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Newsletter Nº 1 | Dezembro 2005 PSL – Ciência da Informação ....................................... 3 | André Ricardo Luz | A Moda da Informação ............................................. 11 | Armando Malheiro | O Princípio do Acesso ............................................... 14 | Eloy Rodrigues | Desfazer equívocos: Ciência ou Ciências da Informação? ........ 19 | Fernanda Ribeiro | A tecnologia e os usuários com deficiências visuais ............... 23 | Michelângelo Viana | A biblioteca em tempos de Internet ............................... 25 | Murilo Bastos Cunha | As bibliotecas e os estudos de comportamento informacional .... 28 | Paulo Jorge Sousa |

Newsletter n.º 1 do blogue 'A Informação

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A newsletter n.º 1 do blogue 'A Informação' congrega os seguintes artigos: > PSL - Ciência da Informação, André Ricardo Luz, Brasil;> A moda da informação, Armando Malheiro, Portugal;> O princípio do acesso, Eloy Rodrigues, Portugal;> Desfazer equívocos: Ciência ou Ciências da Informação?, Fernanda Ribeiro, Portugal;> A tecnologia e os usuários com deficiências visuais, Michelângelo Viana, Brasil;> A biblioteca em tempos de Internet, Murilo Bastos Cunha, Brasil;> As bibliotecas e os estudos de comportamento informacional, Paulo Jorge Sousa, Portugal.Esta edição conta com a colaboração especial da Dr.ª Fernanda Ribeiro e do Dr. Armando Malheiro, mentores da licenciatura em Ciência da Informação, ministrada em cooperação entre a Faculdade de Letras e a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. O objectivo deste pequeno opúsculo digital é agregar diversas perspectivas sobre a 'informação', nomeadamente, quanto à sua génese, aplicação, difusão, comunicação, etc. sob a forma de comentários, artigos, reflexões, recensões, ou outras.Só com a investigação, a reflexão e o debate das diversas questões/problemas associadas à informação, é que os profissionais e os diversos sistemas de informação (entenda-se: Arquivos, Bibliotecas, Centros de Documentação, Empresas, etc.) poderão evoluir e adaptar-se às constantes necessidades que a sociedade da informação lhes impõe. É neste contexto que surge esta iniciativa de cooperação como um pequeno contributo para o seu desenvolvimento.

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Newsletter

Nº 1 | Dezembro 2005

PSL – Ciência da Informação ....................................... 3 | André Ricardo Luz | A Moda da Informação ............................................. 11 | Armando Malheiro | O Princípio do Acesso ............................................... 14 | Eloy Rodrigues | Desfazer equívocos: Ciência ou Ciências da Informação? ........ 19 | Fernanda Ribeiro | A tecnologia e os usuários com deficiências visuais ............... 23 | Michelângelo Viana | A biblioteca em tempos de Internet ............................... 25 | Murilo Bastos Cunha | As bibliotecas e os estudos de comportamento informacional .... 28 | Paulo Jorge Sousa |

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Índice

PSL - Ciência da Informação.… 3 A Moda Da Informação 11 O Princípio do Acesso 14 Desfazer equívocos: Ciência ou Ciências da Informação? 19 A tecnologia e os usuários com deficiências visuais 23

Tal como fomos anunciando ao longo das últimas

semanas, tanto no blog, como através da colaboração dos diversos blogs e sites que se associaram na divulgação desta iniciativa, o blog "A Informação" tem o prazer de apresentar a primeira edição da sua newsletter. A sua realização só foi possível com o esforço e a dedicação dos diversos colaboradores que cooperam no blog. De referir ainda, que esta edição conta com a colaboração especial da Dr.ª Fernanda Ribeiro e do Dr. Armando Malheiro, mentores da licenciatura em Ciência da Informação que está a ser ministrada em cooperação entre a Faculdade de Letras e a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. O objectivo deste pequeno opúsculo digital é agregar diversas perspectivas sobre a "informação", nomeadamente, quanto à sua génese, aplicação, difusão, comunicação, etc. sob a forma de comentários, artigos, reflexões, recensões, ou outras. Só com a investigação, a reflexão e o debate das diversas questões/problemas associadas à informação, é que os profissionais e os diversos sistemas de informação (entenda-se: Arquivos, Bibliotecas, Centros de Documentação, Empresas, etc.) poderão evoluir e adaptar-se às constantes necessidades que a sociedade da informação lhes impõe. É neste contexto que surge esta iniciativa de cooperação como um pequeno contributo para o seu desenvolvimento. Concluindo, resta-me agradecer a todos os elementos que tornaram esta iniciativa uma realidade, mais precisamente, aos diversos colaboradores dos dois lados do Atlântico que contribuíram com o seu texto para a newsletter. Também quero deixar uma palavra muito especial de agradecimento a todos os blogs e sites que cooperam na divulgação da newsletter. Por último, desejo agradecer a todos os visitantes pela sua fidelidade ao blog, pelos seus contributos nos comentários e pela divulgação que possam fazer. Os votos de um Bom Natal e um Feliz Ano Novo. Paulo Sousa

Blogs Cooperantes

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Ficha Técnica

Colaboradores da Newsletter:

André Ricardo Luz

Armando Malheiro

Eloy Rodrigues

Fernanda Ribeiro

Michelângelo Viana

Murilo Bastos Cunha

Paulo Jorge Sousa

Design e Montagem: Paulo Jorge Sousa Distribuição Gratuita

Editorial

A biblioteca em tempos de Internet 25 As bibliotecas e os estudos de comportamento informacional 28

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COMUNICAÇÃO

PSL - Ciência da Informação

Projecto de Software Livre em Ciência da Informação1

André Ricardo Luzi André Ricardo Luz

(UNIRIO) (UNIRIO) i

[email protected]@gmail.com

Resumo

Esta comunicação tem como objetivo apresentar os resultados parciais do projeto PSL - Ciência da Informação (customização e tradução de soluções de software livre voltadas para a Ciência da Informação). Pretende-se com isso dinamizar soluções livres e gratuitas às demandas contemporâneas frente à Informação Social, promovendo democratização do acesso às tecnologias da informação, gerando alternativa para a dependência econômica e tecnológica. O projeto é fundamentado pela Teoria Geral dos Sistemas e tem como abordagem a interpretação da Arquivística pós-custodial, apresentado pelo professor Armando B. Malheiro, entre outros autores. A metodologia de investigação é baseada no método quadripolar de Paul de Bruyne. Como produto final, disponibilizará via download e CD botável, pacote totalmente open source e freeware aos gestores de informação contendo: sistema operacional (Linux), Office, navegador web e software de gerenciamento de informação aplicado à Ciência da Informação. Palavras-chaves: Ciência da Informação. Informação Social. Tecnologia da Informação. Arquivística pós-custodial. Linux.

Introdução

As transformações sociais ocorridas principalmente nas últimas décadas do século XX,

impulsionadas tecnologicamente pelas necessidades militares (inicialmente) e comerciais (a

posteriori) na nova estruturação do capitalismo (chamada nova economia) promoveram novas

demandas e abordagens em diversas áreas do conhecimento. Há, no entanto, um aspecto

fundamental a ser observado quanto ao discurso de revolução da tecnologia da informação, de modo

a evitar a subestimação de sua verdadeira importância. Esta revolução seria segundo Manuel

CASTELLS (2005, p. 67), um evento histórico da mesma relevância da Revolução Industrial do séc.

XVIII, “... induzindo um padrão de descontinuidade nas bases materiais da economia, sociedade e

cultura” (op. cit., p. 68) . Com a Ciência da Informação e a Arquivística não poderia ser diferente e

possíveis mudanças de paradigma estão em estudo. A informatização dos serviços de informação

surge então, como elemento fundamental no processo de flexibilização do uso da informação e no

próprio aperfeiçoamento e expansão destas tecnologias.

1 Citation: LUZ, André Ricardo. PSL - CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO. In: CONGRESSO DE

ARQUIVOLOGIA DO MERCOSUL, 6º, 2005, Campos Do Jordão. Arquivos: O Saber e o Fazer. Campos Do Jordão: Arq-SP, 2005. v. 1, CD-ROM.

Para adquirir os Anais do evento entre em contato com a ARQ-SP: http://www.arqsp.org.br/ .

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A partir da década de 90, podemos vislumbrar uma nova fase caracterizada pela

disponibilidade de ferramentas – hardware e software, com uma infinidade de recursos e

possibilidades. Pacotes de softwares comerciais foram apresentados à comunidade usuária.

Conhecidos como sistemas de gerenciamento de informação, estes sistemas foram projetados para

integrar e controlar as atividades essenciais informacionais pressupondo a utilização de normas e

padrões internacionais que permitiriam a compatibilidade e o intercâmbio das informações. No

entanto, o custo destas aplicações ainda é alto para diversas instituições.

1. Objetivo e Justificativa

Esta comunicação tem como objetivo apresentar o projeto PSL - Ciência da Informação

(customização e tradução de soluções de software livre voltadas para a Ciência da Informação).

Pretende-se neste projeto dinamizar soluções livres e gratuitas às demandas contemporâneas frente à

Informação Social, promovendo democratização do acesso às tecnologias da informação, gerando

alternativa para a dependência econômica e tecnológica.

2. O Projeto PSL-CI (Projeto de software livre em Ciência da Informação)

Escopo

Prospectar, analisar, traduzir e customizar soluções de software Open Source compõe o

escopo deste projeto. Para alcançar tais objetivos será elaborado um modelo conceitual de modo a

servir de base para a elaboração de um Sistema de Gerenciamento de Informação (SGI) - valendo-se

para tal de linguagem de programação a ser definida posteriormente.

Etapas

O projeto será dividido em 6 (seis) etapas, a saber:

Análise de Requisitos

Prospecção de Softwares (Benchmarking)

Modelagem Conceitual

Programação de Software (Produção)

Análise de Resultados (Versão BETA)

Publicação, divulgação e distribuição do produto final (via download e CD ‘botável’).

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Cronograma

O cronograma foi inicialmente definido da seguinte forma:

SEMESTRE

ETAPAS 1º sem / 2006ii 2º sem / 2006

Meses jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez

Análise de Requisitos

x x

Prospecção de software

x x

Modelagem Conceitual

x x

Programação de Software

x x

Análise de resultados

x x

Publicação, divulgação e distribuição

x x

Recursos Humanos

‘Modelo de Ação’ das equipes de trabalho a serem montadas (quatro equipes a priori):

EQUIPE ATRIBUIÇÕES Elaboração e Captação do Projeto Redação do projeto para a Captação de

recursos. Desenvolvimento de

software/Manutenção Web Tradução e customização dos programas/ Produção do CD botável/Manutenção dos

sites do grupo. Tradução e Revisão Revisão da tradução e dos textos;

Pesquisa de conteúdo para os textos. Gerência de projeto Gerenciamento das

equipes/Informes/Relações Públicas/Atas, etc.

