41
Revista do Comando-Geral de Operações Aéreas Nº 09 - Dezembro 2005 Contribuição do ITA para o Sistema de CT&I da Defesa Nacional APRS - Uma Nova Perspectiva para as Comunicações Militares em HF Novas Perspectivas para o GITE Simulação de Vôo de Baixo Custo

Revista SPECTRUM Nº 09

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Novas Perspectivas para o GITE Simulação de Vôo de Baixo Custo Nº 09 - Dezembro 2005 Revista do Comando-Geral de Operações Aéreas

Citation preview

Page 1: Revista SPECTRUM Nº 09

Revista do Comando-Geral de Operações Aéreas Nº 09 - Dezembro 2005

Contribuição do ITA para o Sistemade CT&I da Defesa Nacional

APRS - Uma Nova Perspectiva para asComunicações Militares em HF

Novas Perspectivas para o GITE

Simulação de Vôo de Baixo Custo

Page 2: Revista SPECTRUM Nº 09

3

Spectrum

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

ÍndiceExpediente

Comandante-Geral de Operações AéreasTen Brig Ar William de Oliveira Barros

Chefe do Estado-Maior do COMGARMaj Brig Ar Gilberto Antônio Saboya Burnier

Conselho Editorial e RevisãoCel Av José Eduardo Portella AlmeidaMaj Av Davi Rogério da Silva CastroMaj Av Marcelo Boaventura Leite CardosoMaj Av Omar Sarmento dos SantosMaj Av Edson Fernando da Costa GuimarãesMaj Av Jorge Luiz SchwerzMaj Av Hélcio Vieira JúniorMaj Av Élison MontagnerCap Av Antonio Ferreira de Lima JúniorCap Av Sidney César Coelho AlvesTen Esp Com Luiz Carlos Leppa

Projeto Gráfico, Diagramação e FotolitosTachion Editora e Gráfica Ltda.Rua Santa Clara, 552 - Vila AdyannaTel/Fax: (12) 3921-0121 / 3922-4048 / 3922-3374CEP 12243-630 - São José dos Campos - SPe-mail: [email protected]

ImpressãoEditora Gráfica IpirangaSIG Quadra 08 - Lote 2095CEP 70610-400 - Brasília-DFTel: (61) 3344-2266 - Fax: (61) 3344-1077

Distribuição interna. Tiragem: 1.500 exemplares.

Os conceitos emitidos nas colunas assinadas são deexclusiva responsabilidade de seus autores. Estão au-torizadas transcrições integrais ou parciais das matéri-as publicadas, desde que mencionados o autor e a fontee remetido um exemplar para o COMGAR.

[email protected] (Internet)

Editorial ..................................................................... 4

Ontologia de Centros de Gravidade:

Método Conexionista ................................................. 5

Contribuições do ITA para o Sistema de Ciência

Tecnologia e Inovação de Interessa da

Defesa Nacional ........................................................ 9

APRS - Uma Nova Perspectiva para as Comunicações

Militares em HF ....................................................... 14

Comando e Controle em Operações Combinadas:

Desafio ou Utopia .................................................... 18

Novas Perspectivas para o GITE ............................... 22

Problema de Localização de Cobertura

de Conjuntos............................................................ 26

Simulação de Vôo de Baixo Custo - Uma

Ferramenta para Muitas Aplicações .......................... 29

Eficiência Operacional - Uma Análise

Mais Moderna .......................................................... 33

Laboratório de Processamento de Sinais Radar

Assistido po Computador: Uma Nova Perspectiva

para o Ensino de Guerra Eletrônica na FAB .............. 38

Page 3: Revista SPECTRUM Nº 09

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○4

Spectrum

Editorial

OComando-Geral de Operações Aé-

reas passa por fase de renovação.

As novas aeronaves adquiridas, a

implementação dos modernos conceitos de

Comando e Controle em operações combina-

das, o incremento em nosso esforço aéreo e a

realização das primeiras Avaliações

Operacionais são fatos que evidenciam a nova

etapa que se descortina.

Pautada na citação da Estratégia de Co-

mando do Exmo. Sr. Ten Brig Ar Bueno, “A

missão constitucional da Aeronáutica não

deixa dúvidas quanto à priorização da defe-

sa do país”, a aquisição dos novos vetores

abrange aeronaves, tais como os A-29, os

Mirage 2000, os Black Hawk (H-60L), os P-

3B, os CASA 295 (C-105A), os C-97, os C-98

e os C-99A/B e a modernização de frotas já

existentes como as de A-1, F-5E/F, C-130H,

H-1H e os C-95B. Essas conquistas represen-

tam a realização de sonhos de gerações de

pilotos e tripulantes de nossas Unidades Aé-

reas e tornam evidentes a preocupação e a

mobilização de todo o Comando da Aero-

náutica, com o objetivo de garantir que o

COMGAR cumpra a missão constitucional

da Aeronáutica.

A implantação dessas aeronaves vai exi-

gir a disseminação de novos conhecimentos

para suporte à utilização de novos sistemas.

Daí a preocupação deste Comando-Geral

com a formação especializada de seus re-

cursos humanos em cursos técnicos e de pós-

graduação em aplicações operacionais.

Há cinco anos, valorizando e publican-

do as idéias e os trabalhos dos nossos milita-

res, a Revista Spectrum tem se tornado um

veículo de divulgação para dezenas de pro-

fissionais que, em acréscimo aos seus afaze-

res diários, contribuem com relatos de par-

celas de suas experiências e especializações,

gerando reflexões que colaboram com o en-

grandecimento da missão

constitucional da Força Aé-

rea.

O teor dos artigos desta

edição reflete o grau de

profissionalismo e a compe-

tência dos nossos recursos

humanos. Discussões de te-

mas como o emprego do po-

der aéreo, sob o enfoque dos

Centros de Gravidade; o Co-

mando e Controle; a Avalia-

ção Operacional de sistemas;

o uso de ferramentas de si-

mulação no treinamento de

equipagens; e as inestimáveis contribuições

dos nossos professores e pesquisadores em

assuntos afetos à defesa, dentre outros arti-

gos, evidenciam a importância de se aliar a

ciência e a tecnologia ao emprego

operacional. A aplicação do conhecimento

científ ico na solução de problemas

operacionais é o grande enfoque desta edi-

ção que mais uma vez supera as expectati-

vas quanto ao conteúdo técnico e

abrangência.

Foi um privilégio estar à frente deste

Grande Comando neste momento de gran-

des realizações e conquistas. O sucesso dos

trabalhos do COMGAR depende de cada um

de nós, comandantes, pilotos, especialistas,

militares e civis. A contribuição de cada um

permite que o conjunto atinja o objetivo

maior, a missão cumprida com sucesso, se-

gurança e, por que não dizer, excelência.

Voar, Combater e Vencer

Ten Brig Ar Juniti Saito

Chefe do Estado-Maior da

Aeronáutica

Page 4: Revista SPECTRUM Nº 09

5

Spectrum

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Ontologia de Centros de Gravidade: Método Conexionista

“A destruição de conjuntos de alvos não

é automaticamente equivalente à vitória. Fato-

res intangíveis como cultura, religião e nacio-

nalismo, entre outros, são muito importantes,

pois só eles estabelecem a efetiva conexão entre

alvos e vitória”.[1]

Aresistência do inimigo na guerra é pro

duto de dois fatores: a extensão dos

meios de que dispõe e a firmeza de

sua vontade.

" Há fatores ou recursos motivacionais que

mantém um grupo social unido e disposto a

alcançar determinado objetivo político. Todo

grupo social (estado-nação, grupos criminosos

nacionais ou transnacionais, grupos terroristas,

etc.) possui centros de gravidade, que são fa-

tores, recursos, espaços geográficos, fontes de

moral, força, poder ou capacidade (física, eco-

nômica, política, militar ou mental), que cri-

am condições favoráveis, para impor a vonta-

de política a um inimigo ou resistir à imposi-

ção de outrem ou, quando atingidos eficaz-

mente, permitem a consecução dos objetivos

políticos do grupo oponente, resultando nas

seguintes situações:

a) redução expressiva da vontade de pros-

seguir na contenda; e/ou

b) diminuição significante da capacidade

de atingir os objetivos políticos."

Centros de gravidade não existem por si

só. Geralmente, há fatores que concorrem para

que eles existam.

Esses fatores servem de sustentação e

podem ser uma alternativa às ações de guerra,

caso o centro de gravidade seja intangível ou

se os custos e os riscos não compensarem as

ações diretas.

A figura nº 1 ilustra uma situação hipoté-

tica, em que quatro fatores atuam na sustenta-

ção de um centro de gravidade.

Outros fatores poderão concorrer para a

Narcelio Ramos Ribeiro – Cel AvComandante da Base Aérea de Salvador

sustentação de um centro de gravidade, no

entanto, para forças aéreas com poucos recur-

sos, sugere-se selecionar um número pequeno

dentre os mais importantes,

pois em cada um desses fato-

res poderão existir alvos ou ob-

jetivos passíveis de ações le-

tais e não-letais em grande

quantidade e não haverá mei-

os para atender a essa deman-

da.

No processo de identifi-

cação e análise, busca-se es-

colher os CG e os fatores de

sustentação (econômico, mi-

litar, psicológico, político,

geográfico, sociológico, his-

tórico e internacional) mais

prováveis. Após a realização

desses processos, devem-se

orientar as Linhas de Ação

(LA), letais e não-letais, para

alvos ou objetivos que agre-

guem valor à fragmentação

ou deterioração dos centros

de gravidade e/ou aos fato-

res de sustentação. Isso de-

pende do cenário e do planejador.

O Coronel Aviador Narcelio

Ramos Ribeiro é piloto de pa-

trulha, concluiu o CFOAv em

1980 e exerce atualmente a

função de Comandante da

Base Aérea de Salvador. Pos-

sui curso de Guerra Eletrôni-

ca na Inglaterra (“Electronic

Warfare Directors”) e pós-gra-

duação em Planejamento Es-

tratégico e Qualidade Total

pela AEUDF (Brasília). O Cel

Av Narcelio tem trabalhos pu-

blicados nas revistas da

UNIFA e O Patrulheiro.

Fig.: 1 - Fatores de Sustentação

Page 5: Revista SPECTRUM Nº 09

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○6

Spectrum

No processo de identificação e análise de

centros de gravidade há que se considerar os

seguintes aspectos:

a) natureza do conflito (o conflito entre

grupos sociais oponentes pode ser de nature-

za fundamental ou acidental);

b) natureza do inimigo (um grupo social

inimigo, quanto a natureza, pode ser racional

ou irracional);

c) natureza de centros de gravidade (os

centros de gravidade, quanto à natureza, po-

dem ser tangíveis e intangíveis);

d) fatores sociológicos - nível de civiliza-

ção, perfil sociológico da população, raça, cre-

do ou tribo majoritária, grau de independên-

cia, nível de segregação geográfica e estágio

de auto-determinação;

e) fatores econômicos - infra-estrutura, ca-

pacidade de auto-sustentação na guerra, de-

pendência de suporte externo, se a economia

é em escala ou não, capacidade dela suportar

o poder militar e se a economia é agrária ou

industrial;

f) fatores geográficos - constituição geo-

gráfica do país oponente, modelo e tipo de

relevo, clima, hidrografia e vegetação, distân-

cia entre as forças e a base de suporte e tipo

de limitação que o terreno impõe às forças;

g) fatores militares - importância dos líde-

res militares dentro do governo, a natureza da

doutrina militar, capacidade deles se engajarem

em atividades militares que não de guerra, se

essa força militar tem capacidade de planejar e

de operar no nível estratégico ou são estritamen-

te operacionais e táticos, o conhecimento e es-

trutura que eles possuem para gerar concepção,

táticas, métodos, modelos e, até mesmo, pro-

cedimentos nas áreas de comando e controle,

guerra eletrônica, logística, análise operacional

e inteligência, tipo de tecnologia que eles utili-

zam, se eles fabricam seus próprios equipamen-

tos e composição de forças;

h) fatores psicológicos - nível de satisfa-

ção da população, condições de vida, se eles

têm suas necessidades básicas atendidas, ní-

vel da qualidade de vida dessa população, o

grau de influência que sofre a população pe-

los seus líderes políticos, se ela é influenciada

por líder religioso ou pela mídia, outro tipo de

liderança sobre a população, desejo da popu-

lação em prosseguir na guerra, se eles apói-

am, voluntariamente, os objetivos de governo

e se eles têm noção clara dos cenários em ques-

tão;

i) fatores políticos – objetivos políticos

da contenda, grau de moralidade e de aceita-

ção desses interesses e objetivos políticos na

visão da população e da comunidade interna-

cional, forma de governo, interesses vitais

desse governo, apoio da população a esse go-

verno, a influência da opinião pública no go-

verno e se o governo é repressivo/ditatorial;

j) fatores internacionais - características e

posturas da aliança ou coalizão que a força

inimiga participa, escopo desses organismos

internacionais, visão da comunidade interna-

cional sobre essa força, se essa força é respei-

tada como líder ou se ela é liderada e se ela

recebe algum tipo de apoio para o esforço de

guerra;

k)fatores históricos - em conflitos passa-

dos qual foi o centro de gravidade dessa força

e se ele pode ser escolhido como centro de

gravidade outra vez, mudanças que ocorre-

ram no governo e na população desde o últi-

mo conflito, histórico de rivalidade ou ani-

mosidade entre o grupo social inimigo e o nos-

so, e como se comporta esse grupo social quan-

do conduzido a desafios.

Além de considerar os aspectos acima

listados, é necessário verificar se esses fatores

concorrem, como ponto forte ou fraco, na sus-

tentação de centros de gravidade e se eles são

centros de gravidade ou não.

Esses fatores e os centros de gravidade ne-

cessitam ser identificados, para possibilitar o

Page 6: Revista SPECTRUM Nº 09

7

Spectrum

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

planejamento.Processos de Identificação de Centros de Gravidade

Os seguintes passos devem ser realizados

para a identificação dos centros de gravidade:

a)identifique os objetivos políticos de to-

dos os beligerantes;

b)identifique a natureza do conflito e do

inimigo;

c) examine os beligerantes à luz dos fato-

res mencionados anteriormente;

d)selecione, dentre esses fatores, os pos-

síveis candidatos a centro de gravidade (essa

seleção pode ser realizada tomando por base

a definição de centros de gravidade e os

questionamentos formulados em cada fator);

e)identifique a natureza de cada candi-

dato a centro de gravidade;

f) para selecionar o(s) verdadeiro(s)

centro(s) de gravidade, formule a seguinte ques-

tão para cada um dos candidatos: se ele for

removido ou frag-

mentado haverá re-

dução expressiva da

vontade de prosse-

guir na contenda e/

ou diminuição

significante da ca-

pacidade do grupo

social atingir os seus

objetivos políticos?;

g) se, após sub-

meter todos candi-

datos a essas avalia-

ções, a resposta for

negativa reinicie o

processo, mas se for

positiva passe para o item 2.

A figura nº 2, ilustra os processos de iden-

tificação de centros de gravidade.

Processo de Análise de Centros de Gravidade

Os seguintes passos devem ser realizados

para a análise dos centros de gravidade, uma

vez realizada a identificação:

a)submeta os centros de gravidade seleci-

onados a uma análise APA (Adequabilidade,

Praticabilidade e Aceitabilidade). Eles devem

atender aos objetivos políticos, sem, contudo,

causar efeito adverso (o centro de gravidade

poderá ser um ou mais);

b)identifique quais os principais fatores de

sustentação desses centros de gravidade e sub-

meta-os à análise APA (os fatores de sustenta-

ção devem estar relacionados aos centros de

gravidade, que, por sua vez, estão atrelados

aos objetivos políticos);

c)elabore as LA letais e não-letais, visan-

do alvos e objetivos relacionados aos centros

de gravidade (se for o

caso) e/ou aos fatores

de sustentação; e

d)teste todos es-

ses procedimentos ou

utilize-os no exercício

ou em operações reais

e avalie os resultados,

verificando se estão

atendendo aos objeti-

vos políticos.

