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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Produções Didático-Pedagógicas Versão Online ISBN 978-85-8015-079-7 Cadernos PDE II

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · 2. A descoberta social da criança e da família na Europa escritor francês Philippe Ariés é considerado um dos pioneiros na

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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Produções Didático-Pedagógicas

Versão Online ISBN 978-85-8015-079-7Cadernos PDE

II

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO - SEED Superintendência da Educação - SUED

Diretoria de Políticas e Programas Educacionais - DPPE Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE

PRODUÇÃO DIDÁTICO PEDAGÓGICA

Título: O impacto do Estatuto da Criança e do Adolescente-

ECA na escola (1990-2014)

Autor: Susana Lisboa Gavassi

Disciplina/Área: HISTÓRIA

Escola de Implementação do Projeto e sua localização:

Colégio Estadual Humberto de Alencar Castelo Branco -

EFM.

Município da escola: Guairaçá

Núcleo Regional de Educação:

Paranavaí

Professor Orientador: Ricardo Tadeu Caires Silva

Instituição de Ensino Superior:

Unespar – Campus Paranavaí

Relação Interdisciplinar: Não há.

Resumo:

Esta Unidade Didática tem como objetivo problematizar a relação entre a escola, a família e o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA. Ou seja, buscaremos analisar o que mudou na relação entre o Estado, a escola e a família, após a vigência do aludido Estatuto (1990-2014). Para tanto recorremos à leitura de obras sobre a história da infância no Brasil bem como aos apontamentos feitos pela mídia e pelos docentes sobre os principais problemas e desafios enfrentados pela escola pública na contemporaneidade. Com o trabalho, almejamos subsidiar os docentes para o desenvolvimento de uma visão mais acurada acerca do referido Estatuto bem como dos problemas que afligem a escola brasileira, desfazendo assim visões estereotipadas e preconceituosas acerca das políticas públicas para a infância no Brasil.

Palavras-chave: Estatuto da Criança e do Adolescente; História da Infância; escola; Políticas Públicas.

Formato do Material Didático: Unidade Didática

Público: Professores e equipe pedagógica

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http://www.tjse.jus.br/agencia/noticias/item/6520-cij-leva-projeto-%E2%80%9Co-eca-na-escola%E2%80%9D-para-escolas-municipais-de-aracaju

1. INTRODUÇÃO

eria o Estatuto da Criança e do Adolescente o responsável por todos os

atos de indisciplina que ocorrem na Escola? A Lei pode ser considerada

causadora de transtornos disciplinares? Há uma relação entre os atos de

indisciplina e o Estatuto? Os professores e equipe pedagógica detêm os

conhecimentos relativos à Educação propostos no Estatuto? O que é o Sistema

de Garantia de Direitos do qual a Escola deve ser integrante?

Nesta Unidade Didática buscaremos responder estas e outras questões

acerca da problemática relação que se estabeleceu entre a vigência do Estatuto

da Criança e do Adolescente (ECA) e os problemas vivenciados pela escola

brasileira.

1.1 CRIANÇA E INFÂNCIA: APREENSÃO DE UM CONCEITO

Para iniciar esta unidade didática proponho fazermos uma reflexão sobre

o conceito de criança e infância. Qual seria a concepção de criança nos séculos

passados? O que era a infância? As diferentes sociedades possuíam a

mesma concepção de infância? A concepção de criança e infância que

temos hoje é resultado de um processo evolutivo de ideias, de

aperfeiçoamento de um saber? A vulnerabilidade da criança e da

infância não está sendo explorada em nossos dias pelas novas

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tecnologias?

São perguntas complexas, com respostas contraditórias por estudiosos

em diferentes épocas. Segundo Colin Heywood (2004) os estudos e interesses

pela vida na infância são um fenômeno recente. Por exemplo, são raros os

estudiosos da Idade Média que tenham feito algum registro sobre experiências

infantis, pois naquela época geralmente as crianças eram vistas como “adultos

imperfeitos”.

Ainda de acordo com Heywood (2004), em 1990 os sociólogos Alan Prout

e Allison James destacaram novos paradigmas referentes à sociologia da infância

que influenciaram os historiadores a buscar um reconhecimento da construção

social da infância. Entre os paradigmas destacam-se três proposições

importantes: a primeira percebe que a infância deve ser compreendida como

construção social, ou seja, os termos criança e infância são compreendidos de

diferentes formas nas diferentes sociedades. A segunda é que a criança é uma

variável da análise social, ou seja, a infância vivida na classe média não é a

mesma vivida pelos filhos da classe trabalhadora. E por fim, que as crianças,

desde seu nascimento, têm cultura própria ou sucessão delas, e a relação entre

adultos e crianças podem ser descritas como de interação.

Portanto, para discutirmos nossa problemática faremos um estudo

baseado na historiografia dos principais autores que estudaram a infância no

Ocidente e no Brasil assim como os impactos das principais políticas públicas de

atendimento infanto-juvenil no Brasil, dentre eles: Philippe Ariés, Colin Heywood,

Mary Del Priore, Maria Lúcia Violante, Marcos Cezar de Freitas, Maria Luiza

Marcílio, Irene Rizzini, Edson Sêda, entre outros.

Page 5: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · 2. A descoberta social da criança e da família na Europa escritor francês Philippe Ariés é considerado um dos pioneiros na

2. A descoberta social da criança e da família na Europa

escritor francês Philippe Ariés é considerado um dos pioneiros na

abordagem da história da infância. Na obra História Social da Criança e da

Família (1978), Ariés procurou estudar a descoberta da infância no período de

transição da sociedade medieval para a sociedade moderna a partir do

surgimento do sentimento de infância e de família. Através da análise de fontes

iconográficas, decorações de igrejas e túmulos, o autor sustenta em seu trabalho

que a partir do momento em que a classe burguesa europeia passou a perceber a

existência da criança como um ser encantador, frágil, que necessitava de

cuidados físicos e moral, nasceu um sentimento familiar no século XVII “[...] Tudo

o que se referia às crianças e à família tornara-se um assunto sério e digno de

atenção [...] a criança assumiu um lugar central dentro da família.” (ARIÈS, 1978.

p. 105). Ariés (1978) analisa que nos séculos XI, XII ou XIII havia uma despreocupação em caracterizar a criança. Ao representar crianças, principalmente em cenas religiosas, os pintores representavam-nas como um adulto em miniaturas sem diferença de expressão ou de traços. Enquanto nestes séculos destacou-se a escrita da imagem religiosa da criança nos séculos XV e XVI destacou-se a iconografia leiga, com representações de cenas de gênero e as pinturas anedóticas.

La Madonna in Maestá, 1310 (Obra da Catedra Sena)

1

1 http://www.wga.hu/html_m/g/giotto/z_panel/2panel/40maesta.html

Acessado em 25/09/2014.

Amplie a imagem ao lado “Madona em

Maestá” de GIOTTO di Bondone,1310,

e observe que o Menino Jesus é a

representação de uma criança, porém

as expressões faciais são de um adulto.

A HISTÓRIA DA INFÂNCIA NO MUNDO OCIDENTAL

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―[...] a infância era apenas uma fase sem importância, que não fazia sentido fixar lembranças

[...] da criança morta, não se considerava que essa coisinha desaparecida tão cedo fosse

digna de lembrança: havia tantas crianças, cuja sobrevivência era tão problemática. (...)‖

(ARIÈS, 1978. p. 21)

Um outro ponto importante analisado diz respeito a mortalidade infantil,

que por ser muito elevada acalentava na sociedade medieval um sentimento de

desapego por algo que não seria duradouro:

Todavia a partir do século XVII as famílias burguesas passam a possuir

retratos de seus filhos, principalmente crianças. Apesar de a mortalidade infantil

continuar ainda com um nível altíssimo, o autor chama atenção para este

sentimento que surge em relação à criança “foi como se a consciência comum só

então descobrisse que a alma da criança também é imortal” (ARIÈS, 1978. p. 25).

A diferenciação nos trajes das crianças, nos jogos e brincadeiras também

contribuíram para o testemunho de um novo sentimento de infância ao longo dos

séculos XVII e XVIII. (ARIÈS, 1978. p. 41).Análise as citações feitas pelo autor

Ariés, (1978) com as imagens abaixo:

Van Dyck, “Os cinco filhos de

Charles I” (1637)2

2 http://commons.wikimedia.org/wiki/File:The_five_children_of_Charles_I,_after_Van_Dyck.png

acessado em 25/09/2014

"As crianças do povo, os filhos dos camponeses e dos

artesãos, as crianças que brincavam nas praças das aldeias,

nas ruas das cidades ou nas cozinhas das casas

continuavam a usar trajes dos adultos (...) Elas

conservaram o antigo modo de vida que não separava as

crianças dos adultos, nem através do traje, nem através do

trabalho, nem através dos jogos e brincadeiras".

"Essa diferenciação de trajes não era observada nas meninas. Estas, como os

meninos de outrora, do momento em que deixavam os cueiros, eram logo vestidas

como mulherzinhas.‖

―(...) a roupa

tornava visíveis as

etapas do

crescimento que

transformava a

criança em

homem(...)‖

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Le Nain, Louis “Família do

camponês em um interior”

1642, Louvre, Paris3

3http://commons.wikimedia.org/wiki/Category:Louis_Le_Nain?uselang=pt#mediaviewer/File:Famille

_de_paysans_dans_un_interieur.jpg Acessado: 25/09/2014.

Analisando os textos

1- Analise e comente as citações feitas pelo autor Ariés, (1978) com as imagens.

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2.2 A institucionalização da assistência à infância abandonada na Europa

É com a consolidação da classe burguesa, que irá surgir na Europa a

institucionalização da assistência à infância abandonada da classe pobre

trabalhadora. Eram chamadas de “expostos” ou “enjeitadas” e não havia por

essas crianças, fruto das políticas de exploração econômica e religiosa da Europa

Medieval, nenhum sentimento de apego ou mera consideração. Contudo, surge

nessa mesma sociedade, na classe burguesa, segundo Ariés (1978), o

sentimento de infância e de família que se contrapõe drasticamente à situação de

vida das crianças das classes dos trabalhadores que, com o crescimento

populacional, as guerras e a Peste Negra, viveram dias de extrema miséria. Estes

eventos motivaram o aumento do número de abandono de bebês, levando as

instituições organizadas, ou seja, o Estado e a Igreja Católica, a constituir um

sistema de assistência à infância desvalida.

As classes dominantes ignoravam, por não ver ou por opção, que o

abandono de crianças era consequência da exploração da mão de obra, do

pagamento de baixos salários. A vinda do servo do campo para cidade e, mais

tarde, o surgimento das fábricas, provocou o aumento das famílias empobrecidas.

Houve com isso um aumento generalizado de abandono de bebês e crianças

sem-família, que resultou numa mentalidade perversa em relação aos pobres,

pois os colocavam como culpados por sua situação e não como vítimas de um

sistema econômico que favorecia a poucos.

Conforme MOLLAT, apud MARCÍLIO. (p. 60) “Em todas as línguas da

Europa surgiu um vocabulário truculento,

designando e qualificando pejorativamente

os pobres. A palavra „mendicante‟ carrega-

se de nuanças maldosas, inquietantes,

reprovadoras. O verdadeiro pobre passou a

estar comprometido com a turba de

vagabundos, preguiçosos, portadores de

epidemias, criminosos em potencial (...)”. A

pobreza passou a ser vista como sinônimo

de preguiça, como algo indigno e que devia

ser reprimida pelo Estado.

A primeira forma de assistência aos

“expostos” foram os hospitais, entre os

séculos XII e XIII. Eram pequenas

instituições, gerenciadas pela Igreja e

assistiam e abrigavam andarilhos, doentes, mendigos e crianças abandonadas

Documento 1- O que era a Roda?

