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Uma Etnografia do Futebol Amador
Mara Alves Gonalves
Uma Etnografia do Futebol Amador
GONALVES, Alana Mara Alves
A observao do futebol amador em Juazeiro do Norte levou-me necessariamente a
identific-lo no como uma realidade nica, mas constitudo de diferenas internas que
permitiu-me, em princpio, compor dois tipos distintos de futebol amador. Para facilitar a
reflexo sobre o tema apresento o futebol amador dividido em duas categorias, so elas:
jogos ''abertos'' e jogos ''fechados''. Estas categorias foram construdas a partir das minhas
observaes, ou seja, no so encontradas nas falas dos sujeitos envolvidos.
As categorias de jogos abertos e jogos fechados devem ser entendidas como
uma tentativa de agrupar caractersticas semelhantes em torno de cada uma delas,
possuindo assim uma fluidez que nos permite encontrar jogos fechados com algumas
caractersticas de jogos abertos ou vice-versa.
a) Jogos ''Abertos''
Nos jogos ''abertos'' no h times previamente formados, os jogadores vo
chegando, alguns do trabalho, outros de casa, alguns j se encontram na rua, eles vo
surgindo como se tivessem marcado um encontro uns com os outros. certo, o encontro foi
marcado sim, porm os candidatos a jogadores somente ali, no momento imediatamente
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anterior ao jogo que vo decidir quem ir jogar primeiro, ou em que times iro atuar. A
escolha dos jogadores de cada time feita da seguinte forma: os responsveis pelo campo,
ou, algum jogador veterano, escolhem alternadamente, quem vai compor o time e cada um,
fica responsvel por uma equipe. O jogador que faz a escolha dos demais jogadores para
formar o time, comumente passa a ser responsvel pelo time enquanto acontece o jogo
naquele momento, sendo o nico a ter o direito de fazer alteraes no decorrer da partida.
Os jogos ''abertos'' acontecem durante a semana, ou seja, da segunda-feira sexta-
feira, mais precisamente no final da tarde, at s 18:00 h aproveitando os ltimos vestgios
da luminosidade natural do dia. A durao da partida normalmente definida minutos antes
do seu incio, assim tambm como de que forma vai ser realizada a disputa, pois tem
sempre algum ou outro time querendo participar tambm. O comum estabelecer para a
entrada de outro time, vinte e cinco minutos de jogo ou dois gols, o que acontecer primeiro.Se houver empate a partida ser disputada nos pnaltis. Porm outras formas de disputa
podem ser combinadas entre os participantes. O juiz pode ser um dos jogadores que
aguarda a vez de jogar ou um dos expectadores do jogo. H tambm jogos abertos sem
juiz.
A vestimenta necessria pode ser a mnima possvel, ou seja, apenas uma bermuda e
um tnis ou chuteira. Imaginemos pois, 22 homens, seminus, suados, gritando e correndo
atrs de uma bola, alguns com os ps descalos num terreno na maioria das vezes de cho
batido, quase cimento, com relevo irregular e com possibilidades de pisar num carrapicho1.
verdade que na maioria das vezes metade fica sem camisa e a outra metade com camisa,
pois esta uma forma de distinguir o adversrio. O juiz, para se diferenciar tanto de um
time como do outro usa uma camisa amarrada na cabea ou um bon.
Dependendo da localizao do campo de futebol pode haver, no diria torcedores,
mas espectadores, diferente dos que ficam ''azarando'' o jogo, pois os espectadores no
desejam jogar, e os que ficam ''azarando'' esto s esperando a oportunidade ou o convite
para jogar. A aceitao de novos jogadores para participar da partida em curso vai depender
dos critrios utilizados pelos jogadores de cada campo de futebol. Comumente, h um
consenso entre os jogadores sobre esses critrios. Como exemplo cito: a assiduidade do
jogador, ou seja, tem prioridade o jogador que participa com freqncia dos jogos. Outro
1Espcie de planta do mato com espinhos por toda sua extenso.
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critrio ser indicado por algum do grupo, ou seja, conhecer um jogador do grupo pode
facilitar a aceitao de um jogador pelos demais. Os jogadores que ficam azarando o jogo
aumentam suas possibilidades de jogar quando se aproxima o final do jogo, pois,
freqentemente, os jogadores que j esto jogando ficam cansados podendo ceder a vaga
para outro jogador sem atender a nenhum critrio especfico.
O jogo "aberto" parece retomar a relao palco/platia que vigorou at em meados
do sculo XVIII, onde havia uma co-participao entre o palco e a platia. At 1750, havia
uma mistura de atores e espectadores nos teatros. "A platia estava disposta a interferir
diretamente na ao de atores" (Sennett, 1988, p.101), depois h uma delimitao precisa
entre palco e platia. Nos jogos "fechados", encontramos essa delimitao entre palco e
platia, ou seja, entre que joga e quem assiste. No jogo "fechado", no h interferncia da
platia. Quem jogador, apenas jogador, quem vai para assistir ou torcer, no entra emcampo.
b) Jogos ''Fechados''
Nos jogos fechados os times j se encontram formados anteriormente, tendo
inclusive um nome. Existe uma pessoa responsvel pelo time, conhecida popularmente
como ''dono do time'', geralmente um ex-jogador, um aficionado por futebol. Pode ainda
figurar como ''dono do time'', jogadores, embora no seja muito comum este caso, pois
comumente o ''dono do time'' no joga. Ele a pessoa responsvel por agendar os jogos
com outros times, comunicar a seus jogadores os horrios e dias de jogo, buscar
patrocnios, distribuir e recolher o uniforme do jogo, providenciar gua durante a partida,
entre outros encargos.
Os jogos ''fechados'' acontecem no final de semana ou feriados, geralmente nas
tardes de sbado, manhs e tardes do domingo. Os jogadores apresentam-se em campo com
o uniforme do time, e todos usam a chuteira, que o calado apropriado para jogar futebol. 2
2A chuteira possui travas nas solas para facilitar o deslocamento do jogador no campo gramado. As
chuteiras usadas nos campos de futebol amador em Juazeiro do Norte, apresentam-se em grande parte
sem as tais travas nas solas, pois os tais campos no so gramados, permitindo em alguns casos, at o
uso de tnis.
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O juiz pode ser algum convidado especialmente para esta funo ou outra pessoa
escolhida de comum acordo pelos "donos dos times" que iro jogar a partida. Geralmente o
time de "casa", ou seja, o time que recebe, cede o juiz para apitar o jogo. Os jogos
fechados que acontecem no final de semana obedecem a uma dinmica em que os times
so convidados a jogar fora do seu territrio, como tambm recebem times de ''fora'' para
jogar em ''casa''. Nestas excurses os torcedores seguem juntos com os jogadores,
utilizando nibus ou caminho. Alguns torcedores e/ou jogadores deslocam-se de moto,
carro, bicicleta, entre outros meios de transportes. Tudo vai depender da distncia a ser
percorrida. Quando o local do jogo muito longe o "dono do time" contrata um nibus ou
caminho para levar seus jogadores. O dinheiro arrecadado tanto entre os jogadores que
se deslocam para o local onde vai acontecer o jogo como entre os jogadores do prprio
local onde acontecer o jogo, meio a meio. Por se tratar de uma posio que poucos queremocupar, os goleiros so dispensados do pagamento da taxa.
