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QUESTOES CONFILITANTES DO DES TURISTICO NA PRAIA DOS CARNEIROS...
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RReecciiffee
22000066
UUNNIIVVEERRSSIIDDAADDEE FFEEDDEERRAALL DDEE PPEERRNNAAMMBBUUCCOO CCEENNTTRROO DDEE FFIILLOOSSOOFFIIAA EE CCIINNCCIIAASS HHUUMMAANNAASS DDEEPPAARRTTAAMMEENNTTOO DDEE CCIINNCCIIAASS GGEEOOGGRRFFIICCAASS
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FFAABBIIAANNAA DDOOSS SSAANNTTOOSS FFIIRRMMIINNOO
FABIANA DOS SANTOS FIRMINO
DINMICA DO TURISMO NA ZONA COSTEIRA NORDESTINA:
QUESTES CONFLITANTES DO DESENVOLVIMENTO TURSTICO DA PRAIA DOS CARNEIROS (TAMANDAR/PE)
Dissertao apresentada ao Curso de Mestrado em Gesto e Polticas Ambientais da Universidade Federal de Pernambuco para obteno do Grau de Mestre em Gesto e Polticas Ambientais.
Orientadora: Prof. Dr. Vanice Santiago Fragoso Selva
Recife
2006
ii
F525d Firmino, Fabiana dos Santos
Dinmica do turismo na Zona Costeira nordestina: questes conflitantes do desenvolvimento turstico da Praia dos Carneiros Tamandar/PE. Recife: O Autor, 2006.
201 folhas: il., fig., graf., quadros.
Orientador: Vanice Santiago Fragoso Selva
Dissertao (mestrado) Universidade Federal de Pernambuco. CFCH. Programa de Ps-graduao em Gesto e Polticas Ambientais. Recife, 2006.
Inclui bibliografia e apndices.
1. Desenvolvimento turstico. 2. Zona Costeira 3. Gesto e Polticas Ambientais 4. Questes conflitantes 5. Tamandar Praia dos Carneiros Litoral Sul de Pernambuco. I. Ttulo.
910.2 910
CDU (2.ed.) CDD (22.ed.)
UFPE BCFCH2006/26
iii
iv
A Deus pela ddiva da vida, pela famlia e pelos amigos; aos meus amados pais, Valdir
Fentes Firmino e Leni dos Santos Firmino, e a minha querida e amada irm, Elany dos Santos
Firmino pelo amor incondicional, ensinamentos, carinho, ateno, apoio,
incentivo e pacincia em minha caminhada; e a minha professora, orientadora e amiga Vanice
Santiago Fragoso Selva pelo exemplo de pessoa e profissional.
v
AGRADECIMENTOS
A Deus, por orientar, iluminar e proteger minha vida, renovar minhas foras ao alvorecer de cada dia, dar-me sabedoria e discernimento e preencher meu corao de amor, paz e alegria para perseguir meus sonhos sem jamais desistir.
Aos meus pais, Valdir Fentes Firmino e Leni dos Santos Firmino, e a minha irm, Elany dos Santos Firmino, por vivenciarem comigo cada etapa, sempre ansiosos por me verem feliz e realizada naquilo que escolhi fazer, por existirem, serem minhas maiores
referncias e darem um sentido especial a minha vida.
Vanice Santiago Fragoso Selva, pela amizade, orientao, ensinamentos e paz transmitidos ao longo de uma jornada.
Aos professores do Mestrado em Gesto e Polticas Ambientais, por somarem minha caminhada.
amiga Clarisse Fraga, pelas experincias e conhecimentos compartilhados e companhia nas pesquisas de campo para obteno de dados acerca de nossa rea de estudo.
Vanessa Lira, pela amizade, conhecimentos compartilhados e tempo dedicado orientao da parte cartogrfica deste trabalho.
A Clecio e Fernando, pela ateno, colaborao e orientao no trabalho com as bases cartogrficas.
Ao amigo Bruno Silvestre pela dedicao e ajuda com a elaborao do abstract.
Aos amigos conquistados na trajetria do mestrado, Ana Lcia Gonalves de Frana, Andra Lima, Carmen Lucia Borba Cavalcanti, Carolina de Albuquerque Melo, Ccero
vi
Roberto Suliano Monteiro, Ilka Maria Portela Ferreira da Silva, Natalcio de Melo
Rodrigues, Maria de Jesus Ferreira Csar de Albuquerque, pela amizade e experincias de vida.
A minha amiga Ana Lcia Gonalves de Frana, por todo carinho, apoio, incentivo,
pacincia, conhecimentos, experincias e tempo compartilhados, reflexes ao longo desta jornada, a qual temos a clareza e sabemos o significado de no ser a primeira nem a ltima de uma vida.
Iara Sommer (CPRH), Deborah Estima (Instituto Recifes Costeiros), Nadir (COMDEMA), Edson Coimbra (AHPREST), Leonardo Almeida (Prefeitura de Tamandar), Joba e Lula (ADESC), demais representaes sociais, proprietrios de meios de hospedagem e moradores do municpio de Tamandar, pela relevante contribuio com informaes acerca
da rea de estudo.
Aos demais amigos, professores e familiares, pela contribuio, direta ou indireta, para realizao de mais uma etapa de vida atravs de suas palavras e gestos de incentivo e carinho
nos instantes em que mais precisei.
A todos os amigos, por serem seres singulares, nicos e insubstituveis, por tornarem a minha essncia e existncia mais rica com um pouco da essncia de cada um; so pessoas especiais que me acompanharam pelas trilhas da vida, ou simplesmente me encontraram num
ponto do caminho, e que, prximas ou distantes, permanecero sempre comigo. Sou-lhes eternamente grata por me estimularem e acreditaram em mim, mostrando-me que a vida um eterno aprendizado e que nunca se est s.
vii
A vida se renova na esperana de um dia novo. Fulgem a estrelas
l onde a mo do homem no alcana mas mais doce, aqui na terra, v-las.
Carlos Drummond de Andrade
viii
RESUMO
A presente dissertao busca analisar questes conflitantes da apropriao da zona costeira pelo turismo na praia dos Carneiros e verificar os desafios para o desenvolvimento sustentvel do turismo nesse espao litorneo em face da coexistncia de polticas ambientais e de turismo no municpio de Tamandar, situado na Zona da Mata Sul (Litoral Sul) do estado de Pernambuco, regio Nordeste do Brasil. A praia dos Carneiros foi definida como recorte espacial do estudo em tela por figurar como uma das praias mais bem conservadas da costa pernambucana, inserida em projetos de conservao ambiental tais como a rea de Proteo Ambiental (APA) de Guadalupe e APA Costa dos Corais. O Zoneamento Ecolgico-Econmico Costeiro da APA de Guadalupe e o Plano Diretor do municpio de Tamandar definiram a referida praia como Zona Hoteleira, cujos usos e ocupaes estabelecidos na lei de uso e ocupao do solo de Tamandar devero ser orientados pelos princpios do desenvolvimento sustentvel. A fim de alcanar o objetivo proposto, realizou-se um estudo exploratrio com abordagem crtica e qualitativa, que possibilitou maior compreenso das questes dialticas e conflitantes oriundas do assentamento da funo turstica sobre a zona costeira do Nordeste brasileiro, particularmente no tocante produo e ao consumo do espao pelo turismo na praia dos Carneiros, situada no municpio de Tamandar, frente coexistncia de polticas ambientais e de turismo. Incluem-se dentre as tcnicas empregadas: levantamento bibliogrfico, iconogrfico e documental; entrevistas semi-estruturadas; registro fotogrfico e participao em reunies do Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente (COMDEMA) em Tamandar. O estudo verificou que a praia dos Carneiros, anunciada pela mdia como a prxima fronteira turstica do litoral sul pernambucano, vem sofrendo presses dos poderes pblico e privado para se desenvolver turisticamente. A coexistncia de polticas ambientais e de turismo no municpio de Tamandar deveria traduzir um cenrio favorvel ao desenvolvimento sustentvel do turismo, entretanto so muitos os desafios a serem enfrentados para equacionar as questes conflitantes provenientes dos diferentes interesses polticos e econmicos no processo de apropriao da praia dos Carneiros pela atividade turstica. H carncia de um planejamento efetivo que indique a orientao do desenvolvimento turstico na referida praia, a partir da definio do tipo de turismo a ser desenvolvido; das reais possibilidades de envolvimento da comunidade; da capacidade de suporte turstico-recreativa, entre outros elementos. Apesar da realizao de diagnsticos ambientais que desenham cenrios presente e futuro, com definio de problemas e possveis solues em curto, mdio e longo prazos voltadas ao desenvolvimento sustentvel no mbito das polticas, planos, programas e projetos existentes no municpio, verifica-se que os referidos estudos se tornam aes isoladas em virtude da falta de articulao dos atores sociais envolvidos, levando estagnao de estratgias e aes prioritrias capazes contribuir com a prtica do turismo pautada nos princpios da sustentabilidade. Identificou-se, a partir do estudo em tela, a premente necessidade de planejamento e gesto integrados e participativos que considerem as possibilidades e limites para o desenvolvimento sustentvel do turismo na praia dos Carneiros.
