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1 Pró-Reitoria Acadêmica Escola de Educação, Tecnologia e Comunicação Curso de Pedagogia Trabalho de Conclusão de Curso UM ESTUDO SOBRE AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM DOS ALUNOS COM DISLEXIA NAS CLASSES DE ALFABETIZAÇÃO DA REDE PÚBLICA DO DISTRITO FEDERAL Autora: Maria Antonia Mendes Ferreira Orientador: Prof. MSc. Olimpo Ordoñez Carmona Brasília - DF 2017

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Pró-Reitoria Acadêmica

Escola de Educação, Tecnologia e Comunicação

Curso de Pedagogia

Trabalho de Conclusão de Curso

UM ESTUDO SOBRE AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM

DOS ALUNOS COM DISLEXIA NAS CLASSES DE

ALFABETIZAÇÃO DA REDE PÚBLICA DO DISTRITO

FEDERAL

Autora: Maria Antonia Mendes Ferreira

Orientador: Prof. MSc. Olimpo Ordoñez Carmona

Brasília - DF

2017

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MARIA ANTONIA MENDES FERREIRA

UM ESTUDO SOBRE AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM DOS ALUNOS

COM DISLEXIA NAS CLASSES DE ALFABETIZAÇÃO DA REDE PÚBLICA DO

DISTRITO FEDERAL (DF)

Trabalho de Conclusão do Curso 1 de

graduação em Pedagogia da Universidade

Católica de Brasília, Licenciada em

Educação.

Autora: Maria Antonia Mendes Ferreira

Orientador: Prof. MSc. Olimpo Ordoñez Carmona

Brasília – DF

2017

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AGRADECIMENTOS

Agradeço em primeiro lugar a Deus por ter me abençoado com saúde, força e fé para

conciliar trabalho, faculdade, estágio e chegar até aqui, vencendo os desafios. À minha Mãe

Maria da Conceição por sempre me apoiar e acreditar que eu iria conseguir vencer as

dificuldades e nunca desistir. Ao meu motorista com quem trabalho, Claudio Caíres, que

sempre reconheceu meu esforço e me ajudou a não chegar muito atrasada no estágio

obrigatório. À minha prima Clara Medeiros que me ajudou com os livros da pesquisa.

Agradeço em especial ao meu orientador, Professor MSc. Olimpo Ordoñez Carmona,

por me acompanhar nessa pesquisa pela sua dedicação, paciência, ensinamentos e

compreensão.

Tenho a honra de agradecer aos professores que me acompanharam até aqui, Carla

Cristie, Adriana Matos, Chris Alves, Erondina Barbosa, Maria da Conceição, Ranilce

Guimarães, Tatiana Portela, entre outros que não estão mais na UCB e a toda direção do curso

de Pedagogia.

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RESUMO

FERREIRA, Maria Antonia Mendes. Um Estudo sobre as Dificuldades de Aprendizagem

dos Alunos com Dislexia nas Classes de Alfabetização da Rede Pública do Distrito

Federal (DF). Artigo como TCC do Curso de Pedagogia, da Universidade Católica de

Brasília, Brasília, 2017.

O presente artigo apresenta o tema da dislexia, como um transtorno específico que causa

atraso na aquisição da linguagem. A questão é buscar saber como se dá o processo de

desenvolvimento e aprendizagem de crianças com dislexia na alfabetização em uma escola da

rede pública do DF. A pesquisa é de natureza qualitativa teve como objetivo geral investigar o

processo de ensino e aprendizagem dos alunos disléxicos da rede pública na alfabetização e

suas dificuldades. A pesquisa teve como instrumento a entrevista realizada com uma

professora da rede pública do Distrito Federal. O estudo tem como fundamentação as

principais ideias de Muszkat e Rizzutti (2012), Davis (2004), Soares (2017), Snowling e

Stackhouse (2004), Ajuriaguerra (1990). Os resultados da análise da pesquisa apontam todo

processo de estratégias pedagógicas que a professora utiliza em sala de aula para desenvolver

a aprendizagem do aluno disléxico como mediação para superar as dificuldades. Com os

dados analisados na abordagem, o conhecimento da professora do que é a dislexia é evidente,

e torna seu trabalho bem mais fácil com o aluno já diagnosticado como disléxico.

Palavras-chave: Dificuldades de Aprendizagem. Alfabetização. Dislexia.

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1 INTRODUÇÃO

Na sala de aula existe uma diversidade de contextos, pois cada criança tem um modo

de aprender, entender e de ser estudante. Atualmente, no campo escolar, a dificuldade de

aprendizagem é uma questão que permanece na escola, no entanto, havendo um olhar

educativo para as crianças, é possível galgar consideráveis estágios de evolução na

aprendizagem.

A alfabetização é uma etapa essencial na vida das crianças, momento em que

desenvolve suas habilidades na leitura e escrita, mas algumas crianças não conseguem ter um

bom desempenho de suas competências. As que não acompanham o processo da leitura e

escrita são caracterizadas como crianças com alguma dificuldade de aprendizagem.

As dificuldades de aprendizagem estão relacionadas com o atraso na aquisição da

linguagem por diversos motivos. Uma das causas pode ser o histórico familiar com

dificuldade na fala, ou fatores genéticos, biológicos ou alteração no funcionamento do

cérebro. Nesses casos, é fundamental que a criança tenha o acompanhamento do professor e

de um fonoaudiólogo no ambiente escolar para não ter seu aprendizado prejudicado.

