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Fichamento do Livro Mediação de Conflitos - Comunidade, escola e família. Como cumprimento de obrigação.
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Pequena Biografia da Autora.
Capitulo 1
1. Mediação – Conceito
A professora Lilia Sales começa o capítulo dando uma rápida noção do que é a
mediação: “A mediação é um procedimento consensual de solução de conflitos por meio do
qual uma terceira pessoa imparcial – escolhida ou aceita pelas partes – age no sentido de
encorajar e facilitar a resolução de uma divergência.” (SALES, 2006, p.23)
“A mediação estimula, através do diálogo, o resgate dos objetivos comuns que possam
existir entre os indivíduos que estão vivendo o problema” (SALES, 2006, p.23)
É necessário observar que o conflito é algo extremamente preciso no desenvolvimento
da humanidade, além de ser inerente ao ser humano. E que sem o conflito seria impossível
haver progresso e provavelmente as relações sociais estariam estagnadas em algum momento da
história.
“Na mediação procura-se evidenciar que o conflito é natural, inerente aos seres
humanos” (SALES, 2006, p.23)
O que se procura na mediação é eliminar a noção de posturas antagônicas. “as posturas
antagônicas deixem de ser interpretadas como algo eminente mau para se tornar algo comum na
vida de qualquer ser humano que vive em sociedades.” (SALES, 2006, p.24)
Em suma, “A mediação, por suas peculiaridades torna-se um meio desoluçao adequado
a conflitos que envolvam relações continuadas, ou seja, relações que são mantidas apesar do
problema vivenciado.” (SALES, 2006, p.24)
1.1. Peculiaridades da solução de conflitos por meio da Mediação
-O conflito como inerente as relações humanas
O conflito deve ser visto como algo inerente aos seres humanos, dever ser visto como
algo necessário e não como algo mau.
“A mediação propõe desmistificar essas premissas, possibilitando que o conflito e a
contradição sejam vistos como situações próprias das relações humanas, necessárias para o seu
aprimoramento.” (SALES, 2006, p.25)
- Conflitos aparentes e conflitos reais
“Existem conflitos aparentes e conflitos reais. Os conflitos aparentes são aqueles
falados, mas que não refletem o que verdadeiramente está causando angústia, insatisfação,
intranqüilidade ou outro sentimento que provoque mal-estar.” (SALES, 2006, p.25)
São inúmeras as situações em que apenas os conflitos aparentes são discutidos,
deixando de lado o que realmente interessa que é o conflitos real, que é o verdadeiro motivo ou
causa do conflito.
- Do perde-ganha ao ganha-ganha
“Na mediação a proposta é fazer com que os dois ganhem. Para se alcançar esse
sentimento de satisfação mútua, é necessário se discutirem bastante os interesses, permitindo
que se encontrem pontos de convergência, dentre as divergências relatadas.” (SALES, 2006,
p.26)
E para isso é necessário que se concentre nos interesses e não nas posições é
imprescindível para se encontrar o caminho para o diálogo pacífico e construir soluções
satisfatórias.
- Da competição à cooperação
“As pessoas, muitas vezes, ao iniciar uma discussão, colocam-se como competidores.
Cada um defende seu ponto de vista sem perceber, muitas vezes, que possuem o mesmo
interesse.” (SALES, 2006, p.27)
Deve-se ter a noção de que não existe um lado contra o outro, mas sim duas pessoas
interessadas em resolver uma questão que diz respeito aos dois lados, ou seja, é bem melhor se
ajudar e cooperar-se para então chegar uma solução plausível e interessante a ambos.
E, para isso, “o mediador deve estar preparado para fazer com que cada um veja a
situação pelo lado do outro, colocar-se no lugar do outro.” (SALES, 2006, p.28)
-Do individual ao coletivo
“busca-se aqui a percepção da relação existente entre os atos individuais e seu resultado
na relação como um todo.[...] Se o diálogo se mantiver apenas nas posições, no ‘ egoísmo’ de
cada um, ficará difícil a cooperação. Além de buscar os interesses e não as posições, o mediador
deve conseguir que as partes percebam a importância do todo envolvido nesse conflito – como
fica a nossa família? O que é importante para a nossa família?” (SALES, 2006, p.28)
Deve esquecer o que é melhor para mim e passar a pensar no que é melhor para minha
família, o que é mais importante para toda a equipe de trabalho, para vizinhança, procurando
encontrar a importância do coletivo.
-Da culpa à responsabilidade
“Procura-se, por meio da mediação, deslocar o entendimento de culpa(que parece algo
predeterminado, intencional) para a responsabilidade (atos e conseqüências)” (SALES, 2006,
p.23)
O sentimento de culpa atrapalha a percepção do papel de cada um sobre o problema.
Não existe culpa e sim responsabilidade, pois todos nós praticamos atos por nossas próprias
escolhas a partir dos atos de outros.
“Assim, a percepção de que ambos são responsáveis permite uma participação maior na
busca pela solução do conflito, permitindo uma mudança de comportamento.” (SALES, 2006,
p.30)
1.2. A mediação e maiêutica socrática
“A mediação fundamenta-se na maiêutica socrática, pois representa um mecanismo de
solução de conflitos, o qual requer a participação ativa das pessoas por meio da comunicação,
sendo essa comunicação estimulada com perguntas simples, abertas ao raciocínio, para que as
pessoas busquem dentro de si e do que conhecem a solução para os problemas e para os seus
questionamentos.” (SALES, 2006, p.31)
O mediador deve despertar o raciocínio, debatendo profundamente as questões que
devem ser discutidas e atribui o protagonismo aos reais atores principais (as partes envolvidas)
1.3 Princípios da mediação
“São eles: Liberdade das partes, não competitividade, poder de decisão das partes,
participação de terceiro imparcial, competência do mediador, informalidade do processo,
confidencialidade no processo.”
- “A liberdade das partes significa que devem estar livres quando resolvem os conflitos
por meio da mediação” (SALES, 2006, p.32)
- “Na não-competitividade [...] AS pessoas não estão em um campo de batalha, mas sim
cooperando para que ambas sejam beneficiadas.” (SALES, 2006, p.32)
- “Quanto ao poder decisão das partes, na mediação o poder de decidir como o conflito
será solucionado cabe às pessoas envolvidas.” (SALES, 2006, p.32)
- “No que concerne à participação de terceiro imparcial, o mediador deve tratar
igualmente as pessoas que participam de um processo de mediação. [...] o mediador deve agir
sem beneficiar uma parte em detrimento da outra.” (SALES, 2006, p.32)
- “[...] o mediador [...] deve ser detentor de características que o qualifiquem a
desempenhar esse papel, dentre as quais, a diligência, o cuidado e a prudência, assegurando a
qualidade do processo e do resultado.” (SALES, 2006, p.32)
- “A informalidade do processo significa que não existem regras rígidas às quais o
processo de mediação está vinculado.” (SALES, 2006, p.33)
- “Para garantir a confidencialidade no processo, o mediador não poderá revelar para
outras pessoas o que está sendo discutido durante a mediação da controvérsia. O processo é
sigiloso e o mediador possui uma obrigação ética de não revalar os problemas das pessoas
envolvidas.” (SALES, 2006, p.33)
É necessário que a boa-fé esteja sempre presente no processo de mediação, tanto do
mediador, quanto dos mediados.
1.4. Objetivos da mediação
“A mediação possui vários objetivos, dentre os quais se destacam a solução dos
conflitos (boa administração do conflito), a prevenção da má administração de conflitos, a
inclusão social (conscientização de direitos, acesso à justiça) e paz social.” (SALES, 2006, p.33-
34)
“Destaca-se que o acordo configura-se uma conseqüência da mediação e não o seu
objetivo. A mediação objetiva a facilitação de diálogo, solucionando e prevenindo conflitos,
pacificando e incluindo.” (SALES, 2006, p.34)
1.4.1 Solução dos conflitos
“A solução de conflitos, por meio da facilitação do diálogo, configura-se no objetivo
mais evidente da mediação. O diálogo, que é o caminho a ser seguido para se alcançar essa
solução, deve ter como fundamentos a visão positiva do conflito, a cooperação entre as partes e
a participação do mediador como facilitador dessas comunicações” (SALES, 2006, p.35)
A facilitação do diálogo, se conquistada, pode-se considerar uma mediação exitosa, pois
a mediação não resolve conflitos, mas facilita o diálogo para as próprias partes resolverem.
Buscando sempre a eliminação da competitividade, do perde-ganha e provocando o
aparecimento do conflito real.
1.4.2 A prevenção da má administração dos conflitos
“A mediação estimula a prevenção da má administração do conflito, pois incentiva: a
avaliação das responsabilidades de cada um naquele momento (evitando atribuição de culpas); a
conscientização de adequação das atitudes, dos direitos e deveres e da participação de cada
indivíduo para a concretização de adequação das atitudes, dos direitos e deveres e da
participação de cada indivíduo para a concretização desses direitos e para as mudanças desses
comportamentos; a transformação da visão negativa para a visão positiva dos conflitos[...]; e
finalmente, o incentivo ao diálogo, possibilitando a comunicação pacífica entre as partes,
criando uma cultura do ‘encontro por meio da fala’, facilitando a obtenção e o cumprimento de
possíveis acordos.” (SALES, 2006, p.36)
1.4.3 A inclusão social
O processo de mediação valoriza o indivíduo, muito mais do que documentos ou
maiores formalidades, percebendo-se, de imediato, um sentimento de comodidade, de calmaria
e de inclusão.
“A pessoa participa efetivamente, sente-se valorizada, incluída, tendo em vista a sua
importância como ator principal e fundamental para a análise e a solução do conflito.” (SALES,
2006, p.37)
“Dessa maneira apresenta forte impacto direto na melhoria das condições de vida da
população, na perspectiva do acesso à Justiça, na conscientização de direitos, enfim, no
exercício da cidadania.” (SALES, 2006, p.37)
1.4.4. A paz social
“O caminho da busca pela paz social passa pela necessidade de efetivar os direitos
fundamentais.” (SALES, 2006, p.38)
“Ensina-se a paz quando se resolve e se previne a má administração dos conflitos;
quando se busca o diálogo; quando se possibilita a discussão sobre direitos e deveres e sobre
responsabilidade social; quando se substitui a competição pela cooperação – o perde-ganha pelo
ganha-ganha” (SALES, 2006, p.38)
Passando-se a não mais se discutir somente sobre as questões do individuo, mas sim
questões que dizem respeito à coletividade como um todo. Para isso, é necessária uma mudança
no comportamento das pessoas: tornarem-se mais participativas nas decisões individuais e
coletivas.
Capítulo 2
2. Outros Mecanismos Não-Adversariais de solução de conflitos: Negociação,
conciliação e arbitragem.
“A mediação, a negociação, a conciliação e a arbitragem são meios alternativos de
solução de conflitos” São alternativos, pois “[...] Negociação, conciliação, mediação, arbitragem
e poder judiciário são alternativas de solução de controvérsias, das quais a sociedade dispõe.”
(SALES, 2006, p.40)
Porém, “cada um desses mecanismos possui suas próprias características que os
distinguem uns dos outros. Mas, “[...] um não é melhor do que o outro, mas apenas revelam-se
mais adequados a determinados tipos de conflito.” (SALES, 2006, p.40-41)
2.1 A negociação
“A negociação é o meio de solução de conflitos em que as pessoas conversam e
encontram um acordo sem a necessidade da participação de uma terceira pessoa como ocorre na
mediação.” (SALES, 2006, p.41)
Pode a negociação ser formal, com a elaboração de um documento, ou informal, onde o
simples acordo verbal é suficiente.
“Deve-se considerar, no entanto, que o mais importante em uma negociação é a
conversa franca, a boa-fé das partes. Se isso acontecer o acordo será cumprido com maior
facilidade, como conseqüência direta de um bom diálogo. Procura-se valorizar o ser humano, a
palavra, e não apenas o papel no qual consta a assinatura.” (SALES, 2006, p.42)
2.2 A conciliação
“A conciliação é um meio de solução de conflitos em que as pessoas buscam sanar as
divergências com o auxilio de um terceiro, o qual recebe a denominação de conciliador.”
(SALES, 2006, p.42)
“Na conciliação, o terceiro – conciliador – interfere na discussão entre as pessoas
sugerindo e propondo soluções para o conflito.” (SALES, 2006, p.42-43)
O conciliador, por sua vez, não estabelece uma solução como se fosse sua, dizendo o
que é injusto ou justo. O conciliador apenas aponta soluções, que cabe às próprias pessoas
envolvidas acatar a opinião daquele ou não. Porém, “[...] como o conciliador interfere
diretamente sobre a forma como o conflito será resolvido, a discussão torna-se mais direta,
simples e rápida.” (SALES, 2006, p.43)
A conciliação ainda possui 4 etapas: A abertura, os esclarecimentos, a criação de opções
e o acordo. Na primeira, explicitam-se os primeiros esclarecimentos e o teor do conflito. Na
segunda, os esclarecimentos sobre as atitudes das pessoas que levaram ao conflito. Na terceira,
criam-se opções, trazidas pelo conciliador. Com o intuito de chegar ao acordo, última etapa da
conciliação.
“No direito brasileiro, existe a conciliação extrajudicial e judicial. A primeira ocorre
antes do processo. Caso não haja acordo, as partes envolvidas, se assim decidirem, encaminham
o litígio ao poder judiciário. Em se tratando da conciliação judicial, que acontece durante o
processo, não havendo solução para a controvérsia, dá-se prosseguimento ao processo para
apreciação e decisão do juiz” (SALES, 2006, p.45)
2.3 A arbitragem
“A arbitragem é um procedimento em que as partes escolhem uma pessoa capaz e da
sua confiança (arbitro) para solucionar os conflitos. Na arbitragem, ao contrário da negociação e
da mediação, as partes não possuem o poder de decisão. O árbitro é quem decide a questão.”
(SALES, 2006, p.46)
A decisão do árbitro, porém, não pode ser questionada perante o Poder Judiciário,
somente podendo haver recurso nos casos em que a lei já prevê a nulidade da sentença arbitral.
“Os conflitos mais adequados à solução por meio da arbitragem são aqueles que
requerem sigilo, celeridade e decisão por uma pessoa (árbitro) especialista sobre a natureza do
problema.” (SALES, 2006, p.47)
2.4 Os desafios do poder Judiciário e os meios alternativos de solução de conflitos.
A cultura legal-formalista calcado no Estado liberal, “[...] transformou em dogmas
princípios como os da imparcialidade política e da neutralidade axiológica. O exercício da
magistratura tornou-se distante da sociedade e em descompasso em relação à atual realidade.”
(SALES, 2006, p.47)
“O papel do juiz na atualidade não se limita a de prolator de despachos e sentenças,
encerrado num mundo auto-suficiente, alheio aos conflitos sociais.” (SALES, 2006, p.48)
Em suma, são cinco os desafios enfrentados pelos juízes na sociedade atual, os quais
demarcam o novo papel do juiz nos dias de hoje: hermenêutico; ético; político; desafio cultural
e humanista.
2.4.1 o desafio hermenêutico
“O desafio hermenêutico é aquele que se põe para o intértrepe e aplicador da lei e do
Direito. [...] Elaboram-se leis para serem aplicadas à vida social e não há aplicação sem prévio
interpretação.” (SALES, 2006, p.40)
O Estado Liberal implantou uma nova forma de ler o direito, a forma positivista, da lei
pela lei, estagnando assim o direito de forma veemente. É amplamente sabido que o direito
muda de acordo com o desenvolvimento da sociedade, portanto é, de fato, importante que se
interprete o direito como algo mutável e, além disso, em constante mutação.
