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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
MULHERES E O URBANO: APREENSÃO DO GRAFFITI NA REGIÃO
METROPOLITANA DE SÃO PAULO
Ana Luísa Silva Figueiredo1
Resumo: O presente trabalho pretende discutir a presença de mulheres na cena do graffiti paulistano tomando como
objetos de estudo os trabalhos de Carolina Teixeira, ativista feminista, grafiteira e integrante dos coletivos Fala
Guerreira e GOMA, da zona Sul de São Paulo, Évelyn Queiróz, autora da Negahamburguer, artista plástica e grafiteira
feminista e Cristiane Monteiro, designer, grafiteira e criadora do projeto 'Graffiti Mulher Cultura de Rua', ambas
nascidas em Embu das Artes, região metropolitana de São Paulo. As três artistas trazem em seus trabalhos temáticas
feministas: Carolina estampa seu 'Útero Urbe', Évelyn as mulheres de 'Beleza Real' e Cristiane, negras empoderadas.
Fenômeno urbano e coletivo, o graffiti, no qual frequentemente os agentes se constituem em crews2, abarca esses
trabalhos femininos que ganham maior visibilidade a partir do momento em que se inserem em redes feministas
conquistando, dessa forma, um importante espaço num cenário, nacional e internacional, fortemente marcado pela
cultura e valores masculinos. Apontar as formas pelas quais o graffiti produzido pelas mulheres em São Paulo
ressignifica o espaço urbano, proporciona novas formas de sua apropriação e explicita processos de empoderamento
feminino é o objetivo desse trabalho, fruto de uma pesquisa de mestrado em andamento desenvolvida no Instituto de
Arquitetura e Urbanismo da USP, campus de São Carlos, Brasil.
Palavras-chave: Graffiti, arte, mulher, corpo, empoderamento.
Introdução e objetivos
A região metropolitana de São Paulo (RMSP) é conhecida no campo da arte urbana pela
profusão de inscrições cujos traços somados aos estilos tradicionais de graffiti3 apresentam
singularidades – principalmente quando as agentes são mulheres. O presente trabalho pretende
discutir a presença feminina na cena do graffiti paulista de forma a evidenciar que, além de sua
profusão e qualidade, também permite processos de empoderamento e dessas mulheres latino-
americanas.
Historicamente o graffiti é um fenômeno urbano e coletivo, cujo destaque se dá aos nomes
de seus membros e membras, mas algumas pessoas agem sozinhas. As parcerias femininas
aparecem com a primeira dupla de grafiteiras, Barbara 62 e Eva 62, na década de 1970, em Nova
York. Também é desta cidade Lady Pink, artista ainda em atividade, que integrou grupos compostos
somente por homens, mas se projetou como artista independente deles.4 Nos quase 50 anos de
graffiti, é perceptível a evolução dos modos de organização ao longo das décadas: em grupos de
1 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da USP-São
Carlos, São Carlos, São Paulo, Brasil. Integrante do NEC – Núcleo de Espacialidades Contemporâneas da mesma universidade. 2 Crew, em inglês, é equipe, “grupo de artistas grafiteiros que criam pieces [obras] em grupo e assinam as iniciais da equipe juntam
com seu nome” (GANZ, p.390)
3 “O modelo nova-iorquino de graffiti girava em torno da distorção de letras,(...) que se desenvolveu até abarcar uma grande
variedade de formas tipográficas: a legível ‘letra de forma’, o distorcido e intrincado wildstyle,(...)”(GANZ, p.10) 4 Entre os pioneiros aparecem Taki183, Barbara 62, Eva 62, Lady Pink, Zephir, entre outros. Esse estilo começou a partir de uma
pichação a que chamavam tag, ou seja, o pichador assinava seu nome e o número da sua rua (...)” (GITAHY, p.40)
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duas ou mais pessoas, em redes, com o acesso facilitado a internet, e, atualmente, assim como em
outros meios artísticos, em coletivos, que objetivam apoio e colaboração entre membros e membras.
Esse processo também ocorreu no Brasil, e, na região metropolitana de São Paulo, é possível
destacar grupos como o TupiNãoDá e ações de Alex Vallauri com seus e suas oficiantes, como
Carmen Akemi Fukunari e Márcia Mayumi Chicaoka (GITAHY, p.64), para um crescimento de
grupos cujo fortalecimento se deu a partir da década de 1990, quando é formada a Rede
GraffiteirasBR, a primeira com somente mulheres no país.