Palavras-chave: Praia dos Carneiros. Turismo. Zona costeira. Questes conflitantes. Polticas ambientais.
ix
ABSTRACT
The aim of this dissertation is to analyze conflicting matters of the appropriation of the coastal zone by the tourism along the Carneiros beach and to verify challenges to the sustainable development of the tourism on the mentioned beach due to the coexistence of environmental and tourist policies in the city of Tamandar, located in the South Woods Zone (South Coast) in the state of Pernambuco, Brazilian northeast area. The Carneiros beach was defined as a spatial sample of the present study to figure as one of the beaches much more protected along Pernambuco coast, inside environmental protection projects such as: Environmental Protection Area (EPA) from Guadalupe and EPA Costa dos Corais. The Ecological-Economical Coastal Zoning of EPA from Guadalupe and the Director Plan of the city of Tamandar have defined the mentioned beach as Hotel Zone, which its established uses and occupation in the law of usage and occupation of Tamandar ground must be guided by the principles of the sustainable development. Aiming the objective suggested, it was carried out an exploratory study focused on critic and qualitative approaches, which made it possible a deeper comprehension in dialectical and conflicting matters from the laying of the tourist function over the coastal zone of the Brazilian northeast area, particularly at the point of production and consumption of the space by the tourism along the Carneiros beach, located in the city of Tamandar, before the coexistence of the tourist and environmental policies. Including among the techniques used: bibliographical research; iconographical and documentary one as well; semi-structured interviews; photographic registration and participation in meetings of the Environmental Defense City Council (COMDEMA) in Tamandar. The study verified that the Carneiros beach, promoted by the media like the next tourist border of the pernambucano South Coast, which has been under pressure by the private and public powers to be developed in terms of tourism. The coexistence of environmental and tourist policies in the city of Tamandar should mean a favorable scenario to the sustainable development of the tourism, however, there are many challenges to be faced to equate the conflicting matters come from the different economical and political interests in the process of appropriation of the Carneiros beach by the tourist activity. There is a necessity of an effective planning which indicates the orientation of the tourist development on the mentioned beach, from the definition of the kind of tourism to be developed; from the real possibilities of the commitment of the community; from the capacity of leisure-tourist support, among other elements. Even the achievement of the environmental diagnoses which draw present and future scenarios, with definition of problems and possible solutions in short, medium, and long time related to the sustainable development in terms of policies, plans, programmers, and projects in the city, it was verified that the mentioned studies which became isolated actions due to the lack of articulation of the social actors involved, conducting to the stagnation of strategies and prior actions enable to contribute to the practice of tourism based on the principles of sustenance. It has been identified from the present study, the urgent necessity of planning and management integrated and also participative, which consider the possibilities and the limits to the sustainable development of the tourism along the Carneiros beach.
Key-words: The Carneiros beach. Tourism. Coastal zone. Conflicting matters. Environmental policies.
x
SUMRIO
INTRODUO..............................................................................................................17
1 SOCIEDADE, QUESTO AMBIENTAL, DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL, GLOBALIZAO E TURISMO ..............................................27 1.1 Questo ambiental e desenvolvimento sustentvel .........................................29 1.2 Mudanas globais e suas repercusses para o turismo ..................................38 1.3 Turismo e sustentabilidade: limites e possibilidades......................................46 1.4 Base de orientao ao planejamento turstico responsvel ............................57
2 DINMICA DO TURISMO NA ZONA COSTEIRA: UM OLHAR SOBRE O NORDESTE BRASILEIRO ....................................................................................63 2.1 Consideraes sobre as zonas costeiras ..........................................................64 2.2 O processo de ocupao dos espaos litorneos pelo turismo: presses e
conflitos de uso................................................................................................70 2.3 Turismo na regio Nordeste: cenrio poltico-econmico..............................76 2.4 Problemas e conflitos do desenvolvimento turstico de destino costeiros ......79
3 TURISMO NO MUNICPIO DE TAMANDAR (PE)...........................................84 3.1 Localizao e acessibilidade ............................................................................85 3.2 Aspectos histricos, ocupao e consumo do espao no municpio de
Tamandar (PE) ...............................................................................................87 3.2.1 Aspectos scio-econmicos ...................................................................91 3.2.2 A difuso espao-temporal do turismo ...................................................98
3.3 Potencialidades tursticas ..............................................................................107 3.3.1 Aspectos fsicos e patrimnio natural ...................................................108 3.3.2 Patrimnio cultural...............................................................................117 3.3.3 Possibilidades de um turismo responsvel frente ao potencial turstico.121
4 COEXISTNCIA DE POLTICAS AMBIENTAIS E DE TURISMO: QUESTES CONFLITANTES E DESAFIOS PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL DO TURISMO NA PRAIA DOS CARNEIROS, TAMANDAR (PE) ............................................................................126
xi
4.1 Questes conflitantes do desenvolvimento do turismo na praia dos Carneiros ......................................................................................................127
4.2 Conflitos entre as polticas ambientais e de turismo e desafios para a prtica do turismo sustentvel na praia dos Carneiros...............................140 4.2.1 A rea de Proteo Ambiental de Guadalupe....................................142 4.2.2 A rea de Proteo Ambiental Costa dos Corais ...............................150 4.2.3 O Plano Diretor de Tamandar ..........................................................154 4.2.4 A Lei do Parcelamento, Uso e Ocupao do Solo ..............................160 4.2.5 O Programa de Apoio ao Desenvolvimento Sustentvel da Zona da
Mata de Pernambuco (PROMATA) ..................................................162 4.2.6 O Programa de Desenvolvimento do Turismo no Nordeste
(PRODETUR/NE I e II) ....................................................................166 4.2.7 O Plano de Desenvolvimento Turstico Sustentvel de Tamandar ....173 4.2.8 O Plano de Interveno na Orla (PIO) de Tamandar: uma proposta
de gesto integrada da zona costeira (GIZC)......................................174
CONSIDERAES FINAIS.......................................................................................185
REFERNCIAS...........................................................................................................196
xii
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Mapa de Localizao e acessibilidade do municpio de Tamandar (PE)............. 86 Figura 2: Padro de ocupao da praia de Tamandar ........................................................ 90 Figura 3: Padro de ocupao da praia de Campas ............................................................. 90 Figura 4: IDH da Regio de Desenvolvimento da Mata Sul (RD-10).................................. 94 Figura 5: Priv na praia de Campas.................................................................................. 102 Figura 6: Priv na praia de Campas.................................................................................. 102 Figura 7: Intensa atividade imobiliria ............................................................................. 102
Figura 8: Praia de Tamandar (Sede) ............................................................................... 103 Figura 9: Praia de Campas ............................................................................................... 103 Figura 10: Praia da Boca da Barra.................................................................................... 103 Figura 11: Praia dos Carneiros ......................................................................................... 103 Figura 12: Espacializao da funo turstica em Tamandar ........................................... 105 Figura 13: Colnia de Frias do SESI .............................................................................. 106 Figura 14: Marina do Rio................................................................................................. 106 Figura 15: Marina das Campas II (antiga Marina Ariquind)............................................ 106 Figura 16: Passeio de Barco oferecido pelo O Marujo (Catamar e Lanchas)................ 107 Figura 17: Passeio de Banana Boat.................................................................................. 107 Figura 18: Praia da Boca da Barra.................................................................................... 110 Figura 19: Vegetao de Mangue nas proximidades do rio Mamucabas ........................... 110 Figura 20: Per do CEPENE............................................................................................. 111 Figura 21: Praia de Tamandar ........................................................................................ 112 Figura 22: Igreja de So Pedro, limite com a praia de Campas ......................................... 112 Figura 23: Praia de Campas ............................................................................................. 113 Figura 24: Hotel Marinas (1984), limite com a praia dos Carneiros.................................. 113 Figura 25: Casas de veraneio na praia de Campas ............................................................ 113 Figura 26: Condomnio fechado na praia de Campas........................................................ 113
xiii
Figura 27: Praia dos Carneiros ......................................................................................... 114
Figura 28: Vegetao de mangue instalada nos arrecifes .................................................. 114 Figura 29: Equipamento turstico, Restaurante................................................................. 114 Figura 30: Equipamento de hospedagem e restaurante ..................................................... 114 Figura 31: Comrcio informal em frente a ponto de apoio turstico .................................. 115 Figura 32: Comrcio informal em frente a restaurante...................................................... 115 Figura 33: Cachoeira da Bulha Dgua............................................................................. 116 Figura 34: Comrcio informal na entrada de acesso cachoeira da Bulha ........................ 116 Figura 35: Forte Santo Incio de Loyola .......................................................................... 117 Figura 36: Igreja de So Jos de Botas............................................................................. 118 Figura 37: Antiga Casa Paroquial de So Jos de Botas ................................................... 118 Figura 38: Igreja de So Pedro. Limite das praias de Tamandar e Campas...................... 119 Figura 39: Capela de So Benedito .................................................................................. 120 Figura 40: Praia dos Carneiros ......................................................................................... 127 Figura 41: Beneficiamento do coco.................................................................................. 128 Figura 42: Placa indica rea privada na praia dos Carneiros ............................................. 128 Figura 43: Piscinas naturais e arrecifes da praia dos Carneiros ......................................... 129 Figura 44: Esturio do Rio Ariquind .............................................................................. 129 Figura 45: Coqueiral desenha uma linha paralela ao mar.................................................. 129 Figura 46: Chals na praia dos Carneiros ......................................................................... 130 Figura 47: Recepo estrutura de acomodao na praia dos Carneiros.............................. 130 Figura 48: Priv na praia dos Carneiros............................................................................ 131 Figura 49: Espacializao do turismo na praia dos Carneiros ........................................... 134 Figura 50: Polticas Ambientais e de Turismo e os Desafios para o Desenvolvimento Sustentvel do Turismo..................................................................................................... 141 Figura 51: Mapa de Uso e Ocupao do Solo da APA de Guadalupe com os limites das UCs
