Os Riscos Do Trabalho_01

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  • 8/9/2019 Os Riscos Do Trabalho_01

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    EM

    REVISTA

    S O C I A L

    IS

    SN

    1678

    -152

    x

    s MutilaesAssdio moralLER e invalidez

    Distrbios mentais

    s

    s

    s

    Os riscosdo trabalho

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    ISSN 1678 -152 x

    CONSELHO DIRETOR

    Presidente - Kjeld A. JakobsenCUT - Joo Vaccari Neto

    CUT - Rosane da SilvaCUT -CUT -CUT -CUT -CUT - Artur Henrique da Silva SantosDieese - Joo Vicente Silva CayresDieese -Unitrabalho - Francisco MazzeuUnitrabalho - Silvia ArajoCedec - Maria Ins BarretoCedec - Tullo Vigevani

    DIRETORIA EXECUTIVAKjeld A. Jakobsen - PresidenteArthur Henrique da Siva SantosAri Aloraldo do Nascimento - TesoureiroCarlos Roberto HortaClemente Ganz Lcio

    Maria Ednalva B. de LimaMaria Ins Barreto

    SUPERVISO TCNICAAmarildo Dudu Bolito Supervisor Institucional

    Supervisor TcnicoMarques Casara Supervisor de ComunicaoMnica Corra Alves - Supervisora Administrativo-FinanceiraRonaldo Baltar - Supervisor do Sistema de informao

    SEDE NACIONALRua So Bento, 365 - 18 andarCentro - So Paulo SPFone: (11) 3105-0884 Fax: (11) [email protected]

    Maria Ednalva B. de LimaJos Celestino LourenoAntonio Carlos SpisGilda Almeida

    Mara Luzia Feltes

    -Joo Paulo Veiga -

    -

    EMREVISTA

    S O C I A L

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    Sade e Segurana no Trabalho:Dever do Empregador.Direito do Trabalhador.

    RosaneLima

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    P 4:A SADE E A SEGURANA NO TRABALHOBrasil tem meio milho de vtimas fatais por ano

    P 12: ESTADO E LEIS DE PROTEOArtigo da historiadora Ana Iervolino

    P 16: MADEIRA E SANGUEMutilaes na indstria moveleira de SantaCatarina

    P 29:A VIOLNCIA CAMUFLADA

    As humilhaes e a tortura no cotidiano laboral

    P 35: TRANSTORNOS MENTAISOs efeitos da exposio a perigo, presses etxicos

    P 41: O CIRCO DE HORRORES DA CARGILLLeses por esforos repetitivos levam invalidez

    P 45:UM CENRIO SOMBRIO

    A difcil construo de uma poltica eficaz de SST

    P 49: O ELEFANTE E A RSEArtigo da pesquisadora Regina Queiroz

    P 51: TERMO DE REFERNCIAComo o IOS avalia sade e segurana no trabalho

    P 53:PESQUISA IOS NO 9 CONCUT

    O que pensam os dirigentes sindicais

    P 54: PROJETO AMAMultinacionais e meio ambiente na AmricaLatina

    P 56: CONEXO SINDICALVeja como participar da comunidade virtual

    P 57: PAPEL E CELULOSEPesquisa da Veracel apresentada na Finlndia

    P 61: TRABALHO INFANTILObservatrio recebe prmio de direitos humanos

    P 62: ALUMNIOEstudo indito sobre cadeia produtiva

    P 64: PONTO DE CONTATOSeminrio sobre aplicao das Diretrizes daOCDE

    P 65: REDLATPublicao trilnge apresenta metodologiaconjunta

    P 66: TRABALHO PRECRIOC&A vai monitorar sua cadeia produtiva no Brasil

    P 67: DILOGO SOCIALAvanos na relao de sindicalistas com AkzoNobel

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    OEM REVISTA

    O prembulo da Constituio da OMS (Organizao Mundial de Sade) define sade como um estadocompleto de bem-estar fsico, mental e social, e no apenas ausncia de doena. Esse conceito passou poruma reviso crtica importante nas ltimas duas dcadas, em que o mundo do trabalho sofreu profundastransformaes tecnolgicas e organizacionais. Ao contrrio do que se imaginava, as mquinas no livraramos humanos de seus fardos. A transio da era industrial para a era de servios trouxe mais presso porcompetitividade e produtividade, com impactos nocivos para os trabalhadores, que muitas vezes so obriga-dos a alcanar novos patamares de produo usando as mesmas mquinas do passado. Surgiram novas