“Os conceitos devem ser analisados em função dos fatos sociais, pois os conceito
existem para a sociedade e não o contrário. As teorias jurídicas apresentadas devem estar
sempre ligadas as suas condicionantes sócio-políticas, demonstrando, assim, a sua importância,
pos qualquer concepção de Direito em geral e de hermenêutica em particular somente será
consistente se tiver raízes nas necessidades sociais, por maior que seja o rigor lógico ou o grau
de abstração que alcance.” (SALES, 2006, p.49)
Além disso, “O legislador busca o bem comum, de modo que cabe ao intérprete
compreender o que é o bem comum naquele momento e naquela sociedade e concretizá-lo, seja
aplicando a norma ou afastando-a” (SALES, 2006, p.50)
De acordo com essa concepção, “Por meio da interpretação, os juízes substituem os
valores individualistas das leis pelos valores sociais.” Portanto, “Repensar a jurisprudência é um
poder-dever do juiz.” (SALES, 2006, p.51)
Em conclusão, “Deve-se reconhecer não só a supremacia da constituição na ordem
jurídica, como também os meios para garanti-la juridicamente. Para que a supremacia da
constituição seja garantida, é necessário que as normas infraconstitucionais sejam compatíveis,
tanto formalmente quanto materialmente.” (SALES, 2006, p.51)
2.4.2 O desafio ético
“O desafio ético é aquele que busca assegurar o valor ‘justiça’, acima simplesmente do
valor ‘lei’”. (SALES, 2006, p.52)
Esse impasse entre o Direito e a lei é uma herança maldita do positivismo jurídico. A lei
é importante para o Direito, mas o Direito não é só baseado em leis. A máxima do Direito é
busca pela justiça e, muitas vezes, apenas a lei não é capaz de averiguar justiça a um caso
concreto.
Com isso, “O legalismo formal acabou por afastar da justiça o direito. O Fato de aderir
ao positivismo significa a eliminação da ética, como pressuposto do Direito ou integrante dele.”
(SALES, 2006, p.53)
O direito moderno deve estar de acordo com a tríade realeana de fato-valor-norma, pois
sem isso o Direito ficaria estanque, sem o dinamismo intrínseco a todo e qualquer ciência social.
Pois é da sociedade que advém os valores e, sem eles, o direito é letra morta e obsoleta.
Estabelecendo-se então um fundamento de valor e não um fundamento de validade, como
queria Hans Kelsen.
“O juiz, portanto, para vencer esse desafio ético, deve mudar a mentalidade de soberania
da lei com relação ao direito, despojando-se da neutralidade tão peculiar ao tecnicismo e aliar-se
aos compromissos sociais, com uma postura crítica compatível com o Estado Democrático de
Direito.” (SALES, 2006, p.54)
Em suma, “Quando há atrito entre o Direito e a lei tem-se uma questão ética, choque de
valores, e não uma questão meramente jurídica e muito menos uma questão meramente legal.”
(SALES, 2006, p.54)
2.4.3 O desafio político
“Seguindo o entendimento de João Baptista Herkenhoff(1997,p.27), o desafio político é,
em síntese, o desafio de realizar as expectativas sociais de uma justiça que interfira
positivamente no jogo das forças presentes na sociedade, que jogue um papel no
aperfeiçoamento democrático, na construção democrática.” (SALES, 2006, p.55)
“Há necessidade de juízes que percebam as necessidades sociais, de juízes
comprometidos com a sociedade, preocupados com a justiça social, com as desigualdades
sociais e com fundamentos consagrados na constituição.” (SALES, 2006, p.55)
“A distância entre os juízes e a sociedade, na atividade judicante, resulta em centenas de
precedentes inconscientes e socialmente insuficientes. O formalismo determina um judiciário
que reproduz desigual e injustiças.” (SALES, 2006, p.55)
Finalmente, “o bom juiz, o eficiente juiz pode ser um instrumento da máxima injustiça,
quando ele, diligente e exato, aplica leis que representam o discurso de um Poder opressor”
(SALES, 2006, p.56)
2.4.4 O desafio cultural
“O desafio cultural é referente ao significado que o juiz tem na sociedade. [...] O juiz,
para melhor dirimir conflitos, atendendo às peculiares necessidades locais, precisa conhecer a
realidade da comunidade. Somente entendendo a cultura local poderá encontrar soluções justas
e adequadas à realidade.” (SALES, 2006, p.56)
2.4.5 O desafio humanista
“O desafio humanista basicamente encontra-se na crítica ao adágio clássico o que não
está nos autos não está no mundo.” (SALES, 2006, p.56)
“Os valores estavam fora do Direito, por isso não deveriam ser lavados em
consideração. Essa concepção do Direito igual à lei foi ultrapassada, principalmente quando se
fala em Estado Democrático de Direito. Há a necessidade de mudança na forma de agir para
aproximar o Judiciário da população” (SALES, 2006, p.57)
“O desafio humanista requer que o juiz se desprenda da literalidade das leis e passe a
compreender a necessidade de comunicação humana entre ele e as pessoas. O mundo é
infinitamente superior ao que está nos autos processuais.” (SALES, 2006, p.57)
“O desafio humanista depende de muitas coisas: simplificação de leis, códigos,
estruturas, das partes, que devem adquirir consciência dos seus direitos, e dos operadores
jurídicos[...] que devem compreender o sentido público e social de suas funções.[...] O Direito,
na sua globalidade, na sua integralidade e na sua transcendência deve servir à pessoa humana, à
dignidade humana. Processo judicial deve ser um espaço de escuta, de valorização do ser
humano” (SALES, 2006, p.57-58)
“ A mediação surge como um mecanismo de oxigenação das atividades do Poder
Judiciário e da formação acadêmica dos futuros juízes” (SALES, 2006, p.59)
“É imprescindível a existência de um Poder Judiciário indepedente e atuante nas
sociedades tendo em vista a necessidade de existir um terceiro legitimado, capaz de decidir
conflitos com imparcialidade, garantindo a justiça no caso concreto.” (SALES, 2006, p.60)
Na mediação, ou seja, em uma forma alternativa de justiça, na qual as pessoas são
valorizadas, “As pessoas apenas sentem que o seu direito está resguardado e protegido por meio
de sentença prolatada pelo juiz, após os tramites de um processo na justiça.” (SALES, 2006,
p.60)
“A dependência da prestação jurisdicional somada à cultura do conflito acaba por
provocar a superlotação das secretarias com processos em tramitação, a demora dos
julgamentos, a inércia do cidadão em tentar solucionar o conflito vivido, a dificuldade de acesso
à justiça e até problemas mais graves, como nos casos que reclama um julgamento célere e o
processo demora anos até a sentença definitiva” (SALES, 2006, p.61)
“O Poder Judiciário, [...], deve apoiar iniciativas das vias alternativas de solução de
conflitos, tendo em vista a importância de se fortalecer a sociedade por meio do diálogo e da
participação efetiva dos problemas vivenciados.” (SALES, 2006, p.62)
O Poder Judiciário tem não só o dever, como tem também a função de fomentar as
alternativas para a resolução de conflitos, para o próprio bem da justiça em geral. Para isso, é
necessário haver uma mudança radical na mentalidade de todos os segmentos jurídicos.
“Daí ser indispensável fazer avançar simultaneamente um processo educativo para que a
sociedade entenda em que consistem esses mecanismos, mas não só no nível jornalístico ou
publicitário, mas também que compreenda e avalie as novas ferramentas que ajudarão a obter a
consecução dos objetivos finais desse processo, que é a paz social.” (SALES, 2006, p.64)
2.5 A mediação de conflitos no município de Russas no estado do Ceará – uma
experiência da mediação e do Poder Judiciário.
Foi fundada em Russa, perto de Limoeiro do Norte (Aprox. 50 km), a CMC(Casa de
Mediação Comunitária), no bairro chamado “Multirão”, periferia de Russas, tendo como sua
idealizadora e maior incentivadora a Juíza Dra. Valéria Barroso.
“Como objetivos específicos: facilitar ao público alvo o acesso À justiça; prevenir a
violência e garantir a resolução de conflitos por meio do diálogo e da compreensão mútua;
contribuir para a melhoria de vida das pessoas conscientizando-as sobre seus direitos e acerca
de suas garantias; possibilitar a inclusão social, oferecendo às pessoas da comunidade a
possibilidade de atuar como mediadores ou como parte, discutindo e solucionando seus
conflitos, exercendo assim a sua cidadania.” (SALES, 2006, p.66)
É notório o grande êxito que a CMC teve, pois atendeu a inúmeras pessoas de forma
justa e célere. Podendo-se citar como exemplo que “Desde abril até junho/2005 foram
realizados 95 atendimentos dos quais foram registrados 52 casos com objetivos alcançados
(acordo), 12 com objetivos não alcançados (não resultou em acordo), 18 encaminhamentos, 13
casos de não comparecimentos.” (SALES, 2006, p.67)
Portanto, “O êxito da mediação vinculada ao Poder Judiciário não está somente
expressa no índice de acordos, mas na satisfação das pessoas em receber desse Poder um
tratamento, simples, humano, célere e justo.” (SALES, 2006, p.68)
Capítulo 3
3. O Mediador
“O mediador é aquela terceira pessoa escolhida ou aceita pelas partes que, com técnicas
próprias, facilita a comunicação, possibilitando um diálogo pacífico e um acordo satisfatório.”
(SALES, 2006, p.69)
“O mediador é o condutor da mediação de conflitos – terceiro imparcial que auxilia o
diálogo entre as partes com o intuito de transformar o impasse apresentado, diminuído a
hostilidade, possibilitando que as próprias partes encontrem uma solução satisfatória para o
conflito.” (SALES, 2006, p.69)
Ao mediador cabe “[...] o papel de auxiliar as partes no sentido de que entendam o
conflito como algo transitório, e que devem conversar para alcançarem um novo momento – o
momento da concordância.”
3.1. A atuação do mediador
“[...] o método utilizado para encontrar acordos sem concessões ou sem barganhas de
posições passa por quatro dimensões: separar as pessoas dos problemas, concentrar-senos
interesses e não nas posições, elaborar de opções de ganhos mútuos e trabalhar com critérios
objetivos.” (SALES, 2006, p.70)
- Separar as pessoas dos problemas
“O primeiro passo para atuar como mediador é perceber que existem pessoas com
conflitos que precisam discutir seus problemas, ouvir e serem ouvidas. [...] A partir desse
entendimento, o mediador deverá explorar os sentimentos e as falas das pessoas para conseguir
encontrar os reais interesses.” (SALES, 2006, p.70)
Além disso, “O mediador deve discutir o presente com vistas para o futuro.” (SALES,
2006, p.73)
Desse modo, “A mediação deve ser conduzida de maneira que as pessoas cheguem as
suas conclusões a partir do reconhecimento da percepção do outro, de forma a evitar que suas
conclusões resultem de seus próprios medos.”. Por isso, “ O mediador deve evitar a atribuição
de culpa, ressaltando as responsabilidades de cada pessoa. (SALES, 2006, p.74)
“Portanto, o mediador deve fazer com que as partes escutem e registrem o que está
sendo falado. [...] Assim deve o mediador: deixar que as pessoas falem, fazer com que
explicitem claramente o que sentem e o que interessa a cada um e questionar sempre que um
ponto parecer confuso ou obscuro.
Em suma, “O mediador deve conduzir o diálogo de maneira que as pessoas consigam
entender o que cada uma afirma, deixando que cada uma fale mais de si mesma do que da outra.
A partir das falas, o mediador organizará as idéias e resumirá os objetivos e soluções propostas
por cada um.” (SALES, 2006, p.75)
- Concentrar-se nos interesses e não nas posições.
“A questão fundamental para se encontrar uma solução por meio do diálogo está no fato
de reconhecer que o conflito pode não residir nas posições conflitantes, mas no conflito entre as
necessidades, desejos e interesses de cada um. Trabalhar com os interesses e não com posições
facilita a solução do conflito porque para os interesses normalmente existem diversas formas de
satisfação.” (SALES, 2006, p.76)
-Elaboração de opções de ganhos mútuos
“Para estimular a criação de várias opções de solução, evitando o apego a um
julgamento antecipado ou a uma resposta única, o mediador deverá organizar as falas de modo a
separar as possíveis idéias ou sugestões das decisões.” (SALES, 2006, p.78)
Desse modo, “[...] Questionamentos sobre o que realmente interessa a cada um numa
perspectiva mais ampla.” (SALES, 2006, p.79) Ou seja, o que realmente interessa o que
realmente importa.
“E daí deve ser questionado como oferecer propostas de ganhos mútuos – ganha-ganha,
já que existem interesses comuns.” (SALES, 2006, p.79)
Assim, “O mediador deve indagar sobre as preferências de cada um e como se sentiria
se estivesse no lugar do outro.” (SALES, 2006, p.81)
- Estabelecer critérios objetivos
“Nesses casos, quando as diferenças de posições são mínimas e as diferençam recaem
efetivamente nos interesses, a escolha de critérios objetivos poderá auxiliar bastante porque
simplifica a fala.” (SALES, 2006, p.81)
“Ao se trabalhar com critérios objetivos (valor de mercado, opinião cientifica,
precedentes judiciais), imdependentes da vontade das partes, explicita-se imparcialidade”
(SALES, 2006, p.81)
“A partir dos conceitos desenvolvidos em Harvard, como ressaltado, foram formuladas
e apresentadas perspectivas mais específicas da mediação: a mediação sistêmica e a mediação
transformativa. A primeira é fundamentada na teoria dos sistemas e trabalha a inter-relação
entre as pessoas envolvidas no conflito, avaliando a comunicação e o relacionamento,
aprimorando a mediação com técnicas como anotações, escuta ativa e uso da paráfrase. [...] A
segunda, a mediação transformativa transforma (empodera, eleva e auto-estima) a pessoa para
transformar o conflito – estabelece diretrizes para que o mediador apresente os requisitos que o
possibilite atender as necessidades das partes, mudando as pessoas e mudando os conflitos.”
(SALES, 2006, p.82)
3.2 A escolha do mediador – requisitos
“O Projeto de Lei de Mediação (Anexo A), no entanto, estabelece dois tipos de
mediadores: os judiciais [...] e os extrajudiciais [...].” (SALES, 2006, p.83)
“Na perspectiva formal é necessária, para aquele que iniciará as atividades como
mediador, uma formação básica teórica e prática em mediação de conflitos. [...] Ressalta-se,
portanto, que, para exercer com eficiência essa tarefa, deve o mediador ser capacitado também
no aspecto prático da mediação de conflitos [...] Sob o prisma material, deve o mediador
apresentar algumas habilidades inatas ou adquiridas: prudência, humildade, paciência.”
(SALES, 2006, p.83)
3.3 A capacitação do mediador
“Conforme expõe Jean Six, é necessário perceber três componentes para a formação do
mediador: a matéria-prima (homem), a teoria e a prática” (SALES, 2006, p.84)
“A matéria-prima do mediador no processo de mediação é o homem, o ser humano. [...]
