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PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO GESTÃO, INTERNACIONALIZAÇÃO E LOGÍSTICA PMPGIL ITAJAÍ 2019

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PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO – GESTÃO, INTERNACIONALIZAÇÃO

E LOGÍSTICA – PMPGIL

ITAJAÍ 2019

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL

EM ADMINISTRAÇÃO – GESTÃO, INTERNACIONALIZAÇÃO E LOGÍSTICA – PMPGIL

MAYSA LÉLIA DA SILVEIRA

OS PROGRAMAS DE DIVERSIDADE E INCLUSÃO DAS BIG FOUR: UM OLHAR SOBRE A ABORDAGEM DOS VIESES INCONSCIENTES

ITAJAÍ 2019

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MAYSA LÉLIA DA SILVEIRA

OS PROGRAMAS DE DIVERSIDADE E INCLUSÃO DAS BIG FOUR: UM OLHAR

SOBRE A ABORDAGEM DOS VIESES INCONSCIENTES

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado

Profissional em Administração: Gestão,

Internacionalização e Logística da Universidade do

Vale do Itajaí, como requisito à obtenção do título de

Mestre em Administração.

Orientadora: Profa. Dra. Anete Alberton

ITAJAÍ 2019

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MAYSA LÉLIA DA SILVEIRA

Os programas de diversidade e inclusão das Big Four: um olhar sobre a

abordagem dos vieses inconscientes

Esta dissertação foi julgada adequada para a obtenção do título de Mestre em

Administração e aprovada pelo Curso de Mestrado Profissional em Administração:

Gestão, Internacionalização e Logística da Universidade do Vale do Itajaí,

Área de Concentração: Gestão

Itajaí, 05 de setembro de 2019

Profa. Dra. Dinorá E. Floriani Coordenadora do Programa

Banca Examinadora:

Prof. Dra. Anete Alberton UNIVALI – Orientadora

Profa. Dra. Tatiana Ghedini UNIVALI

Profa. Dra. Graziela Dias Alperstedt UDESC/ESAG

Edson Defendi Psicólogo, Coord. de Empregabilidade da FDN para Cegos

Notório Saber

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Dedicatória

Ao meu Mentor pela sua infinita bondade em me conduzir

nesta jornada. Minha gratidão.

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AGRADECIMENTOS

Aos meus amados pais Lélia e Nestor, a minha profunda admiração, amor

incondicional e exemplo, por me ensinaram valores como, o respeito, a humildade e

a solidariedade e que me guiam em minhas escolhas de vida.

Agradeço ao meu irmão Carlos, pela nossa nova convivência serena e companheira.

Ao meu filho João Guilherme, por ter dividido minha atenção durante o mestrado e

que mesmo sendo difícil compreender, sente orgulho.

Ao meu amor e parceiro de vida, Ricardo Mesa Campos, pelo apoio incondicional

à minha paixão por aprender e estudar. Ninguém entende isso como você.

À minha orientadora, Anete Alberton, por acolher a minha escolha pelo tema de

pesquisa, me dando asas para voar. Isso não tem preço. Agradeço imensamente, por

compartilhar seu conhecimento, seu tempo e principalmente, por entender meu

contexto de vida durante esta jornada.

Às professoras Dinorá Floriani, por sempre extrair o meu melhor e por me lembrar

disso, e Tatiana Ghedini, pela sua generosa disponibilidade e incentivo. Aos demais

professores pela inspiração e aprendizado. Aos tantos colegas e amigos que fiz, meu

muito obrigada.

À Juniana Pires, pela sua gentileza e incansável suporte durante o curso.

À melhor amiga e parceira que alguém poderia ter nesta jornada, Andréia de Mello

Silva, que já teria feito o mestrado valer a pena. As madrugadas de estudo foram mais

prazerosas e até divertidas, com nossas trocas de mensagens de apoio.

Ao querido Edson Defendi, toda a minha admiração profissional. Obrigada por todas

a gentilezas. Você é luz!

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À PwC, por meio de seus profissionais, que abriram suas portas e compartilharam

suas experiências de forma tão gentil, permitindo a condução deste trabalho.

Aqueles que, mesmo de longe, contribuíram para que este estudo fosse possível:

Andrea França, Rita Passos, Ricardo Sales, Denise Pragana.

O meu grato, gratíssimo.

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RESUMO

O tema da Diversidade e Inclusão tem estado na agenda das organizações nas últimas décadas e a pressão dos movimentos sociais e a necessidade de atuar nos mercados globais, movimentam o assunto. Mesmo assim, a exclusão de grupos sub-representados continua sendo um dos problemas mais significativos enfrentados pela sociedade e pelas empresas. O preconceito sobre o desconhecido e sobre o diferente permanece, não trazendo avanços significativos ao panorama da inclusão no mercado de trabalho. Esta pesquisa analisou estratégias de abordagem dos vieses inconscientes dos programas de Diversidade e Inclusão, no ambiente de trabalhos das Big Four, as quatro maiores empresas de contabilidade do mundo. Os vieses inconscientes, se caracterizam por atitudes ou estereótipos que afetam a compreensão, as ações e as decisões de maneira inconsciente e involuntária, e vem tomando as pautas de discussão de grandes empresas e universidades pelo mundo. Foi realizada uma pesquisa documental nos sites das empresas, e posteriormente, a realização de entrevistas semiestruturadas sobre o tema dos vieses inconsciente e sobre o processo decisório em uma delas. O estudo é exploratório-descritivo, de abordagem qualitativa, e usa como método, o estudo de múltiplos casos. Participaram da análise, as empresas sede (globais) das Big Four, as empresas-sede no Brasil, além das empresas sede em países onde o conteúdo foi relevante ao estudo. Como resultados deste estudo destaca-se: (i) O tema dos vieses inconscientes fazem parte de estudos acadêmicos, assim como estão relacionados ao futuro do trabalho pelas organizações; (ii) A alta liderança está sendo envolvida para atuar como patrocinadores das ações locais; (iii) O foco na média liderança envolve treinamentos de liderança inclusiva e metas na composição do quadro de líderes; (iv) O treinamento se apresenta como a estratégia mais utilizada para a abordagem dos vieses inconscientes; (v) Abordagens que compartilham a responsabilidade entre indivíduos e organização são mais sustentáveis. (vi) A neurociência se apresenta como a base condutora das ações de conscientização e treinamento; (vii) A importância da análise do contexto, do levantamento do perfil de seus profissionais e dos processos de gestão de equipes e liderança para traçar os objetivos e estratégias mais efetivos para casa empresa; (viii) A identificação do processo decisório da empresa estabelece a conexão com o contexto e a cultura da organização. APLICABILIDADE: com este estudo foi possível identificar os modelos teóricos que embasam a abordagem dos vieses inconscientes, seus modelos de ação, evidenciando suas estratégias e tornando possível de serem assimiladas por outras empresas. REAPLICABILIDADE: a pesquisa torna-se relevante para que organizações de todo o porte e segmento possam acessar e beneficiar-se dos aprendizados deste processo a partir de seu contexto e grau de maturidade. INOVATIVIDADE: representa um avanço no desenvolvimento teórico e prático na área da gestão, pois os estudos sobre a abordagem dos vieses inconscientes aplicados nas empresas são poucos, e se concentrarem em áreas distintas da administração.

Palavras chave: Diversidade e Inclusão. Vieses Inconscientes. Processo Decisório

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ABSTRACT

The theme Diversity and Inclusion has been in the agenda of organizations in recent decades and the pressure of social movements and the need to operate in global markets drive the issue. Even so, the exclusion of underrepresented groups remains one of the most significant problems facing society and business. Prejudice about the unknown and the different remains, not bringing significant advances to the panorama of inclusion in the labor market. This research analyzed the strategies for addressing the unconscious biases of Diversity and Inclusion programs in the Big Four work environment, which are the four largest accounting firms in the world. Unconscious biases are characterized by attitudes or stereotypes that affect understanding, actions and decisions in an unconscious and involuntary manner, and have been taking the discussion agenda of large companies and universities around the world. A documentary research was carried out in the site of these companies, and later, semi-structured interviews were conducted on the subject of unconscious biases and on the decision making process in one of the firms. The study is exploratory and descriptive in nature, with a qualitative approach, and uses as a method the study of multiple cases. Participating in the analysis were the headquarter companies (global), the headquarter companies in Brazil, as well as the headquarter companies in countries where the content was relevant to the study. As results of this study include: (i) The theme of unconscious biases is part of academic studies, as well as related to the future of work by organizations; (ii) Senior leadership is being involved to act as sponsors of local actions; (iii) Focusing on middle leadership involves inclusive leadership training and goals in the composition of the leader board; (iv) Training is the most used strategy for addressing unconscious biases; (v) Approaches that share responsibility between individuals and organization are more sustainable. (vi) Neuroscience presents itself as the conducting basis of awareness and training actions; (vii) The importance of context analysis, profiling professionals and team management and leadership processes to outline the most effective goals and strategies for the home business; (viii) Identifying the company's decision making process establishes the connection with the context and culture of the organization. REAPPLICABILITY: This research is relevant for organizations of all sizes and segments to access and benefit from learning from this process, from its context and degree of maturity. INNOVATIVITY: It represents an advance in the theoretical and practical development in the management area, since studies on the approach of unconscious biases applied in companies are few, and focus on different areas of management. APPLICABILITY: With this study it was possible to identify the theoretical models that underlie the approach of unconscious biases, their action models, highlighting their strategies and making it possible for them to be assimilated by other companies.

Keywords: Diversity and Inclusion. Unconscious biases. Decision making

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – A roda da diversidade................................................................................18

Figura 2 – O iceberg da diversidade...........................................................................19

Figura 3 – Objetivos do desenvolvimento sustentável................................................30

Figura 4 – Preconceito, Discriminação e Estereótipo.................................................32

Figura 5 – O preconceito na linha do tempo................................................................33

Figura 6 – Sistema cognitivo.......................................................................................36

Figura 7 – Vieses cognitivos.......................................................................................37

Figura 8 – Modelo de tomada de decisão do aplicado na pesquisa – Modelo

Processual..................................................................................................................45

Figura 9 – Fluxo de pesquisa......................................................................................56

Figura 10 – Framework geral da pesquisa................................................................ 58

Figura 11 – Modelo Global de Maturidade de D&I da Deloitte...................................67

Figura 12 – Modelo de Maturidade PwC.....................................................................67

Figura 13 – Continuum da Mudança EY.....................................................................89

Figura 14 – Framework Estratégico de I&D global KPMG........................................ 98

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Componentes do comportamento inclusivo.............................................27

Quadro 2 – Modelos de tomada de decisão.............................................................. 42

Quadro 3 - Principais fases do modelo decisório processual.....................................43

Quadro 4 – Design de pesquisa e decisões metodológicas.......................................48

Quadro 5 – Construtos e categorias de análise..........................................................50

Quadro 6 – Empresas pesquisadas............................................................................51

Quadro 7 – Matriz de codificação dos documentos acessados..................................53

Quadro 8 – Matriz de orientação da pesquisa – Entrevistas......................................55

Quadro 9 – Categorias de análise..............................................................................57

Quadro 10 – Valores compartilhados Deloitte............................................................61

Quadro 11 – Quadro Resumo Deloitte.......................................................................71

Quadro 12 – Quadro Resumo PwC............................................................................84

Quadro 13 – Etapas da Jornada de D&I EY.............................................................. 88

Quadro 14 - Quadro Resumo EY................................................................................97

Quadro 15 – Quadro Resumo KPMG.......................................................................103

Quadro 16 – Quadro comparativo da análise documental.......................................105

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LISTA DE ABREVIATURAS

BAME Black, Asian, and Minority ethnic (Negro, Asiático e Minoria étnica)

CEERT Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades

D&I Diversidade e Inclusão

IAT Implicit Association Test

IBOPE Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística

IHRB Institute for Human Rights and Business

LGBT+ Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais ou Transgêneros

ODS Objetivos do Desenvolvimento Sustentável

OIT Organização Internacional do Trabalho

ONU Organização das Nações Unidas

REIS Rede Empresarial de Inclusão Social

UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a

Cultura

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SUMÁRIO

RESUMO .............................................................................................................................................. v

ABSTRACT.................................................................................................................vi

LISTA DE ILUSTRAÇÕES......................................................................................................... .vii

LISTA DE QUADROS ........................................................................................................... vviiiiii

LISTA DE ABREVIATURAS ...................................................................................................... ixx

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 1

1.1 Contextualização e Problema de Pesquisa ............................................................. 3

1.2 Objetivos.......................................................................................................................8

1.3 Relevância Científica e Prática ................................................................................. 8

1.4 Estrutura do Trabalho................................................................................................12

2 REVISÃO TEÓRICA E ESTADO DA ARTE ....................................................................... 13

2.1 Diversidade e Inclusão ............................................................................................ 13

2.1.1 Diversidade..............................................................................................................13

2.1.2 Dimensões da Diversidade.....................................................................................17

2.1.3 O panorama da diversidade pelo mercado............................................................21

2.1.4 Inclusão ...................................................................................................................23

2.1.5 Os movimentos pela diversidade e inclusão no Brasil........................................28

2.2 Vieses Inconscientes.................................................................................................30

2.3 Processo Decisório....................................................................................................41

3 METODOLOGIA .......................................................................................................................... 46

3.1 Design de Pesquisa................................................................................................. 46

3.2 Definição das Unidades de Análise e Empresas Pesquisadas ............................ 48

3.3 Procedimentos, Instrumentos e Técnicas de Coleta de Dados.............................52

3.3.1 Dados secundários de Pesquisa Documental das Big Four................................52

3.3.2 Entrevista Semiestruturada - PwC..........................................................................54

3.4 Procedimentos, Técnicas e Análise de Dados.........................................................55

3.5 Exclusões de Escopo e Delimitação.........................................................................59

4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS..........................................................................60

4.1 Caso 1 - Deloitte ...................................................................................................... 60

4.2 Caso 2 - PwC ........................................................................................................... 71

4.3 Caso 3 - EY .............................................................................................................. 85

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4.4 Caso 4 - KPMG............................................................................................................98

4.5 Um Olhar sobre as Big Four ...................................................................................103

4.6 Os Vieses Inconscientes e seu processo decisório na PwC: Análise das

Entrevistas......................................................................................................................107

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................... 118

5.1 Aplicabilidade, Replicabilidade e Inovatividade .................................................. 121

5.2 Ponderações e Recomendações Futuras ............................................................ 122

REFERÊNCIAS.............................................................................................................................. 125

APÊNDICE A – Roteiro das Entrevistas ............................................................................ 139

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1 INTRODUÇÃO

Promulgada em 1948, a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) fez 70

anos e continua com desafios crescentes em relação à discriminação e toda forma de

manifestação contrária aos seus artigos. Para Audrey Azoulay, diretora-geral da

Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura - UNESCO,

milhões de pessoas são desprovidas de condições básicas de sobrevivência e de

oportunidades, e direitos são violados em uma escala nunca vista, gerados pelos

movimentos populacionais involuntários (UNESCO, 2017), como a gigantesca crise

humanitária dos 68,5 milhões de refugiados no mundo (ACNUR, 2017).

Diante deste cenário e aliado à visibilidade dos recentes movimentos da sociedade

civil, muitas empresas têm estado atentas às repercussões e aos seus

desdobramentos. Alguns destes movimentos tiveram grande repercussão na mídia

como, por exemplo: o #OscarSoWhite, em 2016 (Oscar muito branco, numa tradução

livre) (STAATS et al, 2017), que criticou a ausência de artistas negros no Oscar; o

#MeToo, em 2017 ("eu também", em tradução do inglês) expressão usada por

mulheres e homens nas redes sociais que sofreram algum tipo de agressão sexual

em solidariedade uns aos outros; e os episódios racistas, xenofóbicos e misóginos

das Eleições Presidenciais Americanas (STAATS et al, 2017). Estas manifestações

elevaram a questão do assédio sexual, do machismo, do racismo e da xenofobia, a

outro patamar de discussão, inclusive dentro das empresas, as quais, por sua vez,

precisam sair do discurso e inserir temas como a diversidade na pauta de suas

agendas estratégicas como um caminho para maximizar resultados (BORIN; FIENO;

SAMPAIO, 2015). Além do que, as empresas têm sido cobradas não só pelos seus

posicionamentos, mas também por sua coerência e ações efetivas.

As mídias sociais também têm mostrado uma grande quantidade de punições

impostas aos negligentes à liberdade e a justiça no tratamento às pessoas, fazendo

com que as mudanças que têm ocorrido na opinião pública sobre as relações raciais

e de gênero, sejam refletidas simultaneamente em mudanças de atitudes e crenças

no indivíduo (LAI; BANAJI, 2017). O assunto é abrangente e vai da valorização da

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diversidade às estratégias organizacionais para a inclusão e combate ao preconceito.

Preconceito este, que vem sendo pesquisado há décadas, inspirado no estudo

seminal de Allport (1979), The Nature Of Prejudice, que iniciou uma discussão sobre

o assunto e foi propulsor de tantos outros estudos.

As pesquisas também têm aprofundado os estudos sobre uma forma específica de

preconceito, denominado vieses inconscientes, que são atitudes ou estereótipos que

afetam ações e decisões diárias de forma inconsciente e são ativados de forma

involuntária (STAATS et al, 2016). Em sua maioria, estes estudos, procuram

evidenciar a existência destes vieses e de seus impactos na sociedade e

organizações, como a busca pela sua desconstrução (GREENWALD; BANAJI, 2017,

1995; KANG; GRAY; DOVIDIO, 2014; KANG; LANE, 2010; BLAIR, 2002; DEVINE,

1989). Os estudos sobre o preconceito vêm também tomando espaço nas

universidades americanas como na Washington University, University of Virginia,

Harvard University e The Ohio State University, entre outras. No mercado de trabalho,

além das pioneiras Facebook, Google e Microsoft, muitas outras empresas vêm

abordando o tema de forma progressiva.

Mesmo avançando em muitos aspectos, poucos estudos têm acompanhado como as

abordagens relacionadas aos vieses inconscientes vem ocorrendo dentro das

organizações. Mas por que tantas empresas vêm optando por este caminho?

Baseadas em quais estudos e motivadas por quais aspectos? Na experiência

profissional dentro de organizações, seja como colaboradora ou consultora, ainda

apresenta uma dissociação entre os processos e seus impactos na mudança

organizacional. O desafio parece estar na coerência e na sustentabilidade destes

processos.

Este estudo visa analisar as estratégias dos vieses inconscientes dos programas de

D&I (Diversidade e Inclusão) das quatro maiores empresas de auditoria e consultoria

do mundo, as Big Four (Deloitte, PwC, EY e KPMG), buscando identificar como seus

programas de D&I estão estruturados, verificar suas estratégias de abordagem dos

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vieses inconscientes e identificar suas motivações, modelos e escolhas, por meio da

tomada de decisão. Em seus estudos sobre as Big Four e a diversidade, os autores

Edgley, Sharma e Anderson-Gough (2016, p. 1) afirmam que:

A lógica usada para distinguir firmas de contabilidade de outras organizações comerciais é a noção de profissionalismo. [...] Em teoria, as práticas das firmas profissionais devem sustentar um equilíbrio legítimo de interesse público e comportamento comercial. Esta é uma dupla responsabilidade perante o público e a empresa. A profissão contábil sempre comunicou um propósito de interesse público como uma lógica primária que sustenta seu desenvolvimento.”

Devido à natureza de suas atividades, as empresas de auditoria e contabilidade,

buscam legitimidade e reputação, exigindo delas, um comportamento em sintonia com

os problemas atuais do mercado de trabalho e da sociedade. Alinhado ao tema da

pesquisa, os autores Edgley, Sharma e Anderson-Gough (2016) ressaltam que as Big

Four estão tomando a liderança em reconhecer o problema do viés inconsciente,

mesmo considerando que este é um difícil desafio.

1.1 Contextualização e Problema de Pesquisa

Nas últimas décadas, países como os EUA, fizeram progressos em questões relativas

a diversidade. A combinação de leis, programas de ação afirmativa e ações de

prevenção a processos judiciais, movimentaram o assunto nas organizações

americanas (MOR BARAK, 2015; PLESS; MAAK, 2004). Mesmo que muitas

empresas tenham ultrapassado a barreira inicial da implantação de programas de

diversidade, a exclusão de diversos grupos continua sendo um dos problemas mais

significativos enfrentados atualmente pela força de trabalho (MOR BARAK, 2015),

pois ainda, não são percebidos como parte integral da organização. O preconceito

sobre o desconhecido e sobre o diferente permanece, não trazendo avanços

significativos no panorama da inclusão. Este preconceito não faz avançar as

estratégias de gestão de pessoas, e consequentemente não traz um avanço para que

as organizações se tornem inclusivas. Muitas pesquisas no campo da psicologia

social, neurociência e da economia comportamental, estudam o preconceito no

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ambiente de trabalho e trazem à tona as evidências necessárias para discussões e

ações mais efetivas.

Uma das pesquisas mais emblemáticas da década de 70, foi sobre a mudança nos

procedimentos de audição das orquestras sinfônicas americanas para a “audição às

cegas”, ou seja, audições no qual uma "tela" esconde a identidade do candidato do

júri, garantindo a imparcialidade. Usando dados de audições reais, Goldin e Rouse

(2000) descobriram que a “tela” aumentou em 50% a probabilidade de uma mulher

ser promovida a determinadas rodadas preliminares e aumentando várias vezes a

probabilidade de uma mulher ser selecionado na rodada final. De acordo com os

dados, a mudança para audições às cegas pode explicar 30% do aumento da

proporção entre as novas contratações e, possivelmente, 25% do aumento do

percentual de mulheres nas orquestras de 1970 a 1996. O peso da evidência sugere

que o procedimento estimulou a imparcialidade na contratação e aumentou a

proporção de mulheres em orquestras sinfônicas. As mudanças incluíram o aumento

do número de candidatas quando usada uma tela física durante a audição. O estudo

destacou uma forte presunção de que a discriminação limitou o emprego de mulheres

músicas, especialmente pelas grandes orquestras sinfônicas, pois não só os seus

números eram extremamente baixos até a década de 70, mas muitos diretores de

música divulgaram publicamente sua crença de que as elas tinham menor talento

musical (GOLDIN; ROUSE, 2000).

Brooks et al (2014), em uma pesquisa mais recente, apresentaram o resultado de três

estudos (um estudo de campo e dois experimentos) sobre a preferência de

investidores sobre empreendimentos empresariais masculinos, documentando uma

lacuna de gênero e mostrando que, ambos os investidores, profissionais e avaliadores

não profissionais, preferiram os discursos apresentados por empresários do sexo

masculino em comparação aos discursos de mulheres empreendedoras, mesmo

quando o conteúdo e o tom do discurso era o mesmo. Os resultados também sugerem

que o poder de persuasão é moderado pela atratividade física masculina e que os

homens atraentes eram particularmente persuasivos, enquanto este fator não

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apresentou importância entre as mulheres empresárias. Essas descobertas avançam

principalmente na ciência relacionada ao gênero, preconceito e ao

empreendedorismo, que é um caminho central para a criação de empregos,

crescimento econômico e prosperidade (BROOKS et al, 2014).

Estas pesquisas evidenciam a necessidade de estudos e ações efetivas sobre os

vieses inconscientes e no combate ao preconceito. No Brasil, o cenário no mercado

de trabalho também continua com grandes desigualdades, segundo o Relatório Perfil

Social, Racial e de Gênero das 500 maiores empresas do Brasil e suas ações

afirmativas de 2016. Em sua 12º edição anual, a pesquisa mostra que a promoção da

diversidade e da equidade são passos importantes para garantir o desenvolvimento

social e econômico (INSTITUTO ETHOS, 2016). O complexo cenário organizacional

do país, emerge por meio de alguns dados importantes para reflexão: as mulheres –

51,4% da população - representam 13,6% do quadro executivo das empresas; os

negros – 52,9% da população – 4,7% no quadro executivo (INSTITUTO ETHOS,

2016); as pessoas com deficiência – 24% da população – representam apenas 1% do

total dos vínculos empregatícios (RAIS, 2017); no universo LGBT (lésbicas, gays,

bissexuais, travestis e transexuais) – 20% das empresas com base no Brasil negam

a contratação de homossexuais, 7% não contratariam um LGBT “de modo algum”,

enquanto 11% só pensam na possibilidade de contratação se o profissional fosse

impedido de chegar a um cargo de chefia, segundo estudo da Consultoria Santo Caos

(2015).

Para empresas globais o desafio parece ser ainda maior, pois requer mais interação

entre pessoas de diversas culturas, crenças e origens. O mundo do século XXI cresce

rapidamente e requer mais atenção e interação entre pessoas. As pessoas não

trabalham mais sozinhas, agora são parte de uma economia mundial em que a

competição vem de quase todos os lugares. Para alcançar objetivos organizacionais

e evitar riscos potenciais, as empresas devem ser sensíveis às demandas e

diferenças de sua força de trabalho e promover um ambiente, tanto global, como

localmente inclusivo. Mas apesar das inúmeras iniciativas, a cultura do preconceito se

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mantém, e negá-la impede que se fale sobre o tema, sua origem e as maneiras de

enfrentá-la na sociedade e nas organizações. Criar condições para o diálogo e o

entendimento se faz necessário para a valorização da diversidade. Algumas empresas

vêm adotando medidas que vão além da legislação vigente em seus países, e abrindo

espaço para a construção dessa nova fronteira. Um cenário cheio de desafios para as

organizações e para o relacionamento com seus stakeholders (INSTITUTO ETHOS,

2016). Staats et al (2016) reforçam este avanço, afirmando que há uma crescente

onda de conscientização em vários domínios pelo tema do preconceito e o desejo pelo

treinamento e educação adicional sobre este conceito cresceu de forma semelhante.

O avanço do tema é inegável, mas é necessário entender os caminhos percorridos

pelas organizações, buscando a coerência entre o que é dito e o que é vivenciado. Os

programas de D&I têm “abraçado” o tema do preconceito e a temática vêm tomando

espaço nos relatórios empresarias, nas campanhas das empresas e nas falas do

CEOs. Pesquisar e analisar estas estratégias se faz essencial para que se possa

disseminar os aprendizados e construirmos ambientes de trabalho diversos e

inclusivos e que de fato representem a sociedade em que estão inseridas.

Esta pesquisa permeia temas como a diversidade e a inclusão para concentra-se em

um dos aspectos do preconceito nas organizações, os vieses inconscientes, que são,

atitudes ou estereótipos que são ativados involuntariamente e que afetam nossas

ações e decisões (STAATS et al, 2017). Concentra-se também, na teoria do processo

decisório, com o objetivo de identificar as motivações e o processo de assimilação

desta abordagem (vieses inconscientes) pelas empresas. Os vieses inconscientes

apresentam uma conexão com a desigualdade, pois segundo os estudos de Staats et

al (2016) e de Kahneman (2012), afetam nossas decisões, comportamentos e

interações com os outros.

A empresas pesquisadas neste estudo foram as chamadas Big Four, as quatro

maiores empresas de auditoria e contabilidade do mundo (Deloitte, PwC, EY e

KPMG). As quatro são organizações transnacionais e cresceram de forma acelerada

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em termos de pessoal e de receita, empregando quase um milhão de pessoas em

todo o mundo e gerando US$ 130 bilhões em receitas (ACCOUNTINGVERSE, 2018).

Devido à natureza de seus negócios enfrentam pressão pela sua reputação,

considerado um fator essencial para legitimar suas atuações em mercados globais e

atrair profissionais da área (DUFF, 2011). Mesmo assim, as quatro grandes empresas

de contabilidade vêm lidando com grandes escândalos ano a ano. O maior e mais

midiático deles, foi a dissolução da empresa Arthur Andersen em 2001, que fazia parte

das então cinco grandes firmas do setor. O escândalo mostrou que a sede americana

da Arthur Andersen tinha permitido que a empresa de energia Enron manipulasse sua

contabilidade, onde os sócios destruíram toneladas de documentos para esconder

seus erros. Também em 2008, após a eclosão da crise financeira, foram movidos

vários processos contra as auditorias com o argumento de que os profissionais

falharam em seu papel de vigiar o comportamento de bancos ou financeiras (TREASY,

2017).

Dentre os escândalos mais recentes, o site The Big Four Accounting Firms (2018)

listou três tipos diferentes. Os de auditoria e contabilidade, onde os investidores

alegaram que confiaram nas demonstrações financeiras de grandes clientes que as

Big Four validaram. Os escândalos de independência, envolvendo situações em que

os profissionais das Big Four não eram independentes de seus clientes. E os

escândalos éticos, envolvendo atitudes antiéticas no ambiente de trabalho pelos seus

profissionais, incluindo o assédio sexual e a remuneração mais baixa para mulheres.

Em contrapartida, estas organizações vêm abordando de forma intensiva o tema da

diversidade e inclusão, buscando minimizar seus gaps na promoção de um ambiente

de trabalho justo e a legitimação da sociedade e do mercado frente aos seus desafios.

Alinhado aos estudos sobre os vieses inconscientes no ambiente de trabalho e as

atuações destas empresas, surge a seguinte questão de pesquisa:

Como as Big Four abordam os vieses inconscientes em seus programas de

Diversidade e Inclusão em seu ambiente de trabalho?

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1.2 Objetivos

1.2.1 Objetivo geral:

Analisar as estratégias da abordagem dos vieses inconscientes nos programas de

Diversidade e Inclusão no ambiente de trabalho das Big Four.

1.2.2 Objetivos específicos:

✓ Identificar as estratégias de diversidade e inclusão das Big Four;

✓ Verificar a abordagem dos vieses inconscientes nos programas de

diversidade e inclusão das Big Four;

✓ Identificar o processo decisório na abordagem dos vieses inconscientes nos

programas de D&I das Big Four.

1.3 Relevância Científica e Prática

Discussões e estudos sobre questões sociais, raciais e de gênero vêm sendo

estudados pela ciência nos mais diversos campos (STAATS et al, 2016). Importantes

universidades americanas e organizações não-governamentais, avançaram em suas

pesquisas sobre o preconceito e vem se aprofundando nas evidências dos vieses

inconscientes por meio de pesquisas sobre relações sociais e organizações. Os

estudos perpassam áreas como, a Justiça Criminal, a Saúde e a Educação. Grandes

empresas globais de tecnologia como Google, Microsoft e Facebook vêm atuando

com este tema, que vem ganhando espaço no meio organizacional (STAATS et al,

2016). Para o Google (RE:WORK, 2018) o investimento em educação é um dos

primeiros passos para a desconstrução do preconceito e baseia-se em resultados de

pesquisas que mostram que a consciência do viés inconsciente pode levar a reversão

em resultados tendenciosos. Em 2013, a empresa criou um programa interno e

ferramentas com o objetivo de educar seus profissionais. As primeiras conversas

foram para garantir um alinhamento de informação entre todos e garantir a percepção

da liderança sobre a ciência e o impacto generalizado dos vieses inconscientes na

organização. A partir de então, um workshop foi estruturado, tornando-se um dos

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maiores programas de aprendizado voluntário do Google. Preocupada em mensurar

os resultados, a equipe realizou um experimento durante a orientação de novos

contratados. A pesquisa apresentou aumentos estatisticamente significativos na

conscientização e no entendimento do viés inconsciente, assim como na motivação

para superá-lo. O Facebook e a Microsoft também têm suas ações baseadas na

ciência e junto com o Google, disponibilizam seus vídeos e compartilham o material

para o uso em outras empresas (BEYONG MICROSOFT, 2018; MANAGING BIAS FB,

2018). Assunto novo dentro organizações, os resultados do treinamento de vieses

inconscientes ainda são pontuais. Nelson (2017) em sua recente pesquisa em

empresas de tecnologia, estudou o potencial destes treinamentos perante a mudança

organizacional, e concluiu que a perspectiva do treinamento é promissora, mas ainda

é falha e insuficiente para produzir mudanças.

Estudar como as organizações vêm atuando sobre os vieses inconscientes,

estabelecendo uma cultura inclusiva, assim como suas estratégias de atuação, torna

este estudo desafiador e importante. Entender suas motivações e o processo de

tomada de decisão para esta abordagem pode contribuir com empresas de todos os

tamanhos e segmentos. O tema é recente e começa a entrar no debate e nas

estratégias de grandes organizações, comprometidas em mudar o cenário da

diversidade e da inclusão.