    formas de adoecer e morrer.Por outro lado, os trabalhadores conquistaram espao de manifestao e participao nos assuntosrelacionados a sade e segurana. Aumentou a conscincia de que sade no trabalho passa, sobretudo,pelo grau de liberdade que as pessoas tm em se organizar para desenvolver suas habilidades com plenitu-de. Uma nova definio foi proposta por Christophe Dejours (1986): A sade para cada homem, mulher oucriana ter meios de traar um caminho pessoal e original em direo ao bem-estar fsico, psquico esocial.

    A CUT (Central nica dos Trabalhadores) parte ativa da transformao pela qual passaram a sadeocupacional e a sade pblica no Brasil. Entre os valores e princpios do movimento sindical cutista, geradospelo movimento sindical italiano dos anos 1960, esto o da No-Delegao um profundo convencimentodos trabalhadores de no poder mais entregar a ningum o controle sobre as suas condies de trabalho; eo da Validao Consensual o julgamento sobre o nvel de bem-estar ou de intolerabilidade de determinadasituao de trabalho expresso pelos trabalhadores.

    Exigncias legais crescentes, mais a presso sindical e da opinio pblica, levaram muitas empresasa adotar compromissos voluntrios com sade e segurana. Um marco regulatrio significativo foi desenvol-vido sobre este tema. Assim, criaram-se condies mais favorveis para que os trabalhadores organizadosconquistem direitos. Ainda h muito a avanar. As reportagens desta edio ilustram a magnitude dessedesafio. Mutilaes na indstria, assdio moral, transtornos psquicos, leses por esforos repetitivos... extensa a lista de mazelas, mas tambm existem propostas viveis para preveni-las.

    Nossa expectativa contribuir para que o assunto ganhe a devida prioridade na agenda de empres-rios, formuladores de polticas pblicas, juzes, profissionais de sade e segurana e, naturalmente, dosprprios trabalhadores. Todo esforo nessa direo representa avano na construo de uma sociedadesaudvel e segura. A luta por melhores condies de sade e segurana se insere na campanha pelo traba-lho decente preconizada pela OIT (Organizao Internacional do Trabalho) e que baliza as atividades doObservatrio Social. Isto , um trabalho adequadamente remunerado, exercido em condies de liberdade,

    eqidade e segurana, e capaz de garantir uma vida digna.Conselho Editorial

    CAPA

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    A sade

    do

    A sade

    do

    BancodeImagemIOS

    4

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    Quase 500 mil

    pessoas morrem

    anualmente no

    Brasil por causa de

    acidentes e doenas

    relacionadas ao

    trabalho. No mundo

    o nmero chega a

    cinco mil mortes por

    dia. Indstria,

    servios e

    agricultura so os

    setores mais

    perigosos.

    Adriana Franco

    e a segurana

    trabalhadorbrasileiro

    e a segurana

    trabalhadorbrasileiro

    5

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    As principaisdoenas do trabalho

    Asma Ocupacional Adquirida por meio dainalao de poeira de materiais como algodo,borracha, couro, slica, madeira vermelha etc.Os trabalhadores de fbricas, madeireiras,plantaes de algodo e tecelagensapresentam sintomas como falta de ar, tosse,

    aperto e chiado no peito e tosse noturna.Dermatoses ocupacionais Causadas por contato

    com agentes biolgicos, fsicos e qumicos,principalmente. Os sintomas so alterao dapele e mucosas. Os trabalhadores em fbricasqumicas so os mais prejudicados com ela.

    LER/DORT Decorrentes de problemas com olocal de trabalho e com os movimentosrepetitivos. Os empregados dos setoresindustrial e comercial podem ser prejudicados

    com estas doenas.

    De acordo com relatrio ela-borado pela Organizao Internacio-nal do Trabalho (OIT), cerca de cin-co mil trabalhadores morrem no

    mundo todos os dias por causa deacidentes e doenas relacionadas aotrabalho. O documento, denomina-do Trabalho Decente Trabalho Se-guro, alerta que a maioria da foratrabalhista mundial no possui segu-rana preventiva, servios mdicosnem mesmo compensao para aci-dentes ou doenas.