Um objeto de forma cilíndrica e com

uma divisória no meio, esse dispositivo

era fixado no muro ou na janela da

instituição. No tabuleiro inferior da

parte externa, o expositor colocava a

criança que enjeitava, girava a Roda e

puxava um cordão com uma sineta para

avisar à vigilante – ou Rodeira – que um

bebê acabara de ser abandonado,

retirando-se furtivamente do local, sem

ser reconhecido. Fonte: MARCÍLIO, Maria Luiza. História social da criança abandonada. São Paulo:

Hucitec, 2006.

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que, muitas vezes, coabitavam nesses

hospitais ou hospícios - como também

estes eram conhecidos - no mesmo

quarto com os doentes adultos.

Começava assim, no século XIII, a

fase da caridade pública de proteção

à criança desvalida (MARCÍLIO,

2006). Nestes hospitais foram

instaurado a Roda, sistema que

evitava-se que os enjeitados fossem

abandonados em qualquer lugar e

assegurava-se o anonimato do

expositor. As amas de leite

mercenárias eram o pilar do sistema

de assistencialismo dos expostos.

(MARCÍLIO, 2006).

Surge no século XVIII uma

nova teoria em relação às práticas

assistenciais: a do utilitarismo e a do

higienismo. Estes percebiam nos

abandonados, mão de obra para o

Estado como soldados, para executar

serviços pesados, povoar as novas

colônias na América, Ásia e África

conquistadas pela Europa, e até

mesmo como cobaias para as pesquisas científicas, como foi o caso do

experimento da inoculação da varíola.

Na França, foi criado um programa de assistência às mães solteiras;

surgiram pela Europa a partir de 1850 sociedades protetoras da infância, criaram-

se programas de capacitação profissional para os expostos juntamente ao ensino

elementar; combateu-se a mortalidade infantil e providenciou-se a vacinação dos

bebês contra a varíola. (MARCÍLIO, 2006)

Criaram-se novas formas de assistência pela filantropia higiênica, entre

elas os asilos, creches, colônias, orfanatos, colégios e outros.

A creche surgiu em 1840 na França, segundo Marcílio (2006), porém

outros autores como Merisse (1997) relatam sua existência ali, desde 1770.

Surgiu para abrigar crianças de até três anos, filhos da população pobre

trabalhadora, que morava nas cidades, mas trabalhavam no campo e apresentou

um eficiente meio de diminuir as taxas de abandono de bebês. (MERISSE, 1997

p. 31)

LEITURA COMPLEMENTAR

[...] O olhar da medicina sobre elas

(crianças) levou um número crescente de

pesquisas onde crianças eram utilizadas. E

como ainda não eram reconhecidas como

cidadãs, as crianças principalmente as das

classes sociais mais pobres, não faziam jus

aos direitos de cidadania. A sua utilização

nos experimentos continuava sem se

respeitarem quaisquer direitos. Crianças de

orfanatos e abandonadas eram comumente as

―cobaias” (grifo do autor). Isto é tão

surpreendente, se lembrarmos que na

Inglaterra, desde 1822, já havia uma lei de

defesa dos animais (British Anticruelty Act)

e em 1824 foi criada a primeira sociedade de

proteção dos animais a Society for the

Preservation of Cruelty to Animals, em uma

época quando não havia ainda legislação

semelhante em relação às crianças. [...]

Neste contexto, o uso de crianças órfãs e

abandonadas em pesquisas não causava

espanto ou indignação.

Fonte: MOTA. Joaquim Antônio César. A criança

na pesquisa biomédica in Bioética, biodireito e

o código civil de 2002. SÁ, Maria de Fátima

Freire de e OLIVEIRA, Bruno Torquato de

(coord). Belo Horizonte: Del Rey, 2004.

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Foi lenta e amarga a conquista pelos direitos de cidadania da criança,

principalmente da criança pobre e abandonada. Somente após a Segunda Guerra

Mundial o Estado assumiu a responsabilidade pela assistência e proteção à

criança desvalida, dando início à fase denominada Bem-estar Social. Em 1959 foi

realizada a Declaração dos Direitos da Criança e, em 1989, a Convenção da ONU

pelos Direitos da Criança que colocou a criança como sujeito de Direito, sendo,

portanto, cidadã de um Estado, devendo ser assistida e protegida por sua

jurisdição.

SÍNTESE DOS DIREITOS DA CRIANÇA ESTABELECIDOS NA

CONVENÇÃO4

Direitos civis e políticos

Direitos econômicos,

sociais e culturais

Direitos especiais (proteção)

Registro, nome,

nacionalidade, conhecer

os pais.

Expressão e acesso à

informação.

Liberdade de

pensamento,

consciência e crença.

Liberdade de

associação.

Proteção da

privacidade.

Vida, sobrevivência e

desenvolvimento.

Saúde.

Previdência social.

Educação fundamental

(ensino primário

obrigatório e

gratuito).

Nível de vida adequado

ao desenvolvimento

integral.

Lazer, recreação e

atividades

culturais.

Crianças de comunidades

minoritárias: direito de

viver conforme a própria

cultura.

Proteção contra abuso e negligência.

Proteção especial e assistência para a

criança refugiada.

Educação e treinamento especiais para

crianças portadoras de deficiência.

Proteção contra utilização pelo tráfico de

drogas, exploração sexual, venda, tráfico

e sequestro.

Proteção em situação de conflito armado

e reabilitação de vítimas desses

conflitos.

Proteção contra trabalho prejudicial à

saúde e ao desenvolvimento integral.

Proteção contra uso de drogas.

Garantias ao direito ao devido processo

legal, no caso de cometimento de ato

infracional.

4 FROTA, M. G. da C. Associativismo civil e participação social: desafios de âmbito local e global

na implementação dos direitos da criança. 2004. Tese (Doutorado em Sociologia) – Iuperj, Rio de Janeiro.

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Analisando os textos

1- Analise e discuta com os colegas o quadro "Síntese dos Direitos da Criança

Estabelecidos na Convenção" com a Leitura Complementar "A Infância no mundo em

números".

Leitura Complementar

A Infância no mundo em números

Do total de 132 milhões de crianças nascidas no mundo a cada ano, 53 milhões nunca

são registradas.

150 milhões de crianças com menos de 5 anos sofrem de desnutrição (mais de 2

bilhões de pessoas não têm acesso a serviços de saneamento adequados);

Cerca de 1 bilhão de pessoas não possuem água tratada. Essa realidade é responsável

pela morte de 11 milhões de crianças, com menos de 5 anos de idade, a cada ano;

Para cada quatro crianças no mundo, uma nunca foi vacinada. A vacinação contra as

doenças mais comuns da infância salva a vida de 3 milhões de meninos e meninas,

anualmente;

Todos os anos, mais de 10 milhões de crianças morrem com menos de 5 anos de idade,

quase a metade delas no período neonatal, vítimas de desnutrição e de doenças que

poderiam ser

Para cada quatro crianças no mundo, três são muito pobres;

600 milhões de crianças vivem com menos de US$ 1 por dia;

Outras 900 mil contam, diariamente, com menos de US$ 2 para viver;

Cerca de 150 milhões de crianças no mundo passam o dia nas ruas. Desse total, 60

milhões são moradoras de rua, e 90 milhões, embora retornem a seus lares à noite, têm a

rua como seu espaço de trabalho e sobrevivência.

Nos últimos 10 anos, 2 milhões de crianças morreram em guerras e cerca de 5

milhões foram mutiladas em conflitos armados. Outras 12 milhões perderam sua residência

e 1 milhão ficaram órfãs;

25 milhões de crianças no mundo vivem como refugiadas de guerra;

300 mil são recrutadas anualmente para trabalhar em forças armadas.

100 milhões de crianças ainda estão fora da escola — 60% são meninas;

Do total de 150 milhões de crianças no mundo que não concluem o Ensino Fundamental,

100 milhões são do sexo feminino;

Cerca de 40% (dos 115 milhões de meninos e meninas que nunca foram à escola)

vivem no continente africano.

Fonte: http://www.educacional.com.br/reportagens/criancasdobrasil/infancia_numeros.asp

acessado: 15/10/2014

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3- A Infância no Brasil Colônia e Império

assistência à criança abandonada no Brasil seguiu os moldes

de assistencialismo de Portugal desde a colonização das terras brasileiras, o que

não foi muito diferente dos moldes empregados à infância desvalida da Europa.

Conforme Marcilio (2006), no Brasil, esse assistencialismo ocorreu em três fases:

caritativo, filantrópico eugênico e Estado de Bem-estar social

No início do Brasil colônia um dos primeiros modelos ideológicos sobre a

criança, segundo a autora Mary Del Priore (1995) se deu por intermédio dos

padres jesuítas que influenciados pela representação católica europeia da criança

mística e da criança que imita Jesus, a Companhia de Jesus escolheu as crianças

indígenas vistas pelos jesuítas como “papel blanco5” para serem catequizadas e

adestradas moral e espiritualmente aos costumes da metrópole, transformando o

nativo em cristão.

Porém os jesuítas não se preocuparam durante o tempo em que ficaram

no Brasil pela criança abandonada, ilegítima, escrava e das mulheres.

(MARCÍLIO, 2006).

A fase caritativa no Brasil perdurou até meados do século XIX, e

apresentou três formas de atendimento: as Câmaras Municipais, a Roda de

Expostos e a adoção informal dos expostos por famílias.

Analisando o texto Levando em consideração que o Brasil foi um país escravista até 1888, analise

porque foi tão comum no Brasil Colônia e Império a adoção informal dos expostos?

No período colonial as Câmaras Municipais ficaram responsáveis pela

criança desamparada, desde o século XVI, por meio das Ordenações Manuelinas,

e ficou estabelecido que poderiam também delegar serviços de proteção à criança

exposta a outras instituições. Foram firmados então convênios com as confrarias

das Santas Casas de Misericórdia. (MARCÍLIO, 2006)

5 “Aqui pocas palavras bastam pues todos es como papel em blanco... ”Nóbrega, Manuel da. 1549.

A TRAJETÓRIA HISTÓRICA DA INFÂNCIA DO BRASIL:

DA COLÔNIA AO IMPÉRIO

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Em toda a colônia as Câmaras foram omissas em sua obrigação. Nunca

houve uma preocupação com mudança social,

o que gerou um aumento de expostos na

mendicância, prostituição e criminalidade

pelas cidades brasileiras.

Segundo Marcílio, as primeiras

instituições de proteção à infância desvalida

no Brasil só surgiram no século XVIII e até a

Independência só existia em três cidades:

Salvador, Recife e Rio de Janeiro. Foram elas

a Roda dos Expostos e os Recolhimentos

para Meninos Pobres. Os Recolhimentos eram

destinados à proteção dos “meninos

desvalidos”, excluídos os escravos e as

meninas. (RIZZINI, 1995 p. 244)

As Rodas dos Expostos foram

instituições essencialmente urbanas,

administradas pelas Casas de Misericórdia.

Os atendimentos das crianças, por esta

instituição, seguiram os mesmos padrões da

Roda dos Expostos na Europa: eram regados

de estigmas, preconceitos e discriminação

pela sociedade vigente.

Durante a Colônia e o Império, as

crianças, já desde sua tenra idade, eram

tratadas sob a insígnia de “enjeitados”,

“deserdados

da sorte”, ou

da “fortuna”

infância

“desditosa”

ou “infeliz”,

“expostos” e

“desvalidos”.

(ARANTES,

1995, p. 191)

Segundo Marcílio (2006,) no Brasil a

Roda dos Expostos está diretamente relacionada

a um fator predominante que era a preservação

da ordem familiar, da moral pública e hegemonia

Leitura Informativa

No site

http://www.santacasasp.org.br/p

ortal/site/quemsomos/museu/aro

dadosexpostos (acessado

29/09/2014) há informações e

imagens referente a Roda que

foi instalada na Santa Casa de

Misericórdia de São Paulo por

400 anos e também todo um

acervo histórico com as

documentações dos ―enjeitados‖

que eram deixados na Roda.

