Livro_31_pensando_direito_processo Legislativo e Controle de Constitucionalidade

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    PENSANDO

    N 31/2010

    PROCESSO

    LEGISLATIVO E

    CONTROLE DE

    CONSTITUCIONALIDADE

    anada dos Ministrios | Bloco T | 4 andar | sala 434ail: [email protected] | CEP: 70064-900 | Braslia DF | www.mj.gov.br/sal

    ISSN

    2175-

    5760

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    SRIE PENSANDO O DIREITON 31/2010 verso publicao

    Processo Legislativo e Controle de ConstitucionalidadeConvocao 02/2009

    Ncleo Direito e Democracia do Centro Brasileiro de Anlises e Planejamento(NDD/CEBRAP)

    Equipe de pesquisaJos Rodrigo Rodriguez (Coordenao)

    Marcos Nobre (Coordenao)

    Geraldo MiniuciFabiola FantiCarolina Cutrupi Ferreira

    Luciana Silva ReisMariana Giorgetti Valente

    Ana Carolina Alnito VieiraNatalie Bressiani

    ConsultoriaLuciana Gross Cuna

    Secretaria de Assuntos Legislativos do Ministrio da Justia (SAL)Esplanada dos Ministrios, Bloco T, Edicio Sede 4 andar, sala 434

    CEP: 70064-900 Braslia DFwww.mj.gov.br/sal

    e-mail:[email protected]

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    CARTA DE APRESENTAOINSTITUCIONAL

    A Secretaria de Assuntos Legislativos do Ministrio da Justia (SAL) tem o prazer de apresentar

    uma nova srie de cadernos do Projeto Pensando o Direito, trazendo a pblico os resultados de

    pesquisas realizadas por instituies acadmicas que trabalaram em parceria com a SAL ao

    longo do ano de 2009.

    Mais do que mera prestao de contas sociedade, as publicaes representam o xito de um

    novo modelo de relacionamento entre Estado e academia jurdica. Sem abdicar do respeito pleno autonomia cientca, e ciente de que o Projeto no pretende ser lina de omento pesquisa

    jurdica dado seu carter prtico e instrumental s competncias da SAL , prope-se umacooperao aberta, crtica e colaborativa, que almeja construir alternativas qualicadas aos

    entraves prticos e tericos que circundam o processo de elaborao normativa. Seus contornos,

    alis, tm servido como base a outras aes governamentais que buscam aproximar a produo

    acadmica do cotidiano estatal.

    Gana a SAL no momento em que alcana o objetivo primrio do projeto, qual seja, aqualicao dos projetos apresentados e dos debates travados no mbito do Ministrio da Justia

    e do Congresso Nacional; gana a academia jurdica e aqui talvez resida grande vitria, em

    que pese no ser meta precpua do trabalo no momento em que se abrem possibilidades de

    aplicao prtica produo cientca e de participao eetiva no debate poltico.

    O resgate da crena na poltica legislativa, a percepo de que o debate jurdico tambm ocorre

    no momento ormativo da lei e o renascimento ainda tmido e inicial da participao acadmicanas instncias polticas decisrias contribuem, de modo inequvoco, para a (re)denio dos

    rumos da pesquisa e do ensino jurdico no Brasil. A pesquisa aplicada e o interesse pelo processo

    legislativo devolvem relevncia ao momento da gnese legislativa e, em ltima instncia, revigoram

    as caractersticas constituintes da cidadania. Renova-se a sensao de pertencimento; recorda-se

    a importncia de participao.

    esta, em suma, a aposta da Secretaria de Assuntos Legislativos: um modelo de produo

    normativa aberto e eetivamente democrtico, permevel contribuio scio-acadmica, queresgate a importncia do processo legislativo e restaure os laos positivos existentes entre poltica

    e direito. Um deseno institucional que qualique os esoros governamentais e, de outro lado,

    estimule a legtima participao daqueles que tm na lei posta seu objeto cotidiano de trabalo.

    Este caderno integra o segundo conjunto de publicaes da Srie Projeto Pensando o Direito e

    apresenta a verso reduzida da pesquisa. Sua verso integral pode ser acessada no stio eletrnico

    da Secretaria de Assuntos Legislativos do Ministrio da Justia, em www.mj.gov.br/sal.

    Braslia, 30 de juno de 2010.

    Felipe de Paula

    Secretrio de Assuntos Legislativos do Ministrio da Justia

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    CARTA DE APRESENTAO DAPESQUISA

    O controle de constitucionalidade crucial para denir o mbito de atuao dos

    poderes e o grau de controle da sociedade sobre o Estado. Tanto no que se reere ao seu

    deseno quanto ao seu desempeno de ato, trata-se da demarcao dos limites entre os

    trs poderes e entre Estado e a sociedade.

    Este trabalo aborda o desempeno de ato das instncias competentes para controlar,

    preventiva e repressivamente, a constitucionalidade das leis: Comisses de Constituio

    e Justia (da Cmara e do Senado), Supremo Tribunal Federal e Poder Executivo, este por

    meio dos vetos presidenciais.

    Nosso objetivo oi identicar os argumentos utilizados por estes rgos decisrios

    nos temas de segurana pblica, reorma do processo e competio poltica e traar um

    perl da argumentao em cada um deles, em especial, no que se reere presena ou

    no de argumentos externos a direito e de argumentos de autoridade.

    Alm disso, este trabalo ormula ipteses sobre a maneira pela qual as instituies

    ormais guram o processo poltico. Para tanto, oram identicados casos de alta, mdia

    e baixa intensidade poltica a partir do exame dos documentos dos rgos de controle

    de constitucionalidade. Tais tipos de casos pretendem ajudar a explicar o perl da

    argumentao utilizada pelos reeridos rgos.

    Esta pesquisa descreveu em detales os bancos de dados existentes que contm

    documentos sobre controle de constitucionalidade o que, especialmente no que se reere

    s Comisses de Constituio e Justia , em si mesmo, um resultado importante. A

    literatura posterior sobre estes rgos, ainda pouco estudados, poder se beneciar

    muito dos resultados aqui apresentados. O mesmo se pode dizer, em certa medida,

    quanto aos vetos presidenciais, que tambm carecem de estudos mais detalados.

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    CENTRO BRASILEIRO DE ANLISES E PLANEJAMENTO

    NCLEO DE DIREITO E DEMOCRACIA

    SRIE PENSANDO O DIREITO

    PROCESSO LEGISLATIVO E CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE: AS FRONTEIRAS

    ENTRE DIREITO E POLTICA

    Resumo do Projeto de Pesquisa apresentada ao Ministrio da Justia/PNUD, no ProjetoPensando o Direito, Reerncia PRODOC BRA 07/004

    SO PAULO/BRASLIA

    02 DE JUNhO DE 2010

    Ademais, esta pesquisa realizou anlises quantitativas que apresentam dados

    sistematizados sobre os temas segurana pblica, competio poltica e reorma do

    Judicirio e do Processo. Os bancos incluem proposies legislativas, vetos do Poder

    Executivo e acrdos do Supremo Tribunal Federal entre os anos de 1995 e outubro de

    2009, ou seja, os dois governos FhC e o primeiro e atual governos Lula. No total, oram

    cadastradas e analisadas 2019 proposies legislativas, 12 vetos e 742 acrdos do STF.

    A obteno de tantos resultados relevantes deve-se ao trabalo de toda a equipe,

    listada em pgina a seguir. A despeito da assinatura individual desta apresentao este

    oi, no sentido da palavra, um trabalo coletivo realizado por pesquisadores do Ncleo

    Direito e Democracia do Centro Brasileiro de Anlise e Planejamento, cujo objetivo mais

    geral compreender a relao entre direito e esera pblica. Agradeo a cada um dos

    membros da equipe pelo trabalo conjunto, dedicado e paciente. Em especial, agradeo

    a todos os que se juntaram aos esoros nais de anlise de dados e redao do relatrio.

    Jos Rodrigo Rodriguez

    Coordenador

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    SUMRIO

    1. INTRODUO....11

    2. METODOLOGIA....17

    1. Banco de dados das Comisses de Constituio, Justia e Cidadania....17

    2. Construo do banco de vetos do Poder Executivo....19

    3. Banco de julgados do Supremo Tribunal Federal....19

    3. ANLISE QUANTITATIVA....23

    1. Banco de proposies legislativas....24

    2. Banco de acrdos do STF....31

    4. ANLISE QUALITATIVA....35

    Comisso de Constituio de Justia e Cidadania....43

    Supremo Tribunal Federal....73

    Vetos....80

    5. ESTUDOS DE CASO UMA PASSAGEM PELAS TRS INSTNCIAS....83

    6. CONSIDERAES FINAIS....89

    7. REFERNCIAS DOCUMENTAIS E BIBLIOGRFICAS....91

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    Esta pesquisa reete as opinies de seus autores e no do Ministrio da Justia

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    Esta pesquisa reete as opinies de seus autores e no do Ministrio da Justia

    1. INTRODUO

    O objetivo central desta pesquisa comparar a atuao das instituies responsveis

    pelo controle preventivo e repressivo de constitucionalidade de atos do Poder Legislativo,

    no mbito do Poder Judicirio, via decises do Supremo Tribunal Federal (STF), do Poder

    Legislativo, via maniestaes das Comisses de Constituio e Justia (CCJ) 1 da Cmara

    dos Deputados e do Senado Federal, e do Poder Executivo, via vetos presidenciais, para

    identicar:

    a) o que cada uma delas entende, de ato, por controle de constitucionalidade, para

    alm (ou aqum) do texto normativo que dene sua competncia;

    b) que argumentos so utilizados em cada uma dessas instncias e qual seu padro

    argumentativo.

    O objetivo central desta pesquisa comparar a atuao das instituies responsveis

    pelo controle preventivo e repressivo de constitucionalidade de atos do Poder Legislativo,

    nas Comisses de Constituio e Justia, no Poder Executivo (vetos presidenciais)

    e no STF para identicar: a) o que cada instncia entende, de ato, por controle de

    constitucionalidade, para alm (ou aqum) do texto normativo que dene sua competncia;

    b) quais argumentos so utilizados em cada uma dessas instncias e qual seu padro

    argumentativo.

    O primeiro esoro desta pesquisa, portanto, sair da ormalidade dos textos legais

    e compreender, na prtica, como os organismos de controle de constitucionalidade

    preventivo e repressivo uncionam2.

    1 Ao longo do texto ser utilizada a sigla CCJ para s e reerir Comisso de Constituio de J ustia e Cidadania da Cmara dos Deputados

    e para a Comisso de Constituio e Justia do Senado, sendo especifcada a Casa a qual pertence. A ausncia de reerncia indica meno

    atuao de ambas as Comisses.

    2 A pesquisa em sociologia do direito de matriz norte-americana costuma se reerir a tal abordagem como law in action para se contrapor

    ao ormalismo de abordagens que se preocupam apenas com o direito como est escrito, ou seja, law in books (o direito dos livros). O termo

    oi utilizado pela primeira vez por Roscoe Pound, Law in Books and Law in Action, 44 AM. L. REV. 12, 15 (1910).

