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15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 1 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental MAPEAMENTO DOS COMPONENTES GEOAMBIENTAIS DO ESTUÁRIO DO RIO ARACATIAÇU/CE COM O AUXÍLIO DAS GEOTECNOLOGIAS Michelly Alves da Silva 1 ; Denise Gomes David 2 ; Rosilene de Melo França 3 ; Maria Lúcia Brito da Cruz 4 Resumo A área em estudo da presente pesquisa compreende o estuário do rio Aracatiaçu, que se localiza entre os municípios de Itarema e Amontada e está inserido na bacia hidrográfica do litoral na costa oeste do estado do Ceará, distanciando-se cerca de 160 km de Fortaleza, capital do estado. O referencial teórico-metodológico deste estudo está fundamentado na concepção geossistêmica que propõe o estudo integrado da paisagem. Com o auxílio das geotecnologias, foi possível a realização do mapeamento dos componentes geoambientais do estuário do rio Aracatiaçu e entorno possibilitando dessa forma, o conhecimento das condições dos recursos naturais disponíveis no ambiente estuarino do Rio Aracatiaçu/Ce. Abstract The area of this research study comprises the estuary of the river Aracatiaçu , which is located between the cities of Itarema and Amontada and is inserted in the hydrographic basin of the coast on the west coast of Ceará , moving away about 160 km from Fortaleza, state capital. The theoretical and methodological framework of this study is based on geosystemic design that offers the integrated study of the landscape. With the help of geotechnology , it was possible to perform the mapping of geo-environmental components of the estuary and surrounding Aracatiaçu thus enabling the knowledge of the conditions of natural resources available in the estuarine environment of Rio Aracatiaçu / Ce. Palavras-Chave Ambiente estuarino, geossistema, Sistemas de Informação Geográficos (SIG’S). ___________________ 1 Bacharelanda em Geografia. Universidade Estadual do Ceará-UECE, (85) 3101-9863, [email protected] 2 Bacharelanda em Geografia. Universidade Estadual do Ceará-UECE, (85) 3101-9863, [email protected] 3 Bacharelanda em Geografia. Universidade Estadual do Ceará-UECE, (85) 3101-9863, [email protected] 4 Doutora em Geografia. Universidade Estadual do Ceará - UECE, (85) 3101-9791, [email protected]

MAPEAMENTO DOS COMPONENTES GEOAMBIENTAIS DO …cbge2015.hospedagemdesites.ws/trabalhos/trabalhos/182.pdf · 2015-10-08 · correspondem à área de transição entre o continente

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15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 1

15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental

MAPEAMENTO DOS COMPONENTES GEOAMBIENTAIS DO ESTUÁRIO

DO RIO ARACATIAÇU/CE COM O AUXÍLIO DAS GEOTECNOLOGIAS

Michelly Alves da Silva 1; Denise Gomes David 2; Rosilene de Melo França 3;

Maria Lúcia Brito da Cruz 4

Resumo – A área em estudo da presente pesquisa compreende o estuário do rio Aracatiaçu, que se localiza entre os municípios de Itarema e Amontada e está inserido na bacia hidrográfica do litoral na costa oeste do estado do Ceará, distanciando-se cerca de 160 km de Fortaleza, capital do estado. O referencial teórico-metodológico deste estudo está fundamentado na concepção geossistêmica que propõe o estudo integrado da paisagem. Com o auxílio das geotecnologias, foi possível a realização do mapeamento dos componentes geoambientais do estuário do rio Aracatiaçu e entorno possibilitando dessa forma, o conhecimento das condições dos recursos naturais disponíveis no ambiente estuarino do Rio Aracatiaçu/Ce.

Abstract – The area of this research study comprises the estuary of the river Aracatiaçu , which is located between the cities of Itarema and Amontada and is inserted in the hydrographic basin of the coast on the west coast of Ceará , moving away about 160 km from Fortaleza, state capital. The theoretical and methodological framework of this study is based on geosystemic design that offers the integrated study of the landscape. With the help of geotechnology , it was possible to perform the mapping of geo-environmental components of the estuary and surrounding Aracatiaçu thus enabling the knowledge of the conditions of natural resources available in the estuarine environment of Rio Aracatiaçu / Ce.

Palavras-Chave – Ambiente estuarino, geossistema, Sistemas de Informação Geográficos (SIG’S).