É muito impor-

tante a análise APA

nesse processo, pois

pode ocorrer de uma

LA atender aos objeti-

vos políticos, mas os meios não serem sufici-

entes ou os riscos não compensarem os cus-

tos.

A figura nº 3 ilustra o processo de análise

de centros de gravidade.

Todos esses processos buscam conectar

ações a centros de gravidade e estes aos obje-

tivos políticos da contenda, podendo resultar

IDENTIFICAÇÃO DE CENTROS DEGRAVIDADE

Fig.: 3 Processo de Análise de CG

Fig 2 - Identificação de CG

Page 7: Revista SPECTRUM Nº 09

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○8

Spectrum

na seleção axiológica de ações, alvo e objeti-

vo, ao invés do desperdício de tempo, recur-

sos, energia e homens inerentes aos modelos

utilitaristas de planejamento.

A seleção utilitarista de alvos militares des-

tina-se a atacar todos os meios que os adver-

sários utilizam para empreender a guerra. Sol-

dados, aeródromos, bases, navios, trens, car-

ros de combate, aeronaves e sistemas de co-

mando e controle (C2) são exemplos de alvos

passíveis de serem atacados diretamente em

campanhas militares. É muito apropriada a uma

força que possui bastantes recursos.

Ao contrário, o modelo conexionista de

planejamento, constante deste artigo, segue

uma linha axiológica, por ser mais adequada

às forças que não possuem muitos recursos e,

portanto, não podem arcar com custos

operacionais fascinantes.

A figura nº 4 ilustra uma comparação entre

o método utilitarista usado por Warden e o

conexionista (axiológico) abordado neste artigo.

Nota-se, portanto que o método

conexionista é mais apropriado a uma força

sem muitos recursos, pois atende melhor a re-

alidade de quem tem fortes limitações.

A figura nº 5 ilustra o método conexionista

de uma forma mais abrangente.

O exemplo mais notório da eficácia do

método axiológico (conexionista) de planeja-

mento e emprego de ações militares foi a cam-

panha aérea da Organização do Tratado do

Atlântico Norte (OTAN), contra a Iugoslávia,

em 1999. Os objetivos eram obrigar os líderes

sérvios a interromper as agressões sangrentas

contra os civis inocentes em Kosovo e, se ne-

cessário, reduzir significativamente a capaci-

dade militar sérvia.

Desde o início, os líderes políticos seleci-

onaram o poder aéreo como instrumento mili-

tar, descartando qualquer uso de tropas terres-

tres da OTAN. As ações foram conduzidas con-

tra centros de gravidade, acabando por dobrar

a vontade do líder iugoslavo Slobodan

Milosevic.

Conclusão

O poder aéreo pode atacar alvos estraté-

gicos, operacionais e táticos; pode suprir for-

Fig.: 4 - Comparação de Método de Escolha de CG

Fig.: 5 - Método Conexionista

Continua na pág. 42

Page 8: Revista SPECTRUM Nº 09

9

Spectrum

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

“O Sistema de Ciência e Tecnologia de

Defesa deve atingir o efetivo domínio dos co-

nhecimentos científicos e tecnológicos e da

capacidade de inovação, visando cooperar

com a satisfação das necessidades do País

atinentes à Defesa e ao desenvolvimento naci-

onal.”[1].

Introdução*

APolítica de Defesa Nacional, adota-

da em 1996 pelo governo, por meio

de uma das suas Orientações Estraté-

gicas, enfatiza que “É essencial o fortalecimen-

to equilibrado da capacitação nacional no

campo da defesa, com o envolvimento dos

setores industrial, universitário e técnico – ci-

entífico. O desenvolvimento científico e

tecnológico é fundamental para a obtenção de

maior autonomia estratégica e de melhor

capacitação operacional das Forças Armadas”,

[2]. Em consonância com esta visão estratégi-

ca foi criado o Ministério da Defesa (MD), em

junho de 1999, visando otimizar o sistema de

defesa nacional, formalizar uma política de

defesa sustentável e integrar as três Forças, ra-

cionalizando as suas atividades, e, assim, im-

plantar um sistema de Defesa Nacional mais

moderno, ágil e eficiente.

A orientação estratégica e a finalidade,

acima referenciadas, evidenciaram a importân-

cia de se compreender, claramente, as

especificidades das atividades em Ciência, em

Tecnologia e em Inovação (C,T&I), bem como

o estabelecimento de alianças entre as diver-

sas Instituições adequadas para executá-las de

forma continuada e coordenada, como Obje-

tivo Nacional Permanente. Portanto, a inser-

ção das Instituições de Ensino e Pesquisa de

excelência, vinculadas ou não aos Comandos

Militares, assim como do setor industrial -

empresarial na agenda das prioridades

delineadas, passou a constituir um dos Desafi-

os Estratégico de primeira prioridade. Em ou-

tras palavras, tornou - se evidente que a atra-

ção, capacitação e a retenção de Recursos Hu-

manos em instituições

adequadas, com perfil

e quantidade apropria-

dos, determinam o ní-

vel de sucesso continu-

ado de empreendimen-

tos que se fundamen-

tam em C&T&I. À luz

deste entendimento, o

MD em cooperação

com o Mististério da

Ciência e Tecnologia

(MCT), coordenou o

Seminário “Ciência,

Tecnologia e Inovação:

Propostas de Diretrizes

Estratégicas para a De-

fesa Nacional”, em

novembro de 2002[1].

Neste evento, o MD

mostrou – se “preocu-

pado com as necessida-

des de discutir, multila-

teralmente, os assuntos

ligados à Defesa Naci-

onal e de identificar as

ações estratégicas de

C,T&I para o país, e o

MCT imbuido na

reformulação do siste-

ma nacional de C,T&I,

cujas metas foram

estabelecidas no seu Li-

vro Branco de C,T&I”.

No contexto deste

artigo, é oportuno des-

tacar as seguintes ori-

entações, dentre as várias estabelecidas no re-

ferido Seminário:

1) A inserção de universidades e centros

Contribuições do ITA para o Sistema de Ciência, Tecnologia e Inovaçãode Interesse da Defesa Nacional

José Edimar Barbosa OliveiraProfessor Titular do ITA

O professor Edimar realizouos cursos de graduação, UnB-76,mestrado, ITA-79, e PhD –McGill University – Canadá – 86,todos na área de Engenharia Ele-trônica. Iniciou suas atividadesno corpo docente do ITA em1977 e em 1993, por meio deconcurso público, ascendeu aonível de professor Titular da Di-visão de Engenharia Eletrônica.Suas atividades em ensino e pes-quisa e consultoria científica adhoc, para várias organizações defomento à pesquisa, têm contri-buído para a organização e exe-cução de atividades de interesseda Comunidade Científica Na-cional. Resultados de suas pes-quisas já foram publicados emvários periódicos nacionais e in-ternacionais. Desde 1997 temparticipado da estruturação dalinha de pesquisa em Guerra Ele-trônica no CTA e coordena a Pós-Graduação em AplicaçõesOperacionais desde a sua cria-ção, bem como o Módulo Téc-nico do CEAAE. Em 2000 foi lau-reado com a medalha de Honraao Mérito da Aeronáutica.

Page 9: Revista SPECTRUM Nº 09

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○10

Spectrum

de pesquisa civis nos projetos de C,T&I volta-

dos para a Defesa deve ser cada vez mais in-

centivada, envolvendo, desde cedo, os estu-

dantes na realização de tarefas acadêmicas e

de pesquisas em áreas de interesse da Defesa

Nacional.

2) A indústria, por sua vez, deve partici-

par desde a fase de concepção dos projetos.

Deverão ser disponibilizados mecanismos que

viabilizem o seu maior envolvimento na área

de C,T&I de interesse da Defesa Nacional, com

consequente geração de inovação tecnológica

e aumento na produção de riquezas no pais.

Naturalmente, o Instituto Tecnológico de

Aeronáutica (ITA) organizou grupos de estu-

dos com o objetivo de estender algumas de

suas áreas de atuação em ensino e pesquisa,

visando melhor atender à primeira orientação.

Alguns dos resultados obtidos têm potencial

para criar aliança de conhecimentos com ins-

tituições acadêmicas, portanto serão apresen-

tados na próxima sessão.

No que se refere à segunda orientação,

serão abordados o “Sistema de Ciência,

Tecnologia e Inovação em Áreas de Interesse

da Defesa Nacional (SisCTID)”, criado pelo

MD, em dezembro de 2003, e a “Política de

Ciência, Tecnologia e Inovação para a Defesa

Nacional”, de novembro de 2004.

O SisCTID resultou de estudos conjuntos

envolvendo o MD e setores da comunidade

acadêmica e industrial. Ao longo do ano de

2003, o MD reuniu pesquisadores e empresá-

rios de São Paulo, Campinas, São José dos Cam-

pos e Rio de Janeiro para integrar grupos de

trabalhos e debater modelos de parceria, vi-

sando delinear uma proposta para a integração

da pesquisa civil e militar brasileira. A propos-

ta identifica uma lista de 23 tecnologias, sen-

do algumas dos setores de telecomunicações

e informação, as quais receberão destaque

neste tutorial.

Por outro lado, a récem – lançada Política

e C,T&I para a Defesa Nacional, constitui um

avanço normativo, com potencial para estimu-

lar que a recente sinergia entre o MD e o MCT,

também aumente as conexões com os Mistéri-

os da Indústria e da Educação, entre outros.

Por último, porém não menos importan-

te, são apresentados breves comentários sobre

a “Política Nacional de Indústria de Defesa”, a

qual objetiva reativar a indústria bélica nacio-

nal, de modo a reduzir a dependência de im-

portação de equipamentos e tecnologias con-

siderados estratégicos e a aumentar as ex-

portações.

Pós-graduação em Áreas de Interesseda Defesa Nacional

Por se tratar de uma temática nova para a

maioria das instituiçoes brasileiras, considera

– se oportuno apresentar aspectos da

metodologia adotada pelo ITA e, assim, esti-

mular reflexões em outras instituições com in-

teresses em atividades correlacionadas.

O ITA, um dos cinco órgãos do Centro

Técnico Aeroespacial (CTA), localizado em São

José dos Campos – SP, em consonância com o

que é estabelecido em sua Lei de Criação, é o

órgão de ensino superior do Comando da Ae-

ronáutica, que tem por finalidade a formação

de profissionais de concepção com alto nível

de qualificação e a realização de pesquisa e

atividade de extensão universitária no campo

de tecnologia avançada, prioritariamente as de

interesse aeroespacial.

O ITA consolidou sua competência, em

áreas estratégicas para a Defesa, por meio de

ações continuadas de graduação e pós-gradu-

ação, nas seguintes especialidades: Engenha-

ria Aeronáutica, Engenharia Eletrônica, Enge-

nharia Mecânica-Aeronáutica, Engenharia de

Infra-Estrutura Aeronáutica e Engenharia da

Computação. Este Instituto, além de ter conti-

nuamente inovado nas áreas de graduação e

Page 10: Revista SPECTRUM Nº 09

11

Spectrum

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

pós-graduação, tem prestado elevada contri-

buição para a evolução tecnológica e industri-

al do Brasil.

No ITA, os cursos de pós-graduação exis-

tem desde meados dos anos 60 e já proporcio-

naram resultados expressivos em várias áreas

de pesquisa de interesse do setor aeroespacial.

Os quatro cursos de pós-graduação stricto sensu

do ITA, credenciados pela CAPES, são: Enge-

nharia Eletrônica e Computação (EEC), Engenha-

ria Aeronáutica e Mecânica (EAM), Engenharia

de Infra-estrutura Aeronáutica (EIA) e Física (FIS).

Na organização da pós-graduação do ITA

cada curso é subdividido em áreas de pesquisa

e estas, por sua vez, são constituídas por deter-

minadas linhas de pesquisas. Esta concepção

permite a estruturação de programas de pós-gra-

duação que proporcionam a formação de pro-

fissionais com qualificações apropriadas para

atuarem em áreas que exigem conhecimentos

interdisciplinares. Por exemplo, um profissio-

nal matriculado no curso de pós-graduação em

Engenharia Eletrônica e Computação na área

de Telecomunicações pode cursar disciplinas

eletivas das áreas de Organização Industrial,

Sistemas e Controle, Informática, entre outras.

Em 1998, a Força Aérea Brasileira conce-

beu o seu “Programa de Busca de Excelência”,

com a finalidade de capacitar militares e civis

para o exercício de atividades de análise, sínte-

se, avaliação, pesquisa e desenvolvimento de

concepções, métodos, modelos, conceitos táti-

cos, procedimentos e tecnologias, todas relaci-

onadas com aplicações operacionais. Uma das

motivações desta inciativa estratégica é o “Pro-

grama de Fortalecimento do Controle do Espa-

ço Aéreo Brasileiro ( PFCEAB), criado em julho

de 2000, por meio de uma Diretriz Presidenci-

al.

No contexto dos Programas supracitados,

o ITA, em consonância com as suas atribuições,

estabeleceu parcerias com o Comando Geral

de Operações Aéreas (COMGAR) e com o Esta-

do – Maior da Aeronáutica (EMAER) e criou o

Curso de Especialização em Análise de Ambi-

ente Eletromagnético (CEAAE), em 1998, e o

Programa de Pós – Graduação em Aplicações

Operacionais (PPGAO), em 2001. O CEAAE é

realizado com formato lato sensu, com um ano

de duração, enquanto o PPGAO contempla a

concepção stricto sensu, nos níveis de Mestrado

e Doutorado. Ambas as opções se destacam por

um forte direcionamento da capacitação cien-

tífica para o atendimento de necessidades

operacionais dos Comandos Militares: Coman-

do & Controle (C2), Guerra Eletrônica (GE), Aná-

lise Operacional (AO) e Armamento Aéreo (AA).

Estas caraterísticas sugerem que os profissio-

nais capacitados pelo CEAAE e PPGAO sejam

direcionados para participar das atividades ne-

cessárias para inserir parte da ciência acadêmi-

ca, desenvolvida no ITA/CTA, em inovações

operacionais. Por se tratar de profissionais trei-

nados para as concepções de emprego dos cli-

entes, Comandos Militares, eles podem desen-

volver trabalhos expressivos, por meio de reali-

zações de teses, que criem as interfaces entre a

pesquisa acadêmica e os setores operacionais

dos Comandos Militares. A natureza desta pro-

posta pode ser melhor caracterizada com o au-

xílio da representação esquemática de um mo-

delo de C&T&I, disseminado pelo Prof. Roberto

Nicolisky, da UFRJ[3], conforme ilustrado na

figura abaixo. Nesta tentaiva, os trabalhos de

campo desenvolvidos pelos alunos do PPGAO

e o do CEAAE teriam a função de catalizar o

processo de inovação.

Fig. 1: Representação esquemática simplificada de um modelo de C&T&I [3].

Page 11: Revista SPECTRUM Nº 09

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○12

Spectrum

SisCTID

Em consonância com as Diretrizes Estra-

tégicas do Seminário de 2002[1], o MD, ao

longo de 2003, coordenou as atividades de

vários grupos de estudos destinados a forne-

cer sugestões para conceber e implementar o

Sistema de Ciência, Tecnologia e Inovação do

Ministério da Defesa - SisCTID. Em particu-

lar, o Grupo Regional de São José dos Cam-

pos, São Paulo e Campinas ficou encarrega-

do de identificar e hierarquizar áreas e pro-

gramas estratégicos em CT&I da Defesa, de

forma a compor uma proposta para apresen-

tação na 1ª Jornada Conjunta do Ministério

da Defesa, Ministério da Ciência e Tecnologia

e Ministério das Comunicações sobre o tema,

a ocorrer em 10 de dezembro de 2003 em

Brasília.

