Mestre Irineu

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    M E S T R E I R I N E U Jairo da Silva CariocaA DESTINAO ESPIRITUAL

    Segundo relatos, Mestre Irineu foi um homem que valorizou muito a histria de cada um. "Ele dizia que assimcomo Ele foi destinado, cada um de ns tambm era, procurava sempre deixar claro que fazamos parte deuma criao divina que veio se evoluindo atravs dos tempos", diz dona Perclia Matos. "Um dia, acrescentaJlio Carioca, ele me falou sobre o que estava cumprindo na terra e me disse que estamos aqui obedecendo auma determinao do Pai, pagando ou dando continuidade a uma vida passada".

    O Mestre procurava explicar a existncia do que os Incas falaram anteriormente: O Plano Superior, que oshinrios nos mostram como Plano Astral. Nesse plano, habitam os espritos enviados terra para cumprirem avida de acordo o merecimento de cada um. mais ou menos o que a doutrina kardecista explica como carma.

    Atravs desse pensamento, o Mestre mostrava a relao de intercmbio existente entre o que caracterizamoscomo Plano Material e o Plano Astral, o que fica muito bem esclarecido, quando acompanhamos odesenvolvimento de sua vida.

    O NASCIMENTO

    Em 15 de dezembro de 1892, nascia em So Vicente de Frrer, no Maranho, o menino que chamaria-seRaimundo Irineu Serra. Seus pais, Sanches Serra e Joana Assuno Serra, eram oriundos de famlia humilde,descendentes de escravos que viviam do trabalho de cultivo da terra.

    "O Mestre realmente tinha descendncia escrava. Tanto de pai quanto de me. Os avs dele foram escravos,vieram para o Brasil e se situaram no municpio de So Vicente de Frrer, estado do Maranho", relata o sr.Joo Rodrigues (Nica). Irineu Serra era o primognito da famlia que formou-se ainda dos irmos: Dico,Vernica, Maria e Nh Dica, a caula.

    "Ali prevalecia o catolicismo. Havia uma igreja dominicana de grossas paredes pintadas em branco, mas quevista de perto, pareciam ondular de furta cor, tamanha a arte de seus construtores que ergueram-na,certamente, para as famlias dos fazendeiros senhores de escravos - revelia dos pobres pretos importados

    da frica". (Eduardo Beyer)O jovem Irineu Serra foi o nico da famlia a seguir os traos africanos, tanto fisicamente, quanto napreservao de alguns costumes da raa. "Uma briga de rapazes num tambor-de-criolo fez com que RaimundoIrineu Serra deixasse a terra onde nasceu e ganhasse o mundo em direo a So Luiz, a capital. Quando foidez, onze horas da noite, pegaram um barulho a comearam a brigar, botaram todo mundo para correr einventaram de pegar um faco e cortar tudo quanto era punho de rede do dono da casa, derrubaram porta etudo. Ele foi para essa festa, mas nessa poca os filhos que no tinham pai eram criados pelos tios (maternos).O Irineu foi fugido da me dele combinado com Cassimiro, primo dele que era do mesmo tamanho". (Beyer)

    Essa ndole forte de Irineu Serra foi confirmado por ele prprio mais tarde. Disse ao sr. Jlio Carioca, "quetodas as vezes que praticava uma danao ou malcriao com os mais velhos, quando ia dormir, eraduramente castigado por uma senhora em sonho, que o castigava em um local tipo um paio de arroz, at seredimir dos pecados que cometera", certamente j era a auto doutrinao de quem veio terra pr-destinado,como afirmam os ensinamentos recebidos por um de seus maiores seguidores, o sr. Antnio Gomes da Silva:"Desde o seu nascimento, que ele trouxe o seu valor".

    Uma outra verso, relatada por seguidores como o sr. Luiz Mendes do Nascimento, fala da sada de IrineuSerra de sua terra natal devido a um prematuro casamento que ele estava prestes a realizar com uma primasua. Nesta verso, seu tio Paulo teve fundamental importncia em sua vinda para a Amaznia. Teria sido delea recomendao para Irineu Serra dar uma volta ao mundo antes de pensar em casar-se. "Sabe Raimundo, ohomem para se casar deve primeiro dar uma volta ao mundo. Quando voltar sabe quanto custa 1 Kg de sal, 1Kg de acar, j sabe quanto custa uma angua para mulher. A d para o homem casar" relata o sr. FranciscoGrangeiro.

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    "Foi ento que no dia seguinte ele viu um navio alistando gente para vir para o Amazonas" acrescentou o sr.Francisco Grangeiro. Irineu Serra deixava, portanto, sua terra natal aos vinte anos de idade, deixando suafamlia e toda a tradio da cidade onde morava, aonde eram fluentes os festejos com as procisses do senhorMorto na Sexta-feira Santa, e a de So Vicente de Frrer, padroeiro do municpio, que tinha festa celebradasempre em luar de vero. Paulo Serra e Raimunda Castro Serra, seus tios por parte de pai, tambm eram seuspadrinhos. Irineu Serra nesta poca trabalhava com gado e ganhava 500 ris, dinheiro que utilizou na viagem

    de vinda para So Lus.De l, em 1912, Irineu Serra foi de navio at Belm do Par, onde trabalhou como jardineiro para conseguirdinheiro e seguir viagem at Manaus. Na capital amaznica, juntou-se a um grupo de nordestinos que vinhampara o Acre, territrio que sofria forte migrao nordestina, impulsionada pela forte seca que castigava onordeste deste 1877, alm da crescente explorao da borracha.

    Essa trajetria ele tambm narra em seu hinrio Cruzeiro quando diz: Equir, Equir, Equir, Equir que mechamaram, eu vim beirando a terra, eu vim beirando o mar.

    Em 1912, quando pisou pela primeira vez nos solos acreanos, seu objetivo passou ser o encontro com seusconterrneos e primos: Antnio Costa e Andr Costa, de quem tinha notcia estarem no Acre. No territrio,surgiram naquele momento as primeiras mudanas sociais. Eram instaladas as primeiras estruturasadministrativas e formadas as classes de servidores pblicos de nvel mdio.

    As dificuldades eram grandes e ofereciam aos imigrantes uma vida quase errante, onde a luta pelasobrevivncia era o que determinava a atividade do momento. De Rio Branco ele segue viagem para Brasilia(naquela poca chamada Braslia), onde tinha notcias de estarem conterrneos seus, os irmos Antnio Costae Andr Costa. Neste ano, em sua passagem por Brasilia, Irineu Serra foi visto por Germano Guilherme, quemais tarde seria o primeiro seguidor da misso ainda desconhecida pelo jovem maranhense. Irineu Serrachamava ateno por onde passava, pelo seu porte fsico e sua altura de 1,98 m.

    Sua caminhada inicial j atingia os seringais do Peru, onde reencontrou seus conterrneos Antnio Costa eAndr Costa. No h relatos que testemunhem mais detalhadamente como aconteceu esse reencontro, naverdade sabe-se que foi muito questionado: O que fazia Irineu Serra to longe de sua terra natal?

    A resposta veio com o rpido contato com a bebida que nessa poca era conhecida como ayahuasca. "Ficaram

    morando juntos. Antnio Costa no era seringueiro. Explorava um negcio de regato, comprava e vendiaborracha. Ele lhe deu a notcia sobre caboclos do Peru que bebiam ayahuasca" relata o sr. Luiz Mendes. "E foiAntnio Costa que lhe deu a ayahuasca, ele e o irmo convidaram o Mestre para tomar", acrescentou o sr.Francisco Grangeiro. "O Mestre foi convidado por Antnio Costa a conhecer um caboclo de nome Pisango, queera um caboclo peruano, descendente dos Incas. Era Pisango, por assim dizer, um caboclo que sabia aondeas andorinhas moravam", tambm afirma o sr. Joo Rodrigues (Nica). Ao receber o convite para conhecer abebida, segundo relatos, o Mestre disse: "Eu vou, se for uma coisa boa eu levo para o meu pas".

    Nesta poca, a bebida era utilizada para orientar os ndios na caa e na pesca e para divertir os brancos nasnoites de luar. Mas a bebida j exercia funo de culto, como descreveu o sr. Valcrio Gensio, filho nico doMestre Irineu: "Eles se organizavam em malocas e cultuavam as beberagens da ayahuasca em seus rituais.Batiam tambores, danavam em crculo, era uma grande festa".

    At esse momento, apenas duas raas conheciam o trabalho com a ayahuasca: o ndio e o Branco, atravs deAntnio Costa e Andr Costa. Com o conhecimento de Irineu Serra, que passou a tomar a bebida indgena, eraformada a composio tnica das raas formadoras da populao brasileira: o ndio, o branco e o negro. Uniode raas visveis nos princpios da doutrina que seria formada.

    Foi na terceira experincia de Irineu Serra com a ayahuasca que aconteceram os primeiros contatos com aespiritualidade: "Ele armou a rede de modo que a vista dava acesso lua. Em uma noite clara, muito bonita,quando ele comeou a mirar, olhou e veio a lua se aproximando at ficar bem perto dele. Ela perguntou paraele:

    - Tu tens coragem de me chamar de Satans? Irineu Serra respondeu:

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    - Ave Maria minha senhora, de jeito nenhum!

    - Voc acha que algum j viu o que voc est vendo agora? A ele vacilou pensando que estava vendo o queos outros j tinham visto.

    A Virgem ento continuou falando:

    - Voc est enganado. O que ests vendo nunca ningum viu. S tu. Agora me diz o que achas que eu sou?

    O Mestre respondeu:

    - Vs sois uma Deusa Universal", relata o sr. Luiz Mendes.

    "Nessa primeira mirao essa senhora se apresentou identificada como Clara e pediu que ele cantasse oprimeiro hino da Doutrina lhe apresentado naquele momento", relata dona Perclia Matos.

    "Deus te salve Lua BrancaDa Luz to prateadaTu sois minha protetoraDe Deus tu sois estimada

    me divina, do coraoL nas alturas onde ests minha meL no cu, dai-me o perdo

    Das flores do meu pasTu sois a mais delicadaDe todo o meu coraoTu sois de Deus estimada

    Tu sois a flor mais belaAonde Deus ps a moTu sois minha advogada virgem da Conceio

    Estrela do UniversoQue me parece um jardim

    Assim como sois brilhanteQuero que brilhes a mim

    Era a abertura dos trabalhos espirituais para o jovem Irineu Serra. Naquele momento ele descobria que osobjetivos da bebida iam muito mais alm do que os simples efeitos com que era utilizada na regio. Clara, quesegundo relatos do Mestre Irineu, era a mesma senhora que o disciplinava em sonho, o submeteu a umarigorosa dieta: "muito bem, agora tu vais se submeter a uma dieta para receber o que eu tenho para te dar, vaipassar sete dias se alimentando apenas de macaxeira insossa e ch, sem o direito sequer de ver um rabo desaia (ditado popular que quer dizer: no manter nenhum tipo de relao com mulheres)", relata o sr. FranciscoGrangeiro. Irineu Serra comentou o que havia se submetido ao primo Antnio Costa e se embrenhou ainda

    mais nas matas dos seringais peruanos para cumprir o que havia sido determinado.Ele prprio relatou em palestras com seus seguidores que no terceiro dia de dieta j ouvia vozes e tinha visesdo alm e imagens de caboclos na mata. No stimo dia lhe foi relevada a misso ao qual est pr-destinado:

    "Clara, agora atravs da Rainha da Floresta, disse que tinha algo a lhe entregar. O Mestre respondeu que sefosse algo para o engrandecimento de seu pas, ele aceitava. E assim, lhe foi revelada a Misso Juramid. Elepediu para que lhe fizesse um dos melhores curadores do mundo. Ela respondeu que ele no podia ganhardinheiro com aquilo. Ele pediu que ela associasse tudo que tivesse a ver com cura nessa bebida. Ele recebeue a foi trabalhar para ir adquirindo. Se aperfeioando, recebendo cada dia poderes que preciso ter", relata osr. Luiz Mendes.

