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Rudinei Sérgio Pestana AVALIAÇÃO DE CICLO DE VIDA – UMA ANÁLISE CRÍTICA DA FERRAMENTA E SEU PAPEL NO PROCESSO DE GESTÃO AMBIENTAL. Dissertação apresentada ao Programa de Pós– graduação Stricto Sensu do Centro Universitário de Araraquara – UNIARA, como requisito básico para obtenção do Grau de Mestre em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente. Araraquara 2008

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Rudinei Sérgio Pestana

AVALIAÇÃO DE CICLO DE VIDA – UMA ANÁLISE CRÍTICA DA FERRAMENTA

E SEU PAPEL NO PROCESSO DE GESTÃO AMBIENTAL.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós–

graduação Stricto Sensu do Centro Universitário

de Araraquara – UNIARA, como requisito básico

para obtenção do Grau de Mestre em

Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente.

Araraquara 2008

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Rudinei Sérgio Pestana

AVALIAÇÃO DE CICLO DE VIDA – UMA ANÁLISE CRÍTICA DA FERRAMENTA

E SEU PAPEL NO PROCESSO DE GESTÃO AMBIENTAL.

Dissertação a ser apresentada ao Programa de

Pós–graduação Stricto Sensu do Centro

Universitário de Araraquara – UNIARA, como

requisito básico para obtenção do Grau de Mestre

em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente.

Área de concentração – Dinâmica Regional e

Alternativas de Sustentabilidade.

Orientador: Prof. Dr. José Luis Garcia Hermosilla.

UNIARA – Centro Universitário de Araraquara Araraquara/SP

2008

AGRADECIMENTOS

À Deus, que nos dá o dom da vida.

À UNIARA, pela oportunidade do mestrado.

À professora Dra. Vera Lúcia S. Botta Ferrante pelo apoio.

Ao professor Dr. José Luis Garcia Hermosilla, pela paciência e

dedicada atenção dispensada à orientação, apontando–me sempre o

melhor caminho para esta empreitada.

A todos meus amigos, professores, autores e profissionais de gestão

ambiental que muito me ajudaram no desenvolvimento deste trabalho.

À minha esposa e filhas, que com amor, carinho e paciência, souberam

compreender os momentos de ausência e fadiga durante esta

caminhada.

A todos meu muito obrigado !

DEDICATÓRIA

Dedico esta obra, acima de tudo, ao Grande Arquiteto do Universo, que é Deus.

Também a dedico a todos aqueles que

ao longo do tempo me ajudam a erguer e sustentar os pilares da minha vida.

À minha esposa Antonia,

por ser a melhor amiga e companheira de todas as horas, momentos bons e ruins, parte inseparável de minha

existência.

Às minhas filhas, Nathália e Júlia.

i

SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS .................................. .......................................................................... iii

LISTA DE TABELAS .................................. .......................................................................... iv

LISTA DE ABREVIATURAS ............................. .................................................................... v

RESUMO ............................................................................................................................. vii

ABSTRACT .......................................... .............................................................................. viii

CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO

1.1. Contextualização. ............................ ............................................................................. 1

1.2. Problemática. ................................ ................................................................................ 6

1.3. Objetivo. .................................... .................................................................................... 8

1.4. Justificativa. ............................... ................................................................................... 8

1.5. Metodologia de pesquisa ...................... ..................................................................... 11

1.6. Estrutura da dissertação ..................... ....................................................................... 12 CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV

2.1. Questões Ambientais: Dos debates e eventos à Ferramenta ACV. ....................... 14

2.2. Impacto Ambiental: Principais conceitos, orig em e evolução................................ 23

2.3. A Avaliação do Ciclo de Vida: Breve histórico e principais conceitos .................. 28

2.4. Usos e aplicações. ........................... ........................................................................... 31

2.5. Limitações da técnica. ....................... ......................................................................... 35

2.6. Normatização – A série ISO 14000. ............ ................................................................ 38

2.7. A Ecoeficiência. ............................. ............................................................................. 46 CAPÍTULO 3 – DESCRIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA FERRAME NTA ACV

3.1. Definição de objetivo e escopo ............... ................................................................... 50

3.2. Análise do inventário ........................ .......................................................................... 53

3.3. Avaliação de impacto do ciclo de vida: Métodos ..................................................... 56

3.3.1. EDIP ( Environmental Development of Industri al Product ) ........................... 56

3.3.2. Exergia .................................... ........................................................................... 57

3.3.3. Emergia .................................... .......................................................................... 57

3.3.4. CML 2 2000 ........................................................................................................ 58

3.3.5. Eco indicador 99 ........................... .................................................................... 59

3.3.6. Ecopontos suíços ........................... .................................................................. 60

3.3.7. EPS 2000 ............................................................................................................ 61

3.4. Limitações e diferenças dos métodos de avaliaç ão................................................. 62

3.5. Elementos opcionais de avaliação ............. ............................................................... 63

3.6. Interpretação dos resultados ................. .................................................................... 63

ii

CAPÍTULO 4 – ACV NO BRASIL

4.1. Trajetória ................................... .................................................................................. 65

4.2. Projeto Brasileiro ........................... ............................................................................. 72

4.3. Desafios da ACV no Brasil .................... ..................................................................... 75

CAPÍTULO 5 – CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS DA PESQUI SA

5.1. Tipo de Pesquisa. ............................ ........................................................................... 77

5.1.1. Quanto aos fins. ........................... ..................................................................... 77

5.1.2. Quanto aos meios de investigação ........... ....................................................... 78

5.2. Coleta de dados .............................. ............................................................................ 79

5.3. Tratamento de dados .......................... ........................................................................ 80

5.4. Limitações do Método ......................... ....................................................................... 80

CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

6.1. Apresentação de dados ........................ ...................................................................... 81

6.1.1. Dados Gerais ............................... ...................................................................... 81

6.1.2. ACV na Empresa Natura ...................... ............................................................. 82

6.1.3. A Pesquisa de Opinião ...................... ............................................................... 84

6.1.3.1. Na fase de Definição de objetivo e escopo do estudo. ........................... 85

6.1.3.2. Análise do inventário, a preparação para c oleta e a coleta de dados.... 89

6.1.3.3. Análise do inventário, durante a validação dos dados. .......................... 93

6.1.3.4. Análise do inventário, durante a alocação de fluxos e liberações. ........ 96

6.1.3.5. Na Avaliação do Impacto do ciclo de vida. ............................................ 100

6.1.3.6. Na Interpretação dos resultados do ciclo d e vida. ................................ 104

6.1.3.7. Na Emissão do Relatório do estudo de ciclo de vida. ........................... 107

6.1.3.8. Na Análise crítica, quando necessária ao e studo do ciclo de vida. ..... 108

6.1.3.9. Síntese da pesquisa de opinião. .......... ................................................... 110

6.2. Discussão da matéria e uma visão analítica. .. ........................................................ 112

CONSIDERAÇÓES FINAIS E RECOMENDAÇÓES

Considerações. .................................... ....................................................................... 118

Limitações da Pesquisa. ........................... .................................................................. 121

Recomendações e Sugestões de pesquisas futuras. ... ............................................ 122

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CITADAS ........................................... ........................................................................... 124

CONSULTADAS ....................................... .................................................................... 130

ANEXOS

ANEXO 1 – O Projeto Brasileiro de Inventário de Ciclo de Vi da ........................... 133 ANEXO 2 – Gestão da Sustentabilidade na Empresa NAT URA .................................... 142 ANEXO 3 – Formulário da Pesquisa de Opinião compila do ....................................... 1421

iii

LISTA DE FIGURAS

Pág.

Figura 1 – Fases de uma ACV (ABNT, 2001).......................................................... 30

Figura 2 – Ciclos de Vida de um Produto................................................................ 44

Figura 3 – Estrutura do formulário........................................................................... 84

Figura 4 – Gráfico do resultado da pesquisa de opinião para a fase de Definição

de objetivo e escopo............................................................................... 89 Figura 5 – Gráfico do resultado da pesquisa de opinião para a fase de Análise do

inventário – Preparação para a coleta e coleta de dados..................... 92 Figura 6 – Gráfico do resultado da pesquisa de opinião para a fase de Análise do

inventário – Validação dos dados........................................................... 95 Figura 7 – Gráfico do resultado da pesquisa de opinião para a fase de

Análise do inventário – Alocação dos fluxos e liberações............. 98 Figura 8 – Gráfico do resultado da pesquisa de opinião para a fase de

Análise do inventário – Geral da Análise do inventário................. 99 Figura 9 – Gráfico do resultado da pesquisa de opinião para a fase de

Avaliação do impacto do ciclo de vida – Resultados..................... 103 Figura 10 – Gráfico geral do resultado da pesquisa de opinião para a fase

de Interpretação dos resultados do ciclo de vida.......................... 106 Figura 11 – Gráfico geral do resultado da pesquisa de opinião para a fase

de Emissão do Relatório do ciclo de vida...................................... 107 Figura 12 – Gráfico geral do resultado da pesquisa de opinião para a fase

de Análise Crítica do ciclo de vida................................................. 110 Figura 13 – Gráfico do resultado geral da pesquisa de opinião....................... 112

Figura 14 – Gestão da Sustentabilidade Natura........................................................ 142 Figura 15 – Ciclo do Produto Natura......................................................................... 143 Figura 16 – Inventário Natura.................................................................................... 144 Figura 17 – Avaliação do Impacto Ambiental............................................................ 145 Figura 18 – Etapas ACV na Natura........................................................................... 146 Figura 19 – Inovação na produção de embalagem................................................... 147 Figura 20 – Alteração nas Embalagens..................................................................... 148 Figura 21 – BSC Natura após ACV............................................................................ 149 Figura 22 – Exemplo de revisões ACV...................................................................... 150 Figura 23 – Registro da Patente de Embalagem – Potes.......................................... 150

iv

LISTA DE TABELAS

Pág. Tabela 1 – Comparativo de Impacto Ambiental.................................................... 145

Tabela 2 – Redução do uso de materiais............................................................. 148

v

LISTA DE ABREVIATURAS

ABCV – Associação Brasileira de Ciclo de Vida

ACV – Avaliação do Ciclo de Vida

AIA – Avaliação de Impacto Ambiental

AICV – Avaliação de Impacto do Ciclo de Vida

ANPROTEC – Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores

BSC – Balanced Scorecard

CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CCI – Câmara de Comércio Internacional

CEBDS – Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável

CEFET– PR – Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná

CETEA – Centro de Tecnologia de Embalagem

CETEM – Centro de Tecnologia Mineral

CETESB – Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental

CIESP – Centro das Indústrias do Estado de São Paulo

CMMAD – Comissão Mundial para assuntos do Meio Ambiente e Desenvolvimento

CNI/IEL – Confederação Nacional da Indústria / Instituto Euvaldo Lodi

CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente

COPPE – Coordenação de Pesquisa e Pós–graduação

DIEESE – Departamento Intersindical de Estatística e Estudos

EDIP – Environmental Development of Industrial Product

EEA – European Environment Agency

EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

EPA – Environmental Protection Agency

EMPA – Swiss Federal Laboratories for Testing and Research

FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDEC – Instituto de Defesa do Consumidor

IETEC – Instituto de Educação Tecnológica

INMETRO – Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial

INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais

INT – Instituto Nacional de Tecnologia

IPT – Instituto de Pesos e Medidas

vi

ISO – International Organization for Standardization

ITAL – Instituto de Tecnologia de Alimentos

LCA – Life Cycle Assessment

MCT – Ministério da Ciência e Tecnologia

MDIC – Ministério do Desenvolvimento, Industria e Comércio Exterior

MMA – Ministério do Meio Ambiente

MRI – Midwest Research Institute

OECD – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico

ONG – Organização Não Governamental

ONU – Organização das Nações Unidas

PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente

REPA – Resource and Environmental Profile Analysis

SAP – Systems, Applications, Products in data processing

SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio a Micros e Pequenas Empresas

SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

SETAC – Society of Environmental Toxicology and Chemistry

SGA – Sistema de Gestão Ambiental

SISNAMA – Sistema Nacional do Meio Ambiente

TECPAR – Instituto de Tecnologia do Paraná

TQM – Total Quality Management

UERJ – Universidade do Estado do Rio de Janeiro

UFBA – Universidade Federal da Bahia

UFF – Universidade Federal Fluminense

UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais

UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte

UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina

UnB – Universidade de Brasília

UNCED – Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento

UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas

UNIG – Universidade Iguaçu

USEPA – U.S. Environmental Protection Agency

USP – Universidade de São Paulo

USPSCar/CCDM – Universidade de São Paulo, campus de São Carlos/Centro de Caracterização e Desenvolvimento de Materiais

WBCSD – World Business Council for Sustainable Development

vii

RESUMO

O trabalho tem como tema a Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) enquanto ferramenta de gestão ambiental e como objetivo geral analisar criticamente a metodologia estabelecida, a qual é parte integrante da série de normas ISO 14000, em especial a NBR ISO 14040 e suas frações. Em um contexto evolutivo histórico, as iniciativas para mensuração dos impactos ambientais datam da década de 60, aprimorando–se com o tempo até os dias atuais, cuja tônica baseia–se nos princípios da sustentabilidade do desenvolvimento, através do emprego adequado de ferramentas de gestão como a ACV. Sob esse enfoque, o estudo também definiu a ferramenta, usos e aplicações e limitações da técnica, abordando, ainda, toda normatização pela série ISO 14000, com a descrição e caracterização de técnicas de ciclos produtivos, apontando os métodos mais adotados e como sucintamente funcionam, sendo delimitadas etapas relativas a definição de objetivo e escopo, análise do inventário, avaliação do impacto e escolha pelo método mais adequado. A pesquisa caracteriza–se como exploratório–descritiva, tendo como métodos para coleta de dados o levantamento bibliográfico e documental juntamente com a aplicação de um formulário através de entrevista semi–estruturada a especialistas da área, com o intuito de esclarecer melhor a problemática da pesquisa. O estudo demonstrou os dados inerentes à trajetória da ACV no país, o respectivo projeto brasileiro e os desafios em andamento, inclusive no que concerne à necessidade de recursos e à formação de profissionais especializados. Por fim, a discussão da matéria com uma visão analítica, somada às considerações finais e recomendações, evidenciou a relevância do assunto, salientando a carência de investimentos educacionais e formadores culturais da prática de gestão ambiental pelo uso de ferramentas adequadas, considerando–se, entretanto, a complexidade da ACV, que requer atenção tecnológica para adequação aos padrões nacionais. Deve, de fato, existir a customização de cada processo e não a importação de programas engessados que não contemplem a realidade brasileira. Palavras–chaves: Gestão Ambiental. Avaliação do Ciclo de Vida. Ecoeficiência. Ferramentas de gerenciamento ambiental.

viii

ABSTRACT

The paper is called Evaluation of the Life Cycle (ACV) as an environmental management tool and as a general goal it is meant to analyze critically the established methodology, which is part of the series of rules of the NBR ISSO 14000, specifically the NBR ISO 14040 and its fractions. Put in the perspective of historical context, the initiatives for the measurement of the environmental impacts go back to the 1960s and being improved up to the present and has its core based on principles of sustainable development through the utilization of appropriated management tools such as ACV. Under this focus, the study has also defined the tool, use and technical limitations also delineating the whole normalization under the ISO 14000 series with the description and characterization of the techniques of productive cycles, pointing at the most accepted methods and briefly explaining how they work what delimitated the steps relative to the definition of the objective and comprehensiveness, analysis of the inventory, evaluation of the impact and choice of the best fitting method. The research is characterized as exploratory–descriptive and used the bibliography research and documental search as methods for the collection of data, as well as a questionary that was a semi–structured interview applied to experts in this field with the aim of better clearing the problems that were the base of the research.The study has shown data which were characteristic of the LCA trajectory in the country, the Brazilian Project and the ongoing challenges what goes back to the necessity of resources and the graduation of specialized professionals. To finalize, the discussion of the subject under analytical lenses added to the final recommendations and considerations, showing the lack of educational investments and people to form and inform about environmental management by the use of appropriated tools. Taking in consideration the complexities of the LCA and its requirements of technological attention to proper normalization to the national patterns, each process has to be customized instead of bringing ready solutions that do not fit the Brazilian reality.

Key words: Environmental Manegement, Life Cycle Assessment, Ecoeficiency,

Tools for environmental management.

CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO

1

1.1. Contextualização.

"Que o meio ambiente não seja visto como mais uma camada de dificuldade para o desenvolvimento, mas como a única forma do desenvolvimento ser de fato sustentável para todos os segmentos da sociedade." (Ministra Marina Silva, 84ª Reunião Ordinária do CONAMA – Novembro /2006).

Hoje em dia existe uma preocupação maior voltada às questões ambientais.

Com o passar dos tempos, a degradação do meio ambiente tem prejudicado a

saúde e arriscado a sobrevivência humana em prol de uma ganância econômica

sem limites que é destrutiva para a humanidade. Essa ambição excessiva tem a

característica de obter resultados econômicos imediatos, comprometendo assim a

qualidade de vida de toda a sociedade em detrimento de um crescimento sadio

representado por um desenvolvimento sustentável de longo prazo.

Conforme indica Coggiola (2006), existe um consenso entre a comunidade

científica e os Estados de que a ação humana desenfreada sobre o ambiente natural

vem provocando continuamente efeitos que a longo prazo são capazes de causar

prejuízos em larga escala. Nesse sentido, a perpetuação de várias formas de vida e

a reprodução de vários ciclos naturais estariam fortemente comprometidas. O autor

lembra ainda que os efeitos desse comprometimento não se restringem apenas à

natureza mas também se pulverizam para a vida humana, de modo a comprometer a

sobrevivência no planeta.

É a partir desse contexto que muitas empresas não percebem que, gerando

um ciclo de destruição e poluição tão grave, estão comprometendo a vida do

planeta. No entanto várias instituições estão trabalhando no sentido de tentar alertar

a sociedade e as empresas para a gravidade do crescimento a qualquer custo,

orientando dessa forma para o convencimento de que o sustentável é melhor para

todos.

Por outro lado, a sociedade está cada vez mais exigente e consciente do seu

papel, e isso também acarreta uma força política que faz com que sejam criadas leis

cada vez mais severas contra aqueles que agridem a natureza para qualquer tipo de

CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO

2

proveito bem como, consequentemente, impulsiona os trabalhos de fiscalizações em

uma linha mais efetiva e atuante para coibir as ações predatórias.

De acordo com Leal (2005), os atores ligados aos setores produtivos privados

emergem como um dos maiores obstáculos para que sejam pensadas estratégias de

preservação e proteção ambiental. Tal constatação repousa no fato de que o

contexto que circunscreve as ações das organizações privadas é mobilizado

especialmente pelo interesse na otimização produtiva, na busca pelo lucro e na

captação de investimentos. Nesse sentido, preocupações com o meio ambiente são

constantemente descartadas em detrimento de elementos de cunho meramente

econômico, obscurecendo considerações relativas à responsabilidade social e

ambiental.

Segundo Demajorovic (2001), o discurso empresarial mostrou–se bastante

relutante à tomada de iniciativas que visassem minimizar os danos sócioambientais

ocasionados por suas atividades produtivas até meados dos anos oitenta. A lógica

desse discurso afirmava que os gastos adicionais voltados para o intuito de

diminuição da poluição constrangeriam a lucratividade e mesmo a oferta de

empregos por parte da organização, ocasionando prejuízos não só para a empresa

mas também para a sociedade.

O mesmo autor aponta que esse discurso foi perdendo a sua força na década

de oitenta. Nesse sentido, contribuíram para tal constatação a mobilização da

sociedade, o aprimoramento da regulação ambiental por parte do setor público –

através da qual os danos exercidos sobre o meio ambiente passariam a expressar

um custo direto para as organizações – e a ampla divulgação de tragédias

ambientais causadas por empresas.

Assim, frente aos trabalhos mais efetivos de fiscalizações e punições severas,

de acordo com o avanço e atualização das leis ambientais, as empresas estão tendo

de se adaptar a um “novo ambiente”. Nesse sentido, inclui–se a consciência da

necessidade permanente de aprimoramento dos produtos e/ou serviços, recebendo

a crítica dos clientes como uma oportunidade para corrigir e aperfeiçoar processos e

perceber que o lucro e a responsabilidade sócioambiental não são aspectos

inseparáveis, mas, o melhor negócio é o que considera o meio ambiente e a

sociedade (DEMAJOROVIC, 1996; ANDRADE et al, 2002).

CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO

3

Nesse cenário, surgem novas formas de gestão para desenvolvimento de

produtos e serviços, levando em consideração não só as questões econômicas mas

também aspectos e impactos sócioambientais, como por exemplo, a ecoeficiência.

A ecoeficiência é alcançada mediante o fornecimento de bens e serviços a

preços competitivos que satisfaçam as necessidades humanas e tragam qualidade

de vida, ao mesmo tempo em que reduz progressivamente o impacto ambiental e o

consumo de recursos ao longo do ciclo de vida, a um nível, no mínimo, equivalente à

capacidade de sustentação estimada da Terra (conceito elaborado pelo World

Business Council for Sustainable Development – WBCSD, em 1992).

Esse conceito sugere uma significativa ligação entre eficiência dos recursos

(que leva à produtividade e lucratividade) e responsabilidade ambiental. Portanto,

ecoeficiência é o uso mais eficiente de materiais e energia, a fim de reduzir os

custos econômicos e os impactos ambientais.

A ecoeficiência busca assegurar que bens e serviços sejam produzidos de

forma economicamente viável e sem comprometer a disponibilidade dos recursos

naturais para as próximas gerações. Em outras palavras, trata–se da conjugação do

desenvolvimento econômico sustentável e políticas de proteção ambiental. Segundo

Leal (2001), a ecoeficiência vem se revelando como uma poderosa estratégia

exercida por organizações diversas que consideram de suma relevância incluir entre

suas táticas ações voltadas para a proteção ambiental. Nesse sentido, a

ecoeficiência se apóia em dois princípios – a redução da exploração dos recursos

naturais e a diminuição da contaminação vinculada aos processos produtivos. Dessa

forma, a ecoeficiência remeteria à busca pela otimização da produtividade dos

recursos naturais e à redução dos impactos ambientais ao longo do ciclo de vida dos

produtos.

Ometto (2005) afirma que uma das formas mais integradas, completas e

eficazes para a gestão ambiental de atividades produtivas é baseada no ciclo de

vida do produto, sendo a ACV – Avaliação do Ciclo de Vida sua principal ferramenta.

Camargo (2007) define Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) como sendo uma

ferramenta de gestão ambiental que permite avaliar os aspectos ambientais e

impactos potenciais associados ao produto, analisando diversas etapas que vão

desde a extração de matérias–primas da natureza que adentram no sistema

CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO

4

produtivo (berço) até a disposição do produto final no meio ambiente (túmulo). O

conjunto organizado dos aspectos ambientais do produto estudado é chamado de

inventário de ciclo de vida, sendo constituído por valores referentes a consumo

energético, emissões atmosféricas, efluentes líquidos e resíduos sólidos, entre

outros.

Hunt e Franklin (1996) asseguram que a sigla ACV, ou LCA em inglês, "Life

Cycle Assessment" foi utilizada primeiramente nos Estados Unidos em 1990, mas

que, desde 1970, a identificação originária para estudos de ciclo de vida ambiental

era “Resourse and Environmental Profile Analysis” (REPA).

Segundo os mesmos autores, um dos primeiros estudos quantificando as

necessidades de recursos, emissões e resíduos originados por diferentes

embalagens de bebidas foi conduzido pelo "Midwest Research Institute" (MRI) para

a Companhia Coca–Cola em 1969. Esse estudo nunca foi publicado devido ao

caráter confidencial do seu conteúdo, sendo, no entanto, utilizado pela companhia

no início dos anos setenta como um “input” nas suas decisões sobre embalagens.

Um dos resultados interessantes do trabalho da Coca–Cola foi demonstrar que as

garrafas de plástico não eram piores, do ponto de vista ambiental, do que as de

vidro. Anteriormente, os plásticos tinham a reputação de um produto indesejável em

termos ambientais, tendo o estudo REPA demonstrado que esta reputação era

baseada em más interpretações.

Guinée, (1995) explica que no final de 1972 o mesmo instituto (MRI) iniciou

um estudo nas embalagens de cervejas e sumos, encomendado pela USEPA – U.S.

Environmental Protection Agency, o qual marcou o início do desenvolvimento da

ACV como se conhece hoje. Hunt e Franklin (1996) declaram que esta foi

seguramente a mais ambiciosa REPA até então realizada, tendo envolvido a

indústria do vidro, aço, alumínio, papel e plástico e todos os fornecedores daquelas

indústrias, tendo–se caracterizado mais de 40 materiais.

Após um longo período de baixo interesse público em ACV, em 1984,

segundo MOURAD (2002), inspirados pelo REPA, o Instituto Suíço EMPA – Swiss

Federal Laboratories for Testing and Research, por solicitação do Ministério de Meio

Ambiente suíço, tornou público um banco de dados de ciclo de vida de uma série de

CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO

5

materiais, contribuindo para a popularização da metodologia. Versões aprimoradas

da metodologia ou dos bancos de dados foram publicadas pelo EMPA em 1991 e

em 1998.

A partir de 1990 houve um notável crescimento das atividades ACV na Europa

e nos EUA, o qual é refletido no número de "workshops" e outros "fóruns" que têm

sido organizados principalmente pela "Society of Environmental Toxicology and

Chemistry" (SETAC).

Conforme Ferreira (2004 apud Hindle e Oude 1996), em 1992 foi formada a

Sociedade para a Promoção do Desenvolvimento de Ciclo de Vida (SPOLD), com o

objetivo de angariar recursos para fomentar o desenvolvimento da metodologia ACV

como uma abordagem de gestão aceita para ajudar na tomada de decisão.

A análise do ciclo de vida de um produto é uma técnica de segregação dos

aspectos ambientais e avaliação de seus possíveis impactos. De acordo com

Chehebe (1998, p.3), a ACV “considera o impacto ambiental ao longo de todo o ciclo

de vida do produto: da extração das matérias–primas utilizadas à produção, ao uso e

à disposição final do produto”.

Stock (1998, apud Simões, 2002) sustenta que esse conceito de ACV também

é conhecido como análise do “berço ao túmulo” e que, apesar de muito familiar aos

engenheiros industriais, soa estranho a grande parte dos profissionais de logística.

O ciclo de vida de produtos e serviços envolve grande número de interações

mais ou menos complexas com o meio ambiente na medida em que utilizam

recursos e geram poluentes. Nesse contexto é possível situar a ACV como

estratégia de avaliação ambiental, uma vez que, segundo Soares (2006), essa

análise remete a uma técnica de gestão ambiental através da qual é possível avaliar

os efeitos de um produto sobre o meio ambiente, ao longo de todo o seu ciclo de

vida.

CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO

6

1.2. Problemática.

No que pese a existência de grande arcabouço de legislação específica aos

impactos ambientais, a inexistência de gestão para reduzir e/ou eliminar fontes

geradoras de impactos como também a falta de programas de destinação não raro

resultam em desastres ambientais.

Resultados de ACV confiáveis, replicáveis e comparáveis somente são

possíveis quando realizados através de metodologias e procedimentos sistemáticos

e padronizados. Segundo Silva (2006), existem algumas condições básicas para que

a estratégia da Avaliação do Ciclo da Vida seja implantada com sucesso no Brasil.

Entre estas condições, destacam–se a disponibilidade de um banco de dados

brasileiro, recursos humanos considerados capacitados e um efetivo

comprometimento dos segmentos econômicos. Nesse contexto, o autor aponta

ainda que os desafios a serem enfrentados no Brasil correspondem especialmente a

recursos materiais e humanos relativos aos projetos.

O Brasil apresenta escassez de recursos humanos capacitados à utilização

da ferramenta, dificuldades de operacionalização da metodologia pela pequena

disponibilidade de informações nos bancos de dados brasileiros, pouco

comprometimento de segmentos econômicos e poucas entidades interessadas em

desenvolver e coordenar a ACV.

Segundo PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente

(2007), outra dificuldade encontrada para o desenvolvimento de estudos de ACV em

nível mundial é a necessidade de elevada quantidade de recursos financeiros e de

tempo. No Brasil não é diferente. Desse modo, os recursos financeiros deverão ser

balanceados com os benefícios previsíveis do estudo. Com relação às pequenas e

médias empresas, segundo Oliveira (2006), o que aparece como elementos de

grande dificuldade para aplicação da metodologia é basicamente a sua

complexidade e necessidade de dados detalhados do sistema de produção. O que

não impede que elas tenham condições de conduzir um estudo desse tipo utilizando

a idéia e o conceito da ACV.

Essa complexidade e necessidade aparecem da mesma forma como barreira

para as grandes empresas, até porque os processos de produção são específicos,

CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO

7

cada sistema requer uma atenção diferenciada. Isso dificulta a coleta e o

fornecimento de informações técnicas gerais, o que exige maior quantidade de

pesquisas e esforços para aprofundar o conhecimento sobre o tratamento desses

processos, levando, às vezes, à determinação de um limite do processo a ser

estudado, não atendendo todo o processo produtivo como deveria acontecer. Outro

fator que dificulta a utilização da ACV é a falta de comprometimento do corpo

trabalhador da empresa. Esse fato surge como uma barreira para a aplicação, mas

que pode ser superada com um pouco de empenho, haja vista ser fator essencial

para o Sistema de Gerenciamento. Segundo Chehebe (1997), a conscientização

dentro da empresa, de cada indivíduo ou elo da cadeia produtiva, pode colaborar em

seu próprio estágio do ciclo de vida.

Inúmeras medidas e providências corretivas e preventivas podem e devem

ser adotadas a partir do uso da ACV. Na verdade, trata–se da otimização voltada ao

reconhecimento das questões de preservação e renovação ambiental, calcadas nas

diretrizes essenciais da sustentabilidade, baseadas, sobretudo na análise,

identificação e quantificação dos impactos ambientais causados por todo o processo

produtivo.

Desse modo, a presente pesquisa parte dos princípios de gestão ambiental

voltados ao desenvolvimento sustentável para então considerar a aplicabilidade da

Avaliação de Ciclo de Vida e sua eficácia enquanto ferramenta capaz de identificar

aspectos e avaliar impactos ambientais associados a serviços e produtos

manufaturados e consumidos, do berço ao túmulo.

Assim, a problemática de pesquisa aborda a identificação de eventuais

dificuldades para a aplicabilidade da metodologia ACV no contexto do ambiente

produtivo nacional. Considerando o Brasil um país subdesenvolvido, é possível

aplicar em sua plenitude, a metodologia ACV conforme estabelecida nas normas

ISO? As disposições contidas na metodologia são importantes? Existem

dificuldades para aplicação? Se existirem dificuldades, de que naturezas são?

Como os profissionais e estudiosos do assunto, que já aplicaram ou conhecem a

ferramenta, avaliam as disposições estabelecidas para cada uma das fases da

metodologia, nesse contexto e aqui no Brasil?

CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO

8

1.3. Objetivo.

O objetivo do trabalho é analisar criticamente a metodologia ACV no Brasil,

considerando as disposições normativas de cada fase quanto a sua importância

para o estudo e dificuldades de operacionalização conforme sua natureza.

Pretende–se ainda, com esta análise, identificar eventuais necessidades de

recursos ou ajustes no contexto de ACV que possibilitem a aplicação da metodologia

de forma ampla, sistemática e eficaz para um mínimo de confiabilidade dos

resultados.

1.4. Justificativa.

Justifica–se plenamente o desenvolvimento desta pesquisa em função de sua

pertinência atual e relevância em todos os contextos da vida moderna, quer no

ambiente de negócios quer no interesse da sociedade. A consciência e a

mobilização das nações para as questões ambientais têm marco histórico

praticamente no século passado, há poucas décadas. Gradativamente, está sendo

construída uma cultura de preservação e, principalmente, de sustentabilidade a partir

de encontros internacionais específicos para a discussão de matérias relacionadas à

valorização natural do planeta.

Gonçalves (1989) lembra que movimentos em prol da preservação ambiental

começaram a surgir a partir da década de sessenta, em consonância com o

questionamento social, político e cultural que emergia naquele momento. De acordo

com as indicações do autor, na década de sessenta, começam a aparecer outras

espécies de discussões, que não possuíam uma relação necessária com os modos

de produção. Nesse contexto é que se situam bandeiras pró–vida, que expressam a

raiz dos movimentos ecológicos. É aqui que se configuram os procedimentos contra

a extinção, contra os desmatamentos, a urbanização desenfreada, a erosão, a

poluição, etc.

Leal (2001) identifica a Conferência de Estocolmo, que se deu no ano de

1972, como um marco, sendo um evento que promoveu maior assimilação das

questões ambientais pelas Nações. Para o autor, desde então, vêm sendo

desenvolvidas em todo o mundo ferramentas jurídicas e institucionais com fins de

regulação das ações e políticas engajadas na preservação ambiental.

CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO

9

No Brasil, de acordo com Gonçalves (1989), os movimentos ecológicos

ganham força na década de setenta, durante a Ditadura Militar. O país vivia então

um acelerado processo de desenvolvimento industrial, apoiado no capital

estrangeiro, que pouco estava preocupado com os prejuízos ambientais causados

pela força e amplitude desse processo. No entanto, o autor coloca que o

crescimento em nível internacional das pressões ambientalistas coloca exigências

que demandam significativa preocupação com o ambiente, a fim de assegurar as

captações dos investimentos. Desta maneira, a preocupação com as questões

ambientais no país começa a se desenvolver através da criação, por parte do próprio

Estado, de instituições para melhor gerência do meio ambiente, a fim de garantir o

investimento estrangeiro.

Deste então, o tema da sustentabilidade vem ganhando relevância estratégica

no contexto empresarial. Jabbour (2006) aponta que estratégias no sentido do

desenvolvimento sustentável podem, entrementes, implicar significativos ganhos

para a organização em relação ao cenário competitivo, em contraponto ao discurso

empresarial já mencionado, que fora majoritário na década de oitenta. Assim,

salienta o autor que ações de gestão ambiental tendem a diminuir o custo por

unidade produtiva em uma empresa, na medida em que há nessa postura uma

tendência à diminuição dos desperdícios, o estímulo à descoberta de outras fontes

de matéria–prima, de modo a induzir a reciclagem de materiais e a reutilização. Em

outras palavras, a gestão ambiental pode significar um melhor aproveitamento dos

materiais, de modo a reduzir o custo da produção.

O mesmo autor argumenta também que uma gestão ambiental pró–ativa

também incorre na minimização dos impactos ambientais e da eclosão de acidentes

ambientais. Esses fatores são importantes porque ajudam a garantir que a empresa

possa cumprir os prazos agendados para a entrega de seus produtos aos

consumidores. Além disso, o autor menciona que a flexibilidade de produção da

empresa também é aumentada a partir de estratégias de gestão ambiental, uma vez

que impulsiona a empresa para a prospecção de inovações ambientalmente

adequadas.