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    Esta pesquisa reete as opinies de seus autores e no do Ministrio da Justia

    Uma pesquisa com este perl pode alimentar, evidentemente, a refexo sobre o

    uncionamento real das instituies a partir dos dados colidos que podem vir a motivar

    reormas ou reormulaes globais dos organismos estudados. No caso desta pesquisa,

    nossa motivao compreender, de ato, o que ocorre nestes rgos destinados a

    controlar a constitucionalidade das leis.

    Ademais, a ateno que dedicaremos argumentao dos rgos de poder, como

    car claro ao longo do texto tem, de sua parte, uma dupla motivao. Em primeiro

    lugar, a ateno argumentao est ligada ao nosso desejo de investigar a maneira

    pela qual o poder se coloca diante da sociedade, ou seja, que tipo de justicativa invoca

    para tomar suas decises.

    Os poderosos podem, por exemplo, decidir sem undamentar ou argumentar via

    estratgias retricas ligadas a estratgias de legitimao simblica ou carismtica

    dos entes de poder. Outra postura, completamente dierente, aquela centrada em

    justicativas, argumentos que procuram convencer racionalmente os i nterlocutores.

    A postura do organismo de poder, neste caso, est ligada ao objetivo de levar em

    conta todas as razes pertinentes a sua deciso de modo a obter uma soluo justa

    e legtima. Como se ver adiante, as categorias utilizadas na anlise incorporam esta

    preocupao3.

    Em segundo lugar, aspecto ligado ao primeiro, se o padro de legitimao

    argumentativo, importante que os rgos de poder levem em conta todos os aspecto s

    relevantes do problema que tm diante de si antes de tomar uma deciso. Neste

    registro, sua legitimidade no decorre apenas do ato de que um texto legal le conra

    competncia para decidir determinada espcie de problemas ou casos. Sua deciso

    precisa ser tambm racional, ou seja, argumentativa, para se mostrar legtima perante

    a sociedade.

    Os dois temas que organizam esta pesquisa esto diretamente ligados ao tema da

    democratizao do Brasil. O m da ditadura militar e a volta normalidade constitucional

    trouxeram consigo a possibilidade de debater publicamente todas as decises do

    Estado, inclusive as do Poder Judicirio. Por isso mesmo, este processo colocou nosso

    3 Para uma posio desencantada e cnica em relao ao direito, ver FERRAZ JR. (2003). Para uma posio oposta, ver HABERMAS (1991).

    direito na mesma rota do debate mundial sobre argumentao nas decises judiciais e

    sobre democracia deliberativa nos rgos executivos e legislativos 4.

    Tal debate mostra como as discusses polticas no esto mais contidas apenas

    no parlamento, mas se estendem, por exemplo, por conselos (com ou sem poder

    decisrio), organismos como oramentos participativos, conerncias nacionais,

    audincias pblicas em agncias reguladoras e junto ao STF, etc.5 A sociedade tem

    penetrado nas instituies ormais por outras vias, dierentes do voto e dos partidos

    polticos, e importante mapear este processo.

    Uma das ipteses que esta pesquisa, inelizmente, no pode testar de orma

    extensiva a seguinte: O Poder Judicirio tem sorido os eeitos desse processo de

    democratizao ao abandonar um padro autocrtico e tecnocrtico de legitimao de

    suas decises para argumentar e justicar seus pontos de vista?

    A tcnica jurdica, nesse registro, estaria sendo utilizada ela mesma como elemento

    de legitimao ou como ambiente em que se incorporam preocupaes sociais,

    econmicas e polticas? Nessa ltima cave, a deciso judicial assume o carter de um

    campo de disputa pelo sentido das normas e no um espao para decises em nome

    de uma suposta verdade jurdica inquestionvel.

    No seremos capazes de vericar esta iptese, pois o universo de decises

    estudado, veremos adiante, no suciente para comprovar a eventual mudana a que

    a iptese az meno. A despeito disso, as categorias que construmos se pretendem

    capazes de identicar, no que diz respeito a este problema, posturas argumentativas e

    posturas autoritrias dos organismos de poder.

    Em uma palavra, esta pesquisa oi concebida com os objetivos de:

    a) compreender as instituies e o direito em ao e

    b) identicar o padro decisrio dos rgos de poder, ou seja, vericar como eles

    argumentam para justicar suas decises.

    4 A bibliografa imensa. Para os dois temas, ver HABERMAS (1991).

    5 Para um panorama geral do problema, COELHO E NOBRE (2004).

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    Esta pesquisa reete as opinies de seus autores e no do Ministrio da Justia

    No pano de undo do trabalo est o processo de democratizao das instituies

    brasileiras, que tem ampliado o acesso da sociedade civil sobre os organismos de estado,

    redesenando suas ronteiras no processo, e modicado seu padro decisrio, cada vez

    menos autoritrio e tecnocrtico.

    Claro, este no um processo necessrio, tampouco irreversvel. A luta pela

    democracia deve ser constante e retrocessos podem ocorrer. O que s ressalta a

    importncia de pesquisas que se coloquem deste ponto de vista, o da investigao sobre

    a relao entre Estado e sociedade a partir do padro decisrio dos organismos de poder,

    ou seja, a investigao da imagem que eles assumem perante a sociedade ao justicar

    publicamente suas decises.

    2. METODOLOGIA

    1. BANCO DE DADOS DAS COMISSES DE CONSTITUIO,JUSTIA E CIDADANIA6

    Aps o mapeamento dos bancos de dados descritos acima, concluiu-se que a nenum

    deles, isoladamente, viabilizaria uma pesquisa completa das propostas legislativas

    apresentadas no Congresso Nacional. Ao se considerar a limitao temporal para

    execuo da pesquisa, optou-se pelo levantamento de material por meio dos bancoseletrnicos e pela utilizao de diversas palavras-cave de busca, de orma a abranger o

    maior nmero de resultados possveis.7

    Em virtude do grande nmero de resultados na pesquisa preliminar, optou-se por

    realizar trs recortes no objeto da pesquisa, relacionados: (i) ao tipo das proposies

    legislativas analisadas, limitando o estudo aos projetos de lei ordinria (PL), projetos de lei

    complementar (PLP) e propostas de emenda Constituio (PEC), (ii) ao tempo limitando

    o estudo s propostas entre 1995 e outubro de 2009 8; e (iii) ao tema, limitando o estudo

    s propostas que versassem sobre segurana pblica, competio poltica e reorma do

    Judicirio e do Processo9. A seleo das proposies relacionadas aos temas em enoque

    atendeu critrios determinados. Quanto segurana pblica, oram cadastradas todas as

    propostas que tivessem relao com o artigo 144 da Constituio Federal e seu contedo

    (polcias e suas respectivas organizaes e exerccios, assim como uncionamento de

    rgos de segurana pblica). Os projetos relacionados competio poltica tm relao,

    6 NNosso especial agradecimento pronta ajuda em acessar os documentos legislativos da Coordenao de Relacionamento, Pesquisa e

    Inormao (CORPI) do Centro de Documentao e Inormao (CEDI) da Cmara dos Deputados, Sr. Humberto, da Secretaria de Assuntos

    Legislativos (SAL) e ao Sr. Leonardo de Paula e Silva, da secretaria da Mesa Diretora da Cmara dos Deputados.

    7 Muitos documentos no esto disponveis na ntegra no banco SICON. Nestes casos fzemos uma solicitao ao Setor de Arquivo do

    Senado e prpria SAL. Apesar de termos recebido a maior parte das solicitaes, 33 proposies legislativas oriundas do Senado oram

    excludas da anlise qualitativa, dada a ausncia de documentao disponvel.

    8 Justifca-se este recorte temporal na medida em que se buscou verifcar se h dierena nas variveis estudadas entre os governos do

    ex- presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e do Presidente Lus Incio Lula da Silva (2003-out/2009 data em que se fnalizou

    a coleta de dados).

    9 Para maiores detalhes sobre a construo dos bancos, ver a ntegra do Relatrio disponvel no stio eletrnico da Secretaria de Assuntos

    Legislativos.

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    2. BANCO DE VETOS DO PODER ExECUTIVO

    O banco de vetos do Poder Executivo parte de duas ontes. A primeira tem origem

    no banco de proposies legislativas da Cmara e do Senado acima descrito. Aqui,

    selecionaram-se apenas os projetos de lei que se tornaram normas jurdicas. A partir do

    nmero da lei promulgada, realizou-se uma busca banco legislativo no site do Planalto10,

    em busca das leis promulgadas que tiveram algum veto.

    A segunda onte o banco de acrdos do STF, descrito a seguir. A partir da lei

    impugnada na deciso, procedeu-se ao mesmo levantamento de vetos no stio eletrnico

    do Planalto. Posteriormente, oram excludos os vetos repetidos destas duas ontes.

    Este procedimento tambm permitiu identicar os casos nos quais existe controle

    de constitucionalidade em mais de uma instncia. Assim, encontraram-se algumas

    situaes nas quais avia um controle preventivo eito pela CCJ, o controle presidencial e,

    posteriormente, a impugnao pelo controle repressivo do STF. Contudo, na maior parte

    dos casos identicados ouve controle apenas de duas instncias (CCJ e STF). A anlise

    argumentativa das instncias no controle de constitucionalidade est detalada no item

    IV deste Relatrio.

    3. BANCO DE JULGADOS DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

    As decises proeridas em sede de controle concentrado de constitucionalidade oram

    levantadas no site do Supremo Tribunal Federal11, na seo processos e respectiva

    subseo ADI, ADC, ADPF e ADO, durante os meses de setembro de outubro de

    2009, de todas as aes distribudas e/ou julgadas ao longo dos perodos de 1995-2002

    (governos FhC) e 2003-out/2009 (governos Lula). A escola das aes distribudas e das

    aes julgadas tem por intento abarcar o maior nmero possvel de decises que oram

    distribudas entre 1988 e 1994 e que oram julgadas dentro do perodo adotado.

    Alm do recorte temporal, oram selecionadas somente as aes cuja norma

    impugnada tivesse origem no Congresso Nacional (leis ordinrias ederais, emendas

    10 Site: www.presidencia.gov.br

    11 Site: www.st.jus.br

    com o processo eleitoral, normas para eleies ou aos direitos garantidos nos artigos 14

    a 17 da Constituio Federal. Por m, em relao reorma do Judicirio e do processo,

    optou-se pelo cadastramento da produo da Comisso de Reorma do Judicirio, em

    especial as propostas com objetivo de regulamentar a Emenda Constitucional n. 45/2004

    e outras mobilizaes do Congresso Nacional por reormas dos diplomas processuais

    brasileiros, quais sejam, penal, civil, trabalista e administrativo.