A história das mulheres graffiteiras na RMSP se mistura com o ativismo, seja ele por meio
da arte acadêmica, pauta das alunas da FAAP que produziram seus trabalhos e participaram do
início desse movimento, seja por trazer temas ligados à condição de periferia, como os trabalhos e a
atuação política de Carolina Teixeira, Évelyn Queiróz e Cristiane Monteiro aqui são apresentados.
Essa abordagem vai ao encontro ao explorado pela professora e cientista política Chantal Mouffe,
apontando que “as práticas artísticas tem papel na constituição e manutenção de uma ordem
simbólica dada ou em questionamento, e por isso elas necessariamente tem uma dimensão política.”
(MOUFFE, 2007, snp).
Por meio de um panorama das atuações destas três graffiteirasé elencado um de seus
trabalhos e feita uma pequena leitura do mesmo com os objetivos de apontar as formas pelas quais
tenha ressignificado o espaço urbano no qual se insere, como proporcionou novas formas de sua
apropriação e, ainda, de que maneira explicitou processos de empoderamento feminino. Após a
apresentação das graffiteirase seus trabalhos escolhidos, são traçadas suas semelhanças e diferenças
a fim de mostrar que existem vários modos e processos de empoderamento quando se trata de
mulheres artistas periféricas.
Da Zona Sul: Carolina Teixeira, Itzá
Perseguindo o útero andei por algumas cidades em um processo que chamei de resistência
artística (em alusão a expressão residências artística) me encontrando em outras mulheres,
bichas, homens, transexuais, lésbicas, crianças e velhas e compreendi que é cada vez mais
distante pensar que somos mulheres por um dom divino ou porque a natureza fez assim.
(TEIXEIRA, 2016, snp.)
O excerto acima é de Carolina Teixeira, 34, ativista feminista, graffiteira e integrante de
alguns coletivos artísticos. Carolzinha, como é conhecida, está na organização de vários
movimentos no meio artístico, atua como o coletivo Fala Guerreira – por um feminino periférico e
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pulsante, anti-racista5 – o Ocupe os Muros, voltado para a pichação e é artista residente na GOMA –
casa de comunicação e arte, no Jardim Piracuama, Zona Sul de São Paulo.
Em 2015, Carolina fez parte do Grafittaço Top 10, ação
realizada pelo coletivo Mulheres na Luta, que, com um bom número
de graffiteiras se uniu para pintar a viela ao lado da Escola Municipal
Castro Alves, no Grajaú, Zona Sul de São Paulo, na qual se
encontrava uma pichação ofensiva a uma garota da região. Os
dizeres se referem a uma prática comum em São Paulo, o “Top 10”,
lista que são elencadas as meninas consideradas as mais pervertidas
da escola ou região.6
A ação objetivou o embate, e, no mesmo local foram
realizadas intervenções de cunho feminista, questionando tanto o
ranking, quanto o próprio arranjo machista da sociedade, refletida na
escola. Carolina pintou um grande útero (figura 1), bem próxima ao
local da pichação original, acrescentando os dizeres: “em punga
contra os atrasa-lado7”, fazendo referência aqueles e aquelas que
ainda apoiam atitudes machistas e retrógradas e, de estar preparadas,
alinhadas – na gíria, em punga!
O significado de se fazer um Graffitaço feminista é mostrar a
união das mulheres e amparo umas às outras. É falar
“simbolicamente ‘daqui vocês não passam’”, comenta Carolina, delimitando esse território. O
feminismo que ao fazer a curva8, deu outros sentidos a viela, além de passagem e acesso à escola –
é local de disputa ideológica e territorial.
