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Nome do professor PDE: Tania Elisa Boldrini
Área/Disciplina: Artes
Escola de lotação: CEEBJA – Laranjeiras do Sul
NRE: Laranjeiras do Sul
Professor Orientador: Prof. Ms. Francismar Formentão
IES vinculada: UNICENTRO Universidade Estadual do Centro-Oeste Guarapuava
- PR
Município: Laranjeiras do Sul
Arte em construção: o cinema aplicado na reflexão sobre a realidade social
Autora: Tania Elisa Boldrini
RESUMO: A proposta elaborada por meio deste artigo tem por objetivo o estudo sobre as metodologias utilizadas no ensino da arte, discutindo as possibilidades dos recursos cinematográficos e as novas tecnologias digitais para o ensino de estudantes da EJA (Educação de Jovens e Adultos) permitindo a produção de conhecimentos no contato com uma realidade cotidiana. Assim, busca-se com esta proposta de estudo, refletir sobre esta metodologia que pode possibilitar ao aluno expressar suas impressões sobre as relações sociais, culturais e ideológicas no seu contexto cotidiano, permitindo também, a interação dialógica entre a arte e vida.
PALAVRAS-CHAVES: cinema, tecnologias, sociedade, arte.
1. INTRODUÇÃO
Este estudo tem como objetivo a discussão sobre as metodologias utilizadas
no ensino da arte, fazendo uso das tecnologias cinematográficas e digitais,
permitindo aos estudantes participarem ativamente da produção de conhecimentos,
no contato com sua realidade cotidiana, para expressar suas impressões sobre a
relação social, cultural e ideológica do grupo que pertencem.
Na educação voltada para estudantes da Educação de Jovens e Adultos
(EJA), percebe-se uma condição especial de estudo, pois estes alunos normalmente
estão buscando recuperar a escolarização abandonada. Stuart Hall (2010), fala
sobre grupos que ficaram fora dos limites sociais aceitáveis, uma vez que estes
grupos não atendem ao consenso dado.
Permanecer fora do consenso significava estar, não em um sistema de valor alternativo, mas simplesmente fora das normas enquanto tais: sem norma portanto, anômico. Na teoria da sociedade de massa, o anômico era visto como uma condição peculiarmente vulnerável excessiva influência da mídia. (HALL, In: RIBEIRO e SACRAMENTO, 2010, p.288).
Assim, este estudo de uma proposta didática centra-se na promoção de uma
reflexão sobre esta condição anômica de comunicação, pois pode fomentar a
produção de discursos que em sua busca estética produzam questionamentos
destas realidades sociais.
É comum na EJA o cumprimento da Disciplina da Arte como mera obrigação
curricular, muitos estudantes entendem que a arte não contribui para sua
necessidade mais imediata, geralmente trabalho e renda. Assim, neste artigo busca-
se a compreensão de que a arte pode contribuir não apenas para a formação
intelectual, mas também para o diálogo entre o real e o imaginário, por meio do qual
as pessoas tornam-se capazes de reinventar a própria vida e descobrir-se enquanto
agente transformador do mundo.
A busca de alternativas para que os estudantes possam aprender sobre arte
como valor cultural e experienciar suas múltiplas linguagens devem ter a seguinte
problemática: como tornar metodologicamente acessível os conteúdos da Disciplina
de Arte aos estudantes, de forma que possam interagir dialogicamente com a própria
arte, podendo desenvolver senso estético e crítico sobre as produções artísticas e
sobre a própria realidade.
Como caminho metodológico deste estudo, utiliza-se as contribuições de
Mikhail Bakhtin sobre o dialogismo, uma relação discursiva presente na linguagem e
na comunicação. Com o dialogismo pode-se compreender como os discursos são
substancia das metodologias de ensino, e sempre, dialogicamente, existe a
presença de um Outro em cada discurso, neste estudo, os estudantes da EJA.