de Tamandar ................................................................................................................... 143 Figura 52: Sede da APA de Guadalupe ............................................................................ 144 Figura 53: Zoneamento Ecolgico-Econmico Costeiro da APA de Guadalupe ............... 147 Figura 54: Abrangncia da APA Costa dos Corais ........................................................... 150 Figura 55: Poluio visual na sinalizao para a praia dos Carneiros e sinalizao com grafia incorreta da praia .............................................................................................................. 158 Figura 56: Problemas de sinalizao na via ...................................................................... 158 Figura 57: Plo Costa dos Arrecifes................................................................................. 167
xiv
LISTA DE GRFICOS
Grfico 1: Valores adicionados dos setores econmicos no PIB ......................................... 93 Grfico 2: Participao percentual dos setores econmicos no PIB..................................... 94 Grfico 3: Distribuio de estruturas de acomodao, UHs e leitos (1950-2006) .............. 100 Grfico 4: Expanso de Condomnios em Tamandar ...................................................... 101
xv
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Necessidades e vises dos diferentes atores sociais ........................................... 61 Quadro 2: Composio do PIB a preo corrente................................................................. 92 Quadro 3: IDH dos Municpios do Litoral Sul de Pernambuco (1991 e 2000) .................... 95 Quadro 4: Difuso temporal das estruturas de acomodao (pousadas e hotis) ................. 99 Quadro 5: Difuso temporal dos condomnios e privs .................................................... 101 Quadro 6: Potencialidades tursticas e Possibilidades para o Desenvolvimento do Turismo ............................................................................................................................ 125 Quadro 7: Equipamentos de hospedagem na praia dos Carneiros ..................................... 135 Quadro 8: Zoneamento ambiental da APA de Guadalupe Zona Turismo, Veraneio e Lazer................................................................................................................................. 148 Quadro 9: Zoneamento ambiental da APA de Guadalupe Zona Turismo, Veraneio e Lazer................................................................................................................................. 149 Quadro 10: Medidas para implantao e gesto da APA Costa dos Corais ....................... 151 Quadro 11: Objetivos especficos do PRODETUR/NE I e II............................................ 167 Quadro 12: Aes do PRODETUR/NE para o municpio de Tamandar.......................... 169 Quadro 13: Execuo do Projeto Orla - Atores sociais envolvidos ................................... 175 Quadro 14: Diagnstico/Caracterizao da Unidade 3 do PIO de Tamandar................... 176 Quadro 15: Trecho da praia dos Carneiros - Caracterizao dos problemas e respectivas linhas de ao, durao e responsabilidade por sua execuo............................................. 181 Quadro 15: Trecho da ZH da praia dos Carneiros - Caracterizao dos problemas e respectivas linhas de ao, durao e responsabilidade por sua execuo (Continuao) ... 182
xvi
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ALCA rea de Livre Comrcio das Amricas APA rea de Proteo Ambiental ADESC Associao de Desenvolvimento Sustentvel da Praia dos Carneiros
AHPREST Associao de Hotis, Pousadas, Restaurantes e Similares de Tamandar ARIE rea de Relevante Interesse Ecolgico BID Banco Interamericano de Desenvolvimento EE Estao Ecolgica
EIA Estudo de Impacto Ambiental CCT Capacidade de Carga Turstica CEPAL Comisso Econmica para a Amrica Latina CF Constituio Federal CMMAD Comisso Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
CNUMAD Conferncia das Naes Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento COMDEMA Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente CONDEPE/FIDEM Instituto de Planejamento de Pernambuco CPRH Agncia Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hdricos
DLS Desenvolvimento Local Sustentvel EMBRATUR Instituto Brasileiro de Turismo FLONA Floresta Nacional FMI Fundo Monetrio Internacional
GIZC Gesto Integrada da Zona Costeira IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica MMA Mistrio de Meio Ambiente
MTur Ministrio do Turismo NAFTA Acordo de Livre Comrcio da Amrica do Norte
xvii
ONG Organizao no-governamental
OTAN Organizao do Tratado do Atlntico Norte PARNA Parque Nacional
PDITS Plano de Desenvolvimento Integrado do Turismo Sustentvel PIM Plano de Investimento Municipal
PIO Plano de Interveno na Orla de Tamandar PLANTUR Plano Nacional de Turismo PND Plano Nacional de Desenvolvimento PNGC Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro
PNMA Programa Nacional de Meio Ambiente PNMT Plano de Municipalizao do Turismo PNRM Poltica Nacional para os Recursos do Mar PNUD Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento
PRODETUR Programa de Desenvolvimento do Turismo PROMATA Programa de Apoio ao Desenvolvimento Sustentvel da Zona da Mata PRT Plano de Regionalizao do Turismo REBIO Reserva Biolgica
RDS Reserva de Desenvolvimento Sustentvel RPPN Reserva Particular do Patrimnio Natural RESEX Reserva Extrativista RIMA Relatrio de Impacto Ambiental SQA Secretaria de Qualidade Ambiental SEDET Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econmico e Turismo SELET Setores Especiais de Esporte, Lazer e Turismo SEMA Secretaria Especial de Meio Ambiente SNUC Sistema Nacional de Unidades de Conservao
SPU Secretaria do Patrimnio da Unio UC Unidade de Conservao UGP/PROMATA Unidade Gestora do PROMATA UFPE Universidade Federal de Pernambuco
WWF World Wildlife Found ZEEC Zoneamento Ecolgico-Econmico Costeiro ZH Zona Hoteleira
INTRODUO
18
INTRODUO
A formao de uma epistemologia no campo do turismo recente e tem requerido uma
fundamentao multidisciplinar e interdisciplinar, voltada compreenso dos aspectos
dialticos e conflitantes da atividade turstica. Enquadrado no campo das Cincias Sociais, o
turismo suscita uma diversidade de ngulos de pesquisa cada vez mais ampla e consistente.
Verifica-se a existncia de uma literatura diferenciada acerca do tema, especialmente a
aborda as interfaces do turismo com o ambiente, em sua totalidade, e promovem reflexo
quanto s migraes estimuladas pela atividade, aos impactos scio-ambientais e s polticas
pblicas de desenvolvimento.
Na presente dissertao, prope-se abordar alguns dos diversos aspectos da relao
espao, sociedade e turismo, empreendendo uma discusso na esfera do ambiente costeiro e
seus ecossistemas. Analisa-se, no estudo em tela, a utilizao da zona costeira pelo turismo
frente valorizao do litoral no cenrio econmico internacional e existncia de problemas
e conflitos provenientes do uso dos espaos litorneos pela atividade turstica.
Os problemas e conflitos identificados no desenvolvimento turstico da zona costeira
so provenientes, em grande medida, do desconhecimento e da inobservncia da
vulnerabilidade e fragilidade dos ecossistemas que a conformam, da carncia de planejamento
e gesto integrados e participativos e da desarticulao dos diversos setores da sociedade no
processo de planejamento, implementao e controle da atividade turstica.
19
Vale ressaltar que o litoral tem sido submetido ao perverso processo de turistificao
dos espaos promovido pela lgica capitalista globalizada. So inmeros os empreendimentos
e projetos tursticos para a zona costeira que se apiam na retrica da sustentabilidade, mas na
prtica esto distantes de serem atividades de desenvolvimento sustentvel, uma vez que
apresentam impactos scio-ambientais negativos e distores na distribuio de seus
benefcios aos ambientes nos quais se implementam e s populaes locais.
Em poucas dcadas, regies econmicas perifricas transformam-se em pontos de
grande afluncia do turismo global e, experimentando um crescimento dramtico, enfrentam
problemas de ocupao espacial desordenada e falta de infra-estrutura bsica, este ltimo
agrava-se com o incremento da populao flutuante, sobretudo nos perodos de alta estao. O
espao turstico modificado permanentemente atravs do assentamento de toda infra-
estrutura e servios indispensveis ao desenvolvimento da atividade.
A rpida transformao de reas litorneas em destinos tursticos, explorados pelo
capital internacional, Estado e grandes empresrios, resulta do processo de mercantilizao da
natureza que acomete as zonas costeiras, transformadas em commodity pelos agentes
econmicos. Antigas vilas de pescadores transformaram-se em centros de servios, dotados de
infra-estruturas hoteleiras que se assemelham, em alguns casos, a ilhas de lazer, marcadas
pelo consumo fcil, protegido e servial, com caractersticas alheias realidade local. Nesse
processo de produo, valorizao, especulao e apropriao do espao litorneo, o turismo
engendra contradies e choques scio-econmicos, ecolgicos e culturais.
De Cancn (Quintana Roo, Mxico) a Porto de Galinhas (Pernambuco, Brasil),
considerados espaos tursticos litorneos internacionais, verifica-se a manipulao da
20
ideologia do desenvolvimento sustentvel pelos agentes econmicos (Estados, grandes
empresrios e agentes multilaterais) do capitalismo flexvel transnacional. Igualmente
manipulveis so vrios elementos como respeito ao ambiente, respeito s culturas locais,
justia social e participao comunitria, presentes na construo de identidades
contemporneas.
Atividade orientada pelos paradigmas de consumo, acumulao e maximizao de
lucros do sistema de produo capitalista, o turismo imprime uma verdadeira busca por
paisagens litorneas autnticas, com o intuito de transform-las em novos produtos tursticos,
muitas vezes sob a manta de uma pseudo-sustentabilidade.
Nessa desenfreada procura por paisagens litorneas autnticas, a praia dos Carneiros,
definida como recorte espacial do presente trabalho, desponta como mais um espao
capturado pelo turismo. A referida praia situa-se no litoral norte de Tamandar, municpio
localizado na Mesorregio da Mata e Microrregio da Mata Meridional (ou Litoral Sul) do
estado de Pernambuco, a 114 km do Recife, capital pernambucana (IBGE, 2000).
A zona costeira de Tamandar constitui-se em um espao natural de interesse turstico,
com parte de suas reas continental e litornea inseridas em unidades de conservao (UCs), a
rea de Proteo Ambiental (APA) de Guadalupe, a APA Costa dos Corais e o Parque
Natural Municipal do Forte. Apesar do municpio ser abrangido por relevantes projetos de
conservao do litoral, evidenciam-se impactos negativos sobre o ambiente natural e sobre a
comunidade local, bem como conflitos de interesses entre o poder pblico, a iniciativa
privada, a sociedade civil organizada e a comunidade local, derivados da presso que o espao
vem sofrendo para desenvolver-se turisticamente.
21
No tocante praia dos Carneiros, verifica-se que, se por um lado, sua beleza
paisagstica e biodiversidade justificam a insero desse espao litorneo em reas legalmente
protegidas, por outro, despertam o interesse dos poderes pblico e privado no seu
desenvolvimento turstico, o que se evidencia atravs do assentamento de infra-estrutura
bsica e turstica no local. No entanto, verifica-se a ausncia de um planejamento efetivo que
oriente a prtica responsvel do turismo, o que contribui para a reproduo do modelo de
desenvolvimento vigente.