Os estudos realizados contribuiram para

o delineamento da “Visão 2015” do MD,

segundo a qual “O Ministério da Defesa será

uma organização de referência na condução

dos assuntos relativos à área Ciência,

Tecnologia e Inovação de Interesse da Defe-

sa Nacional, por meio do(a):

• domínio de tecnologias que atendam às

necessidades da Defesa Nacional;

• contribuição para o fortalecimento da

indústria nacional;

• reconhecimento institucional, no Brasil e

no exterior; e

• gestão eficiente e eficaz”.

Em dezembro de 2003, estes pressupos-

tos conjuntamente com uma metodologia

segundo a qual as Áreas Estratégicas poderi-

am ser representadas em um espaço delimita-

do pelos Eixos de Defesa, de C&T e de Indús-

trias, foram utilizados para identificar 23

Tecnologias de Interesse Nacioanl[4]:

No contexto destas tecnologias, o MD ele-

geu os dez primeiros projetos que começaram

a ser implementados em 2004: usina de

Hexafluoreto, satélite geoestacionário, veícu-

lo áereo não tripulado, bloco girométrico para

Missil Anti – Radiação, sensores infravermelho

e óptico – mecânicos para sistema de visão

noturna e navegação inercial, túnel vertical

para treinamento de paraquedistas e um

pseudo – satélite.

O então Reitor do ITA, Prof. Michal

Gartenkraut, que participou da criação do

SisCTID, considera que “o novo sistema pode

ser um ponto de inflexão na pesquisa e de-

senvolvimento militar. Para ele, o ponto for-

te é a interseção entre o MD e o MCT, que

congregam, respectivamente, a inovação de-

senvolvida nas três Armas e o conhecimento

gerado nas universidades e institutos de pes-

quisa”.

Page 12: Revista SPECTRUM Nº 09

13

Spectrum

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Política de C,T&I para a Defesa

Em novembro de 2004, o MD criou a

Política de C,T&I para a Área de Defesa Na-

cional com a seguinte finalidade:

I - apresentar os objetivos estratégicos para

os componentes e orgãos de expressão

militar do Poder Nacional;

II - orientar as instituições que venham a

participar de atividades de ciência,

tecnologia e inovação de interesse da

Defesa;

III - criar um ambiente capaz de estimular a

pesquisa e o aproveitamento do

conhecimento científico existente;

IV - fomentar o desenvolvimento industrial;

e

V - gerar produtos inovadores alinhados

aos interesses comuns das Forças Arma-

das.

Para melhor contextualizar algumas das

considerações sobre C,T&I, já apresentadas

neste tutorial, destaca - se as Diretrizes do

oitavo Objetivo da referida Política:

a) incentivar parcerias com universida-

des, centros de excelência e a indústria, para

o desenvolvimento de novos produtos,

tecnologia e serviços;

b) integrar as atividades correlatas dos

centros militares de P&D;

c)integrar os centros militares de P&D às

redes temáticas de C&T;e

d) incentivar o cadastramento de pes-

quisadores e tecnólogos, que integram o

SisCTID, em base de dados de abrangência e

de reconhecimento nacionais.

Portanto, esta Política prevê que as For-

ças Armadas compartilhem seus laboratórios

com universidades e empresas privadas. En-

tretanto, questões tais como propriedade in-

telectual, titularidade das inovações, entre

outras, exigem a criação de legislação ade-

quada.

Política de Indústria de Defesa

No inicio de 2005, o diretor do Depar-

tamento de Logística do MD apresentou in-

formações sobre o interesse em reativar a

indústria bélica nacional, de modo a reduzir

a dependência de importação de equipamen-

tos e tecnologias considerados estratégicos

e a aumentar as exportações. O Projeto que

está sendo delineado em consonância com

a “Política Nacional de Indústria de Defe-

sa”, contempla sete ações: campanha pela

indústria de defesa nacional, fim da depen-

dência externa, redução de carga tributária,

aquisição de produtos de defesa da indús-

tria nacional pelas Forças Armadas, melhoria

da qualidade dos produtos nacionais, au-

mento da competitividade dos produtos para

exportação e melhoria da capacidade de

mobilização da indústria.

Considerações Finais

Este artigo tutorial apresentar uma visão

pessoal, sobre o planejamento e ações es-

tratégicas do governo referentes à criação e

implantação do Sistema de Ciência,

Tecnologia e Inovação em Áreas de Interes-

se da Defesa (SisCTID). Este empreendimen-

to poderá se transformar em um desafio atra-

ente que proporcione oportunidades de atu-

ação em novas áreas compatíveis com a re-

conhecida excelência em ensino e pesquisa

da comunidade acadêmica nacional.

Referências Bibliográficas

[1] Ministério da Defesa e Ministério da

Ciência e Tecnologia (Brasil), “Ciência,

Tecnologia e Inovação: Proposta de

Diretrizes Estratégicas para a Defesa

Nacional”, Brasilia, 26 de novembro de

Continua na pág. 42

Page 13: Revista SPECTRUM Nº 09

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○14

Spectrum

“O ótimo é inimigo do bom!”

Introdução

Sem meios de comunicações confiáveis

e variados, seria impossível coletar,

processar, produzir, gerenciar e disse-

minar dados num ambiente complexo e dinâ-

mico como o das operações militares.

Para desempenhar com ef iciência

as suas atr ibuições, de caráter essen-

cialmente decisório, os comandantes

d e p e n d e m , c a d a ve z m a i s , d e u m

abundante inf luxo de informações.

Ref let indo o papel preponderante

que a informação representa para os

mi l i ta res , aqui lo que cos tumava ser

vis to como Comando & Controle (C2)

tornou-se Comando, Controle, Comu-

nicações e Computadores (C4) .

Desse modo, o enorme volume de

informações classi f icadas e al tamente

voláteis , t ípicas das at ividades mil i ta-

res, impõe requisi tos extremos sobre

a capacidade de comunicação apro-

priada à qualidade de serviço deseja-

da.

Em conseqüência, nenhuma forma

d e t e l e c o m u n i c a ç ã o d e v e s e r

desconsiderada. O que se busca, na

verdade, é uma inter-relação de t ipos,

operando em redundância, com o má-

ximo aprovei tamento s inérgico de re-

cursos.

Logo , mesmo os rád ios de HF 1 ,

combinados com modernos disposi t i -

vos de localização (Global Posit ioning

System – GPS) e de processamento de

dados (Personal Computer – PC) têm

aplicação garantida, nos dias de hoje,

na comunidade mil i tar.

APRS - Uma Nova Perspectiva para as Comunicações Militares em HFPaulo César de Carvalho Faria - Ten Cel Eng

COMGARMárcio Gonçalves Ramos - 2S BCO

CINDACTA II

O Conceito APRS

Um método conce-

bido pelo radioamador

Bob Bruninga (WB4APR),

no início da década de

90, para difundir auto-

maticamente, em tempo

real, a posição de uma

estação, seja ela móvel

ou fixa, tem se tornado

cada vez mais popular.

Esse esquema, conheci-

do como Automat ic

Posi t ion Repor t ing

System (APRS), baseia-

se na transmissão de

pacotes de dados. Cada

pacote carrega os códi-

gos de chamada do des-

tinatário e do remeten-

te da informação, a rota

a ser seguida e, obvia-

mente, a mensagem ou

carga útil - neste caso,

as coordenadas geográ-

ficas da estação (LAT /

LONG), seguidas do

tempo de emissão do

pacote (Time Stamp);

inclui também toda a

informação necessária

para a correção de erros

que tenham ocorrido no

trajeto entre o emissor e

o receptor dos sinais de

rádio.

Os pacotes, com no

máximo 255 caracteres,

são veiculados num cur-

to intervalo de tempo.

Dessa forma, várias es-

tações, denominadas

O Ten Cel Eng Paulo César de Car-valho Faria é Engenheiro Eletrôni-co da turma de 1977 (Aspirante de1981) do Instituto Militar de Enge-nharia (IME), Mestre em Engenha-ria de Sistemas com Especializaçãoem C3I pela George MasonUniversity (Virginia - USA). Possuios cursos de Extensão em Engenha-ria de Armamento Aéreo no Institu-to Tecnológico da Aeronáutica (ITA),Básico de Guerra Eletrônica no Ins-tituto de Proteção ao Vôo (IPV) ePlanejamento de Guerra Eletrônicano Comando-Geral de OperaçõesAéreas (COMGAR). Atualmente ser-ve no COMGAR.

O 2S BCO Márcio Gonçalves Ra-mos trabalha atualmente noCINDACTA2 – DTCEA-CT, ondeexerce a função de Encarregado daSeção de Informática do DTCEA-CT(CINDACTA2) desde maio de 2003.Possui o Curso de Formação de Sar-gentos, na EEAR (1990/1991), oCurso Básico de Micropro-cessadores CB-07, no IPV (2000) eo Curso de Microcontroladores PIC,na Mosaico Engenharia (2005). De-senvolve, dentre outros, os seguin-tes projetos, no CINDACTA-2:1 – Terminal Remoto de VHF viaINTRAER para uso em OperaçõesMilitares (artigo publicado na revis-ta ZOOM em dezembro de 2002);2 – Rede Profeta – Comunicação dedados por Correio Eletrônico atra-vés de rádio-frequência em HF;3 – Sistema Redundante em HF paraa Rede INTRAER em OperaçõesMilitares; e4 – Sistema APRS para Comunica-ções Militares em HF.

Page 14: Revista SPECTRUM Nº 09

15

Spectrum

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

beacons, podem transmitir as suas posições

(LAT / LONG), periodicamente, na mesma

freqüência, desde que em tempos diferen-

tes num esquema muito parecido com o

TDMA (Time Division Multiple Access), o

que garante uma ocupação coerente do es-

pectro de freqüências2 reservado para o

APRS (normalmente HF e VHF).

O uso de estações repetidoras, conhe-

cidas como digipeaters (digital repeater) ou

simplesmente digis, estende o alcance das

mensagens, especialmente quando utiliza-

dos rádios VHF (cobertura limitada à linha

de visada) para fechar os links de comuni-

cação. Diferentemente dos repetidores de

voz, os digis operam no modo simplex store

and forward, ou seja, recebem a informa-

ção, que é armazenada temporariamente,

e posteriormente a retransmitem.

A estação básica3 do APRS, a estação

beacon de posição, é constituída por um

GPS, um transceiver (rádio HF ou VHF4 ),

um Terminal Node Controller (TNC) e,

eventualmente, um laptop. Já a estação

central, aquela que vai monitorar e con-

trolar todas as demais estações, possui ne-

cessariamente um PC (Figura 1).

O TNC5 , uma espécie de modem

(modulador / demodulador) programável

(característica imprescindível para para

minimizar as colisões durante a transmis-

são), com três portas (a primeira para o

GPS, a segunda para o rádio e a terceira,

RS-232/V24, para o PC), converte os pa-

cotes provenientes do GPS (protocolo serial

NMEA - 0183) em tons de áudio (AFSK),

transmitidos pelo rádio. Inversamente, os

tons provenientes do rádio, sinal recebido

pela estação APRS, são transformados pelo

TNC para o padrão RS-232 e lidos pelo PC

(via porta COM).

Assim, um PC, no qual foi instalado

software específico (programa UI-View) para

a leitura dos dados que chegam (pela porta

COM) do GPS remoto, faz, necessariamente,

parte da estação central (o COCS no MD - es-

tação que vai monitorar as demais. Estas po-

dem ser: helicópteros do EB voando a baixa

altitude, fora da cobertura radar; navios da MB

em alto mar; ANV da FAB em rota para o Haiti;

outras modalidades.

Esse software (UI-View) apresenta as in-

formações provenientes do GPS na forma de

ícones que evoluem sobre um mapa escolhi-

do pelo usuário.

A escala dos mapas abrange uma extensa

gama que vai desde um mapa de ruas de uma

determinada cidade até um mapa

transcontinental.

Figura 1 – Esquema da Configuração do APRS

Page 15: Revista SPECTRUM Nº 09

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○16

Spectrum

Portanto, o APRS nada mais é do que um

programa de computador de domínio públi-

co, capaz de processar pacotes de informação,

trocados via rádio (HF ou VHF).

Esses pacotes transportam as coorde-

nadas de diversos objetos (veículos na

terra, no mar ou no ar, repetidores, rodo-

vias, pontes, etc.).

A partir das coordenadas que, no caso

de objetos móveis, são obtidas por meio

de aparelhos GPS, têm-se plena

visualização (consciên-

cia situacional expandi-

da) do progresso da si-

tuação es t ra tégica,

operacional ou tática no

transcurso das opera-

ções e exercícios milita-

res, combinados ou con-

juntos.

Além disso, a esta-

ção central pode, utili-

zando-se do APRS, envi-

ar comandos às estações

subordinadas e receber, de cada uma de-

las, o andamento da execução das ordens

emitidas6 .

Clicar com o mouse no ícone de uma

das estações produz efeito semelhante,

pois faz com que se abra uma janela con-

tendo diversas informações7 relacionadas

à estação selecionada.

Uma outra funcionalidade bastante

atraente, em termos de Comando & Con-

trole (C2), é a troca de mensagens de tex-

to via APRS.

Por último, o PC da estação central,

ligado à INTRAER como gateway APRS,

conectar-se-á a todos os elos de C2 do

COMGAR, inc lu s ive o CCCOA,

disponibilizando informações valiosas

para a supervisão dos Exercícios e Ope-

rações com participação da Aeronáutica.

Portanto, não é difícil perceber que

os processos militares de C2, nos seus di-

versos níveis (tático, operacional e estra-

tégico), são os que mais têm a lucrar com

o emprego do APRS.

Testando o APRS na FAB

O desempenho do APRS foi avaliado em

setembro de 2004, no trajeto Curitiba /

Paranaguá / Guaratuba / Curitiba, quando a

aeronave (ANV)

CARAVAN, prefixo 2708,

funcionou como estação

móvel.

Usando o rádio HF de

bordo, os dados da ANV,

colhidos de um GPS

GARMIN, foram enviados

ao equipamento rádio HF

TW-7000, localizado no

CINDACTA II (estação

central). Em ambas as ex-

tremidades do enlace-rá-

dio, MODEMS KANTRONICS KAM 98 ope-

raram como TNC.

Várias vezes, ao longo do teste, o vetor

2708, voando a baixa altitude, posicionou-se

fora da cobertura dos radares de vigilância do

DACTA 2, mas em nenhum momento ele dei-

xou de ser visualizado, conseqüência da pro-

pagação em HF, pelo programa UI-View ins-

talado no PC da estação central.

Conclusão

Devido às dificuldades que afetam o

Programa Espacial Brasileiro, não teremos,

tão cedo, o nosso Satélite Militar em opera-

ção. Restam-nos, então, poucas opções

quanto às comunicações de longo alcance.

Considerando os baixos custos de im-

plantação do APRS, apesar de certas desvan-

Page 16: Revista SPECTRUM Nº 09

17

Spectrum

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

tagens inerentes ao enlace HF e, baseados

na filosofia de que o “ótimo é inimigo do

bom”, não devemos desprezar essa possibi-

lidade.

De fato, testes do APRS vêm sendo con-

duzidos, com sucesso, pela FAB, especial-

mente na Aviação de Patrulha.

Reconhecendo que meios redundantes,

embora totalmente distintos, só têm a con-

tribuir para a formação de uma malha de te-

lecomunicações muito mais abrangente e

confiável, devido ao aproveitamento das ca-

racterísticas positivas de cada um deles (efei-

to sinérgico), é que discorremos sobre uma

nova perspectiva de emprego das comuni-

cações militares em HF.

Finalmente, esperamos que as idéias

aqui contidas também produzam bons resul-

tados nas demais Forças, contribuindo efeti-

vamente para a constituição, sob a égide do

Ministério da Defesa (MD), de um Sistema

Militar Unificado de C2.