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    Essa passagem tambm explicada pelo sr. Sebastio Jaccoud:

    "Sua prpria vinda ordenada pela Me Divina para a colheita do que ficou plantado l atrs, reunindo orebanho que ficou esfacelado na poca de Jesus Cristo".

    Afinal, no foi por acaso que o jovem Irineu Serra saiu de sua terra natal, deixando para trs sua famlia etodas as tradies da regio, vindo at o reencontro com seus conterrneos Antonio Costa e Andr Costa,conhecendo posteriormente a bebida ayahuasca. Seus sonhos com uma senhora que o disciplinava, aapario de Clara que lhe entregara uma Misso, acreditamos que toda essa trajetria seguida pelo MestreIrineu era pr-destinada. Sua vida tem seguimento com um processo de auto disciplina e evoluo, o quecaracterizamos como destinao material.

    PRIMEIRO PERODO - DE 1912 A 1931

    A DESTINAO MATERIAL - PROCESSOS DE AUTO DISCIPLINA E EVOLUO DO GRANDE MESTRE

    Agora Irineu Serra no estava mais leigo ao que a divindade havia lhe destinado. Comeava uma nova fasebaseada em um processo de auto disciplina e evoluo no projeto divino em si desencadeado. Como sabia queagora a natureza seria sua eterna parceira de aprendizagem, o prximo passo era "conhecer o poder dafloresta e Deus amar", como ele prprio explica em seu hinrio.

    J adaptado na regio, alinhava-se s leis da natureza, os segredos e as utilidades das plantas, seus efeitoscurativos, enfim, era importante aprender tudo o que pudesse evolu-lo dentro do projeto espiritual recebido. Otemperamento forte do negro Irineu Serra abria espao para a serenidade e o amor aos elementos sagrados:Sol, Lua, Estrela, a Terra, o Vento e o Mar. a verdadeira alquimia revelada na ayahuasca.

    Esse ciclo de grandes intensidades presume-se ter-se iniciado por volta de 1913, quando Irineu Serraafastou-se dos seus primos no Peru. Na curta convivncia com os ndios da regio e as miraes com Pizango,considerado "o esprito da ayahuasca", ele aprendeu a trabalhar com a confeco da ayahuasca e a identificaro cip jagube (banisteriopsis caapi) e a folha chacrona (psychotria viridis) nas matas selvagens da Amaznia.Irineu Serra passou a observar sempre os ciclos lunares, que determinavam a estao certa para a colheita e opreparo do ch. Observamos a partir da a parceria permanente de Irineu Serra com a natureza.

    As regras que iam se criando naturalmente eram inviolveis. "Um dia, comentou Jlio Carioca, o Mestre mecontou que tentou facilitar a batida do jagube usando um martelo. Me disse que foi duramente advertido pelaRainha, sentiu durante todo o dia fortes dores de cabea, porque no era permitido pela Rainha a utilizao deoutros instrumentos de trabalho que no fossem naturais como a marreta feita de madeira. Hoje a gente v atmquinas sendo usadas para triturar o cip", comentou.

    Em 1916, Irineu Serra voltava para Brasilia. Neste municpio, conheceu a senhora Rosa Amorim, com quemtem seu nico filho, o senhor Valcrio Gensio da Silva, em 20 de janeiro de 1917. "Naquela poca tudo eramuito difcil, at para se transportar de um lado para o outro tinha que ser nos chamados varejes. Quando eunasci, em 20 de janeiro de 1917, meu pai trabalhava como seringueiro" relatou o sr. Valcrio Gensio. Segundoele, da unio de Irineu Serra com sua me, ainda nasceu uma menina que viveu apenas um ano e oito mesesde idade. Em Brasilia, que nesta poca ainda chamava-se Braslia, Irineu Serra encontra novamente Antnioe Andr Costa. "Eram bons amigos e Antnio Costa foi escolhido pelo papai para ser meu padrinho",acrescentou Valcrio.

    O PRIMEIRO CENTRO DA AYAHUASCA

    Pesquisas realizadas pelo professor antroplogo Clodomir Monteiro da Universidade Federal do Acre - UFAC,registra nesse reencontro de Irineu Serra com seus conterrneos, Antnio Costa e Andr Costa, a organizaodo primeiro centro da ayahuasca que se tem notcia. Instalado em Brasilia, chamava-se Crculo deRegenerao e F - CFR, e teria sido fundado pelos irmos Costa logo aps a separao deles com IrineuSerra, que entre 1913 e 1916, teria passado tambm em Sena Madureira, outro municpio do estado do Acre.

    Irineu Serra chegou a participar dos trabalhos organizados por Antnio Costa e Andr Costa, mas este teriasado da organizao espiritual devido s perseguies que a ayahuasca j enfrentava naquela poca. "Ele

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    saiu devido a perseguio que era muito grande" relata dona Percilia Matos, referindo-se a policiais e chefeseclesisticos do municpio de Brasilia, que tinha como religio predominante o catolicismo. A sada de IrineuSerra da organizao dos trabalhos ligados a ayahuasca neste centro culminou com sua separao de donaRosa Amorim, que se deu "porque mame no concordava com a linha espiritual seguida por papai", relatou osr. Valcrio Gensio. Tem-se notcias de que o centro foi fechado logo que Irineu Serra saiu.

    O TRABALHO DE IRINEU SERRA NA COMISSO DE LIMITES

    Por volta de 1918, Irineu Serra era selecionado para participar como encarregado do cofre onde eramguardados os objetos de valores dos oficiais da Comisso de Limites que demarcaria as fronteiras do entoterritrio do Acre com os pases Peru e Bolvia. Era a sua volta s matas amaznicas e um novo ciclo deaprendizagem e evoluo no seu processo de disciplina e conhecimentos dos segredos e mistrios das matas.Tudo parecia conspirar com sua pr-destinao. Agora ele ajudava na demarcao das fronteiras do Estado,que mais tarde seria conhecido no mundo inteiro atravs da misso que ele implantaria. Nos contatos que tevecom as tribos indgenas da regio, Irineu Serra aprendeu a falar Tupi-Guarani e aperfeioou seusconhecimentos com os segredos de cura. "O Mestre me falou muito dessa Comisso, pessoas srias ededicadas. Ele comeou a trabalhar nesta comisso chegando a conquistar uma confiana to grande, que setornou o tesoureiro", relata o sr. Luiz Mendes.

    SUA PASSAGEM PELA GUARDA TERRITORIAL

    Em 1928, "ele serviu junto com Germano Guilherme na antiga Guarda Territorial, l eles se juntaram epassaram a ser irmos", conta dona Ceclia Gomes, ex-esposa de Germano Guilherme. Aps 14 anos,Germano Guilherme, que havia visto Irineu Serra pela primeira vez quando este passou por Brasilia em 1912,voltava a se reencontrar com o maranhense, tornando-se com o passar dos tempos seu primeiro seguidor. Eleme disse que nas horas de folga da guarda, eles iam para dentro das matas tomar ayahuasca", acrescentadona Ceclia Gomes. "Em Rio Branco ele sentou praa na polcia. Durante um certo tempo foi soldado, commuito destaque foi promovido a cabo e logo depois deu baixa", relata o sr. Luiz Mendes.

    Na verdade, a baixa na carreira de guarda era uma ordem de sua professora espiritual Clara, que naquelemomento o chamava para o cumprimento de sua misso espiritual. Era hora de assumir o comando de umbatalho de patentes universais: O Batalho da Rainha da Floresta.

    SEGUNDO PERODO - DE 1931 1945

    1931 - A IMPLANTAO DA DOUTRINA DO SANTO DAIME

    O perodo marcado pela fase de decadncia do mercado da borracha na Amaznia, que perdia concorrnciapara a Malsia (cujo semente nativa foi levada do Brasil). Centenas de famlias nordestinas comeavam aabandonar os seringais em busca de uma vida melhor na cidade. Rio Branco comeava a sofrer adesorganizao no processo de ocupao das terras urbanas.

    Ao dar baixa na Guarda Territorial, Irineu Serra tentou morar em uma regio invadida prximo da reareservada ao Quartel do Exrcito, conhecido na poca como 4 Companhia. No obtendo xitos, participou

    junto com um grupo de seringueiros da posse das terras do seringalista Barros, bem prximo do bairroatualmente chamado de Vila Ivonete em Rio Branco, como relata o sr. Luiz Mendes: "Por fora de seuscompanheiros, arranjaram para ele uma colnia na Vila Ivonete. Parece que o Mestre foi um dos primeiros

    moradores". De imediato, ao tomar posse, Irineu Serra tratou de organizar seu lote de terras, procurandoplantar e torn-la produtiva. Construiu uma casinha de barro, semelhante s de sua terra natal, passando aviver no local junto com os outros seringueiros.

    nessa regio que aps vinte anos de inteira adaptao, auto disciplina e o conhecimento com os profundossegredos da natureza, Irineu Serra passar a organizar e formar um grupo de trabalho espiritual, implantando aDoutrina do Santo Daime. Sua primeira medida nesse sentido, foi nacionalizar o nome da bebida at entoconhecida como ayahuasca para Santo Daime. Daime que provm do verbo divino Dar. Dai-me fora, dai-meamor, dai-me o po do Criador. "Ele dizia que deveramos pedir a quem pudesse nos dar, por isso colocou onome dessa bebida de Daime, atravs dela, pedimos a Deus tudo quanto bom para ns e nossossemelhantes", comenta o sr. Jlio Carioca.

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    1933 - A CHEGADA DOS PRIMEIROS SEGUIDORES

    Em 1933 Irineu Serra comeava a receber seus primeiros seguidores. Aps Germano Guilherme, que jtomava Daime com Irineu Serra quando ambos serviram na Guarda Territorial, Jos das Neves, como eleprprio testemunhou, foi o segundo seguidor: "Foi no dia 26 de maio de 1931 que comecei este trabalho comele". Fazendo uma juno de outros nomes que foram resgatados em nosso trabalho de pesquisa, possvel

    apresentarmos o seguinte quadro de seguidores que se apresentaram ao Mestre Irineu entre 1931 1945:PRIMEIRA GERAO DE SEGUIDORES - DE 1931 1945

    SEGUIDOR ANO DE APRESENTAO

    Germano Guilherme 1928Jos Francisco das Neves 26 de maio de 1931Joo Pereira 1931 (data prevista)Pedro Marques 1931 (data prevista)Maria Damio 1931 (data prevista)Jos Afrnio 1931 (data prevista)Jos Capanga 1931 (data prevista)

    Antnio Tordo

    Maria Franco 1932 (data prevista)Dona Raimunda 1933Francisco Martins 1933

    Antnio Gomes 1938 (data prevista)Maria Gomes 1938Zulmira Gomes 1938Sebastio Gonalves 1938Guilherme Gomes 1938

    OBSERVAO: As datas previstas so apresentadas de acordo com o cruzamento de informaes resgatadasjunto aos seguidores mais antigos. As datas confirmadas esto atestadas atravs de fatos concretos.

    Todos esses seguidores vieram para o Acre, certamente expulsos do nordeste pela forte seca que aflorava aregio e atrados pelo mercado da borracha. Com exceo de Jos das Neves, que era comerciante, os

    demais eram ex-seringueiros e agricultores, viviam do rduo trabalho com a terra.

