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MARCO CIVIL DA INTERNET

Principais Questoes Sobre o Marco Civil Da Internet

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MARCO CIVIL

DA INTERNET

?O que é o Marco Civil

da Internet (MCI)

O Marco Civil da Internet é um conjunto de regras, propostas em projeto de lei, que estabelece princípios, garantias, direitos e deveres aos usuários da Inter-net. Apesar de a maioria desses condicionamentos já estarem contemplados, de certa forma, na Constituição e em outras leis, a existência de um Marco Civil da Internet pode possibilitar um maior detalhamento e sistematização desses direi-tos e a sua aplicação no contexto da Internet.

MARCO CIVIL DA INTERNET

Quem são os afetados pelos

condicionantes do Marco Civil da Internet

A cadeia de valor da internet, embora integrada, tem muitos agentes com dife-rentes interesses. A figura 1 ilustra quem são os principais personagens que atuam nessa rede mundial.

Os provedores de acesso e conexão são as operadoras de telecomunicações, situadas na coluna da “conectividade” da figura 1. São os responsáveis pela cons-trução das vias para escoamento de todo o conteúdo que vai ser inserido ou retirado da rede mundial da Internet, possibilitando que todos os usuários possam acessar a qualquer destino, conteúdo ou serviço disponibilizado nessa rede.

FIGURA 1

2 MARCO CIVIL DA INTERNET

Provedores detentores

de conteúdo

Provedores de

Serviços online/

Redes Sociais

Provedores de

soluções/serviços

tecnológicos

ConectividadeInterface

do usuário

Proprietários de

direitos de media

• Video• Áudio• Livros• Jogos• Conteúdo Adulto• Conteúdo Editorial

Serviços

tecnológicos

• Web-hosting• Web-design/ desenvolvimento• Armazenagem

Serviços

tecnológicos

• Software• Media Players• Internet browsers

Rede Core

Interconexão

Venda de

acesso a internet

Dispositivos

• PCs• Smart phones• Consoles games• Outros hardwares de acessos a Web• Sistemas operacionais

Billing

& Pagamentos

• Billing online e provedores de sistemas de pagamento

Propaganda

• Agências online• Online ad networks/ exchanges• Publicidade de terceiros• Serviços de Ratings/ Analytics

Comunicação

Conteúdo vertical/

Variedade

Buscas

Entretenimento

E-commerce

Usuário gerador

de conteúdo

• Texto• Imagem• Voz• Video

Assinante

As operadoras de telecomunicações desempenham um papel essencial na ca-deia de valor da Internet, pois são elas que implantam, expandem e modernizam as redes de telecomunicações que suportam todo o tráfego da Internet, contribuindo para inclusão digital, para a redução das desigualdades digitais e investindo para a massificação do acesso à Internet em Banda Larga.

Além dos provedores de acesso e conexão, o Marco Civil da Internet também se aplica aos provedores de aplicação. Esses são todos os demais provedores apresen-tados na figura 1. Nessa categoria estão incluídas as empresas que ofertam negócios baseados em aplicações e serviços desenvolvidos para explorar o potencial da Inter-net. Tais negócios são remunerados por meio da venda de espaço publicitário para anunciantes e/ou por meio de cobrança direta aos usuários. Tratados como provedo-res de aplicação estão os provedores de conteúdo como o UOL, a Globo e o Netflix; os provedores de serviços “on line”, como o Google; provedores de Redes Sociais, como o Facebook e Twitter; provedores de entretenimento, como o “You Tube” e o “iTunes”, e, ainda, os provedores de serviços tecnológicos, que oferecem aos usuários, entre outros, serviços de armazenagem na Internet e formas confiáveis de pagamentos para o comércio eletrônico.