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Custo

O projeto captará recursos em agências de fomento (CAPES, CNPQ, etc.) e empresas que

financiam projetos, como por exemplo: Fundação Alphaville, Fundação América Express, HP

Brasil: Lucent Technologies Brasil; Instituto Microsiga; Fundação Victor Civita, entre outras.

Qualidade – Gerência de Requisitos

A qualidade do software está relacionada aos requisitos designados para o produto. Requisito

é o conjunto de atributos de software que devem ser satisfeitos de modo que o mesmo atenda às

necessidades dos usuários. A determinação dos atributos relevantes para cada software será variável

em função do domínio da aplicação, das tecnologias utilizadas, das características específicas do

projeto e das necessidades do usuário e da organização (IBICT, 2004).

É fundamental que as mudanças no projeto (seja no escopo, nas etapas ou até no modelo

conceitual) sejam controladas com base nos requisitos, daí o tema gerência de requisitos. A Gerência

de Requisitos tem como objetivo principal controlar a evolução dos requisitos, seja por constatação

de novas necessidades, seja por constatação de deficiências nos requisitos registrados anteriormente.

O modelo Capability Maturity Model Integration (CMMI) fornece um guia para a melhoria dos

processos e a habilidade de gerenciar o desenvolvimento, aquisição e manutenção de produtos e

serviços. O modelo coloca as melhores práticas dentro de uma estrutura que ajuda na avaliação da

maturidade organizacional ou da capacidade da área do processo, estabelecendo prioridades para

implementação das melhorias. O quadro abaixo apresenta o Controle de Processo de Gerência de

Requisitos adotado pelo SERPRO:

Quadro 1: Controle de Processo de Gerência de Requisitosiii.

Apresento a seguir alguns requisitos a serem considerados no projeto (IBICT, 2004):

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Funcionalidade: Capacidade do software de fornecer funções as quais satisfazem as necessidades

quando usado para automação do sistema de informação.

Aspectos:

Adequação (realiza aquilo a que se propõe)

Tecnologia - Atende às funções básicas de um sistema de informação?

Seleção, aquisição, catalogação, avaliação, descrição, workflow, etc.

Circulação

Recuperação da informação

Processo gerencial

Acurácia

Interoperabilidade (permite interação com outros sistemas-Metadata Harvesting)

Conformidade (está de acordo com normas, leis, etc.)

Segurança de acesso – Níveis de acesso (evita acesso não autorizado a programas e dados?).

Confiabilidade: Avalia a capacidade de um software de manter seu nível de performance. Os

aspectos avaliados foram:

Maturidade

Tolerância à falhas

Recuperabilidade

Usabilidade: Demonstra a capacidade que um software possui em relação ao entendimento,

aprendizagem e satisfação do usuário sob determinadas condições. Avalia aspectos referentes à

facilidade de uso:

Inteligibilidade

Apreensabilidade

Operacionalidade

Eficiência: Avalia a capacidade do software de proporcionar o nível de desempenho exigido,

referente à quantidade de recursos usados sob determinadas condições:

Tempo

Manutenibilidade: Avalia a capacidade que o software possui de ser modificado. Modificações

estas que incluem correções, aperfeiçoamentos ou adaptações do software devido a mudanças de

ambiente em solicitações e especificações funcionais:

Analisabilidade

Modificabilidade

Estabilidade

Portabilidade - avalia a capacidade do software de ser transferido de um ambiente para outro

(migração):

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Adaptabilidade

Instalação

Conformidade

Padrões Bibliográficos, normas internacionais e softwares a serem analisados como

Benchmarking (observando as facilidades de compartilhamento de dados e o intercâmbio de

informações que são características consideradas indispensáveis aos softwares com vistas à

automação): Pergamum; Sysbibli; Argonauta; Aleph500 e Alephino; Multiacervo; Informa; Sophia;

BIBLIOBase; Alexandria; VTLS/Virtua , Formato MARC (Machine Readable Cataloguing); ISO

2709 ; Protocolo OAI-PMH; Protocolo Z39.50; UNICODE; XML (eXtensible Markup Language).

3. Quadro teórico-conceitual

O projeto é fundamentado pela Teoria Geral dos Sistemas e tem como abordagem a

interpretação da Arquivística pós-custodial, apresentado pelo professor Armando B. Malheiro, entre

outros autores.

Nos anos 80 e 90, assistimos a uma revolução tecnológica e social, de tal modo que torna

emergente novos questionamentos e dilemas em todas as áreas, conseqüentemente também na

Arquivística. Como sugerem Armando Malheiro da Silva e outros, já se observam atualmente, uma

percepção e saber do “corpus” científico indicativo de um novo caminho, uma nova e ampla

abordagem à disciplina (LUZ apud SILVA, 2004). Os arquivos apontam como sistemas naturais,

orgânicos, complexos e dinâmicos, porém integrados, ajustados ao fenômeno da informação social.

Para que um sistema de gestão da qualidade funcione a contento deve-se considerar o

planejamento, a implantação, auditoria e manutenção de um sistema de gerenciamento de

informações (incluindo o sistema de informações arquivísticas). O objetivo é tornar estas

informações disponíveis, de modo inteligível, tão logo solicitadas e disseminadas às pessoas ou

sistemas autorizados (LUZ, 2004).

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4. Metodologia

A metodologia de investigação é baseada no método quadripolar de Paul de Bruyne. Segundo

este modelo o método da Ciência da Informação afirma-se e tende a consolidar-se por uma dinâmica

de pesquisa quadripolar que opera e se repete continuamente no próprio campo de conhecimento.

Tal dinâmica conjuga abordagens quantitativas e qualitativas em que a capacidade interpretativa do

sujeito tem implicações necessariamente modeladoras (RIBEIRO, 2002, p.108). Implica, então,

numa interação permanente de quatro pólos: epistemológico (aparatos teórico e institucional e

construção do objeto científico-problemática); teórico (leis, conceitos, hipóteses e teorias e suas

respectivas verificações-refutações); técnico (contato instrumental com a realidade objetivada) e

morfológico (organização-apresentação dos dados) (SILVA, 2002, p.88-90).

5. Conclusões

A interseção entre as áreas provocada pelo avanço da Tecnologia da Informação (TI), faz

com que o trabalho científico e a aplicação dos métodos correspondentes tornem-se mais amplos,

complexos e diversificados, trazendo também consigo, a necessidade de alargamento do espectro de

observação dos estudos e conseqüente produção científica.

O conhecimento da Arquivística Internacional corrente se faz de extrema importância já que

ao profissional e pesquisador proporcionam estarem informados e atualizados de uma corrente

científica contemporânea, permitindo inclusive participar, caso queira, aplicando em seus trabalhos

e/ou pesquisas a tese vigente visando a verificação do proposto.

Para atingir com segurança e eficiência a preservação da memória social, cada vez mais

residente em meio digital, é fundamental que os arquivistas se aprofundem nas pesquisas em busca

do levantamento de novas questões e de algumas soluções, verticalizando seus estudos, mas não se

desfazendo da atuação interdisciplinar, tão necessária nos dias atuais.

Este projeto disponibilizará via download e CD botável, pacote totalmente open source e

freeware aos gestores de informação contendo: sistema operacional (Linux), Office, navegador web

e software de gerenciamento de informação aplicado à Ciência da Informação.

6. Referências

CARVALHO, Maria Romcy de. Relatório Técnico de Diagnóstico das Bibliotecas Universitárias à integração a BDB. Brasília: IBICT, 2003.

CASTELLS, Manuel. A Sociedade em REDE. In: A era da informação: economia, sociedade e cultura. V. 1. São Paulo: Paz e Terra, 8ª ed. 2005.

CORTE, Adelaide Ramos e, ALMEIDA, Iêda Muniz de, PELLEGRINI, Ana Emília et al. Automação de bibliotecas e centros de documentação: o processo de avaliação e seleção de softwares. Ci. Inf., v.28, n.3, p.241-256, set./dez. 1999

CORTE, Adelaide Ramos e, ALMEIDA, Iêda Muniz de, ROCHA, Eulina Gomes et al. Avaliação de softwares para

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bibliotecas e arquivos. 2 ed. rev. e ampl. São Paulo: Polis, 2002

IBICT. Software para Automação de Bibliotecas. 2003? Disponível em: http://www.ibict.br/secao.php?cat=Biblioteca%20do%20IBICT/Fontes%20de%20Informa%E7%E3o/Software%20para%20Automa%E7%E3o%20de%20Bilbiotecas . Acesso em 25 ago. 2005.

LUZ, André Ricardo; CARDOSO, Julio. Os arquivos e os sistemas de gestão da qualidade. Arquivística.net, Brasília, DF, 1.1, 04 07 2005. Disponível em: <http://www.arquivistica.net/ojs/viewarticle.php?id=6 >. Acesso em: 06 09 2005

LUZ, André Ricardo. Normas arquivísticas e padrões de descrição de metadados aplicados à preservação do Patrimônio Arquivístico Digital. In: Congresso Nacional de Arquivologia, 2004, Brasília. Os arquivos no século XXI: políticas e práticas de acesso às informações, 2004.

LUZ, André Ricardo. A Arquivística custodial e pós-custodial: uma mudança de paradigma. Cadernos de Arquivologia, nº 2, Santa Maria, UFSM, 2004.

RIBEIRO, Fernanda. Da Arquivística técnica a Arquivística científica: a mudança de paradigma. Revista da Faculdade de Letras CIÊNCIAS E TÉCNICAS DO PATRIMÔNIO. Porto, S/E, I série, vol. 1, pp. 97-110, 2002.

SILVA, A. MALHEIRO et al. Arquivística – Teoria e Prática de uma Ciência da Informação. v.1. Porto: Edições Afrontamento, 1998.

SILVA, A. MALHEIRO. Avaliação em Arquivística: reformulação teórico-prática de uma operação metodológica. Cenário Arquivístico. Brasília – DF: ABARQ, v.1, n. 2, jul-dez. 2002.

______. A Gestão da Informação Arquivística e suas repercussões na produção do conhecimento científico. Seminário Internacional de Arquivos de Tradição Ibérica. Brasil. [1999?]

SILVA, A. MALHEIRO; RIBEIRO, Fernanda. Das “ciências” documentais à ciência da informação. Ensaio epistemológico para um novo modelo curricular. Porto: Edições Afrontamento, 2002.

SILVA, Sérgio Conde de Albite. Repensando a Arquivística contemporânea. Rio de janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 2001. 41 p. (Papéis avulsos, 48).