    Em 1933, aps passar alguns anos sozinho, Irineu Serra casou-se com Dona Raimunda, uma senhora que,segundo testemunhos, tinha origens indgenas e passou a ser "a pessoa de confiana do Mestre, tudo que eleensinou ela aprendeu", relata o sr. Francisco Grangeiro. Comenta-se, no entanto, que este casamento noteria sido aprovado pela professora espiritual de Irineu Serra, Clara. Segundo dona Perclia Matos, "a Rainhano concordou com o casamento e sentenciou o Mestre a passar vinte anos de sofrimento", detalhou. Sabe-seque desde o princpio de sua convivncia com dona Raimunda, Irineu Serra enfrentou problemasprincipalmente no relacionamento com sua sogra, dona Maria Franco.

    PROCESSO DE ORGANIZAO ESPIRITUAL E SOCIAL

    A convivncia em grupo j existia desde os primeiros movimentos de organizao para a ocupao das terras

    na regio ainda hoje conhecida como Vila Ivonete. Irineu Serra comeava a se destacar como lder entre osdemais agricultores e suas famlias, com bases para iniciar a organizao espiritual de seus trabalhos, asistematizao da doutrina Crist-Daimista: sua liturgia (cerimnias e rituais) e as relaes sociais inerentes enecessrias misso (movimento de evangelizao, busca e converso da humanidade e o prmio da sade ebem estar).

    SESSES DE CURA E CONCENTRAO

    A primeira determinao nesse processo foi a instituio dos trabalhos de concentrao e cura, primeirosrituais implantados na formao doutrinria de Irineu Serra. s quartas-feiras, o grupo se reunia com o objetivode cura, sempre que algum irmo necessitava de uma assistncia espiritual para a cura de enfermidades oudoenas, todos reunidos, em trabalho de concentrao de uma hora e meia, buscavam na luz do Daime, a cura

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    para o necessitado. Aos sbados a irmandade se reunia para o trabalho de concentrao simples, com ritualsemelhante, uma hora e meia de concentrao a benefcio de cada um, individualmente; e de todos,coletivamente. "Ele recomendava em suas palestras que ns rogssemos tambm pela humanidade, afastaresses terrores e rebeldias que estamos acostumados a ver", relata dona Percilia Matos.

    Sentados ao redor de uma mesa, em forma de quadriltero, a Cruz de Caravaca - primeiro smbolo da doutrinaque j fazia parte do ritual - era colocada ao centro da mesa presidida pelo lder Irineu Serra. Os primeiros

    trabalhos espirituais "eram realizados na casa do Mestre, aquele grupinho, ento ele ficou dando assistnciapara a gente", volta a relembrar dona Percilia Matos. Procurando sempre estar reunido com seus seguidores,esse princpio foi difcil. Alm de algumas dificuldades financeiras, Irineu Serra enfrentava perseguies naimplantao de sua doutrina. A exemplo do que aconteceu com o Centro de Regenerao e F, criado emBrasilia, em 1917, a distribuio do Santo Daime enfrentava o preconceito social e religioso. "Nessa pocaera pouquinha gente, muito perseguido pela Justia. Era aquele sacrifcio. Mas tudo a gente venceu e hojevivemos numa situao favorvel", disse dona Ceclia Gomes. As dificuldades financeiras eram socorridasentre a irmandade, especialmente o sr. Jos das Neves, "eles repartiam feiras, Jos das Neves tornou-se seugrande amigo desde ai", acrescenta dona Perclia Matos.

    A palavra nesse princpio era portanto o grande instrumento educador. "Ele dava muitas palestras, conversava,aconselhava a gente e dizia como ele queria que fosse o trabalho que a Virgem ensinava para ele", comentadona Maria Gomes. "O nosso trabalho comeou como uma aula. Ajunta quatro, cinco meninos, faz uma sala de

    aula e vai ensinando e vai chegando mais crianas. Chegam os ensinos a cada dia que passa, o professor vaiindicando como , o aluno vai aprendendo a carta do abc", relatou o sr. Jos das Neves.

    A SOCIALIZAO ESPIRITUALIZADA

    Por outro lado, os plantios e as colheitas iam enriquecendo e valorizando ainda mais a convivncia em grupo,que passava a ser organizada pelo lder Irineu Serra. "Ele tornou-se o primeiro lder comunitrio que teve emRio Branco. L ele era tudo, era mdico, advogado, fazia casamento, enfim, era a quem recorramos em todosos instantes de alegria e tristeza", disse dona Percilia Matos. Homens e mulheres passavam a se reunir nafora do trabalho. O arroz, o milho, o feijo, a mandioca foram produtos que logo passaram a ser consumidospelo grupo, que tornou-se auto sustentvel. Comeava a se estabelecer em sua linha de trabalho uma formade cooperativa adjunta.

    Ao mesmo tempo em que produziam para sua sobrevivncia material, o grupo evolua espiritualmente. Ostrabalhos nas quartas e sbados eram imprescindveis. As curas e os benefcios de sade realizados nadoutrina tornavam o nome de Irineu Serra cada vez mais conhecido em Rio Branco. Embora ainda noexistisse um fardamento padronizado, nas vestimentas dos seguidores o branco j era uma das corespredominantes, talvez at pela forte influncia de cultura nordestina.

    1934 - A PRIMEIRA FORMAO DE COMANDO E O RECEBIMENTO DOS PRIMEIROS HINOS DADOUTRINA DO SANTO DAIME

    Com o crescimento do nmero de adeptos em seus trabalhos, era preciso dar os primeiros passos noordenamento do grupo. O lder ordenou, portanto, a primeira formao de comando: os mais antigos assumiamas primeiras posies nas fileiras compostas seqencialmente pela ordem de chegada na sesso. Presididapor Irineu Serra, depois dele, no lado dos homens, vinham: Germano Guilherme e Jos das Neves, JooPereira e outros que iniciavam a formao das fileiras do lado masculino. Na ala feminina, dona Raimunda,

    esposa do Mestre, e dona Percilia Matos, eram quem encabeavam a formao das fileiras, seguidas de MariaDamio, Maria Franco, Maria Gomes e outras. Automaticamente, surgiam tambm as primeiras diviseshierrquicas no trabalho: o comandante masculino Irineu Serra, e o feminino dona Raimunda.

    No mesmo ano surgiu o recebimento dos primeiros hinos recebidos pelos seguidores. "Em 34 tinha LuaBranca, Tuperci e Ripi, nesse tempo no tinha farda", relembra dona Percilia Matos. Embora tivesse esseshinos, "na verdade foi Germano Guilherme quem primeiro recebeu e cantou seu hino na doutrina, da o porquede seu hinrio ser executado antes do hinrio do Mestre Irineu at hoje", relata dona Ceclia Gomes(ex-esposa de Germano Guilherme). Neste ano, portanto, foi apresentado o primeiro hino cantado na doutrina,pelo seguidor Germano Guilherme:

    "Divino Pai Eterno

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    O seu mundo veio e formouE habitou, e habitouCom toda a criaoCom toda a criaoCom o vosso amorDeixou e levouE to distante ficouOlhando a sua criaoCom o vosso brilho do amorCom o vosso brilhoCom o vosso brilho do amor"

    Este hino firmava mais que nunca a criao universal destinada a Irineu Serra, que comeava a formao doseu mundo, a verbalizao do carter sagrado que o mesmo desejava implantar atravs de sua doutrina. Apsa apresentao do hino de Germano Guilherme, Irineu Serra apresentava irmandade, vinte e dois anosdepois, o hino que fora recebido por ele, em 1912, no Peru: Lua Branca. A msica e a letra continuavam vivaem sua memria, numa comprovao divina do poder e do valor da doutrina que passava a ser implantada."Foi quando ficamos conhecendo o seu hino, Lua Branca, que ele tinha recebido no Peru quando a Virgem lheentregou a Misso", comenta dona Percilia.

    OS PRIMEIROS HINOSSeus primeiros hinos invocam a presena de seres como a Virgem da Conceio, Jesus Cristo e DeusOnipotente, apresentando as relaes de seus trabalhos com a natureza e os seres de origens indgenas etalvez africanas: Tuperci, Jaci, Ripi lai, Formosa, Tarumim, Equir, Papai Pax, Barum, Marum, Beg ePrincesa Solona. Percebemos naturalmente a narrao de sua histria nos cnticos de seu hinrio. Os seresindgenas, anteriormente citados, revelavam a experincia vivida por Irineu Serra no perodo de adaptao eevoluo a que nos referimos anteriormente, onde o lder aprendeu a conviver com os segredos e mistrios danatureza, trabalhando com as plantas e aprendendo seus efeitos curativos, dando seqncia a partir da aoseu aprendizado divinal. Depois, vamos observar ainda com referncia ao seu hinrio, sua invocao aosseres dominadores do universo: o sol, a lua, as estrelas, a terra, o vento e o mar, que so revelados naverbalizao de seus hinos, como elementos sagrados do amor eterno:

    "Eu quero ser

    Filho do meu PaiDa minha me com os meus irmosQue me acompanham amar a EleDe todo o meu coraoSeguindo nessa estradaCom a verdade na moO amor eternoEu devo consagrar

    A lua e as estrelasA terra e o marO sol l nas alturasCom sua luz de cristal"

    Era a abertura de uma linha de comunicao entre o material e o espiritual. Os hinos passavam a ser um fio

    condutor dos trabalhos, um verbo vivo da palavra divina recebida atravs do homem em contato com o planoastral. Tornavam-se tambm, alm de condutores da palavra de Cristo, um adjetivo disciplinador, estimulativo eeducador da memria e do pensamento humano, uma fonte inesgotvel de conhecimentos e aprofundamentosdos segredos e mistrios da natureza.

    OS HINRIOS

    Mais tarde, em 1935, quando Joo Pereira e Maria Damio tambm passaram a receber seus primeiros hinos,a Rainha ordena a Irineu Serra estabelecer um novo ritual: a execuo dos Hinrios - ritual que tem como baseos cnticos e louvores aos Seres Divinos da Sagrada Misso. Hinrios so mensagens recebidas em verso doplano astral, a liturgia da doutrina do Santo Daime formada por um conjunto de hinos. Os primeiros hinrios a

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    se formarem de 1936 a 1947, foram:

    O CRUZEIRO - do Mestre Raimundo Irineu Serra;SOIS BALIZA - de Germano Guilherme;06 DE JANEIRO - de Joo Pereira;O MENSAGEIRO - de Maria Damio;

    AMOR DIVINO - de Antnio Gomes da Silva.