Documento 2- Amas mercenárias

A trajetória dos expostos era

longa e triste. Na casa das amas de

leite onde passavam seus primeiros

meses de vida o sofrimento não

diminuía. Poucas foram as amas

cuidadosas e carinhosas. Elas

preocupavam-se com o mísero

salário que iriam receber, eram

material e espiritualmente mulheres

indigentes e a demanda era grande.

Amamentar era um serviço. Se a

criança morresse bastava buscar

outra, elas não sofriam nenhuma

sanção ou recriminação pela morte

da criança.

As crianças negras e as pardas

sem-família muitas vezes foram

vendidas, trocadas ou doadas de

presente, como escravas por amas.

A venda de expostos como escravos

era frequente. Ainda havia a prática

dos senhores de abandonar o filho

da escrava na roda para alugá-la

como ama para a própria roda e

quando a criança crescia mandava a

mãe busca-lo de volta para servirem

de escravo.

Diante aos abusos foi assinado

o Alvará de 31 de janeiro de 1775

que considerava ―livres e ingênuos

os expostos de cor preta ou parta

lançados na Roda e Casa dos

Expostos.‖ Apesar do Alvará as

fraudes eram comuns. Fonte: MARCÍLIO, Maria Luiza. História

Social da Criança Abandonada. São

Paulo: EditoraHucitec, 2006.

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social, devido principalmente a exploração pelo senhor branco da mulher índia ou

negra. Ainda há a questão de que crianças

abandonadas nas cidades tornavam visível o

grande índice de miséria daquela população.

A pobreza e a miséria ocasionadas

pela falta de assistência pelo Estado à

população pobre tornam-se a causa principal

do abandono de crianças no Brasil, conforme

assinala Marcílio (2006, p. 257), “em sua

quase totalidade, as crianças que eram

abandonadas provinham dessa faixa de

miseráveis, de excluídos. A pobreza foi a

causa primeira – e de longe a maior – do

abandono de crianças, em todas as épocas”.

Havia a falsa representação de que na

Roda o filho teria melhores condições de vida.

As provas das causas de muitas mães

deixarem seus filhos nas Rodas, ficaram

gravadas nos bilhetes e lembranças deixados

juntos com a criança enjeitada. (MARCÍLIO,

2006)

Outro acontecimento que contribuiu no

Brasil, ao final do século XIX, para o aumento

no número de crianças abandonadas foi a

promulgação da Lei do Ventre Livre em 1871

e, posteriormente, com a Abolição da

Escravatura em 1888, houve um acentuado

aumento de abandono de crianças, pois os

filhos de escravos não teriam mais a condição

de propriedade. A liberdade não garantiu condições socioeconômicas aos ex-

escravos. Essa população foi abandonada à própria sorte, sem conseguir ser

aceita no mercado de trabalho como trabalhadores livres, com isso passaram a

viver nas ruas ou favelas, sem qualquer assistência pública. (MARCÍLIO, 2006).

Contudo, saliente-se aqui, que as dificuldades encontradas para

administração da Roda eram enormes. As instalações eram precárias, sem

nenhuma condição sanitária, com poucas verbas, não havia espaços físicos

suficientes e nem apropriados para receber recém-nascidos e isso provocava o

aumento da mortalidade dos pequenos. As Rodas dos expostos provaram ser por

si só insuficientes e ineficazes para socorrer a infância desvalida.

Documento 3- O Abandono de

Crianças Negras no Rio de

Janeiro

―A lei do Ventre Livre suscitou

inúmeras críticas [...] Na verdade,

poucos acreditaram em sua eficácia

par melhorar as condições de vida

da criança negra no Brasil. Ao lado

da denúncia de perpetuação de fato

de sua condição de escrava,

destacou-se o prognóstico do

aumento do número de abandonos

dos filhos de suas cativas por parte

dos senhores. E verificamos que, ao

menos no Rio de Janeiro, esse

prognóstico se cumpriu,

prenunciando o trágico futuro que

esperava a criança negra no Brasil.

Hoje, há mais de cem anos da

Abolição, convivemos com cerca

de 12 milhões de crianças

abandonadas nos centros urbanos

do País, das quais a maioria

absoluta é de origem negra.‖

Fonte:VENÂNCIO, R.P. & LIMA,

L.L.G.(1991). O Abandono das crianças

negras no Rio de Janeiro. Em: Del Priore,

M. (Org.), História da criança no Brasil.

São Paulo: Contexto.p.73

Page 15: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · 2. A descoberta social da criança e da família na Europa escritor francês Philippe Ariés é considerado um dos pioneiros na

Documento 4- A insígnia da Roda carregada no

nome

―O batismo foi sempre uma verdadeira obsessão

para os responsáveis pela Roda, assim como para a

população em geral! Para batizar a criança era

preciso dar-lhe nome e sobrenome essa designação

era arbitrada pelos responsáveis da Roda. Na Roda

de Salvador foi tomada uma decisão de dar o

sobrenome Matos, do benemérito da Santa Casa -

João Aguiar de Matos - a todas as crianças que ali

chegavam. Isso ocorreu de 1726 a 1950. Matos na

Bahia tornou-se sinônimo de exposto. Muitos

expostos baianos ao saírem da Santa Casa,

trocavam de sobrenome fugindo do estigma que

acarretou o sobrenome Matos, mais tarde Viana e

Rocha‖. Fonte: MARCÍLIO, Maria Luiza. História Social da Criança

Abandonada. São Paulo: Editora Hucitec, 2006.

Diante da dificuldade encontrada a Roda passou a ser atacada por

setores da sociedade por sua inaptidão, principalmente pelos higienistas, entre

eles o médico Monocorvo Filho que, em suas pesquisas, apontava que havia uma

taxa de mortalidade de 70% das crianças que ali eram deixadas.

Entre documentos oficiais encontra-se o seguinte relato:

Já no século XX não havia mais sentido de se ter a Roda nas cidades e

aos poucos elas foram sendo abolidas, permitindo uma nova forma de assistência

à criança desvalida. Porém, havia ainda uma questão preocupante referente aos

meninos e meninas que aos sete anos deviam deixar as Casas de Misericórdia.

Uma das alternativas para as meninas (que era o mais preocupante devido a

prostituição) era a colocação familiar, mas quando isto não acontecia ficavam

recolhidas nas Casas de Misericórdia chamadas de Recolhimento até

completarem a idade para um casamento. Para os meninos foram criadas novas

instituições como o Arsenal da Marinha e os Asilos Agrícolas que foram fundadas

com o intuito de utilizar a mão de obra dos “crioulinhos libertos” para suprirem as

necessidades de trabalhadores do país. Porém essas Casas serviam somente de

abrigos, sem nenhum tipo de instrução, onde as crianças não conheciam regras

de convivência e de educação. (Marcílio, 2006)

A situação da instituição era caótica, como Moreira de Azevedo relatava ao imperador

Pedro I, na fala dirigida a Assembleia Constituinte, em 3 de maio de 1823: ―A primeira

vez que fui a Roda dos Expostos achei, parece impossível, sete crianças com duas amas;

nem berço, nem vestuários. Pedi o mapa, e vi que em treze anos tinham entrado perto de

doze mil crianças, e apenas tinha vingado mil, não sabendo a Misericórdia

verdadeiramente onde elas se achavam‖ (MARCÍLIO,2006. p. 151, grifos meus).

Page 16: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · 2. A descoberta social da criança e da família na Europa escritor francês Philippe Ariés é considerado um dos pioneiros na

RELATOS DE BILHETES DEIXADOS JUNTO AOS ENJEITADOS DAS

RODAS

―Por me achar sem meios de criar e educar meus filhos tomei a resolução de deitar nesta

Santa Casa meu filho legítimo, branco, chamado José Epifânio dos Santos, que já é

batizado em casa por um sacerdote ...‖ (Bilhete deixado pela mãe na Roda de Salvador,

em 10/07/1841)

------------

― ... não é enjeitada, deito-a aí pela precisão. Não tenho leite nem recurso para cria-la,

estou doente, o pai a abandonou; está magra por falta de leite e de uma diarreia que teve

por causa do leite condensado‖ (1902)

------------

―Boto meu filho na Roda porque ele está prestes a morrer e não tenho com que enterrar,

pois há dias que durmo na rua.‖ (Roda de Salvador, 1916)

------------

―É uma mãe infeliz que vem trazer-vos o fruto de suas entranhas. Fui iludida, a

sociedade em que vivemos não aceita estas ocorrências da vida e eu não posso criar

minha filhinha. Eu a lanço junto ao vosso bom coração e fico certa que não repelireis de

vossa proteção a inocentinha que não tem culpa da falta de sua desgraçada mãe. [...] Sou

uma infeliz mãe, pois tenho que esconder o fruto de meu amor, a minha vergonha ...‖

(Roda de Porto Alegre)

------------

―doente, aleijada, idiota, epiléptica, vestindo somente uma camisola azul...‖ (1915, Luísa

de Matos, preta, entrou na roda com quatro anos)

Fonte: MARCÍLIO, Maria Luiza. História Social da Criança Abandonada. São Paulo: Editora Hucitec,

2006.

3.2 A realidade das crianças em abrigos brasileiros no século XXI

Passados séculos que a instituição da Roda foi instaurada no Brasil, os

casos de crianças abandonadas e abrigadas por instituições públicas e privadas

no país ainda é preocupante. Levantamentos mantido pelo Conselho Nacional de

Justiça (CNJ) de 2012 comprovam que o Brasil tem 37.240 crianças e

adolescentes atualmente vivendo em abrigos, é o que demonstra o Cadastro

Nacional de Crianças e Adolescentes Acolhidos (CNCA)6. Faremos aqui uma

breve reflexão por meio de reportagens e gráficos referente a estes números,

apontando que no Brasil ainda persiste o abandono de crianças e adolescentes.

Marcílio (2006) aponta que, se nos séculos XVII, XVIII e XIX a principal

causa do abandono estava relacionada à pobreza, hoje percebemos que novos

fatores permeiam o abandono ou acolhimento de crianças em abrigos, sendo o

principal o envolvimento dos pais com as drogas.

6http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/18297:mais-de-37-mil-jovens-vivem-em-abrigos

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Um fator determinante na vida destas

crianças seriam as leis de adoção propostas pelo

ECA a partir de 1990 e regulamentadas em 2009,

porém entraves judiciais, preconceitos e idades

dificultam as adoções.

Na avaliação do Conselho Nacional de

Justiça a discrepância entre o perfil de quem quer

adotar com o perfil da criança ou adolescente a ser

adotado é um grande empecilho, como afirma o CNJ:

“Nacionalmente, verifica-se que o perfil das crianças

e adolescentes cadastrados no CNA é destoante

quando comparado ao perfil das crianças

pretendidas, fato que reveste a questão como de

grande complexidade”. (Em discussão! 2013)

Segundo o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), que tabulou dados em 2012 e

2013, baseado em informações obtidas com os abrigos, os principais motivos para o

acolhimento são uso de drogas pelos pais (79%), negligência (77%), abandono pelos pais ou

responsáveis (74%), violência doméstica (53%), abuso sexual praticado pelos pais ou

responsáveis (43%) e ausência dos pais ou responsáveis por prisão (28%). Antonio Carlos

Ozório Nunes, membro auxiliar da Comissão da Infância e Juventude do CNMP, explica que

o estudo permite relatar mais de uma causa para o acolhimento e que os motivos estão ligados.

Fonte: http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/2014-03-24/filhos-de-usuarios-de-droga-sao-maioria-entre-as-

criancas-acolhidas-em-abrigos.html Acessado: 15/10/2014

INDICAÇÃO DE VÍDEOS

Retrato da Adoção no Brasil

Sinopse: O Jornal Hoje

apresenta reportagens que

fazem um retrato da adoção no

Brasil.

