68

Revista 7

Embed Size (px)

DESCRIPTION

http://www.primeiroplano.org.br/MyFiles/Revista_7.pdf

Citation preview

CC X

XXXX

XXXX

X

4

PrimeiroPLANO . ano 2 . no7 . set/out/nov 2007

SUMÁRIO06 | POR EXEMPLOPacto contra escravidão / Cartilha Pessoascom Deficiência / Eco Power

20 | MUNDO DO TRABALHOSetor automobilístico aumenta contratações

Xxxxxxxxxxx |

34 | RESPONSABILIDADESOCIAL

Selo Ibase faz 10 anos / Unidade Natura naAmazônia

42 | INCLUIRCerrado brasileiro tem belezas e experiências

comunitárias

50 | AMBIENTEEnergia Nuclear / Coca Cola usa menos água

52 | CONSUMO CONSCIENTERecicle o computador / Eficiência energética

54 | AGENDA GLOBALProjetos à beira do Parque Nacional

Grande Sertão Veredas

58 | ENTREVISTAO gerente de responsabilidade social da

Petrobrás fala da atuação mundial e nacional

62 | SOLUÇÕESSacolas de algodão / Refis / Selo combustível/ Ecouniformes

64 | MONITORReajustes salariais na data-base em evolução

66 | MEU MUNDOPaulo Zulu conta como a família inteira tem ações

responsáveis

EXPEDIENTE

Os artigos e reportagens assinados não representam, necessariamente, o ponto de vista dasorganizações parceiras e da revista Primeiro Plano. A divulgação do material publicado épermitida (e incentivada), desde que citada a fonte.

Visconde de Ouro Preto, 308 - Térreo - Centro – Florianópolis (SC) - 88020-040Fone/fax: + 55 (48) 3025-3949 www.primeiroplano.org.br - [email protected]

CARTAS

Diretor:

Odilon Luís FaccioEdição:

Sara Caprario (MTe/Sc 625-JP)Redação:

Sara Caprario, Vanessa Pedro (MTe/Sc 831-JP), Marco Piva (MTB-12.911JP)Edição de Arte:

Maria José H. Coelho (Mte/Pr930)Fotografia:

Sérgio VignesColaboradores:

Clemente Ganz Lúcio, Dauro Veras, Geni Marques, Gabriela Michelotti, Jaisse BarcellosPichinin, Michelle Lopes, Odilon Guedes, Patrícia Audi, Pieter Sijbrandij, Ronaldo Baltar

Secretaria

Lilian FranzDistribuição:

Luciano MarcondesImpressão:

Nova Letra Gráfica e Editora

Parceiros Institucionais

Banco do Estado de Santa Catarina (BESC) / Departamento Intersindical de Estatísticas eEstudos Socioeconômicos (Dieese) / Fundação Vale do Rio Doce (FVRD) / Instituto deManejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) / Instituto Observatório Social /Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social / News Wire Comunicação / Redede Tecnologia Social (RTS)

Olá,Quero parabenizar todos e todas da Revista Primeiro Plano

pelo belíssimo trabalho desenvolvido na Revista nº 6. A matériasobre Mundo do Trabalho - passos para a modernização social nacana-de-açucar - traz uma reflexão sobre a importância de valori-zar a mão de obra no campo.

São matérias como esta que faz com que possamos ter umaimprensa democrática e transparente e, mais do que isso, mostrarque é possível construir uma sociedade mais justa, fraterna e igua-litária.

Atenciosamente,

Josenildo MeloAssessor de formação Sindical do Sindicato dos Químicos do ABC

Caros,Acabei de dar uma folheada na Primeiro Plano n° 6. A revista

está excelente, com matérias de alto nível abordando questõescapitais. Imagino as dificuldades para mantê-la no ar, mas acredi-tem, vale a pena porque a Revista de fato está muito boa. É umorgulho para o movimento sindical e para todos que gostam de verfuncionar coisas com capricho e qualidade. Parabéns.

José Álvaro Cardoso, do Dieese/SC

Conheci a Revista Primeiro Plano no Encontro Brasileiro deResponsabilidade Socioambiental, ocorrido em agosto em Floria-nópolis, e foi “amor à primeira vista”. A Revista é prática, atual esem sensacionalismos. Traz assuntos relevantes, bons exemplos,pesquisas. Tudo para quem trabalha na área da sustentabilidadeou deseja esta para si.

Djone Luize Turazzi

5

PrimeiroPLANO . ano 2 . no7 . set/out/nov 2007

10

24

32

38

47

T

apresentação

udo que fazemos impacta de alguma forma no meioem que vivemos. Seja um indivíduo ou um conglo-merado de empresas. Cada um de uma maneira

diferente, no meio ambiente, na economia ou na vida soci-al. E os cuidados com estes impactos formam o que cha-mamos de responsabilidade social, que no caso das em-presas é denominada Responsabilidade Social Empresa-rial ou Corporativa.

Mas até que ponto as empresas estão conscientes deque minimizar os impactos negativos e potencializar os po-sitivos pode gerar riqueza?

É o que a matéria de capa tenta mostrar. Com base emduas pesquisas, uma quantitativa e outra qualitativa, a re-portagem indica os caminhos percorridos até agora e re-vela como a atitude empresarial está mudando com foconos temas de responsabilidade e sustentabilidade.

A sociedade civil também pode colaborar. E os proje-tos desenvolvidos em torno do tema ‘Cidades sustentá-veis’ estão apontando que este caminho está trazendo re-sultados. Na matéria com os exemplos de São Paulo eBogotá vemos que os movimentos estão se esforçandoem modificar, recuperar e tornar as cidades em espaçosmelhores de se viver.

As questões éticas e os problemas de corrupção estãoem outra reportagem, que ressalta os pactos assinadospelas empresas no Brasil e no mundo. Temos ainda algunstópicos sobre alimentação saudável, uma entrevista exclu-siva com o gerente de responsabilidade social da Petro-brás e um panorama do trabalho realizado no Cerradobrasileiro. No Monitor o Dieese apresenta um estudo so-bre os reajustes salariais e o Mundo do Trabalho abordao setor automobilístico, dando continuidade ao tema daedição anterior.

Conheça mais sobre a região do Vale do Rio Urucuia,veja as dicas de consumo consciente e viaje nas fotos daExpedição América Meridional no Ensaio Fotográfico.

Novos olhares

ÉTICA E CORRUPÇÃOPacto das empresas avança paraum movimento mundial

LUCRO x RIQUEZAAs empresas estão descobrindo aresponsabilidade como estratégia

CIDADES SUSTENTÁVEISO que muda a partir dosmovimentos da sociedade civil

PLANETA COMIDATópicos para uma alimentaçãosaudável

ENSAIO FOTOGRÁFICOCinco fotógrafos fazem umaexpedição pela AméricaMeridional

6

PrimeiroPLANO . ano 2 . no7 . set/out/nov 2007

por exemplo O planeta em movimento

O Instituto Algo-dão Social (IAS) lan-çou um selo paragarantir a origem so-cialmente responsá-vel do algodão pro-duzido no Mato Gros-so. O intuito é aten-der as exigências docomércio internacio-nal e mostrar aomercado interno queos produtores da re-gião não estão utili-zando mão-de-obrainfantil ou escrava. Aexpectativa é de quecerca de 250 produ-tores já util izem oselo na safra 2006/2007. Para receber o"Selo de Conformida-de Social" do IAS, oprodutor deverá pre-encher 95 requisitosque comprovam aadequação à legisla-ção trabalhista. Exi-gências que foramdefinidas pelo pró-prio Instituto e inclu-em segurança notrabalho, boas condi-ções de alojamento,formalização de con-tratos e liberdadesindical. A fiscaliza-ção é realizada porcinco equipes mó-veis do Instituto, quedesde 2005 tem per-corrido o estado eorientado produtoresa se adequarem àsnormas trabalhistas.

CONFORMIDADESOCIAL

bilhões de dóla-res é o valor esti-mado pelo relató-rio da ONU paraque até 2030 asemissões dos ga-ses voltem aos ní-veis atuais. O do-cumento foi deli-neado numa reu-nião em Vienacom mil delega-dos de 158 paísese o valor incluimedidas relativasa fornecimento deenergia, florestase transportes.

210

Força do Pactocontra Escravidão

arte significativa dariqueza gerada nopaís advém de mem-bros do Pacto Naci-

onal pela Erradicação do Traba-lho Escravo, que reúne empresasformalmente comprometidas emcortar relação com quem pratica ailegalidade. Os produtos e servi-ços comercializados por empre-sas que se comprometeram a res-tringir relações econômicas comescravagistas representaram 18%do Produto Interno Bruto (PIB)brasileiro em 2006 - cujo valor to-tal foi de aproximadamente US$ 1trilhão. Nesse período, o fatura-mento das companhias signatáriasdo Pacto Nacional pela Erradicaçãodo Trabalho Escravo ultrapassoua marca dos US$ 190 bilhões.

Das dez empresas com maiorvolume de vendas no ano passa-do, cinco são signatárias do Pac-to - Petrobras, BR Distribuidora,Ipiranga, Vale do Rio Doce e She-ll. A soma do lucro líquido dessascompanhias, que empregam apro-ximadamente 79 mil pessoas, atin-giu US$ 18,9 bilhões durante esseperíodo, enquanto que seus pa-trimônios somados chegaram àcasa dos US$ 68,6 bilhões.

Coordenado pelo InstitutoEthos, Organização Internacionaldo Trabalho (OIT) e pela ONGRepórter Brasil, o Pacto Nacionalpela Erradicação do Trabalho Es-cravo foi criado em 2005 e con-

Das dez empresas com maiorvolume de vendas no Brasil, cincosão signatárias do Pacto

grega atualmente mais de 100empresas nacionais e multina-cionais, entidades representati-vas e organizações da socieda-de civil.

O Instituto Observatório So-cial está fazendo atualmente ummonitoramento das ações decombate ao trabalho escravo im-plementadas pelos signatáriosdo Pacto, cujo resultado deveser apresentado ainda este ano.

P

Grande parte do trabalho escravoencontra-se nas carvoarias

7

PrimeiroPLANO . ano 2 . no7 . set/out/nov 2007

7

O “Amazônia, seu negócio” é, segundo o autor,Meindert Brouwer, “um convite a homens emulheres de negócios, investidores, políticose consumidores de todo o mundo paracontribuírem para a preservação da florestapor meio de investimentos e comércio,facilitando o acesso ao mercado e comprandoprodutos sustentáveis e certif icadosprovenientes da Amazônia”. Entre outrosassuntos, o livro mostra alguns projetos

apoiados pelo WWF-Brasil, voltados para comunidades quepraticam o manejo florestal sustentável.Brouwer é autor de artigos e reportagens sobredesenvolvimento sustentável e trabalhou no WWF-Holandaentre 1994 e 2004 como consultor na área de comunicação.

A editora aposta que a obra é a primeira geração deprodutos sustentáveis de qualidade da Amazônia prestes aingressar nos mercados europeu e americano. A granderevolução apresentada é lucrar preservando a natureza eapoiando as pessoas para que tenham uma vida melhor “tudoao mesmo tempo”.

www.amazonyourbusiness.nl

GUIA SUSTENTÁVEL

DA AMAZÔNIASERASA:

RelatórioAmbiental

O Serasa lançou o Relatóriode ResponsabilidadeAmbiental.O projeto visa medir aspráticas de gestão ambientaldas empresas brasileiras edestacar o comprometimentodessas organizações com asquestões relacionadasao meio ambiente.

O Relatório classifica aresponsabilidade ambientaldas empresas, em relação àsmelhores práticas, em cinconíveis: alto, bom, satisfatório,razoável e não alinhamento.São quatro critériosambientais: política e gestãoambiental, consumo racionalde recursos naturais, aspectose impactos ambientais econformidades legais.

Além das empresas privadas eestatais e os bancos, a grandebeneficiada com o Relatório deResponsabilidade Ambiental,inédito no país, é a sociedade,que ganha com a prática dasações sustentáveis de todasessas organizações.

Cartilha sobre direitos detrabalhadores com deficiênciaO Fórum Permanente de Apoio e Defesa dos

Direitos das Pessoas com Deficiência (Faped) e oSindicato dos Comerciários lançaram a Cartilha

Informativa dos Direitos do Trabalhador comDeficiência. A meta é fazer com que empresas,

trabalhadores e sindicatos aprendam como tratarpessoas com qualquer tipo de deficiência.

A iniciativa veio após a constatação de quemuitas empresas discriminavam pessoas com

deficiência, e assim, violavam os direitos básicospor falta de informação. A cartilha servirá como

instrumento para garantir esses direitos ediminuir as diferenças. "A gente tentou fazer a

cartilha de forma mais tranquila e menos técnicapara que o portador de deficiência consiga

entender de fato quais os direitos que ele tem",defendeu o coordenador do Faped, Michel Platini.

A cartilha está disponível na página

www.faped.org.

8

PrimeiroPLANO . ano 2 . no7 . set/out/nov 2007

Novas tendências para a bioe-nergia, a polêmica sobre o impactoambiental da energia nuclear, oexemplo brasileiro das hidrelétricase a propagação das energias eóli-ca e solar no Brasil são alguns dosassuntos a serem debatidos naprimeira edição da ECO POWERConference – Fórum Internacionalde Energia Renovável, que será re-alizado entre os dias 28 e 30 denovembro, em Florianópolis (SC).O mercado de energia limpa jámovimentou nos Estados UnidosUS$ 55 bilhões ano passado e aexpectativa é que em dez anos mo-vimente US$ 226 bilhões, segundodados da consultoria Clean Edge.

Os produtos que levam a assi-natura “carbon free” fazem parte deuma tendência mundial que serádiscutida no evento, que tambémirá tratar de financiamentos e inves-timentos na área. Segundo os or-ganizadores, a ECO POWER pre-tende provocar o interesse empre-sarial e gerar negócios com essenovo mercado. O assessor científi-co da conferência é o especialistaem energia, José Goldemberg, fí-sico e Professor Dr. do Instituto deEletrotécnica e Energia e ex-reitorda USP – Universidade de São Pau-lo. Já estão confirmadas as presen-ças ao evento da Ministra do MeioAmbiente, Marina Silva; do vice-pre-sidente do Painel Intergovernamen-tal de Mudanças Climáticas (IPCC),Mohan Munasinghe e do Prêmio No-bel da Paz, Muhammad Yunus, quefará a palestra de encerramento.

s dados do 3ºRelatório deNacional deAcompanhamento

dos Objetivos doDesenvolvimento do Milênio(ODM), divulgado no final deagosto pela Presidência daRepública, revelam que o Brasilavançou em relação ao Objetivode garantir a sustentabilidadeambiental, no cumprimentos demetas que tratam dedesmatamento, aquecimentoglobal e acesso a saneamentobásico e moradia. Odesmatamento da Amazôniacaiu, sendo que a taxa de perdaanual de floresta caiu de 29 milquilômetros quadrados em 1994para 13 em 2006. Mas orelatório aponta que, nos últimos20 anos, o desflorestamento foide 300 mil quilômetrosquadrados, isto significa umaárea maior que os estados doRio Grande do Sul e Sergipejuntos. Os números dosaneamento básico apontamavanço de 7,5% na quantidadede domicílios urbanos com

acesso à rede de águas einclusão de 3,5 milhões defamílias à rede de esgotosanitário.

Em relação a outro Objetivo,o combate ao HIV, à malária eoutras doenças, o Relatóriomostra que a proporção debrasileiros infectados pelo HIVficou estável entre 2000 e 2004,e permaneceu em 0,6% entrehomens e mulheres de 15 a 49anos. Até 2006, o governoregistrou 433.067 casos debrasileiros que desenvolveram adoença, de acordo com orelatório. O último dos oitoobjetivos é estabelecer umaparceria mundial para odesenvolvimento e entre asiniciativas relacionadas a essetema o Relatório destacaacordos entre o Brasil e paísesda América do Sul, Ásia eAfrica. De acordo com odocumento, o Brasil desenvolveainda ações diversas como açãocontra a fome, parceriasinternacionais além de projetos emissões.

ENERGIARENOVÁVEL Brasil avança

www.pnud.org.br

O

por exemplo

www.ecopowerbrasil.com.br

CC M

AR

IAN

A B

UR

ITY

CC M

AR

CU

SR

G

9

PrimeiroPLANO . ano 2 . no7 . set/out/nov 2007

10

PrimeiroPLANO . ano 2 . no7 . set/out/nov 2007

LUCRO X

CADA VEZ MAIS AS EMPRESAS INCORPORAM A RSENO SEU PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO. QUAIS OSMOTIVOS E QUAL O LUGAR DE DESTAQUE QUE ESSEASSUNTO OCUPA. A PRIMEIRO PLANO BUSCOU ES-TUDOS E PESQUISAS, OUVIU EMPRESAS E ONGSPARA APROFUNDAR O DEBATE SOBRE QUAL DEVESER O PAPEL DAS EMPRESAS NA SOCIEDADE.

CC RUI ORNELLAS

1111

PrimeiroPLANO . ano 2 . no7 . set/out/nov 2007

RIQUEZA

A tomada de decisão numaempresa exige cada vez maisconhecimento dos impactossocioambientais. O contráriopode gerar prejuízo para todos.

Os conceitos deResponsabilidade Social eSustentabilidade no mundoempresarial foram sendoalterados ao longo dos anos,renovando-se de acordo com asdemandas de uma sociedadecada vez mais globalizada e quedescobriu que é parteinteressada dos impactos sociaise ambientais negativos de toda

ação sobre o planeta. Diante docomércio global maiscompetitivo e da emergência dosconsumidores cada vez maisconscientes, o papel social dasempresas vem sendo modificadoe debatido.

Por objetivos comerciais, porconvicção ou para responder asdemandas da sociedade, muitasempresas já passaram a encararos temas como estratégicos,incorporando práticasresponsáveis na relação com opúblico interno e externo,cuidando do ambiente e

concretizando uma gestão maistransparente.

“Nenhuma empresa é 100%responsável em todos ossetores. Mas uma empresa ésocialmente responsável quandoela demonstra essainternalização do conceito,principalmente diante de erros”,afirma a professora Rosa MariaFischer, diretora do Centro deEmpreendedorismo Social eAdministração em Terceiro Setorda Fundação Instituto deAdministração da Universidadede São Paulo (USP).

Sara Caprario eOdilon Faccio

CC ALEXANDRE JANINI CC HAMILTON LIMA CC ANDERSON SUTHERLAND

12

PrimeiroPLANO . ano 2 . no7 . set/out/nov 2007

12

O professor e pesquisador nasáreas de Responsabilidade Corpo-rativa e Gerenciamento de Proje-tos da Fundação Dom Cabral,Cláudio Bruzzi Boechat, junto coma pesquisadora Roberta Paro, fi-zeram a pesquisa "Desafios paraa Sustentabilidade e o Planejamen-to Estratégico das Empresas noBrasil". Eles verificaram o grau deincorporação, ao planejamento es-tratégico, dos desafios para a cons-trução do desenvolvimento susten-tável no Brasil, e como as empre-sas percebem sua interface comos mesmos. O estudo, com dadosde 2006, revela que há uma signi-ficativa mobilização das empresasem torno dos temas responsabili-dade e sustentabilidade corporati-va. “A questão que se coloca ésaber em torno de que temas, en-tre os fundamentais ao desenvol-vimento sustentável do País, estáse pensando a estratégia do negó-cio e o reposicionamento estraté-gico da empresa, explorando-seoportunidades de inovação e evi-tando-se ações contraditórias”, es-crevem os pesquisadores.

Para Ciro Torres, coordenadorde Responsabilidade Social e Éti-ca nas Organizações do Ibase (Ins-tituto Brasileiro de Análises Soci-ais e Econômicas), a vontade deolhar a Responsabilidade Socialpara além da filantropia, marketingsocial e caridade já é umavanço.“Temos que verificar quenúmeros e dados podem apontareste desejo de mudança na práti-ca”, diz ele e complementa: “Asempresas têm incluído ferramen-tas da responsabilidade nos calen-dários anuais e levado em conta,cada vez mais, o social e o ambi-ental na hora de planejar e tomardecisões, contudo os avanços dodiscurso tem andado bem à frentedo que a prática”. Ele cita comoexemplo a questão das pessoasportadoras de deficiência: “Várias

LUCRO XRIQUEZA

empresas desenvolvem projetossociais para ajudar os deficientes,mas quando avaliamos o universodas empresas que publicam balan-ços sociais todos os anos, a maio-ria - mais de 70% - não cumpremas cotas para pessoas portadorasde deficiências em seus quadros”.

No 2° Estudo da BDO Trevi-san de Responsabilidade SocialCorporativa 2007, foram entrevis-tadas 113 empresas, das quais 73elaboram relatórios socioambien-tais e 71 publicam os mesmos. A

A SUSTENTABILIDADEPARA A ALCOA

"Para nós,Sustentabilidade é usar

nossos Valores paraconstruir sucesso

financeiro, excelênciaambiental e

responsabilidade socialatravés de parcerias, deforma a gerar benefícioslíquidos de longo prazo

para nossos funcionários,acionistas, clientes,

fornecedores ecomunidades nas quais

atuamos."

CC RICHARDKUESTERS

CC C

UR

TIS P

ALM

ER

Sede da Alcoa emPittsburg (EUA)

Bolsa de Valores

DIV

ULG

ÃO

TR

AC

TBE

L

Ciro Torres - IBASE

13

PrimeiroPLANO . ano 2 . no7 . set/out/nov 2007

BDO estima que no Brasil cercade mil empresas publiquem algonesse sentido. Os dados levanta-dos mostram que houve um cres-cimento de 196% no número pu-blicações de algum tipo de relató-rio socioambiental. Mas além decolocar no papel, há uma progres-são importante no sentido de vali-dar tais informações com auditori-as ou certificações. Muitas empre-sas seguem diretrizes de implan-tação de RSE, como os indicado-res do Ethos, e também aderem aos

mundo, durante o Fórum Econô-mico Mundial, em Davos, Suíça.Por aqui ela opera em seis esta-dos brasileiros - Pernambuco, Mi-nas Gerais, Maranhão, Pará, SãoPaulo e Santa Catarina - incluindouma nova mina de bauxita, que estásendo instalada em Juruti (PA).Além das usinas de Barra Grandee Machadinho, no Sul do Brasil, aAlcoa tem participação nos con-sórcios das hidrelétricas de Estrei-to, na divisa do Tocantins e Mara-nhão, e Serra do Facão, entre osestados de Goiás e Minas Gerais.

A Alcoa lida com os temas deresponsabilidade social como obs-táculos a serem vencidos. Maurí-cio Born, gerente Corporativo deSaúde, Segurança e Meio Ambi-ente, diz que o processo de produ-ção do alumínio apresenta à em-presa alguns desafios que vêm sen-do progressivamente superados.“Os principais desafios são a efi-ciência energética, o acesso a re-cursos naturais como a bauxita,por exemplo, a ecoeficiência, o in-cremento da reciclagem e a re-dução dos resíduos e dasemissões de perfluorcar-bonos, os gases queatuam no proces-so das mudan-ças climáti-c a s ” .

acordos internacionais por meio daparticipação formal em grupos dereferência no tema, como o PactoGlobal da ONU, Dow Jones Sus-tainability Index, Índice Social Eco-nômico (ISE) da Bovespa e o Glo-bal Reporting Initiative (GRI).

A líder mundial na produção etransformação do alumínio, a Al-coa Incorporation tem sua subsi-diária no Brasil, a Alcoa AlumínioS.A. Presente em 44 países, aempresa tem 123 mil funcionáriose foi nomeada, em 2007, pela ter-ceira vez consecutiva, uma dasempresas mais sustentáveis do

Começa limitado e com a idéia daCARIDADE (doações, voluntariado,

boas intenções e paternalismo).Neste período a empresa não tinha

responsabilidade diante doscidadãos.