    A utilizao de diversas palavras-cave gerou muitas proposies repetidas, ou

    mesmo sem pertinncia em relao aos temas em estudo. Por tal motivo, a partir dessa

    busca inicial, passaram a ser cadastradas apenas proposies legislativas inditas de

    cada tema, excluindo-se assim as proposies repetidas e as proposies aleias ao

    recorte temtico. Ao nal, o banco de proposies legislativas compe-se da seguinte

    orma:

    Aps a coleta e seleo das proposies legislativas, estas oram sistematizadas em

    um banco de dados. Tal sistematizao no banco de dados teve por objetivo o cadastro

    das seguintes inormaes sobre as propostas legislativas: (i) Tipo da proposio; (ii) Data

    de apresentao; (iii) Casa de origem; (iv) Nmero da proposio na casa de origem; (v)Casa onde est atualmente; (vi) Nmero da proposio na casa onde est atualmente; (vii)

    Ementa; (viii) Autor; (ix) Partido do autor; (x) data de recebimento da proposio pelas CCJ;

    (xi) existncia de parecer das CCJ quanto constitucionalidade da proposio; (xii) votos

    em separado e (xiii) estgio da tramitao no momento do cadastro. Estes ltimos campos

    permitiram identicar com acilidade as propostas objeto de anlise qualitativa. Em sntese,

    a sistematizao das proposies legislativas gerou dois estudos sobre o banco ormado,

    um deles com a extrao de dados quantitativos (item III deste Relatrio), e outro qualitativo,

    com o exame das maniestaes proeridas no mbito das CCJ (item IV deste relatrio).

    Tema Segurana Pblica Reorma do Judicirioe do Processo

    Competiopoltica

    Total de Proposies legislativascadastradas

    818 40 1161

    Proposies legislativas com parece-res das CCJCs

    186 24 336

    Proposies legislativas transorma-das em normas jurdicas com veto doPresidente da Repblica

    4 2 6

    Tabela 1. Distribuio do nmero de proposies legislativas por tema

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    Esta pesquisa reete as opinies de seus autores e no do Ministrio da Justia

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    Esta pesquisa reete as opinies de seus autores e no do Ministrio da Justia

    A tabela apresenta, em suas colunas, as categorias de anlise por meio das quais

    as inormaes sobre cada modalidade de controle de constitucionalidade devem ser

    objetivamente extradas. No total, oram elaboradas 34 categorias para tabelamento,

    sendo que estas categorias estavam divididas em trs grandes grupos. No primeiro

    grupo, oram inseridas categorias reerentes aos dados sobre o parecer da CCJ, o veto

    do Poder Executivo ou do j ulgamento de mrito no STF; no segundo esto as categorias

    sobre os dierentes temas ou problemas abordados; nalmente, o ltimo grupo contm

    categorias atinentes argumentao jurdica desenvolvida. Estes trs grupos processo,

    tematizao e argumentao compem os critrios bsicos de sistematizao, sendo

    compostos da seguinte orma:

    Elementos processuais ccontm inormaes objetivas sobre o trs momentos de

    controle de constitucionalidade, a saber:

    Dados sobre a lei ou projeto de Lei impugnado: (i) tipo de proposio; (ii) ano; (iii)

    nmero da proposio; (iv) Casa; (v) proposies apensadas; (vi) origem; (vii) autor do

    projeto; (viii) partido;

    Dados sobre a ao impugnada no STF: (i) impetrante; (ii) tipo de recurso; (iii) nmero;

    (iv) Relator; (v) votao unnime; (vi) data do julgamento de mrito;

    Dados sobre o veto do Poder Executivo: (i) mandato; (ii) data do veto; (iii) artigos

    vetados; (iv) justicativa.

    Temas abordados - trata dos tpicos discutidos nos acrdos, a saber, a categoria

    dogmtica em disputa; ;

    Argumentao - contm critrios de investigao de argumentos presentes nos

    pareceres, justicativas e decises. As quinze colunas subseqentes inormam qual:

    abordagem da deciso, dispositivos legais citados, citao de princpios, a seguir,

    elementos exteriores ao direito, e citao de casos. Para estes critrios, um item

    que visa explicitar se a citao ou no usada como argumento de autoridade. Ao nal,

    os ltimos dois critrios, se existe reerncia a argumentos externos ao direito e quais

    seriam.

    constitucionais, leis complementares e a prpria Constituio Federal), descartando-se

    normas originrias do Poder Executivo, do Poder Judicirio, das Assemblias Legislativas

    estaduais ou das Cmaras Municipais.

    A seguir, elaborou-se uma tabela de anlise destas decises, composta pelos seguintes

    critrios: (i) nmero da ao; (ii) requerente; (iii) norma impugnada; (iv) data de entrada;

    (v) data de distribuio; (vi) deciso cautelar (deerida, indeerida ou negado seguimento);

    (vii) data da deciso cautelar; (viii) deciso terminativa; (ix) data da deciso terminativa;

    (x) deciso de mrito (improcedente, procedente ou procedente em parte); (xi) data de

    julgamento do mrito; (xii) ementa. Este banco de dados composto por 692 ADI, 35

    ADPF e 15 ADC.

    A partir deste mapeamento das decises, oi possvel levantar diversos elementos

    quantitativos sobre as aes distribudas e julgadas pelo Supremo Tribunal Federal

    durante os governos FhC e Lula, assim como extrair dados comparativos entre ambos

    e entre os prprios governos12, de orma a obter um panorama geral da Corte, como a

    relao entre a data de distribuio e as datas das decises cautelares e/ou de mrito,

    nmero de decises distribudas por governo, atores que cegam Corte, entre outros.

    Alm da extrao dos dados quantitativos, iniciamos o levantamento das decises

    de mrito, objeto de anlise qualitativa deste estudo. Para tanto, oram selecionadas,

    dentro do universo inicial, todas as decises de mrito que versassem sobre o tema

    ou relacionado segurana pblica, reorma do Judicirio e do processo e competio

    poltica, no total de 40 acrdos.

    A anlise qualitativa destes acrdos compete identicao de elementos

    argumentativos presentes neste processo de controle de constitucionalidade. Nestesentido, oi elaborada em nova tabela na qual oi possvel sistematizar as caractersticas

    identicadas nos julgados e nas semelanas e dierenas em relao argumentao

    presente nos pareceres da CCJ e vetos do Poder Executivo. Os resultados desta anlise

    esto no item IV deste Relatrio.

    12 Ainda que o segundo governo Lula se encerre somente em 2010, apresentaremos alguns dados comparativos entre o primeiro governo

    (2003-2006) e a maior parte do segundo (2007-out/2009).

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    Esta pesquisa reete as opinies de seus autores e no do Ministrio da Justia

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    Esta pesquisa reete as opinies de seus autores e no do Ministrio da Justia

    3. ANLISE QUANTITATIVA

    A anlise quantitativa desta pesquisa tem como objetivo apresentar os principais dados

    que oram sistematizados nos bancos construdos por esta pesquisa, acima descritos

    sobre os temas segurana pblica, competio poltica e reorma do Judicirio e do

    Processo.13 Os bancos incluem proposies legislativas de lei ordinria, lei complementar

    e de emenda Constituio, entre os anos de 1995 e outubro de 2009. No total, oram

    cadastradas 2019 proposies legislativas, sendo 818 sobre segurana pblica, 1161

    sobre competio poltica e 40 sobre reorma do Judicirio e do Processo.

    O levantamento quantitativo buscou retratar a produo legislativa em cada matria

    a partir das inormaes cadastradas sobre nmero de proposies distribudas por

    governo e perodo, partido autor da proposio, estgio de tramitao das proposies e

    quantas delas transormaram-se em normas j urdicas.

    importante ressaltar que estes dados abrem espao para novas pautas de pesquisa

    relacionadas no apenas a este tema, mas a todos os demais. A partir da identicao

    do partido e dos deputados mais atuantes em cada tema, possvel azer uma anlise

    substantiva dos diversos projetos e traar a poltica deendida por tais agremiaes

    perante o Parlamento. Tambm possvel pesquisar o processo de construo desses

    projetos em uno do partido e dos representantes individuais. Quais grupos sociais

    oram ouvidos ou tm algum relacionamento com o parlamentar especco ou com o

    partido, ou seja, como as instncias ormais se relacionam com a sociedade civil.

    Todos estes objetivos ogem de nosso objeto, mas a pesquisa realizada permite orientar

    pesquisa uturas que estejam interessadas em explorar tais problemas, especialmente

    em relao aos temas estudados. Considerando-se que as instituies ormais no so

    mecanismos que uncionam independentemente das pessoas, o pesquisador uturo tem

    aqui um mapa que pode orient-no na compreenso do processo poltico que envolve a

    produo desses diplomas legislativos.

    13 Sobre a construo dos bancos de dados, ver item II e ntegra do Relatrio da Pesquisa.

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    Esta pesquisa reete as opinies de seus autores e no do Ministrio da Justia

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    Esta pesquisa reete as opinies de seus autores e no do Ministrio da Justia

    das guardas municipais, e autorizao para as Foras Armadas exercerem atividades de

    segurana pblica na aixa de ronteira19.

    Os escassos projetos de lei complementar (1,34% das proposies cadastradas)

    objetivam, em sua maioria, alterar a Lei Complementar n. 97/1999, que dispe sobre

    as normas gerais para a organizao, o preparo e o emprego das Foras Armadas, para

    estabelecer novas atribuies subsidirias20.

    Nota-se que a produo legislativa em matria de segurana pblica crescente ao

    longo dos governos FhC e Lula, embora o maior nmero de propostas apresentadas

    tena sido no primeiro governo Lula (235 proposies), com pice no ano de 2007 (91

    proposies).

    A partir da Tabela 2 possvel notar que a produo legislativa em matria de

    segurana pblica crescente ao longo dos governos FhC e Lula, embora o maior nmero

    de propostas apresentadas tena sido no primeiro governo Lula (235 proposies), com

    pice no ano de 2007 (91 proposies).

    O PMDB o partido que mais apresentou propostas legislativas sobre segurana

    pblica, totalizando 172 propostas cadastradas em nosso banco de dados. Em relao ao

    primeiro governo FhC, o parlamentar que mais apresentou projetos de lei Silas Brasileiro

    (PMDB/MG), com trs propostas. Entre 1999 e 2002, segundo mandato de FhC, visvel

    uma infao na produo legislativa em matria de segurana pblica, com 241 projetos

    de lei. Deste total, o PMDB apresentou 67 propostas, das quais Alberto Fraga (PMDB/

    19 Ver PEC 144/1999 e PEC 24/2003.

    20 Ver PLP 177/1997; PLP 187/1997; PLP 96/1999; PLP 104/2000; PLP 146/2000; PLP 211/2001; PLP 281/2002; PL 162/2004; PLP 188/2004;

    PL P387/2006; PLP 8/2007; PLP 529/2009.

    Da mesma orma, os dados apresentados permitem traar um mapa da importncia

    dos temas em cada governo estudado. De novo, no nosso objetivo estudar, no detale,

    as circunstncias polticas do pas e, mais especicamente, do Congresso, que levaram

    concentrao de propostas legislativas sobre este ou aquele tema, a serem propostas

    ou rejeitadas em cada perodo. No entanto, um analista interessado neste tema pode, de

    posse desse mapa, realizar tais anlises guiado por dados que fagram tais momentos

    da atividade parlamentar.

