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500' ORNITOLOGIA ItRASILEIRA via' também no Maranhão e em Pernambuco e Alagoas (P. i. No alto Amazonas (a oeste do rio Ma- deira), representado por P. i. de mandíbula preta. "Araçarí-letrado?". ARAÇARI-DE-PESCOÇO-VERMELHO, bi ius 36c~. Representante pequeno de nuca e peito encar- nados (o que é pouco intenso nos imaturos), maxila ver- de-amarelada; mandíbula negra uniforme (rio Madei- ra, ao noroeste de Mato Grosso; P. b. ou branca com a ponta negra (dos rios Tapajós ao Tocantins, P. b. e do leste do Pará ao norte do Maranhão, P. b. "óit, bit", vocalização muito diferente da de P. V. a seguinte, que o substitui geografi- . camente !l0 alto Amazonas, formando com o presente uma superespécie. [Este araçari deixou de ser endêrnico do Brasil a partir de seu encontro no Departamento de Santa Cruz, Bolívia (Cabot et ARAÇARI -DE-BICO-DE-MARFIM, 36cm. Semelhante ao anterior mas de bico uniforme- mente marfim, com os" dentes" realçados de preto. Ocor- re da Venezuela e do alto rio Negro ao alto rio Solimões. [Encontrado nas florestas de terra firme, p. ex., do Par- que Nacional do [aú e em pequeno número nas florestas de várzea do Mamirauá, médio Solimões (J. F. Pacheco). Usualmente chamada de P. mas tem prioridade cronológica (Sibley & Monroe 1990). "Araçari-de-bico-verrnelho*". ] [ARAÇARI-DE-BICO-MARROM, Representante ocidente-meridional da superespécie P. nas florestas da Alta Amazônia (Sibley & Monroe 1990). Ocorre no Brasil ao sul do Solimões da fronteira peruana para leste até a margem esquerda do Madeira e adicionalmente no Peru e Bolívia.] ARAÇARI-MULATO, Pr. 24,6 42cm. Único pelas penas laqueadas, endurecidas e curvadas da cabeça("cabeça frisada"). forte e gra- ve, bem diversa 'da de outros araçaris, "rrãp", "ra-ra- rã", penetrante "gã-ák ga-ak...'~.Ocorre do alto Amazo- nas ao sul dos rios Solimões e Madeira .(Amazonas), al- tos Tapajós e Xingu (Mato Grosso) até a Bolívia e Peru. Vive no alto Xingu ao lado de e P. sem se associar a eles, ou a tucanos. Trata-se de espécie bem singular. ARAÇARI-POCA, Pr.24,8 33cm. No aspecto, no colorido e no comportamento bem diferente das espécies anteriores. Dimorfismo se- xual acentuado. seqüência de coaxos baixos, pro- fundos e guturais, "groa" ou "ao", que passaria pela voz de um sapo grande (grito territorial ou canto, ambos os sexos); "ga-a" (brigando). Vivem no interior sombrio da mata, onde facilmente passa desapercebido ao contrá- rio dos outros araçaris. Ocorre da Bahía e Minas Gerais ao Rio Grande do Sul e Argentina (Misiones). "Araçari- tirador-de-leite" (Minas Gerais), "Saripoca-de-bico-ris- cado=", Na Amazônia substituído.por representantes de parentesco próximo, aloespécies oumesmo raças geo- gráficas de uma mesma espécie; distinguem-se princi- palmenté pelo colorido do bico. "' ," ( SARIPOCA-DE-GOULD*, [33cm] De bico pardo com a base branca, maxila com uma grande mancha preta a qual se repete, em edição reduzida, na mandíbula. Anel perioftálmico nu verde- intenso, íris verde-azulada, "groak, groak ...", bem semelhante à do anterior. Ocorre ao sul do baixo Ama- zonas até o norte de Mato Grosso (alto rio Xingu), Ma- ranhão e Ceará. "Tchu-ría-ha" (Juruna, Matõ Grosso). ARAÇARI-NEGRO, [33cm] De bico negro de base encarnada, região pe- rioftálmica azul-reluzente; fêmea de partes inferiores cinzentas. Ocorre ao norte do baixo Amazonas até o bai- xo rio Negro e Venezuela. "Saripoca-culique*". SARIPOCA-DE-BICO-CASTANHO*, [33cm] De bico marrom listrado de negro. [Conheci- do no Brasil das florestas de terra firme da drenagem do Negro até margem esquerda do Solimões. Ocorre tam- bém no extremo leste da Colômbia, sul da Venezuela e Guiana Inglesa. Paralelamente aos três registros orien- tais recentes na Guiana Francesa, considerados excepci- onais (Tostain et 1992), um indivíduo foi observado no dia 19 de janeiro de 1994, na floresta altimontana de Serra Grande, Amapá (J. F. Pacheco).] SARIPOCA-DE-COLElRA *, [33cm] De bico quase inteiramente negro de base olivácea. [Ocorre no Brasil nas florestas ao sul do Solimões (5. . e respectivos tributários da fronteira peruana ao baixo Purus; enquanto na margem esquerda do Solimões a subespécie típica f i t t ....., [ """ r j ~ I r .-.... f' o' ,~ f. !: II " I r . ~ '. ~ i " I. I

Ornitologia Brasileira - Helmut Sick 2ed-03

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500' ORNITOLOGIA ItRASILEIRA

via' também no Maranhão e em Pernambuco e Alagoas(P.i. No alto Amazonas (a oeste do rio Ma-deira), representado por P.i. de mandíbulapreta. "Araçarí-letrado?".

ARAÇARI-DE-PESCOÇO-VERMELHO,

bi ius

36c~. Representante pequeno de nuca e peito encar-nados (o que é pouco intenso nos imaturos), maxila ver-de-amarelada; mandíbula negra uniforme (rio Madei-ra, ao noroeste de Mato Grosso; P.b. ou brancacom a ponta negra (dos rios Tapajós ao Tocantins, P.b.

e do leste do Pará ao norte do Maranhão, P.b."óit, bit", vocalização muito diferente

da de P. V. a seguinte, que o substitui geografi-. camente !l0 alto Amazonas, formando com o presenteuma superespécie. [Este araçari deixou de ser endêrnicodo Brasil a partir de seu encontro no Departamento deSanta Cruz, Bolívia (Cabotet

ARAÇARI -DE-BICO-DE-MARFIM,

36cm. Semelhante ao anterior mas de bico uniforme-mente marfim, com os" dentes" realçados de preto. Ocor-re da Venezuela e do alto rio Negro ao alto rio Solimões.[Encontrado nas florestas de terra firme, p. ex., do Par-que Nacional do[aú e em pequeno número nas florestasde várzea doMamirauá, médio Solimões(J. F.Pacheco).Usualmente chamada de P. mas temprioridade cronológica (Sibley & Monroe 1990)."Araçari-de-bico-verrnelho*". ]

[ARAÇARI-DE-BICO-MARROM,

Representante ocidente-meridional da superespécieP. nas florestas da Alta Amazônia (Sibley& Monroe1990). Ocorre no Brasil ao sul do Solimões da fronteiraperuana para leste até a margem esquerda do Madeira eadicionalmente no Peru e Bolívia.]

ARAÇARI-MULATO,

Pr. 24,6

42cm. Único pelas penas laqueadas, endurecidas ecurvadas da cabeça("cabeça frisada"). forte e gra-ve, bem diversa 'da de outros araçaris, "rrãp", "ra-ra-rã", penetrante "gã-ák ga-ak...'~.Ocorre do alto Amazo-nas ao sul dos rios Solimões e Madeira .(Amazonas), al-tos Tapajós e Xingu (Mato Grosso) até a Bolívia e Peru.Vive no alto Xingu ao lado de e P.

sem se associar a eles, ou a tucanos. Trata-sede espécie bem singular.

ARAÇARI-POCA,

Pr.24,8

33cm. No aspecto, no colorido e no comportamentobem diferente das espécies anteriores. Dimorfismo se-xual acentuado. seqüência de coaxos baixos, pro-fundos e guturais, "groa" ou "ao", que passaria pela vozde um sapo grande (grito territorial ou canto, ambos ossexos); "ga-a" (brigando). Vivem no interior sombrio damata, onde facilmente passa desapercebido ao contrá-rio dos outros araçaris. Ocorre daBahía e Minas Geraisao Rio Grande do Sul e Argentina (Misiones). "Araçari-tirador-de-leite" (Minas Gerais), "Saripoca-de-bico-ris-cado=", Na Amazônia substituído.por representantes deparentesco próximo, aloespécies oumesmo raças geo-gráficas de uma mesma espécie; distinguem-se princi-palmenté pelo colorido do bico.

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SARIPOCA-DE-GOULD*,

[33cm] De bico pardo com a base branca, maxila comuma grande mancha preta a qual se repete, em ediçãoreduzida, na mandíbula. Anel perioftálmico nu verde-intenso, íris verde-azulada, "groak, groak ...", bemsemelhante à do anterior. Ocorre ao sul do baixo Ama-zonas até o norte de Mato Grosso (alto rio Xingu), Ma-ranhão e Ceará. "Tchu-ría-ha" (Juruna, Matõ Grosso).

ARAÇARI-NEGRO,

[33cm] De bico negro de base encarnada, região pe-rioftálmica azul-reluzente; fêmea de partes inferiorescinzentas. Ocorre ao norte do baixo Amazonas até o bai-xo rio Negro e Venezuela. "Saripoca-culique*".

SARIPOCA-DE-BICO-CASTANHO*,

[33cm] De bico marrom listrado de negro. [Conheci-do no Brasil das florestas de terra firme da drenagem doNegro até margem esquerda do Solimões. Ocorre tam-bém no extremo leste da Colômbia, sul da Venezuela eGuiana Inglesa. Paralelamente aos três registros orien-tais recentes na Guiana Francesa, considerados excepci-onais (Tostainet 1992), um indivíduo foi observadono dia 19 de janeiro de 1994, na floresta altimontana deSerra Grande, Amapá(J. F. Pacheco).]

SARIPOCA-DE-COLElRA *,

[33cm] De bico quase inteiramente negro de baseolivácea. [Ocorre no Brasil nas florestas ao sul doSolimões (5. . e respectivos tributáriosda fronteira peruana ao baixo Purus; enquanto namargem esquerda do Solimões a subespécie típica

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RAMPHASTIDAE 501

(5. . ocorre, pelo menos, em Tabatinga(Forrester 1993). Assinalado para a Colômbia, Equa-dor, Peru e Bolívia.]

-ARAÇARl-BANANA, Pr. 24, 7

35cm. Espécie singular do Brasil oriental, inconfun-dível pelo colorido extensamente amarelado; aparenta-do aos (morfologia, comportamento)."pre-tet", "psett psett..." às vezes acelerado;"spitz-spitz"; "tzã-tzâ-tzã" (voando); assobios melodiosos "gui-gui-gui" que poderiam ser de um pica-pau(Celeus). Vo-calização diferente de outros araçaris. Habita as regiõesmontanhosas, p. ex., Limoeiro (Espírito Santo), Itatiaiae Serra dos Órgãos (Rio de Janeiro). Ocorre do EspíritoSanto e Minas Gerais (Viçosa) ao Rio Grande do Sul,Misiones (Argentina) e leste do Paraguai; também emPernambuco. (Serra Negra,Sick 1979).

TUCANO-DE-BICO-PRETO,

Pr. 24, 3

46cm. Grupo de formas pequenas, de "papo" ama-relo ou branco conforme a região; legitimam-se coinopertencentes a uma única espécie tanto pela forma dobico (de cúlmen nitidamente comprimido e nãoabobadado ou arredondado como nos outros tucanos,p.ex. no grande R. cuu que, na plumagem,assemelha-se muito aR. é um cará-ter visível à distância na ave viva, desde que se presteatenção) como pela "iaar", "iüür", baixinho, quasebissHábico, ao contrário deR. dicolo "Tucano-gritador", "Reu-reu". Foram descritas quatro raças geo-gráficas, a saber:

1) R. el (Pr. 24, 3). De papo amarelo-alaranjado; região perioftálmica azul (população ama-zônica) ou encarnada (população do Brasil oriental).Faixa transversal da base do bico amarela, cúlmen ne-gro com a base azul. Ocorre do Pará ao sul do Amazo-nas até a foz do rio Madeira (Amazonas) e Maranhão;também no Nordeste (localmente em Pernambuco eAlagoas) até o Brasil oriento-meridional (Santa Catari-na). Na ilha 'de Santa Catarina às vezes ao lado de R.dicolo s (Lenir A. Rosário).

2) R.uitellinus itellinus. De papo amarelo largamen-te bordado de branco, dando a impressão desta ser a cordo mesmo quando visto de lado; região perioftálmica,faixa ao redor da base do bico e base do cúlmen azuis.Ocorre do norte do baixo Amazonas (Amapá) aos riosNegro e Branco até ao leste de Venezuela. "Tucano-pacova" ("pacova" é o mesmo que banana).

3) R. uiiellinus De papo branco às vezesbanhado de citrino (imaturo); parece urnaréplica redu-zida de R. cuoie abstendo-se a forma do bico.Região perioftálmica azul, bico negro com a base damaxila e o cúlmen arnarelo-esverdeados e base da rnan-

díbula azulada. Coberteiras superiores da cauda ama-relas e não vermelhas como nos dois anteriores. Ocorreda Venezuela ocidental ao alto amazonas, Bolívia e Bra-sil setentro-ocidental e central. "Tucano-pequeno-de-papo-branco". Veja Introdução: Mimetismo agressivo.

4) R. pintoi. Pode ser considerado uma po-pulação mista entreR. e R. . Peque-no, de papo branco ou ligeiramente amarelado;supracaudais, base da maxila e da mandíbula amarelas,base do cúlmen azulado. Brasil central (região deGoiânia, Goiás; até o centro de Mato Grosso). "Canja"(Meinaco, Mato Grosso).

Nas áreas de contato os diferentesR. pro-duzern populações híbridas quemostram'intergradaçõesno colorido do peito, da rabadilha,do'bico e da peleperioftálmica. Existem duas grandes áreas de hibridaçãode R. itellinus com seus representantes ori-entais, uma ao norte e outra ao sul do Amazonas; naregião dos rios Branco e Negro estaforma passagradativamente paraR. tniellinus uiiellinus, entre o rioMadeira e o norte de GoiásR. tntellinus pintei faz o mes-mo para R. uiiellinus .

R. vive, na Amazônia, ao ladode . chegando mesmo a pousar na mes-ma árvore, de onde é expulso por seu "gêmeo" avanta-jado; tal competição, contudo, não é muito severa eambas as espécies convivem amplamente nas mesmasmatas. R. se encontra em regiões monta-nhosas do Espírito Santo, na encosta meridional da Ser-ra da Mantiqueira (Itatiaia, 600 m; Rio de Janeiro) e nolitoral de São Paulo e Paraná temporariamente comR.

, os dois podem comer no mesmo palmito, sen-do R. a espécie típica do planalto. No Rio deJaneiro, R. ellinus el é residente de baixadas sendosubstituído na Serra dos Órgãos, acima dos 600m, pelaespécie abaixo. .

TUCANG-DE-BICO-VERDE,

Pr. 24, 2

48cm. Espécie meridional, um pouco mais forte doque a precedente, de papo amarelo e bico verde um tan-to diferente do da forma anterior, pois embora compri-mido é mais curto e alto dando a impressão de ser maismaciço; há forte desenvolvimento dos "dentes" maxila-res, realçados por uma pintura vermelha sangüínea. Aocontrário de R. itellinus tem o papo largamentebordado de amarelo-claro; na base do bico não existeuma faixa clara como emuiiellinus. parecida à doanterior, sendo mais nasal e seca,"âk", "rrãt", rrãit". É aespécie de tucano que mais avança ao sul, analogamen-te a R.toco. Ocorre do Espírito Santo, Minas Gerais (p.ex. Serra do Caraça) e Goiás a:oRio Grande do Sul, Pa-.raguài e nordeste da Argentina. No Rio de Janeiro, típi-co das zonas montanhosas (p. ex. Serra dos Órgãos eItatiaia); no litoral paulista simpátrico a R. el,

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502 ORNITOLOGIA BRASiLEIRA

ao menos periodicamente, de uma maneira parcial. Noalto rio Paraná encontra-se comR. pintoi com oqual também não cruza. Fala-se em Santa Catarina deraros híbridos entre e Foi propostoreunir R. tniellinus e o presente em uma superespécie.Escrito erroneamente comoR. sc s

TUCANG-GRANDE-DE-PAPO-BRANCO,

Pr. 24, 1

55cm, cerca de 600g. A única espécie florestal de porteda Amazônia brasileira; tem bico "enorme de cumeeiraabobadada (ao contrário deR. . Evoluíram emduas raças geográficas, a saber:

1) R. s s. De lados da maxila encarna-dos, coberteiras superiores da cauda amarelo-citrino.Ocorre do baixo Orinoco (Venezuela) e Guianas ao bai-xo rio Negro, Manaus (Amazonas),Amapá,Marajó (par-te floresta da, v.R. toco) leste do Pará eMaranhão. "Pia-pouco", "Quirina".

2) R. s De lados da maxila pretos esupracaudais alaranjadas. Ocorre dos altos Orinoco(Venezuela) e Amazonas (rios Negro, Solimões e Ma-deira) ao norte de Mato Grosso (rios Guaporé e altoXingu) e sul do Pará,"[ohãt" (Kamaiurá, Mato Grosso)"[o-kuá-kuá" (Iaulapiti, Mato Grosso).

As duas raças encontram-se ao norte e ao suldoAma-zonas formando, em ambos os casos, uma extensa áreade cruzamento; os híbridos traem-se pela coloraçãomesclada do bico (os lados da maxila estão entre o ne-gro e o vermelho) e pela rabadilha arnarelo-citrina oualaranjada. Ocorre nas mesmas matas queR. uiiellinus

tus. idêntica nas duas raças dando origem avários nomes onomatopéicos tais como "pia-pouco"(Amazonas), "cachorro" e "dios-te-dé" (Colômbia,Venezuela, etc.) A melhor maneira de grafar sua vozseria uma seqüência bem articulada de algumas sílabas,"iók-pãt-pãtfpãt.i.)", "rro-hãt rro-hât iü-hãt iü-hãt hâtiü-

ibliog et ibliog Ge )

Cabot, J.. J. Castroviejo & V. Urios. 1988. Doit n ct e eb t15 235-37. ( e oglossus bii q ius,Bolívia)'

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te ic the s qe) ndlbuli Cambridge, Mass.:Nuttall Ornith. Club (publ.14)

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dos movimentos do bico de tucanos)Lange, R. B.1967. i 1:1-3. (hábitos)

hãt", de longe soando melodiosamente, pode lembrartambém o latir de um cachorro perseguindo uma caça.É o "tucano-cantador" ao contrário de R. llinus. Dis-põem de uma outra voz bem diferente,"rrroíâ guá, guá,guá ..." que de longe percebe-se apenas como um-diique lembra uiiellinu é uma das aves mais.loquazes da Amazônia.

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TUCANUÇU, toco Pr. 24, 4

56cm, cerca de 540g. O maior dos tucanos, inconfun-dível pelo descomunal bico alaranjado (de vários mati-zes), a pontadaímaxila com um.a grandenódoa ovaladanegra: esta mancha resplandece incrivelmente quandovisto de encontro à luz. Pele nuaperioftálmíca laranjaou amarelo-enxofre, pálpebra azul. O papo branco fre-qüentemente tingido deamarelo citrino e marginado devermelho alterando-se ate mesmo no indivíduo em

. muda; uropígio branco, crisso vermelho como nos ou-tros tucanos.'O filhote de bico curto e amarelo sem anódoa negra, pele ao redor dos olhos esbranquiçada egarganta amarela. um roncar baixo e profundo,"rrrra", "rrro-rrro", mais baixo e menos ressoante que ogrito de R. itellinus e R. dicol s (há um sapo que fazexatamente o de umR. tocodistante, Minas Gerais);"rrrât": um rosnar "te, te te ..." também vocal (v. Vocali-zação). Habita a mata de galeria, cerrado, capões; únicoranfastídeo brasileiro que não vive exclusivamente nafloresta, sobrevoa freqüentemente os campos abertos erios largos; gosta de pousar sobre árvores altaneiras.Menos sociável que os outros tucanos. De larga distri-buição em regiões campestres do interior, da Amazônia(l" ex. Manause foz do Amazonas) ao Paraguai, Bolíviae Argentina; não atinge o litoral do. Brasil oriental. Se-gue de uma área campestre a outra aproveitando-se dosdesmatamentos, aparece ao redor de aeroportos e ao ladode estradas recentemente abertas na hiléia; ocorre tam-bém do litoral do Amapá às Guianas e médio rio Branco."Tucano-boi" (Rio Grande do Sul).

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II

Laps, R. R. 1993. s III Cong . o l P. 20.

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RAMPHASTIDAE 503

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504 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

PICA-PAUS: FAMíLIA PICIDAE (47)

Aves quase cosmopolitas (faltam na Austrália, NovaGuiné, Nova Zelândia e Madagascar), sendo oneotrópico a região mais rica em espécies. Há uma es-treita relação dos picídeos americanos com os do VelhoMundo, particularmente entre os sul-americanos e afri-canos. Fósseis do Terciário Superior (Plioceno) da Amé-rica do Norte; espécies recentes nos depósitos pleístocê-nicos (20.000 anos) da Lagoa Santa (Minas Gerais).

A família mais aparentada seria a dos capitães-de-bigode, Capitonidae, com os quais os Picumninae mos-tram na muda até mais semelhança do que os Picinae.(Stresemann & Stresemann 1966). Os Piciformes são con-siderados usualmente osnon- mais aparentadosaos Passeríformes.

,

O peso das espécies brasileiras oscila entre 10g e200g; todos são imediatamente reconhecíveis por seubico forte, reto, em forma de escopro, com o qual mar-telam com tanta força que há a necessidade de uma pro-teção do cérebro contra o excesso de trepidação, o queé efetuado por adaptações do crânio e da musculatura

. A musculatura do pescoço é mui-to forte e há adaptações especiais das vértebras. A mo-bilidade da maxila, outra particularidade anatômicaimportante nos Picidae, é reduzida nas espécies queapresentam maior vigor no golpear; o bico pontia-gudo também presta-se ao papel de pinça. O bico domacho é freqüentemente maior o que indica alimentodiferente (v. abaixo).

Língua vermiforme extremamente longa, às vezescinco vezes maior que o bico (fig. 188). Os músculoshióides retraídos sobem por baixo da pele nucal diri-gindo-se para diante, terminando na testa ou até pene-trando na base da maxila (fig. 188). Condições semelhan-tes ocorrem em beija-flores; em os hióides po-dem ser enrolados na cavidade orbital. Hióides curtossão caráter considerado "primitivo", mas por outro ladoadmite-se a hipótese de uma redução secundária. A pon-ta da língua possui adaptações especiais (v. sob Alimen-tação).

Outra adaptação é o desenvolvimento da glândulamandibular (gl l maior nos representan-tes que vivem de formigas e cupins como a se-creção produzida abundantemente age como uma "cola"pegajosa que dá a língua a capacidade preensora de umavara com visgo.

Pernas curtas, pés zigodáctilos (fig. 189) ao contrá-rio dos Dendrocolaptidae (Passeriformes) que tambémsão trepadores. O dedo externo dos Picidae pode ser des-locado lateralmente em uma posição adequada para afixação em troncos roliços, as árvores mais delgadas são

até "abraça das"; os que trabalham a madeira mais vi-gorosamente necessitam de pés mais fortes para se agar-rarem, ao passo que têm a capacidade grimpadora re-duzida. A segurança no fixar-se é aumentada pela ten-

. dência de apoiar o tarso na casca ephilus, p. ex.).Os pica-paus-anões, estão entreos mais ener-'géticos batedores e têm pés relativamente gigantescos.

A cauda, exceto em é tran~formada emórgão de apoi9 para substratos verticais ~raças às raquesmuito rijas das retrizes, as qUé;ÚSsão.sulcadas longitudi-nalmente, o que parece aumentar-lhe aresistência: o co-lorido negro destas penas é causado pela melanina, aqual confere maior resistência à estrutura (tal fato é ge-ral dentro da classe). O 'liso da cauda como apoio docorpo reflete no"esqueleto (pigostilo) e é diferente do dosdendrocolaptídeos. Para subir Um tronco, os pica-pauspulam para cima, de pés paralelos, "sentando" na cau-da a cada parada; em um tronco a prumo,enilio nisdesce de ré, às vezes por um bom pedaço, à feição deDendrocolaptidae. Os pica-paus-anões, de cauda mole,freqüentam mais a ponta dos galhos lembrando certosfurnarídeos; contudo pousam igualmente sobre ramose troncos finos verticais usando tão pouco a cauda comoquando ficam pendurados sob um galho ou quando semovimentam de cima para baixo com a cabeça para afrente, o que é possível apenas pelos pés excepcional-mente fortes. Chamamos a atenção para a estruturamuito diferente da cauda de um pica-pau e de um ara-paçu, Dendrocolaptidae.

Os sexos parecidos, o macho distingue-se por umaestria malar (p. ex. emCeleuse D pus) ou por umamancha vermelha no vértice ou na nuca (p. ex. em

e há outros tipos de dimorfismo, p. ex. eme s ndidus e coides tus. O colorido típico

do macho manifesta-se já na plumagem juvenil dentrodo ninho (p. ex. e s n cabeça rubro-arna-rela). Cria confusão o fato de fêmeas jovens poderempossuir mais encarnado que na plumagem adulta (p. ex.em ilio nis e l ne pes) desta maneira a fêmea de

es us tem um sinal rubro nucal que seperde com a idade adulta. Também os jovens machospodem apresentar esta "inversão" da presença do ver-melho (p. ex. em ephilus e oleucos),parecendoportanto mais velhos e sendo até mais vistosos que oadulto. Um til padrão progressivo da plumagem doimaturo, é caráter de muitos Picinae, não existentenos Picumninae. Os filhotes dos últimos se distin-gu~m dos adultos pelo colorido do vértice (pretouniforme ou riscado, sem vermelho), padrão ligadoao comportamento.

Há mutações descritas originalmente como espéci-es, p. ex.D ocopus e (= D. lin e l ne pes

s (= M. en us).

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PICIDAE 505

Os pica-paus exalam um forte cheiro tipicamente re-sinoso que é mais intenso em certas espécies, p. ex.Celeus

e Celeus eleg também os pica-pauzinhos nus. Parece-nos que esse odor nada te-nha a ver com a alimentação, como foi ventilado poroutros. Trata-se de cheiro aderente à plumagem que tal-vez seja motivado por derivados graxos da glândulauropigiana ou das próprias penas; o fenômeno foi estu-dado certa vez em pica-paus asiáticos (Bock & Short1971). Sobre odor em outras aves v. p. ex. Caprimulgidaee Trogonidae.

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MN

HFig. 188.Glândulas e suportes da língua de um pica-pau, Col ptes e ochlo os.A, glândula mandibular, M.glândula maxilar, N, glândula nasal; G, genihióide; H,"chifre" de hióide (seg. Goodge1972).

A- , .B

Fig. 189. Pézigodáctilo de pica-pau,Col iesel hl visto da planta, pé esquerdo (seg.

Bõker 1937).

oc çõo.

Todos têm um "canto" territorial e diversos chama-dos. Sendo imitado o canto territorial deum indivíduopor um alto-falante, a respectiva ave atende-o imediata-mente e vem em cima. Estas vozes são complementadaspor uma "música instrumental", o tamborilar, que nãodeve ser confundido com o cinzelar; este é função da

procura de alimento ou da elaboração de uma cavidadenidificadora, ao passo que aquele é executado em paussecos, cascas salientes, troncos ocos e até em chapas deaço tendo função exclusivamente de produzir rumor emfunção da defesa do território. O substrato é escolhidode maneira a proporcionar uma boa ampliação da so-noridade e do alcance do ruído, que pode superar o davoz: Trata-se portanto de produto dos golpes do picídeo.sobre o substrato e não da trepidação deste último con-forme às vezes se afirma. Aconteceu de um pica-pau es-colher um isolante de vidro de um poste telefônico paratamborilar. O timbre desta "música instrumental" variaconforme '0 suporte utilizado, desta maneira unebulosusproduz um tamborilar fortíssimo quando gol-peia .na taquara, lembrando tal barulho o canto dauntanha bus), estranho anfíbio terrestre; há igual-mente vozes de batráquios, arborícolas que se asseme-lham muito ao tamboreic de pica-paus (Bahia) cujo rit-mo é característico destas espécies e gêneros. O tambo-rilar é composto de 30 a 40 (ou até mais) batidas porsegundo e é individualmente diferente.

Os grandes ephiius, como C. icollis e C.bustus, fazem um tamborilar bissilábico que pode soar

como uma voz. ocopus lin produz um ruídomonótono e prolongado; este último tipo de tamborilar,produzido por vários pica-paus, pode soar aos nossosouvidos como quase iguais em espécies aparentadas,revelando sua diferença se analisados em um sonogra-ma. No caso dosC pephilus oieucosregistramostanto um tamborilar bissilábico como um monótono. Otamborilar deCeleus ns é fraco.

Esta "música instrumental", tal como o canto, servepara a marcação territorial, advertindo rivais, e comomeio de comunicação entre o macho e a fêmea; há ver-dadeiros duetos, podendo acontecer de um dos compa-nheiros tamborilar de dentro da cavidade do ninho. Otamborilar pode, até certo ponto, substituir o canto es-tando, como este, ligado à quadra reprodutiva sendo exe-cutado apenas periodicamente.

. Os pica-paus são atraídos por árvores parasita daspelos tipos mais variados de insetos e suas larvas; sãofreqüentes-coccídeos, homópteros, muito perniciososàsplantas. Localizam larvas de insetos, como as de besou-ros, invisíveis sob a madeira, pelo ruído produzido porestes animalejos ao roerem; umenilio is spilog s ,p.ex., bate ligeiramente sobre a casca tentando localizarsob a mesma uma cavidade que porventura exista e quese trai pelo soar oco. Quando encontra um ponto quepromete alimento começa a martelar com denodo per-furando a casca para poder explorar a cavidade, o que éfeito através da língua pegajosa de ponta atilada, provi-da de corpúsculos táteis, que serve para espetar a presa(fig. 191). Traem-se pelo barulho que fazem ao trabalha-rem o dia inteiro.

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506 ORNITOLOGIÁ BRASILEIRA

Sobre a importância de árvores mais velhas ou mor-tas para os pica-paus v. Reprodução. Alimento (larvasde besouros, etc.) para certos pica-paus fornecem tam-bém tocos, galhos e troncos caídos, removidos geralmen-te em matas cultivadas. Os gostam muito delarvas e pupas de formigas.

Tiramos da moela de um 2.093 for-. migas e, da de umCeleus 1.489 cupins. Formi-gas, seus ovos e suas larvas constituem a alimentaçãopredileta de muitas das formas brasileiras;

ús não teme nem mesmo as formigas mórdedorasque vivem nas imbaúbas; achamos boa quanti-

dade de cabeças de soldados de térmitas aferradas àspenas ao redor do bico de que abre'regularmente grandes cupinzeiros terrícolas; seu traba-lho é facilitado quando retoma a um ninho de cupins jásabotado em uma investida anterior e cujas violaçõesforam reparadas com terra ainda fresca. .

abre ninhos de abelhas silvestres (v. sob Utili-dade), arrombando até grandes vespeiros para apo-derar-se das larvas carnudas, às vezes pega um inse-to em vôo. Ocasionalmente certas espécies (p. ex.

acompanham as colunas das for-migas-de-correição para apanhar os artrópodes quesão afugentados.

Verificamos que o pica-pau-do-campoperfura às vezes ninhos de joão-

de-barro; ainda não conseguimos saber se tal é feito paraque os filhotes do furnarídeo sejam retirados e comidos;caso isto ocorra, teríamos um paralelo com uma espécieeuropéia . Tal atitude predatória ex-

A B cFig. 190. Língua detrêspica-paus, a pontaérevestidacom farpas aguçadas. Celeus e

C,e (seg.'Steinbacher1955).

plicaria O medo que os pica-paus infundem por vezesem outras aves; notamos, p. ex., que a presença de um

irrita certos pássaros como o canário-da-terra,o sanhaço e a maria-é-dia

Não poucas espécies neotropicais (p. ex.Celeus

e gostam de fru-tas como o mamão, caqui, bananas e a laranja, as fruti- .nhas de imbaúba e também de sementes; registramos,no Espírito Santo, serem as bagas do caruru

arbusto de um metro e meio, alimento cobi-çado por trêsPicidae ,

~ fi comprida língua-móvel é muito adequada para lamber o sumo de frutasmoles. Nota-se certa alteração periódica na dieta, sendoo consumo de frutas maior no inverno, quando escas-seiam os insetos. Supunha Fritz Müller (1878In Mõller1915-21) que "pica-paus", na procura de néctar e inse-tos, polinizem as flores. 'de certas. bombacáceas

. Pica-paus que vivem em clima frio amealhamsementes para um posterior aproveitamento; atividaderegistrada por C.Yamashita no interior de São Paulo numgrupo de M. provavelmente herança de ante-cessores que viveram em clima frio (v. gralhas,Corvidae). O pica-pau-do-campo ocasionalmente furaparedes de casas de adobe isoladas nos campos; é possí-vel que a terra preparada para a caiação tenha um gostoque lhe seja agradável. Na Argentina um

perfurou a parede de tijolos de um galpão,deixando 10 buracos de 5 a 7cm de diâmetro; acreditou-se que o pica-pau tenha sido atraído por insetos (G. M.Achenbach). No Brasil notamos que um C. emartelou na parede de uma casa abandonada mas nãochegou a fazer um buraco maior.

As diversas espécies que ocorrem em uma mesmaárea costumam distinguir-se no tamanho, na adaptaçãoa um ou a outro estrato e na técnica para apanhar seualimento, trepando nas árvores ou pulando no solo, eobservam igualmente maneiras diferentes de procurarcomida: cinzelam, escavam, sondam ou apanham inse-tos na superfície do substrato; para tal especialização

.trófica contribui o tamanho do bico e da língua. Nestescasos os hábitos refletem meramente a anatomia. Váriasespécies exploram nichos ecológicos muito próximos,mas há pouca competição; concorrentes dos pica-pauspodem ser os Dendrocolaptidae e Capitonidae. Os

forrageiam na galhada, sobretudo nas pontasdos galhos, ramos e cipós finos e geralmente secos àprocura de artrópodes (formigas), um nicho ecológicolivre - se não aproveitado pelo fumarídeoXenops sp.;martelam constantemente como os pica-pá tis grandes.

Contra danos executados por pica-paus em mastrosde redes elétricas usa-se nosEUA um aplicado àmadeira que repele os pica-paus 'sem ser venenoso.

Os cortes retangulares encontrados amiúde emtaquarais do Brasil oriental, como na Serra do Mar per-to do Rio de Janeiro, não são obra de pica-paus, sendo

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F"""

..'!

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PICIDAE 507

- provavelmente de roedores - mas quais? O rato-da-ta-quara, come brotos da taqua-ra; não se podem descartar também os besouros(Curculionidae, J. Becker); v. também sob Dendrocolap-tidae e figo218.

Existe outro fenômeno interessante de lesões em ár-vores que se apresenta em várias partes do Brasil e nãoé obra de pica-paus como as pessoas poderiam supor,lembrando os pica-paus sp. e ou-tros) do hemisfério setentrional. São as lesões pratica-das por sagüis, spp. Esses pequenos símiosperfuram com os dentes dianteiros inferiores certas ár-vores (p. ex. pau-doce, na procura do co-pioso látex (Coimbra-Filho 1972).

Os flore;tais vivem solitários à exceçãodeM. o que é ainda mais

habitual em .A maioria' dos nossos picídeos é rigorosamente ar-

borícola. Cinzelam sem cansar. Procuram os estratosdiferentes na mata, altura média ou as copas e certasárvores, troncos ou galhos parasitados, os sexos separa-damente o que sugerem adaptações diferentes, como ocomprimento do bico (v. Morfologia).

Os seriam os menos especializa dos embo-ra muito eficientes em qualquer situação da vida arbo-rícola. Asua habilidade de se movimentar de cabeça parabaixo se assemelha às trepadeiras spp.do hemisfério setentrional, mas o seu temperamento étotalmente diverso: são muito vivos, movimentam-serapidamente, como outros pica-paus; em galhos hori-zontais pousam verticalmente como um passeriformequalquer. A restrição de vários representantes de

a certas áreas limitadas deve indicar exigênci-as ecológicas específicas ainda não identifica das.

Fig.191. Pica-pau,penetrando com a língua numafenda para retirar ovos de insetos;há pica-paus cujalínguaécincovezes mais longa do queO comprimentodo bico.

Os descem regularmente aosolo; pula através da rama ria horizontalmente como umagralha (modo estranho de locomoção para um pica-pause não considerarmos o pica-pau-do-campo e os

. tornou-se mesmo terríco-Ia; quando quer fugir, contudo, procura árvores, estacasou grandes pedras. Há, nessa adaptação gradativa à vidaterrícola, interessantes paralelos nos Dendrocolaptidae;a adaptação de a pular e andar sobreo solo é semelhante à do mais terrícola dendrocolaptídeo,

no Rio Grande do Sul, por vezes seuvizinho.

Sujam a plumagem, sobretudo os que se contactamcom a terra e o capim. Espécies arborfcclas, como

têm o mesmo problema com resina;v.também fungos. Coçam-se segurando-se por um úni-co pé, em um tronco vertical. tomabanho de poeira." .

O vôo dos Picidae obedecea um curso ondulado,alternam uma série de batidasrápidas com um fecharde asas ganhando e perdendo, respectivamente, altura.Dormem sempre em ocos, onde também se abrigam dachuva pesada; alguns elaboram cavidades que servemapenas para dormir. Recolhem-se cedo para dormir oque não impede que, p. ex., um colhaseu alimento só procurando um pouso depois do pôr-do-sol, dirigindo-se do cerrado, em vôo alto, ao capãopróximo (Goiás). Alguns indivíduos de

e associam-se para dor-mir no mesmo abrigo (cada espécie por si) à feição dosaraçaris; os pica-paus começam tarde suas atividades,não sendo madrugadores.

Pica-paus são agressivos. Apanhados pelo homemdefendem-se à bicadas, não de mandíbulas cerradas,como quando cinzelam, e sim entreabertas deixandoduas perfurações na mão de quem os segura. Dormindoem ocos deitam, lembrando papagaios, ou ficam agarra-dos em posição vertical, como que trepando num tronco.

Há diferentes cerimônias do casal e entre rivais: oselegantes (e M. exibem-se em diversas posições e movimentos pousando pertouns dos outros; produz umforte zunido com as asas quando, em vôo, o casal se en-contra; faz sua demonstração, naépoca do acasalamento, voando acima das árvores e gri-tando; um a frente do parceiro, le-vanta as asas verticalmente para logo depoisabaixá-Ias,repetindo tal gesto várias vezes a curtos intervalos: ocasal grita junto, batendo com as asas. Vimos dois ma-chos de executarem uma silenciosa esimbólica luta; ambos pousaram exatamente um em fren-te ao outro, em lados opostos de um caule fino que osseparava (de forma que um surgia quase que como o

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508. ORNITOLOGIA BRASILEIRA

reflexo do outro em um espelho), "batendo" com o bicona direção da cabeça do oponente sem tocar o caule (fig.192); mais interessante nessa cerimônia é que se abstêmda utilização de manifestações acústicas, embora emoutras ocasiões tenham fortíssimo tamborilar.

casal elabora com grande dedicação uma cavida-de na madeira, em muitos casos, uma a cada períodoreprod utivo. Procuram sobretudo árvores mortas, p. ex.,as que resistiram às queimadas ou cujo cerne foi enfra-quecido por fungos; gostam de trabalhar em palmeirase imbaúbas (Ce aproveitam-se de árvores vítimasde um raio. Preferem cavar na face que se inclina para osolo, o que facilita a proteção contra a chuva e a defesada entrada. A direção da entrada influi decididamenteno microclima dentro do ninho; é importante que estemicro-hábitat dos filhotes não esquente demais. Traba-lham frequentemente em mais de uma cavidade. A en-trada corresponde exatamente ao tamanho do seu' cor-po, excluindo a entrada de aves e predadores maiores.Assim, p. ex., a boca do ninho deD ocopus lin ius énitidamente maior que aquela deCampephilus

l leucos que é uma espécie um pouco menor.Em Goiás, est is elabora seu ninho. em

cupinzeiros terrícolas de e ocasio-nalmente em cupinzeiros arborícolas de ctot es

phe g e mas nunca em troncos de árv~res.

Fig. 192.Luta simbólica de dois machos do pica-pau-anão, s c. us. Original, H. ~ick.

Encontramos, em um horto florestal de Minas Ge-rais, um ramo vertical morto de um grande guapuruvucom ninhos de três espécies de pica-paus i nus sp.,

l nochlo os e enilio sp.), um acima dooutro, quase que encostados, o-que demonstra como, emuma paisagem empobrec~da pelo homem, um local pro-

progn.

--~Dryocopus

\ :

Fig. 193. Árvore morta (altura aproximadamente de25metros), furada por pica-paus, Peru; nidificaram ali 6casais de aves (5 espécies diferentes) ao mesmotempo, entre elas dois pica-paus (seg. Koepcke1972).

pício atrai estas aves; segundo informações, todos os trêsapareciam no local concomitantemente. A destruição damata primária priva-os de uma multidão de árvores,entre as quais as velhas e de grande porte de que neces-sitam para nidificar. Necessitam também de ocos paradormir. Excepcionalmente utilizam-se (p. ex.Dl tús) de cupinzeiros arborícolas para tal, à\feição decavadores medíocres como p. ex. joões-bobos e surucuás.Os ic nus gostam de aproveitar-sé dos caules fofosdas piteiras ( c n mas são capazes de esca-var madeira dura; quando não encontra árvores, o pica-pau-do-campo procura postes e estacas semi-apodreci-dos (o que é feito igualmente por outras espécies) ouescava cupinzeiros terrícolas, cortes ou barrancos à bei-ra de rios ou estradas; empurra o entulho para fora comos pés. Na zona cárstica de Minas Gerais, e pes

ndidus parece usar buracos nas rochas para nidificar.l ne es eM. são sociáveis, ins-

talando seus ninhos perto um dos outros; os respecti-vos donos se visitam vivendo evidentemente em umacomunidade pacífica. Um ninho isolado de.jlfoi atendido por mais de três machos e pelo menosduas fêmeas, que ajudavam a trazer alimento (C.Yamashita). .

Põe de dois a quatro ovos brancos, puros e brilhan-tes; o fundo da câmara incubatória costuma ser cobertopor pequenos pedaços de madeira produzidos durante

tij~ -..'t

i:

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PIClDAE 509

1-

a confecção, pois os pica-paus não carreiam material parao ninho; nos ephilus tal camada é deuma "fina serragem", material muito próprio para ab-sorver qualquer líquido. Ambos os sexos revezam-se nochoco; A. F. Skutch assinalou 12 dias de incubação parauma espécie centro-americana dee pes e 14 diaspara um o que é um tempo curto. Forma-seuma placa. de incubação(Ce/eus). O desenvolvimentoembrionário dos Picidae em geral é rápido, o pós-em-brionário lento (v. abaixo).

Os filhotes nascem nus e cegos; embora não insensí-veis à luz pois levantam a cabeça (esperando a ceva)quando se obstrui a entrada do ninho vedando-se a luz.Mais sensíveis ainda são em relação aos ruídos provo-cados pelos pais no tronco perto da entrada, anuncian-do a chegada de comida. Por outro lado param imedia-tamente cOfll sua gritaria e pedinchar, quando os paisdão um sinal de alarma lá fora. A mandíbula do em-brião é bem mais comprida do que a maxila (v.Alcedinidae) e ambas terminam em uma dura biqueiracom a qual serram a casca do ovo ao eclodir. Uma intu-mescência branca e mole da base da mandíbula devefacilitar aos pais a localização da goela dos filhotes naescuridão da câmara; afirma-se que só depois que os paistocam nesta nódoaé que o ninhego abre o bico para re-ceber sua alimentação, a qual consiste em bolas de inse-tos conglomerados regurgitados pelos pais (p. ex. emD ocopus lin ius e es) ou de insetos carregadosna ponta do bico (p. ex.e/ ne pese cu us). Tal comoos tucanos, os ninhegos de Picidae possuem calos tarsais.Os filhotes maiores gostam de agarrar-se às paredes den-tro da câmara; já com poucos dias de idade, ainda ce-gos, começam a martelar, "brincando"; um pouco maistarde tornam-se barulhentos e finalmente emitem o can-to característico dos pais, de dentro do ninho; esteémantido limpo. As fezes dos filhotes se envolvem de umapelícula branca formando um saquinho que os pais le-vam para fora; isto é um processo que se desenvolve emmuitas aves, sobretudo Passeriformes. O filhote menorfreqüentemente não sobrevive. Os pais costumam dor-mir junto àprole e antes disso sobre os ovos.

Apermanência dos jovens dentro da cavidadeincubatória é longa, p. ex., de cinco semanas em umaespécie de tamanho médio comoe e es, o que podeser interpretado como uma adaptação relativa à segu-rança da prole; mesmo após terem adquirido a capaci-dade de vôo os filhotes (cujo sexo já pode ser reconhecí-vel) ficam ainda aos cuidados dos pais e voltam ao ni-nho para dormir s ns).

-

Dis ç o e ç

A variação geográfica é grande, correspondendo aum desdobramento em raças geográficas (p. ex. em

culus c ochlo os ou enilio is p sse nus).Há casosde uma exclusão geográfica de representantes mais di-versificados e geralmente bem isolados (distribuição

alopátrica), considerados então aloespécies componen-tes de uma superespécie o que ocorre comC tes

e noehl os e C. punctig , Celeus eus e C.und , C. ns e C. lugu s, e l ne pes uenie M. l .

Ocorreu notável evolução paralela p. ex. nos gêne-ros opus e C lus. Um par de espécies extre-mamente semelhantes são us l tue eC ephilus e oieucosambos vivendo, não raro, sobas mesmas condições ecológicas; são diferentes em pe-quenos detalhes da morfologia (comprimento dos de-dos, etc.), pelo colorido da cabeça (o que mostra a im-portância da e tria malar no reconhecimento intraespe-cífico) e nas manifestações sonoras. ,.~

Fig.194. Distribuição do pica-pauCeieus s,superespécie (seg.Haffer, 1974b);machos ilustrados.Losangos abertos e tracejado vertical:Celeus u. .

t losangos semicheios e tracejado vertical:C. u.i u círculoscheios e pontilhado:C.

, círculosabertos e tracejadohorizontal:C.l us. Símbolosdenotam localidades de registro.

. O parentesco próximo dentre espécies neotropicaiscom as do Velho Mundo é patente pela existência dosmesmos gêneros nos dois hemisférios , Celeus,

D ocopus e tal relação é mais notavelmentedocumentada pelos Picumninae: existem três espéciesde cu e (gênero aparentado) na Ásia meri-dional, e uma espécie na África. Para o Brasil foram alis-tados 30 representantes (Pinto 1978) cuja maioria eramrepresentantes geográficos. Os pica-paus-anões parecemser originários do Novo Mundo.

O nosso Col ptes c st is, representante terrícola,corresponde ao bennettii da África, vivendona savana arbórea ao sul do Congo (Fry 1983).

Na abundância de pica-paus da Amazônia pode tal-vez influir a escassez de Capitonidae, uma vez, seremos mesmos aves de exigências ecológicas semelhantes

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510. ORNITOLOGIA BRASILEIRA

(v. Capitonidae): justamente o inverso ocorre na África,com predomínio destes últimos.

Os e outros representantes florestais as-sociam-se temporariamente a bandos mistos de arapa-çus, traupíneos e outros Passeriformes que vagueiam pe-las matas; igualmente acompanha os bandosde pássaros de uma maneira mais freqüente.

realiza migrações a curtas distân-cias através de regiões campestres .Picoídes pare-ce efetuar deslocamentos estacionais, o que provavel-mente é o caso também de outros pica-paus meridio-nais como

[auna

Encontramos, em espécies brasileiras, nematóidespor debaixo da pele da cabeça, do pescoço, da junta dotíbio-tarso e na cavidade abdominal. Consta que formi-gas, tantas vezes alimento de picídeos, podem sertransmissoras de helmintos (cestódeos) encontradosnessas aves (Eichler 1936).

Hospedam por vezes pupíparos (Hippoboscidae), p.ex. transportam artró-podes, principalmente pseudo-escorpionídeos, que seinstalam em seus ninhos e que se agarram a sua pluma-gem Mato Grosso).

Recentemente, Luiz P Gonzaga (1980) encontrou empenas deCeleus fungos filamentosos e levedu-ras, possivelmente responsáveis por uma coloração es-verdeada ou amarelada da garganta, do peito e do dor-so, que tinha chamado a nossa atenção.

dos seus ninhosde,

Nenhuma ave é mais útil que os Picidae, aos animaisincapazes de escavar, por seus próprios meios, umamoradia compatível às suas dimensões; entre estes in-cluem-se muitas outras aves, como p. ex. arapaçus

anambéspapa-moscas Tyraniidae), joões-bo-bos (Bucconidae), periquitos, araçaris e muitos outros.Ao norte de Brasília ocos feitos porforam ocupados por (outubro/novem-bro, C. Yamashita). Soubemos que também

, e se aprovei-tam oportunamente de ocos de pica-paus. Alguns dosinquilinos (como p. ex. certos Bucconidae) são capazesde cavarem, eles próprios, umtal oco, aproveitando-sedo dos pica-paus por "preguiça". Beneficiam-se igual-mente pequenos mamíferos (entre eles os sagüis comop. ex. o mico-leão, répteis, anfíbi-os e animais inferiores.

Os pica-paus são freqüentemente mal compensadospois seus "pensionistas", não raro, apossam-se destesbons cômodos à força, expulsando os construtores,(como fazem, p. ex., os anambés-brancos, enchen-do a moradia do pica-pau com folhas e galhos que elesexigem para substrato dos seus ovos e filhotes. O pica-pau que usa no seu ninho apenas os pedacinhos de ma-deira oriundos da escavação do oco, joga repetidas ve-

. zes o material da fora, mas finalmente, desiste e oabandona. Araçaris chegam mesmo a com.er os ovos eos filhotes dos pica-paus antes de ocupar 'o oco delesque, pacientemente, constrõem uma outra casa. No altoAmazonas," Peru, Maria Koepcke registrou seis casaisdé aves (entre elas dois Picidae diferentes) nidificandosimultaneamente em ocos feitos por pica-paus em umamesma árvore (fig. 194).

De uma maneira geral s~o muito úteis ao homem aodestruírem grande quantidade de insetos, e suas larvas,

-nocivos à madeira (p. ex.serra-paus,Ceraínbycidae);é o inimigo natural da irapuá

, prestando relevantes serviços aoscitricultores por abrir os ninhos desta abelha indígenaem busca de suas larvas e pupas (Bitancourtet . 1935)do estômago de umDrfocopus foi isolado o tipode ceophloei.

Por outro lado é inegável que os pica-paus causam,às vezes alguns estragos em pomares, vindo tambémaos canaviais, Na zona cacau eiraCeleus , C.

, e são acu-sados de causarem sérios danos aos frutos do cacau; oslocais dizem que os supracitados picídeos perfurariamos frutos voltando quando o mesmo tivesse atraído in-setos. Todavia, parece-nos provável que as aves ataquemprincipalmente os que já estão bichados.

Dec/ínio,

O pica-pau-de-cara-amarela, foiconsiderado já no fim do século passado, por H. vonlhering, como uma raridade; ao que parece trata-se deuma espécie ameaçada de extinção. O motivo pode serde ordem ecológica. O pica-pau-malhado,

p. ex., está desaparecendo na Europa em conse-qüência da eliminação do carvalho sp.); antesnessa região o pica-pau era mais comum. Quase nadasabemos sobre adaptações ecológicas de pica-paus bra-sileiros. Na América do Norte temos o caso do famoso

que estáaparentemente extinto (Collaret . 1992),

O reflorestamento com eucaliptos einus não favo-rece a existência de pica-paus o mesmo acontecendo comas capoeiras nativas, nas quais faltam árvores maiorespara a instalação de seus ninhos. Os pica-paus são bas-tante sensíveis aos inseticidas. A existência de pica-pauspode até servir como indicador de que a respectivabiocenose continua intacta. A popularidade dos pica-paus se manifesta p. ex. na alusão a eles, designando as

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PICIDAE 511

espingardas rudimentares, carregadas pela boca, como"pica-paus".

de espécies

o reconhecimento "no campo" de certose torna-se difícil, senão impossível. O

vermelho berrante da cabeça de certos indivíduos nãoauxilia muito na determinação específica, pois, pode serum indicador apenas da idade ou do sexo; o rubro daregião mala r é sinal masculino em Celeus e

O discernirnento das espécies grandes,alvinegras de topete encarnado (grupo 7) requer igual-mente toda a atenção.

A taxonomia dos Picidae foi revisada porL. L. Short(1980), o quaj considerou inclusive dados bionômicos,sendo proposta a inclusão dos representantes de

em e a reunião dec e no gênero ,

é substituído por ao passo queé incluído em

1 - Pica-paus-anões,Picumnus (14): ~ identificaçãoda maioria é apenas possível com a relação completados caracteres. Os machos adultos têm vermelho no vér-tice (v. Pr. 25), excetoP. , enquanto as fêmeastêm-no negro salpicado de branco e os juvenis pardo.

2 - Pica-pau-do-campo, (1): C.(Pr. 25,3).

3 - Pica-paus verdes, de porte relativamente grandee meio terrestres, es (= s) (2): (pr. 25,8).

4 ~ Pica-paus verdes de tamanho médio,Picuius (5):geralmente com amarelo berrante maisou menos exten-so na cabeça (Pr. 25, 9).V também item abaixo.

5 - Pica-pauzinhos verdes, (6): há váriasespécies bem semelhantes que se distinguem principal-mente pelo colorido e desenho do manto; a existênciado vermelho na cabeça varia com a idade (Pr. 25, 10).Vo item anterior.

6 - Pica-paus grandes ou de tamanho médio, de co-lorido castanho,Celeus (8).

6.1- Apenas na Amazônia:C. e (pr. 25,5), C.g e C. (v. figo193).6.2 - De cabeça e topete amarelo ou ferrugíneo:c.__.

(Pr. 25, 6), C. C.flaous, C.spee C. .7 - Pica-paus grandes de topete encarnado (2 gêne-

ros, 6 espécies).7.1 - Com uma linha branca ao lado do pescoço ebarriga transfasciada: us (Pr. 25, 1),D. e (Pr. 44,6) e .7.2 - Apenas com uma mancha branca e preta nolado da cabeça vermelha: ephilus (coma barriga transfasciada; Pr. 25,4), C. (coma barriga castanha uniforme) e C.leucopogon (barri-ga negra uniforme).

8 - Pica-paus médiosalvínegros, com ou sem ou-tras cores: e (4) e (1).

8.1 - Multicolores, com preto, vermelho, amarelo ebranco: (Pr. 25, 2) e M.

,8.2 -Alvinegros: M. (fig. 195) eM.(ambos com sinais , s (de portepequeno, Pr. 25,7).

PrCA-PAU-ANÃO-BARRADO, iPr. 25, 11

. LQcm. O an~o dos pica-paus; seu peso: médio (ao re-dor dê 1l,5g).cqrresponde a apenasumterço do de ou-tras espéciespequenas como . As penas danuca formam freqüentemen\e uma pequena crista'. Par-tes superiores uniformemente .pardas, partes inferioresdensamente barra das; o desenho preto e branco da cau-da, do vértice e da nuca é, geralmente, igual nos diver-sos representantes; macho de vértice e testa encarnados;imaturos de cabeça parda uniforme. e ções sono-

a voz é um fino"tsirrrr" descendente, às vezes pro-longado e modulado, emitido já pelos imaturos; zirit","zick". Tamborila um"trrrrr". Sobre ritual de machosV.

Reprodução. Em árvores, não muito densas, de alturamédia; geralmente na ponta dos ramos, freqüentementeseguro por baixo da galharia; bate violentamente agar-rando-se com os pés excepcionalmente possantes (v. In-trodução). Abre buracos nas folhas caídas de imbaúbaque ficam presas na ramagem, para retirar pequenasformigas as quais procura também nos caules da sa-mambaia-das-taperas u . Ocorredas Guianas à Bolívia, Paraguai, norte da Argentinae Brasil, localmente no baixo Amazonas e região meri-dio-oriental. .

No sul (Par aná, São Paulo, Rio Grande do Sul,Misiones e Paraguai) representado porP. ci sie , lados da cabeça cor-de-canela; uma nítidanódoa branca sobre a borda posterior do olho."zirrrr", "si-si-si...". Habita à beira da mata e capoeira.No Rio Grande do Sul localmente ao lado decnebuloeus.

Das 14 espécies brasileiras dec s, quatro en-dêmicas,cirratus éamais conhecida. Ocorrem cruzamen-tos, p. ex. com P. e e P.

e gutti e , demonstrando o parentesco pró-ximo (Short 1982).

PrCA-PAU-ANÃO-DE-PE5COÇO-BRANCO*, ic se

[8cm] De barriga pontuada, lembrando P.ci tus.[Conhecido no Brasil de registros oriundos de Rorai-ma (P.S. spilog ste leste do Pará e Maranhão (P. s.

.

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512 ORNITOLOGIA B'RASILEIRA

PrCA-PAU-ANÃO-ESCAMADO,

l

IDem. Típico dos cerrados do Brasil central; mantopontuado de branco, partes inferiores alvas escamadasde negro. "si-si-si. .." em seqüência descendente.Ocorre do Maranhão ao oeste do Paraná, Minas Gerais,Mato Grosso e Bolívia.

PICA-PAU-ANÃO-DA-VÁRZEA,

En

ID,Scm. Pardo-escuro com as penas das partes infe-riores com bordas esbranquiçadas. Ocorre nas ilhas pertode Óbidos, Faro (rio Jamundá) .e Santarém no Pará eAmazonas.

PICA-PAU-ANÃo-prNTALGADO,

En

IDem. Típico do Nordeste; partes superiores e inferi-ores salpicadas de branco lembrando um pouco o ante-rior. extremamente fina lembrando o trissar de mor-cegos, "zirrrrr", "zi, zi, zi". Habita a capoeira, mata decaatinga e de serra (no sertão). Ocorre, p. ex.: do Mara-nhão, Piauí e Bahia a Minas Gerais (rio São Francisco)."Pica-pau-anão-pintado'"'.

PrCA-PAU-ANÃO-DO-AMAZONAS*,

[9cm] De costas verde uniforme, as partes inferioresbarra das. [Assinalado para a margem esquerda do

(P I. pusi/lus) e para a região do alto rio Negro(P I. Novaes 1967). I. pusillus do baixoSolimões, com nenhum ou pouco estria do no dorso éaparentemente uma ave restrita ao ambiente de bordadas florestas sazonalmente inundadas de várzea e igapó,conforme respectivamente observado na Estação Ecoló-gica Mamirauá e Parque Nacional do [aú F. Pacheco).As relações entre as raças atribuídas a P.l care-cem de maiores estudos, conquanto se advoga a inde-

J~pendência de P.pumilus por ocorrer em simpatria comP na localidade colombiana de Mitu (Hilty &Brown 1986).]

PICA-PAU-ANÃO-DE-prNTAS-AMARELAS,

9cm. Partes superiores verdes ou esverdeadas,pintalgadas de preto ou de alvinegro; partes inferioresesbranquiçadas ou amareladas, barra das de negro, man- "to com pintas amareladas. "zilit", "zirrrr". Capoei-ra, capoeirão. Ocorre da Venezuela ao Amapá, tambémno Maranhão, Pernambucó, Alagoas e do sul da Bahia

ao Espírito Santo. Às vezes sintópico com P.escens (A.G. M. Coelho, J. F. Pacheco). "Píca-pau-anão-dourado'".

PrCA-PAU-ANÃO-DOURADO,

7,Scm. A menor espécie do gênero; partes superioresoliváceas (localmente barradas de amarelo), peito comfaixas transversais, barriga rajada, vértice amarelo-ouro(macho). "zirrrit-zit-zit", lembrando a de um beija-flor. Ocorre do alto Amazonas até o rioNegro (Amazo-nas), ao sul do Amazonas até o norte de Mato Grosso(alto Xingu), sul do Pará (Serra do Cachimbo), rio To-cantins e BEilém (leste do Pará). Inclui P e de vérti-;e-encafI1ildo e não amarel~ que ocorre do rio Tocantinsao Peru (Short 1982). "Pica-pau-anão-amarelos".

PrCA-PAU-ANÃO-CÀRrJÓ, nebulosus

lD,2cm. Espécie meridional caracterizada pela barri-ga .estriada; penas nucais prolongadas, negras de pon-tas brancas. zunido "zürüt", "si-si-si ...". Tamborila fortemente na taquara, "trára-trára ...","rra-rra-rra ..." podendo dar a idéia de um grande anfí-bio (v. Vocalização). Beira de mata. Ocorre do Paraná aoRio Grande do Sul (onde é comum), Uruguai e Misiones(Argentina).

PrCA-PAU- ANÃO-DE- PERNAMBUCO,

En

IDem. Manto pardo uniforme, lado inferiorferrugíneo claro, riscado de branco, lembrando P.nebulosus. seqüência descendente de "drií..." (A. G.M. Coelho). Vegetação arbórea aberta, caatinga não mui-to seca, penetra também na mata úmida, encontrando-se com P. . Pernambuco, Alagoas. "Pica-pau-anão-canela*".

PrCA-PAU-ANÃO-FUSCO*,

[Representante de distribuição limitada às florestasda drenagem do Guaporé: sul de Rondônia, oeste deMato Grosso e Departamentos limítrofes de Beni e San-ta Cruz, Bolívia.]

PrCA-PAU-ANÃO-VERMELHO,

lD-llcm. De nuca e partes inferiores castanho uni-forme, manto verde. Alto Amazonas, do rio Purus à Bo-lívia e Colômbia. Sem espécies parecidas. Relativamen-te grande. "Pica -pa u-anão-ferrugerrr'".

PrCA-PAU-ANÃO-CREME*,

[8cm. No leste de sua distribuição habita as florestas

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f . ...

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PICIDAE 513

de várzea ao longo dos rios e a vegetação pioneira dasilhas fluviais na Alta Amazônia. Registrado no Brasil apartir de informação deJ. M. C. Silva sobre a existênciade exemplares dessa espécie depositados no MuseuGoeldi (Willis & Oniki 1991).Tal registro se baseia numasérie de 6 exemplares coletados em Maguari, municípiode Maraã, margem direita do [apurá, Amazonas em se-tembro de 1988. A espécie ocorre ainda na Colômbia,Equador, Peru e Bolívia.]

PICA-PAU-ANÃO-DA-CAATINGA,

En10cm. Partes superiores pardas, partes inferiores uni-

formemente amareladas. zunir finíssimo "sirr-sirr-sirr", lembrando um beija-flor. Caatinga; do Ceará aAlagoas. "Pica-pau-anão-do-nordeste*".

PICA-PAU-OO-CAMPO, Pr. 25,3

32cm. Espécie grande, terrícola, inconfundível peloformato e colorido; lados da cabeça e do pescoço ama-relos como o peito anterior, sendo este tom mais vivono macho. Manto e barriga barrados, baixo dorso bran-co bem visível em vôo; macho geralmente, mas nem sem-pre, com vermelho na região malar; a população meri-dional com a garganta branca e não negra (C.

. A cor típica amarela das raques dasrêmiges torna-se mais intensa quando muda para a plu-magem adulta. Partes inferiores freqüentementeencardidas por cinzas e substâncias glutinosas degramíneas. bem variada, forte "kjück ..." do timbredo maça rico tremulante "wüüü ...","guik", "tio", etc. Vive em pequenos bandos em regiõescampestres, onde estão entre as aves mais vistosas, tam-bém no alto das serras do sudeste do Brasil, acima dalinha das florestas, e nas' caatingas. Procuram seu ali-mento (formigas e cupins) principalmente no solo entrepedras e até sobre o piso de estradas; do alto demontículos, postes, árvores isoladas, cactáceas e rochasolham ao redor; pulam em posição ereta sobre galhoshorizontais; andam um pouco; pousam ocasionalmen-te, pormuito tempo, sobre fios telefônicos, atitude es-tranha para um pica-pau; durante o auge do calor pro-curam ~ escassa sombra de ummoirão, etc. Ocorre doNordeste do Brasil ao Uruguai, Paraguai, Bolívia e Ar-gentina; também nos campos do baixo Amazonas (MonteAlegre, Pará) e no Suriname; começa a invadir a hiléiavindo do sul e estende seus domínios no Brasil orientalaproveitando-se do desmatamento. Explora pastos mal-tratados, de qualidade inferior, com desbarrancados oumossorocas, onde vegetam os cupinzeiros, áreas arrasa-das e sem a menor utiliçl.ade, criadas recentemente tam-bém em extensões vastíssimas ao lado das rodovias"Belém-Brasília" e "Transamazônica". "Chã-chã", "Pica- .pau-de-manga;' (Minas Gerais). A forma austral, C.

e , já foi considerada espécie sepa-rada, é distribuída do Paraná ao Sul.

PICA-PAU-VERDE-BARRAOO,

Pr. 25, 8

26cm. Espécie de tamanho relativamente grande, ver-de, de lados da cabeça brancos, com vermelho na nuca

. (e também na estria malar, no macho); partes superioresbarra das, partes inferiores com nódoas cordiforrnes:raques das penas amarelas como em es is.

i sua voz é um cheio "quiük-quik-quik", parecidp à' do anterior; melanc~lico "klüa ...'',"goa ....", em ;uma seqüência: "krrü "; "bütr a ":"piquarrr". Tamborila. Habita à beira demata, cerradão,mata de. galeria; típico do cerrado e caatinga, penetraem regiões abertas, praticamente despojadas de vegeta-ção alta. Procura openachodas palmeiras, gostando de

. lançar dali sua estrofe por tempo considerável; pousasobre galhos horizontais (v. Introdução); às vezes comesuspenso sob os ramos; desce .a arbustos e ao solo embusca de formigas, à feição do pica-pau-do-campo. Ocor-re da foz do Amazonas (Marajó) ao Nordeste e daí ao

. Rio Grande do Sul, Goiás, Mato Grosso (rio Araguaia,Corumbá), Paraguai, Argentina e Uruguai. No Brasilocorrem duas raças geográficas de porte um tanto di-verso. Às. vezes na mesma área queCeleus escense

e freqüentemente ao lado do arapa-çu s que tem uma voz seme-lhante à sua; no oeste do Rio Grande do Sul vizinho dodendrocolaptídeo Dnjmomis gesii. "Pica-pau-carijó"(Rio de Janeiro).

PICA-PAU-DE-PEITO-PONTILHADO*,

.

19,5cm. Garganta pontuada (e não estriada)."kjí ..." lembrando Como este, fre-qüentemente no solo entre árvores esparsas. Ocorre daAmérica Central à Bolívia e Brasil, do alto Amazonas aoalto Xingu (Mato Grosso) e ao rioTapajós (Pará); tam-bém no Amapá, Guiana Francesa, etc.

PICA-PAU-BUFAOOR, g Pr. 25, 9

17,5cm. Espécie verdoenga de tamanho médio e dis-tribuição ampla. Lados da cabeça amarelo-uniformes,vermelho no vértice (macho) ou na nuca (fêmea); manto'verde-uniforme, ventre grosseiramente manchado. O re-presentante meridional g opsis) tem agarganta vermelha, sobretudo os machos, ao contráriodas formas amazônicas (v.prancha). bufar swpre-endentemente forte, "xa","gã" (advertência). Vive namatar a média altura; freqüentemente ao lado de

e Ocorre das Guianas até o alto rio Xingu (MatoGrosso), sul do Pará (Serra do Cachimbo), Nordeste e

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514' ORNITOLOGIA B~ASILEIRA

leste do país (até o Paraná). "Pica-pauzinho-amarelo","Pica-pau-de-cabeça-amarela". V. a seguinte.

PrCA-PAU-DOURADO,

20cm. Representante meridional que difere do ante-rior pelos lados da cabeça oliváceos atravessados porduas faixas amarelas horizontais; garganta amarela;vértice e. faixa malar (ou apenas a nuca, na fêmea) en-, .camados; rêmiges barradas de castanho. seqüênciaplangente e descendente iü i i Habita amata: regi-ões serranas do Espírito Santo, Minas Gerais e Rio deJaneiro, até o Rio Grande do Sul, Argentina (Misiones) eParaguai. "Pica-pau-verde-douradot". V. o seguinte.

PrCA-PAU-DOURADO-ESCURO,

21cm. Semelhante ao anterior mas com os lados da'cabeça apenas com uma linha amarela, íris branca,rêmiges de base castanha não sendo barra das à seme-lhança de s g Vive na mata, cerra dão, cer-rado. Ocorre do Panamá às Guianas e à Bolívia, Para-guai, Argentina, sul do Mato Grosso, Maranhão, nor-deste e leste do Brasil até Minas Gerais, Rio de Janeiro eEspírito Santo. "Pica-pau-da-copa'".

PrCA-PAU-DE-GARGANTA-BRANCA ".

leuco

18cm. Também com uma só linha na cabeça; gargan-ta branca. Habita a mata ao longo dos rios. No alto Ama-zonas e também na ilha de Bananal (Tocantins, Snethlage1936). [Em conexão com a população do noroeste do Es-tado do Tocantins ocorre ainda no sudeste do Pará(Carajás, Tucuruí) ao lado de P. preponderan-do-a em número de indivíduos a. F. Pacheco, B. M.Whitney)]

PrCA-PAU-GUVÁCEO*, culus

'[20cm] De lados da cabeça brancos. [De ampla dis-tribuição montícola andina, da Venezuela ao norte deArgentina, bem cómo centro-americana do México aoPanamá: também na região do Pantepui e montanhasdo Escudo Guianense, onde na faixa brasileira P... foi primeiramente assinalado no Cerro Neblina,Amazonas e Serra Parima, Roraima (Phelps 1973). P..nig ceps,descrito dos montesAcary, Guiana Inglesa jun-to a fronteira do Brasil (Blake 1941), é a única raça admi-tida dentre outras três propostas para a região sudesteda Guiana Inglesa e Suriname (Short 1982). Paralelamen-te aos vários recentes registros orientais da espécie naGuiana Francesa (Tostainet 1992), dois indivíduosforam observados acompanhando um bando misto de

copa no dia 17 de janeiro de 1994, na floresta altimontanade Serra Grande, Amapá . F. Pacheco, C. Bauer,r. N. C.Astor).]

PrCA-PAU-DE-CABEÇA-AMARELA, Celeus nsPr. 25, 6

27cm. De coloração muito variável do ponto de vis-ta geográfico; a forma meridional(Cv. prancha) é amarela ao passo que a setentrional(C

scens och eu do Pará aoNordestejé caramelo comas barras das partes superiores reduzidas a nódoas, Aspartes inferiores uniformemente negrqs, ao contrário de

. Celeus el seqüência fortemente descendente eressonante, com as sílabas bem pronunciadas e destaca-das, "tzü tzü (tzü tzü)" (canto territorial); "tttrrr" (rai-va). Habita a orla de mata, mata de galeria e pomares.Embora sejam arborícolâs, gostando de bagas e frutas,descem ao solo onde comem formigas e cupins. Ocorreda margem setentrional do baixo Amazonas ao Rio Gran-de do Sul, Paraguai e Argentina (Misiones). "João-ve-lho", "Bico-chã-chã" (Rio Grande do Sul), "Cabeça-de-velho", "Pica-pau-velho+". V.Celeusflauus, C tuse o seguinte.

PrCA-PAU-LOURO, Celeus lugu s

27cm. De asas barradas, coberteiras caudais e partesinferiores pardo-acastanhadas. Ocorre nas formaçõesarbóreas da drenagem do Paraguai, Mato Grosso até aBolívia, Paraguai e Argentina.

PrCA-PAU-CHOCOLATE, Celeus eleg s Pr. 25,5

27cm. Espécie amazônica de cor-de-chocolate com ouropígio amarelado; faixa malar vermelha (macho); aonorte do rio Amazonas com topete amarelado (Celele ns) e não castanho como nas populações da mar-gem meridional (Cel ju v. prancha).

es son sua voz é uma seqüência melodiosa e des-cendente, ü-ü-ü-ü-ü-ü"; um duro um suave"guarrr". Tamborilar bissilábico "dop-dop". Habita amata alta, mata de galeria; procura fruteiras; às vezes nosolo. Ocorre das Guianas, Venezuela e Colômbia à Bolf-via, Mato Grosso (alto rioXingu), sul do Pará (rio Cururu,Serra do Cachimbo) e Maranhão. V.Celeus g

PrCA-PAUZINHO-CHOCOLATE, Celeus g cus

20cm. Castanho com faixas transversais negras, uro-pígio e face inferior das asas amarelo uniforme. for-te assobio "doíd-gôa". Vive na mata, às vezes ao ladodo anterior. Ocorre das Guianas ao alto Amazonas, Bo-lívia, Pará (rio Tocantins) e norte do Mato Grosso (altorio Xingu). "Pica-pau-escarnoso=".

,.

rf

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PICIDAE 515

PICA-PAU-BARRADO*, Celeus

20cm. Semelhante à precedente mas de uropígio ecauda barrados. forte "uit-koa" bem típico, pratica-mente a mesma voz que C.g s. Vive na mata deterra firme. Ocorre das Guianasà região do rio Branco enos rios Negro e Amazonas até o Amapá; também noMaranhão, leste do Pará, de Belém ao baixo Xingu.

PICA-PAU-AMARELO, Celeus

25cm. De vasta distribuição; semelhante aCeleusl ns, de topete bem alto e macio, toda a plumagemamarelo-clara exceto as asas e cauda, que são preto-pardacentas; macho de faixa malar vermelha. se-qüência de 6 melancólicos "glü", a última nota maisbaixa. Vive na mata rala, plantações de cacau, etc.; àsvezes desce ao solo onde suja-se de terra. Ocorre do norteda América do Sul à Bolívia, Mato Grosso (rios dasMortes e Xingu), leste do Pará (Belém) e Maranhão: tam-bém de Alagoas ao Espírito Santo.

PICA-PAU-UNDO*, Celeus

27cm. De cabeça ferrugínea, costas e partes inferio-res acaneladas quase uniformes, escudo peitoral e cau-da negros. Ocorre na Bolívia, Peru e Equador; [Recente-mente encontrado no oeste do Acre, Taumaturgo (A.Whittaker)], localmente no Nordeste do Brasil, no Piauí(C.s.o ni,Uruçuí, rio Pamaíba, agosto 1926;Short 1973).

PICA-PAU-DE-COLEIRA, Celeus

27cm. De cabeça caramelo, manto castanho orladode negro, pescoço anterior e peito negros, barriga es-branquiçada grosseiramente maculada de preto. Vive namata alta. Ocorre do norte da América do Sul aos altosrios Tapajós, Xingu e das Mortes (Mato Grosso), Goiás(rio Maranhão), Pará (Belém) e Maranhão (Oren 1991).No Brasil 'oriental vive uma população disjuntaameaça da:Celeus u tinnunculus, todo densamentebarrado de preto, Espírito Santo (Floresta da Cia. ValeRio Doce, Linhares e Fazenda S. Joaquim, ex-Klabin) eBahia (Parque Nacional Monte Pascoal e Reserva daCVRI5'em Porto Seguro). Pousa em troncos altos.assovios monótonos"pii ...", fazendo lembrar o canto doGl ucidiu inutis que ocorre na mesma região; sim-pátrico comCeleus l cense C. s (Gonzaga 1988).

PICA~PAU-DE-BANDA-BRANCA, line usPr. 25, 1

33cm. Uma das maiores e mais encontradiças espé-cies. Uma linha branca liga o bico aos lados do peito;garganta manchada, barriga barrada; fêmea de testa ne-gra. A mácula escapular branca às vezes falta (Espírito

Santo e Minas Gerais aoParaná,D. e op , v. Intro-dução). ões so sua voz é uma seqüênciaprolongada de fortes e sonoros "wet.,." (canto territori-al, ambos os sexos); sonoro "bet-wãrrr", "gí-gogogo","bé-be-be-qua" (advertência). Tamborilar prolongado"torrrrrrrr" (ambos os sexos). Habita a mata e cerrado,de onde pode penetrar em campos de cultura que te-nhamárvores; às vezes na mesma área queCampephilus

l leucos, sem tornar-se tão "campestre" como ele.'Ocorre do Méxicoà Bolívia, Paraguai e Argentina; todoo Brasil. Extremamente semelhante ao ephilus

el ieucos. V. também o seguinte.

}. PICA-PAU-DE-CARA-AMARELA, ocopus le sAm Pr. 44; 6 .'0

29cm. Forma merifoonal rara e semelhante à anteri-or; também com as partes. inferiores transversalmente,fasciadas tendo, porém, face e garganta creme-claras oucor-de-canela, região auricular vermiculada (e não pre-ta uniforme) e dorso anterior negro; dorso posterior, atéas supracaudais, creme à feição de hiius obustus.Habitante da mata alta, há pouquíssimos registros re-centes. Rio Grande do Sul (Taquara 1883, Torres 1928),Santa Catarina (Trombudo Alto 1946), Paraná (PortoCamargo 1954), São Paulo (Intervales, Capão Bonito,fevereiro 1987, E. O. Willis; Parque Estadual de CarlosBotelho, C. Yamashita, novembro de 1988; Parque Esta-dual da Ilha do Cardoso, P. Martuscelli, fevereiro de1990), Paraguai (Itaipu, dezembro 1986, N. A. Perez, P.Scherer Neto). Argentina (Misiones). "Pica-paus-de-cara-canela?". [Uma súmula mais completa de seus registrose,considerações de ordem conservacionista encontram-se em Collaret al. (1992).]

BENEDITO-DE-TESTA-VERMELHA, e pes

20cm. Substituto amazônico de M. ns ao qualse assemelha quanto ao padrão de colorido; cabeça, pes-coço, peito e manto negros, vértice vermelho (macho);uma linha amarelada passa do olho para a nuca, poden-do faltar ( . i ns v. Introdução); uropígio ex-tensamente branco, ventre vermelho, flancos barra dosde preto e branco. Imaturo deoccipui vermelho passan-,do ao negro posteriormente. "trrr-ii; "trã-trâ-trã-trã".Sociável. Vive na mata, geralmente, nas copas. Ocorredas Guianasà Bolívia toda a Amazônia brasileira inclu-indo o norte de Mato' Grosso (alto Xingu). "Pica-pau-de-barriga-vermelha "',

BENEDITO-DE-TESTA-AMARELA, el ne pesons Pr. 25, 2

19/5cm. Espécie multicolor e barulhenta que substi-tui meridionalmente a anterior; fronte e garganta; ama-

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URNITOLOGIA BRASILEIRA

reio-vivo, vértice posterior e nuca vermelhos (macho).como voz tem um estridente

"kikiki", "zilidit", emitido freqüentemente durante ovôo; um repetido "chlit.;" (casal, pousado). Tamborilade árvores altaneiras, voa de copa em copa gritando"benedito" (onomatopéico). Vem aos pomares, canavi-ais e palmais. Sociável (v. Introdução). Ocorre da Bahiae Minas Gerais ao Grande do Sul, sudeste de MatoGrosso do Sul, Goiás, Paraguai e Argentina (Misiones)."Bereré" (Rio Grande do Sul)."Benedito'?". V.o anteriore .

BIRRO, Fig. 195

28,5cm. Espécie campestre alvinegra inconfundível, -de abdômen e nuca amarelados (no macho) ou com estacor apenas no ventre (fêmea); região perioftálmica nuae alaranjada. bem distinta, lembrando a de um trin-

~ um agudo "kirr-kirr-kirr" (em vôo);"girrã" (pousado). Durante a reprodução realiza vôosde exibição. Habita campos com árvores esparsas, cer-rado, palmais (p. ex. buritizais), pomares; é arborícola.Em pequenos bandos. Ocorre do estuário do Amazonase Óbidos a todo o resto do Brasil, Bolívia, Argentina,Paraguai e Uruguai; também no Suriname. "Cri-cri","Pica-pau-branco" .

Fig. 195.Birro.

..--PICA-PAU-DE-TESTA-BRANCA,

18cm. Espécie meridional de partes superioresalvinegras, occiput vermelho (macho); partes inferiorescinza-amareladas, garganta amarela. forte "wíp-wíp", "wi-bíp", Sociável. Habita palmaís, nas árvores.Ocorre no Paraguai, Argentina, Bolívia, Peru e MatoGrosso do Sul (Pantanal, talvez apenas como visitante,outubro 1958, A. Aguirre). [Novas observações na re-gião de Miranda, MS foram recentemente relatadas (LagoPaiva & Willis 1994).]

PICA-PAUZINHO-VERDE-CARlJÓ,

17,5cm. Representante meridional, é o maior de umgrupo de pequenos pica-paus esverdeados; vértice par-do-escuro (ou avermelhado, macho), duas linhas bran-cas no lado da cabeça, partes superiores nitidamentebarradas de amarelo-esverdeado, partes inferiores man-chadas (e não transfasciadas como em

inconfundível "ti-rra-rra", "prío-rr-rr-rr-rr", "ra-ra-ra-ra". Vive na mata. Ocorre do de Janeiro (Parati eItatiaia) e Minas Gerais ao Grande do Sul, Uruguai,Paraguai e norte da Argentina. "Pica-pau-manchado?".

f .-\

PICA~PAUZINHO':'ANÃO,

15cm. Menor espécie do gênero, distingüível pelascoberteiras superiores' das a?as salpica das de amarelo enuca (e às vezes tambémvértice) vermelha (macho)."ki, ki, ki, kí". Vive a baixa altura em capoeiras, mata degaleria (Mato Grosso, Goiás, abundante) e caatinga'.Ocorre da Venezuela à Bolívia, Paraguai e Brasil ama-zônico e central (até o oeste do Paraná) e setentro-orien-tal (interior do Nordeste). No alto Xingu, Mato Grosso,encontra-se com . "Pica-pau-pequeno?".

PICA-PAUZINHO-DE-TESTA-PINTADA,

En Pr. 25, 10

16cm. Espécie comum no Sudeste do país. Vérticepardo, fronte riscada de branco, nuca vermelha (macho),largo colar amarelado; manto com indistintas manchasamarelas. Imaturo de vértice avermelhado.

sua voz tem um trêmulo e sonoro"ü, ü, ü, ü ...",levemente ascendente para depois descender; canto bemdistinto. Tamborila um "trrrrr", Habita a mata secundá-ria, parques, tanto nas baixadas como na Serra do Mar(Rio de Janeiro), às vezes na mesma área de

Ocorre do Espírito Santo ao Rio de Janeiro (in-clusive no ex-Estado da Guanabara) e leste de MinasGerais. [Os limites da distribuição desta forma ao norte

. tomam-se imprecisos devido a aparente intergradaçãocom affinis, p. ex., na Rebio Sooretama, Espírito Santo(J.F.Pacheco).] "Pica-pau-de-bochecha-amarela", "Pica-pau-de-testa-pintada*". .

PICA-PAUZINHO-AVERMELHADO,

16,5cm. Representante amazônico de manto tingidode vermelho e asas com manchinhas avermelhadas: vér-tice encarnado (macho). "g~gigi". Habita a mata alta.Ocorre do norte da América do Sul ao Mato Grosso (rios'Guaporé, Xingu), Pará (Serra do Cachimbo) e Maranhão;também de Pemambuco ao norte do Espírito Santo. "Ipe-cui" (Kaiabi, Mato Grosso)."Pica-pau-de-asa-vermelhat".

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PICIDAE 517

PICA-PAU-OE-COLAR-OOURAOO*,

[14cm] De coberteiras superiores das asas com ocelosamarelados e partes inferiores intensamente barra das.[Ocorre nas florestas ao norte do Amazonas da margemesquerda do Negro ao Amapá. Também no leste daVenezuela e Guianas.]

PrCA-PAU-OE-SOBRE':'VERMELHO*,

[16cm] Semelhante a porém com o uropí-gio e coberteiras superiores de cauda vermelhos. [A raça

endêmica dos tepuis venezuelanos, foiassinalada no Brasil apenas no Cerro Uei-Tepui, Rorai-ma (Phelps & Phelps 1962). Outras raças distribuem-seatravés do norte da Venezuela, Colômbia, Trinidad&Tobago, Equador, noroeste do Peru, além do Panamá eCosta Rica.]

PrCA-PAu-CHORÃO, Pr. 25, 7

13,8cm. Pequeno, sem verde algum, de manto pardopálido densamente barrado de branco, alto da cabeçacor-de-ful.gern: macho com nuca vermelha; partes infe-riores esbranquiçadas e estria das. seqüência fina ehorizontal, como um "choro", "we-we-we ...". Habita amata baixa e rala com vegetação espinhosa; trepa emgalhos e troncos pouco grossos das tortuosas árvores decasca rugosa, chamando pouco a atenção. Ocorre do Uru-guai,Argentina, Paraguai e Bolívia ao sul de Mato Gros-so, Goiás, Minas Gerais (Pirapora, Serra do Cipó), SãoPaulo e Rio Grande do Sul (Parque Espinilho). Parecemigrar' a partir de maio da região de Porto Murtinho(Mato Grosso) para voltar apenas em janeiro (A.Schneider). Inclui representante mai-or e mais setentrional (Minas Gerais, oeste de São Pauloe sudeste de Mato Grosso).

PICA-PAU'-OE-TOPéfE-VERMELHO,

31cm. Muito parecido c8,!ll ten-do, como ele, a barriga barrada e um "V" branco nascostas; distingue-se pelos lados encarnados da cabeça,base do bico com uma mancha branca muito destacadae uma pequena nódoa alvinegra subauricular; gargantanegra sem estriação branca, pescoço anterior e peitoigualmente negros uniforme. Fêmea de "teto" do topetenegro, larga faixa branca dos lados do pescoço (que existetambém no macho) alcançando o bico o qual, geralmen-te, é mais claro (branco) nesta espécie que em D.ocorrem indivíduos com uma mancha esbranquiçada naponta das primárias (Mato Grosso). Macho jovem compenas encarnadas no alto da cabeça. sono-

como voz urna seqüência pouco forte, "kje-kje-kje ...";baixo "dük-rororo". Tamborilar fortíssimo e bissilábi-co, "dó-dododo", "tr-trtrtr"; monótono "torrrrr". Matarala de regiões campestres, floresta de galeria, palmaismatas transicionais e de várzea na Amazônia. Do Pana-má à Bolívia, Paraguai, Argentina, Paraná e Mato Gros-so (Pantanal, rio das Mortes) e Goiás, também no Nor-deste do Brasil. Às vezes na mesma área ocorre

"Pica-pau -de-gargan ta -preta "",

PrCA-PAU-OE-BARRIGA-PRETA,

leucopogon J

32c'm. Apenas no extremo sul e sudoeste do país; es-pécie grande ~ topetuda de cabeça e costas semelhantesàs de distinguindo-se porém pe-

. Ias partes inferiores uniformemente negras. Fêmea de"teto" do topete negro como a precedente. ções

sua voz é um "pí-au";. tamborilar bissilábico,. ,Capões nas várzeas. Bolívia, Paraguai, Argentina, Uru-guai e Brasil no Rio Grande do Sul (Belton 1984:595) eno Pantanal de Mato Grosso do Sul: rio Negro (nidifi-cando, setembro, Dubs 1983) e Porto Murtinho (A.Schneider).

PrCA-PAU-OE-BARRIGA-VERMEI,HA,

34cm. Lembra mas tem as par-tes inferiores uniformemente castanhas (às vezes aver-melhadas) e também um espelho alar; lado superior to-talmente negro. voz forte, "kiô";tamborilar "to-ró". Floresta, matas ribeirinhas. DaVenezuela e Guianas até o Mato Grosso, sul do Pará eMaranhão. "Pica-pau-de-penacho", "Uari"(juruna,Mato Grosso).

PrCA-PAU-REI, Pr. 25,4

36cm; peso médio 200g. O maior pica-pau brasilei-ro. 'Cabeça e pescoço vermelhos, macho com pequenamancha auricular preta e branca, fêmea com grande es-tria malar branca orIada de negro; ambos os sexos comas costas extensamente creme, vexilo interno das rêmigesbarrado de castanho o que se destaca em vôo.ções voz "psó-ko", "po-po-po-po-rrat": tambo-rilar bissilábico "do-plóp". Vive na mata, no sul do paísnos pinheirais, onde não é raro; no norte de seus domí-nios (Espírito Santo) tanto nas serras como nas baixadasquentes (rio Doce). Ocorre de Goiás,Minas-Gerais eBahia ao Rio Grande do Sul, Argentina (Misiones) e Pa-raguai. "Pica-pau-galo", "Pica-pau-soldado", "Pica-pau-de-cabeça-vermelha". Às vezes ao lado de

V. leucopogon, C. es.

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518 . ORNITOLOGIA BRASILEIRA

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I:

Page 20: Ornitologia Brasileira - Helmut Sick 2ed-03

ORDEM PASSERIFORMES

Os Passeriforrnes ou compreendem 5739espécies em todo mundo, portanto59,1% do total deaves vivas (9702 espécies, Sibley& Monroe, 1993).Os Passeriformes originaram-se no hemisfério meri-dional, na o grande çontinente meridio-nal cuja metade ocidental se separou mais tarde comoAmérica do Sul, a metade oriental como África. Vá-rias indicações nos levam a crer que os mais antigos

eram terrícolas, lembrando formicarídeoscomo

Sibley & Ahlquist (1985 a.b) afirmaram que afilogenia baseada no DNA dos e a evidênciageológica da deriva continental desde o Cretáceo tor-nam possível reconstruir parcialmente a históriabiogeográfica dos Passeriformes. Os Passeriformes seoriginaram dos non-Passeriformes ca. 90 milhões de anosatrás; eles seriam relacionados com os Piciformes e os"Alcediniforrnes" (Alcedinidae, Todidae, Momotidae eMeropidae).

Portanto, o aparecimento dos Passeriformes não é umevento mais recente como freqüentemente especulado,concluindo do fato de que os Oscines tornaram-se o gru-po mais desenvolvido, o mais "moderno". A evoluçãodos granívoros pode ter acompanhado a evolu-ção das plantas monocotiledôneas, dentre elas asGramineae.

A taxonomia da Ordem, que visa uma melhor com-preensão do parentesco e filogenia do grupo, é da mai-or dificuldade, visto ser a morfologia dessas aves pou-co diferenciada em comparação às Famílias e Ordens dos

Como caracteres taxonômicos foram utili-zados, por exemplo, a forma do bico, a escutelação tarsal,o número de primárias, a musculatura das mandíbulas,a estrutura da siringe (possuindo os Passeriformes vári-os pares de músculos siringiais, enquanto os não-Passe-riformes costumam carecer desses músculos), e particu-laridades do esqueleto (p. ex: variação estrutural dosossos palatais do crânio). Os espermatozóides dos Pas-seriformes são singulares, mostrando uma variação es-pecífica tremenda que ainda não foi explorada suficien-temente para fins taxonômicos (McFarlane1963). O va-lor filogenético do tipo de escutelação tarsal é relativo,o que torna-se evidente tanto nos Oscines como nosSuboscines, não se podendo afirmar que as variaçõessejam adaptativas. A interpretação .de diferençasmorfológicas é, com freqüência, questionável, sobretu-do pelo fato de que a transformação pode ser funcionale não filética, podendo tratar-se ainda de uma analogiaou de um paralelismo. Modernamente são coletados

dados bioquímicos e elementos bionômicos tais como'v'ocalização, comportamento e nidificação para o estu-do da filogenia.

Os Passeriformes podem ser divididos ~m dois gru-pos, ou Subordens, organizados sobretudo pela estru-tura da siringe.ifato reconhecido há tempos e contem-poranearnenteéstudado por P L.Ames(1971).Reconhe-cer-se-ia, assim; os Suboscines, proporcionalmente com1.100 espécies em todo mundo, e osOscines,com 4.000espécies no total (Mayr& Àmadon, 1951). DescobriuFeduccia (1974) que a anatomia do ouvido interno ofe-

.rece elementos oportunos para 'determinár relaçõesfilogenéticas através da forma singular da e do

um ossinho de poucos milímetros de tamanho(Fig. 196). O estribo é estruturalmente simples na maio-ria das aves, incluindo os Oscines, lembrando aqueleencontrado nos répteis, enquanto nos Suboscines é com-plexo. É muito provável que uma parte tão pequena daorganização interna do ouvido seja independenteevolutivamente até certo grau das alterações secun-dárias que surgiram alternadamente durante as épo-cas geológicas, especialmente aquelas relacionadascom o ambiente.

Fig.196. da de um representante dosSuboscines, Furnariidae,AméricadoSul(à esquerda), e de um representante dosOscines,

sp., Campephagidae, Ásia(à direita).Ocomprimento do estribo é de apenas alguns milíme-tros (seg.Feduccia1980).

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520 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

SUBORDEM SUBOSCINES

Chamados também de Clamatores ou Tyranni, inte-gram (considerando apenas o Brasil) duas superfamílias:Furnarioidea (Rhinocryptidae, Formicariidae,Conopophagidae, Furnariidae e Dendrocolaptidae) eTyrannoidea (Tyrannidae, Pipridae, Cotingidae ePhytotomidae). São considerados supostamente os Pas-.seriformes filogeneticamente mais primitivos, mas oproblema é saber o que é "primitivo". Esta questionávelhipótese se apóia basicamente na zoogeografia atual,considerando que poucos fósseis do Pleistoceno são co-nhecidos.

Pesquisas fenotípicas e genéticas revelam que repre-sentantes tropicais (amazônicos) como(Formicariidae) são mais ancestrais e mais adaptadosgeograficamente do que Oscines norte-americanos(Hackett & Rosenberg 1990, Capparella 1988). Essa gê- .nese ocorreu provavelmente já em épocas-pr é-

Pleistocênicas, há vários milhões de anos, num tempoem que a América do Sul possivelmente nem encostaraainda na América do Norte (há cerca de cinco milhõesde anos, v. abaixo). .

Chama.lo

Fig.197.Siringe de dois representantes de Suboscines:tovaca, e cuspidor,

ambos consideradosforrnicarídeos (seg. Ames1971).

Os Suboscines, designados igualmentepossúern apenas de 2 a 4 pares de múscu-

los siringiais laterais (fig. 197). Sua siringepode, porém, ter grande capacidade na produção de sonse suas vozes estão (p. ex. a de uma espécie florestal como

entre as mais impressionantes daAmérica do Sul, embora sejam estereotipadas e de es-trutura relativamente simples; brilham mais pelo volu-me da voz, menos pela modulação que é domínio dosOscines. Freqüentemente ambos os sexos cantam. A afir-mação de que os Suboscines seriam, em sua vida social,menos dependentes de vocalizações que os Oscines, nãopode ser generalizada, pois e}TIvários representantes

(p. ex. tiranídeos como a comunicação acústicaé, pelo menos, tão intensa como a visual.

Os Furnarioidea podem ser melhor classificados pelasiringe, uma vez que esta é bastante complexa ao con-trário da siringe dos Tyrannoidea. Fala-se dos

(Furnarioidea), com siringe traqueal aocontrário dos (Tyrannoidea], que possuemuma siringe traqueal-bronqueal com presença de mús-culos intrínsecos.

O estudo pomparatívodo estribo, um ossículo do ou--vi.do médio (v. acima) demonstra que todos osSuboscines, do Novo e também do Velho Mundo, em-bora apresentem uma larga variedade de diferenças sobtodos os aspectos, fazem parte de um grupomonofilético. Dados broquímicos estão ultimamenteconfirmando essas conclusões morfol ógicas. OsSuboscines são aparentados aos "Alcediniformes" (v.acima sob .Passeriformes). O estribo complexo dosSuboscines tem sido utilizado para distinguir as famíli-as de Suboscines que formam agrupamentos naturais.

Um esterno com quatro incisões existe somente nosRhinocryptidae (v. figo 198) e em alguns poucosFormicariidae (Heimerdinger & Ames 1967). A estruturade vôo dos (Rhinocryptidae) é muito reduzida.

Fig. 198.Estemo do tapaculo-pintado, í isg , mostrando as quatro incisões na extremidadeposterior ou (seg. Plótnick1958).

Todos os Suboscines possuem dez primárias muitobem desenvolvidas, ao contrário de muitos Oscines. Estecaráter é considerado primordial: a evolução ~ão tendea aperfeiçoar as atividades voadoras dos Suboscines, aocontrário do que acontece no grupo dos Oscines. Alcan-çaram sua maior diferenciação na América do Sul ondea relação 5uboscinesjOscines é de 2:1 ou até 3:1 (Haffer1985). No Brasil ocorrem 609 espécies contra 329 de

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RHINOCRYPTIDAE 521

Oscines (portanto 64,9% dos 938 Passeriformes). O nú-mero de famílias de Suboscines autóctones brasileiros(9), não é sequer a metade do número de famílias e sub-famílias de Oscines imigrantes (17). A diversificação dosSuboscines no Brasil assumiu maiores proporções nosTyrannidae (210 espécies), Formicariidae (168 espécies)e nos Furnariidae + Dendrocolaptidae (103+ 38 ::: 141espécies).

Quase todas as espécies de Suboscines pertencem aregião Neotropical. Seu número aumenta em direção alinha do Equador (Haffer 1985). Enquanto no Méxicoapenas 20% dos Passeriformes existentes pertencem aosSuboscines, no centro de América do Sul ca. 60% sãoSuboscines. Esse aumento é impressionante no caso dosFormicariidae: México com 9 espécies, Honduras com19, Costa Rica com 29, Colômbia com 139 e Brasil com168 espécies.

Os Suboscines tardaram a imigrar na América doNorte. Os Tyrannidae foram os mais efetivos nessa co-lonização à semelhança do que se deu com os beija-flo-res. Foi também um Tyrannidae quecolonizou com sucesso a Ilha Fernando de Noronha aolado de um vireonidae (Oscines), únicos Passeriformesautóctones presentes.. A maioria das espécies brasileiras dos Suboscines são

silvícolas e arborícolas; a floresta Neotropical proporei-onou-lhes ambiente dos mais favoráveis, tendo havidouma verdadeira "evolução explosiva". O maior núme-ro de Suboscines está na floresta Amazônica. Já a atualdestruição das matas sul-americanas é mais duramente

SUPERFAMÍLIA FURNARIOIDEA

Composta de cinco entidades: Rhinocryptidae,Formicariidae, Conopophagidae, Furnariidae eDendrocolaptidae, todas endêmicas da região Neo-tropical, com um total de 583 espécies, das quais 324ocorrem no Brasil. Formam um grupo não artificialdentre os Suboscines vistos os caracteres da siringe,pterilose e osteologia do crânio e do esterno. A es-trutura singular da siringe (que é exclusivamentetraqueal: e) separa os Furnarioidea detodos os demais Passeriformes. Ao que -parece não.há família extra-americana aparentada a membrosdesta superfamília; acharam, porém, Feduccia&

TAPACULOS: FAMíLIA RHINOCRYPTIDAE (9)

Grupo relativamente pequeno de pássaros Neotro-picais; melhor representados em lugares de clima 'ame-no, como no Chile, e nos Andes. No Chile se encontramp. ex. quatro espécies na mesma mata pertencentes agêneros diversos como: , Eug

------- -- --

sentida pelos Suboscines que pelos Oscines. Na Améri-ca do Sul meridional e andina houve também grandeespeciação de Suboscines campestres e terrícolas.

A maior parte dos Suboscines (todos os Furnarioidea)é insetívora. Oni-o u frugívoras são Pipridae eCotingidae. Não existem Suboscines granívoros.

Entre os Suboscines do Velho Mundo os Eurylaimidaemostram certa semelhança com os Cotingidae neotropi-cais; ambos se destacam por um bico largo, adaptação

. para a ingestão de grandes frutos. Os Suboscines não-americanos, poucas espécies divididas em .quatro famí-lias, são geralmente restritos a ilhas como Madagascar eNova Zelândia, também no sudeste da Ásia e África,podendo dar ~ impressão de serem reli tos; na grandeflorêsta equator ial africana: existem-apenas cincoSuboscines. Tal situação foi interpretada- como resulta-do de um processo de substituição dos Suboscines pe-los Oscines, processo ao qual a América do Sul escapou,até certo ponto, .por estarisolada pelos oceanos até o

. fim do Terciário (há cinco milhões de anos); o que per-mitiu que conservasse sua fauna antiga que pôde evo-luir sem perturbação, embora certos Oscines devam teralcançado esta parte do mundo já em épocas bem anti-gas. Quanto a uma eliminação de Suboscines por Oscinesparece não haver indícios de tal ter ocorrido na Américado Sul.

Achamos razoável dar no Brasil aos Suboscines, asaves autóctones deste continente, a primazia no estudo.Contamos no Brasil com 102 espécies endêmicas deSuboscines.

Olson (1982) semelhanças entre os nossosRhinocryptidae e os Menuridae, aves-liras, da Aus-trália.

Considerando a provável filogenia do grupo, a se-qüência sistemática deve começar com osRhinocryptidae, os mais primitivos, e terminar com osDendrocolaptidae, os mais especializados. A seqüênciatradicional dos Passeriformes desde Wetmore (1960) ini-ciava com os Dendrocolaptidae. Os Furnariidae apre-

-sentam tanta variação morfológica que Feduccia (1980)julgou que eles poderiam ser a mais variada de todas asfamílias de Passeriformes.

e s. No Brasil ocorrem poucas espécies, a mai-oria restrita ao Sudeste em regiões serranas, duas delas

e e opus no s) no Brasil centrale uma e/es) no alto Amazonas.

Feduccia e Olson (1982) consideram a osteologia dos

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522 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

Rhinocryptidae e Menuridae (aves-liras, Austrália) se-melhante: ambos representam um tipo ancestral de Pas-seriformes. Foi encontrado um fóssil do Quaternário.O nome "tapaculo" é onomatopéico, referindo-se ao can-to de.uma espécie chilena, e foi ado-tadocomo nome da família em inglês. Surgiu ainda onome "tapacola" devido ao levantar da cauda de certasespécies, exibindo o crisso.

Aparentados aos Conopophagidae e formicarídeosterrícolas como as apresentam, tal e qual, qua-tro incisões no meta-esterno (veja figo198). A carena doesterno de é muito reduzida e a clavícula sol-ta, indicando que esses pássaros estão perto de perder afaculdade de~vôo. As narinas são recobertas por umamembrana (daí o nome técnico da família, veja figo199).Assemelham-se às quanto à estrutura dasiringe, possuindo um par de músculos siringiais comoGrullaria e Representantes brasileiros como

e lembram as cambaxirras(Troglodytidae), lembra(Furnariidae), e lembram as tovacas.

spp. destacam-se por um rígido tufo frontal,tipo sirig ular de plumagem esboçada em certosFormicariidae (como e Furnariidae. Quantoao porte, os maiores representantes do Brasil orientalpertencem ao gênero o macho de M. atin-ge 37,2g ao passo que a menor espécie,

atinge apenas ISg.

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_..::r.:..~~~~ > _~ .,~''''''=-?D'' . "0,;:::>..

-

Fig.199.Bicodo tapaculo-pintado,mostrando as narinas recobertas (seg.Sick

1954).

Asas redondas, geralmente usadas apenas para aju-dar a manter o equilíbrio enquanto pulam; a muscula-tura peitoral é reduzida (veja acima carena); as pernasdesproporcionadamente altas e fortes, dedos compridos.A cauda "mole" e graduada, em vias de atrofiar-se

que possui apenas oito retrizes), perden-do sua função de leme durante o vôo, lembra aquela

das cambaxirras; à exceção de as espéciesbrasileiras são rabilongas.

Plumagem de cores sombrias à feição dosformicarídeos silvícolas, exceto habitan-te de locais abertos e ensolarados, que se assemelha maisa um furnarídeo campestre, tendo o branco oculto nodorso tal como certos Formicariidae. Sexos parecidos

-exceto em tem cheiroalmiscarado típico.

Um traço que chama a atenção em todos osé o tamanho avantajado dos olhos, conseqüência de suapermanência cq'ntínua em locais bem sombrios.

O canto de e é melodioso lembran-dó o das tovacas A voz chiada e contínua de

. assemelha-se; um tantoáo canto decertos dendrocolaptídeos e furnarídeos como

e indigoiicus dispõe dedois tipos inteiramente diferentes de canto. O conheci-mento das vozes torna-se imprescindível para a locali-zação destas aves, que vivem extremamente retiradas; afêmea também canta, de quando em quando junto como macho (p. ex. e às vezes entoando melo-dia diversa da do seu companheiro

Para cantar costuma subir emum galho mais alto; a atividade canora pode ser maiornas horas mais quentes do dia ,

Tanto comocantam em todos os meses.

Comem pequenos insetos, aranhas, quilópodos,moluscos, etc. do Chile, esgravata o solomantendo-se de pé sobre uma perna enquanto remexerapidamente com a outra, chegando mesmo a arrancartorrões de terra.

A maioria é terrícola, pulando no solo ou a poucaaltura através da ramaria, lembrando trogloditídeos ter-rícolas como pode cair em ra-toeiras, tal como ocorre com ,c .

anda, corre e pula pelo solo; nos representan-tes extrabrasileiros (p. ex. chaco-pampeanos), a adap-tação a uma vida terrícola é ainda mais desenvolvi-da, falando-se mesmo de "gallitos".sobe até alguns metros pela ramagem densa, apa-nhando lagartas. _.

Anunciam qualquer excitação através do levantar dacauda (daí o nome, pouco airoso, de "tapacola" que lhesdão na língua espanhola,V. acima). e

movimentam ligeiramente a cauda para oslados mantendo-a levemente entreaberta. Tomam banhoem água de chuva acumulada, dormem empoleirados

-"

I '. I

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RHINOCRYPTIDAE 523

Um ninho de indigoticus foi construído nosolo, entre folhas amontoadas, junto ao tronco de umaárvore, feito de raízes e musgo, tendo no interior algu-mas penas e dois ovos brancos; a incubação durou 15dias (A. Ruschi). Os ovos dos rinocriptídeos são gran-des e arredondados e sem brilho, lembrando os defurnarídeos; os ovos de são finamente sal-picados nopólo rombo. Na região serrana do EspíritoSanto, indigoticus parece possuir duas épocasde reprodução, enquanto uma, pelofim do ano.

, ,

À exceção de todas as espécies brasi-leiras são silvícolas, vivendo em locais sombrios e es-pessamente vegetados, mostrando-se altamentefotófobas; reside em .brenhasinundadas no interior da mata de galeria fechada, entreos cerrados abertos do Brasil central, onde ninguém es- .pera encontrá-lo. O isolamento ecológico e geográficotão drástico ligado ao fato de serem os rinocriptídeosaves de pouca mobilidade, favoreceu a especiação (fig.200). O gênero conquistou todo o maciço dosAndes, onde ocorre mesmo acima. dos 4.000m, invadin-do a partir deste centro dispersor o Brasil meridional.Ficou um remanescente (5. no planalto cen-tral, a 1.000m de altitude, cuja imigração da floresta atlân-tica, junto com outros representantes comodelalandi, é evidenciada pela existência de vegetais doBrasil oriental, como fetos arborescentes, nas mesmasmatas do planalto (fig. 201).

Foi uma surpresa encontrar posteriormentesobre serras mineiras da mesma

altitude como o Distrito Federal. A distribuição fragmen-tada de certos sugere alterações climáticas eflorísticas profundas às quais se somaram ultimamenteintervenções humanas: um que quase não voamais (v.Morfologia) não é capaz de colonizar uma serravizinha sob as condições atuais; logo pode-se concluirque há séculos passados os biomas serranos silvestres,hoje ilha dos, eram unidos.

Das nove espécies brasileiras, quatroM. e Scftalopus eS.são endêmicas de nosso país. Outras trêsspelun , S. indigoticus e estãoentre as numerosas espécies meridionais "quase" endê-micas do Brasil, sendo encontradas igualmente em paí-ses austrais limítrofes.

-

O estudo dos rinocriptídeos requer todo o cuidado,uma vez que faltam informações sob muitos aspectos,

tanto taxonômicos como bionôrnicos, o que até certoponto explica-se pelo fato destas aves levarem umavida retirada, a tal ponto que geralmente nem osornitólogos as acham. A melhor fonte para dadossobre a bionomia de representantes dessa família é osegundo volume do livro de Johnson (1967) sobre oChile (v. Bibliografia Geral).

i e foram incluídos anteri-. ?rmente nos Formicariidae. A presente família foi de-signada antigamente como Pteroptochidae. Curiosida-de única é que o espécime que se tornou o tipo de

no Museu de Berlim por maisde 100 anos corno macho de M.aier, por falta de ummacho legítimd de M. (v. História).

CORNETEIRO-DA-MATA, .,

19cm. A maior espécíeda família, atingindo o tama-nho de um pequeno sabiá. Representante terrícola doalto Amazonas, de plumagem parda-escura nas partessuperiores; as partes inferiores brancas (como a mandí-bula), com o peito enxofre e castanho; os flancos comum desenho escamado denegrido. Voz: fortíssima e so-nora, do timbre de um , escala descendentede uma oitava ou mais (canto). Vive na mata seca nãomuito escura. Lembra um tanto um ius tendoporém, a cauda longa. Ocorre no Peru, Equador, Colôm-bia e Brasil no alto Solimões e, ao sul do Amazonas, damargem esquerda do Tapajós (jacareacanga) ao Madei-ra (Amazonas).

TAPACULO-DE-COLARINHO, e

14cm. Típico dos cerrados fortemente ensolarados doBrasil central, assemelha-se a um is(Furnariidae), distinguindo-se por um colar negro quelhe atravessa o papo; a sobrancelha branca, os lados dac~beça negros. monótono "du-a", que soa à distân-cia como um"tüt" monossilábico (que lembra a rolinha

emitido espaçadamente em séries, sendo dealcance longo (canto); "rrru" (advertência). Pula pelosolo ou a pouca altura através da ramaria. Vive no cam-po cerrado, savanas ricas em cupinzeiros, campos su-jOs. O "cerrado ralo" suporta uma maior população queos "campos sujos", a espécie não é fotófoba. (censo noDistrito Federal, Negret& Cavalcanti, 1985). Ocorre dosul do Pará, Piauí, Bahia, Goiás, Mato Grosso e São Pau-lo à Bolívia. Classificado originalmente como umFurnariidae, passou a seguir temporariamente aosFormicariidae devido ao aspecto de seus ovos, (v. re-pro.dução); pertence a uma superespécie de distribuiçãomais a~pla. Quanto ao colar lembra c àsvezes e encontrada ao lado de is o s e

e . "Meia-lua-do-cerrado*".

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524 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

~TAPACULO-PINTADO,

Pr. 29,5

12,5cm, ll,3g. Pássaro delgado de cauda longa e es-treita, pernas altas e bico fino lembrando umacambaxirra, seqüência líquida de monótonos"wud-wud-wud ..." por 15 a 20 segundos a fio (canto), admira-velmente grav.e para um pássaro tão pequeno e delga-do, podendo lembrar a estrofe de um cabaré iGl cidiub ou uma tovaca spp.) ouvida àdistância. Vive à beira da mata secundária muito espes-sa, a uma altura média de 2 m; pula incansavelmenteatravés da ramagem, com as partes anteriores do corpoabaixadas e a longa cauda verticalmente arrebitada, lem-brando uma cambaxirra. Ocorre do Espírito Santo eMinas Gerais ao Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, San-ta Catarina e Argentina (Misiones); no Espírito Santo eRio de Janeiro restrito às montanhas, em altitudes supe-riores a 600 metros. A extrema raridade h usem coleções e a completa falta de dados sobre suabionomia, antes do começo de nossos trabalhos em 1939,(ninguém conhecia sua vocalização) dificultaram o re-conhecimento do verdadeiro parentesco deste pássaro,atribuído já a três famílias tão disparatadas comoFormicariidae, Troglodytidae e Sylviidae. "Macuquinho-pintado*" ..

ENTUFADO, En

17cm; 37,2g (macho), 33g (fêmea). Restrito ao sudes-te do país; notável pelas penas frontais alongadas; a cau-

da longa e larga, os tarsos fortes; a plumagem negra-plúmbea com o uropígio e abdômen pardacentos, A fê-mea parda com as partes inferiores acaneladas. so-noro "tsüc-tsüc", "pít" (advertência), as diferenças detimbre observadas, devem provavelmente relacionar-seao sexo; pios impressionantes emitidos pelo pássaro as-sustado; seqüências mais longas, "ik, ik, ik, ik": estrofeprolongada notavelmente melodiosa, em uma escalamusical rapidamente descendente em uma oitava, se-guida por um conjunto variado de pios sonoros do mes-mo timbre e, em parte, ventríloquos e tremulantes (can-to). Pula ou Corre tanto no solo como pelaramaria, a,pouca ~ltura; vive' nas brenhas da mata virgem alta oude mata secundária. Ocorre da Bahia ao Paraná: no Es-pírito Santo e Rio'de Janeiro apenas nas montanhas, àsvezes ao lado da espécie anterior e de t lopusin digoticus ou S. spe ee c i n le chii."Bigodudo-preto'"'. .

ENTUFADO-BAIANO*, e is eseEn Am

20,7cm. Registrado somente na Bahia. Semelhante aoanterior, sendo porém maior, tendo o bico, tarsos, dedos eunhas mais grossos. Conhecido apenas por dois exem-plares, um macho coletado entre 1831 e 1838 na região doRecôncavo (Salvador) e urna fêmea coletada em ilhéus,em 1945. Faltam pesos deste ul s. A espécie, que deveocorrer na região serrana em matas das mais espessas,deve ser severamente ameaça da pela devastação florestaldisseminada na região. "Bigodudo-baiano=".

Merulaxis stresemanniScytalopus indigoticusScytalopus novacapitalisScytalopus speluncaeSchlzoeaca moreiraeCinclodes pabstiAsthenes luizae

Fig. 200.Distribuição deelementos patagônicos/ andinos(Rhinocryptidae e Fumariidae)no Sudeste do Brasil, no Brasilcentral e na Bahia:A falta de

. dados distribucionais mais. completos levou a uma figura-

ção algo esboçada da distribui-ção destes representantes. Duasespécies adicionais,

e hudsoniocorremno extremo oeste e sul, respecti-vamente, do Rio Grande do Sul(seg. Sick 1985b).

+-----l-"'"

55' so-

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-

RHINOCRYPTIDAE 525

Pig, 201.Alguns tipos de dispersão de plantas noBrasil (seg. Rizzini 1963).A floresta atlântica comocentro de dispersão: relações com matas do Nordeste(linha 1), com matas do Brasil central (linha 2) e com afloresta tucumano-boliviana e o Acre (linha 3, 3A).Relações entre a caatinga do Nordeste e o Monte-Chaco e o Pantanal de Mato Grosso (linha 4).A linha 2correspondeà imigração deacompanhando a flora da Mata Atlântica.

Fig. 202.Tapaculo-preto, emposição típica, perto do solo.

~<

TAPACULO-PRETO, Fig. 202

10,Scm. ISg. Minúsculo pássaro montícola do Brasiloriento-meridional. O macho preto-ardósia uniforme("cor de rato-preto", a fêmea pardacentacom os fIancos de aparência escamosa; o imaturo quaseque totalmente coberto por tal desenho. Voz:"it", "it-it", "gwía", "birrãt" (advertência); seqüência seca, mo-nótona, "tze-tze-tze ...", por 6-20 segundos às vezes che-

,gando três minutos e mais, podendo lembrar o canto deuma (Dendrocolaptidae). Pula no solo ouna ramagem mais baixa; habita a orla e interior da matafechada e sombria, taquarais; brenhas de crisciúma-ben-gala por exemplo, no cume da Ser-ra de,Caparaó q' 2.000-2.800m, onde frequentemente é aúnica ave existente. Ocorre de Minas Gerais e sul daBahia ao Rio Grande do Sul e Argentina (Misiones).Observei sua maior densidade populacional no Caparaóentre 2.000.e 2.300 metros ..Na porção mais setentrionalde seus domínios (p. ex. Rio de Janeiro) nunca abaixo'de 1.000m. Parente próximo de numerosos congênereshabitantes dos Andes e da Patagônia. Comparei o tipo,depositado no Museu de Leningrado, URSS que haviasido coletado por E: Ménétries (v. História) em São JoãoDeI Rey, Minas Gerais, e descrito por ele em 1835,com o tipo de S.nouacapiialis, para me convencer dadiferença, que por sinal é muito nítida. "Macuquinho-serrano*".

T APACULO-DE-BRASÍLIA,

En Am Pr. 45, 12

llcm, 18,9g. Partes superiores cinzento-escuras, par-tes inferiores cinzento-claras; loro esbranquiçado; bicoescuro, mandíbula um pouco mais clara; pernas claras,marrom-amareladas ou rosadas (não pardo-escurascomo em que é menor). o cantolembra o de S. sendo, porém, compassado"chet-chet-chet ...", ou"ük-ük-ük ..."ou "tóc-tóc-tóc ... " oritmo é bem menos apressado que o de S. estaseqüência, um tanto ascendente, pode seguir sem inter-rupção dois minutos ou mais; às vezes um segundo in-divíduo, provavelmente a fêmea, responde com umaseqüência mais alta "wit...", "tchâ, ta, ta" (advertência);quando torna-se irritado, em defesa do território após

a dita seqüência monótona longa torna-se curtae termina com um áspero "tsa, tsa, tsa ...", que corres-ponde à advertência. No solo ou a pouca altura em mataciliar alaga da, profundamente sombria, rica em samam-baia e palmito-juçaraedulis). Descoberta na área da nova capital,"NOVACAP", em construção em maio de 1957, noCórrego Fundo, foi reencontrado somente em 1981. Nomesmo local ocorre

e Através de um censo feitopor A. Negret e R. Cavalcanti (1985), usando

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526. ORNITOLOGIA BRASILEIRA

foram localizados 68 indivíduos nas matas ciliares inun-dadas da Reserva do IBGE e nas áreascircunvízínhas,pertencentes à bacia do Largo Paranoã, DF; também emFormosa, Goiás(J. Hidasi). Posteriormente foi localiza-do no sudoeste de Minas Gerais, nas serras divisoras deáguas dos rios São Francisco e Paranaiba: Serra da Ca-nastra, 1.200m, 1980 (D. A. Scott) e anos subseqüentes, ealto da Serra Negra, Lagoa Chapadão de Ferro, 1.000m(Patrocínio, G. T. Mattos). Em Minas Gerais aproxima-se da distribuição de S. enluc e. "Macuquinho-de-brasília *".

MACUQUINHO, indigoticus En

Llcm, 18g. Semelhante aos dois anteriores; partes su-periores negro-azuladas, uropígio averrnelhado: partesinferiores bem brancas, flancos acaneladostransfasciados de pardo; mandíbula e pernas esbranqui-çadas. "tec" como uma perereca (chamado); seqüên-cia de "gch, gch, gch ..." apagada, começa pausadamen-te, depois acelera e termina tremulante, obedecendo o

bliog i no et ibliog Ge

Feduccia, A. & S. L. Olson. 1987: ithsoni Cont . 2001.366.(similaridades anatômicas com Menuridae)

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Plotnick, R. 1958. is 21:130.-36. (anatomia)

padrão de canto de um philus, sendo porém bemmais fraco. Um outro tipo de voz totalmente diferente,do timbre de uminhambu, ellus (v. oscelis),ter-ritorial, consiste num forte trinado ascendente de doissegundos de duração. Comportamento semelhante aosanteriores. Vive à beira de mata extremamente densa, àsvezes ao lado dePsilorhamphus, localmente no litoral atécerca de 1.000m (Rio de Janeiro) podendo encontrar-secom S.s Ocorre da Bahia e Minas Gerais ao RioGrande do Sul. Em certos lugares da Serra do Mar, emSão Paulo e Santa Catarina (nível do mar) não é raro."Macuquinho-p~rereca -:

[MACUQ0ÍNHO-BAIANO*, pusEn Am '

12,4-12,8cm; 17,S-18g, Dis.tingue-se da espécie ante-rior principalmente pela 'ausênc~a de qualquer vestígiode barras negras no flanco ecrísso. Conh~cido apenasde Valença (localidade-tipo) e de Ilhéus, ambas no lito-ral da Bahia (Teixeira & Carnevalli 1989).]

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. ,

I>

i'

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FORMICARIIDAE 527

PAPA-FORMIGAS, CHOCAS, TOVACAS e afins: FAMíLIA FORMICARIlDAE (168)

É a segunda família mais numerosa dos Passerifor-mes, em espécies, da América do Sul (a primeira é a dosTyrannidae); restrita ao Neotrópico. Fóssil do PleistocenoSuperior (20.000 anos) de Minas Gerais.

Ocorrem do México ao norte da Argentina sendomais diversificados em regiões mais quentes, vivem emáreas ricas em vegetação arbustiva ou silvestre; aparen-tados aos Rhinocryptidae. Os cuspidoresforam integrados aos Formicariidae por proposta deAmes et (1968). Mas recentemente, entretanto, Sibleyet . (1988) concluíram que, baseado em dados dehibridação de DNA, que Conopophagidae deve ser con-siderada família à parte.

O tamanho varia consideravelmente entre espéciesbem pequenas como as (10g ou menos) egrandes tal qual e (120g ou mais). Con-seqüentemente sua aparência varia um tanto podendoassemelhar-se a tiranídeos ou a cucuIídeos

, fala-se de Formicariidae "típicos"como eque formam uma entidade morfologicamente distinta(um par de músculos siringeanos) dos Formicariidae"terrícolas" geralmente de pernas longas: ,

e que não possuem musculaturasiringeana intrínseca.

Os 'ditos "típicos" são reconhecíveis por sua pluma-gem macia, especialmente nas costas e flancos, e colori-do modesto, freqüentemente negro e cinzento (macho)ou pardo (fêmea). Chama a atenção o contraste criadopor um desenho branco geralmente localizado nas co-berteiras superiores da asa e cauda havendo, muitasvezes, zonas da mesma cor nas bases das penas dorsais;estas permanecem escondidas quando não são proposi-tadamente exibidas nos momentos de excitação, p. ex.,perante riv.ais, comportamento agonístico ouaposemãtico, sendo então arrepiadas, o que causa notá-vel efeito de um "farol sinalizador". A importância detal mecanismo é corroborada por sua grande difusão noseio da família; pode ser apenas esboçado ou tão exten-so que quase não permanece oculto (p. ex.às vezes aparece apenas em certas raças geográficas deuma espécie ou apenas em um dos sexos; no.

a base das plumas "sinaleiras" dorsais difere,no colorido, entre os sexos, sendo brancas no-macho eamarelas na fêmea.É comum a presença de branco soba asa (coberteiras inferiores ou face ventral dos vexilosdas rêmiges) o qual é exibido com o levantar das mes-mas (p. ex. no

há também tufos alvos nos flancos, os quais sãoexibidos em fascinantes movimentações

O branco meio escondido no píleo delembra, remotamente, a faixa me-

diana de colorido berrante que permanece oculta novértice de muitos Tyrannidae.

Outro dispositivo notável é a região perioftálmícanua e vivamente colorida que apresentam os gêneros

e a .qual podeaparecer como que fosforescente na profunda sombrada mata na ave não excitadaesta área é restrita a uma zona supra-oftálmica a qual seampliá com a excitação, através' da retração das penasadjacentes, exibindo então vasta nódoa perioftálmicaberrante, de colorido menos intenso em imaturos, Omesmo princípio observa-seém tucanos, araçaris e nocuculídeo . , .

Certas espécies semiterrícolas como têmdesenho assaz confuso de plumagem, dificilmentedescritível; os contrastes da estriação dos flancos das

imitam o jogo de luz e sombra dentro da matae praticamente diluem o contorno do corpo da ave(soma tólise). Topetes altos ocorrem em ,

, ealguns, como parecem

topetudos ao arrepiarem o píleo.Asas bem desenvolvidas embora geralmente redon-

das, em certos casos (p. ex. e bas-tante grandes relativamente e fortes. Cauda macia e detamanho variável, podendo ser quase rudimentarcomo nos ou larga e maior que o corpo, p.ex.', em e Olhos grandes e escu-ros (p. ex. em e denunciam apermanência constante em locais sombrios. São co-muns íris vermelhas (p. ex. havendo tam-bém íris claras, esbranquiçadas (certassua cor pode alterar-se com a idade (p. ex. em

eBico algo adunco, forte nos representantes maiores;

a maxila é provida de um "dente" que se presta bem àpreensão e quebra de artrópodes de exoesqueleto duro(v. aves de rapina); o bico em formão ocorre no

da Amazônia. Os tarsos variando entre o pre-to e o branco. Os Formicariidae possuem um odor ca-racterístico próprio.

Os sexos diferentes são às vezes já reconhecíveis nosninhegos Em representantes como osmachos novos são iguais às fêmeas, mudando depoispara a p1umagem definitiva masculina. Os sexos seme-lhantes p. ex. nos ,

, e Ocolorido das fêmeas torna-se particularmente útil nadiagnose de espécies semelhantes como as dos gêneros

e uma grande quantidadede espécies muito parecidas, v. p. ex. sob

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528' ORNITOLOGIA BRASILEIRA

Ressaltamos o fato do colorido das fêmeasde diversas espécies amazônicas ter-se tornado mais di-versificado que o dos machos, ou seja, enquanto a apa-rência destes últimos quase não se altera em vastas re-giões, a das respectivas fêmeas tornou-se bem diversajustificando a descrição de raças geográficas; tal fenô-meno ("heteroginia", C. E. Hellmayr 1929, não é"heterogenia") ocorre p. ex. nos gêneros

e Alémda heteroginia geográfica existe uma heteroginia espe-cífica: diversificação das fêmeas de espécies cujos ma-chos são muito semelhaptes (p. ex.

e . Heteroginia v. também sob(Thaupinae), "Morfologia". [Recente-

mente, Sibley&Ahlquist (1990)demonstraram que acer-tadamente a grande família dos Formicariidae deve serdividida em 2 famílias: Thamnophilidae eFormícariidae, sensu. O tratamento tradicionalaqui adotado deveu-se basicamente a limitações impos-tas pelo trabalho de revisão. Indicamos, no entanto, afrente dos primeiros gêneros respectivos, os limites des-ses novos agrupamentos.]

Seus cantos são, geralmente, seqüências ascenden-tes e/ ou descendentes de assobios roucos e ventríloquos(p. ex. ou claros e límpidos (p. ex.

. As estrofes depodem lembrar cuculídeos como os trêmulos

. de etc. lembram respectiva-mente (Sylviidae), (Furnariidaeje (Rhinocryptidae). A profusão de tais trina-dos nas matas neotropícaís pode ser problema difícil dedecifrar. Os componentes de um gênero (p. ex.

obedecem geralmente ao mesmo padrãode canto; ao passo que se pode distinguir bem o cantode espécies congenéricas na natureza ou em gravações(ressaltando-se bem o timbre e o ritmo, pelo menos quan-do podem ser comparados), uma descrição fonética ébem difícil.

Aloespécies costumam ter vocalização igualou bemparecida (p. ex. podendo confirmar julgamen-tos taxonômicos baseados na morfologia. Gêneros apa-rentados (p. ex. e ou

e têmvozes semelhantes; nesses casos a vocalização é menosdiferenciada do que a morfologia.

O repertório de certas espécies se compõe de meiadúzia de tipos diferentes de vozes e até mais; no caso do

foram registradas qua torzevocalizações diferentes (Willis 1967). A voz de

[erruginea é única por seu apelo que podeser ouvido ao longe durante suas andanças pelo estratosuperior da mata fora da época da reprodução.

Entre as vocalizações mais impressionantes da avi-fauna brasileira estão as escalas musicais das tovacas

emitidas pela manhã e pela tarde; estes can-tos, junto com os depodem lembrar tinamídeos (v. tambéml.iosceles,Rhinocryptidae); a de baixa e soturna,emitida apenas de madrugada e ao anoitecer, lembraum hipotético corujão no timbre. A voz mais forte é ade que se ouve a distâncias superiores aum quilômetro; o extraordinário prolongamento dasestrofes de põe-nos a pensar como a ave ins-pira ao cantar.

A fêmea também canta, com voz mais alta e fraca (p.__ ex. ,7 mais

suave.emelodiosa (p. ex. ou maisbaixa geralmente responde ao macho; ocasal entoa duetos(p: ex. e e ossexos cantando por vezes estrofes diversas (p. ex.

Entre osalgunsperseguem-se canÚndo e esvoaçando através daárea do seu território. Poucas espécies (as "piadeiras",p. ex. e usam chamadas fortes quese destacam também quando a agitação delas se apode-ra ao seguirem correições (formigas, v. sob Alimenta-ção) ou quando se recolhem à tardinha para dormir àfeição dos sabiás.

Sob o ponto de vista evolutivo é interessante que avocalização pode ser mais tradicional que a morfologia,p. ex. no gênero e sugerindo a reunião das res-pectivas espécies alopátricas como semi-espécies ou ra-ças geográficas.

O uso do de uma gravação da voz de certosrepresentantes que vivem muito escondidos, como as

pode levar a uma solução imediata: atraindo aave magicamente, possibilitando sua observação.

e estalam o bico.

Procuram insetos e outros artrópodescomo-aranhas,opiliões, diplópodes, escorpiões, etc., gostam de lagar-tas; apanha inclusive lagartixas enquanto que

e de fortes bicos, chegam a abaterratinhos, pequenas cobras, filhotes de pássaros (gostamtambém de ovos) e rãs; as duas anteriores e mais

apreciam caramujos. etambém comem sementes, sendo às vezes capturadasem armadilhas iscadas de milho;é atraída pelas bagas suculentas do caruru

e outros capturam insetos em vôo;e assustam insetos batendo as

asas no meio da folhagem para que as presas mostrem-se ao fugir, tática aliás empregada também pelas corujasem relação a pássaros. Na procura de alimento as espé-cies terrícolas jogam para os lados, com rápidos movi-

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I

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FORMICARIlDAE 529

mentos do bico, a serrapilheira não esgravatandoa terra comoSclerurus (Furnariidae); esses movimentosdo bico lembram a respectiva técnica de pombas.

O nome "papa-formigas" deriva do fato de certas es-pécies (relativamente poucas) aproveitarem-se das ma-nobras das coortes das formigas-de-correição que ser-vem de "batedores" levantando presas; trata-se, sobre-tudo, deEciton (formiga grande e vermelha) ouda pequena. e anegrada "formiga-da-chuva",

. Em ambos os casos destaca-se a massa de for-migas que, obedecendo um ciclo anual no qual se alter-nam períodos nômades e sedentários, marcha pelo soloem formações largas ou colunas estreitas, frentes preda-tórias singulares que avançam pelas matas secas, na ter-ra firme, sobretudo da Amazônia. Tais exércitos espan-tam todos os seres vivos que cruzem seu caminho eà

sua frente; a floresta parece fervilhar, pois no é quese desloca o maior número de animais, principalmentegrilos e baratas; todo o ambiente fica saturado de umrumor crepitante produzido pelas formigas e pelosanimais em fuga dos quais alguns, como as morosase flácidas lagartas, são imediatamente dominadas;nos locais onde abundam opiliões e percevejos nota-se de longe o cheiro cáustico que estes artrópodesemi tem ao fugir.

É conhecido que, ao contrário das formigasda África, as correições deEciton e

no Neotrópico, não são capazes de retalhar vertebradosuma vez que estas últimas não possuem mandíbulascortantes (Schneirla 1960, Willis 1985). As formigas-de-correição neotropicais vivem de insetos e outrosartró-

podes,inclusive outras formigas.Toda esta agitação atrai as"aves-de-correição"e,

entre elas, os papa-formigas.A "cabeça de ponte" dashostes de formigas, que garante butim mais farto, é ocu-pada pelos pássaros mais fortes (machos adultos e es-pécies mais combativas) que ali saciam-se gritando' eexpulsando os concorrentes, chegando mesmo ao cho-que corporal; há grande competição, estabelecendo-seuma hierarquia intra e interespecífica de quem bica e ébicado. Em condições favoráveis um pássaro pode che-gar a capturar iima presa por minuto e em dias de mui-tas correições os mais assíduos vão de ao ou-tro; aproveitam-se das formigas tanto aves que possu-em territórios nos locais invadidos como aquelas quesão atraídas dos arredores e mesmo de zonas mais afas-tadas; a voz de certas espécies excitadas tem alcancesuperior a 300 metros e serve de chamariz. Há certoentendimento vocal interespecífico, de modo que aten-dem à chamada para participar do festim e reagem aalarmes não só Formicariidae como Dendrocolaptidaee Thraupinae, mas os primeiros chamam mais atençãopelo vozerio, sobretudo de voz fortíssima. Osmais assíduos seguidores dascorreições, que obtêm amaior parte do seu alimento graças às formigas, são cha-mados de "profissionais" (Willis 1967). São profissio-nais, p. ex. na região de Belêrn, Pará,

e poecilinot .Ao norte ao Amazonas se destaca rufigula.Em outras partes do país ou do continente as espéciesmais envolvidas podem ser outras. Entre os seguidoresde correição estão também Troglodytidae, Turdidae,Momotidae, Bucconidae e outros. Acumulações gran-des de correição podem atrair 10 ou mais indivíduosda mesma espécie, e mais alguns isolados. A flutuaçãoégrande. A participação de espécies varia muito con-forme o local, podem ser, p. ex.. 7 espécies diferentes naregião de Belém.É na Alta Amazônia que 'existe umamaior participação. de espécies. Em pedaços remanes-centes pequenos de mata o fenômeno de correição ten-de 'a desaparecer. '::

As presas~CDssadas pelas formigas são apanhadaspelos pássaros a pouca altura- do solo, em galhos, folhasou troncos tanto em vôoscorno em rápidos pulos nosolo, dependendo; do costume das' espécies: p. ex. sal-tando (Formicariidae) ou trepando (Dendrocólaptidae).Os formicarídeos usam frequentemente pousos 'finosverticais a pouca altura sobre o solo. Isto não seria pos-sível com os que são muito mais perigosos.Logo atacariam e devorariam um pássaro que ficassetão próximo; na África as aves, p. ex. sabiás seguidorasde formigas, pousam mais alto sobre galhos horizon-tais. Espécies terrícolas como ou us(Cuculidae) correm velozmente através da massa ferven-te deformigas-de-correição para alcançar um "petisco".Parece reinar uma grande confusão, mas existe uma hi-erarquia bem estabelecida: os mais fortes ocupam oslugares melhores. Quando uma formiga alcança o pé deuma ave esta sacode-o violentamente ou belisca-o paralivrar-se do inseto. As formigas propriamente não sãocaçadas mas acontece que alguns pássaros preocupadosna captura dos insetos que fogem das formigas possamintencionalmente engolir algumas delas. A técnica pelaqual as aves apanham os animalejos em fuga pode serclassificada da seguinte maneira: (1) apanhar a vítimasem deixar o poleiro, (2) voar ao encontroda presa que está sobre o substrato, ou (3)capturar o inseto em , e (Fitzpatrick 1980).Outros tipos de formigas podem não ser evitadas, con-forme verificamos p. ex. em um exemplar de

(que pouco se associa àscorreições), que tinha 418formigas no estômago, pertencentes a três êsp'écies; 109delas eram pupas. Também o comem às vezesformigas.

A associação temporária de certos Formicariidae,como , , o e

, com outros pássaros (formando os "bandosmistos") como Furnariidae, Dendrocolaptidae eThraupinae, tem igualmente base trófica. A revoada decupins, atração maior para tantas aves, mobiliza even-tualmente também formicarídeos-embora estes não gos-tam de voar no aberto.J. M. C. da Silva encontrou em1986 na região de Belém8 indivíduos deg participando de uma revoada de cupins, eviden-

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530' ORNITOLOGIA BRASILEIRA

ciando assim a alta densidade populacional local'deste formicarídeo. Bebem água da chuva acumula-da sobre folhas.

A cauda e o píleo são os melhores indicadores donervosismo dos Formicariidae; há vários tipos de mo-vimentação de cauda, característicos para grupos intei-ros de espécies, chegando a ser característica importan-te em avaliações sistemáticas. Há um abaixar e levantarlento da cauda, p. ex. glt , c ,e c acompanhados por um abrir das retrizesque, às vezes, expõe maI.1cila~~s i~~.í':.~~_2~_ap_e-nas p-ouco visíveis an!_eriormente (p. ex. ocne es~D -q 5 . e o s expandema\:cfíÍc:fa movenao-a lentamente para frente, depois jo-gando-a na posição inicial con:o que puxada por umamola; o contrário dá-se com que abai-xa o rabo rapidamente levantando-o devagar. Também

, ilus, , eg egopsisdestacam-se por mover muito a cauda, man-

tendo as retrizes abertas; o sacudir da cauda é comumem ophilus punc s. Espécies de cauda muitocurtas, como ic e , andam quase cons-tantemente de cauda arrebitada como os Rhinocryptidaee Rallidae, às vezes seus vizinhos no solo da mata som-bria. Sobre a exibição de áreas brancas normalmentecobertas pela plumagem críptica v. sob Morfologia, si-nalização.. H lope us oleucusexecuta estranhos movimentos

de corpo, em vaivéns, quando se sente amedrontado,lembrando remotamente o pavãozinho-do-pará,Eu p he exemplares, p. ex. deCe o quan-do apanhados vivos estalam o bico.

Locomovem-se predominantemente saltando e pu-lando, seja pela ramaria ou no solo, sendo dotados deforte musculatura coxal; espécies semiterrícolas apresen-tam grande variação quanto ao desenvolvimento dotarso e dos dedos; as pernas podem ser altas e grossas,os dedos longos e fortes e as unhas grandes e afiadascomo os , eG e outros elegem e defendem certos brotosverticais comuns na florestaamazônica, onde pousampara ampliar seu horizonte visual, afugentando intru-sos que ali se detenham; estas espécies descansam e ar-rumam a plumagem pousadas sobre poleiros horizon-tais, descem ao solo apenas para capturar animalejos,dando às vezes alguns pulos ou voando curtos trechos,quase não andam.

