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Performances Interacionais e Mediações Sociotécnicas Salvador - 10 e 11 de outubro de 2013 Ações coletivas em espaços híbridos: I voted. Did You? 1 Jandré Corrêa Batista 2 Sandra Mara Garcia Henriques 3 Resumo: Na sociedade contemporânea, é possível perceber que as manifestações sociais entre os sujeitos são cada vez mais potencializadas com o uso das tecnologias móveis de comunicação e informação. Dessa forma, este artigo buscou contribuir para a observação de como o engajamento social em ações coletivas vem sendo desenvolvido com a mobilidade proporcionada por essas tecnologias e com a ampliação da capacidade de interação social tanto no espaço físico quanto no virtual. Para tanto, com o apoio de teóricos como Green (2002), Gohn (1997; 2007), Lemos (2007) e Sádaba (2007), serão discutidos aspectos relacionados às cibercidades e às transformações das dinâmicas da ação coletiva. Para este trabalho, realizamos uma observação sobre a ação “I Voted”, desenvolvido nos EUA durante a eleição presidencial de 2012. Em tal ação, foi utilizada a rede social móvel Foursquare para promover um maior engajamento eleitoral entre os sujeitos. Palavras-chave: Espaços híbridos; ação coletiva; I voted; Foursquare; cibercidade Abstract: In contemporary society, it is possible to realize that social events among subjects are increasingly leveraged with the use of mobile technologies of communication and information. Thus, this paper aims to contribute to the observation of how social engagement in collective action has been developed with the mobility afforded by these technologies and the expansion of the capacity of social interaction both in physical and in virtual space. Therefore, with the support of theoretical and Green (2002), Gohn (1997, 2007), Lemos (2007) and Sádaba (2007), discussed aspects related to cybercities and transformations of the dynamics of collective action. For this study we note about the action "I Voted" developed in the USA during the 2012 presidential election. In such an action, we used the mobile social network Foursquare to promote greater engagement between electoral subjects. Keywords: Hybrid spaces; collective action I voted; Foursquare; cybercity Introdução O ambiente comunicacional contemporâneo, por meio das tecnologias móveis de comunicação e informação, presentes em espaços ubíquos, vem proporcionando mudanças sociais e culturais na sociedade e na forma como as pessoas passam a interagir e formar grupos. A mobilidade proporcionada por essas tecnologias amplia uma rede viva de agentes 1 Artigo submetido ao NT 3 Sociabilidade, novas tecnologias, política e ativismo do SIMSOCIAL 2013. 2 Mestre em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), bacharel em Comunicação Social Jornalismo pela Universidade Católica de Pelotas (UCPel) e licenciado em Letras pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Atualmente, é doutorando e bolsista CAPES/DS do Programa de Pós-graduação em Comunicação e Informação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Contato: [email protected]. 33 Mestre em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e bacharel em Comunicação Social Jornalismo pela Universidade Católica de Pelotas (UCPel). Atualmente, é doutoranda e bolsista CAPES/FAPERGS do Programa de Pós-graduação em Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Contato: [email protected].

O ambiente comunicacional contemporâneo, por meio das ...gitsufba.net/anais/wp-content/uploads/2013/09/13n3_acoes_49504.pdf · novas formas de se observar os espaços urbanos, alterando

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Performances Interacionais e Mediações Sociotécnicas Salvador - 10 e 11 de outubro de 2013

Ações coletivas em espaços híbridos: I voted. Did You?1

Jandré Corrêa Batista2

Sandra Mara Garcia Henriques3

Resumo: Na sociedade contemporânea, é possível perceber que as manifestações sociais entre os sujeitos são

cada vez mais potencializadas com o uso das tecnologias móveis de comunicação e informação. Dessa forma,

este artigo buscou contribuir para a observação de como o engajamento social em ações coletivas vem sendo

desenvolvido com a mobilidade proporcionada por essas tecnologias e com a ampliação da capacidade de

interação social tanto no espaço físico quanto no virtual. Para tanto, com o apoio de teóricos como Green (2002),

Gohn (1997; 2007), Lemos (2007) e Sádaba (2007), serão discutidos aspectos relacionados às cibercidades e às

transformações das dinâmicas da ação coletiva. Para este trabalho, realizamos uma observação sobre a ação “I

Voted”, desenvolvido nos EUA durante a eleição presidencial de 2012. Em tal ação, foi utilizada a rede social móvel Foursquare para promover um maior engajamento eleitoral entre os sujeitos.

Palavras-chave: Espaços híbridos; ação coletiva; I voted; Foursquare; cibercidade

Abstract: In contemporary society, it is possible to realize that social events among subjects are increasingly

leveraged with the use of mobile technologies of communication and information. Thus, this paper aims to

contribute to the observation of how social engagement in collective action has been developed with the mobility

afforded by these technologies and the expansion of the capacity of social interaction both in physical and in virtual space. Therefore, with the support of theoretical and Green (2002), Gohn (1997, 2007), Lemos (2007) and

Sádaba (2007), discussed aspects related to cybercities and transformations of the dynamics of collective action.