O Zoneamento Ecolgico-Econmico Costeiro da APA de Guadalupe e o Plano
Diretor do municpio de Tamandar, ambos instrumentos de ordenamento territorial que
orientam quanto aos limites e possibilidades de utilizao das reas urbanas e rurais,
definiram a praia dos Carneiros como uma zona de uso turstico, destinada, especificamente,
construo de equipamentos hoteleiros. Anunciada como a prxima fronteira turstica do
litoral Sul do estado de Pernambuco (ERA..., 2005), incide sobre a praia dos Carneiros forte
presso para desenvolver-se turisticamente e, conseqentemente, originam-se questes
conflitantes entre os poderes pblicos, privados, sociedade civil organizada e comunidade
local.
A utilizao da praia dos Carneiros pela atividade turstica ainda no produziu um
estgio de degradao ambiental to intenso quanto o que se pode verificar em outros destinos
tursticos litorneos de Pernambuco, como Itamarac (litoral Norte) e Porto de Galinhas
(litoral Sul), e at mesmo em outros trechos da zona costeira do prprio municpio de
Tamandar, rea fortemente adensada pelo uso e ocupao desordenados, principalmente em
funo do veraneio, que promoveu uma significativa transformao na morfologia da
paisagem litornea no municpio. Entretanto, verificam-se na praia dos Carneiros problemas e
22
conflitos resultantes de interesses econmicos divergentes entre o poder pblico e o poder
privado.
Podem-se observar algumas questes conflitantes que evidenciam presses para o
desenvolvimento do turismo na praia dos Carneiros, dentre as quais se destacam: expanso
imobiliria e turstica desordenada e intensificao da especulao imobiliria; inexistncia de
acessos pblicos praia no trecho onde se localizam as fazendas de coqueirais, uma vez que
grande extenso do terreno constitui propriedade privada; construo de novos acessos virios
ao municpio de Tamandar, via praia dos Carneiros, tais como a Via de Penetrao Sul e a
Via Litornea dos Carneiros; comercializao de lotes destinados construo de grandes
empreendimentos hoteleiros; penetrao de capital internacional atravs de investimentos na
rede hoteleira; constituio de um comrcio informal desordenado na faixa litornea.
O cenrio ora apresentado suscita questionamentos que traduzem algumas
inquietaes quanto aos rumos do desenvolvimento do turismo na praia dos Carneiros. Ser
que o processo de turistificao que atinge a zona costeira nordestina no est acelerado no
estado de Pernambuco, uma vez que se verifica o comprometimento da integridade da base
dos recursos naturais que conformam vrias de suas praias? Quais so os conflitos entre as
polticas ambientais e de turismo que estabelecem os rumos da atividade turstica na zona
costeira do municpio de Tamandar?
E na praia dos Carneiros, ser que a implementao e o desenvolvimento do turismo
nesse espao costeiro foram precedidos por um planejamento efetivo e consciente da
atividade turstica? Ser que as questes conflitantes, resultantes do processo de consumo e
produo da referida praia pelo turismo, no vm sendo acentuadas pela carncia de gesto
23
local, integrada e participativa da atividade turstica? A ausncia de limites ambientalmente
tolerveis de uso turstico (estudo de capacidade de suporte) da praia dos Carneiros, espao
includo em projetos de conservao do litoral, no poder comprometer a manuteno do
equilbrio ecolgico e da qualidade de vida? Como conciliar os ganhos econmicos
estimulados pela atividade e o desenvolvimento sustentvel desse litoral, notadamente no
tocante aos interesses polticos e econmicos dos diferentes atores envolvidos? Quais os
desafios para o desenvolvimento sustentvel do turismo na praia dos Carneiros?
Frente ao panorama delineado, objetiva-se, mais especificamente, com o estudo em
tela: conhecer o ambiente costeiro do municpio de Tamandar, no qual se insere a praia dos
Carneiros; verificar as interaes e inter-relaes entre os elementos que compem a zona
costeira do municpio; analisar os conflitos entre polticas ambientais e de turismo que
incidem sobre o municpio nas esferas federal, estadual e municipal; analisar as questes
conflitantes provenientes da apropriao da zona costeira pelo turismo na praia dos Carneiros;
verificar os desafios para o desenvolvimento sustentvel do turismo na praia dos Carneiros;
promover uma reflexo quanto s vocaes e suscetibilidades do espao costeiro estudado.
A fim de alcanar o propsito deste trabalho e para melhor compreenso da natureza
do turismo, fenmeno eminentemente social e atividade econmica, realizou-se um estudo
exploratrio com abordagem crtica e qualitativa. A abordagem qualitativa permitiu maior
compreenso acerca das questes dialticas e conflitantes oriundas do assentamento da funo
turstica sobre zona costeira de Tamandar, especialmente a praia dos Carneiros, bem como
da complexidade do sistema turstico e das variveis que nele interagem.
24
Incluem-se dentre as tcnicas empregadas: observaes sistemticas in loco,
entrevistas semi-estruturadas, pesquisas bibliogrficas, iconogrficas e documentais, registros
fotogrficos e participao em reunies do Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente
(COMDEMA) de Tamandar. A utilizao das referidas tcnicas foi de extrema relevncia na
elaborao da presente dissertao, por viabilizarem a sua operacionalizao, no tempo
estimado e com escassez de recursos financeiros.
Este trabalho est estruturado nesta introduo, quatro partes, consideraes finais e
referncias.
A Parte 1, SOCIEDADE, QUESTO AMBIENTAL, DESENVOLVIMENTO
SUSTENTVEL, GLOBALIZAO E TURISMO, versa sobre a representao da natureza
para as sociedades e suas repercusses na forma de apropriao da natureza pelas atividades
econmicas. Busca-se, nesta parte, compreender os paradigmas que orientam o
desenvolvimento das sociedades, refletindo sobre a necessidade de substituir comportamentos
hostis e excludentes da sociedade frente natureza por atitudes mais solidrias e de maior
respeito, que considerem o princpio da alteridade e envolvam prticas sociais e
ecologicamente equilibradas.
Ainda na Parte 1, realiza-se uma contextualizao do turismo no cenrio de
transformaes oriundas do processo de globalizao que acometeu as sociedades ps-
modernas. Discute-se acerca de questes dialticas e conflitantes do turismo, enquanto
atividade econmica que consome, produz e transforma os espaos naturais e, portanto,
suscita ponderaes quanto s suas formas de apropriao da natureza, tomando-se como
parmetros os princpios de conservao ambiental, eficincia econmica, participao social
25
e justa distribuio dos benefcios, no apenas aos agentes envolvidos, mas principalmente s
populaes dos lugares onde se instala o turismo. Os referidos princpios conformam a idia
de sustentabilidade, amplamente difundida nos discursos e textos das polticas de
desenvolvimento, mas ainda distante de ser efetivamente internalizada e posta em prtica nas
esferas social, ambiental e poltica.
A Parte 2, DINMICA DO TURISMO EM ZONAS COSTEIRAS: UM OLHAR
SOBRE O NORDESTE BRASILEIRO, consiste na investigao da dinmica do turismo em
zonas costeiras, traando-se um breve panorama do turismo na regio Nordeste do Brasil e o
cenrio poltico-econmico no qual se insere a atividade. Nesta parte, empreende-se um
estudo acerca das zonas costeiras, no intuito de melhor conhecer esse ambiente, bem como as
formas de ocupao assentadas nos espaos litorneos pelo turismo, os conflitos delas
oriundos e a proposta de gesto integrada de zonas costeiras.
Na Parte 3, DINMICA DO TURISMO NO MUNICPIO DE TAMANDAR
(PE), prope-se uma caracterizao dos aspectos fsico-naturais, scio-econmicos,
histrico-culturais e polticos. So apresentadas as potencialidades tursticas do municpio,
constitudas pelo seu patrimnio natural e histrico-cultural, que justificam a sua insero em
projetos de conservao ambiental, tais como a Reserva Biolgica (REBIO) de Saltinho, a
rea de Proteo Ambiental (APA) Federal Costa dos Corais, a APA Estadual de Guadalupe
e o Parque Natural Municipal do Forte Santo Incio de Loyola. As interaes existentes entre
os elementos que compem esse ambiente costeiro configuram uma rede de inter-relaes que
se encontra em estreita dependncia e influncia recprocas, de modo que conhec-las permite
uma melhor compreenso da realidade na qual est inserida a praia dos Carneiros, recorte
espacial do estudo em tela.
26
A ltima Parte, COEXISTNCIA DE POLTICAS AMBIENTAIS E DE
TURISMO: QUESTES CONFLITANTES E DESAFIOS PARA O DESENVOLVIMENTO
SUSTENTVEL DO TURISMO NA PRAIA DOS CARNEIROS, TAMANDAR (PE),
consiste na identificao das questes conflitantes do uso turstico da praia dos Carneiros e
dos desafios para a prtica do turismo sustentvel nesse espao litorneo face coexistncia
das polticas ambientais e de turismo que definem estratgias e aes para ordenar o uso e a
ocupao do solo e direcionam investimentos pblicos e privados para o desenvolvimento do
turismo no municpio de Tamandar.
1 SOCIEDADE, QUESTO AMBIENTAL, DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL,
GLOBALIZAO E TURISMO
28
1 SOCIEDADE, QUESTO AMBIENTAL, DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL, GLOBALIZAO E TURISMO
A representao da natureza para uma dada sociedade repercute diretamente sobre a
forma de apropriao da natureza pelas atividades econmicas, dentre as quais se inclui o
turismo. Nas sociedades capitalistas industriais, a natureza vista como um simples palco de
experincias a ser explorado indiscriminadamente, sem restries morais, e subordinado s
vontades de uma minoria que ostenta riqueza e poder, em detrimento de uma grande maioria
que no v atendidas necessidades bsicas de alimentao, sade, educao, saneamento e
segurana. Como conseqncia, verifica-se a instalao de um cenrio de graves problemas e
conflitos ambientais que afetam o planeta.
Notadamente, nas sociedades capitalistas, os paradigmas de poder e dominao tm
concorrido para acentuar as atitudes hostis e excludentes da sociedade frente natureza.
Prope-se, neste estudo, uma reflexo sobre a necessidade de uma maior compreenso dos
paradigmas que orientam o desenvolvimento das sociedades, de modo que sejam adotadas
atitudes mais solidrias e de maior respeito, que considerem o princpio da alteridade e
envolvam prticas sociais ecologicamente equilibradas.