    No Brasil, cerca de 500 milpessoas se acidentaram e 2.708morreram em 2005, segundo o Mi-nistrio da Previdncia Social. En-quanto os bitos tiveram uma redu-o de 4,6%, os acidentes aumen-taram 5,6% em relao ao ano an-

    terior. As doenas decorrentes dotrabalho chegaram a 30.334.

    Para o coordenador de pes-quisas do Centro de Estudos da Sa-

    de do Trabalhador e Ecologia Hu-mana (CESTEH), William Waiss-mann, os nmeros podem ser aindamais assustadores. Os acidentesgraves, por exemplo, no h comoesconder, o que j no acontece comas doenas.

    Caracterizar e registrar as do-enas do trabalho, no Brasil, aindatem sido uma tarefa muito difcil. Istoacontece, segundo Waissmann, de-vido s dificuldades em notific-lase pelo fato de os mecanismos de pro-teo ao trabalhador no serem mui-to bem definidos. O acidente mui-to mais fcil de se notificar porque

    se v, o que no acontece com asdoenas, que surgem lentamente enem sempre so diretamente relacio-nadas ao trabalho.

    Os acidentes mais freqen-tes em 2005 33% do total re-lacionam-se com os ferimentos eleses ligados ao punho e mo.

    Nas estatsticas, as doenas repre-sentam apenas 6,1% do nmero deacidentes registrados porcenta-gem quase inalterada de um ano

    para o outro. Entre as principaisesto: asma ocupacional, Leso

    por Esforo Repetitivo / DistrbiosOsteomusculares Relacionados aoTrabalho, as LER/DORT, perdaauditiva induzida pelo rudo(PAIR), pneumoconiose e distr-

    bios mentais

    Perda auditiva induzida pelo rudo (PAIR) Diminui gradativamente a audio dostrabalhadores por exposio continuada anveis muito elevados de rudo. Metalrgicossofrem com este problema.

    Pneumoconioses Doenas pulmonaresocasionadas pela inalao de poeirasqumicas como da slica e dos asbestos, quecausam silicose e asbestose. Qumicos,trabalhadores da construo civil emineradores esto entre as principais vtimas.

    Distrbios mentais Mais difceis de detectar eprincipalmente relacionar ao trabalho, podemter ligao com diversas circunstncias.Sofrem com isso operadores detelemarketing, bancrios e outros

    profissionais submetidos a estresse oucontaminao.

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    Indstria, servios e agriculturatm maior nmero de acidentes

    Setores mais atingidosSetores mais atingidosSetores mais atingidosSetores mais atingidosSetores mais atingidos

    O setor industrial brasileiro o que mais tem nmero de aciden-tes. Foram 229,1 mil em 2005 de acor-do com o Ministrio da Previdncia.Em segundo lugar est o setor de ser-vios, com quase 220 mil acidentes.Em terceiro est a agricultura, commais de 35 mil acidentados.

    Na comparao com 2004, os

    nmeros aumentaram na indstria(17,5 mil novos casos) e nos servi-os (mais 17,2 mil). Na agriculturahouve leve reduo: 1,7 mil aciden-tes a menos.

    Segundo o secretrio da Con-federao Nacional dos Metalrgicos(CNM/CUT), Valter Sanches, mui-tas vezes os acidentes acontecemporque a linha de produo no con-segue acompanhar o crescimento dosetor industrial e acaba sobrecarre-

    gada.

    LER/DORTMos, cotovelos e braos so

    alvos das LER/DORT na indstria eno comrcio. Sanches explica que aperda de rendimento a principal for-ma de se identificar a doena. A mai-oria dos tipos de leses e, principal-mente, a LER/DORT, so irrevers-veis. A forma de atenu-las com

    fisioterapia e tratamentos.A gente tem brigado para queas pessoas no trabalhem acidenta-das e para que a Comunicao de Aci-dente de Trabalho (CAT) seja o in-cio do processo de reconhecimentode qualquer doena ou de algum aci-dente afirma.

    Para ele, o papel dos sindica-tos evoluiu muito nos ltimos anos.Antigamente a ateno dos sindica-tos era voltada ergonomia dos equi-

    pamentos de segurana. Hoje tudoparece ter evoludo, diz. Mas no

    adianta ter o design do produto se oposto de trabalho tem excesso dehoras ou ritmo acelerado.