Uma boa gestão ambiental vem, então, assumindo uma posição estratégica

no mundo dos negócios, tornando–se fonte de lucros e garantindo seu lugar

CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO

10

competitivo. Para completar, segundo Almeida (1999), empresas que praticam a

responsabilidade social melhoram sua imagem frente aos consumidores e

investidores, na medida em que investem em sua reputação e aumentam sua

credibilidade, de modo a obter posição de destaque frente a organizações que não

estão comprometidas com problemas sociais. Assim, a responsabilidade

sócioambiental se configura como um importante diferencial competitivo a ser

adotado pelas empresas.

Nessa linha, a ACV apresenta–se como estratégia significativa à condução

dos processos produtivos. Isso se deve ao fato de a ACV constituir–se como uma

estratégia que leva em consideração as trocas ambientais ocorridas entre os

produtos em questão e o contexto no qual estas se configuram. A partir da análise

desses processos de troca, é possível então obter um quadro coeso que indique os

impactos ambientais decorrentes dos mesmos.

Dessa forma, pesquisas dessa natureza tendem a enriquecer a matéria

favorecendo a sua investigação. As questões do meio ambiente envolvem temas

controvertidos, na medida em que os enfoques de preservação e valorização

algumas vezes não coincidem em variadas frentes de trabalhos. Envolvem, na

realidade, debates relacionados com a posição dos diversos segmentos da

economia acrescendo–se a visão da própria sociedade.

Assim, o debate sobre estratégias e técnicas de gerenciamento ambiental

representa interesse tanto para o meio acadêmico como para a sociedade em geral,

de onde se justifica o presente trabalho por inserir–se dentro de uma ampla gama de

reflexões que pretendem distanciar–se da polêmica para uma perspectiva mais

equilibrada e coerente com os pressupostos da argumentação acadêmica, quais

sejam: a séria reflexão sem idéias preconcebidas, tendenciosas ou arbitrárias, de

modo a encontrar um mínimo de elementos concordantes que sejam suficientes para

a construção de uma cultura que contemple a todos os interesses envolvidos.

Quanto à sociedade, as contribuições do presente trabalho configuram–se

bastante claras: a legislação de um povo deve responder, também, aos valores e

cultura do próprio povo, de modo que é relevante esse diálogo entre sociedade,

pesquisadores e estudiosos do tema, o que pode beneficiar a todos.

CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO

11

1.5. Metodologia de pesquisa

Trata–se de um trabalho de natureza exploratória e de caráter bibliográfico,

através da coleta de dados a partir de revisão bibliográfica, consultas a núcleos de

pesquisa na área, pesquisa de opinião junto a profissionais e entidades interessadas

no tema, além de sítios especializados existentes da WEB.

Sendo assim, a partir de levantamento bibliográfico, o estudo tem seu método

específico de trabalho apoiado na pesquisa exploratória, na pesquisa de opinião e

na apresentação de um “case”. A idéia é buscar uma primeira aproximação e

enfocar o tema pretendendo buscar meios à sua compreensão, para propor estudos

mais aprofundados nas questões mais preocupantes que possam surgir.

A pesquisa de opinião junto às pessoas que reúnem o conhecimento sobre a

metodologia ACV é realizada com o auxílio de um formulário estruturado de forma a

possibilitar uma avaliação de conceitos relativos às disposições contidas na

normatização referente, para cada fase de um estudo de análise de ciclo de vida.

Do formulário fazem parte as disposições estabelecidas pelas normas 14040,

14041 e 14042 divididas nas várias fases da metodologia e para cada disposição ou

grupo de mesmo contexto; conceitos sobre o grau de importância e outros para o

grau de dificuldade de execução, seguidos da natureza da dificuldade. O formulário

também apresenta ao público alvo a possibilidade de manifestação acerca das

disposições que mereçam comentários mais abrangentes, por se tratarem, na

opinião do profissional pesquisado, objeto de importância significativa para o estudo

ou de elevado grau de dificuldade de execução dada a sua natureza e estado da

arte.

Para auxiliar o alcance do objetivo proposto, é apresentado um exemplo de

implantação da ACV na empresa Natura visando ilustrar as várias fases de uma

aplicação e apresentar os resultados práticos da ACV, facilitando sua compreensão

e a interação com o tema da pesquisa.

Um capítulo específico destina–se ao detalhamento da metodologia

empregada no desenvolvimento do estudo. Portanto, a partir da caracterização dos

materiais e métodos empregados no desenvolvimento do estudo, compete definir–se

seu escopo estrutural, buscando a evolução gradativa do tema, no sentido científico.

CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO

12

1.6. Estrutura da dissertação

O capítulo 1 destina–se à INTRODUÇÃO para apresentar a contextualização

temática de estudo referenciando–a em termos de objetivos e conceitos basais. A

partir daí, os capítulos subsequentes obedecem à evolução da matéria partindo–se

de uma explanação ampla no que concerne às questões ambientais discutidas em

todo o mundo até o surgimento da ferramenta ACV. Capítulos distintos procuram

não só explicar a ferramenta mas também compará–la com estruturas e

procedimentos similares, a fim de que seja possível o desenvolvimento de uma

análise sob visão crítica de sua aplicação e efetividade.

O capítulo 2, identificado como EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A

FERRAMENTA ACV, trata especificamente da revisão da literatura especializada no

assunto, apontando, preliminarmente, um breve histórico das questões ambientais,

os principais conceitos de impactos ambientais, origem e evolução, para então

caracterizar conceitualmente o ciclo de vida e a ferramenta relativa à sua avaliação

(ACV), sendo ainda consideradas a aplicabilidade técnica, as limitações da técnica e

toda a normatização que envolve o tema. Ainda nesse capítulo são enfocados

importantes conceitos ligados à questão da gestão do meio ambiente considerando

os princípios da ecoeficiência.

O capítulo 3, denominado ACV: DESCRITIVO E CARACTERIZAÇÃO Da

FERRAMENTA ACV, aborda os vários passos utilizados na técnica de ACV,

iniciando–se pela definição de objetivo e escopo, seguida das explicações sobre

análise de inventário, bem como de métodos de avaliação de impacto do ciclo de

vida, destacando–se EDIP (Environmental Development of Industrial Product),

Exergia, Emergia, CML 2 2000, Eco–Indicator 99, Ecopontos suíços e EPS 2000.

Apresenta, ainda, limitações e diferenças dos métodos de avaliação, além de

elementos opcionais de avaliação e interpretação de resultados.

O capítulo 4, denominado ACV NO BRASIL, é onde se apresenta a pesquisa

propriamente dita com foco na ACV no país, sua trajetória, sobretudo o projeto

brasileiro e os respectivos desafios enfrentados assim como os existentes e atuais.

O capítulo 5 versa sobre CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS DA

PESQUISA em que são apresentados os meios empregados no desenvolvimento do

CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO

13

estudo, considerando não só o tipo de pesquisa mas também a coleta e tratamento

de dados, além das possíveis limitações.

O capítulo 6 é específico à ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS,

apresentando, primeiramente, dados gerais bem como exemplo prático da

implantação da ACV na empresa Natura e uma pesquisa de opinião. A partir daí,

discute–se a matéria com visão analítica.

Ao final, apresentam–se as CONSIDERAÇÕES FINAIS E

RECOMENDAÇÔES. Após a discussão apresentada no capítulo anterior, neste item

do trabalho são destacados pontos conclusivos. Em seguida complementa–se o

trabalho de pesquisa considerando algumas questões importantes e de caráter

finalizador como as limitações e recomendações, além das sugestões para novas

pesquisas.

A idéia é a de apresentar os assuntos referentes ao tema em questão de

modo evolutivo, permitindo assim seu aprofundamento e estudo detalhado e

específico.

CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV

14

Neste capítulo são apresentados os principais conceitos relacionados à

Avaliação do Ciclo de Vida, partindo–se do enfoque geral sobre o contexto ambiental

em voga, sua valorização e debates afins. A partir desse ponto, especifica–se o

conceito de ciclo de vida para então adentrar em pontos característicos do assunto.

O intuito é o de apresentar a visão dos principais teóricos do assunto sobre a

matéria considerando a evolução dos entendimentos até as referências atuais.

2.1. Questões Ambientais: Dos debates e eventos à Ferramenta ACV.

A degradação natural e espontânea do meio ambiente, por entre os tempos,

está relacionada às mudanças ambientais do planeta, incluindo–se aí a extinção de

raças animais e o desaparecimento de espécies vegetais e minerais. No entanto, a

partir do registro do ser humano no planeta as alterações nos ecossistemas são

percebidas com maior profundidade e rapidez, incluindo–se nessa afirmação, como

exemplos, a proliferação de doenças, a poluição do solo, ar e água, entre outros.

Às atividades essenciais para a sobrevivência do homem, no decorrer de sua

história, agregaram–se outras decorrentes da própria evolução da humanidade e

seu desenvolvimento, como, por exemplo, o emprego da metalúrgica com uso inicial

do cobre seguido pelo bronze e ferro. A produção de artefatos de metal data de

longos anos e desde essa época já se pode considerar o impacto ambiental,

evidentemente não na proporção encontrada hoje em dia.

Assim, considerando os estudos de Elliot (1998), merece comentário

específico a Revolução Industrial, que, a partir do Século XVIII, precipitou

verdadeiros impactos no meio ambiente. Com o desenvolvimento econômico, sob

esse enfoque as modificações no ecossistema, através de tecnologias poluentes e

impactantes, passaram a contribuir para os riscos ambientais. A situação é

agravada, conforme pontua Lima (2004), em face de o aumento de parques

industriais que sem projetos de implantação relativos às questões urbanísticas

locais, acabaram por resultar em acúmulo e concentração de resíduos e lixos em

solos despreparados ou em canais marítimos ou fluviais.

Esse cenário é intensificado com o aparecimento de locomotivas, navios a

motor e demais outras tecnologias com funcionamento à base de óleo diesel, que,

embora otimizassem os resultados dos ciclos produtivos em geral, afetavam

CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV

15

substancialmente os recursos naturais do meio ambiente. Daí em diante, constata–

se a permanente evolução da produção e avanços tecnológicos que conduzem o

homem a patamares elevados de confortos, praticidade, rapidez, etc. pautados,

contudo, em desenvolvimentos inconscientes acerca do caráter finito dos recursos

naturais do planeta. O crescimento dessa situação começa a criar uma nova

abordagem para o assunto e os impactos ambientais passam a gerar preocupações

em todo o mundo. (ANDRADE et al, 2002).

Constata–se, primeiramente, que a vivência de nações desenvolvidas

industrialmente provoca danos à natureza e ao meio ambiente, comprometendo a

extinção de recursos hoje vitais à sobrevivência do planeta. De certa forma, essa

experiência acaba por afetar os países em desenvolvimento e subdesenvolvidos, na

medida em que a destruição da natureza afeta diretamente a existência das futuras

gerações (BARBIERI, 2004). A partir daí, começam a ser discutidas as questões

ambientais.

Em primeira instância os debates surgiram de desentendimentos entre ambientalistas e desenvolvimentistas. Com a evolução das discussões a matéria foi amadurecida com a evidenciação de necessária integração de variadas frentes de negócio, a fim de que providenciassem medidas efetivas à contenção dos riscos ambientais (BARBIERI, 2004, p. 18).

Portanto, por volta dos anos 1960, os assuntos ligados à ecologia passaram a

ser tratados com mais evidência. Surgiram preocupações em torno de temas

interligados ao assunto como saúde e segurança. Diversos eventos de âmbito

mundial, realizados desde então, passaram a sinalizar o crescente interesse pela

questão. Começam a ser discutidos os termos de um desenvolvimento que preserve

a sustentação do planeta. A partir daí, inicia–se uma grande mobilização de

autoridades mundiais em prol de soluções ambientalmente melhores. Desde então,

várias são as conferências, encontros e ações nesse sentido (ELLIOT, 1998;

ANDRADE et al, 2002).

Pode ser considerada como início desse movimento uma Conferência sobre a

Biosfera, realizada em 1968 na França, onde compareceram especialistas em

ciências naturais de todo o mundo. Em seguida, segundo Inácio (1998, p. 42), o

Clube de Roma, no início da década de 70, publica informes em um documento

CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV

16

denominado "Limites do Crescimento", relatando impactos ao meio ambiente

provenientes de serviços industriais.

Esse documento destaca ainda as crescentes taxas de crescimento

demográfico em todo o mundo, sobretudo em países subdesenvolvidos. Prevê

ocorrências catastróficas para o próximo século, tais como envenenamento do ar e

das águas, escassez de alimentos devido aos impactos dos efeitos nocivos sobre a

agricultura e o esgotamento dos recursos naturais não renováveis resultantes da

exploração predatória (INACIO, 1998).

A idéia de que o desenvolvimento econômico deve estar compatibilizado com

o meio ambiente ganhou força na década de 70. Inúmeros eventos internacionais

foram organizados e contribuíram de forma efetiva para a consagração de um novo

modelo de desenvolvimento.

Seguindo a evolução dos acontecimentos, em 1972 um encontro para a

“Declaração sobre o Meio Ambiente Humano” reuniu na Suécia, Estocolmo,

autoridades e representantes de governos de todo o mundo para a discussão dos

problemas que assolavam o meio ambiente.

Esse evento pode ser considerado como um marco para a aceitação do

mercado em geral, liderado por desenvolvimentistas, sobre as questões de

preservação do meio ambiente. Na ocasião, inclusive, o assunto recebeu caráter

também social em decorrência da manifestação de Indira Gandhi, primeira ministra

da Índia na ocasião: "A pobreza é a maior das poluições" (INACIO, 1998, p. 42). No

entanto, a evolução desse princípio deveria propor modelos de gestão que

considerassem a harmonia entre desenvolvimento e a natureza, incorporando, no

ambiente de decisões empresariais e governamentais, os conceitos de

Desenvolvimento Sustentável, Responsabilidade Social, Atuação Responsável,

Qualidade de Vida e Sobrevivência Humana.

Da Conferência de Estocolmo resultou um documento contemplando 26

princípios sobre a preservação do meio ambiente. A partir daí surgiram diversas

instituições e grupos com o mote de defesa do meio ambiente. No âmbito das

Nações, alguns países como a França, Alemanha, Dinamarca, Noruega, Finlândia e

Holanda, a partir desse evento, estabeleceram novas regras e legislações

ambientais. A Conferência também provocou ações em níveis organizacionais. As

CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV

17

empresas McDonald’s e Coca–Cola, por exemplo, introduziram normas de gestão

ambiental (SANTOS, 2005).

Já no começo dos anos 80, a ONU (Organização das Nações Unidas)

convocou a Comissão Mundial para assuntos do Meio Ambiente e Desenvolvimento

(CMMAD) motivando a elaboração de um relatório sobre a qualidade do meio

ambiente, de abrangência mundial. Esse documento, o Relatório Nosso futuro

Comum, também conhecido como Relatório Brundtland, sobrenome da ex–primeira–

ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland, presidente da Comissão Mundial de

Meio Ambiente e Desenvolvimento em 1987, ocasião em que o documento foi

redigido, definiu o conceito de desenvolvimento sustentável. O princípio é o de

atender às necessidades das gerações atuais sem comprometer a capacidade de as

futuras gerações terem suas próprias necessidades atendidas. Portanto, cada vez

mais “se tem consciência da necessidade de se buscar maneiras de preservar os

recursos ambientais, assim como formas alternativas de desenvolvimento com

preservação ambiental” (CMMAD, 1988, p 417).

O documento destaca a adoção mundial de políticas concretas e específicas

para questões ambientais como sendo imprescindível ao futuro do planeta. Chama a

atenção para a delimitação necessária entre tecnologia e o meio ambiente. Defende,

por consequência, a idéia de que a economia e a ecologia podem ser pensadas

juntas e, nesse sentido, instiga a inclusão do meio ambiente, juntamente com a

economia, nos processos de decisão.

A idéia de que a natureza é uma fonte de recursos finitos e não gratuitos

proporcionou um novo enfoque à economia e à exploração econômica. Constata–se,

hoje em dia, a necessidade de racionalizar e otimizar a utilização dos recursos

naturais dentro de uma visão de longo prazo, levando–se em conta os princípios da

conservação, reciclagem, poupança e precaução.

Seguindo na evolução dos conceitos voltados à preservação do meio

ambiente, em 1991, na Conferência Mundial da Indústria sobre a Gestão do

Ambiente, foi divulgada a Carta Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável

elaborada pela Câmara de Comércio Internacional (CCI). Esta passou a nortear as

empresas em relação aos princípios relativos à gestão do ambiente, representando,

portanto, um documento de importância vital para o desenvolvimento sustentável.

CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV

18

Foram estipulados 16 princípios para orientação das ações voltadas ao

desenvolvimento sustentável.

A Carta Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável elaborada pela

Câmara de Comércio Internacional (CCI), então, passou a nortear as ações

empresarias em relação às suas obrigações para com o meio ambiente. Portanto,

visando estimular o comprometimento pelo maior número de empresas possíveis, o

documento defende a idéia de que as empresas devem compartilhar sempre um

objetivo comum entre desenvolvimento econômico e proteção ambiental, tanto para

o momento presente como para as gerações futuras. Os 16 princípios propostos

para a gestão ambiental são:

Prioridade na organização; Gestão Integrada; Processo de Aperfeiçoamento; Formação de Pessoal; Avaliação prévia; Produtos e Serviços; Conselhos de Consumidores; Instalações e Atividades; Investigações (Pesquisas); Medidas Preventivas; Empreiteiros e Fornecedores; Planos de Emergência; Transferência de Tecnologia; Contribuição para o esforço comum; Abertura ao diálogo e Cumprimento de regulamentos e informações (ANDRADE et al, 2002, p.75).

A seguir encontram–se breves explicações sobre cada um desses princípios

que nortearam e norteiam até os dias de hoje os sistemas de gestão empresarial.

1. Prioridade na Organização: a Carta caracteriza o reconhecimento

da necessidade do gerenciamento ambiental como sendo a chave

para o desenvolvimento sustentável. A definição de políticas,

programas e práticas para condução das operações de forma

ambientalmente correta e segura é fundamental na construção de

um modelo de gestão.

2. Gestão Integrada: segundo o autor, a integração das políticas,

programas e práticas ambientais no negócio constitui elemento

essencial ao gerenciamento de todas as funções. Portanto, todas

as operações e processos devem ser administrados de maneira

integrada.

CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV

19

3. Processo de Aperfeiçoamento: a Carta indica como fundamental

a melhoria contínua das políticas, programas e práticas do

modelo de gestão. A medida visa assegurar o aprimoramento do

desempenho ambiental, através de desenvolvimentos técnicos,

entendimentos científicos, identificação das necessidades dos

consumidores / expectativas da comunidade, baseados na

legislação vigente bem como em padrões universais.

4. Formação de Pessoal: a disseminação do conceito está

destacada nesse artigo da Carta, no sentido de formar, treinar e

motivar pessoal na condução das atividades de uma forma

ambientalmente responsável. Em outras palavras, pode–se definir

que os recursos humanos de uma empresa devem estar

totalmente comprometidos com as práticas da gestão ambiental.

5. Avaliação prévia: deve–se reconhecer como sendo de suma

importância a avaliação dos impactos ambientais antes de iniciar

uma nova atividade ou projeto em um determinado local, assim

como quando da desativação de instalações.

6. Produtos e Serviços: neste artigo devem ser estabelecidos os

procedimentos para desenvolver e prover produtos e serviços que

não produzam impacto ambiental e que sejam seguros de serem

utilizados, eficientes no consumo de energia e de recursos

naturais e que possam ser reciclados, reutilizados e descartados

em segurança.

7. Conselhos de Consumidores: a intenção é a de educar os

consumidores, distribuidores e público em geral acerca da

segurança de uso, transporte, armazenamento e descarte de

produtos, aplicando–se a mesma regra para serviços.

8. Instalações e Atividades: este princípio registra a necessidade de

desenvolver, projetar e operar instalações bem como de conduzir

atividades levando–se em consideração o uso eficiente de

energia e materiais, assim como o uso sustentável dos recursos

renováveis, a minimização de impactos ambientais adversos pela

geração de resíduos e a remoção responsável de resíduos.

CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV

20

9. Investigações (Pesquisas): destaca–se a importância de conduzir

ou apoiar pesquisas sobre choques ambientais da matéria–prima,

produto, processo, emissão e resíduos decorrentes das

atribuições da empresa, bem como pesquisar os meios de

minimizar esses impactos.

10. Medidas Preventivas: como abordagem de precaução, esse

princípio busca a prevenção da degradação séria ou irreversível

do meio ambiente, mediante a adequação da fabricação e das

formas de comercialização de produtos, serviços ou atividades,

consistentes com o entendimento técnico e científico.

11. Empreiteiros e Fornecedores: partindo–se de um conceito de co–

responsabilidade, esse princípio prevê o incentivo à adoção dos

princípios da gestão ambiental, utilizados na empresa, pelos

terceiros prestadores de serviços, que atuem na organização,

através da orientação, recomendação e/ou sugestão de melhorias

em suas práticas, visando à consistência em relação às práticas

da empresa. A ideia é a de encorajar a plena adoção desses

princípios por todos os fornecedores.

12. Planos de Emergência: neste item a ideia é a da desenvolver e

manter, onde existam riscos significantes, planos de emergência

em conjunto com os serviços afins, autoridades relevantes e a

comunidade local, reconhecendo impactos potenciais que vão

além das fronteiras da organização.

13. Transferência de Tecnologia: este princípio prevê a contribuição

para a transferência da tecnologia ambiental e métodos de

gerenciamento do meio ambiente, através dos setores industriais

e públicos.

14. Contribuição para o esforço comum: como o intuito de valorizar a

consciência e a proteção ambiental, esse tópico destaca a

necessidade de contribuir para o desenvolvimento de programas

empresariais e de políticas públicas como também

governamentais e entre governos e, ainda, de iniciativas

educacionais, no sentido de cada vez mais formalizar a questão

da gestão ambiental.

CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV

21

15. Abertura ao diálogo: a transparência com as preocupações é

considerada nesse tópico, como incentivo à abertura e ao diálogo

com o público e funcionários, antecipando–se e respondendo a

suas preocupações sobre os riscos potenciais e impacto das

operações, produtos, resíduos ou serviços, incluindo aqueles de

significância global.

16. Cumprimento de regulamentos e informações: a intenção neste

item é a de se ter previamente definidos os procedimentos para

medir a performance ambiental assim como conduzir auditorias

ambientais regulares e, ainda, avaliar o cumprimento das políticas

da empresa, segundo os aspectos legais e os próprios princípios

da gestão ambiental. Todos os dados devem ser disponibilizados,

periodicamente, aos diretores, acionistas, funcionários,

autoridades e ao público em geral.

O evento seguinte à confecção da Carta com o estabelecimento desses 16

princípios correspondeu à Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento (UNCED – ECO–RIO/92). Esta foi realizada na cidade do Rio de

Janeiro, em junho de 1992. Mais uma vez autoridades de vários países avaliaram

impactos e agressões ambientais, surgindo, então, propostas de acordos

internacionais para a recuperação e defesa do ecossistema, conforme comenta

Vieira (1997).

Esse evento resultou em dois importantes documentos:

a) Carta da Terra (Declaração do Rio): estabelecimento de acordos

internacionais para preservação dos interesses de todo o mundo

em prol da integridade do meio ambiente, reafirmando–se as

diretrizes do desenvolvimento sustentável.

b) Agenda 21: como um dos resultados da Conferência que gerou o

documento anterior, a Agenda 21 define ações ligadas ao

conceito de desenvolvimento sustentável. Segundo o Ministério

do Meio Ambiente, esse documento visa conciliar métodos de

proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica. A

Agenda 21 indica que:

CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV

22

A sociedade precisa desenvolver formas eficazes de lidar com o problema da eliminação cada vez maior de resíduos. Os Governos, juntamente com a indústria, as famílias e o público em geral, devem envidar um esforço conjunto para reduzir a geração de resíduos e de produtos descartados (Agenda 21, 1992, p. 7).

Dez anos após a reunião do Rio de Janeiro, a Cúpula Mundial das Nações

Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável realizou nova Conferência em

Johannesburgo. Nesse evento o conceito de desenvolvimento sustentável assumiu

novo paradigma, passando a integrar o crescimento econômico, o desenvolvimento

social e a proteção ao meio ambiente. Os principais assuntos abordados foram:

recursos hídricos, energia, saúde, agricultura e biodiversidade (BARBIERI, 2004).

De todas essas conferências surgiu o conceito de desenvolvimento

sustentável, definindo–se que a solução para as questões de impacto no meio

ambiente não estavam baseadas simplesmente no fato de tornar o desenvolvimento

mundial mais gradativo, mas sim orientá–lo para a preservação do meio ambiente e

para os recursos que não são renováveis.

A ECO Rio 92 pode ser considerada como marco na construção de novos valores nacionais e de alcance mundial sobre os cuidados necessários ao meio–ambiente (sic). Como evento de grande porte, congregou esforços para que realmente pudesse ser disseminado o conceito de sustentabilidade, até então, em amadurecimento nas pautas de discussões ambientais (VIEIRA, 1997, p. 47).

Dessa forma, o desenvolvimento sustentável necessário à gestão ambiental

prevê que as gerações atuais utilizem os recursos naturais, renováveis e não

renováveis, de forma a não comprometer o uso desses mesmos recursos por

gerações futuras (ANDRADE et al, 2002, p. 82).

A evolução dos estudos relacionados ao desenvolvimento sustentável

priorizou questões existentes, processos produtivos que de alguma forma eram

passíveis de geração de impactos. Na verdade, isso não ocorreu em todo o mundo.

CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV

23

No entanto, alguns instrumentos e ferramentas passaram a ser construídos e

testados com o fito de corroborar o princípio da sustentabilidade.

Para essa compreensão importa destacar os conceitos revelados também ao

longo do tempo sobre impactos ambientais e as interpretações teóricas

desenvolvidas bem como as providências iniciais e em andamento.

Reforçando–se os conceitos e exigências de um desenvolvimento sustentável

defendido no planeta, conforme eventos e conferências já abordados, o avanço da

situação culminou com estudos mais detalhados sobre os impactos ambientais e

ferramentas que efetivamente poderiam contribuir à gestão dos mesmos, com foco

na redução e/ou evitação.

2.2. Impacto Ambiental: Principais conceitos, orig em e evolução.

Segundo aponta Oliveira (2000), a conscientização e a sensibilização com

respeito às questões ambientais remetem à percepção de que o desenvolvimento

urbano–industrial vem incorrendo em graves impactos ambientais, inclusive de modo

a comprometer a expectativa de existência e aproveitamento de recursos naturais no

futuro.

É dentro desse contexto que começam a surgir propostas e projetos com vista

à preservação ambiental, especialmente a partir da iniciativa de movimentos sociais

de inspiração ecológica, culminando no surgimento da Avaliação de Impacto

Ambiental (AIA). Stamm (2003) informa que nos anos 50, alguns estudos

pretenderam encontrar meios de avaliar probabilidades e intensidades de impactos

provocados por processos industriais, sendo, contudo, dada ênfase ao bem–estar

social. Mas, as técnicas desenvolvidas na ocasião não se mostraram totalmente

eficazes, em virtude de não abrangerem todas as variáveis compreendidas em ciclos

produtivos variados. No entanto, 20 anos mais tarde, surgiu nos Estados Unidos

uma política ambiental nacional e foi por intermédio dessa política que se iniciou a

construção de um processo sistemático e estruturado de avaliação de impactos no

meio ambiente, podendo ser já conhecido como Avaliação de Impacto Ambiental

(AIA).

CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV

24

A evolução da Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) pode ser dividida em várias etapas. Inicialmente, na década de 1970, foram introduzidos os princípios básicos, arranjos institucionais, desenvolvidas as primeiras técnicas de condução da AIA e implementadas as primeiras legislações sobre o assunto. No final da década de 1970 e início dos anos 80, a Avaliação de Impacto Ambiental, que originalmente analisava os meios físico e biótico, passou a incluir progressivamente os aspectos sociais e de saúde, análise de risco e fatores relacionados com a participação pública. Em meados dos anos 80 e 90, o método foi redirecionado com aumento dos esforços para análise dos efeitos cumulativos, implementação de uma estrutura de planejamento e de regulamentação, estabelecimento do monitoramento, da auditoria e de outros procedimentos de retroalimentação (follow up). Na década de 1990 houve significantes desenvolvimentos nos métodos para Avaliação de Impacto Ambiental (AIA). As maiores reformas foram feitas baseadas em sucessos na implantação deste tipo de procedimento na Austrália, EUA, Nova Zelândia e Canadá (STAMM, 2003, p. 22).

De fato, a AIA comparece como um poderoso instrumento de avaliação dos

impactos sofridos pelo ambiente, na medida em que é capaz de fornecer subsídios

para a sua gerência. Oliveira (2000, p. 42) menciona alguns dos motivos pelos quais

a AIA vem sendo um dos instrumentos de política e gestão ambiental mais aceitos

em todo o mundo:

a) possibilidade de incorporação, no mesmo processo de análise, de aspectos técnico–científicos, sociais, econômicos e políticos; b) adaptabilidade de seus princípios a situações legais e administrativas diferentes e, c) seu caráter democrático, tanto pela livre disponibilidade de informações sobre um projeto/empreendimento e seus impactos no ambiente, como pelo envolvimento e participação da sociedade nas decisões governamentais (OLIVEIRA, 2000, p. 42).

Nesse sentido, verifica–se que a AIA emerge como instrumento de

normatização do uso dos recursos naturais e econômicos a partir de uma

perspectiva sustentável, na qual é possível prever danos de maneira a minimizar o

impacto negativo da exploração dos recursos naturais.

A fim de compreender melhor como é possível o estabelecimento de

procedimentos de medição de impacto ambiental, faz–se necessário esclarecer

alguns pontos acerca do que seria mais propriamente o impacto ambiental.

CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV

25

Oliveira (2000) lembra várias definições para aquilo que é denominado

“impacto ambiental”. Para o direito ambiental, por exemplo, a noção de impacto

ambiental atrela–se à idéia de choque, colisão entre substâncias – sejam estas

sólidas, líquidas ou gasosas – ou ainda, à radiação ou às mais diversas formas de

energia que emergem como resultado da realização de obras ou atividades que se

desdobram em uma dramática alteração no ambiente social, natural, artificial ou

cultural.

Já o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), órgão consultivo e

deliberativo do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA), em sua resolução

de n.1/86, artigo primeiro, considera o impacto ambiental como:

(...) qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam: I – a saúde, a segurança e o bem–estar da população; II – as atividades sociais e econômicas; III – a biota; IV – as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; V – a qualidade dos recursos ambientais.

Os impactos ambientais podem ser decorrentes de eventos naturais (por

exemplo, terremotos, tsunamis, etc.) ou de forças antrópicas, ou seja, a partir de

ações humanas. É importante frisar que o impacto ambiental não remete

necessariamente a condições adversas ou negativas – conforme será visto mais

adiante – mas também diz respeito a desdobramentos de cunho benéfico, de efeitos

positivos sobre o ambiente ou ecossistema em geral. Nesse sentido, o impacto

ambiental refere–se mais propriamente à noção de “intervenção ambiental”, que

pode se exercer de modo negativo ou positivo.

De acordo com Gomes, Palma e Silva (2001), as medidas de impacto podem

ser efetuadas nos mais variados níveis de organização dos seres vivos, desde o

subcelular passando pelo celular, pelo populacional e pelo ecossistêmico.

Segundo os mesmos autores, impactos que se efetuam nos níveis inferiores

de organização – ainda que nos níveis mais inferiores – podem repercutir nos níveis

superiores. Assim, efeitos que se dão em um nível subcelular, celular e populacional

repercutem nas estruturas das comunidades bióticas, o que pode inclusive acarretar

certa diminuição da biodiversidade e comprometimento do patrimônio genético local.

CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV

26

No entanto, os autores frisam que nem todo impacto que se observa nos níveis

fisiológico, subcelular ou celular repercutirá no nível das populações em questão, de

maneira que são as análises da estrutura das comunidades e dos processos

ecossistêmicos que fornecerão um panorama mais exato do impacto ambiental.

A Resolução CONAMA 01/86 define três meios nos quais se exercem os mais

diversos impactos ambientais:

• Meio Físico – diz respeito aos subsolos, às águas, ao ar e ao

clima, considerando–se também os recursos minerais, os tipos e

aptidões dos solos, os corpos d’água, a topografia, o regime

hidrológico, as correntes marinhas e atmosféricas.

• Meio Biológico e os Ecossistemas Naturais – remetem à fauna e

flora, dando ênfase às espécies indicadoras de qualidade

ambiental, de valor econômico e científico, ou ainda, raras ou

ameaçadas de extinção. Remetem também às áreas de

preservação permanente.

• Meio Sócioeconômico – diz respeito às formas de uso e ocupação

do solo, da água e à variável sócioeconômica, sem negligenciar

os sítios e monumentos arqueológicos, históricos e culturais da

comunidade em questão. Também diz respeito às relações de

interdependência existentes entre a sociedade local, os recursos

ambientais disponíveis e a probabilidade de utilização futura

destes recursos.

O autor lembra ainda os critérios mais amplamente utilizados como subsídios

para avaliação dos impactos ambientais, tendo como referência a Resolução

CONAMA 01/86:

• Discriminação dos impactos negativos e positivos (adversos e

benéficos);

• Avaliação da relação de causalidade entre a causa e o efeito do

impacto, desde os mais diretos, circunscritos pela relação

CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV

27

primária de causa–efeito, até os indiretos, remetidos a relações

secundárias de causa e efeito;

• Momento dos impactos (se imediatos, a médio ou a longo prazo);

• Sua duração: o impacto pode ser temporário, na medida em que

depende da atuação de sua fonte para se exercer. Em

contrapartida, também pode ser permanente, na medida em que

continua a se exercer mesmo após a cessação da sua fonte;

• Reversibilidade: critério que aponta se um impacto é reversível

ou irreversível, permanente;

• Amplitude de consequência do impacto, ou seja, a gravidade de

seus desdobramentos;

• Abrangência geográfica na qual se insere o impacto (se o

impacto é local, regional ou global).

A partir daí, pode–se considerar o desenvolvimento de um conjunto de

técnicas e instrumentos que compõem a AIA. Os sistemas de Gestão Ambiental

Empresarial são estabelecidos, na maioria das vezes, partindo–se do estudo do

impacto ambiental e do emprego de uma das metodologias AIA. No que se refere à

indústria, como está sendo visto no decorrer deste estudo, a ACV passou a ser uma

ferramenta, praticamente obrigatória e específica, para avaliações no ciclo de

produtos. É válido, portanto, reconhecer que ambas as abordagens seguem o

mesmo propósito, sendo hoje identificadas no mercado diversas técnicas que podem

ser adotadas em conformidade com a realidade que se pretende avaliar em termos

de impactos ambientais e possibilidades de redução e/ou eliminação na fonte.

