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Pró-Reitoria Acadêmica
Escola de Educação, Tecnologia e Comunicação
Curso de Pedagogia
Trabalho de Conclusão de Curso
UM ESTUDO SOBRE AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM
DOS ALUNOS COM DISLEXIA NAS CLASSES DE
ALFABETIZAÇÃO DA REDE PÚBLICA DO DISTRITO
FEDERAL
Autora: Maria Antonia Mendes Ferreira
Orientador: Prof. MSc. Olimpo Ordoñez Carmona
Brasília - DF
2017
2
MARIA ANTONIA MENDES FERREIRA
UM ESTUDO SOBRE AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM DOS ALUNOS
COM DISLEXIA NAS CLASSES DE ALFABETIZAÇÃO DA REDE PÚBLICA DO
DISTRITO FEDERAL (DF)
Trabalho de Conclusão do Curso 1 de
graduação em Pedagogia da Universidade
Católica de Brasília, Licenciada em
Educação.
Autora: Maria Antonia Mendes Ferreira
Orientador: Prof. MSc. Olimpo Ordoñez Carmona
Brasília – DF
2017
3
4
AGRADECIMENTOS
Agradeço em primeiro lugar a Deus por ter me abençoado com saúde, força e fé para
conciliar trabalho, faculdade, estágio e chegar até aqui, vencendo os desafios. À minha Mãe
Maria da Conceição por sempre me apoiar e acreditar que eu iria conseguir vencer as
dificuldades e nunca desistir. Ao meu motorista com quem trabalho, Claudio Caíres, que
sempre reconheceu meu esforço e me ajudou a não chegar muito atrasada no estágio
obrigatório. À minha prima Clara Medeiros que me ajudou com os livros da pesquisa.
Agradeço em especial ao meu orientador, Professor MSc. Olimpo Ordoñez Carmona,
por me acompanhar nessa pesquisa pela sua dedicação, paciência, ensinamentos e
compreensão.
Tenho a honra de agradecer aos professores que me acompanharam até aqui, Carla
Cristie, Adriana Matos, Chris Alves, Erondina Barbosa, Maria da Conceição, Ranilce
Guimarães, Tatiana Portela, entre outros que não estão mais na UCB e a toda direção do curso
de Pedagogia.
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RESUMO
FERREIRA, Maria Antonia Mendes. Um Estudo sobre as Dificuldades de Aprendizagem
dos Alunos com Dislexia nas Classes de Alfabetização da Rede Pública do Distrito
Federal (DF). Artigo como TCC do Curso de Pedagogia, da Universidade Católica de
Brasília, Brasília, 2017.
O presente artigo apresenta o tema da dislexia, como um transtorno específico que causa
atraso na aquisição da linguagem. A questão é buscar saber como se dá o processo de
desenvolvimento e aprendizagem de crianças com dislexia na alfabetização em uma escola da
rede pública do DF. A pesquisa é de natureza qualitativa teve como objetivo geral investigar o
processo de ensino e aprendizagem dos alunos disléxicos da rede pública na alfabetização e
suas dificuldades. A pesquisa teve como instrumento a entrevista realizada com uma
professora da rede pública do Distrito Federal. O estudo tem como fundamentação as
principais ideias de Muszkat e Rizzutti (2012), Davis (2004), Soares (2017), Snowling e
Stackhouse (2004), Ajuriaguerra (1990). Os resultados da análise da pesquisa apontam todo
processo de estratégias pedagógicas que a professora utiliza em sala de aula para desenvolver
a aprendizagem do aluno disléxico como mediação para superar as dificuldades. Com os
dados analisados na abordagem, o conhecimento da professora do que é a dislexia é evidente,
e torna seu trabalho bem mais fácil com o aluno já diagnosticado como disléxico.
Palavras-chave: Dificuldades de Aprendizagem. Alfabetização. Dislexia.
6
1 INTRODUÇÃO
Na sala de aula existe uma diversidade de contextos, pois cada criança tem um modo
de aprender, entender e de ser estudante. Atualmente, no campo escolar, a dificuldade de
aprendizagem é uma questão que permanece na escola, no entanto, havendo um olhar
educativo para as crianças, é possível galgar consideráveis estágios de evolução na
aprendizagem.
A alfabetização é uma etapa essencial na vida das crianças, momento em que
desenvolve suas habilidades na leitura e escrita, mas algumas crianças não conseguem ter um
bom desempenho de suas competências. As que não acompanham o processo da leitura e
escrita são caracterizadas como crianças com alguma dificuldade de aprendizagem.
As dificuldades de aprendizagem estão relacionadas com o atraso na aquisição da
linguagem por diversos motivos. Uma das causas pode ser o histórico familiar com
dificuldade na fala, ou fatores genéticos, biológicos ou alteração no funcionamento do
cérebro. Nesses casos, é fundamental que a criança tenha o acompanhamento do professor e
de um fonoaudiólogo no ambiente escolar para não ter seu aprendizado prejudicado.
Existem vários fatores que podem comprometer o processo de ensino e aprendizagem
de um aluno, e estas causas podem estar ligadas a problemas familiares, comportamentais,
neurológicos ou algum tipo de distúrbio na aprendizagem, como a dislexia.
A dislexia, segundo o National Institute of Heath, é um transtorno específico de
linguagem caracterizado por dificuldades em decodificar palavras isoladas, na estrutura do
processamento fonológico. Essas dificuldades são inesperadas em relação à idade e a outras
habilidades cognitivas e acadêmicas e não estão relacionadas com transtorno geral do
desenvolvimento ou problemas sensoriais (MUSZKAT; RIZZUTTI, 2012).