Antes de ser Itzá, Carolina assinava como TIE, seu outro sobrenome. “Eu comecei na escola
e... eu pichava! Não fazia graffiti” comenta. As carteiras escolares foram seus primeiros suportes,
ainda no Ensino Fundamental e, já nessa época ela e suas amigas sofriam retaliações por parte dos
grupos de meninos, como declara em fala para a o Programa Diferente, em dezembro de 2016.9
5 Retirado da descrição do grupo no Facebook, na seção “sobre”, precedido por “Somos uma coletiva feminista atuante na periferia
de São Paulo.” Disaponível em: <https://www.facebook.com/pg/falaguerreira/about/?ref=page_internal> 6 Registro em vídeo do coletivo Mulheres em Luta. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=PKB16qotY7M> 7 Atrasa-lado é, na gíria, uma pessoa que atrapalha os objetivos, sejam eles pessoais, morais ou profissionais, de outrem. Fonte:
Dicionário InFormal. Disponível em: <http://www.dicionarioinformal.com.br/atrasa-lado/> 8 Como diz em seu zine, “Aqui na zona sul o feminismo tem que fazer curva, e adentrar no imenso caldeirão de complexidades que
formam esse espaço. Sabemos que qualquer feminismo cara-pálida aqui seria mera representação ou reprodução de uma discussão
que descende de outras matrizes, outras realidades bastante diversas.” (TEIXEIRA, 2016, snp). 9 Disponível em: <http://www.programadiferente.com/2016/12/ativismo-na-arte-consciencia-e-atitude.html>
Figura 1 – Útero Urbe no Graffitaço
Top 10, em 2015. Foto de Carolina
Teixeira, disponível em sua página no
Facebook em: < https://scontent-gru2-
1.xx.fbcdn.net/v/t1.0-
9/18686_455349471289822_3398184
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Anos depois, quando começou a namorar um grafiteiro, é que se interessou pelo graffiti. O
relacionamento acabou, mas o graffiti se manteve. “O primeiro graffiti que eu fiz, sem ninguém
ajudar, faz uns dez anos, foi ‘As Destruidoras de Lares’” (TEIXEIRA, 2016, snp). A temática
remete a um grupo de amigas do qual Carolina fazia parte, que se reunia esporadicamente, mas não
tinha ações agressivas como o nome induz. Mesmo assim, é neste momento que inaugura a
inquietude em relação ao machismo, a aproximação com o feminismo e a autoafirmação como
mulher e artista.
Sempre de vestido, com ou sem calça legging, picha e grafita há mais de oito anos.
Entretanto, passa alguns desses anos sem pintar nas ruas, fazendo ilustrações e aquarelas em casa.
Comenta que essa pausa ocorreu por diversos motivos e se mantém reservada quando abordada
sobre eles. Em contrapartida, se abre no próprio zine, quando narra uma abordagem que sofreu
enquanto pintava o útero chapado em uma parede.
Um dia, ao grafitar um útero no muro da vila em que moro, uma mulher me
abordou. Estava um pouco alcoolizada e me observava atentamente, um pouco
tombando para o lado. Perguntou o que eu estava desenhando, e respondi que era
aquilo mesmo, aquele órgão que toda mulher tem. Ela sentou, e com real
compadecimento olhou pra mim e disse: ‘nossa, você deve ser uma pessoa triste…
traumatizada. ‘Conta fia, você perdeu um filho, que aconteceu?’ (TEIXEIRA, 2016,
snp.)
Não perdeu um filho, nem abortou, mas perseguiu e encontrou o território-útero, nomeando-
o, na arte e na cidade. “Chamo de território pois estou encarando aqui o útero como lugar de disputa
na sociedade, espaço alienado do corpo feminino e dizimado do imaginário social.” (TEIXEIRA,
2016, snp). Resultado de sua jornada pela América Latina – começando na Argentina e terminando
no México – se voltou para personagens e entidades de raiz latino-americana, muitas que
carregavam o nome Itzá, e se rebatizou. “Foi um renascimento”, confirma.
De volta ao Brasil e aos coletivos, integrou o encontro Periferia Segue Sangrando10, com
destaque para a marcha do ano de 2016, por meio de uma narrativa detalhada em seu zine.
(...) ao mesmo tempo em que lemos o manifesto com ajuda de um megafone, os moradores
saem na janela, as motos pipocam o carburador, a igreja evangélica sempre lotada. O
cortejo de maracatu é barulhento e alegre, atrás de nós um rastro de tinta vermelha marca
todos os lugares que passamos. No ponto de ônibus, grande em letra de fôrma uma mulher
10 O nome faz alusão a música do grupo Consciência Humana, de mesmo nome. Carol justifica: “a periferia de Sâo Paulo segue
sangrando pelo genocídio que mata a tiros nossos adolescentes e silenciosamente pelos ladrões de merenda” (TEIXEIRA, 2016, snp.)
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negra deixa a pixação demarcando seu território: PRETA, SEU CABELO É LINDO!
(TEIXEIRA, 2016, snp.)
Marcar as paredes e deixar esse rastro vermelho no chão são estratégias para que a marcha
seja lembrada, ao menos nos dias seguintes. Outros significados aparecem e ganham mais força
com cada pessoa que se depara com a tinta vermelha no chão, espalhada pelos veículos e motos, ou
pelos grafites e pichações, que completam a paisagem descrita. Carolina é nevrálgica: “(...) a
mulher periférica sabe do fundo do seu útero que o próximo filho assassinado por ser o seu.”