    Em 1935, com o recebimento dos primeiros hinos da doutrina, foi realizado o primeiro hinrio. "Era 23 de junhode 1935, o Mestre organizou duas frentes de trabalho. Os homens foram tirar lenha para fogueira, as mulheres,preparar a ornamentao e uma grande ceia que o Mestre pediu para fazer no intervalo. Quando foi l pelasseis horas da tarde, na Casa de dona Maria Damio, ns nos reunimos, rezamos um tero, tomamos Daime efomos cantar at meia noite. S tinha oito hinos! Um de Germano Guilherme, quatro do Mestre, dois de JooPereira e um de Maria Damio. Eram repetidos nessa mesma ordem por toda a noite. Quando foi meia noiteele deu um intervalo, j estava preparada a ceia numa grande mesa, quando ele mandou que ns cantssemospor trs vezes aquele hino:

    Papai do Cu do CoraoQue hoje neste diaFoi quem deu o nosso poGraas a mame

    Mame do Cu do coraoQue hoje neste diaFoi quem deu o nosso poLouvado Seja Deus

    Esse hino foi cantado de forma to bonita, que nunca mais me esqueci... at hoje... chora emocionada donaPerclia Matos. Aps a meia- noite o grupo voltou a cantar a seqncia de hinos determinada at o amanhecerdo dia. Era dia de So Joo Batista. Depois Irineu Serra seguindo orientaes de sua professora Claraordenou as novas datas para a realizao dos hinrios, formando o primeiro calendrio de hinrios oficiais dadoutrina:

    PRIMEIRO CALENDRIO OFICIAL DE TRABALHOS

    DATA DO FESTIVAL COMEMORAO

    05 para 06 de janeiro Dia dos Santos Reis18 de maro Dia de So JosSemana Santa Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo23 para 24 de junho So Joo Batista01 para 02 de novembro Dia de todos os Santos e Finados07 para 08 de dezembro Nossa Senhora da Conceio21 para 25 de dezembro Natal

    Alm dessas datas, era normal a realizao das sesses de concentrao aos sbados e das sesses de curanas quartas-feiras. As datas evidenciam os primeiros traos do cristianismo na Misso de Irineu Serra. Paraleloa esses ensinamentos que passavam a ser recebidos do Plano Astral, edificando a comunicao entre o grupoe o mundo espiritual, Irineu Serra ensinava seus seguidores a rezarem. A reza surgia nos fundamentos dadoutrina como um dos elementos de fundamental importncia para o indivduo: "Ele cansou de nos dizer e

    ainda hoje nos diz espiritualmente, que devemos rezar para alcanarmos os nossos objetivos sem embaraose nos livrarmos dos males que existem no mundo terra", disse dona Maria Gomes.

    No Pai-Nosso ensinado pelo lder espiritual Irineu Serra, ao invs de dizermos :"venha a ns o vosso reino",como ensina a Igreja h milnios, ele ordenou com orientaes de sua professora espiritual, Clara, que fossedito: "vamos ns ao vosso reino" - porque o reino divino e assim como viemos, vamos ao trono de nosso pai.

    "A minha me me acompanhouMandou Eu ensinarOs que forem filhos dela

    Aprender ao menos a rezar"

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    "Vamos todos trabalharQue ns vamos se apresentarPerante ao nosso PaiE os trabalhos a Ele mostrar"

    Com essa filosofia, Irineu Serra passava a ensinar seus seguidores a trabalharem materialmente para seapresentarem ao Pai Divinal. Consagrou as seis horas da manh, o pino de meio dia e as seis horas da tarde

    como sagradas. Era o princpio de sua doutrinao a seu povo, sem a utilizao do pensamento de inteiradominao, Mestre Irineu trabalhava atravs da sagrada bebida a conscincia, que mostra atravs dos hinosnossos deveres no mundo terra.

    As curas e a humildade do lder frente ao grupo, iam engrandecendo seu prprio esprito. O lder passava a serreferenciado nos hinos que eram recebidos por Germano Guilherme, Joo Pereira e Maria Damio comoMestre:

    "Jesus Cristo est na terraFoi Deus do Cu foi quem mandouPara ele vir nos ensinar

    A doutrina do salvador"

    Evolua seu trabalho. Gradativamente crescia seu grupo, e conseqentemente, os preconceitos das religies eda sociedade. Mestre Irineu comeava a se preocupar em legalizar sua sesso e mostrar aos dirigenteseclesisticos que sua misso em nada ameaava as religies tradicionais.

    1936 - A INTRODUO DO BAILE, OS ENSAIOS E O FARDAMENTO

    Em 1936, duas medidas marcavam uma nova fase de trabalho com o grupo: primeiro, a introduo do bailadono ritual de hinrios, em seguida, a oficializao do primeiro fardamento da Doutrina, uma medida deorganizao, que ensaiava os passos iniciais do Mestre Irineu na institucionalizao de seus trabalhos.

    O BAILE

    Foi introduzido como uma dana de passos laterais para a direita e a esquerda em ritmos de marcha, valsa emazurca. Homens e mulheres, em forma de quadriltero, executam os passos rtmicos, com a batida do marac- primeiro instrumento de percusso da doutrina, feito com latas de 500g., esferas e cabos de madeira,

    naturalmente originado das tribos indgenas -, que serve para dar ritmo ao bailado (conjunto de passos dobaile).

    Sua introduo nos trabalhos de hinrios, como afirmam os mais antigos, foi uma das tarefas mais difceisencontradas pelo Mestre Irineu. "Eu mesma muitas vezes no tinha pacincia para ensaiar e saa da forma.Uma vez eu me irritei tanto, que joguei o marac na mesa e disse que no bailava mais", lembra dona PercliaMatos.

    Desde ento surgiram os ensaios na doutrina. Mestre Irineu passou a reunir o grupo nos fins de semana, e deforma paciente, "ele ia ensinando de um por um a bailar, muitas vezes pegando na mo e mostrando os passosque tinham que ser dados de acordo como a Rainha pedia para ele". Ao que se sabe, foram quase seis mesesde intensos ensaios, at que pudesse ser executada a forma ideal de bailado instrudo pelo Mestre Irineu.

    O FARDAMENTO

    Neste mesmo momento, Mestre Irineu em conjunto com dona Raimunda e dona Perclia Matos, determinava aconfeco do primeiro fardamento oficial da doutrina: "As primeiras fardas eram umas tnicas de mescla, unsdlms. Tinha um chapu branco na cabea. Eram duas fardas: fardamento oficial (tnica de mescla e calabranca) e fardamento azul (cala de mescla e tnica branca)", relatou o sr. Raimundo Gomes.

    Essas primeiras fardas, segundo dona Perclia Matos, foram confeccionadas entre a prpria comunidade. "Parafazer foi uma festa, a gente se reunia umas nas casas das outras e amos fazendo. Nessa poca eu jcosturava para fora. Todo mundo queria vestir a farda da Doutrina", relatou dona Perclia Matos.

    A farda dava uma nova identidade ao grupo do Mestre Irineu. Em todos os trabalhos considerados oficiais o

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    grupo vestia a farda branca (oficial), e nas sesses de concentrao vestia o fardamento azul. Vamos observarcom o passar dos tempos, o aperfeioamento do fardamento oficial da Doutrina, que evoluiu em conjunto comoutros pensamentos firmados pelo Mestre.

    A NOVA ORDEM DE COMANDO

    Ainda em 1936, Mestre Irineu seguindo orientaes de sua professora espiritual, Clara, determinava tambm

    uma nova ordem de comando ao seu grupo, criando um elemento disciplinar, semelhante ao de um quartel,com patentes divididas hierarquicamente, atravs de estrelas:

    MDULO DE HIERARQUIASEIS ESTRELAS GENERALCINCO ESTRELAS TENENTE CORONELTRS ESTRELAS TENENTEDUAS ESTRELAS CABOUMA ESTRELA SOLDADO RASO

    Eram considerados como soldados rasos os irmos que eram recm chegados na misso. Mais uma vezobservamos em suas ordens de comando a valorizao que Mestre Irineu dava aos irmos considerados maisantigos. Dentro dessa hierarquia, sabe-se que apenas Mestre Irineu utilizava a patente de seis estrelas, era oGeneral.

    1938 - A CHEGADA DA FAMLIA GOMES

    1938. O Brasil ainda vivia o regime ditador de Getlio Vargas. No Acre, embarcaes ainda traziam famliasinteiras de nordestinos que fugiam da seca em busca de uma melhor vida na regio. "Numa dessasembarcaes, relatou dona Zulmira Gomes, papai nos trouxe para c. Sofremos muito na viagem de navio ataqui, mas chegamos com f em Deus. Aqui, com uns tempos, papai estava muito doente, sentia umaperturbao no juzo muito forte e eu j estava cansada de tanto correr para aqui e para acol atrs de umacura para ele. Compadre Z das Neves me perguntou se eu no conhecia a sesso de um negro alto quecurava na Vila Ivonete. Disse que no. Ele insistiu at que me convenceu a ir at l. Me apresentei ao Mestre,ele olhou o estado de papai e marcou para a prxima quarta-feira o incio do trabalho de cura para ele. Maisele j saiu de l melhor (sorriu) e com trs sesses de cura ele ficou bonzinho. A ele foi e disse que nuncamais abandonaria aquele trabalho", relatou dona Zulmira Gomes.

    Dessa forma, a famlia Gomes se apresentava sesso de Raimundo Irineu Serra. Essa histria dona ZulmiraGomes gostava muito de contar. s vezes, sempre que ia visit-la no Alto Santo, me impressionava a suacapacidade de memria. Com uma idade bastante avanada e bastante cansada da rotina sofrida vivida ataquela poca, dona Zulmira no se cansava de falar do passado. Com um galho seco na mo (que usava paraespantar os mosquitos), sempre que algum novato chegava no Alto Santo, l estava ela relatando osinesquecveis momentos vividos ao lado do Mestre.

    Ela relatava o fim do primeiro ciclo de formao da doutrina. O Mestre Irineu, que j dava os primeiros passosna institucionalizao de seus trabalhos, contava com um considerado grupo de seguidores. Da nova famlia,alm de Antnio Gomes da Silva, o patriarca, os seus filhos Lencio Gomes, Raimundo Gomes, Adlia Gomes,Jos Gomes e dona Zulmira Gomes tambm passaram a freqentar a sesso. Dona Zulmira, casada com osenhor Sebastio Gonalves, levou misso seus filhos Raimundo Gonalves, Joo Gomes, Benedita Gomes,Elosa Gomes e Peregrina Gomes. Essa famlia fortificava a edificao da doutrina, como o prprio AntnioGomes, que passou a receber um rico e instrutivo hinrio, onde relata: "O Mestre trabalhava, se achava quasesozinho, pediu a Jesus Cristo que abrisse o seu caminho".

    A EQUIPE DA MATA

    Alm dos rituais de concentrao e cura, os hinrios oficiais, as ordens de servio e o fardamento, sabe-se queexistia na organizao do chamado Servio da Mata, um responsvel, que a princpio foi o sr. Jos Franciscodas Neves e, posteriormente, o sr. Manoel Dantas. Estes homens, em todo ciclo de lua nova, adentravam nasmatas virgens da Amaznia em busca das plantas para a confeco do Santo Daime. Formaram adjunto a JooPereira, Francisco Martins, Antnio Gomes, Guilherme Gomes, Antnio Roldo, Pedro Marques, AntnioCapanga, Jos Afrnio e o prprio Mestre Irineu, a primeira equipe da mata da Doutrina do Santo Daime.

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    AS METODOLOGIAS DE APERFEIOAMENTO

    Como metodologias de aperfeioamento desse primeiro ciclo doutrinrio, os ensaios e a primeira formao doEstado Maior, foram trabalhos desenvolvidos pelo Mestre Irineu, para a interdisciplina do grupo.