For this study we note about the action "I Voted" developed in the USA during the 2012 presidential election. In

such an action, we used the mobile social network Foursquare to promote greater engagement between electoral

subjects.

Keywords: Hybrid spaces; collective action I voted; Foursquare; cybercity

Introdução

O ambiente comunicacional contemporâneo, por meio das tecnologias móveis de

comunicação e informação, presentes em espaços ubíquos, vem proporcionando mudanças

sociais e culturais na sociedade e na forma como as pessoas passam a interagir e formar

grupos. A mobilidade proporcionada por essas tecnologias amplia uma rede viva de agentes

1 Artigo submetido ao NT 3 – Sociabilidade, novas tecnologias, política e ativismo do SIMSOCIAL 2013. 2 Mestre em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS),

bacharel em Comunicação Social – Jornalismo pela Universidade Católica de Pelotas (UCPel) e licenciado em

Letras pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Atualmente, é doutorando e bolsista CAPES/DS do

Programa de Pós-graduação em Comunicação e Informação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul

(UFRGS). Contato: [email protected]. 33 Mestre em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e bacharel em

Comunicação Social – Jornalismo pela Universidade Católica de Pelotas (UCPel). Atualmente, é doutoranda e

bolsista CAPES/FAPERGS do Programa de Pós-graduação em Comunicação Social da Pontifícia Universidade

Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Contato: [email protected].

móveis em benefício das mais diversas atividades, além de ajudar na formação de redes

flexíveis de pessoas em busca de um interesse comum, ou de um sentimento de pertença.

É possível acompanhar e vivenciar as influências que essas tecnologias possuem no

desenvolvimento dos grupos nas cidades em prol - ou contra - determinado contexto social,

ou engajados por uma causa, ou até mesmo pelo fato de apenas mostrar, dar visibilidade ao

seu cotidiano – onde se está e o que está fazendo naquele momento. Observar esse contexto é

fundamental para que seja possível vislumbrar quais os efeitos sociais causados por essa nova

forma de lidar com a comunicação e a interação entre os sujeitos e a sua relação com os

espaços urbanos e virtuais.

Diante disso, nossa proposta é discutir os aspectos que unem os sujeitos – em novos

agrupamentos, para o engajamento em ações coletivas, tendo como um dos fatores

fundamentais a mobilidade tecnológica que permite aos sujeitos a distribuição e colaboração

de informações em espaços híbridos. Nesta proposta, apontaremos algumas considerações

acerca do uso da rede social móvel Foursquare como estratégia de engajamento cívico durante

as eleições presidenciais estadunidenses de 2012. Com base nos esforços teóricos, trazendo

para a discussão autores como Green (2002), Lemos (2007), Bimber et al. (2005) e Margetts

et al. (2012), buscamos ressaltar as potencialidades de engajamento que as tecnologias móveis

de comunicação e informação proporcionam às dinâmicas da ação coletiva, a partir dos usos e

apropriações dos sujeitos, na paisagem midiática contemporânea.

1 Espaços híbridos e a formação de novos grupos

As relações de proximidade, presença, distância e mobilidade precisam ser reavaliadas

nestes atuais tempos móveis (GREEN, 2002) para que a relação entre espaço e tempo possa

ser compreendida em nosso contexto atual. É desse ponto que partimos para entender que as

relações entre público, privado, subjetivo e emocional passam a ser tratadas sob uma nova

perspectiva (GREEN, 2002), associada a espaços de interação social que atualmente se

misturam entre os espaços urbanos e a virtualidade do ciberespaço (SANTAELLA, 2007).

Um ponto fundamental para se compreender esses fatores é a mobilidade tecnológica.

Trata-se do movimento dos corpos em espaços, localidades e entre espaços públicos e

privados, munidos de aparatos tecnológicos móveis que ampliam as possibilidades de

comunicação e de informação dos sujeitos, potencializando a formação de outros grupos. Essa

mobilidade proporcionada pela tecnologia torna os espaços inteligentes, de forma ubíqua, por

meio de objetos interativos..Nesse sentido, Mitchel (2002, p. 78) ressalta que, atualmente,

somos “verdadeiros habitantes de ambientes eletronicamente mediados, e não mais simples

usuários de aparelhos computacionais”.

Com a internet, as noções de espaço sofreram algumas transformações, principalmente

quando se trata da difusão das tecnologias móveis, como telefones celulares, laptops, tablets,

conexões via internet sem fio (Wi-Fi). Essas tecnologias permitem exercer um maior controle

sobre o espaço e o tempo, agindo também como ferramentas de territorialização. Esse espaço

passa a ter então um novo significado, uma outra reconfiguração, pois envolve os espaços

urbanos das cidades e o espaço virtual das tecnologias – o ciberespaço.

Assim, podemos, então, enfatizar que estamos vivenciando o desenvolvimento da

hibridização dos espaços, na qual o virtual, trazido pelas tecnologias, designado como

ciberespaço, e o urbano vivido, no contexto das cidades, passam a constituir outro espaço,

com características próprias, que já fazem parte do cotidiano dos sujeitos de forma, na maioria

das vezes, imperceptível.

