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Novas Perspectivas para o GITE Simulação de Vôo de Baixo Custo Nº 09 - Dezembro 2005 Revista do Comando-Geral de Operações Aéreas
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Revista do Comando-Geral de Operações Aéreas Nº 09 - Dezembro 2005
Contribuição do ITA para o Sistemade CT&I da Defesa Nacional
APRS - Uma Nova Perspectiva para asComunicações Militares em HF
Novas Perspectivas para o GITE
Simulação de Vôo de Baixo Custo
3
Spectrum
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
ÍndiceExpediente
Comandante-Geral de Operações AéreasTen Brig Ar William de Oliveira Barros
Chefe do Estado-Maior do COMGARMaj Brig Ar Gilberto Antônio Saboya Burnier
Conselho Editorial e RevisãoCel Av José Eduardo Portella AlmeidaMaj Av Davi Rogério da Silva CastroMaj Av Marcelo Boaventura Leite CardosoMaj Av Omar Sarmento dos SantosMaj Av Edson Fernando da Costa GuimarãesMaj Av Jorge Luiz SchwerzMaj Av Hélcio Vieira JúniorMaj Av Élison MontagnerCap Av Antonio Ferreira de Lima JúniorCap Av Sidney César Coelho AlvesTen Esp Com Luiz Carlos Leppa
Projeto Gráfico, Diagramação e FotolitosTachion Editora e Gráfica Ltda.Rua Santa Clara, 552 - Vila AdyannaTel/Fax: (12) 3921-0121 / 3922-4048 / 3922-3374CEP 12243-630 - São José dos Campos - SPe-mail: [email protected]
ImpressãoEditora Gráfica IpirangaSIG Quadra 08 - Lote 2095CEP 70610-400 - Brasília-DFTel: (61) 3344-2266 - Fax: (61) 3344-1077
Distribuição interna. Tiragem: 1.500 exemplares.
Os conceitos emitidos nas colunas assinadas são deexclusiva responsabilidade de seus autores. Estão au-torizadas transcrições integrais ou parciais das matéri-as publicadas, desde que mencionados o autor e a fontee remetido um exemplar para o COMGAR.
[email protected] (Internet)
Editorial ..................................................................... 4
Ontologia de Centros de Gravidade:
Método Conexionista ................................................. 5
Contribuições do ITA para o Sistema de Ciência
Tecnologia e Inovação de Interessa da
Defesa Nacional ........................................................ 9
APRS - Uma Nova Perspectiva para as Comunicações
Militares em HF ....................................................... 14
Comando e Controle em Operações Combinadas:
Desafio ou Utopia .................................................... 18
Novas Perspectivas para o GITE ............................... 22
Problema de Localização de Cobertura
de Conjuntos............................................................ 26
Simulação de Vôo de Baixo Custo - Uma
Ferramenta para Muitas Aplicações .......................... 29
Eficiência Operacional - Uma Análise
Mais Moderna .......................................................... 33
Laboratório de Processamento de Sinais Radar
Assistido po Computador: Uma Nova Perspectiva
para o Ensino de Guerra Eletrônica na FAB .............. 38
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○4
Spectrum
Editorial
OComando-Geral de Operações Aé-
reas passa por fase de renovação.
As novas aeronaves adquiridas, a
implementação dos modernos conceitos de
Comando e Controle em operações combina-
das, o incremento em nosso esforço aéreo e a
realização das primeiras Avaliações
Operacionais são fatos que evidenciam a nova
etapa que se descortina.
Pautada na citação da Estratégia de Co-
mando do Exmo. Sr. Ten Brig Ar Bueno, “A
missão constitucional da Aeronáutica não
deixa dúvidas quanto à priorização da defe-
sa do país”, a aquisição dos novos vetores
abrange aeronaves, tais como os A-29, os
Mirage 2000, os Black Hawk (H-60L), os P-
3B, os CASA 295 (C-105A), os C-97, os C-98
e os C-99A/B e a modernização de frotas já
existentes como as de A-1, F-5E/F, C-130H,
H-1H e os C-95B. Essas conquistas represen-
tam a realização de sonhos de gerações de
pilotos e tripulantes de nossas Unidades Aé-
reas e tornam evidentes a preocupação e a
mobilização de todo o Comando da Aero-
náutica, com o objetivo de garantir que o
COMGAR cumpra a missão constitucional
da Aeronáutica.
A implantação dessas aeronaves vai exi-
gir a disseminação de novos conhecimentos
para suporte à utilização de novos sistemas.
Daí a preocupação deste Comando-Geral
com a formação especializada de seus re-
cursos humanos em cursos técnicos e de pós-
graduação em aplicações operacionais.
Há cinco anos, valorizando e publican-
do as idéias e os trabalhos dos nossos milita-
res, a Revista Spectrum tem se tornado um
veículo de divulgação para dezenas de pro-
fissionais que, em acréscimo aos seus afaze-
res diários, contribuem com relatos de par-
celas de suas experiências e especializações,
gerando reflexões que colaboram com o en-
grandecimento da missão
constitucional da Força Aé-
rea.
O teor dos artigos desta
edição reflete o grau de
profissionalismo e a compe-
tência dos nossos recursos
humanos. Discussões de te-
mas como o emprego do po-
der aéreo, sob o enfoque dos
Centros de Gravidade; o Co-
mando e Controle; a Avalia-
ção Operacional de sistemas;
o uso de ferramentas de si-
mulação no treinamento de
equipagens; e as inestimáveis contribuições
dos nossos professores e pesquisadores em
assuntos afetos à defesa, dentre outros arti-
gos, evidenciam a importância de se aliar a
ciência e a tecnologia ao emprego
operacional. A aplicação do conhecimento
científ ico na solução de problemas
operacionais é o grande enfoque desta edi-
ção que mais uma vez supera as expectati-
vas quanto ao conteúdo técnico e
abrangência.
Foi um privilégio estar à frente deste
Grande Comando neste momento de gran-
des realizações e conquistas. O sucesso dos
trabalhos do COMGAR depende de cada um
de nós, comandantes, pilotos, especialistas,
militares e civis. A contribuição de cada um
permite que o conjunto atinja o objetivo
maior, a missão cumprida com sucesso, se-
gurança e, por que não dizer, excelência.
Voar, Combater e Vencer
Ten Brig Ar Juniti Saito
Chefe do Estado-Maior da
Aeronáutica
5
Spectrum
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Ontologia de Centros de Gravidade: Método Conexionista
“A destruição de conjuntos de alvos não
é automaticamente equivalente à vitória. Fato-
res intangíveis como cultura, religião e nacio-
nalismo, entre outros, são muito importantes,
pois só eles estabelecem a efetiva conexão entre
alvos e vitória”.[1]
Aresistência do inimigo na guerra é pro
duto de dois fatores: a extensão dos
meios de que dispõe e a firmeza de
sua vontade.
" Há fatores ou recursos motivacionais que
mantém um grupo social unido e disposto a
alcançar determinado objetivo político. Todo
grupo social (estado-nação, grupos criminosos
nacionais ou transnacionais, grupos terroristas,
etc.) possui centros de gravidade, que são fa-
tores, recursos, espaços geográficos, fontes de
moral, força, poder ou capacidade (física, eco-
nômica, política, militar ou mental), que cri-
am condições favoráveis, para impor a vonta-
de política a um inimigo ou resistir à imposi-
ção de outrem ou, quando atingidos eficaz-
mente, permitem a consecução dos objetivos
políticos do grupo oponente, resultando nas
seguintes situações:
a) redução expressiva da vontade de pros-
seguir na contenda; e/ou
b) diminuição significante da capacidade
de atingir os objetivos políticos."
Centros de gravidade não existem por si
só. Geralmente, há fatores que concorrem para
que eles existam.
Esses fatores servem de sustentação e
podem ser uma alternativa às ações de guerra,
caso o centro de gravidade seja intangível ou
se os custos e os riscos não compensarem as
ações diretas.
A figura nº 1 ilustra uma situação hipoté-
tica, em que quatro fatores atuam na sustenta-
ção de um centro de gravidade.
Outros fatores poderão concorrer para a
Narcelio Ramos Ribeiro – Cel AvComandante da Base Aérea de Salvador
sustentação de um centro de gravidade, no
entanto, para forças aéreas com poucos recur-
sos, sugere-se selecionar um número pequeno
dentre os mais importantes,
pois em cada um desses fato-
res poderão existir alvos ou ob-
jetivos passíveis de ações le-
tais e não-letais em grande
quantidade e não haverá mei-
os para atender a essa deman-
da.
No processo de identifi-
cação e análise, busca-se es-
colher os CG e os fatores de
sustentação (econômico, mi-
litar, psicológico, político,
geográfico, sociológico, his-
tórico e internacional) mais
prováveis. Após a realização
desses processos, devem-se
orientar as Linhas de Ação
(LA), letais e não-letais, para
alvos ou objetivos que agre-
guem valor à fragmentação
ou deterioração dos centros
de gravidade e/ou aos fato-
res de sustentação. Isso de-
pende do cenário e do planejador.
O Coronel Aviador Narcelio
Ramos Ribeiro é piloto de pa-
trulha, concluiu o CFOAv em
1980 e exerce atualmente a
função de Comandante da
Base Aérea de Salvador. Pos-
sui curso de Guerra Eletrôni-
ca na Inglaterra (“Electronic
Warfare Directors”) e pós-gra-
duação em Planejamento Es-
tratégico e Qualidade Total
pela AEUDF (Brasília). O Cel
Av Narcelio tem trabalhos pu-
blicados nas revistas da
UNIFA e O Patrulheiro.
Fig.: 1 - Fatores de Sustentação
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Spectrum
No processo de identificação e análise de
centros de gravidade há que se considerar os
seguintes aspectos:
a) natureza do conflito (o conflito entre
grupos sociais oponentes pode ser de nature-
za fundamental ou acidental);
b) natureza do inimigo (um grupo social
inimigo, quanto a natureza, pode ser racional
ou irracional);
c) natureza de centros de gravidade (os
centros de gravidade, quanto à natureza, po-
dem ser tangíveis e intangíveis);
d) fatores sociológicos - nível de civiliza-
ção, perfil sociológico da população, raça, cre-
do ou tribo majoritária, grau de independên-
cia, nível de segregação geográfica e estágio
de auto-determinação;
e) fatores econômicos - infra-estrutura, ca-
pacidade de auto-sustentação na guerra, de-
pendência de suporte externo, se a economia
é em escala ou não, capacidade dela suportar
o poder militar e se a economia é agrária ou
industrial;
f) fatores geográficos - constituição geo-
gráfica do país oponente, modelo e tipo de
relevo, clima, hidrografia e vegetação, distân-
cia entre as forças e a base de suporte e tipo
de limitação que o terreno impõe às forças;
g) fatores militares - importância dos líde-
res militares dentro do governo, a natureza da
doutrina militar, capacidade deles se engajarem
em atividades militares que não de guerra, se
essa força militar tem capacidade de planejar e
de operar no nível estratégico ou são estritamen-
te operacionais e táticos, o conhecimento e es-
trutura que eles possuem para gerar concepção,
táticas, métodos, modelos e, até mesmo, pro-
cedimentos nas áreas de comando e controle,
guerra eletrônica, logística, análise operacional
e inteligência, tipo de tecnologia que eles utili-
zam, se eles fabricam seus próprios equipamen-
tos e composição de forças;
h) fatores psicológicos - nível de satisfa-
ção da população, condições de vida, se eles
têm suas necessidades básicas atendidas, ní-
vel da qualidade de vida dessa população, o
grau de influência que sofre a população pe-
los seus líderes políticos, se ela é influenciada
por líder religioso ou pela mídia, outro tipo de
liderança sobre a população, desejo da popu-
lação em prosseguir na guerra, se eles apói-
am, voluntariamente, os objetivos de governo
e se eles têm noção clara dos cenários em ques-
tão;
i) fatores políticos – objetivos políticos
da contenda, grau de moralidade e de aceita-
ção desses interesses e objetivos políticos na
visão da população e da comunidade interna-
cional, forma de governo, interesses vitais
desse governo, apoio da população a esse go-
verno, a influência da opinião pública no go-
verno e se o governo é repressivo/ditatorial;
j) fatores internacionais - características e
posturas da aliança ou coalizão que a força
inimiga participa, escopo desses organismos
internacionais, visão da comunidade interna-
cional sobre essa força, se essa força é respei-
tada como líder ou se ela é liderada e se ela
recebe algum tipo de apoio para o esforço de
guerra;
k)fatores históricos - em conflitos passa-
dos qual foi o centro de gravidade dessa força
e se ele pode ser escolhido como centro de
gravidade outra vez, mudanças que ocorre-
ram no governo e na população desde o últi-
mo conflito, histórico de rivalidade ou ani-
mosidade entre o grupo social inimigo e o nos-
so, e como se comporta esse grupo social quan-
do conduzido a desafios.
Além de considerar os aspectos acima
listados, é necessário verificar se esses fatores
concorrem, como ponto forte ou fraco, na sus-
tentação de centros de gravidade e se eles são
centros de gravidade ou não.
Esses fatores e os centros de gravidade ne-
cessitam ser identificados, para possibilitar o
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Spectrum
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planejamento.Processos de Identificação de Centros de Gravidade
Os seguintes passos devem ser realizados
para a identificação dos centros de gravidade:
a)identifique os objetivos políticos de to-
dos os beligerantes;
b)identifique a natureza do conflito e do
inimigo;
c) examine os beligerantes à luz dos fato-
res mencionados anteriormente;
d)selecione, dentre esses fatores, os pos-
síveis candidatos a centro de gravidade (essa
seleção pode ser realizada tomando por base
a definição de centros de gravidade e os
questionamentos formulados em cada fator);
e)identifique a natureza de cada candi-
dato a centro de gravidade;
f) para selecionar o(s) verdadeiro(s)
centro(s) de gravidade, formule a seguinte ques-
tão para cada um dos candidatos: se ele for
removido ou frag-
mentado haverá re-
dução expressiva da
vontade de prosse-
guir na contenda e/
ou diminuição
significante da ca-
pacidade do grupo
social atingir os seus
objetivos políticos?;
g) se, após sub-
meter todos candi-
datos a essas avalia-
ções, a resposta for
negativa reinicie o
processo, mas se for
positiva passe para o item 2.
A figura nº 2, ilustra os processos de iden-
tificação de centros de gravidade.
Processo de Análise de Centros de Gravidade
Os seguintes passos devem ser realizados
para a análise dos centros de gravidade, uma
vez realizada a identificação:
a)submeta os centros de gravidade seleci-
onados a uma análise APA (Adequabilidade,
Praticabilidade e Aceitabilidade). Eles devem
atender aos objetivos políticos, sem, contudo,
causar efeito adverso (o centro de gravidade
poderá ser um ou mais);
b)identifique quais os principais fatores de
sustentação desses centros de gravidade e sub-
meta-os à análise APA (os fatores de sustenta-
ção devem estar relacionados aos centros de
gravidade, que, por sua vez, estão atrelados
aos objetivos políticos);
c)elabore as LA letais e não-letais, visan-
do alvos e objetivos relacionados aos centros
de gravidade (se for o
caso) e/ou aos fatores
de sustentação; e
d)teste todos es-
ses procedimentos ou
utilize-os no exercício
ou em operações reais
e avalie os resultados,
verificando se estão
atendendo aos objeti-
vos políticos.