O bom mediador percebe que sua formação é contínua, exatamente porque o ser humano está
em contínuo desenvolvimento.[...]
Teoria é o estudo sobre a mediação de conflitos, seus fundamentos, objetivos e
princípios.
Prática é a atividade real e contínua da mediação de conflitos. A prática revela-se na
experiência da mediação.” (SALES, 2006, p.85)
“Nos cursos de capacitação abordam-se temas como ‘o sentido da mediação’, ‘as etapas
do processo de mediação’, ‘a função do mediador, habilidades e recursos pessoais fundamentais
ao mediador’, ‘ a investigação dos problemas’, ‘Vivencia do processo[...], código de ética etc.’”
(SALES, 2006, p.85)
Por causa disso, o CONIMA criou um programa para a capacitação de mediadores.
“Este programa estabelece 60 horas mínimas de aprendizado teórico e posterior aprendizado
prático mínimo 50 horas, sempre acompanhado da supervisão dos trabalhos desenvolvidos, de
feedbacks após as reuniões de mediações de casos concretos, bem como de relatórios
específicos para uma reflexão acerca daquilo que foi objeto de estudo na reunião de mediação e
o estabelecimento de estratégias para as reuniões futuras.” (SALES, 2006, p.86)
3.4 Código de ética
“Independência é um traço de extrema relevância na atividade do mediador, sendo
elemento essencial à função de mediar.” (SALES, 2006, p.87)
“O código de ética do mediador representa o conjunto de valores expressosem normas e
traça as diretrizes fundamentais para o desempenho adequado desse profissional.” (SALES,
2006, p.87)
3.4.1 Autonomia da vontade das partes
“A pessoa está para procurar a mediação como instrumento de solução para seus
conflitos e tomar todas as decisões durante ou ao final do processo.” (SALES, 2006, p.87)
3.4.2 Princípios fundamentais
“Além dos princípios já apresentados, alguns coincidentes, existem outros princípios
relacionados pelo CONIMA que devem ser seguidos pelo mediador: imparcialidade,
credibilidade, competência, confidencialidade e diligencia.” (SALES, 2006, p.87)
“Imparcialidade: condição fundamental ao mediador, porquanto não pode existir
qualquer conflito de interesses ou grau de relacionamento capaz de afetar sua imparcialidade.
Credibilidade: é a capacidade para mediar a controvérsia existente. Por isso o mediador
somente deverá aceitar a tarefa quando tiver as qualificações necessárias para satisfazer
expectativas razoáveis das partes.
Confidencialidade: os fatos, situações e propostas que ocorrem durante a mediação são
sigilosos.
Diligência: cuidado e prudência para a observância da regularidade, assegurando a
qualidade do processo e cuidando ativamente de todos os seus princípios fundamentais.”
(SALES, 2006, p.88)
3.4.3 Do mediador frente à sua nomeação
a) aceitará o encargo somente se estiver imbuído do propósito de atuar de acordo com
os princípios fundamentais estabelecidos e normas éticas, mantendo integro o processo de
Mediação.
“O mediador deve atuar de acordo com as normas estabelecidas no código de ética,
jamais utilizando o processo de mediação em benefício próprio ou para benefício de uma das
partes.” (SALES, 2006, p.89)
b) Revelará, antes de aceitar a indicação, interesse ou relacionamento que possa afetar
a imparcialidade, suscitar aparência de parcialidade ou quebra de independência, para que as
partes tenham elementos de avaliação e decisão sobre sua continuidade.
“Antes de iniciar a reunião da mediação, o mediador deverá dizer se possui algum tipo
relacionamento com qualquer das partes que possa comprometer a sua imparcialidade”
(SALES, 2006, p.89)
c) Avaliará a aplicabilidade ou não de mediação ao caso.
“Ao escutar o problema, o mediador avaliará se é possível aplicar a mediação.”
(SALES, 2006, p.89)
d) Obrigar-se-á, aceita a nomeação, a seguir os termos convencionados.
“O mediador, ao aceitar a mediação, deverá seguir os procedimentos convencionados
pelas partes.” (SALES, 2006, p.89)
3.4.4 Do mediador frente às partes
“A escolha do mediador pressupõe relação de confiança personalíssima, somente
transferível por motivo justo e com o consentimento expresso dos mediados, e para tanto
deverá:” (SALES, 2006, p.90)
a) Garantir às partes a oportunidade de entender e avaliar as implicação e o
desdobramento do processo e de cada item negociado nas entrevistas preliminares e no curso
da Mediação.
“O mediador no primeiro momento, informa aos participantes o que é o processo de
mediação [...] todas as informações necessárias para o fiel entendimento do processo de
mediação.” (SALES, 2006, p.90)
b) Esclarecer quanto aos honorários, custas e forma de pagamento.
“Os serviços da mediação podem ser prestados de forma remunerada ou gratuita. No
início do processo de mediação deve ser esclarecido o valor a ser cobrado pela realização de
cada sessão” (SALES, 2006, p.91)
c) Utilizar a prudência e a verdade, abstendo-se de promessas e garantias a respeito dos
resultados.
“O mediador deve ter muito cuidado e seriedade ao falar sobre o processo de mediação,
sendo-lhe vedado prever ou prometer soluções e discutir previamente sobre possíveis
resultados.” (SALES, 2006, p.91)
d) Dialogar separadamente com uma parte somente quando for dado o conhecimento e
igual oportunidade à outra.
“O mediador poderá dialogar separadamente com as partes. Isso pode acontecer desde
que ambas tenham ciência desse fato. Essa sessão particular é chamada de ‘caucus’, que é uma
técnica que pode ser utilizada quando o mediador percebe que a parte precisa conversar antes
com o mediador, pois se sente constrangida ao falar sobre determinados assuntos com a outra
parte.” (SALES, 2006, p.91)
e) Esclarecer a parte, ao finalizar uma sessão em separado, quais os pontos sigilosos e
quais aqueles que podem ser do conhecimento da outra parte.
“Deve-se lembrar que o mediador não pode impor, deve apenas orientar o que pode ser
mantido em sigilo e o que melhor a ser discutido.” (SALES, 2006, p.91)
f) Assegurar-se que as partes tenham voz e legitimidade no processo, garantindo assim
equilíbrio de poder.
“Assim o mediador deverá agir de forma a garantir que as pessoas tenham a
participação ativa na solução dos conflitos e ainda que essa participação seja equilibrada.”
(SALES, 2006, p.92)
g) Assegurar-se de que as partes tenham suficientes informações para avaliar e decidir.
“O mediador deve possibilitar uma discussão rica entre as pessoas, garantido que serão
capazes de compreender as explicações sobre a mediação e principalmente sobre o conflito
vivido.” (SALES, 2006, p.92)
h) Recomendar às partes uma revisão legal do acordo antes de subscrevê-lo
“[...] o mediador deve sugerir que o acordo firmado seja analisado por advogado,
garantindo-se a sua validade jurídica. Deve-se ressaltar que o mais importante da mediação não
é efetivamente a validade jurídica, mas a solução adequada para o conflito, fruto de um diálogo
franco e honesto.” (SALES, 2006, p.93)
i) Eximir-se forçar a aceitação de um acordo e/ou tomar decisões pelas partes.
“Compete ao mediador apenas facilitar a comunicação, possibilitando um diálogo
pacífico e colaborativo.” (SALES, 2006, p.93)
j) Observar a restrição de não atuar como profissional contratado por qualquer uma
das partes, para tratar de questão que tenha correlação como a matéria mediada.
“O mediador não pode ser contratado para prestar serviço para uma das partes no que se
refere à matéria mediada.” (SALES, 2006, p.93)
3.4.5 Do mediador frente ao processo
O mediador deverá:
a) Descrever o processo da Mediação para as partes
“O mediador deve explicar o seu papel como facilitador do diálogo entre elas e a
importância da participação de cada um nesse procedimento.” (SALES, 2006, p.94)
b) Definir, com os mediados, todos os procedimentos pertinentes ao processo
“Enfim, dependendo da instituição, do mediador e das partes serão definidos
procedimentos diferentes. Evidentemente que os princípios da mediação e o código de ética
devem ser observados por esses profissionais e por essas instituições.” (SALES, 2006, p.94)
c) Esclarecer quanto ao sigilo.
“A mediação é um processo sigiloso e esse fato deve ser esclarecido às partes desde o
primeiro momento da mediação. O sigilo das informações possibilita que as pessoas tenham
considerável conforto ao discutir de forma profunda e aberta os seus conflitos.” (SALES, 2006,
p.94)
d) Assegurar a qualidade do processo, utilizando todas as técnicas disponíveis e
capazes de levar a bom termo os objetivos da Mediação.
“O mediador somente deve aceitar realizar uma mediação se entender que já possui uma
formação segura sobre o tema.” (SALES, 2006, p.95)
e)Zelar pelo sigilo dos procedimentos, inclusive no concernente aos cuidados a serem
tomados pela equipe técnica no manuseio e arquivamento dos dados.
“Todas as informações recebidas no processo de mediação devem ser mantidas em
sigilo. Deve-se criar um mecanismo que assegure esse segredo quando o processo estiver em
andamento e quando for arquivado.” (SALES, 2006, p.95)
f) Sugerir a busca e/ou a participação de especialistas na mediada que suas presenas se
façam necessárias a esclarecimentos para a manutenção da equanimidade
“Em alguns tipos de conflito, em que o mediador sinta a necessidade da participação de
um profissional especializado que esclareça alguns questionamentos técnicos, deve o mediador
sugerir a participação desse profissional.” (SALES, 2006, p.95)
g) Interromper o processo frente a qualquer impedimento ético ou legal.
“Quando o mediador perceber algum impedimento ético ou legal deverá interromper o
processo de mediação. Assim, o mediador deverá interromper a mediação se verificar, por
exemplo, que uma das partes não está certa de que deseja solucionar seu conflito pela
mediação[...]”(SALES, 2006, p.96)
h)Suspender ou finalizar a Mediação quando concluir que sua continuação possa
prejudicar qualquer dos mediados ou quando houver solicitação das partes.
“A mediação deve sempre ser um meio que venha beneficiar as pessoas envolvidas no
conflito.” (SALES, 2006, p.96)
i) Fornecer às partes, por escrito, as conclusões da Mediação, quando por elas
solicitado.
“Sempre que as pessoas solicitarem, deve o mediador entregar as conclusões por
escrito” (SALES, 2006, p.96)
3.4.6 Do mediador frente à instituição ou entidade especializada
“O código de ética estabelece um compromisso de cooperação, qualificação e
cumprimento das normas éticas, entre o mediador e a instituição especializada.” (SALES, 2006,
p.97)
O Mediador deverá:
a) Cooperar para a qualidade dos serviços prestados pela instituição ou entidade
especializada.
“O mediador deve zelar pela qualidade dos serviços prestados pela instituição à qual
está vinculado.” (SALES, 2006, p.97)
b) Manter os padrões de qualificação de formação, aprimoramento e especialização
exigidos pela instituição ou entidade especializada.
“O instituto ou centro de mediação possui um padrão de qualidade a ser seguido por
seus mediadores. Assim, o mediador deve estar em contínuo aprendizado. A credibilidade da
instituição de mediação dependerá, em grande parte, da atuação e qualificação dos mediadores.”
(SALES, 2006, p.97)
c) Acatar as normas institucionais e éticas da profissão.
“Cada instituição especializada possui normas institucionais para organizar as
atividades[...] Possui ainda o código de ética ao qual os mediadores devem se adaptar caso
tencionem ser mediadores vinculados a essa instituição. Tanto as normas institucionais como as
normas ticas devem ser cumpridas.” (SALES, 2006, p.98)
d) Submeter-se ao código e ao Conselho de Ética da instituição ou entidade
especializada, comunicando qualquer violação às suas normas.
“O mediador deverá registrar e comunicar à instituição de mediação qualquer violação
às suas normas, para que possam ser tomadas as medidas cabíveis.” (SALES, 2006, p.98)
4. O processo de mediação
“Não há uma forma específica exclusiva[...] por exemplo, oprocesso de mediação
apresenta-se em 8 etapas: 1) pré-mediação;2) abertura; 3)investigação; 4) agenda;5) criação de
opções; 6) escolha das opções; 7) avaliação das opções; e 8) solução.” (SALES, 2006, p.99)
“-A pré-mediação é o primeiro momento de contato das partes em conflitos com o
processo. Nela é apresentado o contrato de prestação de serviço, são esclarecidos os princípios
que devem ser seguidos[...] e estabelecido como as partes devem manter respeito mútuo para o
bom andamento do processo.” (SALES, 2006, p.99)
-Na abertura irá esclarecer “Como irá proceder, por quanto tempo estarão ali, como se
dará procedimento e esclarecer sobre as anotações que irá fazer.” (SALES, 2006, p.100)
“- Na investigação serão formuladas perguntas abertas para incentivar a discussão
profunda e possibilitar ao mediador e às partes o conhecimento da complexidade das relações.”
- “Elabora-se a agenda, onde esses pontos serão discutidos e soluções futuras podem ser
apontadas.” (SALES, 2006, p.100)
-“[...]inicia-se a fase de criação de opções, que requer a criatividade e disposição de
todos. Começa a busca direta pela opção adequada de resolução. (SALES, 2006, p.100)
- “Depois das sugestões [...], inicia-se a escolha de opções, que consiste no auxílio que
oferece o mediador para que as partes, dentre as sugestões por elas apresentadas, escolham a
melhor opção.” (SALES, 2006, p.101)
-“Por fim, inicia-se a elaboração das soluções por meio da construção conjunta do termo
final que refletirá as discussões e decisões apresentadas pelas partes ao mediador.” (SALES,
2006, p.101)
É notória a necessidade de se explicar detalhadamente todo o processo de mediação
para quem é leigo no assunto, pois o processo de mediação é algo importante e necessita que as
partes estejam cientes de todas as medidas que são tomadas no caminhar da mediação.
De outro modo, as opiniões sobre o número de etapas divergem de maneira
contundente, chegando a ter até 11 etapas, porém todas perfeitamente aplicáveis, pois o ideal é
um só: estabelecer um diálogo amigável. “Percebe-se assim a flexibilidade do processo de
mediação. Procura-se, no entanto, seguir atenciosamente todos esses passos estabelecidos pelos
autores citados (cada um à sua maneira), garantindo-se um processo adequado de mediação.”