Esta investigao tambm visa contextualizao do turismo no cenrio de
transformaes oriundas do processo de globalizao que acometeu as sociedades ps-
modernas. Prope refletir acerca de questes dialticas e conflitantes do turismo, enquanto
atividade econmica que consome, produz e transforma os espaos naturais e, portanto,
suscita ponderaes quanto s suas formas de apropriao da natureza. Utilizam-se, como
parmetros para a reflexo, os princpios de conservao ambiental, eficincia econmica,
participao social e justa distribuio dos benefcios, no apenas aos agentes envolvidos, mas
29
principalmente s populaes dos lugares onde se instala o turismo. Os referidos princpios
conformam a idia de sustentabilidade, amplamente difundida nos discursos e textos das
polticas de desenvolvimento, mas ainda distante de ser efetivamente internalizada e posta em
prtica nas esferas social, ambiental e poltica.
1.1 Questo ambiental e desenvolvimento sustentvel
Com o crescimento das atividades industriais, notadamente nos pases desenvolvidos,
intensificaram-se os efeitos negativos da sociedade sobre o meio ambiente. O assentamento
das atividades produtivas sobre o espao, a partir do uso exacerbado dos recursos naturais
visando acumulao e lucro, imprimiu marcas irreversveis na natureza e passou a
comprometer a qualidade de vida das populaes mundiais.
Segundo Boff (2004), os problemas ambientais provocados pelas sociedades
industriais levaram o mundo a uma crise ambiental sem precedentes na histria da
humanidade, expressa atravs de vrios indicadores, dentre os quais o mais emblemtico o
distanciamento entre homem e natureza. Os impactos ambientais provenientes das alteraes
de uso da terra e conseqentes mudanas nas paisagens configuram um problema global.
Diante do cenrio apresentado, verifica-se que no constitui tarefa fcil mensurar a
influncia das atividades humanas no sistema terrestre, bem como buscar o enfrentamento das
questes conflitantes oriundas de uma relao sociedade-natureza orientada por paradigmas
cartesianos, deterministas e positivistas e marcada por imperativos como a idia de tudo em
nome da cincia e do progresso, os elevados padres de produo e consumo com uso
exaustivo dos recursos naturais, as idias de acumulao e lucro mximos, os interesses
individualistas em detrimento da coletividade.
30
O modelo de desenvolvimento das sociedades urbano-industriais, norteado por um
paradigma cientificista que concorre para o agravamento da crise ambiental que se anuncia,
contribui para uma modernizao conservadora que promove a manuteno do status quo, a
secundarizao das relaes e a sustentabilidade como campo de disputa, realando assim
conflitos de interesses econmicos (GUIMARES, 2003).
O turismo, atividade econmica nascida no seio da sociedade capitalista, reproduziu o
modelo cientificista de desenvolvimento vigente nas sociedades contemporneas, servindo
inicialmente aos interesses de uma elite dominante. Responsvel pelo consumo e
comercializao dos recursos naturais, a atividade turstica foi, por muitas vezes, apresentada
como tbua de salvao dos destinos e de suas economias, o que serviu para mascarar um
processo de excluso da populao. Com os avanos cientfico-tecnolgicos, sobretudo nos
setores de transporte e comunicao, os deslocamentos humanos chegaram a lugares antes
inacessveis, ocasionando um rpido e indiscriminado crescimento urbano-industrial que
concorreu ao agravamento dos problemas ambientais.
Por volta dos anos de 1950, emerge um pensamento crtico de economistas no tocante
ao desenvolvimento, sobretudo em termos de justia social e de empobrecimento de alguns
pases e regies, face ao enriquecimento de outros. Nesse sentido, a Comisso Econmica
para a Amrica Latina (CEPAL), referncia no pensamento econmico, lana uma
diferenciao conceitual entre os termos crescimento econmico entendido como a
expanso econmica quantitativa e desenvolvimento compreendido como mudana
qualitativa positiva que envolve distribuio de renda e avanos sociais (CICAR; MUSSIO,
2003).
31
Frente ao antagonismo considerado na relao crescimento econmico e meio
ambiente, inicia-se, na dcada de 1970, uma discusso acerca de um novo conceito, o
desenvolvimento sustentvel, o qual prope a conciliao destas questes tidas como
conflitantes. Buscavam-se medidas de combate crise ambiental instalada no mundo que
possibilitassem uma relao sociedade-natureza mais justa e ecologicamente equilibrada.
Nesse sentido, pensar mudanas nos padres de produo e consumo condio sine qua non
para o estabelecimento de um novo estilo de desenvolvimento.
Na medida em que investigaes cientficas vm advertindo quanto ameaa da
mudana climtica sobre os sistemas scio-econmicos humanos do terceiro milnio, torna-se
imprescindvel priorizar a questo ambiental no contexto internacional, o que passa pela
compreenso do termo desenvolvimento sustentvel e pela adoo de polticas que
efetivamente contribuam para essa forma de desenvolvimento (CICAR; MUSSIO, 2003).
A questo ambiental se configura face globalizao de diversos problemas
ambientais, como a reduo da camada de oznio, o efeito estufa, a produo de resduos
txicos, variaes climticas (DUARTE, 2003). Diante dos problemas citados, estabeleceu-se
um cenrio de conflitos, envolvendo diferentes atores sociais, que suscitou premente
identificao de solues.
Conforme Duarte (2003), os documentos Relatrio do Clube de Roma (1968) e
Limites ao Crescimento (1972) alertavam para o possvel esgotamento das fontes de riquezas
naturais mundiais, em virtude da explorao dos recursos e do ritmo acelerado da
industrializao. Os relatrios citados destacavam a necessidade de reduzir drasticamente a
industrializao e o crescimento econmico. Leff (2004, p. 16) afirma que a escassez,
32
alicerce da teoria e prtica econmica, converteu-se numa escassez global que j no se
resolve mediante o progresso tcnico, pela substituio de recursos escassos por outros mais
abundantes (...). A sobreposio da razo tecnolgica organizao da natureza levou a
civilizao a uma crise, cujo principal sintoma a degradao ambiental.
Como conseqncia destas reflexes, ps-se a questo ambiental no centro das
preocupaes sobre os rumos para o desenvolvimento humano no Sculo XXI. As
conferncias internacionais sobre meio ambiente (Estocolmo, 1972; Rio de Janeiro, 1992;
Joanesburgo, 2002), possibilitaram uma significativa reflexo sobre as relaes que o homem
mantinha com a natureza. Passmore (1995) e Pelizzoli (2004) assinalaram a necessidade e
fortes tendncias de uma nova atitude frente natureza, as quais conduziriam a uma relao
sociedade-natureza menos hostil e no-excludente. Representantes de diversos pases
declaram estado de alerta sobre a crise ambiental no planeta, emergindo discusses sobre
medidas de gesto, controle e monitoramento ambiental em grandes conferncias.
Em 1972, Estocolmo (Sucia) palco da Conferncia das Naes Unidas sobre o
Ambiente Humano, a qual reuniu cerca de 113 pases, inclusive o Brasil, com o objetivo de
estabelecer uma viso global e princpios que pudessem inspirar e orientar humanidade para
a preservao e melhoria do ambiente humano. Evidenciaram-se as discusses de
sustentabilidade no cenrio global, alertando-se para o fato da sobrevivncia humana vir
sendo ameaada em virtude de aes antrpicas de alto risco nos ecossistemas, que podem
conduzir ao empobrecimento, depredao da morada do homem, e mesmo conduzir ameaa
da sobrevivncia dessa espcie (BARROS, 2000, p. 32).
33
Movimentos de origens distintas convergiram para a emergncia da questo ambiental
em escala global, sintetizando cincia, poltica e correntes filosficas de variados matizes
(DUARTE, 2003). Os limites da racionalidade econmica e os desafios da degradao
ambiental ao projeto civilizatrio da humanidade entraram na pauta das discusses, com o
intuito de se conceber uma nova forma de desenvolvimento humano, pautada na reintegrao
dos valores e potenciais da natureza, das externalidades sociais, dos saberes subjugados e da
complexidade do mundo em substituio racionalidade mecanicista, simplificadora,
unidimensional e fragmentadora que levou ao processo de civilizao (LEFF, 2004).
Aps a Conferncia de Estocolmo, a poltica externa brasileira experimentou um
drama perante a comunidade internacional, em virtude de conceber a explorao ilimitada e
indiscriminada de seus recursos naturais, enfrentando, inclusive, dificuldades para acessar
recursos financeiros internacionais. Entretanto, preciso esclarecer, que at meados do sculo
XX, o posicionamento do Brasil diante da problemtica ambiental global no diferiu da
atitude da grande maioria dos pases, notadamente os europeus, que devastaram seus recursos
naturais e ainda se beneficiaram das riquezas naturais de outros pases (DUARTE, 2003).
Duarte (2003, p. 8) afirma que a trajetria do Brasil como ator ambiental global se
confunde, em parte, com a emergncia da prpria temtica ecolgica no cenrio internacional
e acompanha os embates entre pases desenvolvidos e pases em desenvolvimento. Discutia-
se a problemtica do crescimento econmico e suas repercusses ambientais negativas, a
exemplo da superpopulao e da poluio. Porm, seguindo a tendncia de outros pases do
Terceiro Mundo, o Brasil priorizou o desenvolvimento em detrimento da preocupao com os
danos ambientais, para s depois arcar com o nus dos efeitos negativos sobre a natureza.
34
Em meio s discusses e busca de solues para os problemas ambientais no cenrio
mundial, inicia-se a construo de um arcabouo legislativo (normativo, de controle e
monitoramento, bem como punitivo) para auxiliar a proteo e a gesto ambiental. No Brasil,
em outubro de 1973, criou-se a Secretaria Especial de Meio Ambiente (SEMA), diretamente
ligada Presidncia da Repblica, considerada o primeiro passo concreto voltado gesto
apropriada do patrimnio ambiental brasileiro, como uma das conseqncias da Conferncia
de Estocolmo. As principais competncias da SEMA referiam-se coordenao de polticas
ambientais nacionais e assistncia a outras entidades.