Bibliografia

1. The Lincoln Amateur Radio Club Packet

Manual. <http://larc.unl.edu/packet/

index.html>

2. APRS Overview and UI-View Introduction

by G4IQI. <http://

homepage.ntlworld.com/ajmckinnon>

Referências

1 Algumas características das

comunicações em High Frequency

(HF):

Longo alcance; Suporta comunicações

móveis; Opera no modo HF adaptativo;

Onda ionosférica vulnerável à absorção

atmosférica, blackout, localização e

interceptação; Bastante susceptível a

jamming.

2 A faixa de VHF proporciona cobertura

somente dentro da linha de visada

entre as estações. Por outro lado, o uso

de HF, devido á propagação por

refração ionosférica do feixe de ondas

eletromagnéticas, permite alcance em

todo território nacional.

3 Colocando-se um notebook nas

estações básicas do APRS, normalmente

estações móveis, cada estação terá a

visualização da sua própria posição e

da posição de todas as outras estações.

Com o uso do notebook, também será

possível a troca de mensagens de texto

entre todos os participantes da rede.

4 Alguns rádios (KENWOOD TH-D7E e

KENWOOD TM-D700), também

conhecidos como mobile rigs, trazem

embutido o TNC; operam, portanto, em

modo compatível com o APRS - modo

transceivers de pacotes.

5 O software AGWPE faz com que a

placa de som do PC funcione

virtualmente como um TNC. Nesse

caso, o uso de um modem TNC torna-

se desnecessário.

6 Uma nova mensagem será enviada,

automaticamente, sempre que o status

de uma estação mudar. Em

contrapartida, o usuário do sistema será

alertado todas as vezes que uma

mensagem for recebida.

7 Em acréscimo à posição da estação,

dados meteorológicos (velocidade e

direção do vento, pressão e

temperatura atmosférica) constituem

um bom exemplo do que pode ser

exibido na janela que se abre (estação

fixa). Velocidade, proa e altitude da

estação monitorada também são típicos

(estação móvel).

Page 17: Revista SPECTRUM Nº 09

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○18

Spectrum

Introdução

Osucesso de uma organização está

condicionado à eficácia com que os

seus processos de negócio são exe-

cutados. Um sistema informatizado desenvol-

vido para dar suporte a uma instituição deve,

portanto, estar alinhado aos processos de ne-

gócio onde estará inserido. Segundo Baker, ci-

tado por Andrade et al (2004), freqüentemente

as especificações de requisitos de software são

criadas sem que haja real entendimento das

necessidades e problemas da organização. Por

meio das técnicas de modelagem de proces-

sos de negócio, é possível compreender me-

lhor o ambiente no qual o sistema a ser

construído irá funcionar, o que possibilita iden-

tificar requisitos correspondentes às reais ne-

cessidades do negócio.

Conforme Eriksson e Penker, também ci-

tado por Andrade et al (2004), modelos de pro-

cessos de negócio podem trazer vários benefí-

cios no contexto do desenvolvimento de siste-

mas de software:

• Contribuem para que os requisitos sejam

completos e reflitam as necessidades de

negócio;

• Evitam a tomada de decisões prematuras;

• Permitem que os sistemas desenvolvidos

sejam guiados pelo negócio, e não

simplesmente pela tecnologia;

• Permitem um melhor planejamento da

integração dos diferentes componentes do

sistema; e

• Possibilitam o reuso de lógica de negócio

nos diferentes produtos.

Para isso, os modelos devem representar

a arquitetura do negócio. Essa representação é

realizada descrevendo-se as partes que com-

põem os processos da orga-

nização, como elas são

estruturadas e como

interagem para prover as

funções oferecidas a seus

clientes. Há várias notações

propostas na literatura para

esse fim, das quais pode-

mos destacar: fluxogramas,

Role Activity Diagrams

(RAD), os métodos

Integration Definition for

Function Modeling (IDEF),

diagramas Unified

Modeling Language (UML),

e os gráficos de Gantt. [1]

Para exemplificar um

produto da modelagem de

negócio, poder-se-ia utili-

zar um diagrama de ativi-

dades, previsto na UML,

para modelar o processo

“atender cliente em check-

in” de uma companhia aé-

rea, conforme Figura 1 [2].

Comando e Controle emOperações Combinadas

Desde 2001, a Força

Aérea Brasileira (FAB) tem

participado de cursos e exercícios combina-

dos com outras forças aéreas, protagonizados

pela Força Aérea Francesa, visando a uma

possível inclusão da FAB em uma força de

coalizão. Como exemplo, pode ser citada a

operação ARTEMIS, realizada no Congo em

2003, sob coordenação francesa e com par-

ticipação de duas aeronaves C-130 Hércules.

Surgiu, então, no Centro de Comando e Con-

Comando e Controle em Operações Combinadas: Desafio ou Utopia?

Raimundo Nogueira Lopes Neto - Maj AvECEMAR - CCEM 2005

O Major Aviador

Raimundo Nogueira Lopes

Neto é Líder de Esquadrão de

Caça, com 2000 horas de vôo

nesta aviação, tendo sido Ofi-

cial de Guerra Eletrônica do

1º/16 GAv e Oficial de Pesso-

al do 1º/4º GAv. Possui o Cur-

so de Inteligência Operacional

na SECINT, o Curso de Básico

de Guerra Eletrônica no GITE,

Pós-graduação em Análise de

Sistemas na PUC-RJ (Latu

Sensu) e Mestrado em Coman-

do e Controle no ITA (M.Sc.).

Atualmente encontra-se na

ECEMAR, efetuando o Curso

de Comando e Estado-Maior

(CCEM). Possui artigos publi-

cados nas revistas ZOOM e

SPECTRUM, da Força Aérea,

e na Revista de Pesquisa Na-

val, da Marinha do Brasil.

Page 18: Revista SPECTRUM Nº 09

19

Spectrum

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

trole de Operações Aéreas (CCCOA), unida-

de do Comando-Geral de Operações Aéreas

(COMGAR), a necessidade de se reformular

a doutrina de emprego da Força Aérea vi-

sando atingir o padrão utilizado pela Orga-

nização do Tratado do Atlântico Norte

(OTAN).

Dentro deste contexto, o Comandante

da Força Aérea Componente do Comando

Combinado (COMJFAC – Joint Forces Air

Component) dispõe de vários setores para a

condução da guerra aérea. Além de conse-

lheiros mais próximos (representantes naci-

onais e oficiais de ligação das demais forças

componentes, entre outros), contribuem para

o planejamento e execução das operações o

Estado-Maior (veja a figura 2, HQCOS –

Headquarters Chief of Staff) e o CAOC

(Combined Air Operations Center).

A estrutura do Estado-Maior compreen-

de seções tradicionais como pessoal, inteli-

gência, operações, logística e planejamen-

to, além de outras de apoio, finanças,

tecnologia da informação e sistemas, ativadas

em função da missão específica da Força

Aérea Componente (FAC).

Por sua vez, o CAOC é o elemento da

estrutura da FAC de um Comando Combina-

do, através do qual o Comandante da FAC

exerce o planejamento centralizado e o con-

trole do esforço aéreo [3]. Como pode ser

observado na área pontilhada da figura 2, o

CAOC, instalação principal de Comando e

Controle das operações aéreas, é o respon-

sável pela programação e condução do em-

prego de todos os meios aéreos do Teatro de

Operações, em coordenação com os demais

serviços e componentes [5].

Em virtude da troca de experiências com

a Força Aérea Francesa, o COMGAR optou

por uma reformulação da doutrina de em-

prego de Comando e Controle.

Concomitantemente, os novos conceitos tra-

zidos pelos franceses foram aplicados em

manobras operacionais na tentativa de ab-

sorver os conhecimentos adquiridos em cur-

sos realizados na França por alguns oficiais

do Comando da Aeronáutica. Surgiu, então,

a necessidade de utilização de software para

suportar o gerenciamento das informações

durante os exercícios. Assim, alguns

softwares foram encomendados pelo

COMGAR para servirem de apoio às deci-

sões em um Comando Combinado.

O Problema

Para que sejam criadas ferramentas de

apoio à decisão, é necessário levantar perfei-

tamente os requisitos. A modelagem de pro-

Figura 1 - Diagrama de atividade para o processo “atender cliente em check-in”.

Page 19: Revista SPECTRUM Nº 09

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○20

Spectrum

cessos de negócio é a primeira etapa do ciclo

de desenvolvimento de software, etapa anteri-

or ao levantamento de requisitos [6].

Atualmente, os processos de Comando e

Controle envolvidos em operações combina-

das ainda não estão modelados, o que tem di-

ficultado significativamente o desenvolvimen-

to de ferramentas de apoio à decisão no Cen-

tro de Computação da Aeronáutica de São José

dos Campos (CCA-SJ).

Assim, a modelagem irá traduzir o que,

na realidade, espera-se das atividades realiza-

das em um comando combinado, eliminando

os processos redundantes e desnecessários, e

aglutinando ou desmembrando os processos

antigos a fim de torná-los mais eficientes do

ponto de vista da agregação de valor.

Antes, porém, é necessário estabelecer um

método para que os processos de negócio pos-

sam ser perfeitamente levantados. Somente

assim, será possível obter-se uma visão geral

dos processos para o cliente, o COMGAR (es-

pecificamente o CCCOA), e para o

desenvolvedor de sistemas de apoio à decisão,

o CCA-SJ.

Portanto, após essas considerações, a

questão levantada é a seguinte: Quais são

efetivamente os processos de C2 em Opera-

ções Combinadas segundo a doutrina da

OTAN?

Este desafio está sendo proposto pelo

autor, como tema de monografia de conclu-

são do CCEM (Curso de Comando e Estado-

Maior). Como os processos que envolvem a

doutrina de C2 em operações combinadas

são extremamente complexos e numerosos,

optou-se por manter o escopo do trabalho

nos macroprocessos, em virtude do tempo

limitado e dos recursos de pessoal disponí-

veis para a tarefa. Sabe-se que tarefas se-

melhantes, em desenvolvimento de

software, são normalmente elaboradas por

um grupo de trabalho responsável por le-

vantar os requisitos do sistema a ser desen-

volvido.

Como o tema proposto reveste-se de uma

importância grande para o atual contexto do

COMGAR, seria interessante que o escopo

desse trabalho pudesse, em um futuro próxi-

mo, ser ampliado a níveis superiores da estru-

tura de um comando combinado. Assim, será

possível ter-se uma visão geral dos processos

de C2 envolvidos em operações combinadas.

Figura 2 - Estrutura de uma Força Aérea componente em um comando combinado.

Page 20: Revista SPECTRUM Nº 09

21

Spectrum

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Conclusão

O trabalho que será desenvolvido na

ECEMAR visa levantar o modelo de negócio

de C2 com vistas a propiciar um levantamen-

to de requisitos para futuros sistemas de

software eventualmente necessários, que re-

presentará uma economia de tempo, de pes-

soal e de recursos financeiros significativos

para o CCA-SJ.

O levantamento dos processos permiti-

rá também que o CCCOA tenha uma visão

geral do que efetivamente ocorre em um

Centro de Operações Aéreas quando atuan-

do em operações combinadas.

A partir de uma visão geral, uma análi-

se viabilizará a otimização de processos e a

eliminação de redundâncias de entidades da

organização que não estejam focadas nos ob-

jetivos do CCCOA.

A modelagem dos processos permitirá

que se determinem quais os processos que

deverão ser automatizados e os que ainda

dependerão da atuação humana.

A modelagem proporcionará, ainda, a

definição de requisitos de possíveis ferramen-

tas de apoio à decisão que ainda sejam ne-

cessárias, o que acarretará ganhos de efici-

ência e eficácia no preparo e emprego da

Força.

Finalmente, a monografia a ser elabora-

da enfatizará a modelagem de processos de

negócio como uma ferramenta indispensá-

vel para o levantamento de requisitos de

softwares, contribuindo para uma possível

adoção desse modelo como pré-requisito

para o desenvolvimento de softwares na Ae-

ronáutica.

Segundo Boggs, a modelagem de negó-

cio é recomendada quando há grandes e

complexos fluxos de atividade na organiza-

ção que não estão documentados adequa-

damente; e ao se desenvolver um software

que incorporará grande parte dos processos

do negócio.

A tarefa do COMGAR de incorporação

de novos conceitos doutrinários de C2 no

padrão da OTAN já prevê o desenvolvimen-

to de softwares de apoio à decisão em um

comando combinado, porém ainda não se

cumpriu a fase de se levantar precisamente

os grandes e complexos processos de C2.

Essa tarefa é um desafio, e não deve se trans-

formar em uma utopia...

Referências

[1] ANDRADE, A. et al. Um estudo de

aplicação de modelagem de processo de

negócio para apoiar a especificação de

requisitos de um sistema. In: SIMPÓSIO

INTERNACIONAL DE MELHORIA DE

PROCESSOS DE SOFTWARE, 6., São

Paulo. Anais...São Paulo: SIMPROS, 2004.

[2] BOGGS, W.; BOGGS, M. UML with

Rational Rose 2002. Alameda: Sybex,

2002.

[3] BRASIL. Comando da Aeronáutica.

Comando-Geral de Operações Aéreas.

Manual de condução de operações

aéreas: proposta em estudo. Brasília, DF,

2004.

[4] CASTRO, D. R. Jogos de guerra para o

centro de operações aéreas. Monografia –

Escola de Comando e Estado-Maior da

Aeronáutica, Universidade da Força

Aérea, Rio de Janeiro, 2004.

[5] FRANÇA. Air Force. JFACC: Battle staff:

standard operation procedures, 1.ed.

[S.l.], 2003.

[6] MARANHÃO, M.; MACIEIRA, M. E. B. O

processo nosso de cada dia: modelagem

de processos de trabalho. Rio de Janeiro:

Qualitymark, 2004.

Page 21: Revista SPECTRUM Nº 09

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○22

Spectrum

Novas Perspectivas para o GITE

Considerações iniciais

Na era da informação, a revolução

tecnológica e o trânsito acelerado

de dados ao redor do globo vêm

consolidando um cenário no qual a mudança

é a única constante1. Nesse turbilhão de acon-

tecimentos, o aprendizado organizacional ga-

nha destaque, pois o conhecimento proporci-

ona significativa vantagem para as organiza-

ções que o utilizam como insumo para seu

fortalecimento2. Dessa forma, a excelência em

capital humano torna-se assunto estratégico, a

despeito de todas as dificuldades para ser atin-

gido.

O Grupo de Instrução Tática e Especializa-

da (GITE), como Organização Militar designa-

da para viabilizar cursos e estágios de interes-

se do COMGAR, participa ativamente do pro-

cesso de aprimoramento do capital intelectual

humano da área operacional, ganhando vulto

e se consolidando como fator primordial que

dá sustentação às ações de condução e exe-

cução das operações aéreas.

Apesar de ser entendido simplesmente

como uma Organização de Ensino, o GITE vem

modificando seu contexto de atuação, partici-

pando de diversas outras atividades, todas

focadas no tema da Guerra Aérea. Isto ocorre

pela nova visão adotada, a qual coloca em

cheque o paradigma do processo ensino-apren-

dizagem.

Foco no ensino

Há muitos anos, o modelo tradicional do

processo ensino-aprendizagem vem sendo

aplicado nas instituições de ensino. Esse mo-

delo funcionou enquanto as informações a se-

rem disponibilizadas aos alunos mostravam-

se perfeitamente atualizadas, mesmo depois de

transcorridos períodos que permitissem a trans-

formação desse mesmo aluno em professor.

Nesse modelo ultrapassado, planejar o

ensino significava considerar o tempo neces-

sário para que o conteúdo fosse transmitido.

Com cursos longamente ex-

perimentados, a possibili-

dade de erro reduzia-se,

uma vez que se esperava

dos alunos uma atitude pas-

siva, na qual todos seriam

submetidos a um único

molde, sem qualquer con-

sideração de individualida-

de ou experiência anterior.

