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www.convergenciadigital.com.br 1 Ano 1 Nº 1 Julho / 2012 www.convergenciadigital.com.br FÓRUM TIC BRASIL Aonde o » Mercado pede um CTO no Governo Federal » Computação na nuvem: momento de decisão » Compras: continuidade dos projetos é fator crítico Guerra cibernética: cada vez mais perto de nós ? quer ir BRASIL CIAB 2012: bancos assumem que é hora de mudar MARCO CIVIL DA INTERNET Neutralidade da rede gera conflito de interesses

Revista Convergência Digital

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Nos últimos sete anos, o Convergência Digital tem tido a missão de levar conteúdo com qualidade e opinião crítica para os seus leitores. Agora, abrimos uma nova fase com a revista digital do Convergência Digital. Nela, o compromisso é selecionar os principais temas do mês e aprofundar a análise.

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www.convergenciadigital.com.br 1Julho / 2012

Ano 1 Nº 1 Julho / 2012 www.convergenciadigital.com.br

FÓRUM TIC BRASIL

Aonde o

» Mercado pede um CTO no Governo Federal» Computação na nuvem: momento de decisão» Compras: continuidade dos projetos é fator crítico

Guerra cibernética: cada vez mais perto de nós

?quer irBRASIL

CIAB 2012: bancos assumem que é hora de mudar

MARCO CIVIL DA INTERNETNeutralidade da rede gera confl ito de interesses

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Levar conteúdo com qualidade e opinião crítica tem sido o nosso lema nos sete anos do Portal Convergência Digital. Agora, abrimos uma nova frente com a revista digital do Convergência Digital. Em tempos de convergência, ampliar as fronteiras para além dos desktops – com a leitura nos tablets e smartphones – é uma obrigação nossa, que mantemos a aposta no mundo online como principal referência de informação.

Para nós, da equipe editorial, o desafi o, daqui por diante, será selecionar os principais temas do mês e aprofundar a análise. Nesta primeira edição, nosso olhar vai para o relacionamento Governo e iniciativa privada. Na segunda mesa-redonda preparatória para o Fórum TIC Brasil, que o Convergência Digital e a Network Eventos estão organizando para março de 2013, a voz fi cou com as demandas do mercado corporativo. E uma posição foi unânime: falta um interlocutor governamental para ser o ponto focal quando às questões de tecnologia. O impacto da computação na nuvem e a necessidade de incentivos à inovação também foram colocados à mesa.

Destaque ainda para o CIAB 2012, principal evento de tecnologia bancária do Brasil. Os bancos, pressionados pela crise econômica mundial e pela queda de juros estimulada pelo governo brasileiro, sabem que é hora de aumentar a efi ciência. Também estão cientes de que é preciso aperfeiçoar, ou melhor, simplifi car a oferta de serviços para atender à ascensão das classes C, D e E. Tarefa nada simples e que impõe uma nova era. Vão conseguir? Também abordamos um tema perturbador nos tempos de hoje: a guerra cibernética mundial.

Boa leitura!

DIREÇÃO EDITORIAL

Ana Paula [email protected]

Luiz [email protected]

EDIÇÃO

Bia [email protected]

EDIÇÃO/REPORTAGEM

Luis Osvaldo Grossmann [email protected]

Fábio Barros [email protected]

Fernanda Ângelo [email protected]

EDIÇÃO DE ARTE E DIAGRAMAÇÃOPedro Costa

[email protected]

EDITORIAL

Para você!

DIREÇÃO COMERCIAL

Alberto [email protected]

[email protected]

CONTATO COM A REDAÇÃ[email protected]

A revista do Portal Convergência Digitalwww.convergenciadigital.com.br

SUMÁRIO

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Aonde o BRASIL

quer ir?Em mesa-redonda, executivos do setor privado dizem que há sinais de maturidade nas compras governamentais, mas os projetos de longo prazo seguem como um forte desafi o. Mercado pede ao Governo Dilma uma ação de curto prazo: a nomeação de um Chief Techonology Offi cer (CTO) para unifi car as iniciativas voltadas para o setor de TICs.

ESPECIAL CIAB 2012

FÓRUM TIC BRASIL

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Bancos assumem que é hora de mudar Instigadas pela crise econômica mundial e pressionadas pelo governo brasileiro a reduzir os juros, as instituições fi nanceiras admitem que chegou a hora de aumentar a efi ciência operacional. Nesse cenário, a TI deixa de ser apenas um suporte ao negócio para se tornar a estrela e o fi o condutor de novas frentes

SEGURANÇA

Guerra cibernética Professor da PUC/Rio, Roberto Ierusalimschy, em entrevista exclusiva à Revista do Convergência Digital, fala sobre o Flame e adverte: software, ao contrário do ser humano, não faz julgamento prévio.

16 GOVERNO

Competitividade em TI Os benefícios da desoneração do Plano Brasil Maior começam a ser contabilizados, mas o setor sofre para aumentar a sua participação nas vendas externas.

12 INTERNET

Marco Civil Neutralidade da rede gera impasse e votação do relatório - que determinará uma lei para a Internet no Brasil - é adiada para agosto. Governo, teles e sociedade tentam aparar as arestas.

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4 www.convergenciadigital.com.brJulho / 2012

FÓRUM TIC BRASIL

quer ir

TICs:aonde o Brasil?

Para os executivos da iniciativa privada convidados a participar da segunda mesa-redonda preparatória do Fórum TIC Brasil, evento que será realizado pelo portal Convergência Digital e pela Network Eventos, há sinais de maturidade nas compras governamentais, mas ainda existe a necessidade de compartilhar um ponto chave: o conhecimento. Os projetos de longo prazo permanecem um forte desafi o. O mercado conclama o governo Dilma a uma ação de curto prazo: nomear, o quanto antes, um interlocutor – na prática um Chief Technology Offi cer (CTO) – para unifi car as iniciativas do setor.

Fernanda Ângelo* Colaboraram Ana Paula Lobo e Luiz Queiroz

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“G overno e iniciativa privada só têm a ganhar se comparti-lharem conhecimentos entre si.” A afi rmação foi um con-senso entre os executivos da Algar Tecnologia, Amdocs,

Globalweb, IBM e PromonLogicalis, que participaram, no último dia 26 de junho, da segunda mesa-redonda preparatória para o Fórum TIC Bra-sil, que o portal Convergência Digital e a Network Eventos irão realizar, nos dias 19 e 20 de março de 2013, em Brasília. No encontro, uma certe-za: é mais do que necessário agilizar a união de esforços entre iniciativa privada e pública.

“As parcerias público-privadas (PPP) são uma boa saída para a discus-são de inovação envolvendo empresas públicas, privadas e governo. Po-dem ser um meio de otimizar a adoção da tecnologia na esfera pública e a sua integração pela iniciativa privada”, sugeriu Leonardo Bruno, diretor--regional São Paulo da Algar Tecnologia. “Colocar os titãs da tecnologia no setor público à mesa com a iniciativa privada signifi caria ganhos para todas as partes”, assegurou.

“A partir do momento que você vê governos próximos da iniciativa privada para criar soluções a quatro mãos, consegue equalizar soluções melhores e bem-sucedidas”, acrescentou Renato Panessa, diretor de alianças da GlobalWeb. Luis Minoru, diretor de consultoria da Promon Logicalis, engrossou o coro. Para ele, por mais que haja competição – e que essa disputa seja bastante saudável –, governo e iniciativa pri-vada precisam estabelecer planejamentos conjuntos. Isso ajudaria não só garantir a continuidade de projetos importantes para a infraestrutura tecnológica pública, como também daria suporte à criação de relevantes serviços digitais prestados aos cidadãos.

A necessidade de somar esforços, segundo o gerente de novas Tecnolo-gias da IBM, Cezar Taurion, já é reconhecida, mas as ações conjuntas en-tre concorrentes ainda são poucas. “Há um interesse de aproximação entre governo, empresas públicas e privadas, mas falta sincronismo”, afi rmou. E, quando o assunto é concorrência, mais do que se sentar à mesa com as gigantes públicas de TICs, os executivos afi rmam que o governo deveria abrir o mercado para a concorrência com empresas de fora do Brasil.

“O fomento à inovação passa pelo lado de desenvolver a indústria na-cional. Mas também implica atrair novos players, incluindo multinacio-nais, que podem se instalar e trazer avanços para o setor no Brasil”, avaliou Nelson Wang, vice-presidente regional da Amdocs para América Latina e Caribe. Taurion completou: “é importante abrir os portos não apenas para empresas, mas também para gente. Estamos vivendo um apagão de mão de obra. Trazer gente especializada poderia ajudar a trazer inovação.”

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Com maior foco em serviços, a hora é de ajustar as compras governamentais

Governo profi ssionaliza contratações em TICs ao reduzir o foco em produtos e mão de obra e dedicar mais atenção a serviços. Com isso, contratação por leilão se torna inviável

D oe cinco anos para cá, o foco do go-verno na contratação de pessoas e sof-tware deu lugar à compra de serviços.

O governo deixou um pouco de lado a questão de mão de obra e custo e voltou-se a especializa-ção e serviços. Com isso, hoje não adianta mais às empresas concorrentes apenas baixarem pre-ços para conseguir vender para órgãos públicos. Essa mudança de cenário é um refl exo do ama-durecimento e profi ssionalização nas compras governamentais, admitiram os executivos, ao tratarem o tema ‘Compras Governamentais e os impactos nos negócios privados’.

“O governo tem gente muito es-pecializada e capacitada para a boa

elaboração de editais de contrata-ção de serviços”, elogiou o dire-tor-regional São Paulo da Algar Tecnologia. Para ele, de manei-

ra geral, essa mudança vem sendo favorável às empresas interessadas em vender para o gover-no. “As empresas passam por uma fase de adap-tação, que muitas vezes é crítica e pode levar até seis meses, em alguns casos. Esses ajustes são necessários porque o fornecedor está acos-tumado a trabalhar com níveis de serviços e o governo, ainda não”, acrescentou.