É muito impor-
tante a análise APA
nesse processo, pois
pode ocorrer de uma
LA atender aos objeti-
vos políticos, mas os meios não serem sufici-
entes ou os riscos não compensarem os cus-
tos.
A figura nº 3 ilustra o processo de análise
de centros de gravidade.
Todos esses processos buscam conectar
ações a centros de gravidade e estes aos obje-
tivos políticos da contenda, podendo resultar
IDENTIFICAÇÃO DE CENTROS DEGRAVIDADE
Fig.: 3 Processo de Análise de CG
Fig 2 - Identificação de CG
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Spectrum
na seleção axiológica de ações, alvo e objeti-
vo, ao invés do desperdício de tempo, recur-
sos, energia e homens inerentes aos modelos
utilitaristas de planejamento.
A seleção utilitarista de alvos militares des-
tina-se a atacar todos os meios que os adver-
sários utilizam para empreender a guerra. Sol-
dados, aeródromos, bases, navios, trens, car-
ros de combate, aeronaves e sistemas de co-
mando e controle (C2) são exemplos de alvos
passíveis de serem atacados diretamente em
campanhas militares. É muito apropriada a uma
força que possui bastantes recursos.
Ao contrário, o modelo conexionista de
planejamento, constante deste artigo, segue
uma linha axiológica, por ser mais adequada
às forças que não possuem muitos recursos e,
portanto, não podem arcar com custos
operacionais fascinantes.
A figura nº 4 ilustra uma comparação entre
o método utilitarista usado por Warden e o
conexionista (axiológico) abordado neste artigo.
Nota-se, portanto que o método
conexionista é mais apropriado a uma força
sem muitos recursos, pois atende melhor a re-
alidade de quem tem fortes limitações.
A figura nº 5 ilustra o método conexionista
de uma forma mais abrangente.
O exemplo mais notório da eficácia do
método axiológico (conexionista) de planeja-
mento e emprego de ações militares foi a cam-
panha aérea da Organização do Tratado do
Atlântico Norte (OTAN), contra a Iugoslávia,
em 1999. Os objetivos eram obrigar os líderes
sérvios a interromper as agressões sangrentas
contra os civis inocentes em Kosovo e, se ne-
cessário, reduzir significativamente a capaci-
dade militar sérvia.
Desde o início, os líderes políticos seleci-
onaram o poder aéreo como instrumento mili-
tar, descartando qualquer uso de tropas terres-
tres da OTAN. As ações foram conduzidas con-
tra centros de gravidade, acabando por dobrar
a vontade do líder iugoslavo Slobodan
Milosevic.
Conclusão
O poder aéreo pode atacar alvos estraté-
gicos, operacionais e táticos; pode suprir for-
Fig.: 4 - Comparação de Método de Escolha de CG
Fig.: 5 - Método Conexionista
Continua na pág. 42
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Spectrum
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“O Sistema de Ciência e Tecnologia de
Defesa deve atingir o efetivo domínio dos co-
nhecimentos científicos e tecnológicos e da
capacidade de inovação, visando cooperar
com a satisfação das necessidades do País
atinentes à Defesa e ao desenvolvimento naci-
onal.”[1].
Introdução*
APolítica de Defesa Nacional, adota-
da em 1996 pelo governo, por meio
de uma das suas Orientações Estraté-
gicas, enfatiza que “É essencial o fortalecimen-
to equilibrado da capacitação nacional no
campo da defesa, com o envolvimento dos
setores industrial, universitário e técnico – ci-
entífico. O desenvolvimento científico e
tecnológico é fundamental para a obtenção de
maior autonomia estratégica e de melhor
capacitação operacional das Forças Armadas”,
[2]. Em consonância com esta visão estratégi-
ca foi criado o Ministério da Defesa (MD), em
junho de 1999, visando otimizar o sistema de
defesa nacional, formalizar uma política de
defesa sustentável e integrar as três Forças, ra-
cionalizando as suas atividades, e, assim, im-
plantar um sistema de Defesa Nacional mais
moderno, ágil e eficiente.
A orientação estratégica e a finalidade,
acima referenciadas, evidenciaram a importân-
cia de se compreender, claramente, as
especificidades das atividades em Ciência, em
Tecnologia e em Inovação (C,T&I), bem como
o estabelecimento de alianças entre as diver-
sas Instituições adequadas para executá-las de
forma continuada e coordenada, como Obje-
tivo Nacional Permanente. Portanto, a inser-
ção das Instituições de Ensino e Pesquisa de
excelência, vinculadas ou não aos Comandos
Militares, assim como do setor industrial -
empresarial na agenda das prioridades
delineadas, passou a constituir um dos Desafi-
os Estratégico de primeira prioridade. Em ou-
tras palavras, tornou - se evidente que a atra-
ção, capacitação e a retenção de Recursos Hu-
manos em instituições
adequadas, com perfil
e quantidade apropria-
dos, determinam o ní-
vel de sucesso continu-
ado de empreendimen-
tos que se fundamen-
tam em C&T&I. À luz
deste entendimento, o
MD em cooperação
com o Mististério da
Ciência e Tecnologia
(MCT), coordenou o
Seminário “Ciência,
Tecnologia e Inovação:
Propostas de Diretrizes
Estratégicas para a De-
fesa Nacional”, em
novembro de 2002[1].
Neste evento, o MD
mostrou – se “preocu-
pado com as necessida-
des de discutir, multila-
teralmente, os assuntos
ligados à Defesa Naci-
onal e de identificar as
ações estratégicas de
C,T&I para o país, e o
MCT imbuido na
reformulação do siste-
ma nacional de C,T&I,
cujas metas foram
estabelecidas no seu Li-
vro Branco de C,T&I”.
No contexto deste
artigo, é oportuno des-
tacar as seguintes ori-
entações, dentre as várias estabelecidas no re-
ferido Seminário:
1) A inserção de universidades e centros
Contribuições do ITA para o Sistema de Ciência, Tecnologia e Inovaçãode Interesse da Defesa Nacional
José Edimar Barbosa OliveiraProfessor Titular do ITA
O professor Edimar realizouos cursos de graduação, UnB-76,mestrado, ITA-79, e PhD –McGill University – Canadá – 86,todos na área de Engenharia Ele-trônica. Iniciou suas atividadesno corpo docente do ITA em1977 e em 1993, por meio deconcurso público, ascendeu aonível de professor Titular da Di-visão de Engenharia Eletrônica.Suas atividades em ensino e pes-quisa e consultoria científica adhoc, para várias organizações defomento à pesquisa, têm contri-buído para a organização e exe-cução de atividades de interesseda Comunidade Científica Na-cional. Resultados de suas pes-quisas já foram publicados emvários periódicos nacionais e in-ternacionais. Desde 1997 temparticipado da estruturação dalinha de pesquisa em Guerra Ele-trônica no CTA e coordena a Pós-Graduação em AplicaçõesOperacionais desde a sua cria-ção, bem como o Módulo Téc-nico do CEAAE. Em 2000 foi lau-reado com a medalha de Honraao Mérito da Aeronáutica.
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de pesquisa civis nos projetos de C,T&I volta-
dos para a Defesa deve ser cada vez mais in-
centivada, envolvendo, desde cedo, os estu-
dantes na realização de tarefas acadêmicas e
de pesquisas em áreas de interesse da Defesa
Nacional.
2) A indústria, por sua vez, deve partici-
par desde a fase de concepção dos projetos.
Deverão ser disponibilizados mecanismos que
viabilizem o seu maior envolvimento na área
de C,T&I de interesse da Defesa Nacional, com
consequente geração de inovação tecnológica
e aumento na produção de riquezas no pais.
Naturalmente, o Instituto Tecnológico de
Aeronáutica (ITA) organizou grupos de estu-
dos com o objetivo de estender algumas de
suas áreas de atuação em ensino e pesquisa,
visando melhor atender à primeira orientação.
Alguns dos resultados obtidos têm potencial
para criar aliança de conhecimentos com ins-
tituições acadêmicas, portanto serão apresen-
tados na próxima sessão.
No que se refere à segunda orientação,
serão abordados o “Sistema de Ciência,
Tecnologia e Inovação em Áreas de Interesse
da Defesa Nacional (SisCTID)”, criado pelo
MD, em dezembro de 2003, e a “Política de
Ciência, Tecnologia e Inovação para a Defesa
Nacional”, de novembro de 2004.
O SisCTID resultou de estudos conjuntos
envolvendo o MD e setores da comunidade
acadêmica e industrial. Ao longo do ano de
2003, o MD reuniu pesquisadores e empresá-
rios de São Paulo, Campinas, São José dos Cam-
pos e Rio de Janeiro para integrar grupos de
trabalhos e debater modelos de parceria, vi-
sando delinear uma proposta para a integração
da pesquisa civil e militar brasileira. A propos-
ta identifica uma lista de 23 tecnologias, sen-
do algumas dos setores de telecomunicações
e informação, as quais receberão destaque
neste tutorial.
Por outro lado, a récem – lançada Política
e C,T&I para a Defesa Nacional, constitui um
avanço normativo, com potencial para estimu-
lar que a recente sinergia entre o MD e o MCT,
também aumente as conexões com os Mistéri-
os da Indústria e da Educação, entre outros.
Por último, porém não menos importan-
te, são apresentados breves comentários sobre
a “Política Nacional de Indústria de Defesa”, a
qual objetiva reativar a indústria bélica nacio-
nal, de modo a reduzir a dependência de im-
portação de equipamentos e tecnologias con-
siderados estratégicos e a aumentar as ex-
portações.
Pós-graduação em Áreas de Interesseda Defesa Nacional
Por se tratar de uma temática nova para a
maioria das instituiçoes brasileiras, considera
– se oportuno apresentar aspectos da
metodologia adotada pelo ITA e, assim, esti-
mular reflexões em outras instituições com in-
teresses em atividades correlacionadas.
O ITA, um dos cinco órgãos do Centro
Técnico Aeroespacial (CTA), localizado em São
José dos Campos – SP, em consonância com o
que é estabelecido em sua Lei de Criação, é o
órgão de ensino superior do Comando da Ae-
ronáutica, que tem por finalidade a formação
de profissionais de concepção com alto nível
de qualificação e a realização de pesquisa e
atividade de extensão universitária no campo
de tecnologia avançada, prioritariamente as de
interesse aeroespacial.
O ITA consolidou sua competência, em
áreas estratégicas para a Defesa, por meio de
ações continuadas de graduação e pós-gradu-
ação, nas seguintes especialidades: Engenha-
ria Aeronáutica, Engenharia Eletrônica, Enge-
nharia Mecânica-Aeronáutica, Engenharia de
Infra-Estrutura Aeronáutica e Engenharia da
Computação. Este Instituto, além de ter conti-
nuamente inovado nas áreas de graduação e
11
Spectrum
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
pós-graduação, tem prestado elevada contri-
buição para a evolução tecnológica e industri-
al do Brasil.
No ITA, os cursos de pós-graduação exis-
tem desde meados dos anos 60 e já proporcio-
naram resultados expressivos em várias áreas
de pesquisa de interesse do setor aeroespacial.
Os quatro cursos de pós-graduação stricto sensu
do ITA, credenciados pela CAPES, são: Enge-
nharia Eletrônica e Computação (EEC), Engenha-
ria Aeronáutica e Mecânica (EAM), Engenharia
de Infra-estrutura Aeronáutica (EIA) e Física (FIS).
Na organização da pós-graduação do ITA
cada curso é subdividido em áreas de pesquisa
e estas, por sua vez, são constituídas por deter-
minadas linhas de pesquisas. Esta concepção
permite a estruturação de programas de pós-gra-
duação que proporcionam a formação de pro-
fissionais com qualificações apropriadas para
atuarem em áreas que exigem conhecimentos
interdisciplinares. Por exemplo, um profissio-
nal matriculado no curso de pós-graduação em
Engenharia Eletrônica e Computação na área
de Telecomunicações pode cursar disciplinas
eletivas das áreas de Organização Industrial,
Sistemas e Controle, Informática, entre outras.
Em 1998, a Força Aérea Brasileira conce-
beu o seu “Programa de Busca de Excelência”,
com a finalidade de capacitar militares e civis
para o exercício de atividades de análise, sínte-
se, avaliação, pesquisa e desenvolvimento de
concepções, métodos, modelos, conceitos táti-
cos, procedimentos e tecnologias, todas relaci-
onadas com aplicações operacionais. Uma das
motivações desta inciativa estratégica é o “Pro-
grama de Fortalecimento do Controle do Espa-
ço Aéreo Brasileiro ( PFCEAB), criado em julho
de 2000, por meio de uma Diretriz Presidenci-
al.
No contexto dos Programas supracitados,
o ITA, em consonância com as suas atribuições,
estabeleceu parcerias com o Comando Geral
de Operações Aéreas (COMGAR) e com o Esta-
do – Maior da Aeronáutica (EMAER) e criou o
Curso de Especialização em Análise de Ambi-
ente Eletromagnético (CEAAE), em 1998, e o
Programa de Pós – Graduação em Aplicações
Operacionais (PPGAO), em 2001. O CEAAE é
realizado com formato lato sensu, com um ano
de duração, enquanto o PPGAO contempla a
concepção stricto sensu, nos níveis de Mestrado
e Doutorado. Ambas as opções se destacam por
um forte direcionamento da capacitação cien-
tífica para o atendimento de necessidades
operacionais dos Comandos Militares: Coman-
do & Controle (C2), Guerra Eletrônica (GE), Aná-
lise Operacional (AO) e Armamento Aéreo (AA).
Estas caraterísticas sugerem que os profissio-
nais capacitados pelo CEAAE e PPGAO sejam
direcionados para participar das atividades ne-
cessárias para inserir parte da ciência acadêmi-
ca, desenvolvida no ITA/CTA, em inovações
operacionais. Por se tratar de profissionais trei-
nados para as concepções de emprego dos cli-
entes, Comandos Militares, eles podem desen-
volver trabalhos expressivos, por meio de reali-
zações de teses, que criem as interfaces entre a
pesquisa acadêmica e os setores operacionais
dos Comandos Militares. A natureza desta pro-
posta pode ser melhor caracterizada com o au-
xílio da representação esquemática de um mo-
delo de C&T&I, disseminado pelo Prof. Roberto
Nicolisky, da UFRJ[3], conforme ilustrado na
figura abaixo. Nesta tentaiva, os trabalhos de
campo desenvolvidos pelos alunos do PPGAO
e o do CEAAE teriam a função de catalizar o
processo de inovação.
Fig. 1: Representação esquemática simplificada de um modelo de C&T&I [3].
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○12
Spectrum
SisCTID
Em consonância com as Diretrizes Estra-
tégicas do Seminário de 2002[1], o MD, ao
longo de 2003, coordenou as atividades de
vários grupos de estudos destinados a forne-
cer sugestões para conceber e implementar o
Sistema de Ciência, Tecnologia e Inovação do
Ministério da Defesa - SisCTID. Em particu-
lar, o Grupo Regional de São José dos Cam-
pos, São Paulo e Campinas ficou encarrega-
do de identificar e hierarquizar áreas e pro-
gramas estratégicos em CT&I da Defesa, de
forma a compor uma proposta para apresen-
tação na 1ª Jornada Conjunta do Ministério
da Defesa, Ministério da Ciência e Tecnologia
e Ministério das Comunicações sobre o tema,
a ocorrer em 10 de dezembro de 2003 em
Brasília.