SEI. CMMI: Capability Maturity Model Integration (CMMISM). Version 1.1 - CMU/SEI- 2002-TR-012; Março 2002. www.sei.cmu.edu

THOMAZ, Kátia P; SANTOS, Vilma Moreira. Metadados para o gerenciamento eletrônico de documentos de caráter arquivístico – GED/A: estudo comparativo de modelos e formulação de uma proposta preliminar. Revista DataGramaZero. [S.l., v. 4, n. 4, artigo 4, ago/03. Disponível em: http://www.dgz.br/ago03/Ind_art.htm. Acesso em : 22 ago. 2004.

Nota biográfica: André Ricardo Luz Arquivista da Devon Energy do Brasil Editor da Revista Arquivística.netColaborador do blog A InformaçãoCurrículo Lattes

i Graduando em Arquivologia. Editor do periódico eletrônico Arquivística.net (Disponível em: http://www.arquivistica.net/ ) ii O cronograma foi elaborado de maneira a considerar o impacto na divulgação do projeto no Congresso de Arquivologia do Mercosul, por este motivo o início do projeto consta como sendo em janeiro de 2006. Porém, a etapa inicial (Análise de requisitos) já está em andamento. iii Fonte: Site do SERPRO. Disponível em: http://www.serpro.gov.br/publicacao/tematec/2002/ttec60 . Acesso: 10 set. 2005.

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A Moda Da Informação Algumas notas e indagações

Armando Malheiro da Silva Professor de Ciência da Informação - FLUP

1. É uma evidência simples: a informação está na moda ou, dito de forma equivalente mas diversa,

é moda falar de informação a propósito, sobretudo, dos recursos tecnológicos que possibilitam,

hoje, aceder e divulgar uma quantidade extraordinária de elementos verbais, numéricos ou

imagéticos em tempo real e sem "perda de tempo"...

A palavra informação generalizou-se e cintila sedutora numa expressão académica, profusamente

glosada nos meios empresariais deste Mundo cada vez mais globalizado, a Sociedade da

Informação, gemelada com outra, agora mais em voga — a Sociedade do Conhecimento. E um

punhado de mais algumas que andam por aí à solta — Ciberespaço, Sociedade em Rede,

Sociedade Bit, etc.

Dado, informação, comunicação, conhecimento, internet, interactividade, globalização não são

apenas termos na moda, mas "senhas" de um Mundo novo, necessariamente maravilhoso qual

Terra prometida que urge alcançar sem demora!...

2. Estar na moda tem, no entanto, duas significações e não apenas uma, se pretendermos ser

rigorosos e profundos. Há uma positiva, muito associada ao esforço construtivo e

qualitativamente superador consubstanciado no conceito de Progresso. E há uma negativa,

indissociável daquela, que corresponde ao predomínio da superficialidade e do efémero, ao

fascínio da espuma da onda em detrimento da força e da constância do mar... Os dois sentidos

emergem deste modismo evidente que envolve todos os dias o discurso social e tecnológico

sobre Informação. De um lado, estamos a ser impelidos mais e mais para um Mundo sujeito ao

impacto de "coisas" novas, como Manuel Castells, afirma e enumera: os chips e os computadores

são novidade, além de que os vemos e os encontramos mais e mais por toda a parte; as

telecomunicações móveis ubíquas são outra indesmentível novidade; a engenharia genética é

novidade; os mercados financeiros globais integrados electronicamente e operando em tempo

real são novidade; uma população maioritariamente urbana no planeta é novidade; uma maioria

da força de trabalho urbana no sector do processamento da informação/conhecimento nas

economias desenvolvidas é novidade; o aparecimento de uma sociedade em rede com base num

espaço de fluxos e de tempo atemporal é outra impressiva novidade histórica; etc. Do outro,

estamos ou damos a impressão de estarmos simplesmente a ir... Aquela sensação vertiginosa e

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poderosamente impelente para o desconhecido que se aceita porque tem de ser, porque o novo é

bom, o amanhã certamente melhor que o hoje e seguramente melhor ainda que o ontem. Percebe-

se a vacuidade perigosa desta postura existencial, mas diz-nos a experiência que ela intrínseca à

natureza humana e social e que só poderemos contrariá-la de modo consistente e válido, se

houver diálogo, se atrairmos o cidadão comum e anónimo ao debate sério e esclarecedor.

3. O desiderato destas notas e indagações aponta nessa direcção e remete, entretanto, para textos de

outro fôlego e de outro propósito, o aprofundamento de questões conceptuais e teórico-

metodológicas que estão subjacentes ao tema em foco. Não cabe aqui tratá-las, mas cabe aqui

deixar claro que por debaixo do modismo informacional facilmente encontramos a capacidade

multimilenar do ser humano de exercitar o seu potencial encefálico/cerebral e nervoso,

produzindo signos/símbolos e representando e compreendo-se a si e ao Mundo através deles. E

numa tentativa inteligível de determinar ou de delimitar, para uma mais profícua

cognoscibilidade, esta marca definidora e potenciadora da condição humana, poderemos admitir

como estruturalmente radicado no Homo Sapiens Sapiens o fenómeno mental e simbólico

abarcado por diversos termos e conceitos operatórios — mito, religião, pensamento,

conhecimento, erudição, arte, criatividade, imaginário... Todos estes conceitos e outros mais

específicos se ajustam a facetas desse fenómeno, mas não o esquematizam, nem problematizam

na sua transversalidade e horizontalidade humana e social. E também é verdade que antes do

aparecimento do computador e da web, mais precisamente, da micro-informática e do uso

intensivo e extensivo da internet, as formas estáticas de registo de ideias e impressões em

suportes materiais externos ao sujeito enunciador e/ou criador não permitiam captar o que as

novas Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) enfatizam com extraordinária facilidade:

a máxima reprodutividade (de uns suportes e tecnologias para outros) e a máxima

transmissibilidade de conteúdos de todos os tempos e lugares.

4. Mais do que estar na moda, a palavra e o conceito de Informação, pode; à falta de um melhor do

ponto de vista da plasticidade semântica, cumprir ou ajudar a cumprir uma dupla função que a

actual conjuntura em que vivemos impõe e que a Era da Informação, anunciada por vários

autores, nomeadamente Manuel Castells, torna inevitável. Uma dupla função — filosófica e

científica. Filosófica na linha emergente lançada ao público por Luciano Floridi e divulgada, em

português, por Fernando Ilharco, com destaque para o seguinte extracto:

A filosofia da informação, tal como outros ramos ou áreas da filosofia, pretende lançar sobre o

fenómeno da informação, sobre a sua natureza, características, relações, problemas, possibilidades, etc.,

um olhar de fundo, basilar, que tudo pode pensar e questionar, vidando dessa forma, alicerçando-se na

questão primária e fundadora da reflexão filosófica sobre o que é - o que é a informação? - poder clarificar

o entendimento, e por isso o significado e as possibilidades de acção dos homens num tempo em que a

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informação e a comunicação de natureza tecnológica - os textos em computador, os sons artificiais, os

vídeos, os telemóveis, a televisão, etc. - parecem estar não apenas a constituir-se como instrumentos, a sua

mais óbvia natureza, mas sobretudo como o próprio contexto e background da acção dos homens no

mundo2

Científica, em paralelo e alimentando o discurso filosófico, mediante uma postura assumida e

coerente de indagação rigorosa de problemas e de temas decorrentes de uma delimitação mental

do fenómeno info-comunicacional que abrange quer a compreensão do contexto de produção

dos conteúdos e sua recepção e transformação criadora/reprodutora, quer a gestão instrumental e

processual do fluxo informacional — organização, armazenamento, acesso e uso — entre

humanos3.

5. O desafio que a moda da informação nos coloca e que vale a pena enfrentar consiste,

precisamente, em valorizar o seu sentido positivo, através da dupla função enunciada. E para que

o caminho seja frutífero uma prevenção básica se ergue incontornável: precisamos de esclarecer

a que é que chamamos informação. Não se trata de definir o que é, mas esclarecer se estamos a

falar de um fenómeno humano e social e caracterizá-lo nos seus traços constitutivos ou se

abarcamos uma fenomenalidade mais geral que inclui seres vivos e natureza cósmica. Sem a

prevenção designativa a superficialidade, o equívoco, o efémero da moda sobrepõe-se e impõe-

se, impossibilitando-nos de aproveitar a riqueza semântica e operatória de um conceito

sintetizador — nele cabem ou para ele podem confluir naturalmente as diversas facetas da

actividade intelectual e simbólica da pessoa humana (mitificar, religar/orar, pensar, conhecer,

criar, pintar, cantar/música, etc.) em estreita cumplicidade e comprometimento com o outro, com

a vivência colectiva transformadora e recriadora do Mundo.

Nota biográfica: Armando Malheiro da Silva nasceu em Braga, Portugal. É formado em Filosofia pela Faculdade de Filosofia da Universidade Católica Portuguesa de Braga; em História pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto e Bibliotecário-Arquivista pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. É Doutor em História Contemporânea pela Universidade do Minho. Actualmente, é docente na Licenciatura em Ciência da Informação da Universidade do Porto. É autor de diversas obras ligadas ao estudo da Ciência da Informação e da Arquivística, sendo de destacar, os livros Arquivística: teoria e prática de uma ciência da informação e Das “ciências” documentais à ciência da informação, além de inúmeros artigos e comunicações em congressos internacionais.

2 ILHARCO, Fernando — Filosofia da informação: uma introdução à informação como fundação da acção, da comunicação e da decisão. Lisboa: Universidade Católica Editora, 2003. ISBN 972-54-0068-2. p. 10.

3 Ver pressupostos teórico-metodológicos em SILVA; Armando Malheiro da; RIBEIRO, Fernanda — Das "ciências" documentais à ciência da informação: ensaio epistemológico para um novo modelo curricular. Porto: Edições Afrontamento, 2002. ISBN 972-36-0622-4.

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O Princípio do Acesso WILLINSKY, John – The Access Principle: The Case for Open Access to Research and Scholarship. Cambridge, MA: MIT Press, 2005. ISBN 0-262-23242-1

Eloy Rodrigues Eloy Rodrigues A dedicação ao trabalho académico e científico traz consigo a responsabilidade de disseminar esse

trabalho tão amplamente quanto possível. Este é o Princípio do Acesso, a ideia de base do livro de

John Willinsky The Access Principle, que acaba de ser editado.

A dedicação ao trabalho académico e científico traz consigo a responsabilidade de disseminar esse

trabalho tão amplamente quanto possível. Este é o Princípio do Acesso, a ideia de base do livro de

John Willinsky The Access Principle, que acaba de ser editado.