    Baixa prioridadeO presidente da Federao dos

    Empregados Rurais Assalariados noEstado de So Paulo (Feraesp), lio

    Neves, avalia que a situao brasilei-ra quanto a sade e segurana no tra-balho muito falha e o tema colo-cado em prioridade inferior. Para ele,o lucro tem sido a tnica.

    O sindicalista ressalta queessa questo deveria ser primordialno mbito da responsabilidade so-cial. A cada ano que passa, asempresas encontram mecanismosilegais para reduzir custos de pro-duo, o que inclui cortes na pre-

    veno de sade e segurana, in-digna-se.Segundo Neves, o alto nme-

    ro de acidentes preocupante, poistem deixado trabalhadores com se-qelas para o resto da vida. Ele lem-bra que tambm h muitos aciden-tes de percurso na colheita de cana,que ocorrem durante o transportedo trabalhador at a lavoura. Pou-cas so as empresas que utilizamnibus e mesmo as que os tm no

    os oferecem em condies adequa-das de segurana.Os problemas do setor agr-

    cola, segundo opresidente daFeraesp, inclu-em o descasocom as terceiri-zaes da co-lheita e do cortee a falta da apli-cao do Plano

    de AssistnciaSocial (PAS).

    Fotos: Banco de Imagens Observatrio Social

    ValterSanches, daCMN/CUT:Sobrecargade trabalho

    JanurioFernandes

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    A Medida Provisria (MP) 316,

    assinada em 11 de agosto pelo presi-

    dente Luiz Incio Lula da Silva, pode

    alterar o processo em que so caracte-

    rizados os acidentes e doenas do tra-

    balho. A partir de agora, no mais o

    trabalhador quem deve provar o nexo

    causal. Acidentes e incapacidades se-

    ro diretamente ligados a ramos de ati-

    vidades, por-

    tanto a em-

    presa quem

    dever mos-

    O nus da provaO nus da provaO nus da provaO nus da provaO nus da provatrar que os acidentes no so decor-

    rentes da atividade desenvolvida pelo

    empregado no ambiente de trabalho.

    A MP tambm adotar um novo

    mecanismo para o pagamento do se-

    guro de acidentes de trabalho (SAT),

    que ser proporcional quantidade real

    de trabalhadores acidentados. Com

    isto, a medida visa incentivar que o

    gasto das empresas com seus pen-

    sionistas seja investido em sade e

    segurana.

    A MP cria um banco de dados

    que relaciona as atividades empresa-

    riais com as funes dos trabalhado-

    res, doenas e acidentes decorren-

    tes em cada caso e um banco espe-

    cfico que contabiliza os acidentes por

    empresa. Os empregados devem se

    comprometer a utilizar os equipamen-

    tos de segurana e os sindicatos, prin-

    cipalmente nos setores em que o

    nmero de acidentes alto, a ofere-

    cer capacitao, treinamento e cons-

    cientizao sobre a importncia do

    uso correto de equipamentos.

    situao da sade do trabalhador.

    AcompanhamentoQuem trabalha no comrcio

    tem a seu dispor a equipe multidisci-plinar da rea de sade e segurana.O Sindicato auxilia o trabalhador noencaminhamento do benefcio juntoao Instituto Nacional de Seguro Soci-al (INSS) e tambm o acompanha comum mdico do trabalho at que sejapossvel ele retornar atividade.

    Durante o atendimento, aempresa cadastrada em nosso ban-co de dados para a solicitao de fis-calizao conjunta entre Sindicato eum dos rgos pblicos que atuamem sade do trabalhador, como a De-legacia Regional do Trabalho ou osCentros de Referncia em Sade doTrabalhador, esclarece ela.

    A Feraesp atua de forma pa-recida: O Sindicato procede ao re-gistro desses acidentes s estatsti-cas e aos dados sobre a sua incidn-cia, os quais servem de base para aformulao de reivindicaes pol-

    Jovens doentesA diretora da rea de Sade e

    Segurana do Sindicato dos Comer-cirios, Cleonice Caetano Souza, v

    o alto nmero de acidentes com gran-de preocupao. O setor gera empre-gos principalmente entre os jovens.Isso significa mos mutiladas ou pes-soas adoecendo mais cedo, muitasainda no primeiro emprego, assina-la.