Existem vários fatores que podem comprometer o processo de ensino e aprendizagem

de um aluno, e estas causas podem estar ligadas a problemas familiares, comportamentais,

neurológicos ou algum tipo de distúrbio na aprendizagem, como a dislexia.

A dislexia, segundo o National Institute of Heath, é um transtorno específico de

linguagem caracterizado por dificuldades em decodificar palavras isoladas, na estrutura do

processamento fonológico. Essas dificuldades são inesperadas em relação à idade e a outras

habilidades cognitivas e acadêmicas e não estão relacionadas com transtorno geral do

desenvolvimento ou problemas sensoriais (MUSZKAT; RIZZUTTI, 2012).

Estudos epidemiológicos de Muszkat e Rizzutti (2012) apontam que nos transtornos

da leitura e escrita a dislexia tem alta prevalência, entre 7% a 10% das crianças em idade

escolar, contribuindo para o fracasso e evasão escolar. No Brasil, cerca de 40% das crianças

nos anos iniciais de alfabetização apresentam dificuldades de aprendizagem, por falhas no

acesso ao ensino e nos métodos pedagógicos, além de fatores neurobiológicos diversos.

A pesquisadora apresentou interesse por este tema quando acompanhou a filha de uma

vizinha para encontros com profissionais diversos, como neurologista, fonoaudiólogo,

psicólogo, psicopedagogo para investigar suas dificuldades de aprendizagem. Em muitos

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momentos, a dificuldade de aprendizagem da criança foi vista pelos professores como um

comportamento de desinteresse. Aos 11 anos, a estudante foi acompanhada por seis meses por

diversos especialistas que fizeram uma investigação biológica, psicológica e familiar, para

identificar se as causas das dificuldades eram genéticas ou se havia outros fatores causadores.

O atraso no desenvolvimento do aprendizado em relação aos demais alunos já

motivava à evasão escolar da estudante, que tinha autoestima baixa, mostrava-se deprimida e

sofria o bullying na escola e na comunidade.

Os resultados obtidos pelos profissionais acusaram que se tratava de um distúrbio

nomeado de dislexia, e que dificultava o desenvolvimento da leitura e da escrita da estudante,

necessitando de um acompanhamento multidisciplinar para analisar suas dificuldades na

aprendizagem, buscando formas de superá-las.

As dificuldades de aprendizagem dos estudantes com dislexia são hoje um fator de

influência no processo de ensino e aprendizagem dos alunos que se encontram na escola e

necessitam da intervenção do professor no processo de alfabetização.

As questões relacionadas às dificuldades de aprendizagem são ainda mais evidentes

nas classes de alfabetização, pois nesta etapa a aquisição da leitura e da escrita é um grande

desafio para todas as crianças, ainda mais se tratando daquelas que possuem um diagnóstico

de dislexia, situação em que uma das maiores dificuldades é a compreensão dos conteúdos.

Perante esta situação surge o problema desta pesquisa: Como se dá o processo de

desenvolvimento e aprendizagem de crianças com dislexia na alfabetização em uma escola

pública do DF?

Como objetivo geral, o estudo assumiu investigar o processo de ensino e

aprendizagem do aluno disléxico da rede pública na alfabetização. Tem como objetivos

específicos: a) analisar as dificuldades de aprendizagem na alfabetização dos alunos

disléxicos e os recursos aplicados pelo professor; b) verificar como a professora realiza o

atendimento do aluno disléxico ante as dificuldades de aprendizagem na alfabetização; c)

identificar se a professora realiza propostas diferenciadas para o estudante disléxico na

alfabetização.

A hipótese da pesquisadora é que a criança com diagnóstico de dislexia tenha suas

dificuldades de aprendizagem acentuadas por falta de trabalho docente ou por falta de suporte

da escola que viabilize a superação de suas dificuldades.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

Entre as últimas décadas do século XIX e o início do século XX, duas vias de

evolução se abriram no campo dos métodos para o ensino inicial da leitura e da escrita, na

prática pedagógica até os anos 80. Foi dado prioridade ao valor sonoro das letras e sílabas, o

nome das letras; a soletração avançou para os métodos fônicos e silábicos.

“A alfabetização é a teoria e os princípios que orientam a aprendizagem inicial da

leitura e da escrita com o conhecimento do código alfabeto, relação de fonema-grafema do

sistema ortográfico e também o processo de compreensão/expressão do código escrito”

(SOARES, 2017, p. 16).

Sendo a alfabetização um processo de aprendizagem, Soares (2017) considera que o

sistema de escrita é uma condição, é pré-requisito para que a criança desenvolva habilidades

da leitura e da escrita, lendo e produzindo textos reais, mas primeiro tem que aprender a ler e

escrever.

Assim existe a necessidade de o professor ser o mediador nos problemas existentes e

nas dificuldades de aprendizagem, na perspectiva de desenvolver o processo de ensino e

aprendizagem da criança na escola.

Portanto, espera-se que esta pesquisa possa contribuir para melhorar o aprendizado do

aluno com dificuldades de aprendizagem causadas pelo distúrbio da dislexia. O estudo poderá

contribuir para que o professor reveja sua prática pedagógica e a forma de avaliar o ensino e

aprendizagem do aluno disléxico com dificuldades de aprendizagem.

2.1 CONCEPÇÕES SOBRE A DISLEXIA

Segundo estudos de Muszkat e Rizzutti (2012), existem várias definições para

dislexia. O neurologista Norman Geschwind nomeia como dificuldades no aprendizado da

leitura e escrita o fato de que o termo tem significados em latim dys, como dificuldade, e

lexia, como palavra. Considera uma definição muito ampla: uma dificuldade na aquisição da

leitura na escrita.