Pelos exemplos listados acima, verifica-se que entre os provedores de aplica-ção estão grandes empresas mundiais que atuam no Brasil de forma quase que vir-tual, com baixíssima contribuição social e econômica em relação às altas receitas que auferem a partir de seus usuários locais, principalmente quando comparadas aos provedores de acesso e conexão responsáveis pelo recolhimento, nos últimos 12 anos, de R$ 468 bilhões em impostos e R$ 62 bilhões para os Fundos Setoriais, além de investirem R$ 273,8 bilhões em infraestrutura de telecomunicações (desde o iní-cio da privatização) e gerarem mais de 500 mil empregos.

O projeto de Lei do Marco Civil da Internet, que deveria ter como um de seus objetivos básicos a preservação de uma atuação equilibrada entre todos esses agen-tes que atuam na Internet, mantida a redação divulgada pelo seu relator, em 20 de novembro de 2012, introduzirá uma grave assimetria no tratamento desses agentes,

Os Provedores de acesso e conexão

recolheram, nos últimos 12 anos,

R$ 468 bilhões em impostos.

MARCO CIVIL DA INTERNET 3

estabelecendo regalias aos provedores de aplicação e restringindo a atuação dos provedores de acesso e conexão, desestimulando os investimentos em construção e modernização de redes para suportar o crescente tráfego de Internet, inibindo pro-gramas de massificação de acesso à Internet e concorrendo para um breve colapso da rede mundial da Internet.

Que ajustes o Setor defende para

o texto do Marco Civil da Internet

Os pontos que mais têm gerado discussão e receberam mais contribuições de todos os segmentos da sociedade brasileira são:

A neutralidade de rede; As regras que tratam da preservação da privacidade do usuário na Internet; As regras sobre a aplicação dos direitos fundamentais à Internet; As obrigações relacionadas à apuração e ao tratamento das ilegalidades

praticadas na Internet. Entre elas estão a guarda de logs de conexão e logs de aplicação na Internet e os procedimentos para a retirada de conteúdos e responsabilização dos provedores e usuários pela disponibilização de con-teúdos ofensivos e ilícitos.

Este documento pretende fazer uma breve abordagem sobre cada um dos pon-tos supracitados.

4 MARCO CIVIL DA INTERNET

As prestadoras de telecomunicações são

favoráveis à Neutralidade de Rede

A resposta é sim! Equivoca-se quem afirma o contrário! Na verdade, a discussão sobre a neutralidade de rede já está pacificada! Todos aqueles que atuam na Internet, usuários ou provedores, são favoráveis a sua preservação no âmbito da nova Lei.

O setor de telecomunicações defende a garantia de uma Internet livre e aberta, preservando-se os direitos fundamentais dos usuários, incluindo a transparência, a sua liberdade de comunicação, a sua acessibilidade, o tratamento não discriminató-rio, o seu direito de escolha e de privacidade.

Os quadros da figura 2 resumem a posição das empresas quanto à abrangência do conceito de neutralidade.

FIGURA 2

Conceito de Neutralidade de Rede

Garantir a Internet livre e aberta;

Garantir a transparência ao usuário;

Preservar o seu direito de escolha;

Garantir a sua liberdade de comunicação e acessibiIidade;

Garantir tratamento não discriminatório;

Garantir uma gestão tráfego respeitando critérios técnicos e éticos.

DE

VE

Restringir a livre iniciativa e a competição;

Delimitar planos de negócios dos provedores de acesso;

Restringir a oferta de serviços diferenciados;

Restringir as técnicas de gestão de rede dos provedores de acesso e conexão.

O D

EV

E

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A garantia da transparência ao usuário deve ser entendida como a obrigação das prestadoras de telecomunicações de informar aos seus assinantes, de forma clara e detalhada, suas práticas de gerenciamento de rede, suas características de desempenho e seus termos e condições de oferta de seus serviços de banda larga, incluindo eventuais restrições a volume de tráfego e aplicações.

O tratamento não discriminatório diz respeito ao direito do usuário de receber tratamento isonômico àquele dispensado a todos os demais usuários que contrata-ram o mesmo serviço do seu provedor de acesso e conexão, devendo esse serviço ser ofertado de forma transparente, em condições comerciais não discriminatórias, sendo vedada a exclusividade.