Com essa hibridização dos espaços físico e virtual, há uma mudança na apropriação

dos indivíduos com relação às cidades. As tecnologias móveis têm papel determinante nessas

novas formas de se observar os espaços urbanos, alterando os processos de interação entre os

indivíduos. As cidades também passam a conter novos significados. Vive-se na cidade da

cibercultura, ou seja, uma cidade amplamente conectada – a cibercidade (LEMOS, 2007).

Essas novas formas de nomadismo somente são possíveis em razão de se experienciar uma

cultura da conexão generalizada, em grande parte proporcionada pelas tecnologias móveis de

comunicação e informação. Com o avanço dessas tecnologias, o acesso always on pode

expandir uma nova forma de distribuição e colaboração de informação, proporcionando que

sujeitos distintos passem a interagir e difundir informações em tempo real, é o que Manovich

(2005) denomina de tecnologias Cellspace.

Há, também, outra configuração nas relações entre os sujeitos. O hibridismo entre os

espaços virtual e físico pode vir a reforçar os laços sociais, renovando ou criando condições

sociais para a interação. Nos espaços híbridos, encontramos padrões de sociabilidade

diferenciados, bem como uma redefinição dos espaços públicos e privados (SOUZA e

SILVA, 2005), nos quais já não se percebe onde termina um e começa o outro.

Com a mobilidade tecnológica, as redes passam a configurar uma forma de grupo que

agrega os espaços híbridos ao seu contexto de mobilização – as novas tribos urbanas

(MAFFESOLI, 1996; 2000). Podemos citar como exemplo as smartmobs (RHEINGOLD,

2002), nas quais as pessoas conectadas com as tecnologias móveis de comunicação e

informação reúnem-se, mesmo sem se conhecer, e cooperam em ações coletivas de maneira

inédita nos espaços urbanos. Esses grupos, chamados de redes sociais móveis (HENRIQUES,

2011), constroem por meio das interações sociais proporcionadas pelas tecnologias móveis de

comunicação e informação em espaços híbridos. Sites de redes sociais móveis, como o

Foursquare, que abordaremos no decorrer deste artigo, também proporcionam a formação de

grupos nos espaços da cidade através da possibilidade de encontrar pessoas e saber o que está

acontecendo ao seu redor. Assim, podemos salientar que, com essas novas formas de

interação entre os sujeitos, há a possibilidade de mobilizações sociais que podem gerar ações

coletivas em prol – ou contra – determinado fato ou contexto social.

Até o momento, enfatizamos as novas formas de os sujeitos interagirem com os

espaços híbridos e, rapidamente, apresentamos como esse processo vem se desenvolvendo na

sociedade contemporânea. Observarmos os potenciais das tecnologias móveis de

comunicação e seu reflexo no cotidiano dos sujeitos. Por fim, tratamos das potencialidades

que essa tecnologia proporciona para a formação de outros grupos, que podem vir a participar

de forma efetiva em ações coletivas. A próxima etapa deste trabalho trará conceitos para que

possamos compreender essas ações coletivas.

2 A ação coletiva na internet

As ações coletivas foram pensadas de diversas formas (GOHN, 1997; 2007) ao longo

da trajetória do pensamento social, tendo reflexo nas noções acadêmicas sobre os movimentos

sociais, as concepções de Estado, mercado e sociedade, entre tantos outros temas

contemplados por diversas áreas interessadas nas relações comportamentais do sujeito com os

grupos sociais. No chamado paradigma da Teoria da Mobilização dos Recursos (MR), o

trabalho de Mancur Olson (1965) foi considerado pioneiro para a superação de uma visão,

hoje considerada acrítica, sobre o agir coletivo (BIMBER et al. (2005) e LUPIA e SIN (2003)). Pelo

viés da microeconomia, The logic of Collective Action contribuiu para o distanciamento da

visão clássica: posicionou-se, ao mesmo tempo, de forma contrária à perspectiva marxista e

ao liberalismo.

Até então, pressupunha-se que as contribuições individuais dos sujeitos – quando

agissem isoladamente buscando o próprio interesse – seriam equivalentes à sua atuação em

grupos sociais nas ocasiões de mobilização em prol bem coletivo, considerando, para isso, o

alinhamento de seus interesses pessoais aos dos membros do grupo. A problematização das

condutas dos sujeitos utilitaristas (que visam maximizar o benefício próprio no âmbito

coletivo, os chamados free-riders) é central em seu pensamento. Esse autor, sistematicamente,

estabelece três critérios para a eficiência de uma ação coletiva. A maior atenção, em seu

pensamento, recai sobre as dimensões dos grupos sociais: se uma ação coletiva não for

coordenada por grupos de pequenas dimensões, dificilmente se alcançará sucesso em termos

de coordenação. Os seus argumentos baseiam-se nas dificuldades organizacionais dos grupos

maiores, de estabelecer internamente um consenso entre os membros e de que as ações

individuais sejam visíveis pelos demais integrantes.