    1. BANCO DE PROPOSIES LEGISLATIVAS

    Segurana pblica

    As propostas legislativas relacionadas segurana pblica so apresentadas, em sua

    maioria, na orma de projetos de lei ordinria (81% das proposies cadastradas), sobre

    uma grande variedade de temas, com destaque para alteraes nas leis sobre registro,

    posse e comercializao de armas de ogo e munio (Lei n. 9.437/1997 e na atual Lei n.

    10.826/2003)14, a instituio e manuteno da Lei do Fundo Nacional de Segurana Pblica

    (Lei n. 10.201/2003)15 e sobre direitos e obrigaes dos policiais, como obrigatoriedade

    de realizar exames toxicolgicos periodicamente16 e concesso de bolsas de estudos a

    policiais17.

    JJ as propostas de emenda Constituio (17% das proposies cadastradas), tm

    por objeto principal alterar ou acrescentar incisos ao artigo 144 da Constituio Federal.

    Dentre as mudanas sugeridas, esto a ampliao de competncia da polcia ederal18 e

    14 Ver PL 7626/2003; PL 3941/2004; PL 4057/2004; PL 4420/2004; PL 4489/2004; PL 5019/2005; PL 5041/2005; PL 5552/2005; PL

    5905/2005; PL 6163/2005; PL 342/2006; PL 6752/2006; PL 7611/2006; PL 7613/2006; PL 7617/2006; PL 7618/2006; PL 98/2007; PL 136/2007;

    PL 144/2007; PL 148/2007; PL 149/2007; PL 152/2007; PL 353/2007; PL 459/2007; PL 460/2007; PL 718/2007; PL 1010/2007; PL 1116/2007;

    PL 1214/2007; PL 1438/2007; PL 3060/2008; PL 3969/2008; PL 5303/2009; PL 5604/2009 e PL 6267/2009;

    15 Ver PLP 177/1997; PEC 454/1997; PL 123/1999; PL 395/2001; PL 6651/2002; PL 7491/2002; PL 895/2003; PL 1092/2003; PL 2981/2004;

    PL 3021/2004; PL 3038/2004; PL 4011/2004; PL 6701/2006; PL 145/2007; PL 461/2007; PL 549/2007; PL 700/2007; PL 1950/2007; PL

    1101/2007; PL 1332/2007; PL 7616/2007; PL 5339/2009 e PL 6304/2009.

    16 Ver PL 1443/1999; PL 354/2005; PL 417/2005; PL 5999/2005; PL 6076/2005; PL 6085/2005; PL 6118/2005; PL 6257/2005; PL 6306/2005

    e PL 3718/2008.

    17 Ver PL 128/1999; PL 297/1999; PL 3444/2000; PL 3732/2000; PL 7287/2002; PL 2075/2003; PL 7582/2006; PL 401/2007; PL 1935/2007

    e PL 5439/2009.

    18 Ver PEC 285/2000, PEC 49/2009 e PEC 412/2009.

    Tipo de proposio legislativa I Governo FHC II Governo FHC I Governo Lula II Governo Lula

    PEC 24 44 32 42

    PL 91 191 235 146

    PLP 2 5 2 2

    Total 117 240 269 190

    Tabela 2. Nmero de proposies legislativas por governo

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    Das 25 proposies transormadas em norma jurdica, 6 delas soreram veto pelo

    Poder Executivo. Destas, duas propostas eram originrias do prprio Poder Executivo (PL

    7015/2002 e PL 5030/2005), uma proposta da Comisso Mista de Segurana Pblica (PL

    7134/2002), duas propostas do PFL (PLP 188/2004 e PL 115/1996) e uma nica proposta

    pelo PSDB (PLP 187/1997).

    importante ressaltar que estes dados abrem espao para novas pautas de pesquisa

    relacionadas no apenas a este tema, mas a todos os demais. A partir da identicao

    do partido e dos deputados mais atuantes em cada tema, possvel azer uma anlise

    substantiva dos diversos projetos e traar a poltica deendida por tais agremiaes

    perante o Parlamento. Tambm possvel pesquisar o processo de construo desses

    projetos em uno do partido e dos representantes individuais. Quais grupos sociais

    oram ouvidos ou tm algum relacionamento com o parlamentar especco ou com o

    partido, ou seja, como as instncias ormais se relacionam com a sociedade civil.

    Competio poltica

    As proposies legislativas relacionadas competio poltica so apresentadas, em

    sua maioria, na orma de propostas de emenda Constituio (37% das proposies

    cadastradas) ou de projetos de lei ordinria (54% das proposies cadastradas).

    Grande parte das propostas de emendas Constituio visa alterar os dispositivos

    relativos aos direitos polticos (CF, arts. 14 a 16) e organizao dos partidos polticos (CF,

    DF) autor de 38 projetos. Em relao ao primeiro governo Lula, destacam-se entre os

    parlamentares Cabo Jlio (PMDB/MG), com 14 proposies e Alberto Fraga, com 8.

    Ao longo do segundo governo Lula o PSDB apresentou o maior nmero de proposies

    at outubro de 2009. Do total de 24 propostas, 8 delas so de autoria de William Woo

    (PSDB/SP).

    Outro dado relevante o nmero de propostas do Poder Executivo nos quatro governos

    estudados. O Poder Executivo oi autor de 27 proposies durante os dois governos FhC e

    de 18 proposies nos dois governos Lula.

    Os Grcos 1 e 2, como os demais grcos sobre a situao das proposies legislativasmostra baixo nmero de projetos transormados em lei, alto nmero de arquivamentos

    e projetos devolvidos ao autor, o que parece evidenciar a diculdade em se aprovar um

    projeto no Parlamento brasileiro. As razes desta diculdade no cam claras por esta

    anlise, seria necessrio, como dissemos acima em relao a outras questes, analisar

    de ato o processo poltico ocorrido em uno de cada proposio, questo que oge de

    nosso objeto de pesquisa.

    Neste mesmo sentido, interessante notar que as poucas proposies transormadas

    em normas jurdicas oram apresentadas pelo Poder Executivo, especialmente durante os

    governos FhC, 13 do total de 16 proposies. 21

    21 Na categoria outros constam uma proposio prejudicada e duas como a situao de remetida Cmara dos Deputados, sem mais

    detalhes, contudo.

    ARQUIVADA61%

    TRAMITANDO EM CONJUNTOCOM OUTRA PROPOSIO

    12%

    COMISSO EM FUNCIONAMENTO1%

    PRONTO PARA PAUTA EM PLENRIO2%

    CCJC6%

    TRANSFORMADA EM NORMA JURDICA6%

    AGUARDANDO RETORNO1%

    NADA CONSTA10%

    OUTROS1%

    Grfico 1. Situao das proposies legislativas apresentadas nosgovernos FHC em matria de segurana pblica (1995-2002)8

    ARQUIVADA37%

    TRAMITANDO EM CONJUNTO COM OUTRA PROPOSIO18%

    COMISSO EM FUNCIONAMENTO13%

    PRONTO PARA PAUTA EM PLENRIO2%

    CCJC17%

    DEVOLVIDA AO AUTOR0%

    TRANSFORMADA EM NORMA JURDICA5%

    AGUARDANDO RETORNO2%

    NADA CONSTA2%

    OUTROS3%

    Grfico 2. Situao das proposies legislativas apresentadasnos governos Lula em matria de segurana pblica (2003-out/2009)

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    Esta pesquisa reete as opinies de seus autores e no do Ministrio da Justia

    proposies apresentadas nos governos FhC oi arquivada (68%). Do total, 15% tramitam

    em conjunto com outras proposies e apenas 1% oi transormado em norma jurdica.

    Em comparao com os governos Lula, nota-se um nmero menor de proposies

    arquivadas (23% do total), prevalecendo as proposies que tramitam conjuntamente

    com outras (32%). Deve-se ressaltar, contudo, que parte das proposies arquivadas

    reere-se Legislatura de 2003-2007, e que os dados relativos Legislatura 2007-2011

    ainda so parciais. De acordo com os Regi mentos Internos das duas casas do Congresso

    Nacional, ao nal de cada Legislatura sero arquivadas todas as proposies que se

    encontram em tramitao, salvo as ressalvas previstas em lei (RIDC, a rt. 105; RISF, art.

    232). Assim, no possvel comparar os dados relativos ao segundo governo Lula, uma

    vez que o nmero de proposies arquivadas pode aumentar consideravelmente aps

    o m da Legislatura.

    Em ambos os governos, contudo, visvel o reduzido nmero de proposies

    transormadas em normas jurdicas, de 1% nos governos FhC e menos de 1% at o

    atual momento dos governos Lula. Dentre estas proposies que se tornaram normas,

    grande parte delas de autoria do PMDB, em ambos os governos. 25

    25 Nos Grfcos 3 e 4, constam na categoria outros as aes de saneamento das proposies e despachos.

    art. 17).22 Tambm merecem destaque as propostas que visam reormar os arts. 45 e

    seguintes da Constituio, alterando o sistema eleitoral para eleio de parlamentares e

    para disciplinar as ipteses de vacncia de deputados e senadores23.

    Os projetos de lei ordinria abordam maior variedade de assuntos, em geral

    relacionados s alteraes aos principais diplomas legais sobre direitos polticos e

    eleitorais, quais sejam, o Cdigo Eleitoral (Lei n. 4.737/1965), a Lei n. 9.096/1995, que

    dispe sobre partidos polticos e a Lei n. 9.504/1997, com normas para as eleies.

    As propostas de lei complementar, por sua vez, tm por objetivo principal alterar a lei

    Complementar n. 64/1990, que dispe sobre as ipteses de inelegibilidade24.

    Como se pode ver pela Tabela 3, a distribuio de projetos de lei sobre competio

    poltica mais uniorme entre os dois governos, variando um pouco para menos no

    segundo governo FhC e Lula. Os partidos que mais apresentaram propostas, em todos

    os perodos, oram, na ordem, PSDB, PMDB e PFL. Tambm cama a ateno a reduo

    do nmero de proposies em anos eleitorais (1998, 2002 e 2006). Este dado reora o

    grande nmero de proposies que visam alterar o procedimento eleitoral, uma vez

    que as modicaes devem ser eitas at um ano da data das eleies seguintes (CF,

    art. 16).