Assim, ainda nos anos 90 a construção sistematizada de uma ferramenta de

avaliação do ciclo de vida de um produto fez–se evidentemente necessária. Tanto a

Society of Environmental Toxicology and Chemistry (SETAC) como a International

Organization for Standardization (ISO) operaram nesse sentido, sendo a ACV

devidamente normatizada, como veremos mais adiante.

CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV

28

2.3. A Avaliação do Ciclo de Vida: Breve histórico e principais conceitos

De acordo com Chehebe (1998), a empresa Coca–Cola pode ser considerada

a pioneira nos estudos sobre a análise de possíveis impactos ambientais causados

por produtos e suas embalagens. Como já vimos, a organização, ainda nos anos 70,

contratou especialistas em assuntos ambientais, Midwest Research Institute (MRI), a

fim de apurar a questão. A idéia era apontar, de modo quantitativo, o emprego de

recursos naturais e as emissões no processo produtivo. Surgiu, então, o REPA –

Resource and Environmental Profile Analysis, que podemos considerar como a

primeira identificação da atual denominação da Avaliação do Ciclo de Vida.

A partir daí os estudos cresceram nessa área, algumas variáveis foram

inseridas, passando o conjunto de processos do REPA a ser considerado um

sistema visto como padrão de referência para análises de avaliação de impactos

ambientais. Já na década de 90, à evolução do sistema agregaram–se aplicativos

específicos: os softwares Ökobase I e II. Passa então a tomar forma a ferramenta

ACV.

Barbieri (2006) afirma que a “A avaliação do ciclo de vida (ACV) é um

instrumento de gestão ambiental aplicável a bens e serviços. O ciclo de vida que

interessa à gestão ambiental refere–se aos aspectos ambientais de um bem ou

serviço em todos os seus estágios, desde a origem dos recursos no meio ambiente

até a disposição final dos resíduos de materiais e energia após o uso, passando por

todas as etapas intermediárias como beneficiamento, transportes, estocagens e

outras.

Prates (1988) conceitua a ACV como um processo de avaliação de produtos

ambientais associados a um sistema de produtos e serviços que permite identificar e

avaliar os impactos dos produtos no meio ambiente ao longo do ciclo de vida do

produto (desde a extração das matérias–primas produção, transporte, uso e

descarte após o uso). Cada uma das fases do processo produtivo é avaliada, sendo

que a profundidade dependerá da finalidade do estudo.

Manzini e Vezzoli (2002) definem a ACV como uma maneira de conceber o

desenvolvimento de novos produtos, tendo como objetivo que, durante todas as

suas fases de projeto, sejam consideradas as possíveis implicações ambientais

ligadas às fases do próprio ciclo de vida do produto (pré–produção, distribuição, uso

e descarte), buscando assim minimizar todos os efeitos negativos possíveis.

CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV

29

Reforçando–se os conceitos da ACV e considerando exigências de um

desenvolvimento sustentável defendido no planeta, conforme eventos e conferências

já abordadas, o avanço nesse estudo ultrapassou as fases iniciais que,

preliminarmente, comparavam apenas a rotulagem ambiental, o que não atendia a

totalidade proposta, na medida em que se tratava de apenas um dos segmentos de

vida de um produto. Pensar o ciclo de vida em práticas empresariais, com o objetivo

de gerenciar sistematicamente o ciclo de vida dos produtos e serviços de uma

organização, fez–se necessário para promover padrões de produção e consumo

mais sustentáveis do que os que se tinha. Era necessário criar uma estrutura de

gestão flexível e integrada de conceitos, técnicas e procedimentos para abordar os

aspectos ambiental, econômico e social de produtos e serviços para as

organizações.

Estudar a definição específica de “ciclo de vida” requer algumas importantes

considerações. Esse termo dá a idéia de início e fim de algo, passando por etapas

evidentemente intermediárias. O ciclo de vida poderá ser de um produto–objeto,

como também referir–se a uma instituição ou estrutura organizacional. Para o

presente estudo observa–se principal atenção ao ciclo de vida de um produto, em

que, segundo Clark e Fujimoto (1991), há o estabelecimento de um conjunto de

fases sucessivas referentes a um produto e sua efetividade, ou seja, desde sua

criação/fabricação incluindo a extração da matéria–prima usada até seu ponto final

de desuso.

A Avaliação do Ciclo de Vida apresenta–se como técnica de gestão dos ciclos

de produção para a identificação de alternativas de interação entre processos.

Graedel e Allenby (1995), ao estudarem os princípios de uma ecologia industrial

inserida nas modalidades dos princípios ambientais definidos ao longo dos debates

sobre o meio ambiente e o desenvolvimento sustentável, apontaram para a questão

da avaliação do ciclo de vida como sendo premente aos processos de fabricação.

Para os autores, a avaliação deve levar em conta o ciclo de vida total, quer seja de

um produto ou mesmo de um processo ou ação.

Portanto, devem ser vistos, analisados e avaliados o processamento de

matérias–primas, a atividade de fabricação e, sobretudo, a logística inerente ao

CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV

30

mesmo, ou seja, a armazenagem, o transporte e a distribuição, acrescendo–se a sua

destinação final. Pode–se dizer que o ciclo refere–se à história propriamente dita.

Assim, a ACV refere-se a um método sistemático para avaliar e analisar

qualitativa e quantitativamente as propriedades de produtos e serviços e os fatores

impactantes ao meio ambiente. A partir dos estudos de Graedel e Allenby, (1995) é

possível construir um esquema que demonstre as principais fases do ciclo de vida

de um produto (Figura 1).

Figura 1 – Ciclos de Vida de um Produto

Fonte: Adaptado de Graedel e Allenby, (1995), p. 28.

Os autores consideram nesse esquema as diversas fases de fabricação e

vida de um produto. Começando pela extração da matéria–prima, que pode estar

relacionada à preparação de solo para plantação e cultivo como também estar

relacionada ao uso de algum recurso natural, ou à retirada do ambiente de petróleo,

por exemplo. Observa–se, assim, que as providências a serem consideradas no

processo de Avaliação do Ciclo de Vida são de fato bem iniciais. Deve–se

efetivamente considerar a origem da matéria–prima.

Retirada de recursos naturais

Fabricação de material

Fabricação de peças

Usinagem de materiais

Montagem de módulos

Montagem do produto

Revisão

Destinação final/Descarte

Uso pelo consumidor

Expedição Embalagem

CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV

31

A partir daí inicia–se outra fase, em que há o processamento da matéria prima

de modo que sejam fabricadas partes ou peças do produto para então ser fabricado

o produto propriamente dito.

Com o produto pronto inicia–se o processo de embalagem e da logística

referente à armazenagem, transporte e distribuição, culminando com o descarte.

Hoje em dia fala–se em logística reversa, sendo a responsabilidade pela destinação

final do produto de seu fabricante. Trata–se de um avanço nos debates ecológicos

acerca das questões ambientais, visando, dessa forma, otimizar os processos de

gerenciamento de resíduos (BARBIERI, 1997).

Pode–se depreender que, na realidade, a ACV considera um processo

minucioso, detalhado e, de fato, complexo, já que deve levar em conta variáveis

diversas. Portanto requer estruturação adequada, seu planejamento formal deve

prever fases distintas e sucessivas para que se tenha a idéia real do ciclo de vida de

um produto.

Para Mattos et al (2002), a ferramenta e sua disposição (Figura 1) favorecem

a interpretação de um sistema ou processo, facilitando a tomada de decisões em

fases distintas do ciclo produtivo.

Enfim, segundo Chehebe (2002, p.10):

“....a análise do ciclo de vida é uma técnica para avaliação dos aspectos ambientais e dos impactos potenciais associados a um produto, compreendendo etapas que vão desde a retirada da natureza das matérias–primas elementares que entram no sistema produtivo (berço) à disposição do produto final (túmulo).”

2.4. Usos e aplicações.

Em termos gerais, a Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) de um produto se

refere a uma ferramenta de gerenciamento ambiental que possui a finalidade de

medir impactos ambientais e fornecer indicações acerca dos impactos potenciais

remetidos ao ciclo da vida desse produto.

De acordo com Caldeira Pires (2005), a Avaliação do Ciclo da Vida (ACV)

remete a um processo objetivo e pragmático capaz de oferecer uma compreensão

CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV

32

mais ampla acerca dos impactos referidos a um determinado produto, processo,

serviço ou outros tipos de atividades econômicas, em relação à saúde e ao meio

ambiente, abarcando todo o seu ciclo de vida – o que torna a ACV uma abordagem

ampla e com inúmeros horizontes de aplicação.

Nesse sentido, a ACV emerge como uma ferramenta avaliativa múltipla, que

pode ser utilizada em todos momentos do ciclo de vida de um produto, de modo que

a noção de seu impacto sobre o ambiente e sobre a sociedade se torna, por um

lado, mais abrangente, e por outro, mais precisa – o que é de grande serventia para

elaboração de estratégias direcionadas para a diminuição dos impactos ambientais e

orientadas para um desenvolvimento calcado na sustentabilidade e no respeito não

só às necessidades do homem, mas também da natureza.

Nesse contexto, a ACV (ACV–IBICT, 2008) permite que se faça uma

estimativa precisa acerca dos impactos ambientais que são abarcados pela

totalidade do processo produtivo, de maneira a considerar inclusive impactos que

são obscurecidos por outras metodologias tradicionais de análise. É em função da

consideração desses impactos, que de outra maneira poderiam passar

despercebidos, que a ACV implica uma perspectiva mais completa acerca dos

impactos ambientais decorrentes de produtos ou de processos e, também, de um

panorama mais completo sobre as trocas ambientais envolvidas na seleção dos

produtos.

Assim, para Chehebe (1997 apud EMERENCIANO et al, 2007), a ACV é uma

ferramenta que contempla a avaliação do ciclo da vida nos produtos inseridos no

sistema, sem negligenciar todas as etapas pelas quais estes passam, considerando

os impactos referentes a todo o processo – desde a simples extração de matéria–

prima até o uso e a disposição final do produto. Emerenciano et al (2007) lembram

também que, a longo prazo, a ACV é capaz de suscitar mudanças tecnológicas

essenciais no tocante à produção e ao produto em si, em função do “efeito

multiplicador ao longo da cadeia de produção, inclusive no uso otimizado de energia

e de materiais, através do emprego de processos de reciclagem e de reuso”

(EMERENCIANO et al, ibidem, p.3).

Sendo assim, o ACV emerge como uma ferramenta que confere aos

tomadores de decisão uma perspectiva mais ampla que lhes permite selecionar

CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV

33

processos e produtos que sejam menos danosos e impactantes em relação ao meio

ambiente, na medida em que fornece informações acerca da totalidade do ciclo de

vida do produto ou do processo. Em outras palavras:

A Análise do Ciclo de Vida é essencialmente um instrumento científico qualitativo e quantitativo, cobrindo todos os estágios do ciclo de vida e todos os tipos de impactos ambientais direcionados ao produto, objetivando: o levantamento, a avaliação e a interpretação dos aspectos e impactos potenciais envolvidos em todo ciclo de vida do produto. (EMERENCIANO et al, 2007, p.3)

Ao verificarmos o alcance da ACV enquanto técnica, observa–se que esta

pode configurar uma estratégia eficaz para a definição de políticas consistentes

sancionadas por instâncias governamentais, de modo a evitar que os impactos

ambientais sejam pulverizados para outras fases do ciclo da vida de um produto ou

serviço, minimizando as consequências negativas de seus impactos (ACV–IBICT,

2008).

Nesse sentido, governos, acionistas, concorrentes e consumidores – dentre

outros atores – vêm pressionando as instâncias responsáveis a minimizar os

impactos ambientais, especialmente aqueles situados para além da fase de uso do

produto. Assim, as situações às quais podem servir a ferramenta são as mais

diversas, incluindo: o desenvolvimento dos produtos; a escolha de tecnologias

envolvidas em sua produção; a identificação da fase do ciclo da vida em que os

impactos decorrentes desses produtos ocorrem; a seleção de indicadores

ambientais que sejam pertinentes à análise de projetos vinculados ao processo e à

reformulação dos mesmos (ACV–IBICT, 2008).

Emerenciano et al (idem) indicam ainda vários usos da ACV. Dentre eles,

citam–se aperfeiçoamentos dos produtos e processos produtivos; a possibilidade de

quantificação e comparação do desempenho ambiental de produtos; o auxílio à

tomada de decisões na indústria, no governo ou mesmo em ONG´s comprometidas

com o planejamento estratégico no tocante à demarcação de prioridades e também

ao desenvolvimento de processos e projetos. A ACV, segundo os autores, também

pode ser utilizada para fornecer informações concernentes aos recursos usados, às

emissões e também ao consumo de energia, bem como servir para fundamentar

CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV

34

estratégias de marketing que somam à empresa um diferencial competitivo, uma vez

que este diferencial revela comprometimento com o bem–estar da sociedade a partir

do uso sustentável dos recursos naturais. Os autores marcam também que a ACV

exige que as indústrias se abram mais para considerar questões ambientais que se

relacionem com a totalidade do processo produtivo. Tendo em vista essa ampla

gama de atuação, tem–se que:

Na verdade se trata de uma forte tentativa de integração da qualidade tecnológica do produto, da qualidade ambiental e do valor agregado para o consumidor, representando uma mudança estratégica importante. (EMERENCIANO et al, 2007, p. 4)

Com respeito ao marketing e ao diferencial competitivo conferido ao uso da

ACV, cabe situar a Rotulagem Ambiental, que consiste na diferenciação de um

produto ou serviço com vista a singularizá–los como comprometidos com a

sustentabilidade. Nesse sentido, a Organização Internacional de Normalização (ISO)

diferencia quatro tipos de rotulagem. O Tipo I remete à licença para o uso de rótulos

que indiquem que um determinado produto é preferível – a partir de considerações

sobre seu ciclo de vida – em relação a outros produtos da mesma categoria. Já o

tipo II se refere a autodeclarações ambientais formativas, enquanto o Tipo III remete

a programas que fornecem dados ambientais quantificados sobre um produto,

baseados na análise do seu ciclo de vida, e executados por terceiros. Por último, o

Tipo IV trata de rótulos ambientais monocriteriosos atribuídos por terceiros, que se

referem a apenas um aspecto do impacto ambiental, sem se basear no seu ciclo de

vida (ACV–IBICT, 2008).

Lima et al (2007) lembram que a ACV vem sendo uma ferramenta cada vez

mais requisitada pelo governo, especialistas ambientais, associações de

consumidores, autoridades, organizações ambientais e pelas indústrias. Os setores

da construção civil, de embalagens, de energia, da agropecuária, de mineração e o

setor químico, dentre outros, vêm se destacando no uso da ACV. Emerenciano et al

(ibidem) afirmam que a agroindústria vem utilizando o ACV para analisar diversas

questões ecológicas vinculadas à produção, ao consumo e ao destino final dos

produtos e serviços industriais e agrícolas, otimizando a produção e prezando pela

CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV

35

conservação ambiental. Tais medidas podem, segundo os autores, contribuir para

processos de tomada de decisão em relação aos insumos. Também na indústria de

embalagens esta metodologia vem se mostrando, comparando o desempenho

ambiental de caixas de papelão ondulado e de madeira para transporte e

acondicionamento de fruta, em que se verificaram os quantitativos inseridos no

balanço de massa do uso de tais produtos no transporte de frutas e hortaliças.

Emerenciano et al (idem) também mencionam que a ACV vem sendo utilizada

por indústrias de fabricação de extintores de incêndio, comparando a qualidade e os

aspectos ambientais referidos aos produtos.

Almeida D´Agosto, Mattos e Ribeiro (s/d) apresentam um estudo sobre o uso

da ACV na escolha e no planejamento do uso de combustíveis usados no transporte

rodoviário, no qual se verificou a recomendação de priorização de medidas

alternativas de energia, inclusive demandando novos estudos que levem em

consideração a realidade brasileira.

Verifica–se, portanto, que muitos são os usos e as aplicações do ACV, sendo

esta uma estratégia flexível e ampla, capaz de abarcar o estudo de diversos

contextos ambientais e de sistemas de produção.

2.5. Limitações da técnica.

Emerenciano et al (2007) apresentam várias barreiras ao uso da ACV. A falta

de incentivos fiscais por parte do Estado a fim de promover o uso da ferramenta, de

pessoal capacitado e de bancos de dados com informações sobre a ACV, de

insumos industriais essenciais tais como aço, energia, combustíveis, cimento, etc.,

são alguns fatores apontados.

Os autores afirmam ainda que a complexidade da ACV e sua demanda por

dados precisos compromete a utilização dessa ferramenta por pequenas e médias

empresas. Grandes empresas também podem ter problemas, uma vez que os

processos de produção são específicos e cada um deles demanda uma atenção

diferenciada. Assim, temos que:

CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV

36

Isto dificulta a coleta e o fornecimento de informações técnicas gerais, o que exige maior quantidade de pesquisas e esforços para aprofundar o conhecimento sobre o tratamento desses processos, levando, às vezes, à determinação de um limite do processo a ser estudado, não atendendo todo o processo produtivo como deveria acontecer. (EMERENCIANO et al, 2007, p.4).

Pnuma (2007 apud EMERENCIANO et al, idem), nesse sentido, lembra que

um estudo de ACV necessita de muitos recursos e pode ser bastante longo, o que

se torna uma barreira para as empresas, uma vez que muitas não podem custear tal

serviço. Nesse sentido, tem–se que uma avaliação minuciosa acerca das relações

de custo e benefício implicadas na utilização da ACV deve ser executada. É

necessário considerar os tipos de dados a serem pesquisados, o custo e o tempo

precisos para a realização de sua coleta e os recursos disponíveis para o

desenvolvimento do estudo.

Uma vez constatadas todas essas dificuldades, cabe mencionar que frente às

mesmas, a norma NBR ISO 14040 estabelece as limitações da ACV. Nesse sentido,

ela regulamenta os usos e os contextos que deverão estar atrelados à utilização de

tal ferramenta.

Vale lembrar que a norma aponta que a ACV não aborda os aspectos

econômicos e sociais implicados em um produto, o que limita o alcance dos

resultados de seus estudos.

Vários outros limites são delimitados pela norma:

• O elemento interpretativo necessário ao projeto aponta para o fato

de que as suposições sugeridas na ACV são de natureza

subjetiva, revelando “um certo grau de subjetividade decorrente

da necessidade de julgamento e discernimento por parte dos

especialistas encarregados da condução do estudo, como

também limitações de conhecimento científico disponível” (ACV–

IBICT, 2008, p. 1);

• Os modelos utilizados na análise de inventário e na avaliação de

impactos podem não se encontrar disponibilizados para a

avaliação de todos os impactos potenciais e aplicações;

CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV

37

• Condições locais não necessariamente reproduzem condições

globais, de modo que resultados de estudos de ACV

contemplando questões globais ou regionais podem não se

aplicar em aplicações locais.

• A carência de disponibilidade ou acesso de dados pode

comprometer os estudos da ACV, em função da má qualidade

dos dados, que pode se caracterizar como falhas, tipos de dados,

média, agregação, especificidades locais;

• A ausência de dimensões temporais e espaciais dos dados do

inventário utilizados para avaliar o impacto ambiental, de modo a

não ser possível, em última instância, oferecer uma certeza

acerca dos resultados do impacto. O grau de certeza ou de

incerteza se define, nesse sentido, pelas características

temporais e espaciais de cada uma das categorias de impacto.

Dadas todas estas limitações, que fazem da ACV uma ferramenta

inapropriada para uma série de contextos, a Norma NBR ISO 14040 recomenda

ainda que as informações desenvolvidas ao longo de um estudo de ACV sejam

apenas parte de um processo decisório mais abrangente, que abarque outras

alternativas e perspectivas. A mesma norma sugere também que a ACV seja usada

para configurar soluções de compromissos amplas ou gerais. A norma frisa ainda

que a comparação de dados entre estudos diversos de ACVs só é possível caso os

contextos de cada estudo sejam iguais.

Um último ponto a ser lembrado é que a ACV não pode avaliar de maneira

precisa se um determinado produto ou processo é mais ou menos eficiente tanto no

que tange aos custos quanto a outros fatores, uma vez que essa ferramenta não

mede impactos ambientais reais, mas sim impactos potenciais (ACV–IDICT, 2008).

Dessa forma, os prognósticos emitidos pelos pareceres dos avaliadores podem não

se concretizar ou se concretizarem apenas parcialmente.

Dessa forma, verifica–se que a própria complexidade e o grau de

profundidade atrelados à utilização da ACV – apesar de apontarem para a

excelência de seu uso – comprometem o alcance da técnica. Inclusive, alguns atores

que poderiam beneficiar–se da ferramenta, em função dos altos custos que esta

invoca, encontram–se impossibilitados de solicitá–la.

CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV

38

Assim, ainda que já citadas as normas que disciplinam a aplicação de um

estudo ACV, necessário se faz uma incursão, ainda que não profundamente, ao

arcabouço de normas técnicas pertinentes ao assunto.

2.6. Normatização – A série ISO 14000.

Mattos et al (2002) explicam que a equidade dos procedimentos inerentes à

ACV são pretendidos pela série de normas ISO 14040. Estas determinam

parâmetros e critérios para uso da ferramenta, apuração de resultados e divulgação

dos mesmos.

A evolução do conceito de qualidade como alicerce das normas ISO culmina

com a busca irrestrita pela eliminação de erros e retrabalhos, desenhando–se um

novo cenário reconhecido como a Qualidade Total — QT (Total Quality — TQ),

também conhecido por Total Quality Management — TQM.

Trata–se de um modelo de sistema da qualidade agregando novos conceitos

ligados ao atendimento aos interesses e expectativas do cliente, além de

permanente atenção ao aprimoramento dos produtos e serviços.

Aliado a essa nova realidade surgiu a valorização dos recursos humanos

havendo o maior envolvimento, comprometimento e participação de todos os

funcionários, desde a cúpula até o menor nível funcional da empresa.

A idéia de um programa de qualidade prioriza questões além do simples

cumprimento de métodos e técnicas convencionalmente definidos. Trata–se

verdadeiramente de uma filosofia organizacional expressa através de ações.

Portanto, hoje em dia, estabelecer um sistema da qualidade não significa

aumentar ou reduzir a qualidade dos serviços ou produtos, mas sim aumentar ou

reduzir a certeza de que os requisitos e atividades especificados estão sendo

atendidos/cumpridos.

Destaca–se nesse processo de construção de um novo modelo de qualidade

a questão do enfoque, anteriormente voltado ao controle e garantia de qualidade,

para a gestão de melhoria de processos, com o intuito de assegurar a produção da

qualidade em todas as etapas do processo produtivo logo na primeira vez.

Prosseguindo com a evolução das práticas e desenvolvimento de programas

de qualidade, verifica–se atualmente, no contexto empresarial moderno, que a

CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV

39

qualidade não está somente direcionada à elaboração e fabricação de um produto

ou atrelada a procedimentos ligados à prestação de um serviço. De fato, observa–se

que a qualidade está inserida no cotidiano organizacional, permeando todas as

fases de um ciclo de produção, como também está presente em todo o planejamento

e execução de um serviço. Não se refere mais à qualidade de um produto ou serviço

em particular, mas à qualidade do processo como um todo, abrangendo tudo o que

ocorre em uma organização.

Nessa linha, verifica–se uma crescente busca pela qualidade que tem

agregado procedimentos específicos aos sistemas. Intensificou–se ainda mais a

proposta de existência de modelos de qualidade. Consequentemente, os mercados

e públicos–alvos (consumidores de todos os segmentos) gradativamente elevaram

seus padrões de exigência, dada a grande oferta de serviços e produtos totalmente

inspirados e confeccionados segundo os moldes de sistemas de qualidade.

Em decorrência disso, a competitividade entre empresas aumentou passando

a qualidade a ser praticamente considerada importante diferencial de

posicionamento e ranking de mercado, contribuindo decisivamente nos resultados

empresariais.

Nesse cenário, surge a necessidade de disciplina no assunto, como regras e

normas básicas a serem cumpridas e adotadas, visando a padrões mínimos de

qualidade. Inicialmente, com a intenção de fornecer ao mercado em geral uma

evidência tangível de preocupação com a qualidade, principalmente no que diz

respeito a mantê–la em todas as etapas de um processo produtivo, quer seja de um

produto mesmo, quer seja de serviços.

Posteriormente, agregou–se a essa questão o importante advento da

globalização, em que é imperioso o entendimento entre fornecedores e clientes,

países produtores e países consumidores. Isso em âmbito mundial. É importante

que todos tenham um mesmo vocabulário no que diz respeito, principalmente, aos

sistemas da qualidade. Não havendo essa preocupação, os produtos poderiam ser

gerados sem a preocupação com a qualidade, porém com padrões específicos de

cada local, que ao final poderiam estar bastante diferenciados entre si.

A fim de evitar conflitos dessa natureza, foram emitidas normas internacionais

sobre sistemas de gestão da qualidade, pela ISO (International Organization for

Standartization — Organização Internacional para Normalização).

CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV

40

A ISO é uma ONG (Organização Não Governamental) fundada em

Genebra/Suíça no ano de 1947. Com o intuito de facilitar o intercâmbio entre as

empresas de todo o mundo, o principal objetivo dessa entidade é o desenvolvimento

de normas padronizadas ligadas a atividade e serviços tendo como base as esferas

de entendimento intelectual, científica, tecnológica e econômica.

O emprego do termo ISO calca–se em sua etiologia enquanto palavra de

origem grega. Kvasnicki (2002) lembra que seu significado está associado à trilogia

Igualdade — Homogeneidade — Uniformidade, fornecendo a idéia de padronização.

De fato, em todas as línguas o termo ‘iso’ possui o significado de igualdade.

Cerca de 130 Países participam dessa ONG, o que significa praticamente 95

% da Produção Mundial. Kvasnicki (2002) informa a sua missão declarada:

“Promover o desenvolvimento da normalização e atividades relacionadas no mundo com vistas a facilitar o comércio internacional de bens e serviços e o desenvolvimento da cooperação nas esferas intelectual, científica, tecnológica e atividades econômicas”. (KVASNICKI, 2002, p.2)

A ISO funciona segundo as disposições dos Comitês Técnicos. Esses

Comitês têm respaldo e integração em cada país. A série 9000 de Normas da ISO

no Brasil, por exemplo, está sob a responsabilidade do Comitê Técnico das normas

NBR ISO 9000, CB 25, da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas).

Todas as Normas ISO são revistas no período de 5 anos, de modo a garantir

sua adequação e atualização permanentes.

Na verdade, a certificação pelas Normas da ISO pretende evidenciar o nível

de serviço prestado pela empresa auditada com a pretensão de certificação,

assegurando a padronização das normas.

A série 9000 das Normas da ISO relaciona–se aos sistemas de gestão da

qualidade em serviços. Existem também as ISO 8402 e 14000. A primeira é

exclusivamente voltada aos conceitos e terminologias da própria qualidade e a

segunda específica para o gerenciamento do meio ambiente.

Na elaboração das Normas ISO da série 9000 foi criado o Comitê Técnico

ISO TC 176. Kvasnicki (2002) afirma que foram estudadas e analisadas várias

normas de diversos países, incluindo o Brasil.

CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV

41

As principais Normas estudadas, segundo o autor, foram:

• EUA: Normas MIL Q.9858 e MIL–I–45208;

• Reino Unido: Normas DEF. STAN. 0521; DEF.STAN. 0524; DEF.STAN. 0529, BS 5750;

• Canadá: Normas CZ 229.

Do estudo dessas Normas advieram, no ano de 1987, as Normas ISO 9000,

ISO 9001, ISO 9002, ISO 9003, ISO 9004 e outras.

Já a aplicação da qualidade à gestão ambiental é definida pela ISO da série

14000. Esta série da normatização ISO é oriunda do evento internacional conhecido

como ECO Rio 92 e já apresentado neste trabalho. Muitas empresas preocupam–se

com as questões ecológicas de preservação ambiental e em virtude desse tipo de

preocupação, bem como em função de atenderem à obrigatoriedade legal e, ainda,

com vistas ao destaque de suas imagens como empresas responsáveis, passaram a

adotar as Normas ISO da série 14000, que correspondem ao gerenciamento

ambiental nos padrões da qualidade, respeitando–se padrões internacionais de

desenvolvimento sustentável (VALE, 2000).

Com um início de desenvolvimento similar ao da construção das Normas da

série 9000, a ISO, no começo da década de 90 do século passado, começou um

estudo para elaboração de normas voltadas a ferramentas de gestão.

O Comitê Técnico TC 207 atuou nessa área desenvolvendo normas com

aplicações nos seguintes campos, segundo atesta Vale (2000):

• Sistemas de Gestão Ambiental

• Auditorias Ambientais

• Avaliação da Performance Ambiental

• Rotulagem Ecológica

• Análise em Ciclo de Vida

• Termos e Definições

O autor chama a atenção para o fato de que as Normas dessa série cuidam

fundamentalmente da questão ambiental, sem definir, entretanto, diretrizes e

políticas ambientais. As Normas da série ISO 14000 para questões ambientais são

assim compreendidas:

CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV

42

• SISTEMAS DE GESTÃO AMBIENTAL

ISO 14001 – Especificações e requisitos: Esta Norma é um referencial para

as demais. Comparando–se à série 9000, está equiparada a 9001. Trata–se de uma

ferramenta gerencial para potencializar performances ambientais. É a norma

específica para a implementação de um Sistema de Gestão Ambiental (SGA). A

própria norma admite que esse sistema pode ser empregado pela empresa não só

com vistas à preocupação com as questões ambientais, mas também em função de

sua lucratividade. A mesma regra adotada na ISO 9001 no que se refere ao PDCA,

ou seja, Planejar–Fazer–Checar–Agir, princípios básicos e clássicos da

administração, são recomendados à construção do SGA, de modo, inclusive, a

assegurar medidas permanentes de melhorias e atualização.

ISO 14004 – Guia para a implementação de um Sistema de Gestão Ambiental

(SGA). Refere–se a uma ferramenta interna de gestão e complementa as definições

da norma anterior. Essa norma trata efetivamente da prática dos princípios a serem

empregados nos Sistemas de Gestão Ambiental. Uma de suas atualizações,

inclusive, beneficiou empresas de menor porte, tendo em vista a nova

parametrização estipulada à documentação e introdução das diretrizes dessa norma.

• AUDITORIAS AMBIENTAIS

ISO 19011 – Diretrizes para auditorias de sistema de gestão da qualidade

e/ou ambiental. Esta é uma que pretende ter uma orientação flexível. Ela descreve

os princípios da auditoria. Estes princípios ajudam o usuário a entender a natureza

essencial da auditoria e são uma introdução necessária para:

• Orientar a gestão dos programas de auditoria e cobrir pontos tais

como designação de responsabilidade pela gestão de programas de

auditoria, estabelecimento dos objetivos do programa de auditoria,

coordenação de atividades de auditoria e disponibilização de

recursos suficientes para a equipe de auditores;

• Orientar sobre a realização das auditorias de sistemas de gestão

da qualidade e/ou ambiental, incluindo a seleção de equipes de

auditores;

CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV

43

• Orientar sobre a competência necessária a um auditor e descreve

um processo para avaliar auditores.

• ROTULAGEM AMBIENTAL

São Normas elaboradas com referência à rotulagem ecológica:

ISO 14020 – Especificações e requisitos: Nesta norma já pode ser constatada

a orientação para adoção da ACV. Trata das variáveis que podem intervir no meio

ambiente, portanto cumpri–la significa evidenciar o menor risco de impacto

ambiental.

ISO 14021 – Rotulagem Ambiental Tipo II: Semelhante à anterior, já

especifica declarações emitidas pelas próprias organizações, esclarecendo o

aspecto ambiental de um produto sem mencionar, todavia, a ACV.

ISO 14024 – Rótulo Ambiental Tipo I: Princípios e Procedimentos: Nesta

norma é estabelecida a recomendação da ACV para a caracterização do produto e

seus fatores de impacto ambiental.

ISO 14025 – Rotulagem Ambiental Tipo III: Princípios e procedimentos: A

norma trata de processos padronizados considerando a rotulagem a partir

especificamente de parâmetros da ACV.

• AVALIAÇÃO DA PERFORMANCE AMBIENTAL

ISO 14031 – Definição de um processo de avaliação do desempenho

ambiental: Nesta Norma são sugeridos e exemplificados indicadores ambientais

como balizadores do processo de gestão. Esta norma efetivamente avalia se os

critérios estabelecidos no SGA foram cumpridos e se as metas previstas e os

resultados prospectados foram alcançados.

• CICLO DE VIDA DO PRODUTO

NBR ISO 14040 – Avaliação do ciclo de vida, princípios e estrutura: São

Normas que promovem a gestão integrada dos processos produtivos junto às

questões ambientais. Referências específicas a esta série são abordadas adiante.

• TERMOS E DEFINIÇÕES

ISO 14050: Esta é uma Norma específica de definição dos termos usados no

assunto gestão ambiental. Esta norma mantém–se atualizada a fim de que todas as

CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV

44

expressões relacionadas a SGA sejam entendidas por todos, promovendo–se assim

a padronização de termos.

Pelo acima exposto, nota–se que essa série de Normas é aplicável a

processos voltados às questões ambientais, ora estabelecendo requisitos

normativos para a implementação de sistemas de gestão, ora para a avaliação de

desempenho ou para demonstração da performance ambiental dos produtos e ou

das próprias organizações.

No que se refere à Avaliação do Ciclo de Vida, as normas brasileiras da série

ISO 14040 são empregadas como ferramentas de suporte para a respectiva gestão

ambiental. Trata–se de uma série que procura identificar a estrutura geral, além de

diretrizes que devem ser cumpridas na implementação e aplicabilidade da ACV.

Mattos et al (2002) apresentam um esquema (Figura 2) em conformidade com

a NBR14040, que deve alicerçar a ferramenta ACV.

Figura 2 – Fases de uma ACV (ABNT, 2001).

Fonte: Mattos et al, 2002, p. 12.

Todos os itens apresentados no esquema são contemplados pelas

respectivas normas. Nesse grupo encontram–se as seguintes normas:

Definição do Objetivo e

Escopo

Análise do inventário

Avaliação do impacto

Aplicações diretas: –Desenvolvimento e melhoria do produto;

–Planejamento estratégico;

–Elaboração de políticas; –Marketing;

–Outras.

Interpretação

Estrutura de Avaliação do Ciclo de Vida

CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV

45

ISO 14041 – Definição de escopo e análise do invent ário

Instrui e orienta sobre a definição clara do escopo, visando a garantir que o

estudo apresente de fato aprofundamento, detalhamento e especificidades a fim de

que se atinjam os objetivos determinados. Portanto também esclarece

minuciosamente os procedimentos e etapas concernentes à análise de inventário,

abrangendo coleta de dados e avaliações quantificáveis sobre o sistema de produto.

Importa considerar que a definição de objetivo e de escopo são as etapas

iniciais da ACV. Representam, portanto, a descrição do produto que será estudado,

avaliado e analisado, devendo conter, na aplicação, as pessoas que deverão

conhecer o processo. Na composição do escopo são apresentados os indicadores

considerados na quantificação do sistema, devendo caracterizar–se parâmetros

referenciais.

