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DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃONÚCLEO DE REVISÃO DE COMISSÕES
TEXTO COM REDAÇÃO FINAL
COMISSÃO ESPECIAL - SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL
EVENTO : Audiência Pública Nº: 0460/99 DATA: 08/06/99
DURAÇÃO: 02h26min P ÁGINAS : 51 QUARTOS: 15
REVISORES: ANTONIO, MADALENA, MARL ÚCIA
SUPERVISORES: ZUZU
DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃOEVERARDO DE ALMEIDA MACIEL - Secretário da Receita Federal
SUMÁRIO: Contribuição do Secretário da Receita Federal, Everardo Maciel, para aelaboração de parecer ao Projeto de Lei Complementar nº 220, de 1998, que trata do sigilonas operações de instituições financeiras.
OBSERVAÇÕES
ÇNome: COMISSÃO ESPECIAL - SISTEMA FINANCEIRO NACIONALNúmero: 0460/99 Data: 08/06/99
O SR. PRESIDENTE (Deputado Danilo de Castro) - Havendo número
regimental, declaro abertos os trabalhos da presente reunião.
Tendo sido distribuída cópia da ata da reunião anterior a todos os membros
presentes, indago da necessidade de sua leitura.
O SR. DEPUTADO PEDRO CHAVES - De minha parte, acho que não há
necessidade, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Danilo de Castro) - Em discussão a ata. Não
havendo quem queira discutir acerca de seus termos, passamos à votação da
mesma. Os Srs. Deputados que a aprovam permaneçam como estão. (Pausa.)
Aprovada.
Ordem do Dia.
A presente reunião destina-se a ouvir a exposição do Dr. Everardo de
Almeida Maciel, Secretário da Receita Federal, acerca do Projeto de Lei
Complementar 220, de 1998, que dispõe sobre o sigilo das operações de
instituições financeiras e dá outras providências.
Peço aos Srs. Deputados que queiram participar dos debates que se
inscrevam à Mesa.
Neste momento, concedo a palavra ao ilustre Secretário, nosso palestrante,
Dr. Everardo de Almeida Maciel, dizendo da satisfação e da honra desta Comissão
em recebê-lo aqui, haja vista o trabalho que S.Sa. vem realizando na Receita
Federal.
Com a palavra o Dr. Everardo Maciel.
O SR. EVERARDO DE ALMEIDA MACIEL - Sr. Presidente, Exmo. Sr.
Deputado Danilo de Castro, Exmo. Sr. Deputado Edinho Bez, Relator desta
Comissão Especial, quero, antes de tudo, consignar os meus agradecimentos pelo
convite que me foi formulado para expor perante esta Comissão os meus
comentários a propósito do Projeto de Lei Complementar nº 220, que dispõe
especificamente sobre o sigilo bancário.
Pude demonstrar à saciedade, nos últimos dias, em particular, as enormes
brechas que existem no nosso sistema tributário, a par das dificuldades que
encontra a fiscalização para exercer o seu papel de identificar fraudes fiscais e,
portanto, servir, dessa forma, como instrumento de justiça fiscal.
ÇNome: COMISSÃO ESPECIAL - SISTEMA FINANCEIRO NACIONALNúmero: 0460/99 Data: 08/06/99
1
Uma dessas questões que freqüentemente encontramos como obstáculo ao
nosso trabalho é exatamente aquilo que chamamos de sigilo bancário. E é
exatamente sobre esse tema que gostaria de apresentar algumas idéias,
primeiramente, dimensionando que até o início desta década, 1991/1992, não
havia, pelo menos para o Fisco Federal, nenhum tipo de restrição para obter
informações ditas protegidas por sigilo bancário. Foi em virtude de alguns
incidentes na condução administrativa dessa matéria que resultou em impugnação
aos trabalhos de fiscalização da Receita Federal, resultando em matéria que se
encontra em apreciação nos tribunais superiores, porém, sem ainda uma solução
definitiva, qual seja, o acesso do Fisco à matéria protegida por sigilo bancário.
Gostaria, de antemão, de dizer o seguinte: em nenhum momento, o Fisco ou
esta Secretaria da Receita Federal, ou, mais ainda, este Secretário da Receita
Federal, propugnou o que se chama de quebra de sigilo bancário. Bem diferente
disso é falar-se em acesso da Receita Federal, acesso da administração tributária,
dito de um modo mais geral, a informações protegidas do sigilo bancário.
É evidente que o sigilo bancário se inscreve dentre aqueles institutos
destinados a proteger o direito à própria imagem do cidadão. Isso é inequívoco, e,
portanto, não se defende que haja uma quebra do sigilo bancário. O que dizemos,
ao contrário disso, é que, verdadeiramente, é impossível, ou extremamente difícil, o
Fisco realizar uma fiscalização, em matéria especialmente relacionada a Imposto
de Renda, sem ter informações, entre outras, aquelas protegidas por sigilo
bancário.
Vou mostrar o que é um trabalho de fiscalização.
Um trabalho de fiscalização que se faz com freqüência é, primeiramente,
verificar a consistência das declarações. Hoje em dia, e cada vez mais, as
declarações, em virtude do próprio software utilizado nas declarações por meio
magnético, é muito difícil encontrar-se algum tipo de contradição dentro de uma
declaração.
O trabalho de fiscalização consiste em cotejar aquilo que foi declarado com
informações de outra natureza que possam revelar o patrimônio ou a renda do
contribuinte. Então, identifico uma fraude fiscal quando examino, por exemplo, uma
declaração e cotejo-a com a movimentação de cartões de crédito do contribuinte.
ÇNome: COMISSÃO ESPECIAL - SISTEMA FINANCEIRO NACIONALNúmero: 0460/99 Data: 08/06/99
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Posso identificar uma fraude fiscal quando estou cotejando uma declaração
com a movimentação financeira do contribuinte e sempre identificarei uma fraude
fiscal a partir do confronto entre o que está declarado e o que verdadeiramente
constitui renda ou patrimônio do contribuinte.
Ao dizer isso dessa forma, quero salientar que esse é o elemento
indispensável à fiscalização. Então, alguém diz: "Mas isso deveria ser feito com
autorização judicial." Considero um equívoco, para não dizer algo absolutamente
insubsistente. Não pode num trabalho, num procedimento administrativo fiscal — é
essa a natureza da fiscalização, é um procedimento administrativo, não é um
procedimento judicial —, todas as vezes que alguém desejar fazer uma fiscalização
solicitar autorização do juiz.
Estou como que, dito de uma maneira mais livre, subordinando a ação
administrativa à ação do Poder Judiciário e, portanto, é algo inimaginável em
qualquer outro lugar.
Assim, a ação administrativa não pode deparar-se com esse obstáculo. O
confronto, como disse, ao obter essas informações, o Fisco deve guardar o dever
de sigilo da mesma forma que guarda o sigilo fiscal, porque aquela matéria que foi
obtida para fim de fiscalização tem uma destinação exclusivamente fiscal.
Vejam bem, o que está atrás dos outros argumentos que se apresentam em
relação a esse acesso do Fisco à matéria protegida por sigilo fiscal? Quando se
fala em sigilo, podemos adjetivá-lo de sigilo bancário, sigilo fiscal, sigilo
administrativo, etc, etc, etc.
Entretanto, ninguém faz ou apresenta restrição ao acesso de um funcionário
de um banco, de um gerente de um banco, de um presidente de um banco àquilo
que se encontra na conta bancária do cidadão, não sem razão, porque esse acesso
é indispensável ao seu trabalho.
Ninguém apresenta restrição ao acesso do funcionário do Banco Central
àquelas informações ditas protegidas por sigilo bancário. E ninguém apresenta
restrição, porque constitui, integra o senso comum das pessoas que aquela
informação é indispensável ao funcionário para realizar a sua missão administrativa
e, portanto, não haveria por que impedi-lo de obter essa informação. Então, alguém
diz: "Mas o funcionário fiscal, não."
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3
Na verdade, o que está acontecendo aí não é uma proteção ao sigilo. O que
está sendo assegurado não é a integridade do sigilo, porque está apenas sendo
transferido. O que, na verdade, está embutido aí, e não se declina, é exatamente o
receio de que aquele funcionário fiscal venha a autuar o cidadão. Portanto, a
proteção que se faz não é quanto à inviolabilidade do sigilo, mas à possibilidade de
ser autuado por sonegação.
Vemos fatos e fatos que estão à mercê do conhecimento público veiculados
pela imprensa, de conhecimento da sociedade brasileira, de que todas as vezes
que vamos dedicar uma atenção mais adequada, mais própria àquelas
informações revestidas do maior sigilo possível, vamos encontrar evidências
contundentes, ou aquilo como se diz numa linguagem mais popular na área de
fiscalização, fraturas expostas de sonegação fiscal.
Não tenho a menor dúvida, estou absolutamente seguro de que um trabalho
atento e dedicado, por exemplo, um exame das chamadas contas CC-5 encontrará
evidências claríssimas de sonegação fiscal e de caixa 2. Não tenho a menor dúvida
disso. Não quero dizer com isso que, primeiro, todas essas remessas sejam fruto de
sonegação; ao contrário, acho até que aquelas feitas com clareza, seguramente, ou
muito provavelmente, não são sonegação. Sonegação, hoje, é algo cada vez mais
elaborado, mais sofisticado. Utiliza-se um laranja, faz-se algo sub-reptício, não se
faz algo, assim, à vista, desarmado. Nem tampouco, também, quero dizer que seja
contra o instituto da conta CC-5, em absoluto. A conta não é responsável pela
sonegação. A sonegação é responsável por ela mesma. Agora, o que não se pode
dizer é que o Fisco não deva ter acesso a esse tipo de informação.
Ao Fisco não interessa — e aqui respondo a um outro tipo de argumento —,
por exemplo, conhecer que tipo de destinação o cidadão, o contribuinte deu ao seu
dinheiro, deu à sua renda. Ao Fisco não interessa saber se ele utilizou aquele
dinheiro para educar os seus filhos, para comprar alimentos, para fazer
investimentos, para fazer aplicação ou o que quer que seja, isso não é de
importância fiscal. A importância fiscal é o contrário, é o que está atrás e em cima
de sua movimentação financeira.
Esse tipo de destinação que o cidadão faz do seu dinheiro deve estar
inscrito, protegido naquilo que mencionei, no direito à própria imagem. Isto é
privativo do cidadão, está inscrito na privacidade do cidadão. Agora, movimentação
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financeira, não. Movimentação financeira é um elemento indispensável para que se
faça fiscalização.
Vou mostrar um outro argumento, também, no plano dos elementos triviais.
Todo cidadão, ao declarar o Imposto de Renda, diz qual é o montante de seus
depósitos, ou, dito de uma maneira mais ampla, os seus direitos e os seus bens no
dia 31 de dezembro de cada ano, de cada exercício.
Vou usar esse exemplo aqui só para argumentar; evidentemente que seria
algo inconcebível. Eu poderia dizer — e só para argumentar, repito — que o Fisco
poderia pedir não o resultado de sua posição patrimonial em relação a bens e
direitos no dia 31 de dezembro, mas a cada dia do ano: no dia 31 de dezembro,
no dia 30 de dezembro, no dia 29 de dezembro, e, aí, estaria obtendo diretamente
as informações de movimentação financeira. Não o faz, porque isso seria uma
insensatez, isso não teria o menos sentido e seria uma maneira que poderia ser a
mais grotesca de obter uma informação necessária à fiscalização.
Estou mostrando, portanto, que tudo que se utiliza para opor o acesso do
Fisco ao sigilo bancário, no fundo, o que está por trás disso é, precisamente, algo
para encobrir a sonegação. Pessoas que têm movimentação correta, posta em sua
declaração movimentação adequada, não têm nenhuma dificuldade de apresentar
esses dados. Quando não apresenta, é exatamente porque quer encobrir algo.
Repito, ao Fisco interessa tão-somente encontrar aquelas informações que são
indispensáveis ao seu trabalho.
Agora reporto-me especificamente ao Projeto de Lei Complementar nº 220.
A versão original aprovada no Senado Federal na primeira semana de
fevereiro de 1999, na minha avaliação, um trabalho de extraordinária qualidade, é
um projeto de lei impecável. Não tenho restrição a oferecer ao que foi aprovado —
presumo, não estou seguro — pela unanimidade dos Senadores. Esse projeto
encontra-se em exame na Câmara dos Deputados.
Foram apresentadas aqui algumas emendas. A essas emendas, tenho dois
tipos de restrições: o primeiro, quanto ao mérito da própria emenda, e o segundo,
quanto ao fato de que a apreciação dessas emendas vai mais uma vez fazer com
que esse processo retorne ao Senado em cima de aspectos que podem ser
capitulados como perfunctórios, lana-caprina, quer dizer, sem nenhuma importância
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efetiva para o projeto, fazendo tão-somente que demore a aprovação efetiva de um
projeto de lei complementar indispensável à fiscalização.
Há um ponto aqui apresentado como emenda que estabelece a necessidade
de que, uma vez conhecendo informações onde o Fisco possa encontrar algum
indício de fraude, tenha de, necessariamente, instaurar um processo administrativo.
Isso já está implícito em qualquer trabalho de fiscalização. Um procedimento
administrativo-fiscal só se inicia com a instauração de um processo administrativo.
Então, é uma emenda que, no meu modo de ver — não critico a emenda em si —,
não leva a um aperfeiçoamento daquilo que foi apresentado no Senado Federal.
A segunda emenda diz respeito à exclusão das autoridades e agentes fiscais
tributários da União, dos Estados e do Distrito Federal, em que se propõe a
exclusão dos agentes fiscais tributários dos Municípios.
O texto do art. 6º, in fine , chama atenção, desde logo, que isso só pode
acontecer, desde que sejam considerados indispensáveis pela autoridade
administrativa competente. A exclusão dos Municípios, de certo modo, na minha
avaliação, afronta o tecido da administração tributária nacional. Independentemente
da opinião pessoal de que se possa ter sobre se Município deve ter ou não um tipo
de participação nos trabalhos de fiscalização do sistema tributário, é fato que, na
verdade, integra o sistema tributário e tem um aparelho de fiscalização. Portanto,
na minha avaliação, não haveria por que mencionar isso.
A terceira emenda, essa por mais forte razão, quando fala "acrescentar onde
houver processo administrativo instaurado ou procedimento fiscal." O processo
administrativo instaurado começa pelo procedimento fiscal. Então, esse "ou" é
redundante, na minha avaliação.
No último item, entendeu o Senado tornar equivalentes as penas aplicáveis à
violação do sigilo bancário àquelas aplicáveis ao sigilo fiscal ou ao sigilo
administrativo. Ainda que eu não tenha um ponto de vista firmado sobre esse
assunto, compreendo as razões que levaram os Senadores a apresentarem essa
emenda, mas suponhamos que ela fosse entendida, e até a partir de um consenso,
como inconveniente. Poderia ser objeto de um veto e restaurava a situação
anterior. Portanto, são essas as razões que eu apresentaria de caráter muito geral,
para dizer da minha avaliação quanto ao projeto em si e quanto às emendas que
foram apresentadas.