Os demais debatedores concordaram com a profi ssionalização, mas afi rmaram que os benefícios e os avanços nas contratações do governo trazem à tona outro problema: quan-do se muda o foco das contratações de pro-dutos e mão de obra para serviços, elas não podem mais ser feitas por leilão, tampouco de forma tão rápida, como muitas vezes aconte-ce. Minoru lembrou que, quando se trata de serviços, é necessário redigir editais com um bom nível de detalhamento sobre níveis e efe-tividade, entre outros quesitos.

“É preciso aproveitar as boas lições tira-das dos leilões e somá-las a novos modelos de contratação”, sugeriu. “Quando se fala em serviços, as contratações não podem ser fei-tas em questão de duas semanas, como vemos acontecer com software”, exemplifi cou. A adoção de cloud computing entra nesse cená-rio. “Quando se fala em cloud, há diversos ní-veis de serviços e SLAs. Estamos falando de TI como serviço e não se pode vender como produto. Não cabe aqui o uso de pregão para a contratação”, avaliou Taurion, da IBM. “As variáveis são muitas e impactam diretamente no preço. Não se pode ser tão simplista, mas é preciso repensar uma forma de compra que não seja tão demorada”, acrescentou.

FÓRUM TIC BRASIL

“AS EMPRESAS PASSAM POR UMA FASE DE ADAPTAÇÃO, QUE MUITAS VEZES É CRÍTICA E PODE LEVAR ATÉ SEIS MESES, EM ALGUNS CASOS. ESSES AJUSTES SÃO NECESSÁRIOS PORQUE O FORNECEDOR ESTÁ ACOSTUMADO A TRABALHAR COM NÍVEIS DE SERVIÇOS E O GOVERNO, AINDA NÃO”

Leonardo Bruno Diretor da Algar Tecnologia

durecimento e profi ssionalização nas compras durecimento e profi ssionalização nas compras governamentais, admitiram os executivos, ao governamentais, admitiram os executivos, ao tratarem o tema ‘Compras Governamentais e tratarem o tema ‘Compras Governamentais e os impactos nos negócios privados’.os impactos nos negócios privados’.

“O governo tem gente muito es-“O governo tem gente muito es-pecializada e capacitada para a boa pecializada e capacitada para a boa

elaboração de editais de contrata-elaboração de editais de contrata-

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Cloud computing: governo precisa perder o medoMercado diz que o Poder Executivo não precisa pensar em políticas de incentivo apenas tomando como base a desoneração. A adoção em massa dos serviços, por exemplo, teria um impacto signifi cativo na realização de novos negócios e na criação de novos casos de sucesso além da urna eletrônica e do Imposto de Renda digital

E nquanto o governo estuda pura e sim-plesmente o estabelecimento de políti-cas relacionadas à desoneração para a

computação em nuvem, executivos de Tecno-logias da Informação e da Comunicação (TICs) cobram incentivo para sua adoção.

“Hoje não existe uma política de incenti-vo que não passe apenas pela desoneração”, criticou Cézar Taurion. Minoru, da Promon

Logicalis, concordou, mas disse que, embora as políticas sejam necessárias, a iniciativa privada não pode fi car de braços cruzados esperando até que elas sejam estabelecidas.

Mais cuidadoso, Leonardo Bruno acredita que é perigoso falar em regras de utilização para cloud computing. Ao invés disso, sugeriu, o governo deveria estimular de alguma forma o uso da nu-vem. “O governo precisa incentivar a utilização. Assim vai estimular a ado-ção em outras esferas”, avaliou.

Na mesma linha de raciocínio, Wang afi rmou que o incentivo em si é também uma política. “Usar como exemplo é polí-tica. Política não signifi ca necessaria mente

o estabelecimento de regras. Ao ser um com-pra dor, o governo estimularia a adoção da cloud computing”, afi rmou o executivo da Amdocs.

Já Renato Panessa, diretor de alianças da GlobalWeb, acredita que o atraso na adoção de cloud computing se deve ao fato de a tecno-logia ter sido “muito mal vendida” no Brasil. Ele recordou que cloud não é algo novo, mas uma evolução de tecnologias e modelos de co-mercialização de TI que já existem há tempos. “Adotar cloud não signifi ca jogar fora todo o investimento já realizado em infraestrutura”, disse Panessa. “Além disso, existem contratos e SLAs muito bem amarrados para garantir a qualidade e segurança do serviço”, afi rmou.

Taurion reforçou a visão do executivo da GlobalWeb, ao afi rmar que as empresas não precisam se desfazer de suas infraestruturas para migrar para a nuvem. “Elas podem inte-grar seus parques à nova política”, explica. “Ao longo do tempo, as contratações devem ser mais esporádicas, mas de maneira nenhuma signifi ca jogar investimentos fora”, assegurou. A propósito, Taurion afi rmou que hoje os gran-des investidores não aplicam mais recursos em infraestrutura, mas apenas em cloud.

Ainda assim, Taurion acredita mesmo que a fase do entendimento sobre cloud computing já esteja vencida. A questão agora, segundo ele, é que existe ainda um pouco de conservadoris-mo e o medo da mudança em si. No entanto, continuou Taurion, vários órgãos públicos es-tão muito mal preparados para proteger dados mantidos em seus sistemas. “Esses dados fi ca-riam bem mais seguros se mantidos na nuvem”, afi rmou. “Trata-se mais do imobilismo de fazer alguma coisa do que de uma barreira concreta”, disparou o especialista da IBM.

Apesar de todo o cenário crítico para o go-verno, Minoru, da PromonLogicalis, lembrou que existem casos de muito sucesso, como o Imposto de Renda, o processo das eleições e a Nota Fiscal eletrônica. “Em todos, foi necessá-rio coragem para investir e aproximação entre iniciativa privada, pesquisadores e órgãos pú-blicos”, concluiu.

“ADOTAR CLOUD NÃO SIGNIFICA JOGAR FORA TODO O INVESTIMENTO JÁ REALIZADO EM INFRAESTRUTURA”

Renato Panessa Diretor de alianças da GlobalWeb

logias da Informação e da Comunicação (TICs) logias da Informação e da Comunicação (TICs) cobram incentivo para sua adoção.cobram incentivo para sua adoção.

vo que não passe apenas pela desoneração”, vo que não passe apenas pela desoneração”, criticou Cézar Taurion. Minoru, da Promon criticou Cézar Taurion. Minoru, da Promon

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FÓRUM TIC BRASIL

Procura-se um CTOSe é hora de alinhar interesses e compartilhar conhecimento, executivos afi rmaram que falta no governo um interlocutor que desenhe as estratégias capazes de solucionar problemas e que, acima de tudo, garanta a continuidade de projetos, independentemente de partido político

I ndagados sobre medidas efetivas de cur-to prazo para acelerar a troca de conheci-mento entre governo e iniciativa privada, os

executivos presentes à mesa-redonda preparató-ria do Fórum TIC Brasil foram direto ao ponto crítico. Para eles, no Brasil, há muita conversa mas, na prática, não há metas e diretrizes mais abrangentes. “Falta um interlocutor, um Chief Technology Offi cer (CTO) do governo, que de-senhe as estratégias que resolvam os problemas governamentais e seja capaz de transmitir isso para fora [do âmbito governamental]”, sugeriu Cesar Taurion, gerente de novas tecnologias da IBM. “Seria alguém ligado à Casa Civil, com autonomia de pensar estratégias. Alguém fora de ministérios, que fi que longe de disputas políti-cas”, aconselhou o executivo.

A proposta recebeu adesão unânime. Para Le-onardo Bruno, da Algar Tecnologia, os órgãos

de Brasília estão bem preparados e contam com gente muito boa, capazes de escrever

editais excelentes, com base em

boas práticas de governança. No entanto, disse o executivo, por infl uência de esferas estaduais e municipais, muitas vezes eles acabam atrasando ou deixando inacabados diversos projetos. “Se houvesse esse interlocutor para conduzir tudo num fi o – independentemente de governo –, muitas ações não se perderiam”, sustentou.

Luis Minoru, diretor de consultoria da Pro-monLogicalis, concorda. “Dentro do governo existem órgãos de diferentes tamanhos, com dis-tintos níveis de especialização. Em alguns deles falta um pouco de planejamento”, afi rmou. Ele exemplifi cou com a parceria fi rmada entre a Pro-mon Logicalis e a Apple, por meio da qual sua empresa tem fornecido muitos iPads para dife-rentes órgãos do governo. “Isso nos dá boas pers-pectivas, pois sugere que devem, por exemplo, migrar infraestrutura para cloud. Por outro lado, se não houver investimentos em conectividade e serviços de operadoras, por exemplo, os recursos serão subutilizados”, analisou.

O principal motivo para isso seria o inves-timento do governo com perspectivas de curto prazo. E não por falta de capacidade de gerir múltiplos fornecedores, nem tampouco por escassez de oportunidades de se aproveitar a tecnologia não apenas para o ganho de produti-vidade, mas também para a oferta de bons ser-viços digitais aos cidadãos.

“Na maioria das vezes, o problema maior está no fato de o governante não saber se ele será ree-leito nem se conseguirá colocar seu candidato no lugar”, disse Taurion. “Esses intervalos [entre o fi m de um mandato e o início de outro] acabam atrasando e interrompendo a evolução de proje-tos, que depois fi cam obsoletos e demandam todo um planejamento novamente”, observou Nelson Wang, vice-presidente regional da Amdocs para América Latina e Caribe. “No passado, havia políticas estruturantes, que serviam de norte. Por mais que as compras devam ser de curto prazo, elas não podem ser impactadas por tro-cas de governantes”, afi rmou Wang.