Outra questão que merece destaque, é a utilização de recursos digitais,
possibilidades da nova tecnologia a qual permite a estes grupos sociais da chamada
aldeia global1, principalmente com a rede mundial de computadores, a internet, a
compreensão de que seus limites culturais e geográficos se ampliam quando se
navega na internet.
Assim, este estudo procura discutir sobre a construção de conhecimentos na
interação entre professor, estudantes, conteúdos organizados e a própria realidade
social. Como proposta, o caminho a ser debatido está no uso das potencialidades da
tecnologia digital aplicadas ao cinema; a história do cinema como arte
transformadora; a realidade social local e regional e o trabalho prático com vídeos.
Permitindo uma ampliação da argumentação para que cada estudante possa
1 Aldeia Global “Uma rede mundial de ordenadores tornará acessível, em alguns minutos, todo o tipo de informação aos estudantes do mundo inteiro.” Marshal Mcluhan. (1964) Ao dizer essa frase foi chamado de louco sonhador, no entanto, hoje, com o advento da internet, sua fala é uma realidade.
elaborar com autonomia conceitos e organizar seus discursos sobre a arte, a vida, a
sociedade e a própria cultura.
2. DIALOGISMO, LINGUAGEM E ARTE
O ensino de arte no Brasil passou por vários períodos, em cada um deles,
esteve ligado a cultura de sua época. Do período colonial até a vinda da Missão
Artística Francesa a arte, enquanto forma de educar, ignorou a cultura nativa,
valorizando no início a religião e os modelos europeus como forma de cultura. Com
o advento da Semana de Arte Moderna de 1922, cujo ideal era o rompimento com o
tradicional e a busca de uma arte nacionalista. O ensino de arte nas escolas passa a
considerar a livre expressão no trabalho artístico. (BESSA-OLIVEIRA, 2010).
Durante a ditadura militar no Brasil, onde ocorre a abertura comercial e ao
mesmo tempo, censuras para alguns artistas, surge a tendência tecnicista que
procura preparar os estudantes para o mercado tecnológicos. Nesse período as
aulas de artes poderiam ser ministrada por professores de outras áreas, e os
conteúdos eram de desenhos técnicos. (BESSA-OLIVEIRA, 2010)
No século XX, as novas teorias valorizam o contexto sociocultural no espaço
e tempo e não a relação da obra ou autor da época. Com a lei nº 5.692/1971 as
aulas de arte passam a ser reconhecidas com o nome de Educação Artística, as
quais os professores de arte deveriam ser polivalentes, trabalhando conteúdos de
artes plásticas, músicas e cênicas, além de serem vistos pela escola como
decoradores de festas e painéis, visão ainda existente em muitas escolas. Porém,
com o aumento de ofertas de cursos para a formação do professor de arte, aumenta
a busca por uma metodologia para o estudo e ensino de arte, com o ideal de
valorizar um ensino que faça relações entre conceitos históricos e contemporâneos.
(BESSA-OLIVEIRA, 2010).
Não se pode ignorar que a cultura acompanha as transformações
tecnológicas e industriais, os estudantes de hoje não são passivos, eles de alguma
forma consomem e produzem arte nas variadas linguagens através de instrumentos
tecnológicos mais acessíveis e a escola precisa fazer desta ação uma aliada na
formação do sujeito capaz de usufruir deste instrumento com criatividade para não
alienar-se ao que está pronto, bem como o reconhecimento da identidade cultural e
de si no processo histórico.
Considerando a nossa relação possível entre as duas, Ensino de Artes = Estudos Culturais, vistas como antidisciplinas, podemos sugerir um ganho para a disciplina de Artes, se na esteira dos Estudos Culturais, ela se voltar para um ensino desformatado e aberto são possibilidades variadas a que um sujeito/aluno, livre de técnicas rígidas, possa desenvolver. (BESSA-OLIVEIRA, 2010, p. 74).
