Material Didatico Mtc Aulas 012014

  • Upload
    la-za

  • View
    889

  • Download
    13

Embed Size (px)

Citation preview

  • 1

    Rede de Ensino DOCTUM

    Ncleo de Educao a Distncia - NEaD

    Disciplina: METODOLOGIA DO TRABALHO CIENTFICO

    Professor Responsvel: Msc. Fabrcio Emerick Soares

    METODOLOGIA DO TRABALHO CIENTFICO

    (Contedo das Aulas)

    Caratinga

    2014

  • 2

    A vida sem cincia uma espcie de morte

    (Scrates)

    Jornal da Cincia n 643, 30/04/2009.

  • 3

    APRESENTAO

    Caro acadmico(a), Seja muito bem vindo ao curso da disciplina Metodologia do Trabalho

    Cientfico na modalidade EaD (Educao a Distncia) da Rede Doctum de Ensino.

    A disciplina Metodologia do Trabalho Cientfico, embora pouco parea, mais

    prtica e menos terica, pois, deve estimular os discentes na busca de motivaes para

    levantar questionamentos e problemas e procurar-lhes respostas. Contudo, essa

    busca-procura dever seguir o princpio cientfico e sua apresentao dever ser feita

    atravs das normas acadmicas vigentes, pois a insero do aluno no espao da

    Universidade pressupe o ingresso no campo da elaborao do trabalho cientfico.

    Este tem como principal elemento norteador pesquisa.

    Sendo assim, parece-nos evidente que a Metodologia do Trabalho Cientfico

    no simples contedo a ser decorado pelos alunos. Trata-se, na verdade, de fornecer

    aos discentes um instrumental importante para a boa realizao do trabalho cientfico

    atravs da organizao e da disciplina.

    Nestes termos, consideramos bastante relevante o lugar ocupado na

    Universidade pela disciplina de Metodologia do Trabalho Cientfico, pois, em se

    tratando de curso superior, espao no qual o aluno busca incessantemente o saber

    cientfico, de fundamental importncia o entendimento de que a Metodologia

    Cientfica o estudo dos caminhos do saber, pois mtodo quer dizer caminho e

    logia quer dizer estudo e cincia.

    Tambm muito importante lembrar neste momento que voc est iniciando

    um curso com uma metodologia totalmente diferente e nova para a maioria das

    pessoas. Trata-se de um curso a distncia - EaD, onde voc no ter um professor a

    discorrer sobre o contedo da disciplina. Portanto, o seu desempenho depender

    muito de quanto tempo voc dispe para dedicar-se ao curso, depender de sua

    autodisciplina, dedicao, compreenso de familiares, capacidade de organizar o seu

    tempo e de seguir um cronograma preestabelecido por voc na execuo de suas

    tarefas (Agenda Pedaggica). Em contrapartida, uma das caractersticas mais

    importantes na Educao a Distncia EaD a flexibilidade de local e tempo de

  • 4

    estudo, uma vez que o discente o protagonista de sua aprendizagem, sendo

    reservado para o mesmo o papel ativo na construo e reconstruo do

    conhecimento.

    Para tanto, a Rede Doctum de Ensino, numa iniciativa nova e ousada, em

    sintonia com as diretrizes da educao para o sculo XXI e implementando um projeto

    pegaggico inovador, prope a oferta da disciplina Metodologia do Trabalho

    Cientfico na modalidade EaD, disponibilizando ao discente, em linhas gerais, uma

    estrutura/organizao acadmica que contempla:

    1 Contedo da Disciplina: todo o contedo programtico da disciplina de

    Metodologia do Trabalho Cientfico foi organizado em aulas, em nmero total de 10,

    disponibilizadas no Portal Universitrio Doctum; conforme Agenda Pedaggica, o

    discente dever fazer o estudo de cada aula indicada nas respectivas etapas de notas;

    as aulas contam com objetivos bem definidos de aprendizagem, contedos em forma

    de esquemas explicativos e textos de apoio, alm de vdeos que complementam as

    temticas principais de cada aula e sugestes de bibliografia de pesquisa.

    2 Tutoria: para o desenvolvimento das atividades da disciplina de Metodologia do

    Trabalho Cientfico, o discente conta com o apoio de tutores distncia

    responsveis por todo o processo comunicativo/interacional entre a disciplina (Portal

    Universitrio) e os discentes, alm dos tutores presenciais, responsveis pela

    materialidade da disciplina e pela organizao dos encontros presenciais.

    3 Avaliao da Aprendizagem: o processo avaliativo da disciplina de Metodologia do

    Trabalho Cientfico, conta com atividades a distncia (AD) e atividades presenciais

    (AP); as atividades a distncia, contam com as atividades de verificao da

    aprendizagem (VA); quanto as avaliaes presenciais (AP) so em nmero de duas. O

    discente tambm conta com o exame especial (EE), aplicado ao final do semestre

    letivo. As indicaes de descrio, perodo, durao e valorao em notas das

    atividades a distncia e presenciais encontram-se bem definidas na Agenda Pedaggica

    da disciplina.

    Por fim, quanto aos apsectos legais da oferta da disciplina de Metodologia do

    Trabalho Cientfico na modalidade EaD, sinalizamos a Portaria n 4.059, de 10 de

    dezembro de 2004 - DOU de 13/12/2004, Seo 1, p. 34, que estabelece em linhas

  • 5

    gerais, a saber: Art. 1: As instituies de ensino superior podero introduzir, na

    organizao pedaggica e curricular de seus cursos superiores reconhecidos, a oferta

    de disciplinas integrantes do currculo que utilizem modalidade semi-presencial, com

    base no art. 81 da Lei n. 9.394, de 1.996, e no disposto nesta Portaria. 1 Para fins

    desta Portaria, caracteriza-se a modalidade semi-presencial como quaisquer

    atividades didticas, mdulos ou unidades de ensino-aprendizagem centrados na

    auto-aprendizagem e com a mediao de recursos didticos organizados em

    diferentes suportes de informao que utilizem tecnologias de comunicao remota.

    2. Podero ser ofertadas as disciplinas referidas no caput, integral ou parcialmente,

    desde que esta oferta no ultrapasse 20 % (vinte por cento) da carga horria total do

    curso.

    Bom semestre letivo para todos...

    Professor Msc. Fabrcio Emerick Soares

  • 6

    Atividades propostas para a

    disciplina

    1 Etapa de Notas 01/08/2013 at

    20/09/2013

    2 Etapa de Notas 21/09/2013 at

    01/11/2013

    3 Etapa de Notas 02/11/2013 at

    06/12/2013

    Exame Especial

    Aulas Aula 01

    Aula 02

    Aula 03

    Aula 04

    Aula 05

    Aula 06

    Aula 07

    Aula 08

    Aula 09

    Aula 10

    Atividade a Distncia

    Verificao de Aprendizagem - AD

    - VA

    AD VA 1 ,VA 2, VA 3, VA 4, VA 5 e VA 6:

    Valor Total: 30 pontos 01 ponto cada

    questo (Aulas 01, 02, 03, 04, 05 e 06)

    PRAZO FINAL PARA A POSTAGEM DAS AD-VA

    20/09/2013

    AD VA 7, VA 8, VA 9 e VA 10: Valor Total: 20

    pontos - 01 ponto cada questo (Aulas 07,

    08, 09 e 10)

    PRAZO FINAL PARA A POSTAGEM DAS AD-VA

    01/11/2013

    50 pontos

    Avaliao Presencial AP

    AP 1 Valor: 20 pontos (avaliao individual ,

    com questes objetivas e com consulta ao

    material das aulas 01, 02, 03, 04, 05 e 06);

    aplicada entre os dias 23 at 27/09/2013.

    AP 2 Valor: 30 pontos

    (avliao individual , com questes objetivas

    e com consulta ao material das aulas 07, 08, 09 e 10); aplicada entre os dias 18 at

    22/11/2013.

    50 pontos

    Exame Especial EE

    (aplicado de 11 at 17/12/2013);

    avaliao individual; sem

    consulta ao material das aulas.

    EE Valor: 100 pontos

    TOTAL 100 pontos

  • 7

    AULA 01: Metodologia do Trabalho Cientfico organizao e disciplina da vida de estudos na universidade

    OBJETIVOS: * Apresentar os fundamentos conceituais da metodologia, abordando a filosofia e a histria da cincia, bem como fornecer os pressupostos bsicos da pesquisa e do trabalho cientfico, permitindo melhor convivncia acadmica entre professores e alunos; * Organizar a vida de estudos na universidade, atravs do conhecimento das diretrizes de uma boa leitura, anlise e interpretao de textos, o conhecimento dos instrumentos de trabalho cientfico, organizao de seminrios, dentre outros; * Relembrar a importncia dos hbitos de estudo cientfico, possibilitando o desenvolvimento de uma vida intelectual disciplinada e sistematizada; * Compreender a importncia do conhecimento para o desenvolvimento pessoal e profissional; * Caracterizar e aplicar os processos da tcnica de leitura analtica para anlise e interpretao de textos tericos e cientficos. CONTEDO:

    Para comear bem a metodologia preciso comear de si mesmo, comear em si mesmo um processo gradual de descoberta, de pensar sobre sua identidade, seus desejos, seu estar no mundo, sua direo e seus propsitos.

    Sem esse comear, tudo ser vazio, nada lhe dir respeito, nada lhe interessar

    e voc passar como branca nuvem, sem aproveitar sua vida nos aspectos mais valiosos, e um deles o aspecto acadmico. Antes de iniciar a jornada pela metodologia... Refletir sobre sua opo e escolha: qual meta eu quero atingir em minha vida?

    Sinceridade: consigo mesmo... Questionar-se sobre seus motivos e identidade. Identificar suas resistncias e suas afinidades; Conscincia da entrada em uma nova etapa da vida: a formao acadmica; Motivar-se: porque desejo o que desejo?

    Metodologia: do grego meta (ao largo), odos (caminho) e logos (discurso,

    estudo), ou o caminho que conduz ao conhecimento de algo. Cincia refere-se a qualquer conhecimento. Etimologicamente vem do verbo

    saber. J no sentido estrito, ela se ope a opinio, a superstio. Simplesmente quer dizer que ela explica algo atravs da observao.

    Os significados de metodologia mudaram ao longo de milhares de anos, e, no sculo XXI, com o rpido desenvolvimento das cincias (e da tecnologia) e do ensino superior, a metodologia tem hoje um amplo domnio, com pelo menos trs reas distintas, mas inter-relacionadas:

  • 8

    * Metodologia cientfica ou da cincia (filosofia da cincia): preocupa-se com as reflexes epistemolgicas sobre os caminhos das diversas cincias, procurando os fundamentos do saber das diversas cincias, os limites da linguagem, dos conceitos, das teorias; * Metodologia da pesquisa: procura apresentar e aperfeioar as diversas maneiras de se empreender pesquisas que tenham um cunho acadmico e cientfico; apresenta os instrumentais de pesquisa (questionrio, entrevista etc.) disponveis e as formas de analisar os dados obtidos por meio desses instrumentos; * Metodologia do trabalho acadmico: apresenta os principais tipos de trabalho acadmico, a importncia da normalizao e formalizao dos trabalhos como fator de qualidade da produo acadmica.