Ao longo dos anos de 1970, tambm se verificou a criao de parques nacionais de
conservao, a exemplo do Parque Nacional da Floresta de Tapajs, com a finalidade
predominantemente de pesquisa, preservao e lazer, porm em condies precrias de
funcionamento. Duarte (2003, p. 23) salienta que at o final da dcada de 1970, houve ainda
grande desenvolvimento da legislao ambiental e foram criados, em todo o mundo, rgos
especiais para proteger o meio ambiente e menciona o aumento do nmero e da importncia
das organizaes no-governamentais (ONGs) como reflexo do amadurecimento da
conscincia ecolgica nas sociedades civis.
O fim da Segunda Guerra Mundial introduziu um clima de instabilidade e incerteza no
cenrio global. A possibilidade de destruio total do planeta Terra em virtude da existncia
da bomba atmica levou ao fortalecimento de um movimento pacifista que denunciava as
atrocidades cometidas em nome do progresso, tais como: a transformao de campos
buclicos em bases de guerra pela Organizao dos Tratados do Atlntico Norte (OTAN) e a
transformao de reas perifricas em focos de conflitos mediante o terror nuclear
armamentista (DUARTE, 2003).
35
Nos anos de 1980, confere-se um novo sentido idia de desenvolvimento, o qual
contempla a necessidade de compatibilizar questes conflitantes num sistema capitalista:
crescimento econmico, conservao ambiental e qualidade de vida. A varivel ambiental
assume um papel central nas tomadas de deciso no cenrio econmico mundial, porm o
discurso no representa uma efetividade nas aes e na formulao de polticas em busca de
solues para os problemas existentes.
Torna-se premente a identificao de medidas viveis para solucionar questes como a
exploso demogrfica, a misria, a poluio hdrica, dos solos e atmosfrica as quais
prejudicam o equilbrio ambiental e da vida. Frente a essas preocupaes a Comisso Mundial
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD) publicou, em 1987, o documento Nosso
Futuro Comum, tambm denominado Relatrio Brundtland, o qual avalia os avanos dos
processos de degradao ambiental e a eficcia das polticas ambientais.
A partir do Nosso Futuro Comum, as naes do planeta compartilham esforos para
definir uma estratgia poltica para a sustentabilidade ecolgica do processo de globalizao
que possibilite a sobrevivncia humana (LEFF, 2004). No referido documento, a CMMAD
(apud RUSCHMAN, 1997, p. 109) definiu o desenvolvimento sustentvel como:
(...) um processo de transformao no qual a explorao dos recursos, a direo dos investimentos, a orientao da evoluo tecnolgica e a mudana institucional se harmonizam e reforam o potencial presente e futuro, a fim de atender s necessidades e aspiraes humanas.
Neste trabalho, entende-se por desenvolvimento sustentvel (...) um modo de vida
sustentvel, fruto do cuidado para com todo o ser, especialmente para com todas as formas
de vida e da responsabilidade coletiva face ao destino comum da Terra e da Humanidade
(BOFF, 2005). Portanto, imprescindvel repensar a idia de crescimento econmico vigente
36
no mbito global e local, uma vez que se baseia no consumo elevado das matrias-primas e
dos recursos naturais, ocasionando sria degradao ambiental.
Cicar e Mussio (2003) ressaltam que a sustentabilidade do desenvolvimento requer
um equilbrio dinmico de todas as formas de capital ou acordos que participam do esforo do
desenvolvimento econmico e social dos pases. Nesse sentido, as autoras afirmam que a
democracia, a consulta e a participao das populaes nos processos decisrios figuram
como cernes do desenvolvimento sustentvel, o qual contempla a necessidade de garantir boa
qualidade de vida as geraes atuais e futuras.
Em 1992, a partir da Conferncia das Naes Unidas para o Meio Ambiente e
Desenvolvimento (CNUMAD) conhecida como Cpula da Terra, Rio 92 e, at, ECO-92
realizada no Rio de Janeiro (Brasil), a poltica externa brasileira tomou novos rumos no
mbito das negociaes ambientais, visto que o pas comeava a cooperar, dialogar e formar
parcerias visando ao equacionamento das perspectivas difusas dos atores envolvidos
(DUARTE, 2003).
A Agenda 21 consiste num acordo firmado entre os chefes de estado de 179 pases
durante a CNUMAD (Cpula da Terra ou RIO 92), mediante a necessidade premente de
garantir a qualidade ambiental e as condies econmicas necessrias a todos os povos do
planeta. Diante da gama de problemas ambientais na qual o planeta est imerso, buscou-se
elaborar uma agenda, considerando-se o sentido de compromisso que o termo inspira, para
funcionar como um guia de aes para o alcance do desenvolvimento sustentvel, sob a
perspectiva da conservao ambiental, eficincia econmica, justia social, cidadania,
participao, dignidade e tica.
37
A deciso de estabelecer uma agenda de compromissos global foi tomada frente
urgncia de se definir novos paradigmas e uma nova tica ambiental com o intuito de reverter
os estados de pobreza e de degradao ambiental e prover maior acesso da populao aos
recursos de que necessita para viver de modo sustentvel. Portanto, a Agenda 21 representa a
tentativa de se estabelecer um novo paradigma para que as sociedades urbano-industriais
revertam os estados de pobreza e de degradao ambiental e, assim, possam prover maior
acesso da populao aos recursos de que necessita para viver de modo sustentvel.
Dez anos aps, em Joanesburgo (frica do Sul), as Naes Unidas realizaram a
Cpula Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentvel, evento conhecido como Rio+10, onde
a postura adotada pelo Brasil recebeu elogios da comunidade internacional, uma vez que o
pas sai da condio de vilo e passa a propor temas importantes acerca de mecanismos de
troca ambientais e energia renovvel, foco dos debates mais recentes (DUARTE, 2003).
evidente a dificuldade de se falar em sustentabilidade na tica capitalista atual, onde
h primazia da dimenso econmica em detrimento das dimenses social e ecolgica,
predominncia dos conceitos intrnsecos ao sistema de produo capitalista (individualismo,
pragmatismo das aes, concentrao de riquezas e terras numa minoria da populao, ideal
de lucro a qualquer custo e elevados padres de consumo). Leff (2004, p. 23) afirma que a
racionalidade econmica desconhece toda lei de conservao e reproduo social para dar
curso a uma degradao do sistema que transcende toda norma, referncia e sentido para
control-lo.
O desenvolvimento do turismo tem sido fortemente influenciado por paradigmas
economicistas, individualistas e consumistas que contribuem para o estabelecimento de um
38
cenrio de problemas e conflitos, onde se verifica a hierarquizao e secundarizao das
relaes sociais, bem como a transformao da sustentabilidade num campo de disputa de
interesses dos diversos atores sociais (poder pblico, iniciativa privada, sociedade civil
organizada, comunidades locais e turistas).
Os instrumentos de proteo da natureza constituem-se em alguns dos mecanismos de
minimizao e mitigao dos problemas e das contradies engendradas pelo turismo nos
ambientes dos quais se apropria. Diante da fragilidade da zona costeira, onde tem se
intensificado a atividade turstica, torna-se ainda mais relevante a existncia de instrumentos
normativos, acordos de cooperao internacional e o desenvolvimento de polticas que
contribuam para uma prtica turstica em bases sustentveis nesses ambientes.
Prover as necessidades das populaes atuais e futuras suscita a reconstruo das bases
ticas e produtivas cristalizadas da sociedade capitalista, a qual se apropria da natureza,
consumindo-a e produzindo-a, para atender a interesses individuais em detrimento das
demandas coletivas; satisfazer seu ideal de acumulao e elevado padro de consumo;
mascarar realidades de degradao ambiental e misria; tudo sob a gide de uma pseudo-
sustentabilidade. Portanto, necessrio que a preocupao com o equacionamento dos
problemas ambientais no se restrinja, apenas, ao discurso das autoridades mundiais, mas
integre uma efetiva sinergia de esforos de toda sociedade em busca da sustentabilidade.
1.2 Mudanas globais e suas repercusses para o turismo
A sociedade do consumo e do lazer, estabelecida em conseqncia das mudanas
econmicas globais vividas entre os sculos XIX e XX, contribuiu para o significativo
crescimento do setor de servios. O turismo se destaca, nesse cenrio, como uma das
39
atividades mais dinmicas da economia mundial (RIBEIRO e BARROS, 2001),
experimentando significativo desenvolvimento e, conforme Coriolano (2002, p. 39),
mobilizando fluxos de servios, capitais e populaes.
A dcada de 1990 foi poca promissora e de grandes resultados para o turismo,
apontado como um setor capaz de propiciar avanos tecnolgicos, notadamente no mbito da
informtica e das telecomunicaes. Nesse perodo, pde-se observar a intensificao do
turismo de massa no mundo globalizado. Especialistas definiram indicadores, delinearam
tendncias, realizaram previses e identificaram os desafios para polticas globais do turismo.
Acreditam os governos e empresrios que:
(...) o turismo seria um dos segmentos em constante expanso (...); haveria mais competio entre regies e pases como destinos a serem escolhidos pelos turistas; os consumidores teriam mais conhecimento sobre os destinos e as opes de viagens, e seriam mais exigentes com os produtos e servios; (...) e o sucesso dependeria de enfoques altamente profissionalizados, tanto do trade turstico quanto da poltica especfica dos destinos tursticos. (WORLD TRAVEL AND TOURISM REVIEW apud TRIGO, 2003, p. 58).
O setor de viagens e turismo foi profundamente afetado pelas mudanas ocorridas no
final do sculo XX, envolvendo problemas econmicos internacionais, intensificao dos
ataques terroristas e dos conflitos no Oriente Mdio, a organizao da Al Quaeda e o
surgimento das organizaes no-governamentais (ONGs). A virada do sculo foi marcada
pela instalao de um novo cenrio mundial uma nova ordem poltico-econmica de
natureza instvel e incerta, conforme afirma Hobsbawn (apud TRIGO, 2003, p. 27):
O fim da Guerra Fria retirou de repente os esteios que sustentavam a estrutura internacional e, em medida ainda no avaliada, as estruturas dos sistemas polticos internos mundiais. O que restou foi um mundo em desordem e colapso parcial, porque nada havia para substitu-los. A idia, alimentada por pouco tempo pelos porta-vozes norte-americanos, de que a velha ordem bipolar podia ser substituda por uma nova ordem baseada na nica superpotncia restante, logo se mostrou irrealista. [...] H momentos histricos que podem ser reconhecidos, mesmo entre contemporneos, por assinalar o fim de uma era. Os anos por volta de 1990 foram
40
uma dessas viradas seculares. Mas, embora todos pudessem ver que o antigo mudara, havia absoluta incerteza sobre a natureza e as perspectivas do novo.
