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UNIVERSIDADE DO OESTE DE SANTA CATARINA UNOESC - CAMPUS DE SÃO MIGUEL DO OESTE RELATÓRIO ESTÁGIO VIVENCIAL II INDICADORES DE CONSOLIDAÇÃO DE AGROINDUSTRIAS DE CANA DE AÇÚCAR Adenor Wendling Elói Voigt

Relatório ESTÁGIO VIVENCIAL 2 VERSÃO1

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UNIVERSIDADE DO OESTE DE SANTA CATARINAUNOESC - CAMPUS DE SÃO MIGUEL DO OESTE

RELATÓRIO ESTÁGIO VIVENCIAL IIINDICADORES DE CONSOLIDAÇÃO DE AGROINDUSTRIAS DE CANA DE

AÇÚCAR

Adenor WendlingElói Voigt

São Miguel do Oeste - SC, 2003

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Universidade do Oeste de Santa CatarinaCentro de Ciências Sociais e AplicadasCurso: AgronegóciosDisciplina: Estágio Vivencial IIProfessora: Loraine Garrido

RELATÓRIO ESTÁGIO VIVENCIAL IIINDICADORES DE CONSOLIDAÇÃO DE AGROINDUSTRIAS DE CANA DE

AÇÚCAR

Adenor WendlingElói Voigt

São Miguel do Oeste - SC, 2003

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Page 3: Relatório ESTÁGIO VIVENCIAL 2 VERSÃO1

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.....................................................................................................................8

2. EMBASAMENTO TEÓRICO.............................................................................................10

2.1. Importância do sistema agroindustrial........................................................................10

2.2. Sistema agroindustrial, visão sistêmica......................................................................10

2.3. Agroindústria familiar.................................................................................................11

2.4. Potencial pela diversidade...........................................................................................12

2.5. Linhas de crédito.........................................................................................................14

2.6. O mercado brasileiro...................................................................................................15

2.7. Aspectos da agricultura de Santa Catarina..................................................................15

2.8. Cooperativismo/associativismo..................................................................................18

3. METODOLOGIA................................................................................................................20

3.1. Delimitação da pesquisa.............................................................................................20

3.2. Delineamento da pesquisa...........................................................................................20

3.3. Técnica de coleta de dados.........................................................................................21

3.4. Técnica de análise e interpretação dos dados.............................................................21

3.5. Caracterização das agroindústrias...............................................................................21

3.5.1.Agroindústria Baumgratz..................................................................................22

3.5.2.Agroindústria AFAMAC...................................................................................23

3.5.3.Agroindústria Jundiá..........................................................................................24

3.5.4.Agroindústria APACA......................................................................................25

3.5.5.Agroindústria PROVE SABOR da TERRA.....................................................26

4. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS DA PESQUISA.....................................28

4.1. Como surgiram as Agroindústrias pesquisadas..........................................................28

4.2. Número de sócios fundadores e atuais........................................................................30

4.3. Capacidade das agroindústrias versos produção atual................................................31

4.4. Recursos Financeiros Aplicados.................................................................................34

4.5. Comercialização e marketing......................................................................................36

4.6. Gerenciamento............................................................................................................37

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4.7. Questão Ambiental......................................................................................................38

4.8. Dificuldades Encontradas...........................................................................................38

4.9. Consolidação das Agroindustrias................................................................................39

5. CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES..............................................................................41

6. REFERÊNCIAS...................................................................................................................43

7. APÊNDICE..........................................................................................................................45

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1. INTRODUÇÃO

A Agroindústria desde os anos 60 é considerada um importante componente para

o desenvolvimento rural de Santa Catarina. O perfil sócio-político dos atores responsáveis por

políticas públicas não oportunizaram debate sobre o tipo de agroindústria e qual seria seu

papel no “desenvolvimento” da economia estadual. Pode-se construir agroindústrias a partir

dos agricultores onde eles sejam os “donos” e gestores destas unidades se apropriando de uma

maior parte do valor gerado pelo empreendimento. Estejam localizadas no meio rural, sejam

de pequeno porte criando empregos e mantendo o homem no campo. Alcançando assim um

desenvolvimento sustentável obtendo renda, preservando o meio ambiente, dividindo esforços

de forma coletiva.

Aconteceu o inverso com a instalação de médias e grandes agroindústrias em

determinados municípios onde os agricultores locais e regionais são fornecedores de matéria-

prima.

Consolidou-se em Santa Catarina um dos mais poderosos complexos agro-

industriais da América latina, especialmente nos setores de carnes e frutas. O crédito rural

privilegia especialmente as empresas integradoras favorecendo o crescimento das mesmas

repassando aos agricultores recursos para ampliar sua atividade produtiva, ou seja, matéria-

prima para a indústria.

O esgotamento da fertilidade natural do solo, a concentração de atividades, tem

causado o tão temido êxodo rural e a busca de novas alternativas por parte dos agricultores,

com intuito da permanência na atividade de forma organizada.

Nos mais diferentes segmentos da sociedade regional e estadual comenta-se que a

agregação de valor será uma forma de o pequeno agricultor resistir a lógica da globalização.

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O setor produtivo vai se restrinjir, se o êxodo no campo continuar neste ritmo, restará um

percentual reduzido de agricultores praticando a agricultura de precisão com grandes grupos

econômicos processando e industrializando a produção agrícola.

As características do povo e território brasileiro não condizem com a realidade de

países que hoje tem apenas 2% da população no meio rural.

Ações tímidas de pequenos grupos de agricultores tem buscado a inserção na

cadeia do agronegócio, ou seja, transformando matéria prima por eles produzida, buscando

agregar valor no seu produto e mão-de-obra, melhorando seu padrão de vida e permanência

no meio rural.

A agricultura familiar, pela sua estrutura fundiária ser limitada em área, atende

perfeitamente uma das exigências do consumidor em relação a produtor diferenciados.

Produzindo de forma agroecológica, sem aditivos químicos, vendendo na forma de

commodity ou transformando em pequenas agroindústrias rurais. O trabalho pretende

compreender os entraves na viabilização das pequenas agroindústrias instaladas contribuindo

na sua manutenção e ampliação de outros grupos.

O presente trabalho visa contribuir no redirecionamento das ações do serviço

público no sentido de inserir os agricultores para implantação de nos empreendimentos. Em

função dos inúmeros problemas enfrentados pelos agricultores familiares, a agregação de

valor gerado pelo beneficiamento ou a transformação dos produtos agrícolas ganha

importância, viabilidade de muitas pequenas propriedades rurais.

O trabalho visa chamar a atenção do meio acadêmico, lideranças políticas

regionais, profissionais ligados ao agronegócio que pequenas agroindústrias rurais tem sua

importância sócio-econômica carecendo de apoio principalmente no pós-porteira para sua

viabilização.

Para um estado onde 90% dos estabelecimentos rurais são de agricultura familiar,

políticas públicas devem ser implementadas para que este segmento não domine apenas o

setor de produção e fique a mercê do restante da cadeia onde a rentabilidade é maior e os

riscos são menores.

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2. EMBASAMENTO TEÓRICO

2.1. Importância do sistema agroindustrial

A abertura comercial advinda da globalização e absorvida pelo Brasil, as

indecisões nas políticas agrícolas e industriais, as crises financeiras mundiais, a cambial, bem

como outros problemas macroeconômicos externos e internos ao país, desequilibram a

balança comercial brasileira evidenciando a importância que os produtos agroindustriais

representam no equilíbrio das contas externas brasileiras.