    De um modo amplo e geral, a metodologia pode ser chamada de

    metacincia, ou seja, um estudo e uma prtica cujos objetivos so as prprias cincias particulares, isto , um estudo que tem por objeto a prpria cincia e as tcnicas especficas de cada cincia.

    O que a Metodologia procura e o que no procura? a) No procura solues, mas escolhe as maneiras de encontr-las; b) Integra os conhecimentos a respeito dos mtodos em vigor nas diferentes disciplinas cientficas ou filosficas; c) Estuda, avalia e identifica as limitaes, quanto a utilizao, dos mtodos disponveis; d) Em um nvel aplicado, examina e avalia as tcnicas de pesquisa bem como a gerao ou verificao de novos mtodos que conduzem captao e processamento de informaes com vistas resoluo de problemas de investigao; e) Auxilia e orienta no processo de investigao para tomar decises oportunas.

    Qual o maior desafio ao trilhar os caminhos da Metodologia? * o uso de processos metodolgicos de seu raciocnio lgico; * a articulao entre hbitos de pesquisa e estudo com a criatividade e a apresentao formal (as regras tcnicas). O que a Metodologia Cientfica no e, em alguns casos, no deveria ser? * Um amontoado de tcnicas, embora estas devam existir; * Um fio desligado da tomada, ou seja, das questes cruciais vividas nas disciplinas, na vida cotidiana, que a sala de aula.

    Como assim? De um modo geral, os professores j fazem pesquisa, todos os dias, mesmo sem o saberem. Chamamos esse processo de pesquisa assistemtica.

    Assim, para preparar uma aula, o professor pesquisa, assistematicamente, uma

    bibliografia (seleciona livros, textos, exemplos prticos, monta apostilas), entre outros procedimentos comuns. Outras vezes retira de sua prpria experincia, reflexes e

  • 9

    constataes: turma X assim, o perfil do aluno do curso tal assim..., a vida assim.

    A partir das experincias empricas, empreendemos a generalizao ou

    sindoque, como preferem os lingistas. Mas a cincia precisa de rigor para fazer qualquer generalizao.

    E temos aqueles que j fazem trabalhos e estudos organizados e trabalham

    com grupos de estudo, em seminrios, em associaes cientficas, em mestrados e doutorados, que escrevem livros etc.

    H duas formas de apresentar a metodologia:

    H diversas maneiras de abordar e apresentar as metodologias. Apresentamos, especificamente, duas formas distintas:

    Formal abre-se um velho manual. Dele se extraem conceitos e definies. Aplicam-se conhecidas formas de avaliao, procura-se reproduzir o que se leu e aprendeu; Vital abre-se a vida, e as experincias do dia-a-dia, e a partir dela mergulha-se nas metodologias e nas pesquisas; aplicam-se, de forma inovadora, conhecidas formas de avaliao, e, porque no, elaboram-se novas maneiras de avaliar.

    Muitas vezes, vem tona a questo da utilidade e da importncia das metodologias. Consideradas pelo prisma formal, essa questo tende a ser respondida de forma negativa, ou seja, o estudo das metodologias considerado intil, porque detalhista.

    Na maneira vital, as questes cotidianas, os interesses mais prximos de ns, tornam-se propulsores dos caminhos que queremos trilhar, dos apetrechos que precisamos usar para a caminhada. Os apetrechos so as regras, as normas e tcnicas. E mais importante a disposio de caminhar, de buscar conhecimentos, pois afinal, os apetrechos servem para ajudar... Organizao e Disciplina na vida acadmica:

    A insero do aluno no espao da Universidade pressupe o ingresso no campo da elaborao do trabalho cientfico, que tem como principal elemento norteador pesquisa. Para uma boa realizao do trabalho cientfico recomenda-se a organizao e a disciplina.

    Por organizao entende-se o bom aproveitamento do tempo, do espao e dos

    instrumentos, equipamentos e recursos disponibilizados para o estudo, tais como, a durao das aulas, os laboratrios e bibliotecas, os livros, computadores e tambm os docentes.

    Por disciplina entende-se a dedicao do aluno ao estudo, sabendo beneficiar-

    se o mximo possvel da vida universitria para sua formao humana e profissional.

  • 10

    , pois, finalidade da disciplina de Metodologia do Trabalho Cientfico auxiliar aos alunos a organizarem-se melhor nesse espao escolar no qual se encontram e atravs de recomendaes, dicas e orientaes como podero lidar com as exigncias prprias da produo do trabalho cientfico, embora nada impea que o aluno crie sua estratgia prpria de organizao, desde que no comprometa o processo de sua boa formao acadmica.

    Condies para iniciar a Metodologia:

    Leitura: organizao de horrios; Posio corporal; Diversificao de fontes; Leitura contnua.

    Diretrizes para a Leitura, anlise e interpretao de textos:

    Indiscutivelmente, a leitura o ponto de partida para a realizao de qualquer trabalho cientfico. Entretanto, a leitura realizada com a finalidade de se elaborar um trabalho cientfico requer algumas condies como ambiente adequado, organizao de horrios, postura corporal adequada, diversificao dos tipos textuais, estudo do vocabulrio do texto, questionamento do que se l, identificao das referncias histricas e filosficas contidas no texto, sublinhamento de palavras-chave e idias principais.

    Cinco passos bsicos para uma boa leitura:

    1 passo: leitura elementar ou global: folhear e refletir sobre capa, sumrio, introduo, concluso, incio de cada captulo;

    2 passo: questionar o que se l; rascunhar perguntas a lpis no texto, ou escrever perguntas no papel sobre o texto; uma tcnica dar ttulos, subttulos, fazer grifos, interpretar itlicos etc.; transformam-se os ttulos/subttulos em perguntas, esboando-se, a seguir, respostas.

    3 passo: estudo do vocabulrio: dicionrios especficos (sociologia, psicologia, filosofia); levantamento de termos medida que se l; Um dicionrio comum ajuda, mas indispensvel o uso de dicionrios especficos (Filosofia, Psicologia, Sociologia) para o bom entendimento de um texto. A expresso papel social, por exemplo, ser encontrada em um dicionrio de Sociologia. Ainda nesse passo, realize o levantamento de termos ou palavras no compreendidas em uma folha, medida que se l, sem parar a leitura, pelo menos, at o item seguinte; depois procure o significado deles. Na pesquisa de vocabulrio, faz-se a procura de termos prximos (por exemplo, para o termo racionalidade, podem ser procuradas razo, objetividade e cincia) ou termos da mesma famlia lingstica (sociologia, sociedade e socializao) ou pela origem etimolgica (sociologia: do latim socius = sociedade e do grego logia / lgos = tratado, estudo).

    4 passo: identificar o contexto e as referncias histricas, filosficas, etc.; Mas no basta apenas a consulta das palavras, preciso identificar-se o contexto em que so empregadas: a palavra est sendo usada para discutir-se uma proposio, para criticar-se um posicionamento?

  • 11

    5 passo: sublinhar apenas palavras chave. Cuidado para no grifar tudo, no se deve pensar que tudo importante; muitos no conseguem separar o que importante do que acessrio. Observaes:

    Faa pausas na leitura. Recomenda-se que a cada 50 minutos, se faa uma pausa de 10 minutos. Deve-se ter sempre presente: o que o autor quer dizer com tal texto?

    Identificao da tese do autor: todo texto tem uma proposio central, aquela que norteia os argumentos do autor.

    Avaliao das idias expostas: os argumentos do autor esto bem articulados? Que falhas existem na exposio das idias? Elas esto estreitamente relacionadas entre si?

    S se devem sublinhar aspectos essenciais. Por exemplo, elementos de coeso que criem idia de oposio (mas, embora etc.);

    Reconstituio do texto, baseando-se nas palavras e expresses sublinhadas, o que permite a visualizao imediata das idias principais.

    Veja-se um exemplo de texto sublinhado: A pergunta crucial do nosso tempo se as formas de resistncia atuais dos

    setores e classes sociais que esto sendo dilacerados pelo sistema tm outras alternativas. Uma sada no conservadora que possa aprofundar a democracia e retomar a incluso social como essncia do desenvolvimento [...] (GENRO, 2000, p. 66). Pr-condies do Trabalho Acadmico: Diante da exigncia de trabalhos acadmicos, preciso relembrar as pr-condies para uma boa vida acadmica, para uma boa pesquisa, para um bom aproveitamento das disciplinas. Quais seriam:

    Ambiente adequado; Organizao de horrios para estudo e leitura; Descanso: a cada hora de estudo 10 minutos de intervalo; Posio corporal adequada: mesmo sendo-se malabarista, deve-se atentar para

    a posio, correta e confortvel, ao estudar. Diversificao das fontes de leitura para que se consiga navegar pelos

    diferentes tipos de textos. Leitura contnua para a aquisio da prtica: quem no possui hbito da leitura,

    ler devagar ou precisar de reler o texto vrias vezes. O trabalho acadmico, segundo a ABNT : Um documento que resulta de um estudo e que expressa um conjunto de conhecimentos construdos e adquiridos nas disciplinas, nos cursos e programas desenvolvidos. Definio mais ampla: todo trabalho em forma de documento produzido no mbito do Ensino Superior. Nessa definio entram resenhas, resumos, projetos, relatrios (dos mais variados aspectos e formas).

  • 12

    Forma e da estrutura ABNT: Os elementos da forma dizem respeito apresentao grfica, a como o trabalho deve ser digitado. A estrutura dos trabalhos, dizem respeito aos itens obrigatrios e essenciais. Elementos da estrutura do trabalho: O trabalho acadmico dividido em trs partes bsicas: * Elementos pr-textuais (antecedem o texto), * Elementos textuais (o texto) * Elementos ps-textuais (vm aps o texto).