Estudos epidemiológicos de Muszkat e Rizzutti (2012) apontam que nos transtornos
da leitura e escrita a dislexia tem alta prevalência, entre 7% a 10% das crianças em idade
escolar, contribuindo para o fracasso e evasão escolar. No Brasil, cerca de 40% das crianças
nos anos iniciais de alfabetização apresentam dificuldades de aprendizagem, por falhas no
acesso ao ensino e nos métodos pedagógicos, além de fatores neurobiológicos diversos.
A pesquisadora apresentou interesse por este tema quando acompanhou a filha de uma
vizinha para encontros com profissionais diversos, como neurologista, fonoaudiólogo,
psicólogo, psicopedagogo para investigar suas dificuldades de aprendizagem. Em muitos
7
momentos, a dificuldade de aprendizagem da criança foi vista pelos professores como um
comportamento de desinteresse. Aos 11 anos, a estudante foi acompanhada por seis meses por
diversos especialistas que fizeram uma investigação biológica, psicológica e familiar, para
identificar se as causas das dificuldades eram genéticas ou se havia outros fatores causadores.
O atraso no desenvolvimento do aprendizado em relação aos demais alunos já
motivava à evasão escolar da estudante, que tinha autoestima baixa, mostrava-se deprimida e
sofria o bullying na escola e na comunidade.
Os resultados obtidos pelos profissionais acusaram que se tratava de um distúrbio
nomeado de dislexia, e que dificultava o desenvolvimento da leitura e da escrita da estudante,
necessitando de um acompanhamento multidisciplinar para analisar suas dificuldades na
aprendizagem, buscando formas de superá-las.
As dificuldades de aprendizagem dos estudantes com dislexia são hoje um fator de
influência no processo de ensino e aprendizagem dos alunos que se encontram na escola e
necessitam da intervenção do professor no processo de alfabetização.
As questões relacionadas às dificuldades de aprendizagem são ainda mais evidentes
nas classes de alfabetização, pois nesta etapa a aquisição da leitura e da escrita é um grande
desafio para todas as crianças, ainda mais se tratando daquelas que possuem um diagnóstico
de dislexia, situação em que uma das maiores dificuldades é a compreensão dos conteúdos.
Perante esta situação surge o problema desta pesquisa: Como se dá o processo de
desenvolvimento e aprendizagem de crianças com dislexia na alfabetização em uma escola
pública do DF?
Como objetivo geral, o estudo assumiu investigar o processo de ensino e
aprendizagem do aluno disléxico da rede pública na alfabetização. Tem como objetivos
específicos: a) analisar as dificuldades de aprendizagem na alfabetização dos alunos
disléxicos e os recursos aplicados pelo professor; b) verificar como a professora realiza o
atendimento do aluno disléxico ante as dificuldades de aprendizagem na alfabetização; c)
identificar se a professora realiza propostas diferenciadas para o estudante disléxico na
alfabetização.
A hipótese da pesquisadora é que a criança com diagnóstico de dislexia tenha suas
dificuldades de aprendizagem acentuadas por falta de trabalho docente ou por falta de suporte
da escola que viabilize a superação de suas dificuldades.
8
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Entre as últimas décadas do século XIX e o início do século XX, duas vias de
evolução se abriram no campo dos métodos para o ensino inicial da leitura e da escrita, na
prática pedagógica até os anos 80. Foi dado prioridade ao valor sonoro das letras e sílabas, o
nome das letras; a soletração avançou para os métodos fônicos e silábicos.
“A alfabetização é a teoria e os princípios que orientam a aprendizagem inicial da
leitura e da escrita com o conhecimento do código alfabeto, relação de fonema-grafema do
sistema ortográfico e também o processo de compreensão/expressão do código escrito”
(SOARES, 2017, p. 16).
Sendo a alfabetização um processo de aprendizagem, Soares (2017) considera que o
sistema de escrita é uma condição, é pré-requisito para que a criança desenvolva habilidades
da leitura e da escrita, lendo e produzindo textos reais, mas primeiro tem que aprender a ler e
escrever.
Assim existe a necessidade de o professor ser o mediador nos problemas existentes e
nas dificuldades de aprendizagem, na perspectiva de desenvolver o processo de ensino e
aprendizagem da criança na escola.
Portanto, espera-se que esta pesquisa possa contribuir para melhorar o aprendizado do
aluno com dificuldades de aprendizagem causadas pelo distúrbio da dislexia. O estudo poderá
contribuir para que o professor reveja sua prática pedagógica e a forma de avaliar o ensino e
aprendizagem do aluno disléxico com dificuldades de aprendizagem.
2.1 CONCEPÇÕES SOBRE A DISLEXIA
Segundo estudos de Muszkat e Rizzutti (2012), existem várias definições para
dislexia. O neurologista Norman Geschwind nomeia como dificuldades no aprendizado da
leitura e escrita o fato de que o termo tem significados em latim dys, como dificuldade, e
lexia, como palavra. Considera uma definição muito ampla: uma dificuldade na aquisição da
leitura na escrita.
O conceito de dislexia é muito amplo de acordo com os autores. Constitui uma
dificuldade na aquisição da leitura para uma inteligência normal, mas com o uso de palavras
com nível de leitura abaixo do esperado pela idade e nível intelectual. Com esses termos a
9
dislexia é definida como dificuldade na transposição de palavras e ideias para o papel de
acordo com as regras gramaticais.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) define a dislexia como dificuldade
específica de leitura, que não está ligada com déficit de inteligência. De acordo com o Manual
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-IV (APA, 1994), a dislexia é uma
dificuldade específica do aprendizado da leitura e escrita em crianças com inteligência
normal, sem distúrbios sensoriais e motores.