Da mesma forma a análise de inventário especifica, básica e essencialmente,

a coleta de dados e os cálculos processados e seus resultados. Portanto, obedecem

aos parâmetros referenciados na etapa antecedente. Alguns autores consideram

esta a fase que merece maior atenção para que sejam criteriosamente especificados

os fluxos do produto, suas características, etc. para que, nas fases seguintes da

ACV não haja equívocos em cálculos e avaliações de resultados.

Já em relação ao sistema de produto, faz parte, de certa forma, da etapa

inicial e acompanha as demais fases, já que a avaliação do impacto da ACV baseia–

se no desempenho ambiental de um sistema de produto já descrito.

ISO 14042 – Avaliação do impacto do ciclo de vida

Trata da construção propriamente dita do processo de avaliação, na medida

em que define os critérios e elementos para organização e estruturação dos dados,

a fim de que estes sejam classificados para então proceder–se às respectivas

avaliações quantitativa e qualitativa dos impactos ambientais potencialmente

apurados.

ISO 14043 – Interpretação do ciclo de vida

Apresenta–se a sistematização de procedimentos para identificação,

qualificação, conferência e avaliação dos dados e resultados do inventário, com

vistas às conclusões e recomendações finais.

CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV

46

ISO TR 14047 – Aplicação da ISO 14042

São apresentados exemplos da avaliação ACV para melhor assimilação da

norma ISO 14042.

ISO TR 14048 – Apresentação de dados

São traçados os padrões e especificidades técnicas para apresentação dos

dados, valorizando–se a transparência total das informações e evitando–se

equívocos.

ISO TR 14049 – Aplicação da ISO 14041

Utilizada para definição de objetivos e escopo e análise de inventário.

Da mesma forma que a ISO TR 14047, são fornecidos exemplos favorecendo

o entendimento da norma ISO 14041.

2.7. A Ecoeficiência.

A ecoeficiência é um conceito de gestão através do qual se pode relacionar

competitividade e desenvolvimento sustentável. Combina desempenho ambiental e

econômico para criar e promover valores com menor impacto ambiental possível.

Também pode ser entendida como a combinação de bens e serviços a preços

competitivos que satisfazem as necessidades humanas e proporciona qualidade de

vida, enquanto progressivamente, reduz–se o impacto ambiental e a intensidade de

uso dos recursos ao nível de consonância com a capacidade de suporte do planeta.

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico define a

ecoeficiência como “a eficiência com a qual os recursos ecológicos são utilizados a

serviço das necessidades humanas” (OECD, 1994 apud Salgado, 2004).

A Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (Environmental

Protection Agency – EPA) apresenta a ecoeficiência como a habilidade de

simultaneamente atingir os objetivos de produção e custo com qualidade e

desempenho, reduzir impactos ambientais e conservar recursos naturais. Afirma que

a ecoeficiência permite às empresas tornarem–se mais responsáveis do ponto de

vista ambiental e mais lucrativas no âmbito econômico, incentivando–as a inovação

e à competitividade (EPA, 2000).

Como já visto, o WBCSD define ecoeficiência como:

CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV

47

“A Ecoeficiência é atingida quando a organização fornece produtos e serviços a preços competitivos, que satisfaçam as necessidades humanas, trazendo qualidade de vida, enquanto reduz progressivamente os impactos ecológicos e a intensidade do uso de recursos naturais, em todo o ciclo de vida, a um nível que, pelo menos, não reduza a capacidade de absorção do planeta”.

Para o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável

– CEBDS, a ecoeficiência sugere uma significativa ligação entre eficiência dos

recursos (que leva à produtividade e lucratividade) e responsabilidade ambiental.

Portanto, ecoeficiência é o uso mais eficiente de materiais e energia, a fim de reduzir

os custos econômicos e os impactos ambientais.

Também se pode dizer que ecoeficiência implica saber combinar desempenho

econômico e ambiental, reduzindo impactos ambientais, mediante o uso mais

racional de matérias–primas e energia, a redução dos riscos de acidentes e a

melhora da relação da organização com as partes interessadas (stakeholders).

Necessariamente, seus elementos devem ser inseridos no processo produtivo, quais

sejam:

• Reduzir o consumo de materiais com bens e serviços;

• Reduzir o consumo de energia com bens e serviços;

• Reduzir a dispersão de substâncias tóxicas;

• Intensificar a reciclagem de materiais;

• Maximizar o uso sustentável de recursos renováveis;

• Prolongar a durabilidade dos produtos;

• Agregar valor aos bens e serviços.

A inserção de práticas ecoeficientes na empresa é uma forma de ultrapassar o

desempenho da concorrência. Segundo o BCSD Portugal (2000), para que a

ecoeficiência seja atingida é necessário que três conceitos básicos sejam aplicados:

• Redução do consumo de recursos naturais: isto inclui a

minimização do uso de energia, materiais, água e solo,

promovendo a reciclagem, a durabilidade dos produtos e a

redução dos desperdícios;

CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV

48

• Redução do impacto na natureza: isto implica redução das

emissões atmosféricas, lançamentos de efluentes, disposição de

resíduos e incentivos à reciclagem e ao reuso de materiais;

• Aumento da produtividade ou do valor do produto: significa

atender clientes fornecendo produtos mais flexíveis, funcionais e

que atendam objetivamente às necessidades dos clientes com

menor utilização de recursos.

Empresas ecoeficientes são aquelas que conseguem benefícios econômicos,

rapidez em seus processos e qualidade de seus produtos, com redução nos custos

associados aos desperdícios de água, energia e materiais, à medida que alcançam

benefícios ambientais por meio da redução progressiva da geração de resíduos

sólidos, efluentes líquidos e emissões atmosféricas, inserindo em seu processo

gerencial o conceito de prevenção da poluição e de riscos ocupacionais (Sisinno e

Moreira, 2005).

Ainda em relação ao conceito de ecoeficiência, WBCSD (2000) e OCDE

(1998) incorporam a definição de indicadores capazes de medir o desenvolvimento

de um empreendimento de maneira ambientalmente sustentável, de modo a atender

as necessidades humanas e promover a qualidade de vida, enquanto reduz

progressivamente os impactos ambientais e a intensidade do consumo de recursos

naturais, considerando a capacidade ambiental do planeta.

O WBCSD desenvolveu no livro Mudança de Rumo um conceito, que, ao unir

melhorias ambientais e econômicas, pudesse “criar um negócio a partir do desafio

da sustentabilidade”. Surgiu então o conceito de Ecoeficiência que reunia os

aspectos essenciais – progresso econômico e ambiental necessários para o

aumento da prosperidade econômica, a partir da utilização mais eficiente dos

recursos e de menos emissões nocivas para o ambiente (BCSD Portugal, 2000).

Empresas ecoeficientes são definidas no Changing Course como aquelas que

criam produtos e serviços mais úteis, ou seja, aquelas que acrescentam mais valor,

reduzindo progressivamente o consumo de recursos e a poluição. O objetivo era

mudar a concepção de que a indústria é parte do problema da degradação

ambiental (BCSD Portugal, 2000).

CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DO TEMA AMBIENTAL E A FERRA MENTA ACV

49

Além do WBCSD, outras instituições estudam a ecoeficiência, como a

Agência Européia para o Ambiente (European Environment Agency), que define o

termo como “mais bem–estar a partir de menos recursos naturais”. A agência tem

como meta utilizar os indicadores de ecoeficiência para mensurar o progresso rumo

à sustentabilidade em nível macro (LEHNI, 2000).

A abordagem da ecoeficiência enfoca a utilização adequada de recursos

materiais e energéticos, com o sentido de se reduzirem custos e de se maximizarem

lucros. Esse conceito de ecoeficiência, que adiciona valor aos negócios através de

uma adequada gestão ambiental, tem bastante atratividade para os empresários.

Empresas associadas ao WBCSD têm implementado indicadores e programas

voltados à melhoria da ecoeficiência, como, por exemplo, a publicação de

VERFAILLIE & BIDWELL (2000) – “Measuring eco–efficiency – a guide to reporting

company performance”, publicada pelo WBCSD em seu website.

No Brasil, o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento

Sustentável (CEBDS) apresenta também em seu website alguns Relatórios de

Sustentabilidade Empresarial, publicados nos anos de 1997, 1999 e 2001, sendo

apresentadas as experiências de ecoeficiência das suas diversas empresas–

membro. Indicadores típicos de ecoeficiência são: consumo de água, energia,

matéria–prima e resíduos gerados por unidade de produto.

CAPÍTULO 3 – DESCRIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA FERRAME NTA ACV

50

Neste capítulo são apresentadas as fases que compõem a metodologia ACV.

Todas estão estabelecidas em normas documentadas cujos textos especificam os

requisitos e os procedimentos necessários para a respectiva aplicabilidade.

3.1. Definição de objetivo e escopo

Segundo a norma NBR ISO 14041, o objetivo e o escopo devem declarar de

maneira consistente a aplicação pretendida, sendo necessárias suas definições

precisas; também devem mostrar as razões que justifiquem o estudo e o público

para o qual se dirige.

A norma NBR ISO 14040 define que o escopo de um estudo de ACV deve

considerar os seguintes elementos: as funções do sistema de produto ou, caso se

trate de estudos comparativos, as funções dos sistemas, a unidade funcional, as

fronteiras do sistema de produto, o procedimento de alocação, o tipo de impacto e a

metodologia de avaliação do impacto, bem como a interpretação que daí decorre, os

requisitos dos dados, as suposições, as limitações, os requisitos da qualidade dos

dados iniciais, o tipo de análise crítica, caso esta seja aplicável, e, por fim, o tipo e

formato do relatório requerido para o estudo.

A NBR ISO 14041 lembra que o ACV é uma técnica interativa, ou seja,

conforme vão sendo recolhidos os dados, alguns aspectos do escopo podem ser

alterados a fim de atingir os objetivos do estudo. Mesmo o objetivo do estudo pode

ser modificado, em função de limitações imprevistas, restrições, ou como resultado

de outras informações.

Uma vez definido o escopo de um estudo de ACV, é necessária uma

declaração nítida acerca da especificidade das funções – características de

desempenho – do produto. A unidade funcional é o que define a quantificação

dessas funções. É utilizada para indicar uma referência que padronize os dados de

entrada e de saída. Assim, a unidade funcional, segundo a recomendação do NBR

ISO 14041, deve ser mensurável e definida.

Em seguida, deve–se quantificar a quantidade de produto necessária para

cumprir a função. O fluxo de referência emerge como o resultado dessa

quantificação. Este fluxo é utilizado para calcular as entradas e as saídas do

CAPÍTULO 3 – DESCRIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA FERRAME NTA ACV

51

sistema. Uma mesma função deve servir de base para a comparação entre os

sistemas.

Já as fronteiras do sistema indicam que processos podem ser inseridos no

sistema a ser modelado. A princípio, a NBR ISO 14041 sugere que o sistema de

produto seja modelado de maneira que as entradas e saídas em suas fronteiras

sejam fluxos elementares. Entretanto, pode ser que não haja tempo hábil para

conduzir tal estudo. Assim, deve–se definir que processos elementares serão

estudados. Omissões acerca de estágios do ciclo da vida, processos de entrada e

saída devem ser justificadas e declaradas.

Vários estágios de ciclos da vida, fluxos e processos elementares devem ser

levados em conta, segundo a NBR ISO 14041. Por exemplo, as entradas e saídas

na sequência principal de fabricação/processamento; a distribuição; o transporte; o

uso e a produção de calor, eletricidade e combustíveis; a manutenção e o uso dos

produtos; a disposição dos resíduos dos produtos e dos processos; a recuperação

de produtos usados; a fabricação de materiais auxiliares; a iluminação e o

aquecimento.

A descrição de cada um dos processos elementares, de acordo com a mesma

norma, deve definir onde se inicia o processo elementar (com respeito aos termos de

recebimento de matérias–primas ou produtos intermediários) o tipo de

transformações que se dão no processo elementar e onde ele termina (em relação

aos produtos finais e intermediários). Também é preciso definir quais dados de

entrada e saída devem sem atrelados a outros sistemas de produto.

Quanto aos dados, eles vão depender do objetivo do estudo. Eles podem ser

recolhidos nas fronteiras do sistema ou na literatura.

As várias entradas e saídas de energia devem considerar, em todas as fases

relevantes para a produção e entrega dos combustíveis, energia vinculada a

insumos não energéticos e energia de processo utilizada no sistema de modelagem.

A NBR ISO 14041 lembra que emissões para a água, o solo e a atmosfera

representam frequentemente fontes pontuais ou difusas, após passarem por

dispositivos de controle de emissões. A categoria também deve incluir emissões

fugidias, quando relevantes. Os dados de entrada e saída também podem incluir

ruído, vibração, uso do solo, radiação, odor e perda de calor.

CAPÍTULO 3 – DESCRIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA FERRAME NTA ACV

52

No escopo, definem–se as entradas e saídas recomendáveis para rastrear o

ambiente, identificando–se os processos elementares de entrada e saída são

pertinentes ao sistema do produto que está em estudo. A identificação inicial deve

ser feita a partir dos dados disponíveis, mas a NBR ISO 14041 recomenda também

a inclusão de dados adicionais, quando possível. A norma sugere ainda vários

critérios que ajudam a definir quais entradas devem ser estudadas:

• Massa: o uso da massa como critério requer que o estudo inclua

todas as entradas que contribuem de forma cumulativa com mais

de uma porcentagem definida para a entrada da massa no

sistema de produto em modelagem.

• Energia: o uso da energia como critério requer a inclusão das

entradas que contribuem de forma cumulativa com mais que uma

porcentagem definida das entradas de energia no sistema de

produto.

• Relevância ambiental: critério em relação às entradas que

contribuam com mais de uma porcentagem adicional definida

para a quantidade de cada categoria isolada de dados do sistema

de produtos.

Os requisitos de qualidade dos dados devem ser especificados a fim de se

alcançarem os objetivos presentes no estudo. A NBR ISO 14041 recomenda que a

qualidade dos dados seja medida por critérios quantitativos e qualitativos. A norma

recomenda que os requisitos de qualidade dos dados sejam utilizados para os

parâmetros a seguir:

• Cobertura temporal: inclui a idade desejada dos dados e o

período mínimo de tempo para a sua coleta;

• Cobertura geográfica: remete à área geográfica para que se faça

a coleta dos dados dos processos elementares (como local,

regional, nacional, continental, global);

• Cobertura tecnológica: remete à combinação de tecnologias,

como, por exemplo, a média ponderada da combinação dos

processos pertinentes ao estudo, a melhor tecnologia que se

encontra disponível ou a pior unidade em operação.

CAPÍTULO 3 – DESCRIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA FERRAME NTA ACV

53

A NBR ISO 14041 lembra que indicadores adicionais que expressem a

natureza dos dados também devem ser considerados. Os seguintes requisitos

adicionais da qualidade dos dados devem ser considerados, dependendo da

definição do objetivo e do escopo:

•••• Precisão: é a medida de variação dos valores dos dados

expressos em determinada categoria;

•••• Completeza: trata da porcentagem de locais que relatem dados

primários com respeito ao número potencial existente para cada

categoria de dados em um processo elementar;

•••• Representatividade e consistência: trata da avaliação qualitativa

do grau em que um conjunto de dados expressa o universo de

interesse do estudo;

•••• Reprodutibilidade: remete à avaliação qualitativa da extensão, no

qual a informação sobre a metodologia e os valores dos dados

permitem que um outro reproduza os resultados encontrados no

estudo.

3.2. Análise do inventário

Trata da fase de avaliação do ciclo da vida que envolve a compilação e

quantificação de entradas e saídas para um dado sistema de produto no decorrer de

seu ciclo de vida. Segundo a NBR ISO 14040, esses dados podem ser interpretados

em função dos objetivos e do escopo da ACV.

De acordo com a NBR ISO 14041, a análise de inventário demanda as

seguintes etapas:

b) Preparação para coleta de dados: a norma recomenda várias

etapas para assegurar a compreensão mais precisa possível dos

sistemas de produtos a serem modelados. Recomenda que tais

etapas incluam o desenho de fluxogramas do processo específico

que delimitem os processos elementares a serem modelados,

inclusive as inter–relações. Também devem incluir a descrição de

cada processo elementar com a listagem das categorias de dados

CAPÍTULO 3 – DESCRIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA FERRAME NTA ACV

54

vinculadas a cada um deles e o desenvolvimento de uma lista que

especifique as unidades de medida. Sugere–se também a

inclusão da descrição das técnicas de coleta de dados e os

cálculos para cada categoria de dados, o fornecimento de

instruções que documentem os casos especiais, irregularidades

ou outros itens vinculados aos dados fornecidos.

c) Coleta de dados: os procedimentos para coleta de dados são

variáveis, dependendo de cada processo elementar, da

composição e qualificação dos envolvidos no estudo e da

necessidade de atender aos requisitos de direito de propriedade e

de confidencialidade. Nesse sentido, recomenda–se que tais

procedimentos e razões não sejam documentados. A coleta de

dados, a fim de ser mais precisa, demanda uma descrição e o

registro de cada processo elementar, a partir das descrições

quantitativas e qualitativas das entradas e saídas pertinentes,

para a definição de onde o processo se inicia e acaba. Nos casos

de o processo elementar possuir múltiplas saídas ou entradas, os

dados necessários para o procedimento de alocação devem ser

documentados e relatados. Também as entradas e saídas de

energia devem ser quantificadas em unidades de energia, e,

quando for possível, recomenda–se que a massa e o volume de

combustível também sejam devidamente registrados. Caso os

dados sejam oriundos de literatura, é necessário indicar a fonte.

d) Validação dos dados: deve ocorrer durante o processo de coleta

de dados. Quando forem identificados dados faltantes, a NBR

ISO 14041 define que devam ser incluídos um valor de dado que

não seja igual a zero e que seja justificado; um valor de dado

igual a zero, se for justificado; um valor de dado calculado com

base em valores relatados e processos elementares que utilizem

tecnologia similar. A norma sugere também que os dados

faltantes sejam documentados.

• Relação dos dados com o processo elementar: cada processo

elementar deve ter um fluxo de referência apropriado, de modo

CAPÍTULO 3 – DESCRIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA FERRAME NTA ACV

55

que os dados quantitativos de entrada e saída do processo

elementar sejam calculados com base nesse fluxo de referência.

• Relação dos dados com a unidade funcional e agregação dos

dados: considerando as fronteiras do sistema, os processos

elementares devem ser interligados a fim de que sejam feitos os

cálculos do sistema completo. Isso é feito mediante a

normalização dos fluxos de todos os processos elementares para

a unidade funcional. A norma também recomenda que o cálculo

forneça todos os dados de entrada e saída do sistema, fazendo

referência à unidade funcional. Recomenda–se também que a

agregação de entrada e saídas no sistema de produto seja

realizada com cuidado, da mesma forma que se recomenda que

as categorias de dados a serem inclusas sejam referentes a

substâncias equivalentes bem como a impactos ambientais

semelhantes. Se as regras de agregação tiverem que ser

detalhadas, deve–se justificá–las na fase de definição do objetivo

do escopo do estudo ou, ainda, sua avaliação deve ser feita após

a avaliação do impacto.

• Refinamento das fronteiras do sistema: as fronteiras iniciais do

sistema de produto devem obedecer aos critérios de corte que

aparecem na definição do escopo. A inclusão de dados deve ser

baseada em uma análise de sensibilidade, cujos resultados

podem ser:

• Alguns estágios do ciclo da vida ou dos processos elementares

podem ser excluídos em função da sua falta de relevância para os

resultados objetivados pelo estudo;

• Entradas e saídas sem relevância também podem ser excluídas;

• Outros processos elementares, entradas ou saídas podem ser

incluídos.

Todos os resultados dos processos de análises de sensibilidades têm de ser

necessariamente documentados, uma vez que esses procedimentos visam impor

limites aos dados de entrada e saída necessários ao estudo.

CAPÍTULO 3 – DESCRIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA FERRAME NTA ACV

56

3.3. Avaliação de impacto do ciclo de vida: Métodos

A partir de agora são descritas as metodologias mais usualmente adotadas

para avaliação de processos que causam ou são passíveis de provocar impactos

ambientais. Destacam–se, assim, no estudo alguns considerados como os

principais.

3.3.1. EDIP ( Environmental Development of Industri al Product )

Trata–se de um método de avaliação científica, desenvolvido na Dinamarca,

que hoje conta com alto grau de confiabilidade.

Prado (2007) aponta que as categorias indicadas pelo EDIP contemplam o

consumo de recursos (renováveis, não renováveis e energéticos) e os impactos

ambientais potenciais (incluindo aquecimento global, formação fotoquímica de

ozônio troposféricos, acidificação, eutrofização, ecotoxicidade e toxicidade humana).

Este método também permite uma avaliação dos efeitos ambientais com

respeito a sua área de abrangência. Assim, segundo o autor, o EDIP especifica o

tipo de área de abrangência de um impacto ambiental a partir da seguinte

classificação:

a) impactos de abrangência local: são oriundos de fontes

individuais relevantes, limitadas pela influência do impacto ou

pela vizinhança mais imediata da fonte;

b) impacto de abrangência regional: emergem a partir de fontes

difusas, não sendo possível seu rastreamento até um ponto

gerador específico. Isso pode ocorrer quando a fonte estiver

distante dos efeitos, ou em função de os efeitos serem

desdobramentos de uma interação adversa, referidas às

pequenas fontes que geram os impactos;

c) impacto de abrangência global: são os impactos que se fazem

sentir por todo o globo. O autor lembra ainda que as substâncias

remetidas a esse tipo de impacto tendem a permanecer no meio

ambiente por um tempo superior, quando em comparação com

as demais substâncias, fazendo com que aquelas tenham um

CAPÍTULO 3 – DESCRIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA FERRAME NTA ACV

57

maior alcance de mobilidade – ou seja, as substâncias referidas

a um impacto global tendem a se espalhar pelo globo. São

incluídos aqui os grandes volume de emissões, e o autor

também frisa que a diluição dessas substâncias no meio podem

ocasionar efeitos em nível global, como é o caso do efeito estufa.

3.3.2. Exergia

De acordo com as indicações de Prado (2007), a exergia se define pela

máxima quantidade de trabalho mecânico internamente reversível que esteja

disponível em um determinado fluxo de matéria ou de energia no momento em que

esse se transforma a partir de um estado de desequilíbrio físico ou químico,

mediante a troca de calor com o ambiente, em direção a um ambiente–padrão de

referência. Tal ambiente de referência se define a partir da temperatura, da pressão

e da composição química presente. Nesse sentido, o autor frisa que comumente se

utilizam as condições normais de temperatura e pressão (273 K e 1 atm), a

atmosfera e a composição química mais estável que se encontrar no ambiente.

O autor aponta estudos que mencionam que a exergia total de uma dada

substância divide–se em cinética, física, potencial e química. A exergia cinética é

calculada em função do significado da velocidade, tendo como referência a

superfície terrestre. Já a exergia potencial mede–se através do nível de vizinhança

referido ao sistema em questão.

A exergia física é resultado das diferenças entre a temperatura e a pressão do

ambiente, e a exergia química se define mediante a diferença entre a composição

química padrão presente no ambiente de referência e a composição química do

sistema.

3.3.3. Emergia

Odum (1996 apud PRADO, 2007) afirma que o método da emergia

fundamenta–se na termodinâmica, na biologia e na teoria geral dos sistemas.

CAPÍTULO 3 – DESCRIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA FERRAME NTA ACV

58

Segundo Prado (idem), a emergia remete à totalidade de energia disponível

para que um determinado produto seja obtido, considerando os processos da

natureza e os humanos.

A emergia se refere, para o autor, à memória energética de um sistema, uma

vez que ela representa o total da energia incorporada de um sistema natural ou

antrópico. A sua unidade é a energia solar equivalente sej ou emjoul em j.

A emergia, completa o autor, é um método que contempla todas as fontes

exteriores a um ciclo (que podem ser renováveis ou não), as quais são consumidas

em diferentes processos. Assim, é possível comparar as quantidades de energia

consumidas em um processo com as suas eficiências respectivas.

3.3.4. CML 2 2000

Ferreira (2004) caracteriza o método CML 2 (2000) como um método multi–

fase, orientado para o dano incidente sobre o ponto final do mecanismo ambiental.

Trata–se de uma abordagem orientada para o problema (ponto intermédio no

mecanismo ambiental).

De acordo com o autor, para cada problema existem fatores de caracterização

quantificados, de modo que uma emissão que seja identificada no inventário é

convertida para o efeito de um problema ambiental a partir de sua multiplicação por

um fator equivalente.

O autor indica os modelos de caracterização recomendados para a

determinação de indicadores de categoria na ACV:

• Depleção de recursos abióticos: indicador relacionado com a

extração de minerais e combustíveis fósseis que entram no

sistema. A extração de minerais e combustíveis fósseis, que se

fundamenta na sua taxa de desacumulação e nas suas reservas,

determina o fator de depleção abiótico (ADP– Abiotic Depletion

Potential).

• Aquecimento Global: O potencial de aquecimento global (Global

Warming Potention – GWP) é expresso a partir dos fatores de

caracterização.

CAPÍTULO 3 – DESCRIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA FERRAME NTA ACV

59

• Depleção do ozônio estratosférico: define potenciais de depleção

do ozônio “Ozone Depletion Potential” – ODP) de gases diversos.

• Toxicidade humana: fatores que indicam toxicidade humana são

calculados a fim de descrever o destino bem como a exposição e

os efeitos das substancias tóxicas em relação a um horizonte de

tempo infinito.

• Eco–toxicidade aquática (água doce): descreve o destino, a

exposição e os efeitos oriundos de substâncias tóxicas em um

ambiente de água doce.

• Eco–toxicidade aquática marinha: descreve o destino, a

exposição e os efeitos decorrentes de substancias tóxicas em

ambientes marinhos.

• Eco–toxicidade terrestre: descreve o destino, a exposição e os

efeitos decorrentes de substancias tóxicas em ambientes

terrestres.

• Formação de ozônio fotoquímico: por onde são calculados

potenciais de criação de ozônio fotoquímico (Photochemical

Ozone Creation Potential) para a emissão de substâncias ao ar, a

partir do modelo de trajetória UNECE.

• Acidificação: o potencial de acidificação se expressa em kg

equivalentes de SO2/kg de emissão.

• Eutroficação: o potencial de nutrificação se expressa em kg

referidos ao PO4/kg de emissão.

3.3.5. Eco indicador 99

Segundo Ferreira (2004), o método Eco–Indicator 99 possui uma estrutura

modular, “na qual o bloco da componente das ciências naturais pode ser modificado

ou substituído para refletir diferentes sistemas de valor” (FERREIRA, 2004, p.51)

De acordo com o autor, quando o ACV identifica uma emissão, esta se

converte numa contribuição para a categoria de impacto, sendo multiplicada por um

fator equivalente. Nesse sentido, os resultados que se apresentam junto aos

CAPÍTULO 3 – DESCRIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA FERRAME NTA ACV

60

indicadores de uma determinada categoria de impacto são calculados na fase de

caracterização e adicionados para formar as categorias de dano.

Nesse método, a ponderação e a normalização são executadas no nível

categoria de dano, de modo que é possível desdobrar esta categoria em três outros

níveis:

• Saúde humana: a unidade é a DALY – Disability Adjusted Life

Years. São consideradas aqui as diversas incapacidades

ocasionadas por doenças.

• Qualidade do ecossistema: unidade: “PDF * m2.yr; PDF–

“Potentially Disappered Fraction” de espécies de plantas. Refere–

se a população do ecossistema.

• Recursos: sua unidade é a MJ de energia adicional que se faz

necessária para compensar uma diminuição do grau de pureza do

minério, no futuro.

3.3.6. Ecopontos suíços

Segundo Ferreira (idem), trata–se de um método de avaliação quantitativo

que se dá em uma única fase, expressando os resultados da avaliação em

ecopontos que se baseiam nas relações entre o fluxo que pode se observar

atualmente e um fluxo que se considera como crítico. É um método fundamentado

na noção de saturação ecológica, indicando os limites de sustentabilidade de um

possível impacto.

Nesse sentido, as cargas são avaliadas mediante um indicador de saturação

ecológica, que é o “eco–factor”. É através da multiplicação de uma carga poluente

por seu ecofactor que se fornece o peso ecológico, que se expressa em pontos de

carga ecológica, ou ecopontos.

A expressão matemática da equação é:

Ecopontos = Σ Ecofactori x quantidade poluente

O autor lembra ainda que uma avaliação ecológica precisa dos seguintes

dados:

CAPÍTULO 3 – DESCRIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA FERRAME NTA ACV

61

a) quantidade de emissões específicas;

b) emissões totais, ou consumo, em um espaço determinado;

c) emissão ou consumo máximo que pode ser admitido a uma

ameaça ambiental em espaço determinado.

A função matemática que determina o indicador de saturação ecológica ou

ecofactor é:

Onde:

F= fluxo atual de uma carga ambiental

C= 10 12 é um coeficiente adimensional, que serve para evitar

potências negativas de 10.

F k = carga ambiental máxima admissível (fluxo crítico).

F/F k é um fator linear que expressa a ponderação de uma carga

ambiental que se exerce sobre um setor ecológico determinado,

em função da razão entre a máxima carga admissível e a atual.

1/ Fk é um fator de normalização que expressa a necessidade de as

cargas ambientais serem normalizadas em função da carga total

considerada crítica para a área em questão.

3.3.7. EPS 2000

Ferreira (idem) afirma ser este um método de avaliação direcionado para

orientação de “designers” de um produto. O método se dá através da estipulação de

um valor para uma dada alteração ambiental. Também estima como a contribuição

gerada por uma determinada emissão, depleção de recurso ou outra atividade pode

alterar o meio ambiente.

CAPÍTULO 3 – DESCRIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA FERRAME NTA ACV

62

Os impactos remetem a cinco categorias: saúde humana, recursos abióticos,

capacidade de produção do ecossistema, biodiversidade e valores

culturais/recreativos. Os indicadores de saúde humana são a expectativa de vida, a

morbidade severa, morbidade e graus de incômodo. Os indicadores de recursos

abióticos são depleção de reservas minerais, elementais e fósseis. Os indicadores

de impacto da capacidade de produção do ecossistema são a capacidade de

produção de cereais, madeira, carne, peixe, água. Impactos na biodiversidade são

medidos pela extinção das espécies. Já os impactos culturais e recreativos são mais

complicados de precisar, uma vez que possuem uma natureza especifica e

qualitativa.

Ferreira (idem) apresenta três momentos desse método. O primeiro é a

classificação, onde emissões e recursos são remetidos a categorias de impacto. Os

impactos são, nessa fase, prováveis. A caracterização é a fase pela qual modelos

empíricos são usados para calcular valores de caracterização, e a ponderação é a

fase que remete à avaliação. Os fatores de ponderação expressam quanto se tem

disponível para pagar a fim de evitar alterações.

3.4. Limitações e diferenças dos métodos de avalia ção

O EDIP é um método que serve principalmente para avaliar o impacto

ambiental em áreas determinadas. Quando se pensa em uma escala global,

entretanto, alguns fatores são difíceis de determinar, especialmente quando se

considera que não se dispõe ainda de todas as informações referentes às

quantidades de recursos presentes no planeta.

O método de exergia mede fluxos de energia em meios físicos e químicos.

Entretanto, os limites do método podem ser localizados na limitação imposta pela

quantidade de recursos e materiais necessários. Assim, esse método pode não ser

funcional quando se tratar de escalas maiores.

A emergia pode ser aplicada nos mais diversos contextos, entretanto também

esbarra em problemas semelhantes aos atribuídos ao método da exergia.

Já o CML 2 2000 é um método a posteriori, ou seja, não é preditivo, focando–

se em impactos já ocasionados. Assim, apresenta–se primordialmente como medida

de minimização de danos e não como medida preventiva.

CAPÍTULO 3 – DESCRIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA FERRAME NTA ACV

63

O método de Ecopontos esbarra na necessidade de dados muito precisos

para que os dados sejam devidamente quantificados, o que também pode se

constituir como um problema. Já em relação ao EPS 2000, a complexidade dos

pontos abarcados, especialmente quando se consideram elementos de ordem

cultural e recreativa, podem configurar um obstáculo para sua utilização plena.

3.5. Elementos opcionais de avaliação

De acordo com a NBR ISO 14042, o uso de alguns elementos na avaliação é

facultativo, dependendo do objetivo e do escopo do estudo. Estes elementos

opcionais consistem no uso de cálculo de magnitude dos resultados dos indicadores

de categoria vinculados às informações referenciais (normalização); no

agrupamento, que trata da ordenação e possível classificação das categorias de

impacto; ponderação, que trata da conversão e agregação dos resultados dos

indicadores mediante categorias de impacto que se valem de fatores numéricos

baseados em escolha de valores.

Por último, a análise da qualidade dos dados, apesar de opcional, fornece um

quadro mais amplo de compreensão acerca do grau de confiabilidade dos resultados

dos indicadores.

3.6. Interpretação dos resultados

Na última etapa da ACV, os resultados obtidos nas fases de inventário e

avaliação de impacto são analisados de acordo com o objetivo e o escopo

previamente definidos para o estudo (CHEHEBE apud VALT, 2004).

A norma ISO 14043 define um procedimento sistemático para identificar,

qualificar, conferir e avaliar as informações dos resultados do inventário do ciclo de

vida ou avaliação do inventário do ciclo de vida, facilitando a interpretação do ciclo

de vida para criar uma base onde as conclusões e recomendações serão

materializadas no Relatório Final (IBICT).

Os resultados da ACV devem ser interpretados à luz do objetivo e do escopo

do estudo. A interpretação deve considerar a qualidade dos dados, a análise de

sensibilidade das entradas, saídas, as escolhas metodológicas pertinentes, de

CAPÍTULO 3 – DESCRIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA FERRAME NTA ACV

64

maneira a minimizar a incerteza dos resultados. Nesse sentido, é importante lembrar

que a ACV não é uma ferramenta capaz de oferecer um prognóstico com 100% de

certeza, inclusive em função dos elementos subjetivos envolvidos na sua

interpretação e julgamento.

A interpretação dos dados de inventário, segundo a NBR ISO 14041, deve

considerar se as definições das fronteiras do sistema, das funções do sistema e da

unidade funcional são adequadas. Também deve identificar limitações da qualidade

dos dados, mediante a análise de sensibilidade, conforme descrita anteriormente.

Importante lembrar que os dados obtidos sejam interpretados com cautela,

pois se referem a dados de entrada e de saída e não propriamente a impactos

ambientais. Recomenda–se, por isso, que outros estudos sejam feitos juntos ao da

ACV, a fim de obter uma compreensão mais ampla e precisa de todo o processo.

Apesar desses problemas, a interpretação da ACV pode minimizar graus de

incerteza e indicar caminhos a serem seguidos, em função de seus atributos

probabilísticos – apesar de estes não fornecerem um grau total de certeza.