Este estudo visa contribuir com a análise das estratégias usadas pelas Big Four,

empresas globais de auditoria e consultoria, por meio de seus programas de D&I,

identificando suas ações, vieses inconscientes e seu processo decisório. A

aproximação dos estudos acadêmicos com as empresas, dá a medida da relevância

para se estudar como a prática tem se desenvolvido nas organizações a partir de

importantes estudos. Estudos que evidenciam que os sistemas mentais atuam de

forma inconsciente (GREENWALD; BANAJI, 1995), que afirmam que os vieses

inconscientes são sutis e robustos (KANG et al, 2011; KANG; LANE, 2010;

GREENWALD; MCGHEE; SCHWARTZ, 1998), que podem ser ativados sem a

intenção e sem o controle do indivíduo (RUDMAN, 2004; BLAIR, 2002), que afirmam

que todos os possuem, mesmo aqueles que assumem compromissos com a

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imparcialidade (GREENWALD; MCGHEE; SCHWARTZ, 1998), até a sua

maleabilidade, ou seja, que podem ser moderados e substituídos por novas

associações mentais (KANG; LANE, 2010; BLAIR, 2002). Além das pesquisas sobre

seus efeitos no comportamento do mundo real, em domínios como trabalho, educação

e criminalidade, justiça, entre outros (STAATS et al, 2017).

Esta pesquisa contribui com estes estudos na medida em que analisa como empresas

globais estão se utilizando do conhecimento científico nas suas estratégias de

abordagens dos vieses inconscientes. Em que contexto de seus programas de D&I

estão inseridos? Quais suas motivações, escolhas teóricas e formas de abordagem

estão sendo utilizadas? São questionamentos importantes para um tema que está

movimentando as empresas e desafiando as lideranças no enfrentamento ao

preconceito e às desigualdades no ambiente de trabalho.

O Relatório “A distância que nos une: um retrato das desigualdades brasileiras”

(OXFAM BRASIL, 2017), retrata as diferenças do país e apresenta uma projeção dos

dados se mantido o ritmo de inclusão, afirmando que:

• 67% dos negros brasileiros receberam até 1,5 salário mínimo, enquanto menos

de 45% dos brancos estão nessa faixa salarial.

• A igualdade de salários de negros e de brancos acontecerá só em 2089, ou

seja, em 72 anos;

Já o Fórum Econômico Mundial (WEF), em seu Segundo o Global Gender Gap Report

(WORLD ECONOMIC FORUM, 2018) afirma que serão necessários dois séculos para

o fim de desigualdades de gênero no mercado de trabalho mundial. O estudo mostra

melhorias mínimas nos salários em relação a 2017 e indica também, que a

representação das mulheres na política no acesso à saúde e à educação vem

diminuindo. O Relatório ressalta que no ritmo atual, as desigualdades globais entre

homens e mulheres não serão eliminadas antes de pelo menos 108 anos, na maioria

das áreas, e que ainda levará 202 anos para reduzir a diferença no trabalho. O

relatório examina a situação da paridade em 149 países em quatro setores: educação,

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saúde, política e o mundo do trabalho. O Brasil caiu 5 posições no ranking de 2018

em relação a 2017, ficando na 95ª posição. Quanto aos cargos de gerência, apenas

34% no mundo são mulheres. Embora seja provável que os países da Europa

Ocidental acabem com a diferença de gênero nos próximos 61 anos, no Oriente Médio

e no Norte da África, serão necessários 153 anos.

Os dados sobre a desigualdade mostram (WORLD ECONOMIC FORUM, 2018;

OXFAM BRASIL, 2017) que este estudo se torna relevante para que mais

organizações possam acessar e beneficiar-se dos aprendizados deste processo,

desconstruindo os preconceitos que impedem a diversidade e a inclusão. Analisar

este processo é importante porque auxilia as empresas a estruturarem estratégias

mais efetivas e fundamentadas. Propõe-se que, em vez de implementar as ações

usuais e destituídas de estudos científicos e práticas efetivas, que as organizações

possam ter estratégias que auxiliem suas equipes a obter um desempenho superior.

Além de contribuir com os profissionais, consultores e gestores responsáveis pela

questão da diversidade e da inclusão no Brasil, como também ampliar o tema do

conhecimento na administração. Para a academia, espera-se que represente um

avanço no desenvolvimento teórico, pois durante o estudo não foram localizadas

muitas pesquisas sobre a análise dos vieses inconscientes no ambiente de trabalho.

Já para a sociedade, propõe impactar a realidade social no qual as empresas estão

inseridas, considerando as grandes desigualdades apresentadas (WORLD

ECONOMIC FORUM, 2018; OXFAM BRASIL, 2017). Segundo a Oxfam Brasil (2017,

p. 53), as “desigualdades sociais não são inevitáveis, mas sim fruto de uma falta de

ação de governos e empresas.

A Oxfam Brasil defende políticas afirmativas para reverter o quadro de discriminação e violência que sofrem esses setores da sociedade, seja pela inserção em ambientes excludentes (universidades, serviço público, mercado de trabalho, especialmente cargos de direção em empresas, entre outros), seja pelo combate à violência institucional (sobretudo a violência de policiais contra jovens negros, e a violência no atendimento à saúde da mulher negra). Também reconhecemos como fundamental a inclusão da igualdade de gênero e valorização das diversidades nas políticas públicas, como base fundamental para a superação da discriminação racial, de gênero e outras OXFAM BRASIL (2017, p.72).

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Percebe-se que tanto pelos diferentes estudos realizados e pelo desenrolar das

transações comerciais das empresas, ainda elas estão longe de representarem a

sociedade em que atuam. Sendo assim, buscar uma sociedade livre de preconceitos

e um mercado de trabalho aberto é importante para fazer avançar as questões sociais,

como a desigualdade de gênero e de raça. Assim, torna-se relevante entender como

grandes empresas vêm abordando este tema, das estratégias à sua tomada de

decisão, diante dos desafios dos negócios.

1.4 Estrutura do Trabalho

Este trabalho está organizado em cinco capítulos:

No capítulo 1, foi apresentada a pesquisa, por meio da introdução e do detalhamento

dos seguintes itens: a definição do problema e a pergunta de pesquisa, o objetivo

geral e os específicos e a relevância científica e prática da pesquisa.

No capítulo 2, são expostos os pressupostos teóricos que embasarão o estudo,

abordando temas relacionados a problemática: Diversidade e Inclusão, Vieses

Inconscientes e Processo Decisório.

O processo metodológico, o design de pesquisa, as unidades de análise e os

instrumentos de coleta de dados e análise de conteúdo são abordados no capítulo 3.

O capítulo 4 é dedicado às análises e discussões dos dados obtidos a partir da

pesquisa documental e das entrevistas.

Finalizando, o último capítulo apresenta as considerações finais, as percepções

resultantes do processo de investigação e as respostas alcançadas para cada objetivo

de pesquisa.

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2 REVISÃO TEÓRICA E ESTADO DA ARTE

Em um mundo cada vez mais polarizado, as diferenças estão no centro do conflito.

Potencializado pelas mídias sociais, estes conflitos emanam dos diferentes pontos de

vista. Posicionamentos e escolhas de vida, antes reservadas a grupos de convivência

privados e pequenos, tornaram-se públicos devido ao acesso às tecnologias e a

democratização das mídias sociais.

Este estudo será fundamentado por meio de três teorias principais: a primeira sobre

Diversidade e Inclusão, a segunda trata dos Vieses Inconscientes, e a terceira aborda

o Processo Decisório, estudado pela ótica da abordagem dos vieses inconscientes.

Estes temas são fundamentais para analisar as estratégias organizacionais

envolvidas nos programas de D&I, principalmente na abordagem dos vieses

inconscientes dos vieses inconscientes nas quatro maiores empresas de auditoria e

consultoria do mundo.

2.1 Diversidade e Inclusão

A diversidade é uma realidade nas organizações, e passa a ter maior importância

estratégica e ética para os negócios. Entender a diversidade e a inclusão e os

caminhos de uma cultura inclusiva nas organizações, pode auxiliar no enfrentamento

de questões mais complexas e desafiadoras, como os vieses inconscientes.

2.1.1 Diversidade

Diversidade é um conceito em movimento, pois vem acompanhando as mudanças

econômicas, sociais e tecnológicas da sociedade e das organizações, e dependendo

da cultura dinâmica das diferentes sociedades e mercados de trabalho (TATLI;

ÖZBILGIN, 2009). O termo foi cunhado na década de 90 nos EUA, impulsionado pelas

tendências socioeconômicas que mudaram a composição das organizações (DE

AQUINO; ROBERTSON, 2018). A existência de inúmeras definições se dá devido à

complexidade para formular uma definição incontestável (MERILÄINEN et al, 2009).

Manoharan e Singal (2017) ressaltam a diferença entre os conceitos de diversidade e

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sua gestão, no qual a diversidade se refere às diferenças entre as pessoas inseridas

nas organizações e a gestão da diversidade se refere às políticas e práticas que a

reconhecem.

Nas últimas décadas, a temática da diversidade teve mais visibilidade por inúmeras

razões: aumento global migração, oportunidades de viagem, comunicação mundial,

acesso à internet e a busca contínua por negócios líderes, recursos baratos e por

custos trabalhistas mais baixos (MARQUES, 2015; MOR BARAK, 2015), além das

questões legais, judiciais e ações afirmativas nos EUA (MOR BARAK, 2015; PLESS;

MARK, 2004). Consequentemente, aumentou a necessidade e os desafios das

organizações para lidar com estas complexidades e gerenciar a diversidade (DE

AQUINO; ROBERTSON, 2018).

Para Marques (2015) a diversidade pode ser uma vantagem ou um problema em

qualquer organização, dependendo da forma como é abordada e da intensidade com

que é alimentada. Alinhados a estas preocupações, ML Wallace, Hoover e Pepper

(2014) abordam uma questão fundamental para as organizações que desejam

verdadeiramente conectar suas declarações de diversidade à prática organizacional,

a questão ética. Os autores (ML WALLACE; HOOVER; PEPPER, 2014) abordam em

sua pesquisa o que chamam de quadros éticos, os quais descrevem porque as

organizações valorizam a diversidade: (a) abordagem centrada no raciocínio moral,

no qual a diversidade é valorizada por um dever e é centrada em princípios universais

e de boa vontade; (b) o raciocínio moral do negócio, sendo uma abordagem utilitarista

focada nos resultados; (c) a ética do cuidado, uma abordagem de raciocínio ético que

valoriza relacionamentos e emoções, reconhecendo a singularidade de cada

indivíduo. O assunto é complexo, e como afirma Marques (2015, p. 61), “uma análise

mais profunda da implementação de políticas de diversidade e ética em muitas

corporações leva à conclusão desanimadora de que eles muitas vezes implementam

essas políticas de maneira errada e pelas razões erradas”. Uma situação já expressa

pelos estudos de Saraiva e Iragay (2009) que afirmaram que embora as organizações

sejam regidas por políticas formais, não as vivenciam no dia a dia.

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Portanto, um estudo e uma orientação adequada da diversidade e da ética no

ambiente de trabalho, de forma interligada e coerente, requer um aprofundamento das

organizações sobre o tema (MARQUES, 2015). Implementar mudanças estruturais e

soluções transparentes baseadas em dados e conscientizar os executivos sobre como

o preconceito afeta a tomada de decisões pode diminuir a distância entre o que é dito

e o impacto real (INSTITUTO ETHOS, 2000).

As pessoas são diferentes não só em gênero, cultura, raça, características sociais e psicológicas, mas também em suas perspectivas e preconceitos. A sociedade havia discriminado esses aspectos por séculos. A diversidade torna a força de trabalho heterogênea. No cenário atual, empregar uma mão de obra diversificada é uma necessidade para todas as organizações, mas gerenciar essa força de trabalho diversificada também é um grande desafio para a administração. (SAXENA, 2014, p. 10)

Cox e Blake (1991) estudaram a relação entre a gestão da diversidade e a vantagem

competitiva, afirmando que para que essa vantagem ocorra, devem ser criadas

organizações multiculturais, para que pessoas de grupos pouco representados

possam contribuir e alcançar seu potencial máximo. Entre as características dessa

organização, os autores propõem, o pluralismo, a integração de todos os grupos em

todos os níveis da organização, como também em redes informais, ausência de

preconceito e discriminação, metas de carreira para todos os grupos e indivíduos de

forma igualitária e mínimo conflito entre os diversos grupos. Os autores (COX; BLAKE,

1991) destacam a liderança, o treinamento, o levantamento de dados por meio da

pesquisa, a cultura e gestão e o acompanhamento do processo, por meio do

monitoramento constante.

O apoio da alta administração é fundamental, e dispor de recursos humanos,

financeiros de longo prazo e técnicos e fazer parte das reuniões da alta liderança,

mostra o compromisso genuíno com a diversidade. Ainda assim não é suficiente, pois

é necessário envolver todos os níveis organizacionais, especialmente a média

gerência que pode liderar comitês sobre diversidade que supervisiona o trabalho em

toda a empresa. Outra forma de envolver os gerentes e combater seus preconceitos

é o mentoring, pois ao ensinar seus mentorados, os mentores passam a acreditar que

eles merecem essas oportunidades, sejam homens brancos, mulheres ou minorias

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(COX; BLAKE, 1991). Dobbin e Kalev (2016) complementam os estudos de Cox e

Blake (1991), em que afirma que os programas de D&I são mais bem-sucedidos

quando são inseridos como parte de um compromisso com o futuro da organização,

engajando voluntariamente gerentes e funcionários no negócio, não sendo vistos

apenas como uma questão do RH ou de compliance.

Para o Fórum Econômico Mundial, em seu Relatório The Global Talent

Competitiveness: Diversity for Competitiveness (LANVIN; EVANS, 2018, p. 3):

Os empregadores devem priorizar a diversidade e a inclusão do topo e operacionalizar essas políticas em todas as organizações. Eles devem promover culturas de inclusão além da "diversidade de identidade" superficial, concentrando-se no treinamento e criando ambientes nos quais todos se sintam respeitados e ouvidos. A jornada rumo à excelência por meio da diversidade e inclusão é desafiadora, mas vale a pena a promessa de um futuro compartilhado, superando as fraturas de nossa era.

A gestão e a valorização da diversidade são predominantes ao se iniciar um programa

e o treinamento de conscientização e capacitação estão entre os mais populares. O

primeiro se concentra na criação de um entendimento da necessidade, no significado

de administrar e valorizar a diversidade, e por muitas vezes atuam sobre os

estereótipos e insensibilidade transcultural. Já o segundo educa funcionários em

diferenças culturais específicas e como responder a diferenças no ambiente de

trabalho (COX; BLAKE, 1991). Dobbin e Kalev (2016) apontam o treinamento como

um primeiro passo e que deve ser abordado como um processo de educação contínuo

e voluntário, pois inspira resultados melhores e mais sustentados do que alternativas

involuntárias. Frequentemente as pessoas respondem a obrigatoriedade com

resistência, criando por vezes, mais animosidade em relação a outros grupos depois,

ao contrário do que evoca o treinamento voluntário (DOBBIN; KALEV, 2016). Já os

processos de gestão de recursos humanos (recrutamento, avaliação de desempenho,

avaliação potencial e promoção e compensação) devem ser considerados a fim de

descobrir potenciais vieses em relação a certos grupos e identificar maneiras pelas

quais a cultura corporativa coloca alguns membros em desvantagem (COX; BLAKE,

1991).

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Mesmo apresentando resistências, pesquisas mostram que uma força de trabalho

diversificada proporciona muitas vantagens estratégicas para as organizações, como:

criatividade, resolução de problemas, flexibilidade, adaptação a mudança,

aumentando o engajamento dos funcionários, impulsionando o desempenho, levando

à vantagem competitiva (BOURKE et al, 2017; SAXENA, 2014). Uma das estratégias

que vem sendo utilizadas para melhorar a diversidade no ambiente de trabalho é o

trabalho flexível. Um estudo realizado pelo International Workplace Group (2019) com

15 mil profissionais de 80 países, incluindo o Brasil, relata que 83% dos entrevistados

apontaram que a flexibilidade seria decisiva na hora de escolher por uma proposta de

emprego, desempenhando um papel crítico para melhorar a diversidade, como por

exemplo, para as mães que retornam ao trabalho (HUNT et al, 2018) .

Este tipo de benefício ainda busca uma convergência de expectativas e necessidades

entre empresas e funcionários, que por um lado, desejam reduzir as despesas e

aumentar a produtividade e por outro, querem alcançar o equilíbrio entre vida pessoal

e profissional (INTERNATIONAL WORKPLACE GROUP, 2019). Esta convergência

de expectativas relatada na pesquisa pode ser ampliada e vista como um dos grandes

desafios da diversidade, pois as decisões estratégias desenvolvidas pela alta

liderança precisam estar em sintonia com sua força de trabalho, cada vez mais

consciente de seus direitos. Entender o contexto em que estão inseridas, é

fundamental para que as empresas decidam sobre estratégias, ações e dimensões

em que irão atuar.

2.1.2 Dimensões da Diversidade

A diversidade possui muitas dimensões e compreendê-las pode ajudar organizações

se tornarem mais conscientes e definir seus caminhos de diversidade e inclusão.

Loden e Rosener (1991) são consideradas as pioneiras, apresentando a Roda da

Diversidade. As autoras dividem a diversidade em duas dimensões, as primárias e as

secundárias (Figura 1). As dimensões primárias são as diferenças imutáveis com as

quais nascemos e que exercem as primeiras influências em nossas identidades: a

idade, a etnia, o gênero, as habilidades e as características físicas. As dimensões

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secundárias são as diferenças mutáveis e menos visíveis, adquiridas e modificadas

por toda a vida: formação educacional, localização geográfica, renda, estado civil,

religião, experiência profissional e estilo de comunicação.

Figura 1 – A Roda da Diversidade

Fonte: Elaborado pela autora baseado em Loden; Rosener (1991)

Rijamampianina e Carmichael (2005) adicionam uma terceira dimensão ao contexto

por meio de seu Iceberg da Diversidade (Figura 2). Estas dimensões, as terciárias,

são muitas vezes o núcleo da identidade individual e incluem as crenças, suposições,

percepções, atitudes, sentimentos, valores e normas do grupo. As dimensões

interagem e influenciam umas às outras e emergem de forma diferente em diversos

contextos, ambientes e circunstâncias, tornando complexa a análise e o

gerenciamento. Assim, a posição e o domínio de cada dimensão não são estáticos, e

sim dinâmicos, tornando o conceito de diversidade e gestão da diversidade mais

complexo. (RIJAMAMPIANINA; CARMICHAEL, 2005; LODEN; ROSENER, 1991).

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Figura 2 – O Iceberg da Diversidade

Fonte: Elaborado pela autora, baseado em Rijamampianina e Carmichael (2005)

Embora a diversidade seja definida comumente como gênero e raça, ela abrange

outras diferenças cruciais. Ela possui um vasto e eclético leque de diferenças. Suas

dimensões descrevem as propriedades e características que constituem a pessoa

inteira. Rijamampianina e Carmichael (2005) propõem que a diversidade seja

redefinida como o coletivo que abrange as diferenças e semelhanças humanas em

qualquer dimensão. Dentre as dimensões apresentadas, algumas são mais

comumente abordadas nos programas de diversidade e inclusão das empresas como:

gênero, etnia, LGBT, raça, e pessoas com deficiência.

Gênero: conjunto de valores socialmente construídos que definem as diferentes

características (emocionais, afetivas, intelectuais ou físicas) e os comportamentos que

cada sociedade designa para homens e mulheres. Diferente do sexo, que vem

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determinado como o nascimento, o gênero se aprende e se pode modificar, sendo,

portanto, cultural e socialmente construído (SAAD, 2017).

Etnia - conceito que se refere às línguas, comportamentos, cultura e características

físicas compartilhadas por determinado grupo de pessoas (SAAD, 2017).

LGBT+ - Sigla que reúne questões de orientação sexual e identidade de gênero:

lésbicas, gays, bissexuais e transgênero (FORUM LGBT, 2018).

Raça - uma construção social que divide artificialmente as pessoas em grupos

distintos com base em características como aparência física, herança ancestral,

afiliação cultural, história cultural, classificação étnica e necessidades políticas de uma

sociedade em um determinado período (CHENEY; LAFRANCE; QUINTEROS, 2006).

Pessoa com deficiência: as pessoas com deficiência são aquelas que têm

impedimentos de longo prazo de natureza física, intelectual (mental), ou sensorial

(visão e audição) os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua

participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais

pessoas (BRASIL, 2009).

Qualquer empresa que realmente entenda a importância da diversidade em sua força

de trabalho precisa assimilar as dimensões descritas (RIJAMAMPIANINA;

CARMICHAEL, 2005; LODEN; ROSENER, 1991). Entendê-las ajuda as organizações

se tornarem conscientes dos atributos que são importantes para elas; valorizá-las é

um passo fundamental para que se defina qual o seu significado para a organização.

Ao desenvolver a iniciativa de diversidade e inclusão, as organizações se esforçam

para abordar essas dimensões, apesar de sua complexidade. Complexidade que vem

sendo estudada também pelo mercado, por meio das grandes consultorias

empresariais globais, que apresentam o panorama da diversidade e da inclusão

segundo sua análise.

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2.1.3 O panorama das organizações pelo mercado

O mercado de consultoria de grandes corporações e atuação internacional

determinam as tendências do setor por meio de análises em diversas frentes de

negócios, incluindo o campo da diversidade e da inclusão. Organizações globais como

Delloite e McKinsey produzem pesquisas e relatórios que refletem o panorama das

organizações em que atuam. Quatro destes estudos trazem dados relevantes para

esta pesquisa convergindo com os resultados apresentados pela academia: Diversity

Matters (HUNT; LAYTON; PRINCE , 2015), Delivering through Diversity (HUNT et al,

2018), Global Human Capital Trends (TRENDS, 2017) e Global Women in the

Boardroom (DELLOITE GLOBAL, 2017), descritos sucintamente a seguir.

a) O estudo Diversity Matters (HUNT; LAYTON; PRINCE, 2015) examinou

conjuntos de dados de 366 empresas de capital aberto de ampla gama de

setores no Canadá, América Latina, Reino Unido e Estados Unidos e concluiu:

As empresas no quartil superior em diversidade racial e étnica são 35% mais

propensas a obter retornos financeiros acima da média nacional de seu setor;

As empresas no quartil superior em diversidade de gênero são 15% mais

propensas a obter retornos financeiros acima da média nacional de seu setor.

As empresas no quartil inferior tanto em diversidade de gênero quanto em etnia

e raça são estatisticamente menos propensas a obter retornos financeiros

acima da média do que empresas médias do conjunto de dados (ou seja,

empresas no quartil inferior não só não estão liderando, como estão ficando

para trás). Nos Estados Unidos há uma relação linear entre diversidade racial

e étnica e melhor performance financeira: para cada 10% de aumento na

diversidade racial e étnica dos executivos seniores, o lucro antes dos juros e

impostos (EBIT) aumenta 0,8%.

b) A pesquisa Delivering through Diversity (HUNT et al, 2018) realizada om 1.000

empresas em 12 países, incluindo o Brasil, correlaciona diversidade e

desempenho financeiro: A diversidade de gênero dentro de uma companhia

aumenta em 21% as chances de elas serem mais lucrativa do que as empresas

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menos inclusivas. No caso da diversidade cultural e étnica, a variedade sobe

para 33%. Apenas 18% das mulheres fazem parte dos times de executivos

líderes; já o setor de telecomunicações, mídia e tecnologia se destaca mais no

quesito de diversidade étnica, porém, é necessário que estejam mais atentos a

inclusão de mulheres.

c) A pesquisa Global Human Capital Trends (TRENDS, 2017) realizada com dez

mil líderes empresariais e de recursos humanos em 140 países, mostra que as

organizações estão cada vez mais atentas à importância da diversidade e da

inclusão: O número de executivos que citaram a inclusão como prioridade

máxima subiu 32% em relação a de 2014; e 69% dos executivos classificam a

diversidade e a inclusão como questão importante, 10% acima da pesquisa de

2014; A solução mais popular é o treinamento, que embora considerada útil,

ainda não é suficiente.

d) O estudo Global Women in the Boardroom (DELLOITE, 2017) com participação

de 7.000 empresas, distribuídas em 44 países, apresenta um cenário de pouca

evolução em relação a participação das mulheres nos conselhos de

administração: 15% dos assentos nos conselhos de administração são

ocupados por mulheres, em média e apenas 3% melhor do que estudo anterior;

22,6% nos países europeus, 7,8% na Ásia, 18,8% na África, 14,5% na América

do Norte e 7,2% na América Latina, a região com menor equidade de gênero

nos conselhos de administração; No Brasil, apenas 7,7% de participação

feminina está no topo das organizações, 1,4% a mais do estudo anterior. Essa

progressão é, proporcionalmente, abaixo da média global do indicador, ficando

o país em 37º posição entre 44 listadas no ranking; Apenas 4% dos cargos

globais de CEO e de alta diretoria são ocupados por mulheres.

O cenário da diversidade (DELOITTE GLOBAL, 2017; HUNT; LAYTON; PRINCE,

2017, 2015; TRENDS, 2017;) apresentou pouca evolução apesar de projeções

positivas em relação aos benefícios para as organizações e da percepção de

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importância por seus líderes em relação ao aumento dos índices de diversidade e

inclusão. Os dados destacam o longo caminho que ainda precisa ser percorrido e

construído no ambiente de trabalho das empresas, ainda que os benefícios da

diversidade e da inclusão sejam evidenciados.

2.1.4 Inclusão

Myers (2015), Vice-Presidente de Estratégias de Inclusão na Netflix, expressa em

suas palestras sua célebre frase: “Se diversidade é convidar para a festa, inclusão é

chamar para dançar”. Esta analogia está em sintonia com Carvalho (2010), que afirma

que a inclusão é uma atitude, uma convicção e não ações isoladas ou combinadas.

Significa aceitação, consideração e estima por pessoas que pertencem a grupos

distintos e sua atitude relaciona-se à consciência e valores do indivíduo e da

sociedade em geral (CARVALHO, 2010).

Embora a diversidade e a inclusão sejam às vezes usadas de forma alternada, elas

são separadas em construções distintas. Para Barak (2016), a diversidade refere-se

a diferenças demográficas entre membros, incluindo atributos observáveis (sexo,

raça, idade) e não observáveis (cultura, cognição, educação). Já para Ferdman (2013)

a inclusão é um sistema multinível e uma união de práticas. Refere-se às percepções

dos funcionários de que sua contribuição para a organização é apreciada e sua

participação plena é incentivada. É um processo ativo, da presença, da participação,

segurança, voz, autenticidade, equidade e igualdade (FERDMAN, 2017). De Aquino

e Robertson (2008) distinguem diversidade e inclusão, sugerindo que a primeira se

concentra mais na demografia, enquanto a segunda se concentra na criação de um

ambiente em que todos os membros da organização participem.

A combinação de leis e de ações afirmativas ajudou membros de grupos minoritários

a se tornarem parte da força de trabalho nos EUA (MOR BARAK, 2015), mas o desafio

ainda está em promover o sentimento de pertencimento no qual os colaboradores têm

que perceber que são membros estimados do grupo de trabalho através de

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experiências que satisfaçam sua necessidade e exclusividade. Ferdman (2017) traz

uma reflexão sobre o desafio e a complexidade da inclusão, questionando que para

ser inclusivo, deve-se destacar os pontos comuns entre as pessoas, ou as diferenças.

Este paradoxo, destacado pelo autor, pode ser positivo, pois ambas as concepções

devem ser abordadas para promover a inclusão (FERDMAN, 2017; FERDMAN, 1995).

Muitas organizações possuem grupos de afinidade entre funcionários, que são redes

para promover um ambiente acolhedor para minorias ou grupos sub-representados,

como também, oportunidades de desenvolvimento direcionadas a pessoas com

identidades específicas. Aparentemente, estas iniciativas, ao mesmo tempo que

separam as pessoas nas linhas de identidade, reforçam a conexão dos membros com

a organização e com o empreendimento coletivo (FERDMAN, 2017; DERVEN, 2014),

trazendo desafios e benefícios às organizações. Os benefícios foram traduzidos por

Page (2007) pela equação matemática “1 + 1 = 3”. Esta equação, segundo o autor,

representa o poder da diversidade e da inclusão, no qual expressa que se uma

organização contrata dois funcionários com treinamento, características e formas de

pensar semelhantes, então o resultado é aditivo, ou seja, a organização tem o dobro

do talento. Mas se a organização contratar dois funcionários que representam origens

e modos de pensar muito diferentes, o resultado é “super” aditivo. Ou seja, o talento

da primeira pessoa e o talento da segunda pessoa são associados à interação entre

eles que poderiam gerar novas ideias, constituindo a terceira entidade nesta equação,

fornecendo uma base sobre a qual se constroem práticas que aproveitam as

diferenças para melhorar o desempenho.

Experiências de inclusão, no entanto, resultam de políticas, estruturas e práticas de

comportamento para que todos tenham oportunidades justas e igualitárias

(FERDMAN, 2000), fortalecendo um ambiente de cultura inclusiva. Pois é por meio da

cultura organizacional que são estabelecidas as diretrizes de administração nas

organizações. Dentre tantas definições de cultura organizacional, a mais amplamente

aceita é a de Schein (2010) que afirma ser possível descrever como um grupo constrói

seu ambiente e quais são os seus padrões de comportamento entre os membros. O

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autor ainda ressalta que a cultura organizacional pode ser aprendida, transmitida e

mudada dependendo dos níveis em que se encontra. Mudar a cultura organizacional

requer compromisso de longo prazo, podendo ser uma enorme oportunidade à medida

que os negócios se globalizam e o mundo fica mais conectado. Para criar uma cultura

verdadeiramente diversificada e inclusiva que incorpora princípios humanos básicos

e promove a humanidade, é fundamental a abertura de diferentes pontos de vista,

criando um diálogo aberto e participativo e integrar diferentes vozes. (BARAK, 2016;

DIKE et al, 2013). Para que a inclusão se efetive na empresa, não apenas com o

propósito de inserção, é preciso ocorrer uma mudança de atitude de todos que a

constituem, reumanizando as relações entre as pessoas. Dike et al (2013) afirmam

ainda que:

Quando falamos de uma cultura de inclusão, pensamos em um ambiente organizacional que permita que pessoas com múltiplas experiências, mentalidades e maneiras de pensar trabalhem efetivamente juntos e performem para o seu maior potencial, a fim de alcançar os objetivos organizacionais com base em princípios sólidos. Em tal ambiente diferentes vozes são respeitadas e ouvidas, diversos pontos de vista, perspectivas e abordagens são valorizados e todos são encorajados para fazer uma contribuição única e significativa (DIKE et al, 2013, p. 3).

Ferdman et al (2009) identificaram dois componentes centrais do construto inclusão:

a experiência de inclusão e o comportamento inclusivo. Os autores defendem em seus

estudos que a experiência de inclusão é explicada pelo comportamento inclusivo por

meio de seis componentes, apresentados no Quadro 1. Para Shore, Cleveland e

Sanchez (2018, p. 176):

[...] Embora a literatura de pesquisa sobre diversidade seja vasta, muitas pesquisas ainda são necessárias para entender como as organizações podem criar ambientes inclusivos que ofereçam oportunidades para a variedade de pessoas que trabalham juntas em nossa economia global [...].

Apesar disso, estudos recentes como o de Boekhorst (2015), complementam

Ferdman et al (2009) apontando alguns mecanismos que podem transmitir a

importância da inclusão em uma organização. São eles: (a) líderes autênticos, que

possuem comportamentos simples e visíveis que facilitam a compreensão fazendo

com que seus comportamentos possam ser replicados; (b) a composição de grupos

de trabalho, projetados para facilitar um significativa aprendizagem intercultural entre

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os membros; (c) o tamanho do grupo, em que uma maior quantidade de componentes

pode aumentar a diversidade; (d) sistemas de recompensa, premiando o engajamento

de funcionários em comportamentos inclusivos; (e) e a interdependência de metas,

em que a cooperação no alcance de metas pode propiciar um clima para inclusão,

conforme expõem os autores. Estudos também apontam a relação positiva da

liderança inclusiva com o engajamento dos funcionários (CHOI; TRAN; PARK , 2015),

em que climas inclusivos atenuam a associação negativa entre conflitos de

relacionamento e satisfação do grupo (NISHII, 2013), concluindo que a

interdependência dos diversos relacionamentos globais exigirá novas perspectivas

dessa liderança, como conscientização e estratégias sobre os atuais desafios.

