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Raios X
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Física do Estado Sólido I 98/99 SGAAF-FCT/UNL 1/7
7 - Difracção de raios X
• O estudo da estrutura cristalina não é possível através da microscopia óptica.
� Uma das técnicas mais utilizadas consiste em estudar a forma como a estrutura
cristalina difracta ondas, cujo comprimento de onda é da mesma ordem de grandeza
das distâncias interatómicas.
� As ondas utilizadas podem ser raios X, feixes de neutrões e de electrões.
� Cada um destes tipo de ondas interage de forma mais forte com uma
propriedade dos átomos que compõem o cristal. Podemos, por isso, para além da
periodicidade da rede inferirmos outros tipo de propridades cristalinas
� O comprimento onda dos fotões de raios X está relacionado com a sua energia,
λ Å( )= 12.4E keV( )
Física do Estado Sólido I 98/99 SGAAF-FCT/UNL 2/7
Raios X
� Os raios X são gerados pela desaceleração dos electrões em cátodos metálicos
bem como pela excitação inelástica dos electrões das camadas interiores dos átomos
do mesmo cátodo.
� O primeiro processo dá origem a raios X de espectro contínuo enquanto que o
segundo processo dá origem a energias bem definidas dos fotões.
� A radiação produzida pelo bombardeamento catódico do cobre dá origem a
fotões de comprimento de onda bem definido de 1.541 Å correspondente à risca Kα1.
No molibdénio a mesma risca corresponde a 0.709 Å.
Questão: Qual a gama de energia dos fotões utilizados nos estudos de difracção
de raios X em sólidos?
Questão: Quais as expressões equivalentes que relacionam a energia e o
comprimento de onda de feixes de neutrões e de electrões?
Tipos de interacção raios X-matéria
Aquela que nos interessa é a dispersão de raios X elástica e coerente
Física do Estado Sólido I 98/99 SGAAF-FCT/UNL 3/7
Difracção de raios X
� Quando os raios X incidem numa substância de estrutura completamente
aleatória, são dispersos em todas as direcções.
� Se houverem, no entanto, planos cristalinos mais ou menos ordenados, haverá
direcções preferenciais nas quais se dá interferência construtiva dos raios X.
Lei de Bragg
Para que haja interferência construtiva é necessário que a diferença de percurso
óptico seja um número inteiro de comprimentos de onda, i.e.
2d sin θ( ) = nλ
Física do Estado Sólido I 98/99 SGAAF-FCT/UNL 4/7
Técnicas experimentais
Método de Laue
� Neste método um cristal é mantido estacionário relativamente a um feixe de
radiação de espectro continuo.
� O cristal seleciona então os valores do comprimento de onda para os quais
existem planos de espaçamento d e ângulo θ que verificam a lei de Bragg.
Método do cristal rotativo
� Neste método um feixe de radiação monocromático incide num cristal que é
feito rodar. O feixe é difractado (i.e. surge um ponto) sempre que no decurso da
revolução um determinado plano satisfizer a condição de Bragg.
cristal rotativo Método dos pós
Método dos pós
� No método dos pós a onda incidente é monocromática sendo o especimen feito
de um pó muito fino. Deste modo a distribuição/orientação das cristalites é contínua e
aleatória.
� São difractados os raios X que, no seu caminho, encontrem planos que
verifiquem a condição de Bragg.
Física do Estado Sólido I 98/99 SGAAF-FCT/UNL 5/7
Sistema actual para o estudo da difracção de raios X
0
0.2
0.4
0.6
0.8
1
0 1 2 3 4 5 6
Factor de estrutura atómico
|f2|
(4πR/λ) sin(θ)
Física do Estado Sólido I 98/99 SGAAF-FCT/UNL 6/7
Teoria da difracção de raios X
� Vamos supôr que a onda incidente tem a direcção do versor ni , e que as ondas
dispersas são esféricas mas que, apenas estamos interessados na direcção ns .
¤ Nota: Não esquecer que a colisão fotão-electrão considerada é elástica e
coerente e que, portanto, o módulo do vector de onda se mantém constante havendo
apenas uma mudança na sua direcção.