    O ESTADO MAIOR - "Na linguagem espiritual, significava a reunio de pessoas graduadas, capazes detransmitir conforto a quem precisa nas sesses e hinrios. Tinham que ser pessoas efetivas, que estavamsempre prontas quando o Mestre os chamava. Lembro-me de dois grupos que foram formados: um antes delesair da Vila Ivonete, outro antes de falecer. Essas pessoas eram graduadas por ele nos hinrios de So Joo eNatal. Ele escolhia e inclua a pessoa no quadro de estado maior". Ainda segundo dona Percilia Matos,formavam o Estado Maior da Doutrina, at 1940:

    MEMBROS DO ESTADO MAIOR FORMADO ENTRE 1931 1945

    1. Germano Guilherme - chegou na misso em 1938;2. Jos Francisco das Neves - chegou na misso em 1931;3. Joo Pereira - chegou na misso em 1931;4. Maria Damio - chegou na misso em 1931;5. Dona Raimunda (esposa do Mestre) - chegou na misso em 1933;6. Perclia Matos - professora, chegou na misso em 1934;

    7. Antnio Gomes da Silva - chegou na misso em 1938;8. Maria Gomes - chegou na misso em 1938.

    A DESPEDIDA DE MARIA DAMIO

    No dia 02 de abril de 1942, Mestre Irineu e seu grupo se despediam de dona Maria Marques Vieira, quecarinhosamente era chamada de Maria Damio. Os mais antigos contam que com a morte de seu pai, o senhorDamio Marques, em 1935, Maria Damio enfrentou a rdua misso de criar sete irmos. Ela dedicava-se,alm da doutrina, exclusivamente ao trabalho com a terra. Plantava, roava e colhia o po de cada dia queajudou a criar seus irmos", relata dona Perclia Matos, de quem foi grande amiga. Espiritualmente, MariaDamio recebeu um dos mais belos hinrios da Doutrina, hoje batizado como "Mensageiro", composto de 49hinos. Seus hinos verbalizam em sua totalidade as palavras do Mestre Irineu. desse hinrio a origem dapalavra ptria na Doutrina. Maria Damio, atravs de seus hinos, nos fala do amor Ptria - terra ondenascemos, e em outras passagens projetou histrias que aconteceriam no futuro, como as divises do grupo

    em 1974 e 1981. Em 1942, quando a marinha japonesa foi derrotada, os alems e italianos expulsos do norteda frica, na Segunda Guerra Mundial, Maria Damio anunciava atravs de seus hinos: "novas revolues comos estrangeiros". Seu hinrio descreve tambm a figura de um Chefe Estrangeiro, ser espiritual misterioso, quepoucos na Doutrina conhecem seu significado e origens. "Retratando essa passagem, o Mestre recebeu o hino"Choro Muito". Ningum sabia que ela estava doente. Com trs dias que saiu esse hino, chegou a notcia queela estava agonizando. Ela adoeceu repentinamente e morreu com 32 anos. Maria Damio tambm fala de suapassagem para a vida espiritual em seu ltimo hino, que recebeu o nome de despedida:

    "A tua casinha est prontaCaminhos abertosJardins de flores

    A ti oferecem

    Jesus Cristo salvadorE a Rainha da FlorestaSe vs ver que eu mereoReceba me honesta

    Nas minhas ouas escuteiUm grande festejoOs meus irmos chegandoE o meu corpo se liquidando

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    Corrigi meu pensamentoPedi perdo a meu paiPara eu poder seguir

    A minha feliz viagem"

    A vida seguia nos trabalhos da misso implantada pelo Mestre Irineu. Suas amizades ampliavam-se,principalmente no cenrio poltico. Mestre Irineu conheceu um dos maiores polticos que o Estado do Acre j

    teve, senador Guiomard dos Santos, como tambm o Cel. Fonteneli de Castro, Jorge Kalume, WanderleyDantas e outros, que dedicaram sua pessoa e ao seu trabalho, o carinho e a ateno merecidos.

    Com o crescimento do grupo que o cercava, a ampliao de suas atividades tanto materiais quanto espirituaispassava a ser uma necessidade. Em 1945, Mestre Irineu comea a preparar sua sada da Vila Ivonete. O localcomeava a ser influenciado pelo inchamento populacional que a cidade de Rio Branco sofria. Com adecadncia do mercado da borracha, mais famlias de seringueiros e agricultores deixavam a vida no campopara arriscar a sorte na capital. A Rainha ordena a Mestre Irineu a mudana de sede dos trabalhos da doutrina.

    TERCEIRO PERODO - DE 1945 1971

    A EVOLUO SISTEMTICA DA DOUTRINA CRIST-DAIMISTA:O APERFEIOAMENTO E INSTITUCIONALIZAO DE SUA LITURGIA, CERIMNIAS E RITUAIS

    1945 - A MUDANA PARA O ALTO SANTO

    Rodeada de uma vegetao nativa rica em seringa e madeira de lei, aps duas visitas ao local que eraconhecido como Colocao Espalhado, Mestre Irineu consegue fechar as negociaes com as terras, queforam doadas pelo Governo do Estado, atravs de um projeto de assentamento executado por Guiomard dosSantos. "Guiomard dos Santos visava naquela poca corrigir a sada do homem do campo para a cidade.Estava uma coisa sem dono, todo mundo abandonava a seringa, a borracha e vinha para a rua tentar uma vidamelhor. Ele foi e criou esses plos de produes, doando atravs da amizade que tinha com o Mestre Irineu,essa grande rea de terra para ele trabalhar", relatou o sr. Luiz Mendes.

    Era maio de 1945. A Segunda Guerra Mundial acabava. Valorizando a histria de sua ptria, Mestre Irineu aomudar-se para a nova morada, batizava-a, de Colocao Espalhado para Alto da Santa Cruz. Existia apenasuma casinha velha de paxiba. A preocupao inicial do Mestre Irineu foi organizar um espao para arealizao dos trabalhos de sua misso, afinal, o hinrio oficial de So Joo estava prximo.

    A distncia do grupo que deixara na Vila Ivonete era grande, porm, seu desligamento no quebrou o ritmo dostrabalhos. Embora sentissem a ausncia do lder todos continuavam sua vida normal. Nas datas de encontro,como as sesses de concentrao e os hinrios, todos caminhavam quilmetros e quilmetros pela estrada

    Alberto Torres, para participarem da sesso. Exemplo disso foi a realizao do primeiro hinrio no Alto daSanta Cruz, que como j nos referimos anteriormente, foi novamente em louvor a So Joo Batista.

    "O trabalho foi realizado em baixo de um laranjal. Como a mudana havia acontecido no final de maio, nohouve tempo hbil para Mestre Irineu construir um local sede. Foi um trabalho inesquecvel, era um dia muitofrio, todo mundo pensava como ia suportar a frieza da mata naquela noite. Mas nem sentimos o tempo passar,tomamos o Daime e comeamos a cantar os hinos do Mestre, sentindo aquele conforto que parecia vir de cima.E vinha mesmo, em meio a toda aquela mata, cantamos como se estivssemos em pleno salo", relembroudona Percilia Matos.

    Presume-se que neste perodo Mestre Irineu tenha recebido seu hino de nmero sessenta: Laranjeira,marcando os trabalhos que foram realizados no laranjal, ao qual se refere anteriormente dona Perclia Matos.Sabe-se que a nova etapa de trabalho na vida do grande lder foi dificultosa. Teve que reiniciar todas asplantaes de arroz, milho, feijo e mandioca, trabalhando muitas vezes sozinho, dada a distncia que oseparava do grupo da Vila Ivonete. Incansvel na misso que a divindade lhe destinava, Mestre Irineuenfrentava todas as dificuldades com determinao e coragem.

    1946 - A SUSPENSO DOS TRABALHOS

    Basicamente um ano aps sua mudana para o Alto Santo, em meados de maio de 1946, Mestre Irineuseguindo orientaes de sua professora espiritual, Clara, resolve suspender todos os trabalhos espirituais de

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    sua misso. Pouco se sabe dos reais motivos que levaram Mestre Irineu a tomar essa deciso to profunda.Entre os mais antigos seguidores, falar desse assunto uma lembrana desagradvel. Em nossas pesquisas,o silncio prevaleceu no momento da maioria responder, e os que tiverem coragem para falar afirmaram quealm das brigas entre o grupo que em sua maioria ficara na Vila Ivonete, a sogra de Mestre Irineu, dona MariaFranco, tambm teria sido um dos motivos da suspenso da sesso. "Uma das causadoras foi sua sogra, umaconfuso formada por ela foi que levou o Mestre a fechar a sesso. Ele suspendeu os trabalhos que estiveramsempre em sua responsabilidade. Foi uma poca muito difcil para todos ns", relata dona Maria Gomes,esposa de Antnio Gomes na poca. A data de fechamento da sesso coincide com o perodo de falecimentodo seu marido. Fortemente abalado em sua sade fsica antes de falecer, Antnio Gomes tinha recebido umhino que anunciava esse momento que seria vivido por todos da misso: Um dos versos desse hino diz: "Asesso estando fechada, Estamos fora do poder, Estamos dentro do clamor, Para todo mundo ver". Temendoesse clamor foi que Antnio Gomes "saiu cavalo de casa em casa, pedindo aos irmos que se humilhasseme pedissem para o Mestre abrir a sesso", conta dona Lourdes Carioca. Na verdade, as discrdias entre airmandade sempre foram um dos motivos mais fortes que desgostavam o Mestre Irineu. Essa atitudedesqualificada que vinha sendo praticada por alguns de seu grupo, teria mesmo sido o motivo mais intensopara a atitude corajosa tomada pelo grande lder. Para quem pregava sempre a evoluo, era inadmissvel ofato de seus seguidores estarem se agredindo.

    A ENTREGA DA FAMLIA GOMES

    Fortemente abalado em sua sade, a reabertura da sesso foi um dos sonhos que Antnio Gomes da Silva viunos planos espirituais. Em agosto de 1946 ele comeou a se despedir da irmandade. Em uma das visitas que oMestre Irineu fez a ele, antes de seu falecimento, Antnio Gomes pediu que antes de fechar os olhos, o Mestreficasse responsvel pela sua famlia. Exatamente o que descrevia seu hino: "Eu aqui em vossas mos eucheguei j quase morto, eu aqui a vs me entrego junto com minha famlia". Aos 14 de agosto do mesmo anoele faleceu. "O hino 'S Eu cantei na barra' sobre a passagem de Antnio Gomes. Ele estava muito doente: ohino fala 'A morte muito simples, igualmente ao nascer', quando eu ouvi eu percebi que no tinha jeito. Areceita, como diz o Mestre, a terra", relata dona Perclia Matos.

    Sua curta trajetria pela Doutrina ficou marcada pelo recebimento de seu hinrio. Batizado atualmente comoAmor Divino, o verbo de seus hinos testificam a misso pregada pelo Mestre Raimundo Irineu Serra como umaverdadeira escola universal. Um de seus hinos mais conhecidos, Preleio, fala da unio, do perdo e dahumildade como as fontes principais para o aperfeioamento do homem e sua plena felicidade. Sua morte

    culmina com a reabertura dos trabalhos. "Pouco depois que ele morreu foi que o Mestre abriu a sessonovamente", comenta dona Maria Gomes.

    Atendendo seu pedido, o Mestre passou a observar de perto todos os seus filhos. Entre eles, dona ZulmiraGomes, Lencio Gomes e Raimundo Gomes, j se destacavam na preservao dos ensinamentos da doutrina.Dona Zulmira e o sr. Raimundo Gomes, por exemplo, passavam a receber dois maravilhosos hinrios. LencioGomes havia se curado do vcio do alcoolismo em trabalhos de cura realizados com a presena do senhorDaniel Pereira de Matos, conterrneo do Mestre Irineu, que tambm curou-se atravs da doutrina do forte vciodo alcoolismo. "Ele bebia muito, bebia de cair. Ficou mesmo entregue a bebida. Foi quando ele encontrou comIrineu Serra, que era conterrneo dele, l do Maranho. Ento Irineu Serra, como j estava estabelecido,pegou o Daniel e levou l para o Alto Santo. Assim ele contava. Passou uns tempos l e melhorou, ficando sembeber. Com um tempo, Daniel voltou para c e voltou a beber. A, o Irineu buscou ele novamente, trazendo devolta pra o Alto Santo pela segunda vez, dessa segunda vez o Daniel ficou mais tempo por l", relata o sr.