A proposta recebeu adesão unânime. Para Le-A proposta recebeu adesão unânime. Para Le-onardo Bruno, da Algar Tecnologia, os órgãos onardo Bruno, da Algar Tecnologia, os órgãos

de Brasília estão bem preparados e contam de Brasília estão bem preparados e contam com gente muito boa, capazes de escrever com gente muito boa, capazes de escrever

“SERIA ALGUÉM COM AUTONOMIA DE PENSAR ESTRATÉGIAS. ALGUÉM QUE FIQUE LONGE DE DISPUTAS POLÍTICAS”

Cesar TaurionGerente de novas tecnologias da IBMVEJA O VÍDEO

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www.convergenciadigital.com.br 9Julho / 2012

Inovação: o calcanhar de aquiles da política governamentalGoverno precisa aproveitar o ambiente propício à inovação no Brasil, e isto pode ser feito com o dinheiro que já está disponível, sem a necessidade de criar novas taxas

E xecutivos brasileiros do setor de Tecno-logias da Informação e da Comunicação (TICs) são unânimes em dizer que o

ambiente no Brasil nunca foi tão propício e fértil a inovações. Mas por que então elas acontecem em ritmo tão lento? A resposta também é unâni-me: falta incentivo do governo. “O ambiente está muito fértil. É possível inovar em transporte, edu-cação, saúde. Só está faltando o governo incenti-var”, afi rmou Luis Minoru, da PromonLogicalis.

Leonardo Bruno, da Algar Tecnologia, con-sidera que não há atualmente a postura de co-locar o Brasil como um centro exportador de inovação. “O Brasil tem natureza empreende-dora, e isto tem de ser transportado também para a esfera governamental. Quando o gover-no começar a pensar assim, ele vai estimular a iniciativa privada a fazê-lo”, avaliou Bruno. “O Brasil tem bons profi ssionais e pontos positivos como a localização geográfi ca, e mesmo assim não há incentivo do governo em transformar o país em centro exportador de serviço. Isso tam-bém é inovação”, disse o executivo da Algar.

Cezar Taurion, gerente de novas tecnologias da IBM, destacou que, para incentivar a inovação, o governo não precisa criar novas taxas ou impos-tos. “É usar o dinheiro que já está aí. Não precisa mais taxação, e sim incentivo”, assegura. “Não é risco. É aplicar melhor o dinheiro que já está dis-ponível”, reforçou Nelson Wang, vice-presidente

regional da Amdocs para América La-tina e Caribe. “Também é importante observar iniciativas bem-sucedidas e trazê-las para a esfera pública”, ressaltou Minoru.

Wang destacou ainda como uma barreira o fato de a academia no Brasil ser muito focada em pes-quisa de base – e não em pesquisa aplicada. “Só com pesquisa apli-cada geram-se inovações muito mais efetivas”, afi rmou. Para ele, o brasileiro se importa muito com publicação de papers porque hoje isso conta para seu currículo aca-dêmico. “É preciso profi ssiona-lizar essa carreira. As inovações que geram benefícios para o país deveriam con-tar para o currículo do pesquisador”, sugeriu.

Wang lembrou ainda que esta seria uma ma-neira de multiplicar o valor da pesquisa. “O inves-timento conjunto entre indústria privada e gover-no seria uma excelente alternativa para a inovação no país”, afi rmou. Renato Panessa, diretor de alianças da GlobalWeb, apontou que o Brasil é culturalmente aberto. “É mais uma questão de ca-denciar e defi nir papéis em termos de inovação, exportação e questões econômicas.”

“O INVESTIMENTO CONJUNTO ENTRE

INDÚSTRIA PRIVADA E GOVERNO SERIA

UMA EXCELENTE ALTERNATIVA PARA A

INOVAÇÃO NO PAÍS”

Nelson WangVice-presidente regional da Amdocs

para América Latina e Caribe

“O AMBIENTE ESTÁ MUITO FÉRTIL. É POSSÍVEL

INOVAR EM TRANSPORTE, EDUCAÇÃO, SAÚDE.

SÓ ESTÁ FALTANDO O GOVERNO INCENTIVAR”

Luis MinoruDiretor da Promon Logicalis

culturalmente aberto. “É mais uma questão de ca-culturalmente aberto. “É mais uma questão de ca-denciar e defi nir papéis em termos de inovação, denciar e defi nir papéis em termos de inovação,

Inovação: o calcanhar de aquiles Inovação: o calcanhar de aquiles

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10 www.convergenciadigital.com.brJulho / 2012

P ara o executivo da Claro, “a TI é essencial na disputa pelo cliente nesse mercado tão com-

petitivo”, mas ele também não disfarça as fragilidades. “A TI tem difi culdades para atender a demanda de telecom, em que um projeto de um ano é de longo prazo. Isso é totalmente diferente de ou-tras indústrias”. Marcolin foi ao ponto nevrálgico quando diagnosticou a missão da TI no negócio de telecom.

“Temos que ser uma prestadora de serviços. As áreas de-mandantes de serviços precisam exigir e cobrar”, detalha. A meta da unifi cação de sistemas é crucial. A aposta é criar, por exemplo, uma ‘cara’ única para todo o sistema de aten-dimento ao cliente. “Até então, tínhamos vários sistemas. A proposta, desafi adora, é permitir que o atendente do call center possa ir para a loja própria porque a ferramenta de trabalho já será conhecida”, explica.

Ficar à frente da TI de uma operadora é lidar com projetos

no negócioTI é essencial

Simplifi car e unifi car não são apenas palavras de ordem na Claro. São iniciativas da TI para facilitar o negócio. Desde 2005, este tem sido o trabalho mais complexo conduzido pela área. Dos 900 sistemas herdados da fusão de seis empresas, houve uma redução para 250, em 2009, e, agora, há pouco mais de seis meses, chegou-se a apenas 20 sistemas. “E ainda assim precisamos unifi car mais”, diz o diretor de TI Demandas & Testes da Claro, Wilson Marcolin.

Ana Paula Lobo

FÓRUM TIC BRASIL

telecom

Na Claro,

$

de curto prazo, sintetiza Marcolin. “Quando é ‘pra’ ontem, a pergunta é sempre a mesma: já está pronto?”, brinca. É preciso também se adaptar aos novos tempos. Computação na nuvem e consumerização estão na lista de prioridades.

Para o diretor de TI da Claro, cloud computing é uma realidade, é o futuro, mas ele ainda tem dúvidas com relação ao uso corporativo. Marcolin lembra que usar a nuvem na rede interna é simples e funciona. “Há velocidade de acesso, mas o grande ponto é sair para o mundo externo. A rede terá essa velocidade? Para mim, cloud já é fato, mas ainda preci-sa amadurecer”, analisa.

Do ponto de vista do negócio, a Claro está ciente de que a computação na nuvem é uma oportunidade. “Quanto mais

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www.convergenciadigital.com.br 11Julho / 2012

O dia-a-dia em busca da simplifi cação não é tarefa simples, assume o diretor de TI Demandas & Testes da Claro, Wilson Marcolin. Um dos pontos críticos, diz, é que os fornecedores de serviços – e a Claro precisa trabalhar com terceirizados, mas mantendo com pulso fi rme a gestão interna da inteligência – não estão pre-parados, na sua maioria, para relacionar qualidade ao conhecimento. “Muitos batem à minha porta e querem vender serviços. Eu sempre digo que eles precisam en-tender o meu negócio”, afi rma Marcolin.

Segundo ele, não adianta o fornecedor ter, por exem-plo, a melhor solução de BI, mas sim saber fazer essa aplicação funcionar para o mundo de telecom e, especial-mente, para o mercado brasileiro. “Se não for assim, não adianta. Um exemplo: no ano passado, o Brasil ativou 40 milhões de novas linhas. Esse número é totalmente di-verso da Europa e de outros países. Um fornecedor apre-sentou uma solução preparada para 100, 500 ativações. Nós precisamos de muito mais. Se a TI falhar, o assinante vai colocar o chip da concorrência e, naquele momento, houve uma perda”, detalha o diretor da Claro.

Ao reiterar que o mundo de telecom é um desafi o para a TI, Marcolin lembra que criar uma relação de ho-nestidade com o fornecedor é, sempre, a melhor alter-nativa. Mas admite que há pontos críticos para a contra-tação de serviços locais: a capacidade de sobrevivência; continuidade das soluções e a retenção de talentos.

“Continuidade é palavra chave nas operadoras. Te-mos sistemas legados e há casos relevantes que nos in-duzem a pensar. Aqui, um bom fornecedor de software foi comprado por uma multinacional americana e, em seis meses, essa empresa ‘matou’ o software”, lembra Marcolin. Para o executivo, é preciso que o Brasil crie medidas de incentivo à produção de software local.

“O brasileiro é muito criativo e capaz. Não falo apenas na área da criação, mas na de customização também. E não estamos conseguindo manter o talen-to aqui. Eles estão indo embora. Precisamos retê-los aqui”, salienta. E na área de telecom, complementa, se não há conhecimento, se não há quem saiba mexer nos legados, haverá graves problemas no futuro.

Qualidade: ponto crítico na relação operadora x provedor de serviço

eu vender infraestrutura, mais os clientes vão consumir na minha rede”, detalha. Indagado se computação na nuvem assusta em TI por uma questão de perda de poder do CIO, Marcolin garante que este não é ponto a ser discutido. Para ele, o aspecto crítico é com relação à segurança.

“O controle da informação permeia todo o debate em torno da nuvem. Proibir por proibir não adianta. Se proibir, há sempre alguém tentando burlar. Se políticas de segurança rigorosas são defi nidas – não pode pen drive, não pode HD externo –, o que garante que um funcionário não vai sacar o seu próprio celular e tirar uma foto da ‘cara’ do nosso sistema e vazar informação?”, indaga Marcolin.

Ciente de que a consumerização chegou para fi car, a Claro criou uma rede própria só para facilitar o tráfego de informações para os tablets, que podem ser da empresa ou do próprio empregado. De acordo com Marcolin, hoje, não dá mais para evitar que o funcionário leve o seu dispositivo para o trabalho. O grande ponto é o gestor defi nir o quê e quais informações, de fato, precisam de proteção.

Considerando que TI, hoje, é essencial no negócio tele-com, Marcolin comenta sobre a força-tarefa montada para colocar na rua a exigência da Anatel pelo nono dígito na telefonia móvel. O novo modelo começa a funcionar no fi nal de julho. “Todos os sistemas foram alterados. Muda tudo. Criamos uma força-tarefa na área de TI. São 20 sistemas para serem transformados. E vale lembrar que a mudança, apesar de valer, agora, só para São Paulo, acaba sendo pre-parada para todo o Brasil”, destaca.