O livro de Willinsky, que é professor de Literacia e Tecnologia na University of British Columbia e

um dos impulsionadores do Public Knowledge Project

O livro de Willinsky, que é professor de Literacia e Tecnologia na University of British Columbia e

um dos impulsionadores do Public Knowledge Project e do desenvolvimento do software Open

Journals Systems e Open Conference Systems, é uma defesa do Open Access (que aqui também

designaremos como acesso livre à literatura científica) e da sua importância não apenas para o

sistema de comunicação da ciência e tecnologia, mas também para a sociedade e a humanidade no

seu conjunto.

Situando o acesso livre à literatura científica no contexto da história da promoção do conhecimento

humano e das tecnologias que lhe estão associadas, Willinsky sugere que ele pode ser “(...) the next

step in a tradition that includes the printing press, the penny post, public libraries and public

schools.”

Sendo hoje claro que o Open Access tem o potencial de alterar a presença pública da ciência e

aumentar a circulação do conhecimento científico e académico, o autor considera que o papel que o

Open Access poderá ter no futuro do sistema de comunicação académica dependerá das decisões que

serão tomadas nos próximos anos por investigadores, editores, sociedades científicas e organismos

financiadores da ciência. Por isso, neste livro, Willinsky tenta demonstrar porque é que o acesso

livre à literatura científica pode ser viável, útil, benéfico e, em alguns casos, crucial, tanto para

investigadores que trabalhem nos laboratórios melhores equipados das principais universidades do

mundo, como para os professores que lutam com dificuldades para aceder a informação em escolas

secundárias com poucos recursos.

Neste sentido, a perspectiva de Willinsky sobre o acesso livre à literatura científica afasta-se, ou

melhor, vai para além, do tradicional foco no sistema de comunicação da ciência da maioria (onde

também me incluo) dos defensores e promotores do Open Access: “(...) While much of the discussion

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around this alternative publishing model known as open access has been directed toward increasing

access to research for researchers, open access is also, for me, about turning this knowledge into a

greater vehicle of public education, in its broadest sense.”

Ao longo dos seus treze capítulos o livro aborda o acesso livre à literatura científica em diferentes

perspectivas. O The Access Principle inclui ainda 6 Apêndices sobre 10 “sabores” (variantes) do

Open Access (onde, na minha opinião, o autor inclui algumas que em bom rigor não podem ser

consideradas e classificadas como Open Access), os orçamentos das associações científicas, os

aspectos económicos da gestão de revistas científicas, a proposta de uma cooperativa de Open

Access, a indexação da literatura científica e metadados para a publicação de revistas.

Não sendo este o momento e o local adequado para uma análise detalhada e aprofundada do

conjunto da obra, não queremos deixar de aproveitar esta oportunidade para revelar um pouco mais

do conteúdo dos capítulos iniciais do livro, significativamente intitulados Opening, Access e

Copyright.

O primeiro Capítulo – Opening – introduz a problemática do Open Access, referenciando vários

acontecimentos e iniciativas que assinalaram a emergência e a afirmação do acesso livre à literatura

científica nos anos mais recentes. Como já foi referido, Willinsky não se limita a sublinhar a

relevância do Open Access para o sistema de comunicação científica e académica, mas insere-o no

âmbito mais geral do interesse público, do direito humano à informação e ao conhecimento.

Neste capítulo são também apresentados e discutidos os modelos económicos da publicação

científica e as motivações e interesses dos participantes no sistema. Willinsky sublinha, com

precisão, quais são os interesses e necessidades dos investigadores e académicos: “This inextricable

mix of a right to know and a right to be known drives the academy’s knowledge economy”.

O segundo Capítulo - Access - aborda o problema no declínio do acesso aos resultados académicos

e de investigação, numa comunidade académica em expansão e no quadro da designada sociedade

do conhecimento.

O autor explica como as concentrações verificadas na indústria da informação de Ciência e

Tecnologia, e o foco na capitalização do conhecimento e no lucro dos accionistas, levaram a

constantes aumentos de preços das revistas muito acima da inflação, e mais recentemente à

comercialização das revistas em “pacotes” (bundles).

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Para Willinsky as bibliotecas enfrentam um modelo económico de revistas em que menos é mais,

isto é, o cancelamento de assinaturas e a circulação reduzida resultante de preços mais elevados

continua a gerar mais lucros para os editores comerciais. Citando um relatório financeiro do Credit

Suisse First Boston sobre a indústria de publicação científica, que refere que a Elsevier tem margens

de lucro superiores nas suas revistas de menor qualidade (com menos artigos propostos para

publicação), conclui que essa é uma das razões para uma estratégia de “empacotamento” que não

permite que as bibliotecas cancelem esses títulos de menor qualidade.

Este capítulo inclui vários dados e estatísticas sobre os paradoxos e contradições do sistema de

publicação científica, que conduziram à designada “crise dos periódicos” e em parte originaram a

emergência do movimento do Open Access. Cita os estudos da ARL – Association of Research

Libraries, que revelam que entre 1986 e 2003 as bibliotecas da ARL (as melhores bibliotecas

académicas e científicas da América do Norte) aumentaram a sua despesa com revistas em 260%,

mas durante esse período o número de títulos assinados decresceu até 2002 (em 2003 o número de

títulos aumentou devido a “assinaturas em pacote”). Refere ainda os estudos de Bergstrom sobre a

inflação do número de títulos e do preço das assinaturas das revistas na área da economia, que

revelaram que o preço das revistas comerciais era significativamente superior – em média quase 10

vezes superior - aos das revistas publicadas por organizações não comerciais (universidades,

associações) e que, surpreendentemente, o preço das revistas não tinha qualquer relação com a sua

qualidade (tal como avaliada pelo factor de impacto).

Relembrando a máxima académica “Publish well or perish badly”, Willinsky aborda também as

vantagens para os investigadores e académicos do acesso livre à sua produção científica, referindo os

vários estudos que tem demonstrado que um aumento na acessibilidade dos artigos se traduz num

aumento do seu impacto (sobre esta questão pode-se consultar a bibliografia The effect of open

access and downloads ('hits') on citation impact: a bibliography of studies, que se encontra

disponível em: http://opcit.eprints.org/oacitation–biblio.html).

A finalizar este capítulo, é sublinhado o que, em minha opinião, é um ponto muito importante: a

questão do acesso livre à literatura científica já não se reduz aos problemas relacionados com a

“crise dos periódicos”. Como Willinsky refere, se os preços das revistas não tivessem aumentado

dramaticamente nas últimas décadas, talvez a ideia do Open Access não tivesse surgido, ou pelo

menos não tivesse ganho a forma, a importância e a força que actualmente tem. Mas tendo em conta

que o Open Access demonstrou como pode ser atingida uma audiência mais vasta e justa à literatura

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científica, a questão já não é o regresso a preços razoáveis para as assinaturas das revistas, mas sim

como promover a eficiência do sistema de comunicação da ciência e a disseminação dos resultados

da investigação.

O terceiro Capítulo – Copyright - , que é o último que iremos abordar aqui, é uma boa apresentação

das contradições e dos desequilíbrios entre os interesses públicos e privados na aplicação do

copyright no mundo digital, e em particular no que diz respeito à literatura académica.

Como o autor afirma, no mundo actual o copyright parece ser muitas vezes usado para além da

protecção do trabalho dos autores, para proteger o direito dos editores comerciais cobrarem o que

quiserem pelas suas revistas. Para ilustrar o que afirma, Willinsky refere vários exemplos de “abuso”

do copyright pelos editores comerciais (um deles, num contrato para publicação numa revista,

assumia direitos perpétuos, em clara violação dos princípios e das leis do copyright), para assegurar

o controlo absoluto do trabalho dos autores e, na prática, limitar o seu acesso e utilização.

Por isso, é importante que, no seu próprio interesse, os investigadores e académicos, os autores dos

artigos publicados nas revistas científicas, estejam conscientes da problemática do copyright, e

deixem de assinar sem ler os acordos de transferência de copyright propostos ou exigidos pelos

editores, como uma boa parte continua a fazer ainda hoje.

Neste capítulo referem-se também os sinais positivos no domínio do copyright que têm surgido nos

últimos anos. Em primeiro lugar, a “conquista” do direito de auto-arquivar os preprints (versão antes

da revisão pelos pares) ou postprints (versão final, após revisão pelos pares) dos artigos publicados

na maior parte das revistas científicas. Em segundo lugar, o empenho de um número crescente de

académicos e investigadores em usar o copyright não para limitar o acesso aos resultados da

investigação científica mas, ao contrário, para promover a sua acessibilidade e utilização, de que são

exemplos as iniciativas da Creative Commons e da Science Commons.

Após estes capítulos iniciais, o livro continua a abordar o Open Access a partir de várias

perspectivas e contextos, passando pelas questões económicas, políticas, de desenvolvimento e

direitos humanos, mas também pelos problemas relacionados com a publicação de revistas pelas

associações científicas, a problemática da leitura e da utilização de revistas electrónicas, dos índices

e bases de dados da literatura científica, entre outros.

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Em síntese, apesar de algumas reservas, ou mesmo discordâncias, que este livro (ou pelo menos

algumas das classificações, definições e opiniões nele contidas) pode suscitar a alguns dos activistas

do acesso livre ao conhecimento, é inquestionável que ele é um contributo muito positivo para a

divulgação e a defesa do Open Access.

Bem escrito e de leitura fácil, o The Access Principle constituiu, simultaneamente, um bom ponto de

situação para todos os que já tem interesse e conhecimento sobre o Open Access, e uma excelente

apresentação e introdução à problemática do acesso livre à literatura científica para quem ainda não

a conhece. Por tudo isto, o The Access Principle é uma leitura que recomendo.

Guimarães, 20 de Dezembro de 2005

Nota biográfica:

Eloy Rodrigues é bibliotecário, Director dos Serviços de Documentação da Universidade do Minho, onde trabalha desde 1992. Nos últimos anos tem dedicado especial atenção às questões relacionadas com o impacto da Internet nas bibliotecas, o desenvolvimento de bibliotecas digitais, as fontes de informação, o sistema de comunicação da ciência e o acesso livre à literatura científica, sendo autor de diversos artigos e livros sobre estas problemáticas. Membro de diversas associações científicas e profissionais, já integrou por duas vezes o Conselho Directivo Nacional Associação Portuguesa de Bibliotecários, Arquivistas e Documentalistas.

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Desfazer equívocos: Ciência ou Ciências da Informação?