(SALES, 2006, p.106)
“Pode-se, a partir dos princípios, objetivos e dos esclarecimentos sobre o processo de
mediação, apontar vários benefícios da mediação, quais sejam: celeridade, resultados eficazes,
participação ativa na resolução dos conflitos, satisfação mútua, eficácia da decisão, sigilo,
diminuição do sofrimento, igualdade de oportunidades, melhor relação posterior e construção da
comunicação” (SALES, 2006, p.107)
“Celeridade – a mediação é um procedimento mais rápido se comparadoao
processo judicial.[...] A depender do tipo de conflito e da relação entre as
pessoas, mais ou menos tempo pode ser necessário;” (SALES, 2006, p.107)
“Participação ativa das partes – na mediação, as partes que vivenciam o conflito
são as responsáveis por encontrar a solução.” (SALES, 2006, p.107)
“Satisfação mútua – o consenso encontrado por meio do diálogo participativo e
consciente, evitando-se a competição entre as partes, estimulando-se a
discussão sobre as convergência, resulta na satisfação mútua;” (SALES, 2006,
p.107)
“Eficácia da decisão – tendo em vista a participaão ativa das partes na solução
do problema, o que permite um diálogo intenso e contínuo, resultando em um
acordo construído de maneira consciente, a eficácia do resultado é um ponto
marcante na solução de conflitos por meio da mediação.” (SALES, 2006, p.107)
Sigilo – “[...] O mediador possui, por dever ético, a obrigação de não divulgar
ou prestar qualquer informação sobre o caso do qual participou.” (SALES,
2006, p.107-108)
“Diminuição do sofrimento(custo emocional) – a mediação procura resolver o
conflito por meio do diálogo e para isso possuí várias técnicas específicas para
estimular as pessoas à cooperação e ao respeito mútuos.” (SALES, 2006, p.108)
Igualdade de oportunidades – “As pessoas devem ser partícipes de uma situação
de igualdade, caso contrário a sessão de mediação deve ser encerrada;”
(SALES, 2006, p.108)
“Melhor relação posterior – o diálogo durante a mediação permite que as
pessoas reflitam sabre a extensão da responsabilidade de seus atos.”
“Construção da comunicação – a partir da experiência com a mediação e o
sentimento de bem-estar fruto da boa admistração diálogo, as pessoas passam a
dialogar com maior freqüência e comunicação torna-se mais clara, fluida.”
(SALES, 2006, p.108)
4.1 O ambiente da mediação
“o local onde a mediação ocorre deve ser preparado para receber as pessoas, de modo
que possam se sentir confortáveis, tranqüilas e seguras. Assim dever existir uma mesa redonda
para a realização da mediação. A mesa deve ser redonda porque evita a posição de antagonismo,
lados opostos. Deve-se evitar a impressão de que naquela sala existem lados opostos, campos de
batalha.” (SALES, 2006, p.110)
Pois, “é fácil falar da vida e dos problemas em um lugar ‘aconchegante’, parecido com a
própria casa, do que em um ambiente ‘frio’ e desconhecido.” (SALES, 2006, p.110)
4.2 Técnicas utilizadas no processo de mediação de conflitos
“Inicialmente as partes devem ser bem recebidas e bem acomodadas pela equipe de
funcionários que compõem a instituição de mediação.”
Desse modo, “Esse tratamento é o início da quebra das barreiras para o diálogo,para o
comunicação” Pois, “Esse tratamento valoriza as pessoas e as fazem se sentirem mais à
vontade.” (SALES, 2006, p.111)
No entanto, “é importante que as pessoas percebam a sua responsabilidade naquele
processo e que terão sempre o mesmo tratamento.” (SALES, 2006, p.111)
4.2.1 Escuta ativa
“Para que se inicie um processo de comunicação é necessária a emissão de uma
informação [...] É a comunicação com palavras. Ela pode ser dividida em verbal-oral e verbal-
escrita” (SALES, 2006, p.112)
“A verbal-oral refere-se à fala” e “[...] A comunicação verbal-escrita refere-se a
informações oferecidas por meio de documentos escritos” (SALES, 2006, p.112)
A comunicação também pode não verbal, ou seja, simbólica. “A comunicação não-
verbal é a forma de passar informações que utiliza gestos, formas de olhar, ou seja, o modo
como usamos o nosso corpo para transmitir certas mensagens.” (SALES, 2006, p.112)
Para facilitar a comunicação entre as partes devem os mediadores:
“1. Conversar pacientemente com as pessoa envolvidas na conflito, utilizando-se de
uma linguagem simples e direta.
2. Explicar o processo mediação e todas as informações de forma clara e
suficientemente completas para a real compreensão desse procedimento;
3.Estimular as várias formas de comunicação entre as partes, de maneira que as pessoas
consigam compreender umas às outras;” (SALES, 2006, p.113)
É, portanto, através da escuta – ativa, que a comunicação é facilitada e consolidada. “
Para a boa aplicação da escuta-ativa, exige-se a repetição e reformulação das mensagens
recebidas. Essa técnica chama-se Reflexão, a qual consiste em refletir sobre o que foi dito sem
realizar julgamentos antecipador.”
Outra forma eficiente é o chamado retorno, ou feedback. “ O retorno – compreensão da
mensagem – e a troca de informações são imprescindíveis para a comunicação efetiva.Assim é o
chamado feedback (retroalimentação).” (SALES, 2006, p.113)
4.2.2 Observação das expressões
Nas mensagens dos indivíduos, a partir do conceito de escuta-ativa, deve-se “levar em
consideração dois aspectos importantes: mensagens negativas e mensagens positivas.
Negativas:
“Lábios apertados
Músculos da face apertados
Sorriso formal
Sobrancelhas levantadas
Olhar para baixo
Falta de contato visual
Olhar apertado
Movimento da cabeça e para trás
Cabeça caída, curva
Braços cruzados, ombros caídos
Boca tapada com as mãos
Estalar de dedos e punhos cerrados.” (SALES, 2006, p.115)
Positivas:
“Sorriso
Boca relaxada
Face alerta
Pronto para ouvir
Olhos pousados no interlocutor
Olhos bem abertos
Cabeça ereta
Afirmações com a cabeça
Braços abertos
Corpo não curvado
Gestos com mãos abertas
Mão no peito
Gestos compatíveis com a fala” (SALES, 2006, p.115)
4.2.3 Perguntas abertas
“A pergunta é feita de maneira a exigir que toda a construção da resposta seja
inteiramente de responsabilidade das partes. A técnica da pergunta aberta é importante porque
abre o raciocínio” (SALES, 2006, p.116)
Como no exemplo citado da pensão que o pai não quis pagar ao filho. “ Claro que, nesse
caso, como se trata de pensão alimentícia e deve obrigatoriamente ser paga, se o pai da criança
não concluir espontaneamente que deve pagar, deve o mediador sugeria que procurem um
advogado para a adequada orientação jurídica. Normalmente, isso não acontece, pois a
sociedade já conhece o dever de se pagar pensão alimentícia.” (SALES, 2006, p.117)
4.2.4 Anotações
“O mediador deve anotar o que foi discutido, utilizando-se das palavras dos envolvidos
(paráfrase). Essas anotações são importantes para que mediado possa resumir cada informação
recebida.” (SALES, 2006, p.117)
O mediador “deve, no entanto, informar, antes de iniciar essa técnica, que irá anotar as
informações para organizar as idéias, sugestões e informações ali apresentadas.” (SALES, 2006,
p.118)
4.2.5 Gravação e filmagem
Esse método é pouco usado, devido a possibilidade de constranger as partes. Porém
quando usado é de grande valia, pois reproduz fielmente o que foi dito ou contradito. Por isso,
apesar de pouco utilizada a gravação e a filmagem tem uma grande função na análise minuciosa
de todas as comunicações verbal, oral, escrita ou simbólica. Porém deve-se ter muito cuidado
com todos os meios utilizados. No caso da filmagem, é apagada imediatamente na presença da
parte, pois deve prevalecer o principio do sigilo.
Capítulo 5
5. A Abrangência da Mediação de Conflitos
“A mediação é um procedimento colaborativo que visa a estabelecer ou a restabelecer o
diálogo entre as partes, para que juntas construam uma boa solução de conflitos” (SALES,
2006, p.120)
A mediação pode ter como objetos:
Questões familiares; conflitos escolares; conflitos de vizinhança; questões cíveis;
comercial;consumidor; ambiental; hospitalar; empresarial; penal.
5.1 A mediação penal
“A resolução do conflito é decidida entre as pessoas envolvida, fazendo com que a
vítima perceba o infrator como um ser humano e não apenas como um ser brutal, insensível ao
seu sofrimento, possibilitando-lhe a avaliação das circunstancias que o levaram a agir do modo
como agiu, desdramatizando o ato. Assim [...] reagindo de forma positiva e buscando a
reparação.” (SALES, 2006, p.123)
Portanto, “Percebe-se uma nova mentalidade para a justiça penal. Analisa-se o crime
como um conflito surgido no seio da sociedade e que deve ser discutido pelos protagonistas
desse problema. É chamada ‘justiça restaurativa’.” (SALES, 2006, p.120)
“Propõe-se então o diálogo, o reconhecimento do mundo do outro, com o intuito de se
compreender as atitudes e de se reparar satisfatoriamente o dano.” (SALES, 2006, p.124)
Pois, “O argüido readquire a sua dignidade ao assumir a responsabilidade pelo ato que
praticou, toma consciência dos danos materiais e psicológicos que provocou a vitima, podendo
encontrar uma forma de ressarci-la do mal praticado, em vez de ser uma solução para o feito.”
(PEDROSO, TRINCÃO, DIAS Apud. SALES, 2006, p.124)
Outro caso interessante é a mediação entre os jovens adolescentes e as vítimas, pois “A
mediação entre os adolescentes infratores e as vítimas permite que os adolescentes percebam o
sofrimento que causaram, reconhecendo o poder e o alcance de seus atos, e possibilita às
vítimas escutarem as motivações da atitude do infrator.” (SALES, 2006, p.127)
Lilia Maia de Moraes Sales apresenta uma forma de mediação, apresentada por
Vezzula, onde ela se adéqua aos adolescentes de forma especial. E é constituída das seguintes
etapas: Escolha dos adolescentes, pré-mediação, a primeira sessão de mediação, sessão de
mediação com a família e a sessão de mediação com a escola ou com a comunidade.
5.2 Mediação Hospitalar
“A mediação em meio médico-hospitalar pode ser expressa em três diferentes
perspectivas: em nível pessoal, a mediação pode proporcionar a resolução de conflitos entre os
distintos profissionais envolvidos [...] possibilitando que o trabalho, mesmo após a existência de
um conflito após a existência de um conflito, continue a ser realizado de maneira colaborativa,
respeitosa e pacifica; em nível organizacional, a mediação pode ser vetor de mudança
comportamental, fazendo com que os agentes envolvidos em um conflito, depois de resolverem
por si mesmos o problema, encontrem um meio de superar a dificuldade e se apresentem de
forma mais ativa e consciente para o trabalho em equipe, assumindo suas funções com mais
disposição; em nível do paciente, a mediação se apresenta ainda mais eficiente, pois
considerado que a relação médico/paciente baseia-se, fundamentalmente, na confiança e no
respeito mútuos, a manutenção dos laços, ainda que em um momento de conflito, é essencial.”
(SALES, 2006, p.120)
Pois, “quando se cria diálogo respeitoso e inclusivo, cria-se também um ambiente de
confiança e bem-estar. Essa é a proposta da mediação.” (SALES, 2006, p.130)
Porém, “No Brasil, ainda não há experiência concreta em mediação hospitalar.”
(SALES, 2006, p.130)
“Neste estudo buscou-se aprofundar três áreas especificas: familiar, tendo em vista as
especificidades desses conflitos [...]; escolar, considerando que a escola é um ambiente que
acolheu uma diversidade de relacionamentos e de relações contínuas, dos quais emergem os
mais variados tipos de conflito, ressaltando-se, ainda, que em virtude da falta da cultura do
diálogo nessas instituições, tem-se verificado altos índices de violência; comunitária[...] também
tem apresentado resultados surpreendentes[...] que influenciam diretamente na prevenção da
violência” (SALES, 2006, p.132)
Capítulo 6
6. A mediação e os Conflitos Familiares
Na família moderna de atualmente, “O afeto passo a ser um requisito muito importante
no reconhecimento das entidades familiares.[...] A existência de um elo de afetividade é o que
basta para o reconhecimento de uma entidade familiar.” (SALES, 2006, p.135)
“A família contemporânea, a partir dessas mudanças, passou a fundamentar seus
relacionamentos na igualdade, solidariedade, afetividade e liberdade.” (SALES, 2006, p.135)
“Essa mudanças ainda não foram completamente assimiladas pela sociedade de uma
maneira geral, por isso proporcionaram instabilidade familiar, uma vez que, com a ausência de
papéis preestabelecidos, os familiares passaram a questionar, a discutir e a negociar suas
diferenças.”
Desse modo a não existência de uma comunicação saudável acabou “gerando a má-
admistração dos conflitos, o que, em muitos casos, resultou em graves atos de violência
doméstica.” (SALES, 2006, p.135)
“Diante dessa conjuntura, verifica-se a necessidade da utilização nas relações familiares
de instrumentos adequados de solução de conflitos, garantindo a comunicação, a valorização do
outro e a continuidade pacífica das relações.” (SALES, 2006, p.136)
6.1 Conflito Familiar
“As rupturas das tradições provavelmente propiciam uma quebra nas relações
vinculares. Por isso representam um desarrumo no percurso do ritmo familiar, o que transforma
os laços em desenlaço, e a ordem de desconcerto, criando-se, assim, vivências de
transgressões.” (CAMPOS Apud. SALES, 2006, p.136)
“O conflito faz parte da vida social e da vida familiar [...] Numa família, entretanto,
solidariedade e conflito coexistem. Toda família funciona como uma unidade social
contraditória em que os recursos, os direitos, as obrigações e os interesses competitivos se
confundem.” (SALES, 2006, p.137)
“A existência de antagonismo e de contradições não deve ser considerada prejudicial às
famílias, já que os conflitos são essenciais ao crescimento e ao amadurecimento do ser humano”
(SALES, 2006, p.137)
Desse modo, “Os familiares devem aprender a resolver os problemas a partir da escuta e
do respeito mútuo, construindo vínculos e não os destruindo.” (SALES, 2006, p.138)
Porém, “Os conflitos discutidos são apenas aparentes, pois falar sobre as reais causas
seria doloroso e difícil de enfrentar.” (SALES, 2006, p.138) É comum discutir-se os conflitos
aparentes, pensando que se está discutindo o conflito real que é posto de lado.
Além disso, o conflito familiar não explode de repente, ele é também uma construção ao
longo do tempo e das experiências relacionais. Os conflitos são construídos ao longo da
convivência da família, mas vai apresentando.
Por isso, “A falta de diálogo e a dificuldade de se falar sobre o emaranhado de
sentimentos que realmente causam a insatisfação e a intranqüilidade resulta, em muitos casos,
em graves atos de violência familiar.” (SALES, 2006, p.140)
Pois, “Quando se sentem ameaçados, os integrantes da família não argumentam
ordenadamente para defender seus propósitos, assumindo uma conduta agressiva, violenta” e,
desse modo, “[...] resolve-se a questão com agressões física, psicologia ou moral.” (SALES,
2006, p.140)
“Casos comuns relacionados à violência doméstica são aqueles nos quais os papéis
antes socialmente determinados [...] passaram, com o tempo, a apresentar mudanças: a mulher
no mercado de trabalhos, sua qualificação profissional, o novo papel das crianças e dos
adolescentes.” (SALES, 2006, p.141)
“Assim, diante das peculiaridades que envolvem os conflitos de ordem familiar:
sentimentos e continuidade de vínculos, percebe-se a necessidade de mecanismos de solução de
conflitos que essencialmente estejam embasados no diálogo, na valorização do outro, na escuta
e no sentimento de cooperação – do individual ao coletivo.” (SALES, 2006, p.141)
6.2 Mediação Familiar
“Quando existe a possibilidade de comunicação para os problemas dessa natureza, a
vontade das partes consiste em uma verdadeira justiça.” (SALES, 2006, p.141)
“A mediação configura mecanismo que se propõe ao diálogo e à escuta, exigindo-se que
o mediador, a fazer com que os mediados percebam e compreendam os reais conflitos, possam
efetivamente discuti-los e, possivelmente, solucioná-los.” (SALES, 2006, p.142)
“Por sua grande aplicação nas questões familiares, esse procedimento passa a constituir
um importante instrumento de combate à violência doméstica.” (SALES, 2006, p.143)
Lilia Sales citando Danièle Ganância afirma: “A mediação familiar é, antes de tudo, o
lugar da palavra em que as partes, num face a face, sem outra testemunha, poderão verbalizar o
conflito e assim tomar consciência de seu mecanismo e do que está em jogo” (SALES, 2006,
p.144)
Criou-se, para isso, um projeto de lei e “Consoante o projeto de Lei ( PL n.4827/98
atualmente PL n.94/02) sobre a implementação da mediação de conflitos que tramita no
Congresso Nacional, é permitida a mediação em toda a matéria que admita conciliação,
reconciliação, transação ou acordo de outra ordem.” (SALES, 2006, p.145)
“Para a solução de questões familiares, o projetos de lei estabelece a necessidade da co-
mediação, devendo participar, além do mediador, um psiquiatra, psicólogo ou assistente social.”