Para estar dentro do prazo estabelecido pela agência re-guladora, a Claro diz que, além da área de TI, outras unida-des tiveram que participar diretamente, como a engenharia, o marketing e o comercial. “A conta de telefone, por exem-plo, teve de ser modifi cada. Ganhou nova formatação. Isso envolve todas as áreas do negócio. A agenda de telefone, disponibilizada para o cliente, também muda com o acrésci-mo do novo dígito. Essa mudança exigiu e ainda exige uma grande participação da TI”, completa.

“QUANTO MAIS EU VENDER INFRAESTRUTURA, MAIS OS CLIENTES VÃO CONSUMIR NA MINHA REDE”

Wilson MarcolinDiretor de TI Demandas & Testes da Claro

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12 www.convergenciadigital.com.brJulho / 2012

Marco Civil da INTERNET

INTERNET

Confl ito deINTERESSES

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www.convergenciadigital.com.br 13Julho / 2012

“NÃO É JUSTO QUE EM UMA REDE PROJETADA

PARA ATENDER, DIGAMOS, 100 PESSOAS,

UM ÚNICO USUÁRIO CONSUMA PRATICAMENTE

TODA A CAPACIDADE QUE ELA COMPORTA.

O QUE DEFENDEMOS É A POSSIBILIDADE DE

ADMINISTRAR A REDE DE FORMA MAIS EFICIENTE”

Eduardo LevyDiretor executivo do Sinditelebrasil

N a contramão do que se entende ser a rede das redes, a discussão do Mar-co Civil da Internet – cujo destino foi

adiado na Câmara dos Deputados – volta a opor atores cujos papéis deveriam ser distintos: os responsáveis pela camada física da internet e aqueles que se situam na camada de aplicações e conteúdo. Ou, ainda, o mundo das telecomu-nicações e o mundo IP.

O campo de batalha é a defi nição da neutra-lidade da rede. Este é um conceito intimamente ligado à arquitetura da internet, melhor entendi-do a partir de dois princípios fundamentais – a divisão da rede em camadas e a transmissão de informações por meio de pacotes de dados.

A divisão em camadas relaciona-se com as tarefas que cada uma delas executa para que exista a comunicação. De forma muito simpli-fi cada, separa o meio físico – fi os, fi bras, rádios – dos programas que viabilizam essa comuni-cação com o uso de linguagens acessíveis aos humanos – sons, imagens ou caracteres.

Na infraestrutura, transitam sinais elétricos ou ópticos nos quais é possível carregar bits, ou “nacos”, de dados. Esses dados, seja qual for seu formato original – uma carta, um fi lme, etc. –, são picotados em pequenos pacotes de informações.

Por neutralidade da rede entende-se que qualquer um desses pequenos pacotes de dados tem o mesmo nível de prioridade para trafegar nos fi os, fi bras ou no ar, independentemente das informações que contêm ou de onde foram enviados. Eles transitam entre diferentes redes, daí interredes, ou internet.

O que acontece é que os fi os de cobre, as fi -

bras ópticas e as antenas têm dono. Eles pertencem às empresas de telecomunicações, cujo principal negócio é alugar espaço nessa in-fraestrutura e, assim, permitir que existam comunicações a distância.

Ainda que irmãs xifópagas, a infraestrutura tem a graça da tele-comunicação, enquanto a internet é um tipo de uso dessa infraestru-tura. A disputa se dá porque esta considera essencial, e por isso tenta impor àquela, a tal regra da neutralidade, o tratamento impar-cial dos pacotes de dados.

Mas construir as redes físicas custa milhões, ou mesmo bilhões. Para otimizar o investimento, cada metro de fi bra será alugado a mui-tos, o que embute uma confi ança estatística de que o uso não será simultâneo ou que a capaci-dade de tráfego será razoavelmente equilibrada.

“Não existe o mundo ideal em nada, tam-pouco na internet. Não é justo que em uma rede projetada para atender, digamos, 100 pessoas, um único usuário consuma praticamente toda a capacidade que ela comporta. O que defen-demos é a possibilidade de administrar a rede de forma mais efi ciente”, argumenta o diretor executivo do sindicato nacional das teles, Sin-ditelebrasil, Eduardo Levy.

Daí a posição das donas da infraestrutura de que a regra da neutralidade seja fl exível para com-portar exceções que as permitam fazer a gestão do tráfego. Em outras palavras, que o fl uxo de dados

Por trás da discussão sobre a neutralidade da rede, que levou ao adiamento da votação do Marco Civil, governo dá mais um passo para transformar a Internet em serviço de telecomunicações

Luis Osvaldo Grossmann

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14 www.convergenciadigital.com.brJulho / 2012

para um determinado usuário seja alterado quan-do a rede identifi car que se trata de uma grande demanda, como vídeos, ou que exija maior regu-laridade dos pacotes, como voz sobre IP, ou VoIP.

É aqui, porém, que o terreno fi ca pantano-so. Para fazer a gestão do tráfego, a rede preci-sa identifi car os pacotes, portanto, saber o que

eles carregam. Há meios para isso, especialmente através de “packet sniffers”, ou farejadores de pacotes, capazes de recompor conteúdos de, por exemplo, 1GB de dados em um segundo ou menos.

Além dessa questão – que equiva-le ao serviço de Correios abrir as car-tas para decidir como despachá-las,

R esultado de quatro anos de discussões desde que, em ou-tubro de 2009, o Ministério

da Justiça colocou em consulta públi-ca um anteprojeto de lei que contou com ampla participação social, o Mar-co Civil da Inter net está materializado no texto do PL 2126/2011, pronto para ser votado pelo Con gresso Nacional. Mas, como se viu, o interesse no avan-ço da proposta é restrito.

Ainda que a neutralidade da rede tenha se mostrado como centro da discussão sobre o projeto, com pressão do governo para modifi cação do substitutivo, seu rela-

tor, deputado Alessandro Molon (PT-RJ), também cedeu a reivindicações dos ativis-tas da rede em outra questão importante: a retirada de conteúdos de terceiros por decisão unilateral dos provedores.

“Estamos em um país onde blogs são perseguidos diuturnamente; não pode-mos ter nenhuma brecha para a censura instantânea. Se houver como interpretar a lei de um jeito negativo, há grupos que farão isso. Não podemos retroceder por força do lobby”, sustenta o professor e notório ativista pela ampla liberdade na internet, Sérgio Amadeu.

Foi eliminado o trecho que previa a retirada de conteúdos com base em ter-mos de uso ou de acordos comerciais. Além disso, um provedor de aplicativos “somente poderá ser responsabiliza-do civilmente por danos decorrentes de conteúdo gerado por terceiros se, após

para usar uma metáfora cara às teles –, a gestão do tráfego possibilita condutas anticompetitivas, com privilégios a sites, aplicativos ou mesmo dispositivos de determinado grupo econômico ou parceiros comerciais.

Para o relator do Marco Civil da Internet, deputado Alessandro Molon (PT-RJ), “sem neutralidade, a internet fi ca comprometida. Modelos diferenciados de tratamento dos pa-cotes podem resultar no fi m do modelo des-centralizado da internet”. Os impactos podem se dar em aplicativos ou dispositivos de cone-xão e mesmo na própria liberdade de expres-são, a livre iniciativa ou a inovação.

Nessa disputa, o governo vem demonstran-do maior afi nidade com os argumentos das

INTERNET

CONTEÚDO: o próximo embate?

Marco Civil da Internet é severo com a retirada do que está disponível na rede, mas

não trata diretamente da manutenção de conteúdos

ilegais ou ofensivos

tas para decidir como despachá-las, tas para decidir como despachá-las,

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www.convergenciadigital.com.br 15Julho / 2012

teles. Houve pressão para que o texto do projeto de lei fosse modi-fi cado, como foi, resguardando ao Executivo a tarefa de regulamentar os limites da neutralidade de rede. Também ajuda a explicar a escas-sez de parlamentares dispostos a aprovar a proposta, cuja votação acabou adiada.

O Ministério das Comunicações não escon-de que, diferentemente do que prevê o projeto, prefere a Anatel, e não o Comitê Gestor da In-ternet, como balizador da neutralidade. “Essa deve ser uma atribuição da Anatel”, sustenta o ministro Paulo Bernardo. Com a votação adia-da, ele entende que há tempo de mudar o texto, ou que a Presidência delegue à agência o po-

der de regulamentar o tema.Ainda que contrária à comuni-

dade da internet – para a qual telecomunicações e internet são animais distintos –, a posição é coerente com sucessivos movimentos que con-trapõem o CGI.br e a agência reguladora. Basta recordar a revisão da Norma 4/95, instrumento legal que diferencia os dois bichos, e a desqua-lifi cação do Comitê Gestor como responsável por medir a qualidade das conexões à rede.

ordem judicial específi ca, não tomar as providências para, no âmbito e nos limites técnicos do seu serviço e dentro do prazo assinalado, tornar indisponível o conteúdo apontado como infringente”.

Mas se é clara a preocupação com o que poderia legalizar a retirada de con-teúdo ao bel-prazer de provedores – ou terceiros afetados, como as associa-ções de fi lmes e músicas que comba-tem a troca de arquivos na rede –, vale dar atenção ao alerta de que o texto do Marco Civil da Internet está deixando um vazio normativo com efeito direto sobre casos de ofensas ou injúrias, ou seja, os aspectos de defesa da privaci-dade e da honra. Em outras palavras, estaria o direito à liberdade de expres-são acima de outros direitos?

É essa a provocação feita pelo profes-

sor e pesquisador da Universidade de Hong

Kong, também especialis-ta em temas afeitos à internet,

Marcelo Thompson. “O Marco Civil da Internet, como está, deixa um desequilí-brio de tratamento. Guiado por uma vi-são extrema da liberdade de expressão, permite que provedores possam simples-mente manter no ar conteúdo racista, ho-mofóbico, que viole direitos das crianças e adolescentes, sem que nada se possa fazer contra eles”, avalia.