A realidade do mundo

moderno conduz ao rompi-

mento do tradicional pro-

cesso ensino-aprendiza-

gem, implicando a busca

de novos valores

referenciais. Assim como

todas as demais Organiza-

ções, as chamadas Escolas

precisam se reinventar, uma

vez que isso significa sua

sobrevivência. As que op-

tam por verem seus proces-

sos fossilizados sofrem uma

redução gradual da sua

condição, com perda de

apoio e de atividades. Por

outro lado, as que apresen-

tam a capacidade de se adaptar recebem apoio

e reconhecimento, além de se verem extrema-

mente solicitadas. Entretanto, isso ainda é in-

suficiente.

O notável crescimento das atividades de-

senvolvidas no GITE, incluindo novos cursos

e exercícios operacionais, reais e simulados,

demonstra a flexibilidade existente na Organi-

zação, característica listada na DCA 1-13, e

constante do Emblema do Grupo: FLEXIBILE,

SED NON RUMPITUR. Sem dúvida, esse cres-

Carlos Duek – Maj AvComandante do GITE.

O Maj. Av. Carlos Duek

é líder de Esquadrão da Avi-

ação de Caça e concluiu o

CFOAV em 1989, tendo sido

promovido ao atual posto em

31 de agosto de 2003. Pos-

sui diversos cursos

operacionais ministrados

pelo GITE, sendo o atual Co-

mandante daquele Grupo. Já

participou de curso na USAF

e de intercâmbio de pilotos

de Caça com a Aeronáutica

Militar Italiana e com a For-

ça Aérea Argentina, contan-

do com 2000 horas voadas

em aeronaves de Caça. Pos-

sui o título de Mestre em En-

genharia de Produção pela

Universidade Federal de San-

ta Maria.

Page 22: Revista SPECTRUM Nº 09

23

Spectrum

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

cimento também é resultante do trabalho da

Organização, servindo de indicador do reco-

nhecimento pelo esforço realizado. Cabe res-

saltar que o atual estágio de maturidade da OM

se deve ao abnegado trabalho dos

que aqui labutaram nestes 21

anos, verdadeiros profissionais,

merecedores de todo nosso res-

peito. O crescimento da ordem

de 233% em apenas 4 anos, con-

forme o gráfico na Figura 1, ilus-

tra bem essa realidade.

Ao analisarmos as necessi-

dades de desenvolvimento inte-

lectual dos que pensam e executam a Guerra

Aérea Moderna, percebemos que as possibili-

dades de táticas e técnicas são infinitas e reno-

vadas diariamente, tornando obsoleta (ou de

curta validade) qualquer informação passada

nos cursos. Sob essa ótica, a atividade de mi-

nistrar cursos poderia ser compreendida como

a “arte de se preparar as pessoas menos

desatualizadas”. Todavia, novos conceitos per-

mitem evitar essa situação, de maneira a con-

templar o necessário desenvolvimento.

Foco na aprendizagem

Ao sermos atropelados pela quantidade

descomunal de informação, nem sempre trans-

formada em conhecimento e timidamente

transformada em ação, precisamos formular es-

tratégias de enfrentamento, repensando os fa-

tores intervenientes. A simples

desconstrução de valores ultra-

passados já reduz o ofuscamento,

a cegueira paradigmática4, abrin-

do espaço para outras iniciativas

seqüenciais.

A redução do ritmo de de-

senvolvimento tecnológico, com

restrição do acesso ao conheci-

mento de ponta, é a alternativa

que se apresenta para os que se

permitem iludir por líderes protecionistas. Em

decorrência, esses encontrarão a estagnação,

a derrota em qualquer arena de combate. Por

outro lado, quem deseja se manter atualizado

precisa inventar seu futuro, assumir a lideran-

ça, construir novos parâmetros e colocá-los à

prova, permanentemente.

Isso se aplica ao GITE. O foco não deve

estar no ensino, ou no tempo necessário para

se passar o conteúdo. O foco precisa estar no

atendimento das necessidades de aprendiza-

gem, considerando experiências e conheci-

mentos anteriores dos indivíduos, além de

torná-los cônscios da inevitável obsolescência

e do inviável esgotamento do conteúdo. Há

que se desenvolver o hábito da cu-

riosidade e sentimento de insatis-

fação com a realidade vivida.

Enquanto a Escola tradicional

preserva as mazelas do ofício de

aluno, estes não se sentem mais

atraídos por um enigma qualquer,

mas somente por desafios à altura

de sua competência5. Em termos

operacionais, e valorizando o mé-

rito de nossos antecessores, verda-

deiros heróis e desbravadores doFigura 1: Gráfico com o incremento na quantidade de cursosministrados no GITE.

Page 23: Revista SPECTRUM Nº 09

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○24

Spectrum

espaço aéreo, podemos afirmar que o piloto da

atualidade não pode ser mais um apaixonado e

aguerrido profissional guarnecendo a carlinga

de seu avião, mas sim um apaixonado, aguerri-

do e doutrinado gerente de sistemas comple-

xos embarcados em uma aeronave de comba-

te.

Uma proposta desafiadora é valorizar a

pesquisa, a construção do conhecimento, e

o trabalho concomitante sobre o domínio

afetivo, não somente do cognitivo, alvo úni-

co da Escola tradicional. Com esse novo

foco, o aluno passa a ter outro papel, assu-

mindo a missão de dar prosseguimento ao

conhecimento iniciado em um curso. Ele

passará da rígida condição de forma acaba-

da (molde) para a flexibilidade de assumir a

forma necessária, tornando-se verdadeiro

consumidor de informação e produtor de

conhecimento, o que, em última análise, re-

sultará em novas táticas, técnicas e doutri-

nas militares.

Curso de Tática Aérea e outros Cursos

O Curso de Tática Aérea (CTATAE), pri-

meiro curso de carreira do Oficial Aviador,

passará a ser ministrado após este passar um

ano nas diversas Unidades Aéreas do

COMGAR. Obviamente, com tamanha di-

ferenciação do público-alvo que anterior-

mente não havia servido em Unidade

Operacional, o GITE precisa antecipar a de-

manda e as expectativas desse novo aluno,

ou melhor, da Força Aérea para esse aluno.

Frente ao desafio de entregar à Força

Aérea Brasileira Oficiais subalternos pron-

tos para suas funções nas diversas Unida-

des, o GITE busca nesse curso disseminar a

Doutrina e as táticas vigentes no complexo

cenário da Guerra Aérea. Este desafio ga-

nha destaque, uma vez que o próprio

CTATAE deu origem ao GITE. Além disso,

muito em breve teremos, como condutores

da nossa Força, Oficiais Generais que rea-

lizaram o Curso de Tática no GITE. Isto rati-

fica a relevância dessa Organização, não de

ensino, mas de aprendizagem.

Além do Curso de Tática, o GITE mi-

nistra o Curso de Preparação de Instrutores

de Vôo (CPIV), o Curso Operacional de

Guerra Eletrônica (COGE) e diversos Cur-

sos necessários à disseminação da doutrina

de Comando e Controle na condução das

Operações Aéreas. Para tanto, algumas par-

cerias têm sido fortalecidas, em especial

com o CCCOA e o CGEGAR.

A excelência do COGE e dos cursos do

CCCOA, atestada pelo profundo

conhecimento dos diversos alu-

nos formados e pelo estímulo à

pesquisa, auxiliam no amadure-

cimento técnico e doutrinário de

militares e civis das três Forças,

bem como de alguns alunos es-

trangeiros, em programas de in-

tercâmbio, conforme apresenta-

do no gráfico da figura 2, alcan-

çando a expressiva marca de 836

alunos no período de janeiro de

2004 a junho de 2005. Aliado a

isso, o convívio do GITE comFigura 2: Gráfico com o percentual de alunos por Comando atendido entrejaneiro de 2004 e junho de 2005.

Page 24: Revista SPECTRUM Nº 09

25

Spectrum

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

instrutores de elevado nível, ao mesmo tem-

po em que provoca a busca pelo aprimora-

mento, permite o engrandecimento desta

Organização que aposta em um futuro pla-

nejado com base, não somente na adapta-

ção, mas na construção do conhecimento.

Considerações finais

O GITE sente-se honrado em contribuir

para o aprimoramento do capital humano

na Força Aérea, uma vez que as pessoas são,

em última instância, origem e instrumento

de aplicação de todo poderio militar.

Neste momento, cabe refletir acerca da

localização ideal do GITE, tendo em vista

sua atuação e o retorno proporcionado ao

COMGAR. A decisão deve ser pautada não

apenas em fatores técnicos ou de custo, mas

nas condições ideais para se proporcionar

experiências de aprendizagem, já debatidas

anteriormente. Sem dúvida, como órgão

centralizador da condução das Operações

Aéreas, contando com a grande maioria dos

Instrutores que atuam no GITE,

disseminador e impulsionador da Doutrina

e supervisor direto da aplicação operacional

da mesma, a localização do GITE junto ao

COMGAR, independente do muni-

cípio, permitiria a maximização das

características necessárias ao en-

grandecimento da área operacional.

Isto ocorre, pois esse Grupo sinteti-

za, em sua essência, as condições

ideais para se estudar a Guerra Aé-

rea, enquanto ciência e arte, permi-

tindo a realização de cursos sinto-

nizados com a realidade, além de

outras atividades, como simpósios,

palestras e defesas de Teses de inte-

resse ao preparo e emprego da FAB.

Entender os desafios do conhe-

cimento e construir o futuro sem receios de

se expor e transpor obstáculos, combaten-

do o marasmo intelectual e valorizando o

vôo, a área operacional, a atividade-fim, mi-

grando do antigo ensino para o sempre re-

novado aprendizado e sem receio de aban-

donar velhos paradigmas. É a visão do GITE,

é a contemplação do amanhã.

Referências

1 DUEK, C. et al. O aprendizado

organizacional em estruturas

hierarquizadas. In: Encontro Nacional de

Engenharia de Produção, XXIV, 2004,

Florianópolis. Anais...Porto alegre:

ABEPRO, 2004, 1 CD-ROM.2 SENGE, P. M. A quinta disciplina: arte e

prática da organização de aprendizagem.

São Paulo: Best Seller, 1998.3 DCA 1-1 Doutrina Básica da Força Aérea

Brasileira. Brasília: EMAER, 20054 MORIN, E. Os sete saberes necessários à

educação do futuro. São Paulo: Cortez,

2003.5 PERRENOUD, P. Dez novas competências

para ensinar. Porto Alegre: Artmed, 2000.

Figura 3: Maquete virtual do projeto de readequação do auditório do GITE.

Page 25: Revista SPECTRUM Nº 09

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○26

Spectrum

AForça Aérea Brasileira tem envidado

esforços em busca da excelência na

formação de seus recursos humanos.

Como exemplo dessa busca, podemos citar o

Programa de Pós-Graduação em Aplicações

Operacionais (PPGAO), do Instituto

Tecnológico de Aeronáutica, nas áreas de Guer-

ra Eletrônica, Comando e Controle e Análise

Operacional. Esta, chamada de Pesquisa

Operacional no meio civil, figura no rol das

ciências do gerenciamento, capaz de resolver

problemas operacionais práticos, presentes no

cotidiano. Vale-se de algoritmos de otimização

como o Simplex [1], por exemplo. A idéia

deste artigo é mostrar uma aplicação na área

militar de um problema de cobertura radar à

luz da Análise Operacional.

Para ilustrar nossa meta vamos mencionar o

problema de localização de ambulâncias [2].

Uma estatística comumente citada é a de que,

se for negado suprimento de oxigênio ao cére-

bro de uma pessoa por mais de quatro minutos,

em decorrência de um ataque cardíaco, por

exemplo, a probabilidade de sobrevivência des-

se indivíduo cai abaixo de 50%.

Isso sugere que se deve dispor de ambulân-

cias alocadas em pontos cujo atendimento à

população de uma certa área ocorra em tempo

inferior a 4 minutos. Nosso objetivo seria, então,

minimizar o número de ambulâncias necessári-

as para que a demanda de todos os pontos de tal

área fossem atendidos, dentro do tempo estipu-

lado, pela ambulância mais próxima.

A formulação desse modelo é conhecida

como modelo de cobertura de conjuntos [2] [6].

Um número representativo de autores tem utili-

zado esses modelos para posicionamento de

ambulâncias e outros veículos de serviços de

emergência. Podemos citar Toregas, Swain, Re

Velle e Bergman (1971) [8]; Walker (1974) [9];

Plane e Hendrick (1977) [7]; Jarvis, Stevenson e

Willemain (1975) [4].

Problema de Localização de Cobertura de Conjuntos

Omar José Sarmento dos Santos - Maj AvCGEGAR

O Major Aviador Omar

José Sarmento dos Santos é pi-

loto de asas rotativas, com

1400h de experiência nesta

aviação.

Possui o Curso Opera-

cional de Guerra Eletrônica, o

Curso de Especialização em

Análise do Ambiente Eletro-

magnético (Módulo Técnico).

Mestrado em Engenharia

de Produção com Ênfase em

Pesquisa Operacional, no Ins-

tituto Tecnológico de Aeronáu-

tica (PPGAO – 2004).

Atualmente exerce a fun-

ção de Adjunto ao CGEGAR,

na Seção de Análise

Operacional.

Traçando um paralelo na área militar, va-

mos supor que num Teatro de Operações (TO)

tenhamos n unidades de suprimento e/ou com-

bate de significativo valor

tático ou estratégico. Tor-

na-se imprescindível pro-

teger essas unidades, sen-

do a cobertura radar do

espaço aéreo o meio mais

eficaz de impedir uma

ação ofensiva que danifi-

que tais pontos sensíveis,

pois, uma vez ciente da

ameaça, os mecanismos

de defesa seriam aciona-

dos tempestivamente.

Admitindo que dis-

pomos de equipamento

radar em número suficien-

te, com raio de cobertura

definido de acordo com

suas características técni-

cas, gostaríamos de saber

quantos radares seriam

necessários para promo-

ver a cobertura radar de

todos os pontos.

A solução da situa-

ção apresentada pode ser

obtida mediante a resolu-

ção de um Problema de

Recobrimento Mínimo (PRM) [3], particularida-

de dos Problemas de Localização de Cobertura

de Conjuntos, estudado em Otimização

Combinatória, e faz parte do rol de soluções de

problemas que podem ser resolvidos pela apli-

cação de ferramentas da Análise Operacional.

A formulação PRM aplica-se a vários pro-

blemas de localização, tais como localização de

postes de iluminação pública, em que os pontos

de demanda são os locais em que se deve provi-

denciar a iluminação; localização de radares de

vigilância; alocação arma x alvo, explotação de

Page 26: Revista SPECTRUM Nº 09

27

Spectrum

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

petróleo em poços submarinos e outros.

Para a resolução da situação proposta deve-

mos observar as seguintes premissas:

a) alocar a menor quantidade possível de

radares para a cobertura dos pontos sensíveis; e

b) todos os pontos sensíveis devem ser co-

bertos ao menos por um radar

Detalhes da formulação matemática clássi-

ca para o problema apresentado podem ser vis-

tos no quadro seguinte [3]:

Vejamos um caso prático onde adaptamos

um exercício idealizado pelo Prof. Dr. Lorena,

pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas

Espaciais (INPE), instrutor da disciplina

Otimização Combinatória [4].

No nosso exemplo temos 31 pontos espa-

lhados, conforme Figura 1.

O raio da cobertura radar adotado foi a dis-

tância entre os pontos 25 e 31 (raio constante).

Assim percebemos que se colocarmos um radar

no ponto 1, tal equipamento cobriria os seguin-

tes pontos: 1, 2, 4, 5 e 7. O raciocínio é análogo

para os demais pontos de cobertura.

Para que seja possível reproduzir os resulta-

dos encontrados vamos indicar a cobertura con-

siderada para cada ponto.