Em coerência com os preceitos da figura 2, o provedor de acesso/conexão/apli-cação não pode cercear o direito de escolha do usuário, tampouco restringir o seu direito de acessar os conteúdos de seu interesse ou de inserir os conteúdos que deseja, não sendo admissível qualquer discriminação em razão de motivos políticos, religiosos ou culturais.

Equivocadamente, o texto do projeto do

Marco Civil da Internet distorce e radicaliza

a conceituação de neutralidade de rede, indo

muito além da garantia dos direitos listados

na página 2 e interferindo, de forma única no

mundo, no modelo de negócios das prestadoras

de telecomunicações e na gestão, no projeto e

no dimensionamento de suas redes.

A adoção de posição tão restritiva como a que está sendo proposta no Marco Civil da Internet brasileira vai contra a tendência mundial, sendo que vários países que já legislaram sobre o tema, como o Chile e a Colômbia, optaram por uma posi-ção aberta, flexível e com previsão de regulamentação infra legal para a gestão das redes.

Os EUA e a União Europeia escolheram o caminho de diretrizes e recomenda-ções que evitam a regulamentação ex ante restritiva para o tratamento dessa maté-ria. Tais países adotam ações ex-post ou indiretas de forma a garantir a concorrência e a proteção ao consumidor e estão longe de interferir nos modelos de negócios ou na gestão das redes das prestadoras.

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De que forma a redação atual

do Marco Civil intervém no modelo de negócios

das prestadoras de telecomunicações

Entre as principais atividades que são desenvolvidas pelos provedores de aces-so está a gestão de suas redes de telecomunicações. Outra atividade fundamental é o desenvolvimento de planos de serviços a serem ofertados aos usuários, que devem estar aderentes as necessidades da sociedade em geral e que possam ser suporta-dos com qualidade e a preços razoáveis pelas redes de telecomunicações instaladas. Ademais, as redes devem ser dimensionadas para suportar tais serviços de forma a atender a demanda e a utilização esperada.

A redação divulgada pelo relator do projeto do Marco Civil da Internet, em 20.11.2012, interfere diretamente sobre tais atividades.

O artigo 9º do projeto do Marco Civil da Internet define, em seu caput, que os provedores de acesso têm o dever de tratar de forma isonômica quaisquer paco-tes de dados, sem distinção por serviço. Como consequência dessa determinação, a oferta de serviços diferenciados apenas pela velocidade é a única modalidade que pode ser comercializada.

Neste tipo de oferta todos os pacotes recebem da rede o mesmo tratamento e apenas a velocidade com que eles são entregues ao usuário pode variar, em função da velocidade contratada.

O artigo 9º do projeto do Marco Civil da Internet define,

em seu caput, que os provedores de acesso têm o dever

de tratar de forma isonômica quaisquer pacotes de dados,

sem distinção por serviço. Como consequência dessa

determinação, a oferta de serviços diferenciados apenas pela

velocidade é a única modalidade que pode ser comercializada.

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Todos os demais tipos de oferta, alguns deles atualmente comercializados, incluin-do, a oferta baseada em volume de dados consumido pelo usuário, estariam vedados pelo Marco Civil. Nesse tipo de oferta, um usuário contrata o serviço com uma capaci-dade máxima de dados a serem recebidos ou inseridos por ele na rede. Quando o assi-nante esgota a sua capacidade contratada, a operadora normalmente bloqueia ou reduz a prioridade dos pacotes daquele usuário. No momento do bloqueio ou da discriminação, o pacote estaria recebendo tratamento diferenciado em relação aos demais da rede.

A proposta do Marco Civil da Internet estabelece

outra grave restrição à atuação das prestadoras de

telecomunicações. A proposta veda que as operadoras

monitorem, analisem ou fiscalizem os conteúdos dos

pacotes que trafegam pelas suas redes.