    S uma pequena parcela dosempregadores do setor tem destina-do recursos financeiros, humanos emateriais para proporcionar uma me-

    lhora na condio de trabalho. Cons-cientizar os empregadores de que in-vestir na sade e segurana lucro eno prejuzo tem sido uma tarefa r-dua, diz.

    Cleonice conta que as doenasmentais e lombalgias tambm apare-cem com freqncia. Ela enumera ocrescimento e diversificao do comr-cio, carga excessiva, ameaa de per-der o emprego e presso para atingir

    metas como os responsveis pela atual

    tica de preveno de acidentes, estu-dos para a melhoria de ferramentas,equipamentos de proteo individuale como argumento para o oferecimen-to de denncia aos rgos competen-tes, explica lio Neves.

    Nos casos mais graves, queresultam em morte, o Sindicato acom-panha o processo de resciso de tra-balho, verifica em que condies issoocorreu e ainda acompanha de pertose a famlia recebeu o seguro.

    A preocupao com a linha demontagem , para Waissmann daCESTEH, a alternativa para diminuiro nmero de acidentes de trabalho.Ele defende a criao em um pri-meiro momento de uma lgica ade-quada e, posteriormente, um sistemade proteo coletivo.

    Caso todos os outros sistemasfalhem ainda haveria o equipamentoindividual para garantir a proteo,diz. A proteo coletivizada o ca-minho para proteger o ambiente, aspessoas de uma forma geral e tam-bm o trabalhador.

    SrgioVignes

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    A questo dos equipamentosde proteo individual polmica nomundo do trabalho. Conhecidos

    como EPI, esses dispositivos so re-gulamentados atravs da norma n 6do Ministrio do Trabalho e Empre-go, que os avalia e aprova antes deserem colocados no mercado. Estanorma considera EPI todo dispositi-vo ou produto de uso individual notrabalho que tenha como funo pro-teger o empregado de riscos poss-veis de ameaar a sade e a segu-rana no trabalho.

    Os equipamentosde seguranado implantadas e para atender situ-aes de emergncia. No entanto,muitos EPI so ineficientes, atrapa-

    lham e at machucam o trabalhador.

    Rudo excessivoNa metalurgia o rudo o

    grande vilo e, por isso, existe a ne-cessidade do uso do protetor auri-cular para atenuar o barulho. Po-rm, o problema no resolvido, jque no apenas o rudo que podetrazer problemas sade do traba-lhador. A vibrao afeta o sistema

    nervoso e suas conseqncias soainda mais difceis de provar. Wais-smann, do CESTEH, alerta para osequipamentos que dificultam os mo-vimentos dos trabalhadores, preju-dicando o desempenho em algumastarefas.

    O setor agrcola tambm en-frenta muitas dificuldades quantoa isso. O presidente da Fe-raesp, lio Neves, contaque alguns equipamen-tos precisam deadaptaes. O maisgrave que a mai-oria dos tra-

    balhadoressequer temacesso aeles, devido precariza-

    o das con-

    dies de trabalho no setor. cu-los, mangotes, aventais, perneiras,

    botas e chapus deveriam ser usa-

    dos diariamente por esses trabalha-dores, diz.No setor de servios os equi-

    pamentos so mais raros. A dirigen-te sindical Cleonice Caetano Souzaafirma que os empregados da cate-goria dependem mais das relaesinterpessoais para se precaver dasdoenas laborais. Entre os aparelhosde proteo mais usados esto pro-tetores faciais, culos de segurana,

    luvas, mangas de proteo, cremesprotetores, calados impermeveis ede proteo, aventais, capas, vesti-mentas especiais, respiradores emscaras de filtro qumico.

    Toda empresa obrigada afornecer gratuitamente aos seus em-

    pregados esses produtos que garan-tem a segurana do trabalhador em

    perfeito estado de conservao e fun-cionamento principalmente quan-do o sistema de trabalho no ofere-cer proteo completa, as medidasde proteo coletivas estiverem sen-

    lio Neves, da Feraesp:descaso das empresas

    JooFranciscoC.

    Neves

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    Saiba para que servem os

    equipamentos de proteo.