O conceito de dislexia é muito amplo de acordo com os autores. Constitui uma

dificuldade na aquisição da leitura para uma inteligência normal, mas com o uso de palavras

com nível de leitura abaixo do esperado pela idade e nível intelectual. Com esses termos a

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dislexia é definida como dificuldade na transposição de palavras e ideias para o papel de

acordo com as regras gramaticais.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) define a dislexia como dificuldade

específica de leitura, que não está ligada com déficit de inteligência. De acordo com o Manual

Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-IV (APA, 1994), a dislexia é uma

dificuldade específica do aprendizado da leitura e escrita em crianças com inteligência

normal, sem distúrbios sensoriais e motores.

De acordo com o Manual de Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais DSM

V (SENA, 2014) esta anomalia constitui um transtorno mental, uma síndrome caracterizada

por perturbação clinicamente significativa na cognição, na regulação emocional ou no

comportamento de um indivíduo que reflete uma disfunção nos processos psicológicos,

biológicos ou de desenvolvimento subjacentes ao funcionamento mental.

Conforme Ajuriaguerra (1990), não se deve falar em dislexia a não ser na presença de

numerosos dados, considerando não apenas a dificuldade para adquirir a leitura, mas também

a frequência e a reprodução de confusões de sons de inversões, a incapacidade para organizar

a linguagem escrita, além do caráter rebelde destas confusões, apesar dos esforços

pedagógicos. Um momento decisivo é a idade da leitura, que é o período dos cinco anos. A

criança ainda não dispõe dos meios necessários para a aprendizagem escolar.

De acordo com a World Federation of Neurologist, a dislexia do desenvolvimento é o

transtorno em que a criança, apesar de ter acesso à escolarização regular, falha em adquirir

habilidades de leitura, escrita e soletração que seriam esperadas de acordo com seu

desempenho intelectual (MUSZKAT; RIZZUTTI, 2012).

O National Institute of Hearth define a dislexia como transtorno específico da

linguagem de origem constitucional e caracteriza-se por dificuldades em decodificar palavras,

normalmente tem relação com a idade e outras habilidades que não estão associadas ao

transtorno geral do desenvolvimento (MUSZKAT; RIZZUTTI, 2012).

Para Tallal et al. (1997, apud MUSZKAT; RIZZUTTI, 2012, p. 15), dislexia é um

transtorno na linguagem expressiva ou receptiva que não pode ser atribuído ao atraso geral do

desenvolvimento, mas como resultado de transtornos auditivos, lesões neurológicas como

paralisia cerebral e epilepsia ou transtornos emocionais.

Com as várias definições de dislexia, observa-se que as dificuldades de aprendizagem

estão relacionadas com o atraso na aquisição da linguagem. O processo da linguagem é

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bastante complexo e envolve uma rede de neurônios distribuída entre diferentes regiões

cerebrais.

A palavra dislexia foi o primeiro termo genérico para definir vários problemas de

aprendizagem. No seu devido tempo, com diferentes formas de transtornos de aprendizagem,

a dislexia é chamada a mãe dos transtornos de aprendizagem. O disléxico, para alguns

estudiosos, havia sofrido um tipo de lesão cerebral ou nervosa que veio a intervir no processo

mental que dificulta a leitura. De acordo com Davis (2004, p. 31),

Ter dislexia não faz de cada disléxico um gênio, mas é bom para a autoestima de

todos disléxicos saberem que suas mentes funcionam exatamente do mesmo modo

que as mentes de grandes gênios. Também é importante saberem que o fato de terem

um problema com leitura, escrita, ortografia ou matemática não significa que sejam

burros ou idiotas.

A Associação Brasileira de Dislexia (ABD) considera a dislexia um transtorno

específico de aprendizagem de origem neurobiológica, caracterizada por dificuldade no

reconhecimento preciso fluente da palavra, na habilidade de decodificação e em soletração.

Essas dificuldades resultam de um déficit no componente fonológico da linguagem e outras

habilidades cognitivas (ABD, 2016).

Muszkat e Rizzutti (2012) classificam a dislexia em alguns níveis. 1ª- A dislexia

primária, em que são detectadas anormalidades em exames de neuroimagem; 2ª a dislexia

adquirida que é um transtorno de leitura e escrita em crianças já alfabetizadas, devido a

alguma alteração neurológica posterior. Identificam também algumas categorias clínicas nas

crianças com transtorno de leitura e escrita, caracterizando a 3ª dislexia profunda e

fonológica, em que a criança tem dificuldade com decodificação fonêmica.

2.2 AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM DOS ALUNOS DISLÉXICOS

A dificuldade de aprendizagem na alfabetização não é um assunto fácil de identificar.

Necessita de uma avaliação profunda por parte do docente, ainda mais se tratando de crianças

com dislexia.

A aprendizagem tem várias definições, por diversos autores Muszkat e Rizzutti

(2012), Davis (2004), Soares (2017), Snowling e Stackhouse (2004), que consideram como

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um processo em evolução e de mudanças no comportamento humano como um ato de ensinar

e aprender independentemente da idade, no decorrer da vida.

De acordo com Campos (1972, p. 23):

Aprendizagem é uma modificação do comportamento, por efeito da prática ou

experiência, com um sentido de progressiva adaptação ou ajustamento. O

comportamento não é tomado apenas no sentido de reações explícitas ou de ação

direta sobre o ambiente físico, como manipular, locomover-se, juntar coisas, separá-

las, construir; mas também, no de reações simbólicas, que tanto interessam a

compreensão da vida social, observadas em gestos, na fala, na linguagem gráfica,

como, ainda, no de comportamentos implícitos, reações simbólicas vêm permitir,

como perceber, compreender, imaginar e pensar de modo coerente.