"O goleiro fica l parado, enquanto os outros esto correndo,ficando em forma e ele t l. Qualquer falha fatal, e sempre aculpa dele. Geralmente os goleiros so muito bonequeiros,faltam muito. Por isso que j tem assim: o goleiro no paga. E difcil encontrar assim, um goleiro bom, geralmente ele acaba indopara o gol porque o titular faltou ou no tem. A, se ele fechar bemo gol, j fica com a fama." (Dono do time do Bragantino)
Os jogos fechados podem tambm acontecer durante a semana, neste caso
funcionam como treinos para o jogo do final de semana. Os jogadores no utilizam
uniformes, a distino dar-se- como nos jogos abertos, ou seja, um time fica com camisa
e o outro time sem camisa. O juiz pode ser o prprio dono do time. O momento do treino
uma ocasio em que o dono do time pode assumir o papel de juiz.
Nos jogos fechados cada time possui trs quadros, isto , cada time tem trs sub-
divises. O primeiro quadro o time principal, o segundo quadro o time intermedirio e oterceiro quadro o time de base, ou seja, o time dos garotos mais jovens. No final de
semana, geralmente no domingo, o primeiro jogo, ou para utilizar a linguagem dos prprios
jogadores em cena, o ''terceiro quadro'' comea s 14:00 h, seguido do ''segundo quadro'' e
por ltimo, o mais importante jogo do dia, o jogo do ''primeiro quadro''.
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c) Relao entre os Jogos ''Abertos'' e os Jogos ''Fechados''
A prtica do futebol pressupe nveis de organizao, nem sempre simples ou
imediatamente dados. Mesmo nos jogos "abertos" de crianas na rua ou em qualquer
terreno baldio, necessrio uma bola ou algo que a substitua, como uma lata ou mesmo
uma bola de meia. Nos jogos "abertos" e nos jogos "fechados", aqui analisados, a prtica do
futebol no um acontecimento simples nem casual, e o encontro dos sujeitos envolvidos
em tal prtica, no se d de forma imediata.
As diferenas entre os jogos "abertos" e os jogos "fechados" so resultantes das
formas de organizao, do que diz respeito ao tempo e ao local disponvel para os jogos,
dinmica dos jogos e a maneira de administrao dos referidos jogos.
Os jogos ''abertos'', jogados durante a semana, so geralmente mais caractersticosda zona urbana. Os jogos ''fechados'' so mais recorrentes durante o final de semana ou
feriados, podendo acontecer tanto na zona urbana como na zona rural.
A prtica dos jogos "abertos" no observada com freqncia na zona rural devido
a dificuldade de aglutinar os jogadores que moram distantes uns dos outros. J na zona
urbana o nmero de jogadores disponveis maior o que torna mais fcil formar dois times
para o "racha"3, chegando muitas vezes a formar times s com jogadores residentes num
determinado trecho de uma rua.
No final de semana os jogos "fechados" acontecem tanto na zona rural como na
zona urbana, indistintamente, pois os jogadores encontram-se liberados do trabalho ou de
outros afazeres. Porm, os jogos fechados podem acontecer tambm durante a semana,
apresentando-se neste caso, com mais freqncia na zona urbana, sendo o objetivo, deste
modo, treinar para o jogo do final de semana. Os jogadores no utilizam o uniforme do
time, sendo assim no h como distinguir visualmente os jogos fechados que ocorrem
durante o perodo da semana dos jogos abertos, cuja caracterstica principal a formao
dos times no momento anterior ao jogo.
No entanto, nos jogos fechados que acontecem durante a semana, apesar de j
existir o time previamente formado, comum faltar diversos jogadores devido
incompatibilidade do horrio do jogo-treino com o horrio do trabalho ou por outros
3Designao dada aos jogos de futebol amador sem nenhum carter "oficial".
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motivos diversos. Assim, outros jogadores que no fazem parte do time, passam a comp-
lo naquele momento, somente.
Nos jogos fechados, que ocorrem durante a semana, mesmo que todos os
jogadores do time estejam presentes podem os mesmos jogar em times separados. comum
tambm o "dono do time" acrescentar mais jogadores em campo, alm dos onze, chegando
a jogar 15 x 15. Essa estratgia utilizada para o time no ficar muito cansado para o jogo
do domingo.
Percebe-se, a partir destas informaes, que os jogos fechados, que ocorrem
durante a semana, assemelham-se com os jogos abertos j descritos acima. As categorias
de jogos abertos e jogos fechados devem ser entendidas no como uma camisa de
fora, mas como uma tentativa de agrupar caractersticas semelhantes em torno de cada
uma das dinmicas do jogo. Sendo assim vamos encontrar jogos fechados com algumas
caractersticas de jogos abertos ou vice-versa.
Os jogadores podem transitar entre os jogos abertos e os jogos fechados, ou
seja, um jogador pode fazer parte de um time organizado por um dono e pode tambm
jogar nos jogos abertos.
Aps os vrios contatos com os times e campos de futebol amador, escolhi trs
dinmicas de jogos que podem ser consideradas como casos exemplares da categorias
citadas acima. Assim, para representar os jogos abertos, escolhi o racha dos malucos,
como caso exemplar. A disputa entre os times do Bragantino e do Fortaleza exibe os
elementos que compem a trama dos jogos fechados. Finalmente, apresento o treino dos
times Vila Alta e Vasco do Horto, como exemplo de jogo aberto e de jogo fechado.
O "Racha" dos malucos: Um caso exemplar de jogo "aberto".
A turma dos malucos ficou assim conhecida pelos prprios jogadores de futebol
amador da cidade de Juazeiro do Norte, devido ao uso da maconha por parte de alguns de
seus jogadores. Outros, com o pretexto de assistir ao jogo, iam mesmo era fumar um
"troo" do lado de fora do campo. A naturalidade deste tipo de ao possvel num
ambiente como o do futebol amador somando-se ainda o fato do jogo no ter um carter
"oficial", ou seja, um jogo "aberto". Ao ser indagado sobre qual era o nome do time, um
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dos responsveis pelo jogo respondeu que no tinha nome, pois eram apenas um grupo de
pessoas que se reuniam para "rachar", "bater uma pelada". So conhecidos como a "turma
do maluco".
Os jogos acontecem sempre s teras-feiras e quintas-feiras. Os jogadores comeam
a chegar a partir das 16 horas, quem chega mais cedo fica aguardando a chegada dos
demais jogadores ou pelo menos um nmero suficiente que permita iniciar o jogo.