(SALES, 2006, p.145)
“O Poder Judiciário, [...], representa um mecanismo adequado para solucionar os
conflitos de natureza familiar, desde que sua estrutura e procedimento favoreçam o diálogo.”
(SALES, 2006, p.145)
E, “Com o auxílio da mediação na estrutura do Poder Judiciário, muitas decisões
judiciais [...] ganharão uma qualidade ainda pouco vista.” (SALES, 2006, p.145)
6.2.1 Mediação nas separações e nos divórcios.
Lilia Sales ao citar Stella Breittman e Alice Costa Porto: “ O processo de Mediação
Familiar é uma alternativa mais saudável para essas situações. Seu objetivo não é reconciliar em
casal em crise, antes estabelecer uma via de comunicação que evite os dissabores de uma
batalha judicial.” (SALES, 2006, p.140)
“Na mediação, ressalta-se a importância da solidariedade que deve existir para que os
ex-cônjuges possam reconstruir suas vidas.” (SALES, 2006, p.147). E, além disso, a
preocupação que os ex-cônjuges devem com o futuro dos filhos, quando existem filhos.
“As separações e divórcios provocam mudanças nas atividades habituais desenvolvidas
pelos membros de uma família. São necessárias várias reparações até que se restabeleça o ciclo
familiar, que muitas vezes causam instabilidade emocional e financeira.[...] Salvo raras
exceções, essa instabilidade repercute diretamente nos filhos, que poderão se sentir
abandonados, ou até mesmo culpados pelo fim da relação dos pais.” (SALES, 2006, p.151)
Lilia Sales, lembrando Judith Wallerstein: “[...] Poucas crianças se sentem aliviadas
com a decisão do divórcio, e aquelas que se sentem assim geralmente são mais velhas e
presenciaram violência física ou conflito aberto entre os pais.” (SALES, 2006, p.151)
“Assim, em uma separação, devem-se buscar meios que possibilitem às pessoas
enfrentam todo o processo de mudanças. Além disso, também devem ser trabalhadas as
responsabilidades e as renúncias advindas de tais transformações.” (SALES, 2006, p.152)
Além disso, Lilia Sales cita Euclides de Oliveira: “A mediação vai mais longe, à
procura das causas do conflito, para sanear o sofrimento humano que daí se origina ao casal e
aos seus descendentes. O objetivo é evitar a escalada do conflito familiar que nem sempre se
extingue com o mero acordo imposto de cima pra baixo.” (SALES, 2006, p.152)
“Assim, a mediação promove a responsabilização dos envolvidos em um conflito. Não
se busca identificar o culpado pelo término da relação, mas a responsabilidade de cada um para
aquele momento e para um momento futuro.” (SALES, 2006, p.153)
“A separação de um casal, se bem administrada, será mais saudável para a criança do
que uma união infeliz” (SALES, 2006, p.154)
“A mediação oferece ao casal separado uma oportunidade de reorganização das suas
relações parentais de modo pacífico. A partir da escuta da realidade e dos anseios do outro,
verifica-se a possibilidade de restauração da confiança rompida.” (SALES, 2006, p.154)
“Nessa reorganização, o procedimento busca ressaltar a importância da co-
parentalidade, demonstra a necessidade dos filhos de manter ligação com seus pais. [...] na
medida uma maior compreensão do sistema familiar, favorecendo sua adequada atuação e
também uma conduta mais cooperativa entre o casal.” (SALES, 2006, p.154-155)
“Mesmo que não participe do procedimento, a criança deve sempre estar consciente da
situação, sendo informada das razões da separação de acordo com sua idade e capacidade de
compreensão.” (SALES, 2006, p.155)
“Nos casos de separação e divórcio, para a validação jurídica, atualmente, é
imprescindível a atuação do Poder Judiciário. Os mediadores não podem decretar a dissolução
da sociedade conjugal, mas sua atuação é fundamental na determinação das obrigações que
decorrem dessa dissolução, tais como: divisão de bens, guarda dos filhos, prestação alimentícia,
visitas, dentre outras.” (SALES, 2006, p.155)
“Dessa maneira, a mediação familiar proporciona verdadeiras transformações
conscientizando os mediados de que cada qual deve busca uma solução mutuamente satisfatória.
Busca-se desenvolver a responsabilidade dos envolvidos, sensibilizando-os para importância de
sua participação cooperativa nas decisões de reorganização da família.” (SALES, 2006, p.156)
6.3 Mediador Familiar
“Para atuar na área de família, o mediador deve conhecer a natureza desses conflitos,
bem como suas peculiaridades. Além disso, deve compreender as transformações que ocorreram
nas estruturas familiares, entendendo que todas as formas de constituição familiar devem ser
respeitadas.” (SALES, 2006, p.157)
Porém, “É importante salientar que o mediador diferencia-se do terapeuta. O processo
de mediação familiar objetiva facilitar o diálogo e solucionar de forma pacífica os problemas
dessa natureza, possibilitando uma convivência futura, mesmo depois dos conflitos. A terapia,
por sua vez, é mais duradoura e objetiva ocasionar mudanças profundas no comportamento dos
conflitos. [...] Ou seja, a terapia trata do passado para fazer com que a pessoa tenha uma vida
melhor no presente e no futuro e a mediação possui como foco principal o presente e o futuro.”
(SALES, 2006, p.157)
O que também a mediação tenta acabar é com os discursos prontos. “O mediador
familiar deve proporcionar a desconstrução desses discursos, fazendo com que os parentes
consigam restabelecer a comunicação.” (SALES, 2006, p.158)
E “A mediação possibilita o crescimento a partir da boa administração dos conflitos.
Desta feita o mediador deve sempre frisar a capacidade que os familiares possuem de resolver
seus conflitos, salientando que os efeitos da sessão de mediação devem contribuir para a
reorganização e a manutenção das relações parentais” (SALES, 2006, p.158)
“Para uma mediação ser bem sucedida, é necessário que o mediador conquiste a
confiança das partes, principalmente em relação aos conflitos familiares. Isto porque as pessoas
precisam, se sentir confortáveis e confiantes para expor suas intimidades: traições, desilusões,
amor não correspondido, abusos físicos e mentais etc. Para tanto, o mediador precisa esclarecer
o principio da confidencialidade, informando que as intimidades da família não serão expostas.”
(SALES, 2006, p.159)
“Principalmente na mediação familiar, o mediador precisa permanecer atento às suas
próprias emoções, no sentido de conservar sua imparcialidade.” (SALES, 2006, p.159)
“Nos casos de separações e divórcios, é aconselhável que os mediadores, quando
possível, separem as questões patrimoniais das questões pessoais. [...] O mediador deve sempre
ressaltar a importância da co-parentalidade e da solidariedade para que sejam resolvidas as
disputas sobre: guarda, regime de visitas, pensão alimentícia.” (SALES, 2006, p.159)
A cartilha sobre mediação familiar utilizada pelo Tribunal de Justiça de Santa Catarina
aponta como papel do mediador familiar:
“Estabelecer sua credibilidade como uma terceira pessoa imparcial e explicar o
processo e as etapas da mediação;
Acompanhar os pais na busca de um entendimento satisfatório a ambos,
visando aos interesses comuns e de seus filhos;
Favorecer uma atitude de cooperação, inibindo a confrontação freqüentemente
utilizada pelo sistema tradicional;
Encorajar a manutenção de contato entre pais e filhos;
Equilibra o poder entre os cônjuges favorecendo a troca de informações;
Facilitar as negociação” (SALES, 2006, p.160)
Capítulo 7
7. A escola na atualidade e a Mediação Escolar
Lilia Sales começa falando da violência presente na escola: “[...] confirmou-se essa
violência e percebeu-se que existem dois tipos de violência escolar: a interna e a externa. A
interna, que é chamada pela pesquisadora de institucional, é aquela que ocorre cotidianamente
dentro das escolas (ameaças verbais, agressão física, frustrações por falta de estrutura da escola)
e a externa configura-se na violência em seus arredores (ex: tráfico de drogas), que também
prejudica muito a escola.” (SALES, 2006, p.162)
“A violência externa estimula a inadaptação social que é reflexo da educação indevida
por parte da família ou pólo meio onde as crianças e os jovens vivem (bairro violento,
alcoolismo, drogas, tráfico, prostituição, violência doméstica, resolução de conflitos com base
na agressão verbal ou física), estimulando-os a agir conforme o que vivenciam diariamente.”
(SALES, 2006, p.163)
A professora Lilia Sales cita Miriam Abramovay: “A violência institucional é aquela
que está no cotidiano da sala de aula, que faz parte do sistema educacional.” (SALES, 2006,
p.163)
Lilia Sales depois fala da pesquisa que revela a violência externa e interna, o que resulta
no mal estar e na exclusão vividos pelos alunos na escola. “Confirmam-se, assim, como
desencadeadores de atos violentos, a desagregação familiar, o uso de drogas, a posse de armas,
o tempo excessivo expostos à televisão, ambiente escolar pouco atrativo e insegura, péssima
relação entre alunos e professores (indiferença, pouco diálogo, injustiça), dificuldade de
relacionamento entre os alunos(pouca cooperação ou solidariedade).” (SALES, 2006, p.165)
Além disso, “os colegas são os maiores responsáveis pela influencia para a realização
de atos indevidos cometidos pelos jovens, sendo maior inclusive do que a influência dos
traficantes.” (SALES, 2006, p.166)
“A violência nas escolas é um fator que assusta e prejudica (prejuízos físicos e
psicológicos) as crianças, os jovens e os adultos de todo o Brasil. Essa violência, aqui
confirmada pela pesquisada relatada, não é somente a violência física, mas a verbal e ainda a
violência que significa a falta de esperança em um futuro melhor” (SALES, 2006, p.167)
“Esse mal-estar torna a escola um ambiente hostil e pouco atrativo, o que apresenta
várias conseqüências: alto índice de reprovação, evasão escolar, exclusão (o sentimento de
exclusão, isolamento e solidão) e o ciclo vicioso da violência.” (SALES, 2006, p.168)
“Necessário se faz a implementação de políticas públicas que reconheçam essas
violências que geram a exclusão, afim de que sejam criados mecanismos que atinjam o núcleo
dessas violências. Aqui, mais uma vez, ressalta-se a violência psicológica, menos discutida, mas
de grande poder destrutivo.” (SALES, 2006, p.169)
Também “[...] devem ser criadas práticas que reconheçam e tratem a violência
psicológica, criem formas de interação entre os segmentos da escola, organizem a escola de
modo a dar segurança e, principalmente, proporcionem o respeito mutuo, tendo cada aluno,
professor e funcionário sua dignidade reconhecida e o entendimento da dignidade do outro,
preparando-se para o exercício da cidadania por meio da convivência pacífica.” (SALES, 2006,
p.169)
7.1 A construção da inclusão e da paz por meio do sentimento de bem-estar – o
estudo da psicologia positiva
“A psicologia positiva configura o ramo da psicologia que pretende valorizar
sentimentos como otimismo, felicidades, altruísmo, esperança, alegria, satisfação para a
compreensão, prevenção e tratamento de patologias” (SALES, 2006, p.160)
A psicologia, no entanto, tem deixado de construir a visão de ser humano a partir de
aspectos positivos. Somente com a positividade, pensamentos positivos e esperançosos.
Essa psicologia positiva tem como objetivos: “A psicologia positiva possui três pilares:
o primeiro é o estudo da emoção positiva; o segundo é o estudo dos traços positivos,
principalmente as forças e as virtudes; o terceiro é o estudo das instituições positivas (família,
liberdade), que dão suporte às virtudes que, por sua vez, apóiam as emoções positivas.”
(SALES, 2006, p.170)
“A psicologia positiva possui três pilares: o primeiro é o estudo da emoção positiva: o
segundo é o estudo dos traços positivos; o segundo é o estudo dos traços positivos,
principalmente as forças e as virtudes;o terceiro é o estudo das instituições positivas(família,
liberdade), que dão suporte às virtudes que, por sua vez, apóiam as emoções positivas.”
(SALES, 2006, p.170)
A psicologia, além disso, “[..]possui três níveis de vida feliz: a vida prazerosa, a vida
boa e a vida com sentido. Para a primeira, a receita é rechear a vida de todos os prazeres
possíveis e aprender mecanismos para desfrutá-los ao máximo.[...] O segundo nível, a vida boa,
que se refere ao que Aristóteles chamava eudaimonia, agora recebe a denominação de estado de
flujo.[...] O terceiro nível consiste em colocar sua virtudes e talentos a serviço de algo que sinta
mais importante do que você mesmo. Desta maneira a pessoa oferece um sentido a sua vida.”
(SALES, 2006, p.170-171)
Portanto, “o bem-estar autentico é fruto da integração das forças e virtudes do ser
humano, que, por sua vez, são as características positivas que levam aos bons sentimentos e à
gratificação.” (SALES, 2006, p.172)
“Assim, a fórmula de felicidade está sempre vinculada a três níveis: prazer,
engajamento (forças e virtudes) e significado.” (SALES, 2006, p.172)
“O engajamento (forças e virtudes) é o sentimento positivo que leva ao compromisso
que se tem com a vida, seja no campo profissional ou pessoal. E o sugnificado é o que dá
sentido à nossa vida: criar filhos ou fazer uma boa ação, por exemplo, participar de alguma
atividade que nos faça importantes para alguém ou por uma grande causa.” (SALES, 2006,
p.172)
7.1.1 A relação entre felicidade e longevidade – possíveis conseqüências de uma
vida feliz.