A dificuldade de aprendizagem, segundo Araújo (2015), é um distúrbio que

afeta o desempenho do aluno não apenas no ambiente escolar, mas também em outros

ambientes como sua vida familiar e social, causando sofrimento, perda da autoestima,

rendimento baixo, o que em alguns casos só é percebido na escola. De acordo com Muszkat e

Rizzutti (2012, p. 15):

Dificuldade de aprendizagem estar relacionada com atraso na aquisição da

linguagem. Altera o processo de desenvolvimento da expressão e recepção verbal

ou escrita. Por isso, necessita da identificação precoce para evitar consequências

educacionais e sociais desfavoráveis.

Segundo a visão de Muszkat e Rizzutti (2012), as dificuldades de aprendizagem estão

relacionadas à história prévia de atraso na aquisição da linguagem. As dificuldades de

linguagem são alterações no processo de desenvolvimento da expressão e recepção verbal e

escrita.

O objetivo da escrita não é simplesmente o registro da fala, mas transmitir mensagens

por meio de um sistema convencional que representa conteúdos linguísticos, pressupondo

uma análise da linguagem.

Conforme autores Muszkat e Rizzutti (2012), o processo da linguagem é complexo e

envolve uma rede de neurônios distribuída entre diferentes regiões cerebrais. Em contato com

os sons do ambiente, a fala engloba múltiplos sons que ocorrem em várias frequências e com

rápidas transições entre elas. O ouvido tem de sintonizar este sinal auditivo complexo,

decodificá-lo e transformá-lo em impulsos elétricos, os quais são conduzidos por células

nervosas à área auditiva do córtex cerebral.

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As crianças com dificuldade de linguagem podem ter dificuldades em diferentes

dimensões, como a fonológica, a morfológica, a semântica e a pragmática. A criança

inicialmente desenvolve as palavras faladas em nível fonológico e morfológico e atribui

significado a elas em nível semântico. O grau de dificuldade também dependerá da

transparência da ortografia de cada língua que utiliza a escrita alfabética.

Outro aspecto importante da linguagem é a leitura e a escrita. A aquisição da leitura e

da escrita requer um ensino formal, mesmo se tratando de crianças inteligentes e saudáveis,

enquanto para a linguagem oral é necessário apenas que as crianças sejam criadas em um

ambiente em que a linguagem é utilizada.

A criança com dislexia tem dificuldade na decomposição fonológica, mas a

compreensão da fala é intacta, a leitura normalmente é lenta ou silabada. A dificuldade no

desenvolvimento de sequências articulatórias descritas reflete na dificuldade em soletrar

(decomposição e segmentação sonora) e ler palavras não habituais (pseudopalavras), mesmo

que sigam as regras da língua. A leitura não pode depender apenas da regularidade da

habituação visual (lexicalidade) presente nas palavras de alta frequência, como casa, sapo,

lápis.

Os estudos de Muszkat e Rizzutti (2012) produção de fala, nota-se que os fonemas não

são unidades de representação em crianças pequenas. É a palavra e não o fonema que serve

como unidade básica de representação nas fases iniciais de desenvolvimento.

A segmentação gradual das representações parece ter um papel relevante no

desenvolvimento da consciência fonológica. A aquisição muito lenta do vocabulário poderia

danificar a precisão das representações formadas e determinar alterações de processamento

fonológico.

Esses fatores contribuem para o desenvolvimento de competências fonológicas. O

efeito na escolaridade é muito maior do que de idade, o que reforça a noção de que a instrução

de leitura é um fator essencial no estabelecimento da consciência fonológica.

De acordo com os fundamentos de Muszkat e Rizzutti (2012), essas considerações

teóricas nos ajudam a pensar nas possíveis causas das dificuldades de inúmeras crianças, em

aprender a ler e escrever. Além de um déficit de processamento fonológico, podemos inferir

que o processo de aprendizagem não é o mesmo de todas as crianças e que o fracasso e o

sucesso dependerão também de fatores individuais.

Segundo Snowling e Stackhouse (2004), os estudos com crianças com dislexia

apontam para o fato de elas terem deficiência específica na habilidade fonológica. O principal

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problema da leitura por crianças disléxicas ocorre normalmente em relação ao uso de

estratégias fonológicas para ler e escrever palavras.

Os autores apontam que esse problema é, em geral, manifestado no processamento de

palavras novas, mas pode também ser observado em dificuldades com palavras polissílabas

longas.

Conforme Davis (2004), os problemas que o disléxico tem com a alfabetização são os

mesmos que todas as crianças enfrentam, mas são agravados pelas inconsistências na

linguagem. Se a palavra impressa fosse apresentada de forma mais consistente, especialmente

nos primeiros livros escolares, alguns desses problemas seriam minorados para todas as

crianças.

Na verdade, para o autor, apesar da popularidade dos métodos fonéticos de

alfabetização, os disléxicos são mais bem-sucedidos numa leitura à primeira vista, quando

reconhecem uma palavra como conceito.

Scarborough (1990 apud SNOWLING; STACKHOUSE, 2004, p. 47) sugeriu que a

criança disléxica com um distúrbio de linguagem não reflete somente no fracasso na leitura.

Esse distúrbio é apresentado por fraquezas diferentes, observadas em idades diferentes com

deficiência na consciência fonológica, habilidades anteriores à alfabetização e dificuldades

com a leitura e a fala durante a escolarização.