Aliado a isso o aumento das importações de produtos agroindustriais do ramo

alimentar afetam as principais cadeias agroindustriais brasileiras, provocando e induzindo

novos padrões de competição.

2.2. Sistema agroindustrial, visão sistêmica.

Conforme Batalha(2001), a análise de um sistema econômico não deve partir de

determinado produto final, ou a partir de uma matéria-prima de base, para então estudar sua

lógica de funcionamento.

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Deve-se abandonar a velha divisão do sistema em três setores: agricultura,

indústria e serviços. A agricultura deve ser vista dentro de um sistema mais amplo composto

pelos produtores de insumos, pela agroindústria, pela logística de distribuição e

comercialização. Utilizando a noção de sucessão de etapas produtivas, desde a produção de

insumos até o produto acabado, sendo o sistema dinâmico assumindo um caráter prospectivo.

Um sistema pode ser definido como um conjunto formado de elementos ou sub

elementos que interagem entre si e caracteriza-se pelas seguintes condições: está localizado

em um dado meio ambiente; cumpre uma função ou exerce uma atividade; é dotado de uma

estrutura e evolui no tempo; tem objetivos definidos.

2.3. Agroindústria familiar

Segundo Vieira (1998) a agroindústria rural se constitui, geralmente, a partir de

duas motivações mais comuns. A primeira, e mais freqüente delas, é o aproveitamento de

excedentes que o agricultor não consegue colocar no mercado, seja por não atender aos

padrões de comercialização ou por problemas de qualidade mais sérios, aos quais o agricultor

imagina poder dar destino econômico. A segunda motivação, também bastante freqüente,

surge quando das conjunturas desfavoráveis de preço para sua produção agrícola, o agricultor

vê na agroindustrialização a maneira óbvia de lhe adicionar valor. O aporte tecnológico

geralmente se origina da própria família do agricultor ou do agente de extensão rural. Sofre

também da pouca atenção dada à qualidade, embalagens e apresentação. Quando da

comercialização enfrenta problemas mais sérios para colocar o produto, pois as oportunidades

de mercado não haviam sido levantadas. A taxa estimada de sobrevivência desses

empreendimentos está em torno de 3%.

Diz ainda Vieira (1998) que as agroindústrias rurais tem taxa muito alta de

informalidade, pouco aporte tecnológico e gerencial, pouca capacidade para assimilar

informações técnicas, gerenciais e mercadológicas e um enfoque empresarial voltado para a

produção. Tem pouca capacidade de adaptação às mudanças do ambiente econômico, mesmo

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aquelas que sobrevivem, durante os períodos de relativa estabilidade do mercado nas

estruturas de oferta e demanda, sofrem dificuldades.

A pequena agroindústria, pela sua importância social, como fonte geradora de

empregos em um ambiente cada vez menos intensivo em mão-de-obra e como fator de

interiorização, interessa, porém, criar condições para a constituição e o desenvolvimento da

agroindústria familiar de pequena escala, seja ela urbana ou rural.

Assim, pontos mais relevantes relacionados à gerência, tecnologia, marketing e

comercialização, que hoje criam obstáculos devem ser superados para aumentar as

probabilidades de sucesso e sobrevivência desses empreendimentos.

Mesmo com as inúmeras dificuldades quando questionamos sobre suas aspirações

futuras, 92% dos agricultores que realizam, a transformação em pequena escala, respondem

que desejam manter ou ampliar suas atividades. Este dado representa o grande potencial de

evolução da pequena agroindústria no que depende da vontade dos seus gestores.

Quadro 1 – Aspirações dos agricultores quanto à atividade que desenvolvem: número e percentual de respostas em relação ao total de unidades, por agroindústria

em SC

ASPIRAÇÃO

OESTE MEIO

OESTE

PLANALTO

SUL

PLANALTO

NORTE

ALTO

VALE

LITORAL

NORTE

METROPO-

LITANA

LITORAL

SUL

TOTAL

Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº %

Aumentar 179 82 71 56 54 62 21 70 58 58 109 61 47 39 122 49 661 59

Diminuir 2 1 2 4 4 5 - - 2 2 7 4 7 6 18 7 42 4

Manter 34 16 50 39 29 33 6 20 38 38 60 33 49 40 102 40 368 33

Mudar 3 1 4 3 - - 3 10 2 2 4 2 19 15 10 4 45 4

Total unid. 218 127 87 30 100 180 122 252 1116

Fonte: Oliveira,5. av; et al.

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2.4. Potencial pela diversidade

Outra característica da diferenciação da pequena agroindústria é a diversidade de

matéria prima utilizada para transformação e industrialização. Embora a vinculação ainda é

com as atividades agropecuárias que tem maior importância para a agricultura familiar, como

o leite que mantém uma parcela significativa de pequenos agricultores.

A ascensão deste potencial está relacionado com o clima, solo, aptidões

relacionadas a colonização e cultura.

Quadro 2 – Relação das matérias primas transformadas e número de unidades em que elas aparecem, por agroindústria e total em SC

Matéria prima

Número de unidade que processam cada matéria porima

OESTE MEIO

OESTE

PLANALTO

SUL

PLANALTO

NORTE

ALTO

VALE

LITORAL

NORTE

METROPO-

LITANA

LITORAL

SUL

TOTAL

Leite 69 43 58 11 56 87 9 30 363

Cana de açúcar 34 41 1 - 7 18 65 78 244

Frutas e hortaliças 32 15 5 10 6 83 8 21 180

Carne suína 66 22 8 6 8 6 8 26 150

Mandioca 2 - 1 - 7 10 31 68 119

Farinha de trigo 16 3 4 2 2 23 3 11 64

Carne bovina 20 7 4 3 7 5 7 8 60

Mel 4 5 14 3 9 3 2 14 54

Uva 16 5 - - 2 4 9 36

Carne de aves 2 8 1 2 9 3 - 1 26

Ovos de codorna 5 2 - 1 - 11 1 2 22

Milho 12 3 - 2 - - - 4 21

Peixes e moluscos 2 - 1 - - 6 - 6 15

Arroz 6 - - - - - - 3 9

Trigo 1 2 - 1 - 1 - 2 7

Ovos de galinha - 1 - - - 2 - 3 6

Erva mate 3 1 - 1 - - - - 5

Farinha mandioca - - - - - - 2 3 5

Fonte: Oliveira et all.

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2.5. Linhas de crédito

Visando o estímulo à agroindustrialização descentralizada o governo do estado

lança, em 1995, o Programa Catarinense da Indústria Rural de Pequeno Porte – Proind, que

visa apoiar técnica e financeiramente novos empreendimentos industriais no meio rural. O

financiamento é repassado pelo BNDS (Banco Nacional de Desenvolvimento Social) sendo

aplicado e oferecido pelo BRDE (Banco Regional de Desenvolvimento Econômico). O

Prodec Industrial – Programa de Desenvolvimento da Empresa Catarinense, mediante

estímulo fiscal à agroindustrialização, criado pelo Governo para as grandes empresas já

consolidadas, deixando na prática, fora de seu alcance, novas pequenas agroindústrias que

poderiam eventualmente ser implantadas. Outro instrumento de apoio às ações de

desenvolvimento do meio rural, o Fundo de desenvolvimento Rural – FDR, vem se limitando

ao financiamento de itens isolados, tais como equipamentos agrícolas, animais e outros.