De acordo com o Manual de Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais DSM
V (SENA, 2014) esta anomalia constitui um transtorno mental, uma síndrome caracterizada
por perturbação clinicamente significativa na cognição, na regulação emocional ou no
comportamento de um indivíduo que reflete uma disfunção nos processos psicológicos,
biológicos ou de desenvolvimento subjacentes ao funcionamento mental.
Conforme Ajuriaguerra (1990), não se deve falar em dislexia a não ser na presença de
numerosos dados, considerando não apenas a dificuldade para adquirir a leitura, mas também
a frequência e a reprodução de confusões de sons de inversões, a incapacidade para organizar
a linguagem escrita, além do caráter rebelde destas confusões, apesar dos esforços
pedagógicos. Um momento decisivo é a idade da leitura, que é o período dos cinco anos. A
criança ainda não dispõe dos meios necessários para a aprendizagem escolar.
De acordo com a World Federation of Neurologist, a dislexia do desenvolvimento é o
transtorno em que a criança, apesar de ter acesso à escolarização regular, falha em adquirir
habilidades de leitura, escrita e soletração que seriam esperadas de acordo com seu
desempenho intelectual (MUSZKAT; RIZZUTTI, 2012).
O National Institute of Hearth define a dislexia como transtorno específico da
linguagem de origem constitucional e caracteriza-se por dificuldades em decodificar palavras,
normalmente tem relação com a idade e outras habilidades que não estão associadas ao
transtorno geral do desenvolvimento (MUSZKAT; RIZZUTTI, 2012).
Para Tallal et al. (1997, apud MUSZKAT; RIZZUTTI, 2012, p. 15), dislexia é um
transtorno na linguagem expressiva ou receptiva que não pode ser atribuído ao atraso geral do
desenvolvimento, mas como resultado de transtornos auditivos, lesões neurológicas como
paralisia cerebral e epilepsia ou transtornos emocionais.
Com as várias definições de dislexia, observa-se que as dificuldades de aprendizagem
estão relacionadas com o atraso na aquisição da linguagem. O processo da linguagem é
10
bastante complexo e envolve uma rede de neurônios distribuída entre diferentes regiões
cerebrais.
A palavra dislexia foi o primeiro termo genérico para definir vários problemas de
aprendizagem. No seu devido tempo, com diferentes formas de transtornos de aprendizagem,
a dislexia é chamada a mãe dos transtornos de aprendizagem. O disléxico, para alguns
estudiosos, havia sofrido um tipo de lesão cerebral ou nervosa que veio a intervir no processo
mental que dificulta a leitura. De acordo com Davis (2004, p. 31),
Ter dislexia não faz de cada disléxico um gênio, mas é bom para a autoestima de
todos disléxicos saberem que suas mentes funcionam exatamente do mesmo modo
que as mentes de grandes gênios. Também é importante saberem que o fato de terem
um problema com leitura, escrita, ortografia ou matemática não significa que sejam
burros ou idiotas.
A Associação Brasileira de Dislexia (ABD) considera a dislexia um transtorno
específico de aprendizagem de origem neurobiológica, caracterizada por dificuldade no
reconhecimento preciso fluente da palavra, na habilidade de decodificação e em soletração.
Essas dificuldades resultam de um déficit no componente fonológico da linguagem e outras
habilidades cognitivas (ABD, 2016).
Muszkat e Rizzutti (2012) classificam a dislexia em alguns níveis. 1ª- A dislexia
primária, em que são detectadas anormalidades em exames de neuroimagem; 2ª a dislexia
adquirida que é um transtorno de leitura e escrita em crianças já alfabetizadas, devido a
alguma alteração neurológica posterior. Identificam também algumas categorias clínicas nas
crianças com transtorno de leitura e escrita, caracterizando a 3ª dislexia profunda e
fonológica, em que a criança tem dificuldade com decodificação fonêmica.
2.2 AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM DOS ALUNOS DISLÉXICOS
A dificuldade de aprendizagem na alfabetização não é um assunto fácil de identificar.
Necessita de uma avaliação profunda por parte do docente, ainda mais se tratando de crianças
com dislexia.
A aprendizagem tem várias definições, por diversos autores Muszkat e Rizzutti
(2012), Davis (2004), Soares (2017), Snowling e Stackhouse (2004), que consideram como
11
um processo em evolução e de mudanças no comportamento humano como um ato de ensinar
e aprender independentemente da idade, no decorrer da vida.
De acordo com Campos (1972, p. 23):
Aprendizagem é uma modificação do comportamento, por efeito da prática ou
experiência, com um sentido de progressiva adaptação ou ajustamento. O
comportamento não é tomado apenas no sentido de reações explícitas ou de ação
direta sobre o ambiente físico, como manipular, locomover-se, juntar coisas, separá-
las, construir; mas também, no de reações simbólicas, que tanto interessam a
compreensão da vida social, observadas em gestos, na fala, na linguagem gráfica,
como, ainda, no de comportamentos implícitos, reações simbólicas vêm permitir,
como perceber, compreender, imaginar e pensar de modo coerente.
A dificuldade de aprendizagem, segundo Araújo (2015), é um distúrbio que
afeta o desempenho do aluno não apenas no ambiente escolar, mas também em outros
ambientes como sua vida familiar e social, causando sofrimento, perda da autoestima,
rendimento baixo, o que em alguns casos só é percebido na escola. De acordo com Muszkat e
Rizzutti (2012, p. 15):
Dificuldade de aprendizagem estar relacionada com atraso na aquisição da
linguagem. Altera o processo de desenvolvimento da expressão e recepção verbal
ou escrita. Por isso, necessita da identificação precoce para evitar consequências
educacionais e sociais desfavoráveis.