A Tabela 1 mostra qual a cobertura produ-

zida quando da alocação do radar em cada pon-

to considerado.

Desenvolvendo a formulação matemática

e resolvendo o problema com a ajuda do SOL-

VER do Excel encontramos mais de uma solu-

ção ótima, todas com nove (9) pontos, ou seja,

para a cobertura radar de todos os pontos deve-

mos alocar nove radares, por exemplo, nos se-

guintes conjuntos de pontos: (2, 5, 8, 9, 14, 19,

23, 29 e 31); ou (2, 8, 9, 11, 12, 19, 23, 29 e 31);

ou (2, 5, 8, 10, 16, 20, 23, 26 e 28) e outros.

Há mais soluções definindo a localização

dos radares, todas com nove pontos, menor quan-

tidade possível para a cobertura total dos pontos

sensíveis.

Outros softwares como o LINDO ou

WinQSB também resolvem problemas de

otimização. Utilizamos o SOLVER do Excel sim-

plesmente para mostrar que tal ferramenta está

facilmente disponível na maioria dos nossos com-

putadores.

Dessa forma não só descobrimos quantos

radares são necessários para a total cobertura de

nossos pontos sensíveis, mas também obtivemos,

nesse exemplo, devido haver mais de uma solu-

ção ótima, soluções alternativas para o

posicionamento desses equipamentos.

Tabela 1: Cobertura radar considerada

Page 27: Revista SPECTRUM Nº 09

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○28

Spectrum

Na prática encontraremos problemas mai-

ores, por exemplo, radares com custos de

alocação distintos, áreas de cobertura diferen-

tes, elevações de terrenos variáveis e outras difi-

culdades, contudo todas passíveis de resolução,

uma vez adequado o modelo.

Em muitos casos podemos encontrar uma

“linguagem matemática” que represente, de for-

ma simplificada, problemas de natureza militar

que desejamos resolver.

Somente o estudo e a pesquisa continuada

conduz a soluções ótimas, daí a importância do

constante aprimoramento e da relevante preo-

cupação da Força Aérea na qualificação de seus

Oficiais, mediante programas de pós-graduação

como o PPGAO.

O exemplo apresentado constitui uma pe-

quena amostra dentro do universo de problemas

que, efetivamente, podem ser resolvidos com a

utilização das diversas ferramentas teóricas da

Análise Operacional.

A Figura 2 mostra a cobertura obtida por

nove radares dispostos no conjunto de pontos

(2, 5, 8, 9, 14, 19, 23, 29 e 31).

ConclusãoA Força Aérea tem se preocupado com o

aprimoramento de seu pessoal através de pro-

gramas de pós-graduação como o PPGAO. Den-

tro desse programa a área da Análise Operacional

apresenta ferramentas teóricas capazes de

otimizar a solução de problemas práticos abor-

dados. A disciplina de Otimização Combinatória,

instrumento de grande valia, apresenta formula-

ções matemáticas consistentes e demonstra ser

de grande utilidade na resolução de problemas

na área militar.

Referências bibliográficas[1]Bazaraa, M.S.; Jarnis, J.J.; Sherali, H.D.;

Linear programing and network flows. 2nd

edition, Singapore, Wiley, 1990.

[2]Daskin, Mark S.; Network and discrete

location: models, algorithms, and applica-

tions, USA, New York, Wiley, 1995.

[3]Goldbarg, Marco César; Luna, Henrique

Pacca L.; Otimização combinatória e

programação linear: modelos e algoritmos,

Rio de Janeiro, Brasil, Campus,2000.

[4]Jarvis, J. P.; K. A. Stevenson, and T. R.

Willemain, 1975, “A Simple Procedure for

the Allocation of Ambulances in Semi-Rural

Areas”, Technical Report 13-75, Operations

Research Center, MIT, Cambridge, MA.

[5]Lorena, Luís Antônio Nogueira, página

acessada em 17/02/2004.

www.lac.inpe.br/~lorena/pós-grad.html

[6]Mirchandani, Pitu B.; Francis, Richard L.;

Discrete location theory, USA, New York,

Wiley, 1990.

[7]Plane, D. R. and T. E. Hendrick, 1977,

“Mathematical Programming and the

Location of Fire Companies for Denver Fire

Department”, Operations Research, 25,

563-578.

[8]Toregas, C.; R. Swain; C. Re Velle, and L.

Bergman, 1971, “The Location of Emer-

gency Service Facilities”, Operations

Research, 19, 1363-1373.

[9]Walker, W. E., 1974, “Using the Set Cover-

ing Problem to Assign Fire Companies to

Fire Houses”, Operations Research, 22, 275-

277.

Page 28: Revista SPECTRUM Nº 09

29

Spectrum

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Simulação de Vôo de Baixo Custo – Uma Ferramenta para Muitas Aplicações

Com os avanços tecnológicos obtidos

na última década, observou-se a

mudança das aplicações que eram

utilizadas totalmente em servidores dedicados

para a plataforma de computadores pessoais,

sejam em redes ou isolados.

Essa tecnologia relativamente barata

convencionou-se chamar de plataforma de bai-

xo custo. Quando são utilizados simuladores de

vôo nessas plataformas tem-se a simulação de

vôo de baixo custo. Os simuladores de vôo po-

dem ser classificados de acordo com o objetivo

a ser atingido[1], sendo o simulador de vôo de

baixo custo caracterizado por possuir software

que permite visualizar o ambiente e representar

o painel da aeronave, simulando o seu desem-

penho em vôo. Atualmente, é utilizado em con-

junto com hardware genérico para a recriação

de uma nacele, sendo o painel da aeronave

visualizado através de um monitor de computa-

dor, tela de cristal líquido ou projetores.

Com o poder de processamento dos atuais

PCs tem-se acesso a uma tecnologia ainda pou-

co explorada no universo da instrução aérea da

FAB e, até mesmo, na área de Comando e Con-

trole.

Devido ao aumento dos recursos

computacionais, várias melhorias foram acres-

centadas na simulação de baixo custo, manten-

do-se uma excelente relação custo-benefício. Um

sistema gerado por este tipo de simulação custa

na ordem de US$ 5000.00 até 200000.00, o que

é aproximadamente 10% do valor de um simu-

lador completo de uma aeronave que não pos-

sua os sistemas aviônicos mais modernos.

Obviamente, a simulação de baixo custo

não é substituta dos simuladores de vôo com-

pletos, pois o foco deste tipo de tecnologia é a

manutenção da consciência situacional do pilo-

to e não a capacidade de operar todos os siste-

mas disponíveis na aeronave.

Sabe-se que a consciência situacional é a

capacidade que um piloto tem de compreen-

der o mundo ao redor da aeronave, bem como

saber o que está acontecendo em ambos. Ca-

pacitar um piloto de-

manda tempo e recur-

sos, através de horas de

vôo. Pode-se reduzir boa

parte desse treinamento

necessário na aeronave,

por intermédio do uso

de simuladores de vôo e

simuladores de baixo

custo. Utilizando esta

tecnologia obtêm-se al-

gumas vantagens:

1- Na Instrução Aérea• Aumento do pre-

paro de missão dos pi-

lotos – Por meio de um

vôo “mental” apoiado

pela simulação. Existem

diversos softwares dispo-

níveis no mercado a pre-

ços abaixo de US$ 50.00 que recriam os ce-

nários de aeroportos do mundo inteiro, sendo

que alguns possuem cenários geo-específicos

com grande fidelidade e fazem uso de ima-

gens de satélite. Exemplificando, há o Microsoft

Flight Simulator 2004[2] que possui cenários

do Brasil, feitos por uma empresa nacional[3],

que retratam com fidelidade a Base Aérea de

Santa Cruz, Galeão, Barbacena e outras loca-

lidades de interesse da FAB, além de possuir a

capacidade de treinamento em vôo por instru-

mentos, seja com joystick do tipo manche ou

yoke, seja com uma nacele adaptada para esse

tipo de tecnologia[4] ou simplesmente o com-

putador, teclado e mouse. Outro exemplo é o

simulador X-Plane[5], que possui praticamen-

te os mesmos recursos que o Flight Simulator,

mas permite ser executado em outros sistemas

operacionais além do Microsoft Windows e

O Major Aviador Henrique

Costa Marques é Líder de Esqua-

drão de Caça, tendo sido instru-

tor do 2°/5°GAv. Possui o Curso

de Especialização em Análise de

Sistemas e atualmente cursa o

Programa de Pós-Graduação em

Aplicações Operacionais

(PPGAO), na área de Comando

e Controle, do Instituto

Tecnológico de Aeronáutica.

Henrique Costa Marques - Maj AvPPGAO (Mestrando em Comando e Controle)

Page 29: Revista SPECTRUM Nº 09

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○30

Spectrum

possui uma arquitetura mais aberta que o seu

concorrente. Na figura 1, podemos observar

uma aeronave T-27 Tucano no cenário da Aca-

demia da Força Aérea, no X-Plane.

Figura 1 – T-27 na AFA

Esse tipo de simulação permite ao cadete

usar seu computador pessoal para realizar os

procedimentos de subida, manobras e acro-

bacias, descida da área, vôo por instrumentos

e navegação, tudo isso consultando o seu ma-

nual e podendo parar a simulação para tirar

alguma dúvida pendente. Claramente, obser-

va-se o potencial de tal ferramenta na instru-

ção básica de pilotos. Na figura 2, pode-se

observar o painel do T-25. Na figura 3, vê-se o

A-1 decolando da Base Aérea de Santa Cruz,

no Flight Simulator 2004.

Figura 2 - Painel do T-25 no X-Plane

• Demonstração de conceitos – Utilizan-

do simuladores como estes, podemos gerar uma

missão, com uma ou várias aeronaves, e exe-

cutar em modo de demonstração durante um

apronto de fase na instrução aérea, sendo pos-

sível congelar a execução e mostrar detalhes

que o piloto precisaria ver durante um vôo real.

Para brifins de missão, essa ferramenta permite

que o instrutor mostre claramente para onde o

aluno deverá olhar em determinado momento

do vôo, situação nem sempre possível em ae-

ronaves cujo instrutor está assentado atrás do

aluno. Missões pré-programadas poderiam ser

disponibilizadas para os alunos realizarem em

seus momentos de estudo, reduzindo a surpre-

sa e aumentando a segurança do aluno, fator

preponderante numa instrução aérea. Na figu-

ra 4, observamos um A-29 na área do estande

de Maxaranguape (Natal – RN ), no Flight

Simulator 2004.

Figura 4 – Vista geral do estande.

•Cursos on-line - Seria possível realizar a

parte básica de um curso de liderança através

de uma rede de computadores, pois esse tipo

de simulação permite a comunicação entre os

pilotos através de voz sobre IP (uso de microfone

no computador com transmissão de voz pela

rede). No ano de 2003, este autor pôde verificar

a validade de um vôo em formação, através da

internet, quando foram realizados vôos de for-

matura básica e tática com alunos não militares.

Figura 3 – A-1 decolando.

Page 30: Revista SPECTRUM Nº 09

31

Spectrum

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Primeiramente com 2 e depois com 4 aerona-

ves, os pilotos mantinham-se em comunicação

bilateral durante todo o vôo, aprendendo a

fraseologia e os tipos de formatura. Em poucas

missões, os alunos já conseguiam manter as po-

sições desejadas e tinham visivelmente a percep-

ção espacial necessária para iniciarem um vôo

real. Foram recrutados pilotos de um esquadrão

virtual[6], que já possuíam costume de voar atra-

vés da Internet, mas não conheciam as formatu-

ras operacionais no padrão utilizado, à época,

na formação do piloto de caça da FAB. O simu-

lador utilizado para essa instrução foi o IL-2

Sturmovik [7], que modela o passo da hélice,

enriquecimento da mistura e muitos aspectos de

uma aeronave a pistão do tempo da Segunda

Guerra Mundial (no caso, a aeronave P-47

Thunderbolt). A figura 5 mostra um dos treina-

mentos on-line realizados.

Figura 5 – Vôo on-line.

2 - Em aplicações operacionais• Criação de doutrina – através de uma

rede de computadores pessoais com 4 estações

configuradas para aeronaves do tipo A-29 e

uma configurada para um R-99A, poder-se-ia

verificar a capacidade de integração de uma

esquadrilha com data-link sendo vetorada para

determinado tipo de missão. Colocando-se

outra aeronave ou formação na mesma área,

poder-se-ia gerar uma manobra, observando-

se comportamentos e verificando-se a viabili-

dade da doutrina definida, sem o consumo de

horas de vôo.

• Avaliação operacional – através de si-

muladores de aeronaves modernas, não dis-

poníveis no acervo da FAB, pode-se ter uma

noção do potencial da aeronave em questão,

sua gama de armamentos, algumas doutrinas

de uso do equipamento e, conseqüentemente,

abstrair suas vantagens e desvantagens em re-

lação ao equipamento disponível na FAB. Si-

muladores como o Enemy Lock-On[8] permi-

tem que se possa voar aeronaves russas e nor-

te-americanas com seus equipamentos, como

FLIR, Helmet Mounted display, mísseis de al-

cance além do horizonte, radares embarcados,

armamentos inteligentes e muitas outras capa-

cidades.

• Avaliação de planejamentos – Esses si-

muladores também permitem que sejam pla-

nejadas missões, e até mesmo campanhas,

onde é possível alocar recursos de defesa de

ponto, alarmes aéreos antecipados, montar

pacotes de missão e verificar como seria o de-

senrolar de uma manobra completa, confir-

mando os índices esperados de sucesso ou

mostrando deficiências no planejamento das

missões. A figura 6 mostra um planejamento

de missão simulada e a figura 7 retrata um

momento da simulação.

Figura 6 – Planejamento de missão.

É possível perceber como esse tipo de fer-

ramenta pode apoiar vários estudos importan-

tes para a arma aérea, sobretudo na forma do

homem pensar, julgar, planejar e analisar os

resultados obtidos com recursos de baixo cus-

to de aquisição.

Page 31: Revista SPECTRUM Nº 09

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○32

Spectrum

Figura 7 – Mirage 2000 durante simulação.

A simulação de vôo de baixo custo já é

realidade na FAB. Podemos usar como exem-

plo o aplicativo PILOTT[9] em uso pelas uni-

dades de A-1. O PILOTT permite aos pilotos

treinar o raciocínio espacial, bem como refor-

çar a avaliação das condições em que a aero-

nave se encontra durante a trajetória de em-

prego do armamento. Permite o treinamento

dos passes de emprego, em um estande virtu-

al, com os acertos sendo informados após cada

passe, sendo possível rever toda a trajetória do

vôo realizado para debrifim da missão. Tam-

bém permite que se posicione a aeronave em

diversas situações, a fim de que o piloto saiba

corrigir a tempo de permitir um emprego cor-

reto do seu armamento. Cabe ressaltar que esse

aplicativo é executado em um notebook, (com

sistema operacional LINUX), facilitando a sua

utilização mesmo com a unidade desdobrada.

Sem dúvidas, com o aumento do poder

de processamento e recursos computacionais

dos computadores pessoais, muitas aplicações

surgirão para facilitar ainda mais a capacitação

técnica e operacional dos profissionais da FAB,

a fim de que se possa ter uma força melhor

preparada para os desafios que surgirão, frutos

de uma evolução tecnológica em todo o pla-

neta.

Cabe-nos introduzir a cultura de utilizar

tais ferramentas para apoiar a instrução aérea,

o planejamento de missões operacionais e a

geração de doutrinas, com evidente redução

de custos e aprimoramento de técnicas, devi-

do a uma melhor capacitação antes do

engajamento na atividade real.

Como se aprende nas escolas de forma-

ção de pilotos de combate, “Você Luta Como

Treinou!!!”, as equipagens estarão com um

melhor preparo de missão (conhecendo a si

mesmos) e planejamento adequado dos recur-

sos, de acordo com o cenário (conhecendo

melhor o inimigo), alcançando maiores índi-

ces de probabilidade de sucesso. Já dizia Sun

Tzu!