2.3 O ENSINO DE CRIANÇAS DISLÉXICAS NA ALFABETIZAÇÃO

Conforme Capovilla (2011), a dislexia é um distúrbio na aquisição da leitura e escrita

em crianças que são inteligentes, é de natureza hereditária e não tem cura, tem remediação e

prevenção. A criança disléxica apresenta má compreensão das palavras, apresentando a fala e

a memória fonológica fracas. Mas existem intervenções com custo zero, como o método

fônico para remediar. Outro meio de intervir é com metodologias lúdicas, utilizando;

brincadeiras, cantigas de roda com rimas, contos, fantoches, histórias e outras formas das

quais o profissional pode se servir para beneficiar as crianças disléxicas, a fim de fazer com

que avancem em seu desenvolvimento.

Os professores relacionam as dificuldades de aprendizagem da criança com uma

história familiar de problemas de atraso na fala e linguagem. Às vezes pode ter um membro

da família que apresenta uma deficiência de linguagem específica, tem dificuldades de

fluência ou é disléxico (SNOWLING; STACKHOUSE, 2004).

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Ao docente em sala de aula, antes de começar a ensinar a escrita, é necessário que

identifique as crianças com tendências de apresentar dificuldades de aprendizagem na escrita,

e também analise se a criança tem alguma experiência da escrita. As crianças também devem

ser avaliadas na sua capacidade de leitura e em suas habilidades de reconhecimento das

palavras não apenas para realizar a leitura, mas a compreensão é importante para que

nenhuma dificuldade deixe de ser identificada (SNOWLING; STACKHOUSE, 2004).

De acordo com Muszkat e Rizzutti (2012), o grau de dificuldade também dependerá da

transparência da ortografia de cada língua que utiliza a escrita alfabética. Quanto maior for a

semelhança entre a quantidade de grafemas e fonemas, maior será a transparência da

ortografia. Existem dois métodos de alfabetização indicados para crianças com dislexia: o

método multissensorial e o método fônico.

O método multissensorial é indicado para crianças em idade mais avançada, que já

possuem um fracasso escolar; e o método fônico é indicado para crianças mais novas e deve

ser aplicado no início da alfabetização. O método multissensorial combina com diferentes

modalidades sensoriais para desenvolver o ensino da linguagem escrita das crianças.

Conforme Muszkat e Rizzutti (2012), o emprego de métodos fonológicos para

prevenir e remediar a dislexia tem se tornado o pilar fundamental no tratamento. O trabalho

tem como base o domínio fonológico, que a criança detecta fonemas, e pensa sobre eles e

construir palavras e sentenças.

O trabalho integrado da consciência fonológica pode ser um eficiente método para

melhorar as habilidades de consciência fonológica para a produção de fala e o

desenvolvimento das habilidades de leitura que tem um tratamento como sugestão a ser

seguido: Estrutura silábica das palavras; Identificação de sílabas; Comparação de sílabas;

Recombinação fonológica.

A principal técnica do método multissensorial é o soletrar: quando a criança, no início,

vê a palavra escrita, repete a pronúncia da palavra fornecida pelo professor e escreve falando

o nome de cada letra. O benefício desta técnica é fortalecer a ligação entre a leitura e a escrita.

Soares (2017) afirma que o professor tem suas características pessoais como classe

social, gênero, idade, experiência profissional, formação continuada, uma motivação para o

ensino e a alfabetização.

De acordo com a autora, os métodos de alfabetização têm objetivo de orientar a

criança por meio de procedimentos que, fundamentados em teorias e princípios, estimulem e

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orientem as operações cognitivas e linguísticas que progressivamente a conduzam a uma

aprendizagem bem-sucedida da leitura e da escrita em uma ortografia alfabética.

De outro lado, o aluno também tem suas características pessoais de classe social,

gênero, idade, contexto familiar e experiência de aprendizagem prévia, situação que acaba

causando impacto na aprendizagem coletiva com as diferenças de ambas as partes.

Essas diferenças afetam a interação entre eles na prática do ensino e aprendizagem na

sala de aula, quando o número de alunos não é adequado ou há outras necessidades que

dificultam os métodos de alfabetização, como a falta de material didático e recursos. Cabe à

escola posicionar-se, tomar a iniciativa e incentivar professores e alunos.

A avaliação não é apenas um processo de identificação, mas é um pré-requisito do

ensino eficaz, capacitando o professor para identificar potencialidades e deficiências

precisas, e assim proporcionar experiências de aprendizagem adequada para cada criança. O

propósito da avaliação é:

Determinar se a criança tem dificuldades de leitura e ortografia;

Realizar uma análise detalhada das habilidades atuais de alfabetização da

criança para construir um perfil das habilidades e deficiências;

Estabelecer uma base para a monitoração contínua;

Determinar o tipo de remediação mais eficiente para que o ensino e a

aprendizagem possam ser coordenados, sendo o ensino baseado num perfil

cognitivo da alfabetização de cada criança (SNOWLING; STACKHOUSE,

2004).

A parceria e o compartilhamento de conhecimentos e habilidades entre professores e

fonoaudiólogos são essenciais na avaliação do processo de alfabetização das crianças que

apresentam deficiências no desenvolvimento da linguagem falada e escrita. As crianças com

dificuldades no processamento da fala correm o risco de apresentar problemas na

alfabetização, segundo Snowling e Stackhouse (2004).

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3 METODOLOGIA

A presente pesquisa foi realizada numa Escola da rede pública de Ceilândia, no DF.

