros. Bucci
(2002) aponta, no entanto, que o cenário se tornou ainda mais alarmante a partir da formação
dos grandes conglomerados de mídia a partir da década de 1980, quando grupos econômicos
que antes exploravam o entretenimento começaram a se fundir com aqueles até então
dedicados ao jornalismo. Conforme aponta o autor, “à medida que as empresas jornalísticas
foram sendo engolidas pelos conglomerados da mídia (...), ocorreram alterações na
organização social da cultura e no ambiente específico da imprensa”, sendo que “a
aproximação com o entretenimento não é apenas econômica – é cultural” (BUCCI, 2002, p.
141). Assim sendo, o noticiário atual constrói pequenas telenovelas diárias ou semanais cujos
protagonistas são tipos da vida real absorvidos por uma narrativa que se assemelha à ficção51.
Isto se dá num quadro onde o jornalismo disputa mercado não apenas com outros
veículos informativos, mas também com as opções de lazer. Assim sendo, precisa ser
envolvente ou perde seu público – realidade especialmente presente no telejornalismo.
Bertrand (1999) alerta, no entanto, que é indispensável à mídia que fornece entretenimento
servir bem a seu público, pois ela também fornece informação e formação. Ainda segundo ele,
o fim almejado por este tipo de mídia deve ser uma distração que não seja nociva para o
indivíduo ou para a sociedade. Não foi o que se verificou em relação ao caso analisado, onde
a dor e o sofrimento alheio, graças à mídia, serviram de distração a milhões de brasileiros – e
a atuação da mídia poder ter influenciado no desfecho trágico de Eloá. Ao invés de agregar
informação útil para o público, a mídia satisfez a curiosidade mórbida do mesmo, aspecto
condenado por ambos os autores e também pelo código colombiano52.
Diante deste cenário, o interesse público pode estar em risco. Para Bertrand, “quando
os meios de comunicação fazem parte de conglomerados, um vasto poder político encontra-se
à disposição de algumas personagens que não têm como preocupação principal informar o
público” (1999, p. 58). A preocupação passa a ser obter lucros a partir de uma atividade que é
o sistema nervoso da democracia. É fato que, para poder continuar informando, uma empresa
de comunicação precisa conquistar uma audiência suficiente para lhe permitir vender seu
produto e atrair anunciantes. Mas estes não devem ser os objetivos ideais dos jornalistas. 51 Segundo Bucci (2002), a sequência dramática do telejornalismo brasileiro é precisamente melodramática, seguindo a estrutura narrativa das telenovelas, que fundaram no público o gosto pela televisão. Este seria, segundo o autor, o estilo pelo qual a imagem preside o noticiário no Brasil.
52 “O jornalista deve se abster de explorar a morbidez do público e a curiosidade doentia” (artigo 7°, inciso II).
52
Conforme aponta Cornu (1998), desta tensão emerge a dificuldade de conciliar o interesse
público, ideia baseada na função da informação na democracia, e os interesses do público,
noção relacionada à comercialização das notícias. A cobertura do caso analisado serviu a esta
segunda visão, pois a imprensa não atuou no sentido de engrandecer o debate público53. Atuou
apenas no sentido de emocionar o público para obter audiência numerosa e, com isso,
satisfazer os anunciantes. Para Bucci (2002), quando o jornalismo emociona mais do que
informa, tem-se a negação da função fundadora da profissão, ou seja, promover o debate das
ideias no espaço público. Em relação ao Brasil, o autor diz ainda que há uma “deformação do
espaço público” provocada pelo oligopólio na televisão54, que monologa no país.
Conforme aponta Bucci (2002), a matéria-prima do jornalista é a informação que
interessa à cidadania, o que o subordina aos padrões morais vigentes para os cidadãos, sendo
estes que delegam a ele o direito de ser jornalista. Ele é um representante da sociedade e,
assim sendo, deve ser regido pelos mesmos princípios que pautam o comportamento público
dos indivíduos, o que não significa estar subjugado por preconceitos; significa apenas que ele
é instado a dialogar com a moral vigente. Para o autor, “quem é pago para informar o cidadão
e publica aquilo que não gostaria de ouvir em sua própria casa está traindo a delegação de que
está investido” (BUCCI, 2002, p. 153). Não se trata de decretar um bom gosto acima da
sociedade, mas de algo que pode ser a expressão daquilo que a sociedade em sua média deseja
como padrão de convivência, diálogo e formação. Quem dita esse padrão, aponta Bucci
(2002), não é a curiosidade perversa do público, mas o interesse público. Por isso o
sensacionalismo é eticamente reprovável, pois ele se curva ao preconceito, intensificando-o.
A RedeTV!, em resposta à ação civil pública ajuizada pelo MPF-SP, alegou ser vítima
de “censura”. No entanto, o interesse público em relação ao caso Eloá foi criado pela própria
mídia que, ela mesma, censura inúmeros casos semelhantes que ocorrem diariamente Brasil
afora. O ponto crítico do debate, aponta Bucci (2002), não é a informação sensacional em si,
mas o modo como ela é explorada. A privacidade dos menores de idade não é uma zona
proibida, mas um limite socialmente imposto. O dilema não está em invadi-la ou não; está nos
critérios socialmente justificáveis para abordá-la e a maneira correta de fazê-lo. Conforme
aponta o mesmo autor, quando a intimidade alheia se presta à extração de lucro da curiosidade
53 A mídia poderia, por exemplo, ter proposto um debate sobre violência contra a mulher e até mesmo sobre a atuação da polícia, que foi muito criticada. Conforme apontam Freizer, Reicinaer e von Sherrie, a realidade não foi enfrentada pela imprensa na cobertura do caso Eloá. Para Bucci (2002), o jornalismo que cobre a criminalidade e a sexualidade pode ter um efeito educativo. Segundo ele, o mau gosto não está no assunto e nem na linguagem; está na orientação da cobertura.
54 Segundo matéria da BBC sobre a concentração da mídia no mundo, Edir Macedo, Silvio Santos e a família Marinho controlam quase 70% do mercado de televisão no Brasil.
53
perversa do público, o problema não está apenas na privacidade invadida. O jornalismo
desrespeita os padrões de elegância. É indiscutível, no caso analisado, que faltou elegância
por parte da mídia ao lidar com aquela situação delicada. Pode-se afirmar que a invasão da
privacidade de Eloá não respeitou nem mesmo sua vida, que se encontrava em risco.
Diferenciar o interesse público da curiosidade mórbida do público seria um bom caminho para
evitar os excessos. Entretanto, volta-se à questão do preconceito de classes, onde cabe
questionar se o drama de Eloá teria se transformado em telenovela caso ela tivesse maior
status financeiro.
Cabe ainda, em relação aos três casos analisados, a observação de Bucci (2002) de que
o êxito por si só não torna eticamente aceitável a conduta daquele que age para atingir a um
determinado fim. O jornalista não age para obter resultados que não que não sejam o de bem
informar o público; ele não tem, na teoria, autorização para perseguir outros fins que não seja
este. Quando o faz, está traindo a delegação à qual foi investido. O reconhecimento
constitucional da liberdade de imprensa, que legitima a atividade jornalística, só existe porque
os cidadãos têm o direito à informação – garantido em todo o mundo democrático, sobretudo
depois da promulgação da Declaração Universal dos Direitos do Homem em 1948, e
garantido também no Brasil pelo artigo 5°, inciso IX, da Constituição Federal de 1988. Caso
contrário, tornar-se-ia dispensável a proteção constitucional garantida às empresas de
comunicação social; bastariam as proteções garantidas às outras atividades comerciais.
Por sua vez, a ética normativa existe para antecipar a aplicação do Direito através dos
princípios de autorregulamentação da categoria. Uma atuação pautada por valores éticos por
parte da RedeTV! em relação ao drama de Eloá e Nayara, por exemplo, evitaria o ajuizamento
de uma ação contra a emissora na Justiça. O MPF-SP foi instado pela sociedade a agir em
defesa de valores morais que foram desrespeitados pela emissora na condução de sua
cobertura. Assim sendo, não faz muito sentido a RedeTV! falar em censura. Seu dever,
enquanto concessão pública, é oferecer à população informação sem ofender-lhe moralmente.
É em nome do direito à informação que o Estado, representando a sociedade, concede os
canais para que se tornem objeto da atividade comercial. O cidadão é o dono das frequências
exploradas pela iniciativa privada. Portanto, ele – seja através do MPF ou através de
iniciativas diretas – tem legitimidade para exigir que essa exploração não o desrespeite sem
ser acusado de “censor”.
Após a análise dos três casos – a revelação do nome do infrator Ezequiel Toledo Silva,
a exibição do rosto do menor acusado de matar Marco Jara e a espetacularização da violência
contra Eloá Pimentel e Nayara Fernandes –, pode-se chegar à conclusão de que os princípios
54
que deveriam regular a atuação profissional dos jornalistas, muitos dos quais aceitos de
maneira praticamente universal entre as entidades da categoria nas sociedades ocidentais, não
são levados em consideração na prática. É fato que o campo da ética é algo delicado, onde
valores pessoais (moral) se confundem com normas pré-definidas pelo conjunto dos
profissionais (deontologia). No entanto, isso não deveria impedir um debate que favorece
tanto o destinatário final da atividade jornalística – o público – quanto os próprios meios de
comunicação que, com a credibilidade renovada, conseguem se manter atrativos tanto para o
público quanto para os anunciantes, além dos próprios jornalistas, que garantem sua
independência frente ao poder público graças também à credibilidade atribuída à mídia em
geral. Ao contrário disso, o que se percebe, é uma atitude de afastamento voluntário da
discussão, tanto por parte das empresas quanto por parte dos profissionais que nelas atuam. O
público, por sua vez, não é habituado a lutar a favor de uma imprensa de qualidade, apesar de
reconhecer as faltas éticas dos meios e os perigos trazidos por elas.
Feita esta constatação de que a deontologia jornalística não é respeitada, cabe analisar
as razões que impossibilitam a efetivação de uma ética normativa da categoria na prática.
Mais do que isso, cabe fazer uma consideração sobre quais são os mecanismos que podem
garantir a efetivação de uma ética jornalística. Conforme apontado anteriormente, a
importância de tal debate situa-se no fato de que é essencial para a democracia que os meios
de comunicação funcionem bem.
55
3 – EMPECILHOS À EFETIVAÇÃO DA ÉTICA
A partir dos casos analisados, é possível perceber uma série de empecilhos à
efetivação da ética normativa do jornalismo. Pode-se dividi-los em duas categorias: uma
macro, as limitações, e outra micro, as lacunas. As limitações estão ligadas à maneira como a
mídia se organiza em cada sociedade, sendo o mercado um dos fatores determinantes. São os
limites impostos por fatores externos à atuação dos jornalistas. As lacunas, por sua vez, se
relacionam aos limites impostos pela própria atuação e pela cultura profissional dos
jornalistas. A principal delas é o limite dos próprios códigos de ética, visto que as normas têm
uma série de interpretações e que elas se tornam obsoletas à medida que a sociedade evolui.
Outra lacuna ética é a atuação dos órgãos da categoria que, por sua vez, estão em quase sua
totalidade desprovidos de poder de sanção ou sequer consideram valer-se desse artifício para
garantir que a deontologia prevaleça. Bucci (2002) descreve também, no caso dos jornalistas
brasileiros, certa relutância em permitir que a sociedade participe dos debates sobre a atuação
da categoria, algo que define como “autossuficiência ética”. Dessa concepção emana, em
parte, a noção de que a mídia pode atuar como um tribunal, substituindo o papel Estado.
Segundo Bucci (2002), para analisar os problemas do jornalismo no que diz respeito à
deontologia é preciso considerar o fato de que assim como as redações não existem à margem
das empresas, estas têm seu lugar na sociedade, marcada pelas relações de poder e de
dominação. Bertrand (1999) vai além e diz que é preciso reconhecer a tripla natureza da
mídia. Ela é ao mesmo tempo, segundo o autor, indústria, serviço público e instituição
política. A mídia possui garantias constitucionais que lhe definem como um serviço público.
O direito à informação que os indivíduos possuem nas sociedades democráticas legitima a
atuação dos meios de comunicação, o que significa que eles atuam em nome dos cidadãos. A
mídia enquanto indústria, por sua vez, existe como consequência da comunicação de massas.
Na medida em que a imprensa se desenvolvia no início do século XX, nos países ocidentais,
passou a existir uma organização capitalista dentro dos órgãos de comunicação. A mídia
existe enquanto instituição política a partir do momento em que adquire o poder de influenciar
nos rumos dos Estados democráticos. Por ser um poder controlado por pessoas que não são
eleitas ou nomeadas por seus méritos, ele parece violar o princípio da democracia. Para
Bertrand (1999), a mídia só consegue contornar esse problema se adotar mecanismos de
prestar contas ao público.
56
3.1 – LIMITAÇÕES IMPOSTAS PELO MERCADO E PELO PODER ECONÔMICO
A partir da organização da imprensa enquanto indústria é possível observar vários
obstáculos à atuação deontologicamente correta dos jornalistas. É possível afirmar, aliás, que
o poder econômico representa a principal limitação à ética jornalística. Isto se dá devido ao
fato de que o equilíbrio financeiro das empresas de comunicação é a principal meta de seus
donos. Na medida em que os meios de comunicação foram adquirindo o status de indústria de
massa, passaram a depender cada vez mais da publicidade, sendo esta a responsável por
grande parte dos rendimentos da mídia na atualidade. Assim sendo, verifica-se, no âmbito das
empresas, uma tensão constante entre o objetivo prioritário de conquistar uma audiência
suficiente que permita aos meios atrair anunciantes com os ideais do jornalismo de fornecer
ao público informações relevantes. O conflito passa a existir porque nem sempre os interesses
dos dois clientes da imprensa comercial – publicidade e público – são compatíveis. Para tentar
solucionar esse problema, aponta Bucci (2002), as empresas formularam um método
conhecido como “Igreja–Estado”55, que consiste em dividir a empresa em duas partes
autônomas: a redação e o departamento comercial.
Pela fórmula, uma experiência bem sucedida de Henry Luce, fundador da revista
norte-americana Time, um anunciante, ao comprar uma página em uma revista ou jornal, não
tem alimentadas as expectativas de que as reportagens reservarão a ele um tratamento
diferenciado. Conforme descreve Bucci (2002, p. 65), no entanto, “apenas a ‘filosofia’ é
essa”, uma vez que ainda é muito comum que “anunciantes inibam um determinado tema ou
que sugiram outros com alto índice de sucesso”56. Isso ocorre, em parte, devido à crença de
que a existência da imprensa depende da publicidade. Conforme aponta o autor, os
anunciantes só optam pela publicidade em determinado veículo devido à relação de confiança
que este estabeleceu com seu público ao longo de sua existência. Se essa relação for abalada
através do favorecimento dos anunciantes em matérias jornalísticas, a empresa perde leitores
e, consequentemente, perde publicidade.
55 Baseando-se na concepção de laicidade dos Estados ocidentais, o método propõe que o jornalismo (“Igreja”) isole-se do negócio (“Estado”) para resguardar a qualidade da informação e das relações de negócio da empresa. De forma semelhante, na modernidade o Estado se laiciza e a Igreja se desobriga da gestão mundana da coisa pública. Assim sendo, a relação entre eles acaba sendo mais de diálogo do que de submissão mútua.
56 Pode-se citar como exemplo a campanha “Ilegal, e daí?”, iniciada pelo jornal carioca O Globo em 2006 com o intuito de mobilizar seus leitores a favor do despejo de 67 famílias da Comunidade Arroio Pavuna. Segundo a revista Caros Amigos (ed. 136, julho de 2008, p. 42), “coincidência ou não, O Globo costuma receber anúncios da construtora Carvalho Hosken S/A”, a mais beneficiada com os despejos em comunidades carentes na Zona Oeste do Rio de Janeiro.
57
Vale ressaltar, no entanto, que no rádio, nos portais de livre acesso da internet e na
televisão aberta a situação é diferente. O telespectador, ouvinte ou internauta não é um cliente
direto dos veículos, pois não precisa pagar para ter acesso ao conteúdo disponibilizado. Assim
sendo, as empresas que atuam nesses setores têm como única fonte de receita os anunciantes.
No entanto, segundo Bucci (2002, p. 66), “é preciso ostentar a imagem de independência, pois
a simples expectativa de independência vai se tornando inegociável para a opinião pública”.
Pode parecer contraditório, mas para se manter um ator político influente na sociedade, essas
empresas precisam abdicar de favorecer – pelo menos de maneira explícita – seus aliados. Isto
se dá, segundo Bucci (2002), devido ao amadurecimento do senso crítico do público, que
estabelece parâmetros em relação àquilo que espera do jornalismo.
Apesar de possibilitar a abertura de canais para que a independência jornalística seja
preservada, o método “Igreja–Estado” é uma solução de mercado, com as virtudes e os
problemas do mesmo. É seguro afirmar que as empresas de comunicação só investem no
modelo devido aos lucros que ele pode trazer. Não faz parte do método a pretensão de fazer
cessar as tentativas dos anunciantes de controlar o conteúdo dos veículos e tampouco é capaz
de salvaguardar o interesse público em determinadas situações. São inúmeros os casos que
ilustram interferências bem sucedidas da publicidade no jornalismo. Bertrand (1999) cita o
fato de que a mídia norte-americana, por pressão da indústria tabagista, uma das maiores
anunciantes da mídia até então, manteve-se calada até a década de 196057 sobre relatórios
oficiais que indicavam a relação entre o fumo e as doenças fatais. Tais documentos
começaram a ser publicados desde pelo menos os anos 1930. E, mesmo assim, em 1990,
segundo o autor, uma firma que desejava fazer uma campanha publicitária contra o tabagismo
enfrentou a recusa das maiores revistas do país em publicar seus anúncios. Nesse caso, a
pressão da publicidade contra a divulgação da informação não foi exercida por uma empresa
ou outra, mas por uma indústria como um todo e, assim sendo, o método “Igreja–Estado”
mostrou-se incapaz de fazer com que os meios resistissem às pressões.
Não obstante à pressão que as empresas fazem aos veículos de comunicação enquanto
anunciantes, deve-se considerar também as pressões que elas fazem aos jornalistas
individualmente. Conforme aponta Cornu (1998, p. 53), “os ‘presentinhos’ são a verdadeira
praga da profissão”. É comum às empresas, que têm por objetivo transformar a imprensa em
simples distribuidora da informação elaborada por seus assessores, preverem esse tipo de
agrado em seus orçamentos para o campo da comunicação. Isto ocorre, segundo Cornu (1998,
p. 55), porque “os jornalistas prestam serviços contra uma remuneração quase sempre
57 Segundo Bucci (2002), o método “Igreja–Estado” começou a ser adotado ainda na década de 1920.
58
desproporcionada”. Conforme aponta Bertrand (1999, p. 97), “na Índia, na Rússia, na
América Latina, muitos jornalistas não podem sobreviver só com seus salários”58. Conforme
aponta Bucci (2002), o problema não é dos indivíduos, mas da estrutura da profissão. Além
do suborno, a baixa remuneração traz ainda o problema dos jornalistas que acumulam a
função de repórter ou editor com a de assessor de imprensa, jornalista contratado por uma
empresa ou personalidade pública para divulgar sua imagem positivamente. Para Bucci
(2002), o jornalista que também atua como assessor de imprensa incorre num conflito de
interesses elementar, pois coloca em xeque a cobertura que será feita de seus assessorados.
A interferência do mercado na prática jornalística, através da publicidade ou de
suborno aos repórteres, é apenas uma das limitações que o poder econômico impõe à
deontologia jornalística. Ela não representa uma ameaça tão grande ao jornalismo, eticamente
falando, quanto à oligopolização da imprensa, que atualmente, em boa parte do mundo
ocidental, se vê inserida dentro de imensos conglomerados midiáticos. Conforme indica Bucci
(2002), o método “Igreja–Estado” se torna cada vez mais obsoleto e anacrônico diante dessa
nova realidade, uma vez que as pressões contra a divulgação de determinada informação
agora emanam também de dentro dos próprios grupos em que os veículos informativos estão
inseridos, que não se dedicam mais ao jornalismo de maneira exclusiva, sendo este, em
muitos casos, um departamento secundário do conglomerado59. Assim sendo, segundo o autor,
“o velho tópico do conflito de interesses assume outro porte, maior e mais complexo”
(BUCCI, 2002, p. 119). Perde-se a relação de equivalência entre o direito à informação do
cidadão e a independência da empresa. Como esta não é mais apenas uma empresa
jornalística, sua independência financeira e política não se traduz em independência editorial.
O jornalismo pode estar atado aos interesses do grupo em outras áreas econômicas.
No Brasil é possível observar alguns exemplos desse fenômeno. O Grupo
Bandeirantes de Comunicação, dono de 47 veículos60, apesar de não estar oficialmente ligado
ao agronegócio, tende a defender os interesses dos grandes produtores rurais, sendo comum
veicular matérias contra as ações do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST).
58 A baixa remuneração também acarreta a dependência financeira dos jornalistas a seus patrões. Conforme aponta Bertrand (1999, p. 193), “no Terceiro Mundo (...), os jornalistas não se podem permitir pôr seu emprego em perigo”. Salvo se forem bem protegidos pela lei, pela categoria ou tiverem apoio do público, não podem, sob pretexto da deontologia, opor-se a seus patrões.
59 O melhor exemplo disso, no Brasil, é o Grupo Silvio Santos, que controla 195 veículos de comunicação e possui empresas nas mais variadas áreas (títulos de capitalização, concessionária de veículos, hotel, cosméticos e seguradora). Possuía também o Banco PanAmericano e as lojas do Baú Crediário, mas estes foram vendidos para o Banco BTG Pactual em janeiro de 2011 e para a Magazine Luiza em junho de 2011, respectivamente.
60 Segundo o estudo Donos da Mídia. Disponível em: <http://donosdamidia.com.br/grupo/21410>. Acesso em: 21 out. 2011.
59
A família Saad, dona do grupo, é proprietária de 16 fazendas, que possuem área total de 4,5
mil hectares61, no interior de São Paulo. O grupo possui, inclusive, um canal de televisão
voltado aos interesses dos agropecuaristas, o Terra Viva. Outro exemplo é a Central Record
de Comunicação, proprietária de 27 veículos62. Apesar de não estar oficialmente ligada à
Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), da qual sua diretoria faz parte, lançou uma
agência de viagens com o intuito de promover o primeiro “cruzeiro marítimo gospel” do
país63. Da mesma forma que os veículos da Band não denunciam a deplorável situação
fundiária do país, os veículos da Record ignoram as denúncias de lavagem de dinheiro contra
membros da IURD e, ao contrário, exibem extensas denúncias contra a Santa Sé no que diz
respeito aos casos de pedofilia envolvendo membros do clero católico64.
Diante disso, é possível constatar que as pressões exercidas pelo poder econômico
contra o jornalismo estão mais fortes do que nunca. Para Bertrand (1999), esse cenário de
relativa ausência de concorrência acarreta a mediocridade da mídia. Para o autor, é
inadmissível que um punhado de conglomerados tome conta de um serviço de utilidade
pública com a finalidade única de defender seus interesses próprios. Ele discorda da visão de
que o mercado por si próprio é suficiente para garantir bons serviços; na melhor das hipóteses,
permitiria apenas que a maioria se expresse e, na pior delas, a mídia se colocaria a serviço da
minoria abastada65. É, de certa forma, o que se verifica no Brasil. Segundo Peruzzo (2004)66,
os mais importantes meios de comunicação do país encontram-se sob a égide de dez
conglomerados ligados a famílias tradicionais, verificando-se, nesse cenário, a prevalência de
um discurso único na mídia, onde apenas a elite e a classe média possuem o direito de se
61 45 milhões de metros quadrados.
62 Segundo o estudo Donos da Mídia. Disponível em: <http://donosdamidia.com.br/grupo/21413>. Acesso em: 21 out. 2011.
63 JARDIM, Lauro. “Edir Macedo al mare”. Veja. 10 de março de 2010. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/blog/radar-on-line/tag/record-trips/>. Acesso em: 21 out. 2011.
64 REFKALEFSKY, Eduardo. “Estratégias de Comunicação da Igreja Universal do Reino de Deus, no Brasil, e dos Televangelistas nos EUA: um estudo comparado”. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação. 2005. Disponível em: <http://galaxy.intercom.org.br:8180/dspace/bitstream/1904/16752/1/R1249-1.pdf>. Acesso em: 21 out. 2011.
65 Para o autor, o capitalismo selvagem do século XIX é uma evidência de que, na ausência de regulamentação estatal, o mundo dos negócios não se preocupa com a responsabilidade perante seus consumidores e, por conseguinte, com a deontologia.
66 PERUZZO, Cicília M. Krohling. “Direito à comunicação comunitária, participação popular e cidadania”. Enciclopédia do Pensamento Comunicacional Latino-Americano. Março de 2004. Disponível em: <http://encipecom.metodista.br/mediawiki/index.php/Direito_%C3%80_Comunica%C3%A7%C3%A3o_Comunit%C3%A1ria,_Participa%C3%A7%C3%A3o_Popular_e_Cidadania>. Acesso em: 18 set. 2011.
60
expressar, visto que são os estratos sociais que controlam os meios e possuem poder
aquisitivo, respectivamente67. Dessa forma, a mídia defende a ordem estabelecida, pregando o
conservadorismo social e o liberalismo econômico. Assim sendo, instaura-se um cenário de
crise social, já que é impossível formar cidadãos conscientes através de um retrato incompleto
da realidade. Conforme aponta Bertrand (1999, p. 37), “para o homem comum, a maior parte
das regiões, das pessoas, dos assuntos dos quais a mídia não fala, não existem”.
Nesse cenário, onde a imprensa – a despeito dos ideais que a originaram68 – se tornou
apenas mais um componente do mercado, cada vez menos a preocupação desta é formar
cidadãos. Bucci (2002) alude à obra Mudança estrutural da esfera pública, escrita pelo
filósofo alemão Jürgen Habermas no início da década de 1960, para defender que, após o
advento da comunicação de massa, no início do século XX, o público deixou de ser a
instância que congrega as consciências livres, tendo desaparecido o ideal de opinião pública.
Enquanto os jornais do final do século XVIII eram produto da iniciativa dos cidadãos de se
comunicar e de debater problemas e ideias, os atuais veículos de comunicação de massa são
produtos do mercado. Não nascem da necessidade política do público e sim de uma
necessidade de mercado. E, conforme aponta Bertrand (1999), na medida em que a direção de
um veículo se preocupa primeiramente com a rentabilidade dele, não pode se encarregar da
deontologia. Pode tanto ocultar uma falta quanto incitar seu empregado a cometê-la.
Segundo Bucci (2002), o alicerce da imprensa se deslocou da cidadania para o
mercado. Assim sendo, à mídia comercial não interessa a formação de consciências críticas.
Ao contrário, interessa a formação de consumidores para serem vendidos aos anunciantes.
Deste modo, aponta Bertrand (1999), a mídia associa a felicidade ao consumo, espalhando
valores como egoísmo, cobiça e conformismo. Segundo este autor, na realidade criada pelos
meios os indivíduos estão sempre à busca de dinheiro ou fama, remédio fácil para seus
conflitos cotidianos, e os problemas, sejam eles políticos, econômicos ou sociais, se reduzem
a indivíduos, divididos em bons e maus. Daí o fato do cárcere privado de Eloá e Nayara ter
aparecido no discurso da grande mídia como uma ocorrência desconexa da violenta realidade
social brasileira. Além disso, aponta Bertrand (1999), as relações interpessoais se pautam pelo
conflito, sendo este geralmente resolvido pela briga ou pela morte.
67 Numa perspectiva semelhante, o crítico norte-americano A.J. Liebling afirma que “a liberdade de imprensa pertence àqueles que possuem uma imprensa” (apud Bertrand, 1999, p. 68). Ao tratar das emissoras de televisão brasileiras, Bucci (2002, p. 116) afirma que “o desequilíbrio entre os que podem opinar e os que não podem apresenta proporções continentais”.
68 Os ideais da imprensa, conforme definidos por Bucci (2002), podem ser resumidos na busca pela verdade, pela justiça, pelo bem-estar comum e pela emancipação cidadã dos indivíduos.
61
Nesse cenário de apropriação da função social da mídia por grandes grupos privados
cujo interesse primordial não é servir ao público e sim obter lucros, o discurso jornalístico se
confunde cada vez mais com a narrativa própria do entretenimento. Na busca desenfreada por
consumidores, ocorrências comuns – como os três casos analisados no capítulo anterior –
adquirem grandes proporções e se tornam passíveis de distorções éticas durante seus relatos.
Conforme afirmado no final do capítulo anterior, o excesso de dramatização da realidade foi
um dos principais problemas éticos percebidos em relação aos relatos oferecidos sobre o caso
Eloá, principalmente no que diz respeito à mídia televisiva, cujos profissionais chegaram ao
extremo de interferir nas negociações da polícia, talvez com a intenção de acirrar os ânimos
do sequestrador, – não importando as consequências que isso pudesse trazer para as vítimas
dele –, como forma de prender a atenção do telespectador. De maneira geral, todas as faltas
éticas percebidas em relação a este caso foram impulsionadas ou agravadas por essa confusão
entre jornalismo e entretenimento que, devido à cultura empresarial de maximização do lucro,
se impõe com intensidade cada vez maior dentro das redações.
Sendo o lucro cada vez mais venerado pela imprensa comercial, a deontologia acaba
relegada ao segundo plano, se tornando válidos praticamente todos os meios de obtenção da
notícia. Vale tanto explorar a dor da mãe de Marco Jara quanto telefonar para um
sequestrador, mesmo que isso atrapalhe a negociação da polícia e coloque a vida de reféns em
risco. Não que o jornalismo – em especial o televisivo, cuja sobrevivência depende das
imagens – deva ser frio. Conforme aponta Bucci, “como toda atividade própria da cidadania,
ele se alimenta também de indignação” (2002, p. 94), o que não significa, entretanto, que deva
ser meloso, vociferante ou embebido de adjetivos. Trata-se, defende o autor, de achar um
ponto de equilíbrio entre a subjetividade do repórter e a objetividade possível. Não raro,
relatos subjetivos apelam de maneira demasiadamente exagerada para as emoções do público.
Trata-se do sensacionalismo, uma forma aparentemente rápida e eficaz de garantir lucros para
as empresas que, no entanto, geram perda de credibilidade para a imprensa como um todo,
vista não mais como instituição pautada pela busca da cidadania, mas sim pela curiosidade
mórbida de seu público.
O sensacionalismo, além de enfraquecer a imagem da imprensa enquanto instituição
da democracia, também traz grandes prejuízos para a sociedade, percebida como sendo mais
violenta do que realmente é. Conforme aponta Sodré (2006), uma criança dos Estados Unidos,
à razão de três horas diárias de exposição à televisão, terá assistido 8.000 assassinatos e
100.000 atos violentos antes de deixar a escola primária, segundo estudo da Associação de
Psicologia daquele país. Nilo Batista (2002), ao analisar a publicação de 5 de janeiro de 2002
62
do jornal carioca O Globo, constatou que quase 80% do noticiário das editorias de cidades e
Brasil daquela edição foi criminal ou judicial, sendo que aquele jornal constrói, a partir disso,
um retrato impreciso da realidade do país e da cidade do Rio de Janeiro. Conforme indica
Bertrand (1999), a atualidade consiste mais em problemas a serem resolvidos do que em
tragédias. Segundo ele, ao ver a realidade pela metade, “o cidadão corre o risco de adquirir
uma visão deprimente de uma sociedade na qual, entretanto, se vive muito melhor do que há
cinquenta ou cem anos (...) e perde o ânimo para melhorar seu destino e o da sua
comunidade” (BERTRAND, 1999, p. 128).
Para Bertrand essa super-representação da violência, “dá uma ideia falsa e
desesperadora da sociedade” (1999, p. 142). Tanto Bertrand (1999) quanto Sodré (2006)
apontam que são comuns, nos Estados Unidos, estudos vinculando a violência retratada pela
mídia e a violência real. Apesar disso, a influência das cenas de violência sobre o
comportamento de cada indivíduo ainda é incerta. No Brasil, no entanto, estudos sobre a
responsabilidade da mídia sobre a realidade em geral são escassos. Apesar dos vínculos entre
violência midiática e violência real não serem comprovados cientificamente, não é incomum a
reprodução de crimes extensamente veiculados pela mídia. Loren Coleman (2004), autora de
livro sobre o fenômeno, relata uma série de pequenos ataques que ocorreram contra a Casa
Branca após Frank Eugene Corder ter jogado um avião monomotor Cessna 150L contra o
gramado da residência oficial do presidente dos Estados Unidos em 11 de setembro de 199469.
Além disso, são notórios os casos de criminosos que agem tendo em mente a repercussão que
seus crimes atingirão na mídia70.