As operadoras não querem “bisbilhotar” as informações dos seus usuários. A ati-vidade de monitoração, análise e fiscalização dos pacotes são imprescindíveis para uma adequada gestão das redes de telecomunicações, seja para sua otimização ou para seu dimensionamento. A monitoração dos pacotes é fundamental, também, para possibili-tar a oferta de serviços diferenciados. Trata-se de mais um exemplo de uma interven-ção, sem paralelos, que o projeto de Lei pretende que seja implantada nas atividades intrínsecas às operadoras de telecomunicações.

Ao invés de intervir na gestão das redes das empresas, o Marco Civil da Internet deve estabelecer condicionantes preservando a privacidade e o sigilo dos usuários, o que historicamente sempre foi garantido pelas prestadoras na oferta dos serviços de telecomunicações.

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De que forma a oferta de serviços

diferenciados beneficia os usuários

O usuário ou assinante é soberano na tomada de suas

decisões e esta premissa deve prevalecer em todo o texto

do projeto de Lei. Assim, o setor defende que as prestadoras

também devem poder monitorar, sob demanda dos seus

usuários ou com o livre consentimento dos mesmos, os

conteúdos acessados para proceder a bloqueios, por exemplo,

de sites pornográficos e outros sites que os pais entendam

que não devam ser acessáveis por seus filhos.

Como vimos na seção anterior, o projeto do Marco Civil elimina a possibili-dade da oferta de uma enorme variedade de serviços, passíveis de serem oferta-dos pelas operadoras de telecomunicações, tais como:

Serviços baseados em volume de dados consumido; Serviços do tipo 0800 que possibilitam o acesso gratuito do usuário a de-

terminados sites e que são remunerados pelo provedor de aplicação; Serviços customizados para usuários no âmbito de programas populares de

massificação do acesso à Internet, caracterizados por um preço do acesso reduzido e limitados a um conjunto de aplicações bem definidas, como por exemplo: acessos que só permitam acesso Webservice e serviço de mail ou, ainda, acessos que limitam a oferta de determinadas aplicações, que consumam da rede grande capacidade de banda, durante horários pré-de-terminados;

Serviços baseados em acesso ilimitado em termos de volume e tipos de aplicação;

Serviços baseados em acessos com qualidade de serviço pré-acordado.

A possibilidade da oferta de acessos à Internet em Banda Larga diferencia-da por aplicações, volume ou velocidade permite a montagem de um portfolio de produtos adequados a cada perfil e segmentos de usuários, que pagarão pelo que efetivamente consomem e possibilita a otimização dos recursos das redes e a sus-

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tentabilidade dos investimentos necessários para a expansão e modernização dessa infraestrutura. Abre-se, inclusive, a possibilidade da disponibilização de planos de serviços de oferta obrigatória.

Ademais, a oferta de pacotes de serviços diferenciados aplicáveis a diferentes perfis de consumo de usuários é absolutamente legítima, pois diz respeito à liber-dade de contratar. Usuários de perfis diferentes se adequam a acessos distintos e devem ter a liberdade de contratar o serviço mais adequado as suas necessidades.

Se um usuário quer fazer uso da Internet para aplicações real time, que de-mandam maior banda e tratamento diferenciado dos pacotes para garantir a qua-lidade desses serviços ele deve pagar por essa facilidade que o provedor de acesso lhe garante. Se o perfil de consumo de tráfego de um usuário é dezenas de vezes inferior ao do seu colega de bairro, não é justo que ele pague a mesma coisa que seu vizinho. Atualmente, cerca de 20% do total dos usuários de Internet consomem 80% dos recursos disponíveis nas redes de telecomunicações que suportam o serviço de acesso à Internet em Banda Larga.

No dimensionamento dos investimentos

e da própria infraestrutura que suporta

a Internet, a velocidade e volume de

dados trafegados são dois parâmetros

que sempre são considerados. A vedação

de ofertas diferenciadas implicará um

dimensionamento das redes para um

perfil de uso mais intenso e investimentos

pesados, que para permitir o retorno

adequado imporão ofertas com preços

mais elevados, prejudicando a imensa

maioria dos usuários da internet e

comprometendo programas importantes

do Governo Brasileiro que objetivam

justamente reduzir preços para

massificar o acesso à banda larga.