(TEIXEIRA, 2016, snp.)
A dimensão do alcance de suas narrativas, vindas de relatos pessoais e de pessoas próximas
e/ou que compartilham das vivências periféricas paulistanas mistura, de fato, arte e vida. No início
de 2017, Carolina faz sua exposição “Peles da Cidade”, na Oficina Cultural Alfredo Volpi, Itaquera,
Zona Leste de São Paulo. Individual, o grande útero chapado e receptor de água e fogo fez
companhia à mulher-esfinge com o véu e às bandeirinhas do próprio Volpi.
A curta entrevista realizada ao findar o evento Graffiti e Mulheres no Território Urbano, do
SESC Interlagos, em novembro de 2016, reiterou a importância de as mulheres estarem nos espaços
e eventos de graffiti, impondo limites e, ainda, a necessidade de se trabalhar com diversas frentes,
quando se é artista periférica. Na mesma semana, a primeira de novembro de 2016, ficou pronto o
primeiro zine da série “Útero Urbe”, de sua autoria, no qual narra e ilustra, majoritariamente, seus
modos de apropriação dos espaços – não só as periferias de São Paulo, mas outras cidades –, sua
resistência e dedicação empática a todas as mulheres, com ou sem útero.
De Embu das Artes: Cristiane Monteiro, a Crica
Cristiane, 33, é conhecida por todos e todas da cena do graffiti e hip hop por Crica. Há quase
duas décadas pintando – começou a grafitar em 1999 –, entrou de vez no processo em 2004. Se
anima ao contar sobre sua trajetória artística: “a minha vontade superou todas as coisas que eu tinha
dentro de mim, até mesmo a insegurança de sair na rua pra (sic) pintar”, explica: “Acreditei em
mim, acreditei no meu potencial.” Se dedica, sobretudo, a três esferas: trabalho, arte e educação.
Crica viaja para eventos de graffiti e, por muitas vezes, paga do próprio bolso. “É porque eu
realmente gosto”.
Faz parte de sua estratégia ser presente nas ruas e eventos, como no Graffiti contra Enchente
de 2016, que integrou o grande painel só de mulheres, fato simbólico para o momento e que
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demonstra o emergente agrupamento de mulheres. Quem contou o fato foi Carolina, durante o
evento Graffiti e Mulheres no Território Urbano. Tem destaque internacional, sendo uma das
poucas selecionadas para o Meeting of Styles - Brasil11 do mesmo ano.
Em nossa primeira conversa comentou que o design – é formada em Design de Interfaces
pelo SENAC – entrou em sua vida justamente por conta do graffiti, porque queria ampliar seus
horizontes. “Você faz um graffiti, você deixa um legado”, garante. “O principal de eu sair pra pintar
é porque eu gosto, porque eu amo realmente o graffiti.”, diz ela. “Eu sinto que essa galera nova, não
todo mundo, mas é um pessoal carente de informação da própria trajetória do graffiti e do
movimento hip hop.”, comenta sobre o que motivou a criar seu projeto Graffiti Mulher Cultura de
Rua em 2012. Ao fazer um graffiti, habitualmente veste luvas e separa com cuidado o material que
vai usar. “O que interessa é a mensagem que você quer passar, transmitir, e a coragem que você tem
de sair com a sua mochila na rua pra pintar”, desabafa.
Crica é paulistana, porém sua família se estabeleceu em Embu das Artes, cidade da zona
sudoeste da região metropolitana de São Paulo. A cidade também é a origem de Évelyn Queiróz, a
Negahamburguer, outra grande graffiteira brasileira. “Ela mora no bairro ao lado dos meus pais. Eu
conheci ela logo que eu comecei a pintar”, comenta Évelyn. “Eu nasci em São Paulo, mas eu moro
no Embu desde os 8 anos de idade e minha vida sempre foi paralela entre Embu e São Paulo”,
explica Crica, que diz se destoar da “galera do hip hop” e quando frequentava a Casa de Cultura de
Santo Amaro12 porque se preocupava em fazer uma faculdade. “Eu queria ter um trampo que eu
fizesse aquilo que eu amo, que é arte, desenho, tecnologia...”, justificando a escolha pelo curso que
escolheu na faculdade.
Veste roupas bem coloridas e estampadas. A calça, a camiseta regata com top por baixo, as
luvas e até os tênis estão sempre respingados de tinta. “Hoje a gente incorpora que é o estilo de vida
que a gente tem”, analisa. Não se aborrece fácil, mas tem o olhar desconfiado de quem já ouviu
muito desaforo na vida. “Quando eu tinha que fazer algum tipo de efeito ou fazer alguma coisa
maior dentro do meu trampo eu ia perguntar pra algum grafiteiro e o cara já me esculachava.”