“Os dois estudos mostraram que o simples retrato(exteriorização) de uma emoção
positiva passageira pode prover convincentemente a longevidade e a satisfação pessoal.[...] O
otimismo é outro fator importante para a longevidade.” (SALES, 2006, p.174)
“Sobre a possibilidade de se prevenir doenças a partir do sentimento de bem-estar e
otimismo, apresentou-se que, em pesquisa durante a última década, o professor analisou se a
intervenção psicológica na juventude pode evitar depressão, esquizofrenia e abuso de
substancias tóxicas na idade adulta. Descobriu-se que ensinar a crianças de dez anos a
habilidade de pensar e agir com otimismo reduz à metade a quantidade de deprimidos ao
chegarem à adolescência.” (SALES, 2006, p.175)
Lilia Sales citando Seligman: “a melhor psicologia para as crianças é aquela que
investiga sentimentos positivos, como satisfação, felicidade e esperança. É aquela que pergunta
como as crianças conseguem adquirir forças e virtudes cujo exercício leva a esses sentimentos
positivos.” (SALES, 2006, p.175)
Com esse método, “o grupo vai criando uma energia positiva. Eles são muito
paparicados para tentar quebrar qualquer tipo de timidez. Vemos que ao longo da semana eles
vão mandando, brincam e riem mais. E os pais entram na brincadeira” (SALES, 2006, p.177)
“Assim, a partir do referencial teórico da psicologia positiva, adicionado ao referencial
empírico, ou seja, às experiências aqui explicitadas, considera-se que um caminho eficaz para
diminuir a exclusão e a violência (mal-estar) vivenciadas nas escolas é a implementação de
práticas que sejam embasadas nos princípios da psicologia (valorização de sentimentos, como
otimismo, felicidade, altruísmo, esperança, alegria e satisfação para a compreensão),
promovendo o sentimento de inclusão e bom entendimento (bem-estar) entre os vários
segmentos da escola (professores, alunos, funcionários, diretores, coordenadores), garantindo
práticas eficazes e auto-sustentáveis.” (SALES, 2006, p.178-179)
7.2 Práticas essencialmente positivas de prevenção à violência nas escolas
7.2.1 A transformação pela comunicação
A pesquisa feita em uma escola da Nova Zelândia “[...] concluiu, portanto, que entre os
professores e alunos, a partir da mudança na comunicação entre eles (cooperação, ganha-ganha,
escuta), o seu relacionamento apresentou uma evolução significativa, modificando o
comportamento de cada um, possibilitando um sentimento de bem-estar na escola. Esse bem-
estar incentivou a participação do aluno, a interação professor-professor, aluno-professor, aluno-
aluno, possibilitando uma real inclusão, uma valorização do ser humano, um sentimento de
bem-estar, diminuído a violência.” (SALES, 2006, p.180)
7.2.2 A modificação do ambiente de trabalho
“Existem vários estudos teóricos e empíricos que apontam a energia da cor do ambiente,
das roupas, das luzes como fundamental para o bem-estar da pessoa. A cromoterapia, por
exemplo, é uma terapia que emprega as diferentes cores para alterar ou manter as vibrações do
corpo na freqüência que resulta em saúde, bem-estar e harmonia. É o uso da energia das cores
para a harmonização e equilíbrio do indivíduo” (SALES, 2006, p.180)
“Assim a energia da cor ambiente, da paisagem que nele é desenhada, é importante para
que se produza um sentimento de bem-estar, de tranqüilidade e de paz, o que proporciona
resultados interessantes no comportamento das pessoas.” (SALES, 2006, p.181)
7.3 A mediação de conflitos escolares – uma proposta de inclusão por meio da paz.
“A cultura da paz é definida pela UNESCO como um conjunto de valores,
comportamentos e estilos de vida que rejeitam a violência e previnem os conflitos, resolvendo
os problemas por meio do diálogo e da negociação entre os indivíduos, os grupos e nações.”
(SALES, 2006, p.183)
Além disso, “A mediação possibilita a transformação da ‘cultura do conflito’ em
‘cultura do diálogo’ na medida em que estimula a resolução dos problemas pelas próprias
partes. A valorização das pessoas é um ponto importante, uma vez que são elas os atores
principais e responsáveis pela resolução da divergência.” (SALES, 2006, p.180)
“A visão positiva do conflito é considerada um ponto importante. [...] A mediação tenta
mostrar que as divergências são naturais e necessárias, pois possibilitam o crescimento e as
mudanças. O que será negativo é a má-administração do conflito.” (SALES, 2006, p.184)
7.3.1 A mediação de conflitos na escola
Diz Marcelo Rezende Guimarães: “a violência, tanto na educação no conjunto da
sociedade, constitui-se como uma forma de expressão dos que não têm acesso à palavra (...).
Quando a palavra não é possível, a violência se afirma e a condição humana é negada. Neste
sentido, a reversão e a alternativa à violência passam pelo resgate e devolução do direito à
palavra, pela oportunidade de expressão das necessidades e reivindicações dos sujeitos, pela
criação de espaços coletivos de discussão, pela sadia busca do dissenso e da diferença, enfim,
pela mudança das relações educacionais, ainda estruturadas no mandar e obedecer, para uma
forma mais democrática e dialógica.”
“A resolução construtiva dos conflitos implica em compreender o conflito como algo
natural, simplificando a existência de divergências e facilitando a sua resolução. [...] pelo
método ganha-ganha, e mostrou que é significativamente mais bem sucedido do que todos os
outros modelos estudados, especialmente porque aumenta a auto-estima e a capacidade de
cooperação da criança.” (SALES, 2006, p.186)
Lilia Sales diz ainda, citando Maria do Céu Lamarão Battaglia: “considerando a escola
como instituição que objetiva a educação cultural e social do homem, a mediação escolar se
coloca como um convite à aprendizagem e ao aperfeiçoamento da habilidade de cada um na
negociação e na resolução de conflito, baseada no modelo ‘ganha-ganha’, onde todas as partes
envolvidas na questão saem vitoriosas e são contempladas nas resoluções tomadas” (SALES,
2006, p.187)
Portanto, “a mediação escolar se caracteriza por possibilitar, dentro da escola, a
educação em valores, a educação para a paz e uma nova visão acerca dos conflitos.” (SALES,
2006, p.187)
“Este enfoque da mediação privilegia a formação participativa dos estudantes,
incluindo-os nas decisões escolares, criando um compromisso social e exercitando a cidadania,
em prol de uma educação que objetive formar jovens comprometidos com sua realidade
familiar, social, política, econômica e social.” (SALES, 2006, p.188)
Citando Lauren Bradway, Lilia Sales organiza algumas dicas de como fazer esse tipo de
estímulo: “Enfatize o autoconhecimento, a empatia pelos outros e a alegria de aprender. O
aprendizado cooperativo dá suporte a pacificação. Se continuarmos a patrocinar a competição,
jamais termos sucesso em ensinar nossas crianças e serem apaziguadoras.” (SALES, 2006,
p.180)
“Concordando com este entendimento, Maria Tereza Maldonato assevera que ‘para
construir uma cultura de paz é preciso mudar atitudes, crenças e comportamentos, até se tornar
natural resolver os conflitos de modo não violento (por meio de acordos) e não de modo hostil’”
(SALES, 2006, p.180)
“A mediação escolar, portanto, quando no ambiente escolar, tem como objetivos
desenvolver uma comunidade em que os alunos desejem e sejam capazes de praticar uma
comunicação aberta; ajudar os alunos a desenvolverem uma melhor compreensão da natureza
dos sentimentos, capacidades e possibilidades humanas; contribuir para que os alunos
compartilhem seus sentimentos e sejam conscientes de suas qualidades e dificuldade;
possibilitar aos alunos desenvolver autoconfiança em suas próprias habilidades; e desenvolver
no aluno a capacidade de pensar criativimente sobre provlemas e a começar a prevenir e
solucionar os conflitos.” (SALES, 2006, p.189)
7.3.2 O surgimento da mediação escolar
“- O conflito é parte inevitável da vida e pode ser usado como um momento de
aprendizagem e crescimento pessoal pelos estudantes;
-Como o conflito é inevitável, o aprendizado das habilidades de resolvê-lo é tão
educativo e essencial para o desenvolvimento dos estudantes como o aprendizado da geografia
ou da história;
- Na maioria das ocasiões, os estudantes podem resolver seus problemas com a ajuda de
outros estudantes de uma maneira tão adequada quanto com a ajuda dos adultos;
- Incentivar os estudantes a resolver suas disputas de forma colaborativa é um método
mais efetivo de prevenir futuros conflitos (e desenvolver a responsabilidade estudantil), do que
aplicar castigos pelas ações passadas.” (SALES, 2006, p.190-191)
Um programa de mediação escolar argentino citado por Lília Sales “objetivou, entre
outros pontos, recuperar e articular as experiências orientadas à prevenção da violência e ao
melhoramento da convivência escolar, com novas ações de difusão, formação e assessoramento
para a implementação de projetos específicos; difundir os métodos e técnicas de negociação
colaborativa e mediação entre professores e diretores; e promover a implementação de projetos
institucionais de mediação entre pares para o tratamento dos conflitos que emergem da
comunidade escolar, focalizado nos alunos.”
“O projeto teve como principais conseqüências: a construção da autonomia no exercício
do compromisso, da colaboração e da responsabilidade solidária; a articulação com outras
instituições educativas, de saúde e culturais; a criação de tempo e espaços formais na instituição
para a participação comprometida dos pais; a criação de espaços institucionais para que os
docentes administrem os conflitos e trabalhem a busca de soluções; a valorização da autoridade
sobre o autorismo, dando vida a valores em constante construção; e a adesão e o compromisso
dos atores institucionais para enfrentar, administrar e/ou resolver os conflitos.” (SALES, 2006,
p.194)
“A mediação social intercultural objetiva administrar os problemas existentes entre
pessoas de diferentes culturas, bem como melhorar a relação entre elas, promovendo o
reconhecimento do outro, o aprimoramento da comunicação, a compreensão mútua e o
desenvolvimento da convivência entre os diferentes, o que promove o aprendizado da
tolerância.” (SALES, 2006, p.190)
7.3.3 A mediação escolar no Brasil
“No Brasil, ainda são poucas as experiências em mediação escolar.[...] Uma das
iniciativas brasileiras no campo da mediação escolar que pode ser destacada é o projeto Escola
de Mediadores.” (SALES, 2006, p.196)
“O projeto foi aplicado em duas escolas públicas do município do Rio de Janeiro, uma
na Zona Sul e outra na Zona Norte da cidade, onde alunos de 6ª e 7º séries foram capacitados
mediadores para atuarem na resolução de conflitos entre colegas.” (SALES, 2006, p.196)
Como objetivos específicos, podem ser relacionados:
Sensibilizar a direção, staff gerencial (diretores, coordenadores, entre outros),
corpo docente e funcionários, pais e alunos para acolher, aderir, apoiar e
participar do Projeto[...]
Elaborar o programa adotado pela escola de acordo com os segmentos que se
pretende contemplar e capacitação adequada.
Durante a capacitação promover aplicação de habilidades para atuar como
terceiro imparcial.
Elaboração de workshops em facilitação de diálogo para a aplicação de
habilidades para atuar nos diálogos do cotidiano, buscando, assim, ampliar e
aprimorar as habilidades.
Capacitação, acompanhamento e supervisão dos multiplicadores[...] oferecer a
compreensão teórica da proposta e utilização adequada das dinâmicas em
facilitação de Diálogos, a ampliação de habilidades gerais e específicas para
atuação na função de multiplicadores, a atuação como multiplicadores, sob
supervisão, em workshops subseqüentes, autonomia na coordenação de
workshops em facilitação de diálogos para o contexto escolar.
Acompanhamento da operacionalização da mediação por quatro meses
subseqüentes ao termino da capacitação com o fim de garantir a utilização
adequada dos recursos de mediação escolar.
Acompanhamento da eficácia do projeto durante sua execução e avaliação
final.- Fórum reflexivo[...] aferir o alcance das metas/objetivos qualitativos
quantivos; implementar correções e ajustes para sanar eventuais distorções ao
longo do projeto; produzir um relatório final que compile os relatórios parciais;
identificar e compartilhar as repercussões do projeto para todos os parceiros.
“De acordo com o Mediares, a metodologia aplicada, conforme objetivos apresentados,
inicia-se com a sensibilização, pois o tema mediação é pouco conhecido e sua essência[...] é
pouco comum na atualidade. A primeira etapa (sensibilização) visão, progressivamente, ao
acolhimento do Projeto pela direção da escola, a adesão por parte do corpo docente e dos
funcionários, o apoio dos pais e a participação dos alunos, convidando a todos,
simultaneamente, a serem co-autores dos objetivos do projeto.” (SALES, 2006, p.199)
“A segunda fase do projeto é a diagnóstica, realizada por entrevistas com os vários
segmentos da escola [...]” (SALES, 2006, p.199)
“em uma fase posterior à etapa do diagnóstico situacional inicia-se a capacitação de
mediadores escolares e a de multiplicadores em facilitação de diálogos [...], assim como os
workshops em facilitação de diálogos. Em seguida acontece o acompanhamento das atividades
do projeto e o acompanhamento para identificar a eficácia do Projeto.” (SALES, 2006, p.199)
“A metodologia utilizada pelo Projeto fundamenta-se na construção do conhecimento e
da co-autoria a instituição escolar pode escolher o programa de capacitação de mediadores
escolares e/ou o de facilitadores de diálogos e indicar para esses programas seus diferentes
segmentos – direção, coordenação, professores, funcionários, alunos e pais.” (SALES, 2006,
p.200)
Portanto, “A mediação escolar, fundamentada na psicologia positiva, apresentando
práticas que permitem o bem-estar por meio do diálogo, representa, portanto, um excelente
mecanismo para promover a inclusão e a pacificação, sempre por meio da comunicação
participativa, dando voz e vez aos excluídos.” (SALES, 2006, p.201)
Capítulo 8
8. Mediação Comunitária
“A mediação comunitária é realizada nos bairros de periferia das cidades metropolitanas
com o fim de propiciar o diálogo entre as pessoas que convivem cotidianamente, solucionando
conflitos e possibilitando a paz social.” (SALES, 2006, p.202)
“Os mediadores comunitários são comunitários são geralmente moradores da própria
comunidade que são capacitados por meio de curso de mediação de conflitos e trabalham
voluntariamente ou não(dependendo da instituição a qual estão vinculados).” (SALES, 2006,
p.202)
“Portanto, A mediação comunitária é democrática porque estimula a participação ativa
das pessoas na solução de conflitos, permite o acesso à justiça (resolução de conflitos) por parte
dos hipossuficientes e propicia a inclusão social quando deixa que eles busquem por eles
mesmo a solução de seus problemas.” (SALES, 2006, p.203)
8.1 A Mediação no estado do Ceará – a experiência da mediação comunitária
8.1.1 As casas de mediação comunitária
“No Ceará, existem atualmente 7 (sete) casas de mediação, das quais três na Capital,
uma na região metropolitana e três no interior do Estado.” (SALES, 2006, p.203)
“As casas de mediação atuam de maneira preventiva à violência, pois os conflitos
solucionados de maneira rápida, pelas próprias partes, sem interferência de uma outra instância,
não traduzem mais conflitos.[...]O programa CMC busca contribuir para a melhoria da vida das
pessoas, pois atua incisivamente no conflito que pode se tornar, em curto prazo, motivo gerador
de crimes considerados aparentemente sem uma justificativa lógica, além de prevenir a
violência familiar” (SALES, 2006, p.204)
É um projeto que não é só de assistência, mas é também um projeto “[...] visa a
aproximar as comunidades para a realização desse projeto, já que encontra nos moradores locais
e líderes comunitários a equipe ideal de trabalho. Pretende-se indivíduos, pois não é possível
existir democracia ou direito de escolha quando parte da população vive à margem de qualquer
decisão.” (SALES, 2006, p.205)
8.1.2 A criação da casa de mediação comunitária
“Apresentou-se a idéia da mediação comunitária, como forma de bem administrar as
divergências naturais do relacionamento humano.” (SALES, 2006, p.202)
“Para a criação das Casas de Mediação Comunitária participaram profissionais da área
do Direito, da Psicologia, da Psiquiatria, do Serviço Social e uma consultoria especializada,
formando assim uma equipe multidisciplinar para estudos sistemáticos de uma metodologia
adequada, pois a técnica seria criada para as pessoas da comunidade e com o trabalho
voluntário.” (SALES, 2006, p.206)
8.1.3 A instalação da casa de mediação comunitária
“O primeiro passo para a instalação de uma Casa de Mediação é a reunião de
sensibilização. Nesta reunião, explica-se o projeto da Casa de Mediação: a missão e objetivos da
Casa, o perfil do mediador, o funcionamento da Casa e todos os assuntos referentes ao tema.”