Esta escola tem um número elevado de alunos com dificuldades de aprendizagem, possui uma

sala de orientação para os professores.

A pesquisa aborda as dificuldades de alfabetização do aluno com dislexia no 3º ano do

Ensino Fundamental. Compreende-se que a constatação e o conhecimento das dificuldades de

aprendizagem constituem quesito fundamental no exercício educativo diário do professor.

Conhecer bem a realidade de seus alunos, em especial os disléxicos, é condição para fazer um

trabalho diferenciado com os alunos e evitar que tenham um baixo desempenho dentro e fora

do ambiente escolar.

Esta pesquisa foi realizada em uma abordagem qualitativa. De acordo com Goldenberg

(2005, p. 14), “na pesquisa qualitativa a preocupação do pesquisador não é com a

representatividade numérica do grupo pesquisado, mas com o aprofundamento da

compreensão de um grupo social, de uma organização, de uma instituição, de uma trajetória”.

De acordo com a autora, a socialização do pesquisador exige um exercício permanente

de crítica e autocrítica. A pesquisa é uma atividade neutra e objetiva, que busca descobrir

regularidades ou leis, em que o pesquisador não pode fazer julgamentos nem permitir que

seus preconceitos e crenças contaminem a pesquisa.

Conforme a autora, a pesquisa não se reduz a certos procedimentos metodológicos. A

pesquisa exige criatividade, disciplina, organização e modéstia, com base no possível e

impossível para prever todas as etapas.

A autora aponta ainda que o método biográfico pode acrescentar a visão do lado

subjetivo dos processos institucionais estudados, como as pessoas concretas experimentam

estes processos e levantar questões sobre esta experiência mais ampla.

Na pesquisa qualitativa os dados objetivam uma compreensão profunda de certos

fenômenos sociais, apoiados no pressuposto da maior relevância do aspecto subjetivo da ação

social (GOLDENBERG, 2005, p. 49).

Esta pesquisa considera válidos os pressupostos da metodologia qualitativa, em que a

construção das ideias traz inteligibilidade. Ou seja, delimitará uma visão para inclusão

possibilitando novas reflexões.

Nesse estudo fizeram-se análises da realidade do professor, identificando como é feita

a abordagem das crianças com dislexia que têm dificuldades de aprendizagem, com o estudo

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de caso sendo um método que possibilita adquirir o conhecimento do fenômeno estudado a

partir da exploração de um único caso. Para (GOLDENBERG, 2005, p. 34): e o estudo de

caso se caracteriza como:

[...] uma análise holística, a mais completa possível, que considera a unidade social

estudada como um todo seja um indivíduo, uma família, uma instituição ou uma

comunidade, com o objetivo de compreendê-los em seus próprios termos, e analisar

os métodos utilizados no aprendizado.

Foi feita a observação com uma criança que tem dificuldades e entrevista com a

professora, para analisar quais os maiores desafios encontrados no processo de alfabetização

do aluno nos anos iniciais.

Portanto, além da observação das dificuldades de aprendizagem na alfabetização dos

alunos com dislexia, é de grande importância observar tanto os alunos com dificuldades de

aprendizagem, como os professores e sua atuação em sala de aula.

Page 18: Pró-Reitoria Acadêmica Escola de Educação, Tecnologia e

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4 ANÁLISE DAS OBSERVAÇÕES E DOS DADOS DA ENTREVISTA

O objetivo da pesquisa foi alcançado no decurso das observações que foram realizadas

e com a entrevista foi constatado com o conhecimento da professora sobre o assunto da

dislexia, entendendo que cada criança disléxica deve ter um trabalho individual com novas e

adequadas estratégias pedagógicas de ensino.

É necessário desenvolver práticas pedagógicas de acordo com a necessidade do aluno,

utilizando todas as possibilidades de aprendizagem, criando condições para favorecer a

autonomia do aluno e para que aprenda a lidar com seus erros.

Com a pesquisa verificou-se todo processo que a professora utiliza em sala de aula

para desenvolver a aprendizagem do aluno disléxico, identificando a importância do papel da

professora em estar buscando estratégias para trabalhar com o aluno e desenvolver seu

aprendizado.

De acordo com a entrevista, a professora conhece bem o que é a dislexia, tornando seu

trabalho bem mais fácil com aluno já diagnosticado disléxico, desenvolvendo seu ensino e

aprendizagem. Como nem toda dificuldade de aprendizagem é causada pela dislexia, o

trabalho fica mais complexo.

Sendo assim, nas observações identifiquei que a professora realiza atividades em que

toda turma esteja envolvida, dando oportunidade para que todos participem e que o aluno

disléxico se sinta incluso na aprendizagem e possa interagir com todos em sala de aula.

Com os dados coletados, foi possível identificar que a professora segue os

métodos para o desenvolvimento do ensino e aprendizagem do aluno, como pontuam Muszkat

e Rizzutti (2012, p. 73):

Todas as atividades de estimulação de linguagem escrita devem ser realizadas de

forma lúdica, principalmente por meio de jogos e brincadeiras, para que a criança

sinta prazer em ler e escrever. Neste sentido é útil orientar os pais sobre o papel

importante da leitura de histórias infantis, leitura de rótulos e jogos de rimas,

estimulando a motivação e não a obrigatoriedade da leitura.

Os métodos utilizados pela professora acompanham o desenvolvimento da

aprendizagem do aluno com as atividades propostas com o planejamento diversificado das

aulas.