Segundo a visão de Muszkat e Rizzutti (2012), as dificuldades de aprendizagem estão
relacionadas à história prévia de atraso na aquisição da linguagem. As dificuldades de
linguagem são alterações no processo de desenvolvimento da expressão e recepção verbal e
escrita.
O objetivo da escrita não é simplesmente o registro da fala, mas transmitir mensagens
por meio de um sistema convencional que representa conteúdos linguísticos, pressupondo
uma análise da linguagem.
Conforme autores Muszkat e Rizzutti (2012), o processo da linguagem é complexo e
envolve uma rede de neurônios distribuída entre diferentes regiões cerebrais. Em contato com
os sons do ambiente, a fala engloba múltiplos sons que ocorrem em várias frequências e com
rápidas transições entre elas. O ouvido tem de sintonizar este sinal auditivo complexo,
decodificá-lo e transformá-lo em impulsos elétricos, os quais são conduzidos por células
nervosas à área auditiva do córtex cerebral.
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As crianças com dificuldade de linguagem podem ter dificuldades em diferentes
dimensões, como a fonológica, a morfológica, a semântica e a pragmática. A criança
inicialmente desenvolve as palavras faladas em nível fonológico e morfológico e atribui
significado a elas em nível semântico. O grau de dificuldade também dependerá da
transparência da ortografia de cada língua que utiliza a escrita alfabética.
Outro aspecto importante da linguagem é a leitura e a escrita. A aquisição da leitura e
da escrita requer um ensino formal, mesmo se tratando de crianças inteligentes e saudáveis,
enquanto para a linguagem oral é necessário apenas que as crianças sejam criadas em um
ambiente em que a linguagem é utilizada.
A criança com dislexia tem dificuldade na decomposição fonológica, mas a
compreensão da fala é intacta, a leitura normalmente é lenta ou silabada. A dificuldade no
desenvolvimento de sequências articulatórias descritas reflete na dificuldade em soletrar
(decomposição e segmentação sonora) e ler palavras não habituais (pseudopalavras), mesmo
que sigam as regras da língua. A leitura não pode depender apenas da regularidade da
habituação visual (lexicalidade) presente nas palavras de alta frequência, como casa, sapo,
lápis.
Os estudos de Muszkat e Rizzutti (2012) produção de fala, nota-se que os fonemas não
são unidades de representação em crianças pequenas. É a palavra e não o fonema que serve
como unidade básica de representação nas fases iniciais de desenvolvimento.
A segmentação gradual das representações parece ter um papel relevante no
desenvolvimento da consciência fonológica. A aquisição muito lenta do vocabulário poderia
danificar a precisão das representações formadas e determinar alterações de processamento
fonológico.
Esses fatores contribuem para o desenvolvimento de competências fonológicas. O
efeito na escolaridade é muito maior do que de idade, o que reforça a noção de que a instrução
de leitura é um fator essencial no estabelecimento da consciência fonológica.
De acordo com os fundamentos de Muszkat e Rizzutti (2012), essas considerações
teóricas nos ajudam a pensar nas possíveis causas das dificuldades de inúmeras crianças, em
aprender a ler e escrever. Além de um déficit de processamento fonológico, podemos inferir
que o processo de aprendizagem não é o mesmo de todas as crianças e que o fracasso e o
sucesso dependerão também de fatores individuais.
Segundo Snowling e Stackhouse (2004), os estudos com crianças com dislexia
apontam para o fato de elas terem deficiência específica na habilidade fonológica. O principal
13
problema da leitura por crianças disléxicas ocorre normalmente em relação ao uso de
estratégias fonológicas para ler e escrever palavras.
Os autores apontam que esse problema é, em geral, manifestado no processamento de
palavras novas, mas pode também ser observado em dificuldades com palavras polissílabas
longas.
Conforme Davis (2004), os problemas que o disléxico tem com a alfabetização são os
mesmos que todas as crianças enfrentam, mas são agravados pelas inconsistências na
linguagem. Se a palavra impressa fosse apresentada de forma mais consistente, especialmente
nos primeiros livros escolares, alguns desses problemas seriam minorados para todas as
crianças.
Na verdade, para o autor, apesar da popularidade dos métodos fonéticos de
alfabetização, os disléxicos são mais bem-sucedidos numa leitura à primeira vista, quando
reconhecem uma palavra como conceito.
Scarborough (1990 apud SNOWLING; STACKHOUSE, 2004, p. 47) sugeriu que a
criança disléxica com um distúrbio de linguagem não reflete somente no fracasso na leitura.
Esse distúrbio é apresentado por fraquezas diferentes, observadas em idades diferentes com
deficiência na consciência fonológica, habilidades anteriores à alfabetização e dificuldades
com a leitura e a fala durante a escolarização.
2.3 O ENSINO DE CRIANÇAS DISLÉXICAS NA ALFABETIZAÇÃO
Conforme Capovilla (2011), a dislexia é um distúrbio na aquisição da leitura e escrita
em crianças que são inteligentes, é de natureza hereditária e não tem cura, tem remediação e
prevenção. A criança disléxica apresenta má compreensão das palavras, apresentando a fala e
a memória fonológica fracas. Mas existem intervenções com custo zero, como o método
fônico para remediar. Outro meio de intervir é com metodologias lúdicas, utilizando;
brincadeiras, cantigas de roda com rimas, contos, fantoches, histórias e outras formas das
quais o profissional pode se servir para beneficiar as crianças disléxicas, a fim de fazer com
que avancem em seu desenvolvimento.