Referências[1] MARQUES, Henrique Costa:

Sistematização do Processo de Geração

de Cenários Visuais para Simuladores de

Vôo de Interesse do CCA-SJ. ITA, pág. 12,

2001.

[2] Simulador Microsoft Flight Simulator

2004, www.microsoft.com/brasil/games/

fs2004/. Acesso em 10 maio 2005.

[3] Empresa Worldsceneries,

www.worldsceneries.com/xws . Acesso

em 10 maio 2005.

[4] Empresa Elite, www.flyelite.com/ . Acesso

em 10 maio 2005.

[5] Simulador X-Planes, www.x-plane.com e

www.x-plane.org . Acesso em 10 maio

2005.

[6] Esquadrão Jambock Virtual,

www.jambock.com . Acesso em 10 maio

2005.

[7] Simulador Il2 Sturmovik Forgotten Battles,

www.il2sturmovik.com . Acesso em 10

maio 2005.

[8] Simulador Enemy Lock On, www.lo-

mac.com . Acesso em 10 maio 2005.

[9] Empresa Compro Computer. Aplicativo

PILOTT, www.compro.net . Acesso em 16

maio de 2005.

Page 32: Revista SPECTRUM Nº 09

33

Spectrum

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

O Major Aviador Hélcio

Vieira Junior é Líder de esqua-

drão de Caça e instrutor de

aeronave A-1 com 1000 horas

de caça.

Concluiu o CFOAv em

1991, possui o Curso Básico

de GE - 1988; Mestrado em

Engenharia de Produção - ên-

fase em Pesquisa Operacional

pela COPPE/UFRJ - 2003;

EAOAR - 2004; e Extensão em

gerência de Projetos pela Fun-

dação Getúlio Vargas - 2004.

Trabalha atualmente na Seção

de Análise Operacional do

CGEGAR.

Introdução

AAviação de Caça da Força Aérea Bra-

sileira sempre se preocupou em ava-

liar a eficiência operacional de seus

pilotos, com a III FAe determinando padrões

mínimos a serem alcançados tanto pelas Uni-

dades Aéreas quanto pelos pilotos integrantes

das mesmas. Porém, a abordagem utilizada

pelos diversos Esquadrões para a classificação

de seus pilotos nem sempre se mostrou unifor-

me, variando de acordo com o julgamento dos

seus Oficiais de Operações apoiados/ratifica-

dos pelos seus Comandantes.

O objetivo deste trabalho é introduzir o

conceito de DEA (Data Envelopment Analysis

– Análise Envoltória de Dados) e sugerir seu

emprego como uma ferramenta para padroni-

zar a mensuração da Eficiência Operacional

individual ou em grupo, no Comando da Ae-

ronáutica.

Este artigo está estruturado da seguinte

maneira: no capítulo dois, a metodologia DEA

é apresentada; um estudo de caso, onde os

dados da taça eficiência de uma Unidade Aé-

rea são avaliados utilizando o DEA, é descrito

no capítulo três; e o capítulo quatro compre-

ende nossas conclusões.

DEA

“Recentemente, temos visto uma grande

variedade de aplicações de DEA para avaliar

as performances de diferentes tipos de entida-

des engajadas em diferentes tipos de ativida-

des, em muitos diferentes contextos, em mui-

tos diferentes países ... Exemplos incluem as

atividades de manutenção da Força Aérea

Americana em diferentes bases, ou da Força

Policial na Inglaterra e País de Galles; as

performances de filiais de bancos em Cyprus e

Canadá; e a eficiência de Universidades em

Eficiência Operacional - Uma análise mais modernaHélcio Vieira Junior – Maj Av

CGEGAR

realizar suas funções de educação e pesquisa

nos Estados Unidos da América, na Inglaterra

e na França.” [1]

“Análise Envoltória

de Dados (DEA) é uma

técnica baseada em pro-

gramação linear para a

mensuração da

performance relativa de

organizações, onde a pre-

sença de múltiplos inputs

e outputs torna a compa-

ração difícil. O DEA pro-

vê meios de avaliar a efi-

ciência relativa destas or-

ganizações com mínima

assunção prévia das rela-

ções inputs/outputs das

organizações.” [2]

Podemos definir,

tecnicamente, eficiên-

cia como a razão entre

o produzido (outputs) e

os recursos necessários

para a sua produção

(inputs). Quando temos

apenas um input e um

output, a obtenção da

eficiência é um mero

exercício de cálculo,

porém, quando traba-

lhamos com vários inputs e outputs, a sua

medida não se apresenta tão simples. A efi-

ciência com múltiplos inputs e outputs é

mensurada pela criação de inputs e outputs

compostos: a média ponderada de todos

os inputs e outputs.

O grande problema é a arbitragem dos

pesos que serão utilizados para a obten-

ção desta média ponderada. Pesos fixos de-

monstraram não serem uma boa solução,

visto que assumem não haver substituição

ou flexibilidade entre os diversos outputs

Page 33: Revista SPECTRUM Nº 09

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○34

Spectrum

e inputs. Por exemplo, o 1º/16º GAv, pro-

vavelmente terá um rendimento superior

em ataque ao solo que o 1º GAC,

visto que esta é sua princi-

pal missão, enquanto o

1º GAC tem uma

missão dupla:

tanto defesa

aérea quanto

ataque ao

solo. Se arbi-

t rarmos que

ataque ao solo

terá um peso grande,

provavelmente, o 1º /

16º GAv será mais bem avaliado

que o 1º GAC. Em contrapartida, se resol-

vermos que defesa aérea terá peso maior

que ataque ao solo, os papéis se inverte-

rão, tendo o 1º GAC a melhor avaliação.

Como definir qual input/output tem mais

importância? No exemplo acima, o que tem

mais importância, ataque ao solo ou defe-

sa aérea? A resposta variará de acordo com

quem for respondê-la. Acredito que os mais

sábios e centrados responderão que depen-

de da situação!

É exatamente neste ponto que entra a

metodologia DEA para avaliar instituições.

O método arbitra pesos de modo que a ins-

tituição, que, a partir de agora, denomina-

remos DMU (Decision Making Unit – Uni-

dade Tomadora de Decisão), tenha a maior

eficiência possível. Voltando ao exemplo

acima, o 1º/16º GAv teria no output ataque

ao solo peso muito grande, enquanto o

1º GAC teria, provavelmente, um peso me-

nor em ataque ao solo e um peso maior em

defesa aérea, ou seja, as duas DMU (1º/

16º GAv e 1º GAC) seriam avaliadas e com-

paradas, cada uma com um conjunto de

pesos diferentes para seus inputs/outputs.

Este tipo de avaliação afirma que, se

alguma DMU com certo input X1 consegue

atingir um output X2, outras DMU traba-

lhando com o mesmo input e o

mesmo nível tecnológico,

também são factíveis de

atingir o output X2.

Por exemplo, se

o Esquadrão A,

que opera aero-

naves A-1, com

um treinamento

de 4000 horas/

ano consegue uma

média de 70% na moda-

lidade Tiro Terrestre, o Esqua-

drão B, que também opera aero-

naves A-1, se possuir as idênticas 4000 ho-

ras/ano, também poderá conseguir a mes-

ma média. Na figura 1, podemos observar

o exemplo acima, onde o Esquadrão B, pos-

suindo uma média de 55%, para ser consi-

derado eficiente, teria de aumentá-la para

os 70% conseguidos pelo Esquadrão A. Ob-

serve, também, que o Esquadrão C, opera-

dor do mesmo tipo de aeronave (A-1), ape-

sar de possuir uma média de 80% (maior

que a do Esquadrão A), também é conside-

rado ineficiente. Isto se deve por essa Uni-

dade ter tido 6000 horas/ano de treinamen-

to. O aumento do input do Esquadrão C não

foi justificado pelo seu aumento do output,

Page 34: Revista SPECTRUM Nº 09

35

Spectrum

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

isto é, houve muito aumento das horas de

vôo para pouco aumento da média do TT. A

linha que passa pelo Esquadrão A é deno-

minada fronteira da eficiência, e representa

a melhor razão output/input, sendo que to-

das as demais DMU devem se esforçar para

alcançá-la.

Em DEA, é atribuída eficiência 100%

à DMU que tem a melhor razão output por

input, sendo que, às outras DMU que não

possuem tal eficiência, é atribuído um va-

lor menor que 100%, que é proporcional

ao quanto as mesmas devem melhorar seus

outputs, ou então, diminuir seus inputs. Na

figura 1, os valores que os Esquadrões B e

C devem aumentar em seu output são re-

presentados pelas setas que ligam os mes-

mos à fronteira da eficiência.

Estudo de caso

Para o estudo de caso foi realizada a

avaliação DEA dos dados da taça eficiência

(torneio interno entre os pilotos) do 1º/

16º GAv realizada no ano de 2000.

Os quatorze pilotos foram avaliados

conforme diretrizes determinadas pelo Co-

mando Superior – III FAE, nas seguintes mo-

dalidades: Bombardeio Rasante de Baixo Ar-

rasto (RB), Bombardeio Rasante de Alto Ar-

rasto (RA), Lançamento de Foguetes (LF),

Bombardeio Nivelado (BN), Bombardeio Pi-

cado (BP) e Tiro Terrestre (TT). Os resulta-

dos obtidos nas diferentes modalidades de

emprego foram utilizados como dados de

output para a avaliação DEA.

Após análise, obtivemos como resul-

tado a tabela 1, onde nas colunas temos os

quatorze pilotos, e nas linhas as diferentes

modalidades avaliadas e a eficiência dos pi-

lotos. A interseção das linhas com as colu-

nas mostra qual o peso foi atribuído pelo

programa de análise DEA às modalidades

por piloto. Por exemplo: o piloto A teve,

como eficiência máxima possível, 34%. Para

ter esta máxima eficiência, o programa DEA

atribuiu* os seguintes pesos: 3.24 para LF,

4.18 para BP e 0.00 para as demais modali-

dades. Observe que a tabela 1 não lista os

dados brutos (resultado dos pilotos nas di-

versas modalidades) e sim o peso que o pro-

grama DEA atribuiu aos outputs (modalida-

des).

Convém ressaltar que a eficiência DEA

não é uma medida absoluta, e sim relativa,

isto é, a mesma não mede as DMU em rela-

ção a um padrão externo, mas em compa-

ração com as demais DMU. Por exemplo,

na tabela 1, o piloto D teve como eficiên-

cia DEA 83%. Isto não quer dizer que o mes-

mo atingiu 83% das metas estabelecidas

pela III FAe e sim que, em comparação com

a razão outputs por inputs atingidos pelos

demais pilotos, ele só conseguiu 83% do

que os demais obtiveram.

Podemos notar que vários pilotos tiveram

100% de eficiência. Isto se deve à liberdade

que o DEA tem de atribuir pesos aos inputs/

outputs, com o objetivo de determinar qual a

maior eficiência possível daquela DMU.

A fim de que possamos classificar as

DMU, usaremos a técnica denominada

Avaliação Cruzada, onde cada DMU é ava-

liada, além de por seus próprios pesos óti-

mos, também pelos pesos ótimos das ou-

tras DMU. Na tabela 2 temos a Avaliação

Cruzada, onde a DMU da linha x está sen-

do avaliada com os pesos ótimos da DMU

da coluna y. Por exemplo, o piloto D, ava-

liado pelos pesos ótimos do piloto B, teve

Page 35: Revista SPECTRUM Nº 09

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○36

Spectrum

como eficiência 59%.

Após classificarmos as DMU pelas

médias da Avaliação Cruzada, obtemos a

tabela 3, onde podemos verificar a classi-

ficação DEA versus a classificação origi-

nal feita pelo Esquadrão Adelphi. Na clas-

sificação original da Unidade, os pilotos

foram ranqueados pela soma algébrica dos

seus outputs nas diferentes modalidades.

Tabela 3. Classificação DEA x Classifica-

ção da Unidade.

Observe que, apesar de ter ocorrido

uma troca de até cinco posições entre o

rank DEA e o rank original da UAe, a gran-

de maioria dos pilotos teve sua classifica-

ção modificada em apenas uma ou duas

posições . I s to nos most ra que a

metodologia DEA não produz classifica-

ções esdrúxulas e sem lógica, onde, por

exemplo, uma DMU que foi bem classifi-

cada por um método alternativo teria sua

classificação DEA muito ruim.

Conclusão

A Análise Envoltória de Dados mos-

trou-se eficaz na avaliação interna de uma

Unidade Aérea. Neste estudo de caso, foi

considerado como input, para todos os pi-

lotos, o valor constante 1, ou seja, só fo-

ram analisados os outputs dos pilotos, o

que é uma subutilização da metodologia.

Como exemplo de inputs possíveis de se-

rem utilizados na avaliação de uma taça

eficiência, pode-se considerar: a experiên-

cia do piloto (tempo na Unidade Aérea), o

número de missões válidas, o resultado na

fase de treinamento, etc... Com isto estarí-

amos medindo quão bem um piloto com

maior experiência, maior número de mis-

sões e melhor resultado no treinamento

conseguiria resultados melhores nas dife-

rentes modalidades que um piloto recém

chegado na Unidade.

Mantendo este mesmo enfoque, tam-

bém é possível medir quão bem uma Uni-

dade que recebeu mais horas de vôo em

determinado ano conseguiu melhores re-

sultados que as demais; quão melhor um

ESM (Esquadrão de Suprimento e Manuten-

ção) com maior efetivo e maior capital

alocado consegue índices de manutenção

melhores que outros ESM com menores

inputs; etc...

Como outras possíveis utilizações da

metodologia DEA no Comando da Aero-

náutica, listamos:

·Avaliação de aeronaves;

·Avaliação de sistemas aviônicos;

·Avaliação de armamentos;

Page 36: Revista SPECTRUM Nº 09

37

Spectrum

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

·Avaliação de serviços de manutenção;

·Avaliação de Unidades Aéreas de uma

Força Aérea;

·Avaliação de Forças Aéreas; e

·Avaliação temporal do Comando da

Aeronáutica como um todo, ou seja, a va-

riação da eficiência do COMAER ano a

ano.

A utilização de técnicas mais eficien-

tes e modernas na avaliação da FAB, em

especial a metodologia DEA, com certeza

só traria ganhos operacionais, na medida

de ident i f icar DMU ef ic ientes e

ineficientes, e acima de tudo, padronizar

métodos para a avaliação operacional.

Bibliografia

[1] Cooper, William W., Lawrence M.

Seiford, Kaoru Tone (2000). Data Envelop-

ment Analysis: a comprehensive text with

models, applications, reference, and DEA-

Solver software. Boston: Kluwer.

[2] Han Kook Hong et al (1999). Evaluating

the efficiency of system integration

projects using data envelopment analysis

(DEA) and machine learning. Publicado

no Expert Systems with Applications 16

(1999) pp 283-296. Korea.

Além da bibliografia referenciada no tex-

to, recomendamos a leitura das

obras abaixo para uma melhor

compreensão do assunto:

[A] Marcos Pereira

Estellita Lins, Lidia

Angulo Meza (2000).

Análise envoltória de dados e

perspectivas de integração no

ambiente do Apoio à Decisão. Rio de

Janeiro: COPPE/UFRJ.

[B] Roll, Y., Golany, B., Seroussy, D. (1989).

Measuring the efficiency of maintenance

units in the Israeli Air Force. Publicado no

European Journal of Operational Research

43 (1989) pp. 136-142. Holanda: Elsevier

Science Publishers B.V.

[C] William, F. Bowlin (1987). Evaluating the

Efficiency of US Air Force Real-Property

Maintenance Activities. Publicado no

Journal of the Operational Research

Society 38/2 (1987) pp. 127-135.

Inglaterra: Operacional Research Society

Ltd.