Pode-se concluir, assim, que o poder econômico e o mercado impõem ao jornalismo a
perda de referenciais deontológicos. Isto se dá num cenário onde a publicidade pauta cada vez
mais os rumos da imprensa, cujo alicerce se deslocou da cidadania para o mercado na medida
em que foi se tornando cada vez mais alvo da produção em escala industrial, o que levou à
formação de grandes oligopólios no setor e, consequentemente, à perda de pluralidade. Para
que os grandes grupos privados que controlam a informação, – permeados pela lógica
capitalista e não pelo ideal de utilidade pública a partir do qual a imprensa se desenvolveu –,
69 Em 29 de outubro daquele mesmo ano, Francisco Martin Duran disparou 29 tiros de um rifle semiautomático contra a fachada da Casa Branca. Em dezembro de 1994, ocorreram ao menos cinco incidentes semelhantes. No dia 17 daquele mês, um homem não-identificado disparou pelo menos quatro tiros contra a Casa Branca, um dos quais atingiu um salão ao lado da suíte presidencial.
70 No Brasil, o caso mais lembrado é aquele ocorrido em 4 de novembro de 1999, quando Mateus da Costa Meira disparou quarenta tiros com uma metralhadora contra o público que assistia ao filme O Clube da Luta numa sala de cinema da cidade de São Paulo. Três pessoas morreram e várias ficaram feridas. Ao ser detido, o jovem admitiu ter planejado a ação e disse ter escolhido a metralhadora “porque ia dar mais impacto na mídia”.
63
consigam maximizar seus lucros, precisam conseguir mais público, o que se traduz em mais
consumidores para os anunciantes que, a partir de uma visão simplista, são vistos como
responsáveis pelo sustento da imprensa. Assim sendo, os veículos promovem uma confusão
deliberada entre jornalismo e entretenimento, criando um cenário onde os valores
deontológicos da categoria jornalística têm cada vez menos importância.
Mesmo assim, jamais existiu jornalismo livre e independente sem que houvesse um
pressuposto mínimo de liberdade de mercado. Segundo Bertrand (1999, p. 20), os regimes
utópicos do século passado71 que aboliram a liberdade de empresa foram muito danosos à
livre circulação de informações e pensamentos, uma vez que transformaram os meios de
comunicação em “instrumento de estupidez e de doutrinação”. Além disso, mesmo nos
regimes democráticos, se os meios não conseguem atingir a independência financeira do
Estado, põem-se a serviço dele. Isto não significa, no entanto, que a liberdade de mercado
garanta, por si só, uma imprensa pautada por princípios éticos. Até porque é da natureza do
regime capitalista que os meios de acumulação de riqueza se concentrem nas mãos de poucos,
interessados em maximizar seus lucros. Tem-se então o cenário descrito por Bertrand (1999),
onde a mídia ocidental, que desfruta de um regime de total liberdade de mercado há muito
tempo, frequentemente fornece serviços deploráveis.
Uma maneira de evitar isso é a criação de mecanismos que garantam a pluralidade de
donos dos meios, o que pode refletir na pluralidade de vozes presentes na mídia. Conforme
aponta Bertrand (1999), os meios de comunicação norte-americanos pregaram, durante muito
tempo, o conformismo da maioria branca conservadora, da qual seus donos faziam parte.
Atualmente, segundo Bucci (2002), a Comissão Federal de Comunicações (Federal
Communications Commision – FCC) age no sentido de garantir a pluralidade da propriedade
da mídia nos Estados Unidos72, mesmo após as tentativas de afrouxamento dos limites legais
impostos à concentração dos veículos de comunicação. Para o autor, esta é uma maneira
eficaz de garantir a ética jornalística, já que é impossível que ela prospere num ambiente que
não seja plural. Conforme aponta Bucci (2002, p. 165), algo semelhante à FCC jamais existiu
no Brasil, onde o “abuso de poder caminha sem a menor perspectiva de controle”. A
71 O mais famoso deles era o modelo socialista propagado pela União Soviética.
72 Segundo Cornu (1998), a FCC, uma agência autônoma da União criada em 1934, tem como missão autorizar e fiscalizar as concessões de rádio e televisão e garantir o pluralismo através do controle das estruturas de propriedade dos veículos de comunicação. A política mais notória nesse sentido data de 1978 e encoraja a participação das minorias nos meios. O candidato à concessão que contar com minorias na propriedade ou na direção do veículo fica em posição de vantagem em relação aos demais.
64
experiência norte-americana comprova que o mercado, quando regulado pelo Estado, pode
assegurar a existência de um jornalismo minimamente pautado pelo interesse público.
3.2 – LACUNAS IMPOSTAS PELA CULTURA PROFISSIONAL
Apesar de não ser uma limitação tão alarmante à deontologia quanto à concentração da
imprensa em poucos conglomerados midiáticos, a atuação e a cultura profissional dos
jornalistas também representam, sob certos aspectos, um empecilho à efetivação da ética
normativa no jornalismo. Para Bucci (2002), inclusive, o primeiro obstáculo à discussão da
ética no jornalismo são os próprios jornalistas. Pode-se citar como exemplo de lacuna a
interpretação dos códigos de ética, que varia de profissional para profissional, cada um dotado
de história de vida, origens sociais, cultura e convicções próprias. Isso quando as empresas
não formulam seus próprios códigos (que, conforme exposto anteriormente, geralmente
servem à estratégia mercadológica de conquistar o público através da afirmação de que a ética
é respeitada), desconsiderando os textos formulados pelos órgãos representativos da categoria
jornalística e provocando uma confusão a respeito de quais normas devem ser seguidas em
meio a tantas delas.
Os próprios códigos também representam uma lacuna na medida em que são incapazes
de cobrir todos os dilemas éticos dos jornalistas. Conforme aponta Bertrand (1999, p. 112), “é
preciso muitas vezes apelar para o bom senso ou o ‘senso moral’ nascido da reflexão”, ambos
ligados à tradição política ou religiosa da sociedade em questão, como o tribalismo na África
ou o feudalismo na China. Além disso, assim como ocorre no campo do Direito, as restrições
morais se tornam obsoletas conforme a sociedade se desenvolve e adquire novos valores.
Pode-se citar como exemplo disso o código de ética peruano. É muito provável que a
determinação prevista por este de que “o jornalista está moralmente obrigado em seu
exercício profissional a ser honesto com Deus” (capítulo III, artigo 5°) não é uma norma
fundamental para os jornalistas mais secularizados daquele país. Muitos textos deontológicos
também são vítimas do formalismo. Segundo Cornu (1998, p. 107), “a falha mais importante
de um código de deontologia é de se apresentar como um catálogo de regras formais, fazendo-
se crer exaustivo”. Para ele, os códigos deveriam chamar os sujeitos a interrogar sobre seus
deveres para além do simples enunciado.
Além disso, indica Bertrand (1999), os códigos trazem algumas omissões no que
concerne ao comportamento desejável dos jornalistas. Os códigos não alertam ao jornalista
que ele deve conhecer sua própria natureza e suas limitações e que deve evitar a rotina e o
65
chamado “jornalismo de matilha” (quando só se cobre o mesmo assunto devido ao fato de que
ele foi tratado por uma grande agência ou jornal diário). De maneira semelhante, o autor
também aponta omissões dos códigos no que diz respeito à maneira com que a informação é
selecionada e apresentada. Conforme aponta, “raros são os códigos que mencionam a
necessidade de os artigos serem atraentes” (BERTRAND, 1999, p. 131). Para Bertrand
(1999), os códigos deveriam tratar das omissões de notícias, das pseudoinformações, das
informações tediosas, mesquinhas, incompreensíveis pelo público e que se confundem com
entretenimento, da superficialidade e do bairrismo de alguns meios e da ênfase exagerada que
é dada aos confrontos.
A omissão dos órgãos da categoria no que diz respeito à aplicação das penalidades
previstas pelos códigos, criadas com o intuito de coibir as práticas abusivas dos jornalistas,
também se apresenta como uma lacuna à efetivação da ética normativa. Em sua quase
totalidade, os órgãos da categoria estão desprovidos de poder de sanção ou, se o possuem,
raramente consideram valer-se dele para garantir que a deontologia prevaleça. Conforme
aponta Bertrand (1999), que questiona a eficácia de códigos que “não têm dentes”, a
experiência mostra que os conselhos disciplinares dos sindicatos da categoria são sempre
discretos e raramente severos, com uma tendência a desculpar as faltas éticas dos jornalistas.
Para Cornu (1998, p. 105), é uma pena que isso ocorra, pois “a pressão exerce um papel social
decisivo, visto permitir dissuadir os indivíduos de se furtarem às regras”. A ausência de
penalidades confere, segundo ao autor, um caráter ambíguo aos órgãos da categoria.
Pode-se citar como exemplo recente dessa omissão a decisão do Conselho de Ética do
Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal (SJP-DF) de não abrir um processo
contra o repórter Gustavo Ribeiro, da sucursal local da revista Veja, responsável por matéria
contra a comunidade acadêmica da Universidade de Brasília (UNB), datada de julho de 2011.
As próprias fontes que teriam sido ouvidas pelo repórter desmentiram suas declarações,
enquanto um notório adversário do atual reitor revelou ter sido o principal articulador da
reportagem. O Conselho de Ética, instado pelo jornalista Antonio Carlos Queiroz a agir,
decidiu não abrir um processo contra o repórter tendo em vista que Ribeiro “não é filiado ao
SJP-DF”. Conforme apontou Venício de Lima, professor de ciência política e comunicação da
UNB, em artigo para o site Agência Maior, trata-se de um equívoco do SJP-DF, uma vez que,
segundo o código de ética da Fenaj, os jornalistas não-sindicalizados também estão sujeitos às
66
penalidades previstas pelo texto73. Queiroz entrou com um recurso contra a decisão e, logo
depois, o mesmo jornalista incorreu numa notória falta ética74.
Outra lacuna é o próprio regime de trabalho em que os jornalistas estão inseridos, que,
conforme indica Bucci (2002), parece atuar contra a ética. Não há, no âmbito das redações,
tempo suficiente para se debater todas as problemáticas em equipe, tampouco há condições
técnicas ou práticas de ouvir as opiniões de todos aqueles envolvidos no processo de produção
das notícias. “Se, para ser tomada, [uma decisão] precisasse de seminários e colóquios, o
jornalismo seria uma quimera”, aponta o autor (BUCCI, 2002, p. 44). Assim sendo, a maioria
das resoluções, que geram efeitos éticos, são solitárias, tomadas por aqueles que estão no topo
da estrutura hierárquica das redações que não são, por natureza, democracias em tempo
integral, uma vez que as decisões cruciais precisam ser rápidas e, sendo rápidas, não podem
ser negociadas. Dessa maneira, a maior parte da responsabilidade ética recai sobre os editores-
chefes e diretores de redação. Estes correm contra o tempo, decidem “o destino das
reputações alheias apostando corrida contra o ponteiro de minutos” (BUCCI, 2002, p. 45). Daí
o fato da discussão ética, no interior das redações, ser muitas vezes relegada ao segundo
plano, como se fosse uma tergiversação da prática profissional. Apesar disso, aponta Bucci
(2002), a simples busca pela notícia – em teoria uma verdade – se consiste numa ética.
3.2.1 – AUTOSSUFICIÊNCIA ÉTICA E A MÍDIA COMO TRIBUNAL
A aceitação ou não do debate sobre a ética pela categoria demonstra o nível de
comprometimento dos jornalistas com a questão. Conforme aponta Bertrand (1999), era
comum na França, na década de 1960, os jornalistas manterem uma postura de indiferença,
desconfiança e oposição a esse debate, mesmo quando não se tratava de envolver o público.
Hoje em dia, a situação está um pouco diferente, graças ao trabalho de críticos, jornalistas e
militantes e graças à revolução tecnológica e ao processo de oligopolização da mídia. “Tanto
o jornalista como o cidadão esclarecido começam a interessar-se mais ativamente pelo
aprimoramento dos veículos de comunicação”, descreve o autor (BERTRAND, 1999, p. 14).
No Brasil, o debate sobre a ética jornalística ainda não é muito prezado pela cultura local dos
73 LIMA, Venício de. “Ética e credibilidade de uma profissão”. Carta Maior. 1 ° de setembro de 2011. Disponível em: <http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=5182>. Acesso em: 3 nov. 2011.
74 Em agosto de 2011, Ribeiro foi acusado de tentar invadir o quarto de hotel do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, sendo inclusive acusado formalmente de tentativa de invasão de domicílio e falsidade ideológica pelo Hotel Naoum.
67
profissionais da imprensa, donde se tem um dos principais empecilhos à aplicação da ética
normativa do jornalismo no país, descrito por Bucci (2002) como “autossuficiência ética”.
Essa postura, segundo a qual não convém à sociedade opinar sobre os rumos do
jornalismo, encontra campo fértil na cultura do país. Segundo Bucci (2002, p. 39), “a atitude
automática, ato reflexo, de torcer o nariz para o tema é, antes de tudo, coerente com a tradição
da cultura política brasileira”. Esta, segundo o autor, não prima por valores como os direitos
humanos e tampouco cultiva critérios impessoais e objetivos na vida profissional e política. A
palavra “ética” surge mais na condição de adjetivo do que de substantivo, ou seja, é um tema
secundário que só recentemente começa a fazer parte do mundo dos negócios e da agenda
política. Não é incomum a recusa em discutir ética aparecer como se fosse uma afirmação de
independência. Para Bucci (2002), no entanto, essa pretensa autonomia é, no fundo, apenas
arrogância. “É como se a imprensa proclamasse: minha função é informar o público, mas os
meus valores não estão em discussão, os meus métodos não são da conta de mais ninguém –
eles são bons, corretos e justos por definição”, afirma o autor (BUCCI, 2002, p. 39).
A arrogância dos jornalistas também tem origem na história recente do país. Entre
1964 e 1985, o Brasil viveu sobre a égide de uma ditadura militar, que impôs a censura à
imprensa. A maneira encontrada pelas redações para manter sua independência do governo
ditatorial foi a grossura no trato com aqueles dispostos a interferir no curso das coberturas
jornalísticas. Diante de uma força que não admitia o menor grau de transparência quanto a
seus métodos, a imprensa não teve outra maneira de resguardar sua independência que não
fosse fechar-se em si própria. Para Bucci (2002), num momento histórico em que é difícil
distinguir quem é quem, não faz sentido perder energias buscando canais de diálogos
deontológicos. Conforme aponta o autor, nesses momentos, “a ‘casca grossa’ é útil ou, no
mínimo, tem razão de ser” (BUCCI, 2002, p. 41). Segundo ele, sem essa “casca grossa”, a
democracia brasileira estaria mais atrasada do que está. Para Bucci (2002, p. 41), “com
arrogância ou não, os jornalistas se protegeram para fazer jornalismo e fizeram-no sem ter de
falar em ética”. Ele defende que os jornalistas da época, ao invés de debater a ética, agiram
eticamente ao realizar reportagens que garantiriam o fim da ditadura.
Para Cornu (1998), que fala em aspecto autorreferencial da deontologia, as reações
ordinárias da profissão quando seus procedimentos são questionados por pessoas de fora
podem ser explicadas pela execução rotineira da prática jornalística, onde os princípios éticos
da categoria, como a verificação da informação e a exigência da objetividade, se reduzem a
ritos formais ao invés de imperativos morais. “Tudo acontece como se o respeito às regras
deontológicas tivesse como única razão de ser a participação na estabilização do sistema”,
68
define o autor (CORNU, 1998, p. 151). Para ele, isso explica o tom arrogante com que os
profissionais da mídia tratam o debate sobre a ética jornalística. Conforme indica Bertrand (p.
195, 1999), “quer sejam ou não competentes e corajosos, os profissionais pensam sê-lo”,
recusando a reconhecer seus erros, em especial quando são assinalados por usuários que, a seu
ver, não entendem nada e escondem um interesse partidário atrás de sua crítica, apesar de
admitirem de maneira um pouco melhor as críticas feitas por seus pares75.
Esta visão, segundo Cornu (1998), encontra sua razão de ser na concepção liberal,
segundo a qual os modos operatórios internos dos meios de comunicação são de propriedade
exclusiva dos mesmos, uma vez que cada esfera seria responsável por estabelecer seus
próprios princípios de funcionamento, definir seus próprios critérios e normas e eleger seus
próprios valores. Para Bucci (2002), esse modelo se torna cada vez mais inadmissível, uma
vez que a persistência da má vontade dos jornalistas em debater a ética num ambiente
democrático é um sinal de enfraquecimento do jornalismo. Segundo o autor, quanto mais
democrática é uma sociedade, mais se torna necessário compartilhar com o público os
métodos e processos que envolvem a apuração e a edição das informações, já que a
sustentação da imprensa passa a depender mais da legitimação que a sociedade confere a esta.
Isto se dá devido ao fato de que a razão de ser do repórter é a existência do direito à
informação, que pertence à sociedade. “Quando a imprensa se recusa a discutir ética com esse
cidadão, está se recusando a prestar contas a quem a sustenta”, afirma o autor (BUCCI, 2002,
p. 46), para quem o direito à informação também inclui o direito de saber como se é
informado. E, ao contrário do que é muitas vezes alardeado pela categoria, o cidadão tem
preparo suficiente para tomar partido em relação aos dilemas éticos do jornalismo76, até
porque este não é uma atividade estranha ao dia-a-dia das sociedades democráticas. Justo ao
contrário, é tanto melhor quanto mais forte for a democracia. Frequentemente, as pessoas
comuns identificam e repudiam as faltas éticas do jornalismo. Isto porque a ética é da esfera
do cidadão. Ele sabe, por exemplo, o que é uma mentira ou um plágio.
75 Conforme indica Bertrand (1999), tal postura encontra eco na Declaração de Bordeaux, documento em defesa à liberdade de expressão formulado pela Federal Internacional dos Jornalistas em 1954. Ele afirma, em sua conclusão, que “o jornalista não aceitará, em matéria profissional, senão a jurisdição de seus pares, com exclusão de toda intrusão governamental ou outra”.
76 Conforme relata Bertrand (1999, p. 133), é comum aos jornalistas acharem que estão lidando com uma massa de ignorantes. Em 1995, uma pesquisa feita na Polônia revelou que 42% das pessoas não conseguiam entender as notícias de um telejornal, ao que os jornalistas reagiram: “como trabalhar com esses analfabetos?”. Dez anos depois, o apresentador e editor-chefe do Jornal Nacional, William Bonner, apelidou o telespectador brasileiro de “Homer Simpson”, em referência ao personagem principal do seriado norte-americano de animação Os Simpsons, que é preguiçoso e possui o raciocínio lento.
69
A postura de autossuficiência ética gera, no público, a percepção de que os meios de
comunicação são arrogantes. Um efeito dessa percepção é a impressão de que o veículo
arrogante impõe aquilo que publica como a verdade absoluta. Para Bucci (2002, p. 53), “quem
age assim não é jornalista – talvez se imagine profeta”. O comportamento dos que se
encastelam também traz outros efeitos nocivos. A recusa à discussão sobre a ética significa a
recusa ao diálogo, o que fecha os jornalistas em si mesmos, de modo que sua atividade
cotidiana se converte na sua única referência ética. Uma corporação que estabelece para si
mesma os parâmetros entre o certo e o errado, segundo Bucci (2002), perde o juízo, pois
desconsidera o fato de que ela existe em relação àquele que lhe é exterior, tomando a si
mesma como a encarnação da virtude. Entre os jornalistas, que representam o direito à
informação, seu trabalho não deve se elevar acima da sociedade, e sim estar a serviço dela.
Caso contrário, o jornalismo deixa de ter sentido.
O jornalista ou a empresa jornalística que se julga acima do bem e do mal, sem
precisar prestar contas de seus métodos e valores à sociedade, corrói a função social que
fundou a imprensa. Para Bucci (2002), autossuficiência é uma ilusão que mata a qualidade da
informação, transformando o jornalismo em impostura. A partir dessa noção de que a mídia
não precisa prestar contas à sociedade surge a concepção de que ela pode atuar como uma
espécie de tribunal popular, julgando o que ocorre na sociedade. Apesar de encontrar campo
fértil na cultura da autossuficiência ética, esta visão também está relacionada com o modelo
econômico vigente a partir do final do século XX, o neoliberalismo, segundo o qual o Estado,
visto como inoperante e omisso, deve ser substituído pelas empresas privadas, ágeis e
eficientes. Segundo Nilo Batista (2002), desde a adoção desse modelo a mídia não trata mais
de influenciar os tribunais, ela realiza diretamente os julgamentos77. O autor defende que a
mídia brasileira está tão vinculada com o discurso repressivo, característica das sociedades de
capitalismo tardio, que se tornou uma agência a serviço do sistema penal.
Conforme aponta Cornu (1998), existe, na imprensa, um modo de apresentação dos
crimes, de ordenação dos elementos de um processo, que culmina na definição do culpado e
que, se não influencia os juízes profissionais, pode pesar sobre a apreciação da causa por um
júri popular. Estabelecer uma ligação entre uma pessoa e um crime pode causar-lhe um
transtorno considerável. Um exemplo disso, no Brasil, é o caso da Escola Base. Segundo
Bucci (2002), a cobertura midiática do caso se trata do mais eloquente assassinato de
reputação da década de 1990 no país. Em março de 1992, uma denúncia pouco fundada de
77 Para o jurista René Dotti (apud Batista, 2002, p. 9), uma das pragas do sistema penal brasileiro é a existência de “juízes paralelos: determinados profissionais da mídia eletrônica e muitos juristas de plantão (...), militantes da presunção de culpa”.
70
que os alunos do maternal da pequena escola – localizada no bairro da Aclimação, em São
Paulo – haviam sido vítimas de abuso sexual gerou uma histeria coletiva na mídia, que
prejulgou os suspeitos e contribuiu para que eles ficassem expostos à fúria popular78. A escola
foi pichada, atingida por uma bomba caseira e depredada. A casa de dois dos acusados foi
saqueada, enquanto alguns deles ficaram presos em condições humilhantes. Dois meses
depois, foi revelado que a denúncia era falsa. Apesar da retratação de alguns veículos, os
acusados jamais conseguiram reerguer suas vidas79.
A mídia não só pauta o poder judiciário como opera de maneira cada vez mais
semelhante a ele. Conforme indica Cornu (1998, p. 75), é comum um indivíduo ser
condenado duas vezes; pela imprensa, que transforma “a punição legal em mais pesada ainda
e desconsidera totalmente a reinserção social do condenado”, e pelo tribunal. Isto pôde ser
verificado durante a análise da cobertura dos casos João Hélio e Marco Jara. Dificilmente os
menores envolvidos nesses crimes conseguirão se reinserir na sociedade plenamente após
terem tido suas identidades divulgadas pela mídia. Tem-se, assim, uma distorção do direito a
informar, o que, conforme aponta Bertrand (1999), não inclui o direito de prejudicar pessoas
ou grupos física, moral ou economicamente. Os acusados no caso Escola Base foram
prejudicados em todos esses três aspectos. Além disso, há uma agressão aos próprios
princípios do Estado democrático de Direito80. Verifica-se, nesse cenário em que a mídia atua
como um tribunal, uma espécie de privatização do poder punitivo que, conforme aponta Nilo
Batista (2002), é deslanchado com muito mais temibilidade por uma manchete do que por um
inquérito policial.
3.3 – MECANISMOS PARA A EFETIVAÇÃO DA ÉTICA NORMATIVA NO
JORNALISMO
78 Conforme aponta Bucci (2002), a exceção foi o jornal Diário Popular, que contava com o maior número de repórteres policias e mais experiência na área. Mesmo tendo acesso à história antes dos demais veículos, o editor do jornal julgou não haver elementos suficientes para a publicação da investigação.
79 Posteriormente, eles entraram na Justiça e conseguiram, recentemente, altos valores de indenização dos veículos de comunicação envolvidos na cobertura sensacionalista do caso, tais como os jornais Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo (R$ 750 mil cada), a Rede Globo (R$ 1,3 milhão), o SBT (R$ 900 mil) e a revista Istoé (R$ 360 mil).
80 A Constituição da República Federativa do Brasil, em seu artigo 5°, afirma que “ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente” (inciso LIII), que “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes” (inciso LV) e que “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória” (inciso LVII).
71
Constatados os empecilhos à efetivação da ética normativa no jornalismo, torna-se
necessário conhecer os mecanismos utilizados para garantir uma atuação dos veículos de
comunicação que seja minimamente pautada pela deontologia. Diversas são as soluções
propostas. Irá-se tratar aqui dos mecanismos não-estatais, uma vez que não incorrem da
possibilidade de ingerência sobre o conteúdo da imprensa. O mais conhecido deles é o
conselho de imprensa. A origem da ideia é sueca e data de 1916, tendo ressurgido em 1928
num relatório da Organização Internacional do Trabalho e, depois, num projeto concebido
pela Federação Internacional dos Jornalistas em 1931. Em 1953, foi instituído o Conselho de
Imprensa da Grã-Bretanha, considerado por muito tempo modelo pelos jornalistas europeus.
Em 1991 foi substituído pela Comissão de Reclamações contra a Imprensa.
Conforme aponta Cornu (1998, p. 31), um conselho de imprensa se consiste em “uma
organização não-governamental cuja finalidade é servir de intermediário entre a mídia e o
público”, atuando através das denúncias do público. Normalmente é composto por voluntários
dos meios de comunicação e financiado pelos mesmos. O conselho é o principal mecanismo
de autorregulamentação dedicado à aplicação das normas deontológicas no jornalismo. Na
medida em que suas decisões se tornam públicas, é também um instrumento de visibilidade
dessas mesmas normas. Para Cornu (1998), os conselhos são importantes porque protegem o
público das más práticas jornalísticas ao oferecer àqueles que se sintam lesados pela mídia
uma instância a qual podem recorrer.
Eles proporcionam, também, um mecanismo através do qual os jornalistas podem
ouvir a opinião pública sobre a mídia. Segundo Cornu (1998), os conselhos protegem os
jornalistas e os meios contra eventuais iniciativas abusivas de regulamentação da mídia por
parte do poder público81, das instâncias judiciárias e até mesmo do próprio público. Apesar
disso, a criação de um conselho corresponde à estratégia de mercado das empresas, uma vez
que o público valoriza ações que demonstrem o comprometimento da imprensa com a ética.
Segundo Bertrand (1999), a função ideal dos conselhos é a de melhorar a mídia, preservando
a liberdade de imprensa e a pluralidade dos meios, examinando as queixas dos usuários e
publicando relatórios sobre o estado da imprensa82. No entanto, conforme aponta o autor, os
conselhos atualmente limitam-se a duas funções: ajudar a imprensa no combate a seu
adversário tradicional, o governo, e incitá-la a prestar contas ao público.
81 Em 1991, na Grã-Bretanha, quando da substituição do Conselho de Imprensa pela Comissão de Reclamações contra a Imprensa, assim como em 1968, na Finlândia, durante a fundação do Conselho da Mídia, pairava sobre os meios de comunicação a ameaça de regulamentação por parte do poder público.
82 Segundo a constituição do defunto Conselho de Imprensa da Grã-Bretanha.
72
O conselho existe, segundo Cornu (1998), para interpretar as normas profissionais,
cuidar para que elas sejam aplicadas e, também, desenvolvê-las e complementá-las, quando
for necessário. Geralmente, adotam como parâmetro de atuação o código de ética da única ou
principal organização profissional dos jornalistas do país ou região em que atuam. Seus
pareceres geralmente formam jurisprudência, o que é especialmente verdadeiro, por exemplo,
no caso dos conselhos da Alemanha e da Suíça. De modo geral, os conselhos não possuem
poder punitivo. A única “punição” que aplicam aos jornalistas que violam a ética normativa é
a divulgação dos julgamentos que fazem, que pode ou não ser acatada pelos veículos de
comunicação. Os conselhos grego e sueco são uns dos poucos que preveem sanções
econômicas, enquanto apenas o esloveno prevê a perda de função do jornalista que cometer
contravenções às regras profissionais.
Conforme aponta Cornu (1998), o conselho de imprensa cumpre a função de mediador
entre a mídia e o público, estando em condições de corresponder às preocupações da
sociedade, de dar satisfação aos indivíduos e de garantir o funcionamento da mídia sem que
esta precise estar rotineiramente respondendo à Justiça. Apesar disso, aponta o autor, é difícil
considerá-lo como um órgão neutro, uma vez que sua sobrevivência depende dos veículos de
comunicação que o financiam. Conforme aponta Bertrand (1999), o Conselho de Imprensa do
Québec perdeu parte de sua verba após ter emitido um julgamento negativo contra o jornal Le
Devoir, que decidiu abandonar o órgão em retaliação à sentença. Dependendo da maneira em
que foi criado, no entanto, outros atores, como as organizações da categoria jornalística e o
Estado83, podem ter um peso maior na composição dos recursos financeiros de um conselho.
O Conselho da Imprensa da Suécia é o único a manter um principio de autossustentação,
tirando uma parte de seus recursos das multas aplicadas.
Em muitos países, não há representantes do público nos quadros dos conselhos e,
quando há, ocorre de maneira desigual. Para Bertrand (1999), os conselhos que não contam
com a presença de membros do público são semiconselhos. Ele considera como “verdadeiros
conselhos” aqueles que forem compostos por, no mínimo, um terço de usuários. Geralmente,
os principais membros dos conselhos são representantes da categoria profissional, jornalistas,
editores e proprietários dos meios de comunicação. Os jornalistas participaram da criação de
todos os conselhos europeus, com exceção da Comissão de Reclamações contra a Imprensa
do Reino Unido, criada por redatores-chefes e editores, fora do escopo das organizações
83 Conforme indica Cornu (1998), o fato de um Estado assegurar o financiamento de um conselho não se traduz, como se verifica no conselho dinamarquês, na ingerência por parte do poder público na atividade jornalística.
73
profissionais de jornalistas. Segundo Cornu (1998), há três tipos de conselhos: locais84,
estabelecidos em cidades pequenas e que abrem espaço para o encontro dos cidadãos com os
representantes da imprensa, comum sobretudo nos Estados Unidos; nacionais, mais comuns
na Europa; e regionais, existentes nos Estados Unidos e no Canadá, em parte devido à grande
extensão da imprensa naqueles países85.
Há, em alguns países, conselhos estatais, classificados por Bertrand (1999) como
“pseudoconselhos”. São compreendidos por representantes do governo ou até mesmo
presididos pelo Ministro da Comunicação, tendo, na opinião do autor, a função de amordaçar
a imprensa. Para Bertrand (1999, p. 151), “o Estado não deve participar, salvo sob forma de
ameaças que às vezes são necessárias para desencadear o processo de autorregulação”.
Conforme ele aponta, “há poucos exemplos de indústrias que, sem pressões externas, tenham
adotado um código de honra” (BERTRAND, 1999, p. 151). Apesar disso, o próprio autor
reconhece que a participação dos legisladores em alguns conselhos, como o indiano, não traz
danos à essência daqueles órgãos86. Ainda no escopo do Estado, tende-se a confundir as
comissões estatais do audiovisual, como a FCC, aos conselhos, uma vez que elas não recebem
ordens do governo e têm por finalidade proteger o público. É fato que essas comissões atuam
a partir de queixas do público, assim como os conselhos. No entanto, essas instâncias agem no
sentido de fazer com que a mídia respeite aos princípios editados pelo Legislativo e não pelos
órgãos representativos dos jornalistas. Situam-se, portanto, à margem da deontologia.
Outra solução encontrada pelo mercado para satisfazer às exigências do público no
que diz respeito à ética é a figura do ombudsman. Nada mais é do que um mediador, que
analisa as reclamações do público e divulga suas conclusões no próprio veículo de
comunicação em que trabalha, geralmente em uma crônica semanal. O primeiro ombudsman
surgiu em 1967 no jornal norte-americano Louisville Courier-Journal. Dois anos mais tarde, o
Conselho de Imprensa da Suécia nomeou um ombudsman para fazer a análise dos veículos
que compunham aquele órgão. Normalmente, é um jornalista experiente e respeitado por seus
pares. No Brasil, o primeiro veículo a adotar a figura do ombudsman foi a Folha de S. Paulo,
84 Conforme aponta Bertrand (1999), nada mais é do que as reuniões regulares de representantes locais com profissionais da mídia, onde os usuários podem exprimir suas queixas e aprender como funciona a mídia.
85 Um conselho regional de imprensa foi criado no Havaí em 1970 e outro em Minnesota em 1971. Bertrand, em Les médias aux États-Unis (1995, p. 41), indica que nenhuma outra experiência de conselho regional sobreviveu desde então. Já no Canadá há o Conselho de Imprensa do Québec, responsável pela autorregulamentação da mídia francófona do país.