Enquanto isso no acontece eles se apresentam em um nico grupo, porm com a chegada
de outros jogadores formam-se diversos grupos pequenos onde os jogadores ficam
conversando entre si. Os primeiros a chegar so os que dispem de um horrio mais
flexvel no trabalho, geralmente quem trabalham por conta prpria, quem estudante ou
quem encontra-se desempregado. O nmero de jogadores vai aumentando a medida que o
tempo vai passando, no existe um horrio padro para todos. Os jogadores tm apossibilidade fazer seu prprio horrio de acordo com as suas necessidades. Os ltimos
chegam sempre com a pressa de quem espera ainda aproveitar o mximo do jogo. Pelo
entusiasmo e euforia dos jogadores, tem-se a impresso que o jogo poderia continuar noite
a dentro. Porm a ltima partida termina por volta das 18:15 h, no mais que isso, pois o
campo no tem iluminao eltrica.
O campo onde se rene a turma do "maluco", localiza-se beira de uma rodovia
asfaltada que segue em direo ao horto, onde se encontra a esttua do Padre Ccero. O
campo no fica no mesmo nvel da rodovia, h uma inclinao em profundidade na margem
da mesma, cerca de trs metros, sendo a distncia que separa a rodovia do campo tem cerca
de cinco metros. No mesmo horrio que acontece o jogo, existe um grande nmero de
pessoas fazendo caminhada, correndo ou mesmo voltando para suas casas. Assim a rodovia
bem movimentada, sem contar com o habitual nmero de veculos que circulam por ali. O
futebol integra-se paisagem dos que trafegam naquele local.
Este campo, conhecido como campo da micro empresa, pela proximidade que tem
com o Palcio da Micro Empresa4, foi deslocado do seu espao inicial devido a construo
do Frum de Juazeiro do Norte e tambm de uma torre em comemorao ao terceiro
milnio. O campo, que possua uma outra localizao, teve que ser transferido para onde se
encontra hoje. Contudo o nome do campo no foi alterado, pois a mudana ocorreu nas
4Designao dada ao prdio que abriga o SEBRAE - Servio de apoio s micro e pequenas empresas.
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imediaes do Palcio da Micro Empresa. Para os jogadores a mudana foi positiva, pois as
condies do campo hoje so melhores do que no passado. Segundo os mesmos, o campo
anterior apresentava uma quantidade maior de pedras soltas dentro do campo prejudicando,
desta forma, o andamento do jogo.
Nos jogos "abertos" no existe a figura do "dono-do-time", conforme foi relatado na
descrio do mesmo, contudo h uma, duas ou mais pessoas responsveis pelo "racha".
Indagado sobre esta situao um jogador assim relatou:
"...aqui no o time, s o racha da amizade, n! Ento tem queter o pessoal pra tomar de conta, pra no virar gandaia, n?Confuso aqui no tem, quando tem confuso eu digo logo: ,quer brigar v pra casa, ento v brigar com a polcia. Aqui assim, a eu tomo a frente, eu fao cota pra comprar bola, quandoeles no tem eu arranjo o dinheiro, eu compro, que eu tenho mais
uma condiozinha, t entendendo ? A assim por isso que eutenho mais uma moralzinha...porque eu...eu quem organizo aqui eboto moral. Porque se no avacalha, n?" (Jogador do Campo damicro empresa)
Esse jogador que se intitula organizador do "racha da amizade"5 justifica sua
interferncia entre os demais jogadores, pelo fato do mesmo, apresentar "mais uma
condiozinha" o que lhe d a possibilidade de comprar a bola quando os outros jogadores
no renem condies financeiras para tal empreendimento. Contudo h outros jogadores
que tambm atuam como organizadores ou responsveis pelo jogo. Neste caso eles
legitimam sua atuao pelo longo tempo de permanncia no jogo do campo da micro
empresa.
Existe uma outra situao em que os jogadores mais antigos possuem privilgios em
relao aos jogadores novatos, quando se define quem vai comear jogando, neste caso os
jogadores veteranos levam vantagem em relao aos novos, sendo assegurado aos
jogadores veteranos o direito de jogar primeiro.
"...aqui vindo, joga todo mundo. No tem essa sabe ? No temesse pessoal escolhido. Joga qualquer pessoa. Agora que joga
5Denominao dada pelos jogadores aos jogos que acontecem no campo da micro empresa nas tardes
de tera-feira e quinta-feira.
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primeiro os veteranos, a depois os novos." (Jogador do campo damicro empresa)
O jogo inicia com onze jogadores de cada lado, o tempo de jogo combinado entre
os prprios jogadores. No jogo do campo da micro empresa o tempo estipulado de vinte ecinco minutos ou o tempo de um dos times marcar dois gols, o que acontecer primeiro. O
nmero de jogadores presentes no campo suficiente para formar trs times. Inicia-se o
jogo entre os dois primeiro times e o terceiro time fica aguardado o resultado do primeiro
jogo para poder tomar o lugar do time que perdeu. Ao final do primeiro jogo, o time que
perdeu cede o seu lugar para o outro time jogar, e assim sucessivamente. Se o time que for
entrar no estiver completo, jogadores que j estavam jogando permanecem no campo, para
completar os onze.
Os jogadores no usam uniformes, pois trata-se de um jogo "aberto". Para
diferenciar os adversrios em campo, os jogadores combinam entre si, qual o time que vai
jogar sem camisa. No jogo do campo da micro empresa, existe uma preferncia pelo
jogador calado, seja tnis ou chuteira. Jogador descalo, joga, mas s se for para completar
o time, ou seja, se realmente no tiver outro jogador calado que possa entrar naquele
momento. A preocupao no com o jogador que descalo, possa se machucar, mas com a
falta de empenho que este pode representar para o time que o acolher. Vejamos o que diz
um jogador ao se referir a outro que no usa tnis ou chuteira:
"E a gente v logo que ele no pode colocar o p na bola. A gentej no coloca que ele fica pipocando, n ? A ningum coloca ocara no time pra ele pipocar, no por o p na dividida, tentendendo ? Colocar o p e tirar. " (Jogador do campo da microempresa)
No jogo "aberto" do campo da micro empresa, o juiz pode ser um dos prprios
jogadores que no se encontra jogando naquele momento ou algum espectador do jogo.Sendo ele, o juiz, escolhido minutos antes de iniciar a partida. Para diferenciar o juiz dos
jogadores com camisa e dos jogadores sem camisa faz-se necessrio que ele, o juiz, coloque
uma camisa amarrada na cabea ou um bon.
Existe um cdigo de finalizao do jogo, ou seja, mesmo ao final do tempo de vinte
e cinco minutos o juiz espera a bola sair do limite do campo para dar o apito final. Fato que
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leva os jogadores do time que est perdendo a utilizarem uma ttica para no deixar a bola
sair, prolongando desta forma o tempo de jogo na busca de um gol. A ttica passar a bola
de forma mais lenta e com segurana para os companheiros do mesmo time, tentando evitar
a intercepo desta pelos adversrios. No caso do time estar ganhando, os seus jogadores
procuram chutar a bola para fora o mais rpido possvel, para garantir a vitria e continuar
em campo. Ao time que est do lado de fora, aguardando a vez de entrar, cabe fiscalizar
para que seja garantido o tempo de jogo, ou seja, para que este no ultrapasse os vinte e
cinco minutos. Assim, caso j tenha completado o tempo de jogo e o time que esteja
ganhando no queira, por qualquer que seja o motivo, encerrar logo a partida tentando jogar
a bola para fora das linhas do campo, os jogadores que esto do lado de fora, denunciam o
fato e exigem dos jogadores a concluso rpida da partida.