A medida que as tecnologias avançaram, alterou as relações do homem com
seu meio. A escola tem como papel a mediação dos conhecimentos e experiências,
promovendo a emancipação e afirmação do estudante da EJA sobre sua identidade
cultural, bem como, das relações sociais e de trabalho. Para Gadotti, “decifrar o
mundo significa que o acesso à nossa realidade é problemático, que é preciso ir
além das aparências, atrás das máscaras e das ilusões.” (GADOTTI, 2005, p. 40).
Para fazer a mediação do sujeito e seu meio é necessário compreender que a sua
existência é construída na relação de uma sociedade e as condições sócio -
econômicas da mesma, através da ideologia, que pertence a um tempo e espaço,
com a qual os sujeitos formam sua consciência incorporando os significados
ideológicos nas suas ações enquanto membro de um grupo. Para Bakhtin:
A ideologia essa dupla face que faz com que o signo se mantenha na história e também se transforme na interação verbal. Podemos definir a ideologia, portanto, como um conjunto de valores e de ideias que se constitui através da interação verbal de diferentes sujeitos pertencentes a diferentes grupos socialmente organizados na história concreta. (GEGe, 2009, p.60).
É possível perceber que no processo de construção histórica o ensino da arte
na escola acompanhou a relação ideológica com a sociedade onde os signos deram
significado aos valores de cada época e linguagens artísticas. O diálogo entre sujeito
e sociedade determina a construção do Eu através do Outro elaborando o discurso
do sujeito e sua responsabilidade na colaboração de uma sociedade, cuja ética seja
uma prática individual e responsável na participação do grupo.
O sujeito é responsável por todos os momentos constituintes de sua vida porque seus atos são éticos. Em outras palavras, a ética refere-se ao ato de viver uma vida singular, de arriscar, de ousar, de comprometer-se, de assinar responsavelmente seu ponto de vista e seu viver; isso que é responsabilidade e responsividade imediata do sujeito, parte da vida, portanto. (GEGe, 2009, p.43).
Nos constituímos na alteridade, na interação dialógica entre os discursos.
Esta relação dialógica pode ser compreendida de três maneiras: a relação dos
objetos, dos sujeitos com os objetos e dos sujeitos entre si. Para Bakhtin:
Na vida agimos assim, julgando-nos do ponto de vista dos outros, tentando compreender, levar em conta o que é transcendente é nossa própria consciência: assim levamos em conta o valor conferido ao nosso aspecto em função da impressão que ele pode causar em outrem (...) Viver significa participar do diálogo: interrogar, ouvir, responder, concordar, etc. Nesse diálogo, o homem participa por inteiro e com toda vida: com os olhos, com os lábios, as mãos, a alma, todo o corpo, os atos. (GEGe, 2009, p.29).
Na arte, o diálogo ocorre entre o sujeito e as produções artísticas 'objetos',
onde o enunciado é apresentado em forma de objeto, som, imagem, com variadas
técnicas que revelam o diálogo do autor 'sujeito' com a sua realidade, interpretado
pelo espectador 'sujeito' adaptando a realidade na qual está inserido, assim, no
discurso da arte, existe dialogicamente o outro, consumidor desta estética.
A arte está o tempo todo em nossas vidas, porém, para usufruirmos das
propostas artísticas, são necessários conhecimentos históricos e técnicos das
produções. Quando se localiza uma proposta no tempo e no espaço, a cultura, a
economia, a forma de olhar passa a ser diferente. Algo que antes ficaria no 'gostar'
ou 'não gostar', com os conhecimentos: históricos e tecnológicos ampliam a
argumentação modificando o ponto de vista diante de uma proposta artística, ainda
que seja um objeto de uso doméstico. Uma simples xícara hoje tem uma diversidade
de modelos que atende os vários estilos do ser humano tanto na questão econômica
quanto no gosto estético.
