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Algumas considerações acerca do Princípio da Proporcionalidade Anne Martins Vontobel Atualmente, como resultado de uma sociedade democrática e do desenvolvimento de um sistema jurídico fundado numa “ratio iuris” sobrepondo-se à “ratio legis 1 ”, tem-se atribuído destacada valoração aos princípios, os quais, assim como as regras, também se apresentam como normas jurídicas; havendo, por conseguinte, uma significante evolução em nosso ordenamento jurídico e, em particular, do direito processual. O professor VICENTE RÁO 2 , já na década de 50, afirmava:“que a ignorância dos princípios quando não induz a erro, leva à criação de rábulas em lugar de juristas". Em decorrência dessa valorização das normas principiológicas, sendo-lhes atribuída a condição de norteadoras do ordenamento jurídico, na diária e incessante busca de soluções para os conflitos, o toque diferencial do operador do direito é arte de manipular os princípios, sabendo 1 STUMM, Raquel Denise. Princípio da Proporcionalidade no Direito Constitucional Brasileiro. Porto Alegre, Livraria do Advogado Editora, 1995, p.10. 2 LIMA, George Marmelstein. A essencialidade dos princípios na evolução do direito. Texto publicado na Revista Consultor Jurídico. fev/2002 [Internet] http://www.conjur.uol.com.br/textos/246915/ - 38k. Acesso em 20/10/2003.

Principio Proporcionalidade

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Proporcionalidade

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UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSES

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Algumas consideraes acerca do Princpio da Proporcionalidade

Anne Martins VontobelAtualmente, como resultado de uma sociedade democrtica e do desenvolvimento de um sistema jurdico fundado numa ratio iuris sobrepondo-se ratio legis, tem-se atribudo destacada valorao aos princpios, os quais, assim como as regras, tambm se apresentam como normas jurdicas; havendo, por conseguinte, uma significante evoluo em nosso ordenamento jurdico e, em particular, do direito processual.

O professor VICENTE RO, j na dcada de 50, afirmava:que a ignorncia dos princpios quando no induz a erro, leva criao de rbulas em lugar de juristas".

Em decorrncia dessa valorizao das normas principiolgicas, sendo-lhes atribuda a condio de norteadoras do ordenamento jurdico, na diria e incessante busca de solues para os conflitos, o toque diferencial do operador do direito arte de manipular os princpios, sabendo como aplic-los na sua diversidade jurdica, como instrumentos de atuao profissional na busca da justia, em razo das investidas, nem sempre, legtimas do Poder Pblico e dos prprios particulares.

Nesse diapaso, tais operadores visam adequao, dos casos a eles propostos, a uma determinada norma que, previamente, regulamente o ocorrido, a fim de que, ao fato, seja dado o desfecho necessrio.

No entanto, observa-se que no so raras as vezes em que h conflito entre duas normas legais a ser resolvido por meio de uma anlise do possvel privilgio de valores entre uma norma e outra.

O Princpio da Proporcionalidade no se apresenta unicamente como ponto de equilbrio entre direitos fundamentais, constitucionalmente garantidos, mas tambm, em certas situaes conflitantes, como soluo de carter emergencial para as legislaes desatualizadas e incompatveis com os avanos sociais e tecnolgicos

Dentre os princpios, dar-se-, neste estudo, especial ateno ao da Proporcionalidade que tem apresentado grande valia em nosso sistema normativo, influenciando na resoluo de conflitos entre os prprios princpios, razo pela qual vem sendo considerado o "princpio dos princpios"; tal afirmao justifica-se porque em qualquer rea jurdica, torna-se impossvel aplicao justa da lei ao caso concreto, sem que os operadores do direito conheam e saibam trabalhar adequadamente o princpio da proporcionalidade.