Por fim, a norma recomenda que a avaliação dos dados, as análises de

sensibilidade, conclusões e recomendações efetuadas a partir dos resultados da

ACV devem ser devidamente documentadas. Dessa maneira, as recomendações e

as conclusões devem estar em consonância com constatações oriundas das

considerações anteriormente mencionadas.

CAPÍTULO 4 – ACV NO BRASIL

65

Neste capítulo são apresentados dados específicos sobre o uso da

ferramenta em solo brasileiro – sua trajetória e a evolução que vem sendo alcançada

a cada dia quando de sua introdução nos planos empresariais, na maioria das

vezes, da iniciativa privada. Também são consideradas as bases atribuídas aos

projetos do ACV no Brasil.

4.1. Trajetória

De igual modo há demais segmentos que procuraram seus caminhos à

certificação pela qualidade, como a ISO e tantas outras, como a Acreditação na

saúde. As ferramentas inerentes ao meio ambiente, também calcadas na ISSO, têm

uma história peculiar de entrada no país, a partir de experiências voltadas a

pesquisas e estudos. Foi no meio acadêmico pesquisador em que a ACV brasileira

ganhou proporções, passando a ser mais conhecida no contexto empresarial.

O Grupo de Apoio à Normalização, conhecido por sua sigla GANA, no início

da década de 90 iniciou reuniões para debate sobre a temática, buscando

conceituá–la e integrá–la aos padrões de qualidade ambiental exigidos no Brasil.

Na verdade, os documentos até então produzidos pela lei brasileira, a partir

dos eventos mundiais pertinentes à gestão ambiental, englobavam, por

consequência, as questões relativas à segurança ambiental, sem, contudo,

determinar parâmetros claros e objetivos a serem cumpridos como também padrões

mínimos de impactos suportáveis e/ou recursos à minimização/evitação.

Entretanto considerando as diretrizes emanadas pela unidade de

desenvolvimento sustentável e meio ambiente da Comissão de segurança

hemisférica (2002), a segurança ambiental urge em todos os sentidos, sobretudo em

se tratando de saúde humana:

Uma e outra visão da segurança deixam antever os desafios ambientais como uma preocupação em potencial – embora a visão mais moderna atribua maior importância às questões ambientais em razão do seu impacto direto sobre a saúde humana e a estabilidade econômica e, certamente, sobre o desenvolvimento sustentável. (COMISSÃO DE SEGURANÇA HEMISFÉRICA, 2002, p. 3).

CAPÍTULO 4 – ACV NO BRASIL

66

Assim, a entrada da ferramenta ACV no Brasil priorizou a questão de

pesquisas voltadas à segurança. A idéia de segurança ambiental está ligada à

implementação de estratégias com bases científicas que garantam o tratamento dos

problemas ambientais com conhecimento científico e perspicácia política. Portanto, o

trabalho da segurança ambiental concentra–se, principalmente, em aspectos

técnicos, políticos e financeiros, com a criação de incentivos econômicos para

operações ambientais sustentáveis. As atividades apoiadas através dessa linha de

trabalho consideram os impactos do uso de recursos naturais, fontes energéticas e

tecnologias.

Sendo assim, a questão da segurança, segundo uma abordagem holística,

transcende as limitações da economia de mercado e de suas formas peculiares de

exploração de recursos materiais e humanos. Na verdade, a gestão integrada da

segurança e do meio ambiente não abrange simplesmente a implementação de

políticas de preservação e conservação, mas sim a formulação de princípios que

regulem os impactos dos ritmos de crescimento econômico com a taxa de uso e

destruição de recursos não renováveis. Revela–se, assim, como produto de um

contexto geográfico, ecológico e social, o que pode ser alcançado a partir do

emprego correto e adequado de ferramentas de gestão, como é o caso da ACV

(CALDEIRA–PIRES, 2005).

Embora se tratando da questão em âmbito nacional, importa mais uma vez

salientar que, como o assunto apresenta repercussão internacional, Elliot (1998)

discute a segurança ambiental, apontando que muitos autores refutam a sua

concepção por associarem o conceito ao pensamento estratégico militar. Entendem

que a questão ambiental em caráter internacional não pode ser vista dentro de uma

dimensão estratégica. Para esses autores, apenas os processos naturais bastariam

para fornecer elementos à compreensão dos fenômenos e suas consequências para

as unidades políticas. No entanto, a autora afirma que existe uma outra

interpretação que também associa o militarismo à questão ambiental e à segurança:

“trata–se, exatamente, da visão estratégica, que admite os recursos naturais como

vitais à sobrevivência da população de uma unidade política e que, portanto, reforça

o conceito de soberania das unidades na gestão de seus recursos” (ELLIOT, 1998,

p. 237).

CAPÍTULO 4 – ACV NO BRASIL

67

A partir daí, pode–se pensar na entrada da ACV no Brasil. Entretanto

considerando–se, por exemplo, a gestão dos recursos hídricos, as bacias muitas

vezes transpassam os limites territoriais dos países, podendo gerar uma situação de

dependência de outro país para obter água e abastecer sua população, importando

mais uma vez conhecer a opinião da teórica especialista no assunto:

Diante da insegurança ecológica, países e população não podem estar seguros se o ecossistema não é seguro. Nem um nem outro vai ajudar a identificar o inimigo que objetiva violar a integridade territorial e a soberania do estado. O 'inimigo' não é o ambiente, mas as atividades cotidianas humanas e de corporações (ELLIOT, 1998, p. 237).

Seguindo por esse viés, Emerenciano (2007) informa que a ACV, por meio do

GANA, passou a ser consolidada em 1993, quando ambientalistas ativos decidiram–

se pela pesquisa específica da matéria com vistas à sua customização brasileira.

Após investigações específicas e verificações experimentais e de testes, em

1998, uma publicação especializada de um dos estudiosos ganhou o conhecimento

dos leitores brasileiros. Nesta, principais conceitos e formas efetivas de

gerenciamento através da ferramenta, sua aplicabilidade em diversos segmentos da

economia foram evidenciados. Em princípio com interesses baseados principalmente

na imagem da empresa e na adoção de medidas políticas, algumas organizações

procuraram priorizar o assunto, mas na realidade o mesmo carecia de rigor legal,

determinações tanto incentivadoras como fiscalizadoras de processos.

Assim, de acordo com as informações fornecidas por Kulay (2004), o GP2 foi

fundado na USP (Universidade de São Paulo) pretendendo delinear as experiências

voltadas às prevenções e impactos ambientais através da ferramenta em voga. O

grupo, conhecido como de prevenção da poluição, dedicou–se praticamente com

exclusividade à pesquisa da ACV e sua funcionalidade em face dos trâmites

vigentes no contexto empresarial do país. Algumas dissertações e teses foram

defendidas a partir desse estudo, além de inúmeras outras publicações científicas a

respeito.

Seo e Kulay (2006) explicam que o GANA foi substituído por um comitê oficial.

Este, o CB–38, foi constituído de acordo com as diretrizes da Associação Brasileira

de Normas Técnicas (ABNT), passando a ser o responsável pelos estudos,

CAPÍTULO 4 – ACV NO BRASIL

68

pesquisas, auditorias, fiscalizações, orientações e consequentes certificações. O

Comitê Brasileiro de Gestão Ambiental organizou os projetos da ACV, de acordo

com as diretrizes da ISO. Refere–se de fato a um comitê específico, como no caso

do comitê técnico responsável por demais certificações.

Seo e Kulay (2006) esclarecem que, atualmente, o CB–38 já opera com sub–

comitês, sendo o SC–05 específico para a manutenção atualizada de todas as

informações referentes à ACV. Na realidade, as Normas 14040 e 14041, abordadas

anteriormente, já são decorrentes de ações deste subcomitê.

Assim, as questões inerentes à ACV no âmbito da rotulagem ambiental,

escopo de pesquisa e avaliação, análise de inventário e demais parâmetros de

gestão da qualidade ambiental partem das discussões e análise desses grupos

(Comitê e subcomitê).

Hoje sendo a questão ambiental efetivamente levada a sério, constando da

agenda pública, importa ressaltar a necessidade de um empenho maior no sistema

atualizado de produção de estatísticas que demonstrem a evolução desse processo.

Não basta querer aderir a programas pré–formulados, mas sim atentar para o fato de

que as agressões ao ecossistema aumentaram ao longo dos tempos e alcançaram

situações catastróficas, como a própria alteração do clima que exige medidas de

combate às ações inconsequentes. É verdade que eventos transnacionais discutem

incansavelmente a matéria, mas é preciso, como lembra Lima (2007), que ações

concretas sejam empreendidas de fato no sentido de corroborar tais princípios já

defendidos e possivelmente assimilados. A ACV nessa linha, conforme defende Leal

(2005), precisa ser assumida no continente americano. No Brasil, de vastas

proporções geográficas e em momento desenvolvimentista, cabem ações

direcionadas a esse fim.

Entretanto, há uma certa dificuldade quanto à atenção aos sistemas

estatísticos nacionais para com o meio ambiente quando a sua deterioração é local

também é local o tipo de informação sobre as transformações físicas e sobre a

população atingida com a perda da qualidade de vida (LIMA, 2007).

Nos países desenvolvidos, diversos colaboradores como órgãos locais do

governo, instituições científicas ou ONGs têm se empenhado com o intuito de

produzir essas informações e os acelerados progressos na tecnologia de

CAPÍTULO 4 – ACV NO BRASIL

69

georeferenciamento têm possibilitado aproveitar estatísticas socioeconômicas e

localizá–las da melhor maneira. Já nos países em desenvolvimento, os esforços

com sucessos ocorrem em pouquíssimas vezes. Sob os aspectos das

informações locais, é bom salientar que estas dificilmente são inclusas às

estatísticas sociodemográficas ou econômicas de qualquer país.

Nas pesquisas domiciliares várias perguntas são feitas, mas nunca perguntam

se o ar que a família respira é mais ou menos saudável, qual é a natureza da água

na rede de abastecimento, como está a saúde ambiental à nossa volta e outras

perguntas fundamentais para a vida da população. Ainda não há a prática de

sistematizar informações ambientais nos registros administrativos.

O censo de informações básicas municipais do IBGE, de 2002, pela primeira

vez introduziu informações ambientais criando uma linha de investigação renovada

e promissora. Com tudo isso, mesmo existindo no Brasil uma enorme qualidade de

sua produção estatística, os dados informativos gerados sobre a saúde de

ecossistemas locais deixam a desejar. Contudo, as transformações no contexto

natural continuam sendo oportunas para o conhecimento em meio ao seu

impacto sobre as estatísticas econômicas e sociais.

A integração das estatísticas ambientais ainda não se projetou notavelmente

nos sistemas estatísticos nacionais; essa situação agrava–se nos países

pobres ou em desenvolvimento, onde se observam maiores deficiências.

Ocorrem atualmente fortes processos globais além das agressões locais e

regionais, ferindo a natureza do planeta. Essa realidade ficou ainda mais grave

por falta de informações estatísticas.

Os países menos favorecidos não dispõem de um monitoramento adequado

da desertificação. As informações sobre a saúde dos oceanos são poucas, e são

precárias as informações sobre estoques e uso da água doce nos países

pobres e países em desenvolvimento. Já nos países desenvolvidos essas

informações são constantes.

Divulgam–se mais informações sobre a evolução da situação da camada

de ozônio, sendo que esta é mais estudada em comparação a outros

componentes ambientais.

CAPÍTULO 4 – ACV NO BRASIL

70

Um problema de biodiversidade é o desaparecimento de espécies, que nos,

afeta com a perda irrecuperável de recursos oriundos dessas espécies para a

medicina, agricultura, etc., como também nos falta um profundo esclarecimento com

relação aos desequilíbrios ecológicos. Tais desequilíbrios, poderão acarretar a

extinção total das espécies. No que tange a essa ameaça, é inconcebível que a

ignorância seja peculiar em nossas mentes.

As estatísticas realizadas pelo IBGE em 2002, sobre os indicadores e

desenvolvimento sustentável, serviram de base para as ilustrações das

estatísticas ambientais no Brasil. Devido ao grandioso trabalho realizado pelo

IBGE e outros órgãos governamentais, como, INPE, IBAMA, EMBRAPA e

CETESB, além da ajuda das ONGs, a situação do Brasil, embora muito

precária em relação às necessidades reais e às proporções da demanda, está

acima da expectativa da maioria dos países.

Quanto à ACV, Seo e Kulay (2006) informam:

A mais nova das frentes de trabalho para a difusão da ACV no Brasil foi estabelecida em 2002, com a criação da Associação Brasileira de Ciclo de Vida (ABCV). Aberta à manifestação dos diversos segmentos da sociedade, essa instituição tem por missões a construção do banco de dados nacional para realização de estudos de ACV, a formação de massa crítica capacitada à sua prática e a manutenção dos vínculos com a comunidade internacional envolvida com o tema (SEO e KULAY, 2006, p. 9).

Os autores explicam que a criação dessa associação partiu de entendimentos

entre a iniciativa empresarial privada em acordo com o poder público e o campo de

estudos e pesquisas acadêmicas e científicas que a cada dia ganha mais adeptos.

Assim sendo, visando apurar a dimensão de investimento para o fomento

dessa ferramenta no Brasil, estudos continuam sendo realizados a fim de trazer para

próximo da vivência cotidiana sua implantação, com vistas à redução de custos,

inicialmente, orçados como de grande monta.

É válido, ainda, reconhecer que a assimilação da ACV no Brasil, na verdade,

procura alinhar as propostas de gestão ambiental defendidas no mundo, mas

evidentemente traz benefícios indiretos, no sentido da representatividade e imagem

das organizações brasileiras no contexto do comércio exterior, por exemplo na

CAPÍTULO 4 – ACV NO BRASIL

71

medida em que passam a adquirir selos comprobatórios dos compromissos e

responsabilidades ambientais.

Não se pode, portanto, fechar os olhos a essa vertente que, certamente,

impulsionará o país a meios de concorrência em que são diferenciais qualificados e

competitivos os aspectos vinculados à preocupação e efetiva gestão por

minimização de impactos ambientais, com medidas compensatórias, renovadoras e

sobretudo voltadas à eliminação propriamente dita de atividade impactante,

passando esta a ser substituída por similares que não causem danos e prejuízos à

saúde humana.

Como já visto, as questões ligadas ao meio ambiente, por buscar sempre

soluções ou estratégias de conservação da natureza, evidentemente estão

relacionadas à saúde do planeta e seus viventes. A poluição, por exemplo, afeta a

biodiversidade, entre outros prejuízos. Essa situação afeta diretamente a saúde

humana, resultando no aumento dos índices de doenças, na maioria das vezes

respiratórias. Em alguns outros casos ressurgem doenças infecciosas, que em

determinadas ocasiões foram consideradas erradicadas.

No Brasil, a situação agrava–se cada vez mais quando em comunidades e

populações mais carentes, sem recursos ligados a infra–estruturas (favelas,

comunidade indígenas, onde doenças infecto–parasitárias estão mais presentes).

Certamente, o quadro de saúde está diretamente relacionado à mudança nos

padrões normais de sobrevivência e à interação com o meio ambiente natural. Na

medida em que o meio ambiente sofre interferência drástica, como queimadas e

desmatamentos, descarte inadequado de resíduos seja por meio terrestre ou

marítimo, consumo desenfreado de recursos finitos, etc., a saúde humana passa a

ficar comprometida. Soma–se a essas questões o próprio cotidiano, em que diversas

situações são vivenciadas sem muita atenção em relação à preservação ambiental.

Esse é o caso da poluição gerada até mesmo dentro de uma residência, que pode

contribuir para o surgimento de patologias.

Enfim, sendo uma área ainda pouco estudada e explorada, a ACV com seus

15 anos de desenvolvimento no país, por estudos e pesquisas, pretende interferir

nesse cotidiano problemático. Nessa linha, Seo e Kulay (2006) esclarecem que se

trata de “uma técnica conhecida, confiável e consistente” (SEO e KULAY, 2006, p.

11) que favorece a compreensão e o planejamento de ciclos produtivos, garantindo

às organizações nacionais os selos ambientais hoje bastante exigidos no mercado

internacional.

CAPÍTULO 4 – ACV NO BRASIL

72

4.2. Projeto Brasileiro

Seo e Kulay (2006) informam que a ABCV passou a construir e gerir o Projeto

Brasileiro, concentrando–se em basicamente duas frentes de trabalhos. São

programas de formação de competências e de criação de banco de dados para

subsídios às pesquisas nacionais.

No programa que pretende formar competências são contempladas ações

voltadas à qualificação e especialização técnica (graduação e pós–graduação), com

disciplinas compatíveis com o desenvolvimento da temática, buscando desenvolver

e fomentar reflexões acerca do ACV (Life Cycle Thinking).

Nesse sentido, importa reconhecer que, atualmente, está sendo cada vez

mais exigido que as organizações se adaptem aos parâmetros ambientais com

procedimentos relacionados à preservação ecológica e, sobretudo, ao

desenvolvimento sustentável. Caracteriza-se, portanto, um segmento de trabalho

específico a essas tarefas, o que exige a qualificação e formação de profissionais

especializados no assunto.

Souza (2006) explica que “esse mercado de trabalho vem crescendo desde

1986, quando o Conselho Nacional do Meio Ambiente criou a Resolução nº. 001/86”.

Esse dispositivo legal determinou que os serviços passíveis de interferirem no meio

ambiente exigem um estudo prévio acerca de possíveis impactos ambientais, que

deve ser submetido e aprovado junto aos órgãos ambientais estaduais ou federais.

Com isso o autor acrescente ainda: “nas universidades, proliferam os cursos de

especialização e de mestrado que atraem desde biólogos, agrônomos e geólogos

até engenheiros e economistas” (SOUZA, 2006, p. 1).

Souza (2006) cita alguns importantes cursos na área destacando o mestrado

em Sistemas de Gestão, com opção para Gestão do Meio Ambiente, da

Universidade Federal Fluminense (UFF), além de mestrado e doutorado em

Engenharia Ambiental oferecido pela Coordenação de Pesquisa e Pós–graduação

em Engenharia (COPPE), além do mestrado profissionalizante em Controle de

Poluição Urbana e Industrial da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

Existem, ainda, cursos de especialização em Planejamento Ambiental na UFF, além

de pós–graduação executiva em Meio Ambiente na UFRJ e especialização em

Saneamento Ambiental na UERJ.

CAPÍTULO 4 – ACV NO BRASIL

73

Nos demais Estados do país, como em São Paulo cursos semelhantes já

foram autorizados ou se encontram em fase de credenciamento. Todavia, em uma

linha exclusiva à gestão empresarial com vistas à certificação ISO, por exemplo,

deveria existir uma formação mais específica aos respectivos profissionais

responsáveis, principalmente em se tratando de ACV.

Na verdade, em sua maioria possuem formação particular em administração,

são qualificados em sistemas de gestão e modelos, técnicas e métodos de

administração. Daí a idéia de que deveria existir um curso específico sobre gestão

ambiental no âmbito da administração de empresas, formando, dessa maneira,

profissionais especializados em lidar com a matéria sob o enfoque administrativo e

organizacional (DEMAJOROVIC, 2001).

De modo operacional, a criação de cursos de pós–graduação em gestão

ambiental apresenta características e estrutura administrativas, como esclarece

Oliveira (2006). O autor entende que os cursos lato sensu com enfoque em gestão

ambiental deveriam atentar para a efetiva aplicabilidade bem como oferecer opções

aos profissionais de diversas áreas de formação. Ele explica que, atualmente, os

cursos de gestão e planejamento ambiental priorizam, em sua maioria, capacitar o

profissional para a compreensão de ecossistemas (fatores bióticos e abióticos, nicho

ecológico, cadeia alimentar, pirâmides ecológicas) e, assim, caracterizar estratégias

de conservação das regiões na utilização de métodos controladores de

reconstrutores da flora, fauna e bioma.

Além disso, outros com especialização MBA em gestão ambiental, como é o

caso da Fundação Getúlio Vargas, tratam das medidas reguladoras de comando e

controle e estrutura de mercado, implementados pelo Estado como soluções de

autocontrole para promoção da conservação do meio ambiente. Já o MBA em

controle e gestão ambiental da Universidade Santa Cecília em São Paulo pretende

aperfeiçoar o profissional em administração do meio ambiente, focando

principalmente empresas da região e do grande ABC e priorizando estudo de casos

de indústrias locais. Quanto ao MBA em política e gestão ambiental do IETEC

(Instituto de Educação Tecnológica), prepara técnica e cientificamente os

profissionais para trabalhar em política e gestão ambiental pública e privada no que

se refere ao funcionamento do ecossistema natural, análise das variáveis

ambientais, sociais, tecnológicas e produtivas. O MBA em gestão ambiental da UNIG

CAPÍTULO 4 – ACV NO BRASIL

74

(Universidade Iguaçu) objetiva a inter–relação de atividades produtivas de

organizações com o meio ambiente e a sociedade, através de informações técnicas

e administrativas concernentes a conceitos, técnicas, metodologias e procedimentos

da Gestão Ambiental, oferecendo uma visão sistêmica e multidisciplinar da

problemática ambiental e dos seus impactos no desenvolvimento, com o intuito de

proteção e preservação do meio ambiente.

Os demais cursos apresentam a mesma linha de trabalho e estudos,

conforme informa Oliveira (2006). Algumas pequenas variações são identificadas,

mas, segundo o autor, não existe em nível de especialização a dedicação exclusiva

e específica à qualificação em determinada ferramenta a ponto de que a expertise

se faça pela intensa investigação teórica e prática sobre a matéria.

É possível, assim, perceber como árduo e importante o primeiro programa

traçado pela ABCV, na medida em que lhe compete o desenvolvimento não só

técnico–profissional, no sentido amplo, mas também de cunho especializado no

emprego e aplicabilidade da ferramenta ACV.

De modo semelhante, a frente de trabalho da referida associação brasileira

corresponde à especialização da ferramenta, ultrapassando o enfoque amplo de

noções e conhecimentos quanto à sua aplicabilidade para envergar–se à condição

efetiva de uso e manipulação da mesma. Assim, Seo e Kulay (2006) elucidam o fato

de que a formação específica de especialistas pretende disseminar o

desenvolvimento da ferramenta nos cursos de pós–graduação com a especialização

de profissionais que poderão ser vistos ainda como representantes, defensores e

multiplicadores do assunto, visando–se à propagação de tais conhecimentos.

Considerando a pesquisa realizada por Oliveira (2006), não foram

identificados cursos de graduação e pós–graduação que tratem peculiaridades da

ACV. Seo e Kulay (2006) informam, então, que a intenção desse programa da ABCV

é exatamente modificar tal situação, preparando conteúdos programáticos a

disciplinas específicas baseadas na ACV. Tal propósito e efetividade interligam–se à

segunda frente de trabalho da associação que se prende à construção de um banco

de dados brasileiro.

Na verdade, quanto mais profissionais especializados no assunto

interessados em pesquisas, estudos, investigações e experiências, maior a

CAPÍTULO 4 – ACV NO BRASIL

75

probabilidade de aplicação da ferramenta nas organizações brasileiras e nos ciclos

produtivos existentes em tais instituições, o que certamente contribuirá para a

construção do respectivo acervo de informações.

Em se tratando da segunda frente de trabalho da ABCV, associam–se

estruturas tecnológicas que pretendem disponibilizar material de modo rápido,

assegurando–se, todavia, sua consistência. Seo e Kulay (2006) definem esse

processo através da caracterização de fases distintas:

Preparatória: nesta são identificados os que têm interesse no conhecimento

da ferramenta, quer sejam pessoas físicas, quer sejam jurídicas. Uma breve

avaliação busca compreender o nível de entendimento desses interessados, sendo

então organizados eventos com teóricos especialistas internacionais a fim de

divulgar a tecnologia e mecânica de funcionamento da ferramenta.

Inventários: são elencados os pilares e itens importantes à construção de um

sistema próprio para o banco de dados nacional. Tal processo parte de subprojetos

que contam com os itens relativos a inventários, levantamento da situação atual,

resultados prováveis e possíveis de serem alcançados, aplicação da ferramenta e

cadastramento de resultados.

Manutenção: o banco de dados deve ser permanentemente atualizado,

devendo para isso serem efetivados inventários complementares, caracterizando–se

dessa maneira o avanço e o progresso do projeto, partindo–se assim para a

construção de modelos personalizados à realidade do Brasil e não somente à

incorporação de padrões e fórmulas, possivelmente, mais adequadas a outros

contextos internacionais.

4.3. Desafios da ACV no Brasil

Como pôde ser constatado na literatura especializada sobre a matéria em

âmbito internacional, considerando inclusive os parâmetros para certificação e os

estudos da especialização sobre o assunto em andamento no país, torna–se

interessante ressaltar que este está caminhando na direção de organizar de forma

própria a implementação da ACV. Seo e Kulay (2006) informam que uma parceria da

ABCV com o IBICT (Instituto Brasileiro de Informação em Tecnologia), órgão de

estudos e pesquisas do Ministério de Ciência e Tecnologia, pretende importar

CAPÍTULO 4 – ACV NO BRASIL

76

informações especializadas, também através de alianças com outros órgãos

estrangeiros, sempre buscando a melhor e mais preparada qualificação dos

profissionais brasileiros.

Observa–se, nessa linha, que sendo a ACV sendo metodologia de avaliação e

trabalho propriamente dito, cabe ao país sua inserção em protocolos de exigências

de reduções e/ou eliminações de impactos ambientais.

Kulay (2004) defende o fato de que desde 1993 essa proposta vem sendo

discutida e consolidada através de encontros específicos sobre a problemática de

ciclos produtivos impactantes, com a apresentação da ACV como alternativa viável e

capaz de minimização dessa condição. Trata–se de uma perspectiva acerca da série

de controvérsias e problemas que se apresentam às operações das empresas

nacionais que já contemplam o SGA (Sistema de Gestão Ambiental), atendendo a

legislação em vigor e procurando certificar–se para assim adquirir portes

competitivos em ambientes de negócios estrangeiros, já que o comércio

internacional, como se sabe, prioriza e valoriza a cada dia mais produtos e serviços

ambientalmente qualificados.

O desafio brasileiro reside, dentre alguns fatores e variáveis já inseridas nos

parâmetros arraigados nos processos produtivos, em vencer paradigmas e

evidenciar a necessidade premente de evitar impactos e/ou reduzi–los na própria

origem, sendo a ACV ferramenta indicada a essa proposta.

Incrementar cursos de graduação e pós–graduação sobre a matéria é um dos

caminhos em percurso, assim como a formação e atualização constante do banco

de dados. Tais ações lançam ao país a condição de concorrer em ambientes de

negócios que já partem de tais pressupostos. Assim, é válido ainda acrescentar que

ao processo de internacionalização de empresas e representatividade internacional

têm de ser acrescidas exigências de cunho ambiental, que, apoiadas na ACV, têm

maiores chances de aceitação e êxito.

CAPÍTULO 5 – CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS DA PES QUISA

77

5.1 Tipo de Pesquisa.

Segundo Vergara (2000), um modelo de pesquisa pode ser classificado

quanto aos fins e quanto aos meios de investigação.

5.1.1. Quanto aos fins.

O estudo a ser elaborado constitui uma pesquisa basicamente descritiva

conforme a conceituação por Vergara. Dado o desenvolvimento atual dos estudos

sobre a temática, há necessidade de “expor as características” do fenômeno, sem

“compromisso de explicar o que se descreve” (VERGARA, 2000, p. 47). Nesse tipo

de estudo, algumas “correlações entre variáveis” poderão, ser estabelecidas (Idem,

Ibidem).

A pesquisa descritiva observa, registra, analisa e ordena dados, sem

manipulá–los, isto é, sem interferência do pesquisador. Procura descobrir a

frequência com que o fato ocorre, sua natureza, características, causas, relações

com outros fatos. Assim, para coletar dados utiliza–se de técnicas específicas,

dentre as quais se destacam a entrevista, o formulário, o questionário, o teste e a

observação (ALMEIDA, 1996, p. 104).

A pesquisa descritiva pode assumir diversas formas, dentre as quais se

destacam: a documental, de campo, de opinião, de motivação, os estudos

exploratórios, os estudos descritivos, o estudo de caso e a pesquisa histórica.

Com relação a seus fins, a pesquisa em tela também se define nos termos de

Vergara (2000) como “investigação explicativa”, pois pretende “tornar inteligível” e

esclarecer aspectos que contribuem para a compreensão analítica da metodologia

da ferramenta ACV.

A análise qualitativa da ferramenta ACV se dará apoiada na literatura

especializada, no “case” da empresa Natura e principalmente nos resultados da

pesquisa de opinião. Dentre os vários argumentos favoráveis à adoção de técnicas

qualitativas está o de que são particularmente úteis quando se pretende entender o

significado e a significância de situações complexas que envolvam conceitos

subjetivos (EASTERBY–SMITH et al, 1991).

CAPÍTULO 5 – CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS DA PES QUISA

78

A pesquisa também se enquadra no paradigma fenomenológico ao assumir o

pressuposto básico de que o mundo e a “realidade” revelam significados e estes são

construídos pelo homem. Assim se desenvolverá “uma reflexão exaustiva, sempre e

contínua, sobre a importância, validade e finalidade dos processos adotados”

(MARTINS, 2001, p 24).

Segundo Roesch (1999), esse paradigma abrange características entre as

quais se encontra a de que o pesquisador deve interpretar as diferentes construções

e significados que as pessoas atribuem a sua experiência. Deve–se buscar

entendê–los sob prismas distintos. Parte–se de conceitos amplos que vão se

estreitando e consolidando em círculos hermenêuticos.

A respeito da hermenêutica, Vergara et al (1996) assim se manifestam:

O movimento dinâmico de interpretação e reinterpretação proposto pela hermenêutica permite que seja feita uma análise em múltiplos níveis da realidade observada (...) Em um primeiro nível de análise tem–se a realidade como ela é relatada (...) Em um segundo nível tem–se a visão e interpretação do pesquisador, nem sempre consoante com o que é relatado (...) Ainda um outro nível possível: o da interpretação da realidade pelo pesquisador à luz de autores que direcionam seus esforços (...) A utilização desses três níveis pode ajudar a entender os processos até aqui descritos (Vergara et al (1996) p. 213).

5.1.2. Quanto aos meios de investigação

No que concerne aos meios de investigação, o estudo se enquadra em

pesquisa bibliográfica, pois se trata de “estudo sistematizado com base em material

publicado e acessível ao público” (VERGARA, 2000, p. 48), visando a uma análise

do tema em profundidade.

Quanto à pesquisa de campo propriamente dita, pauta–se em publicações e

relatórios específicos e especializados de órgãos responsáveis pela implementação

da ferramenta no país. Utiliza também os resultados de uma pesquisa de opinião,

que, segundo Almeida (1996, p. 105), “visa identificar a opinião de uma comunidade,

constatar as falhas, descrever condutas e reconhecer interesses e outros

comportamentos, para a tomada de decisões”. Conforme Simões (2001), a pesquisa

CAPÍTULO 5 – CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS DA PES QUISA

79

de opinião é aquela que busca informação diretamente com um grupo de interesse a

respeito dos dados que se deseja obter, utilizando questionários, formulários ou

entrevistas. A pesquisa de opinião é uma busca estruturada de informações, por

abordagens quantitativas e qualitativas e responde ao que as pessoas pensam de

um objeto social.

Ainda como meio de investigação, o trabalho é embasado na interpretação de

uma implantação de estudo de ACV em determinado sistema de produto do ciclo de

produção de empresa nacional. Apesar do exemplo dessa implementação não se

configurar em um estudo de caso, que, segundo Aaker et al. (2001) e Yin (2001)

apresenta a descrição e a análise abrangentes de cada situação e é particularmente

útil para a compreensão de situações complexas, a pesquisa descritiva foi utilizada

como referência, por se tratar de uma empresa de importância significativa e do

caráter científico da fonte, quando no processo comparativo com as informações

levantadas dos formulários.

Constitui uma estratégia válida o fato de o pesquisador se encontrar diante da

ocorrência de acontecimentos contemporâneos e de comportamentos relevantes

não passíveis de manipulação pelo próprio pesquisador, tendo este pouco ou

nenhum controle sobre a ocorrência de tais acontecimentos. Trata–se, portanto, de

uma investigação sobre os fenômenos ocorridos dentro de seu contexto da vida real,

especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão

claramente definidos (YIN, 2004 apud Cruz, et al 2005) e dependem, como já

explicitado, de uma interpretação hermenêutica típica do método fenomenológico.

5.2. Coleta de dados

Os dados para a pesquisa são coletados em conformidade com os objetivos

traçados. A obtenção de informações inerentes à percepção brasileira da

metodologia ACV será apresentada na forma de pesquisa de opinião e estudo de

caso, o que constitui uma estratégia válida, segundo Yin (2001), quando o

pesquisador pretende relatar dados contemporâneos.

CAPÍTULO 5 – CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS DA PES QUISA

80

5.3. Tratamento de dados

Na investigação em causa, a análise hermenêutica dos dados será realizada

por meio de leituras sucessivas e registros cuidadosos das anotações feitas durante

os levantamentos e pesquisas. Observando o que ensina Tachizawa e Mendes

(2000, p. 46), cabe salientar que, além dos trabalhos de campo, a pesquisa

bibliográfica objetiva alicerçar o suporte teórico e conceitual da pesquisa para uma

comparação com os dados e informações colhidas. Dessa forma, poder–se–á

compreender, com base nos levantamentos realizados no estudo, o objetivo da

dissertação.

5.4. Limitações do Método

Além de se tratar de assunto cuja pesquisa e aprofundamento permanecem

em pleno desenvolvimento, podendo, portanto, ser considerado assunto

relativamente recente e em estudo, não existe um grande acervo a respeito.

Considera–se ainda que o método para tratamento de dados referente à análise

hermenêutica apresenta–se limitado à capacidade interpretativa do pesquisador.

Sua relevância caracteriza–se pela busca em explicitar claramente os significados

das informações e dados apurados por meio também de comparações. Contudo,

esse tipo de análise ainda revela alguma fragilidade, uma vez que envolve aspectos

subjetivos em sua condução.

Importa, portanto, compreender que a verdade hermenêutica leva em conta a

questão não só do significado como também do sentido, sendo aquele produto do

conceito geral.

CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

81

Pelo exposto até então, considerando a necessidade de instruir o presente

estudo com material elucidativo de tudo o quanto aqui foi informado em relação ao

tema e à necessidade de aprofundar ainda mais na investigação, apresentamos este

capítulo em três partes distintas, ou seja, na primeira delas, ainda que de forma

sucinta, prestamos informações relativas aos dados gerais da ACV no Brasil; na

segunda, apresentamos uma experiência de aplicação da ferramenta em empresa

nacional e, na terceira parte, uma pesquisa de opinião como meio de apresentar

uma visão dos profissionais sobre a metodologia de aplicação da ACV.