    TEXTOS COMPLEMENTARES:

    TEXTO 01: O DESAFIO DA LEITURA No basta ir s aulas para garantir pleno xito nos estudos. preciso ler e principalmente, ler bem. Quem no sabe ler no saber resumir, no saber tomar apontamentos e, finalmente, no saber estudar. Ler bem o ponto fundamental para os que quiserem ampliar e desenvolver as orientaes e aberturas das aulas. muito importante participar das aulas; elas no circunscrevem, no limitam; ao contrrio, abrem horizontes para as grandes caminhadas do aluno que leva a srio seus estudos e quer atingir resultados plenos de seus cursos. Alis, quase todas as cadeiras desenvolvem programas de pesquisa bibliogrfica para que o aluno desenvolva temas e reconstrua ativamente o que outros j construram. Para elaborar trabalhos de pesquisa, necessrio ir s fontes, aos autores, aos livros; preciso ler, ler muito e, principalmente, ler bem. Durante as primeiras aulas de qualquer disciplina, os mestres apresentam criteriosa bibliografia; alguns livros so bsicos, ou de leitura obrigatria, para quem quer colher todo fruto das aulas; outros so mais especializados ou se concentram em algum item do programa, e pode, entre os tratados gerais de consulta obrigatria, ser indicado um, como livro de texto. A indicao do livro de texto tem vantagens e inconvenientes cuja a anlise ultrapassaria os limites que este compndio impe. Diremos, apenas, que o aluno no pode ater-se exclusivamente a ele. Timeo Hominem Unius Libri, diziam os antigos. Devemos temer o homem de um livro s. necessrio abeberar-se de outras fontes mais amplas mais especializadas sobre cada tema ou sobre cada pormenor dos programas. Se no possvel pensar em fazer um bom curso sem descobrir ou fazer aparecer espaos de tempo para o estudo extra-aula e se necessrio programar criteriosamente a utilizao desse tempo, no seria igualmente impossvel pensar em fazer um bom curso sem ter mo boas fontes de leitura? possvel que se pretenda fazer um curso universitrio sem freqentar bibliotecas ou sem adquirir, ao menos, os livros bsicos para cada programa? A leitura amplia e integra os conhecimentos, desonerando a memria, abrindo cada vez mais os horizontes do saber, enriquecendo o vocabulrio e a facilidade de comunicao, disciplinando a mente e alargando a conscincia pelo contato com formas e ngulos diferentes sob os quais o mesmo problema pode ser considerado. Quem l constri sua prpria cincia; quem no l memoriza elementos de um todo

  • 13

    que no se atingiu. E, ao terminar um curso superior, deveramos no s estar capacitados a repetir o que foi aprendido na faculdade, como tambm estar habilitados a desenvolver, atravs de pesquisas, temas nunca abordados em aulas. Deveramos ser uma pequena fonte, no um pequeno depsito de conhecimentos, ou mero encanamento por onde as coisas apenas passam. preciso ler, ler muito, ler bem. preciso sentir atrao pelo saber, e encontrar onde busc-lo. necessrio iniciar este trabalho com determinao e perseverar nele; o crescimento cultural tem crises como o crescimento fsico; quem no sente apetite no deve deixar de alimentar-se; comprometeria sua sade. Tambm na leitura trabalhada devemos ser perseverantes; s esta perseverana garantir aquela espcie de saltos de integrao de dados, que se vo acumulando e associando como frutos da leitura continuada.

    TEXTO 02: A IMPORTNCIA DA LEITURA

    Antes de evidenciarmos a importncia da leitura, precisamos entender o que ler e porque a leitura uma atividade complexa que envolve vrios aspectos, pois exige que o leitor mobilize diferentes tipos de conhecimentos para realiz-la. De acordo com Isabel Sol, ler um processo de interao entre o leitor e o texto. (Sol, 1987). Esta afirmao implica em vrias conseqncias. Primeiro envolve a presena de um leitor ativo que processa e examina o texto, depois vem a existncia de um objetivo para guiar a leitura, quer dizer uma finalidade. O universo de objetivos e finalidades que levam um leitor a um texto amplo e variado; devanear, preencher um momento de lazer, buscar informaes concretas, informar-se sobre um determinado fato, confirmar ou refutar sobre um conhecimento prvio, aplicar os conhecimentos obtidos com a leitura na realizao de um trabalho. Leitura tambm construo de sentidos, Os PCNs em um trecho dizem que: "A Leitura um processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de construo de significados do texto, a partir dos seus objetivos, do seu conhecimento sobre o assunto, sobre o leitor, de tudo o que se sabe sobre a lngua: caractersticas do gnero, do portador, do sistema de escrita: decodificando-a letra por letra, palavra por palavra. Trata-se de uma atividade que implica necessariamente, compreenso na qual os sentidos comeam a ser construdos antes da leitura propriamente dita. Qualquer leitor experiente que consegue analisar sua prpria leitura constatar que a decodificao apenas um dos procedimentos que utiliza quando l: a leitura fluente envolve uma srie de outras estratgias como seleo, antecipao, inferncia e verificao, sem as quais no possvel rapidez e proficincia. "(PCNs, 1998). Nessa perspectiva permite-nos dizer que o leitor competente aquele que capaz de selecionar e utilizar dos mais variados textos que circulam socialmente e que consegue entender o que ler. A Leitura constitui um importante escudo contra o processo de alienao, mas isso s possvel a partir do momento em que o sujeito compreende o que l, ou seja, capaz de ler alm do texto. A Leitura tem uma funo crtica e social muito importante, pois d ao homem direito opo, a um posicionamento prprio da realidade. Podemos considerar que h finalidade da leitura que fazem parte das perspectivas gerais do individuo:

  • 14

    Ampliar a viso do mundo; Inserir o indivduo na cultura letrada; Possibilitar a vivncia de emoes; Permitir a compreenso do processo comunicativo da linguagem; Favorecer o processo de humanizao e interagir nas relaes sociais de seu

    tempo. Dessa forma, uma educao que se queira libertadora, humanizante e transformadora passa necessariamente, pelo caminho da Leitura. E na organizao de uma sociedade mais justa e mais democrtica que vise a ampliar as oportunidades de acesso ao saber, no se pode desconhecer a importante contribuio poltica da leitura. LEITURA RECOMENDADA: ALVES, Rubem. A aula e o seminrio. In: __________. O amor que acende a lua. So Paulo: Papirus, 1999. DEMO, Pedro. Princpio cientfico e educativo. 8 ed. So Paulo, Cortez, 2001. LAVILLE, C.; DIONE, J. A construo do saber: manual de metodologia da pesquisa em cincias humanas. Belo Horizonte: UFMG; Porto Alegre: Artes Mdicas, 1999. LIBANIO, J. B. Introduo vida intelectual. So Paulo: Loyola, 2001. SILVA, Jos Maria; SILVEIRA, Emerson Sena. Apresentao de Trabalhos Acadmicos: normas e tcnicas. Juiz de Fora: Juizforana, 2002.

  • 15

    AULA 02: Elaborando os Trabalhos Acadmicos OBJETIVOS: * Apresentar os principais tipos de trabalho acadmico tanto do ponto de vista dos conceitos, quanto das normas tcnicas; * Identificar, caracterizar e diferenciar os principais tipos de trabalho acadmico e os elementos constitutivos dos mesmos; * Apontar as diversas tcnicas de documentao para elaborao do trabalho acadmico e Identificar as caractersticas da linguagem cientfica. CONTEDO: Elaborando Fichamentos, Resumos e Resenhas... Relembrando os passos bsicos da leitura:

    Viso global: toma-se o livro ou texto, faz-se a leitura e a reflexo sobre o sumrio, as orelhas, os subttulos, a introduo, a concluso e a lista das fontes de pesquisa;

    Questionamento do que se l: faz-se uma srie de perguntas ao texto, rascunhadas (a lpis);

    Um dicionrio comum ajuda, mas indispensvel o uso de dicionrios especficos (Filosofia, Psicologia, Sociologia);

    Realizar um levantamento de termos no compreendidos; Identificao das referncias histricas e sociais contidas, para que o contexto

    seja esclarecido; Na busca da essncia do texto, o leitor tenta identificar as idias principais.

    Nesta etapa, so exigncias: a) A apreenso das principais proposies do autor; b) No perder tempo, registrando-se detalhes; c) Conhecimento dos argumentos do autor (refutao, comprovao ou questionamento); d) Deve-se ter sempre presente: o que o autor quer dizer com tal texto? e) Avaliao das idias expostas: os argumentos do autor esto bem articulados? Que falhas existem na exposio das idias? Elas esto estreitamente relacionadas entre si? Organizao da leitura Ao se ler um livro ou qualquer texto para um resumo, uma prova, uma monografia, um relatrio etc., essencial que se faam anotaes por escrito. Podem ser utilizadas duas maneiras: a) anotao esquemtica: um esquema numerado das idias principais; b) anotao resumida: colocao das idias principais. Para realiz-las, necessrio: ler o texto sem interrupo; reler; levantar informaes importantes para a compreenso do que se l; sublinhar e rascunhar as anotaes.

  • 16

    FICHAMENTOS DE LEITURAS: Os fichamentos destinam-se ao registro da leitura, essencial ao trabalho acadmico (MEDEIROS, 2000). Eles podem ser feitos no computador, em fichas de papel com pauta, ou mesmo em folhas de ofcio comuns (ou caderno, mas sem picote). Havendo necessidade de mais de uma ficha, elas sero numeradas no canto direito superior. Os tipos bsicos de fichamentos so: a) Fichamento de bibliografia: levantamento de livros, artigos e outras fontes sobre um tema. Um ttulo genrico deve indicar o assunto que se est fichando (Cultura e violncia, no exemplo abaixo).

    Cultura e violncia 1 MOESCH, N. Brasil: excluso, direito e violncia. Revista Cientfica da REDE DOCTUM, Caratinga, ano 23, v. 2, p. 34-56, abr. 2009. SARAMAGO, J. O novo mundo digital. Folha de S. Paulo, So Paulo, 12 junho 2003. Mais!, p. 3. SARAIVA, Bernardo. O mundo da violncia. Petrpolis: Vozes, 2003.

    Obs.: a ficha de bibliografia pode ser prolongada indefinidamente e deve passar por uma constante atualizao. b) Fichamento de citao: transcrevem-se os trechos essenciais do livro ou texto. Usam-se aspas e registra-se a pgina de onde foi retirada a citao. Obs.: Colocar o nmero da pgina da qual se extraiu a citao essencial. Cuidado com o recorte de frases! Atentar para o contexto no qual elas esto inseridas.

    c) Fichamento de resumo: resume-se o contedo da leitura (partes ou todo).

    Metodologia da cincia 1 ALVES, Rubem. Filosofia da cincia: introduo ao jogo e suas regras. 15. ed. Brasiliense: So Paulo, 1992, captulo 01. P. 03-05 Esse texto reflete sobre a relao de semelhana entre senso-comum e a cincia. Analisa as imagens mais comuns sobre a cincia e o cientista. Defende que preciso superar a crena de que o cientista, em relao a outras pessoas comuns, pensa mais e melhor.

    Metodologia da cincia 1 ALVES, Rubem. Filosofia da cincia: introduo ao jogo e suas regras. 15. ed. Brasiliense: So Paulo, 1992. P. 11 - O cientista virou um mito. E todo mito perigoso, porque ele induz o comportamento e inibe o pensamento.