Nomenclatura e distino

Quanto nomenclatura, mister ressaltar que no h uniformidade na doutrina quanto denominao a ser adotada, cabendo afirmar, contudo, que as expresses mais utilizadas so: Princpio da Proporcionalidade, Princpio da Razoabilidade e Princpio da proibio do excesso. Alguns autores entendem que estas ltimas denominaes no se referem ao Princpio da Proporcionalidade, havendo pequenas distines, j outros entendem no haver qualquer diferena.

No mbito internacional, a doutrina alem, a ttulo de ilustrao, utiliza indistintamente as nomenclaturas proporcionalidade e proibio do excesso. Os americanos so mais caros ao uso do termo razoabilidade, o qual, nada obstante, tambm usado com contedo diverso ao da proporcionalidade, embora se complementem.

No Brasil, o Supremo Tribunal Federal parece ter adotado a clssica denominao de princpio da proporcionalidade, uma vez que vem sendo utilizada reiteradamente, desde o primeiro acrdo em sede de controle de constitucionalidade, utilizando-o como argumento jurdico, em 1993.

A doutrina diverge em relao ao conceito de Proporcionalidade, uma vez que nem sempre se encontra explicitado sob esta epgrafe, conforme se referiu anteriormente. Portanto, mister tecer algumas consideraes a respeito das outras denominaes utilizadas.

Alguns autores como FRANCISCO DA CUNHA E SILVA NETO, SUZANA TOLEDO BASTOS e MARINGELA GAMA DE MAGALHES GOMES entendem que razoabilidade e proporcionalidade no se confundem.

O fato que a proporcionalidade refere-se quantificao da interferncia do judicirio na soluo da lide, enquanto a razoabilidade diz respeito ponderao dos interesses das partes.

A proporcionalidade, na concepo de alguns autores, seria um instrumento dosador e quantificador das medidas a serem aplicadas, o que ocorre, em momento posterior a ponderao de interesses, que o momento de aplicao da razoabilidade.

Alguns autores como LUIS ROBERTO BARROSO e LUCIANO SAMPAIO GOMES ROLIM entendem no haver distino essencial entre os princpios supramencionados, este ltimo argumentando que o Supremo Tribunal Federal no estabeleceu distino entre os princpios em apreo, referindo-se a ADIMC-1407/DF.

FRANCISCO DA CUNHA E SILVA NETO refere que o conceito de razoabilidade, tambm chamado lgica do razovel, encontra-se ligado experincia concreta dos problemas humanos numa dimenso axiolgica, vivida pelo operador do direito que aplicar a lei de forma racional, relacionando-o, desta forma, com razo, equilbrio, moderao e harmonia.

Um exemplo da aplicao da razoabilidade se tem quando numa hiptese de um pedido de amputao de uma perna contra a vontade do paciente. Ora, num caso deste tipo o julgador dever procurar a forma mais justa para salvar a vida do paciente, ainda que tenha de mandar operar a perna. Esta seria uma aplicao do princpio da razoabilidade, onde se busca o valor de maior importncia, em detrimento dos demais, num caso concreto.

Difcil a aplicao da razoabilidade, sem a proporcionalidade, sendo que um a lgica do racional, em que se deve priorizar um determinado valor em detrimento dos demais, enquanto o outro seria a ponderao entre os valores a serem escolhidos.

Conforme averbou FRANCISCO DA CUNHA E SILVA NETO: Da advir ao lado do princpio da razoabilidade o princpio da proporcionalidade, j que esto mutuamente ligados entre si. Pode-se mesmo dizer que os dois se completam para a determinao do juzo de verossimilhana.

No mesmo sentido, CELSO ANTNIO BANDEIRA DE MELLO assevera que o princpio da proporcionalidade no seno faceta do princpio da razoabilidade.