Depois é FILANTROPIA. Surgem as fundaçõesindependentes com recursos privados vindos de

heranças. E o voluntariado passa a ser organizado.

LINHA DOTEMPO:TRAJETÓRIADOSCONCEITOS

CC ALVARO BAEZ

DIV

ULG

ÃO

TR

AC

TBE

L

Planejamento empresarial

Presidente da Tractebel

14

PrimeiroPLANO . ano 2 . no7 . set/out/nov 2007

LUCRO XRIQUEZA

Em 2001 foi criado um programade metas a serem cumpridas até oano de 2020. A Estratégia Globalde Meio Ambiente da Alcoa Inc.foi desenhada para que, nesse pe-ríodo, a corporação alcance o "es-tado ideal" em excelência ambien-tal, sucesso financeiro e responsa-bilidade social, consolidando a sus-tentabilidade. Para isso, o gerenteconta que as sete metas persegui-das são: eliminação de todos os des-perdícios, produtos ambientalmen-te corretos, integração do meioambiente com os processos pro-dutivos, ambiente de trabalho livrede acidentes, meio ambiente comovalor, fundamental, excelente re-putação e compromisso de divul-gar a performance medida pormeio de indicadores.

Em outra grande empresa, aTractebel Energia, a responsabili-dade social é entendida como umdos fatores fundamentais para osucesso e também como objeto damesma atenção com que tratam asdemais questões. O presidente daTractebel, Manoel Zaroni Torres,afirma que o “sistema de planeja-mento considera a necessidade deconciliar as três dimensões do de-senvolvimento sustentável: cresci-mento econômico, desenvolvimen-to social e ambiental”. As açõesde responsabilidade social são ti-das como importantes para integrara empresa às comunidades ondeatua, também trazendo benefíciosà imagem pública da companhia. Opresidente diz que participar da vidaeconômica e social destas comuni-dades, com respeito às leis e regula-mentações vigentes, é um dever de-corrente do envolvimento da empre-sa em cada localidade.

Na indústria química Basf a vi-são é de vantagem competitiva.“Em um mundo no qual a qualida-de de produtos, preços e serviçosestão cada vez mais similares, é

Política defornecedores e clientes

Um dos itens estratégicos para qualquer empresa é sua relação comos fornecedores e clientes, uma das partes interessadas (stakeholders)fundamentais nos processos de difusão dos conceitos de responsabili-dade social e desenvolvimento sustentável. A preocupação em comprarapenas de empresas social e ambientalmente responsáveis é uma to-mada de decisão que exige procedimentos maduros de toda a organiza-ção, incluindo auditorias e fiscalizações.

O gigante Wal-Mart intensificou a fiscalização dos seus fornecedorese no terceiro relatório público sobre os resultados das auditorias, a em-presa mostra a seriedade do trabalho assim como o longo trajeto ainda apercorrer. A boa notícia é que nas mais de oito mil fábricas auditadas, onúmero encontrado com violações de alto risco das normas (da própriaWal-Mart) diminuiu mais de 10%. A informação menos agradável é que oquadro geral ainda está longe do desejado. (veja quadro abaixo). A Wal-Mart atribui os avanços ao aumento de comunicação e treinamento e osdesafios à alta rotatividade dos fornecedores. Os problemas mais recor-rentes são os benefícios secundários dos trabalhadores, o excesso dehoras de trabalho e sua remuneração, assim como a saúde e segurançano trabalho, sobretudo as questões de prevenção de fogo e comitês detrabalhadores. Das regiões que a Wal-Mart usa, as três asiáticas são asmais problemáticas. É difícil ter uma idéia específica sobre o Brasil, já queo Relatório considera “as Américas” como uma região, incluindo EstadosUnidos, Canadá e países latino-americanos.

O corte de um fornecedor é um exemplo de alinhamento com os con-ceitos de responsabilidade social, assim como a relação de respeito comos clientes e consumidores. A Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), res-ponsável pela extração do minério de ferro que abastece as siderúrgicasdo Pólo Carajás, anunciou o corte no fornecimento para usinas que nãorespeitam as legislações ambientais e trabalhistas em vigor no Brasil. Deacordo com o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recur-sos Naturais Renováveis), o uso de carvão de desmatamentos ilegais éproblema generalizado na produção de ferro-gusa das siderúrgicas doPólo. A posição da Vale se baseia em fiscalizações do que apontarampassivos ambientais nessas duas empresas. Diz nota divulgada pelaempresa: "A CVRD reafirma seu compromisso com o desenvolvimentosustentável das regiões onde atua, bem como o respeito às legislaçõesem vigor“. A fabricação de ferro-gusa - matéria-prima para o aço - utilizagrandes quantidades carvão vegetal em seu processo produtivo. Levanta-mentos do próprio Ibama indicam que as siderúrgicas do Pólo Carajásconsomem aproximadamente sete milhões de metros cúbicos anuais doproduto, dos quais grande parte seria proveniente de desmatamentosilegais. "As empresas para as quais estaremos cortando o fornecimentode minério a partir do dia 1 de setembro são as mais reincidentes emtermos de infrações no Ibama, e também são as que têm demonstrado,na prática, menos atenção para a correção, por exemplo, da questão doreflorestamento", afirma José Carlos Martins, diretor-executivo de Ferro-sos da CVRD.

2005 2006

Número de fábricas auditadas 7.600 8.873

GRAU DE RISCO DAS VIOLAÇÕES

Verde – baixo 9,6% 5,4%

Amarelo – médio 51,6% 37,0%

Laranja – alto 53,1% 40,7%

Desaprovado 0,1% 2,1%

Excluído 0,2% 0,2%

Fonte: Wal-Mart 2006 Report on Ethical Sourcing, julho de 2007-08-24

15

PrimeiroPLANO . ano 2 . no7 . set/out/nov 2007

extremamente importante que asempresas criem vantagens compe-titivas não tangíveis como as rela-cionadas ao tema de Responsabi-lidade Social Corporativa”, diz AnaLucia Suzuki, gerente de respon-sabildade social da Basf, que com-pleta: “A Responsabilidade SocialCorporativa quebra o paradigma daempresa ‘geradora de lucro’ para‘geradora de riqueza’. Nesse sen-tido, gera riqueza para si, para asociedade, utiliza os recursos na-turais de forma a deixá-los paraas gerações futuras e contribuipara aumentar a riqueza do país”.E a empresa tem como parte daestratégia de atuação mundial agestão da sustentabilidade, que éa gestão integrada dos aspectos so-cial, econômico e ambiental.

Também com atuação mundi-al, a Petrobras criou o Comitê deGestão de Responsabilidade Soci-al e Ambiental, ligado ao Comitêde Negócios da Companhia, paradiscutir e deliberar sobre as açõescorporativas de responsabilidadesocial e ambiental.

Diz o gerente de Responsabili-dade Social, Luis Fernando Nery:“Através de um grupo formado pordoze gerentes executivos de dife-rentes áreas da companhia, alémda Ouvidoria Geral, de um consul-tor da Presidência e de diretoresdas subsidiárias, as ações sugeri-das pelo Comitê evidenciam a de-terminação de conduzir os negóci-os da Petrobras priorizando valo-res fundamentais nas áreas de di-reitos humanos, meio ambiente, re-lações trabalhistas, transparênciae combate à corrupção”.

As principais atribuições do Co-mitê consistem em selecionar in-dicadores e propor metas de de-sempenho da Companhia nos as-pectos de responsabilidade sociale ambiental, visando à utilização deindicadores nacionais e internaci-

onais de avaliação que permitamà Petrobras se situar em relação aoutras empresas do setor.

Nas pequenas e médias empre-sas é mais difícil levantar comoelas incorporam os conceitos deresponsabilidade social, governan-ça corporativa e desenvolvimentosustentável. Existem exemplos quesão reconhecidos pela internaliza-ção dos temas de maneira trans-versal, como a Fersol, indústria ecomércio de produtos agrícolas, ci-tada pelo coordenador de Respon-sabilidade Social e Ética nas Or-ganizações do Ibase, Ciro Torres.

O presidente da empresa, Mi-chael Haradom, diz que a respon-sabilidade social é algo estratégi-co para as ações de sustentabili-dade da empresa.”É um investi-mento permanente nas pessoascom o reconhecimento da diversi-dade e a inclusão dos setores his-toricamente excluídos da socie-dade - mulheres, afrodescen-dentes, pessoas maiores de45 anos, portadores denecessidades especi-ais e minorias”.

A empresapossui uma

política de cargos e salários comprincípios de inclusão e eqüidadepara garantir promoções justas etransparentes, além de investir naeducação, formação e reciclagemdos trabalhadores. Para Michael “Aconsolidação da idéia de que direi-tos não são benefícios ou privilé-gios nos faz garantir o equilíbrio depoder dentro e fora da empresa”.

As empresas estão descobrin-do o que a professora Rosa MariaFischer não cansa de dizer: “Mui-tas vezes se diz que sustentabili-dade reduz o lucro. Não reduz por-que é investimento. É importantepensar também qual lucro é o jus-to”. E quando se fala em lucro,vem à tona as questões de orça-mento. Há uma importante ligaçãoentre a definição dos investimen-tos e a participação ativa da altaadministração para que as açõesde responsabilidade social sejamverdadeiramente efetivas. No es-tudo da BDO Trevisan, 99 das em-presas responderam que a alta ad-ministração está envolvida com ostemas de responsabilidade e de-senvolvimento sustentável, istoé, 88% dos pesquisados.

Ciro Torres, do Ibase,diz que a questão deinvestimentos ecustos ainda éum proble-

Nos anos 80, há INVESTIMENTOSOCIAL. O foco passa a ser nosresultados; mobiliza recursos demaneiras mais amplas (dinheiro,

conhecimento, tecnologia, recursoshumanos etc). Há uma sinergia com o

negócio e inserção na comunidade.Não é mais uma atividade marginal.

CC EDUARDO PG

16

PrimeiroPLANO . ano 2 . no7 . set/out/nov 2007

LUCRO XRIQUEZA

16

A Alcoa no Brasil segue as diretrizes e estruturas de governança glo-bais da corporação. Possui profissionais responsáveis por implementare auditar políticas e ações nos âmbitos econômico, ambiental e social,reportando-se diretamente à matriz norte-americana. A Corporação obe-dece à legislação norte-americana Sarbanes-Oxley Act (SOX), que esta-belece regras rígidas de governança corporativa. Essa lei procura darmais transparência e confiabilidade aos resultados das empresas e con-fere independência aos órgãos de auditoria, além de prever severas pu-nições contra fraudes empresariais.

A Companhia mantém um Conselho Consultivo, formado por seismembros externos, que realiza reuniões trimestrais com o objetivo deavaliar resultados e desafios e aconselhar o Grupo Executivo da AlcoaAlumínio.

A Tractebel, como empresa de capital aberto, faz parte do novo merca-do da Bolsa de Valores de São Paulo, que exige um alto grau de transpa-rência e governança corporativa. “Consideramos essencial que nossosinvestidores tenhamsegurança na vera-cidade das informa-ções transmitidaspela Empresa, e acerteza de que seucapital está sendoaplicado da melhorforma possível. Porisso aplicamos mo-delos de alto nívelem matéria de gover-nança corporativa”,diz o presidente daempresa, que com-plementa: “Além danecessária aplica-ção das regras defi-nidas pelas autori-dades de controledos mercados finan-ceiros, zelamos paraque a eqüidade entre os acionistas seja sempre respeitada, e dedica-mos um esforço especial ao fornecimento de informações financeirasprecisas, transparentes, verdadeiras e em tempo hábil”.

A Basf administra o tema de sustentabilidade por meio de um comitêmultidisciplinar formado pela liderança de diferentes áreas de compe-tência da empresa (negócios, RH, Comunicação, produção, suprimen-tos). Esse grupo se reúne trimestralmente para tratar dos assuntos es-tratégicos relativos a sustentabilidade. Segundo Ana Suzuki, o grandediferencial é que as áreas de negócio e as áreas funcionais precisam seenvolver e implementar a sustentabilidade, já que a área de RSC naempresa não é a única responsável por tal objetivo: ”A opção pela estru-tura de governança corporativa é porque esse conceito fortalece e legiti-ma a implementação da sustentabilidade na organização. Estrategica-mente a consolidação do projeto de sustentabilidade no Brasil é o nossoresultado esperado mais importante. Consolidar o que denominamoscompetência individual de sustentabilidade em nossos colaboradores,além de iniciarmos a migração para a competência organizacional”.

GOVERNANÇA CORPORATIVA:MAIS TRANSPARÊNCIA

- mais de 83% dos pesquisados entendem quesuas empresas possuem claramentedefinidos e divulgados os níveis degovernança corporativa, o que demonstracada vez mais o processo de transparênciapelo qual passam as organizações nosúltimos anos.

- mais de 83% das empresas têm códigos deconduta e ética e implantados, o querepresenta um expressivo crescimento emrelação aos últimos anos.

- 87% dos pesquisados entendemResponsabilidade Social como prática degovernança.

ENTRE OS INDICADORES AVALIADOS NAPESQUISA DA BDO TREVISAN, DESTACAM-SEOS NÍVEIS DE GOVERNANÇA CORPORATIVA

PRATICADOS PELAS EMPRESAS.

VALORES DEFINIDOS E DIVULGADOS

www.bdotrevisan.com.br

ma, porque a responsabilidade so-cial ainda está no setor de RSE,RH, comunicação ou relações coma comunidade, portanto ainda dis-tante da produção/operação, do se-tor de compras, da cadeia produti-va e da discussão sobre os impac-tos sociais e ambientais dos bens,produtos e serviços das empresas.“Há avanços, mas ainda existe umlongo caminho para a RSE sair doorçamento do ‘departamento’ deRS ou de comunicação e seguircomo investimento, e muitas vezesampliação das despesas no curtoprazo, dentro das grande empre-sas”, analisa Torres, que prevê:“Nosso desafio para os próximosanos é colocar as organizações dasociedade - consumidores, ONGs,movimento ambiental e sindicatos- para cobrar essas mudanças naspráticas, utilizando diversas ferra-mentas e instrumentos que o pró-prio movimento pela RSE vem cri-ando nos últimos anos”

No trabalho desenvolvido pelaFundação Dom Cabral, a percep-

CC G

OLD

EN

BE

RG F

ON

SE

CA

17

PrimeiroPLANO . ano 2 . no7 . set/out/nov 2007

Os desafios mais incorporados, segundo estudo daFundação Dom Cabral, podem ser observados na tabela.

RANKING DO GRAU DE INCORPORAÇÃO DOS DESAFIOS DA

SUSTENTABILIDADE AO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

A partir da década de 90 o temaResponsabilidade Social passa a

fazer parte da estratégia dosnegócios, relacionando-se com as

demandas de todos os stakeholders

ção do impacto da empresa sobredeterminado desafio da sustentabi-lidade revelou-se o fator mais in-fluente na incorporação, ou não,deste mesmo desafio ao planeja-mento estratégico. Cláudio Boechate Roberta Paro dizem que, em ou-tras palavras, o que leva uma em-presa a mobilizar esforços para in-cluir o tema à estratégia é o fatode suas operações não serem per-cebidas como indiferentes. Entre-tanto, a grande maioria das empre-sas pesquisadas avalia seus impac-tos (tanto diretos quanto indiretos,tendo em mente toda a cadeia deprodução e de consumo) nos desa-fios como positivos (70,4%), e muitoraramente como negativos (3,8%).

ORÇAMENTOSA Alcoa define orçamentos pró-

prios para as áreas de saúde, se-gurança, meio ambiente e susten-tabilidade, além do investimento so-cial privado que têm orçamentosreservados para os projetos do ano.

Segundo Maurício Born, as dire-torias também desenvolvem inici-ativas de sustentabilidade dentrode seu escopo de trabalho e a ges-tão desse orçamento é feita dire-tamente por elas. Quanto ao en-volvimento da alta administração,o presidente é o sponsor (patroci-nador) do movimento de inserçãode sustentabilidade na organiza-ção.

Na Tractebel Energia cabe aodiretor administrativo coordenaras ações de responsabilidade so-cial. “Nossa linha de ação é bemdefinida, e deve estar de acor-do com os princípios es-tabelecidos em nosso‘Código de Ética’,que estabelece en-tre outros itens,

a solidariedade da empresa com ascomunidades que a recebem e orespeito à legislação vigente”, afir-ma o presidente Manoel ZaroniTorres. Na Basf foram investidosaproximadamente três milhõesde reais na área de res-ponsabilidade. Na Améri-ca do Sul há um ComitêMultidisciplinar for-mado pela alta lide-rança organizaci-onal e que éresponsável

18

PrimeiroPLANO . ano 2 . no7 . set/out/nov 2007

Um sistema in-tegrado de gestãopermitiu uma impor-tante evolução nosprocedimentos den-tro da Unimed deBlumenau (SC), queatende 11 cidadesda região. Com acertificação ISO9001, de qualidade,desde 2002, a em-presa do sistemaUnimed Brasil foibuscar a certificação ISO 16001, de responsabilidade social.Em abril deste ano foi reconhecida com a certificação atravésda ABNT (Associação Brasileira de Normas e Técnicas), umfato inédito entre as demais unidades da rede de planos desaúde do país.

O presidente da Unimed Blumenau, cirurgião Jauro Soares,diz que foi um salto na evolução dos procedimentos. “Tivemosmelhora imediata dos serviços das gerências médicas e umaperfeiçoamento nas normas que permitiu que até a aplicaçãoda ISO 9001 ficasse mais prática”, conta ele.

A orçamentação planejada e os projetos ligados à preven-ção vêm tornando a empresa mais sustentável. Uma das açõesé a criação de um grupo de atenção às mulheres. Detectou-seque 30% das associadas em determinados grupos de risconão faziam os exames preventivos no tempo certo. Comotodo diagnóstico precoce de qualquer doença evita cus-tos posteriores, a medida vem ajudando e servindo deexemplo para outras iniciativas. O planejamento re-alizado é de 10 anos e a cada semestre a empre-sa é auditada, além de ser re-certificada a cadatrês anos. O presidente Jauro Soares foi con-vidado a participar da reunião do Pacto Glo-bal, em Genebra (Suíça)para discutir a ISO26000, que reúne asnovas normas deresponsabilida-de social esustenta-b i l ida-

UNIMED: trabalho de sucesso

Recentemente, em função dos debates sobreaquecimento global, embora sejam assuntos

distintos, procura-se aproximar a RSE do temado desenvolvimento com sustentabilidade

pela governança do tema.Na Fersol não há um orçamen-

to específico para as ações de res-ponsabilidade social, porque a em-presa mantém o tema como estra-tégico em todos os setores, a co-meçar pelo presidente da empresaque é um militante das causas hu-manitárias e políticas. A implanta-ção de uma governança corporati-va se dá na maneira como a em-presa transparece as informaçõestrazidas pelos os diretores, geren-tes, coordenadores e lideres, numespaço chamado Quiosque Ágora,onde os funcionários têm o espaçopara saber mais sobre questões im-portantes da corporação. Existeuma associação de funcionários,sendo que eles recebem 10% doslucros e resultados aditados. “Espe-ramos que haja maior consciência eresponsabilidade do individuo e doconjunto em relação à empresa e osprodutos que ela produz e o impactodos mesmos junto ao mercado noqual é destinado”, prevê Michael.

A professora Rosa Maria Fis-cher questiona como é possível iralém depois de 20 anos de movi-mentos de responsabilidade social:“É preciso se perguntar o que fa-zer e não continuar apenas com di-agnósticos”, responde ela. E o fa-zer significa tentar ao máximo eli-minar os aspectos negativos decada atividade e permitir que to-dos tenham acesso ao desenvolvi-mento econômico e social. “En-quanto existirem muitos ricos e mi-lhares e milhares de pobres, nósnão teremos progresso ou desen-volvimento e não podemos pensarem unir o econômico e o ambien-tal”, declara Fischer. Ela tambémconsidera um mito a visão de quea participação da sociedade civilnão contribui para o desenvolvimen-to e gera caos político. “O princi-pal papel do cidadão é controlar odesempenho do poder público”,conclui ela.

19

PrimeiroPLANO . ano 2 . no7 . set/out/nov 2007

Coordenadora doProjeto de Combate ao

Trabalho Escravoda OIT no Brasil

PATRÍCIA AUDI

DIV

ULG

ÃO

OIT

Opinião

O Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo, iniciati-va da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Instituto Ethos eONG Repórter Brasil, completou dois anos em 19 de maio. O pacto éo principal instrumento de combate ao trabalho escravo do país. Gra-ças a ele, o Brasil é hoje conhecido internacionalmente como o me-lhor exemplo nesse campo. Isso demonstra que o envolvimento dosetor privado e a restrição comercial a fornecedores que utilizam mão-de-obra escrava na produção são fundamentais. Gosto de deixar cla-ro que, quando dizemos trabalho escravo, estamos nos referindo aocerceamento da liberdade de indivíduos. Não estamos falando deempregadores que não cumprem o regime da CLT. Estamos nos re-ferindo a pessoas que são mantidas como escravas em fazendas dis-tantes dos centros urbanos e que, devido a esse isolamento, não con-seguem escapar. Muitas vezes, há guardas armados que fazem ame-aça e chegam a matar aqueles que tentam fugir. Essa é a situaçãoque ainda persiste no Brasil e que estamos combatendo. E o setorprivado tem demonstrado muito interesse em separar o joio do trigo,pois aqueles que cometem esse crime comprometem os empresáriosque trabalham com seriedade e geram bons empregos.

De qualquer forma, já temos alguns exemplos de boas práticas decombate ao trabalho escravo. A Associação das Siderúrgicas de Ca-rajás (Asica) criou o Instituto Carvão Cidadão (ICC) com o objetivode fiscalizar sua cadeia de valores. Desde então, mais de 300 forne-cedores de carvão foram descredenciados e impedidos de vender aessas siderúrgicas. Outro bom exemplo é o da rede de supermerca-dos Wal-Mart, que pediu a todos os seus fornecedores para aderir aopacto e os alertou sobre a possibilidade de cortar relações comerciaiscom empresas que não estivessem comprometidas com o combateao trabalho escravo. A Companhia de Tecidos Norte de Minas (Cote-minas), um dos maiores compradores de algodão do país, tambémtem uma prática muito interessante. Ela exige de todos os seus forne-cedores nota fiscal de origem do produto. Assim, por mais intermedi-ários que haja na cadeia do algodão, a Coteminas tem informaçõessobre as fazendas produtoras da matéria-prima que utiliza.

Mas ainda é preciso avançar muito se quisermos tirar da econo-mia brasileira a marca do trabalho escravo. As empresas que aderi-ram ao pacto precisam prestar contas do que estão fazendo e do quepretendem fazer para acabar com esta chaga.

Trabalho Escravo eResponsabilidadeSocial Empresarial

20

PrimeiroPLANO . ano 2 . no7 . set/out/nov 2007

Qualidade na vidaMUNDO DO TRABALHO

epois deuma constantebaixa no núme-ro de empregosno setor auto-

mobilístico no Brasil nas últi-mas décadas, a aposta agoraé no aumento de contrataçõespara os próximos anos. Este éo prognóstico do Diretor de Re-lações Internacionais da Con-federação Nacional dos Meta-lúrgicos (CNM), Valter Sanches.Seguindo a tendência de au-mento da produção, o númerode empregos deve subir tantonas montadoras quanto nasempresas fornecedoras de au-topeças.