Essas considerações, dentro da perspectiva da MR, têm sido revisitadas por uma série

de esforços teóricos (como LUPIA e SIN, 2003; BIMBER et al., 2005; FLANAGIN et al.,

2007; MARGETTS et al, 2009; BATISTA e HENRIQUES, 2012). Pela existência de outras

possibilidades de interação e organização social no contexto comunicacional contemporâneo,

principalmente pela emergência da World Wide Web na década 1990, a ideia do privilégio dos

grupos pequenos na consecução das ações coletivas começou a ser revista. Grandes

multidões, as multidões inteligentes (RHEINGOLD, 2002), possuem hoje outro aparato

comunicacional à sua disposição, o que fornece subsídios para se repensar a noção dos custos

de organização social, da contribuição da visibilidade e da influência social em rede para a

promoção da participação política dos sujeitos.

O amplo enfoque da MR sobre as estruturas de oportunidade burocrática e de

mobilização social passou por diversas rupturas no pensamento da teoria da ação coletiva (cf.

SÁDABA, 2007). O reconhecimento da subjetividade por trás da ação dos grupos sociais

passou a rejeitar a visão “institucionalizada” sobre os movimentos sociais. Conforme elenca

Gohn (1997), elementos como cultura, identidade, ideologia e valores ganharam novos

contornos: a ação coletiva não é mais vista pelo viés exclusivamente utilitarista, cedendo,

assim, espaço para o paradigma da Mobilização Política, perspectiva responsável por

redescobrir a subjetividade no agir coletivo.4

Mesmo que estejamos afiliados à linha de pensamento proposta pela Teoria da

Mobilização Política e dos Novos Movimentos Sociais, a qual privilegia a subjetividade no

estudo das ações coletivas em detrimento dos recursos de oportunidade para a mobilização

social, neste momento torna-se importante revisitar aspectos estruturais do paradigma da

Mobilização dos Recursos para discutir como as transformações comunicacionais,

acompanhadas pela apropriação social e política dos sujeitos, podem tensionar as dinâmicas

da ação coletiva.

Nos esforços mais recentes na abordagem da MR, que buscam revisitar principalmente

os conceitos trazidos por Olson (1965), há certo consenso quanto à sopreposição das

capacidades comunicativas dos grupos sociais sobre as suas dimensões. Lupia e Sin (2003),

por exemplo, utilizam-se de um modelo teórico para argumentar a invalidade da assertiva

anterior: os autores comparam um grupo pequeno com pouca capacidade comunicativa a um

grupo maior conectado à internet. Haveria, assim, uma superação coordenativa do grupo

maior, altamente conectado, em relação ao grupo menor, com menor poder de comunicação.

Ainda que as interações em rede não eliminem a prática do free-riding, o conhecimento

público, disponível na rede, sobre as ações e o comprometimento individual dos membros do

grupo são essenciais para justificar a superação da perspectiva anterior.

Nesse sentido, a ruptura do distanciamento entre as informações públicas e privadas

são responsáveis, segundo Bimber et al. (2005), para a emergência de outra noção de

comunalidade. Para esses pesquisadores, a contribuição das tecnologias de comunicação e

informação contemporâneas pode ser percebida pela passagem de uma comunalidade-de-

primeira-ordem para uma comunalidade-de-segunda-ordem. Na de primeira ordem, as

informações coletivas são construídas a partir da coleta, armazenamento e compartilhamento

de informação entre membros de um mesmo grupo, o que presume participações intencionais,

significativas, custos expressivos e esforços coordenados. Nesse cenário, um sujeito (ou

poucos) é incapaz de prover toda a informação e arcar com todos os custos de organização e

4 No contexto europeu, a perspectiva dos “novos movimentos sociais”, inspirada nos grupos alemães de atuação

cívica da década de 1970, também emergiu em oposição à visão restrita da racionalidade dos grupos sociais

presente nas abordagens anteriores (cf. SÁDABA, 2007). As redes, enquanto potenciais “mobilizadoras”, passam a atrair, assim, o olhar acadêmico em uma linha convergente, pela perspectiva da Teorias dos Novos

Movimentos Sociais e das Teorias da Mobilização dos Recursos (cf. SCHERER-WARREN, 2006).

manutenção por si só. A prática de free-riding (a omissão da ação individual que beneficiaria

o grupo em razão da possibilidade de receber sem contribuir), assim, é uma ameaça ao

coletivo; e a participação, uma decisão binária (em colaborar ou não). Na comunalidade-de-

segunda-ordem, os sujeitos são passíveis de contribuir com informações sem o conhecimento

acerca da contribuição de outros, ou, ainda, sem ter o claro entendimento de colaborar com os

grupos sociais. Essas formas de contribuição aos repositórios coletivos podem ser percebidas

de diversas formas na web: como publicar informações em um site de redes sociais ou em um

weblog, participar em discussões em fóruns, expor a rede de contatos e interesses comuns,

repassar e-mails, entre outras práticas comuns dentro do espírito da cibercultura (cf. LEMOS,

2002).