Ao final do tempo de jogo se o mesmo terminar empatado a disputa vai para ospnaltis. Cobrados um a um, ou seja, cada time cobra uma penalidade de cada vez,
seguindo pelo outro time. Se os dois times convertem suas cobranas em gol, tem-se uma
nova rodada de cobrana de pnaltis, at chegar a um vencedor.
No referido jogo, joga-se o futebol amador mais ou menos como o futebol
profissional, mas com algumas modificaes, alm das que j foram relatadas. Vejamos: o
lateral6 cobrado de qualquer jeito, ou seja, o jogador pode levantar o p do cho e pode,
ainda, jogar a bola s com uma mo. Quando o time sofre gol, seus jogadores j saem
jogando a partir da trave, ou seja, no necessrio recomear o jogo a partir da linha
central do campo, como exige a regra. O impedimento7no marcado, tendo esta ao, o
objetivo de deixar o jogo mais competitivo, segundo os prprios jogadores. O escanteio8
no precisa ser cobrado exatamente no local certo, s as faltas mais graves so marcadas. O
6Quando um jogador chuta a bola para fora do campo pela linha lateral, a mesma recolocada em jogo
atravs do arremesso lateral, feito por um jogador da equipe contrria que colocou a bola para fora.
7
O jogador est impedido quando ele se encontra mais prximo da linha de fundo do adversrio doque a bola no momento do passe. A no ser que: a) esteja no seu prprio campo; b) receba a bola de um
tiro de meta, de um tiro de canto, de um arremesso lateral ou de um adversrio; c) o jogador tenha
entre ele e a linha de fundo do adversrio o mnimo de um adversrio, estando ao mesmo tempo ao lado
do segundo adversrio.
8 Quando um jogador chuta a bola para fora do campo pela sua prpria linha de fundo, esta
recolocada em jogo atravs de um tiro de canto (escanteio) por um jogador da equipe adversria.
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nmero de jogadores em campo pode ser alterado, para mais ou para menos, dependendo da
necessidade.
"Aqui o seguinte......racho, n? No tem a regra assim...aquelenegoo certo. No tem problema aqui, no tem essa. parecido
s. As faltas, lgico que tem, n? Mas se for falta assim bestinha,a gente deixa rolar. (Jogador do campo da micro empresa)
No possvel informar o nmero exato de partidas jogadas numa tarde, devido
forma como se determina o tempo de jogo, ou seja, vinte e cinco minutos ou dois gols, o
que acontecer primeiro, e ainda, devido forma de desempate que leva a disputa para os
pnaltis. Fato este que no acontece necessariamente em outros campos de futebol amador
em Juazeiro do Norte, sendo o desempate resolvido no cara ou coroa, ou ainda, no par ou
mpar. Entre um jogo e outro no existe intervalo, para os jogadores descansarem. Joga-se
ininterruptamente, parando somente o tempo necessrio para a troca entre os times.
Entre os jogadores h jovens na faixa de 18 a 25 anos, a maioria aparenta estar na
faixa etria entre 26 a 37 anos. Jogadores novatos imiscuem-se entre jogadores experientes.
Jogadores mais antigos podem influenciar bastante aqueles que vm a seguir, explicando
assim como o futebol amador se mantm idntico, no campo da micro empresa, ao passo
que seus jogadores se alteram. O campo da micro empresa enquanto territrio de
permanncia dos jogadores tambm contribui para a manuteno dessa unidade em torno
do futebol amador.
No campo da micro empresa h tambm a presena de um jogador que j fez parte
do futebol profissional e que hoje encontra-se afastado desse tipo de futebol. Porm o
referido jogador encontrou no futebol amador a maneira de continuar jogando bola quando
a idade no lhe permitia continuar no futebol profissional. Os desavisados podem se
surpreender ao ver um senhor com uma barriga bem avantajada jogando futebol. Foi o que
me aconteceu ao v-lo pela primeira vez entre os demais jogadores. Portanto eu vos digo:
no se enganem. Aquele baixinho, gordinho que est parado prximo a linha lateral reconhecido pelos demais jogadores como o narrador do jogo, ou seja, um jogador
experiente, que grita o jogo, isto "canta" a jogada antes dela acontecer, quem orienta os
lances. Outro jogador vem em meu socorro:
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"No precisa nem correr, porque no importa se o que corremais, tem que pensar mais." (Jogador do campo da microempresa)
No jogo do campo da micro empresa a maior parte dos jogadores tambm participa
de outras equipes de futebol amador, assim, jogadores de vrios times organizados se
encontram para o "racha da amizade". Desta forma os jogadores do campo da micro
empresa participam do jogo "aberto" que acontece no referido campo da micro empresa
como tambm fazem parte de times organizados que jogam no final de semana. Neste caso,
essas equipes de que os jogadores tambm tomam parte, classificam-se dentro do que eu
venho chamando de jogo "fechado". De acordo com a caracterizao dos jogos "fechados",
j apresentado anteriormente, estes acontecem no final de semana ou ainda durante a
semana como forma de treinamento para os jogos do final de semana.Indagado sobre a razo de no existir um time organizado, composto pelos
jogadores do campo da micro empresa, um jogador apresentou a seguinte explicao:
"No, no, a gente nunca pensou nisso no, porque a maioria joganoutras equipes, n ? A se for formar daqui no d. Porque amaioria joga numa equipe. Eu jogo numa, outro joga noutra, ano adianta, aqui s o racha mesmo. S tera e quinta. Aqui oencontro assim... a reunio, n ? Mas cada um tem a sua equipe.
Todo final de semana um vai pra um canto, outro vai pra outro, tentendendo ? Cada um joga numa equipe." (Jogador do campo damicro empresa)
O jogo do campo da micro empresa congrega vrios jogadores de diferentes times.
A dinmica instituda entre os jogadores, a maneira como eles se organizam para o jogo, o
tempo de jogo, as regras, enfim o prprio futebol e a sociabilidade entre os estes jogadores
apresenta-se de forma aberta.
Um exemplo de jogo "fechado": Bragantino X Fortaleza.
O campo do time do Bragantino fica localizado no stio Pores, a 6 Km da cidade
de Juazeiro do Norte. A via de acesso no asfaltada, no entanto o estado de conservao
da estrada razovel, isto , no h tantos buracos no percurso. O campo tambm
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conhecido como campo dos Pores, ou ainda, como campo do Z Ivan. A justificativa
para tal variedade de nomes para o campo, o seguinte: o campo fica localizado na
propriedade da famlia do dono do time do Bragantino, o senhor Z Ivan, cuja propriedade
localiza-se no stio Pores, e no h outro campo no referido stio. Assim, o campo, o
campo do Bragantino, o campo do Z Ivan, ou ainda conhecido como o campo dos
pores. Todas essas denominaes refere-se ao mesmo campo.