Data das repostagens:

05/11/2013 e 06/11/20134

Título: Crianças abandonadas pelos pais em abrigos não são liberadas para adoção. Link:

http://globotv.globo.com/rede-globo/jornal-hoje/v/criancas-abandonadas-pelos-pais-em-abrigos-nao-sao-liberadas-para-adocao/2935254/

Título: Menos de 1% dos adotantes

buscam crianças com mais de sete anos. Link: http://g1.globo.com/jornal-hoje/noticia/2013/11/menos-de-1-dos-adotantes-buscam-criancas-com-mais-de-sete-anos.html Acessado: 15/10/2014

INDICAÇÃO DE LEITURA

Na edição nº 15 da de Maio de

2013 da revista de audiências

públicas do Senado Federal ―Em

Discussão!1‖ Ano 4, foi retratado

o tema ―Realidade brasileira

sobre adoção‖, nesta edição há

vários textos acentuando a

questão das crianças em abrigos

pelo Brasil. Link da revista:

http://www.senado.gov.br/NOTICIAS/J

ORNAL/EMDISCUSSAO/adocao/realid

ade-brasileira-sobre-adocao.aspx

Acessado em 06/10/2014

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Analisando os textos

1- Analise e aponte os motivos que levaram os pais a abandonarem seus filhos na Roda e

nos dias atuais.

2- Analisando os textos e os vídeos que retratam a situação da criança pobre abandonada

nos séculos XIX e XXI a criação de instituições seria a solução para essas crianças?

Justifique sua resposta

3- Segundo a autora "com o fim da escravidão, o sistema que existiu foi sempre o da forte

concentração de rendas e da exclusão, de marginalização de uma faixa considerável da

população. Em sua quase totalidade, as crianças que eram abandonadas provinham dessa

faixa de miseráveis e excluídos. a pobreza foi a causa primeira - e de longe a maior - do

abandono de crianças em todas as épocas." (MARCÍLIO, 2006. p. 257). Você acredita

que a pobreza ainda é causa de abandono? Justifique sua resposta

Page 19: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · 2. A descoberta social da criança e da família na Europa escritor francês Philippe Ariés é considerado um dos pioneiros na

RESSURGIMENTO DA “RODA” NO SÉCULO XXI Hospitais europeus instalam uma versão moderna da "roda dos enjeitados", para receber

bebês abandonados

O aumento do número de recém-nascidos abandonados – principalmente por imigrantes

ilegais – tem feito alguns países da Europa reviver uma prática medieval: a "roda dos

enjeitados". Instalados nas portas de igrejas e conventos, cilindros de madeira giratórios

serviam para que mães deixassem seus filhos em mãos seguras, sem ser identificadas. Ao

colocar os bebês no cilindro, elas tocavam uma campainha que avisava freiras e padres de que

ali estava uma criança abandonada. A versão moderna da "roda" entrou em uso em hospitais na

Itália, Alemanha, Áustria e Suíça. No lugar dos cilindros de madeira, o bebê é colocado num

berço, através de uma janela que impede a identificação da pessoa que o deixou ali. O berço é

aquecido e equipado com sensores que alertam médicos e enfermeiros sobre a presença da

criança. Localizado em um bairro de Roma com grande concentração de imigrantes, o Hospital

Casilino ativou o sistema recentemente. Na noite do último dia 24, o primeiro bebê foi deixado

ali. Em quarenta segundos, uma equipe do hospital já estava cuidando do menino de 3 meses, a

quem deram o nome de Stefano.

A "roda dos enjeitados" foi criada em Marselha, na França, em 1188. [...] No fim do século

XIX, o Hospital Santo Spirito, próximo ao Vaticano, um dos primeiros a dispor da "roda dos

enjeitados", chegou a receber cerca de 3.000 bebês abandonados por ano. Sobrenomes comuns

de famílias italianas teriam origem na "roda dos enjeitados". Entre eles, Esposito, que vem de

"exposto" e Innocenti (alusão à inocência infantil). Um dos mais famosos usuários da "roda" foi

o filósofo francês Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), que abandonou os cinco filhos que teve

com a serviçal Thérèse le Vasseur. No Brasil, assim como em Portugal, ela era mais conhecida

como "roda dos expostos" e funcionou até meados do século passado, sobretudo nas Santas

Casas de Misericórdia do Rio de Janeiro e de São Paulo. [...] No curta Roda dos Expostos, a

cineasta Maria Emília de Azevedo expõe a dor de um filho abandonado por esse método. Todas

as noites, o personagem volta à "roda", na esperança de reencontrar a sua mãe.

A janela da esperança

Uma janela de vidro instalada na parte externa do hospital separa a pessoa que entrega o bebê

do berço onde ele será colocado.

Macio e aquecido, o berço é mantido em uma área isolada.

Sensores e câmeras alertam a equipe do hospital assim que o bebê é deixado.

Fonte: BUCHALLA, Anna Paula. Veja, 7 de março de 2007.

Indicação de Vídeo

Sinopse: Reportagem ―Filhos da Roda - Bebês abandonados no hospital hoje são idosos cheios

de vida‖ do programa Hoje em Dia, que retrata a vida de duas crianças que foram abandonadas

na Roda da Santa Casa de São Paulo no começo do século XX. Duas crianças, duas histórias e

dois destinos.

Data da reportagem: 02/01/2013 Disponível no link: http://www.youtube.com/watch?v=VLZoLGFVeEs

Acessado: 26/09/2014

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Analisando os textos

Faça a leitura do texto ―O Ressurgimento da ―Roda‖ no século XXI‖ e assista ao vídeo

―Filhos da roda - Bebês abandonados no hospital hoje são idosos cheios de vida".

Após refletir sobre o texto e o vídeo, apresente seu ponto de vista sobre a seguinte

questão:

Você considera que, dada a quantidade de crianças abandonadas no Brasil e em outros

países, a instituição da Roda seria uma atitude adequada nos dias de hoje?

Page 21: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · 2. A descoberta social da criança e da família na Europa escritor francês Philippe Ariés é considerado um dos pioneiros na

4. Contextualização Histórica do Atendimento à Infância no Brasil República

(1889-1985) 7

Código de

Menores (1927)

_ Infância como

objeto e controle

do Estado;

- Estratégia

médica-jurídica-

assistencial.

Autoritarismo

Populista e o

Serviço de

Assistência ao

Menor (SAM)

- DNCr (1940) –

Departamento

Nacional da Criança;

- Serviço de

Assistência ao Menor

(1941- SAM)

- LBA – Legião

Brasileira de

Assistência.

- Avanço estatal no

serviço social de

atendimento infantil.

Democracia

Populista

- Instituto de

Adoção:

regulamentação

dos serviços de

adoção.

- Declaração

Universal dos

Direitos da

Criança (1959).

Ditadura Militar e a

Fundação Nacional do

Bem-Estar do Menor.

Código de Menores

1979: Doutrina da

situação irregular do

menor;

Reordenamento

institucional repressivo.

Criação das FEBEMs.

7 Fonte do quadro: PEREZ, José Roberto Rus; PASSONE, Eric Ferdinando. Políticas sociais de

atendimento às crianças e aos adolescentes no Brasil. Cad. Pesquisa, São Paulo, v. 40, n. 140, ago. 2010. Disponível em: http://educa.fcc.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-15742010000200017&lng=pt&nrm=iso. Acessos em 04/10/ 2014.

1889 - 1930 1930 - 1945 1945 - 1964 1964 - 1985

TRAJETÓRIA HISTÓRICA DA INFÂNCIA NO BRASIL:

REPÚBLICA

Page 22: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · 2. A descoberta social da criança e da família na Europa escritor francês Philippe Ariés é considerado um dos pioneiros na

om o advento da República (1889), emergiu, no Brasil, uma

preocupação higienista e moral por parte dos médicos, juristas e do governo em

oferecer as crianças pobres desamparadas um espaço onde elas pudessem ser

preparadas para que se “transformassem em cidadãos úteis e produtivos para o

país, assegurando a organização moral da sociedade” (RIZZINI, 1995 p. 112). As

ideias higienistas e eugênicas foram introduzidas no país entre o fim do século

XIX e início do século XX. Há neste período uma preocupação voltada ao

atendimento à criança desvalida devido aos processos sociais e econômicos por

que o Brasil passava, como: o fim do regime de trabalho escravo, a imigração de

trabalhadores europeus, a diminuição do mercado de trabalho acompanhado de

um crescimento das áreas urbanas.

Em “Os Bestializados”, encontra-se o seguinte trecho sobre a cidade do Rio

de Janeiro:

E é nesse contexto que os juristas criam uma designação diferente para o

termo “criança”. Criança passa a ser o termo designado aos filhos da classe

burguesa, refletindo o que já havia na Europa. O sentimento de infância será

diferente entre os filhos da classe burguesa e os filhos da classe trabalhadora

(Ariés, 1978). A partir daí, já se apresenta na sociedade europeia e também no

Brasil a desigualdade de tratamento às crianças dessas duas classes sociais.

MARCILIO, (2006). Havia uma visível diferença entre a “criança pobre” e

a criança estigmatizada de “menor”. A criança pobre segundo os filantrópicos,

entre eles os higienistas, deveriam ser resguardadas, protegidas e educadas para

servir à sociedade, enquanto o “menor” deveria ser retirado da sociedade.

Segundo Londoño (1991, p.135), os juristas brasileiros “descobriram” o

menor nas crianças pobres e abandonadas nas cidades, que ao cometer delitos

eram levadas à cadeia, sendo chamados então de “menores criminosos”, que

segundo os juristas eram abandonados também pelo Estado, sendo tratados

simplesmente como casos de polícia. O desamparo moral e material em que

viviam essas crianças abandonadas e infratoras abandonada deixou de ser caso

de polícia e passou a ser uma questão de assistência e proteção garantida pelo

Estado com a aprovação do Código de Menores em 1927.

(...) ladrões, prostitutas, malandros, desertores do exército, da Marinha e dos navios

estrangeiros, ciganos, ambulantes, trapaceiros, criados, serventes de repartições públicas,

ratoeiros, recebedores de bondes, engraxates, carroceiros, floristas, bicheiros, jogadores,

receptores, pivetes... gente desocupada em grande quantidade sendo notável o número de

menores abandonados‖ (CARVALHO, 1987, p.18 grifos meus).

Page 23: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · 2. A descoberta social da criança e da família na Europa escritor francês Philippe Ariés é considerado um dos pioneiros na

Com a formulação do Código de Menores de 1927 a problemática do

Menor foi assumida oficialmente pelo Estado (Violante p. 15) Porém, este código

era destinado principalmente aos menores de 18 anos, classificados como

situação irregular (FROTA, 2003). O código de 1927 incorporou tanto uma visão

higienista de proteção ao indivíduo e a seu meio, como uma visão jurídica de

repressão e moralidade. Porém, o fator determinante para os pais perderem o

pátrio poder era a sua origem socioeconômica

No decorrer dos anos 30, continua o clima de preocupação com o

aumento da precocidade da criminalidade infantil.

O foco das políticas públicas desse governo será o fortalecimento da

assistência social aos grupos que apresentavam “desajustamento social”, pois

tornavam-se uma ameaça a própria nacionalidade (RIZZINI:1995). Durante a era

Vargas (1930-1945) surgiram várias instituições de

caráter social. A criança pobre e sua família

passaram a ser objeto de ações sociais,

procurando compensar de certa maneira por meio

de uma política paternalista as mazelas do

trabalhador e evitando uma possível manifestação

trabalhista.

Com o intuito de “integrar” e “recuperar”

“menores” ao meio social foi criado em 1941 o Serviço de Assistência ao Menor

(SAM) que, conforme (RIZZINI, 1995 p. 277) foi responsável pela sistematização

e orientação dos „serviços de assistência a menores desvalidos e transviados.