    No que diz respeito tramitao, possvel observar que mais da metade das

    22 Ver, entre outras, PEC 13/1995; PEC 18/1995; PEC 42/1996; PEC 283/1995; PEC 54/1996; PEC 79/1999; PEC 162/1999; PEC 44/2000; PEC

    14/2003; PEC 184/2003; PEC 401/2005/; PEC 543/2006; PEC 546/2006; PEC 578/2006; PEC 29/2007;

    23 Ver PEC 41/1999; PEC 11/2003; PEC 79/2007.

    24 Ver, entre outras, PLP 19/1995; PLP 47/1995; PLP 62/1995; PLP 75/1995;PLP 76/1996; PLP 82/1996; PLP 152/1997; PLP 171/1997; PLP

    229/1998; PLP 5/1999; PLP 22/1999; PLP 256/2001; PLP 98/2003; PLP 206/2004; PLP 5/2007; PLP 35/2007; PLP 443/2009; PLP 446/2009;

    PLP 487/2009; PLP 519/2009;

    Tipo de proposio legislativa I Governo FHC II Governo FHC I Governo Lula II Governo Lula

    PEC 128 101 126 81

    PL 92 186 183 167

    PLP 19 18 21 23

    Total 239 305 330 271

    Tabela 3. Nmero de proposies legislativas por governo

    ARQUIVADA68%

    TRAMITANDO EM CONJUNTOCOM OUTRA PROPOSIO

    15%

    COMISSO EM FUNCIONAMENTO1%

    PRONTO PARA PAUTA EM PLENRIO5%

    CCJC5%

    TRANSFORMADA EM NORMA JURDICA1%

    AGUARDANDO RETORNO1%

    NADA CONSTA1%OUTROS

    3%

    Grfico 3. Situao das proposies legislativas apresentadas nosgovernos FHC em matria de competio poltica (1995-2002)

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    Dierentemente dos outros temas analisados, um nmero expressivo de proposies

    sobre reorma do Judicirio e do Processo oram transormadas em normas jurdicas (total

    de 30% entre 1995 e outubro de 2009), 23% estavam na CCJ e outros 10% das proposies

    estavam prontas para a pauta em plenrio. Observa-se tambm o reduzido nmero de

    proposies arquivadas (22% do total). Estes dados permitem ormular a iptese de que

    as aes do Poder Executivo, que apresenta um grande nmero de proposies sobre o

    mesmo tema, tendem a aprovar maior nmero de leis, em detrimento das proposies

    apresentadas isoladamente por cada parlamentar ou partido.28

    2. BANCO DE ACRDOS DO STF

    Os resultados abaixo indicam os dados iniciais obtidos aps a nalizao do banco de

    dados com as aes distribudas no Supremo Tribunal Federal.

    28 No Grfco 5, constam na categoria outros as proposies legislativas cuja situao constava como encaminhado ao plenrio e

    remetida Cmara dos Deputados.

    Reorma do Judicirio e do processo

    Para a construo do banco de proposies sobre Reorma do Judicirio e do

    processo, selecionou-se todas as proposies que buscavam regulamentar a Emenda

    Constitucional n. 45/2004 (Reorma do Judicirio), e outras grandes mobilizaes do

    Congresso Nacional por reormas dos diplomas processuais brasileiros, quais sejam,

    penal, civil, trabalista e administrativo. Esta escola metodolgica tem por objetivo

    enxergar de orma mais precisa atuao do Congresso Nacional em grandes processos

    de reorma, e no apenas em alteraes pontuais s leis vigentes. Por tal razo que o

    nmero de proposies relativas ao tema maior no segundo governo FhC, perodo em

    que oram apresentadas mais propostas acerca da Reorma do Cdigo de Processo Civil

    e Cdigo de Processo Penal e no primeiro governo Lula, com a edio e regulamentao

    da EC n. 45/2004.

    Pelo mesmo motivo que a maioria das proposies apresentadas so de autoria do

    Poder Executivo26 e da Comisso Mista Especial de Reorma do Judicirio 27, especialmente

    ao longo do primeiro governo Lula (Tabela 4).

    26 Ver PLP 37/1995; PLP 68/1995; PL 4203/2001; PL 4205/2001; PL 4208/2001; PL 3253/2004; PL 4497/2004; PL 4723/2004; PL 4724/2004;

    PL 4725/2004; PL 4726/2004; PL 4727/2004; PL 4728/2004; PL 4729/2004; PL 4731/2004; PL 4732/2004 e PL 1213/2007.

    27 Ver PL 12/2006 e PL 14/2006.

    Tipo de proposio legislativa I Governo FHC II Governo FHC I Governo Lula II Governo Lula

    PEC 1 3

    PL 2 7 14 7

    PLP 5 1

    Total 7 9 17 7

    Tabela 4. Nmero de proposies legislativas por governo

    ARQUIVADA23%

    TRAMITANDO EM CONJUNTOCOM OUTRA PROPOSIO32%

    COMISSO EM FUNCIONAMENTO3%

    PRONTO PARA PAUTA EM PLENRIO3%

    CCJC21%

    DEVOLVIDA AO AUTOR4%

    AGUARDANDO RETORNO2%

    NADA CONSTA5%

    OUTROS7%

    Grfico 4. Si tuao das proposies legislativas apresentadas nosgovernos Lula em matria de competio poltica (2003-out/2009)

    ARQUIVADA22%

    COMISSO EM FUNCIONAMENTO2%

    PRONTO PARA PAUTA EM PLENRIO10%

    CCJC23%

    TRANSFORMADA EM NORMA JURDICA30%

    AGUARDANDO RETORNO10%

    OUTROS3%

    Grfico 5. Situao das proposies legislativas apresentadas (1995-out/2009)5

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    Argies de descumprimento de preceito undamental

    A argio de descumprimento de preceito undamental o instrumento utilizado

    para evitar ou reparar leso a preceito undamental resultante de ato do Poder Pblico,

    inclusive queles anteriores promulgao da Constituio de 1988. Sua criao oi uma

    tentativa de suprir a lacuna jurdica originada com o entendimento de que as ADI no

    podem ter por objeto normas anteriores Constituio. Como oi disciplinada somente

    em 1999 (Lei n. 9.882), todas as aes distribudas restringem-se ao perodo do nal

    do segundo governo FhC at 2009, com aumento signicativo no segundo governo Lula.

    Grande parte das leis questionadas so leis ordinrias ederais (85% do total de APDF),

    assim como se pde constatar no universo de ADC, alm de uma minoria de aes cujoobjeto no corresponde disciplina das ADPF, como propostas de emenda Constituio

    (3% do total de APDF).

    Quanto aos requerentes em ADPF de normas ederais, prevalecem as aes interpostas

    por partidos polticos, seguidas por conederaes sindicais. Dentre os partidos polticos,

    5 ADPF oram propostas pelo Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), 2 pelo

    Partido Democrtico Trabalista (PDT) e o Partido Verde (PV), Partido Socialista Brasileiro

    (PSB), Partido da Repblica (PR), Partido Social Cristo (PSC) e Partido Popular Socialista

    (PPS) propuseram cada apenas 1 ADPF. Destas aes apenas uma delas, proposta pelo

    PDT, teve julgamento de mrito pela procedncia da demanda.

    Aes diretas de inconstitucionalidade

    As aes diretas de inconstitucionalidade so o instrumento mais utilizado para

    questionamento de leis e atos normativos, se comparadas s ADC e ADPF levantadasneste banco de dados. A partir de uma anlise mais aproundada das ADI ser possvel

    entender de orma mais clara o controle de constitucionalidade eito pelo STF, dado que

    o banco construdo contm 692 aes.

    Alm disso, o instrumento com maior nmero de decises de mrito dentre as aes

    sistematizadas. Em relao ao total de ADI deste banco, 17,46% tiveram julgamento

    de mrito. Deste percentual, em 48% dos casos a demanda oi julgada improcedente,

    enquanto em 52% a deciso oi pela procedncia ou procedncia em parte da ao.

    Aes declaratrias de constitucionalidade

    A interposio de aes declaratrias de constitucionalidade questionando leis

    ederais so poucas, se comparadas s ADPF ou s prprias ADI. No total oram

    encontradas somente 15 decises, sendo que a grande maioria delas distribuda durante

    o segundo governo Lula. Questiona-se, com mais reqncia, a constitucionalidade de leis

    ordinrias ederais em detrimento de leis complementares ou at mesmo de dispositivos

    constitucionais.

    Um dado interessante para este estudo identicar quais dos legitimados ativos do

    art. 103 da Constituio Federal interpem aes no Supremo Tribunal Federal, pois

    esta inormao pode trazer algumas inormaes sobre o uso de meios jurdicos pelo

    sistema poltico, inclusive questionando a constitucionalidade de normas de iniciativa do

    Congresso Nacional ou do prprio Presidente da Repblica.

    A despeito de o art. 13 da Lei n. 9.868/1999 prever um nmero mais restrito de

    legitimados ativos que o prprio art. 103 da Constituio Federal para interposio de

    ADC, governadores, conederaes sindicais, entidades de classe e pessoas sicas

    tentam acessar o Tribunal por este camino.

    No que diz respeito s ADC, nota-se que os legitimados mais reqentes so o

    prprio Presidente da Repblica e Governadores de Estados da Federao. Das aes

    questionadas pelo Presidente, 2 delas j tiveram o mrito julgado, de modo que a ADC

    1 e a ADC 4 tiveram deciso parcialmente procedente e procedente, respectivamente.

    Nenuma ao cujo requerente osse um governador teve julgamento de mrito at

    novembro de 2009.

    A disciplina relativamente recente da ADC (Lei n. 9.868/1999) pode ser um ator para

    explicar as poucas aes com algum julgamento, seja ele cautelar ou de mrito. Na

    maior parte das ADC constava o status de aguardando julgamento, e nas decises de

    mrito proeridas nota-se que prevalecem as decises pela procedncia da demanda

    (20% do total). Vale ressaltar que a categoria sem julgamento de mrito inclui tanto

    as aes que aguardam julgamento quanto as aes que j tiveram julgamento cautelar

    (deerido, indeerido ou no-conecido), mas sem deciso de mrito.

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    4. ANLISE QUALITATIVA

    A anlise qualitativa dos pareceres das CCJ e das decises de mrito do STF oi

    realizada por meio de tabelas de Excel, nas quais se procurou categorizar e padronizar

    dierentes aspectos do raciocnio jurdico e no-jurdico presente nas duas instncias de

    controle de constitucionalidade.

    Para a anlise das decises do STF, a tabela oi ormada pelos seguintes campos:

    (i) nmero da ao; (ii) nome do Ministro; (iii) relator (sim ou no); (iv) voto (procedente

    ou improcedente); (v) dispositivos legais citados; (vi) princpios (sim ou no, quais); (vii)

    doutrina (sim ou no, identicao dos autores e obras citados, identicao do uso da

    doutrina como argumento de autoridade); (viii) jurisprudncia (sim ou no, identicao

    dos casos citados, identicao do uso da jurisprudncia como argumento de autoridade);

    (ix) argumentos externos ao direito (sim ou no, classicao: sociolgico, religioso,

    antropolgico etc.).

    Nessa tabela, um acrdo poderia signicar mais de uma lina de anlise, pois esta oi

    eita voto a voto. Os campos (i) a (iv) identicam a ao, o autor do voto e a deciso a que

    ele cegou; o campo (v) destina-se a toda a legislao reerenciada no voto; os demais

    campos tratam dos tipos de argumentos utilizados para justicar a deciso nal. Foram

    analisadas decises proeridas em sede de controle concentrado de constitucionalidade,

    no perodo compreendido entre 1995 e outubro de 2009. Dentro do recorte temtico

    adotado na pesquisa, encontraram-se 38 decises de mrito, sendo 37 em ADI e uma

    em ADC.