___________________

1Bacharelanda em Geografia. Universidade Estadual do Ceará-UECE, (85) 3101-9863, [email protected] 2Bacharelanda em Geografia. Universidade Estadual do Ceará-UECE, (85) 3101-9863, [email protected] 3Bacharelanda em Geografia. Universidade Estadual do Ceará-UECE, (85) 3101-9863, [email protected]

4Doutora em Geografia. Universidade Estadual do Ceará - UECE, (85) 3101-9791, [email protected]

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1. INTRODUÇÃO

A faixa litorânea do estado do Ceará possui 573 km de extensão segundo Morais et al. (2006, p. 132-154), representando uma área de 1.424m², correspondente a 10% de todo o território do estado e abriga 21 municípios conforme Oliveira (2011, p.17). A planície litorânea deste estado está compartimentada em setores ambientais estratégicos, faixas de praia, campos de dunas móveis e fixas, paleodunas e planícies fluviomarinhas.

As zonas costeiras para World Bank (1996, p.16) e Crossland & Kremer (2001, p.77), correspondem à área de transição entre o continente e o oceano, muitas vezes estendendo-se desde as bacias hidrográficas até à plataforma e contêm por isso uma grande variedade de ambientes e ecossistemas. Devido aos componentes bióticos e abióticos e suas relações, a zona costeira configura-se como, um sistema ecológico distinto e com características importantes como, resiliência, produtividade e diversidade biológica.

O presente estudo tem como objetivo identificar e caracterizar os componentes geoambientais do estuário do rio Aracatiaçu que se localiza no município de Amontada e está inserido na bacia hidrográfica do litoral na costa oeste do estado do Ceará, distanciando-se cerca de 160 km de Fortaleza, capital do estado (Figura1

Figura 1: Mapa de Localização do Estuário do rio Aracatiaçu/Ce

Neste contexto, encontram-se os estuários que conforme Camerom & Pritchard (1963, p.306-332) são ambientes costeiros semifechados que mantém uma ligação livre com o oceano aberto, no interior do qual a água do mar é mensuravelmente diluída pela água doce oriunda da drenagem continental. Portanto, o ambiente estuarino é um local de encontro entre as águas continentais e as águas marítimas propiciando assim, um ambiente de intensa dinâmica físico-química e biológica.

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Sendo assim, por ser um ambiente rico em recursos naturais, os estuários dos rios estão entre os ambientes mais afetados pelas ações antrópicas. Segundo a University of Miami (1970, n°4), Pollard (1976 p.6) e Chao et al (1986, n°44) os estuários por apresentarem, quase sempre, altas concentrações de nutrientes em suas águas, são naturalmente férteis, o que os tornam áreas de grande interesse econômico.

Para Butler (1966, p.110-115), Woodwell et al (1967, p.821-824), Odum (1970, p.222-224) e Knox, 1986, p.273) apesar de sua importância, os estuários são áreas naturalmente estressadas e sujeitas a diferentes tipos de pressão antrópica. Para Funceme & Uece (2007, p.2) as áreas estuarinas e costeiras são ambientes de grande complexidade, nos quais, a implantação desordenada de uma série de atividades econômicas, tem causado, nos últimos anos, uma grande variedade de impactos.

Nesse sentido, como ferramenta para o estudo ambiental dos estuários é possível a utilização de técnicas de sensoriamento remoto e Sistema de Informação Geográfica (SIG), apoiadas por outras fontes de informação (SANTOS 2004, p.184).

Tendo em vista o exposto acima, os estudos acerca das áreas estuarinas são de grande importância para subsidiar planejamentos que visam o uso adequado, o controle ambiental e a exploração racional dos recursos naturais disponíveis.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

O referencial teórico-metodológico deste estudo está fundamentado na concepção geossistêmica, derivada da Teoria Geral dos Sistemas (TGS) e elaborada por Bertallanfy (1973, p.60-63), que propõe o estudo integrado da paisagem. No Brasil, dentre alguns nomes que inseriram a análise geossistêmica às pesquisas, elenca-se Souza (1994, p.47), cujos trabalhos foram direcionados ao Ceará.

Para Souza (2005, p.127) a análise geoambiental pode ser entendida como uma concepção integrada que resulta do estudo unificado das condições naturais, que possibilita a percepção do ambiente em que o homem vive. De acordo com Bertrand (1969, p.141), a paisagem é em uma determinada porção do espaço, o resultado da combinação dinâmica, portanto instável, de elementos físicos, biológicos e antrópicos que, reagindo dialeticamente uns sobre os outros, fazem da paisagem um conjunto único e indissociável, em perpétua evolução (BERTRAND, 1969, p.141).