Outro grande desafio para a abordagem de uma teoria inclusiva é a possibilidade de

mensuração. A coleta de informações é considerada um componente-chave, pois

muitos dados são necessários, incluindo o perfil tradicional de igualdade de

oportunidades dados, análise das atitudes e percepções dos empregados e dados

que destacam as experiências de carreira de diferentes grupos culturais. Os dados

podem indicar diferenças de opinião sobre o valor da diversidade e podem ser usados

como ponto de partida, ajudando a identificar áreas em que as mudanças são

necessárias, fornecendo pistas sobre como fazê-los, além de avaliar o esforço da

mudança e monitorá-la (COX; BLAKE, 1991). Para Fitzpatrick e Sharma (2017) as

empresas estão começando a reconsiderar suas práticas para medir a inclusão,

partindo do conceito de que a inclusão é definida como o grau em que funcionário

percebe que ele é um membro importante do grupo de trabalho e pode exercer a sua

autenticidade e participação.

Fizpatrick e Sharma (2017) estudaram diversas organizações e chegaram a duas

categorias para mensuração, a qualitativa e a quantitativa. Na medidas qualitativas,

estão: satisfação do empregado; engajamento na comunidade; relacionamentos entre

os membros da equipe; transparência nas entrevistas de desligamento; impacto do

treinamento de inclusão. E nas medidas quantitativas: retenção; produtividade;

diversidade da liderança; competência cultural; escala de distanciamento social;

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Quadro 1 – Componentes do comportamento inclusivo

Componentes Características

a. Criar um ambiente de segurança

Estabelecer as fronteiras físicas e psicológicas, deixando claro quem é o membro do grupo, favorecendo o compartilhamento dos recursos, ideias e perspectivas, e tendo credibilidade para expressar suas visões, ideias e diferenças.

b. Reconhecer os outros

O ato de cumprimentar e reconhecer outros indivíduos no trabalho tem sido descrito como um comportamento importante que resulta na experiência de inclusão. Não raro as pessoas em um grupo de trabalho, especialmente aquelas de menor status, podem não ser reconhecidas. O comportamento inclusivo pode ir desde um “olá”, até uma indagação sobre o que ele fez durante o final de semana.

c. Lidar com conflitos e diferenças

Lidar com a diversidade por meio de participação em workshops sobre diversidade e sensibilização, assim como o exercitar comportamentos ou práticas que ajudam a lidar com conflitos e diferenças entre os membros do grupo podem também afetar a experiência de inclusão.

d. Ser capaz e ter vontade de aprender

As expressões dos empregados sobre sua habilidade e vontade de aprender podem também estar associadas às experiências de inclusão. Quando os membros do grupo expressam comportamentos inclusivos, isso facilita a aprendizagem.

e. Usar e dar voz Ter a oportunidade de falar, assim como de ouvir os outros falando reforça e experiência de inclusão. Comportamentos inclusivos relacionados à voz também podem incluir a comunicação clara e o ouvir atento para fazer com que os outros se sintam ouvidos e compreendidos.

f. Aumentar a representação de membros de grupos de “minoria”

A representação de pessoas diversas no grupo de trabalho, em todos os níveis da organização é um aspecto dos procedimentos e políticas organizacionais que se pode relacionar à experiência de inclusão. Essa representação pode fazer com que outros do mesmo grupo sintam-se incluídos, e notem que os aspectos referentes às suas identidades sociais são aceitos e respeitados pela organização.

Fonte: Elaborado pela autora com base em Ferdman et al (2009).

queixas /reclamações de discriminação; relações de trabalho; inovação e criatividade;

desenvolvimento de carreira. É fundamental medir qualquer iniciativa para o

desenvolvimento contínuo, para obter feedback, para o objetivo do processo e para a

adesão da liderança.

Cada vez mais as empresas são compostas por equipes multidisciplinares, que

mesmo combinando suas capacidades, não garantem por si só o alto desempenho.

As autoras Bourke e Spedito (2019) afirmam que as empresas necessitam de uma

liderança inclusiva que assegure a equidade, o respeito e o senso de pertencimento.

Segundo as autoras (BOURKE; SPEDITO, 2019), suas pesquisas mostraram que

uma melhora de 10% nas percepções de inclusão aumenta a frequencia de trabalho

em quase 1 dia por ano por profissional, diminuindo o custo com o absenteismo, além

de outros achados. Randel et al (2018), conceituam a liderança inclusiva como um

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conjunto de comportamentos positivos de líderes que facilitam a percepção de

pertencimento no grupo de trabalho, ao mesmo tempo que mantêm a sua

singularidade, e assim contribuindo para seus resultados. E concluem (RANDEL et al,

2018, p. 12):

À medida que as organizações se tornam cada vez mais diversificadas, os líderes precisam entender como desempenhar suas funções de maneiras que não só levem vantagem desta diversidade e maximizem o desempenho de seus grupos de trabalho, mas que também realizem esses objetivos através de comportamentos que são inclusivos de todos os membros do grupo.

Encorajar comportamentos inclusivos de liderança é uma promessa para melhorar o

a experiência de trabalho de todos na organização.

2.1.5 Os movimentos pela diversidade e inclusão no Brasil

Atualmente existem muitos fóruns e movimentos relevantes no Brasil e no mundo que

atuam pela equidade no ambiente de trabalho e que são formados por grandes

organizações (comunidade empresarial, governos e órgãos da ONU, entre outros), e

as empresas que são alvo deste estudo, participam ativamente. Entre elas estão: a

Coalizão Empresarial para Equidade Racial e de Gênero, o Fórum de Empresas e

Direitos LGBT, a Rede Empresarial de Inclusão Social (REIS) e as iniciativas da

Organização das Nações Unidas (ONU).

A Coalizão Empresarial para Equidade Racial e de Gênero (COALIZÃO, 2018),

originada pelo Instituto Ethos, pelo Centro de Estudos das Relações de Trabalho e

Desigualdades (CEERT, 2018) e pelo Institute for Human Rights and Business (IHRB),

com o apoio do Movimento Mulher 360 e do Banco Interamericano de

Desenvolvimento (BID) é composta por 36 organizações e tem como objetivo maior,

impulsionar a promoção da diversidade e da igualdade racial e de gênero no mercado

de trabalho. O Fórum de Empresas e Direitos LGBT , composto por 54 organizações,

foi criado em 2013 e é uma organização informal que reúne organizações em torno

do compromisso com o respeito e a promoção dos direitos humanos de lésbicas, gays,

bissexuais, travestis e transexuais, com os objetivos de: (a) Aprimorar práticas de

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gestão empresarial para efetiva adição de valor às marcas das empresas participantes

e seus stakeholders; (b) Combater a homo-lesbo-transfobia e seus efeitos prejudiciais

às pessoas, aos negócios e à sociedade; (c) Influenciar o meio empresarial e a

sociedade na adoção de práticas de respeito aos direitos humanos LGBT. (FORUM

LGBT, 2018). Já a Rede Empresarial de Inclusão Social (REIS), chancelada e

reconhecida pela Organização Mundial do Trabalho (OIT), é uma rede nacional de

empregadores de pessoas com deficiência e tem como ponto de atenção as políticas

e as práticas de Inclusão Social e de Diversidade. Além das 12 empresas que compõe

o Grupo Diretor há atualmente mais de 100 empresas integrantes da Rede

Empresarial, além da participação de organizações do Terceiro Setor e autarquias

governamentais. (REIS, 2018)

Os Programas e campanhas da Organização das Nações Unidas (ONU), como a ONU

Mulheres Brasil - Entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o

Empoderamento das Mulheres, a ONU Mulheres foi criada em 2010, para a com o

objetivo de unir, fortalecer e ampliar os esforços mundiais em defesa dos direitos

humanos das mulheres, especialmente pelo apoio a articulações e movimento de

mulheres e feministas, entre elas mulheres negras, indígenas, jovens, trabalhadoras

domésticas e trabalhadoras rurais. São seis áreas prioritárias de atuação: (a) liderança

e participação política das mulheres; (b) empoderamento econômico; (c) fim da

violência contra mulheres e meninas; (d) paz e segurança e emergências

humanitárias; (e) governança e planejamento; (f) normas globais e regionais. O

movimento ElesPorElas (HeForShe) da ONU Mulheres é um esforço global para

envolver homens e meninos na remoção das barreiras sociais e culturais que

impedem as mulheres de atingir seu potencial, e ajudar homens e mulheres a

modelarem juntos uma nova sociedade. (ONU MULHERES, 2019)

O Pacto Global, lançado em 2000, é uma chamada para as empresas alinharem suas

estratégias e operações a 10 princípios universais nas áreas de Direitos Humanos,

Trabalho, Meio Ambiente e Anticorrupção e desenvolverem ações que contribuam

para o enfrentamento dos desafios da sociedade. Com 13 mil membros em quase 80

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redes locais, que abrangem 160 países, hoje a maior iniciativa de sustentabilidade

corporativa do mundo. Quem integra a iniciativa assume ainda a responsabilidade de

contribuir para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)

(Figura 3). Como principal canal da ONU com o setor privado, o Pacto Global tem a

missão de engajar as empresas para esta nova agenda de desenvolvimento. O Brasil

é terceira maior rede do mundo, com quase 800 membros. (PACTO GLOBAL, 2019)

Figura 3 – Objetivos do Desenvolvimento Sustentável

Fonte: Pacto Global, 2019

Dentre os 17 ODS, os objetivos 5 e 10, abordam diretamente os temas relacionados

à pesquisa. São eles, Objetivo 5, Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas

as mulheres e meninas e Objetivo 10, Reduzir a desigualdade dentro dos países e

entre eles (PACTO GLOBAL, 2019).

2.2 Vieses Inconscientes

A Convenção nº 111 da OIT – Organização Internacional do Trabalho de 1964

consagrou o princípio de não discriminação em matéria de emprego e profissão. A

Convenção conceitua discriminação no art. 1º como:

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[...] toda distinção, exclusão ou preferência, com base em raça, cor, sexo,

religião, opinião política, nacionalidade ou origem social, que tenha por efeito

anular ou reduzir a igualdade de oportunidade ou de tratamento no emprego

ou profissão [...].

Mesmo com medidas protetivas e antidiscriminatórias, o preconceito e a discriminação

de toda ordem são fenômenos indiscutíveis no ambiente social. Tradicionalmente

vistos como fenômenos evidentes, conscientes, intencionais, em que se assume que

pessoas que discriminam sabem que estão discriminando. Além de percebidos

intencional, são caracterizados por comportamentos hostis em relação a um grupo

alvo. Em contrapartida, uma visão diferente se apresenta, a de um preconceito

inconsciente, sutil, não intencional, automático, de forma menos declarada, criando

mecanismos de expressão que não ferem abertamente essas normas (STAATS et al,

2016; BANAJI; GREENWALD, 2016; BANKS; EBERHARDT; ROSS, 2008;

GREENWALD; BANAJI, 1995;). Há uma concepção proeminente de que as atitudes

implícitas derivam do passado (e esquecidas), enquanto as atitudes explícitas refletem

mais eventos recentes ou acessíveis (GREENWALD; BANAJI, 1995).

Os estudos de Allport (1979) podem ser considerados a base para o desenvolvimento

desse tema. Segundo o autor, o preconceito é explicitado como uma atitude hostil ou

preventiva a uma pessoa que pertence a um grupo, simplesmente porque pertence a

esse grupo. A partir de seus estudos, outros se desenvolveram. Para Bandura (2008)

os preconceitos podem ser aprendidos e as pessoas são produtos e produtoras do

ambiente em que vivem. O autor (BANDURA, 2008) afirma que além de atuarem com

intencionalidade para que sua ação produza efeito no ambiente, são por ele também

transformado.

Os temas relacionados ao preconceito, como os estereótipos e a discriminação,

continuam despertando interesse de pesquisadores, ampliando significativamente o

número de artigos, além de expandir suas perspectivas, das tradicionais às

emergentes. A multidisciplinaridade se apresenta como outra característica, sendo

compartilhada por disciplinas como sociologia, ciência política e neurociência

(DOVIDIO et al, 2010). Os autores (DOVIDIO et al, 2010) apresentam alguns

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conceitos em seus estudos, distinquindo o preconceito, os estereótipos e a

discriminação e servindo para entendê-las didaticamente (Figura 4).

Figura 4 – Preconceito, discriminação e estereótipo

Fonte: Elaborado pela autora, baseado em Dovidio et al (2010).

Mas foi a partir dos estudos seminais de Devine (1989) e de Gaertner e MacLaughlin

(1983), que diversas pesquisas vêm aprofundando os estudos sobre como os vieses

inconscientes agem e as formas pelas quais eles podem ser desconstruídos (Figura

5). Greenwald e Banaji (1995) trouxeram evidências de que o comportamento social

geralmente funciona de maneira implícita ou inconsciente e que a experiência

passada influencia o julgamento de uma forma não percebida. Os vieses

inconscientes, objeto desta pesquisa, vem sendo estudados e divulgados

profundamente pelo Kirwan Institute (STAATS et al, 2016, p.14) que os definem como

“atitudes ou estereótipos que afetam nossa compreensão, ações e decisões

inconscientes. São ativados involuntariamente, sem consciência ou controle

intencional e todos são suscetíveis”. O termo é utilizado de forma distinta no inglês,

unconscious bias ou implicit bias, e, no português é traduzido como viés implícito,

preconceito implícto, preconceito inconsciente e viés inconsciente, este último,

adotado nesta pesquisa.

Muitos outros pesquisadores também trouxeram importantes constibuições como

Greenwald, McGhee e Swchartz (1998), Kang e Lane (2010) e Kang et al (2011), com

afirmações de que os vieses inconscientes são sutis e robustos. Estudos

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(GREENWALD; MCGHEE; SCHWARTZ, 1998) que afirmam que todos possuem

vieses inconscientes, mesmo aqueles que assumem compromissos com a

imparcialidade, somados às constribuições de Kang e Lane (2010) e Blair (2002)

sobre a sua maleabilidade, ou seja, podendo ser moderados e substituidos por novas

associações mentais.

Os estudos sobre os vieses inconscientes foram popularizados através do livro

Blindspot: Hidden Biases of Good People dos pesquisadores Banaji e Greenwald

(2016), que explicam a ciência em linguagem simples o suficiente para ajudar pessoas

a ganhar consciência, adaptar crenças e comportamentos e assim, serem mais justas

com aqueles que os rodeiam. Os desafios para reduzir os impactos negativos são

desafiadores (STAATS et al, 2016), pois o processo de mudança de atitude e crença

requer, no mínimo, intenção, atenção e tempo (DEVINE, 1989). Devine (1989) ainda

ressalta que durante o processo de mudança, um indivíduo não deve apenas inibir

automaticamente as informações ativadas, mas também substituir intencionalmente

por novais ideias e respostas não preconceituosas.

Figura 5 – O preconceito na linha do tempo

Fonte: Elaborado pela autora

Os vieses inconscientes, portanto, afetam a compreensão, as ações e as decisões de

maneira implícita ou inconsciente por meio de atitudes ou estereótipos. Já os

estereótipos são crenças mentalmente associadas a uma determinada categoria

(GREENWALD; KRIEGER, 2006; BLAIR, 2002), como por exemplo, os asiáticos, que

são frequentemente estereotipados como bons em matemática, e os idosos como

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pessoas frágeis (RUDMAN, 2004). As atitudes por sua vez são sentimentos de

avaliação, positivos ou negativos em direção a algo ou alguém (GREENWALD;

KRIEGER, 2006). Os vieses não se alinham necessariamente com crenças

declaradas ou mesmo refletem as posições que são assumidas explicitamente,

mesmo em pessoas com compromissos declarados de imparcialidade, como os juízes

(KANG et al, 2011; RACHLINSKI et al, 2008; GREENWALD; KRIEGER, 2006).

Portanto, segundo estas pesquisas, todos possuem algum tipo de preconceito

inconsciente, por meio de atitudes não percebidas ou estereótipos, e isso afeta as

decisões, comportamentos e interações com os outros. Grande parte delas também

estão no campo da psicologia social (GREENWALD; BANAJI; NOSEK, 2015), da

justiça criminal (STAATS et al, 2017; FRIDELL; LIM, 2017), da saúde (HAGIWARA et

al, 2017; STAATS et al, 2017) e da educação (STAATS et al, 2017; GILLIAM et al,

2016).

Universidades americanas, como Ohio University, University of Colorado, University

of Virginia, University of Washington e Harvard University, entre tantas outras, tem se

dedicado a pesquisas e discussões sobre o tema. Em uma visita ao site das dez

melhores universidades do mundo, pelo ranking da QS World University Rankings

(2018), pode-se constatar que 100% delas aborda a questão do viés inconsciente,

caracterizando uma tendência e uma preocupação acadêmica e institucional com o

tema. Vale ressaltar que as universidades americanas estão presentes na maioria do

ranking. Ed Bertschinger professor do Massachusetts Institute of Technology (MIT),

primeiro lugar no ranking, ressalta que uma das principais recomendações feitas

internamente por grupos do Instituto é que todos os membros da comunidade

recebam informações sobre o viés inconsciente, que é a confiança automática em um

estereótipo enquanto se faz julgamentos ou decisões (BERTSCHINGER, 2017). As

Universidades de Stanford e Harvard, segundo e terceiro lugar no ranking

respectivamente, parecem ser ainda mais atuantes, publicando estudos científicos

sobre o tema.

Experimentos da chamada Economia Comportamental, mostram também que

americanos com nomes típicos de afrodescendentes recebem menos chamadas para

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entrevistas de emprego quando comparados com os com nomes tipicamente

associados à população branca norte-americana (BERTRAND; MULLAINATHAN,

2004). Heilman (2012) estudou a discriminação sofrida pelas mulheres, e constatou

que mulheres inseridas no mercado de trabalho são percebidas e estereotipadas

como tendo características de “comunidade” (características de preocupação com os

outros, tendências a serem calorosas, amigáveis e colaborativas). Já os homens são

vistos como tendo características de agência (orientação para realização de tarefas,

dominância, autonomia e racionalidade). Assim, a principal barreira imposta às

mulheres no ambiente de trabalho vem dessa percepção estereotipada, em que as

características vistas como necessárias para que a pessoa seja promovida ou

contratada para cargos de administração são atribuídas aos homens.

Uma pesquisa realizada no Brasil (IBOBE, 2017), apresentou um panorama do

preconceito no país, no qual 83% dos entrevistados declararam não ser

preconceituosos, contrastando com 72%, que declararam que já fizeram pelo menos

um comentário preconceituoso. A homofobia foi citada como o principal preconceito

entre os brasileiros que se declararam preconceituosos, 29%. Além disso, 45% dos

brasileiros consegue ver preconceito nos comentários feitos por alguém do seu

convívio, porém metade deles não reage diante da situação. A pesquisa ainda avaliou

o comportamento do brasileiro em relação a quatro tipos de preconceito: racismo,

machismo, homofobia e gordofobia. O machismo é o preconceito mais praticado,

mesmo sem ser notado, seguido do preconceito racial, 46%, LGBT, 44% e gordofobia,

30%. As regiões brasileiras também foram mapeadas de acordo com os quatro tipos

de preconceito pesquisados. A região sudeste aparece com o maior número de

preconceito declarado, 21%, seguida das regiões norte e centro-oeste, 18% cada, e

sul e nordeste, com 13% cada. Esta pesquisa (IBOBE, 2017) confirma o viés

preconceituoso do brasileiro, desmistificando a própria percepção de um povo não

preconceituoso, o que reforça a importância de as organizações atuarem sobre este

tema, em que as origens econômicas e raciais, definem o acesso às oportunidades

no mercado de trabalho e às posições de destaque (INSTITUTO ETHOS, 2000). A

SKOL, empresa que promoveu a pesquisa, usou os resultados da pesquisa para se

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reposicionar no mercado como uma marca plural e como estratégia para defender e

assumir uma posição a favor da diversidade e do respeito.

Estas pesquisas vão ao encontro de Staats et al (2017) que evidenciam nos estudos

apresentados que os vieses inconscientes têm efeitos no comportamento do mundo

real, como em domínios como trabalho, educação e criminalidade, justiça, entre

outros. A consciência sobre estes comportamentos e sua influência sobre o

pensamento, vem tendo grande espaço no estudo do comportamento organizacional.

Motivados por novos estudos, academia, consultores e organizações, vem se

aproximando da psicologia cognitiva e da neurociência para abordar o assunto.

Pesquisadores de diversas áreas têm buscado explicar a forma pela qual o ser

humano toma decisões e faz suas escolhas. Estes estudos (KAHNEMANN, 2012)

evidenciam a divisão da função cognitiva em dois grupos genéricos, chamados de

sistema 1 e sistema 2 (Figura 6).

Figura 6 – Sistema cognitivo

Fonte: Cartilha Vieses Inconscientes (PwC BRA-CART-2016)

Enquanto o sistema 1 representa um modo intuitivo de agir, o segundo é caracterizado

por ser um modo mais controlado de tomar decisões, separando a intuição da razão.

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As operações realizadas no sistema 1 são normalmente rápidas, não geram esforços,

provocam associações e são carregadas de emoções. Já o sistema 2 é mais lento,

exige mais esforços e é constantemente submetido a controles (KAHNEMANN, 2012).

Segundo Kahnemann (2012), para lidar com a enorme quantidade de informação e

estímulo, o cérebro desenvolve atalhos mentais, chamados de heurísticas, que

permitem evitar os níveis mais profundos de pensamento e agir instintivamente. A

maior parte das decisões está sendo controlada por esses atalhos em que muitas

vezes se usa as heurísticas enquanto deveria se usar um processo cognitivo mais

confiável. Entre os atalhos mentais, chamados de vieses cognitivos, estão aqueles

que impedem que se veja a mudança que se deseja, distorcendo a realidade. São

padrões que distorcem o julgamento e que ocorrem em situações particulares,

levando à alteração da percepção, julgamento pouco preciso, interpretação ilógica, ou

a chamada irracionalidade. Os vieses cognitivos dividem-se em cinco tipos: viés de

afinidade, de percepção, confirmatório, efeito halo e efeito grupo (KAHNEMAN, 2012),

conforme descritos na Figura 7.

Figura 7 – Vieses cognitivos

Fonte: Elaborado pela autora, baseado em Kahneman (2012).

Esses processos cognitivos inconscientes influenciam como as pessoas julgarão

outras, baseados nas crenças, estereótipos e preconceitos acerca de uma categoria

(KANG; BANAJI, 2006). Barak (2016) ressalta que quando indivíduos são tratados de

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forma diferente devido as suas características pessoais, resultam negativamente no

acesso ao trabalho. Staats et al (2016, p.23), declaram que:

Apesar da considerável pesquisa acadêmica dedicada à mitigação da influência de preconceitos implícitos nos níveis individual e institucional, a tarefa de implementação no terreno dessas estratégias e ideias pode ser intimidante para muitos. No entanto, várias organizações tiveram sucesso reduzindo os impactos nocivos do viés implícito em seus objetivos institucionais.

Em 2014, mais de 20% das maiores empresas dos Estados Unidos já adotavam

programas de treinamento para reduzir os preconceitos inconscientes de seus

empregados. O Google, por exemplo, disponibiliza um programa de treinamento na

internet especificamente voltado para esclarecer o que é o viés inconsciente e

conscientizar sobre a necessidade de combatê-lo (STAATS et al, 2015, p. 2). A

empresa é uma das pioneiras em levar a questão dos vieses inconscientes para dentro

da organização, afirmando que não tem a pretensão de esperar as pessoas se livrem

de todo preconceito, mas que possam reconhecê-lo. Seu objetivo é ensinar como os

vieses inconscientes podem afetar percepções, decisões e interações. Com o objetivo

de ir além do desafio aos estereótipos de gênero no local de trabalho, a empresa vem

ampliando seus benefícios, como: benefícios dos pais neutros em termos de gênero;

novos pais, independentemente do sexo, recebem até 12 semanas de licença

integralmente paga; todos os novos pais se beneficiam de um período de duas

semanas; a Google também investe no ensino meninas e outros grupos

subrepresentados (GOOGLE, 2018).

Estudos sobre as estratégias de redução de preconceito tem tido evidência na

psicologia social há algumas décadas, no qual foram desenvolvidas uma série de

intervenções destinadas a aliviá-lo. A redução do preconceito tem sido tipicamente

vista como um processo de reaprendizagem esforçado e autoconsciente. Como tal, a

maioria das pesquisas descritas se concentrou na mudança de atitudes na

consciência das pessoas (AJZEN; DASGUPTA, 2015).

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No Brasil, um país diverso e desigual, o tema diversidade e inclusão assume

relevância (FLEURY, 2000). Entender com as estratégias de organizações que

promovem esta abordagem dentro do ambiente de trabalho é importante para que se

possa disseminar boas práticas e avançar nas pesquisas. Para Malvestio (2017), um

dos desafios para contrabalançar essas perspectivas é que a vida real raramente

fornece condições perfeitas de laboratório em que a prova de viés inconsciente pode

ser estabelecida. Mesmo recente no Brasil, as organizações têm debatido e explorado

a questão dos vieses inconscientes. Por meio de treinamento e educação, atuam

sobre a percepção das pessoas sobre suas ações quando não estão em estado de

plena consciência.

Uma das medidas muito estudadas na academia e que sendo utilizadas pelas

empresas, é o Teste de Associação Implícita (IAT). O teste mede atitudes e crenças

que as pessoas podem ou não querer relatar e explora os preconceitos ocultos que

todos nós carregamos de uma vida de experiências, como: idade, sexo, raça, etnia,

religião, classe social, sexualidade, status de deficiência ou nacionalidade (PROJECT

IMPLICIT, 2018). O objetivo teste ao evidencias os vieses, é explicar a ciência em

linguagem simples o suficiente para permitir que pessoas bem-intencionadas

alcancem melhor esse alinhamento. As pessoas nem sempre dizem o que pensam.

Uma razão é que eles não estão dispostos. A diferença entre ser pouco disposto e

incapaz é a diferença entre esconder propositalmente algo de alguém e, sem saber,

esconder alguma coisa de você mesmo (PROJECT IMPLICIT, 2018).

Medir os vieses inconscientes continua sendo uma tarefa desafiadora e agravada pelo

fato de que algumas pessoas podem ser incapazes de compartilhá-los. De um modo

geral, as pessoas são fracas na introspecção e, portanto, muitas vezes desconhecem

seus próprios preconceitos (GREENWALD et al, 2002). Medidas explícitas, como auto

relatos, podem apenas refletir o que acreditamos ser verdade sobre nós mesmos, o

que pode ser uma avaliação incompleta (RUDMAN, 2004).

Com o objetivo de entender o potencial do treinamento de viés inconsciente perante

a mudança organizacional, Nelson (2017) realizou uma pesquisa qualitativa,

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concluindo que a perspectiva do treinamento é promissora para aumentar a

diversidade dentro das organizações, mas que a sua implementação ainda é falha e

não é suficiente para produzir uma mudança organizacional. O estudo entrevistou

profissionais internos de diversidade, profissionais que passaram pelo treinamento e

consultores externos. A autora pontuou ainda que, mesmo que a formação e a

educação por trás do viés inconsciente estejam fundamentadas na ciência, é

necessário um esforço duplo, entre consultorias de diversidade e as empresas que

contratam seus serviços, em promover os esforços para fazer mudanças. Conclui

citando alguns exemplos de como isso por ser realizada: (a) a definição de metas

explícitas e criação de tópicos que permitam aos funcionários ter uma noção melhor

do que devem e como eles podem implementar o que aprenderam em sessões de

treinamento, assegurando a mudança; (b) breves sessões de reciclagem para reforçar

o que os participantes aprenderam durante a sessão; (c) medir quanta informação

eles retiveram e o que fizeram (se houver) para colocar essas lições em prática; (d)

reforçar a implementação do treinamento de viés inconsciente com outros métodos

para encorajar os funcionários a manter as lições em mente; (e) encontrar uma

maneira de vincular os tópicos do treinamento de viés inconsciente para promover a

responsabilização, conectando a mudança desejada aos números, como aqueles

usados em análises de desempenho e que determinam a compensação. A exigência

de vincular o impacto percebido à sua avaliação é essencialmente uma forma de

tornar os funcionários responsáveis por seus esforços em relação aos objetivos da

empresa.

Williamson e Foley (2018) questionam os riscos do treinamento de viés inconsciente,

quando vistos como uma "bala de prata" para vencer a desigualdade e a

discriminação. Afirmam que a eficácia do treinamento provavelmente será limitada, a

não ser que seja acompanhada de “intervenções sustentadas para lidar com a

discriminação” (WILLIAMSON; FOLEY, 2018, p. 2). Outra preocupação dos autores,

é com a normalização dos vieses inconscientes, também apontada por Bulgarelli

(2017), no qual “a conversa sobre viés serve para explicar, mas não deveria servir

para justificar as desigualdades, muito menos para naturalizá-las” (BULGARELLI,

2017). Mesmo apontando riscos e limitações, a tendência de fornecer treinamento de

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preconceito inconsciente não aponta para um declínio (WILLIAMSON; FOLEY, 2018),

apresentando-se um campo fértil para as pesquisas científicas.

Os autores Holroyd, Scaife e Stafford (2017) trazem uma reflexão relevante sobre os

treinamentos de vieses inconscientes, pois questionam a responsabilidade que recai

sobre os indivíduos que, cientes de seus vieses, recebem “estratégias” para remediar

o preconceito. O ponto principal para os autores (HOLROYD; SCAIFE; STAFFORD,

2017) é que reconhecendo a responsabilidade sobre o papel dos indivíduos, a

empresa deve ir além dos treinamentos e assumir sua responsabilidade institucional,

por meio de medidas sustentáveis para abordar mecanismos de combate ao

preconceito. O treinamento do viés inconsciente pode ser uma parte dessas medidas,

mas a mudança institucional deve se estender muito além disso, iniciando pelo

entendimento de seu processo decisório.

2.3 Processo Decisório

A maior parte das atividades humanas, desde as mais simples às mais complexas,

está associada a um processo de escolha, o que implica uma tomada de decisão. No

entanto, quando os seres humanos tomam decisões, são sempre influenciados por

diferentes fatores tais como, falta de tempo, informação incompleta, e os seus próprios

limites cognitivos (STANOVICH; WEST, 2000). Para Starbuck (2015) as organizações

geram ações de maneira irrefletida e não-adaptativa na maioria das vezes. Bataglia e

Yu (2008) complementam, afirmando que percepções distorcidas e a incapacidade de

acessar grandes quantidades de informação são fatores que também influenciam as

decisões, mas que mesmo assim, é necessário chegar a uma resposta.

A decisão é um processo de análise e escolha entre várias alternativas disponíveis

que a pessoa deverá seguir (BALESTRIN, 2002; SIMON, 1979). Resulta da adoção

de um determinado curso de ação e de fatores que têm na identificação de um

estímulo para a ação e que se finaliza com o compromisso para a ação (CHOO, 2003).

Ainda segundo Choo (2003), existem dois fatores críticos no ambiente de tomada de

decisão: (a) a estrutura e definição clara dos objetivos organizacionais que impactam

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nas preferências e escolhas, e (b) a incerteza ou a quantidade de informações sobre

os métodos e processos pelo quais os objetivos são atingidos. O autor também

apresenta quatro tipos de tomada de decisão relacionados à ambiguidade e ao grau

de estrutura existentes: o modelo racional, político, anárquico e processual (Quadro

2). Estes modelos (Quadro 2), não são mutuamente excludentes, mas em geral,

complementares entre si.

Quadro 2 - Modelos de tomada de decisão

Modelo Caracterização

Racional Prescritivo, orientado para se atingir os objetivos, por meio da solução de problemas, regulado por normas e rotinas.

Político Não estruturado. Tem na política o mecanismo de apoio à decisão. As decisões resultam da influência dos atores e relacionada ao poder que cada indivíduo possui. Os objetivos organizacionais são superados pelos objetivos pessoais.

Anárquico Não estruturado. Tanto os objetivos quanto os procedimentos são ambíguos. Não há clareza em relação aos problemas e às decisões. Também conhecido como modelo “lata de lixo”. As organizações não apresentam coerência em relação às situações vivenciadas.

Processual Processo semiestruturado e flexível. Possui três principais fases decisórias; três rotinas de apoio às decisões e seis grupos de fatores dinâmicos

Fonte: Elaborado pela autora, baseado em Choo (2003).