  • 17

    RESENHA: O que resenha, afinal? A resenha um trabalho crtico, exigente e criativo (MEDEIROS, 2000). Podem ser resenhados filmes, peas teatrais, livros literrios (romance, poesia etc.), livros acadmico-cientficos, artigos etc. Seu tamanho, em geral, varia de trs a seis pginas. H dois tipos de resenha: descritiva e avaliativa. O primeiro tipo geral, aparece em jornais e revistas de grande circulao. O segundo mais especfico, sendo a resenha realizada por especialistas da rea em questo, aparecendo em revistas acadmico-cientficas. A resenha compe-se de 3 partes bsicas: 1- Breve resumo inicial: apresentam-se o autor e o livro; as concluses/metodologia do autor, explicitando-se as teorias e os dados nos quais o autor se baseou; 2 - Apreciao crtica: avaliao da qualidade/consistncia. O resenhista posiciona-se, analisando-o (no usa ADJETIVOS ou Eu acho), comenta as fontes, teorias e autores mencionados; identifica os diversos tipos de contexto nos quais a obra est inserida: (histrico,social, poltico). A crtica deve seguir dois caminhos: a) interna (contedo da obra e significado analisados); b) externa (obra analisada nos contextos cultural e social nos quais foi produzida); 3 - Concluso: sntese ou elaborao de um texto que expresse de forma sinttica as idias originais. opcional a recomendao da leitura. A resenha deve fazer trs tipos de anlise: Anlise textual: pesquisa do vocabulrio e sondagem dos fatos apresentados e autoridade dos autores citados; estudam-se conceitos, termos empregados, dados histricos e teorias usadas; a seguir, elabora-se um rascunho; Anlise temtica: responde-se s seguintes questes: sob qual perspectiva o texto trata dos assuntos? Que problema o autor enfoca? Como soluciona? Que posio assume? Como demonstra o raciocnio? Anlise interpretativa: apresenta-se uma posio a respeito das idias do texto. Situa-se o autor em um contexto, respondendo-se s seguintes questes: qual a coerncia/originalidade do texto? Qual a contribuio que apresenta? O autor atinge o objetivo proposto? O que deixou de ser abordado? A abordagem foi adequada? A resenha digitada com as seguintes regras: Ttulo: a resenha PODE (ou no) ter ttulo prprio digitado em letras maisculas, tamanho 12, centralizadas, negritadas e entrelinhamento 1,5, na 3 linha. O subttulo (se houver) deve subordinar-se ao ttulo, com a mesma formatao, separado do ttulo por dois pontos. Autor: nome de quem fez a resenha, seguido de uma nota de rodap na primeira pgina, com o breve relato das credenciais do autor da resenha. Nome do autor digitado com recuo esquerdo de 8 cm (letras normais, 12, sem negrito, com entrelinhamento 1,5); entre o ttulo/subttulo e o autor, deixa-se uma linha em branco de espaamento (tamanho 12 e entrelinhamento 1,5).

  • 18

    Referncia: letra tamanho 12, alinhadas esquerda, entrelinhamento simples; entre o nome do autor da resenha e a referncia, deixa-se uma linha em branco de espaamento; o mesmo espaamento entre a referncia e o incio do texto. O texto da resenha escrito em letras normais, tamanho 12, justificadas e com entrelinhamento 1,5. Exemplo:

    CILENE, Emile. A falncia do modelo patriarcal de famlia. 3. ed. So Paulo: Graal, 2009, 40 pginas, 14 x 21 cm, ISBN 309868-89.

    Haver um futuro para a famlia tradicional? Renato Emlio1

    Emile Cilene, pesquisadora e sociloga francesa radicada no Brasil

    considerada um das melhores estudiosas da sociologia da famlia. Pesquisando estatsticas e desenvolvendo anlises longitudinais, o livro perturbador, para dizer o mnimo.

    Segundo Cilene, a famlia patriarcal tradicional est em constante e irremedivel declnio, constatao que aparece ao longo dos dez captulos da obra.

    Escrito originalmente na dcada de 1979, criativo, porm peca ao no citar as fontes. O livro escrito em uma postura ofensiva, sem atentar para a linguagem cientfica.

    Nos captulos iniciais, a famlia patriarcal demolida a golpes de psicanlise e sociologia. A famlia patriarcal fonte de neuroses e acumuladora de capital.

    Portanto, apesar de ser um clssico na sociologia das famlias, preciso ler com cuidado, pois falta ao autor, a linguagem cientfica exigida em um assunto to importante.

    ____________________________ 1 Mestre em Administrao, professor da Rede Doctum ou Aluno do 2 perodo do curso de Administrao das Faculdades Doctum de Caratinga.

    RESUMO: O que um resumo? Ele pode ser definido como uma apresentao sinttica e seletiva das idias de um texto, ressaltando a progresso e a articulao entre elas (MEDEIROS, 2000, p. 123). O que no resumir? Resumir no cpia, no substituio de um termo ou outro, no inverso da ordem da frase. Por fim, ele no deve apresentar crtica, pois, nesse caso, tornar-se-ia uma resenha. Os resumos so classificados em dois tipos bsicos: Resumo indicativo: resumo da idia principal. Digitado em bloco nico. (notas e comunicaes, orelhas de livros, artigos e trabalhos de concluso, relatrios tcnico-cientficos, dissertaes e teses);

    Referncia com os dados completos

    Ttulo de apresentao da resenha (opcional)

    Nome do resenhista, indicado por uma nota de rodap na primeira pgina.

    Introduo: panorama da obra.

    Concluso: posio e recomendao.

    Apresentao do autor e do livro.

    Credenciais do resenhista.

    Anlise, apreciao ou desenvolvimento.

  • 19

    Resumo informativo: expe finalidades, metodologia, resultados e concluses, podendo substituir a consulta ao texto original. Pode chegar cerca de 15% do texto completo. Como deve ser um bom resumo? Ao se resumir um livro (ou partes), um artigo etc., o texto deve ser redigido como um todo, com poucas divises internas e sem se imitarem as divises de captulos/itens do livro ou do texto. Quais so os principais itens de um resumo? Para que seja inteligvel, o resumo deve conter trs partes: 1 - Introduo: apresentao do autor do livro ou texto (credenciais, formao etc) e do livro (exposio geral das idias importantes e da estrutura do livro ou obra); 2 - Desenvolvimento: assunto do texto, objetivo, metodologia, critrios utilizados e a articulao das idias; 3 - Concluso: sntese dos principais argumentos do autor. Qual poderia ser o estilo de redao do resumo? Pode-se: a) Usar linguagem pessoal (busco apresentar neste trabalho...) ou impessoal (busca-se apresentar neste trabalho...), desde que ela seja uniforme ao longo de todo o trabalho; No usar adjetivos! Resumir comporta duas partes: 1. a compreenso do texto original; 2. a elaborao de um texto pessoal. Na construo da redao final do resumo, a idia do autor do texto original surge reelaborada. O principal instrumento disso a parfrase. O que parfrase? traduzir as palavras de um texto por outras de sentido equivalente, mantendo as idias originais (MEDEIROS, 2000, p. 151). Evite a parfrase de simples substituio, muito comum. As palavras so substitudas por termos equivalentes, ou inverte-se a ordem da frase. Exemplo: O problema, portanto, no realizar ou no as reformas, mas como realiz-las. Parfrase pobre: O problema como realizarem-se as reformas, no saber se vo ou no ser realizadas. Essa parfrase pobre, quase plgio. Segundo o dicionrio Aurlio, plgio significa Assinar ou apresentar como seu (obra artstica ou cientfica de outrem). A origem etimolgica da palavra ilustra o conceito que ela carrega: vem do grego (atravs do latim) plagios, que significa trapaceiro (...) (FERREIRA, 2004). Quais so os passos do resumo? PRIMEIRO - Ler atentamente: uma leitura de folheio e outra mais profunda (vocabulrio); SEGUNDO - Sublinhar as palavras-chave; TERCEIRO Aplicar, caso seja possvel, 3 itens: 1- Enxugamento: cortar todas as palavras no essenciais ou que no interfiram no sentido do texto; (cuidado com palavras de oposio: mas, contudo, todavia) 2 Generalizao: trocar elementos particulares por um elemento geral. Exemplo: Em um dia de domingo, Jos foi a feira comprar batata, chuchu, cenoura e nabo. Jos comprou legumes na feira.

  • 20

    3 Seleo: o texto relido e seleciona-se os termos definitivos; QUARTO Rascunho: elabora-se um rascunho sem ler o original. QUINTO - Depois se compara com o original, corrigi-se e se faz o definitivo. Diretrizes para a realizao de um Seminrio:

    O que um seminrio? O seminrio um procedimento que usa dinmica de grupo para estudo e pesquisa. Qual seu objetivo? Ele visa a aprofundar a reflexo sobre determinado problema a partir da utilizao de textos/equipes. um crculo de debates para o qual todos devem estar suficientemente preparados. Pode incluir o uso de recursos visuais Existem diverso tipos de seminrio? Sim, entre eles: 1- Seminrio temtico: os participantes apresentam trabalhos, diversificados quanto maneira de abordagem do tema, mas convergentes na temtica. Um seminrio sobre violncia, por exemplo, pode apresentar e discutir vises diferentes acerca do tema; nesse caso, pode-se lanar mo de outros recursos (vdeo, murais, smbolos etc.) desde que no exceda o tempo de apresentao do grupo; 2 - Seminrio de leitura/estudo de textos: escolhem-se diversos textos por tema, os quais todos os participantes devem ler, para que ocorra um bom debate. A lista das fontes precisa ser bem selecionada. No recomendvel a diviso de pginas de leitura ou captulos de uma mesma obra entre os membros do grupo. Isso dificulta a viso do todo. O ideal que todos leiam integralmente o texto e, depois, discutam. Quais os procedimentos importantes para a boa realizao de um seminrio?

    Cada equipe do seminrio tenha no mximo 5 ou 6 integrantes; A equipe deve reunir-se algumas vezes antes da apresentao, para melhor

    preparar o seminrio; A arrumao do local deve permitir o dilogo coletivo (disposio circular uma

    alternativa, entre outras); necessrio um texto-roteiro, escrito e distribudo com antecedncia aos

    participantes (pelo menos uma semana antes). O texto deve ter: apresentao geral (resumo do tema), esquema (tpicos), questes para debate (2 ou 3) e o trecho de um livro, artigo etc., que sirva de base s discusses;

    O coordenador do seminrio e distribui o tempo da apresentao de cada grupo (mximo 20 minutos) e realiza intervenes oportunas. O tempo deve ser dividido de forma a se contemplarem os seguintes momentos: breve apresentao inicial do tema, apresentao das questes norteadoras, amplo debate acerca do tema e breve concluso. O professor poder intervir nas exposies e debates sempre que julgar necessrio, pois o seminrio como juntar as peas de um grande quebra-cabea: cada um tem um pedacinho. Qualquer um do grupo pode fazer a pergunta inicial. O professor funciona apenas como juiz da partida (ALVES, 1999).

  • 21

    TEXTOS COMPLEMENTARES:

    TEXTO 01: http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/Leis/L9610.htm

    TEXTO 02: ERA DA INFORMAO OU DO LIXO ELETRNICO? Stephen Kanitz - administrador e economista.

    "Vigilncia epistmica" a preocupao que todos ns devamos ter com relao a tudo o que lemos, ouvimos e aprendemos de outros seres humanos, para no sermos enganados. Significa no acreditar em tudo o que escrito e dito por a, inclusive em salas de aula. Achar que tudo o que ouvimos verdadeiro, que nunca h uma segunda inteno do interlocutor, viver ingenuamente, com srias conseqncias para nossa vida profissional. Discordo profundamente desses gurus, estamos na realidade na "Era da Desinformao", de tanto lixo e "rudo" sem significado cientfico que nos so transmitidos diariamente por blogs, chats, podcasts e internet, sem a menor vigilncia epistmica de quem os coloca no ar. mais uma conseqncia dessa viso neoliberal de que todos tm liberdade de expressar uma opinio, como se opinies no precisassem de rigor cientfico e epistemolgico antes de ser emitidas. Infelizmente, nossas universidades no ensinam epistemologia, aquela parte da filosofia que nos prope indagar o que real, o que d para ser mensurado ou no, e assim por diante. Embora o ser humano nunca tenha tido tanto conhecimento como agora, estamos na "Era da Desinformao" porque perdemos nossa vigilncia epistmica. Ningum nos ensina nem nos ajuda a separar o joio do trigo. Foi por isso que as "elites" intelectuais da Frana, Itlia e Inglaterra no sculo XIV criaram as vrias universidades com catedrticos escolhidos criteriosamente, justamente para servir de filtros [...] H 500 anos ns, professores titulares, livres-docentes e doutores, nos preocupamos com o mtodo cientfico, a anlise dos fatos usando critrios cientficos, lgica, estatsticas de todos os tipos, antes de sair proclamando "verdades" ao grande pblico. Hoje, essa elite no mais lida, prestigiada, escolhida, entrevistada nem ouvida em primeiro lugar. Pelo contrrio, est lentamente desaparecendo, com srias conseqncias. Fonte do texto: Revista VEJA; So Paulo: Abril, edio 2028, ano 40, n 39, 3 de out. 2007, p. 20.