Nos G , , ec e otarso é alto e fino, disposição que parece facilitar o pu-lar; dedos longos não são propícios para um desloca-mento no solo; o tovacuçu, l pode passarpor um coelho quando pula no lusco-fusco meio enco-berto pela vegetação; deixa rastros pelo uso constante

de certos trilhos que se assemelham às sendas dassaúvas: as tovacas e correm como frangosd'água não fazendo o menor ruído, tal qual landam mesmo sobre galhos, o que fazem também

c us, Dic on e chílus. É surpreenden-te que elementos terrícolas como e lopfujam em vôo reto e veloz como uma seta.

O costume de associarem-se em bandos mistos (v.acima) deve ser vantajoso para espécies menos vigilan-tes (como as que aproveitar-se-iam da vi-gilância de outras (como [Thraupinae] e

o es). atentas e barulhentas, alarmando aoprimeiro sinal de perigo.- - Banham-se em águas rasas .e sombreadas (p. ex.G ou dentro dos cálices das bromélias (p.ex. opi O hábito de "formicarem-se" ng)foi observado nas G nopith e touma utilizou-se de um cáustico diplópodopara tal.É comum que esfreguem o bico para limpá-Ia.Ocorre o "bocejar" conforme verificado nos Psittacidae.

oduç

Os machos costumam ofertar comida às fêmeas, atoque geralmente precede a copulação. Muitas espéciesparecem que se acasalam por um ano, permanecendoconstantemente no mesmo território; o ciclo reproduti-vo dos representantes ligados às correições deve adap-tar-se ao ciclo anual destes himenópteros (v. sob Alimen-tação), já que a maior atividade das formigas correspon-de à maior fartura de alimentos para os pássaros e seusfilhotes. Consta que em Trinidadhá ninhosocupadospelos h ophilus doli uspor mais de dez meses a cadaano; o casal individualmente, contudo, tem ciclo repro-dutivo mais curto. g defende territóriodurante todo o ano sugerindo que nidifique em diver-sas épocas do ano; não se sabe ainda, entretanto, se estaespécie produz duas ninhadas por ano como já foi com-provado nosto ns.

O padrão do ninho dos Formicariidae é bastante di-.verso,a saber:

1. Cestinho aberto, confeccionado de fibras, hastes,musgo, etc., suspenso em uma forquilha horizontal:

ophilus, s, , n ,othe is, M. h lli, M. in

(o ninho desta última sempre construído acima da água)e o ici .entre os materiais utilizados figura a"crina vegetal", um fungo negro ( ius) quemuito se assemelha a pêlos de cavalo (v. sob Icterinae,Reprodução).

2. Bolsa profunda feita de fibras folhas secas, comacesso látero-superior suspensa na densa ramaria:Ce o

3. Bola grande e fechada (de cerca de LOcrnde diâ-metro) de folhas secas e raízes, assentada no solo ou apouca altura com entrada látero-superior: g e

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FORMICARlIDAE 531

s ou uma esfera pequena:

4. Tigela aberta, confeccionada de materiais secos (fo-lhas, talos, etc.), fixada sobre uma base firme, estandoarrumada em uma cavidade cônica qualquer em umtoco, em um conjunto de folhas entre plantas no solo ouem um oco de pau largamente aberto e a pouca altura:

ce Quando nidificam em ocos (p. ex.

a'entrada do mesmo pode estar a dois metrosde altura conduzindo porém ao fundo do tronco.

Põem usualmente dois ovos inequipolares (espéciespequenas e também SlU quase esféricos

e podem ser brancos, róseo-claro, amareladosou pardacento-claro sendo manchados de marrom, sé-pia, vermelho, lilás, etc., o desenho geralmente concen-trado no pólo rombo, recordando às vezes aqueles decertos Tyrannidae. e põem ovosde um branco ~puro ao passo que os de(grandes!) são azuis-esverdeados, lembrando aqueles domacuco, .

Os pais revezam-se tanto na construção do ninhoquanto nos cuidados à prole; ambos os sexos possuemplaca incubatória, a fêmea permanece no ninho durantea noite. A incubação é de 14 dias no caso dos

ensie, 15 em eme 17-18 em portanto,

incubação bastante longa. Os filhotes abandonam o ni-nho após 9 dias, tratando-se de12-13 dias em e 18 dias em

e g . Os pais lim-pam o ninho engolindo os dejetos dos filhotes (p. ex.

e fingem-se feridos para atrair sobre si aatenção de um eventual predador, além deafastá-lo doninho; executam nesta ação movimentos que lembramaqueles que fazem ao tomar banho. Os filhotes recém-saídos do ninho às vezes despertam a atenção por seusassobios incessantes (p. ex. us ,

e às vezes hospedam ocuculídeo parasita uoninus.

, , e

Estão entre as aves mais abundantes nas regiões quen-tes da América do Sul, desde que haja vegetação condizente.

Espécies congêneres (como vários ec costumam excluir-se ecologicamente embo-

ra outras muito semelhantes, comoe D. stictotho possam ocorrer lado a lado, às vezespousando no mesmo galho sem que haja sinal de dispu-ta, embora nem sempre seja fácil perceber tais interações.Em certos gêneros houve pronunciada diversificaçãosendo as um bom exemplo, havendo i1sque são semiterrícolas e as que vivem a 10 metros dealtura ou mais e várias que se encontram em estratosintermediários. A maioria dos Formicariidae vive a meiaaltura no arvoredo sombrio mas os s

perambulam pelas copas da mata, onde vagueiam tam-bém e , o [erruginea,

e cine ens.A adaptação de muitas espécies de ophiius e

e aos diversos estratos da mata (na Amazô-nia) e a outras condições ecológicas deixam o ornitólogoprever a existência, ou falta, dos respectivos represen-tantes a partir da fisionomia local. A presença detaquarais dentro da mata pode ser uma condicionantepara certas espécies dependentes. Dever-se-âo precisar,ainda melhor, as diferenças morfológicas decorrentes dohábitat, dos pássaros em questão.

Impressiona fi densidade populacional de p. ex.e em certos tipos de capoeira

bem ensolarada e nas diversas formações arbóreas-arbustivas do Brásil central e oriental. uo g etorna-se boa colonizadora de, ambientes alterados naAmazônia, atingindo altas .densidades em paisagensserni-abertas alteradas pelo homem, ampliando constan-temente sua distribuição geográfica. Em Matá Grosso,na região do rio das Mortes,F g eF se substitu-em ecologicamente: . ocorre em vegetação maisdensa (cerradão, mas não entra na mata), vive nocerrado aberto; . e g ocupa as brenhasarbustivas nas margens dos rios (Sick 1955). Encon-tradiça em matas bem sombreadas, tanto da Amazôniaquanto do sudeste do país, é gle

Em um censo executado durante vários anos em umaárea perto de Belém, Pará (rio Guamá; Novaes 1970),com o auxílio de redes, os Formicariidae foram as avesque maior número de espécies apresentaram, chegandoa 13, das quais as mais abundantes eramg (ca-poeira e mata de terra firme) e uelli(matas de várzea). Nas formações estudadasQá altera-das pelo homem), os formicarídeos tiveram seus índi-ces de densidade e freqüência superados apenas peloarapaçu o Espécie de baixa densi-dade populacional é, p. ex., a galinha-do-mato,

cEm uma segunda área (rio Acará) na mesma região,

foram registradas, em capoeira e matas parcialmente al-teradas, 12 espécies de Formicariidae ao lado de' 12 es-pécies de "Fringillidae" e 17 espécies de Tyrannidae(Novaes 1969). Para toda a área de Belérn, Pará (736km2

)

são citadas 31 espécies de_formicarídeos, para a cidadedo Rio de Janeiro, antiga Guanabara (1.356km2

) 22 es-pécies e para todo o Rio Grande do Sul (282.184km2

)

apenas 19 formicarídeos. Consta que na Amazônia pe-ruana, provavelmente a área do mundo mais rica emaves, podem ocorrer 40 espécies de formicarídeos numaúnica localidade; num único dia podem ser registradas10 espécies de . A freqüência de indivídu-os e espécies de e na Amazônia éperturbadora. O mesmo bando de pássaros pode sercomposto por várias espécies, até quatro e talvez mais.A maior concentração de espécies (11) de ofoi registrada emRondônia (D. F. Stotz).

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532' ORNITOLOGIA BRASILEIRA

Na Amazônia houve verdadeira explosão na evolu-ção deste grupo, o que se deveu não só ao fato da regiãoem questão representar o espectro florestal ecologica-mente mais diversificado de todo o Globo, mas tambémpor ter evoluído uma fauna riquíssima, especialmenteartrópodes, que serve de sustento às aves, dentre as quaisprincipalmente o táxon em questão e os Tyrannidae quese adaptaram, em grande escala, a este meio que exigeas mais variadas especializações para que seja efetiva apredação das miríades de seres que ali vivem e tudo fa-zem para se ocultar; tal processo resultou que na hiléiahouvesse grande número de espécies de aves insetívorasporém em populações relativamente reduzidas.

A especiação foi ainda mais incentivada pelos re-petidos fracionamentos que a região sofreu noPleistoceno e pós-Pleistoceno; efetivamente, as mu-danças climáticas operantes então fizeram sucederperíodos secos a úmidos, quebrando a hiléia e segre-gando fauna e flora silvestres em refúgios isolados'(v. Cotingidae, Ramphastidae). Refletindo o fato deserem tais alterações ambientais pouco antigas notempo geológico, temos que o nível de diferenciação,em muitos casos, chegou apenas ao de raças geográfi-cas, p. ex. em espécies de e e

.Por vezes chegou-se ao ponto de evoluírem formas

alopátricas mais diferenciadas, as quais designamoscomo aloespécies que compõem uma superespécie, p.ex. em e e os efeitos da dife-renciação costumam manifestar-se mais na morfologiado que no comportamento (incluindo vocalizações; v.sob Manifestações sonoras). Em certas regiões, p. ex. nadivisa VenezuelajColômbia, e G.

s cruzam-se formando uma população mista (G.casos análogos serão, possivelmen-

te, descobertos no Brasil. A especiação é completa ape-nas quando as espécies congenéricas em questão sãosimpátricas em uma certa área sem que haja cruzamen-tos (p. ex. em Há várias espécies crípticas,como nos gêneros e

A distribuição de certas espécies, P: ex. ee é disjunta e redu-

zida às vezes mesmo dentro de florestas que atualmen-te são contínuas. Evidentemente muitas populações seextinguiram; os cursos largos dos rios muitas vezesatuam como barreiras à dispersão, não sendo de ad-mirar, con si d eran d o-s e serem muitos dosformicarídeos pássaros fotófobos, não fazendo uso desua boa capacidade de vôo nem mesmo para trans-por rios estreitos. Aparentemente a intrincadapotamografia amazônica alterou-se durante os sécu-los; rios anteriormente estreitos alargaram-se, outrosdiminuíram, desapareceram ou mudaram seu curso,criando novos problemas ecológicos que nem sem-pre foram superados pela fauna.

Alguns gêneros amplamente distribuídos na Ama-zônia possuem um representante isolado nas flores-

'tas do Brasil merídio-oriental (p. ex.Ce oo que testemunha antigos avanços ama-

zônicos rumo ao sul durante as supracitadas altera-ções climáticas; as formações amazônicas aproxima-ram-se ou ligaram-se então às matas do sudeste doBrasil; consideramos as três representantesgeográficos evoluídos em conseqüência de tais mo-dificações fitogeográficas, podendo ser consideradasaloespecíficas.

Entre os formicarídeos mais notáveis do Sudeste es-tão , en , s e quatro e oque sugere a existência de um antigo centro de evolu-ção nesta parte do país. As constituem ogrupo mais 'diversificado dos forrnicarídeos, estandorepresentadas 25 espécies, em parte' extremamente se-melhantes, em território brasileiro.

Endemismo singularé~ das matassecas e interioranas do 'sudeste da Bahia; caso interes-sante é, outrossim, o de o genei, restrita às ser-ras altas do sudeste do país, sendo uma das nossas pou-cas aves realmente montícolas. e Ch "li-gam" o sudeste do Brasil aos Andes,

s atinge a Guiana passando de uma serra aoutra enquanto C.nobilis penetra até a região do altoAmazonas. É igualmente notável a distribuição de

chilus g , que habita a caatinga nordesti-na reaparecendo no Mato Grosso e Paraguai.em forma-ções botânicas correspondentes, o que evidencia que asduas áreas eram, seguramente, unidas há tempos nãomuito remotos.

s, doe

A tovaca, e pode hospedargrande quantidade de hemoprotozoários sendo identi-ficado o (Misiones). A maioria dosformicarídeos pesquisados pelas equipes do InstitutoEvandro Chagas (Belém, Pará) revelou alta taxa deanticorpos contra oO opouche vírus, arbovirose mui-to espalhada entre a população na Amazônia, sendotransmitida por insetos hematófagos (v. tambémTroglodytidae).

Declínio, ese

Acumulam-se problemas no Brasil oriental, onde adestruição ambiental vai acabar por comprometer a so-brevivência de gle , po s esi e

o ici ihe gi. Como Willis (1979) verificou,e leucopte não sobrevive em matasde 21 a 250

ha, apenas em matas de 300 ha ou mais. Situação seme-lhante de exigência territorial deve ser esperada para P

onde a destruição da mata atlântica ao norte dorecôncavo da baía de Todos os Santos, Bahia ameaçaa sobrevivência desta representante de limitada dis-tribuição.

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FORMICARIIDAE 533

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A classificação pelo porte e segundo as exigênciasecológicas, conforme o critério adotado na presente ta-bela, dá apenas uma aproximação ligeira da realidade;esperamos contudo que a mesma facilite a orientaçãode um principiante ao confrontar-se com uma multi-plicidade sem dúvida perturbadora. Para a identifi-cação de muitas espécies é necessária uma relaçãocompleta decaracteres morfológicos, o qual se tornaimpraticável aqui.

Os especialistas no assunto decidiram recentementeexcluir dos Formicariidae quatro gêneros: ,

e os dois primei-ros foram incluídos nos Rhinocryptidae, os dois últimosnos Sylviidae.

1 - Grande, de topete volumoso, cauda longa,transversalmente fasciado; a pouca altura: (fig.203), (fig. 204), ambos do Brasil orien-to-meridional, e da Amazônia; v. tam-bém

2 - Grande, pernilongo e de cauda curta; no solo ou apouca altura: (Pr. 29, 1),(Pr. 29, 2).

3 - Tamanho médio; a pouca altura ou no solo.3.1 - Região perioftálmica nua e vivamente colorida:

e (Pr. 29, 3),todos na Amazônia; v. tambéme .

FAMÍLIA THAMNOPHILIDAE

PAPA-FORMIGAS-BARRADO,

16,5cm. Espécie amazônica aparentada aosmacho todo negro, finamente listrado de

branco, fêmea pardo-amarelada listrada de negro, e como píleo castanho. seqüência desapressada de sono-ros "üiõb" crescentes e depois decrescentes, lembrando

. De temperamento fleumático, freqüentaestratos médios e bordas de densa mata secundária,Ocorre das GuianaS e Venezuelaà Bolívia, norte de MatoGrosso (alto rio Xingu) e leste do Pará (rio Tocantins);mais comum ao norte do rio Amazonas. "Choca-zebrada*". V.

CHOCA-DO-BAMBU*,

[17cm] Ocorre em Rondônia, no alto Purus, Acre,Peru e Bolívia. Restrito a brenhas de taquara. EmRondônia ao lado de C. (Pierpont & Fitzpatrick1983).

3.2 - Pernalta, de cauda curta: ,ambos do aspecto de , e .4 - Tamanho médio, cauda média ou longa, pernas

não muito longas; a média altura sobre o solo com in-cursões em estratos superiores e inferiores.

4.1 - Topetudo: .4.2 - Topete apenas esboçado ou ausente:

(Pr. 28, 1 e figo 205), (Pr.28,2) e (este com faixas transversais ge-'neralizadas, amazônico).4.3 - Negro ou cinzento ardósia: g 207),

e (machos).5 - Tamanho médio ou pequeno, cauda e pernas

longas; a pouca altura ou no solo: (Pr. 28,7), i !, (este no Nordeste e em Mato Grossodo Sul). ... . .

6 - Tamanho médio ou pequeno, cauda curta ou mé-dia, pernas longas; a pouca altura descendo aosolo:

e ê es, (Pr.28,8) e todos restritosà Amazônia,

7 - Pequeno, de cauda longa:7.1-Apouca altura: (Pr. 28,5),(Pr. 28, 3), (Pr. 28, 7).7.2 - A altura média e nas copas: s(Pr. 28, 6), e (este na Amazô-nia).8 - Pequeno, de cauda curta ou média; tanto no solo

como nas copas: e (Pr. 28, 4) eD

CHOCÃO-CARIJÓ,

20,5cm. Um tanto rabilongo, por cima negro salpica-do de branco (macho) ou amarelado (fêmea), tem áreabranca oculta no dorso; cauda barrada; partes inferioresbranco-amareladas. "keürrr" (chamada); trêmulomelodioso e ascendente para depois descender e acele-rar-se fortemente (canto). Habita estratos médios e su-periores da mata. Ocorre daBahía e Minas Gerais a San-ta Catarina, Rio Grande do Sul, sul de Goiás, ParaguaiéArgentina (Misiones).[Recentemente assinalado paraAlagoas (Pacheco& Whitney 1995).] "Papa-formigas-grande" (Minas Gerais).

MATRACÃO, Fig. 203

34cm, 134-156g. Maior representante da família; pelotopete e cauda longa e larga lembra um cuculídeo terrí-cola como us ou uma gralha. Partes superio-res negras transfasciadas de branco, partes inferiores

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534. ORNITOLOGIABRASILEIRA

cinza uniforme (macho); fêmea parda, de manto e cau-da listrados de negro. fortíssimo e duro, mas sono-ro, "klüarrr" (chamada); "tzük-tzük-tzük" (advertência);seqüência prolongada "rrrrr-kjô kjõkjõ ...djok" (canto).Vive a pouca altura nas brenhas mais densas e à beirade mata; desce ao solo sendo difícil de observar, trai-sepela voz. Ocorre do Espírito Santo ao Rio Grande doSul, Argentina, Paraguai e leste da Bolívia; no EspíritoSanto e Rio de Janeiro restrito às montanhas. "Galo-do-

Fig.203.Matracão, c macho.

mato", "Borralhara", "Batará" (nome índio, usado naArgentina para diversos papa-formigas semelhantes aos

ophilus).

BORRALHARA -ASSOBIADORA,

26,5cm. Notável pela cauda longa que toma metadedo tamanho total; plumagem negra salpicada de branco(macho) ou amarelada (fêmea). assobio rouco, "kri-kri" (advertência); seqüência. prolongada, ascendente edepois descendente de assobios finos bem destacados,do timbre dos de umaG lbul "bi bi bi ..." (canto). Habi-ta as brenhas densas; ocorre do Espírito Santo e MinasGerais ao Rio Grande do Sul, Paraguai e Argentina(Misiones); no Espírito Santo, Minas Gerais e Rio de Ja-neiro nas montanhas, inclusive freqüentando os "cam-pos" deChu acima da linha das florestas (p. ex. noalto da Serra de Caparaó na divisa de Minas Gerais como Espírito Santo). "Papa-ovo", "Brujarara", "Chororó",

BORRALHARA, en e se e Fig. 204

23cm. Topetuda e rabilonga, macho cor de ardósiauniforme, com a cabeça negra; fêmea toda barrada deamarelo-claro com o topete ferrugíneo uniforme."grã" (advertência); "sí-ü" (chamada); seqüência ascen-dente de seis longos assobios plangentes e roufenhos,"ú-ü ... " (canto). Escondido na ramagem densa de matae capoeira. Ocorre da Bahia e Minas Gerais ao RiQGran-de do Sul, Paraguai eArgentina (Misiones); no norte res-trito às montanhas, alcança o ex-Estado da Guanabarano maciço da Pedra Branca, mas já perto de Mangaratibae Para ti (Rio de[ane ir oj td esce ao nível do mar."Borralhara-preta*". V a anterior.

Fig.204.Borralhara, n e , fêmea.

BORRALHARA-OO-NORTE*, ic ui is

[20,5cm] Encontrado ao norte do rio Amazonas.

BORRALHARA-ONDULADA -, ede i

[23cm] Localmente na região do alto Amazonas. Estaespécie e a anterior podem ser consideradas substitutasgeográficas de n n s

CHOR6-BOI,

20,5cm. Quase como um grande nophil omacho por cima negro, com uma área branca dorsal ocul-ta, barras brancas na asa e cauda, partes inferiores bran-cas e jris vermelha; a fêmea ferrugínea uniforme naspartes superiores e com branco dorsal oculto; o imaturolistrado. muito forte, seqüência ventríloqua ascen-dente e acelerada, "do, do, do ..." terminando com 1 a 3"kra", padrão de canto de um Vive emcapoeira bem ensolarada à beira de rio. Ocorre das Gui-anas e Venezuela à Bolívia, Argentina e Paraguai; emquase todo o Brasil, meridionalmente até Mato Grossodo Sul, Goiás e Paraná.

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FORMICARIIDAE 535

CHOCA-O' ÁGUA, luctuosus En

16cm. Representante amazônico topetudo, negro comuma fina barra branca na asa tal como a ponta das retri-zes e axilares; a fêmea de topete castanho. seqüên-cia acelerada de "kü-ok. ..", à feição dosVive em brenhas na mata ribeirinha; ocorre da margemsetentrional do Amazonas ao Mato Grosso, Goiás e su-deste do Pará. V. e

CHOCA-DO-NORDESTE, En

Apenas 12,7cm. De bico um pouco mais pontiagu-do, costa pardas e topete negro (macho) ou ferrugíneo(fêmea); partes inferiores esbranquiçadas, garganta e pes-coço anterior negros (macho); a cauda toda pontuadade branco como que listrada. "ú" melodioso e des-cendente (chamada) e outros pios, p. ex. um ''bok'' quelembra , "türr-türr-türr": canto re-lativamente fraco e semelhante ao de um s,consistindo em seqüência descendente terminada em"ga-ga". Vive na caatinga; localmente comum, ao ladode Ocorre no Piauí, Ceará, Bahiae Minas Gerais (Almenara).

CHOCA-DE-CRISTA-PRETA *,

[16cm. Restrito no Brasil a região do rio Negro e rioBranco (Roraima), com ocorrências locais no rioSolimões e serra do Cachimbo (Pará). Também na Co-lômbia, Venezuela, Guianas e localmente no nordeste'do Peru. Prefere no Brasil florestas sazonalmente inun-dadas, especialmente aquelas por rios de águas pretas.]

CHOCA-DE-CAUDA -PINTADA *,

[17cm. Assinalado no Brasil apenas para a região doEscudo Guianense, ao norte do rio Amazonas. Espéciepouco conhecida.]

PAPO-BRANCO, Am

18cm. Espécie meridional parda, macho de boné eplaca peitoral negros e garganta branca pura; fêmea semnegro algum, de píleo acastanhado e colar branco, asse-melhando-se ao que podeser seu vizinho imediato nos taquarais da Serra do Mar.

série de assovios "fe, féu "féu-féu-féu ...", pode lem-brar a voz do pica-pau (G. T.Mattos). Ocorre no Rio de Janeiro, nas montanhas, p. ex .

. Teresópolis e Itatiaia, também Nova Friburgo (Besckeex Burmeister 1856), Tinguá (H. F. Berla); Minas Gerais(Viçosa, ltabira, especificamente em brenhas detaquaraçu silvestre espinhoso,G. T. Mattos); São Paulo,

Paraná, Santa Catarina e Argentina (Misiones). "Choca-da -taquara "",

CHOCA-BARRADA,

16cm. O macho amplamente barrado de branco (ouamarelado no imaturo) e preto, íris amarela; a fêmeapardo-ferrugínea quase uniforme com as partes inferio-res mais claras e lados da cabeça estriados de pardo-anegrado. melodioso (chamada); seqüênciaacelerada e com a segunda metade descendente termi-nando com um toque bem conspícuo, "gagaga ... gá" (can-to, dueto do casal). Habita a .capoeira rala bemensolarada, mata de várzea, caatinga, etc. Ocorre doMéxico- à Bolívia, norte da Argentina eBrasil até SãoPaulo. Foram déscritas quatorze raças geográficas des-ta espécie, sendo sete existentes em nosso país. "Chorró-cocá" (Minas Gerais), "Piolho-de-onça" (Mato Grosso),"Mbatará". V e o seguinte.

CHOCA-LISTRADA,

Fig.205

16cm. Inconfundível, de cabeça e partes inferiores ne-gras densamente listradas de branco (ou amarelado, fê-mea), manto e cauda castanhos; o macho de boné negro,na fêmea castanho; imaturo com desenhos onduladospardo-escuros no manto. melodioso "a-í", "quü-i"(chamada, diagnóstica); seqüência apressada e descen-dente, "ga ... guá", semelhante ao canto de T. osfilhotes emitem uma série ascendente de pios finos (v.Manifestações sonoras). Vive na mata, inclusive secun-dária esparsa porém sombreada; nas densas copas deárvores, freqüenta cidades (p. ex. Belém e Rio de Janei-ro). Ocorre da Colômbia, através do alto Amazonas, àBolívia; no Brasil em três áreas disjuntas: no extremooeste (alto Madeira e Guaporé), do rio Tapajós (Pará) aoMaranhão e no Brasil oriental (da Paraíba ao Rio de Ja-neiro). V também T. , T. e T.que são igualmente listrados.

',.

0'0,.

Fig. 205. Choca-listrada, ,macho.

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536 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

CHOCA-BATE-CABO,

Pr. 28, 1

14cm. Varia geograficamente, ocorrendo cinco raçasem território brasileiro. Muito parecido comT.

a porção basal das penas da regiãosuperciliar é cinzenta emT. , enquanto as ba-ses dessas penas são pretas, contrastando com a pontaesbranquiçada, em. . bastante variável,p. ex. um "grrr" (advertência); seqüência ascendente de6-10 "go" bem pronunciados, terminando em um trê-mulo apagado (canto). Habita à beira da mata, inclusivesecundária; típico das baixadas quentes do Rio de Janei-ro e Brasil central; sacode a cauda. Ocorre da AméricaCentral à Bolívia e Brasil, meridionalmente até o sul deMato Grosso, oeste do Paraná e Rio de Janeiro. "Batará","Borralhara", v.. a espécie seguinte e

CHOCA-DA-MATA,

15cm. Muito parecida à anterior, sendo mais escura(ambos os sexos) e sem branco nas secundárias internasembora possua-o oculto no dorso; fêmea sem manchaferrugínea no píleo e na cauda. melodioso "gwüo","gau", "ga-í" (chamada); seqüência ascendente acelera-da terminando em um profundo "gaa". Habita a orla demata e capoeira alta e densa, brenhas de taquara, etc.;baixa lentamente a cauda. Substitui a anterior nas mon-tanhas do Rio de Janeiro e Espírito Santo, sendo típicopara a Serra do Mar. Ocorre do Nordeste ao Rio Grandedo' Sul, Goiás, Mato Grosso do Sul, Uruguai, Paraguai,Argentina, Bolívia e Peru (encostas dosAndes). "Choró-da-mata" (Minas Gerais).

CHOCA-DE-ASA-VERMELHA,

13,5cm. Espécie bem pequena, de asas castanhas,boné negro, partes inferiores brancas listradas de pretoe cauda negra manchada de branco (macho); a fêmea deboné avermelhado, partes inferiores uniformementeamareladas e cauda ferrugínea sem mácula. cantotípico de s, foneticamente parecido com oda espécie abaixo, embora dele seja discernível no cam-po. Cerrado, cerradão, matagais pantanosos; ocorrênci-as locais. Ocorre do sul do Pará e Nordeste ao Brasilcentral e Bolívia, São Paulo e Rio de Janeiro (Muri, abrilde 1960). "Choca-de-asa-ruiva=".

CHOCA-DE-CHAPÉU-VERMELHO,

15,5cm. Bem parecida à anterior embora maior, deasas pardo-oliváceas quaseiguaís às costas e lado ven-tral sem listras (macho); ambos os sexos de boné

. ferrugíneo. (advertência, bem típico); se-qüência cuja primeira metade é ligeiramente ascenden-te enquanto que a segunda desce e acelera terminandoem um "quar" ou"quã" (canto). Vive a pouca altura,desce ao solo onde pula; arbustos esparsos no campo,mata secundária baixa e rala. Ocorre de Minas Gerais,Espírito Santo e Rio de Janeiro (nas montanhas, sobre-tudo nos cumes das serras altas como a de Caparaó edos Órgãos, nesta última, p. ex. no campo das Antas, aolado de oe Furnariidae montícola) aoRio Grande do Sul, Uruguai, Paraguai, Argentina e Bo-lívia. "Choca-boné-ruivos".

CHOCNPk:TA-E-CINZA ', ~hilusc eus

[16,5cm. Ocorre nas várzeas e igapós do rio Negro ebaixo Amazonas, inclusive seus afluentes. Também Co-lômbia, Venezuela e Guiana Francesa.]

CHOCA-SELADA *, eucus

[18cm. Típica para a vegetação sucessional das ilhasdo rio Solimões, Amazônia oeste-brasileira. Igualmenteno Peru, Equador e Colômbia nos mesmos arnbientes.]

CHOCA-LISA ",

[16cm. De ampla distribuição nas florestas de terrafirme da Amazônia brasileira. Uma subespécie particu-lar, . ocorre isoladamente nas florestas resi-duais da baixada de Pernambuco e Alagoas. Tambémna Colômbia, Venezuela, Peru e Bolívia.]

CHOCA-DE-OLHO-VERMELHO*,

schi

[14cm. Comum na Amazônia brasileira ao sul doSolimões e Amazonas em florestas de terra firme. Ocorrelocalmente ao norte do Solimões, bem como em florestas devárzea. Também na Colômbia, Equador, Peru e Bolívia.]

CHOCA-MURINA *, s

[14cm. Substitui largamente a espécie anterior nasregiões ao norte do Solimões e Amazonas, incluindo asflorestas em solo de areia da região do rio Negro.É me-nos comum na região ao sul do Solimões, leste até oMadeira onde coexiste com schist ceus.Assinaladopara todos os países amazônicos.]

CHOCA-CANELA *, cus

[14-15cm. Conhecido para toda Amazônia brasileirae extrabrasileira. Associado especialmente aos ambien-

.. ..

Page 38: Ornitologia Brasileira - Helmut Sick 2ed-03

FORMICARIIDAE 537

tes de várzea, ocorrendo localmente em outras forma-ções florestais. Macho dessa espécie muito semelhantena plumagem a .

CHOCA-DE-RORAIMA ". insignis

[16,5-17cm.Assinalado para a região montanhosa doNorte do Amazonas e Roraima. Endêmico dos Tepuissul venezuelanos, 900-2.000m.]

C HOCA-CANTADORA *,

[13,5cm. Amplamente distribuído por toda a Ama-zônia brasileira e extra-brasileira. Ocupa ambientesflorestados de terra firme e várzea.]

CHOCA-PIi-.JTADA ".

[13,5-14cm] A fêmea assemelha-se à desendo porém maior. [Macho cinza azulado com

diversas máculas brancas nas asas lembrando machosde outras espécies de diferindo destesporém pelo tamanho maior destas marcas. Geralmenteescasso e localmente distribuído na região alta-amazô-nica a oeste da drenagem do Madeira. Ocorre ainda naVenezuela, Colômbia, Equador e Peru.]

CHOCA-PRETA*,

[16cm] Todo negro, com área branca escondida nascostas e com o bico "virado" lembrando(Furnariidae). [Amazônia ocidental a oeste do Tapajós.Colômbia; Equador e Peru.]

C HOCA-DE-GARGANTA-PRETA ".

En Am

[17cm] Recentemente descrito, tendo a mandíbu-la apontada para cima. Encontrado em florestas deterra firme de Rondônia, Cachoeira Nazaré (Lanyonet . 1990).

CHOQUINHA-DE-PEITO-PINTADO,

Pr. 28, 2

-12cm. Espécie silvestre comum no sudeste do país;

de peito pintado; característica diagnóstica em relação àespécie abaixo. "tschürr" (chamada); "tscharaü:'(advertência); seqüência descendente e vagarosa, no fimdescendente e acelerada, à feição de (can-to). Vive na mata, a altura média e nos estratos superio-res, freqüentemente associado a outros formicarídeos,sobretudo a seu congênere menor. Ocorre da Bahia aSanta Catarina e Argentina (Misiones).

CHOQUINHA-LISA,

nem. Representante pequeno bem semelhante ao an-terior mas sem manchas no peito; a fêmea de boné aver-melhado lembrando o Vireonidae poieilotis.

seqüência descendente e fraca. Ocorre do México àBolívia, Brasil (do leste do Pará ao Rio Grande do Sul),Paraguai e Argentina (Misiones).

CHOQUINHA -DE-ASA -FERRUGEM*, usEn

13cm. Restrito ao sudeste do país, relativamente gran-de, inconfundível pelo manto cástanho." seqüênciadescendente de-assobios fortes. Vive nas copas de mataalta, às vezes associado com a anterior. Ocorre do Riode Janeiro aoParaná, sendo, fio primeiro Estado, restri-to às montanhas. V. g e

CHOQUINHA-CHUMBO*,

En Am

14cm. Outra espécie do Brasil merídio-oriental do ta-manho de um O macho cor de ardósia comas coberteiras superiores das asas com um' pouco debranco, presente (e oculto) também na base das asas; afêmea olivácea. canto do mesmo padrão que o de

e D. , sendo porém maischeio (o que não é de espantar pois seu porte é maior);"grra", baixinho "wot", "wot-di, di, di, di" (chamada,alarme). Habita o estrato inferior da mata alta, da Bahiaao Espírito Santo, érncujas montanhas encontra-se nas

mesmas florestas com D.stic e D. estes,contudo, costumam freqüentar estratos superiores. [Tam-bém no norte do Estado do Rio de Janeiro.]

IpEcuÀ,

14,5cm. Pela voz forte um dos formicarídeos que maischamam a atenção. Rabilongo, lembrando ,de bico largo; o macho ardósia uniforme com a face in-ferior das asas brancas; a fêmea pardo-olivácea e

- .-. f.,-I' --

ferrugínea. estridente "tze-tze-tze ...", "raad-raad-tzetzetze", "buit, buit" (alarme); seqüência apressada depios límpidos, inicialmente ascendente para descenderdepois terminando em tom mais baixo. Índole nervosa,movimenta o corpo, bate comas-asase cauda; é um doselementos mais encontrados nos bandos mistos de pás-saros, cuja presença indica com sua vozeria. Habita ointerior de mata, a altura média. Ocorre das Guianas eVenezuela ao norte de Mato Grosso, 'sul do Pará e Mara-nhão; também no Brasil oriental, de Pernambuco a Mi-nas Gerais e Rio de Janeiro (inclusive no ex-Estado daGuanabara). "Uirapuru-de-bando",

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538 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

UlRAPURU-DE-GARGANTA-PRETA *,

[14cm. Encontrado no Brasil apenas ao norte doSolimões/ Amazonas. Razoavelmente comum em flores-tas de terra firme onde segue de maneira regular ban-dos mistos de sub-bosque, tal qual seus congêneres.]

UlRAPuim-SELADO*,

[14,5crn. Apenas ao sul do Solimões/ Amazonas, dafronteira Peruana até a margem esquerda do Tapajós.Assinalado para as regiões confimmtes do Peru e Bolí-via, especialmente em florestas de terra firme.]

UlRAPURU-AZUL *,

[14,5crn. Espécie de distribuição mais restrita do gê-nero, ocorrendo apenas nas drenagens do Juruá e Puruse margem direita do Solimões na região alta-amazôni-ca. Adicionalmente ocorre no sudeste Peruano e norteda Bolívia.]

CHOQUINHA -ESTRIADA,

8,5cm, 8,6g. Um dos menores representantes da fa-mília; de cauda curta, partes superiores e inferioresestriadas de alvinegro; dorso com branco oculto; a fê-mea com estrias acastanhadas no píleo. "guia" (cha-mada); seqüência ascendente de assovios fracos (canto).Vive na mata ribeirinha, geralmente nas copas emboranidifique em ramaria baixa sobre a água. Ocorre do Pa-namáàAmazônia, no Brasil até o norte de Mato Grosso

(alto Xingu), leste do Pará e Maranhão.

C HOQUINHA -DA -GARGANTA -PINTADA,

En

9,5cm. Restrita ao sudeste do país; distinta pela gar-ganta salpicada de branco, em ambos os sexos, e pelaasa manchada de amarelo; branco oculto na base da asa.

"drí-ã drí-ã" (chamada), "tch-tch-tch" (advertência);seqüência fortemente descendente de seis "schrü ...'', commenor volume que a voz de a qualé às vezes sua vizinha. Vive na mata úmida e alta, à bei-ra de córregos, na rama ria mais baixa; desce ao solo.Ocorre de Minas Gerais e Espírito Santo ao Rio Grandedo Sul; também no ex-Esta'd o da Guanabara."Choquinha-estrelada*".

CHOQUINHA-DE-BARRIGA-PARDA ".

lOcm.Ao norte do baixo Amazonas, macho de gargantamanchada semelhante à anterior; a fêmea parda. Ocorre dasGuianas e Venezuela ao norte do baixo Amazonas.

CHOQUINHA-DE-FLANCO-BRANCO,

Pr. 28, 4

9,5cm. Um dos pequenos Formicariidae mais conhe-cidos. O macho caracterizado por um tufo de penasalongadas e brancas nos flancos; branco oculto na baseda asa. fina, "djuit", "tch-tchi", "gia", etc.; seqüên-cia descendente de fortes"dji-djü-djü-djü ..." (canto).Habita a mata, geralmente a média altura (4-5 metros),sobe às copas e desce ao solo. Ocorre da América Cen-tral à Bolívia e Brasil amazônico e meridional até o Riode Janeiro; ocorre ocasionalmente ao lado deM. unicolo(Rio de Janeiro), ouM. eM. (Espírito San-to); associa-sei,bandos de outros pássaros.

.'.;

C HOQUINHA-PEQUENA *,

En Am

8,4cm, Cinza-escura de garganta negra e asa ponti-lhada de branco. Sudeste do Brasil, do Espírito Santo aSão Paulo, Santa Catarina; sua ocorrência na Amazôniaaguarda confirmação. Restrita às matas do Brasilmerídio-oriental. [Um sumário de sua situação conser-vacionista é apresentado por Whitney& Pacheco (1995).]"Choquinha".

CHOQUINHA-FLUMINENSE*,

En Am

ll,5cm. Semelhante a M.ihe gi, sem branco nosflancos e na cauda, ao contrário de M. que ocor-re na mesma região. Conhecida apenas de um macho,coletado em Citrolândia, Rio de Janeiro (Gonzaga 1988).

CHOQUINHA-CINZENTA,

EiL Am

9,5cm. Semelhante a M. mas sem branco nascoberteiras superiores das asas; partes inferiores cinzen-tas, garganta negra. assobio relativamente longo edescendente. Ocorre do Rio de Janeiro ao Rio Grandedo Sul. [Dados sobre sua distribuição e conservação es-tão sumarizados em Whitney& PachecCY (i'995).]

[CHOQUINHA-DE-ALAGOAS, sno iEn Am

9,5cm. Descrita originalmente como subespécie deunicoIo (Teixeira & Gonzaga 1~85), esta

forma endêmica das montanhas de Alagoas permanececonhecida apenas da Reserva Biológica de Murici.Alagoas. Dados relativos ao taxonôrnico e conser-vação estão presentes em Collaret (1992) e Whitney& Pacheco (1995).]

""

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FORMICARIIDAE 539

CHOQUINHA-DE-RABO-CINTADO*,

En Am

9,Scm. Cinzenta, de garganta negra, retrizes comextensa ponta branca. Ocorre na Bahia, Minas Gerais,Espírito Santo e Rio de Janeiro. [Dados de distribui-çãoe conservação estão apresentados em Whitney&Pacheco (1995).]

CHOQUINHA-MIÚDA ",

[7,S-B,Scm. Largamente espalhada na floresta ama-zônica brasileira e extra brasileira: onde ocupa estratosmédios e superiores da mata.]

CHOQUINHA-DE-BICO-CURTO*,

~

[7,Scm. Muito semelhante a espécie anterior, porémde distribuição bem mais limitada, ocorrendo emsimpatria com esta na região do Marafion/Solimões erespectivos afluentes entre o leste equatoriano e a cida-de deTefé, incluindo Colômbia e Peru.]

CHOQUINHA-DE-GARGANTA-AMARELA *,

[B,Scm. Restrito as florestas ao sul do Solimões/Amazonas entre o leste peruano e o baixoTapajós, parao sul até a Bolívia, Rondônia e noroeste de Mato Grosso.]

CHOQUINHA-DE-COROA-LISTRADA *,

[B,Scm. Espécie pouco conhecida de distribuição bas-tante limitada, assinalada para as florestas de terra fir-me do alto rio Negro e oeste de Roraima (D. F. Stotz),além das porções limítrofes de Venezuela e Colômbia.]

CHOQUINHA-DO-TAPAJÓS*,

En

[lOcm. Restrita presumivelmente ao ambiente flores-tal de várzea do trecho médio do Amazonas.]

C HOQUINHA -DE-PEITO-RISCADO*, M

[l Ocm. Habitante das matas de galeria e florestasinundáveis da região do rio Negro e países confinantes,Colômbia e Venezuela. Encontrada no Parque Nacionaldo [aú e Estação Ecológica de Anavilhanas, Amazonasa. F.Pacheco).]

CHOQUINHA-DE-BARRIGA-RUIVA ",

[9,Sem] Asa largamente manchada de canela, grandezona branca, oculta, no dorso e abdômen castanho. Ocor-re na região ao norte do Amazonas,P: ex.: Manaus.

CHOQUINHA-DE-GARGANTA-CLARA ".

[lOcm. Amplamente distribuída na Amazônia brasi-leira ao sul do Solimães/ Amazonas em florestas de ter-ra firme e várze'a onde vive próximo ao solo. Ocorre tam-bém- na Colômbia, Peru e Bolívia.]

CHOQUINHA-DE-OLHO-BRANCO*,

[l l.Scm. Na Amazônia brasiÍeira apenas ao' sul doSolimães/ Amazonas em florestas de terra firme; tam-bém no sudeste do Peru e Bolívia.]

CHOQUINHA-DE-GARGANTA-CARIJÓ*,

[nem] Garganta manchada de preto e cinzento-cla-ro com as pontas castanhas. [Amazônia oeste-brasilei-ra, principalmente em florestas de terra firme, para les-te até a drenagem do Madeira (Rondônia) e do Branco(Roraima, D. F. Stotz); também Venezuela, Colômbia,Equador, Peru e Bolívia.]

.,.

CHOQUINHA-ORNADA ".

[nem. A raça brasileira desta espécie ocorre ao suldo Amazonas entre o Madeira e o Tocantins, alcançan-do Rondônia e norte de Mato Grosso, além do sudestedo Peru e Bolívia. Outras raças ocorrem na base lestedos Andes colombianos e equatorianos.]

CHOQUINHA-DO-OESTE*, sunensis

[9ém. No Brasil corihecidaápenas por um exemplarrecentemente re-identificado proveniente do alto [uruá,Amazonas (Stotz 1990). Espécie ainda pouco conhecidada' Colômbia, Equador e Peru.]

CHOQUINHA-DE-CAUDA-RUIVA*,

[Tl.Scm] De cauda e costas castanhas, [Apenas no Bra-sil oeste-amazônico, na região do alto rio Negro para osul até o alto Juruá e arredores de Tefé; também na Co-lômbia, Equador e Peru.]

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540 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

CHOQUINHA-DE-ASA-COMPRIDA ',

longipennis

[10-I0,Scm. Amplamente distribuída na Amazôniabrasileira e extrabrasileira nas florestas de terra fir-me, onde geralmente acompanha bandos mistos desub-bosque.]

CHOQUINHA-DE-IHERING*,

[9cm. Rara ou incomum ao longo da região entre osudeste do Peru e a margem esquerda do Tapajós, tam-bém em Rondônia e adjacente noroeste de Mato Grosso.Em geral, sua ocorrência está relacionada com a presen-ça de taquarais.]

CHOQUINHA-DE-ASA-LISA ", behni

[9,Scm. Espécie altimontana politípica de distribui-ção disjunta. No Brasil assinalada apenas na regiãoconfinante com os tepuis venezuelanos (Phelps 1973).]

CHOQUINHA-DE-GARGANTA-CINZA *,

[9,S-lOcm. A espécie mais comum e bem distribuídado gênero na Amazônia brasileira e extrabrasileira, ocor-rendo principalmente em níveis médios e na copa dafloresta de terra firme, acompanhando regularmentebandos mistos.]

CHOQUINHA-DA-V ÁRZEA".

[9,S-10cm. Restrito as florestas de várzea do nordes-te do Peru, norte da Bolívia e calha do Solimões e Ama-zonas (incluindo os principais afluentes) para leste atéo baixo Tapajós.]

"TOVAQUINHA,

llcm, Pequeno representante amazônico terrícola,lembrando as cambaxirras , a cuja famíliajá foi atribuído. De pescoço longo e fino, cauda bem cur-ta mas asa bastante grande e pernas compridas; partessuperiores pardo-acastanhadas, dorso anterior combranco oculto, asas e baixo dorso negros sendo que asprimeiras possuem duas barras amareladas muito dis-tintas ao passo que o último ostenta vistosa cinta bran-ca (amarelada na fêmea); as partes inferiores brancas,peito manchado de negro. seqüência apressadade assovios.vhüit". Corre pelo solo de mata alta nãomuito fechada mas profundamente sombreada; aoscasais. Ocorre da Venezuela à Bolívia, ao rio Negro e

oeste do rioTapajós (alto rio Cururu, Pará). "Formi-gueiro-clntado"".

PIU-PIU,

I4,Scm. Típico da caatinga e matas correspondentes,densas mas ensolaradas. Parece uma estranha

grande e terrícola; as partes superioresferrugíneas-claras estriadas de negro, asas alvinegras;retrizes extemas com branco, o que dá ,na vista quandoabre a longa cauda; partes inferiores brancas, gargantanegra (machojou peito estriado (fêmea). finíssimaestrofe plangente de 3 a 4 sílabas repetidas a curtos in-tervalos, p.'ex., "di-di-adf", tzri, ia", às vezes se-guida por 'uma seqüência descendente, "bch, bch, bch, ..";assobio prolongado,' "si-u-iu", lembrando a codorna-buraqueira, que ocorre na mesma região ('~voz da pai-sagem").

Corre pelo. solo como um João-de-barro, o qual re-corda pelo colorido ferrugíneo: ao contrário porém er-gue freqüentemente a cauda. Vive nas matas e brenhasfechadas e baixas da caatinga. Ocorre do Nordeste 'atéMinas Gerais (Almenara, G. T. Mattos), às vezes ao ladode Há uma segunda população,largamente disjunta, no Brasil restrita ao oeste de MatoGrosso do Sul (Corumbá), Paraguai, Bolívia e Argenti-na'. "Tovaca", "Tem-farinha-aí?".

CHOROZINHO-DE- ASA-VERMELHA, sPr. 28, 6

10,Scm. Espécie arborícola delgada, notável pelo cas-tanho das asas.o "düdüdü" (chamada); seqüência rá-pida e ascendente para no fim cair e tremular (canto),lembrando um pouco s. Vive nas copas damata. Ocorre do Panamá à Bolívia, norte de Mato Gros-so, leste do Pará, Maranhão, Pemambuco e, para o sul,até Santa Catarina, Paraguai eArgentina (Misiones). Co-mum p. ex. no Rio de Janeiro, sendo fácil de localizarpelo canto. "Chorozinho-de-asa-ruiva=". V th nus

.

CHOROZINHO-DE-CHAPÉU-PRETO, c us

I2,Scm. De colorido semelhante ao de nophi/us(que é muito mais robusto), mas de lados

da cauda inteiramente brancos lembrando um pou-co o (Sylviidae). Ocorre em formaçõesarbó-reas do Nordeste e Brasil Central,Bolívia.Paraguai eArgentina. '

Recentes estudos (Davis& O'Neill 1986) esclarece-ram a existência de três espécies de us extre-mamente semelhantes, duas delas no Brasil. H.

, de distribuição maior era considerada for-ma geográfica da espécie seguinte.

1

)-j

. i

Page 42: Ornitologia Brasileira - Helmut Sick 2ed-03

FORMICARIlDAE 541

CHOROZINHO-DE-BONÉ*,

En

[nem] Na caatinga, encontrado até agora apenas naBahia e Piauí. A separação dos dois é possível, além damorfologia, através davocalízação, embora os dois se-jam simpátricos em algumas localidades.

CHOROZINHO-DE-CABEÇA -PINTADA ".

[Tl.Scm] Guianas à Venezuela, um exemplar do rioParu de Oeste, Pará, junho 1960. (Novaes 1978). [Comumna copa das florestas de terra firme da região de SerraGrande, Amapá(j.E Pacheco).]

CHOROZI1'IHO-DE-PAPO-PRETO*,

En Am

13cm. O macho de nódoa negra no papo. cheia,uma seqüência descendente que lembra um

Matas secas do Maranhão, Rio Grande doNorte, Sergipe e Bahia, localmente.

CHOROZINHO-DE-BICO-COMPRIDO*,

14cm. Semelhante H. sendo maior e ten-do os lados do peito manchados. semelhante à deum quando canta abana a longa cauda exi-bindo as pontas brancas das retrizes. Piauí, Goiás, MatoGrosso para o sul até o Paraná. [Citado como endêmicodo Brasil a despeito de seu registro na Bolívia (Davis&O'Neill 1986).]

CHOROZINHO-DE-CAUDA-PINTADA *,

[nem. Conhecida para o Brasil através de dois úni-cos exemplares coletados em Óbidos, margem esquer-da do médio. Amazonas, Pará (Griscom& Greenway1937).,Espécie guianense da copa das florestas que seextende até o leste venezuelano.]

.. '.'-- "

CHOROZINHO-DE-COSTA-MANCHADA *,'

[ILôcm. Assinalado no Brasil para a bacia do rioNe-:gro e florestas adjacentes da região de Manaus para les-te até Faro, Ocorre adicionalmente na Venezuela e Co-lômbia.]

CHOROZINHO-DE-RORAlMA *,

[12,Scm. Endêmico dos tepuis do sul da Venezuelacom registro brasileiro na fronteira de Roraima (phelps& Phelps 1948),]

P APA-FORMIGAS-DE-BANDO,

Il.Scm. Espécie amazônica de cauda comprida; o ma-cho negro-veludo com branco-resplandescente na asa,nas costas (semi-oculto) e nos lados da cauda (visto debaixo), a qual freqüentemente abre; a fêmea de partesinferiores vivamente castanhas. "biâ", lembrando

No seu comportamento lembraas arborícolas e os Parulinae: gregário.Ocorre do Méxicoà Bolívia, norte do Mato Grosso e les-te do Pará (rio Tocantins). "Choquinha-de-bando=".

[BICUDI~çrDO-BREJO,

En Am .

14,S-lScm. Um novo gênero e uma nova espécie re-cém descoberta ..Privativados banhados da região me-ridionallitorânea do Paraná, possui bico alongado e par-tes superiores castanho-oliváceas: fêmea de face e par-tes inferiores negras marca das de branco com os flancose crisso oliva-amarronzado escuro, cauda negra, gradu-ada e composta de dez retrizes (Bomscheinet 1995).Macho adulto, encontrado após a descrição original,difere por apresentar principalmente face e partes ven-trais cinza anegrada (B,L Reinert, M,R Bornschein).Pela perda acelerada de hábitat, causada pela ocupaçãodesordenada do litoral sul paranaense, deve ser imedi-atamente considerada ameaçada de extinção (Bomschein& Reinert 1996),]

, P APA-FORMIGAS-VERMELHO,

Pr. 28, 5

Lêcrn. Quanto ao aspecto, semelhante aose às de cauda relativamente

comprida e plumagem bastante fofa (baixo dorso eflancos), Dimorfismo sexual acentuado, as fêmeas dogênero são por vezes mais facilmente discemíveis queos machos respectivos, (chamada); "it.",

"giá", duro "trra-trra-trr+fadvertência):trêmulo suave "rrrü", ... (canto). Vive em ar-bustos não fechados, cerradão; localmente encon-tradiços. Ocorre em regiões campestres do Leste daÁmazônia, do Nordeste e Brasil Central até o Rio de Ja-neiro e Paraná, Paraguai e Bolívia; também no Surinarne.V. Willis & Oniki 1988 e as outras e

. "Formigueiro-ruivo*",

PAPA-FORMiGAS-PARDO, .

n,Scm. Semelhante à anterior mas de partes superi-ores pardas e não averrnelhadas: o macho com negroestendido até o abdômen, flancos brancos e não ferrugí-neos, A fêmea distinta, de partes inferiores uniforme-mente amareladas e não estria das, pio bissilábicodistinto, "düp-plúp" (chamada); seqüência de ..

,

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542' ORNITOLOGIA BRASILEIRA

"tsoc. .."; "tsoc-sóc. .." (canto, freqüentementeO casalduetando). Vive na orla da mata e capoeira; às vezesperto da anterior. Ocorre do Panamá ao Nordeste, Bra-sil central e oriental (até o Rio de Janeiro). "Formiguei-ro-pardo'". V.a seguinte.

FORMIGUEIRO-DE-BARRIGA-PRETA ".

13cm. Muito parecida com a anterior sendo mais del-gada, de sobrancelha branca mais extensa, etc. A fêmeade partes inferiores brancas quase uniformes. se-melhante a de mas em volume menor.É encontra-da nas brenhas ribeirinhas bem densas e em grotas; orlada mata. Ocorre do Nordeste a Goiás, oeste de São Pau-lo, Mato Grosso e Bolívia. V.a seguinte.

FORMIGUEIRO-DA-SERRA*, En

12,5cm. Apenas no sudeste do Brasil, semelhante àprecedente (ambos os sexos); também de sobrancelhabranca extensa mas de manto algo ferrugíneo. se-melhante a de "it-it-it-it-iit": duro "giá-giá" (ad-vertência); seqüência de suaves"djüe ... (canto). Vivena mata secundária baixa, entre 200 e 1.000m. Ocorre noEspírito Santo, Minas'Cerais e Rio de Janeiro; localmen-te comum.

[FORMIGUEIRO-DO-LITORAL,

En Am

12,5cm. Recentemente descrita (Gonzaga& Pacheco1990) esta espécie de distribuição restrita as restingasdo litoral do estado do Rio de Janeiro, entre Saquaremae a Praia do Peró, Cabo Frio e ilhas adjacentes. Ameaçadapela crescente especulação imobiliária da região (Collaret 1992). "Formigueiro-da-restinga".]

FORMIGUEIRO-OO-NORDESTE*,

í En Am

llcm. Assemelha-se a uma comcauda longa. O canto lembra o do seu vizinho,

mas é bem mais fraco. Montícola, chapadas eencostas das serras, não abaixo de 600m. Bahia (Bonfim,Boa Nova), Minas Gerais (Almenara, G. T. Mattos).

FORMIGUEIRO-DE-CABEÇA-NEGRA *,

En Am Pr.45,4

10,5cm. Pela 'cauda comprida e a vocalização imedi-atamente reconhecível como uma Espécievistosa pelas costas castanhas (lembrando certas

e cabeça e peito negros, na fê-mea marrom-olivácea; flancos brancos, apelo forte"kiák, kiák": canto "tjük, tjük. ..", lembrando e . A

espécie foi descrita em 1852 por Hartlaub corretamentecomo uma ci (tipo existente em Hamburgo),procedente "do Brasil"; citado por Burmeister (1856)como ocorrendo perto de Nova Friburgo, Rio de Janei-ro. Sclater (1858) transferiu o pássaro para o gênero

. Existem poucos exemplares em museus,todos coletados no século passado, não tendo sido maisencontrado desde então. Foi então uma grande surpre-sa quando o casal de observadores de aves, Fernando eCacilda Carvalho, observaram a espécie em setembrode 1987 perto de Angra dos Reis, Rio de Janeiro, ao ní-vel do mar, redescoberta divulga da porJ. F. Pacheco(1988}.

i "

TROVOADA, ~ En

14cm. De colorido e v9z particular. Partes superio-res alvinegras tendo o dorso bastante branco brilhanteoculto, uropígio castanho; partes inferiores ferrugíneasvivas e uniformes. A fêmea semelhante, mas pálida.pio bissilábico "ti-tüít" claro, emitido pelo macho, (a fê-mea dupla: "dituí-dituí"), sendo audível a grande dis-tância; usa esta chamada também no seu território, res-pondendo imediatamente após . Vive na mata,freqüentemente na copa associada a outros pássaros,chama muito a atenção pelo piarbissilábico. Ocorre daBahia a Santa Catarina, no Espírito Santo e Rio de Janei-ro apenas nas serras, atinge o ex-Estado da Guanabarano maciço da Pedra Branca. "Dituí*'. V a seguinte.

TROVOADA-DE-BERTONI,

14cm. Espécie muito parecida com a anterior; colori-do mais claro, testa amarelada (fêmea). Canto descen-dente. Do Rio de Janeiro ao Rio Grande do Sul, emtaquarais; nas serras do Rio de Janeiro (Itatiaia) e SãoPaulo vive ao lado da espécie anterior. Também na Ar-gentina (Misiones) e Paraguai de onde foi descrito em1901 por A. Bertoni. Por muito tempo considerado si-nônimo de D. g foi recentemente validada porE. O. Willis (1988).

CHOQUW,,HA-DA-SElUZAt Q, Q genei En

13cm. Estritamente serrano; no colorido semelhanteà espécie descrita a seguir, mas possui a cauda ferrugínealembrando um pouco o furnarídeo ps ruiiians; ma-cho com branco oculto no dorso. lembra a de D.

"gra-it", "psíãb-tchâtchã" (advertência);"it-it-it-glâ-glâ", "di-dlüid-dlüid" (canto). Habita.o estratoinferior da mata úmida de altitud'e (p. ex. na Serra daBocaina, São Paulo, a 1.500m, onde é comum); tambémnos "campos de altitude" (Serra da Mantiqueira, MinasGerais, a mais de 1.900 m; Serra do Caparaó, Minas Ge-rais-Espírito Santo; Itatiaia, Rio de Janeiro) onde torna-se vizinho do furnarídeo chi i e dorinocriptídeo t lopus spelun "Trovoada-da-serra'".

!

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CHOQUINHA-DE-DORSO-VERMELHO,

g En Pr. 28, 3

l3,Scm. Comum no estrato inferior das brenhas doBrasil merídio-oriental (Bahia a Santa Catarina); restritaàs montanhas, onde às vezes torna-se vizinhade D.

e . "giii" (alarme); "gia-zschrrr""hí-tschrra-hi" (canto). Alcança o ex-Estado da Guana-bara no maciço da Pedra Branca. "Formigueiro", "Tro-voada-ocre*" .'

TROVOADA-LISTRADA -, D de

13cm. Na Amazônia: Rio Curuá (P~rá), Rondônia, Bo-lívia ao Equador.

CHOQUINHA-CARIJÓ, l

--.

-14cm. De cauda ainda mais longa que suas

congêneres; plumagem cinza-escura, cabeça e partes in-feriores estriadas de branco e preto, cauda sem branco;a fêmea parda. "rait" (advertência); seqüência rou-ca lembrando um pouco (canto). Vivenas brenhas, às vezes vizinho de D. perto doRio de Janeiro apenas nas montanhas. Ocorre do Rio deJaneiro ao Rio Grande do Sul, Paraguai e Argentina(Misiones). "Tro".'oada-carijó*".

..._______----..0//

PINTADINHO, En

'l-2:errr:--NegrofOdoescamado de branco (macho) oupardo escamado de amarelo (fêmea). "bit-bit" (cha-mada, lembra oti s t seqüên-cia descendente "dríã ...rr (canto, lembrag com freqüência seu vizinho). A pouca altura emfloresta alta e sombria. Ocorre da Bahia a Santa Catari-na; localmente comum, p. ex., no Corcovado (ex-Estadoda Guanabara. Também Alagoas (Teixeiraet 1986)0

ZIDEDÊ, e

9,5cm. De tamanho reduzido e cauda estreita; píleoestriado de alvinegro (macho), costas castanhas; partesinferiores branquicentas, peito estriado de negro.assovio fino, "tzí-dede". Vive amédia- altura ou nos es-tratos superiores, pode lembrar um tiranídeo. Ocorre dosul da Bahia e Minas Gerais até Santa Catarina, Para-guai e Argentina (Misiones). "Zidedê-do-sul*". V.

ci e tos.

ZIDEOÊ-OO-NOROESTE, En AmFig.206 Pr.45,9

IDem. Pela documentação dos seus descobridores D.M. Teixeira e L. P. Gonzaga, uma típicae pelohábito e vocalização. O padrão estriado de alvinegro do

Fig. 206. e sic .Cerimônia da fêmea em frenteao macho (seg.Teixeira1987,desenhoJ. B.Nacin0vic).

macho Jecorda certas .ul como, no Brasil,M. eunn eneietõecauda curta ao contrário dee e .Fêmea distinta' côm o lado inferior de cor- alaranjada.Vive nas copas onde foi achado, seu ninho a 11m de altu-ra, em construção (Teixeira 1~8-7).Ocorre ernbolsões demata remanescentes das serras de Alagoas e Pernambu-co, substituto nordestino da espécie anterior. "Zidedê-de-barriga-laranja=" .

ZIDEDÊ-OE-ASA-CINZA *,

[IDem. Distribuída no Brasil amazônico ao norte dorio Amazonas entre o alto rio Negro e o Amapá na copadas florestas. Ocorre ainda nas Guianas, Venezuela, Co-lômbia e Equador.]

ZIDEOÊ-OE-ENCONTRO*,

[l1cm. Único representante do gênero na copa dasflorestas de baixada ao sul do Solimões. Assinalado noBra'sil para leste atéRondônia, com ocorrências no Equa-dor, Peru e Bolívia.]

CHORORÓ-POCUÁ, C

15cm. Espécie amazônica arborícola de talhe mais.delgado que um o macho cinza-escuro uni-forme, dorso com branco oculto, coberteiras superioresdas asas pontilhadas de branco, cauda com extenso ápicebranco; a fêmea pardo-olivácea de asas com desenhobranco. "cácacaca" (advertência); seqüência de"doe ..." lembrando o ci g e meia dúzia de for-tes gritos bissilábicos baixos,"po-cuá" (canto). Vive nascopas em florestas altas, tanto de terra firme quanto devá-rzea. Ocorre das Guianas à Bolívia, norte de MatoGrosso e Maranhão.

CHORORÓ-CINZENTO, ü EnAm Pr.45,10

l5,5cm. Único representante do gênero no sudestedo Brasil; parecido com a anterior mas de cauda aindamaior (7,5 a 8,3cm), macho com branco nas extremida-

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544. ORNITOLOGIA BRASILEIRA

des das retrizes, dorso com branco oculto; a fêmea par-do-olivácea com a de ponta da cauda ligeiramente ama-relada. forte trissilábico "cá-cá-cá" (advertência),lembrando um sabiá. Vive a pouca altura, até a 3m dosolo' interior e beira da mata, capoeira emaranhadas,taq~arais; adapta-se bem em forn::a~ões .se.c~dá~ias.Ocorre em Minas Gerais (Munae; Divisóp olis eFelisburgo. E. Snethlage, G. T. Mattos) e no Rio de Janei-ro (Iguaçu, Estrela). [Desde 1988 tem sido ~ncontradaem diversos capoeirões do vale doParaíba do Sul(Pacheco & Fonseca 1992).]

CHORORÓ-ESCURO,

15,2cm. Cinzento, macho geralmente sem branco naponta da cauda; a fêmea de partes inf~riores vi~ar,ne~~.eferrugíneas. seqü.ência de assobios claros ~l-hlla,hilã, hilã, hilã", fêmea mais suave (dueto). Vive noestrato inferior de capoeira e matas de terra firme ..Ocorre do México à Amazônia, ao norte do Solimões/Amazonas.

CHORORÓ-DIDI*, En

[14,5cm] Similar em plumagem a C. masmenor e com diferenças na vocalização. Belém para oesteaté o Tocantins. Também em Manaus e possivelmente Per-nambuco e Alagoas (R. O. Bierregaard& M. Cohn-Haft).

CHORORÓ-NEGRO,

. 15,2cm. Típica das matas alagadas da Amazônia. Omacho plúmbeo decoberteírassuperiores da asa comfinas orlas brancas apicais; a fêmea pardo-oliváçea, comfronte, lados da cabeça e partes inferiores ferrugíneasvivas; ambos os sexos com grande área branca ocultano dorso. dueto forte do casal distinguindo-se asvozes dos respectivos sexos,"djo-djü-djü-üüü" (macho)'e seqüência monótona e ascendente, "djü ..." (fêmea).Encontrado no estrato inferior, às vezes ao lado de

e (Mato Grosso).Ocorre das Guianas à Bolívia, norte de Mato Grosso (altorio Xingu, rio Araguaia) e sudeste do Pará.

CHORORÓ-PRETO*,

[15cm. No Brasil, conhecido apenas no alto [uruá(Gyldenstolpe 1945). Florestas de terra firme e várzeada Colômbia, Equador, Peru e Bolívia.]

CHORORÓ-DE-GOIÁS*, En

[16cm. Restrito as matas de galeria do médio e baixoAraguaia, onde geralmente forrageia perto d'água. Des-crito por E. Snethlage (1928) a partir de tipo provenien-te da ilha do Bananal.]

CHORORÓ-DO-PANTANAL *,

[16,5cm. Habitante das intrincadas brenhas das ma-tas secas e matas de galeria da região do Pantanalmatogrossense. Ocorre ainda nas regiões adjacentes doParaguai e Bolívia.]

CHORORÓ-DO-RIO-BRANCO*,

[15cm. Conhecido das matas de galeria dos rios Bran-co eMucajaí, onde é comum (D. F.Stotz). Encontrado naGuiana Ing~esa em 1993 por D. Finch .(Forrester 1995).]

CHORORÓ-DE-MANU,

[15cm. Espécie recentemente descrita (Fitzpatrick&Willard 1990) para o sudeste do Peru. Encontrada sub-seqüentemente em vegetação ribeirinha na região deAltaFloresta, norte de Mato Grosso (T. A. Parker).]

PAPA-TAOCA,

17cm. Formicarídeo silvícola muito distinto, de. dis-tribuição predominantemente amazônica. O macho ne-

. gro reluzente, de olhos vermelhos e com uma manchainterescapular branca (bases das penas) oculta; asa semdesenho branco. A fêmea parda com partes inferioresmais claras e com a mesma mácula oculta do macho.

seqüência decrescente de pios melodiosos "dü, dü,, dü ...", freqüentemente por. seis vezes (canto); zanga e

outras vozes. Sua vocalização é muito semelhante (comcertas exceções) à das duas espécies que descrevemos aseguir, o que confirma a reunião das três ~m umasuperespécie.

Vive a pouca altura na mata e em vegetação secun-dária (desde que seja densa); também perto de habita-ções, chamando a atenção pela voz forte; é um dos maisassíduos anunciadores das correições (v. Alimentação),no que se assemelha às outras duas formas congêneres.Ocorre da Bolívia, ao sudoeste do Mato Grosso e ao suldo Amazonas até o leste do Pará e Maranhão; tambémem Pernarnbuco e Alagoas, Colômbia e Equador. "Mãe-da-taoca", "Piadeira", "Olho-de-fogo-selado*".

Fig. 207. Papa-taoca-do-sul, glen leucopt ,macho.

..

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FORMICARIIDAE 545

PAPA-TAOCA-DA-BAHIA, En Am

17,5cm. O macho semelhante ao anterior; manchainterescapular branca sempre visível (penas brancas comuma mancha elíptica negra). A fêmea com área brancainterescapular tal como a da espécie anterior. fortepiar descendente e algumas outras vozes são muito se-melhantes às das outras gle mas há diferenças noapelo e alarme (Willis& Oniki 1982). Ocorre hoje muitolocalmente ao norte do rio Paraguaçu Bahia,P: ex: San-to Amaro. [Ocorre também no Sergipe (M. C. Souza,Pacheco& Whitney 1995).]É severamente ameaçada peladestruição das matas da região que ocupa. "Olho-de-fogo-rendado*".

P APA-TAOCA-DO-SUL,

Fig.207

18cm. Sub"stituto meridional dos dois anteriores. Omacho com duas barras alvas sobre a asa e com áreadorsal branca oculta, a qual falta na fêmea que é mar-rom. semelhante a P.le costuma ser a vocali-zação mais penetrante que se pode ouvir em qualquermata fechada do sul da Bahia, Espírito Santo, Rio de Ja-neiro, Minas Gerais (Rio Doce) até Rio Grande do Sul,Argentina (Misiones) e Paraguai. Em Boa Nova, Bahia

ao lado de opo is e ih i namata de cipó. "Olho-de-fogo-do-sul?".

GRAVATAZEIRO, e En AmPr. 45, 11

18,5cm. Espécie peculiar da mata de cipó, rica emgravatás. Rabilongo, o macho cor de ardósia com a gar-ganta e coberteiras superiores das asas negras, estas úl-timas levemente orla das de branco. Pele do loro e porbaixo do olho azul-lilás. Olhos vermelhos, ambos os se-xos. A fêmea com píleo e nuca ferrugíneos, costas cin-zentas; lado inferior cinzento-claro, garganta e abdômenbrancos; asas e .cauda semelhantes às do macho.seqüência descendente de 6 a 9 assovios "bi, bi, bi ..."que tem alcance de 500 metros. A voz (canto) lembra ade n i ou e , a fêmea respondeao macho com uma estrofe mais curta; o forte alarme"kscht" (a ave joga a cauda para baixo) pode lembrarum Conopop g Pula no solo, empoleira para cantar.Vive nas matas de cipó baixas e fechadas, no cimo dasserras de pouca elevação, locais ricos em grandes bro-mélias terrícolas e arborícolas (gravatás; sp.)cujas flores são visitadas regularmente pelo beija-flor

is osquítus. Conhecido apenas da bacia dorio das Contas no planalto sul-baiano, registrado por nós

-

Fig.208.Distribuição deH l e

oc l . As duasespéciesse substituem geografica-mente e compõem a superespécie

oides nopogon.Não sãoconhecidoshíbridos ondeosdoisrepresentantes se encontram(seg.Haffer1987).

"

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546 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

na região de Boa Nova, 700m (onde já fora observadopor Wied, Kaempfer e Willis) e Jequié 900m.embora seja ainda bem representado nesses capões éameaçado, sem dúvida, pela rápida destruição dessasmatinhas remanescentes isoladas da região, exploradaspara obtenção de lenha população local. Vive ao ladode e (Willis &'Oniki 1981).

P APA-FORMIGAS-OE-SOBRANCELHA,

.

12,Scm. Representanteamazônico de cauda curta epernas longas, seu aspecto lembra um pouco o de uma

. O macho cor de ardósia com os lados dacabeça e garganta negros, fronte e sobrancelha brancas,cor que falta totalmente na asa e cauda. A fêmea parda

.por cima com fronte, sobrancelhas e desenhos alaresamarelacfos, bochechas negras, partes inferiores bran-cas lembrando o macho de ."zirrr-zirrr" (advertência); seqüência fortemente descen-dente de assovios melodiosos e no fim coaxando (can-to). Vive no estrato inferior; denso, de mata ribeirinha ealagável; aolado de ,

no alto Xingu,Mato Grosso, às vezes ao lado de

. Ocorre das Guianas e Venezuela à Bolí-via, norte de Mato Grosso e Pará. "Formigueiro-de-sombrancelha "",V. ides

FORMIGUEIRO-USO*,

13,Scm. Destaca-se neste gênero .por não apresentarbranco na asa. [Encontrado próximo ao solo repleto dede He das ilhas fluviais, ambiente do qual é quaseexclusivo. Ocorre através do Solimões e Amazonas dafronteira oeste até o baixo Tocantins. Também no Equa-'dor, Colômbia e Peru.]

FORMIGUEIRO-OE-CARA-PRETA ",

us

Il,Scm. De coberteiras superiores das asas margeadasde branco. [Ocupa uma vasta área das florestas de terrafirme da Amazônia estando assinalado para todos ospaíses abrangidos, com exceção da região das três Cui-anas e, conseqüentemente, das florestas amazônico-bra-sileiras situadas ao norte do Amazonas.]

PAPA-FORMIGAS-CANTADOR,

LOcm. Representante amazônico de cauda curta e es-treita, pernas compridas, dorso negro epardo-oliváceo,píleo estriado, partes inferiores brancas, peito maculadode negro e flancos ferrugíneos. variada, p. ex., uma

estrofe prolongada inicialmente ascendente e melodio-sa, depois tornando-se rouca e descendente terminandoem alguns coaxos (canto). Vive a pouca altura dentro damata. Ocorre das Guianas e Venezuela à Bolívia, MatoGrosso (alto Xingu), norte de Tocantins e Pará(Tocan-tins, Marajó). "Cantador-comum*".

CANTADOR-AMARELO*,

[12cm. Espécie de colorido vistoso do sub-bosque dasflorestas de terra firme que apresenta duas populaçõesdísjuntas. A forma típica ocupa o interflúvio formadopelos rios Solímões e Negro, além da Colômbia, Equa-dor ePeru.enquantoH. h. oe , restrita ao Bra-sil, ocup~ florestas do baixoTapajós eXingu.]

SOLTA-ASA,

Fig. 208' . .

Ilcm. Típico das sombrias matas alaga das da Ama-zônia; mais delgado do que plúmbeo degarganta, asas e cauda negras; a asa bordada levementede branco e área da mesma cor oculta no dorso; as retri-zes com ampla ponta branca que exibe quando levantae abre a cauda. A fêmea de partes inferiores esbranqui-çadas. "tirrít..." etc. (chamada); trêmulo ascendentee acelerado, em seguida descendente, crescendo e tor-nando-se rouco (canto). Pula na lama ou através da ra-magem debruça da sobre a água, balançando a cauda; àsvezes ao lado de . Ocorre do nordeste do Peru àBolívia, ao sul do Amazonas até o Mato Grosso (alto rioXingu), Pará (rio Tocantins) e Maranhão. "Solta-asa-do-

. sul*".

SOLTA-ASA-OO-NORTE*,

Fig. 208

[Il,Scm] Substituto geográfico de c esna Amazônia setentrional. [Ocupando os

mesmos hábitats e possivelmente entrando em contactocom o seu congênere nas florestas alaga das da margemdireita do Amazonas, onde existe localmente. Adicio-nalmente ocorre no Equador, Colômbia, Venezuela, Gui-anas e norte do Peru, onde também-pontualmente ocor-re ao sul do Marafion.]

FORMIGUEIRO-PRETO-E-BRANCO*,

[Il,Scm. Um dos passeriformes exclusivo~'do ambi-ente sucessional das ilhas fluviais da alta Amazônia.Freqüentemente comum em seu hábitat podendo lem- .brar uma pequena no colorido alvinegro.Basicamente no Brasil restrito as ilhas do Solimões e Ma-deira e a baixa porção de seus afluentes. Para leste al-

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FORMICARIIDAE 547

cança a ilha de Marchantaria nas proximidades deManaus G. F. Pacheco, B. M. Whitney).]

FORMIGUEIR0-DE-CABEÇA-PRETA *,

[14,5-15cm. Representante comum do sub-bosque dafloresta de terra firme da Amazônia setentrional ao nortedo Amazonas. Também na região do rio Negro e nos paí-ses limítrofes: Guianas, Venezuela, Colômbia e norte doPeru. É um seguidor habitual das formigas-de-correíção.]

FORMIGUEIR0-CINZA ".

[14,5cm. Habitante do sub-bosque das florestas deterra firme do oeste extremo da Amazônia brasileira; noalto [uruá e margens ambas do Solimões para leste atéas imediações de Tefé.]

FORMIGUEIR0-DE-ASA-PINTADA '.

[14,5-15cm. Amplamente distribuído nas florestas deterra firme da Amazônia brasileira para o leste até oTocantins. Habitualmente forrageia na vegetação baixanas proximidades de igarapés dentro da mata espessa esombria. Ocorre em todos os demais países amazônicos.]

[FO~IGUEIR0-DO-BAMBU, lophotes

14,Scm. Espécie privativa do sudoeste da Amazônia,conhecida no sudeste do Peru e região limitante da Bolí-via. Recém registrada no Brasil para a região do altoJuruá, perto de Taumaturgo, Acre em maio de 1995 (A.Whittaker).]

FORMIGUEIRO-DO-CAURA *,

[17,5cm. Representante mal conhecido e de distribui-ção restrita as florestas do sul da Venezuela e porçãobrasileira fronteiriça (Phelps & Phelps 1948).]

PAPA-FORMIGAS-DO-IGARAPÉ,

14cm. É encontrado em matas alagadas e sombriasda Amazônia; de bico comprido. O macho cinzento comgarganta, pontas das asas, estrias do peito e da barrigabrancas; a fêmea por cima parda e flancos ferrugíneos.

"bch-bch-bch" (advertência); seqüência ascendentee depois descendente de pios claros e apressados, maisfinos do que os de le às vezes seuvizinho. Vive à beira d'água, pula no solo; movimenta acauda para baixo. Lembra um , inclusive pelobico. Ocorre no alto Amazonas é, pela sua margem di-

reita, até o Mato Grosso (alto rio Xingu), leste do Pará(Belém) e Maranhão. Encontrado também na Venezuelae Guianas. "Formigueiro-do-igarapé"".

PAPA-FORMIGAS-DE-GROTA,

En Pr. 28, 7

14,5cm. Espécie meridional terrícola de pésesbranquiçados, cauda comprida sem branco algum mascom área dorsal branca oculta. forte "bch-bch" etc.(alarme); seqüência suave "zisisisi ...", seguida por umtrinado melodioso e suave terminando em uma outraseqüência apagada e descendente (canto), sendo o co-meço da 'estrofe .parecido com o canto dec po-rém bem mais fino, podendo passar por vocalização deum beija-flor; às vezes emite ur:n simples trinado sono-ro, primeiro ascendente e depois descendente; uma se-qüência descendente bem típica "zibí, zibí, zibí, .." (Es-pírito Santo, Rio de Janeiro, Santa Catarina). Vive na mataalta e úmida com muitos arbustos e folhas caídas, fre-qüenta grotas sombrias. Ocorre da Bahia, Minas Geraise Espírito Santo ao Rio Grande do Sul; no Espírito Santoe Bahia nas montanhas. "Formigueiro-assobiador"".[Considerando M. como subespécie, o trata-mento de Sick difere de Sibley & Monroe (1990) e Ridgely& Tudor (1994).]

FORMIGUEIRO-DE-CAUDA-RUIVA ",

En Am

14cm. Semelhante à anterior mas sem sobrancelhaclara; peito e barriga negros com beiras esbranquiçadas,dando ao conjunto aparência escarnosa: a fêmea de par-tes inferiores brancas com desenho .anegrado escamosono peito. Ocorre nas baixadas quentes florestadas do rioDoce (Espírito Santo) a Pernambuco e Paraíba.

FORMIGUEIRO-DE-BARRIGA-BRANCA *,longipes

[14,5-15cm. Representante comum das florestasdecíduas e semi-úmidas do norte da América do Sul.No Brasil ocupa as florestas das bordas de campina aonorte do Amazonas, entre Roraima e Amapá. Oculto navegetação intrincada junto ao solo destacando-se pelavoz longa e alta. Ocorre ainda entre o Panamá e a GuianaFrancesa.]

FORMIGUEIRO-FERRUGEM*, M ugine

[15cm. Basicamente encontrado na região do EscudoGuianense, onde é espécie comum próximo ao solo dafloresta de terra firme. No Brasil entre a região de Manause o Amapá. Ocorre também no interflúvio Madeira -Tapajós, uma população subespecífica: M.f .

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548' ORNITOLOGIA BRASILEIRA

FORMIGUEIRO-DE-BARRIGA-CINZA *,

[15cm. Espécie endêmica de restrita distribuiçãodas florestas da região do alto rio Negro. Tambémassinalado nas porções vizinhas imediatas daVenezuela e Colômbia.]

FORMIGUEIRO-DE-CAUDA-CASTANHA ",

[12cm. Espalhado nas florestas de terra firme daAmazônia brasileira ao sul do Solimões e Amazonas,leste até o Xingu e sul até o noroeste de Mato Grosso.Registrado ainda para o Peru e Bolívia e de forma limi-tada na Colômbia e Equador.]

FORMIGUEIRO-CHUMBO*,

[18cm. Especialista comum do sub-bosque das flo-restas de várzea e florestas transicionais da ai ta Amazô-nia brasileira nos rios [uruá, Purus e Solimões, inclusi-ve sua margem esquerda (Pacheco 1995). Ainda na Co-lômbia, Equador, Peru e Bolívia.]

FORMIGUEIRO-GRANDE*,

[18cm. Encontrado nas bordas emaranhadas e den-sas das florestas úmidas do oeste amazônico na Colôm-bia, Equador e Peru. Conhecido no Brasil apenas da re-gião do Juruá e do alto Solimões até os limites da E. E.Marnirauá (Pacheco 1995).]

FORMIGUEIRO-DE-GOELDI*, goeldii

[18cm. Substituto da espécie anterior nos mesmos ti-pos de floresta do alto Purus, sudeste do Peru e noroes-te da Bolívia.]

FORMIGUEIRO-DE-TAOCA *,

[18,5cm. 'A maior das representantes brasileiras dogênero. Habita as florestas de terra firme do Solimões,ambas as margens, e seus afluentes meridionais leste atéa região do baixo Purus, Adicionalmente ocorre na Co-lômbia, Equador, Peru e Bolívia.]

FORMIGUEIRO-DE- PEITO-PRETO*,M

[14cm. Com registros para todos os países amazÔni-cos, esta é a mais bem espalhada da Amazô-nia brasileira, alcançando para leste a ilha de Marajó,ausente contudo da região leste do Pará e oeste do Ma-

ranhão. Ocupa as matas de galeria das savanas amazô-nicas, buritizais nas imediações das campinas e bordasdas florestas, inclusive aquelas formadas por açãoantrópica.]

PAPA-FORMIGAS-DE-TOPETE,

12,5cm. Único pelo alto topete frontal branco e tufoproeminente na garganta também branco; enfeite espe-tacular que falta aos imaturos; partes superiores' cor deardósia, partes inferiores e cauda castanhas.ções assobia um"psiü" etc.; estala as mandíbu-las: Vive oculto no estrato inferior de mata densa, local-mente comum. Muito ligadoàs correições onde é fácilde observá-lo. Ocorre das Guiarias e Venezuela ao rioAmazonas (Amazonas, Pará, Amapá), Colômbia e Peru.Bem afins deste gênero são

e "Mãe-de-taoca-de-topetet",

MÃE-DE-TAOCA-DE-GARGANTA-VERMELHA,

13,5cm. Representante amazônico caracterizado pelaregião perioftálrnica nua branco-azulada (v. introdução);íris vermelha; plumagem pardo-olivácea mais clara naspartes inferiores, garganta castanha; as costas com man-chas brancas (macho) ou ferrugíneas (fêmea) ocultas; ostarsos e dedos fortes, de coloração esbranquiçada.

fino "irrr" (advertência); seqüênciascurtas ou longas de assobios melodiosos de alcance va-riado (canto); várias outras vozes e também estalidos.

. Vive a pouca altura na mata, pousa de preferência embrotos verticais, pula no solo; assíduo seguidor decorreições. Ocorre das Guianas e Venezuela ao rio Ama-zonas, do rio Negro (Amazonas) ao Amapá. "Mãe-de-taoca-ferrugem*".

MÃE-DE-TAOCA-BOCHECHUDA *,

[14-14,5cm] Na região do alto rio Negro e florestasentre esse rio e o Solimões. Possui as partes inferioresbrancas, os lados da cabeça, do pescoço e do peito sãonegros; a fêmea com amarelo dorsal oculto. [Ocorre tam-bém na região amazônica do Peru, Colômbia e Equadore na região transandina destes dois últimos países piuao norte até Honduras.]

MÃE-DE-TAOCA -DE-CAUDA-BARRADA ",

[14,5cm] O macho é de garganta, sobrancelhas e listasna cauda brancas, a fêmea é castanha com a cauda riscadade negro. [Na alta Amazônia brasileira ao sul do Solimões,para leste até o Madeira. Também Peru e Bolívia.]

"

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FORMICARIlDAE 549

-

MÃE-DE-TAOCA -DE-CARA -BRANCA,

En

13,Scm.Aparentado ao gênero anterior, também apre-senta zona perioftálrnica nua, branca reluzente como quefosforescente; o macho topetudo, de pescoço fino, ne-gro, corri manto pardo-escuro. A fêmea parda de mandí-bula esbranquiçada. parecida com a de .Vive na mata alta de terra firme. Ocorre apenas entre osrios Tapajós (para o sul até o rio Teles Pires, Mato Gros-so) e Xingu (Pará). "Mãe-de-taoca-preta*".

MÃE-DE-TAOCA-PAPUDA *,

En

[lScm. Conhecido apenas para a margem direita doMadeira e região drenada por seus respectivos tributá-rios (Rondônia ênoroeste de Mato Grosso.]

MÃE-DA -TAOCA -ARLEQUIM*,

epschi En

[lScm. Assinalado apenas para a baixa porçãoda margem esquerda do Tapajós, sendo o represen-tante do gênero de menor área de distribuição. "Ar-lequim"] .

MÃE-DE-TAOCA-CRISTADA *,

[1Scm. Restrito ao noroeste extremo do Amazo-nas ("Cabeça-de-cachorro") e região colombiana ad-jacente. Sua distribuição acompanha a bacia de dre-nagem do rio Uaupés, afluente da mais' alta porçãodo rio Negro.]

MÃE-DE-TAOCA-CABEÇUDA ".

[15cm. Dentro desse gênero amazônico que se carac-teriza pela distribuição limitada de suas formas (todasalopátricas) este é o de maior área de ocorrência, ocu-

.. ,pando uma larga faixa que vai da vertente leste dos An-des colombiano e equatoriano até o norte extremo daBolívia. No Brasil nas margens ambas do Solimões atémargem esquerda do Madeira.]

PINTO-DO-MATO-CARIJÓ, to

14cm. Representante terrícola de aspecto peculiar,com o pescoço longo e fino, cabeçae bico grandes, asaslargas e fortes e corpo pesado; as pernas altas (bem me-nos que as de l contudo) e claras, cauda rudi-mentar. Colorido complicado, pàrtes superiores acasta-

nhadas, garganta extensamente negra ou avermelhada(fêmea), lados da cabeça com desenho branco, dorsonegro medianamente com branco oculto, asa negra combarras amarelas, cauda castanha, partes inferiores cin-zentas. "iü" (chamada) e forte ranger (advertência);seqüência fortemente ascendente de assobios estriden-tes (canto). Pula no solo, vira folhas e empoleira a poucaaltura. Vive na mata alta, aos casais. Ocorre da Nicará-gua ao norte de Mato Grosso (rio Teles Pires), leste doPará (Belém, rio Tocantins) e Maranhão. "Winá" (Kaiabi,Mato Grosso). "Formigueiro-ciscador*".

GUAR?A-FLORESTA,

Pr. 28, 8

llcm. De cauda relativamente curta, pernas altas eesbranquiçadas; a cabeça cor de ardósia, garganta negra(macho) ou branca (fêmea),às costas negras com áreaoculta e salpicos brancos, abdômen acanelado. for-te "bía", suave "bch-bch bch-bch" (advertência); seqüên-cia de assobios altos em curta ascendência depois des-cendendo, "dia dia dia diadíã.;" (canto). Pula no chãopara alimentar-se, sobe em brotos para olhar os arredo-res; às vezes ao lado decl te e tho(Mato Grosso). Vive na mata ribeirinha. Ocorre doSuriname e Venezuela à Bolívia, norte de Mato Grosso(alto Xingu) e Pará (rio Tocantins). As várias raças geo-gráficas são diferentes principalmente no colorido dasfêmeas (heteroginia, v. introdução).

fi'

~NDADINHO*, poecilinot

12cm. De retrizes atravessadas por uma série de nó-doas brancas, costas escamadas de alvinegro; a fêmeade dorso pardo uniforme, partes inferiores cinzentas (H.poecilinot ni rio Tapajós) ou de manto pardomanchado, lados da cabeça vivamente ferrugíneos (mar-gem esquerda do baixo Amazonas, Ama pá; H.poecilinopoecilinot ), ou ainda com outras variações, no altoAmazonas: "tschirrr" (advertência); seqüênciafortemente ascendente de dez finíssimos "ui" piados,os últimos mais alongados (canto), lembrando muitoa voz do cujubi, Pipi/e (Cracidae) ouvido à distância.Vive na mata de terra firme e mata ribeirinha adja-cente, ao lado de obo s leucoph s, nophilus

nicus (Mato Grosso). Ocorre das Guianas eVenezuela ao Mato Grosso (altos rios Xingu e Para-guai), Pará e Maranhão. .

GUARDA-VÁRZEA *,.

[llcm. Espécie incomum e local encontrada em re-giões diversas da Amazônia brasileira desde a fron-teira oeste ao sul do Solimões e Amazonas para lesteaté o Xingu, com ocorrências também para as drena-

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550. ORNITOLOGIA BRASILEIRA

gens dos rios Negro e Branco. Assinalado localmentepara Venezuela, Colômbia, Peru e Bolívia, além dedois recentes registros para a 'Guiana Francesa(Tostain et 1992).

MÃE-DE-TAOCA-DOURADA ". En

[16,5-17cm. Seguidor profissional de formigas-de-correição restrito as florestas de terra firme do interflúvioMadeira- Tapajós.]

MÃE-DE-TAOCA,

Pr. 29,3

17cm, 44g. Espécie semiterrícola de corpo pesado,cabeça e bico grandes, pescoço fino, asas grandes, tarsose dedos grossos e negros; providos de unhas fortes e afi-adas; porta um pouco de branco na base da asa. O ima-turo, de região perioftálmica nua e preta em vez de ver-melha. "iii", "chiarrr", nasal (alarme); estrofe curta

FAMíLIA FORMICARIIDAE

To VACA-CAMPAINHA,

20cm, peso médio 69g. Representante terrícola gran-de, de aparência galinácea; bastante .pemilongo, dedosrelativamente curtos, cauda de tamanho médio. As par-tes superiores pardo-oliváceas, píleo arruivado, riscapós-ocular branca muito vistosa, a cauda com uma fai-xa anteapical anegrada e ponta branca ou amarelada (quepode estar desgastada); as partes inferiores branco-ama-reladas, estria das de negro; as pernas esbranquiçadas ..

"dwüd" (advertência); seu canto é uma escala mu-sical notável, uma seqüência longa de assobios monó-tonos que pouco a pouco sobem em algumas sílabascoaxantes, "guá, guá, guá" ("risada").

Anda ziguezagueante, de corpo abaixado' epartesposteriores arrebitadas e ligeiramente oscilantes; anun-cia qualquer excitação pela agitação vertical da cauda;voa rápido e silenciosamente a baixa altura, empoleiraàs vezes para cantar. Ocorre da Guiana e Venezuela, se-guindo os Andes, até a Bolívia; no Paraguai, Argentina(Misiones) e Brasil merídio-oriental, do Rio Grande doSul à Bahia meridional, Minas Gerais (Serra do Caparaó)e Ceará (Serra do Baturité); no Espírito Santo e Rio deJaneiro geralmente restrito às montanhas. Pode ocorrerna mesma altitude ou não com C. "Tobaca"(Rio de Janeiro). v. C. ,

e - .

e descendente com os pios tornando-se sucessivamentemais longos e nasais; várias outras vozes. Pula no solo eatravés da ramaria mais baixa, balança a cauda paracima, pousa em brotos verticais; uma das espécies maisligadas às correições, tal como ,

e Ocorre da Colômbia e Ecuadorà Bolívia, Acre, Pará (alto rio Cururu, rio Tocantins,Belém) e Maranhão. Localmente comum. "Mãe-de-taoca-pintadas".

MÃE-DE~TAOCA-AVERMELHADA ".

[18,;5c;m.Espécie da região alta-amazônica que ocor-re no Brasil, em ambas asmargens do Solimões, paraleste até o rio Negro e,Madeira; especialmente e~ flo-restas de terra firme onde' é seguidor profissional deIormigas-de-correição. Assinalado da mesma formapara Venezuela, Colômbia, Equador, Peru e extremonorte da Bolívia.

[TOVACA-CANTADOR*,

En

19-19,5cm. Espécie recentemente desmernbrada, deC. que ocupa as altitudes médias da Serrado Mar entre o Espírito Santo e Santa Catarina (Willis1992). Parcialmente simpátrica com suas duascongêneres no sudeste do Brasil pode ser, mais facilmen-te, reconhecida através da sua vocalização que consistenuma longa série ascendente de notas terminalmenteisenta de coaxos, que caracterizam o final do canto daespécie anterior. Ocorre tambémnas montanhas do cen-tro-sul da Bahia (Gonzagaet . 1995).

TOVACA-ESTRIADA ". nobilis

[22,5cm] É encontrada no baixo Tapajós (Santarém),Purus, Juruá e Solimões (lado meridional) ao Peru eColômbia. [Esta local e incomum espécie é a única do gê-nero nas florestas de terra firme da planície-amazônica.]

..-,

TOVACA-DE-RABO-VERMELHO,

Fig. 209

20cm. Extremamente parecida a C. e C.(espécie críptica) mas com o píleo esverdeado

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FORMICARIIDAE 551

como as costas, supracaudais vivamente arruivadas,retrizes sem ou apenas com esboço de pontas brancas;as penas dos flancos com extensa zona central negra ecom sua parte branca formando vistosa faixa lateral.uma estrofe curta e ascendente, "rrrü" (apelo, advertên-cia); trinado mais, prolongado, sonoro e ascendente, dopadrão da chamada porém com as notas mais espaça-das (canto), que emite aprumando o corpo e insuflandoo pescoço. Distribuição altamente disjunta, da Venezuelaà Colômbia e também.no sul e sudeste do Brasil, do RioGrande do Sul a São Paulo e Rio de Janeiro; às vezes nomesmo local que C. es (p. ex. Itatiaia e Serra dosÓrgãos, Rio de Janeiro). "Capoeira-cachorra" Rio de Ja-neiro), "Tovaca-serrana*", [Willis (1992), devido a dife-renças no repertório vocal, defende a separabilidade daspopulações da Colômbia (C. e Venezuela (C.,

em relação a forma nominal do sudeste bra-sileiro, sob o nome de C. Navas & Bó (1995) re-latam a espécie para a Argentina (Misiones).]

GALINHA-DO-MATO,

Pr. 29, 2

17cm, 43,7g. Terrícola, anda bem ereto lembrandouma saracura; as pernas longas e pardas, plumagem es-cura confundindo-se com o ambiente sombrio da mata.Os sexos semelhantes tal como ocorre com e

Fig. 209.Tovaca-de-rabo-vermelho,cantando.

VOZ: "pit": bissilábico (lembrando um

pinto de galinha); trinado melodioso e horizontal (assi-naladono Espírito Santo) ou uma estrofe mais variada,um trêmulo em curta descendência e depois ascenden-te, nesta última parte lembrando a voz de

do Sudeste (assinalado no Pará); curto trêmu-lo ascendente "rrrüí".Anda de cauda levantada; freguêsocasional de correições. Ocorre das Guianas e Venezuelaao norte de Mato Grosso, Pará e Maranhão; também noBrasil Oriental, de Pernambuco e da Bahia ao Rio Gran-de do Sul. Pode ocorrer na mesma mata que F (Ma-ranhão). "Pinto-da-mato", "Winá" (Kaiabim, Mato Gros-so, "Pinto-da-ma,ta-coroado*".

PINTO~DA-MÂTA"DE-CARA-PRETA ".

17cm, muito semelhante ao anterior porém sem oboné tijolo, com uma nítida mancha branca no loro esubcaudais castanhas, o que dá na vista na ave viva.sonoro "prrri" (alarme); seqüência descendente e apres-sada de pios sonoros, o primeiro com forte acento, pre-cedida de uma nota diatônica,"ü-ú, ü, ü, ü, ü"; emite nocrepúsculo estrofes mais prolongadas (canto). Ocorre emtoda a Amazônia, para o sul até a Bolívia, norte de MatoGrosso, Pará (Belém) e Maranhão, setentrionalmente atéas Guianas e Venezuela.

[PINTO-DA-MATA-DE-FRONTE-RUIVA,

Am

, 19cm. Espécie de distribuição restrita, conhecidapara apenas cinco localidades do Departamentode-

Madre de Dias, sudeste do Peru (Kratter 1995). Re-cém registrada no Brasil, para a região do alto[uruá,perto de Taumaturgo, Acre em dezembro de 1995(A.Whittaker).]

TOVACUÇU, Pr. 29, 1

19,5crn, altura da ave de pé 20cm, 125g. Uma dasmaiores espécies, terrícola, de cabeça e olhos grandes,corpo relativamente pequeno, cauda rudimentar, per-nas longas, fortes e esbranquiçadas. estrofe baixa-profunda de aproximadamente dez "bu" em seqüênciaacelerada e crescente, do timbre de um corujão, que en-toa principalmentê no crepúsculo (dai o nome "mãe-da-noite"). Pula pelo solo em postura bem ereta e de caudalevantada, às vezes anda e corre, é cauteloso, o que difi-culta muito sua observação; foge em vôocurto.baixo eveloz; empoleira ao rés do chão durante longo tempo;dorme empoleirado. Habita a mata alta e sombria, sobas mais variadas condições climáticas; no Rio de Janei-ro, por exemplo, nas baixadas e nas partes mais altas daSerra do Mar. Ocorre das Guianas e Venezuela aos rios

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552 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

Madeira e Xingu (sul do Pará); também no Brasil orien-tal (de Pernambuco ao Rio Grande do Sul), Paraguai eArgentina (Misiones). "Galo-do-mato", "Tovaca","Tovacão", "Bo-bo-bó" (Rio de Janeiro), Pé-lavada" (Riode Janeiro). "Boca-da-noite" (Rio de Janeiro), "Tovacuçu-malhado*".

TOVACUÇU-CORUJINHA *,

[1&-16,5cm. Único representante montícola no Bra-sil deste gênero altamente diversificado (30 espécies),especialmente nos Andes. Assinalado no Brasil apenasem Roraima na Serra do Curupira na fronteira com aVenezuela (Phelps & Phelps 1948). Ao contrário demuitas congêneres de distribuição limitada (emboraestudos futuros venham a demonstrar que mais deuma espécie esteja envolvida) esta se distribui, alémdos Tepuís Venezuelanos, através das encostas dosAndes da Venezuela e Colômbia, para o sul até a Bo-lívia. Também na América Central para o norte até oMéxico.]

[TOVACUÇU-XODÓ*, eludens

19cm. Espécie privativa do sudoeste da Amazônia,conhecida para apenas três localidades do Peru. Recém-registrada no Brasil, para a região do alto [uruá, pertode Taumaturgo, Acre em maio de 1995 (A. Whittaker).Por razões geográficas é possível que o registro condici-onal de E. O. Willis para esta espécie, feito em 1966 paraa região de Benjamin Constant, margem norte doSolimões, Amazonas seja antes relacionado a G.dig espécie irmã (Willis 1987).]

[TOROM-DO-NORDESTE,

En

13,5cm. Endemismo da caatinga com registrospara o' Piauí, Ceará, Pernambuco, Bahia e norte deMinas Gerais. Forrageia no solo das formações semi-decíduas, tais como os brejos, caatinga arbórea e mata-de-cipó.] .'n"

. PINTO-DO-MATO,

12,5cm, 28g. De tamanho médio, extremamentepernilongo. As partes superiores uniformemente oli-váceas, as inferiores branco-amareladas salpicadas denegro. seqüência de 8 a 12 assobios suaves, sendo asegunda parte da estrofe ascendente com as últimas sÍ-labas retardadas (Rio de Janeiro).

Encontrado a pouca altura nos taquarais emaranha-dos, etc., na Serra do Mar; quando desconfiado ergue-se

em toda a sua altura sobre o poleiro e executa lentosmovimentos laterais com o corpo, em vaivéns em rela-ção a um eixo vertical. Vôo rápido e absolutamente si-lencioso. Ocorre de Minas Gerais, Rio de Janeiro (regi-ões serranas), São Paulo ao Rio Grande do Sul; tambémno Paraguai e Argentina (Misiones).É justo separar ge-nericamente e (morfologia,comportamento).[Independente de H. devi-do a diferenças relevantes na voz, hábitat e morfologia(Whitney et aI. 1995). "Torom-malhadot'"]

TOROM-CARIJÓ*,

[14cm. Sua distribuição cobre um vasto territóriona Amazônia brasileira estando igualmente registra-do para quase todos os países amazônicos (excetoEquàdor).]

1-

I',

TOROM-TOROM,

[14,5cm. Espécie sul-amazônica de distribuição res-trita as florestas de terra firme das drenagens do Madei-ra ao Xingu, especialmente aquelas localizadas na re-gião de seus formadores (Rondônia e Mato Grosso). Tam-bém no sudeste do Peru (comum) e Bolívia.]

TOVACA-PATINHO,

14cm. Representante amazônico terrícola. apa-rentado aos de pernas muito longas cau-

, da rudimentar. As partes superiores uniformementepardo-avermelhadas, as inferiores brancas com o pei-to estriado de oliváceo. curto trêmulo horizon-tal, "rrro" (advertência); seqüência horizontal (ouquase) de 5 a 10 assobios baixos, monótonos, semcrescer, de timbre parecido ao de (can-to); empoleira para cantar. Habita a mata alta; ocorredas Guianas e Venezuela ao rio Amazonas (Ama pá),no alto Amazonas meridionalmente até o rio [uruá e àmargem direita do Tapajós (Pará). "Patinho" (Amapá),"Torom-pa tinho*".

TOROM-DE-PEITO-PARDO*,

[16cm. Endemismo da região dos Tepuis Venezuela-nos. Assinalado no Brasil para Roraima no limítrofeCerro Uei-Tepui, . (Phelps & Phelps 1962) epara o estado do Amazonas, na região confinante do Picoda Neblina, .s (Phelps 1973). Uma outra raça,

.s. e, foi recentemente descrita da fronteira deRoraima com o Estado Bolívar, Venezuela no CerroUrutani (Dickerman & Phelps 1982).]

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FORMICARIIDAE 553

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Willis, E. O. 1984e. e . s. l. 2:165-70.( egopsis, seguidoresde formigas-de-correição)*

Page 55: Ornitologia Brasileira - Helmut Sick 2ed-03

554 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

Willis, E. O. 1985a. . Ceo. e .21:515-18. (seguidores de

formigas na África)Willis, E. O. 1985 .2:427-32. (seguidores de formigas-

de-correição)"

Willis, E. O. 1985c . .2:433-42. (seguidores de formigas-de-correição )*

Willis, E. O. 1985d. . ool. 2:443-48. (seguidores de formigas-

de-correição )*

Willis, E. O. 1987. Cong . oo/.Juiz de Fora: 153.

cf, eludens, Benjamin Constant,AM)*

Willis, E. O. 1988. . . 48:431-38. is,taxonômico)

WilIis, E. O. 1992. 94:110-16. , taxonornia)"

Willis, E. O. &Y.Oniki. 1981. li. 93:103-7. biologia)

Willis, E. O. & Y. Oniki. 1982. . 42:213-23. gleaira, hábitos) .

Willis, E. O. & Y. Oniki. 1988. . . . 48:635-37. cireprodução)

Willis, E. O. & L. F. Weinberg. 1990. 16:14. ( e e sic i,Pernarnbuco)"

Zimmer, J.T. 1931a. . . no.500. (taxonomia)

Zirnrner, J.T. 1931b. . s. . no.509. (taxonomia)

Zirnrner, J.T. 1932a. . . nO.523. (taxonomia)

Zimrner, J.T. 1932b. . s. no.524. (taxonornia)

Zirnrner, J. T. 1932c. . s. no.538. (taxonornia)

Zimmer, J.T. 1932d. . no.545. (taxonornia)

Zimrner, J.T. 1932e. . s. no.558. (taxonornia)

Zirnrner, J. T. 1932f. . . . nO.584. (taxonornia)

Zirnrner, J.T. 1933a. . s. nO.646. (taxonornia)

Zirnrner, J.T. 1933b. e s. nO.647. (taxonornia)

Zirnrner, J.'T. . . . nO.668. (taxonornia)

Zirnrner, J.T. 1934. . s. ..no.703. (taxonornia)

Zimrner, J. T. ~937. e . . . no. 917. (taxonornia)

Zirnrner, J.T:1944. e . s. . nO.1263. (taxonomía)

,.

Page 56: Ornitologia Brasileira - Helmut Sick 2ed-03

CONOPOPHAGIDAE 555

CHUPA-DENTES, CUSPIDORES: FAMÍLIA CONOPOPHAGIDAE (6)

Il-I-

As espécies do gênero em questão haviam sido, ori-ginalmente, consideradas como formicarideos; posteri-ormente foram separadas em uma família à parte(Conopophagidae), à qual se integrava igualmente

39. Tanto o conhecimento da bionomia como

achados morfológicos evidenciam que os chupa-dentesrealmente constituem grupo peculiar, justificando umafamília Conopophagidae, perto dos Grallarinae dentrodos Formicariidae. Chamamos a atenção que namorfo-logia e no comportamento dosCoti existem se-melhanças com os rinocriptídeos.

As pesquisas anatômicas e morfológicas que supor-tam a atual definição sistemática dos chupa-dentes, sebaseiam no estudo do crânio, do bico, do esterno, dasiringe e da pterilose. Sibleyet . (1988) restituíram afamília Conopophagidae, colocando-a numa super-fa-mília Formicarioidea. é único gênero destasuperfamília que desenvolveu penas sonoras na asa.

Quanto ao aspecto (pescoço e cauda curtos, pernas ededos longos) lembram há sobretudo se-melhança surpreendente entre o colorido do macho de

e a fêmea deOs são dotados de "sinalizador"

diferente, vistosa faixa pós-ocular que se expõe apenasquando o pássaro está excitado, surgindo como um tufobrilhante e realçando o contorno lateral da cabeça. Estecaráter externo, o mais distintivo do grupo (o tufo pós-auricular branco não existindo emC. está au-sente do restante dos Formicarioidea; tal dispositivo temum papel significativo na medida em que sua exibiçãodesperta muito a atenção na sombra, onde vivem oscuspidores.

Suachamada e advertência deram origem aos no-mes vulgares "chupa-dente" e "cuspidor". O canto deC. é uma estrofe límpida lembrando; a de

e (Sylviidae).O macho de C. tem rêmiges sonoras com as

quais produzem um alto zunido, outro caráter alheioaos forrnicarideos por excelência (Sick1965); começacom esta "música instrumental" de um minuto paraoutro, ao anoitecer, como se fosse uma máquina que al-

...

guém pusesse de repente para funcionar; voa então ra-pidamente através do seu território, às vezes em boaaltura, tornando-se uma das aves que mais marca suapresença no crepúsculo, enquanto que passa quase quedesapercebida durante o dia. Normalmente porém seuvôo é silencioso.

Permanecem pousados em galhos finos, a pouca al-tura Damata sombria.conservando-se imóveis por tem-po considerável, observando tranqüilamente os arre-dores, ao contrário da maioria dós papa-formigas quesão dotados de índole inquieta, Às vezes fazem um rá-pido movimento com as asas(C. voam ao solopara apanhar insetos, voltando depois ao seu poleiro.No solo às vezes pulam e fazem ensaio de esgravatar,lembrando remotamente os rinocriptídeos. São curiosos,aproximando-se espontaneamente do observador. Apro-veitam-se da presença de formigas-de-correição.

Fig.210.Asa do cuspidor A,macho,primárias externas modificadascomorêmigessonoras.B, fêmea,primárias não modificadas (seg.Sick1965).

Reunem uma alta pilha de folhas secas no solo .parasustentar seu ninho em forma de tigela, p. ex. entre osgravatás. Os dois ovos de são cre-me-pardacentos com uma extensa coroa de pintas cho-colate ou violáceas no pólo grosso. Os filhotes recém-saídos do ninhoàs vezes despertam a atenção por seusassobios incessantes(Con·

39 O gênero foi reunido ao nos Conopophagidae devido a certos caracteres anatômicos.Contudo assemelhanças entre ambos são mínimas. Com o desmembramento dos Conopophagidae,passou para os Tyrannidae(Ameset 1968). .

Page 57: Ornitologia Brasileira - Helmut Sick 2ed-03

ORNITOLOGIABRASILEIRA

CUSPIDOR-DE-MÁSCARA-PRETA,

En Pr. 29,4

llcm. Comum nas matas das baixadas litorâneas daencosta da Serra do Mar. O macho muito distinto pelocontraste do boné acastanhado com os lados da cabeçapretos. "xchit", "schist", "kssrr" (chamada); "psia"(advertência); seqüência prolongada de curtos assobioslímpidos do timbre dos do canário-do-reino, mas bemmais finos, formando uma estrofe ascendente edesapressada (canto). Vive na mata fechada a pouca al-tura do solo. Ocorre no Brasil oriental, da Paraíba a San-ta Catarina; também no ex-Estado da Guanabara; nasregiões serranas do Espírito Santo e Rio de Janeiro àsvezes ao lado da espécie descrita a seguir. "Chupa-den-te-de-máscara*".

CHUPA':bENTE,

llcm. Típica das regiões serranas, sobretudo as doBrasil oriental. Os sexos quase iguais, o macho de colo-rido semelhante ao da fêmea de C. não tendocontudo o desenho negro nas costas, maxila esbranqui-çada (e não preta); um tufo pós-ocular branco vistoso;na garganta posterior freqüentemente com uma nódoabranca. como voz emite um"tschic", "zjr", menos forte do que o da anterior; seqüên-cia de SaIO pios em uma estrofe terminalmente cres-cente, "iú-iú-iú-ui-ui-ui" (canto). Durante a época dereprodução, quando também canta, o macho produz, nocrepúsculo, um ruído forte, "brrro-brrro-brrro", com asprimárias apicalmente alarga das, o que é mais nítido nasegunda e terceira primárias externas; pode até modu-lar e prolongar este ruído de acordo com o trecho quetranspõe voando (p. ex. "rrrro-dch, dch, dch"); continuacom este zunido quase que pela noite adentro. Fora doacasalamento voa silenciosamente.

( é

Ames, P.L. & M.A. Hermerdinger &S. L. Warter. 1968. , eo . 114.(Conopoph , taxonornia)

Maurício, G.N. & R. A. Dias. 1994. os g . . o e74. (Conopoph novo limite sul no Rio Grande do Sul)'

Sick, H. 1965. . s. Cienc. 37:131-40.(Conopoph somproduzido pelas penas)

Vive àbeira da mata e mata secundária; em vegetaçãoespessa próximo ao solo. Ocorre do Ceará ao Rio Grandedo Sul, Goiás, leste de Mato Grosso, Paraguai e Argentina(Misiones). Em Itatiaia (Rio de Janeiro) alcança as brenhasde Chusque nos campos de altitude (2.400m) onde viveao lado do Localmente sim-pátrico com Inclui

"Limpa-dente", "Chupa-dente-marrom'".

CHUPA-DENTE-GRANDE*,

13cm. Grande, de cabeça e partes inferiores negrascomo a mandíbula, tufo pós-ocular branco. Ao sul doAmazonas,' do rio Tocantins ao baixo Tapajós (Pará), rioMadeira (Amazonas) e Bol~ívia.

CHUPA -DENTE-DE-CAPUZ*, eEn

ll,Scm. De cabeça, garganta e peito negros, tufo pós-ocular e abdômen brancos;. a fêmea sem negro. Ocorredo Tocantins ao Pará (Belém), Maranhão, Piauí e Ceará.

CHUPA-DENTE-DO-PERU*,

[ll,S-12cm. Espécie alta-amazônica incomum que noBrasil é conhecida apenas do alto Juruá e alto Purus.Também no Equador, Peru e Bolívia.]

..f

CHUPA-DENTE-DE-CINTA ".

[ll,5-12cm. Espécie amazônica de mais ampla distri-buição no gênero. No Brasil para leste até o Tocantins. Emtodos os países Amazônicos, exceto Bolívia e Venezuela.]

!

St:aube, F. C 1989;I !. 2:91-95. (Conopo g s,biologia)' .

Willis, E. O. 1985b. s. ool. 2:443-48. (seguidores de formigas-de-correição)*

Willis, E. O., Y.Oniki & w. R. Silva. 1983. t / S. Paulo 8:67-83.(Conopoph li t hábitos)' .

h'/

; ...

Page 58: Ornitologia Brasileira - Helmut Sick 2ed-03

FURNARlIDAE 557

JOÃO-DE-BARRO, JOÃO-TENENÉM e afins: FAMíLIA FURNARIlDAE (103)

Uma das maiores famílias exclusivamente neotropi-cais, vai do México à Terra do Fogo. Até o momentonão se. conhecem fósseis. Sobre sua reunião com osdendrocolaptídeos veja o respectivo item; osPhilydorinae seriam o grupo de transição.

Há muitos representantes na região campestre daAmérica do Sul meridional e nos Andes, em climasamenos ou frios. A influência patagônica-andina tomao Rio Grande do Sul o estado mais rico em Fumariidae(40 espécies). Estão entre os membros desta família al-guns dos pássaros mais populares deste país, P: ex., ojoão-de-barro. Aparentados à família seguinte, com aqual geralmente têm em comum a cor ferruginosa daplumagem, que se concentra principalmente na caudaeàs vezes em bãrras nas rêmiges, que são reveladas sóquando abrem as asas. Os sexos parecidos, macho maior,p. ex. em

O porte varia tanto tanto quanto na família poste-rior; a maior espécie brasileira lophotes,macho) chega a 90g, ao passo que a menor

atinge apenas 9,5g; temapenas 10,5g e 14g. Os representantes debom tamanho são com 49g eCinclodes

com 53g.A característica é a estrutura da cauda; não há, entre

os Furnariidae, uma cauda rígida usada geralmentecomo apoio em troncos (v.Dendrocolaptidae ePícidae),

podendo dizer-se que tal parte morfológica varia gran-demente no seio da família. Há espécies extremamenterabilongas como e repre-sentantes franzinos cujas retrizes centrais tomam doisterços do comprimento total; tais penas compridas edelicadas podem gastar-se tanto durante a nidificaçãoque freqüentemente quebram. Outro extremo éque possui as caudais reforçadas embora não as utilizepara apoiar-se (é espécieterrícola), razão pela qual foiconsiderado "precursor" dos Dendrocolaptidae; cer-to reforço nacauda(ponta saliente das retrizes,comoque uma fina agulha) ocorre também em e

[Os representantes do gênerose apoiar nos troncos, ao modo das subideiras, quandoestressados pela utilização de , especialmenteS. a. F. Pacheco, C. E. S. Carvalho).]

O número de retrizes de (mais de 20 espé-cies) varia entre 8 e 12; a mais externa é rudimentar;freqüente são 10 retrizes S. tem8.A variação do bico reflete seu respectivo uso. As man-díbulas relativamente finas, porém fortes, como as de

lembram os Formicariidae (aos quaiscfoi, inclusive, atribuído anteriormente) enquanto que

outras (p. ex. são como verdadei-ros formões com os quais martelam como os pica-paus;os bicos em forma de formão ocorrem também nosformicarídeos. Os dedos anteriores livres ou pouco uni-dos, ao contrário dos dendrocolaptídeos.

Vozgeralmente semelhanteà dos dendrocolaptídeos.O casalsolta seu canto, forte grito ou gargalhada, fre-qüentemente em conjunto, p. ex. . ,

, , ,t , , ,

e . possui uma téc-nica peculiar de vozear, emitindo duas estrofes diferen-tes quase ao mesmo tempo, sugerindo que não canta umindivíduo só, mas sim dois. Muitas espécies são maisativas, como os e os nas horas maisquentes e claras, ao contrário dos dendrocolaptídeos aoqual se aproxima por ser mais crepuscular emsuas vccalizações, tal corno , o qual tem cantomelodioso, o que lembra certos formicarídeos,

ou (Rhinocryptidae).Asvozes dos sexos são usualmente um pouco ou nitida-mente diferentes (v. Os de vidaterrícola, dificilmente vistos no interior da mata es-cura, são melhor localizados pelo seu canto notável;podem ocorrer três espécies vizinhas (Espírito Santo)ou até quatro (Rondônia, D. F. Stotz). Caem facilmen-te n~s redes.

As espécies campestres como gostam de can-tar voando, desta maneira visibilizando de longe a de-marcação de seu território. Nos o canto (umassobio curto, amiúde bissilábico, repetido incessante-mente em certas épocas) é importante auxílio na identi-ficação destes pássaros que dificilmente se mostram.

soma ao efeito sonoro um visual sur-preendente com o inflar da garganta, que provoca o apa-recimento da base negra das penas guturais, formandouma mancha negra transitória. As vozes dos Furnariidae

. são as dominantes em certas paisagens como,p. ex. ocanto de na caatinga.

Consiste, como os Dendrocolaptidae de insetos e suaslarvas, aranhas, opiliões e outros artrópodes, moluscos,etc. Nem sempre há uma técnica especializada na buscado alimento, seu modo de buscar comida lembra o degrandes trogloditídeos, .como .Heliobletus e outros fumarídeos arborícolas arrancampequenas epífitas para descobrirem a~imais ocultos, oque lembra a técnica dearapaçus como

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558' ORNITOLOGIA BRASILEIRA

os e batem, em suas pro-curas de comida, em madeira mole e grandes folhas se-cas caídas como as da tajá Araceae) daAmazônia, ou das embaúbas e presas na ramagem doarvoredo. São sobretudo os que se aproveitamdessas folhas secas suspensas. explora fo-lhas secas enroladas dos gravatás. Num censo feito naBolívia foram enumeradas 11 espécies (Furnariidae eFormicariidae) "especializadas" no uso dessas folhasmortas suspensas na galhada, abrigando um mundo deartrópodes; calculou-se que esses especialistas adquirem75% do seu alimento forrageando em folhas mortas(Remsen& Parker 1984).Alguns, comoe viram com o bico folhas e galhos caídos nosolo; revira o esterco do gado com os pés.

é único em sua adaptação à vida à beira decórregos, às-vezes pesca em água rasa, puxa objetosmaiores, até uma folha caída n'água, com o bico, pisan-do-a em seguida para examiná-Ia; não nada nem mer-gulha, tampouco Cinclodes,como faz o melro-aquático,Cinclus sp. (Cinclidae), o único Passe riforme que sub-merge à caça, do Hemisfério Norte e dos Andes.

aproveita-se das revoadas de cupim catan-do os insetos que brotam da superfície do cupinzeiro;

às vezes devora filhotes de passarinhos.Consta que na Argentina uma lophotesafu- .gentou uma galinha que estava chocando para bicar umovo que estava por eclodir. come ocasio-nalmente sementes; é tido comodisseminador da erva-de-passarinho; detritos vegetaisque aparecem em contéudos estomacais, p. ex. deCinclodes,devem advir de lagartas que lhes serviram derepasto. Todos os sete indivíduos decoletados por nós na Serra doCaparaó, Minas Gerais,em março de 1941, tinham no estômago drupas dacapororoca, sp., Myrsinaceae, portanto materialvegetal. Esse achado foi plenamente confirmado peloexame das fezes de sete indivíduos capturados em re-des no alto Itatiaia, Rio de Janeiro, todas contendo tam-bém essas sementes (Pineschi 1990). Mais exemplaresde foram vistos comendo esses frutinhos.Émuito curioso que um furnarídeo, família tipicamenteinsetívora, apanhe sistematicamente os frutos da

o que poderia ser, talvez, umsuplementô emtempos de carência de insetos, como no inverno. NoItatiaia foram registradas 140espécies de aves se alimen-tando dos frutos de sete espécies de (v. tambémtucanos). Os furnarídeos cospem pelotas contendoquitina Bebem água da chuva (p. ex.acumulada em buracos de árvores, como fazem tambémos Dendrocolaptidae e, oportunamente, outras aves.

e outros chamam a atençãopor abrirem, contra a luz, subitamente, a larga, caudaferrugínea-clara e outros, comoCinclodes, por balança-

rem-na para baixo: chega a sujar e rasparas pontas das retrizes contra o solo. ma-nifesta seu nervosismo com movimentos lateraisda cauda.

A capacidade de vôo varia, enquanto osde asa redonda e mole, levantam vôo apenas em últimorecurso, dirigindo-se, a pouca altura, para a brenha maispróxima, os vivem a maior parte do diaperambulando nas copas, voando a cada instante;

desloca-se em linha reta de umpenacho deburiti ao outro. As asas mais longas e fortes são as deCinclodes que empreendem notáveis migrações.

A faculdade.de locomover-se no solo também variasubstancialmente. Certos representantes como

e vivem predominantemente no chão,sendo que chega a correr como um maçarico;alguns surpreendem pela-súbita alteração da velocida-de que empreendem ao andar, correspondendo à mu-dança de marcha de um automóvel (p. ex.andam também em galhos grossos .

quase não empoleira; entre outros, nun-ca desce ao solo, sendo que este primeiro tem técnicapeculiar de escalar troncos verticais.

Banham-se em águas claras e rasas à sombra da mataou na poeira do campo sob os rigores do sol

. é ati-va ainda no crepúsculo, traindo-se pelos seus chama-dos e por seu canto forte, situação análoga à encontradaem

Fora da quadra reprodutiva, as espécies silvestrescomo e que vivem nosestratos mais altos da mata, unem-se a outros pássaros(p. ex. dendrocolaptídeos) para passear; há, em tais ban-dos, certa cooperação vantajosa como o entendimentorecíproco das vozes de alarme das diferentes espéciesque os compõem.

Censo de

A densidade de uma população defoi avaliada por um censo de números de ninhos,

visíveis de longe. Em 90km de estrada entre Curaçá e[uazeiro, Bahia, foram contados e estudados 262 ninhos,inclusive identifica das as árvores que serviram comosubstrato (Azevedo 1989).

Muito importante nos Furnariidaeé a forma do ni-nho, típica de cada gênero, permitindo conclusõestaxonômicas. Essas circunstâncias foram bem revistaspor Charles Vaurie (v. abaixo). Tornou-se patente que aconstrução do ninhoé um dos caracteres taxonômicosmais conservativos dessa família e assim serve bem paratirar conclusões filogenéticas. A evolução do nidificar.levou, nos Furnariidae, a uma série de modelos obtidosindependentemente por várias espécies; os diferentes

1

I

\

.,

II:

liI'

,1 f

Page 60: Ornitologia Brasileira - Helmut Sick 2ed-03

FURNARIIDAE 559

ninhos existentes não compõem, portanto, uma seqüên-

cia linear que começaria em tipos simples e terminariaem técnicas aperfeiçoadas. Nota-se sempre a tendência

A

de ocultarem a postura e as crias, assumindo os mais

variados métodos para tal. Tomando por base as espé-

cies brasileiras, chegamos à seguinte classificação:

B

1,.

1 ' ", ' , I

, " ", , I I

E1',

Fig. 211. Tipos de ninho de furnarídeos, esquema, grupo I: os ninhos são reduzidos ao mesmo tamanho.A, João-de-barro,Furnarius , ninho de barro, corte longitudinal (no meio) e transversal (à direita); quatro ninhos superpostos (àesquerda, Minas Gerais). B, João-de-pau, ninho pendurado de grave tos, construído na ponta deum galho; câmara atapetada de material macio, há esboço de uma antecâmara; à direita, mais distante, conjunto de meiadúzia de ninhos, mas usadoéapenas o ninho na extremidade inferior (Bahia). C, Marrequita-do-brejo,

, ninho de gravetos em forma de retorta, num arbusto (Espírito Santo), D, Cochicho, i, ninhode grave tos, posto firmemente sobre galhos (Rio de Janeiro). E,[oão-teneném, is spi i, ninho de gravetos,construído num cafeeiro; acima da câmara uma acrescência maciça (Espírito Santo). F, Casaca-de-couro;seudoseis

, grande ninho de grave tos sobre galhos. G,[oâo-botina, llodo e o , ninho de grave tos emforma de uma botina, pendurada, antecâmara bem elaborada (Rio de Janeiro). H, TIo-tio,llodo ticollis, ninhode gravetos em forma de retorta.rcâmara atapetada (Santa Catarina). Original, H. Sick.

Page 61: Ornitologia Brasileira - Helmut Sick 2ed-03

560. ORNITOLOGIA BRASILEIRA

1-Ninho em forma de fomo, confeccionado de bar-ro e com duas câmaras sendo a interna forrada:

e F leucopus.No gênero de ocorre notá-vel variação no instinto de nidificar. (A) os conhecidosfomos, feitos apenas porF eF leucopus,(B) a cons-trução de um ninho simples aberto, em lugar abrigado:F. e (C) a ocupação de ninhos de outrosfurnarídeos, inclusive F rufus e leucopus, e ninhos degravetos como os de F leucopus(fig. 211).

2 - Amontoado de galhos secos e duros com uma ouduas câmaras e entrada (às vezes duas) através de umtúnel que pode ser longo, tortuos,?, lateral, superior ouinferior; na câmara incubatória existe um colchão de ma-terial fofo ou flexível sobre o qual jazem os ovos:

e Pa-drão semelhante possui (fig. 211).

3 - Ninho ovóide, quase na vertical, sendo seu corpoconfeccionado de musgo bem macio encapsulado em uminvólucro de gravetos, 'entrada latero-sugerior:

(fig. 212).4 - Esferóide, de material macio e fino ("barba-de-

velho" etc.) com entrada lateral feita através de um tú-nel (que às vezes é alargado em uma segunda câmara)dentro da "bola": (fig. 212).

5 -Nínho ovalado, posto na vertical e feito de rriate-riais macios e largos, como folhas de piripiri, bem en-trelaçado; entrada látero-superior; construído emtaboais: e Quando en-xutas, as paredes do ninho de têm a consis-tência de cartolina, grande vantagem em vista da mobi-lidade do suporte, pois o ninhoé afixado a diversoscolmas de junco que balançam em todas as direções,ameaçando desmanchar uma construção menos sólida

(v. Tyrannidae, cujo ninho é afixado em um sócolmo) (fig. 212).

6 - Cestinha confeccionada de junco e capim, bemescondida no fundo mais entrelaçado de juncais; a ve-getação inclinada fornece um bom domo protetor de ma-neira que a construção parece ser quase esférica:

7 - Ninho em ocos de pau, quer escavados pelo pró-prio pássaro (em madeira mole) quer em buracos de pica-paus ou em cavidades naturais:

e provavelmente tam-bém Heliobletus.

8 - Ninho subterrâneo, escavado pelo próprio pássa-ro (fíg: 213).

8.1 - Galeria terminalmente alargada e com urna ti-gela, está forrada de pecíolos, formando um receptácu-lo às vezes bem entrelaçado/Ceosurc,Cinclodes,

, s,e Cinclodese o

nidificam ocasionalmente dentro das casas. Acha-mos provavelmente, entre epífitas (sudeste do Brasil).

8.2 - Ninho fechado, feito de folhas macias, largas ecompridas, com entrada lateral, sendo esta construçãocolocada dentro de um buraco na terra, no fim de umagaleria horizontal escavada pelo pássaro: i Aconfecção de um ninho globoso dentr-o de urna cavida-de nos parece um desperdício de energia; tal hábito su-geriria a herança de um antecessor que nidificava emcéu aberto.

9 - Ninho simples aberto, em lugar abrigado, comojá mencionado para Furnarius [igulus. V. também

, Os Furnariidae costumam dormir em seus ninhos du-rante o ano inteiro; corno dormitórios podem usar ni-nhos menos elaborados

Pig, 212. Tipos de ninho de furnarídeos, esquema, grupon. Rabo-vermelho, p ninho de materialmacio deitado sobre um galho grosso, entre epífitas (Rio de Janeiro). B,Rabo-de-palha,oe o e , ninho demusgo em várias camadas, num arbusto (Rio de Janeiro).C, Bate-bico, , ninho construído de materialmolhado, enrolado em hastes de taboa, endurecido como cartolina (Rio de Janeiro). Original, H. Sick.

. ,....,

;d i

1

Page 62: Ornitologia Brasileira - Helmut Sick 2ed-03

FURNARlIDAE 561

- A

- Fig.213.Tipos de ninho de furnarídeos, esquema,grupoIII.Ninhos subterrâneos, no fim de umagaleria (está encurtada no esquema).A, Pedreiro,Cinc/odes , os ovos são postos sobre algumaspalhas (SantaCatarina).João-porca, sne ninho esféricode material macio, acessoao lado, dentro de uma cavidade na terra (EspíritoSanto).Original,H. Sick.

Para fazer um ninho coberto como o fazeme o pás-

saro costuma confeccionar primeiro uma bolsa profun-da aberta superiormente para depois construir o teto;pega os galhos apenas com o bico e não com os dedos

. O uso de grave tos espinhosos(p. ex. o "esporão de galo", garantemaior firmeza do entrelaçado, aumentada ainda pelocomprimento longo dos grave tos que, muitas vezes,excedem o tamanho do construtor; além disso os espi-nhos protegem o ninho contra qualquer violação. Cer-tas saliências do conjunto podem ser interpretadas comoacessos falsos que disfarçam a entrada verdadeira; osninhos podem prover-se de dois acessos, tipo de cons-trução que pode por vezes salvar a vida do proprietá-rio, conforme vimos em e duas sa-ídas ocorrem também, p. ex. em e . A com-plexidade dos grandes amontoados de galhos de

engana quanto à parte que real-mente serve de moradia; por outro lado nem mesmo oaperfeiçoado "forno" de joão-de-barro confere-lhe pro-teção absoluta pois pode quebrar e, além disso, ser in-vadido P: ex. pelo anu-branco (que devora-lhe ovos efilhotes) e pela maria-preta (que contrabandeia seusovos). Pequenos danos porventura causados são ime-diatamente reparados

A fixação de um casal de hou em um certo território tem

como conseqüência o acúmulo de numerosos ninhosdistribuídos em várias partes de uma árvore, geralmen-te construídos sucessivamente pelo mesmo casal, nãosendo, portanto, colônias. Não obstante o casal proprie-tário tolera a presença de pássaros de outras espéciesque ocupem um de seus ninhos abandonados. Se acon-tece porém de duas espécies de Furnariidae, ambas cons-trutoras que empregam. grave tos, se instalarem na mes-ma árvore, acabam por brigar quando um furta osgrave tos do outro; vimos, assim, um saquearo ninho de um . As espécies que escavam

o solo apresentam-se, periodicamente com o bico incrus-trado de terra (p. ex. . Um ninho de

e é atendi-do às vezes por vários indivíduos.

Os ovos são de um branco puro, às vezes esverdeadosou azulados ou mesmo azuis ou azuis-esverdeados e ouverde-claros

O casal reveza-se nos cuidados com a prole; há es-forços em enganar inimigos para afastá-Ias do ninho;acontece de ús entrar em um ninho vizinho de-socupado para. desviar a atenção daquele que realmen-te usa. A incubação dura 16 a 17 dias no caso dorufus; 20 dias em F. (A. Studer). Embora os paisremovam sistematicamente as fezes dos filhotes, o ni-nho não permanece de todo limpo pois as evacuaçõessão meio líquidas. Os filhotes defendem-se no ninho aosibilarem como cobrastFumarius, , às vezes,'ligado a um movimento agressivo automático do bico,sem qualquer pontaria. Já com 14 dias os co-meçam a cantar um pouco à meia-voz, intercalando talcanto à gritaria que usam para solicitar comida: os fi-lhotes grandes traem, assim, de longe a posição do ni-nho (Fumarius, os ninhegos derufus abandonam o ninho com cerca de 23 dias, não vol-tando mais para dormir; são freqüentemente parasita-dos por larvas de berne-de-passarinho.

Ocorre o fenômeno de the nes o atendi-mento de um ninho por vários indivíduos da espécie,ajudando na criação dos filhotes. Isto, no caso de

, pode levar à conclusão erradaque exista uma colônia (Skutch 1987).

e são os principais hospedeirosdo Saci, (Cuculidae), embora sejamparasí-

tados igualmente oe , ce ons,P , P e P e . cellodo

, e são às vezes im-portunados pelo icteríneo bo ensisna Argentina lhe é, amiúde, hospedeiro.

Ocorre a associação do ninho decom um vespeiro. Como predador de ninhos

de forno consta o anu-branco.

O hábitat explorado por furnarídeos encerra quasetoda a gama de paisagens neotropicais; pode se definir,no Brasil, três tipos ecológicos principais onde vivem,a saber: .

1 - Matas e brenhas: povoam do solo à mais altaramaria conforme as espécies p. ex.e , o o/us,

Há endemismos interessan-tes como vários representantes da floresta atlântica, al-guns com área de distribuição reduzida, p. ex.

g , , e

Heliobletus e estão restrito àcaatinga; taquarais podem ser atrativos.e e

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562 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

tornou-se a ave mais típica dos pinheirais. Suaadaptação a um único vegetal, o pinheiro, é caso quaseúnico em aves do Brasil. Pode-se comparar com ofurnarídeo aparentado (v. embaixo)que, como ave andina, ocupou os cumes de serras co-bertas de uma taquara de origem andina.Outro caso de importante adaptação ecológica é de

e e e que vive exclusivamente em palmeiraisda Amazônia e sua periferia. Lembramos a provável co-evolução do beija-flor e e a plantaHe . habita a floresta amazô-nica com muitas espécies. Diversas formas vivem emcondições transitórias, entre a matá e o campo; alimen-tam-se no solo mas precisam de árvores ou arbustos paranidificar p. ex. e , , e

seudose2 - Campos desprovidos de vegetação mais alta:

Geos , Geob tese Cinclodes.Este grupo torna-se domi-nante no sul do continente e nos Andes. Enquadram-seaqui também dos campos de altitu-de do sudeste do Brasil; oe e Cinclodes pos-suem antecessores que pertenceram a uma antiga faunapatagônica, habitante de locais de clima ameno ou frio,de onde colonizaram os Andes e o Brasil oriento-meri-dional, o que ocorreu no período Pleistoceno ou pós-Pleistoceno quando, em conseqüência das progressivasglaciações antárticas, o clima temperado deslocou-serumo ao norte. A capacidade muito reduzida dessas avesde colonizar novas áreas, implica que os locais onde elasse encontram hoje isoladas, que são os lugares de maioraltitude, eram interligados. As imensas populações re-sidentes em altitudes mais baixas, ligando os pontos al-tos, foram eliminadas posterio!mente pelo clima que

esquentou e mudou o hábitat. Os remanescentes atuaisque atingiram os respectivos lugares há milhares de anoscomo pioneiros, podem ser considerados "reli tos gla-ciais". A distribuição deCinclodes p bsticoincide com aárea de clima mais frio do Brasil atual.É, portanto, sig-nificativo que uma das poucas aves montí-colas' deste país, seja de descendência andina. Em regiõescampestres do Brasil central vivem, p. ex., s[rontalis e S. escensem formações contíguas de insola-ção diversa, o que se dá igualmente tomFurnarius

/eucopuse gulus.3 - Pantanais (taboais, juncais): s,

hleoc es, Ce e onoic .A multiplicidade dos furnarídeos brasileiros é mais

notável quando ocorrem várias espécies do mesmo gê-nero em um único local p. ex., em uma única mata daSerra do Mar (sudeste do Brasil) podem encontrar-se três

n is (5. spi , 5. c e S. ens) uma aolado da outra ocupando nichos ecológicos diferentes. Emuma mata secundária do baixo Amazonas (rio Acará),

o torna-se uma das aves mais comuns

ao lado do dendrocolaptídeo o s spi(Novaes 1969). e e chi

e costumam ser abundantes em seus respectivoshábitats. Várias espécies adaptam-se bem às modifica-ções da paisagem pelo homem, como

cellod use u a imigração de iusno Espírito Santo (p. ex.) reflete a "caatingação" daque-las regiões.

As migrações, decorrentes do inverno austral, sãoóbvias em relação aCinclodes[uscus, ocorrendo tambémem outras formas, sobretudo nas populações mais me-ridionais (argentinas) de eoc es.

ento do ninho de[umarideoe p outnidic

Os ninhos de alguns furnarídeos têm um papel im-portante na vida" dos mais variados seres. Os ninhosabandonados de ll ons e sãoocupados freqüentemente poroloth use Ict

e ocasionalmente por ci , X. l, canários-da-terra e pardais; perto de

Resende, Rio de Janeiro, um ninho denu bius foi to-mado por pardais que aí instalaram uma colônia. Umaantecâmara espaçosa e perto da superfície do ninho de

torna-se atraente até para tico-ticos ou rolinhas t . Os ninhos sãoigualmente usados por lagartixas, pequenas cobras, rãse mesmo ratinhos silvestres, como o rato-de-palmató-ria, ie s na caatinga; supreendemos umrato-de-espinho, oech s sp.,dormindo, em um ni-nho de niol uulpin durante o <;lia(rio Xingu,

Mato Grosso), enquanto que um ninho recentementeconstruído de ch o c abrigava a mãe e a ninhada doratinho s (alto ltatiaia, Rio de Janeiro). Há deacrescentar-se ainda que às vezes vespas sociais implan-tam-se em ninhos de cell us.

Caso especial é a rica fauna de artrópodes que seaproveita de ninhos ("fauna nidícola"). Em Minas Ge-rais e Pernambuco ninhos de ellodo s ns e

nu nnu i podem abrigar, cada um, duas deze-nas de artrópodes diferentes, principalmente hexápodes.Assinalam-se assim pequenos besouros, percevejos,moscàs sarcofagídeas, baratas-do-mato.i acarinos, ara-nhas, pseudo-escorpiões, miriápodes, etc., em uma po-pulação de às vezes centenas de "hóspedes" por ninho;os besouros, dentre outros, são coprófagos, podendosubsistir inclusive em ninhos vazios. Alguns desteshós-pedes porém, dependem da presença das aves, sobretu-do os percevejos olestes eodese est tius (Triatominae)" muito semelhantes aos barbeiros,vetores da doença de Chagas; podem ser experimental-mente infectados pelo n c .