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De forma similar a programas populares da área de habitação e energia, como o “Minha Casa Minha Vida” e o “Luz para Todos”, que permitem às famílias de menor renda terem moradia e energia elétrica, em condições de provimento diferenciadas, adequadas à realidade de cada uma, poderiam ser lançados programas destinados à massificação do acesso à Internet para o mesmo público alvo com características de acessos adequados a tal população, fato que pode ser inviabilizado, caso o Marco Civil da Internet venha a ser aprovado como está.

IndicadorMeta

(durante PMT)

12 primeiros

meses

12 meses

subsequentes Perpetuidade

SCM4/SMP10 – indicador “Garantiade Velocidade/Taxa de TransmissãoInstantânea Contratada” (composiçãodeve incluir tanto download quantod upload)

Cumprimento para download ed upload, em95% dos casos de no mínimo: 20% 30% 40%

SCM5/SMP11 – indicador“Garantia de Velocidade/Taxa de Transmissão Média”

A prestadora deve garantir uma Taxa deTransmissão Média nas Conexões deDados, no PMT, tanto no download quantodno upload, de, no mínimo:

60% 70% 80%

SCM6 – indicador “Latência Bidirecional”

A prestadora deve garantir latênciabidirecional de até oitenta milissegundos(terrestre) e novecentos milissegundos(satélite) em, no mínimo:

80% 90% 95%

SCM7 – indicador “Variação deLatência” (composição deve incluirtanto download quantod upload)

A prestadora deve garantir que avariação de latência, tanto no downloadcomo no upload, seja de até cinquentamilissegundos em, no mínimo:

80% 90% 95%

SCM8 – indicador “Taxa de Perda dePacote”

A prestadora deve garantir que apercentagem de pacotes descartadosseja de até dois por cento em, no mínimo:

85% 90% 95%

SCM9 – indicador “Taxa de Disponibilidade”

A prestadora deve garantirdisponibilidade mensal de noventa e novepor cento em, no mínimo:

85% 90% 95%

A possibilidade das prestadoras ofertarem

produtos distintos pode levar a baixa qualidade do

serviço para alguns tipos de acessos

De forma alguma! A ANATEL, em decisão inédita no mundo, já estabeleceu os critérios mínimos de qualidade que devem ser observados por qualquer tipo de aces-so à Internet em Banda Larga, fixa ou móvel. Foi definido um conjunto de parâmetros que estabelecem metas de qualidade extremamente rígidas e que estão levando as operadoras a adequarem suas redes e ofertas para atenderem aos regulamentos aprovados pelas Resoluções 574 e 575.

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Os direitos dos usuários estão

preservados no texto do Marco Civil

Sim, o texto do projeto de lei, divulgado pelo relator no dia 20 de novembro de 2012, descreve os direitos dos usuários, tratando da transparência que deve ser dada aos usuários na oferta dos serviços prestados por meio da Internet, a questão do si-gilo, da privacidade, da continuidade na oferta do serviço e da qualidade.

Cumpridas as regras fixadas, o consumidor se sentirá plenamente seguro nas suas relações de consumo, tanto com os provedores de rede, que lhes ofertam a conexão à internet, quanto nos contatos com os diversos provedores de conteúdo.

Quanto aos “Termos de Uso dos Serviços” da maior parte

dos grandes provedores de aplicação, entre eles o Google e o

Facebook, eles impõem aos seus usuários a submissão a um

foro ou juízo arbitral com sede no exterior, em qualquer caso

em que surjam eventuais demandas, ou controvérsias,

sobre direitos e obrigações entre ambos.

Essa situação por certo fragiliza e desiquilibra a relação

entre fornecedor e consumidor, além de tornar praticamente

inexigível qualquer direito do usuário, como cidadão, em

termos gerais, ou em particular, na qualidade de consumidor.