    LEITURA RECOMENDADA: DEMO, Pedro. Metodologia Cientfica em Cincias Sociais. 3 edio. So Paulo: Atlas, 1995. LAVILLE, C.; DIONE, J. A construo do saber: manual de metodologia da pesquisa em cincias humanas. Belo Horizonte: UFMG; Porto Alegre: Artes Mdicas, 1999. LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. Metodologia do trabalho cientfico. So Paulo: Atlas, 1992. MORIN, E. Cincia com conscincia. Rio de Janeiro: Bertrand do Brasil, 1996. SILVA, Jos Maria; SILVEIRA, Emerson Sena. Apresentao de Trabalhos Acadmicos: normas e tcnicas. Juiz de Fora: Juizforana, 2002.

  • 22

    AULA 03: A Cincia e o Conhecimento nas suas mltiplas interaes Apontamentos sobre o Conhecimento Humano

    OBJETIVOS: * Reconhecer a importncia do conhecimento para o desenvolvimento pessoal e profissional. * Identificar a importncia do conhecimento para o desenvolvimento de uma nao. * Identificar os tipos de conhecimento existentes diferenciando-os do conhecimento cientfico a partir da caracterizao dos mesmos; * Compreender os conceitos dos tipos de conhecimento e sua aplicabilidade na construo da cincia O Conhecimento Humano e seu Foco Histrico...

    Antes de tudo, necessria a compreenso de que o conhecimento a incorporao de uma explicao nova, ou original, ou a reviso de alguma outra explicao sobre um determinado fato, fenmeno ou evento.

    Disto decorre que o conhecimento no nasce do vazio, mas das atividades

    humanas, de suas experincias cotidianas. Por isso o homem o nico ser capaz de criar, produzir e transformar conhecimento, bem como aplic-lo em diferentes meios e situaes visando a melhoria da condio humana.

    Nesse processo, criamos sistemas simblicos, como a linguagem, do qual nos utilizamos para registrar nossas prprias experincias e repass-las aos outros. Por essa razo, o conhecimento cientfico deve ser entendido como uma forma de conhecimento, mas no a nica, pois se trata de uma linguagem (ou sistema simblico) prpria para o registro e transmisso das experincias humanas. Os Tipos de Conhecimento...

    Conhecer atividade fundamental e importante para as cincias em geral, para os homens, para as organizaes. Na vida pessoal e profissional.

    Mas como se conhece? Com o possvel ter certezas sobre o que se conhece?

    Quais so os tipos de conhecimento? So perguntas importantes para adentrar na metodologia, ou seja, no caminho

    que conduz ao conhecimento.

    POR ONDE A GENTE APRENDE E CONHECE? Pense nas situaes abaixo:

  • 23

    Um grupo de guerreiros indgenas toma cuidado quando colocam a canoa na gua porque crem que se ela balanar no tero xito na pesca;

    Um homem anda pelo mato, corta um galho na forma da letra V, levando-o suspenso acima do solo procurando fontes de gua;

    Um mdico percorre as pginas de um livro de Dermatologia tentando identificar uma erupo na pele de um paciente; Cada uma dessas pessoas procura soluo e explicao. Suas fontes de "verdade".

    E, em termos metodolgicos, quais poderiam ser as fontes da verdade ou das verdades? Intuio: qualquer lampejo de introviso (certa ou errada) cuja fonte o receptor no pode ou no consegue identificar/explicar totalmente. Ex.: Galeno, mdico grego do sculo II d. C.. Preparou um mapa do corpo humano que mostrava onde poderia ser penetrada a pessoa humana que houvesse ferimento fatal. Como sabia? Apenas sabia. Autoridade: legitima a massa de experincia e de conhecimento. Ex.: Galeno, mdico grego foi citado e usado como fonte verdadeira at cerca de 1800 pelos mdicos. Outra autoridade na rea dos conhecimentos em geral foi Aristteles. Uma autoridade no descobre novas verdades, mas pode sufocar ou impedir a investigao e a descoberta de outras. Ex: A Inquisio Catlica, O Partido Comunista etc. Mas a autoridade um ponto de referncia. Por qu? Grande quantidade de conhecimentos = os indivduos no dominam todo contedo = os especialistas que coletaram conhecimento em determinado campo. Autoridade pode ser: Autoridade religiosa ou sagrada, que surge da f, da tradio ou de documentos sagrados: Bblia, Alcoro ou Tradio oral; Autoridade secular, que surge do acmulo da tradio no-religiosa por meio da literatura ou das comprovadas investigaes cientficas. Subdividida em: cientfica secular e humanista secular. a) Tradio e costumes: Caracteriza-se pelo acmulo de experincias e informaes. Porm preserva tanto sabedoria como informaes inteis. b) Bom senso: podem ser definidas como um grupo de idias formuladas pela observao e experincia assistemtica, sem controle cientfico. Elas frequentemente

  • 24

    resultam em auto-engano, pois alega-se que no precisam de provas ou ento que j forma provadas. No resistem a uma anlise cientfica mais eficaz. Leia os exemplos:

    O carter de uma pessoa transparece no rosto; Quem trapaceia nas cartas trapaceia nos negcios; A literatura pornogrfica encoraja crimes e perverses sexuais;

    Esses ditados populares so apenas impresses, pois a investigao cientfica constata que:

    No existe correlao definida entre as caractersticas faciais e as da personalidade

    A honestidade em uma situao pouco diz sobre o comportamento de uma pessoa em outra

    No existe correlao entre o consumo de literatura pornogrfica e comportamento sexual socialmente desaprovado.

    Bom senso e tradio esto juntas e formam o saber tradicional de um povo. O chamado conhecimento popular ou senso comum. A distino entre os dois tipos de fontes de verdade a seguinte: a primeira seriam as verdades aceitas sem critica (recentes ou antigas) e a segunda seriam as verdades que a muito tempo se acreditam que sejam assim.

    O bom senso rene observaes prticas da vida social. Muitas vezes se baseiam em ignorncia, preconceito e interpretao errnea. Ex.: o europeu medieval observando que os pacientes febris estavam livres de piolhos, o que no ocorria com os outros tiraram concluses do bom senso de que o piolho curava a febre e por isso salpicavam de piolhos a cabea dos pacientes febris. CONSTRUINDO CONCEITOS A PARTIR DOS TIPOS DE CONHECIMENTO:

    Conhecimento Popular

    Conhecimento Filosfico

    Conhecimento Religioso

    (Teolgico)

    Conhecimento Cientfico

    Valorativo Reflexivo

    Assistemtico Verificvel

    Falvel Inexato

    Valorativo Racional

    Sistemtico No verificvel

    Infalvel Exato

    Valorativo Inspiracional Sistemtico

    No verificvel Infalvel

    exato

    Real (factual) Contingente Sistemtico Verificvel

    Falvel Aproximadamente

    exato

    Fonte: (TRUJILLO,1974)

  • 25

    Conhecimento Popular:

    Pelo conhecimento emprico, a pessoa percebe entes, objetos, fatos e fenmenos e sua ordem aparente, tem explicaes concernentes razo de ser das coisas e das pessoas. Esse conhecimento constitudo de interaes, de experincias vivenciadas pela pessoa em seu cotidiano e de investigaes pessoais feitas ao sabor das circunstncias da vida; sorvido dos outros e das tradies da coletividade ou, ainda, tirado de uma religio positiva (CERVO; BERVIAN; SILVA apud IBE, 2010, p.05).

    A pessoa comum, que no precisa operacionalizar mtodos e tcnicas

    cientficas para a construo de seu conhecimento, tem, entretanto, conhecimento do mundo material exterior em que se acha inserida e de um certo nmero de pessoas, seus semelhantes, com as quais convive. V essas pessoas no momento presente, lembra-se delas, prev o que podero fazer e ser no futuro. Tem conscincia de si mesma, de suas ideias, tendncias e sentimentos. Cada qual se serve da experincia do outro ora ensinando, ora aprendendo, em um intenso processo de interao humana e social. Pela vivncia coletiva, os conhecimentos so transmitidos de uma pessoa a outra e de uma gerao a outra. (IBE, 2010, p.05) Conhecimento Filosfico:

    Distingue-se do conhecimento cientfico pelo objeto de investigao e pelo mtodo. O objeto das cincias so os dados prximos, imediatos, perceptveis pelos sentidos ou por instrumentos, pois, sendo de ordem material e fsica, so suscetveis de experimentao. O objeto da filosofia constitudo de realidades mediatas, imperceptveis aos sentidos e que, por serem de ordem suprassensveis, ultrapassam a experincia. A ordem natural do procedimento , sem dvida, partir dos dados materiais e sensveis (cincia) para se elevar aos dados de ordem metafsica, no sensveis, razo ltima da existncia dos entes em geral (filosofia). Parte-se do concreto material para o concreto supramaterial, do particular ao universal (CERVO; BERVIAN; SILVA apud IBE, 2010, p.06).

    Para (SOUZA; FIALHO; OTONI, apud IBE, 2010, p. 08) o conhecimento filosfico se caracteriza pelo esforo da razo em questionar os problemas humanos. Reflete a crena de um grupo de pessoas que so os filsofos. A postura destes especulativa diante dos fenmenos gerando conceitos subjetivos. Eles do sentido aos fenmenos gerais do universo, ultrapassando os limites formais da cincia. Conhecimento Religioso ou Teolgico:

    Apoia-se em doutrinas que contm proposies sagradas (valorativas), por terem sido reveladas pelo sobrenatural e que, por esse motivo, so consideradas infalveis e indiscutveis. (IBE, 2010, p.08)

    O que funda o conhecimento religioso a f. No preciso ver para crer e

    devemos crer mesmo que as evidncias apontem para o contrrio do que a religio nos ensina. As verdades religiosas esto registradas em livros sagrado ou so

  • 26

    reveladas pelos deuses (ou outros seres espirituais) por meio de alguns iluminados, santos ou profetas. Essas verdades so em geral tidas como definitivas e no permitem reviso mediante a reflexo ou a experincia. Nesse sentido, podemos classificar sob esse ttulo os conhecimentos ditos msticos ou espirituais (MATTAR apud IBE, 2010, p.08). Conhecimento Cientfico:

    Ultrapassa os limites do conhecimento emprico na medida em que procura evidenciar, alm do prprio fenmeno, as causas e a lgica de sua ocorrncia. O conhecimento cientfico, assim como o filosfico, racional, mas tem a pretenso de ser sistemtico e de revelar aspectos da realidade. As noes de experincia e verificao so essenciais nas cincias; o conhecimento cientfico deve ser justificado e sempre passvel de reviso, desde que se possa provar sua inexatido. Entretanto, no devemos esquecer que a Matemtica, por exemplo, considerada por muitos uma cincia, apesar de grande parte de seus conhecimentos no se referir diretamente realidade e no poderem ser por ela provados ou refutados. (IBE, 2010, p. 09).