Fernanda Ribeiro•

Em Portugal, a formação de profissionais com competências adequadas para o desempenho

de actividades na área das bibliotecas, dos arquivos ou dos centros/serviços de

documentação/informação teve o seu início no século XIX e, durante quase um século, foi

ministrada através do Curso Superior de Bibliotecário-Arquivista. Entre 1887 e 1982, bibliotecas e

arquivos (predominantemente públicos) foram as instituições que absorveram os técnicos de nível

superior formados por aquele curso. Apesar de ser leccionado na Universidade e de se configurar

como formação pós-graduada, o Curso de Bibliotecário-Arquivista constituía uma via de ensino de

carácter eminentemente técnico e não se vislumbrava nessa formação a ideia de um conhecimento

científico e de um suporte teórico sólido a sustentar quer o ensino, quer a prática dele decorrente.

Chegados a 1982, o quase centenário curso foi extinto e substituído por um novo modelo

formativo, também universitário e de nível pós-graduado, com a designação de Curso de

Especialização em Ciências Documentais. Surge, portanto, agora, a palavra “ciência”, mas no plural,

querendo significar a junção de várias disciplinas, presumivelmente científicas, num mesmo modelo

formativo, mais actualizado e mais em consonância com os desafios técnicos e tecnológicos que a

Sociedade da Informação emergente ia colocando inevitavelmente.

A designação “Ciências Documentais” não tem equivalentes literais em outras línguas

europeias, mas aproxima-se do conceito francês de Documentation ou da designação espanhola

Ciencias de la Documentación. Curiosamente, em língua inglesa, o termo Documentation nunca teve

uma expressão muito significativa, perdurando até aos dias de hoje a designação Library Science, em

coexistência, desde os anos 60 do século passado, com uma nova expressão – Information Science –

conotada, sobretudo, com a informação científica e técnica.

A emergência e afirmação da Ciência da Informação (C. I.) no mundo americano ocorre num

processo evolutivo que ancora raízes nas propostas de Paul Otlet e Henri La Fontaine, dois belgas

ligados à criação do Instituto Internacional de Bibliografia e à concepção e desenvolvimento da

Classificação Decimal Universal. Não cabe aqui traçar o percurso que conduziu ao surgimento, em

final dos anos cinquenta do século XX, da Ciência da Informação, nem à evolução desta disciplina,

quer no contexto académico, quer na prática profissional, pois existe abundante literatura sobre o

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• Professora Auxiliar – Secção de Ciência da Informação, Departamento de Ciências e Técnicas do Património, Faculdade de Letras da Universidade do Porto

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assunto4. Mas importa delimitar conceitos e fronteiras e perceber o que se entende hoje por “Ciência

da Informação”, já que diversas perspectivas coexistem e não há um consenso absoluto sobre o seu

âmbito disciplinar.

A questão da definição do conceito de C. I. é um elemento crucial para se pensar o seu

espaço, de um ponto de vista teórico-epistemológico. A este respeito é conveniente assinalar que,

apesar de existirem múltiplas definições, a surgida nas conferências do Georgia Institute of

Technology (Out. 1961-Abr. 1962), e aperfeiçoada mais tarde por Harold Borko num artigo clássico

intitulado Information Science - what is it?5, permanece ainda hoje como uma das mais consensuais

e, sem dúvida, das mais fecundas: Ciência da Informação - a disciplina que investiga as

propriedades e o comportamento da informação, as forças que regem o fluxo informacional e os

meios de processamento da informação para a optimização do acesso e uso. Está relacionada com

um corpo de conhecimento que abrange a origem, colecta, organização, armazenamento,

recuperação, interpretação, transmissão, transformação e utilização da informação. Isto inclui a

investigação, as representações da informação tanto no sistema natural, como no artificial, o uso de

códigos para uma eficiente transmissão de mensagens e o estudo dos serviços e técnicas de

processamento da informação e seus sistemas de programação. Trata-se de uma ciência

interdisciplinar derivada e relacionada com vários campos como a matemática, a lógica, a

linguística, a psicologia, a tecnologia computacional, as operações de pesquisa, as artes gráficas,

as comunicações, a biblioteconomia, a gestão e outros campos similares. Tem tanto uma

componente de ciência pura, que indaga o assunto sem ter em conta a sua aplicação, como uma

componente de ciência aplicada, que desenvolve serviços e produtos. (…) a biblioteconomia e a

documentação são aspectos aplicados da ciência da informação.

O facto de a C. I. e as disciplinas que a antecederam se inscreverem numa área que começou

por ser essencialmente uma prática traz alguns problemas, ainda hoje, à sua afirmação científica.

Emílio Delgado López-Cózar, num estudo que realizou sobre a investigação em Biblioteconomia e

Documentação vem, precisamente, equacionar este problema, afirmando, a dado passo, que “no

desenvolvimento da Biblioteconomia e da Documentação [e acrescentaríamos, da Arquivística] a

teoria seguiu a prática, não a dirigiu nem a guiou”6. Foi, portanto, o exercício profissional que

4 A título de exemplo, ver: RAYWARD, W. Boyd – The Origins of information science and the International Institute of Bibliography / International Federation for Information and Documentation (FID). JASIS – Journal of the American Society for Information Science. New York. ISSN 0002-8231. 48:4 (Apr. 1997) 289-300; RIEUSSET-LEMARIÉ, Isabelle – P. Otlet’s Mundaneum and the international perspective in the history of documentation and information science. JASIS – Journal of the American Society for Information Science. New York. ISSN 0002-8231. 48:4 (Apr. 1997) 301-309; SILVA, Armando Malheiro da; RIBEIRO, Fernanda – Das "Ciências" Documentais à Ciência da Informação : ensaio epistemológico para um novo modelo curricular. Porto : Edições Afrontamento, 2002. (Biblioteca das Ciências do Homem. Plural; 4). ISBN 972-36-0622-4. cap. 2. 5 BORKO, Harold – Op. cit. 6 DELGADO LÓPEZ-CÓZAR, Emílio – Emílio – La Investigación en biblioteconomía y documentación. Gijón : Ediciones Trea, 2002. ISBN 84-9704-041-4. p. 24.

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estimulou a reflexão sobre a praxis e fez surgir a necessidade de uma formação adequada ao

desempenho desse mesmo exercício profissional. Pensar a prática conduziu, portanto, à afirmação

disciplinar, a exercícios de teorização e a trabalhos de investigação que, por sua vez, foram

essenciais para a construção do conhecimento científico em torno de um objecto de estudo e,

naturalmente, para a emergência da ciência.

A construção científica nesta área não ocorreu simultaneamente e da mesma forma em todos

os países e contextos, o que torna muito variável o grau de desenvolvimento da C. I. e dificulta o

estabelecimento de um consenso científico sobre o próprio campo disciplinar. Por um lado, tem-se

assistido a uma marginalização (ou mesmo auto-marginalização) da Arquivística e dos arquivistas no

processo evolutivo da C. I., numa procura de afirmação de identidade científica, sem uma sólida

base teórica de sustentação, ficando a disciplina confinada a um ramo originário da Documentação

ou da Biblioteconomia Especializada, conotado com a Informação Científico-Técnica; por outro

lado, também não há consenso científico sobre a unidade epistemológica da área, o que favorece

posições de entendimento da C. I. como uma interdisciplina; por outro lado ainda, permanecem

visões sustentadas pelo paradigma tradicional, que aceita apenas a Informação registada

(Documentação) como objecto de estudo7, reduzindo assim toda a compreensão do fenómeno

informacional a um epifenómeno do mesmo, o que produz necessariamente efeitos perversos de um

ponto de vista científico.

Em Portugal, e mais particularmente na Universidade do Porto, o modelo formativo pós-

graduado e o “espaço” académico das Ciências Documentais evoluíram no sentido da adopção do

termo Ciência da Informação, pese embora o facto de, na maioria das instituições académicas

portuguesas ainda prevalecerem os tradicionais cursos pós-graduados de Ciências Documentais. Na

Universidade do Porto surgiu, em 2001, um Curso de Licenciatura em Ciência da Informação e, na

Faculdade de Letras, a secção orgânica que enquadra os docentes, bem como a área científica em

que é conferido o grau de doutor também passaram a designar-se por Ciência da Informação.

Não foi levianamente que a designação C. I. foi adoptada, nem a escolha do singular

aconteceu por acaso. Na verdade, à adopção do termo “ciência” e não “ciências” correspondeu uma

profunda reflexão epistemológica8 e a assunção de uma perspectiva que, conscientemente, busca

alargar as fronteiras da anglo-saxónima Information Science e procura afirmar uma identidade

unitária para um campo do saber que se pretende impor cientificamente, reivindicando um objecto

de estudo próprio – a Informação – e adoptando um método de investigação usado nas Ciências

Sociais, já que o objecto de estudo é definido como um fenómeno humano e social.

7 A "escola" espanhola, personificada por José López Yepes e seus seguidores, é um exemplo paradigmático desta perspectiva. 8 Ver: SILVA, Armando Malheiro da; RIBEIRO, Fernanda – Das "Ciências" Documentais à Ciência da Informação… (op. cit.).

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A adopção do singular para a C. I. significa, justamente, a afirmação de uma área científica,

com identidade e unidade do ponto de vista epistemológico. Recusamos a ideia perfilhada por outros

de que a C. I é uma interdisciplina, pois essa visão retira- -lhe espessura científica e converte-a

numa espécie de “ferramenta” operativa, valorizando sobretudo a componente tecnicista. Recusamos

o termo no plural, que muitos adoptam porque entendem que há várias ciências da informação,

designadamente a Biblioteconomia, a Arquivística e a Documentação. Recusamos, ainda, a distinção

conceptual entre as áreas da Informação e da Documentação, porque a segunda só pode existir como

“diferença específica” da primeira e não como algo distinto e diverso.

Assumimos, pois, a C. I., no singular, como área científica una, que engloba componentes

aplicadas (disciplinas como a Biblioteconomia, a Arquivística, a Gestão da Informação ou a

Informática de Gestão / Sistemas Tecnológicos de Informação), todas elas centradas sobre um

mesmo objecto de estudo e de trabalho – a Informação –, contextualizado em sistemas, serviços e

ambientes orgânicos diversos e plurais.

Nota biográfica: Fernanda Ribeiro. Nasceu em Vila Verde no ano de 1958. Licenciou-se em História pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto (1980), obtendo o diploma do Curso de Bibliotecário-Arquivista da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (1982). Doutorou-se em 1999, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, com uma tese intitulada O Acesso à Informação nos Arquivos (Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian; Fundação para a Ciência e a Tecnologia, 2003. 2 vol.). É actualmente Professora Auxiliar da Secção de Ciência da Informação, do Departamento de Ciências e Técnicas do Património, da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, sendo Directora do Curso de Licenciatura em Ciência da Informação, desde 2003. Tem publicado trabalhos, em Portugal e no estrangeiro, na área da Arquivística e da Ciência da Informação, designadamente sobre indexação em arquivos, classificação e instrumentos de acesso dos arquivos portugueses. Em colaboração com outros autores, publicou o livro Arquivística: teoria e prática de uma Ciência da Informação (Porto : Edições Afrontamento, 1999; 2ª ed. 2002), galardoado com o "Prémio Raul Proença - 1998" da Associação Portuguesa de Bibliotecários, Arquivistas e Documen-talistas, e o livro Das "Ciências" Documentais à Ciência da Informação: ensaio epistemológico para um novo modelo curricular (Porto : Edições Afrontamento, 2002). Nos últimos anos, tem dedicado particular atenção às questões da formação em Ciência da Informação.