Neste estudo foi utilizado o modelo processual para identificar o processo decisório

da abordagem dos vieses inconscientes nos programas de D&I das Big Four (CHOO,

2003), conforme apresentado na Figura 8. Este modelo possui características

aderentes a proposta de pesquisa, uma vez que é: flexível; orientado para objetivos;

usado em cenários de baixa incerteza técnica; e caracterizado por um alto uso da

informação (CHOO, 2003). O modelo também é referido como útil para momentos em

que a inovação e a mudança organizacional se mostram necessárias, como no caso

de decisões estratégicas. Dentro desta linha, Harrison (1993) caracteriza o modelo

como sendo: focado em resultados de longo prazo; estratégico em sua orientação,

visando promover mudanças e inovar; eclético; e aproveita características de outros

modelos, refletindo a sua interdisciplinaridade e amplitude. O modelo processual ainda

privilegia o uso da informação gerada internamente na organização. A informação é

intensa, pois a sua coleta expande com o tempo e se repete em muitos ciclos

(BATAGLIA; YU, 2008; CHOO, 2004). Este modelo é exemplificado no trabalho de

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Mintzberg, Raisinghani, Théorêt (1976), e caracterizado por sua ênfase no processo

de tomada de decisão em ambientes complexos e dinâmicos. Os autores conseguiram

discernir fases e rotinas que indicam uma estrutura subjacente aos processos

decisórios. As três principais fases decisórias são a identificação, o desenvolvimento

e a seleção (Quadro 3) (CHOO, 2003; MINTZBERG; RAISINGHANI; THÉORÊT,

1976):

Quadro 3 – Principais fases do modelo decisório processual

Principais fases do modelo decisório processual

1.Fase de Identificação: fase que reconhece a necessidade de tomar uma decisão e desenvolve a compreensão das questões implicadas a ela. Consiste em reconhecer e diagnosticar o problema.

2. Fase de Desenvolvimento: tem como objetivo desenvolver uma ou mais soluções para um problema, crise ou oportunidade. Consiste na busca ou criação de projetos para a resolução dos mesmos.

3. Fase de Seleção: esta fase avalia as alternativas encontradas pelos envolvidos no projeto e escolhe aquela que for considerada a mais viável e eficaz.

Fonte: Elaborado pela autora, baseado em Choo (2003) e Mintzberg, Raisinghani, Théorêt (1976).

Além das três principais fases decisórias, existem as rotinas de suporte que podem

ser iniciadas a partir de qualquer uma das fases do processo decisório, inclusive

repetir-se. São elas: rotinas de controle, que consiste no planejamento e comutação;

de comunicação, que envolve todo o processo pelo qual passa a informação; e

políticas, compostas pelos relacionamentos de influência e poder (MINTZBERG;

RAISINGHANI; THÉORÊT, 1976).

Importante ressaltar que os fatores integrantes do processo decisório devem ser

considerados com uma visão integrada, que possibilita perceber os efeitos que essas

estruturas de relações causam (MINTZBERG; RAISINGHANI; THÉORÊT, 1976),

além das da capacidade da organização de tomar suas decisões baseadas em um

conjunto importante de regras e a responsabilidade concentrada no topo da

organização (MINTZBERG, 2004).

Sejam por motivos sociais, políticos ou competitivos, as organizações devem ter seu

processo decisório pautado no que é mais importante em termos de complexidade,

no grau de consequências e no estabelecimento de um eixo de priorização. Devem

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se dispor a agir ativamente para uma sociedade mais justa e equilibrada em suas

estratégias internas de diversidade e inclusão (YU et al, 2011).

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Figura 8 – Modelo de tomada de decisão do aplicado na pesquisa – Modelo Processual

Fonte: Elaborado pela autora, baseado no modelo processual de Choo (2003) e Mintzberg, Raisinghani, Théorêt (1976)

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3 METODOLOGIA

Este capítulo apresenta os procedimentos metodológicos utilizados para este estudo,

iniciando com o design de pesquisa, a definição da unidade de análise, os

procedimentos, instrumentos e técnicas de coleta de dados e de análise de dados,

com a finalidade de atender a questão de pesquisa:

Como as Big Four abordam os vieses inconscientes em seus programas de

diversidade e inclusão no ambiente de trabalho?

3.1 Design de Pesquisa

A proposta deste estudo é de natureza exploratória e descritiva no campo da

administração. Exploratória, pois visa investigar áreas em que há pouco conhecimento

estudado e sistematizado (HERNÁNDEZ SAMPIERI et al, 2010; VERGARA, 1990),

como as estratégias de abordagem dos vieses inconscientes nas Big Four, objeto

principal deste estudo. A pesquisa traz, portanto, um assunto atual e relevante para

as áreas de D&I e de gestão, indo ao encontro do que Babbie (2007, p. 88) expõe

sobre a pesquisa exploratória, em que ̈ [...] um pesquisador está examinando um novo

interesse ou quando o assunto de estudo é relativamente novo e não estudado¨. Ainda

de acordo com autor (BABBIE, 2015), os estudos exploratórios são comumente feitos

para atender a três objetivos: (a) satisfazer a curiosidade do pesquisador e o desejo

de melhor compreensão, (b) testar a viabilidade de se empreender um estudo e (c)

desenvolver os métodos a serem empregados em qualquer estudo subsequente.

A pesquisa também é caracterizada como descritiva, pois para Vergara (1990), ela

atende de forma mais adequada às pesquisas que pretendem expor as características

de determinado fenômeno e descrevê-las, como as estratégias da abordagem dos

vieses inconscientes. Quanto ao tempo, o estudo se classifica como de corte

transversal, realizado para ser uma tomada instantânea, em um único momento ou

em um curto período (SAUNDERS; LEWIS; THORNHILL, 2009), assim como neste

estudo, que busca analisar o momento presente das empresas em relação ao tema

do estudo.

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Por sua vez, a abordagem da pesquisa definida para este estudo foi a qualitativa, pois

apresenta maior coerência com a proposta do problema de pesquisa. Esta abordagem

proporciona um contato do pesquisador com o objeto de pesquisa, possibilitando

maior compreensão do fenômeno investigado e de uma teoria em que a prática ainda

não se encontra consolidada, como a abordagem dos vieses inconscientes.

Hernandez Sampieri et al (2010) complementam este argumento, indicando que as

pesquisas qualitativas, quando aplicadas às áreas humanísticas, atribuem

profundidade aos dados e contextualização do ambiente.

A pesquisa foi realizada por meio de múltiplos casos, estudando um fenômeno

contemporâneo inserido num contexto organizacional (EISENHARDT, 1089; YIN,

2001), a abordagem dos vieses inconscientes. Foram estudadas quatro empresas que

compõem o seleto grupo das chamadas Big Four, ou seja, das quatro maiores

empresas de auditoria e consultoria do mundo. Yin (2001, p. 32) apresenta o estudo

de caso como uma das estratégias principais de pesquisa em ciências sociais,

definindo o estudo de caso como “[...] uma investigação empírica que, investiga um

fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real, especialmente quando

os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos”.

Pode-se dizer que um projeto de pesquisa que envolva o método do estudo de caso

envolve três fases distintas: (a) a escolha do referencial teórico sobre o qual se

pretende trabalhar (YIN, 2001; EISENHARDT, 1989); a seleção dos casos e o

desenvolvimento de protocolos para a coleta de dados; (b) a condução do estudo de

caso, com a coleta e análise de dados, culminando com o relatório do caso; e (c) a

análise dos dados obtidos à luz da teoria selecionada, interpretando os resultados

(YIN, 2001), conforme especificado para esta pesquisa no Quadro 4. Yin (2001)

também afirma que a utilização de estudo de casos múltiplos é mais convincente,

robusta e consistente, permitindo maiores generalizações. Para o autor a

determinação do número de casos deve levar em consideração suas contribuições no

qual cada caso pode dar aos objetivos da pesquisa, além da importância do uso do

protocolo para documentar os passos seguidos. Nesta pesquisa foram analisadas e

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estudadas as empresas Deloitte, PwC, EY e KPMG, denominadas pelo mercado

mundial de Big Four.

O quadro 4 apresenta o percurso metodológico da pesquisa e as escolhas do

pesquisador, desde a sua abordagem até a estratégia de análise e interpretação de

dados.

Quadro 4 – Design de Pesquisa e Decisões Metodológicas

Design de Pesquisa e Decisões Metodológicas

Abordagem da pesquisa Qualitativa

Natureza da pesquisa Exploratória e Descritiva

Método da Pesquisa Estudo de Caso

Seleção da Amostra e Casos Big Four: Deloitte, PwC, EY, KPMG

Critérios para seleção dos casos

Ser uma empresa Big Four; Possuir um programa ou ações de diversidade e inclusão; Ter atuação consolidada no Brasil.

Coletas de dados Pesquisa documental das Big Four Entrevistas com a PwC com Sócia Líder de Gênero e Gestor de Diversidade

Estratégia de análise e interpretação dos dados

Categorização baseada nos objetivos da pesquisa e referencial teórico Análise documental individual por caso e estudo comparativo Análise de conteúdo das entrevistas

Fonte: Elaborado pela autora.

3.2 Definição das Unidade de Análise e Empresas Pesquisadas

A temática dos vieses inconscientes ainda é recente, mas vem tomando espaço,

influenciadas pelas grandes empresas multinacionais e transnacionais. Com o

propósito de identificar a unidade de análise, foram definidos critérios para que o

objetivo dessa investigação pudesse ser alcançado. Sendo assim, as organizações

deveriam contemplar os seguintes critérios: (a) estar listada no ranking das quatro

maiores empresas de consultoria e auditoria do mundo, ou seja, ser considerada uma

Big Four pelo mercado; (b) ter programa ou ações de D&I; e (c) ter atuação no Brasil

por meio de escritórios locais. Com o objetivo de investigar o fenômeno dos vieses

inconscientes neste mercado, estas empresas se apresentaram como uma

interessante unidade de análise para estudo, pois também são geradoras de

pesquisas e tendências de gestão e sobre o futuro do trabalho. Este estudo foi

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realizado a partir de três construtos operacionalizados de acordo com os objetivos de

pesquisa (Quadro 5). Os objetivos da pesquisa já foram anteriormente discriminados,

porém, buscou-se evidenciar (Quadro 5), a conexão das categorias de pesquisa,

suportados pelos temas de estudo e pela base teórica.

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Quadro 5 – Construtos e categorias de análise

Fonte: Elaborado pela autora, baseado em dados da pesquisa.

As empresas foco da pesquisa documental estão entre as quatro maiores empresas

independentes de consultoria e auditoria do mundo, chamadas pelo mercado de Big

Four. O termo Big Four refere-se as líderes mundiais no setor de auditoria e

consultoria segundo seu faturamento, e fazem parte deste grupo as empresas Deloitte

(Deloitte Touché Tohmatsu Limited), PwC (PricewaterhouseCoopers), EY (Ernst &

Young) e KPMG (Klynveld Peat Marwick Goerdeler) (Quadro 6). Estas empresas além

dos serviços de contabilidade e auditoria, atuam com serviços de tributação,

consultoria de gestão e negócios, avaliação e controle de riscos.

As Big Four apresentam também oportunidades de emprego e desenvolvimento de

carreira para contadores e auditores em todo o mundo. Geralmente identificadas como

empresas individuais, cada uma destas firmas é, na verdade, uma rede de

corporações independentes que firmaram acordos entre si para definir padrões de

qualidade e compartilhar um nome comum. O desempenho do setor é normalmente

relacionado à “saúde” geral da economia, pois por muitas vezes cresce à medida que

a economia cresce e vice-versa. As quatro empresas aparecem regularmente nas

listas dos melhores empregadores para trabalhar e muitas das vantagens citadas são:

Objetivos Específicos

Construtos

Categorias de

Análise

Autores

Identificar as estratégias dos programas de diversidade e inclusão no ambiente de trabalho das Big Four

Diversidade Inclusão

Dimensões Estratégias Cultura e liderança inclusiva

Cox; Blake,1989) Ferdman (2017, 2019); Fitzpatrick; Sharma (2017); Loden Rosen (1991) Rijamanpianina; Charmichael (2005) MOR Barack (2016, 2015); Saxena (2014)

Verificar a abordagem dos vieses inconscientes em seus programas de diversidade e inclusão das Big Four

Vieses Inconscientes

Bases científicas Estratégia Impactos em gestão de pessoas

Blair (2002) Dasgupta (2015) Greenwald; Banaji (2016; 1995) Kahneman, 2012) Kang; Lane (2010) Staats et al (2017, 2016, 2105) Willianson;Folley (2018) Holdroyd; Scaife; Stafford (2017)

Identificar o processo decisório dos vieses inconscientes nas Big Four

Processo decisório

Desenvolvimento e identificação e seleção

Choo (2003), Mintzberg (1976) Mintzberg, Raisinghani, Théorêt (1976); YU et al 2011

Coleta de Dados: Pesquisa documental; Entrevista Análise de Dados: Análise documental; Análise de Conteúdo

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horários flexíveis e opções de telecomutação (KOLAKOWSKI, 2019; STATISTA,

2019).

Quadro 6 – Empresas pesquisadas

Fonte: Accoountingverse (2009)

As quatro empresas ainda figuram ainda na lista Top 50, da publicação “The

DiversityInc Top 50 Companies for Diversity”, no qual empresas são avaliadas por

meio de métricas que correspondem às melhores práticas como: responsabilidade

executiva sênior, conselhos de diversidade, grupos de recursos e orientação com

resultados específicos expressos pelos resultados de capital humano e diversidade

de fornecedores (STATISTA, 2019; DIVERSITYINC, 2018). No Brasil, todas possuem

compromisso declarado com a diversidade e a inclusão por meio da participação em

importantes fóruns e movimentos sobre o assunto, conforme descrito anteriormente.

Justifica-se as escolhas, pelo fato de que empresas de serviços profissionais são

organizações intensivas em conhecimento, ávidas por comunicar sua legitimidade,

status e reputação dentro do setor de auditoria, trazendo benefícios para sua atuação

no mercado. As avaliações e os dados sociais permitem melhorar seu capital

intelectual e dar legitimidade e credibilidade política para a empresa operar em

determinados mercados e, consequentemente, obter benefícios financeiros (DUFF,

2011).

Esta investigação realizou uma pesquisa documental das revisões anuais das

empresas, relatórios de responsabilidade social corporativa, sites e demais

Empresas pesquisadas

Características Deloitte PwC EY KPMG

Origem Reino Unido Reino Unido Reino Unido Suíça

Fundação 1845 1998 1989 1987

Faturamento 2018 US$ 43,2 bilhões

US$ 41,3 bilhões

US$ 34,8 bilhões

US$ 28,96 bilhões

Presença Global 150 países 158 países 150 países 153 países

Número de Profissionais Global

286.200 250.000 260.000 207.050

Presença Brasil 12 escritórios 17 escritórios 15 escritórios 22 escritórios

Número de Profissionais Brasil

5.500 4.270 4.915 4.000

Ano Fiscal 31/mai 30/jun 30/jun 30/set

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documentos públicos. Após esta pesquisa, decidiu-se aprofundar o tema por meio de

entrevistas com a empresa PwC, que, dentre as quatro, apresentou em seus materiais

públicos, informações claras e consistentes sobre a abordagem dos vieses

inconscientes, objeto principal desta pesquisa. A facilidade de acesso a empresa

contribuiu muito com o caminho escolhido. Outra decisão relevante durante a análise

documental, foi a de estudar o construto processo decisório apenas na empresa PwC.

Este construto, contemplado em um dos objetivos específicos da pesquisa, refere-se

à identificação do processo decisório na abordagem dos vieses inconscientes,

percebida de forma mais consistente na PwC.

3.3 Procedimentos, Instrumentos e Técnicas de Coleta de Dados

Yin (2001) identifica várias fontes de evidência qualitativa em pesquisas de estudo de

caso, que inclui: entrevistas, documentação, observação direta e artefatos físicos.

Neste estudo serão utilizadas as técnicas de levantamento documental e entrevista

semiestruturada. As informações foram obtidas em diferentes fontes de dados para a

pesquisa documental e, para a profundar a análise, a empresa PwC foi escolhida para

a entrevista semiestruturada, de acordo com os motivos já descritos no item anterior

da metodologia.

3.3.1 Dados secundários de Pesquisa Documental das Big Four

As informações foram analisadas, acessando os materiais de conteúdo gerados pelas

próprias empresas pesquisadas (Deloitte, PwC, EY e KPMG). Foram acessados o site

Global de cada empresa, o site de cada empresa no Brasil, o site dos escritórios sede

(Quadro 6) ou dos escritórios sede da gestão global de D&I, assim como seus

relatórios corporativos (Relatórios Anuais Globais, Relatórios de Sustentabilidade,

Relatórios de Diversidade e Inclusão) e demais materiais acessíveis.

Estes materiais trazem informações públicas que são divulgadas periodicamente em

forma de relatórios, apresentando os impactos positivos e negativos das empresas.

As informações e dados públicos evidenciam maior transparência em aspectos

críticos e relevantes aos stakeholders. Os documentos consultados receberam uma

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codificação que foi utilizada nas citações (Quadro 7).

Quadro 7 – Matriz de codificação dos documentos acessados

Fonte: Elaborado pela autora, baseado em dados da pesquisa.

Matriz de orientação da pesquisa – Análise Documental - BIG FOUR

Empresa Documento Códigos para citação

DELLOITE Global Impact Report 2018, 2017 DEL GL-REL-2018 DEL GL-REL-2017

UK Impact Report - 2018, 2017, 2016, 2015 DEL RU-IR-2018 DEL RU-IR-2017 DEL RU-IR-2016 DEL RU-IR-2015

PwC PwC's Global Annual Review – 2018, 2016 PwC GL-REL-2018 PwC GL-REL-2016

Relatório de Sustentabilidade Brasil - 2016-2017 PwC BR-REL-2016/2017

The PwC Diversity Journey - 2016 PwC GL-DJ-2016

Diversity Pay Report 2018 – UK PwC RU-Rpay-2018

Cartilha Vieses Inconscientes, equidade de gênero e o mundo corporativo - 2016

PwC BRA-CART-2016

PwC Transparency Report 2018;2015 PwC RU-TR-2018 PwC RU-TR-2015

Código de Conduta PwC BR-CD-2017

Diversity Pay Report 2018 PwC RU-DPR-2018

EY EY Global Review - 2018, 2017 EY GL-REL-2018 EY GL-REL-2017

D&I Means Growth - 2014 EY GL-DI-2014

Our approach to Diversity & Inclusiveness - 2015 EY GL-OADI-2015

EY Brasil | Relatório Anual 2018; 2017 EY BR-REL-2018 EY BR-REL-2017

EY UK Pay Gap Report 2018 EY RU-PG-2018

EY EMEIA-Diversity-and-inclusiveness-review-2013 EY EMEIA-REL-2015 EY EMEIA-REL-2013

KPMG KPMG Annual Review – 2018 - UK KPMG RU-REL-2018

KPMG Inclusion, diversity and social equality targets – 2018 - UK

KPMG RU-IDSE-2018

KPMG Diversity & Inclusion Report December 2018/2017 KPMG AU-DI-2018

KPMG Global Inclusion & Diversity Report - 2018 KPMG GL-ID-2018

KPMG Brasil Relatório de Stustentabilidade - 2017/2018 KMPG BR-REL-2017/2018

2018 KPMG Global Review KPMG GL-REL-2018

KPMG Inclusion and Diversity Report – 2017 CA KPM CA-IRR-2017

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Ainda no site Global das empresas, foram digitadas as palavras de busca: bias,

unconscious bias, implicit bias, diversity, inclusion, que caso seja relevante à

pesquisa, poderão serão incluídos outros países. No site Brasil pelas palavras: vieses,

vieses inconscientes, preconceito, diversidade e inclusão, com o objetivo de encontrar

informações relevantes que pudessem contribuir com a pesquisa.

3.3.2 Entrevista semiestruturada (PwC)

Para complementar a análise documental da empresa PwC, foram realizadas duas

entrevistas, com o objetivo de compreender a trajetória da organização sobre a

diversidade e inclusão, assim como a estratégia para a abordagem dos vieses

inconscientes e seu processo decisório. As entrevistas foram realizadas em São Paulo

no mês de janeiro de 2019, na sede brasileira da PwC, e teve duração de 1 hora, de

acordo com a disponibilidades das agendas dos entrevistados. As entrevistas foram

simultâneas com os dois representantes da empresa, nos quais foram aplicados o

roteiro de perguntas (Apêndice A) previamente disponibilizado à empresa. A PwC foi

representada pela sócia líder de gênero, com 12 anos de empresa e, portanto, grande

vivência e conhecimento dos processos de D&I e da cultura, além do gestor de

diversidade, há um ano na organização.

A escolha pela entrevista semiestruturada permitiu a variação entre perguntas abertas

e fechadas, no qual os entrevistados tiveram a possibilidade de falar sobre o assunto

de forma ampla. As entrevistas foram conduzidas informalmente, aproximando-se de

uma conversa, com as devidas intervenções para garantir o alcance dos objetivos. As

mesmas formas gravadas com a autorização dos entrevistados e, posteriormente,

transcritas integralmente para auxiliar na análise. Um dos entrevistados disponibilizou

materiais desenvolvidos internamente para auxiliar a pesquisa. Mesmo obtendo

autorização para o uso dos nomes, optou-se por não utilizar as iniciais para nomear

os entrevistados e manter parcialmente a privacidade e utilizando as siglas EL, para

designar o primeiro entrevistado, Executivo Líder de Gênero, e GD, para Gestor de

Diversidade.

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O Quadro 8 permite uma visualização da conexão dos objetivos de pesquisa, as fontes

de dados e as perguntas norteadoras da entrevista que serviram como guia para a

entrevista semiestruturada. O detalhamento do roteiro com o desmembramento das

perguntas norteadoras e com base no referencial teórico dos construtos estabelecidos

na pesquisa, encontram-se no Apêndice A.

Quadro 8 – Matriz de orientação da pesquisa - Entrevistas

Matriz de orientação da pesquisa – Entrevistas Objetivos Geral e Específicos Perguntas norteadoras

das entrevistas Autores

Analisar as estratégias da

abordagem dos vieses inconscientes nos programas de

Diversidade e Inclusão no ambiente de trabalho das Big

Four.

Identificar as estratégias de diversidade e inclusão das Big Four

Quais as dimensões? Como está estruturado o programa, suas ações?

Loden; Rosener (1991); Mor Barak (2016; 2015) Ferdman (2017; 2009)

Verificar a abordagem dos vieses inconscientes dos programas de diversidade e inclusão das Big Four

Quais as bases científicas utilizadas nas abordagens? Quais as estratégias utilizadas?

Greenwald; Banaji (2017; 2016;1995); Staats et al (2017; 2016; 2015)

Identificar o processo decisório da abordagem dos vieses inconscientes nos programas de diversidade e inclusão das Big Four

Como foi a identificação, o desenvolvimento e a seleção das abordagens dos vieses inconscientes?

Choo (2003); Mintzberg (1976)

Fonte: Elaborado pela autora, baseado em dados da pesquisa.

3.4 Procedimentos, Técnicas e Sistemas Utilizados para Análise de Dados

A análise documental foi feita com base no conteúdo das informações públicas das

Big Four, como relatórios, sites e o material institucional, em que se pretendeu analisar

as estratégias de abordagem dos vieses inconscientes nos programas de D&I. Com

base nestes levantamentos, foi realizada a análise de conteúdo para a interpretação

dos dados. A análise foi feita individualmente por caso e ao final, foi realizado um

quadro comparativo dos achados das categorias estudadas, com uma conclusão geral

da pesquisa. O quadro comparativo teve como objetivo apresentar as características

relevantes entre eles e fornecer um posicionamento geral dos casos pesquisados.

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Após a análise documental, definiu-se por aprofundar o estudo em um dos casos, no

qual a empresa escolhida foi a PwC, por apresentar maior ênfase na abordagem dos

vieses inconscientes em seus documentos públicos, principalmente na firma

brasileira, facilitando o acesso da pesquisadora e possibilitando aprofundar o tema de

estudo. A abordagem foi realizada por meio de entrevista semiestruturada, que foi

gravada e transcrita com a autorização dos participantes. Posteriormente foi iniciada

a fase de análise de conteúdo de acordo com as categorias de análise previamente

definidas (QUADRO 9) e a metodologia utilizada. Complementando o quadro

comparativo da análise documental, incluiu-se a análise das entrevistas. Portanto, o

conteúdo da análise foi composto da análise documental dos quatro casos estudados

(Deloitte, PwC, EY e KPMG) e análise das entrevistas da PwC. O Fluxo de Pesquisa

(Figura 9) ilustra e complementa o processo da pesquisa, iniciando pelo objetivo geral,

e concluindo com os resultados esperados.

Figura 9 – Fluxo de pesquisa

Fonte: Elaborado pela autora, baseado em dados da pesquisa.

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Para Yin (2001, p. 137) a análise dos dados consiste em examinar, categorizar,

classificar em tabelas, testar ou, do contrário, recombinar as evidências quantitativas

e qualitativas para tratar as proposições iniciais de um estudo. Para a análise

documental e a análise das entrevistas, pós transcrição, foi realizada manualmente, e

que de acordo com Bardin (2009) o modelo foi dividido em três diferentes fases:

(a) A pré-análise, que engloba a leitura flutuante do material, a escolha dos

documentos a serem analisados, a formulação das proposições e dos objetivos do

trabalho, a elaboração de indicadores que fundamentem a interpretação, e a

preparação e organização do material;

(b) A exploração do material, que compreende a escolha da unidade de análise e a

codificação do material;

(c) Tratamento dos resultados, influências e conclusões, por meio de sínteses de

resultados e elaboração das conclusões finais.

Quadro 9 – Categorias de Análise

Construtos Categorias de Análise

Diversidade e Inclusão

Dimensões

Estratégias e ações

Cultura e liderança inclusiva

Vieses Inconscientes

Bases teóricas

Estratégias e ações

Impacto no processo de gestão de pessoas

Processo Decisório – Vieses Inconscientes

Identificação: reconhecimento e diagnóstico

Desenvolvimento: fontes e soluções

Seleção: decisão e análise

Fonte: Elaborado pela autora, baseado em dados da pesquisa.

Integrar diferentes perspectivas sobre o fenômeno estudado, descobrindo

contradições e sinergias, podem contribuir para o desenvolvimento da pesquisa em

questão. Um framework geral da pesquisa (Figura 10) é apresentado, considerando

a integração deste estudo por meio de seus objetivos, construtos, autores e

metodologia, possibilitando uma visão sistêmica da pesquisa.

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Figura 10 – Framework geral da pesquisa

Fonte: Elaborado pela autora, baseado em dados da pesquisa.

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3.5 Exclusões do Escopo e Delimitações da Pesquisa

Apresentam-se aqui, algumas delimitações sobre a metodologia aplicada e as

medidas adotadas.

Com o objetivo de restringir o excesso de conteúdo e focar na proposição do estudo,

não foram inseridos na pesquisa dados como: premiações de D&I (Diversidade e

Inclusão) de caráter Global ou local, iniciativas de D&I para público externos, modelos

e detalhamento das ações de D&I das firmas-membro, com exceção do modelo Global

e da firma-membro no Brasil.

A ampliação do escopo para as demais firmas-membro de cada Big Four inicialmente

selecionadas (RU, EUA e Suíça) ocorreu apenas para o construto vieses

inconscientes na tentativa de encontrar informações relevantes e por se tratar de uma

abordagem nova nas organizações, principalmente no Brasil. Em algumas das

empresas houve necessidade de se ampliar o estudo para outras firmas-membro e

garantir representatividade no conteúdo para análise.

Para dar fluência à pesquisa, optou-se por apresentar nesta dissertação uma versão

condensada do caso de cada empresa no corpo do texto. Devido ao grande volume

de dados levantados pela pesquisa documental, indicando somente os construtos e

suas categorias principais. As referências dos documentos pesquisados se encontram

no Quadro 7, assim como na bibliografia.

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4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

Este capítulo apresenta a análise dos resultados da pesquisa e foi dividido em dois

itens. O primeiro, abordando uma análise documental das quatro empresas

separadamente e apresentando um quadro comparativo dos quatro casos estudados,

e o segundo, realizando uma análise das entrevistas da empresa PwC, pelos motivos

indicados no capítulo da metodologia. Além das entrevistas, o construto do processo

decisório foi estudado somente na empresa PwC, pelos motivos apresentados no

capítulo anterior. Os quatro casos (Deloitte, PwC, EY e KPMG) e suas análises são

apresentados em ordem de faturamento, visando responder aos objetivos de

pesquisa.

4.1. CASO 1 – DELOITTE

A Deloitte é uma empresa britânica, líder no seu segmento, e presente em 150 países.

A Deloitte Global não fornece serviços aos clientes e as firmas-membro individuais

têm acesso às habilidades e conhecimento de outras firmas-membro, além dos

benefícios de reconhecimento e reputação do mercado da rede. No Brasil desde 2011,

a empresa possui operações em todo o país por meio de seus 12 escritórios em São

Paulo, Belo Horizonte, Brasília, Campinas, Curitiba, Fortaleza, Joinville, Porto Alegre,

Rio de Janeiro, Recife, Salvador e Ribeirão Preto (DELOITTE BRASIL, 2019a;

DELOITTE GLOBAL, 2019a).

4.1.1. As estratégias de D&I da Delloitte

Ser o lugar onde todos os talentos têm acesso às oportunidades de sucesso é o desejo

da empresa (DEL BR–ST– 2019a). Em seu propósito e valores, apresenta a

expressão “making impacts that matter (gerar impactos que importam, em tradução

livre), remetendo às suas prioridades, que são: “fazer o que realmente é importante,

em três dimensões: seus clientes, seus próprios profissionais e a sociedade como um

todo”. Seus valores (Quadro 10) se fazem representar com a integridade, o valor, o

compromisso e a diversidade cultural.

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Quadro 10 – Valores Compartilhados da Deloitte Global

Valores

Integridade - Na Deloitte, tudo o que fazemos começa com integridade. No nosso mercado, nada é mais importante do que a nossa reputação e, consequentemente, nos comprometemos a conduzir negócios com honestidade, qualidade distinta e altos níveis de comportamento profissional.

Valor excepcional para mercados e clientes - Nós desempenhamos um papel fundamental em ajudar tanto o mercado de capitais quanto a nossa firma membro os clientes operam de forma mais eficaz. Consideramos este papel um privilégio e sabemos disso requer vigilância constante e compromisso incansável.

Compromisso um com o outro - Estamos orgulhosos de nossa cultura de colegialidade sem fronteiras e trabalhamos duro para apoiar nossas pessoas. Nós nos esforçamos para criar um ambiente inclusivo que reflita nossa forte e clara expectativas sobre diversidade, respeito e tratamento justo.

Força da diversidade cultural - Os desafios de negócios de nossos clientes são complexos e se beneficiam da inovação e da diversidade que trazem. Entendendo o trabalho com pessoas de diferentes origens, culturas e o estilo de ajuda nosso pessoal a se tornar bons profissionais e líderes.

Fonte: Elaborado pela autora de acordo a Deloitte Global (DELOITTE GLOBAL, 2019a)

Reforçando o trabalho de Duff (2011), a Deloitte em seus valores (Quadro 10), deixa

clara a importância da integridade, reputação, honestidade e comportamento

profissional. Além disso, reforça seu compromisso, refletindo a importância do apoio,

do respeito e tratamento justo entre as pessoas, como também, a força da diversidade

cultural, traduzido em expressões como desafios de negócios complexos e benefícios

da inovação. A força da diversidade cultural, para os autores ML Wallace, Hoover e

Pepper (2014) chamam de “o raciocínio moral do negócio”, em que são abordados os

benefícios da diversidade para os negócios, para os profissionais e para os líderes.

No ano fiscal de 2018, Deloitte Global reafirmou, por meio de seu relatório (DEL GL-

REL-2018), seu compromisso com uma cultura de inclusão e o aumento da

representação de gênero em todos os níveis da empresa, procurando e contratando

mulheres, fornecendo desenvolvimento e promoção oportunidades de liderança, e

comprometidos com pagamento justo para todos. A empresa apresenta (DEL GL-

REL-2018) algumas de suas iniciativas em direção aos seus compromissos com a

diversidade e a inclusão: (a) As firmas-membro adotaram iniciativas como a

flexibilidade no ambiente de trabalho, licença familiar e políticas de retorno ao trabalho

que atraem mulheres, pais e funcionários de todas as gerações. Estas iniciativas

proporcionam um ambiente inclusivo, pois resultam de políticas, estruturas e práticas

de comportamento (FERDMAN, 2000). A flexibilidade desempenha um papel crítico,

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para a diversidade, apoiando por exemplo, as mães que retornam ao trabalho (HUNT

et al, 2018) como uma forma de atratividade das empresas às novas gerações de

profissionais; (b) Algumas firmas-membro oferecem oportunidades às suas equipes,

para se conectar e construir redes globais, como gênero, raça, religião e orientação

sexual, sendo esta uma forma de criar organizações multiculturais, como propostas

por Cox e Blake (1991) e que propicia a integração de grupos e indivíduos em toda a

organização; (c) A empresa possui políticas globais contra má conduta,

comportamento inadequado ou assédio sexual o que assédio sexual, o que reforça

seu esforço na direção de um ambiente de trabalho de não tolerância ao preconceito

e ao respeito.