É que o projeto não discorre sobre a manutenção de conteúdos ofensivos. Resta claro que os ofendidos poderão ir à Justiça para pedir que algum material seja retirado da rede, mas aí o tempo ga-nha relevância. Pois entre a identifi cação de conteúdo irregular, o acionamento de advogados, o peticionamento judicial até

uma decisão, ainda que liminar, o “mal” estaria feito. Afi nal, ainda hoje é possível encontrar na internet as fotos da atriz Ca-rolina Dieckman que provocaram como-ção mesmo no Parlamento.

Thompson ressalta que ao tratar os provedores como, via de regra, inim-putáveis, exime-os de responsabilidade por manter o conteúdo no ar. Vale dizer: diante do risco de serem processados por retirarem determinado conteúdo, mas sem previsão de punição pela ma-nutenção desses mesmos conteúdos, o efeito, ainda que indesejado, favorece deixar como está até a apresentação de uma ordem judicial. “Não haveria um incentivo da lei para o provedor optar pelo caminho em que não há chance de ser responsabilizado, ou seja, manter o conteúdo no ar, ainda que em fl agrante ilícito?”, questiona o professor.

“SEM NEUTRALIDADE, A INTERNET FICA COMPROMETIDA. MODELOS

DIFERENCIADOS DE TRATAMENTO DOS PACOTES PODEM

RESULTAR NO FIM DO MODELO DESCENTRALIZADO DA INTERNET”

Alessandro MolonDeputado (PT-RJ) / Relator do Marco Civil da Internet

ordem judicial específi ca, ordem judicial específi ca, não tomar as providências não tomar as providências para, no âmbito e nos limites para, no âmbito e nos limites técnicos do seu serviço e dentro técnicos do seu serviço e dentro

sor e pesquisador da sor e pesquisador da Universidade de Hong Universidade de Hong

Kong, também especialis-Kong, também especialis-ta em temas afeitos à internet, ta em temas afeitos à internet,

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16 www.convergenciadigital.com.brJulho / 2012

COMPETITIVIDADE

um longo caminho

O s benefícios fi scais da atual política industrial, notadamente a substituição da contribuição previdenciária por um percentual do faturamento, colocaram o país em melhor posição de com-

petir por novos mercados de TI frente a outras importantes economias latino-americanas, como México, Argentina, Colômbia e Chile.

É o que indica um estudo patrocinado pela Associação Brasileira de Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom) e pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex--Brasil), que também leva em conta o – ainda pequeno – alívio cambial com as recentes altas da moeda americana em comparação ao real. “A combinação da desoneração com o câmbio trouxe um impacto muito posi-tivo. Estamos falando de um setor em que os custos com recursos humanos representam 60%, até 70% dos preços. E que precisa crescer no mercado internacional”, avalia Sérgio Pessoa, diretor de desenvolvimento de mer-cados da Brasscom e um dos responsáveis pelo estudo.

No retrato feito pela pesquisa, fi ca claro que as medidas fi scais fazem muita diferença. Antes da troca do imposto sobre a folha de pa-gamento pelos 2% sobre o faturamento, o Brasil quase empata-va com o México na questão tributária – sendo que, por aqui, o salário médio no setor é quase o dobro. Com a mudança, o Bra-sil se tornou, entre os seis países, aquele com menores encargos diretos. Ainda assim, o salario médio – indicado pela pesquisa em cerca de US$ 40 mil por ano – é um dos maiores, ao lado dos do Chile e da Colômbia. Além disso, o Brasil é, de longe, onde a oferta de emprego em TI é maior.

É evidente, portanto, que há muito o que avançar para que o maior mercado de TI da América Latina – cerca de US$ 23 bilhões por ano

Os benefícios fi scais da atual política industrial –

determinada pelo plano Brasil Maior – já começam a ser contabilizados, mas, ainda assim, o país segue na retaguarda nas vendas externas de serviços de TI:

não alcança os 10%. O principal rival na área,

a Índia, chega a 60%.

Luis Osvaldo Grossmann * Colaborou Ana Paula Lobo

GOVERNO

EM TI:pela frente

“QUEREMOS CHEGAR AO FIM DA DÉCADA EXPORTANDO US$ 20 BILHÕES, MAS HÁ DESAFIOS DE INFRAESTRUTURA E DE FORMAÇÃO DE PESSOAL”

Sérgio PessoaDiretor de desenvolvimento de mercados da Brasscom

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Para crescer

– apresente números razoá-veis nas vendas de software

e serviços para o exterior. O México – ainda que favorecido

pelos acordos comerciais com os EUA – tem cerca de 40% de seu mer-

cado de TI nas exportações. Na Índia, as vendas externas representam 60%. No

Brasil, não chega a 10%.“Queremos chegar ao fi m da década ex-

portando US$ 20 bilhões, mas há desafi os de infraestrutura e de formação de pessoal”, ressalta Pessoa. De fato, o Brasil tem cerca de 1,2 milhão de postos de trabalho no setor, enquan-to forma por ano 85 mil profi ssionais, que, muitas vezes, não atendem às necessidades do mercado. Como indica o diretor da Brasscom, há campos importantes em mobilidade, mídias sociais e smart grid que precisam ser contemplados também pela academia.

A escassez de mão de obra pressiona os salários para cima. Mas não é só. O custo com energia elétrica também é o maior entre os com-petidores latino-americanos, sem mencionar as difi culdades de preço e cobertura na oferta de acesso à internet no Brasil.

Em abril, a área de software foi mais uma vez contemplada com a revisão do Plano Brasil Maior. O governo determinou a redução da alíquota da desoneração da folha de pagamento de 2,5% para 2%, em troca da contribuição do INSS. Para Edmundo Oliveira, diretor de Relações Institucionais da Brasscom, a formalização deverá chegar a R$ 600 milhões ainda este ano.

O setor brasileiro de Tecnologia da Informação (TI) movimentou US$ 102,6 bilhões em 2011, o que representa crescimento de 11,3% em relação a 2010, segundo estudo encomendado pela Brasscom à IDC. Em 2011, apura ainda o levantamento, o setor passou a ter uma representação de 4,4% no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro.

A maior fatia do faturamento de TI provém do segmento TI in-house (US$ 41,6 bilhões), que é a tecnologia desenvolvida pelo governo e por empresas de outros setores da economia. Hardware vem na segunda posição com grande expressão, US$ 29,9 bilhões. Em seguida, aparecem serviços (US$ 14,7 bilhões), software (US$ 6,18 bilhões) e BPO (US$ 5,6 bilhões). O estudo contempla apenas o mercado interno de TI, sem contabilizar exportações e operações internacionais. A meta da Brasscom é, em 10 anos, fazer com que o setor chegue a 6,7% do PIB, índice observado nos países desenvolvidos.

NACIONALno PIB

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18 www.convergenciadigital.com.brJulho / 2012

SEGURANÇA

O fi cialmente, o Flame começou a assustar o mundo no dia 28 de maio, quando o coorde-nador de segurança cibernética para a União

Internacional de Telecomunicações da ONU, Marcos Obiso, veio a público e testemunhou: “Este vírus é muito mais sério que o Studnex, e os países precisam fi car em alerta”. A praga, descoberta pelo Kaspersky Lab, foi classifi cada como um instrumento de espiona-gem perigoso, com a capacidade potencial de ser usada para atacar os sistemas essenciais de infraestrutura.

Segundo os especialistas, o programa malicioso, batizado como Worm. Win32.Flame, estava em desen-volvimento desde março de 2010 e tem a capacidade de roubar informações valiosas, incluídos – mas não limitados a – conteúdos de um computador, informa-ções em sistemas específi cos, arquivos armazenados, dados de contatos e até mesmo registros em áudio.

“O malware Flame parece ser uma nova fase na guer-ra cibernética, e é importante entender que armas desse tipo podem facilmente ser usadas contra qualquer país. Neste caso, ao contrário da guerra convencional, os pa-íses mais desenvolvidos são realmente os mais vulnerá-veis”, afi rmou Eugene Kaspersky, CEO e cofundador da Kaspersky Lab, sobre a descoberta do Flame.

Mega-ataques foram realizados contra países do

CIBERNÉTICA:

O surgimento do Flame – classifi cado pela ONU como

o alerta de guerra cibernética mais sério já divulgado na era da

internet – é a comprovação de que o mundo digital se transformou,

de fato, em mais um campo de batalha entre os países.

Em entrevista à Revista do Convergência Digital, o professor

Roberto Ierusalimschy, da PUC/Rio, adverte: software, ao

contrário do ser humano, não faz julgamento prévio.

GUERRAcada vez mais perto de nós

Ana Paula Lobo

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Oriente Médio e, no dia 21 de junho, reportagem do The Washington Post especulou que o Flame seria o sucessor do Studnex e teria sido criado pelos go-vernos dos Estados Unidos e de Israel como forma de retardar a capacidade do Irã de desenvolver uma arma nuclear. Ofi cialmente, os países envolvidos não quiseram comentar o conteúdo da matéria.

A ideia de uma guerra ci-bernética aproximando-se não é descartada e traz grande pre-ocupação para os especialistas de segurança. Art Coviello, chairman da RSA, é taxativo ao comentar o tema. “O pro-blema é que no ciberespaço as questões ainda não estão mui-to claras. O que se pode fazer? O que se deve fazer? Como se defender? Por enquanto, temos visto as na-ções espionando umas as outras, mas nenhuma ação ou posicionamento defi nido. Os vírus mais recentes que saíram de controle mostram o quanto ainda es-tamos descobrindo essa área”, afi rmou durante visita ao Brasil para o CIAB 2012.

Segundo Coviello, antigamente, a defesa mili-tar tinha que cobrir ar, terra e mar; agora, é preciso também incluir o mundo di-gital. Preocupado, ele alerta que a ‘internet das coisas’ – onde tudo é interligado – pode agravar o risco. “Imagine um mundo conectado, em que até nossos carros estão ligados à internet. Um vírus bem planta-do pode paralisar tudo: carros, eletrodomésticos, etc.”.

Outras empresas de seguran-ça também avaliam o risco do Flame. Segundo o Web-sense Security Labs, o malware tem 20 MB, um tama-nho imenso comparado com a maioria dos outros vírus, que normalmente são menores do que 1 MB. O “novo” malware tem esse tamanho por que inclui muitas funções e vários módulos, como bibliotecas de descompressão, um banco de dados SQL e uma máquina virtual Lua.