No que tange probabilidade, notvel a explicao de FRANCISCO DA CUNHA E SILVA NETO:

Por fim, devemos enfatizar ainda a existncia de um terceiro elemento auxiliador da definio do juzo de verossimilhana, a saber, o conceito de probabilidade. Neste o operador jurdico se vale de um conjunto de motivos, do qual extrara os mais favorveis em detrimento dos desfavorveis. Ou seja, dessa operao mental surgir um razovel ndice de probabilidade. Como se sabe, no podemos prever de maneira absoluta um certo acontecimento. Por isso, o operador jurdico dever se utilizar de um juzo de propenso diante das afirmaes das partes, verificar a propenso diante das afirmaes das partes, verificar a propenso de acontecimentos inerente a uma dada situao jurdico-processual.

Interessante ressalvar que o autor supracitado entende como sinnimos probabilidade e juzo de propenso, distinguindo-o da probabilidade.

Ainda a ttulo de distino trata-se a respeito da expresso proibio do excesso. SUZANA DE TOLEDO BARROS assegura que: Os alemes utilizam, indiscriminadamente, o termo proporcionalidade ou proibio do excesso para designar o que os americanos tratam por razoabilidade.

Deve-se ter cuidado com a terminologia proibio do excesso, uma vez que este ltimo termo, excesso, muito amplo. A se fala em limitao do poder do legislador que atua alm dos limites constitucionais previamente estipulados.

Conforme ensina o professor Humberto VILA:

O postulado da proporcionalidade pressupe a relao de causalidade entre o efeito de uma ao (meio) e a promoo de um estado de coisas (fim). Adotando-se o meio, promove-se o fim. E, quanto razoabilidade, explica que entre o critrio de diferenciao escolhido e a medida adotada h uma relao entre qualidade e a medida adotada, enfatizando que uma qualidade no leva a medida, mas critrio intrnseco a ela.Mister ressalvar, portanto, que a distino entre razoabilidade e proporcionalidade reside no fato de que esta se apresenta como um instrumento dosador e quantificador das medidas a serem aplicadas, o que ocorre, em momento posterior a ponderao de interesses - que o momento de aplicao da razoabilidade.

Origem histrica do Princpio da Proporcionalidade

O princpio da proporcionalidade nasce no sculo XVIII com vistas a se tornar uma justa medida capaz de guiar os passos do poder executivo, impondo limites, portanto, sua atuao, destacando-se, nessa poca, nas reas administrativa e penal.

A partir do sculo XIX, entretanto, ganha espao, no direito administrativo para, finalmente, firmar-se na doutrina constitucional alem em meados do sculo XX.

Sabe-se que foi a partir da propagao das teorias jusnaturalistas e com o trmino do Estado Absolutista que se passam a proteger os direitos fundamentais. Nessa passagem de Estado Absolutista para Estado de Direito surge o princpio da proporcionalidade como limitador dos poderes do rei.

Dependendo da rea do direito em que os autores abordam o tema, distintas so as atribuies relativas fonte do princpio da proporcionalidade, se este teria se originado do Princpio do Devido Processo Legal ou do Princpio do Estado Democrtico de Direito.

A maioria dos escritores penalistas entende que o Princpio da Proporcionalidade deriva-se do Devido Processo Legal por uma razo lgica e sustentam que este j se encontrava expresso na idia de pena proporcional ao delito, buscando origens na Lei de Talio.

Constitucionalistas e operadores da rea jurdico-administrativa entendem que o princpio, tema deste estudo, deriva-se do Princpio do Estado Democrtico de Direito, assinalando a funo da proporcionalidade relacionada limitao do poder do legislador.

O Princpio da Proporcionalidade tem origem na Constituio Francesa de 1791, a qual previu expressamente o Princpio da Legalidade em seu artigo 3, em cujos cernes poder-se- observar implicitamente delineado o princpio da proporcionalidade.

Posteriormente, na Alemanha, propagou-se o princpio da proporcionalidade em mbito constitucional, principalmente no que tange aos direitos fundamentais.

No Brasil, o princpio da proporcionalidade foi recepcionado a partir da influncia da doutrina portuguesa, a qual havia apreendido seu conceito e contedo, juntamente com os demais pases europeus, nas fontes alems.