6.1 Apresentação de dados

6.1.1 Dados Gerais

Caldeira–Pires (2006) apresenta as iniciativas atuais no país sobre a ACV:

Institutos de Pesquisa: UFBa, UFMG, UFRN, UFSC, UnB, USP, CEFET–PR,

USPSCar/CCDM, Unicamp, CETEM, IBICT, INT, IPT, ITAL, TECPAR.

Banco de Dados: 35 dissertações de mestrado e teses de doutorado,

cadastradas na CAPES e no IBICT, além de duas publicações, sendo a primeira de

autoria de José Ribamar B. Chehebe, com o título de “Análise do Ciclo de Vida de

Produtos”, publicada em 1997 pela editora carioca Qualitymark, e a segunda

elaborada pelo Centro de Tecnologia de Embalagem (CETEA) e Instituto de

Tecnologia de Alimentos (ITAL), intitulada “Avaliação do Ciclo de Vida: Princípios e

Aplicações”, com publicação própria pela ITAL (São Paulo) em 2002.

Entidades civis: IDEC, DIEESE, ANPROTEC

Órgãos do Governo: MCT, MDIC, MMA, INMETRO

Empresas: Petrobrás, Eletrobrás, Nestlé, Natura, Daimler–Chrysler, Polibrasil,

BureauVeritas, Ford, CIESP, FIESP, BASF, Unilever, Suzano, CNI/IEL, SENAI,

SEBRAE

Caldeira–Pires (2006) ainda acrescenta que em 2006 existiam 6 empresas em

fase de implantação da ferramenta, sem, no entanto, identificá–las.

CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

82

A fim de complementar o levantamento, o autor apresenta dados sobre o

Projeto brasileiro de inventário do ciclo de vida para a competitividade da indústria

brasileira, que conta com a reunião em comitê das seguintes entidades: MCT, MDIC,

IBICT, INT, INMETRO, ABNT/CB38, ABCV, CNI, SEBRAE, Petrobrás, UnB, ABIPTI

(Anexo 1). Deste constam:

• Ações em “ACV” no IBICT/MCT a partir de 2001;

• PRÉ–PROJETO;

• COMITE GESTOR;

• Objetivos;

• Resultados paralelos;

• Período (expectativa 3 anos);

• Estrutura das Atividades Propostas;

• Fontes de financiamento do governo;

• Iniciativas em Andamento 2004/2005;

• Fontes de financiamento setoriais;

• Cooperação IBICT – Ekos – EcoInvent (Suíça);

• Fontes de financiamento diretos das empresas envolvidas;

• Projetos de Cooperação;

• Distribuição Institucional e Distribuição

• Espacial.

6.1.2. ACV na Empresa Natura

As informações apresentadas neste item do trabalho foram colhidas no portal

da empresa Natura na internet (www.natura.net/), a partir de sucessivas visitas a

várias páginas e ao conteúdo dos diversos Relatórios Anuais da empresa.

A Natura foi fundada em 1969, em São Paulo, com um capital inicial de US$

9.000. Possuía sete funcionários e um de seus sócios detinha algumas fórmulas de

cosméticos herdadas do pai. Em 1974, a empresa passou a atuar demonstrando

produtos sendo este o apelo principal de venda, quando então surge a figura da

“Consultora Natura”, que, na verdade, se tratava de revendedores.

Em 1979, a Natura já contava com 1000 consultoras e seu volume de

negócio já atingira U$ 5 milhões. Este período é considerado como a primeira fase

CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

83

da instituição. De 1980 a 1989, seu volume de vendas foi ampliado 35 vezes mais,

aumentando sua linha de produtos e passando a dispor de 33.200 consultoras. A

partir da década de 90, a empresa se destacou com a profissionalização de sua

gestão, inaugurando a sua segunda fase.

Na segunda fase, com início em 1990, estabelece–se a profissionalização da

gestão através da instalação de uma fábrica em Itapecerica da Serra e com a

implementação de programas de inovação e de qualidade. Como resultado desse

impulso inicial, no período de 1993 a 1997, a empresa cresceu o seu volume de

vendas em cinco vezes, tendo como valor essencial o marketing de relacionamento.

Nesse último ano, a organização inaugurou novos métodos de produção e

interação com a clientela, visando à expansão da capacidade de produção.

Em 1999, a empresa passa a investir em infra–estrutura, possibilitando a

ampliação de seus projetos, inaugurando laboratório de produtos naturais: Flora

Medicinal. Conseguiu fazer esse empreendimento em meio à grave crise cambial,

que durou de 1998 a 2001, sofrendo o risco da estagnação. Mas, a partir de 2000, a

Natura deu início a sua terceira fase, caracterizada pela ênfase na responsabilidade

social, envolvendo a valorização de aspectos humanos e ambientais. Inaugurou

também um novo logotipo, uma nova marca e o slogan: “Bem Estar Bem”. Os seus

sistemas de gestão passaram a ser integrados com a tecnologia avançada, com

investimento na biodiversidade.

Em alguns países da América Latina, a empresa promoveu a reestruturação

das operações e instalou a tecnologia SAP (Systems, Applications, Products in data

processing), um sistema avançado de informação, que integra toda a empresa de

modo a colaborar com a otimização dos processos organizacionais. Também

recebeu diversas premiações em recursos humanos, tornando–se uma das

empresas do setor de cosmético mais em evidência. No ano de 2000 também criou

a linha Ekos, incorporando em seus produtos cosméticos a biodiversidade brasileira,

através de insumos coletados nos recantos do Brasil.

Desde então, passou a caracterizar–se por sua responsabilidade ambiental,

divulgando suas estratégias para colaboração ao desenvolvimento sustentável não

só da empresa, mas de regiões em que atua. Uma visão geral da aplicação da ACV

é apresentada no Anexo 2.

CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

84

6.1.3. A Pesquisa de Opinião

Para o desenvolvimento deste trabalho de análise crítica da ferramenta ACV,

dentre outros meios de investigação, também foi realizada uma pesquisa de opinião

entre os profissionais que já utilizaram a metodologia ACV além de outros

estudiosos do assunto.

A pesquisa de opinião do tipo “avaliação por conceitos” consiste na

identificação de posicionamentos, tendências, percepções e aceitação que

determinado público possui sobre uma determinada técnica, produto, serviço,

empresa ou sobre qualquer outro tema. A pesquisa de opinião é uma excelente

ferramenta para detectar o ponto de vista dos diversos segmentos da sociedade,

sendo um instrumento eficaz para reconhecer falhas em estratégias das mais

variadas naturezas.

O questionário de múltipla escolha foi desenvolvido para auto–preenchimento,

contendo, para cada uma das fases, as principais disposições da metodologia para

realização de um estudo de Avaliação de Ciclo de Vida – ACV .

A figura 3 a seguir apresenta a estrutura do formulário, demonstrando os

requisitos para preenchimento, informações básicas para a pesquisa e as fases da

metodologia, sem, no entanto, apresentar as disposições normativas em detalhes.

Figura 3 – Estrutura do formulário

Fonte: Próprio autor – Pesquisa de opinião – Avaliação de Ciclo de vida – ACV. Análise Crítica da Metodologia.

CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

85

Como critério para a escolha das pessoas a participarem da pesquisa, definiu-

se o requisito de terem pesquisa científica na área (tema) ou experiência de uma ou

mais aplicações reais de estudo ACV. A escolha se deu a partir de uma seleção dos

nomes dos profissionais constantes no sítio do CNPQ, na Plataforma Latte, através

do link http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/busca.do?metodo=apresentar. Um

cuidado maior foi selecionar alguns profissionais que atuam em empresas

renomadas e outros da academia, mas que estejam envolvidos com ACV. Uma vez

selecionada a amostra, o contato ocorreu via eletrônica (email), apresentando dentre

as informações, o objetivo da “pesquisa de opinião”, sua importância para a

pesquisa científica e o questionário. A amostra foi composta por cerca de trinta

indivíduos, dos quais sete responderam, perfazendo um total de 23% de

respondentes com relação ao total amostral.

A pesquisa foi respondida por profissionais que desenvolvem suas atividades

nas seguintes organizações e entidades de ensino: USP – Universidade de São

Paulo – Escola de Engenharia de São Carlos; Fundação Espaço ECO – BASF;

UTFPR – Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Campus Curitiba; ITAL –

Instituto de Tecnologia de Alimentos; Centro Universitário SENAC – Área Ambiental;

UNIP – Universidade Paulista e DANONE BRASIL. Todos os profissionais figuram

como participantes da comunidade ligada aos estudos de Análise de Ciclo de vida, o

que pressupõe terem bom conhecimento da metodologia ACV para validação da

pesquisa.

Como resultado obtido cabe apresentar:

6.1.3.1. Na fase de Definição de objetivo e escopo do estudo .

Nesta fase, a metodologia estabelece que seja declarada uma série de

informações para a clara e inequívoca aplicação do estudo. Nesse sentido, para

fazer a declaração da aplicação pretendida, as razões para conduzir o estudo e o

público alvo, a pesquisa demonstrou que 71,4% classificaram esses requisitos como

“Muito importante ” e 28,6% apenas como “Importante ”. Quanto ao grau de

dificuldade para cumprir o requisito, 14,3% responderam ser “Difícil ” e 85,7% como

“Pouco difícil ”. Uma diferente dificuldade apontada na pesquisa, ainda que muito

pequena, é o registro de desconhecimento do interlocutor sobre esses requisitos.

CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

86

A metodologia exige também que sejam definidas e declaradas as funções do

sistema de produto ou, no caso de estudos comparativos, os sistemas. Neste

quesito a pesquisa demonstrou que todos os participantes consideram “Muito

importante ”, sendo que 57,1% deles classificam como um requisito “Difícil ” de ser

atendido e 42,9% restantes como “Pouco difícil ”. Aqui 14,3% afirmaram que, para

cumprir os requisitos, há dificuldades de natureza metodológica, 14,3%

consideraram que as dificuldades são de natureza tecnológica, 14,3% atribuíram as

dificuldades ao desconhecimento do interlocutor, 28,6% indicaram a falta de dados

e os 28,6% restantes não apontaram a natureza da dificuldade.

Definir e declarar o sistema de produto a ser estudado e a unidade funcional é

outro requisito da metodologia e foi assim avaliado: 71,4% consideraram–no como

“Muito importante ” e 28,6% “Importante ”. Quanto ao grau de dificuldade, 42,9

classificaram os requisitos como “Difícil ” e 57,1% consideraram–no “Pouco difícil ”.

Segundo 37,5% dos pesquisados, são de natureza metodológica as dificuldades

encontradas para cumprir esses requisitos; 12,5% indicaram dificuldades de ordem

tecnológica, 12,5% apontaram dificuldades pela falta de capacitação das pessoas

responsáveis, outros 12,5% citaram a falta de dados e 25% não apontaram

dificuldades.

As fronteiras do sistema de produto são outra definição que deve ser definida

e declarada. Nesse requisito apurou–se que 85,7% dos pesquisados julgaram a

informação “Muito importante ” e 14,3% consideraram–na apenas “Importante ”.

Apenas 14,3% classificaram a definição das fronteiras do sistema de produto como

“Muito difícil ”, 42,9% entenderam que essa definição pode ser classificada como

“Difícil ” e o restante em igual proporção como “Pouco difícil ”. Ao verificar os

resultados quanto à natureza da dificuldade, a metodologia foi apontada por 25%

dos pesquisados, a falta de dados por 50% deles, sendo que 25% não informaram a

natureza da dificuldade.

Outro requisito que a metodologia ACV estabelece, na fase da definição de

objetivo e escopo é a necessidade de definir os procedimentos de alocação para a

realização do estudo. Nesse quesito, 42,9% definiram essa tarefa como “Muito

importante ” e 57,1% consideraram–na apenas “Importante ”. Como no requisito

anterior, aqui também 14,3% entenderam ser de “Muito difícil ” realização, enquanto

85,7% a definiram como de “Difícil ” realização. A maioria, 55,6% dos pesquisados

CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

87

informaram que a dificuldade é de caráter metodológico, 22,2% citaram a falta de

dados como elemento de dificuldade para a definição dos procedimentos, outros

dois grupos de 11,1% assinalaram a falta de capacitação e a tecnologia disponível

como dificuldades para cumprir com o requisito normativo.

Também são exigidas, nesta fase, a definição e declaração dos tipos de

impacto, a metodologia de avaliação de impacto e a interpretação a ser usada no

estudo. A pesquisa, dentre os profissionais e acadêmicos participantes, quanto à

importância dessa informação resultou que 71,4% a consideraram “Muito

importante ” e 28,6 “Importante ”. Aqui existe certo equilíbrio de opiniões no tocante

ao grau de dificuldade para atender ao requisito, considerando que dois grupos com

28,6% classificaram como “Muito difícil ” e “Difícil ” e 42,9% definiram–no como

“Pouco difícil ”. Ao verificar a distribuição da natureza das dificuldades aqui

apontadas temos que 44,4% assinalaram a questão metodológica como maior

problema, seguida de iguais proporções de 22,2% para falta de dados e falta de

capacitação. Apenas 11,1% deixaram de indicar a natureza da dificuldade.

A metodologia também estabelece que os requisitos dos dados e da

qualidade dos dados sejam definidos. A pesquisa demonstrou para esse item que

57,1% o julgaram “Muito importante ”, enquanto 42,9% acham–no apenas

“Importante ”. Já o grau de dificuldade foi considerado como “Muito difícil ” por

apenas 14,3% dos pesquisados; para 42,9% o item foi avaliado de “Difícil ”

cumprimento e outro grupo de igual tamanho já o considerou “Pouco difícil ” No

âmbito da natureza da dificuldade, a falta de dados foi apontada por 40% deles,

sendo que 30% indicaram a metodologia como outro elemento de dificuldade e 10%

a falta de capacitação. Estreando na pesquisa, manifesta–se aqui a dificuldade

financeira para atendimento desse item, apontada por 10% dos participantes.

Todo estudo está sujeito a hipóteses, conjecturas e limitações da sua

abrangência. A fase de Definição de objetivo e escopo também estabelece a

necessidade de identificar suposições e limitações do estudo. Na divisão de opinião

dos pesquisados, prevaleceu o entendimento de que essa identificação é

“Importante ” por 57,1% dos participantes; 28,6% consideraram–na “Muito

importante ” e apenas 14,3% julgaram–na “Pouco importante ”. Tanto a definição

das suposições como das limitações foram classificadas como “Difícil ” por 42,9% do

pessoal e como “Pouco difícil ” por 57,1%. Na avaliação da natureza da dificuldade,

CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

88

encontramos a questão metodológica apontada por 37,5% dos pesquisados para

ambas as definições. Para a definição das suposições, 12,5% apontaram

dificuldades de ordem tecnológica, falta de dados e desconhecimento do

interlocutor. Já para a definição das limitações, 37,5% dos participantes entenderam

que a dificuldade está na falta de dados. Para ambas as definições, 25% dos

pesquisados não indicaram dificuldades.

A norma ainda estabelece que, se aplicável, seja definido o tipo de revisão

crítica. Grande parte dos profissionais (71,4%) apontou como “Importante ” o

cumprimento desse requisito e 28,6% consideraram–no “Muito importante ”. Ainda

que a maioria ache importante cumprir essa tarefa, somente 28,6% a consideraram

de “Difícil ” cumprimento, pois a maioria, ou seja, 71,4% caracterizaram–na como

“Pouco difícil ” de se cumprir. Como era de se esperar, ao indicarem a natureza da

dificuldade, 50% nada indicou. Dificuldades metodológica, financeira e falta de

dados foram citadas pelos 50% em iguais porções.

A norma NBR ISO 14041 estabelece a necessidade de elaboração de um

relatório do estudo e, nesse sentido, na fase da Definição de objetivo e escopo é

necessário que se defina o tipo e formato do relatório requerido para o estudo. Esta

tarefa foi considerada “Muito importante ” por apenas 14,3% dos profissionais, foi

considerada “Importante ” pela maioria (57,1%) e 28,6% consideraram–na “Pouco

Importante ”. Aqui também a maioria achou importante cumprir essa tarefa, e

apenas 28,6% consideraram–na “Difícil ” de ser cumprida, sendo que 71,4% a

consideraram “Pouco difícil ”, ou seja, de fácil cumprimento. Neste quesito, 20%

dos participantes da pesquisa indicaram dificuldades de ordem metodológica para

atendimento ao requisito, 40% assinalaram a falta de capacitação como dificuldade

e outros 40% não classificaram nenhum outro elemento de dificuldade.

Compilando os registros efetuados no formulário da pesquisa, foi possível

avaliar a fase de Definição de objetivo e escopo considerando todas as disposições

dessa, no geral, como os participantes a consideraram quanto ao grau de

importância, grau de dificuldade e classificação da natureza das dificuldades.

A fase de Definição de objetivo e escopo foi vista pela maioria dos

participantes (54,5%) como “Muito importante ” para o estudo, seguida dos 40.3%

outros que a julgaram “Importante ” e apenas 5,2% a consideraram “Pouco

importante ”. Apurou–se também que há certo equilíbrio quando se verifica o grau

CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

89

de dificuldade para a realização dessa fase, pois, embora a ligeira maioria (51,9%) a

considerasse “Pouco difícil ”, 41,6% a definiram–na como “Difícil ” e 6,5% como

“Muito difícil ”. Dentre as categorias de dificuldades, as de natureza metodológica

atingiram 29% das indicações, seguida pela falta de dados em 22%, 8,7% para a

falta de capacitação e outras menos significativas.

O gráfico abaixo (figura 4) apresenta os resultados compilados.

Figura 4 – Gráfico do resultado da pesquisa de opin ião para a fase de

Definição de objetivo e escopo.

Fonte: Próprio autor – Pesquisa de opinião – Avaliação de Ciclo de vida – ACV. Análise Crítica da Metodologia.

6.1.3.2. Análise do inventário, a preparação para c oleta e a coleta de dados.

A fase de análise de inventário é talvez a mais trabalhosa de um estudo de

ACV e merece a maior atenção do profissional. É nesta fase que se desenham os

fluxogramas dos processos e suas inter–relações, onde é descrito cada processo em

detalhes, com suas entradas e saídas, suas funções, etc. Enfim é nessa fase que o

54,5

40,3

5,2 6,5

41,6

51,9

29,0

2,44,6

22,0

8,7

3,7

29,6

0,0

10,0

20,0

30,0

40,0

50,0

60,0

Mui

to im

port

ante

Impo

rtan

te

Pou

co im

port

ante

Mui

to d

ifíci

l

Difí

cil

Pou

co d

ifíci

l

Met

odol

ógic

a

Fin

ance

ira

Tec

noló

gica

Fal

ta d

e da

dos

Fal

ta c

apac

itaçã

o

Des

conh

ecim

ento

do in

terlo

cuto

r

Não

se

aplic

a

Grau deimportância

Grau dedificuldade

Natureza da dificuldade

Definição do Objetivo e Escopo - Resultados

CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

90

estudo toma corpo e é enriquecido por uma infinidade de informações técnicas para

que se obtenha o êxito pretendido face ao objetivo preconizado.

Dentre outras ações necessárias, é preciso desenhar fluxogramas de

processos específicos que delineiem todos os processos elementares e inter–

relações. Como resultado da pesquisa referente a esse quesito, tivemos

unanimidade de que é “Muito importante ” cumprir com tal tarefa. Para essa

execução, 57,1% dos entrevistados entenderam–na ser de “Difícil ” realização,

enquanto 42,9% responderam ser “Pouco difícil ”. Neste item, a falta de capacitação

surge apontada por 42,9% dos entrevistados, 28,6% assinalaram como outra

dificuldade a falta de dados, 14,3% indicaram a questão financeira e outros 14,3%

não citaram nenhuma outra natureza de dificuldade.

Outro requisito que a metodologia estabelece é o de descrever cada

processo elementar em detalhes, suas entradas e saídas quantitativamente, assim

como a função de cada um. Na avaliação da comunidade consultada, 71,4%

definiram como “Muito importante ” essa descrição, 14,3% entenderam que é

“Importante ” e outros 14,3% apontaram para “Pouco importante ”. Quanto ao grau

de dificuldade, aqui surge uma diversificação maior; 28,6% assinalaram a falta de

dados, 21,4% a falta de capacitação, 21,4% indicaram dificuldades financeiras, e

três grupos de 7,1% registraram como natureza das dificuldades a metodológica,

tecnológica, o desconhecimento do interlocutor e o tempo.

Ainda para a preparação para a coleta de dados, é necessário referenciar a

fonte e o período para dados coletados de literatura publicada. Este requisito foi

classificado como “Muito importante ” por 42,9% do pessoal e “Importante ” por

57,1%. Essa referência de origem dos dados coletados foi considerada “Pouco

difícil ” de realização por 71,4% dos participantes e como “Difícil ” de realização por

28,6% deles. Como dificuldades para execução dessa tarefa, foram apontadas as de

natureza metodológica (25%), tecnológica (12,5%) e financeira (12,5%), assim como

a falta de dados (12,5%) e falta de capacitação (12,5%), sendo que 25% do pessoal

não apontou dificuldades.

Definir as categorias de dados associados com cada processo elementar e

lista que especifique as unidades de medida é outro requisito que a metodologia

impõe ao aplicador da ferramenta. Para esse quesito de avaliação, 57,1% deram o

conceito “Importante ”, enquanto 42,9% classificaram–no como “Muito importante ”.

CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

91

O item foi considerado por 57,1% dos pesquisados de “Pouco difícil ” execução e

por 42,9% de “Difícil ” realização. Nesse requisito a dificuldade metodológica

sobressai com 42,9% dos apontamentos, depois a falta de capacitação é citada por

28,6%, e em seguida a falta de capacitação e a dificuldade financeira são

referenciadas por 14,3% dos avaliadores.

A metodologia ainda prevê, para a fase de análise de inventário, que sejam

descritas as técnicas de coleta de dados e de cálculos para cada categoria de

dados. A realização dessa tarefa ao ser avaliada na pesquisa de opinião resultou,

quanto a sua importância, ser “Muito importante ” para 57,1% dos profissionais e

“Importante ” para 42,9% deles. Já quanto ao grau de dificuldade para sua

realização, os resultados foram os seguintes: 42,9% entenderam que o requisito é

de “Difícil ” cumprimento e em igual parcela, 42,9% acharam que é “Pouco difícil ” e

apenas 14,3% o conceituaram como “Muito difícil ”. As dificuldades de natureza

metodológica e falta de capacitação aparecem em 22,2% dos apontamentos; quatro

parcelas com 11,1% indicam a falta de dados, o desconhecimento do interlocutor, o

tempo e a questão financeira como natureza das dificuldades.

Cumprir o requisito de fornecer instruções para os locais de origem dos dados

para casos especiais, irregularidades ou outros itens associados com os dados, na

experiência dos profissionais, a pesquisa revela que 42,9% a consideraram “Muito

importante ”, também 42,9% indicaram ser “Importante ” cumprir esse requisito e

apenas 14,3% o julgaram “Pouco importante ” seu cumprimento. O grau de

dificuldade para ser cumprido é considerado por 57,1% dos profissionais como

“Difícil “ e como “Pouco difícil ” por 42,9% restantes. A falta de capacitação e a

dificuldade financeira aparecem com 25% de indicação cada, a dificuldade

metodológica e falta de dados são citadas por 12,5% em cada uma delas e 25% dos

pesquisados não apontaram nenhuma natureza de dificuldade.

Ao condensar as respostas efetuadas no formulário da pesquisa, foi possível

avaliar a fase de Análise do inventário no tocante às disposições normativas para a

preparação para coleta e a coleta de dados quanto ao grau de importância, grau de

dificuldade e a natureza das dificuldades.

O grau de importância geral dessas disposições para o estudo foi considerado

“Muito importante ” para 59,5% dos pesquisados enquanto 35,7% deles julgaram–

no apenas “Importante ”, e a minoria 4,8% “Pouco importante ”.

CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

92

Ao condensar as avaliações deste rol de disposições quanto ao grau de

dificuldade para realização, encontramos apenas 7,1% das indicações como “Muito

difícil ” e um equilíbrio bastante grande entre aqueles que as acham “Difícil ” 47,6%,

e “Pouco difícil ” 45,2%. Dentre as naturezas das dificuldades, numa escala

decrescente de apontamentos realizados, temos a falta de dados com 25,4%, em

segundo lugar a questão metodológica com 18,3% seguida bem de perto pela falta

de dados com 17,9% de indicação. A dificuldade financeira aparece aqui em quarto

lugar com 16,4%, e as demais com indicações pouco expressivas.

O gráfico abaixo (figura 5) apresenta os resultados compilados.

Figura 5 – Gráfico do resultado da pesquisa de opin ião para a fase de Análise

do inventário – Preparação para a coleta e coleta d e dados.

Fonte: Próprio autor – Pesquisa de opinião – Avaliação de Ciclo de vida – ACV. Análise Crítica da Metodologia.

59,5

35,7

4,87,1

47,645,2

18,316,4

3,3

17,9

25,4

3,0 3,0

12,6

0

10

20

30

40

50

60

Mui

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porta

nte

Impo

rtan

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l

Difí

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l

Met

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ógic

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Fin

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noló

gica

Fal

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e da

dos

Fal

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apac

itaçã

o

Des

conh

ecim

ento

do in

terlo

cuto

r

Tem

po

Não

se

aplic

a

Grau deimportância

Grau dedificuldade

Natureza da dificuldade

Preparação para coleta e coleta de dados - Resultados

CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

93

6.1.3.3. Análise do inventário, durante a validação dos dados.

A norma NBR ISO 14041 estabelece a necessidade de cumprimento de várias

etapas operacionais para o cálculo de dados, sendo a validação destes um requisito

indispensável ao êxito do objetivo do estudo.

Das várias disposições existentes nesta fase, encontramos a exigência de se

definirem balanços de massa ou energia ou análises comparativas de fatores de

emissão. Analisados os resultados da pesquisa de opinião para esse requisito foi

possível constatar que a maioria, 71,4% dos profissionais consideraram–no “Muito

importante ”, e apenas 28,6% como “Importante ”. Da avaliação do grau de

dificuldade para cumprir com o requisito, temos que a maioria (42,8%) entendeu ser

“Pouco difícil ” e outros dois grupos de 28,6% se igualaram na classificação de

“Muito difícil ” e “Difícil ”. Quanto à natureza da dificuldade, observa–se que há uma

razoável distribuição das categorias, pois 20% assinalaram ser de ordem

metodológica, 20% financeira, 20% pela falta de dados, 10% tecnológica, outros

10% citaram a falta de capacitação e 20% não apontaram natureza de dificuldade

para esse requisito.

Quando os dados colhidos no estudo não forem suficientes, algumas vezes é

necessário fazer a inclusão de outros dados. A metodologia estabelece, para esses

casos, justificar a inclusão de dados, inclusive se resultantes de cálculos de

tecnologia similar. O cumprimento desse requisito é considerado por 71,4% dos

participantes da pesquisa como “Muito importante ”, por 14,3% como “Importante ”

e pelos outros 14,3% como “Pouco importante ”. Embora a maioria tenha

classificado o requisito como muito importante, esta também o considerou “Pouco

difícil ” para ser cumprido, sendo que 57,1% assim entenderam. Ainda que

considerado pouco difícil, 37,5% dos profissionais assinalaram de natureza

metodológica as dificuldades para cumprimento. Dificuldades de ordem financeira,

falta de dados, desconhecimento do interlocutor e tempo foram respectivamente

apontados por 12,5% dos participantes, tendo igual parcela não apresentado

nenhuma natureza de dificuldade.

Outra disposição da metodologia nesta fase de Análise do inventário é a

necessidade de relacionar dados ao processo elementar e à unidade funcional. Para

essa tarefa, em relação ao grau de importância, 87,1% dos os participantes

classificaram o requisito como “Muito importante ” e apenas 14,3% o consideraram

“Pouco importante ”. Essa tarefa de relacionar os dados ao processo elementar e à

unidade funcional teve expressiva conceituação como “Difícil ”, considerando que

CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

94

85,7% dos pesquisados assim assinalaram e apenas 14,3% a consideraram como

“Pouco difícil ”. No tocante à natureza das dificuldades, a metodologia foi citada por

44,4% deles e quatro grupos de 11,1% apontaram a falta de capacitação, a

tecnologia, o tempo e a questão financeira como elementos de dificuldades. Ainda

11,1% não apontaram nenhuma natureza de dificuldade.

A metodologia exige ainda, no âmbito da validação dos dados na Análise do

inventário, que sejam incluídos / excluídos novos processos elementares, estágios

da ACV de processos elementares e entradas e saídas em função da análise de

sensibilidade. Este requisito foi assim avaliado: 57,1% consideraram–no

“Importante ” e 42,9% como “Muito importante ”. Quanto ao grau de dificuldade para

ser cumprido, 57,1% classificaram os requisitos como “Difícil ”, 28,6%

consideraram–no “Pouco difícil ” e 14,3% “Muito difícil ”. Segundo 42,9% dos

pesquisados, são de natureza metodológica as dificuldades encontradas para

cumprir o requisito; 14,3% indicaram dificuldades de ordem financeira, 14,3%

indicaram dificuldades pela falta de capacitação das pessoas e 28,6% não

apontaram dificuldades.

Finalizando a validação dos dados na fase de Análise do inventário,

encontramos a disposição normativa de documentar todo o processo de refinamento

e a análise de sensibilidade. Na avaliação do grau de importância temos que para

57,1% dos participantes o requisito é “Muito importante ” e para outros 42,9% é

apenas “Importante ” para o estudo. Na avaliação do grau de dificuldade de se

realizar a tarefa, 42,9% entenderam ser de “Difícil ” realização, enquanto para 28,6%

dos pesquisados o requisito foi “Muito difícil ” para ser cumprido e outro grupo de

igual tamanho classificou–o como “Pouco difícil ”. A dificuldade metodológica

aparece com 42,9% de indicação, a dificuldade pela falta de capacitação é apontada

por 28,6% dos participantes da pesquisa e a dificuldade de natureza financeira é

citada por 14,3% dos pesquisados. Outros 14,3% não apontaram nenhuma natureza

de dificuldade.

Os resultados do rol de disposições para a validação dos dados na fase de

Análise do inventário foram reunidos para a obtenção de uma visão geral de como

se apresentam os graus de importância e dificuldade para cumprimento desta etapa,

assim como identificar como ficam as naturezas de dificuldades quando avaliadas no

geral para a validação dos dados.

O grau de importância geral desta etapa, quando reunidas todas as

disposições, foi considerado “Muito importante ” para 60% dos pesquisados

CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

95

enquanto 35,1% deles julgaram que são “Importante ”, e a minoria acentuada de

apenas 2,9% “Pouco importante ”. Ao compilar as avaliações dessas disposições

quanto ao grau de dificuldade para serem cumpridas, o conceito “Difícil ” se destaca

com 48,6% de indicação média, seguida de 34,3% como “Pouco difícil ” e 17,1%

como “Muito difícil ”. Avaliadas no geral as naturezas das dificuldades, temos a

maior média apontando para a metodológica com 37,5%, depois a financeira com

14,4% seguida pela falta de capacitação com 12,8% e pela falta de dado com 6,5%,

sendo as demais pouco significativas, e 17,3% não assinalaram nenhuma natureza.

O gráfico abaixo (figura 6) apresenta os resultados compilados.

Figura 6 – Gráfico do resultado da pesquisa de opin ião para a fase de Análise

do inventário – Validação dos dados.

Fonte: Próprio autor – Pesquisa de opinião – Avaliação de Ciclo de vida – ACV. Análise Crítica da Metodologia.

60,0

37,1

2,9

17,1

48,6

34,337,5

14,4

2,0

6,5

12,8

4,7 4,7

17,3

0

10

20

30

40

50

60

Mui

to im

port

ante

Impo

rtan

te

Pou

co im

port

ante

Mui

to d

ifíci

l

Difí

cil

Pou

co d

ifíci

l

Met

odol

ógic

a

Fin

ance

ira

Tec

noló

gica

Fal

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e da

dos

Fal

ta c

apac

itaçã

oD

esco

nhec

imen

todo

inte

rlocu

tor

Tem

po

Não

se

aplic

a

Grau deimportância

Grau dedificuldade

Natureza da dificuldade

Validação de dados - Resultados

CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

96

6.1.3.4. Análise do inventário, durante a alocação de fluxos e liberações.

Segundo a NBR ISO 14001, a análise de inventário do ciclo de vida baseia–se

em sua capacidade de interligar processos elementares em um sistema de produto

através de fluxos simples de materiais ou de energia.

Neste contexto, é necessário e a metodologia exige documentar

procedimentos para alocação e liberações ao meio ambiente dos diferentes produtos

em fluxos de materiais e energia, assim como alocar fluxos de materiais, energia e

as liberações desses produtos, repartindo as entradas e saídas do sistema para

seus diferentes produtos ou funções. A pesquisa de opinião, quanto ao grau de

importância dessa exigência, mostra–nos que 100% dos profissionais concordaram

que é “Muito importante ” sua realização. Quanto ao grau de dificuldade, as

opiniões dividiram–se entre 57,1% que a consideraram “Difícil ”, 28,6% “Muito

difícil ” e 14,3% “Pouco difícil ” de ser realizada. Nesta etapa, a dificuldade

metodológica surge com 25% de indicação, as dificuldades financeira e a falta de

dados foram apontadas por 16,7% dos participantes e 8,3% deles assinalaram haver

dificuldades de natureza tecnológica, falta de dados, desconhecimento do

interlocutor e tempo. De igual forma, também 8,3% não indicaram haver dificuldades

para a realização desse requisito.

Identificar processos compartilhados com outros sistemas de produto é outro

requisito normativo da metodologia ACV. A avaliação deste requisito, quanto ao

grau de importância, resulta que 71,4% dos pesquisados classificaram–no como

“Importante ” e 28,6% como “Muito importante ”. O grau de dificuldade foi avaliado

como “Difícil ” por 85,7% dos participantes e como “Muito difícil ” por 14,3%. Quanto

à natureza da dificuldade, juntas aparecem a metodológica, a falta de dados e a falta

de capacitação com 25% de indicação para cada uma delas, dificuldades de

natureza tecnológica e financeira foram apontadas por 12,5% dos participantes. Aqui

todos os participantes assinalaram algum tipo de dificuldade.

A metodologia também estabelece como requisito a necessidade de alocar

entradas entre produtos e funções de modo a refletir outras relações (e.g.

econômica), para quando a relação física não puder ser estabelecida ou usada

como única base para alocação. Este requisito foi considerado “Muito importante ”

para 57,1% dos profissionais, 28,6% indicaram–no como “Importante ” e 14,3%

assinalaram ser “Pouco importante ”. Há certo equilíbrio em relação ao grau de

CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

97

dificuldade, considerando que dois grupos de 42,9% apontaram como “Muito difícil ”

e “Difícil ” e apenas 14,3% o julgaram “Pouco difícil ”. Ao avaliar a natureza da

dificuldade, disparadamente com 60% de apontamento está a questão

metodológica, seguida em iguais parcelas de apontamento (10%) para cada uma

delas, a seguir, a financeira, a falta de dados, o desconhecimento do interlocutor e o

tempo.