Para atender a necessidade do estudante na busca de uma razão no estudo
da arte, considerando o fato que ele está mais preocupado com sua formação em
melhorar sua condição de vida, onde a estética não faz parte dessa prioridade, que
se tem por objetivo encontrar recursos que promovam a valorização da arte
enquanto parte da formação estética e intelectual do sujeito social que produz e
consome arte. Trabalhar com cinema neste caso atende não só os conteúdos da
arte visual, mas também do teatro, da música, da fotografia, assim como a leitura do
cotidiano, registrado com recursos midiáticos que o estudante tem acesso e poderá
fazer uso dessa experiência em outras ocasiões fora do ambiente escolar.
Por uma questão de hábito o homem conceitua o mundo que vê. As vezes
olha com os olhos do coração ou da razão, outras só com os olhos biológicos. Para
Beatriz A. de Moura Fétizon, “a representação está ligada ao conjunto do processo
de conhecimento. Alma a esfera da fantasia, é componente essencial no processo
da memória, do raciocínio e do pensamento discursivo em geral.” (FÉTIZON, In:
TEIXEIRA e PORTO, 1999, p.27). Todo conceito é resultado de uma coleção de
experiências traduzidas com o olhar. Muitas vezes muda-se o modo de olhar e de
compreender o mundo, conforme as experiências que se está vivendo.
Os conceitos ou ideias simplesmente enunciam coisas; não contém em si mesmos nenhuma apreciação. Enquanto mera apreensão do objeto pelo entendimento é sempre uma abstração. Não temos conceitos puros isolados das coisas, sem relação e correlação uns com os outros. (FÉTIZON, in: TEIXEIRA e PORTO. 1999, p.22).
O que agrada em um determinado momento pode desagradar em outro, são
as experiências de cada um no coletivo que modifica o olhar. É a história que
influencia a maneira de ver e perceber as coisas, pois é através da relação cultural
que se estabelece os significados e funções de objetos, imagens, sons, aromas, etc.
É apenas na medida em que a obra é capaz de estabelecer um tal vínculo orgânico e ininterrupto com a ideologia do cotidiano de uma determinada época, que ela é capaz de viver nesta época , ( claro, nos limites de um grupo social determinado). Rompido esse vínculo ela cessa de existir, pois deixa de ser apreendida como ideologicamente significante. (BAKHTIN. 2006, p.122).
E quando os olhos biológicos não enxergam, como é traduzido o mundo? A
beleza? As experiências? Ao vendar os olhos os objetos que fazem parte do
cotidiano ficam diferentes sem o uso da visão, para traduzi-los e significá-los
baseado nos conceitos visuais. Com os olhos vendados poderá possibilitar a
articulação da imaginação, da investigação, da reflexão, da percepção e da
sensibilidade ao experienciar uma alternativa de leitura de objetos. Ampliar sua
capacidade de argumentar e organizar pensamentos, bem como, conhecer
possibilidades diferenciadas de significar produções artísticas, através do tato.
Construir o conhecimento sobre as produções artísticas com um olhar sensível,
atento, respeitando as variações estéticas e culturais rompendo preconceitos.
Experienciando a criação artística, como forma de comunicação, com
conhecimento técnico e histórico, o estudante da EJA, pode vivenciar as
diversidades culturais e sociais, no tempo e no espaço, gerando um novo olhar
diante da sua relação com o meio, colaborando com a formação enquanto sujeito
reflexivo e atuante na história, bem como, experienciar técnicas diferentes de
produção artística. “É enquanto inseridos no contexto sócio econômico de uma
sociedade que os indivíduos podem construir sua existência e em decorrência sua
produtividade cultural.” (GEGe, 2009. p. 56).
Sendo o estudante da EJA sujeito atuante não só no grupo social em que está
inserido, mas também um formador de valores através das mais diversas linguagens
e instrumentos para dialogar com o outro, a proposta de criar um vídeo, nas aulas de
arte, onde o estudante expresse sua leitura de mundo que ao ser apresentada aos
colegas vai gerar a oportunidade de releituras, tanto de quem produz como de quem
assiste, exercendo assim o diálogo através da linguagem artística com a relação
social dos sujeitos envolvidos na proposta.