86 Apesar de ser atualmente um paradigma de como o Estado pode trabalhar com a mídia para melhorá-la, o Conselho de Imprensa da Índia foi, segundo Bertrand (1999), suprimido pelo governo da primeira-ministra Indira Gandhi durante o estado de emergência de 1975–1977.
74
em 1989. Com essa figura, a empresa jornalística se fortalece ao abrir uma porta de diálogo
com o público, demonstrando-lhe que está pronta para receber suas críticas e sugestões. Ao
contrário dos conselhos de imprensa, o ombudsman é uma figura de fácil acesso e rápida
reação às críticas dos leitores. No entanto, por vezes aparece demasiadamente como um
“advogado do jornal”, ou seja, defensor do poder econômico de seu patrão, ou “porta-voz dos
usuários”, fazendo eco ao senso comum. De maneira semelhante ao ombudsman, torna-se
cada vez mais comum, nos grandes jornais, a presença de cronistas especializados na própria
mídia87.
Apesar de ombudsman e conselhos serem os principais mecanismos adotados pelas
empresas jornalísticas para assegurar a atuação correta da imprensa no que diz respeito à
deontologia, existem ainda alguns outros. Conforme aponta Bertrand (1999), comumente são
realizadas operações de “controle da qualidade” da mídia por grupos vinculados à mídia,
como sindicatos (como o francês), associações corporativas ou organizações não-
governamentais (como a Repórteres Sem Fronteiras) ou fundações independentes, como as
que foram criadas pelos magnatas da imprensa nos Estados Unidos para financiar o
aperfeiçoamento dos meios (como o Freedom Forum). Segundo Bertrand (1999), esses grupos
tiveram papel importante na criação e manutenção de mecanismos que asseguram a qualidade
ética da imprensa nas décadas de 1960 e 1970. Há também, no âmbito das redações,
comissões de avaliação dos conteúdos. Uma comissão dessas nada mais é do que uma equipe
de jornalistas que analisam o próprio jornal para o qual trabalham em busca de violações do
código de ética.
Conforme aponta Bertrand (1999), o simples relatório das críticas internas, não ajuda
em nada para a educação deontológica dos jornalistas. Alguns jornais vão além das comissões
de avaliação dos conteúdos e adotam também comitês de ética, compostos por jornalistas que
refletem sobre os problemas deontológicos, dão sua opinião sobre os casos à medida que eles
acontecem, organizam ateliês e redigem um código interno. Também é comum a adoção de
conselhos de redação, compostos por representantes da redação e da direção e responsáveis
por esclarecer as regras do veículo aos novos contratados. Além disso, alguns jornais, como o
Philadelphia Inquirer (EUA), contratam os serviços de peritos em ética para auxiliar seus
repórteres nessa questão.
Fora do âmbito das empresas, os jornalistas também participam de mecanismos para
garantir a efetivação da ética normativa no jornalismo. A partir do momento em que se unem
87 Um dos mais famosos cronistas de imprensa é David Shaw, do Los Angeles Times, famoso por seus longos relatos sobre jornalismo esportivo e as relações entre a imprensa e a polícia. Em 1991, recebeu o primeiro prêmio Pulitzer atribuído à crítica da mídia.
75
em congresso para formular ou renovar um código de ética, estão atuando em defesa da
qualidade ética do jornalismo. Conforme aponta Bertrand (1999), no entanto, um código só se
configura como mecanismo em defesa da ética no jornalismo à medida que é conhecido. A
partir de então, sua simples existência exerce uma pressão moral sob jornalistas e empresários
da mídia. Os conselhos de disciplina previstos por esses códigos da categoria também são um
meio eficaz de garantir a ética normativa, embora quase nunca condenem os jornalistas que
incorrem em faltas éticas. Além dos códigos, muitos jornalistas também se engajam na
questão da deontologia através da divulgação de suas opiniões sobre o mercado em que estão
inseridos em livros ou revistas especializadas na análise da mídia, em geral ligadas a
universidades88. Para Bertrand (1999), tais publicações mostram que ao menos alguns
jornalistas não são assalariados submissos.
Os usuários, por vezes, também constituem mecanismo importante para melhorar a
qualidade da mídia que consomem. É comum nas democracias os cidadãos formarem grupos
de pressão para lutarem por seus interesses e, com relação à imprensa, não é diferente. Os
grupos impõem cobranças éticas às empresas midiáticas, exigindo o cumprimento de suas
demandas. Segundo Cornu (1998), esses grupos, cada qual defendendo uma bandeira
diferente, revelam a existência não de um único público – idealizado como opinião pública –,
mas de diversos públicos, o que torna difícil um acordo e transforma o movimento dos
usuários num quebra-cabeça ético, uma vez que cada grupo age em nome de sua própria
definição de público. Conforme aponta Bertrand (1999), há grupos movidos pela intolerância,
que publicam a lista dos programas de televisão ou rádio que desaprovam e os nomes dos
anunciantes dos mesmos, tática às vezes eficaz para fazer com que as empresas retirem seu
patrocínio. Para ele, no melhor dos casos, “trata-se de associações de usuários, utilizando
reuniões de sensibilização, campanhas de cartas, pesquisas de opinião, avaliações
sistemáticas, apelo aos legisladores, queixas junto a organismos de regulamentação, processos
e, também, boicotes” (BERTRAND, 1999, p. 171).
Apesar disso, ainda são poucos os grupos de pressão dos usuários da mídia. De
maneira geral, conforme aponta Bertrand (1999), os próprios usuários pensam ser impotentes
perante a mídia. O autor espera que “um dia, talvez, as associações de consumidores se
preocupem enfim com a mídia, como defendem a qualidade dos iogurtes ou dos serviços
bancários” (BERTRAND, 1999, p. 153). Mesmo que isso ocorra, no entanto, é de se esperar 88 Conforme indica Bertrand (1999), um dos maiores sucessos de venda do final da década de 1990 na França foi o livro Os novos cães de guarda, de Serge Halimi, que critica a elite jornalística. A mídia, inclusive o veículo para o qual Halimi trabalhava, o Le Monde diplomatique, fez silêncio absoluto sobre a obra até que ela ultrapassou a marca dos 100 mil exemplares. Para o autor, o sucesso da obra revela que tanto o jornalista quanto o cidadão esclarecido estão se interessando mais ativamente pela questão da ética no jornalismo.
76
que os jornalistas, como de hábito, rejeitem as queixas dos cidadãos. Conforme aponta
Bertrand (1999), é fácil para eles tirar dos críticos da imprensa a única arma que possuem, ou
seja, a publicação de suas atividades. Assim sendo, o autor defende que é indispensável a
associação de profissionais e usuários na busca de soluções que visam à efetivação da ética
normativa no jornalismo. Segundo Bertrand (1999, p. 154), “os profissionais sabem melhor
como melhorar os meios de comunicação, e têm boas razões para querê-lo, mas são fracos
demais frente às forças políticas e sobretudo econômicas; precisam do apoio das massas de
usuários, eleitores e consumidores”.
As soluções apontadas anteriormente, como conselhos de imprensa, ombudsman,
conselhos disciplinares dos órgãos da categoria e grupos de pressão do público, são soluções
de curto e médio prazo para a melhoria da qualidade da imprensa. A solução de longo prazo
para a maioria dos problemas deontológicos da mídia é a educação, seja ela a formação
universitária dos profissionais da imprensa ou a conscientização dos usuários para a maneira
com que as notícias são produzidas e o complexo sistema em que estão inseridas. Conforme
aponta Bucci (2002), a formação crítica permanente dos jornalistas e do público nunca foi tão
decisiva, uma vez que a mídia se constitui, atualmente, como um dos sistemas nervosos do
corpo social. Um jornalismo produzido por profissionais que não possuem senso crítico tende
a seguir a manada, reproduzindo a realidade enquanto espetáculo. O público, por sua vez, não
pode continuar desinformado sobre os assuntos que dizem respeito a uma das atividades mais
importantes de sua vida – o consumo de notícias.
Conforme aponta Bucci (2002), a formação estimula o crescimento crítico dos
profissionais da imprensa. Para Bertrand (1999), a faculdade oferece uma cultura geral,
conhecimentos específicos e uma consciência deontológica aos jornalistas. Só que, para tal, a
universidade deve ter o compromisso ético como fundamento de cada uma das disciplinas
oferecidas. Conforme aponta Bertrand (1999), a formação dos jornalistas à moda antiga
tornou-se perigosamente insuficiente. Para ele, um jornalista formado numa escola
estritamente técnica corre o risco de ser submisso à sua hierarquia e aos notáveis, sendo muito
zeloso de seus próprios interesses e muito pouco de deontologia. Segundo o autor, isso é
especialmente verdade na África e no Leste Europeu, uma vez que a geração dos jornalistas
que substituíram os profissionais dos regimes ditatoriais se mostrou incompetente em
jornalismo e em ética. Isto se torna mais grave a partir do momento em que se constata o
distanciamento do pessoal da mídia com as faculdades de comunicação social.
Para Bucci (2002, p. 204), um certo distanciamento é natural, uma vez que “a
universidade é o celeiro da pesquisa e do questionamento intelectual e opera num tempo
77
distinto do tempo do mercado, mais lento e mais aberto ao aprofundamento”. Além disso,
segundo Bertrand (1999), a universidade é mais independente do que as outras instituições,
frente aos governos e aos meios de negócios. Entretanto, não faz sentido a falta de
comunicação entre essas instituições, uma vez que uma forma os profissionais que serão
absorvidos pela outra. Conforme indica Bucci (2002), a maioria dos jornalistas quase não
estuda e dá mostras de um sentimento antiacadêmico e aintiintelectual sem precedentes.
A academia e o mercado deveriam possuir mecanismos de trocas de experiências.
Bertrand (1999) defende que as empresas midiáticas em todo o mundo deveriam, assim como
ocorre nos Estados Unidos, encorajar financeiramente a formação acadêmica de seus
profissionais. Além disso, defende o autor, os jornalistas deveriam aprofundar seus
conhecimentos e a melhor forma de fazer isso seria retornando para a faculdade, seja em
cursos de pós-graduação, semestres sabáticos89, ou em seminários de uma semana. De
maneira semelhante, o público também deve ser educado em relação à mídia. Para Bertrand
(1999), a importância que as pessoas consagram à mídia na atualidade justifica que elas
conheçam seus procedimentos e saibam utilizá-la a seu favor. Ele defende que “todas as
crianças precisam ser ensinadas a conhecer as estruturas da mídia, seus conteúdos, seus
efeitos, e a aprender como utilizá-la” (BERTRAND, 1999, p. 175).
É possível constatar, a partir das experiências analisadas acima, que, apesar dos
empecilhos existentes à efetivação da ética normativa no jornalismo, existem mecanismos
para garantir que a deontologia prevaleça e que não desprezam as conquistas da liberdade de
imprensa e, portanto, da livre iniciativa dos donos dos meios de comunicação. Eles têm como
objetivo único estimular uma liberdade de expressão mais ampla, num espírito mais pluralista
conforme os interesses da comunidade. No entanto, esses mecanismos são pouco difundidos.
Conforme aponta Bertrand (1999), todo mundo já ouviu falar de deontologia, mas tanto no
interior como no exterior da mídia, são poucas as pessoas que conhecem os mecanismos
inventados e testados para garantir a prevalência da ética normativa no jornalismo.
A mídia, segundo o autor, é culpada por esta ignorância, pois não se dá ao trabalho de
descobrir e divulgar esses mecanismos. A má vontade nessa divulgação, no entanto, tem razão
de ser. Às empresas jornalísticas não lhe agradam nem um pouco a ideia de terem seus
principais problemas debatidos pela sociedade. Um público mais consciente sobre os meios
que podem ser usados para melhorar a mídia se torna mais militante em relação àquilo que lhe
é oferecido, o que coloca em xeque o poder dos proprietários – que alguns profissionais
também acreditam possuir. Segundo Bertrand (1999, p. 194), “eles que se deleitam a falar de
89 Licença concedida aos trabalhadores para que possam complementar sua formação.
78
‘midiacracia’, pensam poder influenciar (...) e não querem compartilhar esse privilégio”.
Além disso, esses mecanismos tendem a reforçar a autonomia dos jornalistas, uma vez que
eles passam a responder mais aos anseios do público e menos aos de seus patrões.
A situação atual no Brasil é tal que se tem a impressão de que a imprensa é um dos
poderes da República, um quarto poder, mas não no sentido de fiscalizador da democracia, e
sim de desestabilizador da mesma. Montesquieu, ao propor a divisão da república em três
poderes, versava na crença de que os poderes se limitariam e complementariam
reciprocamente, reduzindo assim os abusos de cada uma das esferas. Não é o que se verifica
em relação à imprensa brasileira. Conforme aponta Bucci (2002, p. 11), “adquirindo um vasto
poder sobre a sociedade, os meios de comunicação fizeram de seus proprietários e de seus
funcionários figuras arrogantes, que se julgam acima de qualquer limite quando se trata de
garantir seus interesses”. Assim sendo, complementa o autor, acabam se valendo desse poder
para destruir reputações e deformar o espaço público e as instituições democráticas. Os meios,
segundo ele, se erguem enquanto “novo palácio da aristocracia”. A falta de competição entre
os órgãos de imprensa, que ocorre com a cumplicidade do Estado90, provoca a distorção da
informação e convida os proprietários a se esquecer da responsabilidade que lhes cabe –
informar o público –, gerando neles o sentimento de que não precisariam prestar contas a
ninguém. Assim sendo, conforme destaca Bucci (2002), o jornalismo deixa de ser a expressão
cívica da cidadania e se converte em um empreendimento de mercado, balizado pelos
humores do público, mesmo que sejam racistas ou vingativos.
Isto ocorre de tal forma que, de maneira geral, nem mesmo medidas de
autorregulamentação foram instituídas. Os donos dos meios aludem, com o intuito de
preservarem o poder conquistado durante dois séculos, a temores infundados de limitação à
liberdade de expressão, embora a considerem mais como um privilégio que direito de todos.
Alegam que o Estado transformará um hipotético conselho de imprensa num tribunal de
exceção91. A quase inexistência de experiências de autorregulamentação da mídia no Brasil
revela a prevalência do liberalismo clássico, já ultrapassado no exterior92, enquanto teoria
90 A concessão pública de rádio e televisão no país não está subordinada, na prática, a nenhuma regra que, se desobedecida, justificaria a suspensão do sinal ou a cassação da concessão, como Laurindo Leal Filho, professor da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), em entrevista para a edição on-line do jornal O Estado de S. Paulo de 16 de outubro de 2008, defendeu que ocorresse com a RedeTV! após o repórter Luís Guerra interferir na atuação da PM-SP no caso Eloá.
91 Conforme aponta Bertrand (1999), esse temor nunca foi justificado, nem mesmo na Índia, onde o Conselho foi criado por lei.
92 Em vários países vigora a teoria liberal moderna, que tem os mesmos fundamentos da clássica. O mercado continua sendo o instrumento de regulação natural da atividade jornalística. No entanto, como os efeitos dessa regulação não são sempre suficientes para garantir um pluralismo autêntico, a teoria liberal moderna aceita com
79
econômica preferida dos proprietários dos grandes veículos de comunicação. A partir dos
preceitos dessa teoria, que exclui toda forma de regulação às atividades do mercado, atribuem
a ética somente à consciência individual dos jornalistas. Segundo a teoria liberal clássica, os
excessos da imprensa estão submetidos a um processo de correção natural infinitamente
preferível a qualquer outra forma de controle. Conforme aponta Cornu (1998), a imprensa
teria a liberdade de ser, inclusive, irresponsável. Para Bertrand (1999), esta teoria se tornou
insuficiente desde que a imprensa deixou de ser um processo artesanal, onde o mesmo
indivíduo acumulava as funções de editor, impressor e jornalista, e virou uma grande
indústria, onde a publicação de uma notícia passa por um complexo sistema de interesses.
Apesar desse abuso de poder praticado pelos donos dos veículos de comunicação, a
história recente demonstra que a força deles não é absoluta93. “Se fosse, o movimento pelas
diretas, em 1984, não teria adquirido as proporções que adquiriu (...) e Luiz Inácio Lula da
Silva (...) não teria chegado ao segundo turno em 1989” (BUCCI, 2002, p. 177). Conforme
aponta Bucci (2002), apesar dos donos dos meios de comunicação deterem um poder
praticamente sem controle, não podem tudo. Há outros processos através dos quais os
cidadãos se articulam nas teias sociais, formando convencimentos e atuando no mundo.
Segundo Bertrand (1999), essa concepção de que os meios de comunicação possuem
enormes poderes sobre a sociedade emana de uma tradição elitista, reforçada pela crítica
marxista e pelos próprios proprietários e jornalistas, que encontram satisfações múltiplas em
“verem o Super-Homem onde não há senão Clark Kent” (SCHUDSON apud BERTRAND,
1999, p. 60). Os indivíduos, no entanto, interpretam a mensagem segundo suas experiências,
seu meio de convívio social, suas necessidades e seus desejos. Mesmo assim, deve-se
considerar que os meios têm um efeito considerável sobre os indivíduos a partir do momento
em que definem o que e quem será notícia. Conforme aponta Bertrand (1999, p. 61), a mídia
“não pode ditar às pessoas o que pensar, mas decide no que elas vão pensar”.
O regime de propriedade dos meios, apesar de não ser o único fator que leva às
distorções informativas, favorece-as. Num cenário onde nem a própria mídia regula a si
mesma, as violações à ética normativa tornam-se rotineiras, englobando desde as grandes
coberturas de casos de violência urbana, como o drama de Eloá Pimentel, ao relato de
conflitos cotidianos, como o encontro da mãe do lutador Marco Jara com a mãe do menor
acusado de assassiná-lo. Este cenário tem origem na ação daqueles que estão encarregados de
maior facilidade o princípio de intervenção estatal e autorregulamentação.
93 Segundo Bertrand (1999), durante o referendo sobre a adesão à União Europeia na Suíça, em 1922, a maioria dos meios de comunicação pregavam o “sim”, mas a maioria dos eleitores votou no “não”.
80
dirigir a imprensa, pois, conforme aponta Bertrand (1999), uma empresa não pode ser, por si
própria, moral ou imoral, já que ela não possui uma consciência. Em contrapartida, os
diretores das empresas podem criar mecanismos para possibilitar a seus empregados que
respeitem a deontologia. No caso da mídia, no entanto, preferiram adotar o corporativismo,
transformando a imprensa numa das poucas atividades comerciais a não ter adotado nenhum
princípio de autorregulamentação. Esse corporativismo protege as más práticas da mídia
como um todo, sendo muito raro que os meios de comunicação se critiquem uns aos outros.
Se as medidas de autorregulamentação não são colocadas em prática pelos donos dos
veículos de comunicação para não manchar seu prestígio, cabe aos jornalistas e ao público
lutar pela efetivação da ética no jornalismo. Conforme aponta Bertrand (1999), foi através
desse tipo de pressão popular que o governo francês decidiu desmonopolizar o rádio e a
televisão no início da década de 1980. Para Cornu (1998), a ideia central seria permitir aos
meios assegurar sua função na sociedade, protegendo-os não somente das intervenções
arbitrárias do Estado, mas também os poupando das pressões exercidas pelo poder econômico
– tanto externo quanto interno, representado pelos movimentos de concentração da mídia. Sob
vários aspectos, trata-se de colocar a liberdade de informação a salvo da própria mídia, a fim
de capacitar ao público o pleno exercício da liberdade de expressão, confiscado pela imprensa
para o uso dos jornalistas94.
No entanto, essa união de jornalistas e público em defesa da deontologia é mais difícil
do que se imagina. Conforme aponta Bertrand (1999), os membros da redação ocupam uma
posição ambígua, sendo jornalistas – em tese agentes do direito à expressão dos cidadãos – e
também agentes de execução dos proprietários. Conforme aponta Bucci (2002), os jornalistas
em geral acham normal serem pessoas que, na média, leem pouco e quase não estudam o que
se passa com a própria comunicação e com o espaço público nas democracias atuais. Além
disso, muitos deles têm uma visão de mundo elitista, pouco ligada à realidade da maioria das
pessoas e baseada em suas próprias características pessoais, ou seja, são homens, brancos,
com diploma universitário e moradores de grandes centros urbanos. Conforme aponta
Bertrand (1999), isso é ainda mais nítido fora do ocidente95. Em países como o Brasil há ainda
o problema da baixa remuneração dos profissionais. Os jornalistas quase não podem se
94 Segundo as teorias liberais, o jornalista é o agente da liberdade de expressão do cidadão. Ele exerce sua atividade por delegação do proprietário da empresa em que trabalha, que é quem realmente detém a liberdade de imprensa, resultante da liberdade de expressão e da livre iniciativa. O trabalho do jornalista acontece, todavia, num esquema de limitações que levam a duvidar da real capacidade dele em expressar os anseios do público.
95 Na Índia, segundo o autor, os jornalistas são ocidentalizados e de alta casta. Na Coreia, apenas 5% são mulheres.
81
preocupar com a deontologia, uma vez que já tem que fazer demais para conservar o emprego
e ganhar um pouco de dinheiro. Muitas vezes, os jornalistas não conseguem chegar ao fim do
mês sem aceitar um segundo ou terceiro emprego, muitas vezes com um anunciante ou fonte
potencial de informação.
Além disso, alguns jornalistas veem na autorregulamentação da atividade uma
maquiagem para melhorar a aparência dos meios ou uma ladeira escorregadia levando à
censura estatal, discurso este em perfeita consonância com aquilo que os patrões defendem. Já
as “vedetes” do jornalismo julgam-se acima dessa questão. Eles, que são muito bem
remunerados ou influentes, proclamam que basta a consciência pessoal para regular a
atividade. O desinteresse dos jornalistas pela questão da deontologia é tamanho que, segundo
uma pesquisa realizada nos Estados Unidos sobre a aplicação dos códigos de ética nas
redações, “a maior parte deles tem apenas uma ideia limitada das questões morais atinentes ao
exercício de suas atividades e ficam estagnados nos procedimentos rotineiros” (CORNU,
1998, p. 161). Segundo Cornu (1998), há ainda casos em que jornalistas e diretores da mídia
renunciam a todo discurso de fundo moral e adotam uma lógica puramente funcional,
utilitarista, de suas ações.
Os usuários, que também poderiam atuar em defesa da autorregulamentação do
jornalismo são, por outro lado, desorganizados, se acham impotentes perante o aparente poder
hegemônico da mídia e conhecem mal as formas de funcionamento dos meios. Atualmente,
segundo Bertrand (1999), o público contribui para a regulamentação da mídia de pelo menos
duas formas: nas decisões do Estado relativas à imprensa, através das eleições, da aceitação
de leis e da atividade de tribunais; e como consumidor, consumindo ou deixando de consumir
determinado produto midiático. Segundo Cornu (1998), o público, para ganhar voz na mídia,
deveria atuar de maneira semelhante aos militantes políticos, formando grupos para defender
a causa. “O indivíduo (...), para fazer ouvir sua voz no debate público, deve se unir a outros
que pensam como ele e formar um partido. Sua influência no campo da mídia e da informação
passa por um processo semelhante” (CORNU, 1998, p. 178).
Desta maneira, são poucas as iniciativas em que jornalistas e usuários se unem para
defender os mecanismos que garantam a efetivação da deontologia na mídia. Apesar disso,
conforme aponta Bertrand (1999, p. 204), atualmente “forças profundas estão em ação”. Cada
vez mais os cidadãos comuns compreendem que bons serviços midiáticos são cruciais, que a
mídia tradicional não lhe satisfaz e que a imprensa deve corresponder bem a suas missões. Os
jovens profissionais, por outro lado, parecem ser mais conscientes de sua vocação, militando
mais fortemente em defesa da liberdade de expressão e da responsabilidade dos meios. Além
82
disso, a ameaça cada vez mais constante das forças mercantis sobre os meios de comunicação
estão servindo de alerta para usuários e jornalistas mais conscientes. É fato que, para o
público, a adoção de mecanismos para a efetivação da deontologia no jornalismo gera um
sentimento de satisfação e confiança com relação à mídia.
Aparentemente, o sensacionalismo compensa, mas Bertrand indica que a ética
compensa. “Uma emissora de televisão norte-americana, após a incessante repetição do caso
O.J. Simpson durante um ano, decidiu não falar mais de crime salvo no interesse público – e
viu sua audiência aumentar bruscamente” (BERTRAND, 1999, p. 206). Além disso, aponta o
autor, as companhias que atribuem maior importância à deontologia têm crescimento quatro a
cinco vezes superior à média das companhias cotadas pelo índice Dow Jones96. Conforme
afirmado anteriormente, no entanto, atribuir maior importância não se traduz necessariamente
em comprometimento efetivo, visto que muitas vezes é feito um uso estratégico da ética por
parte das companhias, sendo esta utilizada para conquistar os consumidores. O fato é que os
diretores da imprensa estão muito cientes disso, mas se recusam a adotar meios para garantir a
efetivação da ética normativa. Tanto é verdade que é comum, em tempos de crise, que os
meios comecem a se preocupar com a questão deontológica, sendo a ética concebida somente
como uma ferramenta de relações pública, o que compromete sua eficácia.
Apesar de a autorregulamentação ajudar na efetivação da ética normativa no
jornalismo, não se deve superestimá-la. No mundo atual, a principal ameaça à liberdade e
qualidade da mídia reside na exploração selvagem dos meios de comunicação promovida por
companhias gigantes como a News Corporation97. É ingênuo pensar que a deontologia refreie
estes apetites. Dessa maneira, haverá sempre a necessidade de leis e regulamentos.
Primeiramente para garantir oportunidades iguais para todos os órgãos da mídia e, depois,
para frear a tendência natural das empresas no capitalismo de concentração dos meios de
produção de riqueza, de maximização do lucro e negação do serviço de utilidade pública que
é a imprensa. Efetivamente, há a necessidade dos três aspectos para garantir a qualidade da
imprensa – leis, mercado e deontologia – de modo que, regulamentar a atividade jornalística,
96 Principal índice da Bolsa de Valores de Nova York.
97 A News Corporation é um dos maiores conglomerados de mídia do mundo, controlando a produção e distribuição de conteúdo televisivo, cinematográfico, jornalístico e publicitário. É a proprietária dos jornais britânicos The Sun, The Times, do norte-americano The Wall Street Journal, da operadora de televisão por satélite britânica SKY e da rede de televisão norte-americana Fox. Desde o início de 2011, a News Corporation se encontra no centro das discussões sobre ética na imprensa no Reino Unido. Em julho, o conglomerado fechou o jornal News of the World, que era o mais vendido aos domingos, com uma circulação média de 2,8 milhões de exemplares, após ter sido constatado que os funcionários do tabloide estavam grampeando os telefones de mais de quatro mil pessoas, entre vítimas de crimes, membros da família real britânica, celebridades, políticos, esportistas e parentes de soldados mortos no Iraque e no Afeganistão. Em meio ao escândalo, o tabloide perdeu boa parte de seus anunciantes e se tornou insustentável.
83
conforme indicou o presidente dos Estados Unidos John Adams em carta a um amigo em
1815, é um dos grandes enigmas da humanidade98.
98 “Se um dia houver uma melhoria da condição da humanidade, os filósofos, teólogos, legisladores, políticos e moralistas descobrirão que a regulamentação da imprensa é o problema mais difícil, mais perigoso e o mais importante que terão que resolver”.
84
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Não foi o objetivo deste trabalho negar a importância dos veículos de comunicação. A
mídia tem um papel crucial a partir do momento em que denuncia as injustiças presentes na
sociedade – entre as quais a violência urbana, enfermidade social da qual nosso país possui
uma das maiores taxas. No entanto, cabe a ela propor soluções e não acirrar ainda mais os
conflitos através de coberturas que não contribuem em nada para a sociedade. Conforme
aponta Cornu (1998), uma das responsabilidades essenciais do jornalismo, raramente
mencionada nos códigos de ética, é justamente a resolução de conflitos antes que eles se
tornem ocorrências explosivas. Para ele, esse é um dos maiores déficits da mídia
contemporânea. Não foi o que se verificou nos casos analisados, em especial na cobertura do
sequestro de Eloá Pimentel.
O objetivo principal do presente trabalho foi de fazer-se saber se a ética normativa é
respeitada no que diz respeito à cobertura pela mídia brasileira de crimes violentos
envolvendo menores de idade. Além disso, pretendeu-se elucidar a maneira como os códigos
de ética dos principais órgãos da categoria jornalística do ocidente tratam a questão. Uma vez
constatado que as regras não foram respeitadas nos casos escolhidos como objeto de análise,
tornou-se necessário investigar quais são os fatores que levam ao desrespeito das normas
definidas pela categoria e como fazê-las serem respeitadas sem ferir o preceito da liberdade de
imprensa.
A partir da análise, constatou-se que as regras nem sempre são explícitas – sendo por
vezes confusas – e que elas podem variar muito de um país para o outro. No caso da
exposição da imagem do acusado de assassinar Marco Jara, a lei é que proíbe a identificação
de menores infratores, tendo a Rede Record incorrido numa penalidade legal e não ética. Em
relação à cobertura feita do sequestro de Eloá Pimentel, constatou-se que, por vezes, a atuação
jornalística sem a devida preocupação com o público e com o objeto da notícia poder levar à
tragédia. Apesar de ser algo difícil de mensurar, é inegável que a imprensa influenciou no
desfecho do sequestro, uma vez que se tornou personagem ativo do caso que narrava.
Após ser constatado que a ética normativa foi desconsiderada nos casos analisados, foi
feita uma análise dos principais fatores que levam às faltas éticas no jornalismo, sendo o
mercado um fator determinante, seja devido à influência da publicidade no material
jornalístico ou à ameaça cada vez crescente de oligopolização da imprensa. Entre os fatores
internos, o principal foi a noção que muitos jornalistas têm de que não precisam prestar contas
85
à sociedade a qual servem, a chamada “autossuficiência ética”. Levando-se em conta os
mecanismos apontados para garantir a eficácia da ética normativa no jornalismo, pode-se
afirmar que eles não são levados em consideração pelos patrões da imprensa e por alguns
jornalistas. Os primeiros só se interessam pelo debate da ética quando a credibilidade da
grande mídia é questionada, enquanto os segundos mantêm uma visão obsoleta sobre o papel
da ética em garantir um jornalismo que sirva bem à sociedade que o consome.
O estudo comprovou que a ética foi atropelada nas coberturas de crimes envolvendo
menores de idade analisadas; que a falta de efetivação das normas deontológicas da categoria
traz grandes consequências para a sociedade, como colocar a vida de Eloá e dos menores
infratores em risco; que essas normas são de difícil aplicação na prática, seja por fatores
externos ou internos à redação ou até mesmo os valores pessoais de cada jornalista envolvido
na produção da notícia, que muitas vezes tem na atuação profissional seu único referencial
ético. Foi possível comprovar também que a sociedade, cuja existência na democracia
depende da informação, encontra-se refém de um tipo de jornalismo sensacionalista e
mesquinho, que tem no anunciante sua única razão de existência, contrariando o próprio
cenário que propiciou o surgimento da imprensa no passado.
A partir desta constatação, torna-se necessário que jornalistas e público, os atores
sociais mais interessados na melhora da imprensa, lutem pela efetivação dos mecanismos de
autorregulamentação da mídia, que não mais pode servir apenas a uma parcela ínfima da
população num país de mais de 180 milhões de habitantes. Caso consigam, os jornalistas terão
sua atividade profissional valorizada pela sociedade, enquanto o público terá uma
multiplicidade maior das informações que necessita para fazer suas escolhas dentro da
democracia.
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Assassino+de+Joao+Helio+se+entrega+apos+ter+protecao+anulada.html>. Acesso em: 14
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EI5030,00-MPRJ+quer+assassino+de+Joao+Helio+fora+de+programa+de+protecao.html>.
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Responsavel+pela+morte+de+Joao+Helio+esta+sob+custodia+da+Justica.html>. Acesso em:
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UCHÔA, Alícia. “Audiência vai decidir futuro de jovem envolvido na morte de João Hélio”.
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AUDIENCIA+VAI+DECIDIR+FUTURO+DE+JOVEM+ENVOLVIDO+NA+MORTE+DE
+JOAO+HELIO.html>. Acesso em: 13 set. 2011.
UCHÔA, Alícia. “Jovem envolvido na morte de João Hélio ganha liberdade assistida no RJ”.
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101
ANEXOS
ANEXO 1 – CÓDIGOS DE ÉTICA ANALISADOS
1. ALEMANHA
Drawn up by the German Press Council in collaboration with the Press associations and
presented to Federal President Gustav W Heinemann on 12 December 1973 in Bonn, updated
20 June 2001.
The freedom of the Press guaranteed by the Basic Law (Constitution) of the Federal Republic
of Germany embraces independence and freedom of information, expression and criticism.