Seu portfolio é online, tem tanto uma página no Facebook, outra em um domínio próprio e
um perfil no Instagram. Sua presença nessas Redes Sociais e internet no geral é marcante, podendo
ser considerada dona de uma “ressignificação do espaço virtual”. “A rede social é um meio de
11 Meeting of Styles reúnem os melhores artistas em encontros em diversas localidades do mundo. É feita uma seleção e existe
grande disputa para ser uma das pessoas escolhidas. Disponível em: http://www.meetingofstyles.com/ 12 Desde sua criação exerce ação direta e ativa na vida de seus freqüentadores, servindo não apenas como local de fruição ou
produção cultural, mas também como pólo agregador da comunidade artística e seu público, proporcionando maior contato e
vivência com repertório cultural diversificado e de qualidade. Descrição do site oficial, disponível em:
<http://spcultura.prefeitura.sp.gov.br/espaco/748/>
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comunicação muito grande e a gente devia explorar isso”, e, ainda “eu coloco lá como realmente
uma fonte de conseguir trampo”, completa. Não tem registro fotográfico de seus trabalhos
anteriores a 2004, quando comprou sua primeira câmera digital. Seus trabalhos envolvem a figura
da mulher, feminina e sempre longilínea, como um autorretrato.
Completou dois grandes painéis: o da Avenida 23 de Maio (Figura 2), em 2015, entre os
trabalhos de Mari Pavanelli e Mônica Ancapi, e o Túnel Noite Estrelada, em 2016, ambos na gestão
de Fernando Haddad como prefeito de São Paulo. Ambos foram importantes para sua carreira, mas
Crica mostra e fala que o espaço urbano não é só o público, mas todos que se encontram na
condição urbana. Assim, utiliza suportes variados, como muros, paredes internas, telas, objetos –
pintou uma cafeteira da marca Dolce Gusto durante um evento na Casa TPM13 em 2016. São essas
algumas novas apropriações do espaço urbano, que vão além do graffiti não autorizado em muros.
Crica explicita o empoderamento
feminino em sua fala, sempre muito
eloquente, enfatizando a questão de a
sociedade patriarcal determinar os papéis
das mulheres e como rompe isso desde
tenra idade, porque “era uma criança
estranha”. No trabalho realizado na av. 23
de Maio, a figura central é uma mulher que
aparenta transitar entre a infância e
juventude. Com uma mão segura um
coelho de pelúcia, e na outra, um cigarro. Os
cabelos coloridos são maiores do que a
própria personagem, recorrente nos trabalhos de Évelyn e de outras grafiteiras.
Não tem problemas em compartilhar seus conhecimentos adquiridos em relação ao graffiti e,
por isso, criou o canal do YouTube. “Se alguém me criticar com relação a isso eu quero que se f*
porque eu tô (sic) fazendo isso de coração, porque é uma parada que eu acredito e eu acho que essa
informação a gente deve passar”, confessa. Além dos tutoriais, seu canal no YouTube tem função
de conversar e falar para todas as pessoas como é sua vida, como é o graffiti, sua história e
participações em eventos.
13 Evento anual realizado pela revista TPM, vinculada a revista TRIP, com intuito de promover mesas de discussão e espaços para
mulheres no âmbito do feminismo. Disponível em: <http://revistatrip.uol.com.br/tags/casa-tpm>
Figura 2 – Menina-mulher, av. 23 de Maio, altura do viaduto da
rua Pedroso. Foto por Cristiane Monteiro, disponível em sua página
no Pinterest em: <http://projetocuradoria.com/wp-
content/uploads/2017/04/cricamonteiro3.jpg>
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Da estrada: Negahamburguer, Évelyn Queiróz
Conhecida como Negahamburguer, a embuense Évelyn Queiróz, 28, tem se aventurado há
dois anos em viagens no Brasil, América Latina e Europa. Seus percursos beiram a deambulação, as
estradas, caminhadas e os voos acontecem por ímpetos. Na primeira parada, em Buenos Aires,
capital da Argentina, já hesitou: “eu fiquei dois meses lá, eu tava (sic) com a minha passagem pra
voltar e eu não quis voltar e fiquei”, comenta.