    A tabela usada na anlise das maniestaes das Comisses de Constituio e Justia

    oi composta, na medida do possvel, pelas mesmas categorias usadas na tabela de

    anlise das decises do STF, para que assim osse vivel uma comparao entre as duas

    instncias. Algumas peculiaridades do processo de controle de constitucionalidade nas

    CCJ exigiram que ossem eitas adaptaes na tabela de anlise. Expomos a seguir as

    principais dierenas desta em relao tabela do STF.

    Como se sabe, todos os projetos de lei, ordinria e complementar, assim como as

    No que tange aos requerentes, nota-se maior eterogeneidade na propositura de

    ADI, especialmente pelo ato de que os dois maiores grupos representados so partidos

    polticos e conederaes sindicais (27% cada um), o que indica a diversidade de atores

    e demandas. Em nmero menor, mas com expressiva representatividade, esto as

    associaes de classe (19%) seguida pelo Procurador Geral da Repblica (15%). Na

    categoria outros (2% do total), esto includas pessoas sicas e advogados atuantes em

    causa prpria.

    Em nmeros totais, o PT e o PDT so os partidos que mais demandaram o tribunal.

    Contudo, v-se que a atuao do PT restringiu-se ao perodo entre 1989-2003, cessando

    a partir do incio do governo Lula, enquanto que a atuao do PDT segue o mesmo

    declnio, embora sua atividade no tena cessado aps 2003. Em sntese, pode-se dizer

    que tais partidos, assim como o PC do B e PSB oram mais atuantes no controle de

    constitucionalidade ao longo dos dois governos FhC, e tiveram suas atividades diminudas

    ou cessadas aps o incio do mandato de Lula.

    Por outro lado, ao se vericar os partidos polticos que mais demandaram aps o incio

    do governo Lula e menos durante os governos FhC, observa-se que o enmeno no se

    repete. Em nmeros totais, o nmero de aes distribudas entre 2003 e outubro de 2009

    muito inerior ao perodo 1995 a 2002. Embora o segundo mandato de Lula no tena se

    encerrado, at o momento apenas 52 oram interpostas durante seus governos, enquanto

    que 156 aes oram levadas ao STF nos governos FhC. Assim, pode-se constatar que

    a atuao dos partidos polticos em geral diminuiu nos ltimos 6 anos, dado que pode

    ser relevante durante a anlise do banco de dados da CCJ, considerando a composioda Comisso, os relatores das propostas legislativas e seu deseco. Alm disso, ser

    possvel constatar se partidos menores cessaram suas demandas no STF em razo da

    perda de representatividade no Congresso Nacional.

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    IV, e, RICD e art. 101, II, d do RISF). Como se nota, essa seleo de temas inclui matrias

    diretamente relacionadas ao campo temtico adotado nesta pesquisa. Isso signica

    que poderamos nos deparar com projetos que, mesmo considerados constitucionais,

    poderiam sorer rejeio em razo de seu mrito, por exemplo.

    Do outro lado, encontra-se a anlise de propostas de emenda Constituio, as quais

    devem ser avaliadas, na Cmara dos Deputados, apenas quanto admissibilidade (v.

    art. 32, IV, b do RICD), j que deve ser constituda Comisso Especial para dar parecer

    sobre as PECs e tambm para elaborar sua redao nal (art. 34, I e art. 197 do RICD).

    A avaliao da admissibilidade basicamente a vericao do respeito aos requisitos

    do art. 60 da Constituio Federal na propositura da emenda. No Senado Federal, noentanto, no essa peculiaridade. O art. 101, I, de seu Regimento Interno determina de

    maneira genrica que as matrias devem ser avaliadas quanto constitucionalidade,

    juridicidade e regimentalidade e no se prev Comisso Especial para discusso de PEC

    (cuja tramitao vem prevista nos art. 356 e ss. do RISF).

    curioso que seja assim, j que as Propostas de Emenda Constituio somente em

    sentido muito especco podem ser avaliadas quanto sua constitucionalidade. Parece

    ser esse o sentido da previso do RICD ao determinar que seja eito apenas um juzo

    de admissibilidade, que, no undo, parece ser um juzo de constitucionalidade ormal

    (sobre cumprimento dos requisitos do art. 60). Ainda que a interpretao das clusulas

    ptreas presentes nesse dispositivo traga importantes juzos materiais, isso no muda

    o ato de que, no juzo de admissibilidade, a constitucionalidade analisada a partir de

    um nico dispositivo constitucional. Tratando-se de Emenda Constituio, o controle

    de constitucionalidade de maneira ampla sempre controverso, pois poderia ser

    considerado antidemocrtico.32

    32 Sobre essa polmica, v. MENDES, Conrado Hbner. Democracia e controle de constitucionalidade. 2005. Dissertao (mestrado em

    Cincia Poltica). Faculdade de Filosofa, Letras e Cincias Humanas, Universidade de So Paulo. O trabalho no uma discusso sobre

    o controle de constitucionalidade de Emendas Constitucionais, mas sobre a legitimidade democrtica do controle de constitucionalidade

    de maneira geral. De qualquer orma, impossvel deixar de perceber que o tema se maniesta com mais nase na anlise de

    constitucionalidade de Emendas, j que estas integram a prpria Constituio. O autor observa que o STF seria a nica corte constitucional

    do mundo a ter declarado a inconstitucionalidade de uma emenda constitucional (p. 143). importante notar que, ainda que a tenso entre

    controle de constitucionalidade e democracia seja muito discutida com oco nos problemas da reviso judicial, ela tambm se maniesta

    no controle preventivo de constitucionalidade eito pelas CCJ, j que se trata de Comisso com poucos membros selecionados, cujo

    uncionamento se assemelha a uma corte (com a apresentao do voto do relator e discusso sobre este) e que no necessariamente

    consegue abarcar a opinio de todo o Parlamento.

    propostas de emenda Constituio, so submetidos avaliao das Comisses de

    Constituio e Justia. Essa avaliao eita por meio de parecer emitido pelo relator

    designado, parecer este que pode ser aprovado ou rejeitado pelos membros da Comisso

    (caso em que novo relator designado para emitir parecer).

    Eventualmente, alguns parlamentares maniestam-se por meio de votos em separado,

    os quais levantam pontos diversos ou mesmo discordantes daqueles presentes no parecer

    do relator. So estas maniestaes pareceres e votos em separado que compuseram

    o objeto da presente pesquisa no mbito do controle de constitucionalidade preventivo

    realizado pelo Congresso Nacional. As atribuies das Comisses de Constituio e

    Justia no se esgotam apenas nesse tipo de maniestao, avendo outros campos

    temticos, inclusive constitucionais, sobre os quais tais Comisses podem ou devem se

    maniestar29. Considera-se, no entanto, que o controle preventivo de constitucionalidade,

    um dos temas primordiais desta pesquisa, maniesta-se de maneira mais notvel na

    anlise das propostas legislativas. O estudo especicamente de pareceres e votos a

    partir daqui denominados genericamente de maniestaes no mbito do processo

    legislativo permite, ademais, que se possa analisar comparativamente o controle de

    constitucionalidade repressivo e preventivo (ver item V).30

    Quanto ao tipo de anlise presente nessas maniestaes, necessrio considerar,

    em primeiro lugar, a existncia de certa ragmentao: os projetos de lei, complementar

    e ordinria, devem ser avaliados pelas Comisses de Constituio e Justia no apenas

    quanto constitucionalidade, mas tambm em relao legalidade, juridicidade,

    regimentalidade e tcnica legislativa31. Alm disso, algumas matrias basicamente

    aquelas de competncia da Unio Federal, como direito constitucional, eleitoral, penal,

    penitencirio e processual tambm devem ser avaliadas no mrito pela CCJ (v. art. 32,

    29 Sobre as atribuies das Comisses de Constituio e Justia de cada Casa, ver o art. 32 do Regimento Interno da Cmara dos

    Deputados e art. 101 do Regimento Interno do Senado Federal. Como possvel perceber, nesta pesquisa no oram analisados, por

    exemplo, resultados de consultas eitas CCJ (art. 32, IV, a e art. 101, V).

    30 Foram selecionados para a anlise qualitativa apenas pareceres e votos em separado, ainda que haja outros tipos de maniestaes

    possveis no mbito do processo de controle de constitucionalidade, tais como a complementao de voto (geralmente eita pelo relator

    depois que outros deputados se maniestam na comisso). Essas maniestaes so, no entanto, meramente complementares e no

    desenvolvem argumentos completos, motivo pelo qual no se considerou pertinente sua anlise.

    31 A anlise de legalidade (que pode se conundir com a juridicidade) peculiaridade trazida pela redao do Regimento Interno da

    Cmara dos Deputados e no se repete no Regimento Interno do Senado Federal, que menciona apenas a anlise de juridicidade (v. art.

    32, IV, a do RICD e art. 101, I do RISF).

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    As tabelas para anlise de PL e PLP e para a anlise de PEC possuem exatamente

    as mesmas categorias de identicao da maniestao analisada, quais sejam: (i) tipo

    da proposio; (ii) nmero da proposio; (iii) tipo de documento: parecer ou voto em

    separado; (iv) relator; (v) partido do relator.

    Elas se dierenciam, no entanto, nas categorias de anlise de argumentao. A tabela

    de PEC traz as seguintes categorias, muito semelantes quelas usadas para as decises

    do STF: (vi) tema; (vii) admissibilidade ou inadmissibilidade; (viii) dispositivos legais

    citados; (ix) princpios (sim ou no, quais); (x) doutrina (sim ou no, identicao dos

    autores e obras citados, identicao do uso da doutrina como argumento de autoridade);

    (xi) jurisprudncia (sim ou no, identicao dos casos citados, identicao do uso da

    jurisprudncia como argumento de autoridade); (xii) argumentos externos ao direito (sim

    ou no, identicao e classicao: sociolgico, religioso, antropolgico etc.).

    Notem-se os itens comuns tabela do STF, citados acima. J a tabela de anlise de

    PL e PLP traz categorias um pouco diversas, que buscam problematizar o ato de os

    projetos no serem analisados apenas em relao constitucionalidade: (vi) tema; (vii)

    principal abordagem (rase-sntese da argumentao usada); (viii) a principal abordagem

    reere-se constitucionalidade (sim ou no); (ix) projeto considerado constitucional ou

    inconstitucional; (x) projeto rejeitado (sim ou no); (xi) dispositivos legais citados; (xii)

    princpios (sim ou no, quais); (xiii) doutrina (sim ou no, identicao dos autores e

    obras citados, identicao do uso da doutrina como argumento de autoridade); (xiv)

    jurisprudncia (sim ou no, identicao dos casos citados, identicao do uso da

    jurisprudncia como argumento de autoridade); (xv) argumentos externos ao direito

    (sim ou no, argumento usado na anlise de constitucionalidade?, e classicao:

    sociolgico, religioso, antropolgico etc.).