Publishers, editors and journalists must in their work remain aware of their responsibility
towards the public and their duty to uphold the prestige of the Press. They must perform their
journalistic duties to the best of their ability and belief and must not allow their work to be
influenced by personal interests or extraneous motives.
The Press Code embodies the professional ethics of the Press. These include the duty within
the framework of the Constitution and constitutional laws to maintain the standing of the
Press and speak up for the freedom of the Press.
The regulations pertaining to editorial data protection apply to the Press in gathering,
processing or using information about persons for journalistic-editorial purposes. From
research to editing, publishing, documenting and storing these data, the Press must respect
people's privacy and right to self-determination on information about them.
The professional ethics grant everyone affected the right to complain about the Press.
Complaints are justified if professional ethics are infringed.
Section 1
Guidelines 1.1 to 1.3
Respect for the truth, observance of human rights and accurate informing of the public are the
overriding principles of the Press.
Guideline 1.1 - Exclusive agreements
The informing of the public about events which, because of their importance, weight and
significance are of general interest and importance for forming of public opinion and intent,
must not be restricted or prevented by exclusive agreements with informants or shielding of
102
them. Those who seek a monopoly on information exclude the rest of the Press from
acquiring important news and thus impinge upon the freedom of information.
Guideline 1.2 - Election campaign rallies
It is a matter of journalistic fairness, serves the citizen's right to freedom of information and
upholds the equality of opportunity of democratic parties when Press reports on election
campaign rallies include opinions which the media themselves do not share.
Guideline 1.3 - Press releases
Press releases issued by public authorities, political parties, associations, clubs or other lobby
groups must be clearly defined as such if they are published without having been edited.
Section 2
Guidelines 2.1 to 2.6
The publication of specific news and information in text and photographs must be carefully
checked for accuracy in the light of existing circumstances. Its sense must not be distorted or
falsified by editing, headlines or captions. Documents must be accurately reproduced.
Unconfirmed reports, rumours or assumptions must be quoted as such. It must be clear, or
made so, that symbolic photographs are such.
Guideline 2.1 - Opinion poll findings
The German Press Council recommends that in publishing findings by opinion poll institutes,
the Press should give the number of respondents, the date of the poll, the identity of the
person or organisation that commissioned it, and the questions asked. If the institute was not
commissioned to carry out the poll, it should be pointed out that it was implemented at the
initiative of the institute itself.
Guideline 2.2 - Symbolic photographs
If an illustration, especially a photograph, can be taken to be a documentary picture by the
casual reader, although it is a symbolic photograph, this must be clarified. For this reason: -
substitute or auxiliary illustrations (i.e. a similar subject at a different time, or a different
subject at the same time, etc.), - symbolic illustrations (reconstructed scenes, artificially
visualised events to accompany text, etc.), - photomontages or other changes must be clearly
marked as such either in the caption or in the accompanying text.
Guideline 2.3 - Advance reports
The Press bears full journalistic responsibility for advance reports published in a compressed
form which announce a forthcoming story. Anyone who further distributes advance reports by
Press organs by stating the source must, basically, be able to rely on their validity.
Abridgements or additions must not lead to a situation where the basic elements of the story
103
are given a new slant or prompt incorrect conclusions which may harm the legitimate interests
of third parties.
Guideline 2.4 - Interviews
An interview is absolutely journalistically correct if it has been authorised by the interviewee
or his/her representative. If time is short, it is also correct to publish statements in
unauthorised interview form if it is clear to both the interviewer and the interviewee that the
statements are to be published either verbatim or as an edited version. Journalists must always
identify themselves as such. If the text of an interview is reproduced in full or in part, the
publication concerned must state its source. If the basic content of verbally expressed
thoughts is paraphrased, it is nonetheless a matter of journalistic honour to state the source. In
the case of advanced reports of an interview in abridged form, care must be taken to protect
the interviewee against any distortions or impairments which may jeopardise his or her
legitimate interests.
Guideline 2.5 - Embargoes
The imposition of embargoes during which the publication of certain information is held over
is justifiable only if it is vital for objective and careful reporting. In principle, embargoes are a
free agreement between informants and the media. Embargoes should be observed only if
there is an objectively justifiable reason, such as in the case of speeches still to be held,
advance copies of company reports or information on a future event (meetings, resolutions,
honours ceremonies, etc.). Embargoes must not be used for publicity purposes.
Guideline 2.6 - Readers' letters
(1) By means of readers' letters, insofar as they are suitable in terms of form and content,
readers should have the opportunity to express their views and thus participate in the opinion-
forming process. It is in line with the journalistic duty of due diligence to observe the Press
Code when publishing readers' letters.
(2) Correspondence with publishers or editorial departments can be printed as readers' letters
if it is clear, due to their form and content, that this is in accordance with the sender's wishes.
Consent may be assumed if the letter refers to articles published by the newspaper or
magazine concerned or to matters of general interest. The authors of such readers' letters have
no legal right to have them published.
(3) It is common practice that readers' letters are published with the author's name. Only in
exceptional cases can, at the request of the author, another designation be used. The Press
should not publish the authors' addresses. If there is any doubt about the identity of the sender,
104
a letter should not be printed. The publication of fake readers' letters is not compatible with
the duties of the Press.
(4) Changes or abridgements of letters from authors known by name are fundamentally
impermissible without the author's consent. Abridgements are possible if the Readers' Letters
section contains a permanent notice that the editor reserves the right to shorten such letters
without changing the meaning of them. Should the sender expressly forbid changes or
abridgements, the editorial department must either comply with that wish, even if it has
reserved the right to abridgement, or decline to publish the letter.
(5) All readers' letters sent to the editor are subject to editorial secrecy. They must never be
passed on to third parties.
Section 3
Guidelines 3.1 to 3.3
Published news or assertions, particularly those related to persons, which turn out to be
incorrect must be rectified promptly in an appropriate manner by the publication concerned.
Guideline 3.1 – Corrections
The reader must be able to recognise that the previous article was wholly or partly incorrect.
For this reason a correction publishing the true facts must also refer to the incorrect article.
The true facts are to be published even if the error has already been publicly admitted in
another way.
Guideline 3.2 – Documentation
If journalistic-editorial research, processing or use of person-related data results in the Press
having to publish corrections, retractions, refutations by the persons concerned or to a
reprimand by the German Press Council, the publication involved must store them along with
the original data and document them for the same period as the original data.
Guideline 3.3 – Information
If a Press report has a negative effect on someone's personal rights, the publication
responsible must, at his or her request, give them information on the data upon which the
report was based and on the data on his or her person which the publication has stored. The
information may be declined if: - the data enables derivation of the names of persons who are
collaborating, or have collaborated, in the research, processing or publishing of articles as part
of their journalistic work; - the data enables derivation of the names of contributors,
guarantors or informants of articles, documents and reports for the editorial section; -
imparting the data obtained by research or other means would negatively affect the
publication´s journalistic mission by revealing the information it possesses; or - it otherwise
105
proves to necessary in order to reconcile the right to privacy with the regulations obtaining on
freedom of expression.
Section 4
Guidelines 4.1 to 4.3
Dishonest methods must not be used to acquire person-related news, information or
photographs
Guideline 4.1 - Principles of research
Research is an indispensable instrument of the journalistic duty of due diligence. Journalists
must, as a fundamental principle, identify themselves as such. Untrue statements by a
journalist about his/her identity and their publication when doing research work are
fundamentally irreconcilable with the standing and function of the Press. Undercover research
may be justifiable in individual cases if in this way information of particular public interest is
gained which cannot be procured by other means. In the event of accidents and natural
disasters, the Press must bear in mind that emergency services for the victims and those in
danger have priority over the public right to information.
Guideline 4.2 - Research among people requiring protection
When conducting research among people requiring protection, particular restraint is called
for. This applies especially to people who are not in full possession of their mental or physical
powers or who have been exposed to an extremely emotional situation, as well as to children
and juveniles. The limited willpower or the special situation of such people must not be
exploited deliberately to gain information.
Guideline 4.3 - Blocking or Deletion of personal data
Personal data gathered in violation of the Press Code are to be blocked or deleted by the
publication involved.
Section 5
Guideline 5.1
Agreed confidentiality must be observed as a fundamental principle.
Guideline 5.1 – Confidentiality
Should an informant stipulate, as a condition for the use of his/her report, that he/she remain
unrecognisable or unendangered as the source, this is to be respected. Confidentiality can be
non-binding only if the information concerns a crime and there is a duty to inform the police.
Confidentiality may also be lifted if, in carefully weighing interests, important reasons of state
predominate, particularly if the constitutional order is affected or jeopardised. Actions and
106
plans described as secret may be reported if after careful consideration it is determined that
the public's need to know outweighs the reasons put forward to justify secrecy.
Section 6
Guidelines 6.1 to 6.2
All those employed by the Press shall preserve the prestige and credibility of the media,
observe professional secrecy, use the right to refuse to give evidence, and not disclose the
identity of informants without their express consent.
Guideline 6.1 - Separation of functions
Should a journalist or publisher exercise another function in addition to his or her journalistic
activity, for example in a government, a public authority or a business enterprise, all those
involved must take care strictly to separate these functions. The same applies in reverse.
Conflicts of interests harm the standing of the Press.
Guideline 6.2 - Secret service activities
Secret service activities by journalists and publishers are irreconcilable with the duties
stemming from professional secrecy and the prestige of the Press.
Section 7
Guidelines 7.1 to 7.3
The responsibility of the Press towards the public requires that editorial publications are not
influenced by the private or business interests of third parties or by the personal commercial
interests of journalists. Publishers and editors must reject any attempts of this nature and make
a clear distinction between editorial texts and commercial content.
Guideline 7.1 - Distinction between editorial text and advertisements
Regulations under advertising law apply to paid content. Accordingly, publications must be so
designed that the reader can recognise advertising as such.
Guideline 7.2 - Surreptitious advertising
Editorial stories that refer to companies, their products, services or events must not overstep
the boundary to surreptitious advertising. This risk is especially great if a story goes beyond
justified public interest or the reader's interest in information. The credibility of the Press as a
source of information calls for particular care in dealing with PR material and in producing
editorial supplements. This also applies to unedited advertising texts, photographs and
illustrations.
Guideline 7.3 - Special publications
Special publications are subject to the same editorial responsibility as all other editorial
content.
107
Guideline 8.1 - Publication of names and photographs
(1) The publication of names and photographs of victims and accused persons in reports on
accidents, crimes, investigations and court cases (see also Section 13 of the Press Code) is in
general not justified. The public's right to information must always be weighed against the
personal rights of those involved. The need for sensation cannot justify the public's right to be
informed.
(2) Victims of accidents or crimes have a right to special protection of their names. It is not as
a rule necessary to identify the victim in order for readers better to understand the accident or
crime. Exceptions can be justified if the person concerned is famous or if there are special
accompanying circumstances.
(3) In the case of dependants and other people who are indirectly affected by an accident or
who have nothing to do with a crime, the publication of names and photographs is
fundamentally impermissible.
(4) The publication of the full names and/or photographs of suspects accused of a capital
crime is, however, justified if it is in the interest of solving the crime and an arrest warrant has
been applied for, or if the crime was committed in public view. If there are reasons to believe
that a suspect is innocent, no name or photograph should be published.
(5) In the case of crimes committed by juveniles, if no serious crimes are involved names and
identifying photographs should not be published out of consideration for their future.
(6) In the case of officials and elected representatives, the publication of names and
photographs can be permissible if there is a connection between a public office or mandate
and a crime. The same applies to famous people if the crime of which they are accused is
contrary to their public image.
(7) The names and photographs of missing persons may be published, but only in agreement
with the responsible authorities.
Guideline 8.2 - Protection of location
People’s private addresses and other locations, such as hospitals, nursing homes, cure resorts,
prisons and rehabilitation centres enjoy special protection.
Guideline 8.3 - Re-socialisation
In the interests of re-socialisation, publication of the names and photographs of accused
persons is as a rule to be omitted when reporting a criminal trial.
Guideline 8.4 – Illnesses
Physical and mental illness or injuries come fundamentally within the private sphere of the
persons affected. Out of consideration for them and their dependants, the Press should not
108
publish names and photographs in such cases and should avoid using disparaging terms to
describe their illness or hospital/clinic, even if they are terms in popular usage. Historical or
famous persons are protected by law against discriminatory revelations even after their death.
Guideline 8.5 - Suicide
Reporting on suicides calls for restraint. This applies in particular to the publication of names
and detailed descriptions of the circumstances. Exceptions are justifiable only if the case is
one of contemporary history and public interest.
Guideline 8.6 - Opposition and escapes
In reports on countries where opposition to the government can mean danger to life and limb,
the Press must always consider whether, by publishing names or photographs, those involved
may be identified and persecuted in their homeland. The same applies to reports on refugees.
Furthermore, it must be remembered that the publication of details about such persons and
about the preparation and realisation of escapes and escape routes may result in relatives and
friends who are still in the escapees' homelands being endangered, or in still-existing escape
routes being closed.
Guideline 8.7 - Anniversary dates
The publication of anniversary dates of persons who are otherwise not in the public eye
requires that the editorial department has confirmed in advance whether those involved
consent to publication or would prefer protection from public attention.
Guideline 8.8 - Data transfer
All person-related data gathered, processed and used for journalistic-editorial purposes are
subject to editorial secrecy. Transfer of such data between editorial departments is
permissible. It is not to be done until conclusion of a formal complaint procedure under data
protection law. A data transfer is to be annotated with the remark that the data is to be edited
or used only for journalistic-editorial purposes.
Section 9
It is contrary to journalistic decorum to publish unfounded claims and accusations,
particularly those that harm personal honour.
Section 10
Publications in word and image which could seriously offend the moral or religious feelings
of a group of persons, in form or content, are irreconcilable with the responsibility of the
Press.
Section 11
Guidelines 11.1 to 11.6
109
The Press will refrain from inappropriately sensational portrayal of violence and brutality.
The protection of young persons is to be considered in reporting.
Guideline 11.1 - Inappropriate portrayal
A report is inappropriately sensational if the person it covers is reduced to an object, to a mere
thing. This is particularly so if reports about a dying or physically or mentally suffering
person goes beyond public interest and the readers' requirement for information.
Guideline 11.2 - Reporting acts of violence
In reporting actual and threatened acts of violence, the Press should weigh carefully the
public's interest in information against the interests of the victims and other people involved.
It should report on such incidents in an independent and authentic way, but not allow itself to
be made the tool of criminals. Nor should it undertake independent attempts to mediate
between criminals and the police. There must be no interviews with perpetrators during acts
of violence.
Guideline 11.3 - Accidents and disasters
The limit of acceptability in reports on accidents and disasters is respect for the suffering of
the victims and the feelings of their dependants. Victims of misfortune must not be made to
suffer a second time by their portrayal in the media.
Guideline 11.4 - Coordination with the authorities/news 'blackouts'
In principle, the Press does not accept news 'blackouts'. Coordination between the media and
the police shall occur only if the action of journalists can protect or save the life and health of
victims and other involved persons. The Press shall comply with police requests for a partial
or total news embargo for a certain period of time in the interest of solving crime, if the
request is justified convincingly.
Guideline 11.5 - Criminals' memoirs
The publication of so-called criminals' memoirs infringes journalistic principles if crimes are
justified or qualified with hindsight, the victims are inappropriately affected, and a detailed
description of the crime merely satisfies the demand for sensation.
Guideline 11.6 - Drugs
Press stories must not play down drug abuse.
Section 12
Guideline 12.1
No-one may be discriminated against due to their membership of a racial, ethnic, religious,
social or national group.
Guideline 12.1 - Reports on crimes
110
When reporting crimes, it is not permissible to refer to the suspect's religious, ethnic or other
minority membership unless this information can be justified as being relevant to the readers'
understanding of the incident. In particular, it must be borne in mind that such references
could stir up prejudices against groups in need of protection.
Section 13
Guidelines 13.1 to 13.2
Reports on investigations, criminal court proceedings and other formal procedures must be
free from prejudice. For this reason, before and during legal proceedings all comment, both in
reports and headlines, must avoid being one-sided or prejudicial. An accused person must not
be described as guilty before final judgment has been passed. Court decisions should not be
reported before they are announced unless there are serious reasons to justify such action.
Guideline 13.1 - Prejudice - subsequent reporting
Reports on investigations and court cases serve to inform the public in a careful way about
crimes, their prosecution and court judgment. Suspects must be presumed innocent until they
are proven guilty by a court, even if they have confessed. Even in cases where guilt is obvious
to the public, an accused person cannot be portrayed as guilty within the meaning of a court
judgment until a verdict has been handed down. Prejudicial portrayals and allegations violate
the constitutional protection of human dignity, which also applies without qualification to
criminals. In a state based on the rule of law, the aim of court reporting must not be to punish
convicted criminals socially as well by using the media as a "pillory". Therefore reports
should make a clear distinction between suspicion and proven guilt. If the Press has reported
on the unconfirmed conviction of a person it has named or who is identifiable to a large circle
of readers, it should also report an ensuing acquittal or a marked lessening of charges if the
legitimate interests of the person affected do not dictate to the contrary. This recommendation
also applies to the dropping of an investigation. Criticism and comment on a case must be
easily distinguishable from reporting on court proceedings.
Guideline 13.2 - Crimes committed by young persons
When reporting on investigations and criminal court proceedings against young persons and
on their appearance in court, the Press must exercise especial restraint out of consideration for
their future. This also applies to young victims of crimes.
Section 14
Guideline 14.1
111
Reports on medical subjects should not be of an inappropriately sensationalist nature which
could raise unfounded fears or hopes among readers. Research findings that are still at an
early stage should not be portrayed as conclusive or almost conclusive.
Guideline 14.1 - Medical or pharmaceutical research
Reports of alleged successes or failures of medical or pharmaceutical research in the fight
against serious illnesses call for circumspection and a sense of responsibility. Thus, neither
text nor presentation should include anything that might raise unfounded hopes of a cure in
the foreseeable future among ill readers and their dependants if this does not conform with the
actual state of medical research. Conversely, critical or even one-sided reports on hotly-
debated opinions should not make seriously-ill persons feel unsure and thus raise doubts about
the possible success of therapeutic measures.
Section 15
Guideline 15.1
The acceptance or granting of privileges of any kind which could possibly influence the
freedom or decision on the part of publishers and editors are irreconcilable with the prestige,
independence and mission of the Press. Anyone who accepts bribes for the dissemination or
suppression of news acts in a dishonourable and unprofessional manner.
Guideline 15.1 - Invitations and gifts
The freedom of decision and independent judgment of publishing companies and their
editorial staff is endangered if they accept invitations and gifts which exceed the usual level of
social contacts and that necessary in their professional work. Even the appearance that the
freedom of decision of a publishing house and its editorial staff can be impaired by accepting
invitations and gifts is to be avoided. Gifts are economic and non-material favours of any
kind. The acceptance of advertising articles for everyday use or other low-value objects on
traditional occasions is not a cause for concern. Research and reporting must not be
influenced, hindered or prevented by the giving or accepting of gifts, discounts or invitations.
Publishing houses and journalists should insist that information be given regardless of the
acceptance of a gift or an invitation.
Section 16
Guideline 16.1
It is considered fair reporting when a public reprimand issued by the German Press Council is
published, especially by the publications concerned.
Guideline 16.1 - Publication of reprimands
112
The following applies to the publication concerned: The reader must be informed of the false
nature of the reprimanded article and of the journalistic principle it violated.
2. ÁUSTRIA
The Code of Honour of the Austrian Press, adopted on 31 January 1983 in Wien by the
Austrian Press Council.
Introduction:
Newspaper and other publishers, radio and television companies and journalists, together bear
the responsibility for the freedom of the media in a democracy. Therefore the Austrian Press
Council appeals to all whose work or mission is to inform about and comment on current
issues, to be conscious of their duty to truthfulness, purity and correctness.
Continuing self-control is a good means of fulfilling this duty. That is why the Austrian Press
Council has made the following basic principles for all persons involved in news gathering
and editing, or in commenting.
1. Journalism involves the responsibility for the publication, for the medium in question and
for the journalist's own conscience. Therefore the most important duties of the journalist in his
work as an information collector and editor are conscientiousness and correctness. The same
goes for the collection of news, photographs and other information material.
2. The interference of outsiders in the content or form of the information is unacceptable. Not
only direct interference or pressure but also bribes and other personal gains not directly
connected to the profession are regarded as such. Nor can personal interests have influence on
the work.
3. When dealing with the private sphere, the public interest for information and the interest of
the individual and his/ her close ones' privacy must be balanced. Reports of the "false steps"
of juveniles must not hinder or make more difficult their resocialization. In such cases the
names must be shortened.
4. Freedom of writing and comment is an important part of the freedom of the press. The
defamation of private persons, slander and libel are, however, misuse of that freedom and a
violation of the journalistic ethos. This goes for "single" accusations or the defamation of
persons or groups of persons. All discrimination on the basis of race, religion, national or
other reasons is inadmissible. The conscious publication of misrepresentive and hurtful
pictures is also impermissible.
113
5. The journalists of newspapers who play upon the fears of people in order to make money
are regarded as guilty of one of the biggest misuses of the freedom of the press.
3. BRASIL
Capítulo I - Do direito à informação
Art. 1º O Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros tem como base o direito fundamental do
cidadão à informação, que abrange direito de informar, de ser informado e de ter acesso à
informação.
Art. 2º Como o acesso à informação de relevante interesse público é um direito fundamental,
os jornalistas não podem admitir que ele seja impedido por nenhum tipo de interesse, razão
por que:
I - a divulgação da informação precisa e correta é dever dos meios de comunicação e deve ser
cumprida independentemente da linha política de seus proprietários e/ou diretores ou da
natureza econômica de suas empresas;
II - a produção e a divulgação da informação devem se pautar pela veracidade dos fatos e ter
por finalidade o interesse público;
III - a liberdade de imprensa, direito e pressuposto do exercício do jornalismo, implica
compromisso com a responsabilidade social inerente à profissão;
IV - a prestação de informações pelas organizações públicas e privadas, incluindo as não-
governamentais, deve ser considerada uma obrigação social;
V - a obstrução direta ou indireta à livre divulgação da informação, a aplicação de censura e a
indução à autocensura são delitos contra a sociedade, devendo ser denunciadas à comissão de
ética competente, garantido o sigilo do denunciante.
Capítulo II - Da conduta profissional do jornalista
Art. 3º O exercício da profissão de jornalista é uma atividade de natureza social, estando
sempre subordinado ao presente Código de Ética.
Art. 4º O compromisso fundamental do jornalista é com a verdade no relato dos fatos, deve
pautar seu trabalho na precisa apuração dos acontecimentos e na sua correta divulgação.
Art. 5º É direito do jornalista resguardar o sigilo da fonte.
Art. 6º É dever do jornalista:
I - opor-se ao arbítrio, ao autoritarismo e à opressão, bem como defender os princípios
expressos na Declaração Universal dos Direitos Humanos;
II - divulgar os fatos e as informações de interesse público;
114
III - lutar pela liberdade de pensamento e de expressão;
IV - defender o livre exercício da profissão;
V - valorizar, honrar e dignificar a profissão;
VI - não colocar em risco a integridade das fontes e dos profissionais com quem trabalha;
VII - combater e denunciar todas as formas de corrupção, em especial quando exercidas com
o objetivo de controlar a informação;
VIII - respeitar o direito à intimidade, à privacidade, à honra e à imagem do cidadão;
IX - respeitar o direito autoral e intelectual do jornalista em todas as suas formas;
X - defender os princípios constitucionais e legais, base do estado democrático de direito;
XI - defender os direitos do cidadão, contribuindo para a promoção das garantias individuais e
coletivas, em especial as das crianças, adolescentes, mulheres, idosos, negros e minorias;
XII - respeitar as entidades representativas e democráticas da categoria;
XIII - denunciar as práticas de assédio moral no trabalho às autoridades e, quando for o caso,
à comissão de ética competente;
XIV - combater a prática de perseguição ou discriminação por motivos sociais, econômicos,
políticos, religiosos, de gênero, raciais, de orientação sexual, condição física ou mental, ou de
qualquer outra natureza.
Art. 7º O jornalista não pode:
I - aceitar ou oferecer trabalho remunerado em desacordo com o piso salarial, a carga horária
legal ou tabela fixada por sua entidade de classe, nem contribuir ativa ou passivamente para a
precarização das condições de trabalho;
II - submeter-se a diretrizes contrárias à precisa apuração dos acontecimentos e à correta
divulgação da informação;
III - impedir a manifestação de opiniões divergentes ou o livre debate de ideias;
IV - expor pessoas ameaçadas, exploradas ou sob risco de vida, sendo vedada a sua
identificação, mesmo que parcial, pela voz, traços físicos, indicação de locais de trabalho ou
residência, ou quaisquer outros sinais;
V - usar o jornalismo para incitar a violência, a intolerância, o arbítrio e o crime;
VI - realizar cobertura jornalística para o meio de comunicação em que trabalha sobre
organizações públicas, privadas ou não-governamentais, da qual seja assessor, empregado,
prestador de serviço ou proprietário, nem utilizar o referido veículo para defender os
interesses dessas instituições ou de autoridades a elas relacionadas;
VII - permitir o exercício da profissão por pessoas não-habilitadas;
115
VIII - assumir a responsabilidade por publicações, imagens e textos de cuja produção não
tenha participado;
IX - valer-se da condição de jornalista para obter vantagens pessoais.
Capítulo III - Da responsabilidade profissional do jornalista
Art. 8º O jornalista é responsável por toda a informação que divulga, desde que seu trabalho
não tenha sido alterado por terceiros, caso em que a responsabilidade pela alteração será de
seu autor.
Art 9º A presunção de inocência é um dos fundamentos da atividade jornalística.
Art. 10. A opinião manifestada em meios de informação deve ser exercida com
responsabilidade.
Art. 11. O jornalista não pode divulgar informações:
I - visando o interesse pessoal ou buscando vantagem econômica;
II - de caráter mórbido, sensacionalista ou contrário aos valores humanos, especialmente em
cobertura de crimes e acidentes;
III - obtidas de maneira inadequada, por exemplo, com o uso de identidades falsas, câmeras
escondidas ou microfones ocultos, salvo em casos de incontestável interesse público e quando
esgotadas todas as outras possibilidades de apuração;
Art. 12. O jornalista deve:
I - ressalvadas as especificidades da assessoria de imprensa, ouvir sempre, antes da
divulgação dos fatos, o maior número de pessoas e instituições envolvidas em uma cobertura
jornalística, principalmente aquelas que são objeto de acusações não suficientemente
demonstradas ou verificadas;
II - buscar provas que fundamentem as informações de interesse público;
III - tratar com respeito todas as pessoas mencionadas nas informações que divulgar;
IV - informar claramente à sociedade quando suas matérias tiverem caráter publicitário ou
decorrerem de patrocínios ou promoções;
V - rejeitar alterações nas imagens captadas que deturpem a realidade, sempre informando ao
público o eventual uso de recursos de fotomontagem, edição de imagem, reconstituição de
áudio ou quaisquer outras manipulações;
VI - promover a retificação das informações que se revelem falsas ou inexatas e defender o
direito de resposta às pessoas ou organizações envolvidas ou mencionadas em matérias de sua
autoria ou por cuja publicação foi o responsável;
VII - defender a soberania nacional em seus aspectos político, econômico, social e cultural;
116
VIII - preservar a língua e a cultura do Brasil, respeitando a diversidade e as identidades
culturais;
IX - manter relações de respeito e solidariedade no ambiente de trabalho;
X - prestar solidariedade aos colegas que sofrem perseguição ou agressão em consequência de
sua atividade profissional.
Capítulo IV - Das relações profissionais
Art. 13. A cláusula de consciência é um direito do jornalista, podendo o profissional se
recusar a executar quaisquer tarefas em desacordo com os princípios deste Código de Ética ou
que agridam as suas convicções.
Parágrafo único. Esta disposição não pode ser usada como argumento, motivo ou desculpa
para que o jornalista deixe de ouvir pessoas com opiniões divergentes das suas.
Art. 14. O jornalista não deve:
I - acumular funções jornalísticas ou obrigar outro profissional a fazê-lo, quando isso implicar
substituição ou supressão de cargos na mesma empresa. Quando, por razões justificadas, vier
a exercer mais de uma função na mesma empresa, o jornalista deve receber a remuneração
correspondente ao trabalho extra;
II - ameaçar, intimidar ou praticar assédio moral e/ou sexual contra outro profissional,
devendo denunciar tais práticas à comissão de ética competente;
III - criar empecilho à legítima e democrática organização da categoria.
Capítulo V - Da aplicação do Código de Ética e disposições finais
Art. 15. As transgressões ao presente Código de Ética serão apuradas, apreciadas e julgadas
pelas comissões de ética dos sindicatos e, em segunda instância, pela Comissão Nacional de
Ética.
§ 1º As referidas comissões serão constituídas por cinco membros.
§ 2º As comissões de ética são órgãos independentes, eleitas por voto direto, secreto e
universal dos jornalistas. Serão escolhidas junto com as direções dos sindicatos e da
Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), respectivamente. Terão mandatos coincidentes,
porém serão votadas em processo separado e não possuirão vínculo com os cargos daquelas
diretorias.
§ 3º A Comissão Nacional de Ética será responsável pela elaboração de seu regimento interno
e, ouvidos os sindicatos, do regimento interno das comissões de ética dos sindicatos.
Art. 16. Compete à Comissão Nacional de Ética:
I - julgar, em segunda e última instância, os recursos contra decisões de competência das
comissões de ética dos sindicatos;
117
II - tomar iniciativa referente a questões de âmbito nacional que firam a ética jornalística;
III - fazer denúncias públicas sobre casos de desrespeito aos princípios deste Código;
IV - receber representação de competência da primeira instância quando ali houver
incompatibilidade ou impedimento legal e em casos especiais definidos no Regimento
Interno;
V - processar e julgar, originariamente, denúncias de transgressão ao Código de Ética
cometidas por jornalistas integrantes da diretoria e do Conselho Fiscal da FENAJ, da
Comissão Nacional de Ética e das comissões de ética dos sindicatos;
VI - recomendar à diretoria da FENAJ o encaminhamento ao Ministério Público dos casos em
que a violação ao Código de Ética também possa configurar crime, contravenção ou dano à
categoria ou à coletividade.
Art. 17. Os jornalistas que descumprirem o presente Código de Ética estão sujeitos às
penalidades de observação, advertência, suspensão e exclusão do quadro social do sindicato e
à publicação da decisão da comissão de ética em veículo de ampla circulação.
Parágrafo único - Os não-filiados aos sindicatos de jornalistas estão sujeitos às penalidades de
observação, advertência, impedimento temporário e impedimento definitivo de ingresso no
quadro social do sindicato e à publicação da decisão da comissão de ética em veículo de
ampla circulação.
Art. 18. O exercício da representação de modo abusivo, temerário, de má-fé, com notória
intenção de prejudicar o representado, sujeita o autor à advertência pública e às punições
previstas neste Código, sem prejuízo da remessa do caso ao Ministério Público.
Art. 19. Qualquer modificação neste Código só poderá ser feita em congresso nacional de
jornalistas mediante proposta subscrita por, no mínimo, dez delegações representantes de
sindicatos de jornalistas.
4. CHILE
Introducción
Ética periodística es la definición teórica y aplicación práctica permanente y obligatoria de
normas conductuales y de procedimiento establecidas en el presente Código, que deben
observar los miembros de la Orden para que su actuación profesional sea correcta y
socialmente útil.
118
El cumplimiento de esta normativa será obligatorio para los periodistas y su resguardo estará
a cargo, en primera instancia, de los Tribunales de Ética y Disciplina de los regionales
respectivos y del Tribunal Nacional de Ética y Disciplina (TRINED), en caso de apelaciones.
La ética proporciona un marco de trabajo para dirigir las funciones esenciales de los
periodistas, establecer políticas y desarrollar estrategias para velar por el correcto ejercicio
profesional.
Quienes ejercen el periodismo y los medios de comunicación social son importantes agentes
socializadores. Tienen influencia en la formación de valores, creencias, hábitos, opinión y
conductas de los distintos estamentos de la sociedad.
La información en periodismo se entiende como bien social y no como un producto, lo que
significa que el periodista comparte la responsabilidad de la información transmitida y es
responsable, no sólo ante quienes controlan los medios, sino principalmente ante el público.
La responsabilidad social del periodista requiere que él o ella actúen, bajo todas las
circunstancias, en conformidad con el sentido ético personal.
El compromiso del periodista con la verdad y su deber de transmitirla a la ciudadanía es
irrenunciable y es su obligación impedir que bajo ninguna circunstancia, ya sea por presión
editorial, publicitaria, política o económica, ella sea alterada. La omisión, manipulación o el
falseamiento de la información es una falta grave que atenta contra la esencia de la actividad
de un periodista.