Os professores relacionam as dificuldades de aprendizagem da criança com uma
história familiar de problemas de atraso na fala e linguagem. Às vezes pode ter um membro
da família que apresenta uma deficiência de linguagem específica, tem dificuldades de
fluência ou é disléxico (SNOWLING; STACKHOUSE, 2004).
14
Ao docente em sala de aula, antes de começar a ensinar a escrita, é necessário que
identifique as crianças com tendências de apresentar dificuldades de aprendizagem na escrita,
e também analise se a criança tem alguma experiência da escrita. As crianças também devem
ser avaliadas na sua capacidade de leitura e em suas habilidades de reconhecimento das
palavras não apenas para realizar a leitura, mas a compreensão é importante para que
nenhuma dificuldade deixe de ser identificada (SNOWLING; STACKHOUSE, 2004).
De acordo com Muszkat e Rizzutti (2012), o grau de dificuldade também dependerá da
transparência da ortografia de cada língua que utiliza a escrita alfabética. Quanto maior for a
semelhança entre a quantidade de grafemas e fonemas, maior será a transparência da
ortografia. Existem dois métodos de alfabetização indicados para crianças com dislexia: o
método multissensorial e o método fônico.
O método multissensorial é indicado para crianças em idade mais avançada, que já
possuem um fracasso escolar; e o método fônico é indicado para crianças mais novas e deve
ser aplicado no início da alfabetização. O método multissensorial combina com diferentes
modalidades sensoriais para desenvolver o ensino da linguagem escrita das crianças.
Conforme Muszkat e Rizzutti (2012), o emprego de métodos fonológicos para
prevenir e remediar a dislexia tem se tornado o pilar fundamental no tratamento. O trabalho
tem como base o domínio fonológico, que a criança detecta fonemas, e pensa sobre eles e
construir palavras e sentenças.
O trabalho integrado da consciência fonológica pode ser um eficiente método para
melhorar as habilidades de consciência fonológica para a produção de fala e o
desenvolvimento das habilidades de leitura que tem um tratamento como sugestão a ser
seguido: Estrutura silábica das palavras; Identificação de sílabas; Comparação de sílabas;
Recombinação fonológica.
A principal técnica do método multissensorial é o soletrar: quando a criança, no início,
vê a palavra escrita, repete a pronúncia da palavra fornecida pelo professor e escreve falando
o nome de cada letra. O benefício desta técnica é fortalecer a ligação entre a leitura e a escrita.
Soares (2017) afirma que o professor tem suas características pessoais como classe
social, gênero, idade, experiência profissional, formação continuada, uma motivação para o
ensino e a alfabetização.
De acordo com a autora, os métodos de alfabetização têm objetivo de orientar a
criança por meio de procedimentos que, fundamentados em teorias e princípios, estimulem e
15
orientem as operações cognitivas e linguísticas que progressivamente a conduzam a uma
aprendizagem bem-sucedida da leitura e da escrita em uma ortografia alfabética.
De outro lado, o aluno também tem suas características pessoais de classe social,
gênero, idade, contexto familiar e experiência de aprendizagem prévia, situação que acaba
causando impacto na aprendizagem coletiva com as diferenças de ambas as partes.
Essas diferenças afetam a interação entre eles na prática do ensino e aprendizagem na
sala de aula, quando o número de alunos não é adequado ou há outras necessidades que
dificultam os métodos de alfabetização, como a falta de material didático e recursos. Cabe à
escola posicionar-se, tomar a iniciativa e incentivar professores e alunos.
A avaliação não é apenas um processo de identificação, mas é um pré-requisito do
ensino eficaz, capacitando o professor para identificar potencialidades e deficiências
precisas, e assim proporcionar experiências de aprendizagem adequada para cada criança. O
propósito da avaliação é:
Determinar se a criança tem dificuldades de leitura e ortografia;
Realizar uma análise detalhada das habilidades atuais de alfabetização da
criança para construir um perfil das habilidades e deficiências;
Estabelecer uma base para a monitoração contínua;
Determinar o tipo de remediação mais eficiente para que o ensino e a
aprendizagem possam ser coordenados, sendo o ensino baseado num perfil
cognitivo da alfabetização de cada criança (SNOWLING; STACKHOUSE,
2004).
A parceria e o compartilhamento de conhecimentos e habilidades entre professores e
fonoaudiólogos são essenciais na avaliação do processo de alfabetização das crianças que
apresentam deficiências no desenvolvimento da linguagem falada e escrita. As crianças com
dificuldades no processamento da fala correm o risco de apresentar problemas na
alfabetização, segundo Snowling e Stackhouse (2004).
16
3 METODOLOGIA
A presente pesquisa foi realizada numa Escola da rede pública de Ceilândia, no DF.
Esta escola tem um número elevado de alunos com dificuldades de aprendizagem, possui uma
sala de orientação para os professores.
A pesquisa aborda as dificuldades de alfabetização do aluno com dislexia no 3º ano do
Ensino Fundamental. Compreende-se que a constatação e o conhecimento das dificuldades de
aprendizagem constituem quesito fundamental no exercício educativo diário do professor.
Conhecer bem a realidade de seus alunos, em especial os disléxicos, é condição para fazer um
trabalho diferenciado com os alunos e evitar que tenham um baixo desempenho dentro e fora
do ambiente escolar.