40 Na Venezuela foi encontrada uma terceira espécie( lestes i) em ninhos de h l i ns.

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FURNARIIDAE 563

- Em quase todos os ninhos de joão-de-pau, pesqui-sados porJ. C. de Melo Carvalho, em Goiás e Sergipe,foram encontrados P. ocasionalmente dez oumais indivíduos por ninho; todo o ciclo evolutivo des-tes hemípteros é feito no ninho destes pássaros, en-contrando-se desde larvas a imagos; na ocasião emque os reproduzem, os percevejos far-tam-se de seu sangue. Foi encontrado em ninho de

sp. no Uruguai delpontei, bar-beiro infectado naturalmente pore também vetor da doença de Cha-gas, em ninhos de lophotes. Os carrapa-tos e pulgas, igualmente hernatófagos, precisamigualmente da presença dos pássaros, sobretudo deninhegos implumes. O mesmo vale para o percevejoCaminicimex[urnarii (Cimicidae) que habita os fornosdo joão-de-barro no Uruguai e Argentina, não tendosido, ainda, encontrado no Brasil (v. também sobHirundinidae e Ciconiidae). É possível que a faunanidícola torne-se outra quando o ninho é ocupado poroutra espécie de ave, p. ex., se um pardal instala-seem um ninho de joão-de-barro.

Para estes inquilinos é patente a vantagem do acrés-cimo periódico de novos ninhos aos velhos, o que ga-rante a continuidade de moradia, o que se dá tambémcom a caturrita; isto não procede em construções frá-geis como as bolsas de guax~ (Icterinae). Os artrópodesatingem os ninhos em parte graças aos gravetoscarreados pelos construtores. Para alguns, como aranhasarborícolas, tais construções são simplesmente extensõesde seu hábitat natural na ramaria. Os numerosos perce-vejos p.entatomídeos encontrados nas habitações de

(Uruguai) devem ser sobretudo, predadoresde outros insetos.

de

No Rio Grande do Sul foram registra dos nas redeselétricas rurais muitos acidentes provocados pela insta-lação de ninhos.do cochicho, (Tessmer1989).A freqüente utilização de arames e outros objetos metá-licos pelo pássaro construtor aumenta o perigo de ocor-rência de curto-circuitos e até incêndios. As medidaspreventivas a adotar são a retirada e queima dos ninhos(para o pássaro não logo reutilizar o material) e passaruma graxa nos postes; os donos do ninho são salvos daeletrocutação. Perigo podem tornar-se também os ninhosdo joão-de-barro e os da caturrita

.

dos

Recomenda-se uma subdivisão em subfamílias.Ado-ta mos a proposição de Vaurie(1971), de estabelecer trêssubfamílias; Furnariinae, Synallaxinae e Philydorinae.

A revisão de Vaurie(1980) resultou na redução donúmero de gêneros; assim incluíram-se e

em em ,em e

em Desta maneira os gênerosmantidos tornaram-se grandes, dificultando a orienta-ção, desaparecendo muitos nomes genéricos conhecidos.Seguimos, em parte, a nomenclatura de Meyer deSchauensee(1970).'Recomenda-se um melhor registrode pormenores bionôrnicos, como' o tipo de ninho e avocalização, para esclarecer certas dúvidas sobre o pa-rentesco". .

O grupo é tão complexo eas semelhanças de muitosrepresentantes são tão grandes que uma "sinopse" podedar apenas uma orientação muito superficial.É útil parao observador de campo incluir o aspecto ecológico.

1-Aparência de joão-de-barro, em geral de cauda re-lativamente curta, quase sempre com barras ferrugíneasou anegradas nas asas, campestres:Furnarius (F leuccpusàs vezes penetra na mata), Cinclodes e

sendo esta última topetuda, estriada e sembarras nas asas; Cinclodes e estão res-tritas ao extremo sul do país sendo que a primeira e a úl-tima lembram muito as calhandras e oschascos-do-monte da Europa.

2 - Do tipo do joão-teneném,rabílongos, garganta àsvezes com desenho contrastante e resto das partes infe-riores geralmente sem manchas:

2..1 -. Habitualmente a pouca altura:e enes. Incluí-

amos aqui também o montícolaas paludícolas , d~

caatmga; podem lembrar pequenos Tyrannidae decauda comprida como , v. também

e (Rhinocryptidae).2.2 - Geralmente em árvores na mata, alguns comdesenho nas partes inferiores: (4 espéciesmais conhecidas) e estas restritas aosul. L. ocorre exclusivamente junto com o pi-nheiro-do-Paraná.2.3 - Em árvores isoladas no campo cuidando de seusninhos: P. e(este com ponta da cauda branca).3 - A.specto de um sabiá, com um vistoso topete:

na caatinga e paisagens correspondentes,como o parque Espinilho.

d '.1 A grande mon?grafia sobre os Furnariidae de Charles Vaurie(1980), publicada o (Vauriefaleceu em1975) é obrae ~~stematade gabmet:. Constam dados sobre anidificação, recebidos de colegas do neotrópico ou retirados da literatura. Não

acei amos, p. ex.,inclusão de em e a eliminação de vários gêneros resultado de est dteé dobscurecendo nítidas diferenças entre as aves vivas. . u os eoncos e museu,

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564. ORNITOLOGIA BRASILEIRA

4 - Representantes pequenos de cauda e asas ferrugí-neas, rigorosamente paludícolas e, no Brasil, restrito aosul: e e nis.

5 - Representantes pequenos ou médios de partes in-feriores uniformes:

5.1 - Em árvores na mata a altura média e por vezesalto: , e

sendo os dois últimos de bico "virado",é restrito à caatinga.

5.2 - Em brenhas na mata, a altura média ou mais abai-xo: e v. tam-bém .

SUBFAMíUA FURNARIINAE

.ANDAR~LHÓ, Pr. 27, 1

12cm. Ave terrícola e campestre do Brasil central, deasas e cauda curtas, lembra uma "calhandra"Alaudidae) da Europa, ou um "caminheiro"Asa e cauda de um vistoso ferrugíneo-claro que se des-taca em vôo, sobretudo se o pássaro yoa cantando, pai-rando e voando onduladamente como que uma grandeborboleta. "pit-pit" (chamado); estrofe monótona,prolongada, de assobios apressados "zlirpe ..." (canto).Ninho subterrâneo; anda e corre como um maçarico; deporte ereto, balança a cauda para baixo com a ponta dascaudais quase que tocando o solo ("Abana-cauda", Mi-nas Gerais). Vive nas campinas ralas, áreas comgramíneas esparsas entre arbustos e árvores do cerrado.Restrito a Bahia, Goiás, Mato Grosso, São Paulo e MinasGerais; pode ser incluído nogênero que possuimais de dez espécies nos pampas e Andes. [Antes consi-derado endêmico do Brasil, foi recentemente encontradona Bolívia (Bateset . 1992).] "Bate-bunda" (Goiás).

CURRIQUEIRO,

15cm. Semelhante ao anterior, peito nitidamente man-chado de pardo-escuro, secundárias extensamenteferrugíneo-pãlídas (vôo!), cauda parda, base dos ladosdas retrizes branca. "truit" (chamado); estrofe trê-mula" bübü ... trrri-bübü ..."ligeir~men,t~,9nd~lante lem-brando um pouco o canto de emitido en-quanto voa de corpo ereto e penas arrepiadas. Cava ga-leria horizontal prolongada no solo, (daí o nome inglês

= mineiro), forra a câmara incubadora com palhae folhagem. Habita o campo aberto sem vegetação alta,campinas, beira de estrada, taludes, atravessa banhados;região anteduna, alimentando-se em lagoinhas na zonada rebentação do mar, lembrando então um maçarico

s). Pousa no solo evitando estacas; no comporta-Omento lembra os "chascos-do-monte" do Ve-lho Mundo. Ocorre na América do Sul meridional, tam-bém na Terra do Fogo e lugares altos nos Andes (Bolívia ePeru), até o Uruguai, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

5.3 - No solo da mata: c/e .6 - Representantes médios ou pequenos de partes in-

feriores nitidamente manchadas: .6.1 - Em brenhas dentro da mata: e

.6.2 - Na ramaria, dentro da mata, em alturas grandesou médias: g es, Heliobletuse

, não incluindo X. v. item 5.1) estesde bico "virado".6.3 - Em buritizais: e eps no Brasil central eAmazônia:6.4 - À beira de córregos na mata:o

PEDREIRO, En Fig. 214

22cm, 53g. Um dos maiores furnarídeos; terrícola,pode lembrar um sabiá-do-campo s) ou um joão-de-barro, ambos às vezes seus vizinhos. De postura bemereta, de pernas fortes e cauda longa; plumagem cor deterra, faixa supra-ocular e partes inferiores branco-ama-reladas; asas com intrincado desenho destacando-se, dofundo pardo anegrado, uma larga faixa amarelada cla-ra, pontas das retrizes' externas brancas. assobioforte, descendente e bissilábico "tzio","giã" (advertên-cia); "züzrrrrrrr ..." crescente e depois decrescente lem-brando a voz de ius, que emite pousado, às vezesde asas levantadas, ou voando (canto). Nidifica (novem-bro, Santa Catarina; setembro, novembro, Rio Grandedo Sul) e pernoita em galerias escavadas em barrancose às vezes no forro escuro de casas; os ovos são postosem um colchão de capim, penas e barbante. Campo, nasfazendas perto das casas. Menos ligado à presençad'água que outrosCinc/odes.Anda e corre pelo chão,pousa sobre estacas, cercas de pedra e pedras. Voa mui-to bem, mas, ao contrário deC. , não migra; suagrande asa tem forma mais redonda. Planalto do nor-deste do Rio Grande do Sul e sudeste de Santa Catarina,

.'}

!

l'

Pig. 214.Pedreiro,Cinc/odes bsti. : .

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~------------------------------------------------------------------------

acima de 750m onde é residente. Descrito apenas em 1969§ um dos dois representantes nacionais de um gênero

_ largamente distribuído na Patagônia e nos Andes; v. aespécie abaixo, com a qual não nos consta que se encon-tre, vivendo C. constantemente no Planalto."Terezinha" (Rio Grande do Sul), "Pedreirinho" (SantaCatarina), "João-pedreiro"".,-, .

PEDREIRO-DO$-ANDES, Cinclodes VS

I18,5cm. Apenas como visitante, semelhante ao ante-

- rior, de cauda mais curta, garganta branca manchada depardo e com duas faixas amarelas sobre a asa; em praiasribeirinhas, de estuários e de lagunas, também à beira-mar onde procura insetos entre o detrito deixado pelamaré, biótopo raras vezes explorado por umPasseriforme. Rio Grande do Sul (Rio Grande, Pelotas,Osório, Taquara, de julho a setembro) procedente daArgentina ondeêlargamente distribuído; ocorre tam-bém nos Andes setentrionais (p. ex. na Colômbia) atéaos 4.000m, reproduz-se no Peru, acima de 2.000m."[cão-cinza?".

JOÃO-DE-BARRO, Furnarius Pr. 27, 2

19cm. Um dos pássaros mais populares no Brasilmerídio-oriental; de asa aberta surge uma faixa amare-lada na base das rêmiges. Os sexos são muito parecidos,no entanto, a fêmea pode ser identificada, pelo hábitode ocupar à noite, sozinha, o ninho com ovos e filhotes.

estridente "kí-kí-kí..." (canto); "krip" (chamada) emseqüências rítmicas mais prolongadas como que um can-to festivo, crescente e descendente; o casal sincroniza umdueto (as estrofes do macho e fêmea são um pouco dife-rentes em altura e ritmo) cantando sobre ou ao lado doninho de cabeça levantada, bico largamente aberto e sa-cudindo as asas meio descaídas e tremendo o corpo todo,mostrando a maior vivacidade.

do ninho, e faz seu ninho em forma-to de forno (fig. 211A), (daí que deu nome aogrupo, Furnariidae) um a cada ano embora às vezes re-forme um velho: Como material usa barro úmido e umpouco dê esterco misturado à palha; em regiões areno-sas usam mais esterco que terra; a quantidade de palhaempregada varia sendo apanhada ativamente pelo cons-trutor e não fazendo parte do esterco; pode utilizar-sede argamassa porventura disponível". Escolhe um lo-cal bem aberto para instalar-se, p. ex. árvores isoladas,postes telegráficos etc.; quando falta um substrato altoconstrói sobre o solo,P: ex., sobreà terra oriunda daescavação de um canal (Espírito Santo). O casal traba-lha em conjunto, cada um assenta o material que trouxe

não transferindo ao parceiro; as irregularidades do su-porte (p. ex. fendas) são rebocadas. A técnica de traba-lhar o barro deve ser tal que o material depois deesturricado pelo sol, deve ter a consistência de um adobe;a grossura da parede é de três a quatro centímetros sen-do mais espessa em ninhos do sul do país; na últimaetapa da construção é erigida a meia parede que delimi-ta a espaçosa câmara incubadora, separando-a de umestreito' vestíbulo, o que dificulta a entrada de correntesde ar e de predadores. O aposento interior adquire as-sim, a forma de uma concha.

Quinze a dezesseis dias após começados os traba-lhos a casa pode estar praticamente pronta só faltandoos retoques finais; ao cabo de dezoito dias o ninho estápronto e três dias depois do amassamento do barro ter-minar o casal começa a preparar e forrar a câmara incu-badora.

O trabalho rende mais quando a chuva é fina e contí-nua fornecendo material abundante e sem desmoronaro que já foi edificado, quando-as chuvas escasseiam aconstrução pode perdurar por um mês. A lama úmidaestimula o instinto construtor do joão-de-barro que iráentão construir durante o ano todo; o casal pode traba-lhar em diversos ninhos ao mesmo tempo. A durabili-dade do ninho não é muito grande, em poucos meses asparedes tornam-se moles e quebradiças, havendo tam-bém muita destruição violenta através de ventos, ho-mens e gado. Pode mesmo chegar ao ponto de um casalnão ter à disposição um "forno" em bom estado para.nele procriar embora possa passar-se o inverso, ou seja,terem dois ninhos aproveitáveis à disposição.

A antecâmara volta-se para a direita ou para a es-querda conforme seja o acesso mais cômodo para che-gar-se ao ninho voando; de um total de 400 "fornos"examinados por Hermann 1956/7 na Argentina os quetinham entrada do lado direito não chegavam a perfa-zer 60%; influem também as condições meteorológicas(microclima do ninho) pois a ave costuma dirigir a aber-'tura em direção contráriaà dos ventos e chuvas domi-nantes embora não haja nisto, em absoluto, uma regra;encontram-se, p. ex., ninhos sobrepostos ou ninhos namesma árvore com entradas em sentido contrário sen-do possivelmente construídos pelo mesmo casal no de-correr de um certo tempo; de 315 ninhos estudados naArgentina e que estavam expostos por todos os lados,249 (?9%) tinham a entrada em direção opostaàdas prin-

"<cipais chuvas e ventos frios (no caso sul e sudoeste). Asobreposição de vários ninhos pode chegar a seis e atéonze unidades, todas com entrada para o mesmo lado(Minas Gerais) o peso médio de um ninho seco é de 4,lkgenquanto que o pássaro atinge apenas 49g. A colocação

. do ninho sobre lâmpadas de iluminação pública podeatrapalhar o automatismo da iluminação. Nu~, censo

,.,

42 O galo-da-serra, trabalha também combarro. Lembramos,outrossim, de certas aves marinhas, comoa andorinha-do-mar, que cimenta seu ninho comguano.

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566 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

da Companhia de Energia Elétrica, Rio Grande do SuLfeito em dezembro de 1987 constaram 580 casos de ni-nhos de joão-de-barro em estruturas da energia elétrica,resultando em 265 riscos de descarga (v. também

, Tessmer 1989).Põe de 3 a 4 ovos a partir de setembro; torna-se hos-

pedeiro da maria-preta. Os ninhos abandonados são usa-dos por canários-da-terra, andorinhas

tuins e pardais e oca-sionalmente por e e ,

c osus e chopi dentre outros; taisinquilinos fazem seu próprio acolchoamento (exceto

Há casos em que os invasores, p. ex. casais detuins, enxotam do ninho seus proprietários. O anu-bran-co, o gavião-carijó e a águia-chilena conseguem às ve-zes saqueá-lo. Abelhas podem fechar um ninho de

com cera preta, construindo um tubo para suaentrada.Dis Campo, abundante nas fazendas sulinas,parques e até nas cidades procurando mesmo a vizi-nhança humana; atravessa pátios e ruas andando e cor-rendo. Ocorre da Argentina à Bolívia, Paraguai, noroes-te da Bahia e sul do Piauí. Há ou havia grandes lacunasnesta área de distribuição; não existia, p. ex., perto deSão Paulo (capital) no começo do século passado (1818-1823)nem em Campinas (só apareceu porvolta de 1900),colonizou a região de Blumenau (Santa Catarina) ape-nas na década de 50 vindo do litoral; já teria imigradopara as chapadas catarinenses anteriormente; tampoucoexistia no Vale do Paraíba ou no Rio de Janeiro. A causadesta impetuosa expansão recente foi o desmatamentoimpiedoso do Brasil oriental, que permitiu a invasão deelementos campestres do Centro-oeste. [Começa a inva-dir o sudeste do Pará, p. ex. Santana do Araguaia, 1992(P.S. M. Fonseca)]

olc Os rivais às vezes agridem-se chegando a seagarrarem ao ponto de caírem ao solo, o que deu ori-gem a lendas antropomórficas; uma das mais famosasseria a história. da punição da fêmea infiel (que o machoemparedaria viva no ninho), ocorrendo mesmo ninhos"lacrados", p. ex. dois encontrados no Vale do[equitinhonha, Minas Gerais, em 1970 e 1974; em umdeles foram achados os esqueletos de dois filhotes (G. T.Mat,t'?s).Dizem que seriam "católicos" (não trabalhariamaos domingos); reza a tradição que foi o joão-de-barroque ensinou aos índios Caxinauá a arte de fazer pane-las. Na Argentina o é a ave nacional e o perió-dico científico da "Associación Ornitologica dél Plata"recebeu seu nome. "Barreiro" (Rio Grande do Sul)"Forneiro". V. as três seguintes.

CASACA-DE-COURO-AMARELO,

leucopus

17cm. Pouco menor que o anterior e de colorido maissemelhante a g as partes superiores canela bem

claro, boné e faixa pós-ocular fuligem, sobrancelha bran-ca, pernas esbranquiçadas. seqüência de "bj. bj, bj..."crescendo, relativamente suave, diferente dos outros

o casal dueta. Faz um ninho de forno seme-lhante àquele de , emprega boa quantidade deestrume e existem outras diferenças ligeiras em compa-ração com a construção de (G. T. Mattos, MinasGerais); ocupa ninhos abandonados deste, de

e (Minas Gerais) e de eudoseisu(Bahia). Hábitat semelhante ao do anteriorporém maisumbrófilo (capões, mata ribeirinha). Ocorre das Gui-anas e Venezuela.através de áreas campestres até aBolívia, Mato Grosso, Goiás e Nordeste do Brasil; en-contra-se, às vezes, na mesma região. com us

e gulus (p. ex. em Minas Gerais e Bahia) mastem exigênciasecológicas diferentes. "João-de-barro","Amassa-barro>". ~

UOÃO-DE-BICO-PÁLIDO, s

18,5cm. En demismo das ilhas fluviais pioneirasda Alta Amazônia, com ocorrências para o Peru,Equador, Colômbia (Letícia) e Brasil, alto Solirnões(São Paulo de Olivença). Tem sido por equívococonsiderado raça de . leucopus (Sibley & Monroe1990).]

CASACA-DE-COURO-DA-LAMA, Furnarius figulusEn

16cm. Espécie ribeirinha semelhante leucopus sen-do, porém, menor e tendo as partes superiores canela-ferrugíneas-escuras, as coberteiras superiores das pri-márias ferrugíneas (e não pretas como as deleucopusi,as retrizes com uma nódoa negra ao lado da ponta; per-nas relativamente escuras, pardas ou cinzentas."tchibit", "tchãb" bem típico; seqüência forte "tjük, tjík,tjík, tjík" (canto); grito forte "quíã, quíã ..." Parece quenão constrói um forno. Faz um ninho simples aberto decapim etc. em lugar bem abrigado, como debaixo de te-lha? ou escondido no meio de gravatás epífiticos(Alagoas, A. Studer) ou entre as bases das grandes fo-lhas eretas de palmeiras como o babaçu g . Hou-ve muita confusão com a nidificação dessa espécieufrlavez que vários autores atribuíram os fornos, ocupadospor F figulus, a este mesmo, não investigando a autoriada construção. A. Ruschi viu um gulus (recentemen-te imigrado no Espírito Santo) defender um ninho deforno, ocupado por ele, contra um tuim s). Já osimples fato que em certas regiões (como notamos nadivisa Pernambuco-Paraíba)Ffigulus é comum, mas nãose vê ninhos de barro, leva a conclusão de quenão constroem fornos.F [igulus habita as margensensolaradas de brejos, rios, cacimbas e ilhas; anda sobrea lama e pula de um colmo ao outro. Ocorre do Nor-deste a Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais (Pirapora),

"

I-

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FURNARIIDAE 567

Espírito Santo e Pará (ambas as margens do baixoAmazonas). As indicações sobre o Espírito Santo,Minas Gerais e Rio de Janeiro, são recentes podendoadvir de uma vanguarda colonizadora que pode dis-sipar-se parcialmente após algum tempo."[oão-nor-destino?".

SUBFAMíUA SYNALLAXINAE

JUNQUEIRO-DE-BICO-CURVO,

17cm. Espécie meridional paludícola de bico longo,curvo e claro; plumagem parda, sobrancelha e partes in-feriores brancas, cauda relativamente curta. Vive emjuncais e taboais. Ocorre da Argentina e Uruguai ao RioGrande doSül. V a seguinte.

I~I

JUNQUEIRO-DE-BICO-RETO,

16,3cm. Representante austral de bico longo, fino, ne-gro e quase reto, aocontrário da espécie anterior, à qualse assemelha. A cauda é longa e avermelhada.(chamado); "tzrrrrrr-zi-zi ...", "psi, psi, psi ... (can-to). Constrói ninho ovalado verticalmente disposto e comentrada lateral usando folhas de caraguatá

ou gravetos. Paludícola, freqüenta brejos coma supracitada bromeliácea. Ocorre do Uruguai ao RioGrande do Sul, Santa Catarina e nordeste da Argentina.Anteriormente colocado no gênero"Barreiro-do-brejo".

BATE-BICO,

13,5cm. Outro furnarídeo paludícola meridional; aspartes superiores pardas nitidamente estriadas de ne-gro, asas 'com faixas avermelhadas visíveis em vôo."tzla", "tzãg" lembra uma perereca; seqüência prolon-gada, monótona, de ... como o barulho do ventono taboal ou juncal. Seu ninho, cuidadosamente atadoaos estipes aquáticos da taboa, é uma bola alongada ebem acabada com pequena entrada látero-posterior; omaterial (folhas frescas e úmidas de, ,p. ex. piripiri,

bem entrelaçadas) é rebocadocom lama obtendo, após secar, a resistência da cartolinae perdendo a cor verde que possui quando fresco (v. figo212C). Ocorre do Rio de Janeiro ao Rio Grande do Sul,Uruguai; Argentina, Chile, Paraguai e Bolívia. Encontra-do no Grande do Sul ao lado dee (Tyrannidae).

GRIMPEIRO, Fig. 215

18,5cm. Inteiramente ligado à ocorrência do pinhei-ro-do-paraná, . Extremamente

. JOÃOZINHO*,

14,5cm. Localmente naAmazônia. Semelhante ao an-terior, mas nitidamente menor e de retrizes sem nódoasnegras. Ocorre na Colômbia, Peru e ao sul do Amazo-nas, oriental mente até o rio Tapajós (Óbidos, Santarém).

rabilongo, de cauda fortemente graduada com as duasretrizes centrais tornando dois terços do comprimentototal. Topetudoe vivamente colorido com o alto da ca-beça-negro com riscas brancas,' dorso castanho unifor-me e garganta branca manchada de negro. estrofefiníssima, descendente e com a parte terminal acelera-da, lembrando o canto de que é àsvezes seu vizinho. Constrói um amontoado de materiaisflexíveis entre os .galhos e grimpas dos pinheiros dosquais freqüenta as copas explorando-as nas posiçõesmais variadas; também pula sobre os galhos grossos.Em toda a área da ocorre do Rio de Janeiro(Itatiaia) e São Paulo (Campos do Jordão, Serra daBocaina), ao Paraná (até em pinheiros isolados em quin-tais em Curitiba), Santa Catarina, Rio Grande do Sul eArgentina (Misiones). "Grinfeirinho" (referindo-se aogrinfar de sua voz).

Fig. 215. Grimpeiro,

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568 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

A presença da espécie em alguns pinheiros planta-dos (p. ex. sítio Peroba, 900m, Rio Grande de Cima, NovaFriburgo, RJ) chama a atenção para que ali existira umpinheiral. No Rio Grande do Sul dizem: "Onde não tempinheiro, não tem grimpeiro" (F. Silva) (grimpa=ramode pinheiro). V. a espécie abaixo, que às vezes é suavizinha no Rio Grande do Sul. O gêneroé mais largamente distribuído no sul do continente enos Andes.

GRIMPEIRlNHO, En

13,3cm, 10,5g. Um dos menores furnarídeos; menostopetudo que o anterior, com todas as partes superio-res pardo-sujas com estrias esbranquiçadas. niti-damente mais fraca e dê estrofes mais curtas que as deL. "Psi", "Psi-psi", "gs-gs-gs-gs-gs". Não estámuito ligado à presença da ou o está menosque a anterior; em matas de ou em árvoresbaixas outras que coníferas. Do Paraná ao Rio Grandedo Sul. .

RABUDINHO,

16-16,5cm. No extremo sudoeste do Rio Grande doSul, Uruguai e Argentina; topetudo, de dorso cinzentouniforme. estrofe descendente e curta "zi ... zirrrrr"do timbre da anterior e de a qual é suavizinha no Parque Espinilho (Rio Grande do Sul) ondeesta espécie é o furnarídeo mais comum. Ocupa ocosfeitos.p. ex., pelo pica-pau atapetando-os de material macio.

GARRINCHA-CHORONA, En

18cm. Uma das poucas aves brasileiras verdadeira-mente montícolas, endemismo dos cumes campestresdas mais altas serras do Brasil merídio-oriental. De cau-da muito longa (llcm) e mais cheia que a de

pardo uniforme, mento com uma manchaamarelada. fino "bsí", "trtrtr", "berrrit": estrofedescendente "dü-di-di-di-díiiiiiiii" (canto). Sobre a ali-mentação, incluindo material vegetal, v. introdução. Oninho, posto sobre arbustos, é um ovóide de musgo compoucos grave tos por fora e acesso látero-superior semtúnel protetor (fig. 2128). O ninho é muito parecido aode dos Andes da Bolívia em 3480mnum hábitat muito semelhante (Vuilleumie: 1969). Con~cluímos através do tipo de ninho e da vocalização que opássaro não é uma (como Miranda-Ribeiroclassificou a espécie em 1906). Hellmayr (1925) isolou-aem um novo gêneromonotípico: Parece-memais apropriado incluí-Ia no gênero andino .Portanto S. não tem parentes no Brasil, é relitodaquela imigração pleistocênica'à qual pertencem tam-

bém Cinclodes e todos os rinocriptídeos, v. figo200.Abundante nas brenhas de entre 1.900e 2.800m acima da linha das florestas. Ocorre nas Serrasdo Caparaó (Minas Gerais e Espírito Santo), dosÓrgãos,Itatiaia e no alto do Parque Estadual do Desengano,1.800m , Rio de Janeiro (R. B. Pineschi); poderá ser en-contrado em outros cumes altos no Sudeste com domí-nio de "Rabo-de-palha", "Chorona?".

LENHEIRO,

14,5cm. Restrito ao extremo sul, no Brasil. Lembrauma. mas é menos rabilongo, tem obico curto, a plumagem parda pálida mais clara em bai-xo e o mentomarrom-alaranjado parecendo negro à dis-tância, retrizes exteriores ferrugíneas-claras, as centraisnegras. "zürrrrr ...", "tzi ... zürr" seqüência muitasvezes descendente que lembra S. e t

este último seu vizinho no Parque Espinilho(Rio Grande do Sul). Como outros constróiglobuloso ninho de grave tos solidamente posto sobregalhos ou cactáceas. Vive no campo com árvores bai-xas, desce ao solo onde pula de cauda arrebitada. Ocor-re da Argentina ao Paraguai, Uruguai e Rio Grande doSul. O gênero engloba mais de vinte espéciesocorrendo nos Andes e no sul do continente até ao Chilee Terra do Fogo. "[oão-lenheiro=".

JOÃO-PLATINO*, hudsoni

17cm. Apenas na divisa Brasil/Uruguai, rabilongocomo os congêneres, estriado (lembrando e

, mento amarelo. Pântanos. Chuí, Rio Cran-de do Sul (Pinto 1978), Argentina.

LENHEIRO-DA-SERRA-DO-CIPÓ,

En Arn

17cm. Nos campos rupestres de Minas Gerais, seme-lhante a . porém com ferrugíneo na base da cau-da; falta também o amarelo do mento. Foi estudado pri-meiramente por Bruce C. Forrester, em julho de 1988.Anda, corre e pula, sobre as rochas, levando a cauda atéa vertical e mais. Canta em galhos destacados da vege-tação arbórea baixa: uma estrofe descendente de piosagudos. Vive ao lado dos endemismos

(Tyrannidae), (Trochilidae)e (Emberizinae). Parque Nacio-nal Serra do Cipó, 1400 m, Minas Gerais (Vielliard 1990)."[oão-cipó=". ..,

BOININHA,

l~cm. Apenas no Rio Grande do Sul, Uruguai e Ar-gentma. Delgada espécie paludícola de cauda rígida

. ;. I

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(7,7cm), boné ferrugíneo, dorso estriado de preto. Viveem juncais; sobre ninho v. Introdução.

BICHOITA,

Pr. 27,4

20cm. Representante campestre muito característico;ainda mais rabilongo que de desenho gularvistoso, mento amarelo sulfúreo lembrando

de costas rajadas de negro (típico das vá-rias aves savanícolas). estrofe ventríloqua e descen-dente "go-go-go ...", "kuoak ..." surpreendentementebaixa para pássaro tão pequeno, que 'Poderia talvez virde um cuculídeo ou de umformicarídeo A vocalização é totalmen-te diferente daquela de um verdadeiro O ni- .nho é esférico, confeccionado de grave tos e materiaiselásticos, cornrentrada lateral dada através de umtúnel horizontal ou ascendente; parede da câmara in-cubadora "feltrada". Os ninhos velhos amontoadospodem sugerir uma construção de ou

. Habita o campo com arbustos e árvores.Ocorre do interior da Bahia e Minas Gerais (vale do SãoFrancisco); São Paulo ao sul de Mato Grosso, Rio Gran-de do Sul; do Uruguai eArgentina à Bolívia. "Titisiri" (RioGrande do Sul). "Cabri~inha-de-mama" (Mato Grosso).

JOÃO-TENENÉM, Pr. 27,3

16cm. Um dos mais comuns e conhecidos furnarídeosdo Brasil oriental; de cauda comprida, graduada e mole,asa curta e redonda e bico fino. Boné e asa castanhos,'cauda pardo-olivácea como o dorso, partes inferiores decolorido variado, mancha gular negra geralmente dis-tinta. O imaturo sem vérmelho na cabeça e na asa."tre-te-wât", "teta-te (te)", "wét-te-te-te-te" ("Bentereré"- onomatopéico); aparentemente há dimorfismo sexu-al na vocalização do casal, um chamando "wat-téneném", e o parceiro "tchã, tchã, tchá, tchã". Vive es-condido em arbustos e capoeira baixa mista comsapé,beira de mata; do nível do mar aos campos de altitudeonde sê encontra com também nas cercaniasde habitações. Alimenta-se na ramaria mais baixa, às

=vezespulando.no solo. Seu ninho (fig. 211E) é um amon-toado denso e comprido de gravetos (na maioria espi-nhosos) e quase sempre com peles (exúvias) de cobras elagartos; acesso lateral dado através de um corredor ho-rizontal que conduz direto ao centro. acima da câmaraincubadora ocorre notável acúmulo de pedaços grossosde casca e ramos que chegam às vezes a formar umaexcrescência cônica alta que aparentemente serve deproteção contra a chuva; câmara incubadora de piso for-rado com folha~ verdes, paina etc., sendo este material"feltrado" no centro. Na cidade do Rio de Janeiro foiencontrado um conjunto de três ninhos construídos em

boa parte de arame (inclusive farpado) que as avescatavam em fábrica próxima; o peso avaliado de talpeça era de 15kg. Ocorre da Bahia, Espírito Santo eMinas ao Rio Grande do Sul, Uruguai, Argentina eParaguai. "J~ão-tiriri", "Bentereré" ou "Bentererê".V. os seguintes.

PICHORORÉ,

16cm. De boné, asa e também cauda castanho-escu-ros; atrás do olho uma distinta estria amarelada (quefalta nos imaturos, assim como o castanho da asa). .forte e baixo "zschrrr" (advertência, diagnóstico),"terretét" mais duta e curta que a estrofe de S. Seuninho é-parecido ao da espécie anterior tendo porém aentrada superior-tal qual os S. . Vive nas bre-nhas internas e na orla da mata,onde pode encon-trar-se com S. no interior da floresta às vezes comS. . Ocorre no Brasil oriental, do EspíritoSanto ao Rio Gra~de do Sul, Argentina (Misiones) eParaguai; em regiões montanhosas no Rio de Janeiroe Espírito Santo .:

UOÃO-SAIANO, En Am

16cm. Espécie recém-descrita das montanhas flores-tadas do centro sul da Bahia. Difere de S. pelapresença de uma estria pós-ocular amarelada e por pos-suir apenas oito retrizes (contra dez) e de S.sua espécie-irmã, pela cor cinzenta escura das partesinferiores e de ambas por diferenças no repertório vocal(Pacheco& Gonzaga 1995). Este táxon é proveniente damesma região de ocorrênica do igualmente recém-des-crito tiranídeo O importante am-biente remanescente florestal úmido onde ambas foramdescobertas e a contígua mata-de-cipó da região de BoaNova, Bahia podem ser um dos hábitats mais ameaça-dos e negligenciados em relação à conservação de avesno Brasil (Gonzagaet al. 1995).]

TATAC*, En Am

[16cm. Restrita às florestas montanas dos estados deAlagoas e Pernambuco onde habita as bordas emara-nhadas e o sub-bosque denso. Incluída noU'Zf.9 verme- .lho de espécies ameaça das (Collaret . 1992).]

PETRIM,

lécm. Comum no interior; de boné, asa e cauda cas-tanhos tal qual S. mas sem a faixa pós-ocularclara, fronte anegrada. baixinho "djõit", territorial"zü-kli" (daí o nome argentino "chicli"); "dlõ-dluid"(canto). Vive no interior de brenhas sombreadas do cer-rado, capoeira baixa e densa, cafezal (norte do Paraná);

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570 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

às vezes ao lado de seu que tem voz umtanto semelhante, e do rinocriptídeo

(p. ex. ern Goiás e Mato Grosso). Ocorre do nor-.deste, centro-oeste (inclusive o interior de São Paulo) aosul do Brasil (até ao Rio Grande do Sul). Uruguai, Ar-gentina e Paraguai. Também no Sudeste do Pará. "Dia-trinta" (Paraná), "Casaca-de-couro" (Ceará), "Garricha"(Minas Gerais), "Tiflí*".

UIPí,

16cm.Comum no Brasil central.jíe boné e asas casta-nhos, cauda pardo-olivácea como emS. mas de fron-te negra acinzentada; as partes inferiores branco-ama-reladas; quando canta exibe as bases negras das penasda garganta, formando uma mácula preta a qual é invi-sível no pássa!o calado e sempre presente em espécimensempalhados. bissilábico "brrri-drrr", "wi-dã" "spi-di" (canto). Habita o campo cerrado bastante ensolarado,~s vezes ao lado de S. e perto de S.taboais, onde se encontra comOcorre nas áreas campestres da Amazônia até ao nor-deste, centro-oeste, sudeste e sul do Brasil, também noParaguai, Bolívia e Argentina. "Garricha" (Minas Ge-rais), "Teutônio".

JOÃO-TENENÉM-DA-MATA,

14cm. Representante silvícola e meridional bem es-curo, pardo-xistáceo de asas e cauda castanhas. "si-it" bem fino (chamado); "suit-pedítz" (canto). Habita ointerior de densa mata escura; no Rio de Janeiro nas mon-tanhas, às vezes ao lado de Ocorredo Rio de Janeiro ao Rio Grande do Sul, Uruguai, Ar-gentina e Paraguai. [O limite norte de sua distribuiçãoparece ser a serra do Caparaó, Minas Gerais (J. F.Pacheco, T. A. Meio Junior) "Pi-pui*".]

JOÃO-TENENÉM-BECUÁ,

16cm. Espécie setentrional de asas e caudas casta-nhas como a anterior mas de partes inferiores (mas nãoo boné) amarelo-esbranquiçadas. forte e baixo "bé-cuá" (canto);"tetetete".Vive na orla de 'rnàta, beira deestrada, brejo, podendo encontrar-se com

Ocorre da Venezuelaà Bolívia, toda a Amazô-nia brasileira, incluindo Rondônia e Maranhão."Becuá*".

UOÃO-DO-PANTANAL,

. !6cm. Ocorre no Pantanal matogrossense eregiõesllI~ltrofes da Bolívia e Paraguai. Difere de S.alem da vocalização, pelo dorso mais amarronzado,loros com mais branco e parte de baixo mais ocrácea.]

UOÃO-DO-ARAGUAIA, si En

Endêmica das matas de galeria da drenagem doAraguaia, estados de Goiás, Tocantins e Mato Grosso .Aqui considerada espécie a parte de S.o ,com quemesteve associada, devido a proposição de Silva (199Sc),que associa o padrão de distribuição deste par de espé-cies ao encontrado em e e C.

e

JOÃO-TENENÉM-CASTANHO,

IScm. De colorido peculiar, quase totalmente casta-nho-escuro de garganta e cauda negras. "tac", "tac-owât" lembrando "wetetet". Vivena mata.Treqüentemente associado a bandos de papa-formigas. Ocorre da Amazôriia, meridionalmente até aBolívia, Mato Grosso e Maranhão, "João-castanho*".

JOÃO-ESCURO*,

[IS,Scm. Localmente nas bordas de floresta da regiãoguianense e dos tepuis venezuelanos. No Brasil conhe-cido para o oeste montanhoso do Amapá, inclui~do aSerra do Navio e região de fronteira Brasil/Venezuela(phelps & Phelps 1962).]

JOÃO-GRILO*,

[IS,Scm. De distribuição muito local numa área rela-tivamente ampla da América do Sul. No .Brasil em algu-mas localidades do cerrado de Mato Grosso, Goiás

~ g , Minas Gerais, SãoPaulo (Willis& Oniki 1993) e Paraná (Straube 1991). Emoutros pontos do Nordeste: Ceará, Alagoas e Bahia e daAmazônia em campinas do Peru e oeste amazônico bra-sileiro, além da Bolívia. Ocupa as regiões arbustivasdensas, especialmente ao longo de rios.]

JOÃO-DE-PElTO-ESCURO*,

[lS,Sc~. Típico para região oeste amazônica domi-nada por ambientes abertos cobertos por gramíneas, so-bretudo aqueles em ilhas fluviais. No Brasil, especial-mente ao longo do Solimões, a oeste da região deManaus. Também na Colômbia, Equador e Peru.]

JOÃO-DE-BARRIGA-BRANCA *,

[16cm. Espécie endêmica da vegetação sucessionalbem nova das ilhas fluviais dos rios' amazônicos, NoBrasil assinalado para as ilhas do Solimões/ Amazonase alguns afluentes, tais como o [uruá, Madeira e Tocan-tins. Também registrado nos rios Oiapoque e Branco(Pacheco 1995). Adicionalmente na Colômbia, EquadorPeru e Bolívia.] ,

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FURNARIlDAE 571

PURUCHÉM*,

[14cm. Encontrado nas bordas intrincadas, sobretu-do das matas secundárias e formações de taquara (espe-cialmente no Brasil). Assinalado para apenas seis locali-dades brasileiras em Rondônia, Mato Grosso amazôni-co e sul do Pará. Populações disjuntas são conhecidasna Colômbia, Equador e Peru.]

ESTRELlNHA-PRETA,

14cm. Lembra um as costas, asas e caudasavermelhadas, partes inferiores amareladas, gargantaposterior com urna nódoa negra anteriormente realçadade branco. assobio fino bipartido sendo a segundaparte inicialmente mais baixa que a primeira "duídduíd", padrão semelhante à voz de [nmtalis,às vezes seu .vizinho (rio das Mortes, Mato Grosso).Habita o estrato inferior da mata baixa e cerrada. Ocor-re do sudeste do Pará, MaranhãoePiauí ao Mato Gros-so, Goiás, Bahia, Minas Gerais, São Paulo, noroeste daArgentina e Bolívia. "Viu-vi?". .

JOÃO-DE-BARBA-GRISALHA*, Am

[IS,Scm. Conhecida apenas de Roraima. Descrita em18S6 a partir de exemplares coletados por JohannNatterer em 1832 na Fortaleza de São Joaquim, ao nortede Boa Vista. Reencontrada na mesma região apenasem 1992 por B. Forrester em floresta sazonalmentealaga da perto de Conceição de Maú (Ridgely& Tudor1994)..Espécie endêmica do Brasil até ser encontradana Guiana Inglesa em janeiro de 1993 por Davis Finch(Forres ter 1995).]

JOÃO-CHIQUE-CHIQUE, EnAm

19cm. Endemismo nordestino; lembra umde bico forte, cauda longa, larga e graduada; plumagempardo-acinzentada com uma larga área castanha sobrea asa, garganta posterior com urna grande nódoa negra.

bissilábico "tetré" ou"tchí-krrr" repetido. Terríco-Ia. Seu ninho é urna grande aglomeração de espinhosdo cacto "chique-chique". Vive na caatinga. Ocorre doPiauí a Pernambuco e Bahia. "Sis-tré" (onomatopéico,Bahia). "Maria-macambira". [Para detalhes no compor-tamento e vocalizações consultar Whitney& Pacheco(1994).]

CURUTIÉ,

14,5cm. Ceralmente o furnarídeopaludícolamais co-mum. Tem o aspecto de um joão-teneném de cauda lon-ga bem rígida. As partes superi~res pardo-ferrugíneas,

partes inferiores esbranquiçadas, mento com uma man-chinha amarelo-sulfúrea que pouco se destacaà distân-cia duro "krip"; estrofe monótona, dura e descen-dente terminalmente, lembrando a voz da saracura

ius, mas de menor volume (canto); ocasal canta em dueto. Constrói acima ou bem pertod'água, um amontoado de grave tos cujo acesso é umtubo, ou chaminé vertical, feito de ramos perpendicu-larmente fincados (fig. 211C); pode-se comparar a for-ma do ninho à de urna retorta; a câmara é uma pequenatigela forrada-com algumas folhas e um pouco de paina.Encontramos urna destas construções perto de um gran-de vespeiro (PiaVí).É um dos principais hospedeiros doSaci, Torna-se abundante se seu hábitat éextenso. Ocorre da Colômbia e Guianasà Bolívia, Ar-gentina, Paraguai e Uruguai; todo o Brasil. "Marrequito-do-brejo", "Corruíra-do-brejq", "[oão-teneném-do-bre-jo", "Corrucheba", "Xexeuzinho-do-brejo" (Minas Ge-rais), "[oão-do-brejo?".

JOÃO-DA-CANARANA *,

[14cm. Encontrado nos ambientes arbustivos próxi-mos d'água, bem corno mesmo nos capins flutuantes,sobretudo das ilhas fluviais dos maiores rios amazôni-cos de água branca: dos limites oeste (Colômbia e Peru)da bacia para leste até o delta. Meridionalmente até aalta porção dos tributários ocidentais do Solimões atéos limites da Bolívia.]

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ARREDIO-PÁLIDO, En'Pr. 27, 5

\.

13,Scm. No aspecto lembra um pouco ummas a cauda é mais curta e mais rígida não servindocontudo para apoiar-se corno a dos dendrocolaptídeos.Vértice vermelho, pardo no imaturo. "tzíssik","tíssi-sick" (chamado); seqüência mais prolongada deassobios monossilábicos, começando devagar, depoisacelerando: "psi-psí-psí ...psrrrrr", às vezes repetidaconsecutivamente e de permeio com assobios mais me-lodiosos (canto).

O ninho construído (fig. 212A) sobre árvores, entreplantas epífitas, é urna bola de material macio, cornobarba-de-velho usneoides), líquens e musgos;de acesso lateral: a entrada conduz ao' interior da massaesférica 'por um corredor que descreve urna volta paraatingir, por cima, a câmara que não possui revestimen-to. Vive nas copas na orla da mata, na Bahia, EspíritoSanto e Rio de Janeiro, nas montanhas onde procura asconíferas ali plantadas; costuma ficar de ponta-cabeçacomo com a qual se encontra na Serra daBocaina (São Paulo) e a qual se assemelha também navoz. Ocorre no Brasilmerídio-oriental, do sul da Bahiae Minas Gerais a São Paulo."[oão-pálídot".

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572 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

ARREDIO-MERIDIONAL,

12,5cm, Espécie meridional sem vermelho no vérti-ce, parecida à da anterior, seu canto assemelha-setanto ao daquela (falta o forte "tzíssik") quanto ao de

sthe que é às vezes seu vizinho em ma-tas mistas de embora a presente espécie nãodependa do pinheiro-do-paraná. Vive no estrato infe-rior à beira da mata, às vezes ao lado de spiOcorre de São Paulo ao Rio Grande do Sul, Paraguai eArgentina. "João-oliváceo*".

.ARREDIO,

[14,5cm] Representado no sul do Rio Grande do Sule partes do Uruguai, Argentina e Paraguai ocorrendoao lado de C. no sudeste do Rio Grande 'do Sul(Belton 198:i). Ocorre da Argentina à Bolívia, Paraguai,Uruguai e Rio Grande do Sul. "[oão-arredio'"',

ARREDIO-DO-RIO, e

15cm. De partes superiores totalmente ferrugíneas.cheio" dlõid' (chamado); seqüência fortemente des-

cendente de ressonantes assobios "glõ, glõ, glõ ..." oumais seco "tche, tche, tche ..." (canto; no dueto do casal,o segundo tipo provavelmente é da fêmea). Durante o .cantar abre a cauda e as asas, às vezes um terceiro indi-víduo participa. Constrói seu ninho em galhosdebruçados sobre um rio ou lago sendo o mesmo, umabola de material flexível (raizes, capim, cipó, paina epenas) parecendo um amontoado de detritos arrastadospelas cheias e enganchados na ramagem. Ocorre do Pa-namá à Bolívia, [Amazônia, Piauí, Bahia e Minas Ge-rais (vale do São Francisco)] Mato Grosso, Goiás, SãoPaulo e Paraná. "Hoch-tkai" (Trumai, Mato Grosso)."João-do-rio"".

JOÃO-PINTADO", gutiuraia

[lj,Scm] Espécie de partes inferiores manchadas.[Acompanhando sobretudo bandos mistos em florestasde várzea e terra firme numa ampla área da Amazôniabrasileira desde as fronteiras ocidentais até o rio Tocan-tins. Seus limites meridionais conhecidos no Brasil sãoCachoeira Nazaré, Rondônia (D. E Stotz); Peixoto deAzevedo, Mato Grosso (Novaes& Lima 1990) e Serrados Carajás, Pará (j.E Pacheco). Ocorre ainda em todosos demais países amazônicos, com exceção da Guianainglesa.]

JOÃO-ESCAMOSO*, e e En

[16cm] Partes inferiores escamuladas. [Restrita apa-rentemente aos ambientes de várzea (B. M. Whitney,J. F.

Pacheco) do baixo Amazonas, em ambas as margens eilhas desde o Nhamundá e Tapajós até o delta. Tambémna costa do Amapá.]

ARREDIO-DE-PAP0-AMARELO, eucsu

[15cm] Com um risco amarelo longitudinal na gar-ganta, peito manchado. Ocorre em juncais no Rio Gran-de do Sul. "[cão-de-papo-manchado?".

JOÃO-DE-CABEÇA-CINZA *,

s i En

[14cm] De costas avermelhadas. [Encontrado no Ce-ará, Alagoas, Bahia, norte de Minas Gerais e Goiás(Teixeira & Luigi 1989).]'

JOÃO-DO-TEPUÍ", e d

[14,5cm. Espécie endêmica dos tepuis venezuelanosque ~oi assinalada no Brasil para o Cerro Uei-Tepui,Roraima (Phelps& Phelps 1962) e logo depois para aregião do Pico da Neblina, Amazonas (Phelps& Phelps1965).]

RAB0-AMARELO, ipoph c ou En Am

16,7cm. Com o aspecto de de cauda com-prida, larga e amarelo-ferrugínea-clara; corpo por cimae por baixo nitidamente estriado, mento extensamenteàmarelo-ferrugíneo. forte "kit", "kit-kit-kit", lem-brando et (a qual geralmente permanE!ce emestrato inferior); escala descendente de fortes "tche, tche,tche ..." em dueto com a fêmea (canto). Ninho: ao queparece faz uma bola de gravetos. Pula entre os gravatás,entre a rama ria da mata em estrato médio; inspecionatroncos, sobe às copas altas da floresta úmida; às vezesem bandos de pássaros. Restrito ao leste daBahía, Espí-rito Santo e norte do Rio de Janeiro, tanto nas baixadascomo nas montanhas. Bem maior queHeliobletus.

JOÃO-LISO", eps

[16,5-19cm. Espécie amazônica mal conhecida e dedistribuição disjunta. A população brasileira da região.do baixo Amazonas ( f obidensis)ocorre em ambas asmargens entre o Madeira e oTapajós, supostamente emambiente de várzea. Outras raças geográficassão conhe-cidas para o Equador, Peru e Bolívia.]

'I

1J OÃO-DE-PAU, e ns Pr. 27, 6

. 16cm..Embora seja o principal responsável pela maio-na dos ninhos de grave tos que se vêem no interior (so-

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FURNARIIDAE ';)/ j

bretudo em Minas Gerais, São Paulo e Bahia) não é fácilver o pássaro caso não esteja cuidando do ninho.Avezinha robusta, de ,cauda larga; o vermelho da testa,apesar de brilhante, pouco se destaca. seqüênciaapressada "zizizi ..." ascendente ou sem modulações,para depois descender terminando em trêmulo, oscilan-do a cauda no ritmo do canto, o qual é emitido pelo ca-sal perto do ninho; macho de voz mais forte; cantamtodos os meses do ano.

O ninho (figs. 211Be 216) um agregado de gravetos,é geralmente situado na extremidade de um galho emárvores isoladas. A maioria dos grave tos é espinhenta edo mesmo tamanho.O primeiro ninho feito pelo casal,é uma bola pequena (p. ex. 26x2Bcm sem pontassobressaltantes) porém resistente, de grave tos espinho-sos que garantem a estabilidade e a defesa; o teto é maiscompacto e o acesso dá-se através de um túnel de com-primento e direção variados que corre por dentro daesfera. A câmara incubatória é atapetada por uma es-pessa camada de penas, paina etc., de forma que dentroda áspera massa de ramos secos é confeccionado umpequeno ninho esférico bem estofado e tão sólido quenão se desmancha mesmo que se removam os galhos.Anualmente o casal acrescenta um novo ninho, em ge-ral acima do anterior; há também casos em que o ninhode baixo é ocupado. Pode acontecer de usarem o mate-rial de um velho ninho que esteja em outra árvore. Háamiúde duas câmaras por ninho sendo a segunda, pertoda superfície e junto à entrada, provida de um simplescolchão de folhas quebradas que serve para dormir.

Quando o suporte é um galho flexível, o que geral-mente é o caso, a ponta verga com o progressivo acúmulode peso, existindo aglomerações de ninhos de mais deum metro de altura, pesando vários quilos (aumentan-do muito o peso durante a chuva), podendo quebrar ogalho. Temos encontrado ninhos compostos de duas por-ções cilíndricas suspensas e unidas pela base não sendofácil pesquisar e entender a organização de tais conjun-tos volumosos; mesmo nos complexos ninhos cheios de"apêndices" mora apenas um casal. Quando surgemmais indivíduos no local, deve tratar-se de filhotes dosproprietários que, já crescidos, ali dormem e às vezestrabalham na construção e mesmo ajudam na ceva deirmãos mais novos. Trabalham o ninho todos os mesesdo ano. Sobre a ocupação por outros animais, faunanidícola etc. v. introdução.

Pode-se confundir suas construções com as dacaturrita e, n? caso de ninhos não pendentes, as de

quando são fixadas, p. ex., no travessão deum poste telegráfico ou em um forte galho horizontal.

Embora nidifique em árvores, alimenta-se no solo en-fiando-se sob folhas caídas e capim entrelaçado; às ve-zes sobe .na ramagem densa de um"arbusto campestre,Ocorre do nordeste e centro-oeste do Brasil à Bolívia,Paraguai eArgentina; [Em expansão nas regiões desbra-vadas do sudeste brasileiro.] também em regiões cam-pestres da Venezuela ao norte do Peru. "Carrega-madei-

Fig. 216.Ninho de Original, A.Studer.

ra" (Bahia), "Teutônio", "João-garrancho" [Minas Gerais)"João-graveto" (Minas Gerais), "Casaca-de-couro" (Per-nambuco), "Carrega-pau" (norte do Rio de Janeiro, J. F.Pacheco).

JOÃO-BOTINA,

En

17,Scm.Restrito à faixa costeira; de olhos alaranjados,fronte, garganta e peito castanhos. canto de duaspartes, primeiro uma seqüência introdutória "horizon-tal" e depois uma série descendente de gritos fortes"tchri, tchri, tchri-tzríã tzríâ tzríã.;", às vezes duo docasal. Seu ninho (fig. 211G) é uma grande massa, de ra-mos secos, em forma de botina, suspensa na ponta deum galho e com o acesso na extremidade posterior e sa-liente; tem dois cômodos, ambos forrados de capim einterligados por orifício estreito. Vive à beira da mata ebrejo. Ocorre da Bahia ao Rio Grande do Sul, perto doRio de Janeiro em regiões serranas. [Os dados aqui apre-sentados, com exceção da distribuição, pertencem a for-ma nominal. A forma P.e. e de olhos ver-melhos, possui hábitat, ninho e vocalização diferentes epode ser elevada a condição de espécie.]

GRAVETEIRO,

19cm. Representante relativamente grandedo Brasilcentral, de píleo; asas e cauda vermelhos, íris amarela-clara. "tjíp" chamada); estrofe descendente, forte ecurta, composta de gritos breves ou um pouco mais lon-gos, como "tjip, tjip, tjip ..."; o casal freqüentemente dueta.

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574. ORNITOLOGIABRASILEIRA

Constrói um montão de galhos que instala solidamenteem um suporte tal como a base da folha de um buriti.Vive em beira de lagos ou rios, alimenta-se tanto na copadas palmeiras como na vegetação a pouca altura do solo.Ocorre na Bahia, Minas Gerais, Mato Grosso, Goiás, SãoPaulo, Paraná, Rio Grande do Sul e Argentina.

TIO-TIO,

17cm. Píleo castanho, peito estriado. após trêsnotas curtas e baixas entoa uma seqüência descendentede gritos ressonantes "pseb, pseb, pseb-klík, klik, klik. .."(canto). Faz um amontoado de galhos cuja câmara (àsvezes duas, figo 211 H) é atapetada com feltro vegetal,entrada superior; localizado solidamente sobre a ramariade arbustos e árvores. Vive a pouca altura, beira de bre-jo' e campo dt:;vegetação alta. Ocorre do Paraná ao RioGrande do Sul, Uruguai, Argentina e Bolívia.

CrSQUEIRO,

22cm. Residente meridional pouco conhecido combico e pés fortes, cauda longa e rígida, garganta brancaornamentada lateralmente de penas com o ápice negro,longa e larga faixa esbranquiçada pós-ocular, vértice a-vermelhado. Vive a pouca altura em densa vegetaçãoflorestal à beira de córregos. Ocorre na Argentina(Misiones). Rio Grande do Sul ao sul de São Paulo.

CORREDOR-CRESTUDO,

16cm. Furnarídeo terrícola de bizarro topete frontalcor de terra-claro; partes superiores e inferiores esfriadas,cauda ferrugínea de ponta negra. trêmulo e fino"rrrrrü", Constrói sobre as árvores um amontoado degrave tos de entrada lateral e câmara bem forrada dematérias vegetais macias, pêlos de cavalo etc. Corre li-geiro pelo solo a largas passadas; levanta o estrume dogado com os pés a fim de procurar insetos, por vezesjoga violenta e lateralmente pedaços de excremento secoao revolvê-lo: foge para as pequenas árvores dispersasnos campos aonde habita. Ocorre da Argentina à Bolí-via, Paraguai, Uruguai e Rio Grande do Sul (Quaraí,Uruguaiana) onde é vizinho de lophotese

"Corredor":".

COCHICHO,

19,5cm. Corno o.joão-de-pau, é muito popular comoconstrutor de ninhos de grave tos no interior de MinasGerais e São Paulo. Espécie relativamente grande, porcima parda, amarelada por baixo, de partes superiorese garganta (que é branca) manchados de negro; caudabastante longa e larga, de ponta branca o que chama aatenção quando abre as retrizes em leque lembrando umsabia-do-campo, que é às vezes, seu

vizinho e tem porte superior. trinado seco "tzi-tzi-tzi-tzrrrrrr", repetido consecutivamente, agitando asasno que lembra o casal dueta.

Faz, geralmente, um acúmulo globuloso de gravetoso qual assenta em sólidas forquilhas da ramagem de ár-vores do pasto ou em postes telegráficos ou sobre casas(fig. 211D); o acesso látero-superior consiste em um (àsvezes dois) túnel freqüentemente curvo; câmara forra-da de paina e capim, às vezes duas câmaras inter-comunicantes. O ninho, bem protegido contra a chuva,é renovado todos os anos tal como se passa com

o Na rede da CEEE no Rio Grandedo Sul ocorrem' freqüentemente acidentes como curto-circuitos causado pelos ninhos de ius (v. também

, Tessmer 1989). Corre pelo solo (tem pés vigo-rosos), impregna sua plumagem com terra; para cantarsobe a local evidente, p. ex. o'topo de uma estaca. Ocor-re de Goiás, Minas Geraisê Rio de Janeiro ao Rio Gran-de do Sul, Uruguai', Paraguai eArgentina. "Tiri-tiri" (RioGrande do Sul), "Afiurnbi" (guarani).

JOÃO-FOLHEIRO*,

10,7cm. Apenas na Amazônia, representante peque-no e singular; oliváceo de cabeça anterior e garganta fer-rugíneas-alaranjadas e fronte arrepiada. Vive-na mataalagada. Ocorre dos rios Purus e Solimões (alto Amazo-nas) à Bolívia e Equador. Pode lembrar o traupíneo

s .

, [ACROBATA, En Am

13cm. Representante florestal singular das copas daregião cacaueira do sul da Bahia, ocorrendo entre os riosJequitinhonha e rio das Contas. Recentemente descrito(Pachecoet 1996), este novo gênero e espécie se carac-teriza pela plumagem definitiva cinza, com coroa, asase cauda negras; mandíbula, patas e pés fortes de colora-ção rosa; plumagem juvenil bem diferenciada da adul-ta, apresentando coloração marrom predominante e,comportamento acrobático de forrageamento que envol-ve uma quase permanente posição invertida dependu-rada na folhagem e "uma escalada negativa" ao longodas superfícies 'inferiores dos galhos da copa. Constróininhos de graveto na copa de árvores altas e, possivel-mente, "ninhos falsos" de estrutura SImilar nos arredo-res para despistar predadores ou parasitas (Whitneyet

. 1996). A inevitável conversão da área nuclear dacacauicultura baiana em pastagens devido à crise daeconomia local está sendo causada pela ampla dissemi-nação da "vassoura de bruxa", doença causada por fun-gos, que inviabiliza a produção. Torna-se assim este novotáxon imediatamente ameaçado pela crescente derruba-da das grandes árvores da floresta original, mantidaspara sobreamento da cultura do cacau, da qual é intei-ramente dependente.]

, I

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FURNARIIOAE 575

SUBFAMÍLIA PHILYDORINAE

JOÃo-oE-RORAIMA*,

[14,5cm. Endemismo dos tepuis venezuelanos queocorre ria faixa limítrofe brasileira. Assinalado no Brasilpela primeira vez no CerroUei-Tepui, Roraima (phelps& Phelps 1962).]

LIMPA-FOLHA-DO-BURITI,

20cm. Endêmico dos buritizais e -miritizais (forma-ções de e M. respectivamente,também babaçu, Maranhão); cabeça,pescoço, e partes inferiores vistosamente estriados denegro e branco; costas e cauda vivamente castanhas,rêmiges negras .. trinado límpido "tü, ü, ü ...", leve-mente ascendente descendendo terminalmente; machoe fêmea respondem-se sendo que um deles (provavel-mente a fêmea) de timbre mais alto; lembra a voz de

(Picidae). Na copa das palmeiras éfreqüentemente invisível dentre as largas bases das fo-lhas, onde nidifica. Agarra-se nos folíolos verdes do.buriti às vezes martelando; procura alimento inclusivepor baixo da base das palmas ficando de cabeça parabaixo; passa em vôo rápido de um penacho a outro.Ocorre das Guianas e Venezuela ao baixo Amazonas (rioAcará); Maranhão, Goiás (rio Araguaia) e Bahia (rioSapão). [Localmente para oeste na Amazônia ocidentalem ambientes apropriados, com registros recentes paraEquador e Colômbia. Está disseminado pelos buritizaisencravados na zona urbana de Manaus.]

CA5ACA-DE-COURO,

Pr. 27, 7

21,5cm. Uma das aves típicas da caatinga e paisa-gens áridas correspondentes. Do porte de umsabiá, detopete alto e colorido inteiramente ferrugíneo-claro coma ponta da asa escura; olhos amarelos. "tschlip" (cha-mado); seqüência de assobios roucos ou nasais "tch-tch-tch ... Psi-psi-psi... tch ... psi ...fortemente descendente,

Fig.217.Ninho de . OriginalA.Studer. .

lembrando (canto do casal em dueto).Faz um grande amontoado (às vezes 50x90cm (figs. 211Fe 217) de galhos secos entremeados de penas de urubu,ossos etc., fortemente postado sobre árvores; muitasvezes tem formato horizontal alongado e entrada porum corredor que se inicia na base do ninho, indo até acâmara esférica, acolchoada de pedaços de casca, exúviasde répteis etc. Estas últimas usadas também por váriosoutros furnarídeos, além de tomadas como talismã, pelo.povo; carregam também esterco e barro para dentro doninho. Em locais totalmente abertos constantemente var-ridos pelo vento, pode acontecer da maioria dos galhosque compõem o ninho estarem orientados para a mes-ma direção, indicando de onde sopra o vento mais forte(Bahia). Anda pelo solo através do capim ralo entre ár-vores esparsas, empoleira para cantar. No Nordeste doBrasil, durante os últimos anos, estendeu sua área dedispersão pela Bahia devido à destruição das matas pri-mitivas; também no oeste de Mato Grosso, Paraguai eBolívia. "Carrega-madeira-do-sertão"; "Carrega-madei-ra-grande" (Bahia). Seu ninho é às vezes utilizado peloconcriz, (Pernambuco).

COPERETE, lophotes

25cm, 90 g (macho). Maior dos Furnariidae, tem qua-se o tamanho de uma gralha. Plumagem cor de terraescura, cabeça e cauda avermelhados. "krok" (cha-mado); estrofe rouca, prolongada e descendente"jãot-jiiot-jiiot...", "kch ... kiáu ...", o casal grita em conjunto.

Nidifica sobre árvores baixas, faz uma grande bola degravetos de acesso através de um comprido túnel exter-no; (v. foto Espinilho, figo 17); câmara acolchoada de es-trume. Anda, corre e pula no solo; vira o esterco secocom bruscos movimentos de cabeça à procura de pre-sas. Ocorre da Argentina, Bolívia e Paraguai ao Rio Gran-de do Sul (Parque Espinilho) e Uruguai; ao lado de

e "Casaca-de-couro-gaúcho".

'\-:

LIMPA-FOLHA-RISCADO*,

17cm. Estriado como o subseqüente. [Ocupa o sub-bos-que da floresta amazônica de terra firme onde acompa-nha habitualmente bandos mistos. No Brasil a oeste doTapajós e Negro. Também na Venezuela, Colômbia, Equa-dor, Peru, Bolívia e de Nicarágua ao Panamá. Mais de umaespécie pode estarenvolvida (Ridgely & Tudor 1994)]

LIMPA-FOLHA-PICANÇO*,

19cm. De bico grossoadunco, lembrando certosformicarídeos. Do rioTapajós ao Acre; Colômbia, Equa-dor, Peru e Bolívia, Esta espécie e a anterior aparentada

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576' ORNITOLOGIA BRASILEIRA1

Fig.218.Trepador-coleira, fuscus, inspe-cionando uma taquara furada (Serrado Mar,RiodeJaneiro).Sobreos cortes retangulares na taquara v.Picidae,alimentação.

aos nâo são raros em bandos de pássaros quepassam pela mata densa a pouca altura ou na copa.

TREPAOOR-COLElRA, EnFig.218

19cm. Uma das espécies mais típicas de grandesfurnarídeos silvestres do Brasil merídio-oriental; visto-so pelo colar e papo branco puros sendo o primeiro bas-tante ampliável com o arrepiar das penas. estriden-te "gíã" (advertência); seqüência rítmica, dura e apres-sada "wat-wat-wat. ..", "dada-rápdada-ráp ...",estrofeinconfundível e de longo alcance, o canto, às vezes emi-tido junto com um ranger duro que pode lembrar

ou (v. introdução). Nidifica emcavidade de árvores; no Rio de Janeiro e Espírito Santonas montanhas, freqüentemente em taquarais. Vive noestrato médio da mata, amiúde de cabeça para baixo;inspeciona folhas caídas, de palmeira e imbaúba,suspensas na ramaria; martela como um pica-pau; àsvezes desce ao solo. Ocorre do sul da Bahia e Minas Ge-rais a Santa Catarina. "Papo-branco" (Minas Gerais),"Limpa -folha-de-coleira "",

TREPAOOR-QUIETE,

Pr. 27, 8

17,5cm. No Brasil meridional geralmente o represen-tante silvestre mais comum embora difícil de ser visto.

forte e inconfundível "xet", "xéttete" (chamado);"kssr" (advertência, pode lembrar g se-qüência dura "kit kit kit..." no início devagar e ascen-dente depois apressado e descendente (canto, emitidonos primeiros clarões do dia e bem nocrepúsculo). Re-produz em ocos de árvores, a entrada do ninho pode seralta (p. ex. 4: m). Vive em estratos baixos, nas brenhasmais densas, dentro da mata e em suas bordas; ocasio-nalmente sobe até epífitas, martela fortemente. Ocorredo Espírito Santo e Minas Gerais ao Rio Grande do Sul,Uruguai, Paraguai, Argentina e Bolívia. "Limpa-folha-quiete*". V. .

LIMPA -FQL~ -DE-BICO-VIRADO*, 5

Espécie típica dos bambuzais do sudoesteamazônico. No Sudeste do Peru e região limítrofe boli-viana. No Brasil, possivelmente no Acre (Novaes 1978);Gorotire e Carajás (Oren& Silva 1987); Altamira (Gra-ves & Zusi 1990) eAlta Floresta (Ridgely&: Tudor 1994).]

LIMPA-FOLHA-MIÚDO,

15,7cm. Bastante parecido ao mas com obico menos forte e de larga faixa pós-ocular branca pura(e não amarelada); penas do alto da cabeça de basealvinegra. finíssimo "tzip tzip tzip ..." como que uminseto (chamado). Encontrado a pouca altura em bre-nhas dentro da mata; desce ao solo; às vezes alguns in-divíduos deslocam-se juntos. Ocorre do Rio de Janeiroao Rio Grande do Sul e Argentina (Misiones). Chamadotambém de ou (sua voz prova quenão é um

I'

.:...

LIMPA-FOLHA-COROADO,

17cm. Espécie meridional de colorido bem distinto,canela vivo com boné e faixa transocular negros e cau-da ferrugínea. "pt-uit" (chamado); "tch-tch-tch ...schpíe" (advertência). Reproduz-se em buracos situadosem barrancos no interior da mata. Ocorre no sudeste doBrasil, Bahia ao Rio Grande do Sul, Paraguai e Argenti-na (Misiones). "Arapaçu". Aparentado a P

LIMPA-FOLHA-DO-BREJO,

17cm. Representante do Brasil central; por cima vi-vamente ferrugíneo-esverdeado, partes inferiores, la-dos da cabeça e sobrancelha ferrugíneos-acanelados-es-

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FURNARIIDAE 577

cures. cauda avermelhada. Ocorre do oeste de MinasGerais a Goiás, Mato Grosso, Paraná e Paraguai. Apa-rentada a l "Limpa-folha-ferrugem?".

LIMPA-FOLHA-OCRÁCEA, h lichtensteiniPr. 27, 12

-16,Scm. Espécie silvestre relativamente comum no

sudeste do Brasil; perambula através das copasfrondosas e emaranhados de cipós em companhia de'outros pássarosà procura de insetos e suas larvas; fre-qüentemente pendurado sob os galhcs. Ocorre do Sulda Bahia e Espírito Santo e Minas Gerais ao Rio Grandedo Sul, Goiás, sul de Mato Grosso do Sul, Paraguai eArgentina (Misiones). "Limpa-folha", "Inturmado",rapaçu","Limpa-folha-de-coroa-cinza?". V o seguinte.

LIMPA-FOLHA-TESTA-BAIA,

19cm. Espécie gêmea à anterior; um pouco maior ede testa amarelada contrastante com o vértice cinzento.

"chirrr". Instala-se em barrancos ou em ocos de ár-vores dentro da mata. Ocorre do Panamáà Bolívia e Ar-gentina; Brasil central e meridional e em grande áreasimpátrico a lichtensteini. "Arapaçu", "Limpa-folha-de-testa-canela*". V também o traupíneo

LIMPA-FOLHA-DE-SOBRE-RUIVO",

[16,S-17cm. Integrante habitual dós bandos mistos decopa das matas de terra firme da maior parte da Ama-zônia brasileira. Assinalado para todos os países ama-zônicos, com exceção apenas da Venezuela.]

LIMPA-FOLHA-VERMELHO",

[16,S-17crn. Representante amazônico das florestasde terra firme (especialmente ao longo de igarapés) evárzea. Ocorre em grande parte da Amazônia brasileirapara leste até o Maranhão (Oren 1990b) e na totalidadedos países amazônicos.]

LIMPA-FOLHA-DE-ASA-CASTANHA ",

[18,Scm. Tal qual a espécie seguinte e o limpa-folha-de-sobre-ruivo é visto acompanhando regularmentebandos mistos de copa na floresta amazônica de terrafirme, onde é (ao menos no Brasil) a mais incomum dastrês espécies. Assinalado no Brasil apenas para locali-dades ao sul do Solimões/ Amazonas entre a fronteiraperuana e a região de Belém (Pinto 1978). Também na

Colômbia, Equador, Peru e Bolívia além de uma popu-lação isolada no sul da Venezuela.]

LIMPA-FOLHA-DE-CAUDA-RUIVA ".

[17cm. Encontrado nas florestas de terra firme damaior parte da Amazônia brasileira, especialmente aosul do Solimões/ Amazonas para leste até o Maranhão.Também assinalado para todos os outros países ama-zônicos.]

LIMPA-FOLHA-DO-NORDESTE", tEn Am

[18cm] No Nordeste, somente em Alagoas, aparen-tado ao P. ..[Um sumário de sua situação, en-quanto espécie restrita e ameaçada das montanhas deMurici, encontra-se em Collaret

BARRANQUEIRO-DE-OLHO~BRANCO,

Pr. 27, 10

19cm. Fumarídeo silvestre comum no Brasil orien-tal; semelhante a porém sem coleirae faixa supra-ocular brancas; a íris nívea chama a aten-ção. assobio bem típico "té-koi", "kit-kuat" (adver-tência), "drüid-rüd-rüd-rüd". Faz ninho subterrâneo,uma galeria quase horizontal conduz a uma câmara for-rada de pecíolos secos. Ocorre do nordeste, leste e suldo Brasil até ao Rio Grande do Sul, sul de Goiás, lestede Mato Grosso, Paraguai e Argentina (Misiones).

BARRANQUEIRO-PARDO",

[19cm. A espécie do gênero de maior distribuição nasflorestas Amazônicas do Brasil e países vizinhos.]

BARRANQUEIRO-DE-TOPETE",

[18,Scm. Conhecido para o sopé oriental dos Andesda Colômbia, Equador, Peru e Bolívia. Está registradono Brasil apenas para dois pontos da Amazônia rneri-dional: Cachoeira Nazaré, Rondônia (D. F.Stotz) e AltaFloresta, Mato Grosso (T. A. Parker). Nestes dois locaisem formações de taquara.]

BARRANQUEIRO-FERRUGEM",

[18-19cm.Espécie da floresta de terra firme da Ama-zônia com várias populações disjuntas numa ampla áreaentre o México e a Bolívia. Ocorre no Brasil ao norte doAmazonas, entre Manaus e o Amapá,. . na

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578 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

fronteira montanhosa venezuelana, .(Phelps & Phelps 1948) e nos confins do Acre, .

(Novaes 1978).]

BARRANQUEIRO-CAMURÇA *,

. [18,S-19cm. De distribuição ampla tal qual a espécieprecedente nas florestas amazônicas, sobretudo nas deterra firme. Assinalado no Brasil para leste até a mar-gem oriental do Tapajós.]

BARRANQUEIRO-DE-COROA-CASTANHA *,

[19,Scrn..De ampla distribuição na Amazônia brasi-leira, embora local e incomum em muitos trechos. Pre-fere os ambientes de várzea e de florestas ribeirinhas.Assinalado para todos os países amazônicos.]

BARRANQUEIRO-ESCURO*,

[18,Scm. Representante alto-amazônico de florestastransicionais e de terra firme, com três registros no Bra-sil: Juruá (Pinto 1978), Purus (Todd 1948) e CachoeiraNazaré, Rondônia (D. F. Stotz). Ocorre ainda na Colôm-bia, Equador, Peru e Bolívia.]

'BARRANQUEIRO-DE-RORAIMA ".

[18cm. Endemismo dos tepuis venezuelanos. As-sinalado para o Brasil no Cerro Uei-Tepui, Roraima(Phelps & Phelps 1962) e posteriormente na regiãodo Pico da Neblina, Amazonas (Phelps 1972).]

um pretenso endemismo dostepuis provou mais tarde ser um jovem desta espécie(Dickerman et . 1986).

FURA-BARREIRA,

21,5cm; 48g. Maior espécie do gênero; pardo com acabeça, uropígio, asas e cauda intensamente ferrugíneas;íris amarelo-enxofre. fortíssimo "wa t", "ka, ka, ka ..."(advertência); "có-có-có-réc", lembrando uma galinhachoca. Escava, em um barranco limpo, uma galeria ho-rizontal que se abre terminalmente em uma câmaraampla onde confecciona um ninho de folhas secas e ca-pim; põe quatro ovos (G. T.Mattos). Habita a vegetaçãoribeirinha, no solo ou a pouca altura. Ocorre da Bahia eMinas Gerais, oeste de São Paulo, Paraná, sul deGoiás e Mato Grosso. "Barranqueiro-de-bico-reto*".[Espécie endêmica do Brasil até o seu registro no Pa-raguai (Storer 1989).]

TREPADOR -SOBRANCELHA,

En Pr. 27, 11

20cm. Grande representante arborícola do sudestedo Brasil; muito característico pelo intenso desenhorajado das partes inferiores, que lembra o dedendrocolaptídeos como forte"krip" "schrip" (chamado). Vive na mata alta, procurainsetos em folhas secas, enroladas e pendentes, dasbromeliáceas epífitas; associa-se a bandos mistos depássaros. Ocorre da Bahiaà Santa Catarina. "Limpa-folha-grítador''".

TREPADORzINHO, Heliobletus

13cm. Pequena espécie' silvestre meridional de ladodorsal e ventral estriados; vista do solo lembra

mas não tem o bico "virado". Habita as copasdas árvores, amiúde sob galhos grossos tirando líquense musgosà procura de insetos; voa em bandos de pássa-ros. Ocorre do Espírito Santo ao Rio Grande do Sul, Pa-raguai e Argentina (Misiones). "Arapaçu", "Bico-vira-do-do-sul'". V. também

BICO-VIRADO-MIúDo, Pr. 27, 13

11,Scm,9,Sg. Menor representante da família, distin-to pelo "bico virado" (de cúlmen reto), "bigode" alvo eem relevo, asa e cauda com sinais ferrugíneos vivos.assobio límpido "dlüid" parecido ao do tiranídeo

. É capaz de cavar seu próprio ni-"nho em madeira mole; nidifica também em ocos já exis-tentes, incluindo ninhos abandonados de ondetambém dorme. Pula na ramagem e freqüentemente nasua periferia, fica pendurado sob galhos e cipós lem-brando em seus movimentos embora não te-nha os pés tão possantes; sobe verticalmente pelos tron-cos pulando de pés juntos, mudando a direção do eixodo corpo a cada salto, não usa a cauda como apoio; mar-tela com força. Gosta da companhia de outrosfurnarídeos, papa-formigas e traupíneos. Habita a mata.Ocorre do Méxicoà Bolívia, Paraguai e Argentina; emtodo o Brasil, meridionalmente até Santa Catarina. "Ar-rebitado". V. a seguinte. .- I~

BICO-VIRADO-CARIJÓ,

12,Scm. Semelhante ao anterior mas de partes inferi-ores totalmente estriadas de branco. "tçhrip"; es-trofe de algumas sílabas "tzi-tzí-tzi-tzi-tzi" (canto); osfilhotes no ninho gritam incessantemente um"tip-úp-tip ...". Comportamento semelhante ao scom o qual convive, às vezes, na mesma mata (p. ex. Riode Janeiro). Ocorre da Costa Rica à Bolívia, Paraguai eArgentina, em todas as regiões do Brasil. V.as duas se-guintes, e Heliobletus.

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FURNARJIDAE 579

BICO-VIRADO-DA-COPA ".

[llcm] Com desenho estria do, semelhante ao de. [Localmente distribuída na Amazônia brasi-

leira, sobretudo na parte ocidental, estando para lesteassinalado em Cachoeira Nazaré, Rondônia (D. F. Stotz);Cururu, sudoeste do Pará (H. Sick) e boca do Tapajós(Ridgely & Tudor 1994). Ocorre ainda nos demais paí-ses amazônicos com exceção da Guiana Inglesa.]

BICO-VIRADO-FINO*,

[Ll.Scm] Com desenho estriado e-''bigode'' alvo. [Talqual a espécie precedente apresenta na Amazônia distri-buição local dentro de uma área relativamente ampla. NoBrasil ocorre principalmente ao sul do Solimões/ Amazo-nas para leste ~té Gorotire, médio Xingu (Novaes 1960).]

BICO-VIRADO-DA-CAATINGA,

En Am Pr. 45, 8

14,8cm. Espécie arborícola, típica para o âmago doNordeste. De bico excepcionalmente forte e arrebitado(bico de sovela), cúlmem reto. Plumagem cor-de-canelabem clara, em adaptação ao ambiente fortementeensolarado: a garganta é branca reluzente. Cauda de bomtamanho, mole. Ao bico forte correspondem pés gran-des. Habita as matas baixas densas da caatinga. Pulavivazmente através da ramagem, revista folhas e a cas-ca da qual arranca pedaços. Não sobe troncos. Acompa-nha bandos mistos de pássaros:(Formicariidae), (Vireonidae) eculiciuorus (Parulinae) (Teixeira1989).Piauí, Ceará,Per-

nambuco e norte da Bahia. Registrado também emBrasília (Negret et . 1984) e em Minas Gerais (Buritis eno Triângulo Mineiro, Andrade 1990).É uma espéciemuito diferente de . "Bico-virado-grande*". [Parainformações sobre técnicas de forrageamento evocalizações consulte Whitney e Pacheco (1994).]

VlRÂ-FOLHAS, Pr. 27, 14

19,5cm. Espécie terrícola peculiar. Silvestre, vive sem-pre escondida nos trechos mais escuros da mata onde éimpossível distinguir pormenores do colorido. Apresen-ta a sindactilia (ligação entre o 3° e 4° dedos), o que podeser adaptação ao ato de pousarem em poleiros verticais;

trai-se pela emissão de fortes "spix", "spix-spíx-spix" que podem lembrar estrofe prolongada,trinado de assovios límpidos em seqüência levementeondulada lembrando o canto do canário-do-reino e depapa-formigas como o ou(Rhinocryptidae). Para construção ,do ninho aproveita-se de buracos existentes em barrancos a partir dos quaisescava uma galeria alargada no final onde prepara umcolchão de pecíolos secos bem entrelaçados; quando fal-

tam barrancos instala-se na massa de terra presa entreas raízes de árvores caídas. De temperamentofleugrnático (ao contrário de , pula no solo fa-zendo ruído ao jogar para os lados, com movimentosrápidos do bico, folhas caídas e pedaços de madeira dei-xando sinais no solo como se nele tivessem ciscado gali-nhas. Foge em vôo rápido, reto e baixo semelhante aode diversos formicarídeos. Ocorre do Ceará ao Rio Gran-de do Sul, oeste de Goiás, sul de Mato Grosso, Paraguaie Argentina (Misiones). "Pincha-cisco", "Varredeira","Papa-formigas", "Ciscador", "Vira-folha-vermelho"".

VIRA -FOLHA -DE-PEITO-VERMELHO*,

[16-16,Scm. Possui várias populações disjuntas numaampla área de distribuição entre o México e a Bolívia.No Brasil além da Amazônia é encontrado na florestaatlântica entre Alagoas e São Paulo. A espécie foi recen-temente encontrada no Parque Natural do Caraça, Mi-nas Gerais e no Parque Estadual do Desengano, Rio deJaneiro a. F. Pacheco, C. E. S. Carvalho).] No EspíritoSanto, norte do rio Doce (1941/1942), capturei na mes-ma mata, esta espécie e mais duas congêneres: 5.e 5. .

V IRA-FOLHA -DE-BICO-CURTO*,

rufigu

[16cm. Distribuído por quase toda a floresta de terrafirme da Amazônia brasileira para leste até o Maranhão(Oren 1990). Está assinalado também para todos os paí-ses amazônicos.]

VIRA-FOLHA-PARDO*,

[18,Scm. De distribuição na Amazônia bastante-.H-

milar a espécie anterior. Adicionalmente ocorre em ma-tas remanescentes no estado de Alagoas(5. c. c gineus)eno sul da Bahia e norte do Espírito Santo(5. c. .

VIRA-FOLHA-DE-GARGANTA-CINZA ". c

[17-18cm] Foi coletado em Rondônia em novembrode 1986 (D.F. Stotz). [Sua distribuição sul-americana pre-dominante está associada as encostas orientais dos An-des na Venezuela, Colômbia, Equador, Peru e Bolívia. Tam-bém isoladamente na Costa Rica e oeste do Panamá.]

JOÃO-PORCA, Pr. 27, 9

14cm. Um dos poucos pássaros brasileiros que vi-vem constantemente à beira da água corrente. Inconfun-dível, embora no seu hábitat sombrio quase não se des-

Page 81: Ornitologia Brasileira - Helmut Sick 2ed-03

580 ORNITOLOGIABRASILEIRA

taque O desenho característico e diagnóstico das partesinferiores, além do mais quase sempre é visto por cimaonde, de fato, é escuro; pode lembrar um pequeno sabiáde cauda curta; é de um temperamento bem inquieto.

forte "zi-sick", "zissi-sík" (advertência e chamado);seqüência prolongada de assobios mais suaves, crescen-do e depois decrescendo: "sisisi ..." (canto, o casal emconjunto); o chamado de lembra tanto

como da Europa, aqual habita um biótopo semelhante (beira de córregosmonteses). Nidifica em barrancos sombrios, cava com obico uma galeria horizontal ,em cuja câmara terminalconstrói um volumoso ninho esférico de entrada lateralusando raízes e hastes flexíveis externamente e largas ecompridas folhas de taquara, internamente, entrelaçan-

Achaval, F. 1972. . . no. 21. (fauna nidícola)Andrade, M. A. 1990. 16:14. em Minas Gerais)Azevedo, S. M., Jr. 1989. .

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Pacheco, J.E 1993. III o r.42. (espéciesinvasoras do Rio de Janeiro)'

Pacheco, J. F. 1995. 3:83-87. médioSolimões e Roraima)"

do-as bem (fig. 213B,V. Reprodução). A permanência daespécie em locais 'escuros é atestada por seus grandesolhos. Habita as margens de córregos de densa vegeta-ção, onde pula no solo ou vai de pedra em pedra en-trando mesmo na água rasa à caça de insetos e larvas; àsvezes apanha folhas inteiras caídas na água à cata depresas (v. introdução), inspeciona a lama de chiqueirose esgotos (daí a série de nomes vernaculares pouco airo-sos de que é objeto), vira folhas e torrões de terra com obico. Ocorre no Brasil central e merídio-oriental (sul daBahía.Espíríto Santo e Minas Gerais ao Rio Grande doSul e Mato Grosso), Uruguai, Paraguai, Argentina e, se-guindo pelos Andes, até a Colômbia, Venezuela e Pana-má. "[oão-suiriri", "Capitão-da-porcaria", "Presidente-da-porcaria", "Tridi", "Tiriri", "Joâo-de-riacho=".

Pacheco, J. E, C. E. S. Carvalho& P.S. M. Fonseca. 1992.e os II. 11 e

i no norte do Rio de [aneiro)"Pacheco, J.E & L. P. Gonzaga. 1995. 3:3-11. is

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n. ssp.)"Silva, N. F., J. E. Simon& S. Pacheco. 1994. Con .

o 141. , nidificaçâo)"Sirnon, J.E., G. T. Mattos & J.'E Pacheco. 1993. !lI Cong .

o r.20. t o sem Minas Gerais)"

Simon, J.E., G. T. Mattos & J. F. Pacheco. 1994. Cong. o 117. e. distribuição e

hábitat)"

Simon, J. E.& S. Paeheco. 19~3. lll . . or. 4. nidificação)"

Skutch,A. E 1969. . 81:1-2. , construção doninho)

Storer, R. W. 1989.Occ. o . Uni . g 719 1-21.o Paraguai)"

Straube, E C. 1994. . B. O. C. 114:46-48. ius i,taxonornia)"

Straube, F. C.& M. R. Bornschein. 1992. e 65.hábitat)"

Page 82: Ornitologia Brasileira - Helmut Sick 2ed-03

FURNARIIDAE 581

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Teixeira, D. M. 1992a. VI 65-69. ,nidificação )'

Teixeira, D. M. 1992b. 72:141-46.ninho)'

Teixeira, D. M. & L. P. Gonzaga. 1983. . . E. Coeldi.

. 124. n. sp.) .Teixeira, D. M. & G. Luigi. 1989. . . . 49:605-13. o

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Teixeira, D. M. & G. Luigi, 1993. , . . 74 117-24.í hábitos)'

Teixeira, D. M., J. B. Nacinovic & r. M. Schloemp. 1991.

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Zimmer, J.T. 1936a. . . . nO.860. (taxonomia)

Zimmer, J. T. 1936b. e . s. no.861. (taxonomia)

Zimmer, J.T. 1936c. . nO.862. (taxonomia)

Page 83: Ornitologia Brasileira - Helmut Sick 2ed-03

582. ORNITOLOGIA BRASILEIRA

ARAPAÇUS: FAMíUA DENDROCOLAPTIDAE (38)

Restritos ao neotrópico (do sul do México ao norteda Argentina); muito bem representados no Brasil. Fós-sil do Pleistoceno Superior (20.000 anos) da Lagoa San-ta, Minas Gerais. Aparentados aos Fumariidae com osquais têm vários caracteres comuns, mas existem dife-renças, na estrutura do esqueleto, da siringe, etc. Foiproposto várias vezes reunir Dendrocolaptidae eFurnariidae numa só família. Feduccia (1973) consideraos dendrocolaptídeos os mais avançados.

Como aves essencialmente silvícolas, osdendrocolaptídeos tiveram sua maior diferenciação nahiléia, o que não se passou com os furnarídeos; em suaextrema adaptação à vida .arborícola lembram os pica-paus (grupo-cosmopolita), em uma notável evoluçãoanáloga, uma das singularidades da região neotropical.Os meios morfológicos para alcançar tal objetivo são,porém, fundamentalmente diversos nos picídeos edendrocolaptídeos.

O porte varia consideravelmente, a menor espécietem apenas 14,4g (média), ao

passo que chega aos 99,Sg (macho) ea mais de 120g. O bico

dos dendrocolaptídeos é, geralmente, curvo e compri-do tomando, na mais de 1/4 do comprimento docorpo; a excessiva curvatura do bico.implica em uma posição diferente dos olhos. Línguacurta e fixa. Pé anisodáctilo (fig. 219) (3 dedos: 2°,3° e 4°,para frente, unidos, e um, o1° para trás) como a maioriadas aves e todos os Passeriformes; seus dedos não sãotão fortes como os dos pica-paus.

3 4

2·, .

1Fig.219. Pé anisodáctilo de arapaçu,ng visto da planta, pé esquerdo; compare a

posição dos dedos com a dos pica-paus (seg.Bõker1935).

A cauda é usada como apoio quando sobem as árvo-res (de fato eles pulam) tal como os picídeos sendo, con-tudo, as retrizes de construção diferente pois enquantoas raques das retrizes dos Picidae são retas, dirigindo-se direta e obliquamente ao substrato, as pontas endu-recidas das retrizes dos dendrocolaptídeos sãoencurvadas para dentro qual garras, tocando o troncoem ângulo. quase reto em relação à raque das caudaisque ficam paralelas ao tronco (fig. 220). As asas e a cau-da são de um vermelho-ferrugíneo intenso, semelhan-tes às de muitos furnarídeos. .

Sexos iguais, macho maior (nitidamente p. ex. emimaturos de bico mais curto (como se res-

salta p. ex. em e A for-ma do bico caracteriza, a grosso modo, alguns gêneros,como , e

s, sendo sua coloração também signifi-cativa. O colorido da plumagem da maioria aparentauma certa homogeneidade, ao menos à primeira vista.O desenho ventral específico, utilizado na diagnose deespécimens taxiderrnizados, mal é visível na ave viva,que permanece "pregada" ao tronco. O colorido das es-pécies pode variar bastante conforme a região geográfi-ca; para a identificação das várias espécies faz-se neces-sária uma ampla descrição dos caracteres, o que aquinão é possível.

B

Fig.220.Evolução diversa da estrutura da cauda comoinstrumento de apoio do corpo, em três orden~de aves.A, andorinhão (Apodiformes, Chaeturinae);B, arapaçu(P~sseriformes,Dendrocolaptidae);C, pica-pau(Piciformes,Picidae);note a forma e posição diferentesda ponta da cauda).

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DENDROCOLAPTIDAE 583

o reconhecimento no campoé facilitado pela ocor-rência de diversos representantes um ao lado do outro;aparecem, P: ex., no mesmo tronco, na mesma altura e aintervalos de alguns minutos eDend É comum que vários tipos dedendrocolaptídeos vivam no mesmo local, p. ex.,

etorna-se uma das aves

mais abundantes na floresta amazônica. Osdendrocolaptídeos têm um odor típico que lhesé intei-ramente peculiar.

Na sua maioria têm o canto nitidamente relacionadoà quadra reprodutiva; suas vozes estão freqüentementeentre as mais impressionantes das que se ouvem, sendoestrofes monótonas e, não obstante, melodiosas e, àsvezes, um tanto prolongadas, lembrando as de certosFurnariidae, Picidae ou pequenas saracuras. Ao contrá-rio dos pica-paus os dendrocolaptídeos cantam mais emdias de chuva e ao crepúsculo; fazem-se ouvir já nosprimeiros clarões do dia e estão entre as últimas avesdiurnas a calar, seu vozear só termina quando começa obulício de bacuraus e corujas; no sudeste do Brasil

costuma ser o derradeiro cantor àtardinha, posição ocupada na Amazônia por

picus ou X. obsoletus.Fora da época de reprodução soltam às vezes um

único júbilo durante a tarde toda, encerrando o expedi-ente do dia (p. ex. Ambos os se-xos cantam, sendo a voz da fêmea mais fraca e rouca (p.ex. em X. Alguns, como sabem re-duzir ou ampliar consideravelmente o volume da vozconforme a situação. e

são capazes de prolongar suas estrofespor um minuto ou bem mais. Já os filhotes chamam aatenção com uma estrofe forte semelhante ao canto dospais, que começam a fazer ouvir de dentro da cavidadedo ninho (p. ex. e que erni-

.tem ainda após abandoná-lo picus), po-dendoservir como .-

e .

Arborícolas e insetívoros, usam o bico (que é muitodiferente daquele dos pica-paus) mais como uma pinçaque como um cinzel; exploram fendas na madeira e nacasca de árvores, arrancam ou quebram lascas de cascase tiram musgos e líquens com golpes laterais. Entre asfontes mais ricas de alimento que exploram estão asbromeliáceas epífitas das quais arrancam as folhas se-cas e perfuram as vivas desmanchando o amontoadohumoso que nelas se acumula, e que cai sobre os galhoscom estrépito, e tirando quaisquer artrópodes (desdemiriápodes, aranhas e escorpiões até moscas) que en-

contrem, além de pererecas, gumos e lagartixas.is ocasionalmente devora ovos de

passarinhos que encontra em buracos de árvores. Dota-do de bico extremamente longo e curvo (porém fraco),

consegue, com grande habilidade,devassar as rosetas dos gravatás e alcançar o fundo deburacos estreitos, como os cortes retangulares de origemainda não esclarecida em taquaras do Brasil oriental(v. sob Picidae, Alimentação).pega um inseto com a ponta do imenso bico curvo, soltaa presa e pega-a de novo com a boca largamente aberta(v. tucanos, beija-flores). O bicão de C. temaparência frágil sendo também moderamente elástico.

Não é raro o comportamento de martelar com força,comum em , sendo observado também em

o e até em C us. Cada tipo debico relaciona-se à exploração de um dado nicho; apa-rentemente há pouca competição com Picidae. Tambo-rilar não existe (v. Picidae).É mérito de E. Willis teranalisado cuidadosamente as diferenças das técnicas devárias espécies mostrando que não se pode generalizar.

abre ninhos de meliponídeosenquanto D. apanha ocasionalmente abelhase aproveita-se, como muitas outras aves, das formigas-de-correíçãocomo "batedores", à feição de certos papa-formigas; pousam a baixa altura ou sobre o solo,espreitando os animais espantados que colhem com obico; geralmente não caçam as formigas.De

e p. ex., conseguem destamaneira mais da metade de seu alimento (E. O. Willis,y. Oniki).

Imagos de libélulas que encontramos em estômagosde são provavelmente capturados quandopousados em um dia frio ou de madrugada;Dend ocincbate com as asas contra troncos para espantarartrópo-des e às vezes come sementes; tanto ela comoapanham pequenos insetos em pleno vôo, à moda dospapa-moscas. Os dendrocolaptídeos batem as presasmaiores violentamente de encontro ao substrato paramatá-Ias.

Amiúde sobem os troncos em "espiral", intercalan-do às vezes descidas abruptas de ré; conservam semprea cabeça para cima (é excepcional que um arapaçu andede cabeça para baixo como vimos fazer um o

ao descer um galho oblíquo). Tal técnica deescalar lembra muito a de espécies do gêneroOscine que, da Nicarágua para o norte, pode ser obser-vado por vezes na mesma árvore. Alguns como

movimentam-se com freqüência sob osgrossos galhos horizontais. Do alto deixam-se cair, deasas e cauda abertas, para recomeçar a subida, ou diri-gem-se da copa em vôo rápido para árvore mais distan-te. Alimentam-se mais em troncos que em galhos; as es-pécies maiores preferem troncos grossos, as menorestroncos mais finos. A adaptação a um certo modo de sealimentar pode ser nitidamente diversa entre macho efêmea (forma ou tamanho diferente do bico). A prefe-

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584. ORNITOLOGIA BRASILEIRA

rência das diversas espécies para hábitats diferentes di-minui a competição. Voam silenciosamente passandocomo sombras.

Revelam seu nervosismo sacudindo as asas; quandoameaçados escondem-se por detrás dos troncos com asasas entreabertas. Coçam-se como os pica-paus, segu-rando-se com um só pé. Usam insetos para "formicar-se" o que, ao que parece, serve menos de higie-ne da plumagem e da pele do que de estimulante (ácidofórmico).

Várias espécies (p. ex. , ,, es, e

associam-se, após a quadrareprodutiva, a bandos mistos de pássaros comofurnarídeos, formicarídeos e traupíneos. Durante o anotodo, na Amazônia, se encontramDe inte-grando bandos. Certas formas (como sãoencontradas-quase sempre aos casais ao passo que ou-tras (como são mais solitárias; o raio deação do indivíduo parece, em geral, ser reduzido. Nãosaem da mata protetora. Para dormir procuram bura-cos, chegando a entrar em chaminés de residências po-dendo instalar-se também em vigas sob o telhado

.Poucos Dendrocolaptidae adaptaram-se à vida na

savana (ao contrário dos furnarídeos); tal tendência co-meça a manifestar-se em tor-nando-se acentuada em e

chega a lembrar ummaçaricão quando corre através do capimralo do parque Espinilho (Rio Grande do Sul), contudo,quando foge, procura árvores.

Nidificam em ocos de árvores não sendo capazes de,por si próprios, escavarem tais abrigos; usam árvoresem adiantado estado de decomposição, troncos mina-dos pelo fogo e ocos de pica-paus

g e L. Gostam de entrada bemestreita , não faltando, porém,ninhos em troncos amplamente abertos.

gesii parece utilizar ninhos abandonados de(Espinilho). Podem se aproveitar de vãos entre

gravatás ou orquídeas epífitas e copas de palmeiras, pâfa:nidificar picus). São esquivos no ninho,o que dificulta a observação.

Põem geralmente dois ovos branco-puro com poucobrilho, preparando um colchão de pedaços de casca ou.de folhas secas. O casal se reveza (ou não) na incubaçãoe criação dos filhotes, os quais nascem cegos e cobertosde plumas. Em , da América Cen-tral, a incubação durou 15 dias e os filhotes abandona-ram o ninho com 19 dias; a limpeza não é mantida porto~o o tempo, d~ forma que os filhotes crescidos podems~J3r a cauda picus). Ninhegos são para-sitados pelas larvas do berne de passarinho (Díptera).

e

Em muitasespécies evoluíram raças geográficas, àsvezes em longa seqüência clinal, p. ex. em so usg e do qual foram descritas mais de dezsubespécies. Em gêneros comoe os diversossubstitutos geográficos podem ser bastante diferentes.O padrão de uma distribuição alopátrica (patente emmuitas aves silvícolas) é comum na Amazônia, onde umaseparação efetiva pode ser efetuada por grandes rios;em gêneros comoDe faltam ainda elemen-tos suficientes para decidirmos se temos de considerarcertas formas sub ou aloespecíficas. Entre representan-tes que constituem "boas" espécies (como p. ex.De ol ptes ce h e D. s) ocorre umasuperposição de distribuição (simpatria). Quando exis-te uma distribuição largamente disjunta, como em

co/ ptes s e X. collis, podemosusar como evidência de parentesco a vocalização, mui-to semelhante em ambos, mostrando que elementosbionômicos podem ser maisconservativcs quecaracteres morfológicos.

Tanto os como os o es são tes-temunhos de uma antiga ligação entre as matas do Bra-sil oriental e a hiléia. O contrário dá-se com ido es

g s cuja vastíssima área de ocorrência, que in-clui o cerrado, a caatinga e o parque Espinilho, foi esfa-celada pelo desenvolvimento da Amazônia; reapareceem ecossistemas correspondentes ao norte do Amazonase imigra recentemente no Brasil oriental desflorestado.

Declínio

Os Dendrocolaptidae estão entre ossse esmaisabundantes em matas neotropicais, sobretudo em flo-restas primárias; em matas secundárias empobrecidas,com reduzido número de espécies vegetais e parcas emárvores maiores e velhas, seu número reduz-se muito.Cremos que tal declínio, além da escassez de alimentodeve-se à falta de cavidades naturais ou feitas por,píca-paus, de que estas aves necessitam para nidificar e dor-mir; uma exceção é spi espécie bempequena que, vivendo no sub-bosque, alcança elevadadensidade populacional em matas do baixo Amazonas,perturbadas'peló homem (Lovejoy 1974).

Poder-se-ia talvez facilitar a permanência dedendrocolaptídeos em matas pobres (no sentidosupracitado) com a colocação de.ne es, muito utili-zad.os no hemisfério setentrional. Notamos, p. ex., quee o g e L. s tus aproveitam-

se ocasionalmente de buracos existentes em edifrcaçõespara nidificar.

......,.

ARAPAÇU-PARDO*, Dend Pr. 26, 7

.21cm. O único representante da família quase queumformemente pardo-oliváceo, sem barras negras; u-

-. t

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'III

I II

, ...

DENDROCOLAPTIDAE 585

ropígio e cauda avermelhados assim como as asas;penas da cabeça geralmente arrepiadas. baixo e bu-fado "kta", às vezes bissilábico (advertência); canto mo-nótono e duro, "klip, klíp, klip ...", bastante prolongadoe ligeiramente ondulado, podendo lembrar o canto de

há uma estrofe trêmula mais melo-diosa, "prrrrrri-prrrrrrü", inicialmente ascendente e pos-teriormente descendente, que lembra a saracurinha

(canto emitido à tardinha, Mato Gros-so). Vive na mata; ainda é ativo bem no crepúsculo quan-do corujas, como Otus , começam a vocalizar,Acompanha as hostes das formigas-de-correição, porvezes ao lado de Ocorre na Amazô-nia; das Guianas ao Maranhão, Pernambuco e Alagoas.Mato Grosso, Rondônia e Bolívia. "Arapaçu-liso".

ARAPAÇU-ÚSO,

21cm. Substituto no sudeste do Brasil da espécie an-terior que a ela assemelha-se bastante em vários aspec-tos (inclusive na voz), mas não tem as asas, o uropígio ea cauda avermelhadas como a anterior, da qual podeser considerada aloespécie ou subespécie (se com ela cru-zar-se). Ocorre do sul da Bahia ao sul de Goiás, Rio Gran-de do Sul, Paraguai e Argentina (Misiones).

ARAPAÇU-DA-TAOCA ".

19cm. De mento esbranquiçado e plumagem choco-late. "tzirirít" (advertência); estrofe tremulante (can-to). Habita o estrato inferior da mata. Meridionalmenteaté a serra do Cachimbo e Belém (Pará). [Por toda aAmazônia, para leste até o Maranhão (Oren 1990).]

ARAPAÇU-RABUDO*,

[19-21,5cm] Parecido aos , de aspecto me-nos robusto, ainda mais rabilongo, bico mais curto, acabeça é densamente manchada (nos c sãouniformes). Maior que a congênere seguinte forrageandogeralmente mais alto, ambas as vezes (p. ex. Manaus)na mesma mata. [Por toda a floresta de terra firme ama-zônica brasileira para leste até o Maranhão (Oren 1990)e em todos os países amazônicos além dê' florestas da .América Central entre Honduras e Panamá.]

ARAPAÇU-DE-GARGANTA-PINTADA *,

[16,5-1?,5cm. Um dos menos conhecidosdendrocolaptídeos da Amazônia. No Brasil provavel-mente ocorre por toda a bacia amazônica em florestasde terra firme. Seus limites leste, Maranhão (Oren 1990)e sul, Aripuanã (Novaes 1976) e Peixoto de Azevedo,ambas em Mato Grosso (Novaes& Lima 1990) demons-

tram a amplitude de sua distribuição. Adicionalmenteestá assinalado (poucos registros) para a Venezuela, Co-lômbia, Equador, Peru e Guiana Francesa.]

ARAPAÇU-VERDE,

Pr. 26, 10

15,lcm. Uma das espécies mais freqüentes, inconfun-dível em seu aspecto delgado, bico fino; costas verdes,resto da plumagem bastante variável. Apenas no Brasilsão conhecidas sete raças geográficas. Na asa aberta nota-se sempre uma faixa ferrugínea clara muito vistosa.inconfundível, é uma seqüência de assobios claros,"quip ..." prolongada, levemente ascendente ou des-cendente (canto); forte "ttt..", às vezes durante minutosa fio lembrando Oe . Vive em qualquer tipo demata. Ocorre do México à Bolívia, Paraguai e Argenti-na; todo o Brasil. "Trepadeira", "Cutia-de-pau-peque-na" (Minas Gerais), "Arapaçu-de-cabeça-cinza*".

ARAPAÇU-DE-BICO-DE-CUNHA,

Pr. 26, 5

14,2cm. O menor dos dendrocolaptídeos brasileiros,típico da Amazônia. Pelo bico curto em forma de cinzellembra um pouco o fumarídeo enops uma faixa alarmenos vistosa que a de . Listra supra-ocular egarganta amarelo-ferrugíneas, pescoço anterior caracte-risticamente manchado. o estridente "psiã"; apaga-do ksch, ksch". Vive na mata densa, sobe emárvores de qualquer porte, martela com força; é uma dasaves mais abundantes em matas de várzea e de terrafirme no baixo Amazonas. Ocorre do México à Bolívia,Amazônia brasileira, Mato Grosso, sul da Bahia ao Es-pírito Santo (rio Doce). "Ra-pau-i" (Kamaiurá, MatoGrosso, nome dado também a outros Dendrocolaptidae).

ARAPAÇU-PLATINO,

29cm. No Brasil, encontrado apenas no extremo sul,onde é único na aparência e comportamento; bico extre-mamente curvo, lembrando , pluma-gem parda, sobrancelha, garganta e estriamento; das

>,.partes inferiores brancos. forte "zissik" (advertên-cia); seqüência apressada "dewídel-dlídel-dlídel...",freqüentemente descendente (canto). .

Vive na savana do "parque Espinilho" (Rio Grandedo Sul); procura alimento no solo, corre e saltita pelocapim baixo e ensolarado lembrando um maçaricão( pela silhueta; de vez em quando se dirige aárvores baixas e esparsas, pousa nos galhos grossos etambém nos troncos, apoiando-se na cauda. Vive ao ladode pies gus os s, srufus e dos pica-paus e C. o . Ocorre daPatagônia ao Uruguai, Rio Grande do Sul (Quaraí) eParaguai; registrado no Brasil apenas em 1970.

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586 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

ARAPAÇU-DE-BICO-COMPRIDO,

Pr. 26, 1

3Scm. O maior Dendrocolaptidae, inconfundível pelobico enorme (7,2cm), branco e em forma de sabre. Depescoço fino, do qual a cabeça quase não se destaca emlargura. "kta" (advertência); estrofe de três piosprolongados (canto). Habita a mata alta à beira de rio,ilhas floresta das de grandes rios. Ocorre na Amazônia;meridionalmente até o alto rio Xingu (Mato Grosso) eMaranhão. "Arapaçu-bícudo'"'.

ARAPAÇU-VERMELHO,

30cm. Substitui na Amazônia a espécie descrita abai-xo, possuindo um bico ainda maior (Scm) que esta; plu-magem vivamente avermelhada, mais nitidamente nasasas e cauda, e menos pronunciadamente no padrãobarrado do ventre. muito parecida à do seguinte,"gã-wat" (advertência); seqüência descendente de 4-8assobios fortes, "chebíâ ...." (canto). Vive na mata alta.Numerosas raças geográficas (mais de 20) vão do Méxi-co ao alto Amazonas, Bolívia e Mato Grosso (alto Xingu)."Cochi-bicudo=".

ARAPAÇU-DE-GARGANTA-BRANCA,

Pr. 26, 2

29cm. O maior dendrocolaptídeo do sudeste do Bra-sil. Bico negro brilhante, um tanto longo e curvo, dandoà ave 'uma fisionomia diferente da dep que é muitas vezes seu vizinho, e do qualdifere também pela garganta branca pura e pela falta deestriação creme nas costas. (nota inicialprolongada, tensa, terminando num espocar, advertên-cia); seqüência fortemente descendente de assobios ter-minalmente mais baixos, "ssui-dôbía dôbía dõbía ..."(canto, emitido quase que exclusivamente à tardinha),que a fêmea responde com uma voz rouca e mais fraca.Vive na mata; todos os estratos, amiúde a pouca altura;no Riode Janeiro mais comum nas montanhas (Serrados Órgãos, Itatiaia, etc.). Ocorre da Bahia e Minas Ge-rais ao Rio Grande do Sul, Paraguai e Argentina(Misiones). "Agarradeira", "Assobiadeira", "Arapaçu","Pica-pau-cutiá". "Cochi-de-garganta-branca*". Pode serconsiderado aloespecíficoà forma anterior. '

[ARAPAÇU-DO-NORDESTE],

En

29cm. Parecido com X. mas com o bico maisclaro (marrom) e mais delgado; a plumagem' mais páli-da, nítida faixa supra-ocular amarela, ventre desprovi-do, ou quase, de barras negras. Habita a floresta e a mataribeirinha. Ocorre do Maranhãoà Paraíba e Bahia. Subs-

tituído a oeste do rio São Francisco (Brejo [anuáría, Mi-nas Gerais) por [ranciscanus, bas-tante terrícola, revira as folhas no chão e bica fortemen-te a própria terra; seu modo de con:er no solo pode lem-brar o de galinhas (G. T. Mattos). E restrito à uma áreabastante limitada, muito ameaçado pela carvoaria."Cochi-do-nordeste=".

ARAPAÇU-DO-C~O,

31cm. Espécie meridional grande, de bico forte mui-to comprido (6cm) mas não tão curvo como o de

a plumagem ferrugínea escura quase unifor-me contrastante com o cinza-claro da ranfoteca. bis-silábico "kwai-kwaí" quando voa de uma árvore a ou-tra. Vive no campo com árvores esparsas ou palmeiras,desce ao solo. Ocorre da Bolívia, Argentina e Paraguaiao sul de Mato Grosso (Corumbá). "Cochi-ferrugem'".

ARAPAçu-cmELA ",

27cm. Desenho escamado na garganta (estrias esbran-quiçadas, marginadas de negro), bico sem tonalidadevermelha; ocorre em Belém e ao norte do Amazonas.[Também na generalidade dos países amazônicos e nasflorestas de terra-firme e várzea da Amazônia ocidentalbrasileira.]

ARAPAÇU-DE-BICO-VERMELHO*,

. 28cm. Garganta e uma linha ao lado da cabeça. cin-zentas, bico grosso e vermelho; ocorre na Venezuela eCuianas, no Brasil a leste do rio Negro.

[ARAPAÇU-UNIFORME,

26,S-27,Scm. Antes considerada subespécie da ante-rior, esta aloespécie difere por possuir medidas meno-res e ventre fracamente estriado. Ocorre nas florestas deterra-firme entre as margens direita do Madeira e ambasas margens do Tapajós, incluindo suas altas porções nosEstados de Rondônia e Mato-Grosso. Também no norteda Bolívia. Forma com a espécie precedente e H.ig iuma superespécie.]

[ARAPAÇU-DE-LORO-CINZA, esEn

Difere de H. por apresentar mento e gar-ganta lavada com ocre e ventre barrado; de H.pe ipela ausência da estria malar branca e pela presença deloros cinzas ao invés de esbranquiçados. Habita a flo-resta de terra-firme situada entre os rios Xingu e To-cantins-Araguaia nos Estados do Pará e Mato Grosso.

I, . I

I '~""

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DENDROCOLAPTIDAE 587

Os dados aqui divulgados para esta espécie recentemen-te descrita e o arranjo proposto para o gênero derivamdo artigo de Silvaet . (1995).]

ARAPAÇU-DE-BARRIGA-PINTADA ".

29cm. Garganta estriada de branco, barriga finamentebarra da, bico vermelho, ocorre do alto Amazonas até osrios Negro e Purus. [Também nas florestas adjacentesda Colômbia, Peru e Bolívia.]

ARAPAÇU-GRANDE,

Pr. 26,4

26cm. Semelhante a sendo po-rém menor; com faixas transversais na barriga, caudapouco vermelha, garganta esbranquiçada, píleo e peitoestriados; bico mais curto, negro de ponta marrom equase reto. seqüência de assovios simples ascen-dentes e crescentes para depois decrescerem e descen-derem, ... (canto). Vive na mata, cerrado (MatoGrosso) e buritizal (Bahia). Ocorre do Piauí ao Rio Gran-de do Sul, Goiás, Mato Grosso (até o rio Xingu), Para-guai e norte da Argentina (inclusive Misiones)."Subideira", "Cutia-de-pau" (Minas Gerais), "Ipgkazin"(Karnaiurá, Mato Grosso), "Atú-ja-kalú" (Waurá, MatoGrosso), (Trumai, Mato Grosso), "Arapaçu-de-bico-preto?".

ARAPAÇU-BARRADO*,

26cm. Píleo de aparência escamosa, peito ligeiramen-te barrado, bico preto ou pardacento. Várias raças geo-gráficas são largamente distribuídas por toda a hiléia;ocorre do México até as Guianas e Colômbia e, meridio-nalmente, até os altos rios Teles Pires e Xingu, serra doRoncador (Mato Grosso) e Bolívia. A população do les-te do rio Madeira (Amazonas) tratada como D.

, é por vezes considerada espécie à parte, ocorreainda uma população remanescente no Nordeste (Per-nambuco. Alagoas). Encontra-se com

no alto rio Xingu (Mato Grosso).e comno rio Teles Pires (Mato Grosso);

gosta dos açaizeiros ricos em insetos.

ARAPAÇU-MEIO-BARRADO*,

28cm. Lembra D. no padrão estriado dopíleo, etc., sendo maior. Ocorre na Amazônia brasileira,Serra do Cachimbo (Pará), oeste de Mato Grosso, Bolí-via e noroeste da Argentina; vive às vezes ao lado daespécie anterior (Amapá, Manaus, Roraima).

ARAPAÇU-MARROM*, siEn

29cm. De vértice escamado, uropígio e coberteirassuperiores da cauda vermelhos, barriga vermiculada.Encontrado apenas entre os rios Xingu e Madeira, nosestados do Amazonas, Rondônia, Pará.

ARAPAÇU-DE-BICO-BRANCO, picusPr. 26, 8

20cm. Comum na Amazônia; facilmente reconhecí-vel. O bico reto e branco, asas, uropígio e cauda bemvermelhos; o peito escamado. "tchik ..." (advertên-cia); estrofe bem característica, retumbante, fortementedescendente, terminalmente lenta (canto). Vive na mataem baixa?as perto de rios e lagos, típico das ilhasflorestadas de grandes rios amazônicos; várzea, igapó,buritizal, onde pode encontrar-se com o furnarídeo

e Ocorre do Panamá à Bolívia, Mato Grosso,leste do Pará; Nordeste; também no Espírito Santo (rioDoce; Vitória, no manguezal, C.E.s. Carvalho).11Arapa-çu-de-bico-reto?". V o seguinte.

ARAPAÇU-DE-GARGANTA -AMARELA,

Pr. 26, 3

24cm. Abundante na Amazônia; de porte um poucoinferior ao de es is, bico compridoe claro, relativamente fino e curvo. seqüência des-cendente "~Ü-~Ü-~Ü-~Ü"; estrofe forte e prolongada (até4 minutos), inicialmente apressada e trêmula e depoisretardada, ... ... Uma das vozes dominantesnamadrugada e à tardinha, tal como a da espécie anterior.Vive na mata, em geral freqüenta estratos mais altos(freqüentemente acima de 10m); uma das aves domi-nantes no baixo e alto Amazonas. Ocorre da Guatema-Ia ao Mato Grosso e Goiás; também no Brasil oriental,do Ceará, Paraíba ao Rio de Janeiro. "Pica-pau-verme-Ihol."Arapaçu-de-garganta-camurça*". Inclui X. onido baixo Amazonas e Ceará, do qual difere por ter agarganta branca ao invés de amarela, às vezes, conside-rada forma autônoma.

ARAPAÇU-FERRUGEM*, necopinusEn

[21cm. Espécie ainda mal conhecida da Amazôniabrasileira. Registros p'ara o [uruá, Purus, Madeira, Ta-pajós e Negro e respectiva calha do Solimões/Amazo-nas. A sugestão de D. F. Stotz (in Ridgely& Tudor 1994)de ser esta espécie restrita a floresta de várzea é plausí-vel na medida em que ela ocorre nas florestas doMamirauá, Amazonas 0. F. Pacheco), única unidade deconservação inteiramente voltada para a conservaçãoda várzea.]

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588 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

ARAPAÇU-ruSCADO*, obsoletus

[20-20,5cm. Representante típico das florestas de vár-zea ou outras florestas nas proximidades de corposd'água. Espécie comum por toda a Amazônia brasileirapara leste até a região de Belém e para o sul até MatoGrosso. Assinalado igualmente em todos os países dabacia amazônica.]

ARAPAÇU-OCELADO*,

[21,5cm. Mais amplamente distribuído na região oci-dental da Amazônia brasileira, entretanto possui escas-sos registros para o baixo Amazonas e outros pontos dosrios Tapajós, Xingu e Tocantins. Ocorre ainda na Colôm-bia, Equador, Peru e Bolívia e extremo sudoeste daVenezuela.]

ARAPAÇU-DE-SPIX*,

[21,5cm. Floresta de terra firme do Tapajós ao Mara-nhão. Inclui possivelmente X. (juruá ao Ma-deira, Peru e Bolívia) e a espécie seguinte, segundo pa-recer de Zimmer (1934).]

ARAPAÇU-ELEGANTE*,

[20cm. Descrita do noroeste de Mato Grosso, esta es-pécie se espalha pela alta amazônia brasileira, ao sul doSolimões/ Amazonas para leste até o Tapajós. TambémColômbia, Equador, Peru e Bolívia. Mais estudos sãonecessários para interpretar as relações entre esta e aprecedente espécie. Recentemente pára este complexofoi sugerido o tratamento de espécie única (Ridgely&Tudor 1994).]

ARAPAÇU-ASSOBIAOOR*,

[21,5cm. Endemismo das florestas de terra firme doEscudo Cuianense. Assinalado no Brasil ao norte doAmazonas, da margem esquerda do Negro aoAmapá,além das Guianas e Venezuela.]

ARAPAÇU-DO-CERRADO,

20s:m.Característico do cerrado, caatinga e paisagenscorrespondentes abertas e com árvores esparsas. Incon-fundível pelo branco muito vivo da faixa supra-ocular edas partes inferiores. muito característica, m~lod!-

oso "djã-rüt" (chamado), seqüência de assovios melan-cólicos tremulantes, "drüiü ..." (canto). O filhotinho fazouvir do ninho sua estrofe melodiosa e descendente, ter-minalmente retardada, traindo-se de longe. Embora ti-picamente campestre continua arborícola; às vezes aolado de Picidae como (que lem-bra no timbre da voz: "voz de paisagem'?") e

No Rio Grande do Sul sintópico aDe Marajó ao resto do Brasil extra-amazônico, Uruguai,Argentina, Paraguai e Bolívia; também nas savanas doSuriname meridional. Começa a invadir o litoral do Riode [aneiro. V. as duas espécies que se seguem.

ARAPAÇU-ESCAMADO,

19cm. Representante florestal comum em muitas áre-as do Brasil oriental; parecido com sporém nitidamente maior, de dorso com desenho claro,partes inferiores largamente estria das de negro, em con-traste muito vivo, e peito de aparência escamosa."b ía rrr " (chamado); estrofe descendentementeescalonada terminando baixinho, "pitché ..." (canto).Mata do Piauí ao Rio Grande do Sul, Paraguai eMisiones; no Rio de Janeiro nas montanhas (Serra dosÓrgãos, ltatiaia, etc.); às vezes sintópico com a espécieabaixo (Minas Gerais). "Cutia-de-pau-rajada" (MinasGerais), "Arapaçu-escamoso?".

ARAPAÇU-RAJADO, [uscusPr. 26, 9

17cm. Semelhante ao anterior, mas de porte menor edesenho das partes inferiores pouco destacado."spírl" (chamado); uma risada clara,"quip-quíp-quip-quip-quip-quip-quip", mais apressada e forte do que ade (canto). Mata, tanto nas baixadas (p. ex.no ex-estado da Guanabara e no rio Doce, Espírito San-to) como nas montanhas; freqüentemente ao lado de

e . Do Ceará ao RioGrande do Sul, Goiás, Paraguai e Misiones (Argentina)."Cutia-de-pau-vermelha" (Minas Gerais), "Arapaçu-pe-queno".

ARAPAÇU-USTRAOO*,

[19-?Ocm. Espécie do neotrópico setentrional desdeo México até o Peru. A leste dos Andes ocorre apenas naColômbia, Venezuela e numa restrita área do norte deRoraima (Cory& Hellmayr 1925). Reencontrado nestemesmo estado em 1987 em matas de galeria aonorte deBoa Vista (D. F. Stotz).]

43 Em certas paisagens, como campo e brejo (juncais e taboais), há semelhança de vozes de aves não aparentadas, até em várioscontinentes, V.Furnariidae e Emberizinae.

).

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DENDROCOLAPTIDAE 589

ARAPAÇU-DE-USTRAS-BRANCAS*, teslbol

[19cm. Neste gênero o representante de maior distri-buição na Amazônia brasileira e extrabrasileira, comregistros para todos os países da bacia.]

-ARAPAÇU-DE-BICO-TORTO, C

l Pr. 26, 6

24cm. Inconfundível pelo bico longo (6cm), fino so-bremaneira recurvado, lateralmente comprimido e decor negra; o pescoço longo. estridente "spiâ" (ad-vertência); seqüência de três assobios roucos porém me-lodiosos e descendentes, seguida por um assovio ascen-dente "tschrfã-tschrfâ-tschrfâ-tschri-í", às vezes, em es-trofes mais prolongadas (canto). Vive na mata e taquaraisem qualquer altitude. Mergulha o desmesurado bico atéa testa em buracos e fendas na madeira e entre plantasepífitas; apanhando com a ponta das mandíbulas crisá-lidas, aranhas, etc", Flexiona o pescoço para trás dei-

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1-

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ARAPAÇU-BEIJA-FLOR, C

[24-28cm] De bico avermelhado, substitui a prece-dente no meio do continente, é muito semelhante, tam-bém na vocalização. Colômbia, Venezuela até Mato Gros-so, Nordeste, Brasil central, Paraguai e Argentina ..i,A-rapaçu-de-bico-torto?" .

ARAPAÇU-DE-BICO-CURVO*,

[22,S-24cm] Semelhante à precedente, mais escuro,também de bico vermelho. Do Norte do Continente atéao sul do Amàzonas (Tapajós, Xingu, Tocantins).

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590 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

SUPERFAMíLIA TYRANNOIDEA

Composta pelasfamílias Cotingidae (onde incluímos"Rupicolidae", e os "0xyruncidae",Pipridae, Tyrannidae e Phytotomidae, formando com osFumarioidea o grupo do Suboscines. S. L. Warter (1965,através de Traylor 1977) definiu os Tyrannoidea pela suaosteologia. Os Pipridae, Cotingidae e Phytotomidae são

restritos ao neotrópico, ao passo que os Tyrannidae têmum bom número de espécies neárticas (América do Nor-te). Os Tyrannoidea são dotados de siringe traqueo-bronqueal ("Haploophonae"), também têm traços comunsquanto àbionomia.Abrangem praticamente número igualao dos Furnarioidea.

PAPA-MOSCAS, BENTEVIS, LAVADEIRAS, VERÃO, TESOURINHA, PATINHO e afins:FAMíLIA TYRANNIDAE (210)

A maior família de aves no hemisfério ocidental, aoqual é confinada. Fóssil do Pleistoceno Médio (há100.000 anos) da Flórida, EUA.

Rivalizam, nesta parte da Terra, com os papa-mos-cas do Velho Mundo (os Muscicapidae, Oscines), comsemelhante número de espécies. Estão entre os gruposmais diversificados de aves do mundo e são, no Brasil,os pássaros que mais se vêem e se ouvem. Eles constitu-em cerca de18%das espécies de Passeriformesda Amé-rica do Sul. Distribuídos do Alasca até a Terra. do Fogo,num total de 413 espécies têm a sua maior concentraçãona região tropical. A evolução da incrível diversidadedos Tyrannidae neste continente foi muito favorecidapela total ausência dos Oscines, os Passeriformes do he-misfério setentrional, que apenas após a reunião dasduas Américas no Plioceno imigraram para o sul. Ostiranídeos se adaptaram aos nichos ecológicos mais va-riados deste continente cujos hábitats correspondem aosmesmos ou semelhantes hábitats do hemisfério seten-trional ocupados pelos Oscines. Assim foram criadasas analogias mais surpreendentes: Suboscines(non-Oscines) Oscines.

Fig. 221.Tesoura, macho, primáriasexternas da asa esquerda.(A). . s. (Chapadados Veadeiros,Goiás); (B), (Santarém,Pará).

Constituem o grupo mais importante dos Suboscines.Revelam bastante semelhança com cotingídeos e

. piprídeos. Entre os tiranídeos estão pássaros dos maispopulares do Brasil, como o bentevi e o suiriri.

Os papa-moscas do Novo Mundo são a família maisheterogênea dos Suboscines. Embora um tiranídeo "tí-pico" possa ser caracterizado como passarinho verde-oliváceo de bico achatado, adunco e cerrado de proemi-nentes cerdas, existem muitos representantesA heterogeneidade já começa com o tamanho: o bentevi,

com 60g, é doze vezes mais pesadodo que o caga-sebo com 4,9g, umadas menores aves do mundo. Existe grande número deespécies pequenas. Há alguns representantes, como

ede cauda bastante longa, de forma diversa. Nos

evoluiu uma das formas de cauda maisesquisitas que se conhece nas aves. O caráter da morfo-logia externa muito usado na distinção dos tiranídeos,porém de valor relativo, é o tipo do tarso, que é, geral-mente, exaspideano, ou seja: partindo da face anteriordo tarso (o as escamas cingem a totalidadedo perímetro do tarso, deixando apenas um sulco na faceposteri~r (a p~aI.)tado tarso), insuficiente para a presen-ça de uma ou mais fileiras de escamas. Exceções são

e . O tarso deé extraordinário, lembrando o dos tucanos.

A tendência, muito espalhada nesta família, de con-centrar a cor viva (amarelo ou vermelho) no píleo, al-cança seu extremo na maria-leque, queadquiriu um penacho formidável, dobrável e í~visívelquando a ave está tranqüila ..Os penachos ocorrem tam-bém nos Há diversas espécies maiores debarri~a amarela-viva, como , ,

, , e As espé-cies menores e pequenas de lado inferior amarelo estãop. ex. entre os , , ,

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TVRANNIDAE 591

e . Váriasespécies se distinguem por uma ou duas faixas clarassobre a asa, no que diferem das fêmeas dos piprídeos.

O belo vermelho de deve-se aocarotenóide cantaxantina, um lipocromo existente nocogumelo substância isoladaapenas em 1960 de penas de aves vermelhas (inclusivedo guará e do colhereiro). O representante maispolicromo é pássaro paludícola.

Há espécies predominantemente brancas ounegras (p. ex. . Nos ocorrem várias fa-ses cromáticas ou mutações, independentes da idade,sexo e região geográfica. Raro em tiranídeos é o dese-nho de faixas transversais Às vezescontribui para facilitar a identificação de espécies seme-lhantes o colorido do interior da boca do pássaro vivo:cor-de-chumbo ou cor-de-laranja (v. .

Ao imaturo falta, às vezes, o amarelo no píleo quecaracteriza 0 adulto (p. ex. O imaturo de

se assemelha ao adulto de(não tendo, porém,

o amarelo no píleo). O imaturo deste último assemelha-se ao adulto de Diferente pluma-gem imatura possuem também, p. ex.,

eApós a reprodução, o macho da população meridio-

nal do príncipe, muda parauma plumagem de descanso sexual ou "eclipse" (v.tam-bém Thraupinae) estando, nesta época, de vi-sita à Amazônia.

Os sexos são geralmente parecidos com poucas ex-ceções, como e

às vezes há dimorfismo sexual de uma ououtra espécie de um gênero, corno nos e

Nos representantes de cauda grande o machoa tem ainda mais longa do que a fêmea

Entre os fatores notáveis da morfologia dos papa-moscas consta a transformação de rêmiges primárias dediversas espécies. Há duas categorias:

1.As duas ou três primárias externas são bruscamen-te entalhadas em ponta, lembrando o que ocorre em di-versos gaviões, servindo, ao que parece, ao aperfeiçoa-mento de vôo, p. ex. (fig. p. 221); as res-pectivas pontas de primárias podem ser moles

é a transformação costuma ser mais distinta nomacho, faltando no imaturo.

2. Uma ou mais primárias são profundamente trans-formadas de modo diverso, mais pronunciado em

(fig. 222). Seguramente trata-se de penassonoras, o fenômeno é geralmente privilégio do macho,p. ex., e

nos ambos os se-xos possuem essas rêmiges afiladas.

As maiores dificuldades na identificação não são cria-das pelos casos de maiores divergências mas pela seme-lhança entre muitas espécies, as quais nem sempre têm

parentesco próximo. Figura aqui a legião de represen-tantes esverdeados, como os maria-já-é-dia e

os maria-cavaleira e o númeroconsiderável de "caga-sebos", como

e Fala-se de espécies crípticasou gêmeas que ocorrem, às vezes, uma ao lado da outra;são "simpátricas", p. ex., e M.

(pousam ocasionalmente no mesmo galho,sendo "síntópícas"), lophotese .

eeM.

diversos e Nos ,o macho assemelha-se, por analogia, extremamente aopiprídeo às vezes seu vizinho, en-quanto as fêmeas das duas espécies são completamentediferentes, denunciando logo a respectiva família. Nos

(Tyrannidae), ambos os sexos são parecidoscom considerado piprídeo por nós.

A identificação de muitos tiranídeos é possível ape-nas através de uma relação completa de medidas e colo-rido. No grupo de p. ex., é decisiva a "fór-mula de asa" (comprimento relativo das primárias maisexternas) que serve até para distinguir raças geográfi-cas' de várias espécies. Nos museus há muito materialaguardando identificação correta. Entre os especialistasdedicados à taxonomia dos tiranídeos destacam-se J. T.Zimmer (1889-1957), W. E. Lanyon, W. J.Smith, J. W.Fitzpatrick e M. A. Traylor, os dois últimos do Museude Chicago, sendo Traylor responsável pela elaboraçãoda família Tyrannidae em Peters' theihe vol. 8 (1979) dando, presentemente, a palavrafinal. No nível do gênero, Traylor baseou-se no trabalhode S. L. Warter (1965) que analisou os crânios de 160espécies, compreendendo 84 gêneros, num total de 850tiranídeos estudados.

Fig.222. Rêmigesonora na asa do macho doCaneleiro-verde, . viridis.

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592 ORNITOLOGIA BRApILEIRA

Após Warter os trabalhos anatômicos mais aprofun-dados foram executados por P. L. Ames (1971) e W. E.Lanyon (desde 1978). O último estudou sobretudo

e resultados finalmente confirma-dos por análises bioquímicas e dados bionômicos. Tor-nou-se evidente P: ex. que os gêneros

e são mo-nofiléticos. Excluídos desse conjunto foram

e . O parentesco geralmente não. convence quando apenas a morfologia externa é consi-derada, como p. ex. em e

Os dados complementares <àmorfologia nos forne-cem o registro da voz, dos hábitos e da reprodução (ce-rimônias pré-nupciais e nidificação). O estudo da voca-lização toma-se o meio mais eficiente para identificarno campo espécies extremamente semelhantes como de

i e .Foram incluídos nostiranídeos alguns gêneros con-

siderados antes cotingídeos: , , ,e o grupo de (in-

cluindo e sua siringe e outroscaracteres, também a bionomia dessas aves, apontampara um maior parentesco com os tiranídeos do que comos cotingídeos. Para nós, conhecendo essas aves vivas,foi até um alívio poder removê-Ias dos cotingídeos, so-bretudo considerando os aspectos de sua nidificação. Foitambém incluído pássaro muito peculiar,antes integrante dos conopofagídeos. O Caneleiro-de-chapéu-negro (=tem uma área branca oculta nas costas a qual exibe es-pontaneamente à feição de vários Formicariidae, cará-ter alheio aos Tyrannidae.

Há gritos estridentes e roucos, vozes baixas chiadase assobios melodiosos. e estão entre ogritadores mais vigorosos, nas suas respectivas regiões,vozeando incansavelmente no acasalamento, depoistomando-se tão silenciosos como se tivessem sumido.Diversas espécies, como os e

dispõem de rica vocalização, demonstran-do que a comunicação nessas aves é primeiramente acús-tica e não visual. A dificuldade de transmitir os conhe-cimentos de vozes toma-se freqüentemente insuperávelquando não se pode mostrar as aves vivas, gravaçõ.esou sonogramas. Podemos dar aqui apenas uma idéia.

Há duetos do casal, p. ex., o dos piianguae . Do maior interesse são os cantos cre-pusculares dos tiranídeos. Várias espécies, comocine e X. i

e ecantam de preferência ou até

exclusivamente aos primeiros clarões do dia e, às vezes,aos últimos, em grau correspondente de luz, durante um

lapso de cerca de 15 a 30 minutos. Quando se trata datardinha, p. ex., começa a cantar no polei-ro noturno, mas muda às vezes o pouso até a noite cair,A identificação dos cantos crepusculares costuma sercustosa porque é difícil aproximar-se na espessa vege-tação tropical, pousam até no dossel superior, nas co-pas, como os pequenos e no escuro não seenxerga o cantor no meio da folhagem. Esses cantos sãogeralmente compostos dos mesmos elementos que avocalização diurna, mas a combinação das frases e a in-tensidade com a qual o pássaro canta (freqüentementeuma estrofe seguindo a outra, sem ou quase sem .inter-vala) podem disfarçar a identidade da espécie. Lanyon(1978) elaborou uma chave para identificar 9 espéciessul-americanas de unicamente pelo canto cre-puscular. No auge da reprodução s e ise cantam em plena noite, no poleiro: o.canto de

t é extremamente simples.É digno de notaque nesta farrulia, cujo dom vocal não é dos maiores,evoluíram muitas vezes cantos crepusculares, com osquais o pássaro anuncia um território ocupado e a dis-posição de reproduzir. Há uma teoria segundo a qual oscantos da madrugada são primordiais e têm interessefilogenético. O fenômeno do canto da madrugada ma-nifesta-se num nome popular para as espécies deE"maria-já-é-dia".

As espécies campestres e paludícolas, como certas, , , e s e

, cantam amiúde em vôo, exibindo-se em cer-tas evoluções destinadas a estimular a impressão visu-al. Há certas semelhanças com vozes de outras famílias,p. ex. cotingídeos , furnarídeos (Eusc

e e nig c s), formicarídeosionectes)e emberizídeos ). A voz

de seudocolopte scl é tão fina como um guincharde camundongo. Às vezes a fêmea também canta po-dendo ser seu canto mais alto e curto (p. ex.ophobus

.Há, geralmente, pouca variação geográfica na voz

de tiranídeos, como verificamos comparando a vocali-zação de indivíduos que vivem em regiões tão distantescomo o sul do Brasil, Venezuela eColômbia: a identifi-cação das espécies é imediata, p. ex.,iod tes

, fasciaius, te eu , Os sonogramas devem revelar as

diferenças locais. Muitas espécies cantam durante oano todo.

Não falta a "música instrumental", produzida pelasrêrrüges, sob a forma de sussurros. pro-duz em certas oportunidades um curto ruído de asa"rrra" quando voa de um poleiro ao outro.-nas copas.Faltam observações detalhadas sobre como se processatal música instrumental. Ocorrem estalos e matraquea-dos produzidos na região do bico, estes conhecidos, p.ex., no bentevi e suiriri, ruídos que podem ser bem for-tes. Parece-nos que os estalos não procedem sempre, esimplesmente, de batidas do bico (das "mandíbulas"),

'"1

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TYRANNIDAE 593

mas sim da articulação da mandíbula no crânio, analo- .gamente ao que observamos em muscicapídeos do Ve-lho Mundo, em viveiros onde foi possível ver, de curtadistância, que os estalidos são produzidos quando opássaro abre e fecha o bico, e não batendo as mandíbu-las. Um tal "tak" ou "tik" indica nervosismo, P: ex., no

que persegue a fêmea. Noo estalo substitui a voz de advertência, no

o estalido torna-se a comunicaçãoacústica mais freqüente que o pássaro inquieto produzem qualquer momento, quando pula e voa através daramageml caçando; estala também em vôo.Os estalidos de são fracos, semelhantes aosproduzidos pela borboleta "rainha-do-coqueiro","estaladeira"ou (Nymphalidae),em a qual ocorre nas mesmas regiões. Lembremoso papel importante de estalos na rendeira, defamília aparentada, na qual esse ruído é ligado unica-mente às cerimônias pré-nupciais. Não nos referimosaqui aos estalos que ocorrem regularmente quando ospássaros apanham insetos em batendo as mandí-bulas, impressionante, p.eX'1 num birro, quecaça perto da nossa janela. Ocorre música instrumentalem vôos rituais de corte esc

O alimento consiste predominantemente de artrópo-des que são apanhados com as pontas das mandíbulas,aparentemente sem cooperação das cerdas em torno dobico. Qual será a função das cerdas muito longas de

A elegância da captura de pequenosbesouros, cupins em revoada etc., é notável.

dá às vezes uma cambalhota no ato de pegarum inseto, voltando depois ao galho de espreita.

ecaçam, sem medo,

abelhas (tanto silvestres, sem ferrão, Meliponidae, comoabelhas-do-reino) e marimbondos.Afirma-se que suiririse bentevis .freqüentam os apiários apenas quando házangões, tornado-se assim amigos dos apicultores. Atri-bui-se à velocidade maior e ao correspondente sussurroque as abelhas operárias produzem, o fato de não seremelas tão perseguidas pelos pássaros. Não pode ser te-mor do ferrão, pois o inseto só é engolido depois demorto ou de ter a ponta do abdômen, com o ferrão, es-fregado no substrato. É comum verem-se

e entregues à caçade pequenas formigas em revoada. Os l

bentevis, siri ris e tesouras ficamà espreita junto aosolheiros da saúva para aí devorar as içás que saiam parafundar novos ninhos. O siriri pega mutucas (Tabanidae)até sobre o corpo de trabalhadores do campo (SantaCatarina). apanha grandes aranhas

enquanto aranhas menores. A

existência de grandes teias de aranha dentro da mataqt:e propiciam rica captura de insetos, leva pequenostiranídeos como a defender tais locais contraoutros interessados. e outros aproveitam-se ocasionalmente de formigas-de-correição comobatedoras, pousa sobre reses e também cor-re ao redor da boca do gado para pegar insetos espanta-dos por estes animais como o fazem também os anus.

sabe peneirar bem, arte aperfeiçoada por X.que super~ muito um gavião, como co

e ou-tros seguem as queimadas no cerrado etc., para apanharinsetos levados pelas fortes correntes de ar quente quesobem acima do fogo. Ocorre predação de ninhos por

e Este pode desman-char um ninho de na procura do seu conteúdo,não usando o pequeno acesso lateral; às vezes, até, car- .rega o ninho todo para examiná-lo em lugar mais afas-tado. O bentevi chega a apanhar um beija-for que bebenuma garrafa; gosta de pescar em rios, lagos, piscinas etanques de piscicultores, vasculha as pedras na área dearrebentação do mar para tirar pequenos crustáceos,apanha pererecas; pousa sobre uma capivara,

aproveitando-a para espantar animalejosna vegetação aquática (Pantanal, Mato Grosso). Cata osinsetos noturnos que repousam de dia ao redor das lâm-padas nas ruas..um bentevi investigou um ar condicio-nado, atraído pelo barulho da máquina para procurarpresas; são "inspecionados" até despachos de macum-ba arrumados à noite nas ruas do Rio de Janeiro, paracitar mais uma fonte muito original de alimento do

I bentevi. Espécie ocasionalmente de hábitos piscívoros étambém o . Bate nos insetos maiores cap~u-rados no poleiro para matá-los, quebrando-lhes as asase por fim inutilizando o ferrão destes. O estômago deum pode estar repleto de lagartas.