O Flame está caracterizado entre os mais sofi sticados exemplos de códigos maliciosos já revelados. Alan Woodward, do departamento de computação da universidade inglesa de Surrey, classifi cou o programa como “um aspirador de informações sensíveis”. E ratifi cou que ele é muito mais sofi sticado do que o vírus Studnex, que, no ano passado, atacou instalações militares do Irã. “Enquanto o Studnex tinha um só objetivo, o Flame é um conjunto de ferramentas. Assim, consegue perseguir qualquer coisa que caia em suas mãos”.

“IMAGINE UM MUNDO CONECTADO, EM QUE ATÉ

NOSSOS CARROS ESTÃO LIGADOS À INTERNET. UM

VÍRUS BEM PLANTADO PODE PARALISAR

TUDO: CARROS, ELETRODOMÉSTICOS, ETC.”

Art CovielloChairman da RSA

“ESTE VÍRUS É MUITO MAIS SÉRIO QUE O STUDNEX, E OS PAÍSES PRECISAM

FICAR EM ALERTA”

Marcos ObisoCoordenador de segurança cibernética

para a União Internacional de Telecomunicações da ONU

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não faz julgamento prévio

SOFTWARE, AO CONTRÁRIO DAS PESSOAS,

Tão logo o Flame surgiu e foi apontado como um vírus de grande periculosidade, os institutos de segurança informaram que a

linguagem Lua, desenvolvida pelo Departamento de Informática da PUC Rio de Janeiro, teria sido utilizada pelos cibercriminosos para escrever a praga. Em entrevista exclusiva à Revista do Convergência

Digital, o professor Roberto Ierusalimschy, da PUC-RJ, diz que a instituição não recebeu um alerta ofi cial da ONU e reitera: um pacote

de software pode ser usado para o bem ou para o mal.

Até onde é possível, de fato, que a linguagem Lua tenha sido usada para a criação do Flame?

É totalmente possível. A Lua, como qualquer pacote de software, ou como qualquer ferramenta em geral, pode ser usada para o bem e para o mal. Podemos usar um martelo para matar alguém, e não há muito o que os fabricantes de martelos possam fazer.

É possível evitar que novos vírus venham a ser criados e possam atingir as aplicações de interatividade usando a Lua?

Note que o vírus não explora alguma vulnerabilidade ou falha em Lua. Ele não ataca aplicações que usam Lua. É ele próprio quem usa a Lua para implementar algumas de suas funções (que, no momento, ainda não se sabe bem quais sejam). E isso não há como evitar. Há uma grande onda em torno da Lua, provavelmente por ela ser uma linguagem brasileira, mas o Flame, assim como outros vírus, usa vários pacotes famosos, como zlib (software para compressão de dados) e sqlite3 (banco de dados). Ele também certamente usa algum compilador de C++. Todas essas ferramentas foram usadas no vírus, e não há como os desenvolvedores evitarem isso.

Não criamos a Lua para esse tipo de

uso. A Lua não oferece nada que seja particulamente útil para vírus e não para outras aplicações. A Lua é um software livre de código aberto, distribuída sob a licença MIT. Pode ser usada para quaisquer fi nalidades sem qualquer custo ou burocracia. Não temos registro de quem usa a linguagem. Mesmo que tivéssemos tal registro, quem desenvolve um vírus provavelmente usaria uma versão pirateada.

Há algum trabalho de correção em andamento pelos desenvolvedores da PUC/Rio para evitar o uso da Lua pelos cibercriminosos?

A Microsoft não pode evitar que o Visual Studio seja usado para a codifi cação de vírus. A Apache (software mais usado no mundo para servidores web) não tem como evitar que seu software seja usado em sites de pornografi a infantil. Um

SEGURANÇA

software, ao contrário de nós, não faz julgamentos. O Visual Studio cria programas, o Apache roda servidores web, a Lua executa programas escritos pelo usuário.

Se a Lua foi utilizada, podemos dizer que o Flame pode ter sido criado por cibercriminosos brasileiros?

Não. A Lua é usada mundialmente há muitos anos, não só em jogos, mas em muitos outros sistemas. Empresas como Samsung, Logitech, Electronic Arts, Adobe e Cisco usam a Lua regularmente em seus produtos. Existem livros sobre Lua em inglês, japonês, chinês, alemão, coreano (mas, infelizmente, não em português). Seria o mesmo que suspeitar que uns assaltantes de banco sejam alemães porque eles fugiram em um Gol, carro produzido pela Volkswagen.

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ESPECIAL CIAB 2012

assumem queé hora

de mudar

Bancos

“O setor bancário passa por um mo-mento de importan te transfor-mação”, senten ciou o presidente

executivo do Itaú Unibanco, Roberto Setúbal, durante sua participação no CIAB Febraban, rea lizado de 20 a 23 de junho, na capital pau-lista. Com esta frase, sintetizou o clima do maior evento do setor: denso, pelas pressões, mas instigante por conta das novas necessida-des de serviços.

Ao falar do momento econômico – crise e pressão interna por redução de juros –, Se-túbal pontuou a principal linha de discussão interna do setor: a busca da efi ciência opera-cional e fi nanceira. Nessa busca, tratar a in-formação de forma adequada será estratégico e é aqui que a TI vira a estrela. Será ela a ferramenta para aperfeiçoar e criar novos ser-viços para os correntistas. “Como sempre, há riscos nesses investimentos. Eles envolvem apostas, e aqueles que errarem menos ganha-rão clientes antes”, completou.

Seu posicionamento foi compartilhado pelos executivos do Banco do Brasil, Bradesco, Cai-xa Econômica Federal e Santander. Ao partici-

Instigadas pela crise econômica mundial e pressionadas pelo governo

brasileiro a reduzir os juros, as instituições fi nanceiras admitem que chegou o momento de

aumentar a efi ciência operacional e fi nanceira. Nesse cenário, a TI deixa de ser apenas um

suporte ao negócio para se tornar a estrela e o fi o condutor de novas frentes. Nunca foi tão

importante descomplicar para manter o cliente. Mas transformar envolve riscos e erros.

Reportagens de Ana Paula Lobo, Fábio Barros e Fernanda Ângelo

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parem do CIAB 2012, eles foram unânimes em dizer que a busca por efi ciência operacional e fi -nanceira e a necessidade de inovação para aten-der classes menos favorecidas vêm impondo os principais desafi os à área de TI. “A necessidade de reduzir custos e aumentar as receitas atra-vés de automatização e redesenho de processos gera demandas importantes de TI”, disse Paulo Nergi Boeira de Oliveira, diretor executivo da Caixa Econômica Federal.

Segundo ele, há o desafi o de preparar a orga-nização para o futuro e o uso de novos canais, como o internet banking e o mobile banking. “Hoje, 93% dos que utilizam serviços bancá-rios ainda o fazem via atendimento pessoal. Vi-vemos um momento em que precisamos fazer uma gestão do atendimento pessoal e, simul-taneamente, preparar o banco para o futuro”, acrescentou o diretor da CEF.

Os canais digitais ganham força no radar dos bancos e vieram para fi car, concordou o diretor departamental do Bradesco, Arnaldo Nissental. Segundo ele, o maior desafi o é integrar os mun-dos online e offl ine. “Nos últimos meses, 8 mi-lhões – ou 12% – dos clientes relacionaram-se com o Bradesco apenas através de canais digi-tais”, contabilizou o executivo.

DESCOMPLICAR, MAS COMO FAZER?

Por sua vez, Hideraldo Dwight Leitão, dire-tor do Banco do Brasil, observou que o atual ce-nário competitivo, com uma quantidade menor de bancos disputando clientes de maneira fer-renha, vem mudando o rumo dos investimen-tos em TI. “Os bancos precisam satisfazer os clientes. O desafi o da TI não está mais em gran-des projetos por trás de grandes modifi cações. É preciso desenvolver estratégias e fazer com que elas cheguem a todas as instâncias da or-ganização sem diluição de conteúdo”, afi rmou. Leitão salientou ainda que a área de tecnologia deixou de ser fornecedora para se tornar cada

Dinheiro na mão não é vendaval

Mudar o perfi l e, especialmente, o atendimento prestado nas agências é uma tarefa que mobiliza os gestores de TI das instituições fi nanceiras. Mas a receita não parece ser simples. Dados divulgados pela Booz & Company revelam que as agências brasileiras encerraram 2011 com participação de 6,8% no volume de transações bancárias, uma diferença muito pequena em relação aos 7,6% registrados em 2007, o que signifi ca que elas continuam um canal relevante. Mas todos os que estão envolvidos com o negócio sabem que é hora de mudar.

“A Caixa quer dobrar a sua rede até 2018. Este ano abriremos mais de 500 novas agências”, disse Joaquim Lima de Oliveira, vice-presidente da área de TI da Caixa Econômica Federal. O executivo, no entanto, assumiu que os bancos precisam fazer uma releitura sobre como atender aos clientes nesses pontos. “Há um espaço muito grande para o crescimento de agências, mas com a necessidade de sempre analisar cada público”, avaliou.

Atualmente, muito do fl uxo de usuários nas agências não é de clientes, mas de pessoas que vão até elas para fazer pagamentos e depósitos em dinheiro, por exemplo. Para Luis Antonio Rodrigues, diretor-gerente de sistemas do Itaú Unibanco, os bancos precisam espelhar-se nas instituições do exterior para conseguir mudar um pouco o perfi l de uso das agências. A tendência, em sua opinião, é que elas se transformem em agências de relacionamento.

Os ATMs, apesar da pressão do internet banking e da ameaça velada do mobile banking, estão cada vez mais numerosos em todo o mundo e serão meio de comunicação entre bancos e clientes por muito tempo. Uma questão precisa fi car muito clara: o dinheiro não deve sair de circulação tão cedo. Pelo menos foi o que afi rmou categoricamente Rosie Fitzmaurice, analista de mercado da RBR, que veio ao Brasil para participar do CIAB. Levantamento divulgado pela consultoria revela que, hoje, o Brasil mantém mais de 151 mil ATMs, o que equivale a 61% dos equipamentos instalados na América Latina. O México fi ca com a segunda posição na região, com cerca de 37 mil.