Por esse motivo, o setor entende que é necessário fortalecer as previsões de garantias e direitos aos usuários e traz, ao final desse documento, uma proposta de alteração do texto do projeto de Lei em discussão.

A apuração e o tratamento das ilegalidades

praticadas na Internet estão devidamente regulados

No âmbito da Internet, a apuração do ilícito depende significativamente da guar-da de logs. Mas o que vem a ser guarda de logs? Logs são os registros das atividades dos usuários na Internet. O Marco Civil da Internet dá tratamento a dois tipos de logs.

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Os registros de conexão correspondem a um conjunto de informações referen-tes à data e hora de início e término de uma conexão à Internet, sua duração e o endereço IP utilizado pelo terminal para o envio e recebimento de pacotes de dados. Na prática, são informações que permitem identificar quando e quanto tempo o usuário ficou online.

Os registros de acesso a aplicações de Internet correspondem a um conjunto de informações referentes à data e hora de uso de uma determinada aplicação de Internet a partir de um determinado endereço IP. Na prática são informações que per-mitem identificar quais sites e conteúdos o usuário teve acesso.

O projeto de Lei do Marco Civil da Internet obriga os provedores de acesso/conexão a proceder à guarda dos registros de conexão, o que atualmente já é cum-prido. Mas os logs de conexão apenas informam que um determinado endereço IP se conectou a Internet em um determinado momento, mas não informa o endereço de destino. Esta última informação tem que ser encontrada nos logs de aplicação.

O projeto de Lei do Marco Civil da Internet veda que os provedores de conexão guardem os logs de aplicação e faculta a guarda aos provedores de aplicação. As-sim, se o provedor de aplicação decidir não guardar os logs de aplicação, a informa-ção do endereço de destino acessado pelo usuário pode ser perdida, dificultando a investigação do ilícito.

A disciplina da guarda de logs está sendo

feita de forma a atender aos interesses

da sociedade brasileira

O setor de telecomunicações entende que o Marco Civil da Internet deve ga-rantir a privacidade dos usuários, uma vez que provedores de acesso ou aplicações podem não tratar com o devido cuidado a privacidade do usuário. Por outro lado, a Lei não deve dar tratamento diferenciado aos agentes da Internet, inibindo a livre concorrência e favorecendo empresas multinacionais, gigantes da Internet mundial.

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Equivocam-se aqueles que defendem a assimetria estabelecida no projeto de Lei do Marco Civil da Internet baseada no fato de que os provedores de conteúdo não têm acesso aos dados da conexão, que identificam o terminal (computador/celular/etc) que visitou seu serviço na internet.

Ora, empresas mundiais que atuam como provedores de conteúdo, gigantes da rede mundial, tais como Google e Facebook, têm acesso a uma base de usuários muito superior aquelas que cada provedor de acesso/conexões tem individualmente. Quanto à identificação do usuário que está na ponta, existem inúmeras formas de se identificar quem está se conectando a um site, como registrado na entrevista do presidente do Facebook, transcrita abaixo que esclarece e descaracteriza as razões alegadas para se-gregar o acesso a esses dados de forma privilegiada aos provedores de conteúdo. O Fa-cebook é hoje uma ferramenta que congrega cerca de hum bilhão de perfis de usuários.

Além do aspecto da apuração do ilícito, essa assimetria

de tratamento introduzida pelo atual texto do Marco

Civil cria, na prática, uma reserva de mercado com

efeitos profundos na publicidade feita na internet em

favor de grandes provedores de aplicação que atuam

no país de forma quase virtual. Como já foi explicitado

no início desse documento, quando comparados com as

operadoras de telecomunicações, tais provedores de

aplicações investem muito pouco em infraestrutura

no país, pouco recolhem em tributos e geram

infinitamente menos empregos.