Para 2007, a tendência éuma explosão da produção,segundo o sindicalista, refletin-do nas duas pontas da produ-ção, montadoras e autopeças,seguindo o crescimento já apre-sentado em 2006. No ano pas-sado, as montadoras produzi-ram cerca de 2,5 milhões deveículos, enquanto que a previ-são para este ano é ultrapas-sar a casa das 3 milhões deunidades. Conforme Sanches,

DUASREALIDADES

Pesquisa de Empre-go e Desemprego,realizada pelo Diee-se em duas regiõesdo país no interior dePernambuco (Carua-ru e entorno) e no RioGrande do Sul (Pelo-tas e entorno), mos-trou duas realidadesdistintas. No Nordes-te, a taxa de desem-prego é mais baixa(13,7%) e o rendi-mento médio corres-ponde a R$ 485,00.No Sul, a taxa de de-semprego é maiselevada (20,8%) e orendimento médiochega a R$ 768.

1,22milhão foi o nú-mero de empregoscriados com car-teira assinada dejaneiro a julho de2007. O resultadoé 13% superior aodo mesmo períodode 2006 e pratica-mente igual ao nú-mero do ano pas-sado inteiro. Osdados são do Mi-nistério do Tra-balho e Emprego.

Empregos nasmontadoras efornecedores

Aumento nasvendas internas eexportações maispromissoras têmgeradocrescimento nascontratações

as contratações devem seguiresta tendência. O Diretor suge-re que apenas nas montado-ras sejam abertos cerca de 5mil postos de trabalho e aindamais nas autopeças.

Segundo dados da Anfavea(Associação dos Fabricantesde Veículos Automotores), o for-te do setor está nas vendas in-ternas. As vendas internas so-maram, de janeiro a julho des-te ano, 1,3 milhão de unidades,26,6% acima do mesmo perío-do de 2006. A produção cres-ceu 8,4% no período, alcançan-do 1,65 milhão de unidades. Eo faturamento com as exporta-ções cresceu 3,1%, somandoUS$ 7,1 bilhões.

D

21

PrimeiroPLANO . ano 2 . no7 . set/out/nov 2007

O cenário favorável gera maisempregos. Em julho o setor empre-gou 1,6 mil novos trabalhadores,somente nas montadoras. “Comoneste número entram apenas ascontratações efetivadas, deixandode fora as anunciadas, a tendênciaé de que cresça ainda mais nos pró-ximos meses, uma vez que outrasmontadoras já anunciaram maiscontratações”, avaliou Jackson Sch-neider, Presidente da Anfavea. Noinício de agosto a PSA Peugeot-Ci-troën anunciou a criação do terceiroturno em Porto Real (RJ), que de-mandará 700 novos funcionários.Volkswagen e Fiat também estãocontratando. Hoje as montadorasempregam diretamente 114,5 milfuncionários.

A queda nas contratações nasfábricas de automóveis a partir dosanos 90, se deveu à horizontaliza-ção da produção. Deixou de ser umsetor onde os fabricantes produzi-am todo o conjunto do carro paradividir a cadeia produtiva com o se-tor de autopeças. A indústria de au-tomóveis se espalhou de tal manei-ra que atualmente centenas de pe-quenas e grandes fábricas de com-

ponentes são responsáveis pelaconstituição de um automóvel.

Com aumento do investimentoem tecnologia, as montadoras au-mentaram a produção de veículos ereduziram o número de trabalhado-res diretos nas suas fábricas. Só nafabricação de automóveis, as mon-tadoras chegaram a manter 133 milempregados nos anos 1980. De lápra cá os números do emprego di-reto foram sendo reduzidos até che-gar na faixa dos 100 mil. A partir de1998, os números baixaram aospatamares de 1973, com um totalde 94.206 empregados diretos nosetor de autoveículos (automóveis,comerciais leves, caminhões e ôni-bus). Enquanto que o faturamentoaumentou no mesmo período. Nosanos 80, as montadoras faturaramna casa dos 12 milhões de dólaresao ano, dobrando este valor nosanos 90 e chegando em 2005 comfaturamento em cerca de 29 mi-lhões de dólares, considerando au-toveículos.

Mas esta mudança do setor nãosignificou necessariamente desem-prego, embora tenha resultado emredução de salários. “Os empregos

migraram para outros setores comoas autopeças. Para as montadoras,era uma opção para lidar melhorcom as oscilações do mercado deconsumo de carros e para reduzircustos”, avalia Sanches. A reduçãode salários ficou por conta das inú-meras empresas de autopeças que,pressionadas pelas montadoras aoferecer um preço competitivo, cor-tam gastos também com saláriospara reduzir custos e preço.

O desafio dos sindicatos é secapacitar para lidar com a mudançano perfil da indústria e para assu-mir seu papel como um dos atoresprincipais nesse cenário de nego-ciação internacional. “O sindicatonão pode mais se importar só comas suas fronteiras, com a sua cate-goria. Não adianta se preocuparapenas com a campanha salarialuma vez por ano. Mas deve buscarredes nas empresas e nas diferen-tes plantas”, afirma Sanches. O de-safio também é, segundo o Diretor, abusca pelo contrato coletivo nacionalpara evitar as grandes diferenças queainda existem entre as regiões e aguerra fiscal entre os estados.

Cenário favorável gera mais emprego Muitas vagas surgiram no setor de autopeças

DIV

ULG

ÃO

WO

LKS

VA

GE

N

22

PrimeiroPLANO . ano 2 . no7 . set/out/nov 2007

Diretor Técnicodo DIEESE

CLEMENTE GANZ

As relações entre o desempenho do mercado de trabalho e o financiamento dosistema de proteção social brasileiro são um dos temas em pauta no Fórum Nacionalda Previdência Social, instância tripartite ligada ao Ministério da Previdência Socialcom o objetivo de promover o debate sobre reformas no sistema previdenciário.

A Previdência integra o sistema de Seguridade Social e as ações promotoras desaúde e assistência social. Visa garantir a renda dos trabalhadores em idade avança-da, em situações de doença, invalidez, gravidez ou desemprego involuntário, e a deseus dependentes, no caso de morte do segurado, reclusão (se o rendimento forbaixo), além do salário família. As fontes de financiamento podem ser vir das empre-sas, dos trabalhadores e demais segurados, das loterias e de impostos sobre impor-tações.

A conformação das origens do custeamento do sistema parece ser desconhecidapor certas análises sobre a questão previdenciária, que fazem recomendações demedidas de ajuste ou reforma, devido ao “alto déficit” do sistema.

Sem levar em conta o orçamento superavitário da Seguridade Social, para sediscutir a Previdência Social e sua relação com o mercado de trabalho é precisoobservar a heterogeneidade das relações de trabalho no país. Mais especificamente,em relação ao financiamento potencial, dois aspectos têm que ser considerados:

· a composição heterogênea das posições na ocupação, uma vezque, em algumas formas de inserção, a taxa de não associaçãoao sistema é mais elevada e;

· as remunerações, que são a base de incidência das contribuições.

Nos últimos anos, houve elevação do assalariamento com carteira de trabalhoassinada, resultado do crescimento econômico, porém, ainda é grande a parcela dosque trabalham fora do contrato formal de trabalho e que, portanto, não contribuempara a Previdência, mas são potenciais contribuintes. Em relação às remunerações,apesar da retomada do crescimento econômico, a renda do trabalho, que sofreuredução nos últimos anos, ainda não mostrou recuperação significativa.

Também faltam regras que contemplem, ao mesmo tempo, desde a situação dequem começa a trabalhar muito jovem, em condições precárias ou de insalubridade,até o caso do trabalhador com nível educacional superior, acesso a serviços desaúde privados e condições e expectativa de vida semelhantes à existente em paísescentrais.

Na discussão de ajustes na Previdência, é necessário evitar que o ônus daspropostas incida sobre os trabalhadores, já responsáveis por sua sustentação. An-tes de mudar as regras do sistema, são necessárias medidas prévias para promover aefetivação de ações já previstas, como combate à evasão e à sonegação; agilizaçãoda cobrança dos débitos; análise e revisão das isenções; promoção da inclusão dosque não contribuem e exame de esquemas alternativos de financiamento que recom-binem a composição das receitas incidentes sobre a folha de pagamento e de outrasfontes.

Aos trabalhadores brasileiros interessa um sistema previdenciário que incorporeas dimensões de solidariedade social e de proteção coletiva, favoreça a superação dadesigualdade econômica e social no país e seja sólido e sustentável do ponto devista do financiamento econômico e do bem-estar social.

O FINANCIAMENTO DAPREVIDÊNCIA SOCIAL

DIV

ULG

ÃO D

IEE

SE

23

PrimeiroPLANO . ano 2 . no7 . set/out/nov 2007

24

PrimeiroPLANO . ano 2 . no7 . set/out/nov 2007

24

COMOVIVEMOS

COMOVIVEMOS

PrimeiroPLANO . ano 2 . no7 . set/out/nov 2007

As cidades mudam, asfamílias crescem, osrecursos são utilizadose os lugares tornam-semais difíceis deorganizar. Até quando?O que os cidadãos, osmovimentos sociais eos governos estãofazendo para mudar asrealidades dos grandescentros urbanos? Háavanços para frear aacelerada desordem eplanejar mais. E essesavanços estão vindo daorganização civil.

25

PrimeiroPLANO . ano 2 . no7 . set/out/nov 2007

grande cidade é o raio-x deum país, concentrando seusmaiores índices de cresci-mento e também suas difi-culdades de desenvolvi-

mento. Na literatura e no cinema, écenário de intrigas, de histórias fan-tásticas, de perseguições e lugarpara retratar a vida de personagensque marcaram época e duraram sé-culos. É também tema direto de pro-duções de arte, que fazem dela per-sonagem, que imaginam como de-veria ser ou como tudo será caso oritmo e modelo de desenvolvimentoeconômico e social da humanidadecontinuem na mesma velocidade eno mesmo rumo. Muito se imaginoupara o bem ou para o mal através dacriação ficcional das cidades. Na vidareal, é tema que vem cada vez maispreocupando o poder público, a so-ciedade organizada e os habitantesurbanos, onde concentram-se atu-almente os principais problemas davida moderna como moradia, distri-buição de água, transporte, educa-ção, saúde. É o lugar onde muitas

pessoas trabalham, fazem negóci-os, disputam interesses em torno deprojetos e modelos de sociedade. Acidade se tornou sujeito e objeto demovimentos que pensam como mo-dificá-la, recuperá-la e torná-la umespaço sustentável para a socieda-de. A mudança parece vir de uma as-sociação, através da participação e dapressão, entre a sociedade civil e opoder público. A cidade como tema vi-rou principalmente necessidade já quetem concentrado grandes populaçõese no futuro próximo deve se tornar o larda maior parte da população mundial.

Alguns dos nortes e das neces-sidades das cidades podem ser su-geridos por esforços de pesquisacomo o Relatório da ONU, que reve-la dados sobre o crescimento dascidades e indica alternativas (vejabox na página 26). Mas o diferencialé a mobilização da sociedade civilque passou a ter a cidade como pre-ocupação, como ponto em comumentre milhares de habitantes do mes-mo espaço urbano e resolveu se or-ganizar para fiscalizar e sugerir polí-

A ticas e determinadas posturas aosgovernantes. “A força da sociedadecivil é o poder do coletivo e o coletivose viabiliza melhor na cidade. A im-portância da cidade é enorme pormanter mais da metade da popula-ção e por conectar nela grupos dife-rentes”, afirma Oded Grajew, presi-dente do Conselho Deliberativo doInstituto Ethos e participante do Mo-vimento Nossa São Paulo: Outra Ci-dade. Grajew está atuando no movi-mento criado este ano na cidade deSão Paulo para pensar o crescimen-to da metrópole e melhorar as con-dições de vida de seus habitantes.Segundo ele, a organização civil es-pecialmente numa grande cidadeserve como “efeito demonstração”para outras cidades de qualquer por-te. A conclusão do movimento é queo que pode ser feito em São Paulo,reconhecendo a sua complexidadee as dificuldades de se alterar situa-ções e eliminar problemas que en-volvem sempre milhares de pesso-as pode também ser realizado emcidades médias e pequenas.

COMOQUEREMOSVIVER

COMOQUEREMOSVIVER

PrimeiroPLANO . ano 2 . no7 . set/out/nov 2007

25

Vanessa Pedro

26

PrimeiroPLANO . ano 2 . no7 . set/out/nov 2007

Mas de que forma pode ser feitaessa intervenção civil na cidade demodo a não conduzir à substituiçãoou redução da importância do poderpúblico? Para os fundadores doMovimento Nossa São Paulo, a or-ganização civil é uma forma eficien-te e participativa de controle social.“O poder público é fundamental, re-presentante da sociedade com ummandato determinado. A questão éque não há formas de controle doseu desempenho. Movimentoscomo o Nossa São Paulo, BogotáComo Vamos?(leia mais na páginaX) e outros de diferentes cidadestêm o objetivo de exigir o cumprimen-to de metas dos governantes e nãoaceitar mais promessas feitas deforma genérica, sem base em indi-cadores determinados”, explica Gra-jew. O objetivo do Nossa São Pauloeste ano é realizar um levantamentode diversos indicadores sociais,econômicos e ambientais relaciona-

O relatório das Nações Unidas sobre o cresci-mento das cidades, lançado em junho deste ano,aponta que a partir de 2008 mais da metade dos atu-ais 6,7 bilhões de habitantes do planeta viverá nascidades. Em uma geração, segundo a pesquisa, apopulação dos países em desenvolvimento deveduplicar, em especial dos centros urbanos da Áfricae da Ásia. No estudo Situação da População Mundial2007: Desencadeando o Potencial do CrescimentoUrbano, o Fundo de População das Nações Unidas(UNFPA) afirma ainda que, ao longo dos próximos 30anos, a população das cidades africanas e asiáticasaumentará em 1,7 bilhão de pessoas — mais do queas populações da China e dos Estados Unidos jun-tas. A previsão da ONU é que, globalmente, todo ocrescimento futuro da população ocorrerá nas cida-des, quase todo na Ásia, na África e na América La-tina. Na Ásia e na África, isso sinaliza uma mudançadecisiva do crescimento rural para o urbano, alte-rando um equilíbrio que perdurou por milênios.

O dado geral é que até 2030, a população urbanaaumentará para 5 bilhões, ou 60% da população domundo. “O destino das cidades da África, da Ásia ede outras regiões moldará nosso futuro comum”, afir-ma a Diretora Executiva do UNFPA, Thoraya AhmedObaid. Mas, além dos dados reveladores sobre asáreas urbanas, a novidade do levantamento da ONUé que aponta para um investimento nas cidades paraacomodem as populações que continuarão migran-do e não para frear o crescimento dessas concen-trações como era comum perceber no discursos dos

dos à cidade e, com isso, poder co-brar atuação pública em relação aeles. Serão levantadas informaçõessobre índice de poluição, ciclovias,congestionamento, mortes por aci-dentes, tempo de deslocamentodos moradores, transporte individu-al, quantidade de semáforos e fai-xas de pedestre, nível de doençasrespiratórias e outros dados relaci-onados ao desempenho da cidade.Essas informações serão divulga-das à sociedade, que passa a terreferências para exigir políticas pú-blicas, e também servem de basepara negociações e sugestões dosmovimentos diretamente aos gover-nantes. Para o Secretário do MeioAmbiente da Prefeitura de São Pau-lo, Eduardo Jorge, o desenvolvimen-to sustentável é uma utopia moder-na que se articula entre o econômi-co, o social e o ambiental e a cria-ção de movimentos civis não subs-titui o Estado, mas, ao contrário, ar-

ticula diferentesforças para pres-sioná-lo a agir etrabalhar comele. “É muito po-sitivo porque pen-sa globalmente oplanejamentourbano, asso-ciando pes-soas e enti-dades de di-ferentes ori-gens”, avalia osecretário.

A cidade também foi o local paraexperiências bem-sucedidas departicipação popular como o Orça-mento Participativo, propostas pelaprópria administração pública pararesolver problemas urbanos e con-duzir o município conforme as prio-ridades da população. O Orçamen-to Participativo é fruto da cidade etem sido mais eficiente nos municí-

ONU e o crescimento das cidadesgovernos e das instituições que tratam do tema.

O crescimento das populações das cidades é ine-vitável, segundo o relatório, e pode ser consideradoum desenvolvimento positivo. A avaliação é que ne-nhum país na era industrial conseguiu atingir um cres-cimento econômico significativo sem a urbanização.

O alerta é que a maior parte desse crescimentoserá de pobres. Mas indica também que essa popu-lação deve fazer parte das soluções e não ser consi-derada parte do problema. De acordo com o relató-rio, as prefeituras e os planejadores urbanos devempriorizar o atendimento das necessidades dehabitação dos pobres urbanos. Devemoferecer a habitação legalizada e segu-ra com infra-estrutura básica, incluindoabastecimento de energia, água, sane-amento, educação e saúde. Para o Fun-do de População das Nações Unidas, amaior parte do crescimento urbanoresulta do crescimento vegetati-vo e não da migração. Para re-duzir o ritmo do crescimen-to, os formuladores de políti-cas deveriam apoiar inter-venções como iniciativas deredução da pobreza, inves-timento no empoderamentodas mulheres, incluindo ser-viços de saúde reprodutivae de planejamento familiar.

27

PrimeiroPLANO . ano 2 . no7 . set/out/nov 2007

pios desde os anos 80. A política ga-rante não apenas que a populaçãoofereça sugestões ou pressione aadministração pública, mas que efe-tivamente defina como será utiliza-do um percentual do orçamento mu-nicipal. Para surpresa de muitos ad-ministradores que priorizam apenasasfaltamento de ruas e construlãode viadutos, o resultado da consultapopular é que há uma inversão deprioridades, colocando em primeiroplano projetos sociais e de infra-es-trutura das cidades como sanea-mento, educação e saúde. No RioGrande do Sul, depois de ser utiliza-do por vários mandatos na prefeitu-ra de Porto Alegre desde 1989, o Or-çamento Participativo chegou tam-bém ao Governo do Estado dez anosdepois. Do orçamento geral de R$20,7 bilhões para este ano, estãoprevistos R$ 303 milhões para de-mandas da consulta popular. O mo-delo agora está sendo discutido pelonovo governo trabalhista na Inglater-ra para ser implantados nas cida-des do Reino Unido. A ministra deComunidades e Governos Locais,Hazel Blears, anunciou um projeto

piloto para ser implantado inicial-mente em dez áreas. “Os morado-res locais conhecem as necessida-des de sua área melhor do que qual-quer um”, afirmou a ministra.

A cidade de Bogotá, onde o mo-vimento Nossa São Paulo tambémbuscou inspiração, é um exemplo demudança de qualidade de vida combase na organização popular e nocontrole da atuação do poder públi-co com base em índices precisos elevantamentos dos principais pro-blemas da capital da Colômbia. Há15 anos, a imagem de Bogotá erade violência, bombas e corrupção,conforme pesquisa realizada nosprimórdios da criação do movimen-to Bogotá Como Vamos?. A principalresposta dos habitantes era de queBogotá era uma “cidade de nin-guém”. Em 1998, 55% dos bogota-nos eram pessimistas em relaçãoà cidade. Hoje, 58% acreditam queBogotá está num bom caminho. Naépoca, cerca de 42% das pessoasdos sete milhões de habitantes nãopagavam impostos. Na campanhaeleitoral de 1997, o movimento co-meçou a ser articulado para acabar

com a falta de comprometimentodos candidatos e dos administrado-res eleitos anteriormente com umplano de metas objetivo e viável, quealterasse as condições de vida dacidade para que pudesse ser consi-derada finalmente uma cidade dosbogotanos.

O projeto, que é fruto de uma par-ceria institucional entre o jornal ElTiempo, a Fundação Corona e a Câ-mara de Comércio de Bogotá, seapoiou na Reforma Constitucionalde 1991 que havia instituído o votoprogramático e a necessidade daapresentação pelos candidatos deum plano de governo com metas eprazos. “Os objetivos de BogotáComo Vamos? são gerar um impactopositivo sobre a qualidade de vidana medida em que constrói conhe-cimento sobre a cidade. Assim, seconfigura como um espaço para aanálise e o debate buscando umefeito sobre a administração Públi-ca, a cidadania em geral e os gru-pos de especialistas e pesquisado-res que trabalham pela cidade”, afir-mam os organizadores. Carlos Cór-doba Martinez, coordenador do mo-

Paralelo aos movimentos que se ar-ticulam na sociedade civil, os adminis-tradores já estão buscando projetos quepensam as áreas urbanas e construamcidades mais sustentáveis. Em São Pau-lo há alguns projetos que caminham nosentido de melhorar a qualidade de vidada cidade. Os movimentos como NossaSão Paulo afirmam que não são criadospara acompanhar projetos, mas paraacompanhar mudanças nos índices dequalidade de vida da população e da ci-dade, sugerir problemas e saídas e co-brar atitude do poder públiço através deum plano de metas objetivo e realizável.Um dos projetos em fase de implantaçãona cidade de São Paulo, ligado à água, éo dos Parques Lineares. Os parques sãoaproveitamentos de córregos, mapeadospela Secretaria do Verde e Meio Ambien-te, para que voltem a conviver com acidade e a ajudem a escoar água da chu-va, sejam espaços de lazer e de preser-vação.

O secretário do Verde e Meio Ambi-ente de São Paulo, Eduardo Jorge, lem-

bra que no início das cidades, as popula-ções procuravam lugares onde haviaágua. “Com o modelo de desenvolvimen-to do século 20, as cidades se afastaramda água e a cobriram com concreto. Nãohá quase uma avenida em São Paulo quenão passe sobre um rio”, afirma o Se-cretário. Os córregos que não estão co-bertos, conforme o próprio secretário,muitas vezes estão poluídos, causandona própria população que convive ao ladodeste potencial de água o desejo de vereste manancial coberto o mais rápidopossível ao invês de vê-lo a céu aberto.O córrego nas cidades virou esgoto. Aárea deve ser valorizada, limpa, arbori-zada e até ampliada com despoluição daságuas. Para este ano o projeto recebeuorçamento de R$ 30 milhões para que 20áreas sejam trabalhadas. Serão áreasverdes no meio da cidade, em muitos mo-mentos sendo expandidas além do espa-ço em que se encontram hoje já que mui-tos córregos estão oprimidos por cons-truções irregulares e outras obras. “Apolítica de Meio Ambiente só funciona se

interagir com as outras secretarias, comas ONGs, a sociedade civil, entidades defora do poder público. Porque dependede uma mudança cultural e não apenasde orçamentos e decretos”, concluíu osecretário.

PARQUES LINEARES

28

PrimeiroPLANO . ano 2 . no7 . set/out/nov 2007

No domingo, 15 de julho, os parisienses montarampela primeira vez as “Vélib” (contração de “bicicletas li-vres” em francês). Mais de 10.000 bicicletas dependura-das em 750 postos espalhados pela capital agora estão àdisposição do público. Este projeto que disponibiliza bi-cicletas para uso grátis na primeira meia hora e com pe-queno custo que varia de acordo com o tempo desejado.Pelo uso de uma hora é cobrado 1 euro, com validade deuma semana custa 5 euros epara o uso em 12 meses o usu-ário gasta 29 euros. A expecta-tiva da Prefeitura é modificar afisionomia da cidade e trans-formar a vida de seus habitan-tes, aproveitando um hábitoque já existe em Paris. O planoé aumentar o número de bici-cletas até o final do ano, che-gando a 20.000 “Vélib” e umponto de aluguel a cada 300metros.

Paris não é a única cidadefrancesa a apostar neste modode transporte. Depois de Lyon,

vimento, conta que nas últimas qua-tro administrações houve conside-rável investimento social, especial-mente em educação e saúde, já quea principal necessidade levantadapelos indicadores do Bogotá ComoVamos? era lutar contra a pobreza.“Hoje Bogotá investe 75% do orça-mento em inversão social e o resul-tado é que atualmente 96,9% doshabitantes da capital pagam impos-to. Além disso, foi criado um impos-to extra voluntário de 10% que a pes-soa que opta por pagar e pode es-colher em que área será investido”,avalia.