    Antnio Geraldo.AS SESSES MUSICADAS

    A passagem de Daniel Pereira de Matos na doutrina, porm, no se resume apenas nesse episdio de cura.Restabelecido do vcio, Daniel Matos passou a se dedicar a misso. "Preto s de pele, mas por dentro umcapucho muito grande", como afirma o sr. Antnio Geraldo, Daniel Matos era um homem inteligente. "Deombros largos e musculosos, conversava muito com a gente, tinha uma voz forte. Aqui ele no trabalhava noroado e nem de cortar seringa. Ele ficava em casa estudando, gostava muito de estudar. O negcio dele eraler, trabalhar de carpinteiro e era o barbeiro do Mestre Irineu" relata o sr. Raimundo Gonalves.

    Foi no desenvolvimento de suas atividades como carpinteiro, que Daniel Pereira de Matos passou a fabricar

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    seu prprio instrumento e compor suas msicas. "Ele s tocava msicas dele, at os instrumentos eram feitospor ele", volta a afirmar Raimundo Gonalves. Com o tempo, Mestre Irineu passou a utilizar as valsascompostas por sua autoria, instituindo um ritual de Sesses Musicadas. "Ns tnhamos um sistema de trabalhoque era o seguinte: o padrinho Irineu dava um servio de concentrao e o Daniel tinha umas teorias de fazervalsas dele. Ento quando chegava numa parte do trabalho, o padrinho Irineu mandava o Daniel tocar aquelasvalsas dele que eram bonitas. A gente se concentrava naquela msica que ele tocava. Ento era assim que oDaniel participava dos trabalhos no tempo em que ele estava com o Mestre Irineu", acrescentou o sr.Raimundo Gonalves).

    A FUNDAO DA BARQUIINHA - PRIMEIRA RAMIFICAO DA AYAHUASCA NO ESTADO DO ACRE

    A amizade e o compromisso espiritual do Mestre Irineu e Daniel Pereira de Matos foram alm desseshorizontes. "O Mestre ia sempre visitar o Daniel, na Vila Ivonete. Quase todas as vezes que ele ia na rua,passava l na casa dele. Eles realmente eram muito amigos. O Mestre Irineu gostava muito dele. Uma dasvezes em que o Mestre Irineu foi l, o Daniel falou para ele que tinha um bocado de gente que vinha procur-lopara se curar de muitos males. Ento, o padrinho Irineu foi e deu licena para que ele continuasse o seutrabalho. Por um bom tempo, o padrinho mandou Daime para ele ajudar o pessoal. que ficava mais fcil, poisnaquele tempo, o Daniel ainda no tinha como fazer Daime na Vila Ivonete. Ficava muito longe para o pessoalir da Vila Ivonete ao Alto Santo, era muito difcil. Foi dessa forma que Daniel comeou, at que ficou por contaprpria, trabalhava com o Crculo Esotrico e fazia cura", relata Raimundo Gonalves.

    Assim surgia a primeira ramificao da ayahuasca no Estado do Acre, era fundado por Daniel Pereira de Matoso Centro Esprita e Culto de Orao Casa de Jesus Fonte de Luz, localizado na Vila Ivonete at hoje. Nestecentro, Daniel Matos desenvolveu-se espiritualmente. Sua amizade com Mestre Irineu continuou viva. "ODaniel dizia que tomava Daime com o Irineu e contava sobre as vises que teve nesse perodo que viveu como Mestre Irineu", relata dona Francisca Gabriel.

    1948 - A CONSTRUO DO ALTO SANTO

    como um grande Pai que Mestre Irineu resolveu, em 1948, construir a casa que seria sede dos seustrabalhos espirituais. At ento, as sesses e os hinrios oficiais vinham sendo realizados no Laranjal. Comtantos afilhados e filhos e a crescente chegada de novos adeptos, era hora de adequar sua misso para onmero de seguidores que ela comportava e dar mais um passo na institucionalizao de sua Doutrina.

    Ordenou a retirada de toda madeira para a construo da casa. Raimundo Gonalves, filho mais velho de donaZulmira Gomes, foi o responsvel por isso. "Passamos uma poro de dias nessas matas tirando a madeiraque o Mestre havia pedido. Tambm trabalhei na construo, o Mestre estava sempre frente de tudo, tinhamuita fora, colocou essas balizas do casaro praticamente s", relata seu Raimundo Gonalves.

    Com uma arquitetura semelhante as primeiras casas erguidas no territrio do Acre, o Alto Santo tinha quatroguas, que representam os quatro ventos cardeais. Um salo grande de entrada. Dos lados esquerdos edireitos, ficavam os quartos e os fundos, uma cozinha lembrada at os dias de hoje, pela fartura da grandemesa e dos fortes bancos de madeira construdos pelo prprio Mestre Irineu Serra. Ele fez tambm umgabinete, onde eram e so guardados at hoje as frasqueiras de Daime, e que naquela poca serviu tambmcomo local de audincias do Mestre com seus seguidores. "Ele atendia a todo mundo naquele gabinete,passava de horas conversando e aconselhando a gente", relata o sr. Francisco Grangeiro.

    A Doutrina vive a partir daqui uma fase nova de reflexes e acertos. O Mestre, neste perodo que vai de 1945 1971, implanta novas ordens de servios, busca apoios para a legalizao de seus trabalhos, recebendo umacarga grande de seguidores e novas famlias que firmam-se em sua Doutrina, proporcionando a implantaoem definitivo da grande filosofia espiritual a que fora destinado. A grande casa, que mais tarde passou a serconhecida como Alto Santo, pelas inmeras curas que o Mestre realizou, passava a ser a sede dos trabalhosespirituais da misso.

    A DOAO DE TERRAS E A IMPLANTAO DEFINITIVA DO SISTEMA ADJUNTO DE COOPERATIVISMO

    nas terras do Alto da Santa Cruz que acontece tambm a implantao de suas atividades com a terra,trabalho que tornou-se possvel graas s inmeras adeses dos novos seguidores, alm da vinda para o local

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    das famlias que estavam instaladas na Vila Ivonete.

    Gradativamente Mestre Irineu foi trazendo as famlias que ficaram na Vila Ivonete. Doando terras para amorada dos familiares, ele implantava seu sistema espiritual e cooperativista. "Ele dizia que chegaria umtempo, que felizes seriam aqueles que tivessem um pedacinho de terra para plantar. Assim estimulava cadaum que vinha chegando, a se engajar com seu trabalho", lembra Francisco Grangeiro, que chegou na missoem 1950.

    A adeso de novos seguidores crescia o ritmo de seus trabalhos, ao mesmo tempo em que os seguidores maisantigos iam se despedindo do grupo. Em 1952 falecia o pioneiro Joo Pereira, natural de Porongaba - CE,Joo Pereira foi um dos primeiros seguidores da doutrina. Acompanhou com dedicao os trabalhos da missodesde 1930, recebendo, a exemplo de Germano Guilherme, Maria Damio e Antnio Gomes, um rico einstrutivo hinrio que fala das trs fontes nobres, um Rei e uma Rainha que veio a este mundo replantar aSanta Doutrina de Jesus Cristo.

    A SEPARAO COM DONA RAIMUNDA

    Em maro de 1955, dona Raimunda resolve abandonar a companhia do Mestre Irineu. Este assunto outromomento da histria dessa Doutrina que poucos falam. Sabe-se que as dificuldades de convivncia entreambos se dava, principalmente, pelos problemas criados pela sogra do Mestre Irineu, dona Maria Franco. "A

    me dela se metia em tudo que o Mestre determinava, era uma perturbao na vida dele", comenta donaPerclia Matos. De origem pouco conhecida, dona Raimunda era paj de nascena e tinha grandesconhecimentos espirituais. "Era a chave de confiana do Mestre. Ele ensinou e ela aprendeu. Ela faziachamado de vir mesmo. Ele ensinou os pontos para ela. Ela tomava conta dos homens e das mulheres", relataFrancisco Grangeiro. At que em seu livre arbtrio, Dona Raimunda resolve deixar para trs todos os anos deconvivncia com Mestre Irineu. "Ela foi embora para So Paulo com a me onde veio a falecer, ao que meparece, atropelada", relata dona Perclia Matos.

    Com a ausncia de dona Raimunda, Irineu Serra trouxe para o Alto Santo os jovens Paulo Serra e Marta Serra.Filho do casamento entre Jos Francisco das Neves e dona Ceclia Gomes, Paulo Serra foi batizado peloMestre Irineu com esse nome, em homenagem ao seu tio do Maranho, aquele que teve participao decisivaem sua vinda para o Acre. Paulo e Marta foram batizados como filhos adotivos do Mestre Irineu e passaram amorar em sua companhia, junto com dona Perclia Matos, que tambm passou a morar na residncia oficial do

    Mestre. "Era ela quem copiava os hinos quando o Mestre recebia. Ficou sendo uma espcie de governanta,cuidava da casa e, na misso, passou a exercer as mesmas funes de dona Raimunda no comandofeminino", relata o sr. Francisco Grangeiro.

    1956 - O CASAMENTO COM MADRINHA PEREGRINA

    Aps trs anos separado, em 1956, Mestre Irineu comeou a preparao para um novo casamento. Dessa vez,seguindo as orientaes de sua professora espiritual Clara, teve mais cautela na escolha de sua novacompanheira. Na verdade, com 64 anos de idade, sabia que deveria escolher para sua companhia aquela queseria herdeira de toda a sua fortaleza de ensinamentos.

    Desta forma, realizou os primeiros contatos com dona Zulmira Gomes, me de Peregrina Gomes, uma moaque na plenitude de sua juventude, se despontava como a pessoa ideal para o grande Mestre. "Foram mesesde observao at ele ter a primeira conversa com dona Zulmira", relata dona Perclia Matos.

    Aps receber a aceitao da famlia atravs de dona Zulmira Gomes, que agiu como uma intermediadora,Mestre Irineu buscou o consentimento da noiva que tinha apenas 17 anos. "Ele me perguntou se eu aceitavacasar com ele e eu disse que sim. Se fosse de acordo com minha famlia", relata madrinha Peregrina. E assimaconteceu. Aps os acertos e a preparao dos documentos, foi marcada a data de 15 de setembro do mesmoano para a grande festa. "Eu me encontrei com ele duas ou trs vezes antes do casamento", contou-memadrinha Peregrina. A irmandade foi convidada para trs dias de intensas festividades, era o enlacematrimonial do Mestre. No dia 15 de setembro, aps a cerimnia religiosa e civil, o casal recepcionou airmandade no Alto Santo. Msica, dana e muita comida marcaram a data inesquecvel. Doravante, PeregrinaGomes passava a assinar com o sobrenome Serra. Estava unificado o amor divino que unia o casal. MestreIrineu estava consciente de que a partir dali, comeava a preparar aquela que seria a herdeira de seus

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    ensinamentos.

    A VIAGEM PARA O MARANHO

    Com pouco mais de um ano de casado, exatamente a 13 de novembro de 1957, as saudades de seusfamiliares que no via a cerca de 45 anos, faz com que Mestre Irineu planeje uma viagem para o Maranho.

    Antes de partir, tomou as medidas necessrias na organizao espiritual de seus trabalhos. Com um grupo

    experiente, deixou na administrao Jos Francisco das Neves e Raimundo Gomes da Silva, tio de donaPeregrina Serra.

    A viagem para o Maranho foi toda feita de barco "no litoral do Maranho. Um brao de mar muito bravo etinha hora que o barco ficava cheio de gua e ele sentado na proa do barco", relata dona Peregrina Serra. Noreencontro com sua famlia, em So Vicente de Frrer, Mestre Irineu no encontrou mais sua me com vida.Jos Serra, irmo do Mestre, foi quem deu as informaes sobre os familiares. Sabe-se que no Maranho, "eleno falou do Daime, disse apenas do trabalho que tinha com um grupo no Acre, quando decidiu me trazer emais seus dois sobrinhos: Joo Serra e Zequinha", comenta Daniel Acelino Serra, que tambm embarcou naviagem de volta ao Acre com Mestre Irineu.