    Como se protegerComo se protegerComo se protegerComo se protegerComo se proteger

    Mscaras e respiradores

    Servem contra poeiras,

    agentes qumicos

    prejudiciais e para locais

    onde o teor de oxignio seja

    inferior a 18%.

    Protetores faciais

    Protegem olhos e face

    contra leses resultantes

    do contato com

    partculas, respingos,

    vapores de produtos

    qumicos e radiaes

    luminosas intensas.

    culos de segurana

    Combatem

    ferimentos nos olhosprovenientes do contato

    com partculas, lquidos

    agressivos, poeiras e

    outras radiaes

    perigosas.

    Luvas

    Protegem de materiais

    ou objetos escoriantes,

    abrasivos, cortantes e

    perfurantes, qumicos,

    corrosivos, txicos,

    alergnicos, oleosos,

    solventes etc.

    Mangas de proteo

    Evitam o contato de braos

    e antebraos com agentes

    biolgicos, materiais quentes,

    cortantes, perfurantes ou

    abrasivos, entre outros.

    Calados impermeveise de proteo

    Evitam o contato do

    trabalhador com locais

    midos, agentes qumicos

    e biolgicos agressivos ou

    contra riscos de origem

    eltrica.

    Vestimentas especiais

    So usadas contra os

    riscos de leses

    provocadas por produtos

    radioativos, biolgicos ou

    qumicos.

    10

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    POR MOTIVO E ANO (mil)

    Ano Total Tpico Trajeto Doena do bitosTrabalho

    2004 465,7 375,1 60,3 30,2 2,8

    2005 491,7 393,9 67,5 30,3 2,7

    Para cada real gasto pela Pre-vidncia com acidentes ou doenasprofissionais, o pas gasta mais R$ 3.

    Longos perodos de afasta-mento e aposentadorias especiaisdevido aos tratamentos geram con-seqncias drsticas para setores emque ocorrem os acidentes e para todaa sociedade brasileira. Os custos paraa Previdncia Social, apenas em2003, chegaram a R$ 8,2 bilhes embenefcios acidentrios. Desse valor,

    R$ 3,4 bilhes so referentes a apo-sentadorias, penses por morte, au-xlio doena, acidente e suplementare R$ 4,8 bilhes, a aposentadoriasespeciais. Os gastos da Previdnciaso apenas uma parte do custo dosacidentes de trabalho.

    Segundo a reportagem Con-ta Elevada (Revista Proteo, se-tembro de 2005), estudos apontamque, para cada real gasto pela Previ-

    dncia Social com benefcios por in-capacidades motivadas por aciden-tes ou doenas profissionais, mais R$3 so gerados pelo custo social comoa falta de trabalho e reduo de pro-dutividade. Dessa forma, conclui apublicao, o custo seria elevado paramais de R$ 32,8 bilhes. A Previdn-cia atua apenas entre os trabalhado-

    A sociedade paga a contaA sociedade paga a contaA sociedade paga a contaA sociedade paga a contaA sociedade paga a contares registrados em carteira, poucomais de um tero do total.

    Afastamento e invalidezNo comrcio o tratamento das

    LER/DORT e das doenas mentaisrequer um longo perodo de afasta-mento, que dura entre dois e cincoanos. No entanto, explica Cleonice

    Caetano Souza, do Sindicato dos Co-

    mercirios, por questes diversas daPrevidncia Social, como o mau aten-dimento de vrios mdicos peritos, ostrabalhadores sequer registram seubenefcio como Acidente de Traba-lho.

    Conseguem apenas um Aux-lio Doena Previdencirio, retornan-do ao trabalho em cerca de seis me-ses e ainda doentes, diz. Ela vai alm:As conseqncias no so somente

    para o setor, e sim para toda a socie-dade, que vai arcar com o custo soci-al ao receber um cidado excludo domercado por conta das seqelas dei-xadas por precrias condies de tra-balho.

    Os afastamentos na agricultu-ra so constantes para a recupera-o de cortes ou leses causadas pelaenxada ou faco. Vrios atingidospelas LER/DORT podem nunca mais

    voltar ao trabalho devido invalidez.Nos ltimos anos, diversas mortesocorridas no setor sucroalcooleiro tmsido atribudas fadiga por excessode trabalho. No ramo metalrgico, aCNM/CUT deve aumentar a negoci-ao com as empresas e cobrar asonze horas de descanso entre umajornada e outra, estabelecidas por lei.