A cada ano as administraçõespúblicas têm levado mais em contaas sugestões e avaliações do movi-mento, que anualmente tambémapresenta dados sobre a cidade eavalia como o governo municipal temse saído na resolução dos proble-mas. Como as informações do mo-vimento atualmente são bastante di-vulgadas, inclusive porque tem apresença de um principal veículo decomunicação na sua formação, a po-pulação passa a utilizar esses da-dos para cobrar atuação das admi-nistrações e dos candidatos duran-

te as eleições. Além da própria ad-ministração se servir desses dadose se alimentar das sugestões e dapressão. “As principais conquistasdo projeto estão relacionados comseu impacto sobre a administraçãomunicipal, a possibilidade de se termelhores informações, mais perti-nentes e periódicas, e que se relaci-ona a resultados. Além disso, o go-verno local está se realimentandodas avaliações anuais para a toma-da de decisões e a avaliação da pró-pria gestão”, avaliam.

O movimento tem expressamen-te duas estratégias centraispara chegar a seus objeti-vos de levar a cida-de a ser discutidapela população ede influenciar nas ati-tudes da administração pú-blica. A primeira é a avaliação, quetem como eixo central o conceito dequalidade de vida e inclui estudossobre temas como pobreza e eqüi-dade, finanças públicas, educação,saúde, serviços públicos, mobilida-de viária, espaço público, meio am-biente, responsabilidade social, se-gurança, gestão pública e desenvol-

vimento econômico; e a segunda épriorizar a divulgação dos resultadosdos exercícios de análise e avalia-ção. Os índices são divididos em “in-dicadores técnicos de resultados” e“indicadores de percepção”. Os ín-dices técnicos são os que tratamdos impactos da gestão, observan-do a cobertura e a qualidade dos ser-viços e bens básicos.

Isto significa queo Movimento Bogotá Como Vamos?não avalia em relação à mobilidadeviária simplesmente o número dequilômetros construídos mas tam-bém o tempo médio de deslocamen-to no sistema público de transporte.

Bicicletas públicas de ParisAix-en-Provence e Orléans também inauguraram nesteverão o seu sistema de bicicletas para livre utilização.No outono, será a vez de Marselha, Mulhouse e Besan-çon. O contágio vem se alastrando pela Europaafora.Algumas ex- periências pioneiras abri-ram o caminho, tais como aquela re-alizada em Amsterdã em1968 com uma frota de bici-

cletas colocadagratuitamente àdisposição nasruas da cidade.Mas os roubos e

as deterioraçõesacabaram encer-

rando o projeto. Masos projetos atuais tem al-

guns cuidados como postosespeciais para disponibiliza-ção das bicicletas e cadastrodo usuário liberado no mo-mento do empréstimo atravésde cartão eletrônico.

www.velib.paris.fr

TER

EZI

NH

A S

ILV

A

29

PrimeiroPLANO . ano 2 . no7 . set/out/nov 2007

Já os indicadores de percepçãodizem respeito à opinião dos mora-dores sobre os temas da cidade e aqualidade dos serviços. Pesquisasde percepção são realizadas todosos anos desde 1998. A última pes-quisa sobre mobilidade viária mos-tra que 70% dos moradores de Bo-gotá utilizam algum tipo de transporteviário público para ir trabalhar ouestudar. A pesquisa detectou aumen-to do número de usuários que per-ceberam demorar menos para sedeslocar. No ano anterior eram 19%enquanto que na pesquisa mais re-cente foram 25%. O movimento atri-bui a melhoria da percepção e outrospercentuais positivos à política de re-posição da frota e a restruturação derotas realizadas pela prefeitura.

Dados atuais do movimentomostram que, além dos programasque modificaram a cara da cidade, aprincipal alteração é de estímulo àparticipação da população e de pres-são no poder público, porconseqüência alteração nos indica-dores sociais e econômicos da ci-dade. Foram feitos investimentosespecialmente em infra-estrutura,mobilidade e segurança, que juntocom educação está entre os melho-res desempenhos da última admi-nistração, dos 80 homicídios regis-trados por 100 mil habitantes, Bo-gotá em 2006 registra 18 mortes acada 100 mil habitantes. Dos inves-timentos em educação, a cidadeagora tem 2% de analfabetos e amais alta participação das mulhe-res em sua história. Conforme amais recente pesquisa do movimen-to entre os bogotanos, a imagem dacidade melhorou, a população estáotimista e orgulhosa, mas careceainda de participação na percepçãodos cidadãos entrevistados.

Carlos Córdoba afirma que ospróximos investimentos vão diversi-ficar as formas de comunicação, dei-xando de informar apenas atravésdos grandes meios para ir em bus-ca da comunicação popular, de ou-tros suportes que não apenas o jor-nais, mas também o rádio e a TV etambém com instrumentos próprios.“Comunicação é fundamental. A cul-tura de pedir e acompanhar informa-ções forçou as administrações aproduzirem e divulgarem informa-ções. Todo mês de março a admi-nistração pública municipal tem queprestar contas do que fez no ano

anterior. O movimento qualificou aopinião e a administração públicas”,afirmou em São Paulo durante aConferência Ethos. Para o coorde-nador do movimento, ter um periódi-co como parceiro é muito importan-te e ir em busca da comunicaçãopopular também. Na opinião deseus organizadores, o movimento sequalificou como fonte. “A política éséria demais para que seja deixadaapenas aos políticos, assim comojá disseram que a guerra é demasi-ado séria para deixá-la aos milita-res. Se há construção coletiva, o po-litico pensa duas vezes antes de fa-zer bobagem”, concluíu Córdoba. Namais recente consulta à população,os desejos de Bogotá para os próxi-mos quatro anos são, por ordem deprioridade, em geração de empre-go, saúde, educação, segurança emais atenção a populações pobrese vulneráveis.

Das grandes cidades brasilei-ras, São Paulo talvez reserve as prin-cipais complexidades e seja a mai-or vitrine para soluções que possamse espalhar pelo país, não como

ESTATUTODA CIDADE

O Estatuto da Cidade (Lei10.257) entrou em vigor em 10

de outubro de 2001 eregulamentou os artigos 182 e183 da Constituição Federal de

1988que tratam especificamenteda política urbana. O projeto dalei previa que passados cincoanos os municípios deveriamimplementar o Estatuto nos

seus Planos Diretores, que étambém um instrumento

obrigatório hoje para as cidadescom mais de 20 mil habitantes.

O Plano Diretor também éobrigatório para integrantes de

regiões metropolitanas eaglomerações urbanas;municípios de especial

interesse turístico;e para áreas que tenham

influência de empreendimentosou atividades de significativoimpacto ambiental de âmbito

regional ou nacional.

modelo mas como possibilidade deatuação. O Movimento Nossa SãoPaulo se prepara para lançar seusindicadores, fomentar a participaçãopopular, pressionar o poder públicoe transformar a médio e longo prazoa cara da cidade. O movimento afir-ma, por exemplo, que não se sabequanto do orçamento é destinadopara cada uma das 31 subprefeitu-ras da cidade. O objetivo é exercercontrole social e buscar a implanta-ção de algumas medidas que nãodependam do humor do candidatoeleito. O Nossa São Paulo quer tor-nar obrigatória a apresentação pe-los candidatos e prefeitos eleitos deum plano de metas com propostasconcretas a serem realizadas duran-te o mandato pretendido. Isto garan-tiria, como em Bogotá, o acompa-nhamento e a cobrança da execu-ção das promessas feitas em cam-panha, além de servir como compa-ração para o mandatário seguinte.Até o final do ano, o movimento teráo levantamento dos principais indi-cadores da cidade, um método paraacompanhamento do poder público(do orçamento e da Câmara de Ve-readores), uma campanha de su-gestões para a cidade, um plano demobilização da sociedade e a cons-trução de uma rede de participantes.

A primeira atividade do Movimen-to com a população é a mobilizaçãopara o Dia Mundial Sem Carro, mar-cado para 22 de setembro. Implan-tado pela primeira vez na França, em1997, é realizado em São Paulo des-de 2005, sob a coordenação da Se-cretaria do Verde e do Meio Ambien-te. Neste ano, tem o apoio das 250entidades que integram o Movimen-to Nossa São Paulo: Outra Cidade.“O movimento quer transformar o dia22 de setembro, um sábado, em ummarco na busca por uma cidademais justa, mais humana, mais sau-dável, mais democrática e susten-tável”, afirma o site do Nossa SãoPaulo. O Dia Mundial Sem Carro nacidade inclui diversas atividadescomo passeios ciclísticos, caminha-das, concursos de redação, ginca-na sobre educação no trânsito, dis-tribuição de flores e plantas e, es-pecialmente, o incentivo ao uso detransporte público. É uma maneirade incentivar uma prática sustentá-vel e chamar atenção para o temada cidade e para a criação do movi-mento. Este é um tema que pode

30

PrimeiroPLANO . ano 2 . no7 . set/out/nov 2007

AMSTERDÃ FAZ RELATÓRIODE SUSTENTABILIDADE GRI

A cidade de Amsterdã produziupela primeira vez um relatório desustentabilidade baseado na me-todologia GRI (Global ReportingInitiative), o padrão de análisemais aceito no mundo. Incitadospela Conferência Global sobreSustentabilidade e Transparênciarealizada em Amsterdã em outu-bro de 2006 e pela transferênciada sede do GRI para Amsterdã, aPrefeitura afirma que era o mo-mento dela mesma avaliar suasatividades e projetos em termosde sustentabilidade. O levanta-mento descreve como Amsterdãestá buscando ser uma cidadesustentável, como sua adminis-tração e suas iniciativas públicasestão balanceandoaspectos ecnonomi-cos, ambientais e so-ciais. “Nós apoiamoso princípio de que aperformance econô-mica, ambiental e so-cial pode ser compa-rada tanto quanto o de-sempenho financeiro”,diz o relatório. Diver-sos temas foram ava-liados e identificadospara traçar um perfil dacidade e perceberonde estão os investi-mentos em sustenta-bilidade. Reciclageme produção de energialimpa são temas dedestaque da cidade edo relatório. Amsterdãtambém foi destacadano relatório GRI pelatransparência e pelascondições de vida nacidade. Finalmente amobilidade através deopções sustentáveis de transpor-te foi outro ponto forte do levanta-mento. Os dois últimos temasdestacados foram o aspecto in-ternacional da cidade e o seu in-vestimento em educação. A inicia-tiva do relatório foi baseada emcritérios reconhecidos e de credi-bilidade e que podem ofereceraos administradores subsdídiospara continuar planejando e reali-zando uma cidade sustentável.www.amsterdam.nl/duurzaam

servir mesmo para chamar a aten-ção dos paulistanos já que a cidadetem a segunda maior frota de auto-móveis do mundo, só perdendopara Tóquio. São cinco milhões decarros em São Paulo, chegando aoíndice de um automóvel para cadadois habitantes.

A cidade é tema que se espalhapelo mundo e ganha força no Brasil.Outras cidades já promoveram or-ganização civil, ganharam investi-mentos e conseguiram, com isso, odesenvolvimento do país. Em mui-tos momentos esse desenvolvimen-to e um olhar para a cidade aconte-ceram após eventos esportivos degrande porte como no caso de Bar-celona, na Espanha, ou como podeacontecer com o Rio de Janeiro,mas jamais sem investimento e pla-nejamento. Junto com os Jogos

Olímpicos de1992, o governoespanhol iniciouum plano de in-vestimentos na ci-dade e no país,espec ia lmen tevoltado à educa-ção. Além de terse transformadonum dos princi-pais destinos tu-rísticos da Europacom vocação cul-tural, Barcelonatem uma organi-zação estruturadade participaçãopopular e de pro-jetos para a cida-de. Na cidade ca-talã, a elaboraçãodos programasde atuação muni-cipal (PAM) e deatuação dos dis-tritos (PAD) para operíodo 2008-

2011 terão um processo participati-vo desenvolvido pelo governo. O pro-grama municipal vai definir, a partirde debate popular e da análise dacidade, cinco eixos estratégicos aserem trabalhados nos próximosquatro anos. O processo de partici-pação inicia em setembro para queo documento final esteja pronto em21 de dezembro deste ano.

As cidades têm seus planos parao desenvolvimento urbano, privilegi-ando o espaço urbano como tema,

com iniciativas vindas das própriasadministrações locais e com proje-tos que cada vez mais enfatizam odesenvolvimento sustentável. Lon-dres desenvolveu uma rede de ci-clovias que corta a cidade e dá prio-ridade aos ciclistas diante dos car-ros e investe na manutenção dosespaços verdes de praças, parquese bosques no interior da grande ci-dade. Paris também investe notransporte em duas rodas, estimu-lando as bicletas como meio detransporte cotidiano, não poluente emais democrático. Nova York, comtodas as polêmicas de eficiência elegitimidade, desenvolveu seu pro-jeto Tolerância Zero para lidar comaltos índices de criminalidade, vi-sando os problemas específicos dacidade e Los Angeles, buscando so-lução para problema semelhante,optou por criar uma polícia comuni-tária e multiétnica. Centenas de ci-dades americanas adotam planospara enfrentar o aquecimento glo-bal.

No Brasil, o governo federalcriou o Ministério da Cidades, parademonstrar como o tema é impor-tante na elaboração mesmo de po-líticas públicas gerais para o paíse como uma maneira de direcionarações e recursos diretos paracidades.No mês de agosto, atravésdo Plano de Aceleração do Cresci-mento (PAC), o governo fede-ral destinou investimentosde R$ 6,8 bilhões para ur-banizar favelas eampliar oacesso da

31

PrimeiroPLANO . ano 2 . no7 . set/out/nov 2007

população aos serviços de sanea-mento em cidades do Acre, Alago-as, Amapá, Amazonas, Distrito Fe-deral, Espírito Santo, Goiás, Mara-nhão, Pará, Rondônia, Roraima,Santa Catarina e Tocantins. São R$5,9 bilhões de repasse do governofederal e o restante de contraparti-das dos estados e prefeituras. “Afinalidade do PAC de infra-estrutu-ra urbana é garantir condições dig-nas de vida para quem mora nascidades, com prioridade para asque habitam palafitas”, destacou oministro das Cidades, Marcio For-tes de Almeida, que participou deevento que anunciou o investimen-to. As pequenas cidades, ainda queseja mais difícil encontrar movi-mentos civis que articulem muitaorganização, podem ser incluídasem políticas específicas para es-paços urbanos. Para osmunicípios com população inferiora 50 mil habitantes, por exemplo, ogoverno federal, no mesmo even-to, divulgou a reserva R$ 4 bilhõesdo PAC para investimentos emsaneamento até 2010. Os recursosserão repassados através de pro-gramas da Fundação Nacional daSaúde (Funasa).

A questão é: em que medida es-sas políticas têm a participação dapopulação e até que ponto as políti-cas públicas que pensam a cidadede forma sustentável têm continui-dade e estão dentro de um proces-so de construção social que cobrametas, sugere saídas e aponta ne-cessidades? As experiências de Bo-gotá, já em andamento há algunsanos, e o movimento de São Paulo,em implantação este ano, são exem-plos de controle social e valorizaçãodo papel do poder público, cobrado,pressionado e estimulado a pensara cidade. Cabe estimular a organi-zação civil associada ao tema da ci-dade, com o desafio de garantir queos movimentos realmente sejamum espaço de encontro de variadastribos de diferentes origens e cre-dos, que valorizem o papel do poderpúblico eficiente e ajudem a encon-trar maneiras de promover a partici-pação dos indivíduos. Para ser bemsucedido nesta visão de cidade sus-tentável, o poder público deve viabi-lizar meios e métodos para que asociedade civil tenha um papel pro-tagonista.

ENTREVISTA COM O COORDENADOR DO MOVIMENTOBOGOTÁ COMO VAMOS,

CARLOS CÓRDOBA MATÍNEZ.

Qual o papel da participação popular e do controle civil sobre opoder público no desenvolvimento de projetos sustentáveis decidade?As cidades do futuro têm que ser sustentáveisem todos ossentidos. Nos temas ambientais, mas também em relação àqualidade de vida das pessoas. Isto em grande parte éresponsabilidade dos governos, que têm que ter uma boagerência pública dos recursos e devem prorizar o interesse damaioria das pessoas sobre os interesses econômicos depoucos. Mas os governos de hoje no podem usar um “pilotoautomático”. A cidadania necessariamente tem um papel ativotanto para manifestar suas expectativas e propostas como emcontrolar os resultados da gestão pública. É utópico pensar queas cidades de hoje e de amanhã, marcadas pelas dinâmicas daglobalização, se autoregularam para melhorar a qualidade devida. Isto deve ser uma intenção dos governos e neles há umespaço importante para a participação da cidadania.

Qual o impacto que a criação do movimento já teve nasociedade e no poder público?O impacto sobre o poder público tem sido muito importante. Emnove anos de trabalho o projeto tem um grande reconhecimentopor parte das administrações. A administração recorreconstantemente às suas análises e propostas e temos umainterlocução direta e permanente com a equipe do governo dacidade. Com a sociedade civil se tem um importante impactopedagógico e de formação de opinião. Os indicadores e

resultados de avaliações sãoconstantemente difundidos porparte do projeto em um amploespectro de organizaçõescidadãs, empresariais e ONGsque utilizam esses dados emseus trabalhos. Na Colômbia jáestamos em quatro cidades:Bogotá, Cartagena, Cali eMedellín.

Os movimentos civis em tornoda cidade correm o risco de

substituir o poder público em algumas ações?Não acredito nisso. O importante é que cada um ocupe o seulugar. As administrações não podem ter o monopólio do que épúblico, a esfera pública deve ampliar-se cada vez mais para darlugar, tanto às administrações como às demandas e propostaspopulares. E isso em última análise é a governança democrática

janeiro - outubro

PROBLEMASLixoEmissão de poluentesCongestionamentosEscassez de água

Corrupção

SOLUÇÕESReciclagemTransporte públicoTransporte alternativoEconomia, proteção de nascentes,arborização, despoluição de riosControle social

Banco de experiências do Ministério das Cidadeshttp://www.cidades.gov.br//index.php?option=content&task=section&id=270

PrimeiroPLANO . ano 2 . no7 . set/out/nov 2007

32

PLANETA

COMCOMCOMCOMCOM

O Programa Alimentos Seguros(PAS) é um programa para apoiar eestimular a implantação de boaspráticas nas empresas de alimen-tos em diversas áreas. A proposta éaumentar a segurança e a qualida-de dos alimentos produzidos para apopulação brasileira, além de am-pliar a exportação de alimentos, pre-parando o setor produtivo brasileiropara atender a exigências dos paí-ses importadores em termos de

segurança dos alimentos, e tambémmelhorar a competitividade das em-presas. O PAS é uma parceria quereúne instituições parceiras do cam-po até o consumo final do alimentocomo Embrapa, Senar, Senai, Sesi,Senac, Sesc e Sebrae. Algumas ins-tituições governamentais, como An-visa (Agência Nacional de VigilânciaSanitária) e CNPq (Conselho Nacio-nal de Desenvolvimento Científico eTecnológico), também são parceiras

Programa Alimentos Seguros

A comida como um elemento de saúdetem cada vez mais adeptos, mas ganha for-ça sempre que aparece uma nova onda euma nota dieta. A novidade agora é a comi-da crua e, especialmente, os brotos de ve-getais. A dieta da life food se baseia nasteoriais de David Jubb, que mantém um ins-tituto-restaurante em Nova York. A idéia éque verduras, legumes e frutas orgânicas eextremamente frescas, com ênfase aos bro-

Comidaviva

ALIMENTOSFUNCIONAIS

do programa.O programa é dividido em seis

áreas: indústria, segurança nos pro-dutos do campo, transporte, mesa,distribuição e ações especiais, queinclui programas educativos comescolas e universidades sobre o as-sunto. Para saber mais sobre PAS eaderir ao programa, basta acessaro site de alguma das instituiçõespromotoras do programa como owww.alimentos.senai.br.

São os que ajudam na prevenção e tratamentode doenças, além da função original de nutrição.

AVEIA – contém Beta D-Glucanas (fibra solúvel)que auxilia na redução do colesterol total e LDL(mau colesterol)

BRÓCOLIS E ALIMENTOS BRÁSSICOS – prote-gem contra diversos tipos de câncer, em especialo de mama e o de próstata. Outros brássicos:agrião, couve-flor, nabo, rabanete, repolho, rúcu-la, entre outros.

CANELA – sedativo muscular, estimulante circu-latório, diurético e desintoxicante.

LINHAÇA – previne doenças cardiovasculares porser rica em ômega 3, lignanas, magnésio, potás-sio, manganês, fósforo, ferro e cobre. Reduz ocolesterol total, os triglicerídios e aumenta o HDL(bom colesterol)

OVO – pode reduzir o risco de doenças cardiovas-culares, devido a sua excelente composição ebaixo conteúdo de gordura saturada

SOJA – importante fonte de proteínas, ferro, cál-cio, fósforo, fibra, assim como vitaminas E, B1,B2, B6 e ácido fólico.

PrimeiroPLANO . ano 2 . no7 . set/out/nov 2007

33IDIDIDIDIDAAAAA

IntolerânciaA vida dos que têm alguma interdição alimentar não precisa ser apenas deredução de opções de alimentos, mas uma possibilidade de descoberta de

novas opções. Quem tem intolerância à lactose deve tirar o leite da dieta,mas pode ingerir iogurtes e queijos que possuem baixa lactose.

Já os portadores da Doença Celíaca sofrem de intolerância ao glúten, umaproteína presente no trigo, no centeio, na aveia e na cevada. Ou seja, é umasubstância comumente presente em pães, massas, bolos, pizzas, cerveja,vodca e outros produtos utilizados no cotidiano das pessoas. A ingestão de

glúten provoca uma reação do próprio corpo contra o intestino para combatera proteína, comprometendo a absorção de nutrientes como cálcio e vitami-

nas, podendo provocar inflamações e até câncer intestinal.Os celíacos têm a vantagem de não tratar sua intolerância com remédios,

mas apenas através da alimentação com dieta livre de glúten. Escolher pra-tos sem glúten não é difícil para quem prefere as refeições regulares, com

arroz, feijão, bife, saladas e verduras, e não os lanches como pães e empa-nados. A dificuldade está em saber quais produtos são fabricados ou mani-

pulados com alguma presença de glúten. Nos produtos industrializados,parte do problema se resolveu com a lei que obriga a identificação “não con-tém glúten” nos produtos sem a presença da proteína. Trabalham em todopaís seções estaduais da Acelbra, Associação dos Celíacos, com reuniões

entre os portadores, produção de material informativo e convencimento juntoaos supermercados e restaurantes.