    Para o conhecimento cientfico a nica autoridade a reflexo, a critica, a

    testagem e a verificao, mesmo se aplicadas contra ela mesma. Alis, isso a principal diferena do conhecimento cientfico para outros tipos de conhecimento: a capacidade de colocar o conhecimento como algo provisrio, sujeito a uma futura superao.

    Para Jos Carlos Rodrigues:

    o que faz do cientista um cientista , sobretudo, a conscincia que tem do carter acientfico da cincia. Ele no acredita no mito da cincia e exatamente essa desconfiana o que lhe permite exigir mtodos cada vez mais rigorosos, teorias crescentemente explicativas e bem formuladas, pontos de vista intelectuais sempre mais flexveis, diversificados e abrangentes [...] Criticando-se continuamente, utilizando a prpria debilidade como fora maior, a cincia se faz.

    O fiel acredita no mito de sua religio, inclusive pensando que no se trata de mito, mas da verdade. Os mitos so as crenas e os conhecimentos dos outros, a minha crena e meu conhecimento so verdadeiros e, portanto, fora de dvida e questo....

    Algum outro tipo de conhecimento (religioso, teolgico, popular, tradicional) capaz de se repensar e pensar, duvidar de si e buscar novas perguntas, sempre?

    O problema quando este argumento, o da confiana e da autoridade, invocado para desqualificar indivduos ou grupos. No entanto, mesmo os cientistas e professores-pesquisadores podem us-lo...

  • 27

    Por isso, de golpes e contragolpes vive a Cincia. Outros pensadores surgiram e

    golpearam as idias dos trs homens mencionados acima. Por exemplo: Karl Popper.

    Para ele, o mtodo indutivo, base da Cincia Moderna (observao de fatos particulares, anlise com a descoberta de padres e posterior generalizao que se torna lei) falho. Suponha-se que se observem e se analisem patos. Todos os mil patos observados durante a experincia eram brancos com bolinhas pretas. Com base nessas premissas (aplicando testes, experimentos e fazendo reverificaes) conclui-se: os patos so brancos com bolinhas pretas.

    Mas basta aparecer um com bolinhas roxas (e de repente, mais outro, mais outro...) que a teoria dos patos vai precisar ser revisada. Nada na razo humana garante (100%) que no v aparecer ou que no exista um pato com bolinhas roxas. Em outras palavras, a cincia no se move nas certezas, mas nas PROBABILIDADES.

    E aqui vale uma lio dos livros de investigao policial: o improvvel no impossvel.

    Quanto a Marx e a Freud, Popper diz que muitos (no todos) de seus postulados no so conhecimentos cientficos, mas um tipo de saber, uma mitologia, meta-narrativas ou outra coisa (menos cincia) por que no so FALSIFICVEIS.

    O que quer dizer essa palavra complexa? Quer dizer que no podem ser submetidos a uma prova de refutao, a testes rigorosos, a tentativas de refutao, em outras palavras, so crenas: ou se acredita ou no se acredita. Mais ou menos como um credo religioso. O que hoje se pensa a respeito dessa diversidade de conhecimentos? PRIMEIRO: no h hierarquia de fato, ou seja, um no superior ao outro, todos so formas de compreender a complexa realidade que envolve todos os seres humanos, embora haja grupos que consideram um ou outro melhor; SEGUNDO: o positivismo, que via no conhecimento cientfico a suprema realizao do homem e a necessidade deste de subjugar os outros tipos, acabou sendo questionado tanto nas cincias humanas, quanto nas cincias naturais; TERCEIRO: as relaes entre os conhecimentos so complexas, no so de total negao e conflito e tambm de total aprovao e harmonia. No entanto, em alguns momentos na histria e nas sociedades, os conhecimentos travam violenta disputa, por exemplo: a condenao de Galileu perante o papado em Roma ou uma, menos conhecida, como a do mdico espanhol Miguel de Servet diante de Calvino, um dos lderes da Reforma Protestante.

  • 28

    QUARTO: so conhecimentos simultneos e, muitas vezes, passamos de um para o outro sem perceber. Se o movimento de trnsito percebido, porque se faz um esforo de pesquisa e de reflexo sobre as prticas dirias.

    Alguns dizem que a cincia deve ser engajada nas mudanas: deve dizer o que fazer, deve assumir uma postura real e ajudar na socializao dos conhecimentos (evitar ou diminuir a formao de elites do saber; promover a diminuio da desigual distribuio da tecnologia), na emancipao do sujeito (contribuir efetivamente para que as pessoas sejam autnomas social e politicamente) e na mudana social (atuar na busca do desenvolvimento social e econmico para todos).

    Outros pensam que ela deve buscar objetividade e neutralidade, embora no sejam de todo alcanveis, e que os cientistas que devem fazer, por sua conta e risco, opes e propostas. Os Nveis de Conhecimento...

    Em se tratando do conhecimento cientfico, identificamos pelo menos trs nveis para sua abordagem: o nvel ontolgico ou cosmogolgico, o nvel epistemolgico ou das teorias do conhecimento e o nvel metodolgico.

    TEXTOS COMPLEMENTARES:

    TEXTO 01: A realidade como ponto de partida para a construo do conhecimento

    , pois, a realidade o ponto focal do processo de construo do conhecimento. Assim, preciso compreender o que a realidade enquanto objeto de estudo, pois ela no algo que se constri fora da relao com o sujeito. Ao contrrio, na interao com o sujeito que ela significada. Por isso, cada sujeito a representa de forma diferenciada, pois as interaes no se repetem, dependem da temporalidade scio-histricas em que o sujeito se insere. Numa via de mo dupla, realidade e sujeitos se constroem mutuamente e pela relao que se estabelece entre eles. A interrogao sobre a realidade sempre feita a partir de um ponto de vista, social e historicamente determinado. Nesse sentido, podemos dizer que o conhecimento social e historicamente construdo. Ele uma forma de compreender e significar o mundo e a vida. o que pode ser lido na histria da cincia, seja no campo das cincias da natureza, seja no campo das cincias sociais. Seja passando por Aristteles, Newton ou Einstein, seja passando por Descartes, Marx, Weber ou Freud. O ponto comum entre eles a interrogao incessante na busca de compreenso da realidade, tanto natural, quanto social. Tem-se, portanto, como ponto de partida, na produo do conhecimento, um ponto de vista sobre o qual se exerce uma ao reflexiva utilizando-se de informaes tericas j produzidas, mas sempre desdogmatizando-se, para se permitir construir outros conhecimentos necessrios compreenso da realidade. Disso decorre que o conhecimento sobre um determinado objeto pode ter diversas verses, dependendo de quem o conhece, quando o conhece e para busca conhec-lo.

  • 29

    Estar atento s perguntas, aos pontos de vistas , portanto, promover a construo do conhecimento comprometido com os problemas sociais, culturais, econmicos e polticos do contexto vivido, traduzindo-o em produtos e processos teis para a sociedade em geral. Isso significa romper com a representao segundo a qual o lugar de produo, circulao e utilizao de conhecimento , essencialmente, a comunidade acadmica. A pesquisa a atividade bsica da cincia na sua indagao e construo da realidade. a pesquisa que alimenta a construo do conhecimento e o atualiza frente realidade do mundo. Sendo assim, o ato de pesquisar direcionado pela aquisio de um conhecimento que possibilita a soluo e a explicao de fenmenos e problemas prticos da realidade cotidiana vivenciada pelo homem. O problema, portanto, a base, o incio da investigao: uma dvida, uma questo, uma pergunta, que demanda a criao de novos referenciais. Como afirma Einstein a formulao de um problema mais essencial que sua soluo. Isto porque a cincia no tem por finalidade descrever a realidade, mas lanar perguntas para resignific-la. (RIBEIRO, Lusia Pereira e VIEIRA, Martha Loureno. Fazer pesquisa um problema? Belo Horizonte: Lpis Lazuli, 1999).

    TEXTO 02: A Cincia

    Do medo Cincia A evoluo humana corresponde ao desenvolvimento de sua inteligncia. Sendo

    assim podemos definir trs nveis de desenvolvimento da inteligncia dos seres humanos desde o surgimento dos primeiros homindeos: o medo, o misticismo e a

    cincia.

    a) O medo: Os seres humanos pr-histricos no conseguiam entender os fenmenos da natureza. Por este motivo, suas reaes eram sempre de medo: tinham medo das

    tempestades e do desconhecido. Como no conseguiam compreender o que se passava diante deles, no lhes restava outra alternativa, seno o medo e o espanto

    daquilo que presenciavam.

    b) O misticismo: Num segundo momento, a inteligncia humana evoluiu do medo para a tentativa

    de explicao dos fenmenos atravs do pensamento mgico, das crenas e das supersties. Era, sem dvida, uma evoluo j que tentavam explicar o que viam.

    Assim, as tempestades podiam ser fruto de uma ira divina, a boa colheita da benevolncia dos mitos, as desgraas ou as fortunas do casamento do humano com o

    mgico.

    c) A cincia: Como as explicaes mgicas no bastavam para compreender os fenmenos os seres humanos finalmente evoluram para a busca de respostas atravs de caminhos

    que pudessem ser comprovados. Desta forma, nasceu a cincia metdica, que

  • 30

    procura sempre uma aproximao com a lgica. O ser humano o nico animal na natureza com capacidade de pensar. Esta

    caracterstica permite que os seres humanos sejam capazes de refletir sobre o significado de suas prprias experincias. Assim sendo, capaz de novas descobertas

    e de transmiti-las a seus descendentes. O desenvolvimento do conhecimento humano est intrinsecamente ligado sua

    caracterstica de viver em grupo, ou seja, o saber de um indivduo transmitido a outro, que, por sua vez, aproveita-se deste saber para somar outro. Assim evolui a

    cincia.

    A evoluo da Cincia Os egpcios j tinham desenvolvido um saber tcnico evoludo, principalmente nas reas de matemtica, geometria e na medicina, mas os gregos foram provavelmente

    os primeiros a buscar o saber que no tivesse, necessariamente, uma relao com atividade de utilizao prtica. A preocupao dos precursores da filosofia (filo =

    amigo + sofia (sphos) = saber e quer dizer amigo do saber) era buscar conhecer o porque e o para que de tudo o que se pudesse pensar.

    O conhecimento histrico dos seres humanos sempre teve uma forte influncia de crenas e dogmas religiosos. Mas, na Idade Mdia, a Igreja Catlica serviu de marco referencial para praticamente todas as idias discutidas na poca . A populao no

    participava do saber, j que os documentos para consulta estavam presos nos mosteiros das ordens religiosas.