A partir de então toda criança e adolescente que tivessem cometido atos

infracionais eram considerados delinquentes de alta periculosidade. O SAM não

alcançou objetivos diferentes em relação à internação de “menores” do que já

havia no Brasil desde o Código de 1927, na verdade foi ineficaz em suas ações.

Os maus tratos, a alimentação de péssima qualidade, a ociosidade, a

superlotação, a falta de higiene e a precariedade dos estabelecimentos eram

lugar comum em todas as unidades. (RIZZINI, 1995)

Com o período de redemocratização na década de 50, não havia mais

espaço para o assistencialismo de Vargas, novas providências são estudadas. A

questão social referente ao “menor” torna-se novamente uma questão de política

pública.

Com o golpe militar de 1964 estabeleceu-se a Política do Bem Estar do

Menor (PNBEM) que introduziria a rede nacional a Fundação do Bem Estar do

Menor (FUNABEM) extinguindo o SAM, mas incorporando seu patrimônio material

e suas atividades cotidianas.

Neste período, principalmente na segunda metade dos anos 60, o Brasil

passa por um processo mais acentuado de urbanização devido ao acelerado

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ritmo de exclusão do homem do campo, o chamado êxodo rural. Essas famílias

saem do campo e de seus locais de origem e vão para as periferias das grandes

cidades em busca de padrões de vida melhores, enaltecidos pelas políticas de

desenvolvimento nacional. (FUNABEM, 1976, p.14, apud RIZZINI:1995).

Conforme afirma Violante (1989), a PNBM, para tratar da questão social do

menor no Brasil estabelece um estudo psicossocial, todavia essa política ao

estudar a marginalização da sociedade,

não estabelecia que esse processo de

situação de pobreza era decorrente de

políticas econômicas socialmente

perversas. A maioria desses menores

institucionalizados era proveniente de

famílias marginalizadas e paupérrimas.

As ações praticadas por eles,

tidas como atos antissociais, justificava

seu internamento numa entidade para

correção ou prevenção de sua condição

marginal de sobrevivência. Surgem

então neste período novas formas de

descrever o menor, agora conhecido

como “menor marginalizado” ou

“marginal”

Todavia o que se percebeu ao longo da existência das FEBEM´s foi que

elas reproduziram a condição marginal do menor, tanto econômica, como social e

psicologicamente.

Analisando os textos

Analise as informações do texto "Trajetória da Infância no Brasil: República"

referente a institucionalização da FEBEM nos estados brasileiros com o recorte

do filme "o Contador de Histórias" e discuta com os colegas qual era a ideologia

alusiva do governo militar sobre a criança pobre no Brasil.

Sob o ponto de vista econômico a prática escolar e profissional usadas como contenção e

com descaso dentro da FEBEM, não produz as condições necessárias para sua

sobrevivência através do trabalho. (...) Sob o ponto de vista social, sua idade, cor, gestos,

trajes, o fato de ser egresso da FEBEM estigmatiza-o, impedindo-o de ser aceito no

mundo dos ―normais‖ (...) Sob o ponto de vista psicossocial, o Menor acaba por cumprir a

carreira que a FEBEM lhe traça, podendo chegar a se ―formar‖ (...) um ―decente

malandro‖ (VIOLANTE, 1983 p. 189 – 191) (Grifo meu).

Indicação de Recorte de Filme

Filme: ―O Contador de Histórias‖

Ano: 2009

Sinopse: Anos 70. Aos 6 anos Roberto

Carlos Ramos (Marco Ribeiro) foi

escolhido por sua mãe (Jú Colombo) para

ser interno em uma instituição oficial

(FEBEM) que, segundo apregoava a

propaganda, visava a formação de

crianças em médicos, advogados e

engenheiros. Entretanto a realidade era

bem diferente, o que fez com que Roberto

aprendesse as regras de sobrevivência no

local.

Duração: 6:09 min

Disponível no link:

https://www.youtube.com/watch?v=-

4MPxX5YZFc

Acessado: 21/10/2014

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Em 1968 o governo brasileiro firmou com o Fundo das Nações Unidas

para a Infância um acordo de que assumiria os preceitos da Declaração Universal

dos Direitos da Criança, embora na prática aprovou-se um novo Código de

Menores, de 1979, mais repressivo, baseando-se na mesma doutrina da situação

irregular que pautava o código anterior (1927). O Código foi considerado por

alguns autores, responsável pela degradação pessoal e social pelas quais

crianças e adolescente passaram.

A Política do Bem Estar do Menor (PNBEM) e o Código de 1979,

também se mostraram insuficientes e arcaicos frente às situações sociais e

econômicas pelas quais o Brasil passava.

A partir da década de 1980, o cenário político brasileiro era de

redemocratização com o envolvimento de segmentos sociais na busca de resgate

de direitos e pela construção da cidadania. Nesse contexto, encontramos as

Pastorais do Menor, as ONGs (Organizações Não Governamentais) a OAB

(Organização dos Advogados do Brasil) e a Comissão dos Direitos Humanos que

influenciados pelas normativas internacionais passam a discutir também sobre a

temática da infância e da juventude.

Analisando charge

06 de outubro de 1999. A rebelião é a

fuga de menores da FEBEM foi um

dos muitos problemas enfrentados

pelo governador Mario Covas.

Discuta em grupo as informações

retratadas na imagem do chargista

Cláudio.

Fonte: http://chargistaclaudio.zip.net/arch2009-10-04_2009-10-10.html#2009_10-06_21_07_52-2424842-0 Acessado 03/11/2014

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4.2 Trabalhando com cinema

Analisando o filme " O Contador de Histórias"

1- Você já conhecia este filme? Qual parte lhe chamou mais tua atenção?

2- Qual a imagem que o filme nos passa sobre a FEBEM? Ela condiz com as afirmações

de Maria Lucia Violante estudadas no texto? Justifique dando exemplo com cenas do

filme.

3- Qual método era utilizado pela FEBEM para "educar" as crianças e adolescentes?

5- Segundo Passetti (1998) a função da FEBEM "É a esse ―menor marginalizado‖ que irá

se criar entidades repressivo-correcionais, como a FEBEM com a ideologia de

―reintegração social‖ deste indivíduo, ou seja, evitar o desfecho do circuito pobreza –

práticas antissociais – marginalização, alterando-o para pobreza – conduta antissocial –

instituição – reintegração. O Estado faria seu papel de preceptor das crianças carentes e

infratoras".

Segundo o filme, a instituição foi capaz de realizar esta reintegração? Justifique.

4- Segundo o filme as pessoas que trabalhavam na FEBEM acreditavam na reintegração

social daqueles internos?

Lançamento: 7 de agosto de 2009 (1h50min)

Dirigido por: Luiz Villaça

Gênero: Drama

Nacionalidade: Brasil

Distribuidor: Warner Bros.

Sinopse: Anos 70. Aos 6 anos Roberto Carlos Ramos

(Marco Ribeiro) foi escolhido por sua mãe (Jú

Colombo) para ser interno em uma instituição oficial

que, segundo apregoava a propaganda, visava a

formação de crianças em médicos, advogados e

engenheiros. Entretanto a realidade era bem

diferente, o que fez com que Roberto aprendesse as

regras de sobrevivência no local. Pouco depois de

completar 7 anos ele é transferido, passando a

conviver com crianças até 14 anos. Aos 13 anos,

ainda analfabeto, Roberto tem contato com as drogas

e já acumula mais de 100 tentativas de fuga.

Considerado irrecuperável por muitos, Roberto

recebe a visita da psicóloga francesa Margherit

Duvas (Maria de Medeiros). Tratando-o com

respeito, ela inicia o processo de recuperação e

aprendizagem de Roberto. Fonte: http://www.adorocinema.com/filmes/filme-188539/

Page 27: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · 2. A descoberta social da criança e da família na Europa escritor francês Philippe Ariés é considerado um dos pioneiros na

5- Há uma cena do filme que a personagem francesa Margherit fala a diretora da FEBEM

que eles (a instituição, o Estado e a sociedade) já perderam aquela guerra, e a diretora

responde que "está guerra já está perdida desde quando uma mãe entrega seu filho à

instituição por motivo de pobreza." O que está cena retrata sobre a sociedade brasileira da

década de 70?

6- Na mesma cena, Margherit diz à diretora que ela não acredita que uma criança de 13

anos possa ser irrecuperável. A diretora responde a Margherit que o que ela deu ao

menino Roberto Carlos foi uma família e que aquilo ali (a FEBEM) é política pública. O

que você tem a comentar sobre está cena?

7- No seu entender porque a francesa conseguiu recuperar Roberto Carlos?

8- Que mensagem o filme passou para você?

9- Algumas autoridades políticas defendem o aumento de instituições repressivas para

adolescentes como justificativa para o combate a violência. Você concorda que investir na

repressão seria a resolução do problema? Por quê?

10- Observe o quadro que demonstra o número de adolescentes restritos e privados de

liberdade no Brasil e no Paraná e debate com o grupo a seguinte questão: As políticas

públicas de proteção à criança e ao adolescente no Brasil estão sendo eficaz?

PROPORÇÃO ENTRE POPULAÇÃO ADOLESCENTE X ADOLESCENTES

RESTRITOS E PRIVADOS DE LIBERDADE

UF

Adolescentes

(12 a 17 anos

completos)

Adolescentes

restritos e privados

de liberdade

Proporção

(por 10 mil

adolescentes)

BR 20.666.575 18.107 8,8

PR 1.118.284 1.092 9,8 FONTE: População internos: Levantamento Nacional do Atendimento Socioeducativo 2010 - Estados / SDH /

SNPDCA / Sinase; População adolescente: Censo IBGE 2010

Indicação de Sítio

No site http://wwws.br.warnerbros.com/ocontadordehistorias/projetoescola/ (acessado

25/10/2014) Você encontra o Projeto Escola, que promove sessões educativas gratuitas

seguidas de debate, oferece site para ampliação de pesquisa e guias impressos e digitais

dirigidos a professores e alunos do Ensino Médio no Brasil. Alguns dos objetivos do projeto

são aproximar currículo e cotidiano, e permitir que a magia do cinema ganhe novos

contornos educativos em sala de aula, dinamizando aprendizados e reflexões.. Elenca

algumas temáticas a serem exploradas em sala de aula a partir do filme "O Contador de

Histórias" , mas a ideia principal é que novas possibilidades sejam criadas pelos professores,

de acordo com o projeto pedagógico de cada unidade de ensino.

Page 28: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · 2. A descoberta social da criança e da família na Europa escritor francês Philippe Ariés é considerado um dos pioneiros na

5. Consolidação das leis de Proteção Integral à criança e ao adolescente

O Surgimento do Estatuto da Criança e do Adolescente

o início da década de 80 do século

XX, no Brasil, acenava-se para mudanças sociais,

econômicas e políticas. Ao longo da década houve

uma crescente organização de diversos setores da

sociedade brasileira, pressionando por abertura

política, por redemocratização e por uma nova

Constituição. Esses movimentos sociais

culminaram com o fim do regime militar e com a

redemocratização do Estado brasileiro, ensejando

a reconquista dos direitos de expressão individual e

coletiva, de organizações populares e partidárias,

de greve e de voto. Em 1985, inicia-se o processo de abertura, e mesmo que

indiretamente, um presidente civil foi eleito e em 1988 foi promulgada a

Constituição Federal, consolidando o Brasil como país democrático.

Os movimentos sociais que surgem com as novas políticas sociais e

econômicas, tanto nacionais como impulsionadas por estímulos internacionais,

irão denunciar as injustiças cometidas ao coletivo infanto-juvenil no Brasil.