    Cleonice Souza:muitas vtimas jovens

    SindicatodosComerciriosSP

    AAAAAcidentes de trabalho no Brasilcidentes de trabalho no Brasilcidentes de trabalho no Brasilcidentes de trabalho no Brasilcidentes de trabalho no Brasil

    POR SETOR DE ATIVIDADE (mil)

    Setor de Atividade 2004 2005

    Indstria 211,6 229,1

    Servios 202,6 219,8

    Agricultura 37,2 35,5Fonte: Ministrio da Previdncia Social.

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    Em diferentes partes do mun-do, os debates sobre a criao de leispara a proteo dos trabalhadores

    ocorreram to logo se fizeram sentiros problemas sociais do processo deindustrializao. Isso porque a profis-so do operrio j surgiu junto com do-enas provocadas pela lgica da pro-duo, com acidentes de trabalho queamputariam, invalidariam e levariam morte, com leses por falta de prote-o ou preparo, com jornadas exausti-vas e baixa remunerao.

    A interferncia do Estado nes-

    tas questes significava uma afrontaaos princpios liberais, que pregavama auto-regulao do mercado, inclusi-ve no que se refere mercadoriafora de trabalho. Embora o processotenha se desenvolvido de acordo comas particularidades histricas de cadapas ou regio, pode-se dizer que namaior parte dos casos o operariado foio grande desencadeador das discus-ses, enfrentando as reaes da bur-guesia industrial e comercial.

    O Brasil no foi exceo. Sofamosas as greves ocorridas j em1907 em prol de melhores salrios elimitao do tempo dirio de trabalho.Nessa poca, as negociaes eram

    12

    O Estado e a proteodos trabalhadoresA legislao social em

    vigor uma conquista

    resultante de mobilizaeshistricas do movimento

    operrio, que enfrentou

    dura represso do

    patronato.

    Ana Iervolino- Historiadora,

    integra a equipe doObservatrio Social.

    Fo

    tosreproduzidasdolivroBurguesiaetrabalho

    JeanineWill

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    feitas diretamente com o patronato.Pouca coisa era feita pelo Estado, que baseado na Constituio de 1891,alheia a questes de trabalho se li-mitava criao de medidas para aproteo de crianas e para a garan-tia de benefcios a funcionrios pbli-cos.

    Industrializao e grevesA industrializao foi intensifi-

    cada no pas, principalmente em SoPaulo e Rio de Janeiro, durante a Pri-meira Guerra Mundial (1914-1918) sendo favorecida pela crise nas impor-taes, o aumento do mercado inter-no, a inflao e os baixos custos commo-de-obra. Ao mesmo tempo, amobilizao de trabalhadores para ainterveno do Estado como mediadornas relaes de trabalho crescia e setornou bastante expressiva no perodo

    de 1917 a 1919, marcado por fervoro-sas greves.

    O pa-tronato tam-bm se orga-nizava. Paracontrolar asm o b i l i z a -es, amea-ava demitire fechar f-bricas, con-tando com oapoio de autoridades policiais nas situ-

    aes mais crticas. A burguesia indus-trial no poderia ser totalmente con-trria a qualquer interveno estatal,j que precisava de protecionismo al-fandegrio. E quanto atuao do Es-tado como rbitro nos conflitos soci-ais, procurava limitar a legislao so-cial, j que no podia impedir a sua cri-ao.

    Aps o trmino do conflito mun-dial, o Brasil assumia atravs do Tra-

    tado de Versalhes e outros acordos compromissos internacionais sobre a

    questo so-cial. A Re-v o l u oRussa tevegrande re-percussonas discus-ses. NaCmara, se

    debatia acriao deum Cdigode Traba-lho, reunin-do questes

    como a jornada de oito horas e a pro-

    teo mulher e ao trabalhador comidade at 14 anos. As primeiras con-quistas referentes legislao prote-tora dos trabalhadores no Brasil pas-saram a ser concretizadas, comean-do pela Lei de Acidentes de Trabalho,sancionada em janeiro de 1919.