A alimentação é freqüentemente mista, às vezes (p.ex. predominantemente vegetal (fru-tinhas, como os bagos das lorantáceas, frutas da sororoca,

do camboatá etc.). Vimosregurgitar as sementes. pegajosas da erva-de-passarinhoecolá-Ias num galho ao lado - melhor posição para asemente logo germinar.apanha também boa quantidade de sementes, entre elas,espécies de (Celastraceae). _.gosta de amoras, o bentevi se aproveita dos frutos dodendê, palmeira de origem africana (Pernambu-co). Regurgitam 'pelotas, contendo quitína, sementes epedaços de casca de frutas. O bentevi-pirata, l.

é frugívoro. Várias espécies se aproveitamdas frutas das bananinhas-da-mata, Ocorreuma mudança do alimento no inverno: espéciesinsetívoras tornam-se frugívoras. Os são em boaparte frugívoros; achamos também lagartas no estôma-go de Acumulam observações de tiranídeosforrageando sob luz artificial (luz de mercúrio), p. ex.

l e

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594. ORNITOLOGIA BRASILEIRA

. Analisando 94 espécies de tiranídeos (umquarto da família) Fitzpatrick (1980a, 1985) definiu asprincipais técnicas de forrageamento e elaborou umanomenclatura padronizada (fig. 223).É adequado paraavaliar o parentesco dos taxa e sua posição sistemática.

Aerial .. Hawk / .~ Perch to- Ground

1~4~Ground

srondperch 10 '<Not.r

~ Sally' Gleans

~ upword hover

./~ ~oulword hover

~

upword .rrike

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FruitsG lean

Fig.223. Técnicasimportantes de capturas de presasutilizadas por tiranídeos. Cada movimento de capturaé precedido de um período onde a ave permanecepousada espreitando (seg.Fitzpatrick 1980a).

.

'Pousam geralmente eretos, tal qual anambés. O ner-vosismo, em tiranídeos, é freqüentemente denunciadopor movimentos bruscos de asas, do pássaro. Tal com-portamento pode ser apenas esboçado (às vezes acom-panhado por iguais movimentos da cauda,P: ex. em

mas em alguns casos é bem elabora-do. p. ex., levanta uma asasó, verticalmente, toda esticada, e permanece nessa po-sição um instante, lembrando .ole gineus levanta as asas alternadamente.elevanta rapidamente ambas as asas no mesmo instante.

Movimentos bruscos da cauda têm os O grandenervosismo de sobretudo seu modo de seapresentar de cauda toda expandida, lembra o parulíneonorte-americano . Os hábitos de

c (movimentos da cauda constante, nosolo etc.) lembram muito aos chasco-do-monte,

(Muscicapidae), da Europa, em ambientecorresponden te.

o reage de maneira singular, quandoquer intimidar inimigos: executa lentos movimentos la-terais com a cabeça, de leque aberto, semelhante a cer-tas Cacatuas, também portadoras de grandes cristas que,em situação análoga se desdobra; no efeito assustador aatitude da maria-leque lembra o de certasserpentes e outra cerimônia esquisita, p. ex., do filhotedo Saci, É sobretudo interessante que amaria-leque faça as oscilações lateralmente e não dirigi-das para o espectador (o suposto perigo), como é a re-gra em muitos tiranídeos e em outras aves que na suadefesa movimentam a cabeça e/ou o topete. Não hádúvida que essa cerimônia da maria-leque evoluiu paraatrair o sexo oposto - função epigâmica - e apenasreaparece possivelmente em' situação agonística de ex-citação máxima.

Gostam de tomar banho de chuva ou na folhagemmolhada. O uso de formigas na higiene do corpo,"formicar-se" g), foi observado, p. ex., noionectes

ineus (v. também sob Dendrocolaptidae,Emberizidae). Quando dois suiriris perseguem umapena de urubu, caindo do alto, deve se tratar mais deum ato de divertimento (talvez misto com um pouco demedo de uma ave grande preta) do que decomporta-mento agonístico. Certos tiranídeos silvestres acompa-nham bandos mistos de pássaros compostos porformicarídeos, traupíneos, furnarídeos etc.; notamos istop. ex. nos , es e c

Registramos, em tiranídeos do Brasil central (MatoGrosso) e Nordeste (Piauí), deslocamentos decorrentesdo costume dessas aves de dormirem em grupos ou embuscarem um lugar mais abrigado para passar a noite.A tesourinha, , no rio das Mortes, MatoGrosso, continua a freqüentar as dormidas coletivas,mesmo quando estabeleceu um território para nidificare 'afé já pôs ovos; um dos pássaros, a fêmea, fica no ni-nho, situação que lembra certos papagaiosO grupo de tesouras, que assim se reúne para dormir, écomposto, em parte, por forasteiros migrantes que es-tão de viagem para regiões mais austrais (Argentina)onde procriam (v. Migrações). Na região da Serra Ron-cador, Mato Grosso, os suiriris, oticus,se deslocam, em agosto/setembro, regularmente entrea área onde de dia comem, no cerrado aberto, para adensa mata ciliar, distante seis quilômetros ou mais, ondedormem, fazendo esse trajeto em vôo alto; não são soci-áveis como as tesouras (Fry 1970). Notamos em certasespécies, p. ex. tetes sis, uma inquietaçãocrepuscular (v. Turdidae).

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TYRANNIDAE 595

--São brigões. Suiriri e tesourinha nnus

p. ex., atacam qualquer ave, até um urubu, que sobre-voe seu território, ou uma pessoa que se aproxima deseu ninho, exercendo seu papel de pequenos tiranos.alarma do suiriri e do bentevi chama imediatamente aatenção de toda a passarada sobre o aparecimento de, p.ex., um gavião ouanu-branco(caso este não seja freqüen-te no local) ou até de qualquer passarinho fugido da gaio-la, quando se trata de um pássaro desconhecido na res-pectiva área. Reúnem-se logo vários indivíduos. debentevis. tomando uma atitude ameaçadora para com onovato - fato que ilustra tambémurna das face tas dasituação problemática de pássaros soltos sem conside-ração anterior.

bentevi mesmo é, às vezes, atacado por tiranídeosmais fracos como ou

hábitos predatórios do bentevi (v. sob Alimentação)são conhecidos: tira material do ninho de outros pássa-ros, sobretudo da . Um bentevi arrancou o ninhotodo de uma , um outro o ninho de um

o o e levou-o para aproveitar-se do material nasua própria construção. colorido berrante branco epreto e o vôo errático de irrita

e que perseguem aexatamente como o fazem contra rapineiros. Tal compe-tição não impede que, fora da área imediata do ninho,p. ex., e pos-sam coexistir pacificamente, forrageando juntos, toman-do banho etc.; um bentevi nidificou no meio de uma co-lônia de pardais, num jarro dos jardins do Museu Na-cional, Rio de Janeiro.

uso generalizado de lâmpadas de mercúrio nasgrandes cidades levou várias aves insetívoras a eS,ten-der o seu tempo de. forrageamento noite a dentro. E ló-gico que tal hábito se manifestou primeiramente em avessinântropas, entre as quais tiranídeos como o bentevi,suiriri, tesourinha e gibão-de-couro (Hi e E de-pois em outros tiranídeos menores, p. ex.

sc e o As primeiras obser-vações à esse respeito se referiram a beija-flores.

A associação de le com icteríneos ealguns outros pássaros construtores de ninhos de bolsa,o "nido-parasitisrno", v. sob Reprodução (veja tambémsob Cono . Uma associação singular ocorre entreHet do e o iêteríneo çntho(v. sob o último).

e

fato que mais de 92% de todas as aves sãomonógamas e insetívoras (Lack 1968) encontra nosTyrannidae um dos melhores exemplos; é vantajosoquando ambos os pais arranjam alimento para os filho-tes e defendem um território em comum.

. .' ---.'~'- " ..,-!/ ~l --:.... /'. /

~ . ..<",::..T'\, .~~r/ .; / // /

,

+-+

Fig. 224.Viuvinha-de-óculos,H enopsperspicilialus,

Vôo territorial (seg. Straneck& Carrizo 1983).

-',

Durante o acasalamento realizam demonstrações(displ características. exemplo máximo da açãoepigâmica está na exibição do leque do o nchusque descrevemos no capítulo dedicado ao comportamen-to, uma vez que sua função agonísticaé muito mais fá-cil de observar.

representantes campestres executam vôos duranteos quais cantam (p. ex. olegus lophotes, H nopspe spic (fig. 224) e us). nnus og stem um vôo de exibição lento com batidas de asas acele-radas, lembrando o famoso vôo. de canto da calhandra-

d uensis, da Europa. macho de uicollbi nte faz vôos ascendentes e persegue a fêmea em

ziguezagues.Há exibição das asas abertas.uuico nenget ,pou-

sada na folha de uma ninféia ou nas salvíneas, estica eabre ambas as asas lateralmente, ostentando o lado infe-rior negro das asas para a frente: pose exibifória em pre-sença da fêmea. Cerimônia semelhante io nisec s. ol sulphu scensfica trêmulo com asasas esticadas. i levanta ambas as asas verti-calmente quando canta. odi cine joga acaudinha estreita e curta para os lados quando perse-gue a fêmea.As numerosas esp~cies de colorido brilhante

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596 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

mais ou menos escondido no meio do píleo (p. ex.bentevi) ostentam este enfeite, arrepiando as respecti-vas penas, espetáculo único em Há vá-rios tiranídeos cujo comportamento pode lembrar ascerimônias de demonstração dos birds" comoPipridae e Cotingidae.Contopus p. ex., em açãosolitária, dá pulinhos. No caso de

e outros ocorremcerimônias coletivas e perseguições em muito semelhan-tes as dos piprídeos e cotingídeos. Essas observaçõespodem servir para chegar a conclusões mais acertadassobre o desenvolvimento do comportamento compli-cado dos tangarásetc., que levou à emancipação totaldas fêmeas.

Os machos de permanecem muito tempoem certos galhos, território deexibição ou

onde vocalizam intensamente, mexem com asasas arrepiamo píleo etc. - irritação típica entre ospiprídeos. As fêmeas se dedicam sozinhasà prole. Foisugerido que a fêmea de expulsaria o macho.que se aproxima do ninho evitando assim competiçãono forrageamento. Tal comportamento levaria a promis-cuidade (Williset aI. 1978).

Os dois com suas caudas grotescas, fazemimpressionantes vôos de exibição (o atributo vocal des-sas espécies tornou-se insignificante) e há suspeitas deserem espécies polígarnas. Tais extravagâncias ocorremna competição macho macho, como nas aves-do-paraíso da Australásia, mas também em pássarospaludícolas do nosso continente (Orians1980).

.A nidificação dos tiranídeos forneceria material paraencher um livro volumoso. O padrão da nidificação tor-na-se importante até na sistemática: na separação de gê-neros (v. p. ex. O casal costuma cons-truir em conjunto. O macho às vezes traz comida para afêmea, prenúncio da copulação, como vimos p. ex. comos O macho geralmente não parti-cipa da incubação. Para excessões v. capítulo Ovos, fi-lhotes e parasitismo.

Há cinco tipos básicos de nidificação, nesta família:1. Ninhos abertos, em forma de cestinho, tigela ou

taça, de acabamento diverso, são feitos, p. ex., por

, Contopus

eEntre os ninhos mais bem feitos deste tipo estão

os de e Enquanto o ninho derevestido cuidadosamentede líquens colados (técnicaque lembra a de beija-flores),eposto firmemente sobreum galho, O ninho de' uma tigelinha de parteinferior bastante longa, é afixado a um junco, balançan-do sobre a água. emprega material molhado(pedaços de folhas de junco) que, depois de seco, endu-rece como cartolina: grande "invenção" que diminui operigo da desagregação da construção num substratotão instável como um junco, que está em constante mo-

vimento; técnica parecida é empregada pelo furnarídeo

uma das menores espécies dointerior da mata, elabora uma cestinha profunda com"crina vegetal" sp., um fungo, v. Icterinae,Reprodução) e usa boa quantidade de teias de aranha efolhas secas de taquara para confeccionar uma capaenvolvente ao redor que serve também para fixar firme-mente o ninho ao substrato.

Entre os ninhos mal construídos está o deque se desfaz ao menor toque, se-

me lhante aos ninhos das rolinhas, e aqueles datesourinha, uma tigelinha malfeita, co-locada nas pontas dos galhos de onde é freqüentemen-te arrancada pelo vento. Caso curioso por mim obser-vado aconteceu quando a tesourinha expeliu no ninhosementes aderentes da erva de passarinho que acaba-ram por colar o material solto característico deste ni-nho; as sementes logo depois germinaram.

que nidifica sobre lajes ou cons-truções de pedra ou cimento (nas cidades p. ex.: nas fa-chadas dos edifícios, ao lado de uma caixa de ar condi-cionado) reúne pedaços de "moledo", rocha decompos-ta, o qual faz uma tigela rasa de raízes e palhas, amalga-madas com saliva (fig.225).

Uma das espécies' pequenas silvestres mais comuns,faz uma tigela profun-

da sobre um toco, meio metro acima do solo, na mata.espécie campestre, coloca sua tigela às

vezes sobre o volumoso ninho de um , boasolução em paisagens abertas onde há poucas árvoresque podem servir como substrato.

2. Ninhos esféricos, com entrada ao lado, postos so-lidamente na ramagem, são feitos, p. ex., por gus

, e faz umpequeno forno de musgo no chão.

Fig.225. Gibão-de-couro, ferruginea,

começoda construção de um ninho sobre um consolode urna igreja;o pássaro traz moledo que arruma numcírculoque correspondeà circunferênciado futuroninho;sódepois começa a trazer palha etc.Limoeiro,EspíritoSanto,novembro 1940.Original,H. Sick.

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TYRANNIDAE 597

Há certa variação, tanto individual como regional,na construção desses ninhos, p. ex., entre os

e os quais freqüentemen- :te roubam o material do outro. Roubar material toma-se mesmo tentador quando as espécies usam o mesmomaterial e constroem no mesmo tempo como vizinhos.O bentevi faz seu ninho, do tamanho de uma bola defutebol, numa forquilha em lugares abertos como árvo-res de pouca folhagem, usando como material capimseco, paina etc.; a câmara, localizada no centro, tem lar-ga entrada (8cm de diâmetro), protegida por um alpen-dre pouco saliente; adiciona, às vezes, uma camada ex-terna de gravetos à sua bola comum de material macio(Mato Grosso). O teto do ninho é o último a serconstruído. Vimos um bentevi instalar-se nas paredesdo ninho colossal de um jaburu, no Pantanal (Mato Gros-so), única árvore existente, numa vasta área ao redor.Énotável que possa conteritar-se emfazer uma tigela aberta caso construa em lugar abriga-do, p. ex. na base das folhas de uma palmeira.

constrói no alto das árvores uma gran-de bola de musgo e outros materiais macios, com entra-da lateral protegida e câmara incubatória pequena naparte superior. O ninho é mais comumente pendente emP e não firmemente assentado como nos outros

todos eles gostam de construir em árvo-res isoladas (compare Icterinae). econstroem em galhos sobre a água, nos pântanos.

Fig. 226.Esquema do ninho do bico-chato-de-orelha-preta, scens. A entrada está porbaixo, pela manga pendente; o material principalé umfiníssimo cipó e "crina vegetal". Alto Xingu, MatoGrosso, novembro 1947.Original, H. Sick.

3. Ninhos fechados em forma de uma bolsa suspensa,com entrada lateral, protegida por alpendre, confeccio-nam, p. ex., , s,

e fazconstrução longa e estreita de "crina vegetal" preta, re-luzente sp., portanto um fungo) e materialcorrespondente, suspensa num galho; é composta de trêspartes: o teto, a câmara em forma de bolsa e, como en-trada, uma chaminé perpendicular, dirigida para baixo;há certa variação de construção. O ninho de

é também uma bolsa longa,suspensa, p.ex., sobre uma picada na mata, aparecendocomo edição maior da construção de

freqüentemente são dois ou até trêsavizinhados: o ninho novo e os outros velhos.

Tais ninhos podem assemelhar-se às respectivas cons-truções de icteríneos, o material, porém, é mais coladodo que tecido. Nota-se também que nestes ninhos detiranídeos o galho que sustenta a bolsa fica enrolado naparede até o meio do ninho, dando a este maior estabili-dade contra os balanços, ao contrário do que costumadar-se entre os icteríneos construtores de bolsas'suspensas, Quando o ninho está pronto, seu dono chegae sai tão rapidamente, que a 'identificação do 'pássarotorna-se um tanto difícil; nunca normalmente se agarraao lado externo do ninho.

Verificamos que trabalhamais de um mês no seu ninho oval, compacto, com pe-

.

Fig. 227.Ninho do cabeçudo,eptopogon .oceph lus. Pode-se díscernir quatro tipos de

estofamento: musgo fresco bem macio e algumassementes sedosas(1); musgo seco e algumas sementes,compondo a superfície do ninho(2); sementeslanuginosas e fibras, trabalhadas como feltro, forman-do uma massa endurecida(3); camada de fibras dasmais macias(4). Ilha Grande, Rio de Janeiro, maio de1944.Original,H. Sick.

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598. ORNITOLOGIA BRASILEIRA

quena entrada lateral (fig. 227), forrado firmemente de .musgo e paina em quatro camadas bem discerníveis,construção "artística" suspensa numa raiz abaixo de umbarranco e em outros lugares seguros contra a chuva.

e outros constroem em galhos sobre um ria-cho na floresta.

Os grandes ninhos suspensos de epodem parecer, à primeira vista, um

amontoado de folhas caídas, aglomeradas em gran-des teias de aranha ou entre galhos e cipó até certoponto servindo como camuflagem protetora contrapredadores.

Os ninhos de representantes como ,o e também

e acham-se muitas vezespróximos de vespeiros (p. ex. ninhos de marimbondosdo gênero gus), ou em árvores cheias de formi-gas, garantindo de melhor modo a segurança do ninhodo pássaro. Não há dúvida que as aves procuram assi-duamente esses lugares; podem ser encontrados, às ve-zes, mais de um ninho de diferentes pássaros, nos res-pectivos arredores. No Suriname, de um total de 54 ni-nhos de 41 (76%) estavam pertode vespeiros (Haverschmidt 1974).

4. Umas poucas espécies, , ,gon e nidificam em buracos ou cavida-

des. Fazem um verdadeiro ninho, com muito material,dentro do buraco. e instalam-se, oca-sionalmente, em buracos elaborados por um pica-pau,também Geralmente e

i ocupam cavidades com uma entrada larga.io nidifica às vezes, sobre um toco sem pro-

teção por cima, também eIl).cavidades de paredes decasas e por baixo de telhados.É curioso que justamenteColoni uma das espécies de cauda mais longa,exija-umburaco apertado para reproduzir. , recentementetransferido dos cotingídeos para os tiranídeos,'nidifícatambém em ocos de árvores. O mesmo vale para s

e, ao que parece, pararufus aproveita cavidades em barrancos e troncos de ár-vores, também samambaia-açus. nidifica em ocosde pica-paus abandonados, em buracos no topo de pal-meiras mortas,ete. Forra a cavidade do ninho com ma-terial seco.

A tendência de nidificar em buracos já se revela emg e lophotes,que constro-

em sob barrancos ou pontes, portanto em lugares bemprotegidos por cima e conseqüentemente escuros.

nidifica em tocas nas rochas, aolado de córregos. que também procura lu-gares abrigados para nidificar (p. ex. um penacho de co-queiro ou um buraco qualquer), ocupa às vezes ninhosde , e pica-paus; con-tenta-se com um ninho abandonado. Parecidas são asexigências de irupero: usa, p. ex., o ninho de

ou ou simplesmente troncosocos de palmeiras. Encontramos na

antecâmara de um ninho de o s enum oco feito por um pica-pau-do-campo es

s) num cupinzeiro terrestre (Minas Gerais). .5. Nidoparasitismo. Caso especial é g

que ocupa os ninhos de vários pássaros quefazem uma construção fechada, de preferência as bolsaspenduradas de xexéus e guaxes tanto daque-les que se reúnem em colônias, como daqueles quenidificam sozinhos . Toma os gran-des ninhos globulosos de bentevis etetes) e

e as bolsas pendentes de tiranídeos pe-quenos como Expulsa o respectivo. dono,mesmo que este esteja chocando, jogando fora seus ovos;depois introduz algumas (às vezes muitas) folhas secassobre as quais deposita seus próprios ovos e cria nor-malmente. Sua impertinência, às vezes, obriga toda umacolônia de xexéus a abandonar seus ninhos (fig. 228).Em vez de nidoparasitismo pode-se falar decleptoparasitismo. É sempre um único casal deque se instala numa dessas colônias. gassocia-se também a icteríneos. Vimos um phuspo opt ocupar um ninho de etetes si lis.

~.

Fig.228.Pequena colôniadexexéu, cicus ce aolado de um vespeiro;umBentevi-pírata, tusleuco , mexeu com todos essesninhos, ocupando,finalmente,ninho a colôniafoi abandonada pelosxexéus.Alto Xingu,MatoGrosso,agosto 1947.OriginalH. Sick.

, ,

A oologia é capaz de prestar bons serviços na classi-ficação dos Tyrannidae (Schõnwetter 1979). Permite, p.ex., a delimitação dos gêneros. Interessante é a grandesemelhança dos ovos de e rujus, cor-roboração impressionante da inclusão doil nosTyrannídas. Antes, quando era consideradoCotingidae era exatamente a cor dos seus ovos queconflitava com os demais representantes. Ocorrem mui-tos casos que espécies de ninhos fechados, como

-.

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TYRANNIDAE 599

e possuam ovos coloridos in-dicando urna herança de ancestrais de ninhos abertos.Isto vale também para , e

construtor do ninho de me-lhor acabamento que conhecemos, tem os ovos de cascamais fina até agora registrado em aves; o peso relativoda casca perfaz 3,7% a 4,0% do peso do corpo do pássa-ro (Schónwetter 1979); o peso relativo do ovo da pombadoméstica é de 5%.

A incubação, feita pela fêmea sozinha, leva 1 dia nocaso de 14 a 15 dias para

17 a 19 dias para19 a 21 dias para e 18 a 19 dias para

A placa incubatória costu-ma ser restrita às fêmeas. Porém Davis (1945), trabalhan-do na região de Teresópolis, Rio de Janeiro, alista qua-tro tiranídeos nos quais ele achou a placa no macho:

,e enfatizando que

macho e fêmea de foram observados chocando.Os filhotes de tomam-se barulhentos,

"cantam" corno os pais dentro do ninho. Foi observadoque um bentevi com filhotes alimentou também os fi-lhotes do vizinho . Foi observado que

costuma despistar para confundir so-bre a localização exata de seu ninho. Os filhotes de

abandonam o ninho após 22 a24 dias, os de abandonam o ninhoapós 25 a 26 dias. pode criar três e

Fig. 229. Densidades relativas e posições ecológicasentre as seis principais famílias de passeriformes non-Oscines na floresta úmida neotropical. A diversidaderelativa total para cada família dentro de.cada estratoda florestaé indexado pela largu.ra horizontal dasbarras negras. Note que Tyrannidaeéa única famíliarepresentada em todas as alturas, incluindo a zona de'alimentação aérea acima das copas. Tyrannidae sãomenos diversos no chão da floresta e aumentam suapresença gradativamente em direçãoà copa (seg.Traylor & Fitzpatrick 1982).

mesmo cinco filhotes (Mato Grosso). Os filhotes dee são muito infestados pelas larvas

umbrófilas de moscas, que depois se recolhem no fundodo grande ninho para se transformarem em pupas.

O minúsculo foi visto criar ofilhote de cuculídeo que pesa,quando adulto, oito vezes mais que oMyiornis e também criam .

, e ou-tros tiranídeos são, às vezes, molestados pelo gaudério,

e

Ocupam todos os tipos de paisagem neste país. Amaioria é arborícola e vive na mata, cada espécie se adap-ta a um certo ambiente que compartilha com outras es-pécies de tiranídeos. A competição é reduzida pelo ta-manho da espécie, .pela alimentação diferente (que re-quer forma diferente de bico), pela técnica de caçar, pelotamanho de insetos que caçam, pelo estrato na qual sealimentam e nidificam, pela extensão do território e peladensidade preferida de vegetação. A grande variedadede nichos ecológicos nas formações florestais neotrópi-cas, e a correspondente fauna entorno lógica, dá as maio-res vantagens para aves insetívoras, como tiranídeos eformicarídeos.

Traylor & Fitzpatrick (1982) apresentaram umaexaustiva análise ecológica dos tiranídeos que resultouna ilustração aqui reproduzida (fig. 229).Assim esta com-plexa relação de predominância nos diferentes estratosda floresta neotropical pode ser visualizada de urna for-ma compreensível onde os tiranídeos estão ao lado dasoutras principais famílias non-Oscines: Dendrocolaptidae,Fumariidae, Formicariidae, Rhinocryptidae, Cotingidaee Pipridae. .

Os Tyrannidae são a única família representada emtodas os estratos da mata, incluindo urna área acima dodossel superior onde eles capturam insetos. Urna únicaespécie florestal é terrícola: No campo exis-tem várias espécies terrícolas corno e

O mapa distributivo de Fitzpatrick (1980b) (fig. 230)mostra corno a maior concentração dos Tyrannidae, nocentro da.Amazônia (89 espécies), possui uma equiva-lência na mata úmida do sudeste brasileiro (80 espécies)onde alguns elementos amazônicos existentes, corno

lembram as antigas ligações com aHiléia numa ininterrupta e única seqüência de florestas.

Em mata de várzea do baixo Amazonasé urna das aves mais comuns (após o é}fapaçu

e o papa-formigascalculados os índices de densidade e freqüên-

cia; indicadores da abundância (Novaes, 1970). A densi-dade de população de certas espécies de tiranídeos ébaixa, p. ex., da maria-leque, como ve-rificamos tanto no Sul como na Amazônia.

" ...,

;",.!

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600 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

80 - 8970 - 7960 - 69

50 - 5940 - 4930 - 3920 - 290-19

Fig. 230.Úoclinais de densidade numérica de espéciesde Tyrannidae, apenas considerando o númerodaquelas que se reproduzem nas respectivas regiões(seg. Fitzpatrick 1980b).

Seguindo a vegetação arbórea, alguns invadem vilas ecidades, como o bentevi e o suiriri, que estão entre as avesmais comuns em metrópoles como o Rio de Janeiro.

Rico em papa-moscas, Tyrannidae, é o cerrado, cate-goria clímax especial de mata seca, ainda não investigadasuficientemente (veja Fry 1970). Um endemismo do cam-po cerrado é a delgadaCuli . É notávelque o também rabilongo t(lembrando como a um furnarídeo campes-tre), habitante de um cerrado ainda mais aberto, reapa-rece em savanas ao norte da Hiléia, mostrando que odesenvolvimento da Amazônia é mais recente e cortou

, . - a vasta região campestre antiga do interior do continen-te, dividindo-a em áreas hoje disjuntas ..

Na larga área campestre, "diagonal árida", que se-para a Hiléia damata atlântica, Fluvicolinae

e e ligam o nordeste brasi-leiro com o chaco paraguaio ambos formandosubespécies. Fitzpatrick (1980b) chama a atenção paraos "pares" de espéciesco (nor-te) eP. (sul), que evoluíram nessa área (fig. 231).

No Brasil há menos variação de tiranídeos campes-tres do que no sul do continente e nos Andes, o mesmoque observamos nos furnarídeos. Evoluíram excepcio-nalmente num gênero tanto de espécies campestres comode silvícolas, p. ex., os olegus egus nig

CUlICIVORA

Fig. 231.Distribuição de quatro pares de tiranídeoscampestres. A sobreposição da distribuição de trêspares é interpretado como secundário.O gêneroCulicioora (uma espécie) e ctus (duas espécies)são proximamente relacionados.Culicioo o deorigem mais antiga está agora no meio da distribuiçãodos dois o stictus. Populações isoladas dec e e o pecto isexistem mais ao norte(seg. Fitzpatrick 1980b;Haffer 1987a).

é um dos poucos tiranídeos residentes nos camposde altitude das serras no Sudeste; na mata adjacentevive gus . O único tiranídeo adap-tado, no Brasil, à vida nas rochas é , queencontra nas cidades substituto ecológico: nidifica nafachada de edifícios.

Em regiões ribeirinhas e paludícolas ocorrem asu , , e Há um

grupo de representantes terrícolas co ,Ochtho que lembra os caminheiros , certosfutnarídeos e os do Velho Mundo; correm nosolo, expandem freqüentemente a cauda por um instan-te, seu vôo ésemelhante.aodas andorinhas:são de vas-ta distribuição nos Andes e no sul, penetram apenas noBrasil meridional e ocidental. Espécie terrícola visitantemeridional palustre é Alguns vivem escondi-dos em pântanos, comoseudoco e c is.

.. ....

Os tiranídeos são os Suboscines de locomoção maisdesenvolvida. Muitas espécies do Brasil meridional, tam-bém das regiões serranas do Rio de Janeiro e EspíritoSanto, emigram durante o inverno, situaçãoà qual fa-zem alusão nomes como "primavera", "verão" etc.; per-manecem na sua pátria onde procriam, só nos meses

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TYRANNIDAE 601

mais quentes. Aqui se enquadram, ,

, ,, e

é também migratório. Os fatos às vezes não sãofáceis de entender por duas razões: (1) não emigra sem-pre toda a população local; (2) indivíduos que se criamunicamente em regiões meridionais, durante o verão,invadem durante o tempo de descanso (março a setem-bro) regiões de populações setentrionais da mesma es-pécie, estas residentes nas regiões tropicais. Há, destamaneira, periodicamente, superposição perturbadora dediversas populações o que, às vezes, pode ser decifradopelo reconhecimento de várias" raças geográficas, comoos uma das espécies migratórias maisimportantes.

As populações subtropicais migratórias dee têm asas mais pon-

tudas, o que é interpretado como adaptação a um vôolongo, ao contrário das populações que vivem nos tró-picos e pouca ou nenhuma migração realizam, tendoasas mais arredondadas. Tal modificação da "fórmula"da asa ocorre também com chilensis, daPatagônia e do Chile, que emigra para a Amazônia: temasa pontiaguda, sendo geralmente a10" primária (a maisexterna) mais longa do que a5" primária; nas raçasandinas, que não emigram, a10" é mais curta que a5".

chilensisaparece de passagem, p. ex., nomunicípio do Rio de Janeiro e no Itatiaia (março a abril),tornando-se então abundante, depois sumindo por com-pleto; um exemplar foi encontrado até em alto-mar, dis-tante mais de 100km da costa do Rio Grande do Sul(abril). i outra espécie de "maria-é-dia", torna-se, nos cerrados de Mato Grosso em agosto/setembro, o pássaro mais abundante; está então a cami-nho do Ocidente. Ao mesmotempo apresenta-se ali

migrando no mesmo sentido, mas emescala mais reduzida. Decorrem, dessas atividades mi-gratórias, enormes regiões de distribuição das espéciesenvolvidas, que são, apenas em parte, áreas de reprodu-ção; o mesmo acontece com algumas andorinhas. Popu-lações meridionais (Argentina a São Paulo) des. swainsonimigram até o Suriname. e

residentes no Brasi central, mi-gram num ritmo muito semelhante ao das populaçõesresidentes no-extremo sul do Brasil':' chegam na prima-vera local, nidificam, e somem no fim do verão.É inte-ressante anotar a data da chegada e a da saída das avesmigratórias dos nossos quintais. A cada ano as datas sãomuito semelhantes, v. sob suiriri, . consi-derado uma ave pontual.

Há visitantes que alcançam somente o extremo sulou oeste do Brasil, durante o inverno austral:

, representan-tes campestres-ribeirinhos terrícolas típicos para a re-gião patagônica-andina. Tudo nos leva a crer que tam-bém hudsoni e outros elemen-

tos meridionais, atinjam o Brasil, apenas durante suasmigrações, a indo ao norte até além do Equador.Esses pequenos tiranídeos migram durante a noite. Porfalta de exemplares anilhados não é claro se visitantescomo ou ,que registramos anualmente, p. ex., no município do Riode Janeiro no inverno, são procedentes do sul ou desce-ram da serra do Mar vizinha, executando, no últimocaso, uma migração vertical, como o faz, p. ex.,

no Itatiaia, Rio de Janeiro.Davis (1945) assinalou que certas espécies como

e rufus (tambéme e o emberizíneo tornaram-

se ausentes ou tinham seus contingentes diminuídos noinverno em Teresópolis, Rio de Janeiro (900m), mas asuposição de que descem às terras baixas neste período,é ainda carente de comprovação.

Foi registrada no Brasil a recuperação de um bentevianilha do na Argentina. Ao Brasil também, em pequenonúmero, vêm visitantes procedentes do norte: como

e . Contopus, C. ens e , vin-

do todos do continente norte-americano para a Amazô-nia e o Brasil central em setembro, novembro, fevereiro,março, durante o inverno setentrional.

É curioso lembrar que os tiranídeos de clima quenteque conquistaram em épocas passadas a América doNorte, regressam anualmente ao continente de sua ori-gem procurando o calor.

As grandes explorações de tiranídeos levaram até àcolonização de Fernando de Noronha: eé uma das três aves terrestres que vivem naquela ilha,400km distante do continente; v. também

e . Um is ie um foram apanhados em alto-mar,distante 92 e135 milhas, respectivamente, da costa doRio Grande do Sul.

Sobre deslocamentos diários relacionados com a dor-mida coletiva e com o acompanhamento de bandos mis-tos de pássaros v. o capítulo Hábitos.

,

Vimos no Espírito Santo como um tucano-de-bico-verde, predou um ninho do bentevi,

gus. Começou arrancando grandes pedaços dematerial do lado oposto à entrada, depois pulou ao re-dor do ninho rasgando a entrada e penetrando na câ-mara de onde tirou um filhote grande bem emplumadoque levou no bico, com certa dificuldade, a um pousodistante onde dilacerou a vítima.

Sabemos de dois casos fidedignos que rãs'do gênerocapturaram aves de um bom tamanho (v.

também Turdidae).Assim ume us oce s,umaespécie relativamente pequena, apanhou um bentevi pe-las patas quando a ave voou rente à flor d'água, na bus-ca de peixinhos.A rã não conseguiu puxar o bentevi para

"

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602' 013NITOLOGIA BRASILEIRA

baixo da água rasa e os gritos da ave chamaram a aten-ção de uma pessoa que a libertou. A técnica da rã domi-nar urna vítima maior por afogamento lembra a da sucurí,Eunectes como regístramos no Brasil Central.

Achamos nematóides sob a pálpebra deno Brasil Central.

dos

de M. . 1977, 1979).

Traylor tentou estabelecer. urna seqüênciafilogenética, passando de formas mais generalizadas ouprimitivas a formas mais especializadas ou evoluídas .

. Segue urna relação completa dos gêneros registrados noBrasil, com alguns sinônimos.

(ind. ,c (incl. , ,

, , , ,, , ,, , (incl.

, (incl.(ind.

e s), , , ,(ind. , (incl.He (inel. ,Ce Idioptilon), Cnipodecies,

, c/us, ,

o ,Contopus (ind. ,

SUBFAMÍLIA ELAENIINEA

PIOLHINHO, Pr. 34, 8

lI,Scm. Nitidamente maior do que , -mais amarelo por baixo (abdômen), um pouco debranco no loro e atrás do olho. "üid", mais cheiae segura do. que a de repetido (3 vezes)quando se torna animado, passando para o canto:estrofe apressada e confusa, mudando entre crescen-do e decrescendo, destacando-se assobios claros

... "raüd". a associação de três,quatro e até mais indivíduos e o nervosismocom quevoam e pulam através da ramaria frondosa são ca-racterísticas úteisà diagnose, lembrando os Pipridae(v. também Introdução). Viveà beira da mata, capo-eira e nas copas. Ocorre do Nordeste, Leste e Sul (atéo Rio Grande do Sul), Misiones, Paraguai, Goiás e

Cne , , s, o s,, , , gus (incl., , , ico ,

, (incl. Gube etes,, , cipip .

(incl. , s, ipte n ,o , , gus, d

, etetes, , o stes,, eo s, nnopsis,

(incl.

(incl.

Baseando-se na morfologia da siringe, na constru-ção do ninho e na morfologia geral, Lanyon (1986)reuniu cinco grupos de tiranídeos aparentadosfilogeneticamente. (Citamos apenas os representan-tes que ocorrem no Brasil).

1. c , e .2. , Coniopus, Cne o us e

.3. , o , e o us.4. , , s, l is,

e5. ophobus e .

Um gênero de parentesco não esclarecido ainda é. Isolado parece ser também cheto s. Torna-

se importante novas observações esdarecedoras sobreesses tiranídeos.

sul de Mato Grosso. No Rio de Janeiro nas monta-nhas. [Também na Serra dos Carajás. Pará (J. F.Pacheco, P.S:'M. Fonseca):]"Poaieiro-triste*".

POIAEIRO-OO-SUL *,

lI,Scm. Espécie serrana do sul da Bahia, Espírito San-to e Minas Gerais (perto de Belo Horizonte) ao Rio Gran-de do Sul, até América Central (v. Introdução, .Migra-ções); nas copas de mata e parques, se trai facilmentepor urna série descendente de meia dúzia de fortesiii.

POIAEIRO-VEROE*,

12cm. Ocorre do Espírito Santo a Santa Catarina eRio Grande do Sul, Paraguai e Nordeste da Argentina.

"~o [

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TYRANNIDAE 603

[POIAEIRO-DO-GROTÃO*, e

ll,5-12cm. Forma recém-desmembrada de P(Stotz 1990). Ocorre nas matas secas do interior do Bra-sil entre o Piauí e Mato Grosso do Sul. Ainda no nordes-te do Paraguai e nordeste da Venezuela.]

POIAEIR0-SERRANO*, En

llcm. Minas Gerais e do sul da Bahiaà Santa Catari-na, onde ocupa a copa das florestas.

POIAEIRO-DE-CABEÇA-CINZA *,

[lOcm. Incomum na bordas de floresta. Dentro do ter-ritório brasileiro se limita a poucos registros na margemesquerda do Amazonas (Pg. iceps,Zirnmer 1941 -tipo de Manaus). Essa e outras raças dessa. espécie sedistribuem através da Venezuela, Guiana, Colômbia,Equador, Peru e Panamá.]

POIAEIRO-DE-PATA-FINA ',

[10,5cm. Um dos mais comuns representantes da copada floresta amazônica (terra firme e várzea). Ocorre portoda a Amazônia brasileira e extrabrasileira. Adicional-mente em algumas florestas serranas isoladas do Ceará(Pinto & Camargo 1961) e Alagoas (Ridgely& Tudor1994; Pacheco& Whitney, 1995).]

POAIEIRO-DE-SOBRANCELHA *,

[8,5cm. Pequeno representante da copa da florestaamazônica (terra firme e várzea) de distribuição tão ex-tensa quanto Z. es. Fora da Amazônia ocorre ain-da em Alagoas (Teixeiraet 1989); Bahia (localidade-tipo); Espírito Santo (Stotz 1993) e Rio de Janeiro (Scott& Brooke 1985).]

RISADINHA, Pr. 34, 7

. 19.s.~.Pequena espécie arborícola, comum em mui-tos lugares chamando a atenção pela voz alegre. Tem obico pequeno, cabeça acinzentada, dorso esverdeado,duas faixas ferrugíneo-claras na asa. assobia altoüit freqüentemente um pouco indeciso (chamada); se-

qüência descendente de assobios curtos bem pronunci-ados "glü-gli-gli-gli-gli-gli" (risada); dispõe de outrocanto mais elaborado e de mais vozes. Viveà beira damata, na capoeira, nos quintais e nas copas. Ocorre daCosta Ricaà Bolívia e Argentina, em todas as regiões doBrasil até o Rio Grande do Sul, comum também no Les-te (p. ex. no ex-Estado da Guanabara) e Sul. "Alegrinho","Assovia -cachorro",

BAGAGEIRO,

[12cm. Espécie comum de vasta distribuição naAmé-rica do Sul. No Brasil típico para as florestas secas doNordeste e do Centro-oeste. Na Amazônia ocupa as vár-zeas, ambientes de beira de rio e campinas. Em todos ospaíses do norte do continente e ainda no Panamá, Bolí-via, Paraguai e norte da Argentina. No Brasil interiora-no para o sul até o Paraná. Existe dentro das cidades deBelém e ManausG. F.Pacheco).]

SERTANEJO*, stus

[14cm.lncomum, mas de ampla distribuição no Bra-sil central e nordeste. Falta esclarecer se as populaçõesamazônicas assinaladas (Peru e Brasil) são resultadoexclusivo de migração austral. Os registros para o oesteextremo do Rio Grande do Sul (5.. os s)são res-tritos ao verão (Belton 1985).]

[SERTANEJO-ESCURO], e obsc

[l4cm. Representante amazônico assinalado para to-dos os países da região. O limite das espécies no gênero5ubl tus ainda aguarda uma melhor definição. O tra-tamento aqui adotado segue Ridgely& Tudor (1994).Uma terceira espécie antes considerada coespecífica daanterior, 5. e u que ocorre da Costa Rica ao norteda América do Sul, especialmente em manguezais, podeocorrer no Brasil no Amapá, na faixa limítrofe com aGuiana Francesa.]

SUIRIRI-CINZENTO, i

15cm. Representante singular, arborícola, por cimacinzento, asas e cauda negras, ponta da cauda e vexiloexterno da retriz exterior pardo-clara, coberteiras supe-riores das asas e terciárias com largas bordas esbranqui-çadas; por baixo cinzento-claro, barriga branca; o ima-turo tem o lado superior salpicado de branco. sur-preendentemente forte e rouca, "bà-â", "wétetete"; gor-jear de madrugada lembrando o canto de uma andori-nha. Habita o espinilho e outras paisagens correspon--'dentes. Ocorre da Argentina e Uruguai ao Rio Grandedo Sul, Mato Grosso e Minas Gerais (Pirapora). "Suiriri-do-sul?".

Vive no Brasil central e interior do Nordesteu isui i i nis, que é parecida com a precedente, um pou-co maior, barriga amarela, uropígio e base .da caudaamarelo-clara. o suave "bí-djüt" (chamado); "djü-bí-di, di, di", repetida, levantando ambas as asas vertical-mente (canto). Durante o acasalamento (novembro,Piauí), o casal duetando vigorosamente em intervalosde poucos minutos, após ter mudado de uma árvore aoutra, torna-se muito barulhento. Quando está calma-

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604. ORNITOLOGIA BRASILEIR'A

mente pousado executa, de vez em quando, um ligeiromovimento da cauda para baixo, comportamento que,no campo, serve para distinguir a espécie de certos ou-tros tiranídeos presentes. Habita o cerrado e a caatinga.Ocorre da margem setentrional do baixo Amazonas(Monte Alegre) a Mato Grosso, Goiás, São Paulo, Paraná,Minas Gerais (Lagoa Santa, etc.) e o Nordeste. "Suiriri-do-cerrado?". A diferença da voz das duas formas acen-tua a impressão e que se tratam mesmo de duas espé-cies e não apenas de raças geográficas.

MARIA-TE-Vru*,

[10,Scm. Uma das vozes mais persistentes e caracte-rísticas da Amazônia. Encontrado na borda e nas clarei-ras dos muitos ambientes florestais dessa região. Portoda a Amazônia brasileira e extrabrasileiraalém dasflorestas transandinas do Peru, Equador e Colômbia,além do Panamá e Costa Rica.]

GUARACAVA-DE-OLHElRAS,

12,6cm. Muito semelhanteà espécie que segue, des-tacando-se por um anel branco em torno do olho, semas faixas claras nas asas. assobio chiado "chüit","zibit zíe-zigã", repetido com insistência (canto da ma-drugada). Vive na mata; nas copas, como uma pequena

. Ocorre do Méxicoà Bolívia, Paraguai e Argenti-na, localmente no Brasil: centro-oeste, nordeste, cerradono sudeste, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul."Maria-verde?" .

MARIA-PECHIM*,

12,Scm. Píleo com bastante branco no meio, asacom marcante desenho amarelado. distinta: as-sobio claro "sü-süit". Habita as copas da mata ribei-rinha. Ocorre da Amazônia, até Mato Grosso e SãoPaulo, até Panamá.

GUARACAVA-DE-PENACHÇ)~AMARELO,

Pr. 34, 5 ..

13cm. Representante amazônico silvestre, topetudo.De píleo anegrado, com muito amarelo-enxofre no meioo que desperta a atenção de longe quando canta,eriçan-do o píleo, lembrando com duas faixas dis-tintas na asa e bordas claras das secundárias internas; opeito rajado. seqüência pouco sonora, descenden-te: "bch-bch-bch zch-zch-zch", emitida nas horas quen-tes do dia. Vive a pouca altura na mata baixa. Ocorremeridionalmente até a margem direita do Amazonas,Belém, Marajó (Pará), até a Venezuela. "Maria-de-coroa-amarela*".

MARIA-DA-COPA,

[12,Scm. Representante florestal de ampla distribui-ção. No Brasil mais encontradiço nas florestas secas doBrasil central e Nordeste. Ocorre também incomumenteao longo da mata atlântica pelo menos até o litoral doParaná (R. Parrini) e na Amazônia central e ocidental.Recentemente encontrada e documentada através degravações na Serra dos Carajása. F Pacheco,P S. M.Fonseca) e Riozinho (B. M. Whitney), ambas no sudestedo Pará. Adicionalmente em todos os países amazôni-cos além do Panamá, Paraguai e Argentina. Faltam, emparte, registros para a maior parte do Escudo Guianense."Maria-da-copa?" .]

GUARACAVA-DE-BARRIGA-AMARELA,

Pr. 34, 6

Iôcm. É uma das espécies residentes mais conheci-das de um grupo cuja determinação exige a técnica maisaperfeiçoada do especialista. Tem o topete com brancoescondido, a garganta esbranquiçada e duas faixasesbranquiçadas na asa. pela vocalização pode-sereconhecer imediatamente a espécie, mas a voz é tãodifícil de se descrever como a plumagem: seqüência deassovios chiados, "tchri-dj, dj tchri-dj, dj", canto, igualem regiões tão distantes umas das outras como o Rio deJaneiro e o Amapá; possui um outro tipo de canto bemdiferente, usado sobretudo como canto da madrugada,aparecendo como uma série de perguntas (flexão dasfrases subindo), depois vem a resposta: delí, delí, delídeli-de-dí": Habita a orla da capoeira, campos de cultu-ra com árvores e quintais. Favorecido pelo hábitat per-turbado; insetívoro-frugívoro oportunista, tendênciaimportante para a dispersão de vegetação secundária(Marcondes-Machado 1985). Ocorre do Méxicoà Bolí-via e Argentina e em todas as regiões do Brasil. "Maria-tola" (Minas Gerais), "Bobo" (Mato Grosso),"Cucurutado" (Espírito Santo), "Maria-acorda", "Ma-ria-já-é-dia", "Guaracava" (São Paulo), "Maria-é-dia*".

GUARACAVA-GRANDE,

17,6cm. Relativamente grande, pouco topetuda, ge-ralmente sem branco no píleo, com três faixasesbranquiçadas distintas na asa, bordas das secundáriasinternas claras, bico todo negro. assobio isoladoforte, "wia". Vive à beira da mata, capoeira e árvoresisoladas; é visto com freqüência nas copas. Ocorre oca-sionalmente em quase todo o Brasil, p. ex., Pernambu-co, Rio de Janeiro, ex-Estado da Guanabara, São Paulo,Rio Grande do Sul, Argentina, Bolívia e Peru.

COCORUTA*, En

17cm. Restrita a Fernando de Noronha, consideradosubespécie de E. , mas subespecífico pre-

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TYRANNIDAE 605

cisa ser confirmado com o estudo da vccalização.É umadas três espécies de aves terrestres existentes atualmentenaquela ilha, tratada lá como "Cebito". V.Migração.

GUARACAVA-DE-BICO-PEQUENO,

14,5cm. Espécie meridional, de bico menor que E.sem topete, tem o píleo com pouco branco,

duas a três faixas claras na asa. baixinho "quüe","pit", "tschill, zischili" (casal, perto do ninho). Dois ti-pos de canto: trissilábico"pridi-drü-íd", forma maiscomum; bissilábico"zí-ü", apenas no começo da repro-dução. Nidifica na Bolívia, Argentina, Rio Grande doSul (novembro), migra até o norte do continente."Cuaracava-verde?".

TUQUE,

15cm. Espécie localmente abundante no Sudeste, semtopete, sem branco no píleo, anel esbranquiçado em tor-no do olho, mandíbula clara, duas a três faixas verde-esbranquiçadas na asa. inconfundível mas difícil detranscrever-se, pouco melodioso "prrrtprr-prrí-rrr"(canto). Ocorre da Argentina e Paraguai ao Rio de Janei-ro (Nova Friburgo, Itatiaia, etc., representante típico ser-rano), Goiás, Distrito Federal, Mato Grossoà Bahia."Maria-tola" (Minas Gerais).

GUARACAVA-DE-TOPETE-UNIFORME,

14cm. Espécie pequena, topetuda, de píleo anegradoe sem branco, costas pardacentas com pouco verde, duasfaixas esbranquiçadas na asa. "quüa"i chiado"dchrrr djélele djélele". canto de madrugada (na pontade árvore) composto de três sílabas: "dje-bí dodo bí".Habita o cerrado e a capoeira rala. Ocorre da Amazô-nia,Amapá, típico para o campo cerrado. Venezuela parao sul até Mato Grosso, Goiás, São Paulo e o Nordeste."Maria-é-dia", "Guaracava-de-topete*".

GUARACAVA-DE-TOPETE-VERMELHO,

13,5cm. Representante setentrional ainda menor queE. , topetudo, distingue-se de outras pelacor avermelhada no píleo, o lado inferior (peito) estriadode cinzento e amarelo-pálido. forte e sonoro "krrr-krrr", Vive na mata baixa, rala. Ocorre das .Guianas atéo Amazonas e sul do Pará (Cururu). "Maria-tola","Guaraca va-de-coroa-ferrugem*".

Tucxo,

17,8cm.É ainda maior do que spect bilis, sem-pre sem branco no píleo, por cima verde-oliváceopardacento bem escuro, duas faixas claras na asa, lado

- -

inferior verde uniforme, mandíbula pardo-clara."krrra ...", advertência de cambaxirra,"pürr": "psiorr": "grãí-grãí": "djürlü-djürrüt" (canto) eoutras vozes. Vive na orla da mata. Ocorre da Argentinae Paraguai até o Rio de Janeiro(nidífícando), Minas Ge-rais, Bahia, Goiás, Mato Grosso, Bolívia e Peru. "Maria-tola", "Guaracava", "Tonto", "Guaracava-de-óculos*".

GUARACAVA-DE-CRlSTA-BRANCA ".

VS

[14,5-15cm. Uma rota alternativa através da região.costeira do Brasil foi sugerida (Marini& Cavalcanti1990), em complementação a rota andina proposta ante-riormente (Zimmer 1941) para esse migrante austral queviaja do cone sul até os Andes colombianos e regiãoamazônica. Uma população, aparentemente dessa espé-cie, é anualmente assinalada numa faixa de 250km entreo litoral e a serra da Mantiqueira mineira na latitude doRio de Janeiro entre fevereiro e início de abril (Pacheco& Gonzaga 1994):]

CHIBUM,

[13,5cm. Representante típico do cerrado e outrasáreas campestres abertas com árvores esparsas. Ocorrena Amazônia brasileira principalmente nas campinas,estando registrada para todos os países dessa região alémdo Panamá e Costa Rica. Para o sul através do Brasil inte-riorano chega ao Paraná, Bolívia, Paraguai e Argentina.]

,.

,.GUARACAVA-DO-RIO*, elni

[18cm. Espécie típica da vegetação sucessional dasilhas fluviais dos rios amazônicos. No Brasil assinaladopara as ilhas do Solimôes / Amazonas e alguns afluen-tes, tais como o [uruá, Madeira e Tapajós.Adicionalmen-te na Colômbia, Peru e Bolívia.]

GUARACAVA-SERRANA ",

[14,5cm. A forma E.p. oliu endêmica dos tepuisvenezuelanos, foi assinalada para o Brasil na região daSerra Parima (phelps& Phelps 1948); Cerro Uei-Tepui(Phelps & Phelps 1962) e Cerro Urutani (Dickerman&Phelps 1982). Outras formas dessa espécie se distribu-em ao longo dos Andes entre a Colômbia e aBolívia.]

ALEGRINHO-DE-GARGANTA-BRANCA *,

[14cm. A forma M. I. o e, endêmica dos tepuisvenezuelanos, foi assinalada para o Brasil no Cerro Uei-Tepui (Phelps& Phelps 1962) e Pico da Neblina (Phelps& Phelps 1965).]

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606 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

JOÃO-POBRE,

12cm. Espécie ribeirinha terrícola, cinzento-escuraquase uniforme, garganta mais clara, asas e cauda ne-gras. fino o canto é uma série desses assoviosterminando num zumbido, o conjunto parece provir deum furnarídeo. A cauda sempre em movimento, abrin-do e fechando ininterruptamente. Habita a margemterrosa de lagoas, açudes, canais ou rios onde pula nosolo e nas pedras. Ocorre da Argentina ao Espírito San-to e Minas Gerais; no norte nas montanhas(Itatiaia,Bocaina, etc.). "Alegrinho-pobre*". V o Parulinae ribei-rinho e rioularis.

ALEGRINHO-DO-RIO*,

[llcm. Espécie endêmica da vegetação sucessionaldas ilhas fluviais dos rios amazônicos. No Brasil assina-lado para as ilhas do Solimões/ Amazonas e alguns aflu-entes, tais como o Madeira, Tapajós e 'locantins. Tam-bém existente em ilhas do baixo rio Branco e baixo [apurá(pacheco 1995). Adicionalmente na Venez uela, Colôm-bia, Equador, Peru e Bolívia.]

ALEGRINHO, Pr. 34, 4

IOcm. Pequeno papa-moscas arborícola do Brasil ori-ental quase sempre de píleo arrepiado, fácil de reconhe-cer. "zit-zit zerítitit", servindo à diagnose, timbrede seqüência de finos "tzi-tzi-tzi ...",Vive na capoeira e nos campos de cultura com árvores.É mais comum nas regiões serranas. No inverno apare-ce também no litoral (Rio de Janeiro, ex-Estado da Gua-nabara, Espírito Santo). Ocorre do Maranhão, Piauí,Bahia, Minas Gerais ao Rio Grande do Sul e Argentina.A denominação deriva-se do grego os =

mosquito, mosca, nada tem a ver portanto com serpen-te. Inclui (é contestável) , de lado infe-rior branco em vez de amarelo, Rio Grande do Sul, oes-te de Mato Grosso, Goiás e países adjacentes.11Alegrinho-do-leste?".

AMARELINHO,

9,5cm. Espécie amazônica, semelhante a e, sendo menor, de lado inferior menos intensa-

mente amarelo, barras nas asas e ponta da caudaesbranquiçadas (não amareladas). seqüência deassovios estridentes, "ít-hí.i.i.Li". Vive à beira de rio.Ocorre das Guianas e Colômbia ao norte de Mato Gros-so e Tocantins (Pará).11Alegrinho-amarelo*".

ALEGRINHO-DO-CHACO*,

[10cm. Conhecido no Brasil para a região do Panta-nal. Mais para o norte, possivelmente apenas como vi-

sitante, na região próxima a Cuiabá (maio, junho, Pinto1949) e na região do rio Juruá (Gyldenstolpe 1945) eRondônia (D. F. Stotz) são igualmente considerados mi-grantes austrais. Assinalado ainda para a Argentina,Paraguai, Bolívia e Peru.]

PAPA-MOSCAS-DO-SERTÃO, s

13cm. Espécie arborícola, de pernas altas e finas; porcima pardacenta, por baixo amarelo-pálida, de caudalonga graduada, de base e ponta brancas. trissilábica"djü-didl-tschrrr". Cauda sempre em movimento. Vivenas árvores e arbustos espalhados no campo fortemen-te ensolarado. Ocorre do Nordeste (Pernambuco, Bahia),e localmente no Amazonas e Pará (Tapajós, [uruá, emilhas fluviais) até o Peru.11Alegrinho-do-sertão*". .

Fig. 232. Papa-moscas-do-sertão,g tu n pensis.

ALEGRINHO-BALANÇA-RABO*,

. Fig. 232

14,4-15cm. Muito parecida com a anterior, mas comas costas esverdeadas e cauda negra, atravessada poruma faixa branca e de ponta branca. Ocorre no Nordes-te, às vezes na mesma região que a precedente (Bahia);também na Bolívia, Paraguai e Argentina.

PAPA-PIRI, is g s Pr. 34, 14

IO,5cm. Tirar.ídeo meridional policromo e paludícola.O verde do dorso parece às vezes azul. A fêmea é pare-cida, porém menor. O imaturo é diferente, por cima ne-

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TYRANNIDAE 607

gro-esverdeado, cabeça sem amarelo, negra e vermelha,faixa pós-ocular branca; desenho branco nas asas e nacauda como no adulto. Vive a pouca altura nos taboais ejuncais altos, esconde-se como o fumarídeo

que muitas vezes vive ao seu lado, e com oqual compartilha a técnica singular de molhar folhas dejunco como material de construção do seu ninho (v. Re-prod ução). Ocorre do Chile e da Argentina ao Rio Gran-de do Sul, São Paulo e Rio de Janeiro, os exemplaresencontrados mais ao norte do Brasil relacionam-se commigrações; um indivíduo foi apanhado em alto-mar, 92milhas distante da cidade de Rio Grande (Rio Grandedo Sul, março 1960). "Bonito-do-piri't".

PAPA-MOSCAS-DO-CAMPO,

Fig.233

10,2cm. Espécie campestre do Brasil central, de'cau-da bastante longa, graduada e de penas singularmenteestreitas; o lado superior cor de canela-clara estriada denegro, píleo anegrado riscado de branco, sobrancelhabranca ou amarelada, lado inferior branco-amarelado.

baixinha, às vezes zumbindo "djü","üit", "djõ-pürrr", lembrando um poucoHabita os capinzais altos, úmidos ou secos, a meia altu-ra nos colmas, apanhando insetos; foge voando aberta-mente sobre os capinzais, tal e qual um Emberizinaecomo voam em pequenos bandos. Ocorre daArgentina e Paraguai a Mato Grosso, Goiás, oeste daBahia, Maranhão, Distrito Federal, Paraná e São Paulo."Maria-do-campo*". V. as duas seguintes.

Fig. 233.Papa-moscas-do-campo,Culicio eu

PAPA-MOSCAS-CANELA,

9,8cm, Espécie campestre topetuda, de lado superiorpardo-acanelado, píleo estriado de branco, uropígio efaixas nas asas cor de canela; o lado inferior é branco-amarelado, a garganta um pouco estria da e os lados ca-nela viva. Ocorre do Uruguai ao leste da Bolívia e Brasilcentral: Goiás (Aragarças), Mato Grosso (Campo Gran-de, Cuiabá), São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul' tam-bém no norte (Venezuela, etc.). "Tricolino-canela*:'.V. oseguinte eCulic

PAPA-MOSCAS-DE-COSTAS-CINZENTAS,

En

10,2cm. Tem o lado superior cinzento uniforme, sen-do branco o loro, em tomo dos olhos e os riscos escon-didos no píleo; lado inferior cor de canela viva e brancono meio. "quírrrlíp", lembrando a voz chiada de E.

menos loquaz. Ave montícola, vive nos cam-pos rupestres de altitude, pousa em galhos de arbustose árvores baixas existentes. Ocorre em Minas Gerais nodomínio da Serra do Espinhaço: Mariana 1.000m, Serrado Cipó 1.000m, (G. T. Mattos), Serra da Piedade 1.7S0m,Serra da Gandarela, Serra do Caraca, ao lado de

e do beija-flortam~ém endêmicos; também na Bahia (Morro do Cha-péu, coletado por E. Kaempfer em 1928) e em São Paulo(Serra da Bocaina, coletado por J. L. Lima em 1961)."Tricolino-~e-costa-cinza*". V. e eE. e a espécie precedente a qual se podeconsiderar provavelmente um substituto geográfico.

TRICOLINO, Pr. 34, 3

9,8cm. Espécie paludícola, seu topete, visto de fren-te, separa-se em dois chifres; possui de 4 a Sprimáriasexte~nas .transformadas em rêmiges sonoras sobre cujafunçao ainda nada sabemos; o imaturo é pardo em vezde amarelo. chiado finíssimo "fit-fit", "bítzi-bítzi"(canto); grosso "xat" (advertência). Habita o varjão aber-to, procura alimento pulando através da vegetação apouca altura e na base das plantas paludícolas, cantanas pontas do junco. Bahia ao Rio Grande do Sul, MatoGrosso do Sul, Argentina; também Guiana, Venezuela eTrinidad. "Tricolino-de-chifre*".

TRICOLINO-DOURADO*,

'. n,Scm. É encontrado apenas no extre~o sul, porCIma pardo-escuro, píleo ferrugíneo, por baixo amare-lo. "plit" (chamado). Habita os arbustos embeirade p.ânt~o. Ocorre do Chile, Argentina, Paraguai e Uru-guaI ao Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo. Ao con-trário de P sem as rêmiges transformadas.

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608 ORNITOLOGIA BRASILEIR~

BARULHENTO, Pr. 34, 2

llcm. Espécie bem pequena, pardacenta, com faixasnas asas pouco salientes e vermelho visível no píleo.forte e chiada, difícil de se descrever; "przl-lidl",alterando com tremidos sem descansar. Difícil de se ver,mas com sua voz incansável atrai insistentemente a a-tenção. Habita os arbustos nos campos, nos pastos, ca-poeira rala e a caatinga. Ocorre da Venezuela à Bolívia eUruguai, Brasil central e oriental, Maranhão ao Rio Gran-de do Sul, dentro da cidade do Rio de Janeiro nas capo-eiras dos morros e restingas. Em Mato Grosso às vezesperto da espécie descrita a seguir. V. também11Arrelia" (Minas Gerais), "Traz-farinha-aí", "Maria-ba-rulhen ta"",

MARIA-CORRUíRA ".

s Am

nem. Restrito ao Brasil central, se assemelha ao an-terior porém sua cauda é longa e estreita, seu tarso altoe a parte inferior do corpo ferrugínea viva nos lados eamarela no meio. "blüt-blüt-blüt" (chama-da); "djic-djic-djic-tschrrrüdi" (canto), lembrando osfurnarídeos. Vive a pouca altura ou pulando no solo.Ocorre no cerrado aberto com poucavegetação. semea-do de cupinzeiros (Mato Grosso); sul do Pará, Maranhãoe Piauí ao norte de São Paulo; também em savanas nosul do Suriname e Bolívia.

SUPI, ABRE-ASAS,

Pr. 34, 10

n,Scm. Papa-moscas silvestre, singular, tanto nocolorido (veja M. como no comportamento(v.Reprodução). Cada macho ocupa, pe-riodicamente, um território no qual voa nervosamentede um lado para o outro; no pouso, levantando as asasalternadamente e emitindo seu canto: estrofe chiada,"píor, píor ...", perceptível até do território do próximomacho, com o qual entra ocasionalmente em contato,perseguindo-se mutuamente, lembrando um piprídeocomo . Habita o estrato inferior dafloresta escura; na mata de várzea do baixo Amazonas(Pará) é uma das aves dominantes. Ocorre do México edas Guianas à Bolívia, Mato Grosso, Pará e Maranhão,também na faixa costeira, onde existem florestas, deAlagoas ao Espírito Santo (litoral ao norte do rio Doce)e Rio de Janeiro (Magé, Tinguá, Luiz P. Gonzaga); emTInguá (300m) ao lado de M. (outubro). 11Abre-asa-da-ca poeira "":

ABRE-ASA-DA-MATA ",

n,Scm. Sem faixa amarelada sobre a asa (ao contrá-rio da precedente) e com o interior da boca cor-de-chum-

bo ( . ole gineustem a boca cor-de-laranja); é restrita àAmazônia. Ocorre das Guianas à Bolívia, Amazonas,Pará (Belérn), Maranhão, muitas vezes ao lado da prece-dente, pousa até nas mesmas árvores.

ABRE-ASA-DE-CABEÇA-CINZA *,

13cm. Relativamente grande, garganta cinzento-es-cura em vez de verde, lavada de ferrugíneo. , ce -

o canto é uma seqüência baixa descendente acele-rada, lembrando um o "bão-bâo-bão ...".Move freqüentemente as asas a curtos intervalos, comose quisesse levantá-Ias.É restrito ao sul: Espírito Santo(regiões serranas), Minas Gerais, Rio de Janeiro(Petrópolis, Teresópolís.Itatiaia, etc.), ex-Estado da Gua-nabara ao Rio Grande do Sul, Misiones e Paraguai. An-tes denominada o ioent is.

CABEÇUDO, eptopogon .Pr. 34, 9

13cm. Papa-moscas silvícola facilmente reconhecí-vel pela nódoa anegrada no lado da cabeça, o que fazlembrar es , tendo porém píleopardacento-escuro (em vez de verde) e duas faixas ama-reladas na asa, sem anel claro em torno do olho.o

, mais cheio"rrr-ío", , atraindo mui-to a atenção, lembrando e e fracosemelhante à voz do sagüi sp.); a seqüênciaascendente de assovios límpidos, suaves, termina numsom grosso: Ü ü ü ü ü ü ... psíu . Cerimônias: levantacom freqüência a asa de um lado só, até a vertical, ges-to impressionante. Ninho, v. figo227. Vive à altura mé-dia na mata. Ocorre do México, através do alto Ama-zonas (parece não existir no baixo Amazonas), àRondônia, Mato Grosso e Bolívia; Nordeste, Leste eSul até o Rio Grande do Sul, Misiones e Paraguai.

íb (Kaiabi. Mato Grosso), (Rio de Ja-neiro), 11Abre-cabeçudo*".

BARBUDI~~O,

l1,4cm, 7,Sg. Representante meridional florestalmuito característico, de cabeça alta e larga, em tornodo bico numerosas cerdas, cauda longa, pés peque-nos. Verde, píleo plúmbeo, uma grande nódoa bran-ca acima do loro, outra ao lado posterior da cabeça;abaixo do olho grande área amarelada, realçada poruma faixa posterior negra semilunar; barriga arriare-Ia. Interior de mata, ao lado de eptopogon

oceph lus, onectes ue s,etc.; Minas Ge-rais, Rio de Janeiro ao Rio Grande do Sul, Paraguai eMisiones. Às vezes incluído no gêneroogonot iccus."Barbudinho-do-sul*".

,.

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TYRANNIDA:: 609

MARIA-PEQUENA *, lus

llcm. Espécie meridional, nordeste da Argentina,Paraguai e de Santa Catarina a Minas Gerais e Espí-rito Santo. Também no município do Rio de Janeiro(Pacheco 1988). Antes incluída no gêneromonotípico.

BORBOLETINHA -DO-MATO,

lis

1I,Scm. Representante subtropical de cauda relativa-mente longa, parecendo-se com a espécie descrita a se-guir, mas sem o desenho característico dos lados da ca-beça, embora possua algum branco na face; duas faixasamarelas na asa. forte, pode lembrar um furnarídeoou dendrocolaptídeo: "spit", "tirrr", "zí-ti, ti, ti, ti" (cha-mada); "spit-spit-spit-tütütütü-spit" (canto). Cauda sem-pre um pouco levantada, executando com freqüêncialigeiros movimentos para cima. Vive na mata. Ocorredo Rio de Janeiro e Minas Gerais(Caparaó) ao Rio Gran-de do Sul e aos Andes, no Rio de Janeiro nas monta-nhas (Bocaina, etc.). "Borboletinha*". V. a seguinte e

[BORBOLETINHA-BAIANO, lEn Am

Tlcm. Recém-descrita espécie da copa das florestasmontanas do centro-sul da Bahia. Difere de aqual representa na sua região, além da distinta vocali-zação e tamanho menor, pela presença de ocráceo naregião supraloral, ao invés de amarelado ou esbranqui-çado, além de outros pequenos detalhes no colorido daplumagem (Gonzaga& Pacheco 1995). Quanto a con-servação do ambiente florestal onde a espécie foi desco-berta v. texto para o fumarídeo .

CARA-PINTADA '. En Am

[12cm. Endemismo notável da copa das florestasmontanas de Alagoas, Murici e Reserva Biológica dePedra Talhada (Teixeira 1987; Teixeiraet . 1987). Umsumário de sua situação, enquanto espécie restrita eameaçada encontra-se em Collaret . 1992.] .

[MAR!A-DA-RESTINGA, ei En Am

12cm. Recentemente. descrita (Willis& Oniki 1992)das florestas de baixada e restingas do sul do Brasil, en-tre o vale do Ribeira no litoral sul de São Paulo e o nor-deste de Santa Catarina. Essa nova espécie substituiP

das montanhas próximas e difere desta em de-talhes de colorido, medidas do bico e tarso e, especial-mente, em disparidades no repertório vaca!.]

[BoRBOLETINHA-GUIANENSE,

12cm. Único representante do gênero no EscudoGuianense, onde é conhecido para as três Guianas.Acom-panha regularmente os bandos mistos da copa da florestaonde recentemente foi encontrado ao norte de Manaus(Ridgely & Tudor 1994) e Serra do Navio, Amapáa. F.Pacheco). O único e antigo registro existente desta espéciepara Manacapurú, Amazonas (Pinto 1944) foi revertidopor reexame da pele depositada no Museu de Zoologiada USP como sendo (Stotz 1990).]

[MARIA-DE-TESTA-PRETA],

[12cm. Endemismo dos tepuis venezuelanos assina-lado para o Brasil no Cerro Urutani, Roraima(Dickerman & Phelps 1982).]

PAPA-MOSCAS-DE-OLHElRAS,

En Pr. 35, 11

12,Scm.É bem caracterizado pelo círculo amarelo-dourado em tomo do olho e a mancha anegrada na ex-tremidade das auriculares; não possui faixas nítidas naasa, ao contrário da espécie precedente. duro "teck",diagnóstico. Costuma levantar um pouco a cauda lon-ga. Mata, geralmente serrana (p. ex. Teresópolis, Rio deJaneiro). Santa Catarina à Bahia. "Treme-rabo*". V.

eptopogon e He .

ESTALINHO, En

11cm. Endemismo do Sudeste, fácil de se reconhecerpelo contraste entre o verde intenso do lado superior e ocinzento-escuro uniforme do inferior; nítido anel bran-co em tomo do olho esbranquiçado. Manifestações so-noras. "Prrit..."; estridente - (canto). Chamamais a atenção por um estalido "ták", freqüentementebissilábico "ták-ták", às vezes matraqueando que pro-duz regularmente, p. ex., mudando o pouso (v. Vocali-zação). A altura de alguns metros, beira de mata. MinasGerais e Rio de Janeiro a São Paulo, restrito às monta-nhas (Serra dos Órgãos, 1.600m, Bocaina, Itatiaia,Caparaó); Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul.

_',.:f .

NÃO-PODE-PARAR*, Am

[10,Scm.Poucoconhecido representante florestal, tra-tado como espécie vulnerável ou rara por Collaret .1992. Ocorre do Espírito Santo ao nordeste de Santa Ca-tarina e florestas adjacentes do Paraguai e Argentina.]

CÁRA-OOURADA ". i,i En Am

[11,Scm. Endemismo das matas decídúas do médioSão Francisco, norte de Minas Gerais. Descrito de mate-

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610 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

rial coletado em Brejo Januária em julho de 1926(Snethlage 1928) foi somente reencontrada próximo alocalidade-tipo em setembro de 1977 (Willis& Oniki1991; Callar et . 1992).

[BARBUDINHO-OO-TEPUI],

[12cm. Omitido inadvertidamente da avifauna doBrasil (Willis & Oniki 1991, Ridgely & Tudor 1994), esteendemismo dos tepuis venezuelanos havia sido coleta-do no Pico da Neblina e na Serra Parima próximo aosmarcos de fronteira (Phelps 1973),]

MARIANINHA - AMARELA,

Pr. 35, 12

llcm. De cauda relativamente longa, extensa faixasuperciliar, lado inferior e duas faixas na asa amarelointenso. "bürr-bürr", ascendente, que apesar de certadiferença lembra "tetiríti ..." (can-to). Atividades coletivas (v.Reprodução). Beira de mata,cafezal, restinga. Nicarágua à Bolívia e Paraguai, todasas regiões do Brasil até o Rio Grande do Sul. "Sebinho","Maria-amarelinha "',

ESTALAOOR, Pr. 29, 6

12cm. Pássaro silvícola distinto, lembrando umperuinho-do-campo embora viva na mata maisescura. Manifestações sonoras: "dlia" (chamada);estrofe fina um pouco rouca e tremulando, trissilábica"di-driíd düdrí ü,ü,ü" (canto, "traduzido" pelo povo "eusou terríbili", Bahia). Voz de advertência substituída por'um estalido (v.Vocalização). Anda ligeiro no solo (per-nas altas, esbranquiçadas), voa bem (asas grandes), temcauda relativamente longa. Ocorre do Nordeste ao RioGrande do Sul, através de Goiás e Mato Grossoà Bolí-via, Paraguai e Argentina. O gênero foi con-siderado até há pouco como integrando o grupo deConopophagidae. É certo que não é aparen-tado com . A reunião de com ostiranídeos é baseada em caracteres da siringe, do crânioe da pterilose; existem cerdas em tomo do bico. O ninhoesférico com entrada pelo lado' e os ovos pardacentossão análogos ao de outros tiranídeos. Ao nosso ver

continua a ser sedis quanto à sua po-sição sistemática. "Peixe-frito" (Maranhão), "Estalador-do-sul*". V a seguinte.

ESTALAOOR-oo-NoRTE*, .

13,5-14cm. Na Amazônia substitui a espécie anterior,também de desenho marcante no peito (no imaturopardacento bor rado), coberteiras inferiores muito seme-lhantes ou iguais aos da precedente. Ocorre do norte de

Mato Grosso (alto Xingu, onde se encontra com C.e norte do Maranhão até as Guianas, Venezuela,

Colômbia, Equador, Peru e Bolívia.

MIUDINHO,

7cm. Um dos menores papa-moscas, de cauda curta,inconfundível pelo desenho da cabeça: atrás da regiãoauricular esbranquiçada localiza-se uma grande man-cha negra semilunar; píleo veide-pardacento, gargantabranca, rajada de preto; barriga amarela: bastantefina, tüc-tüc-tüc", ascendente "brrrü". Beira da mata.Brasil este-meridional (Bahia ao Rio Grande do Sul),Goiás, Misiones e Paraguai. "Sebinho". "Úri" (Municí-pio do Rio de Janeiro), "Maria-cigarra*".

CAÇULA, Pr. 34, 13

6,5cm, 4,9g.É o menor representante da família; aocontrário da espécie precedente, sem desenho negro nacabeça, píleo cinzento. , "bit", "zíbit", des-cendente "zürrr", "zürrit" (advertência). Estica as asaslateralmente ostentando seu lado inferior para a frente.Em vôo produz um sussurro de asas semelhante a umpequeno . Habita as copas da mata ribeiri-nha. Ocorre da Amazônia, até o norte de Mato Grosso(Xingu), Pará (Belém), Maranhão, às Guianas e Colôm-bia. "Cigarra-bico-chato", "Maria-caçula*".

CAGA-SEBINHO-PENACHO,

Pr. 35, 5

9,5cm. Papa-moscas pequeno com topete; íris ama-relo-clara, lado inferior lembra s

. estridente "ik", "tic-tic-tirrr",muito forte considerando-se o tamanho reduzido dopássaro. Mata, estratos diferentes. Amazônia, para o sulaté o sul do Pará, norte de Mato Grosso e Maranhão;Guianas e Colômbia. Antes colocado em um gênero aparte: . "Maria-de-penacho+",

MA~-FITEJ,RA *,

[10cm.Tíranídeo de sub-bosque das florestas, sobre-tudo as secundárias de terra firme. Assinalado no Brasilpara a margem esquerda do Amazonas, florestas da dre-nagem do Negro e região fronteiriça com o Peru(Solimões e Juruá).]

MARlA-TOPETUDA ". euiophotes

[l Ocm. Espécie de distribuição restrita e pouco co-nhecida do sudoeste da Amazônia. Conhecida em terri-tório brasileiro apenas através dos cinco exemplarescoletados em Hyutanahan, alto Purus que serviram a

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TYRANNlDAE 611

descrição original (Todd 1925).Assinalada posteriormen-te no sudeste do Peru e noroeste extremo da Bolívia.]

[MARIA-DE-OLH0-CLARO,

9,Scm. Pequena espécie das matas decíduas e regiõesáridas do norte da América do Sul: Colômbia, Venezuela,oeste da Guiana e parte do Panamá. Assinalada para oBrasil pela primeira vez em Contão. nordeste de Rorai-ma em julho de 1992 (Forrester 1993).]

OLHO-FALSO, diops Fig. 234

ll,Scm. Papa-moscas silvícola, do Sudeste, bem es-curo, por cima verde, por baixo cinzento ligeiramenterosado, tem uma nódoa esbranquiçada no loro e outramaior (menos visível em vida) na garganta posterior,mandíbula cinzento-clara. "bit", "süit", "bit-biwít",lembrando eus. Habita o interior damata em altura média. Ao Norte é restrito a regiões ser-ranas (Santa Teresa, Espírito Santo; Teresópolis e Itatiaia,Rio de Janeiro). Ocorre da Bahia e Minas Gerais ao RioGrande do Sul, Misiones e sudeste do Paraguai.."Cigarrinha", "Maria-de-olho-falso?".

Fig.234. Olho-falso,He it iccus diops

CATRACA, obsoletus

Llcm. Espécie parecida à anterior sendo porém todalavada de pardo, mais no lado inferior. "tik, tik, tik,tik.itik". Vive na mata. Ocorre no Rio de Janeiro (p. ex ..Itatiaia, onde se encontra com a precedente), São Paulo(Bocaina), Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.[Antes considerado endêmico do Brasil, foi recentementeencontrado em Misiones, Argentina (Finch 1991, Saibene& Castelino 1993).] "Maria-catraca*".

PAPA-MOSCAS-ESTRELA, He furcatusEn Am .

9,2cm. Endemismo raro notável do Sudeste, com oaspecto de um , tendo porém o macho a cau-

da bifurcada de pontas brancas; o dorso verde, cabeçaparda, peito cinzento-escuro, uma nódoa no papo e bar-riga brancas. Ocorre no Rio de Janeiro (Nova Friburgo,Para ti), em taquaral, leste de São Paulo (Ubatuba). Essaespécie foi tipo do gênero monotípico C o ccus."Maria-tesourinha*". [Encontrado recentemente nasmontanhas do sul da Bahia (F. R. Lambert, Gonzagaetal. 1995).]

SEBINH0-RAJADO-AMARELO, ss Pr. 35, 9

10cm. Uma das 16 espécies brasileiras de um grupo(gênero) de pequenos papa-moscas, em parte extrema-mente semelhantes.H iccus i icollis é fácil de re-conhecer pelo intenso amarelo da barriga; garganta epeito rajados. "büt-büt bí-bibit". Vegetação ribeiri-nha, taboca, tanto no alto como em baixo, manguezal.Amazônia, do Peru a Mato Grosso, Goiás e Nordeste."Maria-de-papo~riscado~".

T ACHURI-CAMPAINHA, ccus nidipendulusEn

9,Scm. Localmente no leste brasileiro, lado superiorverde-oliváceo uniforme, garganta e peito cinzento-oliváceos uniformes, barriga branca, íris esbranquiça-da. lembra a deIod osi "tic". "prrü-prrü-prrü"

(chamada); estrofe bem clara e alta, "tirí-tílili tílilitilili"(canto, diagnóstico). Mata de restinga, brenhas de sa-mambaia das taperas, etc., em regiões serranas. [Sergipeao Paraná. "Maria-verdinha*".]

SEBINH0-DE-OLHO-DE-OURO, He cusei n te

10cm. Típico para cerrado e caatinga, por cima ver-de-acinzentado, lado inferior branco, todo rajado de cin-zento. tück-ik", "tük-ik, ik, ik", "tic-tic-tic-tic-tüc-.tüc-tüc", lembrando pipo h baixo, bufando.Arbustos nas savanas centrais. Da Venezuelaà Bolívia,Argentina e Paraguai, Brasil central, cerrado do Sudes-te, meridionalmente até o Paraná e Nordeste. "Maria-olho-de-ouros" .

TIRIRIZiNHO-DO-MATO, us iEn

ll,5cm. Espécie silvícola, por cima verde-escuro, umanel branco em torno do olho, garganta e peito rajados,barriga amarela. "tirrit", tirririt". Vive na mata.Ocorre do Espírito Santo e Minas Gerais a São Paulo eRio Grande do Sul, também no ex-Estado da Guanaba-ra. "Oculista", "Maria-tiririzinha*".

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612' ORNITOLOGIA BRASILEIRA

MARIA-MIRIM*,

[11cm. Coube a Stotz (1993) determinar a correta de-nominação desta espécie, antes tratada como H.É conhecida com segurança apenas de exemplares dobaixo Tapajós e norte da Bolívia. São possivelmente re-lacionados a esta forma registros para a Amazônia bra-sileira de rio do Cágado (Willis& Oniki 1990); Alta Flo-resta (T. A. Parker) e Parque Nacional do[aú (A.Whittaker; J. F. Pacheco).]

MAR!A-DO-NOROFSTE*, En

[IDem. Endemismo dos enclaves florestais ("brejo")no domínio da caatinga. Assinalada para as Serras deIbiapaba e Baturité, no Ceará; região montanhosa deGaranhuns em Pernambuco e Pedra Talhada emAlagoas.Considerada como espécie vulnerável e rara por Collaret (1992) devido a sua distribuição fragmentada.]

MARIA -CATARINENSE*,

En Am

[IDem. Endemismo florestal da mata atlântica donordeste de Santa Catarina que forma com a espécie pre-cedente e H. do Peru e Equador umasuperespécie (Fitzpatrick & O'Neill 1979). Conhecidaapenas da localidade-tipo SaltoPíraí,perto de Joinville,quando uma fêmea foi coletada por E. Kaempfer(Zimmer 1953), de um segundo exemplar, coletado porH.. F. Berla, proveniente de Brusque (Teixeiraet 1991) ede observações realizadas em Vila Nova por M. Pearman(Collar et 1992).]

[MAR!A-OA-CAMPINA], En

[9cm. Espécie conhecida apenas do exemplar tipo co-letado em 1831 por J. Natterer no rio Içana, região doalto rio Negro. Recentemente reencontrada numa cam-pina ao norte de Manaus quando um exemplarcomprobatório deste achado foi comparado diretamen-te com o tipo depositado no Museu de Viena (M. Cohn-Haft, A. Whittaker).]

MARIA-OE-OLHO-BRANCO*,

[l lcm. Representante do-gênero de distribuição maisespalhada da Amazônia brasileira. Ocupa o sub-bosquedas florestas, sobretudo das de terra firme. Registradoigualmente para todos os países da região com exceçãoapenas da Guiana. Ocorre ainda na mata atlântica nor-destina da Paraíba a Alagoas (H. z.

MARIA-BICUOINHA *,

[Tlcm, Endemismo do Escudo das Guianas. Assinala-do pela primeira vez no Brasil para o Amapá (Novaes

1967). Em 1988 foi capturado e fotografado próximo aoreservatório de Balbina, ao norte de Manaus (A.Whittaker).]

MARIA-SEBINHA ".

[10cm. Principalmente distribuída ao sul do Amazo-nas onde ocupa as formações densas de sub-bosque eborda da floresta de terra firme. Ocorre no Brasil doPurus até o Tocantins, com registros também para amargem esquerda do Solimões (Codajás, Manacapuru)e Amazonas (Manaus, Stotz& Bierregaard 1989). Recen-temente gravada no Parque Nacional do[aú (j. F.Pacheco, M. Cohn-Haft). Registrada ainda para o norteda Bolívia, enquanto o registro para a Venezuela precisaser reconfirmado (Ridgely & Tudor 1994).]

MARIA-PERUVIANA ",

[11cm. Espécie própria do sudoeste da Amazôniaonde habita às formações florestais ribeirinhas. Regis-trado para a Colômbia, Peru e Bolívia; no Brasil para osrios [uruá, Purus e Solimões (Tabatinga e São Paulo deOlivença). Existente também no baixo [apurá (E. E:Mamirauá) em formações densas da floresta de várzea(J. F. Pacheco).]

MARIA-OE-PEITO-MACHETAOO*,

[11cm. Especialista das formações de taquara do su-doeste da Amazônia. Conhecido do Brasil apenas deRondônía, rio Mequenes (Meyer de Schauensee 1966).Também na Bolívia e Peru.]

MARIA-BONITA ",

[11,5cm. Representante amazônico raro e de distri-buição local. No Brasil está assinalado para Itaituba, mar-gem esquerda do Tapajós (Todd 1925); confluência dosrios Castanho e Padauiri, divisa com a Venezuela (Phelps& Phelps 1948); Belém (Lovejoy 1974); Ananindeua, Pará(Novaes 1978); Altarnira, baixo Xingu (Graves& Zusi1990); Pedra Chata, Maranhão (Oren 1990). Existentetambém na região da Serra dos Carajás nas formaçõesflorestais das baixadas dos rios Parauapebas e ItacaiúnasU. F. Pacheco).]

MARIA-PICAÇA *,

[9,5cm. Pequeno tiranídeo do sub-bosque emaranha-do encontrado junto aos rios da floresta amazônica. NoBrasil assinalado para o rio [arnari, Rondônia (P c. ,localidade-tipo, Ber la 1946); Cachoeira Nazaré,Rondônia (D. F. Stotz); Alta Floresta, Mato Grosso (T.A.Parker) e Serra dos Carajás (Novaes 1987).]

I'

I.I

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!Y!(ANNlUAIi 61::\

[MARIA-DO-MADEIRA], En

[9cm. Conhecida apenas da localidade-tipo, Barbano baixo Madeira, onde foi coletada por J. Nattererem 1830 antes de ser redescoberta na mesma regiãoem 1994 (M. Cohn-Haft, B. M. Whitney). Em geral,omitida da avifauna do Brasil (Pinto 1944, Siek 1985;Willis & Oniki 1991).]

TEQUE-TEQUE, FERREIRINHO,

En Pr. 34, 11

8,Bem. Papa-moscas comum, do Sudeste, bem peque-no, arborícola, facilmente reconhecível pela nódoa ama-rela no loro. pia "spit-spit-spit" emais sílabas; às vezes estala, v. Voealização. De movi-mentos ligeiros, .quase nunca fica imóvel. Habita as co-pas de árvores, também em quintais de cidades comoRio de Janeiro, podendo contentar-se, temporariamen-te, com poucas árvores frondosas de rua, como, p. ex.alguns oitís na P.raça Pio X. Ocorredo sul da Bahia e Espírito Santo a Santa Catarína, às ve-zes ao lado da seguinte. "Marrequinha", "Patinho","Ferreirinho-teque-teque*".

RELÓGIO, FERREIRINHO,

B,8cm. Parece-se corri a precedente, faltando-lhe po-rém a mancha no loro, retrizes exteriores com larga pontabranca. "tzrrr-tzrrr-tzrrr", "tsück. ..". Durante o a-casalamento joga a cauda para os lados. Vive na matarala, restinga, quintais e nas copas. Ocorre do México àBolívia, em todas as regiões do Brasil até o sul de MatoGrosso e Paraná. "Tirri" (Bahia), "Ferreirinho-relógio*".

FERREIRINH0-ESTRIADO,

9cm. Tem o lado inferior densamente estriado denegro, exceto a barriga. seqüência rítmica "zí-tic zí-tic zí-tic ...". Vive na orla da mata, quintais, copas e àsvezes ao lado da precedente (Pará). Ocorre da Amazô-nia até o Maranhão e Venezuela. [Substituicomo ave' urbana nas grandes cidades da Amazôniacomo Belém e Manaus.]

FERREIRINH0-DE-CARA-CANELA,

9cm. Espécie do estrato inferior de densa vegetaçãosecundária, também das brenhas de samambaia-das-taperas . suave "brrü-brrü".Vive escondida nos matagais baixos mais espessos setraifacilmente pela voz característica. Ocorre no Sude~-te: Espírito Santo ao' Rio Grande do Sul, Argentina e Pa-raguai, também nos Andes; no Espírito Santo e Rio de

Janeiro apenas em regiões serranas. "Tororó" (Rio Gran-de do Sul). [Recentemente encontrada nas regiões mon-tanhosas da Bahia (Gonzagaet . 1995) e Alagoas(Teixeira et 1989).

FERREIRINHO-DA-CAPOElRA *,

[9,5-10cm] Tem o lado inferior cor de ardósia, loro,garganta, e barriga brancos, asas com duas faixas ama-relas; prrü; parecida com a eps vive a pou-ca altura, em beira de mata cerrada, às vezes alagada(igapó); ocorre ria Amazônia para leste até o Maranhãoe Piauí.

FERREIRINHO-PINTADO*,

[9cm. Pequeno representante das copas e bordas dafloresta amazônica brasileira e extrabrasileira, eom ocor-rências por toda a hiléia excetuando a região do EscudoGuianense ocupada por seu substituto geo-gráfico, antes considerado coespecífieo. Embora consi-derado uma espécie da copa, pode ser eventualmenteencontrado muito abaixo na vegetação cerrada da capo-eira, Tefé ou do igapó, Parque Nacional do Jaú (]. F.Pacheco).]

FERREIRINHO-DE-SOBRANCELHA *,

[9cm. Endemismo do Escudo Guianense com regis-tros para as três Guianas e Venezuela, restrito no Brasilà região floresta da entre a margem esquerda do Negro~té a região do Amapá, onde ocupa sobretudo a copadas grandes árvores.]

FERREIRINHO-DE-TESTA-PARDA ",

[9cm. Habita a vegetação de regeneração emaranha-da da borda da' floresta. Ocorre no Nordeste do Brasilna faix-a florestada do litoral da Paraíba ao recôncavobaiano e na região de Belém (Novaes 1967) e região'transicional doMarajjhão (Hellmay"r)929Le. do altoXingu (Fry 1970; H. Sick). A raça do Escudo Guianense

f do Suriname e Guiana Francesa está assina-lada para 9 Brasil no alto rio Paru de Leste, Pará (Novaes1980), por conseguinte os registros adicionais paraManaus (Ridgely & Tudor 1994) e Serra do Navio,Santana e Porto Grande no Amapáa. F.Pacheco), todosao norte do Amazonas, devem pertencer a essa raça, Noleste de sua distribuição está atualmente expandindo suaárea de ocorrência para o sul do recôncavo baiano, ondejá existe em capoeiras da região de Valença (B. M.Whitney; J. F. Pacheco).]

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614 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

FERREIRINHO-FERRUGEM*,

[9,5cm. Endemismo dos tepuis venezuelanos assina-lado para o Brasil pela primeira vez no Cerro Uei-Tepui,Roraima (Phelps & Phelps 1962).]

FERREIRINHO-DE-CARA-PARDA *,

t

[9,5cm. A população do Brasil central (T. l.

prefere sobretudo as matas ciliares no cer-rado onde vive no extrato médio e baixo das formaçõesemaranhadas. Ocorre do leste de Rondônia e Mato Gros-so (rio das Mortes) através de'Coiás para o sul até ooeste de São Paulo e Paraná. Na Amazônia brasileira aespécie está associada a vegetação pioneira das ilhas flu-viais bem como as florestas de várzea e matas ribeiri-nhas. Ocorre na calha do Solimôes / Amazonas entre adivisa do Peru e o Tapajós e ao longo dos respectivosafluentes da margem direita desses rios. Também naColômbia, Equador, Peru e Bolívia.]

FLAUTIM-PARDO*, Cnipodectes

16cm. Único pelas primárias retorcidas, de caudalonga e bico largo, lado superior e peito pardo-oliváceoescuros, asas bordadas de pardo-amarelado, caudaavermelhada, barriga esbranquiçada. Ocorre a oeste dosrios Negro e Madeira até a América Central. Faltam es-tudos sobre os efeitos das asas transformadas.

'BrcO-CHATO-DE-RABO-VERMELHO,

Pr. 35, 8

15cm.Écaracterizado pela cor ferrugínea viva da cau-da. assobio cheio, tremulando Vive namata alta. Ocorre das Guianas à Bolívia, Brasil amazô-nico até o alto Xingu, Mato Grosso e Maranhão. "Ma-ria-de-ca uda -ferrugem *".

MARIA-CABEÇUDA *,

13cm. Ocorre na Amazônia ocidental, Minas Geraise Espírito Santo a Santa Catarina; Paraguai e Misiones.[Sua presença nas várzeas do Mamirauá e um sumáriode seus registros na Amazônia brasileira estão emPacheco (1995).]

[MARIA -DE-CAUDA -ESCURA,

[uscicauda

15,5cm. Recentemente encontrado em Alta Floresta,Mato Grosso (T.A. Parker). Espécie rara e local conheci-da para taquarais e ambientes diversos da Colômbia,Equador, Peru e Bolívia.]

BICO-CHATO-GRANDE, clus eus

15,7cm. É bem mais encorpado que o s, debico muito largo (mandíbula branca), plumagem ver-de-olivácea escura, barriga amarelada. Ocorre dasGuianas à Bolívia, Brasil amazônico e oriental até oRio de Janeiro. "Bico-chato-oliváceo*". V.o i s

,

BICO-CHATO-DE-ORELHA-PRETA,

Pr. 35, 13

4,5crn. Papa-moscas comum, silvícola, de tamanhomédio. assobio chiado bem típico, "schit", "shi-it" (freqüentemente três vezes) que se ouve amiúdeda população este-meridional, s. s escens. Vivena mata alta, nas copas, às vezes também mais baixo.Sua presença é denunciada pelo seu ninho longosuspenso que atrai a atenção (v. Reprodução). Ocor-

. re do México à 'Bolívia e Argentina, em todas as regi-ões do Brasil, até o Rio Grande do Sul. "Úri" (Rio deJaneiro). .

BICO-CHATO-AMARELO*, l i ent

12cm. Chama a atenção pela intensidade de amarelodo lado inferior. diferente "zü-it", lembrando bas-tante . Habita a orla da mata ensolaradade restinga e caatinga, chama a atenção por seus ninhospretos de bolsa. Ocorre da Venezuela, etc., à Bolívia, MatoGrosso, Goiás e Brasil oriental até o Rio de Janeiro. [Suapresença recentemente verificada no litoral sul extre-mo do Rio de Janeiro, Para tia. F. Paoheco, R. Parrini) elitoral norte de São Paulo, Ubatuba (Willis& Oniki 1993)pode indicar um interessante processo de expansãogeográfica em andamento no limite sul de sua distri-buição, raras vezes acompanhado entre as aves brasi-leiras.]

BICO-CHATO-DA-COPA *, i

[13,5cm. Espécie da copa da floresta que habitual-mente acompanha bandos mistos, extremamente seme-lhante a . ens e . Ocorre emtoda a Amazônia brasileira e extrabrasileira e na regiãotransandina do Equador e Colômbia, Panamá e CostaRica.]

. BrcO-e:HATO-DE-CABEÇA-CINZA *, l. ~.

[12cm. Representante comum da copa da floresta deocorrência ampla na Amazônia brasileira e extrabrasi-leira. Ocorre também na mata atlântica do litoral dePernambuco até o Espírito Santo. No Rio de Janeiro em

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TYRANNIDAE 615

algumas florestas remanescentes de baixada do norte doestado em Campos e Casimiro deAbreua. F.Pacheco, P.S. M. Fonseca).]

PATINHO, Pr. 35, 6

9,8cm. Papa-moscas silvícola bem pequeno, de vas-ta distribuição, de cabeça grande e bico descomunal, de-senho marcante da cabeça, com amarelo escondido nopíleo, mais marcante no macho: de tarsos fortes e asasgrandes. assobio fino "bit", parecido ao de

diops "sib-sib-sib": canto"iü-ch.ch.ch.ch-uit",Habita a pouca altura na mata alta, escura (olhosgrandes). Ocorre do Méxicoà Bolívia e Argentina,Brasil oriental, meridional (inclusive Rio Grande doSul) e centro-ocidental. "Bico-chato", "Patinho-de-garganta-branca*".

P ATINHO-CICANTE,

Am

12,6cm. Representante meridional, semelhante ao an-terior, mas muito maior, com o mesmo desenho na face,cauda relativamente longa; centro do píleo branco, umamancha escura ao lado do peito. apelo forte "ío"

lembrando canto trinado cheio, padrão se-melhante ao do anterior. Habita a altura média da matasecundária, ao lado do anterior (Parque Estadual doDesengano, 500m, Rio de Janeiro, L. P. Gonzaga,J. F.Pacheco). Ocorre do Espírito Santo (região serrana, deflorestas) a São Paulo e Paraná (Londrina) e Rio Gran-de do Sul (Torres) e leste do Paraguai. "Patinho-de-asa-castanha*".

SUBFAMÍLIA FLUVICOLINAE

MARIA-LEQUE,

Pr. 35, 10

15cma 17,5cm, 13 a 14 g (macho, Mato Grosso). Papa-moscas famoso pelo seu penacho, o qual, porém, nor-malmente fica fechado e invisível, sobressaindo da plu-magem doocciput como um estreito feixe abaixado, dan-do à cabeça uma forma toda especial (cabeça de marte-lo). A cauda ferrugíneo-clara torna-se vistosa na som-bra da mata, lembrando um furnarídeo. Bico compridoachatado com cerdas muito longas; tarso curto. Os exem-plares da população do sudeste do Brasil são grandes(O. En, Am, cerca de 17,5cm total),de lado inferior cor de canela uniforme. O pássaro podeexalar um cheiro forte. assobio que poderia pro-vir de um furnarídeo. Calado, escapa facilmente aoregistro. do Apenas excepcionalmentesevê o desdobramento do leque (vermelho no macho,

PATINHO-DE-COROA-BRANCA ",

[10,Scm. Espécie rara ou incomum amplamente dis-tribuída pelas florestas de terra firme da Amazônia bra-sileira e extrabrasileira, onde ocupa, da mesma formaque seus congêneres, o sub-bosque.]

PATINHO-ESCURO*,

[9,5cm. Representante de plumagem sombria e píleocor-de-laranja acanelada da floresta de terra firme daA-.mazõnia, Sua distribuição principal está relacionada como Escudo Guianense, com registros também para aVenezuela, Colômbia e Peru. Na Amazônia brasileiraocorre ainda no baixo Tapajós e na região de Belém eMaranhão (P.s. , Novaes 1968). Os registrosrecentes para regiões mais para o sul emRondônia, Ca-choeira Nazaré (D. F. Stotz) e Rancho Grande (Ridgely& Tudor 1994); Alta Floresta, Mato Grosso (B. M.Whitney) e Serra dosCarajás, sul do Pará (J. F.Pacheco)sugerem uma distribuição amazônica mais ampla do queaté então admitida.]

PATINHO-DE-COROA-DOURADA *,

"[9cm. Menor representante do gênero de padrão

facial semelhante a P. Possui ampla distribui-ção na Amazônia brasileira e extrabrasileira ocorrendoainda na América Central entre Honduras e o Panamá enas florestas transandinas do oeste do Equador e Colôm-bia. No Brasil o seu limite oriental conhecidoé o Xingu.]

amarelo na fêmea), no mais das vezes só o vemos parci-almente (p. ex. quando o pássaro arruma as penas). Aabertura integral do leque é um dos efeitos epigâmicosmais notáveis em aves do mundo. Apanhado vivo, opássaro, sentindo-se ameaçado, desdobra regularmente

.o Leque, até completar uma meia-lua (180°) e abana acabeça alternadamente, 90° para a direita ou para a es-querda (Fig. 235). O mais esquisito é que executa os di-tos movimentos lenta e silenciosamente, embora tenhao bico todo aberto; a boca é cor-de-laranja. A ave man-tém o plano do leque rigorosamente em oposição ao focodo suposto perigo, acompanhando todo' movimento doadversário (p ex. os olhos do observador). tnódoas azuis brilhantes no meio do disco são concen-tradas em certos pontos, aumentando seu efeito comoolhos suplementares. A extensão do leque faz com queo pássaro chegue a parecer maior e mais vigoroso doque é na realidade.É uma cerimônia fascinante e até

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616' ORN.ITOLOGIA BRASILEIRA

atemorizante para o espectador, como nós mesmos ti-vemos a oportunidade de verificar, comparável ao cho-que causado pela presença de uma cobra. O pescoço fino,esticado em direção ao perigo, e o grande discoresplandescente de penas podem lembrar uma estranhaflor na ponta de um caule fino, agitado pela brisa. Nota-mos, na primeira fase da abertura do leque, que o de~-dobramento deste é precedido pela exibição de uma fai-xa estreita, vermelha sangüínea, vertical, que nasce natesta do pássaro.

B

Fig. 235. Maria-leque,(A) Posição fixa com leque aberto.(B) Abana acabeça lateralmente (seg. Dick& Mitchell1979). Afunção básica do leque é epigâmica, mas a exibiçãosurge também em caso de medo por parte da ave,tornando-se então uma ação antipredatória.

Já há mais de cem anos Descourtilz (18S4) lamentouo fato de ter esta ave se tornado rara, imaginando. que acausa seria a perseguição à maria-leque, cujo penachoera vendido como adorno.É de admirar que Pinto (1944)diga que a espécie era" outrora abundante, especialmen-te em São Paulo". O representante centro-americano,

pode tornar-se até mais fre-qüente em matas secundárias (Terborgh 1974). Habita oestrato inferior da mata nos arredores de riachos som-breados sobre os quais faz seu ninho (uma bola de as-pecto desordenadode folhas secas), na ramagem. Ocor-re muito localmente na Amazônia da Colômbia à Bolí-via, MatoGrosso e Maranhão, também no Brasil orien-tal até o Paraná, no sudeste nas montanhas (Serras doMar e Mantiqueira, Itatiaia. "Lecre" (plebeísmo de le-que), "Pavãozinho", "Maria-lecre?".

PAPA-MOSCAS-UIRAPYRU,

. Pr. 34, 15

9,7cm. Pássaro silvícola bem pequeno, notável pelacor ferrugíneo-clara, píleo acinzentado (falta-lhe a corviva no meio que caracterizaestrofe fina que pode lembrar ,"bi-bist", pode lembrar ens. Cerimô-nias: levanta amiúde ambas as asas. Vive de 4 a 7m de

altura na densa mata e no coqueiral. Ocorre da Amazô-nia até o México, Bolívia e norte de Mato Grosso, Mara-nhão. A prancha não mostra a semelhança surpreendenteda plumagem com , mas enfatiza obico relativamente grosso com longas cerdas."Uirapuru" (Amazonas), "Maria-rabirruiva*".

ASSANHADINHO, Pr. 35, 3

12,Scm. Papa-moscas silvícola, gênero inconfundívelpela combinação do uropígio amarelo berrante, caudalonga e índole muito inquieta. cerimônias: é geral-mente silencioso, emite às vezes um fino "zip", pula evoa sem parar, de. asas meio caídas e cauda estendidaem leque, ostentando o uropígio que dá muito na vista,no lusco-fusco do estrato inferior da mata; anda geral-mente em pequenos bandos, cujos participantes, aomostrarem certa cooperação, lembram os piprídeos. Aextrema inquietude deve espantar insetos. Ocorre doMéxico à Amazônia até Mato Grosso, Brasil oriental atéSanta Catarina. "Assanhadinho-de-peito-dourado*".

ASSANHAOINHO-OE-CAUDA-PRETA ",

12,Scm. De cauda ainda mais longa e graduada, nãoretangular, cujo comprimento é igual ao da asa ou aindao supera; tem o peito parda cento em vez de amarelo-claro; é de distribuição semelhante à da precedente, àsvezes na mesma mata, p. ex., nas montanhas do EspíritoSanto, mata secundária. Ocorre da Costa Rica ao Paraná.

FILIPE, us Pr. 35,4

12,2crn. Espécie comum de capoeira aberta, únicotiranídeo neste ambiente pela estriação escura do ladoinferior; a fêmea com menos amarelo no píleo.

djüléi (chamada); chiado abafado (canto, dedia); seqüência de assovios mais sonoros, "djili-djõ djili-djõ ... ". (canto matutino). Habita a capoeira rala e quin-tais. Ocorre da Costa Ricaà Argentina, em todas as re-giões do Brasil e também no ex-Estado da Guanabara."Filipe-de-peíto-físcado=". V í egus n. ,fê-mea, uma espécie silvestre maior, de cauda avermelhada.

FELIPE-oO-TEPuí*, e

[l3,Scm. O primeiro registro para esta espeClemontícola foi derivado da coleta de três exemplarescoletados na vertente brasileira do Pico da Neblina,Amazonas (phelps 1973). Em Roraima esta ave foi assi-nalada para o Cerro Urutani (Dickerman& Phelps 1982).As populações da região do Neblina foram separadascomo subespécie endêmica: M. ts (Dickerman& Phelps 1987).]

j

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TYRANNIDAE 617

. .

P APA-MOSCAS-CINZENTO, Contopus

13,5cm. Pequena espécie silvícola, de cauda longa,cor de fuligem, píleo anegrado, mandíbula amarela.assobio fraco "bit-bit-bit". freqüentemente com mais sí-labas; estrofe mais sonora,"wídjü ..." (canto). Cerimô-nias: bate amiúde as asas e sacode a cauda; há uma ceri-mônia dos machos que consiste em agachar-se, abrir efechar asas e cauda e mudar a direção num pulo-vôo,lembrando a atuação de Vive no estrato médio esuperior da mata. Ocorre do Brasil leste-meridional,Nordeste e central à Bolívia e Argentina, norte da Ama-zônia, até o México."Piui-cinzat".

PIUI-PRETO*, Contopus

[13cm. Espécie montícola rara e de distribuição localcom registros na vertente leste dos Andes e nos montesAcary da Guiana. No Brasil é conhecida através de umexemplar de Itupiranga, rio Tocantins (Stotz 1990) e deregistros visuais provenientes da Serra dos Carajás, su-deste do Pará (Scott 1988; P. Roth) e de Santa Inês, Mara-nhão (Ridgely & Tudor 1994).]

PIUI-QUEIXADO*, Contopus

[13cm. Endêmica das montanhas do leste do EscudoGuianense, Suriname e Guiana Francesa. Conhecida noBrasil através de peles coletadas no alto Iratapuru(Novaes 1967); Serra do Navio (Grantsau 1985) e de gra-vações realizadas na Serra GrandeG. F. Pacheco), locali-dades estas situadas no Amapá.]

PrUI-DE-TOPETE*, Contopus

[17cm. Espécie montícola de ampla distribuiçãoandina. O único registro para o Brasil provem de umexemplar coletado no Cerro Urutani, Roraima(Dickerman & Phelps 1982) da subespécieC fendêmica dos tepuis venezuelanos.

PrUI-VERDADEIRO*, Contopus VN

[14,5cm. O primeiro registro específico deste mi-grante para o Brasil provém do norte de Manaus (Stotz& Bierregaard 1989). Em seguida foi divulgado um exem-plar do alto [uruá existente no Museu de Zoologia daUSP, antes identificado corno Contopus

(Stotz et 1992). Os registros brasileirosadicionais são: Urucu, Amazonas (Peres & Whittaker1991); Cachoeira Nazaré, Rond6nia (Stotzet . 1992)Chapada do Araripe, Ceará (Teixeiraet . 1993); Serrados Carajás, Pará (B. M. Whitney,J. F. Pacheco) e SãoGabriel da Cachoeira, Amazonas (8. M. Whitney). Re-produz-se naAmérica do Norte e inverna principalmen-te no norte da América do Sul onde possui registros paraa quase totalidade dos países amazônicos.]

PrUI-BOREAL *, Contopus VN

[17,Sem. Gigante do gênero, esta espécie migratóriatem sido no Brasil assinalada sobretudo na Amazôniaonde, embora em pequeno número, é considerada visi-tante regular encontrada na borda da floresta entre ou-

. tubro e março (Stotzet . 1992).É possível que urna novapopulação esteja invernando nas montanhas florestadasde São Paulo e Rio de Janeiro onde entre 1983 e 1990 sãoreportados seis registros visuais (Williset . 1993). NoEstado do Rio de Janeiro outros registros recentes refor-çam essa sugestãoG. F. Pacheco).]

ENFERRUJADO, Pr. 35, 1

12,7cm. Papa-moscas silvícola, comum em muitos lu-gares. Parda, com duas faixas claras na asa e mandíbulaesbranquiçada; o lado inferior sem estriação, píleo semcor viva. abafado "bích-bich" (chamada); "schpãe-schpãe-wilã" (canto). Vive no interior da mata a algunsmetros de altura. Ocorre da Venezuela à Bolívia, Argen-tina e Paraguai, em todas as regiões do Brasil até o RioGrande do Sul. V. e

considerado até bem pouco tempo repre-sentado do gênero

MARIA-FIBIU*, VN

14cm. Encontrado em Santarém, Pará, Mojuí dosCampos em 24 de fevereiro de 1978 (F. C. Novaes); oespécime depositado no Museu Goeldi, Belém, Pará, foiidentificado por E. Eisenmann e A.R. Phillips corno sen-do E .. t. a raça oriental.

GUARACAVUÇU,

15cm. É quase urna 'versão grande deeule porém de loro e faixa superciliar esbranquiçados,peito pardo-escuro, bico negro. seqüência de abafa-dos "agk-agk-agk. ..", pelo som poderia ser um sapo;"bch-bch-bch", Vive muito calmo no interior sombrioda mata baixa. Ocorre das Guianas à Bolívia e Argentina,em todas as regiões do Brasil. "Guaracavuçu-quieto*" (Cf , "Guaracavuçu-firi*" (C f . V.

[Mais de urna espécie pode estarenvolvida a julgar por diferenças encontradas no repertó-rio vocal e nidificação, inicialmente por Belton (1985).]

VERÃO, PRÍNCIPE, Pr. 33, 9

13cm. Um dos mais belos representantes da família,a fêmea e o macho imaturo geralmente reconhecíveis poralguns traços cor-de-rosa nas coberteiras inferiores dacauda, às vezes matizada de amarelo. Análise da corvermelha V. Introdução. , cerimônias: fraco "bst":canto: seqüência de finos "tiling", sobrevoando seu ter-

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618. ORNITOLOGIA BR~SILEIRA

ritório, asas verticalmente levantadas; canta também no.pouso, usando a mesma frase, 'porém não repetida; oseu canto da madrugada e crepuscular, no auge da re-produção, estende-se pela noite quase toda. Vive.em re-giões campestres e no cerrado. Emigra no in-verno austral, aparecendo então em regiões mais seten-trionais (Brasil central, Amazônia), invadindo as áreasde populações residentes naquelas partes;a raça meri-dional (P. migra até o Equador e a Colômbia(onde existem populações residentes que reproduzemdurante todo o ano); apresentam-se nesse tempo (maio,indivíduo engaiolado no Rio de Janeiro; agosto, Pará)com quantidade variável de penas marrons: plumagemde "eclipse". Os adultos da população argentina, queemigram para a Amazônia, partem imediatamente apósos filhotes da segunda ninhada tornarem-se independen-tes, no auge do calor (janeiro): os jovens, que ficam maistrês meses, tornam-se neste tempo adolescentes, emi-grando apenas quando o frio começa (fim de abril,Hudson 1920). Em certas regiões, p. ex., Paraná, é co-nhecido apenas como ave de arribação que aparece noinverno. Na ilha dos Currais, Paraná, foram encontra-dos, em agosto de 1973,7 exemplares aparentemente mi-grantes em péssimo estado físico, o que ocasionou amorte dos mesmos (P.Scherer Neto). Um indivíduo veiodar a bordo de um navio a uma distânia de 135 milhasda costa do Brasil, na altura de Torres, Rio Grande doSul (setembro de 1973). Ocorre da Califórnia e Méxicoaté a Argentina e Bolívia, também nas ilhas Galápagos eem todas as regiões do Brasil. "São-joãozinho" (Panta-nal, Mato Grosso). "Canário-sanguinho" (Minas Gerais).

MARIA-DA-PRAIÁ *,

13,5cm. Semelhante a porémem torno do olho é branco, bico preto, cauda cor de fuli-

Fig.236.Maria-branca,

gem, abdômen amarelado (não branco); habita as prai-as arenosas de rios encachoeirados, apanha insetos so-bre o rio, voltando ao poleiro; nidifica nos barrancos.Ocorre das Guianas a Roraima, Óbidos, Tapajós e maispara o oeste incluindo Rondônia.

MARIA-BRANCA, PRIMAVERA,

Fig.236

22,5cm. Representante campestre do tamanho de umsabiá, <fé vasta distribuição ao sul do Amazonas; cin-zenta e branca, olho vermelho, quando voa revela umdesenho branco e preto muito destacado na asa.fina,timbre de pinto, "pia" (chamado);"píã-pfã-ili", "dü-dlíü"(canto), assovio límpido, emitido de dia e de madruga-da. Voa com grande habilidade, freqüentemente de per-nas pendentes, com dedos fechados como punho, lem-brando uma ave de rapina como é, às vezes,acuada e perseguida por outros pássaros, como se fosseum gavião. Vôo nupcial ondulado. Habita as regiõescampestres e o cerrado. Aparece durante suas migra-ções em metrópoles como o Rio de Janeiro, cantandoe pousando nas antenas de televisão de edifícios docentro da cidade e na fachada do Museu Nacional,Quinta da Boa Vista. Ocorre na margem direita dobaixo Amazonas até o Tapajós, para o sul até o RioGrande do Sul, Uruguai, Argentina, Paraguai e Bolí-via; também no Amapá e em regiões campestres doSuriname. Emigra em parte durante o inverno localanunciando com a sua volta a primavera. Registradodurante o ano todo no Rio Grande do Sul (Belton1985) e no estado do Rio de Janeiro, recebe contin-gentes de migrantes no meio do ano, vindos do sul(R. B. Pineschi). "Mocinha-branca", "Pombinha-das-almas", "Para-bala-branco" (Minas Gerais).

Fig.237. Noivinha, e

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NOIVINHA-BRANCA,

20cm. Parecida com a precedente, mas de cabeça es-branquiçada, uropígio e coberteiras superiores da cau-da brancas, também a base da cauda (nítida em vôo).

o de dia é silenciosa, surpreende de madrugada comseu canto intenso: um pio monótono "djii", repetido aintervalos de um a cinco segundos; com pouca freqüên-cia faz ouvir esse assovio também de noite, quando éfacilmente confundido com voz de inseto. Peneira. Ha-bita o campo, às vezes ao lado da precedente (p. ex.,Minas Gerais, Rio de Janeiro).É migratório. Ocorre dafoz do Amazonas ao Paraná e Mato Grosso, Paraguai eBolívia. "Lavadeira", "Pombinha-das-almas",

NOIVINHA-COROADA, VS

- 22cm. Grande, em cima cinzento, embaixo branco,asas e cauda negras, também o boné é emoldurado debranco; a fêmea é menor, colorido semelhante. Vive emcampo aberto. Ocorre apenas no extremo sul (Rio Gran-de do Sul), Argentina, Paraguai e Bolívia.

NOIVINHA, Fig. 237

17cm. Na sua alvura e elegância de vôo, é um dospássaros mais belos deste país; sem a menor adaptaçãocríptica, a não ser quando é visto contra o céu nubladobranco, o que com freqüência acontece. fraca "giks",chorando "piü"; em geral silencioso.É mestre em pai-rar, permanece como que pregado no ar por tempo con-siderável; desce a pique, costuma frenar a um palmo dosolo e se afastar; pode lembrar uma grande borboleta.Visível de longe como uma manchinha branca, quandoespreita na ponta de um galho ou numa estaca; se per-seguido, esconde-se dentro da espessa ramagem espi-nhosa. Habita os campos com arbustos e árvoresesparsas, beira de brejo, às vezes ao lado decine . Ocorre no Nordeste e Brasil meridional, sul deMato Grosso, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sule mais para o sul ainda. "Viuvinha-alegre" (Rio Grandedo Sul), "Noivinha-branca*".

NOIVINHA-DE-RABO-PRETO, H lAm

20cm. Branca, as asas e a cauda negras, pontas dasprimárias brancas, padrão raro em aves; a fêmea porcima é acinzentada, asas e cauda como no macho; ima-turo de costas ferrugíneas. Habita a beira do brejo, nocampo aberto, áreas queimadas, onde peneira e desceao solo, às vezes ao lado de . Silencioso.Restrito ao sul, de ocorrênciajnuito local. Ocorre doParaná ao Rio Grande do Sul, Uruguai, Argentina (ondeé migratório) e Paraguai. Freqüentemente em compa-nhia do icteríneo us, como registramos

de 1966em diante no Rio Grande do Sul. A retirada des-ta espécie do gênero is é bem fundamentada pelaanatomia (Lanyon 1986).Aparentemente vem se tornan-do rara. V. .

GAÚCHG-CHOCOLATE, s VS

22cm, 77g. Visitante meridional terrícola, lembran-do um grande sabiá, desperta a atenção por abrir e fe-char rapidamente a longa cauda; cor de cinza, asas ecauda negras, asa com vistoso espelho branco e casta- .nho, abdômen ferrugíneo.É um dos tiranídeos maiorese mais pesados. Vive nos pastos, corre no solo, em pe-quenos bandos. Reproduz na Patagônia, durante o in-verno ocasionalmente no Rio Grande do Sul (Rio Gran-de, maio, Belton 1985).

GAÚCHA D'ÁGUA ". l s

13/ Passarinho pouco vistoso, lembrando umhus, cinza-pardacento, cauda negra de lados bran-

cos, dando na vista quando abre e levanta o rabo; corresobre a areia e rochas, aparece ao lado de maçaricosmigrantes. Assinalado no alto Purus e 'Madeira, Gi-Paraná. Gênero representado nos Andes por muitas es-pécies. V.Ochtho

COLEGIAL, NEGRITO, s VS

12,Scm. Visitante meridional terrícola, negro excetoo dorso, que é ferrugíneo intenso (lembrando a mochilade um escolar, daí o nome); a fêmea é menor, pardo-acinzentada, dorso avermelhado, como desbotado. Viveà beira d'água, corre como um maçarico embora tenhapernas curtas. Ocorre da Terra do Fogo até o Rio Gran-de do Sul onde aparece em bom número entre maio eagosto; Bolívia e Peru.É comum no sul do Chile e naArgentina. [Um indivíduo foi observado no litoral doParaná, Paranaguá (Scherer Neto& Straube 1995).]

MARIA-PRETA-DE-PENACHO, lophotesFig.238

20cm. Campestre, de topete alto sempre visível; ne-gro com brilho de aço, bases das rêmiges brancas, for-mando grande área na asa aberta. Os sexos semelhan-tes, ao contrário dos congêneres, a fêmea é um apenaspouco menor.É silencioso. Canto de madrugada de umindivíduo pousado: um bissilábico, composto de umanota modulada ascendente e uma nota modulada des-cendente com curto trinado: "düi-kwírr" (Serra da Ca-nastra, Minas Gerais, L. P. Gonzaga, outubro de 1983).Habita as regiões campestres de Minas Gerais ao RioGrande do Sul e Uruguai, Maranhão (Oren 1990),Bahia,Goiás e Mato Grosso; também nos planaltos, como os

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620 ORNITOLOGIA BRASILEIRA,

de Itatiaia e Caparaó, onde se encontra comnig , que ataca quando o encontro se dá nas ime-diações do ninho. Existe uma convergência surpreen-dente entre K.lophotese o macho de nitens(família Bombycillidae) da América do Norte, residenteem ambiente muito parecido. "Maria-preta-de-topete?".

Fig. 238. Maria-preta-de-penacho, gus lophotes

MARlA-PRETA-DE-GARGANTA-VERMELHA,

En

17,Scm. Parecida com a precedente, sendo porém me-nor e sem penacho, tem uma faixa branca escondida naasa, bico esbranquiçado. A fêmea é diferente: preta, degarganta estriada de castanho. Efetua a transição entre amata e o campo nas montanhas, geralmente acima de1.800 m no sudeste; Alagoas (Teixeiraet . 1989), Bahia(Raso da Catarina), Paraná e Rio Grande do Sul; pontosmais altos da cidade do Rio de Janeiro (Corcovado, Picoda Tijuca.Píco da Gávea), é migratório, no inverno des-ce em parte, p. ex., dos campos do Itatiaia até aproxima-damente 1.000 m. "~aria-preta.-rupe~tre*". _.

MARlA-PRETA-DO-NORDFSTE,

[ranciscanus En

16,2cm. O macho muito semelhanteàprecedente, po-rém, menor, com faixa branca na asa, a fêmea parecidacom a de K. é menos estriada em baixo. Vivena caatinga e na clareira da mata seca. Ocorre nomédioSão Francisco (Bahia, Minas Gerais) e leste de Goiás. [Otratamento de espécie aqui consignado a este táxon, an-tes considerado coespecífico de K. , foi basea-do em Silva& Oren (1992).]

MARIA-PRETA-RIBEIRINHA *, ensis

[lS-lS,Scm. Típica para as formações ripárias ama-zônicas, sobretudo a vegetação sucessional encontradaem ilhas novas. No Brasil ocorre ao longo da calhado Solimões/ Amazonas e na baixa porção respecti-va dos afluentes da fronteira ocidental para leste atéo Xingu. Uma população aparentemente disjuntaocorre no sudeste da Amazônia em afluentes do mé-dio Xingu, no baixo Araguaia e rio das Mortes(K. o.

. Assinalado ainda para a Venezuela, Co-lômbia, Equador e Peru.]

MARIA-PRETA-DE-CAUDA-RUIVA *,

[14,Scm. Espécie montícola de distribuição sobretu-do andina representada através de formas coespecíficasnos tepuis venezuelanos. Foi assinalada para o Brasilsomente no CerroUei-Tepuí (Phelps & Phelps 1962).Ocorre adicionalmente nas serras costeiras do norte daAmérica do Sul e dos Andes da Venezuela até a Bolívia.]

MARIA-PRETA-DE-BICO-AZULADO,

Pr. 33,5

lScm. Espécie silvestre negra uniforme, sem branconas rêmiges, bico claro acinzentado. Fêmea parda, duasfaixas amareladas na asa, com o lado inferior grosseira-mente estria do de pardo-anegrado e branco sujo, as co-berteiras superiores e inferiores da cauda de viva corferrugínea, também as barbas internas das retrizes.o ,

cerimônias: fino "it" (pousado). O macho, conservan-do-se em silêncio, desliza, de asas levantadas, em frenteà fêmea. Caça insetos (v.Alimentação).É migratório (Es-pírito Santo, Rio de Janeiro). Ocorre do Espírito Santo eMinas Gerais ao Rio Grande do Sul e Mato Grosso, Ar-gentina, Paraguai e Uruguai, no norte em regiões serra-nas. A fêmea parecida com s s, a qualé bem menor, menos nitidamente rajada em baixo e semo vermelho na cauda. "Maria-preta-pequena*". V. tam-bém a seguinte (fêmea).

PRETINHO-DO-IGAPÓ, poe

12,Scm. Amazônico, todo negro, o macho é extrema-men!e parecido com o piprídeo enopipo t tens,po-rém de bico escuro, as 3 primárias externas são pontu-das em ambos os .sexos (em vez de arredondadas ou"normais"); a fêmea é diferente, lembrando obus

i em cima marrom-esverdeada, duas faixas es-branquiçadas na asa, lado inferior pardacento-claro,peito estriado mais escuro, cauda (também as cobertei-ras) ferrugínea-clara. fino "zig" como inseto, abrin-do um pouco as asas (macho); mais forte "pit-pit" (fê-mea). Vive aos casais. Habita o interior da mata alaga da

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TYRANNIDAE 621

escura, a pouca altura. Ocorre na Amazônia, meridio-nalmente até o Xingu (norte de Mato Grosso) e Tocan-tins (Pará). Às vezes ocorre não longe do seu sósia

. "Maria-preta-do-igapó"". V.

MARIA-PRETA-DO-SUL *, hudsoni VS

[15cm. Visitante austral incomum assinalado para oMato Grosso: Descalvados, Pantanal norte (8 de setem-bro, Stone &Roberts 1934) e Serra do Roncador (1-7 desetembro, Fry 1970); Mato Grosso do Sul: Porto Manga(17 agosto, J. F. Pacheco, C. Bauer). Reproduz-se no cen-tro da Argentina e se desloca no inverno para o norte daArgentina, Paraguai e Bolívia.]

MARIA-PRETA-ACINZENTADA ",

[13-13,5cm. Endemismo da formação do Chaco e áreassecas adjacentes: Paraguai, Bolívia e Argentina. Assinala-do no Brasil apenas nos arredores de Corumbá, Mato Gros-so do Sul, onde foi coletado em julho de 1859 por CapoPage (Sclater 1870) e abril de 1944 pela expedição do De-partamento de Zoologia de São Paulo (Pinto 1949).]

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8

Fig.239. Viuvínha-de-óculos, enops peo macho pousado(A), ao fundo em vôo territorialsobre o tabual(B) (Vejatambém figo224); a fêmeaandando sobre a vegetação flutuante(C) (seg.Straneck& Carrizo 1983).

VIUVINHA-DE-ÓCULOS,

Fig.239

14cm. Espécie palustre meridional. O macho é incon-fundível: é negro, com a região perioftálmica nuaentumescida em forma de roseta enrugada amarelo-cla-ra, as primárias quase de todo brancas, reveladas sur-preendentemente em vôo. A fêmea e o macho jovens sãotão diferentes do macho adulto que foram consideradosdurante algum tempo outra espécie; são pardos, rajados,na asa com uma grande área ferrugínea, lembrandofurnarídeos. .

Ce i so Durante a reprodu-ção executa um vôo perpendicular exibindo da maneiramais impressionante as asas brancas e pretas. Subindochega a 28 a 30 batidas de asa por segundo, produzindoum forte zunido (lembrando aquele dos beija-flores), sejoga às costas e, no alto, 4 a 6m acima do solo, faz umacambalhota; depois, descendo, emite um grito"jiii". Sem-pre tem vôo rápido, sibilante. Anda, corre e pula sobre alama, pára abruptamente, ficando então bem ereto e fazum movimento rápido com as asas e a cauda; apanhainsetos no solo e em vôo. Ocorre do Chile e Patagônia aMato Grosso e Rio Grande do Sul, migrando às vezesatéo Rio de Janeiro (agosto). "Maria-preta-de-óculos'".

[LAVADElRA-DO-NORTEr

12,5cm. Substitui F. no norte do continen-te, ocorrendo no Brasil apenas em Roraima e Amapá. Afalta de intergradação, diferenças na plumagem evoca-lização foram consideradas para a separação deF. p eF. como espécies independentes (Ridgely &Tudor 1994).]

LAVADElRA-DE-CARA-BRANCA,

12,6cm. Ribeirinha, face e lado inferior brancos, ladosuperior, a começar nopíleo, negro, exceto algumasmanchas nas asas e uma estreita cinta através do uropí-

Fig.240. Lavadeira-mascarada, nenget ,andando sobre as folhas flutuantes de Salvínia.

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622. ORNITOLOGIA BRASILEIRA

gio, ambas brancas; a fêmea é parecida, tendo a bordada cauda branca. , c casal "tika", Executavôos pré-nupciais. Localmente através da Amazônia edo Nordeste, também Pirapora (Minas Gerais), até o Bra-sil central, Paraná, Bolívia e Uruguai. Aparece às vezes(oeste da Bahia) ao lado de ic nenge embora hajacerta separação ecológica, no sentido de que F.pic é ain-da mais dependente de água aberta; procura lagos arti-ficiais, como a outra espécie. V. a fêmea deundinicol

LAVADEIRA-MASCARADA, neFig.240

15cm. É parecida com a espécie precedente, porémmaior, de cabeça branca, faixa negra através do olho,costas cinzento-claras; a fêmea é parecida. c i -

s "tsüc" (chamada, suave, bem típica); trêmulo"düdelüdel-düdel", suave, repetido (canto). O macho seergue a toda altura, de cauda estendida em leque, e exi-be o lado negro inferior das asas, esticando as mesmashorizontalmente. Habita a beira d'água lamacenta. Cor-re sobre a vegetação flutuante. Ocorre no Brasil orien-

o" tal, típico do Nordeste, na beira de todas as cacimbas eaçudes, para o sul até o Rio de Janeiro e o ex-Estado daGuanabara, desde a década de 1950, quando começou aaparecer n.o Jardim Botânico do Rio, mais tarde tambémno Jardim Zoológico, no parque do Palácio do Catete,em Sernambetiba, na Marambaia etc.; ocasionalmenteperto de (Píauí, Bahia). Existe uma popu-lação disjunta no litoral do Peru/Equador. "Maria-lencinho", [A expansão de sua área de distribuição con-tinua ocorrendo para o sul. Em 1980 atingiu o litoral deSão Paulo (Willis 1991), em 1983 o sul de Minas Gerais,Guaxupé (J. F. Pacheco) e em 1985 o vale do Paraíbapaulista (Alvarenga 1990).]

Fig.241. Freirinha, co leucocep ,macho.

LAVADEIRA-DE-CABEÇA-BRANCA, lieucocephul Fig. 241

12,4cm. Espécie ribeirinha de vasta distribuição. Omacho é inconfundível; a fêmea lembra nengsendo mais atarracada, sem faixa preta nos lados dacabeca e sem branco no uropígio, asa pardacenta, baseda mandíbula amarelada. "biriririt": écomum manter-se silenciosa. Vôo nupcial: sobe rapida-mente em ângulo de 45°, a boa altura, emitindo e repe-tindo a curtos intervalos estrofe baixa, "dü-de-lüde".

Habita os pântanos, pousa regularmente em galhos,não se loco move no solo como asl às vezes seuvizinho. Ocorre das Guianas e Colômbia à Bolívia, to-das as regiões do Brasil até o Paraguai e Argentina."Viuvinha", "Freirinha", "Maria-velhinha*".

VrUVINHA, Coloni colonus Fig. 242

13,3cm, não contando o prolongamento das retrizesmedianas, que no macho atingem 9cm (às vezes mais deIDem) e na fêmea apenas 2cm; a ponta da cauda, antesda muda, freqüentemente raspad~ ou até quebrada.

-Fig.242. Viuvinha, colonus,macho.

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TYRANNIDAE 623

A BFig.243. Galito, c casal,ao fundo um macho voando, visto detrás, mostrando a posição vertical dacauda, lembrando um aviãoDelO.

É inconfundível. Negro, boné e uropígio esbranquiçados;o imaturo é sem branco algum e de cauda curta."wiã", assobio fino penetrante, o timbre lembra o cha-mado de durante o acasalamento se per-seguem gritando "brrri": "bi-bibi...". Caça insetos, es-preitando nos ramos. superiores, sem folhas, de árvoresaltas. É em parte migratório. Ocorre das Guianas eEquador até Bolívia e Paraguai, localmente na Ama-zônia brasileira, Brasil central e oriental, Maranhãoao Rio Grande do Sul, no Espírito Santo e Rio de Janei-ro, mais nas montanhas. "Viúva", "Freirinha-da-serra"(Minas Gerais),"María-viuvinhat",

BANDEIRA-DO-CAMPO, VS Am

1Scm, quando se incluem as ~bandeiras" do.macho33cm. O colorido é parecido com o da espécie seguinte:na morfologia difere pelas retrizes exteriores enorme-mente prolongadas, elásticas, torcidas e alarga das na ex-tremidade numa longa bandeira negra;á fêmea é pare-cida com a de . tendo porém a cauda prolonga-da (corpo+ cauda = 20,Scm).É uma espécie meridionalcampestre pouco conhecida. Ocorre do Uruguai,Argen-tina e Paraguai; excepcionalmente até o Rio Grande .doSul, São Paulo e oeste de Mato Grosso. [Litoral do Riode Janeiro, inverno de 1974 (Pacheco& Gonzaga 1994).]"Tesoura-do-campo". Antes era reconhecido como re-presentante único do gênero . V .

GALITO, Fig. 243

13,Scm, com os prolongamentos da cauda pode al-cançar 19cm. A cauda do macho é de forma extraordi-nária: as duas retrizes medianas, que são muito largas erígidas; viram 90°, de modo que suas vexilas se colocamem posição vertical como leme de navio; tal conjunto édesviado obliquamente para cima, permanecendo su-perior à cabeça, situação comparada, geralmente, com ogalo doméstico. A cauda, inclusive por sua cor negra,dá a impressão de puxar o pássaro para trás, como sepesasse demais. As retrizes laterais formam um planoinclinado a cada lado do "leme", servindo comoestabilizadores em vôo. Para mostrar a posição naturaldas retrizes, usamos na confecção da nossa figura umindivíduo montado pelo Príncipe de Wied. O desenhodo corpo é confuso, branco e preto, destacando-se um Vbranco no lado superior e uma faixa peitoral negra in-completa; o bico amarelo. A fêmea é parda, asas e cauda(esta "normal") mais escuras e garganta branca.

es Durante o vôonupcial, quando o macho sobe em linha oblíqua aproxi-madamente 4m, deixando-se depois cair, as proporçõesda cauda causam impressão ainda mais esquisita, so-bretudo na descida: o espectador confunde as asas coma cauda, nem sabendo mais qual'é a parte de trás e quala da frente. Durante essa descida emite uma seqüênciade fracos "tic-tic-tic ...", como um inseto. Sobre a repro-dução v. capítulo respectivo introdutório.

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624. ORNITOLOGIA BRASILEIRA

Fig. 244.Tesoura-do-brejo,

Habita os pântanos e campos úmidos, cerrado. Ocor-rência local de Minas Gerais ao Paraná, Rio Grande doSul, Distrito Federal (para onde imigrou após a instala-ção do lago). Ocorre em Mato Grosso, Bolívia, Paraguai(onde é migratório) e Misiones. O alargamento e a colo-cação vertical das retrizes centrais lembram remotamen-te a "viúva-do-paraíso, da África(Ploceidae, Viduinae).

TESOURA-DO-BREJO, Fig. 244

42cm, incluindo a cauda bifurcada, longa e gradua-da. Lado superior cinzento, asa e cauda negras, asa comgrande espelho ferrugíneo; garganta branca, contorna-da de uma faixa castanha; a fêmea é de cauda mais curta(total rouco "chrüib" (chamada); estrofe maissonora, bi - a trissilábica, descendente"djü-djü, djü. Exis-te um canto de madrugada. Abana ritmicamente a cau-da, levanta as asas exibindo a faixa avermelhada clara,em frente à fêmea; caça sobrevoando o banhado a baixaaltura. Vive no brejo aberto e no buritizal (Mato Grosso,Goiás). Ocorre da Bahia e Minas Gerais ao Rio Grandedo Sul, Paraguai, Misiones e Bolívia. "Tesoura","Tesourinha-do-brejo+". V. .

SUIRlRl-PEQUENO,

16,5cm. Lembra e de bicocurto, lado superior verde-oliváceo intenso, lados dacabeça, asas e cauda anegrados, larga sobrancelha e todolado inferior de um amarelo intenso, asa com duas fai-xas esbranquiçadas. Habita à beira de mata secundária,restinga e beira de lagoa. Ocorre do Brasil oriental e cen-

tral à Bolívia e Uruguai. É menor e mais amarelo do queo suiriri .

GIBÃO-DE-COURO,

Pr. 35, 7

17,5cm. Inconfundível, tanto pela aparência comoecologicamente, sendo no Brasil quase o único pássaromorador em pedreiras e escarpas pedregosas, sem ser,absolutamente, montícola. "tzrídü", "wíürrr"."birrr" (nome). estando acostu-mado a permanecer entre rochas, adapta-se facilmenteà vida nas cidades; lança-se dos parapeitos de edifícios,igrejas, etc., à caça de insetos, voltando depois ao mes-mo pouso, onde também nidifica (v. Reprodução). Apa-rece também distante de ambiente pedregoso, tanto maisque é migratório e então apresenta-se em qualquer am-biente. Ocorre das Guianas à Bolívia, Argentina e Uru-guai, todo o Brasil, ocorrências em muitos locais isola-dos devido à sua adaptação a lugares rochosos.É típicoda região cárstica de Minas Gerais, hábitat ideal para ainstalação do seu ninho. "Birro", "Bentevi-de-gamela"(Ceará). Inclui .