Atendendo à metodologia do Global Reporting Initiative (GRI) para seu relatório global,

a Deloitte Global relata que, devido à natureza de suas operações, não é possível

definir grupos minoritários através da rede da Deloitte. A divulgação de dados, como

por exemplo, a idade, o salário base e a remuneração mulher/homem, não são

consolidados pela firma global, pois atestam que os sistemas de rastreamento e

reporte necessitariam ser implementados para esta informação ser coletada de forma

consistente (DEL GL–REL–2018). Ainda segundo a empresa (DEL GL–REL–2018),

somente a firma-membro do Reino Unido disponibiliza os dados sobre D&I. Dados

sobre discriminação e ações corretivas seguem o mesmo caminho. No entanto,

apesar dos compromissos assumidos em seu relatório, a empresa ainda não

apresenta publicamente um plano para gerir de forma global, os indicadores de suas

firmas-membro. Componentes importantes, os dados podem identificar as áreas em

que as mudanças são necessárias e, avaliar seu progresso para que o

desenvolvimento seja contínuo, beneficiando o processo e a liderança (FIZPATRICK;

SHARMA, 2017). Ainda assim, de acordo com sua matriz de materialidade, que reflete

o impacto econômico, ambiental e econômico significativo da empresa, os tópicos de

ética, integridade, diversidade de funcionários e oportunidades igualitárias estão

classificados como questões de interesse estratégico para a Deloitte e partes

interessadas (DEL GL–REL–2018).

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Analisando os documentos acessados é possível verificar algumas contradições. Ao

considerar o compromisso assumido pela empresa para o aumento da representação

de gênero, passando pela divulgação da matriz de materialidade apresentada em seu

GRI, no qual a diversidade de funcionários e oportunidades igualitárias foi qualificada

como altamente estratégica por seus stakeholders. Apesar destas informações, no

próprio Relatório (GRI) não houve divulgação de dados referentes a este tema,

resumindo-se a retratar suas iniciativas de D&I. Segundo a empresa há uma

dificuldade operacional para isso, o que não ocorre na firma do Reino Unido, que

apresenta seus dados de forma transparente.

A Deloitte é uma grande produtora de conteúdo e de pesquisas em diversas áreas,

incluindo D&I. A empresa global e suas firmas-membro divulgam conhecimento

relevante para as organizações, que vão do futuro do trabalho às tendências do capital

humano, no qual estão a diversidade e a liderança inclusiva, o que parece não

convergir com a não composição de um relatório de dados globais sobre a temáticas.

Em seus relatórios, apresentam dados, artigos baseados em pesquisas e que são

acessados pelo mercado corporativo. De acordo com pesquisa realizada, a Deloitte

Austrália (DELOITTE AUSTRÁLIA, 2019) oferece dentre os serviços de consultoria,

soluções para a diversidade e inclusão:

[...] “uma abordagem estratégica para ajudar os clientes a atender seus objetivos de diversidade, inclusão e liderança. Sabemos que, para criar uma mudança sustentável, a diversidade e a inclusão devem ser integradas à infraestrutura empresarial, à capacidade gerencial e à experiência do funcionário.”

Importante ressaltar que umas de suas partners (sócia), líder de Capital Humano da

Deloitte Austrália, Juliet Bourket é pesquisadora na área de D&I e autoras de grande

parte dos materiais da empresa.

Para avançar nas área de D&I e concentrar seus esforços em representação de

gênero, oportunidades de promoção de liderança, e pagamento justo a todos, a

Deloitte Global criou (DEL GL–REL–2018) uma estrutura de governança global para

apoiar um ambiente de trabalho diversificado e inclusivo, no qual a empresa apresenta

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duas ações principais do programa de D&I Global (DEL GL–REL–2018), e cada firma-

membro gerencia de forma independente:

• Programa Growth, que tem a missão de fortalecer a cultura de

equidade de gênero, possibilita o crescimento do número de mulheres

nos níveis de liderança da empresa, desenvolvendo competências,

promovendo uma cultura inclusiva e criando uma rede de apoio. Atua

em cinco pilares: competências, cultura, conexão, networking e políticas

internas, no qual a empresa realiza, treinamento e acompanhamento de

carreira de mulheres executivas; coaching; treinamento de toda

liderança para uma nova cultura; comitê de ética; licença maternidade

de seis meses e licença paternidade estendida; horário flexível e virtual

workplace (homeoffice).

• Programa All In, programa global para acelerar a representação e a

retenção de mulheres e outros grupos sub-representados nos níveis de

liderança da empresa. O foco atual é gênero, mas o impacto das

atividades se estende a todas as minorias sub-representadas, além de

promover uma cultura mais inclusiva para todos. Globalmente e

localmente, os esforços de diversidade foram ampliados para incluir

pessoas com deficiências, minorias visíveis, orientação sexual,

competência multicultural e outras dimensões (DEL GL–REL–2018). O

foco nas questões de gênero pela Deloitte Global, vai ao encontro dos

dados que projetam dois séculos para o final das desigualdades de

gênero no mercado mundial (WORLD ECONOMIC FORUM, 2018), que

inclui igualdade salarial e maior representação feminina em cargos de

liderança, fazendo com que a abordagem escolhida seja relevante e

fundamental para os avanços nestas questões.

A Deloitte Reino Unido possui dez Redes de Diversidade que conectam pessoas que

compartilham indicadores de afinidade, como gênero, raça, religião, orientação

sexual, deficiência e responsabilidades de cuidar dos filhos, engajando funcionários

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de todo o Reino Unido. Em 2017, a empresa acordou em seu plano de ação BAME,

incluindo um compromisso de que, até 2021, 10% de seus parceiros serão BAME

(DELOITTE REINO UNIDO, 2019a).

Mais de 500 funcionários da Deloitte RU se comprometeram a promover a diversidade

no local de trabalho, assinando o programa Allies, lançado para celebrar e

salvaguardar as pessoas LGBTs. Os participantes do programa são incentivados a

mostrar esse apoio exibindo uma mercadoria da marca como, crachás, adesivos e

canecas em seu local de trabalho, e espera que, ao aumentar a conscientização sobre

as estas questões, sua força de trabalho se torne mais diversificada (DELOITTE

REINO UNIDO, 2019b). A empresa diz ter percebido um progresso em suas ações

para aumentar o equilíbrio de gêneros e em 2016 voltaram sua atenção para a etnia.

Foi então realizada a análise de sua pesquisa de engajamento, para ouvir em primeira

mão as experiências de suas pessoas BAME [negras, asiáticas e minoritárias]. Em

2017 foi lançado o plano de ação BAME, com medidas para garantir a atração,

retenção e envolvimento destes talentos. A empresa se comprometeu publicamente

com metas de que 10% de seus parceiros serão BAME até 2021, e que seu grupo

executivo terá pelo menos um membro BAME e cada uma de suas equipes de

liderança de negócios incluirá pelo menos um membro BAME. A empresa ainda

publicou sua diferença salarial de etnia em 2017, acreditando que a transparência é

fundamental para impulsionar o progresso (DEL RU – REL – 2017; DELOITTE REINO

UNIDO, 2019a).

Para apoiar seu plano de ação, foi criado o Conselho Consultivo da BAME, com um

grupo de dez representantes de toda a empresa. Estes fornecem feedback

diretamente aos líderes mais experientes sobre as experiências das equipes e ajuda

a moldar as iniciativas da BAME. Um programa de mentoria reversa que associa 24

indivíduos BAME a líderes seniores da empresa está em teste. A Deloitte Reino

Unido se diz consciente de que uma mudança significativa leva tempo e só pode ser

alcançada através de uma combinação de intervenções direcionadas e um foco

constante na cultura, a empresa já percebeu resultados positivos de dados de

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recrutamento de estudantes, com um aumento de 54% em inscrições de alunos BAME

(DEL RU-IR-2018).

Três anos depois dos primeiros workshops de liderança em P&I, a empresa lançou

sessões de acompanhamento para todos os sócios, a fim de garantir que sua

liderança continue a liderar de forma inclusiva e respeitosa e garantindo que as

mensagens atinjam todos os níveis dentro da empresa. Mais de 30% dos parceiros

recém promovidos foram mulheres (24 novos parceiros). Nos últimos dois anos, a

Deloitte estabeleceu uma série de programas para identificar e reter lideranças

femininas de alto desempenho, incluindo um compromisso com a transparência das

disparidades salariais entre homens e mulheres (DEL RU-IR-2018).

A Deloitte Brasil, alinhada à Deloitte Global, atua com os programas, Growth, que

tem como missão fortalecer a cultura de equidade de gênero, criando iniciativas que

possibilitem o crescimento do número de mulheres nos níveis de liderança da empresa

e o programa World Class, que tem como objetivo ajudar pessoas em todo o mundo

a terem sucesso em um cenário de rápidas transformações, que impactam sobretudo

suas perspectivas profissionais, com efeito direto sobre a cidadania (DELOITTE

BRASIL, 2019b).

O programa DeloitteInclui (DELOITTE BRASIL, 2019c) atua sobre a inclusão de

profissionais com deficiência no mercado de trabalho, em que três pilares essenciais

são colocados em primeiro plano: (a) Ação social, que é o desenvolvimento

profissional, pessoal e social de cada indivíduo, além de oferecer autonomia e

autossuficiência; (b) Negócios, para manter o padrão de excelência nos projetos e

respeitar as diversidades; (c) Cumprimento da Lei de Cotas: atendimento à exigência

estabelecida pela legislação (DELOITTE BRASIL, 2019c). A Lei de Cotas no Brasil,

vem como uma medida de aceleração para inclusão das pessoas com deficiência no

mercado de trabalho, fazendo com que as empresas cumpram suas cotas de acordo

com a legislação, em um país em que esta população representa 24% do total,

representados por apenas 0,84% do total de vínculos empregatícios (RAIS, 2017).

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Analisando alguns de seus estudos para o mercado, é possível verificar algumas

informações não apresentadas em seus relatórios de resultados ou páginas de D&I,

mas que são relevantes, como, por exemplo, o Modelo Global de Maturidade da

Deloitte (Figura 10). Torna-se importante pontuar que não ficou evidenciado na

pesquisa se este modelo faz parte das estratégias das firmas-membro da Deloitte.

Figura 11 – Modelo global de maturidade de D&I da Deloitte

Fonte: Bourke e Dillon (2018)

A empresa identificou quatro níveis de maturidade de D&I apresentados em seu

modelo (Figura 11): (a) Compliance, que se baseia na crença de que a diversidade é

um problema a ser gerenciado; as ações são geralmente decorrentes de decisões

externas ou iniciadas como uma resposta a reclamações. (b) Programático, no qual o

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valor da diversidade começa a ser reconhecido, muitas vezes caracterizado por

iniciativas de base (como grupos de recursos de funcionários), calendário de eventos

e outras atividades lideradas pela área RH, como por exemplo, orientação ou

treinamento de viés inconsciente. Neste nível, o progresso não vai além da

conscientização. (c) Líder-liderado, nível aonde se iniciam as mudanças culturais mais

substanciais, sendo um ponto de transição. Acontece quando o CEO e outros líderes

influentes enfrentam as barreiras à inclusão. (d) Integrado, nível em que são criadas

condições que influenciam os comportamentos e a mentalidade dos funcionários e

ainda, o alinhamento e a adaptação aos sistemas organizacionais, transparência na

comunicação, a D&I é integrada aos processos de funcionários e outros processos de

negócios, como inovação, experiência do cliente e design do local de trabalho.

Percebe-se que o esforço para a mudança de cultura é complexo e que os programas

de D&I devem ir além de ações pontuais e de sessões de treinamento. O modelo de

maturidade global da Deloitte evidencia em suas transições de nível os desafios para

que se alcance a maturidade de D&I na organização, buscando sua integração aos

processos organizacionais e de negócios, para que de fato se mude a realidade da

empresa neste tema e fazendo avançar aspectos relevantes ao ambiente de trabalho

(BOEKHORST, 2015; DIKE, 2013).

O vasto conhecimento gerado internamente e compartilhado com seus clientes, seja

por meio da consultoria na área de D&I ou pelas informações disponibilizadas em seu

site, traz outras possibilidades de análise. A não divulgação dos dados da empresa

Global e demais firmas-membro parece ir de encontro com o próprio conhecimento

gerado internamente, como pela Deloitte Austrália, além das boas práticas divulgadas

pela Deloitte Reino Unido. A partir da análise documental, percebe-se uma

incoerência perante o posicionamento estratégico da empresa perante o tema e o

conteúdo dos materiais acessados.

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4.1.2. A abordagem dos vieses inconscientes nos programas de D&I da Delloitte

A Deloitte Global relata que líderes na Austrália, Canadá, Reino Unido e EUA, entre

outros, têm sido reconhecidos externamente pelo empenho em inclusão, além de

participar de conselhos em organizações que a promovem. Porém, durante a análise

dos documentos acessados, foram encontrados relatos da abordagem dos vieses

inconscientes, objeto principal deste estudo, em seus programas de D&I na Deloitte

Reino Unido.

A Deloitte RU lançou em 2015 um plano de ação de Respeito e Inclusão (R&I) com

um filme intitulado "Pergunte a você mesmo". O objetivo foi ajudar cada profissional

da Deloitte a pensar sobre suas responsabilidades pessoais, sobre seus vieses

inconscientes, tratando-as com respeito. Seus executivos sócios também participaram

de workshops de conscientização sobre gênero, questões da diversidade e a

importância do respeito e de um ambiente de trabalho inclusivo. Ao todo, foram 6.000

funcionários que participaram de oficinas obrigatórias de liderança inclusiva, criando

assessores de Respeito e Inclusão para que seus funcionários expressassem suas

preocupações a um colega de confiança e continuassem a fornecer mensagens claras

de que a diversidade simplesmente não é possível sem inclusão (DEL RU-IR-2019;

DELOITTE REINO UNIDO, 2019c; DEL RU-IR-2017;2016,2015).

Além disso, todos os seus funcionários tiveram que concluir o treinamento on-line de

R&I (Respeito & Inclusão), e seus recrutadores realizarem o treinamento de vieses

inconscientes. Em 2016, foi apresentado o papel dos Conselheiros de R&I, composto

por líderes seniores, treinados para fornecer apoio confidencial e individualizado

àqueles que gostariam de ajuda para tratar de qualquer questão de P&I (DEL RU-IR-

2016). Os processos de recrutamento também foram adaptados para lidar com

qualquer viés inconsciente, e apoiar o objetivo de avançar para incluir igualmente

homens e mulheres. (DEL RU-IR-2017).

Ainda na Deloitte do Reino Unido, segundo o seu último relatório (DEL RU-IR-2018),

os treinamentos de vieses inconscientes têm sido abordados em diversos formatos e

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estrategicamente posicionados para uma mudança positiva nos processos de gestão

de pessoas. As oficinas de liderança inclusiva são obrigatórias e suas ações visam

uma combinação de intervenções direcionadas e um foco constante na cultura, pois

enxerga as intervenções como parte de um processo que precisa ser realimentado

(DEL RU-IR-2018). Segundo pesquisas, o treinamento em diversidade, com

abordagem voluntária inspiram resultados melhores e mais sustentados (Dobbin;

Kalev, 2016; Cox; Blake, 1991), ao contrário da alternativa obrigatória adotada pela

empresa. Outra questão bastante evidente são as ações de engajamento,

pertencimento e comprometimento, em que a empresa atua sobre as relações

interpessoais e de apoio mútuo.

Para garantir que as ofertas de emprego fossem feitas com base no potencial

presente (e não em circunstâncias pessoais passadas) dos candidatos, a empresa

ainda introduziu entrevistas às cegas nas escolas e nas universidades, no qual os

entrevistadores não têm mais acesso aos detalhes da escola ou universidade do

candidato até que uma oferta seja feita, prevenindo assim, os vieses inconscientes. A

firma-membro do Reino Unido relata que atua com uma série de aplicações de

abordagem dos vieses inconscientes, visando impactos nos processos de gestão de

pessoas. Percebe-se nesta abordagem, que a firma-membro vai além, e apresenta

coerência com o seu modelo global de maturidade, integrando os objetivos do

treinamento aos seus processos organizacionais e atuando sobre e com a lideranças.

Atuar somente sobre o indivíduo e utilizar o treinamento como via única de atuação

para mitigar o preconceito, tende a não mudar o local de trabalho, sem que aja um

movimento mais amplo, em que vários componentes sejam envolvidos

(WILLIAMSOM; FOLEY, 2018; DOBBIN; KALEV, 2018).

O Quadro 11 apresenta um resumo das informações analisadas na Deloitte Global,

Reino e Unido e Brasil, de acordo com os construtos estudados na pesquisa.

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Quadro 11 – Quadro Resumo Deloitte

Construtos Quadro Resumo Deloitte

D&I Deloitte Global: possui políticas para ambiente inclusivo, como a flexibilidade. Seu foco principal é gênero e possui redes globais segmentadas por diferentes dimensões. Deloitte Reino Unido: Foco em BAME e LGBT+. Possui dez redes de diversidade. Ações de conscientização. Possui metas e dados transparentes Deloitte Brasil: Foco em pessoas com deficiência.

Vieses Inconscientes

Deloitte Global: Sem referência nos documentos acessados. Deloitte Reino Unido: Treinamento de vieses inconscientes em diferentes formatos e obrigatórios. Processo de R&S adaptados: entrevistas às cegas nas universidades Deloitte Brasil: Sem referência nos documentos acessados.

Fonte: Baseada em dados.

4.2. CASO 2 – PwC

A PwC, segunda colocada no ranking de faturamento das Big Four, é uma empresa

britânica que está presente em 158 países. No Brasil, presente desde 1915, a

empresa conta com profissionais distribuídos nos 17 escritórios em todas as regiões

brasileiras. A PricewaterhouseCoopers Brasil (PwC) é membro da

PricewaterhouseCoopers International Limited (PwCIL), entidade sediada no Reino

Unido e que congrega uma rede global de firmas. Cada firma-membro é independente

entre si e igualmente independente da PwCIL. Cada firma-membro tem o direito de

usar a marca PwC, seus recursos, metodologias e experiência comum acumulada, e

se compromete com os padrões e políticas da rede PwC (PwC BRASIL, 2019a).

4.2.1. Estratégias de D&I da PwC

Como propósito global, a PwC apresenta a construção de confiança na sociedade e

na resolução de problemas importantes. Seus valores são ressaltados como

elementos que orientam suas ações e são considerados a base de seu Código de

Conduta. Fazem parte dos valores da PwC. o agir com integridade, fazer a diferença,

cuidar das pessoas, trabalhar juntos e desafiar o limite do possível (PwC GL–REL–

2018; PwC GLOBAL, 2019b; PwC BRASIL, 2019b, PwC BR-CD-2017). Percebe-se

ao analisar o propósito e os valores da empresa, que a ética e a reputação aparecem

de forma clara, indo ao encontro do que Duff (2011) relatou em seus estudos, pois

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estas são questões vitais para este negócio. A empresa expõe também em seus

valores aspectos relacionados a abertura de novas ideias e possibilidades, a

importância de conhecer cada indivíduo, além de expressões como cuidar e apoiar.

Expressões que se referem a ética do cuidado, considerada uma abordagem de cunho

ético que valoriza relacionamentos, emoções, reconhecendo a individualidade de

cada um (ML WALLACE; HOOVER; PEPPER, 2014).

A PwC afirma (PwC GL-DJ-2016) que a diversidade e inclusão são prioridades, pois,

entendem que precisam de talentos diversificados para ter impacto em suas

comunidades, seus stakeholders e clientes. Em 2004 a empresa iniciou formalmente

o que chama de jornada de diversidade global, mudando a sua abordagem

globalmente como um imperativo comercial e um facilitador para sua estratégia. Em

2010, a PwC fez um balanço de sua atuação em D&I, ao se perguntar: “se estamos

fazendo as coisas certas e investindo tempo, orçamento e energia, por que não

estamos progredindo mais?” A partir de então, foi contratada uma empresa de

consultoria com o objetivo de realizar análises de diversidade em quatro firmas da

PwC, de diferentes continentes e de diversos tamanhos. O processo durou dois anos

e incluiu entrevistas com parceiros e pessoas da PwC, análise de dados e revisões

dos processos de pessoas da PwC. Após este trabalho, foi desenvolvida uma nova

abordagem e construído um alinhamento de D&I com a estratégia de negócios de rede

e com a responsabilidade de liderança, inserindo indicadores de inclusão globais. A

empresa reconhece que sua jornada não está completa e que seu progresso foi lento,

e seu processo até aqui. Dentre as atividades desta nova abordagem,

Analisando a trajetória da empresa em D&I, de 2004 a 2010, percebe-se que apesar

de todo o empenho a empresa não obteve a progressão desejada, e que pode ser

explicada por Marques (2015), já que estes resultados desanimadores aparecem em

muitas organizações após um estudo aprofundados, seja por implantações

equivocadas de políticas ou mesmo equívoco nas razões escolhidas. A PwC optou

por rever sua abordagem e expor seus equívocos por conta de crenças erradas e falta

de análise nos dados, identificando áreas em que as mudanças são necessárias,

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implementando mudanças estruturais e soluções transparentes baseadas em dados

(SAXENA, 2014; INSTITUTO ETHOS, 2000; COX; BLAKE, 1991).

Em 2013 (PwC GL-DJ-2016), a empresa começou a executar sua nova estratégia com

o apoio de seus líderes de diversidade de território, chamada de abordagem 2 + 1

para dimensões de diversidade em toda a rede: duas dimensões comuns da

diversidade a todas as firmas-membro (valorização das diferenças e gênero) e uma

terceira (+1) de acordo com a demanda local. A valorização das diferenças, no qual

cada um é diferente, seja por causa da aparência, pensamento, fala, ação ou de

origem. Gênero, porque 48% de sua força de trabalho global em todos os níveis é

feminina, mas essa proporção ainda não está refletida em sua liderança. Além disso,

é solicitado a cada empresa da PwC que se concentre em pelo menos uma outra

dimensão de diversidade que seja importante localmente, abrindo espaço para fatores

locais e de acordo com cada contexto, considerando que os desafios serão

diferenciados pela geografia e prioridades de talentos. No Brasil, o foco escolhido de

+1 foi a deficiência, que responde ao talento local e ao panorama regulatório do país

(PwC GL-DJ-2016). A empresa definiu suas dimensões prioritárias (LODEN;

ROSENER, 1991) que concluem em seus estudos que compreender a variedade de

dimensões da diversidade ajuda as organizações a se tornarem conscientes e,

portanto, definirem seus caminhos que levam aos seus objetivos. Importante ressaltar

que, na abordagem 2 + 1, em que cada firma-membro tem liberdade para ampliar o

repertório de dimensões conforme suas demandas.

Em seu ecossistema de D&I, a PwC Global, reconhece que o compromisso de

liderança, responsabilidade, a conscientização e a educação e as intervenções

críticas são cruciais para o sucesso. Um elemento importante de seu ecossistema, foi

a abordagem baseada em dados, pois anteriormente a abordagem era baseada em

crenças e tendências do mercado externo. Muitas destas práticas implantadas na

empresa foram analisadas internamente e não se confirmaram. A partir da análise dos

seus dados, a empresa estabeleceu um processo de análise de D&I que permite

entender suas realidades e identificar aonde estão os desafios de diversidade e

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consequentemente, em que focar suas energias e se seu monitoramento, realizando

uma transição de uma cultura de compartilhamento de "práticas líderes" para uma de

compartilhamento das "práticas comprovadas”.

Baseada em uma combinação de medidas quantitativas e qualitativas, na análise de

dados de diversidade e validada pela Equipe de Liderança Global e pelo Conselho de

Estratégia, criou-se o Índice de Inclusão Global. Essas duas categorias de

mensuração, quantitativa e qualitativa, são também defendidas por Fitzpatrick e

Sharma (2017), após estudarem diversas organizações. Apesar do Índice se

concentrar amplamente na inclusão, as medidas de gênero representam metade da

pontuação geral, pois este continua sendo uma prioridade de diversidade para a PwC.

Além dos dados de 48% de mulheres em seu quadro, as complexidades legais

também significam que gênero é a única dimensão da diversidade que pode ser

medida globalmente. As pontuações do Índice também são usadas como um indicador

de desempenho anuais dos principais sócios das 21 maiores empresas da rede. A

PwC tem como foco para os próximos anos, levar o Índice para todas as empresas

(PwC GL-DJ-2016).

Com base nos resultados do Índice de Inclusão, as empresas da PwC criam e

implementam planos anuais de diversidade com o total apoio do sócio principal da

empresa. No final de cada ano, cada sócio sênior é responsável por informar sobre o

progresso feito em direção ao plano anual de diversidade, e se responsabiliza por

esse progresso (PwC GL-DJ-2016). Isso permite que as empresas da PwC em todo o

mundo aprendam mais sobre o que está funcionando e, portanto, adaptem e

aproveitem essas intervenções (PwC GL-DJ-2016). Estabelecer uma gestão da

diversidade é essencial para que políticas e práticas sejam consolidadas apoiando as

metas organizacionais estabelecidas em toda a sua abrangência (MANOHARAM;

SINGAL, 2017; COX; BLAKE, 1991). Para Cox e Blake (1991), monitorar e avaliar a

mudança é importante para que se possa integrá-la como parte dos processos da

organização, além de que, como no caso da PwC, devem ser estabelecidas com a

gestão. Mensurar a inclusão, para Fizpatrick e Sharma (2017), é considerado um dos

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maiores desafios, o que reflete na complexidade do Índice de inclusão da PwC. Além

do que, mudanças estruturais e soluções baseadas em dados de forma transparente,

podem diminuir a distância entre o que é dito e o impacto real (SAXENA, 2014;

INSTITUTO ETHOS, 2000).

A empresa conta ainda com um Modelo de Maturidade (Figura 12) que é composto

pelo escore final de inclusão e do Índice Geral. Esta é uma ferramenta de

autoavaliação que requer que os territórios se auto avaliem por uma ferramenta online,

com medidas identificadas em cinco categorias consideradas críticas para impulsionar

a transformação cultural e distintivas em relação a D&I na PwC. O modelo de

maturidade avalia os elementos e planos de ação no programa de diversidade dentro

de cada empresa. Depois por uma avaliação independente, para garantir a

objetividade, precisão e consistência das pontuações de maturidade nas 21 maiores

empresas da PwC. Cada firma membro recebe uma classificação e pontuação de

maturidade (PwC GL-DJ-2016). O modelo de maturidade da PwC possui

instrumentos que transmitem este direcionamento para seus integrantes, por meio da

liderança, grupos de trabalho e metas interdependentes (BOEKHORST, 2015).

A campanha anual da Global Diversity Week (GDW) tem como objetivo, alcançar

todos os usuários da rede PwC e ajudá-los engajar e comprometer-se com a

diversidade. Em 2014, as firmas-membro da PwC comemoraram a GDW, que teve

como tema central a criação de valor através da diversidade, com a participação ativa

e interativa dos funcionários. Em 2015, o tema “Da conscientização à ação”, foi

solicitado aos funcionários que se empenhassem em apoiar a igualdade de gênero

global por meio do movimento "HeForShe", engajando os homens e dando a todos a

oportunidade de divulgar publicamente seus compromissos com ações de inclusão

pessoal e de equipe. Em 2016, o GDW atuou com a perspectiva de gerar mais energia,

conscientização e engajamento na rede da PwC (PwC GL-DJ-2016).

As percepções de seus profissionais em todo o mundo estão mudando, com 75%

concordando que “PwC é um ambiente de trabalho inclusivo em que as diferenças

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Figura 12 – Modelo de Maturidade PwC

Fonte: Jornada da Diversidade PwC (PwC GL – REL – 2016)

individuais são valorizadas e respeitadas”, 6 pontos percentuais desde 2011. Com

impacto dos últimos três anos, conforme o Relatório Global (DEL GL–REL–2018), a

empresa identificou que em uma população de talentos chave dos 560 sócios de toda

a rede PwC, 26% são mulheres. A representação feminina passou de zero, em 2013

para 20% em 2015 e 44% em 2016.

Cada profissional da empresa é solicitado a identificar como a D&I apoia sua

estratégia e plano de negócios, com ações explícitas para apoiar as prioridades

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globais de D&I. Além do alinhamento com os líderes para incluir a diversidade ao

planejamento de sucessão da empresa para funções críticas e garantir uma

representação geográfica para as mulheres. Entendendo que o aumento da

conscientização dos líderes não é suficiente, a empresa tem um plano de

conscientização para engajar todos os colaboradores. Cox e Blake (1991) reforçam a

importância de envolver a média gerência no processo. Isso inclui um recurso de

diversidade, o Diversity Matters (Assuntos de Diversidade), seu boletim informativo

semanal, distribuído a todos os funcionários, com o objetivo de criar um fluxo de

conteúdo constante e incorporar o D&I ao pensamento corrente (PwC GL-DJ-2016).

A PwC Reino Unido também percebeu suas melhorias por meio de seus

profissionais, no qual 81% concorda que PwC tem um ambiente de trabalho inclusivo

em que as diferenças são valorizadas e respeitadas, desde que primeiro Open Mind,

programa de mudança de comportamento mental. Em 2016 percebeu que os níveis

de engajamento da população gay/lésbica da empresa cresceu, assim como a

diversidade de suas contratações de pós-graduação, com mulheres e representação

BAME, que atingiu 43% e 34% respectivamente em 2016 em comparação com 37%

e 25% 2012. A representação feminina na Diretoria Executiva do Reino Unido

aumentou para 43% de 25% em 2012. Em 2016, 28% de seus novos sócios eram do

sexo feminino e 7% eram etnicamente diversificados em comparação com 16% e 0%

em 2012. (EY RU-TR-2018)

No Brasil, a PwC atua com foco nos pilares de gênero, valorização das diferenças e

pessoas com deficiência, além de dimensões como raça e etnia, geração, orientação

sexual e identidade de gênero (PwC BR-REL-2016/2017). Atuar sobre diversas

dimensões no Brasil é desafiador, devido ao seu contexto social, como uma sociedade

que não se percebe preconceituosa, mas que se apresenta estratificada e cheia de

vieses preconceituosos, o qual as questões econômicas e raciais definem o acesso e

a oportunidade no ambiente de trabalho (ALL, 2000; IBOPE; 2017; FLEURY, 2000).

Ainda no Brasil, empresa possui 51% de mulheres na empresa e cai para 40%,

quando se considera todos os cargos de gestão de gestão, mas conta com uma menor

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participação das mulheres nos postos da alta liderança. A PwC estabeleceu um

compromisso de elevar o índice de 13% (ano fiscal 2017) para 20% até o ano fiscal

2020. Em sua pesquisa de clima organizacional de 2017, 82% dos profissionais

sentem orgulho em trabalhar na PwC e 66% dizem estar satisfeitos com a promoção

de mudanças sociais positivas através de iniciativas com a comunidade (PwC BR-

REL-2016/2017).

Na PwC brasileira (PwC BRASIL, 2019c), os profissionais podem optar por

modalidades de flexibilidade: Flextime (flexibilização nos horários) Flexweek

(flexibilização na jornada semanal de trabalho); Flexplace (trabalho remoto) (PwC

BRASIL, 2019c). Além da licença-maternidade de 180 dias às suas profissionais, os

homens também passaram a usufruir das regras de flexibilidade concedidas às

mulheres após a maternidade. A PwC Brasil apresenta o benefício da flexibilidade de

forma ampla, possibilitando aos seus funcionários o formato que melhor adere às suas

demandas, trazendo um panorama atrativo, que segundo o World Economic Forum

(2018), é decisivo no momento de um candidato escolher uma proposta de emprego,

além de ser considerada uma estratégia para melhorar a diversidade na empresa

(HUNT et al, 2018).