Para a tarefa de identificar a relação entre coprodutos e resíduos, uma vez

que as entradas e saídas só devem ser alocadas para parte de coprodutos, há

bastante identificação da opinião de que é uma tarefa “Muito importante ”,

considerando que 85,7% da comunidade pesquisada assim o considerou e apenas

14,3% a julgaram “Importante ”. O grau de dificuldade mais acentuado foi o conceito

“Difícil ”, com 57,1%, seguido de “Pouco difícil ” por 28,6% e “Muito difícil ” pela

minoria de 14,3%. A dificuldade de natureza metodológica foi apontada por 75% dos

profissionais e a financeira por 12,5% deles. Também 12,5% não apontaram haver

dificuldades para a realização desse requisito.

Para que um estudo de ACV tenha consistência a metodologia exige aplicar

uniformemente os procedimentos de alocação para entradas e saídas similares do

sistema em consideração. A experiência dos participantes da pesquisa, pelo

resultado apresentado, demonstra que essa ação é “Muito importante ”,

considerando que foi assim apontada por 71,4% deles, outros 14,3% assinalaram

que é “Importante ” e uma mesma parcela como “Pouco importante ”. Dentre as

naturezas de dificuldade apontadas, a metodológica foi assinalada por 77,8% dos

profissionais, sendo a questão financeira e a falta de capacitação apontadas, cada

uma delas por 11,1% dos participantes.

Ao analisar todos os resultados da pesquisa de opinião para as disposições

relativas à alocação dos fluxos e liberações, temos que a média encontrada para o

grau de importância atingiu 68,6% para o conceito “Muito importante ”, 25,7% foi a

média encontrada para o conceito “Importante ” e apenas 5,7% para “Pouco

importante ”. Ao compilar as avaliações dessas disposições quanto ao grau de

dificuldade para serem cumpridas, o conceito “Difícil ” se destaca com 57,1% de

indicação média, seguida de 31,4% como “Muito difícil” e 11,4% “Pouco difícil ”.

Para as naturezas de dificuldades, temos a maior média apontando para a

CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

98

metodológica com 52,6%, depois a financeira com 12,6%, seguidas pela falta de

dados com 10,3% e 8,9% para a falta de capacitação, com as demais abaixo de 5%,

portanto pouco significativas.

A gráfico abaixo (figura 7) apresenta os resultados compilados.

Figura 7 – Gráfico do resultado da pesquisa de opin ião para a fase de Análise

do inventário – Alocação dos fluxos e liberações.

Fonte: Próprio autor – Pesquisa de opinião – Avaliação de Ciclo de vida – ACV. Análise Crítica da Metodologia.

A partir da avaliação pontual de cada uma das disposições constantes da

etapa de Análise do Inventário, foi possível também compilar todos os conceitos

dados a cada uma delas e chegar a uma média geral da etapa. Com o resultado

geral, considerando as limitações da pesquisa, é possível afirmar que para a

CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

99

realização de um estudo de ACV, utilizando a metodologia ISO, a etapa de Análise

do inventário é “Muito importante ” e “Difícil ”, segundo os participantes da pesquisa.

Quanto à natureza das dificuldades, a metodológica é a mais significativa, a falta de

capacitação das pessoas vem em segundo lugar, a questão financeira aparece em

terceiro lugar, seguida da falta de dados e demais dificuldades menos expressivas.

O gráfico abaixo (figura 8) apresenta os resultados compilados.

Figura 8 – Gráfico do resultado da pesquisa de opin ião para a fase de Análise

do inventário – Geral da Análise do inventário.

Fonte: Próprio autor – Pesquisa de opinião – Avaliação de Ciclo de vida – ACV. Análise Crítica da Metodologia.

CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

100

6.1.3.5. Na Avaliação do Impacto do ciclo de vida.

A Avaliação do Impacto do Ciclo de Vida (AICV) é a terceira fase da

metodologia descrita na NBR ISO 14040. Tem como objetivo avaliar os resultados

da Análise do inventário de um sistema de produto para melhor compreensão de sua

significância ambiental. Essa etapa modela as questões ambientais selecionadas,

chamadas categorias de impacto, e utiliza indicadores de categoria para condensar

e explicar os resultados do impacto de ciclo de vida.

Essa etapa pode ser utilizada para indicar oportunidades de melhoria no

sistema de produto e auxiliar na sua padronização, caracterizar ou servir de

referência para um sistema de produto e seus processos elementares ao longo do

tempo, efetuar comparações relativas entre sistemas de produtos com base em

indicadores de categoria selecionados, ou indicar questões ambientais para as quais

outras técnicas podem fornecer dados ambientais complementares e informações

úteis para tomada de decisão.

Ao verificar os resultados da pesquisa de opinião, o requisito de escolher e

definir as categorias de impacto, indicadores de categoria e modelos de

caracterização com base no conhecimento científico dos mecanismos ambientais e

processos analisados, temos que, para o grau de importância, 71,4% dos

participantes julgaram–no “Muito importante ” e 28,6% como “Importante ”. Quanto

à dificuldade de se cumprir o requisito, dois grupos de 42,9% se dividem

classificando–o como “Difícil ” e “Pouco difícil ” e 14,3% entenderam que o requisito

é “Muito difícil ” de ser cumprido. Dentre as dificuldades, a de natureza

metodológica sobressai com 57,1% de indicação, a financeira foi apontada por

14,3% dos participantes e outros 14,3% não indicaram nenhuma natureza de

dificuldade.

Outro requisito da metodologia é correlacionar qualitativamente os aspectos

ambientais às diferentes categorias de impactos. Para esse item, a avaliação de

importância resultou que 57,1% dos entrevistados o consideram “Muito importante ”

e 42,9% classificaram–no como “Importante ”. Quanto ao grau de dificuldade,

também dois grupos de 42,9% dividiram–se classificando–o como “Difícil ” e “Pouco

difícil ” e 14,3% entenderam que o requisito é “Muito difícil ” de ser executado. A

identificação da natureza da dificuldade apresenta a dificuldade metodológica com

44,4% das indicações, seguida da falta de capacitação com 22,2%; a falta de dados

CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

101

e a questão financeira foram apontadas por 11,1% dos participantes, e 11,1% não

apontaram nenhuma natureza de dificuldade.

Calcular, para cada categoria de impacto, os impactos por meio de fatores e

modelos de caracterização é outra disposição normativa que a metodologia exige

que seja cumprida. Essa tarefa foi considerada “Muito importante ” por 57,1% dos

pesquisados e “Importante ” pelos outros 42,9%. A avaliação quanto ao grau de

dificuldade mostra–nos certa disparidade no entendimento da comunidade

pesquisada, pois 28,6% classificaram–na como “Muito difícil ”, 28,6% como “Difícil ”

e uma parcela maior, 42,9%, indica o conceito “Pouco difícil ”. Com 62,5% aparece

a natureza de dificuldade metodológica, com 12,5% a financeira e a falta de dados, e

outros 12,5% não indicaram nenhuma outra natureza de dificuldade.

A metodologia de um estudo de ACV ainda estabelece ser necessário definir,

a título de normatização, e assim considerar a contribuição relativa dos fatores de

caracterização de uma determinada categoria com relação ao impacto total para a

mesma categoria. A experiência dos participantes da pesquisa, pelo resultado

apresentado, demonstra que essa ação é “Muito importante ”, considerando que foi

assim apontada por 42,9% deles, outros 28,6% assinalaram que é “Importante ” e a

mesma parcela julga–a “Pouco importante ”. Quanto ao grau de dificuldade, 57,1%

indicaram ser de “Difícil ” realização e 42,9% de “Pouco difícil ” realização. Dentre

as naturezas de dificuldade apontadas, a metodológica foi assinalada por 42,9% dos

profissionais, 28,6% apontaram a falta de dados, e a dificuldade de natureza

financeira é indicada por 14,3% dos pesquisados. Foram 14,3% os que não

apontaram nenhuma natureza de dificuldade.

Para cumprir o requisito de ponderação, ou seja, agregar categorias de

impacto em grupos semelhantes, ou classificação das categorias de impacto para

auxiliar na avaliação do desempenho ambiental de determinado sistema de produto,

para os profissionais pesquisados, a pesquisa revela que 42,9% a consideraram

“Muito importante ”, entretanto 14,3% indicaram ser “Importante ” cumprir esse

requisito e 42,9% consideraram “Pouco importante ” seu cumprimento. O grau de

dificuldade para cumprimento foi considerado por 57,1% dos profissionais como

“Difícil “ e como “Pouco difícil ” por 28,6%, sendo que apenas 14,3% o consideraram

“Muito difícil ”. Ainda na avaliação de dificuldade, surgiu aqui o apontamento de uma

nova natureza de dificuldade definida pela falta de Introdução de Juízo de Valores

na análise, correspondendo a 10,0% dos apontamentos. A dificuldade metodológica

CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

102

aparece com 50% das indicações, A falta de dados foi assinalada por 20% dos

participantes, a falta de capacitação e a dificuldade financeira apareceram com 10%

de indicação cada.

Ainda no âmbito da ponderação, é necessário converter resultados dos

indicadores de cada uma das categorias a uma escala comum, por meio de fatores

numéricos baseados em escolhas de valor. Essa tarefa foi considerada por 42,9%

dos participantes como “Muito importante ”, outra parcela também de 42,9%

julgou–a “Pouco importante ” e a minoria de 14,3% apontou ser “Importante ”. Na

avaliação do grau de dificuldade, 28,6% entenderam que a tarefa é “Muito difícil ” de

realização e outra parcela de 28,6% julgou–a “Pouco difícil ” e a maioria 42,9% a

classificou–a como “Difícil ”. A dificuldade de natureza metodológica foi apontada por

55,6% dos profissionais, seguida da falta de dados por 22,2%, e dois grupos de

11,1% assinalaram a questão financeira e a Introdução do juízo de valor na análise

como outras dificuldades.

Encerrando as disposições para a avaliação do impacto de ciclo de vida,

temos outro requisito da norma que é o de analisar a qualidade dos dados através

da verificação da confiabilidade e precisão dos resultados obtidos, para identificar o

grau de incerteza dos resultados e os processos que mais causem danos ao meio

ambiente. Nesse item temos uma avaliação de importância assim resultante: 57,1%

julgaram–no “Muito importante ” para o estudo e 42,9% “Importante ”. O grau de

dificuldade para esse requisito foi considerado “Difícil ” para 71,4% do pessoal,

14,3% apontaram–no como “Muito difícil ” e outro grupo de igual tamanho

classificou–o como “Pouco difícil ”. Na avaliação das dificuldades, 36,4% dos

pesquisados apontaram a de natureza metodológica, três grupos de 18,2% dos

participantes indicam dificuldades de natureza financeira, falta de dados e falta de

capacitação, e 8,1% não indicaram nenhuma outra natureza de dificuldade.

Reunindo todos os resultados pontuais de cada requisito em uma média geral

da etapa de Avaliação do impacto de ciclo de vida, encontramos para o grau de

importância da etapa os seguintes resultados: 53,1% consideram–na “Muito

importante ”, 32,7% indicam–na “Importante ” e apenas 14,3% a definem como

“Pouco importante ”. A compilação das conceituações para o grau de dificuldade

para cumprir com todos os requisitos resultou que 49% entenderam–na ser de

“Difícil ” realização, 34,7% assinalaram–na para “Pouco difícil ” e 16,7% julgaram–

na “Muito difícil ” de ser realizada. A média geral para os apontamentos das várias

CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

103

naturezas de dificuldades demonstra que 49,8% consideram que há dificuldades na

metodologia, a falta de dados aparece em segundo lugar com 16,1% das indicações,

a terceira natureza de dificuldade mais apontada na média é a financeira, indicada

por 13,1% dos participantes e quarta é a falta de capacitação, cuja média foi de

9,2% das indicações. Curiosamente não houve para essa etapa da metodologia

nenhuma indicação de dificuldade de natureza tecnológica, apenas 3% apontaram

que há dificuldades para se introduzir um juízo de valor na avaliação do impacto e

8,8%, em média, consideram não haver dificuldades para execução dessa etapa.

O gráfico abaixo (figura 9) apresenta os resultados compilados.

Figura 9 – Gráfico do resultado da pesquisa de opin ião para a fase de

Avaliação do impacto do ciclo de vida – Resultados.

Fonte: Próprio autor – Pesquisa de opinião – Avaliação de Ciclo de vida – ACV. Análise Crítica da Metodologia.

CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

104

6.1.3.6. Na Interpretação dos resultados do ciclo d e vida.

A interpretação dos resultados do ciclo de vida é a fase da ACV que consiste

na identificação e análise dos resultados obtidos nas fases de inventário ou

avaliação de impacto, de acordo com o objetivo e o escopo previamente definidos

para o estudo. Os resultados dessa fase podem tomar a forma de conclusões e

recomendações aos tomadores de decisão.

A pesquisa de opinião, no tocante a essa fase, também foi realizada de forma

a avaliar pontualmente cada uma das disposições normativas para essa etapa.

Assim, a tarefa de analisar os resultados de forma interativa com o objetivo e o

escopo, foi considerada “Muito importante ” por 85,7% dos profissionais e 14,3%

apontaram–na como “Importante ”. A dificuldade de se cumprir essa tarefa foi

julgada “Pouco difícil ” por 57,1% dos participantes e como “Difícil ” por 42,9% deles.

Dentre as naturezas de dificuldades, apenas 28,6% apontaram a metodológica,

contrapondo com igual grupo que entende não haver dificuldades para a realização

dessa tarefa. A questão financeira foi apontada por 14,3% dos pesquisados, o tempo

e o desconhecimento do interlocutor sobre esse tópico aparecem assinalados por

14,3% dos participantes da pesquisa.

A avaliação da qualidade dos dados e análises de sensibilidade de entradas,

saídas e escolhas metodológicas significativas, para permitir a compreensão das

incertezas dos resultados são outras disposições da metodologia de um estudo de

ACV. Esse item foi avaliado pelos profissionais quanto a sua importância e todos

foram unânimes em avaliar o item como “Muito importante ”. Já em relação ao grau

de dificuldade, temos que 57,1% o conceituaram como de “Difícil ” realização, 28,6%

apontaram–no como “Muito difícil ” e 14,3% como “Pouco difícil ” de ser cumprido.

Como resultado da avaliação das naturezas de dificuldades, a metodológica foi

apontada por 44,4% dos participantes, a falta de dados por 22,2%, as dificuldades

financeiras e a falta de capacitação foram apontadas por dois grupos de 11,1% dos

profissionais, sendo que um grupo de igual tamanho não indicou nenhuma natureza

de dificuldade.

Ainda no contexto da interpretação dos resultados, a metodologia também

estabelece como requisito a necessidade de verificar, em relação ao objetivo do

estudo, se as definições das funções do sistema e da unidade funcional estão

apropriadas. Esse requisito foi considerado “Muito importante ” para 85,7% dos

profissionais e 14,3% indicaram–no como “Importante ”. Em relação ao grau de

dificuldade, uma parcela de 71,4% dos participantes assinalou a tarefa como “Pouco

CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

105

difícil ” e 28,6% consideraram–na como “Difícil ”. Ao avaliar a natureza da

dificuldade, para a dificuldade metodológica houve a indicação por um terço do

pessoal, 16,7% apontaram a falta de capacitação como outra dificuldade, outro

grupo de 16,7% assinalou a questão financeira como dificuldade e os demais que

somam 33,3% do pessoal não indicaram nenhuma outra natureza de dificuldade.

Outro requisito da ferramenta para estudo de ACV é verificar, em relação ao

objetivo do estudo, se as definições das fronteiras do sistema estão apropriadas.

Para esse item, a avaliação de importância resultou que 71,4% dos entrevistados o

consideraram “Muito importante ” e 28,6% classificaram–no como “Importante ”.

Quanto ao grau de dificuldade, 42,9% assinalaram–no como “Difícil ” e 57,1% como

“Pouco difícil ” de ser executado. A identificação da natureza da dificuldade

apresenta a dificuldade metodológica com 42,9% das indicações, seguida da falta de

capacitação com 14,3%, e financeira também com 14,3% dos apontamentos. Dos

participantes, 28,6% não apontaram nenhuma natureza de dificuldade.

Para a tarefa de documentar a avaliação da qualidade dos dados, as análises

de sensibilidade, as conclusões e quaisquer recomendações a partir dos resultados

da interpretação, a pesquisa de opinião apresentou para avaliação do grau de

importância que se trata de uma tarefa “Muito importante ” para 57,1% dos

profissionais, 14,3% julgaram–na “Importante ” para o estudo e 28,6% deles a

classificaram–na como “Pouco importante ”. Na avaliação da dificuldade para se

cumprir a tarefa, 57,1% da comunidade pesquisada entendeu ser de “Difícil ”

cumprimento e 42,9% julgaram ser “Pouco difícil ” para ser realizada. As naturezas

de dificuldades avaliadas para essa tarefa apresentam certo equilíbrio, considerando

que a metodológica, a financeira e a falta de dados são apontadas igualmente por

22,2% dos participantes, 11,1% indicaram a falta de capacitação e uma parcela de

22,2% não apontou haver dificuldades para a realização desta tarefa.

No estudo de ACV de um sistema de produto, a metodologia normatizada

pela ISO requer que sejam formuladas as conclusões e recomendações para a

minimização de impactos ambientais potencialmente gerados pelo sistema. Para os

profissionais participantes da pesquisa, 85,7% consideraram “Muito importante ”

que isso seja feito e 14,3% indicaram ser “Importante ” realizar essa tarefa. O grau

de dificuldade foi apontado como “Muito difícil ” para 28,6% dos pesquisados, como

“Difícil ” por 42,9% deles, e “Pouco difícil ” pelos demais que somam 28,6%. Já para

a avaliação das naturezas das dificuldades, a metodologia foi indicada por 30% do

pessoal, 20% assinalaram a dificuldade tecnológica, 10% apontaram as dificuldades

CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

106

financeira, falta de capacitação e falta de dados para cumprir esse item e outros 20%

nada apontaram.

Compilando os resultados dessa fase para o grau de importância geral,

quando reunidas todas as disposições foi considerada “Muito importante ” para

81,6% dos participantes, enquanto 14,3% deles classificaram–na como “Importante ”

e a minoria com 4,1% como “Pouco importante ”. As avaliações dessas disposições

quanto ao grau de dificuldade para serem cumpridas, o conceito “Difícil ” se

destacou com 46,9% de indicação média, seguido por 44,9% como “Pouco difícil ” e

8,2% como “Muito difícil ”. Avaliadas no geral as naturezas das dificuldades, temos

a maior média apontando para a metodológica com 34,9%, depois a financeira com

14,7%, seguidas pela falta de capacitação com 11,1% e 7,8% para a falta de dados,

sendo as demais pouco significativas, e 24,6% não assinalaram nenhuma natureza.

O gráfico abaixo (figura 10) apresenta os resultados compilados.

Figura 10 – Gráfico geral do resultado da pesquisa de opinião para a fase de

Interpretação dos resultados do ciclo de vida.

81,6

14,3

4,18,2

46,944,9

34,9

14,7

2,9

7,811,1

2,0 2,0

24,6

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

Mui

to im

port

ante

Impo

rtan

te

Pou

co im

port

ante

Mui

to d

ifíci

l

Difí

cil

Pou

co d

ifíci

l

Met

odol

ógic

a

Fin

ance

ira

Tec

noló

gica

Fal

ta d

e da

dos

Fal

ta c

apac

itaçã

o

Des

conh

ecim

ento

do in

terlo

cuto

r

Tem

po

Não

se

aplic

a

Grau deimportância

Grau dedificuldade

Natureza da dificuldade

Geral da Interpretação dos resultados do Ciclo de Vida - Resultados

Fonte: Próprio autor – Pesquisa de opinião – Avaliação de Ciclo de vida – ACV. Análise Crítica da Metodologia.

CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

107

6.1.3.7. Na Emissão do Relatório do estudo de ciclo de vida.

Nesta fase a metodologia exige que os resultados da ACV sejam relatados ao

público–alvo de forma fiel, completa e exata, conforme o tipo e formato de relatório

definido na fase de escopo do estudo.

Os profissionais que participaram da pesquisa, ao avaliar essa necessidade,

apontaram com unanimidade que a tarefa é “Muito importante ”. Porém, na

avaliação do grau de dificuldade, as opiniões estão um pouco divididas da seguinte

maneira: 28,6% consideraram–na “Muito difícil ” de ser realizada, outros 57,1%, a

maioria, indicaram–na como “Difícil ” e os demais, que somam 14,3%, apontaram

para o conceito “Pouco difícil ”. Dentre as naturezas de dificuldades, encontramos

aqui a metodológica apontada por 41,7% dos profissionais, a falta de capacitação

aparecendo em segundo lugar com 25% das indicações e 16,7% assinalando que a

falta de dados e questões financeiras são outras complicações da ferramenta.

O gráfico abaixo (figura 11) apresenta os resultados compilados.

Figura 11 – Gráfico geral do resultado da pesquisa de opinião para a fase de

Emissão do Relatório do ciclo de vida.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Mui

to im

porta

nte

Impo

rtant

e

Pouc

o im

porta

nte

Mui

to d

ifíci

l

Difí

cil

Pouc

o di

fícil

Met

odol

ógic

a

Fina

ncei

ra

Tecn

ológ

ica

Falta

de

dado

s

Falta

capa

cita

ção

Grau de importância Grau de dificuldade Natureza da dificuldade

100,0

0,0 0,0

28,6

57,1

14,3

41,7

16,7

0,0

16,7

25,0

Geral da Emissão do Relatório do Ciclo de Vida - Resultados

Fonte: Próprio autor – Pesquisa de opinião – Avaliação de Ciclo de vida – ACV. Análise Crítica da Metodologia.

CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

108

6.1.3.8. Na Análise crítica, quando necessária ao e studo do ciclo de vida.

Um estudo de ACV, dependendo do sistema de produto que se pretende

estudar, de sua complexidade e percepção da magnitude de impactos potenciais

que possa gerar, uma análise crítica pode ser realizada para facilitar a compreensão

dos resultados e aumentar a credibilidade do estudo de ACV realizado. Essa análise

pode ser realizada, quando necessário, segundo o que foi estabelecido durante a

fase de definição do objetivo e escopo do estudo, por partes interessadas ou por

algum especialista, seja ele interno ou externo.

Para realizar a análise crítica sobre a consistência dos métodos usados para

conduzir a ACV em relação à Norma de referência, 71,4% dos participantes

julgaram–na “Muito importante ” e 28,6% “Importante ”. Quanto ao grau de

dificuldade, 42,9% consideraram–na “Difícil ”, enquanto 57,1% dos participantes

conceituaram–na como “Pouco difícil ”. As dificuldades para realização dessa

análise de consistência segundo sua natureza e conforme resultado da pesquisa

são: 33,3% indicaram ser de caráter metodológico e 16,7% apontaram ter a natureza

financeira como dificuldade. Os 50% restantes entendem não haver dificuldade para

realizar a análise crítica dos métodos utilizados.

Outro requisito de avaliação a ser considerado na análise crítica é verificar se

os métodos são científica e tecnicamente válidos. Essa verificação é considerada

“Muito importante ” para 57,1% dos pesquisados e “Importante ” para 42,9% do

restante. São 57,1% os profissionais que indicaram como “Difícil ” a realização dessa

verificação, sendo que 14,3% a classificaram como “Muito difícil e como “Pouco

difícil ” um grupo de 28,6% dos profissionais que responderam à pesquisa. Quanto à

natureza das dificuldades, grande parte, ou seja, 42,9% curiosamente não indicaram

haver nenhuma dificuldade, 28,6% indicaram dificuldade metodológica e 14,3%

assinalaram questões de ordem financeira e tecnológica para realizar tal análise.

A análise crítica, segundo a metodologia, deve abordar a verificação dos

dados usados. Como requisito, a norma requer que os dados sejam analisados

quanto a sua adequação e razoabilidade em relação ao objetivo do estudo. Assim,

no contexto da pesquisa, 71,4% dos participantes julgaram essa verificação “Muito

importante ” e 28,6% “Importante ”. Quanto à dificuldade de realização da tarefa, os

conceitos “Muito difícil ” e “Pouco difícil ” surgem apontados e divididos por

exatamente dois grupos de 42,9% dos profissionais e a minoria, com 14,3%, os que

entendem ser de “Difícil ” realização. Ainda que os dois maiores grupos estejam

CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

109

extremamente divididos quanto ao grau de dificuldade, 50% dos pesquisados não

apontaram a natureza da dificuldade e 16,7% deles assinalaram a falta de dados, a

questão financeira e a metodologia como obstáculos à realização da tarefa.

Verificar se as interpretações refletem as limitações identificadas e o objetivo

do estudo é outra disposição normativa da metodologia para a análise crítica do

estudo. Essa foi considerada “Muito importante ” para o estudo por 100% dos

profissionais. No entendimento de 57,1% deles, essa análise é “Difícil ” de ser

cumprida e 42,9% consideram–na “Pouco difícil ”. As razões desses entendimentos

residem no fato de que, segundo 42,9% dos participantes, há dificuldades de ordem

metodológica, para 14,3% há dificuldades financeiras e para os outros 42,9% não há

qualquer dificuldade para tal verificação.

Durante a análise crítica, a norma requer ainda que seja verificado se o

relatório é transparente e consistente. Tal verificação no âmbito da análise crítica foi

considerada para 71,4% dos profissionais como “Muito importante ” para o êxito do

estudo, 14,3% indicaram ser “Importante ” e outros 14,3% restantes consideraram

tal verificação “Pouco importante ”. O conceito “Pouco difícil ” foi apontado por

57,1% do pessoal quando da avaliação da dificuldade de se cumprir o requisito, uma

parcela de 28,6% dos participantes assinalaram–no como “Difícil ” e 14,3% como

“Pouco difícil ”. É de natureza metodológica a dificuldade apontada por 33,3% dos

participantes, a dificuldade financeira foi indicada por 16,7% dos profissionais e a

grande maioria, representada por 50% deles, não assinalou nenhuma natureza de

dificuldade para esta verificação.

A etapa de análise crítica de um estudo de ACV, quando reunidos todos os

conceitos atribuídos pelos profissionais às disposições normativas da etapa,

apresentou os seguintes resultados médios. O grau de importância geral ficou

caracterizado como “Muito importante ” com uma média de 74,3% dos

apontamentos, como “Importante ” por 22,9% e apenas 2,9% foi a média para o

conceito “Pouco importante ”. O grau de dificuldade, após a mesma compilação dos

conceitos dados a cada uma das disposições, resultou numa média de 45,7% para o

conceito “Pouco difícil ”, seguido bem de perto por 40% para o atributo “Difícil ” e

apenas por 14,3% para “Muito difícil ”. Coerentemente a essa avaliação de

dificuldade, os resultados médios apresentaram 47,1% com o entendimento de que

não há maiores dificuldades para se realizar a análise crítica, 31% foi a indicação de

CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

110

que há dificuldades de ordem metodológica, 15,7% indicaram dificuldades de ordem

financeira e as demais dificuldades apresentam pouco significância.

O gráfico abaixo (figura 12) apresenta os resultados compilados.

Figura 12 – Gráfico geral do resultado da pesquisa de opinião para a fase de

Análise Crítica do ciclo de vida.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

Mui

to im

port

ante

Impo

rtan

te

Pou

co im

port

ante

Mui

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ifíci

l

Difí

cil

Pou

co d

ifíci

l

Met

odol

ógic

a

Fin

ance

ira

Tec

noló

gica

Fal

ta d

e da

dos

Não

se

aplic

a

Grau de importância Grau de dificuldade Natureza da dificuldade

74,3

22,9

2,9

14,3

40,045,7

31,0

15,7

2,9 3,3

47,1

Geral da Análise Crítica - Resultados

Fonte: Próprio autor – Pesquisa de opinião – Avaliação de Ciclo de vida – ACV. Análise Crítica da Metodologia.

6.1.3.9. Síntese da pesquisa de opinião.

Reunindo todos os elementos que compuseram o formulário da pesquisa

assim como os resultados alcançados com as respostas obtidas, ao final, com a

compilação de tudo que foi apurado, apresenta–se em seguida a síntese da

pesquisa de opinião.

CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

111

Dada a importância que os estudiosos dão às análises de ciclo de vida para

sistemas de produtos e serviços, o grau de importância da metodologia estabelecida

pelas normas ISO, no âmbito da pesquisa, abrangendo todas as disposições

normativas, resultou como sendo “Muito importante ” para 64,1% dos participantes,

enquanto 30,1% assinalaram, nesse mesmo contexto, como “Importante ” e uma

minoria composta de 5,8% “Pouco importante ”. Esse resultado dá a dimensão

exata da importância da metodologia para incorporar rotinas padronizadas bem

como a parametrização de processos em permanente avaliação, a fim de que se

alcance a efetividade proposta quanto à redução, mitigação e/ou extinção de

impactos ambientais adversos.

Os resultados encontrados nos dão conta de que a metodologia, segundo o

universo pesquisado, é de difícil aplicação, consideradas todas as etapas com as

principais disposições normativas requisitadas. Como resultado para o grau de

dificuldade, ao compilar todas as assinalações, em média, 46,8% dos profissionais

apontaram o conceito “Difícil ” de cumprimento, outro grupo 7% menor que a maioria

assinalou ser “Pouco difícil “ e 13,4% já a consideraram “Muito difícil ”. Dado que os

participantes responderam ao questionário segundo seu grau de conhecimento,

experiência de aplicação, sistema estudado e outras variáveis, que certamente

influenciaram suas respostas, isso reflete o que pode acontecer com a totalidade dos

estudos de avaliação de ciclo de vida, cada qual com sua particularidade.

Das várias dificuldades com as quais os aplicadores da ferramenta se

deparam, a de natureza metodológica é a que se sobressai. A literatura

especializada no assunto já indicava como barreiras a serem vencidas as questões

de ordem financeira, a falta de um banco de dados satisfatório, a falta de preparação

das pessoas, etc. A pesquisa resultou que 35,5% dos pesquisados apontaram como

maior dificuldade a própria metodologia para atendimento aos requisitos

estabelecidos, 13,5% entenderam que a falta de dados dificulta o cumprimento das

disposições normativas, 11,7% julgaram que as dificuldades são de natureza

financeira e 11,1% apontaram a falta de capacitação das pessoas como elemento de

dificuldade para a plena aplicação de um estudo de avaliação de ciclo de vida

baseado na metodologia da norma ISO. Outras dificuldades apontadas, ainda que

existentes, não são substanciais a ponto de merecerem maior atenção para priorizar

a busca da melhoria contínua da ferramenta.

CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

112

O gráfico abaixo (figura 13) apresenta os resultados finais da pesquisa.

Figura 13 – Gráfico do resultado geral da pesquisa de opinião.

Fonte: Próprio autor – Pesquisa de opinião – Avaliação de Ciclo de vida – ACV. Análise Crítica da Metodologia.

6.2. Discussão da matéria e uma visão analítica.

De acordo com o estudo da literatura especializada, que apontou os

fundamentos da ACV, suas regras e aplicabilidades bem como técnicas mais

usualmente empregadas, associando–se ao material prático apresentado tanto no

que tange à atual situação da ferramenta no contexto país como no seu exemplo de

implantação na empresa Natura, além dos resultados da pesquisa de opinião,

compete reconhecer que o Brasil caminha os primeiros passos de assimilação desse

CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

113

conhecimento. Embora os resultados apresentados tenham caráter bastante

positivo, sua configuração requer maior desenvolvimento e qualificação específica,

além de maiores recursos, competências técnicas e gerenciais compatíveis, para

sua boa aplicação na gestão dos impactos ambientais, identificados através de

cálculos e medidas prévia e cientificamente apurados.

Considerando os teóricos apresentados, em sua maioria favoráveis à

ferramenta, às práticas de ACV correspondem identificações coerentes e viáveis de

técnicas a serem usadas no emprego da avaliação de possíveis impactos e suas

repercussões. Pretende–se, de fato, com essas técnicas, medir o ciclo de vida de

um produto, ou seja, desde seu nascimento até a sua morte, configurada pelo

descarte ou destinação final.

Nesse contexto vê–se a cadeia produtiva merecedora de análise

pormenorizada, que busque identificar a possibilidade de otimização de recursos

existentes, como foi o caso da Natura ao substituir embalagens, até a permanente

avaliação de todos os processos inseridos no contexto organizacional. É preciso que

a indústria pense em gerenciamento ambiental nesses moldes de preservação e

valorização.

Para tanto, é necessário o desenvolvimento de uma cultura que ainda está

nos seus estágios iniciais do ponto de vista científico como pôde ser constado pela

pesquisa realizada. É verdade que degraus foram vencidos e a escalada é plausível

e flagrante, mas importa requerer medidas incisivas no sentido de que qualificações

em níveis de graduação, pós–graduação lato e stricto sensu se dediquem à

importante ferramenta conceitual que pode e deve ser explorada no setor produtivo

e no poder público, com benefícios para a sociedade em geral.

Ainda são poucos os exemplos no país quanto à aplicabilidade prática da

ACV, mas não são poucas as organizações interessadas em obter certificações que

as reconheçam como responsáveis em termos ambientais, de modo que possam se

lançar ao comércio exterior bem como à internacionalização de seus negócios.

Implica, contudo, sair do desejo para a prática, não bastando apenas obter selos e

certificados protocolares mas sim realizar ações decisivas responsáveis e efetivas

na linha de redução e/ou eliminação de transtornos ambientais.

CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

114

Segundo a bibliografia consultada é possível constatar que profissionais, tanto

os teóricos da esfera acadêmica como os técnicos do segmento empresarial, através

dos dados apresentados, reconhecem que a ACV vem evoluindo desde sua

chegada em 1993 no país. São 14 anos de existência em solo nacional, com

sucessivos registros que evidenciam sua evolução e importância no cenário

nacional. O Ministério das Ciências e Tecnologia, detentor da responsabilidade de

alavancar o uso da ferramenta, necessita impingir regras de incentivo à sua

utilização para assegurar a melhoria contínua dessa tecnologia.

Aliado a isso, o investimento em tecnologia, sobretudo da informação, faz–se

imperioso a fim de que realmente ocorram gestões integradas que tenham o poder

de definir o futuro de processos, hoje ameaçadores, mas que revelam potencialidade

à substituição por otimização de etapas e meios de formulação que o levem ao

máximo produtivo em conformidade com os parâmetros ACV.

Os fluxos operacionais que contam um número grande de materiais, assim

como processos e métodos produtivos, os modais de transporte, as embalagens e a

preocupação com o descarte têm que compor a realidade de uma empresa geradora

de produto afeto ao meio ambiente, direta ou indiretamente. Sob tal ótica arrisca–se

ainda reconhecer a fatalidade como abrangente a todos os segmentos da economia,

passando a não ser somente de um ou dois setores a incumbência em tratar de seus

produtos sob alicerces ambientais, mas a todos cabem ações positivadas nesse

sentido.