ANTNIO JOS MARTINS GABRIEL sustenta que:

No Brasil, em sede doutrinria, SAN THIAGO DANTAS tido como pioneiro na abordagem do tema, tendo manifestado sua preocupao com as leis injustas e desarrazoadas em artigo publicado em 1948, no qual assentou:" O problema da lei arbitrria que rene formalmente todos os elementos da lei, mas fere a conscincia jurdica pelo tratamento absurdo ou caprichoso que impe a certos casos, determinados em gnero ou espcie, tem constitudo, em todos os sistemas de direito constitucional, um problema de grande dificuldade terica e de relevante interesse prtico ".

Em relao aos direitos fundamentais no Brasil, SUZANA BARROS assim se pronunciou: nossos constituintes seguiram exemplo austraco ao adotar o controle concentrado da constitucionalidade das leis para reprimir eventuais abusos de poder por parte de nossos legisladores.

De todas as transcries supracitadas, tem-se, em suma, que o princpio da proporcionalidade origina-se entre os sculos XVII e XIX e com a difuso das idias jusnaturalistas. Tal princpio nasce na esfera do Direito Administrativo, com a funo de limitar o exerccio do Poder Executivo.

Elementos do Princpio da ProporcionalidadeProporcionalidade em sentido amplo

O Princpio da Proporcionalidade em sentido amplo no se confunde com o da Proporcionalidade em sentido estrito, uma vez que aquele designa princpio constitucional, enquanto este subprincpio daquele.

LERCHE e RAQUEL DENIZE STUMM, designam o primeiro como sendo: princpio da proibio do excesso, distinguindo-o da proporcionalidade em sentido estrito, porque aquele exige uma anlise entre meios e fins, enquanto este se ostenta apenas no resultado obtido (fim), conforme, em breve, se demonstrar.

Princpio da Conformidade ou Adequao.

O princpio da adequao, idoneidade ou conformidade, refere-se conformidade entre meio e fim, a adequao entre os meios utilizados para a consecuo do resultado, o qual deve ser aquele objetivado.

O juzo de adequao ou necessidade deve ser o primeiro a ser considerado na aplicao do Princpio da Proporcionalidade, para que dessa forma o operador do direito se aperceba se a aplicao contribui ou no para obteno do resultado esperado.

Exemplo: se o legislador, com o evidente objetivo de reduzir a lentido processual, edita uma lei aumentando os vencimentos dos juzes, esta lei, jamais passaria pelo crivo da proporcionalidade, uma vez que inexiste qualquer relao entre o meio (aumento do salrio dos magistrados) com os fins colimados (a celeridade processual).

Em suma, o princpio da adequao, idoneidade ou conformidade, refere-se conformidade entre meio e fim, a adequao entre os meios utilizados para a consecuo do resultado, o qual deve ser aquele objetivado.

Para que fique mais clara a idia de adequao deve-se questionar: os caminhos perseguidos, ou seja, os meios utilizados, produziram o fim, ou seja, o resultado colimado?

Princpio da Necessidade ou da Exigibilidade

Tambm chamado de princpio da vedao ou escolha dos meios mais suaves, tal princpio aplica-se quando para a consecuo de um resultado tencionado, h mais de um caminho, h mais de um meio para obt-lo, dentre estes, deve-se, pelo princpio da necessidade, optar pelo menos gravoso.

O princpio da necessidade diz respeito ao fato de ser a medida restritiva de direitos indispensvel preservao do prprio direito por ela restringido ou a outro em igual ou superior patamar de importncia, isto , na procura do meio menos nocivo capaz de produzir o fim propugnado pela norma em questo.

Exemplo: supondo-se que numa ao demolitria, o Poder Pblico requeira a demolio de um prdio, por no estarem preenchidas as formalidades legais no ato de autorizao de construo de obra. Sob a ptica da necessidade, tal deciso no seria coerente, devendo a ao ser julgada improcedente, uma vez que esta no seria a situao menos gravosa para se resolver o problema.