EMBALAGENS ATRATIVASNuma pesquisa feita na Stanford University, nos Estados Uni-

dos, com 63 crianças de 3 a 5 anos de idade, pertencentes àfamilias de baixa renda, verificou-se como o marketing pode in-fluenciar na decisão de comer este ou aquele alimento. As crian-ças receberam duas refeições idênticas, que continham batatafrita, hambúrguer, nuggets, leite e cenoura. Uma delas era apre-sentada em sacolinhas coloridas com um gran-de M amarelo, outro em sacolinhas brancassimples. Todos os alimentos, com exceção dascenouras, vieram do Mc Donalds. No final dapesquisa, as crianças disseram que a comidaapresentada estilo McDonalds era a mais gos-tosa, inclusive as cenouras. A preferência dabatata frita foi de até 77% pela com sacolinhacom M amarelo, com o hambúrguer a diferen-ça foi menor (48% com M, versus 37% sacoli-nha branco). Os pesquisadores concluíramque é preciso regular o acesso de propagan-das às crianças, já que muitas podem influen-ciar as preferências saudáveis.

tos e sementes germinadas, liberariam umasérie de enzimas que facilitariam a digestão,sem gastar no seu processamento as que ocorpo produz para nos manter vivos. En-quanto os alimentos cozidos acima de 40graus perderiam suas enzimas e fariam ocorpo gastar as que têm para digeri-los. Apolêmica está lançada já que a dieta não éconsenso. Há nutricionistas que, apesar deatestar os benefícios do cru, não defendemque os cozidos façam algum mal ao organis-mo. Saúde à parte, a onda da “comida crua”tem rendido adeptos aos restaurantes es-pecializados.

34

PrimeiroPLANO . ano 2 . no7 . set/out/nov 2007

responsabilidade social O novo jeito de fazer negócios

mil toneladas é ameta de equipa-mentos a seremrecolhidos pelaDell até 2009 comoparte do projeto dereciclagem de ma-terial tecnológico.A fabricante decomputadores lan-çou o programa derecolhimento demáquinas em doiscentros de recicla-gem, em São Pau-lo e Porto Alegre.A empresa avaliao estado das má-quinas, recondici-ona o equipamen-to e depois o en-via para ONGsque façam traba-lhos relevantes deinclusão digital.

125

Em breve serápossível emitir a suaopinião e identificaros melhores relatóri-os através do “GRIReaders ChoiceAward” da GlobalReporting Initiative.As pessoas poderãoopinar sobre quaisrelatórios de susten-tabilidade tratam deinformação realmen-te relevante, quaistêm uma apresenta-ção sedutora e nãofogem de assuntossensíveis. Nestemundo árido há boasexceções, e ao leitora chance de identifi-car quais são. Umr e c o n h e c i m e n t osem jurado, mas de-cidido diretamentepelo consumidorpara que os bonsexemplos recebam aatenção merecida, epara que as empre-sas aprendam comoo leitor prefere ser in-formado.www.globalreporting.org.

OPINIÃO DOLEITOR

Mais critériosno Selo Ibase

Criado há 10 anos, o Seloaperfeiçoa critérios paraavaliar balanços sociais

O selo do Instituto Brasileirode Análises Sociais e Econômi-cas (Ibase), que avalia social-mente empresas de médio egrande porte faz 10 anos. O Iba-se julga empresas que produ-zem balanços sociais atravésde itens como educação, saú-de, atenção à mulher, atuaçãona preservação do meio ambi-ente, melhoria na qualidade devida e de trabalho de seus em-pregados, apoio a projetos co-munitários visando a erradica-ção da pobreza, geração de ren-da e de novos postos de traba-lho. “A idéia do balanço social édemonstrar quantitativamente equalitativamente o papel de-sempenhado pelas empresasno plano social, tanto interna-

mente quanto na sua atuaçãona comunidade”, diz Ciro Tor-res, coordenador de Respon-sabilidade Social e Ética nasOrganizações do Ibase.

Este ano 17 empresas re-ceberam o Selo Balanço Soci-al Ibase/Betinho após partici-parem de consulta pública ini-ciada em junho deste ano. Aconsulta foi realizada via inter-net pelo segundo ano conse-cutivo. O número de empresasque poderão utilizar o Selo Iba-se/Betinho é o menor desde2001 e representa uma quedaabrupta em relação a 2006,quando 52 companhias rece-beram o direito de utilizá-lo.

O resultado pode ser expli-cado pelo maior rigor nos crité-

1. Antônio Ruette Agroindustrial Ltda

2. Cia Fiação e Tecidos Cedro e Cachoeira

3. Cocam Cia de Café Solúvel e Derivados

4. Coelce – Cia Energética do Ceará

5. Copag da Amazônia S/A

6. Cosern – Cia Energética do Rio Grande do Norte

7. Dori Alimentos Ltda

8. ICEC Construções Metálicas Ltda

9. Masa da Amazônia Ltda

10. Nardini Agroindustrial Ltda

11. Petrobras- Petróleo Brasileiro S/A

12. Refrigerantes Marajá S/A

13. Saint-Gobain Canalização S/A

14. Sanasa - Soc. de Abastecimento de Água e Saneamento S/A

15. Usina Alvorada Açúcar e Álcool Ltda

16. Usina São Domingos Açúcar e Álcool S/A

17. Vale do Ivaí S/A Açúcar e Álcool

35

PrimeiroPLANO . ano 2 . no7 . set/out/nov 2007

A IDÉIA DOBALANÇO SOCIAL É

DEMONSTRARQUANTITATIVAMENTE EQUALITATIVAMENTE OPAPEL DESEMPENHADO

PELAS EMPRESAS NOPLANO SOCIAL, TANTO

INTERNAMENTEQUANTO NA SUA

ATUAÇÃO NACOMUNIDADE

rios. A maioria das empresas inici-almente inscritas (60) foi desclas-sificada por não mostrar publica-mente em seus balanços sociaisque garantem de dois a cinco porcento de seus cargos para pesso-as portadoras de deficiência.

Entre os novos critérios da ava-liação estão a verificação se a em-presa está em conformidade coma legislação que trata da inclusãodas pessoas portadoras de defici-ência física no mercado de traba-lho e a melhoria contínua em algu-mas informações contidas no ba-lanço social, como por exemplo, onúmero de negros e mulheres nocorpo funcional.

www.balancosocial.org.br

Todos os sabonetes da linha Na-tura Ekos passaram a ser feitos commassa produzida na unidade indus-trial de Benevides (PA), que abrigauma fábrica de massa de sabonetes etambém uma planta para extração deóleos vegetais. Implantada num mo-delo sustentável, a fábrica tambémserá pólo de desenvolvimento e pes-quisa da Natura. José Renato Cag-non, gerente da unidade e do projetoSaboaria, explica que o grande avan-ço desde 2005 é que os sabonetespassaram pelo processo de vegetali-zação, que substitui as gorduras ani-mal, mineral e sintética por base ve-getal. Para seguir esses princípios, abase da massa dos sabonetes contahoje com óleo de palma, responsávelpela maciez, além de estearina de pal-ma, que dá consistência à barra, e óleode palmiste, que produz a espuma.

Em meio à biodiversidade da Re-gião Amazônica, a Unidade Industri-al Benevides está se preparando paraestimular o cultivo e a produção res-ponsável de matéria-prima para a pro-dução de seus sabonetes, além de in-centivar a conservação de espéciesnativas da região. A nova unidadecontará com o apoio de cerca de 2.500

Embalagens- A preocupação como desenvolvimento sustentávelestá presente também nas emba-lagens de várias linhas de produ-tos Natura. Além dos refis e dasorientações em braile, a novidadeé a tabela de informações ambi-entais. Impressa nas caixas, a ta-bela traz a origem do produto (re-novável vegetal, vegetal natural ecertificação de origem) e os dadosda própria embalagem (material re-ciclado e material reciclável).

Natura na Amazônia

,,

,,

pequenos agricultores espalha-dos por 21 municípios. Estes agri-cultores, pouco a pouco, se tor-narão fornecedores diretos de in-sumos da Natura, trabalhandonum modelo de manejo que esti-mula a conservação de espéciesnativas da região, a capacitação ea melhoria da qualidade de vidade todos.

Em 2008, parte do óleo de pal-ma será substituída pelo óleo pro-cessado na própria unidade indus-trial a partir de frutos de outraspalmeiras nativas, como inajá, tu-cumã, buriti, patauá e murumuru,adquiridas de cooperativas e as-sociações de pequenos agriculto-res e comunidades agrícolas ex-trativistas locais, promovendo aintegração entre o conhecimentocientífico e o das populações tra-dicionais.

“Esta é nossa maior inovação.Nossos sabonetes estão estimu-lando a preservação do meio am-biente e o desenvolvimento decomunidades, ajudando a cons-truir um mundo melhor”, explicaPaulo Lalli, vice-presidente deoperações e logísticas.

DIV

ULG

ÃO

NA

TUR

A

36

PrimeiroPLANO . ano 2 . no7 . set/out/nov 2007

ODILON GUEDES

O recente escândalo (que, devido aos novos que vão surgindo já pare-ce tão distante), denunciado a partir da chamada “Operação Navalha”envolve empreiteiras, políticos e muito dinheiro público. São bilhões dereais de impostos pagos por nós, cidadãos brasileiros, que anualmenteescorrem pelo ralo da corrupção, lesando profundamente o conjunto dasociedade. Nesse quadro, são especialmente afetados os setores sociaisde baixa renda, pois são eles os que mais precisam de investimentos emeducação, saúde, habitação e também os que, proporcionalmente, pagammais impostos no Brasil.

Essa situação é recorrente. O então Ministro do Controle e da Trans-parência Waldir Pires, em entrevista ao jornal Folha de São Paulo em 18/04/2005, informava que mais de 20% dos R$ 90 bilhões que o governofederal transferia para os municípios era desviado pela corrupção e que90% dos municípios que passaram por auditoria do seu Ministério apre-sentavam fortes discrepâncias em suas contas, por causa da ignorânciaorçamentária ou da corrupção.

Um dos motivos para a repetição dessa situação que se tornou públicaprincipalmente a partir do início da década de 1990 com os chamados“Anões do Orçamento”, é o total despreparo da sociedade brasileira e desua elite em relação ao processo orçamentário e às finanças públicas.Pergunte-se a qualquer liderança, seja política, estudantil, empresarial, outrabalhadora, quanto é e como são gastos os recursos do orçamento desua cidade, de seu Estado ou do País. Noventa e nove por cento nãosaberá! Um prato cheio para os Zuleidos da vida.

É importante lembrar que por trás de vários acontecimentos, que tive-ram grande repercussão na história da sociedade humana, estavam enor-mes disputas ligadas à cobrança de tributos e à forma como eram gastos.Vejam os casos do acordo dos nobres ingleses com João Sem Terra em1217, a cobrança do imposto sobre o Chá e a Revolução Americana de1776, a Inconfidência Mineira e a Derrama ou ainda a Guerra dos Farra-pos.

Diante desse quadro de calamidade que estamos vivendo não dá parasilenciar e esperar que algum milagre aconteça. O mínimo necessáriopara se avançar no combate à corrupção é realizar um trabalho que mo-bilize nossa sociedade e suas lideranças em torno da importância do pro-cesso orçamentário. É preciso fazer com que os cidadãos se preocupemem conhecer o conjunto das receitas e sua origem, com a execução orça-mentária e com a transparência total das contas públicas. Paralelamenteum trabalho de formação e informação junto aos mais variados órgãos derepresentação da sociedade, e principalmente junto das escolas, deve serfeito sobre essas questões que são fundamentais para a cidadania.

Somente a adoção de atitudes como essas poderão desencadear umprocesso de mudança cultural e a formação de uma massa crítica que, amédio e longo prazos, deverão ter um papel fundamental no combate àcorrupção em nosso país.

EconomistaMestre em Economia

PUC/SP, professoruniversitário e

membro doMovimento Nossa SãoPaulo - Outra Cidade.

A OPERAÇÃO NAVALHA EO ORÇAMENTO PÚBLICO

TA

TIA

NA C

AR

DE

AL

37

PrimeiroPLANO . ano 2 . no7 . set/out/nov 2007

ENSAIO

EXPEDIÇÃO

CINCO FOTÓGRAFOS SEAVENTURARAM EM UMAEXPEDIÇÃO PELA AMÉRICAMERIDIONAL, NUMAJORNADA DE MAIS DE 20MIL QUILÔMETROS. ELESSAÍRAM DEFLORIANÓPOLIS (SC) EPERCORRERAM EM DUASTOYOTAS O PAMPAURUGUAIO, A PATAGÔNIA,A ARGENTINA, O DESERTODO ATACAMA NO CHILE, OIMPÉRIO INCA NO PERU, AFLORESTA AMAZÔNICANO MERIDIANOBRASILEIRO E OPANTANAL MATO-GROSSENSE.NESTE ENSAIO ESTÁ OREGISTRO FEITO PORANDRÉ SIESLKI, GIOVANEMARANGONI, NIVALDORIGHETTI, RENATA RIBEIROE RENATO GAMA.ALÉM DE REVELAR OSASPECTOSSÓCIOAMBIENTAIS DAREGIÃO OCIDENTAL DAAMÉRICA DO SUL, AEXPEDIÇÃO QUE INICIOUEM DEZEMBRO DE 2006,PRODUZIU TAMBÉM UMRICO ACERVOFOTOGRÁFICO, QUE ESTÁSENDO APRESENTADO EMEXPOSIÇÕES EPALESTRAS.

AMÉRICAMERIDIONAL

ENSAIO

42

PrimeiroPLANO . ano 2 . no7 . set/out/nov 2007

INCLUIR Novas Tecnologias Sociais

O CERRADOBRASILEIRO É O

SEGUNDO MAIORBIOMA DO PAÍS,

ABRANGENDO DOISMILHÕES DE

QUILÔMETROSQUADRADOS EM 14

ESTADOS. É ASAVANA MAIS RICA

DO MUNDO, SENDOCOMPOSTA POR UM

MOSAICO DEECOSSISTEMAS QUE

ABRIGAM 5% DE TODABIODIVERSIDADE

MUNDIAL.Entretanto, tamanha rique-

za natural ainda parece estarescondida. Além de pouco co-nhecido, historicamente o Cer-rado tem sido visto como umapaisagem pobre e feia. “É umaquestão cultural. No imaginárionacional, são os sertões, ermos,fechados, de árvores baixas eretorcidas”, reflete Mônica No-gueira, antropóloga e coordena-dora geral da Rede Cerrado.

Ao longo de 12 mil anos deocupação humana, a diversi-dade ecológica do bioma pro-piciou a variedade de meios devida e estratégias de uso e con-vivência com a natureza. Os po-vos do Cerrado (indígenas, qui-lombolas e comunidades tradi-cionais) representam essa so-ciodiversidade, sendo conhece-dores e guardiões do patrimô-nio ecológico e cultural da região.

Um recorte dessa realida-de pode ser verificado por meioda Rede Cerrado, com 109 or-

FÓRUNSREGIONAISA Rede de Tecno-

logia Social (RTS)realizará dois FórunsRegionais, no mêsde outubro, durante aSemana Nacional deCiência e Tecnolo-gia. Haverá, ainda,uma mostra de Tec-nologias Sociais, emBrasília. Os diálogossobre os eventos tive-ram início com baseem propostas de in-tegrantes da Rede.

A mostra foi umasugestão do diretordo departamento deações regionais daSecretaria de C&Tpara Inclusão Social,Leonardo Hamú. Afim de otimizar osesforços, o gerentede parcerias, articu-lações e TecnologiasSociais da FundaçãoBanco do Brasil, LuisFumio Iwata, propôsa realização de umFórum Regional daRTS, no Centro-Oes-te, abordando o Cer-rado e TecnologiasSociais. Ao mesmotempo, em Florianó-polis/SC, o diretor doInstituto PrimeiroPlano, Odilon Faccio,apresentou a idéiada realização do Fó-rum Regional daRTS, no Sul. As insti-tuições já estão searticulando para a re-alização da mostra edos Fóruns Regio-nais, que devemocorrer entre os dias01 e 05 de outubro.

Mais informações:

[email protected]

6mil.

Esse é o númerode espécies deplantas lenhosasexistentes no Cer-rado brasileiro.Também há 800espécies de aves,agregadas a umavariedade de pei-xes, abelhas e ou-tros invertebrados.Mais de 500 gra-míneas estão per-dendo espaço paraos capins exóticosutilizados na for-mação de pasta-gens. O Dia Naci-onal do Cerrado écomemorado em11 de setembro.

Fonte: ProgramaCerrado Sustentá-vel

Por Michelle Lopes

Cerrado: belezase experiênciascomunitárias

ganizações que reúnem esfor-ços pela conservação do bio-ma e o desenvolvimento sus-tentável de seus povos, bus-cando conciliar justiça social esustentabilidade ambiental.

EXPERIÊNCIASA Rede integra diversas ini-

ciativas que geram trabalho erenda para as comunidades, noCerrado: comercialização dacastanha do baru, produção ecomercialização agroecológi-ca, utilização de plantas medi-cinais e tecelagem, entre outras.

Conhecida como noz doCerrado, por muito tempo acastanha do baru ficou restritaaos pastos do Planalto Centraldo Brasil, servindo de alimentopara o gado. Mas sua estréiana cozinha revelou inúmeraspossibilidades culinárias. Asquituteiras goianas aprenderama torrá-la e costumavam usá-laem versões regionais de pé-de-moleque e paçoquinha. Torrada,ela assume sabor mais marcan-te que o do amendoim. Desde1997, a castanha vem cativandoapreciadores. Hoje, o ingredien-te confere um toque especial adiferentes pratos, com alto valornutritivo. Além das proteínas, érico em cálcio e ferro.

No Cerrado, as mulherestambém “tecem os fios de suavida”. Um exemplo é o Assen-tamento Andalucia - localizadono município de Nioaque, MatoGrosso do Sul - que se tornoureferência na produção de te-celagem.

Segundo Rosane Bastos,bióloga e assessora junto aoCentro de Produção, Pesquisae Capacitação no Cerrado (Ce-

43

PrimeiroPLANO . ano 2 . no7 . set/out/nov 2007

ppec), a atividade surgiu por meiode um projeto social, implantadoem 2002. Além de geração de ren-da, visava “mostrar que o assenta-mento pode ser produtivo e gerarrenda para o município”, explica.

Hoje, a tecelagem Andalucia éauto-sustentável e funciona comgrupos de fiação, tinturaria e o nú-cleo de costura. Os chapéus, rou-pas, bolsas e outros produtos sãoconfeccionados com materiais doCerrado, tais como: fibra de arroz,palha de milho, sementes, folha debananeira, palmeira e taboa.

As mulheres que trabalham natecelagem têm uma média salarialde R$ 300,00 a R$ 350,00 com acomercialização dos produtos. “Umfato inédito, já que mulheres emassentamento geralmente nãopossuem renda”, afirma Rosane.

Apesar de toda sua riqueza eimportância, o bioma e seus povosestão ameaçados. Mais da meta-de da área original de Cerrado jáfoi desmatada pela ocupação de-sordenada do território e pelo avan-ço da fronteira agropecuária.

Apenas 4% de sua área encon-tra-se delimitada como unidade deconservação. A meta mundial é deaproximadamente 10%, segundo

provisões da Convenção sobre Di-versidade Biológica, do qual o Bra-sil é signatário.

O Cerrado também tem grandeimportância social, pois reúne 1500municípios brasileiros. Entretanto,as populações não têm segurançafundiária. Agroextrativistas, geraizei-ros, kalungas e comunidades indíge-nas recebem pouca proteção social.

POLÍTICAS PÚBLICASEsses diagnósticos estão regis-

trados no Programa Cerrado Sus-tentável, elaborado por um Grupo deTrabalho composto por órgãos pú-blicos e organizações não-governa-mentais. O documento, entregue aoMinistério do Meio Ambiente (MMA),

O Instituto Sociedade Populaçãoe Natureza (ISPN) está sistemati-zando Tecnologias Sociais desen-volvidas no Cerrado brasileiro.Como resultado, serão confeccio-nados manuais tecnológicos. Es-ses deverão compor uma coleçãode tecnologias para aproveitamen-to de frutos do bioma. A iniciativa éconseqüência do trabalho desen-volvido a partir do Programa de Pe-quenos Projetos Ecossociais(PPP-ECOS) do Fundo para o MeioAmbiente Mundial (GEF), por meiodo Programa das Nações Unidaspara o Desenvolvimento (PNUD).“O Programa já apoiou quase 250projetos em 13 anos. Muitos apri-moraram as tecnologias para pro-dução, beneficiamento, comercia-lização, gestão e organização. Sãoprocessos de Tecnologia Social”,reflete Luis Carrazza, assessor téc-

Tecnologias Sociais no Cerradonico do ISPN/PPP-ECOS.No estágio atual, os grupos garan-tem a confecção de diversos pro-dutos, mas não conseguem se in-serir no mercado, pois há proble-mas que vão desde a burocraciaaté a compreensão em relação aofuncionamento de uma comercia-lização. Carrazza lembra que a po-pulação também lida com umgrande paradoxo: “A comunidadeapresenta um projeto para proces-sar e vender algo. Mas, em muitoscasos, seus membros não teriampoder aquisitivo para comprarseus próprios produtos quandochegam às prateleiras”.A fim de buscar a superação dasdificuldades, foi criada a Central doCerrado – Produtos Ecossociais,que funciona como uma ponte en-tre produtores comunitários e con-sumidores, oferecendo produtos

de qualidade como: pequi, baru, fa-rinha de jatobá, farinha de babaçu,buriti, mel, polpas de frutas, arte-sanatos, dentre outros, que sãocoletados e processados por agri-cultores familiares e comunidadestradicionais.Além de promover a divulgação einserção dos produtos comunitá-rios de uso sustentável do Cerra-do nos mercados locais, regionaise internacionais, a Central servecomo centro de disseminação de in-formações, intercâmbio e apoio téc-nico para as comunidades na me-lhoria dos seus processos produti-vos, organizacionais e de gestão.

NA

ND

O C

AR

RA

ZZA

A

IGOR DE CARVALHO LUIS CARRAZZA

Castanha do Pará: a noz do Cerrado

Produtos vendidos pela Central do Cerrado

44

PrimeiroPLANO . ano 2 . no7 . set/out/nov 2007

INCLUIRIntegração do Cerrado

A Rede Cerrado foi criada em 1992, por ocasiãoda assinatura do Tratado dos Cerrados, durantea Conferência das Nações Unidas sobre MeioAmbiente e Desenvolvimento (Rio-92). Seuobjetivo é articular esforços conjuntos dasociedade civil para o enfrentamento dosproblemas socioambientais que afetam o bioma.A antropóloga e coordenadora geral da Rede,Mônica Nogueira, fala sobre a Rede.

Quais são os desafios que se colo-cam ao bioma Cerrado?Mônica - Um deles é aumentar a visibi-lidade do Cerrado e fazer com que asociedade brasileira saiba da sua im-portância. Pouca gente sabe, mas oCerrado exerce papel decisivo para oequilíbrio do meio ambiente global e deoutros biomas, como a Amazônia e aMata Atlântica, devido à interdependên-cia entre sua ecologia e a de biomasvizinhos, sua biodiversidade e contri-buição para o estoque de carbono. Masinfelizmente, o bioma muitas vezes évisto apenas como alternativa ao des-matamento da Amazônia. Combateressa invisibilidade relativa do bioma éum grande desafio.

Diante desse cenário, qual é o pa-pel das comunidades, das organi-zações do Terceiro Setor e do go-verno?Mônica - As populações tradicionaissão as grandes responsáveis pelo queresta de Cerrado. Não só porque elasaprenderam a viver nessa paisagem,conservando-a e enriquecendo-a, mastambém porque lutam em sua defesa.Ao longo de 12 mil anos de ocupaçãohumana, a diversidade ecológica des-se bioma propiciou uma variedade demeios de vida e estratégias de uso econvivência com a natureza local. Ospovos do Cerrado (indígenas, quilom-bolas e comunidades tradicionais) re-presentam essa sociodiversidade.Costumamos dizer que são "cuidado-res da biodiversidade, do território eda cultura" .As organizações não governamentaistambém têm um papel muito importan-te, especialmente de mediação. O go-verno é um ator importante, mas o me-nos atuante na defesa do Cerrado. In-felizmente, o Cerrado ainda não estáentre as prioridades governamentais.Esperamos mudar esse quadro.

