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PULA CATRACA N06 JORNAL DO MOVIMENTO PASSE LIVRE JUL/AGO.2012 - JOINVILLE | SC DISTRIBUIÇÃO GRATUITA mpljoinville.blogspot.com [email protected] @mpljoinville /mpljlle TARIFA ZERO: POR UM TRANSPORTE DE FATO PUBLICO GREVES NOS TRANSPORTES PELO PAÍS p.03 p.02 A NOVA LEI DE MOBILIDADE URBANA E A LICITACAO p.04

Pula Catraca n.06

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Jornal do Movimento Passe Livre. de Joinville/SC. n06 - jul/ago.

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Page 1: Pula Catraca n.06

PULA CATRACAN06 JORNAL DO MOVIMENTO PASSE LIVRE

JUL/AGO.2012 - JOINVILLE | SCDISTRIBUIÇÃO GRATUITA

mpljoinville.blogspot.com

[email protected]

@mpljoinville

/mpljlle

TARIFA ZERO: POR UM TRANSPORTE DE FATO PUBLICO

GREVES NOS TRANSPORTES PELO PAÍS

p.03

p.02A NOVA LEI DE MOBILIDADE URBANAE A LICITACAOp.04

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notas do zarcão

Uma perícia judicial, apresentada pelas em-presas de ônibus, apontou que os reajustes da tarifa foram insuficientes durante todo o tempo em que elas operaram o sistema de transporte coletivo, e que, portanto, a prefeitura deve indenizá-las em R$ 268 milhões. Isso estaria travando a licitação.Em outras localidades, como Curitiba, as empresas de ônibus pediram o abatimento de uma suposta dívida, parecida com essa de Joinville, em troca da continuidade de prestação do serviço. Caso contrário, a nova empresa que viesse a operar o sistema teria que antes de tudo pagar a dívida. Mas, qual a legitimidade dessa perícia? E por que as empresas querem tanto continuar prestan-do um serviço que só lhes dá prejuízos?

Audiências publicas? Licitaçao?

O IPI e o aumento dos carrosPassou a valer no dia 23 de Julho o decreto que reduz o Imposto Sobre Produtos Indus-trializados (IPI) para a compra de veículos. Essa medida foi tomada para estimular o crescimento econômico brasileiro. Mais uma vez o transporte coletivo é deixado de lado favorecendo o individual. Nos últi-mos 10 anos, a quantidade de carros subiu 106% na cidade, e a de motos 170%. Com esses dados e nossos presentes engar-rafamentos, é no mínimo espantoso e ir-responsável o apoio a esse setor. A frota jo-invilense de veículos já ultrapassa 314 mil unidades. Mais uma vez o governo demos-tra de que lado está. O IPI estará reduzido até 31 de agosto.

No fim do mês de maio houve diversas greves dos trabalhadores de transportes coletivos por todo país. Entre as locali-dades em greve estão: Itabuna (BA), Ponta Grossa (PR), São Luís (MA), Ribeirão Preto (SP), São José dos Campos (SP), São Paulo (SP), Florianópolis (SC), entre outras.Os trabalhadores do metrô de São Paulo e motoristas de ônibus de Florianópolis chegaram a propor a operação do sistema com as catracas abertas, sem cobrar os pas-sageiros, ao invés de paralisarem suas ati-vidades.Nos dois casos o pedido foi negado pela justiça. Força, trabalhadores!

Greves nos transportes pelo país

Suspensa Licitaçao em AracajuA licitação do transporte público em Ara-cajú, que teve como modelo a licitação de Joinville, foi suspensa. A decisão foi tomada pelo Tribunal de Contas da União (TCE), na sessão plenária, dia 06/06. Há indícios de irregularidades em documentos analisa-dos pelo Sindicato das Empresas de Trans-portes de Passageiros do Município de Ara-caju (Setransp). O tão idealizado modelo de licitação para o transporte de Joinville foi recusado por Aracajú. E nós, o aceitare-mos até quando?

