26
* 1888: “Abolição” da escravatura; * 1889: Proclamação da República; * 1890 - 1910: processo de modernização da cidade do Rio de Janeiro O CORTIÇO (1890) ALUÍSIO AZEVEDO

ocortiço

Embed Size (px)

DESCRIPTION

aula

Citation preview

Page 1: ocortiço

* 1888: “Abolição” da escravatura;

* 1889: Proclamação da República;

* 1890 - 1910: processo de modernização da cidade do Rio de Janeiro

O CORTIÇO( 1890 )

A LU Í S I O A ZE V E DO

Page 2: ocortiço
Page 3: ocortiço
Page 4: ocortiço

* Século XIX: uma encruzilhada de correntes literárias

- Romantismo;

- Realismo / Naturalismo: revolta contra o subjetivismo romântico;

- Parnasianismo;

- Simbolismo;

- Tendências finisseculares;

OS “HORIZONTES” DO ROMANCE( OU C OM QU E M E C OM O QU E O R OM AN C I S TA D I A LOG A N A

C OM P OS I Ç ÃO D E S U A OB RA )

Page 5: ocortiço

* Advento e perpetuação da civilização burguesa e dos avanços a ela agregados.

* Cientificismo:

- Positivismo (Augusto Comte, 1830/40):

OS “HORIZONTES” DO ROMANCE(OU C OM QUEM E C OM O QUE O R OM A N C I S TA D I A LOG A N A

C OM P OS I Ç ÃO D E S UA OBRA )

Page 6: ocortiço

- Darwinismo (Charles Darwin);

Page 7: ocortiço

- Evolucionismo (Darwin/Spencer);

Page 8: ocortiço

-

Page 9: ocortiço

- Ambientalismo (Taine): o homem é um produto do meio e da raça;

- Materialismo psicológico (Wundt e Lombroso);

- Eugenismo: pureza das “raças”, superioridade entre uma raça e outra;

Page 10: ocortiço

A OBRA

Page 11: ocortiço

- Forma reforçada do Realismo;

- A arte (a Literatura) deve conformar-se à natureza;

- Na realidade nada tem um significado extranatural, sobrenatural ou objetivo demais. Tudo pode ser objetiva e

cientificamente observado e explicado;

- Busca das verdades da época, da (sua) contemporaneidade;

- “Olhar” determinista: ‘pau que nasce torto’, ou, “me dizes com quem andas…"

- Acentuam o aspecto fisiológico do homem: ele é um animal, às vezes irracional, egoísta nos seus intentos, sórdido, vil, ou inocente demais a ponto de merecer a

punição. O personagem está submetido a forças maiores que ele (a vida, a sociedade etc).

UM ROMANCE NATURALISTA , MAS POR QUÊ?

Page 12: ocortiço

- Ponto de vista “mecanicista”: tudo é percebido pelo seu funcionamento e por sua posição dentro da perversa lógica

social / natural / conjuntural;

- O NARRADOR (3a. pessoa, onisciente, onipresente, prepotente, parcial):

% observa os personagens objetiva, impessoal e cientificamente;

% trata o fato narrativo como um “caso" a ser analisado;

% inclinação reformadora e perspectiva: os aspectos vis e inferiores visam à melhoria das condições sociais que os geraram;

% o miúdo, o pequeno, o corriqueiro tem uma importância dentro do todo: universalidade e fidelidade ao fato narrado,

gerando certa indiferença, certo amoralismo;

% não importa a sua opinião sobre os atos, mas os atos em si: João Romão é mocinho ou vilão? Pombinha, uma vítima? E

Miranda? Bertoleza?

UM ROMANCE NATURALISTA , S IM! ! ! !

Page 13: ocortiço

* O ESPAÇO (onde as ações se desenvolvem) e os núcleos da narração:

- O terreno (o cortiço, a pedreira, a venda);

- O sobrado;

- O Cortiço x O Sobrado: um duelo de titãs!

- O Micro X O Macro: o recorte (a metonímia) e o metáfora (O Cortiço, o mundo alegorizado numa rua de Botafogo);

OS ELEMENTOS DA NARRATIVA / DO ROMANCE

Page 14: ocortiço

E, mal vagava uma das casinhas, ou um quarto, um canto

E, mal vagava um das casinhas , ou um quarto, um canto onde e coubesse um colchão, surgia uma nuvem de pretendentes a disputá-los.

E aquilo se foi constituindo numa grande lavanderia, agitada e barulhenta, com as suas cercas de varas, as suas hortaliças verdejantes e os seus jardinzinhos de três e quatro palmos, que apareciam como manchas alegres por entre a negrura das limosas tinas transbordantes e o revérbero das claras barracas de algodão cru, armadas sobre os lustrosos bancos de lavar. E os gotejantes jiraus, cobertos de roupa molhada, cintilavam ao sol, que nem lagos de metal branco.

E naquela terra encharcada e fumegante, naquela umidade quente e lodosa, começou a minhocar, a esfervilhar, a crescer, um mundo, uma coisa viva, uma geração, que parecia brotar espontânea, ali mesmo, daquele lameiro, e multiplicar-se como larvas no esterco.

F RAG M EN T O 1 :

Page 15: ocortiço

“O Derrubador Brasileiro”, Almeida Jr. (1879)

Page 16: ocortiço

- As ações transcorrem depois da Guerra do Paraguai (1864/1870) e antes da “Abolição"

da Escravatura (1888).