O campo do Bragantino, que como eu vou denomina-lo daqui por diante,
considerado o melhor campo da zona rural de Juazeiro do Norte. Mas no foi sempre assim,
no incio da construo do campo, era um campo pequeno com orientao leste/oeste 9,
tinha muita areia e pedra. No entanto, seu proprietrio conseguiu uma promessa na
campanha poltica para prefeito de Juazeiro do Norte: caso o seu candidato ganhasse as
eleies, o campo seria melhorado. E assim, todo comcio l estava o dono do campo doBragantino, para lembrar a promessa feita. Eleio ganha: campo melhorado.
"Eu pensei que eles iam fazer s uma limpagem, sabe. A quandoeu vi: foi o destroo deles a fazendo limpeza de tudo, medindo.A eu disse: vai ser um campo grande. Ento foi cortado mais doque, uns trs ou quatro metros, foi aterrado onde era baixo, prafazer o campo. Foi muito servio, no foi pouco, no. Veio umapessoa com aqueles equipamentos, fez a medida e disse que assimdessa maneira( norte/sul) era melhor." (Dono do campo e do timedo Bragantino)
Hoje, o campo apresenta uma orientao norte/sul, com relao ao seu
comprimento. E mede 100 metros de comprimento por 76 metros de largura, medidas estas
que se aproximam das medidas oficiais10 estabelecidas na regra do futebol de campo. O
campo possui tambm dois abrigos para os jogadores. A construo dos abrigos foi idia do
pai do Senhor Z Ivan, dono do time do Braganino, pois, ao lado de uma das laterais do
campo passa um estada que d acesso aos stios Espinho e Taquari, a partir da outra lateral
9De acordo com os padres de qualidade, as instalaes esportivas, sejam campos de futebol, quadras
ou piscinas, entre outros, devem possuir orientao norte/sul, com relao ao seu comprimento, para
evitar o olhar direto para o sol, seja no perodo da manh ou no perodo da tarde.
10 As medidas oficiais do campo de futebol so 120X90, 110X75 e 100X64. Sendo a medida 110X75
considerada como a oficial ideal.
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do campo o terreno de propriedade de outras pessoas, no sendo possvel plantar rvores
ao seu redor para que estas ofeream sombra. A construo rstica dos abrigos, feitos com
a palha seca de palmeiras, permite aos jogadores um local de descanso durante as tardes de
domingo, geralmente quentes. O abrigo dos jogadores visitantes fica atrs de uma das
traves do gol. O abrigo dos jogadores, do Bragantino, fica do lado direito do campo, para
quem vem de Juazeiro do Norte.
O time do Bragantino foi fundado no dia 08 de maio de 1995. A idia de formar um
time surgiu a partir de uma discusso entre os jogadores do time do Hava, que ofendidos
com a atitude do dono do Hava, se organizaram e sugeriram ao Senhor Z Ivan, tambm
jogador do Hava na ocasio, a criao de um outro time. Indagado sobre essa discusso
que o levou a criar outro time, o Senhor Z Ivan respondeu que no tinha sido uma
discusso com agresso, mas que o "dono" do Hava tinha lhe humilhado ao dizer "o time meu !". Essa mensagem soou como algo do tipo: saia da minha casa: a casa minha !
Assim, o campo tomado como sendo o prolongamento da casa do "dono do time",
permanece quem tem autorizao para ficar, quem bem vindo. O "dono do time" exerce
um papel que lhe confere poder, ele quem determina as regras do jogo. O Senhor Z Ivan
justifica a criao do time como uma estratgia para continuar jogando futebol: "A para
explicar, eu s fiz o time pra mim jogar. A verdade essa."
O terreno onde foi construdo o campo pertencia ao av do dono do Bragantino, j
falecido. O mesmo foi deixado como herana para a me do dono do Bragantino que a
pedido deste cedeu-o para a construo do campo de futebol. Com a construo do campo e
a criao do time do Bragantino a rotina de toda a famlia do Senhor Z Ivan foi alterada. O
pai que nunca havia jogado futebol, hoje, no deixa de assistir aos jogos no domingo, h
no ser que haja algum velrio marcado naquele dia. No entanto, todos os seus filhos so
jogadores de futebol. comum ver a esposa e os filhos do dono do Bragantino
acompanhando-o nos domingos de futebol. Mesmo a comunidade residente no stio dos
pores, a qual possui laos de parentesco com o Senhor Z Ivan, tambm viu-se envolvida
no ritual do futebol.
Na vspera do jogo do domingo, o Senhor Z Ivan, solicita a uma moa do stio que
a mesma guarde gua nas vasilhas de leite, para saciar a sede dos jogadores aps o jogo.
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"Eu trago a vasilha, pego aqui, o pessoal j deixa no ponto. Temuma menina que eu pago ali, pra ela colocar gua dormida de umdia pra outro. A, pego gelo, boto bastante gelo, gua nageladeira, faz gelo, trago." (Dono do time do Bragantino)
Esta gua serve tanto os jogadores do time do Bragantino, como tambm aosjogadores do time visitante. Durante o intervalo do jogo, o pai do "dono do time" do
Bragantino, distribui laranjas j descascadas, neste caso somente para os jogadores do time
do Bragantino.
"A gente aqui, os times visitantes, a gente sempre acolhe, faz opossvel por eles. Agora em termos da laranja, agora a laranja agente s dar aos da gente. O dos outros eles comprem, mas osmeus eu dou, a laranja eu dou. E a gua, agora a gua pratodos, sabe os jogadores que vem jogar aqui. No vou dar atodos os torcedores, porque se eu for dar, no dar pra meusjogadores. Quando termina eu digo: tem uma guinha, aqui. Aj vai, chega l coloca o gelinho dentro da gua. Quando terminao terceiro quadro vai todo mundo, termina o segundo quadro vaitodo mundo, e assim vai indo at chegar." (Dono do time doBragantino)
A marcao das linhas do campo, com cal, feita no dia anterior ao jogo, por
moradores encarregados de tal tarefa. A manuteno dos dois abrigos, o abrigo dos
jogadores da "casa" e dos jogadores visitantes tambm uma tarefa que envolve diversas
pessoas da comunidade do stio Pores. necessrio tambm o auxilio dos moradores
para a colocao das redes nas traves dos goleiros.
H ainda as mulheres que ganham dinheiro para lavar os uniformes do time, o
senhor que cede sua casa para a realizao das festas do time, o dono do bar onde tambm
acontece as festas de comemorao das vitrias e a prpria torcida que se formou para
torcer pelo Bragantino.