BENTEVI-DO-GADO,

18,5cm. Lembra osuiriri, sen-do porém menor e mais pálido, lado superiorpardacento-esverdeado, retrizes exteriores com pontabranco-amarelada, distinta em vôo.VOz: trai-se logo pelavoz que é mais estridente do que a do suiriri e tem outrofraseado, p.ex., "tip-tip", ",zi-zip-zilíp-zilíp"; "zirrrrr"(canto). Habita os campos de cultura e outras paisagensabertas, parques em cidades, anda no solo (ao contráriodo suiriri), pousa sobre cavalos e gado ("Bentevi-carrapateiro"), acompanha as reses para apanhar os in-setos que elas levantam no pasto; pousado nas costasdos dos bois penetra em pântanos. No sul é parcialmen-te migratório. Ocorre da Venezuela à Bolívia, Argentinae Uruguai, Brasil merídio-oriental e central. "Cavalei-ro", "Suiriri-cavaleiro*".

TESOURA-CINZENTA,

22cm. Do tamanho de um suiriri, espécie meridionalarborícola, que não se assemelha a nenhuma outra; decauda comprida e bifurcada; é cinzento-escuro unifor-me, asas e cauda negras. um assobio apagado bissi-lábico, "djü-büt", de longo alcance, despertando a aten-ção. Caça insetos voando em tomo das copas. Habita abeira da mata secundária. Ocorre do sul da Bahia, Espí-rito Santo e Minas Gerais ao Rio Grande do Sul,Misiones e Paraguai. No Espírito Santo e Rio de Janeirovive nas montanhas, alcança o município do Rio de Ja-neiro na Pedra Branca (agosto). "Tesourinha-cinza=".

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TYRANNIDAE 625

SUBFAMíUA TYRANNINAE

CAPITÃO-DE-SAÍRA, rufus En Pr. 30, 9

.-

20cm. Pássaro silvícola do Sudeste,' do tamanho deum sabiá, de porte esbelto, bico longo, forte e um tantoadunco, imaturo de bico negro. bem variada, é ovozeirão da mata alta, lembrando bissilábico "íü", trinado melodioso "üi-i, i, i, i, i, i, i, i, i, i-ü"'; seqüên-cia prolongada, ascendente, de assovios bem pronunci-ados, terminando com um som mais baixo"üf-üí ...ü-õ":vozerio duro "tzerétek", "tzek" (advertência). Quandoexcitado movimenta a cauda lentamente para a frente eagita-a para cima sem abrí-la. Habita a mata nas baixa-das e montanhas, das copas até o solo, procura freqüen- ,temente alimento no chão, martela em madeira podre,apanha borboletas em vôo, come formigas, pererecas,bagas, etc. Encontrado às vezes nos bandos de pássaros.Ocorre do sudeste da Bahia e Minas Gerais ao Rio Gran-de do Sul. Apenas recentemente transferido dos cotingí-deos aos tiranídeos por razões anatômicas (osteologia,estrutura da siringe), semelhante a e

s. "Tinguá-açu", "Tinguaçu-de-cabeça-cinza*".

-

CAPITÃO-DE-SAÍRA-AMARELO,

17cm. Lembra porém de uropígio amare-lo berrante, o resto da cor é muito variável, dorso verdeou pardo, etc. Existem três a quatro "fases" ou "muta-ções" cromáticas. forte e sonora, lembrando a pre-cedente: seqüência ascendente rítmica de assoviosbissilábicos: forte "tirrit" etc. De vasta distribuição naAmazônia, alcança as matas do litoral até Alagoas, sulda Bahia, Espírito Santo (rio Doce) e Rio de Janeiro."Tinguaçu-cantor*".

BATE-PÁRA*,

[19cm. Espécie associada às florestas de várzea daAmazônia. Distribui-se no Brasil através do Solimões/Amazonas e respectivos afluentes meridionais desde afronteira ocidental até a região de Belém e ilhas do del-ta. Ocorre localmente na margem esquerda do Solimõesna região do baixo [apurá (E. E. Mamirauá) onde é espé-cie comum na mata alta, enquanto A.ci tam-bém presente prefere a mata mais baixa e aberta. F.Pacheco). Alcança para o sul as florestas inundáveis doPantanal norte em Mato Grosso.É assinalado para a re-gião de Letícia na Colômbia, Peru e Bolívia.]

TINGUAÇU-DE-BARRIGA-AMARELA ".

[IS,5cm. Representante pouco conhecido das flores-tas de terra firme da Alta Amazônia com registros no

Brasil para a região do alto Negro e isoladamente para aregião de Tefé (Snow 1979). Assinalado também para aVenezuela, Colômbia, Equador e Peru.]

TINGUAÇU-FERRUGEM*,

[19,5cm. Típico para as florestas sazonalmenteinundáveis de várzea e igapó e matas alagadas perma-nentemente da região amazônica, onde está distribuídopor toda a região brasileira e extrabrasileira.]

CAPITÃO-CASTANHO,

17,6cm. Parecida com rufus, porém, apenas opíleo é cinzento. seqüência rítmica ascendentetrissilábica, "bi-bi bí-bit" periodicamente (novembro,dezembro, Itatiaia), repetida incansavelmente; miar so-noro, "ü-í-â" (fevereiro). Abana a cauda para frente e paratrás. Vive na mata e nas copas. Ocorre do Rio de Janeiro,São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul,Brasil centro-ocidental (sul de Goiás, Mato Grosso) atéMisiones, na Amazônia aparentemente apenas comovisitante proveniente do sul; em Itatiaia ao lado de

Considerada antes cotingídeo; "Tinguaçu-casta-nho*". V sob rufus. Foi também representante úni-co do gênero

CANELEIRO, Pr. 30, 8

16,Scm. Pássaro localmente não raro no Brasil cen-tral, lembrando a fêmea de um s ou

eus, mas de bico claro e píleo ferrugíneo ..seqüência descendente trissilábica de assobios finos"psib-psib-psíb". Vive à altura média nos capões, no cer-rado e em roçados à beira do cerra dão. Ocorre no Brasilcentral: Goiás, Distrito Federal, Mato Grosso (rio dasMortes) ao oeste de Minas Gerais, São Paulo e Paraná;Argentina, Paraguai e Bolívia; no norte até o Pará (Mon-te Alegre) e Maranhão, na região setentrional aparente-mente como imigrante durante o inverno."Bentevizinho-castanho" (Minas Gerais). Foi considera-do antes cotingídeo (v. sob i . "Maria-ferru-gem*". V a seguinte.

., '\

CANELEIRO-ENXOFRE, En

[1Sem] Muito semelhante à anterior, mas de costaspardas, tem certo contraste com o boné e uropígio aver-melhados, lado inferior cor de enxofre esbranquiçado(ao invés de amarelo-ferrugíneo). Habita a capoeira, amata alta, passando para cerrado e a caatinga, às vezesnas copas. Ocorre ao sul do baixo Amazonas, do Tapajós

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626. ORNITOLOGIA BRASILEIRA'

ao norte de Mato Grosso (alto Xingu), Goiás (Bananal),Minas Gerais (rio São Francisco) e ao Nordeste (Mara-nhão e norte da Bahia). Parece ser o substituto geográfi-co setentrional de C. não encontramos ambos nomesmo local em Mato Grosso. "Maria-enxofre"".

Vtssix,

19,5cm. Na cor cinzenta quase uniforme lembra, dele diferindo, porém, por ter a planta do tarso

provida de escamas fortemente arrepiadas; um poucotopetudo, íris pardo-clara; a fêmea e-o imaturo de nó-doas ferrugíneas nas asas e retrizes. estrofe sonoracrescente: "o,o,o,o,o,o-ío"; monossilábico "psorr", am-bos lembrando o tiranídeo eestrofe curta fortemente ascendente, os dois últimos piosseparados. Habita o interior da mata. Ocorre por toda aAmazônia incluindo a Bolívia.morte de Mato Grosso eMaranhão: das matas costeiras de Pernambuco ao Riode Janeiro (Ilha Grande), ex-Estado da Guanabara e lito-ral de São Paulo. Considerado antes cotingídeo, transfe-rido recentemente para os tiranídeos devido à morfolo-gia do crânio e da siringe. A transformação notável daface posterior do tarso (lembrando aquele dos filhotesde tucanos) pode ser uma adaptação para pousar den-tro de uma cavidade de substrato duro, como madeira."Maria-cinza -:

VrssIÁ-cANTOR,

18cm. Espécie pouco conhecida, rara em coleções demuseus, de aparência muito semelhante a s

porém de tarso serreado como ,de bico mais estreito do que barriga amarelapálida. seqüência de pios fortes límpidosbem pronunciados, "dü-dü-di~uítje", lembrando umfringilídeo robusto como ("pisco",do hemisfério setentrional); canta apenas pela madru-gada ou aos últimos clarões do dia, marcando o seu ter-ritório, muda de poleiro após cada canto, afastando-se50 metros ou mais. grandes lagartas cabe-ludas e gafanhotos, outros artrópodes, também aranhase bagas. orla de cerrado e cerradão, mata abertaciliar, mata rala rica em líquens terrestres (solo arenoso) ,.entre o campo e a mata geral, ao lado de

, ,, enopipo e eolus,

ignobilis e phoeniceus(Cururu), faunaacompanhante semelhante à registrada porHaverschmidt (1975) para noSuriname. Encontramos esta ave em 1949 e 1957(identifica da apenas em 1972:por W. E. Lanyon), quan-do fizemos os primeiros registros sobre a bionomia dáespécie. Habita as áreas campestres que se limitam coma mata amazônica, inclusive as campinas de areia bran-ca. Ocorre localmente das Guianas e Colômbia ao norte

de Mato Grosso (alto Xingu e Serra do Roncador) e su-doeste do Pará (alto Tapajós: cabeceiras do Cururu),Santarém (pará), Manaus e lavanari (rio Negro, Amazo-nas). "Maria-cantora*".

CHORONA-CINZA, Pr. 31, 6

20,7cm. Pássaro silvícola de vasta distribuição na A-mazônia, lembrando na plumagem; seu reves-timento tarsal é exaspideano, semelhante ao dospiprídeos. assobio fino, prolongado, descendente,parecido como de , porém mais cheio e às .vezes repetido; vozeio bissilábico "uit-já", repetido, lem-brando e s. Vive calmo à altura médiano interior da mata. Ocorre das Guianas à Bolívia, nortede Mato Grosso (Tapajós, Xingu) e leste do Pará (Belém),Maranhão, também no sul da Bahia e norte do EspíritoSanto. "Sanhaçu-da-mata" (Pará). Incluído até há pouconos cotingídeos (perto de com os quais tembastante semelhança na bionomia. "Maria-pintada?". V.também sob

Fig. 245. Gritador, stes s.sibi o

GRITADOR, Fig. 245

17,8cm. Espécie relativamente grande, silvícola, cha-mando a atenção pela voz forte. De boné e lados da ca-beça, asas e cauda negras, bico grande, lado superiorinferior acinzentados, asas com bordas esbranquiçadas.

assobio ressonante "üe-üe-üe", wí-wíã", "tü,tü, ti, ti, ti, ti, ti, ti, ti,tü", timbre semelhante ao de

. Habita as copas da mata alta.É migratória (Rio

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TYRANNIDAE 627

Grande do Sul, Rio de Janeiro, Espírito Santo). Ocorredo Suriname à Bolívia, Paraguai e Misiones, Brasil naAmazônia, centro-oeste e oriental do centro-sul da Bahiaaté o Rio Grande do Sul, no Espírito Santo e Rio de Ja-neiro, comum em regiões serranas. Pode lembrar um

"Maria-assobiadeira "",

MARIA-CAVALElRA,

19,5cm. Uma das 4 espécies brasileiras deste gêneroextremamente parecida com geral-mente de bico negro; é discernívelmais facilmente pelavocalização. trinado curto, simples, horizontal,"trí.i.i" (canto), sobretudo de madrugada;"trrü" ou"prrü", descendente, curto (chamada), é a voz mais fre-qüente de dia; seqüência longa e apressada, fortementedescendente, lembrando a respectiva estrofe de

"sprí.i.i.i.i ...", sem igual nos ou-tros Todos os têm o costume dearrepiar as penas do vértice. Habita a beira de arvoredoe capoeira. Ocorre do norte da América do Sul à Bolíviae Uruguai, Brasil amazônico, central e oriental, tambémno Rio de Janeiro e oeste do Rio Grande do Sul. V.

.

MARIA-CAVf\LElRA-DE-RABO-ENFERRUJADO,

Pr. 33, 6

19,5cm. Vexilas internas das retrizes (exceto as cen-trais) bordadas de ferrugíneo, visível quando abre a cau-da. Vexilaexterna das primárias margeada também, maisou menos nitidamenteyde ferrugíneo. estrofe apres-sada, rítmica, a última nota mais baixa: "uit tütületüt",canto madrugador; assovios curtos ascendentes "uit" erepetidos "uit,uit...", às vezes composto: "uit-trelid"(chamadas). Habita a mata rala, o cerrado e a caatinga.É localmente migratório. Ocorre do Arizona e Méxicoao alto rio "Branco, Guianas, baixo Amazonas e Brasiloriental ao oeste do Rio Grande do Sul, Goiás, MatoGrosso, Paraguai e Bolívia. "Maria-tola" (Minas Gerais),"Maria-de-asa-ferrugem*". Ocasionalmente (Mato Gros-so) na mesma área que M. e M.

IRRÊ, insoi li

19,5cm.É mais parecida com porém de man-díbula geralmente pardo-clara em vez de negra.doisassovios sonoros, separados por um nítido intervalo, se-qüência lenta, o p~imeiro assovio mais grave e descen-dente: "üoüío", canto madrugador; pouco sonoro "sbdj-djrrrüü", canto de madrugada(Marajó, Pará). Possuimuitas outras vozes tal qual as outras espécies de

Mata secundária. É migratório. Ocorre daVenezuela à Bolívia, Argentina, Paraguai e Uruguai, emtodas as regiões do Brasil, incluindo o Rio Grande doSul. "Maria-irré*".

.v ...·

MARIA-CAVALElRA-PEQUENA,

16cm.É reconhecível pelo tamanho reduzido e píleoanegrado. semelhante à da precedente, um poucomais alta (pássaro menor), também caracterizada peloassovio grave descendente "üo" e um cantobissilábico,a segunda sílaba mais alta e fina. Vive na mata secundá-ria nas copas. Ocorre do Arizona e México à Bolívia eArgentina, Brasil amazônico e oriental de Alagoas aoRio de Janeiro. "Maria-triste*".

BENTEVIZINHO-DO-BREJO,

Lêem. Espécie pequena de beira dágua, lembran-do porém de bico bem com-prido e fino; crista amarelo-enxofre, bordas dasrêmiges externas ferrugíneas. fino "sirr" quechama pouco a atenção, bissilábico "tzri-trzi". Vivea pouca altura na margem de lagoas e brejos. Ocorredo Panamá à Bolívia, Brasil oeste-setentrional (Ama-zônia), central e oriental, para o sul até Mato Grosso,Rio de Janeiro e São Paulo. Aespéciefoi retirada dogênero por duas razões: a estrutura dasiringe é diferente e a nidificação é outra: faz um ni-nho de tigela aberta e não um ninho fechado, com en-trada ao lado; existiram informações erradas: confu-são com o ninho de bola de . O novo nome:

se refere à ecologia: "amigo da água"(Lanyon 1984). "Bentevi-do-brejo*".

"I

,!

BENTEVI, BENTEVI-DE-COROA,

Pr. 35, 2

'22,5cm, 54 a 60 g.É provavelmente o pássaro maispopular deste país, bem mais robusto do que os prece-dentes; de bico longo e forte. trissilábico "bentevi"bissilábico "bi-híã", monossilábico "tchíã" (chamada);estrofe de 4 sílabas "biü-biü-prrrí-biü" (canto), periodi-camente de madrugada, destacando-se mais o matra-quear sonoro "prrrr". Os filhotes, após abandonarem oninho, gritam incessantemente "ia". Impressiona porsua vivacidade, adapta-se a qualquer meio, descobresempre novas fontes de alimento (v.Alimentação); pe-neira bem,é visto amiúde na beira d'água para pescar;habita os campos de cultura, cidades, pousa nos edifí-cios, sua gritaria penetra nos mais recônditos becos.Vive às vezes em regime de semidomesticação.ções Emigra das regiões altas (mais frias) do sul (p. ex.norte do Rio Grande do Sul). Suas migrações são maisevidentes na Argentina. Em Santa Catarina (janeiro) foiapanhado um indivíduo anilhado em .Santiago delEstero, Argentina, 1.300km ao oeste. Ocorre do Texasonde nidifica à Argentina e em todo o Brasil. "Bentevi-verdadeiro*".

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628. ORNITOLOGIA BRASILEIRA

NEINEI, BENTEVI-DE-BICO-CHATO,

21,Scm. Muito parecido com o bentevi-comum, masde bico extremamente largo e chato, o que é, aliás, bas-tante variável; tem o tarso muito curto. característi-ca: "néi-néi" (chamada); "rchülülü", repetido, cantoterritorial, emitido periodicamente, podendo lembrar

o n stes. O dueto do casal é mal sincronizado. Vivenas copas da mata. Ocorre do México à Argentina, emquase todo o Brasil, também no Leste e Sul (até o RioGrande do Sul).É migratório. "Bentevi-gameleiro" (Mi-nas Gerais), "Bentevi-pato" (Espírito Santo, J. F.Pacheco).

BENTEVIZINHO-DE-ASf\-FERRUCíNEA, etetesc nensis Pr. 33, 7

17,Scm. Uma das várias espécies de bentevis peque-nos cuja identificação não é fácil; reconhecível pelos la-dos bem anegrados da cabeça, pela faixa amarela oualaranjada no píleo e, sobretudo, pelas bordas nítida-mente ferrugíneas das rêmiges e das retrizes. eções sono a espécie é fácil de se determinar pela voz:assobio prolongado suave, ü-ü , "ü-í-ü" (chamada);"zlílidi", repetido (canto). Sussurro das asas, "prrrü-prrrü ...", Habita árvores na vizi:mança d'água. Ocorredo Panamá, através da Amazônia, à Bolívia, Mato Gros-so, Goiás, Minas Gerais, Pará e Maranhão: também Riode Janeiro e São Paulo.É migratório (Rio de Janeiro)."Bentevi-assobiador*". V. a seguinte.

BENTEVIZINHO-PENACHO-VERMELHO, tetes

17,5cm. Extremamente parecido com o anterior, masem geral sem bordas avermelhadas nas asas e retrizes(caso não se trate de indivíduos novos), de faixa verme-lha no píleo que aparece no pássaro excitado. dife-rente: estridente "psíã", "glia" (chamada); "si-gli,gli, gli,gli", "tzilili-tzílili" (canto). Habita a orla-da mata secun-dária, parques.quíntaís. ruas arborizadas; independen-te de ágúa. Ocorre do México à Bolívia e Argentina, Bra-sil amazônico, oriental e meridional até Santa Catarinae Rio Grande do Sul.É COmum também no Rio de Janei-ro (estado e município); é migratório (Rio de Janeiro)."Bentevi-de-coroa-vermelhat", V. o do lic

BENTEVI-DE-CABEÇA-CINZA *, etetesg

[16,6-17crn. Espécie da região do alto Amazonas ondehabita as bordas da floresta. nas imediações de corposd'água. Assinalado no Brasil para o baixo[avari (J.Hidasi),alto Solimões e as regiões do alto curso do[uruá, Purus eMadeira/Guaporé. Registrado recentemente também para

Sorocaima, Roraima (D. F. Stotz) e baixo [apurá (J. F.Pacheco). Em adição ocorre na Venezuela, Colômbia, Equa-dor, Peru, Bolívia e do Panamá até Honduras.]

BENTEVI-BARULHENTO*, io tetes lutei nt is

[14,5cm. Incomum habitante das copas das florestasde terra firme e várzea amazônicas. Ocorre aparentemen-te em toda a Amazônia brasileira e extra brasileira, em-bora ainda não esteja registrado para a Guiana. Assina-lado para leste em Açailandia, Maranhão (Hidasi 1973)e Tocantinópolis, norte do estado de Tocantins (pele exa-minada no Museu de Goiânia, J. F. Pacheco), atual limi-te oriental da espécie.]

BENTEVI-PEQUENO, Conopi t i g Pr. 34, 1

15cm. Lembra Myiozereres, mas tem o bico mais gros-so, larga faixa auricular branca que prossegue até a nuca,boné negro sem amarelo ou vermelho no meio. apa-gado "dj, dj, dj ", melhor meio para distingui-Io de

i tetes. Vive na mata e nas copas (ao contrário detetes), instala-se em colônias deC icus, compete

com iod l tus. Ocorre localmente no Su-deste: Bahia a Santa Catarina (Florianópolis) e na Ama-zônia, também Argentina e Paraguai."Bentevi-de-três-riscas?".

Fig. 246. Bentevi-rajado, io stes . ul tus

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TYRANNIDAE 629

BENTEVI-DA-COPA ".

[16,Scm. Quase endemismo das copas da floresta altado Escudo Guianense. No Brasil ocorre sobretudo doAmapá até a margem esquerda do Negro onde ultra-passa também no baixo trecho Pearson, J. F.Pacheco).Está também registrado para a região de Tefé, margemdireita do Solimões (Peres& Whittaker 1991).É assina-lado também para as três Guianas, Venezuela e leste daColômbia. Outros registros isolados são conhecidos parao Equador e Peru, inclusive ao sul do Marafion (Ridgely& Tudor 1994).]

BENTEVI-RAJADO,

Fig.246

21,5cm.É inconfundível pelacombinação de tama-nho avantajado e desenho estriado, uropígio e retrizesmargeados de ferrugíneo. "tsock", "tsock-i": estro-fe trissilábica descendente, ressonante, "dlui-dlui-guik",repetido (cantoà hora do crepúsculo). Vive na mata enas copas. Em muitos lugares é comum, pode ser até aespécie mais freqüente (Nordeste), comprovando quetambém matas baixas e secundárias de pouca idade po-dem oferecer suficientes esconderijos para nidificação.Ocorre do Méxicoà Bolívia e Argentina, e em todas asregiões do Brasil; inclui M. . de vasta distri-

Fig. 247. Peitica, s .

-

buição austral, emigrando no invernoà Amazônia (p.ex. Manaus). "Pintado", "Bentevi-do-mato", "Bentevi-preto". V. que é muito menor.

[BENTEVI-DE-BARRIGA-SULFÚREA,

VN

20,5cm. Visitante regular dos Andes e Amazônia oci-dental, registrado no Brasil apenas em fevereiro de 1992na região do alto Juruá, Acre (A. Whitt?-ker).]

BENTEVI-PlRATA, Fig.247

15cm. Parecido com s, porém me-nor, de bico bastante curto, as faixas superciliares en-contra-se na nuca, de vozi comportamento completa-mente diferentes. assobio estridente de longo alcan-ce, "dí.dü.dü-wíã", emitido incansavelmente. Sua vozimpertinente 'costuma indicar ao longe onde está insta-lado uma colônia de icteríneos.É nidoparasita, v. Re-produção-e figo 228. Vive na mata alta e nas copas. Devasta distribuição, ocorre do Méxicoà Argentina e emtodas as regiões do Brasil até o Rio Grande do Sul."Bentevi-pequeno".

PEITICA, Empidonomus uarius

19cm. Por cima pardo-escuro, o meio do píleo ama-relo, as longas superciliares brancas, encontrando-se nanuca, tem um bigode branco, coberteiras superiores dacauda e retrizes margeadas de cor ferrugínea; por baixobranco sujo, rajado de pardo; imaturo sem a estriaçãodo lado inferior e o amarelo no píleo. assobio mui-to fino 11tz ri 11, "si.si.si..", Habita as copas, a beira da matasecundária e parques. Ocorre em todas as regiões doBrasil, não é raro também no Leste (Rio de Janeiro etc.),até a Venezuela e Argentina.É migratório. "Bentevi-peitica*". V.o imaturo da espécie adiante mencionada e

eg le

PEITICA-DE-CHAPÉU-PRETO,

18cm. É comum no Brasil central, cinzento-escuroquase uniforme, boné negro, amarelo no meio; o imatu-ro lembra Empidonomus uarius (que é maior), de sobran-celha branca, bordas das rêmiges; coberteiras superio-res das asas e das retrizes ferrugíneas, píleo pardo, semamarelo. Manifestações sonoras: assobios finos; es-trofe bipartida "zit-zizübit zizüt-zi-zíbidid" .(canto). Sus-surro forte das asas,"ürrrr". Vive no cerrado ete.É mi-gratório. Ocorre da Venezuelaà Argentina, Amazônia,Maranhão e Piauí, Goiás, Mato Grosso e Minas Gerais."Bentevi-cinza?". [Registrado também para o oeste deSão Paulo (Willis & Oniki 1985) e Ceará (Pacheco&Whitney 1995).]

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630 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

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Fig. 248.Tesoura. s. macho, em vôo territorial. Rio das Mortes, Mato Grosso.

SUIRIRI-DE-GARGANTA-RAJ!'DA,

19,5cm. Bem parecido com cus emas de garganta extensamente rajada de

cinzento e branco. diferente: forte e rouco "gsi" (cha-mada); "gs,gs,gs-ksi-gii" (canto). Vive na orla da mata eem buritizais nas copas. Ocorre na Amazônia para lesteaté o Amapá, Maranhão, Piauí (Novaes 1992), Tocantinse norte de Goiás. .

TESOURA, Fig. 248

40cm, incluindo a longa cauda bifurcada, de 29cm.Por cima cinzenta, por baixo branca, cabeça, asas e cau-da negras, meio do píleo amarelo-enxofre. , ô-

"tzig" (chamada); seqüência apressada "tzig-tzig-zizizi... ag, ag, ag, ag" (canto), que emite pousado ou emvôo, deixando-se cair numa espiral, com a cauda larga-mente aberta e a posição das asas lembrando um pára-quedas. Caçando insetos pousa com freqüência no solo;tira bagas do camboatá. Descansando na ramagem doarvoredo, costuma encostar a cauda num galho. Formamconcentrações para dormir. Habita as regiões campes-tres e o cerrado.

, g , Fora da épocada reprodução associam-se em bandos, que migram paralonge, às vezes a grande altura, lembrando as andori-nhas; confluem na Amazônia às centenas ou milhares(p. ex., Manaus, agosto). No sul de Minas Gerais, asmaiores concentrações de migrantes ocorrem em outu-bro/novembro. No Rio Grande do Sul desaparecem emmarço, voltam em setembro. A rota de ida e volta paraas regiões de "invernagem" parece. não ser sempre amesma. A existência de várias raças geográficas, carac-terizadas pela forma das primárias externas (v. figo 221),permite saber a procedência de certos indivíduos quefazem parte da enorme congregação mista na Hiléiadurante o inverno austral. Enquanto indivíduos mascu-linos adultos da raça meridional . S. n (Argentina

a Mato Grosso) têm três primárias entalhadas na ponta,as raças setentrionais (como S. chus,México até oSolimões, Amazonas eT's. us, baixo Tapajós,Pará) têm apenas duas primárias transformadas.T s.

migra até o Equador, Colômbia, Guiana, Curaçao,Trinidad e Texas. Ocorre em todo o Brasil. "Tesourinha","Tesourinha-do-campov' .

SUIRIRI, e cus Pr. 33, 8

21,Scm. Uma das aves mais conhecidas deste país."siriri" (chamada); matraqueia com o bico; seqüên-

cia fortemente ascendente "srri-srrf-srrr-srrr-it" (cantode madrugada, freqüentemente emitido também de dia).Em qualquer parte, quando há árvores, comum tambémnas cidades ondeé o primeiro a vocalizar, ainda no es-curo. Executa longos vôos em busca de um local prefe-rido para dormir à noite. Migratória, no sul (Rio Gran-de do Sul, Rio de Janeiro nas montanhas, Espírito San-to) some em grande parte no inverno. Texas à Argenti-na, todo o Brasil. "Pára-bala" (Minas Gerais), "Suiriri-tropical?". V. nnus g s.

Sobre as migrações - chegada e saída - de um ca-sal de suiriri, e ncholicus,Reitz (1988), ano-tou os dados de 8 anos consecutivos em Itapema, SantaCatarina, revelando uma precisão impressionante. Ocalendário foi o seguinte: ., ,.--~. - .

Ch01 de abril 1978 02 de outubro 197801 de abril 1979 04 de outubro 197908 de abril 1980 05 de outubro 198003 de abril 1981 04 e 06 outubro W8103 de abril 1982 26 de setembro 1982

(após inverno quente)08 de abril 1983 07 de outubro 1983

(após inverno frio)11e 20 de abril 1984 05 de outubro 1984

(primavera fria)07 de abril 1985 05 de outubro 1985

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TYRANNIDAE 631

-

SUIRIRI-DE-GARGANTA-BRANCA,

20crn. Bem parecida à precedente, tendo porém píleocinzento mais claro, dorso nitidamente esverdeado, gar-ganta branca pura (em vez de cinzenta). bastantediferente de "zip", "zip-zip-zip"(chamada); "zi.i.ii-zi.i.i.i" (canto). Produz forte zunidodas asas em vôo rápido; horizontal (v. também sob Re-produção). Árvores em volta de casas, à beira da matasecundária e rios. Ocorre do Suriname e Venezuela aoBrasil oeste-setentrionàl e central até Mato Grosso, Goiás,Minas Gerais e São Paulo; migratório. Às vezes (p. ex,oeste da Bahia e Amapá) ao lado de

"Suiriri-de-papo-branco=".

SUIRIRI-VALENTE*, VN

19,5cm. Por cima cor de fuligem, por baixo e pontada cauda branco, esta última característica bem distin-ta. baixinho "tzr": no Brasil, durante o descanso re-produtivo, é geralmente silencioso. Habita campos decultura, o cerrado (Mato Grosso, novembro), Amazonas(outubro), noroeste da Bahia (rio Preto, dezembro, beirade rio), migra até o Paraguai, é procedente da Américado Norte onde é uma espécie muito popular ("EasternKíngbird"). Apanha às vezes bagas na mesma fruteiraque (Bahia).

SUBFAMíUA TITYRINAE

CANELEIRO-VERDE,

Pr. 30, 7

14cm. É um dos numerosos representantes de um gê-nero bem caracterizado peta cabeça grande, bico largo,cauda estreita e segunda primária externa modificadaem rêmige sonora (fig. 222), v. também sob

A nuca cinzenta; peito e anel periocular ama-relos; a fêmea de píleo verde como as costas e cobertei-ras superiores das asas castanhas, ou ainda verdes emfêmeas imaturas. "gjü ...n (chamada); seqüência demeia dúzia de pios límpidos bem pronunciados "ü-líü-

lí ü-lí ... " (canto). Habita a beira da mata e capoeira. Ocor-re da Venezuela à Bolívia, Argentina, Paraguai e todo oBrasil; em muitos lugares não é raro; às vezes ao lado deP. e P. e (Rio de Janeiro). "Bico-gros-so".

CANELEIRO,

14,8cm. As partes superiores ferrugíneas com píleode aparência escamosa, lados da cabeça e nuca cinzen-tos, partes inferiores amareladas; a fêmea semelhante.

--

SUIRIRI-CINZA ". VN

22cm. Muito parecido a e icus mas com ladoinferior branco (não amarelo). Roraima, Estação Ecoló-gica de Maracá (Moscovitzet 1985). Norte do conti-nente, sul dos EUA.

TIJERILA,

12,Scm. Um dos pássaros típicos da caatinga, de as-pecto delgado, cauda longa, boné negro reluzente (fê-mea de boné castanho); o loro branco, ligado com o ou-tro lado por uma linha branca atrás do bico; também asbordas das asas e lado inferior brancos, costas cinzen-tas, asas e cauda pardas. chiado esganiçado, umpouco ondulado. Pousa no alto dos arbustos ralos, empartes espinhosas. Faz seu ninho em forma de uma ces-tinha segura nas copas de árvores da caatinga aberta.Ocorre no Maranhão, Piauí, Ceará, Perriambuco,Alagoas, oeste da Bahia e Roraima; também Venezuela,Bolívia, Paraguai; Argentina, oeste de Mato Grosso doSul em paisagens correspondentes. Sua inclusão nosTyrannidae (e não Cotingidae, embora a estrutura dotarso seja diferente) foi corroborada pelo tipo de ninho,apenas recentemente descrito. Novas pesquisas sugerematribuir ao grupo de que incluiria

e (Tyrannidae) ao lado dee (Cotingidae).

.<

Fig. 249. Caneleiro-preto, s e ,macho. .

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632 ORNITOLOGIA BRASILElRA

trêmulo bem fino, ascendente,"tüi, i, i, i, i, i, i", ouseqüência descendente "bi-bi-bi-bií-bí)", timbre de

e outros pios fininhos. Emite um es-talo ("tic") que se ouve quando o macho, no período dereprodução, empoleira perto da fêmea; talvez seja pro-duzido pelas rêmiges sonoras (v. sob

Habita a beira da mata. Ocorre da Venezuela àBolívia, Paraguai, Argentina (Misiones) e Brasil seten-trional, oriental e meridional da Bahia e Goiás ao Rio Gran-de do Sul. Pode lembrar um rufus. "Caneleiro-castanhos", V também (Thraupinae).

CANELEIRO-PRETO,

Fig.249

15,5cm. O macho lembra, pela plumagem, aquele deé (Forrnicariidae), sendo porém

mais delgado e de bico mais largo: o boné com forte bri-lho de aço; a fêmea verde-olivácea com bordas na asa ena cauda, de cor ferrugínea e partes inferiores amarela-das. desperta muito a atenção, forte e sonoro"djõít dji:it-dji:it-dji:it..." com mais variações; durantea reprodução emite incessantemente, ao crepúsculo(madrugada eà tarde); uma estrofe semelhante, masestereotipada, que é entoada a intervalos de 5 segun-dos (Rio de Janeiro e noroeste da Bahia). Fêmea tem ,umcanto semelhante ao do macho, mas em menor volume.Habita a orla da mata, freqüentemente omais comum, por vezes ao lado das precedentes (Riode Janeiro); tal qual seus congêneres integra às ve-zes bandos de pássaros. Ocorre da América central edas Guianas à Bolívia, Argentina e Uruguai; todo oBrasil. "Araponguinha" (Minas Gerais).

CANELEIRO-BORDAOO*,

13,5cm. Espécie extremamente parecida com-a ante-rior porém menor; o macho de costas manchadas denegro e cinza, fronte e loros brancos e partes inferioresesbranquiçadas; a fêmea de píleo ferrugíneo. maisalta e melodiosa que a do anterior:"üí-üít" repetido.Ocorre na Amazônia das Guianas à Bolívia e tambémno Brasil oriental, na copa da mata às vezes ao lado daanterior (p. ex. na Lagoa deIuparanã, Espírito Santo).[Na Mata Atlântica, especialmente de baixada, de Per-nambuco ao litoral de São Paulo, incluindo o leste deMinas Gerais. Também no litoral do Paraná (R. Parrini).]

CANELEIRO-DE-CHAPÉU-NEGRO,

17,8cm. De bico grosso e cauda relativamente curta.As partes superiores cinzento-escuras, boné preto, cos-tas com branco oculto e partes inferiores pardacentas; afêmea ferrugínea mais clara nas partes inferiores e de

boné cinzento-escuro. assobio fino, "tsri",lembran-do (Tyrannidae): ~'si-i-it", "tüir". Vivena mata. Surpreende com a exibição do branco ocultonas costas. Periodicamente segue bandos de pássaros.Ocorre do leste do Pará e Nordeste ao Rio Grande doSul e Mato Grosso, também na Argentina (Misiones),Paraguai, Bolívia e Peru. Conhecida antes porrufus. A inclusão desta espécie em s éinsatisfatória segundo o meu ponto de vista. "Caneleiro-de-crista "",

CANELEIRO-PEQUENO*,

16,8cm. O macho negro com grande placa gular rosabrilhante; a fêmea semelhante a da espécie anterior. Ocor-re na Amazônia até o Maranhão e noroeste de Mato Gros-so, Venezuela à Bolívia.

CANELEIRO-D~-GUIANA ",

13,8cm [Representante pouco conhecido da copa dasflorestas do Suriname e Guiana Francesa. Poucos regis-tros existentes no Brasil estando até então assinaladoapenas para Óbidos (Hellmayr 1929) e região ao nortede Manaus (Bierregaard 1982). Recentemente na SerraGrande, Amapá a. F. Pacheco) e no Parque Nacional do[aú (Whittaker 1995) acompanhando bandos mistos. Foitambém encontrado reproduzindo em Alvarães, pertode Tefé, margem direita do Solimões, significativa ex-tensão em sua distribuição (Whittaker 1995).]

CANELEIRO-CINZENTO*, ·

12,9cm. A menor espécie do gênero: costas cinzas,boné negro, partes inferiores esbranquiçadas; a fêmeaferrugínea tal com P. mas sem o colar cinzentodeste último. Ocorre do Maranhão e do leste do Pará aoalto Amazonas, Guianas e Panamá.

ANAMBÉ-BRANCO-DE-RABO-PRETO,

Fig. 250 0_0'_".. ..

21cm. O bico forte e a cauda relativamente curta dão-lhe um aspecto um tanto robusto. O macho branco-acizentado e negro sendo vermelhas a região perioftál-mie a, o loro (ambos nus) e a base do bico. A forma típicaamazônica, é menor no porte. grunhido nasal"ãd ", "reg". Habita a orla da mata. Ocorre das Guia-nas e Venezuela, Paraguai à Bolívia e Peru, localmenteem todo o Brasil. "Gui-kú" (Waura, Mato Grosso),"Araponguinha" (veja as duas espécies que se se-guem). Por vezes, todas as três espécies dei en-contram-se na mesma região (p. ex. em Mato Grosso),embora ocupem diferentes tipos de paisagem, o que

-. \

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TYRANNIDAE 633

Fig. 250. Anarnbé-branco-de-rabo-preto, ciliensis, à esquerda macho,à direita fêmea.

condiciona o fato de geralmente não aparecerem lado alado. "Araponguinha-de-rabo-pretot".

ANAMBÉ-BRANCO-DE-MÃSCARA-NEGRA,

se

20,Scm. Parecida com a anterior tendo, porém, umamáscara negra e a cauda branca com uma larga faixa

.r.-

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negra anteapical; a fêmea semelhante ao macho, mas decabeça pardacenta. i so grito bissilábi-co, rítmico e repetido, "gã-rák gãrik": bufa um j

um suave "ag-ag". O macho produz um sussurro sono-ro com as asas, sendo o mesmo mais forte quando freiapara j em um galho horizontal, em presença dafêmea, corre abaixado, de asas meio caídas e grasnandoem vaivéns; a fêmea é bastante ativa e persegue o ma-cho. Pode acontecer serem vistos quatro indivíduos"dançando" juntos perto de um ninho ocupado.

Habita a orla de capões e palmeirais. Ocorre naAmazônia, meridionalmente até o centro de MatoGrosso e também no norte do Maranhão. Distribue-se até o México. "Araponguinha-de-rabo-cintado*".[Ocorre ainda no Estado de Tocantins e oeste do PiauÍ(Novaes 1992).]

ANAMBÉ-BRANC0-DE-BOCHECHA-PARDA,

17cm. Parecida com c mas de porte inferiore face toda emplumada de negro; o bico igualmente pre-to, mento branco: ocorre no rio Negro com os lados dacabeça brancos i. o es), em Mato Grosso comcauda de base e pontas brancas. inquisito pel lni). Afêmea tem os lados da cabeça castanhos, píleo negro ecostas pardacentas. Habita a orla da mata.É vastamentedistribuído: do México e da Venezuela ao Paraguai eArgentina (Misiones), localmente em todo o Brasil,inclusive no Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Lo-calmente migratório (Rio de Janeiro, Paraguai)."Araponguinha-de-cara-preta*" .

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4,,'

-

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636 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

TANGARÁ, DANÇADOR, RENDEIRA e afins: FAMíLIA PIPRIDAE (37)

Grupo silvestre neotropical, aparentado aos cotin-

gídeos e tiranídeos, sobremodo atraentes pelo coloridoe pelas cerimônias pré-nupciais, freqüentemente cole-tivas. Evoluíram junto com os diferentes tipos de ma-tas neotropicais, como os cotingídeos e tantos outrosSuboscines. O Tangará, já no pri-meiro século de existênciaCI) Brasil era um dos pás-saros mais citados; seu comportamento despertou acuriosidade dos colonizadores, sendo até mesmo ro-mantizado.

.

As aves são pequenas, até o tamanho de um tico-tico; com 6 a '7g, é um dos menores pás-saros deste continente, depois, dos beija-flores. Osmachos geralmente muito policromos, de esplêndi-do colorido (escarlate, ouro, azul e branco), freqüen-temente concentrado na cabeça; ocorrem até efeitosopalescentes iris), o que é raro no colorido depenas, existindo também nas aves-do-paraíso da re-gião australiana. A cor da íris destaca-se em cert?sgrupos. Ocorrem topetes bizarros:

e Cauda notável,alongada, nos e Avariação e extravagância de plumagem dos machosobscurece as relações de parentesco entre as espécies(v. .

As fêmeas na maioria são verdes, sendo sua propa-lada semelhança menos acentuada quando vivas do queem espécimens de museu, pois naquelas pode-se apre-ciar melhor o aspecto geral, a cor do bico e das pernas; apresença de machos e o fato de, em geral, haver numdeterminado lugar apenas espécies bem discerníveis,contribuem para facilitar o reconhecimento. A fêmeapode ser maior (p. ex. , . Atendência na diminuição do tamanho nos machos ,

pode ser atribuída à vantagem que isto poderepresentar na maior agilidade em suas cerimôniasacrobáticas.

Ao contrário de muitos tiranídeos, os indivíduos ver-des de piprídeos não têm faixas claras sobre as asas. Nos

ambos os sexos são vistosos. Nose ambos os sexos são verdes; sua

crista amarela indicaria um parentesco com ostiranídeos. Não há uma perfeita separação entre com-portamento de piprídeos e tiranídeos, veja neste aspec-to em particular Na anatomia destaca-se asindactilia (a união doS" e 4° dedos na base), porm~norqt:.e ocorre também em outras aves como o galo-da-ser-ra l e outras não aparentadas (p. ex. ,

Furnariidae); a sindactilia é urna adaptação útil ao pou-so em poleiros verticais. O tarso é exaspidiano. A estru-tura da siringe é extremamente variada. O representan-te que se aproxima mais dos cotingídeos no comporta-mento parece ser .

As fêmeas são freqüentemente andromórficas, ten-do; p. ex., algumas penas vermelhas na cabeça (p. ex.

ou apresentando branco na íris v.também voz. Os machos de necessi-tam de alguns anos (3,5 a 4 anos, em cativeiro, A.Assumpção) para completar sua plumagem definitiva;embora primeiro apareça o barrete vermelho, epicentrodos ritos de exibição no gênero, este só surge aos pou-cos, e sua complementação demora meio ano. Nos

ocorrem imaturos verdes com áreasde penas pardo-averrnelhadas no peito e nas cober-teiras superiores das asas, pernas cor-de-rosa claras(Belém, Pará). A muda de começa na gargan-ta, correspondente à área principal' de exibição; e aplumagem adulta é adquirida no seu segundo ano,tal qual as diversas A aquisição demorada deplumagem definitiva nos machos é interpretada comouma estratégia de aumento da sobrevida dos mesmos(Foster 1987). I,

Os machos têm o hábito de proclamar, "marcar", suapresença mediante um chamado, repetido a intervalos(p. ex., a cada minuto ou alguns minutos tratando-se de

a cada seis segundos de es escens),incansavelmente, pousados em posição normal, sozinhossobre um ramo de sua especial predileção, dentro de umaárea limitada. Assim, ficam ao alcance da voz de, e emparte também visíveis a, alguns machos vizinhos. Du-rante as "danças", emitem às vezes outros assovios. Cha-mam bastante a atenção por meios acústicos. Vozes deadvertência são quase inexistentes, com poucas exceções(p. ex., iris, e En-quanto o "marcar", que assinala a disposição do indiví-duo para "dançar", aponta claramente o parentescofilogenético (p. ex. e P. , óu P. eo e P.

, outras vozes podem ser únicas, como o alar-ma ou desconforto de

As fêmeas são silenciosas, tendo um chamado fraco.Às vezes comportam-se como machos, p. ex., uma

que tinha "marcado" tal como um macho,apresentou, na autópsia, um ovo quase pronto para serposto. Uma fêmea de us com placa de incubar gri-tou "ziârrr" como um macho.

(. .

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PIPRIDAE 637

Entende-se sob essa terminologia, criada por Darwin(1871)44as manifestações sonoras, produzidas por di-versos piprídeos independentemente do aparelho vocal.Evoluíram as rêmiges sonoras nos

e As retrizes sonorasaparecem nos e

Um dos extremos écujas secundárias são altamente reforçadas e retorcidas.Com tais penas transformadas, são produzidos sonsmecânicos, designados como "música instrumental" (aocontrário da "música vocal", produzida pela siringe).Sua função costuma ser aprodução de ruídos em vôo,culminando no fortíssimo "prrrrák" que faz. Omacho de produz rumor atédurante a toalete, pois quando se sacode ouve-se umchocalhar agudo, provindo das rêmiges insufladas quefuncionam como caixa de ressonância. Falta na maioriados casos a boa compreensão do mecanismo responsá-vel, sendo até difícil dizer' de que "tipo de música" setrata, de voz ou de som mecânico. Às vezes "já" há mú-sica instrumental sem existirem estruturas especiais re-conhecíveis, p. ex., em que produzum som de gongo batendo simplesmente as asas (quenão mostram transformação) uma contra a outra; aspopulações de certas regiões (norte de Mato Grosso) nãoapresentam tal hábito, pulando silenciosamente, pode-riamos falar então de uma raça etológica. fasciicauda

produz um toque característico com o impacto dos pésde encontro ao ramo no momento de pousar.

O recorde em música instrumental é batido porcom seu crepitar violento e agudo, que lembra

o chocalhar de cascalho, e que pode crescer numfortíssimo matraquear. Geralmente atribui-se a origemdesses estalos ao atrito das secundárias, engrossadas emais móveis do que em outras aves. Verificamos, po-rém, que machos verdes e fêmeas, com muito po~co oumesmo nenhum reforço das rêmiges, também produzemestalidos, embora mais fracos. Analogamente consta queestalidos produzidos em vôo pelo beija-flor peruano

interpretados como sendo provoca-dos pelas rêmiges secundárias e as raquetas da cauda,são emitidos, ocasionalmente, por indivíduos pousadose até por exemplares que não têm as retrizes externas,sugerindo que o ruído seja proveniente do bico (Ruschi1964); talvez aí entrem as nos'sâs cogitações sobre estali-dos produzidos provavelmente na articulação da man-díbula com o crânio por tiranídeos. Os estalidos fortes esonoros produzidos por assemelham-se aosestalos decorrentes do atrito e da fricção de tendões eossos .de certos mamíferos, como na articulação do péda rena cervídeo boreal (Sick 1959).Podemos imaginar que uma coisa semelhante aconteça

no caso dos estalos de que o respectivo ruídose produza em qualquer articulação; o mesmo talvezaconteça com o "prrrrák" de As rêmiges trans-formadas seriam responsáveis" apenas" pelo sussurardas asas, em vôo normal. Machos e fêmeas deirritados produzem um ruído surdo mecânico de ori-gem incerta, registrado em cativeiro (A. Assumpção).

Comem bagas, p. ex., das tão abundantes melasto-matáceas que frutificam em todos os meses; em Trinidad(costa daVenezuela), Snow (1962) registrou 17 espéciesdesta família (entre elas 15 diferentes) como ali-mento de que aproveitava-se tambémde 15 rubiáceas (no Brasil várias espécies dee 4 moráceas (dentre as quais dois Apreciam igual-mente frutas duras como as da magnólia,

(Rio de Janeiro). Viram-nas no bico antes deengoli-Ias inteiras ou tiram pequenos pedaços

poucos minutos depois cospem os caro-ços à feição do que fazem e os Cotingidae. Go~-tam de frutas das bananeirinhas-do-ma to,

e outros gostam dos frutos das imbaúbasdeve contribuir consideravelmen-

te na dispersão de Loranthaceae, erva de passarinho,regurgitando a semente que é esfregada com seu visgoa algum galho (onde logo depois germina) no ato delimpar o bico (Motta [unior 1988). Apanham peque-nos insetos e aranhas nas folhas.é mais insetívora do que o sintópico(Belém, Pará).

A maioria vive no estrato médio da mata; ,mantêm-se em níveis

mais altos. e freqüentemen-te ocorrem à beira de núcleos urbanos do sudeste dopaís, o que contribui para a popularidade de que go-zam. Voam bem, mas usualmente não deixam a matafrondosa, alguns revelam-se verdadeiros acrobatasquan-do exibem-se nas cerimônias pré-nupciais; os movimen-tos tornam-se então mais ligeiros nos machos, às vezesmenores e mais leves que as fêmeas. Alguns catam for-migas fara friccioná-Ias as asas e a base da cauda("formicar-se", p. ex. .

é e

. Os piprídeos são polígamos, como os cotingíde-os, situação aparentementefacilitadapela abundân-cia de alimento (frutas); a fêmea é capaz de criar osfilhotes sozinha. Foi possível, porém, provar a mono-gamia de muitas fêmeas de usando anéiscoloridos (Lill 1974).

44 Escreveu D~win (1871): "Nós temos até agora falado somente da voz, masque os machos de várias espécies fazem,durante seus cortejos nupclals, pode ser chamado de música instrumental" (v. Sick 1969).

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638. ORNITOLOGIA BRASILEIRA

Nas regiões mais quentes são executadas durante amaior parte do ano (exceto durante a muda) certos ritu-ais pré-nupciais, que evoluíram de maneira variada den-tro do grupo, lembrando aquelas dos Cotingidae; tam-bém encontramos nítidos rudimentos de tais demons-trações nos Tyrannidae.

Esses comportamentos, a começar pelo "marcar" (v.Vocalízação), servem para a atração de fêmeas e parainduzir outros machos a participarem das exibições; osmachos participantes podem ser ainda inteiramente ver-des mas com os testículos bem desenvolvidos (p. ex.

e ou de gônadas ainda ima-turas e de plumagem total ou parcialmente verde

hi . As danças podem ter lugar sem apresença .de fêmeas. As poses exibitórias, contudo, sãointensificadas e por vezes alteradas ou ampliadas se ooutro sexo se apresenta; quando a fêmea abandona o"palco" ou "arena" ou"lek" (y. adiante); o macho cessacom as demonstrações não tardando, porém, a reiniciá-Ias. As atuações desenvolvem-se com tal celeridade queé difícil acompanhá-Ias e mais ainda descrevê-Ias; cer-tas cerimônias são relativamente raras escapando facil-mente da observação. No âmbito do presente trabalhosó permite um ligeiro apanhado.

Na maioria das espécies os machos possuem um ricorepertório de atuações, formando intrincados rituais;necessitam da presença de outro macho em seu "palco"o qual consiste em um ou mais galhos vizinhos entre osquais os pássaros transitam em constantes vaivéns. Nocaso dos o palco estende-se até o solo, que éativamente limpo (v. também galo-da-serra), práticaempregada tanto por píprídeos como por cotingídeosque se exibem na ramaria; tais sítios são usados duranteanos a fio se não houver alterações na mata. Há machosdominantes que se apossam de certos palcos e ali per-manecem, em atividade, por vários anos; quando desa-parecem, sua vaga é ocupada por outro macho em con-dições de exercer o domínio. Anilhamento coloridomostrou como um certo macho de subiu nahierarquia de "visitante" até indivíduo dominante.A idade desses pássaros pode ser grande, p. ex., maisde 14 anos num macho de , que ti-nha ocupado um certo palco por mais de 11 anos(Snow & Lill 1974).

No caso dos existem grupos demachos ligados aos principais palcos, grupos que apa-rentemente não se misturam, dançando em separado.Os palcos ficam numa .distância tal que os atinentes sepodem ouvir mas não ver. [asciicauda e

ens usam ocasionalmente como palco um galhoflexível que oscila em uma sacudidela quando o pássarose empoleíra, efeito visual que chama a atenção de longe.

As cerimônias compõem-se de certos elementos quese repetem, nas diversas espécies, p. ex.agachar-se, debruçar-se, sapatear ou marcar passo e re-cuar para os lados; também efetuam rapidíssimas mu-danças de posição, inclusive virando-se imediatamente

após ernpoleirar, ou até mesmo no ar antes de pousar,para logo depois olharem na direção de onde vieram.Pulam, vibram, abrem, esticam, batem e levantam as asas(por vezes só uma) expondo a face inferior a seu com-panheiro. exibe apenas o "calção" bran-co e encarnado dispondo-se lateralmente a seu par, esti-cando e exibindo a perna respectiva enquanto encolhe aoutra. Em alguns, como o e P.[asciicauda,

os machos mantêm-se rigorosamente afastados um dooutro, a Uma distância segura, como que receosos, a cadainstante espreitando-se pelas costas com toda a atenção:cerimônias competitivas, v. tambémIlic e C pipo.Entre indivíduos de não existe tal tensão,pousando lado a lado; existe mesmo perfeita coopera-ção entre dois indivíduos Chi i

ou mais machos , coopera-ção esta que pode ser estendida a um duefo dançante

cerimônias cooperativas, v. também asuperespécie P. aureola. O processo da apresentação de-senrola-se com maquinal precisão. As cerimônias reali-zadas porChi e C. são basicamenteas mesmas, comprovando que as duas espécies sãomonofiléticas [Foi encontrado em outubro de 1995, naregião montanhosa de Camacan no sul da Bahia, umaarena deC. onde um exemplar deC. eol par-ticipava. O fato foi registrado em vídeo(B. M. Whitney,P. S. M. Fonseca, J. F. Pacheco).] faz um solitáriopulo-vôo acima de um ga-lho grosso, produzindo umfortíssimo ruído.

Com os ocorre um cerimonial compapéis distintos: ao lado dos machos em agitado movi-mento, que formam como que uma só massa em ebuli-ção, permanece um indivíduo imóvel, verde, que podeser uma fêmea (até mesmo pronta para pôr) ou um ma-cho, quer imaturo (totalmente verde), quer subadulto(de boné vermelho). A substituição da fêmea por ummacho verde, registrada por nós em relação aos

tendo coletado um exemplar, estáentre os detalhes mais surpreendentes observados emcerimônias pré-nupcíais, não somente de piprídeos comotambém de aves do mundo. O respectivo macho tem queassumir a atitude da fêmea, comportamento estranhoao sexo masculino (Sick 1942). Isto deve acontecer quan-do as- fêmeas estão ocupadas com os deveres danidificação, dos quais os machos não participam. Fre-qüentemente "apenas" machos adultos ou novos (detestículos nã<?desenvolvidos) dançam entre si, mas nes-te caso mostram-se menos organizados.

As atividades dos machos que participam das ceri-mônias coletivas podem ser interpretadas como urna co-operação para atrair as fêmeas, beneficiando sobretudoo macho dominante conforme verificado através da ob-servação de indivíduos marcados com anéis coloridos.Esta cooperação pré-nidificação é uma particularidadede espécies polígamas (Foster 1981). Em espéciesmonógamas a associação com um determinado casal éfreqüente the nest).

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PIPRIDAE 639

Tipo diverso de dança é a da rendeira, gran-de perita em matéria de música instrumental; registra-mos meia dúzia de diferentes sons mecânicos, sendo omais impressionante o já mencionado anterior-mente. Sua espetacular exibição solitária que é a crista-lização de exibições coletivas confusas, executadas forado palco, carece de manifestações vocais, cedendo ter-reno completamente aos mais empolgantes ruídos me-cânicos. Ocorrem outros tipos de ritos, P: ex., o caso dos

e É notável queespécie bem dimórfica, não desenvolva qualquer

atividade de executa outrossim violentas perse-guições. "

Os machos de não mantêm contato visu-al, sendo suficiente a mútua estimulação auditivaà dis-tância, o que ocorre também com os Cotingidae.

Em algumas espécies evoluíram vôos flutuantesexibitórios (p. ex.,

em diversas outras ocorrem intensas perse-guições amorosas, com vôos rasantes através das ma-tas, que compõem parte das cerimônias pré-nupciais,no que se assemelham aos cotingídeos. Tais movimen-tos podem mesmo ser diagnósticos, corno no caso de

pois seu sósia,tiranídeo monógamo, não tem o mesmo

comportamento. Outros piprídeos muito perseguido-res são e taisperseguições ocorrem também com os

e classificados comoTyrannidae.

As cerimônias são semelhantes dentro das superes-pécies como P [asciicauda e Pfilicauda, ouP. (extrabrásileira), e

ou os O tempo de permanênciados machos dominantes ou machos nos palcosé calculada em 90% e até mais por dia útil de atividade.

Parece óbvio que na poligamia dos Pipridae eCotingidae a seleção, realizada pelas fêmeas, que pro-curam os machos, ou os grupos de machos, nos palcos,conduziu à evolução de machos mais vistosos de for-mas (penas luxuriantemente prolongadas), colorido,sons e movimentos extravagantes; é bastante surpreen-dente como, p. ex., a cabeça vermelha de um macho de

desperta a maior das atenções na semi-.. escútídão da mata, sendo a única parte do çorpo do pás-

saro que se vê à distância. Quando uma fêmea visita umgrupo de machos exibindo-se no palco é muito prová-vel que ela não chegue a11 escolher" o parceiro mas sim.que o macho dominante se apodere dela. Emexiste uma cerimônia especial de acasalamento.É im-possível saber quantas cópulas ocorrem longe dos pal-cos, com machos não ligados às arenas.

As poses exibitórias antecedem a aquisição de coresberrantes, tanto na ontogenia como na filogenia, p. ex.,o macho novo l já exibe com toda ênfaseseu "calção" ainda não corado de escarlate; tanto o ma-cho desta espécie quanto o de P exibem a

face inferior da asa, embora apenas a primeira possuaum vistoso desenho subalar.

Fundamental para o bom funcionamento deste sis-tema de poligamia é a continuidade dos machos nospalcos durante meses. Numa população anilha da de

e estudados porD. W. Snow (1962) em Trinidad, verificou-se que os ma-chos permanecem nos palcos cerca de 90% do períododa claridade diurna;é portanto razoável falar-se destasaves como os mais dos pássaros dos trópicos,na medida. em que gastam um mínimo de tempo paracomer, tomar banho etc. (v.Cotingidae). Certos machostêm mais sucesso na atração de fêmeas do que outros,como se pode verificar com os quando há al-guns palcos vizinhos; pode acontecer de um único ma-cho receber visita simultânea de duas fêmeas as quaisbrigam entre si, como observamos ocorrer com

e Não vimos cópulas nospalcos exceto quando usamos uma fêmea empalhada.Há cópulas simuladas entre machos. A exibição de ma-chos verdes é comum em todas as espécies.

Entre as poucas espécies que se restringem a proce-dimentos simples está que pa-rece limitar-se a emitir um chamado (que age como umcanto); os machos vizinhos permanecem mutuamenteao alcance das vozes respectivas mas não se juntam, per-manecendo solitários (o que ocorre também com os

assumindo porém poses especiais quandovêem uma fêmea.

Não faltam provas de cortejo, ainda que pouco in-tenso e aparentemente acidental, entre espécies diver-sas. Tivemos a impressão que as frenéticas danças de

poderiam estimular as atividades exibitóriasdos e vizinhos,que intensificariam suas respectivas exibições, em seuspróprios palcos.

Alguns exemplares de aparência estranha, mantidosem coleções de museus, foram interpretados como hí-bridos intergenéricos, p. ex. entre e

Ocorrem atualmente cruzamentosentre e no interior de São Paulo [esul de Minas Gerais (Pacheco& Parrini 1995)]; aparen-temente a ativa captura de machos de para ocomércio clandestino de pássaros vivos tem privado asfêmeas da espécie de um casamento normal, tanto maisque entre os parece existir um equilíbrio nu-mérico dos sexo (como parece havercorn-os

e , ao contrário dos, na qual existem mais machos do que fêmeas

(Sick 1979, v. também Emberizinae, Hibridação).Observamos que é expulso pe-

los mais fortes, e quandoquerem comer na mesma fruteira.

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As fêmeas, discretas nos seus modestos e crípticostrajes que garantem a sua sobrevivência ~ a da prole,têm seus próprios territórios ao redor do ninho.; apenaselas cuidam da nidificação. Constroem uma cestinha rala(rasa no caso de e mais profunda tratando-se de e que é afixad.a ,a. umaforquilha, muitas vezes por meio de negros ~lcehos defungos que podem pender do ninho comoque uma cortina queb~ando seucontorno e mimetizando-o; utilizam-se de telas de ara-nhas em boa quantidade; para colar o material da cons-trução a qual muitas vezes está situada a uma altura re-lativamente grande (p. ex., 4m perto d'águae até sobre ela, às vezes um tanto próximos uns dos ou-tros (p. ex., Sobre a constru-ção do ninho soubemos de curiosos detalhes por A.Assumpção: uma fêmea de , antes de come-çar a ninho, ficou suspensa entre os ramos de umafarquilha, apoiada pelas p~s esticados para fren~e ; acauda, fazenda um movimento de rotação em vaivem,com se estivesse a medir a largura do vão para o tama-nho do ninho a ser construído.

dinus prepara seu ninha numacancavidade de um tranca partido; acolchoando-a comfolhas secas, hábito totalmente diversa das piprídeos tí-picos, lembrando mais propriamente um cotingídeo.

A fêmea de (12,8g de peso) re-produz ainda com 11 anos (Lill1976).

Põem dois (por vezes apenas um) ovos de fundaparda cento com desenho parda-:scuro. A in~ubaçã~,executada com dedicação pela mae (que despista o ni-nho), é de 17,5 a 19 dias no caso dos e 18 a19 dias nos Os filhotes recebem bagas e/ouinsetos e aranhas, em parte regurgitados, em parte amas-sados em bolas, saindo saliva da boca da mãe durante oato de dar de comer . A mãe devoraas fezes e os caroços cuspidos pela prole, mas os filhotescrescidos defecam da beira do ninho sujando o soloembaixo. Os ninhegos de têm voz quechama a atenção a curta distância lembrando o "mar-car" de por vezes a exigüidade do ninho podeser tal que' os filhotes têm dificuldade de acomodar-sedormindo com o pescoço às vezes pendendo vertical-mente pela borda São muitoflagelados por mosquitos que chegam mesmo a perfu-rar o fundo do ninho para sugar-Ihes o ventre como ob-servamos no alto Xingú, Mato Grosso, a mãe afugentamutucas que pousam na beira do ninho. Os filhotes aban-donam o ninho 'com 13 a 14 dias sendo de

e com 13 a 15 dias os de .

Os piprídeos oferecem outros exemplos, já melhorestudados de distribuições "parapátricas", ou seja, deespécies estreitamente aparentadas que habitam regiõeslimítrofes mas não superpostas. Assim,

Fig.251. Distribuição do uirapurusuperespécie, com os representan- .

tes e machos ilustra-dos. Círculos abertos e tracejadohorizon-tal: triângulos fechados ebarras verticais: . Os .símbolosassinalam registros de localida-de (seg.Haffer1970, ligeiramentemodificado).

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PIPRIDAE 641

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parece ser o substitutoalto-amazônico de anossa que é, talvez, um testemunho dorefúgio "Rondônia" (v. sob esta espécie) substitui P.

e P. substituiao norte do Amazonas e Solimões, sendo,

por seu turno, substituída por no Equa-dor e América Central; é o representan-te meridional de e (fig. 251)(v. também sob e Haffer 1970).

Existem mais casos de uma substituição geográficade piprídeos brasileiros, formando superespécies:

e M.e H. e

. Complicado é o caso de aespécie ocorre em duas áreas disjuntas, na Ama-zônia e.no Brasil oriental; a segundavive apenas na Amazônia.

As aloespécies que integram a superespécie ou es-pécie geográfica são, na Amazônia, em muitos casos se-paradas pelos grandes rios embora possam ultrapassá-los em certas oportunidades. Quase não se encontraram,até agora, espécimens intermediários entre as espéciesem questão; o comportamento (cerimônias pré-nupciaise voz), muito semelhante no caso, mostra-se geralmentemais conservador que a morfologia (p. ex. entre

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Fig. 252.Distribuição das quatroespécies de (seg. Haffer1985).

e P. Os vários representantes de P.embora bem diferentes, apresentam áreas de

hibridação, constituindo portanto raças geográficas deuma só espécie.

Quando várias espécies de piprídeos ocorrem namesma região, trata-se usualmente de representantes degêneros diversos; tal ocorre, P: ex., nas matas do ex-Es-tado da Guanabara, onde são registra das quatro espé-cies:

e no alto Xingu, em umamesma área, encontramos 10 espécies em hábitats maisou menos diversos:

i

e

Em suas respectivas regiões epodem figurar entre as aves mais abun-

dantes, o que vale localmente também parae parece ser um fato que as aves

frugívoras alcançam maiores contingentes do que asinsetivoras. A distribuição de é umexemplo impressionante de como a influência amazô-nica foi extensa, hoje restando no sudeste do Brasil ape-nas urna população relita (fig. 252)

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642 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

"

D

Consta que o termo "tangará" deriva do tupi "ata" -andar, "carã" - em volta; seria equivalente ao "Saltarin"

castelhano. Há alguma confusão, pois "tangará"é usa-do também para o galo-da-campina, , naAmazônia, e para alguns traupíneos (antigamente"tanagrídeos") no Paraguai e Argentina, designação

aproveitada igualmente na nomenclatura científica (gê-nero g também o nome "pipira" é usado na Bolí-via, no Brasil e no Peru indiferentemente para piprídeose traupíneos.

Na Amazônia os uirapurus spp., de cabeçabranca ou vermelha, gozam da maior fama, estandoli-gados a diversas lendas, superstições e bruxarias; va-lem corno amuletos, sendo vendidos, p.ex. nas feiras deBelérn, peles secas ou conservados inteiros em álcool,ocupando grandes vidros comumente usados para acon-dicionar balas. Contudo, apregoa-se que um uirapuruadquirido. no mercado não tem o mesmo valor cornotalismã infalível pois precisaria ser "temperado" ou"abençoado" por certas mulheres para atrair o amor deurna mulher ou de um homem, para a vulgar tarefa do.sucesso financeiro ou para dar sorte a urna casa (coloca-do numa caixa e enterrado na porta de entrada).

Acrescentamos que, na Amazônia, o nome uirapurué usado também para certas corruíras (Troglodytidae) eaté para um formicarídeo . Já o termo"manaquim" (consagrado pela designação inglesa

, talvez derivativo de palavra indígena do altoAmazonas, já foi aproveitado por Brisson (1760) paradesignar um gênero e, em 1830, o naturalistaviajante Maximiliano de Wied usou"manaquím" à fi-

gura do que hoje é feito pelos anglo-saxões, ou seja, cornodesignação geral para a família.

dos

A identificação dos machos adultos geralmente nãooferece dificuldades. As espécies parecidas de

oce , , e em ge-ral, excluem-se' geograficamente, podendo em parte serconsideradas "aloespécies". Os indivíduos verdes (ima-turos e fêmeas) exigem a maior atenção; costumam apre-sentar-se freqüentemente junto a machos adultos. Exclu-ímos dos Pipridae o gênero , que não apresenta,em absoluto, comportamento condizente; incluímos

s e , ambos sedis.

1- Negro e vermelho ou laranja: c ,P l (Pr. 32), P , P P ,P c (Pr. 32), P e (Pr. 32).

2 - Negro e branco: (fig. p. 254),g (fig. p. 259).

3 - Negro ou verde, com azul em menor (boné, uropí-gio) ou maior (dorso, corpo) extensão: (Pr.32), (Pr. 32), iphi o e C. (Pr 32).

4 - negro:5 - Verde de boné:

5.1- branco: .5.2 - opalescente: s (Pr. 32).5.3 - amarelo:6 - Verde com ou sem amarelo ou vermelho no vérti-

ce: e (Ppr. 32), eutes (Pr. 32), Chlo opipos e

7 - De costas verdes ou marrom-rosadas, boné encar-nado ou amarelo-avermelhado: ch opte s (Pr. 32).

8 - Intensamente ferrugíneo: eopipo (Pr. 33).9 - Polícromo. de cauda prolongada:Ilic (Pr. 32) .:10 - Tamanho relativamente grande, capuz negro,

occiput vermelho: e s (Pr. 32).

CABEÇA-DE-GURO, c

9cm. Restrita à Amazônia setentrional, é semelhanteà espécie descrita a seguir, sendo porém menor (o que ébastante conspícuo em indivíduos vivos), de cauda maiscurta e rígida; a cabeça é amarela (e não vermelha) orladade escarlate na nuca, as coberteiras inferiores das asasuniformemente negras e a íris branca. Cerimônias pré-nupciais com muitos pormenores especiais, culminan-do em um vôo de ostentação diante da fêmea, quase tudosemelhante ao que se observa nos oc erni teum forte "buzz" quando empoleira após o vôo exibitório.Vive na ma ta. Ocorre ao norte do Amazonas e Solimões,do Amapá ao Peru, Colômbia, Venezuela e Guianas."Uirapuru", "Dançador-de-cabeça-dourada*".

CABEÇA-ENCARNADA,

Pr. 32, 6

9,lcm. É vastamente distribuída ao sul do Amazo-nas onde substitui a anterior. i e ões son ce i-

ô fraco "psip" (chamado, ambos os sexos). O ma-cho "marca" seu palco com vocalizações ("tzlit" e "tzi-gã") tornando uma postura vertical, sacudindo a cauda,voa em vaivéns para um galho vizinho; com a excitaçãocrescente se agacha deslizando para trás e para frente,sapateando e sacudindo as asas e cauda, esticando hori-zontalmente as .asas, fechando-as a.seguir, pa~a d~p.9.islevantá-Ias quando então assovia um (fig. 253).Quando urna fêmea aproxima-se, o macho acelera seusapatearexibindo a nódoa vermelha dos calções, para oque se posta sempre obliquamente para a recém-chega-da, embora mude freqüentemente de direção à custa depulos. No auge da exibição empreende um vôo impres-sionante, afastando-se cerca de 30 metros, em -silêncio,retomando a seguir com um ü, üü, iü quepassa para um"si.Li.í.í.í" quando sobe, descrevendo umrasante "5" para um segundo galho-palco acima da fê-mea; grita um agudo "uit" quando pousa, terminando ademonstração com estridentes" gã-gã( -gã)" se a fêmeanão permitiu a copulação. Pode executar um "vôo de

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PIPRIDAE 643

parada" descrito em completo silêncio; na ausênciada fêmea o macho se exibe sozinho ou junto com ou-tro macho.

Habita a mata de terra firme. Ocorre ao sul doSolimões e Amazonas do Peru até a Bolívia, Mato Gros-so, Pará, Maranhão e, através das matas residuais doNordeste, até o norte do rio Doce (Espírito Santo) eCantagalo (Rio de Janeiro). "Uirapuru", "Maria-lenço"(Espírito Santo), "Dançador-de-cabeça-encarnada *".Registrada freqüentemente como subespécie de

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Fig. 253. Cabeça-encarnada, algumasfases da dança, esquema. O macho sapateia ao lado dafêmea imóvel(a); o macho ostentaà fêmea a manchavermelha do calção, esticando a respectiva perna esacode a cauda(b); dois machos se exibem juntos, o daesquerda se debruçando abaixo do galho, o da direitaexpondo o lado inferior da asa onde se destaca urnanódoa branca(e). Em todas as fases os machos ativosmantêm rigorosamente posição desviada do compa-nheiro (macho ou fêmea), como que preparando afuga; o macho executa um vôo rasante em frente dafêmea(d), terminando com a copulação se a fêmea nãose afasta no último instante (seg. Sick 1959).

e da qual, porém, difere nitidamente sob oponto de vista morfológico. Todas as nossas observa-ções citadas como de P já tratadas emoutras publicações, se referem a Pe. Ver

(distintivos entre as fêmeas).

[DANÇADOR-DE-CAUDA-GRADUADA,

llcm. Semelhante a P e na distribuiçãodas cores, mas de calções amarelos. Distribuição limita-da ao sudoeste da Amazônia nas encostas dos Andes ebaixadas adjacentes do leste do Peru e Bolívia. Encon-

trado na região do alto Juruá, Acre em dezembro de 1995(A. Whittaker).]

DANÇADOR-DE-CRISTA *,

12cm. Semelhante às três anteriores mas bem maiore topetuda, com dois" chifres" dirigidos para trás; o ver-melho da cabeça é mais extenso. Cerimônias parecidascom as de e e P. . É restritaà região montanhosa entre o Brasil (alto rio Branco) e aslimítrofes Venezuela e Guiana onde deve encontrar-secom .

Fig. 254. Cabeça-branca, , macho adulto

CABEÇA-BRANCA, Fig. 254

9,2cm. Vasta e localmente distribuída, esta espéciechama pouco a atenção. Preta com o boné branco. A fê-mea é semelhante à de P. sendo, porém, re-conhecível pelo colorido verde-escuro, vértice e gargantaacinzentados, calções não amarelos, bico e pernasanegrados, iris vermelha como no macho. , ce õni-

suas atividades exibitórias chamam pouco a atenção(Espírito Santo); "marca" com apagado "schrra" ou um"zirrr" semelhante ao chiar de uma cigarra, às vezes re-matado por um"zchrra-tük" ou "wiâ" que pode lem-brar P. há um fraco" a" lembrando

O macho solitário muda de lu-gar entre dois galhos, podendo descrever uma curva em"S" quando passa de um ao outro; afirmam que podedescrever um vôo silencioso, flutuante, quase como umaborboleta, ao redor da fêmea (Snow 1961; observado naGuiana). Habita a mata alta. Ocorre das Guianas ao nor-deste do Peru, rio Juruá, Mato Grosso e Maranhão; tam-bém no Brasil oriental, do sul da Bahia até o Rio de Ja-neiro. "Uirapuru-catimbozeiro", "Dançador-de-coroa-branca?".

UlRAPURU-DE-CHAPÉU-AZUL,

Pr. 32, 3

8,Scm. Representante amazônico, apresenta-se empelo menos duas plumagens bem diferentes, citadasaqui: negra-de boné azul (P. e P

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644 ORNITOLOGIA BRASIL EI~A

, da Costa Rica, Venezuela e rio Negro (ambasas margens) até o rio [uruá, e verde de boné azul (P

P e outras ra-ças), dos rios Madeira e Purus até o leste do Peru e Bolí-via. Ao sul do médio e baixo Solimões, no baixo Purusetc., ocorrem populações intermediárias (P

P e P.

. A fêmea é verde com as partes superioresverde-escuras, barriga amarelada e bico anegrado comvariações nas raças geográficas. A vocalização do ma-cho ativo é um trino e um apelo duro. Em altura baíxana mata densa onde realiza curtos vôos sussurantes emvaivéns numa área limitada, participando às vezes doisvizinhos. É substituto geográfico deP. "Dançador-de-coroa-azul -:

UlRAPURU-ESTRELA, Pr. 32, 7

S,7cm. Ocorre apenas ao norte do Amazonas (Ama-pá, norte de Manaus). O branco reluzente da fronte, pos-teriormente realçado por azul, vai até o bico que é claro;a íris marrom não se destacando da plumagem.Uropí-gio de um azul igual ao das borboletas da mes-ma região, que 'expõe levantando as asas pretas. A fê-mea é verde azulado em cima, a garganta branca, o ab-dômen amarelo. o macho animado erigea grava tinha amarela e marca com um "chrrüd-chrrüd(chrrüd)" (fig. 255) rouco e ventríloquo. A cerimônia pré-nupcial consiste em silenciosos vaivéns entre dois ga-lhos, com a ave descendo e subindo a pique, participan-do um ou outro vizinho sem se formar uma cerimôniacoordenada como em P Vive na mata de terrafirme em terreno acidentado, às vezes ao lado deP.e P . "Dançador-estrela*". Veja a anterior.

[DANÇADOR-DO-TEPUI,

9cm. Endemismo dos tepuis guianense-venezuela-nos, antes considerado subespécie de e, eleva-do a condição de espécie autônoma recentemente (Prum1990). Registrada para as fronteiras brasileiras do CerroUei-Tepui, Roraima (Phelps& Phelps 1962) e da regiãodo Pico da Neblina, Amazonas (Phelps& Phelps 1965).]

CABEÇA-DE-PRATA, En Pr. 32, 5

S,Scm. Ocorre apenas ao sul do baixo Amazonas; no-tável pelo barrete fortemente opalescente. Bico bastantegro~so, cinzento-claro, o que caracteriza também a fê-mea, que apresenta o ventre amarelo vivo. marcaC~ni um.bissilábico e rouco"djü-bút" lembrandoi um pio estridente"üi" (alarme). Mata de ter-ra firme, ao lado de P e P . Leste -doPará até o baixoTapajós (Santarém e rio Jamanxim) ealto Xingu, Mato Grosso. "Dançador-de-coroa-pratea-da*". V.as duas seguintes.

DANÇADOR-DE-COROA-DOURADA*,

En Aro Pr. 45,3

7,7cm. Verde, de boné e barriga amarelos (as coresda bandeira nacional) e íris cinza-esbranquiçada.marca com um "tak-út", revelando o parentesco com P

e P . Mata de terra firme, ao lado dee outros piprídeos não congêneres. Alto rio

Cururu (pará); descoberta apenas em 1957. Depois a re-gião não foi mais atingida por um ornitólogo.

Na área de P. coletamos uma fêmea.Tal indivíduo era nitidamente maior do que o machoadulto de P tendo as partes superiores verde-escuras cambiando para o azul, margem do vexilo ex-terno de todas as rêmiges azuladas, garganta e peitoverde-escuros e ventre verde-amarelado. No mesmo lo-cal coletamos um macho verde de (crânioossificado, testículos bem pequenos, lembrando a men-cionada fêmea, e um ninho com ovos. No local, não nosocorreu a idéia de estar lidando com duasespécies de

Posteriormente, na avaliação do material no mu-seu, e aconselhado por Alexander Wetrnore surgiram-nos dúvida~ a respeito, motivo pelo qual descrevemosP (nome que refletia as nossas dúvidas). Apósuma melhor compreensão da situação geral, hoje possí-vel por um conhecimento mais completo da distribui-ção de formas aparentadas, acreditamos que obs-

seja a fêmea e a plumagem imatura de P eque este pertença à superespécie sendo substi-tuto geográfico também de P.n .

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o .5segFig.255. voz para "marcar" espectograma(seg.Prum1985). .

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PIPRIDAE 645

UlRAPURU-DE-CHAPÉU-BRANCO,

8cm. Semelhante a iris, sendo porém mais del-gada (o que é patente no bico e pés), de barrete europí-

gio branco reluzentes, maxila negra e írisesbranquiça-

da; fêmea de partes superiores verde-azuladas, A dife-rença do tamanho dos sexos pode ser grande, p. ex.macho 8,Sem, 6,8g; fêmea 9,2cm, 9,6g; salienta mais agrossura do bico (parque Nacional da Amazônia, Tapa-jós). marca com um "tac-it", "bü-trr". Habita a matade terra firme. Ocorre no alto Xingu, Tapajós e Madeira,atingindo por esse último o Amazonas. Parece que P.

, P. e P. isão substitutos geográficos.[Antes considerado endêmico do Brasil, foi recentementeencontrado na Bolívia (Bateset . 1989).] "Tangará"(Kaiabi, Mato Grosso), "Dançador-de-coroa-de-neve*".

UlRAPURU-VERMELHO,

10em.É bem parecida com a espécie citada a seguir,tanto no colorido como no comportamento; peito escar-late, abdômen negro com vermelho no centro, caudasem faixa branca, porém as bases das rêrniges brancassemelhante a P. e P. so-

marca com "i-a", "wi-ip"; dois machospulando entre dois galhos vizinhos produzem um agudo"click" (som mecânico), quando pousam; emitem outrotipo de música instrumental, após vôo mais longo, ao sedirigirem ao galho-palco, os dois machos se revezam comexatidão. Habita a mata periodicamente inundada e vár-zeas. Ocorrem em ambas as margens dos baixos Amazo-nas e Madeira, litoral do Amapá até a Venezuela."Dançador-vermelho*". V a seguinte e P

UlRAPURU-LARANJA, Pr. 32, 4

10cm. Substituto meridional do anterior e do seguin-te. marca com um "i-a", "ü-it"; quando muito excitado trina um "i,i,i,i,i,i,".Dois machos, um dominante, dançam juntos de costasum para o outro matendo-se abaixados, tremulando eabrindo as asas e a cauda, exibindo assim o branco dovexilo interno das rêmiges e da base das retrizes,sapateiam; etc. Quando um sobe, em vôo rasante:ê pousano galho-palco, produz um surdo som mecânico, "brrr-dlock". Há exibição diversa de um macho solitário(quando um segundo macho está presente num ramovizinho), realiza-se uma mesura em um poleiro flexível,resultando em uma sacudidela do mesmo. Existe aindaum vôo lento de exibição de um poleiro ao outro, reve-lando o constraste magnífico da área branca nas rêmiges.(fig. 256). Habita a floresta ribeirinha e matas adjacen-tes. Ocorre nos tributários meridionais doAmazonas atéo Peru, Bolívia, altos rios Paraguai e Paraná, Maranhão,Goiás, Minas Gerais e Ceará. "Dançador-laranjat". V. aseguinte.

RABO-DE-ARAME, Pr. 32, 13

10,5cm, com mais 4,5cm para as alonga das pontasdas retrizes, as quais se assemelham a cerdas. A caudanão tem apenas uma função visual (não é enfeite), servetodavia como órgão tátil: uma escova com que os com-panheiros se tocam na garganta durante as danças quese assemelham basicamente às de P. eP.Com estes, que se aproximam bastante no colorido,

d compõe uma superespécie (Schwartz& Snow1979). Ocorre dos rios Negro e Purus para o oeste,Venezuela, Colômbia e Peru; margem direita dos baixosSolimões e Purus, onde começa a área de P. noalto Purus e Juruá substituída por cii . Estaespécie esteve por muito tempo incluída no gênero mo-notípico "Dançador-de-cauda-fina*".

SOLDADINHO, Pr. 32, 14

13,9cm.É uma das espécies notáveis do Brasil cen-tral, de aspecto diverso pelo grande tufo frontal e pelacauda longa. A fêmea é verde-escura com topete apenasesboçado. cerimônias: bastante loquaz, marca comforte e sonoro" gla-ü"; estrofe composta" quüa-qua, qua,qua" etc.; alguns machos perseguem-se gritando "trrra";o macho dirige o topete para a frente cobrindo o bico.Éde índole extremamente briguenta. Sobem às copas, deonde partem em vôos de 80 a 100 metros para outrasárvores altas. Habita a mata de galeria, capões, mata emterreno pantanoso, buritizais. Seu ninho e seu cruzamen-to com confirmam ser a ave mesmo umpiprídeo e não um cotingídeo como sugerido. Tem umadistribuição peculiar. Ocorre do Maranhão, Piauí e Bahia

a Mato Grosso, Goiás, oeste de Minas Gerais, Paraná eParaguai. No nordeste paulista (p. ex. em Pirassunungae Campinas) na mesma área de , como qual ocasionalmente híbrida-se (v.sob esse último); avoz forte e o aspecto geral podem sugerir um Cotingidae,tem certa semelhança "Testudo" (SãoPaulo), "Manaquim".

TANGARÁ-FALSO,

- 12cm. Substitui no norte do país;é de rabo não-alongado, plumagem negra com o dorsoazul-celeste e topete prolongando-se em dois cornos ori-entados para trás. Plumagem do imaturo (v.Introdução).

, marca com umfortíssimo "uít-uít", quando se torna mais animado passapara um gargarejo "kua-ka-ka", depois para um sonoro"tjõrr-tjõrr": em seguida procede a "dança": associam-se dois machos, em plena harmonia, no galho-palco, umagacha-se, o outro pula verticalmente ao ar, adeja uminstante sobre o companheiro que o olha, depois voltaao galho, enquanto o outro alça vôo para executar a mes-ma cerimônia, dando ao conjunto a impressão de uma

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646. ORNITOLOGIA BRASILEIRA

roda girando lentamente; a homogeneidade desse pro-cesso é salientada por um ronronar (gritar) rítmico;duetando; finalmente, durante o vôo de um dos partici-pantes, que termina a demonstração, ressoa um estri-dente "tic-tic" (Xingu, Mato Grosso, 1947). Ocorre umronronar intenso que pode durar minutos: os dois par-ceiros pousados rente um ao outro duetando com bas-tante sincronização (a estrofe não é homogênea). Constaque na presença de uma fêmea a cerimônia é diferente:o macho voa silenciosamente ao redor da fêmea, numvôo flutuante, pousando a curtos intervalos, seguindo-se finalmente a copulação no galho-palco (Snow 1963,Trinidad). Habita a mata deterra-firme e a mata ribeiri-nha. Ocorre das Guianas e Venezuela à Bolívia, norte deMato Grosso e Maranhão.Alagoas, Pernambuco, Paraíbae no Sudeste: sul da Bahia ao Rio de Janeiro. "Cabeça-encarnada", "Tangará" (Pernambuco), "Uirapuru"."Tangará-de-costa-azul'". V. a seguinte.

TANGARÁ, DANÇADOR,

Pr. 32, 10

13cm, adicionando-se mais 2cm ao prolongamentodas retrizes medianas. Pássaro muito mencionado no Su-deste devido às suas danças. A fêmea é verde-escura,reconhecível por ligeiro prolongamento da cauda: podeter testa cor de laranja (Willis& Oniki 1988). Como foiregistrado em cativeiro (Assumpção 1985) os machosnovos, logo após terem abandonado o ninho, criam umboné cor de laranja que apenas durante o segundo in-verno (ou mais tarde ainda) passam para o vermelhodefinitivo. O machodominante ("Alpha") marca com forte "drüwed", cha-mando companheiros e fêmeas. Desenvolve-se então acerimônia mais bem coordenada. Dois a três (às vezesseis).machos formam compacta fila movediça no galho-palco, de preferência um galho oblíquo, todos voltadospara uma mesma direção (fig. 257), baixam e tremulamo corpo e marcam passo, deslizando para cima em dire-ção a um indivíduo verde (fêmea ou macho imaturo, v.Introdução) q"llepousa ao lado, imóvel, em atitude ere-ta, com a cabeça levantada, olhando. Quando a fila seavizinha ao espectador calmo, o macho mais próximo aele pula no ar, líbrando-se nas asas, adeja por algunsinstantes à frente e um pouco acima do exemplar imó-vel, os pássaros se olhando, depois coloca-se no extre-mo oposto da fila, virando para o lado de onde veio,integrando de riovo a turma dos sapateadores. Logo apóso segundo macho, que no meio tempo se aproximou,sapateando, do espectador calmo, executa por sua veza mesma operação e coloca-se depois ao lado do pri-meiro, no fim da fila. Assim procedem os demaisenfileirados, até que todos tenham desempenhado o seupapel, recomeçando eventualmente como primeiromacho. Este ritual é acompanhado pelos constantes gri-tos dos dançadores: um surdo "tiú-u.u.u tiú-u.u,u ..." que

se funde num ronronar ondulante monótono. No come-ço o compasso é lento, tanto os movimentos como asvozes.À medida que se aproxima o fim da roda, o ritmotorna-se mais veloz, os pulos tornando-se mais baixos.O último indivíduo, que alça vôo e depois termina oespetáculo definitivamente, esvoaça em plano mais altoe por mais tempo sobre o espectador, bate mais rapida-mente com as asas, patina no ar de dorso arqueado, vol-ta as costas à fêmea e agita a cauda, emitindo no fim umagudíssimo "tic-tic-tic". Depois se empoleira acima doespectador, principalmente se esteé uma fêmea, numgalho mais alto ou no tronco da arvorezinha em ques-tão, voando para lá com um arranco que lembra o pulofinal de O penetrante "tic ..." marca o términoda cerimônia: os outros machos abandonam imediata-mente o palco, fica apenas a fêmea. Aparentemente omacho que finaliza a cerimônia,é o indivíduo dominantedo grupo, é o que manda. O ritual demora normalmen-te uns 30 segundos, mas pode prolongar-se por espaçode dois minutos.

Poucos minutos mais tarde a dança recomeça. Todaatenção é atraída pelo barrete cor de fogo arrepiado, exi-bido de cabeça inclinada para a frente, permitindo veras bases brancas das penas. O ritual pode variar e come-çar pelo último macho, que está no final da fila, que vo-ando, pousa depois, ao lado da fêmea (Sick 1959a).Quan-do há muitos machos, forma-se àsvezes uma fila de cadalado da fêmea, com alguns machos querendo adejar aomesmo tempo, tudo terminando em confusão. Quandonão há uma fêmea, um macho pode pular sobre o outro.Acontece de apenas dois machos dançarem associados,assemelhando-se então a demonstração à "rodagírató-

I.. .

Fig.256. [asciicauda, exibindo-se,passando emvôo lento de um galho ao outro (seg.Robbins 1983).

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PIPRIDAE 647

Fig. 257. Tangará,Chiroxiphia ,três machos (1, 2, 3) dançando diante deuma fêmea imóvel que pode sersubstituída por um macho jovem(verde). Esquema.A-K, os três machos,um após o outro, chegam a alçar vôopara adejar defronte da fêmea, processomuito regular, lembrando uma rodagirando. O triângulo, adicionado aocírculo que simboliza os machos nacoluna esquerda, indica o bico. Asquatro figurasà direita dão pormenoresdas fases, B,C, D e E. A, dois machos (1-2) ao lado da fêmea (o), prontos paradançar. Um terceiro macho (3), recente-mente chegado, ainda não se enquadrouà fila dos dançadores. B, formaçãocompleta da fila, os três machos, viradostodos para o mesmo lado, sapateando eronronando. C, o primeiro machodecolou para o vôo de parada defronteda fêmea. D, o primeiro macho volta aogalho, enquanto o segundo macho,iniciando agora a fila, se prepara para ovôo de parada. E, os três machossapateando e ronronando, como em B,mas os machos trocaram o lugar. F,osegundo macho decolou para o vôo deparada. G, o segundo macho volta aogalho, enquanto o terceiro macho inicia afila. H, o terceiro macho decolou para ovôo de parada. I, o terceiro macho voltaao galho, enquanto o primeiro machoinicia a fila, como em A-B.K, os trêsmachos sapateando e ronronando, sendoa posição individual de todos eles amesma como em B.Original, H. Sick.

E

ria" realizada por . Pode ocorrer umvôo flutuante do macho ao redor da fêmea ainda pousa-da calmamente. Após a dança, ou antes dela, o machoàs vezes persegue uma fêmea, emitindo uma série de"trrrrs". Nunca vimos sequer uma cópula no palco. Exis-te outro ritual que antecede a copulação: a cerimônia deacasalarnento, muito bem descrita por A. Assumpção'f:"Uma fêmea sai de sua quietude habitual e desloca-seentre a rama ria, debruçando-se nos ramos para frenteou para trás com o corpo arqueado para cima e a cabeçainclinada sobre a nuca. A cada mudança de posição háum curto e rápido deslocamento sobre o ramo, repeti-damente - até um macho adentrar o local passando a

cortejar a fêmea, seguindo-a e executando em conjuntoa mesma coreografia, sempre mais rápida, os dois seaproximando, Se mais machos se acercam, cada um faza sua parte, sobressaindo-se no acasalamento aquele quepor fim definir a sua liderança." Acrescenta Assumpçãoque essa cerimônia a dois' de C. pode lembrar ocerimonial de C. .

Nos intervalos mais prolongados das danças,0$com-'ponentes de um grupo, sentados tranqüilamente, afas-tados uns dos outros, lançam de vez em quando gorjei-os diferentes. A espécie dispõe de um assobio Jj.e adver-tência: "dwüd", "dwüod", É óbvio que há excesso con-siderável de machos.

45 Armando Assurnpção, ornitófilo paulista, possuía um grande viveiro que irnitava o hábitatnatural, com 20machos e 5 fêmeasde C. que alí se reproduziram. De 1965a 1967comunicou-nos suas observações mais interessantes.

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648. ORNITOLOGIA BRASILEIRA

Habita as matas densas do sul da Bahia e de MinasGerais até o Rio Grande do Sul, Misiones e Paraguai.No norte da sua área (Espírito Santo) restrita ou maisdifundida nas montanhas, parece que não se encontracom a qual substitui no Sudeste; érepresentada no noroeste do continente por

e na América Central porHá boa descrição do bailado depelo padre Fernão .Cardim, contemporâneo

de Anchieta (século XVI). "Dançarino" "Canto-de-ma-caco", "Pavãozinho" (Minas Gerais), "Ticolão"."Tangará-dançarino*". No nordeste de São Paulo ocor-re às vezes nas mesmas matas que o apare-cimento ocasional de um "rei-dos-tangarás", naquelaregião, refere-se a híbridos entre as duas espécies (Sick1979, v. também sob Relações interespecíficas).

TANGARAZINHO, En Pr.32,11

12,8cm, incluindo o prolongamento, da cauda vira-da ligeiramente para cima, ao contrário da precedente.Endemismo importar. te do Sudeste. A fêmea é verde, decauda um pouco prolongada. ce-

marca com estrofe descendente tão finacomo a de um beija-flor, bí-bi-bi-bibibibi". O macho seexibe sozinho nas copas de grandes árvores, aprovei-tando como palco um galho grosso, desembaraçado devegetação epífita ou em cativeiro, uma tábua, p. ex. de5cm x 80cm; voa em sentido longitudinal ao longo dopalco. No ponto de partida o macho se agacha, de asasum pouco caídas, a cauda meio levantada, deitando opeito na madeira, a garganta quase tocando no substrato,sendo visível então uma pequena mancha branca de cadalado do baixo dorso; nessa posição de vigilância perma-nece alguns segundos, como que se concentrando. Desúbito, alça vôo com a maior rapidez, levantando-seaproximadamente 30cm acima do palco, produzindofortíssimo "prrrrák", ruído semelhante ao de uma ben-gala passada sobre uma grade de ferro; supomos quefaça uma cambalhota (Sick 1967). Pousando no fim da"pista" vira-se para a direção de onde veio e logo aga-cha-se de novo no galho, pronto para voltar no mesmo

. trajeto (Y. e Introdução). Estimulante para essafaçanha é o aparecimento de outros indivíduos da espé-cie. O matraquear deve ser produzido pelas primárias

Fig.258.Cerimônia solitária deI1ic i s. Num limpo ga-lho grosso,executa um pulo-vôoaté o fim da pista, produzindo nomeio da trajetória um fortíssimo"prrrrák". OriginalH. Sick.

externas, reforçadas, implantadas de modo especial, deonde deve provir também o intenso sibilar que o machoadulto faz ouvir durante qualquer vôo; pode, porém,voar silenciosamente quando quer.É comum algunsmachos se perseguirem. Habita as matas da Serra do Mare Mantiqueira: sul daBahía, Espírito Santo, Minas Ge-rais a Santa Catarina, também no ex-Estado da Cuana-bara. "Estala dor" (Minas Gerais).

DANÇARIN0-DE-GARGANTA-BRANCA ".

8,6cm. Negro, garganta branca.Ce o macho,abaixando-se num tronco caído, erige o bico verticalmen-te, exibindo o branco berrante da sua garganta; em vôoaparece outra área branca nas rêmiges; ocorrem vôosrápidos em vaivém, depois abaixa a cabeça e tremulacom as asas; não há cooperação dos machos (Davis 1949,Prum 1986). Ocorre na Serra do Navio (Amapá), nortedo rio Amazonas, Guianas e Venezuela.

Fig.259.Rendeira, n cus cus,macho adulto

RENDEIRA, Fig. 259

llcm. É inconfundível, desperta a atenção o rumorcrepitante que se ouve sem ver o pássaro; é de vasta dis-tribuição. Colorido branco e preto, destacando-se a gran-de barba, pernas altas com forte musculatura, tarso de

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PIPRIDAE 649

viva cor-de-laranja: a fêmeaé verde, reconhecível pelomesmo aspecto e pelas canelas amarelas.

Voz bastante variada,o grito mais forteé um penetrante "sziãrr". O mais no-tável entre os ruídos mecânicos é o crepitar, já mencio-nado na introdução. As rendeiras dispostas a dançar jun-tam-se em pequenas turmas na rama ria se entregam aum jogo confuso de gritar, grasnar, sussurrar com as asas,estalar etc ... De súbito um dos machos se afasta do gru-po e ocupa seu palco particular por perto 'rente ao solo:espaço aproximadamente triangular de cerca de 80cmde lado (fig. 260). O macho põe-se a saltar de uma varetavertical à outra, tocando dois a quatro pontos fixos, dosquais o último fica perto do primeiro. O ritmo de todosos atos do bailarino solitário é fortemente acentuado pelodito crepitar, que ressoa como estalos de metrônomo,soando a cada salto, tanto mais nítido e excitante por-que vem agora sem o sussurrar das asas: a ave apenaspula, não voa. No penúltimo salto o pássaro vai ao soloe de lá sobe verticalmente, num arranco mais violento,misto entre pular e voar, para alcançar um determinadopoleiro mais alto, produzindo um zumbido sonoro, lem-brando o ruflar de asas de certos beija-flores, e aí termi-na. Após breve intervalo repete a apresentação, no mes-mo sentido (horário ou anti-horário) ou não. A correntede ar causada pelos movimentos do pássaro acaba porvarrer o solo; a rendeira carrega grave tos e folhas seca:s,limpando completamente o terreiro, que assim torna-se

Fig.260. Rendeira, palco comcincoestações, a quarta no solo que se tomou varridopelos movimentos bruscos das asas do dançador. Em'frente um macho da vizinhança, dono de um outropalco, olhando com interesse a dança solitária dovizinho. OriginalH. Sick.

visível de longe. Quando há disposição, os machosvizinhos também se instalam nos seus palcos, resul-tando verdadeira explosão de atividades, um estimu-lando o outro.

Habita a mata e capoeira, na Amazônia, na terra fir-me é abundante. Ocorre das Guianas e Venezuelaà Bolí-via, quase todo o Brasil, para o sul até o sudeste de MatoGrosso, Santa Catarina, Paraguai e Misiones. "Atangará-tinga". "Rendeira-branca"". O nome "rendeira" deriva-se da semelhança dos estalos, produzidos por sdurante a dança, com aqueles que se ouvem na confec-ção de renda na almofada de bilro. Evoluíram váriasraças geográficas, no Brasil são nomeadas seis, p. ex.,

, de barriga cinzento-ardó-sia (em vez de branca) no Brasil este-meridional: da Bahiaao sudeste de Mato Grosso e Santa Catarina.

UlRAPURU-CIGARRA,

.s

7,6cm. É parecido com a espécie mencionada a se-guir, ainda menor, vértice amarelo com centro escarlate(nos M. o píleo é todo vermelho), dorso pardo-avermelhado (em vez de verde). i s ções sono s,

marca com metálico "ting" de longo-alcan-ce, que soa como o canto de uma cigarra. O macho exi-be-se dependurado, emitindo um sussurar,"z.s.s.s.s.s.s ...", semelhante ao zumbido de um gafanho-to (Locustidae) ou de urna cigarra, ruído parecido como produzido por opte gulu muda tambéma posição no galho, chama a atenção por ostentar urnasérie de manchas negras em forma de olhos, que se des-tacam sobre um campo cinzento-claro de emolduraçãoconvexa, na asa. Seu vôo tem forte som de guizo, po-dendo lembrar o ruído que um grande besouro da re-giãofaz, voando, batendo os élitros. Habita as copas damata alta. Ocorre da Amazônia para o sul até o rio dasMortes, Mato Grosso, e o rio das Almas, Goiás; Amapáe Maranhão. "Dançarino-perereca"". V a seguinte.

Fig.261. Tangará-rajado, h opt us egulus,ummacho se exibindo adiante de um outro macho (seg.Sick1959).

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650 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

~ Hetllrocercus~ lIunmtiivertllx

~ fl6V;vertllx

rnsm "teterocercU$~/Jnte.tU5

o l000km

TANGARÁ-RAJADO,

Pr. 32,2 .

8,6cm.É um pássaro pequeno, que facilmente pas-sa despercebido quando não se conhece sua voz. Ossexos semelhantes, a fêmea é de píleo verde, corres-pondendo ao resto do lado superior.

marca com um nasal "gâe": ana-lisado de perto torna-se evidente que este pio é com-posto de dois tons, emitidos ao mesmo tempo: umalto, 6 já mencionado"gãe", e um baixo que soa como

, que poderia ser a voz de uma diminuta coruja.O macho, na fase de exibir-se, agarra-se a um finoramo vertical, ficando suspenso de lado, com a cabe-ça para baixo, produzindo um zumbido semelhanteao da espécie precedente, levando5 a 20 segundos,estremece com as asas, espalha e sacode a cauda epratica rapidíssimas mudanças de posição que dão aimpressão da ave estar virando uma cambalhota emvolta do poleiro. Espalha e joga para frente o topetevermelho. Estão presentes dois, às vezes mais,' ma-chos. Habita a mata tropical emaranhada. Ocorre daBahia ao Rio de Janeiro e extremo oeste do Brasil (rio[avari, médio Solimões), daí até o Peru e a Venezuela."Atangará", "Dançarino-rosado+".

Fig.263. Distribuiçãoda superespéciece (seg.Haffer1985).

PRETINHO,

12,2cm. Negro uniforme, bico cinzento-claro de pon-tinha negra; a fêmea lembra a de vários outros piprídeos,é verde-escura, bases das penas negras., ce ôvoz fraca, "bit-bit", forte "zit-krr-krr-krr": alguns ma-chos perseguem-se gritando de modo penetrante "ikâ ...",Habita a mata de terra firme, encontra-se na transiçãocom a mata inundável às vezes com o tiranídeo

cujo macho é parecido mas secomporta de maneira diversa e cuja fêmea é diferente.Ocorre das Guianas e Venezuela ao alto Amazonas eAmapá até o alto Xingu, norte de Mato Grosso. "Uraí-um" (Kaiabi, Mato Grosso),"Dançarino-preto=",

DANÇARINü-OUVÁCEO*,

13,8cm. Encontrado apenas na divisa BrasiljVenezuela, verde, lembrando is, porém de gar-ganta acinzentada, asa 'sem pardo. Cerro Uei-tepui(Phelps& Phelps 1962).

... I

ENFERRUJADINHO, Pr. 33, 3

9,9cm.É uma espécie amazônica pequena, lembran-

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PIPRIDAE 651

do o tiranídeo porém de bicomais fino e sem cerdas; o meio do píleo é amarelo (ma-cho) ou vermelho (fêmea). Encontramo-lo no Cururu nascopas da mata baixa e seca. Ocorre da Guiana eVenezuela ao Peru, Madeira, Tapajós, Cururu (Pará) eAmapá. As relações filogenéticas não foram aindaesclarecidas. "Dançarino-ferrugem "",

COROA-DE-FOGO,

Pr. 32, 12

13,8cm, 24g. Representante grande da família, de as-pecto singular, cauda larga, graduada; a fêmea sem acrista encarnada, cabeça olivácea, lado inferiorpardacento. marca com agudo "pit-iü".Quando se exibe, estica as penas alvo-reluzentes dagarganta para os lados, como bigodes; alguns machosperseguem-se gritando"psiã", Habita a mata ribeiri-nha inundável, escura. Ocorre ao sul do Amazonas,do Xingu, Mato Grosso, até o Peru. "Tangará"(Kama iu rá, Mato Grosso). "Dançarino-coroa-de-fogo*". V. a seguinte. .

Fig.262.Coroa-de-fogo,Hete /inte , machoadulto, ostentandoseubigode branco resplandecente(seg. Sick1959).

DANÇARING-DE-CRISTA -AMARELA ".

[14cm] De crista amarela ao invés de encarnada comoem H. linte [Habita preferencialmente as matas deigapó da drenagem do Negro e Branco (Amazonas eRoraima), com registros esparsos para leste até o baixoTrombetas. Também na Venezuela e Colômbia.]

[FRUXU-BAIANO, En Am

9-10cm. Recentemente separada da forma sulina emontícola N. so com base em evidentes dife-renças na vocalização, morfologia externa e hábitat(Whitney et . 1995). Restrita a Mata Atlântica entre aregião do recôncavo baiano, leste de Minas Gerais e asencostas baixas da Serra do Mar em Cachoeiras deMacacu, a nordeste da cidade do Rio de Janeiro. No li-mite sul de sua área ocorre em parapatria altitudinal coma forma sulina. N. sensu não possui a

-

conspícua coroa amarela-brilhante que caracteriza a for-ma do sul, apenas esboça algumas penas levemente dou-radas ~a região do vértice.]

FRUXU, e chrfsolophum En Pr. 32, 9

13,3cm. O aspecto e o colorido lembram i gis e(Tyrannidae) faltando-lhe, porém as faixas cla-

ras transversais nas asas e as bordas claras das rêrnigese coberteiras das asas; a fêmea é parecida, tendo menosamarelo no vértice; íris pardo-amarelada, ao contráriodos tiranídeos que têm a íris castanho-escura. c i-

s omacho sozinho, pousado a pouca altura, emi-te estrofe chiada de 3 a 4 sílabas, "tjüp-tjüp-tjip", "tjak-tjak-tzirrü-tjak", Vive na mata espessa, no Rio de Janei-ro, restrito às montanhas (Teresópolis etc.). Ocorre nosul de Minas Gerais ao sul de São Paulo.V a espécieadiante descrita echi scens."Fruxu-serrano=",

FRUXU-OO-CERRAOÃO*, scens

14cm. De aspecto semelhante ao da precedente, ten-do porém, o bico bem maior; a íris amarelada, gargantarajada e. cerimônia pré-nupcial mais elaborada. ni-e s, ce ô O macho embora solitário,dá um pulo vertical, exibindo o vértice sempre extensa-mente amarelo-enxofre e bate as asas"dop-dop" (soan-do como o martelar de um pequeno pica-pau),retomando depois ao poleiro quando grita roucamente"hã-gã-gã",lembrando essa voz o chamado de

. Pula às vezes sem bater as asas (p. ex. Teles Pi-res, Mato Grosso). Pode sacudir a folhagem quando pulaperto da ponta de um galho (Kuluene, Mato Grosso).Advertência: grito forte "wâd-wãd-wãd", como umaperereca. Habita a mata e o cerradão. Ocorre de MinasGerais e São Paulo até o Tapajós e a margem norte dobaixo Amazonas, Maranhão à Bahia. [Antes considera-do endêmico do Brasil, foi recentemente encontrado naBolívia (Bateset

FRUCHU-OO-CARRASCO*,

[13cm] Semelhante a N.p llescens,inclusive. ne e -bição pré-nupcial (pular e adejarsobre o poleiro: estrofede 3 a 5 sílabas). [Ocorre basicamente na drenagem doNegro e localmente em campinas ao norte do Amazo-n~s. Também na Colômbia, Venezuela e Guianas.]

FRUCHU-OE-BARRIGA-AMARELA ".

sulphu ente

[13-13,5cm. Habita as florestas de várzea, ribeirinhas etransicionais do sudoeste da Amazônia. Assinalado parao alto Juruá (Gyldenstolpe 1945) e noroeste do Mato Gros-so (localidade tipo). Adicionalmente no Peru e Bolívia.]

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652' ORNITOLOGIABRASILEIRA

",,, ..,

" l1 'I' " I., ,\ -

Fig. 264. Uirapuruzinho-do-norte,macho executando movimentos laterais da

cabeça (seg. Snow 1961).

UlRAPURUZINHO-DO-NORTE,

7cm, 7g.É o menor representante da família.É pare-cido com a espécie citada a seguir, porém com mais ama-relo no vértice e a cauda curta, rígida,.que provavelmenteproduz o trinado agudo mecânico que ocasionalmentese ouve durante seus vôos de exibição.O pássaro solitário marca assiduamente com uma es-trofe tri - a tetrassilábica descendente, "wídje-bü", "zü-düdüdü", cujo volume faz esperar uma ave maior; àsvezes executa um vôo adejante, como o de uma borbo-leta, de corpo e cabeça erguidos, topete em pé, pernaspendentes, passando de um galho para outro; quandopousa entre tais vôos mantém-se bem ereto e faz movi-mentos lentos, laterais, com o pescoço, olhando fixamen-te para a frente (fig. 264). Habita a mata alta. Ocorre doAmapá ao rio Negro, Venezuela e Guianas. "Didisupi?".

UlRAPURUZINHO,

Pr. 32, 8

Scm. É parecido com o anterior, podendo ter ou nãoum pouco de amarelo no vértice, sexos semelhantes, afêmea é maior. fraco bissilábico "dü-plüp": vocalizapousado só num galho de árvore frondosa, como o pre-cedente; às vezes emite uma série.de "djüid ...", respon-dido pelo vizinho que "marca", distante, ao alcance davoz. Ocorre da Venezuela e do rio Negro até o Peru,Bo-lívia, Mato Grosso (alto Xingu), leste do Pará e Mara-nhão. É o substituto geográfico de . "Supi*".

g

Antas, P. T. Z.& S. L. R. Leeuwenberg.1987. s 1II l oeo 105-106. , reprodução)

Assumpção,A. 1985. 5:1-4, 16. c d , dança)

FLAUTIM, Pr. 33, 4

15,6cm. Pássaro do Sudeste, verde-oliváceo escuro,asas e cauda pardas. , Estrofe um tanto con-fusa e pouco sonora, geralmente no começo um acentotípico "tzü-tzüít-tzü-tzü": "tziü-tje-delüd", "tiu-tiu-brutui": emitido por um macho pousado sozinho, a pou-ca altura, em capoeira espessa; gosta de poleiros verti-cais. Ocorre da Bahia e Minas Gerais ao Rio de Janeiro(Itatiaia), ex-Estado da Guanabara, Rio Grande do Sul eGoiás (Anápolis), Paraguai e Misiones; no Espírito San-to habita apenas as montanhas. A voz lembra is

(que é seu substituto setentrional) eO comportamento, nidificação e também a alimentação(v. S. de fogem do padrão dospiprídeos; tendemos, até certo ponto, atribuí-lo aos co-tingídeos. V. e a espécie adiante mencionada.Recentemente foi proposto retirar nis dosPipridae eassociá-loa cinco outros gêneros de identifi-cação difícil: e (Cotingidae) e

, e (Tyrannidae) (Prum& Lanyon 1989). "Plautim-verde?".

FLAUTIM-MARROM*,

Até 17,7cm (Espírito Santo), na própria Amazôniaé menor (16,5cm). Semelhante à anterior, localmente(p. ex. Espírito Santo) de cor pardo-olivácea uniforme.

chama muito a atenção, estrofe clara trissilábica"dü-düit-düi" (canto), que quando imitado atrai imediata-mente o pássaro;"teré-tete" (advertência). Come gran-des lagartas cabeludas e frutas com caroço volumoso.Ésolitário como o precedente; o macho não se importacom o ninho (sobre isto v. Nidificação). Ocorre em todaa Amazônia e Brasil oriental, em mata amazônica até abaixada quente ao norte do rio Doce, Espírito Santo ebaixadas do Rio de Janeiro; até a América Central e oMéxico.

FLAUTIM-RUIVO*,

15,6cm. Todo ferrugíneo, às vezes de píleo cinzento,lembrando . [Restrito às florestassazonalmente inundadas da Amazônia, onde habita osub-bosque. No Brasil, desde os limites ocidentais até obaixo Tapajós, incluindo os igapós da drenagem do Ne-gro. Também na Venezuela, Colômbia, Equador, Peru eBolívia.] .

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- l r

Page 155: Ornitologia Brasileira - Helmut Sick 2ed-03

654 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

ARAPONGAS, ANAMBÉS, GALO-DA-SERRA e afins: FAMíLIA COTINGIDAE (37)

Aves tipicamente neotropicais, uma das mais famo-sas famílias sul-americanas devido à exuberância de suasformas e cores, correspondendo, até certo ponto, à bele-za das aves-do-paraíso da região australiana. Tambémtêm comportamento notável. Ocorrem do México aoBrasil meridional, norte da Argentina e Bolívia; atingemsua maior diversidade na Amazônia. Até o momento sedesconhecem os fósseis; aparentados aos Tyrannidae ePipridae.

Consta que os Cotingidae ostentam certas afinida-des com os peculiares Eurylaimidae, Suboscines do Ve-lho Mundo; os quais são, talvez, os Passeriformes maisprimitivos existentes atualmente.

De aparência bem heterogênea. O porte em geral émédio, existindo, porém representantes avantajados

que superam mesmo as gra-lhas (Corvidae); regula quase com ogralhão Falconidae), que às vezesé seu vizinho. Alguns Cotingidae estão entre os maioresPasseriformes do Globo; em contraposição existem es-pécies bem pequenas (p. ex. e

Possuem cabeça larga, bico forte, boca e asas gran-des e largas; em torno do bico às vezes aparecemvibrissas (p. ex. em e . Aspernas são curtas e os pés adequados a pousar comoda-mente em galhos; as espécies grandes como

e têm possantes eafiadas garras.

Na estrutura da plumagem é notável que emas pulviplumas (penas de pó) sejam bem

desenvolvidas. Esse tipo de pena, raro em Passerifor-mes, ocorre também em (pouco), mas em.emgrande quantidade noConioptilon A pluma-gem assim empoeirada (v. o papagaio-moleiro,

é um caráter singular.Baseado em grande número de cotingídeos

taxidermizados, Snow (1976) identificou a coincidênciade muda e reprodução (que em outras famílias normal-mente se excluem) com a maior fartura de alimento, queocorre, em geral, pelo fim da época seca.

e são quase que completa-mente vermelhos, amarelo vivo. Surpreenden-te é a ocorrência da cor branca em larga escala em espé-cies silvícolas; é uma das poucas aves domundo não marinhas inteiramente brancas;tem asas brancas, com notável contraste de encontro àfloresta verde, estando, ao lado da arara-vermelha, en-tre as aves que mais despertam a atenção quando sobre-voa a hiléia a pouca altura; quando vista de encontro aum céu nublado, branco muito luminoso, tão comum

nos trópicos, a araponga torna-se quase invisível, tal equal uma ave branca na neve.

É comum os Cotingidae terem a garganta brilhante-mente colorida (p. ex. e aspenas às vezes são "endurecidas", o que amplia a refle-xão da luz; estrutura peculiar têm as penas guIares de

Não faltam espécies de roupagens sombrias (p.ex.

As análises das cores das penas de Cotingidae ofere-cem certas dificuldades. Assim, chegou-se ao ponto dedar o nome de "kotingin" para o violeta deCoting , oqual, segundo consta, compõe-se de azul (efeito da re-flexão da luz em uma estrutura esponjosa, não sendodevida à pigmentação) e de um pigmento carotenóidevermelho. Das penas de s extraiu-se arodoxantina, pigmento conhecido de vegetais; a coralaranjada viva de peruviana deriva-se dazeaxantina, pigmento encontrado no milho, edesbota rapidamente tanto em espécimens empalhadoscomo em aves cativas, embora possa ser recuperado,neste último caso, fornecendo-se ao pássaro comida comdoses de cantaxantina. destaca-se por suasformas bizarras, apresentando uma longa "gravata" eum grande topete que lembra um pequeno guarda-chu-va Duas espécies de portam pro-tuberâncias filamentosas na cabeça que se assemelhama estranhos vermes; o lindo tufo lilás do macho de

escondido por debaixo da asa do pássaro, éexibido pelos indivíduos excitados, o que lembra os

(Thraupinae) que exibem a face inferior(branca) de suas asas.

Outro ponto culminante na evolução dos Cotingidaeé a substituição da plumagem por zonas de pele nua, àsvezes vivamente coloridas, privilégio dos machos adul-tos de e, mais acentuadamente, nos de

e e lcdoplesão notáveis por suas plumas produtoras de pó, casoraro em Passeriformes. Os sexos podem ser diferentes,a fêmea geralmente é menor (p. ex. em ,

e Enquanto as fêmeasde e C. são bem menores,-cFfê- -.mea de C. tem asa mais comprida que o ma-cho; ainda é preciso descobrir as razões funcionais des-sas e outras particularidades morfológicas. AsCotinsão suspeitas de apresentar nessa particularidade maisum meio sofisticado de produzir música instrumental,v. Manifestações sonoras.

Após a plumagem neóptila, e usadquirem, ainda no ninho, uma plumagem diversa daadulta. toma-se toda manchada de preto e bran-co, enquanto passa a um branco-acinzentado que se assemelha ao de um filhote de .A obtenção da plumagem adulta dá-se, no macho de

I-..,

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COTINGIDAE 655

apenas no terceiro ano de vida; du-rante as mudas anteriores surgem penas brancasmarmoreadas de cinzento, parecendo quase intermedi-árias entre o padrão do jovem e do adulto; a gargantatorna-se meio nua já no primeiro ano.

A 'definição dos Cotingidae foi recentementereexaminada, baseando-se na estrutura da siringe (Ames1971) e caracteres taxonômicos em geral (Snow 1973b);recomendou-se a transferência de cinco gêneros

e para a fa-mília Tyrannidae, recentemente também

e (Traylor 1979).Aexcelente monografiados Cotingidae de D. W. Snow (1982) traz o quadro me-lhor elaborado. Pesquisas recentes (p. ex. Prum& Lanyon1989) levaram a outras pequenas alterações. Nossas ob-servações confirmam que o problema é complexo; ava--liando-se as aves vivas nota-se, em várias espécies, umacombinação de caracteres de tiranídeos e de cotingídeoso que, aparentemente, dá-nós a sugestão da existênciade gêneros intermediários; obviamente uma seqüêncialinear não basta para representar satisfatoriamente esteintrincado parentesco.

Incluímos (posto até o momento em fa-mília monotípica) e (o qual é geralmente alista-do nos Pipridae) nos Cotingidae; Ames (1971) conside-ra a siringe de semelhanteàdea qual, por sua vez, aproxima-seà dos tiranídeos, o quevale também para consta queigualmente a siringe de aproxima-se aosTyrannidae. Igualmente difícil é uma avaliação de

(Prum & Lanyon 1989). Incluímos nosCotingidae também os óalos-da-serra, . Excluí-mos e v. sob Tyrannidae.

Os gritos dos machos dos Cotingidae (o que corres-ponde ao canto) são múltiplos e emitidos incansavel-mente durante a quadra reprodutiva; fora dela geralmen-te são silenciosos, embora algumas espécies (p. ex.

possam ser ouvidas o ano todo. Vários podem en-toar asso vios extremamente finos e puros, como e

tipo de vocalização existente também emaves classificadas (pela estrutura -da siringe)êõfft:õtiranídeos (p. ex. . Os assovios altíssimos da

assemelham se aos pios dos saguís,sp. O canto de um grupo de é melodioso e rít-mico.Iernbrando remotamente o de (Bucconidae)ouvido à distâcia; os machos cantam uma es-pécie de dueto; seus "socos" têm alcance de mais de doisquilômetros. Tais manifestações sonoras atingem o seupináculo no vozerio da araponga, que está entre asmaisfortes vozes de aves do mundo. é ogritador mais persistente da hiléia, dominando acusti-camente as matas onde vive, merecendo, seus assovios,o título de "voz da Amazônia", repetido nas matas ama-

zônicas ao norte do rio Doce, Espírito Santo., e possuem

vozes profundas que lembram mugidos de boi; aumen-tam o volume de suas emissões graças a uma extensãoda parte anterior da traquéia e da faringe as quais sãoextensíveis, lembrando disposição de certos anatídeos.A araponga é detentora de uma siringe muito musculo-sa, mas para tal vozerio deve concorrer igualmente aparticipação de sacos aéreos interclaviculares que, pro-vavelmente, são inflados antes do grito; a "martelada":espetacular de nudicollis é sucedida por um somalto e estridente que se supõe ser produzido por outraparte do aparelho fonador (pelo outro brônquio) que éo responsável pelo som que o precede; nesta espécienotam-se alterações na voz com a puberdade, sua "mar-telada" atinge a perfeição apenas do segundo ao tercei-ro ano de vida. Pensou-se que a fêmea de snudicollis fosse muda, mas achamos provável que a vozde advertência que registramos para machos e imaturosde sexo desconhecido lhe seja igualmente atribuível. Osninhegos de produzem um notável e melodio-so trinado.

Em algumas espécies (p. ex.Coting e e a _vocalização é quase totalmente substituída por ruídosproduzidos com as asas, o que chama bastante a aten-ção quando voam ou brigam ("música instrumental", v.Pipridae); as rêmiges sonoras, responsáveis por tais efei-tos podem ser as primárias externas, em forma de es-treitos sabres; no macho de há, escondidaentre as primárias normais, uma única rêmige extrema-mente transformada, sobre cujo papel pouco se sabe;geralmente nem os ornitólogos têm conhecimento daexistência desta pena (v. também ,Tyrannidae). Notamos em , e e c s,que o ruído das asas é controlado pelo indivíduo quepode aumentá-l o, diminuí-Io e mesmo eliminá-l o con-forme a situação. Também , que em vôo emiteum sibilo forte, possui uma rêmige sonora na ponta daasa. Servindo ao aperfeiçoamento da "música instrumen-tal", o macho de e diminuiu sensivelmente ocomprimento de sua asa, o que provoca uma alteraçãoda freqüência das batidas e, conseqüentemente, do somproduzido.Xipholena perfaz um vôo exibitório barulhen-to passando de um galho a um outro distante. Estalos,atribuídos- ao bater de mandíbulas, ocorrem, p. ex., em

c

São sobretudo frugívoras, explorando a copiosa e re-lativamente fácil fonte de alimentação que são as frutasno Neotrópico (Snow 1981). Servem-se freqüentementetanto de coquinhos, p. ex., do palmito, doaçaí (Eute e)e da exótica uis , bem como e especialmente dosfrutos grandes com sementes volumosas, que colhemem Lauraceae e Burseraceae das matas primárias e com

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656 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

os quais enchem totalmente sua bocarra larga, devoran-do-os inteiros. Aboca extremamente ampla da araponga,combinada com um bico curto e urna cabeça chata, oque lhe dá a vaga fisionomia de um sapo, constitui adap-tação própria à ingestão de bocados avantajados.

Comem igualmente bagas, p. ex., de Loranthaceae eMelastomataceae que são alimento geralmente defrugívoras oportunistas com bico "normal", corno osThraupinae. O mais dedicado às bagas da erva-de-pas-sarinho é Vimos e saciarem-secom bagas da capororoca, n(Myrsinaceae; Bocaina, São Paulo, abril). Gostam muitodas frutas da embaúba e cobiçam pitangas; arapongas epavós podem ser atraídos por bolinhas de papel verme-lho que imitam essas frutas. Descem a estratos inferio-res a fim de fartarem-se em arbustos, p. ex., das bagasroxas do caruru corno observamos nos

b , Coting e . Os caçadorestêm razão: o pavão-do-mato, , procura as mes-mas frutas que os tucanos.

Nota-se certo horário de visitação às fruteiras predi-letas, as quais são procuradas de manhã e à tarde, comintervalos de algumas horas. Colhem os frutos em ple-no vôo, tal corno fazem os surucuás, comem pousadossobre um cacho ou saltitando pela ramaria. Jogam a co-mida na boca à feição dos tucanos. Cospem os caroçosmaiores, enquanto que os menores passam pelo tubodigestivo; suas pelotas contêm por vezes várias cascas(O

, , ,Ce e e outros comem imagos e larvas de inse-tos complementando a alimentação vegetal, sobretudoquando esta escasseia, p. ex., durante as chuvas.

apanha tanto lagartas quanto borboletas.Io por vezes dá caça a insetos em vôo,lembrando . pega cupins emrevoada, voando acima da floresta.

Os Cotingidae estão entre os mais eficientesdisseminadores das plantas cujos frutos se alimentam.A vantagem para a planta é que as sementes ou caroçosdos frutos engolidos não são prejudicados (são logoregurgítados) ou ainda melhor: as sementes que passampelos intestinos dessas aves, brotam mais rápido (Snow1971b).

A alimentação farta, oferecida pelas matas neotropi-cais às aves frugívoras, corno Pipridae e Cotingidae, eco-nomiza na vida. dessas aves tempo e força: as fêmeassão capazes de criar a prole sozinhas e os machos se de-'dicam às suas exibições nos palcos. A conseqüência é apoligamia. É interessante lembrar nesse ponto que amaioria das aves monógamas é insetívora (Lack1968).

Pousam bem eretos e têm, geralmente, movimentoslentos e índole fleugmática. Mantêm-se absolutamente

quietos quando pousados, embora sejam capazes de voarmuito bem, corno já apontado para ode us. Qudesenvolveu especial aptidão ao vôo dentro da ramaria,já tem voar pesado que lembra o de um pom-bo. Os cotingídeos (p. ex. , , O uncus) têmurna maneira característica de deixarem-se cair vertical-mente dentro de copas frondosas, desaparecendo ines-peradamente, lembrando um gavião descendo a piquesobre urna presa (v. figo268). Na sua maioria vivem nosestratos mais altos da mata, onde não é fácil observá-los. Apresentam-se ecologicamente com urna relativahomogeneidade,

Registramos competição entre cotingídeos que se en-contraram em urna mesma fruteira; assim, cninudicollis expulsou urna fêmea de e opu u .

Que eO seguem regularmente ban-dos mistos de pássaros.

é

O macho de araponga elege certos galhos de ondegrita isolado; ali recebe a visita de vizinhos, inclusivede fêmeas. Tais pontos são tradicionais, sendo usadosdurante anos a fio, e provavelmente, por gerações e ge-rações de arapongas, se a árvore resistir a tanto (v. tam-bém sob Pipridae). Os machos de outras espécies, so-bretudo , , e us e oeni cus,associam-se para exibir-se e cantar juntos em palcos ou"arenas", o que lembra os tangarás e as aves-do-paraíso(estas últimas Oscines polígamas da região australiana).

i cus is pode se exibir sozinho.e prepara, em certas árvores, verdadeiros

"palcos": cada macho, um próximo do outro, limpa ati-vamente um galho adequado do qual apropria-se e deonde entoa seus mugidos. No Brasil existem certos re-gionalismos designadores de tais locais de reunião; fa-lam-se assim de "cernas" para us (Espírito San-to) e de "paradas de galos" para o (Roraima).

Costuma haver certa coordenação dos gritos, osmembros de um grupo soltam suas vozes altemadamen-te com a dos vizinhos, não gritando todos ao mesmotempo conforme verificamos em relação aosi ugus e

e , o qu~ Po.9!.2for~r, até certo ponto, tam-bém com a araponga, caso existam vários indivíduos aoalcance mútuo da voz. Ocorrem notáveis exibições deduas espécies setentrionais,o e P. Aosefeitos acústicos das cerimônias da maioria dos cotingí-.deos somam-se efeitos visuais surpreendentes, o queatinge elevado grau nos icol onde a mesma se pro-cessa no solo ficando a ave imóvel, corno "gelada", emuda em urna demonstração .puramente visual, muitocontrária a de outras espécies de cotingídeos e piprídeos- tanto mais impressionante é o ventinho que toca afiligrana das penas que cobrem a parte posterior da aveque comporta-se tal qual urna estátua. Embora os galos-da-serra exibam-se solitariamente, necessitam da pre-

r

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COTINGIDAE 657

sença dos demais machos de seu grupo comoexpectadores ou agindo nos palcos vizinhos; a tais estí-mulos mútuos acrescenta-se a vantagem da rede de sen-tinelas que fortuitamente assim se forma. Permanecemnos "palcos" praticamente o dia todo durante meses; senão estão se exibindo, descansam ali mesmo, arrumamas penas ou comem nas vizinhanças. As fêmeas procu-ram os machos nos locais de exibição.

faz suas demonstrações em pleno vôo,executando evoluções bem alto sobre a floresta amazô-nica; alguns machos as fazem juntos. O macho de

se exibe sozinho num vôo espiral, silen-cioso como As de asas largas bri-lhantemente coloridas de branco, causam grande efeitovoando entre as copas de árvores altaneiras; X.

ampliou ainda mais tais resultados graçasà presença do branco em sua cauda alongada.e vivem aos casais.

e fazemnuma forquilha uma pequena plataforma de grave tos,freqüentemente tão rala que permite que se vejam os -ovos entre os interstícios (fig. 265), o que geralmente nãochega a ser relevante pois 'tais ninhos, situados no altodas árvores, às vezes sobre emaranhados compactos,passam totalmente despercebidos. Um ninho

encontrado no Cururu, Pará, construído depedaços de cipó-sacarrolha, numa forquilha de galhossecos, a 7m de altura, não era pequeno, medimos 7x7cm.O ninho de foi encontrado dentro deum cupinzeiro arbóreo oco (A. Ruschi, Espírito Santo).L. P. Gonzaga, D. A. Scott e N. J. Collar observaram emPorto Seguro, Bahia, outubro de 1986, uma fêmea deC. pousada no ninho, estrutura desagregadade galhinhos, postas sobre uma forquilha, na copa deuma árvore. e confeccionam, so-bre um galho grosso, coberto densamente de líquens,

Fig. 265. Ninho de (seg. Oniki 1986).

Fig. 266. , chocando em posição ereta(seg. Willis & Oniki 1988).

musgo e pequenas orquídeas, uma tigela rasa de mate-riais flexíveis soltos, líquens e hastes tenras cobertas demicélios brancos (achamos o ninho de

no alto Xingu, Mato Grosso, em setembro de1947). vimos construir em novembrode 1977, perto de Belérn, Pará, numa copa a 19m do solo,um ninho colocado sobre um galho fino, limpo e hori-zontal, sem proteção alguma; tratava-se de uma cilín-drica e minúscula construção que lembrava um ninhode beija-flor, sendo confeccionado sobretudo de "crinavegetal": fungos e algas (Cyanophyceae eChlorophyceae), o conjunto enrolado firmemente porteias de aranha (v. figo 266).

De um modo semelhante ao (aplicação deteias de aranha e provavelmente saliva) vimos trabalhar

na base de um ninho, posto sobre um galhogrosso a 10m de altura, no topo de uma árvore quebra-da no meio da mata (Itatiaia, Rio de Janeiro, 30 de se-tembro de 1974). Um ninho de encontradoem Tinguá, Rio de Janeiro, em outubro de 1980, por 'D.A. Scott e M, L. Brooke, era uma tigela feita de pecíolos(não tinha "crina vegetal"), trabalhada firmemente porfora com grosso material de teias de aranha, amalga-mando musgo e algas, resultando numa superfície ho-mogênea, Embora o ninho de colocado namão, não pareça ser tão pequeno (muito ao contrário doninho de , o indivíduo de que vi-mos chocar, apareceu quase todo acima do ninho, pornele não caber seu corpo,

Os ninhos de e são tão peque-~os que q~ase não se pode imaginar como a ave, se equi-libra no ninho. constrói em cavernas dos ro-chedos ou das ravinas, freqüentemente sobre um rega-

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to, uma sólida panela de barro misturado com fibras ve-getais e coberta de líquens; a amalgamação de tal massaparece provir de saliva da própria ave e o seu peso podechegar a 900 gramas; algumas fêmeas colocam seus ni-nhos próximos uns dos outros. O modo de nidificar de

é diferente do quadro dos cotingídeos típicos,assemelhando-se, porém, basicamente, ao tipo de

e .Sobre a nidificação da araponga, nudicollis,

informou R. Krone (Ihering 1914) que o ninho é umatigela rasa que lembra os ninhos de pombos, tendo umdiâmetro de 16cm. Isto foi confirmado em dois casos porinformantes nossos que compararam-o ninho, colocadoabertamente sobre os galhos, com o ninho da juriti. Ainstalação do ninho pode dar-se bem escondida, p. ex.,entre a base de folhas de um grande gravatá, situado noalto das árvores, conforme vimos à distância na Serrada Bocaína, São Paulo, 1977; condições semelhantes re-gistramos para no Espírito San-to. Várias pessoas confirmaram-nos quenudicollis reúne muito pouco material de construção; fala-se no Rio de Janeiro, em São Paulo e Santa Catarina daocupação de um "pau oco", pela araponga o que ficaainda por esclarecer.

Acerca de fomos informados, por habitan-tes da Serra da Bocaina (São Paulo), ser seu ninho "do

. tipo do de um sabiá", trabalhado com barba-de-velho,usneoides,comunicação a ser melhor examina-

da, pois poderia tratar-se inclusive da ocupação da cons-trução de uma outra ave. Sobre a reprodução de

informou-nos um mateiro no Amapá queachou dois filhotes num cupinzeiro arbóreo.

Considerando o tipo de construção dos ninhos dose (que fazem um grande ninho fecha-

do, os últimos inclusive se acomodando em ocos de árvo-res), torna-se muito apropriado excluí-los da famíliaCotingidae e incluí-los na grande família Tyrannidae.

Há a tendência (p. ex. de instalar o ninhoem árvores isoladas, o que deve aumentar a segurançacontra as incursões de macacos, embora nada valha con-tra tucanos. Vimos quatro atacarem veemen-temente. um tucano-de-bico-verde; tucanos devem seruma grande ameaça para os ninhos totalmente abertos(embora muito bem camuflados) das Em umgrupo de pequizeiros Caryocaraceae)habitados por legiões de formigas mordedoras encontra-mos um ninho de (alto Xingu, Mato Gros-so). e consertam os ninhos velhos parareutilízá-los. Em espécies monógamas como omacho ajuda na construção.

Várias espécies, comoe

põem um único ovo. No caso da última torna-seevidente que no ninho minúsculo não caberia mais queum ovo. O colorido dos ovos dos diferentes represen-tantes é tão variável que não se pode generalizar umadescrição; o campo dos mesmos pode ser amarelado,

pardacento, azul-esverdeado ou verde-escu-ro com a presença de manchas enódoas marrons adensadas no pólo rombo. O ovo de

nudicollis é de forma oval, cor parda-vermelhae tem no pólo rombo uma coroa formada por manchasde cor pardo-escura.

A fêmea choca sozinha, p. ex. a de eO casal de e se reveza. O macho porvezes traz comida para sua companheira .Constatamos que é muito propenso a atacarqualquer ave que se acerque do .ninho, já o vimos inclu-sive avançar em direção a um homem.assume igualmente atitudes ameaçadoras ao lado de seuninho situado nas copas. A incubaçãoé de 25 dias em

26-27 dias em 27-28 dias emOs filhotes nascem nus e cegos podendo ser

negros desenvolvendo uma plumagem deninhego que imita perfeitamene a cor do ninho e da cas-ca branca da árvore onde está situado; o mesmo valepara . O tamanho da ninhada varia;

de Trinidad, tem apenas um ninhego ao passoque P.nudicollis possui dois; a ninhada de com-põe-se de dois a três filhotes.

Quanto às etc., a mãe cuida da pro-le sozinha. Já em relação aos e ospais revezam-se na alimentação da filharada; tratando-se de diversos adultos ajudam na alimentaçãodos filhotes de um mesmo ninho. traz umagrande bola de comida que administra mergulhandoprofundamente seu bico na imensa boca dos filhotes;pode ocorrer também o inverso. As fêmeas dedão à ninhada frutas regurgitadas, limpando o ninhodas fezes e caroços cuspidos; ceva os filhos ex-clusivamente com insetos. Os ninhegcis de pe-dem comida com suaves assovios, já o deemite um fraco grasnar. Devemos a Willis& Oniki (1988)pormenores interessantes do comportamento do casal edo filhote de no ninho; as aves chocamnuma posição vertical, aparecendo como um pequenogalho quebrado perpendicular, lembrando os urutaus

ou melhor ainda os (podargidaeda Sumatra, Indonésia) que fazem um minúsculo ninhode penas e musgo no meio de um galho liso, totalmenteaberto. Os filhotes de abandonam o ni-nho após 33 'dias, Tratando-se de pode-se dis-tinguir os sexos dos filhotes assim que saem dos ovospela coloração da ranfoteca e da podoteca, amarela nosmachos e negra nas fêmeas.

Verificamos que ao menos etêm mais de um período reprodutivo por ano, o qualéanunciado pelo recomeço do cantar dos machos, dos

e reutilização do ninho de .

Existem na família exemplos claros de "aloespécies",ou seja, de espécies descendentes de um ancestral co-

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COTINGIDAE 659

mum que se diferenciaram graças ao isolamento de re-cessos ou refúgios florestais formados em épocas ári-das, pleistocênicas e quaternárias; tais "alo espécies"compõem uma"superespécie",categoria que abarca umcerto número de espécies mais intimamente relaciona-das _dentro de um gênero, dando assim idéia maisrealística do parentesco (v. situações análogas nosCracidae, Psittacidae, Formicariidae,Píprídae, etc.). En-tre os cotingídeos, os gênerosCoiin , e

oenic cusrepresentam bem o modelo de aloespécies,excluindo-se geograficamente, chegando mesmo a ocu-par áreas amplamente distantes (p. ex., X. e eX. eIlipennis). Quando entram em contato (p. ex., nocaso dos dois ci us na Amazônia) geralmente nãoinvadem os domínios dos parentes, mantendo-se se-gregados, o que prova que as formas em questão nãopodem ser tratadas "apenas" como subespécies ouraças geográficas, uma vez que atingiram o isolamen-to reprodutivo.

As distribuições largamente disjuntas ocorrem/p. ex.com ni el ns e lo e pip o que indica aextinção de muitas populações intermediárias.ne tiveram sua evolução centrada, ao que pare-ce, nas serras do Sudeste do Brasil, de onde se expandi-ram até os Andes. Endemismos singulares desta partedo país são as duas juc os dois p is, osC tu

c st p us oidese p es pil tus.Mais freqüen-te foi a colonização da mata Atlântica por representan-tes amazônicos comoi gus, en e C tin . De-pois houve uma separação por retrações posteriores daAmazônia, agravada mais recentemente pelas ativida-des humanas destruidoras.

Não é sempre que as exigências ecológicas de doiscotingídeos semelhantes patenteiam-se com clareza con-forme ocorre, p. ex., com gus l nioidese L. eque vivem em regiões de clima diverso (montanhas oubaixadas, respectivamente) ..

Embora frequentemente se note que a vocalizaçãoevolui mais lentamente que a morfologia (veja, p. ex.,Dendrocolaptidae e Pipridae), observa-se o contrário nosdois brasileiros, o mesmo valendo para osC . E igualmente muito notável a evolução entreas c tanto pela morfologia como pelo comporta-mento (Snow 1973a).

ções

Ocorrem fora da época de reprodução, geralmentenotando-se pelo desaparecimento (por vezes parcial) ouaparecimento das diferentes espécies; o controle é difí-cil, uma vez que não vocalizam em tais períodos,tampouco, formando bandos vistosos e sim permane-

Píg. 267.Distribuição dosanambéssuperespécie l

pun machos ilustrados (ligeira-mente modificados, segoHaffer,1970).Círculos abertos e sombreado:

hol pun . Círculos fechadose pontilhado: X. .Triângulosabertos e tracejadovertical: X. op pu Os símbolosindicam as localidades de registrodas respectivas espécies.