Trata–se, na realidade, da exigência de um desenvolvimento sustentável

verdadeiro. A ampla sustentabilidade somente será possível mediante análises que

procurem categorizar o impacto ambiental e seu grau de risco à saúde do planeta,

incluindo–se os recursos naturais não–renováveis, à própria saúde do homem e

demais elementos componentes de variados ecossistemas.

Assim, ainda que o assunto pareça repetitivo e até mesmo óbvio, é

necessário salientar as técnicas hoje já conceituadas no mercado internacional que

tratam do assunto. São instrumentos poderosos na medida em que favorecem a

adequação justa e precisa aos conceitos impactantes.

Na Natura, depois de cumprida a etapa de avaliação, foi possível, através da

seleção de técnica compatível e referente à temática deste trabalho, identificar

CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

115

questões que obstavam a consolidação de seus valores e princípios ambientais. Na

verdade, a linha de produtos oferecida pela empresa – Ekos – já se baseava em

princípios da gestão ambiental, sendo produto internacionalmente conhecido por

utilizar–se de flora renovável, aliada à prática da empresa de preservação do meio

ambiente, investindo em novas áreas de preservação e cultivo.

A introdução da ferramenta ACV colaborou com a ratificação de propósitos

ambientais também nas embalagens usadas. Com uma redução aproximadamente

de 20% de massa em gramas, a nova embalagem caracterizou a redução de

impactos também pela possibilidade de se acoplar refil, passando a ser uma

embalagem de durabilidade prolongada.

A empresa Natura, brasileira, com seus 29 anos de fundação, apresenta porte

elevado e representatividade internacional. Sua linha de produtos, que valorizam os

recursos naturais retirados do meio ambiente é amplamente conhecida. A partir de

2004 a empresa pôde confirmar seus propósitos, conquistando a certificação NBR

ISO 14001 de seu sistema de gestão ambiental ao utilizar medidas corretas e de

economia otimizada de embalagens, como foi o caso da Avaliação do Ciclo de Vida

– ACV em seus sistemas de produtos.

Entender e aplicar a ACV como ferramenta imprescindível aos negócios

brasileiros de enfoque tanto no mercado interno como externo, exige atribuir–lhe,

como a própria pesquisa de opinião demonstrou, caráter de relevância ainda carente

no ambiente de evolução e especialização da metodologia. São necessárias

medidas importadas de know how técnico e gerencial à implementação e

acompanhamento de resultados seguros que demonstrem efetividade tanto em

qualidade como em termos de quantificação.

Como identificado, trata–se de uma ferramenta muito importante para a

gestão ambiental, redutora, sem dúvida, de impacto, mas que necessita de

experiência e conhecimento interdisciplinar à aplicação por meio das técnicas

disponíveis e a ela associadas, a fim de averiguar graus e níveis de impactos e

repercussões. A própria norma que rege as diretrizes para a Análise do Ciclo de

Vida dos Produtos, a ISO 14040, reconhece que a técnica ainda está em um estágio

inicial de desenvolvimento e resta ainda considerável esforço a ser feito e

experiência prática a ser adquirida para o avanço da prática de ACV.

CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

116

Fica evidente que a ferramenta não está ainda totalmente consolidada no país

como uma metodologia de suporte à tomada de decisões no segmento econômico–

industrial. A comunidade pesquisada considera haver muitas dificuldades de

natureza metodológica para aplicação da ACV dada a sua complexidade e são

poucas as grandes companhias que utilizam essa técnica. Essa complexidade

metodológica é inerente a ela própria, na medida em que requer elementos precisos,

transparentes e confiáveis.

Sob esse viés, a ACV igualmente se apresenta como de difícil aplicação,

como apurado. Uma das dificuldades encontradas nos estudos de ACV é a grande

quantidade de dados necessária a um bom trabalho. Praticamente inexistem no

Brasil bases de dados que descrevam o inventário dos ciclos de vida de insumos

básicos, como energia elétrica, transporte, matérias–primas básicas e outros. Os

sistemas de produto são específicos caso a caso e se assentam em diversos

parâmetros particulares. Isso faz com que seja difícil a coleta de informações

técnicas gerais, exigindo maior quantidade de pesquisas para aprofundar o

conhecimento sobre esses processos de manufatura na âmbito da ACV.

Com isso, é necessário ressaltar que a aplicação da ACV no Brasil não pode

ser efetuada diretamente com modelos de avaliação de impacto e com dados de

inventários desenvolvidos , por exemplo, para a Europa, Japão ou EUA, devido às

diferenças existentes em termos das tecnologias, biomas, geologia, clima,

população, materiais, etc. A ACV é uma metodologia dependente das características

regionais onde será aplicada.

Entretanto, ainda com essas dificuldades, a ACV se mostra eficiente à

diminuição de custos industriais, trazendo assim vantagens econômicas a partir de

delineamentos estratégicos em consonância com planejamentos ambientais, que

levem em conta a adoção de políticas alinhadas à legislação em vigor.

Assim sendo, além da prática da técnica, compete enxergar nessa ferramenta

o sentido gerencial e decisório. A ACV pode também ser vista como instrumento

para a administração das questões do meio ambiente afetas aos sistemas

produtivos, o que favorece a integração entre tecnologia e eficiência com qualidade

de um produto, o que, na verdade, pretendem as séries ISO 14000 – todas

destinadas à redução da poluição, preservação e renovação ambiental.

CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

117

A cada dia, segmentos da vida moderna que vão desde contextos

empresariais ao indivíduo na sociedade desenvolvem interesses e focos nas

questões ambientais. É preciso que a ACV integre esse contexto, mas evidenciando

uma maior facilidade em sua aplicação, sendo de tecnologia e manipulação

acessível, o que entendemos ser possível a partir de investimentos tanto na

formação técnica e gerencial de profissionais do ramo como na propagação de seus

conceitos em todos os sentidos.

Não nos compete esgotar a matéria nem dela subtrair esforços, ao contrário,

em uma visão analítica, sob o prisma nacional, interessa tão–somente analisar a

metodologia ACV de forma que resulte em maior envolvimento da sociedade, além

do interesse de órgãos públicos reguladores e estudiosos da ferramenta.

É claro que as avaliações precisas, objetivas e fidedignas de impactos ao

meio ambiente, com a prévia possibilidade de processos de produção, bem como a

definição de procedimentos e fluxos de distribuição que priorizem a valorização

ambiental merecem atenção cuidadosa por parte de todos. Necessita–se, assim, que

a ACV faça parte do cotidiano brasileiro em estudos, pesquisas e, principalmente,

nos eventos que levam às organizações os parâmetros mundiais sobre o meio

ambiente, além da condição subsidiada à sua implantação.

CONSIDERAÇÓES FINAIS E RECOMENDAÇÓES

118

Considerações .

O objetivo geral deste o trabalho foi analisar criticamente a ferramenta ACV –

Avaliação de Ciclo de Vida no processo de gestão ambiental. Inicialmente foi

apresentada toda a contextualização temática do estudo em termos de objetivos e

conceitos basais. Depois evoluímos na matéria explanando sobre questões

ambientais de ordem mundial até chegarmos à ACV. Foram observados os seus

aspectos desde o surgimento, abrangendo conceitos, limitações, compatibilidades,

benefícios, metodologia e sua aplicação no Brasil durante os últimos anos.

A partir da pesquisa exploratória sobre ACV, constatamos que a ACV é uma

ferramenta relativamente nova e ainda em desenvolvimento, cujos objetivos são os

mais salutares em termos de meio ambiente. Com base no referencial teórico

pesquisado, foi possível identificá–la como sendo “ferramenta de gerenciamento

ambiental aplicada aos produtos, para avaliar aspectos ambientais e potenciais

impactos associados ao seu ciclo de vida, para se eliminar e/ou mitigar danos

ambientais”.

Em decorrência das análises realizadas neste trabalho, baseando–se na

bibliografia relacionada, na percepção dos especialistas participantes da pesquisa

de opinião e no exemplo de aplicação na empresa Natura, podemos afirmar que a

ACV se constitui em uma ferramenta muito importante para a Gestão Ambiental,

talvez por permitir, sistemicamente, tanto a identificação de oportunidades de

melhoria do desempenho ambiental de um produto quanto a comparação ambiental

de produtos que desempenhem a mesma função.

Pelo exposto, como resultado da pesquisa, foi possível constatar que:

• Trata–se de ferramenta que possibilita melhorar o desempenho

ambiental das empresas, mas que precisa ser aperfeiçoada no

Brasil;

• A comunidade envolvida com o uso da ferramenta considera–a

um recurso muito importante para a identificação e quantificação

do impacto do ciclo de vida de produtos, podendo ser utilizada

em toda a cadeia produtiva e pelo poder público, com benefícios

às presentes e futuras gerações.

CONSIDERAÇÓES FINAIS E RECOMENDAÇÓES

119

• É um recurso de gestão ambiental difícil de ser aplicado, dada a

sua complexidade e seu estágio de desenvolvimento no país;

• Sua metodologia necessita de adequação, considerando a

grande diversidade de processos, as particularidades dos

sistemas de produtos e suas interações com o meio ambiente;

• Existe escassez de informações nos poucos bancos de dados

brasileiros, pouco comprometimento de segmentos econômicos

e poucas entidades interessadas em desenvolver e difundir a

ACV;

• A falta de capacitação de pessoas para a plena aplicação da

ACV é uma das principais dificuldades para difusão do uso

e consequente desenvolvimento da técnica. No Brasil, são

poucos os profissionais com razoável conhecimento e

experiência para a aplicação da ACV;

• A elaboração de um estudo de Avaliação de Ciclo de Vida

demanda muitos recursos financeiros. Não há por parte do

governo, praticamente, incentivos às empresas e entidades

que queiram desenvolver a ferramenta;

• Estudos de ACV geralmente necessitam de muito tempo

para serem concluídos, talvez pelos motivos acima

constatados, ou seja, complexidade da metodologia, falta

de informações, falta de capacitação do pessoal envolvido

no estudo, custos, etc.;

• A tecnologia, enquanto conjunto de conhecimentos específicos,

especialmente os princípios científicos que se aplicam a ACV

não chega a ser uma dificuldade, uma vez que é conhecida e

está disponível;

• Após ser melhor difundida e desenvolvida no Brasil, a ACV

poderá ser constituir uma das melhores ferramentas a compor

um eficaz Sistema de Gestão Ambiental;

CONSIDERAÇÓES FINAIS E RECOMENDAÇÓES

120

De todas as dificuldades encontradas, para que a ACV continue a ter a

importância que tem para uma boa gestão ambiental e realmente se tornar uma

ferramenta amplamente difundida e desenvolvida para ser utilizada em grande

escala no Brasil, aos olhos deste pesquisador é necessário investir prioritariamente

na capacitação das pessoas com potencial para a utilização da ACV.

Na realidade, como pode ser constatado no conteúdo do trabalho, um modelo

de gestão ambiental possibilita várias vertentes na administração moderna,

destacando–se como ponto forte o favorecimento ao caráter educativo deflagrado

pelos processos. Nessa linha, as Normas ISO revelam um marco na administração

com a introdução de padrões elevados de gerenciamento de serviços.

Especificamente em relação às Normas voltadas ao meio ambiente, a evolução

conquistada nesse campo indica a realidade de desenvolvimentos sustentáveis,

através da responsabilidade reversa de produtores e empresários em geral, o que

pode perfeitamente ser observado, calculado, ponderado e definido através do

emprego da ACV.

O Brasil faz parte do cenário mundial de padrões de qualidade na esfera de

produtos e serviços como também na preservação ambiental. Respondendo a um

mercado de padrões cada vez mais exigentes, as empresas nacionais buscam

enquadramento e posicionamento definitivo em um contexto globalizado e de

práticas gerenciais arrojadas e proativas. Os sistemas de gestão ambiental,

independentemente do tamanho, área de negócio, produto ou serviço das empresas

onde sejam implantados, referem–se verdadeiramente a uma filosofia concreta e

totalmente direcionada a ações de qualidade e eficiência em prol de crescimentos e

desenvolvimentos sustentáveis. Incrementá–los com a ACV como principal

ferramenta impulsionadora da organização não se limita somente a introduzi–la a

partir dos conceitos práticos, mas, também, favorecer a assimilação dos desafios

propostos no sentido de elevação e otimização dos resultados conquistados pelas

empresas.

Portanto, formar profissionais especializados na utilização da ACV, com

conhecimentos técnicos e científicos das escolas com foco no desenvolvimento da

ferramenta específica e seus conceitos, pode significar um importante diferencial

competitivo para o Brasil.

CONSIDERAÇÓES FINAIS E RECOMENDAÇÓES

121

De fato, em virtude de uma vasta e crescente preocupação ambiental no

Brasil e no mundo, torna–se necessário abordar a questão da capacitação também

para gestores de um modo geral. Não será suficiente apenas formar especialistas,

cujos responsáveis não tenham condições de aquilatar a relevância da matéria.

Importa, assim, mais uma vez referir–se ao investimento educacional e

organizacional, por leis e incentivos compatíveis com a realidade brasileira e não

somente à importação de modelos empacotados e prontos para serem empregados

sem a devida customização, como acontece com a ACV;

Assim sendo, no tocante à metodologia ACV, constitui uma estratégia de

avanço para desenvolvimento da ferramenta propor a capacitação de profissionais

de forma acadêmica, para suprir necessidades de conhecimentos bem como

adequar competências sócio–político–econômicas e ainda culturais das empresas

no que se refere às questões ambientais.

Igualmente, capacitar empresas para a introdução e manutenção de

ferramentas de gerenciamento ambiental, como é o caso da ACV, demonstra ser

medida urgente e alinhada às práticas exigidas em todo o mundo, sendo esta a

recomendação mais premente que pode ser depreendida da pesquisa realizada.

Ao concluir o presente estudo evidencia–se o alcance adequado ao seu

objetivo, na medida em que a proposta de análise crítica da ACV, no contexto de

valorização do meio ambiente, ressalta sua importância, tanto para o

desenvolvimento e difusão da ferramenta, como para formação de profissionais

aptos à sua implementação, propiciando maior empreendorismo das empresas no

sentido de introduzi–la em seus processos produtivos.

Limitações da Pesquisa.

É necessário salientar que o presente trabalho apresenta algumas limitações.

Primeiramente, a bibliografia citada e consultada em relação ao tema apresenta

poucos detalhes, é bastante redundante sem se aprofundar especificamente em

cada uma das dificuldades, quando existentes.

CONSIDERAÇÓES FINAIS E RECOMENDAÇÓES

122

A coleta de dados de uma população em um trabalho científico é sempre uma

questão de suma importância para se proceder à análise desses dados, fato que no

presente trabalho poderia ser melhor trabalhado caso a adesão ao formulário

enviado aos elementos da amostra tivesse sido mais elevada. Outra questão

relacionada à manifestação dos respondentes é o fato de não terem apresentado

contribuição adicional sobre as várias disposições normativas como requisito da

metodologia.

O resultado em termos de retorno do formulário (número de respostas

obtidas) foi obtido graças ao esforço do pesquisador em função de suas sucessivas

cobranças, podendo em determinada proporção ter embutido nas respostas reflexos

indesejáveis, considerando haver certo grau de inconveniência pela insistência para

devolução do formulário.

Também o modelo do questionário não definiu os critérios objetivos para o

enquadramento dos conceitos pré–estabelecidos, ou seja, o cumprimento de

determinado requisito da metodologia pode ser considerado “Muito importante” na

opinião de um profissional, enquanto para outro pode ser apenas “Pouco

importante”, de igual forma para o grau de dificuldade. Na verdade, esses conceitos

variaram conforme a experiência e capacidade do profissional, a disponibilidade de

dados, recursos financeiros, etc.

Recomendações e Sugestões de pesquisas futuras.

Para as autoridades competentes na esfera pública recomendo a adoção de

políticas direcionadas a promover o desenvolvimento da ACV, seja através de

financiamentos para a inovação e para a pesquisa científica e tecnológica em

empresas brasileiras ou pelo incentivo às universidades e centros de pesquisa, por

meio de empresa pública vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia e a

Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP).

Especificamente, difundir o conhecimento da ACV nos cursos de graduação

de engenharia e assemelhados às questões ambientais.

CONSIDERAÇÓES FINAIS E RECOMENDAÇÓES

123

Como continuidade dessa pesquisa propõe–se realizar no médio e longo

prazo novos estudos científicos sobre o tema, porém com recortes mais específicos,

como por exemplo:

• A Definição do Objetivo e Escopo de um estudo de Avaliação de

Ciclo de vida – Importância, dificuldades e pontos de atenção

para êxito do estudo;

• Da mesma forma, na fase de Análise do inventário de Ciclo de

Vida, pesquisar sobre a preparação e coleta de dados, validação

dos dados e alocação de fluxos e liberações, contemplando os

efeitos do uso de informações importadas de bancos de dados

de outras regiões do planeta;

• Também no mesmo sentido, fazer as pesquisas para as demais

fases da ACV, sempre aprofundando na especificidade da fase

em seus requisitos normativos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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CITADAS

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ANEXOS

133

ANEXO 1

Projeto Brasileiro de Inventário do Ciclo

de Vida para a Competitividade da

Indústria Brasileira

MCT, MDIC, IBICT, INT, INMETRO, ABNT/CB38, ABCV, CNI, SEBRAE, Petrobrás, UnB, ABIPTI

Ações em “ACV” no IBICT/MCT

� 2001 – a FINEP aprova projeto TECPAR, IBICT e CNI encomendado

pelo MCT – Sistema de Informação para Tecnologia Industrial Básica

(SISTIB).

� 2003– O IBICT levantou as iniciativas e ações relativas a ACV no

Brasil e no mundo e apresentou, em maio de 2003, site informativo

(www.acv.ibict.br).

� 2004 – Programa de Capacitação Institucional (Projeto PCI),

Desenvolver, testar e validar a estrutura de inventários brasileiros

para suportar o armazenamento de dados sobre inventários do ciclo

de vida de produtos da indústria bem como disseminar informações

sobre ACV e articular uma rede de especialistas.

� Em paralelo, a SETEC/MCT, que já vem atuando junto ao Comitê

Brasileiro de Gestão Ambiental ABNT/CB 38 e que apoiou a criação

da Associação Brasileira de Ciclo de Vida (ABCV).

ANEXOS

134

O PRÉ–PROJETO

Reuniões preparatórias entre 04 a 09/2004; MCT, IBI CT, UnB /DF

• 1ª. Reunião de 20/09/2004: INT/RJ. Participantes: MCT, IBICT, INT, MDIC,

INMETRO, ABNT, CNI, SEBRAE, UnB, ABCV;

• 2ª. Reunião de 16/06/2005. MCT/DF. Participantes: MCT, IBICT, MDIC,

INMETRO, INT, ABIPTI, UnB, ABCV. Seminário de 30/11/2004; EKOS/SP.

Participantes: IBICT, Finep, ABIPTI, UnB, ABCV, USP, UFBa, CEFET–PR,

UFSCar, Unicamp, ITAL, IPT, Cenbio, CIESP, FIESP, Petrobras, Natura,

BureauVeritas, BASF, Unilever, Daimler–Chrysler, Ford, Nestlé, Polibrasil.

Reunião de 14/12/2004; CNI/DF. Participantes: MCT, IBICT, CNI/IEL, SENAI,

UnB

• • 3ª. Reunião de Mai/2005. CNPq/DF. Participantes: MCT, IBICT, MDIC,

INMETRO, IPT/SP, TECPAR/PR, CNI/IEL, SEBRAE, ABIPTI, DIEESE,

ANPROTEC, UnB, ABCV, USP. Seminário Internacional “Impacto da

Avaliação do Ciclo de Vida na Competitividade da Indústria Brasileira”, MCT /

IBICT / INMETRO / Petrobras / Sebrae / CNI / Abipti, 03–04/out/2005, São

Paulo, Brasil. Participantes: MCT, IBICT, MDIC, INMETRO, IPT/SP,

TECPAR/PR, CNI/IEL, SEBRAE, ABIPTI, DIEESE, ANPROTEC, UnB, ABCV,

USP.

• 4ª. Reunião de 09/Mar/06. IBICT/DF. Participantes: MCT, IBICT, INMETRO,

SEBRAE, FINEP, UnB, ABCV, USP.

Comitê Gestor: ABCV, ABNT, ABIPTI, CNI, IBICT, INMETRO, PETROBRAS,

SEBRAE, UnB.

ANEXOS

135

Objetivo

Este projeto tem por objetivo desenvolver Inventários do Ciclo de Vida dos

materiais/produtos/processos produtivos mais relevantes para a sociedade brasileira.

Este inventário conterá informações sobre a quantidade e qualidade dos insumos

materiais e energéticos, dos produtos e das emissões líquidas, gasosas e sólidas,

oriundos do funcionamento do sistema produtivo nacional, e será parte fundamental

para a aplicação da metodologia de Avaliação do Ciclo de Vida dos Produtos – ACV,

como especificado pela família de normas ISO 14040.

Objetivos Específicos

1. Construir e desenvolver um inventário do ciclo de vida consistente com

elevada qualidade, de setores do parque industrial brasileiro;

2. Construir banco de dados para armazenamento dos ICV’s brasileiros, em

conformidade com padrões internacionais estabelecidos;

3. Estabelecer uma plataforma de comunicação sobre atividades de ICV no

Brasil, internalizando a cultura e estabelecendo uma rede permanente de

especialistas brasileiros e convidados estrangeiros;

4. Fornecer dados de ICV a grupos específicos do tecido industrial brasileiro

para permitir a elaboração de processos baseados em ACV, estimular o uso e

difundir informações sobre o ciclo de vida dos produtos.

5. Capacitação em ICV das equipes de trabalho dos setores produtivos da

indústria brasileira para desenvolvimento e manutenção do inventário.

Resultados paralelos

Desenvolvimento de inovações tecnológicas (produtos e processos) com

melhor performance ambiental;

Uso otimizado de recursos e de energia – desmaterialização – com o

aumento do conhecimento das relações entre materiais e processos de

produção;

Desenvolvimento regional com a criação/otimização das operações de fim–

de–vida relacionadas às tecnologias de produção.

ANEXOS

136

Período

3 anos (com base em projetos de ICV desenvolvidos em outros países)

ESTRUTURA DAS ATIVIDADES PROPOSTAS

ANEXOS

137

FONTES DE FINANCIAMENTO DO GOVERNO

COORDENAÇÃO GERAL

ANEXOS

138

Iniciativas em Andamento 2004/2005

• Base de Dados: Projeto IBICT em andamento

• Coleta / Validação dos Dados: a definir

• Capacitação / Disseminação: Web site “Comunidade de ACV” (IBICT)

Seminário EcoInvent em SP (EKOS, Gil Anderi/USP); Seminário em San

Jose/Costa Rica (Fernanda/MCT, Gil Anderi/USP, Cassia Ugaya/CEFET–

PR); Seminário Rio5 no RJ (Armando Caldeira–Pires/UnB); Curso de ACV–

GaBi/ABIPTI (Armando Caldeira–Pires/UnB); 3rd Int. Congress on Industrial

Ecology, Estocolmo2004 (Leda Coltro, ITAL); Seminário Life Cycle

Management LCM2005 – Barcelona (Armando Caldeira–Pires/UnB, Gil

Anderi/USP); Participação como Especialista na Life Cycle Initiative–

UNEP/DTIE em Paris (Cássia Ugaya/CEFET–PR – Set–Dez/05); Livro

“Avaliação do Ciclo de Vida: a ISO14040 na América Latina”, Nov2005 (ed.

Armando Caldeira–Pires/UnB, autores: Armando Caldeira–Pires/UnB, Asher

Kiperstock/UFBa, Cassia Ugaya/CEFET–PR, Gil Anderi/USP, Heloisa

Medina/CETEM, Alejandro Pablo Arena/Argentina, Claudia Pena/Chile,

Sonia Valdivia/Peru, Nydia Suppen/Mexico, Greg Norris/Harvard–USA)

ANEXOS

139

FONTES DE FINANCIAMENTO SETORIAIS

COORDENAÇÃO GERAL

ANEXOS

140

Projetos de Cooperação

1. Coleta / Validação :

Objetivo principal :

• caracterização da metodologia de validação e demais procedimentos

de manutenção da qualidade dos dados

Requisitos :

• Base de dados similar àquela analisada pelo IBICT

• Facilidade na interface com usuário

Dados disponíveis :

• Dados públicos (disponíveis na literatura) de ICVs de setores

industriais brasileiros

2. Aquisição de Dados na Industria

Objetivo principal:

• caracterização da metodologia de obtenção de dados dos processos

industriais e dos procedimentos de transferência de informações com a

indústria, identificação dos níveis de agregação a serem aplicados às

informações para a necessária descaracterização tecnológica e

definição de grau de abrangência (porta–a–porta, berço–a–porta, berço–

ao–túmulo).

Requisitos:

• Estudos de caso em atividades industriais que garantam sucesso em

curto prazo.

ANEXOS

141

Rede de Parceiros

• Indústria

Sistema CNI, Federações Industriais, Associações Industriais,

ABIPTI/Institutos Tecnológicos, CEBDS, UNEP/DTIE

Parceiros Individuais: Petrobras, BASF, Unilever, CEMPRE

• Academia / Instituições de Pesquisa

UnB, USP, UFBa, UFMG, UFSC, UFSCar, UFRN, UFPe, UFPA,

CEFET/PR, ITAL, CETEM, INT, IPT

• Governo

MCT, IBICT/MCT, MDIC, MMA, CNPq, CAPES, FINEP

• Internacionais

América Latina: Argentina, Chile, Colômbia, Costa Rica, Peru, México

União Européia: Alemanha, Suíça, Dinamarca, Portugal, Holanda,

Espanha, Suécia

NAFTA: Estados Unidos, Canadá, México

APEC: Japão

ANEXOS

142

ANEXO 2

Figura 14 - Gestão da Sustentabilidade na Empresa N atura

Fonte: ACV – Avaliação de Ciclo de Vida, Alessandro Mendes, Junho 2005 (in http://www.enq.ufrgs.br/cursos/pos/ProcInt/Trabalhos/2005/ACV/acv%5B1%5D.pdf)

Os estudos inerentes á ACV iniciaram no ano de 2003 e em 2004 a empresa

é certificada na NBR ISO 14.001. Seu plano de ação foi construído por etapas:

1. Definições de estratégias:

• Incorporação da Avaliação de Ciclo de Vida (ACV) como método

obrigatório no diagnóstico dos impactos causados pelos

processos e produtos;

• Redução de lançamentos de produtos causadores de impactos

ambientais críticos.

2. Entendimento e construção do fluxo de processos para implementação da

ferramenta:

ANEXOS

143

A ACV objetiva à análise de possíveis impactos ambientais associados a um

produto, processo ou atividade através da identificação dos fluxos elementares de

energia e material que entram e saem das fronteiras do sistema analisado.

Assim, na Natura são consideradas as fases principais de ciclo do produto:

produção da matéria–prima; transporte da matéria–prima; processo; transporte das

embalagens; processos internos; caixa de embarque; transporte dos pedidos às

consultoras de vendas; uso; disposição final das embalagens (Figura 15).

Figura 15 – Ciclo do Produto Natura

Fonte: ACV – Avaliação de Ciclo de Vida, Alessandro Mendes, Junho 2005 (in http://www.enq.ufrgs.br/cursos/pos/ProcInt/Trabalhos/2005/ACV/acv%5B1%5D.pdf)

3. Inventários

Considerando as fases de objetivos do escopo e coleta de dados o inventário

da Natura são assim apresentados: a) extração de minérios e combustíveis fósseis

e, consequente, uso do solo por exploração, ocupação e transformação; b)

processos de fabricação de produtos e embalagens; transportes, uso, descartes; c)

resultados (Figura 16).

ANEXOS

144

Figura 16 – Inventário Natura

Fonte: ACV – Avaliação de Ciclo de Vida, Alessandro Mendes, Junho 2005 (in http://www.enq.ufrgs.br/cursos/pos/ProcInt/Trabalhos/2005/ACV/acv%5B1%5D.pdf)

4. Escolha da Metodologia

Baseada na metodologia EPS 2000, foram considerados os pontos iniciais,

médios e finais nos impactos ambientais, remetendo à saúde humana, recursos

abióticos, e capacidade de produção do ecossistema. Nesse caso, os indicadores de

saúde humana apoiaram–se nos impactos desde mínimos até bastante

comprometedores. Os recursos abióticos também foram identificados (endpoints) e,

da mesma forma, a qualidade de ecossistemas (Figura 17).

ANEXOS

145

Figura 17 – Avaliação do Impacto Ambiental

Fonte: ACV – Avaliação de Ciclo de Vida, Alessandro Mendes, Junho 2005 (in http://www.enq.ufrgs.br/cursos/pos/ProcInt/Trabalhos/2005/ACV/acv%5B1%5D.pdf)

Assim sendo, foram classificadas emissões e recursos para então se

identificarem às classes e graus de impactos. Os dados foram calculados para então

se proceder aos ajustes necessários (Tabela 1).

Tabela 1 – Comparativo de Impacto Ambiental

Descrição Pote 150 g Ekos

cartucho

Pote 150 g Ekos selo

Pote 150 g Ekos luva

Pote 150 g Ekos atual

Impacto médio 2003

Categ. UN IV Natura

Massa/embalagem 115,2 92,9 95,7 141,8 49,9 34,4 68,9

Massa/embalagem/conteúdo 0,77 0,62 0,64 0,71 0,182 0,135 0,407

Impacto (midi points) 27,0 25,5 25,1 38,4 11,4 7,8 10,7

Impacto/conteúdo 0,180 0,170 0,167 0,192 0,0415 0,031 0,063

Fonte: ACV – Avaliação de Ciclo de Vida, Alessandro Mendes, Junho 2005 (in http://www.enq.ufrgs.br/cursos/pos/ProcInt/Trabalhos/2005/ACV/acv%5B1%5D.pdf)

ANEXOS

146

Após tais ponderações, a avaliação dos impactos propicia a identificação dos

fatores que justificam providências, procedimentos e investimentos necessários à

melhoria ambiental. O fluxo de implantação da ACV na Natura foi constituído

conforme abaixo (Figura 18).

Figura 18 – Etapas ACV na Natura

Fonte: ACV – Avaliação de Ciclo de Vida, Alessandro Mendes, Junho 2005 (in http://www.enq.ufrgs.br/cursos/pos/ProcInt/Trabalhos/2005/ACV/acv%5B1%5D.pdf)

5. Providências, mudanças de procedimentos e ajuste nos processos

Inicialmente, foram definidas medidas de inovação nas embalagens usadas

nos produtos, sendo estas que identificaram o maior potencial de impactos, já que a

empresa operava desde 1997 com produtos naturais em conformidade com o SGA

implantado (Figura 19).

ANEXOS

147

Figura 19 – Inovação na produção de embalagem

Fonte: ACV – Avaliação de Ciclo de Vida, Alessandro Mendes, Junho 2005 (in http://www.enq.ufrgs.br/cursos/pos/ProcInt/Trabalhos/2005/ACV/acv%5B1%5D.pdf)

O plano executivo adotado promoveu resultados significativos na ordem de

20% na redução da massa de embalagens. Determinou–se a diminuição do uso de

materiais. Os potes anteriormente eram compostos por: pote, propriamente dito,

caneca, que continha o produto e tampa. Na redução de materiais, foi desenvolvido

novo design para o pote que passou a deter a filtragem nele próprio, eliminando–se

a caneca (Figura 20).

ANEXOS

148

Figura 20 – Alteração nas Embalagens

Composição dos potes anteriores

Redução de materiais

Fonte: ACV – Avaliação de Ciclo de Vida, Alessandro Mendes, Junho 2005 (in http://www.enq.ufrgs.br/cursos/pos/ProcInt/Trabalhos/2005/ACV/acv%5B1%5D.pdf) adaptado.

Os resultados em peso e volume refletiram na redução já citada de cerca de

20% (Tabela 2).

Tabela 2 – Redução do uso de materiais

Descrição Massa (g) Material de composição

Pote antigo Pote novo Pote antigo Pote novo Pote 61 37 PP PP

Tampa 30 39 PP PP

Caneca 21 17 PP PP

Total 112 93 Unidade Funcional mL 200 150

Fonte: ACV – Avaliação de Ciclo de Vida, Alessandro Mendes, Junho 2005 (in http://www.enq.ufrgs.br/cursos/pos/ProcInt/Trabalhos/2005/ACV/acv%5B1%5D.pdf) adaptado.

A redução de 112g para 93g em massa relativa à embalagem resultou em diminuição aproximada de 20%.

6. Manutenção

A partir dos novos procedimentos, a Natura introduziu a ferramenta BSC

(Balanced Scorecard) para avaliar periodicamente os processos, identificando

resultados angariados com as mudanças e as possíveis necessidades de ajustes.

Na verdade, refere–se a uma técnica para avaliar metas a partir de perspectivas do

cliente; financeira; de processos internos focado no negócio e no aprendizado e

conhecimento. Portanto, empregando um esquema próprio a empresa procurou

assegurar–se de suas conquistas (Figura 21).

ANEXOS

149

Figura 21 – BSC Natura após ACV

PERSECTIVA FINANCEIRA

METAS INDICADORES

Investir de forma

relevante nas questões

ambientais

Investimentos e custos

adicionados pelas iniciativas

de meio ambiente

PERSECTIVA DO CLIENTE PERSECTIVA CONHECIMENTO

METAS INDICADORES METAS INDICADORES

Ser empresa referência em

relação ao meio

ambiente

Pesquisa de imagem da

marca associada ao meio

ambiente. Resultados de

pesquisas externas

(Instituto Ethos)

Melhorar continuamente o desempenho

ambiental

Consumo de água, de energia

e gestão de resíduos

PERSECTIVA PROCESSOS

METAS INDICADORES

Buscar a prevenção da

poluição ambiental

Indicador de retorno das

embalagens dos produtos

consumidos pelos CFs

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da empresa Natura, 2006.

Considerando as perspectivas previstas pela empresa, observa–se a visão

estratégica considerada no estabelecimento dos objetivos futuros, com seus

indicadores de desempenho e metas a serem alcançadas. Na verdade, o processo

continua na Natura, outros ciclos estão em análise (Figura 22).

ANEXOS

150

Figura 22 – Exemplo de revisões ACV

Fonte: ACV – Avaliação de Ciclo de Vida, Alessandro Mendes, Junho 2005 (in http://www.enq.ufrgs.br/cursos/pos/ProcInt/Trabalhos/2005/ACV/acv%5B1%5D.pdf)

Em 2004, uma vez consolidado o estudo de ACV para os potes de

embalagem, a Natura registra a patente (Figura 23) e permanece em revisão de

seus processos, buscando a melhoria de seu desempenho ambiental.

Figura 23 – Registro da Patente de Embalagem – Pote s.

Fonte: ACV – Avaliação de Ciclo de Vida, Alessandro Mendes, Junho 2005 (in

http://www.enq.ufrgs.br/cursos/pos/ProcInt/Trabalhos/2005/ACV/acv%5B1%5D.pdf)

ANEXOS

151

ANEXO 3

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