Este fundo deveria ser ampliado com maior alocação de recursos e ter foco para

financiamentos coletivos que visem agregação de valor, ou seja, a transformação de matéria-

prima.

A nível nacional destaca-se o lançamento, em 1998, do PRONAF Agroindústria –

Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura familiar. Este programa pretende

melhorar a condição de vida dos pequenos agricultores, apoio para se inserirem de forma

associativa ao agronegócio, formando conglomerados de pequenas e médias agroindústrias

interligadas e uma central de controle e distribuição gerenciados por eles. Estas iniciativas

políticas, embora tímidas, indicam avanços que vão facilitar a emergência de pequenas

agroindústrias associativas. Enquanto serviço público e gratuito a pesquisa e extensão tem

dado sua contribuição na organização, capacitação e criação de pequenas agroindústrias

rurais.

Dada a relevância do tema para a geração de renda e empregos no campo, essas

políticas deveriam ser mais abrangentes e articuladas. Em relação a recursos, a parcela mais

significativa dos recursos públicos destinados à agroindústria, permanece sendo apropriado

pelas grandes.

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2.6. O mercado brasileiro

O mercado brasileiro é um dos maiores mercados do mundo, estando entre as dez

mais importantes áreas de consumo do planeta para a maioria dos produtos da indústria e

agricultura mundiais. Este fato, segundo Vieira (1998), evidencia-se através do significativo

afluxo de capitais externos destinados a investimentos diretos na produção em vários setores

da economia que tem apontado no Brasil, em que pese a incipiência do processo de

estabilização e de abertura de mercado.

Para aceitar essas afirmações deve-se observar o segmento do mercado brasileiro

em três estratos: o mercado rico, composto de cerca de 30% a 40% da população, isto é, um

estrato de aproximadamente 50 a 60 milhões de pessoas, que movimentam cerca de U$ 320 a

350 bilhões anualmente; o mercado pobre, formado por cerca de 40 a 50% da população, isto

é, 60 a 75 milhões de pessoas que detém cerca de U$ 150 a 170 bilhões por ano e o estrato

marginal, estimado em cerca de 15 a 20% da população, isto é, 20 a 30 milhões de pessoas

com nível de renda abaixo do limite de subsistência.

Lógico que esses extratos não são segmentos estanques e existem importantes

interações tanto do lado da demanda como da oferta, mas explicam o potencial consumidor e

os contrastes absurdos nos padrões brasileiros.

2.7. Aspectos da agricultura de Santa Catarina

Até a chegada dos imigrantes, o estado era ocupado por povos indígenas, que

praticavam um pouco de agricultura de subsistência, segundo afirma Strieder (2000). Com a

chegada dos imigrantes, os primeiros donos das terras foram expulsos, ou até mesmo mortos,

iniciando assim uma nova forma de cultivo e ocupação das terras.

A forma de cultivo e os cuidados com a terra eram feitos de acordo com os

conhecimentos que cada grupo de imigrantes trazia. A começar pelo litoral, que foi ocupado

pelos vicentistas, os açorianos e madeirenses, e mais tarde, pelos alemães e italianos, segundo

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Ribas (2001). De acordo com Brum (1999) e Ribas (2001), os colonizadores de Santa

Catarina recebiam modestos lotes de terra (70 hectares) e apoio para desenvolverem seus

conhecimentos de agricultura.

A existência de propriedades maiores se deve a abertura dos caminhos pelas

tropas, às áreas de invernada e a extração de madeira, principalmente localizadas em Lages e

São Joaquim, conforme diz Ribas (2001).

Por outro lado, o oeste foi colonizado pelas Companhias Colonizadoras que

vendiam pequenas propriedades, principalmente a famílias vindas do Rio Grande do Sul

(Ribas 2001). Daí a atual estrutura fundiária do oeste que é basicamente a de pequena

propriedade de acordo com Testa (1996). O autor afirma ainda que 90% dos estabelecimentos

da região oeste são de “pequena agricultura familiar diversificada”.

Segundo Síntese anual da agricultura de Santa Catarina 2001-2002; citada por

Ribas (2001), a estrutura fundiária de Santa Catarina está assim caracterizada:

Tabela 1 – Estrutura Fundiária de Santa Catarina

Tamanho da propriedade Número de

estabelecimentos

Área (ha)

Inferior a 100 ha 206.512 3.875.179

De 100 a 500 ha 7.847 1.522.057

Acima de 500 ha 1.633 2.046.540

Fonte: RIBAS (2001, p.85)

A agricultura familiar vem sofrendo diversas dificuldades na economia de

mercado dos dias atuais. Segundo Altmann (1997), a agricultura familiar vem sofrendo

pressões externas que a desestrutura e desorganiza, principalmente pela constante mudança

nas condições de mercado.

Altmann (1997) também afirma que a produção está sendo concentrada nos

últimos anos, e que, muitas unidades familiares vem sendo expulsas das atividades, ou seja, os

que não conseguem se manter competitivos.

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A partir da revolução verde, que busca o uso intensivo de insumos e a máxima

produtividade, vem acontecendo o esgotamento dos recursos naturais (água e solo) da região

oeste de Santa Catarina, conforme afirma Testa (1996).

Sente-se cada vez mais que o modelo adotado não permite uma vida digna à

grande parte dos agricultores familiares do estado e inicia a partir dos anos 90 um debate

sobre a viabilidade da visão exclusivamente produtivista do meio rural. A

transformação/beneficiamento da produção coloca-se como alternativa de promoção de um

desenvolvimento sustentável (Oliveira, 2002).

Começam a surgir cada vez mais agroindústrias familiares no meio rural como

alternativa de manter o homem no campo e aumentar a sua renda. A instalação de

agroindústrias passou a ser incentivada por programas governamentais (PRONAF, PROIND)

e virou foco de atenções.

Apesar disso, as dificuldades para a implantação das agroindústrias e da sua

consolidação ainda são enormes. De um lado existem grandes vantagens da

agroindustrialização familiar, pela distribuição geográfica, da riqueza cultural das

experiências, pela aceitação de produtos; e de outro lado as barreiras dificultam a vida dos

empreendedores, pela dificuldade de obtenção de crédito, dificuldade de registros e

legalização dos empreendimentos, pela falta de assistência técnica e assessoria qualificada.

Isto resulta num baixo índice de empreendimentos familiares legalizados (Oliveira et al,

1999).

Oliveira et al (1999) ainda constata que existe uma série de problemas para a

consolidação das agroindústrias de pequeno porte citando: a qualidade da matéria prima, o

dimensionamento e desenvolvimento de equipamentos e instalações, a racionalização de

processos, na qualificação pessoal, entre outros. De acordo com o autor, há uma grande

necessidade de estudar e introduzir estratégias que permitam o desenvolvimento, a ampliação

e a sobrevivência dessas iniciativas.

Destaca-se ainda a necessidade de bem administrar a empresa para possibilitar seu

sucesso. Esta administração deve reger-se por princípios básicos, citados por Druker (2002):

“dentro da organização, tem de ter a autoridade para tomar uma decisão final em dada área”.