Que conquistas podem ser aponta-das como fruto desses 15 anos deexistência da Rede Cerrado?Mônica - A principal conquista foi a in-tegração das comunidades locais e po-pulações tradicionais do Cerrado aocampo político mobilizado pela Rede.Essa integração ampliou a base socialda Rede Cerrado e deu mais vigor enovo sentido ao nosso trabalho. Hoje,para a Rede Cerrado, a defesa do bio-ma é indissociável da defesa dos Po-vos do Cerrado.Outra conquista foi o desenvolvimentodessas inúmeras Tecnologias Sociais,que se constituem em alternativas prá-ticas e de eficácia comprovada no usosustentável dos recursos naturais doCerrado. Por fim, eu destacaria a inser-ção da Rede Cerrado em diferentes es-paços públicos, em condição de influirsobre a definição de políticas públicas.

Que ações já foram realizadaspela Rede este ano e como está aagenda para os próximos meses?Mônica - No primeiro semestre de 2007,a Rede dedicou-se a atividades de pla-nejamento e fortalecimento institucional.Também estivemos bastante absorvi-dos com o monitoramento da IniciativaGEF Cerrado, um projeto com recursosdo Fundo para o Meio Ambiental Mundi-al (GEF), que viabilizará a implementa-ção de parte do Programa Cerrado Sus-tentável.Buscamos, ainda, diversificar nossasinterlocuções com atores da socieda-de civil, especialmente outros coletivos.No segundo semestre, eu destacariadois eventos. O II Encontro Nacional dosPovos das Florestas, nos dias 18 a 23de setembro, em Brasília. Depois, tere-mos um encontro regional da Rede Cer-rado, no Mato Grosso do Sul, nos dias26 a 28 de setembro, em Nioaque. Oencontro enfocará o tema "Agrocom-bustíveis".

em setembro de 2006, deve servirde base para a construção de políti-cas públicas adequadas ao bioma.

Hoje, o principal desafio é im-plementar as diretrizes do Progra-ma. Avay Miranda Júnior, coordena-dor interino do Núcleo dos BiomasCerrado e Pantanal do MMA fala so-bre as ações em andamento: “Es-tamos trabalhando pela aprovaçãoda PEC 155/95, que modifica aConstituição Federal, reconhecen-do o Cerrado e a Caatinga comoPatrimônio Nacional. Já se enqua-dram neste status o Pantanal, Flo-resta Amazônica, Mata Atlântica eSerra do Mar. Agora, a PEC está pron-ta para ir ao plenário da Câmara dosDeputados, para votação”.

Outra atividade em andamentoé a revisão das áreas prioritáriaspara a conservação, uso sustentá-vel e repartição de benefícios. “Es-sas áreas deverão orientar a apli-cação de políticas públicas para o

bioma. A aprovação de intervençõesno espaço deverá considerá-las erespeitar sua importância”, explicaAvay. O Ministério também está es-tudando a possibilidade de criar oitoreservas extrativistas no Cerrado daBacia do São Francisco. Atualmen-te, há cinco reservas no bioma.

Por meio da Comissão Nacio-nal do o governo, no que diz respei-to às políticas públicas para o Cer-rado: “Mas o governo federal aindanão destinou recursos específicospara sua implementação. Entende-mos que é uma nova frente de luta.Depois de criado o Programa, te-mos que trabalhar pela sua priori-zação e implementação”.

DIV

ULG

ÃO

CA

RLO

S G

OLD

GR

UB/A

CE

RV

O P

NU

D

Colheita do Baru

45

PrimeiroPLANO . ano 2 . no7 . set/out/nov 2007

46

PrimeiroPLANO . ano 2 . no7 . set/out/nov 2007

46

PrimeiroPLANO . ano 2 . no7 . set/out/nov 2007

47

PrimeiroPLANO . ano 2 . no7 . set/out/nov 2007

47

PrimeiroPLANO . ano 2 . no7 . set/out/nov 2007

OS CASOS DECORRUPÇÃO VIRAMROTINA NA MÍDIA. A

SOCIEDADE QUERMUDAR ESTE CENÁRIO

A sociedade brasileira está mais organi-zada para ajudar a evitar escândalos de cor-rupção, seja nas relações privadas ou nopoder público, ou nas relações entre os dois.Esta constatação é visível nas iniciativas quepipocam em todo o país, mas os casos defalta de conduta ética parecem estar numritmo mais acelerado ou estão aparecendomais os que estavam ocultos. Isso se conta-bilizarmos apenas os atos ilícitos que tor-nam-se públicos, porque na cultura do jeiti-nho é comum as pessoas se corromperemou serem corrompidas acreditando ser ape-nas uma inocente transação.

O fato é que ninguém mais agüenta as-sistir um novo e sujo fato a cada dia. Asoperações da Polícia Federal multiplicam-semostrando mais independência para traba-lhar, no entanto a população sente-se pas-siva diante da impunidade oferecida aos cul-pados. A sensação é que há mais investiga-

ÉTICA&ções, mas poucos são condenados devida-mente ou os processos arrastam-se em limi-nares e requerimentos.

No final de qualquer conta, quem perde éo país como um todo. Economicamente e so-cialmente.

Mas há algumas luzes querendo se acen-der no fim do túnel e tornando possível teresperanças. Ações como as das organiza-ções não governamentais Transparência Bra-sil, Voto Consciente, entre outras que acom-panham os gastos públicos com dados de-talhados e divulgados através de sites bemformulados, refletem uma sociedade mais pró-ativa contra o que é ilegal, imoral ou revol-tante.

Campanhas como a que o Ministério Pú-blico de Santa Catarina difundiu pelo paíscom o nome “O que você tem a ver com acorrupção?”, deve transformar a nova gera-ção de jovens e crianças em adultos consci-

CORRUPÇÃO

Sara Caprario

48

PrimeiroPLANO . ano 2 . no7 . set/out/nov 2007

entes do próprio papel como cidadãoe cujas ações irão funcionar comobarreira deste crescimento assustadorde denúncias em todos os níveis dasociedade. O próprio Ministério Pú-blico, como órgão mais novo da es-trutura e ao mesmo tempo mais ama-durecido, torna-se um ícone da mu-dança possível.

Há controvérsias no papel de cadaorganismo dentro dessa enxurrada demaus exemplos, mas o fundamental éque se difundam práticas que tornemmais transparentes as ações do go-verno, que possibilitem trocas de in-formações entre a sociedade, que maise mais pessoas saibam o que é ética eo que é corrupção. É importante que

Os princípios do Pacto

Empresarial pela

Integridade e Contra a

Corrupção são baseados na

Carta de Princípios de

Responsabilidade Social, na

Convenção da ONU, que

está no site: www.onu-

brasil.org.br

Outra base do documento é

o Princípio 10 do Pacto

Global:

Combater a corrupção em

todas as suas formas,

inclusive extorsão e

propina.

O combate à corrupção está

intimamente vinculado à

transparência. O conceito

de transparência, também

ligado aos outros nove

Princípios do Pacto Global,

inclui uma ampla gama de

questões: no nível micro,

problemas causados pelo

suborno e pela corrupção,

fontes e uso de recursos

financeiros, impactos

ambientais e sociais de

operações e produtos; no

nível macro, questões

referentes à governança, e

aos papéis e

responsabilidades de atores

societários, com efeito

corrosivo sobre a

democracia, o

desenvolvimento, o estado

de direito e a atividade

econômica. Transparência e

combate à corrupção é um

princípio que se aplica a

entidades em todas as

áreas, incluindo governos,

organizações de

trabalhadores, organizações

da sociedade civil e

empresas.

natárias,de diversaspartes do mun-do. Anunciada na Confe-rência Internacional do Ethos, em ju-nho, esse trabalho conjunto ainda nãoestá completamente operacionalizado.A fase é de ajustes, já que as empre-sas signatárias também são consulta-das, uma vez que precisam estar deacordo com as responsabilidadesmútuas. O secretário-executivo doInstituto Ethos e coordenador do Pac-to, Caio Magri declarou que, no casobrasileiro, há muitas companhias depequeno e médio portes sem atuaçãoglobal, para as quais não interessa asregras do pacto do Fórum Econômico

se discuta até onde vai a moralidade ea legalidade, e como aliar as duas ver-tentes em prol de uma sociedade ondetodos perdem menos.

PACTOO exemplo dado pelas empresas

deve ser destacado, apesar da partici-pação de pouco mais de 400 empre-sas, num universo de milhares no país.O Pacto Empresarial pela Integridadee Contra a Corrupção, lançado em2006, este ano ganhou dimensões in-ternacionais ao ser integrado ao Pro-grama de Luta contra a Corrupção In-ternacional (PACI), coordenado peloWorld Economic Forum. A intenção éfazer uma troca de experiências e ati-tudes entre as empresas brasileirasque atuam no exterior e as empresasestrangeiras que fazem negócios noBrasil. No PACI são 125 empresas sig-

Mundial, cujas características específi-cas são mais focadas nas indústrias.

NO BRASILO Pacto no Brasil foi criado a par-

tir da iniciativa do Instituto Ethos deEmpresas e Responsabilidade Social,UniEthos - Formação e Desenvolvi-mento da Gestão Socialmente Respon-sável, Patri Relações Governamentais& Políticas Públicas, Programa dasNações Unidas para o Desenvolvi-mento (Pnud), Escritório das NaçõesUnidas Contra Drogas e Crime(UNODC) e Comitê Brasileiro do Pac-to Global. Teve ainda o apoio da Asso-ciação Brasileira das Agências de Pu-blicidade (Abap) e da Fundação Ford.

Representantes de dezenas de em-presas discutiram aspectos das rela-ções entre a iniciativa privada e as en-

Princípiosdo Pacto

Corrupção cresce47,1 é a nota dada ao Brasil pelo Banco Mundial no estudo que

realiza anualmente com 212 países. A instituição analisa infor-mações de ONGs e agências internacionais de análise de risco

para dar notas de 0 a 100 e checar a eficiência dos países nocombate a corrupção.

Em 2003 o Brasil tirou nota 56,3, passou para 55,3 no ano

seguinte e em 2005 ficou com 48,1. Mais de cem países tiveramresultados melhores, entre eles os vizinhos latino americanos

Chile, Costa Rica e Uruguai. É o pior desempenho do Brasil desde1996, quando o Banco Mundial começou o estudo

49

PrimeiroPLANO . ano 2 . no7 . set/out/nov 2007

“Temos que colocar em prática o que dizemos no discurso. Aeducação é que vai mudar o cenário de ética desacreditada e cor-rupção institucionalizada”, disse Sônia Regina Hess de Souza, presi-dente da Dudalina S.A., empresa de confecções e signatária do PactoEmpresarial pela Integridade e contra a Corrupção.

Para fazer o dever de casa, a empresa tem desenvolvido diversasações com seus funcionários, clientes, fornecedores e parceiros paraatingir os objetivos do Pacto. A Dudalina desenvolveu o próprio Códi-go de Ética e criou o seu Comitê de Ética, composto por seis membros:um coordenador, um representante da área de Qualidade, dois repre-sentantes da Unidade Industrial e dois representantes da área de Re-cursos Humanos. Esse comitê tem algumas funções específicas deter-minadas pelo Código, como definir os princípios éticos, divulgá-los eaplicá-los. Os participantes atuarão por um período de três anos, de-pois novos integrantes serão escolhidos.

Além dessas ações, a empresa implantou uma ouvidoria, cujo obje-tivo é conhecer os possíveis desvios de comportamento, e não sim-plesmente punir os colaboradores. “Sempre trabalhamos com o objeti-vo de orientar. O que queremos são mudanças de comportamento.Costumo dizer que é fácil reclamar; difícil é fazer diferente”, afirmaSônia. Além de acesso à ouvidoria, os funcionários dispõem de umaurna na qual podem depositar sugestões e denúncias anonimamente.

tidades e agentes públicos em doisgrande seminários e assim coletaramsubsídios para a redação da primeiraversão do Pacto. Essa versão foi sub-metida à consulta pública durante 90dias, recebendo sugestões de diver-sas empresas, entidades e cidadãos.

Magri destaca que a iniciativa sur-giu da constatação de que o Brasil nãodeve continuar pagando o custo so-cial, econômico e político provocadopelos sucessivos casos de corrupçãoque aparecem no país.

O texto final do Pacto, batizado deEmpresa Limpa, contém um conjuntode diretrizes e procedimentos que de-verão ser adotados pelas empresas eentidades signatárias no relaciona-mento com os poderes públicos e quesão divulgados para o mercado utili-zar como referência no trato com asempresas. Seus princípios estão ba-seados na Carta de Princípios de Res-ponsabilidade Social, na Convençãoda ONU contra a Corrupção, no 10ºprincípio do Pacto Global e nas dire-trizes da OCDE (Organização paraCooperação e o DesenvolvimentoEconômico). (veja quadro)

Magri diz que “o compromissodeve ser de todos setores da socieda-de e as empresas precisam atuar paradifundir a ética nos negócios sob penade não ter continuidade no Mercado”.O membro do PACI, Jermyn Brooks,declarou que “cada vez mais nós pe-dimos para que os executivos pelomundo dêem um passo adiante no pro-cesso de anti-corrupção e ajudem tra-zendo mais empresas para aumentar aárea de atuação”.

Segundo a Convenção das Na-ções Unidas Contra a Corrupção a cor-rupção deixou de ser um problema lo-cal para converter-se em um fenôme-no transnacional que afeta todas associedades e economias. Portanto,

apesar de cada país precisar agirinternamente, a cooperação

internacional é funda-mental para prevenção

e luta contra a corrup-ção.

PROMOÇÃO DO PACTO

CUSTOS DA CORRUPÇÃO

(Fontes citadas pela Revista Exame de 20/7/2005: Marcos Fernandes/FGV e Transparência Brasil)

- Estima-se que o PIB deixa de crescer dois pontos percentuaispor ano devido a corrupção

- 21% das empresas aceitam o pagamento de subornos para

conseguir favores"

- 70% das empresas gastam até 3% do faturamento anual compropinas

- 96% das empresas dizem que a corrupção é um obstáculo

importante para o desenvolvimento

50

PrimeiroPLANO . ano 2 . no7 . set/out/nov 2007

AMBIENTE Cuidando da vida

USO DO CARVÃO

O Ministério doMeio Ambiente criouum grupo de trabalhopara estudar alterna-tivas do uso do car-vão na cadeia produ-tiva. A intenção é pro-por normas para ser-vir de base às políti-cas públicas e às le-gislações sobre otema. "O desafio éaliar o uso sustentá-vel da vegetaçãocom a necessidadeenergética do setorprodutivo", disse o di-retor do Departamen-to de Florestas do Mi-nistério do Meio Am-biente, Leonel Perei-ra. O Grupo deve de-talhar o processo dacadeia produtiva,desde a qualidadelegal do material con-sumido na indústriaaté a forma de produ-ção do carvão. Se-gundo o diretor serãoestudadas novastecnologias paramelhorar a eficiênciaenergética e tambémformas de associar aprodução do carvãoàs demais ativida-des florestais.

www.meioambiente.gov.br

1milhão é o núme-ro estimado de sis-temas domésticosde energia solarinstalados nos pa-íses em desenvol-vimento. Existemaproximadamente150 mil sistemasdomésticos deenergia solar noQuênia, mais de100 mil na China,60 mil na Indoné-sia e mais de 300mil lanternas sola-res na Índia.

Fonte:www.greenpeace.org

O equívoco daretomada de Angra 3

este ano faz 20anos do aciden-te do Césio-137,em Goiânia.

Conversando com OdessonAlves Ferreira, irmão do donodo ferro-velho onde o aciden-te começou, é possível perce-ber as terríveis marcas que atragédia deixou nas vítimas doacidente. “Segurei por algunssegundos 19 gramas de Cé-sio-137. Vinte anos depois, ain-da carrego as marcas na mi-nha mão, no meu corpo e naminha alma”, afirma em umdepoimento emocionado.Odesson é membro da famí-lia mais afetada no acidente,que matou, em poucas sema-nas, quatro pessoas.

Outras 59 morreriam pordoenças relacionadas à radi-ação nos 20 anos subsequen-tes. O acidente ainda conta-minou, segundo as estatísticasoficiais, totalmente subestima-

das, 675 pessoas. “Pelo des-caso das autoridades, nuncasaberemos o número exato dasmilhares de vítimas e pessoascontaminadas. Além disso, 19gramas de césio geraram maisde 20 toneladas de lixo radio-ativo”, conclui Odesson.

O que é considerado o pioracidente radiológico de toda ahistória mostra os impactosque um acidente com materi-al radioativo pode provocar, emquestão de segundos, nas pes-soas e no meio ambiente.Exemplos de outros episódiosainda mais graves não faltam:Chernobyl, Three Mile Islande as bombas de Hiroshima eNagazaki.

Apesar das lições históri-cas, em reunião do dia 25 dejunho de 2007, o Brasil assis-tiu a mais uma sinalização cla-ra de que o governo pretenderetomar o Programa NuclearBrasileiro, com a recomenda-

NGabriela Michelotti*

FE

LIP

E B

AR

RA/G

RE

EN

PE

AC

E

Greenpeace fez manifestações contra energia nuclear

51

PrimeiroPLANO . ano 2 . no7 . set/out/nov 2007

zes mais empregos.A “Agenda Elétrica Sustentá-

vel”, da WWF/Unicamp, lança-da em setembro de 2006, e o re-latório “Revolução Energética”,do Greenpeace/USP, de feverei-

ção do Conselho Nacional de Po-lítica Energética (CNPE) para aretomada das obras da usina deAngra 3. O governo brasileiro in-siste em levar adiante o Progra-ma Nuclear Brasileiro, criado du-rante a ditadura militar, que alme-java desenvolver no país a tecno-logia para a construção da bombaatômica. Aliás, até hoje ainda nãoestão bem claras as reais inten-ções do programa, se para fins bé-licos ou para fins energéticos. Osreatores que produzem energia sãoos mesmos que produzem a bombaatômica, já que, em ambos os ca-sos, produz-se uma grande quanti-dade de material radioativo capaz degerar uma reação em cadeia.

A decisão final sobre a expan-são do parque atômico brasileiroestá agora nas mãos do presiden-te Luís Inácio Lula da Silva. “Opresidente Lula pode optar por in-vestir bilhões de reais de recursospúblicos na expansão do parque atô-mico ou estruturar uma matriz ener-gética limpa e renovável que garan-ta a segurança energética de que oBrasil precisa para crescer”, decla-rou Guilherme Leonardi, da campa-nha de energia do Greenpeace.

Além disso, é de conhecimen-to público que Angra 3 não vaiafastar o risco de apagões, já quelevará pelo menos seis anos paraficar pronta e consumirá, no míni-mo, mais R$ 7,4 bilhões. Do pontode vista da geração de energia, aopção nuclear é a mais onerosa eexige fartos subsídios governa-mentais. Com a verba previstapara a usina nuclear, seria possí-vel construir um parque de turbi-nas eólicas com o dobro da potên-cia de Angra 3 (1.350 MW), emapenas dois anos, gerando 32 ve-

*Jornalista e mestre em CiênciaAmbiental, assessora de comunicaçãodo Greenpeace Brasil.

ro de 2007, mostram que é viávelconciliar desenvolvimento social eeconômico com sustentabilidadeenergética, adotando uma matrizsustentável e abandonando as fon-tes sujas e poluidoras.

A sociedade civil também estáengajada na luta contra Angra 3 eo Programa Nuclear Brasileiro.No dia 08 de agosto, mais de 200pessoas de diversas regiões dopaís reuniram-se nesta quarta-fei-ra na Praça dos Três Poderes, emBrasília, em ato público promovidopela SOS Mata Atlântica, Greenpe-ace e WWF-Brasil, entre outras.

Agora, cabe ao presidente Luladecidir sobre a matriz energéticabrasileira, validando a decisão doCNPE, que vai gastar mais dinhei-ro em uma energia poluidora e pe-rigosa, ou optando por um futurolimpo e sustentável para o Brasil,com uma matriz baseada em re-nováveis como a energia eólica,solar e biomassa, como queremos brasileiros a a sociedade civil.

A Coca-cola anunciou quefará investimentos e modificaráoperações para reduzir o usode água em suas fábricas efranquias, reutilizar a água queserve para fabricar seusprodutos e incentivar apreservação de fontes naturais.A promessa foi feita durante areunião anual da FundaçãoWWF (antes conhecida comoFundo Mundial para aNatureza) em Pequim, onde acompanhia anunciou tambémuma parceria com a Fundação,que prevê investimentos de 20milhões de dólares para seteprojetos para conservação eproteção de rios em diferenteslugares no mundo. “Estamosfocando na água porque éonde a Coca-cola podeprovocar um impacto real epositivo. Nosso objetivo é reporcada gota de água queutilizamos em nossas bebidase na nossa produção”, afirmaE. Neville Isdell, diretor daempresa. Em 2006, a Coca-cola e suas franquiasutilizaram aproximadamente290 bilhões de litros de águapara a produção de bebidas.Desse total, aproximadamente114 bilhões de litros fizeramparte do conteúdo dasbebidas, enquanto 176 bilhõesforam usados no processo deprodução. A meta para reduçãodo uso da água em escalamundial é 2008. Para 2010 ficao prazo para retornar de formasustentável ao meio ambientetoda a água utilizada pelaempresa. O reabastecimentode água no meio ambienteserá feito através de projetolocais de conversação nascomunidades.

Menos água

FE

LIP

E B

AR

RA/G

RE

EN

PE

AC

E

FLÁVIO CANNALONGA/GREENPEACE

RO

DR

IGO

BA

LEIA

/GR

EE

NP

EA

CE

Projetos Energia eólica

Manifestação Energia solar

52

PrimeiroPLANO . ano 2 . no7 . set/out/nov 2007

Estima-se que o número decomputadores pessoais (PCs)em funcionamento no mundodeva chegar a cifra de um bi-lhão em 2008. Desde o seusurgimento nos anos 1970, atéchegar a essa marca, passa-ram-se um pouco mais de trêsdécadas. Porém, para dobraresse número serão necessá-rios apenas sete anos. De acor-do com estimativa da consulto-ria Forrester Research, em2015 haverá dois bilhões dePCs no mundo.

Essa expansão tem aspec-tos preocupantes. O primeiro éque a indústria de computa-dores e seus periféricos éuma das que, proporcio-nalmente ao peso dosseus produtos, mais conso-me recursos naturais, tanto naforma de matéria-prima, comoem termos de água e energia.

Segundo a Universidadedas Nações Unidas (UNU), umcomputador comum (24 quilos,em média) emprega ao menosdez vezes o seu peso em com-bustíveis fósseis e 1.500 litrosde água em seu processo defabricação. Esta relação supe-ra a dos automóveis, que utili-zam duas vezes o seu peso emmatéria-prima e insumos.

É bom lembrar que os pro-cessos de fabricação podemvariar de país para país, bemcomo os programas de geren-ciamento de resíduos.

DESCARTE

A indústria de computado-res também apresenta um pro-blema muito sério: o descartedesses equipamentos resultana geração 50 milhões de to-neladas de lixo todos os anos,segundo o Programa de De-senvolvimento das Nações Uni-das. É uma montanha commais de 200 milhões de PCscompletos, que tende a saturar

CONSUMO CONSCIENTE Escolhas felizes

Fósseis decomputadores

18 SEGUNDOS

No começo desteano foi lançado nosEstados Unidos ummovimento chamado18seconds.org.

De acordo comos organizadores,esse é o tempo quese gasta para trocaruma lâmpada con-vencional por umaeconômica. Com amensagem “Troque alâmpada. Troquetudo”, e apoiado e di-vulgado pelo portalYahoo, o movimentojá contabiliza mais de55 milhões de lâmpa-das trocadas. Deacordo com o site http://green.yahoo.com/18seconds/, essamudança evitou aqueima de mais de2,6 milhões de tone-ladas de carvão e aemissão de 11,25 mi-lhões de toneladasde CO2.