Cualquier intento o presión que reciba el periodista para modificar la verdad informativa a la
que se enfrente en el ejercicio de su labor, debe ser denunciada al Colegio de Periodistas de
Chile el que está obligado a prestar amparo a todo colegiado que sea afectado por defender la
verdad.
El masivo acceso a información cierta, confiable, oportuna, permanente y sin censura, incide
en la mantención y elevación de la dignidad y calidad de vida de las personas y permite a
todos los estratos de la ciudadanía, informarse, optar y participar con igualdad de
oportunidades en la toma de decisiones y actuaciones de la Nación.
119
La acción profesional del periodista se entiende como un aporte al bien social y no como un
producto neutro en el mundo de las comunicaciones, lo que significa que el periodista
comparte la responsabilidad de la información transmitida y no puede escudarse en los
criterios impuestos por quienes controlan los medios cuando no informa con veracidad y
objetividad. La responsabilidad social del periodista requiere que actúe, bajo todas las
circunstancias, en conformidad con el sentido de las normas éticas socialmente aceptadas y
por este Código.
El avance de las nuevas tecnologías de información y comunicación (TICs) abre nuevos
espacios para la labor de los periodistas, los cuales requieren normas específicas contenidas
en este Código.
I. DEL DEBER SER DE LOS PERIODISTAS
Primero:
Los periodistas están al servicio de la verdad, los principios democráticos y los Derechos
Humanos. En su quehacer profesional, el periodista se regirá por la veracidad como principio,
entendida como una información responsable de los hechos. El ejercicio del periodismo no
propiciará ni dará cabida a discriminaciones ideológicas, religiosas, de clase, raza, género,
discapacidad en todas sus formas, ni de ningún otro tipo, que lleven a la ofensa o menoscabo
de personas naturales o jurídicas.
Segundo:
El periodista difundirá sólo informaciones fundamentadas, sea por la correspondiente
verificación de los hechos en forma directa o con distintas fuentes, o la confiabilidad de las
mismas.
Tercero:
El periodista no manipulará, bajo ninguna circunstancia, la información y no será cómplice de
falsear la realidad.
Cuarto:
Es deber de los periodistas recurrir a todos los medios lícitos a su alcance, a fin de evitar que
se dicten o apliquen disposiciones que disminuyan, dificulten o anulen el ejercicio de la
120
libertad de expresión e información. En caso de estar vigentes leyes o reglamentos de ese
carácter, deberán trabajar en favor de su derogación.
Quinto:
Ningún periodista podrá hacer uso o invocar la aplicación de leyes que lesionen la libertad de
expresión e información, ni aun a pretexto de hacerlo fuera del ejercicio profesional.
Sexto:
El periodista deberá establecer siempre una distinción clara entre los hechos, las opiniones y
las interpretaciones, evitando toda confusión o distorsión deliberada de ellos.
Séptimo:
El periodista podrá hacer uso de todos los instrumentos técnicos a su alcance en la búsqueda
de la verdad, en el marco de los principios éticos señalados en este Código.
Octavo:
El periodista debe citar sus fuentes, pues el receptor tiene derecho a conocerlas. Sólo debe
silenciarlas si ellas se lo pidieren (off the record)-previa confirmación de su idoneidad y
confiabilidad- respetando así la confianza otorgada al entregársele antecedentes reservados.
El periodista no inventará fuentes, encubriéndolas como “un cercano”, “un alto funcionario de
la institución”, etc., resguardando de este modo la credibilidad y dignidad de la profesión, tal
como lo establece este Código.
En el caso del periodismo digital, es recomendable, además, incluir la fecha y un link o
vínculo a la fuente, a fin de ampliar la información para el lector o lectora, en caso de que lo
necesite.
Noveno:
El periodista que se haya comprometido a mantener en forma confidencial hechos,
informaciones u opiniones, no debe darlos a conocer ni pública ni privadamente. Esto implica
que tampoco podrá compartirlos con persona alguna que pudiera divulgarlos.
Décimo:
121
El periodista no podrá publicar por adelantado ningún material informativo suministrado para
su publicación en una fecha y hora previamente determinadas (embargo).
II. DEL PERIODISTA Y SUS PARES
Undécimo:
El periodista debe prestar solidaridad activa a los colegas que sufran persecuciones o
agresiones por causa de su ejercicio profesional, como asimismo a aquellos que sean juzgados
en virtud de disposiciones legales que el Colegio estime lesivas a la libertad de expresión.
Duodécimo:
Los periodistas reconocerán la potestad ética que sobre sus actuaciones como representantes
del gremio ejerce el Colegio de la Orden.
Decimotercero:
Ningún periodista colegiado podrá negarse a prestar declaración en un sumario o a concurrir a
la audiencia a que sea citado por el Tribunal de Ética y Disciplina del Colegio de Periodistas
de Chile, salvo que medie causa legítima de excusa, lo que será calificado por el respectivo
Tribunal
Decimocuarto:
Al periodista le está vedado denigrar a otros periodistas, ya sea por la vía de la descalificación
personal o a través de otra conducta, como la injuria o la calumnia, que lleve un descrédito
profesional o personal no merecido.
Los periodistas que ejercen labores en un medio de comunicación, gabinete de comunicación
institucional, carreras de formación periodística, u otro espacio laboral, deberán respeto a la
dignidad de sus colegas y subalternos.
Decimoquinto:
Si un periodista tuviese fundados reparos o dudas respecto del proceder ético de algún colega,
debe poner los antecedentes en conocimiento de las autoridades nacionales o regionales de la
Orden, las que derivarán el caso de acuerdo con los procedimientos vigentes. Toda publicidad
122
intencionada de la denuncia, hecha con anterioridad a la emisión del fallo por parte de los
organismos competentes, será considerada como falta.
Decimosexto:
Los profesionales de la Orden velarán porque todas las funciones periodísticas, incluidas la
definición de políticas informativas, sean realizadas por periodistas.
El periodista colaborará al fortalecimiento de la Orden y evitará toda expresión o alusión
denigrante respecto de los organismos y/o normativas internas de la Institución.
En caso de existir disensos con los acuerdos adoptados por el Consejo Nacional o cualquiera
de las demás instancias de la Orden, éstos deberán canalizarse a través de las instancias
propias del Colegio.
III. DEL PERIODISTA Y SU FUENTE LABORAL
Decimoséptimo:
El material gráfico y los titulares siempre deberán guardar concordancia con los textos que le
corresponden, de modo que el lector, televidente o auditor no sea inducido a confusión o
engaño. Del mismo modo, los títulos, subtítulos, leads, bajadas o frases destacadas, deben
expresar fielmente lo dicho por las personas entrevistadas o citadas en el cuerpo de la
información.
El material gráfico, en periodismo digital, impreso o audiovisual, deberá señalar claramente
cuando se trata de imágenes de archivo.
Decimoctavo:
El periodista defenderá en el lugar de trabajo que su condición de profesional sea claramente
establecida a fin de asegurar que el público sepa distinguir a los periodistas de otros
participantes en programas de televisión, radio u otros medios.
Decimonoveno:
123
Los periodistas no podrán introducir cambios sustanciales y dolosos en el contenido de
material periodístico de un colega, sin la autorización expresa del autor, en especial si lleva su
firma
Vigésimo:
El periodista establecerá siempre una distinción clara entre los mensajes informativos y los
publicitarios, evitando toda confusión o distorsión deliberada de ellos.
Vigésimo primero:
Ningún periodista introducirá en el medio de comunicación en que trabaja, mensajes que
favorezcan a la empresa, persona o institución para la que realiza simultáneamente labores de
relacionador público, asesorías o similares.
Vigésimo segundo:
Los periodistas lucharán por establecer aranceles mínimos a fin de evitar situaciones de
aprovechamiento y menoscabo a los profesionales de esta actividad.
Vigésimo tercero:
En el ejercicio profesional, el periodista deberá actuar siempre de acuerdo con su conciencia y
no podrá ser sancionado por ello. Consecuentemente, deberá luchar por el establecimiento de
la cláusula de conciencia plena en su relación con los empleadores. Una vez alcanzado este
objetivo, deberá velar por su estricto cumplimiento.
Vigésimo cuarto:
El periodista rechazará y denunciará cualquier intento de presión que tenga por finalidad
hacerle transgredir las normas de este Código.
IV. DEL PERIODISTA Y LA SOCIEDAD
Vigésimo quinto:
El periodista resguardará el derecho de la sociedad a tener acceso a una información veraz,
plural, responsable y oportuna. También ejercerá su influencia para que se garantice el
derecho legal a rectificación y enmienda y que éste se cumpla en los plazos legales, sin
modificaciones.
124
Vigésimo sexto:
El periodista respetará la dignidad y vida privada de las personas, evitando invadir su
intimidad con las facilidades que ofrecen las nuevas tecnologías. En esto se guiará por las
definiciones y estipulaciones consignadas en la legislación chilena y los instrumentos
internacionales. La excepción a esta norma se dará sólo cuando la divulgación de actos
privados sea necesaria por razones de fiscalización pública de probidad funcionaria o cuando
al amparo de la intimidad se está violando el derecho a la integridad física, psicológica u otro
derecho individual. En especial respetará la intimidad de las personas en situación de aflicción
o dolor, evitando las especulaciones y la intromisión gratuita en sus sentimientos y
circunstancias.
Vigésimo séptimo:
El periodista debe salvaguardar la presunción de inocencia, respetando las distintas etapas del
proceso judicial.
Además, se comprometerá a guardar la confidencialidad de cualquier persona entrevistada
resguardando su identidad y evitará el posible reconocimiento por su entorno, vestuario, u
otras características.
El periodista no identificará a menores de edad implicados en hechos judiciales ni entregará
antecedentes que permitan, por otra vía, su identificación
Vigésimo octavo:
Es deber del periodista ayudar a que la sociedad mejore la relación entre sus miembros,
apoyando acciones que corrijan injusticias, denuncien engaños y promuevan la justicia social,
la paz, la solidaridad y la fraternidad entre los integrantes de la comunidad.
El periodista deberá contribuir a sensibilizar a la opinión pública sobre la situación de los
sectores de la población que viven situaciones de desigualdad. Asimismo, colaborará en la
defensa de la naturaleza como un bien colectivo y promoverá la denuncia de hechos que
generen contaminación y destrucción ambiental. Son también faltas a la ética profesional:
125
Contravenir cualquiera de las normas y recomendaciones contenidas en el presente Código. El
soborno, el cohecho y la extorsión. El plagio y el irrespeto a la propiedad intelectual. La
difamación, la calumnia y la injuria.
Vigésimo noveno:
Los periodistas podrán recibir premios o galardones periodísticos en mérito de su
competencia profesional. Se recomienda que sean discernidos con la participación directa o
indirecta del Colegio de Periodistas.
Trigésimo:
El periodista no utilizará su influencia profesional ni la información privilegiada que recibe en
el desempeño de su trabajo, en beneficio propio, de parientes o de terceros interesados.
Trigésimo primero:
En la defensa de los principios establecidos en este Código, los Tribunales Éticos y de
Disciplina del Colegio de Periodistas de Chile podrán actuar de oficio cuando consideren que
la actuación de periodistas en su desempeño profesional ha violado las disposiciones aquí
establecidas. Asimismo el TRINED estará facultado para pronunciarse sobre temas éticos
relacionado con el ejercicio del periodismo.
Trigésimo segundo:
El Colegio de Periodistas acata y asume como propios los Convenios Internacionales suscritos
por el Gobierno de Chile.
Este Código de Etica se aprobó en el Consejo Plenario Nacional realizado el sábado 13 de
diciembre de 2008.
5. COLÔMBIA
CÍRCULO DE PERIODISTAS DE BOGOTÁ
Agosto 31 de 2006
PREÁMBULO
126
La Libertad de Prensa es premisa básica para que la sociedad tenga conocimiento veraz y
oportuno de la realidad. Por lo tanto, debe ser mantenida a salvo de toda intrusión o coacción
de cualquier forma de interés o poder, sea público o privado, económico o político.
El acceso a la información constituye uno de los derechos fundamentales de ser humano. La
libertad de prensa hace recaer sobre el periodista la obligación de defenderla y de obrar con
los más altos niveles de responsabilidad y honestidad en el ejercicio de su profesión.
La principal obligación del periodista es informar sobre los hechos de interés público de
manera veraz y su única subordinación ética será para con el público al que sirve. Quienes
trabajan en los medios de comunicación se obligan a propender por el respeto a la dignidad
humana, promover el uso de métodos pacíficos, ejercer la tolerancia y el pluralismo.
El propósito de este Código de Ética es señalar a los periodistas unos principios de conducta
fundados en los valores éticos de la profesión como base del compromiso de todos los que
tienen responsabilidad en el proceso de informar: empresarios, directores, editores y
reporteros, etc.
La ética de la profesión establece la responsabilidad del periodista frente a la sociedad. Los
principios que se derivan de ella son base del presente Código, de normas adoptadas por los
mismos periodistas para ennoblecer su ejercicio profesional.
INFORMACIÓN TRANSPARENTE
- ARTÍCULO PRIMERO. La comunidad tiene derecho a una información veraz, equilibrada
y oportuna y el periodista está en el deber de proporcionársela en estos términos.
1. Aunque resulten discutibles como términos absolutos la verdad y la objetividad, en el
periodismo es imperativa y no negociable la buena fe. El contenido de la noticia y de las
opiniones, debe ser exacto en sus hechos y en su contexto.2
2. Es necesario presentar las distintas caras de la noticia y procurar que, en donde haya
más de una interpretación sobre los hechos, aparezcan todas las que Sean relevantes.
3. El deber de informar se incumple:
a) Por acción (noticia falsa).
b) Por omisión (al guardar silencio sobre un hecho).
c) Por aproximación (noticia tendenciosa).
4. La noticia debe quedar claramente diferenciada de las opiniones, comentarios y de la
información comercial.
LAS FUENTES
127
- ARTÍCULO SEGUNDO. El periodista debe adoptar una actitud analítica frente a lãs
fuentes, confrontarlas y comprobar sus afirmaciones. La lealtad del periodista es con la verdad
y con el público, antes que con la fuente.
1. Es aconsejable que el receptor conozca la fuente de las informaciones. Esto otorga mayor
credibilidad y fija una mayor responsabilidad sobre lo que se afirma. Sin embargo, el
periodista puede comprometerse a guardar sigilo sobre sus fuentes de información, cuando la
revelación de su nombre ponga en riesgo la seguridad personal o laboral de la fuente. En todo
caso, podrá sentirse exonerado de hacerlo cuando:
a) Haya sido engañado por la fuente;
b) Ésta, por su propia voluntad, decida darse a conocer en determinada circunstancia.
2. El secreto profesional o reserva de la fuente, que es inviolable, tiene por objeto proteger de
la exposición pública a la fuente; en ningún caso deberá amparar la falta de consistencia de la
información ni releva al periodista de su deber de verificar los hechos.
3. En situación de conflicto, la verificación de fuentes será un trabajo en equipo entre Editores
y/o Jefes de Redacción, periodista y director del medio, para blindar la verdad.
OBTENCION DE LA NOTICIA
- ARTÍCULO TERCERO. La información deberá ser obtenida a través de medios legales y
éticos. El fin no justifica los medios. Las razones de interés público deben prevalecer sobre
los intereses privados en la búsqueda de la información.
CITAS Y TRANSCRIPCIONES3
- ARTÍCULO CUARTO. El periodista debe contextualizar la información y evitar que las
citas alteren el sentido de lo que transcribe; siempre deberá colocar entre comillas lãs palabras
textuales.
- ARTÍCULO QUINTO. El plagio es una conducta contraria a los principios éticos.
Siempre deberá darse crédito o citar la fuente de donde se tomó la información, salvo que
haya reserva expresa de la fuente.
RECTIFICACIONES Y REPLICAS
- ARTÍCULO SEXTO. Es obligación del periodista y del medio rectificar inmediata y
adecuadamente las informaciones inexactas, erróneas, falsas o incompletas, así no se haya
exigido aclaración por parte del perjudicado, a quién además se respetará su derecho a La
réplica.
SENSACIONALISMO
128
- ARTÍCULO SÉPTIMO. El sensacionalismo es una deformación interesada de la noticia,
implica tergiversación, manipulación y engaño y, por lo tanto, atenta contra la credibilidad del
medio periodístico y burla la buena fe de la sociedad. Por tanto el periodista debe:
1. Respetar la vida privada, la dignidad y la intimidad de las personas y sólo referirse a
aquellos sucesos o circunstancias de carácter privado que adquieren claro interés público.
2. Abstenerse de explotar la morbosidad del público y la curiosidad malsana.
3. Observar especial cuidado en las informaciones sobre procesos judiciales ya que, incluso,
sin incurrir en violaciones ilegales de la reserva sumarial, es posible influir en la condena o
absolución de los incriminados.
FAVORES Y PRIVILEGIOS
- ARTÍCULO OCTAVO. La independencia del periodista es indispensable para su ejercicio
profesional. En consecuencia, son prácticas contrarias a la ética, porque crean dependencia:
1. Usar su influencia, o la de su medio, para buscar ventajas personales o privilegios.
2. Recibir de la fuente que se cubre pagos, regalos o favores de cualquier índole,
incluidos distinciones o premios, otorgados por las mismas fuentes.
3. Mantener familiaridad o cercanía con la fuente.
4. Ejercer actividades de venta de publicidad, comercialización de programas y de relaciones
públicas, simultáneamente con el desempeño profesional periodístico.
LA EMPRESA PERIODÍSTICA4
- ARTÍCULO NOVENO. La naturaleza propia de la empresa periodística y su
proyección social no permiten asimilarla a cualquier otra actividad empresarial. En
consecuencia, tanto la Administración como la Redacción de un medio de comunicación
deben compartir la misma filosofía empresarial y tener las mismas responsabilidades éticas
definidas en este Código.
Por consiguiente la empresa periodística debe:
1. Rechazar todo compromiso u otorgar privilegios que pongan en duda la independencia
informativa del medio.
2. Evitar que la participación de sus funcionarios o periodistas en juntas directivas, cargos o
asesorías a empresas distintas, comprometan la independencia del medio.
3. Diferenciar con absoluta claridad todo el material editorial del publicitario, como son los
remitidos, publirreportajes, infocomerciales, publicidad política y/o suplementos comerciales
especializados.
129
4. Garantizar a sus periodistas un salario digno y competitivo, condiciones laborales, medios
e instrumentos adecuados, que aseguren la calidad y excelencia de su trabajo profesional, su
independencia y la del propio medio.
CLÁUSULA DE CONCIENCIA
- ARTÍCULO DÉCIMO. El periodista tiene la obligación moral de actuar de acuerdo
con su conciencia y no puede ser sancionado por ello. En consecuencia, las empresas
periodísticas no podrán aplicar sanción o desmejoramiento laboral por el cumplimiento de
este deber ético en el ejercicio profesional. La cláusula de conciencia, reconocida
internacionalmente, deberá ser incluida en el derecho laboral colombiano.
RESPONSABILIDAD SOCIAL
- ARTÍCULO UNDÉCIMO. El periodista es responsable del poder que le dan su profesión y
los medios que maneja; por tanto es un deber maximizar sus buenos efectos y prevenir
cualquier daño atribuible a sus informaciones.
1. Los medios de comunicación se deben entender como servicio de nterés público, por tanto
la acción periodística se orientará en ese sentido. Esta responsabilidad prima sobre cualquiera
otra, sea con los patronos o con los distintos poderes.
2. El compromiso del periodista consiste en servir y defender los intereses de la democracia,
más allá de cualquier adhesión a gobiernos, partidos o instituciones.
3. Consciente del poder de la información, el periodista dará las noticias sobre violencia,
corrupción, catástrofes y crisis con el propósito prioritario de promover soluciones.
4. La autorregulación es un instrumento de la responsabilidad, que debe contribuir a la
excelencia profesional. Es esencialmente distinta de la autocensura que es el silencio de la
información debida, impuesto por el miedo o los intereses individuales.
ÁMBITO Y COMPETENCIA
- ARTÍCULO DUODÉCIMO. Son sanos y necesarios la autocrítica profesional y el debate
público de los temas relacionados con la información. Las exigencias de la ética profesional,
que obligan a todos los periodistas a apuntar hacia la excelencia, van más allá de su mera
responsabilidad legal, civil o penal.
En consecuencia:
1. La responsabilidad de garantizar el cumplimiento de la ética profesional recae sobre el
periodista y no sobre terceros.
2. Es compromiso ético del periodista adquirir y mantener una actualización profesional de
altos estándares, que le permitan responder con competencia a las exigencias y permanentes
cambios de la profesión.
130
3. Las normas de conducta enunciadas en el presente Código no justifican la intervención de
los poderes públicos o de sus voceros para forzar la observancia de las obligaciones morales
establecidas en el mismo.
4. Para garantizar la actualidad de este Código y su observancia, la Comisión de Ética asumirá
el compromiso de estudiar los cambios que se le sugieran o que ella misma proponga, e
investigará los casos de conflicto ético que sean sometidos a su consideración.
6. ESPANHA
Deontological Code for the journalistic profession, adopted by Federation of the Press
Associations of Spain in Seville on 28 November 1993.
Preamble
In the framework of civil rights, which are established in the Constitution and which form the
basis of the wholly democratic society, journalism is an important social tool which puts into
effect the free and efficient development of the fundamental right of all citizens to freedom of
information and the freedom to express one's opinions.
As a subject and an instrument of the freedom of expression, journalists acknowledge and
guarantee that journalism is the basis by which public opinion manifests itself freely in the
pluralism of a democratic state governed by law.
However, journalists also take into consideration that when in their profession they use their
constitutional rights to freedom of expression and the right to information, their conduct is
subject to limitations, which prevent the violation of other fundamental rights.
Therefore, when taking on these obligations, and as a true guarantee which a journalist offers
to the Spanish society, which he/she serves, journalists understand that they must maintain,
collectively or individually, uncensurable conduct when it comes to the ethics and deontology
of the information.
In this sense, the journalists who form part of the Federation of The Press Associations of
Spain (Federacion de Asociaciones de la Prensa de Espana - FAPE) commit themselves to
maintain binding ethic principles when exercising their profession. The general assembly of
the FAPE declares the following principles and binding norms for the journalistic profession:
I. General principles
131
1. A journalist shall always keep in mind the principles of professionality and ethic of this
Code. A journalist must express his/her approval of these principles to be able to join the
professional register of journalists and the federal associations of the press.
Those, who after joining the register and the corresponding association, act in a way which is
not compatible with these principles, shall incur the penalties contemplated in these
regulations.
2. The first obligation of a journalist is to respect the truth.
3. In agreement with this principle a journalist shall always defend the principle of the
freedom to investigate and honestly disseminate information as well as the freedom to
comment and to criticise.
4. Without violating the right of the citizens to be informed, the journalist shall respect the
right of individuals to privacy keeping in mind that:
a) Only the defence of public interest justifies interfering with or investigating the private life
of a person without his/her prior consent.
b) When dealing with issues which may cause or imply pain or sorrow in the persons in
question, a journalist shall avoid rude interference and unnecessary speculations about their
feelings and circumstances.
c) The restrictions concerning privacy must be taken into special consideration when dealing
with persons in hospitals or in similar institutions.
d) Special attention shall be paid to the treatment of issues which concern children and youth.
The right of privacy of minors shall be respected.
5. A journalist must respect the principle that a person is presumed innocent until otherwise
proved and he/she must avoid, as much as possible, causing any harm in practising his
profession. This kind of criteria is especially important when dealing with issues which are
brought to the knowledge of the courts of law.
a) A journalist must avoid mentioning the names of relatives and friends of persons accused
or sentenced of crime, unless it is absolutely necessary in order to make the information
complete and equal.
b) Mentioning of the names of the victims of crime, as well as publishing material which may
contribute to the identification of the victim, shall be avoided. The journalist shall act with
special care handling issues which deal with sexual crime.
6. The criteria indicated in the two former principles shall be applied with extreme severity
when the information concerns minors. Particularly, a journalist must refrain from
132
interviewing, photographing or taping minors on themes related to criminal activities or on
private matters.
7. A journalist carries to its extremes his/her professional conscientiousness in respecting the
rights of the weakest and discriminated. Therefore, discriminating information or opinions or
such information or opinions which spur on to violence or to inhuman or humiliating
practices, must be dealt with with special sensitivity.
a) One must, therefore, avoid, alluding in a pejorative manner or with prejudice to race,
colour, religion, social class or sex of a person, nor to whatever sickness, physical or mental
handicap he/she might have.
b) One must also avoid publishing such data, unless it is directly related to the issue being
published.
c) Finally, one must generally avoid hurtful expressions or statements on the personal
condition of individuals or on their physical or moral integrity.
II. Statute
8. To guarantee the necessary independence and fairness in carrying out his/her profession,
the journalist must claim for himself and for the people working for him/her:
a) The right to appropriate working conditions, as it refers to earnings, as well as to the
material and professional circumstances in which he/she must carry out his/her tasks.
b) The obligation and right to oppose any evident intention to monopolise or oligopolize
information, which might hinder political and social pluralism.
c) The obligation and right to participate in matters of journalistic enterprise in order to
guarantee his/her freedom of information in a way which is compatible with the rights of the
media in which he/she is expressing this freedom.
d) The right to call on the clause of conscience, when the media on which he/she works on
proposes a moral attitude which harms his/her professional dignity or which modifies editorial
policy substantially.
e) The right and obligation to professional training which is up to date and complete.
9. A journalist has the right to be protected by his or her own institution as well as by the
associative or institutional organizations against those who, by any kind of pressure, try to
divert him/her from the standard way of conduct defined in this Code.
10. The right to keep professional secrecy is a right of a journalist, but it is also an obligation
which guarantees the confidentiality of the sources of information. Therefore, a journalist
shall guarantee the right of the sources of information to stay anonymous, if this has been
133
requested. However, this professional obligation shall exceptionally not be applied, if it has
been proved that the source has consciously falsified information or if revealing the source is
the only way to avoid serious and instant damage to people.
11. A journalist scrupulously sees that the public administration fulfils its duty to the
transparency of information. In particular, he/she shall always defend the free access to
information which comes from or is produced by public administration, and the free access to
public archives and administrative registers.
12. A journalist shall respect the rights of the author which derive from all creative activity.
III. Principles of action
13. The commitment to seek the truth means that a journalist always informs about facts
whose origins he/she knows. He/she does not falsify documents nor does he/she leave out
essential information. He/she does not publish information which is false, misleading or
distorted.
Consequently:
a) The foundations of the information to be disseminated must be diligently laid, which means
that a journalist must contrast the sources and he/she must give a person affected an
opportunity to tell his/her own version of the facts.
b) When known to have spread information which is false, misleading or distorted, a
journalist shall be obliged to correct the error as quickly as possible and by using the same
typographic and/or audio-visual form which was used to publish it. He/she shall also
broadcast apologies through his/her media, when proper.
c) Consequently, a journalist must facilitate physical or legal persons an opportunity to correct
inaccuracies in the way indicated in the former paragraph, without them having to turn to
jurisdiction.
14. In practising his/her profession, a journalist must use appropriate means to obtain
information, which excludes illegal procedures.
15. A journalist acknowledges and respects the right of physical and legal persons not to give
out information and not to answer the questions which are asked, without violating the right
of the citizens to be informed.
16. With the same exceptions which apply to the professional secrecy, a journalist shall
respect the "off the record" when it has been explicitly called for or it is thought that such was
the will of the informant.
134
17. A journalist shall always establish a clear and unmistakable distinction between the facts
which he/she tells and what can be opinions, interpretations or surmises, although, in his/her
professional activities he/she is not obliged to be neutral.
18. In order not to cause mistakes or confusion among the users of information, a journalist is
obliged to make a formal and rigorous distinction between information and advertising.
Therefore, it is considered ethically incompatible simultaneously to practice journalism and
the advertising business.
Equally, this incompatibility applies to all activities related to social communication which
may imply a conflict of interests with the journalistic profession and its principles and norms.
19. A journalist shall not accept, directly or indirectly, payments or rewards from other
persons to promote, direct, affect or to publish information or opinions of any kind.
20. A journalist shall never take advantage of the information to which he/she is privileged as
a consequence of his/her profession. In particular, a journalist who regularly or occasionally
deals with financial issues is subject to the following regulations:
a) He/she may not take economical advantage of financial data of which he/she has
knowledge of before it has been published, nor can he/she transmit such data to other persons.
b) He/she may not write of such bonds or shares in which he/she or his/her family has
significant economic interest.
c) He/she may not buy or sell such bonds or shares, which he/she intends to write about in the
near future.
7. ESTADOS UNIDOS
The SPJ Code of Ethics is voluntarily embraced by thousands of journalists, regardless of
place or platform, and is widely used in newsrooms and classrooms as a guide for ethical
behavior. The code is intended not as a set of “rules” but as a resource for ethical decision-
making. It is not — nor can it be under the First Amendment — legally enforceable.
The present version of the code was adopted by the 1996 SPJ National Convention, after
months of study and debate among the Society’s members. Sigma Delta Chi’s first Code of
Ethics was borrowed from the American Society of Newspaper Editors in 1926. In 1973,
Sigma Delta Chi wrote its own code, which was revised in 1984, 1987 and 1996.
PREAMBLE
135
Members of the Society of Professional Journalists believe that public enlightenment is the
forerunner of justice and the foundation of democracy. The duty of the journalist is to further
those ends by seeking truth and providing a fair and comprehensive account of events and
issues. Conscientious journalists from all media and specialties strive to serve the public with
thoroughness and honesty. Professional integrity is the cornerstone of a journalist’s
credibility. Members of the Society share a dedication to ethical behavior and adopt this code
to declare the Society’s principles and standards of practice.
SEEK TRUTH AND REPORT IT
Journalists should be honest, fair and courageous in gathering, reporting and interpreting
information.
Journalists should:
1 - Test the accuracy of information from all sources and exercise care to avoid inadvertent
error. Deliberate distortion is never permissible.
2 - Diligently seek out subjects of news stories to give them the opportunity to respond to
allegations of wrongdoing.
3 - Identify sources whenever feasible. The public is entitled to as much information as
possible on sources’ reliability.
4 - Always question sources’ motives before promising anonymity. Clarify conditions
attached to any promise made in exchange for information. Keep promises.
5 - Make certain that headlines, news teases and promotional material, photos, video, audio,
graphics, sound bites and quotations do not misrepresent. They should not oversimplify or
highlight incidents out of context.
6 - Never distort the content of news photos or video Image enhancement for technical clarity
is always permissible. Label montages and photo illustrations.
7 - Avoid misleading re-enactments or staged news events. If re-enactment is necessary to tell
a story, label it.
8 - Avoid undercover or other surreptitious methods of gathering information except when
traditional open methods will not yield information vital to the public. Use of such methods
should be explained as part of the story.
9 - Never plagiarize.
10 - Tell the story of the diversity and magnitude of the human experience boldly, even when
it is unpopular to do so.
11 - Examine their own cultural values and avoid imposing those values on others.
136
12 - Avoid stereotyping by race, gender, age, religion, ethnicity, geography, sexual
orientation, disability, physical appearance or social status.
13 - Support the open exchange of views, even views they find repugnant.
14 - Give voice to the voiceless; official and unofficial sources of information can be equally
valid.
15 - Distinguish between advocacy and news reporting. Analysis and commentary should be
labeled and not misrepresent fact or context.
16 - Distinguish news from advertising and shun hybrids that blur the lines between the two.
17 - Recognize a special obligation to ensure that the public’s business is conducted in the
open and that government records are open to inspection.
MINIMIZE HARM
Ethical journalists treat sources, subjects and colleagues as human beings deserving of
respect.
Journalists should:
18 - Show compassion for those who may be affected adversely by news coverage. Use
special sensitivity when dealing with children and inexperienced sources or subjects.
19 - Be sensitive when seeking or using interviews or photographs of those affected by
tragedy or grief:
20 - Recognize that gathering and reporting information may cause harm or discomfort.
Pursuit of the news is not a license for arrogance.
21 - Recognize that private people have a greater right to control information about
themselves than do public officials and others who seek power, influence or attention. Only
an overriding public need can justify intrusion into anyone’s privacy.
22 - Show good taste. Avoid pandering to lurid curiosity.
23 - Be cautious about identifying juvenile suspects or victims of sex crimes.
24 - Be judicious about naming criminal suspects before the formal filing of charges.
25 - Balance a criminal suspect’s fair trial rights with the public’s right to be informed.
ACT INDEPENDENTLY
Journalists should be free of obligation to any interest other than the public’s right to know.
Journalists should:
26 - Avoid conflicts of interest, real or perceived.
137
27 - Remain free of associations and activities that may compromise integrity or damage
credibility.
28 - Refuse gifts, favors, fees, free travel and special treatment, and shun secondary
employment, political involvement, public office and service in community organizations if
they compromise journalistic integrity.
29 - Disclose unavoidable conflicts.