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A tecnologia e os usuários com deficiências visuais

Michelângelo Viana

A principal função do bibliotecário é atender as necessidades dos usuários. Partindo deste princípio

básico de nossa profissão, devemos ter sempre em mente que é nosso papel criar mecanismos que

permitam que todos usuários, sem exceção, tenham acesso à informação.

Em minha participação na Pré-Conferência da IFLA, ocorrida em 2004 na cidade de São Paulo,

Brasil, pude perceber que esta é uma preocupação mundial, pois os usuários com defiências visuais

"precisam, como todos, de uma vida social e cidadã ativa." Com o passar dos anos eles vão

perdendo o acesso aos textos impressos e precisam ser atendidos. Os deficientes visuais, conforme

dito por Marie-Hélène Dougnac, "precisam mais das bibliotecas com o passar dos anos, são leitores

potenciais não-negligenciáveis".

Com o advento das novas tecnologias de informação, diversas alternativas surgiram a fim de suprir

esta necessidade. Os primeiros equipamentos que surgiram eram capazes de transformar textos

impressos em livros em braile. Outros surgiram para ler (aúdio) caracteres braile, mas a "voz de

computador" era bastante precária. Além disto, diversos programas de computador surgiram para

produzir uma imagem ampliada de documentos. Mas a alternativa mais recomendada pela IFLA são

os programas de síntese vocal, capazes de "ler" com voz humana um texto digitado e transformá-lo

em um arquivo de áudio, em formato WAV ou MP3. Esta possibilidade, cada vez mais aprimorada e

adaptada aos diferentes idiomas do mundo, é um grande avanço nas tecnologias de conversão de

textos em suportes acessíveis aos deficientes visuais, tendo em vista que a impressão de textos em

braile não é e nunca será capaz de acompanhar a produção científica.

Além deste produto, o bibliotecário deve ofertar nos centros de informação serviços que permitam

utilizá-lo com facilidade, como por exemplo oferecer um espaço preparado para o deficiente visual,

com equipamentos e mobiliário adequado. Devemos também nos preocupar em oferecer aos

deficientes visuais alternativas de acesso aos serviços e produtos sem que os mesmos tenham que

comparecer à biblioteca, pois sempre é difícil a eles deslocar-se. Desta forma, devemos sempre

lembrar que as bibliotecas digitais que nós ajudamos a criar e que disponibilizamos na Internet,

devem possuir além de imagens, também arquivos de áudio com textos gravados.

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Durante a Pré-conferência da IFLA Marie-Hélène Dougnac também sugeriu que devemos unir

esforços para fomentarmos a criação de um banco de dados com arquivo digital para intercâmbio

interinstitucional. É claro que devemos nos preocupar paralelamente em prever o devido pagamento

pelos direitos autorais, pois a idéia é ter todo e qualquer tipo de literatura disponível, e não apenas

textos de domínio público.

Com iniciativas como estas poderemos ao mesmo tempo colaborar para que todos tenham acesso à

informação, promover a leitura, difundir a cultura e o conhecimento, contribuir com a formação de

melhores cidadãos, ampliar a inclusão informacional e também a inclusão social. Se cada um de nós

contribuir com um pequeno esforço para alcançar estes objetivos, com certeza os indivíduos que

serão atendidos, mesmo que poucos, nos agradecerão.

Nota biográfica: Michelângelo Mazzardo Marques Viana é Bibliotecário graduado em 1998 pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Brasil. É também técnico em Informática, formado pela mesma Universidade. Atualmente atua como bibliotecário de suporte e cursa Administração de Empresas com ênfase em Análise de Sistemas de Informação, ambos na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Brasil. Dentre os projetos que atualmente desenvolve estão a biblioteca digital e o repositório institucional para a PUCRS. Desde 2001 é editor do Guia de Biblioteconomia do Projeto SobreSites ( http://www.sobresites.com ), criado no Rio de Janeiro, Brasil, que tem por objetivo disponibilizar na Internet guias elaborados por editores voluntários e especialistas em suas áreas, formando uma rede de informações aberta a todos os assuntos.

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A biblioteca em tempos de Internet

Murilo Bastos da Cunha Universidade de Brasília Departamento de Ciência da Informação e Documentação Brasília, DF Brasil

O Online Computer Library Center (OCLC) divulgou, no final de novembro de 2005, uma

excelente pesquisa intitulada Perceptions of libraries and information resources (1), onde são

analisados os hábitos e preferências na busca de informação. Essa divulgação pública deu

continuidade à ação, iniciada em 2003, com a publicação do OCLC Environmental Scan: Pattern

Recognition (2), onde são identificados os problemas e tendências que estavam causando e/ou iriam

causar impactos nas bibliotecas; um verdadeiro guia para os gestores de bibliotecas, preocupados

com a elaboração do planejamento estratégico para as suas instituições e comunidades, numa época

de tantas mudanças.

O estudo recente, contou com a participação de centenas de bibliotecários, especialistas em

marketing e outros tipos de profissionais; coletou, em junho de 2005, dados de cerca de 3.300

respondentes da Austrália, Canadá, Índia, Singapura, Reino Unido e Estados Unidos. Tal estudo

“procurou levantar um amplo conjunto de consumidores de informação. O objetivo era coletar dados

de grupos de diversas faixas etárias e regiões geográficas. Também procurou-se entender melhor

sobre os estudantes universitários como consumidores de informação, dentro e fora dos Estados

Unidos. Devido às limitações orçamentárias e geográficas, o levantamento foi administrado

eletronicamente e em inglês. Todos os respondentes, portanto, utilizam a Internet e tinham, de

alguma forma, familiaridade com a utilização de recursos da Web” (p. viii).

A pesquisa de 2003 resultou na identificação e análise das grandes tendências da área de

informação como um todo. Entretanto, “não existiam estudos empíricos recentes que mostrassem, de

forma abrangente, os papéis desempenhados pelas bibliotecas e pelos bibliotecários na infoesfera, do

ponto de vista dos consumidores de informação. Como as bibliotecas são percebidas hoje pelos

consumidores de informação? As bibliotecas ainda são importantes? Em que nível? O uso das

bibliotecas irá crescer ou decrescer no futuro?” (p. vii). O levantamento objetivou conhecer o uso da

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biblioteca;o conhecimento e uso dos recursos eletrônicos da biblioteca; os mecanismos de busca da

Internet, a biblioteca e o bibliotecário; a informação gratuita versus informação paga; a marca

“biblioteca”.

O documento é dividido em cinco partes. Na primeira parte (Bibliotecas e fontes de

informação), são abordados o uso da biblioteca, a familiaridade e utilização das múltiplas fontes de

informação, como os respondentes ficam cientes sobre as novas fontes de informação e suas

impressões sobre as fontes de informação. Na segunda parte (Usando a biblioteca: pessoalmente e

em linha) são analisadas as atividades na biblioteca, o conhecimento e a utilização dos recursos

eletrônicos da biblioteca, o pedido de auxílio para usar os recursos informacionais, a familiaridade

com o sítio Web da biblioteca, os mecanismos de busca e como se manter atualizado com os

recursos da biblioteca. A terceira parte (A marca biblioteca) aborda o valor dos recursos de

informação eletrônica, o julgamento da confiabilidade da informação, a confiança nos recursos

bibliotecários e nos mecanismos de busca, a informação livre versus informação paga, a validação da

informação, os aspectos positivos e negativos associados à biblioteca, os livros: a marca biblioteca, a

marca potencial: bibliotecas, os livros e informação. A penúltima parte (Recomendações dos

respondentes para as bibliotecas) trata do papel da biblioteca na comunidade, a cotação dos serviços

bibliotecários e sugestões para as bibliotecas. A obra termina com a quinta parte (Bibliotecas: uma

marca universal?) onde se indaga, de forma provocativa, se o conceito biblioteca pode ser

considerado como algo inerente a todos os países.

Mesmo considerando que os dados foram coletados junto a pessoas que possuíam acesso à

Internet e residiam em países de língua inglesa, muitas de suas conclusões poderão ser aplicadas a

outros contextos sociais, culturais e lingüísticos. Os resultados indicam que os usuários basicamente

vêem as bibliotecas como lugares para pedirem livros por empréstimo. Além disso, eles não estão a

par do rico conteúdo eletrônico a que podem ter acesso por meio das bibliotecas. Apesar de que os

consumidores de informação, de uma maneira em geral, fazem uso limitado desses recursos, eles

continuam a confiar nas bibliotecas como fontes confiáveis de informação. Pelos depoimentos de

parcela dos usuários parece que a “marca” biblioteca está datada. Um respondente, de 33 anos de

idade, residente no Reino Unido, afirmou que “eu não a uso. Entretanto, é um bom lugar para a

pesquisa, mas penso que a Internet é melhor para a informação e rápida” (p. 11). Essa afirmativa

pode ser chocante para alguns bibliotecários, porém, ela mostra que a biblioteca atual precisa se

adaptar aos novos tempos, avaliar os seus produtos e serviços, comunicar-se com mais intensidade,

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desenvolver um marketing mais agressivo e, principalmente, conhecer as necessidades e demandas

informacionais dos diversos segmentos de usuários. O documento do OCLC deve ser conhecido e

analisado por bibliotecários, educadores e demais profissionais envolvidos na provisão de

informação.

Referências bibliográficas:

(1) Online Computer Library Center. Perceptions of libraries and information resources. Dublin

(Ohio), 2005. 290 p. URL: http://www.oclc.org/reports/pdfs/Percept_all.pdf [Arquivo em

pdf, 4.4 mb] <Acessado em 12 de dezembro de 2005>.

(2) Online Computer Library Center. OCLC Environmental Scan: Pattern Recognition. URL:

http://www.oclc.org/membership/escan/ <Acessado em 10 de março de 2004>.