Folha de São Paulo — 25/11/2012 — Caderno Mercado.Entrevista de Alexandre Hohagen (presidente do Facebook)

PUBLICIDADE MÓVEL“Lançamos a publicidade dentro do ‘feed’ de notícias dos aplicativos para ce-lulares. Acreditamos que é a melhor forma de publicidade nesses aparelhos, ...Dentro do ‘feed’, a marca ocupa 40% da tela do celular, por exemplo. E te-mos uma vantagem: sabemos quem está por trás daquele celular, quem é, onde mora e onde está no momento. Isso torna muito mais fácil para empre-sas fazerem trabalho de segmentação no celular.”

14 MARCO CIVIL DA INTERNET

Esse mercado de publicidade na internet já atinge R$ 2,2 bilhões /ano no Brasil, porém ainda representa uma fatia pequena do mercado publicitário (7,3% segundo informações do especializado Meio & Mensagem). Nos Estados Unidos essa fatia já é de 17% o que demonstra o potencial de crescimento deste mercado.

Em, resumo, os condicionantes do projeto do Marco Civil referente à guarda de logs além de dificultar a apuração de ilicitudes na Internet afetam unilateralmente a disputa por um mercado novo, e de valor maior para o mercado publicitário do que o adicionado pelas mídias tradicionais.

A responsabilização dos agentes da Internet por

conteúdos, próprios ou de terceiros, ofensivos e

ilícitos, está adequadamente contemplada no MCI

O projeto de Lei prevê regras para a responsabilização dos provedores de apli-cação em caso de disponibilização de conteúdos ofensivos ou ilícitos.

Todavia, o setor de telecomunicações não concorda com a última versão divul-gada pelo relator, em 20.11.2012, para a responsabilização dos provedores de cone-xão. A redação permite a interpretação de que o provedor de conexão não será res-ponsabilizado civilmente por danos decorrentes de conteúdo gerado por terceiros, mas permite a abertura para a responsabilização criminal.

Por essa razão, também ao final, apresentamos uma sugestão de alteração no texto de forma a evitar interpretações errôneas.

Quais são, objetivamente, as propostas

do setor de telecomunicações para

o texto do Marco Civil da Internet

Para reforçar a defesa dos direitos dos usuários, frente às políticas de priva-cidade adotadas por diversos provedores de conteúdo, o setor de telecomunicações defende a inclusão de duas garantias ao que já está previsto no artigo 7º do MCI, que trata dos direitos dos usuários, quais sejam:

MARCO CIVIL DA INTERNET 15

Para garantir a neutralidade de rede e a liberdade de atuação das prestadoras de telecomunicações, no que diz respeito à gestão de suas redes e à oferta de planos de serviços adequados as necessidades dos usuários e a capacidade de suas redes, o setor entende que algumas modificações devem ser feitas ao longo do artigo 9º.

A primeira delas é a retirada da menção a serviços no seu caput, como abaixo:

Com essa alteração prevalece o entendimento de que as operadoras de teleco-municações têm o dever de não discriminar nenhum tipo de pacote por motivos po-líticos, éticos, religiosos ou culturais, mas resta a garantida à liberdade de inciativa para que serviços adequados ás diversas demandas da sociedade brasileira possam ser adequadamente atendidas.

Com a possibilidade das prestadoras de telecomunicações ofertarem diferen-tes planos de serviços, a gestão do tráfego deve ser baseada nos requisitos técnicos indispensáveis à prestação adequada de cada serviço contratado. Dessa forma, a redação para o inciso I do parágrafo 1º deve ser a abaixo:

X) São nulas de pleno direito as cláusulas dos contratos de prestação de ser-viços de aplicações de internet que prevejam a adoção de foro ou instância situada fora do território brasileiro para fins de solução de controvérsias, julgamento ou arbitragem;

XI) Na oferta de conteúdo ou de aplicações mediante o uso de recursos de informática ou de rede de computadores, inclusive a partir do exterior, os contratos, termos de uso ou outros documentos que requeiram a adesão de usuário residente no Brasil serão redigidos de modo a respeitar os ter-mos e condições previstos nesta lei, assegurada a defesa do consumidor na forma e nos termos da legislação brasileira.