O mapeamento das unidades ambientais com o auxílio dos Sistemas de Informação Geográficos (SIG’S) assume, portanto, um papel de suma importância no que se refere ao fornecimento de subsídios para uma melhor gestão ambiental do ambiente estuarino e entorno. Conforme Rocha (2013, p.136), em razão dos avanços das geotecnologias, com o aumento da precisão dos dados obtidos com os aparelhos de recepção de satélite, é cada vez mais comum o uso deste aparato no monitoramento da dinâmica costeira.

Para Bonetti Filho (1996, p. 260), a partir do processamento de imagens de satélite através dos SIG’s, torna-se possível a obtenção de informações quantificadas sobre o ambiente e a dinâmica espacial de uma determinada área.

Portanto, a presente pesquisa buscou analisar de forma integrada o estuário do rio Aracatiaçu, baseando-se no método geossistêmico avaliando os componentes ambientais, como, a geomorfologia, a geologia, o clima, a hidrologia, o solo e a vegetação com o auxílio das geotecnologias.

Para o desenvolvimento do estudo foi realizada a aquisição de imagens orbitais digitais gratuitas do satélite Landsat-8 no Serviço de Levantamento Geológico Americano (USGS) - http://landsat.usgs.gov/ - sensores OLI (Operational Land Imager) e TIRS (ThermalInfrared Sensor), Órbita 217, ponto 62, com data de passagem 02/08/2013.

Para a composição da imagem foram utilizadas as bandas 3,5,7, associadas respectivamente aos filtros verde, infravermelho próximo e infravermelho de ondas curtas 2

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exibido como azul, verde e vermelho, respectivamente, do sensor OLI. Com o intuito de uma melhor percepção do espaço trabalho utilizou–se a escala de 1: 50.000.

Após a criação da imagem multiespectral recorreu-se a técnica de fusão de imagem - Pan Sharpening - da banda 8 que consiste, basicamente, em integrar a melhor resolução espacial da banda pancromática preservando o conteúdo / cor da imagem composta. A partir do processo de fusionamento da imagem orbital por meio do SIG SPRING 5.2.6 foi possível obter a resolução espacial de 15 metros, que pode ser visualizada na Carta imagem (Figura 2).

Figura 2: Carta Imagem do Estuário do Rio Aracatiaçu/Ce

Com relação aos procedimentos técnico-operacionais foram utilizados os sistemas computacionais do Laboratório de Geoprocessamento (LabGeo) da Universidade Estadual do Ceará (UECE). O sistema computacional utilizado na presente pesquisa foi o QGIS Wien 2.8 projeto oficial da Open Source Geoespatial Foundation (OSGeo).

Os dados coletados sobre as unidades geoambientais da área em estudo foram obtidos por meio de levantamento bibliográfico e geocartográfico disponível, permeando a leitura de artigos, livros e sites relacionados. Além disso, a utilização de dados de órgãos oficiais como: Companhia

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de Pesquisas de Recursos Minerais (CPRM), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (IPECE), Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (FUNCEME) foi de suma importância para um maior acervo de informações para o desenvolvimento dos estudos.

Dando prosseguimento ao desenvolvimento do projeto realizou-se a contextualização geoambiental do estuário do rio Aracatiaçu e entorno, onde foi possível a identificação das características geológicas e geomorfológicas, elencando-se a planície litorânea e os tabuleiros pré-litorâneos. Foi realizada também, a caracterização das condições climáticas e dos recursos hídricos, além dos tipos de solos verificados na área e das condições fitoecológicas.

3. CARACTERIZAÇÃO DOS COMPONENTES GEOAMBIENTAIS DA ÁREA EM ESTUDO

A avaliação geoambiental de uma área tem como subsídios essenciais os levantamentos multidisciplinares que envolvem os aspectos relacionados à: geologia, geomorfologia, clima, recursos hídricos, solos e vegetação.

3.1. Condições geológicas e geomorfológicas

As principais unidades geoambientais que compõem o ambiente estuarino do rio Aracatiaçu, conforme Gonçalves & Nogueira (2008, p. 45) em concordância com a paisagem típica da zona costeira, são: a Planície Litorânea e o Tabuleiro Pré-Litorâneo.

Segundo Marino & Lehugeur (2007, p.41) a área em estudo apresenta uma litoestratigrafia constituída pela unidade cenozóica. Os sedimentos recentes estão subcompartimentados em Planície Litorânea, caracterizada pela Faixa Praial, pelos Campos de Dunas e a Planície Fluviomarinha conforme visto na Figura 3.