[...] outro princípio sólido é que qualquer pessoa na organização deve ter apenas um ‘patrão’”.

Tratando-se de empreendimentos familiares ou grupais, é fundamental estudar a relação

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Page 15: Relatório ESTÁGIO VIVENCIAL 2 VERSÃO1

existente entre as pessoas envolvidas para avaliar o grau de capacidade para administrar

corretamente as empresas.

2.8. Cooperativismo/associativismo

A busca de caminhos para incrementar a renda da família rural é feita

normalmente entre parentes e agricultores que tenham bom relacionamento e idéias comuns.

Os desafios são diversos, o volume de recursos investido é alto, desta forma, as famílias se

reúnem e constituem um grupo afim. Poucos empreendimentos são de apenas uma unidade

produtiva.

Conforme o quadro 3, a grande maioria dos empreendimentos (79%), estão

organizados informalmente por pessoas físicas, fica reforçada a hipótese de que a burocracia

para legalizar uma empresa iniba o agricultor em faze-lo.

Quadro 3– Forma de organização dos empreendimentos: número de unidades por tipo de regime jurídico, por agroindústria e total em SC

regime

Oeste Meio

Oeste

Planalto

Sul

Planalto

Norte

Alto

Vale

Litoral

Norte

Metropo-

Litana

Litoral

Sul

Total

Associação 29 1 5 1 1 4 1 9 51

Condomínio 2 1 0 1 0 0 0 0 4

Ltda 33 16 7 2 25 13 15 28 139

Pessoa Fsica 144 107 75 20 72 159 99 205 881

Pessoa Jurídica 10 2 0 6 2 4 7 10 41

Total 218 127 87 30 100 180 122 252 1116

Fonte: Oliveira et all.

Percebe-se um maior número de empreendimentos “solidários” na região Oeste,

talvez a presença forte do sistema cooperativo no grande Oeste contribua para com este

fenômeno. A constituição de “redes” de pequenas agroindústrias rurais associativas vai

otimizar e organizar a distribuição dos produtos contribuindo para o sucesso e viabilização

destes empreendimentos.

Conforme Campos (1998), observa-se que o cooperativismo, enquanto forma

específica de organização da produção rural, exerce um importante papel no processo de

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Page 16: Relatório ESTÁGIO VIVENCIAL 2 VERSÃO1

transformação da agricultura e sua articulação com a indústria, definindo, assim, sua

capacidade empreendedora de participação nos processos produtivos agroindustriais.

Conforme Prezotto (2001), a cooperativa se distingue das demais sociedades por

determinadas características definidas por legislação, entre elas:

- adesão voluntária com número mínimo de 20 cooperados;

- variabilidade do capital social representado por quotas-parte;

- limitação do mínimo de quotas-parte do capital para cada cooperado;

- inacessibilidade das quotas-parte do capital de terceiros, estranhos a

sociedade;

- singularidade de voto, ou seja, cada pessoa tem direito a um voto;

- o fórum para funcionamento e deliberação da assembléia geral é baseado no

mínimo de cooperados e não no capital de cada sócio;

- o retorno ao cooperado, das sobras líquidas do exercício, é proporcional às

suas operações realizadas com a sociedade, salvo deliberação em contrário da

assembléia geral;

- indivisibilidade dos fundos de reserva e de assistência educacional e social;

- deve ter neutralidade política e não pode fazer discriminação religiosa, racial e

social;

- prestação de assistência aos cooperados é, quando previsto nos estatutos, aos

empregados da cooperativa;

Uma cooperativa poderia reunir algumas associações proporcionando vários

benefícios a estes grupos tais como: barganha de melhor preço, diminuição de custos na

distribuição, marketing mais agressivo, economia de escala, dentre outros.

Experiência neste sentido tem no município de Guaraciaba, com a criação da

COOPERGUABA – Cooperativa de produção, industrialização e comercialização de

Guaraciaba.

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3. METODOLOGIA

3.1. Delimitação da pesquisa

O estudo foi realizado em cinco agroindústrias de pequeno porte da região do

extremo oeste de Santa Catarina. Especificamente empresas que atuam com a exploração e

beneficiamento da cana de açúcar. Buscou-se neste trabalho as respostas sobre os indicadores

da consolidação de pequenas agroindústrias rurais através de um estudo de multicasos.

3.2. Delineamento da pesquisa

Foi realizado um estudo qualitativo e quantitativo, através da pesquisa descritiva

do tipo estudo de caso.

A pesquisa descritiva, para Gil (1991), tem como característica básica a utilização

de técnicas padronizadas para a coleta de dados, tendo objetivo principal a descrição das

características de determinado fenômeno, ou ainda, estabelecer relações entre as variáveis.

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Page 18: Relatório ESTÁGIO VIVENCIAL 2 VERSÃO1

De acordo com Gil (1991), estudo de caso é caracterizado pelo estudo profundo e

exaustivo de um ou poucos objetos, que permite ao pesquisador analisar a multicidade de

dimensões de um problema.

3.3. Técnica de coleta de dados

Os dados sobre a consolidação das empresas foram coletados a partir da

formulação de um questionário de perguntas abertas e fechadas dirigidas a membros das

agroindústrias, aplicadas pelos estagiários.

3.4. Técnica de análise e interpretação dos dados

A tabulação e análise dos dados obtidos com a aplicação dos questionários será

através de gráficos e tabelas comparativas seguida de análise descritiva referendada pela

pesquisa bibliográfica sobre os temas.

3.5. Caracterização das agroindústrias

Os questionários foram aplicados em cinco agroindústrias familiares e grupais

localizadas em cinco municípios da região, sendo elas: Agroindústria Baumgratz, sede em

Tunápolis; Agroindústria de Linha Campinho, em Dionísio Cerqueira; Agroindústria São

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Page 19: Relatório ESTÁGIO VIVENCIAL 2 VERSÃO1

Domingos, em Anchieta., Agroindústria Jundiá, Linha Jundiá, Iporã do Oeste e Agroindústria

Prove sabor da Terra, localizada na Linha São Roque, Guaraciaba.

3.5.1. Agroindústria Baumgratz

A Agroindústria Baumgratz localiza-se próximo a sede do município, no acesso

asfáltico. É de propriedade da família de Inácio e Dalila Baumgratz. Foi fundada em junho de

2000. A família de Inácio e Dalila já produziam melado e açúcar mascavo em menor escala

antes de fundar a agroindústria. Usavam como instalações um galpão da propriedade de

Álvaro Hippler. Produzem atualmente açúcar mascavo e melado a partir de cana de açúcar

própria. A cana de açúcar é produzida organicamente e os produtos não recebem aditivos e/ou

conservantes. Os trabalhos na agroindústria são realizados basicamente por Dalila, enquanto

que o corte e moagem da cana é realizado por Inácio. A agroindústria possui rótulo (Figura

abaixo) nas embalagens que comercializa e tem como mercado a Cooperativa Biorga com

sede em Mondai, a Associação de Artesanato de Tunápolis, além de clientes individuais que

compram os produtos na agroindústria.

Figura 1 Rótulo dos produtos da Agroindústria Baumgratz

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3.5.2. Agroindústria AFAMAC

Á Agroindústria AFAMAC (Associação de Açúcar Mascavo Campinho) iniciou suas

atividades em 20 de setembro de 2002 na Comunidade de Campinhos município de Dionísio

Cerqueira.