Esta pesquisa foi realizada em uma abordagem qualitativa. De acordo com Goldenberg
(2005, p. 14), “na pesquisa qualitativa a preocupação do pesquisador não é com a
representatividade numérica do grupo pesquisado, mas com o aprofundamento da
compreensão de um grupo social, de uma organização, de uma instituição, de uma trajetória”.
De acordo com a autora, a socialização do pesquisador exige um exercício permanente
de crítica e autocrítica. A pesquisa é uma atividade neutra e objetiva, que busca descobrir
regularidades ou leis, em que o pesquisador não pode fazer julgamentos nem permitir que
seus preconceitos e crenças contaminem a pesquisa.
Conforme a autora, a pesquisa não se reduz a certos procedimentos metodológicos. A
pesquisa exige criatividade, disciplina, organização e modéstia, com base no possível e
impossível para prever todas as etapas.
A autora aponta ainda que o método biográfico pode acrescentar a visão do lado
subjetivo dos processos institucionais estudados, como as pessoas concretas experimentam
estes processos e levantar questões sobre esta experiência mais ampla.
Na pesquisa qualitativa os dados objetivam uma compreensão profunda de certos
fenômenos sociais, apoiados no pressuposto da maior relevância do aspecto subjetivo da ação
social (GOLDENBERG, 2005, p. 49).
Esta pesquisa considera válidos os pressupostos da metodologia qualitativa, em que a
construção das ideias traz inteligibilidade. Ou seja, delimitará uma visão para inclusão
possibilitando novas reflexões.
Nesse estudo fizeram-se análises da realidade do professor, identificando como é feita
a abordagem das crianças com dislexia que têm dificuldades de aprendizagem, com o estudo
17
de caso sendo um método que possibilita adquirir o conhecimento do fenômeno estudado a
partir da exploração de um único caso. Para (GOLDENBERG, 2005, p. 34): e o estudo de
caso se caracteriza como:
[...] uma análise holística, a mais completa possível, que considera a unidade social
estudada como um todo seja um indivíduo, uma família, uma instituição ou uma
comunidade, com o objetivo de compreendê-los em seus próprios termos, e analisar
os métodos utilizados no aprendizado.
Foi feita a observação com uma criança que tem dificuldades e entrevista com a
professora, para analisar quais os maiores desafios encontrados no processo de alfabetização
do aluno nos anos iniciais.
Portanto, além da observação das dificuldades de aprendizagem na alfabetização dos
alunos com dislexia, é de grande importância observar tanto os alunos com dificuldades de
aprendizagem, como os professores e sua atuação em sala de aula.
18
4 ANÁLISE DAS OBSERVAÇÕES E DOS DADOS DA ENTREVISTA
O objetivo da pesquisa foi alcançado no decurso das observações que foram realizadas
e com a entrevista foi constatado com o conhecimento da professora sobre o assunto da
dislexia, entendendo que cada criança disléxica deve ter um trabalho individual com novas e
adequadas estratégias pedagógicas de ensino.
É necessário desenvolver práticas pedagógicas de acordo com a necessidade do aluno,
utilizando todas as possibilidades de aprendizagem, criando condições para favorecer a
autonomia do aluno e para que aprenda a lidar com seus erros.
Com a pesquisa verificou-se todo processo que a professora utiliza em sala de aula
para desenvolver a aprendizagem do aluno disléxico, identificando a importância do papel da
professora em estar buscando estratégias para trabalhar com o aluno e desenvolver seu
aprendizado.
De acordo com a entrevista, a professora conhece bem o que é a dislexia, tornando seu
trabalho bem mais fácil com aluno já diagnosticado disléxico, desenvolvendo seu ensino e
aprendizagem. Como nem toda dificuldade de aprendizagem é causada pela dislexia, o
trabalho fica mais complexo.
Sendo assim, nas observações identifiquei que a professora realiza atividades em que
toda turma esteja envolvida, dando oportunidade para que todos participem e que o aluno
disléxico se sinta incluso na aprendizagem e possa interagir com todos em sala de aula.
Com os dados coletados, foi possível identificar que a professora segue os
métodos para o desenvolvimento do ensino e aprendizagem do aluno, como pontuam Muszkat
e Rizzutti (2012, p. 73):
Todas as atividades de estimulação de linguagem escrita devem ser realizadas de
forma lúdica, principalmente por meio de jogos e brincadeiras, para que a criança
sinta prazer em ler e escrever. Neste sentido é útil orientar os pais sobre o papel
importante da leitura de histórias infantis, leitura de rótulos e jogos de rimas,
estimulando a motivação e não a obrigatoriedade da leitura.
Os métodos utilizados pela professora acompanham o desenvolvimento da
aprendizagem do aluno com as atividades propostas com o planejamento diversificado das
aulas.
O aluno observado, do 3º ensino fundamental – anos iniciais, diagnosticado como
disléxico, necessita da ajuda de um psicopedagogo e de um monitor, que não são cedidos pela
19
escola, o que sobrecarrega o trabalho da professora, que necessita do apoio de uma equipe
pedagógica.
A criança tem o apoio da mãe, que toda semana a leva para uma sessão com uma
fonoaudióloga, pois a professora não teria como atendê-la em horário contrário da aula, apesar
da turma ser reduzida, com apenas 16 alunos. Além do aluno disléxico, há mais 5 crianças
com dificuldades de aprendizagem em fase pré-silábica. A professora elabora para toda aula
três atividades diferenciadas para a turma e a cada aula procura estar inovando suas
atividades.