Os estudos realizados contribuiram para
o delineamento da “Visão 2015” do MD,
segundo a qual “O Ministério da Defesa será
uma organização de referência na condução
dos assuntos relativos à área Ciência,
Tecnologia e Inovação de Interesse da Defe-
sa Nacional, por meio do(a):
• domínio de tecnologias que atendam às
necessidades da Defesa Nacional;
• contribuição para o fortalecimento da
indústria nacional;
• reconhecimento institucional, no Brasil e
no exterior; e
• gestão eficiente e eficaz”.
Em dezembro de 2003, estes pressupos-
tos conjuntamente com uma metodologia
segundo a qual as Áreas Estratégicas poderi-
am ser representadas em um espaço delimita-
do pelos Eixos de Defesa, de C&T e de Indús-
trias, foram utilizados para identificar 23
Tecnologias de Interesse Nacioanl[4]:
No contexto destas tecnologias, o MD ele-
geu os dez primeiros projetos que começaram
a ser implementados em 2004: usina de
Hexafluoreto, satélite geoestacionário, veícu-
lo áereo não tripulado, bloco girométrico para
Missil Anti – Radiação, sensores infravermelho
e óptico – mecânicos para sistema de visão
noturna e navegação inercial, túnel vertical
para treinamento de paraquedistas e um
pseudo – satélite.
O então Reitor do ITA, Prof. Michal
Gartenkraut, que participou da criação do
SisCTID, considera que “o novo sistema pode
ser um ponto de inflexão na pesquisa e de-
senvolvimento militar. Para ele, o ponto for-
te é a interseção entre o MD e o MCT, que
congregam, respectivamente, a inovação de-
senvolvida nas três Armas e o conhecimento
gerado nas universidades e institutos de pes-
quisa”.
13
Spectrum
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Política de C,T&I para a Defesa
Em novembro de 2004, o MD criou a
Política de C,T&I para a Área de Defesa Na-
cional com a seguinte finalidade:
I - apresentar os objetivos estratégicos para
os componentes e orgãos de expressão
militar do Poder Nacional;
II - orientar as instituições que venham a
participar de atividades de ciência,
tecnologia e inovação de interesse da
Defesa;
III - criar um ambiente capaz de estimular a
pesquisa e o aproveitamento do
conhecimento científico existente;
IV - fomentar o desenvolvimento industrial;
e
V - gerar produtos inovadores alinhados
aos interesses comuns das Forças Arma-
das.
Para melhor contextualizar algumas das
considerações sobre C,T&I, já apresentadas
neste tutorial, destaca - se as Diretrizes do
oitavo Objetivo da referida Política:
a) incentivar parcerias com universida-
des, centros de excelência e a indústria, para
o desenvolvimento de novos produtos,
tecnologia e serviços;
b) integrar as atividades correlatas dos
centros militares de P&D;
c)integrar os centros militares de P&D às
redes temáticas de C&T;e
d) incentivar o cadastramento de pes-
quisadores e tecnólogos, que integram o
SisCTID, em base de dados de abrangência e
de reconhecimento nacionais.
Portanto, esta Política prevê que as For-
ças Armadas compartilhem seus laboratórios
com universidades e empresas privadas. En-
tretanto, questões tais como propriedade in-
telectual, titularidade das inovações, entre
outras, exigem a criação de legislação ade-
quada.
Política de Indústria de Defesa
No inicio de 2005, o diretor do Depar-
tamento de Logística do MD apresentou in-
formações sobre o interesse em reativar a
indústria bélica nacional, de modo a reduzir
a dependência de importação de equipamen-
tos e tecnologias considerados estratégicos
e a aumentar as exportações. O Projeto que
está sendo delineado em consonância com
a “Política Nacional de Indústria de Defe-
sa”, contempla sete ações: campanha pela
indústria de defesa nacional, fim da depen-
dência externa, redução de carga tributária,
aquisição de produtos de defesa da indús-
tria nacional pelas Forças Armadas, melhoria
da qualidade dos produtos nacionais, au-
mento da competitividade dos produtos para
exportação e melhoria da capacidade de
mobilização da indústria.
Considerações Finais
Este artigo tutorial apresentar uma visão
pessoal, sobre o planejamento e ações es-
tratégicas do governo referentes à criação e
implantação do Sistema de Ciência,
Tecnologia e Inovação em Áreas de Interes-
se da Defesa (SisCTID). Este empreendimen-
to poderá se transformar em um desafio atra-
ente que proporcione oportunidades de atu-
ação em novas áreas compatíveis com a re-
conhecida excelência em ensino e pesquisa
da comunidade acadêmica nacional.
Referências Bibliográficas
[1] Ministério da Defesa e Ministério da
Ciência e Tecnologia (Brasil), “Ciência,
Tecnologia e Inovação: Proposta de
Diretrizes Estratégicas para a Defesa
Nacional”, Brasilia, 26 de novembro de
Continua na pág. 42
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○14
Spectrum
“O ótimo é inimigo do bom!”
Introdução
Sem meios de comunicações confiáveis
e variados, seria impossível coletar,
processar, produzir, gerenciar e disse-
minar dados num ambiente complexo e dinâ-
mico como o das operações militares.
Para desempenhar com ef iciência
as suas atr ibuições, de caráter essen-
cialmente decisório, os comandantes
d e p e n d e m , c a d a ve z m a i s , d e u m
abundante inf luxo de informações.
Ref let indo o papel preponderante
que a informação representa para os
mi l i ta res , aqui lo que cos tumava ser
vis to como Comando & Controle (C2)
tornou-se Comando, Controle, Comu-
nicações e Computadores (C4) .
Desse modo, o enorme volume de
informações classi f icadas e al tamente
voláteis , t ípicas das at ividades mil i ta-
res, impõe requisi tos extremos sobre
a capacidade de comunicação apro-
priada à qualidade de serviço deseja-
da.
Em conseqüência, nenhuma forma
d e t e l e c o m u n i c a ç ã o d e v e s e r
desconsiderada. O que se busca, na
verdade, é uma inter-relação de t ipos,
operando em redundância, com o má-
ximo aprovei tamento s inérgico de re-
cursos.
Logo , mesmo os rád ios de HF 1 ,
combinados com modernos disposi t i -
vos de localização (Global Posit ioning
System – GPS) e de processamento de
dados (Personal Computer – PC) têm
aplicação garantida, nos dias de hoje,
na comunidade mil i tar.
APRS - Uma Nova Perspectiva para as Comunicações Militares em HFPaulo César de Carvalho Faria - Ten Cel Eng
COMGARMárcio Gonçalves Ramos - 2S BCO
CINDACTA II
O Conceito APRS
Um método conce-
bido pelo radioamador
Bob Bruninga (WB4APR),
no início da década de
90, para difundir auto-
maticamente, em tempo
real, a posição de uma
estação, seja ela móvel
ou fixa, tem se tornado
cada vez mais popular.
Esse esquema, conheci-
do como Automat ic
Posi t ion Repor t ing
System (APRS), baseia-
se na transmissão de
pacotes de dados. Cada
pacote carrega os códi-
gos de chamada do des-
tinatário e do remeten-
te da informação, a rota
a ser seguida e, obvia-
mente, a mensagem ou
carga útil - neste caso,
as coordenadas geográ-
ficas da estação (LAT /
LONG), seguidas do
tempo de emissão do
pacote (Time Stamp);
inclui também toda a
informação necessária
para a correção de erros
que tenham ocorrido no
trajeto entre o emissor e
o receptor dos sinais de
rádio.
Os pacotes, com no
máximo 255 caracteres,
são veiculados num cur-
to intervalo de tempo.
Dessa forma, várias es-
tações, denominadas
O Ten Cel Eng Paulo César de Car-valho Faria é Engenheiro Eletrôni-co da turma de 1977 (Aspirante de1981) do Instituto Militar de Enge-nharia (IME), Mestre em Engenha-ria de Sistemas com Especializaçãoem C3I pela George MasonUniversity (Virginia - USA). Possuios cursos de Extensão em Engenha-ria de Armamento Aéreo no Institu-to Tecnológico da Aeronáutica (ITA),Básico de Guerra Eletrônica no Ins-tituto de Proteção ao Vôo (IPV) ePlanejamento de Guerra Eletrônicano Comando-Geral de OperaçõesAéreas (COMGAR). Atualmente ser-ve no COMGAR.
O 2S BCO Márcio Gonçalves Ra-mos trabalha atualmente noCINDACTA2 – DTCEA-CT, ondeexerce a função de Encarregado daSeção de Informática do DTCEA-CT(CINDACTA2) desde maio de 2003.Possui o Curso de Formação de Sar-gentos, na EEAR (1990/1991), oCurso Básico de Micropro-cessadores CB-07, no IPV (2000) eo Curso de Microcontroladores PIC,na Mosaico Engenharia (2005). De-senvolve, dentre outros, os seguin-tes projetos, no CINDACTA-2:1 – Terminal Remoto de VHF viaINTRAER para uso em OperaçõesMilitares (artigo publicado na revis-ta ZOOM em dezembro de 2002);2 – Rede Profeta – Comunicação dedados por Correio Eletrônico atra-vés de rádio-frequência em HF;3 – Sistema Redundante em HF paraa Rede INTRAER em OperaçõesMilitares; e4 – Sistema APRS para Comunica-ções Militares em HF.
15
Spectrum
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
beacons, podem transmitir as suas posições
(LAT / LONG), periodicamente, na mesma
freqüência, desde que em tempos diferen-
tes num esquema muito parecido com o
TDMA (Time Division Multiple Access), o
que garante uma ocupação coerente do es-
pectro de freqüências2 reservado para o
APRS (normalmente HF e VHF).
O uso de estações repetidoras, conhe-
cidas como digipeaters (digital repeater) ou
simplesmente digis, estende o alcance das
mensagens, especialmente quando utiliza-
dos rádios VHF (cobertura limitada à linha
de visada) para fechar os links de comuni-
cação. Diferentemente dos repetidores de
voz, os digis operam no modo simplex store
and forward, ou seja, recebem a informa-
ção, que é armazenada temporariamente,
e posteriormente a retransmitem.
A estação básica3 do APRS, a estação
beacon de posição, é constituída por um
GPS, um transceiver (rádio HF ou VHF4 ),
um Terminal Node Controller (TNC) e,
eventualmente, um laptop. Já a estação
central, aquela que vai monitorar e con-
trolar todas as demais estações, possui ne-
cessariamente um PC (Figura 1).
O TNC5 , uma espécie de modem
(modulador / demodulador) programável
(característica imprescindível para para
minimizar as colisões durante a transmis-
são), com três portas (a primeira para o
GPS, a segunda para o rádio e a terceira,
RS-232/V24, para o PC), converte os pa-
cotes provenientes do GPS (protocolo serial
NMEA - 0183) em tons de áudio (AFSK),
transmitidos pelo rádio. Inversamente, os
tons provenientes do rádio, sinal recebido
pela estação APRS, são transformados pelo
TNC para o padrão RS-232 e lidos pelo PC
(via porta COM).
Assim, um PC, no qual foi instalado
software específico (programa UI-View) para
a leitura dos dados que chegam (pela porta
COM) do GPS remoto, faz, necessariamente,
parte da estação central (o COCS no MD - es-
tação que vai monitorar as demais. Estas po-
dem ser: helicópteros do EB voando a baixa
altitude, fora da cobertura radar; navios da MB
em alto mar; ANV da FAB em rota para o Haiti;
outras modalidades.
Esse software (UI-View) apresenta as in-
formações provenientes do GPS na forma de
ícones que evoluem sobre um mapa escolhi-
do pelo usuário.
A escala dos mapas abrange uma extensa
gama que vai desde um mapa de ruas de uma
determinada cidade até um mapa
transcontinental.
Figura 1 – Esquema da Configuração do APRS
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○16
Spectrum
Portanto, o APRS nada mais é do que um
programa de computador de domínio públi-
co, capaz de processar pacotes de informação,
trocados via rádio (HF ou VHF).
Esses pacotes transportam as coorde-
nadas de diversos objetos (veículos na
terra, no mar ou no ar, repetidores, rodo-
vias, pontes, etc.).
A partir das coordenadas que, no caso
de objetos móveis, são obtidas por meio
de aparelhos GPS, têm-se plena
visualização (consciên-
cia situacional expandi-
da) do progresso da si-
tuação es t ra tégica,
operacional ou tática no
transcurso das opera-
ções e exercícios milita-
res, combinados ou con-
juntos.
Além disso, a esta-
ção central pode, utili-
zando-se do APRS, envi-
ar comandos às estações
subordinadas e receber, de cada uma de-
las, o andamento da execução das ordens
emitidas6 .
Clicar com o mouse no ícone de uma
das estações produz efeito semelhante,
pois faz com que se abra uma janela con-
tendo diversas informações7 relacionadas
à estação selecionada.
Uma outra funcionalidade bastante
atraente, em termos de Comando & Con-
trole (C2), é a troca de mensagens de tex-
to via APRS.
Por último, o PC da estação central,
ligado à INTRAER como gateway APRS,
conectar-se-á a todos os elos de C2 do
COMGAR, inc lu s ive o CCCOA,
disponibilizando informações valiosas
para a supervisão dos Exercícios e Ope-
rações com participação da Aeronáutica.
Portanto, não é difícil perceber que
os processos militares de C2, nos seus di-
versos níveis (tático, operacional e estra-
tégico), são os que mais têm a lucrar com
o emprego do APRS.
Testando o APRS na FAB
O desempenho do APRS foi avaliado em
setembro de 2004, no trajeto Curitiba /
Paranaguá / Guaratuba / Curitiba, quando a
aeronave (ANV)
CARAVAN, prefixo 2708,
funcionou como estação
móvel.
Usando o rádio HF de
bordo, os dados da ANV,
colhidos de um GPS
GARMIN, foram enviados
ao equipamento rádio HF
TW-7000, localizado no
CINDACTA II (estação
central). Em ambas as ex-
tremidades do enlace-rá-
dio, MODEMS KANTRONICS KAM 98 ope-
raram como TNC.
Várias vezes, ao longo do teste, o vetor
2708, voando a baixa altitude, posicionou-se
fora da cobertura dos radares de vigilância do
DACTA 2, mas em nenhum momento ele dei-
xou de ser visualizado, conseqüência da pro-
pagação em HF, pelo programa UI-View ins-
talado no PC da estação central.
Conclusão
Devido às dificuldades que afetam o
Programa Espacial Brasileiro, não teremos,
tão cedo, o nosso Satélite Militar em opera-
ção. Restam-nos, então, poucas opções
quanto às comunicações de longo alcance.
Considerando os baixos custos de im-
plantação do APRS, apesar de certas desvan-
17
Spectrum
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
tagens inerentes ao enlace HF e, baseados
na filosofia de que o “ótimo é inimigo do
bom”, não devemos desprezar essa possibi-
lidade.