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662 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

SABIÁ-PIMENTA, En Am

21cm. Apenas no litoral do Brasil merídio-oriental.É parecido com a fêmea da espécie anterior mas com ascostas uniformemente verdes (sem castanho); o machode cabeça e bico negros. sonora e bissilábica"jüü",ou monossilábico "küau" do timbre de

Habita a mata alta; ocorre de Alagoas e Bahiae Espírito (baixo rio Doce, onde vive ao lado de

ao Rio de Janeiro e São Paulo. "Cochó"".[Consta ocorrer no norte do Paraná (Collaret 1992).Na Bahia e Alagoas ocupa as montanhas diferentemen-te do que acontece mais ao sul (Gonzagaet . 1995).

COTINGA-DE-GARGANTA-ENCARNADA*,

18cm. Lembra uma . Partes superiores negrasdesenhadas de branco, que é a cor das partes inferiores,garganta purpúrea; a fêmea com o lado inferior listradode negro. Ocorre do Peru e Colômbia aos rios Negro,Solimões e baixo Purus.

ANAMBÉ-AZUL, Pr. 30, 5

20cm. Belíssima ave amplamente distribuída pelaA-mazônia. Tem a voz largamente substituída por um si-bilar intenso produzido por rêmiges sonoras. Habita ascopas das matas ribeirinhas. Ocorre dasGuiarias.Venezuela e Colômbia à Bolívia, norte de Mato Grosso(alto rio Xingu, rio Teles Pires), leste do Pará (Belém) eMaranhão. "Bacaca", "Catingá", "Quirjrã ", "Cotinga-pintado?". V a seguinte.

COTINGA-AZUL ".

19,5cm. De porte algo superior e ainda mais brilhan-te que a anterior. Tem a placa gular menor e suas penasazuis pos~;uem uma faixa subterminallilás, seguida poruma área intermediária branca e de bases negras (en-quanto que as penas de C. são bicolores, azuis deampla base negra). A fêmea tem as partes inferiores decor acanelada-clara. Ocorre da Colômbia e Bolívia aosrios Purus, Madeira, Roosevelt e Negro. Também emCachoeira Nazaré, Rondônia (D. F. Stotz).

ANAMBÉ-DE-PElTO-ROXO,

18cm. Representante relativamente pequeno do Bra-sil oeste-setentrional. Quanto ao colorido, semelhante à

, mas com as partes inferiores unifor-memente purpúreas na porção anterior e o abdômenazul; a fêmea pardo-anegrada, por cima salpicada depontos e por baixo com desenhos escamos os, em ambosos casos esbranquiçados. um

crocitar "ua,uzr" (medo); um forte tinido produzido pe-las asas durante o vôo. Ocorre das Guianas e Venezuelaaos riosUaupés, Tapajóse leste do Pará, p. ex. CapitãoPoço, 1977, ao lado de . "Cotinga-roxo'".[O registro desta espécie para Guajará-Mirim, Rondôniaem abril de 1995 (A. Whittaker) faz supor uma distri-buição mais ampla na Amazônia.]

CREJOÁ, En Am Pr. 30, 4

20cm. S~bstitui a anterior no Sudeste do Brasil. Re-lativamente grande, característica pela faixa azul peito-ral; a fêmea e imaturo semelhantes àqueles da espécieanterior e de (que ocorre na mes-ma região), tendo, porém, o porte maior e o desenhoescamoso mais contrastante. gri-tos baixos de pouco volume; ruído bem forte produzidopelas asas, inclusive de indivíduos pardos. Habita a matavirgem e alta. Ocorre do sul da Bahia ao Rio de Janeiro eleste de Minas Gerais. Rara, ameaça da de extinção peladestruição ambiental e pela caça. "Pássaro azul", "Cotinga-crejoá"".

ANAMBÉ-POMPAJX)RA,

19cm. Espécie da Amazônia setentrional; de cor pur-púrea sedosa, tem as penas "endurecidas" caindo sobreas grandes asas brancas, pontas das primárias negras,íris amarela; a fêmea cor de fuligem acinzentada, com oabdômen mais claro; coberteiras superiores das asas esecundárias internas com barras esbranquiçadas.

emite gritos gargarejantes. Dois ou três ma-chos perseguem-se voando de uma copa altaneira à ou-tra; seu vôo é veloz e reto, quando cortam distânciasmaiores alternam algumas batidas com um curto fecharde asas. Ocorre ao norte do baixo Amazonas (Amapá)até as Guianas, Venezuela e alto Amazonas, de onde al-cançam a margem oriental do rio Madeira e também obaixo rio Tapajós. Manaus, onde não é raro. Bem apa-rentada às duas formas referidas adiante ("aloepécies",v. figo267).

. ~ -i ,;

ANAMBÉ-DE-RABO-BRANCO,

ellipennis En

19cm. Substitui a anterior ao sul do baixo Amazo-nas. É negra de brilho purpúreo com a cauda e asas in-teiramente brancas como que transparentes.realiza curtos vôos ascendentes saindo de urríá copa deárvore que sobressaia da mata circundante, regressan-do ou não ao ponto de partida e exibindo as asas e cau-da brancas de maneira espetacular. Ocorre do Maranhãoe Pará até à margem esquerda do baixo rio Tapajós eSerra do Cachimbo (Pará), onde começa a região de X.punice "Anambé-de-ca uda-branca'".

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COTINGIDAE 663

ANAMBÉ-DE-ASA-BRANCA,

En Am Pr. 30, 6

19cm. Parente próximo das anteriores, as qlAais,subs-titui na faixa litorânea do Brasil médio-oriental. E pur-púrea anegrada de asas brancas, a fêmea e imaturo pa-recidos aos das duas espécies anteriores, sendo que aprimeira tem a íris amarela. miada; um forte sus-surrar produzido pelas asas, embora em vôos curtospossa deslocar-se silenciosamente. Mesmo hábitat de

, que é, às vezes, seu vizinho. Ocorre daParaíba ao Rio de Janeiro, tomou-se muito reduzida pelodesmatamento. Ameaçada daextínção. "Bacacu","Crijuá".

[ANAMBÉ-DE-CARA-PRETA, Conioptilon

23cm. Representantede-um gênero monotípico en-contrado nas copas da mata ribeirinha ou alagada das

. florestas amazônicas do sudeste peruano. No final doano de 1994 foi coletado nos arredores de Taumaturgo,Acre (A. Whittaker).]

Fig. 269. Anambezínho-de-axila-lilâs, lodopleu

ANAMBEZINHO, En Am

Fig.269

9,3cm. Um dos menores cotingídeos, representantesingular de asas longas, cauda curta e plumagem maciae rente.É cinzento com a garganta e as coberteiras infe-riores da cauda rosa-pardacentas, partes inferiorestransfasciadas de branco e cinzento lembrando remota-

o macho possui ao lado do peito.ocultosob a asa, um tufo de penas longas, sedosas e violáceasque faltam na fêmea. assobio agudo e bissilábico,um descendente "si-si" lembrando ,mas ainda mais fino (chamada); uma seqüência de pios

límpidos, tradutores de motivos curtos e repetidos (can-to). Fleugmático, permanece sobre ramos finos e secosnas copas de árvores de mata primária ou capoeira emquietude absoluta. Gosta das bagas da erva-de-passari-nho (Loranthaceae) e apanha pequenos insetos. Quan-do excitado exibe a zona lilás, eriçando-a e afastandoum pouco as asas. Encontramos a espécie no verão (no-vembro) nas montanhas do Espírito Santo, 900m, mi-grando em pequenos grupos. Foi coletado um machoadulto, que tinha os testículos em repouso e a pluma-gem toda em muda. Não houve sinal de reprodução, anidificação da espécie (até do gênero) era, naquele tem-po (1940); ainda desconhecida. Esta observação foisuplementada pelo registro de Willis& Oniki (1987) queencontraram a espécie reproduzindo ao nível do marem pleno inverno (agosto), no litoral de São Paulo. Ob-servamos I. is construindo (começando de fato)seu ninho em fins de novembro pertode Belém, Pará. Adistribuição da espécie se estende de Minas Geraisà SãoPaulo e no Nordeste (Bahia, Alagoas, Pernambuco eParaiba). sendo substituído na Amazônia porI. e.Recentemente foi proposto colocar e sno grupo de , junto com e

(Tyrannidae) (Prum & Lanyon 1989)."Anambé-de-crista "",

ANAMBÉ-FUSCO*,

[llcm. Habitante das copas e bordas da floresta deterra firme do escudo Guianense, para oeste até o lesteda Venezuela. No Brasil assinalado no Amazonas aonorte de Manaus (Stotz& Bierregaard 1989) e Balbina(Willis & Oniki 1991); em Roraima na Estação Ecológica

. de Maracá e Colônia do Apiaú (D. F. Stotz) e arredoresde Boa Vista (Borges 1994).]

ANAMBÉ-DE-COROA *,

1O,7cm.Robusta, pardo-anegrada, com três manchasfaciais, uropígio e partes inferiores (p. ex. garganta) par-cialmente brancos, flancos listrados, tufo peitoral comoa da precedente. Voz: finíssimos "wút", "wíli-wílili".Habita a beira da mata e do cerrado, pousa em ramosnus tanto de arbustos como de copas altas, de onde saem,em curtas investidas, à caça de insetos, lembrandoChelido . Ocorre da Venezuela e Colômbiaà Bolívia.Alto Amazonas, norte de Mato Grosso, leste do Pará,Maranhão; falta ao leste do rio Negro. Substituto seten-trional de I.

TIETÊ-DE-COROA, En Am

Pr.45,2

7,6cm.É a menor espécie da família, detentora de pro-porções singulares; bico curto e grosso, cauda bem cur-

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664 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

ta, topetudo; quanto ao colorido lembra certos tiranídeos:as partes superiores verdes com duas faixas alares e bar-ras nas rêmiges internas brancas; fronte, uropígio e par-tes inferiores amarelos, vértice escarlate (ou amareladona fêmea) ladeado de negro. Voz: chamado breve, roucoe forte (Descourtilz 1854). Consta que vive aos casais eque está sempre em movimento, mantendo-se a médiaaltura na beira da mata, à procura de bagas e insetos.São conhecidos poucos exemplares de Nova Friburgo edos arredores da cidade do Rio de Janeiro. "EspíritoSanto" (Ruschi, não fundamentado). Descourtilz foio único que deu algumas informações sobre essa aveque depois ninguém mais "conseguiu localizar."Anambé-mirim?". [Após mais de um século sem regis-tros confirmados (Collar et . 1992), a espécie foiredescobertapor R. Parrini na encosta da Serra dosÓrgãos na manhã de 27 de outubro de 1996, cerca de60km da cidade do Rio de Janeiro e, sucessivamente,encontrada nas manhãs seguintes por J. F. Pacheco,C. E. S. Carvalho, C. Bauer e F. B. Pontual. O par, pos-sivelmente um casal, vem sendo agora acompanha-do por uma equipe do Laboratório de Ornitologia daUFRJ, sob a coordenação de L.P. Gonzaga, na tenta-tiva de reunir maiores informações sobre essa ave tãodiminuta e enigmática, que por tanto tempo estevedesaparecida.]

CRICRIÓ, TROPEIRO,

24cm. É a mais barulhenta das aves amazônicas; temo porte de um sabiá grande; a cauda longa, bico forte enegro, plumagem uniformemente cinzenta. cerimô-nias: baixo "gu-o" (chamada), fortíssima seqüência dequatro ou cinco sílabas em volume crescente; nas duasprimeiras a ave parece grunhir ou inalar (pode lembraros gritos curtos de , as duas são mais violentas,sendo emitidas de cabeça atirada para cima, "kurrró-kurrõ-uíti-uítü". Certos indivíduos, separados por algu-mas árvores, cantam em uma mesma e limitada área.coordenando suas vozes às vezes perseguem-se em vôorápido dentro da mata. Habita as florestas altas, em es-tratos, médios. Ocorre em toda a Amazônia, das Guia-nas à Bolívia, Mato Grosso, Rondônia e Maranhão;também em matas residuais do Brasil médio-orien-tal, do Nordeste ao Espírito Santo (ao norte do rioDoce, em formações muito semelhantes àAmazônia)."Narnorador" (Pará), "Poaieiro" (Mato Grosso). "Se_ringueiro" (Amazonas), "Wissiá" (Kaiabi, MatoGrosso), "Ha-w i-já" (Kamaiurá, Mato Grosso),"Critador" (Pernarnbuco), "Cricrió-seringueiro>". V.a seguinte.

TROPEIR0-DA-SERRA, En Am

26,8cm. Substituto meridional do anterior, com o qualse parece muito quanto à plumagem, embora seja maior

no porte; as duas espécies, na maior parte de suas dis-tribuições, não vivem simpatricamente. inteiramen-te diversa da de L. e consiste em uma estrofe de2 a 4 sílabas estridentes, "suíssa-suíssa-suíssak", sendoa última sílaba por vezes mais branda, como que umeco, e do timbre de um sabiá. Seu vozear, cujo alge ocor-re em julho/agosto (Espírito Santo), é tido pelo povocomo prenúncio de chuva. Habita as regiões montanho-sas do sul da Bahia e Espírito Santo até Minas Gerais eSanta Catarina. Foi encontrado em Sooretama (Linhares,Espírito Santo) em dezembro/janeiro, portanto dentrodos domínios de L. oc e s (Scott & Brooke 1985)."Cardena" (Espírito Santo), "Cricrió-suisso'".

-,

CRICRIÓ-DE-CINTA-VERMELHA *,e

[22,5cm. Endemismo dos tepuis venezuelanos. Assi-nalado para o Brasil somente no cerro Uei-Tepui, Rorai-ma (Phelps & Phelps 1962), quando foram coletados 3exemplares.]

ANAMBÉ-MILITAR, Am

Pr. 31, 4

34cm. Um dos mais belos representantes da família,o macho é vermelho com asas e cauda denegridas; a fê-mea vermelha-carmesim apenas na cabeça e nas partesinferiores, costas pardo-escuras; imaturo preponderan-temente cor de fuligem. bissilábico "wáu-wáu" lem-brando o latir de cães; muge lembrandoCeph lopt us

. É solitário, Exibe-se num, vôo espiral acima damata, voando com batidas rápidas horizontais, voltan-do depois ao-seu ponto (Bierregaardet . 1987). Habitaas copas da mata alta da terra firme (p. ex. 35m de alturacom emérgentes de 45m, Manaus); freqüenta fruteirasonde se encontra com o s, , C tin

e C. tucanos e papagaios. Ao norte deManaus ao lado de e oce . Ocorre das Guianasao baixo Amazonas (Óbidos), sul da serra deTumucumaque (pará), Amapá (rio Araguari), ao nortede Manaus (Amazonas), baixo rio Tocantins (Cametá),rios Acará, Acaraí e Ourém até o Gurupi (pará), ondeaparece em adornos do Kaapor (pode ser trocado comvizinhos, B. Ribeiro). Antigamente ocorria, se bem queocasionalmente, até mesmo dentro da cidade de Belém;nunca foi comum e-vê-se agora ameaçado pela constru-ção de estradas etc., que trazem destruição ambiental ecaça ilimitadas (leste do Pará). Nessa última região ob-servamos o anambé-militar na Belérn-Brasília, km 75 em1959 e Capitão Poço em 1977. "Anarnbé-raio-de-sol"(Amapá), "Anambé-sol+". [Três recentes registros es-tendem consideravelmente sua área conhecida de dis-tribuição: Maranhão (Oren 1990); Pico da Neblina,Venezuela (Willard et . 1991) e Cachoeira NazaréRondônia (D. F. Stotz).]

>T

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COTINGIDAE 665

ANAMBÉ-UNA, Pr. 3t 3

27cm. Representante amazônico comum; trai de lon-ge sua presença pela voz, que é agradável recordandocomo que um choro. Asas e cauda bastante longas. Afêmea menor (25,5cm) do que o macho, faltando-lhe tam-bém a placa gular vermelha. , vocalizaem companhia de outros exemplares uma seqüênciasuave, trissilábica, fortemente acentuada,"küõ-küõ 0-

ü", sendo á última sílaba mais prolongada, esta estrofeessencial é precedida por gritos' mais curtos e leves:"au-á", "auá-auá", emitidos, parcialmente, por outrosindivíduos presentes. Quando gritam sacodem as asase, sobretudo, a cauda, eriçando as penas alongadas, "en-durecidas" e resplandescentes do papo, para os lados,fazendo surgir (se visto por baixo) dois grandes tufos,um de cada lado do pescoço. Andam aos casais ou pe-quenos grupos de 3-4 indivíduos, que periodicamentecantam com perseverança; sua voz pode lembrar a de

(Bucconidae). Hab-ita a mata alta, abaixo do es-trato mais superior; freqüentemente perto de .Ocorre das Guianas e Venezuela à Bolívia, Mato Grosso(rio Xingu), norte de Tocantins, leste do Pará e Mara-nhão. "Anambé-preto", "Mãe-de-tucano".

PAVÃO-DO-MATO, seu Am

Pr. 31, 2

46cm. O maior cotingídeo do Brasil extra-amazôni-co; a fêmea com apenas 39cm e de vermelho gular páli-do; o imaturo de asas e ventre mesclados de castanho, overmelho da garganta surge aos poucos, completando-se provavelmente apenas no terceiro ano.ni canta em companhia de outros indivíduos sendo omesmo uma série de mugidos cavernosos e ventríloquos,"chu", baixos e profundos, emitidos a pequenos inter-valos e formando uma seqüência de cerca de meia dú-zia; quanto ao timbre assemelham-se às vocalizações dos

Fig.271.Anambé-preto, o.macho adulto;à esquerda uma

fêmea pousada sobre urna folha depalmeira inajá (seg.Sick1954).

I.. '

I // /1//

Fig.270. Pavão-da-mato, o s seu s,mugindo.Original,H. Sick.

mutuns podendo, como elas, serem comparadas ao somobtido ao soprar-se em uma garrafa vazia ou a "socos"de um monjolo. Quando quer mugir, a ave se abaixa e,sacudindo a cabeça, enche o saco gular (não é o papo)que depois agita para os lados. Finalmente a ave se le-vanta e, jogando a cabeça para trás, apresenta a bolavermelha inflada ao máximo e solta, de bico fechado, omugido, que, ouvido de perto, é bissilábico. Essa ceri-mônia lembra-nos a exibição do saco guIar inflado de

Notamos que dois indivíduos po-dem inteirar uma estrofe, o primeiro emite um bissilá-bico enquanto o segundo acrescenta uma sílaba maisbaixa complementando assim uma estrofe trissilábica.O grupo (de às vezes até 10 indivíduos) reúne-se demanhã, abaixo das copas, havendo exibição do paporesplandescente com o arrepio das penas cuja estruturajá dá, por si, uma impressão meio crespa aumentada pelomovimento de sacudir; nos intervalos do vozear voamde um lado para o outro, dentro de um certo perímetroda floresta. Essas reuniões, conhecidas regionalmente no

/

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666 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

Espírito Santo como "cemas", lembram as demonstra-ções e perseguições entre os Pipridae. Registramos ain-da a emissão de um outro tipo de voz, não coletiva, igual-mente baixa como que sufocada:"õk", 'ok-ók-ok' (ad-vertência) que a ave emite de pescoço horizontalmenteesticado e trazendo a cauda um pouco para a frente; o-correm ainda outras vozes que podem lembrar aquelasde grandes Corvidae. Habita as matas altas, ocorre daBahia ao Rio Grande do Sul, sudeste de Goiás, Brasília,Paraguai eArgentina (Misiones); também em montanhas

10

Fig. 272.Anambé-preto, e o. s,macho adulto, alto Xingu, Mato Grosso, organizaçãointerna. Língua(1) e hióide (2); aparelho sonoro: bolsafaríngea(3), traquéia (4), parte alargada superior datraquéia(5), parte largada inferior da traquéia(6) esiringe (7); pulmões (8), esôfago (9) e coração(10)

(seg. Sick1954). .

da Venezuela e Guiana e nos Andes da Venezuela aoPeru. "Pavoa" (Espírito Santo, Sooretama em 1939 e1961), "[acu-toro" (Misiones). No sudeste do Brasilmuito reduzido; p. ex., no Rio de Janeiro, ocorre ain-da em Itatiaia e na Ilha Grande; também no ParqueNacional do Iguaçu, Paraná. Citado também para o.pinheiral. "Pavó".

ANAMBÉ-PRETO, Fig.271

48cm. O maior dos cotingídeos, único a ostentar ocaracterístico penacho-chapéuque se assemelha ao pen-teado dos índios da região; tem uma longa "gravata" ou

. pendão (15cm nó macho adulto). Negro uniforme comum brilho azul-aço, apenas as hastes das penas frontaisdo topete e a íris são brancas; a fêmea é bem menor(43cm), quase sem topete, gravata e reflexos da pluma-

gemo o , ce um rosnar "rrro" (ambos os sexos)lembrando o o grito territorial do ma-cho consiste em um urro ou um mugido baixo profun-do, melodioso e ventríloquo "mu", do timbre do de umgrande pombo ou de um touro ouvido ao longe; os índi-os, que não conhecem o gado, comparam-no ao som desuas grandes flautas. O ato de mugir processa-se em trêsfases: ainda muda, a ave inclina-se para diante e parabaixo fazendo com que o penacho caia para frente e abra-se para os lados, cobrindo o bico e os olhos qual umafranja; paralelamente as penas da "gravata", que pendelivremente, são eriçadas; a seguir a ave ergue-se lenta-mente com ensaios de regurgitações e sacudidelas, pro-duzindo um baixo rangido; finalmente é dado um gol-pe de pescoço para frente acompanhado do forte mugi-do. As duas primeiras fases devem objetivar o enchi-mento da traquéia e saco faríngeo com ar, processo pró-prio para a ampliação da ressonância, lembrando a si-tuação semelhante de . Pousa para cantar emcopas de árvores altas, destacadas da mata circundante;não observamos o macho adulto vocalizar em compa-nhia de outros indivíduos, senão de uma fêmea. Habitaa orla da mata não muito alta, rica em palmeiras (Xingu,Mato Grosso). Seu vôo ondulado lembra o de uma gra-lha; por vezes executa exibições aéreas sobre a florestacomo que brincando, e nisto recorda , mos-trando-se muito ágil; transpõe largos rios voando. a umaaltura de 30-40m. Ocorre do alto Amazonas, do rio Xingu(Mato Grosso) ao rio Negro (Amazonas), ocidentalmenteaté o alto rio Paraguai e Guianas à Colômbia. "Pássaro-trovão", "Macaná" (Trumai, Mato Grosso), "Ua-ri-ri"(luruna, Mato Grosso), "Toro-píshu" (peru). Tem paren-te próximo pendulige ) na Colômbia eEquador, de "gravata" ainda mais comprida.

MAÚ, PÁSSARO-BOI,

Pr. 31,5

3.5,5cm. Caracterizado pela face e fronte nuas; o quedá à plumagem da parte posterior do alto da cabeça umaspecto de capuz; a plumagem parda como o hábito mo-nástico (de onde vem o nome de "pássaro-capuchinho"):Os sexos semelhantes. ce "a", g (chama-da); reúnem-se aos grupos em um "palco" para a emis-são de um fortíssimo miado nasal rouco, "chro-ã-o-a",que lembra um berro de boi ou de veado, som dos maisesquisitos dentre aqueles que se ouvem na Amazônia.Preparando-se para a emissão inclina-se para a-frente"enchendo-se" de ar e grasnando ("chro"), depois ergue-se verticalmente e, reto, solta um prolongado miado("a"); finalmente inclina-se para trás emitindo o mugi-do com todo o vigor. Nessa última fase arrepiaas penas das partes superiores e comprime as cobertei-ras, inferiores da cauda, de cor alaranjada berrante, quese projetam para os lados do rabo ficando visíveis atépor trás. Os indivíduos que executam esta cerimônia fi-cam de costas uns para os outros; como palco utilizam-

-".

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COTINGIDAE 667

se de copas ralas nas quaís os machos adultos afastamrarnífícações que impeçam seus movimentos durante taisreuniões. Mugem também distante de tais "palcos", mascom pouca ênfase. Vive em pequenos bandos em matasnão muito altas; às vezes ao lado de e

. Ocorre das Guianas e Venezuela ao Amapá erios Uaupés e Branco. Em Manaus, ao lado de

"Pássaro-mau", "Mãe-de-balata".

ANAMBÉ-POMBO, Fig. 273

36cm. Quanto ao aspecto geral assemelha-se a umpombo; sua cabeça parece ser pequena devido à pluma-gem escassa e curta, qual pelúcia; a pálpebra é alargada(engrossada), existe um lóbulo a cada lado da garganta;os lados do pescoço nus e vivamente coloridos de azul,costas e lado inferior (exceto o meio, v.abaixo) com densaplumagem negra; asas e cauda longas, a asa de pontaarredondada, predominantemente cinzento-esbranqui-çada; a plumagem é muito rica em pó, lembrando, p.ex., a situação do gavião-tesoura, o meio dolado inferior é nu e azul, peito anegrado (essas partessão normalmente cobertas pelas penas dos lados do cor-po). A fêmea é menor e delgada de pescoço mais emplu-ma do e plumagem cor de ardósia sem áreas claras nasasas; o filhote é branco-acinzentado com vermiculaçõese partes inferiores totalmente brancas com riscos negros(v. Reprodução). um rosnar sonoro; du-rante a época de reprodução vêem-se alguns machos (p.ex. uns quatro) divertindo-se a considerável altura emacrobáticos vôos coletivos que efetuam sobre a mata erios adjacentes; voam de um lado para o outro, cerran-do ou abrindo fileiras e lembrando, quanto ao modo devoar, o buconídeo . Vivem dentro da mataem grupos maiores. Ocorre na Amazônia, das Guianase Venezuela à Bolívia, altos rios Paraguai e Xingu (MatoGrosso), leste do Pará e Maranhão. No alto Xingu às ve-zes ao lado de

Fig.273.Anambé-pombo, [oeiidus, machoadulto,à esquerda em vôo exibitóriosobre as matas.

GAINAMBb, ARAPONGA-DA-AMAZÓNIA, s

27,5cm.É parecida com a espécie descrita a seguir. Omacho totalmente branco inclusive nas pontas dasrêmiges e na garganta, que é emplumada; na testa os-tenta uma protuberância filiforme escura, esparsamenteemplumada de branco que pende frouxamente ao ladodo bico (jamais fica de pé, ao contrário do que se acredi-tava anteriormente). A fêmea e o jovem são parecidosaos de nudicollis, mas com a cabeça verde e ascostas escuras sem cinzento; o jovem tem apenas umesboço de protuberância, quase imperceptível, na testa.

ao exibir-se, o macho abaixa-se para afrente agitando a cabeça silenciosamente em violentosvaivéns que sacodem o pendente que, nesta oportuni-dade, alonga-se; em seguida abre amplamente a bocadando a primeira "martelada"; subseqüentemente movea cabeça para a esquerda arrastando o pendente (quependia ao lado direito do bico) que fica horizontal e, semfechar o bico, emite outro grito. semelhante às dasduas outras que descrevemos a seguir, distin-guindo-se porém pelo timbre mais ressonante, a "mar-

Fig.274.Gainambé, s macho adulto, aprotuberância frontal pendurada frouxamenteao ladodo bico.

telada" principal é prolongada como em um eco; ocor-rem marteladas bissilábicas ligadas à exibição descritaacima: "ting-ting, ting-ting" etc., sendo a segunda síla-ba 'mais alta. Localmente das Guianas e Venezuela aobaixo rio Negro (Manaus); uma população relita desco-berta apenas e~ 1JJlJ.na l'.e.rra dos Carajás, área daCVRD, entre o Xingu e Tocantins, Pará (Oren& Novaes1985). Sua área intercala-se à de e . NaAmérica Central existe outra espécie do gênero com trêsprotubérâncias pendentes, .

ARAPONGA, FERREIRO, nudicoliisFig. 275,276

27cm. Uma das aves mais famosas e mais típicas do .sudeste do Brasil, freqüentemente encontrada em cati-veiro. Branca, lembrando de longe um pombo-correio,de garganta e faces nuas e esverdeadas como que cober-

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668. ORNITOLOGIA BRASILEIRA

Fig.275.Araponga, s nudicollis, macho adulto,"martelando".

Fig.276. Araponga, nudicollis, fêmea.

tas de verdete. Fêmea menor com partes superiores ver-des .mas de cabeça cinza e partes inferiores estriadas deamarelo-esverdeado e cinzento, garganta cinzenta eestriada. Macho imaturo semelhante à fêmea mas com acabeça e garganta negras; substitui as penas verdes su-cessivamente por cinzento-esverdeadas e brancas, asúltimas em parte vermiculadas de cinzento; o indivíduotorna-se todo branco apenas com três anos de idade.

seu canto é composto de dois elementos: 1)uma "martelada" que recorda o som de um golpe dadosobre a bigorna de um ferreiro; batida violentíssima("pang") emitida pela ave com a boca largamente aber-ta, trata-se de uma das mais fortes 'vozes produzidaspelas aves deste continente e a música mais notável dosertão, fato já mencionado por Fernão Cardim há cercade 400 anos, quando afirmou que se podia ouvir sua voz

a meia légua (3km) de distância. Numa citação poética,por sua vez, Guimarães Rosa diz: "Silêncio tenso comopausa de araponga". Este grito pode repetir-se a inter-valas de 5 segundos, mas soa sempre como uma "mar-telada", isolada. 2) gritos menos fortes, que soam comoo atrito de uma lima sobre o ferro ("reins, reins, reins"),repetidos a intervalos de 1 segundo; estes "reins" mere-cem a maior atenção em virtude do alto som estridenteno qual terminam, particularidade apenas esboçada na"martelada': principal; periodicamente estes gritos, en-tão mais fracos e ventríloquos, são emitidos em uma sériemais apressada de, p. ex., 25 segundos. Não há seqüên-cia obrigatória dos diversos tipos de gritos, no sentidode uma intensificação; a ave pode começar com a mar-telada mais forte embora, para emiti-Ia, respeite um in-tervalo mais longo, anterior, como que se preparasse paraum esforço máximo. O timbre singular da. voz daaraponga dificulta sua localização na mata, parecendovir de todos os lados, mas é fácil de fixar quando se estáao mesmo nível da ave. Os machos imaturos têm umavoz crocitante e grasnam, necessitando de dois a trêsanos para alcançarem a maestria dos adultos. Como ad- .vertência emite um baixo "quoak". O macho adulto es-tabelece em certos meses(p, ex., julho/agosto nas mon-tanhas do Espírito Santo) seu "ponto" em um grupo deárvores dentro da floresta freqüentando determinadosgalhos onde canta com perserverança a maior parte dodia. A reprodução da araponga ocorre pelo fim do ano(Bocaina, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul).

Vive na mata primária, também invade capoeirascaso haja fruteiras; tanto nas montanhas quanto nas bai-xadas; migratória. Ocorre de Pernambuco (Berla 1946) eMinas Gerais ao Rio Grande do Sul, sul de Mato Grosso(rio Amambaí), Argentina (Misiones) e sudeste do Para-guai. Procuradíssima pelo mercado de aves de gaiola,por isso escasseia perto dos grandes centros. V.as duasoutras espécies do gênero.

ARAPONGA-DO-NORDESTE, GUlRAPONGA,

· Am Fig. 277

27cm. Semelhante às anteriores porém com asasne-gras, cabeça chocolate e garganta provida de uma espe-tacular "barba" filamentosa negra brilhante, que formapingentes que, de tão delicados, oscilam ao mais insig-nificante movimento. A fêmea é verde semelhante à deP.nudicollis, mas de píleo menos cinzento; o macho ima-turo é verde com a cabeça marrom e garganta preta,macho subadulto com as rêmiges fuliginosas-anegradase terciárias marmoreadas de alvinegro. ce ôvoz semelhanteà de P.nudicollis, faltando porém o somestridente que segue os gritos daquela espécie. Notamosuma "martelada" principal (que pode ser repetida a in-tervalos de 3 a 8 segundos) e marteladas menos fortesemitidas a intervalos de 1 segundo, contamos 91 gritosseguidos (Piauí, Maranhão); ocorrem gritos ainda mais

-

"1

.......

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COTINGIDAE 669

fracos e mais apressados; várias séries de "reins" ou"ti::iing" também apressados (p. ex., 18 deles seguidos).Um baixo profundo "krrro" como um corvo (chamada).

.Quando um macho cantor recebe, no seu "ponto", a vi-sita de um outro macho ou de uma fêmea, reage comrápidos pulos entre dois galhos exibindo a barba damaneira mais vistosa e pousando de cauda expandida,cerimônias que lembram as dos Pipridae. Ocorre dasGuianas, Venezuela e Colômbia até Roraima (Rio Bran-co) e Trinidad; também no nordeste do Brasil, onde subs-

Fig.277. Guiraponga,Trinidad.Macho abaixando-se diante da fêmea,antesde galar(a). Macho em posição ereta (b) (seg.Snow1970).

titui a anterior: Maranhão (onde não era rara), sudoestedo Piauí (1975), Ceará, noroeste da Bahia (1974) eAlagoas (1979).É rara em cativeiro. Nos estados me-ridionais do Nordeste está ameaçada de extinção."Ferreiro" (Bahia, Piauí, Alagoas), "Guiraponga"(Pernambuco, Marcgrave, 1648).

SAURÁ, Pr. 3D, 1 _ ."

21cm.É predominantemente vermelho-carmesim, se-cundárias pardas; a fêmea é de manto e pescoço anteri-or esverdeados, garganta e peito acinzentados. for-te e rouco "quá-ka-ka" e gritos baixos, ventríloquos.Reúnem-se vários machos, revoando em uma pequenaárea dentro da mata, emitindo sua voz esquisita e "sus-surrando" com as asas; uma primária escondida é trans-formada como pena sonora. Ocorre ao norte do baixoAmazonas (Amapá) até o rio Negro, baixos rios Tapajós,Xingu e Tocantins até Belém (leste do Pará) e Maranhão."Anambé-raio-de-sol-pequeno" (Amapá), "Saurá-fogo*".

-

SAURÁ-DE-PESCOÇO-PRETO*,

22cm. De lados da cabeça, garganta e manto negros;sua área estende-se até o rio Negro e, ao sul das zonasde , até o Tocantins (Marabá) e Rondônia.

CANELEIRINHO-DE-CHAPÉU-PRETO,

Am Pr. 32, 1

12,6cm. É muito característico, inconfundível peloboné negro que contrasta com o bico amarelo, curto egrosso, e com a intensa cor ferrugínea e castanha damaior parte da plumagem; apresenta um pequeno espe-lho branco; os tarsos e dedos alaranjados. A fêmea decostas verdes e uropígio castanho. pios altos"iu-bibibibi-iu" e cochichar mais variado do casal (re-gistro junto com W. Belton, São Francisco de Paula, 840m,Rio Grande do Sul, em setembro de 1972). Localmenteem vários tipos de mata dê altitude (Itatiaia, 1.500 a2.000m), capoeira alta e mata mista de pinheiros

e pinheirinhos o p. ex. Camposdo Jordão e Serra da Bocaina (1.600m). Foi visto bicar osfrutos da palmeirinha sp. que atrai muitas avesfrugívoras, (Myrsinaceae) e

e (Melatomataceae, R.B. Pineschi, Itatiaia). Do Riode Janeiro a São Paulo, Paraná, Santa Catarina e RioGrande do Sul; Argentina (Misiones). A espécie foi des-coberta por J. Natterer (embora descrito por Temminckformalmente, usando o nome registrado por Natterer norótulo) perto de Curitiba, Paraná, onde coletou 10 espé-cimes em outubro de 1820. Espécie sedis, tal quala seguinte. "Caneleirinho-boné-preto*".

PAPINHO-AMARELO, Pr. 33, 2

12,8cm. Espécie de vasta distribuição, sendo porémpouco comum. De bico grosso e escuro; plumagem pre-dominantemente verde e cinza lembrando a de certostiranídeos, fronte parda, ponta das secundárias internase das grandes coberteiras superiores das asas commarcante desenho, o que sugere que sejam exibidas; afêmea é semelhante. surpreendentemente forte esonora, seqüêncialíquida rítmica de uma série de piosmonossilábicos, interrompida por uma seqüência acen-tuada e mais alta: "wõd, wi::id,wi::id,wi::id,wü-dü-dü,wõd, wi::id";o companheiro responde com a mesma es-trofe, mas mais alto; este chamado (ou canto), ouvidofreqüentemente, sugeriria um pássaro maior, quanto aotimbre recorda um . Habita as copas damata alta, tanto na Amazônia como nos pinheirais dosul; às vezes integra bandos de pássaros. Ocorre dasGuianas e Venezuela à Bolívia,' Paraguai, Argentina(Misiones) Bahia, Espírito Santo e de São Paulo ao RioGrande do Sul; há várias raças geográficas. Comumenteincluído nos Pipridae, tal como a espécie anterior. O pa-

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670 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

rentesco entre os é discutível. "Caneleirinho-cantor?".

ARAPONGA-DO-HORTO,

Pr. 33, 1

f' ."

18cm, 41,5g (macho). Pássaro singular, colocado atépouco tempo atrás em uma família monotípica(Oxyruncidae) exclusiva; tem afinidades (p. ex. a mor-fologia da siringe) com os tiranídeos. Seu bico é extraor-dinariamente pontiagudo apesar de largo na base, o quepoderia significar uma adaptação trófica. No aspectogeral lembra um ou uma Os sexossemelhantes, mas o macho adulto é mais corado e pos-sui a margem externa da primária mais exteriorserrilhada; o imaturo é sem vermelho no vértice.assobio extremamente fino mas firme, prolongado (1 a3 segundos) e descendente: "iü", compreendendolargo intervalo (de quarta a oitava); o timbre deste pioassemelha-se à vocalização de eao canto de (este ascendente), ambos, às ve-zes, seus vizinhos nas montanhas do sudeste do Brasil.Parece que a vocalização de não foi registra-da antes do começo do nosso trabalho no Espírito San-to, em 1939. Possui ainda outras vozes, p. ex., um "tet"fraco e um tremulado e alto"zirrr",

É solitário, nas copas das árvores, pousa calmamen-te em postura ereta podendo lembrar (visto por baixo) afêmea de Alimenta-se de frutas grandes epequenas (p. ex. de merendíba, procura la-gartas nas pontas de galhos frondosos, ficando depen-durada de ponta-cabeça. Quando o macho briga exibeverticalmente o vermelho sedoso do vértice que entãobrilha de longe. Levou longo tempo até que se soubessesobre a reprodução da espécie (v. Reprodução). Do co-meço do ano em diante, associa-se a bandos migrantesde pássaros (Espírito Santo, Rio de Janeiro). Vive tantonas montanhas, onde parece expandir-se mais, como nasbaixadas, p. ex., a ex-Guanabara. Distribuição muitodescontínua, da Costa Rica ao Paraguai, Pará, Alagoas eGoiás (rio Tocantins); Guiana, sul da Venezuela e lestedo Peru; também do sul da Bahia, Espírito Santo e Mi-nas Gerais à Santa Catarina. A vastíssima distribuição

__da espécie, subdividida em mais de uma meia dúzia desubespécies - de lado inferior amarelado (como no su-deste do Brasil e na América Central) ou branco (no To-cantins e ao norte do Amazonas) - é de difícil entendi-mento (Chapman 1939). Sua inclusão nos Cotingidae éproposta nossa, confirmada através de estudos decor-rentes de hibridação DNA-DNA (Sibleyet . 1984)."Araponguinha", "Bico-agudo'"'.

GALO-DA-SERRA, Pr. 31, 1

. 28cm.É uma das aves mais espetaculares deste con-tinente, sendo comparável às aves-da-paraíso da Nova

Guiné. O topete do macho ("galo") é uma crista larga,ereta semicircularmente à feição de um capacete roma-no, sendo movimentado, pela ave qual um leque que,em vaivéns, cobre o bico iludindo o observador sobre areal posição da cabeça do pássaro, tanto mais que este éigualmente capaz de cerrar um anel de penas ao redordos olhos, cobrindo-os. O grande espelho branco, for-mado pelas bases brancas das rêmiges, chama a aten-ção quando a ave pousa mantendo as asas levantadas;as belas penas amarelas do macho aparecem no segun-do ano de vida, completando-se a plumagem adulta so-mente no terceiro ano. A fêmea ("galinha") é tão escuraque parece ser negraà distância.

grasna como um corvo ou mia um "gau"; omacho produz estalos lembrando uma rendeira

seu vôo é sibilante (v. abaixo). Cada machotem seu próprio "palco", um certo lugar no solo da mata,entre rochas, limpo de tanto baterem as asas as aves alipresentes; em seguida o macho exibe sua plumagemesplêndida eriçando-se e imobilizando-se, qual estátua;não faz o menor movimento, mas a menor brisa agita afiligrana das secundárias alongadas que se unem às co-berteiras superiores da cauda (igualmente muito desen-volvidas), formando um único e grande leque dispostoquase horizontalmente; conforme a incidência da luz,sua plumagem vai do laranja ao dourado e ao verme-lho, tornando-se pardacenta ou apagando-se na sombra.Embora vários machos vivam juntos, não há coopera-ção mútua no "palco", conforme afirmam diversos ob-servadores; ocorrem apenas palcos individuais que sãoagrupados ao longo de um perímetro de alguns metros("parada de galos") e utilizados simultaneamente; an-tes e depois da exibição as aves pousam nos galhoscircunvizinhos, onde também aparecem espécimensimaturos (pardos) que podem exceder, em número, osmachos adultos.

Frugívoros como o geral dos cotingídeos. Procuramos.frutos de árvores e os coquinhos produzidos pelo pal-mito sp.). Os Irmãos Olalla, que tinham muitaprática com a fauna dos altos Orenoco eAmazonas, des-crevem com detalhes, como os galos-da-serra caçam in-setos e pegam lagartixas e rãs (v. Olalla 1956). Os ma-ch?~, ao pousar e ao levantar: vôo, emitem com as pri-manas externas (penas sonoras) um sibilo estridente,lembrando e Pousando ficam eretos eimóveis como outros cotingídeos típicos. Em terrenocortado pela erosão ou rochoso, num ambiente bemúmido e sombreado na mata primária a fêmea confecci-ona sobre saliências nas paredes seu ninho de barro egravetos, em forma de taça; põe dois ovos manchadosque choca sozinha.

Habita as escarpas cobertas de florestas ;'cortadaspor córregos sombreados. Ocorre nas serras fronteiriçasentre o Brasil, Guianas, Venezuela e Colômbia. Até o mo-mento, ainda comum na região em questão. Até bemP?UCo tempo acessível apenas com a cooperação deín-dIOS;contudo o gradual avanço de frentes colonizado-

.,

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n

COTINGIDAE 671

ras poderá ameaçá-l o, inclusive por ser peça extrema-mente cobiçada pelos colecionadores de pássaros degaiola, embora a grande maioria ainda morra quandoengaiolada.

Existe um parente próximo nos Andes, da Colôm-bia à Bolívia, de intensa coloração amarelo-averrne-lhada, asas e cauda negras e terciárias cinzentas(R.

íris azul-clara, diversa da do nosso R.

(

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que a possui laranja como os pés. A posiçãosistemática de foi muito discutida e o gêne-ro colocado numa família a parte Rupicolidae ou atémesmo considerado um enorme tangará (Pipridae).Para nósé evidente que é mais ligada aosCotingidae, inclusive pelo tipo de construção doninho (v. e "Galo-da-serra-do-paré '".

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Page 171: Ornitologia Brasileira - Helmut Sick 2ed-03

672. ORNITOLOGIA BRASILEIRA

CORTA-RAMOS: FAMíLIA PHYTOTOMIDAE (1)

Pássaros restritos à parte meridional da América doSul, lembram emberizídeos. Pertencem, porém, ao gru-po -dos Suboscines. Pela morfologia - esqueleto,podoteca, siringe, artérias e pterilose - têm muita afi-nidade com os cotingídeos (com exceção da reprodu-ção). Resultados de análises bioquímicas junto com asconclusões morfológicas sugerem a reunião do gênero

ao gênero mais antigo (Cotingidae)e a manutenção da família (Lanyon& Lanyon 1989).Caráter único é o bico finamente serrilhado, adaptaçãopara forragear folhas. Dimorfismo sexual acentuado nocolorido. Tem modo singular de cortar folhas, tornam-se nocivos em quintais. São migratórios, abandonam;em parte, sua área de reprodução durante o inverno (Chi-le, Argentina), época na qual se deslocam para regiõessetentrionais adjacentes. O ninho (não se reproduz noBrasil) é uma cesta grande, feita de ramos grossos e for-rada com material macio, portanto um tipo de nidifica-ção que não ocorre em Cotingidae. .

CORTA-RAMOS-DE-RABO-BRANCO,

VS

18cm, 32g. O macho é vistoso: fronte e lado inferiorvermelho-ferrugíneos, lembrando o pisco-chilreiro,

da Europa; costas acinzentadas, man-chadas de preto, faixas sobre a asa e a ponta da cauda

g( e g Ge )

Bekoff, M. 1985. Plantcutter Pp. 466-67. In: Dictio o s (B.Campbell & E. Lack, eds). Calton: T& A D Poyser e Vermillion:Buteo Books."

Belton, W. 1978. 95:413.15. ot i , primeiro

Fig. 278. Corta-ramos, il . O bicoserrilhado éum traço único. Original, M. Grabert.

brancas; íris vermelha; a fêmea modestamente colorida:toda manchada de negro, sem vermelho, um pequenotopete em forma de crista no píleo, lembra remotamen-te um filhote de tico-tico, mas é muito maior, asa e cau-da semelhantes às do macho adulto. grosseiro "tjãb"(chamada). Fleumático, pousa calmamente sobre arbus-tos e árvores. Corta folhas, mesmo folhas duras de ár-vores e botões, executando um rápido movimento late-ral com a cabeça, arrancando pedaços dos vegetais paracomer; come também bagas e sementes. Ocorre daPatagônia à Bolívia e Paraguai, migra para o Uruguai eRio Grande do Sul (Parque Espinilho, maio).

registro no Brasil)Küchler, W. 1936.J. o 84: 52-62. (anatomia)Lanyon, S.M. & W. E. Lanyon. 1989. 106:422-32. (posição

sistemática)

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Page 172: Ornitologia Brasileira - Helmut Sick 2ed-03

OSCINES 673

SUBORDEM OSCINES

..-

A subordem Oscines abarca, com aproximadamen-te 4.500 espécies no mundo inteiro, um pouco menosdo que a metade das aves vivas da Terra (9.700 espé-cies). Os Oscines alcançaram o maior desenvolvimentonas regiões tropicais do Velho Mundo e na Austrália.Calcula-se que os Oscines invadiram aAmérica do Norteno Terciário Superior, usando o -estreito de Bering ..

A dificuldade de taxonomia dos Oscines reflete-senos mesmos problemas que encontramos no grupo dosSuboscines. Além da falta de elementos conclusivos tor-na-se embaraçosa a necessidade de apresentar um sis-tema linear, já que os laços de parentesco, sãotridimensionais. Adotamos a

(A.0.v. 1983).É fato que, nessa lista, vá-rias "famílias" anteriores, como Sylviidae e Turdidae,importantes para a região neotropical, foram tratadascomo subfamílias, perdendo assim o necessário desta-que. Com destaque figura a superfamília Muscicapidae,típica do hemisfério setentrional e do Velho Mundo comcerca de 400 espécies mas antes desconhecida no Brasil;os Muscicapidae correspondem largamente aosTyrannidae.

Caso análogo surgiu. com o estabelecimento dasuperfamília Emberizidae que inclui como subfamílias,ao lado de Cardinalinae e Emberizinae, as antigas famí-lias "Parulidae", "Thraupidae" (incluindo parte dosCoerebidae) e "Icteridae". A família Fringillidae no Bra-sil é representada atualmente apenas pelos Carduelinae

pintassilgo).Pertencem aos Oscines também os Nectariidae do

Velho Mundo (África etc.), evolução notavelmente aná-loga aos Coerebinae e Beija-flores nectarívoros neotro-picais. A existência de nichos ecológicos semelhantesnas várias partes do globo, estimulou a convergênciade famílias não aparentadas.

Os Oscines passam por ser o grupo mais evoluídoda classe AVES. Embora se encontrem caracteres "pri-mitivos" e "progressivos" em quase todas as famílias, épossível formar dentro dos Oscines uma seqüência quedemonstra uma certa tendência evolutiva (Amadon1957; Oelacour& Vaurie 1957). Os Suboscines não sãoancestrais dos Oscines.

A siringe dos Oscines é complexa, possuindo pelomenos seis, geralmente sete (até nove) pares de múscu-los siringeais . A estrutura da siringe dosOscines é menos variada do que a dos Suboscines ouClamatores, o que sugere a monofilia do grupo dosOscines (Ames 1971): Embora nos Oscines o canto sejafreqüentemente privilégio do macho, a estrutura dasiringe é igual em ambos os sexos, no entanto a muscu-latura do aparelho vocal do macho é mais poderosa. Emcertas famílias (p. ex. Troglodytidae) a fêmea canta tam-bém; às vezes a fêmea canta até melhor do queo macho

(p. ex. certos icteríneos). A complexidade da siringe nãoimplica em que a vocalização dos Oscines, designadosfreqüentemente como "aves canoras" seja sempre supe-rior as dos Suboscines. As vozes dos Suboscines, emmuitos casos, são tão impressionantes como as dosOscines, a vocalização de certos Suboscines pode até"superar" a dos Oscines. A ave-lira,the ,sp., da Austrália, considerada o representante mais "pri-mitivo" dos Oscines, a partir da anatomia, tem umasiringe simples mas possui um canto notável: é consi-derada insuperável na imitação de outras aves.É, por-tanto, o sistema central nervoso e suapré-disposiçãogenética que garante a maior eficiência do aparelhofonador. A ave brasileira que se destaca na imitação deoutras aves é o "sabiá-poligloto", encii daAmazônia. .

O ossículo doouvido-médio columela ou estribo dosOscines é mais simples do que o dos Suboscines e por-tanto menos apropriada na taxonomia.

Há bastante variação no desenvolvimento das pri-márias. A décima (a mais externa) é rudimentar em graudiverso, constituindo-se numa pena pequenina, rígida,que nem alcança o comprimento das coberteiras supe-riores das primárias. Fala-se dos nooe e.Entre os representantes mais citados está o nine-

e ge os atuais Emberizidae (v. acima),muito importantes neste hemisfério, originários, prova-velmente, da América do Norte tropical (Mayr 1946),considerado o grupo mais progressivo dos Passerifor-mes. A décima primária falta também aos hirundinídeose motacilídeos, ambos com asas relativamente longas epontiagudas. Algumas farrulias, como os vireonídeos, sãotransitórias quanto à situação das rêmiges externas. Onúmero das primárias é um dos caracteres-chave na clas-sificação dos Passeriformes, mas não indica sempre pa-rentesco próximo. Ao que parece há, em vários grupos,a tendência de reduzir o número de rêmiges, revelando-se nisso urna tendência geral da evolução.

Uma análise aerodinâmica aponta claramente que setrata de um aperfeiçoamento de vôo: tendência de tor-nar a asa mais prepícía -para o vôo de longas distâncias.Trata-se de uma adaptação em aves que vivem emhábitats abertos e que tornaram-se migratórias - carac-terística de vida inteiramente alheia aos Suboscines.

N o Brasil, os Oscines, com 329 espécies, perfazemapenas 35% dos Passeriformes. São porém representa-dos por 17 famílias ou subfamílias o que corresponde aodobro de famílias de Suboscines existentes na mesmaregião. Há três grandes grupos de Oscines neste conti-nente: Thraupinae (96 espécies), Emberizinae eCardinalinae (83espécies) e Icterinae (37espécies) no Bra-sil. Duas famílias de Oscines foram introduzidas pelohomem: Ploceidae (Pardal) e Estrildidae (Bico-de-lacre).

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674 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

Os Oscines são da maior importância no Velho Mundo,onde predominam entre os Passeriformes.

Na América do Sul, a maioria dos Oscines são imi-grantes relativamente recentes, compondo-se em doisgrupos no que se refere a sua origem: 1) famílias apa-rentemente norte-americanas como Troglodytidae (re-motamente descendentes de pré-Muscicapidae do Ve-lho Mundo), Vireonidae, Icterinae, Parulinae eThraupinae; 2) famílias oriundas do Velho Mundo queinvadiram a América do Norte mais recentemente atra-vés do estreito de Bering e de lá vieram para a Américado Sul, p. ex.: Hirundinidae, Corvidae, Turdinae,Sylviidae e Motaciliidae -.As faculdades colonizadorasdos imigrantes variam. Uma única espécie de Oscínes,

conseguiu fixar-se até em Femandode Noronha, no meio do Atlântico, onde reside ao ladode um representante dos Suboscines ,Tyrannidae). Os Oscines chegaram ao ponto extremo daAmérica do Sul; na Terra do Fogo p. ex. reproduzem osdois trogloditídeos e

que também se reproduzem nos Estados Unidosonde são bem conhecidas como aves pátrias.

Consta que alguns Oscines (v. acima,p. ex. Thraupinae) devem ter akançado a América doSul já durante oTerciário, antes de se unirem definitiva-mente os dois continentes; estabeleceram na América doSul seu centro principal de evolução. Isto parece ser vá-lido também para os Icterinae. As sub-farnílias Icterinaee Emberizinae foram designadas "pan-americanas", poissua evolução é quase igual nos dois subcontinentes. Deveter havido, durante os séculos, constante intercâmbio dafauna alada de um lado para outro.

A imigração dos Oscines na América do Sul come-çou bem antes da formação das bacias do Orenocoé doAmazonas, como provam muitas populações de espé-cies não florestais que hoje habitam as regiões ao norte eao sul dahiléia, encontrando-se separadas por esta, re-velando uma distribuição notavelmente descontínua(v. p. ex., sob Emberizinae).

As antigas imigrações dos Oscines devem ter acom-panhado muitas vezes os Andes. Ocorreram outras imi-grações mais recentes que penetrando no norte do Bra-sil encontraram o rio Amazonas como obstáculo. Istoaconteceu com o uru-do-campo(Colinus i e opedro-celouro descendente dos

norte-americanos. .Há fósseis do Terciário de Oscines da América do

Norte, de emberizíneos, corvídeos, turdíneos eparulíneos, de 10 a 25 milhões de anos de idade. Do Bra-sil há documentaçãofóssil apenas do Pleistoceno (20.000anos), compreendendo vireorríd eos, icteríneos etraupíneos. Contamos no Brasil 29 espécies endêmicasde Oscines.

Os Oscines têm que competir, neste continente, comos Suboscines, que nele são mais antigos. Muitos Oscinesnão estão adaptadosà vida florestal, que é o ambienteprincipal dos Suboscines. Há, contudo, vários represen-

tantes tipicamente florestais de Oscines, p. ex.,trogloditídeos. Os Oscines vivem freqüentemente empaisagens abertas. Tal diferença ecológica é uma das ra-zões pelas quais não deve haver tanta competição entreOscines e Suboscines. Em lugares paludosos e campes-tres, Oscines como icteríneos e emberizÍneos tomam-seas aves mais abundantes deste país. A redução debiótopos florestais neste continente, seja por condiçõesnaturais climáticas, seja pela intervenção do homem,favorece a distribuição de muitos Oscines. Por essa ra-zão resulta, com freqüência, a impressão errônea de queem terras cultivadas existe uma avifauna mais rica doque em ambiente natural. O empobrecimento da flora,pela ação humana, estimula apenas.a expansão de cer-tas espécies banaissinântropas, sejam Oscines ouSuboscines. .

Os Oscines estão entre as poucas aves que os portu-gueses, ao descobrir a América, reconheceram como pa-rentes de aves da sua terra, justificando a aplicação denomes de espécies européias, como "andorinha", "gra-lha", "melro", "rouxinol" e "canário". Daí resultou, to-davia, certa confusão, pois as espécies brasileiras, emquestão, apenas se pareciam com as da Europa, nãosendo iguais. A solução foi adotar, para a fauna lo-cal, as denominações indígenas, que se ofereciam emabundância.

M.tracheolaterolis

M. bronchotracheolis onticus

M.sternotrocheolis

M.bronchiolis posticus

Fig.279.Siringede um representante dos Oscines,osanhaçu-frade, ius, Thraupinae;possui seismúsculos siríngeais;A, B, elementoscartilaginosos.OriginalP.L.Ames.

.,III

-, .

Page 174: Ornitologia Brasileira - Helmut Sick 2ed-03

HIRUNDINIDAE 675

ANDORINHAS: FAMíLIA HIRUNDlNIDAE (15)

--São pássaros bem conhecidos, de vasta distribuição

no mundo, freqüentemente sinântropos. Fósseis doTerciário Superior (plioceno, há 4 milhões de anos) daAmérica do Norte. A família é posta no começo dosOscines devidoà estrutura do seu aparelho vocal, con-siderado relativamente "primitivo". Os hirundinídeosapresentam-se, porém, altamente evoluídos em váriosoutros aspectos.

,

Uma das famílias melhor caracterizadas dos Oscines.A semelhança das andorinhas, em vôo, com os ando ri-nhões (Apodiformes, Apodidae, etc., v. Pr. 19)-é superficial. As asas das andorinhas são mais curtas elargas e menos rígidas do que as dos andorinhões, daíresultando o vôo mais ágil e menos rasante das andori-nhas. As andorinhas passam por serem os mais gracio-sos voadores entre todas as aves. A diferença mais fácilde se perceber entre andorinhas e andorinhões é que asprimeiras pousamà vontade em fios, antenas de televi-são e galhos, enquanto os andorinhões são completa-mente incapazes de se empoleirar, sabendo apenas agar-rar-se em paredes ásperas ou deitar de barriga. Por issoos andorinhões só são vistos voando. As andorinhas,pelo contrário, são os pássaros que mais se encontrampousados em fios elétricos e telegráficos, o que facilitasua observação.À hora do crepúsculo podem confun-dir-se as espécies peq1..:enascom morcegos.lbiu , pousada em rochas no rio ou voando rente

à superfície d'água, pode parecer um pequenomaçarico. A grande lembra, emvôo, um pequeno gavião imaginário.É convenientenão usar, nesta família, a denominação" andorinhão"mas sim "andorinha-grande" pois "andorinhão" é adesignação adequada para osapodídeos,grandes oupequenos.

Pescoço e bico curtos, este bastante largo e chato,adaptação perfeitaà captura de pequenos insetos emvôo, como nos apodídeos, com os quais têm em comumtambém a particularidade de possuírem na retina doiscentros de focalização: um central binocular (para foca-lizar à distância maior) e outro periférico, monocular ..Pernas curtas, dedos fortes, próprios para se segurar bemno poleiro. Sua aptidão para andar é reduzida. Sexossemelhantes. A voz é chilreada ou gorjeada, parecida emespécies aparentadas; cantam às vezes no ninho, duran-te a noite o gne e

c e dispõem, no sul do país (Rio Çran-de do Sul), de um notável canto de madrugada, execu-tado em vôo, corno o famoso canto diurno da calhandraeuropéia, "skylark", . Em e

foi demonstrado que a ave possui a capacida-

-

de de emitir sons diferentes através de cada um dos doisbrônquios (v. nudicollis, Cotingidae).

São geralmente rigorosamente entomófagos e, juntocom os andorinhões, são os principais consumidores doplâncton aéreo. As andorinhas são as primeiras a se apro-veitarem de revoadas de cupins e pequenas formigas,efemerópteras, moscas, etc. Consta que apanham tam-bém abelhas e até vespas. Não é raro achar na moela deuma andorinha himenópteros possuidores de gran-de ferrão. Quanto às abelhas, é provável que se tratemais de zangões e abelhas melipônidas (sem ferrão),pois as. andorinhas engolem os insetos semmatá-los(v. Tyrannidae). Pegam os insetos um por um, cornoos andorinhões e bacuraus.

O estômago' de um único indivíduo de o, coletado no alto São Francisco, Minas Ge-

rais (setembro),à tardinha, que fazia parte de um gran-de bando migrante, continha 402 insetos, pertencentes amais de 20 famílias, em primeiro lugar cupins alados(295 exemplares); havia também 10 zangões. Foi calcu-lado que um casal de s na Europa (espéciecujo representante norte-americano migra para o Bra-sil) consome, com sua prole (duas posturas por ano, de3 a 4 filhotes cada), cerca de 291.000 insetos. Quandoandorinhas voam renteà superfície da água, nem sem-pre é fácil discenir se apanham insetos, bebem ou to-mam um ligeiro banho.

Já se observaram andorinhas explorando um enxa-me de cupins em revoada, junto com libélulas. Aprovei-tam-se de queimadas capturando insetos afugentadospelo fogo e a fumaceira.

As andorinhas são vistas como grandes consumido-ras de mosquitos, o que não é verdade. Consta nos jor-nais que podem comer por dia 700 a 2.000 pernilongos.As andorinhas não caçam no crepúsculo e nem pene-tram em hábitats fechados: domínio dos mosquitos.

Tal corno os andorinhões (Apodidae) as andorinhassofrem com ventos fortes e chuvas pesadas; o mau tem-po é uma grave ameaça para estas aves. Também comoos andorinhões tentam voar contra o vento, sendo asmenores entre todas as aves capazes de realizar longosvôos planados para apanhar insetos. As andorinhas nãosão rápidas. Sua velocidade normal, quando estão sealimentando, é de 20 a 30km/hora; durante as revoadas.antes do pouso, é de 80km/hora.

O alarme dado por andorinhas pelo aparecimentode um gavião não chama menos a nossa atenção do que

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676 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

a gritaria de suiriri e bem-te-vi. Como um enxame demoscas, as andorinhas-pequenas-de-casa, elidon

voam gritando ao redor de um gavião quecircula perto de sua morada; parecem saber distinguirse o gavião está "passeando", descansando, ou se elevem disposto a caçar; neste caso fogem e se escondem.Vimos perseguir uma pena de urubu quecaiu do alto, ato que poderia ser interpretado como "brin-cadeira". A mesma classificação , mere-ce, p. ex., a perseguição de um bem-te-vi por uma

g no céu alto. Y.também sob suiriri ee Gostam de banhar-se na chuva.

Dormem embaixo de telhados ou em buracos, o ca-sal dorme junto no ninho (o que não é comum em aves).Os bandos migrantes de e

e outros pernoitam em tabuais, canaviais ecapinzais altos, na Amazônia sobre arbustos em ilhasfluviais. Os durante as migrações, pernoitamtambém nas árvores existentes nas praças públicas decertas cidades. Todo mundo conhece as imensas fileirasde andorinhas pousadas sobre os fios elétricos. Quandose ouve dizer que houve pernoite ou nidificação, isola-

.da ou coletiva, de "andorinhas" em chaminés; é quasecerto que não se tratava destes pássaros mas sim de an-dorinhões Quando são citadas "cachoeirasde andorinhas" e "grutas de andorinhas" trata-se comcerteza de andorinhões dos gêneros ou

. No crepúsculo as andorinhas tornam-seinquietas, assim como os sabiás, etc. Aumentam seu piare grinfar até ocuparem o lugar de dormir.

Aninham em buracos de vários tipos, fazendo umacama solta de capim, folhas e penas. e fa-brica uma gamela de barro ou estrume, à qual adicionasaliva, o que lhe dá uma resistência extraordinária, de-pois providencia um colchão macio; pode levar 20 diasarrumando seu ninho. Aproveitam caibros embaixo dastelhas e entre forros, cavidades em construções huma-nas, como escoadouros em muros, p. ex., já observadonos e elidon às vezestambém nos gostam de buracosem barrancos, p. ex.,

e e esta última sabe escavargalerias, instalando-se ocasionalmente em barrancos derodovias e buracos do buconídeo te(Espírito Santo). nidifica em bura-cos nas rochas no meio do rio e em barrancos, ou galhosocos, debruçados sobre a água. Nestes últimos tambémse reproduzem [asciata eEncontramos gne nidiEi ca n d o numcupinzeiro arbóreo, no alto Xingu, Mato Grosso. A an-clorinha-doméstica-grande, já no começo do século pas-sado, abandonou as rochas em favor das casas, proces-so hoje quase concluído. O mesmo podemos dizer sobre

o seu representante norte-americano, gnenão são capazes, porém, de acompanhar a verticali-zação das cidades modernas.É exceção achar gne

ainda nidificando em rochas (p. ex. Chapadadas Mangabeiras, Bahia, 1976).

ocupa regularmente os ninhos dojoão-de-barro; nos quais prepara uma tigela macia,utilizando esterco; vimos esta andorinha nidificarnum dreno de um muro no Rio de Janeiro, e numcupinzeiro arbóreo oco, escavado por um periquito(alto Xingu, Mato Grosso).

Há uma tendência de alguns casais nidificarem jun-tos, P: ex., em g , fato melhor conhecido nos

ogne Não encontramos, no Brasil, colôniasgrandes de andorinhas (exceto ao con-trário do que se dá no Hemisfério setentrional.

Os ovos, geralmente de um branco-puro, chocadospela fêmea. Os, filhotes de elidon euc nas-cem após uma incubação de 15 dias, os pais se revezamna sua alimentação. Esta consiste numa bola de inúme-ros insetos grudados por saliva, colocada no fundo daboca dos filhotes, bem atrás da língua para garantir adescida automática da refeição ao estômago, situaçãoque em geral vale para os Passeriformes. A prole aban-dona o ninho com cerca de 26 dias, mas regressa. Nestaidade diversas espécies de andorinhas são pardas emcima, em vez de negras brilhantes. Os casais que voltama um determinado ninho, após o períodode descanso,não são sempre os mesmos, conforme pode ser provadoem exemplares, anilhados. e fazduas a três posturas por ano (Rio de Janeiro).

Há, às vezes, competição entre andorinhas e o par-dal, e por um lugar para o ninho. NoXingu, Mato Grosso, vimos ogne afugentar umcasal de araçaris, e oglossus otis,que se tinhaaproximado de seu ninho.

I,

,

As andorinhas são um dos símbolos mais represen-tativos das aves migratórias. Após a reprodução, todasas espécies de andorinhas que residem no Brasil meri-dional- mas não todos os indivíduos - empreendem -migrações mais ou menos extensas, dirigindo-se ao nor-te, onde o alimento é mais farto. Em parte atravessam oequador, p. ex., alcançando orio Uaupés (Amazonas) e o sul da Venezuela (julho,abril). As populações meridionais penetram mais parao norte, p. ex., ogne e sc do S11-1 e centrodo Brasil, aparece regularmente e em quantidade naAmérica Central, tal como o andorinhão e ei

idion lis. Uma das maiores trajetórias executadas poraves Passeriformes neste contingente, é a migração daandorinha otiochelidon l p go que temsido coletada na Costa Rica, correspondendo a mais de4.000km em linha reta.

v. 1

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HIRUNDlNIDAE 677

Na separação de indivíduos migrantes e residen-região de São José do Rio Preto, sendo a andorinha-do-tes, apanhados no mesmo local, pode servir, até cer- méstica-grande dominante. Em 1975 ato ponto, a apreciação do estado da plumagem: os dos Americanos, subis, já era maio-visitantes de p. ex., estão na muda, ria havendo um aumento gradativo dessa espécie. Nosenquanto os residentes, que reproduzem, não. Podem últimos anos se calculou p. ex. 70% Psubis,20% Pocorrer, porém, exceções, pois não é raro que perto (a nossa andorinha-do-campo) e 10%PEm feve-do equador a muda ocorra também durante a época reiro de 1990, foi a espécie domi-da nidificação (Eisenmann 1959). Veja mais sobre esse nante nas concentrações monitoradas em São Pauloassunto abaixo. (E. S. Morton). Quando estão pousadas em fios elétricos

Durante as migrações, as andorinhas congregam-se torna-se fácil identificar as espécies.freqüentemente às centenas, às vezes alguns milhares, Numa refinaria de petróleo às margens do Rio Ne-sobretudo antes de dormir. Formam-se nuvens, imen- gro, próximo a Manaus, Amazonas, foi registrada emsos véus sinuosos. Embora voem bem aglomeradas é novembro/dezembro de 1984 uma concentração deadmirável que não haja encontros no ar, o que ocorre, c.100.000 andorinhas; 60% eramsubis,o restantetambém, aos bandos de maçaricos setentrionais, os quais, P. e (Sanaiotti 1985). Foramjuntos com as precedentes, estão entre as aves que fa- encontradas andorinhas ocupando tubulões, escadarias,zem as maiores concentrações que se conhece neste país; plataformas, encanamentos e fios entre l,5m a 40m deas andorinhas ultrapassam nisto de longe os altura. O local, intensamente iluminado, apresenta-se

cujos bandos estão"em movimento na mesma com grandes jatos de vapor, calor e barulho fortíssimoépoca. Essas acumulações de andorinhas na Amazônia e um cheiro insuportável para nós - para as aveslevam o viajante (que percorre a região entre fevereiro e pareciam um pouso adequado e seguro. Notou-se queagosto, observando apenas os rios, os campos e clarei- durante todo o ano as andorinhas se concentravamras adjacentes) a crer que elas sejam as aves dominantes nessa refinaria.da Amazônia, quando estas, na sua grande maioria, são Quando se pode colher amostras, como num anilha-visitantes de longínquas regiões meridionais. Quando mento no Pantanal, Mato Grosso, é interessante prestaras andorinhas do Sul iniciam a volta para a sua pátria, atenção na muda que possibilita tirar conclusões sobrecomeçam a chegar as do Norte: subis, os ciclos anuais dessas aves. No caso em foco, 89% das

e H. às vezes em bandos mis- 46 exemplares examinados, apresentaram mudatos, demorando-se até março/abril no Brasil. Há alguns total (significando descanso reprodutivo das aves quecasos em que espécimens anilhados nos EUA foram chegaram do norte), enquanto 85% das 40apanhados no Brasil, permitindo localizar onde nas- apanhadas, tinham plumagem fresca, sem mudaceram (v. Até 1975 foram regis- alguma, prontas para nidificar. A marcação viatradas no Brasil 6 andorinhas anilha das na América . micropartículas de tinta sensível a ultra-vio-

do Norte: 2 subis, 1 e 3 leta, técnica desenvolvida pelo U.S.Fish and WildlifeService, aplicada em 1985 por Luis D. Vizotto, São José

Nos últimos anos os jornais começaram a relatar so- do Rio Preto, São Paulo, foi um sucesso. Pelo processobre os grandes bandos de andorinhas que, periodicamen- de lançamento de jatos líquidos ("sprayamento") comte, pousam em árvores densas das praças das cidades pigmentos visíveis para nós apenas sob luz ultra-viole-do interior, sobretudo de São Paulo. A televisão mos- ta, nos locais de concentração das andorinhas, foramtrou a chegada das andorinhas nos seus dormitórios co- atingidas e marcadas milhares de aves. A distribuiçãoletivos. Não são geralmente bem quistos uma vez que dos pigmentos foi a seguinte: São José do Rio Preto re-sujam os carros e os transeuntes. Houve tentativas de cebeu violeta; Barretos, laranja-fogo; Ribeirão Preto, ama-expulsar as aves explodindo rojões, utilizando jatos de relo-dourado; Araraquara, verde e Rio Claro, azul. Aságua e usando até mesmo tochas de fogo. tam- .. ,,_cores permanecem no, pássaro apenas até a próximabém desviar os bandos para um bosque vizinho que' foi 'muda, talvez cérca de meio ano. Das 200,000 andorinhasentão iluminado, enquanto as praças centrais foram "micro-etiquetadas" em São Paulo foram registradas 29mantidas às escuras. A iluminação do bosque contudo nos EUA e uma no Canadá. Através do anilhamento con-não foi suficiente para atrair as andorinhas o que levou vencional se conseguiu durante 60 anos apenas uma oua prefeitura local mandar cortar as árvores da praça.É outra andorinha recuperada. Na América do Norte elasum fato interessante que as andorinhas, como aves tipí- voltaram para as suas casas de alumínio, há muito pre-camente sinântropas se acostumaram durante anos a paradas pelos americanos e canadenses onde as'andori-pernoitar, durante suas migrações, sob forte iluminação, nhas marcadas foram assinaladas. Foram também acha-até mesmo lâmpadas de mercúrio, que acabam porafas- das algumas penas pintadas soltas, pesquisadas pelo la-tar os predadores, como gambás, corujas e morcegos. boratório de marcação em Laurel, Maryland. A maioria

Consta que no Estado de São Paulo as concentrações das 30 andorinhas recuperadas eram procedentes de Riodas andorinhas aumentaram sensivelmente. No início Claro e Ribeirão Preto.É provável que a famosa concen-da década de 70 eram cerca de oito mil andorinhas na tração de andorinhas do grande mercado antigo de Carn-

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pinas, São Paulo que não mais ocorre, se referiu tam-bém em primeiro plano à espécie americana subisem migração e nãoà local P.

As instalações da CVRD (Companhia Vale do RioDoce) no Pará, criadas em 1981, foram descobertas comoabrigo oportuno pelas andorinhas migrantes do sul quevêm aos milhares para a Amazônia onde "invernam"de maio a outubro. Este local fica ao sul de Marabá edestina-se ao processamento do minério de ferro extraí-dos das minas da Serra dos Carajás. As espécies envol-vidas nessa concentração são:

e que conver-gem aos prédios mais altos (30 a SOm) pousando nasvigas finas que sustentam o telhado de alumínio. Asconstruções mais baixas e as casas do local não são usa-das pelas andorinhas. Em fins de maio de 1990 tornou-se impressionante como os dejetos dos pássaros (crian-do problemas para a maquinaria), foram misturados amuitas penas caídas. A grande quantidade de penas tes-temunhou muda completa por qual passaram osmigrantes.

Um tipo diferente de migração envolveu no centrodo Rio de Janeiro um local de dormida coletiva da co-mum andorinha-pequena-de-casa,

num pequeno grupo de palmeirassp. localizadas no cruzamento de ruas com fortíssimotráfego, mais precisamente no bairro de Botafogo. Esse"dormitório" foi usado em todos os meses do ano, uni-camente pela espécie citada, com uma freqüência quevariou consideravelmente. As andorinhas não vieramdos arredores onde existe muita posssibilidade para sereproduzir. Elas vieram de longe, de regiões desconhe-cidas. Apareceram no crepúsculo, bem alto sobre as pal-meiras e voaram em círculos, esperando um grau de cre-púsculo mais adiantado - para finalmente se precipi-tar verticalmente em funil até as folhas das palmeiras.Somente, às vezes, uma e outra andorinha chegou dosarredores imediatos, em vôo baixo horizontal, asso-ciando-se ao bando que veio de fora.O tamanho dessebando variou bastante: de muitas centenas e até milha-res em abril de 1986 e janeiro/fevereiro de 1987, até umacentena apenas, em novembro de 1986. Entre setembroe abril dessa mesma época registramos dois a três ciclosde reprodução dessa andorinha na cidade circundante.A afluência ao "clube" das andorinhas continuava in-dependentemente da reprodução da espécie no mesmolocal. Não sendo possível examinar amostras para sa-ber a idade e o estado da muda dos participantes, nãochegamos a conclusões satisfatórias sobre o caráter des-sa concentração. Compare com os mencionados" clubes"de andorinhões, e no capí-

. tulo respectivo.

As andorinhas hospedam às vezes pupíparos(Hippoboscidae). Encontramos

sobre(Rio de Janeiro).

o aparecimento de alguns insetos nidícolas, comopiolhos, pulgas, dípteros (pupíparos) e percevejos (p. ex.Emisinae), rio material de ninho acumulado pelas ando-rinhas, não significa perigo para o homem; todavia,como medida sanitária preventiva, pode-se remover oexcesso de detritos durante os meses de ausência dospássaros; isso, porém, às vezes envolve o risco deafugentá-Ios.

Em certos lugares, p. ex., em Minas Gerais, vive noninho de palha' da andorinha-pequena-da-casa,

o percevejo(Haematosiphoninae, Cimicidae), parente próximo dopercevejo-dos-galinheiros, Essespercevejos hematófagos são exclusivamente parasitosdas aves, não sugam o Homem.

declínio

As andorinhas são recebidas pelo povo com simpa-tia, seu regresso na primavera provoca alegria, ("umaandorinha .só não faz verão") sua utilidade é patente atodo mundo, embora seja claro que os inseticidas sejambem mais eficientes contra os insetos do que as andori-nhas. São símbolos de paz e felicidade.

A popularidade das andorinhas no Rio antigo refletía-se na denominação dos carros de tração animal usadospara mudanças, chamados" andorinhas" (nome ainda hojeusado pelas empresas de mudança), que poderia ser umaalusão aos hábitos migratórios destes pássaros.

No entanto, houve casos em que até se empregaramesforços para enxotar as andorinhas, como aconteceuainda recentemente em Belém, Pará,e no Ceará (1969),mima demonstração da maior ignorância. As andorinhasestão ligadas ao Padre Anchieta. Um ninho de andori-nha traz sorte. Dizem que, quando se atira numaando-rinha a espingarda fica descalibrada (Nordeste).

Entre os perigos que ameaçam as andorinhas em tor-no dos seus ninhos citamos teias de aranhae sp.),que podem prender, sobretudo indivíduos novos quesaem ou querem entrar embaixo das telhas, fato obser-vado, p. ex., com e aparentemen-te tal ocorrência é acidental, não trazendo nenhuma van-tagem para a aranha (v. também sob beija-flores). Inimi-

46 O percevejo-dos-galinheiros, toledoi,só foi achado, até agora, em galinheiros-(ambientecriado pelo homem apósa descobertadeste continente)enão emninhos de avessilvestresamericanasonde deveria existir.Opercevejo-dos-galinheirosjá setoma raro devido ao uso de inseticidas residuais comhexachlorídeos (Usinger 1966).

I ! ,.

! I

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HIRUNDINIDAE 679

go de torna-se ocasionalmente asuindara, quando esta coruja está instalada no mesmoentre forro (Santarém, Pará). Registramos um caso deformigas-de-correição, que penetraram num ninho de

no barranco, e acabaram por matar os fi-lhotes (Rio de Janeiro).

Uma documentação surpreendente sobre um mor-cego (provavelmente um que apanhouuma andorinha-de-casa no ninho sob boa luz dentro dacasa, ocorreu no século passado (1869) em Blurnenau,Santa Catarina, segundo o naturalista R.F. Hensel -nesse caso nem a luz salvou o pássaro.

É lamentável que a sua existência esteja ameaçadapelo emprego de biocidas: as andorinhas ingerem inse-tos envenenados e pousam em galhos aos quais aderemvenenos de contato; os rios poluídos são abandonadospelas andorinhas ribeirinhas. Todos, neste país, recla-mam do declínio das andorinhas. Sério perigo para asandorinhas em qualquer parte do mundo são as chuvasprolongadas - ao contrário de andorinhões que têm acapacidade de cair em torpor.

Apareceram recentemente notícias de que andorinhasamericanas, a popular dos Americanos,

subis, morreram aos milhares devido ao ilimita-do uso de agrotóxicos organoclorados no Brasil. O ame-ricano [ames R. Hill que em 1986 estudou essa espécieno Brasil, chegou à conclusão que aquelas mortandadesteriam sido denúncias falsas exageradas, lança das tantono Brasil como nos EUA.É provável que um períodoseco prolongado e chuvas fortes prejudiquem as aves.Foram encontradas andorinhas mortas nos dormitórioscoletivos. Duas autópsias. revelaram uma extensaverminose. HiU fundou a

sso (Edinboro University, Pennsylvania), comuma revista quadrimestral para 3.500 sócios (dezembrode 1989) que organiza viagens ao Brasil entre dezembroe março para visitar vários dormitórios coletivos de

subis.Aconteceu no Rio Grande do Sul que em tomo de 50

andorinhas migrantes não identificadas morreram ele-trocutadas, em rede de alta tensão, em São Leopoldo emjaneiro de 1989 quando levantaram vôo em conjuntosubitamente, o que causou um violento arco elétrico noramal (H. Tessmer).

Mais que em muitas outras aves, a impressão da corda plumagem das andorinhas é subjetiva, pois se alteracom a luz. O colorido de, p. ex., uma

parece alterado quando sobrevoa uma pisci-na de cerâmica verde; no caso apresenta-se com um bri-lho esverdeado em vez de azul. O brilho verde ou azulpode ser caráter diagnóstico de espécies, como em

e mas pode mudartambém na vida individual com a muda (p. ex.

É comum algumas espécies voa-rem juntas, às vezes misturadas com andorinhões

sp., Apodidae), dando assim oportunidadepara um confronto instrutivo.

1. Grande, parda Pr. 36, 3); azul-ferrete e branco Pr. 36, 2, eP.

esta última como visitante meridional no alto Amazo-nas) ou toda azul subis).

2. Média ou pequena, anegrada e branca.2.1. Uropígio branco: e (Pr. 36,4)e c le (Pr. 19, S).

. 2.2. Lado superior preto uniforme: elidon(Pr. 36, 1), (Pr. 36, 8) e

as duas últimas com uma cintano lado inferior.3. Média ou pequena, parda: (Pr.

36, 5), (Pr. 36, 7), e(Pr. 36, n° 6) e (Pr. 36, 10).

4. Extras: (Pr. 36, 9) e H. .

ANDORINHA-OO-RIO,

Pr. 36,4

13,5cm. A andorinha típica da beira de rio; o uropí-gio, as largas bordas das rêmiges internas (e coberteirassuperiores correspondentes) e base da barba interna daretriz externa brancas; de brilho verde-azulado, nitida-mente verde em plumagem fresca; o branco da asa é ras-pado sucessivamente pelo gasto; o imaturo pardo, cintabranca. suave "schrrit" "tschürr" (chamado);"drüid-drüíd-drüid-drüid" (canto). Pousa, de preferên-cia, em rochas dentro do rio, em estacas ou tocos na água,é comum na Amazônia, freqüentemente ao lado de

. Ocorre das Guianas e Venezuela à Bolí-via e Argentina e em todas as regiões do Brasil. "Ando-rinha-ribeirinha". V a seguinte.

ANDoRINHA-DE-SOBRE-BRANCO,

Pr. 19,5

13,Scm. Espécie austral, muito parecida com a pre-cedente, mas sem as largas barras brancas na asa, faltan-do também o branco escondido das retrizes. Destaca-se,porém, um desenho branco sobre o loro: o lado superi-or de nítido brilho azul, às vezes um pouco esverdeado.A raça meridional, . leuc g , é 'um poucomenor, com o lado superior azul de aço, falta-lhe de todo'o sinal branco na face, suas terciárias porém têm nítidaspontas brancas. aguda, tinindo. Canto de madru-gada, v. Introdução. Voa baixo sobre gramados; cami-nhos, aparece nas margens dos rios, nosvarjões, apenasexcepcionalmente ao lado da espécie anterior.

o, Ocorre da Argentina, Chile e Bolívia aMato Grosso, Minas Gerais e Espíritole como visitante (Rio Grande do Sul, agosto; Rio

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680. ORNITOLOGIA BRASILEIRA

de Janeiro, julho a setembro), de vez em quando ao ladoda raça típica./I Andorinha-de-frente-branca?".

ANDORINHA-DO-CAMPO,

Pr. 36,3

17,5cm. Espécie grande, cor de fuligem, garganta eabdômen brancos, assim como as coberteiras inferioresda cauda que se destacam em vôo; nunca tem penasazuis, ao contrário de, indivíduos imaturos de

rouca, metálica, "tschri", bissilábico "tch-tch" (cha-mado); mais melodioso "djü-il-djü", "dchri-dchri-dchrruid" (canto). No Sul (Rio Grande do Sul, janeiro)executa um canto de madrugada, adejando sozinhanuma altura de aproximadamente 40 metros, numa áreade 20m2. Canta assim sem intervalo, uma meia hora,parando quando clareia o dia. Habita o campo e a pai-

. sagem aberta de cultura. No Rio de Janeiro, a imigraçãodo joão-de-barro, do qual é extensamente dependentena nidificação, facilitou sua propagação; usa vários ti-pos de ocos para criar (v. Reprodução). , mi-g Ocorre da Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolí-via ao norte do continente, onde a população meridio-nal sul e centro do Brasil) seencontra, durante as migrações (v. Introdução), com osrepresentantes residentes setentrionais (P.de colorido ligeiramente diferente) que se reproduzemna Amazônia. Ocorre no Sul apenas nos meses maisquentes, nidificando; as acumulações migratórias já senotam em fevereiro (Rio de Janeiro)."Uiriri" (Amazo-nas).É cogitada sua inclusão no gênero

ANDORINHA-DOMÉSTICA-GRANDE,

Pr. 36, 2

19,5cm, 43g. Andorinha-grande-de-casa, a maiorespécie nacional, de cauda bifurca da; é azul-ferrete ebranco, o desenho do lado inferior muito variável; oimaturo tem o lado superior cor de fuligem, semelhanteà precedente. ressonante "djip-djip djüp" etc... Vivenas fazendas, vilas e cidades rurais, de preferência nasigrejas ("andorinha-católica"). Não se acostuma tão fa-cilmente em cidades maiores, ao contrário de

V também sob Reprodução.Era famosa sua ocorrência no mercado velho ("casa dasandorinhas") em Campinas, São Paulo, espetáculo ex-traordinário, descrito por Rui Barbosa, estudado por R.v. Ihering, que contou, numa tarde, 30.000 no telheiro,onde ficavam fazendo um barulheiro semelhante ao ru-ído de uma máquina revolvendo cacos de vidros duran-te a noite toda, como se nenhuma das andorinhastives-se dormido; ao raiar a aurora partiam todas juntas. Hojeparece provável que as andorinhas de Campinas que seapresentaram aos milhares não eram P. mas simP.subis em migração, vindo da América do Norte, en-contrando-se com a local P.c , sua parente próxi-

ma que ali reproduz. Pode-se fazer uma dedução consi-derando os meses nos quais foram feitos os registros an-tigos (verão ou inverno). O mercado foi demolido, restaainda um mosaico em forma de andorinha na calçadaao redor do mercado. No conceito popular a andorinhatornou-se a "Ave-Símbolo" da cidade. , ç

, Ocorre do México à Argentina.No Brasil estão divididas em duas raças geográficas: ameridional , que começa a ni-dificar em agosto e setembro (Rio de Janeiro, Mato Gros-so) e abandona o Sul e o Brasil central (Goiás, rioAraguaia) no outono, emigrando ao norte do continen-te onde reside a população amazônica gne c.

, de tamanho menor). Os grandes bandos mi-grantes aparecem, p. ex., em fevereiro no EspíritoSanto, em julho no Amazonas e em outubro em MatoGrosso. Registrada na Ilha da Trindade. "Taperá","Andorinha-graride?". pode ser con-siderada substituto meridional da espécie citada aseguir, gne suois, com a qual forma umasuperespécie, junto com gne .

ANDORINHA-AZUL ", subis VN

20cm, um pouco maior (55g) que a precedente. A an-dorinha mais popular dos EUA, o . O ma-cho adulto é azul-escuro uniforme, a fêmea menos bri-lhante e com plumagem branca no lado inferior, seme-lhante à espécie precedente, fronte e um esboçado colaresbranquiçados (não existentes .devido ao parentesco próximo, a vocalização degnesubis,P.c e e P. é muito semelhante entre si.

ogne subis é espécie sinântropa muito popular naAmérica do Norte. O n e abriga1.116 ninhos delas, que emigram em setembro, indo atéa Bolívia e ao sul do Brasil: São Paulo, Rio de Janeiro(novembro, março, abril, maio), Espírito Santo (outubro,fevereiro), Amazonas (novembro, em março ainda emgrande número), Pará (janeiro, fevereiro). Dois indiví-duos anilhados nos EUA foram apanhados no Brasil.É esta espécie que se concentra em grandes bandos nointerior de São Paulo no fim e começo do ano, inclusiveCampinas, v. sob a espécie anterior e "Migrações" naintrodução.

ANDORINHA-DO-SUL *, gne VS

[18-19,5cm. A forma el ns reproduz-sé do sul daArgentina à Bolívia e inverna na Amazônia ocidental.No Brasil assinalado até o momento apenas para o no-roeste do Amazonas, região do alto rio Negro (julho esetembro) onde cerca de 24 exemplares foram coletados(Zimmer 1955). Devido às dificuldades de identificação,essa andorinha é certamente mais freqüente na Amazô-nia brasileira do que os registros existentes possam in-dicar.]

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HIRUNDINIDAE 681

ANDORINHA -PEQUENA-DE-CASA, NotiochelidonPr. 36, 1

12cm, 12g. Espécie pequena, sinântropa, comumno Brasil oriental, sem branco no uropígio; o imatu-ro por cima é pardo, o peito amarelado, lembra

"tzriâ". "tchi-tchi-tchiiã" (chamada);"tchrii-tchrii ..." (advertência, quando p. ex. um gaviãoaparece); o canto é um modesto chilrear tremulante.Vive nas vilas e cidades; espécie dominante tambémno Rio de Janeiro; ocorre nas pedreiras, cortes de es-tradas, barrancos e muros.

No sul, incluindo o Rio de Janei-ro, está presente em número maior apenas nos mesesmais quentes, aumentando periodicamente por indiví-duos migrantes: é comum também nos cumes das ser-ras altas, como ltatiaia. Ocorre da Costa Rica às Guia-nas, Bolívia e Argentina, Brasil oriental e meridional; noBrasil central e Amazônia ªparece apenas em númeroreduzido, migrando(Coiás, junho; Mato Grosso, julho/agosto; Pará, setembro); apopulação mais meridionalnão-brasileira emi-gra anualmente até o Panamá, onde há uma populaçãoresidente. "Andorinha-azul-e-branca*".

PEITORIL, Atiicora Pr. 36, 8

14,7cm. Espécie ribeirinha da Amazônia de longacauda entalhada. "tirít", "türüt" (canto, quando re-petido). É em várias regiões a andorinha dominante embeira de rio. Pousa tanto nas pedras no meio do rio, comoem galhos debruçados sobre a água, muitas vezes ao ladode Ocorre das Guianas e Venezuelaà Bolívia, ao norte de Mato Grosso (Xingu) e leste doPará. "Andorinha-de-faixa-branca "",

ANDORINHA-DE-COLElRA,

14,7cm. Possui os mesmos hábitos da precedente, temo lado inferior branco, o peito atravessado por uma fai-xa negra; o imaturo é pardo em vez de negro; ocorre naAmazônia, Brasil central, localmente Goiás, Bahia e Per-nambuco, desde alguns anos em Foz do Iguaçu,Paraná(julho, 1976,P. Roth). V.

CALCINHA-BRANCA,

Pr. 36,5

12,3cm. Pequena andorinha florestal que facilmenteescapa à observação, a não ser quando aparece em ban-dos durante migrações. Cor de fuligem uniforme excetoas calças, o que não se vê tão facilmente emvídarape-nas pousadoé possível). Em vôo se parece muito comandorinhões spp.,Apodidae), diferindo porémpela cauda bifurca da e por pousar em fios e galhos finosdespidos de folhas, como outras andorinhas; pernoita

em barrancos. Vive à beira da mata e voa sobre clarei-ras, mas não normalmente na beira dos rios. Ocorre noParaná, em São Paulo (Alto da Serra), Rio de Janeiro(Para ti, Nova Friburgo, março a maio em bandos; Itatiaia,agosto e novembro), Espírito Santo (Chaves), Bahia (Sal-vador); através do Brasil amazônico (Tocantins, MatoGrosso, Pará: Tapajós, abril) até o Panamá. "Andorinha-de-coxa-branca?".

ANDORINHA-MORENA,

Pr.36,7

12,5cm. Pequena espécie campestre, de cauda relati-vamente curta, reconhecível pela cor ferrugínea intensados lados da cabeça, da faixa nucal e do peito; destaca-se o boné anegrado. zi-zi-zi ... zulit". Local e perio-dicamente não rara, é até numerosa no Brasil central.Pode-se confundi-Ia com . Ocorre da Ar-gentina ao Brasil' meridional e central (Minas Gerais,Goiás, Distrito Federal, Mato Grosso) até o norte do con-tinente, provavelmente durante migrações.

ANDORINHA-SERRADOR,

Pr. 36, 6

14cm, 13,5g. Espécie de tamanho médio, nitidamen-te maior e mais delgada do que a precedente, cauda qua-se retangular. A garganta cor de canela-avermelhadacontrastando com a cor de fuligem dos lados da cabe-ça, do lado superior todo e do peito. O abdômen e ascoberteiras inferiores da cauda amarelo-pálido. O ma-cho adquire coma muda pós-juvenil uma bordaexter-na áspera ("serra") da primária mais externa, sendo umacaracterística notável, de função ainda desconhecida.

suave "djlid-djlid", "dschri-dschri". Vive nos cam-pos de cultura à beira de rio etc ... ,Ocorre da América Central à Argentina e em todo o Bra-sil. No sul do país é migratória. Na América do Nortesubstituída porS. antes incluída em"Andorinha-serradora-do-sul-",

ANDORINHA-DO-BARRANCO, VNPr. 36, 10

12,5cm. Pequeno visitante campestre da América do.Norte, o diagnóstico é o lado inferior branco atravessa-do por larga faixa peitoral parda. "zrrr-zrrr-zrrr",mais curta e baixa do que a precedente. Migra até a Ar-gentina, pode aparecer em qualquer parte do ~Brasil,depreferência em varjões, p.ex.,Amazonas (outubro), Pará(setembro, março e abril),Bahia (dezembro, março),Mato Grosso (Pantanal, outubro e novembro), Rio Gran-de do Sul (dezembro). Ocorre também no Velho Mun-do. V. e e elidon

imaturo.

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682' ORNITOLOGIABRASILEIRA

ANooRINHA-DE-BANDO, VNPr. 36, 9

15,5cm. Migrante do hemisfério norte, única pela cau-da longa, profundamente entalhada e atravessada poruma faixa branca (não visível de cima, na cauda fecha-da). O imaturo tem a cauda bem menos prolongada e olado inferior ferrugíneo pálido, fronte e abdômenesbranquiçados; assemelha-se pouco aos adultos, é maisfacilmente reconhecível pela vocalização. Voz: suave"wit", "üit-üit" (diagnóstico); canto trinado, melodioso,apressado. Vive em regiões campe~tres, varjões, fazen-das, na sua terra de origem altamente sinântropa, nãoentra porém em cidades como o Rio de Janeiro. Ocorreperiodicamente em todo o Brasil, às vezes centenas emilhares entre setembro e março; em outubro (Ama pá)e novembro (Rio de Janeiro) -costumam predominar osimaturos, em março (Rio de Janeiro) os adultos; suasmigrações estendem-se até a-Terra do Fogo.

da América do Norte, é substitutogeográfico de do Velho Mundo,possuindo a mesma voz, etc.; as populações da Europamigram para o sul da África. Registrada na llha da Trin-dade. "Andorinha-da-chaminé=".

( e

Antas, P. T. Z, C. Yamashita& M. P.Valle. 1986.J. 57 171-72. gne subis,Mato Grosso)"

Eisenrnann, E. 1959. 76:529-32. (migração)HilI, J. R. 111. 1986. 21:2-3. (concentração na refinaria

de Manaus)Oliveira, R.G. 1987. 8:12-17. (Casa das Andorinhas em

Campinas)Oniki, y. 1986. . 92:186-89.

nidificação )'Oren, D. C. 1980. 82:344-45. (concentração no Peru)Pacheco.], F.1993. III . . r.42. (espécies

invasoras do Rio de Janeiro)'Pacheco,J. F. 1995. 3:83-87..

presença na Amazônia brasileira)'

ANDORINHA -DE-DORSO- ACANELADO,

VN

14,3cm. Migrante setentrional, espécie robusta decauda relativamente curta e desenho complicado: fron-te esbranquiçada, boné azul brilhante, garganta ante-rior e faixa nucal castanhas, uropígio ferrugíneo. Habi-ta as regiões campestres, vinda do Norte vai até aArgentina, em bandos; registrada em várias partes doBrasil, P: ex. Amazonas (novembro), Rio de Janeiro Oa-neiro), ex-Estado da Guanabara (novembro), São Paulo(janeiro, fevereiro e março), Santa Catarina (janeiro), RioGrande do Sul (março). Perto de Viamão, Rio Grandedo Sul, num dia de vento forte e chuva miúda, foiobservado em janeiro um bando de muitas centenas(provavelmente milhares) de indivíduos, pousados naspontas de um taquaral (W. Voss). Em 13.01.1961, umindivíduo apanhado perto de São Paulo fora anilhadoem 19.06.1955, como filhote, no estado de Nova Iorque,EUA; outro apanhado em 20.01.1951 perto deFlorianópolis, Santa Catarina, fora marcado em22.06.1950, no ninho, também em Nova Iorque. Antesincluída no gênero "Andorinha-do-pe-nhasco*".

Ricklefs, R. E. 1972. 89:826-36.variação)

Sanaiotti,T. M. 1985. . . . 272.(concentração em Manaus)

Sick, H. 1979. B. O. C. 99:115-20. em Foz'do Iguaçu)

Stiles, F. G. 1981. 98:282-93. , taxonomia)Valle, M. P., C. Yamashita & P. T. Z. Antas. 1985. os

. . . 272. (andorinhas em Poconé,Mato Grosso)

Tumer,A. & C. Rose. 1989.5 & . guideBoston: Houghton Mifflin Co."

Zimmer.], T. 1955. . no. 1723. taxonomia)

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CORVIDAE 683

GRALHAS: FAMíLIA CORVIDAE (8)

Família quase cosmopolita de Passeriformes gran-des, de desenvolvimento maior no hemisfério setentri-onal, em clima temperado. Fósseis do Terciário(Mioceno, há 18 milhões de anos) da América do Norte.A taxonomia molecular ou DNA-hibridação revelou queos Corvidae evoluíram na Austrália, em analo~a comos marsupiais. Colonizaram posteriormente a Africa, aEurásia e a América do Norte (Sibley & Ahlquist 1986).Começaram a emigrar cedo da Ásia para a América doNorte, continuando com uma tal invasão ainda em tem-pos mais recentes; algumas espécies existem hoje tantono Velho Mundo como na América do Norte. Finalmen-te invadiram a América do Sul.

Neste continente as gralhas, denominação coletivaatribuída ao grupo de corvídeos designados em in-glês, são os, únicos representantes da família. Forma-ram aqui novo centro evolutivo, diversificando-se mui-to mais do que no Velho Mundo. Não há, na América doSul, o corvo, espécie muito citada no he-misfério setentrional devido a sua astúcia, e que é omaior Passeriforme do mundo (cerca de 61cm total,peso 1,3kg). Alcança a Nicarágua, na América Cen-tral. Ao nome usado em São Paulo, etc., parao urubu, é dado, neste país, um 'sentido pejorativoou depreciativo.

No Brasil não existem aves semelhantes no aspecto,a não ser talvez certos cuculídeos formicarídeos

ou cotingídeos Têm asas largase cauda longa e, com freqüência, penas prolongadas nopíleo e sinais vivamente coloridos nos lados da cabeça.A cor principal é azul-violeta escuro e branco na barri-ga. O azul é produzido pela estrutura microscópica dapena, corada de melanina, cuja superfície reflete apenaso componente azul da luz; o mesmo fenômeno causa oazul do céu. O amarelo de pode per-der-se em cativeiro. Sexos iguais.

Em muitos Corvidae americanos o bico do imaturomostra-se de coloração diferente do adulto, interpreta-do por Hardy (1976) como proteção contra agressões deadultos (v. gralha-azul).

A voz de certas espécies, sobretudo dee C. é muito variada. Na gralha-

azul foram registrados 14 "gritos em cativei-ro. Há gritos de alarme, contato, vôo, corte e mais. Avoz é, muitas vezes, emitida em tonalidade diversa emestrofes consecutivas pelo mesmo indivíduo, dando aidéia de conversa de dois exemplares. Em um filhote de

gralha-azul foi encontrado evidência da emissão de doissons harmonicamente não relacionados produzidos in-dependentemente por dois brônquios.

Ocorrem às vezes sons que, talvez, nem procedamda siringe ("música instrumental"). A riqueza dê moti-vos é inesgotável, orientada pela capacidade de imitarsons alheios, tais como vozes de outras aves e mamífe-ros e até palavras humanas (v. Taismanifestações, feitas freqüentemente à meia voz, nadatêm a ver comc, .Jroclamação do território, parecendoservir como divertimento; são emitidas muitas vezesdurante o descanso. Encontramos um C. queemitiu, exclusivamente, gritos de ,respeitando inclusive o ritmo característico da espécie;quando a gralha reparou a nossa presença, encurtou osintervalos e, finalmente, passou para seus próprios gri-tos, "kõ, kõ". Registramos em flagrante a imitação deum carrapateiropor um cancã: a gralha (que fazia partede um bando que já tínhamos observado antes, diver-tindo-se com várias vozes) respondia ao grito docarrapateiro (que tinha chegado e gritava), vozeandoexatamente como o gavião; antes a gralha não haviaemitido a voz do . As vozes territoriais das gra-lhas são gritos ou assobios fortes simples.

Onívoros, comem tanto quaisquer animais como se-mentes e bagas. O cancã, p. ex., enche-se com cupins quese lançam 40 ninho numa árvore, para a revoada,

petisca carne seca exposta ao sol,à beira da mata. As gralhas comem pequenos cadáverese tiram a isca de armadilhas montadas para pequenosmamíferos. Depredam ocasionalmente ninhos de pás-saros; a gralha-do-campo fura até ovos de galinha parachupá-los. Caçam em qualquer altura.É opinião geralda população rural sulina que a gralha-azul planta opinheiro, enquanto que no Nordeste crê-se, analogamen-te/que o cancã planta o milho. Isto tem fundo verídico,pois essas aves têmo costume de esconder sementes ede fazer provisões, que esquecem, permitindo a germi-nação e o desenvolvimento das respectivas plantasquando as sementes foram escondidas no musgo do soloou em xaxim podre como o faz . OsCorvídeos que vivem em regiões frias aproveitam emlarga escala, no inverno, as reservas de sementes acu-muladas no verão, tirando o material até debaixo da,neve. Provavelmente, o modo de acharem os 'depósitosde sementes deve processar-se seja através da gravaçãodo local na memória, seja através da incessante procuraao acaso.

São possivelmente "plantados" pelas gralhas os pi-nheiros jovens que surgem no alto das árvores. Serve

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684. ORNITOLOGIA BRASILEIRA

também a dispersão dos pinhões a particularidade dagralha não permanecer no pinheiro inicial, mas voar parauma árvore próxima ou mais distante para comer. Paraalcançar o estróbilo que está localizada no ápice do ga-lho entre as grimpas, a gralha-azul pode realizar um vôobatido pairando no ar ou ir pulando ao longo do galho.Nunca pega um pinhão no solo, quer dizer não procurarecuperar uma semente que tenha caído, constituindo-se assim num bom agente disseminador.

A gralha-azul já ajuda na disseminação do pinheiro-do-paraná pelo ato de desmanchar os estróbilos no ga-lho: come ou leva para comer apenas um ou outropinhão, enquanto a maioria das sementes cai, sumindono solo onde germina, se não forem encontrados poroutros adora dores dos saborosos pinhões, como ratos epacas (v. também jacu: "planta a erva-mate"). A gralhacostuma cortar a "cabeça" do pinhão, grande benefíciopara a semente uma vez que nessa parte os insetos cos-tumam depositar seus ovos propiciando depois que aslarvas atinjam a semente. O cancã gosta dos frutos su-culentos do mandacaru, cactáceaarborescente do Nordeste, a gralha-do-campo do pequi,

sp., árvore típica do cerrado. As sementes pe-quenas e duras passam ilesas pelo tubo digestivo dasgralhas, não perdendo o poder de germinação.

Usam os dedos para segurar a comida e adotam amesma técnica dos icteríneos: enfiam-o bico pontiagudofechado numa fenda, a qual depois forçam, abrindo asmandíbulas ("espaçar").

Os bandos de cancãs (5, 10, 12 indivíduos, na maio-ria dos casos provavelmente representando famílias: paise filhos de mais de uma cria) à procura de alimento, gui-ados pela astúcia e curiosidade, descobrem tudo queé

novo na sua área, seja comida ou perigo. Assim acusamtanto uma cobra ("acusa-cobras", Nordeste) como umcorujão, um gavião ou um homem escondido. Vêm ime-diatamente quando se produz um guinchar qualquercom a boca. Os achados são "discutidos" com um talvozerio do grupo que este escândalo é a melhor adver-tência para a fauna local e também para o homem, quan-do se trata de uma cobra venenosa.

EJ,nlugares ermos são mansos e fáceis de se obser-var. Seus gestos são múltiplos. A demonstração mais co-mum é um inclinar do corpo para a frente e para baixo,acompanhado por um longo esticar do pescoço alterna-damente para a esquerda e para a direita, e um levantarrítmico da cauda. Voam bem, locomovem-se às vezesno alto, acima das árvores, em percurso levemente on-dulado o ritmo das batidas deasa é às vezes alterado, a descida' para o-poleiro costu-ma ser em vôo planado. Na sua habilidade de atraves-sar a ramagem, meio pulando meio voando, lembram aalma-de-gato, ou um mico sp.).

A vivacidade das gralhas vem do fato dos corvídeosserem dotados do índice cerebral mais alto na classeAVES,após os psitacídeos: 18,95para o Corvo, 28,07para Arara-canindé, (portmann 1947).

O seguinte acontecimento poderia ser folclore se nãotivesse sido fielmente verificado e relatado: numa cevade frutas em São Paulo os sabiás-laranjeira residentesmontaram guarda e rechaçaram outras aves. Uma ma-nhã se aproximou furtivamente uma gralha,

quando ela estava a 8 a 10 metros da cevavocalizou como umgavião-carijó, s o s(espécie comum no local e temida pela passarada). Como resultado produzido, isto é a fuga dossabíás,a gralhaimediatamente pousou na plataforma da ceva e come-çou a se alimentar da frutaa. c. Guix).

A reação mental superior dos corvídeos levou mui-tos ornitólogos, sobretudo da Europa, a atribuir-lhes (enão aos fringilídeos) o lugar mais alto na seqüência defamílias dos Passe riformes, seqüência esta elaborada noempenho de exprimir a evolução progressivafilogenética. Este procedimento foi criticado como sen-do uma interpretação antropomórfica, além do fato deque se nota reação mental alta também nos psitacídeos,portanto num desenvolvimento análogo.

As nossas gralhas ) usam, como muitasoutras aves, p. ex., Dendrocolaptidae, Tyrannidae eFringillidae, formigas na higiene da plumagem (como écomumente interpretado), esfregando os insetos vivosnas asas para gozar do efeito do ácido fórmico, ativida-de que tratamos como "formicar-se".

Reprodução

Os companheiros arrumam-se reciprocamente, umse abaixa adiante do outro e pUX;'las penas do papo

gon). O movimento quase constantedas penas do píleoé o melhor indicador da emoção des-tas aves. São muito pugnazes; foram encontrados noPantanal, Mato Grosso, doís machos de n

no solo, exaustos após luta ferrenha, apa-rentemente em disputa da companheira que se encon-trava próxima (Aguirre 1958).

Pouco se sabe sobre a nidificação das gralhas destecontinente. O ninho, colocado sobre árvores, pode terestrutura ainda mais rala do que o ninho de uma pom-ba; difícil de ser encontrado nopogon,"Quem acha ninho do cancã enriquece", Nordeste).

nidifica sobre áryores do cerrado(A. Negret). Acontece que uma gralha ocupa o ninho degrave tos abandonado de uma outra ave. Põe de três aquatro ovos. O ovo da gralha-azul, oc e eus,tem sobre um campoazul-verdoengonumerosas man-chas pardo-claras. Os ovos da gralha-do-campo,

o lIus, tem um campo azul-claro e nume-rosas manchas pardas que são maiores napontá' romba.

Consta que a incubação de gralhas (espécies não bra-sileiras) leva 16 a 18 dias, e que os filhotes, alimentadospelos pais, desenvolvem-se devagar, abandonando oninho, p. ex., com 23 a 24 dias, como acontece numa es-pécie central-americana no ic . É pra-ticallente a regra que cooperam diversos indivíduos no

'1,

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CORVIDAE 685

atendimento de um ninho e de filhotes, sendo tais gru-pos provavelmente pais e filhotes das posturas anterio-res. Numa população toda anilhada no Japão de

notou-se que um indivíduo daquelesajudantes apareceu em quatro ninhos. sajudam trazendo material para o ninho e na própria cons-trução, alimentam também as fêmeas que estiverem cho-cando e os filhotes e ajudam na limpeza do ninho (reco-lhendo os saquinhos de fezes). Os não partici-pam da postura e incubação.

São arborícolas. Vivem em matas de galeria e capões.c e C. penetram também na

mata alta. on passa da mata seca aocerrado, torna-se uma das aves mais típicas da ca~tinga.Ao que parece o e C. ex-cluem-se geograficamente; embora sejam espécies bemaparentadas, tanto na morfologia como na bionomia, nãosabemos de casos de cruzamentos entre elas; parece quenão invadem as suas respectivas regiões, mostrando dis-tribuição parapátrica, podendo ser consideradasaloespécies que formam uma superespécie.

habita o cerrado aberto. Emregiões de transição entre áreas campestres e áreas maisdensamente arborizadas, e C.

podem pousar no mesmo galho, um depoisdo outro, sem tomar conhecimento mútuo (noroeste daBahia). vive, em certas regiões, cons-tantemente nas mesmas matas que o(Rio Grande do Sul) ou (MatoGrosso do Sul), as respectivas espécies se ignoram reci-procamente. dificilmente se encon-tra com C. embora ambas sejam freqüente-mente simpátricas (Mato Grosso, Pará), ocupam nichosecológicos diferentes. No seu hábitat típico as diversasespécies são comuns.

Entre os parasitos das nossas gralhas destaca-se onematóide que vive no olho(sob a membrana nictitante) deDa pálpebra de um E. Béraut, Riode Janeiro, espremeu uma sanguessuga ainda não iden-tificada, da mesma cor da pálpebra (v. também sobTinarnidae, parasitos). Sobre ch foi en-contrado o hipoboscídeo Vimos osfilhotes de C. ellus na região do cerrado sempre se-veramente parasitados por larvas da o

de

Os corvídeos são, em muitos casos, temidos pela avi-fauna local como possível perigo. Notamos, p. ex., que

i chi i acusa a presença de o sops comose fosse ave de rapina.

, , ,

São às vezes acusados de causar prejuízo em milha-rais; canaviais, hortas, pomares, plantações de abacaxise batatais. Os estragos porém não são tão grandes quepossam justificar a eliminação destas aves. As gralhassão procuradas como aves de estimação, sobretudo ocancã no Nordeste. Tornam-se velhas em cativeiro, p.ex., um ops viveu mais de 37 anos, emNova Iorque.

Falam da extinção da gralha-azul em conseqüênciada derrubada dos pinhais; não é verdade, uma vez quea gralha-azul absolutamente não é restrita aos pinhais.A gralha-azul foi declarada ave-símbolo do Paraná, as-sim como o pinheiro é a árvore-símbolo daquele estado.

O cancã é uma das aves mais populares do Nordes-te, seus gritos podem simbolizar aquela região, apare-cendo mesmo como "a voz da caatinga".

GRALHA-AZUL, Pr. 37, 1

89cm. Espécie meridional robusta, azul reluzente, decorpo anterior (cabeça, pescoço anterior e peito) negros,fronte com penas arrepiadas embora curtas, olho escu-ro. O filhote apresenta uma mancha amarela na base damandíbula (v. Introdução). Voz: "gra, gra, gra"; forte ecrocitante "kão", repetido (chamada, advertência);"kõ-kõ-kõ". Vive na mata, gosta dos pinheirais (pinheiro-do-paraná, c gusti l ), mas não depende desta

vegetação da qual se afasta com freqüência, pelo menosem certas épocas (Rio Grande do Sul). Em certas regiões,p. ex., na Ilha de Santa Catatina e no litoral de Paraná,vive constantemente na mata pluvial atlântica, em10-

. cais onde não existem, nem existiram, pinheirais. Ocor-re até em ilhas florestadas da baia de Paranaguá. A opi-nião geral de que a gralha-azul seja ave típica e exclusi-va dos pinheirais, é uma lenda ou história mal contada.Passa voando, a boa altura, de uma mata à outra, esta-ciona até em capões de eucalipto. Sobre a fama de "plan-tar o pinheiro" v. Alimentação. Ave-símbolo do Paraná.Ocorre de São Paulo ao Rio Grande do Sul, norte daArgentina e Paraguai, às vezes ao lado de oco

s. V. a seguinte.

G~LHA-DO-PANTANAL, e

35cm. Apenas no extremo sudoeste, tem semelhançacom a espécie anterior, diferindo na cor: é de um suavecolorido violeta, que invade também a região negra oucor de fuligem do corpo anterior; de longe e na sombrada mata aparece todo preto (v. "arara-preta"). mo-nótono "gra", assobiando "tchíü", Vive no cerradão,

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686 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

mata de galeria, distante de povoados. Ocorre do sul deMato Grosso (Cuiabá, Coxim, Pantanal, beira do rioParaguai) à Bolívia, Paraguai e Argentina. "Aka-á"(Guarani, Mato Grosso). Foi proposto reunirc e C. como alo espécies que formamuma superespécie ou até considerá-Ias raças geográfi-cas da mesma espécie (Short 1975); o que teria ainda deser confirmado por mais dados (existência ou não deindivíduos intermediários, comparação da voz). Às ve-zes, ocorre ao lado de . "Gralha-cin-za'"'. [Registros recentes para o oeste dos Estados doParaná (Scherer Neto & Straube 1995) e São Paulo (Willis& Oniki 1993) podem indicar um processo de expansãode sua distribuição.]

GRALHA-VIOLÁCEA ",

[37cm] De cor violeta com a região occipital extensa-mente branco-azulado. Própria da amazônia ocidental,com registros no Brasil para leste até o Purus e Roraima(Moskovitz et . 1985).

GRALHA-DE-NUCA-AZUL *,

[33, 5cm] Semelhante a espécie anterior mas de cau-da de ponta branca. No Brasil apenas na região do altorio Negro. Regiões adjacentes da Colômbia e Venezuela.Espécie pouco conhecida e de distribuição restrita.

GRALHA-DA-GUIANA ",

[33cm] Parecido com mas ten-do o occipital, o desenho na cara, a barriga e a ponta dacauda brancos; ocorre no Amapá (Oíapoque), norte doPará (rio Paru), Manaus (Amazonas), Roraima, Guianase Venezuela.

Fig. 280.Gralha-da-campo, c ellus

GRALHA-DO-CAMPO,

Fig.280

33cm. Espécie campestre típica do Brasil central, deasas longas e cauda relativamente curta. Inconfundívelpelo topete frontal prolongado, separado do píleo; mantovioleta-azul escuro, a barriga e os dois terços apicais dacauda brancos; o imaturo é reconhecível ainda com 6meses pelo topete curto. forte "gra", "gra", "grã-gra-gra",às vezes 8 a 10 vezes repetidos. Vive no cerra-do, também nos trechos bem ralos e ensolarados, inter-rompidos por campos. Ocorre do Piauí, Maranhão e suldo Pará (Cachimbo) a Mato Grosso, Goiás, Minas Ge-rais e São Paulo. "Gralha-do-peito-branco", "Pega"(Piauí), "Cralha-do-cerrado=". Localmente simpátricacom ou C. , porém eco-logicamente distinta. Foi antes tipo do gêneromonotípico . [A indicação desta espécie (con-forme edições anteriores deste livro) como endêmica aoBrasil é equivocada. Ocorre no Paraguai (Laubmann1939) e recentemente foi encontrada na Bolívia (Bateset

. 1992).]

GRALHA-PICAÇA, s

34cm. Espécie silvestre do Brasil meridional e cen-tral, de aspecto delgado, parente próximo de

As penas negras do píleo formam alta al-mofada de pelúcia, saliente no occipital como uma bola;destaca-se uma mancha pós-ocular e a nuca azul-esbran-quiçada reluzente e mais um desenho azul sob o olho eo bigode; a íris amarelo-enxofre; a barriga e parte termi-nal da cauda branco-amareladas (ou branca pura: po-

pulação amazônica, diesingii e C. .s inespe s,Madeira, Amazonas, até a serra do

Cachimbo, Pará). metálico "kô-kõkõt-kõ)", mudafreqüentemente a altura (diferença de uma terça); resso-nante "iok-iok-iok", "wáu", "cã-cã",pios ventríloquos,trêmulos; secos (som de madeira), gargarejos e coaxos.Canto tagarelante, rico em imitações, perfeitas, de vo-zes de outras aves e mamíferos, p. ex., do gavião

s g o arapapá (Cochle jacunelope)e macaco-prego (Cebussp.); as imitações são su-gestivas, pois são emitidas isoladamente e não mistura-das; ouvimos um exemplar selvagem arremedar opalrear de um papagaio manso existente no nosso acam-pamento à beira da mata, incluindo diversas palavrashumanas em português, a maioria não reconhecíveis,contudo destacando-se bem "loro" e "raimundo" (pes-soa presente). A imitação da voz humana se processou,neste caso, através de um papagaio. A mesma gralhaarremedou também o "pürrrr" usado pelos moradorespara chamar as galinhas. A vocalização das gralhas podeser bem baixinha e delicada, lembrando o canto de umfringilídeo. Vive na mata. Ocorre da Argentina, Paraguaie Bolívia a Mato Grosso (sul de Mato Grosso e altosXingu e Tapajós), Amazonas (baixo Madeira) e Pará (Ca-

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CORVIDAE 687

chimbo), Rio Grande do Sul a São Paulo e sul de MinasGerais. "Buka-ne-héne" (Trumai, norte de Mato Gros-so), "Aka-á", "Uraca", "Gráia" (sul de Mato Grosso).Ocorre às vezes ao lado de (SantaCatarina, Rio Grande do Sul) ou(Mato Grosso): quando está em mata cercada pelo cer-rado, fica ao alcance da voz de(Mato Grosso, Pará). Não conhecemos encontros

que é provavelmente seu subs-tituto geográfico.

CANCÃ, En Pr. 37, 2

31cm. Espécie bem conhecida no Nordeste, bem pa-recida com a precedente, tendo porém o manto cor defuligem (em vez de azul-escuro), asas e cauda negras(em vez de azuis), a barriga e a ponta da cauda semprede um branco puro. "kõkõ-kôkô-kôkô" (chamada,"voz da caatinga", v. Introdução): "giâ", "gâb-gâb" (ad-vertência): i "krrro" que se assemelha aoruído do reco-reco: o canto extremamente variado, de-

( e t é Ge

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2.Die g Stuttgart: Streckerand c . etlus, Paraguai)"

pende largamente de sugestões da fauna local, imita, p.ex., com perfeição os gritos da buraqueira e asestrofes ressonantes do gralhão riodas Mortes, Mato Grosso): sobre a imitação de umcarrapateiro que, na hora, apareceu em cena, v. Introdu-ção. O canto lembra no palrar, o pissitar e bufar do es-torninho europeu, que é muito rico em motivos: o mes-mo indivíduo pia freqüentemente em altura e volumevariados, como C. entre as vozes de aves nacaatinga a do cancã é a dominante. Habita o cerradodenso, cerradão, lugares não muito fechados da matade galeria e a caatinga. Ocorre em todo o Brasil este-setentrional e centro-oriental: Nordeste até sudestedo Pará (Gorotire), Goiás, leste de Mato Grosso (riodas Mortes), Minas Gerais eBahía: está invadindo oEspírito Santo, aproveitando-se do desmatamento.No noroeste da Bahia ocorre localmente na mesmaárea que C. do qual se distingue facilmentepela voz: C. grita comumente "kô,kõ, kô",C. "giii, gra, gra". "Quem-quem", "Pion-pion" (Bahia), "Gralha-cancã+".

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688 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

CORRUÍRAS, CAMBAXIRRA, UIRAPURUS, JAPACANIM: FAMÍLIA TROGLODYTIDAE (18)

Grupo de pássaros que, embora remotamente des-cendente de aves do Velho Mundo (antecessores dosMuscicapidae), é restrito às Américas; exceto uma únicaespécie que invadiu a Eurásia, provavelmente a partir

. do estreito de Bering, sendo pois, um mistériozoogeográfico. Fósseis do Pleistoceno (há 100.000anos)da Flórida. A maior diversificação da família ocorreuna América tropical. A corruíra dis-tribuída do Canadá à Terra do Fogo, é uma das aves maispopulares em todo o Brasil.

Colorido sombrio, espécies do mesmo gênero, comoos são geralmente muito semelhantes, dis-tinguem-se mais pelo padrão de colorido da cabeça, so-bretudo da face. Sua semelhança com vários Suboscinese outros Oscines é pura analogia.

Os de cauda extremamente curta, pésfortes e hábitos semiterrícolas, são muito parecidos aostapaculos do gênero os quais, até certo pontosubstituem na Amazônia. Torna-se, nesses representan-.tes, difícil dar uma idéia exata do tamanho do pássaro,pois na medida total (ponta do bico à ponta da cauda)não entram as pernas (tarso e dedos), que nos

ultrapassam muito a cauda, que emexemplares embalsamados esconde-se entre as pon-tas das asas. Os ç de forma alongadae cauda grande, podem lembrar os sabiás. Os sexossão parecidos.

antes alistado entre os Mimidae, foi trans-ferido para os Troglodytidae, perto de- solução que pouco me convenceu, mas que aquiadotamos.

O nome "uirapuru" refere-se tanto a espécies detrogloditídeos como de piprídeos, resultando bastanteconfusão.

De interesse especial nesta família é a vocalizaçãomuito variada e de alta qualidade, difícil de parafrasear.Impressiona a riqueza de motivos. Verificamos, p. ex.;que um exemplar de dentro de20 minutos, cantou quatro vezes, emitindo a cada vezuma estrofe essencialmente diferente. Não há dois indi-víduos com a mesma voz. Destaca-se o costume do ca-sal de e cantarem a duas vozes,em dueto. Os sexos dispõem quase da mesma riquezade vocalização. O casal de estabelecido numterritório, sincroniza perfeitamente suas frases, desen-volvendo seu próprio modo de frasear, diferente dos

casais vizinhos. Ninguém suspeitaria que fossem doisindivíduos cantando, fato que o pesquisador poderánotar apenas quando estiver postado entre os dois can-tores, o que é difícil, pois costumam pousar um pertodo outro. Os companheiros costumam distinguir-se li-geiramente no fraseado e na acentuação. A fêmea podeentoar discreto contraponto para o canto do macho. Sur-preende às vezes uma súbita aceleração do andamento.Pode mudar também o ritmo, de uma estrofe a outra.Para idealizar uma sincronização de tão complicadoconjunto, os componentes do casal têm que apreender ofraseado individual do companheiro. Isto significa quesomente o companheiro legítimo é cô'paz de dar a "res-posta" certa, fator que deve ajudar decisivamente paramanter o contato do casal. Deve-se concluir que um ter-ceiro indivíduo, cujo canto não está bem ajustado, nãoconsegue interferir com sucesso no dueto de um casalformado.

A identificação de certas espécies de pelocanto, no campo, pode ser difícil. Duas espécies aparen-tadas, vivendo simpatricamente, costumam desenvol-ver cantos contrastantes. Isto foi constatado para

no México, comparando-se 10 espécies(Brown & Lemon 1980).

Duetar existe também em e, acompanhado por movimentos rítmicos da

cauda. Duetar é provocado pelo duetar de casais vizi-nhos. Os gritos e cantos do estão entre asvozes mais poderosas no ambiente palustre.

Os trogloditídeos que cantam duetos aparentementeestão radicados por muito tempo no mesmo local. Sãoprovavelmente acasalados. para a vida toda. Parece quenão é sempre o macho que inicia o dueto. Nem o modotodo de frasear o dueto é individual, certos elementossão usados por vários indivíduos da espécie ou pelomenos da população de uma certa região, manifestan-do-se um dialeto. O diálogo também não funciona sem-pre. maquinalmente; um dos cantores às vezes começamais tarde ou pára antes do término do'outro. Cantamem dueto em larga escala apenas durante os meses dareprodução. Os duetos têm uma atitude agressiva con-tra um rival, são uma forte manifestação territorial.

Na apreciação do canto da fêmea teríamos que lem-brar que as fêmeas de aves são heterogaméticas, isto é,possuem hormônios de ambos os sexos. Pode-se conje-turar que o canto originalmente existiu tanto no machocomo na fêmea. Nesta, em alguns casos, a faculdade decantar foi preservada e até aperfeiçoada e em outros ca-sos se perdeu.

Embora exista canto da fêmea em resposta ao domacho em várias aves deste país, p. ex., Suboscines comoFurnariidae e Formicariidae, dificilmente haverá outrodueto tão perfeito como o de nos outros

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'l'ROGLODYTIDAE 689

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pássaros (como também nos é maisfreqüente a fêmea responder após o macho ter termina-do. Os duetos ocorrem também em não-Passeriforrnes,p. ex., Capitonidae.

O fenômeno de cantar em dueto foi pesquisado comafinco durante os últimos anos na África, registrando-se sobretudo as vozes de picanços do gênero(Thorpe 1972).

Uma vocalização diferente dos é um ape-lo territorial solitário, provavelmente privilégio do ma-cho: a estrofe mais simples, de volume maior, sem repe-tições, pode lembrar a chamada sonora de um corrupião,

(v. sob Cada dono de ter-ritório possui seu próprio fraseado, diferente do cantodo vizinho. Constituem vocalização menos característi-ca outras estrofes, emitidas também por um indivíduosó, que tanto parece ser macho comÇlfêmea, muito vari-adas, repetidas às vezes em longas séries

. Nota-se que estas estrofes mudam duranteo dia e, segundo a boca doP9VO, conforme o tempo bomou mau. Há outras vozes de que se podemclassificar como canto ou chamado, p. ex., uma frasecurta melodiosa que pode ser prelúdio para o canto ter-ritorial solitário do

A habilidade de cantar já é patente pouco depois deter o jovem abandonado o ninho

O canto do imaturo é diferente do canto doadulto, sendo baixinho e soa como uma conversa, semcaráter bem definido, já se destacando, porém, a ten-dência de repetir os motivos mas nãohá duetos.

A maior fama, em matéria de canto, cabe ao uirapuru-verdadeiro, Singular é também ocanto de ,:!uese destaca pelas suas quali-dades musicais e além disso pelo seu extraordinárioprolongamento. Notamos diferenças locais do canto deM. (dialetos). Os têm cará-ter de voz tipicamente ventríloquo que se reconheceimediatamente em todas as espécies do gênero.

Os trogloditídeos brasileiros cantam durante o anotodo, exceto durante a muda. Intensificam sua ativida-de canora durante o tempo da reprodução, que podeser extenso. já canta de madrugada;sua voz torna-se, periodicamente, uma das vozes quemais despertam a atenção em certas regiões, como nasmatas ao norte do rio Doce, Espírito Santo. Tínhamos,às vezes, a impressão de que o vigor do canto de

o é capaz de estimular a atividade canora depássaros vizinhos, não-trogloditídeos. Todas as espé-cies dispõem de gritos baixos de advertência ("tacÚ

, "ta,ta, ta", "krra", etc.) que denunciam logo um membroda família.

A corruíra, , sabe emitir um estali-do, que pode aumentar até tornar-se um verdadeiro ma-traquear, produzido aparentemente na articulação damandíbula e não por batidas do bico; é'sinal de excita-ção (música intrumental).

São onívoras. No seu cardápio predominamartró-podes e suas larvas. O uirapuru-verdadeiro caça tam-bém aranhas eopiliôes,até diplópodes, não se incomo-dando com as glândulas defensivas nem com a secreçãocáustica desses animais. No conteúdo estomacal de

e outros aparecem, às vezes, pedaçosde minúsculos ossos de lagartixas, sementes e restos defrutinhas. Um único casal da nossa corruíra comum apa-nha muitas dezenas de insetos num único dia. Batem osinsetos maiores contra o galho paramatá-I os ou tirar-lhes as asas; vimos essa mesma técnica executada poruma corruíra que segurava uma pena de galinha no bico.Observamos e aproveitandoa atuação das formigas-de-correição, que em seu avan-ço fazem insetos e outros animalejos saírem aos milha-res de seus esconderijos, tornando-se presas fáceis dospássaros. og/o tem sido visto forrageando sob luzartificial intensa.

São de índole irrequieta, até os representantes gran-des como Locomovem-se às vezes nosolo pulando através da rama ria e da folhagem. A dis-criminação específica, o controle sobre companheiro,deve ser em boa parte visual! o que funciona apenas acurta distância, dentro das brenhas cerradas, paradeiroconstante dessas aves. Os traem freqüente-mente sua presença pelo rumor que fazem remexendo evirando folhas secas a baixa altura ou no solo, lembran-do furnarídeos como ou . As espéci-es mais adaptadas à vida terrestre andam e correm nochão como diminutas saracuras ou certos formicarídeos.

c e us, caminhando com longos passos no solo,atua de modo peculiar, balançando constantemente ocorpo, lembrando o maçarico . O vôodos trogloditídeos é curto, embora suas asas sejam lon-gas. surge com a maior rapidez, voando,se chamado por imitação da sua voz. O uirapuru-ver-dadeiro, aparece freqüentementecomo membro de um bando de pássaros (v.também sobFolclore), executa movimentos laterais pe-culiares com a cauda.

As cambaxirras dormem no próprio ninho, às vezesü? ex. o e o o casal junto e até afamília toda. O indivíduo pode fazer um pequeno ninhopara dormir sozinho. Gostam de tomar banho de mergu-lho, sobretudo quando já foram meio molhados pela chu-va og es ). toma banho depoeira no solo, associando-se às vezes a vários indivíduos.

O casal mostra-se carinhoso, os companheirosarrumam a plumagem reciprocamente (p. ex.

I.~_.------------------------------------------

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690. ORNITOLOGIA BRASILEIRA

Quando o casal canta em due-to, fica bem juntinho, abrindo as asas e a cauda, tre-mendo e mostrando as barras sobre as rêmiges e as re-trizes

Fazem ninho coberto com acesso lateral, osconstroem um extenso puxado por cima da

entrada, vedando-a completamente, de maneira a ficara abertura do ninho voltada para baixo; a câmaraé umacesta profunda; como material empregam palha,raizes,etc. O ninho se acha numa altura de um a dois metrosna ramagem. /eucotis constrói o ninho (fig.281) sobre a água. Numa pequena área controlada emMinas Gerais, 8 ninhos de foramconstruídos sobre o "cansanção" ou "ur tig ão "(Loasaceaes), planta que queima, adaptação eminente-mente anti-predatória (A. Studer). fazuma grande bola de material macio, incluindo farrapose estopa, no alto das árvores; usa às vezes (Mato Gros-so) os ninhos de grave tos de como basepara erigir, em cima, seu próprio ninho, estofando tudoricamente com penas e outro material flexível.

esconde no capim o seu ninho, quetem a forma de uma bola. Machos mais experimentadosde da América do Norte são cons-trutores melhores de ninhos, vantagem para as fêmeas efilhotes (Verner& Engselsen1970).

Os trogloditídeos são, em geral, muito propensos aconstruir ninhos; além do ninho que serve para criar, os

fazem ninhos para dormir, para um só in-divíduo, uma cestinha menos profunda, sem o puxadoque dirige a entrada para baixo

6cm, ~, lJ

-(I -)~ \ /.l( . ))1 \ / I

Fig.281.Ninho do garrinchão, s leucotis,esquema. A entrada estáà direita. Pantanal, MatoGrosso.Orig;nal, H. Sick.

Afirmam que e procuramconstruir seu ninho sobre árvores (não se trata deimbaúba) que hospedam grandes colônias de formigasmordedoras, pois estas constituem excelente proteçãocontra inimigos; as formigas não atacam os pássaros quehabitam em seu meio. faz um cesto profun-do enfaixado com teias de aranhas, sendo afixado aocapim alto ou outras plantas a pouca altura, no brejo ounas suas margens; os ovos têm cor de ferrugem-clara ecolorido adensado no pólo rômbico. Os seus filhotes têma boca vermelha e na língua há 3 manchas negras: umaanterior, na' ponta, e duas posteriores; a boca dos

adultos torna-se toda negra. A corruíra,, nidifica em qualquer cavidade, que

forra, seja um pau oco, qualquer buraco numa casa ouum ninho abandonado de joão-de-barro. Já foi encon-trado um ninho de corruíra numa gaveta aberta e outrono bolso de uma calça velha pendurada, esquecida numgalpão; um casal se' instalou na carroceria de uma cami-nhonete, não se incomodando com a eventual e curtautilização do veículo, a fêmea foi observada chocando edepois os pais alimentando os filhotes (Rio de Janeiro).Acontece de ratos se apossarem dos ninhos,também dosde .

Os ovos de são de cor vermelhaclara, densamente pontilhados de salpicos mais es-curos de permeio com nódoas cor de cinza desbota-da. A corruíra figura entre as aves que continuam apôr durante tempo considerável após perderem seusovos; a postura normal é de 3 a 4 ovos (Rio de Janei-ro); uma fêmea, da qual se tiraram sucessivamenteos ovos, produziu 30 ovos em 43 dias (experiênciafeita nos EUA).

Os ovos são chocados somente pela mãe e eclodemapós 15 dias; os pais se revezam na alimentação dos fi-lhotes, que abandonam o ninho após17 a 18 dias, nocaso da corruíra é válido também para . Oninho é mantido limpo, os sacos fecais dos filhotes sãoremovidos ou por vezes engolidos pelos pais; parece queos pais apanham também parasitos que se movimen-tam na cavidade do ninho. A fêmea da corruíra, às ve-zes, c<?meçaa pôr de novo quando cuida ainda dos fi-lhotes crescidos da postura anterior, e esses filhotes aju-dam mais tarde os pais a alimentar os irmãos menores.No Rio de Janeiro viu-se a corruíra pôr ovos tambémem junho e julho (inverno), enquanto em São Paulo e noRio Grande do Sul o período de reprodução restringe-se aos meses do verão. Em ese nota regularmente a presença de um ou outro indiví-duo associado ao casal que reproduz. Os representantessetentrionais de T. tornam-se freqüenfÉ!mentepolígamos.

Após a saída dos filhotes, a família mantém aindacontato por algum tempo. Observamos isto, p. ex., emC pho inus s,associado a bandos mistos de ou-tros pássaros, como forrnicarídeos, perambulando peloestrato inferior da floresta amazônica.

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1.-.

TROGLODYTlDAE 691

Entre os perigos que ameaçam as corruíras ao redordo seu ninho, estão teias de aranha( sp.) em tor-no das casas, onde pode acontecer de ficarem suspensas(não p acontecimento freqüente). Encontramos umacambaxirra no chão com todos os dedos firmementeenrolados por tais fios. De vez em quando o pardal,

e expulsa a corruíra do lugar onde elanidifica numa casa. No ninho de sãoocasionalmente encontrados ovos do chopim,

também no Equador as espécies desão parasitadas pelo chopim ..

H ,

A maioria é silvícola, vivendo no estrato inferior, comexceção de que habita nas copas dasárvores. é campestre ou paludícola.

edon, que se adapta a qualquer ambiente,até nas cidades, torna-se perfeitamente sinântropa; lo-calmente é paludícola (Minas Gerais).

Certas espécies de vivem simpatricamen-te, às vezes até sintopicamente, embora possam existirligeiras diferenças ecológicas, p. ex. na preferência deum estrato mais alto ou mais baixo; alimentam-se demaneira muito semelhante (o tamanho diferente do bicodeve indicar diferenças trófícas), reproduzem na mes-ma época e fazem um ninho semelhante.

Vários representantes (p. ex. epossuem distribuição largamente

descontínua; é possível que algumas populações tenhamsido extintas em conseqüência de alterações ecológicas.Cisto ensis,espécie pequenina cujas faculdadesde vôo parecem ser bastante reduzidas, chegou a colo-nizar uma área imensa: do Canadá à Terra do Fogo, al-cançando também o arquipélago das Malvinas; no con-tinente sul-americano existem populações bem esparsasdesta cambaxirra. Na Amazônia os rios antepõem fre-qüentemente barreiras que parecem ser insuperáveispara aves pequenas. A distribuição de on,incluindo , nas três Américas não é superadapor nenhum outro Passeriforme deste hemisfério. So-bre a invasão do Velho Mundo por esv. na introdução da família.

,

Os trogloditídeos pertencem às aves amazônicas pos-suidoras das taxas mais altas de anticorpos contraarboviroses (v. Formicariidae).

Os ninhegos de são às vezes parasi-tados severamente por bernes de passarinhosilo

no Rio de Janeiro); encontramos 10 larvasnum único filhote. Quando se espreme as larvas e elascaem ao alcance dos filhotes, estes as comem.

glo es edon.hospeda, ocasionalmente, pupíparos(Hippoboscidae); foi identificada n ,espécie encontrada também sobre outras aves (Corvídae,Ramphastidae).

c

O nome uirapuru é dado a vários pássaros da Ama-zônia, mais comumente a certos Pipridae, consideradoscomo talismã ou "mascote". Este atributo é dado no altoAmazonas também ao trogloditídeo inuso "músico"; É atribuído culus a magia da caça,chamado "uirapuru-veado"; o uirapuru tem então queser apanhado quinta ou sexta-feira, com lua crescente,para dar sorte ao caçador, interpretação curiosa dos ca-boclos (Tapajós, Pará).

Na lenda, o uirapuru, inus s,atrai comseu lindo canto outros 'pássaros, formando em torno desi um bando. Na realidade o uirapuru segue a um ban-do já existente de pássaros, procurando alimento, nãoexercendo um papel diferente dos demais pássaros pre-sentes, os quais não se interessam pelo canto douirapuru. Este tornou-se objeto de peça de música dogrande compositor brasileiro Villa-Lobos: "O pássaroencantado, o uirapuru".

Fora da Amazônia se faz ainda mais mistério e sen-sacionalismo em torno do uírapuru, pássaro não raronaquela região, explorando a ignorância dos interessa-dos; inventam absurdos como: "O uirapuru canta so-mente uma semana por ano, durante cinco minutos decada manhã".