A pesquisa mostra que o total aproximado de 249 mil ATMs nos países latino-americanos responde por cerca de 11% de todos aqueles em uso no mundo (2,2 milhões, aproximadamente). Rosie apontou que o mercado brasileiro vem crescendo à taxa de 7% ao ano e disse que devem se somar em torno de 80 mil novos ATMs até 2016. “Até lá, juntamente com os EUA e Japão, os países do BRIC completarão o ranking dos seis maiores mercados em números de ATMs instalados”.

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ser reconhecidos ao entrar em suas agências. Mas é bom que os bancos entendam, revelou o diretor de estratégia da Cisco Brasil, Paulo Abreu, que o uso da internet e da mobilidade não diminui as visitas às agências. “As transações podem perder terreno, mas o relacionamento tende a aumentar nesse cenário”, avaliou o executivo.

Ponto importante no estudo é que o social banking ainda é um tema nebuloso para clientes e para os próprios bancos. Há uma grande dúvida se é possível misturar os dois mundos no dia-a-dia. Mesmo sendo o Brasil um país bastante adepto às novas tecnologias, apenas 2% dos entrevistados indicaram a preferência pelo uso do canal de mídia social para realizar operações bancárias. Os pontos de dúvida referem-se a privacidade, segurança e possível roubo de dados.

Mas aqui o estudo traz uma ótima notícia para as instituições fi nanceiras: elas têm a confi ança do correntista. Tanto é que 54% disseram que os bancos são os melhores guardiões das informações digitais, superando o governo (14%), operadoras de telefonia (8%) e sites de mídia social (9%).

ESPECIAL CIAB 2012

vez mais envolvida com os negócios. “No Ban-co do Brasil, a TI participa dos projetos desde a sua concepção”, revelou. “As tecnologias pas-saram a ser um recurso que precisa ser muito bem combinado para que os bancos consigam fazer mudanças rápidas e ofertas focadas e en-tregar valor aos clientes.”

Se de um lado são grandes consumidores

Pontuação média de iniciativas em redes sociais dos bancos6,0

5,0

4,0

3,0

2,0

1,0

0,0Aprendizado

fi nanceiroIncentivos

por troca de informação

Jogos e competiçõesfi nanceiros

“Casamento” entre banco

online e redes sociais

Pagamento pessoa a pessoa

Uso da rede social como análise de

crédito

Usando o login da rede social para acessar o site do banco

5,2 5,1 4,8 4,6 4,5 4,1 4,0

Brasileiro quer mobilidade e conveniência, mas duvida ainda das redes sociais

A fusão dos canais físicos e virtuais é uma realidade e impõe às instituições fi nanceiras uma revisão dos seus processos, revela pesquisa mundial divulgada pela Cisco durante o CIAB Febraban. No Brasil, a pesquisa constatou que os canais eletrônicos, em especial, o internet banking e os caixas eletrônicos, têm a preferência dos correntistas. Mas não se enganem: as agências ainda têm seu papel. Mas caberá aos bancos, sustenta o estudo, revalidar sua função para melhorar a relação com seus clientes.

O correntista brasileiro anseia por mais canais eletrônicos. Tanto é assim que, quando se se fala em mobilidade, 42% disseram que gostariam de usar seus celulares como meio de pagamento, substituindo o cartão de crédito; 40% gostariam de utilizar seus smartphones para gerenciar despesas; e 21% permitiriam

de tecnologia, de outro, os bancos costumam ser muito conservadores com a inovação. Mas neste momento, afi rmaram os principais for-necedores de soluções, não dá mais para adiar as apostas. “Não tem mais jeito. Para atender à nova classe de bancarizados, que estão vin-do das camadas mais populares, as aplicações bancárias precisam ser escritas de forma mui-

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www.convergenciadigital.com.br 25Julho / 2012

NFC: todo mundo quer, mas cada um com seu

A tecnologia Near Field Communications (NFC) está nos planos e testes de todos os atores envolvidos com o seu uso – bancos, operadoras e administradoras de cartão de crédito –, mas ainda tem um longo caminho a percorrer no Brasil, sustenta o gerente de negócios e soluções do CPqD, José Domingos Favoretto.

“A NFC está aí. Já temos uma base de celulares surgindo. Já temos aplicações. Mas precisamos saber como a tecnologia vai gerar dinheiro e, principalmente, como será a repartição da receita. Novos atores entraram nesse jogo, entre eles, Google, Microsoft e as próprias teles. E todos querem o seu quinhão”, salienta Favoretto. Atualmente, bancos e operadoras não revelam muita disposição para um consenso. “Quem detiver o controle do simcard, deterá o cliente”, acrescenta o gerente do CPqD.

O ideal para o Brasil, diz Favoretto, seria seguir os passos de países como a Holanda, onde os interessados sentaram-se à mesa, criaram um consórcio e estão aguardando a aprovação da Comissão Europeia. No modelo desenhado, bancos e operadoras não fi cam no controle. A gestão fi caria com uma entidade neutra – batizada de Transfer Services Management (TFM), que teria ainda o respaldo da Autoridade Monetária. “Essa TFM poderia ser criada aqui para gerenciar todo o processo de transação e, principalmente, para assegurar a segurança dos dados”, preconiza o gerente do CPqD.

Durante o CIAB, várias aplicações com a tecnologia foram apresentadas, mas sempre com uma ligação direta entre o correntista e o banco. “A NFC tem que ir além, permitir a integração. Ir a um ATM e usar a NFC é uma alternativa, mas a tecnologia pode dar muito mais”, comenta o especialista.

O custo não é mais tanto um entrave. “Com maior volume, o preço cai. Estima-se que em três anos mais de 50% dos novos celulares virão com NFC. Isso reduzirá muito o preço do chip. O problema permanece na repartição da receita dos negócios”, insiste Favoretto.

to simples. Tudo tem de ser muito intuitivo. E hoje não é assim que funciona na maioria das vezes”, advertiu João Abud, diretor geral da Procomp no Brasil.

Ele lembrou, por exemplo, que os ATMs produzidos no Brasil já estão preparados para receber o depósito direto de dinheiro – como acontece nos Estados Unidos –, mas os bancos resistem a essa mudança, até em função dos seus legados, como equipes internas, etc. E a regra de simplifi car também é válida para os modelos de internet banking e mobile banking. “Sem isso não será tarefa simples atender esse novo bancarizado. Mas também precisamos en-tender que o custo da transação para esse cliente ainda é muito alto”, acrescentou.

INOVAÇÃOMUDOU DE MÃOS

Um dos grandes desafios dos bancos, instigou ainda Luciano Corsini, vice-presi-dente da HP Enterprise Services, é reconhe-cer que a curva de inovação se inverteu e mudou de mãos. “Há dez anos, as tecnolo-gias mais avançadas estavam nas empresas. Atualmente, elas estão na casa dos usuários, o que representa um desafio a mais para os fornecedores”, disse. Nesse cenário da TI como estrela, é preciso manter os pés nos chão e saber que a tecnologia não é a sal-vação para todos os males, advertiu Fábio Pessoa, vice-presidente de vendas da IBM. “Nós, fornecedores, temos que acompanhar esse momento dos bancos e nos alinharmos para evitar um ruído na comunicação e, prin-cipalmente, na ação”, acrescentou.

Trabalho não falta nessa seara. Corsini, da HP, observou que mesmo no segmento fi nan-ceiro a informação – o maior valor em tem-pos de “big data” – ainda não está estruturada. “Mais de 80% dos dados estão não-estrutura-dos. E essa tarefa de estruturar é necessária para tirar inteligência”, observou.

Se não houver um consenso entre todos os atores envolvidos no ecossistema da NFC – que possibilita o pagamento pelo celular –, o Brasil pode fi car para trás no uso da tecnologia. Holanda, Inglaterra e Japão já têm suas regras, e todos se reuniram para defi nir o melhor modelo de negócios.

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O mercado de tecnologia vive um mo-mento de transição e precisa estar pre-parado para novas formas de lidar com

dados e informações. Para Patrícia Florissi, CTO (Chief Technology Offi cer) da EMC, o maior si-nal disto é que o mundo já está na era da socieda-de conectada e deve estar pronto para mudanças. “Em 2010, o universo digital tinha 1,2 ZB. Não seria um número tão assustador se ele não fosse crescer mais 44 vezes até 2020”, afi rmou a exe-cutiva, que participou do CIAB Febraban.

Para Patricia, o mundo chegou a esse patamar de produção de informações devido a uma imensa evolução tecnológica. O crescimento na capacidade de armazenamen-to deu impulso: em seis anos, os chips da Intel aumenta-ram 2.000% em desempenho. “Mais do que isso, houve uma padronização do processamen-to, o que derrubou preços, criou escala e, com ela, crescimento”, disse a executiva.

A computação em nuvem tem papel central nessa explosão. “Essa era deu-nos tempo para, diariamente, fazer um bilhão de pesquisas no Google, subir 250 milhões de fotos no Facebook e postar 290 milhões de tweets”. A mudança, sustentou Patricia, não se dá somente no mundo

“ANTES, OS BANCOS DE DADOS ERAM DESENHADOS PARA RESPONDER PERGUNTAS PREDETERMINADAS. HOJE, TEMOS QUE ADOTAR UM PROCESSO MAIS INTERATIVO E ÁGIL”

Patrícia FlorissiCTO (Chief Technology Offi cer) da EMC

pavimenta a era da

Conectada

Nuvem

ESPECIAL CIAB 2012

do usuário fi nal. Isso porque, lembrou, também diariamente, as bolsas de valores do mundo ne-gociam 2,8 bilhões de ações e o ComScore rea-liza 31 bilhões de interações. No centro dessas transformações, está o que o mercado chama de “big data”, o que para Patrícia pode ser entendi-do por “qualquer dado que desafi e o modo como lidamos hoje com a informação”.