Esses percursos mostram que os espaços em que passa permitem conexões entre seu
trabalho artístico e suas experiências enquanto mulher e feminista. Seu caráter explorador também
aparece em seus trabalhos, principalmente nos lugares que escolhe para fazê-los. “Em qualquer
lugar que eu passe já tenho esse olho... quando você faz coisa na rua cê (sic) automaticamente já
fica mais esperta nos muros, já repara nas coisas que você não reparava antes”, comenta. Essas
viagens, que denomina como Mochilões, explicitam novas apropriações dos espaços urbanos, como
das maneiras que se porta nos diferentes países que percorreu. Fazer um lambe-lambe em São Paulo
é diferente de Barcelona, onde preferiu ir onde “tinha certeza que não ia dar treta” para pintar,
porque “tem que fazer aquela parada bem rápida e leva multa mesmo”. Já em Buenos Aires, vendeu
aquarelas na feira tradicional de San Telmo, para se manter.
Évelyn exerce seu feminismo fazendo retratos de mulheres fora dos padrões. "Ouvia
histórias de amigas gordas, negras, fora do padrão. E também de algumas dentro do padrão que
eram tachadas como fúteis", conta para uma reportagem da Folha de São Paulo, logo que começou
a fazer sucesso no Facebook14 com o Projeto “Beleza Real”, dentre as quase duzentas histórias que
recebeu, escolheu 53 para integrar o livro. O projeto repercutiu positivamente, explicitando
processos de empoderamento das mulheres que relataram suas histórias e foram retratadas e,
também da artista. “Várias escreveram que era a primeira vez que elas estavam contando aquilo”,
comentou Évelyn em entrevista. “Eu comecei a fazer a Nega tem oito anos, mas por outros motivos
nada a ver, eu só queria fazer graffiti e queria uma personagem, e é isso.” “Eu não consigo
estacionar, vai ser sempre meio mutante”, comenta sobre seu traço ao longo desses oito anos. Em
seu trabalho, graffiti e o feminismo se retroalimentaram, sendo uma “ferramenta que dá voz”, como
“uma plataforma”, completa.
Eu fui aos poucos conhecendo o graffiti e conhecendo o feminismo, aí eu fui colocando um
no outro assim. Isso também me fez conhecer muitas outras mulheres, a gente conhece
14 Fonte: Folha de São Paulo, Mulheres se impõem contra cantadas de rua e criam grupos para entender feminismo. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/saopaulo/2014/03/1422112-mulheres-se-impoem-contra-cantadas-de-rua-e-criam-grupos-para-
entender-feminismo.shtml>
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muito mais meninas agora falando para meninas. Começar a fazer graffiti ao mesmo tempo
que (sic) eu fui conhecendo o feminismo me levou para um caminho sem volta.
(QUEIRÓZ, 2016)
Évelyn vive um dia de cada vez. Da mesma forma que questiona a necessidade de dinheiro
para sobreviver, promovendo trocas, ainda participa de projetos patrocinados, como o projeto da
RayBan (Figura 3). Para tal foi locado o terraço
de um prédio em São Paulo para Évelyn grafitar
e, ao final da gravação, foi pintada novamente da
cor original. Apesar de parecer uma
ressignificação do espaço, é questionável por ser
uma obra de graffiti efêmera com fins
comerciais: apagada, porém registrada em vídeo.
Na parede uma mulher gorda, negra, com
cabelos coloridos e pêlos em baixo do braço
representado por flores. Também, a cor azul nos
lábios representa o momento atual da luta das
feministas negras que utilizam do batom azul como mote questionador dos padrões de produtos de
beleza e da falta daqueles adequados para elas.
Contrastes e comparações
O espaço urbano nos trabalhos dessas mulheres pode ser entendido de duas maneiras: como
aquilo que é dos outros e, como o espaço pelos quais transitamos. Ao fazer pinturas em locais que
passam diariamente, também são receptoras daquela produção. Se viajam e deixam suas marcas, já
não é parte da sua rotina, mas de outras pessoas.
Carolina utiliza da palavra em sua arte, além de sua assinatura ou grupo, sempre tem uma
frase. O útero chapado ou a figura de mulher não bastam, é preciso reforçar as ideias por escrito.
Tudo que escreve é poético, por isso, se preocupa em fundamentar, perseguir, como mesmo coloca
a essência da arte de mulher e artista periférica no Brasil – feita para incomodar.
Se Carolina escreve, Crica fala. Até em sua redação, no grupo e na página do Graffiti
Mulher Cultura de Rua, a eloquência transparece. Tem fôlego para compartilhar tudo, do trabalho
que faz ao evento internacional que não pode comparecer. Suas figuras sempre tem um olhar
desafiador, que, assim como Carolina escreve, estão em punga, preparadas a defesa de seus direitos.