A firma-membro do Brasil, também participa de fóruns e movimentos como WEP

(Women Empowerment Principles), HeForShe (ONU), Rede Empresarial de Inclusão

Social. A PwC é signatária, patrocinadora e, atualmente, integra o Comitê Gestor do

Fórum de Empresas e Direitos da Pessoa LGBT e também signatária e membro do

Conselho do Pacto Global. A PwC é parceria da ONU na promoção da importância da

adoção dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e elaborou um guia e uma

ferramenta online que ajudam a mapear os ODS mais importantes por país e indústria,

a fim de ajudar as empresas a priorizar suas ações. (PwC BR-REL-2016/2017)

As estratégias de D&I apresentadas pela PwC apresentam coerência e consistência,

por meio de sua gestão e dos modelos desenvolvidos internamente para atuar com

indicadores visando a eficácia de suas ações. As evidências são colocadas de forma

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transparente ao mercado, divulgando dados, evoluções e dificuldades, indo ao

encontro de seu discurso de estabelecer confiança. A empresa divulga relatórios e

tendências de mercado que trazem informações relevantes sobre o que pensam os

executivos e CEOS sobre assuntos relevantes, incluindo D&I. A participação da alta

liderança fica evidenciada em seus relatos, assim como na responsabilidade por ser

protagonista das estratégias de D&I da empresa. Durante dois anos, a empresa

“mergulhou” internamente para buscar, desenvolver e aplicar uma abordagem mais

sustentável e com ações que tenham coerências com suas demandas internas e

objetivos.

4.2.2. A abordagem dos vieses inconscientes nos programas de D&I da PwC

A PwC Global afirma que em seu ecossistema de D&I, a conscientização e a

educação em D&I, são fundamentais e componentes centrais para promover a

mudança e um ambiente de trabalho inclusivo. A partir de 2013, foram conduzidas

intervenções críticas globalmente em combinação com a identificação da

conscientização e da educação como alavancas fundamentais, incluindo o

treinamento de vieses inconscientes. Foi então, solicitado aos parceiros sêniores do

território de cada empresa do Conselho de Estratégia da PwC, que se

comprometessem a realizar uma formação de preconceito inconsciente com as suas

equipes locais de liderança. A partir de então, a empresa percebeu que tinha criado

as bases para uma conscientização e educação de D&I mais ampla, impulsionadas

pelo comprometimento da liderança e pelos sinais e tons corretos alta liderança (PwC

GL-JD-2016). Educação e conscientização convergem com o pensamento de Dike et

al (2013) que afirma que é necessário ocorrer uma mudança de atitude de todos para

que a inclusão se efetive na empresa.

Em seu GDW de 2016, no entanto, a empresa percebendo que os “pontos cegos” são

resilientes, gerando a necessidade de atuar constantemente na conscientização,

transmitiu um treinamento de vieses inconscientes, ao vivo, em todo o mundo,

apresentando uma das maiores especialistas do mundo nessa área, a neurocientista

e professora de Harvard, Mahzarin Banaji. Esta professora, aliada a outros

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pesquisadores, vem estudando sobre o assunto e é referência tanto para a academia

quanto para as organizações. É precursora, junto com Greenwald e Nosek do teste

IAT (Implicit Association Test), que mede atitudes e crenças de pessoas, explorando

e reconhecendo seus preconceitos ocultos. Isso demonstra uma aproximação entre

academia e mercado, dando relevância e embasamento as estratégias de D&I para

as organizações (PwC GL-JD-2016). Para o World Economic Forum (2018),

concentrar-se no treinamento e criar ambientes de respeito, promove a cultura de

inclusão. O GDW da PwC apresenta-se como um processo ativo e promovido por

meio do slogan “Seja você mesmo. Seja diferente”, o que para Ferdman (2017), inclui

presença, participação, segurança e voz.

A PwC RU, por meio do seu programa de mudança de comportamento mental de

longo prazo, o Open Mind (PwC RU–TR–2015; PwC REINO UNIDO, 2019c), lançou

um e-learning sobre viés inconsciente em 2011. O objetivo do programa era fazer com

que todos na empresa fossem mais conscientes dos seus “pontos cegos” nas relações

e na tomada de decisão, além de reforçar as mudanças comportamentais necessárias

para uma cultura inclusiva na PwC RU. O programa consistia em diversas atividades

e intervenções, incluindo um filme ilustrando uma conversa sobre desempenho da

gestão; um filme que traça a jornada da igualdade; comunicação da liderança; uma

explanação de como o viés inconsciente afeta a tomada de decisão; e ações de como

as pessoas pode se tornar ainda mais mente aberta. As mensagens, técnicas e

materiais foram integrados nos processos de gestão da empresa.

Um destaque especial da mudança programa foi a criação de três módulos de e-

learning que incluem, os vieses inconscientes, testes psicológicos e ferramentas de

conscientização e vídeos ilustrativos sobre o viés inconsciente e seu impacto. O e-

learning tornou-se obrigatório em seu lançamento com uma taxa de conclusão de

100%. Em seu segundo e-learning, a empresa fez uma transição de uma abordagem

obrigatória fazendo com que os líderes da unidade de negócios que assumissem a

condução do engajamento do treinamento com suas equipes, com 92% dos sócios do

Reino Unido e equipes, completando o programa nos primeiros três meses.

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Percebe-se pelo material analisado, que a PwC Reino Unido possui uma consistente

atuação sobre os vieses inconscientes desde 2011. Os treinamentos iniciais foram

mandatórios, o que contraria a eficácia para alguns autores (Dobbin; Kalev, 2016; Cox;

Blake, 1991). Posteriormente, a empresa fez uma transição em sua abordagem,

pedindo que seus líderes das unidades de negócios assumissem a condução do

engajamento do treinamento, continuando com seus índices de adesão elevados. A

empresa atribui ainda, um avanço em seus números, desde os níveis de engajamento

à inclusão de BAME e de mulheres. A aderência de clientes ao Open Minds,

transformado em produto e conforme relatado pela empresa, demonstra o

reconhecimento e o impacto do programa (PwC RU–TR–2015).

Como parte de seu compromisso, em junho de 2016, a PwC Brasil realizou a oficina

Vieses Inconscientes, em parceria com o Insper, a ONU Mulheres e o Movimento

Mulher 360, que deu origem ao primeiro guia nacional sobre o assunto para seus

profissionais e o público em geral. O objetivo foi despertar as pessoas para um

mecanismo inconsciente que influencia os julgamentos dentro e fora da organização

e ajudá-las a entender melhor como a mente funciona nos processos de decisão

(incluindo contratação, avaliação de performance e promoções). Elas foram treinadas

para refletir antes de agir nas situações em que algum preconceito inconsciente possa

estar envolvido (PwC BR-REL-2016/2017).

A cartilha, Vieses Inconscientes, equidade de gênero e o mundo corporativo: lições

da oficina de “vieses inconscientes” (2016) foi criada a partir da Oficina de Vieses,

com o objetivo de compartilhar conhecimento teórico e prático sobre o tema. Em

conjunto com o Insper, Movimento Mulher 360 e ONU Mulheres, a PwC realizou uma

a oficina com a presença de representantes de 31 diferentes organizações. O guia

explica os vieses, baseado na psicologia e na neurociência e está disponível para

acesso público. A Cartilha da PwC está baseada nos estudos de Kanneman (2012) e

aborda os Projeto Implícito, dos autores Banaji, Greenwald e Nosek, com o teste IAT.

A Cartilha tem a maior base nos estudos da neurociência, passando também pela

psicologia com foco nas questões de equidade de gênero (PwC BRA-CART-2016;

PwC BR-REL-2016/2017).

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A PwC, de acordo com a análise de suas estratégias de abordagem dos vieses

inconscientes de forma global, como uma empresa que se apresenta atuante,

produzindo ações internas e externas à empresa e produzindo conteúdo, baseado em

estudos acadêmicos como os de Banaji; Greenwald (2016), Greenwald; Banaji (1995)

e Kahnemann (2012).

4.2.3. Processo decisório da abordagem dos vieses inconscientes nos

programas de D&I da PwC

A PwC Global estabeleceu um conselho global de diversidade composto por 25

sócios seniores representando empresas da PwC em toda a rede. O conselho

compartilha as melhores práticas e ideias, e seu objetivo geral é incentivar os líderes

a assumirem o comando na condução de ações concretas para a mudança em suas

firmas locais da PwC. O apoio da liderança e o compromisso com a diversidade, além

de disponibilizar estrutura e recursos, são apontados como genuínos e são mais bem-

sucedidos (DOBBIN; KALEV, 2016; COX; BLAKE, 1991). Sua estrutura de liderança,

converge ainda com Mintzberg (2004), para quem, a responsabilidade concentrada

no topo da organização define a sua capacidade de tomada de decisão (PwC GL-DJ-

2016). Os sócios seniores de todo o território da PwC também passaram por uma

sessão de conscientização da HeForShe durante a cúpula de liderança anual de 2015

em Tóquio, em que foi solicitado que cada um assumisse o compromisso da

HeForShe. Para sustentar temas e atividades do GDW e dar suporte aos seus

funcionários.

Já o PwC Professional, lançado em 2014, descreve aos líderes quem eles precisam

ser e os comportamentos que precisam adotar para atender às expectativas de seus

clientes, colegas e comunidades no mercado global em mudança. Esta estrutura é

mais adequada, segundo Adler e Gundersen (2007), para atender de forma diversa

no mercado global. Estes comportamentos são observáveis e mensuráveis e são o

eixo central de sua cultura de desenvolvimento. Especialistas em diversidade de toda

a rede participaram do processo de design, com o objetivo de ajudar a alcançar dois

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objetivos claros: (a) apoiar a criação de um framework mais simples e fácil de

visualizar, considerando que uma abordagem complexa, criava um risco de

"sobrecarga cognitiva" - uma condição que a pesquisa em neurociência identifica

como um catalisador de viés inconsciente ao tomar decisões; (b) criar uma estrutura

de liderança que tivesse como ponto central o desenvolvimento e a responsabilidade

por comportamentos e mentalidades inclusivos que valorizam a diferença (PwC GL-

DJ-2016).

Além disso, esta forma de decisão da PwC sobre seu programa de D&I, se integra ao

modelo de Choo (2003), pois possui uma orientação estratégica, visa promover

mudanças e inovação, e privilegia o uso de informação gerada internamente,

reavaliando seus processos. O modelo fica bastante evidenciado em suas fases,

desde a fase de identificação em que a empresa fez uma transição de modelo, ao

desenvolvimento e seleção.

Na fase de Identificação (CHOO, 2003; MINTZBERG; RAISINGHANI; THÉORÊT,

1976), a empresa, reconhecendo que seu progresso em D&I não atendia as

expectativas da organização, resolveu fazer um levantamento diagnóstico com um

parceiro, afim de entender e esclarecer as questões levantadas. Na fase de

Desenvolvimento a empresa realizou uma busca pelas melhores soluções após uma

análise profunda em seus processos e métricas internas, em suas maiores firmas-

membro. Contratou uma consultoria externa para suas estratégias e embasou suas

abordagens na neurociência. As fases de identificação e de desenvolvimento levaram

dois anos. Na Fase de Seleção, com o envolvimento e o compromisso da alta

liderança, foi possível definir por modelos que atendessem as demandas da

organização, como o modelo de Maturidade Global, e um robusto Índice de Inclusão,

que possui cem indicadores reportados a liderança global e seus resultados

comparados entre as firmas-membro.

Para as rotinas de suporte (controle, comunicação, política), que complementam o

modelo processual, aparecem de forma integrada na composição do Conselho Global

de Diversidade, criado e comporto pela liderança sênior da empresa, no qual cada

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membro tem como missão atuar sobre as suas lideranças e incentivá-las a assumir a

responsabilidade em agir concretamente em busca da mudança. Como estratégia

para disseminar conhecimento, a empresa possui uma ferramenta de comunicação

global, denominada Diversity Matters.

O processo decisório das estratégias de abordagem dos vieses inconscientes,

estabelecido com um dos objetivos desta pesquisa, não foi evidenciado de forma

direta para este construto. Mas percebe-se que aparece intensivamente permeando

as estratégias de D&I, dando sustentabilidade às ações e aos processos internos de

gestão de pessoas, conforme já relatado no item anterior, no qual a empresa discorre

sobre as etapas de condução de sua jornada de D&I, apresentando objetivos e

métricas bem estruturadas para o seu contexto (CHOO, 2003; MINTZBERG;

RAISINGHANI; THÉORÊT, 1976).

O Quadro 12 apresenta um resumo das informações analisadas na PwC Global, Reino

e Unido e Brasil, de acordo com os construtos estudados na pesquisa.

Quadro 12 – Quadro Resumo PwC

Construtos Quadro Resumo PwC

D&I PwC Global: Foco em valorização da diversidade, gênero e outro de acordo com a demanda de cada firma-membro. Ecossistema da Diversidade: Jornada Global da Diversidade PwC Reino Unido: Indicadores e modelo de maturidade global de D&I. Foco em Gênero, BAME, LGBT. Atua na inclusão da liderança. PwC Brasil: Foco em pessoas com deficiência, além dos dois obrigatórios. Outras dimensões: raça, etnia, geração, orientação sexual. Políticas de flexibilidade, licença familiar

Vieses Inconscientes

PwC Global: Treinamento de vieses inconscientes nas firmas-membro. Treinamento de vieses inconscientes, ao vivo, em todo o mundo com a neurocientista e professora de Harvard, Mahzarin Banaji. PwC Reino Unido:Programa Open Mind, que atua sobre os “pontos cegos”. PwC Brasil: Treinamento de vieses inconscientes. Oficina e Cartilha de vieses inconscientes

Processo Decisório

PwC Global: Consultoria externa: análises de diversidade em quatro firmas: entrevistas, análise de dados e revisão de processos. Conselho Global de Diversidade. Equipe Global de Liderança. PwC Brasil: Possui gestor e equipe de diversidade. A alta liderança atua em diferentes frentes.

Fonte: Baseado em dados.

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4. 3 CASO 3 – EY (Ernst & Young)

A EY refere-se à organização global e pode referir-se a um ou mais firmas-membro

da Ernst & Young Global Limited, e cada uma delas é uma entidade jurídica separada.

A EY é uma empresa britânica, presente em 150 países e sua estrutura é composta

por uma área Executiva e por Regiões. A Executiva inclui a liderança global, corpo de

governança e quatro áreas geográficas, ajudando a supervisionar a estratégia global,

marca, plano de negócios, investimentos e prioridades. As 28 regiões estão

agrupadas em quatro áreas geográficas: Américas (compreende 11 regiões e quase

45 mil pessoas; Europa, Oriente Médio, Índia e África (EMEIA) que inclui 90 países e

reúne 106 mil profissionais; Ásia-Pacífico que reúne cerca de 27 mil profissionais em

cinco diferentes regiões; Japão, emprega mais de 6,5 mil profissionais. No Brasil, a

EY, é sediada em São Paulo e possui 14 escritórios distribuídos por 12 cidades das

Regiões Sul, Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste, além do Distrito Federal (EY

BRASIL, 2019a; EY GLOBAL, 2019a).

4.3.1. Estratégias de D&I da EY

Como seu propósito, a EY define o desejo de construir um mundo de trabalho melhor.

Aliado a isso, a empresa mantém um canal permanentemente aberto para denúncias,

o EY/Ethics Hotline, divulgando os seus relatórios envolvendo alegações de

discriminação (EY BR–REL-2018; EY GLOBAL, 2019b). Evidenciando sua

transparência, a empresa divulga dados, oriundos de seus canais de denúncia.

A EY apresenta a D&I como uma vantagem estratégica para a empresa, tanto para

seu negócio, como para seus clientes, criando equipes de melhor desempenho e um

programa de cultura inclusiva, recrutando, retendo e promovendo talentos mais

diversos, preparando seu pessoal com as habilidades de liderança, além de

estabelecer responsabilidade mútua (EY GL-OADI-2015 ; EY GL-REL-2018). Sua

abordagem engloba redes (LGBTI, Etnia, Gênero), considerados recursos

importantes para alcançar objetivos estratégicos (EY GL-OADI-2015), contribuindo

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para: (a) Sensibilizar e promover a cultura interna de liderança inclusiva; (b) Aumentar

a consciência das questões que enfrentam alguns de seus grupos de pessoas por

meio da educação, gerando, conforme Dike et al (2013) mudança de atitude de todos

na empresa e reumanizando as relações e expressando comportamentos inclusivos

(FERDMAN et al, 2009); (c) Atrair novos talentos, contribuindo para a posição da

organização como um empregador de escolha; (d) Desenvolver e criar um senso de

afinidade com a organização, criando o que Fitzpatrick e Sharma (2017) definem,

como o grau em que o funcionário se percebe como um membro importante do grupo

e pode exercer sua autenticidade e participação; (e) Criar oportunidades para conectar

com colegas em todas as linhas em diferentes localidades geográficas. A abertura de

diferentes pontos de vista, de forma aberta e participativa, integrando diferentes vozes

é fundamental para criação de uma cultura organizacional (BARAK, 2016; DIKE et al,

2013); (f) Conectar-se ao mercado oferecendo oportunidades para engajar seus

clientes e potenciais clientes; (g) Desafiar o negócio para garantir que as práticas

inclusivas sejam naturais (EY GL-OADI-2015).

A EY apresenta sua jornada (EY GL-OADI-2015), iniciada em 2009 por meio da

construção das fundações e da conscientização, passando pela integração da D&I

com a estratégia de negócios. Sua jornada apresenta a abordagem do treinamento

sobre vieses inconscientes no período de 2009 a 2012, metas de gênero e um Plano

de Ação e Reconciliação. A empresa ainda revisou políticas e práticas para a inclusão

e definiu métricas. Informações sobre diversidade foram levantadas por meio de um

censo (EY GL-OADI-2015). Entre 2013 e 2015, moveu sua estratégia da

conscientização à mudança de comportamento e trabalhou para incorporar os

princípios nos processos e estratégias de negócio e mercado. Segundo a EY, a

paridade de gênero foi alcançada em diversos níveis de liderança, além de um

relatório de status. Desde 2015, a EY Global atua para promover o crescimento de

líderes femininos e de grupos minoritários e concentra-se em áreas chave de gênero,

etnia, inclusão LGBT e flexibilidade (EY GL-OADI-2015).

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A EY Global apresenta também em sua jornada de D&I, as quatro etapas do caminho

para obter o melhor desempenho como equipe, indivíduos e organização. Afirma que

está incorporando D&I em todos os processos de negócios e que estão focados em

preparar seus funcionários com as habilidades necessárias para liderar de maneira

inclusiva (EY GL-DI-2014; EY GLOBAL, 2019c). Inserir temas como D&I na pauta das

agendas estratégicas, faz com que a empresa saia do discurso e caminhe para a

maximização de seus resultados (BORIN; FIENO; SAMPAIO, 2015) e o

comportamento dos líderes facilitam também a percepção de pertencimento do grupo

de trabalho, segundo os autores Randel et al (2018).

A D&I para EY (EY GL-REL-2018), é definida como uma jornada de oportunidades

para inovação e crescimento, e indivíduo e organização como um todo, impulsiona o

desempenho por meio de uma maior retenção, crescimento de receita e lucratividade.

Para a EY, diversidade é sobre diferenças, já a inclusão, é sobre criar um ambiente

em que as pessoas se sintam e sejam valorizadas e no qual essas diferenças são

aproveitadas para fornecer melhores resultados de negócios. Analisando a

conceituação de D&I sobre o ponto de vista dos quadros éticos de ML Wallace, Hoover

e Pepper (2014), a EY apresenta uma valorização centrada no raciocínio moral do

negócio, focada no crescimento da receita e lucratividade, e na ética do cuidado,

reconhecendo a singularidade do indivíduo.

A empresa estabeleceu sua maneira de descrever as etapas (Quadro 13) de sua

jornada por meio do chamado Continuum da Mudança de Cultura D&I e que tem como

objetivo alcançar o canto superior direito do quadro e ter as equipes de melhor

desempenho. Segunda a empresa, parte da organização já fizeram, e outras partes

estão trabalhando para progredir. O quadro mostra (Quadro 13), a diversidade (eixo

Y) e a inclusão (o Eixo X), que juntas trabalham para criar mudanças positivas, tanto

para a empresa, quanto para seus clientes. A mudança é abordada por meio de duas

perspectivas: da organização e do indivíduo, sendo ambos considerados necessários

para uma cultura inclusiva (EY GL-DI-2014; EY GLOBAL, 2019c).

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Quadro 13 – Etapas da Jornada de D&I

Etapas da Jornada de D&I da E&I

Passo 1 - Estabelecer uma linha de base e conscientização em cascata Reúna dados e procure pontos de acesso; definir o tom no topo “Temos um ponto de vista claro sobre como a D&I beneficia nossos negócios?” “Estamos comunicando nosso compromisso e estratégia a todas as pessoas?”

Passo 2 Identifique mudanças significativas Revisar os processos de talentos e negócios com uma lente inclusiva; avaliar e incentivar a flexibilidade, permitir patrocínios equitativos e fornecer feedback contínuo “Identificamos lacunas; estamos trabalhando para fechá-los? “Estamos cientes de quaisquer preconceitos inconscientes que afetam nossos processos e poderiam estar limitando o potencial de nosso pessoal?”

Passo 3 - Reconhecer e recompensar modelos Reconhecer as ações cotidianas que demonstram a formação de equipes inclusivas; compartilhar histórias de e sobre líderes inclusivos “Reconhecemos aqueles que fazem equipa e lideram inclusivamente?” “Reconhecemos formal e informalmente, nos comitês de revisão e nos processos de gerenciamento de desempenho, aqueles que exemplificam comportamentos inclusivos, além de habilidades técnicas?”

Passo 4 - Ativar mudança de cultura Definir metas específicas, monitorar e comunicar o progresso “Todos os nossos funcionários se sentem incluídos e capazes de contribuir plenamente?” “Há trabalhos inacabados dos Estágios 1 a 3 que precisam de atenção e investimento adicional?”

Fonte: Jornada da Diversidade e Inclusão (EY GLOBAL, 2019c)

A empresa entende conceitualmente a D&I de forma distinta, mas tem uma atuação

conjunta em sua estratégia, refletida no Continuum da Mudança de Cultura de D&I

(Figura 13), em que os dois eixos atuam juntos para um mesmo objetivo, reforçando

a estratégia, permitindo que as firmas-membro sigam com seus objetivos e metas de

forma clara, além de executá-la dentro de seu ritmo, condições e cultura (EY GL-DI-

2014). A jornada para a excelência é desafiadora em D&I (LANVIN; EVANS, 2018),

mas uma organização multicultural é mais adequada para atender o mercado externo

e suas exigências legais, políticas, sociais e culturais (ADLER; GUNDERSEN, 2007),

mas converge com alguns dos objetivos da empresa que é impulsionar o desempenho

por meio da retenção, crescimento de receita e lucratividade.

A empresa vem examinando cada um de seus principais processos organizacionais,

incluindo recrutamento, pessoal, planejamento de contas, planejamento de sucessão,

promoções, entre outros. Seu objetivo é incorporar equipes inclusivas e liderança em

todos o seu negócio, impulsionando a mudança de cultura. Para a EY, mesmo que

cada região, mercado, equipe e indivíduo esteja em uma etapa da jornada e com

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velocidades diferentes, todos convergem para o mesmo objetivo (EY GLOBAL,

2019c). Cox e Blake (1991), reforçam que atuar nos processos de recursos humanos

é essencial, e que devem observados potenciais vieses em relação a certos grupos e

maneiras pelas quais a cultura interna coloca alguns grupos em desvantagem.

Figura 13 - Continuum da Mudança EY

Fonte: Jornada da Diversidade e Inclusão (EY GLOBAL, 2019c)

Em 2018 (EY GL-REL-2018), a EY Global lançou novas políticas de inclusão e

discriminação para toda a sua rede, e esclarece o que a empresa entende por

discriminação, intimidação e assédio. Outro aspecto importante apontado pela

empresa é The Global Diversity and Inclusiveness Steering Committee) - GDISC,

considerado um componente importante para avançar o processo de D&I em toda a

empresa. O comitê é composto por líderes seniores de todo os serviços, linhas, áreas

e regiões, e cada membro está comprometido em usar sua experiência, conhecimento

da organização e influência para melhorar cultura inclusiva da EY. Seus membros são

fundamentais na conscientização de aspectos de D&I, como o poder de pertencer,

patrocínio equitativo, dinâmica e preconceito dentro e fora da empresa. O primeiro

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Diretor Global de Diversidade e Inclusão da EY foi nomeado em 2014 (EY GL-REL-

2018). Para Randel et al (2018), um conjunto de comportamentos positivos dos

líderes facilitam a percepção de pertencimento do grupo de trabalho, melhorando a

frequência de trabalho (BOURKE; SPEDITO, 2019). É também necessário que os

líderes sejam autênticos (BOEKHORST, 2015) para promover o engajamento e o

ambiente inclusivo.

Uma parte importante de sua agenda de diversidade e inclusão está relacionada com

o avanço das mulheres. Atualmente, 48% de seu pessoal são mulheres, 20% de seus

sócios são mulheres e 29% dos sócios recentemente promovidos este ano são

mulheres. Entre os grupos de liderança, 26% dos Membros executivos; 33% de

governança de seu Conselho global; e 22% de seu Grupo de Práticas Globais são

mulheres. Entre os líderes de suas 301 maiores contas, 12% são mulheres.

Programas de mentoria e patrocínio para apoiar mulheres de alto potencial em todo o

mundo e uma análise rigorosa dos potenciais candidatos a promoção e admissão de

sócios são considerados fundamentais para o desempenho dos negócios e da

economia (EY GL-REL-2018). Atuar sobre o avanço das mulheres no ambiente de

trabalho, principalmente em cargos de liderança é emergente diante das pesquisas.

Para o Fórum Econômico Mundial (WORLD ECONOMIC FORUM, 2018) levará mais

de 200 anos para reduzir a desigualdade no trabalho entre homens e mulheres,

portanto, ações e programas como mentoria, apoio da alta liderança (DOBBIN;

KALEV, 2016; COX; BLAKE, 1991) e aumento da representatividade (FERDMAN et

al, 2009) podem fazer avançar estes números.

A EY Reino Unido disponibiliza informações sobre as disparidades salariais de

gênero e etnia, indo além da legislação. A empresa se comprometeu pela inclusão

com pelo menos 30% de mulheres e 10% de BME na entrada de sócios em até 3

anos. Além disso, possuem políticas compartilhadas de licença parental, gênero

neutro e acessível a todos, além de 84% dos funcionários já trabalharem com

flexibilidade. Uma pesquisa global é realizada a cada 2 anos, em que funcionários

com base no Reino Unido e Irlanda, compartilham seus dados de diversidade, no qual

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83% das pessoas responderam em 2017 (EY RU – REL -2018; EY REINO UNIDO,

2019).

A EY Brasil (EY BR-REL-2017) para garantir a inclusão da diversidade e o respeito,

oferece uma série de iniciativas e programas: (a) Acessibilidade Digital; (b) EY Able:

busca construir uma cultura de inclusão e incentiva o desenvolvimento dos

profissionais com deficiências; (c) Gerações: A EY tem um mix geracional nos

escritórios; (d) Leadership Matters: objetivo de aumentar as habilidades de liderança

inclusivas; (e) LGBTUnity Network: comitê de trabalho LGBT+; (f) Women Network:

grupo liderado por gerentes, sócias e diretoras que promove network e diálogos sobre

desafios, preocupações e oportunidades. Programas de desenvolvimento de redes e

criação de condições ao diálogo são importantes para a valorização da diversidade

(INSTITUTO ETHOS, 2016). Já um programa que atua para aumentar as habilidades

de liderança inclusiva (Leadership Matters), facilita a percepção de pertencimento do

grupo de trabalho (RANDEL et al, 2018), diminui o custo do absenteísmo (BOURKE;

SPEDITO, 2019), além de haver uma relação de liderança inclusiva e engajamento,

segundo Choi; Tran; Park (2015).

A EY Brasil está comprometida com a diversidade de gênero, e afirma que tem feito

esforços para aumentar o número de mulheres na alta liderança. O Comitê Executivo

a EY conta com 2 mulheres (EY BR-REL-2017), o que representa 17%. No ano fiscal

2018 (EY BR-REL-2018), a empresa contava com 214 profissionais com deficiência e

164 afrodescendentes, enquanto as mulheres representavam cerca de 50% de sua

equipe. A inclusão de profissionais com deficiência, mulheres e LGBT+ (Lésbicas,

Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais ou Transgêneros) é estimulada por meio de

uma série de iniciativas e programas (EY BR-REL-2018).

A EY Brasil (EY BR-REL-2018) oferece licença maternidade de até seis meses para

sócias e no caso de o pai também ser sócio a licença poderá, a critério do casal, ser

dividida entre a mãe e o pai, em datas distintas, aplicando-se também a casos de

adoção. A empresa também criou o comitê de trabalho LGBT+, com o objetivo de

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promover a igualdade e o respeito à inclusão, combatendo atitudes preconceituosas

em relação à orientação sexual e à identidade de gênero no ambiente de trabalho. Em

uma pesquisa entre eles, 30% disseram já ter sofrido ou presenciado situações de

preconceito de diversidade sexual na vida profissional (EY BR-REL-2018).

Seu relatório global utiliza da metodologia GRI e uma das principais mudanças na

Matriz de Materialidade da EY Brasil, entre os anos fiscais 2016 e 2018 foi a

reclassificação do tema Diversidade e Inclusão de média para alta materialidade,

significando a importância do tema para seus stakeholders (EY BR-REL-2018). A

firma brasileira é signatária da Carta de Adesão ao Fórum de Empresas e Direitos

LGBTI. A EY também apoia a campanha Livres & Iguais (Free & Equal) da

Organização das Nações Unidas (ONU). Participa da Rede Empresarial de Inclusão

Social (REIS) como membro do grupo Diretor e Pacto Global (em 2016, como

signatária do capítulo brasileiro), e dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável

(ODS). (EY BR-REL-2018)

4.3.2.A abordagem dos vieses inconscientes nos programas de D&I da EY

A EY apresenta sua jornada, iniciada em 2009 por meio da construção das fundações

e da conscientização, passando pela integração da D&I com a estratégia de negócios.

Desde 2015, a EY vem se concentrando em criar equipes de melhor desempenho.

Sua jornada apresenta a abordagem do treinamento sobre vieses inconscientes no

período de 2009 a 2012, além de ter definido metas de gênero e lançando seu Plano

de Ação e Reconciliação. A empresa ainda revisou políticas e práticas para a inclusão

e definiu métricas. Informações sobre diversidade foram levantadas por meio de um

censo (EY GL-OADI-2015).

Em sua jornada pela D&I, a empresa detalha suas ações do passado e seus objetivos

futuros. Apesar de não haver um detalhamento sobre o treinamento dos vieses

inconscientes, denota que a empresa está em sintonia com as pesquisas acadêmicas

(STAATS et al, 2016). A compreensão desses vieses é um importante nas ações de

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D&I, pois segundo Staats e al (2016), há uma conexão com a desigualdade, reforçado

por Cox e Blake (1991) que a ausência de preconceito e discriminação são

características de organizações multiculturais. Um olhar sobre as políticas e práticas

existentes, além da criação de métricas, é essencial para a construção de uma cultura

organizacional inclusiva, em que a transparência seja valorizada (FERDMAN, 2017;

SAXENA, 2014; ALLE, 2000; GOLDIN et al, 2000). A ausência de preconceito e o

mínimo de conflitos são algumas das características de organizações multiculturais,

segundo Cox e Blake (1991) trazendo vantagens estratégicas à organização

(BOURKE et al, 2017).

A EY EMEIA é subdividida em 12 regiões da Europa, Oriente Médio, Índia e África.

Por vários anos, o aumento da conscientização sobre o impacto do viés inconsciente

na tomada de decisão tem sido uma prioridade em toda essa área. Até 2013, mais de

11.400 funcionários haviam concluído o treinamento on-line interativo, como também

o acesso on-line a um kit de ferramentas de viés inconsciente (EY EMEIA–REL–2014).