3. SUPORTE, TÉCNICA E INSTRUMENTOS
O objeto de estudo das artes visuais é a imagem, as quais proporcionam o
desenvolvimento cognitivo do indivíduo. Com as novas tecnologias as pessoas têm
acesso a muitas informações visuais, mas a variedade não significa que elas terão
uma maior compreensão de mundo.
Numa cultura como a nossa, há muito acostumada a dividir e estilhaçar todas as coisas como meio de controlá-las, não deixa, às vezes, de ser um tanto chocante lembrar que, para efeitos práticos e operacionais, o meio é a mensagem. Isto apenas significa que as consequências sociais e pessoais de qualquer meio é, ou seja, de qualquer uma das extensões de nós mesmos constituem o resultado do novo estalo introduzido em nossas vidas por uma tecnologia ou extensão de nós mesmos. (MCLUHAN, 1964, p.11).
O objetivo da arte visual é o de educar o olhar para avaliar as imagens
fazendo uma apreciação qualitativa compreendendo os estímulos visuais. É
necessário ter conhecimentos das linguagens da arte: história, técnicas, os artistas e
suas relações culturais, para que o estudante da EJA possa elaborar suas
produções artísticas de forma criativa e contextualizada.
Uma forma de realizar isso é buscar estimular a imaginação dos estudantes,
como exemplo o texto “O Mito da Caverna”, de Platão, que propõem questões sobre
o modo como o homem de hoje se relaciona com sua realidade a partir da forma de
conceituar as experiências e ocorrências de sua vida.
Assim, uma metodologia a ser utilizada seria esta contextualização, ou seja,
ligar aos exercícios artísticos de aula, os conhecimentos teóricos como o
exemplificado (O Mito da Caverna). Pois, a construção do conhecimento em arte se
faz com o uso destes recursos teóricos, técnicos e a produção prática.
[...] pois o grande desafio do trabalho pedagógico em arte nos dias de hoje não se resume em aceitar e respeitar diversidades, mas principalmente em trabalhar, partilhar, dialogar e recriar conjuntamente a fim de educar para uma sociedade mais justa.
(PARANチ, 2006, p.46).
A medida que o homem se transformou ele necessitou de novos recursos
para sobreviver. Com a arte não foi diferente. Em todas as linguagens da arte, o
artista buscou recursos para produzir seus trabalhos. As mudanças não foram só
nas técnicas, instrumentos ou suportes mas também no significado da produção
artística.
Para que o processo ensino/aprendizagem seja voltado à formação humana
é importante agregar conhecimentos que promovam a emancipação de sua
identidade cultural, onde o estudante é um sujeito, que participa e interfere na
construção histórica da sociedade, assim como, as relações com os outros
promovem a sua própria formação. Segundo Bakhtin, somos a soma das relações
que temos com os outros: “O eu humano, por analogia, não tem existência
independente; depende do meio social, que estimula a sua capacidade de mudança
e resposta.” (STAM, 2000, p.17).
Somos o resultado de uma sucessão de fatos históricos que fazem parte não
só do cotidiano como também de uma relação global. Com o poema “Morte e Vida
Severina” de João Cabral de Mello Neto, por exemplo, pode-se realizar
metodologicamente esta discussão, oportunizando aos estudantes uma reflexão
entre o todo e as partes. Assim, os estudantes podem refletir sobre sua
individualidade enquanto sujeito no grupo ao qual pertencem, podendo compreender
isso com estes recursos da arte, e também registrar de forma criativa a sua
interpretação da relação social enquanto consumidor e produtor cultural.