    Represso aos operriosA organizao do movimento

    operrio era cada vez maior. Se as

    greves significavam perdas nos lucrospara as indstrias, o aumento da difu-so de convices anarquistas e co-munistas passou a ser visto pelos go-vernos como uma ameaa. No poracaso, os avanos nas discusses re-ferentes legislao social da dcadade 20 que na prtica pouca coisamudavam devido falta de fiscaliza-o foram acompanhados da repres-so de idias vistas como perigosas.Um novo projeto de Cdigo de Traba-lho foi elaborado na Cmara (1923),que originaria a regulamentao dodireito de frias (1925) e a criao doCdigo de Menores (1927). Por outro

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    lado, a Lei de Deportao de Estran-geiros (1921) oficializava a expulsodaqueles considerados elementos di-fusores de idias indesejveis.

    Foi uma poca de abrandamen-

    to das mobilizaes do movimentooperrio. Se o contexto internacionalhavia trazido idias favorveis ao in-tervencionismo estatal, no Brasil, o le-vante tenentista de 1922 forneceumais argumentos para uma atuaoefetiva contra o que era consideradoperigo segurana nacional, legitiman-do as sucessivas vezes que o gover-no recorreu ao estado de stio. Den-tre o que era considerado ameaa,

    estava o movimento operrio, dura-mente reprimido.

    Com a crise de 1929 e o au-mento do desemprego, as agitaesdo movimento operrio ganharam im-pulso. Novas organizaes de traba-lhadores foram criadas, participandodo processo eleitoral por meio doapoio a candidatos. Ao mesmo tem-po, a crise fazia com que as atenesdo poder pblico ficassem voltadas a

    assuntos econmicos e no ques-

    to proteo do trabalhador, que eraencarada, at o momento, como decarter sanitrio e moral.

    O marco da CLTO governo de Getlio Vargasdaria ao assunto um outro significa-do: o problema social passou a servisto como parte do progresso, estebaseado no desenvolvimento industri-al. Novos avanos foram feitos naproteo do trabalhador, a comearpela criao do Ministrio do Traba-lho, em 1930. Mas no se pode es-quecer que este tipo de preocupao

    fazia parte do discurso com base noapoio da classe trabalhadora. Se noincio dos anos 30 havia um operaria-do fortemente organizado, as novasmedidas procuravam demonstrar queo uso da fora no seria necessrio.

    A Consolidao das Leis doTrabalho (CLT), de 1943, foi um mar-co para a questo trabalhista, masseriam as muitas greves e movimen-tos feitos pelos trabalhadores duran-

    te dcadas que fariam valer esta le-

    Referncias:

    CAPELATO, Maria Helena R.Multides em cena: Propaganda

    poltica no Varguismo e noPeronismo. Campinas, SP: Papirus,1998.

    GOMES, ngela Maria de Castro.Burguesia e trabalho. Poltica elegislao social no Brasil 1917 -1937. Rio de Janeiro: EditoraCampus, 1979.

    TOLEDO, Edilene. Anarquismo esindicalismo revolucionrio:Trabalhadores e militantes em So

    Paulo na Primeira Repblica. SoPaulo: Editora Fundao PerseuAbramo, 2004.

    Centro de Pesquisa e Documentaode Histria Contempornea doBrasil/Fundao Getlio Vargas(CPDOC/FGV) www.cpdoc.fgv.br.

    gislao. Alm disso, os sindicatos em negociao com as empresas aos poucos conquistavam a inclusode clusulas de proteo nos acordoscoletivos.

    Assim, as discusses quanto criao de uma legislao social noBrasil comearam por iniciativa dasfortes presses do operariado duran-te a primeira metade do sculo XX,sob as reaes do empresariado que,vendo a produo ameaada, fez asconcesses mnimas necessrias.Enquanto isso, o Estado nos dife-rentes momentos lidava com os in-teresses envolvidos e utilizava as es-

    tratgias de controle social que lhepareciam mais eficazes para garantira manuteno da ordem vigente.Embasados por novos conceitos eparmetros, os debates tratando dacriao de novas leis e de sua aplica-o efetiva no cessariam.

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    A empresa obrigada afornecer aos empregados,

    gratuitamente,equipamento de proteoindividual adequado aorisco e em perfeito estado

    de conservao efuncionamento, sempreque as medidas de ordem

    geral no ofereamcompleta proteo contra

    os riscos de acidentes edanos sade dos

    empregados.

    Consolidao das Leis do

    Trabalho (CLT): Artigo 166

    SrgioVignes