Nota biográfica: Murilo Bastos da Cunha é professor do Departamento de Ciência da Informação e Documentação da Universidade de Brasília. Fez mestrado em Administração de Bibliotecas na Universidade Federal de Minas Gerais e doutorado na Universidade de Michigan (EUA). Foi presidente da Associação dos Bibliotecários do Distrito Federal e presidente do Conselho Federal de Biblioteconomia. Dentre as atividades exercidas na Universidade de Brasília estão a de diretor da Faculdade de Estudos Sociais Aplicados, chefe do Departamento de Ciência da Informação e Documentação e Diretor da Biblioteca Central. Publicou: Uso de informações científicas e técnicas no Brasil, com Victor Rosenberg (1983), Bases de dados e bibliotecas brasileiras (1984), Documentação de hoje e de amanhã, com Jaime Robredo (1986 e 1994), Para saber mais: fontes de informação em ciência e tecnologia (2001). Tem pesquisado sobre bibliotecas digitais, bibliotecas universitárias e informação científica.

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As bibliotecas e os estudos de comportamento informacional

Paulo Jorge Sousa

A sociedade da informação, como outras etapas da evolução social na história da

humanidade, chega-nos com as suas contradições, benefícios e conflitos. As reacções ao acesso da

produção acelerada de informação e de conhecimento, o seu armazenamento e os múltiplos fluxos de

difusão, são factores que promovem e fortalecem as políticas de concentração. A insuficiência ou o

excesso de informação acaba por desencadear desequilíbrios económicos, políticos e culturais dos

mais diversos. Muitos de nós pensamos que pertencemos e vivemos numa sociedade da informação

mas, não será isso, em certa medida, uma utopia? Qual o papel das bibliotecas neste contexto? A

visão que as pessoas tinham da biblioteca há algumas décadas atrás, será a mesma de hoje? O que

leva as pessoas a frequentar as bibliotecas nos dias de hoje? Consultar a Internet? O recurso a um

espaço confortável para fazer os seus trabalhos? A consulta e leitura de livros? A satisfação das suas

necessidades informacionais?… mas quais?

Com o tão propalado choque tecnológico, a banalização da banda larga e a generalização das

TIC junto a população, acabam por ser medidas auto-redutoras sobre si mesmas, no sentido em que,

estas não chegam para capacitar um indivíduo de valências info-comunicacionais que lhe permitam

interagir na sociedade da informação nas suas múltiplas vertentes. Desta forma, a questão da

iliteracia e da info-exclusão devem ser vistas como elemento chave para o sucesso destas medidas de

adequação da população às exigências e necessidades do novo paradigma informacional. Às

bibliotecas está reservado um papel chave. Se antes, estas tinham um papel passivo em relação ao

serviços disponibilizados, na actualidade, e perante este contexto, exige-se que as bibliotecas tenham

um papel muito mais pró-activo, funcionando como um elo de ligação entre as pessoas que ainda

não tiveram a iniciativa ou oportunidade de começar a dar conta desta nova dimensão informacional

e das exigências que a mesma lhes implica, face às pessoas que já estão imbuídas na era da

informação.

Outro elemento importante a ter em conta nesta conjuntura, prende-se com as necessidades

informacionais de cada indivíduo. Se levarmos em conta que um número significativo das pessoas

que vão à biblioteca, fazem-no com o objectivo de consultar a Internet, então, o que será delas,

quando a puderem aceder mais facilmente em casa, no café, ou centros de Internet, de forma

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gratuita? As bibliotecas vão ficar mais vazias? E os conteúdos na WEB? Será que as bibliotecas vão

perder importância como “fonte informação” para seus utilizadores? Estes utilizadores irão deixar de

frequentar a biblioteca, satisfazendo assim, as suas necessidades informacionais na WEB? Quais são

os produtos ou serviços informacionais que uma biblioteca pode disponibilizar como uma mais valia

face à Internet ou a outros serviços de informação?

Antes de avançarmos para uma indagação problemática acerca da “conexão” entre os

utilizadores e as bibliotecas dentro do contexto da sociedade da informação, convém apresentar, e

ainda que breves, algumas explicações acerca do cerne, da essência – A INFORMAÇÃO - em que

assenta a tão difusa Sociedade da Informação e as mudanças que lhe são inerentes, nomeadamente,

na ascensão paralela da ciência da informação.

No Congresso da BAD em 2001, os autores Armando Malheiro da Silva e Fernanda Ribeiro,

apresentaram uma comunicação onde se «confronta o paradigma dominante na área das chamadas

Ciências Documentais, herdeiro das concepções e dos contextos gerados pela Revolução Francesa,

com um novo paradigma emergente por força das condições sociais, económicas, culturais e

tecnológicas da Sociedade da Informação. Centrada no objecto Informação (social), portador de um

conjunto de propriedades, cujo enunciado se postula como uma axiomática geral, a jovem Ciência

da Informação apresenta-se como um campo uno e transdisciplinar, que convoca, naturalmente,

outras disciplinas numa clara e fecunda interdisciplinaridade»9.

A Ciência da Informação acaba por colidir com outras disciplinas, porque o seu objecto – a

informação – é um produto do homem e, como tal, há diversas ciências que se apoderam do homem

e da sua actividade, exaurindo-se na desfragmentação por diversas áreas, como as Ciências da

Comunicação, História, Sociologia, Informática entre outras; de referir ainda o grande relevo da

arquivística, da biblioteconomia e da documentação. Assim sendo, na confluência de várias

disciplinas, a informação capta o interesse de muitas ciências como já referi anteriormente, razão

pela qual, a informação enquanto campo particular das ciências sociais (ciências do homem e da

sociedade) luta pela sua legitimidade científica.

Ao ficar frente a frente com este paradigma emergente, as referidas práticas empíricas no

tratamento da documentação (casos das disciplinas de Arquivística e Biblioteconomia), não podem

subsistir por muito mais tempo «artificialmente autonomizadas e disfarçadas de "científicas", tendo,

por isso, que ser (re)enquadradas epistemologicamente de um modo sério e consistente, que não 9 SILVA, Armando Malheiro da; RIBEIRO, Fernanda – A mudança de paradigma na formação BAD: um modelo

formativo para a Ciência da Informação. In Congresso Nacional de Bibliotecários; Arquivistas e Documentalistas, 7, Porto, 2001. – Informação: o desafio do futuro: actas do congresso. Lisboa: BAD, 2001. CD-ROM.

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passa já pela anacrónica, redutora e frágil "teoria" da documentação, mas antes pelo

aprofundamento crítico do debate sobre a natureza e evolução da Ciência da Informação, assumida

no singular e não num plural fragmentado e avulso (ciências) que à letra, exclui deste campo

cientifico uma matriz unitária e transdisciplinar»10. É claramente esta a perspectiva de Yves-

François Le Coadic.

Ainda na opinião deste11, o facto da Ciência da Informação se referir cada vez mais à sua

própria história constitui um indicador de maturidade, opinião partilhada por outros autores que

afirmam que tal confere consolidação à área.

Por conseguinte, não devemos questionar a legitimidade da Ciência da Informação, sem antes

definirmos separadamente duas pequenas noções, por um lado a ciência é antes de mais, um

conjunto coerente de produção de conhecimentos sobre determinados factos, objectos ou fenómenos

que obedecem a leis (em ciências exactas) e em princípios (em ciências sociais) passíveis de

verificação através da aplicação de métodos. E, como as leis em ciências sociais não são imutáveis,

porque são susceptíveis de alteração, é possível que estas sejam reformuladas no âmbito de um

processo de construção científico. O conhecimento científico daí originado propaga-se, destinando-

se a ser transmitido, devido às suas provas por todos verificáveis. Finalmente, acrescente-se ainda,

que a ciência deriva da prática mas não se confunde com ela. A técnica deve de ser uma ciência

aplicada, sendo o mesmo dizer que os procedimentos operatórios é que devem de ter uma base

científica.

O aprofundamento da base teórica do paradigma científico – a Ciência da Informação –

depende e muito da sua eficácia epistemológica. Neste sentido, aquando da formulação das teorias e

dos modelos, devemos reter dois elementos que se tornam essenciais neste momento, como sendo, a

definição do "Objecto" que envolve toda esta investigação, e que está na origem desta ciência e que

é - a Informação - por um lado, e por outro, as propriedades da Informação.

No que respeita à definição do objecto, existe, na actualidade, uma grande multiplicidade de

abordagens e tentativas de precisar com mais rigorosidade a definição de Informação. No entanto,

vamo-nos reter naquela que tenta congregar de uma forma mais abrangente e concisa este conceito,

que pode ser descrito como um «conjunto estruturado de representações mentais codificadas

(símbolos significantes) socialmente contextualizados e passíveis de serem registadas num qualquer

suporte material (papel, filme, banda magnética, disco compacto, etc.) e, portanto, comunicadas de

10 SILVA, Armando Malheiro da; RIBEIRO, Fernanda – A mudança de paradigma... Ob. Cit. p. 2 11 LE COADIC, Yves-François – A Ciência da Informação. Brasília: Briquet de Lemos Livros, 1996. 119 p. ISBN: 85-

85637-08-0.

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forma assíncrona e multidireccionada.»12 Os autores desta definição, abordam a informação como

fenómeno e processo, no entanto, esta noção carece de uma explicação para obter mais clareza.

Como tal, pode aferir-se que a «informação é o fenómeno gerado na mente humana e que ao sair do

sujeito fica submetido a um processo natural de reprodução (uma das propriedades do fenómeno) e

de transmissão/comunicação (outra propriedade do fenómeno), mas a comunicação só ocorre

efectivamente dentro das condições semióticas e hermenêuticas verificáveis numa situação de pleno

interface emissor-receptor. O processo é, em suma, a passagem ou o intermezzo da produção

informacional para a consumação comunicacional, onde se consuma a fruição e a reelaboração

semântica (a questão hermenêutica ou interpretativa e a questão da verdade da mensagem e/ou da

autenticidade do contexto de (re)produção situa-se aqui e a Ciência da Informação não pode ser-

lhes indiferente). E o documento é a cristalização operada nesse intermezzo.»13 Em súmula, pode

afirmar-se que a informação é um conjunto de representações mentais codificadas potencialmente

comunicáveis.

Concomitantemente, também devemos ter em conta que a informação possui seis

propriedades intrínsecas, como sendo:

- Estruturação pela acção – Sem acção humana não há informação, daí que toda a informação

é estruturável pela acção humana e social;

- Integração dinâmica – A informação nasce num contexto e propaga-se dinamicamente

modificada;

- Pregnância – intencionalidade da informação, ou seja, o seu sentido. A pregnância poderá

ser mais ou menos, mediante a sua complexidade;

- Quantificação – não há informação sem código, daí que as palavras ou qualquer outro

código é valorável ou mensurável quantitativamente;

- Reprodutividade – Não há limites para a reprodutividade da informação. A reprodução está

ligada à comunicação e esta é um epifenómeno da informação;

- Transmissibilidade – A (re)produção da informação é potencialmente transmissível ou

comunicável.