Figura 3: Mapa dos Componentes Geoambientais do Estuário do Rio Aracatiaçu/Ce.

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Esse ambiente caracteriza-se como fortemente instável, com sustentabilidade moderada, sujeito à intensa atividade do potencial erosivo, com nítidas evidências de deterioração ambiental e da capacidade produtiva dos recursos naturais. (MARINO & LEHUGEUR, 2007, p.51).

Com relação à faixa praial Gonçalves & Nogueira (2008, p.45), discorrem que predominam sedimentos arenosos depositados sobre terrenos com declividade suave. A erosão neste ambiente é localizada e ocorre em função do trabalho das ondas. Evidencia-se também a presença dos Arenitos de Praia (Beach Rocks) (GONÇALVES & NOGUEIRA, 2008, p.45).

Inseridos no contexto da planície litorânea encontram-se também os campos de dunas são formados por sedimentos arenosos do Holoceno, estando sobrepostos à litológia mais antiga. As areias que compõe as dunas, em sua maioria, têm origem continental e foram transportadas por rios até a costa e depositadas na praia por intermédio da deriva litorânea, sendo posteriormente deslocadas e acumulando-se na forma de dunas (VICENTE DA SILVA, 1993, p.40).

Pye e Tsoar (1990, p.396) consideram que a vegetação é o principal fator de controle da forma das dunas costeiras. Além das dunas vegetadas com formas características, são encontradas frequentemente no litoral do Ceará dunas móveis que foram fixadas pela vegetação, principalmente a sotavento dos campos de dunas.

Nesse ambiente encontra-se também a planície fluviomarinha que para Souza et al (2009, p.53) é um ambiente especial, sendo submetido às influências de processos marinhos (oscilações de maré) e fluviais. Trata-se de um ambiente lamacento, encharcado, úmido, rico em matéria orgânica e com vegetação altamente especializada (mangue) que atua nos processos de estabilização ambiental.

De acordo com Marino & Lehugeur (2007, p.51) a drenagem da planície fluviomarinha do rio Aracatiaçu caracteriza-se por um padrão anastomosado com escoamento muito lento em função da pouca declividade e forte influência das marés. A pluviometria média anual varia em torno de 900 e 1.000 mm. Associadas às planícies fluviomarinhas encontram-se os manguezais definidos na resolução CONAMA nº 303, de 20 de março de 2002 como Áreas de Preservação Permanente.

Destacados no presente estudo como unidade geoambiental, destacam-se os tabuleiros Pré-litorâneos que de acordo com Marino & Lehugeur (2007, p.49), constituem a unidade de maior amplitude em termos de área aflorante em Amontada, posicionada à retaguarda dos sedimentos quaternários, em relevos amplos de topos planos, ligeiramente inclinados em direção à costa.

A posição estratigráfica desse geossistema encontra-se sotoposta às coberturas arenosas formadoras das dunas. Na faixa litorânea esses sedimentos encontram-se recobertos pelos depósitos arenosos eólicos litorâneos. (MARINO & LEHUGEUR, 2007, p.49).

De acordo com Gonçalves & Nogueira (2008, p.49) a vegetação de tabuleiro se encontra após as encostas, a sotavento do cordão de dunas secundárias, sendo que em alguns pontos, essa vegetação se interpõe entre as dunas. Segundo Sá (2002,61-81), a extensão da vegetação de tabuleiro é variada, alcançando limites com a caatinga e encerrando grande diversidade florística.

3.2. Condições climáticas e recursos hídricos

O tipo de clima da zona em estudo é o Tropical Quente Semiárido Brando, com uma média anual de precipitação pluviométrica de 800 mm a 1.2000 mm em Amontada e 1.600 mm até 2.000 mm em Itarema, segundo dados do IPECE (2011, p.26).

O rio Aracatiaçu nasce próximo das Serras de Santa Luzia e Tamanduá, no município de Sobral, região centro-norte do estado do Ceará, estende-se por 181 km, predominantemente no sentido sudeste-nordeste, apresentando características de drenagem intermitente sazonal exorréica e canal de padrão anastomosado, típico no ambiente semiárido e atinge seu baixo curso entre os municípios de Itarema e Amontada, desaguando no Oceano Atlântico. (LOURENÇO & SALES, 2010).