Para esses autores (Bimber et al., 2005 e Flanagin et al., 2006), há, no contexto

contemporâneo, um processo de transformação da relação de percepção dos sujeito com a

coletividade. Argumenta-se sobre a passagem de uma decisão binária acerca do custo-

benefício em integrar a ação coletiva (decisão se deve participar ou não) para o compromisso

dos sujeitos de migrarem do espaço privado para o público. Contemporaneamente, não

haveria sequer precisão sobre os limites entre essas duas esferas. Com o borramento entre as

fronteiras entre público e privado, o sujeito, de antemão, não estaria mais protegido na zona

de sua individualidade, mas, sim, inserido no âmbito coletivo. A sua predisposição de atuar

em causas sociais, dessa forma, pode ser facilitada em razão de seu reposicionamento em

outra esfera de pertença (passagem do privado para o público).

Margetts et al. (2012) investigam mais profundamente sobre o papel da influência

social e da visibilidade das ações individuais como incentivo (ou não) para a atuação dos

sujeitos em ações coletivas. O estudo mostra, com base em experimentos empíricos, as

influências que estão em jogo para o incentivo para a tomada de decisão (em colaborar ou não

com uma ação coletiva). Por visibilidade, entende-se o acesso de outros sujeitos (a rede de

contatos) às informações sobre as suas ações individuais (no sentido informacional rede-

sujeito). Por influência social, os pesquisadores abarcam a possibilidade de se ter

conhecimento sobre o comportamento de outros sujeitos e grupos (informação no sentido

sujeito-rede). Presume-se que esses dois elementos possam influenciar a participação coletiva

por dois motivos: “constrangimento” (shame) e “busca por prestígio” (prestige-seeking)

(MARGETTS et al., 2012, p. 4) (o que pode ser sistematizado pelo conceito de Capital Social

(cf. COLEMAN, 2007; BERTOLINI e BRAVO, 2004; ELLISON et al., 2007). Acredita-se,

assim, que as pressões sociais sobre o sujeito posicionam-no numa atitude mais disposta

social e politicamente à cooperação.

Consideramos que esses elementos de influência social – constrangimento e prestígio

– são insuficientes por si só para pensarmos a disposição dos sujeitos em atuar ou não em prol

de causas coletivas. No entanto, estes auxiliam parcialmente para a compreensão das

dinâmicas informacionais em que as ações coletivas estão (cada vez mais) inseridas. Outros

elementos subjetivos, conforme os paradigmas mais recentes sobre os movimentos sociais,

como identidade, ideologia, valores etc. parecem mais significativos para explicar a

emergência e a participação coletiva; mas nem por isso os aspectos estruturais dos recursos

comunicacionais e as posturas utilitaristas devem ser excluídas da equação.

No estudo de Margett et al. (2012), são levados em consideração os diferentes

aspectos da personalidade, comumente utilizados por cientistas sociais e economistas (The

Big Five personality traits: openness, conscieniousness, extraversion, agreeableness and

neuroticism). Pelo experimento empírico, utilizando-se de um public goods game, os

pesquisadores atestam que a visibilidade (informação sentido rede-sujeito) é um elemento

determinante para a motivação à ação coletiva no nível individual. Por outro lado, as

informações sociais (informações no sentido sujeito-rede) contribuíram com a ação coletiva

de formas diversas. Nas vezes em que o public good está quase sendo alcançado, assim como

nos casos em que este será atingido independentemente do número de contribuições, a

influência social não pareceu ser significativa. No entanto, visibilidade e a influência social

impactaram expressivamente no processo inicial de agregação.

Assim, considerando os traços de personalidade avaliados pelos pesquisadores (Big

Five traits), o estudo indica que sujeitos individualistas (pro-selfs) tendem a colaborar mais

quando as suas ações ganham visibilidade pública. Diferentemente, os sujeitos cujas

características são voltadas para o coletivo (pro-socials) parecem receber menos influência

pelo conhecimento sobre o comportamento de outros e sobre a visibilidade de suas ações

individuais. Mesmo que consideremos problemática a categorização antagônica entre sujeitos

adotada pelos pesquisadores (pro-social e pro-self), as discussões levantadas são importantes

para promover a reflexão sobre as potencialidades da apropriação das ferramentas digitais

para o incentivo à ação coletiva. Um dos meios e casos em que se pode discutir teórica e

empiricamente essas questões é o exemplo de mobilização política registrado nos Estados

Unidos em 2012, emblematizado pela expressão “I Voted”, via sites de redes sociais como o

Foursquare, o Twitter e o Facebook.

3 A ação I Voted no Foursquare

Tornar as cidades mais interessantes de serem exploradas é a principal contribuição do

Foursquare, um serviço de geolocalização, apoiado em uma plataforma web; um aplicativo

gratuito lançado em março de 2009, por Dennis Crowley e Naveen Selvadurai. O software,

instalado em um telefone móvel (iPhone, Android, Blackberry, Windows Mobile, entre

outros) serve como um guia social e um jogo que desafia os utilizadores a ter novas

experiências urbanas, recompensando-os por isso.