O aluno precisa ser instigado a buscar o conhecimento, e ter prazer em conhecer, a aprender a pensar, a elaborar as informações para que possam ser aplicadas realidade que está vivendo. No processo de produzir conhecimento torna-se necessário a ousar, criar e refletir sobre os conhecimentos acessados para convertê-los em produção relevante e significativa. (MORAN. 2000, p.79)
Alternativa a isso, além de se refletir sobre o sujeito como um membro de um
grupo social, pode-se usar a criação poética e cinematográfica, como forma de
inspiração para a produção prática de vídeos de curta metragens que expresse a
interpretação do estudante enquanto sujeito social. “Afinal, a arte não é um simples
servo, um simples transmissor de outras ideologias; em vez disso, tem seus próprios
processos independentes e seu papel ideológico.” (STAM, 2000, p. 25).
3.1 CURTA METRAGEM
Existem muitas formas de comunicar-se. Uma delas é a cinematográfica,
através do curta metragem, uma linguagem cuja prática passa a ser possível na
escola. “Considerando as transformações e acesso aos recursos midiáticos, pois, o
homem perpetuamente modificado por ela, mas em compensação sempre encontra
novos meios.” (MCLUHAN, 1964, p.37). Ao experienciar a produção artística, o
estudante estará construindo o seu olhar estético e crítico sobre sua realidade.
A utilização de recursos digitais e possibilidades das novas tecnologias, com a
rede mundial de computadores, a internet, permite aos estudantes a compreensão
de que seus limites culturais e geográficos se ampliam quando se navega na
referida rede de comunicação. Segundo Mcluhan “os meios, como extensão de
nossos sentidos, estabelecem novos índices relacionais, não apenas entre os
nossos sentidos particulares, como também entre si, na medida em que se inter-
relacionam.” (MCLUHAN, 1964, p. 41).
Para a projeção de filmes na tela em salas de cinema, foi necessário, mais
que a evolução tecnológica, criando efeitos especiais com o propósito de encantar o
espectador, o cinema precisou adaptar-se às relações econômicas e culturais de
cada período histórico. Segundo Mcluhan, “O homem tipográfico adaptou-se logo ao
cinema, porque o filme, como o livro, oferece um mundo interior de fantasia e sonho.
O espectador de cinema senta-se em solidão psicológica como o leitor de livros.”
(MCLUHAN, 1964, p.195).
A ideia de trabalhar o cinema na sala de aula é uma forma de ofertar ao
estudante o reencontro com a cultura cotidiana, uma vez que, sintetiza a estética, o
lazer, a ideologia e os valores sociais em uma obra de arte com imagens, sons e
movimentos, voltadas cada vez mais para o espectador formado pelas novas
tecnologias de comunicação. Segundo Stam “assim como o cinema primitivo se
aproximou dos experimentos científicos, do burlesco e dos programas de feira, as
novas formas de pós-cinema se avizinham das compras feitas sem sair de casa, dos
videogames e dos CD-ROMs”. (STAM, 2000, p.349).
Ao trabalhar o cinema na sala de aula, mais que levar ao estudante um filme
para que ele assista e elabore conceitos sobre as questões apresentadas, contando
com as facilidades ao acesso de instrumentos tecnológicos e programas, o
estudante usará a mídia e suas múltiplas linguagens como forma de produção e
expressão, registrando sua impressão sobre a sua relação com o seu meio no
cotidiano.
Assim, a produção artística vai além do dom ou luz divina, na arte faz-se
necessário o olhar para o objeto ou fato a ser trabalhado por diversos ângulos, bem
como, experimentar diversas técnicas para concluir o objetivo. Vem daí a
necessidade de buscar metodologias que levem o estudante a ser consumidor e
produtor de arte.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pesquisar metodologias alternativas para que o estudante da EJA perceba a
importância de estudar arte, tem por objetivo pedagógico valorizar a cultura, trabalho
e tempo. Nesse contexto ao experienciar a criação com técnicas e recursos para
produção de curta metragem, ele mesmo perceberá que a arte é um meio de
comunicação a qual expressa o entendimento do sujeito na relação com o mundo.