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Para finalizar, utilizando o tempo que me foi estabelecido, quero dizer a
V.Exas. que esse projeto, a meu ver, é da maior importância para a administração
tributária nacional. O projeto é oriundo do Congresso Nacional, de autoria de um
conjunto de vários Senadores — na verdade, parece que a origem e autoria do
projeto é do Senador Lúcio Alcântara, mas contém emendas dos Senadores
Jefferson Péres, Vilson Kleinübing, já falecido, e José Eduardo Dutra. É um projeto
tecnicamente excepcional, e eu só posso, portanto, dirigir um apelo aos Srs.
Parlamentares que integram esta Comissão, no sentido de que possam acolher
esse projeto, dando curso, de acordo com o Regimento da Câmara dos Deputados,
a uma célere aprovação pelo Plenário da Câmara dos Deputados.
Dessa forma, portanto, agradeço a oportunidade de ferir essa questão sob o
aspecto estritamente fiscal e me ponho à disposição dos Srs. Parlamentares para
responder as indagações que me forem apresentadas.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Danilo de Castro) - Agradeço ao Dr.
Everardo e, iniciando os debates, gostaria de fazer duas perguntas ao Sr.
Secretário: V.Sa. acha que o cidadão investido em cargo público deve ser protegido
pela lei de sigilo bancário, considerando que a ética e a transparência devem
presidir a administração pública? Esse tratamento deve ser estabelecido no caso
de cidadão investido em atividade pública?
Uma outra: quais os mecanismos de controle e os principais cuidados a ser
exercidos pela Receita Federal, quanto aos dados fornecidos pelo BC ou CVM?
O SR. EVERARDO DE ALMEIDA MACIEL - Primeiro, acho que qualquer
pessoa investida em cargo público deve tornar disponível suas informações. É
minha opinião pessoal. Isso é matéria de lei ordinária. Ela deve tornar disponíveis
para o público qualquer informação que seja protegida, não apenas por sigilo
bancário, mas, inclusive, por sigilo fiscal.
O homem público, se me permite Deputado, no meu entendimento, antes de
ser honesto, ou mais que isso, parecer honesto, como a mulher de César, tem que
ser exemplar. E quem dá exemplo, começa dessa forma. Ele tem que ser um
exemplo para a sociedade. E exemplo para a sociedade, quer dizer tornar
disponível qualquer tipo de informação, que possa, de algum modo, arranhar ou
macular sua reputação como homem público.
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Segunda questão: como fazer essa proteção? Qualquer informação
protegida por sigilo bancário, que possa ser obtida por administração tributária,
deve merecer o mesmo tratamento daquela protegida por sigilo fiscal. Hoje, na
Receita Federal, afora todas as regras conhecidas, existem penas para o
funcionário fiscal que violar regras pela divulgação de informações que possam
revelar, como está no Código Tributário Nacional, a situação econômico-financeira
do contribuinte. Essa é exatamente a regra.
Devo dizer também o seguinte: criamos regras mais duras. Todas as
informações fiscais se encontram em bancos de dados, em sistemas. Introduzimos
na Receita Federal regras que estabelecem, que tipificam a infração administrativa,
ou, no caso, com equivalência à tipificação criminal da violação do sigilo fiscal,
aquilo que chamamos de acesso imotivado. Qualquer funcionário fiscal que obtiver
uma informação nos bancos de dados da Receita, deve registrar, no seu diário, por
que obteve, para que finalidade administrativa ou fiscal, obteve aquela informação?
Porque, em qualquer momento em que for indagado, do porquê de ter procurado
aquela informação, tem que ter uma resposta que seja conveniente para explicar.
Para que isso não fique uma coisa puramente administrativa, existe uma fita
de registro, chamada fita log, em que qualquer pessoa que vai obter essas
informações, deve fazer uso de uma senha para o acesso ficar registrado na fita
log. Posso dizer que isso tem sido feito com freqüência. E se alguém indaga por
que precisou daquela informação, ele tem que explicar o porquê de ter ido atrás
daquela informação. Isso não existia anteriormente. Hoje, todos os sistemas são
protegidos por um certo grau de segurança. Não podemos falar em sistemas
absolutamente seguros, num mundo onde a tecnologia se desenvolve no ritmo que
todos conhecem, mas eles têm um nível de segurança. Temos na Receita Federal
um nível de segurança bastante forte em relação a isso, e qualquer acesso fica
registrado na fita log.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Danilo de Castro) - Com a palavra o
Deputado Luiz Fernando.
O SR. DEPUTADO LUIZ FERNANDO - Sr. Secretário, é uma satisfação
muito grande participar desta reunião com V.Sa. Quero parabenizá-lo pelo espírito
democrático de não se ater exclusivamente ao assunto sigilo bancário, que é
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conseqüência de fraudes fiscais, e pela presença de V.Sa. também no Congresso
Nacional, no Senado Federal, quando trouxe à baila informações desconhecidas.
Dessa forma, queria tirar algumas dúvidas: o acesso às informações fica
restrito à Receita, sem que o Poder Judiciário se envolva ou possa solicitá-lo.
Até que ponto o Poder Legislativo, no caso, o Congresso Nacional, através
da Comissão de Fiscalização Financeira e Controle, poderá ter acesso ao
andamento ou ao término de qualquer investigação sob fraude fiscal?
Quero dar um exemplo bem objetivo, que se refere à Recofarma, uma
empresa do Estado do Amazonas que produz o xarope do guaraná, da Fanta e da
Coca-Cola para 82 fábricas no Brasil. A arrecadação é fantástica, a exportação é
fantástica e os benefícios mais fantásticos ainda. Tenho uma informação de que só
de isenção do IPI, que é um tributo federal, a Recofarma deixou de recolher 500
milhões de reais. Quinhentos milhões de reais! Para que ela obtivesse essa
isenção do IPI, seria necessário, segundo o seu PPB, o Processo Produtivo
Básico, adquirir os produtos primários na região. E devo afirmar a V.Sa. que não
fez nessa ocasião, 3% da aquisição dos produtos na região. Esse processo foi,
naturalmente, até a Receita Federal e não tivemos conhecimento dele nem do que
aconteceu com ele. Até mesmo eu, como Parlamentar, desconheço o que
aconteceu. Eu só sei que, provavelmente, segundo as informações, houve uma
severa lesão aos cofres públicos federais. A compensação que a Recofarma faz —
mexe com bilhões de dólares/ano e é uma subsidiária de Atlanta — é a mais bizarra
possível. Ela justifica que ajuda a patrocinar o Festival Folclórico de Parintins, que,
por sinal, será realizado neste final de junho. Ela gasta 10 milhões de reais e diz
ainda, como justificativa, que entrega um cheque nas mãos do Sr. Governador.
Depois, o Governador aparece nos jornais, expondo o cheque de 5 milhões por
ano, para construir casas para pessoas mais pobres. Duvido muito que tenha sido
usado, duvido muito da rubrica disso e duvido muito do procedimento bancário
sobre isso.
Sr. Secretário, estou trazendo esse exemplo, porque V.Sa. se referiu a
remessas para o exterior, da CC-5, que existem em todos os países com outra
denominação, com outro nome.
Eu, como Parlamentar, que tenho a minha imunidade sobre palavras,
opiniões e votos, até que tenha acesso a esses dados, ou até que o fato me seja
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explicado, acho que está havendo alguma conivência, alguma omissão ou algum
erro de informação. Quero crer que meio bilhão de reais é uma quantia significativa.
Enquanto nós estamos aqui, nesta Casa de leis, aprovando leis contra
aposentados, tirando um dinheirinho daqui, um dinheirinho de lá, essas empresas
bilionárias, de capital internacional, causam, segundo informações, esse prejuízo,
essa lesão ao IPI.
Eu queria perguntar a V.Sa. o seguinte: existe esse processo na Receita
Federal? Há quanto tempo existe esse processo? Qual é maneira de termos essa
informação, para que o Estado não seja tão lesado, segundo as informações que
tenho? Espero que V.Sa., pelo espírito democrático, não se prenda exatamente ao
sigilo bancário, mas poderá ensejar que a quebra do sigilo bancário me dê as
informações necessárias.
O SR. EVERARDO DE ALMEIDA MACIEL - Primeiramente, tenho que dizer
em relação a esse projeto de lei complementar, Deputado Luiz Fernando, que essa
matéria faz parte do art. 4º e que solicitações dessa natureza deverão ser
aprovadas pelo Plenário da Câmara dos Deputados, ou do Senado Federal, de
suas respectivas Comissões Parlamentares de Inquérito, ou do Tribunal de Contas
da União, por maioria de votos. A regra está definida ou a regra está proposta, digo
melhor.
Admito também que essas requisições possam ser formuladas pelo
Ministério Público Federal, desde que aprovadas previamente pelo Conselho
Superior do Ministério Público Federal.
Quanto ao Poder Judiciário, não. O Poder Judiciário pode requisitar, a
qualquer momento, qualquer tipo de informação, sobre qualquer tipo de
procedimento de fiscalização ou informações de natureza fiscal sobre qualquer
contribuinte.
Infelizmente, e também por causa de sigilo, não posso falar sobre
contribuintes. E não posso falar sobre esse contribuinte, em particular, salvo nas
hipóteses que a lei prevê. E, no caso particular, em relação ao Congresso Nacional,
só no caso de requisição formulada por Comissão Parlamentar de Inquérito,
aprovada por maioria de votos de seus membros, ou pela maioria do Plenário da
Câmara dos Deputados ou do Senado Federal, hipótese sobre a qual, qualquer
pedido de informação é irrecusável.
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De outra forma, o Código Tributário Nacional estabelece como crime
fornecer qualquer tipo de informação sobre contribuintes. Nesse caso tenho uma
oportunidade específica, onde mostro como, num caso muito específico, muito
particular, uma informação obtida sobre o contribuinte, tem interesse estritamente
fiscal. Ela não pode sair do campo fiscal.
Vou-me abstrair do caso, para falar em tese.
Se V.Exa. me indagasse sobre como eu vejo esse tipo ou situações do
gênero — e não me refiro, repito, ao caso particular, por todas as razões que
apresentei, sobre renúncia fiscal —, na minha avaliação, renúncia fiscal sempre
teve um final muito pouco feliz.
Defendo, rigorosamente, a neutralidade de impostos e acho que qualquer
tipo de renúncia fiscal — repito, não me refiro, particularmente, a esse caso, mas a
uma tese — sempre vai terminar com algum tipo de evidências de corrupção ou
constituição de cartório, portanto, com todo o tipo de deformação econômica ou
ambas as coisas.
De minha parte, na minha concepção, não sou favorável a nenhum tipo de
renúncia, particularmente, envolvendo tributação de consumo, que é uma tributação
incidente ao fim, ao cabo, sobre o consumidor. E estamos nos apropriando de
receita do consumidor, para o contribuinte, que, na verdade, tão-somente, recolheu
os impostos.
Infelizmente, lamento não poder prestar uma informação específica sobre o
assunto. Apenas, aproveitei o momento para esclarecer, mais uma vez, sem
constituir nenhuma novidade, a minha posição sobre esse assunto.
O SR. DEPUTADO LUIZ FERNANDO - Eu quero deixar claro que quando fiz
referência à conivência e à omissão, não foi à pessoa do Sr. Secretário, mas à
entidade. Posso não ter sido muito claro.
Mas quero ainda fazer uma pergunta, embora V.Sa. não esteja aqui
convocado. V.Sa. veio apenas prestar informações.
V.Sa. tem ciência desse caso?
O SR. EVERARDO DE ALMEIDA MACIEL - Lamento, mas não posso dar
nenhum tipo de informação que envolva contribuinte. A legislação me impede. O
Código Tributário Nacional, em seu art. 198, me obriga o dever de sigilo, quando
obtenho qualquer informação sobre o contribuinte. Esse, portanto, é um segredo.
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O SR. DEPUTADO LUIZ FERNANDO - O Poder Legislativo, através da
Comissão de Fiscalização Financeira, ou da Comissão Especial do Sistema
Financeiro Nacional, poderá ter esse acesso?
O SR. EVERARDO DE ALMEIDA MACIEL - Não, infelizmente, a legislação
diz que somente por decisão de plenário...
O SR. DEPUTADO LUIZ FERNANDO - Mas isso para o Projeto de Lei
Complementar nº 220 ou para o anterior?
O SR. EVERARDO DE ALMEIDA MACIEL - Não, o anterior. Essa
informação é fiscal. Ela pode ser obtida por decisão do Plenário da Câmara dos
Deputados ou do Senado, ou por maioria de membros de Comissão Parlamentar de
Inquérito, ou pelo Poder Judiciário
O SR. DEPUTADO LUIZ FERNANDO - Ou através do Ministério Público,
que seria...
O SR. EVERARDO DE ALMEIDA MACIEL - Nessa hipótese que
mencionamos.
O SR. DEPUTADO LUIZ FERNANDO - É o melhor caminho, não é?
O SR. EVERARDO DE ALMEIDA MACIEL - Não terei a menor cerimônia de
prestar sobre esse ou qualquer outro contribuinte qualquer outro tipo de
informação, de maneira exaustiva e terminal sobre o assunto. Mas só nas
condições que a lei me permite abrir informações de sigilo. Tanto que, quando a
Comissão Parlamentar de Inquérito me pede a solicitação, o faz da seguinte forma:
"Solicito quebrar o sigilo fiscal..." E, portanto, transferir as informações protegidas
pelo sigilo, para essa Comissão Parlamentar de Inquérito.
O SR. DEPUTADO LUIZ FERNANDO - Pode-se quebrar o sigilo fiscal do
cidadão ou da empresa mas não o da Receita, não é?
O SR. PRESIDENTE (Deputado Danilo de Castro) - Concedo a palavra ao
Deputado Pedro Chaves.
O SR. DEPUTADO PEDRO CHAVES - Sr. Secretário, Sr. Presidente,
inicialmente, queria parabenizá-lo pela explanação e pela presença nesta
Comissão.
V.Sa. falou sobre o acesso do Fisco às contas protegidas pelo sigilo
bancário. Hoje, a Folha de S.Paulo publica uma matéria com a relação de várias
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pessoas físicas e jurídicas, com remessa de volumes bem vultosos para o exterior,
muitas deles sem a devida Declaração de Imposto de Renda.
Gostaria de ouvir a opinião de V.Exa. a respeito disso.
Aprovamos, há dois meses, mais uma vez, a prorrogação da CPMF e
sabemos que o sistema bancário tem todas essas leis que protegem o nosso
famoso sigilo bancário.
Pergunto a V.Sa. qual o grau de confiabilidade da Receita, com relação ao
recolhimento do CPMF? A Receita tem 100% de certeza desse recolhimento feito
através do sistema bancário?
O SR. EVERARDO DE ALMEIDA MACIEL - Deputado Pedro Chaves, em
relação a informações veiculadas por órgão da imprensa de contribuintes que
teriam o CC-5, sem Declaração de Imposto de Renda, eu, sinceramente, não sei
como obtiveram essa informação. Não confirmo, nem desminto a informação. Posso
dizer que não conseguiria compreender como é que essa informação possa ser
verdadeira.