CATATAU, GARRINCHÃO,

Pr. 38, 7

20,Scm, 39g. Representante grande, do tamanhode um sabiá, de cauda e bico longos, vive nas copas.A população do Pantanal de Mato Grosso e Bolívia:(C. é de cor creme uniforme no ladoinferior ao contrário de C.t. (e outras sub-espé-cies, v. prancha 38, 7) do Brasil este-setentrional com aparte inferior pintada de pardo. de longo alcance;canto rítmico, sonoro e ventríloquo, como o som de so-prar ,na água, p. ex., "kjo-kjó-kjok", "tcho-tcho-tchól","ko-kióke-kóke", com uma a duas notas diatônicas (Es-pírito Santo, C.tu dinus seqüência um poucoascendente de 4 sílabas, "iok-glok-glok-glok" (MatoGrosso, C. O casal dueta, o fraseamentoda fêmea é diferente daquele do macho. Em árvores al-,taneiras, emaranhadas de cipó da mata primária (Espí-rito Santo), ou em árvores isoladas no campo, também:em coqueiros (Pantanal, Mato Grosso). Pode aparecerem grupos. Do Panamáà Bolívia, Mato Grosso, RioGrande do Sul, noroeste do Brasil ao sul do rio Amazo-nas (Amazonas, Pará) até o Tocantins; Roraima, nortedo Pará; Maranhão ao norte do Tocantins, Bahia e norte

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692. ORNITOLOGIA BRASILEIRA

do Espírito Santo. "Nicolau" (Mato Grosso), "Rouxinol"(Maranhão), "Catiço" (Minas Gerais).

GARRINCHA -DOS-LHANOS*,

[21-22cm] Parente próximo do anterior, píleo e faixatransocular anegrados, lado superior pardo uniforme,lado inferior branco puro, retrizes externas com gran-des manchas brancas. sonora e ventríloqua, bem domesmo caráter da precedente. Habita as copas de den-sas árvores, também ao redor de casas, vez por outraentra abaixo das telhas. Ocorre até a Colômbia, Venezuelae Cuiz na e norte extremo do Brasil (Roraima).

JAPACANIM, BATUQUlRA,

Pr.37,3

23cm, 43g. Ave paludícola singular, do tamanho deum sabiá, tendo as asas curtas, redondas, cauda bastan-te longa e graduada; negro e amarelo, asas e cauda comimpressionantes sinais brancos revelados quando asabre; uma área de pele nua engrossada, amarela, ao ladodo pescoço, rugosa quando a ave está quieta, infladaquando canta; o imaturo com uma faixa pós-ocular es-branquiçada, íris parda em vez de amarela, e' sem a nó-doa amarela no pescoço. gritosfortíssimos, emitidos de bico largamente aberto, expon-do o interior negro da boca, pousado nas pontas dojuncal, p. ex., "schrra-tschrra", (advertência);seqüências às vezes prolongadas, ressonantes, os moti-vos v.árias vezes repetidos, P: ex., "bíãk-bufk bíã-buík"

etc., "tzã-tzã-tzâ ...", "tü-tü-tü ...", "gui-gui-gui" etc., cantoàs vezes emitido junto à fêmea pousada perto, cuja vozé um pouco diferente (dueto); não imita outras aves.Cerimônia do casal: abrem a cauda e a abanam lateral-mente. Em outras ocasiões agitam a cauda veemente-mente para os lados. Habitam nos tabuais e juncais ondesão freqüentemente as aves dominantes; procuram seualimento (artrópodes) no interior do brejo e na superfí-cie d'água, ficando assim ocultos a maior parte do tem-po. Ocorrem do Panamá à Bolívia e Argentina, em todasas regiões do Brasil, para o sul até Mato Grosso e Paraná."Saci-do-brejo", "Sabiá-do-brejo" (Minas Gerais), "As-sobia-cachorro" (Rio de Janeiro), "Gaturamo-do-brejo"(Espírito Santo), "Casaca-de-couro" (Amazonas), "Pás-saro-angu". Pode lembrar o cuculídeo

(que não tem o branco na asa, etc.).A classificação de encontra' dificuldades.

Sua reunião com os Troglodytidae parecerazoavelmen-te satisfatória. Os representantes mais aparentados a eleseriam os ..

CAMBAXIRRA-CINZENTA,

ll,8cm. Macho parecido ~om mas

por cima cinzento-escuro uniforme, píleo parda cento,cauda cinzento-clara com largas faixas negras. Vive nascopas da mata alta onde acompanha bandos de pássa-ros. Ocorre do alto Madeira aos baixos Tapajós(Santarém) e Xingu (Iriri). "Cambaxirra-da-copa*". V.

[Recentemente assinalada na Bolí-via (Bateset . 1989).]

CORRUÍRA-DO-CAMPO,

Pr. 38, ,5

lO,2cm, 7g. Pequena cambaxirra campestre de cos-tas rajadas de negro e branco, asas e cauda com nítidasfaixas transversais, faixa superciliar branca. cantobaixinho, atraindo pouco a atenção, estrofe prolongada,"staccato", de andamento rápido, muito regular, com-posto de motivos curtos, separados por breves interva-los, cada motivo consistindo de um som que é de três aquatro vezes repetido, sendo intercalado com freqüên-cia por um motivo grasnado e outro piado, às vezes doismotivos combinados, p. ex., "t.t.t.t-klíâ.klíã.klíã tak, tak,tak glü,glü,glü,glü trrr". O caráter do canto lembra ou-tros pássaros palustres: o fenômeno da "voz da paisa-gem" (v. sob Emberizidae). Vive escondido em capinzaise brejos abertos, trai-se apenas pelo canto. Ocorre local-mente do Canadá à Argentina e Chile, poucos registrosno Brasil: Goiás e Distrito Federal, Minas Gerais, SãoPaulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Foium dos colonizadores mais admiráveis entre ostrogloditídeos.

GARRINCHÃO-PAI-AVÔ,

17cm. É o maior representante do gênero, de colori-do muito semelhante aThrfothorus leucotis,distinguívelgeralmente por uma larga estria malar negra e sobran-celha branca pura. de tom agudo e bem forte, seme-lhante à de leucotis, mas de outra prosódia, p. ex."tirreu-oklõk", "dwüo-wió", "tschir-bo-wío", "pai-avó","didü-didi-düdo", etc. Cada uma dessas frases é repeti-da; advertência: "wü-tü-tü". Vive à beira e no interiorda mata. Ocorre do sul do Amazonas e Solimões para oSul até a Bolívia, MatoCrósso e Goíás, Nordestee Leste(Minas Gerais e Rio de Janeiro); também na Venezuela eno Peru. "Piô-vovô" (Minas Gerais), "Pai-avô" (Mara-nhão), "Garrincha-de-bigode*".

GARRINCHÃO-CORAlA, ·

[14,5cm] De larga distribuição na Amazônia, pareci-do com a precedente, tendo porém bochechas inferioresintensamente negras e maciças. grito bem forte etípico, "tchiiiio" (chamada). Ocorre das Guianas eVenezuela à margem meridional do Amazonas, até aosbaixos Tapajós e Tocantins, Amapá. "Garrincha-coraia*".

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TROGLODYTIDAE 693

GARRINCHÃO-DE -BARRIGA-VERMELHA,

leucotis Pr. 38, 2

14,5cm. Espécie de vasta distribuição no interior,muito parecida com de asas e cau-da finamente barradas de negro, semelhante aoscongêneres; barriga avermelhada. o canto é umasérie de motivos bem pronunciados e sonoros, o machoe a fêmea de um casal cantam e respondem-se mutua-mente; um dos companheiros canta, p. ex., "djõ-duid,djô-duid, djõ-duid", etc., o outro "tríbie-lõ, tríbie-lõ,tribie-lô", etc.; o mesmo indivíduo, ou casal, altera peri-odicamente os motivos, p. ex.: "cadê-meu-boi, cadê-meu-boi", etc., "tebeníru, tebeníru", etc., "deu-divan, deu-divan", etc., "bebijú, bebíjú", etc., "beníro-qüira, beniro-

h d dvertênci "d k't" "tsqüira", etc.; c ama a e avertência: ro- a; c -, "ta.ta.ta". Vive a pouca altura nos emaranha-

dos mais fechados como os outros . Vive nasbrenhas ribeirinhas e na mata de galeria. Ocorre do Pa-namá à Amazônia e Brasil central, Mato Grosso, Goiás,São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Piauí e Maranhão, Gui-anas e Venezuela. "Marido-é-dia", "Garríncha-trovão?".Localmente na mesma região, até na mesma área, queas outras espécies do gênero, sobretudo.(Mato Grosso).

GARRINCHA-DO-OESTE*,

[13,5cm. Habita as bordas de floresta e brenhas ri-beirinhas. Disseminada nas planícies bolivianas ocorreapenas marginalmente no Brasil, oeste de Mato Grossoe Mato Grosso do Sul. Forma uma superespécie com, pelomenos, leucotise (Sibley& Monroe 1990).]

GARRINCHÃO-DE-BICO-GRANDE,

En

[15cm] Espécie dominante na faixa litorânea, muitoparecida com leucotis, tendo, porém, o bico extrema-mente longo (25mm em vez de 18mm). sonoro" djip-djíp djó, djó, djó, djó": "hüt-je-hü" (apelo territorial deum indivíduo só). Macho e fêmea entoam estrofes ligei-ramente diversas, um canta p: ex. "de-lüíd-de-düe", ooutro "dülíd-düe-dülíd-düe", sobrepondo-as num due-to; as estrofes menos fortes do que o canto territorial,são repetidas por ambos, os sexos sem sincronização;"djo-wíd", "dwo-doid" (chamada); "tcha-tcha-tcha","tcharrr" (advertência). Habita a orla da mata, densamata secundária e a caatinga (onde sua voz pode serconfundida com o assobio do sofrê, j.freqüenta também o manguezal. Ocorre do Piauí a San-ta Catarina também no ex-Estado da Guanabara, emmorros cobertos de densa capoeira. "Curruiruçu", "Rou-xinol" (Bahia), "Framato" (Ilha Grande, Rio de Janeiro),"Cambaxirra-grande", "Garrincha-açut". Talvez seja osubstituto geográfico de leucotis.

GARRINCHA-CINZA*, En

12,5cm. Cinzento, semelhante a cmas de cauda bem curta. Ocorre do Javari ao alto Purus.

CORRUtRA, CAMBAXIRRA,

Pr. 38, 6

12,2cm. Pássaro dos mais familiares e comuns nestepaís. Pardo, asas e cauda com finas faixas transversaisnegras, dorso pardo uniforme (ao contrário de

, lado inferior pardacento-claro ligeiramen-te rosado. e o canto do macho é umaestrofe curta, ininterrupta, de notas altas e ressonantes,em andamento rápido; a fêmea responde com uma se-qüência de tons roucos monótonos; advertência "kret-kret" etc.; o macho excitado produz às vezes estalidos("tak") e até matraqueia a intervalos intercalados aoscantos, na presença da fêmea. Ocorre em qualquer lu-gar, tipicamente ubíquo, à volta de casas e em jardins,entra até nos quartos, onde canta; ocorre também nocentro de cidades como o Rio de Janeiro; vive nos tiposmais diversos de paisagens naturais, como beira de mata,cerrado, caatinga, pântanos e campos nas serras altasdo Sudeste, etc.; ocupa ilhas na costa marítima, como ailha Alfavaca (Rio de Janeiro) e as ilhas Moleques do Sul(Santa Catarina). Ocorre nas Américas do Norte e do Sul,do-Canadá até a Argentina e Chile, todo o Brasil. A reu-nião do representante neotrópico com

da América do Norte (este reproduzindo até o suldo México) convence, inclusive pelo caráter da voz que,nas duas "espécies", é igualou forma umcline. Se bemque normalmente o homem nada tenha contra a compa-nhia deste cantor incansável que, ao mesmo tempo,éajuda tão eficiente na eliminação de insetos caseiros, há,localmente (Rio de Janeiro), a crendice de que acambaxírr a dá azar. "Corruír a", "Carrincha","Cutipuruí" (Pará, Amazonas), "Rouxinol" (Maranhão).

. "Barattenvogel" (Santa Catarina), "Ccrruíra-de-casa+".Ocorre uma mutação cor de canela (Minas Gerais).

CORRUtRA-DO-TEPUI*,

[12cm. Endemismo dos tepuis venezuelanos. Assi-nalada em Roraima no cerro Uei-Tepui (Phelps& Phelps1962) e no Amazonas no pico da Neblina (Phelps&Phelps 1965).]

UlRAPURU-DE-PEITO-BRANCO,

Pr. 38, 1

llcm. Espécie silvestre semiterrícola de pés bem gran-des, do norte do baixo Amazonas.É caracterizada pelodesenho negro e branco da cabeça e pelo branco purodo lado inferior, que dá na vista no ambiente profunda-mente sombrio. o canto lembra o de ,

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694 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

porém de menor volume, em parte grinfando alto, p. ex."bíã-bíã-bíá tzililili", "zükelí-klo.klo.klo": advertência"ta-ta-ta", "trrr", "kat". Vive em brenhas cerradas nointerior da mata alta; locomove-se pulando através daramagem mais baixa, com a caudinha levantada verti-calmente, pousa em rebentos verticais, desce freqüente-mente ao solo para apanhar insetos; seu comportamen-to pode lembrar o de (Sylviidae), às vezes seuvizinho, como também Ocorre doAmapá, Roraima, até o México. "Corruíra-da-matat",

UlRAPURU-VEADO,

Pr. 38, 4

10,7cm. Corruíra silvestre da Amazônia de bico lon-go e relativamente fino, pés desproporcionalmente gran-des e cauda extremamente curta. O lado superior mar-rom uniforme, garganta e peito de um branco resplan-decente, mesclado com bordas pardas, dando uma apa-rência escamosa. o canto é uma seqüência deassovios Iímpidos, curtos e prolongados, de um timbretodo especial e agudo. Há um canto relativamente curtoe outro surpreendentemente extenso, que pode prolon-

.gar-se por alguns minutos. O último procede da seguin-te maneira: começa com alguns pios consecutivos ani-mados como "dü-dí-dü-dü-dü", mas logo depois a es-trofe torna-se como que pensativa, com os intervalosentre os pios prolongando-se sucessivamente a 2, 4 e 5segundos; cada novo pio é uma repetição do anterior(há às vezes 3 ou 4 repetições), ou é mais alto ou maisbaixo, há saltos intercalados para agudo ou para grave,p. ex., uma terça ou uma quarta (o intervalo todo daestrofe abrange uma sexta ou oitava); há escalas descen-dentes perfeitas; finalmente os intervalos prolongam-sea 8 e 9 segundos, até a estrofe morrer deuma vez. Adesagregação deste canto é única em vozes de aves des-te país, pelo que podemos julgar. O fraseado e timbrepodem lembrar odeCichlopsis (Turdidae).Ad-vertência "tsack", Vive no interior da mata alta, anda ecorre no solo com passos largos sugerindo uma saracuradiminuta, o corpo balançando ligeiramente; agarra-seàs veze~ ao lado de troncos grossos.É de vasta distri-buição na Amazônia, exceto à margem esquerda do bai-x,?Amazonas, a leste do rio Negro; ocorre para o sul até

. à Bolívia, norte de' Mato Grosso (Teles Pires), Pará(Cururu, Cachimbo, Belérn), Maranhão; até a Venezuelae o México. Encontrado também nas mesmas matas deterra firme que (Tapajós). É procurado noTapajós, Pará, como talismã nas caçadas de veado. "Flau-tista-da-mata*".

Brown, R. N.& R. E. Lemon.1980. XVII lnt. ., 742-47. (evolução da voz entre parentes simpátricos)

FLAUTISTA-DO-TEPUI*,

[11,5cm. Endernismo dos tepuis venezuelanos. Assi-nalada em Roraima no cerro Uei- Tepui (Phelps & Phelps1962); no Amazonas: pico da Neblina (phelps & Phelps1965), serra de Parima (Phelps 1973) e serra de Paracaima(Dickerman & Phelps 1982).]

UIRAPURU-DE-ASA-BRANCA,

10,6cm. De aspecto e comportamento muito seme-lhante aos de M. , porém de colorido diferen-te: asa negra, atravessada por larga e vistosa faixa bran-ca; pescoço anterior e peito cinzentos, barriga densamen-te vermiculada. Ocorre ao norte do Amazonas: Amapá(substituindo .M. norte do Pará (Óbidos),norte do Solimões, Manacapuru, Amazonas, Equador,Venezuela e Guianas. "Flautista-de-asa-branca?",

UIRAPURU-VERDADEIRO, MÚSICO,

Pr. 38, 3

12,6cm. Espécie amazônica famosa devido ao seu can-to; de bico forte e alto, pés grandes; de colorido variávelconforme a região: as populações do alto Amazonas (atéos rios Negro e Tapajós, v. a prancha,

têm a cabeça pardo-avermelhada uniforme,anel nu ou redor do olho azul; as populações do baixoAmazonas-de ambos os lados, destacam-se por um de-senho branco nos lados da cabeça, falta o vermelho nabarriga, etc., mas persiste o ferrugíneo da garganta e dopeito, ao contrário de

etc.). can-to notável, composto de uma série de estrofes relativa-mente curtas bem variadas e de andamento rápido; es-sas estrofes possuem um fundo ventríloquo do qual nas-cem belíssimos tons claros de clarineta ou flauta, emparte em escalas, em parte em saltos admiravelmentealtos, como uma sexta ou até uma oitava, todas as notasligadas, ao contrário de o canto pode lem-brar o afinar dos instrumentos antes de uma sessão musi-cal; periodicamente o indivíduo não sai do gorjear ventrí-loquo. Chamada, advertência: baixinho "k-k-k", "krrra".Habita o estrato inferior da mata alta, gosta de pousar aolado de rebentos, como vários formicarídeos, agita a cau-da; vive aos casais e em pequenos bandos; visto freqüen-temente nas mesmas matas de terra firme ocupadas por'

Ocorre de Honduras à Bolívia, Amazo-nas, Pará (para o sul até Cururu e Cachimbo), Amapá,Guianas. "Corneta", "Músico-da-mata?". V Folclore.

Grant, P. R.1966. son . 78:266-78. (coexistência entre dois)

I.

;., I

Page 194: Ornitologia Brasileira - Helmut Sick 2ed-03

TROGLODYTIDAE 695

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696 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

FAMíLIA MUSCICAPIDAE

BrcO-ASSOVELADO, BALANÇA-RABO e afins: SUBFAMíLIA SYLVIlNAE (6)

Pequenos pássaros, insetívoros, arborícolas, muitoativos e que compreendem no Brasil os gêneros

e que passam por serlegítimos representantes dos silviíneos, grande sub-fa-mília de Oscines muito diversificada no Velho Mundo(mais de 300 espécies). Incluímos o grupo nosMuscicapidae, seguindo o

(1983) da Union.O parentesco dos gêneros e

(aos quais tinha-se juntado errone~mentePsilorhamphus,hoje incluído nos Rhinocryptidae) tem sido objeto de con-tínuas controvérsias. Originalmente foram consideradostrogloditídeos (Oscines), ~epois formicarídeos

TRIBO E

São exclusivamente neotropicais, destacando-se porseu bico muito longo e pelas pernas altas e finas, provi-das de forte musculatura. Os dedos são relativamentecurtos; não são terrícolas. A semelhança dos dois gêne-ros parece-nos, contudo, muito superficial; tanto o bicocomo os pés, p. ex., são diferentes. Ambos possuemabundante plumagem sedosa nos flancos. Os sexossão idênticos. Lembram os trogloditídeos por seu as-pecto externo.

As vozes de chamada e advertência, de ambos, sãosemelhantes àquelas respectivas dos trogloditídeos. Ocanto de é um tremulado límpido, pare-cido com o canto de alguns formicarídeos; notamos àsvezes resposta mais aguda que vem aparentemente nãode um vizinho qualquer, mas sim da respectiva compa-nheira, fazendo crer que ambos os sexos cantem.

arrebita e abana a cauda verticalmen-te, tocando o dorso com a ponta das retrizes; executatambém movimentos laterais da cauda.

Observamos apenas a .pouquíssima altu-ra do solo, enquanto que o anterior sobe com freqüênciaàs copas das árvores. Ambos associam-se periodicamen-te a bandos de pássaros. Aproveitam-se de formigas-de-correição como batedores.

(Suboscines), finalmente foram reconduzidos aosOscines e, por apresentarem hiporaque e pela estruturada siringe de foram colocados entre osSylviinae.

Houve uma tentativa de explicar a grande diferençaentre e de um lado, ede outro, através da hipótese de uma segunda invasãoda América pelos silviíneos, o que condicionaria que osdois grupos supracitados tivessem antecessores aindamais remotos; finalmente foi proposta a criação de umafamília à parte dentro dos Oscines e afim dos Sylviinae,para abrigar e Não se conhe-cem fósseis de silviídeos no Novo Mundo.

Ambos vivem aos casàis. O ninho decolocado sobre uma folha espinhenta, meio

metro acima do solo, é uma pilha alta e grosseira de fo-lhas secas com uma pequena taça aberta na qual põedois ovos brancos, manchados no pólo rombo. O ninhode construído entre rebentos verticais aum palmo acima do solo da mata,éuma pilha alta (ZOem)e frouxa, composta de folhas secas e que possui umaconcavidade tão profunda e estreita que a ave, quandodeitada nela, é forçada a dirigir a cabeça verticalmentepara cima, vendo-se de longe o enorme bico que apontacomo uma pequena vara vertical. Põe dois ovos branco-amarelados salpicados de vermelho que são incubadospelos pais. Quanto ao da Cos-ta Rica, o período de eclosão é de17dias, mesmo tempo(longo) de incubação de um formicarídeo de tamanhoidêntico. Os filhotes nascem nus (como os dee abandonam o ninho após 12 dias.

apresenta duas épocas de reprodução (junhoe outubro) em Mato Grosso.

BrCO-ASSOVELADO-DE-COLElRA,

Fig. 282

l1cm. Espécie da Amazônia setentrional defisionomia singular, determinada pelo bico longo(18mm); a cauda de tamanho médio, tarsos extraor-dinariamente longos, dedos curtos. As partes supe-riores pardas, faixa superciJiar e partes inferiores bran-cas, sobressaindo na escuridão da mata; destacam-seuma faixa pós-ocular, uma estria malar e um colar ne-

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SYLVIINAE 697

-

Fig. 282. Bico-assovelado-de-coleira, c

gros, este último lembrando remotamente aquele de(Tyrannidae). "tak", "zrrr" (fraco, cha-

mada); assobio forte,"iü", repetido a cada 3 a 4 segun-dos; gorjeio forte apressado (canto). Vive escondido nointerior da mata alta; como os pequenos trogloditídeosamazônicos, locomove-se aos saltos na ramagem cerra-da mais baixa e profundamente sombria, de onde desceao solo em perseguição a insetos; mantém a estreitacauda em posição horizontal, só tendo a tendênciade elevá-Ia quando apanha alguma coisa no chão.Ocorre do norte do Amazonas (Amapá) e Solimões(Amazonas) à Colômbia, Venezuela e Guianas. Apa-rece ao lado de (Troglodytidae). Existe umasegunda espécie não brasileira do gênero que atinge atéa América Central. "Balança-rabo-de-coleira?".

TRIBO POLIOPTILA

Gênero de vasta distribuição no continente america-no, sendo contudo mais comum nas porções tropicais.Não hámaneira, no Brasil, de confundi-Ia com qualqueroutro grupo, sendo característico o seu porte delgado, obico curto e fino e, sobretudo, a sua cauda longa e es-treita. Corpo cinzento e branco, tendo muitas vezes al-guma tinta negra na cabeça, mais extensa no macho; hádiversas espécies que se assemelham bastante.

O canto, emitido estando a ave ereta como se engo-lisse água, é extremamente fino, seu timbrepodendcsercomparado ao assovio de um maçarico. Há dialetos en-tre as diversas populações de . Regis-tramos para um canto de madrugada (RioGrande do Sul).

BrCO-ASSOVELADO,

Pr. 38, 8

15cm, 8,5g-9g. Ave de vasta distribuição, caracteri-zada pelo bico excepcionalmente longo (21mm) e fino;comparativamente a tem o bico mais fino ede formato diverso, a cauda maior e graduada e os tarsosmenos possantes. As partes inferiores sem desenho es-curo de nenhuma espécie, apenas aparecendo de vez emquando a base negra das penas da garganta. forte"tzeck-tzeck", "krra" (advertência); o canto consiste emum trinado com ou sem modulações, ascendente ou des-cendente, tendo o timbre de um canário-da-reino comalgumas notas diatônicas, "ttt-ü,ü, ü, ü, ü ...", Vive namata primária ou secundária, freqüentando também asorlas das mesmas. Em locais de altura média, costumasubir em árvores entrelaçadas de cipós a 8 metros oumais até as copas, mas também desce a pouca altura,onde igualmente faz seu ninho. Constantemente emmovimento, atrai a atenção devido a seu tamanho re-duzido, só sendo contudo fácil descobri-Ia através docanto, que é emitido o ano todo e lembra no timbre ode certos formicarídeos comoSe excitado arrebita a cauda abanando-a frenetica-mente e verticalmente, no que lembra s(Rhinocryptidae); também executa movimentos lateraisde cauda. Do México à Amazônia e daí para o sul até oMato Grosso (Guaporé, Gi-Paraná, alto Xingu), leste doPará, nordeste e leste do Brasil (inclusive o municípiodo Rio de Janeiro), até Santa Catarina. Relativamentecomum em várias regiões. "Carrincha-do-mato-virgern"(Minas Gerais), "Ma-trãbinó" (Kamaiurá, Mato Grosso),"Balança-rabo-de-bico-longo?" .

Mantém a cauda em constante movimento, quer ver-tical, quer lateralmente. Se excitada abre a mesma emleque, expondo a contrastante coloração branca e preta.Vive abertamente na copa das árvores, exposta ao ventoe à forte insolação. Aprecia regiões áridas.

Durante a procriação são agressivos, atacando qual-quer animal que entre em seu território: o pequeno ni-nho, fixado solidamente em um galho deárvore,'é umatigelinha resistente, atapetada por fora com líquens pre-sos comoauxílio de teias de aranha, à maneira das

(Tyrannidae) e dos beija-flores; a camuflagemresultante é perfeita. Quando constroem um ninho parauma segunda postura, aproveitam às vezes o materialdo primeiro, desmontando-o. Os ovos são brancos com

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698 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

manchinhas marrons e incubados pelo casal durante 13dias os filhotes, alimentados pelospais (como em saem do ninho com 14-15 dias de vida do sudoeste dosEUA).

Geralmente ocorre apenas uma única espécie do gê-nero em cada local; há certa sobreposição na Amazônia.Em certas espécies ocorrem raças geográficas bem dis-tintas, formando-se populações intermediárias nas re-giões de contato, como ocorre, p. ex. com P. noMato Grosso do Sul; tal intergradação se amplia em con-seqüência da destruição das matas que antes separavamas populações destas aves fotófilas.

BALANÇA-RABO-DE-CHAPÉU-PRETO,

llcm. Pássaro franzino, arborícola e de cauda longaa qual está sempre oscilando. O lado superior cinzento,alto da cabeça (até a nuca e partes laterais), rêmiges eretrizes negras; as rêmiges internas possuem larga bor-da branca longitudinal, as rêmiges externas com bran-co.As partes inferiores branco-acinzentadas; a fêmea semboné negro. desperta atenção por emitir, freqüente-mente, um estridente"bsíã": "tsück", "it, it, it, it" des-cendente, de timbre de um o canto é um sibilaralto, algo variado e em andamento rápido, começandocom uma série de "gli..." monótonos. Infatigavelmentepulando e revoando entre os arbustos e árvores, sempreabanando a cauda 'para cima e para baixo e para os la-dos. Habita as regiões áridas ricas em acácias e cactáceas(p. ex. caatinga). Ocorre do México ao Peru, Guianase Brasil, campos esparsos pela Amazônia brasileira(rio Branco, baixo Tapajós, baixo Xingu), Tocantins eleste do Pará (Belém, Marajó, etc.), Nordeste do Bra-sil, para o sul até a Bahia e Minas Gerais. "Miador"(Minas Gerais).

BALANÇA-RABO-LEITOSO,

10,9cm, 7g. Distingue-se sobretudo pelas partes in-feriores intensamente amareladas; loro, em torno do olhoe faixa superciliar brancos, o macho com boné preto, lem-brando a espécie anterior. Ocorre no Paraguai, nordesteda Argentina (Misiones) e Brasil Oriental, do Rio de Ja-neiro ao Rio Grande do Sul (São Borja). "Balança-rabo-branco?". V (Emberizinae).

BALANÇA-RABO-DA-COPA *,

[llcm] Entre Belém e o rioTapajós e do norte deManaus e alto rio Negroà Venezuela e Guianas.

BALANÇA-RABO-DE-MÃSCARA,

Fig.283

ll,Scm, 6g. De aspecto muito semelhante aos anteri-ores, tendo o lado superior cinzento, o macho com más-cara (ou apenas estria pós-ocular) negra; loros e sobran-celha brancos (fêmea); as partes inferiores brancas

do Brasil central, excetosudoeste de Mato Grosso) ou tão escuras como as par-tes superiores . sudoeste do MatoGrosso e Rio Grande do Sul). "gra", "zeret-grã" (cha-mada; advertência). Canto límpido, do timbre de

Fig.283.Balança-rabo-de-máscara, d.macho

o indivíduo dispõe de diversos motivos osquais altera, no curso de meia hora de vocalização. Emum indivíduo de Mato Grosso anotamos as seguintesseqüências: 1 - seqüência fortemente descendente,"dlíü ..."; 2 - seqüência sem modulações, "dip, dip, dip-díü, díü, díü"; 3 - "düdü-wía düdü-wía ... ".Já em outroindivíduo, do Rio Grande do Sul, anotamos: 1 - "wit,wit, wit.."; 2 - "büwit, büwit, büwit..."; 3 - "wídje, wídje,wídje". Possui também um canto mais variado e fluen-te, de andamento muito mais rápido, podendo lembraruma ou uma que pode s~r,emitidodurante bastante tempo. Cantar parecido' encontramosna P. Habita o cerrado e regiões campestres comárvores espalhadas. Ocorre do sudeste do Pará, Goiás eMinas Gerais a São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul eMato Grosso (inclusive no alto Xingu), Bolívia, Paraguai,Argentina e Uruguai. "Sebinho" (Rio Grande do Sul).

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SYLVIINAE 699

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700 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

SABIÁS: SUBFAMÍLIA TURDINAE (17)

Grande grupo (mais de 300 espécies) cosmopolita,de origem oriental, estabelecida porém, há muito, nasAméricas onde alcançaram o extremo sul, a Terra doFogo e as Malvinas. Seguimos a

(1983) e incluímos os "Turdidae" e"Sylviidae" na família Muscicapidae (v. Passeriformes,Subordem Oscines). Na região Neotrópica são mais co-muns em zonas montanhosas (Andes, etc.). Imigraramno passado da América do Norte para a América do Sul.Fósseis do Terciário (Mioceno, há 20 milhões de anos),da Califórnia.

De aspecto característicoe bem conhecido de todos,fugindo ao padrão de o singular gêneroCichlopsise os estes últimos representantes norte-ameri-canos pequenos que alcançam o Brasil apenas como vi-sitantes.

O tamanho regula entre 17 e 25cm, o peso de umsabiá-laranjeira, o maior representante nacional, é deaproximadamente 75g. Exceto e

todos têm plumagem modesta.É necessária al-guma experiência para distinguir espécies comuns como

u le e Ressalta à vistao colorido da garganta; uma nódoa branca na gargantaposterior torna-se mais nítida quando o pássaro cantaou estica o pescoço. Importante é o colorido do bico queem certas espécies, como é ama-relo berrante, pelo menos no macho, durante a procria-ção; o mesmo podemos dizer, às vezes, sobre os pés epálpebras, sobretudo dos Durante a muda(que no Sul dá-se no começo do ano) as partes nuas per-dem o colorido vivo, no caso doso bico torna-se todo escuro, nos , restam, fi-nalmente, apenas vestígios de amarelo. Até agosto o bicotorna-se outra vez amarelo.

Os sexos semelhantes, diferentes apenas nose . A primeira

plumagem do imaturo é manchada, assemelhando-se,na maioria das espécies, padrão bem típico para essetraje protege o imaturo contra ataques de adultos queassim vêem nele um indivíduo que não lhes é concor-rente (fig. 284). No caso dos c os ninhegos jámostram o dimorfismo sexual. Ocorrem, às vezes, indi-víduos albinos (não tão raros nos fê-meas, nem no ipes), registra dos geralmentenos arredores de habitações humanas, onde a elimina-ção destes indivíduos que dão na vista dos rapineiios émenos eminente. Vimos um indivíduo de

i porém de olhos escuros (não vermelhos) epálpebras amarelas (Rio de Janeiro). Não é muito raroaparecer sabiás-albinos em quintais, fenômeno conhe-

cido em cidades do mundo inteiro. Mas é difícil ocorrerum casal albino, como ocorreu em São Paulo em 1987.Albinos costumam ser solitários estranhos eliminadospor predadores (seleção natural). Ocorrem ainda muta-ções cor de canela ("cinnamon"), registradas por nós,caso dosPlatycichla flavipes (macho e fêmea, Petrópolis,Rio de Janeiro), i e (fê-meas). Representante diferente éCichlopsis leucoge s,cuja inclusão nesta fanu1ia foi discutida.

Fig.284.Sabiá-poca, oc s, imaturo

A voz de várias espécies (p. ex.u s is e T.é múltipla, como o são também os chama-

dos, fato raras vezes ou mesmo nunca mencionadona literatura, que quase sempre se refere apenas aoscantos. Certos chamados são mais úteis para a iden-.tificação no campo do que os cantos - tanto mais queservem durante o ano todo e não apenas nas épocas decanto, que são curtas. Há, p. ex., gritos que denunciamimediatamente leu T. us e

. tem um assobio queemite apenas quando levanta vôo, ou enquanto voa.Certos chamados, p. ex., um "psib", são semelhantes emdiversas espécies.É difícil averiguar _o_.~ignificadodecertas vozes de sabiás, como p. ex.ide us oe ise T. e .

Existe um assobio prolongado extremamente fino,usado como alarme quando descobrem uma ave-de-ra-pina caçando (v. sob cic Devido ao seu timbremuito alto édifícil a sua localização: o indivíduo (a sen-tinela) que produz o assobio não pode ser localizadopelo predador. Esta vocalização é inteligível tambémpara outros pássaros. Sobre o vozear durante ocrepús-culo v. Hábitos.

O canto de sabiá é exaltado em todas as regiões daterra, cada país apontando, com orgulho, a espécie maiscanora da sua área, alegando ser ela superior a todas as

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III

l'

I

TURDINAE 701

outras. João Guimarães Rosa que já citamos várias ve-zes, destaca a naturalidade e beleza do canto do sabiá:"canta um sabiá sem açúcar". Há uma certa semelhançano canto dos sabiás do mundo inteiro. Quase não há matanesta Terra onde não se ouça sua voz característica. Ojulgamento da qualidade do canto é subjetivo e depen-de do indivíduo que canta (influem também a idade e aregião geográfica): há modificações regionais (dialetosv. sob A espécie mais procurada pe-los amadores do sul do Brasil é decanto bem variado e capaz de imitar outras aves. Único,no nosso meio, na sua capacidade de arremedo éT.

. fumigatus é também excelente cantor.pode cantar muito bem, mas desapon-

ta em certas regiões do Rio de Janeiro, p. ex., se nota umempobrecimento acentuado do seu canto, talvez rela-cionado à vida em cidade grande, fenômeno para o qualexistem paralelos na Europa . Os cantosde T. , T. . , T.

g e T. soam, ao principiante, como se-melhantes uns aos outros. e

estão entre as espécies que cantam aber-tamente sobre copas de árvores. Outros, como'

, cantam escondidos na mata.costuma cantar em grupos dentro da densa floresta. Osimaturos e sobretudo os adultos no início de cada épocade reprodução entoam tipos diferentes de canto,pianíssimo, prolongado e rico em motivos,P: ex.,

e T. . Fora da época apropria-da param inteiramente de cantar. Tanto mais notável queT. e T. evoluíram além do canto (in-timamente relacionado com a reprodução) uma segun-da vocalização territoricl: uma seqüência forte descen-dente, utilizada também fora da época da reprodução,quase como substituto do canto. Em cativeiro podemcantar durante o ano todo, até à noite com a luz artifi-cial (sabiá-laranjeira). A fêmea geralmente não canta, ha-vendo nisto certa confusão, pois no Nordeste a palavrasabiá é feminina. O nome sabiá vem do tupi, sendo con-tração de haã-piy-har= aquele que reza muito (BaptistaCaetano), alusão ao rico canto dessa ave.

São onívoros. Gostam p. ex. dos coquinhos de váriaspalmeiras como palmito doce e açaí e) e de espé-cies introduzidas, como dendê eis), ston e

. chontopho . Nos enormes cachos deforam registra das, no Espírito Santo, seis espé-

cies de sabiá: , , T. leuco s,T. , T. tus e T. Cospem oscaroços após aproximadamente uma hora, contribuin-do à disseminação espontânea desses vegetais. Procu-ram os frutos da magnólia-amarela (v. sob ,Thraupinae), da imbaúba i da falsa-erva-de-rato Rubiaceae), da pimenta-malagueta

. das amoras, de Myrtaceae etc. Fartam-se delaranjas e mamões maduros. Aproveitam-se de artrópo-des, etc. espantados pelas formigas-de-correição. Estãoentre as poucas aves cujo forrageamento sob luz elétri-ca foi registrado le e , Santarém, Pará).Bebem água pluvial em buracos de árvores.

Em qualquer parte do mundo os hábitos da maioriados sabiás se assemelham, como p. ex., o modo de pulare correr no solo e de virar folhas; furam às vezes a terracom o bico. Os movimentos da cauda são característi-cos das várias espécies; o linus é o maisativo em sacudir a cauda em sentido vertical. Todosvoam muito bem. São desconfiados, gostam de se es-conder. São briguentos, o que se nota quando, p. ex., umafruteira localizada no território de um certo casal torna-se fonte de alimento muito procurada por diversos pás-saros, inclusive outros sabiás.

Vimos um usar alho para se esfregar porbaixo da asa, técnica que deve substituir o emprego deformigas para aplicarácido fórmico como estimulante:formicar-se; um empregou até pimen-ta vermelha; ambos viviam em cativeiro.

Durante o ano todo, os sabiás tornam-se um tantoinquietos à tardinha. Voam em redor da área onde pre-tendem dormir, emitindo vozes de chamada e adver-tência. É o fenômeno mais impressionante em espéciescomo e T. le , cujas chamadassão bem vigorosas. Este nervosismo dos sabiás, existen-te também em outros continentes, deve ser ligado ao"receio" de não obterem um poleiro bom, seguro para anoite. Talagitação crepuscular é mais difundida na Clas-se Aves do que se pensa, mas não chama tanto a atençãoquando não é combinada com vozear. O,correaté em não-Passeriformes, como jacus e jacamins. As vezes tambémde madrugada, com a claridade crepuscular correspon-dente, os sabiás revelam certo nervosismo.

O ninho é uma tigela funda de paredes grossas, feitode raízes, outras partes vegetais e musgo, reforçada porbarro em proporção variável, em boa quantidade p. ex.o do s s, em outros casos quase ausente,notando-se também diferenças individuais dentro damesma espécie. Na concavidade do ninho e na sua bor-da não usam argila. Ao que parece c não em-prega barro. O ninho de sabiá é colocado solidamentena ramagem; galhos grossos, tocos ou troncos oblíquoscobertos de epífitas, entre gravatás, às vezes sobre bar-rancos = "sabiá-barranco" e s

g s). leuco se instala freqüentementesobre um toco de bananeira ou palmeira. A fêmea cons-trói sozinha le e .

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702 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

A ave pode tornar-se confusa na construção do ni-nho em certas ocasiões, p. ex., quando o constrói nosvãos entre numerosos suportes iguais de um telhado:ela confunde os vãos e faz ninhos em vários deles aomesmo tempo; certa vez encontramos cinco ninhos pron-tos, um em cada vão, e mais quatro em diversas fases deacabamento, nos espaços entre vigas adjacentes

Macieiras, Itatiaia, Rio de Janeiro). O mesmopode acontecer se uma ave constrói nos vãos existentesentre os degraus de uma escada deitada. Situação seme-lhante registramos com o joão-de-barro (Rio Grande doSul). Sabiás, que originalmente nidificavam em posiçãobaixa, aprenderam a construir no alto das árvores ondeescapam à depredação humana (observações realizadasno México).

Os ovos são verde-azulados, pintalgados de sépiasão incubados pela fêmea durante

12 dias Os pais cuidam da prole, aqual deixa o ninho com aproximadamente 17 dias. Há,pelo menos, dois chocos por época. Faltam levanta-mentos sobre a bionomia das diversas espécies nasvárias regiões deste país, de condições climáticas bemdiferentes.

Os sabiás do Brasil na sua maioria são silvícolas, aocontrário dos mimídeos. Quase sempre há, pelo menos,duas espécies na mesma área e sintópicas, como p. ex.,dentro da floresta, e (Rio deJaneiro, Espírito Santo) oue (Santa Catarina, Rio Grande do Sul); nocerrado e ignobilis (sul do Pará).Na beira da mata se encontram e

A coexistência e competição reduzida deespécies tão parecidas, relativamente grandes, devemexplicar-se por razões ecológicas não tão facilmente re-conhecíveis. No Sul, ese adaptam bem à vida nos campos de cultura e até nascidades.

A distribuição de alguns de ocorrênciasubtropical (Cichlopsis, e élargamente descontínua. Há indícios de que as condi-ções paleoclimáticas eram outras e que possibilitavamconta to direto entre o sudeste do Brasil e a região andina.

Após a procriação, as populações meridionais (de re-'giões que se estendem até o Espírito Santo) efetuam mi-grações em grande escala, procurando regiões seten-trionais mais quentes. Destacam-se nisto

o e que aparecem, p. ex.,

no Rio de Janeiro (município e estado) no outono, emondas (fins de abril e começo de maio), e somem, pros-seguindo viagem; alcança o bai-xo Amazonas. Por falta de exemplares anilhados aindanão conhecemos a procedência dos sabiás migrantes queatravessam o nosso litoral, mas suspeitamos que vêmde longe, do Sul, e não - ou então em menor número-das serras altas adjacentes, cujas populações são igual-mente migratórias e provavelmente também se dirigempara o Norte. Passam de volta em julho (Rio de Janeiro),rapidamente. As datas e número de aves variam confor-me o tempo; em anos quentes quase não se nota a mi-gração, pelo menos nas regiões mais setentrionais comoo Rio de Janeiro. Às vezes, notamos a chegada deT

na Quinta da Boa Vista no mesmo dia, p.ex. 20 de abril de 1970 e 1977 durante sua migração parao norte.

O uso repetido das mesmas rotas e dos mesmos lu-gares de "veraneio", segundo o costume dos sabiásgratórios, foi demonstrado por umespécie procedente do Alasca e do Canadá, anilhado emJujuy, norte da Argentina, em janeiro de 1964, e recaptu-rado no mesmo local em janeiro de 1968. Em suas mi-grações estes pequenos sabiás deslocam-se durante anoite, traindo-se somente pelos chamados; chocam-sefatalmente às vezes contra faróis, torres iluminadasde televisão, etc. (v. também Parulinae e Cuculidae).

vence distâncias de 300km numasó noite.

Consta que o sabiá-poca é às vezes atacado pelo bi-cho-do-pé,

Os sabiás gozam da simpatia de todos. O poeta Gon-çalves pias [Canção do exílio, 1843] imortalizou o sabiábrasileiro: "Minha terra tem palmeiras, onde canta o~abiá", talvez um dos versos mais conhecidos neste país.E quase certo, todavia, que o poeta nem tenha se referi-do a um sabiá do gênero , mas a um sabiá-da-praia, pássaro encontrado no litoral maranhense,terra do poeta, e que pousa com freqüência sobre co-queiros.

Um grupo de ornitófilos em São Paulo sugeriu osabiá-laranjeira como AVE NACIONAL. Os sabiás es-tão presentes no mundo inteiro (sobretudo no hemisfé-rio setentrional) entre as aves mais estimadas devido aseu belo canto.É evidente que, tendo esse símbolo fortecunho nacional, seria mais adequada uma espécieendêmica, exclusivamente brasileira, como é a ararajubaou guaruba que está entre uma das aves mais belas doMundo, possuindo até mesmo as cores da bandeira bra-sileira (v. sob Psittacidae). Dois países (Suécia e Malta)

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TURDINAE 703

têm sabiás como aves nacionais. A denominação "sabiá"aparece como nome de gente, de editora, de produtosfarmacêuticos, de peça teatral, de música, etc. Em cati-veiro os sabiás podem viver muito tempo: um sabiá-una,p. ex., viveu 18 anos e até o fim estava em perfeitoestado de saúde, cantando. A perseguição aos sabiáscomo caça, praticada por descendentes de italianos,é difamada.

Entre os inimigos naturais de sabiás (como de qual-quer pequeno animal que se locomove no solo) podemconstar as rãs do gênero quando, duranteas chuvas, saem da água. Soubemos, no Paraná, que umdos representantes maiores deste anfíbio (20cm de com-primento, sem as pernas) apanhou um sabiá-laranjeiraadulto pela cabeça; o pássaro estaria perdido se um ho-mem não tivesse interferido.

SABIA-CASTANHO, Cichlopsis AmPr. 37,4

21cm, 61g. Espécie florestal do Sudeste, de ocorrên-cia muito local. Rabilongo, de corpo franzino e pés pe-quenos. Lembra a fêmea de garganta e pes-coço anterior de cor pardo-ocrácea uniforme, maxilanegra, mandíbula amarela. Os sexos semelhantes.assobio penetrante, "tzrrii" (fraco), "suiit" (forte) seme-lhante ao alarme de vários outros sabiás; o canto é umchilreio pouco melodioso, relativamente homogêneo econtínuo, porém composto de curtas frases (que mal sedestacam), de timbre metálico, lembrando a voz de

Vive escondido em matas primárias deregiões serranas do Espírito Santo (750 a 850m) e sudes-te da Bahía, representando uma população remanescenteou relita, C.I. endêmica. Notamos que pousade uma maneira mais ereta do que os sabiás "comuns"

não agita a cauda verticalmente. A espécie ocor-

Fig.285. Ocorrência dosabiá,Cichlopeis leucogendistribuição altamente disjunta em regiõesmontanho-sas. a população brasileiraCichlopsis I. leucog(seg.E.Mayr& W.H. Phelps Jr.1967,adaptado).

re nos Andes (Peru, Equador, Venezuela) e Guiana; ogênero é mais diversificado em regiões montanhosas donoroeste do continente, na América Central, México enas Antilhas, destacando-se geralmente pelo cantoaflautado, que pode lembrar a voz de scescens.V. também flauipes. A anatomia da siringesepara Cichlopsis dos outros sabiás.

Fig.286. Sabia-norte-americano, cescens.

SABIA-NORTE-AMERICANO,

VN Fig.286

17cm. Espécie bem pequena, visitante setentrionalque vem à Amazônia; é o "veery" dos americanos. Lado

superior marrom-ferrugíneo, garganta e barriga bran-cas, peito amarelado, este e os lados do pescoço cober-tos de nódoas pardacentas. forte "quíã", caracterís-tica da espécie; ocasionalmente ouve-se também o can-to destes viajantes, no Brasil. Habita o estrato inferior emédio da mata amazônica onde geralmente escapa daobservação direta mas cai facilmente nas redes; solitá-rio. Ocorre no Amazonas (rio Negro, outubro;[avari,outubro), Rondônia (Porto Velho, novembro), MatoGrosso (alto Xingu, dezembro; Cuiabá, dezembro;C~apada, fevereiro). Foram registra das, no Brasil, comoaves de arribação, .três raças, vindas do Canadá e dosEUA, a saberC.f fuscescens, c.f eC.f c ."Sabiá-ferrugem*".

SABIA-DE-ÓCULOS*, VN

[l8cm] Semelhante à anterior, tendo porém o ladosuperior oliváceo em vez de avermelhado e em tornodo olho um anel amarelado. "uit" (chamada); "it"(chamada, emitida quando voaà noite, durante a mi-gração); em fins de novembro ou o mais tardar em mar-ço, antes de regressar a sua pátria, no longínquo norte,

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704 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

começa a cantar: estrofes límpidas, aflautadas, cadamotivo de flexão ascendente. Vive na mata. Registradono Amazonas (rio Tucanos, novembro; rio Negro, feve-reiro, março), vai até a Argentina. [Um indivíduo obser-vado na Serra do Tinguá em 16 de novembro de 1980(Scoot & Brooke 1985).]

SABIA-DE-CARA-CINZA*, VN

[18cm. Sua principal área de invernada na Américado Sul parece ser o sul da Venezuela (Ridgely & Tudor1989). Assinalado para o Brasil pela primeira vez em SãoGabriel da Cachoeira, alto rio Negro (Friedmann 1948).Novaes (1978) relaciona material do Amazonas, rioUaupés, rio [avari, e Acre, Sena Madureira, Raro visi-tante na região de Manaus (Stotzet 1992). Os regis-tros visuais para Urucu, Amazonas (5 de maio, Peres &Whittaker 1991); baixo Tapajós (12 de novembro, T. A.Parker) e Serra do Navio, Amapá (14 de janeiro,J. F.Pacheco) representam provavelmente indivíduos extra-viados. Mencionado como espécie comum no Pico daNeblina, Amazonas (Willardet

SABIA-UNA, Fig. 287

20,5cm, 64g (macho), 72g (fêmea). Espécie do Sudes-te. O macho é inconfundível, negro e cinzento (muitasvezes o cinzento parece preto, à distância), bico, pálpe-bras e pés amarelos; durante o "descanso" o bico torna-se manchado de preto; a fêmea é pardo-olivácea bemescura, tendo o lado inferior um pouco maisclaro, gar-ganta esbranquiçada e rajada de pardo, abdômen esbran-quiçado, pálpebras e pés amarelados (ao contrário de

e O macho é reco-

Fig. 287. Sabia-una, f flauipes, macho,cantando

nhecível já enquanto filhote (rêrniges e retrizes negras);só aos poucos porém adquire o amarelo do bico.

"tzrip", "tschrâ-tschrã-tschrã", "zríp-zíp-zíp": can-to forte bem variado, rico em motivos dos mais diver-sos e de duração diferente, bem separados uns dos ou-tros por intervalos pouco regulares; assovios límpidos,passando de piano para grave, com alteração de ampli-tude e andamento; as repetições são predominantes, maspodem ser limitadas; certos indivíduos, sobretudo emcativeiro, imitam outras aves, p. ex., o pichochó, suiriri,periquito da Austrália, (adver-tência) e dois em estado selvagem,no Espírito Santo e no Rio de Janeiro, respectivamente,arremedaram e Gosta de cantar sobreas árvores mais altaneiras; o canto chega ao auge emoutubro (Espírito Santo). Dispõe de um assovio esquisi-to de alarma, vocalização própria de vários pás-saros, sempre de padrão bem semelhante, servindo paraoutras espécies vizinhas como alarme.

Vive na mata; no Rio de Janeiro e Espírito Santo emregiões montanhosas, onde é geralmente a espécie maiscomum, não faltando porém no litoral onde tambémnidifica (ex-Estado da Guanabara) e aumenta conside-ravelmente durante as migrações; abandona as regiõesserranas meridionais durante o inverno, até a latitudedo Espírito Santo. Ocorre no Brasil oriental, da Paraíbaao Rio Grande do Sul, Paraguai e Argentina (Misiones);também na divisa com a Venezuela e montanhas maissetentrionais (Venezuela, Colômbia)."Sabia-da-mata".Há poucas razões para separar este gênero; o bico de

é mais robusto que o de

SABIA-PRETO*, leucops

[21,5cm. Espécie montícola de distribuição ao longodos Andes e região dos tepuis venezuelanos. Os regis-tros brasileiros desse sabiá provieram de Cabeceiras doSiapa, Amazonas eTaracuniüa, Roraima (Phelps &Phelps 1948).]

SABIA-FERREIRO,

21cm. Espécie meridional pequena, silvestre, de bicoamarelo (pelo menos a mandíbula); o lado superior cin-zento-oliváceo e a cabeça anegrada; a garganta branca,densamente rajada com riscas quase negras, posterior-mente com nódoa branca; o peito cinzento escuro, bar-riga branca; a fêmea parda, parecida com a de

. tsõk" (chamada, lembra T.O canto inconfundível por causa de seu

timbre metálico singular (daí seu nome); os motivos cur-tos, freqüentemente apenas dois a três ou pouco mais,separados por um intervalo característico; as estrofescostumam principiar por um assobio penetrante, "tsrr",seguido também por um intervalo, p. ex.:"tsn tsing, tsingtjülõ, tjülô, tjõ", "tsn ting, ting, ting sing, sing, sing kile,

J,,:

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TURDINAE 705

kile, kile, kile", "kli, kli, kli, etc.; destacam-se as re-petições (3 a 5 vezes). Certos indivíduos que dispõemde maior variante de motivos são também reconhecí-veis pelo timbre metálico, lembrando certosCichlopsis,e ensaios de "teling-teling". Canta escondido na mata,muitas vezes em grupos, num período bem limitado,parando de cantar subitamente em outubro (Rio Gran-de do Sul, Santa Catarina) ou setembro (Rio de Janeiro,Minas Gerais, Itatiaia).

Habita os pinhais, matas cerradas ribeirinhas, flores-tas nas encostas de serras, etc., ao lado de

, e T. . Ocorre da Argen-tina, Paraguai e Bolívia localmente até o Rio de Janeiro(ltatiaia) e Minas Gerais; durante o inverno, Goiás e MatoGrosso (alto Xingu). Pelo seu canto diferente e apariçãoem grupos, chama muito a atenção, também durantesuas migrações, p. ex. em Brasília em setembro/iníciode outubro, cantando antes de regressar ao sul onde fo-ram anilhados em bom número (Antas& Valle 1987)."Sabiá-campainha", "Ferreirinho", "Sabia-pita". V.

c ipes. Muito aparentado ados Andes (Equador até Argentina).

SABIÁ-DE-CABEÇA-PRETA*,

21,8cm. Da cabeça até o peito negros, inclusive a cau-da; lado superior pardo-oliváceo, a barriga pardacentapálida, bico amarelo: a fêmea sem cor negra. Ocorre deRoraima (Pico da Neblina, Maracá) até a Guiana e Co-lômbia.

SABIÁ-LARANJElRA, Pr. 37, 6

25cm, 68g (macho), 78g (fêmea).É o sabiá mais co-nhecido no Sudeste. Inconfundível pela intensa corferrugínea-laranja da barriga, menos vistosa em pluma-gem envelhecida; a pálpebra é às vezes amarela.omúltipla: "djok", "tzri" (advertência); ressonante"~o-tjóit", "drü-wip", seqüência descendente de aproxima-damente 9 "drüõ ...", territorial, uma vocalização quechama bastante a atenção, série descendente de curtos"drü. .." especialmente durante o descanso; canto forte,contínuo, motivos bem pronunciados variados que po-dem ser muito atraentes pelo tom cheio; canto localmente(p. ex. no ex-Estado da Guanabara) simplificadoê- ~-;;~nótono, como "düi-düo düi-düo", "füri-türi", levado aoinfinito (" oitenta-e-oito", "teófilo-vai-teófilo-vem"),constituindo uma forma viciada do canto, uma espéciede dialeto, um carioca dos sabiás. Vive na mata, par-ques, quintais e até dentro do centro de cidades como oRio de Janeiro quando há alguma arborização. Ocorredo Brasil oriental e central, do Maranhão ao Rio Grandedo Sul, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso, à Bolívia,Paraguai, Argentina e Uruguai. Emigra em parte no in-verno (Espírito Santo). "Sabiá-de-barriga-vermelha";"Sabiá-coca" (Bahia). V. g

SABIÁ-BARRANco, e Pr. 37, 8

22cm. Espécie semi-florestal de vasta distribuição, re-conhecível (p. ex. em comparação com T.u oc s,que é menor) pela cor ferrugínea das asas em contrastecom o cinzento-oliváceo da cabeça; as coberteiras infe-riores das asas de cor ferrugínea intensa; a garganta es-branquiçada com estrias pardacentas, sem contraste;coberteiras inferiores da cauda brancas com centrospardaeentos distintos; bico sempre escuro (anegrado).

múltipla: "schrã, schrs, sehrá" (chamada, caracte-rística da espécie, pode lembrar "tcha, tcha"(advertência); "psip", "chõ-dí dididi"; "chrüi..." (no cre-púsculo); canto contínuo, mavioso, menos forte do queo de T. composto de motivos relativamentesimples, uma a duas vezes repetidos, p. ex., "tchrüíd,tchrüíd glüo tjülõ, tjülõ, tjülõ tírüd, tírüd", etc. Vive àbeira da mata, parques, mata de galeria, coqueirais, ca-fezais ("Sabiá-do-café", Paraná) etc. Ocorre das Guia-nas e Venezuela à Bolívia, Argentina e Paraguai; Brasilmeridional e central até a foz do Tapajós e ao norte dobaixo Amazonas (Amapá, Marajó, etc.); também noEspírito Santo, Bahia e Minas Gerais, no Rio de Ja-neiro mais comum nas serras. "Sabiá-branco","Capoeirão", "Caraxué" (Pará), "Sabiá-de-cabeça-cin-za*". V. a seguinte.

SABIÁ-POCA, Pr. 37, 7

21,9cm. Espécie meridional, comum em paisagensmeio abertas. A cabeça e o lado superior, incluindo asasas, de colorido pardo-oliváceo uniforme; a área emfrente ao olho é negra; garganta branca com densaestriação parda; destaca-se uma nódoa branca ou ama-relada-pura na garganta posterior; as coberteiras infe-riores das asas são de cor amarela pálida, as da caudade um branco puro; o bico, durante a procriação, ama-relo puro, cor de cera (macho), durante o descanso, emimaturos e na fêmea, anegrado uniforme.o "bok","bak" (baixinho, pousado) lembrando uma rolha sain-do de uma garrafa; "pszb" (voando ou antes de levantarvôo, principalmente durante as migrações quando opássaro está predisposto a voar); agudo "pchüo", comoum gato novo (advertência); o canto pode ser um tanto

__seco e monótono ("triste"), composto de motivos curtose simples, cada motivo é seguido por um intervalo ca-racterístico, resultando um andamento estacado, masmuito regular na seqüência toda, que pode ser extensa;a transcrição popular que imita bem o ritmo é: "Eu plan-tei, não nasceu, apodreceu, frio, frio". Quando pousa,agita a cauda verticalmente, o que também faz quandopára e se põe ereto, interrompendo uma corrida no solo.Habita a orla da mata, parques, quintais, também nascidades e no cerrado. Ocorre do Nordeste, Leste e Sul,até a Argentina e a Bolívia, Brasil central (Mato Grosso,alto Xingu, localmente cantando, em agosto e setembro),Goiás, também Acre (setembro); baixo Amazonas

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706 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

(Belém, provavelmente apenas durante a migração). Ofreqüente aparecimento de indivíduos migrantes (quenão cantam) pode obscurecer o quadro das populaçõesresidentes; a espécie não é amazônica. "Sabia-branco","Sabiá-pardo", "Sabiá-bico-amarelo". A denominação"Sabiá-poca" é a mais conveniente; "poca", do Tupi:poc= estalar, alusão ao chamado.

CARACHUÉ-BICO-PRETO, ignobilis

21,5cm. Vive apenas na Amazônia, bem parecida àprecedente, mas cinzento-olivácea bem escura (em vezde pardacenta), peito cinzento, estriação da garganta bor-rada, abdômen branco, bico sempre negro uniforme."bok", "sri"; consta que o canto lembra o do norte-americano, Habita o cerrado, a matabaixa e seca. Ocorre da Venezuela ao alto Amazonas, atéa Bolívia e o lado direito do.Tapajós (Teles Pires, MatoGrosso; Cururu, Pará), na última região sintópica com

. "Sabiá-de-bico-preto'"',

CARACHUÉ-mi-BICO-AMARELO,

21,6cm. É encontrada apenas no oeste do país, espé-cie pardo-olívácea carregada, quase tão escura como

porém quase sem tom ferrugíneo,exceto as coberteiras inferiores das asas; barriga e ascoberteiras inferiores da cauda branca; o bico amarelode ponta negra (durante a procriação) ou marrom-escu-ro; beira da pálpebra amarelada. o canto é notávelpela variação de motivos, estes de grande amplitude,regularmente separados por longos intervalos. A capa-cidade de arremedo toma-se muito sugestiva pela com-pleta separação dos motivos. São imitados, p. ex.,

, , ,, e

(gravação deJ. c. R. Magalhães, rio Peixoto de Azeve-do, Mato Grosso). Um único indivíduo imitou 35 espé-cies diferentes. Fala-se até em mais de 60 espécies imita-das por um único sabiá destes - provavelmente é omelhor imitador de aves, no Mundo. Vive nas copas.Érelativamente comum no alto Amazonas, para o sul atéo sul do Pará (Cururu), norte de Mato Grosso (Gi-Paranáetc.): Acre e Rondônia para o norte até a Venezuela."Sabiá -poligloto*".

SABIÁ-DA-MATA, [umigaius Pr. 37, 5

24cm. Espécie silvícola grande, inteiramente de corferrugínea intensa, mento branco, garganta estria da,barriga relativamente clara, coberteiras inferiores dacauda' brancas e pardacentas. "bak" (menos resso-nante do que a de "tchat-chat-chat" (advertência); escala descendente de meia dúziade melodiosos "düe ...", territorial; canto: um gorgearvigoroso, contínuo, sendo considerado o melhor canto

dentre os sabiás brasileiros; às vezes termina estrofescom um alto "sri",lembrando o alarme. Habita a mata eáreas de cultura bem arborizadas. Ocorre da Colômbia,Venezuela e Guiana à Amazônia oriental, Maranhão,leste do Pará e Mato Grosso. Também na Mata Atlânticado Nordeste até o Rio de Janeiro. "Carachué-da-capoeí-ra" (Amazônia), "Sabia-verdadeiro", "Chapéu-de-cou-ro", "Padrão" (São Paulo, cativeiro), "Sabiá-vermelho*".Às vezes ao lado de v. s i n is.

SABIÁ-BICOLOR*,

[23cm] Muito parecido com . mas tendo ocentro da barriga e crisso brancos. Florestas de terra fir-me e várzea da Amazônia ocidental brasileira para lesteaté o Negro e Madeira. Também na Colômbia, Equador,Peru e Bolívia. [O tratamento de aloespécies para o com-oplexo e/li- parece ser o maisapropriado (Ridgely & Tudor 1989).]

CARACHUÉ, nudigenis

22cm. Espécie amazônica, semelhante a ussendo porém imediatamente reconhecí-

vel pelo largo anel nu amarelo vivo em tomo do olho;bico amarelado. "chõi", , timbre lembrando

(chamada, semelhante ao miar deum gato novo); tak-tak-tak": canto de volume reduzido,seqüência de curtas estrofes compostas de 3 a 4 motivosbem pronunciados e ligados, há relativamente poucarepetição, cada estrofe separada por um intervalo ca-racterístico. Habita a orla da mata e regiões meio aber-tas ..Ocorre das Guianas e Venezuela até o Amazonas,localmente também ao sul; Santarém, Belém, Pará; Ma-ranhão. "Sabié-de-cara-pelada=".

Fig. 288. Sabiá-coleira, s collis

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TURDINAE 707

SABIÁ-COLElRA, CARACHUÉ-COLElRA,

Fig. 288

22cm. Sabiá do interior da mata, de vasta distribui-ção. A característica da espécie é a garganta, tão densa-mente rajada de negro que aparece, vista de lado, negrauniforme; garganta posterior com nódoa branca-pura,que na profunda sombra da floresta dá logo na vista; osflancos e coberteiras inferiores das asas de intensa corferrugínea s . albicollis, Brasil este-meridional) oucinzentos (T. . gus, Amazônia); abdômenbran-co-puro; pálpebras e mandíbula amarelas. "djõb","djü-ôb" (chamada); "tzrí" (advertência); canto: estro-

ibliog ibé bl G l)

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fes suaves, prolongadas e ininterruptas (os intervalosentre os motivos são tão curtos que se destacam pouco),motivos simples de pouca amplitude, menos variaçãodo que nos . leuc e ,menos intensidade do que nos

. i en is e g u it o estrato médio damata, tanto nas baixadas como nas montanhas, confor-me a região, ao lado de T.fumigatus. . s ousub is. Ocorre em todas as regiões do Brasil, do extre-mo norte (Ama pá, Roraima) até o extremo sul (Rio Gran-de do Sul). [No Nordeste restritoà Mata Atlântica dolitoral de Pernambuco, Alagoas e Bahia.] A inclusão de

u dus ph p us, menor, da Amazônia, é justificadatambém pela voz, que é igual.

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I I

II

708 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

SABIÁ-OA-PRAIA, SABIÁ-OO-CAMPO: FAMíLIA MJMIDAE (3)

Aves restritas às Américas, embora descendam re-motamente de representantes do Velho Mundo, desfru-tando de Uma situação comparável aos Troglodytidae.Atingiram maior diversificação nas regiões áridas dosudoeste da América do Norte, Fósseis do Pleistoceno(há 100,000 anos) da Flórida [e do final do Pleistocenodo Brasil (Vuilleumier 1984)]. O gênero foitransferido aos Troglodytidae. A taxonomia molecularindicou afinidade dos Mimidae com os Sturnidae, fa-milia de larga distribuição no Velho Mundo.

À primeira vista. os lembram os sabiás (dosquais são parentes afastados), deles se distinguindo emmuitos caracteres. São mais delgados, parecendo ter opescoço mais longo e possuindo o bico mais curvo. Acauda é graduada e bastante comprida. As pernas sãolongas e fortes, particularidade que desperta a atençãojá em ninhegos pequenos . Os sexossão iguais. O imaturo de com pequenasmanchas cinzentas no peito que lembram a respectivaplumagem dos sabiás verdadeiros (Turdidae). [Jovensde apresentam uma mancha marromna extremidade das plumas do peito, que de longe pa-rece salpicado de marrom-escuro (Argel-de-Oliveira1989).]

A vocalização dos é notável pela maestriacom que imitam os cantos e chamados de outras aves

existindo porém, neste aspecto peculi-ar, grande variação individual e específica; muitas ve-zes essa vocalização não vai além da mediocridade

. [Todavia, este último é tido, ao me-nos no sul cioBrasil e na Argentina, como excelente can-tor, fato já mencionado no início do século passado porAzara (1802-5).Entretanto, emSãoPaulo raramente sãoemitidas vocalizações elaboradas (Argel-de-Oliveira1989).] Em casos como , fala-se, com ra-zão, de uma perfeição, difícil de ser igualada por outrosOscines.

Onívoros, comem tanto insetos e aranhas como fru-tinhas. Nas fezes de foram achados,durante pesquisa de um ano, sementes de 20 plantasdiferentes, obtendo germinação de 10 espécies (Argel-de-Oliveira 1987). alimenta-se prin-cipalmente de insetos e frutos, mas também de aranhas,

e mais raramente de minhocas, néctar e flores (Argel-de-Oliveira 1989). As sementes ingeridas são eliminadasintactas (ou seja, não são alimento, apenas lastro ingeri-do junto com a polpa, a ser eliminado o mais rápidopossível) através das fezes ou, no caso de sementes gran-des, por regurgitação]. Colhem o alimento de preferên-cia no solo. Os ocasionalmente, predam ninhoscom ovos de outros pássaros. Cospem pelotas.

Movimentam-se em largos saltos ou correm pelochão, sujando-se com terra roxa, p. ex. no norte doParaná. Na ramagem o pode pousar apoiando-seem dois galhos vizinhos, demonstrando agilidadeincomum. D-estaca-se o modo dessas aves de seaprumarem e esticarem o pescoço, escrutando os arre-dores, enquanto se escondem deixando exposta ap~nasa cabeça. Os voam muito bem.

A cauda indica qualquer emoção, sendo fortementearrebitada no . mostra-semuito menos expressivo nesse gesto, mas ambos abremas retrizes quando pousam, mostrando suas pontas bran-cas.

(Argel-de-Oliveira 1989) exibe ocomportamento de lampejo das asas a avepousada abre simultaneamente as asas, em uma série demovimentos consecutivos distintos, ou etapas, entre asquais há uma interrupção do movimento por uma fra-ção de segundo; ao final de cada etapa, as asas estão maisabertas que ao final da precedente; após um número va-riável de etapas (2 a 5), as asas são fechadas em um úni-co movimento. Esse comportamento parece ser caracte-rístico para o gênero e, embora executado com maiorfreqüência enquanto a ave se alimenta no solo, não pa-rece estar relacionado à localização e captura de presase tampouco parece ter funções relacionadasà defesa ter-ritorial. ]

O ninho de é uma tigela rasa, con-feccionada grosseiramente na copa de uma árvore nocampo, sendo visível de longe; gostam' de construir so-bre um ninho velho, inclusive de outra ave, como

(Bahia) ou (Rio Grande do Sul);o centro do ninhoéforrado com material macio. Os ovossão esverdeados com manchas cor de ferrugem. Os fi-lhotes de M. s nascem CoITo12 dias de incuba-ção, abandonam o ninho com 15 dias. O interior da bocados filhotes é amarelo-laranja. Os indivíduos ninhegosde podem variar consideravelmente

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MIMIDAE 709

em tamanho. Aos casais de e M.que atendem um ninho estão associados, às vezes, maisdois ou três indivíduos, possivelmente filhotes de umaninhada anterior. Os filhotes são, às vezes, infestadospor larvas da berne. cria ocasional-mente o gaudério, .

Os são campestres, vivendo em regiões semi-áridas e em geral em paisagens abertas, às vezes tam-bém paludosas. Até certo ponto podem ser testemunhosdo processo de evolução florística da Amazônia, p. ex.,

restrito aos campos deMonte Alegre e Santarém, áreas hoje isoladas na hiléia,remanescentes de uma extensa zona campestre existen-te num período de clima mais seco, habitada por umafauna fotófila de vasta distribuição. Contudo oscomo bons voadores, podem-colonizar facilmente áreasdistantes. Aspopulaçõés de que habi-tam o Rio de Janeiro ou regiões mais meridionais sãomigratórias, o mesmo valendo para deMato Grosso e da Argentina. e M.

costumam se excluir.

SABIÁ-DA-PRAIA,

26cm. Aves típicas do litoral atlântico, muito pareci-das com a espécie adiante mencionada mas de corpomais franzino, alcançando porém, em virtude da caudamais longa (e mais graduada), o mesmo tamanho total;lado superior cinza-claro (em vez de pardo), fronte, so-brancelhas e lado inferior branco puro, flancos rajadosde negro; em plumagem velha o dorso torna-separdacento e as pontas brancas das retrizes estão ras-padas. A íris é vermelha, no imaturo cinzenta. res-sonante "príü" (chamada, característica da espécie),"chick" (fêmea, chamada), "ga", "quã-quâ" bufando (ad-vertência, zanga); canto: estrofes curtas ou mais prolon-gadas, melodiosas e suaves, absolutamente límpidas ebem varíadas.p. ex., "drídro-drídro dridü-dridü-dridü","drü-dídüdü-dí drü-dídüdü-dí", sendo típicas as repe-tições e os intervalos entre os motivos que dão ao cantoum caráter . Certos indivíduos são hábeis emimitar com perfeição outras aves, aprendem até música(p. ex. o hino nacional). No Brasil oriental vivem restri-tas ao litoral arenoso e salino de vegetação esparsa("restinga"), rica em cactos sobre os quais pousam detal maneira que se seguram em feixes de acúleos; torna-se ali localmente a ave mais vista, substituindos s. Ocorre do México às Cuianas e ao litoral bra-sileiro até o Rio de Janeiro; também nos campos do altorio Branco."Tejo-da-praia=". gil us deve ter sidoo "sabiá" ao qual Gonçalves Dias (1823-1864)se referiuna sua "Canção do exílio". .

Fig.289.Sabiá-do-campo,i s ,cantando.

SABIÁ-DO-CAMPO, ARREBITA-RABO,

Fig. 289

26cm, 73g. Espécie de vasta distribuição no interior.Lado superior pardo-escuro, sobrancelha branca, longafaixa pós-ocular anegrada, contrastante, que falta a

gil us, asas e cauda negro-pardacentas, cobertei-ras superiores da asa com barras brancas, cauda componta branca, mais extensa que em M.gil u lado infe-rior branco, freqüentemente amarelado ou arroxeadopela terra, peito acinzentado, flancos rajados; íris às ve-zes amarela. agudo e penetrante "tschrip", "tschik"(chamada; característica da espécie); "scha-scha-scha","krrrra" bufando (advertência, zanga). O canto pode sermuito bom, p. ex. no Rio Grande do Sul, mas é comumatrair tão pouca atenção que a espécie geralmente passapor "não" cantar ou cantar "mal"; ouvimos um indiví-duo silvestre imitar o o s e lco

Qualquer paisagem aberta com grupos deárvores ou arbustos, fazendas, caatinga, também nasmontanhas do Sudeste (Serras do Mar e Mantiqueira),buritizal (Mato Grosso e Goiás); alcança localmente olitoral atlântico, p. ex., na Bahia (Recôncavo), substi-tuindo gil us. Regiões campestres do baixoAmazonas, através do Brasil central, Nordeste, Lestee Sul até o Uruguai, Paraguai, Argentina e Bolívia."Calo-do-campo", "Sabiá-cara-de-gato", "Sabia-do-sertão", "Tejo" (Paraná), "Calandra" (Rio GrandedoSul), "Tejo-do-campo*".

CALANDRA-DE-TRÊS-RABOS, VS

22cm. Representante meridional, bem menor que osprecedentes, lado superiorpardacento, passando no u-ropígio a pardo~ferrugíneo; na asa larga faixa branca

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710 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

extensiva a algumas secundárias; cauda "tripartida": nomeio negra, lados inteiramente brancos; íris amarelo-alaranjada. chamada lembra can-to: estrofes prolongadas, melodiosas e ressonantes, mis-turadas com boas imitações de muitas aves, ao que pa-rece também com os cantos aprendidos durante suasmigrações invernais a regiões mais ao norte, como no

Argel-de-Oliveira, M. M. 1987. . .de . (Mimus dispersão de sementes)

Argel-de-Oliveira, M. M. 1987. . CEO, São Paulo 3:30-33.

São Paulo)'

Argel-de-Oliveira, M. M. 1989.Eco-etolog do - Mimussatuminus 1823) node . Dissertação de Mestrado: UNICAMP.'

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Brasil. Vive na mata xerófila e na vegetaçãoà beirad'água. Ocorre do Chile e Argentinaà Bolívia, MatoGrosso do Sul, Rio Grande do Sul e Uruguai. Devidoao porte reduzido, à quantidade de branco (mas nãotem branco no uropígio) e pela índole inquieta podelembrar uma (Tyrannidae). "Tejo-de-rabo-branco>".

Bornschein, M. R., B.L. Reinert & M. Picho rim. 1993. III

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São Paulo)'

-

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lVIU iJ\L!LLIUAt. /11

CAMINHEIROS: FAMíLIA MOTACILLIDAE (5)

Grupo cosmopolita e campestre, representado naAmérica do Sul somente pelo gênero Alcança aTerra do Fogo e mesmo a Geórgia do Sul (onde nidifica

uma das aves terrícolas que mais seaproxima do pólo). Atinge também os altiplanosandinos. Não se conhecem fósseis deste grupo proce-dente do Novo Mundo.

A existência de caminheiros em campos daAmérica do Sul recorda ao ornitólogo que conhece ou-tros continentes, os campos e savanas de regiões longín-quas, habitadas por outras espécies de muitosemelhantes às nossas.

Do tamanho de um tico-tico, mas de porte mais del-gado; bico fino e reto, asas longas, cauda mediana, per-nas altas. Dedos longos e afilados, com a unha do háluxmodificada em uma espécie de esporão cujo comprimen-to e grau de curvatura são típicos de cada espécie. Plu-magem modesta, pardacenta e extremamente semelhanteem todos os componentes do gênero; o colorido variaconforme o estado das penas, razão pela qual indivídu-os de uma espécie, com graus diferentes de desgaste daplumagem, podem diferir mais entre si que dois outrosde espécies diversas, porém com a plumagem em igualestado. A constante movimentação dentro e por baixodo capim cortante raspa a plumagem das partes superi-ores do corpo, atingindo especialmente a ponta da cau-da, sobretudo as retrizes centrais, que podem estar tãodesgastadas ao ponto de perderem um centímetro de seucomprimento normal. As terciárias (secundárias inter-nas) também são atingidas duramente. Estas últimas sãomuito desenvolvidas nesta família, prolongando-sequando não desgastadas, até além da ponta das primá-rias (estando a ave de asas fechadas) e formando umescudo que protege a ponta da asa da abrasão que, caso

. concretizada, dificultaria o vôo.O mesmo artifício é en-contrad oem outras aves savanícolas como certosemberizíneos.

A cor do solo pode influir no colorido; as retrizesexteriores possuem um desenho branco, ou pardacento-claro que chama a atenção quando a cauda é aberta. Semdimorfismo sexual.

Voz fina, o canto é uma estrofe simples, chiada, sen-do emitido em vôo, com o cantor permanecendo porvezes uma hora e até mais a voar, tão alto (p.ex, 70 aSOm)que o som de sua voz demora para chegar à terra osuficiente para que a sua percepção não coincida comos movimentos do pássaro que o observador vê; desta

-

maneira contornam e anunciam seu território. Findo ocanto descem planando com as asas elevadas obliqua-mente e os pés pendentes. Quando não estão muito ex-citados cantam no próprio solo.O reconhecimento detais cantos é indispensável para a identificação das es-pécies no campo.

Comem .pequenos insetos (sobretudo besouros, cu-pins, formigas etc.) que apanham no solo; às vezes inge-rem sementes, talvez mais no inverno, quando escas-seia o alimento de origem animal.

Andam e correm rente ao solo, de uma maneira talque o esporão auxilia a locomoção deslizando sobre osubstrato, deixando um rastro visível se o terreno forsuficientemente mole; parecem utilizá-lo, também, comoarma ofensiva quando pelejam entre si. Empoleirammuito pouco, evitam voar, embora sejam capazes de fazê-10 com perfeição. Quando perseguidos agacham-se nosolo ocultando-se atrás de um monte de terra ou de ummolho de capim.

Assemelham-se a certos furnarídeos terrícolase que têm quase o mesmo talhe e co-

lorido e que, às vezes, vivem nos mesmos locais. Delesdiferem imediatamente por não possuírem o hábito, tãocaracterístico destes últimos, de oscilar o corpo e têm obico menor. Poderiam lembrar ainda certos emberizíneosseus vizinhos, como e e, no sudo-este da Amazônia, tiranídeos terrícolas do gênero

Tomam banho de poeira; usam ocasional-mente formigas na higiene da plumagem.

Nidificam no solo, construindo uma tigela tosca efunda sob uma moita de capim; põem ovos brancos den-samente salpicados de pardo, cinzento, etc.; o desenhovaria bastante dentro da mesma espécie. A fêmea incu-ba sozinha,ma.i o macho ajuda na criação dos filhotes.Executam mais de uma postura a cada ciclo reproduti-vo. São às vezes parasitados pelo .Fingem-se de feridos para desviar, do ninho, a atençãode um predador em potencial.

Sua ocorrência, em muitos casos, é bastante local; osgrupos de casais residem nos lugares adequados. Prefe-

'"1, :

T.

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712. ORNITOLOGIA BRASILEIRA

rem geralmente campinas baixas. Duas espécies podemviver próximas ao ponto de uma estar ao alcance da vozda outra, embora cada qual habite uma dada área con-forme suas próprias exigências. Observamos tal fato, p.ex., no Rio Grande do Sul, onde uma espécielutescens)habitava a baixada úmida e uma outra

vivia no ambiente mais seco de uma coxilhaadjacente. lutescensnão encontra problemas emcolonizar aterros. São mais freqüentes nas regiões meri-dionais da América do Sul, ocupando também os cu-mes das serras altas do Sudeste do Brasil.

Migram após a época de reprodução, podendo en-contrar-se então várias espécies, uma ao lado da outra,no mesmo local, não se observando, nesta ocasião, aspreferências ecológicas específicas de cada uma. Nestaépoca o seu número aumenta consideravelmente nas re-giões austrais; os indivíduos vindos do sul formam ban-dos que, em parte, devem proceder de longe; não can-tam durante amigração lutescens).

CAMINHEIRO-DE-UNHA-CURTA,

Fig.290

14,5cm, 20g. Espécie meridional de bico curto e lar-go na base e hálux com a unha relativamente curta efortemente curvada. As partes superiores com desenhopouco contrastante, podendo aparentar um padrão es-camoso; bem pálido se a plumagem está gasta; tem oslados do corpo estria do, mas pouco perceptivelmente(no que difere deA. as retrizes exteriores combranco-puro ou pardacento-claro, "tzlit", "tchip"(chamada); o canto consiste em uma estrofe simplesbipartida, sendo a última parte, mais alta, composta deuma nota dia tônica pouco perceptível à distância:"tzri-ze, ze, ze si, si, si", "tri-chi.chi, chi, chi, chi". Canta vo-ando, permanecendo a alturas consideráveis durante 10-30 minutos. De 5 em 5 segundos emite uma estrofe, queé acompanhada por uma leve perda de altitude decor-rente da ave, neste momento, desliza com as asas aber-tas e imóveis. Finaliza tais evoluções com umVÔ0 a pi-que em direção ao solo, onde pousa, sem vocalizar. Ha-bita os campos secos. Ocorre da Argentina ao Peru,Bo-

.,'1

Fig. 290.Carnínheiro-de-unha-curta,

lívia, Paraguai, Uruguai e Brasil (Rio Grande do Sul).As vezes coabita os mesmos campos com

e fica ao alcance da voz de . lutescense .

CAMINHEIRD-DE-BARRIGA-ACANELADA,

14,8cm. Representante meridional de distribuiçãorelativamente ampla. Possui a unha do hálux bem cur-vada e mais longa que aquela da espécie precedente; opeito e os lados do corpo nitidamente estriados, em plu-magem não desgasta da apresenta o lado inferior(notadamente o peito) e as bordas de todas as penas dasasas acaneladas:As retrizes externas branco-pardacentase não brancas. "zglip", "zjep" (chamada); "zilíd,zilid, zilíd ... "sbíle, sbile, sbile ..." (canto), emitido en-quanto a ave ganha altura, sendo bastante vertical a tra-jetória observada; geralmente não sealça a grandes alti-tudes, voltando logo ao solo. Se canta pousado, desen-volve mais variações no cantar, destacando-se, p. ex.,um motivo como "zidel-zi zi arrr". Vive no campo seco,ao lado da codorna e da ema (Rio Grande do Sul), áreaspedregosas, campos de altitude das montanhas do Su-deste do Brasil, p. ex., Serra dos órgãos e ltatiaia (2.350m); no sul do país (Santa Catarina e Rio Grande do Sul),em qualquer altitude. Ocorre da Argentina e ChileàBolívia, Paraguai, Uruguai e Brasil (setentrionalmenceaté o Espírito Santo, Minas Gerais e Rio de Janeiro)."Caminheiro-foguetinho*". V . .

CAMINHEIRD-ZUMBIDOR, lutescensFig.291

13cm, 13-18g. Espécie de talhe inferior e de vasta dis-tribuição. É facilmente reconhecível pelo amarelo-enxo-fre-claro das partes inferiores; de bico pequeno, háluxcom unha longa e curva, cauda relativamente curta."wist", "wist, wist, wist", "sluit" (chamada); o canto émuito diferente daquele das outras espécies do gênero,consistindo em um único chiado fortemente descendenteque se assemelha ao ruído que fazem os fogos de artifí-cio quando se inflamam:"zizi-zjã". Voa para cantar, co-incidindo a vocalização com uma perda de altura emconseqüência da ave deixar-se cair. Isto se observa tantoem vôos mais longos e altos (quando a perda de altitudeé pequena, dois a três metros, e a ave logo ganha alturanovamente, repetindo tal seqüência várias vezes), comoem vôos mais curtos, quando a ave dá somente 11mpi-que em direção ao solo, descendo definitivamente. Tam-bém canta pousada, mas com o motivo anterior ligeira-mente modificado. Habita os campos, beira de lagos, riose pântanos. Aproveita-se logo de aterros decorrentes daconstrução de estradas; foi; p. ex., o primeiro pássaro ahabitar os taludes de aterros (quase sem vegetação ain-da) feitos para a construção da ponte Rio-Niterói (1974),

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MOTACILLIDAE 713

Fig.291.Caminheiro-zurnbidor, ./utescens.

local de difícil acesso para transeuntes. Ocorre nas regi-ões campestres quentes, desde o Panamá ao Chile e Ar-gentina e em todo o Brasil; não sobe as montanhas doSudeste. "Codorninha-cio-campo" (São Paulo),"Foguetinho", "Peruinho-do-campo", "Peruzinho","Martelinha" (Minas Gerais"). Chamada também de

chii, nome indígena, quiçá de origemonomatopéica.

CAMINHEIRO-DE-ESPORA,

14,Scm. Espécie austral de bico comprido e de háluxcom unha muito longa e pouco curva; o que atrai a aten-ção é o seu padrão característico de coloração, anegradatanto nas partes superiores como nas inferiores, inclusi-ve o peito e os lados do corpo, que são densamente man-chados; as costas com largas estrias amareladas

ogt é g i Ge l)

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contrastantes; as retrizes externas com branco-puro quechama a atenção quando a ave decola. "tzip","tzilip" (chamado); canto: estrofe curta terminada porum forte" gã" ou "ziã", o que é característico da espécie,p. ex., "ztz ídel ü-z iã", fraseado que é repetidoininterruptamente enquanto a ave sobe a prumo até umacerta altura, onde pára alguns minutos ainda cantando;em seguida desliza para baixo, às vezes quase que ver-ticalmente entoando uma estrofe encurtada ("zilít-gii",em ritmo mais lento que a anterior) até pousar no solo;pode emendar uma série destes vôos, executando-osconsecutivamente sem pousar. Habita os banhados bas-tante úmidos, dunas com vegetação rala: ocorre dosAndes peruanos ao Chile, Bolívia, Argentina, Uruguai eBrasil meridional (do Rio Grande do Sul ao litoralpaulista). Não raramente ao alcance da voz denthuslutescens(Rio Grande do Sul).

CAMINHEIRO-CRANDE, e e

lScm. Representante avantajado e pouco conhecido.Possui o bico, o tarso, os dedos e a unha do hálux bas-tante longos (esta última chega a atingir o mesmo com-primento do hálux, ou seja, 15mm). As retrizes são pon-tiagudas e não arredondadas como em. he Viveno campo pedregoso, às vezes ao lado denthush (Minas Gerais, Poços de Caldas, abril) ou de

. [urcatus (Rio Grande do Sul, Conceição do Arroio,agosto). Ocorre de Minas Gerais a São Paulo, Paraná,Rio Grande do Sul e norte da Argentina.

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hábitos)

~l, :

I.,

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714. ORNITOLOGIA BRASILEIRA

PITIGUARI, JURUVIARA, VITE-VITE e afins: FAMÍLIA VIREONIDAE (17)

Família de Oscines do Novo Mundo, bem repre-sentada especialmente no norte da América do Sul ena América Central. Fósseis de do Pleistocenomédio (há 100.000 anos) da Flórida, e deCdo Pleistoceno superior (20.000 anos) do Brasil (Mi-nas Gerais).

Estão reunidos nesta família quatro gêneros diferen-tes que representam também quatro tipos diversos. Sãopássaros arborícolas pouco populares; de partes superi-ores verde fosca, de bico volteado na ponta e de pés re-lativamente fortes. Dois dos quatro gêneros, e

são maiores e relativamente vistosos, sendocada um deles atribuído, antigamente, a famílias sepa-radas (Cyclarhidae e Vireolaniidae, respectivamente).

pode ser confundido, no campo, com umtraupíneo, enquanto que representante cen-tro-americano e amazônico, pode lembrar um pequenobentevi (Tyrannidae). O terceiro tipo corresponde aogênero o qual é extremamente bem conhecido naAmérica do Norte, onde está entre as avesmais abundantes. Tal grupo é caracterizado por nãopossuir a primária mais externa (que seria a décima, acontar do centro), sendo este fato ligado, quiçá, ao pro-blema de migrações (v. Migrações).

O derradeiro gênero, abarca espécies pe-quenas (tamanho de uma cambacica), exclusivamenteneotropicais, que se assemelham a parulíneos como

ou os norte-americanos. No campoainda podem ser confundidos (e também os o po-dem) com pequenos tiranídeos, mas deles diferem porassumir uma postura geralmente diversa, mais inclina-da para frente (v. também Thraupinae, e

Cor da íris freqüentemente berrante. Ossexos semelhantes, o macho pode ser maior.

É a voz que costuma revelar a presença desses pás-saros que dão pouco na vista. Consiste em assovios res-sonantes e melodiosos, mas simples e monótonos nasespécies brasileiras, a não ser que dispõe defrases mais variadas embora também padronizadas; avoz de é uma das vozes de Passeriformes quedespertam mais a atenção na região neotrópica, tanto

. mais que canta muito, às vezes até sentado no ninho, eem todos os meses; notamos certa variação geográficado seu fraseado, havendo porémsemelhança básica emlugares tão distantes como o México e o sul do Brasil.Os víreos são famosos por cantar incansavelmente. O"Red-eyed Vireo" dos ameri-

canos repete seu assovio 40 vezes por minuto. Afreqüên-cia do seu parente brasileiro, cuja voz é bemparecida, alcança apenas a metade ou pouco mais. Asespécies de da Amazônia brasileira desenvol-vem atividade muito maior, emitem p. ex. 3 pios porsegundo. Cantam com curtos intervalos, por horas e ho-ras, sobretudo no auge do calor, virando a cabeça, que émantida levantada para os lados, e mudando constan-temente de direção. produz, forada sua estrofe monótona, às vezes um gorjear variado,suave. Registramos uma resposta da fêmea ao canto domacho de não se trata de estrofeparecida com a do macho, mas de uma seqüência degritinhos roucos, parecidos com a voz de advertênciada espécie, comparável à resposta da fêmea da

. cambaxirra ao canto do companhei-ro. A perseverança com que cantam os vireonídeos osfaz parecer mais numerosos do que são na realidade.Fica ainda para ser esclarecido se o cantar intensivo de

que registramos no Rió de Janeiro(ex-Guanabara) em certos outonos e invernos correspon-de mesmo ao tempo de reprodução.

Comem insetos e suas larvas, eseguram lagartas grandes (inclusive peludas, freqüen-temente apanhadas por com os dedos, no po-leiro, para picá-Ias em pedaços. Apanham-nas sobre fo-lhas e galhos, pulando através da ramagem, muitas ve-zes saltando de lado; agarram-se à densa folhagem, pen-durados de costas para baixo. Comem também frutinhasque podem até superar os insetos em quantidade (p. ex.

poicilotis).

A juruviara, atua como "guarda-flores-tal" dando alarme quando p. ex. aparece uma gralha vas-culhando a mata à procura de ninhos de pássaros. Asespécies de da Amazônia, como H.

associam-se a bandos mistos de pássaros.

O ninho, encaixado numa forquilha à qual está fir-memente enrolado, é uma tigela aberta, funda, feita defibras, folhas, barba-de-velho, crina vegetal ,etc., por fora revestido de musgo, tudo bem seguro me-diante o emprego de teias de aranha; o fundo pode serfino. O ninho está situado a altura média, às vezes noalto das árvores. Os ovos brancos ou branco-averme-

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VIREONlDAE 715

lhados, com pontos e salpicos pretos e roxos pouco nu-merosos ou até quase faltando por completo

O casal geralmente se reveza na incubação,que dura p. ex. 12 a 13 dias no caso de

, e 16 dias nos da AméricaCentral; chocam mais firmemente do que muitos outrospássaros. O macho costuma participar na alimentaçãodos filhotes, que abandonam o ninho com 10 a 11 dias

Acontece do gaudério,pôr seus ovos no ninho de s e

poicilotis.

Cada espécie tem suas próprias exigências ecológi-cas. No Sudeste do Brasil e H.poicilotis se substituem amplamente. No Panamá há 3espécies residentes de periodicamente aparecemali outras 3 espéciesde- como visitantes. Um dosfatores que regulam a existência dos vireonídeos é a den-sidade da vegetação.É comum ocorrer um representan-te de cada gênero no mesmo ambiente. A distribuiçãolargamente disjunta de documenta

. a extinção da espécie numa vastíssima região, transfor-mada fitogeograficamente durante os séculos.

e uma (Tyrannidae) são os únicosPasseriformes (endêmicos) da ilha de Fernando de No-ronha, ao largo da costa do Rio Grande do Norte.

Várias espécies de são migratórias. Encontram-se na Amazônia periodicamente representantes migran-tes setentrionais e meridionais, numa região de umapopulação residente equatorial. Assim

da América do Norte, aparece como visitanteno Brasil oeste-setentrional (Amazonas, outubro; MatoGrosso), vivendo então por algum tempo ao lado dos.

locais e migrantes procedentes da Argentina, osquais, nesta época, começam a regressarà sua pátriaaustral. Até as espécies de residentes na AméricaCentral emigram para a América do Sul. Talvez a elimi-nação da primária mais externa (a qual seria aIa', a con-

. ,,_,tar do centro) de (e também deseja relacionada com as atividades migratórias, duranteas quais valem-se de asas mais pontudas. Todavia exis-tem também atualmente não migratórios, de asalonga. .

PITIGUARI, Pr. 40, 8

16cm, 28g. Pássaro silvícola inconfundível,. cabe-çudo, de bico alto e adunco, comprimido lateralmente,lembrando um pouco o bico de papagaio

asas curtas, plumagem fofa; a fronte e as so-brancelhas marrom-ferrugíneas ou castanhas, bem des-

tacadas dos lados cinzentos da cabeça; peito verde-ama-relado intenso, íris amarela, laranja ou vermelha; ocorrena Amazônia (C. píleo cinzento,cor de ardósia, e longa faixa superciliar avermelhada.

rouco "krs", "krrra" (advertência, macho e fêmea);"kâp", "küp". Aproximadamente três melodias muitonítidas, em tom claro de bastante intensidade, timbrelembrando um grande emberizíneo, vocalização impres-sionante que inspira denominações vulgares (v.abaixo):(1) seqüência fortemente descendente, "~üí-~üí(-~üí)";(2) estrofe no fim ascendente,"düa-düá-hü", costumaseguir-se uma segunda vez, mais baixa; (3) estrofe hori-zontal, repetida três a quatro vezes a curtos intervalos,parece corresponder ao verdadeiro canto do macho, va-ria até certo ponto conforme a região (dialetos) p. ex.,"djíli-dô djíli-dõ djíli-dõ" (Rio de Janeiro), "plit-hüã-wuít" (Mato Grosso),"zülü-dílü-dülo" (Amapá). Cantadurante uma hora ou mais, variando os intervalos; de-pois fica calado por algum tempo; torna-se extrernarnen-te ativo quando um rival ameaça seu território, os doisentão duelatn cantando; passa de vez em quando paraoutra melodia. É fácil atrair ambos os sexos, tambémfora da época de procriação, imitando seus assobios; éum dos vozeirões mais intensos em qualquer região .

Fica escondido na densa folhagem em altura médiaou também no alto, onde facilmente escapa à observa-ção, tanto mais que evita voar. Viveà beira da mata, ca-poeira, capões na caatinga, parques e quintais bemarborizados. Perto do Rio de Janeiro é mais comum nasmontanhas. Ocorre do Méxicoà Bolívia e Argentina eem todas as regiões do Brasil. Inclui c s

e , do Sudeste. "Gente-de-fora-vem", "tem-cachaça-aí" (Espírito Santo), "We don't believeit", "Doyou wash every week?" (América Central). O nome de"Pitiguari" também existe como nome de família, sen-do mais conhecido por intermédio de uma canção doNordeste. V. que tem colorido se-melhante do peito e da íris.

AsSOBIADOR-DO-CASTANHAL, leucotisFig.292

14,5cm, 25g. Representante amazônico característi-co, de parentesco ainda não esclarecido. Aspecto remo-tamente semelhante ao do precedente, mas menos ro-busto, colorido berrante que lembra um bentevi. Cabe-ça cinzenta, cor de ardósia, larga faixa superciliar, man-cha sobre o olho e todo lado inferior amarelo-ouro, man-to e cauda verdes; ao norte doAmazonas se destaca umaárea branca nos lados da cabeçaleucotieleucotis, aocontrário da forma meridional, leucoiis e a írisvermelha. um único assobio agudo monossilábicodescendente,"iüõ", repetido espaçadamente (. emitidopor muito tempo. Pousa abertamente nas copasfrondosas de árvores altaneiras da mata primária, ondesua observação se torna difícil, passa em vôo reto de

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716 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

uma copa a outra, atende ao arremedo do caçador, masnão desce; na beira da mata se encontra com ,que vive em altura mais baixa. Ocorre das Guianas,Venezuela, Colômbia e Peruà Bolívia, no Brasil ao nortedo Amazonas, para o sul até Rondônia, baixosTapajós eTocantins (Marabá, Pará). Há mais duas espécies não-brasileiras que alcançam o México.

Fig.292.Assobiador-do-castanhal, leucotis.

JURUVIARA, Pr. 40, 6

14cm, 15g. Pássaro silvestre de vasta distribuição.Bico relativamente longo, píleo cinzento; sobrancelhabranca realçada de negro; as asas sem barras claras; olado inferior branco-puro, as coberteiras inferiores dacauda amareladas, às vezes também os lados do corpolavados de verde-amarelado; íris marrom-escura ouacinzentada ao contrário da íris de

que é vermelha). "guii", "gra" (advertência);canto monótono: assobio bissilábico "klüp-klip","tchüle-tchü", 20 a 24 vezes por minuto, emitido incan-savelmente durante a época de procriação (v. tambémVocalização). Vive no estrato médio de qualquer mata enas copas. Ocorre na maior parte da América do Sul,meridionalmente até a Argentina. e em todas as regiõesdo Brasil. "Trinta-e-um" (ex-Estado da Guanabara). Podeser coespecífico com a seguinte espécie.

JURUVIARA-NORTE-AMERICANO,

VN

[14-15cm] Visitante sazonal na Amazônia e MatoGrosso. Adotamos o conceito de umasuperespécie ..

reunindo da América do Nortee da América do Sul. O meio

mais seguro parasepará-Ios é (além da cor da íris quetem que ser confirmada, considerando os imaturos) a

"fórmula" da asa (fig. 293): nos olio eus a pri-mária mais externa existente (a nona, contada de den-tro), é maior do que a quinta; nosV (A) é igualoumenor (v. também Migração). Recentemente Short (1975)verificou, em material abundante de museus america-nos, que a variação deV chi i é tanta que há interpe-netração com conseqüentemente . chi ie oli podem ser considerados coespecíficas(Johnson et . 1988). Preferimos manter separados osdois para não obscurecer as diferenças existentes.As vozes de oliu e a de chi são extrema-mente parecidas; há porém outros casos em que es-pécies de seguramente diversas, têm a vozmuito semelhante.

UURUVIARA-VERDE-AMARELADA,

VN

14-15cm. Até muitorecentemente considerada inse-parável de esta forma foi elevada ao nívelde espécie através de evidências bioquímicas (Iohnson& Zink 1985). Nidifica na América Central e migra paraa noroeste da América do Sul após o período reproduti-vo. Encontrado na região do alto [uruá, Acre em dezem-bro de 1995 (A. Whittaker).]

JURUVIARA-DE-NORONHA *,En

[14cm] Ocorre apenas na ilha de Femando de Noro-nha, de bico fino, cauda longa (no macho mais longaque na fêmea), etc., abundante na mata baixa daIlha,

onde procura comida desde o topo das arvorezinhas atéo chão, perseguindo os insetos (Oren 1984);parente pró-ximo de da região do Caribe, e não deeo

, do continente. "Sebito". Também as aves marinhasresidentes em Femando de Noronha mostram afinida-de com aquelas da região do Caribe.

BFig.293.Proporçãodas primárias externas (fórmulade asa) das juruviaras,i eo chi i (A,Recife,Pernam-buco), e eo o. oli ceus(B,Tapuruquara, Amazonas,vindo, seguramente, da América do Norte).

'.

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VIREONIDAE 717

JURUVIARA-BARBUDA ". VN

[IScm] Parecida com porém de bico nitida-mente mais forte e uma distinta estria malar negra.semelhante à de tri ou bissilábica, simbolizadacomo "Iulian Chivi". Vive na mata alagada e nos man-.guezais. Ocorre do Amazonas, Pará (janeiro, julho, de-zembro), para o sul até os baixos Madeira e Tapajós, parao norte até as Antilhas (região principal da espécie) eFlórida de onde pelo fim do ano emigra, em parte, parao norte da América do Sul.

VEROINHO-COROADO, poicilotisPr. 40, 7

12,4cm, ll,8g. Passarinho florestal de bico curto epontiagudo e cauda relativamente longa.É inconfundí-vel pelo boné ferrugíneo (ambos os sexos) e lados dacabeça cinzento-claros com desenho negro. "tchz","tcha, tcha, tcha" (chamada, advertência). O canto domacho é uma estrofe de assobios límpidos monótonos,freqüentemente em número de seis: "djili, djili, djili ..."zelít, zelít, zelít...", podendo lembrar o canto de

da Europa; às vezes regularmente três vezes: "chivil,chivil, chivil", lembrando A fêmea respondecom uma série de "krii, krã, krii ...", Vive na mata densa-mente folhada, geralmente nos topos das árvores, no Riode Janeiro e Espírito Santo, de preferência nas monta-nhas, até Santa Catarina e Rio Grande do Sul, sudoestede Mato Grosso do Sul, Bolívia, Paraguai e Misiones."Chenenéu" (Minas Gerais), "Vite-vite-coroado*". Pos-sui semelhança superficial comfêmea (Formicariidae). V a seguinte.

VITE-VlTE-OE-OLHO-CINZA ",

[12cm] Novos estudos (Willis 1991) provaram queregistrado até agora como

subespécie setentrional (interior de São Paulo ao Nor-deste) de H.poicilotis, deve ser considerado espécie aparte. Os dois podem ser simpátricos em São Paulo.[Ocorre também no le~te da Bolívia (Olrog 1963).]

VlTE-VITE,

12,Scm. Semelhante à poicilotis, tendo po-rém a cabeça cinzento-olivácea, a fronte intensamenteesverdeada. o peito amarelo-limão vivo, lembrando

abdômen branco, íris branco-amarelada .."krii" (advertência); o canto é uma seqüência de assobi-os, "düí, düí, düí. ..", em andamento fluente, às vezesintercalando baixos "spet, spet", às vezes soa como"debídje, debídje, debídje ..." ou"zülid, zülid, zülíd ...",em um tom um pouco mais cheio do que H.poicilotis.Vive na mata baixa e rala bem ensolara da, restinga, ca-

poeiras abertas nas baixadas quentes, beira da mata, ci-dades, em bairros bem arborizados como Laranjeiras eSanta Teresa, no Rio de Janeiro; exclui-se ecologicamen-te com poicilotis. Ocorre das Guianas eVenezuela ao alto Amazonas (Amazonas, Acre) e Bolí-via; Sudeste do Brasil: Espírito Santo, Minas Gerais eRio de Janeiro. "Vi te-vite-de-pei to-amarelo*". V.

VERDINHO-OA-VÁRZEA,

lI,3cm. Parecido com a precedente mas de peito cin-zento, os flancos cinzentos mesclados de amarelo-oliváceo. "grii" (advertência); canto: seqüência pro-longada de assovios ressonantes monótonos,"üí, ÜÍ,

üí...", nota-se um 'crescendo quando começa de novo,canta 10 segundos ou mais. Nas horas mais quentes qua-se não pára. Num indivíduo, não coletado, que atribuí-mos a esta espécie, registramos 18 pios em 5 segundos.NesSa toada o pássaro foi continuando por 20 segundossem a mínima alteração no ritmo (apenas intercalandoduas vezes um pio um pouco mais fraco); emitiu por-tanto 72 pios consecutivos. Após intervalo de 2 segun-dos, que era como para ganhar fôlego, continuou namesma seqüência. Habita o estrato superior de densasmatas ribeirinhas e alagadas, não altas, onde seu cantopode tornar-se a voz dominante (p. ex. em Mato Gros-so, setembro). Ocorre das Guianas e Venezuela à Ama-zônia brasileira, em direção meridional aos altos Juruá'e Xingu, até o leste do Pará e Maranhão. "Ba-karna-kama" (Iuruna, Mato Grosso)."Vite-vite-de-cabeça-ver-de*". V (Coerebidae).

VITE-VlTE-OE-CABEÇA-CINZA ".

[12cm] Semelhante a H. mas de gargan-ta e barriga brancas; peito amarelo-esverdeado intenso;voz muito semelhante à de H. de vasta distri-buição na Amazônia, para o sul até Goiás, Mato Grosso(alto Xingu) e Bolívia.

VITE-VITE-OO-TEPUI*,

[12cm. Endemismodos tepuis venezuelanos. Assi-nalada em Roraima no cerro Uei-Tepui (Phelps& Phelps1962) e cerro Urutani (Dickerman & Phelps 1982); no A-mazonas no pico da Neblina (Phelps & Phelps 1965).]

VITE-VITE-CAMURÇA ",

[l l ,Sem. Espécie comum da copa da floresta de terrafirme, embora difícil de observar. Duas populações naAmazônia brasileira: a forma nominal, H. .

ao norte do Amazonas desde o Negro até

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718 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

o Amapá, além das Guianas e Venezuela; a forma H. .ons que se distribui entre o Madeira e o Tapajós,

incluindo Rondônia e recentes registros para a regiãolimítrofe boliviana (Bateset al. 1992).]

VITE-VlTE-DE-CABEÇA-MARROM*,

[ll,Scm. Pouco conhecido representante das flores-tas da região do alto Negro e países vizinhos, Venezuelae Colômbia. A condição de espécie monotípica foiestabelecida recentemente (Ridgely & Tudor 1989).Encontrado também no oeste de Roraima (D. F. Stotz).O registro de Manaus existente para essa espécie(Stotz & Bierregaard 1989) é considerado agora errô-neo (M. Cohn-Haft).].

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VITE-VITE-DE-BARRIGA-AMARELA ".

nthus

[1l,S-12cm. Outra espécie comum da copa da flores-ta de terra firmei embora difícil de ser observada. Largadistribuição na Amazônia brasileira (para leste até oTocantins) e extra-brasileira com exceção das florestasdo escudo guianense.]

'ylTE-VITE-UIRAPURU*, us och eiceps

[Ll.Scm. Única espécie do gênero que ocupa o sub-bosque. Com ampla distribuição na Amazônia (regis-trada em todos os países) e na América Central. No Bra-sil por toda a Amazônia no interior das florestas de ter-

. ra firme, geralmente acompanhando bandos mistos, paraleste até o Maranhão (Oren 1990).]

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!

"

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PARULlNAE 719

~~FAMíI':INHMBERIZIDAE ~:';;;.W::-'!"' '::+.'" Jt -.:;,.~,,_.~",,~

MARIQUITA, PULA-PULA e afins:SUBFAMíLIA PARULINAE (19)

Grande subfamília americana de Oscines com ocor-rências regulares do. Alasca e do. Canadá até a Argenti-na. De maior diversificação. na América do. Norte,Modemamente AOU1983) incluída na família Emberizidae, ao. lado. deIcterinae, Coerebinae, Thraupinae, Cardlnalinae eEmberizinae. Fóssil do.Terciário (Mioceno, há 25 milhõesde anos) da Flórida.

Na região. Neotropical são. mais ricas em espécies asAntilhas e as regiões serranas das Américas Central edo Sul. Pertencem ao.grupo. de Oscines de nove primá-rias; são.mais aparentadas às Thraupinae, Coerebinae eEmberizinae. Lembram, em vida, vireonídeos como

e pequenos tiranídeos. No Brasil são residen-tes 11 espécies. Outras 8 espécies adicionais são.espéci-es tropicais que não. se reproduzem aqui

species)e não. visitantes (E. S. Morton),

São.pássaros silvestres pouco populares. No colori-do dominam o verde e o amarelo, havendo. comfreqüên-'cia algum desenho. marcante na cabeça. Existe, nestepaís, uma única espécie residente de cores berrantes:

é representante singular da Amazônia, lem-brando urna saíra estranha. Bico fino, mas forte, comoem outros pássaros insetívoros, às vezes largo.e cercadode cerdas. Asas de bom tamanho. cauda em muitos ca-So.Srelativamente longa. Sexos semelhantes nas espéci-es brasileiras, exceto nos e , e desi-guais nos representantes setentrionais migrantes, os

dos americanos, cujos machos apresentam co-lorido. extremamente variado, ao.passo. que as fêmeas eos imaturos têm cores modestas e indefinidas. Enquan-to.as espécies brasileiras conservam sua vestimenta vis-tosa, igual nos machos, fêmeas e imaturos, durante todoo.ano, muitas das espécies setentrionais adquirem umaplumagem apagada (semelhante à do traje constante dassuas fêmeas) durante o. descanso. reprodutivo, o qualcoincide com uma longa migração. às regiões quentes;mudam para esse vestuário. modesto antes de partir parao.sul e troçam-no. pela plumagem de núpcias antes deregressar à sua pátria no extremo norte, única região emque reproduzem.

Avoz é geralmente suave. As espécies brasileiras can-tam durante o ano todo, de preferência nas horas maisquentes do dia. As melodias são rítmicas, o. canto de

e das espécies de éforte e melodioso porém padronizado. O canto de

é uma das vozes que maisdespertam a atenção na região de florestas da Serra doMar. O mesmo. podemos dizer sobre os s

em matas de galeria do. Planalto, ambientecompletamente diferente. is tem,além do.seu canto mavioso, uma estrofe crocitante, cor-respondendo a um canto de briga. Quanto ao s

a fêmea canta bem, às vezes como. resposta aomacho. A fêmea de emite umcontraponto chiado, acompanhando rigorosamente amelodia do seu macho,

Corno foi verificado. na América do.Norte, as espéci-es desta família que habitam no. topo das árvores têm,geralmente, voz mais alta (freqüência ou mais on-das de som por segundo do que os representantes quepermanecem em altura média ou no solo. As freqüênci-as mais baixas têm alcance mais longo, são mais ade-quadas para se propagarem na vegetação densa do es-trato inferior da mata (v. também tinamídeos florestais)o.u no. ruído produzido por córregos encachoeirados.

que vive nas copas, tem uma das vo-zes mais altas que se conhecem, possuindo freqüênciamédia de 8.900 Hz, enquanto espécies semiterrícolasdesta família, como , que vive na beira de córregossemelhante ao.nosso têm uma mé-dia de 4.000 Hz.

Insetívora, retira artrópodes bem pequenos e 'lagartas da carola das flores, etc, às vezes pega insetosem vôo; tira os corpúsculos (grãos ovóides, brancos, dotamanho de uma cabeça de alfinete, meio escondidosno feltro da base das folhas) da imbaúba es- .ses corpúsculos, desco.bertos por Fritz Müller em SantaCatarina, são ricos em proteínas e por isso muito. procu-rados pelas formigas simbióticas da imbaúba. Amariquita se aproveita da excreção adocicada de pul-gões, adejando (v.Trochilidae, Thraupinae). j7. eoluse B. pro.curam seu alimento de preferên-cia no so.lo.ou muito. baixo. na ramagem. Nota-se que osparulíneos migrantes do. norte tornam-se nas zonassubtropicais e tropicais frugívoros.

São pássaros bastante inquietos no seu comporta-mento, destacam-se movimentos da cauda. Pode-sediscernir três tipos principais' de movimentos, executa-dos habitualmente, não. apenas como. po.ses exibitóriasdurante o.cortejo: (1) balançar a cauda continuamenteem sentido vertical, abrindo-a e movendo-a para os la-

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720 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

dos (21"ftgitar a""éãudapaí'-ácirri'a,sem ritmo regular culici abrindo-alargamente e B.

pe e (3) abrir a cauda e mantê-Ia abertac essa demonstra-

ção lembra o comportamento do tiranídeoOs movimentos da cauda são freqüentemente acom-panhados por movimentos das asas, mais comumen-te, p. ex. no numa ação rápida:um estremecer das asas: pe abre e atélevanta as asas.

Locomovem-se aos saltos e não andando, portanto àmoda de aves arborícolas e não terrícolas: fazem ruídonas folhas secas, como as cambaxirras ou furnarídeos,quando procuram alimento no chão. Tomam banho noscórregos .

Representantes como eacompanham periodicamente bandos mis-

tos de pequenos pássaros. Isto podemos dizer tambémsobre uma ave de arribação como o

visitante da América do Norte. Os parulíneos sãocuriosos e logo vêem quando outro pássaro dá alarme,acusando, p. ex., a presença de uma coruja, de dia.

Espécies

Os fazem no solo, entre folhas secas eplantas vivas, um ninho coberto por cima em "uma ex-

. tensão variada, conforme a espécie, às vezes com alpen-dre bem saliente procuram de preferênciaconcavidades em barrancos (p. ex. B. e

. constrói uma cestinha aber-ta, dentro de densa vegetação epífita, no alto das árvo-res, ou entrelaça seu ninho em tranças pendentes osci-lantes de barba-de-velho, usneoides (Rio de Ja-neiro). faz uma tigela aberta, funda, bem tra-balhada em moitas de capim, sobretudo no brejo. O ni-nho de uenusius do México é uma cestinhaaberta de paredes finas, colocada numa forquilha de ár-vore.

Enquanto os ovos de são de um branco-puro, os ovos de têm salpicos roxos so-bre campo branco, os ovos de culici têmuma coroa de pontos azulados e vermelhos, os de

possuem um campo avermelhado e manchasvioletas e vermelhas. A incubação de

da Costa Rica, realizada só pela fêmea, duroud~ 16 a 19 dias. Os filhotes são alimentados pelos' pais, ointerior da boca dos ninhegos é laranja ou vermelha.

Os pais são muito diligentes em seus esforços paradespistar possíveis intrusos que se aproximem do ni-nho. parece varrer o chão com acauda largamence aberta, solta as asas sacudindo-as, earrepia altamente as penas do uropígio: além disso, fin-ge arrumar a plumagem ou trabalhar num ninho e bicainsetos imaginários: passa assim do solo à ramagem

'1'?6~fXãl1JVott{[~6'~~iõ,-'giliando, .rtraind; muito a aten-

ç~o. Comportamento semelhante registramos para opia-cobra.

Os filh~tes de is ud aban-dona~ o ninho com 12 a 15 dias. octi lise le são às vezes vítimas do gaudério,

o

O desenvolvimento da Amazônia separou largamen-te as populações de localizadas~oje aO,sul e,a~ norte da hiléia, em várias raças geográ-ficas ate o México. A população da subespécie eucussofreu por acidentes geoc1imáticos antigos uma longaseparação geográfica, resultando numa visível alteraçãodo seu colorido, enquanto sua vocalização se conservoupróxima (v. esse fenômeno tambémP: ex., emDendrocolaptidae e Fomicariidae). A similaridade dasvozes corrobora o tratamento de coespecifícidade, fa-lando-se então de culici o us eucus.Osdois voltam a cruzar quando se encontram nas faixasatuais de contato. Foi cogitado considerarosileute

e B. leucoole coespecíficos, o que nãoencontra apoio na vocalização.

e B. le vivem nasmatas da Serra do Mar e nos seus prolongamentos, comoflorestas do Iguaçu, Paraná. B. c. e B.podem ser sintópicos no Planalto (matas úmidas de ga-leria). B. culici torna-se vizinho de . eolus (p.ex. no Ceará). B. é uma das aves típicas da caa-tinga (Nordeste): habita tanto a mata baixa seca, inter-calada hoje na hiléia (pará), como também a mata alta,úmida, ribeirinha (Mato Grosso): sua distribuição tor-nou-se descontínua devido à interposição, relativamen-te recente, da Amazônia, porém, a ave está conseguindoocupar determinadas áreas da hiléia, por invasões pos-teriores. expulso da zona ribeiri-nha durante a cheia, penetra nas matas adjacentes mo-lhadas pela chuva, e alcança, desta maneira; outros sis-temas fluviais. Assim pode-se imaginar facilmente comose deu sua notável dispersão. Não obstante houve se-gregação suficiente para a evolução de várias raças geo-gráficas. is é um dos poucos Passe ri-formes brasileiros adaptados ao ambiente fluvial-silves-tre (v. o furnarídeo e o tiranídeo

Todos os brasileiros podem serabundantes nas respectivas regiões.

~ J- .

MARlQUITA, P. 40, 9

9,8cm, 7,5g. Menor representante nacional de vastadistribuição. Inconfundível, destaca-se o azulado do ladosuperior e duas faixas brancas transversais na asa e olado inferior amarelo, o-peito cambiando para cor decaramelo: retrizes externas com um sinal branco,'

..-t

r

r

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PARULlNAE 721'

alta e fina: "tsic", "zit-zic" (chamadaj..canto .finíssimo, _., cia-descendente.de.? pios maviosos (canto). Vive a altu-uma seqüência em andamento rápido, sobe e;c'rescen-~' ra médiaem densa mata ribeirinha: balança e abre ate, depois desce tremulando ou termina num trêmulo cauda, levanta simultaneamente as asas. Ocorre doascendente. Habita as ,copas de árvores onde facilmente Surinamee Venezuela à Bolívia, Mato Grosso (altoficaria despercebido se não despertasse a atenção com Xingu) leste do Pará (Belém) e Maranhão. "Policial-seu canto incansável, emitido inclusive nas horas mais do-sul*".quentes. Ocorre do Texas, México e da América Central,através da maior parte da América do Sul, excetuando-se a Amazônia, até a Bolívia, Argentina, Paraguai e Uru-guai, Brasil oriental e central: Roraima, Maranhão ao RioGrande do Sul e Mato Grosso. "Figuinha-baiana" (Mi-nas Gerais), "Vira-folhas" (ex-Estado da Guanabara),"Pitiayumi" (Paraguai,Argentina), "Mariquita-do-sult".Chamado também is, conseqüentemente"Compsothlypidae", nome abandonado por razões deprioridade, exigindo a substituição do nome genérico

por (nome mais antigo). Substitu-to geográfico de da América do Norte(até Canadá). [Na Amazônia brasileira ocorre tambémna zona montanhosa florestada do Amapá (600 m), Ser-ra Grande, onde habitualmente segue os bandos mistosde pássaros da copaa. F. Pacheco, C. Bauer).]

-

PIA-COBRA,

Pr. 40, 10

13,Scm, lIg. Espécie paludícola comum, de vasta dis-tribuição. Cauda longa e larga, macho com máscara ne-gra e píleo cinzento, que faltam à fêmea e aos imaturos.

grosseiro "tchálap" (chamada, lembra um pardal);dois "cantos" inteiramente diversos:(1). seqüência sua-ve e maviosa, descendente, lembrando o nosso azulão

f .e o

da Europa; (2). seqüência coaxante descenden-te, "tchíp-tchap-tchap",às vezes repetida, usada naiminência de um rival.

Habita os brejos com arbustos, buritizais, brenhas ri-beirinhas e a mata alagada de galeria. Também narestinga seca (L. P. Gonzaga). Ocorre do Panamá, atra-vés da maior parte da América do Sul, à Bolívia, Para-guai, Argentina e Uruguai, e em todas as regiões do Bra-sil. "Canârio-sapé", "Canário-do-brejo", "Vira-folhas","Caga-sebo", "Curió-do-brejo" (Minas Gerais), "Pia-c0-

bra-do-sul'"'. Ver fêmea imatura de e oluse He (fêmea), ambas espécies silves-tres e não sintópicas.V

POLÍCIA-Da-MATO,

Pr. 40, 12

lI,8cm. Representante singular amazônico, único noseu colorido, fêmea também inconfundível pela cor-de-canela (face, etc.) e vermelho do crisso; o macho imatu-ro não tem o negro na cabeça nem na garganta. su-ave "jü-jü" (chamada, lembrando um tiranídeo), piarforte descendente trissilábico, "drü-drü-drü"; seqüên-

MAruQUITA-CINZA ".

[13-13,Scm] De garganta negra, lateral da cauda bran-ca. O representante do gênero de mais ampla distribui-ção. [Montícola, ocorre ao longo dos Andes desde aVenezuela até a Bolívia, além da região dominada pelostepuis venezuelanos. São admitidas várias raças geográ-ficas, sendo M. a raça (não endêrnica) repre-sentada na porção limítrofe Brasil/Venezuela. Assinala-do para as cabeceiras do Siapa e Padauiri, Amazonas(Phelps ~ Phelps 1948) e cerro Urutani, Roraima(Dickerman & Phelps 1982).]

MAruQUr:fA-DE-CABEÇA-PARDA ",

[13cm] Lembra sileute us culicioorus, inclusive nocanto, lado inferior amarelo, dando na vista por abrirnervosamente (ao modo dee g acauda, cujoslados são brancos. Com anel em torno do olho e levefaixa no loro brancos, dorso pardacento. [Antes admiti-da como subespécie de M. dos Andes da Bo-lívia e Argentina, foi recentemente considerada espéciedistinta devido a diferenças na vocalízação (Ridgely&

Tudor 1989). Assinalada em Roraima no cerro Uei-Tepui(Phelps & Phelps 1962) e no Amazonas no pico da Ne-blina (phelps 1973).]

CANÁRIO-Da-MATO,

14,lcm, 12g. Espécie semiterrícola de regiões quen-tes do interior, lado superior verde-oliváceo, loro, curta,sobrancelha e lado inferior amarelos, bico preto, mandí-bula na base um pouco mais clara; tarso amarelado.fino "tic" (chamada, advertência); canto melodioso bemrítmico, saltando para agudo e para grave, motivos re-petidos, p. ex.: "dedí, dedí, dedí-tzã. tzâ, tzã, tzâ", "dídel,dídel-zlü, zlü-tziü, tziü", um dos cantos que chamammais a atenção nos respectivos locais. Habita a mata ri-beirinha, beira da mata seca, denso cerrado, caatinga,etc.; é visto na rama ria mais baixa ou pulando no solo,rumorejando. Ocorre da Venezuela à Bolívia e Paraguai;Brasil oriental e central: Nordeste, Bahia, Minas Gerais,São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Goiás e Mato Gros-so. "Canário-do-chão" (Pernarnbuco), "Canário-de-chapada" (Minas Gerais), "Pula-pula-amarelo?". Àsvezes ao lado de sile s culicio . No interior deSanta Catarina encontra-se com B.leucoblepharus. VGeothl pis equinoct lis,fêmea, é mais delgada.

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722 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

PULA-PULA-DE-DUAS-FlTAS*,

[13,5-14cm. Própria das florestas andinas da verten-te leste do sul do Peru ao noroeste da Argentina, compopulação disjunta nos tepuis venezuelanos, B.b.

Assinalada em Roraima no alto rio Cotinga(Phelps & Phelps 1948), cerro Uei-Tepui (Phelps & Phelps1962) e cerro Urutani (Dickerman & Phelps 1982); noEstado do Amazonas nas cabeceiras dos rios Siapa ePadauiri (Phelps & Phelps '1948) e Caldas, vertente bra-sileira do Pico da Neblina (Willardet . 1991).

PULA-PULA,

12,2cm, 10,5g. Espécie de larga distribuição, temolado superior verde-oliváceo, sobrancelha esbranquiça-da, realçada por uma faixa anegrada por baixo e porcima, faixa mediana do píleo cinzento-avermelhada; ladoinferior amarelo. "gs", "tzi" (chamada); canto: se-qüência ascendente de finos assovios em três alturas,"ji, ji jí, ji-ji, ji" ou "tzü, tzü-tzji, tzji-tzi". Vive no interiorda mata, a altura média, incansavelmente pulando atra-vés da ramaria. Ocorre do México e América Central,através da-maior p.arte da América do Sul, à Bolívia,Paraguai, Argentina e Uruguai; Brasil setentrional (Ro-raima), Brasil oriental (Maranhão-ao Rio Grande do Sul)e Brasil central (Mato Grosso, sul do Pará, Goiás). "Pula-pula-coroado?". .

Substituído no Brasil central (sul e oeste de MinasGerais, sul de Goiás, Distrito Federal, Mato Grosso eparte do ~terior de São Paulo e norte do Paraguai) pelof

pichito, (Pr.40, 11), delado inferior branco-acinzentado, apenas crisso e calçõessão amarelados. Na vocalização e na ecologia é insepa-rável. São conhecidos indivíduos intermediários .entreB. culicio spp. e B. c. "Pula-pula-pichito*".

PULA-PULA-DE-SOBRANCELHA~

En

15,3cm. Maior representante do gênero, parecida coma espécie descrita a seguir, porém dorso parda cento, píleoe faixa ocular anegrados contrastando com uma largafaixa superciliar e lado inferior brancos; coberteiras in-feriores da cauda pardacentas. sonora e de timbrealto (podendo lémbrar o canto de um hipotético icteríneoou trogloditídeo), diferindo muito daquela de B.

surpreende a mudança de notas altas ebaixas, todas bem claras, P: ex. "tzidelidel-di tzidelidel-dü"; outros indivíduos (machos vizinhos, Distrito Fe-deral) emitem um belíssimo trinado ascendente, p. ex."di.idi, di-rrüid di, di, di"; a fêmea acompanha o cantodo macho com um chiar finíssimo, pulando e voandoao seu redor. Vive nas matas alaga das de galeria, onde éum dos pássaros mais típicos, atraindo a atenção pelo

"'. seu' éâi\to;'cànta; já"d~ n:iãd~ ~g~d~..Dc';;;"r; no noro~stede São Paulo, Mato Grosso, Coiás e Distrito Federal,nesta última região às vezes ao lado de B. c.h poleucutambém oeste da Bahia (rio das Pedras) e Minas Gerais(Patrocínio). "Pula-pula-branco!". Sobre as relações comB. le v. Distribuição.

PULA-PULA-ASSOBIAOOR,

14,4cm. Habitante característico das serras altas co-bertas de mata, do Sudeste eadjacênciasde clima úmi-do. Espécie relativamente grande, de cauda longa e lar-ga, lado superior verde-escuro, meio do píleo cinzento,círculo em tomo do olho e uma sobrancelha estreita bran-cos, também parte inferior, cujos lados são acinzentados;coberteiras inferiores da cauda amareladas. agudo"pist", "tsi" (chamada); canto notavelmente forte e me-lodioso, começa com um gorjear apressado, depois pas-sa para uma escala clara, descendente. Vive no interiorda mata bem sombreada, semiterrícola, a pouca alturaou no solo onde se locomove em longos pulos: Ocorredo sul de Minas Gerais e Rio de Janeiro (nas montanhas)ao Rio Grande do Sul, no Paraná em Foz do Iguaçu:Misiones (Argentina), Paraguai e Uruguai. Freqüente-mente ao lado de culicio s, que vive numestrato mais alto. Lembra, até certo ponto, os u us daAmérica do Norte. "João-conguinho" (Rio de Janeiro).

PULA-PULA-RIBEIRINHO,

14,2cm, 14,5g. Espécie silvestre exclusivamente ribei-rinha, de aparência diferente dos congêneres; lado su-perior esverdeado, lado inferior branco; faixasuperciliar, lados da cabeça e partes do lado inferioracanelados. suave "zig", "zig, zíg, zig" (chamada,advertência); canto, seqüência ressonante em crescente:8 assovios sonoros monótonos, precedidos por 3 notasdia tônicas mais baixas. Habita a beira de córregos quepercorrem a mata, pula sobre raízes e pedras sob agalhada debruçada sobre a água, balançando quase cons-tantemente a cauda para cima, para baixo e para os la-dos, abrindo-a um pouco, agita as asas. Ocorre local-mente de Honduras à Bolívia, Paraguai e Misiones (Ar-gentina), Amazônia (Amazonas, Pará, norte do Mara-nhão), Brasil este-meridional: Bahia ao Rio Grande doSul, no Paraná até Foz do Iguaçu. Inclui ute usfuluicauda do alto Amazonas. "Lavadeira-do-mato". V.também introdução e sob o tiranídeo e g

, de comportamento um tanto semelhante.

édes is

Apenas como visitantes da América do Norte pelomenos 8 espécies dos chamados (EUA e Cana-dá), ou (Venezuela, Colômbia, etc.), en-

1

.J

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P ARULINAE 723

contram-se em território brasileiro sobretudo, ao Nortedo Amazonas. Das 57 espécies de existentes naAmérica do Norte, 17 vêm à América do Sul, durante oinverno setentrional, prosseguindo viagem até o norteda Argentina, em parte. Chegam a este continente naplumagem pouco vistosa de descanso e de imaturo, quese assemelha à fêmea da respectiva espécie. Lembrampequenos tiranídeos, vireonídeos e coerebíneos. São deesperar outras espécies de migrantes, tambémno sudeste do Brasil. Sua identificação não é fácil, acon-selhamos consultar os "guias de campo" dos EUA ondesão tratados exaustivamente.

Migram exclusivamente à noite, num esforço extra-ordinário; calculou-se, nos EUA, que um em mi-gração noturna perde 1% do peso total por hora de vôo,ga~to a que o pássaro só resiste após ter acumulado gran-des reservas de gordura.À noite são atraídos e desnor-teados por fontes luminosas como grandes janelas ilu-minadas, que se tornam fatais para eles. Em torres ilu-minadas de televisão dos EUA morrem milhares, anu-almente. Descansam e comem de dia.

A espécie mais famosa à respeito das suas migraçõesé o Muitos deles pa-recem atravessar regularmente o Atlântico setentrional,"embarcando" em setembro em New England(Massachusetts) e se dirigindo, quando o tempo é bom,diretamente às Antilhas ou a costa da Venezuela; apare-cem também nas ilhas Bermudas, levados por ventos.Trata-se de vôosnonstop, cobrindo milhares de quilô-metros durante vários dias e noites. Murray (1989) achaque informações obtidas principalmente de radares deveser revisada, considerando estatísticas de peso dos mi-grantes que revelam a disposição dos pássaros para re-alizar longos vôos. O peso normal de um é 12gramas; exemplares gordos migrantes 19 gramas, alcan-çando 23 gramas (v. Charadriiformes migratórios).

É de interesse particular registrar as condições eco-lógicas sob as quais esses pássaros vivem neste conti-nente, condições geralmente muito diversas das da suapátria. Escolhem certa área parao "veraneio". Verifica-mos que um perma-neceu três meses (fevereiro a abril) num grupo de árvo-res frondosas no meio da cidade do Rio de Janeiro, vi-vendo ali em paz com vários pássaros brasileiros resi-dentes no mesmo hábitat (Sick 1971). Embora tenha-seadaptado a um biótopo setentrional peculiar (mata ex-clusivamente de coníferas, em latitudes altas, de prima-veras tardias), o pode desenvolver uma certaadaptação a determinados tipos de ambiente tropical,onde estaciona por mais tempo durante suas longasmigrações. Talvez encontre no nosso meio, na folhagemdelicada dos tamarindeiros, indicus,aos quaisdá preferência no município do Rio de Janeiro, um subs-tituto, adequado das coníferas. Na Amazônia osparulíneos migrantes aparecem sobretudo nas bordasda mata e em zonas semi-abertas, acompanhando ban-dos de pássaros locais, o que facilita sua observação.

, ., ,. Esses Pa5ser.j{ormes-visitantes -geralmente. não can-tam, emit~do1ió as'chamadascomo sinal auditivo.Ape-nas pelo fim da sua estada neste continente começam acantar. O é uma das espécies mais setentrionaisque procuram as regiões mais meridionais (prossegueàs vezes viagem até a Argentina e, excepcionalmente,até o Chile), fenômeno regular, já abordado no caso de

MARIQUITA-AMARELA ". VN

12cm. Um típico parulíneo; pelo colorido predomi-nante amarelo pode lembrar remotamente um canário-do-Amazonas fronte e nódoas nasretrizes são amarelas; por baixo é estriado de castanho,desenho que falta aos imaturos, que são freqüentes en-tre os visit,antes deste continente. "tzip" (chamado,semelhante ao de diversas espécies de saíras,Habita arbustos e a orla da mata, manguezal ("canário-de-mangue", nome dado nas Antilhas). Registrado noAmapá (novembro); Marajó (Pará), Purus (Amazonas,fevereiro), Roraima, na beira de campos alagados em bomnúmero (R.B.Cavalcanti). Existe uma população residentena Venezuela. Inclui .

MARIQUITA-AZUL *, VN

[llcm] Observado por D. A. Scott em 24 de outubroe 13 de novembro de 1980 nas matas de TInguá, Rio deJaneiro (Scott& Brooke 1985). ,

MAruQUI'rA-PAP0-0E-FOGO*, VN

12cm. Durante o descanso reprodutivo e quando i-maturo mostra uma sobrancelha amarela que se prolon-ga até atrás da bochecha, garganta também amarela (tor-nando-se, no traje nupcial do macho, cor de laranja); duasbarras brancas sobre a asa. Registrado em Roraima (mar-

. ço) e Nova Lombardia, Santa Teresa, Espírito Santo (de-zembro, Parker 1983). .

MARIQUITA-OE-PERNA-CLARA *,

VN

13cm. Quando vem, em setembro / outubro, é na partede baixo branco-esverdeado ou amarelado, com vestí-gios de estriação anegrada nos lados, duas faixas bran-cas na asa. No começo do ano o macho muda para aplumagem de núpcias: bochechas e lado inferior bran-cos, contrastando com o boné eestríação negros, pernasamarelas. "tzãp", "tzãp, tzãp, tzáp" (chamada, ad-vertência, respectivamente); começa a cantar de abril emdiante: chiado finíssimo em crescendo, tzi, tzi ...",Habita as' copas das árvores onde se associa a bandosmistos de,pássaros (Amazônia). Ocorre p. ex-ern Rorai-

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724. ORNITOLOGIABRASILEIRA

'l, ll()l'v '.' .ma, Amazonas (Manaus, outubro), Pará (Belém), ex-Es-

- tado da Guanabara (janeiro a maio, Sick 1971), São Pau-lo (março), emigra até a Argentina. A área principal de

invernagem na América do Sul é a região do Orenoco e

do alto Amazonas. Em outubro chegam em bandos na

América Central, junto com muitos outros migrantes da

América do Norte. .

MAruQUITA-BOREAL *, VN

[13cm] Assinalado no alto rio Paru de Leste,Pará

(novembro, Novaes 1980).

MARIQUITA-DE-CONNECTICUT*,

VN

13,5cm. O lado superior e da garganta ao peito ver-

de-oliváceo uniforme; sem faixas na asa, porém com um

nítido anel branco em torno do olho; barriga amarela-

da. estridente "pie". Vive a pouca altura em densa

vegetação. Registrado no Solimões (Amazonas, abril),

Madeira (novembro), rio S. Lourenço (Mato Grosso, de-

zembro, janeiro). .

Brand, A. R. 1938. 55:263-68. (vocalização)Cherry, J. D., D.H. Doherty & K. D. Powers. 1985. .

migração)Curson, J.,D. Quinn& D. Beadle.1994. . London:

Christopher Helm."Ficken, M. S.& R. W. Ficken. 1962. 1:103-22. (hábitos)Gonzaga, L. P.,J. F. Pacheco, C. Bauer& G. D: A Castiglioni. 1995.

Cons. 5:279-90. Bahia)'Keast,A.1980. Pp. 457-76. in the

(A. Keast & E. S. Morton,eds.). Washington: Smithsonian InstitutionPress. (ecologia)

Lowery, G. H.& B. L. Monroe, Jr. 1968. Family Parulidae. Pp. 3-93.In: J. L. Peters' the Vol.14 (R.APaynter,[r., ed.). Cambridge, Mass.:Museum of Compara tive Zoology.*

Marini, M.A & R. B.Cavalcanti.1994.18. ninhos e ovos)"

Marini, M. A & R. B. Cavalcanti. 1993. 4 69-do Brasil central, hábitos)"

Murray, B. G., Jr. 1965. 77:122-33.migração)

Murray; B.G:!Jr. 1989: 106:8-17. migração)Nisbet, L C. T. 1963. 34:139-59. (perda de peso)

.~.:... ,; ''')l~ ~':'''' r.;..f> :.{,~i,~ ::O-"-".:-.~-

MARIQUITA-OO-CANADA*, densisVN

12,5cm. O lado superior acinzentado, sem branco na

asa, mas com o loro e um anel em torno do olho amare-

los; o lado inferior amarelo, peito mais ou menos

estria do. Vive a pouca altura em densa vegetação.Re-gistrado em Roraima (abril).

MARIQUITA-DE-RABO-VERMELHO*,

VN

12cm. É inconfundível devido a grandes nódoas cor

de laranja (macho) ou amarelas (fêmea e imaturo) nas

asas e na cauda; as quais são exibidas amiúde ao abrir

as rêmiges e as .retrízes, quando pula, irrequieto, atra-

vés da ramagérn, lembrando o pequeno tiranídeo

Registrado em Roraima (abril).

. [Os registros recentemente divulgados por

Stotz et . (1992) são provenientes de: Manaus e

Anavilhanas, Amazonas (abril, novembro); BV-8 e

ilha de Maracá, Roraima (setembro) eTauarí, rio Ta-

pajós (abril).]

Nisbet, I.C. T.,W. H. Drury &J. Baird. 1963. g 34 109-38., perda de peso)

Pacheco, J. F. 1992. II . . 9.em Minas Gerais e São Paulo)'

Pacheco,J.F. 1995. 3;83-87. médioSolimões.Alví)"

Pacheco, J. F.& A. M. P. Carvalhaes. 1994. Cong .. . 89. no Parque Nacional do[aú,

Amazonas)'Parker, T.A.,m. 1983. 37:274. Santa

Teresa, ES)*Parkes, K. C. 1964. Warbler (2). Pp. 874-76. In: o

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Janeiro)Stiles, F.G.& R. G. Campos. 1983. 85:254-55. ,

migração)Whitney, B.M. 1994. 2:36-37. Bolívia)"Willis, E. O. 1986. 76:177-86. (seguidores de formigas de

T correição)'

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COEREBINAE 725

CAMBAC]CA:_ SUB:FKMíUA COEREBINAE (1)

Após a dissolução da. família Coerebidae, acarnbacíca, permanece como único re-manescente dos Coerebinae, enfeixados agora emEmberizidae.