* O programa DEA utiliza como ferramen-

ta para a obtenção dos pesos para os diversos

inputs/outputs um Problema de Programação

Linear (PPL). O PPL é um procedimento de

otimização utilizado na Pesquisa Operacional

cuja principal técnica de resolução é o

algoritmo SIMPLEX. A solução deste PPL gera

um conjunto de pesos que, multiplicados pe-

los inputs/outputs correspondentes, propicia a

maior eficiência possível à DMU avaliada. A

única restrição imposta a este conjunto de pe-

sos é que as demais DMU, quando julgadas

com este conjunto ótimo de pesos da DMU

avaliada, deverão ter como eficiência máxima

o limite de 100%.

Page 37: Revista SPECTRUM Nº 09

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○38

Spectrum

Introdução

O s aspectos do processo de

aprendizado em áreas de alta

tecnologia, como a Guerra Eletrô-

nica, têm como base a prática e o trabalho

desenvolvido pelos próprios estudantes. A par-

ticipação ativa, dinâmica e interativa está liga-

da à existência de um ambiente científico que

pode ser obtido na instituição de ensino mili-

tar especializado a medida que as atividades

laboratoriais se tornam mais freqüentes, sim-

ples, modernas e prazerosas [1].

Neste contexto, o computador pode se

tornar uma ferramenta pedagógica de amplas

aplicações. Sua rápida evolução, nas últimas

décadas, tem provocado mudanças significa-

tivas nos processos utilizados pelos profissio-

nais de diferentes áreas na busca de soluções

para os seus problemas, fazendo uso da imen-

sa capacidade e flexibilidade que o mesmo

proporciona [2]. A partir desta constatação cria-

se a seguinte expectativa: Como extrair o má-

ximo destas máquinas como elemento ativo no

processo ensino-aprendizagem?

Neste artigo mostraremos as

potencialidades do desenvolvimento de um

Laboratório de Processamento de Sinais Radar

Assistido por Com-

putador, usando os

recursos humanos

e materiais dispo-

níveis no Coman-

do da Aeronáutica.

O Laboratório e aEvolução do seu

Instrumental.A aquisição,

análise e represen-

tação de dados são

Laboratório de Processamento de Sinais Radar Assistido por Computador:Uma Nova Perspectiva para o Ensino de Guerra Eletrônica na FAB.

Alexandre Camacho Coelho - 1º Ten Esp ComPPGAO (Mestrando em Guerra Eletrônica)

funções básicas da maioria dos aparelhos de

medida existentes nos laboratórios modernos,

sejam eles multímetros, geradores de forma de

onda, osciloscópios, ou

até outros mais sofistica-

dos como fontes digitais

p r o g r a m á v e i s ,

analisadores de espectro,

etc.

A evolução da

informática tem possibili-

tado concretizar a união

entre hardware e software

necessária à comunicação

com e entre os aparelhos

de uma forma interativa.

Surgiu então o conceito de

instrumento virtual (VI –

Virtual Instrument), que

introduziu uma flexibilida-

de até então inexistente,

uma vez que o usuário

passa a poder criar banca-

das de medida (Figura 1)

em função de suas neces-

sidades, combinando to-

dos os elos do sistema

(hardware, software e

acessórios) de forma a

atender a sua aplicação

específica. [3]

Laboratório deProcessamento de Sinais

Eletromagnéticos(ITA/GITE)

O Laboratório de pesquisa em Guerra Ele-

trônica e Vigilância Eletromagnética da Ama-

zônia, inaugurado no CTA/ITA no dia 05 de

março de 2001 (Figura 2), foi edificado por

meio da ação conjunta do DEPED (Departa-

mento de Pesquisas e Desenvolvimento),

O Tenente Alexandre é Es-

pecialista em Comunicações,

concluiu o CFOE Com em 1998.

Já exerceu os cargos de Chefe da

Seção de Meios Técnicos, Co-

mandante do Destacamento de

Proteção ao Vôo de Boa Vista,

bem como o cargo de Chefe da

Seção Administrativa e da Seção

de Operações do Destacamento

de Controle do Espaço Aéreo de

Boa Vista. É Licenciado em Físi-

ca pela Universidade Federal de

Roraima e Especialista em Aná-

lise de Ambiente Eletromagnéti-

co pelo Instituto Tecnológico de

Aeronáutica (ITA). Atualmente

cursa o mestrado em Guerra Ele-

trônica do Programa de Pós-Gra-

duação em Aplicações

Operacionais - PPGAO (ITA),

com graduação prevista para

dezembro de 2006.

Figura 1 – Bancada de Medida Usando VI [4].

Page 38: Revista SPECTRUM Nº 09

39

Spectrum

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

COMGAR (Comando Geral de Operações Aé-

reas) e CCSIVAM (Comissão para Coordena-

ção do Sistema de Vigilância da Amazônia). [5]

Figura 2 – Inauguração do Laboratório de Pesquisa em Guerra Eletrônica eVigilância Eletromagnética da Amazônia [4].

Desenvolver atividades de pesquisa em

ciência e tecnologia, dentro de um programa

de formação de recursos humanos e aprimo-

ramento da base operacional, científica e

tecnológica do SIGEA (Sistema de Guerra Ele-

trônica da Aeronáutica), constitui um dos ob-

jetivos da criação deste laboratório.

Dentro do processo de consolidação da

base de recursos humanos do SIGEA, o Labo-

ratório de Pesquisa em Guerra Eletrônica e Vi-

gilância Eletromagnética da Amazônia recebeu

do COMGAR um conjunto de equipamentos

para ensino de Guerra Eletrônica na área de

radar, denominado Radar Training System (Fi-

gura 3), fabricado pela Lab-Volt Systems, com

um investimento da ordem de US$ 200.000.00.

O Radar Training System possibilita a exe-

cução de experiência real no uso de radar para

detecção e rastreio de alvos, permitindo a ope-

ração de um sistema de radar ativo em tempo

real, dentro de um laboratório e de forma se-

gura pelo uso de baixos níveis de potência.

Seu conceito modular permite que sejam es-

tudados vários tipos de radar e suas técnicas

de processamento de sinais, sejam elas

analógicas ou digitais.

Figura 3 – Lab-Volt Radar Training System.

O Grupo de Instrução Tática e Especi-

alizada (GITE) também foi contemplado pelo

COMGAR com o Radar Training System (uma

versão básica contendo os subsistemas

analógico e de rastreio) e a Escola de Especia-

listas de Aeronáutica (EEAr) disponibilizou no

Galpão de Eletrônica praticamente todo o pa-

cote da área de radar, bem como outros siste-

mas da área de telecomunicações e eletrôni-

ca, adquiridos junto à empresa Lab-Volt.

Laboratório de Processamento de SinaisEletromagnéticos Assistido por Computador

Este acervo, por si só constitui uma evo-

lução, se não uma revolução, em termos de

infra – estrutura para a capacitação de re-

cursos humanos em Guerra Eletrônica (GE)

no Comando da Aeronáutica. Entretanto,

por meio de recursos tecnológicos disponí-

veis no Brasil, é possível multiplicar a

efetividade destas ferramentas, bem como

torná-las acessíveis, em tempo real, para

outras instituições de ensino militar especi-

alizado tais como a AFA na instrução de GE,

o CIAAR nas disciplinas de Microondas e

Radar do Curso de Formação de Oficiais

Especialistas em Comunicações, o ICEA no

Curso Básico de Manutenção de Radar e os

Page 39: Revista SPECTRUM Nº 09

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○40

Spectrum

CINDACTAS nos Cursos Básicos de Manu-

tenção de Radar disponibilizado pelas Se-

ções de Instrução e Atualização Técnica –

SIAT. Este conceito, que envolve a manipu-

lação e visualização de experimentos

monitorados e controlados à distância uti-

lizando a intranet do Comando da Aeronáu-

tica (INTRAER), se materializaria no que po-

deria ser denominado como Laboratório de

Acesso Remoto para o Ensino de Guerra Ele-

trônica (Figura 4).

Figura 4 – Laboratório de Acesso Remoto para o Ensino de GuerraEletrônica.

Um projeto desta natureza possuiria um

nível de complexidade considerável uma vez

que envolveria a transmissão de dados em tem-

po real, inclusive imagem, e compartilharia

meios de comunicação (TELESAT) com outros

sistemas (Rede Mercúrio, Acantus, etc.) com

variados graus de prioridade. Entretanto, um

passo inicial para o seu desenvolvimento po-

deria ser a implementação de um projeto de

automação de experimentos que passaremos

a denominar: “Laboratório de Processamento

de Sinais Radar Assistido por Computador” (Fi-

gura 5).

O Laboratório de Processamento de Sinais

Radar Assistido por Computador seria compos-

to pelos seguintes sistemas:

- Sistema de Treinamento Radar Básico –

Lab-Volt;

- Sistema de Treinamento de Guerra Ele-

trônica – Lab-Volt;

- Sistema de Geração de Ameaças –

TS100+ Excalibur;

- Sistema de Treinamento de Antenas; e

- Sistema de Medidas de RCS e

Imageamento ISAR.

Qualquer projeto que se pretenda de-

senvolver envolve a disponibilização de re-

cursos humanos e materiais para a sua

viabilização. O ITA, com seus cursos de

Graduação e Pós-Graduação, possui o me-

lhor em termos de recursos humanos (co-

nhecimento e motivação) e o Laboratório

de Processamento de Sinais Eletromagné-

ticos dispõe de um excepcional acervo de

instrumentos, equipamentos e softwares

com caracter í s t icas necessár ias à

automação de medidas. Estes fatores res-

saltam a excelente relação custo/benefício

deste empreendimento.

É interessante destacar que o conhe-

cimento que seria adquirido com a reali-

zação deste projeto está intimamente liga-

do ao necessário desenvolvimento de um

Estande de Guerra Eletrônica, ou seja, pro-

porcionaria a formação de elementos com

conhecimentos que os tornariam de gran-

de valor para o Sistema de Guerra Eletrô-Figura 5 – Laboratório de Processamento de Sinais Radar Assistido porComputador.

Page 40: Revista SPECTRUM Nº 09

41

Spectrum

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

nica da Aeronáutica (SIGEA) dentro do con-

texto da a t iv idade de aval iação

operacional.

Conclusão

O SIGEA tem recebido especial atenção

do COMGAR, em função do reconhecimento

da importância da Guerra Eletrônica para o

cumprimento das missões de uma Força Aérea

no contexto da Guerra Moderna.

A excelência do ensino deve ser objetivo

constante dos setores responsáveis pela forma-

ção de recursos humanos e para atingir este

objetivo, na formação e aperfeiçoamento dos

nossos “Guerreiros Eletrônicos”, proporcionar

um ambiente pedagógico que permita tornar

a experiência de ensino o mais próxima da

futura realidade de trabalho é essencial.

A utilização do computador como ferra-

menta para a obtenção desta excelência atra-

vés da automatização em tempo real dos ex-

perimentos do Laboratório de Processamento

de Sinais Radar do ITA se apresenta como uma

proposta viável uma vez que o espaço físico,

equipamentos e instrumental já fazem parte do

acervo do laboratório, bem como os conheci-

mentos adquiridos pelos executores do proje-

to serem de aplicação prática em projetos de

avaliação operacional dos sistemas de guerra

eletrônica de nossas plataformas aéreas.

Bibliografia

1. SOUSA, Cleonilson P.; FILHO, Tarcísio C.

Laboratório de Acesso Remoto para

Ensino Orientado a Experimentos

Aplicado em Aprendizado a Distância e

Presencial em Engenharia. Disponível em:

<www.asee.org/international/

INTERTECH2002/520.pdf >. Acesso em:

14 mar. 2003.

2. CAVALCANTE, Marisa Almeida et al.

Proposta de um Laboratório Didático em

Microescala Assistido por Computador

para o Estudo de Mecânica. Revista

Brasileira de Ensino de Física, v. 21, n. 2,

São Paulo. 1999. P. 127-135. Disponível

em: <http://www.sbfisica.org.br/rbef/

Vol21/Num1/v21_127.pdf> . Acesso em:

20 fev. 2004.

3. SILVA, P. J. et al. Automatização de

Laboratórios de Medida de Componentes

Ópticos e Eletrônicos através de LabVIEW.

Revista do DETUA, v. 2, n. 4, jan. 1999. p.

449-458. Disponível em: </collaborators/

personal/pandre/pubs/detua_labview.pdf”

http://www.av.it.pt /collaborators/personal/

pandre/pubs/detua_labview.pdf>. Acesso

em: 14 mar. 2003.

4. PACHECO, Osvaldo R. et al.

Instrumentação Virtual Baseada em

Computador para o Ensino da Electrónica.

1º Simpósio de Informática Educativa.

Disponível em: <http://event.ua.pt/

1siie99/espanhol/pdfs/

comunicacao44.pdf>. Acesso em: 01 mar.

2004.

5. Inaugurado Laboratório de Pesquisa em

Guerra Eletrônica e Vigilância

Eletromagnética da Amazônia: Página da

Internet. Disponível em: <sivam.gov.br/

INFO/ un_10.htm” http://www.

sivam.gov.br/INFO/ un_10.htm>. Acesso

em: 20 mai. 2003.

6. COELHO, Alexandre C. Estudo das

Potencialidades do Lab-Volt Radar Train-

ing System no Ensino de Guerra Eletrônica

no CEAAE. São José dos Campos: ITA,

2003. 169 p.

Page 41: Revista SPECTRUM Nº 09

Ontologia de Centros de Gravidade: Método Conexionista(continuação)

Contribuições do ITA para o Sistema de Ciência, Tecnologia e Inovaçãode Interesse da Defesa Nacional

(continuação)

ças amigas e prover informações essenciais.

Uma ou algumas dessas funções, ou todas

elas, podem ter um papel importante na co-

erção bem sucedida. Além disso, o poder

aéreo configura parcela substancial no cál-

culo das alternativas políticas, as quais in-

cluem a rápida solução de conflitos, ao ca-

nalizar seus esforços para os centros de gra-

vidade.

A maioria das forças aéreas, no entan-

to, tem dificuldade para utilizar o concei-

to de centros de gravidade, o que torna a

seqüência do planejamento incompleto e,

por conseguinte, acabam concentrando-se

no nível tático, em prejuízo do raciocínio

estratégico.

O poder aéreo revelou-se como uma

2002. http://www.cgee.org.br/eventos/

defesa.php

[2] Política de Defesa Nacional – Presidência

da República do Brasil. https://

www.defesa.gov.br/enternet/sitios/internet/

pdn/pdn.php)

[3] Nicolisky, R., “Inovação Tecnológica

Industrial e Desenvolvimento Sustentado”,

Parceria Estratégica, N 13, pp. 90-108,

dezembro, 2001.

[4] Ministério da Defesa – Ministério da

Ciência e Tecnologia “Concepção

Estratégica: Ciência, Tecnologia e

Inovação em Áreas de Interesse da Defesa

Nacional”, Brasilia, 10 de dezembro de

2003.

www.defesa.gov.br/enternet/sitios/internet/

eacademico/c&tdefesa/cti.pdf

arma estratégica, pois possui característi-

cas que o tornam mais apropriado para

atingir centros de gravidade. No entanto,

o uso desse potencial requer ontologia (co-

nhecimento, método, modelo e ferramen-

ta computacional), a fim de aumentar a

probabilidade de sucesso do processo de

identificação e análise de centro de gravi-

dade.

O método conexionista, apresentado

nesta publicação, segue uma orientação

axiológica de planejamento que se baseia

no paradigma do êxito.

“A estratégia de guerra é impor ao ini-

migo nossa própria vontade, destruindo sua

vontade ou sua capacidade de resistir”.

Este artigo é uma versão atualizada e am-

pliada do artigo sobre o mesmo tema publica-

do na Revista da Diretoria de Engenharia Ae-

ronáutica, Ano 11, N 21, pp. 52 - 62 (DIRENG,

2002)*

Visita dos professores do Ita ao COMGAR