A compreensão da dislexia e atuação com estratégias pedagógicas da professora em
sala de aula encontram embasamento em Muszkat e Rizzutti (2012, p. 73):
É importante que a criança tenha adequada consciência de que a fala e a escrita são
formas diferentes de expressão de linguagem. Nas crianças com dislexia, a
intervenção mais apropriada é a que se baseia na estimulação da conversão grafema-
fonema com intervenção direta nas habilidades de leitura, associada a atividades
relacionadas ao processamento fonológico da linguagem.
Conforme foi observado em sala de aula, cada criança tem seu modo de aprender. E
nessa perspectiva, Davis (2004, p. 81) pontua:
Crianças “normais” trazem para a sala de aula uma característica fundamental que
falta às crianças disléxicas. Uma criança não é disléxica começa a desenvolver a
habilidade de se concentrar antes de entrar para a escola. Uma criança disléxica
provavelmente, não vai começar a desenvolver esta habilidade questionável até por
volta da idade de nove anos, ou seja, em torno da terceira série do ensino
fundamental.
As observações feitas em sala possibilitam reunir informações significativas sobre o
trabalho escolar com crianças disléxicas, como já se fez alusão acima.
Além das observações registradas, fez-se também uma entrevista com uma professora
do turno vespertino, seguindo um questionário orientativo.
4.1 ANÁLISE GERAL DA ENTREVISTA
Na sequência, apresenta-se as sete questões da entrevista feita e as respostas
apresentadas pela professora participante da pesquisa, fazendo-se breve análise dos dados aí
levantados.
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1 – Qual a sua concepção de dislexia?
– É um dos mais utilizados termos das dificuldades ortográficas. As crianças com
esse transtorno apresentam dificuldades na leitura e escrita; assim sendo, pode-se
dizer que é uma perturbação na aprendizagem da leitura, dificultando o
reconhecimento da correspondência entre os símbolos gráficos e os fonemas.
Foi possível observar que a professora conhece o conceito de dislexia, conforme
registram Muszkat e Rizzutti (2012, p. 15):
O National Institute of Hearth define a dislexia como transtorno específico da
linguagem de origem constitucional e caracteriza-se por dificuldades em decodificar
palavras, normalmente tem relação com a idade e outras habilidades que não estão
associadas ao transtorno geral do desenvolvimento.
Percebeu-se também que a professora segue uma boa metodologia com o
planejamento de suas aulas para alcançar o desenvolvimento do aluno, conhece as
dificuldades de aprendizagem causadas pela dislexia.
2 – Como ocorre o processo de inclusão do aluno com dislexia em sala de aula
da rede pública?
– Os alunos são inseridos em uma sala de aula regular com uma turma reduzida
em número de crianças, para que o professor consiga dar mais atenção ao aluno. As
atividades devem ser diversificadas e acompanhando a Proposta Pedagógica
Interventiva (PPI).
Notou-se que há uma forte preocupação com o trabalho de inclusão do aluno disléxico
em sala de aula, sendo a prática pedagógica da professora voltada para isso. Traz-se presente
o que afirmam Muszkat e Rizzutti (2012, p. 89):
Na sala de aula, posicione o aluno com dislexia perto do professor, para que ele
recebe ajuda facilmente, repita as informações e verifique se foram compreendidas,
estimule a expressão verbal do aluno, dê instruções e orientações curtas e simples
que evitem confusões, ensine métodos e práticas de estudo, pratique soletração,
ensine regras ortográficas.
Como aponta a professora, fica claro que ela planeja as atividades a serem utilizadas
no trabalho com o aluno disléxico, tendo em vista desenvolver o ensino e a aprendizagem e
ressalta que o mesmo necessita de um apoio pedagógico.
3 – Qual sua reflexão quando de refere a inclusão do aluno disléxico em sala
de aula?
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– Alguns profissionais não estão preparados para receber essas crianças dentro da
sala de aula o que dificulta a verdadeira inclusão dessas crianças.
A fala revela a preocupação e cuidado que a professora tem e sua segurança quanto à
inclusão do aluno disléxico em sala de aula, informa que não tem capacitação na área, mas
procura fazer um trabalho pedagógico o mais adequado possível para sanar a dificuldade de
aprendizagem.
4 – Quais os métodos utilizados para intervir na prática pedagógica do aluno
com dislexia?
– Os métodos variam de acordo com as dificuldades apresentadas pela criança e
suas especificações de aprendizagem, pois cada criança aprende de uma forma
diferente.
5 – Quais as estratégias que são utilizadas pelo profissional para identificar a
dislexia na criança?
– A estratégia utilizada é a percepção. Perceber as características de um disléxico
que a criança apresenta.
Percebe-se que o relato da professora sobre as estratégias que o profissional deve
utilizar na identificação da dislexia estão no rumo do que concebem os autores indicam muito
mais que “percepção” para identificação/ diagnóstico de dislexia Muszkat e Rizzutti (2012, p.
54):
A avaliação diagnóstica da dislexia deve envolver um amplo espectro de testes de
inteligência padronizados, questionários para escola e familiares, para afastar as
causas sensoriais (visuais, auditivas) e secundárias, além de outros problemas
secundários. Neste sentido, algumas crianças devem submeter-se a exames de
neuroimagem, principalmente quando se suspeita de causas lesionais ou
progressivas na chamada dislexia secundária, isto é, aquela associada a achados
neurológicos positivos na anamnese ou exame neurológico.
De acordo com a observação da professora a respeito do aluno disléxico, entende que
se deve identificar as suas dificuldades de aprendizagem e, se necessário, o encaminhá-lo a
um profissional para fazer um diagnóstico.