A Associação iniciou com seis famílias que participaram das primeiras atividades

da agroindústrias, sendo que em seguida duas famílias saíram da associação por motivos

particulares. Hoje fazem parte da Associação as seguintes famílias: Valdomiro Roos, Milton

J.Andreola, Nilvo Andreola e Antonio Giacomelli. Sua produção é de açúcar mascavo e

melado, produtos que são comercializados basicamente no Município de Dionísio Cerqueira.

Os recursos para o investimento necessário foram captados junto ao PRONAF-Infraestrutura1,

a fundo perdido, com alguma complementação de recursos próprios e auxilio da Prefeitura

Muicipal de Dionsio Cerqueira. Na foto abaixo podemos observar a vista externa das

instalações da AFAMAC.

Figura 2 Vista Externa das Instalações da AFAMAC

Foto: Os autores

As atividades da condução das lavouras e da agroindústria são realizadas pelos

membros das famílias dos associados.1 PRONAF –Infraestrutura: concedido aos municípios com menores índices de IDH. O IDH de Dionísio Cerqueira em 2000 é de 0,747 e o de Anchieta é de 0,769 (Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil)

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A AFAMAC é associada a uma Cooperativa Maior, que congrega todas as

associações de Agroindústria de Dionísio Cerqueira. Abaixo podemos observar um dos

produtos prontos para a comercialização.

Figura 3 Produtos da AFAMAC prontos para comercialização

Foto: Os autores

3.5.3. Agroindústria Jundiá

A Agroindústria Jundiá foi fundada em 1998, e conforme o senhor Sérgio Kloch,

sócio da associação, foi uma das primeiras agroindústrias de cana construídas na região.

Iniciou com cinco sócios e hoje possui três sócios. Produz açúcar mascavo, melado, melado

não batido e doce misto de frutas. Localiza-se na Linha Jundiá, em Iporã do Oeste e possui

como sócios: Sérgio Kloch, Clemente Berwanger e Edvino Rauber. Os recursos foram em

parte obtidos através do PRONAF-agroindústria2 e outra parte de recursos próprios. Os

recursos do Pronaf estão sendo amortizados.

2 Pronaf-agroindustria – Modalidade de crédito oferecido aos agricultores para industrialização da produção. Os recursos são financiados a juros de 4% a.a. , prazo de amortização de 8 anos

24

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Figura 4 Produto da Agroindústria Jundiá pronto para comercialização

Foto: Os Autores

A agroindústria possui uma preocupação, de acordo com o sócio Sérgio, com a

qualidade e com o padrão do produto oferecido aos clientes. Seus produtos são

comercializados em cidades como Chapecó, Concórdia, Xanxerê, e algumas cidades do

Paraná.

Os serviços para a produção da cana e a industrialização são realizados por um dos

sócios e por dois funcionários. O objetivo é chegar a produzir 30 toneladas de produtos ao

mês e para isso estão sendo ampliadas as lavouras de cana de açúcar próprias e de terceiros.

3.5.4. Agroindústria APACA

A agroindústria APACA realiza suas atividades na comunidade de São Domingos,

município de Anchieta. Foi fundada em agosto de 1998 por vinte e um sócios que tinha como

principal objetivo a melhoria de qualidade de vida das famílias através da produção de

produtos alternativos.

Após alguns anos de funcionamento e de crises por causa de geadas, atua com cinco

sócios e tem sua produção baseada na cachaça. Produz ainda açúcar mascavo de acordo com

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Page 23: Relatório ESTÁGIO VIVENCIAL 2 VERSÃO1

os pedidos. Os serviços atualmente são realizados intercaladamente pelos sócios e a cana é

produzida basicamente pelos sócios de forma orgânica. Os sócios lamentam as dificuldades

enfrentadas e causadas pelas geadas, mas se mantêm firmes no objetivo de melhorar de vida.

A agroindústria foi instalada basicamente com recursos externos, a fundo perdido e

possui, conforme pode ser visto na foto abaixo, uma infraestrutura de moagem, banheiro

externo, cozinha de gás, caixa de água e agroindústria bem distribuídos. Nestas instalações

foram investidos R$ 88.000,00, sendo R$ 13.000,00 financiados e o restante do programa

Pronaf-infraestrutura.

Figura 5 Vista parcial da Agroindústria APACA de Anchieta

Foto: Os autores

3.5.5. Agroindústria PROVE SABOR da TERRA

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Page 24: Relatório ESTÁGIO VIVENCIAL 2 VERSÃO1

A associação Prove Sabor da Terra foi fundada no dia 04 de fevereiro de 1998 na

comunidade de linha São Roque, município de Guaraciaba.

O grupo é formado pelas famílias de Natal Bariviera, Moacir Bariviera e Olidio

Benachio e suas respectivas esposas, sócios estes que formaram e continuam até hoje na

associação.

Produzem açúcar mascavo, cachaça, melado, licores e rapaduras, produção esta

comercializada em Guaraciaba e

municípios da região. Os produtos são

vendidos na própria fábrica ou em

mercados da região, e podem ser

identificados pelo rótulo de suas

embalagens, conforme figura acima.

Encontraram dificuldades financeiras

na construção da agroindústria obtendo

parte dos recursos para a obra junto a

Cressol (Cooperativa de Crédito

solidário) e usaram recursos próprios.

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Figura 6 Rótulo dos Produtos da Agroindústria Prove Sabor da Terra

Foto: Os Autores

Figura 6 Vista Externa da Agroindústria Prove Anchieta

Page 25: Relatório ESTÁGIO VIVENCIAL 2 VERSÃO1

4. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS DA PESQUISA

Para análise dos dados serão usados somente os nomes “chave” para a denominação

das agroindústrias, da seguinte forma: Agroindústria Jundiá = agro1; Associação APACA =

agro2; Agroindústria da Associação AFAMAC = agro3; Agroindústria Baumgratz = Agro4;

agroindústria Prove sabor da terra = agro5.

4.1. Como surgiram as Agroindústrias pesquisadas

Analisando os dados das pesquisas observa-se um extraordinário censo de

empreendedorismo por parte dos agricultores sócios proprietários das agroindústrias. As

agroindústrias associativas surgiram a partir de debates e discussões entre as famílias com

características homogenias em locais e situações informais. As idéias surgiram pela

necessidade percebida dos agricultores e pelas conversas entre eles. Isto remete a dizer que os

agricultores, ao discutirem seus problemas, conseguem vislumbrar soluções e alternativas

para a busca de melhoria da qualidade de vida.

Duas agroindústrias surgiram com o apoio e incentivo dos recursos financeiros

disponíveis (agro2 e agro3), sendo que as outras três agroindústrias (Agro1, agro4 e agro5)

foram iniciadas com recursos próprios e continuadas ou terminadas com recursos obtidos

através de financiamentos em agências financeiras.

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Page 26: Relatório ESTÁGIO VIVENCIAL 2 VERSÃO1

O principal objetivo para a formação das Agroindústrias estudadas é o de buscar a

viabilização das propriedades rurais e das famílias, além da buscar trabalhos em coletividade.

