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Reeducar o sentimento de relaxamento
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APLICAÇÃO DOS CONTEÚDOS DO PLANO NACIONAL DE LUTA CONTRA
A DOR À FORMAÇÃO EM ENFERMAGEM
Para responder às acções autónomas previstas no plano Nacional de Luta Contra a Dor,
além das técnicas farmacológicas de controlo da dor (ponto 1, pp. 40-41) e técnicas
neurocirúrgicas (ponto 3, p. 42), este Plano prevê (ponto 2, p. 42) as técnicas não
farmacológicas. Sobre este grupo de técnicas saliente que o “enfermeiro, tendo em conta
o tempo de presença junto dos doentes e famílias, bem como a relação terapêutica
próxima na perspectiva da relação de ajuda, é, por excelência, uma pedra basilar na
implementação, execução e avaliação de uma estratégia multidisciplinar de controlo da
dor” (p. 49).
Deste modo, e segundo o referido Plano, as técnicas não farmacológicas compreendem,
entre outras, a:
Estimulação eléctrica transcutânea As técnicas de relaxamento As técnicas de biofeedback Abordagem Cognitivo-comportamental; As psicoterapias psicodinâmicas As estratégias de coping As estratégias de redução do stresse Os tratamentos pela medicina física O exercício activo e passivo
Classifica estas estratégias em cognitivas (técnicas de distracção, confronto,
reestruturação cognitiva) e comportamentais (relaxamentos e outras). Envolve o
utente/cliente e a família.
Seguindo estas linhas orientadoras e tendo em conta o movimento a favor dos cuidados
paliativos e as estratégias de redução do stresse propomos:
O toque terapêutico. Através dele, procuramos explorar o resultado da
evolução das mãos e a riqueza que transportam, há milhões de anos. A evolução
converteu e transformou a mão na ferramenta mais perfeita que se pode
encontrar na natureza. O órgão preênsil é símbolo de poder e de inteligência.
Com a experiência as mãos começam a conhecer o corpo e a interpretar a
linguagem corporal. Sem medicamentos podemos partilhar energia, aliviar a dor
muscular, óssea ou mesmo a dor da alma.
O tacto é o sentido ou forma de sensibilidade correspondente à recepção de
estímulos mecânicos activos e passivos de contacto e de pressão. Corresponde à
pele que reveste toda a superfície corporal, torna o corpo impermeável, regula a
temperatura e constitui a primeira linha de defesa contra possíveis danos e contra
agressão de agentes microbianos. Nela, situam-se os discos de Merkel, órgão de
Ruffini, corpúsculos de Meissner, de Pacini e as terminações nervosas livres,
todos eles com funções muito importantes na captação de sensações.
A Psicologia Biodinâmica tem mostrado a importância do toque, embora
estabeleça a diferenciação com a massagem, num processo psicoterapêutico.
Besson entende por massagem uma técnica esquematizada, facilmente
reproduzível e centrada no soma. Por toque entende que, embora sempre
presente na massagem, é mais difícil de ser captado objectivamente e nos
conduzir a levar em conta a psique do cliente e sua relação com o terapeuta.
Os efeitos benéficos da terapêutica táctil têm sido documentados no âmbito do
cuidar em enfermagem. Dolores Krieger (do American Nursing Programme)
desenvolveu uma técnica antiga executada com as mãos. Turton, professor de
enfermagem na Universidade de Manchester, diz que esta forma de relaxamento
tem particular interesse e faz notar que o que é particularmente interessante,
terapia é o estado de relaxamento produzido no doente ansioso e com dor.
Acrescenta que esta técnica, tal como foi ensinada pela professora Krieger,
também beneficia os enfermeiros na medida em que se sentem menos fatigados
e mais aptos a resistirem aos efeitos do stresse. A figura 1, mostra as bases
anatómicas do nosso órgão preensil
As massagens terapêuticas em enfermagem – A bibliografia especializada no
âmbito da enfermagem, evidencia a importância da massagem nas costas para
induzir o sono. Segundo Bolander (1998); Timby (2001) a massagem nas costas
consiste na manipulação dos músculos e tecidos, para produzir efeitos
fisiológicos ou psicológicos que ajudam a relaxar física e mentalmente. Inclui
toda a área desde as nádegas até ao pescoço. Para a tornar mais eficaz é
importante aprender a localização e a direccionar para os principais músculos
envolvidos: trapézios, grandes dorsais, oblíquos externos, glúteos e inserção dos
deltóides. As massagens do abdómen e tórax anterior são ajudadas pelos
exercícios respiratórios realizados em três tempos: inspiração pelo nariz,
retensão (cinco a dez segundos) e expiração pela boca. Isto facilita a relaxação
muscular profunda e libertação de produtos tóxicos acumulados.