Art. 9º O responsável pela transmissão, comutação ou roteamento tem o de-

ver de tratar de forma isonômica quaisquer pacotes de dados, sem distinção

por conteúdo, origem e destino, terminal ou aplicativo.

I - requisitos técnicos indispensáveis à prestação adequada dos serviços e

aplicações contratados.

16 MARCO CIVIL DA INTERNET

Sugere-se, ainda, a alteração no parágrafo 3º do mesmo artigo 9º, para se elimi-nar a intervenção sobre a atividade de gestão das redes das operadoras de telecomuni-cações e permitir que estas tomem suas decisões respaldadas por requisitos técnicos visando a otimização do uso da infraestrutura que dá suporte aos serviços de Internet e da qualidade dos serviços ofertados.

A alteração sugerida a seguir possibilita, ainda que, as operadoras de teleco-municações possam praticar ações de gerenciamento dos pacotes que trafegam em suas redes, sob demanda ou com o livre consentimento dos usuários, para bloquear determinados conteúdos por controle parental, para que, por exemplo, sites por-nográficos e outros conteúdos não sejam acessáveis por crianças ou por qualquer outro usuário daquele acesso.

Concorrendo para melhorar a apuração do ilícito na Internet e para eliminar o tratamento assimétrico entre os provedores de conexão e os provedores de aplica-ção no que se refere a guarda de registros de acesso a aplicações, o setor defende a adoção da seguinte redação para o artigo 12:

Finalmente, para atacar mais efetivamente o problema da responsabilidade por conteúdos indevidos gerados por terceiros, defendemos o seguinte texto para o artigo 14:

§3º Na provisão de conexão à Internet, onerosa ou gratuita, bem como na

transmissão, comutação ou roteamento, é vedado bloquear, monitorar, filtrar,

analisar ou fiscalizar o conteúdo da informação, ressalvados a solicitação ou o

livre consentimento do usuário e os requisitos técnicos à prestação adequada

dos serviços contratados.

Art. 12º Na provisão de conexão, onerosa ou gratuita, é obrigatória a guarda de

registros de conexão, na forma do artigo 11, respeitado o disposto no artigo 7º,

e é facultada a guarda de registros de acesso a aplicações de Internet.

O provedor de conexão à Internet não será responsabilizado por danos de-

correntes de conteúdo gerado por terceiros.

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CONCLUSÃO

A Internet já exerce um relevante papel na vida das pessoas e, ainda nesta dé-cada, estará suportando uma parcela significativa da atividade econômica mundial.

A Internet já proporciona enormes benefícios sociais e econômicos que resul-tam na redução dos custos de transações, aumento de competição e preços menores para produtos e serviços. Ao final dessa década, estima-se que as redes de teleco-municações deverão suportar um tráfego da Internet brasileira 15 vezes maior que o atual, decorrente da enorme oferta à informação e dos novos meios de comunicação, educação, informação, comércio, debates políticos e entretenimento, além da mas-sificação do acesso e das novas aplicações que serão ofertadas.

É preciso que estejamos preparados para construir, expandir e modernizar as redes de telecomunicações brasileiras que dão suporte aos serviços de Internet, para que elas sejam capazes de suportar tal crescimento de demanda. Precisamos construir a rede para 2020.

O Marco Civil deve garantir que os esforços e as responsabilidades pelo cres-cimento da Internet aconteçam de forma equilibrada entre todos os agentes des-sa enorme cadeia de valor, sem privilégios para uns e tratamentos discriminatórios para outros.

O Marco Civil deve ser bom para todos, empresas ou usuários, garantindo os direitos dos cidadãos e incentivando a inovação e o empreendedorismo no Brasil.

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Editoração

Imagem Comunicação e Publicidade

Designers

Edimilson A. PereiraFlávia Pires Lacerda

Impressão

Athalaia Gráfica e Editora