Para se ter umaidéia, durante um vôode São Paulo a NovaYork, o jato emite cer-ca de três toneladasde CO2. Isto significaque para emitir amesma quantidadede CO2 economizadapela troca das lâmpa-das nos EUA, umapessoa teria que fazer3,8 milhões de via-gens à Nova York.

20por cento da mé-dia dos gastoscom a conta de luzsão decorrentesdo uso das lâmpa-das.As lâmpadas con-vencionais usamapenas 10% daenergia consumi-da para iluminarpois 90% restan-tes são desperdi-çados com a gera-ção de calor.

aterros e depósitos, compli-cando ainda mais a gestão deresíduos.

CONSUMO CONSCIENTE

No entanto, é praticamenteinviável prescindir dos compu-tadores. Mas o consumidorpode contribuir para que os re-flexos positivos dessa tecnolo-gia sejam maiores que os da-nos ao meio ambiente (vejaquadro).

COMO AVALIAR ACOMPRA DE UM PC

- Há mesmo necessidade decomprar um novo computa-dor? As vezes, um “upgrade”(troca de peças específicas,mantendo a “carcaça”) bastapara atender às necessidadesdo momento.

- Tentar consertar o computa-

dor, em vez de aproveitar o

primeiro problema para trocar a

máquina por outra nova

- Será que é mesmo funda-mental trocar um monitor de14 polegadas por um maior?

- Caso não seja possível, refle-

tir sobre as reais necessidades

que devem ser atendidas por

este novo equipamento.

- O que fazer com o computa-dor velho? Uma alternativa éprocurar alguma empresa quefaça a reciclagem dos equipa-mentos. Outra possibilidade édoar o computador antigo.

53

PrimeiroPLANO . ano 2 . no7 . set/out/nov 2007

Mais inadimplentesA inadimplência dos consumidores brasileiros subiu 1,2% nos

primeiros três meses de 2007 em relação ao mesmo período noano anterior. A medição é do Indicador Serasa de Inadimplência -Pessoa Física, que também revelou que em março, o índice au-mentou 13,3% em relação ao mês anterior. O levantamento mos-trou também que as dívidas em atraso com bancos continuam cres-cendo e respondem por 37,5% de toda a inadimplência. O cresci-mento da inadimplência gera um clima de desconfiança no merca-do, o que torna mais difícil para os consumidores em geral compra-rem a prazo. Para compensar um possível calote, os bancos, asagências de crédito e os comerciantes aumentam as taxas de ju-ros dos pagamentos a prazo. Com juros maiores, todos acabampagando mais do que pagariam se houvesse uma confiança maiorpor parte dos emprestadores.

PEQUENAS DECISÕESGRANDES ATITUDES

DICAS

Adotar o hábito de fazer um orçamento doméstico cons-ciente é uma boa iniciativa para evitar a inadimplên-cia. O orçamento consciente não inclui somente o di-nheiro que entra e sai do caixa, mas também a refle-xão sobre suas necessidades. É sempre importanteque o indivíduo, ao consumir, analise qual o fator queestá decidindo a sua tomada de crédito: se o desejo, avaidade ou a pressão de alguém ou se é realmenteuma necessidade.

Não precisa sermestre ou doutor emalguma área deconhecimento paracontribuir com oprocesso dedesaceleração doaquecimento global.Conseguir diminuir oconsumo de energia éum importante passo equalquer ação ajudamuito. Quem dá asdicas é o engenheiroLuiz AntonioGarbelotto, dodepartamento deEngenharia Comercialda Celesc (CentraisElétricas deSanta Catarina)

ALGUMAS DICAS DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA:

CONSTRUINDOOU DECORARANDOComo as pessoas podemdiminuir o gasto deenergia?-Projetar edificações queprivilegiem oaproveitamento da luznatural do dia;- Instalar equipamentoselétricos de maioreficiência energética;- Aproveitar a energia solarpara aquecimento de água;- Usar materiais queproporcionem melhorisolamento térmico emrelação ao ambienteexterior (telhados eparedes).

EM CASA.O que uma família podefazer para diminuir oconsumo de energia?-Substituir lâmpadasincandescentes porflorescentes compactas; - Ajustar o chuveiroelétrico para atemperatura da estação eao usá-lo não demorarmuito tempo no banho.

NO TRABALHOComo as pessoaspodem colaborar?-Manter as lâmpadasapagadas nosambientes onde hajailuminação naturalsuficiente e tambémnos ambientes ondenão haja ninguém;- Quando for usado ocondicionador de ar,manter fechadasportas e janelas, a fimde aumentar aeficiência térmica.

DIETACONSCIENTE

Um estudo acadêmico feito nosEstados Unidos comprovou que nos-sos hábitos alimentares têm relaçãodireta também com a "saúde" do pla-neta. De acordo com a pesquisa,adotar uma dieta vegetariana é umaforma simples de consumir semagredir o meio ambiente, enquantoque hábitos alimentares com predo-minância de comida industrializadae rica em proteína animal contribu-em diretamente para um dos proble-mas ambientais que mais ameaçamo mundo: o aquecimento global. A pro-dução, a estocagem e a conserva-ção de alimentos enlatados, embuti-dos e fast-food - todos com proces-samento industrial - é responsávelpor cerca de 20% da queima de com-bustíveis fósseis (derivados do pe-tróleo) nos EUA. Gidon Eshel e Pa-mela Martin, os autores do estudo,comparam as diferenças entre umadieta vegetariana e outra compostapor produtos industrializados àsmesmas existentes entre um carrode passeio e um jipe utilitário.

54

PrimeiroPLANO . ano 2 . no7 . set/out/nov 2007

Por um mundo melhorAGENDA GLOBAL

NOS LUGARES

ONDE O

DESENVOLVIMENTO

DEMORA A CHEGAR,

PROJETOS COM

ATORES DE VÁRIOS

ORGANISMOS

CONSEGUEM

TRANSFORMAR A

REALIDADE VEREDASDESENVOLVIM

Tear

55

PrimeiroPLANO . ano 2 . no7 . set/out/nov 2007

55

or muito tempo, um dos indi-cadores utilizados para me-dir o desenvolvimento deuma cidade ou país era oProduto Interno Bruto (PIB).Desde 1990 foi implantado

no mundo o conceito de Desenvol-vimento Humano, que é a base doRelatório de Desenvolvimento Hu-mano (RDH), publicado anualmen-te, e também do Índice de Desen-volvimento Humano (IDH). A cargodo Programa das Nações Unidaspara o Desenvolvimento (PNUD), oRelatório parte do pressuposto deque para aferir o avanço de uma po-pulação deve ser considerado tam-bém as características sociais, cul-turais e políticas que influenciam aqualidade da vida humana.

P

10DIADa janela do avião eu vejo o extintovulcão da Serra de Caldas. Um vul-cão no Brasil? Dez anos no país eainda tanta coisa para aprender!Estamos chegando ao Vale do RioUrucuia, perto da fronteira dos Es-tados de Minas Gerais, Goiás eBahia, à beira do Parque NacionalGrande Sertão Veredas, assim cha-mado em homenagem à obra-pri-ma de Guimarães Rosa. É um dosmuitos lugares do interior do Brasilonde expressões do tipo Bovespa,taxa Selic, risco Brasil, superávit pri-mário, ou balança comercial, nãoparecem fazer parte da vida das pes-soas que ali vivem.Uma primeira revisão dos dadosdisponíveis mostra que na décadapassada houve progresso com achegada de serviços públicos es-senciais no Vale. De 1991 a 2000 oanalfabetismo foi dizimado e a fre-quência ao ensino médio quintupli-cou. Na mesma década a mortali-dade infantil foi reduzida quase à

metade e a expectativa de vida au-mentou em quatro anos.Entretanto, com relação à evoluçãodo terceiro componente de desen-volvimento humano, - a renda - osindicadores revelam a fragilidadeda região. De 1991 a 2000 o per-centual de pessoas em situação depobreza, ou seja com menos demeio salário mínimo, diminuiu ape-nas 10%. A renda proveniente dotrabalho teve nesse período umaqueda brutal e a dependência dastransferências governamentais au-mentou consideravelmente.Então, o que significa desenvolvi-mento para a população do Vale doRio Urucuia hoje em dia? Como é aluta de uma região cujos principaisprodutos de “exportação” são carvãovegetal para as siderúrgicas minei-ras e jovens para o mercado de tra-balho dos grandes centros urbanos?E como um conjunto de ações parao desenvolvimento com um orçamen-to e tempo limitados contribui paraque 100 mil habitantes numa áreado tamanho do estado de Alagoasencontrem seus caminhos?

De olho nestas dimensões que vãoalém da renda, o colaborador daRevista Primeiro Plano, Pieter Sij-brandij, realizou uma viagem a con-vite da Fundação Banco do Brasilpara conhecer o trabalho realizadono Vale do Rio Urucuia, em MinasGerais.As ações são desenvolvidas atra-vés de projetos co-financiados pelaFundação em parceria com prefei-turas locais, os Ministérios de Inte-gração e de DesenvolvimentoAgrário e o Sebrae. Todos juntosem prol do desenvolvimentosustentável.Na viagem , Pieter es-creveu suas impressões sobrecada um dos locais visitados nosertão perto da fronteira dos esta-dos de Minas Gerais, Goiás e Bahia.

DOENTO

TEXTO E FOTOS:

Pieter Sijbrandij

Forró faz parte da cultura

56

PrimeiroPLANO . ano 2 . no7 . set/out/nov 2007

O

D 20DIADaniel Oliveira Piantino é técni-co agropecuário e funcionário da“Agência de Desenvolvimento Inte-grado e Sustentável do Vale do RioUrucuia”, entidade da sociedade ci-vil responsável pela execução dosprojetos, que conta com apoio daFundação Banco do Brasil e Sebrae,entre outras instituições. Ele é o nos-so guia para conhecer algumas dasatividades que a Agência desenvol-ve. Numa van com uma dezena dejornalistas, cinegrafistas e fotógra-fos exploramos o Vale pelas suasestradas de chão batido. Daniel falacom paixão sobre o trabalho queestá desenvolvendo, mas também,nos alerta: “A fase de implantação édifícil. No final do ano que vem, asituação vai estar diferente”.

No caminho passamos por umterreno com uma escavação e umapequena elevação na borda em for-ma lunar. Daniel explica que é umapequena barragem que força a águada chuva a empoçar, reduzindo as-sim a erosão, aumentando a umi-dade do solo e alimentando o len-çol freático. O custo dessas peque-nas barragens é estimado em 300reais. Já foram construídas mais deduas mil e quinhentas em todo oVale. É um dos resultados mais tan-gíveis da Agência até o momento.

A seguir, paramos numa escolaantiga que agora serve de sede daAssociação das Artesãs de Sagara-na “Tecelagem das Veredas”. As ar-tesãs da associação estão resga-tando sua historia. Compram algo-dão, fazem a linha e com teares do-ados pela ONG “Artesenato Solidá-rio” produzem cortinas, panos emantas. Um par de cortinas sai porR$ 79,00 e é feito em dois dias detrabalho com dois quilos de linha.“É serviço pesado, igual que na roça,mas é melhor por causa da som-bra.”, diz dona Maria Vitória Pereirada Silva, viúva de 46 anos. O fato deuma manta produzida por elas terestado entre os finalistas do PrêmioPlaneta Casa Claúdia, em 2006, nãolivrou a associação do desafio bemconhecido no mundo do artesana-to: vender. “Não é uma venda que dápara construir as coisas que a gen-te precisa.” afirma dona Maria Vitó-ria. Segundo as artesãs as vendasnas feiras de Belo Horizonte, Mon-tes Claros e Brasília estão caindoultimamente.

AA próxima parada é no assenta-mento “Para Terra” no município deRiachinho. O projeto da Agência é aprodução de ração animal a partirde mandioca, reduzindo assim a de-pendência da compra de ração defora da região na época de estiagem.Os assentados seguem uma fórmu-la desenvolvida pela Embrapa. Oprocesso implica em picar a mandi-oca, secá-la, para depois voltar a tri-turá-la mais fina e acrescentar as fo-lhas da planta para ter mais proteí-nas. Para chegar a uma boa raçãopretendem balancear a mandiocacom um pouco de uréia, melaço decana, minerais e farelo de soja. “Agente pensava que sabia aproveitar[a mandioca], mas não sabia não”,conta Valdevino Pereira de Souza,operador das instalações. Porém,as operações começaram tarde esteano, segundo Valdevino por causada falta de capital de giro. Outrosobstáculos sinalizados por ele sãoa falta de transporte e um terreiromaior para obter escala e tornar oempreendimento rentável.

O último projeto da Agência que visitamos é uma estufa commilhares de mudas. A estufa faz parte da promoção da fruticulturana região. Considerando que grande parte dos hortifrutigranjei-ros consumidos nos municípios vêm fora da região, essa é umainiciativa bastante adequada. Ao lado da estufa há três constru-ções novas em folha. São entrepostos, ainda não equipados,que permitem futuramente processar as frutas, os peixes do pro-jeto da piscicultura e o mel do projeto de apicultura. O processa-mento vai agregar valor e a intenção é capitalizar no valor simbó-lico da região através de uma marca própria: “Produto UrucaiaGrande Sertão”.

Voltando para o nosso hotel em Arinos, uma caminhoneta emalta velocidade cruza o nosso caminho. Estamos cegos de tantapoeira que levanta. A van para e aguarda o pó assentar. Refleti-mos sobre o trabalho árduo e os projetos em curso. Daniel tinhaavisado que o verdadeiro impacto das atividades ainda está porchegar. Mas, como projetos pequenos com tantos obstáculos avencer podem em conjunto fazer uma diferença significativa parao desenvolvimento sustentável da Vale do Rio Urucuia?

Raçãofeita emcasa

Mantas confeccionadas pelas artesãs já ganharam prêmio

57

PrimeiroPLANO . ano 2 . no7 . set/out/nov 2007

N

A

www.fbb.org.br / www.artesol.org.brwww.valedoriourucuia.org.br

Com uma santa paciência ele co-loca os projetos que visitamos on-tem num contexto de desenvolvi-mento e de construção do Estado.“A diversificação da base produtivaé vacina à anemia econômica daagricultura familiar”, diz Idelbrando.O trabalho com uma abordagem decadeias produtivas visa além daprodução sustentável de fruticultu-ra, artesanato, apicultura, turismoecológico, etc, e incorpora um tra-balho mais firme da relação com omercado. São apostas da Agênciapara oferecer mais alternativas paraos jovens e, assim, retê-los na re-gião.

Alternativas de renda é apenas umaprimeira fase. “A sustentabilidadeestá relacionada com o princípio dacidadania”, afirma Idelbrando. Suaexpectativa é que a articulação dosdiversos atores sociais com comi-tês gestores para os projetos, even-tos de socialização de experiênci-as, atividades de informação e co-municação, cursos de inclusão di-gital, permita suportar as alternân-cias do poder e assim trazer maiscontinuidade.

Mas a visão do articulador não parapor aí. Idelbrando chama as açõesde “redemocratização da democra-

30D

IAA resposta à minhainquietação vempelas palavras deIdelbrando Ferreirade Souza, nativoda região e comuma longatrajetória emeducação e políticalocal. Ele é o“articulador” daAgência.

cia”, uma situação onde os cida-dãos participem verdadeiramentee construam um Estado mais for-te. Seu sonho é que este processoculmine em 2022, ano do bicente-nário da independência do Brasil.

Visto dessa perspectiva, os peque-nos projetos da Agência, cada umcom seus desafios, começam a terum outro valor. Trata-se, em primei-ra instância, do processo de apren-dizagem e de reencontrar a fé naforça da coletividade.

A prova disso vem poucas horasdepois. Um barulho ensurdecedoré causado por dezenas de pesso-as que apertam um balão contra opeito e o estouram antes de seabraçarem. O “foguetório” marca ofim do encontro das lideranças co-munitárias envolvidas nos diversosprojetos da Agência.

É um momento especial onde épossível sentir fisicamente o quesignifica a oitava meta do Milênio:todos trabalhando pelo desenvol-vimento.

O grupo se dissolve, chegou a horada curtição das diferentes ativida-des do VI Encontro dos Povos doGrande Sertão Veredas.

Na viagem de volta, os meus encontros com os povos do grande sertãoecoam sem parar. Nós, de fora, costumamos pensar que o sertão é umlugar onde o tempo parou, mas isso não parece válido para os habitantesde lá.O tempo não parou para Daniel, que recém começou um curso de gradua-ção a distância em agronegócios na Universidade de Uberaba (MG). Disseaos seus professores que não queria aprender somente sobre cana, carnee soja, mas também sobre as culturas da agricultura familiar.Para Meurileide, Lucineide, Marcela e Graziela, quatro mulheres jovens quecursam o ensino médio - oportunidade que nenhum dos seus pais teve -nem o tempo, nem elas, estão parados. Elas querem estudar teatro, enfer-magem, computação. Querem viajar, sair um tempo para Brasília ou para oRio de Janeiro, antes de voltar.Para o menino porteiro e guarda noturno do hotel, a curiosidade por infor-mação, não permite que o tempo pare. Ele pediu um exemplar da revistaPrimeiro Plano e não a largou nos dois dias que o vi, ávido por leitura nesselugar remoto.

40DIA Para Cláudio, professor de história, otempo não está parado. Ele montoucom amigos uma vendinha na feirado VI Encontro, sem nada à venda,apenas pinga de graça. A venda eraum espaço de encontro, de filosofiae de socialização.

Para estas pessoas, o significado devereda, que segundo o dicionário éuma pequena depressão onde háágua e buritis, ou seja, um oásis nomeio da caatinga, significa muitomais. Quer dizer rumo, direção, opor-tunidade. Com esta perspectiva, a vi-sita ao Vale do Rio Urucuia para co-nhecer os projetos da Fundação doBanco do Brasil foi um inestimávelencontro com as pessoas suas his-tórias e expectativas que deu umamostra excelente das veredas do de-senvolvimento feito pela gente do gran-de sertão.

Música no final das atividades

AENTREVISTA

58

PrimeiroPLANO . ano 2 . no7 . set/out/nov 2007

Quais são as principais iniciativascontidas no Plano Estratégico 2015da Petrobras para contribuir com odesenvolvimento sustentável doBrasil?A Petrobras tem política específicapara as questões de segurança, meioambiente, que integra o seu PlanoEstratégico 2015 e quinze diretrizescorporativas que norteiam a atuaçãoempresarial a fim de orientar a bus-ca pela excelência. As orientaçõessão detalhadas em 79 requisitos degestão ambiental, elaboradas deacordo com os padrões internacio-nais. O Plano Estratégico 2015 nãoenvolve apenas o controle do desem-penho econômico, mas também ocomprometimento em relação aomeio ambiente e em relação a diver-sos setores da sociedade. Com acriação do Programa Petrobras FomeZero, a Companhia patrocina proje-tos baseados na multiinstitucionali-dade e no protagonismo social doscidadãos, sempre nas linhas de edu-cação e qualificação profissional dejovens e adultos, geração de empre-go e renda e garantia dos direitos dacriança e do adolescente. Além dedesenvolver técnicas e tecnologiasoperacionais que respeitem o meioambiente, a Companhia, através doPrograma Petrobras Ambiental, patro-cina projetos que visam a proteçãoambiental e o incremento da consci-ência ecológica das comunidades.São desenvolvidas e apoiadas inici-ativas que buscam a promoção e aconscientização sobre o uso racionaldos recursos hídricos; a manutençãoe recuperação das paisagens para ofuncionamento do ciclo da água; e apromoção da gestão e conservaçãodas espécies e ambientes marinhosameaçados. As ações da Petrobrastambém se destacam com o desen-volvimento de combustíveis mais lim-pos. O aumento da eficiência ener-gética é meta que perpassa váriasorientações do Plano Estratégico Pe-trobras e das Políticas e DiretrizesCorporativas de SMS. Também sãofeitos investimentos com o objetivode reduzir a emissão de gases de

A Petrobras está num processo contínuo de

aprimoramento do modelo de Governança

Corporativa. O Comitê de Gestão de

Responsabilidade Social e Ambiental, ligado ao

Comitê de Negócios da Companhia, discute e

delibera sobre as ações corporativas nestes

setores. Nesta entrevista para a Revista Primeiro

Plano, o gerente de Responsabilidade Social da

empresa, Luis Fernando Nery, fala dos valores

fundamentais nas áreas de direitos humanos, meio

ambiente, investimentos em energias renováveis,

relações trabalhistas e transparência. No último

mês de junho a Petrobras lançou o

Balanço Social Ambiental 2006.

ENERGIADO SOCIAL

ENERGIADO SOCIAL

DIV

ULG

ÃO

PE

TRR

OB

RA

S

Luis Fernando Nery

ENTREVISTAE

59

PrimeiroPLANO . ano 2 . no7 . set/out/nov 2007

efeito estufa, principais responsáveispelo aumento da temperatura global.Entre as ações realizadas estão omonitoramento e melhoria de proces-sos internos; estudo e implementa-ção de tecnologias limpas com vis-tas ao uso de fontes de energias al-ternativas e renováveis; e a participa-ção em fóruns de discussão sobre ogerenciamento efetivo do risco car-bono. A Petrobras aumentou, porexemplo, o investimento no uso dasenergias renováveis, dando ênfaseaos biocombustíveis e, em especial,ao etanol. O produto garante maiordiversidade energética e traz vanta-gens para o meio ambiente. A Com-panhia projeta disponibilizar 855 milm3/ano de biodiesel, o processa-mento de 425 mil m³/ano de óleo ve-getal com a aplicação da tecnologiaH-Bio e exportar 3,5 milhões de m3de álcool combustível, além das ex-periências feitas com energia eólica,solar e de biomassa.

A produção de gás e petróleo é in-dispensável ao desenvolvimento dopaís, no entanto, especialmente opetróleo e seus derivados, trazemenormes conseqüências para oaquecimento global. Quais são asprincipais medidas ou planos da Pe-trobras para minimizar seus efei-tos?A Petrobras aumentou significativa-mente, nos últimos anos, seus inves-timentos em combustíveis mais lim-pos e energias renováveis, que con-tribuem para a redução das emis-sões. A Companhia desenvolve pro-gramas de eficiência energética como intuito de consumir e poluir menos.A Petrobras está em um novo pata-mar de mobilização nesse sentido. Aforça de trabalho participa através deComissões Internas de Conservaçãode Energia. A partir de suas iniciati-vas, as unidades operacionais estãoadotando projetos de melhoria emprocedimentos e investindo em tec-nologias que aliam o uso eficiente deenergia à redução de emissões degases de efeito estufa.Hoje, a empresa direciona esforços

para a produção e comercializaçãode biodiesel, importante alternativarenovável diante dos desafios ambi-entais do século 21. Produzido a par-tir de oleaginosas, o biodiesel repre-senta economia de petróleo, emitemenos CO2 que o diesel mineral enão possui enxofre. Alternativas ener-géticas que causem menos impactoao meio ambiente como biodiesel,etanol, além da energia eólica, solarjá é um compromisso que a Petro-bras tem há mais de uma década,com o Programa Interno de Preser-vação de Energia, que atua na pre-venção do desperdício de matérias-primas e insumos. O modelo de ges-tão de segurança, meio ambiente esaúde (SMS) da Petrobras tem sidoreconhecido dentro e fora do Brasil,como indica a inclusão da empresanos índices Dow Jones de Sustenta-bilidade, da Bolsa de Nova York, e deSustentabilidade Empresarial da Bo-vespa.