Os estudos efectuados na área do tacto revelaram que o estímulo táctil é
indispensável para a sobrevivência do organismo e que a sua privação na
infância impede o saudável desenvolvimento da pessoa na idade adulta. Este
estímulo é considerado uma necessidade primária que deve ser satisfeita. Os
gestos e as palavra que exprimem afecto são vitais para crianças e adultos.
Relembramos as funções da pele e dos seus constituintes, conforme figura 2.
A nível da pele, são individualizados os receptores do tacto e da nocicepção. As
fibras do tacto (vias sensitivo-motoras, fibras A de grande diâmetro, com
condução rápida são mielinizadas, enquanto que as que transmitem o influxo
doloroso (nocicepção, frio, calor e tacto difuso) ou não o são ou então têm
terminações livres (fibras C e A-delta de baixo diâmetro) com condução mais
lenta.
A reflexologia – na óptica de Poletti e tal (1982), “a reflexologia é uma técnica
científica de massagens em que aqueles que a praticam, afirmam um efeito à
distância sobre todas as partes do corpo. Cuida-se do doente massajando as
projecções dos órgãos sobre a planta dos pés. Trata-se de um método muito
antigo descoberto nos EUA pelo doutor William F. Fitzgerald que verificou
quanto as pressões ou massagens específicas de certas zonas reflexas levam a
uma melhoria do funcionamento de outros órgãos do corpo, mesmo quando
estes estão afastados do local de massagem. Já em 1913, este médico
comunicava a sua descoberta ao mundo científico (p. 94). Actualmente podem
incluir-se na reflexologia as massagens das mãos, pés orelhas e cabeça.
As massagens dos membros – visa, além do relaxamento, favorecer a
circulação sanguínea e linfática e as massagens do abdómen e tórax, ajudadas
pela respiração (três tempos: inspiração pelo nariz, retensão e expiração pela
boca), facilitam a relaxação muscular profunda e a libertação de produtos
tóxicos acumulados.
A drenagem linfática – um método iniciado por Vodder (1896-1986), tem
como objectivos de aprofundar o estudo da circulação linfática, intervir na sua
anatomia e funções, nomeadamente o de melhorar o fluxo linfático e bombas
auxiliares, prevenir ou tratar o edema e o stresse. O edema surge nos casos em
que o sistema linfático já não se encontra em condições de cumprir a sua função
de reabsorção do excedente proteico-hidro-sódico presente no meio intersticial.
Exemplos concretos são o caso do linfedema pós-mastectomia, secundários a
traumatismos ou patologias que afectam as vias e/ou as suas capacidades.
A massagem de relaxamento – desenvolvida a partir da junção de todas as
massagens zonais tem revelado bons resultados quer na relaxação muscular quer
no alívio da dor. A técnica fundamenta-se nas teorias de Jacobson que diz que
estados de relaxação e emoções negativas são incompatíveis e na teoria da dor.
Esta fundamenta o conceito de que o sistema opioide endógeno produz
substâncias conhecidas por endorfinas que amenizam os estados de tensão e dor.
São conhecidos três grupos: as β endorfinas, encefalinas e dinorfina, são
péptidos, semelhantes à morfina, produzidos naturalmente no corpo, em vários
locais das sinapses neurais do Sistema Nervoso Central. Modulam a transmissão
das percepções da dor ligando-as a receptores opioides específicos que se
encontram em diversas regiões do cérebro e na substância gelatinosa dos cornos
posteriores de medula. Muitos destes receptores opioides no cérebro estão em
áreas associadas a emoções. Além de aumentarem o limiar da dor as endorfinas
produzem também sedação (Thelan & Urden (1993, p. 672)
Os relaxamentos – são utilizados pelos efeitos directos e indirectos na tensão
muscular. Pensa-se que o stresse excessivo ou prolongado afecta adversamente a
saúde física e mental. O stresse tem um importante papel nas doenças com maior
mortalidade: hipertensão ou enfarte do miocárdio e nas doenças que provocam
desconforto sem ameaçarem directamente a saúde: insónia, tensão, ansiedade
angústia, nervosismo, cólera, timidez, apreensão, violência e muitas outras
emoções ou sentimentos negativos. E, também ao diminuir a hiperactividade
muscular decresce, também o agravamento e manutenção da dor (Plano
Nacional de Luta Contra a Dor, p. 52).