Isso deve ter saído no jornal de ontem.
O SR. DEPUTADO MILTON TEMER - ... remessa na CC-5.
O SR. EVERARDO DE ALMEIDA MACIEL - O jornalista descreve como é
que obteve a informação pela Internet. Não foi a Receita, foi da Procuradoria da
Fazenda Nacional.
Quanto às outras informações, não compreendi a metodologia empregada.
Hoje, discutimos exatamente isso, mas não foi pela Receita, não. O jornalista
declina de maneira clara, de maneira ostensiva, como obteve essas informações.
Sobre a primeira não sei, não vi, nem vem ao caso, nem me interessa saber como.
Não cabe a mim investigar, mas ele disse que obteve essas informações na
Internet, consultando o site da Procuradoria da Fazenda Nacional e não o da
Receita Federal; no da Receita, ele não vai encontrar esse tipo de informação,
sobre se o indivíduo declarou ou não. Essa informação não existe.
Quanto às informações que existem na Receita Federal, que são
disponíveis, tivemos o cuidado, a sutileza até de deixar uma informação sobre o
contribuinte. Pessoa jurídica dizemos assim: trata-se de um contribuinte regular.
Regular, e existe uma definição do que é contribuinte regular. E no outro dizemos:
contribuinte não-regular. Não-regular, não quer dizer, necessariamente, irregular,
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porque ele pode, por exemplo, só para argumentar, estar num processo de
regularização. Um contribuinte foi autuado ou deixou de pagar imposto, por
qualquer razão, está inadimplente com o Fisco e pediu um parcelamento. Eu não
posso dizer que esse contribuinte esteja regular, mas também não posso dizer que
ele esteja irregular, ou seja, não está num pólo, nem noutro. Está num processo de
transição.
Outro exemplo: o contribuinte sofreu uma autuação, um lançamento de ofício
e ingressou com uma ação judicial, na qual se suspendeu a exeqüibilidade do
crédito, e, portanto, o lançamento. Não se pode dizer que esse contribuinte esteja
regular, nem irregular. Quer dizer, são situações de suspensão de exeqüibilidade
de crédito, inclusive, pela via do parcelamento, quando existe uma situação de
transição. Só dizemos que ele está ativo, regular, mas, somente, em relação a
pessoas jurídicas, não em relação a pessoas físicas.
Não tenha a menor dúvida, Deputado. Agora vou fugir do fato e falar em
tese. Eu não tenho a menor sombra de dúvida, tenho certeza absoluta, para dizer o
mínimo, de que pesquisando entre aqueles contribuintes, vou encontrar alguns que
não apresentaram declaração. Eu tenho certeza absoluta disso, pela minha própria
experiência. É claro que há uma coleção invejável de laranjas, e vamos
encontrá-los sem a menor dificuldade.
É, por isso, exatamente, que aprecio e apreciarei muito ter acesso a essas
informações ditas "protegidas do sigilo bancário".
Não constitui, repito, nenhuma acusação afirmar que uma pessoa que tenha
remetido por uma conta CC-5 seja um sonegador. Não é isso. Não quer dizer nada
disso, muito menos que tenha conta no exterior. Também não é nada disso.
O que estou apontando como um fato é que pode haver evidência de que a
pessoa esteja numa situação irregular. Para isso, só há um jeito de saber:
confrontando. Não há outra maneira.
Quanto à CPMF, vou dar duas informações. Uma V.Exa. não pediu, e a
outra, exatamente a que V.Exa. solicitou.
Quando discutimos a aprovação da lei que regulamentou a CPMF, no projeto
original, quando se tratava ainda do IPMF — falo de vários anos atrás —,
impediu-se à Receita o acesso às informações ditas protegidas por sigilo bancário
para fiscalizar o IPMF. Não é outra coisa não; era uma situação kafkiana. Quer
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dizer, a Receita é responsável pela fiscalização, só não pode olhar, olhar o próprio
imposto, não é o de terceiro, não.
Conseguimos, o que hoje pode parecer uma coisa pífia, mas foi um
progresso excepcional, quando da regulamentação da CPMF, dizer: não, ele pode
fiscalizar e deve ter acesso às informações protegidas pela CPMF. Entretanto,
quero dizer que essa parte final pode parecer pífia, mas, na verdade, foi um
progresso muito grande em relação ao que existia dizer que a Receita não pode
fazer uso dessa informação para lançamento de outros tributos, hipótese em que o
uso da informação seria considerado prova ilícita. Isso, hoje, visto aqui, como vejo e
presumo como muita gente, é uma coisa pífia, verdadeiramente pífia, mas muito
melhor do que o que se tinha, foi um passo dado adiante, avançamos, não era
muito bom.
Estou dando essa informação sobre a fiscalização da CPMF. Pois bem, na
fiscalização da CPMF, estamos investigando. Temos investigações não concluídas,
são investigações complexas. Isso, dizem alguns, até desmonta mitos, mas, para
mim, não desmonta mitos, não, porque tenho uma visão realista disso, de que
existem impostos insonegáveis. Não. Nada na vida é insonegável; nada é
absolutamente resistente a todo o tipo de fraude, CPMF inclusive. É possível? É.
Estamos investigando, não temos elementos conclusivos sobre as investigações
que estamos realizando sobre a CPMF, que só foi possível em virtude dessa norma
que hoje é apontada por mim mesmo inclusive. Mas estamos aqui tentando fazer
um enquadramento histórico da informação, como pífia, que se tornou possível em
virtude disso. Então, estamos investigando. Posso dizer a V.Exa. que existem
dados concretos que nos foram fornecidos por um informante anônimo e têm sido
muito úteis essas informações.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Danilo de Castro) - Com a palavra o
Deputado Ricardo Berzoini.
O SR. DEPUTADO RICARDO BERZOINI - Sr. Presidente, Sr. Relator, Sr.
Secretário, acho que este debate sobre o sigilo bancário que já vimos realizando na
Comissão de Finanças e Tributação é da maior importância. Gostaria de lembrar
que na tramitação da CPMF, no começo desta Legislatura, a bancada do PT propôs
uma emenda que previa a disponibilidade de todas as informações sobre
arrecadação de CPMF e movimentação financeira, para a Receita Federal poder
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fiscalizar de fato. E, curiosamente, a bancada que dá sustentação do Governo, da
qual V.Sa. faz parte, votou contra, e os Deputados de Oposição votaram a favor. É
importante lembrar as contradições, porque parece que estamos discutindo apenas
em tese. Na verdade, há uma trajetória de deliberações do Congresso Nacional, na
qual a própria base do Governo vota contra os instrumentos para que a Receita
possa operar para fiscalizar a arrecadação, em relação a CPMF ou em relação a
qualquer outro tributo.
Quantas solicitações de quebra de sigilo bancário a Receita faz, em média,
por ano ou fez nos últimos anos? Quais são os dados para apurar casos de fraude
fiscal ou de supostas fraudes fiscais? Qual tem sido esse relacionamento entre a
Receita e o Judiciário? Tem havido casos significativos do ponto de vista
quantitativo ou qualitativo de a Justiça negar a quebra do sigilo bancário à Receita
Federal?
V.Sa. falou que, no caso das contas CC-5, tem certeza de que vai encontrar
muitos laranjas. Gostaria de saber se tem certeza, porque essa apuração não foi
feita antes. Ou seja, porque não houve investigação, inclusive pedindo a quebra do
sigilo bancário desse tipo de conta, com a finalidade, com essa certeza e com esse
indício tão forte de que se possa ter feito uma investigação, para evitar que o
contribuinte honesto fique a cada dia com mais raiva de si mesmo. Numa hora,
ficamos sabemos que os 66 maiores bancos do País não pagam o Imposto de
Renda, aproveitam brechas na Legislação, e o Governo não propõe mudanças na
legislação para realizar esse tipo de arrecadação. E, depois, ficamos sabendo que
entre boa parte dos que remetem dinheiro para o exterior, via contas CC-5, vários
deles não declaram imposto de renda. Evidentemente que a informação ainda tem
de ser confirmada. Mas por que não houve uma fiscalização, uma apuração mais
rigorosa em relação a essa questão?
O SR. EVERARDO DE ALMEIDA MACIEL - Pois, não, Deputado. V.Exa. me
permite esclarecer uma série de pontos. Evidentemente que se V.Exa. indagasse
se deveríamos incluir fiscalização de CPMF com acesso à informação da Receita,
naturalmente que meu ponto de vista seria absolutamente favorável. Só que esse
projeto de lei complementar é muito mais abrangente, muito mais eficaz do que
isso, que é apenas tratar de um imposto com um tipo de informação. Ele faz muito
mais do que isso.
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O Projeto de Lei Complementar nº 220 — não conheço a tramitação em
relação às regras regimentais desta Casa, não sei se é necessário, se pode ser
levado diretamente ao Plenário ou deve ser precedido de votação nesta Comissão
—, pretende, de uma forma ou de outra, tão-somente agilizar o procedimento de
aprovação dessa norma na Câmara dos Deputados, dado que já foi aprovado no
Senado. Ele é muito mais abrangente do que isso.
A informação dita protegida da CPMF é um dado, é uma informação
importante, sem a menor sombra de dúvida. Mas tão importante quanto isso é a
informação relacionada com cartões de créditos, informações ligadas a factoring e
outras informações de natureza bancária. Esse Projeto nº 220, como mencionei,
guarda enorme consistência e sua apresentação, tecnicamente, é de excelente
qualidade, porque aborda todos esses pontos. Portanto, é a preferência por um
instrumento mais poderoso e mais eficaz, sem rejeitar, obviamente, a outra parte,
até para manter coerência com tudo que falo, dizer que esse aqui é mais eficaz.
Quanto ao que V.Exa. menciona sobre solicitações de informações ao
Judiciário, é muito complexo para nós, Deputado, esse tipo de solicitação. A
Receita não fala diretamente com o Judiciário. Ela tem de usar o braço da
Advocacia Geral da União, por intermédio da Procuradoria da Fazenda Nacional. A
Receita não fala em processo. Existe um caminho bastante sinuoso, bastante
trabalhoso e, depois — aí é um equívoco de concepção nacional —, presume-se
que fiscalizo alguém porque encontrei indício de fraude. Não, isso não é
verdadeiro, fiscalização não é isso. Fiscalização se faz por amostragem, quando se
determina também, não apenas. Quer dizer, alguém pergunta: "Por que o senhor
escolheu 5% desse tipo de contribuinte para fazer uma fiscalização?" Por
amostragem, nem uma outra razão que não a amostragem. Quer dizer, fiscalizar
não é presunção de fraude, não, Não comparando, nem estabelecendo nem um tipo
de privilégio, não é da natureza da fiscalização fiscal policiar. A investigação
policial é de outra natureza. Então, há uma certa confusão de conceitos entre um
tipo de investigação policial e um trabalho de fiscalização da Receita, que é de
outra natureza. Eu posso eleger o seguinte: quero conhecer o que está
acontecendo em relação a determinado setor, ou em relação a determinado tipo de
renda, ou em relação a determinado tipo de aplicação, e posso tomar uma
amostragem científica para fazer investigação daquilo, até mesmo para servir como
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subsídio para que eu possa identificar fraudes. Isso não é presunção de que exista
nada de irregular, nem nada de ilegal. Quer dizer, há uma concepção que entendo
muito atrasada de pensar-se em fiscalização como instrumento policial.
Verdadeiramente, não é isso. Então, quando vamos fazer investigação perguntam:
"Quais foram os indícios de fraude?" Eu digo: nenhum. "Mas por que o senhor está
fiscalizando?" Porque estou fazendo amostragem. Então, é algo que não é muito
compreensível. Então, quando V.Exa. pergunta: "Existem situações...?" Eu não
saberia responder de plano quantas e em que número são feitas; eu diria: poucas,
até pelo trabalho sinuoso. E devo dizer que há situações em que se concede a
autorização e há situações em que não, mas não seria capaz de precisar a V.Exa.,
dizendo efetivamente quantas "sim", quantas "não".
Quanto à CC-5. Esse é exatamente um exemplo típico. Eu não poderia ter
acesso pedindo a um Juiz, porque ele iria perguntar: "Qual é o elemento que V.Exa.
encontrou de fraude para fazer investigação?" Eu diria: nenhum, eu estou
simplesmente querendo saber se existe. Ou seja, nós nos metemos, mais uma vez,
numa situação kafkiana. Quero investigar, não estou afirmando. Não há nenhuma
presunção de que exista fraude. Quero investigar se há ou não.
O SR. DEPUTADO MILTON TEMER - As contas CC-5 o Banco Central pode
informar.
O SR. EVERARDO DE ALMEIDA MACIEL - Se V.Exa me permite, informar
quem está remetendo, não é presunção de fraude fiscal. O Banco Central sempre
iria alegar de que aquelas informações — são contas correntes, enfim — estão
protegidas por sigilo bancário.
Não que exista falta de disposição por parte do funcionário, da autoridade do
Banco Central, para prestar essas informações. O fato é que, mais uma vez, de
forma recorrente, é alegado sigilo bancário para que eu não tenha acesso a essa
informação. V.Exa. deu um ótimo exemplo para ilustrar a situação. Não estou
preocupado com qualquer caso particular, mas com o conjunto. A minha presunção
é abstrata, não é concreta. Não tenho dados concretos para dizer que o cidadão
"X" ou "Y" fez uma remessa, que não é ilegal, diga-se de passagem, mas está
agora vinculada à sonegação fiscal. Pode estar ou não.
Se recebo a informação de que alguém fez remessa de alguns milhões de
reais, ou o seu equivalente em dólar, ao olhar a declaração de renda dessa pessoa
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e não encontrar suporte para ela, parece-me razoável que eu a pergunte se tem
alguma boa explicação para isso, qualquer que seja. A partir daí, será feita
averiguação de natureza fiscal.
Posso estar profundamente equivocado, mas surpreende-me — peço
desculpas pela presunção —, pois parece-me algo tão óbvio, tão lógico, que não
consigo ver como poderia ser diferente. Foi dada à Receita Federal a
responsabilidade de fiscalizar o IPMF sem poder olhá-lo. Acredito que os nossos
pósteros vão julgar essa responsabilidade que foi dada muito estranha. Foi dada a
responsabilidade, mas não se ofereceu meio algum para que se pudesse cumprir o
seu objetivo.
Com relação à CPMF, a situação é menos ruim. Conseguimos pelo menos a
possibilidade de examiná-la. Ainda que olhemos e identifiquemos um espaço
enorme de situações em que não são cobrados impostos. Poderíamos ter ido muito
mais longe. Não podemos dizer, e aí estaremos cumprindo rigorosamente a lei, que
não iremos fazer uso daquela informação para fazer lançamento de qualquer outro
tributo.
Aproveito a oportunidade para repetir mais uma vez que não procede a
informação que foi dita que a Receita Federal constatou que dos 100 maiores
contribuintes da CPMF, 48 não haviam apresentado declaração de Imposto de
Renda. Essa informação foi dita em relação ao IPMF, em 1993. Portanto, não se
trata da CPMF, nós não dissemos isso. Não iríamos agir assim, para não
descumprirmos o que está estabelecido na lei que ajudamos a aprovar.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Danilo de Castro) - Concedo a palavra ao
Deputado Luiz Carlos Hauly.