No domingo os jogos tem incio por volta das 14:00 h indo aproximadamente at s
18:00 h. No campo do Bragantino sempre h jogo no domingo, ocasio em que o time do
Bragantino recebe outro time para a disputa, time este que pode ser de um stio, da cidade
de Juazeiro do Norte ou mesmo de outras cidades vizinhas. No entanto, o dono do
Bragantino, considera importante que o seu time jogue em outros campos tambm, para no
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ficar acostumado a jogar somente em campo prprio. Porm, como o campo do Bragantino
considerado o melhor campo da zona rural, no faltam times candidatos ao jogo no
domingo. A nica exigncia do dono do Bragantino com relao ao uso do cigarro de
maconha pelos jogadores e torcedores do time visitante, quando ele, o dono do Bragantino,
sabe que o time reconhecido pelos demais como usurio da erva. Vejamos:
"Eu procuro o dono do time: leva as pessoas boinha, e sequiserem fazer, fazer l..., num v fazer no meio do povo no, queningum l num usa isso no. Aqui no usa no. Os meninos daquijoga, pra voc ter uma idia eu nunca nem vi maconha. Vocmesmo ver: fica no aceiro do campo s menino, num usa no.Rural ainda um canto sadio, pra essas coisas. Agora deu pertinhoda rua, o bicho pega." (Dono do Time do Bragantino).
A partir do relato acima possvel perceber que existe uma viso idealizada da zona
rural como um lugar privilegiado que no foi contaminado pelos problemas da cidade. A
prtica do futebol amador tambm tomada como uma atividade ideal, ou seja, o futebol
visto como um espao onde no h conflitos.
"Futebol uma coisa to boa, uma diverso to boa, porque vocpode ter um atrito em campo, na hora que terminar o jogo todo
mundo amigo. a nica coisa que ainda t tendo amigo, ofutebol. Porque voc briga, xinga, d uma cotovelada, uma coisa,terminou o jogo o cara vem na mo, d a mo a voc, j saiuamigo dentro de campo. Por isso que ainda vivel, ainda fazeralguma coisa por futebol, porque j pensou num forr voc levauma tapa, voc vai querer matar o cara. E num jogo voc levauma cotovelada, leva uma cabeceada, um chute e quando termina:rapaz desculpa ai, t desculpado. Ainda tem essa coisa, ainda nomundo que dispensa alguma coisa o futebol." (Dono do time doBragantino).
A idia que prevalece entre os jogadores do futebol amador de Juazeiro do Norte a
seguinte: as brigas ou discusses que acontecem durante o jogo, terminam com o jogo. Fato
verdadeiro, porm no totalmente. O jogo Bragantino X Fortaleza demorou quatro anos
para acontecer depois de um desentendimento entre seus donos. Assim relata o dono do
time do Fortaleza:
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"Porque nesse jogo que eu joguemos aqui e vencemos dele e eleficou com raiva. O juiz expulsou trs do melhor sem preciso e eudigo: no Z, assim no. Ele disse: apois tire seu time v embora.Eu digo: no tiro, porque a covardia minha, ns joga s com oito
e vocs inteirado com onze. E balancemos, e o meu fez um a zeroe sustentou e findou o jogo e num empatar. Foi, parece que foimesmo uma coisa, ele com os onze e ns com oito e ele noempatou. A ele com tanta raiva mandou o dinheiro da cota poroutro jogador. No foi. Eu procurei: cad ele ? Disse t com umaraiva danada l. Eu disse: t bom. A fomos simbora, a pronto.
Risos. A agora se Deus quiser tamo fazendo as pazes." (Dono dotime do Fortaleza)
Durante o perodo de quatro anos, os dois times no se confrontaram, no entanto o
dilogo continuava a existir entre seus donos. Parecia haver uma certa curiosidade sobrecom quem cada time tinha jogado no domingo, mas no marcavam nenhum jogo entre si.
Segundo nos conta o dono do time do Fortaleza, a situao foi contornada pelo pai do dono
do time do Bragantino:
"Eu dizia onde joguei, e quem jogou l ele dizia. Mas de dizervamos tratar uma, no. Mas o pai dele sempre vai missa namatriz, todo domingo, cinco hora e eu tambm vou. A ns semprese conversa, quando finda a missa, que a gente vem: aonde osenhor vai jogar hoje, eu dizia. Eu dizia: quem vai pra l. A euacho que ele disse: homem, voc s chamando Seu Madalena quese no, se for pra ele falar, ele no fala, no. Pra ir jogar l, ele nose oferece. Oferecia no, passava cem anos." (Dono do time doFortaleza)
O time do Fortaleza possui em torno de dezessete anos de existncia, sendo
dezesseis anos sob o comando do Senhor Madalena. A justificativa para tal situao que o
time do Fortaleza foi comprado de um vizinho que aps uma derrota resolveu vender os
uniformes. No entanto o nome do time j era Fortaleza e assim foi mantido pelo seu atual
dono, o Senhor Madalena. Apesar do time ter mudado de dono, o mesmo no mudou de
nome. Utilizar o mesmo nome da capital do Estado do Cear no time revela-se como uma
maneira de conferir poder ao time. O Senhor Madalena justifica:
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" j comecemos Fortaleza, inda hoje . Era do outro e eucontinuei. Tem gente que diz: homem muda o nome, mudo no, Fortaleza. Que eu digo Fortaleza a capital do estado. As vezesquando ns l fora eu digo: vocs sabem que Fortaleza a capitaldo estado, tem que obedecer." (Dono do time do Fortaleza)
O time do Fortaleza no possui campo para treinar a exemplo do time do
Bragantino. Devido a esta situao o treino acontece de oito em oito dias, justamente
durante o prprio jogo no domingo. O campo mais prximo do bairro das Malvas, onde
reside a maior parte dos jogadores do Fortaleza, o campo da micro empresa, o qual
utilizado quando o time do Fortaleza marca o jogo de volta com outros times. Neste caso
necessrio combinar previamente com os outros times que tambm utilizam o campo da
micro empresa.
Durante os jogos, o dono do Fortaleza conta com o apoio da esposa, que distribui a
cada jogador um din-din, uma pipoca, um xilito ou um pastel. Neste momento
estabelecida uma relao comercial entre o dono do Fortaleza e sua esposa, ou seja, a
merenda distribuda pela esposa do dono do Fortaleza posteriormente paga pelo referido
dono do time do Fortaleza a sua esposa que fica com o lucro da venda. necessrio
lembrar que cada jogador s tem acesso a um nico lanche, sem direito a repeti-lo. A no
ser que este compre com seu prprio dinheiro.
H tambm o irmo do Senhor Madalena que como uma espcie de auxiliar dodono do time. ele quem fica orientando os jogadores beira do campo, avisa aos
jogadores durante a semana sobre o local do jogo no domingo e responsvel tambm pela
entrega das notas nas emissoras de rdios para divulgao dos resultados dos jogos e o local
do prximo jogo. No caso da divulgao dos resultados dos jogos do domingo, o dono do
Fortaleza explica que s manda a nota se o time tiver conseguido alguma vitria.
Os jogos do domingo precisam ser agendados entre os times. O comum cada time
possuir trs quadros, ou seja, trs divises. Mas no foi sempre assim, o terceiro quadro
uma criao recente dos prprios "donos dos time" de Juazeiro do Norte. possvel
verificar nesta ao uma alternativa de sobrevivncia dos prprios times de futebol amador.