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Tarifa Zero: Por um transporte de fato publico

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Em nosso texto no jornal passado apresenta-mos nossas críticas ao atual modelo de trans-porte coletivo privado. Apresentaremos agora a nossa proposta, a tarifa zero.

Tarifa Zero é uma política pública de financia-mento indireto do transporte coletivo por meio de impostos progressivos e taxas. O financia-mento total do transporte por esses meios leva a tarifa a ser “zero”, ser um sistema sem tarifa, portanto.

A Tarifa Zero é uma proposta que parte da compreensão de que é necessário dividir os custos do transporte coletivo por toda a so-ciedade, de acordo com a capacidade de con-tribuição de cada setor social (um empresário

tem condições de contribuir mais, um tra-balhador assalariado menos, um desem-pregado não tem capacidade de contribuir, por exemplo).

Essa divisão é necessária a partir do momento que reconhecemos que o uso do transporte está relacionado ao benefício não apenas do usuário, mas na maioria das vezes ao benefí-cio de empresas (indo ao trabalho), de bancos (indo pagar uma conta) e de lojas (indo com-prar algo). Sem transporte as indústrias para-riam, os bancos fechariam e as lojas teriam suas mercadorias estocadas. Se esses setores se beneficiam da mobilidade urbana, eles de-vem contribuir financeiramente para sua efe-tividade.

Viriam de impostos progressivos, sobretudo do IPTU. O conjunto de leis conhecido como estatuto das cidades permite a implementação do IPTU progressivo. Esse é um mecanismo que, quando aplicado, garante que terrenos vazios e casas abandonadas paguem maiores taxas. Esse valor pode alcançar 15% do valor de venda de um imóvel. Por exemplo: o pro-prietário de uma casa abandonada que valha cem mil reais tem de pagar quinze mil reais de IPTU anualmente. Isso significa que ape-nas os grandes proprietários seriam taxados a mais. Em Joinville, segundo o último censo do IBGE, há 12.331 casas vazias – sobre elas

De onde viria o dinheiro para financiar o transporte gratuito?o IPTU seria aplicado, por exemplo. Há tam-bém possibilidade de financiamento por meio de taxas sobre o uso do carro (conforme a nova lei de mobilidade urbana), recursos vindos do estacionamento rotativo, publicidade dos ônibus e aluguel dos espaços dos terminais. Devemos pensar que altos recursos utilizados para as duplicações de ruas e construções de binários, obras que normalmente servem ape-nas para desafogar o trânsito parcialmente, poderiam ser direcionados ao transporte co-letivo, o que é um emprego muito melhor do dinheiro.

Mesmo que fosse uma utopia nem por isso deixaria de ser justa e prati-cável. Mas é ainda melhor, pois isso não é utopia. A Tarifa Zero existe em várias cidades no mundo: Agudos e Potirendaba, em São Paulo; Hasselt, na Bélgica; Changning e Chagzhi, na China; Gibralltar, no Reino Unido. Nas cidades onde foi aplicada, a Tarifa Zero garantiu aumento no uso do trans-porte, conforme o gráfico de Hasselt:

Isso existe em algum lugar ou é uma utopia da cabeça de vocês?

Há vários: permitirá maior mobilidade para as pessoas, sobretudo para quem mora na periferia e tem dificuldades econômicas; diminuirá engarrafamentos, garantindo maior fluidez ao trânsito; diminuirá os acidentes e, por consequência, as filas no pronto atendi­mento do hospital São José; diminuirá a poluição atmosférica; os vários serviços da cidade serão melhor utilizados, como praças, quadras esportivas, eventos culturais em geral.

Quais os benefícios da Tarifa Zero?