O SR. DEPUTADO LUIZ CARLOS HAULY - Só pela ordem, Sr. Presidente.
Gostaria de esclarecer aos membros da Comissão sobre a tramitação do projeto. O
projeto já foi aprovado na Comissão de Finanças e Tributação, com emendas. No
momento está na Comissão do Sistema Financeiro Nacional. Pergunto: o Relator
será o Deputado Edinho Bez. Essa afirmação está correta?
O SR. PRESIDENTE (Deputado Danilo de Castro) - Correta.
O SR. DEPUTADO LUIZ CARLOS HAULY - Segunda pergunta: se os
Líderes avocarem o projeto com regime de urgência para o Plenário, o parecer
poderia ser exarado em Plenário?
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Danilo de Castro) - Sim, pode.
O SR. DEPUTADO LUIZ CARLOS HAULY - Obrigado pelo esclarecimento.
O SR. PRESIDENTE (Danilo de Castro) - Na qualidade de Líder, concedo a
palavra ao Deputado José Genoíno.
O SR. DEPUTADO JOSÉ GENOÍNO - Sr. Presidente, minha presença nesta
Comissão Especial tem o objetivo de discutir questões políticas, já que somos uma
Casa política. Desde o depoimento técnico, competente e corajoso do Dr. Everardo
Maciel, na CPI dos Bancos, fui recuperar na memória da Casa fatos relacionados a
esta questão.
Tenho em mão alguns dados e gostaria de perguntar a V.Exa sobre alguns
itens, como a evasão, as mutretas de que o sistema financeiro se beneficia e
avaliar as posições, ao longo do processo, inclusive sobre a famosa Lei nº 8.200,
que foi votada na reta final que batizei de "projetos jacarés", que ficam esperando a
hora certa para abocanhar.
A Receita possui as propostas e os dados da CPI da Evasão Fiscal, cujo
Relator foi o ex-Senador Fernando Henrique Cardoso, depois substituído pelo
ex-Senador Jutahy Magalhães? Nesse relatório, de três volumes, existem muitas
constatações e diagnósticos semelhantes aos que o Secretário da Receita Federal
fez na CPI dos Bancos. Considerando que houve depoimentos de técnicos da
Receita naquela época, que há opiniões do ex-Senador Fernando Henrique
Cardoso, que agora é Presidente da República e, como Relator da CPI da Evasão
Fiscal, conhecia o assunto, além de o Dr. Everardo Maciel fazer parte do Governo
desde 1995, pergunto, até para que possamos discutir essas questões no
Congresso, pois não faltou conhecimento, não faltaram dados: o que existiu, com
relação à falta de vontade política, dentro do Governo ou na Receita sobre esta
questão? Na época o então Relator dizia que o problema da evasão fiscal,
particularmente relacionado com o sistema financeiro, era a falta de vontade
política e que havia necessidade de aparelhar a Receita Federal. Esse é um
importante material que o Senado produziu.
Dr. Everardo Maciel, sobre essa questão do sigilo, trouxe um voto em
separado que a bancada do PT apresentou em abril de 1995. Esse voto em
separado refere-se ao seguinte texto da Emenda Constitucional:
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Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal
e serão graduados, segundo a capacidade econômica do
contribuinte, sendo facultada a fiscalização tributária e
previdenciária, nos termos da lei.
A requisição e acesso a informações sobre o patrimônio,
os rendimentos, as operações financeiras e bancárias dos
contribuintes, fazendo-a responsável civil, criminal e
administrativamente pela garantia do sigilo dos dados que
obtiver, atendido o disposto no art. 5º, inciso XII.
Esse dispositivo estava na Emenda Constitucional do Governo, na reforma
da Previdência. Os Relatores da Comissão de Constituição e Justiça e de Redação,
da base do Governo, retiraram esse dispositivo. A bancada do PT apresentou voto
em separado, estou com ele aqui e o entregarei a V.Exa. Esse voto só teve os
votos da bancada do PT, na Comissão de Constituição e Justiça e de Redação, em
abril de 1995.
Pesquisei os arquivos da famosa sessão do Congresso Nacional, de 27 de
junho de 1991. Estávamos às vésperas do recesso, a LDO segurou o processo, e a
famosa Lei nº 477-B foi mudada para Lei nº 8.200. Essa lei foi votada no Congresso
Nacional. Trouxe para V.Sa. vários encaminhamentos com a posição do PT. Na
época, eu exercia a Liderança do PT e encaminhamos no sentido de que o projeto
ficaria melhor na sua versão original, conforme veio do Executivo e que em torno da
matéria, estavam se agregando vários interesses, movidos por motivos e razões
diferentes. Encaminhamos, por isso, contra.
A emenda, Dr. Everardo Maciel, contra a qual nos encaminhamos, foi
exatamente a que produziu aquele rombo, segundo palavras de V.Exa. Naquela
sessão do Congresso, encaminhamos contra. À época, representava o PT o
ex-Deputado Wladmir Palmeira; o PCdoB, a Deputada Jandira Feghali. Todos
encaminharam contra o Projeto de Lei nº 4.777-B, que mudou para o nº 8.200. A
matéria não passou por aqui em brancas nuvens, mas com intenso debate,
conforme atestam as atas do Congresso Nacional.
Finalmente, como fazemos denúncias, mas também propostas, o Deputado
Milton Temer apresentou alguns projetos de lei, em nome da bancada do PT —
tenho o número deles aqui —, sobre a questão do sistema financeiro. Pergunto:
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Qual é sua opinião sobre o Projeto nº 4.778/98, que acaba com a isenção de
aplicações financeiras do investidor estrangeiro?
Qual a opinião de V.Exa a respeito do Projeto de Lei nº 4.775/98, que
determina a cobrança de Imposto de Renda sobre aplicações financeiras em renda
variável, no caso, bolsa de valores?
Em um desses projetos, quando se discutiu o Pacote 51, V.Exa
manifestou-se favoravelmente. Houve inclusive um episódio com o Relator, se não
me engano, o Deputado Roberto Brant. Naquele momento, parece-me que V.Exa
correu algum risco. Pelo menos os jornais noticiaram demissão do Governo, em
razão dessa questão.
Considerando, Dr. Everardo Maciel, que estou de posse das atas que tratam
da evasão fiscal — o Relator foi o então ex-Senador Fernando Henrique Cardoso
— do Projeto nº 8.200, sobre sigilo bancário, da nossa bancada, e mais esses dois
de autoria do Deputado Milton Temer, devo dizer que trabalhamos intensamente em
torno dessa matéria e gostaria de saber qual sua opinião a respeito desses
problemas.
Deve-se levar em conta que existe uma memória no Congresso Nacional.
Aqui estão registradas posições, votos e encaminhamentos sobre algumas
questões que V.Exa expôs com muita competência, na CPI dos Bancos, e agora
está descrevendo tecnicamente. Com base nesses registros, pergunto-lhe o que
está havendo. É falta de vontade, são interesses contrariados, são interesses
poderosos? Queremos saber se desta vez será possível enfrentarmos o problema
da taxação do sistema financeiro, do sigilo bancário e fiscal, sobre o qual há
proposta antiga na Comissão de Constituição e Justiça e de Redação. Também
consta das atas do Congresso Nacional a Lei n º 8.200.
Sinto-me no dever de falar sobre tudo isso nesta Comissão. Sinceramente, já
tive oportunidade de conversar com V.Exa, no seu gabinete, sobre essa
problemática. Considero-o tecnicamente capaz e correto. Por essa razão, voltei-me
para a memória do Congresso, e busquei esses documentos. Não se trata de
assunto novo.
Gostaria de ouvir a opinião de V.Exa sobre essas questões políticas. O que
existe? Falta de vontade, de interesse? O que nos impede, com essa experiência
acumulada, de enfrentar esses obstáculos
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Certamente, V.Exa também tem o mesmo material que trago em mãos. Se
não o tiver, posso entregar-lhe. São documentos que mostram a posição da
bancada do PT ao longo da história. Eles mostram as facilidades que permitem que
o setor mais rico deste País não pague imposto, fazendo com que ele recaia
principalmente sobre os assalariados, a classe média e o setor produtivo.
Sinto-me na obrigação de fazer esse esclarecimento, até porque tenho dever
com a memória do Congresso Nacional, onde estou há dezesseis anos.
Muito obrigado.
O SR. EVERARDO DE ALMEIDA MACIEL - V.Exa, com extraordinária
proficiência, mergulha em matéria que domina com muito mais competência do que
eu. Refiro-me à matéria política.
Aborda V.Exa, com reconhecida competência, matéria contida na memória
do Congresso, quando, de um lado, não estava na Casa; de outro, no Governo.
Reporto-me primeiramente à Lei nº 8.200. Não tenho elementos para fazer
avaliação, integrá-la ao Governo, muito menos ao Congresso, para que avalie as
razões que motivaram a elaboração da Lei nº 8.200. Sequer faço juízo de valor
sobre essas razões. A Lei nº 8.200 estabeleceu, para fins de correção monetária, o
balanço das empresas, os chamados expurgos de inflação que ocorreram em
virtude da edição de vários planos de estabilização econômica.
Se me perguntassem minha opinião política, obviamente, discordaria
integralmente. Se tivesse de opinar sobre isso, também teria de fazê-lo em relação
a salários, a aplicações financeiras, ao FGTS, às dívidas tributárias etc. Nada que
possa parecer tão destorcido quanto uma correção destorcida de uma injustiça. Foi
exatamente isso que aconteceu.
Objetivamente, essa lei, de junho de 1991, produziu impacto na arrecadação
de 12 bilhões de dólares, dos quais 3,5 bilhões dólares alcançaram os contribuintes
do sistema financeiro. Esses são os fatos. Não faço juízo de valor, estou apenas,
de maneira fática, apontando o resultado da medida. Não havia mais o que fazer,
uma vez aprovada a lei, constituiu direito e estava encerrado o assunto.
Lembro-me que, em relação a isso, existiram algumas decisões judiciais.
Repito: essa foi uma das leis que produziu um dos maiores danos ao erário público
brasileiro. Estamos falando de 12 bilhões de dólares. É uma quantia
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impressionante. Mostra também os equívocos e vários erros na condução da
política econômica nesses planos de estabilização que já ocorreram.
Conheço o assunto porque compulsei documento que me foi entregue pelo
ex-Senador João Calmon, que presidiu a Comissão do Senado Federal sobre a
evasão fiscal. O documento tem vários depoimentos sobre diversos assuntos:
melhor aparelhamento da administração tributária no plano nacional para realizar
sua missão e uma série de questões já corrigidas.
Apontamos na CPI dos Bancos no Senado Federal a questão da injustiça
tributária, ainda que centrados na questão das instituições financeiras. Gostaria de
mostrar que essa injustiça se opera, essencialmente, pelo lado da elisão. Por esse
lado, não é fácil de ser combatida. Vou citar exemplos de coisas que foram feitas. O
Congresso Nacional eliminou, em 1995, em projeto de lei encaminhado no dia 31
de agosto de 1995 e sancionado como lei em dezembro de 1995, o maior
instrumento de elisão fiscal deste País: a correção monetária.
Apesar disso, a Lei nº 8.200 fez com que alguns grandes contribuintes
tivessem, durante esse período, dobrado seu patrimônio líquido, sem ter recolhido
um centavo de imposto. Os efeitos da Lei nº 8.200 operaram-se até o ano passado.
Havia efeitos que iam se operando em virtude das próprias regras de compensação
desses resultados no curso dos anos subseqüentes. A correção monetária foi
eliminada.
De acordo com meu ponto de vista, uma decisão sobre política econômica é
complexa. Retrato e expresso o meu ponto de vista como administração tributária e
por ele respondo, não pela decisão complexa que envolve outras variáveis.
No projeto de lei encaminhado ao Congresso Nacional em 1995 — portanto,
falo de algo ocorrido há muito tempo — eliminou-se a correção monetária para fins
fiscais e societários. Nele também estavam contidos projetos que estabeleciam
tratamento equânime entre residentes e não residentes, entre os fundos de renda
fixa e os de renda variável.
Socorrendo-me da inquestionável memória de V.Exa, Deputado José
Genoíno, o projeto de lei encaminhado apresentava — não conheço
especificamente ou minuciosamente os projetos do Deputado Milton Temer — a
mesma tese.
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Propúnhamos, interpretando nosso ponto de vista sobre o assunto, que não
é novo, a neutralidade, dentro do possível, do sistema tributário. Qualquer tipo de
orientação ou condução que signifique retirar totalmente a neutralidade do sistema
tributário, como a experiência me ensinou, será desastrada em algum momento.
Compreendo até que a falta de melhor construção de políticas públicas faça
com que eu admita a existência de alguns usos extrafiscais de sistemas tributários.
Entretanto, sem a menor sombra de dúvida, a melhor forma — e asseguro que será
a do futuro — será aquela montada sobre a neutralidade.
Faz-se enorme esforço para acabar com isso. A exemplo da provisão para
devedores duvidosos, não se conseguiu fazer nada para alterar o que existia até
1994. Entretanto, ela repercutiu sobre o desempenho arrecadatório do sistema
financeiro. Conseguimos eliminá-la em 1996. Não tínhamos a tributação em bases
mundiais de hoje, mas há efeitos que aconteceram durante todos esse anos.
Porém, essa tributação só aconteceu a partir de 1996. Também não tínhamos preço
de transferência, que é um instrumento poderoso de elisão fiscal, cujos efeitos
repercutem até hoje; mas só conseguimos introduzi-lo na legislação em 1997,
porque sequer tínhamos uma cultura tributária para tratar dessas questões.
Se V.Exa. compulsar dados sobre evasão fiscal, não verá referência à Lei nº
8.200, à provisão para devedores duvidosos, à necessidade de se estabelecer a
neutralidade do sistema tributário, à eliminação da correção monetária para fins
fiscais e societários ou à existência de preço de transferência.
Em 1995, quando levantei em conversas técnicas dentro do meu ambiente a
questão do preço de transferência, posso dizer que meia dúzia de pessoas
conheciam o conceito. Então, para introduzir isso na legislação, tivemos que
estudar o assunto e aprendê-lo. Após o aprendizado, tivemos de formar quadros e
depois fazer a fiscalização. Só com a adoção desse conceito em 166 empresas que
fizeram ajustes no seu lucro tributável em virtude do preço de transferência, houve
aumento de arrecadação de 20%. Observe que 850 outras empresas que não
fizeram o ajuste, a despeito de estarem alcançadas pelo instituto do preço de
transferência, estão por isso mesmo sob fiscalização.
Não foi sem surpresa que há um mês houve declarações atribuídas a
escritórios de planejamento fiscal no sentido de que supunham eles que a lei não
iria pegar. Portanto, não estavam preparados para enfrentar o assunto.