Este objetivo foi relatado por várias pessoas entrevistadas, e pode ser resumida aqui pela falas

do senhor Milton Andreola: “o maior objetivo, alavancar mais recurso, mais ajuda para a

manutenção da propriedade e a gente tem que pensar mais no coletivo, por que sozinho a

gente não consegue mais nada” e do senhor Luiz Gritti:

Fui sindicalista, vi algumas experiências. A gente a agricultura estava na pior das crises, inda de grãos para o leite. Crise profunda. A gente via de que o pequeno agricultor devei produzir sua matéria prima, e industrializa-la, e comercializa-la, sair da integração, da dependência. (Gritti, 2003.)

Esta expectativa também está prevista nos objetivos gerais do Pronaf-Infraestrutura:

O objetivo geral do PRONAF é propiciar condições para o aumento da capacidade produtiva, a geração de emprego e a melhoria da renda, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida e a ampliação do exercício da cidadania por parte dos agricultores familiares. (Ministério da agricultura 1996.)

Das cinco agroindústrias pesquisadas, apenas uma tem como proprietário apenas uma

família, ou seja, proprietário individual. Quatro agroindústrias foram formadas através de

várias pessoas reunidas em associações formais. Isto pode ter ocorrido principalmente pelo

volume de recursos necessários para o investimento e pela necessidade de união entre os

agricultores para diminuir riscos e para conseguir mão de obra e matéria prima necessária.

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Page 27: Relatório ESTÁGIO VIVENCIAL 2 VERSÃO1

4.2. Número de sócios fundadores e atuais

As agroindústrias formadas a partir de associações tiveram uma diminuição no número

de sócios entre a formação até hoje. Observa-se no gráfico abaixo que a diminuição do

número de sócios totais nas cinco agroindústria diminuiu drasticamente e isto se deve a

grande diminuição do número de sócios da agro2 que iniciou suas atividades com 21 sócios e

hoje conta com cinco sócios. Por outro lado destaca-se a agro5 que iniciou suas atividades

com três sócios em 1998 e atualmente com os mesmos sócios.

Observa-se que as agroindústrias formadas com recursos próprios mantêm mais

estável o número de sócios, enquanto que as formadas basicamente com recursos a fundo

perdido enfrentam maior desistência de sócios. O que chama a atenção, segundo as

entrevistas, é que o relacionamento é considerado bom entre os sócios. Segundo os sócios

entrevistados, a saída dos sócios se dá por vários motivos, entre eles a distância, a falta de

mão de obra e a falta de planejamento. As saídas de sócios das associações também foi objeto

de estudo por Canci (2000) onde cita os seguintes motivos para as saídas dos sócios:

a) discordância dos rumos da associação (planejamento e atividades de campo); b) remuneração financeira bem abaixo das expectativas iniciais; c) pouca capacidade de diálogo dos membros da associação, quando da ocorrência de problemas. (Canci, 2000 pg 21)

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Page 28: Relatório ESTÁGIO VIVENCIAL 2 VERSÃO1

A saída de sócios das associações pode gerar dificuldades momentâneas para os que saem e para os que ficam, além de conflitos e desconfortos pessoas.

Observa-se que existe uma dificuldade grande em manter o número de sócios,

principalmente quando este número é grande, o que nos remete a dizer que associações com

menor número de sócios (de 3 a 5) tem maior possibilidade de manter este número.

4.3. Capacidade das agroindústrias versos produção atual

As agroindústrias objeto de estudo neste trabalho não estão conseguindo utilizar toda a

capacidade das instalações, conforme se pode observar no gráfico abaixo:

Gráfico 2 Capacidade e uso atual das agroindústrias

31

Fonte: Dados Primários

0

5

10

15

20

25

agro1 agro2 agro3 agro4 agro5

Sócios Início

Sócio Atuais

Gráfico 1 Número de sócios das Agroindústrias na fundação e atualmente

Page 29: Relatório ESTÁGIO VIVENCIAL 2 VERSÃO1

Fonte: Dados primários

No gráfico pode-se observar que a agro3, a agro4 e a agro2 estão com o uso muito

abaixo da capacidade das instalações. Usam apenas 13%, 29% e 7% respectivamente. Por

outro lado, a agro5 utiliza bem sua capacidade, chegando a 93%, além de possuir uma maior

diversidade de produtos. É importante questionar aqui a influência no custo de produção em

função da ociosidade das instalações. Conforme depoimentos dos entrevistados, existe

perspectiva de aumento na produção na maioria das agroindústrias e isto poderá melhorar a

relação de aproveitamento das mesmas. Não há , no entanto, plano bem traçado para como e

quando esta ampliação na produção deverá ocorrer.

Quanto a diversidade existe grandes variações. A agro2 produz\ basicamente cachaça

e abandonou a produção de melado. Produz ainda em pequenas quantidades e conforme

pedidos, açúcar mascavo. Esta opção, segundo Gritti, é para garantir a sobrevivência da

agroindústria.

O açúcar estamos com problemas nos últimos anos. A gente está tocando porque a gente fez da cachaça o meio de segurar a barra. A gente criou uma clientela própria, a gente vende duas vezes por semana, venda direta. Conseguimos ter um retorno razoável com a cachaça. Deveria ver parceria para colocar marca, buscar exportação, a gente poderia contratar mais mão de obra.(Gritti 2003)

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Page 30: Relatório ESTÁGIO VIVENCIAL 2 VERSÃO1

A agro5 está mais diversificada, produzindo cachaça, melado, açúcar mascavo, licores

e puxa-puxa. Com esta diversificação consegue utilizar bem as estruturas existentes. As agro2

e agro4 não estão diversificadas, produzindo apenas açúcar mascavo e melado.

Quanto ao uso de matéria prima para a industrialização, pode-se afirmar que ela é

basicamente de produção própria. Todas as agroindústrias objeto deste estudam possuem

plantações próprias, sendo que três delas compram parte da cana de terceiros. A maioria das

agroindústrias pesquisadas tem preocupação quanto os tipos de cana e buscam variedades

com ciclos diferenciados e com características próprias de acordo com o destino. Neste

aspecto destaca-se a agro2 que possui a acompanha uma pesquisa de 22 variedades de cana,

das quais, segundo Gritti (2003) quatro variedades vem se destacando, entre elas a variedade

que vem sendo cultivada a mais de trinta anos na região.

A disponibilidade da matéria prima, pela sua sazonalidade de maturação e

susceptibilidade a geadas vem sendo um dos grandes problemas das agroindústrias estudadas.

As agroindústrias mais antigas já enfrentaram problemas com a matéria prima devido as

geadas ocorridas sobre a cana de açúcar.

Um dos aspectos positivos observados nas agroindústrias em estudo é que pelo menos

um sócio de cada participou de treinamentos para a industrialização da cana. A maioria

participou de cursos profissionalizantes do Cetresmo3. Isto confirma a preocupação dos

mesmos com a qualidade dos produtos oferecidos aos clientes e da importância da qualidade

para o sucesso dos empreendimentos. Além dos cursos realizados, a maioria tinha experiência

e produzia melado e ou açúcar mascavo em pequena escala antes de investir nas

agroindústrias, e este conhecimento vem sendo transmitido de pais para filhos.

3 Epagri -Centro de Treinamento de São Miguel do Oeste. Oferece vários cursos profissionalizantes para agricultores, entre eles o de beneficiamento de cana de açúcar. Para a realização dos cursos de industrialização de cana possui uma agroindústria instalada e em funcionamento, onde são realizadas as aulas práticas. Possui ainda plantio de várias variedades de cana para observação de desempenho em produção e em qualidade.