Em 1983 a Associação de Juízes de Menores debatia sobre a situação da

infância no Brasil. Na oportunidade, a professora Terezinha Saraiva apresentou

uma síntese dos indicadores sociais da infância no país que trazia à sociedade a

visibilidade das crianças brasileiras na década de 80:

Esta informação, junto a denúncias referentes a situações da criança

brasileira, impulsionou grupos sociais e instituições a articularem um movimento

Em 1980, 64,5% dos menores de 19 anos compunham a população urbana. A população

estimada para o Brasil, em 1981, era de 120 milhões, 179 mil e 300 pessoas. [...] 48,9%

destas famílias que se caracterizavam por ter como chefe uma pessoa cujo rendimento

mensal era inferior a 2 (dois) salários mínimos, abrigavam 51,2% dos menores de 19

anos. Se acrescentarmos os que se declaravam ―sem rendimentos‖, podemos considerar a

existência de 32 milhões de menores atingidos pela carência socioeconômica.

(FUNABEM, apud RIZZINI, 1995 p. 160) (grifo meu).

O que é um Estatuto?

Segundo o dicionário

Jurídico é um conjunto

de regras que, como

Lei Orgânica interna,

rege o funcionamento

de uma sociedade,

companhia, associação,

corporação ou

fundação.

Fonte:

http://direitovirtual.com.br/dici

onario/?letra=E&key=&page=

11

Acessado: 10/10/2014

O Advento do Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA

Page 29: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · 2. A descoberta social da criança e da família na Europa escritor francês Philippe Ariés é considerado um dos pioneiros na

em torno da “causa do menor”, tornando notória “a distância existente entre

crianças e menores no Brasil, mostrando que crianças pobres não tinham sequer

direito à infância. Estariam elas em situação irregular”. (RIZZINI, 1995, p.160)

Era visível para a sociedade o fracasso do Código de Menores de 1979,

e, como consequência, era preciso rever o papel do Estado e a responsabilidade

da sociedade como um todo. As crianças chamadas de “pivetes”, “trombadinhas”,

“menores abandonados”, “infratores” e outros, tornam se objeto de atenção e

visibilidade por parte da sociedade e pelos meios de comunicação, demonstrando

ser um dos problemas sociais mais graves do país, sendo estes então agora

chamados de meninos de rua. (RIZZINI, 1995)

A articulação do setor público federal com organizações da sociedade civil

atingiu seus objetivos em 1988 com a aprovação do artigo 227 da Constituição

Brasileira, que, baseado nos postulados da Declaração Universal dos Direitos da

Criança, fundamentou a Doutrina de Proteção Integral à Criança, determinando

a família, o Estado e a sociedade como responsáveis pela defesa e promoção

dos direitos da criança:

Reconhecendo a criança na sociedade

como sujeito de direitos e objeto de proteção

integral foi promulgado, em 13 de julho de 1990,

o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA),

sob a Lei 8.069. O ECA substituiu o repressivo

Código de Menores de 1979, “e instaurou novas

referências políticas, jurídicas e sociais. O país

baniu a categoria „menor‟ do arcabouço

conceitual e jurídico, introduzindo a moderna

noção de adolescência [...]” (PEREZ e

PASSONE, 2010 p. 666).

O Estatuto ao reconhecer a criança e

o adolescente como sujeitos de direitos e

pessoas em pleno desenvolvimento, estabelece

parâmetros e conceitua o que é criança e o que é adolescente.

Art. 227 - É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao

adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à

educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à

liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda

forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

(BRASIL, 1988)

Indicação de Vídeo

Título: História do ECA

Sinopse: vídeo do Instituto

Fala Guri que conta em uma

linha do tempo dinâmica a

história da criança e do

adolescente até a criação do

ECA.

Data: 13/07/2011

Duração: 7min12s

Disponível no link:

https://www.youtube.com/watc

h?v=-

MolUWzehLE&w=420&h=315

Acessado: 21/10/2014

Page 30: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · 2. A descoberta social da criança e da família na Europa escritor francês Philippe Ariés é considerado um dos pioneiros na

Observe no quadro abaixo as diferenças de doutrinas que davam base

ao Código de Menores no Brasil e atualmente no Estatuto da Criança e do

Adolescente.

Código de Menores de 1979 e o ECA8

Estatutos Legais Código de Menores (1979) Estatuto da Criança e do Adolescente

(1990)

Doutrina Jurídica Doutrina de Situação

Irregular

Doutrina de Proteção Integral

Destinatários Menores entre zero e dezoito

anos que se encontram em

situação irregular (medidas de

proteção)

- Todas as crianças e adolescentes;

- crianças e adolescentes com direitos

violados;

- adolescentes suspeitos de

ato infracional.

Concepção

Política Social

Implícita

Instrumento de controle

social dos menores carentes,

abandonados e infratores.

Instrumento de desenvolvimento social

para as crianças e adolescentes e de

proteção integral às crianças e

adolescentes em situação de risco.

8 Fonte: FROTA, M. G. C. A cidadania da infância e da adolescência. In: CARVALHO, A.;

SALLES, F.; GUIMARÃES, M.; UDE, W. (org.). Políticas públicas. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002.

Art. 2º Criança, [...] a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente, aquela

entre doze e dezoito anos de idade. Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os

direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que

trata esta Lei, assegurando-se lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e

facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e

social, em condições de liberdade e de dignidade [...]. Art. 6º Na interpretação desta Lei

levar-se-ão em conta os fins sociais a que ela se dirige, as exigências do bem comum, os

direitos e deveres individuais e coletivos, e a condição peculiar da criança e do adolescente

como pessoas em desenvolvimento. (BRASIL, 1990)

Page 31: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · 2. A descoberta social da criança e da família na Europa escritor francês Philippe Ariés é considerado um dos pioneiros na

5.2 Como está organizado o Estatuto Criança e do Adolescente?

O Estatuto da Criança e do Adolescente está

dividido em dois livros. O primeiro trata dos princípios

norteadores como proteção integral, direitos

fundamentais e prevenção. O segundo que é a parte

especial trata da política de atendimento, medidas de

proteção, da prática do ato infracional, as medidas

pertinentes aos pais ou responsáveis, o conselho

tutelar, o acesso à justiça, a apuração de infração administrativa, os crimes e as

infrações administrativas.

O livro I, é destinado a todas crianças e adolescentes enquanto o livro II é

destinado a crianças e adolescentes em situação de risco.

O ECA é sem dúvida uma grande

conquista no que concerne à proteção e

aos questionamentos relacionados às

políticas sociais voltadas a favor da

infância, porém, decorridos 24 anos,

percebemos que o processo de

implementação dessa lei é lento e com

muitos percalços e contratempos. A sua

aplicabilidade à realidade brasileira

continua vacilante e parece até mesmo

algo utópico, tendo em vista que em todos

estes anos não foram instrumentalizadas

políticas públicas e econômicas de

respaldo à população marginalizada pela

falta de cumprimento da Constituição.

Uma das medidas propostas pela nova

Constituição foi a de transferir parcelas do

poder da União para os municípios, realizando a descentralização da política

social do país. Um desses processos de municipalização foi a criação dos

Conselhos Municipais de Direito e Conselhos Tutelares, que vão ser responsáveis

pelo cumprimento das leis referentes à criança e ao adolescente na sociedade.

Se o Estatuto previu proteção integral, é necessário, para que esta se

torne efetiva, validar esse Estatuto (VOGEL, 1995, p. 325), pondo-o em prática

através da dispensação dos recursos que o caso prevê, bem como preparando,

Você sabia?

A Lei nº 8.069/90

corresponde ao Estatuto

da Criança e do

Adolescente - ECA

Indicação de vídeo

Título: Estatuto da Criança e do

Adolescente - UFG

Sinopse: Vídeo educativo sobre o

Estatuto da Criança e do Adolescente

produzido pelo Centro Integrado de

Aprendizagem em Rede da

Universidade Federal de Goiás para os

cursos de Especialização em Educação

para a Diversidade e Cidadania e de

Extensão Estatuto da Criança e do

Adolescente

Data: 14/06/2011

Duração: 6min45s

Disponível no link:

http://www.youtube.com/watch?v=y5r

6vThH_XU&w=420&h=315]

Acessado: 21/10/2014

Page 32: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · 2. A descoberta social da criança e da família na Europa escritor francês Philippe Ariés é considerado um dos pioneiros na

adequadamente, os profissionais que irão pôr em prática suas normas e

prerrogativas.

A doutrina de Proteção Integral define buscar a justiça quando o Direito

de alguém (no caso criança ou adolescente) for violado ou ameaçado, porém a

possibilidade de justiça (ou injustiça) não está mais disposta apenas ao Poder

Judiciário, mas distribuída em todo o complexo social. (SÊDA, 1995)

Portanto, para se pôr em prática o Direito de cidadania, garantido às

crianças e adolescentes no Brasil a partir de 1990, é preciso que a sociedade

brasileira tenha conhecimento dos direitos que possuem e dos deveres aos quais

estão submetidos os adultos em relação à população infanto-juvenil. E bem

assim, as crianças e adolescentes também devem ter noção do que a Lei

estabelece em relação a si mesmos e ao mundo adulto: nenhum cidadão pode

violar impunemente a cidadania alheia e nem mesmo violar sua própria cidadania.

(SÊDA, 1995a).

Analisando os textos 1- Vamos conhecer a organização do livro ECA?

Leia o texto "Como está organizado o Estatuto da Criança e do Adolescente?" e assista ao

vídeo " Estatuto da Criança e do Adolescente - UFG" em grupo verifiquem no livro ECA

as duas partes que ele está dividido, analise as divisões do ECA que foram retratadas no

vídeo.

3- Segundo Edson Sêda (1995), assegurar que os direitos sejam cumpridos, torna-se uma

obrigação de toda sociedade. Com a Proteção Integral busca-se construir um mundo de

direitos atendidos de fato. O autor expõe um exemplo:

" Embora ‗quando‘ se veja criança na rua (sem família, sem educação, sem abrigo)

todos ainda enxerguem criança em situação irregular (porque olham através da luneta

do obsoleto Direito de Menores), o que o novo jurista em verdade percebe é política

pública em situação irregular [...]" (SÊDA, 1995a p. 31).

Justifique a afirmação do autor sobre "política pública em situação irregular".

Você sabia?

Para que os princípios de Proteção Integral sejam efetivados é preciso que o

município cumpra com a instituição das duas autoridades públicas que são: o Conselho

Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente que delibera e toma decisões de grande

envergadura - delibera sobre o desenho das políticas públicas - e o Conselho Tutelar da

Criança e do Adolescente que não delibera sobre políticas públicas, delibera sobre casos

concretos de crianças e adolescentes ameaçados ou violados em seus direitos. (SÊDA, 1995b

p. 71)

Você sabe quem são os membros do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do

Adolescente do seu município?

Você sabia que o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente tem papel

fundamental em relação ao Fundo?

Page 33: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · 2. A descoberta social da criança e da família na Europa escritor francês Philippe Ariés é considerado um dos pioneiros na

6. O Estatuto, a família e a Escola

ados do Sindicato dos Professores do Estado do Paraná apontam

que em 2012, dos aproximadamente 76 mil professores do Quadro Próprio do

Magistério (QPM), 9,55 mil foram afastados por transtornos mentais ou

comportamentais, o que representa 12% do efetivo. Outros 5 mil profissionais se

afastaram por doenças do sistema osteomuscular e tecido conjuntivo.9 Segundo o

sindicato, a principal causa desses afastamentos dos docentes das salas de aula

tem ligação estreita com a indisciplina escolar.

A relação ECA/escola tem se tornado conflitante principalmente a partir

da década de 90. Para grande parte dos profissionais da educação, a Lei º 8.069

contempla exclusivamente direitos à criança e ao adolescente, o que tem

favorecido os atos de indisciplina ocorridos na escola, já que segundo eles não há

mais permissão de punição a estes atos.

Segundo a antropóloga Gilda de Castro (2003), a partir da década de 60,

começou no país uma deterioração da imagem do professor o que veio acarretar

9 Relatório Estatístico de Doenças da Secretaria Estadual de Administração e Previdência - PR

(Seap) 2012.