De fato, testes do APRS vêm sendo con-
duzidos, com sucesso, pela FAB, especial-
mente na Aviação de Patrulha.
Reconhecendo que meios redundantes,
embora totalmente distintos, só têm a con-
tribuir para a formação de uma malha de te-
lecomunicações muito mais abrangente e
confiável, devido ao aproveitamento das ca-
racterísticas positivas de cada um deles (efei-
to sinérgico), é que discorremos sobre uma
nova perspectiva de emprego das comuni-
cações militares em HF.
Finalmente, esperamos que as idéias
aqui contidas também produzam bons resul-
tados nas demais Forças, contribuindo efeti-
vamente para a constituição, sob a égide do
Ministério da Defesa (MD), de um Sistema
Militar Unificado de C2.
Bibliografia
1. The Lincoln Amateur Radio Club Packet
Manual. <http://larc.unl.edu/packet/
index.html>
2. APRS Overview and UI-View Introduction
by G4IQI. <http://
homepage.ntlworld.com/ajmckinnon>
Referências
1 Algumas características das
comunicações em High Frequency
(HF):
Longo alcance; Suporta comunicações
móveis; Opera no modo HF adaptativo;
Onda ionosférica vulnerável à absorção
atmosférica, blackout, localização e
interceptação; Bastante susceptível a
jamming.
2 A faixa de VHF proporciona cobertura
somente dentro da linha de visada
entre as estações. Por outro lado, o uso
de HF, devido á propagação por
refração ionosférica do feixe de ondas
eletromagnéticas, permite alcance em
todo território nacional.
3 Colocando-se um notebook nas
estações básicas do APRS, normalmente
estações móveis, cada estação terá a
visualização da sua própria posição e
da posição de todas as outras estações.
Com o uso do notebook, também será
possível a troca de mensagens de texto
entre todos os participantes da rede.
4 Alguns rádios (KENWOOD TH-D7E e
KENWOOD TM-D700), também
conhecidos como mobile rigs, trazem
embutido o TNC; operam, portanto, em
modo compatível com o APRS - modo
transceivers de pacotes.
5 O software AGWPE faz com que a
placa de som do PC funcione
virtualmente como um TNC. Nesse
caso, o uso de um modem TNC torna-
se desnecessário.
6 Uma nova mensagem será enviada,
automaticamente, sempre que o status
de uma estação mudar. Em
contrapartida, o usuário do sistema será
alertado todas as vezes que uma
mensagem for recebida.
7 Em acréscimo à posição da estação,
dados meteorológicos (velocidade e
direção do vento, pressão e
temperatura atmosférica) constituem
um bom exemplo do que pode ser
exibido na janela que se abre (estação
fixa). Velocidade, proa e altitude da
estação monitorada também são típicos
(estação móvel).
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○18
Spectrum
Introdução
Osucesso de uma organização está
condicionado à eficácia com que os
seus processos de negócio são exe-
cutados. Um sistema informatizado desenvol-
vido para dar suporte a uma instituição deve,
portanto, estar alinhado aos processos de ne-
gócio onde estará inserido. Segundo Baker, ci-
tado por Andrade et al (2004), freqüentemente
as especificações de requisitos de software são
criadas sem que haja real entendimento das
necessidades e problemas da organização. Por
meio das técnicas de modelagem de proces-
sos de negócio, é possível compreender me-
lhor o ambiente no qual o sistema a ser
construído irá funcionar, o que possibilita iden-
tificar requisitos correspondentes às reais ne-
cessidades do negócio.
Conforme Eriksson e Penker, também ci-
tado por Andrade et al (2004), modelos de pro-
cessos de negócio podem trazer vários benefí-
cios no contexto do desenvolvimento de siste-
mas de software:
• Contribuem para que os requisitos sejam
completos e reflitam as necessidades de
negócio;
• Evitam a tomada de decisões prematuras;
• Permitem que os sistemas desenvolvidos
sejam guiados pelo negócio, e não
simplesmente pela tecnologia;
• Permitem um melhor planejamento da
integração dos diferentes componentes do
sistema; e
• Possibilitam o reuso de lógica de negócio
nos diferentes produtos.
Para isso, os modelos devem representar
a arquitetura do negócio. Essa representação é
realizada descrevendo-se as partes que com-
põem os processos da orga-
nização, como elas são
estruturadas e como
interagem para prover as
funções oferecidas a seus
clientes. Há várias notações
propostas na literatura para
esse fim, das quais pode-
mos destacar: fluxogramas,
Role Activity Diagrams
(RAD), os métodos
Integration Definition for
Function Modeling (IDEF),
diagramas Unified
Modeling Language (UML),
e os gráficos de Gantt. [1]
Para exemplificar um
produto da modelagem de
negócio, poder-se-ia utili-
zar um diagrama de ativi-
dades, previsto na UML,
para modelar o processo
“atender cliente em check-
in” de uma companhia aé-
rea, conforme Figura 1 [2].
Comando e Controle emOperações Combinadas
Desde 2001, a Força
Aérea Brasileira (FAB) tem
participado de cursos e exercícios combina-
dos com outras forças aéreas, protagonizados
pela Força Aérea Francesa, visando a uma
possível inclusão da FAB em uma força de
coalizão. Como exemplo, pode ser citada a
operação ARTEMIS, realizada no Congo em
2003, sob coordenação francesa e com par-
ticipação de duas aeronaves C-130 Hércules.
Surgiu, então, no Centro de Comando e Con-
Comando e Controle em Operações Combinadas: Desafio ou Utopia?
Raimundo Nogueira Lopes Neto - Maj AvECEMAR - CCEM 2005
O Major Aviador
Raimundo Nogueira Lopes
Neto é Líder de Esquadrão de
Caça, com 2000 horas de vôo
nesta aviação, tendo sido Ofi-
cial de Guerra Eletrônica do
1º/16 GAv e Oficial de Pesso-
al do 1º/4º GAv. Possui o Cur-
so de Inteligência Operacional
na SECINT, o Curso de Básico
de Guerra Eletrônica no GITE,
Pós-graduação em Análise de
Sistemas na PUC-RJ (Latu
Sensu) e Mestrado em Coman-
do e Controle no ITA (M.Sc.).
Atualmente encontra-se na
ECEMAR, efetuando o Curso
de Comando e Estado-Maior
(CCEM). Possui artigos publi-
cados nas revistas ZOOM e
SPECTRUM, da Força Aérea,
e na Revista de Pesquisa Na-
val, da Marinha do Brasil.
19
Spectrum
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
trole de Operações Aéreas (CCCOA), unida-
de do Comando-Geral de Operações Aéreas
(COMGAR), a necessidade de se reformular
a doutrina de emprego da Força Aérea vi-
sando atingir o padrão utilizado pela Orga-
nização do Tratado do Atlântico Norte
(OTAN).
Dentro deste contexto, o Comandante
da Força Aérea Componente do Comando
Combinado (COMJFAC – Joint Forces Air
Component) dispõe de vários setores para a
condução da guerra aérea. Além de conse-
lheiros mais próximos (representantes naci-
onais e oficiais de ligação das demais forças
componentes, entre outros), contribuem para
o planejamento e execução das operações o
Estado-Maior (veja a figura 2, HQCOS –
Headquarters Chief of Staff) e o CAOC
(Combined Air Operations Center).
A estrutura do Estado-Maior compreen-
de seções tradicionais como pessoal, inteli-
gência, operações, logística e planejamen-
to, além de outras de apoio, finanças,
tecnologia da informação e sistemas, ativadas
em função da missão específica da Força
Aérea Componente (FAC).
Por sua vez, o CAOC é o elemento da
estrutura da FAC de um Comando Combina-
do, através do qual o Comandante da FAC
exerce o planejamento centralizado e o con-
trole do esforço aéreo [3]. Como pode ser
observado na área pontilhada da figura 2, o
CAOC, instalação principal de Comando e
Controle das operações aéreas, é o respon-
sável pela programação e condução do em-
prego de todos os meios aéreos do Teatro de
Operações, em coordenação com os demais
serviços e componentes [5].
Em virtude da troca de experiências com
a Força Aérea Francesa, o COMGAR optou
por uma reformulação da doutrina de em-
prego de Comando e Controle.
Concomitantemente, os novos conceitos tra-
zidos pelos franceses foram aplicados em
manobras operacionais na tentativa de ab-
sorver os conhecimentos adquiridos em cur-
sos realizados na França por alguns oficiais
do Comando da Aeronáutica. Surgiu, então,
a necessidade de utilização de software para
suportar o gerenciamento das informações
durante os exercícios. Assim, alguns
softwares foram encomendados pelo
COMGAR para servirem de apoio às deci-
sões em um Comando Combinado.
O Problema
Para que sejam criadas ferramentas de
apoio à decisão, é necessário levantar perfei-
tamente os requisitos. A modelagem de pro-
Figura 1 - Diagrama de atividade para o processo “atender cliente em check-in”.
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○20
Spectrum
cessos de negócio é a primeira etapa do ciclo
de desenvolvimento de software, etapa anteri-
or ao levantamento de requisitos [6].
Atualmente, os processos de Comando e
Controle envolvidos em operações combina-
das ainda não estão modelados, o que tem di-
ficultado significativamente o desenvolvimen-
to de ferramentas de apoio à decisão no Cen-
tro de Computação da Aeronáutica de São José
dos Campos (CCA-SJ).
Assim, a modelagem irá traduzir o que,
na realidade, espera-se das atividades realiza-
das em um comando combinado, eliminando
os processos redundantes e desnecessários, e
aglutinando ou desmembrando os processos
antigos a fim de torná-los mais eficientes do
ponto de vista da agregação de valor.
Antes, porém, é necessário estabelecer um
método para que os processos de negócio pos-
sam ser perfeitamente levantados. Somente
assim, será possível obter-se uma visão geral
dos processos para o cliente, o COMGAR (es-
pecificamente o CCCOA), e para o
desenvolvedor de sistemas de apoio à decisão,
o CCA-SJ.
Portanto, após essas considerações, a
questão levantada é a seguinte: Quais são
efetivamente os processos de C2 em Opera-
ções Combinadas segundo a doutrina da
OTAN?
Este desafio está sendo proposto pelo
autor, como tema de monografia de conclu-
são do CCEM (Curso de Comando e Estado-
Maior). Como os processos que envolvem a
doutrina de C2 em operações combinadas
são extremamente complexos e numerosos,
optou-se por manter o escopo do trabalho
nos macroprocessos, em virtude do tempo
limitado e dos recursos de pessoal disponí-
veis para a tarefa. Sabe-se que tarefas se-
melhantes, em desenvolvimento de
software, são normalmente elaboradas por
um grupo de trabalho responsável por le-
vantar os requisitos do sistema a ser desen-
volvido.
Como o tema proposto reveste-se de uma
importância grande para o atual contexto do
COMGAR, seria interessante que o escopo
desse trabalho pudesse, em um futuro próxi-
mo, ser ampliado a níveis superiores da estru-
tura de um comando combinado. Assim, será
possível ter-se uma visão geral dos processos
de C2 envolvidos em operações combinadas.
Figura 2 - Estrutura de uma Força Aérea componente em um comando combinado.
21
Spectrum
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Conclusão
O trabalho que será desenvolvido na
ECEMAR visa levantar o modelo de negócio
de C2 com vistas a propiciar um levantamen-
to de requisitos para futuros sistemas de
software eventualmente necessários, que re-
presentará uma economia de tempo, de pes-
soal e de recursos financeiros significativos
para o CCA-SJ.
O levantamento dos processos permiti-
rá também que o CCCOA tenha uma visão
geral do que efetivamente ocorre em um
Centro de Operações Aéreas quando atuan-
do em operações combinadas.
A partir de uma visão geral, uma análi-
se viabilizará a otimização de processos e a
eliminação de redundâncias de entidades da
organização que não estejam focadas nos ob-
jetivos do CCCOA.
A modelagem dos processos permitirá
que se determinem quais os processos que
deverão ser automatizados e os que ainda
dependerão da atuação humana.
A modelagem proporcionará, ainda, a
definição de requisitos de possíveis ferramen-
tas de apoio à decisão que ainda sejam ne-
cessárias, o que acarretará ganhos de efici-
ência e eficácia no preparo e emprego da
Força.
Finalmente, a monografia a ser elabora-
da enfatizará a modelagem de processos de
negócio como uma ferramenta indispensá-
vel para o levantamento de requisitos de
softwares, contribuindo para uma possível
adoção desse modelo como pré-requisito
para o desenvolvimento de softwares na Ae-
ronáutica.
Segundo Boggs, a modelagem de negó-
cio é recomendada quando há grandes e
complexos fluxos de atividade na organiza-
ção que não estão documentados adequa-
damente; e ao se desenvolver um software
que incorporará grande parte dos processos
do negócio.
A tarefa do COMGAR de incorporação
de novos conceitos doutrinários de C2 no
padrão da OTAN já prevê o desenvolvimen-
to de softwares de apoio à decisão em um
comando combinado, porém ainda não se
cumpriu a fase de se levantar precisamente
os grandes e complexos processos de C2.
Essa tarefa é um desafio, e não deve se trans-
formar em uma utopia...
Referências
[1] ANDRADE, A. et al. Um estudo de
aplicação de modelagem de processo de
negócio para apoiar a especificação de
requisitos de um sistema. In: SIMPÓSIO
INTERNACIONAL DE MELHORIA DE
PROCESSOS DE SOFTWARE, 6., São
Paulo. Anais...São Paulo: SIMPROS, 2004.
[2] BOGGS, W.; BOGGS, M. UML with
Rational Rose 2002. Alameda: Sybex,
2002.
[3] BRASIL. Comando da Aeronáutica.
Comando-Geral de Operações Aéreas.
Manual de condução de operações
aéreas: proposta em estudo. Brasília, DF,
2004.
[4] CASTRO, D. R. Jogos de guerra para o
centro de operações aéreas. Monografia –
Escola de Comando e Estado-Maior da
Aeronáutica, Universidade da Força
Aérea, Rio de Janeiro, 2004.
[5] FRANÇA. Air Force. JFACC: Battle staff:
standard operation procedures, 1.ed.
[S.l.], 2003.
[6] MARANHÃO, M.; MACIEIRA, M. E. B. O
processo nosso de cada dia: modelagem
de processos de trabalho. Rio de Janeiro:
Qualitymark, 2004.
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○22
Spectrum
Novas Perspectivas para o GITE
Considerações iniciais
Na era da informação, a revolução
tecnológica e o trânsito acelerado
de dados ao redor do globo vêm
consolidando um cenário no qual a mudança
é a única constante1. Nesse turbilhão de acon-
tecimentos, o aprendizado organizacional ga-
nha destaque, pois o conhecimento proporci-
ona significativa vantagem para as organiza-
ções que o utilizam como insumo para seu
fortalecimento2. Dessa forma, a excelência em
capital humano torna-se assunto estratégico, a
despeito de todas as dificuldades para ser atin-
gido.
O Grupo de Instrução Tática e Especializa-
da (GITE), como Organização Militar designa-
da para viabilizar cursos e estágios de interes-
se do COMGAR, participa ativamente do pro-
cesso de aprimoramento do capital intelectual
humano da área operacional, ganhando vulto
e se consolidando como fator primordial que
dá sustentação às ações de condução e exe-
cução das operações aéreas.