(SALES, 2006, p.206)
“Realizada essa primeira reunião, inicia-se a segunda fase, que é o recrutamento e
seleção dos mediadores.” (SALES, 2006, p.206)
“Dá-se, então, início ao curso de capacitação com duração de, no mínimo, 40 horas, o
qual visa ao primeiro treinamento dos candidatos a mediadores, já que o treinamento é contínuo.
O curso de capacitação possibilita o início dos trabalhos na Casa.” (SALES, 2006, p.207)
“Depois de implantada a Casa, são enviados convites e informativos da casa de
mediação para toda a comunidade, principalmente para as delegacias, juizados especiais,
diretores de escolas, diretores de hospitais e todos os que possuam representação na
comunidade.”
Porém nem todos os conflitos podem ser resolvidos na casa de mediação, então “[...]
Determinados problemas que fogem à competência da Casa de Mediação devem ser
encaminhados para os órgãos competentes, tornado-se mais simples o contato quando esses
órgãos já conhecem o trabalho das Casas.” (SALES, 2006, p.207)
“As casas de Mediação já estão previstas no orçamento do estado. O planejamento
prevê a sua instalação e manutenção. Não há pagamento pelos serviços dos mediadores, pois
todos são voluntários.” (SALES, 2006, p.207)
8.1.4 Os mediadores comunitários
“O respeito que os mediadores conquistarem no desempenho de sua função, com perícia
e honestidade, será decisivo para que a mediação comunitária se estabeleça no Brasil como
processo eficaz para a solução de controvérsias.” (SALES, 2006, p.208-209)
“Os mediadores das CMCs são escolhidos entre os membros da própria comunidade. Os
interessados (membros da comunidade) colocam-se à disposição para se integrar ao projeto das
Casas, participam dos cursos de capacitação e passam a mediar conflitos.” (SALES, 2006,
p.209)
“A Sociologia, a Psicologia, a Ciência Jurídica e cursos de relações sociais são
instrumentos que o mediador necessita conhecer para aprimorar-se, melhorando continuamente
suas atitudes e suas habilidades profissionais.” (SALES, 2006, p.209)
8.1.5 A capacitação dos mediadores
O curso de capacitação é hoje realizado em 40 horas. “São abordadas as normas
referentes ao processo de mediação, as regras relacionadas à ética do mediador, o perfil do
mediador, as técnicas de comunicação, as técnicas de escuta, a relação de poder entre as
pessoas.” (SALES, 2006, p.209)
“Depois de instalada a CMC, são ministrados outros cursos de capacitação, como na
área jurídica (família, consumidor, ambiental), de Português (ortografia e produção de textos), a
partir da demanda da comunidade e da necessidade dos mediadores. Esses cursos são contínuos,
na mediada do interesse dos mediadores.” (SALES, 2006, p.210)
No bairro Pirambu, foi instalada a primeira Casa de Mediação Comunitária do Ceará.
Os mediadores tiveram aulas de Direito e Mediação. Direito de família, penal, constitucional,
Consumidor, ECA, dentre outros, e as normas referentes à mediação. O curso, portanto,
apresentou cunho eminentemente jurídico.
“Com o passar do tempo, verificou-se que havia a necessidade de maior aprimoramento
no tocante às técnicas de relacionamento, comunicação e trabalho em grupo. Daí o curso de
capacitação teve seu perfil modificado, tendo como matérias principais aquelas que aprimoram
o aspecto, social, deixando a área jurídica reservada para cursos posteriores na medida das
exigências dos próprios mediadores [...] a necessidade de se trabalhar o aspecto social, a
importância do trabalho em equipe, as relações de poder e as técnicas de comunicação e de
escuta.” (SALES, 2006, p.210-211)
8.1.6 O processo de mediação na CMC
“Ao explicar o problema, cabe ao mediador analisar se o conflito é ou não de
competência da CMC.[...] Ao verificar a competência da CMC para resolver o conflito, é
expedida uma carta-convite para que a parte demandada tome ciência do problema e compareça
à CMC no dia e hora marcados.” (SALES, 2006, p.211) Acarretando em desistência se a parte
que demanda faltar por 2 vezes e também se a parte demanda faltar 2 vezes.
“Sendo iniciado o processo de mediação, normalmente realizado por dois
mediadores(co-mediação), as partes iniciam suas explicações. Não há uma ordem estabelecida
de quem falará primeiro. É determinada, no entanto, a necessidade do diálogo entre as partes
para que haja equilíbrio na discussão e na comunicação, evitando manipulações. Os mediadores
possuem seus horários explicitados em uma tabela nas CMCs, daí cabe à parte escolher o
mediador e se adaptar ao horário dele. A parte contrária possui o direito de não aceitar o
mediador escolhido. São realizadas até quatro sessões de mediação sobre o mesmo conflito.
Caso não haja êxito na sua resolução, as parte são encaminhadas a outros órgãos estatais
adequados.” (SALES, 2006, p.212)
“Havendo acordo, o mediador relata todo o procedimento e reduz a termo a decisão das
partes. O termo de compromisso é assinado pelos mediadores, pelas partes e pela pessoa
responsável pela coordenação.” (SALES, 2006, p.212)
8.2 A Casa de Mediação Comunitária da Parangaba – o relato de uma experiência.
Na CMC da Parangaba foi realizada uma pesquisa por Lilia Sales, “a qual nasceu da
necessidade de se comprovar ou eventualmente contestar, tudo o que foi aprendido teoricamente
sobre mediação. Utilizaram-se como ponto de partida os seguintes questionamentos: a mediação
e a jurisdição são meios compatíveis de acesso à justiça? Em quais casos a mediação e
indicada? Quais as diferenças entre a mediação e os demais mecanismos de solução de
conflitos? De que maneira a mediação comunitária é um instrumento de acesso à justiça?”
(SALES, 2006, p.213)
Com isso, a mediação visava apenas a auxiliar o Poder Judiciário, fortalecendo-o e não
competindo com ele.
“Por fim, acreditava-se que a mediação comunitária era um instrumento de acesso à
justiça na medida em que, além de solucionar os conflitos atuais, prevenia a má gestão de novos
conflitos, incluindo socialmente os indivíduos marginalizados.” (SALES, 2006, p.214)
Até o momento da confecção do Livro, tinham passados cinco anos da CMC da
Parangaba e foram coletados dados sobre o numero total de atendimentos realizados, dividindo-
os em consultas jurídicas e número de processos de mediação abertos.
“Dividiram-se os dados coletados em atendimentos, sendo estes processos de mediação
abertos a consultas jurídicas; mediações, sendo estas com objetivos alcançados e objetivos não
alcançados; e situação do processo, apresentando-se como encaminhados, desistências e
arquivados.” (SALES, 2006, p.215)
“Ou seja:
Atendimentos:
PROCESSOS DE MEDIAÇÃO ABERTOS: Decorrem de conflitos que se
adaptam ao uso da mediação.
CONSULTAS JURÍDICAS: São problemáticas que não geram processo de
mediação, sendo então realizados aconselhamentos ou consultas jurídicas.
Mediações:
OBJETIVOS NÃO ALCANÇADOS: Ocorre quando os mediados não chegam
a um consenso durante a reunião de mediação
OBJETIVOS ALCANÇADOS: Ocorre quando há acordo durante a reunião de
mediação.
Situação dos processos:
ENCAMINHADOS: Pode ocorrer nos casos em que não houver acordo ao
término da reunião de mediação, ou seja, quando objetivos não foram
alcançados.
DESITÊNCIAS: Pode ocorrer depois que o processo é aberto em duas
situações: quando o reclamante retorna à Casa e manifesta o deseja de não
prosseguir com a demanda ou quando ambas as partes não comparecem à
reunião de mediação.
PROCESSOS ARQUIVADOS: Ocorre o arquivamento dos processos quando
estes, de alguma forma, foram concluídos, ou seja, a mediação teve os seus
objetivos alcançados ou não; houve desistências ou os processos foram
encaminhados aos órgãos competentes.” (SALES, 2006,p.215-216)
“Do total dos processos de mediação da Casa de Mediação da Parangaba, em média,
51% (570) registraram objetivos alcançados; 10%(115) registraram objetivos não alcançados;
19% (216) representaram as desistências 20% (228) representaram os encaminhamentos.”
(SALES, 2006, p.210)
“Compreendendo, portanto, que os objetivos alcançados e os encaminhamentos são
ambos formas de solução de conflitos e acesso à justiça, pois o primeiro resolve a controvérsia
propriamente dita e a o segundo indica o caminho pelo o qual aquele pode ser solucionado,
pode-se verificar que mais de 62% dos conflitos que chegam à CMC da Parangaba são, de
alguma forma, solucionados.” (SALES, 2006, p.217)
Assim, “A mediação de conflitos garante a concretização de direitos fundamentais,
como o acesso à justiça, contribuindo assim para efetivação do Estado Democrático de Direito.”
(SALES, 2006, p.217)
“A maioria dos conflitos, ou mais especificamente 37,98%, é relacionada a questões
familiares, pois se sabe que esse tipo de conflito é o mais comum devido a uma maior
intimidade das pessoas e configura o mais indicado para se utilizar o processo de mediação,
visto tratar-se de coflitos entre pessoas com relações duradouras.” (SALES, 2006, p.219)
“De acordo com a observação realizada, constatou-se que o início de um processo de
mediação ocorre quando uma das partes (requerente) procura a casa de mediação comunitária
com o intuito de resolver seu conflito de interesses.” (SALES, 2006, p.220)
“O processo de mediação não tem um tempo de duração preestabelecido. A sua duração
pode variar de trinta minutos a quatro horas, dependendo da complexidade do conflito a ser
tratado, da habilidade do mediador para administrá-lo e, principalmente, da boa vontade das
partes para dialogarem e encontrarem uma solução favorável a ambas.” (SALES, 2006, p.221)
Depois, a professora entrevistou mediados e mediadores. Os resultados serão
apresentados a seguir.
“Quando indagado o motivo pelo qual os mediados procuraram a Casa de Mediação e
não o Poder Judiciário para resolver seus problemas, a maioria das respostas se referiu à
lentidão e à forma severa com que o Poder Judiciário resolve os conflitos, preferindo assim
solucionarem de uma maneira mais amigável” (SALES, 2006, p.224)
“Foi perguntado aos mediados o que eles entendem por mediação, e a maior parte disse
que a mediação significa resolver os problemas das duas partes, por meio do diálogo, do
entendimento; chegar a um acordo, sem precisar ir ao Poder Judiciário.” (SALES, 2006, p.224)
“Quando se indagou aos mediados se eles haviam ficado satisfeitos com a solução
entcontrada na mediação e o por quê, todos responderam que sim, porque asolução encontrada
era o que realmente desejavam e que, há muito tempo, tentavam resolver o conflito, mas não
conseguiam dialogar com a outra parte” (SALES, 2006, p.225)
“Perguntou-se aos mediados se aconselhariam para outras pessoas o uso da mediação e
o motivo. Grande parte respondeu que aconselharia a mediação, pois, além de se resolver rápido
os conflitos, pode-se contar com o auxílio de uma pessoa.” (SALES, 2006, p.225)
“Quando se perguntou aos mediados se eles procurariam de novo a Casa para resolver
outros conflitos ou buscariam o poder judiciário e qual o motivo, todos afirmaram que preferiam
procurar primeiramente a Casa de Mediação, pois é mais rápido, e a solução encontrada é
melhor, mas, caso não fosse resolvido, então procurariam o Poder Judiciário.” (SALES, 2006,
p.226)
“Foi perguntado aos mediados, caso o problema não tivesse sido solucionado por meio
da mediação, se eles procurariam o Poder Judiciário e o porquê. Alguns responderam que sim,
pois não podiam desistir de um direito deles, mas outro afirmaram que não procurariam o Poder
Judiciário, por que já haviam tentado solucionar judicialmente seus conflitos sem obter
sucesso.” (SALES, 2006, p.226)
“Indagou-se aos mediados se eles acham que a mediação é uma maneira de se alcançar
a justiça e o porquê. Todos, sem exceção, disseram que sim, pois resolve os problemas de uma
maneira justa e encoraja-os a buscar seus direitos.” (SALES, 2006, p.227)
“Por fim, foi indagado aos mediados se a mediação veio para auxiliar ou substituir o
Poder Judiciário e o porquê. Todos afirmaram que a mediação veio para auxiliar o poder
judiciário, porque, caso o conflito não seja solucionado por meio da mediação, sempre se poderá
buscar o Poder Judiciário, uma garantia constitucional.” (SALES, 2006, p.227)
- Aos Mediadores.
“Quando se perguntou aos mediadores o que eles entendem por mediação, grande parte
das respostas afirmou que a mediação é uma forma de se solucionar os conflitos
consensualmente, de uma maneira favorável para ambos e com o auxílio de um terceiro
imparcial.” (SALES, 2006, p.228)
“Perguntou-se aos mediadores quais os principais objetivos da mediação. Alguns
responderam que é desafogar o Poder Judiciário, resolvendo os conflitos de uma maneira mais
fácil, satisfazendo as partes; outros, que é uma forma de se impedir o surgimento de novos
conflitos e o agravamento dos atuais por meio da mudança de visão de mundo das partes.”