1996Antes da

Tarifa Zero

100%360.000 passageiros/ano

428%1.498.088 passageiros/ano

1319%4.614.844 passageiros/ano

19971º ano com

Tarifa Zero

200610 anos com

Tarifa Zero

Grá�co do Crescimento de Passageiroscom a Implantação da Tarifa Zero em Hasselt

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artigos

A nova lei de mobilidade urbana e a licitaçaoEm maio deste ano entrou em vigor a lei que regulamenta a Política Nacional de Mobili-dade Urbana. A lei avança no campo teórico ao defender o acesso universal a cidade e ao priorizar o transporte coletivo sobre o indi-vidual. Mas no campo mais prático ela deixa a desejar, mantendo a tarifa como a prin-cipal fonte de financiamento do sistema e garantindo que a iniciativa privada o possa operar.

Neste mesmo ano, a prefeitura de Joinville decidiu fazer a licitação do transporte co-letivo, depois de 40 anos de exploração ir-regular por duas empresas.

A licitação seria uma oportunidade de mu-dança, mas o que foi visto até agora leva a acreditar que será o contrário. Embora não seja uma surpresa a prefeitura não implan-tar a tarifa zero, é decepcionante saber que não teremos nem o mínimo que a lei já ga-rante.

Vejamos a questão da tarifa. A nova lei de mobilidade urbana tem como uma de suas diretrizes a modicidade da tarifa, ou seja, ela tem que ser barata. E estabelece para isso que outras formas de financiamento, como taxas, sejam aplicadas ao sistema. A lei ainda prevê a aplicação de tributos sobre

outros meios de transporte (como carros), que podem ser convertidos em subsídios para tarifa e usados em infraestrutura para o uso de bicicletas. Porém, até o momento, nada disso foi considerado pela comissão responsável pela licitação.

Outro ponto importante da nova lei nacio-nal é a participação da sociedade no plane-jamento e fiscalização do sistema de trans­porte. Entre seus objetivos está consolidar a gestão democrática como instrumento de construção da mobilidade urbana, através de órgãos colegiados com representantes da sociedade civil, poder executivo e opera-dores. As audiências feitas até agora são um bom exemplo de planejamento antidemo-crático, e para além da audiência não se es­pera algo muito diferente, já que o Conselho de Usuários, uma das propostas da Frente de Luta pelo Transporte Público, já foi re-cusada pelo IPPUJ.

Por fim a lei ainda obriga a criação de um Plano Municipal de Mobilidade Urbana. Jo-inville não possui esse plano, porém, irá fa-zer uma licitação que definirá como será operado o transporte coletivo pelos próxi-mos 15 anos. Quem se beneficia com essa falta de democracia no transporte coletivo são, obviamente, Gidion e Transtusa.

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Compare com Joinville, onde a política de tarifa conduziu a diminuição do número de pas-sageiros:

Por essas razões o Tarifa Zero é uma política não só razoável e desejável – é uma política necessária. Fora do Tarifa Zero só haverá re-mendos: viadutos que serão ocupados por carros, duplicações que não darão conta do trânsito, aumentos de tarifa que afastarão o usuário mais ainda de uma saída coletiva para o problema. Joinville está em um momento histórico e decisivo: pode optar por ser uma ci-

dade do carro, do hospital lotado, da poluição, das grandes obras que não resolvem nada. Ou pode então ser a cidade de uma mobilidade justa e democrática, da saúde pública sem filas, do acesso aos bens culturais pela maioria da população. O modelo de transporte coletivo é fundamental para essa escolha e a partir disso se determinará o futuro da nossa cidade. Lute conosco pelo transporte realmente público.

Enquanto Joinville cresceu em 67.727 seu número de habitantes.

Era transportado por dia 139.022 usuários

Passou a ser transportado por dia 137.058 usuários

ANO DE 2000ANO DE 2009

Joinville tinha 429.604 habitantes

Joinville chegou a497.331 habitantes

ANO DE 2000ANO DE 2009

O transporte coletivo perdeu 1.964 usuários diários.

HABITANTES DE JOINVILLE USUÁRIOS DO TRANSPORTE COLETIVO