CAMBACICA, MARIQUITA, flaueolaPr. 40, 2

IO,8cm, IOg. Espécie muito comum em quintais, umdos pássaros mais abundantes deste país. De bico desovela; destaca-se uma larga risca branca superciliat,garganta cinzenta e barriga amarelo-limão; é voz cor-rente que se assemelha a uma miniatura de um bentevi:o imaturo quase não tem sobrancelhas, e seu lado infe-rior é cinzento. A diferença de tamanho notada ocasio-nalmente (p. ex. no Rio de Janeiro) em indivíduos quese aproximam de uma garrafa com água açucarada podeser atribuída ao dimorfismo sexual (macho maior).fino (chamada), o canto é um sibilado forte de ca-ráter ondulatório apressado: tzi-ziá, ziá, ziá-tzi,o canto pode ser, localmente, mais melodioso, lembran-do a vocalização de um parulíneo: canta incansavelmen-te: é um dos cantores maisassíduos.fazendo ouvir seucanto a qualquer hora do dia e em qualquer época doano; a fêmea de também canta, mas pouco e pormenos tempo; os filhotes rerém-saídos do ninho chamama atenção dos pais por meio de um chilro contínuo, "psi"

iona representante mais antófila/nectarívora, é

singular em vários caracteres morfológicos e biológicosquando comparado, p. ex., com e

é tão antófila como , mas tem o bico bemdiferente e seu modo de alcançar o néctar é outro (v.Thraupinae). Mais de duas terças partes do alimento de

são constituídas de néctar. Possui bico curvo,extremamente agudo como uma sovela, com o qual per-fura o cálice de flores cujos nectários não pode atingirdiretamente, furtando-se à polinização, o que faz, p. ex.,com as malváceas cultivadas, de grandes flores verme-lhas. Os buracos assim feitos, com o murchar da flor,tornam-se maiores e servem também para os beija-flo-res e os insetos alcançarem comodamente o respectivonectário. é capaz de explorar flores de tiposmuito variados, inclusive corolas bem pequenas reuni-das em panículas., '. Vimos às vezes (Rio de Janeiro)Coe tentar librar-se nas asas diante de um frasco com água açucarada, naânsia de sugar o líquido cobiçado - aparentemente semsucesso: a cambacica, para conseguir mesmo seu objeti-vo, agarra-se, mais freqüentemente, no canudo da gar-rafa, mesmo em lugares mais freqüentados pelos ho-mens, apropria-se dos bebedouros colocados para bei-

....., ~!'~-.

ja-flores. No Rio (Laranjeiras) começa a explorar varan-das plantadas em edifícios, em qualquer altura, ondetambém canta; já foi achado um ninho de cambacicanuma varanda no Leblon (Rio, v. rolinha). Procuram asmais variadas flores, a começar com os hibiscos, pas-sando para as inflorescências da bananeira (o que justi-ficaria a designação , pois o pássaro pouco seinteressa pelas bananas), dos gravatás, etc.

Por causa do contato freqüente com o líquido pega-joso do néctar, estes pássaros tomam banho muitas ve-zes, o que ocasionalmente faz na água pluvialacumulada em gravatás onde, ao mesmo tempo, apro-veita-se de animalejos encontrados por acaso, como lar-vas de mosquitos (Serra do Mar, Rio de Janeiro); bebenas imbricações de folhas, limpa o bico passando-o delado num galho, como fazem muitas aves.Coe e

usam ocasionalmente formigas para gozardo estímulo do ácido fórmico ("formicar-se", v.Tyrannidae, Thraupinae, etc.).

A cambacica emprega, para fins diversos uma técni-ca peculiar: o "espaçar" (v. também Icterinae, etc.), usa-da também por e s. Uma emantida em cativeiro, espetou pupas de formiga e de-pois, espaçando, abriu as mandíbulas, possibilitandoassim o exame do interior da casca, explorando-o com alíngua. O espaçar deve ainda prestar serviço na separa-ção de pétalas para chegar ao nectário.

Estão sempre em atividade, semelhantes aosparulíneos quando procuram alimento, ficando freqüen-temente de cabeça ou costas para baixo, agarrando-sefirmemente com as unhas afiadas. São muito briguentas,chegando mesmo a caírem engalfinhadas ao solo, ondecontinuam a sua luta. Para amedrontar um rival,Coe epõe-se de pé, estica o corpo e vibra as asas, atitude ain-da mais impressionante nas raças setentrionais dotadasde grande espéculo branco.

O ninho de pouco escondido em alturas vá-rias, é esférico e pode ser de dois tipos: 1) relativamentealto e bem acabado, de paredes espessas e acesso pe-queno, superior e dirigido para baixo, coberto por lon-go alpendre que se aproxima da base do ninho e vedacompletamente a entrada; é construído pelo casal e ser-ve para criar; 2) ninho menor, menos alto que largo, de .construção frouxa, com entrada larga e baixa; serve ape-nas para lugar de descanso e pernoite. Encontram-semuitos ninhos do último tipo, edificados em duas a qua-tro horas por um indivíduo, em qualquer época do ano;é comum não serem habitados. Nunca encontramos osdois indivíduos (o casal) no mesmo ninho. Os ninhosdestinados. à criação da prole exigem trabalhodeé a 8dias, alguns examinados em Tobago eram compostos de404 a 650 peças.

A incubação cabe exclusivamente à fêmea e leva 12

.... ...... ;;;;.:.,.

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726. ORNITOLOGIA BRASILEIRA

a 13 dias.o. interior da boca dos ninhegos é vermelho.regurgita a ração, na qual insetos têm papel im-

portante. A higiene do ninho de é cuidadosa: amãe ingere os sacos fecais dos filhotes ou carrega-os paralonge. A saída dos filhotes se dá com 17a 19 dias.

Vive em todos os tipos de mata secundária onde háflores. Ocorre do México e das Guianasà Bolívia, Para-

. guai e Misiones (Argentina), em todas as regiões do Bra-sil, para o sul até o Rio Grande do Sul. "Caga-sebo",

Beecher, W.J. 1951. . 63:274-87. (adaptação)

Carvalho, C. T. 1958. E. Goeldi. 2001.10.

hábitos)

"Sebito", "Chiquita" (ex-Estado da Guanabara), "Pàpa-banana" (Rio Grande do Sul), "Saí", "Tem-tem-coroa-do" (pará). Na vasta área da sua o.corrência evoluíramnumerosas raças geográficas; em ilhas na costa daVenezuela há uma variante melanística: é de cor quasetoda negra (polimorfismo). [Um indivíduo albino foirepetidas vezes observado em março de 1996 no arbori-zado bairro do Jardim Botânico, Rio de Janeiro (P.S. M.Fonseca, L. Trindade).] .

Gross, A. O ..1958. 70:257-79. , hábitos)

Winkel, W. 1968.2. ol. 25:533-36. (espaçar)

IJ1

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THRAUPINAE 727

GATURAMOS, SAfRAS, SANHAÇOS, TrÊS eafins: SUBFAMfuA TljRAUPINAE (96)

Fósseis conhecidos do Pleistoceno (há 20.000 anos)da República Dominicana. O grupo tornou-se bastantecomplexo pela recente inclusão dos gêneros

, e antes relacionadosàparte como Coerebidae. A real afinidade dos"coerebídeos" e traupíneos é testemunhada por híbri-dos produzidos em cativeiro, p. ex. eus x

Cruzam às vezes também, em cati-veiro, tiês, como e

e saíras como fastuosa eAlguns representantes, como e

e , se aproximam consideravelmente dosEmberizinae. é parecida com os

e se assemelha à

Os traupíneos, conhecidos antes como "tanagrídeos",contribuem decididamente para o alto conceito de bele-za que a avifauna neotropical possui. As espécies decolorido mais variado se encontram entre as saíras

g que é o gênero maior, mais de 40 espécies (ten-do o Brasil "apenas" 20); entre elas 'há representantesque reúnem a maior variedade de cores que se conhece,num mesmo indivíduo. Na beleza da plumagem os

rivalizam com as saíras. O efeito berrante decores é freqüentemente ressaltado por um brilho metá-lico ou opalescente, e por uma transformação da estru-tura das penas na cabeça; como nos chilensis.

O vermelho intenso de é causa-do por astaxantina, lipocromo relativamente comum emoutros animais (também invertebrados), mas raro emaves; ocorre também no colhereiro. Noexiste polimorfismo do colorido. Há, às vezes, no hábitatnatural, exemplares de mutação canela, p. ex. nas

(fêmea). Alguns são topetudos, comoe O bico de

parece ser branco fosforescente. tem bicoencarnado. A cor da íris dos adultos pode ser viva: ama-rela Cissopis) ou vermelha . Entreos elementos morfológicos mais notáveis está a elimi-nação da moela robusta nos gaturamos , adap-tação trófica singular (v. também sob Alimentação).

Em vários casos (p. ex. bonito-do-campo, saíras esanhaçós) os sexos se assemelham, em outros (comogaturamos e tiês) as fêmeas são de colorido modesto ediferente; às vezes uma ou outra espécie de um gêneronormalmente sem dimorfismo sexual foge a esta regra(como e , nas quais odimorfismo sexual é acentuado).

As fêmeas de e luctuosussão parecidas com vireonídeos ou parulíneos (estes úl-timos considerados como sendo de fato aparentados), já

(Vireonidae) pode ser tornada no campo porum traupíneo. Existem também semelhanças de aparên-cia com icteríneos ou cotingídeos como no caso de

. Cria confusão o fato de se teremdesenvolvido semelhanças superficiais com famílias queseguramente não são aparentadas. possuicerdas em tomo do bico como os papa-moscas e píleoamarelo como certos tiranídeos, na nuca tem filoplumas(existentes em vários traupíneos). , mais umaforma diferente, revela no colorido analogias curiosascom furnarídeos; seu bico lembra o do trinca-ferro,

(gênero anteriormente incluído nos traupíneose posteriormente transferido aos Cardinalinae).

q, p. ex., é outro representante distinto: a voca-lização identifica-o como traupíneo. V. também o saí-andorinha, .

Em plumagem juvenil, quando abandonam o ninho,os machos e as fêmeas de traupíneos com dimorfismosexual, como os tiês, costumam ser ainda iguais, mos-trando a plumagem modesta da fêmea. Depois, durantea muda pós-juvenil, os onus e os maséuli-nos (v. Pr. 42, 7) tomam-se grosseiramente mescladosde pardo e negro, lembrando a vestimenta correspon-dente de . Várias saíras ng ,cujos adultos deslumbram com suas muitas cores, saemdo ninho em plumagem verde quase uniforme. eHe icollis necessitam de uma segunda mudapara completar a vestimenta definitiva. O imaturo de

é verde, completamente diferen-te dos pais que possuem colorido cinzento e negro semrevelar dimorfismo sexual. O imaturo de

e h upis diverge também radical-mente dos adultos.

Após a época de reprodução, os machos deC emudam para uma vestimenta verde semelhante

à das fêmeas e dos machos imaturos (mudapós-nupcíal).Assim adquirem uma plumagem de descanso reprodu-tivo, chamada também plumagem de "eclipse", em ana-logia a anatídeos setentrionais, e correspondente à plu-magem de inverno de aves do hemisfério norte, comoos parulíneos. É notável que tal fenômeno não ocorranas outras espécies de es. Até há pouco não seconhecia este tipo de muda em Passeriformes residen-tes em regiões tropicais deste continente. Sua ocorrên-cia foi descoberta em 1953 por A. F. Skutch, na CostaRica, observando certos indivíduos de es snum lugar de ceva. Pouco depois verificamos que o fatoera conhecido em círculos de passarinheiros do ex-Esta-do da Guanabara, onde tivemos oportunidade de estudá-10. A muda pós-nupcial ocorre no fim do verão. Essamuda é de curta duração, a época varia conforme o tem-po no respectivo ano (p. ex. março, Rio de Janeiro); mui-tas vezes a plumagem de inverno não é completa, res-

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72~' ORNITOLOGIA BRASILEIRA

.: -taridopartes azuis e pretas (costas). Sincronicamente acor das pernas torna-se vermelho-clara. As rêmiges eretrizes também são substituídas, sendo a muda, por-tanto, completa; as rêmiges novas têm porém cor idên-tica às anteriores: negras e amarelas, colorido que é pri-vilégio do macho adulto. Os machos imaturos possuemas rêmiges verdes que, durante o primeiro inverno, sãosubstituídas sucessivamente pelas definitivas.

Verificamos que a restituição da vestimenta azul enegra que ocorre na primavera local não se dá por inter-médio de uma muda pré-nupcial, mas sim pela abrasãodiária das penas que são tricolores, sendo a base preta, aparte mediana azul e a parte distal verde. Quando aponta verde se gasta, a pena aparece azul. Tal alteraçãode cor da plumagem sem muda ocorre em várias aves.V., p. ex., (Icterinae).

Conhecemos no Brasil poucos casos análogos de plu-magem de eclipse, p. ex. em (Emberizinae),

(Icterinae) e (Trochilidae). Nofoi constatado um ginandromorfo (v.

também Emberizinae).Bico fino pontiagudo, curvo e longo nos e

no entanto sua forma varia consideravel-.mente de um gênero para outro. Foi ventilada a hipóte-se de serem as diferenças notáveis na forma do bico dasvárias espécies de não apenas uma especiali-zação nectarívora, mas também uma adaptação a ummodo diferente de apanhar insetos. tem o bicoem forma de gancho (v. sob Alimentação). O bico dos.imaturos de quando já independen-tes, é nitidamente mais curto do que o dos adultos. Ocoloridodas pernas (vermelho, amarelo ou marrom-es-curo) é, às vezes, diagnóstico. No caso de nigé mais fácil reconhecer a espécie através da fêmea(heteroginia, v. sob Formicariidae).

A voz de vários traupíneos, como, p. ex., a da maio-ria das saíras é chiada e pouco "atraente". Por-tanto, pássaros dos mais vistosos estão entre as avesmenos "dotadas" de voz, embora sejam bastante comu-nicativas. As vozes são às vezes tão finas como ruídosproduzidos por insetos, podendo lembrar o trissar demorcegos ou o chilrear de beija-flores. As chamadas dosgaturamos são fortes e às vezes mais características doque seus cantos.servindo à diagnose; quando imitadas,atraem imediatamente indivíduos da mesma espécie.

e outros traupíneos emitem um certo pioapenas quando voam. As chamadas de e

são semelhantes às de icteríneos, comoe deixam

ouvir às vezes um assovio agudo, lembrando o alarmede 'certos sabiás.

Os cantos de , e são resso-nantes, geralmente um tanto esganiçados. Os ,

s e outros cantam durante o ano todo.H bi, s s e ng

seledon desenvolveram um canto especial emitido namadrugada. realiza durante os pri-meiros clarões do dia encarniçadas perseguições intra-específicas, intercaladas aos cantos, sendo estes emiti-dos às pressas de um poleiro o qual é sempre trocado.

tem um espetacular "canto" de madruga-da, vozeirão que se assemelha ao de certos cotingídeos,sendo única sua perseverança nessa vocalização.

é capaz de produzir dois tipos essencialmen-te diversos de canto: além do seu canto comum, sim-ples, emite às vezes um canto variado, lembrando aque-le à meia voz do sabiá(subsong) com ensaios de imita-ções. é mestre em arremedar outrasaves, fato comentado inúmeras vezes; embora tais imi-tações alcancem notável fidelidade, não chegam a ilu-dir, pois são produzidas geralmente em andamento rá-pido uma após a outra. Acontece, porém, de umgaturamo-verdadeiro se "divertir" por tempo conside-rável emitindo unicamente, p. ex., o assovio de um suiriria intervalos variados traindo-se como gaturamo apenaspelo volume reduzido da voz. Em cativeiro estegaturamo aprende também a arremedar estalos dadoscom a língua. e têm tam-bém a capacidade de imitar, mas achamos inigualável amaestria de As vozes imitadas costumam serchamados (alarme, contato), não cantos.

É comum também a fêmea cantar, mas seu canto émenos desenvolvido. O casal de canta emdueto perfeitamente sincronizado, e os companheiros(macho e fêmea), que pousam um perto do outro, emi-tem estrofes inteiramente diferentes; só cantam na pre-sença um do outro e em conjunto; um segundo casal podecantar na árvore vizinha, na presença de mais dois in-divíduos mudos. O casal de [asciaia tambémcanta em dueto, com estrofes simples, semelhantes.

Os elus, e também g se associampara gritarias coletivas, estimulando-se mutuamente eaté atraindo outros pássaros; a situação às vezes chegaao ponto de tomar-se confusa e alarmante; o alarido tam-bém pode ser conseqüência do aparecimento de umacobra. Também saíras, p. ex. esti, revelamtendência para tais aglomerações ruidosas.

De voz fina e chiada, os e , enão chamam muito a atenção apesar de possuí-

rem certa variação vocal. Portanto, espécies das maislindas de Oscines estão entre os representantes menosdotados de predicados vocais.

Alimentam-se predominantemente de substânciasvegetais: frutinhas (freqüentemente duras) das árvorese arbustos ou de epífitas que neles vegetam, frutinhasde cipós e pedaços de frutas maiores e seu suco folhas

, ,'. I

-

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THRAUPINAE 729

",':t~:~b'Dt9J~s{~néGtar,As-exigências variam de espécie a espé-cie. OsThraupírrae estão entre as aves mais aptas na dis-persão de sementes de plantas ornitocóricas. Certas es-pécies porém, como e T. nãosão boas dispersoras de sementes uma vez quemandibulam bagas e as deixam cair sob a planta-mãe.

Gaturamos e apreciam mui-to os frutos da erva-de-passarinho (Loranthaceae) cujassuculentas bagas engolem inteiras. O alimento passa semobstáculo do esôfago ao intestino delgado, pois a moelarobusta degenerou (fig.294). Restou da moela apenasum tubo largo e curto, de paredes elásticas. Essa parti-cúíaridade foi estudada já por Lund(1829) e se refletena opinião pública de que o gaturamo "não tem intesti-no". De fato, .já após poucos minutos (as bagas daslorantáceas têm efeito purgativo), as sementes e as pelí-culas rasgadas das bagas aparecem nas fezes; assim adisseminação das sementes é limitada. As sementes saemilesas, protegidas contra a digestão por uma camadaexterna viscosa que, depois da defecação, prende a se-mente à casca de um galho onde germina. Para a germi-nação das sementes de certaslorantáceas, a passagempelo intestino do pássaro parece ser até necessária.

p. ex., gosta também das bagas doscactos flageliformes as quais tira às vezes ade-jando em frente às plantas.

,/1..-_.,.

A1 B

Fig.294.A, estômago bem desenvolvido de uma~'Yéspéciede da região indo-australiana, que

vive de uma dieta mista (insetos e frutas).B, estômagomuscular muito reduzido de um gaturamo nacional(Euphonia sp.) queé frugívoro;1, esôfago;2, estômagoglandular 3,estômago muscular( eliminado no gaturamo); 4,duodeno (seg.Desselberger1931).

<B outrosegostam .das ..frutas rdª~~mb.ªpba .' /"~",;sp.); pousam sobre a espiga que é pêndula, fi-

cando com a cabeça voltada para baixo e arrancam pe-daços da polpa com o bico, iniciando a operação do ápi-ce para a base da espiga.

Consta que os gaturamos também aproveitam os cor-púsculos de Müller da imbaúba, depósitos de proteínas,alimento principal das formigas que vivem den-tro do tronco da imbaúba. O grande naturalistaAlexander F. Skutch (1945), trabalhando na Costa Rica,intitulou uma das suas publicações

referindo-se às imbaúbas, as árvores mais caracte-rísticas da América tropical, demonstrando a imensautilidade desses vegetais para a fauna e, em especial,para as aves. Parece que a germinação das sementesda imbaúba é acelerada após a passagem no intesti-no das aves.

O tamanho muito diverso do bico e a forma da lín-gua de certas sugere diferenças essenciais daalimentação. tem bico semelhante a umperiquito e língua carnuda de ponta bipartida ecartilaginosa; alimenta-se de frutas de cactos. As saírasgostam, p. ex., das frutas das aro eiras sp.,anacardiáceas) e do jamelão ,mirtácea da Índia). Os sanhaços procuram os frutos damagnólia, associando-se a saís-ando-rinha e sabiás. Da maior relevância para as avesfrugívoras como os traupíneos são as váriasmelastomatáceas. Os pés carregados destas provocamenormes aglomerações tanto de traupíneos como demuitos outros pássaros (tanto em espécies como em in-divíduos). Chegou-se à conclusão que uma dietafrugívora possibilita a existência de um número maiorde indivíduos por espécie, num determinado local (Snow1971). As flores e as frutas são muito visíveis, pois asplantas têm que atrair os animais de que necessitam parasua propagação. As aves em questão figuram entre osseres cuja orientação é predominantemente visuaL Asuperabundância de comida proporcionada por umaúnica fruteira reduz a competição dos visitantes. Há, àsvezes, diferenças de "horário". Para a maioria dessesfregueses tal fonte extraordinária de alimento está situ-ada fora do seu território de reprodução.

Certas melastomatáceas, como espécies deoferecem mais uma vantagem pelo prolongamento dasua frutificação: os frutos de um único pé da pixirica

sp.), p. ex., amadurecem durante um períodode várias semanas, garantindo bom alimento a umtiê,

que reside por perto e que se pou-pa assim de vôos mais longos para achar comida ade-quada. A escolha da fruteira é regulada por preferênci-as específicas e condições físicas: os pássaros de bicopequeno, p. ex., se alimentam geralmente de frutas pe-quenas enquanto os de bico grande aproveitam frutasgrandes e pequenas. .

Num pé de"almíscar" Burseraceae) car-regado, observamos em Mato Grosso 13 espécies de

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730 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

Passeriéormes-Ientre elas8 trau}9ínéos1, na--suaIíiá:iôriã: mos e T. 'c-;mer ;;""'t.~.,."aos casais, e um sabiá com seus filhotes. Isto 'prova que inflorescências do eucalipto. Os gaturamos, comotais ajuntamentos não são reservados ao tempo de des- tiram o néctar da erva-de-passarinho,canso reprodutivo, quando há mais liberdade de No Rio vimos agarrar-perambular, se nos frascos postos para beija-flores, sugando a água

Os frutos da rubiácea "falsa-erva-de-rato", açucarada. No Sudeste do Brasil a excreção adocicadaarbusto de capoeiras e matas ciliares da região de pulgões torna-se alimento cobiçado, p. ex., de

Centro-Oeste, são avidamente procurados por vários etraupíneos seledone coronatus. Vimos uma fêmea do último adejar para be-Cissopis e também Gomes et 1975). ber esse líquido e enxotar outras aves visitantes da res-Os frutos das bananeirinhas-do-mato, sp., são pectiva bracaatinga (v. Trochilidae, Parulinae).procuradíssimos, Em Trinidad, Barbara e David Snow (1971) revela-

As frutas das palmeiras são também importante fonte ram que era a mais entomófaga (49%),sen-de alimento como aquelas da palmeira-imperial e de do as frutas (44%) a outra parcela importante da sua ali-

nos cachos maduros desta última fo- mentação; o néctar só figura com 7%. No Rio de Janeiro,ram registradas no Espírito Santo 28 espécies de aves, L. P. Gonzaga v:erificou que é maisentre elas 7 traupíneos, incluindo todos os 4represén- nectarívora que D. Em Trinidad o alimento detantes de da região; as frutas são engolidas in- consistiu de 44% de insetos, 44% deteiras. Ambas as palmeiras são exóticas, como o é tam- frutas e 12% de néctar. foi a maisbém a magnólia. As espécies comoCissopis e frugívora (63%). Procuram, no Brasil, p. ex. as frutinhas

se fartam periodicamente dos de ("almesca"), ("magnólia", v.frutos suculentosdo caruru, planta sob ("falsa-erva-de-rato"),herbácea de roça nova. Assim é invalidada às vezes a ("imbaúba"), ("quaresmeira") e outrasindicação estratigráfica "no topo das árvores". Caroços melastomatáceas, além das bagas suculentas decomo os das frutas da magnólia, são cuspidos tanto pe- (cactos flageliformes). Consta que o racemo da gramíneaIas saíras, como por e pelos piprídeos, raras ve- Lasiacis, que aparenta, enganosamente, um cacho comzes aparecem nas fezes. O consumo de substância vege- pequenas bagas, atrai e outros pássarostal exige grande quantidade de comida e, conseqüente- frugívoros como e mas é ignoradomente,defecação intensa, como se nota amiúde emexem- por espécies granívoras como o tiziu ou pombinhas: asplares engaiolados. sementes que passam pelo tubo digestivo germinam nor-

Vimos explorar gravatás do malmente (Davidse& Morton, 1973).tipo . Procuram os frutinhos escondidos no Observamos a chupar laranjas efundo da roseta, cada fruto projetando, para o alto, as caqui. tira às vezes pedaços de frutas maiores;rijas sépalas, as quais o pássaro vai puxando até encon- encontramos no seu estômago sementes, resíduos de pe-trar um maduro que cede; espreme e engole o quanto quenas frutas ingeridas inteiras, Eles chupam também apode do sumo e das sementes deixando o bagaço. Pro- seiva dos frutos da jaqueiracede de maneira parecida para comer os frutos de De interesse particular é o néctar como alimento de

É uma especialização notável, lembrando e (Coerebinae) lembrando bei-os beija-flores que sabem encontrar as flores dessas plan- ja-flores e os nectarinídeos do Velho Mundo (África, etc.).tas. Entre as saíras é, p. ex., seledonque se apro- Tal alimento não é tão fácil de comprovar por meio deveita das inflorescências de gravatás. exames estomacais. Já observamos escorrer o néctar pelo

etc., gostam também das fru- bico de uma coletada, o mesmo acontecendo comtas daimbaúba, tiram pedaços de laranjas maduras, etc., beija-flores. ee às vezes se lambuzam por completo de suco. procuram, p. ex., as flores da "erva-de-passari-

As folhas e os botões de arbustos e de árvores, entre nho", encontrando-se ali com vários bei-eles o "canudo-de-pito", sp., são consumidos re- ja-flores. O líquido é absorvido por um pincel na pontagularmente por (ES, RJ); da língua, sendo guiado à boca por dois capilares que

devora grandes pedaços de folhas de mamão compõem a língua tem ae edile,RS). come língua semitubular longa e "pesada" cuja função devepétalas da goiaba-do-campo; além de insetos assemelhar-se à, língua dos beija-flores. Para se abaste-e frutas, botões e flores. '.' -cer com néctar esses pássaros agarram-se firmemente

O aproveitamento do néctar é feito, p. ex., pelos às flores como o fazem os nectarinídeos. Não têm geral-rufus e mente a capacidade de pairar junto às flores como fa-

este último procura,P: ex., as gran- zem os troquilídeos, não têm bico nem língua tão com-des inflorescências vermelhas' do cipó amazônico pridos como aqueles para alcançar nectários em cálices

picando os cálices na base para chegar ao tubulares profundos.nectário. Em Minas Gerais e no Rio Grande do Sul vi- Há ensaios de adejo, sobretudo por par te+dos

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THRAUPINAE 731

. . , espécie de asas longas e pontudas,- ~ que freqüentemente apanha assim insetos na folhagem

e também aprende a beber deste modo em garrafas pos-tas para beija-flores. desenvolveu a técnicanectarívora mais especializada: cinge o cálice com amaxila (em forma de gancho, fura a corola com a man-díbula muito aguda e virada para cima e introduz a lín-gua para lamber o néctar. Torna-se assim um "ladrão"de néctar uma vez que se esquiva da polinização (v.bei-ja-flores). Realizando observações num viveiro Winkel(1967), bem posicionado, documentou que

qneus, embora sendo ladrão de néctar, foi impregnadode pólen de uma gesneriácea.

É comum vários traupíneos encontrarem-se em ár-vores floridas, freqüentadas também por beija-flores, àsvezes por motivos diversos: ou para sugar néctar ou paracaçar insetos atraídos pelas flores. Devem se aproveitartambém de pólen, que às vezes achamos na testaP: ex.de Os insetos pequenos e suas larvas e aranhasminúsculas são apanhados sobre galhos, folhas, brotose flores, estando pousados ou em vôo; pegam até mes-mo cupins em revoada, vimos cfaneus, empe-nhado nesta caçada.

Para traupíneos como os artrópodesconstituem complemento importante da alimentação.Apanham insetos, lagartas, etc., sobre as folhas ou de-baixo delas e nos galhos, ficando freqüentementesuspensos com a barriga para cima, posição que tam-bém adotam quando tiram certas frutas.

chesticus ei, e outros caçam também. insetos em vôo, p. ex. cupins em revoada ou borboletas.

g apanha abelhas. Pegar insetos voandoétambém particularidade de sendo este dotado de .um dente na tomia da maxila (fig. 299), lembrando re-motamente o gênero da América do Norte, Áfri-ca, etc., e os falconídeos: dispositivo muito adequadopara segurar uma presa como um inseto de qui tina gros-sa. apanha às vezes insetos em vôoque aparecem perto do seu poleiro.

e acom-panham as colunas das formigas-de-correição ou taóca,conseguindo assim a maior parte de seu alimento, ca-çam no sub-bosque, descendo com freqüência ao solopara apanhar uma presa, e logo voltando à ramagem. Omesmo observamos na (ES). , es-pécie campestre, é ainda mais insetívora do quefrugívora. Como outras aves, traupíneos (testado em

aprendem a evitar a captura de inse-tos" aposemáticos, como borboletas da famíliaHeliconidae. Foi, porém, registrada em São Paulo uma

-.<,. predação maciça de Ithomiinae (lepidópteros universal-mente aceitos como sendo protegidos por um gosto de-sagradável) pela viúva, as avestrataram os insetos como se fossem frutos de casca amar-ga, aproveitando apenas a "polpa" do abdômen (Brown& Vasconcellos Neto 1976).

O gaturamo, e procura avidamente

-

pequenos caracóis te.rr~\'tre~'§p~ll<?,observamos.num vi-veiro: extrai o corpo do molusco da casca a qual deixacair. é em grande parte insetívora. Podeacontecer também de um indivíduo descobrir nova fon-te de alimento; assim vimos um ceiusexplorar com diligência uma colônia de girinos de

sp., existente sobre uma rocha úmida, no Rio deJaneiro; para os filhotes, traz insetos, aranhas, lagarti-xas e rãs. A presença ocasional de fragmentos de penasno estômago, p. ex., de s, deve provir dadeglutição desse material quando arrumam a pluma-gem. Vimos beber água pluvial acu-mulada em buracos de árvores.

Os traupíneos são fotófilos como os beija-flores maispolicromos. São bons voadores, alguns, p. ex.e são capazes de pairar no ar para apanharuma frutinha ou um inseto pousado.Cissopis, de vôocurto, produz ruído sussurrante que os traià distância.Conhecemos em espécies brasileiras poucos casos demovimentos característicos da cauda:Euphon ec movem a cauda curta para os lados; Cissopisbalança sua longa cauda em sentido verticaL

Usam' formigas para "forrnicar-se" ing), comoobservamos nos e

e nos ornaia (v. tambémDendrocolaptidae, Tyrannidae, Corvidae, Emberizinae,etc.). Limpam o bico, esfregando-o em um galho cornotantas outras aves. "Espaçar" vimos em c e

es neus. Durante a procura de insetos osabrem assim lacunas na folhagem; espaçam até na pró-pria plumagem, talvez para facilitar a remoção de para-sitos. Gostam de tomar banho. O beber de espéciesnectarívoras e frugívoras como cnis e Coe (e final-mente também beija-flores, com uma língua especial-mente adaptada) se iguala a um sugar. Vimos no Riobeber assim um na garrafa de beija-flores onde foi colocado um poleiroà disposição dascambacicas.

Os bandos de saíras sp.), g e ou-. tros traupíneos percorrem várias vezes por dia os tre-chos da mata onde há árvores como, p. ex., ingazeiros,de cujos frutos se alimentam. Seguem também espéciesinsetívoras como eAtenção especial merece eillei. No invernojuntam-se grandes bandos mistos nos quais os traupíneospodem ser predominantes, tanto em número de espéci-es como de indivíduos. De um bando que registramosno Itatiaia, RJ, p. ex., em julho de 1952,-com total de 21espécies, faziam parte 7 traupíneos: e

s o ,hot s nops, hesticus eilleie Cissopis

leue Na Amazônia é ospi que anuncia' delonge os bandos de pássaros, papel este desempenhadono sul por es. Tal congregação deve ser útil

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732. ORNITOLOGIA BRASILEIRA

r , I

... na proteção' contra iniirrigos-,cuja: descobert~ torna-semais fácil quando vários indivíduos vigiam. E freqüen-te que casais que estejam nidificando,P: ex.e as espécies de estejam acompanhadospor indivíduos coespecíficos, citados como

s nests.Em situação agonística ostenta o

lado inferior amarelo berrante das suas rêmiges. Ose afins são muito briguentos.

Para dormir escolhe os emaranha-dos mais densos de erva-de-passarinhoque dão perfeita proteção contra as intempéries; nelesse [untam vários exemplares.

Reprodução

Durante o tempo de acasalamento, exibem as partesde cores berrantes da plumagem. Os machos de

, em frente à fêmea e a um rival, abrem efecham ritmicamente as asas, mostrando o branco res-plandecente das coberteiras inferiores das asas e da."dragona"f'encontro-de-prata" = . Os

também mostram a dragona, cuja cor (branca,azul ou amarela) é característica da espécie. O escarlatedo píleo de invisível em repouso,nesta oportunidade é espalhado sobre todo o alto dacabeça. Nota-se em diversas espécies um desen-volvimento progressivo da coloração dessas partes daplumagem: servem para dar sinais que integram o com-portamento social específico. Um importante enfeite dealguns gaturamos são as nódoas brancas nas retrizes,mostrado amiúde por quando agita acauda meio expandida. Uma população deEuphonia

do alto Amazonas) carece do brancona cauda.

recorreu ao meio de exibir surpreenden-temente as bases brancas das penas do dorso, lembran-do certos farmicarídeos. Singular é a organização da fai-xa alar de que resulta num efeito excepci-'onal. Os machos de levantam a cabeça ver-ticalmente, exibindo ao máximo a base reluzente damandíbula ("bico-de-prata").

O ninho é geralmente (p. ex. um ces-to aberto e bem elaborado colocado na ramagem a vári-as alturas. As saíras (p. ex. fazem umatigela profunda, bem forrada, na ponta dos galhos; p.ex., de pinheiro. constrói em vegeta-ção densa (às vezes inclusive em palmeiras) e gosta deutilizar material fresco, verde, por fora. Osfazem sua cestinha no sub-bosque dentro da mata.ie confeccionam urna tigela frouxa, às vezes qua-se transparente, no alto das árvores. Transparente masresistente, bem fixado com teias de aranha é o ninho de

e , construído em posição elevada em ár-vores do cerrado. phoeniceuse

l is, espécies meio campestres, fazem seu ninho

,,_, "'~<lL~-~, I, ~"', ..:....'" ~-" :', , ,. .l.'~.:i.: '

no capim, "apouca "altura ou no chão; isto acontece ex-cepcionalmente também com o.

episcopuse também ssescondem seu ninho num penacho de coqueiros ou emburacos de árvores, esta última utiliza também ocos fei-tos por pica-paus ou ocupa o montão de galhos de- (Bahia). e o n cons-troem às vezes entre grandes bromeliáceas epífitas (RJ),

episcopusse instala ocasionalmente por baixode telhados (Amapá). carrega longosgrave tos. aproveita-se vez por outrado resto da construção volumosa da catarra para acon-dicionar seu ninho. e Eupho exigem omáximo em proteção e escuridão: seus ninhos esféricos,com entrada lateral, são postos em lugares abrigadoscomo no meio do penacho de um coqueiro, entregravatás epífitas ou na massa trançada de barba-de-ve-lho usneoides).O macho e a fêmea deEuphonie trabalham juntos na construção do ninho; nocaso dos só a fêmea trabalha.

Os gaturamos ocupam, às vezes, o ninho de um ou-tro pássaro. Na Amazônia brasileira foram encontra-.dos ovos de num ninho abandonadode etetes ensis,e ovos deEuphoni nnensisnum ninho fresco de que continhatambém ovos do seu legítimo dono; é possível que ogaturamo tenha expulsado o ectes. Um casal deEuphoni i construiu dentro de um ninho aban-donado de bentevi, . Consta que

episcopus,na América Central, toma às vezesos ninhos recentes de outras aves, p. ex., de hus

e da saíra; adotando, no caso, os ovos da saíra.O ninho de é urna tigela rasa bemfixada com teias de aranha a uma forquilha, a alturaconsiderável. São semelhantes os ninhos deChl ph nese

Os ovos, geralmente dois a três, tratando-se deaté 5 (PA), variam bastante no colori-

do, conforme a espécie. põe ovosverde-azuis lustrosos pingados de negro.e outros sanhaços têm ovos tão fortemente mosqueadosque mal deixam ver o campo branco-amarelado.

e põem ovos de campo respecti-vamente vermelho pálido e branco, com pontinhos fer-rugíneos. Os ovos de apresentam campo bran-co ou ligeiramente rosado, com marcas marrons, geral-mente aglomeradas no pólo rombo. Os deDig têmcampo azul. A afirmação de que es põeovos' "enegrecidos" (cor de sépia) em ninho pênsil (dotipo de ninho de guaxe) (Beebe 1917) é evidentementeerrônea (Carvalho 1958). A fêmea choca sozinha; cons-tam 12 a 14 dias de incubação tratando-se deepiscopus,17 dias "pelo menos" para ,na Costa Rica.

Os filhotes possuem o interior da boca vermelho esão alimentados pelos pais que trazem a ração no bico

ocelus, g ou a regurgitam sob a

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THRAUPINAE 733

forma de papa , Euph .Nãoé raro.quemais de dois indivíduos cuidem da prole: podem serfilhotes do mesmo casal de uma ninhada anterior, comoverificamos no caso de ou mesmo.adultos, outro casal ou indivíduos nãoacasalados, comoconsta sobre O atendimento de umninho por vários indivíduos parece ocorrer freqüente-mente com

Os sugerem aexistência da poli-gamia, relacionada com a edificação de ninhos próxi-mos. Os ninhos deR. são atendidos às vezespor mais de dois adultos. Da América Central afirma-seque há ocasionalmente bigamia praticada por

e episcopus.O ardil de despistar o ninhohabitualmente praticado apenas por aves que constro-em no solo foi por nós observado no e cons-ta existir em ambos com ninho à altura dealguns metros. investe contra gaviões quepassam perto de ninho.Cissopis torna-se agressivo seum homem apanhar um exemplar da sua espécie e estegritar. Consta que os filhotes deixam o ninho após18dias de vida nas espécies de e após22 dias,aproximadamente, as .

No Brasil conhecemos até agora13 Thraupinae mo-lestados pelo gaudério, . O tiê-san-gue é, em certos lugares, tão severamente parasitado poresse icteríneo, que quasenão. consegue criar seus pró-prios filhotes. Até uma espécie tão pequena como

vimos alimentar um gaudério.

Os traupíneos são numerosos neste continente. Sãomais abundantes nos contrafortes dos Andes - longedo Brasil- onde10 espécies do gênero podemocorrer juntas. Já apontamos a diversidade das espéciese o grande número de indivíduos que se reúnem em cer-tas fruteiras. A pipira um dos pássa-ros mais abundantes da Amazônia, vive na beira damata, no topo das árvores e na vegetação ribeirinha. Daíse adapta facilmente à vegetação secundária, nas terrasde cultivo abandonadas, com mato em crescimento nosprimeiros estágios, onde costuma ser a espécie maisabundante. Em capoeira do baixo Amazonas (rioGuamá), numa área especificamente controlada,

eeram as espécies predominantes. Os dois piprídeos têmcomportamento trófico semelhante ao da pipira: alimen-tando-se de preferência de substâncias vegetais, sendopor conseguinte predominantemente consumidoresprimários na cadeia trófica. Numa outra área semelhan-te, na mesma região (ilha Caratateuá),era também a espécie mais numerosa, seguida por

Numa terceira área (rio Acará) a espécie maisabundante era o segundo lugar foi ocupadopor e e "apenas" o terceiro. lugar por

phocelus (Novães 1969, 1970).Não obstante a abundância de indivíduos e o bom

número de espécies que os traupíneos apresentam emcertos ecossistemas neotropicais, estes não alcançam, emnúmero de espécies, famílias como formicarídeos etiranídeos, pássaros basicamente insetívoros, portanto

.consumidores secundários, adaptados à multiplicidadede nichos ecológicos em ecossistemas florestais.

Os sanhaços estão entre as aves mais comuns nas ci-dades, tornam-se facilmente sinantropos.penetra até em metrópoles como o Rio;nidifica, p. ex.,em oitis plantados em ruas estreitas como na AvenidaRio Branco, e povoa as palmeiras-reais entre arranha-céus em qualquer bairro da cidade.

expande sua área, aproveitando-se do des-matamento do Brasil oriental.

,

A distribuição dos traupíneos oferece problemas in-teressantes. Há um número apreciável de endemismosno Brasil oriental, como e váriassaíras , estas às vezes de ocorrência bem limi-tada como [astuosa. Dentro da área de

existe, na faixa litorânea, a espécie crípticae de ocorrência sintópica. Semelhan-

te é também a distribuição de , dentro dagrande área de ambas vivem sintopi-camence, como certos . Vivem, p. ex. no Espí-rito 'Santo, 4 espécies de na mesma área.Endemismo singular do Nordeste é c .Há representantes meridionais como

que atingem as encostas dos Andes.e ocuparam, além do Sudeste

brasileiro, vastos trechos dos Andes, chegando assim atéo norte do continente (distribuição disjunta).

A região originalmente coalescente de espécies cam-pestres como foi cortada pelo desen-volvimento da Amazônia, resultando em várias popu-lações distintas. Apresentam condições comparáveis os

espécie florestal. Os substitutosamazônicos de e Cissopis /e n sãoconsideravelmente menores do que os meridionais, dezonas de clima mais ameno (v. também ernberizíneos,p. ex. pode ocorrer, ao mesmo tempo, fortediferenciação do colorido; v. também as raças geográfi-cas,p. ex., de .

Exemplo de semi-espécie é ceius subs-tituto amazônico e interiorano depossuem uma área-de contato no alto rio Doce (MG) ondecruzam; ambos evoluíram em raças geográficas, em ou-tras regiões. O mesmo status deespecíaçãogeográficapode-se quiçá atribuir a gu e H.

sendo conhecidos alguns híbridos.Exemplos dealoespécies, espécies de distribuição

alopátrica, que se excluem rigorosa e geograficamente,

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734 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

--. .... :::::.;: ~ã(rõsgai.uram-ós e E. ü(fig. 295) que podem ser considerados substitutos ama-zônicos de não se lhes conhecem ra-ças geográficas nem áreas de hibridação.substitui episcopusé aparente-mente substituto setentrional de Tam-bém e . parecem formaruma superespécie. De interesse elevado, nesses casos,são os caracteres bionômicos como a voz e o comporta-mento; para testar o grau do parentesco.

Durante o inverno aparecem certas espécies em re-giões onde, nos outros meses, ou não ocorrem ou sãomais escassas. Exemplo disto existe, p. ex., na ex-Gua-nabara com e para o pri-meiro caso e, para o segundo comque aumenta de número em agosto/setembro,coinci-dindo a sua chegada com o amadurecimento das laran-jas. Durante oinverno de 1940,notamos, na região ser-rana do Espírito Santo, diminuição apreciável de certasespécies como e já

desapareceu completamente, regres-sando em fins de outubro. O controle não é fácil poisgeralmente não é toda a população que se desloca, comoocorre com andorinhas e outras aves migratórias. NoBrasil central as duas espécies de desa-

_parecem periodicamente. Na Amazônia ocorrem migra-ções de relacionadas com tempo chuvoso.Os traupíneos, sobretudo e se associ-am a bandos mistos. Um migrante do hemisfério norteé que penetra no alto Amazonas.

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Um macho de saí, cfaneus, e uma fêmeade saíra, criaram duas vezes dois fi-lhotes no Jardim Zoológico de San Diego, EUA; não cons-ta se os descendentes eram férteis (Delacour1972).

Por sua abundância, os sanhaços e os tiês não sãomuito benquistos em pomares. Já pagaram seu tributoaos índios, que apreciavam suas penas utilizando-as naconfecção de adornos, usando, p. ex., elus

no alto Amazonas. Devidoà sua magníficaplumag~m os sempre foram muito persegui-dos: antigamente pelos índios e depois pelos caçadoresde pássaros ornamentais que utilizavam os couros comoenfeites na moda e, no nosso tempo, para fomentar ocomércio ilegal de pássaros de gaiola.

A distribuição natural muito restrita de endemismoscomo do pintor-verdadeiro, , ainda co-mum no Nordeste, poderá acarretar o risco de extinção,visto a alteração progressiva do ambiente e a capturailimitada para o comércio de pássaros de gaiola. Surgeassim, também nesta família, a necessidade de se preco-nizar a preservação de certos representantes.

Incluímos espécie tida como extintae que foi observada por nós no Espírito Santo.

Os traupíneos foram tratados como "Tanagridae", ba-seando-se na denominação indígena"tangará", usada

Fig.295.Distribuição dos gaturamosda superespécie

machos ilustrados(levementemodificado segoHaffer1979).Triângulosfechados epontilhado: E. Círculosabertos e traços verticais:E.

. Círculos fechados etracejadohorizontal: E. .Símbolosdenotam as localidades deregistros das respectivas espécies.

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THRAUPINAE 735 "

antigamente,p. "ex."e:mPernambuco para o "pintor-ver-dadeiro", stu como consta na obra deMarcgrave (1648), primeiro tratado científico das nos-sas plantas e animais. A denominação "tangará" conti-nua a ser usada para , na Amazônia (PA).Houve alguma confusão, pois Linnaeus (1764), por in-versão de letras, criou o nome genérico para osgaturamos, denominação recentemente (1966) revogadapela Comissão Internacional de Nomenclatura e substi-tuída por A palavra tupi tangará, usada pararepresentantes de traupíneos, ocorre também no Para-guai e regiões adjacentes da Bolívia eArgentina. No Bra-sil, atualmente, o nome tangará é mais utilizado pararepresentantes da família Pipridae, sobretudo

Na Amazônia "tangará" designa tambémum "galo-de-campina" (v. Emberizinae)

dos

1. Gaturamos: e 14 espéciespequenas e de bico curto, nas quais os machos, na suamaioria, têm barriga amarela; as fêmeas são verdes; Pr.41, 2-4.

2. Saíras, saís, saíra-diamante e afins:e 29 espécies freqüentemente

policromas; sexos geralmente semelhantes; Pr. 41,5-9.3. Sanhaços e sanhaço-frade: e

7 espécies grandes, cinza-azuladas ouesverdeadas, os com as coberteiras superioresdas asas (" dragona") reluzentes, uma espécie(T.

de barriga cor-de-laranja; Pr. 41, 10-11.4. Tiê-sangue, tiê-fogo e afins: 12 espécies, aspecto

semelhante aos sanhaços, sendo a cor predominante overmelho e,macho), ou o verde e amarelo:

e Pr. 42,1 e 42, 3.

5. Tiê-preto e afins: (8 espécies) e(2 espécies), aspecto semelhante ao dos anteriores sen-do algumas espécies menores. ne-gros, dragona (v. também item 6) e lado infe-rior das asas branco, possui às vezes mais sinais berran-tes no píleo, na garganta e no uropígio. Os de dor-so e barriga de colorido amarelo-ferrugíneo; Pr. 42, 5 e 7.

6. Várias espécies de tamanho médio, algumas commáscara negra (Pr. 42, 4),

(topetudo, píleo amarelo, figo 301),(Pr. 42, 6); preto e branco:

(de bico vermelho); pardo-ferrugíneo de bicogrosso: (fig. 296). ,

7. Várias espécies do tamanho da saíra ou de portemais delgado, de bico fino, cauda relativamente longa,de garganta negra, marrom ou amarela

e Pr. 42, 2, eou garganta vermelha:

plumagem cor plúmbeo-cinzenta, de cabeça castanha:

cinzento.gpreto ebranco: e o ..iu (fig. 298). -" , "",-

8. Dois representantes grandes: negro uniforme oude garganta escarlate: ou preto e branco,rabudo: Cissopis (fig. 297).

9. apenas na divisa RoraimajVenezuela.10. , um gênero sedis, assemelhan-

do-se no aspecto aos parulíneos, para cuja família fo-ram antes transferidos, junto com ao se elimi-nar a família Coerebidae. Recentemente tratados comoThraupinae.

SANHAÇO-PARDO, EnFig.296

17,5cm, 31,5g. Espécie meridional arborícola. Lem-bra um mas é singular pelo bico grossolembrando o de um emberizíneo e pela coloração que seassemelha àquela de um limpa-folha i tal com-binação pode ainda recordar-nos o caneleirinho,

. fronte e sobrancelhasfer-rugíneas pálidas como todo o lado inferior; píleo, lorose faixa pós-ocular pardo-acinzentados,íris vermelha;cauda e asa ferrugíneas-avermelhadas, coberteiras su-periores das asas e encontros oliváceos. Na nuca tempenas piliformes. Alta e fina, às vezes semelhante àde um sanhaço . Vive nas copas das árvores,mata alta ou baixa; apanha insetos alçando vôo brusca-mente, também come frutas. Ocorre do Espírito. Santo aSanta Catarina; no Espírito Santo e Rio de Janeiro ape-nas na região serrana, de ondetirrta parte da populaçãoparece imigrar no inverno. Associa-se a bandos mistosde pássaros de vários tipos como saíras, tiês e trinca-ferros Às vezes, agrupa-se mesmo a certosfurnarídeos, entre eles ocasionalmente rufus. Asemelhança entre este último e o traupíneo em questãopode levar à idéia de que se trate de"uma adaptação nosentido de que endemismo do sudeste bra-sileiro, imitaria o gênero de vasta distribuiçãocom várias espécies parecidas (Willis 1976). Não conhe-cemos, porém, outro contato entre os dois além da su-perficial associação existente entre bandos de pássarosviajantes (mimetismo social). "Tiê-castanho?".

Fig.296.Sanhaço-pardo, naiminência de pegar um hirnenóptero. .

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736. ORNITOLOGIA BRASILEIRA

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BICO-DE-VELUDO,

En Pr. 42, 6

17,8cm, 38,2g. Pássaro "fringiliforme" de pequenamáscara negra que se destaca bem da típica cor acaneladado corpo anterior, a barriga costuma ser. branca ..baixo "kwat", "tche-ie": gorjear suave maVIOSO,frequen-temente estrofes trissilábicas como" dji, djü, djü-dji-djúi"ou "wüídje-wüídje-wüídje", algumas vezes repetido(canto, semelhante ao de um Emberizinae). Vive e~ cam-po sujo, mata baixa e aberta, pousa no topo de pe~u~-nas árvores e moitas para olhar e cantar. De larga distri-buição em regiões meio campestres como o cerrado ecaatinga, abundante acima da linha das florestas, emcampos alto-montanos de clima frio (p. ex. Serra do

- Caparaó. MGf Ocorre do nordeste, leste e sul do Bra~ilaté Santa Catarina, Goiás e leste do Mato Grosso (nodas Mortes), sul do Pará (Cururu, Cachimbo). "Sanhaço-

nh d ""s h d " "S 'do-campo", "Sa aço-par o, an aço-par o, ai-veludo", "Zorro", "Tiê-veludo" (Rio de Janeiro). No Bra-sil central às vezes ao lado da espécie seguinte.

SANHAÇO-DE-COLEIRA,

18cm. Espécie de vasta distribuição extra-hileana.Cinzenta, excetuando a cabeça, garganta e pescoço an-terior que são negros em ambos os sexos. Imaturo dife-rente, verde-oliváceo mais claro embaixo. forte"tzic" (chamada); canto gorjeado, a estrofe subindo edescendo várias vezes. Habita a inata baixa ribeirinha,pântanos (p. ex. buritizal), cerrado, restinga, campo sujo.Ocorre do sul do baixo Amazonas de Santarém a Belérn,Brasil central, Nordeste e leste até São Paulo; norte da

. América do Sul. Cria às vezesV. a espécie anterior. "Tiê-cinza"". [Encontrado tambémna Amazônia central em campinas isoladas (Pachecoet al. 1994).]

CIGARRA-DO-CAMPO,

15,5cm. Espécie arborícola e campestre do interior.Lado superior cinzento; máscara e coberteiras superio-res das asas negras, sendo que nestas últimas há umafaixa branca. Garganta e abdômen igualmente brancos,peito cinzento. Olhos e pés escuros. A fêmea é parecidacom o macho mas cambiando para o pardacento. Ima-turo com as partes-superiores pardas e inferiores cinza-amareladasrrião possui nem a máscara nem o desenhonegro e branco da asa. Tem extenso canto de madruga-da. estridente "uit", "bit" (chamada); o canto é urnaestrofe curta, chiada; o casal canta em dueto. Habita ocerrado, capões, associa-se a bandos de pássaros. Ocor-re do Maranhão e Piauí a Goiás, Minas Cerais, São Pau-lo, Paraná, Mato Grosso e leste da Bolívia. Há semelhan-ça curiosa destetraupíneo com o picanço-real,

ub (Laniidae) do hemisfério setentrional (v. tam-

bém pile que é, contudo, mais delgado). "Tiê-do-cerrado?" .

BANDOLETA,

15,5cm, 28,5 g (macho). Espécie do Brasil central, delado superior negro com duas faixas na asa e uropígiobrancos; lado inferior esbranquiçado, gargantaferrugínea, sexos parecidos. Imaturo sem nódoas ferru-gíneas na garganta. "quãt" baixinho, "tchat" (cha-mada); matraquear "tschrararara" geralmente em pre-paração do canto que no macho, consiste em uma estro-fe forte, rítmica e de poucas sílabas, p. ex. "wadje-huíd-dja-dja" repetida fluentemente meia dúzia de vezes, sen-do acompanhada pela fêmea por um contraponto sim-ples que marca o compasso:"tcha, tcha,tcha ..." às vezesmais melodioso "tchülõ, tchülõ, tchülõ ...", O canto pa-rece confirmar ser realmente um traupíneo enão um Emberizinae. Vive em campo sujo, alimenta-seno solo e na folhagem dos galhos sendo predominante-mente insetívora (v. sob Alimentação). Pousa nos galhosde arbustos e árvores baixas para cantar. Ocorre do Nor-deste do Brasil a Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Goiás,Mato Grosso, Bolívia e Paraguai.

TIÊ-BICUDO*, En

14,5cm. Negro com um brilho esverdeado, meio dopeito e barriga brancos assim como o espéculo e a faceinferior das asas; bico e pés pretos. Talvez seja represen-tante geográfico de C. (Storer 1960). [Conhe-cido apenas pelo exemplar-tipo (Berlioz 1939) que seriaproveniente de "[uruena, nordeste de Cuyaba". Acredi-ta-se que esta espécie (não mais encontrada após a cap-tura do exemplar original em 1938) seja própria de flo-restas secas de Mato Grosso, por analogia com o hábitatde C. (CoUar et . 1992). A localidade"[uruena" deve ser entendida como proveniente dascabeceiras do Juruena, alto da Chapada dos Parecis, MatoGrosso próximo ao atual traçado da BR-364 e cerca de100km a leste de Vila Bela de Santíssima Trindade, oucidade de Mato Grosso. A utilização de Juruena para de-signar essa região também foi feita por naturalistas daComissão Rondon quando do estabelecimento das linhastelegráficas ligando Cuiabá a Porto Velhoa. F. Pacheco).]

[TIÊ-PRETO-E-BRANCO*, speculige

17cm. Habitante das áreas semi-abertas da Amazô-nia ocidental, assinalado pela primeira vez rio Brasil a-través da recente constatação da existência de uma fê-mea autêntica dessa espécie coletada em 1956 no altoJuruá, Seringal Oriente, Acre nas coleções seriadas doMuseu de Zoologia da USP (Stotz 1990). Conhecido an-tes apenas para o leste do Equador e Peru e mais, recen-temente também para a Bolívia (Parker et. 1991).] '.

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PIPIRA-DE-BICO-VERMELHQ".Lampro!?piza

melanoleuca

15,5cm. Representante amazônico de partes superi-ores, garganta e centro do peito negros com brilho azul.Resto do lado inferior branco exceto por duas faixasnegras que se dirigem do peito aos flancos; bico vigoro-so e escarlate, preto no imaturo. Fêmea de dorso cinzen-to e partes inferiores amareladas. "hützi-hü", "wist-wist", chamando a atenção de longe: canto: estrofe este-reotipada de som agudo"sí-sisili". Vive no topo das ár-vores em pequenos bandos. Ocorre das Guianas ao bai-xo Amazonas, do leste doTapajós a Belém (Pará), Mara-nhão e noroeste de Mato Grosso (rio Roosevelt) e Peru.V.

TIETINGA, Cissopis Fig. 297

29cm, 75,8 g (macho) e 67,5 g (fêmea). Espécie gran-de, peculiar, de cauda avantajada, inconfundível tantono aspecto como no colorido alvinegro. O branco formaum V no lado superior, íris amarela. estridente "spix-sp ix" (chamada): cadência estereotipada de piosesganiçados, freqüentemente trissilábicos, p. ex.: "zibi-zwí-ziü" repetidos em andamento rápido (canto). Atra-vessa a ramagem a longos pulos, acionando veemente-mente a cauda: vôo curto, produz forte e sonoro sussur-ro com as asas. Vive a altura média em beira de densafloresta e mata ribeirinha em pequenos bandos, às ve-zes junto com o cardinalíneo (Espírito Santo).Ocorre das Guianas e Venezuela à Bolívia; Brasil ama-zônico do sul do Solimões até o 'Iapajós, Tapirapoã (MatoGrosso), sul do Pará (Gorotire) e Maranhão. De Pemam-buco a Minas Gerais, Goiás, Rio Grande do Sul, Misionese Paraguai: no Espírito Santo e Rio de Janeiro na regiãoserrana. A forma amazônica é consideravelmente me-nor e tem as costas brancas. "Pipira" (Mato Grosso),"Probexim", "Sanhaço-tínga" (São Paulo), "Pintassílgo-do-mata-virgem", "Sabiá-tinga"; considerado pelosmatutos como uma espécie de gralha (Corvidae), "Pega"(Pernambuco), lembra remotamente a pega européia

gpie) do hemisfério setentrional.

CARRETÃO, En

23cm, 72,5 g (macho). Endemismo interessante doNordeste do.Brasil. Um dos maiores traupíneos existen-

Fig.297.Tietinga,Cissopis l e o .

II~~.\ .' tes, t~r.lP aSI?e~t9Ae um s~nhaço de bico grosso e curvo

. com a .cauda relativamente curta. Todo negro com umbrilho azulado exceto por uma placa escarlate no meioda garganta e do papo; bases das penas dorsais e doflanco brancas, sendo visíveis apenas quando a ave ar-ruma a plumagem. Fêmea preta uniforme, faltando-lhetambém as supracitadas partes brancas. Macho novo semplaca escarlate, já se reproduzindo contudo nesta plu-magem; há exemplares cor de fuligem. Os indivíduostotalmente negros são bem mais numerosos do que osde garganta escarlate e assemelham-se a icteríneos comoo guaxe, graúna ou gaudério. O padrão de colorido po-deria sugerir também um cotingídeo.

"quatt" (chamada), assemelhando-se bastante aogrito do guaxe, sp., sendo contudo mais duro;grito forte e rouco, mais ressoante: "kjâ" ou"kjô" repe-tido. Tal vozerio monótono, que poderia ser a vocaliza-ção de um cotingídeo, é emitido pouco durante as horasmais claras do dia, sendo entretanto produzido insis-tentemente de madrugada, começando com os primei-ros clarões da manhã. Os intervalos entre os gritos, en-tão, costumam durar um segundo e às vezes menos,continuando a ave a vocalizar por, p. ex., 7 minutos.Depois interrompe por alguns segundos (ou até um mi-nuto) voltando a gritar ininterruptamente por 4 minu-tos ou mais. Verificamos que estes períodos de intensavocalização na madrugada podem prolongar-se de 18 a45 minutos com intervalos curtíssimos. Habita a vege-tação arbórea em beira de rios, freqüentemente em pe-quenos grupos, também durante a nidificação. Ocorredo Maranhão a Alagoas, Bahia, Minas Gerais (p. ex. riosJequitinhonha e São Francisco, Pirapora) e Goiás."Boiadeiro", "Espanta-vaqueiro", "Cuaxe" (Pernambu-co, Minas Gerais),"Azulão" (Ceará), "Tejo" (Bahia)."Tiê-caburé*". V. stese i É confundido pelo povocom os icteríneos citados e atribui-se-lhe, também erro-neamente, o parasitismo de .

CABEClNHA-CASTANHA,

14cm. Espécie restrita à região este-meridional. Ca-beça e garganta castanhas, fronte e área em tomo do olhonegros; resto da plumagem cinzenta-xistácea. Fêmeaverde-oliva com o píleo canela. fina e esganiçada"tzip" e estrofe que pode terminar em duas sílabas maisbaixas e cheias, p. ex. "sip-sip-sip-ziü-ziüi" lembrandoo canto do emberizíneo que é às vezes seu vizi-nho. Vive a pouca altura nas brenhas mais fechadas etaquarais. Ocorre do Rio de Janeiro ao Rio Grande doSul, Misiones e Paraguai."Píoró" (SP).

CANÁRIO-SAPÉ,

13,5cm. Arborícola de porte delgado bem conhecidopelos matutos. Distingue-se imediatamente pela face egarganta amarelas, lembrando um canário-da-terra: alto

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738. ORNITOLOGIA BRASILEIRA

"",><, pv~da cabeça ferrugíneo, manto oliváceo e partes inferiores .,,~.' branco-pardacentas. Fêmea semelhante àquela das de. sendo verde por cima e com a face e par-

tes inferiores amarelas, abdômen pardacento. "tzri","zip, zip, zip", "zi-zjii" (chamada); vários tipos de can-to, sendo que um bem pronunciado, lembra o canário-da-terra, "zap-zip, zip, zip-zop-dsuit":chilreado altíssimo "zi ... tzrrrri" que poderia provir deum beija-flor; gorjeio alto e rápido, lembrando

. Vive no topo das árvores, inclusive nas cidades.Ocorre da Venezuela à Bolívia e Paraguai; Brasil até oParaná. Argentina. Faz lembrar um parulíneoCria 'as vezes "Saíra-canária'".

SAÍRA-DE-PAPO-PRETO,

13cm, 10 g (fêmea). Espécie próxima à seguinte dis-tinguindo-se dela pela máscara e garganta negrasdebruadas de amarelo-enxofre. Fêmea e imaturo verde-oliva, com a região ao redor dos olhos e partes inferio-res amareladas e mandíbula amarela. "tzíp-tzip"(voando); "djüt": canto: seqüência de pios finos com aestrofe subindo um pouco "tsi, tsi, tsi-tsã, tsâ, tsã, As-pecto geral e hábitat são muito parecidos aos da seguin-te. Ocorre das Çuianas e Venezuela à Bolívia, Paraguai eArgentina. Localmente em todas as regiões do Brasil;geralmente não é registrada no mesmo local que a espé-cie seguinte da qual é substituto geográfico, chegando ase cruzarem nas áreas em que se contactam (Bahia, São

'Paulo). "Pintassilgo-do-papo-preto".

. SAíRA-DA-MATA, EnPr. 42, 2

12,8cm, 13g. Espécie silvestre de porte delgado res-trita ao litoral do sudeste do Brasil,É inconfundível pelacabeça ferrugíneo-escura. Peito e uropígio ocráceos, la-dos do pescoço amarelo-vivo, mandíbula esbranquíça-da. Fêmea e imaturo esverdeados mais claros nas partesinferiores, lembrando um ou(Vireonidae ou Parulinae, respectivamente). idênti-ca à da espécie anterior, aparentemente sendo o seu subs-tituto geográfico. Habita o topo das árvores, mata, par-ques, etc. Ocorre do sul da Bahia e Minas Gerais a SantaCatarina. "Figuinha-amarela" (Minas Gerais)."Pin tassilgo-da -ma ta", "Saíra -ferrugem "'.

SAíRA-GALEGA,

14crn. Pássaro silvestre que chama a atenção pela gar-ganta amarela, sendo o dorso posterior, uropígio e co-berteiras inferiores da cauda da mesma cor. Resto dolado superior negro, asa com grande espéculo branco.Partes inferiores brancas, peito manchado de negro. Fê-mea e imaturo são parecidos com aqueles respectivos

das duas espéciesanteriores sendo porém menores."tzri": canto "si, si, si ...;' como um inseto. Habita a copadas árvores. Ocorre do Panamá à Bolívia; da Amazôniabrasileira para o sul até o norte de Mato Grosso e sul doPará e ao norte do baixo Amazonas (Amapá); de Per-nambuco ao de Janeiro (Cabo Frio) e ex-Guanabara(p. ex. março, predominando indivíduos imaturos). Àsvezes associada com H. "Pintassilgo-da-mata"(Minas Gerais, de Janeiro).

SAÍRA-DE-CHAPÉU-PRETO, Fig. 298

13cm, 14 g (fêmea). Representante arborícola de lo-cais bem iluminados, despertando a atenção pelo bran-co puro do loro e do lado inferior que contrasta com onegro do píleo. Manto cinzento, íris e pernas amarelas(pardas no imaturo). A fêmea não tem o desenho negrotendo o seu lado inferior amarelado e a mandíbula bran-ca. fina como a de canto "si-si-slí" repetidoçerto número de vezes. Habita a vegetação arbórea ralacomo caatinga, cerrado, etc. Ocorre das Guianas eVenezuela através da Amazônia campestre ao nordestee leste do Brasil até São Paulo e Grande do Sul, Bra-sil central, Bolívia, Paraguai e Argentina. V. t

(que é bem maior) e euc .

Fig. 298. Saíra-de-chapéu-preto,e osi pil macho.

SAÍRA-APUNHALADA, En AmPr.45,5

14cm. Partes superiores cinzentas, lados da cabeça,asas e cauda negros, píleo esbranquiçado. Partes inferi-ores brancas, garganta e papo vermelhos sanguíneos for-mando uma placa pontuda. Pássaro descrito em 1870sendo conhecido até os. nossos dias apenas através deum único exemplar procedente da região de Muriaé,Minas Gerais conservado no Museu de 'Berlím. Foi avis-

. tado ror nós, entretanto, um bando de 8 indivíduos des-ta espécie no topo das árvores na região serrana do Es-pírito Santo (Limoeiro-Jatiboca; 900 a 1000 m de altura)em 8 de agosto de 1941. O coletar original da espécie em

I, .

J....

It,

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THRAÚPINAE 739

Muriaéj-jr de Roure afirmou que durante mais de 30 anosde observação das aves na região em questão, não sur-giu outro exemplar desta espécie (Cabanis 1870).

PIPlRA-OLIV ACEA*,

[18,5cm. Endemismo dos tepuis venezuelanos assi-nalado no Brasil apenas no Cerro Uei-Tepui, Roraima(Phelps & Phelps 1962).] ::.-

CATIRUMBAVA, En

19cm. Espécie restrita às serras do Mar e Mantiqueira;sem desenho marcante, de bico relativamente fino e ne-gro. Partes superiores verde-oliváceas e partes inferiO"

res amarelo-esverdeadas. Pernas pardo-amarela dás.estridente e prolongado "tzi" (mais forte do que a cha-mada de que é freqüentemente seu vizinho),"pix"; estrofe esganiçada "tzí-si, si, si tzí-si, si,si" etc.(canto). Às vezes executam gritarias coletivas. Vive namata em bandos nas copas. Ocorre do Espírito Santo aSanta Catarina. "Sanhaço-de-bando", "Imbaraí", "Selva-gem" (Rio de Janeiro). V. a fêmea de (que émais clara) e .

PIPlRA-DA-TAOCA,

18cm. Espécie de larga distribuição na Amazônia.É .topetuda, de lado superior verde-oliváceo com a cabeçacinzenta e píleo com centro branco que permanece nor-malmente serni-oculto. Garganta esbranquiçada, abdô-men amarelo vivo. O imaturo é totalmente verde inclu-sive na cabeça. "tchip" (chamada); forte"tzã" (alar-me); canto: seqüência de assovios altos sendo a segundaparte da estrofe descendente "tzi, tzi, tzr-zi, zi, zi, zi, zi,zi, zi", podendo lembrar às vezes é mais vari-ado e prolongado. Habita o interior da mata espessa,comumente encontradiço perto d'água, ao longo deigarapés, em a.~aizais e ar;ingaisB um dos frequenta dores mais assíduos das"correições"de formigas. Ocorre do México à Bolívia e Paraguai, todaa Amazônia brasileira até o Mato Grosso (Xingu, altorio das Mortes), Goiás, oeste de São Paulo e Minas Ge-rais, leste do Pará e Maranhão.

I)PlRA-PARDA,

18cm. Amarelo-ocráceo mais escuro no peito e uro-pígi~; cabeça, asas e cauda negras; possui uma "dragona"branca que permanece escondida; faltaà fêmea a cor ne- .gra, o que a faz parecer um pequeno onus.Subadulto v. Morfologia. Habita a copa das árvores, ve-getação secundária aberta e palmais. Ocorre ao nortedo Amazonas, do Solimões ao Amapá substituindo aespécie que se segue. "Pipira-gritadora*".

Fig. 299. Pipira-parda, nio us, mostrando o dente.da maxila. Rio Paro, Pará. Original,H. Sick,

PIPlRA-DE-ASA-BRANCA,

Pr. 42, 7

16cm. Semelhante à espécie anterior, seu substitutogeográfico. Entretanto, possui o dente maxilar somenteesboçado. Centro do píleo e garganta esverdeados, co-berteiras superiores das asas extensamente brancas.Habita a mata ribeirinha. Ocorre do Peru e Bolívia àAmazônia' meridional, ao sul até o noroeste do MatoGrosso (Jamari) e Pará (Cururu, Tocantins). "Pipira-ba-rulhenta*".

TIÊ-GALO, Fig. 300

15,5 em, 19 g (macho). Espécie comum de vasta dis-tribuição, bem menor queT. s, de topete nucal.Totalmente negro com a garganta e uropígio pardo-ama-relados e píleo extensamente escada te sempre visível (aocontrário de . dragona meio escondida ecoberteiras inferiores da asa brancas. A fêmea e o ima-turo são pardos de garganta mais clara e fronteenegrecida. insignificante, "tchat" baixo; "tzâ, tzâ,tzâ, zititit". Vive na mata, nas copas, freqüentementeassociado a . luctuosus (Amazônia) e várias saíras,

spp. e às vezes também a. Ocorre dasGuianas e Venezuela à Amazônia, Brasil central (MatoCresse, etc.), litoral do Nordeste, leste ao sul até o lito-ral do Paraná. "Gurricha" (Pará). .

PIPIRA-DE-NATTERER*,

En

. Semelhante ao precedente sendo ainda maior e degarganta preta ao invés de amarela. [Conhecida apenasdo material tipo proveniente de Villa Maria (=Cáceres,

Fig. 300. Tiê-galo, c honus tus,macho.

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740 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

____~.,,~, "'ÃMa.to_ Grosso} e S~l,to. do ..GJra_o,_(;:;Jjr..s,.u),ríoGuaporé,Rondõnia, colecionado em 1828-9 pelo célebre natura-lista Johann Natterer e descrito em sua homenagem peloornitólogo austríaco A. von Pelzeln. Zimmer (1945) eRidgely & Tudor (1989) consideram esta forma como raçade entretanto as aves encontradas emRondônia e sudoeste de Mato Grosso são atribuíveis aT. (D. F. Stotz, Willis & Oniki 1990).]

TEM-TEM-DE-TOPETE-FERRUGíNEO,

15,5cm. Parecido com possui lado inferi-or totalmente negro exceto por uma nódoa amarela dolado do peito, flancos castanhos, píleo e uropígio: ama-relo-averrnelhados. Fêmea e imaturos. diversos daque-les de T. rufus, possuindo a cabeça cinzenta, uma áreaamarela ao redor dos olhos, o manto verde e o lado infe-rior pardacento ou esbranquiçado. fraco "si-si". Viveno sub-bosque baixo e médio dentro da mata alta, mui-tas vezes em bandos mistos de outros pássaros. Ocorredas Guianas e Venezuela aos rios Juruá e Tocantins, re-gião de Belém e Maranhão. "Pipira", "Pipira-da-guiana "",

TEM-TEM-DE-DRAGONA-VERMELHA,

phoenicius

15,5cm. Negro sedoso uniforme com as coberteirassuperiores pequenas mais internas das asas brancas comalgumas penas vermelhas, formando um sinal, ocultoquando a ave está em repouso. Fêmea de lado superiore lados" da cabeça pardo-anegrados, dragona ocultaferrugínea e partes inferiores acinzentadas mais escurasno peito. Vive em vegetação aberta, plantações às vezesao lado do tico-tico . Ocorre das Guianas eVenezuela ao Guaporé, Tapajós (Teles Pires, Mato Gros-so, no Cururu e serra do Cachimbo, Pará) e Araguaia(sudoeste do Pará). "Curió" (Pará), "Pipira-encontro-vermelho*".

TEM-TEM-DE-CRISTA-AMARELA,

15,5cm. Negro com o píleo e uropígio amarelos.Dragona branca semi-oculta, meio do lado inferior ama-relo-ferrugíneo. Ocorre no [uruá, Javari (Amazonas) epaíses ~djacentes. "Pipira-de-crista-amarela=".

TEM-TEM-DE-DRAGONA-BRANCA,

luctuosus

12,5cm. Menor representante. do gênero. Negro coma dragona branca bemvisível; fêmea de cabeça cinzen-ta, dorso verde-oliváceo e garganta esbranquiçada, pei-to e barriga amarelados lembrando um vireonídeo.o

suave, chamada lembra o canArio-do~iI].Q. Yivc~à,altu-ra média em beira de mata, às vezes ao lado dec isie . Ocorre das euianas e Venezuela à Bolívia eBrasil, Mato Grosso (rio das Mortes), Estado de Tocan-tins, leste do Pará (Belém) e Maranhão. "Pipira-de-en-contro-brancc?" .

TIÊ-PRETO, Pr. 42, 5

17,7cm, 29 g (macho). Ave típica do sudeste do Bra-sil, onde substitui T. com a qual se assemelha sen-do porém menos robusta. Píleo com uma mancha escar-late, em sua parte central, que permanece inteiramenteescondida quando não é eriçada. A fêmea assemelha-seà de T. rufus tendo porém um colorido mais sombrio: acabeça e o peito acinzentados, o pescoço anterior e opeito ligeiramente estriados. Os machos subadultos detodos os e durante algum tem-po, uma mistura da plumagem parda e negra que recor-da os . forte "gãb" semelhan-te a estrofe em e monóto-na de três a quatro sílabas como "tjôp-tjõp-tjo", "tzülí-tzuc, tzülí-tzuc", etc. que é repetida sem pressa. Habitaa orla da mata, capoeira, parques, etc. Perto do Rio deJaneiro é abundante na Serra do Mar, na ex-Guanabaramais freqüente no inverno. Ocorre do Espírito Santo aoRio Grande do Sul e sul de Mato Grosso do Sul, Para-guai eArgentina. Encontra-se comrufus, p. ex. no oestepaulista. "Gurundi" (São Paulo), "Azulão". Cria às ve-zes

PIPlRA-PRETA,

18cm. Comum no interior, muito semelhante à espé-cie anterior, seu substituto geográfico. Plumagem negrasedosa uniforme exceto pelas dragonas (que permane-cem ocultas) e coberteiras inferiores da asa e axilaresbrancas. A fêmea e o imaturo são pardo-ferrugíneos uni-formes mais claros nas partes inferiores. "wist-wist"(voando), "djãp" (principal chamada), "ia, ia, ia ..." lem-brando o pipilar de umpinte: o canto do macho dianteda fêmea é emitido a meia voz e assemelha-se ao dosanhaço. Vive à altura média e baixa, desce também aosolo. Em qualquer vegetação arbórea: fora da Amazô-nia, na orla de brenhas, periodicamente associado a ou-tros traupíneos comoT. , dendrocolaptídeos, etc.Ocorre da Costa Rica à Venezuela, Guianas e Peru. NoBrasil ao sul do Amazonas (entre Tapajós e Belém),Nordeste e Brasil central até Minas Gerais, São Paulo eMato Grosso do Sul. Paraguai e Argentina. "Encontro-de-prata".

TIÊ-DE-TOPETE, upis e s Fig. 301

17,5cm, 23 g (macho). Representante meridional etopetudo. O macho exibe sempre o amarelo-e~ofre ex-

i"!'lI

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~I

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THRAUPINAE 741

tenso do píleo que cóntrasta~eoI?}.uma.máscara.negra: . ... centro-de píleo amarelo.grosso "tsac", "tcha-tcha",dorso cinzento-oliváceo-escuro, asas e cauda negras; barülhento (chamada e advertência); assobios lembran-rêmiges com um singular padrão de desenhos brancos, do estrofes melodiosas em piano e um cantovisível apenas quando as asas estão abertas formando monótono diverso pela madrugada. Habita o sub-bos-uma faixa contrastante interrompida no meio valendo que dentro da mata escura, desce freqüentemente aocomo dois sinais de alarme em cada lado, em um total solo, acompanha formigas-de-correição (Espírito Santo)de4 listras muito perceptíveis. Lado inferior pardo-ama- tanto em família como associado a fumarídeos, etc. Ocor-relado. A fêmea sem negro na face e com pouco amarelo re do México ao norte da América do Sul e daí até a Ar-'no píleo, o imaturo sem o menor vestígio de topete ama- gentina, Paraguai e Bolívia. No Brasil ao sul do Amazo-relo. "tschic" (chamada, característica para a espé- nas, do Juruá e oeste de Mato Grosso até o rio Tocantins;cie); canto chilreado em andamento rápido lembrando de Pemambucoe do sul da Bahia ao Rio Grande do Sul.

É silvestre, vive a pouca altura em mataden- "Tangará" (Pãrá), "Tiê-da-rnata".V onus usesa, desce até o solo. Sociável, é um dos principais T. que são menos bicudos.freqüentadores de correições de formigas. Ocorre daBahia e Minas Gerais ao Rio Grande do Sul e Mato Gros-so do Sul, Argentina (Misiones), Paraguai, Bolívia ePeru. Na região do Espírito Santo e Rio de [arteiroabundante nas montanhas, alcança a ex-Guanabarano maciço da Pedra Branca. V que não temo branco na asa, etc.

Fig.301.TIê-de-topete, macho.

TIÊ-DO-MATO-GROSSO,

19,5'cm,40g. Espécie relativamente grande e comumde vasta distribuição. Possui um esboço de topete. Todaa plumagem é vermelho-apagada (parecendo marrom-fuligem na sombra da mata) exceto o píleo que é escar-late reluzente. A fêmea e o imaturo são pardos unifor-mes sendo que a primeira, quando adulta, apresenta o

/

SANHAÇO-DE-FOGO, Pr. 42, 3

17,Scm, 38 g (macho). Espécie de vasta distribuição,notável pelo colorido vivo e acentuado dimorfismo se-xual. O macho é quase totalmente carmim, cambiandopara pardacento nas partes superiores; a fêmea é de ladoinferior amarelo vivo; o macho imaturo é de plumagemmista verde e laranja permanecendo assim por um ano.

forte "tchíp", "tcháp", "tcherit" (chamada):estrofemelodiosa embora pouco variada, p. ex.,"djib-djülodjülo djib" (canto). Pousa abertamente no topo de árvo-res altas (em contraste com desloca-se emvôo impetuoso na altura das copas. Vive na mata rala edecídua, cerrado e capões de eucalipto. Expande suadistribuição na faixa litorânea do Brasil beneficiada peladevastação das matas. Ocorre do sudoeste dos EUA eMéxico àAmérica do Sul setentrional e daí até a Bolívia,Argentina, Uruguai, exceto na Amazônia florestal. "Ca-nário-do-mato", "Queima-campo". Cria às vezes

Substituto meridional da espéciemencionada a seguir. V as três espécies descritas a se-guir, e as fêmeas de e Euco isque vivem mais escondidas.

SANHAÇO-VERMELHO*, VN

16,Scm. Semelhante à anterior, ambos os sexos sãomelhor caracterizados pelo bico amarelado em vez denegro e cinzento como o do anterior. O macho imaturoestá mesclado de vermelho e verde. Registrada no A-mazonas (rio Negro, dezembro, e rio Madeira); é o

dos norte-americanos.

SANHAÇO-ESCARLATE*, VN

[16,S-17,Scm.Conhecida no Brasil a partir de dois re-.gistros (dezembro de 1984 e 1987) nos arredores deManaus, Amazonas (Stotzet 1992):Esta espécie oriun-da do hemisfério norte invema principalmente nas bai-xadas floréstadas do sopé oriental dos Andes, onde setoma abundante especialmente no sudeste do Peru(Ridgely & Tudor 1989, Stotzet . 1992).

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742' ORNITOLOGIA BRASILEIRA

. , .=' SANHAÇO-DE-ASA-BRANCA *,

I4cm. Vermelho, mascarado com as asas e a caudanegras e com duas faixas brancas em cada asa; a fêmeaéamarelo-esverdeada, reconhecível também pelas faixasalares. Ocorre nos Andes e seus .contrafortes, daVenezuela à Bolívia; no Brasil, em Roraima, também naAmérica Central.

PIPlRA-DE-MÁSCARA,

I8,Scm. Existente apenas no alto Amazonas, asseme-lha-se a R. distinguindo-se porém pela máscarae dorso negros. diferente daquela das espécies se-guintes do gênero. Vive na mata cerrada e baixa. Ocorreno oeste do Pará, Amazonas e países adjacentes.Simpátrica comR. em certas áreas.É consideradacomo o representante que mais se aproximaria à supos-ta forma ancestral do gênero.

PIPIRA VERMELHA,

LScm, Substitui a seguinte no Brasil central e na A-mazônia, como forma alopátrica ou semi-espécie. Colo-ração geral negra veludosa cambiando para o purpúreoparticularmente na garganta e peito; base da mandíbulaintumescida e esbranquiçada no macho parecendo comoque fosforescente. A fêmea se assemelha àquela deR.

sendo, em geral, mais escura e com as partesinferiores tendendo mais nitidamente para o vermelho.

"gâib", "tschik", "spit" (chamada advertência); se-qüência de assobios suaves"pse-bit,pse-bit, pse-bititit"repetida (canto, emitido sobretudo de madrugada, lem-bra o chilrear correspondente domeia dúzia, ou mais de indivíduos se reúnem gritandoveementemente um "tchik", Vive na vegetação ribeiri-nha, capoeira baixa; no baixo Amazonas costuma ser aespécie mais abundante, influindo consideravelmentenesta impressão o hábito de viverem em pequenos gru-'pos (v. Vocalizaçãoj.Ocorre das Guianas e Venezuela àBolívia, Paraguai e Brasil amazônico estendendo-se paraleste até Piauí e para o sul pelo Brasil central até o oestedo Paraná e sul de Mato Grosso do Sul. "Bico-de-pra-ta", "Pipira-de-prata", "Pipira-de-papo-vermelho", "Pe-pita", "Chau-baêta" (Mato Grosso). Cria

.

TIÊ-SANGUE, EnPr. 42, 1

19cm,31 g (macho). Uma das mais espetaculares avesdo mundo, endêmica do Brasil oriental. A soberba plu-magem rubro-negra do macho só é adquirida no segundoano de vida. Fêmea pardacenta. Distintivo importante dogênero, e que ocorre exclusivamente no sexo masculino, éa calosidade branca reluzente da base da mandíbula. Ma-

t'fí'Õ'ímafufô se-melhàrité' à têIhea r;.?"pi;I~a'g~;;~as de"

bico totalmente negro e não pardocorno ela. duro"jep", "jip", "ist", "sst-sst" (chamada, advertência); gor-jear melodioso e trissilábico, soa como "djüle-djüle-djüle", repetido sem pressa (canto); palrar rouco e rápi-do de alguns indivíduos juntos. Habita a capoeira bai-xa, -restinga, plantações, etc. Ocorre da Paraíba a SantaCatarina; na região do alto rio Doce (Minas Gerais) cru-za com (v. sob Distribuição e evolu-ção). "Sangue-de-boi", "Tiê-fogo", "Tapiranga" (Bahia).Cria freqüentemente V. a fêmea de

que é menos robusta, possui cha-mada semelhante e ocorre freqüentemente nos mesmoslocais. [Os registros recentes para Misiones, Argentina(p. ex. Hoy 1976) devem ser criticamente avaliados. Aausência da espécie no oeste do Paraná e o fato de serhabitualmente/apreciada por colecionadores tornam es-ses registros extra-brasileiros potencialmente baseadosem indivíduos escapados do cativeiro(F. C. Straube, J.F. Pacheco).]

SANHAÇO-DA-AMAZÔNIA, episcopus

16,Scm. Muito parecido com as duas espécies men-cionadas adiante tendo, porém, a dragona branca oubranco-azulada. chilreado alto, estridente, mais pa-recida à de Vive na capoeira baixa, planta-ções, vegetação aberta e palmais. Abundante na Ama-zônia. Ocorre das Guianas e Venezuela ao sul do Ama-zonas até o rio Juruá, Belém (Pará) e Maranhão. "Saí-açu", "Sanhaço-azul*". Substituto geográfico da espé-cie seguinte.

SANHAÇO-CINZENTO,

17,Scm, 42 g (macho). Um dos pássaros mais abun-dantes do Brasil oriental. Cinzento ligeiramente azuladocom as partes inferiores um pouco mais claras; dragona,bordas das rêmiges e retrizes azuis esverdeadas poucodestacadas (no que diverge de . "djüõ","tchüit", "tchiã" (chamada); cadência descendente depios bem pronunciados em parte melodiosos e suavesterminando, freqüentemente, por um longo pio ascen-dente (canto). Quando um macho apronta-se para agre-dir outro, seu canto torna-se rouco e monótono asseme-lhando-se àquele de Vive nas árvores emqualquer lugar, tanto em campos ou áreas de cultivo dointerior como em cidades (centro do Rio de Janeiro, BeloHorizonte, etc.). Ocorre no Brasil oriental e central, doMaranhão ao Rio GrandedoSul, Goiás eMã'tà Grosso;Bolívia, Paraguai, Argentina e Uruguai, Venezuela eColômbia: Cria às vezes Localmen-te ao lado de ou freqüentementejunto com . "Saí-açu", "Sanhaço", "Sanhaço-cinza:". Substituto meridional de .episccpus,tem vo-calização significantemente diferente.

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THRAUPINAE 743

.., . SANHAÇO-DE-ENCqNFRO-AZUL, upis ....-...=-En Pr. 41,10

18cm, 43 g (macho); extremamente parecido com oanterior, do qual difere pela dragona azul brilhante epelas bordas das rêmiges também azuis vivas, maiscontrastantes. chilreio rápido e um tanto rouco, lem-brando estrofes mais baixas e melodiosas,

. lembrando Vive na capoeirae à beira da mata. No Espírito Santo e Rio de Janeiro émais comum nas regiões serranas, onde vive localmen-te mais ou menos ao lado de T. epalinarum (v. introdução sob o item Alimentação). Maisrobusto do queT ao qual enxota quando se en-contram (Petrópolis, RJ). Ocorre do centro-sul da Bahiae do Espírito Santo ao Rio Grande do Sul e Paraguai."Sanhaço-da-serra'"'. -

./

SANHAÇO-DE-ENCONTRO:-AMARELO,

En

18cm. Espécie meridional facilmente identificável;azul-acinzentada bem escura com as coberteiras superi-ores médias das asas amarelas. O imaturo é um poucomais escuro queT Voz: "zuit" (chamada); cantorápido e forte, semelhante ao de. sendo po-rém a estrofe mais curta; às vezes emite estrofes pene-trantes como "tzchlit", tchit, tchit...", "klã, klâ, klã, klã".Vive à beira da mata e da capoeira; na região serrana doRio de Janeiro é a espécie mais comum, às vezes encon-trada ao lado das duas anteriores. No inverno apareceem número reduzido na ex-Guanabara, sendo que re-gistramos no mesmo período decréscimo na popula-ção das serras do Espírito Santo. Ocorre da Bahia a San-ta Ca tarina. Cria às vezes"Sanhaço-de-encontros", "Sanhaço-rei*".

SANHAÇO-DO-COQUEIRO,

Pr. 41, 11

18cm. Espécie amplamente distribuída e geralmentemuito ligada à presença de palmeiras.É inconfundívelpelo colorido inteiramente esverdeado com o dorso cam-biando para o cinzento-sépia. metálico "tziâp": can-to esganiçado, impetuoso e pouco variado, sem "saltos"apreciáveis, nitidamente mais forte do que aquele deT

e bem menos melodioso. No topo de árvores iso-ladas, de preferência palmeiras. Aprecia pousar na pon-ta dos brotos destas para cantar. Da Costa Rica e Norteda América do Sul à Bolívia, Paraguai e Rio Grande doSul (todas as regiões do Brasil)."Saí-açu-pardo" (P.A).Cria às vezes .

SANHAÇO-PAPA-LARANJAS,

18cm. Representante meridional de colorido berran-te; cabeça e asas azuis, dorso negro, uropígio e peito Ia-

ranja e abdômen amarelo mais claro. Pêrneg bemd~~.<, .rente, verde-pardacenta de lado inferior mais claro; semdistintivos especiais, é difícil a sua identificação na au-sência do macho. Macho imaturo de píleo azulado e u-ropígio e lados inferiores amarelados. seqüênciasimples "tzli-zi, tzli-zi, tzli-zi" não acelerada (canto); demadrugada emite vocalização mais complexa emboratambém estereotipada "zip, zíp, zip-zjüli" repetida in-cansavelmente em ritmo ligeiro; mudam freqüentementede pouso e executam perseguições intra-específicas.Mata de galeria, capões. Do Paraná (nidificando, P.Scherer Neto) à Argentina e Paraguai; Chile ao Equa-dor, seguindo osAndes. "Papa-queijo" (SC), "Papa-amei-xa" (SC), "Sanhaço-amarelo*".

PIPIRA-AZUL,

18,5cm: Existe apenas na Amazônia setentrional.Espécie de bico grande, azul escura, de barriga ama-rela, íris amarela. A fêmea é azul esverdeada nas par-tes superiores. Vive nos topos das árvores frutíferasda terra firme juntando-se com outros traupíneos, voarapidamente entre as copas (Silva& Willis 1986).'Ocorre das Guianas ao rio Negro (Manaus) e A-mapá (Serra do Navio, Grantsau 1985), Borba (rioMadeira). .

SANHAÇO-FRADE, d e

19cm, 41,5 g (macho). Grande representante meridi-onal. de grosso bico lembrando um Cardinalinae etopetudo. Azul-púrpureo-escuro, face negra, píleo es-branquiçado com carmim no centro. Fêmea mais páli-da, imaturo cor de fuligem podendo lembrar aquele de

"quatt", "pitz" (chamada);canto melodioso, variado, piano ou forte; lembra o can-to de um cardinalíneo como n b issonii.Vive aoscasais, na densa mata baixa como nos cumes das serras,p. ex., do Caparaó e ltatiaia (acima da linha das florestasaltas), onde é uma das aves mais típicas. Ocorre do Es-pírito Santo e Minas Gerais ao Rio Grande do Sul (nonorte de sua distribuição restrito às regiões montanho-sas), Uruguai,Argentina e Paraguai. "Cabeça-de-velha","Frade" (RS), "Azulão-da-serra" (SP).

VIÚVA, Pr. 42, 4

15cm. É inconfundível pelo brilhante azul-claro doaltó da cabeça, pela máscara negra e pelo amarelo-ferrugíneo das partes inferiores. A fêmea e o imaturosão semelhantes, porém mais pálidos com a máscaraapenas esboçada ou ausente. "tzi" (chamada), lem-brando uma saíra; canto: seqüência bem rápida e monó-tona de seis a oito pios agudos e muito altos "si, si, si ..."podendo lembrar aquele de (Emberizinae);gorjeio variado lembrando o Canto primaveril de um

-o"

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744. ORNITOLOGIA BRASILEIRA

sabiá. Vive aos casais na-copa da:m.ataiire.qüenta tam-bém restingas.Ocorre da Bahia e Minas Gerais ao Riode Janeiro, Rio Grande do Sul, Uruguai, Argentina,Paraguai e, seguindo as encostas dos Andes, ao no-roeste do Amazonas e Venezuela. "Gaturamo" (RJ),"Saíra-viúva *".

dos(13 espécies) e

/

1. Lado inferior amarelo ou amarelado:1,1. Lado inferior amarelo puro, também a gargan-

ta: e E.1.2. Lado inferior amarelo com ondulação esverde-

ada, garganta branca:1.3. Cabeça e pescoço anterior verde:

(Pr.42, 2).1.4. Lados da cabeça e garganta negros, boné azul:

1.5. Cabeça, garganta e pescoço anterior negros oucinzento-azulados, respectivamente:

e .1.6. Cabeça e garganta negras, fronte ou fronte e

píleo amarelos: E.E. E. (Pr. 41,3) e E.

2. Lado inferior sem amarelo, exceto uma área ao ladodo peito.

2.1. Garganta ao peito negros, barriga castanha:(Pr. 41, 4).

2.2. Todo lado inferior negro: .

GATURAMO-ANÃO,

9cm, 8,8g. Representante miúdo de lado superior,, garganta e pescoço anterior cinzento-escuros azulados,o resto do lado inferior amarelo-alaranjado; fêmea decostas verdes. dois a três assobios ascendentes; cantabem. Vive na mata alta de terra firme, copa das árvores,às vezes em fruteiras baixas fora da floresta. Ocorre dasGuianas eVenezuelã a Manaus (Amazonas) e Amapá.

FI-FI VERDADEIRO, VIVI,

Pr. 41, '3

9,Scm,8 g (macho). Espécie mais conhecida do gêne-ro junto com Pequeno, lembraE.

tendo também a garganta negra mas seubico é mais fino e o amarelo do píleo mais claro e maisrestrito. Tem nódoas brancas nas duas retrizes mais ex-ternas de cada lado. Fêmeaverde-oliváceà, de fronteamarelada e ventre freqüentemente branquicento.penetrante "di-di", "wi" (chamada de ambos os sexos ediagnóstica da espécie); suave "telüd-telüd": canto fra-co, chilreado rápido podendo lembrar o de umpintassilgo,' Habita a mata baixa e rala, cerra-

" do, caatinga, ;~ocatS"e'matas serranas (Sudeste do Bra-sil). Ocorre 'na maior parte da porção setentrional daAmérica do Sul para o sul atéóUruguai, Argentina, Pa-raguai e Bolívia. Em todas as regiões do Brasil. As po-pulações nortistas de tamanho mais reduzido(totalvcm)."Vem-vem", "Gaturamo-miudinho", "Gaturamo-fifi*".Ocorre no sul às vezes ao lado deE. e E.

GATURAMü-CAPIM*,

[lDcm] Lembra E. mas suas retrizes nãopossuem branco. [Habitante das florestas de galeria dolavrado de Roraima, onde ocorre inclusive na EstaçãoEcológica de Maracá(D. F. Stotz), Assinalado tambémpara as três Guianas e sudeste da Venezuela.]

GATURAMO-VERDADEIRO,

12cm, 15g (macho). O mais popular e apreciado comopássaro canoro dentre todos os do gênero. Relativamentegrande, de lado superior negro com forte brilho azulego,píleo anterior, lado inferior, e também a garganta, ama-relo-escuros. As duas retrizes mais externas de cada ladocom grande nódoa branca. Vexilo interno das secundá-rias com branco que permanece normalmente oculto.Fêmea verde-olivácea-escura com a fronte e partes infe-riores mais claras. "quâ", "chüit", "slit", "gâb, gâb,gâb", "sprrr", (chamada); canto, um gorjeio persistentede ritmo rápido incluindo, por vezes em número bemconsiderável, imitações de outras aves do local; no Riode Janeiro de preferência suiriri, teque-teque

sabiá-laranjeira,pardal e gavião-carijóbentevi-grande e pequeno e

risadinha andorinha-serradorapula-pula ,

sanhaço-cinzento ebico-de-lacre: no Jardim Botânico doRio ouvimos imitados ainda o periquitoo papa-taoca e o tangará , nasmatas .do Corcovado o arapaçu-liso osabiá-coleira e o tiê-sangue. Em Santa Teresa, no Rio,registramos a imitação do impressionante canto notur-no do tico-tico. No alto Xingu, Mato Grosso, são arre-medadas espécies típicas daquela região, como bico-de-agulha urubuzinho , araçari, tu-cano e uirapuru-cigarraGeralmente o gaturamo não destaca as imitações, exe-cutando-as em seqüências ininterruptas; apenas quan-do começa a cantar separa os arremedos podendo enga-

. nar osouvintes.i-.Habita a orla da mata, fruteiras em plantações, árvo-

res densas em parques, etc., mais freqüente na Amazô-nia. Ocorre das Guianas e Venezuela ao Rio Grande doSul, Misiones e Paraguai. "Guiratã" (fêmea da espécie,Rio de Janeiro), "Guipara" (idem, Catarina), "Guiratã-de-coqueiro" (Pernambuco). "Tem-tem-de-estrela",

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THRAUPINAE 745

~'Gaturamo-itê". Talvez possa ser considerado substitutogeográfico oriental de E. V E. -

GATURAMO-DE-BICO-GROSSO,

I2,Scm. Dotado de bico bem' grosso. Mais robustodo que à qual se assemelha bastanteno colorido faltando-lhe, também, o negro na garganta;o amarelo do píleo se estende até atrás dos olhos; a po-pulação do alto Amazonas (luruá, Madeira:E.

não possui branco nas retrizes. rouco"chrü" e vários outros assovios; também um "di-di",lem-brando certos congêneres; canto, gorjear variado, às ve-zes executa imitações. Habita a mata decídua. Ocorre daCosta Rica à Venezuela, alto Amazonas, Brasil central (riodas Mortes, Mato Grosso) e Bolívia. "Caturamo-bicudo?",

CAIS-CAIS,

I2,Scm. Restrita ao sul do país, é uma das maioresespécies do gênero. Possui bico surpreendentementegrosso e alto. O lado superior e a garganta anterior azuisde singular brilho esverdeado; a fronte e o resto do ladoinferior amarelo-fosco. A fêmea é parecida com a de E.

porém, com as coberteiras inferiores da caudaverdes como os flancos. lembra a de E. ocanto é emitido em andamento rápido semelhante a umpintassilgo sendo um tanto monótono e, ge-ralmente, sem imitações. Destacam-se sílabas como"cais-cais". Vive na copa da mata. Ocorre do Rio de Ja-neiro (região serrana, Teresópolis) ao Rio Grande do Sul,Misiones e Paraguai. No Rio de Janeiro encontra-se àsvezes ao lado de E. e E. ..

GATURAMO-REI,

11cm. Único gaturamo de boné azul-claro; máscara,garganta e manto negros com reflexos azulados, uropí-gio e lado inferior amarelo cambiando para o caramelo;fêmea verde, também com o boné azul e fronte ocrácea;imaturo de píleo verde, reconhecível pelo bico peque-no, típico da espécie. cheia e um pouco rouca, lentoõt-ôt-õ (característica da espécie); canto chilreado em

andamento rápido, misturado com pios mais fortes"tâtãtã" etc. Vive à beira da mata alta ou baixa. Ocorrede Trinidad e Venezuela até a Bolívia, Argentina e Para-guai; no Brasil ao norte do baixo Amazonas, da Bahia eMinas Gerais ao Rio Grande do Sul e Mato Grosso doSul. "Bonito-canário", "Bonito-fogo" (SP). Ocorre às ve-zes ao lado de ou . VEuphonia rufiuentris e E.

GATURAMO-VERDE,

11cm, I2g. Lado superior verde-escuro reluzente,occiput e nuca cinzento-escuros, loro ementa brancos: o

resto-do ladesinferior .amarelo-esverdeado: peito com' '.,:c;-

desenho de faixas transversais. A fêmea é parecida como macho, mas tem o centró do lado inferior cinzento.Habita a orla da mata, desce a arbustos frutíferos. Ocor-re do norte da América do Sul à Bolívia, no Amapá e nosrios Madeira e Roosevelt (Mato Grosso). Às vezes aolado de E. e E. . "Gaturamo-de-barriga-amarela*".

GATURAM0-DE-BARRIGA-BRANCA,

8,Scm. Espécie amazônica muito semelhante a E.sendo contudo ainda menor. Apenas com a

fronte amarela sendo o abdômen e os calções brancos,as três retrizes externas em cada lado com mancha branca

apenas duas). Fêmea verde com o peito ama-relo-oliváceo, garganta e abdômen branco-acinzentados.

assobio alto e repetido (chamada); chilreado pouconotável (canto). Movem a cauda lateralmente de manei-ra muito característica, exibindo o macho, neste gesto, obranco que possui (e que falta à fêmea) nas retrizes ex-ternas. Vive à beira da mata e plantações arborizadas.Ocorre do México à Bolívia e Brasil no norte do MatoGrosso (Xingu) e leste do Pará (Belém). "Caturamo-azul?".

FI-FI GRANDE,

10,Scm. De garganta negra como E. tendoporém o bico mais robusto. Píleo totalmente amarelo,barriga amarelo-laranja; apenas a retriz mais externa comnódoa branca bem visível de baixo. Fêmea verde-olivácea com a fronte amarelada, nuca e os lados inferi-ore,spardo-acinzentados. nasal "bo-bo(-bo) um pou-co menos sonora do que a de E., e mais li-geira (chamada); rouco "escht, escht.echt", "giia", "sui""bitz" fino como a deCoe canto chilreado. Vive namata e à beira de rio. Ocorre do Panamá ao alto Amazo-nas (rio Tapajós inclusive) e Bolívia; da Bahia e MinasGerais a São Paulo. No Sudeste do Brasil às vezes aolado de E. V. também E. e E.

ê "Ga turamo-de-barriga -Iaranja","Gaturamo-dourado*" .

GATURAM0-00-NORTE,

11cm.É encontrado apenas na Amazônia, onde apa-rentemente substitui E. e E. ensis (v. figo29S). Lado superior, incluindo píleo 'e fronte, negr0~'"azulados assim como a garganta e pescoço anterior; bar-riga amarelo-ferrugínea, lados do peito amarelo-ourolembrando as duas espécies que mencionamos a seguir.A fêmea é parecida com a de E. tendo porém ocrisso pardo-amarelado. suave "bi-bit-bit" (casal aolado do ninho); canto suave e melodioso. Vive na mata

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746 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

~f::-'-:r al,~'l..Ocorre da Vene~uela ao altoAmazonas,Tapajós eXingu (Mato Grosso) eBolívia. Visto por baixo asseme-lha-se à "Gaturamo-serrador*".

FERRO-VELHO, Pr. 41, 4

lI,5cm, 16,5 g (macho). Bem conhecido no Sudesteonde substitui E. e E. tendo comoelas notável tufo amarelo berrante ao lado do peito, di-ferindo delas pela barriga castanha. A fêmea é semelhan-te àquelas das espécies E. e E. ,tendo porém apenas a região central das partes inferio-,res cinzenta, As coberteiras inferiores da cauda casta-nhas. forte e metálico "schri, schri, schri" ("serra-dor") lembrando E. "tchülü ..." (chamada);canto, um gorjear um tanto rouco, às vezes com imita-ções não repetidas. Vive na copa de árvores em mataalta. Ocorre no Paraguai, Misiones, Brasil central e ori-ental, da Bahia e Minas Gerais ao Rio Grande do Sul,sul de Goiás e Mato Grosso (Rio das Mortes, alto Xingu)."Tieté", "Gaita", "Serrador", "Alcaide", "Gaturamo-rei"(Minas Gerais). No alto Xingu entra em contato comE

V. também a fêmea de E, e E,

Aparentemente (chamada tambémconhecida apenas por um exemplar

(do Rio de Janeiro 7), é um híbrido entre E. e E..

GATURAMO-PRETO,

lI,3cm. Substitui E. no norte do baixo A-mazonas e leste do Pará eE na Amazônia (v. .figo295). Totalmente azul-aço, exceto os lados do peitoque são arnarelo-alaranjados como nas duas espéciessupracitadas; lado inferior das asas branco-resplandescente. A fêmea é semelhante à deEmas com as coberteiras inferiores da cauda cinzentascomo a barriga. baixo "tche, tche, tche" semelhantea E. suave "si-si" bem menos estridente que oemitido por E. Movimenta lateralmente a cau-da comot. Vive na copa das árvores, Ocorredas Cuianase Venezuela ao baixo rio Negro (Manaus,Amazonas), Amapá, Pará (Belém) e norte do Maranhão.É relativamente rara na Amazônia brasileira.

BONITO-DO-CAMPO,

Pr. 41, 2

lO,8cm,13,3g (fêmea). Espécie pequena de cauda cur-ta, bem conhecida por passarinheiros no Sudeste: Facil-mente reconhecível por um anel berrante azul ao redordos olhos e por um colar da mesma cor no pescoço pos-terior; barriga amarela (macho) ou esverdeada (fêmea).

assobio melodioso descendente õ que chamabastante a atenção; pios suaves "hütü, tü, tü","tjãt" etc.,

voando "wüit"; canto: palrar baixo. Vive '~f,-ge~rada!Dat.a.,regiões serranas e baixadas, geralmente nas copas dasárvores, em famílias e associado a saíras. Ocorre da Bahiae Minas Gerais ao Rio Grande do Sul, Misiones e Para-guai; segue os Andes da Bolívia até a Venezuela e Guiana."Bandeirinha" (tem as cores da bandeira brasileira),"Canário-assobio" (SC), "Gaturamo-filó", "Gaturamo-bandeiras". Na ex-Guanabara às vezes ao lado de E,

.

CAMBADA-DE-CHAVES, COLEIRG-DE-BANDO,

13-14,2cm, peso do representante austral 26g. Muitosociável e de ampla distribuição. Lado superior negroexceto por uma faixa azul que atravessa o píleo ~ o uro-pígio, lados da cabeça, garganta até o peito e coberteirassuperiores das asas azuis, O representante meridional,chamado de "cambada-de-chaves", n e

, é nitidamente maior que as formas amazô-nicas . , entre outras raças), chama-das de "celeiro-de-bando", que, além de sensivelmentemenores, possuem as partes azuis mais vivas e abdô-men amarelo e não branco como o dos primeiros.altíssima e estridente "tzri", "tsic" repetido, lembrandoo trissar de morcegos, que chama a atenção. Sempre emgrupos de SaIO no topo da mata, capoeira e plantaçõesarborizadas. Da Guiana e Venezuela à Amazônia, Bolí-via, norte do Mato Grosso (alto Xingu), leste do Pará eMaranhão; da Bahia ao Rio de Janeiro; apesar do nomenunca foi encontrada no México."Saíra-de-bando?".

SETE-CORES-DA -AMAZÔNIA, chilensis

13,Scm.É notável pelo capuz verde-claro de penasendurecidas e espatuladas, manto negro, dorso posteri-or e uropígio vermelho ou alaranjado, garganta azul-escura, resto do lado inferior azul-turquesa, abdômennegro. assobiar finíssimo "tzilip, tchip, tchip ...";seqüências prolongadas (canto) lembrando um sagüi,

demostrando que os pássaros maispolicromos têm uma vocalização pouco melodiosa. Viveà média altura na mata, sobretudo na de várzea, abun-dante p. ex. no Amapá e no Acre. Ocorre das Guianas eVenezuela ao alto Amazonas, rios Negro, [uruá eGuaporé, além do noroeste do Mato Grosso. Apesar donome jamais foi encontrada no Chile, "Saíra-paraíso*".

PINTOR-VERDADEIRO, En Am

13,Scm. Endemismo notável do nordeste do Brasil,assemelha-se a T.seledon,tendo, porém, não apenas odorso posterior e o uropígio alaranjados, mas tambémas bordas das secundárias mais internas e as coberteirassuperiores da cauda, conjunto que, visto de lado, apare-ce como um triângulo amarelo berrante na base ?a cau-

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THRAUPINAE 747'

da; cabeça e pescoço de cor azul-turquesa, faltando ~colar verde reluzente deT. se retrizes negras debordas laterais azuis. "it-it-it-it" (briga entre ma-chos). Restrito ao litoral nordestino da Paraíba, Pernam-buco e Alagoas, já figurava no trabalho de Marcgrave(1648) como "tangará". Muito estimado pelos passarí-nheiros, era ainda freqüente em 1974 no comércio clan-destino de aves. Sua perseguição sistemática, contudo,já parece constituir problema notando-se um nítidodeclínio da espécie nestes últimos anos. A situação é ain-da mais problemática dada a sua restrita área de ocor-rência, "Saíra-pintor'".

SETE-CORES, seledon Pr. 41, 9

13,Scm, 18g.É um dos representantes mais abundan-tes do gênero no Sudeste. Facilmente reconhecível peloslados do pescoço verde-amarelados reluzentes e pelo u-ropígio laranja berrante. A fêmea é mais pálida; ao ima-turo falta a cor vivà do uropígio, etc. insignificante"tzri", estridente "tzíe", "tcheít", "tzük". Tem um cantode crepúsculo, forte trissilábico descendente. Vive embandos no topo das árvores tanto das baixadas quentes(onde é mais abundante) como das regiões serranas, sãovistos freqüentemente exemplares em plumagem mo-desta. Ocorre da Bahia e Minas Gerais ao Rio Grande doSul, Misiones e Paraguai. Associa-se a

s ete. "Saíra-de-bando", "Saíra-de-sete-cores*".

SAÍRA-MILITAR, SAíRA-LENÇO,

P. 41, 7

13,Scm.É inconfundível pela área escarlate ("lenço")dos lados da cabeça e do pescoço posterior. A fêmea émais pálida, tem as costas estriadas de verde. O imaturonão tem o lenço vermelho. fino "bst", agudo "zit-zit-zit": chilro rápido (canto). Habita a beira da mata,freqüentemente associada com a espécie anterior e nasmontanhas, com Ocorre do Ceará ao RioGrand~ do Sul, Misiones e Paraguai. "Soldadinho", "Saí-de-bando", "Saíra-fogo".

SAíRA-LAGARTA, En

13,Scm. .Montícola como a espécie seguinte. Frontenegra, zona azul-celeste em tomo dos olhos, pescoço an-terior e peito amarelado; destaca-se uma nódoa negrana garganta posterior. Resto do corpo verde comestriação negra nó dorso. agudo "ziâ", "zi, zi, zi","zirrr", "zip" sendo estes pios repetidos como canto àsvezes por alguns indivíduos juntos. Vive na capoeira ena mata. Ocorre do Espírito Santo ao Paraná e SantaCatarina, também em Minas Gerais (Serra do Caraça,em companhia de . "Saíra-da-serra".

:.:" DOtJRADINHA, En

13,Scm, 20g. Cabeça amarela, fronte e garganta ne-gras, peito azul, dorso estriado de preto e amarelo, bor-da das rêmiges e retrizes verdes. Esta saíra é mais abun-dante em regiões montanhosas (p. ex. do Rio de Janeiro)onde ocorre ao lado da espécie precedente à qual se as-semelha. Da Bahia e Minas Gerais a São Paulo. "Serra"."Saíra-douradinha "'.

SAÍRA-DURO,

13,Scm. Espécie do alto Amazonas; verde com más-cara e manchas do manto negras; píleo, uropígio e meiodas partes inferiores amarelo-ouro. Fêmea de píleo europígiomaculados de negro e verde. Vive à altura mé-dia em mata de várzea, ao lado de T.chilensis.Abundan-te, p. ex., no Acre. Ocorre da Colômbia ao Solimões,Purus e Bolívia.

NEGAÇA, Pr. 41, 6

12cm. Representante amazônico relativamente pe-queno, plumagem dotada de aparência escamosacontrastante, desenho incomum. em traupíneos; lorosnegros. Habita a copa das árvores. Ocorre das Guianase Venezuela até a margen setentrional do baixo Amazo-nas, área de Belém e Maranhão; também Equador e Bo-lívia. V as duas seguintes. "Saíra-negaça"".

SAÍRA-PINTADA *,

[13,Scm] Verde manchada de negro como a anterior,fronte e anel ao redor dos olhos amarelo-ouro. [Repre-sentante montícola dos andes colombianos e venezue-lanos e região do Pantepui. Também assinalado emTrinidad, Suriname, Panamá e Costa Rica. No Brasil re-gistrado apenas em Roraima no Cerro Uei-Tepui (Phelps& Phelps 1962) e Serra Parima (Novaes 1965).]

SAÍRA-DE-BARRIGA-AMARELA ".

[12cm] Também de coloração verde manchada de ne-gro como T.punc manto com bordas azuis e meio doabdômen amarelo. [No Brasil nas florestas da Alta A-mazônia, a oeste do Negro e Purus, com registros tam-bém para a região fronteiriça de RoraimajVenezuela,anel!'! ..uma raça mon tícola particular ocorre: ng

g s phelpsi(phelps & Phelps 1962). Considera-da a saíra mais abundante das encostas dos Tepuis(Ridgely & Tudor 1989), sua ocorrência no restante dadistribuição brasileira pare'ce ser local e incomum. Ocor-re tanto nas copas da floresta de terra firme quanto davárzea, como p. ex. na Estação Ecológica Mamirauá,

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748 ORNITOLOGIA BRASILEIRA

"1: rnédíe-Solimões, onde é aparentemente rara (J. F..ePacheco). Adicionalmente registrada para a Venezuela,

Colômbia, Equador, Peru e Bolívia.]

SAíRA-CARIJ6,

llcm, lOgo Espécie amazônica bem pequena, verdereluzente, pintada de negro nas partes inferiores. Lorosnegros, asas e cauda azuis, semelhante à fêmea de

(que é maior e tem bico mais pontudo). Ocorredas Guianas e Venezuela aos rios Negro e Tapajós(Cururu, Pará).

SAÍRA-DE-CABEÇA-CASTANHA,

13,5cm. Representante amazônico inconfundível pelocastanho da cabeça, o resto da coloração varia muito ge-ograficamente. No Brasil ocorre a forma de lado inferi-or e uropígio azul vivos. assobios de tom singular-mente plangente. Beira de mata, freqüentemente a pou-ca altura. Da Costa Rica e Guianas à Bolívia, Guaporé,sul e nordeste do Pará (Serra do Cachimbo e Belém res-pectivamente). "Saí".

SAÍRA-AMARELO, Pr. 41, 8

14cm. Espécie facilmente reconhecível embora exis-tam raças bem diversas. Predomina a cor amarelo-pra-teada; possui máscara negra a qual, nas populações do-Brasil oriental e central, se estende à garganta e em umafaixa mediana em todo o lado inferior; a fêmea é maispálida e sem qualquer preto. lembra a decanto: chilreado monótono e rápido, sussurrante e pro-longado, parecendo como que um coro de diversos in-divíduos; localmente (Piauí) chama a atenção por umagudo "psiii" que lembra o alarme de certos sabiás. Vivena capoeira, cerrado, quintais, etc. Nas cercanias do Riode Janeiro é comum em regiões serranas. Ocorre das Gui-anas e Venezuela à Amazônia, Brasil central e Nordesteaté o Paraná e Paraguai. "Saí-amarelo", "Saíra-de-asas-verdes", "Cara-suja", "Sanhaçuíra" (RJ, SP), "Guriatã"(PE), "Saíra-cabocla?".

SAíRA-SAPUCAIA,

l4,2cm. Espécie meridional peculiar, de vértice e la-dos da cabeça castanhos com um brilho acobreado; co-loração esta que pode estender-se até o pescoço posteri-or e o dorso; coberteiras superiores das asas ("dragona")

_ e u.r~opígio amarelo-prateados; lado inferior verde-azulado-reluzente. Fêmea verde-acinzentada, reconhe-cível pelo marrom do píleo e do crisso. Apresentapolimorfismo, sendo que o macho das populações se-tentrionais (p. ex. Rio de Janeiro) costuma ter o dorsonegro; este representante foi chamado de T.devido a erro de procedência pois jamais ocorreu no

~ ~~.~~. "t.,,\~. '-\~ '," , ~:;-.'- .;.,~~~ ~

..,Peru, nomeváliaó àtual pataà es'péCie, segundo as leisda nomenclatura. lembraa de emSanta Catarina registramos um assobio "siii", lembran-do a respectiva voz de . Habita a densavegetação xerófita (restinga, ex-Guanabara, junho, agos-to e setembro); borda de pinhal (Santa Catarina, novem-bro); capões em regiões campestres (Rio Grande do Sul,novembro, nidificando). É migratório. Ocorre do Espí-rito Santo e Rio de Janeiro ao Rio Grande do Sul, Uru-guai,Argentina: e Paraguai. "Cara-suja", "Saí-guaçu" (RJ),"Saíra-da-restinga'". IncluiT. [O tratamento cornoespécie polimórfica defendido por Sick não tem sido ge-ralmente adotado pelos demais autores modernos.]

SAÍRA-DE-CABEÇA-AZUL,

12cm, l4g.Belo representante amazônico bem ca-racterizado pela cabeça e pescoço de cor azul-turquesacontrastando com o negro do dorso e das partes inferio-res; coberteiras superiores das asas verde-cobre, uropí-gio azul-esverdeado. "zibít-zib ít", lembrando

. Vive nos palmais. Ocorre do Mato Grosso(Chapada dos Parecis, riodas Mortes e Xingu) a Goiás(Chapada dos Veadeiros) e sul do Pará (Serra do Cachim-bo); Venezuela e Bolívia.

SAÍRA-MASCARADA ".

[13cm] Com os lados do corpo azuis e meio do abdô-men branco. [Ocorre na Amazônia ocidental, ocupandotoda a região da baixada florestada a leste dos Andes(Guiana Inglesa, Venezuela à Bolívia). No Brasil sua dis-tribuição acompanha para leste, principalmente,a: re-gião dominada pelas cabeceiras dos tributários da mar-gem direita do Solimões e Amazonas, p. ex.: Acre,Rondônia, noroeste de Mato Grosso e sul. do Pará, ondeocorre inclusive nas serranias florestadas (Cachimbo,Carajás). Ocorre também na região do alto rio Negro enorte de Roraima, onde também vive em montanhas,atingindo cotas de até 1.200m (Parima, Novaes 1965).]

SAÍRA-DE-CABEÇA-PRETA ".

12cm. Cabeça, asas e cauda negras, o resto da plu-magem amarelo pálido-esverdeado reluzente. [Na regiãodo Pantepui ocorre urna população disjunta endêmica,

c. cuja ocorrência no Brasil (Roraima) estádocumentada no Cerro Uei- Tepui (Phelps & Phelps 1962)e Cerro Urutani (Dickerman & Phelps 1982). A formatípica da espécie ocorre nas montanhas costeirasdaVenezuela e Colômbia.]

SAÍRA-DIAMANTE, Pr. 41, 5

13,8cm, 19,5g. Espécie de bico fino e multicoloridacorno tantas outras saíras. Se vista de baixo sobressai o

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THRAUPINAE 749

abdôme~ castanho. Peito cínza-azulado-claro(subespé-c-,.,cie do Brasil oriental, ou azul-pur-púreo Brasil setentrional). Vive na copadas árvores. Ocorre das Guianas e Venezuela ao altoe baixo Amazonas (rioTapajós a Belém, Pará, etc.),Nordeste e Leste do Brasil até o Rio de Janeiro. "Pin-tor-estrela" ,

SAíRA-OPALA*,

[14,Scm] Semelhante aos representantes setentrio-nais da espécie anterior a qual parece substituir. Possuilarga sobrancelha e píleo opalescentes, abdômen negro.Ocorre do sul do Solimões, do Purus ao Javari e paísesadjacentes;

SAí-DE-BARRIGA-BRANCA,

11,Scm. Azul purpúreo reluzente um tanto escuro,bases das penas negras, máscara e cauda negras, barri-ga branca; a fêmea por cima é ve~de, por baixo amarelo-esverdeada. Vive nas copas da mata alta, em bandos comoutros pássaros, entre eles e

Ocorre do alto Amazonas, para o sul ao leste doTapajós (Cururu, Pará).

S.t.f-DE-MÁSCARA-PRETA,

[i.l,Scm] Representante amazônico, parecido coma porém de máscara contínua com onegro do dorso, lado inferior azul-claro (sem negrona garganta), abdômen e lado inferior 'das asas bran-co, olho amarelo-ouro, pernas enegrecidas; a fêmea épor cima pardo-esverdeada, por baixo ci nz a-pardacenta uniforme, olho amarelo. "tzri". Vivena orla da mata, árvores dentro de plantações, às ve-zes junto com e D.

chilensis, etc. Ocorre das Guianas eVenezuela à Bolívia, norte de Mato Grosso (altoXingu), Pará (Belém). Pelo abdômen branco resplan-decente e a máscara preta lembra . "Saí-de-cara -preta "",

SAí-AMARELO,

11,3cm; Espécie amazônica diferente, negra, comum V 'amarelo sobre o lado superior (incluindo o u-ropígio); lado inferior amarelo, garganta negra, bonéesverdeado e de olho vermelho; a fêmea é semelhan-te à precedente, porém, com o lado inferior um pou-co estriado e olho vermelho. Vive na mata ribeirinha,às vezes associada aO. . Ocorre do alto Ama-zonas até o rio Negro, Bolívia e norte de MatoGrosso (Xingu). V. (que émais robusta).

SAí-DE-PERNAS-PRETAS, En

12cm, 14g. Apenas no Sudeste, espécie pouco conhe-cida. Menor e de cauda bem mais curta do que a seguin-te, macho muito semelhante ao de D. mas de pretoreduzido na garganta, bico menor e muito fino, tarsosplúmbeos (não rosados, parecem relativamente finos);'fêmea facilmente reconhecível pelo dorso cor de fuligem,lado inferior pardo-acanelado (em vez de verde) pernasplúmbeas. Fruteiras e árvores floridas onde chupamnéctar e apanham insetos. Aparecem durante o invernoao nível do mar, em bandos (Magé, Rio de Janeiro, ju-lho, Gonzaga 1983), Minas Gerais (Lagoa Santa), Espíri-to Santo (região serrana), Rio de Janeiro (N. Friburgo,Petrópolis, Tinguá), São Paulo, Paraná, Santa Catarina(Blumenau). Sua restrita área de distribuição está total-mente incluída na de D. "Saíra".

SAí-AZUL, sAíRA, Pr. 40, 4

13cm, 16g. Espécie comum de larga distribuição. Debico curto e pontudo, o macho é azul e negro, de pernasvermelho-claras; fêmea verde, cabeça e coberteiras su-periores das asas azuladas, garganta cinzenta, pernasalaranjadas. agudo "zit", suave "tzri"; canto: gorje-ar com pouca força. Vive à beira da mata em várias alti-rudes, copas de mata alta, relativamente pouco depen-dente de flores (v. introdução); costuma aparecer empequenos bandos mistos com e Ocorreda América Central e maior parte da América do Sul,para o sul até a Bolívia, Paraguai e Argentina, em todasas regiões do Brasil, também Nordeste e Sul, até oRioGrande do Sul. "Saí-bicudo", "Bico-fino" (Minas Ge-rais). V a precedente e D.

SAí-VERDE, TEM-TEM,

Pr. 40, 3

13,Scm, 18,Sg.É o maior dos saís, tem bico relativa-mente largo, de mandíbula amarelo-clara.É inconfun-dível pela grande máscara negra; olho vermelho; fêmeaverde corno um periquito, reconhecível pelo bico.estridente "spiã": é geralmente calada. Vive na mata, nascopas, fruteiras e árvores floridas (v. Introdução). Ocor-re do México e da América Central ao norte do conti-nente, Amazônia, para o sul até a Bolívia, Mato Grosso(Xingu), sul do Pará (Cururu), Maranhão e, localmente,no Brasil oriental: Pernambuco a Minas Gerais, Rio deJaneiro e Santa Catarina; geralmente pouco numerosa.["Saí-tucano" (Rio de Janeiro, J.F.Pacheco).]

e (macho),

SAí-DE-BICO-CURTO, niiidus

IDem. De bico bem curvo porém relativamente cur-to, plumagem azul brilhante, garganta e peito negros,

, ... " .,

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750. ORNITOLOGIA BRASILEIRA

dorso azul (ao contrário de C. sem amarelo nasrêmiges, pernas cor-de-laranja; fêmea parecida com a deC. porém de garganta, abdômen e pernas corde laranja. Ocorre da Venezuela ao alto Amazonas,noroeste e norte de Mato Grosso (alto Xingu) e norte deTocantins.

SAÍ-DE-PERNA-AMARELA,

9,3cm. Muito parecida com a precedente, tem per-nas amarelas, mas o bico é mais longo (17mm) e apenasa garganta é negra; fêmea de loro ferrugíneo. Ocorre dasGuianas e Venezuela à Bolívia e Amazônia brasileira atéo Guaporé, Tapajós (Pará), Belém e norte do Maranhão."Saí-beija-flor'",

SAÍ-AZUL-DE-PERNAS-VERMELHAS,

SAÍRA-BEIJA-FLOR, Pr. 40, 1

1l,7cm, 14g.É o representante mais conhecido dogênero, tem larga distribuição, e é um dos pássaros maiscoloridos deste continente. De píleo verde-azulado bri-lhante; barba interna das rêmiges amarela: adorno sur-preendente quando abre as asas; após a procriação mudapara uma vestímenta verde (v. Introdução); pernas ver-melhas. Fêmea e imaturos esverdeados, também asrêmiges, pernas de vermelho pouco intenso; o machojovem necessita de alguns meses para adquirir a pluma-.gem definitiva. fraca, "st, st", "zi". Vive em peque-nos bandos, tanto nas copas de árvores de grande porte,como em mata baixa, p.iex. na restinga (Espírito Santo,Rio de Janeiro). Ocorre do México ao norte do continen-te e à Bolívia. Brasil setentrional, central (Mato Grosso,Goiás) e oriental: Maranhão ao Rio de Janeiro (CaboFrio), ocasionalmente no município do Rio de Janeiro(ex-Estado da Guanabara) e São Paulo. Comum em vá-rias partes da Amazônia. "Saí-verdadeiro", "Sapítica"(Bahia), "Saí-beíja-flor'"'. V .

Fig.302, Diglossa-grande-do-roraírna,Digformasingular do bico,

DIGLOSSA-GRANDE-DO-RORAIMA,

Iêcm. Registrado apenas na região fronteiriça com aVenezuela, é de bico singularmente reto, terminandonum gancho, cauda longa, plumagem negro-azulada,coberteiras inferiores da cauda castanhas. fina chi-

ada; lembrando-um poúc'õ . Apesar de sernectarívoro, cata insetos sobre as folhas dos arbustos quecobrem as montanhas. Registrado em Roraima. De tem-peramento irrequieto, este gênero é rico em espécies nodomínio dos Andes. "Fura-flor-grande*".

FURA-FLOR-ESCAMADO*,

[14cm] Um pouco menor que a anterior e com o ladoinferior cinzento. [Representante endêmico e extre-mamente abundante dos tepuis ocidentaisvenezue-lanoso Sua presença no Brasil foi admitida a partir desua existência na região do pico da Neblina (Meyerde Schauensee 1966), onde uma raça particular foi re-centemente erigida, D.d. ge cloughi(Dickerman 1987).]

FIGUINHA-DE-RABO-CASTANHO,

Pr. 40, 5

10,Scm, 8;4g. Espécie bem delgada, de bico cônico;abdômen e brancos, as coberteiras inferioresda cauda são castanhas (apenas no macho), a fêmea podelembrar um ophilus (Vireonidae). finíssimo "ist,ist" (em vôo, característico da espécie); "tzi-tzi-sr", re-petido (pousado); canto: assobios finos em andamentorápido. Habita as copas de densas árvores, mata, capo-eira e quintais, freqüentemente alguns indivíduos jun-tos associam-se a 'gostam das frutinhasda erva-de-passarinho, comem principalmente peque-nos insetos e lagartas. Às vezes procuram os frascos comágua açucarada, agarrando-se no canudo da garrafa.Gostam de perambular em pequenos bandos integra-dos pela própria espécie, compostos provavelmente porconjuntos de famílias; antes da separação de pais e fi-lhos seus deslocamentos poderiam significar mesmomigrações. Ocorre das Guianas e Venezuela à Bolívia,Paraguai e Argentina e em todas as regiões do Brasil atéo Rio Grande do Sul. "Vira-folhas", "Figuinha-bicuda*"(ex-Estado da Guanabara). Compare-se a fêmea com aseguinte.

FIGUINHA-DO-MANGUE,

[ll,5cm] Substitui a precedente nos manguezais, ondepassa facilmente despercebida; ambos os sexos pareci-dos fêmea da espécie anterior, mas todo o lado superiorcinzento-azulado, face e lado inferior pardacento-claros,pernas amarelo-alaranjadas, o imaturo é um tanto dife-rente: "pOr cima esverdeado, por baixo amarelo-claro,pode lembrar e "tzri" finocomo chiar de camundongos; o canto é um chilreadorítmico: "zídi, zídi-dídelide, zídi, lídelí-zrrr". Especi-alizou-se na ocupação dos imensos manguezais da cos-ta atlântica da Venezuela ao Paraná. Subindo o Amazo-nas e seus tributários ocupou as matas inundáveis,P:

t

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ex.Óbídos e Barba (rio Madeira), ecossistema ao qualpoucas aves são confinadas. "Sanhaço-do-mangue","Avezinha-do-mangue (RI).

FIGUINHA-AMAZÔNICA *,[ll,Scm] Muito semelhante à precedente porém mais

pálida. [Na alta amazônia tal qual C. considera-

TRIBO TERSINI

Existe urna única espécie cujo parentesco é ainda dis-cutido. Corno formas mais aparentadas são abordadosos traupíneos,considerando-se os elementos morfoló-gicos, conforme a AOU1983. Fóssil do Pleistoceno (há 20.000 anos) do Brasil,Minas Gerais. -

SAÍ-ANDORINHA, Pr. 41, 1

14cm, 30g. De colorido berrante muito típico, apare-ce azul quando visto contra a luz ou de baixo, e verdebrilhante quando visto com a luz; colar branco resplan-decente; fêmea e imàturo verdes, apresentam o mesmodesenho ondulado dos lados, são também reconhecíveisimediatamente pelo aspecto geral. A plumagem defini-tiva do macho adulto (máscara negra em vez de cinzen-ta, toda a plumagem reluzente) é adquirida apenas após3 ou 4 anos. Íris em ambos os sexos, quando adultos, de

. reflexão vermelha. desperta a atenção a' longa dis-tância por seu assobiar estridente "tsit", "tsii-ít"; o cantoé um chilreio fraco que lembra os sanhaços; só o machocanta.

, , é singular sobvários aspectos. No hábito é diferente do sanhaço e dasaíra. Tem cabeça chata, bico bastante largo na base ecom ligeiro gancho na ponta; revela anatomia peculiardo crânio, sobretudo do pala tino.É provido de esôfagoextensível que possui dobras internas, possibilitando aformação de um saco gular folgado, que presta grandesserviços durante a operação de descarnar frutas. O bicolargo ajuda também na captura de insetos em vôo e naacumulação de alimento que os pais levam para a prole.As asas grandes denotam boa capacidade voadora. Tarsocurto. Dimorfismo sexual acentuado.

Ave arborícola de temperamento um tanto calmo,pousa em posição ereta tal qual a araponga, freqüente-mente por longo tempo, no que difere dos sanhaços, etc.,que nunca param, urna das razões para o nome vulgar"saíra-araponga". Prefere galhos desprovidos de folhascorno' os da imbaúba. O aspecto e o comportamento de

e assemelham-se de fato aos dos cotingídeos cornoi , fato reconhecido já por pesquisadores antigos

da espécie permanente das ilhas fluviais onde ocupa asformações sucessionais de (Rosenberg 1990). NoBrasil, assinalado basicamente para a calha principal doSolirnões eAmazonas das fronteiras ocidentais para lesteaté a boca do Nhamundá, Pará. Também nas ilhas doMaranon, Peru para oeste até a boca do Napo. Parece

. ser por toda a sua limitada distribuição menos comumque a simpátrica C.

como Pelzeln (1871), sob influência dos relatórios de[ohann Natterer que, no começo do século passado, tevefarta oportunidade de estudar o pássaro em seu hábitatnatural. Quando persegue insetos, corno cupinse formigas em revoada, e mostra sua cauda ligeiramen-te bifurca da, pode lembrar urna andorinha, de onde lheveio o nome vulgar mais usado, "saí-andorinha". Novôo, quando caça, assemelha-se também ao tiranídeo

i . Pega às vezes vários insetos.um após o ou-tro, sem engoli-Ias, sendo tais animalejos e frutinhas fa-cilmente acomodados no esôfago. Conforme as condi-ções atmosféricas reinantes no dia ou durante o correrdos meses, pode ser mais insetívora (durante aschuvas, no verão) ou mais frugívora (no inverno). Pulacomodamente sobre os galhos para, p. ex., alcançar urnafruta e, ao contrário do que fazem as saíras gnão fica pendurada de costas para baixo. Singularé seumodo de virar frutas na boca espaçosa, largamente abertapara raspar-lhes o pericarpo carnudo, lembrando essatécnica, por mais estranho que pareça, da cobra, queprepara um bocado demasiadamente grande para adeglutição; no fim deixa cair o caroço. Engole tambémfrutas inteiras e cospe sementes maiores após 20 minu-tos aproximadamente, tal qual os piprídeos, cotingíde-os, sabiás, etc., contribuindo ativamente para a disper-são desses vegetais. Certas frutas corno as da magnólia,

(Magnoliaceae), em virtude do seuarilo espesso e nutritivo, rico em carotenóides, estão, nosul do Brasil, entre as mais estimadas; engole rapida-mente meia dúzia dessas frutinhas urna após a outra,mais tarde expele os caroços. Testes de germinação dassementes de mostraram que as sementes quepassaram pelo trato digestivo dos pássaros tiveram urnaalta taxa de germinação (Motta 1988).

e leva frutas relativamente grandes no bicoaberto para descamar e devorar em lugar distante. Ape-sar de não ser muito ávida por bagas, gosta das fruti-nhas da erva-de-passarinho, muito procuradas tambémpelos gaturamos e saíras; aproveita bem as frutas daimbaúba, os coquinhos da palmeira etc.; alémdisso come botões de flores, p. ex. do flamboaiã, que"mastiga" a modo de cobra, corno frutas mai.?res.

I

,L

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752. ORNITOLOGIA BRASILEIRA

está entre os pássaros que se levantam tardee se recolhem cedo para dormir. Em bons viveiros resis-tem por muitos anos, num certo caso 15 anos, no Rio.

No Sudeste do Brasil nidifica em regiõesserranas, p. ex. Tinguá e Nova Friburgo, RJ, setembro aoutubro, Uberlândia, Minas Gerais, julho. No Brasil cen-tral (alto Xingu, Mato Grosso) achamos com ór-gãos reprodutivos desenvolvidos em julho, agosto eoutubro. No início da época de procriação, vimos algunsmachos se reunirem em galhos vizinhos e praticaremsilenciosamente a seguinte cerimônia em conjunto: er-guiam-se e abaixavam-se alternadamente, pulando deum galho para outro, às vezes se perseguindo. Asformam casais fiéis, nidificam em buracos tanto de bar-rancos, também beira de rio, como de construções depedra dentro da mata, p. ex., muros em ruínas, tambémembaixo de pontes, num paiol (Minas Gerais). Na terrasão capazes de cavar suas próprias galerias ("saíra-buraqueíra"). Aproveitam-se de ocos antes usados porfurnarídeos, andorinhas, galbulídeos ou buconídeos,também buracos existentes em árvores (Minas Gerais).Constroem dentro do buraco uma tigela volumosa. Omacho sempre acompanha a fêmea mas não trabalha,ficando de sentinela por perto.

Põem 3 a 4 ovos de cor branco-pura, chocados só pelafêmea, durante aproximadamente 15 dias. Os filhotes sãoalimentados predominantemente pela mãe. Para cevar aprole, os pais enchem tanto o esôfago com frutas e insetosque a garganta fica bem protrusa. Os ninhegos pequenosacumulam também a ração na boca para engoli-Ia maistarde. O interior de sua boca vaziaé vermelho. Osexcrementos dos filhotes são devorados ou carregadospela mãe. A prole abandona o ninho com 2~ dias. Constaque os machos chegam à maturidade já no seu primeiro

- ano, apesar de não terem completado seu traje nupcial.

(

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Bornschein, M. R.& S. D. Arruda. 1991. IC po G 33. (He g Santa Catarina)"

Na ex-Guanabara se apresenta como avemigrante (entre fevereiro e agosto) em número variávele nem sempre em todos os anos, permanece somentepoucos dias, tal como os sabiás, reaparecendo apenasmeio ano depois. O auge da frutificação da magnólia é ogrande tempo da As concentrações deemigrante em lugares onde há magnólias em abundân-cia frutificando (p. ex. Viçosa, Juiz de Fora, Minas Ge-rais) estão entre as maiores aglomerações de avesfrugívoras deste país, condição estabelecida apenas emtempos pós-colombianos, pois a magnólia, usada naornamentação de ruas, parques e jardins, foi trazida daÁsia. Em Viçosa chegam em março e desaparecem emmaio até o começo de junho (Erickson& Murnford 1976).A invade até o centro de metrópoles como BeloHorizonte, onde há abundância de magnólias frutifican-do (junho a agosto), não recuando nem diante do inten-so movimento do tráfego. Não se associam a outras aves,as quais encontram apenas no lugar de pasto (fruteiras)ou quando pousam em certas árvores preferidas tam-bém por elas como "ponto"; as s são-pacíficas, aocontrário, p. ex., dos sanhaços. Vive no topo das árvo-res, à beira da mata e na mata de galeria. Aparece ape-nas periodicamente, quer para nidificar, quer como avede arribação destacando-se aglomerações durante afrutificação da magnólia. Ocorre da América Central (Pa-namá) ao Norte do continente, para o Sul até a Bolívia,Paraguai e Nordeste da Argentina; Brasil oriental, cen-tro-meridional e ocidental; registrada também no sul eleste do Pará (Cachimbo, agosto, outubro; Gorotire, ju-lho, agosto, setembro e Belém) e Maranhão (janeiro): tam-bém em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. "Saíra-araponga", "Saíra-buraqueira" (Minas Gerais), "Saí-ara-ra. V (de desenho transversal parecido nolado inferior) e

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.J