O Foursquare tem como proposta compartilhar e salvar on-line os lugares físicos que o

sujeito visita. Por meio do check-in realizado no local em que o sujeito está no momento, é

possível visualizar amigos próximos e encontrá-los. Além disso, o Foursquare faz

recomendações personalizadas e promoções baseadas nos locais em que o indivíduo fez o

check-in. É possível também realizar um check-in privado, o qual não mostrará a sua

localização. Os amigos poderão ficar sabendo a localização por meio do próprio Foursquare,

ou também de sites de redes sociais como Twitter e Facebook, caso o sujeito tenha

configurado seu aplicativo para direcionar sua localização para que sejam mostradas nesses

sites de redes sociais. O sujeito também tem acesso aos locais onde estão seus amigos,

podendo, assim, encontrá-los ou mesmo acrescentar algumas informações aos locais onde eles

estão.

O Foursquare, como forma de incentivar a participação dos indivíduos, possui badges,

uma espécie de selos que funcionam como pequenas recompensas que o indivíduo ganha por

fazer check-in em lugares interessantes. Com a apropriação social da ferramenta, vários usos

estão sendo feitos com o Foursquare, não apenas para revelar o local onde o sujeito está, mas,

além disso, para marcar presença em ações coletivas, muitas vezes de cunho político, devido

ao potencial participativo que essa rede social possui nos espaços híbridos.

Desde as eleições estadunidenses realizadas em 2008, as redes sociais vêm ganhando

destaque nos processos de participação democrática. Segundo Hendricks e Denton, 2010)

nessa ocasião, a apropriação política adotada pela campanha de Barack Obama (marcada pela

expressão Yes, We Can!) superou pela primeira vez a utilização das outras mídias, pautando

as novas estratégias de campanha eleitoral.

Nas eleições em 2010, a rede social móvel Foursquare lançou um aplicativo e uma

badge na qual os eleitores, ao realizarem um check-in no local de votação ganhariam esse

emblema, que poderia ser visualizado pelos demais eleitores que utilizavam esta rede. Esse

projeto serviu como um teste para a compreensão de como poderiam ser utilizados esses

dados para a futura eleição presidencial de 2012. Na época, o Foursquare possuía 2,4 milhões

de usuários nos Estados Unidos.

Assim, durante as eleições presidenciais de 2012, nos Estados Unidos, como forma de

motivar o engajamento cívico, a população foi incentivada a participar do processo eleitoral

também pelas redes sociais móveis. Como parte da cultura organizacional naquele país, várias

empresas ofereceram incentivos para que os eleitores saiam de suas casas para exercer o

direito ao voto.

Esses incentivos também estão associados à participação dos sujeitos em sites de redes

sociais (Facebook, Twitter e Foursquare). Presenciou-se, assim, uma expansão na expectativa

dos sujeitos de que seu voto seja concebido como uma experiência social, digna de ser

compartilhada com família, amigos e desconhecidos, seja no Facebook, Foursquare ou

Twitter (SCOLA, 2010). Em 2012, através da rede social móvel Foursquare, os sujeitos

puderam saber mais sobre seu local de votação e sobre os candidatos e propostas de cada um.

No dia da eleição, os sujeitos ainda puderam acompanhar a votação em tempo real.

Figura 1: mapa da ação I voted no Foursquare

Figura 2: explicação do Foursquare sobre a ação I Voted

Com a chamada “Get your civic duty on!” (“ative o seu dever cívico”, em tradução

livre), o Foursquare preparou um bagde com o emblema I Voted 2012, similar ao adesivo que

os eleitores ganharam quando chegaram às urnas. Bastava chegar ao local de votação, incluir

a hashtag #ivoted e fazer o check-in para desbloquear a badge. Os sujeitos ainda tiveram a

oportunidade de ver o que os outros estavam comentando sobre as eleições em tempo real.

Assim, a rede social móvel buscou incentivar os sujeitos a participarem das eleições (cabe

salientar que o eleitor não é obrigado a votar nas eleições realizadas nos Estados Unidos), por

isso a relevância do esforço motivacional.

No caso da apropriação do Foursquare para o incentivo à participação democrática nos

Estados Unidos, em 2012, podem ser experimentadas diversas das questões apontadas neste

esforço teórico sobre as transformações das dinâmicas da ação coletiva no contexto

comunicacional contemporâneo. Os principais elementos que podem ser discutidos no caso

em tela, como motivadores da ação coletiva, referem-se à influência da informação

geolocalizada associada à visibilidade das ações individuais em rede e ao conhecimento do

sujeito quanto ao comportamento de outros.