Faz-se referncia globalizao como parte especfica das mudanas em virtude de
sua intensa e acelerada expanso ao longo dos anos de 1990. O capitalismo global ocasionou
um desequilbrio e ampliou as distores entre os pases desenvolvidos detentores do
capital, tecnologia e meios de produo do conhecimento e os pases em desenvolvimento,
os quais buscavam estabilidade econmica e poltica em suas sociedades (TRIGO, 2003).
A globalizao compreendida como a remoo das barreiras ao livre comrcio e a
maior integrao das economias nacionais (TRIGO, 2003, p. 29) ora apontada como uma
fora favorvel ao enriquecimento de todas as pessoas do mundo ora aparece como vil,
sobretudo dos pases em desenvolvimento, aos quais so impostas polticas globais alheias a
sua realidade. percebida, muitas vezes, como meio de enriquecimento dos mais ricos,
isolando da competio pases e empresas com menos poder. Sobre o processo de
globalizao, Coriolano (2002, p. 34) afirma:
No h dvida de que a economia se mundializa, as grandes empresas espalham seus produtos por todos os lugares, os circuitos financeiros movimentam seus dlares para qualquer ponto do globo, desde que seja de seu interesse, a Internet liga as pessoas, preferencialmente as mais distantes, o turismo descobre novos pases, se globaliza. Cada vez mais somos submetidos ideologia da globalizao.
Para Barros (2000), as ltimas dcadas do sculo XX foram marcadas pelo
estreitamento das relaes sociais, econmicas e culturais entre os lugares mais distantes e
diferentes do planeta. A globalizao imprimiu uma expanso acelerada da sociedade dos
servios e do consumo e, concomitantemente, os meios ou infra-estruturas de transportes,
comunicaes e processamento de informaes foram amplamente disponibilizados.
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No jogo do capitalismo global, surgiram grandes e coesos blocos econmicos,
estruturados por pases que aderiram ao estilo liberal e buscaram se organizar para defender
seus interesses e manter suas conquistas sociais: a Unio Europia; o Tratado de Livre
Comrcio da Amrica do Norte (NAFTA); o Mercosul; o Pacto Andino; e o mercado comum
americano defendido pelos Estados Unidos, a ALCA.
Surge um espao de expresso democrtica oriundo da sociedade civil organizada, a
fim de deter os efeitos devastadores da face mais nefasta da globalizao, que explora e exclui
uma imensa populao de miserveis, parcela significativa das estatsticas, mas que tem sido
descartada nas sociedades ps-modernas.
As naes do planeta so influenciadas pelas fontes do capital internacional (Banco
Mundial, Fundo Monetrio Internacional (FMI), Organizao Mundial do Comrcio) que
integram o processo de globalizao. As falhas na poltica de um pas podem provocar
impactos negativos sobre diversos outros pases e populaes no cenrio global.
Com o maior intercmbio de produtos estrangeiros, houve uma banalizao das
importaes e iniciou-se uma verdadeira corrida entre pases para atrair investimentos
internacionais. Em busca do capital internacional, os pases oferecem em contrapartida
isenes fiscais, reduzem os benefcios sociais e trabalhistas e flexibilizam os mecanismos de
controle ambiental. Nos pases onde o capital internacional injetado, a capacidade dos
governos de elaborar e implementar polticas econmicas, regionais e ambientais prprias e
condizentes com a realidade local praticamente renunciada (BARROS, 2000).
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nesse contexto da globalizao e da internacionalizao do capital que se constituem
as grandes cadeias de hotis, as quais, no caso brasileiro, instalam-se notadamente na zona
costeira nordestina, imprimindo um processo de turistificao dos espaos, segregando
turistas e comunidades locais, provocando choques culturais, enfim (re)produzindo um
cenrio de poder e dominao, baseado na secundarizao e hierarquizao das relaes,
elevados padres de consumo, acumulao e lucro.
Na nova economia e com os novos mtodos de gesto das sociedades ps-industriais,
qualquer formulao de polticas deve considerar o fato das sociedades passarem por novos
desafios tecnolgicos a cada perodo relativamente curto de tempo. Segundo Castells (apud
TRIGO, 2003), as sociedades ps-modernas vivem a era da tecnologia e da informao,
perodo tambm definido por Santos (1994) como tcnico-cientfico-informacional,
influenciada pelas redes de informao, as quais abrangem a educao, a poltica e as novas
demandas sociais.
De acordo com Barros (2000), as inovaes tecnolgicas propiciaram a reduo nos
custos de transporte e comunicaes, permitindo um maior intercmbio de servios, bens e
capitais. A Internet facilitou o acesso informao a milhares de pessoas, possibilitando uma
organizao de negcios e troca de informaes em escala global. As redes de informao
passaram a ser acessadas de qualquer lugar com maior rapidez e menor custo, provocando
profundas alteraes na dinmica do turismo e de seus agentes.
Frente aos processos globais de mudanas, os negcios tursticos atriburam novo
significado e valorizao das paisagens, a exemplo de florestas tropicais, savanas, caatinga,
montanhas e litoral, antes tidas apenas como fontes de matrias-primas. Os ecossistemas
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mencionados passaram a despertar o interesse dos setores pblico e privado para fins de
utilizao turstica. As valorizaes imprimiram novas dinmicas e conflitos em diversos
pontos da superfcie terrestre, ora justapondo ora contrapondo agentes pblicos, privados,
comunidades e indivduos (BARROS, 2000).
O sculo XXI , portanto, um verdadeiro mosaico real e virtual formado por milhares
de foras que se contrapem e forjam os novos mundos (TRIGO, 2003, p. 17), a exemplo
das novas tecnologias, que contribuem para a insero do mundo num processo de
globalizao sem precedentes, desde os anos de 1970, mas tambm de foras opostas
globalizao, que lutam pela manuteno de garantias sociais e valores humanos
conquistados.
Segundo Ribeiro e Barros (2001), as novas ideologias, novos agentes, novos padres
de distribuio dos fatores de produo e novas formas de sociabilidade que surgiram,
marcam, para muitos, um novo momento da histria capitalista. Busca-se o estabelecimento
de novos padres de produo e de consumo, menos poluentes e de explorao menos
intensiva e predatria da natureza e de seus elementos. Intensifica-se, estrategicamente, a
relao pesquisa-desenvolvimento, concentrando conhecimentos tcnico-cientficos em prol
da eficcia tecnolgica e econmica. Ento, as indstrias denominadas limpas (como a
eletrnica, informtica e biotecnologia) passam a ocupar o clssico lugar antes ocupado pela
metalurgia e tecelagem (RIBEIRO e BARROS, 2001). J seriam esses reflexos da busca por
uma nova tica ambiental?
O cenrio ora apresentado auxilia a compreenso do fenmeno turstico, servindo para
justificar, de certo modo, o amplo crescimento da atividade turstica na economia global
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tambm sob a denominao de indstria limpa, apesar de integrar o setor de servios.
Conforme Ribeiro e Barros (2001), no poderia haver condies mais favorveis ao turismo e
aos seus operadores, os quais ampliam seu espectro de atuao frente aos novos paradigmas,
agregando aos roteiros tursticos tradicionais atividades em conformidade com o novo valor
atribudo natureza e ao extico para a construo das sociedades de massa contemporneas.
Procura-se adequar os novos produtos tursticos proposta de uma relao sociedade-
natureza mais prxima e harmnica. Nesse sentido, os empreendimentos tursticos abrangem
desde destinos considerados ecoarqueolgicos, caminhadas ecolgicas em lugares com forte
apelo religioso e em florestas, at visitas a reas naturais pblicas ou privadas, prximas a
centros urbanos.
No campo poltico da discusso sobre desenvolvimento, o ambientalismo torna-se
interlocutor dos diversos agentes. As novas dinmicas e relaes de hegemonia internas ao
capitalismo requerem a criao de novos produtos, mercados e estilos de desenvolvimento e,
ainda, a redefinio de atividades econmicas tradicionais. Nesse contexto, Ribeiro e Barros
(2001, p. 28) entende o desenvolvimento sustentvel como a matriz capacitadora da nova
coalizo de atores.
Tanto nos pases desenvolvidos quanto nos pases em desenvolvimento, h uma
tentativa de construir em suas sociedades uma nova atitude frente natureza atravs da
implantao dos sistemticos programas de educao ambiental, objetivando persuadir as
novas geraes a assumirem uma postura menos predatria em relao aos elementos
naturais; a admirarem e reconhecerem o valor da preservao da diversidade biolgica para o
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uso fruto das geraes futuras; e a se escandalizaram mediante as aes predatrias das
sociedades industriais (BARROS, 2000).
O setor de viagens e turismo vem assimilando e implementando as mudanas impostas
pela nova economia nas sociedades ps-modernas. Nas novas sociedades, alm da tecnologia,
premente a considerao de tpicos sociais na elaborao de polticas pblicas e privadas:
a necessidade de uma nova tica para essas sociedades; a preocupao com a justia social e
o meio ambiente; a necessidade de conter a crescente violncia urbana e o terrorismo; a
preocupao com o bem-estar da populao (TRIGO, 2003, p. 44).
Conforme Trigo (2003, p. 55) o crescimento do turismo uma realidade inexorvel,
assim como a disseminao dos valores da modernidade e do iluminismo. Alm de ser um
grande negcio global, o turismo uma forma de satisfao humana que prope convivncia
entre pessoas, etnias e culturas diferentes e permite conhecer o planeta e sua biodiversidade
considervel. Atravs da viagem, as pessoas expressam os mais variados e conflituosos
sentimentos.