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3.3. Solos e condições fitoecológicas

As classes de solos identificadas no presente estudo tiveram como base os levantamentos disponibilizados pelo IPECE (2012) que estão baseados na nova nomenclatura de solos do Sistema Brasileiro de Classificação de Solos, publicado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA, em 1999, sendo eles os seguintes: Neossolos Quartzarênicos (arenosos), Gleissolos (salinos ou halomóficos), Planossolo Solódico (solódico à salino) e os Argissolos Vermelho-Amarelos (areno-argilosos).

A vegetação encontrada na área de mangue é altamente adaptada ao ambiente fluviomarinho, de salinidade elevada e solos instáveis, pantanosos, com alto teor de matéria orgânica em decomposição. Algumas espécies vivem obrigatoriamente no setor pantanoso, e outras que são esporadicamente atingidos pela maré.

Conforme, Schaeffer-Novelli, (1995, p.64) o manguezal é um, ecossistema costeiro, de transição entre os ambientes terrestres e marinhos, característico de regiões tropicais e subtropicais, sujeito ao regime das marés.

De acordo com Gonçalves & Nogueira (2008, p.48) na área em estudo foram identificados quatro gêneros de mangues, como o Mangue Vermelho (Rhizophoramangle), Mangue Manso (Laguncularia racemosa), Mangue Canoé ou Preto (Aceicenniageruinans) e o Mangue Ratinho ou Botão (Conocorpuserectus). Além desses tipos de Mangues encontrados na área, gramíneas e outras herbáceas halófilas nas áreas de apicum ou salgados adjacentes.

Além dessas espécies de maior porte, apresenta gramíneas e outras herbáceas halófilas nas áreas de apicum ou salgados adjacentes. (GONÇALVES & NOGUEIRA, 2008, p.48). O manguezal ocorre, portanto, em regiões costeiras abrigadas e apresenta condições propícias para alimentação, proteção e reprodução de muitas espécies animais, sendo considerado importante transformador de nutrientes em matéria orgânica e gerador de bens de serviço (SCHAEFFER-NOVELLI, 1995, p.64).

4. CONCLUSÕES

Os aspectos físicos do estuário do Rio Aracatiaçu como a geologia, a geomorfologia, o clima, a hidrologia, a pedologia, e a fitoecologia foram caracterizados de forma integradora com o objetivo de uma melhor compreensão da dinâmica do ambiente natural.

Dada a importância desse ambiente é necessário ressaltar que a economia dos distritos de Amontada é fortemente dependente da exploração dos recursos naturais disponíveis. Os principais recursos explorados na área são: agropecuária/extrativismo de forma tradicional, pesca, instalação de núcleos urbanos (povoados, distritos, loteamentos, assentamentos), comércio e serviços, indústria, extrativismo mineral, turismo e aquicultura (carcinicultura).

Os principais tipos de uso referente às feições naturais são os seguintes: na faixa praial encontra-se a prática da pesca artesanal, sobre as dunas móveis identificaram-se as atividades de turismo e lazer e parque de geração de energia eólica, além da atividade de pecuária extensiva nas depressões interdunares.

Nas dunas fixas e semifixas encontram-se povoados, pecuária extensiva, agricultura de subsistência, plantação de coqueiros, pavimentação, casas de veraneio, turismo e lazer. Nas planícies fluviomarinhas identificam-se as atividades de carcinicultura, nas planícies de acumulação aluviais as culturas de vazante e a realização da extração de Carnaúbas e nos tabuleiros pré-litorâneos se estabelecem as práticas de culturas anuais, temporárias e permanentes.

Considerando o que foi exposto acima, o conhecimento das potencialidades do ambiente estuarino do rio Aracatiaçu por meio do mapeamento dos componentes geoambientais, é de suma importância para demonstrar a biodiversidade desse ambiente, a necessária adequação das formas de uso, manejo, conservação e monitoramento em cada componente geoambiental e para subsidiar pesquisas posteriores.

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AGRADECIMENTOS

O estudo é resultado do projeto “As geotecnologias como ferramenta para o zoneamento natural das áreas estuarinas do Estado do Ceará”, coordenado pela Profª Dr. Maria Lucia Brito da Cruz, realizado pelo Laboratório de Geoprocessamento do curso de Geografia da Universidade Estadual do Ceará (UECE).

Agradecimentos a Deus acima de tudo, ao Curso de Geografia da Universidade Estadual do Ceará, ao Laboratório de Geoprocessamento (LABGEO) coordenado pela Prof. Dr. Maria Lúcia Brito da Cruz e a toda equipe que de forma atenciosa contribuiu para o estudo e alcance dos objetivos propostos na pesquisa.

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