Apesar de ser entendido simplesmente
como uma Organização de Ensino, o GITE vem
modificando seu contexto de atuação, partici-
pando de diversas outras atividades, todas
focadas no tema da Guerra Aérea. Isto ocorre
pela nova visão adotada, a qual coloca em
cheque o paradigma do processo ensino-apren-
dizagem.
Foco no ensino
Há muitos anos, o modelo tradicional do
processo ensino-aprendizagem vem sendo
aplicado nas instituições de ensino. Esse mo-
delo funcionou enquanto as informações a se-
rem disponibilizadas aos alunos mostravam-
se perfeitamente atualizadas, mesmo depois de
transcorridos períodos que permitissem a trans-
formação desse mesmo aluno em professor.
Nesse modelo ultrapassado, planejar o
ensino significava considerar o tempo neces-
sário para que o conteúdo fosse transmitido.
Com cursos longamente ex-
perimentados, a possibili-
dade de erro reduzia-se,
uma vez que se esperava
dos alunos uma atitude pas-
siva, na qual todos seriam
submetidos a um único
molde, sem qualquer con-
sideração de individualida-
de ou experiência anterior.
A realidade do mundo
moderno conduz ao rompi-
mento do tradicional pro-
cesso ensino-aprendiza-
gem, implicando a busca
de novos valores
referenciais. Assim como
todas as demais Organiza-
ções, as chamadas Escolas
precisam se reinventar, uma
vez que isso significa sua
sobrevivência. As que op-
tam por verem seus proces-
sos fossilizados sofrem uma
redução gradual da sua
condição, com perda de
apoio e de atividades. Por
outro lado, as que apresen-
tam a capacidade de se adaptar recebem apoio
e reconhecimento, além de se verem extrema-
mente solicitadas. Entretanto, isso ainda é in-
suficiente.
O notável crescimento das atividades de-
senvolvidas no GITE, incluindo novos cursos
e exercícios operacionais, reais e simulados,
demonstra a flexibilidade existente na Organi-
zação, característica listada na DCA 1-13, e
constante do Emblema do Grupo: FLEXIBILE,
SED NON RUMPITUR. Sem dúvida, esse cres-
Carlos Duek – Maj AvComandante do GITE.
O Maj. Av. Carlos Duek
é líder de Esquadrão da Avi-
ação de Caça e concluiu o
CFOAV em 1989, tendo sido
promovido ao atual posto em
31 de agosto de 2003. Pos-
sui diversos cursos
operacionais ministrados
pelo GITE, sendo o atual Co-
mandante daquele Grupo. Já
participou de curso na USAF
e de intercâmbio de pilotos
de Caça com a Aeronáutica
Militar Italiana e com a For-
ça Aérea Argentina, contan-
do com 2000 horas voadas
em aeronaves de Caça. Pos-
sui o título de Mestre em En-
genharia de Produção pela
Universidade Federal de San-
ta Maria.
23
Spectrum
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
cimento também é resultante do trabalho da
Organização, servindo de indicador do reco-
nhecimento pelo esforço realizado. Cabe res-
saltar que o atual estágio de maturidade da OM
se deve ao abnegado trabalho dos
que aqui labutaram nestes 21
anos, verdadeiros profissionais,
merecedores de todo nosso res-
peito. O crescimento da ordem
de 233% em apenas 4 anos, con-
forme o gráfico na Figura 1, ilus-
tra bem essa realidade.
Ao analisarmos as necessi-
dades de desenvolvimento inte-
lectual dos que pensam e executam a Guerra
Aérea Moderna, percebemos que as possibili-
dades de táticas e técnicas são infinitas e reno-
vadas diariamente, tornando obsoleta (ou de
curta validade) qualquer informação passada
nos cursos. Sob essa ótica, a atividade de mi-
nistrar cursos poderia ser compreendida como
a “arte de se preparar as pessoas menos
desatualizadas”. Todavia, novos conceitos per-
mitem evitar essa situação, de maneira a con-
templar o necessário desenvolvimento.
Foco na aprendizagem
Ao sermos atropelados pela quantidade
descomunal de informação, nem sempre trans-
formada em conhecimento e timidamente
transformada em ação, precisamos formular es-
tratégias de enfrentamento, repensando os fa-
tores intervenientes. A simples
desconstrução de valores ultra-
passados já reduz o ofuscamento,
a cegueira paradigmática4, abrin-
do espaço para outras iniciativas
seqüenciais.
A redução do ritmo de de-
senvolvimento tecnológico, com
restrição do acesso ao conheci-
mento de ponta, é a alternativa
que se apresenta para os que se
permitem iludir por líderes protecionistas. Em
decorrência, esses encontrarão a estagnação,
a derrota em qualquer arena de combate. Por
outro lado, quem deseja se manter atualizado
precisa inventar seu futuro, assumir a lideran-
ça, construir novos parâmetros e colocá-los à
prova, permanentemente.
Isso se aplica ao GITE. O foco não deve
estar no ensino, ou no tempo necessário para
se passar o conteúdo. O foco precisa estar no
atendimento das necessidades de aprendiza-
gem, considerando experiências e conheci-
mentos anteriores dos indivíduos, além de
torná-los cônscios da inevitável obsolescência
e do inviável esgotamento do conteúdo. Há
que se desenvolver o hábito da cu-
riosidade e sentimento de insatis-
fação com a realidade vivida.
Enquanto a Escola tradicional
preserva as mazelas do ofício de
aluno, estes não se sentem mais
atraídos por um enigma qualquer,
mas somente por desafios à altura
de sua competência5. Em termos
operacionais, e valorizando o mé-
rito de nossos antecessores, verda-
deiros heróis e desbravadores doFigura 1: Gráfico com o incremento na quantidade de cursosministrados no GITE.
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○24
Spectrum
espaço aéreo, podemos afirmar que o piloto da
atualidade não pode ser mais um apaixonado e
aguerrido profissional guarnecendo a carlinga
de seu avião, mas sim um apaixonado, aguerri-
do e doutrinado gerente de sistemas comple-
xos embarcados em uma aeronave de comba-
te.
Uma proposta desafiadora é valorizar a
pesquisa, a construção do conhecimento, e
o trabalho concomitante sobre o domínio
afetivo, não somente do cognitivo, alvo úni-
co da Escola tradicional. Com esse novo
foco, o aluno passa a ter outro papel, assu-
mindo a missão de dar prosseguimento ao
conhecimento iniciado em um curso. Ele
passará da rígida condição de forma acaba-
da (molde) para a flexibilidade de assumir a
forma necessária, tornando-se verdadeiro
consumidor de informação e produtor de
conhecimento, o que, em última análise, re-
sultará em novas táticas, técnicas e doutri-
nas militares.
Curso de Tática Aérea e outros Cursos
O Curso de Tática Aérea (CTATAE), pri-
meiro curso de carreira do Oficial Aviador,
passará a ser ministrado após este passar um
ano nas diversas Unidades Aéreas do
COMGAR. Obviamente, com tamanha di-
ferenciação do público-alvo que anterior-
mente não havia servido em Unidade
Operacional, o GITE precisa antecipar a de-
manda e as expectativas desse novo aluno,
ou melhor, da Força Aérea para esse aluno.
Frente ao desafio de entregar à Força
Aérea Brasileira Oficiais subalternos pron-
tos para suas funções nas diversas Unida-
des, o GITE busca nesse curso disseminar a
Doutrina e as táticas vigentes no complexo
cenário da Guerra Aérea. Este desafio ga-
nha destaque, uma vez que o próprio
CTATAE deu origem ao GITE. Além disso,
muito em breve teremos, como condutores
da nossa Força, Oficiais Generais que rea-
lizaram o Curso de Tática no GITE. Isto rati-
fica a relevância dessa Organização, não de
ensino, mas de aprendizagem.
Além do Curso de Tática, o GITE mi-
nistra o Curso de Preparação de Instrutores
de Vôo (CPIV), o Curso Operacional de
Guerra Eletrônica (COGE) e diversos Cur-
sos necessários à disseminação da doutrina
de Comando e Controle na condução das
Operações Aéreas. Para tanto, algumas par-
cerias têm sido fortalecidas, em especial
com o CCCOA e o CGEGAR.
A excelência do COGE e dos cursos do
CCCOA, atestada pelo profundo
conhecimento dos diversos alu-
nos formados e pelo estímulo à
pesquisa, auxiliam no amadure-
cimento técnico e doutrinário de
militares e civis das três Forças,
bem como de alguns alunos es-
trangeiros, em programas de in-
tercâmbio, conforme apresenta-
do no gráfico da figura 2, alcan-
çando a expressiva marca de 836
alunos no período de janeiro de
2004 a junho de 2005. Aliado a
isso, o convívio do GITE comFigura 2: Gráfico com o percentual de alunos por Comando atendido entrejaneiro de 2004 e junho de 2005.
25
Spectrum
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
instrutores de elevado nível, ao mesmo tem-
po em que provoca a busca pelo aprimora-
mento, permite o engrandecimento desta
Organização que aposta em um futuro pla-
nejado com base, não somente na adapta-
ção, mas na construção do conhecimento.
Considerações finais
O GITE sente-se honrado em contribuir
para o aprimoramento do capital humano
na Força Aérea, uma vez que as pessoas são,
em última instância, origem e instrumento
de aplicação de todo poderio militar.
Neste momento, cabe refletir acerca da
localização ideal do GITE, tendo em vista
sua atuação e o retorno proporcionado ao
COMGAR. A decisão deve ser pautada não
apenas em fatores técnicos ou de custo, mas
nas condições ideais para se proporcionar
experiências de aprendizagem, já debatidas
anteriormente. Sem dúvida, como órgão
centralizador da condução das Operações
Aéreas, contando com a grande maioria dos
Instrutores que atuam no GITE,
disseminador e impulsionador da Doutrina
e supervisor direto da aplicação operacional
da mesma, a localização do GITE junto ao
COMGAR, independente do muni-
cípio, permitiria a maximização das
características necessárias ao en-
grandecimento da área operacional.
Isto ocorre, pois esse Grupo sinteti-
za, em sua essência, as condições
ideais para se estudar a Guerra Aé-
rea, enquanto ciência e arte, permi-
tindo a realização de cursos sinto-
nizados com a realidade, além de
outras atividades, como simpósios,
palestras e defesas de Teses de inte-
resse ao preparo e emprego da FAB.
Entender os desafios do conhe-
cimento e construir o futuro sem receios de
se expor e transpor obstáculos, combaten-
do o marasmo intelectual e valorizando o
vôo, a área operacional, a atividade-fim, mi-
grando do antigo ensino para o sempre re-
novado aprendizado e sem receio de aban-
donar velhos paradigmas. É a visão do GITE,
é a contemplação do amanhã.
Referências
1 DUEK, C. et al. O aprendizado
organizacional em estruturas
hierarquizadas. In: Encontro Nacional de
Engenharia de Produção, XXIV, 2004,
Florianópolis. Anais...Porto alegre:
ABEPRO, 2004, 1 CD-ROM.2 SENGE, P. M. A quinta disciplina: arte e
prática da organização de aprendizagem.
São Paulo: Best Seller, 1998.3 DCA 1-1 Doutrina Básica da Força Aérea
Brasileira. Brasília: EMAER, 20054 MORIN, E. Os sete saberes necessários à
educação do futuro. São Paulo: Cortez,
2003.5 PERRENOUD, P. Dez novas competências
para ensinar. Porto Alegre: Artmed, 2000.
Figura 3: Maquete virtual do projeto de readequação do auditório do GITE.
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○26
Spectrum
AForça Aérea Brasileira tem envidado
esforços em busca da excelência na
formação de seus recursos humanos.
Como exemplo dessa busca, podemos citar o
Programa de Pós-Graduação em Aplicações
Operacionais (PPGAO), do Instituto
Tecnológico de Aeronáutica, nas áreas de Guer-
ra Eletrônica, Comando e Controle e Análise
Operacional. Esta, chamada de Pesquisa
Operacional no meio civil, figura no rol das
ciências do gerenciamento, capaz de resolver
problemas operacionais práticos, presentes no
cotidiano. Vale-se de algoritmos de otimização
como o Simplex [1], por exemplo. A idéia
deste artigo é mostrar uma aplicação na área
militar de um problema de cobertura radar à
luz da Análise Operacional.
Para ilustrar nossa meta vamos mencionar o
problema de localização de ambulâncias [2].
Uma estatística comumente citada é a de que,
se for negado suprimento de oxigênio ao cére-
bro de uma pessoa por mais de quatro minutos,
em decorrência de um ataque cardíaco, por
exemplo, a probabilidade de sobrevivência des-
se indivíduo cai abaixo de 50%.
Isso sugere que se deve dispor de ambulân-
cias alocadas em pontos cujo atendimento à
população de uma certa área ocorra em tempo
inferior a 4 minutos. Nosso objetivo seria, então,
minimizar o número de ambulâncias necessári-
as para que a demanda de todos os pontos de tal
área fossem atendidos, dentro do tempo estipu-
lado, pela ambulância mais próxima.
A formulação desse modelo é conhecida
como modelo de cobertura de conjuntos [2] [6].
Um número representativo de autores tem utili-
zado esses modelos para posicionamento de
ambulâncias e outros veículos de serviços de
emergência. Podemos citar Toregas, Swain, Re
Velle e Bergman (1971) [8]; Walker (1974) [9];
Plane e Hendrick (1977) [7]; Jarvis, Stevenson e
Willemain (1975) [4].
Problema de Localização de Cobertura de Conjuntos
Omar José Sarmento dos Santos - Maj AvCGEGAR
O Major Aviador Omar
José Sarmento dos Santos é pi-
loto de asas rotativas, com
1400h de experiência nesta
aviação.
Possui o Curso Opera-
cional de Guerra Eletrônica, o
Curso de Especialização em
Análise do Ambiente Eletro-
magnético (Módulo Técnico).
Mestrado em Engenharia
de Produção com Ênfase em
Pesquisa Operacional, no Ins-
tituto Tecnológico de Aeronáu-
tica (PPGAO – 2004).
Atualmente exerce a fun-
ção de Adjunto ao CGEGAR,
na Seção de Análise
Operacional.
Traçando um paralelo na área militar, va-
mos supor que num Teatro de Operações (TO)
tenhamos n unidades de suprimento e/ou com-
bate de significativo valor
tático ou estratégico. Tor-
na-se imprescindível pro-
teger essas unidades, sen-
do a cobertura radar do
espaço aéreo o meio mais
eficaz de impedir uma
ação ofensiva que danifi-
que tais pontos sensíveis,
pois, uma vez ciente da
ameaça, os mecanismos
de defesa seriam aciona-
dos tempestivamente.
Admitindo que dis-
pomos de equipamento
radar em número suficien-
te, com raio de cobertura
definido de acordo com
suas características técni-
cas, gostaríamos de saber
quantos radares seriam
necessários para promo-
ver a cobertura radar de
todos os pontos.
A solução da situa-
ção apresentada pode ser
obtida mediante a resolu-
ção de um Problema de
Recobrimento Mínimo (PRM) [3], particularida-
de dos Problemas de Localização de Cobertura
de Conjuntos, estudado em Otimização
Combinatória, e faz parte do rol de soluções de
problemas que podem ser resolvidos pela apli-
cação de ferramentas da Análise Operacional.