Figura 3 – Imagem retirada da propaganda da Rayban,
Évelyn pinta com spray em cima de um andaime. Fonte:
<https://www.youtube.com/watch?v=MwfBECvLzP0> 0:0:33
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E, entre a escrita e a fala há o registro, a busca pela síntese de uma história confidenciada, o
que Évelyn faz em seu projeto Beleza Real. As dores e alegrias das histórias são transmitidas em
todas as suas outras bonecas, como chama suas figuras, que questionam padrões de corpo e
comportamento a fim de aproximar umas das outras por suas diferenças.
Ainda que sejam mulheres periféricas apaixonadas pelos seus lugares e territórios, que tem a
semelhança de se expressarem graficamente por meio do graffiti, suas distintas vivências impactam
diretamente em suas produções, revelando que as periferias são mesmo muitas. Ao contrário do
senso comum, que aponta tudo como “graffiti/pichação”, as estéticas apresentadas por Crica,
Carolina e Évelyn são diferentes do estilo clássico do Graffiti, como o wildstyle, justamente porque
incorporam fatores pessoais às técnicas conhecidas de graffiti.
As três artistas trazem em seus trabalhos temáticas feministas: Carolina estampa seu “Útero
Urbe” – metonímia para a mulher –, Évelyn as mulheres de “Beleza Real” e Cristiane, negras
empoderadas com o selo do projeto “Graffiti Mulher Cultura de Rua”. O tema principal transversal
a esses trabalhos é o corpo das mulheres. Aparecem os rostos, bustos e corpos inteiros, como
retratos que imaginam um tipo de mulher, ou de pessoas reais, longe de almejar perfeição. Por
muitas vezes há destaque para os gestos de mãos, olhos, cabelos e, outras partes mais significativas
no âmbito do empoderamento de mulheres, como o útero e seios.
Essas representações de mulheres aparecem em situações características da vida urbana,
ouvindo música, cantando, andando em espaços públicos, lendo, com uniformes e vestimentas de
acordo com suas profissões ou origens, sozinhas ou em interação com outras personagens. A
postura também é um fator de interesse: enquanto Évelyn as pinta como se flutuassem – uma
brincadeira com as gordas representadas –, Carolina e Crica sempre as colocam em plena postura de
elegância e resistência.
A relação com o poder – público e privado – é bem clara em cada uma das três, enquanto
Carolina e Évelyn correm pelas beiradas, Crica anda no centro. Carolina transita entre o ilegal, no
coletivo Ocupe os Muros, ao legítimo como artista residente da GOMA. Para Crica o graffiti é a
arte não-autorizada no muro, e que quando é contratada pra fazer uma pintura, mantém a estética,
mas o significado é completamente outro. “O graffiti, quando alguém pede, não é mais graffiti, é
decoração”, esclarece.
Pode-se fechar um ciclo interessante de relação entre essas mulheres: Crica pinta seu mural
na avenida 23 de Maio. Carolina, junto ao Ocupe os Muros picha esses trabalhos e, enquanto
acontece essa disputa, Évelyn pinta sua boneca em um prédio da ECA – Escola de Comunicação e
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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
Artes, na Cidade Universitária da USP, no Butantã. Ambos os lugares são emblemáticos e porque
são alvos de disputas políticas15. Nesse meio, Carolina age questionando a curadoria dos e das
artistas – “na época do Kassab era até melhor, porque apagava e virava uma tela em branco de
novo, a gente não atropelava ninguém”, finaliza.
Considerações finais
Chantall Mouffe, sobre ativismo artístico, coloca que “há uma dimensão estética no político
e uma dimensão política na arte” (MOUFFE, 2007, snp.) Quando Carolina busca sua raiz latino-
americana e renasce como Itzá, uma entidade forte e que conduz seus trabalhos como graffiteira e
ativista; Crica encontra a cada trabalho sua raiz negra e o feminismo negro, e Évelyn busca o corpo,
percorrendo o território-corpo, por meio da realização de tatuagens e em seu trânsito nômade, estão
todas afirmando que sua arte é política. O desejo e busca por suas raizes é o que rege seus trabalhos
e encontra lugar como expressão de gênero.