Outro exemplo citado pelo autor, seria que, no caso de uma empresa que estivesse poluindo o meio-ambiente atravs de suas chamins, invlida seria a atitude que determinasse o fechamento da fbrica, se, no caso, a colocao de um filtro resolvesse o problema. A deciso de encerramento das atividades fabris seria incoerente, diante da atitude desproporcional do magistrado que o fizesse.

Segundo CANOTILHO: traduz-se este subprincpio em quatro vertentes: exigibilidade material (a restrio indispensvel), espacial (o mbito de atuao deve ser limitado), temporal (a medida coativa do poder pblico no deve ser perptua) e pessoal (restringir o conjunto de pessoas que devero ter seus interesses sacrificados).

Para que se verifique a incidncia da necessidade, deve-se perguntar: o caminho percorrido, ou seja, o meio utilizado, foi o menos gravoso na obteno do fim perseguido (resultado)?

Princpio da Proporcionalidade em sentido estrito

Cabe proporcionalidade em sentido estrito fazer a ponderao entre os danos causados e os benefcios obtidos, como uma espcie de balana que vai sopesar os interesses dos envolvidos e o encargo das conseqncias para cada uma delas.

Nas palavras de CANOTILHO trata-se de uma questo de medida ou desmedida para se alcanar um fim: pesar as desvantagens dos meios em relao s vantagens do fim.

Exemplo: Hipoteticamente, o Poder Pblico na pessoa de um prefeito, com o intudo de evitar a depredao de um bem pblico, por exemplo, uma esttua, dispe em torno da esttua, uma cerca eltrica capaz de causar a morte de quem se atrever a pich-la.

Neste caso, embora haja adequao entre meio e fim, a medida seria invlida, pela ausncia do requisito proporcionalidade em sentido estrito, pois o bem jurdico da vida mais importante que a preservao do patrimnio pblico.

Conforme j dito por JORGE MIRANDA : o primado da pessoa o do ser, no o do ter; a liberdade [no caso, a vida] prevalece sobre a propriedade. Essa uma relao de proporcionalidade, incidindo a proporcionalidade em sentido estrito uma vez em que valores so contrapesados.

Assim, o questionamento que se faz para que se caracterize a proporcionalidade em sentido estrito o seguinte: o benefcio alcanado com a adoo da medida sacrificou direitos fundamentais mais importantes (axiologicamente) do que os direitos que a medida buscou preservar?.

Por fim, reitera-se que o Princpio da Proporcionalidade visa proteger os direitos e garantias fundamentais, estabelecendo uma co-relao entre a legislao atual, assim como a que se perdeu no tempo, respeitando sempre os critrios hierrquicos e axiolgicos, evitando-se, desta forma, conflitos entre as leis e princpios e limitando os poderes do legislador.

Quanto aplicabilidade do Princpio da Proporcionalidade verifica-se que este se aplica precipuamente ao Direito Constitucional, Direito Processual Administrativo, no Direito Processual Trabalho, no Direito processual Civil, enfim nos mais diversos campos do direito.

CONSIDERAES FINAIS

No incio deste estudo, procurou-se trazer um contexto introdutrio referente esfera constitucional, buscando-se, inclusive a conceituao de diversas expresses utilizadas como designativas do princpio, tanto em mbito nacional quanto no internacional, para que se facilitasse o entendimento do que proporcionalidade, bem como de sua aplicao.

Quanto origem do Princpio da Proporcionalidade, percebe-se que no unnime na doutrina em relao a qual princpio se atribui a sua origem, observa-se que alguns autores, conforme se demonstrou no transcorrer deste estudo, entendem que o Princpio Devido Processo Legal seria sua fonte, enquanto outros a conferem ao princpio do Estado Democrtico de Direito, no momento em que se propagou a teoria jusnaturalista, e, quanto ao seu emprego, entendem que foi aplicado primeiramente ao Direito Administrativo, com o objetivo de limitao do Poder Executivo.