30 - Be vigilant and courageous about holding those with power accountable.
31 - Deny favored treatment to advertisers and special interests and resist their pressure to
influence news coverage.
32 - Be wary of sources offering information for favors or money; avoid bidding for news.
BE ACCOUNTABLE
Journalists are accountable to their readers, listeners, viewers and each other.
Journalists should:
33 - Clarify and explain news coverage and invite dialogue with the public over journalistic
conduct.
34 - Encourage the public to voice grievances against the news media.
35 - Admit mistakes and correct them promptly.
36 - Expose unethical practices of journalists and the news media.
37 - Abide by the same high standards to which they hold others.
8. FRANÇA
Adopted by the National Syndicate of French Journalists in 1918 and revised and completed
by the Syndicate in 1938.
A journalist worthy of the name:
assumes responsibility for all that he writes;
considers slander, unfounded accusations, alteration of documents, distortion
of facts and lying, to be the most serious professional misconduct;
recognises the jurisdiction of his colleagues as the only one which is sovereign
in matters of professional honour;
accepts only such assignments that are compatible with his professional
dignity;
138
refuses to invoke an imaginary title of quality, use disloyal means to get
information or take advantage of the good faith of anybody;
does not receive money in a public service or a private enterprise where his
status of journalist, his influence and his relations may be made use of;
does not sign articles of commercial or financial advertising;
does not commit any plagiarism;
does not claim the position held by another colleague nor causes him to be
dismissed by offering to work under inferior conditions;
keeps the professional secrecy;
does not make use of the freedom of the press with profit-seeking intentions;
demands the freedom to publish his information honestly;
respects justice and gives it top priority;
does not confuse his role with that of a policeman.
9. GRÃ BRETANHA E REPÚBLICA DA IRLANDA
The NUJ's Code of Conduct has set out the main principles of British and Irish journalism
since 1936. It is part of the rules and all journalists joining the union must sign that they will
strive to adhere to it.
Members of the National Union of Journalists are expected to abide by the following
professional principles:
A journalist:
1. At all times upholds and defends the principle of media freedom, the right of freedom of
expression and the right of the public to be informed
2. Strives to ensure that information disseminated is honestly conveyed, accurate and fair
3. Does her/his utmost to correct harmful inaccuracies
4. Differentiates between fact and opinion
5. Obtains material by honest, straightforward and open means, with the exception of
investigations that are both overwhelmingly in the public interest and which involve evidence
that cannot be obtained by straightforward means
6. Does nothing to intrude into anybody’s private life, grief or distress unless justified by
overriding consideration of the public interest
139
7. Protects the identity of sources who supply information in confidence and material gathered
in the course of her/his work
8. Resists threats or any other inducements to influence, distort or suppress information
9. Takes no unfair personal advantage of information gained in the course of her/his duties
before the information is public knowledge
10. Produces no material likely to lead to hatred or discrimination on the grounds of a
person’s age, gender, race, colour, creed, legal status, disability, marital status, or sexual
orientation
11. Does not by way of statement, voice or appearance endorse by advertisement any
commercial product or service save for the promotion of her/his own work or of the medium
by which she/he is employed
12. Avoids plagiarism.
The NUJ believes a journalist has the right to refuse an assignment or be identified as the
author of editorial that would break the letter or spirit of the code. The NUJ will fully support
any journalist disciplined for asserting her/his right to act according to the code.
10. ISLÂNDIA
Rules of Ethics in journalism, adopted by the Icelandic Press Council in 1988.
In their work, journalists of all media must constantly bear in mind the basic rules of human
relations, and the public's right to information, freedom of expression and criticism.
Clause 1
A journalist aims to do nothing which may bring his profession or professional organisation,
newspaper or newsroom into disrepute. He must avoid anything which may be deleterious to
public opinion of the journalist's work, or damage the interests of the profession. A journalist
must always be honourable in his dealings with colleagues.
Clause 2
A journalist is aware of his personal responsibility for all that he writes. He bears in mind that
he is generally perceived as a journalist, even when not expressing himself as such, in writing
or the spoken word. A journalist respects necessary confidentiality of his sources.
Clause 3
140
A journalist observes the highest possible standards in gathering information, processing this
information, and in presentation, and shows the utmost fact in sensitive cases. He avoids all
that may cause unnecessary pain or humiliation to the innocent, or those who have suffered.
Clause 4
Should a journalist accept a bribe or use threats in connection with publication of material,
this is counted a very serious violation. Journalists must always be conscious of when names
should be published for the sake of public safety, or in the public interest. In accounts of legal
and criminal cases, journalists must observe the general rule that every person is innocent
until proven guilty.
Clause 5
A journalist must do his best to avoid conflicts of interest, for instance by reporting on
companies or interest groups in which he himself is involved. He must primarily serve the
interests of the reader, and the honour of the journalistic profession in all that undertakes
under the aegis of his job.
A journalist writes always on the basis of his convictions. He makes sure not to confuse
editorial material of clear informative and educational value, with advertising in pictorial
and/or written form.
This code of ethics does not limit the freedom of expression of journalists who write, under
their full name, clearly defined items in newspapers, e.g. criticism, where the writer's personal
views are of the essence.
Clause 6
Any person who believes that a journalist has offended against the above code, and whose
interests are at stake, can make a complaint to the Ethics Committee of the Icelandic Union of
Journalists within two months of publication, provided the item published is not the subject of
court action at the same time.
The complainant must, however, previously have sought redress from the organ (newspaper,
broadcasting company) in question. The Ethics Committee can, however, rule to make an
exception to the rule on seeking redress, due to other circumstances. The Ethics Committee
shall discuss the matter at a meeting within one week and shall announce a well-grounded
ruling as soon as possible.
When the Ethics Committee undertakes to investigate a complaint, it must take into account
the overall coverage of the matter in the medium against which be given the complaint has
been made. The respondent shall be given the opportunity to explain his view of the matter.
141
The Ethics Committee classifies three categories of violation, according to their nature:
a) reprehensible;
b) serious;
c) very serious.
No appeal can be made against the Ethics Committee's ruling. The ruling of the Ethics
Committee, together with the grounds and arguments of the ruling, shall be published as soon
as possible in the journalists' union periodical. The Ethics Committee's ruling shall be sent to
the organ in question at the first opportunity, with a request for publication in the case of an
offence in category b) or c). Three days later, the ruling shall be sent to other media.
The principal ruling of the committee shall be published word for word. In presentation of
news on rulings from the Ethics Committee, journalists shall observe all precautions which
this code lays down, as in clauses 1 and 2 above.
Should the committee of the Union of journalists feel, after the Ethics Committee has ruled,
that a violation is so serious that further action is required, it may submit a proposal for
sanctions against the journalist in question to a meeting of the members, provided that the
intention to do so has been mentioned in the announcement of the meeting.
In the case that an article is not clearly attributable to a writer, or that the journalist in question
is not a member of the Union of Journalists, the Ethics Committee's ruling shall apply to the
editor or guarantor as directly concerned. Even if none of these individuals is a member of the
Union of Journalists, the Ethics Committee can still make a ruling on a complaint.
11. MONTENEGRO
A journalist serves the public interest. The credibility of journalists and journalist
profession generally rests on professional honesty, integrity and knowledge. It is of the
interest of every journalist, and it is his duty, to observe this Codex.
1. Duty of a journalist is to respect the truth and persistently search for it, having in mind the
right of the public to be informed and human need for justice and humanity.
2. A journalist is obliged to defend freedom and the right to collect and publicize information
without being disturbed as well as to give free comments and critics. A journalist should be
sharp observer of those who have social, political and economic power.
142
3. The facts should be sacred for a journalist, and it is his duty to put them in the right context
and prevent their misuse, whether it is a text, picture or a tone. Rumors and assumptions
should be clearly marked as such. It is a duty to clearly separate news from a comment.
4. It is a duty of a journalist to complete incomplete and correct incorrect information,
especially that which can cause any harm and at the same time to make sure that the
correction is pointed out in the adequate manner.
5. Race, religion, nationality, sexual orientation and family status will be mentioned by a
journalist only if that is necessary for the information.
6. In order to collect information in any form, a journalist should use professionally
honourable and legally allowed methods. Any violation of this rule is allowed only in cases
when those methods are not sufficient, and information that is to be obtained of the great
importance for the public.
7. It is a right and duty of a journalist to protect confidential information sources, but also
always to check motives of the confidential source before one is promised anonymity and
protection.
8. A journalist is obliged to be very careful when dealing with the private lives of people. A
right to private life is disproportional to the importance of a public office that an individual
holds, but in those cases too, it is necessary to respect human dignity.
9. A journalist is obliged to protect integrity of adolescent persons, different and disabled
persons.
10. When reporting on investigation and court procedures, a journalist has to respect the
assumption that everyone is innocent until is proved differently and should by no means pre-
adjudicate the outcome of a court procedure.
11. A journalist should not accept privileges of any kind that could limit or bring under
suspicion his autonomy and impartiality, and affect the freedom of a publisher and editorial
board to make decisions.
12. It is the duty of a journalist to maintain solidarity in relation with his colleagues to the
extent that would not prevent him from properly performing professional tasks, or cause him
to violate basic principles of the journalist codex.
Just as he is ready to expose his work to the public judgment, a journalist should be
willing to expose himself to the judgment of an impartial body that takes care of the
profession authority protection.
143
GUIDELINES FOR INTERPRETATION AND IMPLEMENTATION OF BASIC
PRINCIPLES OF THE CODEX
Guidelines for principle 1
1.1. General standards
Journalists must maintain the highest professional and ethical standards. They must take all
reasonable steps to ensure that they disseminate only accurate information, and that their
comments on events are genuine and honest. They must never publish information that they
know to be false or maliciously make unfounded allegations about others that are intended to
harm their reputations. It is journalist's right to refuse an assignment which is against the
ethical codex.
1.2. Accuracy
a) Before publishing a report, the journalist must ensure that all reasonable steps have been
taken to check its accuracy. Journalists must endeavor to provide full reports of events and
must not be silent about or suppress essential information.
b) The public's right to be informed does not justify sensational reporting. Therefore,
journalists must not distort information by exaggeration, by placing improper emphasis on
one aspect of a story or by giving only one side of the story. They must avoid using
misleading headlines or advertising slogans. The facts must not be distorted by reporting them
out of the context in which they occurred.
1.3. Press releases
Press releases and statements issued by public authorities, political parties, public services,
associations, clubs or other lobby groups must be clearly defined as such.
1.4. Rallies during Election Campaigns
Regarding rallies organized during an election campaign, the reporters will also report on the
views and values with which they may not agree. Such an approach is a matter of a reporter's
impartiality; it serves the citizens' right to the freedom of information and supports the
principle of equal opportunities for all political parties and other participants in the election
process.
Guidelines for principle 3
3.1. Comment
The comment must be a genuine expression of opinion based on facts. Comment must not be
presented in such a way as to create the impression that it is an established fact.
3.2. Interviews
144
(a) An interview is completely journalistically correct if the interviewee or his/her
representative has authorized it, or if it is obvious that there is interviewee's approval for the
intention to publish unauthorized interview. If time is short, it is also correct to publish
statements in unauthorized interview form if it is clear to both the interviewer and the
interviewee that the statements are to be published either verbatim or as an edited version. If
the text of an interview is reproduced in full or in part, the publication concerned must state
its source. If the basic content of verbally expressed thoughts is paraphrased, it is nonetheless
a matter of journalistic honour to state the source.
(b) In the case of advance reports of an interview in abridged form, care must be taken that
abridgement does not stand out from contents of program context that is abridged. In this
case, too, care must be taken to protect the interviewee against any distortions or impairments,
which may jeopardize his or her dignity or legitimate interests.
3.3. Symbolic images
(a) If an illustration, especially a photograph may leave an impression on an average reader
that it is an authentic document, in spite of the fact that it is merely a symbolic picture, such a
case must be made clear. Photomontage or other modifications of authentic documents must
be clearly marked as such in the accompanying text or in any other, appropriate way.
(b) If the media use reconstructed scenes in broadcasting/printing, such act must be
recognizable to the audience or it must be clearly indicated by the voice or by the text.
(c) Archival materials used on television must be necessarily marked as such, and sound
inserts used from the radio archives must be verbally announced as such.
3.4. Embargoes
The imposition of embargoes during which the publication of certain information is held over
is justifiable only if it is vital for objective and careful reporting. In principle, embargoes are a
free agreement between informants and the media. Embargoes should be observed only if
there is an objectively justifiable reason, such as in the case of speeches still to be held,
advance copies of company reports and other types of activities or information on a future
event (meetings, resolutions, honours, ceremonies, etc.). Embargoes must not be used for
taking advantage over the competition.
3.5. Opinion poll findings
In publishing findings by opinion poll agencies, the media should give the number of
respondents, the date of the poll, the identity of the person or organization that commissioned
it, and the questions asked. If the agency was not commissioned to carry out the poll, it should
be pointed out that it was implemented on the initiative of the agency.
145
3.6 Daily Polling/Interviewing
In the case of daily, ad hoc, polling of citizens about controversial social issues (vox-pop
stories), special precaution is needed in order to avoid possible manipulation.
3.7. Letters to the Editor
(a) By means of letters to the editor, insofar as they are suitable in terms of form and content,
readers/listeners/viewers should have the opportunity to express their views and thus
participate in the opinion-shaping process. It is in line with the journalistic duty of due
diligence to observe the Code when publishing such letters.
(b) Correspondence with publishers or editorial departments can be printed as letters to the
editor if it is clear, due to their form and content, that this is in accordance with the sender's
wishes. Consent may be assumed if the letter refers to articles and stories published by the
media concerned or to matters of general interest. Media are not legally bound to publish such
letters.
(c) It is common practice that letters to the editor are published with the author's name. Only
in exceptional cases can, at the request of the author, the name of the author withheld with the
notice: ‘Name is known to the editor'. The media should not publish the authors' addresses. If
there is any doubt about the identity of the sender, a letter should not be printed. The
publication of bogus letters is not compatible with the duties of the media.
(d) Abridgements are possible if the letters to the editor section contains a permanent notice
that the editor reserves the right to shorten such letters without changing the meaning of them.
Should the sender expressly forbid changes or abridgements, the editorial department must
either comply with that wish, even if it has reserved the right to abridgement, or decline to
publish the letter.
(e) All readers'/listeners'/viewers' letters sent to the editor are subject to editorial secrecy.
They must never be passed on to third parties.
Guidelines for principle 4
4.1. Corrections
(a) If a media institution discovers that it has published a report containing a significant
distortion of the facts, it must publish a correction promptly and with comparable prominence.
This correction must be referred to the previous incorrect report.
(b) If a media institution discovers that it has published an erroneous report that has caused
harm to a person's or institution's reputation, it must publish an apology promptly and with
due prominence.
146
(c) "Due prominence" in this context means publication of the correction in the same space (in
the case of print media) or within the same programme (in the case of broadcast media).
(d) Where a person or organization believes that a media report contains inaccurate
information or has unfairly criticized a person or organization, the media institution concerned
must give the person or organization a fair opportunity to reply, to correct any inaccuracies
and to respond to the criticism. A media institution is expected to provide such a right in the
case of acceptance that the report in question had errors and unfounded allegations.
4.2. Documentation
In cases where incorrect reports are discovered, as outlined in 4.1, the media institution must
also correct them in their archives, documentation, and databases.
Guidelines for principle 5
5.1 Hate speech
(a) Media institutions must not publish material that is intended or is likely to engender
hostility or hatred towards persons on the grounds of their race, ethnic origins, nationality,
gender, physical disabilities, religion or political affiliation. The same applies if it is highly
probable that publication of a material may cause the above stated hostility and hatred
(b) Journalists must take utmost care to avoid contributing to the spread of ethic hatred when
reporting events and statements of this nature. It is a journalist's duty to respect other states
and nations.
5.2 Reports on crime
When reporting crimes, it is not permissible to refer to the suspect's religious, ethnic or other
minority membership unless this information can be justified as being relevant to the
audience's understanding of the incident. In particular, it must be borne in mind that such
references could stir up prejudices against groups in need of protection.
Guidelines for principle 6
6.1 Research
(a) Research is an indispensable instrument of the journalistic duty of due diligence.
(b) Journalists should normally use open methods of gathering information in which they
clearly identify themselves as such. Untrue statements by a journalist about his/her identity
and their publication when doing research work are irreconcilable with the standing and
function of the media.
(c) Undercover research may only be used where other methods have failed to yield
information of particular public interest. These methods may thus be employed where, for
example, they will help to detect or expose criminal activity, abuse of power, or will bring to
147
light information that will protect the public against serious threats to public health and safety
and the environment.
(d) In the event of accidents and natural disasters, the media must bear in mind that
emergency services for the victims and those in danger have priority over the public right to
information.
6.2. Research among people requiring protection
Research should be carried out and approaches made with sympathy and discretion in cases
involving personal grief or shock, people who are not in full possession of their mental or
physical powers, as well as children and juveniles. The limited willpower or the special
situation of such people must not be exploited deliberately to gain information.
6.3. Exclusive information
It is standard practice for journalists to publish exclusive information and stories. Such stories
should be created by research and not by seeking monopolies of information within public
authorities. Public authorities should disseminate their information without favoring a limited
number of media houses.
6.4. Payment for information
Journalists must not pay people to act as information sources unless there is demonstrable
public interest value in the information.
Guidelines for principle 7
7.1 Confidentiality
(a) Where a person has agreed to supply information only on condition that his or her identity
remains confidential and the journalist agrees to this condition, the journalist must respect this
undertaking and refuse to reveal the identity of the source. However, the journalist has to
warn the source that his or her identity may have to be revealed to the courts if this
information is needed to solve or prevent serious criminal conduct.
(b) Broadcasting media shall apply appropriate technical procedures (voice distortion or face
blurring) in order to protect identity of the person who gives a statement under the condition
that he/she remains anonymous.
(c) Documents classified as secret may be reported, if after careful consideration, it is
determined that the public's need to know outweighs the reasons put forward to justify
secrecy.
7.2 Secret service activities
148
Secret service activities by journalists and publishers are irreconcilable with duties stemming
from professional secrecy and the prestige of the media. Secret service information must not
be brought into connection with the journalist's right to professional secrecy.
Guidelines for principle 8
8.1 Right to privacy
(a) The journalist should not intrude into and report on a person's private life without his or
her consent. The public's right to information must always be weighed against the personal
rights of those involved.
(b) Reporting on a person's private life can be justified when it is in the public interest to do
so. This would include: detecting or exposing criminal conduct; detecting or exposing
seriously anti-social conduct; protecting public health and safety; corruption, etc. Reporting
on a person's private life is also justified if it prevents the public from being misled by some
statement or action by that individual such as where a person is doing something in private
which he or she is publicly condemning.
(c) Journalists are entitled to probe the private life of someone who is or aspires to be a public
official. The correct procedure where this conduct has a bearing upon his or her suitability for
the assignment he/she performs or aspires to perform.
(d) Victims of accidents or crimes have a right to special protection of their names. It is not as
a rule necessary to identify the victim in order for the audience better to understand the
accident or crime. Exceptions can be justified if the person concerned is a public figure or if
there are special accompanying circumstances.
(e) In the case of dependants and other people who are indirectly affected by an accident or
who have nothing to do with a crime, care must be taken when publishing names and images.
(f) People's private addresses enjoy special protection.
(g) Physical and mental illness or injuries come fundamentally within the private sphere of the
persons affected. Out of consideration for them and their dependants, the media should not
publish names and photographs in such cases and should avoid using disparaging terms to
describe their illness, even if they are terms in popular usage.
(h) Reporting on suicides calls for restraint. This applies in particular to the publication of
names and detailed descriptions of the circumstances. Exceptions are justifiable only if the
case is of public interest.
(i) A report is inappropriately sensational if the person it covers is reduced to an object. This
is particularly so if reports about a dying or physically or mentally suffering person goes
beyond public interest and the readers' requirement for information.
149
(j) The limit of acceptability in reports on accidents and disasters is respect for the suffering
of the victims and the feelings of their dependants. Victims of misfortune must not be made to
suffer a second time by their portrayal in the media.
(k) All the above guidelines on the right to privacy also apply - where appropriate - after the
death of the person concerned.
8.2. Medical research and therapy
(a) Reports of alleged successes or failures of medical or pharmaceutical research in the fight
against serious illnesses call for circumspection and a sense of responsibility. Thus, neither
text nor presentation should include anything that might raise unfounded hopes of a cure in
the near future among sick readers and their dependants if this does not conform to the actual
state of medical research. Conversely, critical or even one-sided reports on hotly debated
opinions should not make seriously ill persons feel unsure and thus raise doubts about the
possible success of therapeutic measures.
(b) When reporting on the activities of para-doctors and self-proclaimed healers, a reporter
must express a special amount of reasonable doubt and restraint.
(c) In the reports on a spread of contagious and other diseases, a reporter must keep in mind
that only a competent state authority is entitled to declare an epidemic.
Guidelines for principle 9
9.1. Children' s interest
(a) The media is obliged to comply with the principles of the UN Convention on the Rights of
Children and to research with special care information that effects children's interests.
(b) The media is obliged to exercise special sympathy when interviewing, photographing or
filming children under the age of sixteen.
Guidelines for principle 10
10.1. Court and crime reporting
(a) Reports on investigations and court cases serve to inform the public in a careful way about
crimes, their prosecution and court judgment. A person is presumed innocent until proven
guilty by a court, even if he or she has confessed. Even in cases where guilt is obvious to the
public, an accused person cannot be portrayed as guilty within the meaning of a court
judgment until a verdict has been handed down.
(b) Prejudicial portrayals and allegations violate the constitutional protection of human
dignity, which also applies without qualification to criminals. The aim of court reporting must
not be to punish convicted criminals socially as well by using the media as a "pillory".
150
(c) Where a media has started reporting a criminal case, it must follow up and report
subsequent developments in the case. If the media has reported on an accused, it has named or
who is identifiable to a large circle of the audience, it should also report an ensuing acquittal
or a marked lessening of charges. This also applies to the dropping of an investigation.
(d) Criticism and comment on a case must be easily distinguishable from reporting on court
proceedings.
(e) The media must not identify victims of sexual assaults or publish material likely to
contribute to such identification unless the victims have consented or the law has authorized
the media to do this.
(f) The media should generally avoid identifying relatives or friends convicted or accused of
crime unless the reference to them is necessary for the full, fair and accurate reporting of the
crime or the legal proceedings.
(g) When reporting on investigations and criminal court proceedings against young persons
and on their appearance in court, the media must exercise especial restraint out of
consideration for their future. This also applies to young victims of crimes.
10.2 Reporting acts of violence
In reporting actual and threatened acts of violence, the media should weigh carefully the
public's interest in information against the interests of the victims and other people involved.
It should report on such incidents in an independent and authentic way, but not allow itself to
be made the tool of criminals. Nor should it undertake independent attempts to mediate
between criminals and the police. There must be no interviews with perpetrators of violent
actions, unless it is necessary for the public interest to cover the event correctly and
impartially.
10.3. Coordination with the authorities/news 'blackouts'
In principle, the media do not accept news 'blackouts'. Coordination between the media and
the police shall occur only if the action of journalists can protect or save the life and health of
victims and other involved persons. The media shall comply with police requests for a partial
or total news embargo for a certain period in the interest of solving crime, if the request is
justified convincingly.
Guidelines for principle 11
11.1 Invitations and gifts
The freedom of decision and independent judgment of publishing companies and their
editorial staff is endangered if they accept invitations and gifts which exceed the usual level of
social contacts and that necessary in their professional work. Even the appearance that
151
accepting invitations and gifts can impair the freedom of decision of a publishing house and
its editorial staff is to be avoided. Therefore, journalists should not accept payments,
reimbursement of expenses, discounts, donations, free holidays, business trips, gifts, or any
other benefits that might have impact on his work and activities in a way that could cause
damage to his professional credibility as well as reputation of the media, for which he works.
A journalist shall not accept any benefits without previously obtained approval of editor-in-
chief or director of media he works for.
11.2. Pressure or influence
Journalists must not suppress or distort information about which the public has a right to
know because of pressure or influence from their advertisers or others who have a corporate,
political or advocacy interest in the media institution concerned.
11.3. Separation of functions
Should a journalist or publisher exercise another function in addition to his or her journalistic
activity, for example in a government, a public authority or a business enterprise, all those
involved must take care strictly to separate these functions. The same applies in reverse.
Conflicts of interests harm the standing of the media
11.4. Distinction between editorial content and advertisements
Advertisements and pages or programs sponsored must be clearly distinguishable from the
editorial content and must be designed and presented that the reader/listener/viewer can
recognize them as such. A journalist must not be engaged in advertising-propaganda business.
11.5. Public Relations material
The credibility of the media as a source of information calls for particular care in dealing with
PR material and in producing editorial supplements. Editorial stories that refer to companies,
their products, services or events must not overstep the boundary to hidden advertising. This
risk is especially great if a story goes beyond justified public interest or the audience's interest
in information. This also applies to unedited advertising texts, photographs and illustrations.
Guidelines for principle 12
12.1. Solidarity
Journalists should exercise solidarity and protect each other in their rights regardless of
political or other beliefs.
12.2. Plagiarism
No journalist should engage in plagiarism. Plagiarism consists of making use of another
person's information, words, ideas and images without proper acknowledgement and
attribution of the source.
152
These guidelines are not final, but can be supplemented in compliance with ethic dilemmas
arising from practice. Self-regulatory body that will be in charge of observation of Codex of
Montenegro Journalists shall be authorized to propose new guidelines or amendment to the
existing ones, in the spirit of general ethic norms of the Codex.
The Codex was adopted by: Association of Journalists of Montenegro, Association of
Professional Journalists of Montenegro, Association of Young Journalists of
Montenegro, Association of Independent Broadcast Media of Montenegro – UNEM,
Association of Independent Print Media of Montenegro – MONTPRESS, Independent,
Union of Journalists of Montenegro
At the Montenegro Media Institute
Podgorica, 21. May 2002
12. NORUEGA
Each editor and editorial staff member is required to be familiar with these ethical standards
of the press, and to base their practice on this code. The ethical practice comprehends the
complete journalistic process from research to publication.
1. The role of the press in society
1.1. Freedom of Speech, Freedom of Information and Freedom of the Press are basic elements
of a democracy. A free, independent press is among the most important institutions in a
democratic society.
1.2. The press has important functions in that it carries information, debates and critical
comments on current affairs. The press is particularly responsible for allowing different views
to be expressed.
1.3. The press shall protect the freedom of speech, the freedom of the press and the principle
of access to official documents. It cannot yield to any pressure from anybody who might want
to prevent open debates, the free flow of information, free access to sources, and open debate
on any matter of importance to society as a whole.
1.4. It is the right of the press to carry information on what goes on in society and to uncover
and disclose matters, which ought to be subjected to criticism. It is a press obligation to shed
critical light on how media themselves exercise their role.
1.5. It is the task of the press to protect individuals and groups against injustices or neglect,
committed by public authorities and institutions, private concerns, or others
2. Integrity and responsibility
153
2.1. The legally responsible editor carries personal and full responsibility for the material
contained in the publication, no matter the form.
2.2. Each editorial desk and each employee must guard their own integrity and credibility in
order to be free to act independently of any persons or groups who - for ideological, economic
or other reasons - might want to exercise an influence over editorial matters.
2.3. Members of the editorial staff must not accept commissions or offices, financial support
or dual roles creating conflicts of interest in relation to their editorial tasks. Be open on
matters that could influence the credibility of editorial staff members.
2.4. Members of the editorial staff should not use their position to achieve personal gains.
2.5. A member of the editorial staff cannot be ordered to write or do anything, which is
contrary to his or her convictions.
2.6. Reject any attempt to break down the clear distinction between advertisements and
editorial copy. Advertisements intended to imitate or exploit an editorial product, should be
turned down, as should advertisements undermining trust in the editorial integrity and the
independence of the press.
2.7. Never promise editorial favours in return for advertisements. The material is published as
a result of editorial considerations. See to it that the vital distinction between journalism and
commercial communication is being maintained upon employment of web links and other
connective means.
2.8. It is a breach of good press conduct to let sponsorship affect editorial activity, contents
and presentation.
2.9. Members of the editorial staff may not accept assignments from anyone but the heads of
the editorial staff.
3. Journalistic conduct and relations with the sources
3.1. The credibility of the press is strengthened by the use of identifiable sources, as long as
identification does not come into conflict with the need to protect the sources.
3.2. Be critical in the choice of sources, and make sure that the information is correct. The use
of anonymous sources implies a special need for a critical evaluation of the sources.
3.3. Good press conduct requires clarification of the terms on which an interview is being
carried out. This also pertains to adjacent research.
3.4. Protect the sources of the press. The protection of sources is a basic principle in a free
society and is a prerequisite for the ability of the press to fulfil its duties towards society and
ensure the access to essential information.
154
3.5. Do not divulge the name of a person who has provided information on a confidential
basis, unless consent has been explicitly given by the person concerned.
3.6. In consideration of the sources and the independence of the press, unpublished material as
a main rule should not be divulged to third parties.
3.7. It is the duty of the press to report the intended meaning in quotes from an interview.
Direct quotes must be accurate.
3.8. Changes of a given statement should be limited to corrections of factual errors. No one
without editorial authority may intervene in the editing or presentation of editorial material
3.9. Proceed tactfully in your journalistic research. In particular show consideration for people
who cannot be expected to be aware of the effect that their statements may have. Never abuse
the emotions or feeling of other people, their ignorance or their lack of judgment. Remember
that people in shock or grief are more vulnerable than others.
3.10. Hidden cameras/microphones or false identity may only be used under special
circumstances. The condition must be that such a method is the only possible way to uncover
cases of essential importance to society.
4. Publication rules
4.1. Make a point of fairness and thoughtfulness in contents and presentation.
4.2. Make plain what is factual information and what is comment.
4.3. Always respect a person’s character and identity, privacy, race, nationality and belief.
Never draw attention to personal or private aspects if they are irrelevant.
4.4. Make sure that headlines, introductions and leads do not go beyond what is being related
in the text. It is considered good press conduct to reveal your source when the information is
quoted from other media.
4.5. In particular avoid presumption of guilt in crime and court reporting. Make it evident that
the question of guilt, whether relating to somebody under suspicion, reported, accused or
charged, has not been decided until the sentence has legal efficacy. It is a part of good press
conduct to report the final result of court proceedings, which have been reported earlier.
4.6. Always consider how reports on accidents and crime may affect the victims and next-of-
kin. Do not identify victims or missing persons unless next-of-kin have been informed. Show
consideration towards people in grief or at times of shock.
4.7. Be cautious in the use of names and pictures and other items of definite identification in
court and crime reporting. Particular consideration should be shown when writing about cases
still being investigated, and cases involving young offenders. Refrain from identification
unless this is necessary to meet just and fair demands for information.
155
4.8. Reporting on children, it is considered good press conduct to assess the implications that
media focusing could cause in each case. This also pertains when the person in charge or
parent, has agreed to exposure. As a general rule the identity of children should not be
disclosed in reports on family disputes or cases under consideration by the childcare
authorities or by the courts.
4.9. Suicide and attempted suicide should in general never be reported.
4.10. Exercise caution when using photos in any other context than the original.
4.11. Protect the credibility of the journalistic photograph. Photos used as documentation
must not be altered in a way that creates a false impression. Manipulated photos can only be
accepted as illustrations if it is evident that it in actual fact is a picture collage.
4.12. The use of pictures must comply with the same requirements of caution as for a written
or oral presentation.
4.13. Incorrect information must be corrected and, when called for, an apology given, as soon
as possible.
4.14. Those who have been subjected to strong accusations shall, if possible, have the
opportunity to simultaneous reply as regards factual information. Debates, criticism and
dissemination of news must not be hampered by parties being unwilling to make comments or
take part in the debate.
4.15. Those who have been subjected to attacks shall, as soon as possible, have the
opportunity to reply, unless the attack or criticism are parts of a running exchange of views.
Such responses should never be accompanied by an editorial, polemical comment, but any
response should be of reasonable length, be pertinent to the matter and seemly in its form.
13. PERU
Aprobado en el XXII Congreso Nacional de la Federación de Periodistas del Perú,
ALFREDO VIGNOLO MALDONADO
Huampaní, Lima, 27 y 28 de octubre del 2001
PRESENTACIÓN
CÓDIGO DE ÉTICA PERIODÍSTICA
En un momento histórico de profunda crisis moral, donde la pérdida de los valores y hasta la
apología de conductas que inducen a la visión de una sociedad que santifica el maquiavelismo
156
mercantilista y utilitario, como modelo de éxito, surge como una formidable respuesta y
barrera de contención, el flamante "Código de Ética Periodística" de la federación de
Periodistas del Perú.