De notar ainda, um ponto interessante que surge da análise às propriedades descritas: «elas

estão intimamente encadeadas entre si, sendo perceptível, por exemplo, que a pregnância convoca

12 RIBEIRO, Fernanda e SILVA, Armando Malheiro da - Das "ciências" documentais à ciência da informação : ensaio

epistemológico para um novo modelo curricular. Porto: Edições Afrontamento, 2002. ISBN: 972-36-0622-4. p. 37.

13 SILVA, Armando Malheiro da – Documento e Informação: as questões ontológica e epistemológica. [s.l.: s.n., s.d.]. p. 36.

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ou potencia a reprodutividade e, naturalmente, a memorização, assim como também a

transmissibilidade actualiza e exponencia a reprodutividade»14.

É através do acto de desvendar a verdadeira essência da ciência da informação, ou seja, as

suas propriedades, aliada a uma definição ampla e global, que por si só não seja auto-redutora, que a

Informação se dá a conhecer e se constitui como "objecto" para uma Ciência.

Actualmente, aos profissionais da informação exige-se-lhes determinado perfil e

competências, sustentado por um conhecimento aprofundado sobre o que é a Informação, a sua

génese biopsiquica e social, assim como uma grande base teórico-metodológica. É claro que isto só é

possível se, durante a formação académica do mesmo, este for incubado e moldado à luz de um

modelo adequado, que contemple uma nova visão científica sobre a informação e os diversos

sistemas de informação (bibliotecas, arquivos, serviços de documentação, empresas, etc.).

É neste contexto científico, metodológico, que eu apresento uma nova abordagem para as

bibliotecas, nas suas múltiplas relações com os utilizadores, a ser desenvolvido sistémica e

dinamicamente entre a biblioteca e os seus diversos stake-holders15, dentro da sociedade da

informação.

Um dos elementos chave para a exequibilidade desta nova abordagem, centra-se no

conhecimento e nas capacidades científicas do profissional da informação, ou seja, para esse tipo de

abordagem ele deve apoderar-se de um conjunto de elementos vitais, como o domínio de diversas

teorias (Teoria Sistémica, Teorias Cognitivas, Teoria da Informação Psicológica, entre outras teorias

relacionadas ao processo comunicacional). Paralelamente, este também deve dominar o método,

nomeadamente, o método quadripolar. Só com o domínio teórico-técnico-metodológico é que é

possível ao profissional da informação proceder à pesquisa e investigação em Ciência da

Informação. Este profissional também pode ser denominado por “cientista da informação”, conceito

este, já referenciado em alguma bibliografia especializada da área.

Questões como o estudo do “objecto” (a “informação”); as questões comportamentais

centradas em torno da informação; os estudos de comportamento informacional dos utilizadores; o

estudo dos diversos fluxos informacionais; as novas necessidades e usos da informação; são algumas

das áreas que podem e devem de ser labutadas no decurso da sua actividade numa biblioteca pelo

profissional da informação. Estas linhas de investigação, devidamente enquadradas num modelo de

14 RIBEIRO, Fernanda e SILVA, Armando Malheiro da – Das "ciências" documentais à ciência da informação. Ob. Cit.

p. 42. 15 Por stake-holders entenda-se todos os elementos (pessoas, organizações, serviços) que interagem dinamicamente com

uma determinada organização.

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I&D, podem tornar-se muito pertinentes para uma maior sustentação epistemológica da Ciência da

Informação.

Perante este potencial de conhecimento dos profissionais da informação, as bibliotecas

devem socorrer-se do manancial de conhecimento (muitas vezes desperdiçado na realização de

tarefas rotineiras) para promover uma mudança cultural e organizacional, no sentido de redireccionar

os seus objectivos estratégicos em função das necessidades dos seus utilizadores.

Por que não despender de um “cientista da informação” para proceder à investigação de

certos fluxos, processos informacionais que estão na génese da base estrutural da própria biblioteca?

A título de exemplo, direi que parece não fazer sentido a biblioteca continuar a adquirir grandes

massas documentais de uma forma empírica (muitas vezes baseando-se no senso comum do

responsável pelas aquisições, ou em critérios subjectivos), sem que essas sejam, na realidade, as

efectivas e reais necessidades dos seus utilizadores. Será que certos procedimentos da cadeia

documental não deveriam ser repensados, analisados, investigados? O hábito e o costume potencia-

se como um factor contra-natura à reflexão e investigação destas tarefas empíricas, arreigadas numa

prática custodial. Os produtos e serviços informacionais disponibilizados pelas bibliotecas não

devem ser ainda mais potencializados em função das necessidades de quem os procura? Um

exemplo, será que uma biblioteca pública só vai continuar a disponibilizar livros em papel, quando,

o que os seus utilizadores também desejam, é aceder aos e-books, optimizando assim o seu tempo na

satisfação da sua necessidade informacional?

Levando em conta que a sociedade da informação assenta numa base de potenciação e

valorização do binómio informação/conhecimento como matéria-prima da sua auto-mutação

contínua, então as bibliotecas têm de passar a ter uma atitude pró-activa face a estas mudanças

constantes, operadas no seu contexto ambiental.

O que é que leva as pessoas a frequentar a biblioteca, quando, dentro desta conjuntura, as

pessoas podem satisfazer as suas necessidades informacionais nas mais diversas fontes de

informação? O que é que a biblioteca pode oferecer em termos de serviço/produto informacional ao

utilizador, sem que este possa encontrar o mesmo feedback em mais alguma fonte (Internet,

Telefone, TV-Interactiva, etc.)?

Na actualidade, as bibliotecas devem começar a adoptar alguns dos princípios que estão na

base do marketing relacional, fidelizando os utilizadores, satisfazendo-lhe constantemente as suas

necessidades informacionais, transformando a organização numa máquina dinâmica, que se auto-

sustenta no equilíbrio do fluxo dinâmico de quatro pilares fulcrais, a saber: os profissionais da

informação, os produtos/serviços informacionais, as tecnologias de informação e comunicação e, por

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último, os utilizadores. Ou seja, as bibliotecas devem adequar as suas estratégias dentro de um

modelo de CRM – Customer Relationship Management (Gestão das relações com os utilizadores),

orientando os seus serviços em função das necessidades informacionais, de forma a optimizar a

concretização da missão/objectivos da biblioteca e a satisfação dos seus utilizadores.

Na sua essência, este modelo de CRM deve assentar num conhecimento permanentemente

actualizado dos utilizadores face aos produtos/serviços informacionais disponibilizados pela

biblioteca. Este mesmo conhecimento deve ser comunicado interactivamente, no sentido de

desenvolver um relacionamento contínuo e de longo prazo.

De forma a gerir estes mesmos processos de comunicação, devem ser criadas diversas

hierarquias de filtragem através da segmentação dos distintos perfis de utilizadores, situando-se na

base, o utilizador individual. Como exemplo, pode aferir-se que, o site da biblioteca deve ser

arquitectado em termos de usabilidade e ubiquidade para se adequar automaticamente em função do

perfil do utilizador.

Como foi referido anteriormente, um dos papéis chave para o sucesso desta nova abordagem,

passa pela disponibilização de profissionais da informação com as competências referidas

anteriormente, para proceder à execução de algumas das seguintes tarefas entre outras: a modelação

de processos dos diversos fluxos de informação, levantamento da estrutura orgânico-funcional da

biblioteca, análise e aplicação de padrões de qualidade para os diversos serviços, estudos de

comportamento informacional, análise dos processos de comunicação entre a biblioteca e os

utilizadores, etc. Com esta análise da própria organização, há uma revalorização do capital humano

como fonte de conhecimento, associando-se condignamente a mais valia de cada funcionário em

função da melhoria qualitativa dos serviços e da própria organização. Transversalmente podemos,

também, ter uma melhoria significativa na redistribuição dos recursos financeiros em função das

reais necessidades para se atingir os objectivos da biblioteca.

Esta visão também está latente na enunciação preconizada por Chun Wei Choo, quando este

nos remete para a ideia de que «as organizações exploram o meio ambiente de maneira a

compreenderem as forças externas de mudança, para que possam desenvolver respostas eficazes

que assegurem ou melhorem a sua posição no futuro. Assim, as organizações procedem à

exploração de forma a evitarem surpresas, identificarem ameaças e oportunidades, ganharem

vantagem competitiva e melhorarem o planeamento a longo e a curto prazo…»16 Paralelamente,

também devemos ter em consideração que «a era ou a sociedade da informação, sugere intuitiva e

16 CHOO, Chun Wei — Gestão de informação para a organização inteligente: a arte de explorar o meio ambiente.

Lisboa: Editorial Caminho, 2003. ISBN: 972-21-1506-5. p. 118.

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implicitamente a perspectiva, o aspecto ou o ângulo a partir do qual a vida nas sociedades

contemporâneas surge natural e inapelavelmente, isto é, sob o prisma da informação, das

tecnologias de informação e comunicação.»17 Com as exigências da era da informação, será que a

biblioteca pode continuar a ter uma atitude passiva? Será que só se deve preocupar com as tarefas da

cadeia documental e com a disponibilização de alguns serviços padronizados? Será que os

utilizadores só podem ter acesso à informação que a biblioteca optou por disponibilizar

empiricamente? Ou será que estes podem ser servidos em função das suas reais necessidades

informacionais?

Penso que uma biblioteca ao adoptar estas premissas pode ser um reforço de peso como

entidade integradora/reguladora da própria evolução da sociedade, na medida em que, ao focalizar a

sua atenção nos utilizadores, está, também, a cooperar na info-inclusão, tendo um papel muito

especial na questão da iliteracia, pois um iliterado pode ser um info-incluido, mas não adaptado à

verdadeira assunção da sociedade da informação.

Sobre esta abordagem há ainda muitos aspectos que poderiam ser mencionados, no entanto,

aqui ficam, desde já, desenhadas algumas premissas que devem ser reflectidas, analisadas,

discutidas, e quiçá, a serem indagadas no seio das bibliotecas.

Nota biográfica: Paulo Jorge da Cunha Barreiro de Sousa nasceu em Ponte de Lima, em 1980. Encontra-se a frequentar o 4º e último ano da Licenciatura em Ciência da Informação. De 2000 a 2005 trabalhou na Biblioteca Municipal Almeida Garrett, Porto. Desde Abril de 2005 que está a trabalhar nos Serviços de Documentação e Informação da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. Já realizou diversos estágios em bibliotecas escolares, públicas e universitárias. Criação e administração do blog “A Informação”, mantido em colaboração comdiversos profissionais da informação, portugueses e brasileiros.

17 ILHARCO, Fernando – Filosofia da Informação: Uma introdução à informação como fundação da acção, da comunicação e da decisão. Lisboa: Universidade Católica, 2003. ISBN: 972-54-0068-2. p. 75.