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Cito esses aspectos para dizer a V.Exa. que muitas coisas foram feitas, mas
ainda há muito por fazer. E V.Exa. sabe melhor do que eu que, para fazer essas
coisas, enfrentamos resistências abertas e tal. Há resistências que decorrem de
convicções pragmáticas e aquelas outras que são ditadas até por convicções
ideológicas.
Cito, particularmente, para atingir o último assunto, a questão do sigilo
bancário. Não estamos propondo quebrar o sigilo bancário de ninguém. Um pouco
da intervenção que fiz foi para mostrar o seguinte: a indispensabilidade de acesso
do Fisco às informações protegidas por sigilo bancário. É uma coisa completamente
diferente. Quando o Fisco obtiver essas informações, elas devem estar revestidas
também de sigilo fiscal.
O projeto de lei complementar, que presumo seja aprovado por unanimidade
no Senado, será a fórmula de construção tecnicamente adequada para tratar do
sigilo bancário.
Existe, como já foi dito pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso e
também pelas Lideranças do Governo neste Congresso Nacional, a disposição de
aprovar o projeto de sigilo bancário o mais rápido possível. Temos uma rara
oportunidade de convergência de posições e de pontos de vista políticos. Estou
certo de que V.Exa., em virtude de tudo isso, vai-se reunir ao esforço do Governo
para fazer aprovar o Projeto de Lei Complementar nº 220, com a tramitação mais
rápida possível.
O SR. DEPUTADO JOSÉ GENOÍNO - É que no passado, Dr. Everardo
Maciel, ficamos isolados, particularmente na questão do sigilo bancário e fiscal.
O SR. EVERARDO DE ALMEIDA MACIEL -Torcerei para que ocorra essa
convergência histórica.
O SR. DEPUTADO JOSÉ GENOÍNO - Haverá o empenho de V.Exa. então?
O SR. EVERARDO DE ALMEIDA MACIEL - Não tenha a menor dúvida.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Danilo de Castro) - Concedo a palavra ao
Deputado José Pimentel.
O SR. DEPUTADO JOSÉ PIMENTEL - Sr. Presidente, Sr. Relator, Sras. e
Srs. Deputados, Dr. Everardo Maciel, quando votamos a reforma administrativa,
ficou determinado que teríamos algumas carreiras exclusivas de Estado e isso
deveria ser objeto de regulamentação por lei complementar para aqueles que estão
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no serviço público hoje e, por lei ordinária, para aqueles que viessem a ingressar
no mercado de trabalho após a reforma administrativa.
O Executivo encaminhou os dois projetos, o de nº 248/98, que trata daqueles
que já estão no mercado de trabalho no serviço público, e o de nº 4.811, que
disciplina a matéria para aqueles que irão ingressar no mercado de trabalho.
Indago: na Receita Federal, segundo a avaliação de V.Exa., há alguma
atividade exclusiva de Estado, assim como no Banco Central, já que esses dois
projetos de lei não fazem referência a nenhum serviço da Receita Federal e do
Banco Central como carreiras exclusivas de Estado?
Nas várias solicitações que a Receita Federal tem feito ao Poder Judiciário
para a flexibilização ou quebra de sigilo bancário, para fins de investigação, já
houve algum indeferimento durante a gestão de V.Exa.? Se houve, seria possível
quantificá-los?
Sabemos que, através das Contas CC-5, pelas mais variadas formas, há
remessas de recursos para o exterior, desde os legalmente conquistados,
adquiridos ou acumulados, como também para lavagem de dinheiro, entre outros
mecanismos. Indago a V.Exa. se há algum procedimento da Receita Federal de
investigação nessas Contas CC-5, a exemplo do que está fazendo o Procurador
Celso Antônio, do Paraná? Se essa iniciativa partisse da Receita Federal, pela
qualidade e especialização dos seus profissionais, segundo nossa avaliação, não
haveria muito mais êxito? Houve qualquer dificuldade perante o Poder Judiciário na
condução desse procedimento? Porventura foi feito qualquer início de processo de
investigação nas CC-5?
O SR. EVERARDO DE ALMEIDA MACIEL - Pois não, Deputado José
Pimentel. Repondo as indagações de V.Exa. dizendo que — e vou-me limitar a falar
sobre o funcionário que é fiscal —, entendo claramente que o funcionário fiscal está
inserido obviamente numa carreira exclusiva de Estado, porque ele não exerce
poderes próprios, tampouco o faz de forma que não seja exclusivamente do Estado.
Ele é o Estado representado ali. Parece-me ser de uma obviedade contundente.
Passei a vida inteira dizendo que não era funcionário autônomo, mas sim do
Estado, porque só em seu nome agia e só dessa forma poderia agir. Não poderia,
portanto, pensar de outra forma agora e dizer que, depois disso, não se trata de
uma carreira exclusiva de Estado.
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Devo dizer que, na verdade, foi aprovado, segundo assim compreendi,
substitutivo do Deputado Luciano Castro, que corrige esses aspectos. Então, os
funcionários fiscais estariam admitidos exatamente no conjunto de carreiras
exclusivas do Estado. A minha expectativa é que esse projeto seja efetivamente
aprovado. Não consigo sequer imaginar algo diferente. Portanto, respondo a V.Exa.
não só sob meu ponto de vista, mas fornecendo também a informação de progresso
da tese.
Quanto às duas outras questões, Deputado José Pimentel, na verdade o
Deputado Ricardo Berzoini já as havia feito, inclusive em relação à questão do
Poder Judiciário; portanto, peço licença para ser mais breve na resposta e dizer
que não tenho elementos para informar-lhe sobre as ocasiões em que a Receita
Federal se valeu do Poder Judiciário. Mostrei a forma sinuosa pela qual a Receita
obtém essa informação junto ao Poder Judiciário e quantas vezes já foram
recusadas.
Quanto à investigação de CC-5 é a mesma coisa. Eu disse que a
investigação fiscal não tem que estar fundada em elementos de fraude. Ela pode ter
um aspecto investigativo por amostragem; nesse caso não obtemos as
informações. Já fizemos alguma investigação de CC-5? Sim, poucas. Todas elas
em virtude de solicitação, de requisição do Ministério Público. Algumas delas em
relação às contas — não estou seguro, mas foi já na minha administração — de
1992 a 1993. Espero estar recebendo, em algum momento, já como foi decidido na
CPI dos Bancos do Senado, Federal, os dados das contas CC-5. Acho que vamos
ter muito trabalho.
O SR. DEPUTADO JOSÉ PIMENTEL - Sr. Presidente, a Comissão de
Trabalho, Administração e Serviço Público, depois de longa luta, que passou pela
convocação extraordinária, e por maioria de votos, conseguiu incluir os técnicos e
os fiscais da Receita Federal no Projeto de Lei nº 248, mas ficaram de fora os
funcionários do Banco Central. Para nós, são tão importantes essas atividades,
como uso exclusivo do Estado, que é impossível ter um Banco Central privado
cuidando dessa matéria. Entretanto, na semana seguinte, quando deveríamos votar
o PL nº 4.811/98, cujo Relator é o Deputado Jovair Arantes, não o votamos e, no
mesmo dia, a CCJ quis votar o original da maneira que veio. Se não fosse a ação
precisa dos Deputados do Partido dos Trabalhadores pedindo vista, ele teria sido
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aprovado urgentemente, como veio da Casa Civil. Só para ficarmos atentos às
coisas dos corredores do Congresso Nacional.
O SR. DEPUTADO RICARDO FIUZA - Sr. Presidente, peço a palavra pela
ordem.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Danilo de Castro) - Tem V.Exa. a palavra.
O SR. DEPUTADO RICARDO FIUZA - O nobre colega tem todo direito de
enfatizar o talento e a competência do Partido dos Trabalhadores, mas não tem o
direito de dizer que se não fora a bancada do Partido dos Trabalhadores, o projeto
teria sido aprovado como estava. S.Exa. equivocou-se nessa afirmativa. Eu estava
presente na ocasião. Eu havia dito aos funcionários do Banco Central que o projeto
não seria aprovado daquela forma, porque já havia conversado com o meu Líder.
Portanto, o PFL não aprovaria o projeto daquela forma.
Fui um dos que — não sou do PT, mas admiro vários companheiros desse
partido — fizeram com que o projeto saísse de pauta. Além do mais, apenas para
que fique registrado, para que não se faça injustiça a sérios companheiros de
vários partidos, disse que era preciso que se distinguisse o que seria funcionário de
Banco Central, porque o que havia no projeto era um trem da alegria. Não diria
funções típicas de Estado para os auditores fiscais etc. Eram todos. Apenas
perguntei à Comissão se o jardineiro, o motorista, o zelador e o consertador da
bomba do porão eram funcionários de carreira típica do Estado do Banco Central.
Essa foi a única dificuldade. Não passou pela cabeça de pessoa alguma de bom
senso da Comissão de Constituição e Justiça e de Redação tirar os funcionários
do Banco Central. Eu seria o primeiro a não votar o projeto e a embananá-lo nesta
Casa.
Apenas faço esse esclarecimento. Peço vênia ao nobre colega. Não
pretendo nem de longe desdizê-lo. Apenas houve um pouco de emoção nessa
afirmativa.
O SR. DEPUTADO JOSÉ PIMENTEL - Sr. Presidente, gostaria de registrar
os fatos como aconteceram. Esse projeto estava na pauta da Comissão de
Trabalho, Administração e Serviço Público. Refiro-me ao PL nº 4.811/98. Ele não
foi votado porque foi derrubada a sessão. No dia seguinte, apareceu na Comissão
de Constituição e Justiça e de Redação — regimentalmente poderia aparecer,
ÇNome: COMISSÃO ESPECIAL - SISTEMA FINANCEIRO NACIONALNúmero: 0460/99 Data: 08/06/99
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porque tem urgência urgentíssima — na qual atuamos junto com outros
Deputados.
O SR. DEPUTADO RICARDO FIUZA - Agora, a coisa está mais perfeita. O
PT atuou e outros também. Perfeito.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Danilo de Castro) - Já julgamos necessárias
as suas explicações.
Concedo a palavra ao nobre Deputado Coriolano Sales.
O SR. DEPUTADO CORIOLANO SALES - Sr. Presidente, Sr. Relator,
gostaria, inicialmente, de parabenizar o Secretário, não pela coragem, mas pelo
dever na CPI do Senado Federal. Acho que foi um momento alto, importante dessa
CPI. As declarações prestadas, embora tenham estarrecido a sociedade brasileira,
se, de um lado, geraram um pensamento positivo, em relação à pessoa do
Secretário, também demonstraram, por outro lado, que há muitas facilidades, seja
por parte do Banco Central do Brasil seja pelo sistema de fiscalização que temos
hoje no País. De qualquer forma, quero registrar que considero sua passagem ali
extremamente positiva.
Queria também, nessa linha, saber se S.Exa. tem alguma estimativa do
volume de recursos que transita hoje nos bancos brasileiros decorrentes do tráfico
de drogas. Claro que a Receita Federal dispõe de muitas informações, mas
estamos falando genericamente. E também não sei se traficante merece algum tipo
de sigilo.
A segunda questão é sobre o mandato para o Secretário da Receita Federal.
Mandato e quarentena. Qual é a sua opinião sobre isso, independentemente de
quem esteja no exercício do cargo, porque quando se fala em questões
institucionais não se tem que falar de determinadas pessoas, mas de maneira
ampla e geral.
A outra questão é sobre as administrações municipais em relação à questão
do acesso à matéria protegida pelo sigilo bancário. V.Exa. acha, efetivamente, que
já existe maturidade política no Brasil para que as administrações tenham acesso
às informações decorrentes do sigilo bancário, notadamente nas pequenas e
médias cidades? Grandes cidades como São Paulo estão dando péssimos
exemplos de credibilidade e de seriedade nos negócios públicos no País.
Era só isso que gostaria de saber.
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O SR. EVERARDO DE ALMEIDA MACIEL - Deputado Coriolano Sales, de
fato não tenho informações sobre estimativa de volume de recursos vinculados ao
tráfico de drogas. Não temos rigorosamente informação alguma sobre isso.
Sobre mandato e quarentena. Sinto-me absolutamente à vontade para dizer
que mantenho quase uma quarentena compulsória em relação aos vários cargos
públicos que ocupei na minha vida. Sinto-me, portanto, absolutamente à vontade
para dizer que acho no mínimo — por uma atitude respeitosa em relação aos
sucessores, à máquina a qual chefiaram — que um titular da Receita Federal,
assim como de outros órgãos, deve observar obviamente uma quarentena em
relação à matéria que esteve a ele subordinada. Não tenho a menor dúvida.
Quanto à existência de mandatos, tenho dúvidas. Digo a V.Exa. que, neste
momento, não. Para determinadas funções da Receita Federal sim. E devo
dizer-lhe que eu próprio propus isso. E assim está estabelecido. O funcionário
fiscal, que está em atividade de julgamento, tem que ter mandato, tem que ter a
proteção de sua convicção. Então, é indispensável que tenha mandato. Entretanto,
por iniciativa da minha administração, o Corregedor-Geral da Receita Federal tem
mandato, para sentir-se inteiramente à vontade e poder, numa atividade
desagradável, desconfortável, difícil e espinhosa, fiscalizar os seus próprios
colegas. Portanto, nessa condição, para equilibrar o indispensável trabalho da
moralidade dentro da Administração Pública, para preservar-se diante de pressões
corporativas, as pessoas imbuídas dessas funções devem estar investidas de
mandato.
Sobre o Secretário, não tenho convicção neste instante. Quanto à questão
relacionada — V.Exa. apresenta um dado da realidade. Realmente, se formos
pensar em administração tributária municipal, salvo raras e honrosas exceções, não
temos administração tributária municipal no País. Só para V.Exas. terem uma idéia,
dos 5.500 Municípios. Não sei bem se este é o número...
O SR. DEPUTADO CORIOLANO SALES - São 5.507.
O SR. EVERARDO DE ALMEIDA MACIEL - V.Exa. me deu agora com
precisão o número. Creio que não saberá me dizer com a mesma exatidão quantos
cobram o ISS. Creio que são cerca de trezentos. Este é o Brasil real. Nele encontro
uma heterogeneidade de Municípios. Alguns têm uma arrecadação, uma
transferência de impostos estaduais, que corresponde a um salário mínimo. Outros
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têm arrecadações de cota da parte municipal de ICM maiores que Estados. Só para
mostrar, portanto, o desequilíbrio da sociedade brasileira.
Infelizmente, na nossa construção do federalismo fiscal brasileiro,
estabeleceram-se impostos de titularidade municipal. Se me perguntassem se acho
que deveria fazer uma revisão disso, responderia que sim, não tenho a menor
dúvida. Existem Municípios e Municípios. Exigir de um Município criado para
receber transferência do Fundo de Participação de Municípios, que tem uma
administração tributária estruturada inclusive para fazer isso, acho que não.
E são raras as situações nas quais, efetivamente, um funcionário fiscal
municipal precisa de informações protegidas por sigilo bancário para realizar um
trabalho de fiscalização, porque são mais próprios, são impostos relacionados com
renda ou com consumo. Então, essa situação é raríssima para ele, porque o que
tem de fiscalização é de IPTU e de impostos sobre transmissão nos quais essa
informação é absolutamente irrelevante. Do profissional autônomo é cobrado ISS
per capita.