4 Ações coletivas em espaços híbridos

Conforme as discussões trazidas acerca da ação coletiva nesse contexto, pelos autores

Bimber et al. (2005), a aceitação da população sobre a proposta do Foursquare em usar o

badge I voted pode consituir-se como um dos exemplos da formação de uma comunalidade-

de-segunda-ordem. Entre os elementos citados por esses teóricos, os participantes da

campanha I voted não necessariamente conhecem uns aos outros; possuem baixos custos em

participação (devido à amplitude das trocas de informação e da possibilidade de interação

nessa rede social móvel. No caso do Foursquare, a informação geolocalizada potencializa as

ações dos sujeitos nas cibercidades); estão pré-dispostos à cooperação (em razão da

ambiguidade entre os espaços públicos e privados); e não demandam grandes esforços

coordenativos (com a contribuição das tecnologias móveis de comunicação e informação,

essas tribos urbanas reúnem-se em espaços híbridos para cooperar de forma voluntária,

interagindo e distribuindo informações em tempo real).

Nessa mobilização, a discussão levantada sobre a relação entre público e privado

também é indicativa. O sujeito, ao estar inserido “naturalmente” na esfera da coletividade –

em razão da passagem de suas informações privadas ao “ambiente” coletivo, como prática

social usual no contexto das redes sociais móveis, percebe uma reorientação quanto à sua

esfera de pertença (transição da esfera da individualidade para a da coletividade). O

engajamento do sujeito em questões políticas, assim, pode ser facilitado devido ao borramento

entre essas duas fronteiras; o sujeito está de antemão envolvido no âmbito da coletividade.

Além da transição das esferas, o sujeito também passa a agir em um espaço diferenciado na

mobilidade tecnológica; o espaço híbrido promove uma mescla entre o que é público e

privado, alterando, dessa forma, a percepção do sujeito em relação à coletividade. Esses

fatores estão diretamente ligados às noções de proximidade, presença, distância e mobilidade

quando se referem, principalmente, às questões relacionadas ao âmbito social e das ações

coletivas.

Sobre a motivação à participação coletiva no contexto das redes, os estudos

laboratoriais de Margetts et al. (2012) discutem sobre o papel da influência social e da

visibilidade como potenciais incentivadores da atuação coletiva dos sujeitos. A influência

social, ou seja, quando o sujeito recebe informações em sua rede sobre as ações de outros

sujeitos (no caso da campanha I voted, no Foursquare: informações sobre a participação dos

cidadãos na campanha eleitoral estadunidense de 2012), tal conhecimento é capaz de motivar,

acredita-se, os sujeitos à atuação democrática como forma de contágio, tendo em vista que,

naquele contexto democrático, o voto não é obrigatório.

Da mesma forma, o caráter de visibilidade, isto é, as informações que o sujeito torna

pública para a sua rede, a expectativa de que outros saberão de suas ações, dentro de uma

lógica de constrangimento e de busca de prestígio (capital social) na rede, também motiva os

sujeitos com determinadas características para a atuação coletiva. Conforme a pesquisa de

Margetts et al. (2012), considerando em seus estudos os Big Five Traits de personalidade, os

sujeito com tendência individualista (pro-selfs) são mais pressionados à participação, em

razão dessa potencialização da influência social e da visibilidade em redes sociais digitais.

Tais características, no entanto, não seriam percebidas em sujeitos cuja orientação política é

(mais) voltada para o coletivo.

Assim, pode-se dizer, com base nesse estudo, que a contribuição estrutural das redes

sociais móveis dá-se mais por influenciar os sujeitos free-riders (“oportunistas”), ou seja, os

que manifestam orientação voltada ao interesse próprio, para a colaboração à ação coletiva.

Elementos como visibilidade e influência social, conforme discutido, são marcantes por

evitarem a sensação de ostracismo e por gerarem capital social. Sujeitos com orientações mais

voltadas ao social, segundo o estudo, parecem não precisar tanto desse tipo de influência.

Entendemos, neste trabalho, que experimentos laboratoriais, como os aplicados por

Margetts et al. (2012), não abarcam a subjetividade inerente às ações coletivas, pois as

estudam, apenas, a partir de modelos artificiais. Estes estão longe, no ponto de vista aqui

defendido, de explicar plenamente a lógica do comportamento humano nas dinâmicas de

tomada de decisão em colaborar ou não com as ações coletivas. A carga de subjetividade e as

especificidades de cada contexto em que as ações desenvolvem-se são elementos importantes

para se pensar os engajamentos nas redes sociais móveis. Os elementos elencados pelos

paradigmas da Teoria da Mobilização Política e dos Novos Movimentos Sociais, como

cultura, identidade, valores, devem ser levados em consideração, sobrepondo o estudo das

lógicas mecânicas e utilitaristas. No entanto, neste momento, como este trabalho pretende

discutir questões estruturais das redes sociais móveis no âmbito da ação coletiva, fez-se

necessário transitar brevemente por tais abordagens teóricas, pois auxiliam na perspectiva

estrutural das ações coletivas.