Indo além, Patrícia afi rmou que estamos ape-nas no começo da mudança. “O que é grande hoje pode não ser amanhã. Por isso precisamos de meios inovadores de lidar com isso”, disse, lembrando que o volume de informações corpo-rativas deve crescer 50 vezes nos próximos dez anos. Um ponto destacado pela executiva é que, para o mercado corporativo, “big data” tem a ver com análise preditiva. “Antigamente, as áreas de negócio tinham que solicitar relatórios para a área de TI. Era um processo reativo, demorado e não havia colaboração envolvida”, lembrou.

VER PRA CRERNa nova era, valerá o autosserviço. Cada

área de negócio será capaz de fazer perguntas diretamente à base de dados, muito mais rica. “Antes, os bancos de dados eram desenhados para responder perguntas predeterminadas. Hoje, temos que adotar um processo mais in-terativo e ágil”, afi rmou. Para a executiva, a nuvem reescreveu os dados e o “big data” está

sociedade

do usuário fi nal. Isso porque, lembrou, também do usuário fi nal. Isso porque, lembrou, também

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transformando os negócios. A CTO da EMC também instigou os bancos a experimentarem e sugeriu ações: escolher as fontes de infor-mação que serão utilizadas na experimenta-ção; identifi car arquiteturas, sem se prender às existentes hoje e identifi car os membros da organização que vão participar da experiência, retirando valor dessas informações.

Para consolidar a ideia da nuvem como pa-vimentação da sociedade conectada, Peter Re-dshaw, vice-presidente de serviços do Gartner, sustentou que, até o fi nal de 2015, pelo menos 10% de todas as interações de clientes com bancos serão realizadas indiretamente através de serviços e portais baseados em cloud com-puting. Ele destacou que questões regulatórias e a preocupação com segurança e confi abilidade são fatores que podem diminuir a velocidade do avanço na adesão à nuvem, mas lembrou que a adoção de serviços baseados em cloud deve ser facilitada por empresas que farão a inter-mediação entre os bancos e os provedores de serviços, incluindo organizações que fi quem responsáveis por questões que vão desde o fun-cionamento da infraestrutura até o cumprimen-to de exigências regulatórias.

No cenário nacional, o diretor de Tecno-logia da Febraban, Luiz Antonio Rodrigues, admitiu que a computação na nuvem, hoje, é encarada muito mais como um desafi o do que

uma oportunidade. Questões como gerencia-mento, controle e risco estão na ponta do lá-pis dos gestores de TI. “Temos visto projetos de nuvens privadas, mas o grande desafi o se-rão as nuvens públicas e as questões regula-tórias”, afi rmou.

Segundo Rodrigues, as mudanças pelos quais os bancos terão que passar para usar cloud computing envolvem não apenas ques-tões regulatórias, como também profi ssionais. Para o diretor da Febraban, o novo ambiente exige uma mudança no perfi l dos CIOs. “Nos últimos anos, esses executivos tinham que es-tar muito próximos do negócio, agora terão que aumentar seu papel no gerenciamento de terceiros”, complementa.

Nuvem é inevitável nos bancos

Art Coviello, chairman da RSA, empresa da EMC, considerou uma ironia o fato de os bancos, sempre pioneiros no uso de novas tecnologias, não serem os incentivadores da adoção de cloud computing. Ele creditou a lentidão no processo a fatores como o conservadorismo das instituições fi nanceiras e, também, ao gigantismo das estruturas de Tecnologia da Informação dessas corporações. “Os bancos estão caminhando para a nuvem, só que devagar. Há muitas mudanças internas a serem feitas”, afi rmou.

Para Coviello, algumas ‘ondas’ deverão ser seguidas pela maioria das instituições. A primeira delas, em curso há alguns anos, é a consolidação de data centers. “Até pouco tempo atrás, alguns bancos tinham 20 data centers, cada um voltado para uma atividade ou unidade específi ca”, lembrou. Com a necessidade de reduzir custos, este número caiu drasticamente, preparando as instituições para a onda seguinte: a adoção de serviços compartilhados, motivada pelo aumento da produtividade. Algumas instituições estão nessa fase, mas a maioria já passou para a próxima que, de acordo com o chairman da RSA, é a criação de nuvens privadas.

“O uso das nuvens privadas dentro dos bancos vai estimulá-los a testar alguns aplicativos menos críticos em nuvens públicas, que será a onda seguinte”, disse Coviello. No entanto, o executivo deixou claro que o mercado jamais verá o uso massivo de nuvens públicas por parte de instituições fi nanceiras. “O uso será híbrido, com peso maior nas nuvens privadas”, sustentou.

transformando os negócios. A CTO da EMC transformando os negócios. A CTO da EMC

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O Brasil é o principal alvo de criminosos digitais na Amé ri-

ca Latina e, de acordo com o chairman da RSA, Art Co-viello, não há muito como es-ca par das ameaças. As fraudes são uma dor de cabeça para os bancos brasileiros. Em 2011, o pre-juízo chegou a R$ 1,1 bilhão. A novidade é que, na onda da nuvem, os cibercriminosos criaram uma nova modalidade: a fraude como serviço.

Os cibercriminosos estão muito atentos ao Brasil. O país é o principal alvo dos criminosos

digitais na América Latina, de acordo com pesquisa divulgada pela RSA. A Colômbia desponta na segunda posição, com 24,3% e o Chile na terceira, com 21,4%. O que impressiona no estudo é que México e Equador, que ocupam a quarta e a quinta co-locações no ranking, registram índices bem menores – 1,5% e 1,2% –, respectivamente.

Com 1.427 ataques de phishing em maio, o número de fraudes na América Latina cresceu 249% em um ano. Uma das modalidades mais frequentes é a fraude como serviço, replicando no submundo do cibercrime as ofertas de sof-tware como serviço, ampliadas com a disse-minação da computação na nuvem. O estudo

Onde há dinheiro,

virtuais

ESPECIAL CIAB 2012

há criminosos

apura ainda que o cuidado das áreas de TI dos bancos com o cibercrime precisa ir ao contro-le do IP. Isto porque 40% das fraudes vêm de endereços hospedados nos Estados Unidos. De acordo com dados da Febraban, em 2011, os bancos brasileiros perderam cerca de R$ 1,1 bi-lhão com fraudes eletrônicas.

Em entrevista ao Convergência Digital, Art Coviello, chairman da RSA, empresa da EMC, que veio ao país pela primeira vez du-rante o CIAB 2012, foi taxativo. “O Brasil é hoje a sexta maior economia do mundo. Quan-to maior a economia, mais dinheiro ela atrai, e onde há dinheiro há criminosos virtuais.” O especialista reforçou que a preocupação das empresas em geral, e dos bancos em particular, deve ser constante: há que estar atento para a segurança física e lógica. “E agora temos tam-bém a mobilidade”, provocou.

Não há muito como escapar das ameaças. Quando se fala especifi camente no setor fi nancei-ro, adiciona-se ao tamanho da economia brasilei-ra o uso massivo que os bancos do País fazem da tecnologia. Coviello lembrou que este é o dilema que se coloca para o mercado hoje: a tecnologia

“O BRASIL É HOJE A SEXTA MAIOR ECONOMIA DO MUNDO. QUANTO MAIOR A ECONOMIA, MAIS DINHEIRO ELA ATRAI, E ONDE HÁ DINHEIRO HÁ CRIMINOSOS VIRTUAIS”

Art CovielloChairman da RSA, empresa da EMC

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torna as empresas mais produtivas e efi cientes, e ao mesmo tempo mais expostas. “Quando se fala em segurança, os bancos brasileiros estão traba-lhando bem e melhorando cada dia mais. Estão entre os melhores do mundo em tecnologias di-gitais e serviços online, e é justamente isso que os torna mais expostos às ameaças, por isso eles devem estar mais atentos”, afi rmou.

NOVOS MODELOSA esta receita o especialista adicionou ainda

outros ingredientes, como redes sociais, com-putação em nuvem e, mais específi co do setor, a desintermediação. Tudo isso somado cria um novo contexto: novos modelos de uso da tecno-logia que estão possibilitando a criação de novos modelos de negócio. “Fatores como a nuvem estão permitindo que empresas que nunca realizaram determina-dos negócios mudem totalmente sua forma de atuação”, disse.

Ele citou como exemplo a pró-pria EMC, que, por conta da popu-larização da nuvem, deve começar a oferecer em breve serviços de autenticação baseados em risco, só que para o mercado de consumo. “É um mercado no qual nunca es-tivemos.” Ele lembrou ainda ou-tro exemplo, este mais próximo: a Apple, que começou sua história como fabricante de computadores e hoje comercializa conteúdo na nuvem, a ser consumido em vá-rios dos dispositivos criados pela companhia.

“Muitas empresas estão tirando proveito da TI para criar novos negócios”, disse. É bom por um lado, mas de outro exige uma atenção ainda maior na relação do negócio com a segurança. Mais que isso, exige matu-ridade em relação ao tema.

Coviello divide o mercado em quatro categorias de clientes, ou potenciais clientes:

ORIENTADOS A CONTROLESão as empresas interessadas somente em controlar o que acontece em seus ambientes. É um perfi l bastante comum em pequenas e médias companhias, que ainda não têm consciência das ameaças e riscos aos quais estão expostos.

ORIENTADOS A CONFORMIDADESão empresas nas quais existe a consciência do risco , mas as áreas responsáveis estão focadas somente no cumprimento de normas de conformidade. “Preocupam-se mais em fazer o que está nos manuais do que em fazer o que é certo”, resumiu Coviello.

ORIENTADOS AO RISCO DE TIAqui a consciência aumenta. As empresas entendem que seu ambiente está em risco e buscam proteção para que ele seja preservado.

ORIENTADOS AO RISCO DO NEGÓCIOPara o especialista, representa o mais alto grau de consciência e preocupação com a segurança. “Aqui estão empresas que sabem que, sem uma estratégia e políticas de segurança bem defi nidas, o seu negócio está ameaçado, não apenas seu ambiente de TI”, acrescentou.

“FATORES COMO A NUVEM ESTÃO PERMITINDO QUE EMPRESAS QUE

NUNCA REALIZARAM DETERMINADOS NEGÓCIOS MUDEM TOTALMENTE SUA

FORMA DE ATUAÇÃO”

Art CovielloChairman da RSA, empresa da EMC