    No Alto Santo a falta de notcias, dado ao precrio sistema de informaes da poca, comeava a preocuparseus seguidores. Alguns, liderados por Raimundo Gomes, chegaram at a realizar "sesses de procura"

    (trabalhos em que os irmos procuravam resolver problemas de ordens pessoais ou do grupo) com o objetivode saber se o Mestre estava ou no vivo. A notcia de seu desaparecimento chegou a ser comentada entre airmandade, causando at certos desentendimentos entre os irmos. Afinal, eram trs meses sem notciaalguma. Dona Peregrina Serra, sua esposa, porm, mantinha-se com a esperana. "Era o maior desejo delefazer essa viagem de barco. Foram 40 dias se alimentando com mujangu (ovos batidos) para agentar a forada mirao", comentou ela.

    Seus sobrinhos tambm falaram que "ele fez a viagem de volta toda mirando na proa do barco", afirma DanielSerra. "Foi nessa viagem que ele recebeu as instrues de fardamento", acrescenta dona Peregrina GomesSerra. Ela teve uma misso rdua na administrao dos trabalhos na ausncia do seu marido. As plantaes eas colheitas lideradas por Mestre Irineu tiveram ritmo normal em sua ausncia, dona Peregrina Gomes Serracedo estava no roado comandando e ajudando no cultivo dos produtos que garantiam a sustentao dogrupo.

    No dia 13 de fevereiro de 1958, o Mestre desembarcava no porto acreano. Foram mais trs dias de intensasfestas no Alto Santo. A irmandade aflita aliviava-se com a presena fsica do Mestre, que fazia questo deapresentar um a um os sobrinhos que havia trazido do Maranho. A integrao de Daniel, Zequinha e JooSerra foi rpida, logo logo eles estavam adaptados aos trabalhos do tio e convivncia com seu grupo deseguidores. "Chegando aqui ns ficamos encantados com toda aquela recepo, os dias de festa. Parecia quevinha chegando uma grande autoridade", relata Daniel Acelino Serra.

    A CHEGADA DA FAMLIA CARIOCA NA DOUTRINA

    Em outubro desse mesmo ano se apresentava ao comando do Mestre Irineu a famlia Carioca. Por intermdiode dona Olvia Facundes e o sr. Antnio Facundes (que tambm ingressaram nesta mesma data), donaLourdes Carioca, desenganada pelos mdicos que lhe atestaram sofrer de apendicite aguda, chegou nas mosdo Mestre Irineu. "O trabalho era uma sesso de concentrao. Ao tomar Daime dado pelas mos do Mestre,

    tive minha primeira mirao. Neste noite, eu vi que no tinha nenhuma apendicite aguda, e que estava mesmoera grvida de uma menina", relatou dona Lourdes Carioca. Observamos atravs de seu depoimento que oDaime revelava segredos que hoje so possveis na medicina moderna, atravs de um exame deultra-sonografia. Dona Lourdes saiu daquela sesso consciente de que no estava doente e que carregava noventre a gestao de uma menina, que nasceu no dia 03 de abril de 1959 e chama-se Marise Carioca."Costumo dizer que se nunca mais tomasse Daime, daria o mesmo valor que dou ao Mestre e sua Doutrina",acrescentou dona Lourdes Carioca.

    Em casa, sonhando, Julio Chaves avistava uma luz. "Eu mi vi debaixo de uma laranjeira, onde via uma portaaberta para o firmamento. Ao ouvir o gemido de minha velha (referindo-se a dona Lourdes), seguia viagem atencontr-la em um hospital no firmamento. Uma equipe de mdicos muito bonita cuidava dela que, ao me ver,

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    dizia que estava grvida", conta o sr. Jlio Carioca. "Quando acordei, pensei que ela tivesse morrido",acrescentou.

    A rigorosa dieta que os mdicas receitaram para minha me foi abandonada: "Passei a comer de tudo. OMestre disse que daquele dia em diante eu estava curada". Na stima vez que dona Lourdes Carioca tomouDaime, foi que Jlio Carioca comeou a participar da sesso: "Em minha primeira mirao, confirmei o quehavia visto em sonho. Vi que sua me tinha sido curada e que estava dentro de uma verdade muito sria",

    relata ele.

    Sempre que um novato participava dos trabalhos, Mestre Irineu na presena de todos o entrevistava no final dasesso. Com o sr. Jlio Carioca no foi diferente: "quando ele me perguntou o que tinha achado da viagem,disse que tinha visto dois caminhos: o do bem e o do mal e o resultado. Tinha visto tambm os resultados dohomem que falso mulher. Ele como sbio disse que 'tudo quanto eu estava dizendo, todos que estavam ali

    j tinham visto, s que quando iam embora, ao passar pelo porto, deixavam o que viu e levavam o que trouxe'.Pedi para que ele repetisse e ele disse: 'Isto mesmo Julio, deixam o que viu e levam o que trouxe'", relata JlioCarioca.

    Ficava claro nas palavras de Mestre Irineu que sua Doutrina apresentava um sistema de vida para cadaseguidor. Quando o Mestre se refere ao porto de sua casa para dentro, explica em outras palavras, asistematizao de seus ensinamentos, a criao de seu prprio mundo, de suas leis e do universo

    representado pelo amor e a humildade. Ele sempre lutou para que seus seguidores apresentassem nocotidiano o que viam nos momentos de mirao. o que narra o hino Palmatria, do hinrio Cruzeiro que diz:"Porque todos no cumprem, Com o dever e obrigao, Conhecer essa verdade, Para chamar meu irmo". Suafilosofia de irmandade, da convivncia em grupo, da coletividade, a interao social, a comunidade.

    Essa preleo inicial ficou gravada na memria do sr. Jlio Carioca que passou a seguir regularmente ostrabalhos junto com toda a famlia, na poca, formada apenas pelos meus irmos: Joo Batista, Jlio Filho,Ftima Carioca e Francisco de Assis.

    Com a crescente chegada de novos seguidores Mestre Irineu construiu uma puxada de palha (local aberto,feito em madeira natural e coberto de palhas) ao lado do Alto Santo, para abrigar os adeptos nas noites delongo trabalho. Sensveis mudanas j haviam sido feitas no fardamento oficial. Os homens usavam palmas nopalet e fitas coloridas no ombro direito. Mesmo tendo recebido ordens para implantar o novo fardamento,

    como vimos anteriormente, o Mestre Irineu esperou um pouco mais para organizar melhor seu grupo.1958 - A INTRODUO DE INTRUMENTOS NO RITUAL

    Daniel Pereira de Matos, que havia seguido seu caminho espiritual, deixou aberto na escola do Mestre Irineu odom da msica, a harmonia dos acordes musicais que executava com esplendor e maestria. A chegada daFamlia Carioca na sesso marca a introduo de instrumentos no ritual sagrado institudo pelo Mestre Irineu.

    Embora houvesse alguns tocadores de violo no Alto Santo, quem estimulou a idia de solo aos hinos foi o sr.Jlio Chaves Carioca. "Comprei um bandolim para a Lourdes, o Mestre disse que um cavaquinho seria maisfcil para aprender. Comprei um cavaquinho, depois com um tempo, o Mestre pediu para comprar um violopara ela, e me deu naquela poca 8 mil ris para comprar um violo para sua esposa, comadre Peregrina",relata Jlio Carioca. Foi a partir da compra desses violes que formaram-se os primeiros grupos musicais no

    Alto Santo. "O Mestre ensaiava o ritmo conosco, batendo seu marac ao nosso lado. Ele mandava que ns nos

    concentrssemos e invocssemos o Mestre Daniel Pereira de Matos para vir ensinar a gente a tocar. Compouco vamos os locais dourados aonde tnhamos que bater nas cordas, dito ningum acredita", conta donaLourdes Carioca, que formou o primeiro trio de tocadores, ao lado de dona Peregrina Serra, e de seu esposoJlio Carioca.

    Depois outros seguidores foram se interessando pelo aprendizado da msica:- Raimundo Gonalves (banjo)- Maria Laurinda;- Jovita Gomes;- Adlia Grangeiro;- Tolentino (todos com violo);- Enoque (bandolim);

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    - Joo Serra, sobrinho do Mestre (pandeiro) formavam novos grupos de msicos da Doutrina.

    Sabe-se que desses seguidores formaram-se como primeiros tocadores: Jlio Carioca, Lourdes Carioca,Peregrina Serra e Maria Zacarias (violo), Raimundo Gonalves (banjo) e Joo Serra (pandeiro). O violo, obanjo, o bandolim e o pandeiro passavam a ser os instrumentos originais do trabalho. No poderamos deixarde registrar nesse contexto, a passagem na sesso de Francisco, o Chiquinho Cego, como era conhecidodevido a cegueira adquirida aos sete anos de idade. Foi ele quem iniciou as aulas de violo aos irmos Jlio

    Carioca Filho, Joo Batista Carioca e Jos Carlos Carioca, que mais tarde firmam-se como msicos oficiais daDoutrina.

    1960 - O RECEBIMENTO DOS HINOS NOVOS E AS LTIMAS MEDIDAS DO GRANDE MESTRE

    A SEDE OFICIAL DOS TRABALHOS

    Em 1960 Mestre Irineu volta a das passos na institucionalizao de seus trabalhos espirituais. O nmeroelevado de novos seguidores determinava a construo imediata da primeira sede oficial da Doutrina. Amadeira mais uma vez foi retirada de suas prprias terras. O projeto era simples, apresentava uma construoem quatro guas, idntica a do Alto Santo, com varandas circulares e cobertura de cavaco, dando totaloriginalidade ao templo sede.

    Acompanhado de seus seguidores, iniciou as obras com mutiro, onde reunia grande parte da irmandade,

    formada geralmente por aqueles que moravam nas proximidades do Alto Santo. "Ele terminava aquelesmutires e chamava aqueles que ele sabia que no podia lhe dar um dia de servio e pagava. Tinhaconscincia de quem podia lhe ajudar e de quem ele podia ajudar", relata dona Peregrina Serra.

    Em pouco tempo as bases estavam erguidas com barrotes fortes e altos de madeira em lei, tirados pela forade trabalho do Mestre Irineu que j tinha 68 anos de idade. Projetada na beira de um aude, as varandascirculares separavam os lados masculino e feminino. A construo do templo marcava uma nova etapa na vidados precursores desta grande misso. A inaugurao foi mais uma vez marcada pela data de So Joo Batista,com fardamento branco e o cntico e o baile do hinrio o Cruzeiro do Mestre Irineu, durante toda a noite de 23para 24 de junho de 1960.

    A AMIZADE COM JOS GUIMARD DOS SANTOS

    Politicamente, o Mestre ampliava suas relaes. Admirador da poltica adotada por Jos Guiomard dos Santos,Mestre Irineu chegou a fazer do Alto Santo, um dos primeiros diretrios da ARENA - Aliana RenovadoraNacional. Neste perodo, "Esse Guiomard dos Santos vinha aqui, passava dias aqui em casa conversando comele. Uma vez ele chegou o velho estava no roado. A ele mandou chamar. Disse: 'ora Irineu, eu venho aquipassar o dia contigo e tu ests no roado. Acaba com isso, tu no para trabalhar assim'. A o velhorespondeu: 'eu tenho que trabalhar porque no tenho quem me d nada'. O Guiomard ento disse: 'eu vou teaposentar como veterano, tu queres?' Mas ele respondeu: 'no, eu no quero porque no sei mentir'", relatamadrinha Peregrina. "Eu vi o Mestre pela primeira vez em 1950, era um comcio de Jos Guiomard dos Santos,a por esse meio de mundo. Ele estava l, dona Ldia e o Mestre Irineu", comenta o dr. Manoel Queiroz.