Em 2013 (EY EMEIA–REL–2013), a empresa implantou uma oficina interativa para

ajudar as equipes de contas a se concentrarem em como para trabalhar em conjunto

de maneira mais eficaz e identificar maneiras de melhorar e aprofundar seus

relacionamentos com clientes em todos os níveis da organização. O programa teve

como objetivos: (a) aumentar a conscientização de como viés inconsciente afeta tudo

o que se faz, uns com os outros e com os clientes; (b) construir competências

inclusivas para melhorar e enriquecer o relacionamento uns com os outros e clientes;

(c) desenvolver estratégias para reconhecer e reduzir o impacto do viés inconsciente

sobre a tomada de decisão; (d) desenvolver estratégias para reconhecer e reduzir o

impacto do viés inconsciente sobre a eficácia. No ano fiscal de 2014, houve um avanço

comparado ao ano de 2011, sobre o número de mulheres promovidas a sócias (de

15% em 2011 para 21% em 2014), mas ainda assim, a empresa identificou que era

necessário melhorar sua atividade de recrutamento. (EY EMEIA – REL – 2013; 2014).

Segundo os Relatórios (EY EMEIA – REL – 2013; 2014), muitas regiões

personalizaram o que está disponível e usaram diferentes maneiras de se conectar

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com seu pessoal. Algumas dessas regiões se destacam em suas ações na abordagem

dos vieses inconscientes conforme os documentos acessados (EY EMEIA – REL –

2013; 2014).

A região BeNe (Bélgica e Holanda) realizou um treinamento em 2013, destacando

como o viés inconsciente pode impactar nos processos de recrutamento, com o

objetivo de aumentar a representação de mulheres em todos os níveis da empresa.

Em 2014 a BeNe continuou a usar seu treinamento Mindbug (Bugs da mente) para

aumentar consciência do impacto do viés inconsciente, para gerentes e acima, no qual

também foi aplicado um teste de associação implícita focado em gênero. Durante uma

oficina ao vivo, os resultados dos testes foram revelados e atividades interativas e

discussões em grupo foram usadas para aumentar a consciência de seu próprio

preconceito inconsciente. Além disso, mostraram que, na região, existe uma

preferência inconsciente pela liderança masculina. Uma sessão separada também foi

organizada para membros da equipe de recrutamento que se concentrou em viés de

gênero e cultura. Esta equipe, formada só de mulheres ficou surpresa ao saber que

elas tinham preferência pela liderança masculina, o que poderia influenciar os

candidatos que elas propõem para os cargos.

Em FraMaLux (Argélia, França, Luxemburgo, Mônaco, Marrocos e Tunísia), foi

treinado em 2013, 23% dos gerentes e gerentes seniores em viés inconsciente, de

forma presencial de duas horas e meia. O objetivo foi disponibilizar ferramentas aos

funcionários para identificar e gerenciar melhor o preconceito e evitar o impacto

negativo sobre as decisões importantes. Em 2014 o treinamento de viés inconsciente

continuou a ser foco, por meio do treinamento on-line, além de sala de aula ou

treinamento virtual e meio dia ao vivo.

No FSO (Financial Services Office), sua liderança de equipe realizou um workshop

para incorporar princípios de D&I nas operações internas, abordando a diversidade

de gênero e inteligência cultural e emocional. A região vem abordando o viés

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inconsciente por meio de treinamento, e com planos de estender o tema para outros

públicos e incorporar mensagens de viés inconsciente em eventos centrais.

Na região GSA (Alemanha, Suíça e Áustria), descobriu uma diferença no pagamento

entre empregados do sexo masculino e feminino e começou a analisar essa lacuna

de gênero. Foi descoberto que as diferenças eram causadas principalmente pela

classificação e a tomada de decisões na promoção durante as revisões de

desempenho. Na média, as mulheres recebiam uma classificação mais baixa e foram

promovidas com menos frequência ou de forma mais lenta do que os seus pares

masculinos. Baseado em pesquisas acadêmicas que delinearam o impacto potencial

de viés inconsciente e baseada em estereótipos de gênero, eles começaram a

procurar nas várias avaliações de desempenho resultados de funcionários masculinos

e femininos. Uma ferramenta foi desenvolvida para ser usada em rodadas de

desempenho como uma verificação instantânea do viés baseado em gênero

distribuição de classificações. Esta ferramenta foi usada com sucesso em GSA por

anos e viu a disparidade salarial entre homens e mulheres diminuir. A ferramenta Just

in Time, desenvolvida no GSA, foi lançada para outras regiões EMEIA em 2014. A

ferramenta é usada durante as mesas redondas de desempenho. Qualquer viés

inconsciente ou estereótipo baseado em gênero que pode influenciar classificações

ou decisões de promoção são descobertas durante o processo de mesa redonda e

podem ser discutidos antes das decisões serem finalizadas. Durante o ano fiscal de

2014, a ferramenta também foi usada no CSE (Bulgária, Croácia, República Tcheca,

Grécia, Hungria, Polônia, Romênia, Sérvia, Eslováquia, Eslovênia e Turquia),

FraMaLux, FSO, Índia e UK&I (Reino Unido e Irlanda) e foi observado um impacto

positivo no equilíbrio de gênero do desempenho classificações em cinco destas seis

regiões.

No MENA (Oriente Médio e Norte da África), realizou durante o ano fiscal de 2013,

um treinamento de viés inconsciente. O treinamento foi mandatório para todos os

funcionários na classificação de gerente e acima, como bem como aqueles abaixo de

gerente, mas com responsabilidades de aconselhamento. Este treinamento virtual já

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foi entregue com a 95% da população-alvo no MENA com sessões organizadas para

treinar os restantes 5% em 2014. Além do que, a empresa designou que uma

atualização sessão precisa ser concluída a cada dois anos para garantir que tais

habilidades são mantidas atualizadas.

Na região dos Nórdicos (Dinamarca, Finlândia, Islândia, Noruega, Suécia), em

houve um foco maior em atrair talentos de diversas origens na região no ano de 2014.

Historicamente, tem sido difícil para qualquer um entrar nos países nórdicos para

trabalhar se eles ainda não conhecem os idiomas locais. Comunicações e políticas

foram fornecidas apenas em línguas, e isso era uma barreira para a mobilidade bem-

sucedida. No mesmo ano houve uma mudança no processo, e o objetivo foi fornecer

todas as comunicações em inglês. Esta mudança vem sendo implementada em toda

a Região, e eles estão começando a ver mais mobilidade e o recrutamento de talento

internacional. Além de atrair talentos do exterior, os países nórdicos a equipe de

recrutamento também foi treinada sobre como reconhecer o viés inconsciente durante

a seleção e o processo de entrevista.

A EY EMEIA é uma região significativa que engloba 90 países da Europa, Oriente

Médio, Índia e África e está subdividida em regiões menores, mas ainda assim, com

vários países cada uma. A região como um todo vem investindo na conscientização

dos impactos dos vieses inconscientes, onde cada uma se utilizou de diferentes

estratégias e personalização. Diversos públicos também foram atingidos, de

profissionais, novos funcionários e gestores. Outros ponto a ressaltar foram os

objetivos, que além de conscientizar sobre o impactos dos vieses na relações internas,

foram abordados também o relacionamento com os clientes, a aplicação do teste de

associação implícita (IAT) focado em gênero na região de BeNe, treinamento para

lideranças em FraMaLux, a incorporação dos princípios de D&I nas operações

internas no FSO e em decisões de promoção na GSA, além do treinamento ser

mandatório em Mena, e o treinamento da equipe de recrutamento com foco na seleção

e entrevista na região dos Nórdicos. Esse processo na EY EMEIA reforça a crescente

onda de conscientização sobre o preconceito e seus vários domínios, assim como o

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crescimento no formato de treinamento e educação (STAATS et al, 2016) impactando

os processos internos de recursos humanos (COX; BLAKE, 1991). Estes processos

inconscientes influenciam o julgamento das pessoas (KANG; BANAJI, 2006) e a

redução do preconceito tem sido vista com um processo de reaprendizagem

esforçado e autoconsciente (AJZEN; DASGUPTA, 2015).

A firma-membro da EY Reino Unido relata (EY RU–ST–2019a) que em 2015 removeu

as exigências de padrões acadêmicos mínimos no processo de recrutamento de

estudantes, substituindo por um processo baseado em pontos fortes. O processo de

triagem às cegas, aonde nenhuma decisão de triagem é feita com base no CV e

experiência de trabalho, havendo um aumento de 75% na busca pelos programas de

estudantes da EY. Algumas empresas, com a firma do Reino Unido, estão além da

legislação (ETHOS, 2016) e atuam comprometidas com o futuro da organização por

meio de suas decisões estratégicas como o apoio da alta liderança, investimentos

diversos, comitês, envolvimento de todos os níveis de gestão (DOBBIN; KALEV, 2016;

COX; BLAKE, 1991) e que sejam refletidas na mudanças de atitudes dos indivíduos

(LAI; BANAJI, 2017).

O Quadro 14 apresenta um resumo das informações analisadas na EY Global, Reino

e Unido, EMEIA e Brasil, de acordo com os construtos estudados na pesquisa.

Quadro 14 – Quadro Resumo EY

Construtos Quadro Resumo EY

D&I EY Global: Gênero, etnia, LGBT. Benefícios: flexibilidade e licença familiar. Atua em redes de afinidade. Relata apenas a revisão de políticas e práticas para a inclusão. Definição de métricas. Inclusão na liderança. EY Reino Unido: BME. Metas de inclusão. Rede voluntária de funcionários dedicados a D&I. EY EMEIA: Foco em BAME e Gênero. Atuação regional com adaptações. EY Brasil: LGBT+, Gênero, PCD, Geracional.

Vieses Inconscientes

EY Global: Treinamento de vieses inconscientes entre 2009/2012. Treinamento Inter-Cultural – estereótipos sociais. EY Reino Unido: Mudança na R&S – triagem às cegas e treinamento. EY EMEIA: Treinamento vieses inconscientes. Treinamento de recrutadores e nas avaliações de desempenho. Uso IAT. EY Brasil: Comitê de Trabalho LGBT

Fonte: Dados da Pesquisa.

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4.4. CASO 4 – KPMG

A KPMG é uma rede global de firmas independentes que está presente em 153

países. No Brasil, os profissionais estão distribuídos em 22 cidades localizadas em 13

estados e no Distrito federal. Atua como uma rede global de firmas-membro

independentes que prestam serviços profissionais de auditoria, consultoria tributária e

consultoria de negócios (KPMG GLOBAL, 2019a; KPMG-BRASIL, 2019b).

4.4.1. Estratégias de D&I da KPMG

A KPMG Global (KPMG GL-ID-2018) possui uma estrutura estratégica de inclusão e

diversidade (Figura 13). A estrutura é composta de três princípios, três fases distintas

vivenciadas pela empresa e seis Signature Initiatives (iniciativas de assinatura, em

tradução livre), além das três metas globais. A empresa, que usa a sigla I&D, Inclusão

e Diversidade, conceitua estes termos como, Inclusão: “É sobre nós; criar uma cultura

que busca a igualdade e abraça, respeita e valoriza as diferenças para todos nossos

povos” e Diversidade: “É sobre cada um de nós, sobre a variedade de experiências

únicas, qualidades e características que todos possuímos.” (KPMG GL-ID-2018).

Figura 14 – Framework estratégico de Inclusão e Diversidade Global

Fonte: KPMG (KPMG GL-ID-2018).

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Em sua estrutura (Figura 14), apresenta as metas (KPMG GL-ID-2018): (a)

Crescimento inclusivo e diverso das lideranças e a construção de times colaborativos;

(b) Inspirar perspectivas diversas e soluções inovadoras para os clientes; (c) Construir

ambientes de trabalho inclusivos e vibrantes. Suas fases na estrutura de I&D foram

assim determinadas: para 2017 – Getting sorted (Ser classificada, em tradução livre);

2018 – Getting serious (Ficando sério, em tradução livre); 2019 – Getting ahead (Ir

adiante, em tradução livre), aonde distingue suas várias fases no processo de I& D,

até então.

Dentre suas Signature Initiatives, ela destaca seis tópicos essenciais para seu

processo global (KPMG GL-ID-2018):

Autênticos líderes inclusivos – um componente importante da estratégia é liderar pelo exemplo. Os líderes, quando vistos como modelos autênticos, inspiram mudanças e promovem a inclusão de forma proativa, criando equipes diversificadas, que se respeitam e apoiem. Para Boekhorst (2015) líderes autênticos que possuem comportamentos simples e visíveis facilitam a compreensão fazendo com que seus comportamentos sejam replicados.

Identidade atual e inovadora - fortalecer uma identidade autêntica que celebre a cultura inclusiva e a diversidade da empresa, que inspire e que seja marcante para todos os stakeholders.

Crescendo pelo conhecimento – a empresa desenvolveu um modelo de maturidade de I&D que é avaliado internamente por cada firma-membro. É por meio desta ferramenta que os usuários são encorajados a criar um plano de ação de I&D através dos insights recebidos. Este modelo visa o estágio de maturidade da equipe I&D ou fornece uma estrutura simples e eficaz para identificar as funções de cada firma-membro; fornecer um meio para cada firma medir seu progresso e administrar suas iniciativas; alinhar as firmas com relação a definição e dimensões de I&D na empresa; implulsionar a consistência das mensagens e a compreensão das estrutura global da empresa e de suas associadas e atuar como um modelo para a implantação

de outras iniciativas.

Ambição e responsabilidade – A empresa está em uma jornada para desenvolver e apresentar métricas de I&D para fornecer um panorama transparente em toda a rede global, buscando acompanhar a análise de dados, visibilidade e transparência, promovendo o aceleramento da I&D e celebrando o compromisso da empresa em liderar em I&D.

Diversidade de pessoas na liderança - A empresa elevou à diversidade a um foco global na diversidade de clientes e das equipes internas, unindo os dois para refletir a sua diversidade, incluindo clientes, mídia reguladores e sociedade civil de forma colaborativa e melhorando a inclusão do local de trabalho de todos. O Relatório destaca o Brasil como líder na inclusão de

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transgêneros, apoiando a busca por direitos iguais e inclusão de pessoas transexuais no local de trabalho.

Os objetivos do modelo de maturidade da KPMG Global e de sua jornada de I&D

sinalizam um compromisso de longo prazo com o futuro da organização (DOBBIN;

KALEV, 2016; BARAK, 2016; DIKE et al, 2013; COX; BLAKE, 1991) diminuindo a

relação entre o que é dito e o impacto real, por meio de mudanças implementadas de

forma estruturada e soluções transparentes baseadas em dados (SAXENA, 2014;

ALLE, 2000). Estabelecendo a diversidade na liderança e equipes internas é uma

necessidade para todos os mercados (SAXENA, 2014; INSTITUTO ETHOS, 2000).

A empresa possui ainda três redes globais de Inclusão e Diversidade (KPMG GL-ID-

2018) atuando como redes virtuais em locais onde não há rede na firma local,

ajudando a criar uma comunidade global de confiança para os profissionais dentro e

fora da KPMG: - a Global Pride at KPMG – lançada no final de 2017 com o objetivo

de apoiar profissionais e aliados LGBT+; - a KPMG Global Disability Network –

lançado em setembro de 2018, apoia as pessoas com deficiência; - a Global KNOW

(KPMG Network of Women) – lançado em 2018, a empresa reconhece o papel crítico

que os homens desempenham na promoção da inclusão de gênero, e o faz por meio

das atividades do KNOW. Os objetivos destas redes são: compartilhar conhecimento

e estratégias; desenvolver uma melhor compreensão dos desafios de todos; combinar

recursos e oportunidades para ampliar o alcance e o impacto; fomentar espaços de

inclusão, principalmente em lugares onde as barreiras são maiores (KPMG GL-ID-

2018). Criar condições ao diálogo e entendimento, como as redes de I&D da KPMG,

são importantes para a valorização da diversidade nas organizações (INSTITUTO

ETHOS, 2016). Seus objetivos convergem com os estudos de Ferdman et al (2009)

que dizem que sobre a experiência de inclusão, criando um ambiente

psicologicamente seguro, diante do desejo da empresa de criar uma comunidade

global de confiança.

A KPMG Brasil reforçou sua atuação com a criação do Comitê de Inclusão e

Diversidade (CID). O comitê tem como objetivo evoluir e incentivar a sua atuação em

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quatro frentes: Mulheres, LGBT+, Raça/etnia e Pessoas com deficiência. A empresa

justifica a escolha destas quatro dimensões da diversidade porque elas são demandas

urgentes da sociedade, necessitando de mudança de comportamento e mindset, tanto

interna como externamente. Para cada pilar a empresa conta com dois líderes, que

vem desenvolvem um plano de trabalho para os próximos três anos, desdobrado em

Desenvolvimento e Pipeline de Talentos, Políticas internas e Cultura Organizacional,

Comunicação e Eventos. O comitê ainda elabora, aprova e monitora o plano

estratégico que engloba os quatro pilares de atuação e seu orçamento anual (KMPG

BR-REL-2017/2018).

De acordo com o Relatório Global (KPMG GL-REL-2018) as quatro frentes do comitê

estão descritas como: (a) Network Of Women (KNOW), coordena desde 2009, as

iniciativas voltadas à equidade de gênero internamente e a promoção do tema entre

os stakeholdes, fomentando o networking feminino e o avanço das mulheres em suas

carreiras, criando um ambiente inclusivo, além da reorganização da programação de

clientes durante e após a gestação, da licença maternidades, entre outros. (b)

Pessoas com Deficiência (BUDDIES) - promove iniciativas voltadas à inclusão de

PCDs na empresa. (c) Raça e Etnia (EBONY) – visa dar visibilidade às questões de

raça e etnia. (d) LGBT+/VOICES - dedica-se às questões de orientação sexual e de

identidade de gênero. A KPMG Brasil atua forma estruturada por meio de seu comitê

de Inclusão e Diversidade além da abrangência das dimensões da diversidade mais

evidenciadas pela sociedade. Qualquer organização que realmente entenda a

importância da diversidade em sua força de trabalho precisa assimilar as dimensões

descritas (RIJAMAMPIANINA; CARMICHAEL, 2005; LODEN; ROSENER, 1991).

Entendê-las ajuda as organizações se tornarem conscientes dos atributos que são

importantes para elas; valorizá-las é um passo fundamental para que se defina qual o

seu significado para a organização.

A KPMG Brasil também participa de movimentos e fóruns como: Aliança Toda Cor,

que tem o objetivo de acelerar a inclusão de profissionais negros no mercado,

HeforShe e WEPs, da ONU, Aliança Toda Cor; Fórum de Empresas e Direitos LGBT

e Iniciativa Empresarial pela Igualdade Racial. Fórum de Empresas e Direitos LGBT,

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Rede Empresarial de Inclusão Social (REIS), WEP (Women Empowerment

Principles), HeforShe (ONU Mulheres), Pacto Global da ONU, ODSs, entre outros.

(KMPG BR-REL-2017/2018; KPMG-BRASIL, 2019b), o que reforça seu compromisso

com a transparência.

4.4.2. A abordagem dos vieses inconscientes nos programas de D&I da KPMG

Mesmo não sendo percebida uma abordagem intensiva sobre os vieses inconscientes

na KPMG, verifica-se uma tendência em algumas firmas-membro, como a KPMG

Canadá, em que a abordagem dos vieses inconscientes foi desenvolvida em 2014

(KPMG GL-ID-2018), por meio de treinamentos, com foco no aprendizado sobre as

diferenças culturais. Desde então, tem sido adaptado para vários níveis em toda a

organização e desenvolvido através da rede KPMG de firmas-membro. A formação

está relacionada com a responsabilização, no qual todos os sócios têm medidas

formais que afetam sua remuneração. A ausência de preconceito, pluralismo e metas

igualitárias estão entre algumas das características de organizações multiculturais

(COX; BLAKE, 1991), além do envolvimento de todos os níveis da organização e do

apoio da alta liderança demonstrar compromisso com o futuro da organização

(DOBBIN, KALEV, 2016; COX; BLAKE, 1991). A responsabilização tratada com

medidas formais pela KPMG Canadá, faz com que a empresa sai do discurso (BORIN;

FIENO; SAMPAIO, 2015) e sejam refletidas nas mudanças de atitudes dos indivíduos

(LAI; BANAJI, 2017).

Na KPMG EUA, a abordagem é realizada por meio do programa Include (KPMG GL-

ID-2018) que possui uma solução de aprendizado virtual que promove a inclusão do

dia a dia ao ajudar as pessoas a entender os vieses inconscientes que podem

influenciar as decisões diárias, e como mitigar seu impacto e intencionalmente nos

comportarmos para apoiar e inclui todos. Mais de mil sócios e gerentes de pessoas já

participaram e outros treinamentos estão em andamento. Estas estratégias de

redução do preconceito são vistas como um processo de reaprendizagem esforçado

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e autoconsciente, e assim como a KPMG EUA, muitas pesquisas tem se concentrado

na mudança de atitudes na consciência das pessoas (AJZEN; DASGUPTA, 2015).

O Quadro 15 apresenta um resumo das informações analisadas na KPMG Global,

Canadá, EUA e Brasil, de acordo com os construtos estudados na pesquisa.

Quadro 15 – Quadro Resumo KPMG

Construtos Quadro Resumo EY

D&I KPMG: foco em LGBT+, PCD, Gênero. Líderes inclusivos. Diversidade na liderança. Métricas globais. KPMG Brasil: foco em Gênero, LGBT+, Raça/etnia e PCD.

Vieses Inconscientes

KPMG Canadá: Treinamento desde 2014 – foco diferenças culturais. KPMG EUA: KPMG Include – treinamento virtual vieses inconscientes. Treinamento intensivo com as lideranças

Processo Decisório

KPMG Global: Framework estratégico global de inclusão e diversidade. Modelo de Maturidade de I&D. KPMG Canadá: Todos os sócios têm medidas formais que afetam sua remuneração. KPMG Brasil: Área de Cidadania, Inclusão e Diversidade. Comitê de Inclusão e Diversidade

Fonte: Elaborado pela autora, baseado em dados da pesquisa.

4.5 Um olhar sobre as Big Four

Considerando a documentação acessada das empresas pesquisadas, o Quadro 16

apresenta os principais pontos de relevância das quatro empresas. As siglas

correspondem as seguintes descrições: D (Dimensões), E&A (Estratégias e Ações),

LCI (Liderança e Cultura Inclusiva), BT (Bases Teóricas), IGP (Impacto no processo

de Gestão de Pessoas), conforme as categorias de análise. De acordo com o quadro

comparativo, pode-se perceber algumas tendências nos quatro casos apresentados

em relação aos objetivos de pesquisa.

As estratégias de D&I de forma geral, se concentram principalmente nas dimensões

de gênero, além de PcD (pessoas com deficiência), LGBT e etnia e raça. As quatro

empresas atuam com modelos de maturidade ou frameworks estratégicos como

condutores de um alinhamento global entre as firmas e tem na alta liderança, o

compromisso com a D&I. A participação do board das empresas em relação ao

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direcionamento e importância de D&I devido às novas relações de trabalho, pautadas

pelas demandas globais se apresenta de forma intensiva nas publicações. E em

sintonia com a literatura, onde o envolvimento da alta liderança é fundamental para o

tema avançar (BOURKE, SPEDITO, 2018; DOBBIN; KALEV, 2016). A liderança em

todos os níveis também é foco das quatro empresas, com uma preocupação em atingir

níveis de diversidade em sua composição, buscando acelerar um ambiente inclusivo,

aspecto importante para o compromisso com o futuro da organização Dobbin e Kalev

(2016). Programas de flexibilidade e licença parental estão entre os benefícios mais

abordados pelas empresas com o claro objetivo de acelerar a inclusão de gênero.

Apesar de todas as empresas apontarem para a definição de métricas, a PwC,

evidencia em seus documentos seu Índice Global de Inclusão, detalhando sua

composição e gestão.

Em se tratando dos vieses inconscientes, tema central do presente estudo, verificou-

se a presença de ações em todas as empresas, de forma global ou local. A EY

apresenta a abordagem, logo no início de sua jornada, com foco na conscientização.

Suas firmas-membro do Reino Unido e EMEIA apresentam soluções baseadas em

treinamento (STAATS et al, 2016), diversificando seu formato e alterando seus

processos de gestão de pessoas, assim como a firma da Deloitte Reino Unido

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Quadro 16 – Quadro resumo das empresas

Fonte: Elaborado pela autora, baseado em dados da pesquisa.

Deloitte PwC EY KPMG

D&

I -

Estr

até

gia

s

- Global: Gênero. (D) - Políticas para ambiente inclusivo: flexibilidade (E&A). - Redes globais por dimensão (E&A) - RU: BAME e LGBT+ (D) - Ações de conscientização (LCI) - Possui metas e dados transparentes e redes (E&A) - Brasil: PCD (D)

Global: Valorização da diversidade, gênero e outra dimensão de acordo com a demanda de cada firma-membro. (D) Ecossistema da Diversidade: Jornada Global da Diversidade (E&A) Indicadores e modelo de maturidade global de D&I (E&A) Brasil: Flexibilidade (E&A)

Global: Gênero, etnia, LGBT (D) Flexibilidade (E&A) Brasil: BAME, LGBT+, Gênero, PCD, Geracional (D) Redes (E&A) Revisão de políticas (E&A) e práticas para a inclusão(LCI) Definição de métricas; Transparência (E&A). Abordagem global (E&A) Inclusão na liderança (LCI)

LGBT+, PCD, Gênero, Raça e Etnia (D) Redes (E&A) Líderes inclusivos (CLI) Diversidade na liderança Métricas globais (E&A) Brasil: Gênero, LGBT+, Raça/etnia (D)

Vie

ses

Inconscie

nte

s

-

Abord

age

m

RU- Treinamento de vieses inconscientes em diferentes formatos e obrigatórios. (E&A) Processo de R&S adaptados: entrevistas às cegas nas universidades.(IGP) Deloitte Austrália: Juliet Bourke

Global: Treinamento de vieses inconscientes nas firmas-membro. com Mahzarin Banaji. (BT) RU: Programa Open Mind: atua sobre os “pontos cegos”. (E&A) Brasil: Treinamento de vieses inconscientes Oficina de vieses Inconscientes Cartilha de vieses inconscientes (E&A)

Presente em algumas firmas-membro, por meio de treinamentos. (E&A) Mudança nos processos de recrutamento e avaliação de desempenho (Austrália, EMEIA e RU) (IGP)

Canadá: Treinamento desde 2014 – foco diferenças culturais. (E&A) EUA: KPMG Include – treinamento virtual vieses inconscientes. (E&A)

Pro

cesso

Decis

óri

o

-

Vie

ses I

nconscie

nte

s Global: Estrutura de governança

para D&I. Programas Globais como direcionador - independência de ação para as firma-membro. Não há dados globais ou por empresa. RU: Conselho Consultivo BAME Conscientização da liderança

Global: Consultoria externa: Análises de diversidade: entrevistas, análise de dados e revisão de processos. Equipe Global de Liderança Brasil: Possui gestor e equipe de diversidade. A alta liderança atua em diferentes frentes.

Global: Consultoria externa: análises de diversidade em quatro firmas: entrevistas, análise de dados e revisão de processos. Conselho Global de Diversidade Equipe Global de Liderança Brasil: Possui gestor e equipe de diversidade. A alta liderança atua em diferentes frentes

Global: Framework estratégico global de inclusão e diversidade Modelo de Maturidade de I&D RU: Todos os sócios têm medidas formais que afetam sua remuneração Brasil: Área de Cidadania, Inclusão e Diversidade/Comitê de Inclusão e Diversidade

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(STAATS et al, 2016), o que vem sendo reforçado pelas pesquisas, em que afirma

que é necessário ir além dos treinamentos para se tenha mudanças sustentáveis,

assumam também sua responsabilidade sobre os vieses (WILLIAMSON; FOLEY,

2018; HOLROYD; SCAIFE; STAFFORD, 2017). A KPMG EUA também expõe seus

treinamentos em vieses inconscientes, mas de forma breve. Já a PwC descreve em

seus documentos, uma estratégia mais consistente em termos da abordagem dos

vieses inconsciente, levando de forma global um direcionamento baseado na

neurociência (BANAJI; GREENWALD, 2016, 1995; KAHNEMAN, 2012). Sua iniciativa

global, influência todo o seu network de firmas, ressaltando a PwC Brasil, que possui

uma publicação sobre o tema e a PwC do Reino Unido com seu abrangente programa,

o Open Mind. Como apresentado, a abordagem dos vieses inconscientes acontece

dentro dos programas de D&I, que tem o treinamento como forma principal de

atuação.

Apesar da atualidade do tema percebe-se que as empresas estão amadurecendo e

buscando a melhor forma de atuar sobre o preconceito. Segundo os documentos, há

um esforço em estabelecer metas desafiadoras, preparar a liderança e atuar nos

processos de gestão de pessoas, e a abordagem dos vieses inconscientes, mesmo

nova, vem se apresentando como um recurso crescente nas empresas pesquisadas.

Há uma convergência das estratégias e ações com a literatura, porém, como já

retratado, o tema é novo, e o aprendizado vem acontecendo quase ao mesmo tempo

na academia e no ambiente de trabalho.

Já na prática, a atuação das organizações para uma sociedade mais justa e sem

preconceito apresenta paradoxos, principalmente em questões éticas do seu dia a dia,

como os diversos escândalos referidos às Big Four, já relatados. O paradoxo dá

transparência, da ética e das boas práticas de governança corporativa, em que se

busca um ambiente de trabalho e uma sociedade mais justa e os caminhos percorridos

pela competitividade do negócio (TREASY, 2017). Apesar apresentarem muitos

pontos positivos, a insatisfação com seus modelos de negócio permanece viva na

mídia. Parece, portanto, haver uma vulnerabilidade e um futuro incerto, diante de uma

nova era de transparência (GOW; KELLS, 2018), onde a coerência entre o discurso e

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a prática se tornarão cada vez mais exigidos. Uma equação complexa para se resolver

e um desafio enorme para as empresas.

4.6. Os vieses inconscientes e seu processo decisório na PwC: análise das

entrevistas

Conforme apresentado na metodologia, a empresa PwC foi escolhida para aprofundar

o estudo, por apresentar maior ênfase na abordagem dos vieses inconscientes em

seus documentos públicos, principalmente na firma brasileira, facilitando a interação

e possibilitando aprofundar o tema de estudo. A realização das entrevistas

semiestruturadas proporcionaram um aprofundamento no tema da pesquisa por meio

da percepção dos entrevistados sobre a gestão da PwC, relacionada às suas

estratégias e ações de diversidade e inclusão, vieses inconscientes e seu processo

decisório.

Foram realizadas duas entrevistas simultâneas, com uma sócia PwC e Líder de

Gênero, nesta pesquisa denominada LG e com o Gestor de Diversidade, denominado

GD, em São Paulo, na sede da PwC Brasil. Este formato, foi o disponibilizado pela

empresa para acomodar as agendas. Interessante abordar o tempo de empresa de

cada entrevistado, o que pode trazer uma visão diferenciada sobre a cultura da

empresa nos aspectos relacionados à diversidade e inclusão, onde a sócia está há 20

anos na empresa e o gerente de diversidade está há 10 meses. As entrevistas,

conforme Apêndice A, foram divididas didaticamente pelos construtos da pesquisa,

sendo que, durante as conversas alguns assuntos permearam os construtos de forma

transversal.

A sócia líder de Gênero é executiva e de acordo com as estratégias de engajamento

da alta liderança da empresa, descritas na análise documental, atua de forma ativa

nesta dimensão (gênero), apoiando a área de Diversidade da empresa e participando

ativamente de iniciativas tanto interna como externamente. Os demais sócios atuam

em outras dimensões, de acordo com as estratégias internas.

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4.6.1. D&I – Estratégias na PwC

De acordo com a análise documental, a PwC apresenta estratégias globais de D&I

para as firmas-membro. Com o objetivo de perceber a conexão entre o que está

relatado na análise documental, levantou-se a questão de como a empresa entende

a diversidade e a inclusão, contata por LG:

“[...] somos uma fração dela (sociedade) aqui dentro [...] diversidade é importante para nós não só do ponto de vista de que pessoas com pensamentos diferentes, formações diferentes, experiências diferentes, trazem ideias, inovações e como é importante você compartilhar tudo isso, mas desde o que é respeito, o que é um direito [...] faz parte dos Direitos Humanos [...]. Não dá para separar (conceitos de D&I) [...]. Tanto que o nosso comitê a gente fala diversidade, diversidade para abreviar, mas é diversidade e inclusão.”