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Page 31: Relatório ESTÁGIO VIVENCIAL 2 VERSÃO1

4.4. Recursos Financeiros Aplicados

Os recursos financeiros investidos nas agroindústrias estudadas tem três origens

básicas: 1) Recursos a fundo perdido pelo Pronaf-Infraestrutura; 2) Recursos próprios e, 3)

Recursos externos financiados.

Tabela 2 : Valores infestidos e origem dos recursos

Agroindustrias

Valor Total

Investido

Recursos Próprios

Investidos

Recursos a

Fundo Perdido

Recursos

Finaciados

Agro1 R$ 40.000,00 R$ 14.000,00 R$ - R$26.000,00

Agro2 R$ 88.000,00 R$ - R$ 75.000,00 R$13.000,00

Agro3 R$ 74.000,00 R$ 3.000,00 R$ 71.000,00 R$ -

Agro4 R$ 6.000,00 R$ 6.000,00 R$ - R$ -

Agro5 R$ 36.500,00 R$ 20.000,00 R$ - R$16.500,00

Fonte: Dados primários

A origem dos recursos é muito diversa entre as agroindústrias em estudo. Os recursos

financeiros investidos na agro2 e na agro3 tem origem basicamente dos recursos do Pronaf-

Infraestrutura, que possui a vantagem de ser a fundo perdido, sem necessidade de devolução

por parte dos mutuários. Estas duas agroindústrias também apresentam o maior volume de

recursos financeiros investidos, se comparado às agroindústrias instaladas com recursos

próprios ou financiados. Na agro2, conforme pode ser observado na tabela 2 foram investidos

R$ 88.000,00, dos quais R$ 75.000,00 a fundo perdido, o que representa 85% no total do

investido. Na Agro3 foram investidos R$ 74.000,00 dos quais R$ 71.000,00 de recursos a

fundo perdido, o que representa 96% do total investido.

As agro1 e agro5 investiram recursos financeiros próprios e recursos financeiros

financiados. Pode-se observar um menor volume de recursos investidos, o que pode estar

demonstrando um melhor aproveitamento ou um maior cuidado com os recursos. Na agro1

foram investidos R$ 40.000,00, o que representa apenas 45% dos recursos investidos na

agro2.

34

Page 32: Relatório ESTÁGIO VIVENCIAL 2 VERSÃO1

A agro4 investiu apenas recursos próprios, sendo que aplicou o maior volume de

recursos entre as agroindústrias estudadas, ou seja, apenas R$ 6.000,00, o que representa

apenas 6,8% do total de recursos investidos na agro2.

Esta diferença nos investimentos das agroindústrias em estudo é resultante também da

diferente estrutura instalada para beneficiamento, principalmente em relação aos requisitos de

altura de pé direito e área para trabalho.

Gráfico 3 Recursos Investidos conforme as Agroindústrias

Fonte: Bases primárias

O volume de recursos investidos deve ser analisado com mais profundidade pela

estrutura e época em que foi edificada. Observa-se nas visitas uma estrutura muito diferente

para as mesmas capacidades e utilidades de beneficiamento. Mesmo assim, desconsiderando

estes fatos, pode-se observar no gráfico 3, uma relação custo benefício muito distorcida em

função dos recursos investidos e o beneficiamento/aproveitamento desta estrutura.

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Page 33: Relatório ESTÁGIO VIVENCIAL 2 VERSÃO1

Gráfico 4 Comparativo entre recursos investido e a produção anual das agroindústrias

Fonte: Dados Primários

Avaliando o gráfico 4 percebe-se que nas agroindústrias que utilizaram recursos a

fundo perdido a relação custo/benefício é maior. Na agro3, que usou basicamente recursos a

fundo perdido, observa-se a pior relação de custo de investimento por produção.

É importante observar nesta avaliação as diferenças nas estruturas edificadas para cada

agroindústria e as épocas em que elas foram realizadas para não cometer falsa desconfianças.

O que se deve fazer é uma avaliação da estrutura ideal para o perfeito funcionamento das

agroindústrias e da comodidade para a realização dos serviços. Em épocas de recursos

escassos não se aceita investimentos desnecessários em estruturas monstruosas que acarretam

maiores custos de manutenção de produção. Com custos mais altos a competição fica

prejudicada e pode estar ali uma das hipóteses das dificuldades encontradas por muitas

agroindústrias.

4.5. Comercialização e marketing

A venda é, conforme Oliveira (2000), o ponto sensível para o sucesso dos

empreendimentos.

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Page 34: Relatório ESTÁGIO VIVENCIAL 2 VERSÃO1

A comercialização da produção das agroindústrias estudadas vem sendo realizada de

várias formas e em várias regiões distintas. As agro2, agro3 a agro5 vendem seus produtos no

seu município de origem e na região próxima, geralmente diretamente ao consumidor. A

agro1 vende seus produtos através de um revendedor aos varejistas em cidades maiores. A

agro4 comercializa seus produtos de 2 formas: diretamente ao consumidor e indiretamente

através da Biorga e da Associação Artesanal de Tunápolis.

De acordo com as declarações do sócios da Agro1, depois de fazer a comercialização

através de um representante, as vendas começaram a melhorar e a comercialização deixou de

ser um problema.

No aspecto mercado de consumo observa-se um a dificuldade para a colocação dos

produtos, bem como a definição de preços, pela falta de pessoal preparado. Além disso, o

surgimento de concorrências “desleais” também vem preocupando as agroindústrias.

Em relação ao marketing observa-se que quatro agroindústrias possuem marca própria

para identificar os produtos e esta é a única forma de divulgação utilizada. A maior

preocupação que se percebe nas agroindústrias é quanto a qualidade de seus produtos. Para

isto fazem um grande esforço para padronizar os produtos e obter bom aspecto. Segundo o

entrevistado da agro1, Sérgio Kloch, “a marca não é tão importante, o produto é o mais

importante”

Muitas vendas são feitas nas próprias agroindústrias diretamente ao consumidor,

porém não existe preocupação em relação a aparência e identificação das mesmas para causar

boa impressão aos consumidores.

4.6. Gerenciamento

No que diz respeito ao controle gerencial das agroindústrias pesquisadas observa-se

grandes deficiências. Os controles não passam de anotações de entradas e saídas de dinheiro e

da divisão de serviços ou tarefas. Algumas agroindústrias sequer possuem o controle exato da

quantidade produzida. Como foi citado anteriormente, a deficiência administrativa e de

planejamento causaram a desistência de vários pessoas dos grupos. Quanto a assistência

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Page 35: Relatório ESTÁGIO VIVENCIAL 2 VERSÃO1

gerencial, os entrevistados afirmaram que não recebem ajuda, com exceção da Agro1 que

contratou recentemente uma assessoria de Chapecó, que, segundo o entrevistado, está

contribuindo para a melhoria de desempenho da agroindústria.

O que se observa é que as pessoas entrevistadas não dão muita importância para o

planejamento e o gerenciamento dos recursos financeiros e das atividades das agroindústrias.