Portanto, é absolutamente irrelevante remanescer alguma coisa ligada ao
ISS do não-profissional autônomo, que é cobrado por meia dúzia de Municípios,em
situações absolutamente restritas. O projeto original estabelece o condicionamento
de que essa informação deve ser alcançada pelo funcionário fiscal municipal,
apenas quando indispensável à realização do seu trabalho de fiscalização. Esta é a
minha opinião.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Danilo de Castro) - Concedo a palavra ao
Deputado Milton Temer.
O SR. DEPUTADO MILTON TEMER - Secretário Maciel, a intervenção de
V.Exa. foi muito importante nesta discussão política, aliás, elucidativa da CPI dos
Bancos. Entretanto, mais do que esta, as outras que vem fazendo no Congresso
Nacional mostram claramente que existe um lado positivo no conceito de
corporativismo. Esse lado positivo é o amor à camisa que determinadas pessoas
incorporam quando têm funções expressivas e a levam a sério, como é o caso da
Receita Federal. Evidentemente, ser funcionário responsável por avanços na
PETROBRAS, já tivemos exemplos vários. Quero externar — com toda
discrepância que possamos ter num ou noutro ponto — meu respeito, pela
honestidade com que V.Exa. enfrenta determinados problemas.
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Isso foi levantado pelo Líder da minha bancada, José Genoíno, com respeito
ao Pacote 51, e não é pouca coisa. Nele se cometeu, no meu modo de ver, uma
série de tropeços que concorrem para que esteja havendo toda essa
desregulamentação e descontrole na questão das CC-5. Ou seja, essa
preocupação com a chamada desregulamentação, produto da política econômica
deste Governo, tal como a isenção de tributação para remessa de lucros e
dividendos, deu um salto tal de um ano para o outro, a partir da implantação dessa
lei, que, ou bem fica definido que havia uma grande sonegação anteriormente, ou
fica claro que hoje houve grande estímulo à remessa de lucros e dividendos.
Pulamos da remessa de 2 bilhões para 6 bilhões por conta dessa liberação. No
entanto, todo esse lucro, todos esses dividendos remetidos sem taxação no Brasil
pagam no lugar onde chegam.
Objetivamente, isso tem muito a ver com a elisão que mencionou. Tem a ver
com essas operações das CC-5, que ninguém sabe exatamente o que são.
V.Exa. diz que não sabe de onde a Folha de S.Paulo obteve os dados. A verdade
é que um Procurador consegue, por decisão judicial, a relação do envio de dinheiro
para o exterior por conta de CC-5. Por outros caminhos, torna-se público que
grande parte desse envio, além de embutir os chamados indícios exteriores de
riqueza, embutem também indícios subjetivos de riqueza.
Meu amigo Arnaldo Jabor surpreendeu-me ao dizer que remeteu 750 mil
dólares para o exterior por conta do produto do seu trabalho. Fiquei imaginando
que trabalho é esse que gerou a ele a possibilidade de ter uma empresa no exterior
para mandar 750 mil dólares. É uma coisa pública hoje. Ele, inclusive, não nega.
Hoje, neste País, a gente bota lá o CPF para comprar telefone celular. Por
quê? Imagino que isso, de alguma forma, seja uma maneira de a Receita ter, sem
quebra de sigilo bancário, informação sobre as operações comerciais, as
operações financeiras, que são de interesse não privado, mas público, na medida
em que possam sonegar imposto. Quando alguém, como turista, compra dólar do
Banco do Brasil, bota lá o nome, quando alguém remete dinheiro do exterior, bota
lá o nome e bota o CPF. Entendo que isso deveria representar uma emissão
imediata para a Receita de uma via daquela operação. Então, para que me pedem
CPF em operação se há sigilo e a Receita não pode saber da operação? Nos
Estados Unidos a Receita faz operação de polícia, prende, algema, tira de casa e
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leva preso. V.Exa. sabe disso perfeitamente. Está bem que aqui não seja assim,
seja só na amostragem, mas diante desses indícios não há possibilidade concreta.
Quero que entenda isso como uma homenagem a V.Exa. pela coragem que
teve nas diversas declarações públicas que fez, que, embora conceituais, ajudaram
muito a discussão sobre reforma tributária neste País.
Perguntaria a V.Exa: a Receita não pode ter a iniciativa e a ofensiva
diretamente em cima desses fatos notórios que geram a notícia-crime, por
exemplo?
O SR. EVERARDO DE ALMEIDA MACIEL - No primeiro assunto que
mencionou, a isenção de lucros e dividendos, há um aspecto que queria esclarecer
a V.Exa.
Dois procedimentos produzem exatamente o mesmo efeito. Na base
tributária da pessoa jurídica posso seguir dois cursos: lucros distribuídos e
dividendos. Posso dizer que esses lucros distribuídos podem ser dedutíveis da
base de cálculo e, ao mesmo tempo, tributáveis em quem recebe, o que está
correto. Posso, porém, dizer de outra forma, exatamente igual, que eles não são
dedutíveis e são isentos. Não dedutíveis e isentos quer dizer igual a dedutíveis e
tributáveis. Existe muita discussão sobre isso. O mundo optou por uma forma ou
por outra. Optamos por essa que reputo boa. Os lucros distribuídos são realmente
isentos, mas não são mais dedutíveis. Então, deixo de tributar em quem recebe, no
beneficiário, o que é tecnicamente mais aconselhável, mas não permito que se
deduza em quem distribui. Ou seja, dá exatamente a mesma conta do ponto de
vista aritmético: tenho cem e distribuo vinte. Há duas formas. Vou deduzir vinte.
Permito que deduza e tributo quem recebe. Portanto, deixei de tributar na Pessoa
Jurídica, que distribuiu, e tributei na pessoa jurídica ou física que recebeu. Outra
forma é dizer que não permito a dedução. Serão cem e, portanto, foi ele tributado
integralmente na pessoa jurídica, e ele não será tributado em quem recebe, pessoa
jurídica ou física.
Cada país do mundo seguiu um caminho ou outro. A opção da Constituição
brasileira foi de isentar na distribuição — e está correto — e estabelecer a
indedutibilidade na pessoa jurídica que distribuiu.
O SR. DEPUTADO MILTON TEMER - E no exterior?
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O SR. EVERARDO DE ALMEIDA MACIEL - Tanto faz, porque se eu
estabelecer, não poderei fazer nunca. A situação tecnicamente consistente era
dizer o seguinte: não, eu vou agora determinar a tributação em quem recebe, onde
ele estiver, no exterior ou no País, e que seja ao mesmo tempo indedutível na
pessoa jurídica, porque estarei fazendo uma bitributação econômica. Então, essas
duas formas são consistentes.
V.Exa. talvez não tenha mencionado — esse é o ponto pesado — os juros
tomados de empréstimo. Esse é o ponto para o qual venho chamando a atenção.
Esse não é o problema. Quanto mais eu tiver lucros que vão embora, menos haverá
problema. O meu problema são os juros, porque é a qualidade do capital que
recebo. Aí vou mostrar a V.Exa.
Por que permito ao contribuinte que toma empréstimo deduzir os juros? A
lógica é que esses juros deduzidos em quem tomou constitui receita de quem
emprestou. Portanto, tributei em um local e permiti a dedução no outro. É o mesmo
sistema. Isso é absolutamente verdadeiro e certo em uma hipótese: se quem
emprestou estiver no exterior.
O SR. DEPUTADO MILTON TEMER - Só para entender. As empresas,
pessoa jurídica que geram lucros, enviam-nos para o exterior com isenção. Esses
lucros vão ser taxados no lugar onde chegam?
O SR. EVERARDO DE ALMEIDA MACIEL - Não, elas tomam como tax
credit , como crédito de imposto do país onde foi tributado. Por exemplo, vamos
imaginar como ocorre nos Estados Unidos. Quando eles tomam esses empréstimos
e tributam em bases mundiais fazem uma apuração integrada e a aproveitam com
os créditos da alíquota brasileira. Essa é a tributação em bases mundiais que o
Brasil passou a adotar também em 1996. Ou seja, todas as vezes que fazemos uma
remessa para o exterior — quero separar bem uma coisa da outra, porque são bem
distintas, lucros e dividendos dos juros — os lucros integram os resultados da
empresa americana. E esses resultados tomam como tax credit o que ele pagou na
pessoa jurídica que distribuiu no Brasil, porque o imposto já foi pago sobre isso.
Para eu fazer a tributação em quem recebe — e aí haveria um problema
técnico que não queria descer em detalhes — teria de estabelecer o seguinte:
tributo em quem recebe, portanto, na remessa. Agora, vou torná-lo também
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dedutível, porque senão tributo duas vezes. Tributo em que pagou e em que
recebeu. Essa é a consistência do sistema.
Agora, nos juros é diferente. Os juros são dedutíveis, portanto, é a segunda
hipótese que mencionei. Por isso que eles são tributáveis em quem emprestou. É
outra forma. Só é verdadeiro se o tributável estiver no Brasil. Se ele estiver no
exterior é falso. Então, temos de modificar essa tributação no Brasil, porque quando
fazemos isso estamos transferindo receita brasileira para o erário do exterior. Ou
melhor, isso na hipótese saudável, porque posso estar transmitindo para o éden,
para o paraíso fiscal, que estiver na outra ponta.
Essa é a lógica do sistema. Esse é o problema. Juros são problemáticos.
Essa é uma coisa que me preocupa e que tem de ser modificada. Por outro lado, os
juros — estou comparando um capital contra outro — estão vinculados a um capital
de pior qualidade do que o outro, porque o outro está vinculado a um capital
próprio, de quem veio aqui com o capital residente. E o outro está com o capital de
empréstimo, capital que, comparando um com o outro, vou estabelecer uma
relação. Evidentemente que qualquer país do mundo prefere capital próprio, um
investimento direto, a um investimento ligado a empréstimos.
V.Exa. fala em enviar à Receita uma cópia. Acharia maravilhoso, mas
acontece que se alega sigilo bancário.
O SR. DEPUTADO MILTON TEMER - Por que anota o CPF?
O SR. EVERARDO DE ALMEIDA MACIEL - Não é expectativa. Posso dar
uma interpretação a V.Exa. que pode ser absolutamente falsa, mas pode ser
verossímel. Estamos na expectativa de que se aprove o Projeto nº 220, e eu possa
fazer essa fiscalização. Acho que é a capacidade de premonição de quem fez isso.
Não é só isso, Deputado. E as movimentações de cartão de crédito? Não
estou interessado em saber no que ele gastou, até por uma razão absolutamente
óbvia eu não tributo despesa, tributo receita. Quero saber qual foi a sua
movimentação financeira em cotejar essa movimentação financeira, em estar
declarado no Imposto de Renda. Se está no Imposto de Renda, maravilhoso, nada
aconteceu. Agora, se tenho algo absolutamente discrepante entre uma coisa e
outra, que pode estar exatamente dando origem a uma fonte de recursos na CC-5,
aí estou perdido. Apesar de esses conceitos serem tão triviais, às vezes ainda me
surpreendo.
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O SR. DEPUTADO MILTON TEMER - Eles têm a mesma idade dos Estados
Unidos.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Danilo de Castro) - Deputado, favor usar o
microfone.
O SR. EVERARDO DE ALMEIDA MACIEL - É verdade, mas lá há uma
tradição tributária extremamente diferente. Estou falando do ponto de vista pessoal.
O sistema tributário americano é péssimo, da pior qualidade possível. Como é que
funciona? Funciona com tacape. Funciona porque lá o regime é sistema tributário
ruim e polícia ao lado. Quando vejo alguém falando...
O SR. DEPUTADO MILTON TEMER - Porém eficiente.
O SR. EVERARDO DE ALMEIDA MACIEL - Quando vejo alguém falando
que o sistema tributário conseguiu levar o Al Capone à cadeia, acho engraçado.
Quem o levou foi a polícia. Na verdade, faz-se muita confusão ali entre o
funcionário fiscal e o funcionário da Polícia Fazendária. Quer dizer, ele tem um
outro tipo de estrutura, um outro tipo de tradição. V.Exa. naturalmente sabe muito
bem que há algum tempo o Benjamin Franklin estabeleceu uma equivalência entre
o Imposto de Renda e a morte. Portanto, é preciso dizer que tipo de interpretação
eles oferecem na matéria de imposto. É um pouco diferente. Um pouco, não, é
extremamente diferente da nossa tradição latina de enfrentar questões tributária.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Danilo de Castro) - Com a palavra o
Deputado Wellington Dias.
O SR. DEPUTADO WELLINGTON DIAS - Dr. Everardo Maciel, sei que
grande parte das questões já foram tratadas, mas gostaria de ouvi-lo sobre três
pontos. Recebemos na Câmara dos Deputados a Medida Provisória nº 1.820/99,
que trata do combate à agiotagem. Da sua elaboração pelo Ministério da Justiça
até à sua publicação no Diário Oficial ela sofreu algumas alterações, a maior parte
técnica, mas teve uma, do art. 4º que foi introduzido, que isenta os bancos das
regras para o combate à agiotagem.
V.Exa. tem conhecimento disso? Como vê essa questão?
Como cheguei um pouco atrasado, gostaria de saber mais alguma coisa.
Como há uma relação muito forte entre o trabalho da Receita e o sistema
financeiro na execução da política de arrecadação, o que teríamos de alterar no
ÇNome: COMISSÃO ESPECIAL - SISTEMA FINANCEIRO NACIONALNúmero: 0460/99 Data: 08/06/99
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sistema financeiro atual para que ele pudesse, de alguma forma, influenciar na
melhoria do combate à sonegação?
Fui Deputado Estadual pelo Piauí. Ficava assustado com os dados da
sonegação dos impostos indiretos, especialmente do ICMS. E lá, discutindo com
alguns técnicos da Receita, chegamos a trabalhar a idéia de redução em favor do
contribuinte, de alguns desses impostos indiretos, especialmente do ICMS, que
chamávamos de poupança fiscal, em que o valor da isenção em seu favor, com o
controle de uma conta sua, que seria mais ou menos o CPF, de tal sorte que,
imaginando uma alíquota de 17%, haveria uma redução, na qual seria creditada
uma parte para Estado e Município, e outra, em benefício desse contribuinte como
um incentivo para que ele, diretamente, exigisse nota fiscal, fizesse a cobrança etc.
O Governo do Estado chegou a pensar em fazer experiência em algumas regiões,
mas terminou não fazendo. Foi reeleito e esqueceu, não fez. Haveria alguma
possibilidade de se garantir alguma forma de incentivo para que o próprio
contribuinte pudesse fiscalizar esses impostos, a mediação, a intermediação de
terceiros, especialmente da pessoa jurídica? Era basicamente isso que gostaria de
saber.