    Para se cegar s maniestaes das Comisses de Constituio e Justia da Cmara

    dos Deputados e do Senado Federal que seriam qualitativamente analisadas, oram

    buscados todos os pareceres e demais maniestaes relativos s propostas legislativas

    cujo tabelamento qualitativo mostrou a existncia de algum tipo de atividade nas CCJ.

    Sempre que a proposio avia passado pelas duas casas legislativas, procurou-se

    buscar o parecer proerido na CCJ da casa de origem. Nos casos em que este no estava

    disponvel para consulta no site da casa legislativa, oi usado o parecer proerido na casa

    revisora.

    No espao para desenvolver aqui essas questes. A opo que se adota neste

    Relatrio de, em relao s PEC, analisar somente os pareceres proeridos na Cmara

    dos Deputados. A idia entender como se d o juzo de admissibilidade e se este se

    dierencia de algum modo do juzo de constitucionalidade, pois nos parece que no juzo

    de admissibilidade que se maniesta de maneira mais clara a peculiaridade do controle

    de constitucionalidade de PEC. Os pareceres do Senado sobre PEC so iguais aos demais

    pareceres, sobre PL e PLP e, por isso, no se prestam a esse propsito. Alm disso, o

    estudo desses pareceres do Senado no traria eetivos ganos tericos ao trabalo, pois

    o que esse material tem de potencialmente interessante a problematizao, acima

    descrita, da legitimidade do controle de constitucionalidade no poderia ser alcanado

    por meio do tipo de anlise qualitativa proposta, que se oca na qualidade e colocao

    dos argumentos. Em outras palavras: sabe-se que o Senado Federal realiza controle de

    constitucionalidade preventivo de PEC e esse ato traz questes tericas importantes.

    A anlise emprica de como esse controle ocorre, no entanto, no traz resposta a essas

    questes.33

    Considerando-se o exposto acima, as tabelas de anlise das maniestaes das

    Comisses de Constituio e Justia trazem categorias cujo objetivo abarcar as

    peculiaridades descritas. Considerou-se mais adequado construir duas tabelas distintas,

    sendo uma para a anlise de PL e PLP e outra para os pareceres da Cmara dos Deputados

    sobre PEC. A circunstncia de no ser apenas a constitucionalidade o oco de anlise nas

    Comisses de Constituio e Justia levou elaborao de categorias que abarcassem e

    problematizassem essa peculiaridade, as quais sero expostas abaixo.

    33 Neste ponto, a reerncia ao trabalho citado na nota anterior esclarecedora. Segundo o autor, no h pesquisas empricas eitas para

    se sustentar a compatibilidade entre democracia e reviso judicial; portanto, a deesa da legitimidade da reviso judicial apenas no plano

    terico-abstrato seria potencialmente contestvel. No entanto, Qualquer pesquisa emprica desta natureza ter sria limitao. Saber se

    um tribunal protege direitos no uma questo passvel de um juzo incontroverso. O mximo que se poder descobrir como determinado

    tribunal tem entendido tais e quais direitos. Uma anlise emprica qualitativa de interpretaes jurdicas ter que azer juzos valorativos.

    Num contexto de desacordo moral, seus resultados sero naturalmente contestveis. Dessa maneira, difcilmente conseguiriam atender

    prova emprica de legitimidade. Este o n. Esta pesquisa hipottica, portanto, no poderia responder peremptoriamente se (1) tem

    havido respeito a direitos, mas apenas descreveria (2) como se tem entendido cada um destes direitos. No h pesquisa emprica que

    alcance resposta conclusiva e inequvoca sobre a primeira pergunta. Nos casos constitucionais diceis (os que realmente importam quando

    se discute reviso judicial), no ser possvel demonstrar empiricamente que uma instituio respeita direitos ou no. Para responder

    segunda pergunta, a pesquisa ser apenas inormativa, e no atender a demanda terica que apontei. (MENDES, op. cit,, p. 125).

    Novamente, ainda que o autor centre sua anlise na reviso judicial, possvel enxergar os mesmo problemas apontados tambm no

    controle de constitucionalidade realizado por CCJ.

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    Antecipando a anlise, car claro como a CCJ caracterizada pela incidncia de todo

    o tipo de argumento, inclusive tcnicos jurdicos, o que permite dizer que ela pode

    uncionar como um oro aberto a diversos tipos de argumentos. Apesar desta atividade

    ter sido detectada em apenas alguns casos, certamente aqueles mais polmicos em que

    o debate poltico anterior discusso na comisso no resultou em acordo, percebe-se

    o potencial deste espao para este tipo de atuao. O mesmo tipo de anlise ser eita

    quanto ao STF e os vetos do executivo.

    Mas mais. A anlise dos argumentos externos ao direito, de sua parte, permite-nos

    identicar que tipo de agente, grupo, autoridade, enm, que espcie de representante da

    sociedade civil (ou de outras instncias) aparece na argumentao. Como mencionamosna introduo, uma de nossas preocupaes vericar a permeabilidade das instituies

    ormais sociedade civil, ou seja, sua capacidade de captar as vozes que vm de baixo.

    A anlise destes argumentos permite uma viso deste enmeno, a despeito de no

    podermos saber, por esta pesquisa, se tais entidades participaram diretamente do

    processo ou esto sendo apenas citadas pelos parlamentares, Ministros do STF e do

    Poder Executivo. No caso do STF, um reparo: a existncia de uma audincia pblica ou

    de um amicus curiae nos autos seria uma evidncia clara do que estamos dizendo (no

    encontramos nenum dos dois nos casos estudados). Mas, no que diz respeito aos demais

    documentos, vericamos apenas se argumentos desse tipo oram citados. Seria preciso

    analisar o processo poltico real para obter uma resposta sobre a real participao destes

    entes.

    Algumas palavras sobre a citao de dispositivos legais, doutrina e jurisprudncia.

    A anlise destes argumentos tambm est ligada ao objetivo mais geral de identicar

    o perl argumentativo de cada instncia. A utilizao de legislao, doutrina e

    jurisprudn cia na argumentao de votos e pareceres permite identicar qual a

    onte de direito que os documentos privilegiam. Por exemplo, um voto (do STF ou da

    CCJ) pode citar muitas leis, inclusive antigas, para undar-se na istria legislativa

    do pas. De outra parte, a citao de jurisprudncia e doutrina tambm revela que

    espcie de material serve de undamento para a deciso dos representantes do povo

    e dos juzes. Uma observao aqui importante: interessante observar como o

    STF, ao contrrio de outras cortes supremas do mundo, cita copiosamente variados

    Para encerrar esta introduo anlise qualitativa, importante um esclarecimento

    nal sobre as categorias usadas na anlise dos argumentos, ou seja, aquelas que so

    comuns a ambas as tabelas. O tema do julgado ou da apreciao do projeto de lei so

    itens auto-explicativos. A idia oi identicar quais destes objetos de anlise podem ser

    classicados a partir dos temas expostos acima. Alm disso, buscamos identicar os tipos

    de argumento utilizados pelas instncias. Como nosso objetivo era descobrir, em primeiro

    lugar, o que cada uma dessas instncias compreende como controle de constitucionalidade

    e, em segundo lugar, qual a relao entre sociedade civil e instituies ormais do ponto

    de vista da argumentao, optamos por adotar as seguintes categorias, j mencionadas

    acima, comuns a todas as tabelas: (i) dispositivos legais citados; (ii) princpios (sim ou no,

    quais); (iii) doutrina (sim ou no, identicao dos autores e obras citados, identicaodo uso da doutrina como argumento de autoridade); (iv) jurisprudncia (sim ou no,

    identicao dos casos citados, identicao do uso da jurisprudncia como argumento

    de autoridade); (v) argumentos externos ao direito (sim ou no, argumento usado na

    anlise de constitucionalidade?, e classicao: sociolgico, religioso, antropolgico

    etc.34).

    A organizao das categorias, pode-se dizer, segue duas grandes dicotomias: o

    argumento interno ou externo ao direito? O argumento de autoridade ou no? Esta escola

    se deu em uno dos dois objetivos citados acima. Consideramos argumentos internos

    ao direito todos aqueles que se preocupam com a constitucionalidade, compreendida

    como tema tcnico-jurdico, ou seja, aqueles que argumentam explicitamente com o

    direito posto para identicar inconstitucionalidades ormais ou materiais. Os argumentos

    externos ao direito so aqueles que invocam elementos de realidade de maneira que

    estes no se relacionam a qualquer construo jurdica. De maneira geral, trata-se de

    argumentos sociolgicos, istricos, econmicos ou de convenincia poltica, cuja oraargumentativa est, justamente, em abordar a realidade sem a mediao da interpretao

    jurdica. Exemplos desses argumentos sero encontrados no texto que se segue.

    Fica claro que analisar o perl da argumentao em cada instncia permite identicar

    com clareza a maneira pela qual ela concebe o controle de constitucionalidade.

    34 Ver Robert Alexy, Teoria da Argumentao Jurdica, So Paulo, Landy, 2002. Em suma, nosso objetivo oi identifcar os momentos em

    que o juiz, explicitamente, se utiliza de algum argumento sobre a natureza da sociedade, do homem, etc. o qual o mesmo juiz no remeta

    ao direito positivado.

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    COMISSO DE CONSTITUIO DE JUSTIA E CIDADANIA

    Segurana Pblica

    No campo de Segurana Pblica, a anlise inicial dos projetos a partir da denio das

    palavras-cave avia, conorme especicado anteriormente, retornado 141 Projetos de

    Emenda Constitucional, 665 Projetos de Lei e 12 Projetos de Lei Complementar, totalizando

    818 proposies. Dessas proposies, j analisadas em seu aspecto quantitativo, oram

    separadas aquelas que apresentavam parecer ou voto na CCJ em qualquer uma das

    Casas, totalizando 54 maniestaes em PEC, relativas a 43 Projetos, das quais duas

    oram excludas, nalmente, uma por no pertinncia temtica (PEC 49/2003) e a outra

    por indisponibilidade do parecer vericada durante a anlise dos dados. Dos 674 Projetos

    de Lei e Projetos de Lei Complementar inicialmente coletados, 151 oram selecionados

    para uma anlise qualitativa, por apresentarem maniestaes da CCJ em orma digital,

    resultando 169 maniestaes. Como j salientado, o nmero de maniestaes maior

    que o nmero de proposies analisadas pelo ato de algumas dessas proposies

    apresentarem mais que uma maniestao, na orma de voto ou parecer, pelas razes j

    indicadas. Dessas 169 maniestaes, 13 oram nalmente excludas, por impertinncia

    temtica ou impossibilidade de acesso ao parecer, de orma que o universo de

    maniestaes relativas a Projetos de Lei e Projetos de Lei Complementar trabaladas

    oi de 156.35

    As proposies analisadas oram, na matria de segurana pblica, divididas em

    temas genricos, que oram, ainda, divididos em subtemas, pois o nvel de generalidade

    dos primeiros expressaria, por vezes, muito pouco a respeito do que estava eetivamente

    sendo tratado nas maniestaes. Por diversas vezes, na anlise de segurana pblica,esses temas apareceram misturados nas proposies e, conseqentemente, nas

    maniestaes; nesses casos, indicou-se o tema como grande rea, e, nessa grande

    rea, o assunto tratado.