Dessa forma, podemos salientar que a utilização de redes sociais móveis na campanha

presidencial estadunidense, em 2012, propiciou aos eleitores a possibilidade de interagir entre

si, demonstrando que o engajamento em ações coletivas é um dos fatores marcantes da

formação dessas novas tribos urbanas. Quando esses sujeitos passam a formar uma rede de

contato propiciada pela informação geolocalizada em espaços híbridos, a visibilidade tende a

ser ampliada, pois oportuniza que as ligações sejam expandidas e distribuídas dentro do

contexto da cibercidade. Sendo assim, a influência social é também intensificada, devido ao

fato de que as ações coletivas passam a fazer parte do contexto social do sujeito a partir da

informação agregada ao local onde este se encontra. Esses dois elementos (visibilidade e

influência), alinhados aos espaços híbridos, são capazes de impulsionar a participação coletiva

dos sujeitos na contemporaneidade.

Tais elementos podem ser vistos no engajamento dos sujeitos com a utilização do

Foursquare na campanha presidencial estadunidense de 2012. Como vimos, a propagação dos

emblemas que caracterizou a participação nas eleições (badge #ivoted) foi utilizada como

forma de incentivo ao voto. A visibilidade do badge e do check-in foi enfatizada como forma

de influência social perante os demais sujeitos, de forma a motivar a participação nas eleições.

A ação coletiva configura-se no momento em que a mobilização foi realizada em conjunto,

em tempo real, e o bem coletivo, neste caso foi a participação nas eleições de 2012.

Contextos como esse, nos quais as ações coletivas são potencializadas por redes

sociais móveis como o Foursquare, fazem-nos refletir sobre uma outra configuração nas

formas de agrupamentos e mobilizações sociais diante do ambiente comunicacional

contemporâneo, o qual tende a demarcar novos espaços de interação e de distribuição de

informações. As ações coletivas, conforme levantado por Margetts et al. (2012) passam a

contar mais facilmente - por meio da visibilidade e da influência social – com a colaboração

de sujeitos antes indispostos à cooperação com os grupos sociais (possivelmente free-riders).

Esses elementos, no ambiente das redes sociais móveis, parecem ser ainda mais significativos,

tendo em vista que a informação geolocalizada é capaz de intensificar as influências sociais

(constragimento e busca por prestígio), em razão de incluir outro elemento na equação: a

informação territorial sobre as ações dos sujeitos. Tal conhecimento pode tanto movimentar

sujeitos (mais) pro-selfs (pelo aumento do poder de persuasão social) à participação, quanto

mais pro-socials (devido ao valor atribuído à participação individual em contextos em que há

pouco engajamento).

Considerações finais

A intenção da discussão trazida por este artigo foi a de colaborar para a compreensão

do ambiente comunicacional e da mobilidade tecnológica em que estão (cada vez mais)

inseridas as ações coletivas. Como podemos observar, no contexto estadunidense, a campanha

para engajar os sujeitos durante as eleições, por meio do Foursquare, pode ter de fato

impulsionado estes à participarem, motivando os sujeitos a mostrar, em certa medida, que

estavam contribuindo e que faziam parte de uma ação coletiva que se formou quando cada um

por meio de um check-in, uma badge e talvez um comentário pode dar visibilidade ao seu ato

em tempo real.

Além disso, as novas tribos urbanas são bons indicativos de como é possível observar

as ações coletivas na sociedade atual. Por meio da informação geolocalizada em sites de redes

sociais móveis, as ações coletivas podem ser potencializadas e impulsionar manifestações

agregadas ao local e ao contexto, como no caso das eleições estadunidenses de 2012. É

importante consideramos que a utilização do Foursquare durante as eleições demonstrou a

capacidade que esta rede possui na difusão de informações geolocalizadas.

Inicialmente, trazemos a discussão teórica sobre a formação de espaços híbridos e das

novas tribos urbanas, que caracterizam o contexto social das cibercidades, enfatizando as

potencialidades promovidas pelos usos das tecnologias móveis de comunicação no que se

refere à participação social dos sujeitos, utizando-nos de autores como Green (2002),

Santaella (2007), Lemos (2007) e Rheingold (2002). Em seguida, para pensar a transformação

das dinâmicas da ação coletiva no “ambiente” das redes sociais móveis, trazemos as reflexões

de Bimber et al. (2005), Flanagin et al. (2006) e Margetts et al. (2012) sobre, entre outros

temas, a formação de uma comunidade-de-segunda-ordem, a aproximação entre informações

públicas e privadas e o papel da influência social e da visibilidade nessas redes como

motivadoras à participação em causas coletivas. Após, selecionamos como caso para ilustrar a

compreensão desses elementos teóricos, a ação de engajamento cívico de 2012, nos Estados

Unidos, a campanha I voted, organizada também via Foursquare.

Mesmo que rejeitemos a artificialidade nos estudos de Margetts et al. (2012), esses

autores trazem questões relevantes para pensarmos teoricamente a ação coletiva em redes

sociais móveis. Após o cruzamento teórico (espaço híbrido e ação coletiva) com o caso

ilustrativo (campanha I voted), discutiu-se sobre a intensificação da influência social das

informações publicizadas em rede e da visibilidade das ações individuais quando estas estão

associadas à informação geolocalizada. Assim, percebemos que o conhecimento sobre a

participação dos sujeitos em ações coletivas, territorialmente contextualizada, é capaz de

ampliar ainda mais a participação do sujeito ao engajamento social.

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