O SR. EVERARDO DE ALMEIDA MACIEL - Deputado Wellington Dias, em
relação à primeira questão apresentada por V.Exa., não conheço esse projeto de
lei. Ignoro o tratamento da agiotagem, especificamente. Para não deixar nenhuma
dúvida, esse tratamento isencional em relação a instituições financeiras não se
trata de matéria tributária. É matéria estritamente administrativa. Não conheço o
projeto. Logo, não conheço o art. 4º. Portanto, qualquer observação que pudesse
fazer sobre o assunto seria feita de modo perfunctório.
Quanto à arrecadação, se pude compreender bem, V.Exa. indagava sobre
as relações entre a Receita Federal e os órgãos arrecadadores. Sem dúvida,
aparecem problemas. Quem compulsa o Diário Oficial , não raro, encontra um
descredenciamento de bancos por infringir suas responsabilidades enquanto
agente arrecadador. Alguns desses bancos descredenciados foram posteriormente
objetos de liquidação extrajudicial. Temos auditorias e arrecadação que se
encontram nessa situação.
O SR. DEPUTADO WELLINGTON DIAS - E a legislação?
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O SR. EVERARDO DE ALMEIDA MACIEL - A legislação está boa. O
acompanhamento é adequado e é natural que existam infrações. E quando há
infração, as multas são muito duras em relação a esses agentes arrecadadores,
começando pelo descredenciamento. O descredenciamento enquanto agente
arrecadador é uma penalidade muito forte, porque envolve a própria
respeitabilidade da instituição financeira.
Quanto à alíquota do ICMS, se pude compreender, V.Exa. quer saber se há
algum tipo de privilégio para o consumidor que junta nota fiscal, que pede isso,
aquilo. Minha experiência diz que isso não tem o menor resultado prático, até
porque os grandes sonegadores não tratam com nota fiscal. Os métodos são muito
mais elaborados. Esses são pequenos sonegadores. Tivemos um caso de
sonegação conhecida. Quando eu era Secretário da Fazenda do Distrito Federal —
o Deputado Geraldo Magela deve se lembrar desse episódio — as notas fiscais
eram extremamente alinhadas, não havia nenhum tipo de dificuldade. Existia um
software de sonegação em cima do processamento da nota fiscal, quer dizer, não
era existência ou não de nota fiscal. Em vez de dar algum tipo de remuneração
seria mais fácil reduzir a alíquota do imposto, porque quem paga imposto de
consumo é o consumidor. Quando há alíquota de 17% de ICMS quem está
pagando é V.Exa., sou eu, todas as pessoas. Se se quer dar algum tipo de
vantagem para o consumidor é reduzindo a alíquota. O resto é fiscalização
convencional.
O SR. DEPUTADO WELLINGTON DIAS - Sr. Presidente, permite-me uma
intervenção.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Danilo de Castro) - Pois não.
O SR. DEPUTADO WELLINGTON DIAS - É exatamente isso. A redução
seria em benefício do consumidor. A idéia que se tinha trabalhado era que se sou
um consumidor, meu controle é o meu CPF. Abriria uma conta no Sistema de
Arrecadação Estadual, que seria o meu CPF. Todas as vezes que fizesse uma
compra que tivesse esse tributo na transação, estaria recebendo nessa conta um
depósito equivalente a esse desconto. Ficaria com o comprovante, teria o interesse
de exigir a nota fiscal. Teria, portanto, um modo de ajudar nessa fiscalização,
inclusive na parte que diz respeito ao repasse do arrecadador para a Receita
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Estadual ou Federal, porque ele não paga. Ele é um mediador nessa transação.
Tenho consciência disso.
O SR. EVERARDO DE ALMEIDA MACIEL - De fato, Deputado, não conheço
essa iniciativa. Conseqüentemente não me sinto à vontade para fazer comentário
sobre ela. À primeira vista, não parece ser uma coisa simples. Mas não tenho
elementos para fazer um julgamento dessa natureza.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Danilo de Castro) - Com a palavra o nobre
Deputado Ricardo Fiuza.
O SR. DEPUTADO RICARDO FIUZA - Sr. Presidente, eminente Secretário
Everardo Maciel, de quem reconheço seriedade, talento, competência. Não levem,
contudo, em conta minha opinião. Embora verdadeira, é suspeita, porque dele sou
admirador e amigo há muitos anos. Dos leões que passaram pela Receita Federal,
S.Exa. é o pior em matéria de dureza. (Risos.) É miserável, não abre para nada,
graças a Deus! Temos de pensar muito que reforma tributária não é só arrecadar, é
o que se gasta. Enfim, eu não iria entrar em uma discussão, porque é capaz de
esta Comissão pegar fogo antes que a questão fundamental do Brasil, nos
próximos anos, seja sociedade civil versus Estado e responsabilidade civil do
Estado.
Nosso País não sabe o que é sociedade civil. O Estado se sobrepõe a tudo.
Aliás, no Brasil acontece uma coisa pitoresca: o Estado brasileiro nasceu antes da
Nação. Com D. João VI veio o Estado brasileiro, a burocracia. Depois, em uma
injusta aliança de 1964 em diante, entre militares e tecnocratas, a sociedade civil
desapareceu completamente. Tecnocrata é o senhor da verdade, é o dono de tudo.
Outros companheiros, muito bem intencionados, naquela ânsia de ver a
arrecadação, de ver o País se equilibrar, se esquecem que a sociedade civil não
existe.
Sou Relator do Código Civil, vou instalar a Comissão agora. Estudo o
assunto há dois meses. Infelizmente, a responsabilidade civil do Estado não
interessa, não aparece. O Estado quebra-a, desmoraliza-a; o Estado dá falência a
sua empresa; o burocrata não responde a sua carta; não há prazos que um
burocrata respeite; não há súmula vinculada à administração direta; o fiscal da
Receita tem uma quota para cumprir, ele multa sabendo que o sujeito vai derrubar
no Conselho, mas vai gastar 100 mil reais de advogado. Essa questão é tão séria
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que prefiro não levantar. Contudo, ela vai ter de ser abordada, porque este País,
um dia, vai ser sério. Um país onde a sociedade civil não se sobrepõe ao Estado
não é sério.
Nos 24 anos que passei dentro desta Casa sabia o Regimento decorado. As
Comissão Especiais hoje são praticamente terminativas. Dão, inclusive, parecer
sobre a constitucionalidade, admissibilidade jurídica e legislativa. Quanto à
constitucionalidade, tenho minhas dúvidas. Acho que esse projeto tem que passar
na Comissão de Constituição e Justiça e de Redação. Lamentavelmente, o que
estamos fazendo aqui é um grande debate. Pelo que interpreto do Regimento,
somos proibidos na Comissão de emendar esse projeto. As emendas têm que ser
feitas no Plenário e remetidas de volta à Comissão. Portanto, estamos estudando o
que podemos fazer no futuro. Na minha opinião, a coisa está um pouco complicada.
Além do mais, a Mesa baixou o Ato nº 177 que normatiza essa matéria. Logo, não
seria o caso de propor emendas aqui.
Sr. Presidente, queria apenas a opinião do meu estimado amigo —
permita-me a liberdade — Everardo Maciel. Que ninguém se iluda. S.Exa. é o pior
leão do Brasil. Não abre nem para o trem. Dar corda nele é um perigo.
Meu caro Secretário, acho o projeto muito bom. Sou favorável à abertura do
sigilo bancário. Teria, portanto, algumas considerações a fazer. Temos de pensar
no caso do Município, onde questões locais influem terrivelmente e não atingimos
um grau de maturidade política. O § 3º do item VII diz que não constitui violação no
dever de sigilo. Veja como o Estado se sobrepõe à sociedade. Não constitui
violação de sigilo o fornecimento de informações constantes de cadastro do
SERASA e CADIN. Eles não são respeitados nem pela Caixa Econômica Federal,
nem pelo Banco do Brasil. Eles colocam o nome do sujeito, não tiram. o sujeito
pede o crédito, paga, manda carta, o juiz manda tirar, não tiram. Eles são um
inferno na vida do cidadão comum: se atrasar a prestação de um liquidificador, fica
prejudicado. Isso virou instrumento de cobrança, de coercibilidade absolutamente
inconstitucional, inclusive da parte de tributação.
Vamos para frente. O INPS é useiro e vezeiro em fazer isso. Como tratamos
de um Estado leviatânico. A maioria aqui segue a doutrina de Thomas Hobbes. Eu
não sigo. Gosto de Vico, de Weber , etc.
Diz aqui o projeto:
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Não constitui violação de dever de sigilo a comunicação
às autoridades competentes da prática de ilícios penais ou
administrativos, abrangendo o fornecimento de informações
sobre operações que envolvam recursos provenientes de
qualquer prática criminosa.
Nunca vi algo tão abrangente. Não se constitui, através de quem? Qual o
sujeito? É o sujeito que pega conta corrente? Aqui na Câmara acontece todo o dia.
O sujeito pertence a determinado partido e está numa CPI querendo acusar o outro,
ou vice-versa. Ele tira do banco e fornece. Como é que um funcionário tem
competência para tipificar um ilícito penal? Então ele pode tipificar o ilícito penal? E
se o que ele tipificar como ilícito penal não for? E se houver arrasado a vida do
cidadão e da empresa?
Isso é o dedurismo irresponsável e institucionalizado. Não sou contra a
comunicação. Ela deve ser obrigatória, mas não solta, como está. "A comunicação
às autoridades competentes." Quem é autoridade competente, para começar? É o
chefe dele no partido, por acaso?
Da prática de ilícitos penais. Quem é esse cidadão? Muitas vezes, um caixa
de banco. Ele vê um lançamento que lhe parece estranho, denuncia, diz que é
ilícito penal. Quem é capaz de tipificar um ilícito penal, sem ter sentado em uma
cadeira de universidade e estudado Direito Penal ou Administrativo, abrangendo o
fornecimento de informações sobre operações que envolvam recursos provenientes
de qualquer prática criminosa? Meu amigo, isso é loucura. Quem vai julgar se esse
recurso foi proveniente de prática criminosa? O sujeito, antes de denunciar, vai
abrir inquérito? Como ele vai fazer? Se ele denunciar uma prática criminosa e essa
informação vazar para os jornais, como acontece todo o dia, ele arrasa a vida de
uma pessoa, de uma família, de uma empresa, muitas vezes por cem anos. É a
velha luta entre o Estado e a sociedade civil. Nesse caso, fico com a sociedade
civil.
Esse texto é mal redigido. Esse é o texto do dedurismo, da
irresponsabilidade. Esse é o pedaço a que me refiro. Não vou discutir o assunto.
Verei como posso melhorá-lo. Primeiro, responsabilidade civil em cima do
denunciante calunioso, que denuncia por ódio, inimizade, por problemas políticos,
por concorrência. Segundo, responsabilidade civil do Estado. Ele tem de se
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acostumar a indenizar aqueles desmoralizados por seus órgãos,
irresponsavelmente, até a 10ª geração.
Era este o pequeno comentário.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Danilo de Castro) - Com a palavra o Sr.
Secretário.
O SR. EVERARDO DE ALMEIDA MACIEL - V.Exa. faz comentários,
naturalmente, com a...
O SR. DEPUTADO RICARDO FIUZA - Do ponto de vista da doutrina.
O SR. EVERARDO DE ALMEIDA MACIEL - Do ponto de vista doutrinário,
evidentemente. Meu amigo, Deputado Ricardo Fiuza, V.Exa. sabe melhor do que
eu que questões como essas talvez pudessem ser articuladas com normas que
envolvessem...
O SR. DEPUTADO RICARDO FIUZA - Essas responsabilidades. Por essa
razão vou-me permitir tentar melhorá-las.
O SR. EVERARDO DE ALMEIDA MACIEL - Ou, de outra forma, de fazer
essa vinculação no projeto de Código Civil, que V.Exa...
O SR. DEPUTADO RICARDO FIUZA - Lamentavelmente, só posso mexer
nas 180 emendas que vieram do Senado. O projeto, originário da Câmara, foi ao
Senado. Só posso mexer nessas 180 emendas. Senão, mexeria nele todo, porque
sou contra ele. Não estamos mais na época dos grandes códigos. Não se pode
esperar, como o Senado fez, inserir no Código Civil a Lei das Sociedades
Anônimas — que se modifica todo o dia —, a fertilização in vitro , o transplante de
órgãos, face à velocidade do conhecimento, da tecnologia e das grandes
transformações sociais.
O Código Civil, que é a constituição do cidadão, deveria ser pequeno,
enxuto, contendo as linhas básicas. A legislação o complementaria. Esta poderia
ser modificada a cada momento em que a realidade social o exigisse.
Temos um Código de 1917, daí esse tumulto legislativo. A lei deveria ser
feita para que o cidadão a entendesse ao lê-la. Hoje é impossível.
Há um projeto, encaminhado pelo Governo, sob a coordenação do Dr.
Gilmar, um dos homens mais competentes em Direito deste País, de formação
fantástica. O projeto deu todo errado. Começaram pedindo ao Executivo, a cada
Ministério, que dissesse que leis devem ser modificadas. O Legislativo em nosso
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País virou Executivo, e vice-versa. A Justiça não existe, principalmente para o
pobre.
Demonstrei, na Comissão de Constituição e Justiça e de Redação, que
justiça tardia não é justiça. Faço hoje uma ação — e demonstro a qualquer um —
em que tenha zero direito. Insiro nela uma matéria constitucional que seja de zero
direito, perco da primeira à última instância. Garanto que levo dez anos nessa
ação. Isso é Justiça? Justiça é para rico. O que estamos fazendo com esse
emaranhado de legislações? Continuamos a ter Justiça para o rico.
Portanto, se pudesse mexer no Código Civil — me perdoe — ia me juntar a
um grupo de companheiros para realmente fazer um documento moderno,
atualizado, adequado ao nosso tempo.
Muito obrigado.
O SR. EVERARDO DE ALMEIDA MACIEL - Não tenho a menor dúvida,
Deputado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Danilo de Castro) - Com a palavra o
Deputado Geraldo Magela.
O SR. DEPUTADO GERALDO MAGELA - Sr. Presidente, Sr. Secretário, em
razão do tempo, vou ser bastante objetivo. Acredito que a votação já esteja
iniciando no plenário. Quero fazer uma observação — não sei como o Dr. Everardo
de Almeida Maciel vai recebê-la, mas a faço como elogio. Entendo que a
permanência de V.Sa. no Governo é uma permanente contradição. A imagem que
faço de V.Exa. é a daquele médico, aquele especialista em saúde que tem o
diagnóstico, sabe o remédio a ser aplicado, mas trabalha para um dono de hospital
que tem a chave da farmácia e não lhe dá o remédio, nem lhe empresta a chave. O
senhor vê o doente ir para uma situação terminal, sem ter muito o que fazer, a não
ser dizer que ele está doente e que, se não tomar remédio, pode piorar. Essa é a
imagem que faço.
Dr. Everardo Maciel, conheço-o muito pouco, do tempo em que era
Secretário do Distrito Federal. Sabe V.Sa. da minha admiração por sua seriedade e
sinceridade. Isso, neste momento, tem sido muito importante, assim como a sua
vinda a esta Comissão.