O TEMPO DA NARRATIVA

Page 17: ocortiço

(…) Havia ainda, sob as telhas do negociante, um outro hóspede além do Henrique, o velho Botelho. Este, porém, na qualidade de parasita. (…) Fora em seu tempo empregado do comércio, depois corretor de escravos; contava mesmo que estivera mais de uma vez na África negociando negros por sua conta. Atirou-se muito às especulações; durante a guerra do Paraguai ainda ganhara forte, chegando a ser bem rico; mas a roda desandou e, de malogro em malogro, foi-lhe escapando tudo por entre as suas garras de ave de rapina (…).

(…) No fim de uma boa pausa, Botelho perguntou se Bertoleza era escrava quando João Romão tomou conta dela. Esta pergunta trouxe uma inspiração ao vendeiro.

Ia pensando em metê-la como idiota no Hospício de Pedro II, mas acudia-lhe agora coisa muito melhor: entregá-la ao seu senhor, restituí-la legalmente à

escravidão. Não seria difícil... considerou ele; era só procurar o dono da escrava, dizer-lhe onde esta se

achava refugiada e aquele ir logo buscá-la com a polícia (…) .

TEMPO, TEMPO, TEMPO…

Page 18: ocortiço

- “O" Cortiço;

- Do cortiço: João Romão e Bertoleza; Rita Baiana, Jerônimo, Paula, Pombinha…;

- Do sobrado: Miranda, Dona Estela, Botelho, Palmirinha, Henrique e as Empregadas;

- Alguns personagens tendem a trafegar entre espaços diferentes, almejando a ascensão social e financeira a todo o custo, reforçando a lógica da seleção natural e do evolucionismo, implícito à obra. Outros, não vencem a sua própria condição, por impossibilidade “moral" ou por impedimentos sociais, políticos e econômicos, dentro da lógica do determinismo moral, social e científico.

AS / OS PERSONAGENS

Page 19: ocortiço

(…) Rita havia parado em meio do pátio.Cercavam-na homens, mulheres e crianças; todos

queriam novas dela. Não vinha em traje de domingo; trazia casaquinho branco, uma saia que lhe deixava ver o pé sem meia num chinelo de polimento com enfeites de marroquim de diversas cores. No seu farto cabelo, crespo e reluzente, puxado sobre a nuca, havia um molho de manjericão e um pedaço de baunilha espetado por um gancho. E toda ela respirava o asseio das brasileiras e um odor sensual de trevos e plantas aromáticas. Irrequieta, saracoteando o atrevido e rijo quadril baiano, respondia para a direita e para a esquerda, pondo à mostra um fio de dentes claros e brilhantes que enriqueciam a sua fisionomia com um realce fascinador.

Acudiu quase todo o cortiço para recebê-la. Choveram abraços e as chufas do bom acolhimento.

Por onde andara aquele diabo, que não aparecia para mais de três meses? (…)

Page 20: ocortiço

(…) E Jerônimo via e escutava, sentindo ir-se-lhe toda a alma pelos olhos enamorados. Naquela mulata estava o grande mistério, a síntese das impressões que ele recebeu chegando aqui: ela era a luz ardente do meio-dia; ela era o calor vermelho das sestas da fazenda; era o aroma quente dos trevos e das baunilhas, que o atordoara nas matas brasileiras; era a palmeira virginal e esquiva que se não torce a nenhuma outra planta; era o veneno e era o açúcar gostoso; era o sapoti mais doce que o mel e era a castanha do caju, que abre feridas com o seu azeite de fogo; ela era a cobra verde e traiçoeira, a lagarta viscosa, a muriçoca doida, que esvoaçava havia muito tempo em torno do corpo dele, assanhando-lhe os desejos, acordando-lhe as fibras embambecidas pela saudade da terra, picando-lhe as artérias, para lhe cuspir dentro do sangue uma centelha daqueleamor setentrional, uma nota daquela música feita de gemidos de prazer, uma larva daquela nuvem de cantáridas que zumbiam em torno da Rita Baiana e espalhavam-se pelo ar numa fosforescência afrodisíaca.

Isto era o que Jerônimo sentia, mas o que o tonto não podia conceber. De todas as impressões daquele resto de domingo só lhe ficou no espírito o entorpecimento de uma desconhecida embriaguez, não de vinho, mas de mel chuchurreado no cálice de flores americanas, dessas muito alvas, cheirosas e úmidas, que ele na fazenda via debruçadas confidencialmente sobre os limosos pântanos sombrios, onde as oiticicas trescalam um aroma que entristece de saudade (…).

Page 21: ocortiço

O ENREDO, A NARRATIVA E SUAS INTENCIONALIDADES:

- As relações sociais: Bertoleza x João Romão; João Romão x Miranda; João Romão

x os moradores;

- Busca de legitimação;

- Alpinismo social x determinismo dos instintos;

- Degeneração, valores morais, corrupção;

- Dupla denúncia: as condições humanas x a condição da humanidade no mundo que a

cerca.

Page 22: ocortiço
Page 23: ocortiço

O Ideal do ¨embranquecimento¨

Page 24: ocortiço

¨A Redeção de Cam¨, Modesto Brocos (Espanha), 1895

Page 25: ocortiço

‘ O CORTIÇO’ HOJEQuilombo, Cortiço, Favela e Periferia

Page 26: ocortiço

O ENREDO:

NÃO SERIA O CORTIÇO UM “FIM DE SEMANA NO PARQUE”?