(SALES, 2006, p.228)
“Quando se perguntou aos mediadores se eles acreditam que esses objetivos são
realmente alcançados e o porquê, alguns responderam que sim, pois há, na mediação, um
trabalho de reflexão e empatia, no qual as partes aprendem a compreender os outros e a si
mesmas; outros disseram que não se pode garantir que realmente alcançam-se os objetivos, por
que não há um feedback das partes.’’ (SALES, 2006, p.229)
“Foi perguntado aos mediadores se a mediação veio para auxiliar ou substituir o Poder
Judiciário e o porquê. Todos concordaram que ela veio auxiliar o Poder Judiciário, pois, além de
ajudar a desobstruí-lo, é mais adequada para a resolução de determinados conflitos que o Poder
Judiciário não poderia resolver nas respostas de alguns mediadores” (SALES, 2006, p.229)
“Perguntou-se aos mediadores quais as principais diferenças entre a mediação e os
demais meios de resolução de conflitos. Todos responderam que a mediação é bem diferente,
porque a decisão do conflito é oriunda da vontade das partes.” (SALES, 2006, p.230)
“Quando se perguntou aos mediadores se eles realizam uma mediação realmente pura
ou uma conciliação e qual o motivo, alguns afirmaram que, na realidade, não seguiam fielmente
os preceitos mediacionais, realizando uma mediação impura, isto é, intervindo um pouco,
quando e se necessário na escolha de uma solução para o conflito; outro acreditavam na
mediação pura e a praticavam seguindo seus princípios.” (SALES, 2006, p.231)
“Quando se indagou aos mediadores se eles acreditam que, após a mediação, as partes
se sentem mais capazes e seguras para resolverem sozinhas futuros conflitos e o porquê, alguns
disseram que sim, pois as partes saem mais confiantes em si e com mais autonomia, sentindo-se,
portanto, aptas para solucionar seus problemas; outros acreditavam que essa independência é
possível para algumas pessoas, mas para outras não.” (SALES, 2006, p.231)
“Perguntou-se aos mediadores se eles acreditam que, após a mediação, o
relacionamento entre as partes melhora e o porquê. Todos disseram que acreditam que sim,
porque a mediação abre um espaço para a escuta e ensina não só a ouvir o outro, mas a
compreendê-lo e aceitá-lo com suas diferenças.” (SALES, 2006, p.231)
“Perguntou-se aos mediadores o que eles acham necessário para ser um bom mediador e
o porquê. Todos foram unanimes em dizer que a paciência é uma característica essencial para
ser um bom mediador. Também afirmaram que um curso de capacitação é importante para a sua
melhor formação.” (SALES, 2006, p.232)
“Foi perguntado aos mediadores se eles acham que a mediação comunitária é um
instrumento de acesso à justiça e como. Todos concordaram com o fato de a mediação ser um
meio de se alcançar a justiça, na mediada em que as partes conflitantes são tratadas com
igualdade e possuem autonomia para resolverem seus problemas por si mesmas.” (SALES,
2006, p.233)
“Como se pode perceber, a Casa de Mediação Comunitária de Parangaba é, sem dúvida,
um instrumento democrático de acesso efetivo à justiça, visto que propicia a solução pacífica
dos com a participação ativa das pessoas envolvidas. Ademais, esclarece sobre seus direitos e
deveres, além de incentivar o espírito de cooperação, de compreensão mútua, estimulando o
diálogo e contribuindo para se alcançar a paz social.” (SALES, 2006, p.234)
8.3 O ministério público e o Núcleo de Mediação comunitária do Ministério
público do estado Ceará.
“Nas palavras de Alessander Sales, ressalta-se que por expressa fundamentação
constitucional, passou o Ministério Público a exercer a defesa da sociedade e dos chamados
direitos de cidadania.” (SALES, 2006, p.235)
“Esta Procuradoria, chefiada pelo Procurador Federal dos Direitos do Cidadão,
designado pelo Procurador Geral da República para coordenar, em cada unidade da federação, a
atuação dos Procuradores Regionais do Direitos do Cidadão, possui como objetivo a proteção
dos direitos individuais, coletivos e difusos protegidos constitucionalmente.” (SALES, 2006,
p.235)
“O ministério Público do estado do Ceará, cioso de sua função como defensor da
sociedade, tem criado várias formas de garantir o Estado Democrático de Direito, por meio da
defesa dos direitos fundamentais constitucionalmente garantidos. Assim, em uma atitude
inovadora, a então Procuradora Geral de Justiça, Dra. Socorro França, idealizou o primeiro
Núcleo de Mediação Comunitária no Brasil vinculado ao Ministério Público.” (SALES, 2006,
p.236)
8.3.1 A criação do Núcleo de Mediação Comunitária
“O núcleo apresenta como objetivos:
- oferecer à comunidade um instrumento de cidadania que venha garantir um
atendimento rápido, gratuito e eficiente, por meio de seus próprios membros;
- contribuir para a boa administração dos conflitos e redução dos índices de violência
por meio da mediação e da conciliação;
- incentivar a organização da sociedade civil por meio da participação ativa dos
indivíduos na solução de conflitos e nas discussões sobre garantia de direitos;
-oferecer um espaço público de discussão, diálogo e escuta para a comunidade;
-contribuir para a qualidade de vida, orientando a comunidade sobre os seus direitos e
deveres, colaborando para compreensão e efetivação da cidadania;
-incentivar a prática do serviço voluntário.” (SALES, 2006, p.238)
8.3.2 A capacitação dos mediadores comunitários
“[...] a Procuradoria de justiça firmou um convênio com o Instituto de Mediação e
Arbitragem do Ceará – IMAC. Nesse convenio, o IMAC objetivou, principalmente, prover o
Núcleo de Mediação do Ministério Público do estado do Ceará de pessoas capacitadas a
exerceram o papel de mediador em condições de atuarem como um terceiro imparcial na
solução de conflitos; estimular a prática da mediação de conflitos entre as partes divergentes, a
fim de evitar a má administração de problemas comunitários; estimular a prática do diálogo
pacífico e colaborativo de forma a disseminar uma cultura de paz; e, finalmente, evitar que
conflitos cotidianos passíveis de solução por meio do diálogo com auxílio de mediador sejam
encaminhados ao Poder Judiciário, onerando o Estado e sobrecarregando os juízes.” (SALES,
2006, p.239)
Tal curso apresentou a metodologia com o uso de Aulas expositivas, oficinas, simulação
de casos, acompanhamentos de casos concretos e Mediação de caso concreto. Ou seja, todas as
etapas que uma mediação pura deve passar para ter efetivada o seu método completa.
“O mediador deve, portanto, ser capacitado para o exercício da mediação. Essa
capacitação inclui o aprendizado contínuo teórico e prático. [...] o mediador deve ser
vocacionado para o essa função. O bom mediador é fundamentalmente aquele percebe o sentido
exato da mediação.” (SALES, 2006, p.240)
8.3.3 As atividades do Núcleo de Mediação Comunitária do Ministério Público –
Vinculado à 17ª Unidade dos Juizados Especiais – Bairro João XXIII e Pacatuba – CE
“O programa é composto por um grupo de mediadores que exercem atividade voluntária
atuando em dupla na busca da administração de conflitos a partir das reuniões para mediação.
Atualmente a capacitação desses mediadores é realizada pelo Centro de Desenvolvimento
Humano da Procuradoria Geral de Justiça.” (SALES, 2006, p.241)
“São atividades de rotina do Núcleo de Mediação Comunitária do Ministério Público:
Atendimento/abertura do processo;
Escuta ativa das partes – reclamante e reclamado;
Mediação e conciliação comunitária;
Reuniões com a equipe de trabalho – mediadores para o fortalecimento das
relações interpessoais e intergrupais;
Reuniões com a comunidade para problematização de temas geradores de
reclamações/processos.
Encaminhamento para outras instituições quando a natureza do conflito
transcender a competência do Núcleo.” (SALES, 2006, p.242)
“O ministério Público do estado do Ceará, por meio da criação dos Núcleos de
Mediação Comunitária, coloca à disposição da sociedade um instrumento efetivo de acesso à
Justiça, inclusão e pacificação sociais, comprovando a sua função constitucional de defensor da
ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.”
(SALES, 2006, p.243)
Capítulo 9
9.Estudo de Casos
“[...] na realização de mediação de conflitos, 10 (dez) casos reais são relatados com as
observações necessárias para ilustrar situações cotidianas encaminhadas à mediação. Os casos
retratam conflitos de ordem familiar e de vizinhança.” (SALES, 2006, p.244)
Caso 1
“Em função das traições do marido e do consumo de bebida alcoólica, ela quer a
separação Judicial.” (SALES, 2006, p.244)
“Perceba-se que, nesse caso, há um conflito aparente – ação de separação judicial; e um
conflito real – dificuldade no relacionamento que precisava de conversa e de mudança de
atitude, ou seja, Maria não queria, na verdade, separar-se de João, queria melhorar a relação
com o marido e continuar” (SALES, 2006, p.246)
“O mediador deve estar atento para as contradições e para fazer com que as pessoas
falem e percebam o que é realmente verdade, com base no que já foi vivido entre elas.[...]
Perceba-se como as pessoas passam a confiar no mediador. Essa confiança depende da forma
como o mediador conduz a sessão.” (SALES, 2006, p.247)
Caso 2
“Ana procura o centro o centro de mediação porque Pedro parou pagar a pensão
alimentícia do filho, de 3 anos de idade.” (SALES, 2006, p.247)
“Nesse caso o que levou Ana ao centro de mediação foi realmente a necessidade de que
a pensão alimentícia fosse paga. Perceba-se, no entanto, que os motivos alegados por Pedro,
para não pagar a pensão, não eram verdadeiros – desemprego e falta de condições de arcar com
qualquer responsabilidade material.” (SALES, 2006, p.248)
“Assim, o problema que se colocava naquele momento, no caso em análise, era uma
paixão mal-resolvida. Se não fosse discutida e exteriorizada, talvez, mesmo com uma ação
judicial, Pedro não pagasse o valor devido, tendo em vista que não teria refletido que a pensão
do filho é algo completamente distinto da sua relação com Ana e que essa relação, sim,
precisava ser discutida.” (SALES, 2006, p.249)
Caso 3
“Marta procura o centro de mediação porque quer majorar o valor da pensão alimentícia
da filha e restringir o direito de visitas do pai da criança.” (SALES, 2006, p.249)
“Perceba-se, mais uma vez, a importância do mediador como facilitador desse diálogo e
como são significativas a paciência e a tranqüilidade transmitidas pelo mediador às partes.”
(SALES, 2006, p.252)
Caso 4
Flávia procurou a casa de mediação, pois: “[...] queria que Carlos reconhecesse a
paternidade dos dois filhos. Carlos exclamou que não tinha reconhecido ainda por falta de
tempo, tendo em vista que sabia que as crianças eram seus filhos.” (SALES, 2006, p.252)
“Mais uma vez existia um conflito escondido por trás das emoções. O mediador deve
estar atento para as dicas que as pessoas envolvidas no conflito deixam escapar. Como esse
caso, o conflito aparente – reconhecimento de paternidade – teria sido resolvida em poucos
minutos, mas o casal continuou a discutir, demonstrando que existe algo mais.”
Caso 5
“Lurdes procurou o centro de mediação para pedir a guarda de seus cinco filhos[...]
alegando que seu ex-marido não estava cuidando adequadamente de seus filhos.” (SALES,
2006, p.254)
“O real conflito não era a guarda das crianças. Lurdes queria um lugar para morar já que
seu relacionamento tinha terminado. Lurdes acho que a única alternativa que possuía era
requerer a guarda das crianças, o que foi um erro. O mediador nesse caso teve um trabalho
muito grande. Todos os questionamentos foram feitos conduzindo e César em um diálogo
complexo, porém esclarecedor.[...] Se Lurdes tivesse ingressado com ação judicial, talvez o
conflito real jamais fosse discutido.” (SALES, 2006, p.257)
Caso 6
“Dona Ruth procurou o centro de mediação para requerer o pagamento de aluguel por
parte de sua nora que ainda continuou morando em suas dependências.” (SALES, 2006, p.257)
“O caso que chegou ao Centro de Mediação seria aparentemente um cobrança de
aluguel. Se apenas tivesse sido discutido sobre o dever ou não de pagar o referido aluguel, o
verdadeiro problema não teria sido solucionado[...]. Promeio do diálogo franco resolveu-se o
pretenso aluguel, uma possível separação judicial litigiosa, uma ação de alimentos e uma
investigação de paternidade.[...] Como essas crianças cresceriam saudáveis no meio dessa
disputa e num redeoinho de agressões?” (SALES, 2006, p.260-261)
Caso 7
“Rosa procurou o centro de mediação para pedir danos patrimoniais e exigir que seu
Antônio (vizinho) parasse de aguar exageradamente a sua plantação de bananeira.” (SALES,
2006, p.261)
“Apesar de seu Antônio não ter falado expressamente sobre o reconhecimento da sua
atuação indevida ao aguar exageradamente as bananeiras, a partir do que dói discutido,
ponderado e sugerido durante a sessão de mediação, houve a mudança de comportamento por
parte de seu Antônio, que pôs fim ao conflito. Como se trata de conflito entre vizinhos, ou seja,
pessoas que se encontram com freqüência, caso não seja discutido e bem solucionado, vários
outros conflitos surgirão a partir do anterior. Os conflitos mal-solucionados podem gerar e
geram violência e grande tensão na vizinhança.” (SALES, 2006, p.263)
Caso 8
“Cintia e Felipe são casados há quatro anos e Cintia está grávida do primeiro filho do
casal. Ela procurou a mediação para pedir a separação” (SALES, 2006, p.263)
“Apresenta-se, aqui, mais um caso de um conflito aparente (separação) sobrepondo-se
ao conflito real ( necessidade de diálogo entre o casal). Caso o mediador não esstimulasse o
diálogo ou não insistisse em que o casal falasse sobre o relacionamento, eles talvez dessem
continuidade à separação, às agressões. Ou seja, um casal jovem que precisava apenas de alguns
ajustes para encontrar o equilíbrio que permitisse harmonia e um mínimo de estabilidade para
receber e criar uma criança.” (SALES, 2006, p.265)
Caso 9
“Juliana e Frederico foram casados por cinco anos. Ele procura o centro de mediação
para requerer a separação e discutir a partilha dos bens, já que surgiu uma divergência nesse
ponto.” (SALES, 2006, p.265)
“Nesse caso vários problemas precisavam ser discutidos. Frederico estava com muita
raiva de Juliana, primeiro porque não queria se separa e segundo porque ela estava mentindo
sobre a propriedade do bem(casa).[...] A possibilidade de mediação proporcionou o espaço
adequado para que a verdade fosse dita, discutida e transformou uma separação judicial litigiosa
em separação consensual. Diminui-se o desrespeito que estava se consolidando entre o casal que
poderia resultar em agressões físicas graves.”]
Caso 10
“Lúcia procura o centro de mediação para que Mário, seu ex-marido, pague a pensão
alimentícia das três filhas.” (SALES, 2006, p.267-268)
“Esse conflito entre casal estava afetando toda a família aparesenta-se como algo
complicado para se discutir, pois havia muito rancor e sentimento de vingança por parte de
Mário, que não aceitava a relação homoafetiva de sua ex-mulher. Foi muito difícil desvencilhar
o seu sentimento por Lúcia do seu sentimento por suas filhas, fazendo Mário perceber que as
filhas tinham vida própria e que não eram apenas instrumentos para atingir Lúcia.[...] para um
relacionamento harmônico efetivo, ainda havia um longo cominho pela frente. Esse era só um
começo, frise-se, um bom começo.” (SALES, 2006, p.271)
Conclusão
A mediação de conflitos é algo extremamente necessário, justamente, para desafogar o
Poder Judiciário que já está abarrotado de processos e várias pequenas causas que poderiam ser
resolvidas com o simples diálogo. E é esse o principal objetivo da mediação de conflitos, ou
seja, o objetivo é estabelecer uma conversa aberta, franca e permeada pela boa-fé das partes que
estão envolvidas.
O mediador, portanto, tem o dever não de fornecer respostas e soluções para os
conflitos das partes, pois este não tem o potencial emocional para isso, estando fora da
convivência emocional das partes. Ele apenas tem que fomentar o diálogo com perguntas
abertas e palavras que incentivem o diálogo.
É necessário, enfim, entender que o conflito é algo que é inerente ao ser humano e está
sempre presente nos nossos relacionamentos com outros seres humanos. Portanto, devemos
encarar o conflito como algo positivo e extremamente necessário, por isso, deve-se estimular o
diálogo e as discussões para se promover uma conversa esclarecedora, que não deixem mais
dúvidas.