    35 Cabe lembrar, aqui, que analisamos conjuntamente as proposies do Senado e da Cmara e os pareceres de cada uma de suas CCJ,

    s analisando o parecer da CCJ da casa revisora quando altante na casa de origem. Assim, muito embora as tabelas utilizadas na pesquisa

    aam a dierenciao entre o que vem do Senado e o que vem da Cm ara, para os fns dessa pesquisa, ou seja, para conseguir analisar com

    clareza os argumentos utilizados em mbito preventivo e repressivo no que toca aos atos do Legislativo, julgamos ser mais conveniente

    azer a anlise conjunta. Alm disso, no oram identifcadas dierenas substanciais entre a anlise de cada uma das CCJ

    doutrinadores. Nos Estados Unidos e na Alemana, por exemplo, isto nunca ocorre.

    No espao aqui para analisar esta caracterstica nacional, mas importante ao

    menos mencion-la.

    A outra dicotomia que orientou a construo de nossas categorias est relacionada ao

    uso do material jurdico citado como argumentos de autoridade ou no. Como j dissemos

    acima, este aspecto do padro argumentativo dos rgos de poder central para nossos

    objetivos. Trata-se de descobrir como os organismos de poder se colocam diante de seus

    interlocutores, seja visando a convenc-los racionalmente do que dizem, seja conando

    em seu poder de legitimao carismtica ou simblica.

    Esta anlise considera argumento de autoridade aquele que procura provar umatese qualquer, utilizando-se dos atos ou das opinies de uma pessoa ou de um grupo que

    a apiam. O argumento de autoridade unda-se, sobretudo, no prestgio da pessoa ou

    do grupo invocado (FERRAZ Jr., 2003, p. 336-337). Sua estrutura lgica tem a seguinte

    orma: se Y disse X; logo, X. Isso signica que, nesse argumento, no se discute a validade

    de X. Em razo do prestgio de Y, ela ser presumida. O argumento de autoridade no ,

    portanto, vlido ou invlido, e sim aceito ou recusado. Esta a posio em que o emissor

    coloca o receptor.

    Nas maniestaes de que tratamos, os argumentos de autoridade mais comuns so:

    a) Argumentos de autoridade undados na doutrina: citaes doutrinrias podem

    estar a servio da compreenso do problema jurdico em questo ou se congurar como

    a citao de um autor amoso para undar uma determinada deciso. No a citao eita

    para analisar ou contestar uma idia, dialogando, dessa orma, com o autor citado. Trata-

    se, em vez disso, da citao que se az para estabelecer pelo menos uma das premissasda assero que se ar ao nal da argumentao.

    b) Argumentos de autoridade undados na jurisprudncia: O que dissemos acima

    se aplica aqui. Citaes jurisprudenciais podem ser usadas no para reconstituir a

    jurisprudncia de uma corte e evidenciar sua ligao com o problema examinado. Numa

    argumentao de autoridade, no se les discutem os undamentos ou a validade e no

    se demonstra a ligao com o caso concreto.

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    tema era a proteo da vtima, compreendidas, aqui, proposies relativas a regras para

    que as vtimas sejam adequadamente avisadas e possam participar do processo penal,

    ou a proteo da vtima do ponto de vista da leso sorida, ou providncias para que o

    dano sorido pela vtima osse minimizado ou avisado a entes prximos ou autoridades.

    Foi includa, aqui, a proteo a pessoas ou grupos considerados vulnerveis sob qualquer

    ponto de vista, como medidas de proteo especial criana e ao adolescente ou

    muler.

    Anistia: so asmanifestaesrelativasa proposies que visavam extinguir

    a punibilidade de determinados agentes, tendo sido, no caso dessas maniestaes

    relativas a segurana pblica, todas elas dirigidas anistia de policiais.

    Armasdefogo:porsertemarecorrente,mereceuclassicaoprpria.Incluem-

    se aqui tanto a regulamentao do uso ou porte de armas de ogo por particulares como

    pelas polcias ou pelas oras armadas.

    Segurana privada: foram as proposies que regulamentavam total ou

    preponderantemente a segurana patrimonial ou a relao da segurana patrimonial

    com membros ou rgos da segurana pblica.

    Fiscalizao: foram consideradas pertinentes a esse tema as proposies

    contendo regras de scalizao que no se reportam necessariamente a nenum dos

    rgos de segurana pblica j especicados como temas ou a temas recorrentes que

    merecessem uma classicao especca (ou seja, um tema residual).

    Processo:assimcomocriminalizao,osentidodadoaProcesso,aqui,lato,

    e inclui a regulamentao de todo e qualquer procedimento envolvido na seguranapblica, na apurao de crimes e altas, entre outros. Sempre que a proposio dizia

    respeito a um especial procedimento pr-determinado ou estabelecia um procedimento

    para determinada matria, usou-se esta classicao.

    Priso:so casosque, emsuamaioria,poderiam ser classicados tambm

    nesse uso lato que demos criminalizao. Especicou-se esse tema para agrupar as

    proposies que diziam respeito priso como um todo, seja relativamente a regras

    especcas de cumprimento, a regimes especiais como o RDD, possibilidade de priso

    Assim, classicaram-se como temas:

    Forasarmadas:soasproposieseconseqentesmanifestaesquevisavam

    estabelecer regras quaisquer para as Foras Armadas em qualquer de seus mbitos, e

    tratando de questes relativas s suas unes, carreira, organizao estrutural, entre

    outros. Assim, por exemplo, uma proposio que regulamenta a proteo das ronteiras

    ou a interveno das Foras Armadas em reservas indgenas.

    Polcia Federal: tema auto-explicativo, criado para que se classiquemem

    uma grande rea todas as maniestaes relativas a proposies que regulamentem

    de qualquer orma a Polcia Federal, com a possibilidade geral de regulamentao de

    qualquer dos temas j mencionados acima, em Foras Armadas.

    PolciaMilitar:idem.

    PolciaCivil:idem.

    PolciaMunicipal:idem.

    Polcia:quandonohespecicaodequalpolciaseesttratando,tratam-

    se ou de regras gerais aplicveis aos membros de mais de uma polcia, ou estrutura

    delas como um todo, ou, ainda, de normas relativas relao das polcias em termos de

    unes ou em termos estruturais.

    Criminalizao: categoria compreendida deforma muitomais ampla que a

    compreenso comum inspirada pela palavra. Em criminalizao, oram includas todas

    as proposies de segurana pblica que de alguma orma se valiam de criao de tipos

    penais, majorao de penas e instituio de novos detales ou novas ormas de persecuoa crimes j existentes no ordenamento (de orma a abranger, eventualmente, tambm

    questes processuais, em que pese o tema Processo, que ser delimitado depois), ou

    seja, qualquer proposio que lidasse com o tema de segurana pblica no a partir

    dos rgos criados para tanto, mas a partir da i nstituio de determinados gravames ou

    detales a gravames j impostos ao cidado, mesmo que esse cidado seja, por vezes,

    o prprio policial. Mereceram classicao especial os temas Vtima e Priso, que, por

    vezes, so parcialmente sobrepostos criminalizao.

    Vtima:foramidenticadas,nasmanifestaes,diversasproposiesemqueo

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    especial ou privilegiada, ao pessoal especializado, entre outras questes envolvidas com

    o crcere.

    Recursos: assim classicaram-se as manifestaes relativas a proposies

    que versavam sobre a destinao ou repartio de recursos para a Segurana Pblica,

    incluindo-se nesse tema a criao de undos especiais.

    Estrangeiro:questesqueversamsobreoestrangeironoquetangesegurana

    pblica.

    Como mencionado, algumas dessas classicaes eram excessivamente genricas

    para lidar com uma srie de temas dierentes que, por outro lado, podiam ser re-

    classicados e agrupados, por conterem elementos em comum. Assim, os temas Foras

    Armadas e todos relativos a Polcias oram subdivididos, quando pertinente, em:

    PL e PLP % do total PEC % do total

    Foras armadas 4 2,6% 3 5,6%

    *Foras Armadas e Funo 3 1,9% 3 5,6%

    Polcia Federal 3 1,9% 6 11,1%

    *Polcia Federal e Estrutura 2 1,3% 1 1,9%

    *Polcia Federal e Funo 1 0,6% 5 9,3%

    Polcia Militar 22 14,1% 7 13,0%

    *Polcia Militar e Educao 3 1,9% 0 0,0%

    *Polcia Militar e Estrutura 16 10,3% 1 1,9%

    *Polcia Militar e Funo 1 0,6% 5 9,3%

    *Polcia Militar e Membros 8 5,1% 2 3,7%

    *Polcia Militar e Estrutura eFuno

    1 0,6% 0 0,0%

    *Polcia Militar e Estrutura eMembros

    6 3,8% 1 1,9%

    Polcia Civil 3 1,9% 2 3,7%

    *Polcia Civil e Educao 2 1,3% 0 0,0%

    *Polcia Civil e Estrutura 1 0,6% 0 0,0%

    i i i , ,

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    i i i , ,

    i , ,

    i , ,

    i , ,

    Tabela 21. Segurana Pblica: PL, PLP e PEC por temas e subtemas

    i i i , ,

    i i i , ,

    i i i , ,

    i i i , ,

    *Polcia Civil e Estrutura eMembros

    0 0,0% 2 3,7%

    Polcia Municipal 0 0,0% 2 3,7%

    *Polcia Municipal e Funo 0 0,0% 2 3,7%

    Polcia 45 28,8% 25 46,3%

    *Polcia e Educao 3 1,9% 0 0,0%

    *Polcia e Estrutura 20 12,8% 14 25,9%

    *Polcia e Funo 22 14,1% 10 18,5%

    *Polcia e Membros 9 5,8% 3 5,6%

    *Polcia e Estrutura e Funo 11 7,1% 1 1,9%

    *Polcia e Estrutura e Membros 2 1,3% 0 0,0%

    *Polcia e Funo e Membros 0 0,0% 1 1,9%

    *Polcia e Empresas Privadas 2 1,3% 0 0,0%

    Criminalizao 25 16,0% 1 1,9%

    Descriminalizao 1 0,6% 0 0,0%

    Vtima 18 11,5% 0 0,0%

    Anistia 3 1,9% 0 0,0%

    Armas de ogo 4 2,6% 0 0,0%

    Segurana privada 3 1,9% 1 1,9%

    Fiscalizao 1 0,6% 0 0,0%

    Processo 12 7,7% 0 0,0%

    Priso 8 5,1% 0 0,0%

    Recursos 3 1,9% 5 9,3%

    Estrangeiro 1 0,6% 0 0,0%

    Subtem