Essa fala apresenta duas abordagens para descrever porque as organizações

valorizam a diversidade (ML WALLACE; HOOVER; PEPPER, 2014), uma abordagem

centrada no raciocínio moral (“é um direito [...] faz parte dos Direitos Humanos”), o

raciocínio moral dentro do negócio (“trazem ideias, inovações”) e a ética do cuidado

(“é respeito”). Já GD, expõe a diferença entre os conceitos:

“[...] a gente trabalha a questão da representatividade, da diversidade, aumentando o número de mulheres, tentando aumentar o número de talentos negros, tentando aumentar o número de pessoas com deficiência, mas tudo isso são só números [...]. Como que a gente consegue trabalhar a valorização desta diversidade? Então temos mulheres, temos mulheres. Aonde elas estão? Nestas categorias? Como é que está a questão da equidade salarial? Como é que está a questão do negro? Temos negros, agora temos negros. Mas aonde estão? Estão na base [...] estão chegando no topo? Com PCD é a mesma coisa [...]. Cumprimos a cota então, então acountability já foi. E a inclusão tem um plano de carreira, a gestão da acessibilidade está sendo feita [...]. Então, são conceitos distintos diversidade e inclusão, mas que precisam acontecer sempre ao mesmo tempo.”

“Não dá para separar. (diversidade e inclusão), complementa LG. Este pensamento

está em sintonia com muitos autores, que entendem que a D&I são conceitos distintos

(FERDMAN, 2017; BARAK, 2016; DE AQUINO; ROBERTSON, 2008). Ferdman

(2017), ainda afirma que a inclusão é um processo da presença, participação,

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segurança, voz, autenticidade, equidade e igualdade, percebidos no entendimento

das falas dos entrevistados da PwC.

A diversidade na PwC, é um processo global: “[...] tem tanto global quanto em cada

território (a PwC em cada um dos países). Tem a questão da cultura do e seu ambiente

[...]” relata LG, referindo-se a gestão. Segundo LG, na PwC, há tanto a liderança do

presidente da PWC, quanto do líder de RH e dos sócios, afirmando que todos estão

muito empenhados na questão da diversidade, não só como uma questão de direitos

humanos, mas o quanto é importante do ponto de vista econômico de negócios,

posicionamento que converge com Borin, Fieno e Sampaio (2015), que afirmam que

a diversidade é um caminho para maximizar resultados. LG conta que é a responsável

pelo grupo de gênero, dentro do comitê de diversidade. O posicionamento e a

participação positiva da liderança da PwC, facilita a percepção de pertencimento do

grupo de trabalho (RANDEL et al, 2018), melhorando as percepções de inclusão

(BOURKE; SPEDITO, 2019):

“Dentro da área de RH temos a área de diversidade. O RH tem uma posição dentro da nossa estrutura muito importante. O representante de RH e o sócio representante de RH, formam a liderança da firma junto com os sócios que são líderes de operação [...] então a área de diversidade está dentro dessa

estrutura de RH”.

A fala de LG está em sintonia com o que foi apurado na análise documental (PwC GL-

DJ-2016) em que a empresa apresenta seu ecossistema de D&I, afirmando que o

compromisso de liderança e responsabilidade, entre outros atributos, são cruciais para

o seu sucesso. Abordados sobre a gestão do programa, LG relata:

“Nós temos metas para aumentar a diversidade como um todo [...] a gente se utilizada da ferramenta (modelo de maturidade) para chegar, para que as pessoas tenham essa percepção e tenham consciência [...]. Além de trazer

com frequência comunicações e eventos aonde a gente discute”.

GD explica que é chamado de Maturity Model (Modelo de Maturidade), formado por

uma base de mais de 100 indicadores, que devem ser reportados todos os anos. A

equipe global de diversidade que fica nos EUA, faz toda análise e contagem de cada

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país nesta matriz. GD explica que: “[...] a PWC tem uma equação[...] trabalhar com as

diferenças + a valorização das diferenças = cultura de inclusão. Globalmente a gente

vende esta equação [...]”. Segundo ele, o Brasil está sempre bem posicionado em

termos de maturidade da diversidade, “justamente por toda esta abrangência que a

gente deu na nossa estratégia”.

A PwC, conforme analisado em seus documentos (PwC GL-DJ-2016), possui o Índice

Global de Inclusão, reportado por GD na fala anterior. GD explica sobre a importância

dos indicadores, pois trazem dados e fatos para o assunto, visão assentida pela

literatura, sendo dados, informações e indicadores, componentes chave por Cox e

Blake (1991), como também um dos grandes desafios, por Fizpatrick e Sharma (2017),

dando a dimensão da complexidade do modelo.

Segundo exposto anteriormente por LG, a PwC possui uma gestão tanto global como

local. Questionados sobre as dimensões em que a PwC Brasil atua, GD expõe:

“Escolheu as pessoas com deficiência, por questões óbvias. Somos um país que tem cota, legislação, uma dificuldade imensa de fazer inclusão destas pessoas neste mercado de trabalho [...] é muito difícil priorizar uma diversidade, estando no Brasil”.

O que se reflete nos dados (RAIS, 2017), que mostram que apenas 1% do total de

pessoas com deficiência possuem vínculo empregatício total. Estudos confirmam que

além de diverso, o Brasil é o país das desigualdades (IBOPE, 2017; OXFAM BRASIL,

2017; INSTITUTO ETHOS, 2000; ETHOS, 2016). GD ainda ressalta que a empresa

possui uma estratégia global de diversidade, no qual há uma abordagem 2+1, que

segundo ele, “gênero e diversidade de pensamento seriam as duas estratégias

default, que todos os pais precisam tocar, cada país escolheria mais uma, entre raça

e etnia, pessoas com deficiência”. Ressalta ainda que tendo um contexto em que a

PwC Global dita as regras, e que o Brasil consegue se destacar no network (todas as

firmas-membro). GD continua “A gente tem todas as estratégias aqui. E só não toca

de maneira clara e aprofundada na questão de religião. por enquanto [...]”. Ainda

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segundo o gestor (GD), a PwC Brasil não atua com nenhuma consultoria, mas que

atua com convidados para palestras pontuais.

Sobre a cultura inclusiva na PwC, LG diz: “Acho que as pessoas (PwC) estão mais à

vontade de serem diferentes [...]” GD complementa “Escutamos muita coisa e acho

que foi esse o termômetro de que cultura inclusiva estava começando. Quando um

colaborador relata que se sente mais à vontade em se assumir gay no escritório do

que em casa, podemos dizer que temos uma cultura muito favorável a inclusão”.

Ferdman (2017) descreve que a inclusão é a percepção do funcionário, a presença,

participação, segurança, voz, autenticidade, em que a experiência da inclusão está no

ambiente psicologicamente seguro (FERDMAN et al, 2009).

4.6.2. Vieses inconscientes

Segundo a análise documental, a PwC Global conduziu uma reestruturação em sua

jornada de D&I, afirmando a importância da conscientização e educação. Em 2016

também disponibilizou um treinamento ao vivo para suas firmas membros sobre

vieses inconscientes, e que passou a fazer parte de suas estratégias. Quando

abordados sobre como e porque a PwC iniciou com a abordagem dos vieses

inconscientes, LG conta que o processo foi conduzido pela firma global, com o objetivo

de ter uma visão de vários territórios da empresa. “Esta estratégia determinou a

temperatura”, ressalta GD. Segundo ele, o processo foi realizado por meio de

entrevistas com os líderes, e teve um processo de identificação dos vieses e posterior

estruturação do treinamento:

“Naquele momento estava sendo construído todo esse arcabouço. E é muito difícil, apesar de ter empresas que não seguem esse passo a passo, é muito difícil estruturar uma estratégia de diversidade assertiva sem você entender o seu contexto. E aí a melhor forma de identificação de vieses, por que cada empresa, cada firma ela vai ter uma tendência maior ou menor para algum tipo de viés. As vezes pode ser por uma questão de gênero, de raça. Então fazer um diagnóstico e saber quais são os principais vieses, principalmente das lideranças é o primeiro passo para você ter um pouco mais de assertividade”.

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Esta informação complementa as informações dos relatórios analisados, e contribui

para o entendimento do delineamento da empresa sobre suas estratégias sobre os

vieses inconscientes e o encadeamento de decisões e ações relatadas nos

documentos acessados que mostram a complexidade do processo. De Aquino e

Robertson (2018) analisam que aumentou a necessidade e os desafios das

organizações para lidarem e gerenciarem estas complexidades, motivadas pelas

tendências sócio econômicas que mudaram a composição das organizações.

Ao olhar a estratégia da PwC Global, a questão de pensamentos de gênero é muito

forte, conta GD:

No trabalho global de levantamento dos vieses inconscientes, realizado pela consultoria Diverseo, os vieses para gênero ficaram mais evidentes, em relação a questão da carreira e da ascensão da mulher, assim como a

licença-maternidade. [...] E isso foi aparecendo a todo instante na pesquisa”.

Segundo ele (GD) houve o desenvolvimento e aplicação do IAT (Implicit Association Test) que foi bastante customizado para a empresa e complementa:

“O trabalho da Diverseo que teve um treinamento, uma espécie de elearning mesmo, que hoje já não está mais ativo. Depois quando houve a publicação do material (cartilha vieses inconscientes) junto com o ONU Mulheres e o Insper, a gente retomou. Porque esta publicação, ela traz esta perspectiva a questão do cérebro e tudo o mais, então houve o webx, para a gente traduzir isso para os funcionários e é o que está disponível hoje. Então teve um primeiro, da Diverseo, no sentido de identificação dos vieses, dos IATs, depois a gente lançou esse aqui que é uma coisa mais prática.”

A Diverseo, consultoria americana citada na entrevista a PwC, detalha sua forma de

atuação e a denomina de plano de redução de preconceito inconsciente. A consultoria

aponta que os vieses inconscientes são específicos de cada contexto e que por isso,

cada organização gera e carrega seus próprios preconceitos. Alerta ainda que, os

vieses não podem ser descobertos com mera introspecção e que por isso, a

consultoria realiza um processo de identificação através da realização de entrevistas.

A consultoria relata que utiliza duas técnicas visando esta descoberta. Na primeira,

chamada de Análise Quantitativa Avançada ou Big data, fazem o download dos dados

de RH do cliente de várias fontes, identificam as diferenças no desenvolvimento de

carreira em diferentes grupos dentro da empresa. Na segunda, utiliza o Implicit

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Association Test (IATS), que em geral são personalizados para quantificar o viés que

prevalece na organização. Conclui dizendo que, os vieses, depois de identificados

podem ser efetivamente reduzidos, por meio de intervenções nos níveis individuais e

organizacionais.

Analisando a abordagem da empresa percebe-se a importância do contexto nas

decisões. Utilizando uma análise interna para conhecer e reconhecer seus vieses, a

empresa possui elementos concretos para uma abordagem mais efetiva pois a

liderança assume suas discrepâncias de forma transparente, comprometendo-se com

seus stakeholders. Mesmo tendo uma trajetória consistente do ponto de vista da

gestão de D&I, LG relata quais seriam os maiores desafios para a PwC:

“[...] temos muita informação, muitos dados, muita pesquisa, muito material, mas isso ainda não chega para todo mundo [...]. Então é falar sobre o assunto, trazer o assunto pra mesa de discussão, falar (internamente) sobre os vieses inconscientes [...] materiais de leitura, ou os testes (IAT), fazer com que as pessoas vejam o assunto com um pouco mais de atenção e tentem identificar às vezes algumas ações que estão na nossa rotina, estão no dia a dia e a não percebemos que talvez não fossem adequadas.”

Já GD, percebe a questão do aculturamento, como um dos maiores desafios: “[...]

para trabalhar a diversidade, o primeiro passo acaba sendo você trabalhar a questão

da representatividade [...] entendemos que para você trabalhar com a cultura de

inclusão, o diverso tem que estar aqui dentro [...]”

As bases teóricas dos vieses inconscientes na PwC, estão ancoradas na neurociência

conta LG, que trazem de maneira clara a importância da consciência o que você não

se conhecia e complementa:

“[...] acho que há 3 anos, fizemos um evento convidando clientes e pessoas do mercado mais interessadas no tema de diversidade. Foi um evento global...Esse foi um evento coordenado pela firma americana, mas que os todos os países puderam acompanhar com a professora de Harvard, (Mahazarin Banaji) [...] que escreveu o livro The Blind Spot, nessa uma hora de conversa, palestra”.

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Mahazarin Banaji é referência tanto para a academia quanto para as organizações em

seus estudos sobre vieses inconscientes junto com Greenwald, e afirmam que, aos

termos consciência de nossos vieses, podemos adaptar as crenças e o

comportamento e superá-los em nossa mente, e assim sermos mais justos com os

outros (GREENWALD; BANAJI, 2013). A aproximação da academia com o ambiente

corporativo se faz evidente e interessante, na medida em que a pesquisadora traduz

à ciência de forma lúcida e a coloca a serviço das práticas organizacionais.

LG relata sobre a abordagem dos vieses inconscientes no Brasil: “[...] Quando

trouxemos o treinamento de vieses, todos passaram, só que nós somos mais ou

menos 4.500 funcionários”. LG conta que a cada ano entram próximo de 400 a 500

trainees e entre 300 a 400 pessoas com experiência. Para atender a demanda, o

assunto é inserido na grade de treinamento da empresa e está sempre em pauta,

relata. Conta que a empresa teve a semana da diversidade em 2018, o qual cada dia

foi para tratar um dos grupos de diversidade. Em 2018 a semana foi via webex,

treinamento em que todas as pessoas se conectam. Houve uma apresentação de um

dos sócios com a professora do Insper (Regina Madalosso) falando sobre a questão

de equidade e inclusão e complementa:

“Acho que no ano anterior foi o webex aonde a gente trabalhou muito a questão de vieses inconscientes e neste webex a gente trouxe para ficar uma dinâmica interessante alguns vídeos curtos [...] são coisas que a gente faz incondicionalmente sem perceber e tudo isso para chamar a atenção para as coisas que a gente faz automático que a gente precisa trazer para a consciência então assim são alguns exemplos, apesar da gente ter feito aquele treinamento sobre vieses inconscientes para todo mundo [...]”.

Algumas barreiras se impõem aos desafios das grandes empresas, não só para esta

abordagem, mas para todas as outras formas de disseminação de conteúdo e

informação devido a questões geográficas, rotatividade e engajamento. Como

apresentado na literatura, a mitigação dos vieses inconscientes precisa de atuação

constante e consistente (WILLIAMSON; FOLLEY, 2018; NELSON, 2017; STAATS et,

2016; DEVINE, 1989). Situações novas e novos entrantes nas organizações,

dificultam a linearidade de uma só abordagem. Portanto, atuar sobre todos os

processos internos, pra que possam ser revistos e reavaliados, não só de gestão de

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pessoas, mas com clientes e fornecedores darão sustentabilidade e ajudarão a moldar

um ambiente mais diverso e inclusivo. Um desafio para esta e para todas as empresas

que desejam atuar sobre o comportamento humano.

4.6.3. Processo decisório - vieses inconscientes

O processo decisório sobre a abordagem dos vieses inconscientes, assimila

informações do construto vieses inconscientes, abordado no item anterior, e, portanto,

será citado de forma breve neste item.

De acordo com a fase de identificação do modelo processual (CHOO, 2003;

MINTZBERG; RAISINGHANI; THÉORÊT, 1976) e a análise documental, a empresa

observou que suas estratégias não estavam trazendo os resultados esperados. De

acordo com os entrevistados, a PwC Global contratou uma consultoria de forma global

para que fizesse um diagnóstico da sua situação atual para que se pudesse avançar

nas questões de D&I. O processo foi conduzido de forma global pela liderança global

de D&I, que fica baseada nos EUA e não na firma global que está no Reino Unido.

Além da decisão de conduzir o processo de forma global, a alta liderança da empresa

foi engajada e convidada a assumir a responsabilidade. Uma das entrevistadas (LG),

conforme citado anteriormente, é sócia Líder do tema gênero na empresa, assim como

outros executivos e executivas da PwC em todos o mundo. Uma estratégia eficaz para

obter comprometimento e responsabilidade sobre o tema.

Considerando a fase de desenvolvimento, a neurociência é a base dos estudos, tendo

a pesquisadora Banaji Mahzari como referência (BANAJI; GREENWALD, 2016;

KAHNEMAN, 2012). A empresa conta com os recursos tecnológicos para interagir

com seus profissionais, de forma global e local, e as plataformas digitas auxiliam no

compartilhamento de conteúdo. Uma solução customizada serviu para o estudo inicial

e posteriormente os modelos de atuação em D&I, como o modelo de maturidade e o

índice de inclusão.

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O processo foi decidido e conduzido inicialmente pela liderança global, conforme a

fase de seleção, e foi registrado em um documento público e acessado pela

pesquisadora (PwC GL-DJ-2016). Segundo GD, A PwC Brasil tem pensado em

reaplicar o IAT (Implicit Association Test) e sobre qual seria o melhor formato para o

momento, afirmando que:

“Existe uma vontade muito grande da presidência que ele seja agora obrigatório (IAT) e a única meta tangível, é que novamente a gente quer trazer a questão dos vieses é 100% do público interno como awareness (conscientização) ao tema”.

GD continua: “Se você olhar a estratégia da PwC Global, a questão de pensamentos

de gênero é muito forte, porque nesse trabalho da Diverseo, os vieses para gênero

ficaram mais evidentes (questão da carreira, da ascensão da mulher, da licença-

maternidade). E isso foi aparecendo a todo instante na pesquisa”. GD afirma que

houve o desenvolvimento e aplicação dos IATs que foi bastante customizado para a

empresa.

Sobre o questionamento se a diversidade na PwC é um processo global, LG

responde:” [...] tem tanto global quanto em cada território (território aqui significa cada

um dos países onde há escritório da empresa). Para GD,

“Naquele momento estava sendo construído todo esse arcabouço. E é muito difícil, apesar de ter empresas que não seguem esse passo a passo, é muito difícil estruturar uma estratégia de diversidade assertiva sem você entender o seu contexto. E aí a melhor forma de identificação de vieses, porque cada empresa, cada firma ela vai ter uma tendência maior ou menor para algum tipo de viés. As vezes pode ser por uma questão de gênero, de raça. Então fazer um diagnóstico e saber quais são os principais vieses, principalmente das lideranças é o primeiro passo para você ter um pouco mais de assertividade”.

Percebe-se uma coerência da empresa, entre o que é apresentado na documentação

acessada e o discurso dos entrevistados, principalmente no relato de experiências

que foram vivenciadas, de forma espontânea e exemplificada. Apresentando uma

estratégia robusta para o enfrentamento destas complexidades, a empresa pode

contribuir para o seu desenvolvimento e do mercado de trabalho.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Preocupadas com a diversidade e a inclusão em seus ambientes de trabalho, as

empresas vêm buscando conter os efeitos negativos do preconceito. Apesar de suas

medidas protetivas, canais de denúncia, políticas de combate à discriminação e

códigos de conduta, um outro tipo de preconceito vem tomando a agenda estratégica

das lideranças e de seus programas de D&I, que são os vieses inconscientes.

Analisando os programas de D&I das Big Four, com o objetivo de identificar suas

estratégias de abordagem dos vieses inconscientes, percebe-se que a temática ainda

é recente, necessitando de tempo e maturidade para que as mudanças sejam efetivas.

As estratégias de D&I caminham para uma liderança inclusiva e engajada e o tema

faz parte do discurso e das responsabilidades da alta liderança e de um mercado que

vem exigindo transparência de ações e de dados. A disputa pelos melhores

profissionais e pela reputação das empresas perante o mercado, faz com que as

ações de programas de D&I das Big Four tornem-se atrativas, considerando seus

benefícios, voltados na grande maioria à flexibilidade de toda ordem, ao ambiente de

trabalho inclusivo e a uma liderança autêntica, gerando pertencimento, aceitação e

“liberdade para ser como quiser”.

As empresas destacaram em seus discursos, que apesar dos esforços até então

empreendidos, muito há de se fazer para um ambiente diverso, inclusivo e livre de

preconceitos. Seus desafios estão em gerir uma força de trabalho global, diversa e

geracional, com demandas e anseios distintos. Uma das principais contribuições deste

estudo se entende pela confirmação de que o tema dos vieses inconscientes faz parte

não só de estudos acadêmicos, mas de relatórios de tendências e estudos

corporativos, relacionados ao futuro do trabalho. As organizações, por sua vez, estão

se estruturando e buscando um modelo de D&I que seja efetivo para conduzir de

forma estratégica, alinhada aos seus propósitos, valores e demandas globais. Os

indicadores e modelos adaptados à diferentes culturas continuam sendo desafios de

longo prazo, sejam por questões de gestão, geografia e transparência, sejam por

questões de viabilidade legal. As demandas sociais e a preocupação com a reputação

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nas comunidades globais em que atuam, pressionam as empresas a agirem e a se

comprometerem por meio de declarações públicas, ações e participações em

movimentos e fóruns da área, conforme percebido neste estudo.

A abordagem dos vieses inconscientes está atrelada não só aos programas de D&I,

mas também às políticas de gestão de pessoas e demais processos organizacionais

envolvendo seus stakeholders. Como visto na pesquisa, o treinamento, seja

presencial ou virtual, vem tomando espaço, mas de acordo com o material analisado,

requer tempo para se perceber resultados e alinhamento com as estratégias e metas

globais e locais de D&I. Mesmo a empresa PwC, que teve seu caso aprofundado na

pesquisa, utilizou a abordagem dos vieses inconscientes inicialmente como um estudo

diagnóstico para redesenhar suas estratégias de D&I, tem o desafio de dar

continuidade às abordagens no Brasil e demais firmas-membro diante da rotatividade

e entrada de novos funcionários, assim como a dispersão geográfica de seus

escritórios. Em relação à abordagem dos vieses inconscientes e seu processo

decisório, algumas conclusões podem ser relacionadas ao estudo. As firmas globais

das Big Four têm conduzindo as estratégias e decisões de D&I, envolvendo a alta

liderança de suas firmas-membro, a atuarem como patrocinadores das ações locais.

Com o objetivo de acelerar a inclusão, as empresas têm atuado com foco um

expressivo na liderança e metas de inclusão na composição do quadro de líderes.

O treinamento se apresenta como a estratégia principal, que em sua maioria são

obrigatórios e com o desafio de englobar todos os níveis da organização. Percebe-se

o impacto nos processos de gestão de pessoas, principalmente em recrutamento e

seleção, conscientizando os recrutadores sobre seus vieses e atuando sobre os

vieses dos próprios processos de recrutamento.

A neurociência se apresenta como base condutora das ações de conscientização e

treinamento, assim como os estudos da pesquisadora Mahzarin Banaji (1995), da

Universidade de Harvard, validando uma aproximação das empresas com as

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pesquisas acadêmicas e fortalecendo a opção de atuar sobre os vieses inconscientes

para mitigar o preconceito e avançar na inclusão.

Como contribuição teórica, a presente pesquisa, demonstra a interdisciplinaridade de

áreas em um estudo dentro da administração. Um construto baseado na psicologia

social e na neurociência, que vem sendo aplicado e discutido em fóruns de recursos

humanos e nas áreas de D&I, aqui também analisados sob a teoria da tomada de

decisão, abordada em estudos da administração. Percebe-se que a temática dos

vieses inconscientes, ao ser implementada nas organizações, devem ser conduzidas

a luz dos estudos de D&I e do processo decisório. O primeiro para seu

aprofundamento e propósito, e o segundo, para identificar no seu processo decisório,

o embasamento que trará conexão com o negócio, seu contexto e sua cultura.

No que se refere à contribuição prática, demonstra que é possível atuar sobre os

vieses inconscientes nas empresas. Mas não como uma ação isolada que busca

solucionar as questões de preconceito e conflitos internos, e com foco apenas nos

indivíduos. Exige uma abordagem sustentada e abrangente, que compartilha a

responsabilidade entre indivíduos e organização, que esteja inserida nas estratégias

dos programas de D&I, pois estas darão a base para as mudanças necessárias nos

processos internos. Para isso, a tomada de decisão para conduzir esta abordagem,

precisa ser identificada para que se possa perceber e analisar o contexto da

organização, identificando suas reais motivações e necessidades, definir quais as

melhores maneiras de se abordar, planejando o processo, percebendo a maturidade

da própria liderança em conduzir o processo, além de um gerenciamento constante.

Para a sociedade, contribui, na medida em que abordagens mais eficazes sobre o

preconceito sejam implementadas pelas empresas, para que os ambientes

organizacionais se tornem abertos à inclusão de grupos sub-representações, e assim

fazer jus à proporcionalidade da sociedade em que estão inseridas. Tornando seus

profissionais mais conscientes, atuam para uma sociedade mais justa.

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Mas uma pergunta chama à reflexão: A inserção desta temática nas empresas, dentro

da abordagem da de D&I, garante o controle sobres os vieses inconscientes nas

pessoas?

Acredito que não garante o controle, mas sem dúvida é um caminho. Este interesse

veio da experiência profissional com a inclusão, em uma grande organização e

posteriormente como consultora e coach de pessoas com deficiência. Sempre

acreditei que se atuar sobre o ambiente e as pessoas, os resultados serão parciais.

Quando me deparei com estes estudos percebi que poderia ser um caminho possível.

Conscientizar as pessoas é o mínimo, mas é necessário que seja de forma intensiva,

dinâmica e constante. É uma proposta muito nova e as empresas ainda estão

abordando de forma parcial. A teoria vem sendo estudada e ainda causa algumas

divergências sobre sua eficácia e aplicabilidade. Autores vêm questionando a

responsabilidade das empresas sobre os vieses e não somente do indivíduo. E de

fato, quais são os vieses da organização? Os estudos nas organizações são

importantes para trazerem, muito mais do que os desejados dados e resultados, os

aprendizados do processo na abordagem dos vieses inconscientes. Para obter dados

e resultados, a pesquisa requer um estudo longitudinal, que permita acompanhar a

maturação do processo.

Esta pesquisa foi um processo desafiador, pela sua interdisciplinaridade e

principalmente pelo foco na administração. Um assunto que veio surgindo a cada novo

artigo e estudo, devido à sua recente abordagem.

5.1 Aplicabilidade, Reaplicabilidade, Inovatividade

Enfatizando a importância desta pesquisa, pode-se dizer que em relação a

APLICABILIDADE, foi possível identificar as estratégias e ações de diversidade e

inclusão das Big Four e verificar a abordagem dos vieses inconscientes. Com isso,

pode-se conhecer as bases teóricas utilizadas e os impactos nos processos de gestão

de pessoas no combate ao preconceito no ambiente de trabalho. A partir desse

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estudo, propõe-se um caminho baseado nas boas práticas e na literatura analisada,

facilitando a compreensão e a aplicabilidade:

a) Conhecer o contexto da empresa, por meio do levantamento de seus vieses,

b) Analisar seus dados da força de trabalho para verificar a diversidade,

c) Rever os processos de gestão de pessoas buscando minimizar os impactos dos

vieses e sobre benefícios relevantes aos diferentes grupos,

d) Atuar sobre as equipes de recrutamento e seleção e de todos os níveis de

liderança, atuar para a diversidade nos grupos de liderança,

e) Basear-se em modelos teóricos e científicos,

f) Mapear e gerenciar o processo envolvendo todos os níveis da organização por

meio de redes ou comitês de atuação.

Quanto a REAPLICABILIDADE, utilizando a estrutura proposta, os achados podem

ser implementados em áreas de D&I e gestão de pessoas, em empresas de todos os

setores e portes que desejam desenvolver estratégias para mitigar os vieses

inconscientes, que podem se valer das práticas que apresentam sustentabilidade e

base teórica. Já quanto a INOVATIVIDADE, representa um avanço no

desenvolvimento teórico e prático, pois sendo nova a abordagem dos vieses

inconscientes nas empresas, poucos estudos têm analisado como as empresas estão

abordando este tema.

5.2 Ponderações, Limitações e Recomendações Futuras

Considerando a questão dos vieses inconscientes uma abordagem ainda muito nova

nas organizações, um estudo longitudinal poderia acompanhar a maturidade e os

resultados desta estratégia para atuar sobre o preconceito.

As limitações deste estudo aparecem em diferentes momentos. O acesso as

empresas para a realização de entrevistas tem sido uma das maiores barreiras, não

só neste estudo, como em tantos outros. Consequentemente, uma análise documental

mais ampla se faz necessária, e optando-se por ela, nos deparamos com as limitações

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de acesso a dados secundários. Estes dados, nem sempre refletem a prática das

empresas, e podem trazer um viés tendencioso. Sugere-se que um novo estudo possa

acompanhar o desenvolvimento do tema nos relatórios das empresas, aliado ao

acesso aos seus profissionais, seja por entrevistas ou grupos focais.

Um fator que é importante ressaltar foi o excesso de material encontrado, mas que

não necessariamente apresentava destaque ao tema de estudo, exigindo uma busca

exaustiva da pesquisadora. Na área acadêmica, o volume de artigos aumentou de

forma exponencial nestes dois anos de pesquisa, dificultando a seleção dos mesmos.

De qualquer forma, apenas um estudo foi encontrado que relacionasse os

treinamentos a possíveis resultados em organizações. Esta constatação se deve,

provavelmente, devido ao pouco tempo de aplicabilidade nas empresas, o que por

outro lado, traz muitos desafios e possibilidades para estudos futuros, principalmente

no campo da gestão.

Sugere-se, que outros estudos invistam no tema de D&I com foco nos vieses

inconscientes nas organizações. Com base nos achados do estudo e por não fazerem

parte do escopo desta pesquisa, recomenda-se:

✓ Pesquisar a percepção dos grupos subrepresentados das empresas sobre os

treinamentos de vieses inconscientes;

✓ Estudar os modelos de abordagem de conscientização das consultorias de D&I

Outra questão interessante a ser analisada é a relação de países com políticas

públicas avançadas em relação a equidade e igualdade e os programas de D&I das

organizações, percebido na análise das firmas baseadas no Reino Unido e os

direcionamentos do governo em questão.

Como mencionado, o treinamento de viés inconsciente só ganhou destaque como

uma ferramenta de diversidade durante a última década. Ainda é cedo para julgar sua

eficácia e seu verdadeiro potencial para fazer mudanças dentro das organizações.

Diante deste cenário a pesquisa apresenta limitações para a conclusão do estudo,

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124

mas também fornece um ponto de partida para pesquisas futuras e um estudo

abrangente e longitudinal seria útil para pesquisadores e para a as organizações.

Uma sugestão para mais pesquisas é coletar dados de empresas de outros setores,

para fornecer uma visão mais abrangente da eficácia de fazer mudanças do

treinamento de viés inconsciente. Isso não só fornecerá dados mais diversificados,

como também poderá facilitar a obtenção de uma amostra maior de empresas

representativas, que empregam este treinamento. Como esse campo de pesquisa é

relativamente novo, existe uma ampla gama de oportunidades para avaliar a

implementação do treinamento do viés inconsciente e a possibilidade de se produzir

mudança organizacional.

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APÊNDICE A - ROTEIRO DAS ENTREVISTAS

A. DADOS DOS ENTREVISTADOS

Nome:

Contatos (e-mail e telefone):

Idade:

Formação:

Tempo de empresa:

Cargo atual / Funções:

B. DIVERSIDADE E INCLUSÃO

1. O que é diversidade para a organização? E Inclusão? Você percebe que a

organização trata os conceitos de forma distinta?

2. A PwC possui um programa estruturado de diversidade e/ou inclusão? Qual a

motivação para a criação destes programas?

3. Como é a atuação da liderança perante o programa de Diversidade e Inclusão?

4. Você considera que a organização possui uma cultura inclusiva? Se sim, de

que forma ela se evidencia na organização? É possível perceber os impactos

destas ações inclusivas no ambiente interno?

5. Quais são os maiores desafios para a empresa nesta área?

6. Como é a gestão do programa de D&I?

7. A organização monitora suas ações? Se sim, como? Possui metas?

C. VIESES INCONSCIENTES

8. Desde quando a organização vem atuando sobre os vieses inconscientes?

9. Quais as bases científicas sobre os vieses inconscientes que a empresa utiliza?

10. Quais as estratégias e ações têm sido adotadas?

D. PROCESSO DECISÓRIO

11. O que motivou a organização a atuar sobre os vieses inconscientes?

12. Como teve contato com esta abordagem? Fez treinamentos mais intensos?

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13. Quais os responsáveis por identificar/despertar para a necessidade de se tomar

a decisão para atuar sobre os vieses inconscientes?

14. Quais bases teóricas foram definidas para esta abordagem? Por que essas

fontes foram escolhidas? As soluções encontradas foram customizadas ou

adaptadas? Por que?

15. A organização atua com consultores? Qual o papel e as responsabilidades

deste profissional?

16. Como ocorreu o processo de validação para a ação? Houve necessidade de

negociações internas?