O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO

ADOLESCENTE, A FAMÍLIA E A ESCOLA

Será que esta situação de aumento dos casos de indisciplina no

ambiente escolar é um simples reflexo do ECA? Ou os diversos

problemas que afetam a escola brasileira vão muito além dos casos

de indisciplina?

Mas seria mesmo o ECA responsável pelos casos de

indisciplina? Não há no Estatuto medidas a serem aplicadas a criança

e adolescentes que cometem atos infracionais? Não seria muito

superficial responsabilizar uma Lei pelo caos na educação? Será que

as transformações pelas quais a escola e a educação brasileira

passaram nas últimas décadas não ajudam a explicar essa situação?

Page 34: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · 2. A descoberta social da criança e da família na Europa escritor francês Philippe Ariés é considerado um dos pioneiros na

na atualidade um clima de indisciplina e violência na escola. A autora aponta duas

proposições que comprometeram profundamente a qualidade da educação

brasileira na segunda metade do século XX: “a

transformação da professora em tia e a definição de

uma linha pedagógica denominada aprender

brincando.” (2003, p. 50). Segundo ela essas duas

proposições comprometeram severamente a

interação entre professor e aluno, pois a escola

tornou-se um lugar de brincadeira e não de trabalho.

O que segundo ela foi reforçado pelas mídias com propagandas errôneas de que

adolescente não pode trabalhar tem apenas o direito de brincar.

Castro (2003) argumenta ainda que a desvalorização do papel do professor

muitas vezes incentivado pelos pais e reforçado pelos governantes por meio da

imposição de um sistema de ensino falho em qualidade cresceu nas últimas

décadas do século XX, pois muitos pais destes adolescentes compuseram a

geração rebelde ao modelo repressor do governo militar no Brasil entre 1964 e

1985. E eles têm incentivado aos seus filhos lutarem por seus direitos, sem

muitas vezes levarem em consideração a violação ao direito do outro.

Todos estes problemas vieram a afetar as escolas brasileiras,

principalmente a partir da década de 1990, quando pela Constituição de 1988 e

assegurado pelo ECA, a educação se torna um direito obrigatório e de todos. A

escola, uma instituição até então de elite, é obrigada a receber esses alunos de

classes subalternas, que sofrem rejeição por não conseguir responder as

exigências de uma instituição burguesa. Segundo Castro

(2003: p. 100) a escola é um universo que não ajusta ao

cotidiano dos excluídos, pois são criança e adolescente

que assumem compromissos com a família

precocemente, não dispõem de infraestrutura para

realizar seus estudos e muitas vezes não contam com a

orientação efetiva dos pais para os auxiliarem neste universo. Todos estes

problemas e muitos outros que estão ao entorno das escolas acarretam em

indisciplina e desrespeito a figura do professor.

Todavia, como os casos de indisciplina e desrespeito tornaram visíveis nas

escolas a partir da aprovação do ECA, o estatuto passou a ser acusado como o

principal mentor e defensor desta situação, o que alguns estudiosos vão debater

como uma concepção errônea à Lei de proteção à infância no Brasil. O pedagogo

Antônio Carlos Gomes da Costa10, afirma que o ECA chegou às escolas de uma

10

Antônio Carlos Gomes da Costa foi oficial de projetos do Fundo das Nações Unidas para a

Infância (Unicef) e ajudou a escrever a Convenção Internacional dos Direitos da Criança e do Adolescente.

Page 35: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · 2. A descoberta social da criança e da família na Europa escritor francês Philippe Ariés é considerado um dos pioneiros na

forma distorcida, haja vista que não houve um trabalho com as redes de ensino

para entender o Estatuto:

No vídeo "O Estatuto da Criança e do Adolescente e a Escola" o pedagogo

Antônio Carlos faz uma explanação sobre a relação que ele vai chamar de triple entre

escola - família - estatuto.

O presidente da Conanda de 2011, José Fernando da Silva, corrobora

dessa tese, ao afirmar que a falta de conhecimento por parte dos professores e

também da população em relação ao ECA levam a uma visão equivocada do

Estatuto:

Assim, para os autores acima citados, a falta de informações referente ao

ECA, principalmente nas escolas, onde não houve por parte dos governantes

nenhum incentivo de formação dos professores, equipe pedagógicas e pais é a

principal responsável pelos equívocos e mal entendidos acerca do Estatuto e da

doutrina que o mesmo consagra.

É porque ela (a escola) não foi trabalhada para isso. Quando o Estatuto foi lançado, as forças sociais que estavam por trás do Estatuto se dirigiram muito mais para a polícia, para a Justiça da Infância e da Juventude, para o Ministério Público, para os internatos que privavam de liberdade as crianças por pobreza e não por cometimento de delito. Então havia tantos desafios que a escola ficou com uma lateralidade. Nenhum ator social importante se empenhou em fazer o Estatuto chegar à escola de forma não distorcida. (grifos meus)

Indicação de Vídeo

Título: O Estatuto da Criança e do Adolescente e a Escola

Sinopse: Explicação sobre a relação escola - família - estatuto, o pedagogo compara artigos

da Lei de Diretrizes e Base da Educação (LDB) com artigos do Estatuto da Criança e do

Adolescente (ECA)

Data: 14/07/2011 Duração: 9min03s

Disponível no link:

https://www.youtube.com/watch?v=IQxkYLyEvuw&w=560&h=315%5D

Acessado: 28/10/2014

A má interpretação, a falta de conhecimento e o senso comum são os fatores que fazem com que o ECA seja apontado como a lei que dá direitos e não deveres [...]. Os professores, assim como a maioria da população, não conhecem o Estatuto. O desconhecimento leva à ideia de que a lei serve como uma arma para os adolescentes, quando na verdade se trata de um escudo.

Page 36: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · 2. A descoberta social da criança e da família na Europa escritor francês Philippe Ariés é considerado um dos pioneiros na

A dificuldade em compreender que o estatuto estabelece direitos, mas

também obrigações, e que nele constam, inclusive, as medidas que cabem ao

adolescente que comete delito, propaga entre os educadores a concepção de

“impunidade” a qual estão submetidos as crianças e os adolescentes. Entretanto

segundo Antônio de Mello Júnior ocorre uma falta de informação na escola ao não

discernir ato de indisciplina de ato infracional. Para ele é necessário saber

diferenciar as condutas para saber quais medidas devem ser aplicadas. No caso

de ato indisciplinar as sanções devem estar previstas no Regimento Escolar.

Mello Júnior afirma que não há lei que proíba a aplicação de sanções às crianças

e adolescentes que comprovadamente, pratiquem atos antissociais no ambiente

escolar (MELLO JÚNIOR: 2013, p.26).

O capitão Walter João Marques Luiz11, em uma entrevista à Folha Web,

publicada no mural de notícias do site do Sindicato dos Professores do Paraná -

APP também defende o desenvolvimento de um regulamento mais eficaz em

relação ao que chama de punição pedagógica por indisciplina, pois muitas vezes

a patrulha escolar é acionada para resolver problemas de indisciplina pedagógica

que deveriam ser resolvidos pela escola. Ele afirma que “o aluno tem que

entender as consequências de seus próprios atos”.

Contudo os atos infracionais não são de competência da escola, e a

escola precisa transferi-los as autoridades cabíveis para que as medidas

disciplinares sejam aplicadas.

Portanto muitas vezes por falta de entendimento a escola subnotifica atos

infracionais passiveis de punição pela Justiça, como afirma o promotor Marcelo

Briso12, Segundo ele as escolas não adquiriam o costume de utilizar os serviços

da Vara da Juventude, por haver “uma cultura de que não se deve levar o ato

infracional escolar à Justiça. É um ranço ideológico de que a Justiça é um

instrumento de opressão". Portanto, para ele, a não responsabilização pelos atos

infracionais gerados na escola prejudicam o ambiente escolar que deveria ser

protegido, pois grande parte dos alunos quer e tem direito a

um local adequado para a aprendizagem.

Murillo José Digiácomo13 destaca que a escola não

deve ser passiva diante de problemas que envolvem

alunos relacionados ou não com a prática de atos de

indisciplina, que é fundamental que professores e

educadores em geral tenham consciência que de uma

11

Walter João Marques Luiz, comandante da 4ª Companhia de Patrulha Escolar de Londrina. http://www.appsindicato.org.br/Include/Paginas/noticia.aspx?id=9706. Acessado em 14/08/14. 12

Marcelo Briso promotor da Vara da Infância e Juventude de Londrina. http://www.folhaweb.com.br/?id_folha=2-1--82-20140202. Acessado em 14/08/14 13

Murillo José Digiácomo Promotor da Infância e Juventude de Curitiba.

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forma ou de outra são integrantes da “rede de proteção” dos direitos da criança e

do adolescente e como, os demais detém uma parcela da responsabilidade pela

plena efetivação dos direitos infanto-juvenis preconizada pelo art. 1º14, da Lei nº

8.069/90. (DIGIÁCOMO: 2013, p. 48)

6.1 O Papel da Escola frente ao Ato Infracional e Indisciplina

O artigo 53 do Estatuto estabelece que "a criança e o adolescente têm

direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo

para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho. Atualmente entende-

se que cidadania diz respeito ao cidadão que lute pelos seus direitos mas que

também tenha conhecimento de suas obrigações e deveres.

Uma das funções da educação é o preparo da cidadania, subentende

então que indisciplina é a oposição ao exercício de cidadania. Como afirma o

promotor Ferreira15 (s.a, 3-4) "[...] aí surge a indisciplina, como uma negação à

disciplina, do dever de cidadão."

Sendo assim a indisciplina é a negação do dever do cidadão, no nosso

caso, o aluno. O aluno-cidadão deve ser reconhecido como sujeito de direitos e

também de deveres, obrigações e proibições contidos nas leis jurídicas e no

Regimento da escola.

Portanto é preciso que professores, equipe pedagógicas, funcionários,

alunos e pais tenham consciência dos direitos e deveres do aluno enquanto um

cidadão. Informações errôneas e midiáticas têm transformado o

Estatuto no culpado pela indisciplina nas escolas e pregado a

impunidade gerada pelo mesmo.

Vamos analisar então o que vem a ser um ato infracional

e as medidas cabíveis ao infrator e o que vem a ser uma

indisciplina e as medidas cabíveis a escola e ao aluno.

14

Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente. 15

Luiz Antonio Miguel Ferreira, promotor de Justiça do Ministério Público do Estado de São Paulo.

Refletindo sobre o texto 1- O que vem a ser ato infracional?

2- O que é um ato indisciplinar?

Page 38: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · 2. A descoberta social da criança e da família na Europa escritor francês Philippe Ariés é considerado um dos pioneiros na

6.2 A Escola e o Ato Infracional

O promotor Ferreira assegura que quando um aluno comete um ato

infracional no ambiente escolar, a Escola (professores ou equipe pedagógica)

deve fazer os seguintes encaminhamentos:

A Escola deve tomar estas medidas, responsabilizando assim o

adolescente infrator a cumprir as medidas previstas no Estatuto da Criança e do

Adolescente, a Escola não pode ser omissa no seu papel de componente do

"Sistema de Garantias" previsto no Estatuto. Conforme afirma o promotor

Digiácomo:

Debatendo o texto 1- Que atitude a Escola deve tomar quando ocorre um ato infracional ?

2- O encaminhamento da criança e do adolescente infrator são direcionados aos

mesmos órgãos competentes?

Debatendo o texto 1- Seria o ECA o "Estatuto da Impunidade" como salientou a jornalista e

apresentadora de TV Rachel Sheherazade?

2- São previstas as mesmas Medidas de Proteção à criança e ao adolescente? Quais

são estas medidas?

3- Porque o tratamento dado a criança ou o adolescente que comete um ato

infracional é chamado de Medida de Proteção e Medidas Sócio-educativas e não de

penalidade?