Em tempos de ps-modernidade, porm, necessrio proceder a uma anlise crtica do
turismo, em seus aspectos particulares e universais, a fim de obter informaes e realizar
ponderaes que auxiliem na compreenso das novas culturas que se originam, do significado
do desenvolvimento tecnolgico sistemtico para as sociedades denominadas ps-industriais
ou ps-modernas e do lugar ocupado pelo conhecimento como diferencial competitivo nessas
novas sociedades.
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Nessa virada de sculo, identificam-se velhos e novos problemas que geram profundos
conflitos, de tal modo que as sociedades atuais exigem novas concepes e mtodos para
resolv-los. Entretanto, no h dados suficientemente confiveis para traar um panorama do
turismo nessa primeira dcada. H inmeras dvidas perante a dinmica dos quadros polticos
regional e internacional (TRIGO, 2003, p. 15).
A estruturao de polticas para o setor turstico tambm est imersa no ambiente de
incertezas e novas exigncias instalados no sculo XXI e dever, portanto, considerar os
novos valores regionais e globais e as novas alternativas de desenvolvimento, tendo como
cernes a tica e a justia social.
1.3 Turismo e sustentabilidade: limites e possibilidades
A industrializao e urbanizao desenfreadas resultaram em condies ambientais e
sociais muito desfavorveis vida e conduziram os indivduos a encontrarem meios de
aproximao com a natureza. O turismo em paisagens naturais constitui uma das
possibilidades para se alcanar esse propsito de aproximar, de maneira harmnica e
equilibrada, homem e natureza, representado para os indivduos uma fuga do ambiente
urbano-industrial no qual esto imersos.
Entretanto, em pleno sculo XXI, diante da relevncia econmica do turismo, os
choques provocados por essa atividade de deslocamento voluntrio e temporrio na natureza e
sociedade so, por muitas vezes, esquecidos. Frente promessa de altos lucros, nos espaos
tursticos, notadamente em reas naturais, o enfrentamento dos problemas scio-ambientais
provocados pela atividade turstica relegado ao segundo plano.
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So inmeras as situaes em que o pragmatismo das aes, no campo do turismo,
reduzem este sistema complexo a uma nica varivel: econmica. Em virtude desse
pragmatismo, aliado falta de planejamento e controle local, integrado e sustentvel, voltado
ao provimento das atividades substantivas da populao, tornam-se cada vez mais evidentes
os efeitos negativos da atividade sobre as localidades onde implementada.
No Brasil, o turismo desponta como uma atividade em constante e rpido crescimento,
porm sem o devido planejamento, caracterizando-se pelo alto consumo dos espaos, visto
que tem nos elementos naturais os principais alvos dos anseios de turistas. A expanso
acelerada e dinmica do turismo dificulta o equilbrio de questes conflitantes como os
ganhos econmicos estimulados pela atividade e seu desenvolvimento sustentvel. O
consumo dos espaos pelo turismo compreende:
(...) o assentamento de toda a infra-estrutura fsica de apoio e de suporte (hotis, vias, residncias, campings, bares e restaurantes, comrcio, esgotamento sanitrio) bem como o conjunto das relaes e inter-relaes entre elementos naturais e culturais. Esse metabolismo dos assentamentos tursticos afeta negativamente os ecossistemas naturais das destinaes tursticas (FIRMINO et. al., 2004, p. 2).
O metabolismo dos assentamentos tursticos supracitado refere-se a uma [...] uma
srie de relaes ecolgicas entre os assentamentos tursticos e os elementos biofsicos e
culturais (BARROS, 2000, p. 34). Sob essa perspectiva sistmica, o turismo consiste numa
ampla rede de relaes, constituda dos mais diversos agentes produtores e consumidores.
Beni (1998) afirma que o turismo resulta do somatrio de recursos naturais, culturais, sociais
e econmicos, ressaltando a abragncia e a complexidade deste campo de estudo e apontando
o enfoque holstico (relacionado com o todo), como o mtodo mais adequado, ao invs do
merolgico (relacionado com as partes), para conhecer e entender o sistema turstico em sua
integralidade.
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Na era dos servios, do trabalho, dos avanos tecnolgicos, dos meios de comunicao
e de transporte, do encurtamento das distncias, maior armazenamento e rpida difuso das
informaes, e otimizao do tempo, inquestionvel a necessidade de ampla investigao
cientfica para responder as inquietaes provenientes das reflexes e anlises do sistema
turstico, as quais giram em torno, principalmente, da relao sociedade-natureza. Nesse
sentido, vale destacar que Hogan, prefaciando o livro Viagens Natureza, de Serrano e
Bruhns (2001), aponta alguns aspectos que marcam essa relao de que se tratar aqui:
O turismo pode ser, tambm, o veculo que consegue transformar em mercadoria os ltimos redutos da natureza intocada. Ecossistemas que sobreviveram por sua inacessibilidade ou por sua pobreza em recursos explorveis hoje se vem invadidos por um pblico vido para consumir sol e areia; curioso para ver, in loco, cenas exticas de montanhas altas, formaes glaciais ou vulces; ansioso para conhecer belezas que a falta de estradas ou de transporte nunca deixou ao seu alcance. Muitas dessas regies so, hoje, fragmentos preciosos de formaes que no existem mais. Muitas so frgeis, isto , de difcil ou lenta recomposio uma vez alteradas. Exatamente por essas razes no foram exploradas anteriormente. Agora que a engenhosidade humana removeu todos os obstculos explorao dos lugares mais remotos do planeta, estamos condenados urbanizao indiscriminada desses ltimos redutos da natureza? Poderia ser diferente?
Acredita-se que o quadro apresentado por Hogan passvel de ser modificado se o
planejamento e a gesto ambiental em ecossistemas naturais, sobretudo ecossistemas
costeiros, forem premissas de uma administrao pblica responsvel, orientada ao
desenvolvimento local sustentvel. Defende-se, portanto, a possibilidade de um turismo
pautado em normas que disciplinem, regulem e preservem a natureza.
Os temas relativos ao ambiente e o interesse suscitado por eles atualmente permitem a
interpretao do desejo de retorno natureza (SERRANO; BRUHNS, 2001, p. 11). Isto
visto na tentativa de reencontrar a natureza por meio do turismo, por isso necessrio pensar
no turismo em suas relaes com a cultura e o ambiente bem como as inter-relaes entre as
diversas esferas da vida social, as quais formam as prticas tursticas.
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De acordo com Serrano (2001, p.15), com base na representao da natureza como
paisagem e como cenrio para as aes humanas, que se institui o seu consumo pelo turismo.
Nessa perspectiva, mais uma vez refora-se a necessidade de conhecer a realidade dos
ambientes onde se pretende implementar a atividade turstica, planejando-a, para que se possa
desenvolv-la de forma sustentvel.
As emergentes discusses sobre sustentabilidade, segundo Barros (2000, p. 32),
implicam a oportunidade de pensar o turismo a partir de uma cultura mais consciente
ambientalmente, ou, em outras palavras, a partir de uma cultura em que a tica ambiental
passa a estar presente, superando o simples binmio tica desenvolvimentista/tica social e
distributivista.
O turismo, principal fonte de recursos financeiros de muitos pases, apontado como
um dos vetores que poderia colaborar para uma relao homem-natureza mais harmnica. A
sua contribuio na gerao de emprego, renda e divisas nas localidades onde se desenvolve,
justifica o fato de ser uma das atividades de maior crescimento em todo o mundo e cuja
capacidade de influncia se estende, de forma direta e indireta, por diversas outras atividades
econmicas. Almeida Jnior (apud RIBEIRO e BARROS, 2001, p. 27) chega a afirmar que:
O turismo uma das atividades econmicas visivelmente influenciadas pela tentativa de elaborao de novos parmetros que conceitualizem desenvolvimento como processo ecologicamente vivel e socialmente justo, em termos das geraes presentes e futuras.
Considerada uma atividade dos tempos modernos, que nasce no seio da sociedade
capitalista, como outras atividades produtivas, o turismo tem sido pressionado a adequar-se
mudana de paradigmas que vem sendo proposta, frente s preocupaes com a questo
ambiental local e global. Nesse sentido, entende-se que necessrio buscar alternativas para
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que o processo de implementao da atividade turstica, em toda e qualquer localidade, seja
pautado nos preceitos de justia social, eficincia econmica, preservao ambiental e
participao da sustentabilidade.
Como todo sistema dinmico, o turismo tem seus limites e possibilidades, sendo
importante identificar seus elementos e respectivas atividades bem como caractersticas
fsicas, biolgicas e antrpicas dos ambientes onde se desenvolve. O planejamento turstico
deve incluir a caracterizao e anlise dos diversos ecossistemas existentes, de maneira a
subsidiar estudos de aes preventivas ou mitigadoras e de controle, visando preservao
ecolgica associada a benefcios para comunidades locais, sob as ticas econmicas e de
qualidade de vida, enfim, objetivando a sustentabilidade da atividade.
O modelo de desenvolvimento sustentvel do turismo traduz-se no uso dos recursos
naturais e histrico-culturais de modo planejado, responsvel e racional, contribuindo, assim,
para a manuteno da integridade da base desses recursos e permitindo que as futuras
geraes possam utiliz-los segundo os mesmos princpios e envolva a comunidade local nos
benefcios advindos do turismo. Nesse sentido, vale ressaltar os princpios do turismo
sustentvel, segundo a Vitae Civilis e World Widelife Fund (WWF) Brasil (2003, p. 23),
especialmente no tocante necessidade de respeitar a capacidade de carga das localidades:
(...) O turismo deve ser parte de um desenvolvimento sustentvel amplo e de suporte para a conservao: deve ser compatvel e fazer parte de planos em escala internacional, nacional, regional e local de desenvolvimento sustentvel e de conservao, alm de obedecer a convenes internacionais e leis nacionais, estaduais e locais que apiam o desenvolvimento sustentvel e a conservao. Deve ser planejado, administrado e empreendido de maneira a evitar danos biodiversidade e ser ambientalmente sustentvel, economicamente vivel e