Pois o futebol amador demanda uma certa quantidade de dinheiro para o transporte, compra
de uniformes e bolas, gastos com a lavagem dos uniformes, entre outros, que sozinho o
"dono do time" no tem como financiar. Assim com a ampliao do nmero de jogadores
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ficou mais fcil e barato para todos. Segundo um antigo "dono de time" de futebol amador,
"futebol amador tudo de gente pobre." Esta afirmao no corresponde hoje a realidade
do futebol amador, que apresenta entre seus jogadores, representantes de diversas classes
sociais.
Porm importante ressaltar que jogar futebol ainda hoje considerado como uma
das principais formas de lazer entre a classe baixa de Juazeiro do Norte, isto porque sua
prtica facilitada fora dos clubes, em reas livres, nos campos de poeira, permitindo assim
uma maior participao popular.
Para participar dos jogos "fechados" os jogadores colaboram financeiramente com o
"dono do time".
"Em termos de dinheiro todos pagam, aqui pagam pra jogar. Porincrvel que parea, aqui todo mundo dar um real, um ecinqenta, dois reais, todo domingo, os meus jogadores. Porqueo time que vem de fora, a cota vinte reais que a gente dar a elespra ajudar no caminho. Amanh, vem o time, vinte reais que agente paga a eles pra vim jogar com agente aqui, a eu no possot tirando eu sozinho. Porque tem vinte reais do caminho praajudar o time e tem dez que paga pra lavadeira lavar o terno.Quer dizer que voc tem que tirar trinta reais. Ento eu cobrodeles. difcil d prejuzo, sempre eles cooperam." (Dono dotime do Bragantino)
Caso algum jogador no tenha dinheiro para pagar sua cota naquele domingo, os
demais jogadores do a cobertura financeira necessria para completar com o valor
estipulado.
" um, um e cinqenta, aqueles que a gente sabe que tem maiscondies d dois, aqueles que tem menos condies, que euconheo todo mundo, n. Eu recebo um real, um e cinqenta,ento termina todo mundo pagando, ou se no pague, que notem tambm, no deixa de jogar, no. No tendo o dinheiro no
por isso que ele vai deixar de jogar no, os amigos cobre o delesabe, j cobriu. No caso o que deu dois, cobriu aquele queentendeu ?" (Dono do time do Bragantino)
Geralmente as pessoas que se encarregam da tarefa de organizar um time de futebol
amador, fazem por livre iniciativa e sem esperar nenhuma recompensa financeira, mais
fcil ocorrer o contrrio, ou seja, prejuzo. Quem no consegue manter um time de futebol
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amador, acaba tendo que desfazer-se do investimento, como uniformes e bolas, no levando
vantagens sobre esta negociao. Para Duvignaud,
"O principal obstculo para a compreenso da festa, em todos os
seus aspectos e escalas, havia sido distorcido por uma perceposocial inteiramente dominada pelas noes de funcionalidade, deutilidade e, evidentemente, pelo esprito da rentabilidade quecaracteriza o Ocidente industrializado." (Duvignaud, 1983,p.22).
Deste modo, considerando o aspecto econmico, o futebol amador em Juazeiro do
Norte, no implica qualquer outra finalidade seno ele mesmo.
"Se sobrar alguma coisa que difcil sobrar, mas quando sobra,eu j deixo junto ali. Que eu no quero nada do time, assim determos financeiro. Eu tenho minha renda. J pra comprar umabola, que a poltica s dar de quatro em quatro anos. Quando agente vai compra uma bola, ai eu fao cota do jeito do jogo: ns vamos comprar uma bola, tal dia, dois pra cada um, se fordois. Vocs tem at esse dia pra dar, pode dar de cinqenta, elesdo e eu anoto aqui, fulano deu tanto, e assim vai. tipo umaassociao porque o cabea sou eu, se eu disser vamos fazer isso,eles fazem." (Dono do time do Bragantino)
No entanto, do ponto de vista da poltica sabido que os vereadores ou candidatos avereadores se utilizam do futebol amador em Juazeiro do Norte, como espao onde os
mesmos atuam para firmar seus nomes junto a uma parcela do eleitorado.
Os sujeitos envolvidos com o futebol amador, tambm retiram e imprimem nessa
manifestao, algo que no comercializado e que "no est inscrito em nenhum cdigo
nem em qualquer lugar do espao oficial". (Duvignaud, op. cit., 64). So valores, crenas,
sentimentos e outros sentidos imateriais que compem o futebol amador. Embora o time
tenha um "dono", na percepo de parte dos jogadores o time de todos.
Cada corpo de jogadores do time do Bragantino enfrenta o quadro correspondente
ao time do Fortaleza. Os jogos acontecem de acordo com a tabela abaixo:
_________________________________________________________________________
TABELA N 01 - RELAES DE TEMPO NO JOGO FECHADO_________________________________________________________________________
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Hora Ordem Quadro Tempo de Jogo Intervalo
14:00 h 1 Jogo 3 25 X 25 10 min
15:00 h 2 Jogo 2 30 X 30 5 min
16:00 h 3 Jogo 1 40 X 40 10 min
O 1 quadro joga no melhor horrio, ou seja, no final da tarde, horrio menos quente
que o horrio do primeiro jogo. Essa hierarquia na ordem dos jogos revela-nos algo
importante, qual seja, no 1 quadro encontram-se os melhores jogadores tanto do
Bragantino como do Fortaleza ou de qualquer outro time de futebol amador de Juazeiro do
Norte. No entanto, se possvel afirmar que o 1 quadro apresenta-se de forma nica para
todos os times de futebol amador na referida cidade, o mesmo no ocorre com aorganizao interna dos demais jogadores distribudos nos outros quadros dos times em
questo.
No caso do time do Fortaleza, o critrio adotado pelo "dono do time " para a
distribuio dos jogadores no 2 e 3 quadro, a idade dos jogadores.
Os jogadores mais novos, com idade entre 12 e 14 anos, compem o 3 quadro. Os
jogadores que esto na faixa etria de 15 a 17 anos preenchem o 2 quadro. No 1 quadro
esto os melhores jogadores, conforme j foi explicado anteriormente, so os jogadores que
possuem idade acima de 18 anos.
comum o jogador do 3 quadro passar para o 2 quadro, to logo ele complete a
idade necessria. Assim tambm acontece com o jogador do 2 quadro, que passar para o
1 quadro ao atingir a idade de 18 anos. Os jogadores do 1 quadro, comumente,
permanecem no time por um longo tempo, at que por algum motivo abandona-o,
possibilitando assim a ascenso dos demais jogadores. Porm, esse critrio no rgido,
existem vrios fatores que podem interferir na aplicao destas condies. Cito como
exemplo o caso de um jogador de 20 anos que ainda joga no 3 quadro, a explicao dadapelo "dono do time" para esse fato que o jogador em questo no apresenta habilidades
tcnicas para ocupar um lugar no 1 quadro, porm como o mesmo "racheiro" antigo do
time, este permaneceu no 3 quadro, supostamente o mais fraco. Se formos analisar
detalhadamente os demais jogadores possvel encontrar diversos casos que no se
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enquadrariam nos critrios de classificao descritos acima. Porm o que nos interessa
saber como o "dono do time" diz orientar esta classificao, por mais negligenciada que ela
seja na prtica.