    Foi no perodo do Renascimento, aproximadamente entre o sculos XV e XVI (anos 1400 e 1500) que, segundo alguns historiadores, os seres humanos retomaram o prazer de pensar e produzir o conhecimento atravs das idias. Neste perodo as

    artes, de uma forma geral, tomaram um impulso significativo. Neste perodo Michelangelo Buonarrote esculpiu a esttua de David e pintou o teto da Capela

    Sistina, na Itlia; Thomas Morus escreveu A Utopia (utopia um termo que deriva do grego onde u = no + topos = lugar e quer dizer em nenhum lugar); Tomaso

    Campanella escreveu A Cidade do Sol; Francis Bacon, A Nova Atlntica; Voltaire, Micrmegas, caracterizando um pensamento no descritivo da realidade, mas criador

    de uma realidade ideal, do dever ser. No sculo XVII e XVIII (anos 1600 e 1700) a burguesia assumiu uma caracterstica prpria de pensamento tendendo para um processo que tivesse imediata utilizao

    prtica. Com isso surgiu o Iluminismo, corrente filosfica que props "a luz da razo sobre as trevas dos dogmas religiosos". O pensador Ren Descartes mostrou ser a

    razo a essncia dos seres humanos, surgindo a frase "penso, logo existo". No aspecto poltico o movimento Iluminista expressou-se pela necessidade do povo

    escolher seus governantes atravs de livre escolha da vontade popular. Lembremo-nos de que foi neste perodo que ocorreu a Revoluo Francesa em 1789.

    O Mtodo Cientfico surgiu como uma tentativa de organizar o pensamento para se chegar ao meio mais adequado de conhecer e controlar a natureza. J no fim do

    perodo do Renascimento, Francis Bacon pregava o mtodo indutivo como meio de se produzir o conhecimento. Este mtodo entendia o conhecimento como resultado de

    experimentaes contnuas e do aprofundamento do conhecimento emprico. Por outro lado, atravs de seu Discurso sobre o mtodo, Ren Descartes defendeu o

    mtodo dedutivo como aquele que possibilitaria a aquisio do conhecimento atravs

  • 31

    da elaborao lgica de hipteses e a busca de sua confirmao ou negao. A Igreja e o pensamento mgico cederam lugar a um processo denominado, por

    alguns historiadores, de "laicizao da sociedade". Se a Igreja trazia at o fim da Idade Mdia a hegemonia dos estudos e da explicao dos fenmenos relacionados vida, a

    cincia tomou a frente deste processo, fazendo da Igreja e do pensamento religioso razo de ser dos estudos cientficos.

    No sculo XIX (anos 1800) a cincia passou a ter uma importncia fundamental. Parecia que tudo s tinha explicao atravs da cincia. Como se o que no fosse

    cientfico no correspondesse a verdade. Se Nicolau Coprnico, Galileu Galilei, Giordano Bruno, entre outros, foram perseguidos pela Igreja, em funo de suas

    idias sobre as coisas do mundo, o sculo XIX serviu como referncia de desenvolvimento do conhecimento cientfico em todas as reas. Na sociologia

    Augusto Comte desenvolveu sua explicao de sociedade, criando o Positivismo, vindo logo aps outros pensadores; na Economia, Karl Marx procurou explicar a relaes sociais atravs das questes econmicas, resultando no Materialismo-

    Dialtico; Charles Darwin revolucionou a Antropologia, ferindo os dogmas sacralizados pela religio, com a Teoria da Hereditariedade das Espcies ou Teoria da

    Evoluo. A cincia passou a assumir uma posio quase que religiosa diante das explicaes dos fenmenos sociais, biolgicos, antropolgicos, fsicos e naturais.

    A neutralidade cientfica

    sabido que, para se fazer uma anlise desapaixonada de qualquer tema, necessrio que o pesquisador mantenha uma certa distncia emocional do assunto abordado. Mas ser isso possvel? Seria possvel um padre, ao analisar a evoluo

    histrica da Igreja, manter-se afastado de sua prpria histria de vida? Ou ao contrrio, um pesquisador ateu abordar um tema religioso sem um conseqente

    envolvimento ideolgico nos caminhos de sua pesquisa? Provavelmente a resposta seria no. Mas, ao mesmo tempo, a conscincia desta realidade pode nos preparar para trabalhar esta varivel de forma que os resultados

    da pesquisa no sofram interferncias alm das esperadas. preciso que o pesquisador tenha conscincia da possibilidade de interferncia de sua formao

    moral, religiosa, cultural e de sua carga de valores para que os resultados da pesquisa no sejam influenciados por eles alm do aceitvel.

    PEDAGOGIA EM FOCO. Disponvel em http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/met00.htm.

    LEITURA RECOMENDADA: CERVO, Amado L.; BERVIAN, Pedro A.; SILVA, Roberto da. Metodologia cientfica. 6 ed. So Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007. CHAU, Marilena. A Cincia na histria. In:_____, Convite filosofia. So Paulo: tica, 1993. DEMO, Pedro. Princpio cientfico e educativo. 8 ed. So Paulo, Cortez, 2001. MOREIRA, Herivelto; CALEFFE, Luiz Gonzaga. Metodologia da pesquisa para o professor pesquisador. 2 ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2008. SANTOS, A. R. dos. Metodologia cientfica: a construo do conhecimento. 6. ed. Rio de Janeiro: DP & A, 2004.

  • 32

    AULA 04: A Cincia e o Conhecimento nas suas mltiplas interaes Apontamentos sobre a Cincia.

    OBJETIVOS: * Reconhecer a importncia da cincia para o desenvolvimento humano a partir da histria do progresso cientfico; * Estabelecer as diferenas entre a cincia e o senso-comum; * Caracterizar o conhecimento cientfico e sua aplicabilidade na prtica universitria; * Identificar os variados tipos e concepes de cincia estabelecendo diferenas e semelhanas entre suas abordagens; CONTEDO:

    Pode-se afirmar ter sido a intrnseca inquietude/curiosidade humana em relao aos fenmenos, fatos e eventos presentes em nossa realidade, no sentido de levantar perguntas e problemas e buscar-lhes respostas/explicaes, que realizou o parto da cincia ou ento do mtodo cientfico, ou melhor, dos mtodos cientficos, pois essa categoria dever ser compreendida enquanto uma definio filosfico-abstrata ligada concepo de cincia da qual, o pesquisador parte para realizar seus estudos.

    H 2.500 anos na Grcia, Scrates acendeu uma chama que percorre

    continuamente a histria humana. Essa atitude foi levada adiante por pensadores e cientistas do porte de Leonardo da Vinci, Nicolau Coprnico, Charles Darwin e Albert Einstein. Mas no s, tambm grandes lderes como Gandhi e Martin Luther King.

    Alguns atribuem a Scrates a frase: Sem pensar na vida no vale a pena viver.

    Mas pensar de qualquer jeito? No. Pensar com mtodo. No de qualquer jeito ou qualquer maneira. Por isso

    mtodo o caminho escolhido para se alcanar conhecimento, verdade, compreenso.

    Na vida profissional, pessoal, na vida acadmica e tambm na cincia, comear

    de qualquer jeito, continuar de qualquer jeito no vale a pena.... Porque Scrates? Ele foi o primeiro a introduzir um mtodo com base na razo,

    questionando mitos. O que se procura?

    Respostas para determinados tipos de pergunta; E respostas que sejam verdadeiras e no falsas.

    Aqui, a coisa fica complicada. O que a verdade? Na histria do Ocidente,

    desde a Grcia, existem trs concepes de verdade distintas, que se formaram ao longo das experincias, reflexes e pesquisas das civilizaes e povos:

  • 33

    Concepo grega (aletheia) - o que no oculto, dissimulado, mas aquilo que se manifesta ao corpo e a alma. Ope-se ao falso, pois a verdade e o verdadeiro esto nas coisas, na realidade, e no no sujeito. Em outras palavras, a verdade est no mundo e preciso descobri-la. A verdade o espelho da realidade; Concepo latina (veritas) relaciona-se ao rigor, a exatido de um relato, aos detalhes. Depende da memria. A verdade est na linguagem e depende da forma como se enuncia. A realidade corresponde ao que dela se diz. Concepo hebraica (emunah), retomada pelo cristianismo relaciona-se a confiana e ao pacto. Por isso a idia central a revelao: a verdade revelada, pois se confia e se espera. A autoridade faz o pacto, depositria da confiana (sacerdotes em geral, escrituras sagradas, etc.). Cada uma dessas concepes pode-se dizer, apresenta impactos positivos e negativos, apontados a seguir:

    Na concepo grega: o impacto positivo a necessidade de investigar a realidade para desvel-la, tirar os vus que a ocultam, recusando-se a atribuir dimenso sobrenatural (de qualquer espcie) a causa da realidade. O impacto negativo a confiana absoluta no conhecimento como espelho da realidade, o que hoje as teorias e prticas cientficas tm mostrado que a teoria no espelho da realidade, no h correspondncia perfeita, mas aproximada, entre teoria e realidade;

    Na concepo latina: o impacto positivo a preocupao com a memria e a exatido da linguagem usada para descrever a realidade. O impacto negativo a crena de que a linguagem independente da realidade e que basta falar para acontecer;

    Na concepo hebraico-crist: o impacto positivo a possibilidade de construir comunidades e consensos mais duradouros e estveis. O impacto negativo o bloqueio da crtica e da investigao devido a uma confiana absoluta em algum tipo de autoridade (refratria autocrtica e a outros pontos de vista que no o sancionado como legtimo): do padre, pastor, do guru, do sacerdote, do prprio cientista e de suas prprias instituies, das igrejas, dos templos, das instituies, do mercado etc.

    Essas concepes se entrelaaram na histria das cincias. Muitos paradigmas e metodologias tm como pressuposto oculto uma ou vrias dessas concepes.

    Apesar de semelhantes, elas possuem diferenas e podem entrar em conflito,

    por exemplo, a questo entre o criacionismo (o mundo foi criado: verdade como emunah) e o evolucionismo (o mundo decorre de uma evoluo: verdade como aletheia). Tais noes se misturam tanto, que difcil dizer onde comea uma e termina outra....

    Um exemplo so empresas que anunciam em propagandas produtos com

    depoimentos de cientistas ou de pesquisas:

  • 34

    UMA CURIOSIDADE

    J reparou que a propaganda de alguns produtos usa o argumento da autoridade e da confiana a partir da prpria cincia e do cientista? As propagandas de sabo em p, vitaminas, suplementos alimentares e pasta de dente, vm, s vezes, com homens de jaleco branco: qumicos, odontlogos, mdicos, calados em porcentagens e estatsticas, que caem sobre o colo dos consumidores....

    BUSCANDO AS MESMAS COISAS: CINCIA E SENSO-COMUM

    Depois dos tipos de verdade, quais os tipos de pergunta so fundamentais para a busca do verdadeiro? E aqui o livro de Rubem Alves, Filosofia da Cincia, mostra, de forma ldica, que os processos de busca e procura da cincia e da sabedoria popular ou do chamado senso-comum, so basicamente os mesmos...

    No entanto, os velhos manuais sempre insistem na enorme distncia entre as

    duas formas de pergunta e de busca de respostas: da cincia e do senso-comum. Existem diferenas profundas, mas tambm semelhanas. DIFERENAS: 1 o senso comum acredita em magia, supersticioso, subjetivo e emotivo. 2 a cincia no cr em magia, procura explicar tudo com base na razo, busca separar emoo da racionalidade e colocar o foco na compreenso ou na explicao.