No que diz respeito distino entre os princpios da razoabilidade e da proporcionalidade, interessante a anlise que faz o senso comum: o que proporcional razovel, mas o que razovel proporcional? Obviamente que o inverso no necessariamente verdadeiro.

H tambm uma confuso entre as nomenclaturas: razoabilidade, racionalidade, proibio do excesso e probabilidade que apresentam pequenas distines em relao ao Princpio da Proporcionalidade, mas que atravs destas caractersticas, no se confundem.

Interessante referir que a idia intuitiva da proporcionalidade foi captada com rara argcia por JELLINEK, atravs da clebre metfora: no se deve usar canhes para matar pardais.Quanto aplicabilidade do Princpio da Proporcionalidade verifica-se que este assim como surgiu, na esfera administrativa, aplica-se no Direito Processual Administrativo, no Direito Processual do Trabalho, no Direito Processual Civil e nos mais diversos campos do direito.

Tangente aos subprincpios que integram o Princpio da proporcionalidade, ressalta-se que para que algum ato, inclusive emanado pelo poder pblico, como o caso dos atos normativos, passe pelo crivo deste princpio, indispensvel que preencha os requisitos de adequao, necessidade e proporcionalidade em sentido estrito, para que, por fim, o Judicirio fiscalize a correta aplicao dos subprincpios ora enumerados.

comum ouvirmos popularmente que o juiz s no aplica a lei justa se no quiser e, tal brocado verdadeiro, os princpios, os costumes e a jurisprudncia humanizam a lei, tiram-na do campo abstrato e colocam-na no campo do concreto, devendo-se analisar o caso concreto como nico.

Busca-se na lei apenas a tipificao legal que objetiva uma generalidade de solues, o que vai individualizar uma lide de outra e torn-la justa a correta e equilibrada aplicao principiolgica, sopesada com base na proporcionalidade e na razoabilidade, adequada ao caso concreto, conforme se demonstrou no decorrer do presente estudo.

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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RDA 194/299 (1993), ADin n 855-PR, Rel. Min. Seplveda Pertence. O acrdo assim ementado: "Gs liquefeito de petrleo: lei estadual que determina a pesagem de botijes entregues ou recebidos para substituio vista do consumidor, com pagamento imediato de eventual diferena a menor: argio de inconstitucionalidade fundada nos arts. 22, IV e VI (energia e metrologia), 24 e , 25, 2 e 238, alm de violao ao princpio da proporcionalidade e razoabilidade das leis restritivas de direitos: plausibilidade jurdica da argio que aconselha a suspenso cautelar da lei impugnada, a fim de evitar danos irreparveis economia do setor, no caso de vir a declarar-se a inconstitucionalidade: liminar deferida."

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BARROSO, Lus Roberto, Os princpios da Razoabilidade e da Proporcionalidade no direito constitucional. Cadernos de Direito Constitucional e Cincia poltica 6/69. So Paulo, abr.-jun.1998.

ROLIM, Luciano Sampaio Gomes, Uma viso crtica do Princpio da Proporcionalidade: uma abordagem constitucional. Op.Cit.