� Calculemos o valor da onda resultante da dispersão por dois electrões à
distância R entre si e, tomando para referência o electrão 0,
ξs = ξs0 + ξs1 =Af eD
ei kD−ωt( ) +AfeD
ei kD+δ −ωt( )
� A diferença de percurso óptico entre as duas ondas dispersas é,
R ⋅ ns − R ⋅ni = R ⋅ ns − ni( )� Pelo que a diferença de fase δ, entre as duas ondas dispersas obtém-se
multiplicando esta diferença de percursos por 2π/λ (Porquê?),
δ = 2πλ
ns − ni( )⋅ R = 2πλ
ns − 2πλ
ni
⋅ R = ks − ki( )⋅R = ∆k ⋅R
� A onda dispersa pelos dois electrões será então,
ξs = Af e
Dei kD−ωt( ) 1 + e
iδ( )= Afe
De
i kD−ωt( ) 1 + ei∆k⋅R( )
� Generalizando para todos os electrões presentes a onda dispersa é,
ξs = AD
ei kD−ωt( ) fe e
i∆k⋅R j
j∑
Física do Estado Sólido I 98/99 SGAAF-FCT/UNL 7/7
Questão: Qual o módulo da variação do vector de onda em função do ângulo de
reflecção θ?
Factor de dispersão electrónico
Cada um dos electrões dispersa os raios X de uma forma que foi inicialmente
calculada por J. J. Thomson. A radiação dispersa em função do ângulo de dispersão θ
é proporcional a,
fe = re1 + cos2 θ
2
Este padrão mostra que a radiação é dispersa em todas as direcções embora
preferencialmente na direcção da onda incidente . O valor de re, chamado raio efectivo
do electrão, é cerca de 10-15 m.
Física do Estado Sólido I 98/99 SGAAF-FCT/UNL 8/7
Difracção por átomos. Factor de estrutura atómico
Considere que se queria calcular a dispersão devida a M átomos cada um deles
com um número Jm de electrões.
� O somatório anterior teria então a seguinte forma,
ξs =A
Dei kD−ωt( ) fe e
i∆k⋅ Rm +r j( )j
Jm
∑m
M
∑
� Mas como Rm (i.e. a posição do átomo m) não depende do indice j,
ξs =A
Dei kD−ωt( ) ei∆k⋅Rm f e e
i∆k⋅r j
j∑
m∑
=A
Dei kD−ωt( ) fam ei∆k⋅R m
m∑
� Na expressão anterior fizemos a substituição,
fam = fe ei∆k⋅r j
j
Jm
∑
¤ Este factor caracteristico para cada um dos átomos considerados chama-se o
factor de estrutura atómico
� Se o modelo atómico de uma nuvem electrónica à volta do núcleo fôr válido
então o somatório anterior pode ser expresso na forma de um integral estendido ao
volume do átomo
fam = fe e i∆k⋅rdV
Vm
∫
Questão: Assuma que a concentração da nuvem electrónica de raio R em torno
do núcleo é n sendo zero no seu exterior. (a) Qual o factor de estrutura atómico em
função de β=R∆k. (b) Qual a intensidade da onda difractada se apenas houvesse um
átomo?
Física do Estado Sólido I 98/99 SGAAF-FCT/UNL 9/7
Factor de estrutura geométrico
Considere agora a estrutura cristalina. Vamos supôr que existem N pontos da
rede cada um representando uma base com m átomos
Sendo a, b e c os vectores primitivos da rede, os pontos da rede estão em
n1a + n2b + n3c
onde n1, n2 e n3 são inteiros de valor máximo N1, N2 e N3 respectivamente (i.e.