É muito importante a decisão dasempresas de apoiar os princípios doGlobal Compact da ONU. De que for-ma ocorre o alinhamento das inicia-tivas da Petrobras com estes prin-cípios da ONU?Desde 2003, a Petrobras tem condu-zido sua atuação social e ambientalbaseando-se nos dez princípios doPacto Global da Organização dasNações Unidas (ONU). A Companhiaincorpora estes princípios à sua es-tratégia de atuação nos países ondeestá presente e participa ativamenteda disseminação do Pacto no meioempresarial, por acreditar que o de-senvolvimento sustentável necessitada contribuição dos diversos seg-mentos da sociedade e, claro, da par-ticipação das comunidades.A Petrobras assumiu compromissocom os princípios do Pacto e alterouo seu Planejamento Estratégico comdiretrizes orientadas pelos principaisindicadores internacionais de res-ponsabilidade social e ambiental.Hoje, todas as atividades estão ali-nhadas ao Pacto e a Companhiaapóia o desenvolvimento de tecnolo-

gias sociais e projetos de inclusãosocial e melhoria da qualidade de vidade comunidades.Em abril de 2006, o presidente daPetrobras, José Sérgio Gabrielli deAzevedo, foi convidado a integrar oConselho do Pacto, composto de 25membros que incluem representan-tes de empresas, associações em-presariais e de trabalhadores e ou-tras organizações da sociedade civil.A Companhia é a primeira empresada América Latina a integrar o grupo.No Brasil, a Petrobras participa do Co-mitê Brasileiro para o Pacto desde 2003e, também em 2006, passou a ocuparsua vice-presidência empresarial.

A Petrobras atua em diversos paí-ses, até que ponto a política de RSEse aplica também nas operaçõesinternacionais?A Petrobras tem como missão atuarde forma segura e rentável, com res-ponsabilidade social e ambiental,nos mercados nacional e internacio-nal e contribuir para o desenvolvi-mento do Brasil e dos países onde aCompanhia está presente. Os ativos,operações e negócios da Petrobrasno exterior se estendem hoje a 27países e, a atuação da Petrobras noâmbito internacional assim como noBrasil, buscam rentabilidade e efici-ência com ética nos negócios, res-ponsabilidade social e ambiental,respeito à diversidade cultural e con-tribuição para o desenvolvimento lo-cal e regional.Em todos os lugares onde a Petro-bras realiza suas atividades, a em-presa desenvolve iniciativas voltadaspara as áreas de educação e saúde,busca melhorar os níveis de inclusãoe integração social, principalmentedas crianças, adolescentes e jovensatravés de programas de caráter so-cial, ambiental e cultural.São seisUnidades de Negócio, que atuamcomo empresas na Argentina, Ango-la, Bolívia, Colômbia, Estados Unidose Nigéria. E somam-se atividades emoutros dezoito países: Venezuela,México, Equador, Peru, Uruguai, Pa-raguai, Chile, Tanzânia, Irã, Índia, Lí-

AENTREVISTA

60

PrimeiroPLANO . ano 2 . no7 . set/out/nov 2007

bia, Guiné Equatorial, Turquia, China,Senegal, Moçambique, Paquistão ePortugal. Além disso a Companhiatem escritórios no Reino Unido, Ja-pão e Cingapura.

Quais são as principais cláusulascontidas do Programa de Gestão deFornecedores (Progefe) em relaçãoàs empresas sub-contratadas paraque elas adotem práticas respon-sávies? O que ocorre quando estascláusulas não são implementadas?O Progefe, criado pelo setor de En-genharia da Petrobras, a partir daaplicação dos indicadores Ethos e decritérios de Segurança, Meio-ambi-ente e Saúde para avaliar os forne-cedores, foi ampliado para o uso emtoda a Petrobras, sendo incorporadoà gestão geral da aquisição de mate-riais, passando a valer como regrasde qualificação ao ingresso no Ca-dastro Único de Materiais.A Petrobras exige de todos os seusfornecedores, um perfil ético emsuas práticas de gestão e de respon-sabilidade social e ambiental e recu-sa práticas de concorrência desleal,trabalho infantil, trabalho forçado oucompulsório, e outras práticas con-

trárias aos princípios conforme seuCódigo de Ética. A Companhia sus-pende contratos com a empresa oucom a cadeia produtiva de fornece-dores flagrados com qualquer tipo detrabalho degradante que não esteja deacordo com seus princípios e critérios.

No meio da Amazônia, na Bacia dorio Solimões, há uma Unidade deProcessamento de Gás Natural daPetrobrás (UPGN3). Nestes casos,como a Petrobras enfrenta as ques-tões ambientais e o diálogo com ascomunidades locais envolvidas?Para explorar e produzir petróleo emplena floresta amazônica, a Petrobrasimplantou um projeto com alto nívelde eficiência e qualidade, sob condi-ções seguras e saudáveis e em har-monia com o meio ambiente. Nas ati-vidades da Companhia na região deUrucu, são desenvolvidas atividadesde exploração e produção de petró-leo e gás natural desde julho de1988. No início das atividades na re-gião, a Petrobras tomou a iniciativade procurar as entidades ligadas àpesquisa e a preservação ambientalna Amazônia, e em 1988, promoveuum workshop sobre o assunto com

renomados especialistas em ecos-sistema amazônico. As recomenda-ções deles foram seguidas à risca, ealguns anos depois, em visita a Uru-cu, esses mesmos especialistasafirmaram que a Petrobras havia fei-to muito mais do que tinha sido reco-mendado no que se refere à preser-vação do ecossistema Amazônico. Apartir daí foi elaborado o Plano Dire-tor da Unidade de Negócio da Baciado Solimões. O Plano teve como ob-jetivo orientar a ocupação espacial,os processos, as atividades, as ope-rações, as tecnologias, as pesquisascientíficas e o próprio modelo de ges-tão da exploração e produção de óleoe gás. Este documento apresentou aproposta de um conjunto de diretri-zes relacionadas à proteção da bio-diversidade, a eco-eficiência das ati-vidades e operações, ao controle decontingências e à interface social,econômica e cultural das atividadesde exploração e produção na Amazô-nia, as quais incluem todo o suportelogístico necessário, como transpor-te aéreo, terrestre e fluvial, suprimentoe infra-estrutura.A Petrobras lançouem junho, em Manaus, o Centro deExcelência Ambiental da Petrobras na

RA

IO X

RECEITAS LÍQUIDAS R$ 158,2 milhõesLUCRO LÍQUIDO R$ 25,9 milhõesINVESTIMENTOS R$ 33,7 bilhõesACIONISTAS 247.580EXPLORAÇÃO 63 sondas de perfuração (44 marítimas)POÇOS PRODUTORES 12.895 (725 marítimos)PLATAFORMAS DE PRODUÇÃO 103 (76 fixas;27 flutuantes)PRODUÇÃO DIÁRIA 1.920 mil barris por dia - bpd de petróleoe LGN e 378 mil barris de gás naturalREFINARIAS 16RENDIMENTO DAS REFINARIAS 1.872 mil barris por diaDUTOS 31.089 kmFROTA DE NAVIOS 155 (51 de propriedade da Petrobras)POSTOS DE COMBUSTÍVEIS 5.870 Ativos (638 próprios)

EMPREGOS68 mil

trabalhadores diretosMais de 150 milempregos indiretos

DIV

ULG

ÃO

PE

TRR

OB

RA

S

ENTREVISTAE

61

PrimeiroPLANO . ano 2 . no7 . set/out/nov 2007

Amazônia – CEAP Amazônia. Inova-dor, pró-ativo, o CEAP Amazônia nãosó é emblemático por sua localiza-ção, alvo da atenção mundial, comopela oportunidade que representa deintegrar e potencializar o conhecimen-to científico da região, tornando maiseficientes e seguras as ações em-presariais e os programas sócio-am-bientais ali desenvolvidos.Todos esses cuidados adotados nasoperações de produção, processa-mento e transporte de óleo e gás emUrucu, associados a normas rígidasde segurança, seguidas por toda aforça de trabalho, tornaram as ativi-dades da Petrobras na Amazônia umexemplo de sustentabilidade, conci-liando a exploração dos recursos na-turais com a preservação ambiental.

O número de mulheres em cargosde chefia vem crescendo na empre-sa, sendo que em 2006 representa-va 112,40% de aumento, porém ain-da não há nenhuma mulher ocupan-do cargo de diretoria. O Balanço So-cioambiental 2006 menciona que aPetrobras tem menos de 5% de ne-gros entre seus empregados e noscargos de chefia apenas 3% sãonegros. Quais as atitudes da empre-sa para mudar esta situação?A Petrobras incentiva a promoção daeqüidade de gênero, além de investirem projetos sociais com esse objeti-vo. Em sua constante busca pela pro-moção da diversidade interna, firmouum compromisso para o tratamentoigualitário entre homens e mulheres.Por meio da Comissão de Gênero, aCompanhia aderiu voluntariamenteao Programa Pró-Eqüidade de Gêne-ro do Governo Federal, que visa a im-plementação de políticas de gestãode pessoas que valorizem a eqüida-de entre os sexos. A Companhia com-promete-se com o respeito e a valori-zação das pessoas em sua diversi-dade e dignidade, em relações de tra-balho justas, numa ambiência sau-dável, com confiança mútua, coope-ração e solidariedade Em dezembrode 2006, a Companhia iniciou ummapeamento interno através de um

processo de Censo autodeclaratório,visando conhecer melhor sua reali-dade interna. Após a sua conclusão,será possível desenvolver ações afir-mativas com foco nas minorias, vi-sando fortalecer as políticas internasda Petrobras. Esse trabalho contacom a participação de instituições ex-ternas e deve ser finalizado até o fi-nal deste ano.A progressão profissional, seja dehomem ou mulher, é incentivada pormeio do processo de Avanço de Ní-vel e Promoção, que considera os re-sultados das avaliações realizadaspelos empregados durante o ano,com base nas metas e competênci-as individuais. Esses resultados sãoutilizados como um dos critérios paraprogressão profissional. A funcioná-ria Elza Kallas, por exemplo, é a pri-meira mulher a comandar uma uni-dade industrial da Petrobras à frentede 980 funcionários, sendo 90% de-les homens. Elza coordena a produ-ção diária de 7,8 mil toneladas dexisto na mina de São Mateus do Sulno Paraná. A progressão profissio-nal, seja de homem ou mulher, é in-centivada por meio do processo deAvanço de Nível e Promoção, queconsidera os resultados das avalia-ções realizadas pelos empregadosdurante o ano, com base nas metase competências individuais.

O tema de saúde e segurança éum assunto de grande importânciapara a empresa. A Taxa de Aciden-tes Fatais (TAF) que correspondeao número de fatalidades por 100milhões de homens-horas de expo-sição de risco, está em queda. Quefatores ou iniciativas contribuírampara esta melhoria nos indicadoresde saúde e segurança e na quedada TAF da empresa?A Petrobras voltou a apresentar, em2006, indicadores de segurança,meio ambiente e saúde (SMS) que amantêm, nesse aspecto, entre asmelhores empresas mundiais dosetor. Manteve-se, no período, a ten-dência de queda da taxa de freqüên-

cia de acidentados com afastamento(TFCA), amplamente utilizada paraavaliar a segurança nas grandesempresas. Essa taxa, envolvendoempregados próprios e contratados,decresceu de 0,97, no ano anterior,para 0,76 em 2006. Com objetivo deorientar ações preventivas, a Petro-bras mantém um processo de relato,registro e investigação dos chama-dos quase-acidentes, através do Sis-tema Corporativo de Registro deAcidentes,implantado em todas asunidades da Companhia. As informa-ções referentes à saúde dos empre-gados são consolidadas no SistemaInformatizado Corporativo de Gestãode Saúde - SD 2000. Além disso, asComissões Internas de Prevençãode Acidentes (CIPAs), implantadas emtodas as unidades da Companhia ematendimento à Norma Regulamenta-dora Número 5 (NR5) do Ministério doTrabalho, também atuam no sentidode fiscalizar e acompanhar os parâme-tros de segurança e saúde.

As negociações coletivas na Petro-bras são complexas tendo em vistaas pautas e as negociações com umgrande número de sindicatos. Nosúltimos anos, a Petrobras não en-frentou nenhuma greve. Quais osfatores determinantes que possibi-litaram esta situação?Nos últimos quatro anos, a Petrobrasadotou uma política de recursos hu-manos de negociação permanentecom a representação dos empregadoscom um processo de diálogo aberto etransparente entre as partes. As nego-ciações não se realizam em um únicomomento do ano, na campanha sala-rial, mas constantemente através decomissões constituídas para discutirassuntos específicos. Além disso, asnegociações se dão de forma centrali-zada, na sede da companhia, e tam-bém diretamente nas unidades dacompanhia localizadas em algumadas 17 bases sindicais. Esse proces-so tem garantido o bom relacionamentoentre as partes e significativos avançospara os empregados do ponto vista sa-larial e das condições de trabalho.

62

PrimeiroPLANO . ano 2 . no7 . set/out/nov 2007

SOLUÇÕES Bons produtos do bem

ECOUNIFORMESSucesso recente nas passarelas dos prin-

cipais eventos de moda do país, os tecidosecologicamente corretos agora viraram unifor-me de trabalho na rede de lojas de artigosnaturais e orgânicos, a Mundo Verde. Funcio-

nários das 111 lojas da rede passaram ausar no último mês de junho camisetasfeitas com fibras de garrafas PET. O te-cido que segundo os diretores da redeé mais macio, durável e agradável aotoque, foi desenvolvido pela Ciclo Am-biental, empresa carioca especializa-da na criação de roupas ecológicas.

Além das 4,6 mil camisas, foram con-feccionados 200 aventais e 200 bonés

com algodão reciclado, feito a partir deresíduos de tecidos com detalhes de PET.Estima-se que com a produção dos uni-formes, 10 mil garrafas PET deixam de irpara o lixo. A iniciativa conta com a parce-ria da Redecard.

www.mundoverde.com.br

FRASCOS E REFIS

Uma rede de lojas decosméticos com fábrica própria,a Akakia, sediada em São José

(SC), optou pelo uso dos frascospet, considerados menos

nocivos ao meio ambiente e quepodem ser reciclados ou

reutilizados. O empresárioGuilherme Jacob, dono da

marca, destaca que ao reduzir aprodução de embalagens foi

adotado o sistema de refil paraos sabonetes líquidos e loções

hidratantes. As caixas dasembalagens são menores e ocliente opta pelo seu uso ou

não. O mesmo acontece com opapel de seda, que também é

opcional. As novidadesincrementam a linha de

cuidados para o corpo AkakiaCare.O papel dos fornecedores

é outra preocupação daempresa. A AGE do Brasil, que

fornece para a Akakia, armazenatodo o resíduo produzido e

separa por tipos, entregandodepois para as empresas decoleta seletiva. A rede tem 106

pontos de venda da franquia emtodo o país.

www.akakia.com.br

São 16 empresas as detentoras do Selo Combustí-vel Social, que identifica junto ao Ministério do Desen-volvimento Agrário (MDA) as produtoras de biodieselque promovem a inclusão social e o desen-volvimento regional através da geração deemprego e de renda aos agricultores famili-ares enquadrados nos critérios do Progra-ma Nacional de Fortalecimento da Agricultu-ra Familiar (Pronaf). Com este Selo Com-bustível Social, o produtor de biodiesel temacesso a alíquotas de PIS/Pasep e Cofinscom coeficientes de redução diferenciados,acesso a melhores condições de financia-

mento junto ao Banco Nacional de DesenvolvimentoEconômico e Social (BNDES) e a instituições financei-ras credenciadas - Banco da Amazônia (BASA), Banco

do Nordeste do Brasil (BNB), Banco do Bra-sil (BB). O Selo somente é concedido aosprodutores de biodiesel que comprem, pormeio de contratos, a matéria-prima da agri-cultura familiar em percentual mínimo de:50% na região Nordeste e no Semi-árido;10% nas regiões Norte e Centro-Oeste; e30% nas regiões Sudeste e Sul.

www.mda.gov.br

SACOLAS 100% ALGODÃO

A Rede de Farmácias Sesi (Serviço Social da Indústria) está substi-tuindo suas sacolas plásticas comuns por oxi-biodegradáveis e tam-bém lança a sacola 100% algodão. A iniciativa da substituiçãoo querepresenta uma redução no tempo de degradação do material em cer-ca de 100 anos, diminuição do lixo depositado no ambiente e preserva-ção das reservas de petróleo, material fonte dos plásticos comuns. Ainiciativa faz parte da responsabilidade social corporativa do Sesi/SC efoi lançada em junho, mês em que se comemora o Dia Mundial do MeioAmbiente. Embora tenha aparência física semelhante ao plástico co-mum, o oxi-biodegradável recebe em sua composição um aditivo que

faz com que o plástico seja reintegrado totalmente ao meio ambi-ente no período de 6 meses a 2 anos. Outra ação daRede de Farmácias Sesi/SC é a sacola ecológica con-feccionada em 100% algodão. O objetivo é substituira sacola plástica sempre que possível. É uma saco-

la resistente, dobrável e lavável, que pode sercarregada na bolsa ou no carro. Ela pode serutilizada nas compras de qualquer estabeleci-mento comercial, diminuindo consideravelmen-te o consumo de plástico.

www.sesifarmacia.com.br

SELO COMBUSTÍVEL

DIV

ULG

ÃO

DIV

ULG

ÃO

63

PrimeiroPLANO . ano 2 . no7 . set/out/nov 2007

64

PrimeiroPLANO . ano 2 . no7 . set/out/nov 2007

monitor Por dentro dos números

s negociações porreajustes salariais

do primeiro semestre de 2007foram as mais positivas nos úl-timos anos, segundo levanta-mento do DIEESE (Departa-mento Intersindical de Estatís-tica e Estudos Socioeconômi-cos). O balanço das negocia-ções salariais do primeiro se-mestre de 2007 mostra que em88% das negociações os tra-PARCELAMENTO

O parcelamento dosreajustes salariais -ou a incorporaçãodos percentuais ne-gociados de formaparcelada ao longodos meses seguin-tes à data-base - atin-giu menos de 3%das negociações doprimeiro semestrede 2007. O recurso,que chegou a ser uti-lizado em 30% dasnegociações coleti-vas de 2003, temperdido importância.“Em 2004, atingiu8% das negocia-ções, em 2005, che-gou a 5% e, em2006, a 3%”, escla-rece Oliveira.

91%foi o índice de rea-justes superiores àinflação na RegiãoNorte, a maior dopaís no primeirosemestre desteano. A região Su-deste foi a queapresentou o me-nor número de re-ajustes superioresà inflação (82%) emaior proporçãodaqueles equiva-lentes (12%) ouinferiores (6%) àvariação do INPC-IBGE. No Centro-Oeste o índice dereajustes superio-res à inflação foiem 88% das nego-ciações.

Negociação salarialé positiva no

primeiro semestre

balhadores conseguiram au-mentos reais em relação à in-flação do período, medida peloÍndice Nacional de Preços aoConsumidor (INPC), do Ins-tituto Brasileiro de Geografiae Estatística (IBGE). Dessesganhos reais, 40% foram demais de 1,5%.

O supervisor do EscritórioRegional da entidade em SãoPaulo, José Silvestre Prado de

TABELA 1Distribuição dos reajustes salariais em

comparação com o INPC-IBGEBrasil – janeiro a junho de 2007

A

65

PrimeiroPLANO . ano 2 . no7 . set/out/nov 2007

Oliveira, explica o resultado:“Além do empenho das entidadessindicais, vivemos um período ca-racterizado por baixa inflação e,ainda que insuficiente, o cresci-mento da economia também con-tribuiu”. De acordo com ele, ape-sar de os resultados serem consi-derados bons, não significa quetodos recuperaram o poder decompra, mas que, de 2004 para cá,o resultado das negociações temmelhorado.

O levantamento do DIEESEtem abrangência nacional. É rea-lizado a partir da análise de acor-

dos e convenções coletivas de tra-balho. Neste primeiro semestre,foram analisadas 280 informa-ções. O trabalho também mostraque em 97% dos casos foi possí-vel compensar as perdas geradaspela inflação.

A pesquisa capta apenas os re-sultados obtidos na indústria, no co-mércio e nos serviços. O setorrural, que possui outra dinâmica denegociação, e o público, com ou-tras especificidades econômicas,não foram analisados.

Indústria na frenteEntre os setores econômicos,

foi a indústria que conseguiu osmelhores resultados: 93% das ne-gociações resultaram em aumen-tos reais e menos de 1% ficouabaixo da variação do INPC-IBGE. Nos serviços, estes percen-tuais corresponderam a 85% e a3%, respectivamente e, no comér-cio, a 82% e 7%. Segundo Olivei-ra, as negociações na indústriareagem mais rapidamente à dinâ-mica econômica e costumam in-fluir fortemente no desempenhogeral do levantamento porque esteé o setor mais estruturado, do pon-to de vista econômico.

Ano (Total de Acordos e Convenções Coletivas de Trabalho)

66

PrimeiroPLANO . ano 2 . no7 . set/out/nov 2007

mEU MUNDO

“Temos a consciência óbvia - que é dever de todo cidadão hoje em dia,se quisermos que nossos sucessores vivam em um mundo - de economizar

sempre que possível a água e o consumo de energia”

Quais seus hábitos emrelação ao consumo derecursos naturais?Aos poucos substituímosuma grande parte delâmpadas comuns porlâmpadasfrias. Na Pousada onde oconsumo de água é muitogrande, fizemos umafiltragem parareaproveitamento da águaque é utilizada na lavanderia.

Consomem produtosorgânicos?Na verdade temos uma boaprodução de alimentosorgânicos: alface, cenoura,beterraba, repolho, couve,brócolis, milho, berinjela,abóbora, milho,aipim, temperos e frutascomo laranja, limão, caqui,pitanga, acerola,jabuticaba, goiaba, bananas,bergamota. Os alimentos

que compramosdamos sempre prioridade aosorgânicos, faz uma diferençaincrível na saúde einclusive no paladar.

Compram produtos deempresas socialmenteresponsáveis?Sim, hoje em dia buscamossempre produtos que nãoagridam o meio ambiente,por exemplo.

Difundem estes conceitospor onde passam? Como?Acho que na verdade onosso meio de vida já ébastante difundido e muitoshóspedes vêm em buscadessa qualidade de vida quetemos aqui: comidasaudável e um lugar tranqüiloem contato com a natureza.Acho que nossoexemplo vale mais quepalavras.

Paulo Cezar Fahlbusch Pires esco-lheu o nome Paulo Zulu para a carreiraartística. Esportista e modelo, ele tambémjá atuou na novela das oito da Rede Glo-bo. Depois de morar por cerca de oitoanos no exterior, trabalhando como mo-delo nos principais pólos de moda domundo, Zulu voltou para o Brasil e esco-lheu para morar a praia da Guarda doEmbaú, no município de Palhoça, a 50quilômetros de Florianópolis, em SantaCatarina. Casado com a também modeloCassiana Mallmann, teve dois filhos, eabriu a Pousada Zululand, um lugar acon-chegante, que exige reserva antecipadaporque abriga pequenos grupos.

Quando está em casa, ele conseguesurfar, uma das paixões que chegou a re-alizar profissionalmente. E também prati-ca corrida, caça-submarina, pesca e alpi-nismo. Com toda a família ele mantémuma alimentação baseada em peixes, fru-tos do mar, alimentos integrais, legumese verduras que colhe na própria horta. APrimeiro Plano foi saber dele o que ele ea família fazem no dia-a-dia para ajudarna sustentabilidade do planeta.

AC

ER

VO

DE F

AM

ILIA

67

PrimeiroPLANO . ano 2 . no7 . set/out/nov 2007