São debatidos os aspectos relacionados com os relaxamentos, os efeitos ao
nível da relaxação muscular e as diversas técnicas de relaxamento progressivo
de Jacobson, orientação cognitiva e estratégias para lidar com as situações
(coping). Os treinos incluem tópicos de redução da ansiedade, pânico, depressão,
dependência de substâncias (tabaco, álcool, tranquilizantes, etc.), crises
existenciais ou de desenvolvimento, perturbações alimentares (bulimia,
anorexia, insónia, hiperventilação, perturbações físicas relacionadas com stresse,
entre outras.
O relaxamento progressivo de Jacobson baseia-se nas abordagens – tensão –
distensão e passiva. Com guiões adaptados ao efeito. São introduzidas algumas
técnicas de alongamentos e de respiração. Na dimensão cognitiva, desenvolvem-
se exercícios de consciencialização e de auto-conhecimento. Os exercícios, além
da auto-consciencialização do corpo, podem ser dirigidos ao posicionamento,
relaxamento preparatório, local especial, auto-declarações positivas ou
afirmativas, visualização programada, finalizar e avaliar.
Treino autogénico de Schultz & Luthe – destina-se a ensinar o corpo e a
mente a relaxar. Baseia-se em quatro requisitos: redução dos estímulos externos,
o desenvolvimento de uma atitude de concentração passiva, repetição de frases
indutoras de relaxamento e contacto mental com a parte do corpo a que a frase
se refere.
Técnica de visualização – a relação entre a imaginação e a realidade é mais
íntima do que se pensava e é uma relação que tem sido reconhecida e aceite.
Apesar de se reconhecer há muitos anos, só num passado recente foi traduzida
para a realidade prática. No passado, o poder da imaginação foi usado como
método exclusivo para aumentar as capacidades não naturais do intervencionista,
hoje, os técnicos de saúde servem-se destas capacidades para melhorar os
sintomas e a doença. Assim, quando o enfermeiro sugere ao utente/cliente que
vai melhorar, a sua imaginação reage accionando os mecanismos que libertam
hormonas (endorfinas) que, naturalmente aliviam a dor. O recurso a imagens
mentais leva, ainda, à criação consciente e volitiva de impressões mentais
sensitivas com a finalidade de a pessoa se mudar a si própria. Deste modo, pode
alcançar os resultados e/ou objectivos de mudança a que se propõe.
Gestão das emoções – método passo a passo: (1) aprender a distinguir
sensações, emoções e sentimentos, humores e temperamentos (2) listar cada um
deles (3) estabelecer as pequenas mudanças (4) definir metas e resultados a obter
(5) definir as estratégias para a consecução dos objectivos definidos (6)
reconhecer os mecanismos de defesa do ego (7) Desenvolver a autonomia,
iniciativa, criatividade, realização pessoal, competência, expressão emocional,
autenticidade, espírito crítico, empatia, inteligência emocional e relacional (8)
desenvolver os sentimentos de segurança e pertença (9) aprender que é inútil
acusar os outros (10) nós somos os responsáveis tanto pelos nossos actos como
pelos nossos sentimentos. Os sentimentos têm a fama de impedir a razão. Na
verdade, as emoções influenciam o raciocínio, esta é a experiência de cada um
de nós. O pensamento é rápido quando estamos alegres e é lento quando estamos
tristes (11) O corpo é o primeiro instrumento da consciência. As representações
mentais que nos permitem pensar são construídas a partir das percepções
internas e externas do nosso corpo. Pensamos por imagens. As ideias mais
abstractas têm conteúdo sensorial. Nas tomadas de decisão, as emoções são os
factores determinantes, mesmo que se mantenham inconscientes. A lógica por si
só não permite fazer face à complexidade e à incerteza das nossas experiências
(12) possuímos indicadores somáticos. Sensações fisiológicas que são as
emoções, aumentam a precisão e a eficácia dos processos de decisão. O papel da
emoção consiste em assinalar os acontecimentos que são significativos para o
sujeito, motivar os comportamentos que permitem geri-los e afastar reacções
inúteis de: medo, ira, tristeza e evocar as reacções positivas de alegria, êxtase,
sucesso...
Além das técnicas apontadas é consensual que técnicas tais como a gestão da
crise, potenciação das emoções positivas, técnicas de relaxação, exercício físico
e outras são importantes válvulas de segurança física e mental ou seja, de gestão
do stresse.