Sou Deputado Federal de primeiro mandato. Sou novato nesta Casa, mas
sei que esta Comissão já está na terceira edição. Está parecendo medida
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provisória: à medida que vence o tempo, vai sendo reeditada. Espero que
tenhamos, sob a Presidência do Deputado Danilo de Castro e a Relatoria do
Deputado Edinho Bez, a chance de fazer valer o desejo de regulamentar o art. 192,
a meu ver, importante para a sociedade.
Tenho temor de tratar de sigilo bancário, no contexto da Receita Federal.
Tenho como tradição, desde meu primeiro dia como Deputado, abrir meu sigilo
bancário e fiscal. É público. Quando tomei posse, registrei na Presidência da Mesa
da Câmara a abertura do meu sigilo bancário e fiscal para qualquer um ver:
imprensa, adversários. Sou a favor da inexistência do sigilo bancário na ponta
ativa, na receita, no depósito. Por outro lado, sou a favor da existência do sigilo no
gasto, exatamente com essa visão de que interessa saber de onde vem e não onde
vai gastar. Não deveria, de fato, existir esse sigilo. Sei que essa é uma tese muito
questionada.
Quero fazer uma pergunta e deixar aqui um compromisso. A pergunta: se
hoje nós aprovássemos, aqui no Congresso Nacional, a proposta de que a
movimentação financeira serviria para a fiscalização da Receita Federal e de que
não haveria sigilo bancário para a Receita, ela estaria em condições de fazer a
fiscalização de pessoal e treinamento com o trabalho que adviria dessa nova
realidade? Acredito que essa é uma das melhores fontes de fiscalização. Tenho
certeza de que não é a única, mas é uma das melhores.
Quero saber da capacitação da Receita hoje. Muitas leis que fazemos não
pegam ou por questões políticas, ou por questões técnicas, pela ineficácia do
Estado em aplicá-las. E de nada adianta uma lei como essa, de severidade fiscal,
se ela não puder ser aplicada. Assim, vamos desmoralizar a fiscalização.
Essa a pergunta que gostaria de fazer.
Agora, o compromisso. Na condição de Vice-Líder, assumo junto ao
Deputado Ricardo Fiuza, à bancada do Governo, enfim a todos os Parlamentares,
especialmente, junto ao Secretário da Receita, o compromisso de — consultei meu
Líder, Deputado José Genoíno — trabalhar para que o PLC nº 220 seja votado
imediatamente em plenário. É um compromisso simples, do Partido dos
Trabalhadores. Deixo registrado, porque queremos ver este projeto votado e, se for
o caso, aprimorado.
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O SR. EVERARDO DE ALMEIDA MACIEL - Concordo com o raciocínio de
V.Exa., Deputado Geraldo Magela. Realmente, este é nosso entendimento:
devemos ter acesso a informações protegidas por sigilo bancário, no que respeita à
renda, à movimentação financeira. Não em relação aos gastos. Isso realmente se
inclui na absoluta privacidade do cidadão e não tem nenhuma importância fiscal.
Pode, eventualmente, ter, mas a juízo do contribuinte, não a juízo da Receita.
Quanto à capacidade material de a Receita tratar de questões do novo
universo que se abriria ao seu trabalho de fiscalização, como, por exemplo, a
obtenção de informações protegidas por sigilo bancário, eu diria que não a temos.
Realmente a Receita tem problemas de quadro de pessoal. Nós temos um
quadro muito escasso. Imagine V.Exa., tenho 7.500 auditores. Aumentamos muito
em relação ao que tínhamos, mas também perdemos muitos servidores, em virtude
de sucessivas ameaças de aposentadoria, que tiveram como resultado único e
exclusivo — não só em relação à Receita Federal, mas em relação a toda a
Administração Pública brasileira — a perda de quadros excelentes. E, o que é mais
grave, sem nenhum resultado fiscal. Ao contrário, agravando a situação fiscal.
Temos dificuldades materiais. O nosso quadro, com 7.500 funcionários, é
muito escasso. Para que se possa ter uma idéia, para enfrentar questões como
tributos internos e aduana há 50 mil funcionários aduaneiros na Alemanha. Numa
comparação, temos a metade do quadro que deveríamos ter. Então, nosso quadro
precisa ser expandido.
Sou inteiramente a favor de um processo de vitalização da economia,
inclusive pela privatização. Porém, isso não pode vir desacompanhado de um
esforço enorme no sentido de aparelhar o Estado para que possa efetivamente
fazer um trabalho correto de fiscalização dessa atividade, sob pena de gerarmos
um absoluto descalabro no funcionamento de tudo aquilo que hoje está inscrito
como política pública.
A Receita precisa melhorar tanto suas condições em termos de quadros,
recursos humanos, como sua disponibilidade em termos de recursos orçamentários
e materiais. Isso está aquém do necessário.
A Receita Federal do Brasil tem uma das mais baixas relações entre gastos
e tamanho da arrecadação do mundo inteiro. Vou ser mais preciso: não conheço
nenhuma outra, no mundo inteiro, que tenha uma relação mais baixa do que a
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nossa Receita Federal, que deve ser da ordem de 0,8% ou 0,9% da arrecadação,
quando o resto do mundo está entre 1,5% e 2%.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Danilo de Castro) - Passo a palavra ao
Deputado Pedro Eugênio, antes solicitando ao nobre Parlamentar que seja o mais
rápido possível, porque já se iniciou a Ordem do Dia da sessão plenária.
O SR. DEPUTADO PEDRO EUGÊNIO - Serei brevíssimo. Sr. Presidente,
saúdo V.Exa. e o Secretário Everardo Maciel, a quem prezo bastante e admiro.
Sem mais delongas, para ser bastante fiel à solicitação do Presidente,
levanto uma questão a respeito de operacionalização de ações contra aqueles que
eventualmente vierem a ser identificados como sonegadores, a partir da abertura
de sigilo bancário, vis-à-vis do seguinte: não obstante a existência do sigilo
bancário e fiscal, as informações transitam entre as instituições. Por isso, parto do
princípio de que a Receita, não podendo utilizar-se de informações em juízo contra
"a" ou "b", por serem elas protegidas pelo sigilo, teria o mecanismo de
conhecimento a respeito de determinadas incongruências de receita versus
declaração de "a", "b" ou "c".
Com esse tipo de informação, sem que a questão do sigilo fosse abordada,
um cerco em cima das declarações formalmente feitas e dos chamados sinais
exteriores de riqueza me parece que poderiam levar a bons resultados no combate
à sonegação. Gostaria que V.Exa. comentasse essa minha observação.
O SR. EVERARDO DE ALMEIDA MACIEL - O que V.Exa. menciona,
Deputado Pedro Eugênio, é correto. Como ex-Secretário de Fazenda que foi,
V.Exa. conhece bem esse tipo de ação.
A essência do trabalho de fiscalização é o confronto entre o que é declarado
e o que é percebido, o que é visto; é o confronto entre a declaração e a
movimentação financeira; é o confronto entre a declaração e aquilo que está no
patrimônio do indivíduo, de forma visível ou não, de forma dissimulada ou não, para
usar uma expressão mais própria do Direito Tributário francês.
Fazer hoje fiscalização pegando uma declaração de Imposto de Renda para
encontrar uma infração fiscal, evidentemente, é uma hipótese quase nula.
O SR. DEPUTADO RICARDO FIUZA - Erro de aritmética.
O SR. EVERARDO DE ALMEIDA MACIEL - Deputado Ricardo Fiuza, essa
hipótese não é plausível.
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Danilo de Castro) - No microfone, Deputado
Ricardo Fiuza, por favor.
O SR. EVERARDO DE ALMEIDA MACIEL - Não é plausível essa hipótese
do erro de aritmética, salvo se o contribuinte optar pela anacrônica forma de
declaração em formulário. Se fizer a declaração por meio magnético, este o policia
para que não cometa esse tipo de erro.
Então, sequer essa hipótese existe. A única hipótese efetiva de fiscalização
é a feita dessa forma, até para enfrentar, fora fraturas expostas, aquilo que é hoje o
mais freqüente. Hoje a sonegação mais forte é a virtual, aquela que não se vê
efetivamente, que se opera através de um laranja e outros derivativos, como limão
e toda a safra cítrica que aí aparece. É assim que funciona. Não é possível que
estejamos aqui tratando de coisas absolutamente anacrônicas.
Tem razão o Deputado Ricardo Fiuza quando diz que deve existir — e nisso
não temos tradição — um sistema de pesos e contrapesos em relação ao Estado,
como foi a base do federalismo norte-americano. Nós não temos isso, é verdade.
Devo dizer a V.Exa., entretanto, que se aguardar um pouco vai ter surpresas muito
grandes em relação a isso.
O SR. DEPUTADO RICARDO FIUZA - Eu vou gerar algumas.
Sr. Presidente, tenha generosidade para com seu amigo.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Danilo de Castro) - Pois não.
O SR. DEPUTADO RICARDO FIUZA - Terminou, Deputado Pedro Eugênio?
Posso dar uma pequena palavrinha?
O SR. DEPUTADO PEDRO EUGÊNIO - Aceito o aparte de V.Exa..
O SR. DEPUTADO RICARDO FIUZA - É um aparte, então, ao Deputado
Pedro Eugênio.
O SR. DEPUTADO PEDRO EUGÊNIO - Já concluí.
O SR. DEPUTADO RICARDO FIUZA - O Dr. Everardo Maciel é uma das
poucas unanimidades nacionais. O que acontece é que estamos numa fase
fantasticamente criativa neste País. Estão aí essas Comissões se instalando, o País
está revendo o seu modelo, a sociedade civil está começando a tomar consciência,
a ter transparência é global.
Na Constituinte, disse uma frase, e repito. Aliás, parece que recebi espírito
naquela época. Previ de quanto seria o rombo do INPS, quando universalizaram o
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atendimento de assistência médica a 150 milhões de brasileiros. Tínhamos apenas
26 milhões de trabalhadores com carteira assinada; a força de trabalho é de 65
milhões, portanto, 26 milhões iriam sustentar seis... Eu disse: vai quebrar e vai dar
um rombo de 50 milhões de dólares. E não devem indexar a Previdência ao salário
mínimo, porque vai ser a forma de botar o salário mínimo para baixo. Aconteceu:
indexaram. Eu dizia: solta o salário mínimo, para que ele possa subir. Mas não é o
caso.
A frase era a seguinte. A Constituição deve resistir ao tempo. E a função
básica da Constituição é proteger o cidadão contra o Estado. O homem natural,
quando vira o homem social, cede ao monopólio da força ao Estado. O Estado
detém o monopólio da força. E o Estado não é um ente abstrato; é um ente
constituído de pessoas humanas, portanto falíveis, capazes de ter paixões, amores,
ódios, tristezas e frustrações.
Essas leis todas que estamos fazendo — necessárias à modernização deste
País — não podem esquecer que o cidadão está sempre acima do Estado, porque
nós todos aqui abrimos mão da nossa liberdade e cedemos ao Estado o monopólio
da força. Max Weber, aliás, tem isso muito claramente.
Essa é a minha preocupação. A Receita Federal, as Comissões
Parlamentares de Inquérito tinham informações muito antes de conseguir já na
imprensa, por meios... Engraçado, fita não é meio de prova. Mas por causa de uma
fita o Presidente da República quase cai. Se fosse com outra pessoa, diriam para
não olhar a fita, porque não é meio de prova. Então, o dedurismo, o Estado
leviatânico, isso tudo vai mudar. Aliás, Karl Marx já defendia isso, depois se
distorceu. Era a ausência do Estado; era muito mais anarquista do que marxista.
Infelizmente, os nossos marxistas são muito mais capitalistas de Estado do que
marxistas.
Essa é a minha grande preocupação. Não podemos ser levados por essa
emoção. Devemos modernizar o País como um todo, olhando o indivíduo, o
cidadão, a pessoa humana, que é o objetivo uno, básico e fundamental do Estado.
O Dr. Everardo Maciel sabe que precisa aprimorar todos os mecanismos de
arrecadação. Mas ele sabe que a carga tributária no Brasil hoje deve estar em torno
de 28,5% do PIB; 28,5% do PIB! Ele vai dizer que existe a economia informal —
essa a resposta de homem inteligente. É um chute, mas é de homem inteligente.
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Realmente, calculo que a economia informal no Brasil hoje esteja em torno de 25%.
Muito bem, 28% é carga tributária para arrombar. O Brasil é um dos países do
mundo onde há menos sonegação. Alguns idiotas por aí dizem que para cada
cruzeiro pago há um cruzeiro sonegado. Então, a carga tributária seria 56% sobre o
PIB. Falta bom senso. Isso é uma idiotice, uma besteira de quem não tem
capacidade, não lê nem jornal. Muito obrigado, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Danilo de Castro) - Deputado Pedro
Eugênio, está satisfeito?
Tendo encerrado as inscrições, passo a palavra ao nobre relator, Deputado
Edinho Bez.
O SR. DEPUTADO EDINHO BEZ - Sr. Presidente, Sr. Secretário da Receita
Federal, Dr. Everardo Maciel, meus agradecimentos a V.Sa. principalmente por ter
atendido ao nosso convite. Meus agradecimentos também aos Parlamentares que
participaram desta reunião.
Infelizmente, Dr. Everardo, fomos surpreendidos nesta terça-feira com o
funcionamento de várias Comissões, muitas coincidentes com a área financeira,
envolvendo o nosso trabalho.
Tenho dito sempre — quero aqui concordar com o Deputado Ricardo Fiuza,
em parte — que quem tem um bom contador e um bom advogado não paga imposto
neste País. E ainda tem a prescrição no quinto ano. Com isso se liquida de vez com
o credor — no caso, a Receita Federal, o Estado.
O tempo está esgotado. Faria alguns questionamentos, mas a maioria já foi
citado.
Na qualidade de Relator desta Comissão e do Projeto de Lei nº 220, não
medirei esforços para relatar o melhor para o País. Temos certeza da consciência
profissional do Secretário da Receita Federal, que tentou apresentar e defender o
melhor para o País. Estamos vivendo um momento diferente, que nos dá
oportunidade de aprovar aquilo que há muito tempo não se teve coragem de
ratificar neste País. Por isso, fico também bastante à vontade.
Quanto ao relatório, seja aqui na Comissão, seja lá no Plenário, tenho
certeza de que haverei de fazê-lo de acordo com o sentimento da maioria desta
Comissão. Com certeza, pelas manifestações feitas, será também o sentimento da
maioria dos membros desta Casa. Se assim for desta Casa, na qualidade de
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representantes que somos dos cidadãos brasileiros, com certeza haverá de passar
esse projeto de lei. Não sei ainda se vamos fazer algumas alterações. Confesso,
não escondo, deixando o lado estratégico, é tendência nossa aprovar o mais rápido
possível.
Agradeço ao Dr. Everardo Maciel e a todos os Deputados a presença.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Danilo de Castro) - Esta Presidência
agradece a todos a presença, em especial ao Secretário Everardo Maciel, a quem
digo que endosso todas as palavras elogiosas que ouvi aqui sobre a pessoa de
S.Sa. e sobre o trabalho que vem desenvolvendo à frente da Receita Federal.
Nada mais havendo a tratar, declaro encerrada a presente reunião.
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