A formulação PRM aplica-se a vários pro-
blemas de localização, tais como localização de
postes de iluminação pública, em que os pontos
de demanda são os locais em que se deve provi-
denciar a iluminação; localização de radares de
vigilância; alocação arma x alvo, explotação de
27
Spectrum
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
petróleo em poços submarinos e outros.
Para a resolução da situação proposta deve-
mos observar as seguintes premissas:
a) alocar a menor quantidade possível de
radares para a cobertura dos pontos sensíveis; e
b) todos os pontos sensíveis devem ser co-
bertos ao menos por um radar
Detalhes da formulação matemática clássi-
ca para o problema apresentado podem ser vis-
tos no quadro seguinte [3]:
Vejamos um caso prático onde adaptamos
um exercício idealizado pelo Prof. Dr. Lorena,
pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (INPE), instrutor da disciplina
Otimização Combinatória [4].
No nosso exemplo temos 31 pontos espa-
lhados, conforme Figura 1.
O raio da cobertura radar adotado foi a dis-
tância entre os pontos 25 e 31 (raio constante).
Assim percebemos que se colocarmos um radar
no ponto 1, tal equipamento cobriria os seguin-
tes pontos: 1, 2, 4, 5 e 7. O raciocínio é análogo
para os demais pontos de cobertura.
Para que seja possível reproduzir os resulta-
dos encontrados vamos indicar a cobertura con-
siderada para cada ponto.
A Tabela 1 mostra qual a cobertura produ-
zida quando da alocação do radar em cada pon-
to considerado.
Desenvolvendo a formulação matemática
e resolvendo o problema com a ajuda do SOL-
VER do Excel encontramos mais de uma solu-
ção ótima, todas com nove (9) pontos, ou seja,
para a cobertura radar de todos os pontos deve-
mos alocar nove radares, por exemplo, nos se-
guintes conjuntos de pontos: (2, 5, 8, 9, 14, 19,
23, 29 e 31); ou (2, 8, 9, 11, 12, 19, 23, 29 e 31);
ou (2, 5, 8, 10, 16, 20, 23, 26 e 28) e outros.
Há mais soluções definindo a localização
dos radares, todas com nove pontos, menor quan-
tidade possível para a cobertura total dos pontos
sensíveis.
Outros softwares como o LINDO ou
WinQSB também resolvem problemas de
otimização. Utilizamos o SOLVER do Excel sim-
plesmente para mostrar que tal ferramenta está
facilmente disponível na maioria dos nossos com-
putadores.
Dessa forma não só descobrimos quantos
radares são necessários para a total cobertura de
nossos pontos sensíveis, mas também obtivemos,
nesse exemplo, devido haver mais de uma solu-
ção ótima, soluções alternativas para o
posicionamento desses equipamentos.
Tabela 1: Cobertura radar considerada
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○28
Spectrum
Na prática encontraremos problemas mai-
ores, por exemplo, radares com custos de
alocação distintos, áreas de cobertura diferen-
tes, elevações de terrenos variáveis e outras difi-
culdades, contudo todas passíveis de resolução,
uma vez adequado o modelo.
Em muitos casos podemos encontrar uma
“linguagem matemática” que represente, de for-
ma simplificada, problemas de natureza militar
que desejamos resolver.
Somente o estudo e a pesquisa continuada
conduz a soluções ótimas, daí a importância do
constante aprimoramento e da relevante preo-
cupação da Força Aérea na qualificação de seus
Oficiais, mediante programas de pós-graduação
como o PPGAO.
O exemplo apresentado constitui uma pe-
quena amostra dentro do universo de problemas
que, efetivamente, podem ser resolvidos com a
utilização das diversas ferramentas teóricas da
Análise Operacional.
A Figura 2 mostra a cobertura obtida por
nove radares dispostos no conjunto de pontos
(2, 5, 8, 9, 14, 19, 23, 29 e 31).
ConclusãoA Força Aérea tem se preocupado com o
aprimoramento de seu pessoal através de pro-
gramas de pós-graduação como o PPGAO. Den-
tro desse programa a área da Análise Operacional
apresenta ferramentas teóricas capazes de
otimizar a solução de problemas práticos abor-
dados. A disciplina de Otimização Combinatória,
instrumento de grande valia, apresenta formula-
ções matemáticas consistentes e demonstra ser
de grande utilidade na resolução de problemas
na área militar.
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Linear programing and network flows. 2nd
edition, Singapore, Wiley, 1990.
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Areas”, Technical Report 13-75, Operations
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[6]Mirchandani, Pitu B.; Francis, Richard L.;
Discrete location theory, USA, New York,
Wiley, 1990.
[7]Plane, D. R. and T. E. Hendrick, 1977,
“Mathematical Programming and the
Location of Fire Companies for Denver Fire
Department”, Operations Research, 25,
563-578.
[8]Toregas, C.; R. Swain; C. Re Velle, and L.
Bergman, 1971, “The Location of Emer-
gency Service Facilities”, Operations
Research, 19, 1363-1373.
[9]Walker, W. E., 1974, “Using the Set Cover-
ing Problem to Assign Fire Companies to
Fire Houses”, Operations Research, 22, 275-
277.
29
Spectrum
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Simulação de Vôo de Baixo Custo – Uma Ferramenta para Muitas Aplicações
Com os avanços tecnológicos obtidos
na última década, observou-se a
mudança das aplicações que eram
utilizadas totalmente em servidores dedicados
para a plataforma de computadores pessoais,
sejam em redes ou isolados.
Essa tecnologia relativamente barata
convencionou-se chamar de plataforma de bai-
xo custo. Quando são utilizados simuladores de
vôo nessas plataformas tem-se a simulação de
vôo de baixo custo. Os simuladores de vôo po-
dem ser classificados de acordo com o objetivo
a ser atingido[1], sendo o simulador de vôo de
baixo custo caracterizado por possuir software
que permite visualizar o ambiente e representar
o painel da aeronave, simulando o seu desem-
penho em vôo. Atualmente, é utilizado em con-
junto com hardware genérico para a recriação
de uma nacele, sendo o painel da aeronave
visualizado através de um monitor de computa-
dor, tela de cristal líquido ou projetores.
Com o poder de processamento dos atuais
PCs tem-se acesso a uma tecnologia ainda pou-
co explorada no universo da instrução aérea da
FAB e, até mesmo, na área de Comando e Con-
trole.
Devido ao aumento dos recursos
computacionais, várias melhorias foram acres-
centadas na simulação de baixo custo, manten-
do-se uma excelente relação custo-benefício. Um
sistema gerado por este tipo de simulação custa
na ordem de US$ 5000.00 até 200000.00, o que
é aproximadamente 10% do valor de um simu-
lador completo de uma aeronave que não pos-
sua os sistemas aviônicos mais modernos.
Obviamente, a simulação de baixo custo
não é substituta dos simuladores de vôo com-
pletos, pois o foco deste tipo de tecnologia é a
manutenção da consciência situacional do pilo-
to e não a capacidade de operar todos os siste-
mas disponíveis na aeronave.
Sabe-se que a consciência situacional é a
capacidade que um piloto tem de compreen-
der o mundo ao redor da aeronave, bem como
saber o que está acontecendo em ambos. Ca-
pacitar um piloto de-
manda tempo e recur-
sos, através de horas de
vôo. Pode-se reduzir boa
parte desse treinamento
necessário na aeronave,
por intermédio do uso
de simuladores de vôo e
simuladores de baixo
custo. Utilizando esta
tecnologia obtêm-se al-
gumas vantagens:
1- Na Instrução Aérea• Aumento do pre-
paro de missão dos pi-
lotos – Por meio de um
vôo “mental” apoiado
pela simulação. Existem
diversos softwares dispo-
níveis no mercado a pre-
ços abaixo de US$ 50.00 que recriam os ce-
nários de aeroportos do mundo inteiro, sendo
que alguns possuem cenários geo-específicos
com grande fidelidade e fazem uso de ima-
gens de satélite. Exemplificando, há o Microsoft
Flight Simulator 2004[2] que possui cenários
do Brasil, feitos por uma empresa nacional[3],
que retratam com fidelidade a Base Aérea de
Santa Cruz, Galeão, Barbacena e outras loca-
lidades de interesse da FAB, além de possuir a
capacidade de treinamento em vôo por instru-
mentos, seja com joystick do tipo manche ou
yoke, seja com uma nacele adaptada para esse
tipo de tecnologia[4] ou simplesmente o com-
putador, teclado e mouse. Outro exemplo é o
simulador X-Plane[5], que possui praticamen-
te os mesmos recursos que o Flight Simulator,
mas permite ser executado em outros sistemas
operacionais além do Microsoft Windows e
O Major Aviador Henrique
Costa Marques é Líder de Esqua-
drão de Caça, tendo sido instru-
tor do 2°/5°GAv. Possui o Curso
de Especialização em Análise de
Sistemas e atualmente cursa o
Programa de Pós-Graduação em
Aplicações Operacionais
(PPGAO), na área de Comando
e Controle, do Instituto
Tecnológico de Aeronáutica.
Henrique Costa Marques - Maj AvPPGAO (Mestrando em Comando e Controle)
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○30
Spectrum
possui uma arquitetura mais aberta que o seu
concorrente. Na figura 1, podemos observar
uma aeronave T-27 Tucano no cenário da Aca-
demia da Força Aérea, no X-Plane.
Figura 1 – T-27 na AFA
Esse tipo de simulação permite ao cadete
usar seu computador pessoal para realizar os
procedimentos de subida, manobras e acro-
bacias, descida da área, vôo por instrumentos
e navegação, tudo isso consultando o seu ma-
nual e podendo parar a simulação para tirar
alguma dúvida pendente. Claramente, obser-
va-se o potencial de tal ferramenta na instru-
ção básica de pilotos. Na figura 2, pode-se
observar o painel do T-25. Na figura 3, vê-se o
A-1 decolando da Base Aérea de Santa Cruz,
no Flight Simulator 2004.
Figura 2 - Painel do T-25 no X-Plane
• Demonstração de conceitos – Utilizan-
do simuladores como estes, podemos gerar uma
missão, com uma ou várias aeronaves, e exe-
cutar em modo de demonstração durante um
apronto de fase na instrução aérea, sendo pos-
sível congelar a execução e mostrar detalhes
que o piloto precisaria ver durante um vôo real.
Para brifins de missão, essa ferramenta permite
que o instrutor mostre claramente para onde o
aluno deverá olhar em determinado momento
do vôo, situação nem sempre possível em ae-
ronaves cujo instrutor está assentado atrás do
aluno. Missões pré-programadas poderiam ser
disponibilizadas para os alunos realizarem em
seus momentos de estudo, reduzindo a surpre-
sa e aumentando a segurança do aluno, fator
preponderante numa instrução aérea. Na figu-
ra 4, observamos um A-29 na área do estande
de Maxaranguape (Natal – RN ), no Flight
Simulator 2004.
Figura 4 – Vista geral do estande.
•Cursos on-line - Seria possível realizar a
parte básica de um curso de liderança através
de uma rede de computadores, pois esse tipo
de simulação permite a comunicação entre os
pilotos através de voz sobre IP (uso de microfone
no computador com transmissão de voz pela
rede). No ano de 2003, este autor pôde verificar
a validade de um vôo em formação, através da
internet, quando foram realizados vôos de for-
matura básica e tática com alunos não militares.
Figura 3 – A-1 decolando.
31
Spectrum
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Primeiramente com 2 e depois com 4 aerona-
ves, os pilotos mantinham-se em comunicação
bilateral durante todo o vôo, aprendendo a
fraseologia e os tipos de formatura. Em poucas
missões, os alunos já conseguiam manter as po-
sições desejadas e tinham visivelmente a percep-
ção espacial necessária para iniciarem um vôo
real. Foram recrutados pilotos de um esquadrão
virtual[6], que já possuíam costume de voar atra-
vés da Internet, mas não conheciam as formatu-
ras operacionais no padrão utilizado, à época,
na formação do piloto de caça da FAB. O simu-
lador utilizado para essa instrução foi o IL-2
Sturmovik [7], que modela o passo da hélice,
enriquecimento da mistura e muitos aspectos de
uma aeronave a pistão do tempo da Segunda
Guerra Mundial (no caso, a aeronave P-47
Thunderbolt). A figura 5 mostra um dos treina-
mentos on-line realizados.
Figura 5 – Vôo on-line.
2 - Em aplicações operacionais• Criação de doutrina – através de uma
rede de computadores pessoais com 4 estações
configuradas para aeronaves do tipo A-29 e
uma configurada para um R-99A, poder-se-ia
verificar a capacidade de integração de uma
esquadrilha com data-link sendo vetorada para
determinado tipo de missão. Colocando-se
outra aeronave ou formação na mesma área,
poder-se-ia gerar uma manobra, observando-
se comportamentos e verificando-se a viabili-
dade da doutrina definida, sem o consumo de
horas de vôo.
• Avaliação operacional – através de si-
muladores de aeronaves modernas, não dis-
poníveis no acervo da FAB, pode-se ter uma
noção do potencial da aeronave em questão,
sua gama de armamentos, algumas doutrinas
de uso do equipamento e, conseqüentemente,
abstrair suas vantagens e desvantagens em re-
lação ao equipamento disponível na FAB. Si-
muladores como o Enemy Lock-On[8] permi-
tem que se possa voar aeronaves russas e nor-
te-americanas com seus equipamentos, como
FLIR, Helmet Mounted display, mísseis de al-
cance além do horizonte, radares embarcados,
armamentos inteligentes e muitas outras capa-
cidades.
• Avaliação de planejamentos – Esses si-
muladores também permitem que sejam pla-
nejadas missões, e até mesmo campanhas,
onde é possível alocar recursos de defesa de
ponto, alarmes aéreos antecipados, montar
pacotes de missão e verificar como seria o de-
senrolar de uma manobra completa, confir-
mando os índices esperados de sucesso ou
mostrando deficiências no planejamento das
missões. A figura 6 mostra um planejamento
de missão simulada e a figura 7 retrata um
momento da simulação.
Figura 6 – Planejamento de missão.
É possível perceber como esse tipo de fer-
ramenta pode apoiar vários estudos importan-
tes para a arma aérea, sobretudo na forma do
homem pensar, julgar, planejar e analisar os
resultados obtidos com recursos de baixo cus-
to de aquisição.
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○32
Spectrum
Figura 7 – Mirage 2000 durante simulação.
A simulação de vôo de baixo custo já é
realidade na FAB. Podemos usar como exem-
plo o aplicativo PILOTT[9] em uso pelas uni-
dades de A-1. O PILOTT permite aos pilotos
treinar o raciocínio espacial, bem como refor-
çar a avaliação das condições em que a aero-
nave se encontra durante a trajetória de em-
prego do armamento. Permite o treinamento
dos passes de emprego, em um estande virtu-
al, com os acertos sendo informados após cada
passe, sendo possível rever toda a trajetória do
vôo realizado para debrifim da missão. Tam-
bém permite que se posicione a aeronave em
diversas situações, a fim de que o piloto saiba
corrigir a tempo de permitir um emprego cor-
reto do seu armamento. Cabe ressaltar que esse
aplicativo é executado em um notebook, (com
sistema operacional LINUX), facilitando a sua
utilização mesmo com a unidade desdobrada.