    Talvez a chave para superar as resistncias e as incompreenses que a cincia e a metodologia sofrem algumas vezes entre alunos e mesmo professores partir das semelhanas...

    No senso-comum, a pergunta motivada por algo que no funciona, uma emergncia, um imprevisto, um acidente, algo que QUEBRA a continuidade, aparente, das coisas.

    Nas palavras de Rubem Alves (1992, p. 23) o defeito que faz a gente pensar, pois quando no h problemas, apenas celebramos. E mais adiante: Quem no capaz de perceber e formular problemas com clareza, no capaz de fazer cincia (ALVES, 1992, p. 23). A Cincia usada no singular e em letra maiscula. O que isso quer dizer? O que isso oculta? PRIMEIRO: O uso do termo no singular e em letra maiscula significa um tipo de conhecimento na histria do homem como um conhecimento que PRODUZ resultados, seguro, objetivo, racional e legtimo.

  • 35

    SEGUNDO: Essa condio esconde que a Cincia possui uma histria com uma enorme pluralidade interna.

    A histria longa, mas possvel lanar noes sobre ela. Existem trs concepes de cincia: Concepo Racionalista (busca da objetividade)

    Inicia-se com os gregos e tem seu auge no sculo XVII; Baseia-se no mtodo dedutivo; A cincia conhecimento em que h perfeita correspondncia entre verdade e

    Realidade, ou seja, a teoria cientfica explica e representa a realidade tal como ela ; Exemplo: matemtica.

    Concepo Empirista (busca da verificao)

    A cincia uma forma de conhecimento baseada em experincias controladas e em observaes sistemticas;

    Inicia-se com a medicina grega de Galeno e atinge o pice no sculo XIX; Baseia-se no mtodo indutivo; Tambm possui a idia de que a teoria explica e representa a realidade tal

    como ela . Concepo Construtivista (construo de modelos aproximativos da realidade)

    Baseia-se na conjugao/combinao dos mtodos anteriores, com a noo de que a realidade algo sobre o que se pode, no mximo, construir modelos aproximativos de compreenso e nunca modelos perfeitos e acabados;

    Tem incio a partir das crticas aos modelos anteriores e comea no sculo XX;

    A realidade pode mudar a teoria cientfica, assim como esta a realidade; A representao da realidade nunca ser um retrato exato.

    No sculo XIX, houve uma diviso defendida por muitos cientistas: a suposta e

    radical separao entre cincias humanas e exatas/naturais. As primeiras:

    Lidariam com fenmenos (sociais, polticos, culturais) em que o homem sujeito/objeto, ao mesmo tempo, lanando mo de instrumentos qualitativos e quantitativos;

    Procurariam mais do que explicar, procurariam compreender os atos e os fatos humanos: qualquer fenmeno humano/social contm muitas possibilidades de interpretao, alm do que preciso levar em conta, na anlise, as intenes e significados que os homens atribuem aos fatos.

  • 36

    As segundas: Lidariam com fatos, dados e fenmenos que ocorrem independente do

    homem, valendo, portanto, a diviso entre sujeito e objeto; Procurariam explicar as causas supostamente objetivas dos fenmenos,

    lanando mo de instrumentos quantitativos. Na histria das cincias, temos grandes revolues ou mudanas radicais de

    paradigmas e postulados. Quando isso ocorre, um mundo ou a realidade parece desaparecer sob um cataclismo ou terremoto. Assim ocorreu com Newton, com Galileu com Einstein. Hoje, a grande revoluo motivada pela mudana de nfase proporcionada pela fsica moderna e pela teoria da linguagem. E no que consiste?

    A teoria quntica e a fsica da relatividade trouxeram de volta da Grcia a idia de indeterminao, do acaso e do caos.

    Em resumo: o princpio da indeterminao, criado pelo fsico Heisenberg diz

    que impossvel, no nvel das partculas, conhecer-se o estado seguinte da matria baseado na observao do estado atual. Um golpe no determinismo cientfico. CINCIA BSICA E APLICADA.

    Para cada ramo da cincia, possvel dispor de um exemplo especfico. Mas tome-se um exemplo das cincias humanas e sociais aplicadas.

    Bsica (sociologia, por exemplo): Quais as causas do aumento de homicdios entre jovens moradores de grandes e mdias cidades brasileiras? Essa pergunta gera a pesquisa bsica. Com os dados da pesquisa bsica, posso reunir condies para planejar e intervir sobre a realidade;

    Aplicada (administrao pblica ou gesto, por exemplo): Como diminuir as taxas de homicdio entre jovens moradores de grandes e mdias cidades brasileiras? Essa pergunta, a partir dos dados da pesquisa bsica, gera a pesquisa aplicada, fundamento do desenvolvimento tecnolgico em geral.

    Formuladas as questes, os cientistas sociais elaboram hipteses ou respostas provisrias que so submetidas a testagem ou ao processo de verificao. No caso da Cincia bsica:

    Hiptese 1- O aumento do desemprego , Hiptese 2 O aumento de conflitos intra-familiares, Hiptese 3 Desemprego e conflitos intra-familiares.

    No caso da Cincia Aplicada:

    Hiptese 1 Aumentar a oferta de empregos poder diminuir o ndice de homicdios,

    Hiptese 2 Prender os jovens e aumentar o rigor das penas.

  • 37

    Para testar as hipteses, os cientistas escolhem estratgias e, dentro delas, instrumentos metodolgicos: questionrios, entrevistas e outros...

    Os problemas e hipteses das cincias bsicas e aplicadas guardam uma

    diferena, pela prpria natureza e direo da pergunta que d fundamento a elas.

    Na cincia bsica o mvel o conhecimento da realidade; Na cincia aplicada, o mvel a interveno na realidade...

    Somente a partir do final do sculo XIX a cincia passou a ser fonte de conhecimentos do mundo social.

    Assim foi com o mtodo cientfico que houve uma exploso de conhecimentos, de modo que em trezentos anos ficamos sabendo muito mais do que em dez mil anos. O que torna a cincia to produtiva?

    Por outro lado pode ser colocada a questo: Cincia, para que? A servio de

    que e de quem? Ela deveria, por exemplo, ter um compromisso social? Ela realmente neutra? CARACTERSTICAS DO CONHECIMENTO CIENTFICO: Evidncia verificvel: significa que a cincia se baseia em observaes fatuais concretas que outros = ver, pesar, medir, contar ou verificar.

    Mas o que um fato? Torna-se difcil discernir entre um fato e uma iluso ou um preconceito compartilhado. Suponha que fato = enunciado descritivo sobre o qual observadores esto de acordo. Nesta definio fantasmas e bruxas podem ser um fato, pois diversas pessoas afirmam ter visto.

    A cincia s pode tratar de questes que tenham evidncia em si mesmas. Perguntas como: Deus existe, Qual o propsito da raa humana, no so

    questes passveis de tratamento cientfico. So importantes, mas o mtodo cientfico no dispe de instrumentos para analis-las. Os cientistas sociais podem estudar as crenas a respeito de Deus, do destino humano, mas o mximo onde podem chegar.

    A cincia no tem respostas para tudo, mas uma das fontes confiveis na busca pela verdade. A cincia no opta por verdades absolutas. Cada concluso cientfica representa a interpretao mais razovel e racional. Algumas concluses cientficas, no entanto so escoradas por uma grande quantidade de evidencias que fica difcil derrub-las por novas evidncias. Ex.: os impulsos humanos inatos so condicionados culturalmente.

    O problema manter-se aberto para analisar. At mesmo cientistas colegas de Thomas Edson, o grande cientista e inventor norte-americano disseram que o fongrafo era um embuste porque a voz humana no podia ser gravada. Neutralidade tica: a cincia pode responder a questes de fato, mas no tem maneira de provar que um valor melhor que outro.

  • 38

    Existe um agudo debate se a cincia deve estudar ou deve orientar-se tambm para a consecuo se metas sociais.

    Deve um socilogo mostrar a um governo opressivo como manter seu povo em ordem?

    Deve o turismlogo colocar seus conhecimentos a servio participar de um esquema eticamente condenvel? (ex.: livros para a prostituio voltada para turistas estrangeiros que alguns hotis guardam ou um grande empreendimento hoteleiro prxima a uma rea de preservao que vai trazer srias conseqncias ecolgicas...).

    TEXTOS COMPLEMENTARES:

    TEXTO 01: Einstein deu o golpe de misericrdia.

    Todo conhecimento da cincia moderna baseia-se na suposta e evidente diviso entre sujeito e objeto (o fenmeno permanece o mesmo independente do observador, e o observador tem acesso realidade como ela ). Como ele deu o golpe? Fazendo experincias e observaes com coisas simples, como o desvio da luz em relao gravidade dos planetas e outros.

    Como assim? Um exemplo simples: imagine-se um vago de trem em movimento e um sujeito X com uma pedra na mo e um sujeito Y fora do trem em terra que observa o tem se movimentar. O sujeito X deixa cair essa pedra: para ele a pedra cai reta, mas para o sujeito Y ela cai numa ligeira curva. Quem tem a verdade? Quem diz a verdade? O sujeito X (a pedra cai reta) ou o Y (a pedra faz uma curva)? Enfim, a realidade e a verdade dependem do observador e do observado.

    E, por fim, a teoria do caos, nascida com a revoluo da informtica: pressupe que o nmero de variveis que influencia uma realidade de tal ordem e magnitude que impossvel esgotar sua enumerao, embora se possa conhecer alguns padres.

    H uma popularizao da teoria do caos expressa na frase: o bater de asas de uma borboleta no Japo pode causar um ciclone no Brasil.

    Um modo mais simples de entender isso observar o comportamento irracional dos mercados: subidas e descidas repentinas do dlar, motivadas pela fala de pela suspeita de uma gripe no ministro da economia, etc.

    De um sistema racional e determinstico aplicado realidade (por exemplo, os controles monetrios), pode-se obter como resultado um padro aleatrio ou um outro padro de realidade muito diferente do original ou das intenes de quem aplicou o sistema.

    O Caos no baguna ou ausncia completa de ordem, mas, numa linguagem tcnica, sistemas aleatrios no-determinsticos.

    Segundo certos tericos, os modelos matemticos e deterministas da economia clssica no mais do conta de explicar a quantidade e a profundidade da influncia das variveis.

    A interdependncia entre culturas e economias tornou to complexa a realidade que Edgar Morin, socilogo e filsofo francs, props uma religao dos saberes.

  • 39

    Afinal, ningum sabe com certeza para onde vamos e ningum (pas, empresa...) tem o controle da tal globalizao!

    A teoria da linguagem mostra que as noes de verdade, mentira, a prpria construo do que verdadeiro e real dependem muito mais da comunicao humana e da estrutura lingstica do que se podia imaginar.

    Texto 02: Cincia e Misso de Scrates Ora, certa vez, indo a Delfos, (Querofonte) arriscou essa consulta ao orculo repito, senhores; no vos amotineis ele perguntou se havia algum mais sbio do que eu; respondeu a Ptia que no havia ningum mais sbio. Para testemunhar isso, tendeis a o irmo dele, porque ele j morreu. Examinai por que vos conto eu esse fato; para explicar a procedncia da calnia. Quando soube daquele orculo, pus-me a refletir assim: Que querer dizer Deus? Que sentido oculto ps na resposta? Eu c no tenh