La preocupación por tomar conciencia, cumplir y hacer cumplir normas deontológicas a los
periodistas por una institución tan importante, respecto a la conducta profesional y moral de
sus miembros, refleja una gran responsabilidad social y respecto por los efectos tan sensibles
que tiene en la comunidad social, constante flujo de información que da origen y contribuye a
moldear la conciencia ciudadana.
La autorregulación ética de los periodistas representa no sólo una medida indispensable para
su labor profesional, si no su ejercicio a través de las noticias, tener un diagnóstico exacto del
pulso y bienestar del cuerpo social que es el país, y además contribuir a la educación cívica y
orientación del ciudadano. Es así cumplir un deber social.
La ejemplar decisión de la Federación de Periodistas del Perú, es además una garantía del
ciudadano común de ser respetado en sus derechos, a recibir información veraz, a tener en el
periodista un aliado en la defensa y cautela de sus derechos básicos y en el respeto de los
valores culturales y sociales de su nacionalidad.
El Código de Ética Periodística, viene a ser también un valioso esfuerzo para la recuperación
de la credibilidad quebrantada por el sensacionalismo, la grosera manipulación de la verdad y
la tergiversación interesada de los hechos mediante el engaño o la mentira impresa en papel, o
difundida en los medios electrónicos.
El Código de Ética del periodista, es pues el soporte de la responsabilidad y la buena fe en la
misión del periodista, que nos pone en contacto con la vida misma de la sociedad y del
mundo.
Así el periodista, logrará mantener ese respeto, que como fedatario de la opinión pública,
llevó a definir su dedicada labor, como la más noble de las profesiones.
La Universidad Alas Peruana, ha decidido contribuir con los periodistas en la excelsa tarea de
asumir con dignidad sus deberes y obligaciones en un código de ética para difundir su
157
contenido y de esta forma restituir la calidad y el valor de la información como insustituible
bien social.
CÒDIGO DE ÉTICA PERIODÍSTICA
EXPOSICIÓN DE MOTIVOS
Estamos convencidos del valor de la Libertad de Prensa en todas sus formas en que se le
considere y cualquiera sea el medio empleado. Su práctica responsable es una de la mayores
garantías para el Estado de Derecho, la democracia, la justicia, la paz y los derechos humanos.
Para asegurar el fiel cumplimiento de los deberes y los derechos del periodista , así como de
las empresas a cargo de los medios de comunicación social, no es suficiente la ley como
expresión de Derecho Positivo. La experiencia demuestra que muchas veces la ley trastoca su
natural aspiración de lo justo. O el Estado pretende asumir el papel de orientador acerca de
cómo se debe ejercer cada una de las importantes funciones de la prensa.
Es entonces cuando se advierte la conveniencia que los propios periodistas y los medios de
comunicación social se impongan espontánea, conscientemente, reglas de conducta
profesional que regulen el trabajo y sirvan para su auto-disciplina, sobre la base de lo más
perfecto que puede tener el hombre: la moral. Y ello porque es imposible negar que se suele
transgredir esta norma en perjuicio de las personas y de la sociedad, destinataria directa del
servicio de la prensa.
Consecuentemente se escogen fórmulas que se agrupan, como en el presente caso, en Códigos
de Ética. Su existencia, sin embargo, no ha de ser sólo formal sino funcional, efectiva, real,
llevada a la práctica. Su propósito no es asignar sanciones -ojalá no fueran necesarias- sino
evitar la contravención de la guía ética, la cual debe prevalecer sin declinar, para que la prensa
cumpla debidamente su inigualable servicio de interés público.
El incesante adelanto tecnológico -a veces con una notoria soberbia- ; el peligroso aumento de
acontecimientos que desordenan la convivencia social, los avatares de la ocupación política
que suelen perturbar el rol indagador y cautelante del periodismo, y la absurda, complaciente
y a veces extraña intromisión de quienes desacreditan el fin superior del periodismo con su
ejercicio venal, justifican suficientemente la redacción y puesta en vigencia de principios
158
deontológico inalterables que ayuden a dilucidar dudas, reconocer y respetar valores y
resolver conflictos de conciencia respecto a lo que se debe hacer frente a hechos y
circunstancias diversos. En especial a lo que atañe a la información, campo amplísimo y
determinante . complicado y decisivo en la labor de la prensa, en la cual hay que poner la
máxima calidad profesional, la más pura y acendrada vocación, el desprecio razonable al
peligro, y la ética más exigente.
Es oportuno asumir conjuntamente el reto de aplicar una sólida orientación ética capaz de
contribuir a que la prensa satisfaga con toda amplitud y cabalidad su rol de auténtico primer
poder de los Pueblos Libres y no como equivocadamente se la considera, el Cuarto Poder del
Estado.
El Código de Ética Periodística sirve para conservar el equilibrio, un estado armónico
confiable entre la realidad de lo que ocurre y cómo tiene que expresarse, manteniendo el
prestigio que jamás ha de perder la prensa como institución federada y de orientación pública.
Estamos convencidos de que el periodista tiene el deber ineludible de ser digno de la
confianza de la sociedad y de la credibilidad que ha de merecer su palabra. Un asidero seguro
consideramos que puede ser el presente Código de Ética Periodística que proponemos, y que
sea respetado, valorado y, su aplicación. Requisito "sine qua non" para evitar hechos como los
siguientes:
A.- Que cualquiera se atreva a fungir de periodista . No es lo mismo ejercer el derecho que
tiene toda persona a expresar su pensamiento, sus ideas y opiniones, que hacerlo asumiendo --
y comprometiendo a veces gravemente- la alta condición profesional que no se tiene, ya sea
por la falta de formación en la especialidad o por evidente carencia de ética.
B.- Que se complazca -por error o a propósito - la sinrazón de "darle al público lo que le
gusta" y ofrecer, mediante la prensa, sensacionalismo y vulgaridad.
C.- Que se descienda en la expresión y en la calidad del mensaje, con el fácil pretexto de
llegar a las mayorías. Es deber irrenunciable de la prensa mantener su honorable rango. Es su
obligación elevar el nivel cultural de los receptores y contribuir así a su educación.
159
D.- que se utilice la acreditación como miembro de una institución gremial periodística, de un
medio de comunicación social o de una empresa en la que se trabaja como periodista., para
usufructuar de ello, solicitando y/o aceptando ventajas para sí mismo de tipo económico y/o
material. Los medios de comunicación social deben ser muy exigentes y actuar con diligencia
al acreditar a alguien como periodista. Es su responsabilidad comprobar la idoneidad. La
Federación de Periodistas del Perú (FPP) está obligada moral y legalmente a revisar sus
registros de afiliados y a la exigencia de depurar su padrón. Igual deber corresponde a los
organismos que representan a los medios comunicación social. No todo lo que se imprime,
filma, graba o transmite en cualquier medio de comunicación social tiene categoría
periodística. Esto se logra por el mérito que le confiere el valor del mensaje y la atinada forma
expresiva.
E.- Que se aproveche del ejercicio periodístico para insultar, calumniar, difamar, vejar,
denostar, amenazar, divulgar hechos
concernientes a la vida privada y a la intimidad, solicitar y/o aceptar recompensa a cambio del
silencio o de la publicación de alguna noticia, y otras acciones contrarias a la ética
periodística.
CAPITULO 1
NORMAS GENERALES
Art. 1.- Los periodistas están moralmente obligados a ejercer con honestidad. Deben honrar su
profesión y hacer que se le respete. Hay que ser dignos de la Libertad de Prensa, considerando
en ella las libertades de información, opinión, expresión en todas sus formas, investigación
periodística, difusión del pensamiento, fundación de medios de comunicación social y
programas periodísticos. No incurrir en libertinaje. No existe irrestricta de prensa, su límite
natural es el derecho ajeno.
Art. 2.- Los periodistas federados de todo el país se hallan sujetos a las normas de este Código
de Ética Periodística. Su infracción será sancionada conforme a lo previsto en la parte
correspondiente al tribunal de Honor.
160
Art. 3.- Los medios de comunicación social, las empresas periodísticas, así como las
estaciones de televisión, de radiodifusión, de internet, de comunicación virtual del país y
otras, que difundan programas periodísticas, pueden adherirse , por convicción , a lo
estipulado en este Código de Ética Periodística, conscientes de sus responsabilidad
eminentemente social.
CAPITULO II
ACTOS CONTRA LA PROFESIÓN PERIODÍSTICA
Art. 4.- Son actos contrarios a la ética que debe tener todo periodista respecto a su profesión:
a) Incurrir en delito doloso que conlleve condena judicial.
b) Utilizar intencionalmente documentos falsos y/o adulterados, inclusive fotografías,
filmaciones, disketes, casetes, grabaciones y otros.
c) No guardar el secreto profesional. La única excepción, singular, en que espontáneamente se
puede revelar la fuente es cuando ésta falta a la verdad con dolo, lo cual produce engaño al
público, haciendo que el periodista ofrezca una información descalificada, con grave riesgo de
su solvencia profesional y ética.
d) Servirse de material periodístico ajeno, usurpando, sea inédito, confidencial o ya difundido
-en cuyo caso es honesto citar las fuentes-
e) Solicitar para sí u otro colega donación alguna, cualquiera sea la razón de necesidad que
exista. Todo beneficio social para los periodistas que lo requieran es de cargo y
responsabilidad de la respectiva Comisión de Asistencia.
f) Difundir como noticia de interés público lo que por su naturaleza es material publicitario,
salvo en las secciones identificables que el medio de comunicación social designe
exprofesamente para ello y que el público pueda reconocer como tales, igual comportamiento
debe haber para los publi-reportajes.
161
g) Eludir la obligación moral de consagrar la vida a su profesión, y enaltecerla, consciente de
que por su destino y bien social, ejerce el trabajo considerado el más peligroso del mundo.
h) Buscar y/o aceptar ventajas a costa de la profesión de periodista, al margen de las que son
propias de su ejercicio moral. Hay que merecer el aprecio y el reconocimiento de la sociedad,
a la cual se sirve.
i) No acogerse a la Cláusula de Conciencia si la empresa periodística o el medio de
comunicación social en que se labora cambia su línea u orientación, con la cual no se
coincida. Es ético mantener su propia convicción, lo contrario es inmoral y atenta contra el
prestigio propio y profesional. Las creencias y criterios se fundamentan en principios
superiores.
j) Descuidad -donde fuere que esté- la conducta personal y el aspecto físico. El periodista,
además de respetar su propio prestigio, representa siempre a su gremio y al medio o empresa
en la cual trabaja.
CAPITULO III
DEBERES PARA CON DIOS Y LA PATRIA
Art. 5.- Independientemente de la religión o creencias que se profese, y aún si se declara
agnóstico, el periodista está moralmente obligado en su ejercicio profesional a honestar a Dios
y los dogmas. Es su deber respetar las creencias religiosas aunque no las comparta.
Art. 6.- Es deber del periodista respetar y defender los intereses nacionales como bienes
inalienables del Perú. Y honrar los símbolos patrios, así como la memoria de nuestros héroes,
próceres y mártires.
CAPITULO IV
DEBERES PARA CON LOS COLEGAS
Art. 7.- Los periodistas federados se obligan mediante este Código
de Ética Periodística a:
162
a.- Respetar el derecho de autoría . Citar las fuentes, no plagiar.
b.- Considerar la reputación de los colegas.
c.- Brindar ayuda y asistencia a los periodistas que sufran vejamen en el cumplimiento de su
misión; a los que sean perseguidos, acosados o amenazados por causa de sus ideas y
opiniones, o por investigar, descubrir y revelar actos de corrupción pública o privada que
afecten al país, al Estado, a las personas o a la sociedad en general. Atender, en lo posible, a
los colegas que se encuentren en exilio o que sufran carcelería por esas mismas causas y/o por
motivos de índole política.
CAPITULO V
DEBERES PARA CON LAS EMPRESAS Y LOS MEDIOS
Art. 8.- Son actos contrarios a la ética profesional en este rubro:
a.- Revelar la fuente, datos, referencias, material de trabajo y otros que tengan condición de
reservado.
b.- Pactar estipendio o haber inferior a lo establecido por la ley o al que corresponda por la
clase y responsabilidad profesional de la labor periodística que se desempeñe y cargo que se
ejerza. Esto fomenta la competencia desleal en el competitivo mercado de trabajo. Y la
posibilidad de que personas que fungen de periodistas cumplan su cometido con algún
propósito distinto de la profesión, con desmedro de ésta, de la calidad del trabajo y del
prestigio del medio de comunicación social.
No se incluye en este caso a los estudiantes practicantes y/o Ciencias de la Comunicación, a
quienes es deber orientar. Su número, sin embargo, ha de ser prudentemente incorporado por
los medios de comunicación social y otras empresas en las cuales se realice trabajo de prensa,
igualmente el tiempo de permanencia en tal condición.
CAPITULO VI
DEBERES PARA CON LA SOCIEDAD
163
Art. 9.- El periodista está obligado a:
a.- La intimidad. Respetar el derecho de toda persona a su intimidad. La vida es inviolable,
Salvo el caso extremo de bien y necesidad públicos. Ellas es patrimonio moral del titular y de
su familia. Quién tiene cargo público no esta exceptuando de ser objeto del legítimo derecho
de la información y la crítica. De parte de la prensa, si con su conducta pone en riesgo o
desprestigia sus deberes de función. Considerar, siempre el valor de la persona humana.
b.- La Verdad.- El derecho de la información se ejercita sobre la base de la verdad que hay
que buscar, investigar, encontrar y buscar, para asegurarse de ofrecer una versión fidedigna de
los hechos, libre del concepto que pueda tener el periodista sobre ellos. La información debe
ser imparcial y vertida con total independencia.
c.- La Opinión.- La opinión esta reservada a las secciones destinadas a la orientación del
público y al periodismo interpretativo y como la crítica es un derecho y un deber
irrenunciable, que también requiere de una ética escrupulosa. Orientar con razonamientos y
firmeza indesmayable, alentar, no espolear, combatir, no herir, defender sin bocezarse. Otros
también pueden tener la razón.
d.- La Moral.- La difusión noticiosa no debe ofender la moral, las buenas costumbres, ni
perturbar la tranquilidad a quién tienen derecho los receptores y el público en general.
e.- No al Sensacionalismo.- Ofrecer sin escándalo ni sensacionalismo la información
necesaria sobre hechos trágicos, desagradables o que puedan lastimar las normales
sentimientos humanos, ser muy cauto con la información relacionada con suicidios,
violaciones y hechos negativos en los que estén involucrados, como víctimas o actores la
mujer, los niños y adolescentes. No olvidar que diariamente, a cada instante, también ocurren
hechos públicos que enaltecen a la persona humana y a la sociedad. Contribuir a ello, buscar y
divulgar bueno la vida
f.- Cuidado con La Violencia.- No sobreestimar los actos de violencia, terrorismo,
narcotráfico, secuestro, asalto, inseguridad ciudadana y otros hechos, cuyos autores buscan
generalmente protagonismo, "liderazgo", notoriedad con lo que se difunda limitarse a los
164
hechos. Ser muy prudente con la información gráfica, ya sea esta impresa, televisiva o
fílmica. Cuando sea menester la interpretación de la noticia, antecedentes, consecuencias
previsibles, referencias de los protagonistas y otros datos útiles para el mejor conocimiento de
los hechos, hacerlo con tino. Respetar en todo momento la desgracia ajena, tener compostura
ante la muerte. Promover la solidaridad, no la compasión.
g.- No somos Jueces.- No calificar "a - priori" al acusado, solamente la sentencia del juez
determina la culpabilidad. Toda persona tiene derecho a que se le considere inocente hasta
que no se le pruebe lo contrario. No lesionar a nadie con calificativos indecorosos, toda
persona humana tiene derecho a un nombre propio y a que se le llame como tal. Aún el
delincuente sigue siendo persona.
h.- Respetar la Inocencia Infantil.- Contribuir a mantener la inocencia de los niños y evitar
difundir hechos que pongan en riesgo la niñez y a la juventud. Si es indispensable informar,
hacerlo con la mayor mesura posible. Mas vale silenciar muchas noticias escabrosas, aunque
"jalen" público y mejoren el "rating". Basta una sola que informe sin dañar. Ningún periodista
ni medio de comunicación social deben aprovecharse de la incultura ni de la proclividad a lo
morboso. Es inmoral propender a una mayor difusión y a elevar el "rating" explotando los
instintos, la pornografía, las aberraciones, la privacidad y cualquier otro acto que ofenda la
dignidad de la persona humana, así como el prestigio de la profesión de periodista y del medio
de comunicación social. La familia y la sociedad deben confiar en la prensa, y éste merecerlo.
Su ingreso a cada hogar es un privilegio que debe honrarse.
i.- El Valor de la Noticia.- La noticia es un bien público más que un factor de orden
económico. Ha de valer por su contenido y por su forma de expresión. No tiene equivalencia
de tipo comercial.
j.- Responsabilidad Compartida.- Periodistas, editores y empresas periodísticas comparten
responsabilidad en bien de la sociedad. Es un deber salvaguardar permanentemente los
derechos humanos, su defensa y restablecimiento, donde quiera que fuesen conculcados y
quienes sean los que hagan y asimismo, promover su respeto.
k.- El Valor del Idioma.- Emplear debidamente el idioma, patrimonio cultural por excelencia.
Su uso correcto y pulcro ayuda a elevar los niveles de educación. Lo contrario desnaturaliza el
165
papel de la prensa y a causa desmedro en la calidad profesional del periodista. Es preferible
evitar el condicional. En caso inevitable, ser prudente. Si hay seguridad de lo que se sabe,
decirlo afirmativamente. Expresarse en condicional o con precauciones puede dar la
impresión de duda o temor. Y cambios estados son incompatibles con la misión periodística.
l.- ¿Etnias o Razas?.- No tratar de razas referirse a las personas como seres humanos con
idénticos derechos.
m.- Considerar a los Animales.- Cuidar a los animales e inducir el aprecio hacia ellos.
Fomentar el cuidado de las plantas, el amor a la naturaleza y a la sólida y constante defensa
del medio ambiente y a la ecología como factor de vida. Todo lo que existe es obra de Dios.
CAPÍTULO VII
DEBERES DE LOS MEDIOS
Art. 10.- Reconocer y atender el derecho de quienes se consideren afectados por alguna
publicación y/o transmisión en cualquier forma o medio de manifestar su respuesta, aclaración
o rectificación, según sea el caso invocado. Si el medio de comunicación social se percata de
error, es honorable la espontánea enmienda.
Art. 11.- Diferenciar lo estrictamente periodístico de lo comercial y publicitario.
No recibir remuneración alguna por informaciones periodísticas; salvo los publirreportajes,
suplementos encartes, los cuales deben identificarse claramente como tales.
Art. 12.- Respetar la libertad ideológica de su personal. No competer a las periodistas a
investigar, recibir, fotografiar, filmar, grabar o destacar lo que es moralmente indebido según
este Código de ética periodística y que pueda, además, atentar contra el deber y la lata
finalidad social de la prensa.
COMPLEMENTO PROCESAL
EL TRIBUNAL DE HONOR
Para aplicar el presente Código de Ética Periodística que antecede se empleará el siguiente
procedimiento:
166
Toda persona que se considere afectada en su dignidad, sentimientos, costumbres, intimidad u
otros valores, por cualquier medio de comunicación social, tiene expedito su derecho de
defensa, a parte de la acción contenciosa que sea pertinente y decida incoar, la sociedad como
tal, tiene igual derecho.
Para el efecto se constituye el Tribunal de Honor de la Federación de Periodistas del Perú
(FPP) a nivel nacional. Su competencia puede extenderse a los medios de comunicación
social y a los organismos que representan los anunciantes, como antes vigilantes de la ética en
los comerciales que auspician.
1.- EL TRIBUNAL DE HONOR:
Tiene la facultad para invertir de oficio o a petición de parte por las infracciones que se
cometen con las normas deontológicas.
El Tribunal de Honor está formado por cinco miembros, quienes son propuestos y elegidos
por el Congreso Nacional de la Federación de Periodistas del Perú (FPP).
El Tribunal de Honor sesionará por lo menos una vez al mes en Sesión Ordinaria. Si no
hubiere caso específico que tratar, se evaluará el cumplimiento de éste Código de ética
periodística. Cuando las circunstancias y los hachos lo exijan habrá Sesión Extraordinaria. El
Presidente Del Tribunal citará a cualquier de estas dos clases de s0esiones, o el secretario, a
nombre de aquel y por su encargo expreso. Cualquier miembro del Tribunal de Honor puede
solicitar que se sesione. El pedido se hará mediante escrito cursado al Presidente e indicando
la razón y el motivo.
La citación a sesiones se formulará mediante esquelas, fijando día, hora y lugar e informando
sobre la agenda a tratarse, con una anticipación de 72 horas como mínimo. Sólo por fuerza
mayor puede proceder la inasistencia de alguno de los miembros. Si las inasistencias,
justificadas o no, pasarán de límite prudente permisible que se fije, se exonerará al miembro
que incurra en ellas de integrar el Tribunal de Honor.
167
El Tribunal de Honor funcionará de acuerdo a estas normas procesales y podrá sesionar
indistintamente en cualquier departamento o ciudad del territorio nacional, según lo ameriten
los hechos o faltas cometidas al presente Código de Ética Periodística.
2.- EL PROCEDIMIENTO:
Interpuesta la denuncia respectiva por la persona afectada, su cónyuge aún en condición
supérstite ascendientes, descendientes, hermanos o interpósita persona, se citará a las partes
mediante esquela, en un término no mayor de 48 horascalendario. Si es por oficio, la denuncia
presentada al Tribunal de Honor por cualquiera de sus integrantes o por uno o varios afiliados
de la Federación de Periodistas del Perú (FPP), se citará al denunciado, sea persona individual
o a representante del medio de comunicación social en el cual se infringió presuntamente la
norma sustantiva.
Las audiencias son públicas o privadas, a criterio del Tribunal de Honor, sobre la base del tipo
y gravedad de la infracción cometida.
La parte denunciada podrá responder, hacer su descargo y actuar por sí misma o mediante
persona acreditada. No es indispensable que ésta sea letrada, pues no se trata de un "litis" o
proceso judicial sino de un caso de moral profesional.
El Tribunal de Honor tendrá como elementos de lo siguiente:
1.- Los hechos que fundamenten la denuncia.
2.- La naturaleza y consecuencia del daño causado.
3.- Las normas deontológicas vigentes en el Código de Ética Periodística que se hayan
violado.
4.- Las pruebas -incluyéndose los impresos, grabaciones, videos y otros, la pericial y testifical
si fuese necesario.
168
5.- El resultado de la investigación practicada por (2) miembros del Tribunal de Honor,
quienes formarán una comisión especial para el efecto.
6.- Lo expuesto por las partes.
Concluida dicha etapa, el Tribunal de Honor cumplirá su cometido sin dilación. Si no hubiera
necesidad de ampliar la investigación ni acopiar nuevos elementos de probanza, se fijará día y
hora para la Audiencia y se citará a las partes.
Oídos quienes actúen de Fiscal y de Defensa que - puede ser el mismo acusado - el Tribunal
de Honor deliberará en todo lo afectado y expedirá su fallo, el cual se dará a conocer en la
misma Sesión o Audiencia, cada miembro del Tribunal de Honor emitirá su voto secreto. Si
de la votación resulte empate. El Presidente del Tribunal de Honor tiene voto dirimente.
Actúa como relator el secretario del tribunal de honor.
Leído el fallo se levantará un acta donde conste éste. Y será transcrita al libro
correspondiente, el cual queda en custodia y bajo responsabilidad de la Federación de
Periodistas del Perú (FPP), El presidente del Tribunal de Honor puede guardar para así una
copia del acta donde conste cada fallo emitido durante su ejercicio.
Los fallos del Tribunal de Honor, son inapelables, no existe instancia superior competente en
materia deontológico, para evitar cualquier reclamo que equivalga a apelación, las partes
declararán agotados sus respectivos recursos en la Audiencia final y antes de que se expida el
fallo.
Las filiales departamentales de la Federación de periodistas del Perú (FPP), con Tribunales de
Honor propios, recurrirán al tribunal de honor de la capital de la República que funciona con
categoría de nacional y servirá de instancia superior en caso de casación.
El Tribunal de Honor desestimará a todas denuncias de hechos que por naturaleza, formalidad
y consecuencia corresponden ser conocidos y amparados por Tribunales Ordinarios de
Justicia. Si se diera el caso de que simultáneamente el hecho implicará también infracción de
la norma deontológico y fuera denunciado ante el Tribunal de Honor, este abrirá trámite
169
porque en tal contingencia no habrá contienda de competencia con el Tribunal Ordinario de
Justicia son jurisdiccionales separadas e independientes.
El Tribunal de Honor no puede ser remotivo parcial ni totalmente. Sus funciones concluyen al
cumplirse el término que corresponde al del Comité Ejecutivo Nacional. Excepcionalmente es
válida la remoción de alguno o algunos, de sus miembros por casual grave y fehacientemente
comprobada. Entre éstas, la resolución consentida y ejecutoriadas que imponga condena por
delito doloso, igual razón, justifica la separación temporal o permanente de cualquiera de los
afiliados de la Federación de los Periodistas del Perú (FPP).
3.- LAS INFRACCIONES:
Estas se tipifican por su naturaleza, formalidad y consecuencia. En general se denominan
infraccionan al Código de ética Periodística. Y pueden ser a) Leves, b) Graves, c) Contra la
Federación de Periodistas del Perú (FPP), a la cual se pertenece como miembro activo,
honorario de otra categoría, d) Contra la profesión que cautela el respectivo Código De Ética
Periodística, e) Contra las personas individuales , f) Contra las personas jurídicas y g) Contra
la sociedad.
4.- LAS SANCIONES:
Por tratarse de sanciones de orden moral, las que se impongan no pueden salir de éste marco,
Sin embargo el Tribunal de Honor, sobre la base del imperio moral de sus fallos, y la máxima
finalidad que tiene, así como por la autoridad que le es propia, puede ejercer su función de
proponer, sin categoría obligatoria, la suspensión o la separación según sea la gravedad del
hecho inmoral del infractor moderado.
Consecuentemente las empresas responsables de los medios de comunicación social pueden
aplicar medidas semejantes. En los casos en que lo decida el Tribunal de Honor, sus fallos
pueden hacerse públicos.
DISPOSICIÓN FINAL
Este caso CÓDIGO DE ÉTICA PERIODÍSTICA será difundido adecuadamente para su cabal
170
conocimiento y cumplimiento. Todo periodista federado debe tener un cumplimiento. Todo
periodista federado debe tener un ejemplar de este Código.
Es aconsejable que también se distribuya entre los alumnos de Periodismo y/o Ciencias de la
Comunicación de las diferentes universidades nacionales y privadas del país.
14. REPÚBLICA TCHECA
Approved by the general meeting of the Union of Publishers on 5 September 2000.
The Press Code of Practice of the Union of Publishers is the base of the system of self
regulation in the industry of periodical press publishing in the Czech Republic.
These publicity principles serve for the preservation of professional ethics and are not rules,
which set forth legal responsibility. Publishers and journalists must ensure, that these
principles are adhered to materially and in accordance to the meaning of individual
provisions, infringement of the principles, their interpretation and any adjustments to the
Press Code of Practice are solved and ensured by the Czech Press Council, which is an
individual body of the Union of Publishers.
It is in compliance with ethics to respect the decisions of the Czech Press Council and to
disclose its decisions.
Contents:
1. Freedom of press, its role and public interest
2. Truthfulness and accuracy
3. Protection of personality
4. Protection of privacy
5. Presumption of innocence
6. Influence
7. Children
1. Freedom of press, its role and public interest
1.1. Freedom of press includes independence and freedom of information and possibility to
express opinions and criticism.
171
1.2. The boundaries of the freedom of press are the rights and freedom of citizens and third
parties and self regulatory principles according to the provisions of the press Code of Practice.
1.3. The role of the press is to release not only positive, favourable or socially neutral
information or ideas, but also such information resulting in anxiety, calling for discussion or
evoking controversial opinions or shock. But even in such cases the used expression media
must not be self-purposeful, offensive or vulgar.
1.4. Public interest in the meaning of the principles of the press Code of Practice is deemed in
events, that call for explanation of a criminal act, protection of public safety, morale or health
or to prevent the public being led in error.
2. Truthfulness and accuracy
2.1. Seeking the truth, conscientious obtaining and processing of information, giving truthful
and correct information to the public including writing commentaries and exact reproduction
of other people’s intimations and documents and preservation of human dignity are the
highest values respected by the press.
2.2. Truthfulness of information, designed for disclosure in the press, must be verified with
proper professional care to an extent that is justifiable to request in tactful circumstances.
When acquiring information unfair methods must not be used.
2.3. The truthfulness of information must not be misrepresented by incompleteness,
processing, mutilation, falsification, by accompanying photographs or other pictures or by
their description.
2.4. The disclosure of unconfirmed news and accusations, especially of an offensive manner
is not in compliance with ethics. If, exceptionally, for some serious reasons unconfirmed
information or assumptions are disclosed they must be indicated as such and it must be
apparent from them that they are such.
2.5. Third party intimations must be stated or truly interpreted and must as such be
indicated. Third party intimations in quotation marks must correspond exactly with the
utterance of the source, interpretation of other people’s intimations must not be in quotation
marks, in both cases the meaning of third party intimations must be preserved. Assumed
quotations as well as own quotations using third party information, must disclose the original
source.
2.6. Accompanying photographs used for illustration or other pictures must be indicated as
such and it must be apparent from them that they are such.
172
2.7. If released information is later proved to be untruthful, not complete or otherwise
misleading the truth, it is a matter of ethics to reasonably correct the information without
delay of one’s own accord or to put the matter right.
2.8. If, in a matter previously discussed in the press, new significant information becomes
known, it is a matter of ethics for reasonable information to be given of one’s own accord.
2.9. When releasing information about professional, especially medical matters, it is necessary
to avoid inadequate interpretation that could lead the readers to unreasonable anxiety or
expectations.
3. Protection of personality
Any kind of discrimination or offence due to sex, race, colour of skin, language, faith or
religion, political or other views, national or social origin, pertinence to a national or ethnic
minority, property, kind or other position is not in accordance with ethics
4. Protection of privacy
4.1. The press respects privacy including the intimate sphere.
4.2. If the privacy of a certain person touches public interest, and this person due to its social
activity or position has become a person of public interest, the privacy of such a person may
be, in individual cases, discussed in the press. Nevertheless it is necessary to observe, that
personality rights of other people are not infringed.
4.3. Special protection must be given to victims of criminal acts and accidents. Respect for the
victims and their relatives has priority before release of identifying information or
photographs.
5. Presumption of innocence
News about a hearing taking place in court or another state body or body of public
administration must be related without any prejudice. Therefore the press, before
commencement or during such proceedings, avoids releasing any prejudiced standpoints. The
press must be aware of the fact, that only the court can decide about the guilt and punishment
of criminal acts. Every person, against whom criminal proceedings are held must be looked
upon, even by the press, as innocent, till the court passes judgement at law or by some other
decision of a governmental body or body of public administration he has been found guilty.
6. Influencing
6.1. Responsibility towards the public requires. That the press is not influenced by private or
commercial interests. The press must stand up against such attempts and must always pay
attention to strict differentiation between editorial texts and disclosure for the purpose of
advertising or other publicity.
173
6.2. Accepting or providing any kind of benefit, that could influence the decision about the
contents or form of the press, does not comply with the independence of the press and its role
in society. Accepting any kind of benefit for the purpose of influencing the spreading or not
spreading of any kind of information is not in accordance with ethics.
7. Children
7.1. Protection of the privacy of children has priority over the value of the information. When
reporting the press must always have consideration for the interests of children and teenagers.
7.2. Reports on offenses of teenagers must not make it more difficult or prevent their possible
return to society.
15. SUÉCIA
A imprensa, o rádio e a televisão terão o maior grau possível de liberdade, de acordo com o
Ato da Liberdade de Imprensa e o direito constitucional de liberdade de expressão, para que
sejam capazes de atuar como divulgadores de notícias e como fiscais dos negócios públicos.
Neste conceito, entretanto, é importante que o indivíduo seja protegido de sofrimento
resultante da publicidade.
A ética não consiste na aplicação de um jogo formal de regras, mas na manutenção de uma
atitude responsável no exercício da atividade jornalística. O código de ética para imprensa,
rádio e televisão se propõe a proporcionar apoio para essa atitude.
Divulgue notícias exatas
1. O papel desempenhado pela mídia de massas na sociedade e a confiança do público nessa
mídia indicam a necessidade de as notícias serem objetivas e exatas.
2. Seja crítico com as fontes de informação. Cheque os fatos tão cuidadosamente quanto
possível à luz das circunstâncias. Permita ao leitor/ouvinte/telespectador a possibilidade de
distinguir entre fato e opinião.