N=N1N2N3)
� A onda dispersa obtêm-se somando as ondas de todos os átomos da rede,
ξs =AD
ei kD−ωt( ) fam ei∆k⋅ n1a+n2b+n3c+Rm( )
m∑
n3
∑n2
∑n1
∑
¤ Sendo todos os pontos da rede iguais, o factor F,
F = fam ei∆k⋅Rm
m∑
é constante para todos os pontos da rede denominando-se factor de estrutura
geométrico. Substituindo-se obtemos,
ξs =AD
ei kD−ωt( ) F ein1∆k⋅a
n1
∑ ein2∆k⋅b
n2
∑ ein3∆k⋅c
n3
∑
Física do Estado Sólido I 98/99 SGAAF-FCT/UNL 10/7
Condição de Laue
A análise do primeiro somatório revela uma progressão geométrica de razão
ei∆k⋅a cujo valor pode ser calculado,
ein1∆k⋅a
n1=0
N1−1
∑ =eiN1∆k⋅a −1
ei∆k⋅a −1=
eiN1∆k⋅a 2
ei∆k⋅a 2sin 1
2 N1∆k ⋅asin 1
2 ∆k ⋅ a
O valor dos outros dois somatórios segue um padrão semelhante. O detector
mede o valor da intensidade da onda dispersa que efectuadas as substituições,
ξs2 =
A 2
D2 F2 sin 1
2 N1∆k ⋅asin 1
2 ∆k ⋅ a
2sin 1
2 N2∆k ⋅bsin 1
2 ∆k ⋅b
2sin 1
2 N3∆k ⋅csin 1
2 ∆k ⋅ c
2
0
20
40
60
80
100
120
-1.5 -1 -0.5 0 0.5 1 1.5
g ( β
)
β / π
N=10
g β( ) =sin Nβ( )sin β( )
2
� Do gráfico anterior conclui-se que cada um dos factores multiplicativos
envolvendo senos têm um máximo quando β = nπ ou seja, quando respectivamente,
∆k ⋅a = 2hπ
∆k ⋅b = 2kπ e
∆k ⋅c = 2 lπ
¤ Se a variação na direcção do vector de onda fôr tal que estas condições forem
simultâneamente satisfeitas então e nessa direcção existirá um máximo da
intensidade da onda dispersa. Esta é a condição de Laue.
Física do Estado Sólido I 98/99 SGAAF-FCT/UNL 11/7
Rede recíproca
¤ Chama-se rede recíproca, por oposição à rede directa, à rede gerada pelos
vectores primitivos A, B e C definidos por,
A = 2πb × c
a ⋅ b × c( )
B = 2πc × a
a ⋅ b × c( )
C = 2πa × b
a ⋅ b × c( )
Um vector da rede recíproca é pois definido como G = hA + kB + lC
Questão: Mostre que a condição de Laue é satisfeita sempre que a variação do
vector de onda fôr igual a um vector da rede recíproca. (i.e. ∆k = G )
Questão: Caracterize a rede recíproca de uma rede cúbica simples
Questão: Qual o seu volume da célula primitiva da rede recíproca
Questão: Mostre que o vector Ghkl é normal ao plano de Miller (hkl)
Questão: Mostre então que o espaçamento inter-planar é igual a
dhkl = 2π Ghkl
Questão: Mostre que a condição de Laue é equivalente à lei de Bragg.
Dá-se o nome de 1ª zona de Brillouin à célula primitiva de Wigner Seitz da rede
recíproca.
A condição de Laue pode ser entendida como de conservação de momento
ki = ks + G ⇒ hki = hks + hG
pois o fotão é disperso numa direcção diferente da incidente e o cristal ganha um
momento igual hG . Devido à enorme massa do cristal os módulos ki=ks
Física do Estado Sólido I 98/99 SGAAF-FCT/UNL 12/7
Construção de Ewald
Considerando a rede recíproca de uma rede cristalina
ks
kiki
ki1
ki2
� Desenha-se o vector de onda com a seta terminando num dos pontos da rede e
com a direcção da onda incidente. Em seguida, com centro na cauda do vector traça-se
uma circunferência de raio igual a 2π/λ.
¤ Se a superfície da esfera passar por um dos pontos da rede então haverá lugar a
um pico de difracção.
Factor de estrutura geométrico
O factor de estrutura geométrico definido anteriormente toma na condição de
Laue o valor,
F = fameiG⋅pm
m∑
Se os átomos da base estiverem situados em pm = uma + vmb + wmc então,
G ⋅pm = 2π umh + vmk + wml( )pelo que o factor de estrutura geométrico será,
F = famei2π umh+vmk +wml( )
m∑
Isto quer dizer que, consoante a base existente nos pontos da rede o factor de
estrutura geométrico poderá impedir ou atenuar a difracção de raios X por certos
planos (hkl). Dá-se o nome de regra de extinção a esta propriedade
Questão: Calcule o factor de estrutura geométrico para o cloreto de césio