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Megazine 07 19_2010

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Page 1: Megazine 07 19_2010

Quanto de Carolina existe em você?

Meu nome é Carolina. Sou filha de pais bem sucedidos, pertencentes à elite brasileira. Estudei durante a minha infância e adolescência numa escola particular na zona sul do Rio de Janeiro. Lá ganhei minhas primeiras noções em Biologia, Geografia, História, Matemática e Português. Na mesma escola, cuja mensalidade superava quatro salários mínimos, estudei Filosofia, Física e Química já no ensino médio. Fui colega de turma de netos de ex-presidentes, empresários de multinacionais e engenheiros de ponta. Fiz curso de inglês e francês; por hobby, dancei balé e atuei em peças de teatro. Tive uma criação que, segundo meus pais, ninguém teve igual. Será?

Nos fins-de-semana viajava, com meus pais, para a nossa casa de praia, no litoral fluminense. Se não fosse o papai pisar fundo no acelerador e seguir pelo acostamento, enfrentaríamos um engarrafamento desgraçado. E, se fosse o caso, uma oncinha dava conta da polícia. Como quase não havia fiscalização no mar, não tinha problema uma menina de 8 anos segurar o volante da lancha por uns minutinhos. No Réveillon soltava balão e fogos de artifícios, junto aos meus pais e amigos. Era muito divertido. Na hora da passagem de ano, bebia um gole do champanhe na taça de meus pais. Enquanto eu ficava só no gole, todos bebiam além da conta. Já nas minhas férias tive a sorte de conhecer capitais europeias como Amsterdã, Ankara, Berlim, Madri e Paris. No final, a gente prolongava as férias, e eu faltava duas semaninhas de aula. Nada que não dê para recuperar depois. Além do mais, o importante sempre foi passar de ano. Se as minhas notas eram piores ou melhores que as do ano retrasado ou as do meu colega, isso não importava, pois a minha rotinha e mesada continuariam sendo as mesmas. Mesada, aliás, que equivalia ao salário da minha emprega – que me conhece mais do que a minha própria mãe –, que só ia para casa em dia de folga.

Quando tinha 14 anos, fiquei bêbada na festa de 15 anos de uma amiga. Aquela não foi a minha primeira vez. E eu não fui a única. Com o passar dos anos, conheci gente mais velha e passei a andar em carros de desconhecidos com meus amigos. Dispensei a minha carteira de identidade original e passei a circular só com a falsa. Toda sexta-feira era aquilo. Eu bebia e queria que meus amigos bebessem. Nunca tive grandes problemas para entrar nos lugares, com exceção de uma vez em que um amigo subornou o segurança para nos deixar entrar. Fiquei com ele naquele dia. E fiquei com outros garotos para eles me pagarem bebida. Contei os dias para chegar o meu aniversário de 18 anos. Como eu já fazia tudo o que eu queria, mesmo sendo menor de idade, passei a ter outro interesse nessa data: ganhar o meu primeiro carro. Eu não aguentava mais andar de motorista pra lá e pra cá. Ah! Logicamente, não foi fruto do meu esforço ou trabalho, mas presente de papai. Ele, por sinal, só aparece na minha vida quando o assunto é dinheiro. Acabei entrando para a

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faculdade de Direito por influência de meus pais. Caso a relação candidato-vaga da UFRJ não fosse 14,33, eu poderia até pensar em ir para aquele fim de mundo e, pela primeira vez na minha vida, reduzir os gastos do meu pai. Bem, acabei num ambiente elitista mais uma vez. Vou confessar que, com aquelas frequentes chopadas, chegava a ser difícil se concentrar nos estudos. Repeti o período passado. E agora, aos 21 anos, estou em Las Vegas com meu namorado e amigos.