4.7. Questão Ambiental

No quesito ambiental observa-se uma preocupação e alguns problemas para o destino

do bagaço e do melaço, bem como do consumo de madeira. Os entrevistados afirmam que

utilizam madeira exótica para o aquecimento da garapa e que estão preocupados no plantio de

árvores para o abastecimento futuro das agroindústrias. Quanto ao destino do bagaço da cana,

a maioria das agroindústrias devolvem-no para as lavouras de cana como cobertura depois de

um período de “cura” no pátio. Observa-se no entanto, grandes quantidades de bagaço de cana

nos pátios das agroindústrias visitadas e pesquisadas. Talvez seja reflexo da deficiência da

mão de obra disponível para a execução dos serviços.

4.8. Dificuldades Encontradas

Vários foram e são os problemas enfrentados pelos sócios das agroindústrias objeto

desse estudo.

A falta de mão de obra é um dos fatores mais relevantes para os entrevistados. Muitos

deles acrescentaram os serviços das agroindústrias as atividades que já vinham sendo

executados no dia a dia. Como ainda não tem a certeza e os resultados financeiros suficientes

para abandonar outras atividades, acabam se sobrecarregando de tarefas.

A disponibilidade de recursos financeiros para iniciar as atividades também foi citada

pela maioria dos entrevistados. A falta de recursos implica na possibilidade de uso total das

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Page 36: Relatório ESTÁGIO VIVENCIAL 2 VERSÃO1

instalações. Sem recursos não conseguem comprar a matéria prima e nem fazer estoques de

produtos nas safras para a comercialização nas entre safras.

A comercialização da mesma forma vem sendo um dos grandes problemas e desafios

para essas pessoas. Observa-se uma grande dificuldade de comercialização dos produtos.

Enquanto que a agro1 consegue com facilidade comercializar seus produtos, outros encontram

sérias dificuldades. O entrevistado Gritt diz: “ Nós precisamos de uma maneira para legalizar

isto daqui, colocar um rótulo, fazer parceria com outros pequenos que fazem isto, produzir

para os grandes centros maiores expandir o mercado, nesta perspectiva ter um retorno

maior.”

A sazonalidade e a susceptibilidade à geadas é uma das grandes dificuldades

encontradas nas agroindústrias, conforme confirma o entrevistado Sérgio Roos “Primeiros

problemas foi dois anos de geada. Não tinha lugar pra por, depois não tinha produto, dois anos

a geada matou, um ano a seca atrapalhou,...”

4.9. Consolidação das Agroindustrias

De acordo com os entrevistados, existe uma confiança grande da consolidação das

agroindústrias, pela demanda crescente por produtos dessa natureza. Estes afirmam que as

maiores dificuldades são encontradas nos primeiros 2 anos das agroindústrias estas já estão

superadas pela maioria das agroindústrias pesquisadas.

Para acentuar a confiança mostrada pelos entrevistados, passamos a alguns relatos;

Mas, isso é alimento, é coisa que vai na boca, a pessoa come, pro futuro sempre vai mais, a procura sempre será melhor, hoje já deixamos de vender por que não tem matéria prima de chega. Isto o pessoal precisa. Roos (2003)

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Page 37: Relatório ESTÁGIO VIVENCIAL 2 VERSÃO1

Bom,pela experiência que a gente já passou, hoje dá pra toca sem maiores problemas.[...] Estamos pagando o FDR, (1700,00 por ano) e sobra mais ou menos 400,00 por mês por sócios. Gritti (2003)

Eu acho que sim, a empresa quando planeja ela com os pés no chão, nós já temo, as maio dificuldade maior são no 1º e segundo ano, e e a gente já conseguiu superar.. Se tem produção... Andreola (2003)

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Page 38: Relatório ESTÁGIO VIVENCIAL 2 VERSÃO1

5. CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES

A busca de melhoria de qualidade de vida das famílias parece ser um dos objetivos

para o investimento em agroindustrialização da produção pelos agricultores das agroindústrias

deste estudo.

As dificuldades encontradas para a consolidação das agroindústrias são grandes e se

apresentam principalmente nos dois primeiros anos.

O número de sócios das agroindústrias do estudo diminui ao longo dos anos.

Atualmente as agroindústrias possuem de 3 a 5 sócios atuantes o que mostra que este é um

número bom para trabalhos grupais.

Os investimentos de recursos financeiros nas agroindústria é muito diferentes entre

elas. Observa-se que nas agroindústrias onde foram investidos recursos a fundo perdido, os

valores foram maiores do que naquelas em que foram investidos recursos próprios e

financiados. Esta diferença nos volumes investidos é observada nas instalações. Não existe

padrão de instalação para a agroindústria de cana de açúcar, apesar de ter o mesmo objetivo.

Todas as agroindústrias visitadas possuem estruturas aspectos visuais diferentes. O que parece

é que esta estrutura não tem relação direta com a qualidade nem com a quantidade produzida.

Um dos maiores problemas que pode ser observada nas agroindústrias estudadas é em

relação à comercialização de sua produção. A produção muitas vezes é limitada pela falta de

comercialização. Esta dificuldade pode ser decorrente de: falta de capacitação ou treinamento

de alguém para vender a produção; falta de dedicação para a comercialização; falte de

marketing para a divulgação da produção; falta de assessoria técnica na área de

comercialização. Recomenda-se uma maior preocupação para com o destino da produção das

agroindústrias. A tendência da valoração do consumo de alimentos saudáveis e de origem na

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Page 39: Relatório ESTÁGIO VIVENCIAL 2 VERSÃO1

agricultura familiar deve ser aproveitada para viabilizar a comercialização da produção. O

açúcar mascavo e demais derivados da cana produzidos artesanalmente já não é mais um

nicho mas sim uma tendência de consumo.

A usina São Francisco em São Paulo produz o Nativa, primeiro açúcar orgânico do

Brasil em larga escala, exportando para 19 países. De olho neste filão, nós aqui do Oeste

Catarinense estamos com sérias dificuldades em nos solidificar.

Sugere-se a articulação para a formação de uma rede de comercialização regional para

auxiliar as agroindústrias neste quesito. Esta rede deve concentrar a comercialização. Deve

estar munida de dados sobre as características do consumidor e da capacidade produtiva das

agroindústrias da região.

Outro aspecto que preocupa é o gerenciamento das agroindústrias. Mais uma vez

percebeu-se que as pessoas têm pouca preocupação com a necessidade e a importância de um

gerenciamento contábil e um planejamento das ações. As agroindústrias pesquisadas não

possuem um acompanhamento de custo de produção e nem planejamento de médio e longo

prazo. Estas dificuldades geram desistências de sócios, indefinição de preços de venda e falta

ou sobra de matéria prima. Capacitar as pessoas para uma maior dedicação ao gerenciamento

parecer ser uma saída para melhorar o desempenho das agroindústrias.

Para quem em toda uma história de trabalho se dedicou a produção de matéria-prima

para a indústria é compreensível a dificuldade em dominar áreas de gerenciamento e

comercialização.

Mesmo sendo o fator climático um problema para a cultura da cana, acreditamos ser

esta mais uma alternativa de renda e emprego para muitos agricultores da região. Devemos

intensificar a pesquisa na busca de cultivares que adaptam ao nosso micro clima e auxiliar os

agricultores nas demais etapas da cadeia da cana.

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Page 40: Relatório ESTÁGIO VIVENCIAL 2 VERSÃO1

6. REFERÊNCIAS

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jan/fev/mar, 1998.

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Page 42: Relatório ESTÁGIO VIVENCIAL 2 VERSÃO1

7. APÊNDICE

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