O aluno observado, do 3º ensino fundamental – anos iniciais, diagnosticado como

disléxico, necessita da ajuda de um psicopedagogo e de um monitor, que não são cedidos pela

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escola, o que sobrecarrega o trabalho da professora, que necessita do apoio de uma equipe

pedagógica.

A criança tem o apoio da mãe, que toda semana a leva para uma sessão com uma

fonoaudióloga, pois a professora não teria como atendê-la em horário contrário da aula, apesar

da turma ser reduzida, com apenas 16 alunos. Além do aluno disléxico, há mais 5 crianças

com dificuldades de aprendizagem em fase pré-silábica. A professora elabora para toda aula

três atividades diferenciadas para a turma e a cada aula procura estar inovando suas

atividades.

A compreensão da dislexia e atuação com estratégias pedagógicas da professora em

sala de aula encontram embasamento em Muszkat e Rizzutti (2012, p. 73):

É importante que a criança tenha adequada consciência de que a fala e a escrita são

formas diferentes de expressão de linguagem. Nas crianças com dislexia, a

intervenção mais apropriada é a que se baseia na estimulação da conversão grafema-

fonema com intervenção direta nas habilidades de leitura, associada a atividades

relacionadas ao processamento fonológico da linguagem.

Conforme foi observado em sala de aula, cada criança tem seu modo de aprender. E

nessa perspectiva, Davis (2004, p. 81) pontua:

Crianças “normais” trazem para a sala de aula uma característica fundamental que

falta às crianças disléxicas. Uma criança não é disléxica começa a desenvolver a

habilidade de se concentrar antes de entrar para a escola. Uma criança disléxica

provavelmente, não vai começar a desenvolver esta habilidade questionável até por

volta da idade de nove anos, ou seja, em torno da terceira série do ensino

fundamental.

As observações feitas em sala possibilitam reunir informações significativas sobre o

trabalho escolar com crianças disléxicas, como já se fez alusão acima.

Além das observações registradas, fez-se também uma entrevista com uma professora

do turno vespertino, seguindo um questionário orientativo.

4.1 ANÁLISE GERAL DA ENTREVISTA

Na sequência, apresenta-se as sete questões da entrevista feita e as respostas

apresentadas pela professora participante da pesquisa, fazendo-se breve análise dos dados aí

levantados.

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1 – Qual a sua concepção de dislexia?

– É um dos mais utilizados termos das dificuldades ortográficas. As crianças com

esse transtorno apresentam dificuldades na leitura e escrita; assim sendo, pode-se

dizer que é uma perturbação na aprendizagem da leitura, dificultando o

reconhecimento da correspondência entre os símbolos gráficos e os fonemas.

Foi possível observar que a professora conhece o conceito de dislexia, conforme

registram Muszkat e Rizzutti (2012, p. 15):

O National Institute of Hearth define a dislexia como transtorno específico da

linguagem de origem constitucional e caracteriza-se por dificuldades em decodificar

palavras, normalmente tem relação com a idade e outras habilidades que não estão

associadas ao transtorno geral do desenvolvimento.

Percebeu-se também que a professora segue uma boa metodologia com o

planejamento de suas aulas para alcançar o desenvolvimento do aluno, conhece as

dificuldades de aprendizagem causadas pela dislexia.

2 – Como ocorre o processo de inclusão do aluno com dislexia em sala de aula

da rede pública?

– Os alunos são inseridos em uma sala de aula regular com uma turma reduzida

em número de crianças, para que o professor consiga dar mais atenção ao aluno. As

atividades devem ser diversificadas e acompanhando a Proposta Pedagógica

Interventiva (PPI).

Notou-se que há uma forte preocupação com o trabalho de inclusão do aluno disléxico

em sala de aula, sendo a prática pedagógica da professora voltada para isso. Traz-se presente

o que afirmam Muszkat e Rizzutti (2012, p. 89):

Na sala de aula, posicione o aluno com dislexia perto do professor, para que ele

recebe ajuda facilmente, repita as informações e verifique se foram compreendidas,

estimule a expressão verbal do aluno, dê instruções e orientações curtas e simples

que evitem confusões, ensine métodos e práticas de estudo, pratique soletração,

ensine regras ortográficas.

Como aponta a professora, fica claro que ela planeja as atividades a serem utilizadas

no trabalho com o aluno disléxico, tendo em vista desenvolver o ensino e a aprendizagem e

ressalta que o mesmo necessita de um apoio pedagógico.

3 – Qual sua reflexão quando de refere a inclusão do aluno disléxico em sala

de aula?

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– Alguns profissionais não estão preparados para receber essas crianças dentro da

sala de aula o que dificulta a verdadeira inclusão dessas crianças.

A fala revela a preocupação e cuidado que a professora tem e sua segurança quanto à

inclusão do aluno disléxico em sala de aula, informa que não tem capacitação na área, mas

procura fazer um trabalho pedagógico o mais adequado possível para sanar a dificuldade de

aprendizagem.

4 – Quais os métodos utilizados para intervir na prática pedagógica do aluno

com dislexia?

– Os métodos variam de acordo com as dificuldades apresentadas pela criança e

suas especificações de aprendizagem, pois cada criança aprende de uma forma

diferente.

5 – Quais as estratégias que são utilizadas pelo profissional para identificar a

dislexia na criança?

– A estratégia utilizada é a percepção. Perceber as características de um disléxico

que a criança apresenta.

Percebe-se que o relato da professora sobre as estratégias que o profissional deve

utilizar na identificação da dislexia estão no rumo do que concebem os autores indicam muito

mais que “percepção” para identificação/ diagnóstico de dislexia Muszkat e Rizzutti (2012, p.