Sem dúvidas, com o aumento do poder
de processamento e recursos computacionais
dos computadores pessoais, muitas aplicações
surgirão para facilitar ainda mais a capacitação
técnica e operacional dos profissionais da FAB,
a fim de que se possa ter uma força melhor
preparada para os desafios que surgirão, frutos
de uma evolução tecnológica em todo o pla-
neta.
Cabe-nos introduzir a cultura de utilizar
tais ferramentas para apoiar a instrução aérea,
o planejamento de missões operacionais e a
geração de doutrinas, com evidente redução
de custos e aprimoramento de técnicas, devi-
do a uma melhor capacitação antes do
engajamento na atividade real.
Como se aprende nas escolas de forma-
ção de pilotos de combate, “Você Luta Como
Treinou!!!”, as equipagens estarão com um
melhor preparo de missão (conhecendo a si
mesmos) e planejamento adequado dos recur-
sos, de acordo com o cenário (conhecendo
melhor o inimigo), alcançando maiores índi-
ces de probabilidade de sucesso. Já dizia Sun
Tzu!
Referências[1] MARQUES, Henrique Costa:
Sistematização do Processo de Geração
de Cenários Visuais para Simuladores de
Vôo de Interesse do CCA-SJ. ITA, pág. 12,
2001.
[2] Simulador Microsoft Flight Simulator
2004, www.microsoft.com/brasil/games/
fs2004/. Acesso em 10 maio 2005.
[3] Empresa Worldsceneries,
www.worldsceneries.com/xws . Acesso
em 10 maio 2005.
[4] Empresa Elite, www.flyelite.com/ . Acesso
em 10 maio 2005.
[5] Simulador X-Planes, www.x-plane.com e
www.x-plane.org . Acesso em 10 maio
2005.
[6] Esquadrão Jambock Virtual,
www.jambock.com . Acesso em 10 maio
2005.
[7] Simulador Il2 Sturmovik Forgotten Battles,
www.il2sturmovik.com . Acesso em 10
maio 2005.
[8] Simulador Enemy Lock On, www.lo-
mac.com . Acesso em 10 maio 2005.
[9] Empresa Compro Computer. Aplicativo
PILOTT, www.compro.net . Acesso em 16
maio de 2005.
33
Spectrum
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
O Major Aviador Hélcio
Vieira Junior é Líder de esqua-
drão de Caça e instrutor de
aeronave A-1 com 1000 horas
de caça.
Concluiu o CFOAv em
1991, possui o Curso Básico
de GE - 1988; Mestrado em
Engenharia de Produção - ên-
fase em Pesquisa Operacional
pela COPPE/UFRJ - 2003;
EAOAR - 2004; e Extensão em
gerência de Projetos pela Fun-
dação Getúlio Vargas - 2004.
Trabalha atualmente na Seção
de Análise Operacional do
CGEGAR.
Introdução
AAviação de Caça da Força Aérea Bra-
sileira sempre se preocupou em ava-
liar a eficiência operacional de seus
pilotos, com a III FAe determinando padrões
mínimos a serem alcançados tanto pelas Uni-
dades Aéreas quanto pelos pilotos integrantes
das mesmas. Porém, a abordagem utilizada
pelos diversos Esquadrões para a classificação
de seus pilotos nem sempre se mostrou unifor-
me, variando de acordo com o julgamento dos
seus Oficiais de Operações apoiados/ratifica-
dos pelos seus Comandantes.
O objetivo deste trabalho é introduzir o
conceito de DEA (Data Envelopment Analysis
– Análise Envoltória de Dados) e sugerir seu
emprego como uma ferramenta para padroni-
zar a mensuração da Eficiência Operacional
individual ou em grupo, no Comando da Ae-
ronáutica.
Este artigo está estruturado da seguinte
maneira: no capítulo dois, a metodologia DEA
é apresentada; um estudo de caso, onde os
dados da taça eficiência de uma Unidade Aé-
rea são avaliados utilizando o DEA, é descrito
no capítulo três; e o capítulo quatro compre-
ende nossas conclusões.
DEA
“Recentemente, temos visto uma grande
variedade de aplicações de DEA para avaliar
as performances de diferentes tipos de entida-
des engajadas em diferentes tipos de ativida-
des, em muitos diferentes contextos, em mui-
tos diferentes países ... Exemplos incluem as
atividades de manutenção da Força Aérea
Americana em diferentes bases, ou da Força
Policial na Inglaterra e País de Galles; as
performances de filiais de bancos em Cyprus e
Canadá; e a eficiência de Universidades em
Eficiência Operacional - Uma análise mais modernaHélcio Vieira Junior – Maj Av
CGEGAR
realizar suas funções de educação e pesquisa
nos Estados Unidos da América, na Inglaterra
e na França.” [1]
“Análise Envoltória
de Dados (DEA) é uma
técnica baseada em pro-
gramação linear para a
mensuração da
performance relativa de
organizações, onde a pre-
sença de múltiplos inputs
e outputs torna a compa-
ração difícil. O DEA pro-
vê meios de avaliar a efi-
ciência relativa destas or-
ganizações com mínima
assunção prévia das rela-
ções inputs/outputs das
organizações.” [2]
Podemos definir,
tecnicamente, eficiên-
cia como a razão entre
o produzido (outputs) e
os recursos necessários
para a sua produção
(inputs). Quando temos
apenas um input e um
output, a obtenção da
eficiência é um mero
exercício de cálculo,
porém, quando traba-
lhamos com vários inputs e outputs, a sua
medida não se apresenta tão simples. A efi-
ciência com múltiplos inputs e outputs é
mensurada pela criação de inputs e outputs
compostos: a média ponderada de todos
os inputs e outputs.
O grande problema é a arbitragem dos
pesos que serão utilizados para a obten-
ção desta média ponderada. Pesos fixos de-
monstraram não serem uma boa solução,
visto que assumem não haver substituição
ou flexibilidade entre os diversos outputs
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○34
Spectrum
e inputs. Por exemplo, o 1º/16º GAv, pro-
vavelmente terá um rendimento superior
em ataque ao solo que o 1º GAC,
visto que esta é sua princi-
pal missão, enquanto o
1º GAC tem uma
missão dupla:
tanto defesa
aérea quanto
ataque ao
solo. Se arbi-
t rarmos que
ataque ao solo
terá um peso grande,
provavelmente, o 1º /
16º GAv será mais bem avaliado
que o 1º GAC. Em contrapartida, se resol-
vermos que defesa aérea terá peso maior
que ataque ao solo, os papéis se inverte-
rão, tendo o 1º GAC a melhor avaliação.
Como definir qual input/output tem mais
importância? No exemplo acima, o que tem
mais importância, ataque ao solo ou defe-
sa aérea? A resposta variará de acordo com
quem for respondê-la. Acredito que os mais
sábios e centrados responderão que depen-
de da situação!
É exatamente neste ponto que entra a
metodologia DEA para avaliar instituições.
O método arbitra pesos de modo que a ins-
tituição, que, a partir de agora, denomina-
remos DMU (Decision Making Unit – Uni-
dade Tomadora de Decisão), tenha a maior
eficiência possível. Voltando ao exemplo
acima, o 1º/16º GAv teria no output ataque
ao solo peso muito grande, enquanto o
1º GAC teria, provavelmente, um peso me-
nor em ataque ao solo e um peso maior em
defesa aérea, ou seja, as duas DMU (1º/
16º GAv e 1º GAC) seriam avaliadas e com-
paradas, cada uma com um conjunto de
pesos diferentes para seus inputs/outputs.
Este tipo de avaliação afirma que, se
alguma DMU com certo input X1 consegue
atingir um output X2, outras DMU traba-
lhando com o mesmo input e o
mesmo nível tecnológico,
também são factíveis de
atingir o output X2.
Por exemplo, se
o Esquadrão A,
que opera aero-
naves A-1, com
um treinamento
de 4000 horas/
ano consegue uma
média de 70% na moda-
lidade Tiro Terrestre, o Esqua-
drão B, que também opera aero-
naves A-1, se possuir as idênticas 4000 ho-
ras/ano, também poderá conseguir a mes-
ma média. Na figura 1, podemos observar
o exemplo acima, onde o Esquadrão B, pos-
suindo uma média de 55%, para ser consi-
derado eficiente, teria de aumentá-la para
os 70% conseguidos pelo Esquadrão A. Ob-
serve, também, que o Esquadrão C, opera-
dor do mesmo tipo de aeronave (A-1), ape-
sar de possuir uma média de 80% (maior
que a do Esquadrão A), também é conside-
rado ineficiente. Isto se deve por essa Uni-
dade ter tido 6000 horas/ano de treinamen-
to. O aumento do input do Esquadrão C não
foi justificado pelo seu aumento do output,
35
Spectrum
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
isto é, houve muito aumento das horas de
vôo para pouco aumento da média do TT. A
linha que passa pelo Esquadrão A é deno-
minada fronteira da eficiência, e representa
a melhor razão output/input, sendo que to-
das as demais DMU devem se esforçar para
alcançá-la.
Em DEA, é atribuída eficiência 100%
à DMU que tem a melhor razão output por
input, sendo que, às outras DMU que não
possuem tal eficiência, é atribuído um va-
lor menor que 100%, que é proporcional
ao quanto as mesmas devem melhorar seus
outputs, ou então, diminuir seus inputs. Na
figura 1, os valores que os Esquadrões B e
C devem aumentar em seu output são re-
presentados pelas setas que ligam os mes-
mos à fronteira da eficiência.
Estudo de caso
Para o estudo de caso foi realizada a
avaliação DEA dos dados da taça eficiência
(torneio interno entre os pilotos) do 1º/
16º GAv realizada no ano de 2000.
Os quatorze pilotos foram avaliados
conforme diretrizes determinadas pelo Co-
mando Superior – III FAE, nas seguintes mo-
dalidades: Bombardeio Rasante de Baixo Ar-
rasto (RB), Bombardeio Rasante de Alto Ar-
rasto (RA), Lançamento de Foguetes (LF),
Bombardeio Nivelado (BN), Bombardeio Pi-
cado (BP) e Tiro Terrestre (TT). Os resulta-
dos obtidos nas diferentes modalidades de
emprego foram utilizados como dados de
output para a avaliação DEA.
Após análise, obtivemos como resul-
tado a tabela 1, onde nas colunas temos os
quatorze pilotos, e nas linhas as diferentes
modalidades avaliadas e a eficiência dos pi-
lotos. A interseção das linhas com as colu-
nas mostra qual o peso foi atribuído pelo
programa de análise DEA às modalidades
por piloto. Por exemplo: o piloto A teve,
como eficiência máxima possível, 34%. Para
ter esta máxima eficiência, o programa DEA
atribuiu* os seguintes pesos: 3.24 para LF,
4.18 para BP e 0.00 para as demais modali-
dades. Observe que a tabela 1 não lista os
dados brutos (resultado dos pilotos nas di-
versas modalidades) e sim o peso que o pro-
grama DEA atribuiu aos outputs (modalida-
des).
Convém ressaltar que a eficiência DEA
não é uma medida absoluta, e sim relativa,
isto é, a mesma não mede as DMU em rela-
ção a um padrão externo, mas em compa-
ração com as demais DMU. Por exemplo,
na tabela 1, o piloto D teve como eficiên-
cia DEA 83%. Isto não quer dizer que o mes-
mo atingiu 83% das metas estabelecidas
pela III FAe e sim que, em comparação com
a razão outputs por inputs atingidos pelos
demais pilotos, ele só conseguiu 83% do
que os demais obtiveram.
Podemos notar que vários pilotos tiveram
100% de eficiência. Isto se deve à liberdade
que o DEA tem de atribuir pesos aos inputs/
outputs, com o objetivo de determinar qual a
maior eficiência possível daquela DMU.
A fim de que possamos classificar as
DMU, usaremos a técnica denominada
Avaliação Cruzada, onde cada DMU é ava-
liada, além de por seus próprios pesos óti-
mos, também pelos pesos ótimos das ou-
tras DMU. Na tabela 2 temos a Avaliação
Cruzada, onde a DMU da linha x está sen-
do avaliada com os pesos ótimos da DMU
da coluna y. Por exemplo, o piloto D, ava-
liado pelos pesos ótimos do piloto B, teve
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como eficiência 59%.
Após classificarmos as DMU pelas
médias da Avaliação Cruzada, obtemos a
tabela 3, onde podemos verificar a classi-
ficação DEA versus a classificação origi-
nal feita pelo Esquadrão Adelphi. Na clas-
sificação original da Unidade, os pilotos
foram ranqueados pela soma algébrica dos
seus outputs nas diferentes modalidades.
Tabela 3. Classificação DEA x Classifica-
ção da Unidade.
Observe que, apesar de ter ocorrido
uma troca de até cinco posições entre o
rank DEA e o rank original da UAe, a gran-
de maioria dos pilotos teve sua classifica-
ção modificada em apenas uma ou duas
posições . I s to nos most ra que a
metodologia DEA não produz classifica-
ções esdrúxulas e sem lógica, onde, por
exemplo, uma DMU que foi bem classifi-
cada por um método alternativo teria sua
classificação DEA muito ruim.
Conclusão
A Análise Envoltória de Dados mos-
trou-se eficaz na avaliação interna de uma
Unidade Aérea. Neste estudo de caso, foi
considerado como input, para todos os pi-
lotos, o valor constante 1, ou seja, só fo-
ram analisados os outputs dos pilotos, o
que é uma subutilização da metodologia.
Como exemplo de inputs possíveis de se-
rem utilizados na avaliação de uma taça
eficiência, pode-se considerar: a experiên-
cia do piloto (tempo na Unidade Aérea), o
número de missões válidas, o resultado na
fase de treinamento, etc... Com isto estarí-
amos medindo quão bem um piloto com
maior experiência, maior número de mis-
sões e melhor resultado no treinamento
conseguiria resultados melhores nas dife-
rentes modalidades que um piloto recém
chegado na Unidade.
Mantendo este mesmo enfoque, tam-
bém é possível medir quão bem uma Uni-
dade que recebeu mais horas de vôo em
determinado ano conseguiu melhores re-
sultados que as demais; quão melhor um
ESM (Esquadrão de Suprimento e Manuten-
ção) com maior efetivo e maior capital
alocado consegue índices de manutenção
melhores que outros ESM com menores
inputs; etc...
Como outras possíveis utilizações da
metodologia DEA no Comando da Aero-
náutica, listamos:
·Avaliação de aeronaves;
·Avaliação de sistemas aviônicos;
·Avaliação de armamentos;
37
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○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
·Avaliação de serviços de manutenção;
·Avaliação de Unidades Aéreas de uma
Força Aérea;
·Avaliação de Forças Aéreas; e
·Avaliação temporal do Comando da
Aeronáutica como um todo, ou seja, a va-
riação da eficiência do COMAER ano a
ano.
A utilização de técnicas mais eficien-
tes e modernas na avaliação da FAB, em
especial a metodologia DEA, com certeza
só traria ganhos operacionais, na medida
de ident i f icar DMU ef ic ientes e
ineficientes, e acima de tudo, padronizar
métodos para a avaliação operacional.
Bibliografia
[1] Cooper, William W., Lawrence M.