6 – Com o processo de inclusão do aluno disléxico, como acontece o processo
de socialização?
– Por meio da interação: jogos, brincadeiras, dinâmicas etc.
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7 – Como acontece a relação entre escola e família no processo de
desenvolvimento do aluno disléxico?
– Depende da família. Algumas crianças têm todo apoio da família dentro e fora da
escola. Em outras situações existem além de não aceitarem o transtorno não dar o
apoio necessário para que a criança se desenvolva. O papel da escola é promover a
interação família x escola, porém nem sempre é correspondida.
Quanto ao relato da professora sobre a relação escola x família, merece destaque o que
afirmam Muszkat e Rizzutti (2012, p. 85):
A escola tem papel fundamental no trabalho com os alunos que apresentam
dificuldade de linguagem, o apoio do professor e dos colegas é essencial para que a
crianças com dislexia se sinta segura e motivada, melhorando a autoestima. A ajuda
dos pais em identificar os professores que irão apoiá-lo. Um professor pode estar
disposto a ficar ao lado da criança na aula e, calmamente, ajuda-la a ler em voz alta,
programe reuniões regulares com os professores de seu filho.
No relato a professora coloca que alguns pais não aceitam o distúrbio dos filhos, e isso
acaba dificultando o encaminhamento para uma equipe pedagógica habilitada para atender à
criança, sendo uma barreira que a escola tem que enfrentar junto à família.
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa tinha como objetivo investigar como se dá o processo de desenvolvimento
e aprendizagem da criança com dislexia na alfabetização, e nesse sentido buscou-se analisar
as práticas pedagógicas utilizadas pela professora em sala de aula diante do aluno disléxico
com dificuldades de aprendizagem.
De acordo com os autores citados no embasamento da pesquisa, a dislexia não é uma
doença e não tem cura, mas existem métodos estratégicos de intervenção no processo de
ensino e aprendizagem da criança com dislexia, mediante a utilização de recursos e atividades
em sala de aula com toda turma.
É necessário ressaltar a importância da utilização de estratégias pedagógicas, como
demonstrado pela professora, para amenizar a situação de dificuldade do aluno no processo de
ensino e aprendizagem, auxiliando no ambiente escolar.
Os autores em que se fundamenta a pesquisa apontam dificuldades de aprendizagem
em decorrência de fatores genéticos. A professora mostrou que compreende a aprendizagem
como um processo constante, assim como tem clareza de seu papel em propor e utilizar
estratégias pedagógicas diferenciadas que ligam o lúdico e a criatividade.
Ao investigar as dificuldades de aprendizagem e as práticas pedagógicas no trato com
o aluno disléxico, observou-se que a professora enfrenta para ensinar a criança com
dificuldade de aprendizagem.
A professora relata que a escola não dá suporte de apoio ao aluno disléxico que
necessita de acompanhamento do psicopedagogo e monitor, para ter um desenvolvimento
mais eficaz.
De acordo com a análise, a professora que participou da pesquisa tem conhecimento
do conceito de dislexia e utiliza uma metodologia adequada para trabalhar com o aluno
disléxico, entretanto, esta não recebe uma atenção devida da escola que não dispõe de uma
equipe pedagógica para ajudar a proporcionar um desenvolvimento de qualidade no seu
aprendizado.
Portanto, com estas observações, conclui-se que a professora da rede pública de ensino
do DF que participou desta pesquisa demonstrou que tem capacidade para trabalhar com
criança disléxica incluída numa turma reduzida, mas deixou a entender que existe a
necessidade de uma equipe pedagógica que possa dar um suporte qualificado no
enfrentamento desse trabalho que é muito desafiador.
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REFERÊNCIAS
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língua escrita. Porto Alegre: Artes Médicas, 1990.
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION – APA. Diagnostic and Statistical manual
of mental Diseases. Fourth edition (DSM-lV). Washington, DC, 1994.
ARAUJO, C. D. Dificuldade de Aprendizagem no processo de Alfabetização de
Estudantes do 1º Ano do Ensino Fundamental da Rede Pública. Brasília, DF: UCB, curso
de Pedagogia. 2015.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE DISLEXIA. International Dyslexia Association, 2002.
Disponível em: <http://www.dislexia.org.br>. Acesso em: 9 maio 2017.
CAMPOS, D. M. S. Psicologia da aprendizagem. Petrópolis, RJ: Vozes, 1972.
CAPOVILLA, Fernando. FernandoCapovillaEntrevistaDislexiaLegendadaTVCultura-
YouTube3.flv. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=wL8DLAGG-Pg>.
Acesso em: 11 out. 2017.
DAVIS, Ronald D. O Dom da Dislexia: Por que algumas das pessoas mais brilhantes não
conseguem ler e como podem aprender. Rio de Janeiro: Rocco, 2004.
GOLDENBERG, Mirian. A Arte de Pesquisar: Como fazer pesquisa qualitativa em Ciências
Sociais. 9. ed. São Paulo: Record, 2005.
MUSZKAT, Mauro; RIZZUTTI, Sueli. O Professor e a Dislexia. São Paulo: Cortez, 2012.
SNOWLING, Margaret; STACKHOUSE, Joy. Dislexia, Fala e Linguagem: Um manual do
profissional. Porto Alegre: Artmed, 2004.
SENA, Tito. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtorno Mentais, Dsm-5 Estatísticas
e Ciências Humanas: Inflexões sobre Normalizações e Normatizações. Disponível em:
<https://períodicos.ufsc.br>. Acesso em: 27 out. 2017.
SOARES, Magda. Alfabetização: Questão dos Métodos. São Paulo: Contexto, 2017.