Trabalhar com cinema neste caso atende não só aos conteúdos da arte visual, mas
também do teatro, da música, da fotografia, assim como na leitura do cotidiano,
registrado com recursos midiáticos que o estudante tem acesso além de poder fazer
uso dessa experiência em outras ocasiões fora do ambiente escolar. O estudante
precisa de argumentos como: instrumentos, sujeito e ambiente para poder criar. Para
que essa realidade promova a busca de alternativas que proporcionem o
aprendizado, não só acumulando conhecimentos, mas também para levar o
estudante da EJA a experienciar produção artística com recursos acessíveis.
O fato do estudante vivenciar arte como produtor, não vai fazer dele um
artista, mas poderá auxiliá-lo a perceber-se enquanto sujeito, que dialoga e
transforma-se a partir da aquisição de conhecimentos, com os quais pode encontrar
mais facilidades para expressar suas ideias. Trabalhar com curta metragem na aula
de arte oportuniza vivenciar a mágica da criação imaginativa. Pensar o sujeito na
atualidade, que mesmo tendo tantas oportunidades para ampliar seu repertório de
informações, corre o risco de ter sua individualidade fragmentada por centrar-se na
prioridade de sobreviver, muitas vezes deixando de lado a sua relação com o mundo
mágico do som e da imagem em movimento.
A arte é o instrumento com o qual os indivíduos fazem dos signos um recurso
para ressignificar as relações dos sujeitos, pois, “o que se chama habitualmente
'individualidade criadora' constitui a expressão do núcleo central sólido e durável da
orientação social do indivíduo.” (BAKHTIN, 2006. p. 115). Afinal, o objeto artístico é o
resultado da leitura que o indivíduo faz das relações humanas, e que enquanto
sujeito, produz a obra que será ressignificada por quem aprecia. O professor,
através da escola, oportuniza o estudante a vivenciar experiências que formem o
olhar para tornar-se consumidor, bem como, produtor de arte articulando os
conhecimentos, as práticas e os fatos de sua realidade social.
5. REFERÊNCIAS
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João, 2010.
BESSA-OLIVEIRA, Marcos Antônio, Ensino de Artes X Estudos Culturais: para
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Tecnologias. Brasília: Ministério da Educação/ Secretaria de Educação Mídia e
Tecnológica, 1998.
FÉTIZON, Beatriz A . de Moura, Imagem da cultura: um outro olhar, in: TEIXEIRA,
Maria Cecilia Sanchez e PORTO, Maria do Rosário Silveira (orgs). Plêiade, São
Paulo 1999.
GEGe, Grupo de Estudo dos Gêneros do Discurso. Palavras e Contrapalavras:
Glossariando conceitos, categorias e noções de Bakhtin. São Carlos: Pedro e João
Editores, 2009.
GADOTTI, Moacir. Educação e Poder: Introdução a Pedagogia do conflito. São
Paulo, Cortez, 2005
HALL, Stuart. A redescoberta da ideologia: o retorno do recalcado nos estudos da
mídia. In: RIBEIRO, Ana Paula Goulart e SACRAMENTO, Igor (orgs.). Mikhail
Bakhtin: Linguagem, Cultura e Mídia. São Carlos: Pedro & João Editores, 2010.
MCLUHAN, Marshall, Os Meios de Comunicação com Extensões do Homem,
Editora Cultrix, São Paulo, 1964.
MELO, NETO, João Cabral de, Morte e vida severina e outros poemas para
vozes. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006
MORAN, José Manuel. Novas Tecnologias e Mediação Pedagógica. Campinas.
Papirus. 3ェ Edição. 2000
PARANÁ, CEEBJA - LJS, Proposta Pedagógica Curricular – Educação de Jovens
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PARANÁ, Secretaria de Estado e Educação. Diretrizes Curriculares da Educação
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PLATテO. A República. Tradução Carlos Alberto Nunes. Belém: EDUFPA, 2000.
p.319-322.
RIBEIRO, Ana Paula Goulart e SACRAMENTO, Igor (orgs.). Mikhail Bakhtin:
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STAM, Robert, Introdução a teoria do cinema, Campinas, Papiros, 2003