No time do Bragantino a orientao dada pelo "dono do time" diferente da
orientao encontrada no time do Fortaleza. No 1 quadro do time do Bragantino onde
encontramos os melhores jogadores, nenhuma surpresa at aqui, j que esse critrio
prevalece em todos os times de futebol amador do Juazeiro do Norte.
No entanto, pude constatar algumas mudanas que aconteceram no que diz respeito
aos jogadores do 1 quadro do time do Bragantino. Inicialmente, o "dono do time"
preenchia o 1 quadro com jogadores que residiam na cidade e com alguns jogadores do
stio pores, onde localiza-se o campo de futebol. Entre os jogadores da cidade,
encontravam-se alguns parentes do "dono do time" do Bragantino. Recentemente, aoprocurar o Senhor Z Ivan, para saber sobre o time do Bragantino, o mesmo me informou
que no momento o time do Bragantino se apresentava somente com os jogadores do stio
Pores. Esta mudana aconteceu devido s dificuldades que existiam para os jogadores da
cidade participarem dos treinos que acontecem nos sbados a partir das 15:00 h. Neste
mesmo perodo que procurei o dono do Bragantino, o 1 quadro do referido time havia
conquistado o ttulo de campeo num campeonato organizado com outros times de futebol
amador em Juazeiro do Norte. Segundo o dono do Bragantino, a maior alegria alm da
conquista do campeonato, foi o fato de haver conquistado-o somente com a participao
dos jogadores do stio Pores.
Ainda sobre a organizao interna do time do Bragantino importante destacar
como o "dono do time" seleciona os jogadores para o 2 e 3 quadro. O 3 quadro a base
do time, ou seja, onde inicia-se a maioria dos jogadores com idade a partir de 12 anos.
Um jogador do 3 quadro passa para o 2 quadro, como acontece no time do Fortaleza, a
diferena aqui no time do Bragantino que sendo um jogador com habilidades tcnicas e
tticas, ele passa direto para o 1 quadro. No 2 quadro do time do Bragantino encontramos
os jogadores que ascenderam do 3 quadro, conforme foi explicado, mas tambm aqueles
jogadores do 1 quadro que por uma questo de idade, ou seja, os jogadores com idade
acima de 35 anos, no suportam o ritmo forte dos jogos do 1 quadro.
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possvel perceber uma distino na maneira como o time do Fortaleza e do
Bragantino dispem internamente seus jogadores. Enquanto no time do Fortaleza o critrio
mais forte a idade, no time do Bragantino a idade apenas um dos fatores, prevalecendo a
habilidade tcnica e ttica do jogador. A organizao interna do time do Bragantino permite
afirmar que h uma preocupao em manter o jogador no time, mesmo quando este no
apresenta tanta resistncia fsica como os jogadores mais novos.
No time do Fortaleza como a ascendncia dos jogadores dar-se linearmente, ou seja,
3 2 1, teoricamente no h muita escolha para o jogador que j chegou ao 1
quadro. No time do Bragantino, a dinmica dos jogadores tambm ocorre linearmente,
porm com algumas distines: 3 2 1
1 2
ou seja, o 1 quadro no a ltima etapa para o jogador, pois ele, o jogador, pode retornar
ao 2 quadro e assim permanecer mais tempo no time.
O Treino do Vila Alta e do Vasco do Horto: Jogo "aberto" e jogo "fechado".
O treino do time Vila Alta acontece s quartas-feiras e s sextas-feiras no campo do
chafariz das 16:00 h at um pouco depois das 18:00 h. O jogo constitui-se num jogo treino,ou seja, os jogadores j foram escolhidos previamente pelo "dono do time", o qual est
fazendo tambm a funo de juiz da partida. A referida partida inicia-se com o grupo de
jogadores e estes permanecem at o final do tempo de jogo, cerca de uma hora de durao.
No h time de fora para alternar com os que j esto jogando. O que pode acontecer a
troca de alguns jogadores, ou seja, os jogadores que esto jogando cedem seu lugar a outro
jogador do mesmo time que ainda no jogou. O jogo treino tem como objetivo preparar os
jogadores para o jogo do domingo. Os jogadores sabem que seu desempenho ali pode
determinar a sua escalao ou no para o jogo de domingo. O jogo treino dividido em
dois momentos, na primeira hora treina os jogadores mais jovens, e no segundo momento
treina os jogadores do time principal, ou seja, os do 1 quadro.
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O time do Vasco do Horto treina no campo da Boca das Cobras, o qual foi
construdo na propriedade do Senhor Odilom, ainda na dcada de setenta, quando este era
dono do time do Olarias.
"A ns botamos na cabea de fazer esse campo. Aqui era umavargem, quando ns comeamos no ms de maio, a fazer essecampo, a gua dava aqui no meio da canela, e o mato era dessaaltura assim. E meus meninos e os filhos de Seu Ccero Soares meincentivaram: Seu Odilom vamos fazer aqui um campo, aqui darum campo. A eu disse: vamos. A rocemos o mato, abrimoslevada, tiremos as guas, a l onde eu trabalhava na olaria tinhamuita terra, eu fui trazendo na carroa, e fui aterrando. E hoje t ocampo a." ( Dono do campo da Boca das Cobras)
Hoje, o campo da Boca das Cobras continua a servir de palco para os jogos defutebol amador na cidade de Juazeiro do Norte. Vrios times treinam neste campo, nos dias
de sexta-feira a vez do time Vasco do Horto treinar. S os jogadores do 1 quadro
treinam neste dia, para os jogadores do 2 e 3 quadro, o treino o prprio jogo aos
domingos. Alm dos jogadores, h espectadores que vo somente assistir ao jogo. H
tambm os que ficam aguardando serem chamados para completar o time, quando algum
estar cansado, quando sobra um vaga, ou quando j prximo do trmino do jogo algum
cede seu lugar para estes que esto do lado de fora. H ainda os moleques que ficam
jogando bola ao lado do campo.
Como estamos no incio do perodo das chuvas o campo j apresenta algumas poas
d'gua. Em determinados locais do campo, por causa das chuvas, nasceu uma graminha
rala, contudo, no vero, s poeiro. Quando chove muito o campo no rene condies
de jogo. De vez em quando o jogo paralisado, para tanger os jumentos que ameaam
invadir o campo. Como o campo fica num espao mais aberto possvel aproveitar at os
ltimos vestgios do sol. Assim os jogo prolonga-se alm das 18:00 h. Ao trmino da
partida, os jogadores contam ainda com a gentileza do dono do campo, que permite que os
mesmo tomem um banho com a gua da cacimba que tambm fica em propriedade sua.
O time Vila Alta e o time Vasco do Horto transitam entre os jogos "abertos" e os
jogos "fechados". Durante a semana, nos treinos, apresentam-se aparentemente como jogo
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"aberto", embora tenham uma organizao de jogo "fechado" que se evidencia durante os
jogos do domingo.
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