    Com esta sinceridade Mestre Irineu tinha a confiana e o respeito das maiores autoridades polticas do Estadonaquela poca. Alm de sua amizade com Jos Guiomard dos Santos, Mestre Irineu gozava de bons conceitoscom Valrio Magalhes, Jorge Kalume, Vanderley Dantas e o Cel. Fonteneli de Castro. "Irineu conhecia osefeitos da adversidade. Continuou, ainda mais disposto, cultivando a semente a qual de forma lenta egradativa, foi germinando para tornar-se rvores com sua sombra amiga, em especial nos momentoscaniculares da vida!", descreveu Jorge Kalume.

    A ESCOLA CRUZEIRO

    Com a construo da sede oficial dos trabalhos, foi possvel a irmandade do Alto Santo implantar a EscolaCruzeiro, que recebeu esse nome por funcionar inicialmente no salo de baile da sede. A iniciativa foi umaidia conjunta dos professores Joo Rodrigues Facundes, dona Perclia Matos e Francisco Matos.

    Mestre Irineu apoiou a proposta, que trazia automaticamente maior qualificao aos moradores da regio. Aescola passou a funcionar com ensino de 1 4 srie.

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    Criava-se tambm uma nova classe social no Alto Santo. Alm de pequenos agricultores e seringueiros,passavam a existir os funcionrios pblicos. Todos os filhos das famlias que moravam prximo ao Alto Santopassaram a estudar na escola. Um dia, Jlio Carioca trabalhava como inspetor, ordenou a um dos filhos deFrancisco Grangeiro, chamado Valcrio, que voltasse para casa pelo fato de ter chegado atrasado no horrioestabelecido para o incio das aulas. Cabisbaixo e com vergonha de voltar para casa, quando o pequenoValcrio passava de volta no terreiro do Mestre, encontrou-se com ele que perguntou-lhe porque voltava da

    escola antes do horrio normal. Valcrio ento contou a histria. Mestre Irineu em tom bastante afirmado disse:"volte e diga para o sr. Jlio que eu no ensino assim, ouviu bem!?, conta Jlio Carioca. O garoto ento voltou,contou as ordens do Mestre e adentrou para a escola. "Para mim ele mostrava que certos autoritarismos noresolvem e nem servem para a educao de ningum. Nunca mais repeti aquele ato", acrescenta Julio Carioca.

    PARCERIA COM O CRCULO ESOTRICO DA COMUNHO DO PENSAMENTO

    Por esta poca, j se aproximando de 1963, Mestre Irineu, segundo os mais antigos, procurava uma doutrinaque fosse semelhante sua. Nesta procura, filiou-se organizao Rosa Cruz, de onde recebeu o diploma deHonra ao Mrito, e mais tarde filiou-se tambm ao Crculo Esotrico da Comunho do Pensamento, trazido aoseu conhecimento atravs do senhor Francisco Ferreira. "Ele comeou a tomar Daime por aqui, e tal, viajandomuito para So Paulo, e por l ele conheceu, achou muito bonito e trouxe. O Mestre Irineu aprovou."

    Na verdade, vamos observar que as filiaes de Mestre Irineu tanto na Rosa Cruz quanto no Crculo Esotrico

    tinham como objetivo a busca de respaldo para o consumo de sua bebida. Afinal, desde a criao do primeirocentro da ayahuasca, em 1917 no municpio de Brasilia, organizado pelos irmos Antnio Costa e AndrCosta, que o Daime, como foi batizado em 1931 pelo Mestre Irineu, sofre com perseguies das religiestradicionais e de alguns seguimentos da sociedade, que por falta de conhecimento dos reais fundamentos daDoutrina caracterizam-na como sendo um veculo nocivo ao homem. Existia a necessidade, portanto, doMestre Irineu legalizar esses fundamentos, o pensamento educativo e religioso constitudo em sua misso.

    Nessa parceria com o Crculo Esotrico, a histria registrou momentos de grande intensidade na evoluoespiritual do grupo liderado pelo Mestre Irineu. Com sua filiao, os seguidores mais prximos tambm sefiliaram. "O Crculo foi muito bem agraciado pelo Mestre que aconselhou que todos ns nos filissemos, quemsabia ler se filiava e quem no sabia ler se filiava tambm", comenta o sr. Francisco Grangeiro.

    Francisco Ferreira, que coordenava a ligao dos trabalhos com a sede do Crculo em So Paulo, passou a

    realizar encontros todas as segundas-feiras e todos os dias 27 de cada ms, onde reunia maior nmero deseguidores em sesses semelhantes s de concentrao. "Tomvamos Daime e nos concentrvamos por umahora e meia. Quando vinha chegando o afludo, compadre Luiz Mendes lia a orao de Consagrao do

    Aposento e em seguida, executvamos os cnticos dos hinos espirituais e esotricos. Aquilo mexia com ocorao da gente. Fora da sesso, nas reunies de todas as segundas-feiras, lamos as revistas dopensamento, as oraes do iniciado, enfim, elevvamos o nosso pensamento como determinava a Ordem",relata dona Lourdes Carioca.

    "Nessa poca foi quando dei meus primeiros passos na oratria. Pois , com um certo tempo de concentrao,lia a Consagrao do Aposento e ouvamos com muita maestria, comadre Lourdes cantar as canes docrculo", comenta Luiz Mendes, que tornou-se o primeiro orador oficial da misso do Mestre Irineu. "Asvibraes de harmonia, amor, verdade e justia, constantemente invocadas pela comunho dos trabalhosesotricos, iluminavam os pensamentos de unificao objetivados pelo Mestre", acrescenta o sr. Luiz Mendes.

    Um dos hinos que eram cantados nas sesses de concentrao do Crculo Esotrico dizia:Vibremos todos pelo nosso lemaRealizando a feliz fraternidadeFormemos uma egrgora supremaCapaz de iluminar a humanidade

    Cro: Das nossas almas vidas de luzDescerremos as portas sem temor

    Adonai para o Eterno e bem conduzDos obreiros da Seara do Senhor

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    Pelo Sol da Harmonia iluminadosRegidos pelo amor universalNo templo da verdade consoladosFormemos com justia nosso ideal

    Tal como em prece simples e eloqenteA luz dos pensamentos mais profundosSejamos saturados fortementePela essncia das flores e dos mundos

    Nas belezas que o lema sintetizaMuito alm desse brbaro cilcioBusquemos esta luz que simboliza

    As cristalizaes do sacrifcio

    Outro hino que no poderamos deixar de registrar o hino espiritualista, sua letra sintetiza os valores dasduas doutrinas:

    Somos filhos de Brahama SupremoQue a terra criou-nos para o bemDo universo infinito e extremo

    Seu poder nos d fora tambm

    Coro: Exultemos de alegriaDa luta ao entrar na liaInvoquemos harmonia

    Amor, verdade e justia

    Fraternal sentimentos nos unemTransformados de sacro fervorUm sublime dever nos reneNeste templo manso do Senhor

    Quando a alma s' envola liberta

    Da iluso que na vida seduzElevada surpresa despertaNo seu reino de Paz e de Luz

    Entretanto, "entre os documentos orais e escritos acerca da influncia do Crculo e de sua importncia para aformao intelectual e religiosa de Mestre Irineu, um ganha destaque, por mostrar claramente a relao entre oCrculo e o CICLU. Trata-se de uma autorizao assinada por Lencio Gomes da Silva, datada de 10 de junhode 1974. Nessa autorizao, Lencio escreve que o CICLU "...antes denominado Centro de Irradiao Mental -Tatwa Luz Divina, autoriza a Fraternidade Luz no Caminho, antes denominada Centro Humilde Rui Barbosa edepois Centro Ecltico de Correntes da Luz Universal a funcionar de acordo com a orientao do trabalho doCICLU..."

    A denominao de Tatwa para o CICLU no deixa dvida quanto a sua relao ou tentativa de relaoorganizacional com o Crculo, pois este o nome dos ncleos dessa organizao. A carta refere-se ao perodoem que Mestre Irineu tentou legitimar o uso do ritual de ayahuasca no mbito da esfera organizacional doCrculo (tese da antroploga Oneide/RO). Essa ligao, porm, sofre um racha quando a presidente do CrculoEsotrico, dona Matilde Preiswerk Cndido, soube em So Paulo da ligao do Daime nos trabalhos doCrculo. A resposta do Mestre, foi imediata: "Se no querem o meu Daime, tambm no me querem, eu sou oDaime e o Daime sou eu", disse.

    Na tentativa dessa legitimao, Mestre Irineu teria sugerido direo do Crculo em So Paulo o nome deCentro Livre para a organizao de seu grupo. O nome no foi aceito pela direo que enviou como resposta:Centro de Iluminao Crist Luz Universal, o qual foi aprovado pelo Mestre Irineu. "O primeiro nome daqui foiCentro Livre, mas o Mestre aceitou a escolha da direo do Crculo e assim ficou", relata Francisco GrangeiroFilho.

  • 8/2/2019 Mestre Irineu

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    E no se resumiram apenas nesses fatos a ligao da Doutrina com o Crculo Esotrico. Foi dessa relao queMestre Irineu determinou os dias 15 e 30, como datas oficiais das sesses de concentrao, a partir de 1963,quando foi oficializado a data de 27 de cada ms para a realizao das sesses esotricas. Do Crculo,tambm Mestre Irineu extraiu os princpios de Harmonia, Amor, Verdade e Justia, acrescidos de Paz, Amor eSilncio, palavras fundamentadas em sua Misso.

    Sabe-se tambm que foi atravs das leituras das revistas do Crculo, enviadas mensalmente para o MestreIrineu e seu grupo de filiados, que este desenvolveu sua leitura. Diz o sr. Sebastio Jaccoud que "ele prpriocontava que certo dia saiu do Alto Santo e foi at a cidade, Rio Branco, que costumava visitar poucas vezesdurante o ano. Numa dessas ocasies, algum perguntou se sabia ler e ele respondeu que sim. Caiu emreflexo a respeito da resposta e conclua que no havia dito a verdade. Decidiu a ler e escrever. Tornou-sevido leitor das obras do Crculo Esotrico da Comunho do Pensamento". Dona Percilia Matos, tambm tevepapel fundamental no aprendizado de leitura do Mestre. Era ela quem ajudava nas lies que lhe levaram a lere escrever.

    A COMISSO DE CURA

    das bases do Crculo Esotrico que Mestre Irineu organizou tambm seus trabalhos de cura. Como j vimos,at esta data os trabalhos de cura eram realizados nas quartas-feiras. Sempre que um irmo estavanecessitado, Mestre Irineu reunia seus membros e trabalhava a cura da pessoa em trabalhos que poderiam se

    repetir de trs a at nove sesses.

    Com a organizao desses trabalhos, Mestre Irineu criou uma Comisso de Cura - que seria responsvel peloacompanhamento dos irmos enfermos. Nove pessoas, integrantes do Estado Maior, formavam essa comisso:

    Comentam esses seguidores antigos que os objetivos de Mestre Irineu ao fundamentar essa equipe eram maisamplos. Um dia o Mestre comentou com Jlio Carioca: "Quero, Jlio, concentrar-me aqui (referindo-se ao AltoSanto) para trabalhar em benefcio de uma pessoa que esteja doente no Japo", testemunha Jlio Carioca."Em duas ocasies chegamos a nos reunir com esse objetivo, acrescenta dona L