3. Títulos, manchetes e chamadas ou resumos devem corresponder ao texto da notícia.
4. Assegure-se da autenticidade das imagens.
Verifique se as fotografias e ilustrações gráficas são corretas e não estão sendo usadas de
forma a enganar o público.
Trate as contestações generosamente
5. Erros efetivos devem ser corrigidos assim que apontados. Se alguém desejar refutar uma
declaração deve lhe ser dada a oportunidade de fazê-lo. As correções e refutações serão
publicadas imediatamente, de tal forma que despertem a atenção de quem recebeu a
174
informação original. Deve ser considerado que uma refutação não gera obrigatoriamente um
comentário editorial.
6. Publique imediatamente as declarações de censura emitidas pelo Conselho de Imprensa em
casos concernentes ao jornal.
Respeite a privacidade individual
7. Tenha cuidado em dar publicidade a fatos que possam violar a privacidade do indivíduo. A
exceção são os fatos de evidente interesse público.
8. Aja com muita cautela ao publicar notícias sobre suicídios ou tentativa de suicídio,
particularmente sem consideração com os sentimentos de parentes e em vista o que foi dito
sobre a privacidade do indivíduo.
9. Sempre mostre a maior consideração possível com as vítimas de crime e acidentes.
Verifique cuidadosamente nomes e ilustrações antes da publicação.
10. Não destaque raça, sexo, nacionalidade, ocupação, afiliação política nem crença religiosa
das pessoas, se tais pormenores não forem importantes no contexto ou se forem
depreciativos.
Tenha cuidado com o uso de imagens
11. Onde for o caso, estas regras também se aplicam às imagens.
12. Montagens, retoques por meios eletrônicos e legendas para fotos ou ilustrações não devem
enganar o leitor. Deixe claro se a imagem foi alterada por montagem ou retoque. Isto também
se aplica quando o material é arquivado.
Ouça os dois lados
13. Esforce-se para dar às pessoas, ao mesmo tempo em que são criticadas, a oportunidade de
responder à crítica e para incluir os pontos de vista de todas as partes envolvidas.
14. Lembre-se de que, aos olhos da lei, uma pessoa suspeita de crime é considerada inocente
até ser provada sua culpa. O resultado final de um processo é que deve ser divulgado.
Seja cauteloso ao publicar nomes
15. Seja rigoroso ao avaliar as consequências prejudiciais que pode causar às pessoas cujos
nomes são publicados. Abstenha-se de publicar nomes a menos que sejam de óbvio interesse
público.
16. Se o nome da pessoa for omitido, abstenha-se de publicar imagens ou pormenores que
permitam a identificação, como profissão, cargo, idade, nacionalidade, sexo, etc.
17. Leve em conta que a integral responsabilidade pela publicação de nomes e imagens é do
editor-responsável.
175
ANEXO 2 – MAPA DO ÍNDICE DA DEMOCRACIA DE 2010
ANEXO 3 – ROSTO DE MENOR ACUSADO DE MATAR MARCO JARA
177
ANEXO 5 – AÇÃO CIVIL PÚBLICA DO MPF-SP CONTRA A REDETV!
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃO
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA VARA CÍVEL DA 1ª SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE SÃO PAULO.
O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, pela Procuradora Regional dos Direitos do Cidadão infra-assinada, no uso de suas atribuições legais e constitucionais, vem, com fundamento no artigo 129, II, da Constituição brasileira e na Lei n.º 7.347/85, propor a presente
AÇÃO CIVIL PÚBLICA
em face da TV ÔMEGA LTDA, empresa concessionária do serviço público federal de radiodifusão de sons e imagens, estação geradora da REDE TV!, inscrita no CNPJ sob o número 02.131.538/0001-60, sediada nesta subseção judiciária, no Município de Barueri – SP, na Rua Bahia, 205 – Alphaville, pelas seguintes razões de fato e de direito.
178
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃO
I - DOS FATOS
Nos autos do procedimento administrativo nº 1.34.001.008487/2007-18, instaurado na Procuradoria da República em São Paulo a partir de notícia dando conta de que a Rede TV! teria usado o menor G.L.N. em encenação exibida no quando “Na Trilha de Uma Traição” do programa “Superpop” do dia 06 de novembro de 2007 violando o Estatuto da Criança e do Adolescente (doc 01), a emissora alegou que os participantes do programa apresentaram-se como maiores, não sendo “praxe colher cópias das cédulas de identidade de todos os participantes de seus programas”, e que diversas pessoas participavam ativamente dos programas sem firmar autorização de uso de imagem/voz (doc. 02, 03, 04, 05, 06, 07).
Diante disso, em 10 de setembro de 2008, o Ministério Público Federal em São Paulo expediu a Recomendação nº 72/2008 à emissora ré para que tomasse as providências necessárias para assegurar o devido respeito ao direito individual à imagem, certificando-se das idades dos participantes de seus programas, inclusive obtendo o necessário alvará judicial quando se tratasse da participação de menores (doc. 08).
A TV Ômega, em resposta, alegou que “cumpre integralmente as disposições constantes do Estatuto da Criança e do Adolescente” e que “jamais crianças e adolescentes foram expostos a situações de constrangimento físico ou psicológico”. (doc. 09).
No entanto, embora já tivesse sido advertida pela Recomendação do Ministério Público Federal, a emissora exibiu no dia 15 de outubro de 2008, sem qualquer autorização judicial, entrevista “ao vivo” com a adolescente Eloá Cristina Pimental, 15 (quinze) anos, que estava sendo mantida refém pelo ex-namorado, transformando-a, junto com o sequestrador, numa das atrações principais do programa “A Tarde é Sua”.
179
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃO
Trata-se de caso de cárcere privado amplamente divulgado pela mídia, que resultou na morte de Eloá e em lesões em Nayara, amiga da adolescente que também foi mantida como refém. Lindemberg, na posse de muita munição e armas e inconformado com o fim de um relacionamento de mais de dois anos com Eloá, decidiu invadir o apartamento da ex-namorada à força, terminando por fazê-la refém durante cinco dias.
A notícia da entrevista, deu ensejo a instauração das peças informativas nº 1.34.001.005924/2008, no bojo do qual o Ministério Público Federal expediu ofício à concessionária ré requisitando a cópia do programa acima mencionado (doc.10).
Em resposta, recebeu o DVD anexo contendo o programa (doc. 11).
Analisando-se seu conteúdo, verifica-se que, de fato, a emissora cometeu ato abusivo, explorando, durante quase uma hora, no programa “A Tarde é Sua” a situação delicada e vulnerável em que se encontravam as adolescentes Eloá, sua amiga Nayara, e o Lindemberg Alves, ex-namorado da primeira (doc. 12 – degravação), interferindo, indevidamente, em investigação policial em curso.
Inicialmente foi exibida entrevista gravada pelo telefone, feita pelo repórter Luis Guerra, do programa “A Tarde é Sua”, com Lindemberg e Eloá. Confira-se trechos da entrevista:
“Luís Guerra: Não, mas fica tranquilo... Eu sei que é difícil, mas procura se acalmar. A Eloá tá com você? Tá tranquila? ?como é que você tá?
Lindemberg: Tá bem. Peraí, que ela vai falar.
Luís Guerra: Põe ela pra falar com a gente, por favor. Eloá: Alô? Luís Guerra. Oi Eloá. É o Luís Guerra da Sônia Abrão, tudo bem?
180
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃO
Eloá: Quem tá falando?
Luís Guerra: Luís Guerra, repórter da Sônia Abrão, tudo bem?
Eloá: Tudo.
Luís Guerra: Querida, como é que tá aí? Tá tudo tranquilo?
Eloá: Tá tudo tranquilo, Eu quero almoçar.
Luís Guerra: Você quer almoçar?
Eloá: Tô fraca.
Luís Guerra: Fica tranquilo. Eu conversei com o Lindemberg, a gente vai conversar de novo. Ele tá te tratando bem?
Eloá: Tá, tá me tratando bem (voz chorosa)
Luís Guerra: Então confia nele, passa tanquilidade. Os polici .... (....)
Luis Guerra: Oi, querido
Lindemberg: Vou falar para você uns bagulho. Deixa eu falar uns negócio procê.
Luis Guerra: Pode falar.
Lindemberg: Oh, Luis guerra, como você conseguiu o telefone daqui?
Luis Guerra: Filho, depois a gente conversa isso. O importante é que a gente quer passar tranquilidade pra você.
Lindemberg: Tô perguntanto. Você vai me reponder, porque eu tô perguntando primeiro. Por favor, “tiu”,não me deixe nervoso não.
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Luis Guerra: Não, não. Não fique nervoso. A gente conseguiu o telefone através da nossa produção.
Lindemberg: Então fala com quem você conseguiu. Só quero saber, endente?
Luis Guerra: A gente conseguiu com alguns parentes seus mesmo, tá? Tranquilo, “velho”? Lindemberg?
Lindemberg: Se você é repórter mesmo, eu queria saber se quem realmente tá falando comigo é o Luiz Guerra.
Luís guerra: Meu nome é Luís Guerra, sou do programa “ A Tarde é Sua”, da Sônia Abrão. Você pode ligar a televisão à tarde que você vai ver a sua gravação. Lindemberg: Tô esperando tudo acontecer normalmente, o policial não fazer o que ele fez.
Luís Guerra: E o que eles fizeram?
Lindemberg: Eu falei pra ninguém subir e ele subiu, ele tocou a campainha, nóis tava dormindo, eu tomei um susto e quase atirei nela.
Luís Guerra: Não, fica tranquilo, a gente vai entrar em contato com a polícia. A gente tá confiando em você, sabe que você é um rapaz de bem, que você não quer fazer nada de errado.
Lindemberg: Você é repórter. Você viu o que aconteceu lá no Rio de Janeiro, lá naquele caso do sequestro do ônibus, né? Então, o cara foi “pagar de bonitinho” lá, o policial lá foi querer fazer as coisas precipitadas, foi atirar no cara, o cara atirou na mulher e matou a mulher. E aí? É isso que o policial quer?
Luís Guerra: Não, não vai acontecer isso, espero. Porque a gente confia em você, e a gente vai...”
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Posteriormente, foi ao ar entrevista ao vivo, feita também por telefone, conduzida pela apresentadora do programa Sônia Abrão.
Segundo notícia veiculada no jornal “O Estado de São Paulo” no dia 16 de outubro de 2008:
“Gate queria impedir TV de falar com invasor
O telefone do Departamento de Comunicação da Polícia Militar disparou ontem, logo após a apresentadora Sônia Abrão, do A Tarde é Sua, da Rede TV!, mostrar uma entrevista ao vivo com Alves. Oficiais da tropa de elite da Polícia Militar pediam para a corporação intervir e pedir à emissora que tirassem a reportagem do ar. A atitude da TV, para a PM, é 'incorreta', 'atrapalha' e coloca em risco todo o trabalho dos negociadores. Um capitão do Exército, que pediu para não ser identificado, estava inconformado. “Para esse tipo de ocorrência existem pessoas treinadas, especializadas. Às vezes, uma palavra errada da apresentadora coloca tudo a perder”.(doc. 13)
Em conversa com o sequestrador, a apresentadora assumiu, ao vivo, nítida posição de intermediadora das negociações, conforme se depreende dos trechos a seguir:
Em conversa com Lindemberg:
“Lindemberg: Você viu a “merda” que deu no Rio de Janeiro ... Se eles invadirem eu vou atirar nela!
Sônia Abrão: Mas eles não vão invadir, Lindemberg. Eles não têm essa intenção de maneira nenhuma. É aquilo que eu tô falando pra vocês, a polícia tá vendo de perto o sofrimento dos seus parentes, o sofrimento dos parentes da Eloá. Você acha que eles vão querer provocar uma morte aí dentro? De jeito nenhum, de jeito nenhum, tá? Eles não vão nem se aproximar mais. Cê tá me ouvindo. Alô, Lindemberg? Alô?
Sônia Abrão: Ele avisou que a linha tava caindo. Caiu a linha de novo ... Vamos ver se ele atende novamente a ligação e ... acho
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que tá cada vez mais claro para a polícia que a única coisa ainda que tá fazendo com que ele mantenha a Eloá presa lá junto com ele é essa história de que um capitão teria tentado invadir o local, Então, ele tá preocupado com isso, ele não quer saber desse tipo de coisa e a gente tá explicando pro Lindemberg que não é essa a disposição da polícia, que eles não querem invadir, só querem negociar a saída dos dois, do Lindemberg e da Eloá, são e salvos ... (...)
Sônia Abrão: Ninguém vai atirar em você, pelo amor de Deus, não pensa isso não, a gente quer um final feliz para essa estória. Isso não sou eu que estou aqui no ar falando não, todo mundo que tá aí embaixo, a polícia não tem interesse em tirar a vida de ninguém, muito pelo contrário, não tem porque tirar a sua vida, Lindemberg. Pelo amor de Deus, não pensa isso não. Faz isso que você está falando: ela desce primeiro com os dois revólveres descarregados, certo? E você vai descer na sequência com as mãos pra cima. Você não tem nenhuma outra arma com você, você só tem esses dois revólveres, é isso?”
Com a adolescente Eloá:
Sonia Abrão: Oi, é a Sonia Abrão. Hoje você conversou com o Luiz Guerra, com o nosso repórter, nós estamos ao vivo. Esse tempo todo você está vendo, o Lindemberg está conversando com a gente e a gente queria que você falasse novamente para o Brasil inteiro, para as pessoas entenderem que você está bem, não é? Na medida do possível. O Lindemberg está falando que agora você está cooperando, tá mais tranquila, que você comeu. Você já almoçou, não é?
Eloá: eu já almocei, já.
Sonia Abrão: Você está se sentido melhor? Sua voz está mais forte.
Eloá: aham.
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Sonia Abrão: E como é que ele tá? Ele falou que vocês já conversaram a respeito do namoro de vocês, que acabou.
Eloá: (murmura algo ininteligível)
Sonia Abrão: Oi? Não entendi. Caiu de novo a ligação ... (....)
Sonia Abrão: Sei, me fala uma coisa. Ele deixou muito claro que não tem intenção de fazer mal nenhum, nem a ele mesmo, né? Agora você esta preparada pra descer com calma, ele vai entregar, segundo ele nos disse...
Eloá: Na melhor hora, ele vai me liberar.
Sonia Abrão: Ele vai entregar as duas armas descarregadas na sua mão, você tem condições emocionais de descer, de entregar....
Eloá: Está tudo sob controle...
Sonia Abrão: E avisar a polícia que ele vai descer na sequência indefeso, desarmado e com as mãos pra cima.
Eloá: Indefeso...
Sônia Abrão: Você explica tudo direitinho?
Verifica-se, portanto, que a concessionária ré abusou da sua liberdade de comunicação, violando os direitos assegurados às crianças e adolescentes, bem como interferindo em investigação policial em curso.
Dessa forma, não restou outra alternativa senão a propositura da presente ação civil pública, objetivando que a concessionária ré repare a lesão causada à coletividade.
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II - DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL E LEGITIMIDADE ATIVA
A competência da Justiça Federal é notória no caso em questão, já que a empresa ré é concessionária de um serviço público federal, como se depreende da leitura dos arts. 21, inciso XII, “a”, e 223 da Constituição.
Ademais, a Constituição Federal, em seu art. 127, prescreve que ao Ministério Público, instituição essencial à função jurisdicional, compete a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.
Estabelecido este vetor, dispõe em seguida:
“Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: [...].
II – zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição, promovendo as medidas necessárias a sua garantia. III - promover o inquérito civil público e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e outros interesses difusos e coletivos”.
Em harmonia com a Carta Federal, preceitua a Lei Complementar n.º 75/93, que dispõe sobre a organização, as atribuições e o estatuto do Ministério Público da União, em seu art. 5º, inc. IV, a atribuição expressa de “zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos da União e dos serviços de relevância pública e dos meios de comunicação social aos princípios, garantias, condições, direitos, deveres e vedações previstos na Constituição Federal e na lei, relativos à comunicação social”.
Estabelece ainda o art. 39, inc. III, da Lei complementar nº 75/93:
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“Art. 39. Cabe ao Ministério públcio Federal exercer a defesa dos direitos consstitucionais do cidadão, sempre que se cuidar de garantir-lhes o respeito:
[...] III- pelos concessionários e permissionários de serviço público federal”
O Ministério Público tem um dever irrenunciável e impostergável de defesa do povo, cabendo-lhe exigir dos Poderes Públicos e dos que agem em atividades essenciais o efetivo respeito aos direitos constitucionalmene assegurados na prestação dos serviços considerados relevantes.
Destarte, verifica-se, no presente caso, a indevida utilização da concessão federal do serviço de radiodifusão de sons e imagens a configurar dano a interesses que determinam a atuação do parquet federal: a indevida prestação de um serviço concedido, e à coletividade, pela afronta a normas constitucionais e legais, especialmente no que concerne ao abuso no exercício da liberdade de comunicação e aos direitos assegurados às crianças e adolescentes.
Como o Ministério Público Federal é parte e a Ré é prestadora de serviço público federal concedido, a ação coletiva deve ser, obrigatoriamente, proposta perante a Justiça Federal, consoante dispõe o art. 109, inciso I, da Constituição.
III - DO CABIMENTO DA PRESENTE AÇÃO CIVIL PÚBLICA
O Ministério Público Federal busca defender o direito de milhões de brasileiros a uma programação televisiva que respeite os direitos fundamentais, os direitos da criança e do adolescente e os valores éticos que devem permear a programação televisiva.
Trata-se de legítimo interesse difuso, como já apontou Barbosa Moreira, em artigo sobre o tema:
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“O interesse em defender-se ‘de programas ou programações de rádio e televisão que contrariem o disposto no art. 221’ enquadra-se com justeza no conceito de interesse difuso. [...] Com efeito: em primeiro lugar, ele se caracteriza, à evidência, como ‘transindividual’, já que não pertence de modo singularizado, a qualquer dos membros da comunidade, senão a um conjunto indeterminado – e, ao menos para fins práticos, indeterminável – de seres humanos. Tais seres ligam-se uns aos outros pela mera circunstância de fato de possuírem aparelhos de televisão ou, na respectiva falta, costumarem valer-se do aparelho do amigo, do vizinho, do namorado, do clube, do bar da esquina ou do salão de barbeiro.
E ninguém hesitará em qualificar de indivisível o objeto de semelhante interesse, no sentido de que cada canal, num dado momento, transmite a todos a mesma e única imagem [..]”.1 (grifos nossos)
O argumento de que uma parcela dos espectadores apóia uma programação televisiva que ofende sistematicamente os valores constitucionais não serve para afastar o cabimento da ação coletiva. Isto porque, como bem lembrou Rodolfo de Camargo Mancuso, é justamente no embate de coletividades extensas – uma parte posicionando-se contra, e outra a favor de um padrão básico de qualidade na programação televisiva – que repousa uma das notas mais típicas dos interesses difusos, que é a sua intrínseca conflituosidade.2
E, em sendo difuso, o dano causado pela exibição de programação indevida por emissora de televisão sujeita-se à reparação através de Ação Civil Pública (Lei 7.347/95, art. 1º, IV).
1 MOREIRA, José Carlos Barbosa. Ação Civil Pública e Programação da TV. In: MILARÉ, Edis. Ação Civil Pública: lei 7.347/85: reminiscências e reflexões após dez anos de aplicação. São Paulo: RT, 1995. p. 280-282. 2 MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Controle Jurisdicional do Conteúdo da Programação Televisiva”. in Boletim dos Procuradores da República, nº 40, Agosto/2001.
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IV - DO DIREITO
A conduta da TV Ômega constitui abuso de direito, pois usou sua liberdade de comunicação social para desrespeitar direitos assegurados às crianças e adolescentes e interferir numa investigação conduzida por autoridades policiais.
A Constituição Federal garante plenamente a liberdade de expressão e de manifestação do pensamento, de criação, de expressão e de informação, vedando qualquer censura de natureza política, ideológica ou artística (art. 220, caput e § 2º).
No entanto a liberdade de comunicação social não é absoluta, devendo estar em compasso com outros direitos inseridos na Constituição Federal, dentre eles o direito à privacidade, à imagem e à intimidade dos indivíduos (art. 220, § 1º e art. 5º, X), bem como os valores éticos e sociais da pessoa e da família (art. 221, IV).
Ademais, o art. 53 da Lei 4.117/62 declara que constitui abuso, no exercício da liberdade de radiodifusão, o emprego desse meio de comunicação para a prática de crime ou contravenção previstos na legislação em vigor no País, inclusive para incitar a desobediência às leis ou decisões judiciárias; comprometer as relações internacionais do País, ofender a moral familiar, pública, ou os bons costumes; colaborar na prática de rebeldia desordens ou manifestações proibidas.
É importante dizer que, ao contrário do que pensa o senso-comum, a Ré não é “proprietária” do canal em que opera. É, na verdade, uma concessionária do serviço público federal de radiodifusão de sons e imagens, e, como tal, está sujeita às normas de direito público que regulam este setor da ordem social.
Justifica-se o regime jurídico de direito público porque, diversamente do que acontece nas mídias escritas, as emissoras de rádio e TV operam um bem público escasso: o espectro de ondas eletromagnéticas por onde se propagam os sons e as imagens. Trata-se de um bem público de interesse de todos os brasileiros, pois somente por intermédio da televisão e do rádio é possível a plena circulação de ideias no país.
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A liberdade de comunicação deverá ser protegida sempre que cumprir sua função social, mas será submetida a controle quando incorrer em abuso. Referida liberdade é uma garantia instituída pela sociedade e para a sociedade, não se podendo admitir, portanto, que seja utilizada contra esta.
A empresa ré usou o bem público que lhe foi temporariamente concedido para negar os valores fundamentais declarados na Constituição, dentre os quais os direitos da criança e do adolescente.
O drama pessoal vivenciado pelos entrevistados, um deles, menor, foi transmitido sem nenhum respeito pela dor humana, relegando a ética a um plano secundário. Pode-se dizer que a emissora, no mínimo, colocou em risco o trabalho dos negociadores especializados da Polícia e a vida da adolescente e do sequestrador.
Como é sabido, a Constituição de 1988 impôs a todos o dever de assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
Em reforço ao comando constitucional, o art. 15 da Lei nº 8069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente) dispõe que a criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis. E o art. 17 do mesmo Estatuto explicitou que “o direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais”.(grifos nossos)
Ademais, o artigo 149, II, “a”, do Estatuto dispõe sobre a necessidade de prévia autorização judicial para participação de menor em espetáculos públicos, inclusive programas televisivos:
“Art. 149. Compete à autoridade judiciária disciplinar, através de portaria, ou autorizar, mediante alvará:
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[...] II - a participação de criança e adolescente em: a) espetáculos públicos e seus ensaios; [...].
§ 1º Para os fins do disposto neste artigo, a autoridade judiciária levará em conta, dentre outros fatores:
a) os princípios desta Lei; b) as peculiaridades locais; c) a existência de instalações adequadas; d) o tipo de frequência habitual ao local;
e) a adequação do ambiente a eventual participação ou frequência de crianças e adolescentes;
f) a natureza do espetáculo. § 2º As medidas adotadas na conformidade deste artigo deverão ser fundamentadas, caso a caso, vedadas as determinações de caráter geral.”
Ocorre que, no programa da concessionária ré, não só o drama da adolescente foi tratado como entretenimento, em flagrante desrespeito à sua condição de pessoa em desenvolvimento, como também a emissora a inseriu em seu programa como atração principal, fazendo com que dele participasse de modo efetivo e sem o devido alvará judicial.
“1. É pacífico o entendimento nas Turmas de Direito Público desta Corte Superior de que os programas de televisão têm natureza de espetáculo público, atraindo a incidência do art. 149, II, do ECA . 2. O que impõe a exigência do alvará judicial é a efetiva participação do menor o programa televisivo, não importando o local das gravações, observando-se que tampouco a presença dos pais supre tal exigência.” (STJ - AgRg no Ag 673357/RJ, Ministra Denise Arruda, T1-Primeira Turma) (grifos nossos)
A adolescente, mantida como refém, entrou “ao vivo” durante a programação, por meio de uma entrevista nitidamente invasiva e destituída de qualquer respeito a sua condição de adolescente e vítima.
O legislador impôs a necessidade de autorização judicial justamente para coibir práticas abusivas por parte dos responsáveis por espetáculos públicos.
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A emissora desrespeitou ainda o disposto no art. 221 da Constituição Federal:
“Art. 221. A produção e a programação das emissoras de rádio e televisão atenderão aos seguintes princípios: I- preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas; II- promoção da cultura nacional e regional e estímulo à produção independente que objetive sua divulgação; III- regionalização da produção cultural, artística e jornalística, conforme percentuais estabelecidos em lei;
IV- respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família” (grifos nossos)
Ademais, ao assumir o papel de intermediadora das negociações, a apresentadora da concessionária interferiu na atividade policial em curso, que estava sendo promovida por pessoas capacitadas e especializadas, como policiais do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate), colocando a vida da adolescente e dos envolvidos na operação em risco.
Ora, como observa Rodolfo de Camargo Mancuso,
“Lendo-se os dispositivos que regem a programação televisiva à luz do que visa garantir a liberdade de iniciativa e a livre concorrência (CF, art. 170, caput e inciso IV), chega-se a esta exegese: é autorizada a exploração comercial da difusão televisiva privada, com natural apropriação dos lucros daí resultantes, desde que venham observados os princípios e guardadas as restrições especificadas para tal atividade . Em suma, livre iniciativa com responsabilidade social; lucro empresarial sem capitalismo selvagem.
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De outra parte, deve o intérprete precatar-se de não baralhar o entendimento do que seja um padrão básico de qualidade na programação televisiva, em face de textos outros que em verdade apenas reflexamente tangenciam aquele tema, tais os que vedam a censura artística e garantem a liberdade de expressão (CF, art. 220, caput e § 2º). Aí, a nosso ver, não se trata do fenômeno conhecido por colisão entre preceitos constitucionais, visto não ser razoável pretender-se que os valores liberdade de expressão e vedação de censura prévia viessem preservados às custas do aniquilamento de outros preceitos constitucionais reguladores de uma atividade que é estritamente regulada, como se passa com a radiodifusão de sons e imagens.
Sem esses cuidados, o intérprete pode tomar a nuvem por Juno, extraindo dos textos de regência o que neles não se contêm, porque é evidente que não esteve na intenção do constituinte franquear um laissez faire , justamente na programação televisiva, atividade para a qual a própria constituição fixou parâmetros cogentes. seria no mínimo estranhável, escreve José Carlos Barbosa Moreira, ‘que se houvesse de deixar a determinação ao arbítrio das emissoras, isto é, dos próprios infratores potenciais ou atuais [...]’.”3 (grifos nossos)
O órgão informativo tem a seu favor a liberdade de informação jornalística, mas esta certamente não abrange intervenção na atividade policial, sob pena de incorrer em nítido abuso. Caracterizada, portanto, a conduta irregular da emissora ré, enquanto prestadora de serviço público federal, por agir de modo contrário às normas constitucionais e legais.
Vislumbra-se, portanto, a necessidade de o Poder Judiciário (CF, art. 5º, XXXV), em defesa dos direitos fundamentais e dos princípios a serem observados na produção e programação dos serviços de radiodifusão, previstos pela Carta Magna, reparar o dano, de modo também a coibir futuras práticas abusivas.
3MANCUSO, Rodolfo de Camargo. “Controle Jurisdicional do Conteúdo da Programação Televisiva” in Boletim dos Procuradores da República, nº 40, Agosto/2001.
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V - DO DANO MORAL COLETIVO
O dano moral está previsto em nosso ordenamento jurídico no artigo 1º da Lei nº 7.347/85, por meio do qual é assegurada a responsabilização por danos morais e patrimoniais causados ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem urbanística, aos bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico e a qualquer outro interesse difuso ou coletivo.
Também há previsão sobre o tema na Lei nº 8.078/90 - Código de Defesa do Consumidor -, que garante a prevenção e a reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos e o acesso aos órgãos judiciais e administrativos, além de trazer o avanço das definições cabíveis dentro de direito coletivo (art. 81).
A indenização pelo dano moral sofrido tem previsão, ainda, nos incisos V e X da Constituição Federal. Vejamos:
“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...] V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem; [...] X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”.
No presente caso, como restou fartamente demonstrado, a conduta da emissora ré foi inconstitucional e ilegal, por afrontar as normas constitucionais e infraconstitucionais que regulam o serviço público federal de radiodifusão e as que garantem direitos da criança e do adolescente, com evidente prejuízo para a sociedade e o telespectador.
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Há, no caso, o dever de indenizar porque a conduta ilícita praticada no programa “A Tarde é Sua” ofendeu, diante de uma plateia de milhões de telespectadores, valores fundamentais compartilhados por todos os brasileiros.
Ensina Carlos Alberto Bittar Filho4:
“[...] O dano moral coletivo é a injusta lesão da esfera moral de uma dada comunidade, ou seja, é a violação antijurídica de um determinado círculo de valores coletivos. Quando se fala em dano moral coletivo, está-se fazendo menção ao fato de que o patrimônio valorativo de uma certa comunidade (maior ou menor), idealmente considerado, foi agredido de maneira absolutamente injustificável do ponto de vista jurídico: quer isso dizer, em última instância, que se feriu a própria cultura, em seu aspecto imaterial.” (grifos nossos)
Como observa, ainda, Carlos Alberto Bittar o valor devido a título de indenização pelos danos morais coletivos:
“[...] deve traduzir-se em montante que represente advertência ao lesante e à sociedade de que se não se aceita o comportamento assumido, ou o evento lesivo advindo. Consubstancia-se, portanto, em importância compatível com o vulto dos interesses em conflito, refletindo-se de modo expressivo, no patrimônio do lesante, a fim de que sinta, efetivamente, a resposta da ordem jurídica aos efeitos do resultado lesivo produzido. Deve, pois, ser quantia economicamente significativa, em razão das potencialidades do patrimônio do lesante.
4 BITTAR FILHO, Carlos Alberto. “Do dano moral coletivo no atual contexto jurídico brasileiro” in Direito do Consumidor, vol. 12- Ed. RT.
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Coaduna-se essa postura, ademais, com a própria índole da teoria em debate, possibilitando que se realize com maior ênfase, a sua função inibidora de comportamentos. Com efeito, o peso do ônus financeiro é, em um mundo em que cintilam interesses econômicos, a resposta pecuniária mais adequada a lesionamentos de ordem moral.”5 (grifos nossos)
Destarte, impende exigir da Ré a reparação pelos danos morais causados à coletividade. Para tanto, necessário considerar que: a) a entrevista impugnada foi exibida para um público virtual de milhões de telespectadores; b) a emissora já havia sido recomendada a observar as normas constitucionais e as constantes do Estatuto da Criança e do Adolescente referentes à participação de pessoas menores de 18 anos em seus programas; c) o faturamento da Rede TV! foi estimado em R$ 150.000.000 (cento e cinquenta milhões de reais) por ano6 (doc. 14).
Por essas razões, entende o Ministério Público Federal que é razoável a fixação de indenização por danos morais coletivos no valor de R$ 1.500.000,00 (um milhão e quinhentos mil reais), o equivalente a 1,0% do faturamento bruto anual da emissora.
VI - DO PEDIDO
Em face do exposto o Ministério Público requer:
1. Seja condenada a TV ÔMEGA LTDA, estação geradora da REDE TV!, ao pagamento de indenização por danos morais coletivos no valor de R$ 1.500.000,00 (um milhão e quinhentos mil reais), acrescidos de juros moratórios
5 BITTAR, Carlos Alberto. “Reparação Civil por Danos Morais” in RT, 1993, p. 220-222. 6 “Monopólio em números: Donos da opinião no Brasil”, In: <http://www.pco.org.br/conoticias/ler_materia.php?mat=414>
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e correção monetária a partir da citação, importância essa que deverá ser revertida ao Fundo de Defesa de Direitos Difusos, instituído pela Lei Federal n.º 7.347/85;
2. A citação da Ré para, querendo, contestar a presente ação, pena de, assim não o fazendo, sofrer os efeitos da revelia;
3. A condenação da Ré nos ônus da sucumbência; 4. A intimação da União Federal para, se quiser, integrar a presente lide, na posição de litisconsorte ativa, por intermédio de seus advogados, na Avenida Paulista, 1804 - 20º andar – Cerqueira César – São Paulo – SP, como lhe faculta o art. 5º, § 2º, da Lei 7.347/95.
Protesta o Ministério Público Federal provar os fatos alegados por todos os meios de prova admitidos em direito, notadamente a juntada de documentos
e a oitiva de testemunhas.
Dá-se à presente causa o valor de R$ 1.500.000,00 (um milhão e quinhentos mil reais)
São Paulo, 01 de dezembro de 2008.
ADRIANA DA SILVA FERNANDESProcuradora Regional dos Direitos do Cidadão
Procuradora da República