Elencadas as temáticas recorrentes dos trabalhos se tornou possível sugerir que o graffiti seja
mais do que uma expressão efêmera, ou uma inquietação do espírito dessas artistas. Coloca-se como
arte que trabalha sentimentos e questões caras ao processo de direito a cidade e, no caso das
mulheres, ao seu próprio corpo. Ainda em Mouffe, “é a arte crítica que fomenta o dissenso, que
torna visível o que o consenso dominante tende a ocultar e suprimir.” (MOUFFE, 2007, snp)
Se fosse possível sintetizar a atuação de cada uma em três palavras, designando a primeira
impressão, a maior preocupação que expressa verbalmente e, o que sua arte passa, respectivamente,
elas seriam: escrever, fundamentar e incomodar, para Carolina; falar, compartilhar e desafiar para
Crica; e registrar, questionar e aproximar, para Évelyn. O graffiti, assim, é uma das “múltiplas
práticas artísticas que visam dar uma voz para aqueles que são silenciados no âmbito da hegemonia
existente”, (MOUFFE, 2007, snp)
Todo esse entendimento configurou um resultado parcial importante para o desenvolvimento
da pesquisa, podendo ampliar as discussões a respeito de o graffiti ser instrumento de
empoderamento de mulheres, por meio de apreensão e reflexão dos trabalhos na RMSP.
Referências
15 A gestão de Fernando Haddad, PT, permitiu a “tomada” do eixo norte-sul por 450 grafiteiros e grafiteiras em 2014. Disponível em:
<http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2015/02/prefeitura-de-sp-inaugura-mural-de-grafite-na-avenida-23-de-maio.html> João Dória
Jr, PSDB, seu sucessor, mandou apagar todos os trabalhos realizados em seu primeiro mês de mandato. Disponível em:
<http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/avenida-23-de-maio-tera-oito-espacos-para-grafites-e-desenhos-velhos-serao-apagados-diz-
doria.ghtml>
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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
GANZ, Nicholas. O Mundo do Grafite – Arte Urbana dos Cinco Continentes. Arte Urbana dos
Cinco Continentes. São Paulo, Martins Fontes, 2010.
GITAHY, Celso. O que é Graffiti. São Paulo: Brasiliense, 1999.
MONTEIRO, Cristiane. [ago. 2016]. Entrevista concedida a: Ana Luísa Silva Figueiredo. Santa
Rita do Sapucaí, MG, 2016; 2 arquivos .mp4 (18 min; 6 min)
MOUFFE, Chantal. Artistic activism and Agonistic Spaces. Glasgow: The Glasgow School Of Arts,
v. 1, n. 2, jul. 2007. Disponível em: <http://www.artandresearch.org.uk/v1n2/mouffe.html>. Acesso
em: 10 mar. 2017.
QUEIRÓZ, Évelyn. [nov.2016]. Entrevista concedida a: Ana Luísa Silva Figueiredo. São Paulo,
SP, 2016; 2 arquivos .mp4 (22 min; 2 min)
TEIXEIRA, Carolina. Em Punga! Útero Urbe. Zine nº1. São Paulo: sem editora, 2016.
_________________. [nov.2016]. Entrevista concedida a: Ana Luísa Silva Figueiredo. São Paulo,
SP, 2016; 2 arquivos .mp4 (10 min; 8 min)
Women and the Urban: the graffiti appropriation in São Paulo’s metropolitan region
Abstract: The present work intends to discuss the female presence in São Paulo`s graffiti scene,
taking as objects of study the works of Carolina Teixeira, feminist activist, graffiti artist and
member of the collectives Fala Guerreira and GOMA, from the south of São Paulo, Évelyn Queiróz,
author of Negahamburguer, a plastic artist and feminist graffiti artist and Cristiane Monteiro,
designer, graffiti artist and creator of the 'Graffiti Mulher Cultura de Rua'project, both born in Embu
das Artes, in the metropolitan region of São Paulo. The three artists bring in their work the feminist
thematic: Carolina stamps her 'Uterus Urbe', Évelyn the women with 'Real Beauty' and Cristiane,
black empowered women. Urban and collective phenomenon, the graffiti, in which the agents are
often constituted in crews, embraces these feminine works gained more visibility from the moment
they were inserted in feminist networks conquering an important space in a national and
international scenario, strongly marked by masculine culture and values. To point the ways in which
graffiti produced by women in São Paulo gives a new meaning to the urban space, provides new
forms of their appropriation and explicits processes of female empowerment is the objective of this
work, the result of an ongoing master's research, developed in the Instituto de Arquitetura e
Urbanismo da USP, campus of São Carlos, Brasil.
Keywords: Graffiti, art, women, body, empowerment.