EMENTA: AO DIREITA DE INCOSNTITUCIONALIDADE ELEIES MUNICIPAIS DE 1996 COLIGAES PARTIDRIAS APENAS PARA ELEIES PROPORCIONAIS VEDAO ESTABELECIDA PELA LEI N. 9.100/95 (ART. 6) ALEGAO DE OFENSA AO PRINCPIO DA AUTONOMIA PARTIDRIA (CF, ART. 17, 1) E DE VIOLAO AOS POSTULADOS DO PLURIPARTIDARISMO E DO REGIME DEMOCRTICO AUS~ENCIA DE PLAUSIBILIDADE JURDICA MEDIDA CAUTELAR INDEFERIDA. PARTIDO POLTICO AO DIRETA LEGITIMIDADE ATIVA INEXIGIBILIDADE DO VNCULO DE PERTINNCIA TEMTICA (...) VEDAO DE COLIGAES PARTIDRIAS APENAS NAS ELEIES PROPORCIONAIS - PROIBIO LEGAL QUE NO SE REVELA ARBITRRIA OU IRRAZOVEL - RESPEITO CLUSULA DO SUBSTANTIVE DUE PROCESS OF LAW. - O Estado no pode legislar abusivamente. A atividade legislativa est necessariamente sujeita rgida observncia de diretriz fundamental, que, encontrando suporte terico no princpio da proporcionalidade, veda os excessos normativos e as prescries irrazoveis do Poder Pblico. O princpio da proporcionalidade - que extrai a sua justificao dogmtica de diversas clusulas constitucionais, notadamente daquela que veicula a garantia do substantive due process of law - acha-se vocacionado a inibir e a neutralizar os abusos do Poder Pblico no exerccio de suas funes, qualificando-se como parmetro de aferio da prpria constitucionalidade material dos atos estatais. A norma estatal, que no veicula qualquer contedo de irrazoabilidade, presta obsquio ao postulado da proporcionalidade, ajustando-se clusula que consagra, em sua dimenso material, o princpio do substantive due process of law (CF, art. 5, LIV). Essa clusula tutelar, ao inibir os efeitos prejudiciais decorrentes do abuso de poder legislativo, enfatiza a noo de que a prerrogativa de legislar outorgada ao Estado constitui atribuio jurdica essencialmente limitada, ainda que o momento de abstrata instaurao normativa possa repousar em juzo meramente poltico ou discricionrio do legislador". (grifamos).Votao: por maioria, vencido o Min. Ilmar Galvo. Resultado : indeferida. DJ DATA-24-11-00 PP-00086; EMENTA VOL-02013-10 PP-01974. Julgamento: 07/03/1996 - Tribunal Pleno.

NETO, Francisco da Cunha e Silva.Op.Cit.

Das palavras de Maringela Gama de Magalhes infere-se que o termo razoabilidade muito presente nos ordenamentos norte-americano e italiano qualifica tudo o que for considerado conforme razo. Op.Cit.p.38.

Idem, Ibdem.

MELLO, Celso Antnio Bandeira de, Curso de Direito Administrativo, 4ed, So Paulo, Malheiros, 1993. p. 56.

NETO, Francisco da Cunha e Silva. Op.Cit.

BARROS, Suzana de Toledo. Op.Cit.p.70.

VILA, Humberto. Teoria dos Princpios da definio aplicao dos princpios jurdicos. So Paulo, Malheiros, 2003, p.101.

STUMM, Raquel Denise. Op.Cit. p.78.

SILVA, De Plcido e, Vocabulrio Jurdico. 17 ed. Rio de Janeiro, Forense, 2000, p.470. Segundo o autor: Direito natural, para os romanos, era o conjunto de regras que regulavam a vida animal, e que so inatas e provindas do prprio instinto, tais como as regras que regulam a unio do macho e da fmea, a procriao e a educao dos filhos, o direito de defesa contra o ataque.

GABRIEL, Antnio Jos Martins. O princpio da proporcionalidade. Disponvel em: http://www.femperj.org.br/revista/d_pen.htm/art104. Acesso em 25/10/2003.

BARROS, Suzana de Toledo. Op. Cit., p.53.

Idem, ibdem, p.73.

STUMM, Raquel Denize. Op. Cit. P.78.

George Marmelstein Lima, na obra: Limitaes ao direito fundamental ao, assinala como sinnimas de adequao as terminologias: pertinncia ou aptido.

Idem, Ibidem.

CANOTILHO, Jos Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituio. 6. ed. Coimbra: Almedina, 2002, p. 262.

Ibidem. p.270.

MIRANDA, Jorge apud LIMA, George Marmelstein. Limitaes ao direito fundamental ao.

Apud Raquel Denize Stumm. Op.Cit.p.8.