Se for praticado por criança, deve encaminhar os fatos ao Conselho Tutelar,

independente de qualquer providência no âmbito policial (não há necessidade de

lavratura de boletim de ocorrência);

no caso de ato infracional praticado por adolescente, deve ser lavrado o boletim

de ocorrência na Delegacia de Polícia, que providenciará os encaminhamentos ao

Ministério Público e Juízo da Infância e da Juventude. (s/d.p. 09-10)

"[...] é fundamental que professores e educadores em geral tenham consciência de que, de

uma forma ou de outra, são integrantes do mencionado "Sistema de Garantias"/ "rede de

proteção" dos direitos da criança e do adolescente e, como os demais, detém uma parcela

da responsabilidade pela plena efetivação dos direitos infanto-juvenis preconizado pelo já

mencionado art. 1º, da Lei nº 8.069/90." (2013, p. 48)

Ato Infracional

Art. 103. Considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou

contravenção penal Fonte: Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA - 1990

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É importante salientar que a Escola não pode deixar de lado seu caráter

educativo/pedagógico, porém, a educação de um modo geral possui um papel

primordial na prevenção à violência, pois "educar" e muito mais que "ensinar".

Quando uma criança ou adolescente comete um ato infracional, o

tratamento é diferenciado de um para outro, lembramos que no Estatuto criança é

a pessoa até 12 anos incompleto e adolescente de 12 anos a dezoito anos

completo.

Quando o ato infracional é cometido pela criança, as medidas de

prevenção implicam um tratamento através da sua própria família, sem que ocorra

privação de liberdade, pois a Lei 8.069/90 no art. 98 entende que se a criança

cometeu um ato infracional houve em algum momento a violação ou ameaça de

seus direitos - previsto no art. 227 da Constituição Federal - pelos seus

responsáveis ou até mesmo política pública irregular com sua família. Caberá

então ao Conselho Tutelar realizar os encaminhamentos previstos no ECA que

podem ser:

MEDIDAS DE PROTEÇÃO À CRIANÇA INFRATORA

Art. 101

I - encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade;

II - orientação, apoio e acompanhamento temporários;

III - matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino

fundamental;

IV - inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família, à criança e ao

adolescente;

V - requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar

ou ambulatorial;

VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a

alcoólatras e toxicômanos;

VII - abrigo em entidade;

VIII - colocação em família substituta.

* O abrigo é medida provisória e excepcional, utilizável como forma de transição para

a colocação em família substituta, não implicando privação de liberdade.

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MEDIDAS SÓCIO-EDUCATIVAS AO ADOLESCENTE INFRATOR

Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá aplicar

ao adolescente as seguintes medidas:

I – advertência;

II – obrigação de reparar o dano;

III – prestação de serviços a comunidade;

IV – liberdade assistida;

V – inserção em regime de semi-liberdade;

VI – internação em estabelecimento educacional;

VII – qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI.

Porém, quando o ato infracional é cometido pelo adolescente, as medidas

são mais rigorosas e incluem as medidas de proteção junto às medidas sócio-

educativas e podem implicar privação de liberdade. Sendo elas:

As medidas sócio-educativas é uma resposta da autoridade jurídica ao

adolescente que cometeu um ato infracional, apesar de constituir aspecto

sancionatórios e coercitivos, não se trata de pena, mas sim de uma oportunidade

em processos educativos que se bem sucedidos resultarão num novo projeto de

vida, na formação de um cidadão ciente de seus direitos e deveres com a

sociedade.

Você sabia?

Se a Escola deixar de registrar ocorrência de Ato

Infracional, a omissão pode configurar contra o

responsável como crime de prevaricação

(art. 319 do Código Penal),

Contravenção Penal

(art. 66 da Lei das Contravenções Penais) ou

Infração Administrativa

(art. 245 ECA).

São de competência da administração escolar.

● Combate à impunidade, ao crescimento da violência

na escola e prevenção de novos fatos.

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6.3. A Escola e o Ato Indisciplinar

O conceito de disciplina e indisciplina é muito mais complexo do que

imaginamos. No dicionário Michaelis encontramos:

Já para o psicólogo Yves de La Taille:

Ou seja, a indisciplina é o descumprimento de normas fixadas pela escola

e pelas legislações em vigor. O promotor Ferreira afirma que "ela se mostra

perniciosa, posto que sem disciplina há poucas chances de se levar a

bom termo um processo de aprendizagem. [..]" (s/d. 6)

Nesse sentido, Antonio de Mello Junior também assegura que

"o ato de indisciplina é um ato antissocial praticado pelo aluno dentro

do estabelecimento de ensino [...]" (2013, p.25).

Sendo assim, percebe-se que são vários os conceitos sobre o que venha

ser disciplina e indisciplina, porém, os autores apontam que é fundamental a

Debatendo o texto 1- O que é indisciplina escolar?

2- Quais medidas a Escola pode tomar em casos de indisciplina?

3- Onde devem constar as medidas a serem aplicadas num ato de indisciplina?

4- Somente a Escola é responsável pelos problemas de indisciplina?

Disicplina: sf (lat disciplina) 1 obsol Ensino, instrução e educação. 2 Relação de

submissão de quem é ensinado, para com aquele que ensina; observância de preceitos ou

ordens escolares: Disciplina escolar. 3 Sujeição das atividades instintivas às

refletidas. 4 Observância estrita das regras e regulamentos de uma organização civil ou

estatal.[...]

Indisciplina: sf (baixo-lat indisciplina) 1 Falta de disciplina. 2 Ato ou dito contrário à

disciplina. 3 Desobediência, desordem, rebelião.

Se entendermos por disciplina comportamentos regidos por um conjunto de normas, a

indisciplina poderá se traduzir de duas formas: 1) a revolta contra estas normas; 2) o

desconhecimento delas. No primeiro caso, a indisciplina traduz-se por uma forma de

desobediência insolente; no segundo, pelo caos dos comportamentos, pela

desorganização das relações. (LA TAILLE: 1997 p. 10)

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Escola saber diferenciar as condutas praticadas em seu âmbito, para saber quais

medidas podem ser tomadas, pois a criança ou adolescente deve ser

responsabilizado pelos seus atos. Contudo é preciso sempre lembrar que:

Um exemplo citado pelo promotor Ferreira (s/d):

Para melhor compreender o assunto vamos assistir o vídeo " Atos

infracionais e de indisciplina nas escolas".

Quais medidas serão aplicadas num ato de indisciplina?

Num ato de indisciplina as medidas deverão estar previstas no

Regimento da Escolar, em atenção ao Principio da Legalidade, sendo

assegurado ao aluno o direito de defesa sendo indispensável a ciência

aos pais ou responsáveis.

É importante salientar que cada escola possui sua própria realidade, e o

Regimento Escolar deve se adequar a esta realidade e sempre ser atualizado.

Nele deve conter as sanções aplicáveis aos alunos desde advertência até os

Todo ato infracional é um ato de indisciplina, mas nem toda indisciplina se

constituirá em um ato infracional. (JUNIOR, 2013)

" Um mesmo ato pode ser considerado de indisciplina ou ato infracional, dependendo do

contexto em que foi praticado. Uma ofensa verbal dirigida ao professor, pode ser

caracterizada como ato de indisciplina. No entanto, dependendo do tipo de ofensa e da

forma como foi dirigida, pode ser caracterizada como ato infracional - ameaça, injúria ou

difamação. para cada caso, os encaminhamento são diferentes" (p. 07)

Indicação de Vídeo

Título: Atos infracionais e de indisciplina nas escolas.

Sinopse: Promotora de Justiça de Viamão, Daniela Lucca da Silva, e a psiquiatra Ana

Margareth Bassols, chefe do Serviço de Psiquiatria da Infância e do Adolescente do Hospital

de Clínicas de Porto Alegre, falam sobre atos infracionais e de indisciplina na escola. Como

proceder em relação a alunos que praticam atos de indisciplina no âmbito escolar? Há

condutas que chegam a ultrapassar os limites e acabam sendo caracterizadas como atos

infracionais?

Data: 25/02/2013 Duração: 28min28s

Disponível no link:

https://www.youtube.com/watch?v=JMjZAyKiVQo

Page 43: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · 2. A descoberta social da criança e da família na Europa escritor francês Philippe Ariés é considerado um dos pioneiros na

casos mais graves. Entretanto em quaisquer casos a escola deve registrar as

ocorrências e as medidas devem ser aplicadas. Devendo sempre lembrar dos

princípios básicos:

Fonte:http://www.mpgo.mp.br/portalweb/hp/42/docs/apresentacao_dra._liana_indisciplina_e_ato_infracional_nas_escolas.pdf

Segundo Junior (2013) não há lei que proíba aplicação de medidas às

crianças e adolescentes que comprovadamente pratiquem atos antissociais no

ambiente escolar, mas há decisões judiciais que podem considerá-las abusivas,

por isso as sanções devem estar previstas no Regimento Escolar em consonância

com o Conselho Escolar.

Todavia os autores asseguram que a resolução dos casos de indisciplina

na escola não são de responsabilidade somente da escola. Os pais também

devem ser responsabilizados pela educação de seus filhos, pois está previsto no

Estatuto.

O promotor Digiácomo (2013) faz um apontamento importante quanto ao

ato de indisciplina, ele destaca que problemas envolvendo indisciplina de alunos

devem ser resolvidos no âmbito da própria escola, através de mecanismos

internos destinados á (re) conciliação e a mediação de conflitos. Um destes

mecanismos seria a rede de proteção à criança e ao adolescente, pois muitas

vezes um ato de indisciplina é um indicativo de graves problemas no ambiente

familiar.

A escola não pode desempenhar um papel meramente passivo diante dos problemas envolvendo seus alunos, relacionados ou não com as práticas de atos de indisciplina. (DIGIÀCOMO, 2013. p. 49)

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Percebe-se assim a necessidade e obrigatoriedade da comunidade escolar

ter conhecimento do ECA, pois muitas vezes por falta de conhecimento pode

estar violando, omitindo ou ameaçando direitos que são assegurados por Lei a

criança e ao adolescente.

Não há formulas exatas para resolver conflitos

surgidos no ambiente escolar, porém, é possível por meio

de novas posturas, cumprimento das regras por todos

envolvidos, atualização do Regimento Escolar e adoção de

práticas restaurativas, atender as necessidades que surgem

na Escola, sem causar rótulos ou revitimizações, mas

cumprindo seu papel de formadora de cidadão críticos e

ativos na sociedade.

Nos dois vídeos abaixo o psicólogo Yves de La Taille e a pedagoga Telma

Vinha retrata sobre os casos de incivilidades que acontecem na escola e que não

são levados em consideração, sendo muitas vezes justificados como "coisas da

idade" quando na verdade violam os direitos de cidadão tanto dos alunos como

dos demais envolvidos neste ambiente. E qual seria então o papel da escola

frente a estes desafios?

Indicação de vídeos

Título: Como combater a indisciplina e as incivilidades?

Sinopse: Sinopse: Nesse primeiro vídeo da série sobre Educação moral, os

especialistas em Educação Yves de La Taille e Telma Vinha conversam sobre clima escolar, situações de indisciplina e incivilidades e sugestões de como lidar com essas questões no cotidiano escolar. Data: 16/10/2013 Duração: 06min02s

Disponível no link:

https://www.youtube.com/watch?v=n5J9qgLnTY8 acessado: 03/11/2014

Título: Como a escola pode prevenir conflitos

Sinopse: O professor da Universidade de São Paulo (USP) Yves de La Taille e a

pedagoga e professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Telma Vinha falaram sobre moralidade, indisciplina e clima escolar. Eles participaram do Grandes Diálogos, promovido por NOVA ESCOLA. Data: 30/10/2013 Duração: 09min51s

Disponível no link:

https://www.youtube.com/watch?v=_dmFKoV5x6k acessado: 03/11/2014

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