Seiford, Kaoru Tone (2000). Data Envelop-
ment Analysis: a comprehensive text with
models, applications, reference, and DEA-
Solver software. Boston: Kluwer.
[2] Han Kook Hong et al (1999). Evaluating
the efficiency of system integration
projects using data envelopment analysis
(DEA) and machine learning. Publicado
no Expert Systems with Applications 16
(1999) pp 283-296. Korea.
Além da bibliografia referenciada no tex-
to, recomendamos a leitura das
obras abaixo para uma melhor
compreensão do assunto:
[A] Marcos Pereira
Estellita Lins, Lidia
Angulo Meza (2000).
Análise envoltória de dados e
perspectivas de integração no
ambiente do Apoio à Decisão. Rio de
Janeiro: COPPE/UFRJ.
[B] Roll, Y., Golany, B., Seroussy, D. (1989).
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European Journal of Operational Research
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[C] William, F. Bowlin (1987). Evaluating the
Efficiency of US Air Force Real-Property
Maintenance Activities. Publicado no
Journal of the Operational Research
Society 38/2 (1987) pp. 127-135.
Inglaterra: Operacional Research Society
Ltd.
* O programa DEA utiliza como ferramen-
ta para a obtenção dos pesos para os diversos
inputs/outputs um Problema de Programação
Linear (PPL). O PPL é um procedimento de
otimização utilizado na Pesquisa Operacional
cuja principal técnica de resolução é o
algoritmo SIMPLEX. A solução deste PPL gera
um conjunto de pesos que, multiplicados pe-
los inputs/outputs correspondentes, propicia a
maior eficiência possível à DMU avaliada. A
única restrição imposta a este conjunto de pe-
sos é que as demais DMU, quando julgadas
com este conjunto ótimo de pesos da DMU
avaliada, deverão ter como eficiência máxima
o limite de 100%.
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○38
Spectrum
Introdução
O s aspectos do processo de
aprendizado em áreas de alta
tecnologia, como a Guerra Eletrô-
nica, têm como base a prática e o trabalho
desenvolvido pelos próprios estudantes. A par-
ticipação ativa, dinâmica e interativa está liga-
da à existência de um ambiente científico que
pode ser obtido na instituição de ensino mili-
tar especializado a medida que as atividades
laboratoriais se tornam mais freqüentes, sim-
ples, modernas e prazerosas [1].
Neste contexto, o computador pode se
tornar uma ferramenta pedagógica de amplas
aplicações. Sua rápida evolução, nas últimas
décadas, tem provocado mudanças significa-
tivas nos processos utilizados pelos profissio-
nais de diferentes áreas na busca de soluções
para os seus problemas, fazendo uso da imen-
sa capacidade e flexibilidade que o mesmo
proporciona [2]. A partir desta constatação cria-
se a seguinte expectativa: Como extrair o má-
ximo destas máquinas como elemento ativo no
processo ensino-aprendizagem?
Neste artigo mostraremos as
potencialidades do desenvolvimento de um
Laboratório de Processamento de Sinais Radar
Assistido por Com-
putador, usando os
recursos humanos
e materiais dispo-
níveis no Coman-
do da Aeronáutica.
O Laboratório e aEvolução do seu
Instrumental.A aquisição,
análise e represen-
tação de dados são
Laboratório de Processamento de Sinais Radar Assistido por Computador:Uma Nova Perspectiva para o Ensino de Guerra Eletrônica na FAB.
Alexandre Camacho Coelho - 1º Ten Esp ComPPGAO (Mestrando em Guerra Eletrônica)
funções básicas da maioria dos aparelhos de
medida existentes nos laboratórios modernos,
sejam eles multímetros, geradores de forma de
onda, osciloscópios, ou
até outros mais sofistica-
dos como fontes digitais
p r o g r a m á v e i s ,
analisadores de espectro,
etc.
A evolução da
informática tem possibili-
tado concretizar a união
entre hardware e software
necessária à comunicação
com e entre os aparelhos
de uma forma interativa.
Surgiu então o conceito de
instrumento virtual (VI –
Virtual Instrument), que
introduziu uma flexibilida-
de até então inexistente,
uma vez que o usuário
passa a poder criar banca-
das de medida (Figura 1)
em função de suas neces-
sidades, combinando to-
dos os elos do sistema
(hardware, software e
acessórios) de forma a
atender a sua aplicação
específica. [3]
Laboratório deProcessamento de Sinais
Eletromagnéticos(ITA/GITE)
O Laboratório de pesquisa em Guerra Ele-
trônica e Vigilância Eletromagnética da Ama-
zônia, inaugurado no CTA/ITA no dia 05 de
março de 2001 (Figura 2), foi edificado por
meio da ação conjunta do DEPED (Departa-
mento de Pesquisas e Desenvolvimento),
O Tenente Alexandre é Es-
pecialista em Comunicações,
concluiu o CFOE Com em 1998.
Já exerceu os cargos de Chefe da
Seção de Meios Técnicos, Co-
mandante do Destacamento de
Proteção ao Vôo de Boa Vista,
bem como o cargo de Chefe da
Seção Administrativa e da Seção
de Operações do Destacamento
de Controle do Espaço Aéreo de
Boa Vista. É Licenciado em Físi-
ca pela Universidade Federal de
Roraima e Especialista em Aná-
lise de Ambiente Eletromagnéti-
co pelo Instituto Tecnológico de
Aeronáutica (ITA). Atualmente
cursa o mestrado em Guerra Ele-
trônica do Programa de Pós-Gra-
duação em Aplicações
Operacionais - PPGAO (ITA),
com graduação prevista para
dezembro de 2006.
Figura 1 – Bancada de Medida Usando VI [4].
39
Spectrum
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COMGAR (Comando Geral de Operações Aé-
reas) e CCSIVAM (Comissão para Coordena-
ção do Sistema de Vigilância da Amazônia). [5]
Figura 2 – Inauguração do Laboratório de Pesquisa em Guerra Eletrônica eVigilância Eletromagnética da Amazônia [4].
Desenvolver atividades de pesquisa em
ciência e tecnologia, dentro de um programa
de formação de recursos humanos e aprimo-
ramento da base operacional, científica e
tecnológica do SIGEA (Sistema de Guerra Ele-
trônica da Aeronáutica), constitui um dos ob-
jetivos da criação deste laboratório.
Dentro do processo de consolidação da
base de recursos humanos do SIGEA, o Labo-
ratório de Pesquisa em Guerra Eletrônica e Vi-
gilância Eletromagnética da Amazônia recebeu
do COMGAR um conjunto de equipamentos
para ensino de Guerra Eletrônica na área de
radar, denominado Radar Training System (Fi-
gura 3), fabricado pela Lab-Volt Systems, com
um investimento da ordem de US$ 200.000.00.
O Radar Training System possibilita a exe-
cução de experiência real no uso de radar para
detecção e rastreio de alvos, permitindo a ope-
ração de um sistema de radar ativo em tempo
real, dentro de um laboratório e de forma se-
gura pelo uso de baixos níveis de potência.
Seu conceito modular permite que sejam es-
tudados vários tipos de radar e suas técnicas
de processamento de sinais, sejam elas
analógicas ou digitais.
Figura 3 – Lab-Volt Radar Training System.
O Grupo de Instrução Tática e Especi-
alizada (GITE) também foi contemplado pelo
COMGAR com o Radar Training System (uma
versão básica contendo os subsistemas
analógico e de rastreio) e a Escola de Especia-
listas de Aeronáutica (EEAr) disponibilizou no
Galpão de Eletrônica praticamente todo o pa-
cote da área de radar, bem como outros siste-
mas da área de telecomunicações e eletrôni-
ca, adquiridos junto à empresa Lab-Volt.
Laboratório de Processamento de SinaisEletromagnéticos Assistido por Computador
Este acervo, por si só constitui uma evo-
lução, se não uma revolução, em termos de
infra – estrutura para a capacitação de re-
cursos humanos em Guerra Eletrônica (GE)
no Comando da Aeronáutica. Entretanto,
por meio de recursos tecnológicos disponí-
veis no Brasil, é possível multiplicar a
efetividade destas ferramentas, bem como
torná-las acessíveis, em tempo real, para
outras instituições de ensino militar especi-
alizado tais como a AFA na instrução de GE,
o CIAAR nas disciplinas de Microondas e
Radar do Curso de Formação de Oficiais
Especialistas em Comunicações, o ICEA no
Curso Básico de Manutenção de Radar e os
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Spectrum
CINDACTAS nos Cursos Básicos de Manu-
tenção de Radar disponibilizado pelas Se-
ções de Instrução e Atualização Técnica –
SIAT. Este conceito, que envolve a manipu-
lação e visualização de experimentos
monitorados e controlados à distância uti-
lizando a intranet do Comando da Aeronáu-
tica (INTRAER), se materializaria no que po-
deria ser denominado como Laboratório de
Acesso Remoto para o Ensino de Guerra Ele-
trônica (Figura 4).
Figura 4 – Laboratório de Acesso Remoto para o Ensino de GuerraEletrônica.
Um projeto desta natureza possuiria um
nível de complexidade considerável uma vez
que envolveria a transmissão de dados em tem-
po real, inclusive imagem, e compartilharia
meios de comunicação (TELESAT) com outros
sistemas (Rede Mercúrio, Acantus, etc.) com
variados graus de prioridade. Entretanto, um
passo inicial para o seu desenvolvimento po-
deria ser a implementação de um projeto de
automação de experimentos que passaremos
a denominar: “Laboratório de Processamento
de Sinais Radar Assistido por Computador” (Fi-
gura 5).
O Laboratório de Processamento de Sinais
Radar Assistido por Computador seria compos-
to pelos seguintes sistemas:
- Sistema de Treinamento Radar Básico –
Lab-Volt;
- Sistema de Treinamento de Guerra Ele-
trônica – Lab-Volt;
- Sistema de Geração de Ameaças –
TS100+ Excalibur;
- Sistema de Treinamento de Antenas; e
- Sistema de Medidas de RCS e
Imageamento ISAR.
Qualquer projeto que se pretenda de-
senvolver envolve a disponibilização de re-
cursos humanos e materiais para a sua
viabilização. O ITA, com seus cursos de
Graduação e Pós-Graduação, possui o me-
lhor em termos de recursos humanos (co-
nhecimento e motivação) e o Laboratório
de Processamento de Sinais Eletromagné-
ticos dispõe de um excepcional acervo de
instrumentos, equipamentos e softwares
com caracter í s t icas necessár ias à
automação de medidas. Estes fatores res-
saltam a excelente relação custo/benefício
deste empreendimento.
É interessante destacar que o conhe-
cimento que seria adquirido com a reali-
zação deste projeto está intimamente liga-
do ao necessário desenvolvimento de um
Estande de Guerra Eletrônica, ou seja, pro-
porcionaria a formação de elementos com
conhecimentos que os tornariam de gran-
de valor para o Sistema de Guerra Eletrô-Figura 5 – Laboratório de Processamento de Sinais Radar Assistido porComputador.
41
Spectrum
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nica da Aeronáutica (SIGEA) dentro do con-
texto da a t iv idade de aval iação
operacional.
Conclusão
O SIGEA tem recebido especial atenção
do COMGAR, em função do reconhecimento
da importância da Guerra Eletrônica para o
cumprimento das missões de uma Força Aérea
no contexto da Guerra Moderna.
A excelência do ensino deve ser objetivo
constante dos setores responsáveis pela forma-
ção de recursos humanos e para atingir este
objetivo, na formação e aperfeiçoamento dos
nossos “Guerreiros Eletrônicos”, proporcionar
um ambiente pedagógico que permita tornar
a experiência de ensino o mais próxima da
futura realidade de trabalho é essencial.
A utilização do computador como ferra-
menta para a obtenção desta excelência atra-
vés da automatização em tempo real dos ex-
perimentos do Laboratório de Processamento
de Sinais Radar do ITA se apresenta como uma
proposta viável uma vez que o espaço físico,
equipamentos e instrumental já fazem parte do
acervo do laboratório, bem como os conheci-
mentos adquiridos pelos executores do proje-
to serem de aplicação prática em projetos de
avaliação operacional dos sistemas de guerra
eletrônica de nossas plataformas aéreas.
Bibliografia
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personal/pandre/pubs/detua_labview.pdf”
http://www.av.it.pt /collaborators/personal/
pandre/pubs/detua_labview.pdf>. Acesso
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4. PACHECO, Osvaldo R. et al.
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Disponível em: <http://event.ua.pt/
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Guerra Eletrônica e Vigilância
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sivam.gov.br/INFO/ un_10.htm>. Acesso
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6. COELHO, Alexandre C. Estudo das
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no CEAAE. São José dos Campos: ITA,
2003. 169 p.
Ontologia de Centros de Gravidade: Método Conexionista(continuação)
Contribuições do ITA para o Sistema de Ciência, Tecnologia e Inovaçãode Interesse da Defesa Nacional
(continuação)
ças amigas e prover informações essenciais.
Uma ou algumas dessas funções, ou todas
elas, podem ter um papel importante na co-
erção bem sucedida. Além disso, o poder
aéreo configura parcela substancial no cál-
culo das alternativas políticas, as quais in-
cluem a rápida solução de conflitos, ao ca-
nalizar seus esforços para os centros de gra-
vidade.
A maioria das forças aéreas, no entan-
to, tem dificuldade para utilizar o concei-
to de centros de gravidade, o que torna a
seqüência do planejamento incompleto e,
por conseguinte, acabam concentrando-se
no nível tático, em prejuízo do raciocínio
estratégico.
O poder aéreo revelou-se como uma
2002. http://www.cgee.org.br/eventos/
defesa.php
[2] Política de Defesa Nacional – Presidência
da República do Brasil. https://
www.defesa.gov.br/enternet/sitios/internet/
pdn/pdn.php)
[3] Nicolisky, R., “Inovação Tecnológica
Industrial e Desenvolvimento Sustentado”,
Parceria Estratégica, N 13, pp. 90-108,
dezembro, 2001.
[4] Ministério da Defesa – Ministério da
Ciência e Tecnologia “Concepção
Estratégica: Ciência, Tecnologia e
Inovação em Áreas de Interesse da Defesa
Nacional”, Brasilia, 10 de dezembro de
2003.
www.defesa.gov.br/enternet/sitios/internet/
eacademico/c&tdefesa/cti.pdf
arma estratégica, pois possui característi-
cas que o tornam mais apropriado para
atingir centros de gravidade. No entanto,
o uso desse potencial requer ontologia (co-
nhecimento, método, modelo e ferramen-
ta computacional), a fim de aumentar a
probabilidade de sucesso do processo de
identificação e análise de centro de gravi-
dade.
O método conexionista, apresentado
nesta publicação, segue uma orientação
axiológica de planejamento que se baseia
no paradigma do êxito.
“A estratégia de guerra é impor ao ini-
migo nossa própria vontade, destruindo sua
vontade ou sua capacidade de resistir”.
Este artigo é uma versão atualizada e am-
pliada do artigo sobre o mesmo tema publica-
do na Revista da Diretoria de Engenharia Ae-
ronáutica, Ano 11, N 21, pp. 52 - 62 (DIRENG,
2002)*
Visita dos professores do Ita ao COMGAR