54):

A avaliação diagnóstica da dislexia deve envolver um amplo espectro de testes de

inteligência padronizados, questionários para escola e familiares, para afastar as

causas sensoriais (visuais, auditivas) e secundárias, além de outros problemas

secundários. Neste sentido, algumas crianças devem submeter-se a exames de

neuroimagem, principalmente quando se suspeita de causas lesionais ou

progressivas na chamada dislexia secundária, isto é, aquela associada a achados

neurológicos positivos na anamnese ou exame neurológico.

De acordo com a observação da professora a respeito do aluno disléxico, entende que

se deve identificar as suas dificuldades de aprendizagem e, se necessário, o encaminhá-lo a

um profissional para fazer um diagnóstico.

6 – Com o processo de inclusão do aluno disléxico, como acontece o processo

de socialização?

– Por meio da interação: jogos, brincadeiras, dinâmicas etc.

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7 – Como acontece a relação entre escola e família no processo de

desenvolvimento do aluno disléxico?

– Depende da família. Algumas crianças têm todo apoio da família dentro e fora da

escola. Em outras situações existem além de não aceitarem o transtorno não dar o

apoio necessário para que a criança se desenvolva. O papel da escola é promover a

interação família x escola, porém nem sempre é correspondida.

Quanto ao relato da professora sobre a relação escola x família, merece destaque o que

afirmam Muszkat e Rizzutti (2012, p. 85):

A escola tem papel fundamental no trabalho com os alunos que apresentam

dificuldade de linguagem, o apoio do professor e dos colegas é essencial para que a

crianças com dislexia se sinta segura e motivada, melhorando a autoestima. A ajuda

dos pais em identificar os professores que irão apoiá-lo. Um professor pode estar

disposto a ficar ao lado da criança na aula e, calmamente, ajuda-la a ler em voz alta,

programe reuniões regulares com os professores de seu filho.

No relato a professora coloca que alguns pais não aceitam o distúrbio dos filhos, e isso

acaba dificultando o encaminhamento para uma equipe pedagógica habilitada para atender à

criança, sendo uma barreira que a escola tem que enfrentar junto à família.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa tinha como objetivo investigar como se dá o processo de desenvolvimento

e aprendizagem da criança com dislexia na alfabetização, e nesse sentido buscou-se analisar

as práticas pedagógicas utilizadas pela professora em sala de aula diante do aluno disléxico

com dificuldades de aprendizagem.

De acordo com os autores citados no embasamento da pesquisa, a dislexia não é uma

doença e não tem cura, mas existem métodos estratégicos de intervenção no processo de

ensino e aprendizagem da criança com dislexia, mediante a utilização de recursos e atividades

em sala de aula com toda turma.

É necessário ressaltar a importância da utilização de estratégias pedagógicas, como

demonstrado pela professora, para amenizar a situação de dificuldade do aluno no processo de

ensino e aprendizagem, auxiliando no ambiente escolar.

Os autores em que se fundamenta a pesquisa apontam dificuldades de aprendizagem

em decorrência de fatores genéticos. A professora mostrou que compreende a aprendizagem

como um processo constante, assim como tem clareza de seu papel em propor e utilizar

estratégias pedagógicas diferenciadas que ligam o lúdico e a criatividade.

Ao investigar as dificuldades de aprendizagem e as práticas pedagógicas no trato com

o aluno disléxico, observou-se que a professora enfrenta para ensinar a criança com

dificuldade de aprendizagem.

A professora relata que a escola não dá suporte de apoio ao aluno disléxico que

necessita de acompanhamento do psicopedagogo e monitor, para ter um desenvolvimento

mais eficaz.

De acordo com a análise, a professora que participou da pesquisa tem conhecimento

do conceito de dislexia e utiliza uma metodologia adequada para trabalhar com o aluno

disléxico, entretanto, esta não recebe uma atenção devida da escola que não dispõe de uma

equipe pedagógica para ajudar a proporcionar um desenvolvimento de qualidade no seu

aprendizado.

Portanto, com estas observações, conclui-se que a professora da rede pública de ensino

do DF que participou desta pesquisa demonstrou que tem capacidade para trabalhar com

criança disléxica incluída numa turma reduzida, mas deixou a entender que existe a

necessidade de uma equipe pedagógica que possa dar um suporte qualificado no

enfrentamento desse trabalho que é muito desafiador.

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REFERÊNCIAS

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língua escrita. Porto Alegre: Artes Médicas, 1990.

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Disponível em: <http://www.dislexia.org.br>. Acesso em: 9 maio 2017.

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CAPOVILLA, Fernando. FernandoCapovillaEntrevistaDislexiaLegendadaTVCultura-

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conseguem ler e como podem aprender. Rio de Janeiro: Rocco, 2004.

GOLDENBERG, Mirian. A Arte de Pesquisar: Como fazer pesquisa qualitativa em Ciências

Sociais. 9. ed. São Paulo: Record, 2005.

MUSZKAT, Mauro; RIZZUTTI, Sueli. O Professor e a Dislexia. São Paulo: Cortez, 2012.

SNOWLING, Margaret; STACKHOUSE, Joy. Dislexia, Fala e Linguagem: Um manual do

profissional. Porto Alegre: Artmed, 2004.

SENA, Tito. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtorno Mentais, Dsm-5 Estatísticas

e Ciências Humanas: Inflexões sobre Normalizações e Normatizações. Disponível em:

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SOARES, Magda. Alfabetização: Questão dos Métodos. São Paulo: Contexto, 2017.